1 A HISTÓRIA DOS TEMPLÁRIOS DE 1307 A 1314 Luiz Guilherme Marques 2017 2 INTRODUÇÃO Tudo que consegui apurar na maioria dos livros e registros sobre os templários, também chamados de membros da Ordem do Templo de Salomão [1] e outras denominações semelhantes, me pareceu meias verdades ou até inverdades facilmente perceptíveis para quem aprofunda as pesquisas. O interesse dos adversários ferrenhos dessa extraordinária instituição sempre foi de passar a imagem de que os templários [2] foram meros guerreiros, banqueiros mercenários ou até assaltantes além de praticantes de Magia Negra e homossexualismo, sendo que, por isso, devem ser neutralizados de qualquer forma, pois se constituíram em todas as épocas um grave perigo para a corrente católica, pretensamente para os bons costumes e até para a preservação da moralidade. As acusações contra os templários chegaram até à alegação de prática de homossexualismo e Magia Negra. Todavia, por vários meios que utilizei para as pesquisas, verifiquei que, pelo menos no período abordado neste livro, os templários dignos desse nome (pois os houve também os maus elementos) foram homens da mais alta qualidade moral, que pretendiam fundar na Aquitânia (região da França) [3] uma nação onde implantariam as leis ditadas pela religiosidade mais pura, haurida das inúmeras correntes de pensamento no que cada uma tinha de mais elevado. Não pretendiam o predomínio de nenhuma corrente especificamente, mas sim o que havia de melhor em cada uma, inclusive até determinados ensinamentos do próprio Islamismo, sem contar do Hinduísmo, Budismo, Cristianismo, Judaísmo, das religiões do Egito antigo, da Grécia de Sócrates e Pitágoras e assim por diante. 3 As ideias políticas que adotaram eram as da democracia [4] republicana [5], onde os governantes atenderiam a voz do povo no que tivesse de mais justo. Todavia, o então rei da França [6], aliado ao papa [7], cada um utilizando os argumentos que lhes convinham à má-fé e os meios materiais desonestos e perversos de que dispunham, colocaram no calabouço os templários que conseguiram alcançar, tomaram os bens materiais da instituição e iniciaram um processo extravagante contra eles, que terminou com a morte de suas lideranças mais eminentes, sendo uns através das próprias torturas e outros nas condenações à morte na fogueira ou nas prisões perpétuas, sem contar os que fugiram antes das prisões, que tinham sido decretadas secretamente. Neste livro vou relatar aos prezados leitores o que aconteceu nesses sete anos de absurdas injustiças contra a Ordem dos Templários. O que se sucedeu antes, desde a criação da Ordem [8], bem como o que ocorreu depois, não são relevantes, ao meu entender, a ponto de merecer uma obra deste perfil, porque nesses sete anos, que vão de 1307 a 1314, os templários merecedores desse nome mostraram ao mundo que o exemplo de Jesus Cristo deve ser imitado dê no que der. Esses guerreiros imbatíveis tinham condições de arrasar o exército francês, bem como qualquer outro exército da época, mas, através do seu líder mais respeitado, que era Jacques De Molay [9], foram orientados pelos seus mestres invisíveis de que a hora era de demonstrar fé em Deus, em Jesus Cristo e em Sua Divina Mãe acima de tudo, confiando em que aconteceria o que fosse melhor espiritualmente falando para instrução da humanidade. 