Galego e português no discurso sobre a língua de Manuel

Anuncio
 Actas del II Congreso Internacional SEEPLU - Difundir l/a Lusofonia
Cáceres: SEEPLU / CILEM / LEPOLL, 2012.
Galego e português no discurso sobre a língua
de Manuel Murguía
José Ángel García López – [email protected]
Universitat d’Alacant
Resumo
O debate sobre a relação do galego com as outras línguas peninsulares
centrou a atenção de muitos intelectuais durante o século XIX. Dentro do
movimento conhecido como Rexurdimento, ocupa um lugar fundamental
Manuel Murguía, impulsor e primeiro presidente da Real Academia Galega. A
incorporação da língua como elemento coesivo e definidor da identidade
diferencial da Galiza, junto com a reivindicação expressa do seu uso oficial,
difusão social e cultivo literário, faz parte do discurso galeguista com as
teorias de Murguía. Aliás, Murguía exprime a unidade do galego e do
português, a qual ultrapassa as fronteiras geográficas e políticas.
Abstract
This essay deals with the relations of the Galician language with other
languages during the 19th century. Inside the movement known like
Rexurdimento, Galician writer Manuel Murguía occupies a fundamental
place as leader and first president of the Real Academia Galega. The
incorporation of the language like an element of the differential identity of
Galicia and its significance, as well as the claim expresses of his official use,
social diffusion and literary works, are part of Galician political speech from
the theories of Murguía. In addition, Murguía expresses the union of
Galician and Portuguese languages, which exceeds the geographic and
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
133
Introdução
Neste ensaio apresentamos um estudo sobre as línguas galega e
portuguesa na obra de Manuel Murguía (Froxel-Oseiro, Arteixo,
1833-A Coruña, 1923) mediante a aproximação às teorias que este
intelectual exibe nos seus textos. Quanto à estrutura do nosso
trabalho, oferecemos primeiramente uma breve referência à língua
como traço de coesão no facto diferencial galego. A seguir, visamos a
importância do substrato céltico no discurso de Murguía sobre a
configuração do idioma. Além disso, julgamos salientável a análise
que Murguía faz em torno da situação social da língua na Galiza e a
procura de um modelo de língua na altura. No que respeita a este
assunto, cremos apropriado comentarmos as concomitâncias
intrínsecas das línguas galega e portuguesa do ponto de vista do
intelectual galego desde duas vertentes: a sincrónica, pois Murguía
reúne nos seus razoamentos elementos muito diversos, e a
diacrónica, em atenção à evolução que as suas formulações
experimentam com o passar do tempo. Por último, o ensaio fechar-seá com as conclusões que extraiamos do nosso estudo das ideias
linguísticas de Murguía.
A língua, elemento central do facto diferencial galego
Ideologicamente, Murguía foi sempre um defensor do seu
idioma materno: “Puedo decirlo, porque de ello soy por mis años
testigo irrefutable. Cuando yo era niño, todos a mi alrededor
hablaban gallego” (Murguía 1906: 127). A sua preocupação pela
língua própria da Galiza vemo-la refletida nos seus trabalhos em
prosa, onde aparece como elemento coesivo e definidor da
nacionalidade galega. Convém salientarmos que a ideia murguiana
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
134
de nação remete para uma conceção de tipo orgánico-historicista con
raiz germânica adotada pela intelectualidade galega de finais do
século XIX e do primeiro terço do século XX (González Beramendi
1986: 381-394). Perante o raciocínio mecânico e um universalismo
abstrato que atuariam como critérios de legitimidade da nação,
pensadores alemães como Herder (1744-1803) opõem um
universalismo baseado na história peculiar de cada povo (Volk),
definido como entidade suprapopular que se manifesta numa cultura
particular, uma tradição, uma língua, uma religião e uns costumes
que dotam a nação de um caráter nacional único e irrepetível, o
espírito do povo (Volkgeist). Para além de possuir consciência de si
mesma e umas características étnicas, históricas e territoriais
específicas, a nação para Murguía é uma comunidade que tem uma
língua própria. Assim, o idioma adquire a consideração de elemento
central da afirmação nacional em Murguía, sabedor de que o povo
que deixa morrer a sua língua perde a sua condição de entidade
diferenciada (Murguía 1889c: 271). Esta premissa fica exposta no livro
La primera luz, onde Murguía atesta a identificação existente entre a
coletividade e a língua por ela criada:
(...) que en él hablaron nuestros padres, y que nosotros no
debemos, no digo ya olvidarlo, sino amarlo, venerarlo, como la
preciosa herencia que nos han legado nuestros antepasados.
Amad el lenguaje en que hablamos todavía; ¡el pueblo que olvida
y escarnece su idioma, ese pueblo dice al resto del mundo que ha
perdido su dignidad! (Murguía 1868: 13).
Obviamente, esta argumentação procura uma atitude positiva
dos falantes cara à língua, ao pular a sua valia como signo de
identidade coletiva. As formulações que expõe Murguía inserem-se
na tradição da ideolinguística romântica alemã (Humboldt 1991: 61José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
135
66), como conferimos na radical negação da mera instrumentalidade
da linguagem e na reivindicação das suas dimensões expressiva e
pragmática:
No sabe castellano y habla en el dulce lenguaje de su tierra nativa,
en el lenguaje en que hablaron sus abuelos! (...); es un dialecto en
que pueden expresarse con más dulzura, con más suavidad, con
más cariño que en ningún otro, todos los pensamientos y todas las
ideas (Murguía 1868: 12-13).
