Notas de Saul Galvo - Brasil Notas de Saul Galvo Brasil | Marzo, 2007 A Malbec e seus cortes O caso de Bordeaux dá um sentido prático aos cortes. Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc são as uvas dessa zona, que abriga variadas denominações de origem. Na Argentina, são muitos os cortes, normalmente dominados pela Malbec. Uma cepa cujos vinhos muitas vezes evocam flores (violeta) e também frutas maduras, compotas. Saul Galvão, [email protected] Um vinho pode ser feito por uma única uva ou pela mistura de várias delas. Nos primeiros, a idéia básica é transmitir as características da cepa e também do “terroir”, do local de onde vem. São mais difíceis de fazer e mais problemáticos, pois não há muitas opções quando algo dá errado com a única uva que se pode usar. Alguns dos grandes vinhos do mundo são dessa família, como Bourgogne tinto (Pinot Noir), Bourgogne branco (Chardonnay), Barolo e Barbaresco (Nebbiolo) e outros. Nos cortes, a idéia é somar forças, aproveitar o que há de melhor e desejável em algumas cepas escolhidas e, eventualmente, compensar defeitos. A soma deve ser mais interessante que as partes separadamente. Chianti, Bordeaux, Châteauneuf-du-Pape e outros são frutos de cortes. O caso de Bordeaux, provavelmente o corte mais famoso e difundido, dá um sentido prático aos cortes. Cabernet Sauvignon, Merlot e Cabernet Franc são as uvas dessa zona, que abriga muitas denominações de origem, como Médoc, Saint-Emilion, Pomerol, etc. Os agricultores procuram plantar as uvas em locais apropriados. No corte tradicional bordalês, a máscula e tânica Cabernet Sauvignon, cujos vinhos demoram mais para chegar ao ponto, é combinada com a mais macia, sedosa, precoce e não tão tânica Merlot. Na Argentina, são muitos os cortes de uvas tintas, normalmente dominados pela Malbec, a mais difundida e “símbolo” de Mendoza. Uma cepa deliciosa, cujos vinhos muitas vezes evocam flores (violeta) e frutas muito maduras, compotas. Seus vinhos não precisam normalmente envelhecer. Assim, muitos complementam a Malbec com a Cabernet Sauvignon, que tem capacidade para envelhecer, e é mais austera e tânica. Este é o corte mais comum em Mendoza, mas a Malbec também entra em conjunto com outras uvas de lá, como Tempranillo, Syrah, Bonarda e outras. Aqui, ficamos apenas com as composições dominadas pela Malbec, com preços que podem ser considerados “intermediários” - até R$ 75. Posteriormente, vamos abordar outros cortes e produtos mais caros. URBAN UCO BLEND 2004 ONDE ENCONTRAR VINCI, 6097- 0000 PREÇO R$ 33,39 COTAÇÃO 85/100 A vinícola O. Fournier é de origem espanhola com investimentos importantes na Argentina e, mais recentemente, no Chile. Os seus vinhos na Argentina costumam ter alto nível. A empresa concentrou seus vinhedos no frio Valle de Uco, de onde vem esse vinho, feito com Malbec e Tempranillo em proporções semelhantes.Toque bem leve de madeira, que aparece ao fundo no aroma. Segundo o rótulo, três meses em barricas de carvalho francês. Boa relação qualidade-preço. Aroma agradável, mas não muito intenso. Algo herbáceo, evocando madeira verde, talvez eucalipto. Também frutas vermelhas.Um tinto potente e fácil de beber. Não é grande e nem complexo, mas simples e gostoso. Um pouco de álcool a mais. Redondo, enche a boca.Ainda tânico. Deixa a boca um pouco áspera, seca. 14% de álcool. AMANCAYA MALBEC CABERNET SAUVIGNON 2005 ONDE ENCONTRAR MISTRAL, R. ROCHA, 288, 3372-3400 PREÇO US$ 26,90 (R$ 56,49) COTAÇÃO 88/100 A vinícola Caro, como diz o nome, é fruto de uma associação da Catena-Zapata, uma das melhores vinícolas de Mendoza com a família Rothschild, do Château Lafite. Este é o vinho básico da empresa, um corte em proporções iguais de Malbec e Cabernet Sauvignon. O principal e muito mais caro, sem nenhum trocadilho, é o Caro. Bastante concentração de cor. A luz passa com dificuldade pelo copo. Uma boa combinação das duas uvas. Algo floral (Malbec) e também de frutas vermelhas (amora). Ótima concentração de sabor. Redondo, sem arestas. Um tinto potente, sedoso. Ainda um pouco tânico, mas não agressivo. Taninos finos, que apenas amarram um pouco a boca. Bastante novo. Deve melhorar, ficar mais macio com um pouco mais de tempo na garrafa. Potente, mas o álcool (14%) não se destaca. PULENTA ESTATE | MALBEC - CABERNET SAUVIGNON 2004 ONDE ENCONTRAR GRAND CRU, R. BELA CINTRA, 1.799, 3062-6388 PREÇO R$ 59 COTAÇÃO 89/100 Mais um corte tradicional de Malbec (majoritária) com Cabernet Sauvignon. De Alto Agrelo, uma zona muito valorizada de Lujan de Cuyo. A família Pulenta tem grande tradição no mundo vinícola de Mendoza, foi dona da maior produtora do país, a Peñaflor. Hoje, alguns dos Pulentas têm suas vinícolas. Esta vinícola é de Ugo e Eduardo Pulenta. Cor bonita, mas não tão intensa quanto nos demais. Aroma muito atraente, complexo, mas não tão potente, um pouco alcoólico (pica o nariz). O aspecto floral da Malbec aparece agradavelmente no aroma. Também algo de chocolate, de licor de cacau. Na boca, se destaca mais pela elegância. Boa acidez, nada enjoativo e fácil de beber. Na boca sobra um pouquinho de álcool. Taninos finos, sem amargor. Jovem, mas já pronto para beber. 14% de álcool. VISTALBA 2004 ONDE ENCONTRAR GRAND CRU, R. BELA CINTRA, 1.799,3062-6388 PREÇO R$ 75 COTAÇÃO 90/100 Um belo exemplar da vinícola Carlos Pulenta Wines feito com uvas da muito boa zona de Vistalba, Mendoza. Segundo o rótulo, envelhecido durante 12 meses em barricas de carvalho do Allier, França. O toque do carvalho aparece muito bem equilibrado no nariz e na boca. Aroma intenso, gostoso e com um toque floral nítido, de violeta, o que é típico da Malbec, que é a dominante no corte. Também algo de especiarias, de anis no aroma. Um vinho bonito, de cor intensa. Na boca, encorpado e concentrado sem exageros. Potente, mas não alcoólico. O álcool muito bem compensado pela estrutura. Pode evoluir, mas já dá muito prazer. Taninos finos, nada rústicos e nem amargos. O aspecto floral persiste na boca e também no retrogosto. Vinho de classe e longo. 14% de álcool.