4 Havia uma programação espiritual para que o rei da França fosse Charles de Valois, mas, por mil ardis perversos, seu irmão Filipe IV, impediu-o de chegar ao poder. Se Charles fosse o rei, tudo teria sido diferente, implantando-se a nova nação, sob o signo da cruz vermelha colocada sobre o fundo branco. Mas os templários compreenderam, quando avisados espiritualmente, que tudo acontece no tempo certo, tanto que Geoffroy de Gonneville [10], sobrevivente a onze anos de prisão, disse, em 1318, que a Ordem somente teria condições de colocar em prática seu ideal daí a seiscentos anos, o que cairia no ano de 1918, mas a verdade é que as condições propícias ainda não ocorreram nem agora, em 2017, ano em que estamos. Tudo acontece na hora certa e somente Deus sabe qual é essa hora. Em resumo, prezados leitores, este livro os surpreenderá, na certa, pois aqui encontrarão afirmações nunca vistas, por exemplo, que estava programado que o rei fosse Charles de Valois, e não Filipe IV; que a Aquitânia se tornasse um país onde vivessem os templários, dentro de uma organização sóciopolítico-jurídica baseada nos postulados religiosos mais avançados e que a atitude criticada como “conformista” dos templários diante dos injustos que os processaram e condenaram deveria ser aceita como desígnio de Deus. Boa leitura, na graça do Pai Celestial. 5 ÍNDICE Capítulo I – A garantia de Charles de Valois como rei da França em favor da fundação do país dos templários Capítulo II – A Aquitânia como país 1 – O sistema religioso 2 – O sistema social 3 – O sistema jurídico Capítulo III – A fé inquebrantável nos desígnios divinos Capítulo IV – As figuras mais proeminentes desse projeto de implantação do Reino de Deus na Terra 1 – Jacques De Molay 2 – Geoffroy de Charnay 3 – Gui Dauphin 4 – Geoffroy de Gonneville 6 CAPÍTULO I – A GARANTIA DE CHARLES DE VALOIS COMO REI DA FRANÇA EM FAVOR DA FUNDAÇÃO DO PAÍS DOS TEMPLÁRIOS Os registros oficiais sobre esse grande homem (deu para concluir facilmente), foram deturpados, naturalmente que por ordem do seu irmão, Filipe IV, um dos mais perversos monarcas franceses de todos os tempos. Charles de Valois nasceu em uma família de perversos, descendente de Luís IX, este último que se pode classificar como uma verdadeira fábrica de calhordices, a ponto de, pouco tempo após sua morte, ser canonizado como São Luís, apesar de ter sido um autêntico hipócrita, que benefícios fez apenas em favor de si mesmo e malefícios a incontável número de pessoas. Mas meu objetivo não é contar a história desse verdadeiro escroque e sim falar sobre os templários. O pai de Charles de Valois também não foi boa bisca, tratando-se do degenerado Filipe III. 7 A hereditariedade e o meio familiar onde teve de viver representava um verdadeiro presídio psicológico para um homem idealista como ele, mas acontece do lírio ter de florescer no meio do pântano: são os desígnios divinos. Charles teve de conviver naquele meio corrupto para cumprir sua missão, a qual foi abortada, como dito, sobretudo, pelo irmão, que se fez rei e praticou todas as maldades possíveis, inclusive assassinando a própria esposa. Mas, primeiro, vamos ver o que se registrou oficialmente sobre Charles de Valois, para os prezados leitores compreenderem como foi difícil a vida desse homem cuja missão era dar as condições materiais para os templários transformarem a Aquitânia em um país onde reinassem a Justiça e a Paz, ou seja, uma nação ideal, como os homens e as mulheres de bem desde a mais remota antiguidade sonharam para viverem em clima de harmonia e felicidade aqui na Terra. Jesus tinha dito: “Meu Reino não é deste mundo”, mas muitos sonharam que era possível que o fosse e, assim, lutaram para fazer do mundo um segundo paraíso. Os templários mais evoluídos, como os daquela geração liderada por De Molay, eram idealistas e pretendiam fazer do seu novo país um verdadeiro paraíso no meio das perversidades e depravações vigorantes naquele século XIV, em plena Idade Média europeia. A fama dos templários de meros guerreiros se deveu à propaganda negativa do rei Filipe IV e do papa Clemente V, interessados em extinguir a Ordem dos Templários para apropriarem-se da sua fabulosa riqueza, coisa que conseguiram em parte, só não alcançando tal intento na íntegra, porque muitos templários mantiveram a salvo parte das referidas riquezas 8 levando-as para locais seguros ou mantendo