O galego, em qualidade de elemento constitutivo da etnicidade
diferencial do país e com as reivindicações expressas do seu uso
oficial, difusão social e cultivo literário, faz a sua aparição como
postulado do discurso político galeguista a partir das teorizações
murguianas. Murguía refere-se à necessidade de restituir a língua
própria da Galiza à condição de língua literária como contributo para
a normalização do seu uso na sociedade:
La reacción contra la funesta tendencia a aniquilar las lenguas
particulares, sacrificándolas en el altar de la dominante en el
estado, empezó pronto; por cuanto vive y tiene raíz en el corazón
y en el amor del hombre, se niega a perecer. En Cataluña, el
triunfo fué rápido y completo, pues tenía toda una importante y
numerosa literatura anterior, manteniendo viva la tradición de su
lengua (...). Esperemos que en Galicia se obtenga pronto el mismo
resultado que en Cataluña, pues siendo tan intenso el dominio
del gallego, y tan de nuestra predilección, puede hacerse
fácilmente que afirme su poder en el corazón y en el labio de sus
hijos (Murguía 1907: 106-107).
Contudo, a reivindicação da língua galega como idioma
exclusivo da Galiza não figura nos escritos dos intelectuais do
regionalismo galego. A meta explícita das suas demandas centra-se
na co-oficialidade, que seria solicitada cronologicamente pela
primeira vez por Murguía em 1889: “Desea que su lengua sea tan
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
136
oficial como la del Estado: Que los que hayan de administrar justicia
y de dirigir la conciencia del hombre en nuestro país, sean escogidos
de entre sus hijos” (Murguía 1889c: 269).
A questão do substrato celta
Para finais do século XVIII, com o descobrimento da família
linguística indo-europeia e a conversão da linguística em ciência
humanística com métodos e resultados firmes, aquilo que era uma
única família linguística transforma-se para os ocidentais numa raça
indo-europeia ou ária, que foi dividida pela sua vez em sub-raças que
se fizeram coincidir com os antigos povos europeus. Em virtude das
ideias comummente aceitadas no século XIX, Manuel Murguía,
apoiado por outros intelectuais galegos como Verea e Aguiar ou
Martínez Padín, elabora uma teoria céltica em matéria de língua onde
o idioma e a raça aparecem indissoluvelmente unidos. Portanto,
Murguía defende, como Granier de Cassagnac em relação ao francês
ou João Pedro Ribeiro relativamente ao português, que o galego
existia com anterioridade à dominação romana. Mas contrastar a
premissa dos românticos alemães de que a língua própria é a
conformadora do pensamento e o jeito de ser de um povo com a tese
de que a mudança de língua implica a degeneração dos povos
provoca uma objeção muito séria ao discurso de Murguía: como
explicar a preeminência do caráter céltico do galego sem que sofresse
uma deturpação radical após da latinização linguística? Esta questão
é exprimida por Murguía sem renunciar ao prestígio que outorga ao
galego a sua proximidade a respeito do latim, facto francamente
contraditório: “El dialecto gallego es uno de los que en España
conserva más puro su origen latino, y en el cual se advierte a cada
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
137
paso las huellas poderosas de los antiguos idiomas célticos, que se
hablaban en Galicia antes y durante la dominación romana”
(Murguía 1868: 14-15).
Posteriormente, embora admita a origem neolatina do galego,
Murguía relativiza-a sublinhando a quantia e importância dos
elementos célticos que confere através do estudo etimológico
(Renales Cortés 1996: 181-196): “(...) la lengua que nos es propia, hija
del celta, modificada por el latín, sobre todo el eclesiástico,
enriquecida por el habla y sentimientos suevos, y ajena a toda
influencia árabe, es la corriente en Galicia y gran parte de Portugal...”
(Murguía 1901: 306).
Murguía não dispunha dos extraordinários conhecimentos
atuais da ciência filológica, mas talvez não ignorasse as teorias do
estudioso italiano Ascoli (1829-1907), sobretudo o conceito de
substrato linguístico que influiria em linguistas como Menéndez
Pidal ou Tovar. Para Ascoli, a fonética autóctone influiria
decisivamente na configuração não só da língua nacional, de modo a
subsistirem certos traços de substrato noutra língua adquirida
(Vàrvaro 1988: 127-129). Assim, Murguía minimiza o ascendente do
latim na língua galega, porquanto a fala celta teria influído
modificando-a naquilo que para Murguía é a essência da língua: a
fonética. O nosso autor acreditava este fenómeno nas páginas de La
primera luz: “El hombre -dice un sabio moderno- lo último que pierde
es el acento natal. No os avergoncéis, pues, de ser como los hombres,
ni os cause risa oír hablar como hablaron vuestros abuelos” (Murguía
1868: 14). Murguía define o sotaque galego como elemento diferencial
perante a fonética castelhana, integrando-o desta maneira na sua
particular enunciação étnica, biológica e fisicista da Raça. Em resumo,
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
138
a língua constitui um elemento de interesse pelo seu caráter histórico,
hereditário, pois a sua condição de cadeia garante a continuidade
histórica de uma especificidade nacional diferencial.
A situação sociolinguística e a procura de um modelo de língua
A posição de Murguía diante da situação social do galego é
fruto de uma determinada postura ideológica e social, coisa que
visamos quando ele comenta com aflição o retrocesso experimentado
pela língua ao não ser promovido o seu estudo e ensino nos
programas académicos da época (Murguía 1880: 116) e ficar
deslocada dos lábios das classes elevadas: “En mi niñez oí hablar el
gallego en mi casa y fuera de ella a personas tan sabias y discretas
como las que lo sean más en otros países. Lo hablaban
preferentemente las clases nobiliarias” (Risco 1976: 181). Quando
apontar o monolinguismo maioritário do médio rural em
contraposição com a realidade das cidades, os agentes sociais que
para Murguía colaboram na marginação da língua são as classes
médias e a nobreza, que contribuiriam para o espalhamento de um
complexo de inferioridade entre os galegofalantes. Por outro lado,
ficam os galegos cultos que abandonam o cultivo da sua língua
materna: “Cincuenta años bastaron para que las clases elevadas que
antes no entendían cometer faltas usando el lenguaje que todos
entendían, hayan cambiado” (Murguía 1906: 127).
Na hora de analisar o imaginário sociolinguístico, Murguía
destaca a renúncia que ele julga consequência de uma imposição dos
Reis Católicos, facto que implicaria o desleixo da língua na escrita:
Éio tanto, meus señores, que naqueles tempos en que a
hexemonía castelán imperaba sobre as diversas nacións do
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
139
Estado español, a poesía gallega tan poderosa e extensiva nos
sigros XIII e XIV, enmudeceu do todo. Non se oía outro acento
aquí que o da musa chabacana: única mostra do esprito literario
permitido ós pobos escravos. Escravos éramos, ende mal, e da
peor casta (...). Cadeiras de Universidades, cadeiras de obispados
e mosteiros, compríanlles a eles: nós non tíñamos nada que ver co
esas cousas de señores, nin servíamos pra máis que dar e manter
soldados e mariñeiros (Murguía 1891: 2).
Porém, devemos interpretar que, de considerar Murguía que as
classes nobres, pelo acesso à cultura literária, poderiam conservar
uma língua mais pura, não se deve sobreentender que o escritor
galego desdenhe a fala do povo. Pelo contrário, é um meio de
dignificar o galego ao ultrapassar o seu âmbito de utilização o mundo
rural e o contorno coloquial:
Y aquí ha de advertirse -pues hay muchos que juzgan el pasado
por el presente- que la lengua gallega hablada en el país hasta
hace sesenta años, no es en verdad la que hoy conocemos y
hablamos en las ciudades. Llegó pura hasta principios del siglo, y
bien se deja comprender que, para que perseverase culta y
perfecta, necesitaba, a falta de su cultivo literario, que fuese
común a todas las clases sociales. Lo fué. La hablaban todas, pero
en especial las clases nobiliarias. Aun hoy son éstas las que mejor
la hablan y la hablan con predilección (Murguía 1889b: 254).
(...) á dos pasos de La Coruña, en campos donde se oye el rumor
del mar de la ciudad vecina (...) surge pujante y florece varia,
rica, profusa casi, en giros y en vocablos, la lengua que hablaron
nuestros trovadores, la que hoy hablamos ciudadanos y
campesinos, la que ensalzan nuestros poetas, la que aman los
hijos del país y á la cual rendimos todos, sí, todos, el holocausto
de nuestra abnegación y filial cariño (Murguía 1915: X-XI).
Em 1865, Murguía declarava que seria necessário “un gran
poeta, al mismo tiempo que un gran conocedor de nuestro dialecto,
costumbres y sentimientos, para que nos diese no sólo el modelo de
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
140
nuestra poesía, sino también de nuestra lengua literaria. Galicia
espera, todavía, ese gran poeta” (Murguía 1901: 290). De facto,
Murguía parece inclinar-se por um estilo de língua popular, o que
não constitui um obstáculo relativamente ao seu marcado elitismo
político-cultural. Assim julgava Murguía os escritores em galego
anteriores a Rosalía de Castro:
Hombres más amantes de las cosas de su país que verdaderos
poetas, intentaron levantar la poesía provincial, sucediendo de
este modo lo que no podía menos de suceder, que atrajeron sobre
sí, y conjuntamente sobre el idioma que escribían, el ridículo que
alcanza a todo mal poeta. Cabalmente para lo que se necesita más
genio, es para hacer pasar una lengua vulgar al uso y dominio de
la poesía, y carecían algunos de nuestros poetas, no sólo del
ingenio de los Jasmin, Roumanilles, Mistral, etc., sino hasta del
gusto; eran malos poetas y por lo mismo malos hablistas
(Murguía 1901: 293).
Torna-se evidente que Murguía não estimava que a praxe
linguística destes autores tendesse para à formação de um galego
literário. Esta aspiração estaria implícita até certo ponto no
pensamento de Rosalía, de acordo com o exposto pelo seu marido:
Pero lo que más ponderaba era ver escrito el libro en aquel
dulcísimo dialecto que había hablado en su niñez. Ponderaba
sobre manera hallarle despojado de las voces bárbaras y giros
prosaicos con que tantos mancharon la lengua y la poesía gallega
(...). Hasta entonces nadie había hablado nuestra lengua con más
pureza ni mejor acierto (Murguía 1886: 189).
Murguía acredita no galego de Rosalía como modelo de língua
literária, apesar de que a escritora de Padrón declare explicitamente
no prólogo de Cantares gallegos a filiação oral e coloquial do seu
galego: “Sin gramática nin regras de ningunha cras, o lector topará
moitas veces faltas de ortografía, xiros que disoarán ós oídos dun
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
141
purista” (Castro 1863; 1989: 43). Isto não empece os elogios de
Murguía, quem acha impecável a lírica rosaliana das perspetivas da
forma e do conteúdo. Assim o corroboram as suas palavras: “Mi
inolvidable esposa escribió en idioma gallego su primer tomo de
poesía, no por ansia de gloria o lo que sea, sino porque perteneciendo
a una familia nobiliaria, que como todas las de su tiempo hablaban
gallego, le molestó leer algunas composiciones que amén de las faltas
de inspiración las tenían de gramática y hasta de sentido” (Naya
1950: 102).