em segredo sua localização e a Ordem continuou existindo em outros pontos do planeta, com outras denominações. Em suma, Charles de Valois seria o garantidor da pretensão dos templários de fundar um país diferente de tudo que já tinha existido, escolhido como local a região da Aquitânia. Vejam o que a Wikipédia consigna sobre o nosso personagem, imputando-lhe uma caricatura ridícula, servindo o idealista homem de fé apenas para casamentos arranjados, visando alianças com famílias poderosas, a fim de seu irmão aumentar sua área de influência cada vez mais. Alguém poderá indagar: - um homem sem pulso forte como esse poderia garantir a pretensão dos templários de fundar um país, perdendo parte do território francês? Será que teria pulso para enfrentar os nobres franceses descontentes com essa perda de território? Mas a resposta é simples: - contra um perverso e pervertido como Filipe IV até os temíveis templários tiveram sérias dificuldades e foram ludibriados por ele através de mentiras, promessas não cumpridas e violências as mais cruéis. Realmente, a missão de Charles de Valois era quase impossível, pois ganhar de Filipe IV representava uma das duas opções: matálo ou praticar mais chantagens e calhordices do que ele para chegar ao trono da França e, mais difícil ainda, continuar vivo para realizar seus planos em favor da Justiça e da Paz. Lutar contra bandidos exige muita esperteza, força e até violência e Charles de Valois não se dispôs a sujar as mãos no sangue do irmão degenerado nem teve meios de lhe neutralizar as sucessivas armadilhas e cafajestices. Foi apenas lembrado para fazer filhos e chefiar os exércitos franceses, correndo sempre o risco de morrer em campos de 9 batalha, mas, quando era sua vez de assumir o trono, sempre era passado para trás. Consigna a Wikipédia: “Carlos de Valois (12 de março de 1270 — 16 de dezembro de 1325) foi filho da França e patriarca da Casa de Valois. Era o quarto filho de Filipe III de França e Isabel de Aragão. Em 1284, foi criado conde de Valois (como Carlos I) por seu pai e, em 1290, recebeu o título de conde de Anjou de seu casamento com Margarida de Anjou. Biografia Carlos nasceu em 1270 (provavelmente em 12 de março), no berço da família Capeto. Era o quarto filho do rei Filipe III da França com sua primeira esposa, Isabel de Aragão, Carlos foi conde de Valois, d'Alençon, de Chartres e do Perche; e, por seu primeiro casamento, conde d'Anjou e do Maine. Ele foi filho, irmão, cunhado e genro de reis e rainhas (da França, de Navarra, da Inglaterra e de Nápoles), assim como, após sua morte, pai de um rei. Contudo, durante toda sua vida, ele sonhou e planejou ganhar uma coroa, embora sem sucesso. Em 1284, o papa Martinho V reconheceu-o como rei de Aragão (sob vassalagem papal) como neto de Jaime I de Aragão, em concorrência com seu tio, Pedro III, que, após conquistar a ilha da Sicília, tornou-se inimigo do papado. Em 16 de Agosto de 1290, em Corbeil, Essone, Carlos se casou com Margarida d'Anjou, filha do rei Carlos II de Nápoles, Sicília e Jerusalém, que era apoiado pelo Papa. Graças a esta cruzada contra Aragão, impelida por seu pai, ele pensou que ganharia um reino, mas não ganhou nada além da ridicularização, ao ser coroado com um chapéu cardinalício, em 11 de junho de 1284, em Lers, na Catalunha, o que lhe rendeu o apelido de rei do chapéu. 