Em puridade, desconhecemos a identidade dos escritores que
mereciam tal menosprezo pela parte de Murguía. Na sua Historia de
Galicia, o Patriarca unicamente salva Alberto Camino e Francisco
Añón dos autores anteriores a Rosalía, quer dizer, aqueles que
figuram no Álbum de la Caridad (Vicente Turnes, Xosé María Posada,
Antonio de la Iglesia...). Em qualquer caso, Murguía parece ser
consciente de que o cultivo de uma língua em prosa supõe um labor
de caráter mais complexo e uma focagem sociocultural mais ampla
do que o simples cultivo poético, parcela em que o galego se vê
confinado pelos seus detratores (González Seoane 1991: 275-287). Nos
últimos anos da sua vida, Murguía pulou como presidente da Real
Academia Galega a elaboração de uma gramática e de um dicionário
para sistematizar a língua (Murguía 1905a: 1-2). Se os historiadores
demonstrarem a história própria da Galiza, os gramáticos tinham
vontade de provar que o galego podia ser submetido a regras igual
que o resto das línguas do seu contorno. Muitos anos antes, Xoán
Manuel Pintos editara A gaita gallega, obra em que pedia a criação de
uma academia da língua e de uma gramática prescritiva (Pintos 1853:
69). Devemos fazer notar que as bases gramaticais que existiam eran
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
142
muito fracas, apenas o Compendio de gramática gallega-castellana de
Mirás e a Gramática gallega de Saco e Arce, pois o trabalho de
Valladares ficaria inédito até 1970. Todas elas são gramáticas
miscelâneas, em que o emprego de ortografias diferentes, a
assistematicidade dalguns critérios e a pluralidade dialetal são
elementos comuns. As descrições gramaticais ficavam subordinadas
ao castelhano porquanto traduziam paradigmas ou adaptavam
patrões de correção prosódicos e sintáticos do castelhano até
ultrapassar a realidade linguística galega ou bem ressaltavam só
aquilo que resultava diferencial, dependência à que se deve em boa
parte a falha de conteúdo teórico (Henríquez Salido 1986: 464-465).
Além disso, existia um problema fundamental: a seleção de
uma variedade de língua comum. Ainda que nenhum autor do XIX
exprime-se preferência por uma variedade, todos eles outorgavam
uma certa primazia à fala que melhor conheciam, é dizer, a fala da
sua área de procedência (González Seoane 1994: 75-88). Pelo
contrário, Murguía acredita que a existência de variantes lexicais no
galego, “que debería ser su muerte, se torna en fecundo venero del
que el gallego extrae la gran riqueza de su diccionario” (Murguía
1901: 290). Tanto Ramón Máiz (1984: 248) como Fernández Belho
(1986: 379) apontam um excesso de idealismo na consciência
linguística de Murguía, cujo projeto consiste na depuração do léxico
próprio através do rejeitamento de neologismos e empréstimos
desnecessários. Sabedor da magnitude da empresa correspondente à
fixação de um modelo linguístico, o Patriarca inclina-se por acudir ao
português “antes de formar una lengua artificial, en cuyas celdas
haya luego de encerrarse toda producción literaria” (Murguía 1907:
104-105).
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
143
Considerações gerais sobre as línguas galega e portuguesa
nos textos de Murguía
No que concerne às origens das línguas galega e portuguesa,
Murguia reitera a conceção unitária do galego-português, particular
sobre o qual se pronunciam em termos parecidos Carolina Michaëlis
de Vasconcelos, José Joaquim Nunes ou Lang em contraposição a
autores como Francisco Adolfo Coelho, Fidelino de Figueiredo ou o
Padre Arlindo, entre outros. As ideias de Murguía ficam claras num
dos capítulos do livro La primera luz, onde o afã por dignificar a
língua própria da Galiza leva Murguía a julgá-la mais antiga do que a
castelhana e inclusive a afirmar que esta deriva daquela, o qual
implicaria a distinção de sê-lo primeiro idioma romance formalmente
constituído na Península:
Formóse el gallego antes que el castellano, y llegó también a su
perfección antes que éste. Es su padre, como lo es del portugués;
ejemplo vivo de lo que podía llegar a ser el gallego, si en vez de
corromperse y viciarse con voces y giros castellanos, hubiese
aspirado a su perfección y sido un idioma nacional (Murguía
1868: 15-16).
Nestes parágrafos fica exposta a Gallaecia romana como núcleo
germinal da língua, que historicamente veio de norte para sul. Tal
opinião coincide com os argumentos enunciados por Sarmiento,
Feijoo ou Teóphilo Braga, quem sustém que, com anterioridade à
independência política alentada pelo conde dom Henrique, a língua
falada nas duas beiras do Minho era comum, a qual teria de
experimentar posteriormente determinadas evoluções no espaço
português que explicariam a rutura da primitiva homogeneidade em
que o galego tem o papel de língua primogénita, arcaizante e
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
144
conservadora (Braga 1896: 149-151). Igualmente, Marcelino
Menéndez y Pelayo opina que a origem do português foi a língua que
passou da Galiza a Portugal e mesmo acredita que o primitivo
instrumento do lirismo peninsular não foi o castelhano, mas “la
lengua que indiferentemente, para el caso, podemos llamar gallega o
portuguesa” (Menéndez y Pelayo 1923: IX-XIII).
À margem do referido, a relacão de ambas as línguas era um
facto para os intelectuais galegos, que viam neste extremo um laço
que dignificava o galego (Hermida 1996: 107-119). Assim o reconhece
explicitamente Murguía: “La verdadera lengua, gallega o portuguesa
-para el caso es igual-...” (Risco 1976: 180). “Tanto en las primeras
fronterizas, como en la misma Beira, considerada como el corazón de
Portugal, siempre creí hallarme en mi país y entre los míos. Todo era
para mí igual, la tierra, las producciones, el hombre. La misma
lengua, las mismas costumbres” (Murguía 1889c: 266). Aliás, o
Patriarca adita que essa era uma questão demonstrada por Friedrich
Diez na sua Gramática das línguas românicas. Na descrição que o
filólogo alemão faz dos domínios das línguas românicas, Diez
adscreve os dialetos no âmbito geográfico da correspondente língua
literária, de modo a ficar patente o vínculo linguístico entre o galego e
o português (Diez 1874: 91-92). Para além do autorizado parecer de
Diez, Murguía apoia as suas teorias em autores como Sarmiento,
quem, com base na Origem da lingua portuguesa de Duarte Nunes de
Leão e no cancioneiro de Afonso X, julga que os trovadores dos quais
fala o marqués de Santillana compuseram as suas poesias em língua
galega (Mariño Paz 1991: 125-133). Este argumento seria
posteriormente um dos pilares em que Murguía apoiaria a sua
resposta a Juan Valera, recorrendo à literatura para reivindicar o
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
145
galego como língua de cultura (Risco 1976: 182-183). O escritor
andaluz publicara nas páginas da Revista Crítica em 1896 uma
recensão ao tomo terceiro da obra de Francisco Pablo García “La
literatura española en el siglo XIX”, recensão onde aduzia que só
existiam três línguas de cultura na Península e, por conseguinte, três
literaturas: a castelhana, a catalã e a portuguesa. Valera julgava
necessária a união da literatura feita em Catalunha com as realizadas
em Valência e Maiorca e, analogamente, subordinava a expressão
literária galega à escrita em língua portuguesa por razões de
parentesco e primazia histórica. A forma originária do português
seria aquela em que está composta a lírica trovadoresca dos
cancioneiros medievais, enquanto a língua galega teria a categoria de
dialeto moderno do português na Galiza (Valera 1968: 890-901).
Coincidimos com Henrique Monteagudo ao assinalar que Murguía,
na sua resposta a Juan Valera, não contradiz o argumento central
daquele: a possibilidade de adotar o padrão português na expressão
escrita (Monteagudo 2001: 234-235). Porém, Murguía argumenta em
prol da legitimidade do processo de constituição de uma literatura
autónoma:
Así y todo, se da el caso, que la lengua gallega, una con la
portuguesa, fue tan cultivada literariamente como cualquiera otra de
las de Europa, hasta mediados del siglo XVI (…). A la literatura
catalana no la manda unirse con la provenzal, como a la gallega, la
cual endosa a la portuguesa. En buena lógica, las razones que
pueden aconsejar esto último, militan respecto de catalanes y
provenzales (Risco 1976: 181-182).
Os autores do movimento cultural e político da Galiza
conhecido com o nome de Rexurdimento eram conscientes de que só a
medida em que uma comunidade possuidora de uma língua e cultura
próprias defendesse a sua identidade poderia favorecê-lo seu
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
146
mantimento e consideração. Daí que o seu labor se orientasse cara à
subministração de argumentos que contribuíssem para a valorização
da utilização do galego como língua habitual em todos os âmbitos
(Hermida 1992: 90-142). Cabe sublinharmos que a reivindicação da
autonomia do galego nesta etapa histórica se insere dentro de uma
estratégia geral de dignificação do povo galego que tinha como
objetivo na altura a construção de uma identidade galega
diferenciada da espanhola. Para os galeguistas decimonónicos, uma
premissa dessa construção nacional é a criação de um discurso
sociolinguístico que negue a subordinação do galego perante o
castelhano (Mariño Paz 1995: 81-87). Portanto, a inegável identidade
histórica entre galego e português não representa nenhuma arrelia,
como proclama abertamente Murguía nos seus textos:
Una y otra lengua son totalmente lo mismo, en sus orígenes, en
su desenvolvimiento, en sus condiciones (…), excepción hecha
del acento, que tanto diferencia un vocablo pronunciado con ésta
o con la otra entonación, apenas si hemos hallado gran diferencia
entre el gallego que dejábamos acá del Miño y el portugués que
se habla desde la orilla de nuestro río bienamado, hasta las
márgenes del Duero (Murguía 1907: 104-105).
A situação social na Galiza do século XIX não pulava o
emprego do galego como veículo de comunicação culto, circunstância
que temos de ligar às condições sociopolíticas próprias do século,
com um desinteresse total dos governantes por legislar em favor do
galego nem por o incorporar à documentação oficial (Lorenzo 1986: 722). Como consequência do processo diglóssico que existia na altura,
o termo ‘dialeto’ aplicado pelos hispanistas à língua galega
relacionava-se com o conceito sincrónico que denota uma língua não
oficial. Indiretamente, acrescentava-se um preconceito, que associa a
existência de variantes dialetais ou dialetos à corrupção de línguas ou
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
147
a falas de povos sem cultura ou com uma cultura inferior (Rodríguez
1988: 340-350). Além disso, eram formulados critérios de supremacia
baseados em pressupostos políticos, que são o que determinaria em
última instância a existência de um idioma para intelectuais daquela
época como Pardo Bazán: “Lengua nacional es tan sólo en el sentido
político la que logra prevalecer e imponerse a una nación, y las demás
que en ella se hablan dialectos” (Pardo Bazán 1888; 1984: 39).
Murguía não assume as críticas de Valera cara à língua galega
devido à ausência de produção literária na Galiza durante os
denominados “Séculos escuros”, mesmo quando evidenciar a
carência na altura de um padrão: “(...) basta con recordar al autor de
Mireya para saber con que estos dialectos agonizantes se pueden
escribir obras maestras y las obras maestras son las que salvan las
lenguas en que se escriben” (Murguía 1879: 252). Por outro lado, o
facto de engendrar o galego o idioma oficial de uma nação como
Portugal legitimaria a aspiração do galego a ser considerado língua
de cultura: “En gallego escribió sus Cántigas el inmortal monarca
castellano, Don Alfonso X, llamado el Sabio, y muchos otros poetas
de aquellos tiempos en que el gallego era un idioma formado,
mientras que el castellano estaba todavía en su infancia” (Murguía
1868: 16). Murguia elege partilhar com o português a consideração de
língua poética na etapa trovadoresca, o que confere à língua própria
da Galiza maior relevância histórica e afoiteza pelo que atinge ao
caráter nacional:
(...) lo cierto es que la producción poética de nuestra gente, fué, y
aún hoy es, esencialmente lírica. A esto se debió, no sólo la gran
producción que atestiguan los Cancioneros de la Vaticana y
Colocci-Brancuti -equivocadamente dados como portugueses,
por los editores italianos-... (Murguía 1905b: 30).