10 Ele nem se atreveu a usar o selo real feito para a ocasião e teve que desistir do título, o que fez em junho de 1295. Em recompensa, seu sogro lhe cedeu os condados d'Anjou e do Maine, esperando obter a libertação de seus três filhos, que eram reféns de Afonso III de Aragão. Sua maior habilidade era como comandante de batalha. Ele comandou em Flandres com distinção, em 1297. Seu irmão, Filipe IV, decidiu, bastante precipitadamente, a partir disto, que seu irmão poderia liderar uma campanha na Itália. Carlos então contemplava a coroa imperial e, em 18 de fevereiro de 1301, casou com Catarina de Courtenay, neta e herdeira do último imperador latino de Constantinopla, Balduíno II. Ele precisava da cumplicidade do Papa, o que obteve ao liderar um exército para ajudar seu antigo sogro Carlos II de Nápoles. Eleito vigário pontifical, perdeu-se no enredamento da política italiana, foi comprometido num massacre em Florença e em negócios financeiros ilegais, ganhou a Sicília, onde consolidou sua reputação como saqueador, e voltou para a França desacreditado, em 1302. Carlos começou a ambicionar uma coroa novamente quando o imperador eleito Alberto de Habsburgo morreu, em 1308. Seu irmão Filipe IV o encorajou nisto, não desejando arriscar a si mesmo. A candidatura fracassou com a eleição de Henrique VII. Em junho de 1308, Carlos casou-se com Matilde de Châtillon, filha de Guido III de Châtillon, conde de SaintPol, e de Maria da Bretanha. Em 1311, liderou a delegação real para as conferências em Tournai com os flamengos; ali enfrentou Enguerrardo de Marigny, que o eclipsou claramente. Carlos não o perdoou pela afronta e foi o opositor maior de Marigny após a morte de Filipe IV. A morte prematura do filho de Filipe, Luís X, em 1316, deu a Carlos esperanças de um papel político, mas não pôde 11 impedir o irmão de Luís, também chamado Filipe, de tomar a regência enquanto esperava para se tornar Filipe V. Com a morte dele, em 1324, ninguém considerou o conde de Valois como seu sucessor. Em 1324, Carlos comandou com sucesso o exército de seu sobrinho Carlos IV, sucessor de Filipe V, em Guyenne. Carlos morreu aos 55 anos, em Le Perray, Yvelines. Casamentos e descendência Margarida de Anjou (1274-1299), filha de Carlos II de Nápoles Isabel de Valois (1292-1309), casou em 1297 com João III Filipe VI, Rei de França (1293-1350); primeiro rei da Casa de Valois Joana de Valois (ca.1294-1353), casou em 1305 com Guilherme III, Conde de Hainaut Margarida de Valois (ca.1295-1342), casou em 1310 com Guy I de Châtillon (1290 - 1342), Conde de Châtillon e Blois. Carlos II, Conde de Alençon (1297-1346), morre na batalha de Crécy, avô de Henrique IV de França. Isabel de Valois (1292-1309) Catarina de Valois (1299-?), morreu jovem Catarina de Courtenay, Imperatriz titular de Constantinopla (1275-1308) João, Conde de Chartres Catarina II, Princesa da Acaia, Imperatriz titular de Constantinopla (1303-1346), casa com Filipe I de Taranto Joana de Valois (1304-1363), casou em 1318 com Roberto III de Artois Isabel de Valois (1306-1349), Abadessa de Fontevrault desde 1342. Matilde de Châtillon (1293-1358) Maria de Valois (1309-1328), casou em 1324 com Carlos da Sicília, Duque da Calábria 12 Isabel de Valois (1313-1383), casou com Pedro I, Duque de Bourbon Branca de Valois (1317-1348), casou com Carlos IV, Imperador do Sacro Império Luís de Valois, Conde de Alençon e de Chartres (13181325) (https://pt.wikipedia.org/wiki/Carlos_de_Valois) 13 CAPÍTULO II – A AQUITÂNIA COMO PAÍS Alguém perguntará sobre o porquê da escolha da Aquitânia para ser o país dos templários, mas as razões são muito simples: 1 – tratava-se de uma região de fortes tradições célticas, o que seria muito importante, uma vez que o Celtismo sempre foi uma das referências para os templários. Engana-se quem pensa que os templários eram adeptos apenas do Catolicismo, pois, na verdade, eram universalistas e pouca inclinação tinham para trair suas tradições célticas em favor das regras absurdas do Vaticano, aliás, foco central da máfia que utilizava indevida e descaradamente o nome de Jesus Cristo para tentar dominar o mundo, como os césares romanos tinham tentado através das armas, enquanto que o Vaticano usou e abusou do nome do Cristo, que nunca autorizaria ser utilizado 14 como pretexto para violências e fraudes, que tornaram o Vaticano a maior fortuna do planeta. 