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
148
A rica tradição da literatura medieval galego-portuguesa não
esteve até 1878 a disposição de Murguía. Em 1875, Monaci edita en
Halle o Cancioneiro da Vaticana, que na edição feita por Theófilo Braga
três anos mais tarde constitui a primeira referência de consulta para
os escritores galegos (Carballo Calero 1981: 385). Cinco anos depois,
Molteni publicou a sua edição do Cancioneiro Colocci-Brancuti e em
1889 a Real Academia Española as Cantigas de Afonso X. Por último,
a edição de Carolina Michaëlis de Vasconcelos do Cancioneiro da
Ajuda sairia a público em 1904. Semelha plausível que Murguía não
ignorava o caudal morfossintático, léxico e ortográfico das cantigas
medievais (López 1991: 42), e podemos acreditar que não o conheceu
de jeito serôdio se levarmos em conta as datas em que os autores
citados deram à luz as suas edições dos Cancioneiros e as primeiras
manifestações ao respeito do Patriarca, feitas em 1858: "Llenos están
nuestros antigos cancioneros, de versos hechos en dialecto gallego, lo
mismo los españoles que los portugueses" (Murguía 1998: 101).
Em consonância com o já visto no tocante a um ilustre passado
literário comum, Murguía sublinha a identificação do galego com o
português moderno. Eis um trecho extraído do discurso pronunciado
polo nosso autor nos Jogos Florais de Tui:
¡O noso idioma!, o que falaron nosos pais e vamos esquecendo, o
que falan os aldeans e nos hachamos á ponto de n'entendelo;
aquel en que cantaron reys e trovadores (...); o hermoso, o nobre
idioma que d'o outro lado de ese río é léngoa oficial que serve á
mais de vinte millons d'homes e ten unha literatura representada
pelos nomes gloriosos de Camoens e Vieira, de Garret e de
Herculano; o gallego, en fin, que é o que nos da dereito â enteira
posesión da terra en que fomos nados... (Murguía 1891: 2).
É de notar que Murguía não fala habitualmente de galego ou
português atendendo às fronteiras geográficas, mas de uma
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
149
supraestrutura linguística à qual o nosso autor dá o nome de galego.
Só assim é possível compreender que Murguía declare que “el
gallego es idioma nacional em Portugal” (1889a: 162). Tudo indica
que o escritor percebe entre as duas línguas um continuum, e mesmo
acrescenta que, caso de não ser reconhecido o status de idioma para o
galego, este tem de ser considerado dialeto do português (Murguía
1886: 190). Embora o devir histórico não propiciasse finalmente a
união de Portugal com a Galiza, o sentimento de parentesco
idiomático e cultural entre ambos os povos é evidente, como indica
Murguía quando cita a Oliveira Martins: “(…) la opinión general
entre los escritores lusitanos es que, fuera de los Algarbes, las demás
provincias portuguesas constituyen una entidad nacional que solo
estará completa cuando se les una Galicia formando ‘una nación
étnicamente homogénea desde Finisterre a Mondego’” (Murguía
1889d: 45).
De estabelecermos alguns confrontos sobre esta questão,
Montero Santalha (1982: 52) fala de Murguía como reintegracionista
convencido, mesmo que outros estudiosos como Carballo Calero
(1977: 105) ou García Pereiro (1978: 365) discordem ao respeito. Do
ponto de vista de Freixeiro Mato, os argumentos que Murguía
emprega na sua resposta a Juan Valera legitimam ter uma literatura
autónoma ao lado da portuguesa, facto que acreditaria escrever à
margem do sistema ortográfico empregado em Portugal. É necessário
aditar que outros intelectuais galegos coetâneos (Martínez Padín,
Antonio de la Iglesia) também se declararam na altura partidários de
uma identificação entre galego e português sem fusão no plano
ortográfico (Freixeiro Mato 2001: 260-264). No entanto, no prólogo da
obra inédita Rimas populares de Galicia, datado entre 1895 e 1906
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
150
(Seoane 2000: 141), Murguía aposta pelo emprego da ortografia
portuguesa enquanto não fosse elaborada uma normativa oficial para
o galego. Esta atitude de Murguía evidencia uma manifestação de
lusismo na praxe escrita, embora não reflita uma unificação definitiva
a nível lingüístico. Com certeza, Murguía estimava em 1907 que o
propósito da Real Academia Galega era fixar o léxico e a gramática
da língua galega, que identifica com o idioma falado em Portugal, no
Brasil e também na Galiza (Murguía 1906: 128). Por conseguinte,
Murguía exprime a conveniência de acudir ao portugués com a
finalidade de uniformizar com caráter definitivo parte do léxico
galego, facto que poderíamos relacionar com as suposições de
Carballo Calero em redor das lagoas de léxico específico que
empeciam o seu cultivo de uma prosa didática (Carballo Calero 1981:
417):
El gallego se halla hoy, por su dicha, en las condiciones de un
idioma en su formación, -yo creo que unas más que otras, todas
las lenguas se hallan en el mismo caso- pues en definitiva lo son
por esencia aquellas a las cuales la cultura literaria no ha fijado.
Por fortuna el portugués llegó ya a ese punto y puede servirnos
para contrastar las formas usadas nuevamente por los que ya la
usaron en un principio (Murguía 1907: 105).
Conclusões
Uma vez analisadas as ideias linguísticas de Murguía, convém
sublinharmos as numerosas referências à língua como alicerce da
identidade galega nos escritos do nosso autor. Seguidor das teses de
Herder quanto à conformação e à coesão de um povo pela ação da
língua, o Patriarca sustém que na relação língua-coletivo o traço
diferencial básico é a língua. Aliás, o discurso de Murguía sobre a
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
151
língua incide, como a maioria dos autores do Rexurdimento, na
importância das dimensões expressiva, estética e identificadora.
Por outro lado, Murguía refere-se ao galego desde a vertente
sociológica quantificando a situação social do galego relativamente à
extensão da língua castelhana entre os falantes e apontando que por
trás do retrocesso do galego há fatores endógenos. Daí que Murguía
postule uma recuperação do emprego social, normalizado e
prestigiado, da língua galega. Neste sentido, o nosso autor opta por
dotar os seus razoamentos de elementos que reforçam a ideia do
galego como língua de cultura, bem acudindo ao rico passado lírico
dos trovadores, bem através da comparação com o desenvolvimento
conseguido pelo português. Cumpre salientarmos que Murguía se
apoie muitas vezes no português para defender argumentalmente o
galego e mesmo exiba um claro interesse no modelo português como
possível recurso para a elaboração linguística e inclusive como meio
de expressão.
Em definitiva, Murguía cria nas possibilidades da sua língua
materna e tratou de dignificá-la e elevar a sua categoria, o qual teve
como resultado a criação de uma Academia Galega para sistematizála e unificá-la. Para além da conceção do galego como elemento
identificador dos membros da comunidade assentada na Galiza, a
língua própria da Galiza é para Murguia a expressão de uma tradição
cultural que irmana as terras galega e portuguesa.
Referências bibliográficas
Braga, T. (1896). Theoria da Historia da litteratura portugueza. Porto:
Livraria Chardron.
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
152
Carballo Calero, R. (1977). “Murguía contra Valera” in Grial. Revista
galega de cultura, 55, pp. 102-105. Vigo: Galaxia.
Carballo Calero, R. (1981). Historia da literatura galega contemporánea. 3ª
ed. Vigo: Galaxia.
Castro, R. (1863; 1989). Cantares gallegos. Vigo: Juan Compañel; 8ª ed.
Madrid: Cátedra.
Diez, F. (1874). Introduction à la grammaire des langues romanes. Paris:
Librairie A. Franck.
Fernández Belho, P. (1986). “Conceito de língua en Manuel Murguía e
praxe idiomática en Rosalía de Castro” in García Sabell et al. Actas
do Congreso Internacional de Estudios sobre Rosalía de Castro e o seu
tempo. T. II. Santiago de Compostela: Consello da Cultura GalegaUniversidade de Santiago de Compostela, pp. 373-381.
Freixeiro Mato, X. R. (2001). “Murguía, testemuña do declive do
galego e adaíl da súa dignificación” in Barreiro Fernández et al.
Congreso sobre Manuel Murguía. Arteixo, 2000. Santiago de
Compostela: Xunta de Galicia, pp. 247-277.
García Pereiro, M. C. (1978). “Teoría da lingua galega en Murguía” in
Grial. Revista galega de cultura, 61. Vigo: Galaxia, pp. 365-369.
González Beramendi, X. (1986). “Os referentes nacionais en Rosalía e
no provincialismo galego” in García Sabell et al. Actas do Congreso
Internacional de Estudios sobre Rosalía de Castro e o seu tempo. T. III.
Santiago de Compostela: Consello da Cultura GalegaUniversidade de Santiago de Compostela, pp. 381-394.
González Seoane, E. X. (1991). “O debate sobre o galego na prensa do
XIX. Algúns datos para unha historia do antigaleguismo” in Grial.
Revista galega de cultura, 110. Vigo: Galaxia, pp. 275-287.
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
153
González Seoane, E. X. (1994). “Concepcións do galego estándar nos
gramáticos galegos do século XIX” in Lorenzo (ed.), Actas do XIX
Congreso Internacional de Lingüística e Filoloxía Románicas. Vol. VI:
Galego. Romania Nova. Santiago de Compostela, 1989. A Coruña:
Fundación Pedro Barrié de la Maza, pp. 75-88.
Henríquez Salido, M. C. (1986). “As gramáticas galegas do século
XIX” in Fernández Belho et al. Actas do I Congresso Internacional da
Língua Galego-Portuguesa na Galiza. Ourense, 1984. A Corunha:
AGAL, pp. 443-467.
Hermida, C. (1992). Os precursores da normalización. Vigo: Xerais.
Hermida, C. (1996). “Galego e portugués durante o século XIX (18401891)” in Lorenzo e Álvarez (coords.). Homenaxe á profesora Pilar
Vázquez Cuesta. Santiago de Compostela: Servicio de Publicacións
da USC, pp. 107-119.
Humboldt, W. (1991). Escritos sobre el lenguaje. Madrid: Península.
López, T. (1991). Névoas de antano. Ecos dos cancioneiros galegoportugueses no século XIX. Santiago de Compostela: Laiovento.
Lorenzo, R. (1986). “A lingua literaria na época de Rosalía” in García
Sabell et al. Actas do Congreso Internacional de Estudios sobre Rosalía
de Castro e o seu tempo. T. III. Santiago de Compostela: Consello da
Cultura Galega-Universidade de Santiago de Compostela, pp. 732.
Máiz, R. (1984). O rexionalismo galego: organización e ideoloxía (18861907). Sada-A Coruña: Ediciós do Castro.
Mariño Paz, R. (1991). “Estudios, informacións e ideas sobre o galego
entre os séculos XVI, XVII e XVIII” in Fernández Rei e Brea
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
154
(coords.). Homenaxe ó profesor Constantino García. T. II. Santiago de
Compostela: Servicio de Publicacións da USC, pp. 112-139.
Mariño Paz, R. (1995). “Notas para unha caracterización
sociolingüística da Galicia dos séculos XVIII e XIX” in A Trabe de
Ouro, 24, pp. 81-87. Santiago de Compostela: Sotelo Blanco.
Menéndez y Pelayo, M. (1923). Antología de poetas líricos castellanos.
Desde la formación del idioma hasta nuestros días. T. III. Madrid:
Librería de la Viuda de Hernando y Cª.
Mirás, M. (1864). Compendio de gramática castellana-gallega... Santiago
de Compostela: Establecimiento tipográfico de Manuel Mirás.
Monteagudo, H. (2001). “As ideas lingüísticas de Manuel Murguía”
in Barreiro Fernández et al. Congreso sobre Manuel Murguía. Arteixo,
2000. Santiago de Compostela: Xunta de Galicia, pp. 219-245.
Montero Santalha, J. M. (1982). “O reintegracionismo nos ideólogos
do nacionalismo galego” in O tempo e o modo, 0, pp. 51-61. Ourense:
Galiza Editora.
Murguía, M. (1868). La primera luz. 2ª ed. Lugo: Soto Freire.
Murguía, M. (1879). “¿Desaparecerán los dialectos?” in La Ilustración
Gallega y Asturiana, t. II, 21, p. 251. Madrid.
Murguía, M. (1880). “Estudio sobre el origen y formación de la lengua
gallega, inédito del Padre Fr. Martín Sarmiento” in La Ilustración
Gallega y Asturiana, t. II, 9, p. 116. Madrid.
Murguía, M. (1886). Los Precursores. La Coruña, Latorre y Martínez
Editores.
Murguía, M. (1889a). “El regionalismo gallego” in Galicia. Revista
regional, 3, pp. 151-164. La Coruña.
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
155
Murguía, M. (1889b). “El regionalismo gallego” in Galicia. Revista
regional, 4, pp. 232-254. La Coruña.
Murguía, M. (1889c). “El regionalismo gallego” in Galicia. Revista
regional, 5, pp. 257-272. La Coruña.
Murguía, M. (1889d). El regionalismo gallego. La Habana: Imp. y
Papelería La Universal de Ruiz y Hno.
Murguía, M. (1891). “Juegos Florales de Galicia. Discurso d'o
Presidente, Manuel Murguía” in La Patria Gallega, 7-8, pp. 1-6.
Santiago de Compostela: Imp. de Diéguez y Otero.
Murguía, M. (1896). “A don Juan Valera” in La Voz de Galicia, 15-VIII.
La Coruña.
Murguía, M. (1901). Historia de Galicia. T. I. 2ª ed. La Coruña: Librería
de Eugenio Carré.
Murguía, M. (1905a). “Diccionario de la lengua gallega. Necesidad de
su formación y publicación” in Galicia, 14, pp. 1-2. La Habana.
Murguía, M. (1905b). Los trovadores gallegos. La Coruña: Imp. y
Fotograbado de Ferrer.
Murguía, M. (1906). “Discurso del Sr. Académico Presidente D.
Manuel Murguía” in Boletín de la Real Academia Gallega, 6-7, pp.
125-129. La Coruña: Real Academia Gallega.
Murguía, M. (1907). “Discurso-contestación al de D. José Antonio
Parga Sanjurjo” in Boletín de la Real Academia Gallega, 16 / 17, pp.
96-110. La Coruña: Real Academia Gallega.
Murguía, M. (1915). “Unas cuantas palabras” in Herrero Garrido.
Almas de muller... ¡Volallas n'a luz!. La Coruña: Lit. e Imp. de Roel,
pp. V-XI.
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
156
Murguía, M. (1998). Prosas recuperadas: o periodismo de Manuel
Murguía. Antoloxía básica: 1853-1923. A Coruña: Fundación Caixa
Galicia-Real Academia Galega.
Naya, J. (1950). “Murguía y su obra poética” in Boletín de la Real
Academia Gallega, 289-293, pp. 91-111. La Coruña: Real Academia
Gallega.
Pardo Bazán, E. (1888; 1984). De mi tierra. La Coruña: Tip. de la Casa
de la Misericordia; Vigo: Xerais.
Pintos Villar, X. M. (1853). A gaita gallega. Pontevedra: Imp. de José y
Primitivo Vilas.
Renales Cortés, J. (1996). Celtismo y literatura gallega. La obra de Benito
Vicetto y su entorno literario. Vol. II. Santiago de Compostela: Xunta
de Galicia.
Risco, V. (1976). Manuel Murguía. 2ª ed. Vigo: Galaxia.
Rodríguez, F. (1988). Análise sociolóxica da obra de Rosalía de Castro.
Vigo: AS-PG.
Saco y Arce, J. A. (1868). Gramática gallega. Lugo: Imp. de Soto Freire.
Seoane, I. (2000). “Un escrito de Murguía en galego. O recoñecemento
de Valentín Lamas Carvajal” in Boletín Galego de Literatura, 24.
Santiago: Servicio de Publicacións da Universidade de Santiago de
Compostela, pp. 133-143.
Valera, J. (1968). Obras Completas. T. II. 5ª ed. Madrid: Aguilar.
Valladares Núñez, M. (1970). Elementos de gramática gallega. Vigo:
Galaxia.
Vàrvaro, A. (1998). Historia, problemas y métodos de la lingüística
románica. Barcelona: Sirmio.
José Ángel García López. “Galego e portugués no discurso sobre a lingua...”
Actas del II Congreso Internacional SEEPLU, 2012, pp. 133-157
157
Descargar