2 – o caminho para o Oceano Atlântico seria um meio fácil de comunicação com outros povos para fins culturais e comerciais. 3 - o número de templários da Aquitânia sempre foi muito significativo e a aceitação popular também seria outro elemento favorável. 4 – a Aquitânia nunca foi uma região valorizada pelo governo centrado em Paris, portanto, sua perda não fazendo grande diferença para os orgulhosos parisienses. 15 1 – O SISTEMA RELIGIOSO Engana-se redondamente quem acha que os templários comandados por De Molay eram submissos aos absurdos impostos pelo Vaticano. Pelo contrário, seguiam o ideário de Pitágoras e Sócrates, de Jesus e das crenças do Egito antigo, da Grécia antiga, da Babilônia etc. etc. Uma das birras do papa Clemente V contra os templários daquele tempo foi justamente porque não restringiam suas crenças e suas práticas ao Catolicismo. Aliás, o chamado Cristianismo representou uma verdadeira deturpação do que Jesus ensinou, principalmente através da sua exemplificação, sobretudo nas suas vinte e quatro últimas horas de vida, que cobriram o período da prisão, julgamento e morte na cruz. Naquele curto espaço de tempo Jesus ensinou o que não tinha sido possível mostrar nos trinta e três anos de vida que o precederam. Religião é identificar Deus como Pai e as suas criaturas como irmãos e irmãos, ligando-se pelos laços mais puros, dentro da ideologia do “somos todos um”, conforme frase dos xamanistas. 16 Os católicos criaram o falso mito de que os templários eram meras “buchas de canhão” como matadores de islâmicos, a pretexto de defender Jerusalém, tida pelos fanáticos como “terra santa”, como se houvesse (coisa absurda) algum lugar mais “santo” do que outro! É verdade que houve muitos templários que se prestaram a esse tipo de papel, de inimigos dos maometanos, mas De Molay não adotava essa ideologia separatista. Jerusalém poderia ser “terra santa” para quem o quisesse, mas não para ele e seus amigos mais evoluídos, como Geoffroy de Charnay, Geoffroy de Gonneville, Gui Dauphin etc. etc. Guerrear por causa de diferença de maneiras de crer em Deus é o cúmulo do absurdo e, na verdade, traduz-se em mero pretexto para matar, tiranizar e, sobretudo, saquear, como fizeram cristãos e islâmicos durante as cruzadas e alguns o fazem até hoje, em pleno século XXI. O grau de compreensão daquela geração de templários era diferente das que as antecederam e das posteriores. 17 Por isso justamente é que agiram De Molay e seus amigos de forma diferente. Sua religiosidade não justificava matanças e arrependeram-se das mortes que tinham causado anteriormente. Mas, sobretudo, quando foram presos, tendo ouvido as orientações dos mestres invisíveis, submeteram-se ao sacrifício como Jesus tinha exemplificado. Confiaram em que Deus mandaria a melhor resposta e, por isso, não pegaram em armas para se defenderem e, muito menos, para se vingarem. Poderiam ter arrasado o exército francês, como qualquer outro exército, mas preferiram não reagir, fazendo como Jesus tinha dito a Pedro: -“Embainha a tua espada, pois quem com ferro fere com ferro será ferido!” O rei e o papa abusaram das mentiras, das promessas não cumpridas e, com isso, foram matando os templários nas sessões de torturas ou queimando-os vivos, sem contar as penas perpétuas. Religião verdadeira é isto: defender-se até certo ponto, mas, em ocasiões especiais, praticar a total não violência e foi isso que os templários fizeram. 18 O próprio Jesus tinha falado a De Molay, em visão espetacular, para não reagir nem permitir que seus comandados reagissem. Muita gente não irá acreditar nesta versão, certamente, mas cada um tem o direito de apresentar a sua: esta é a minha. A religiosidade daquela geração de templários era da mais alta qualificação, como o eram as de Sócrates, Jesus, Buda, dos cristãos que morreram nos circos romanos, dos apóstolos martirizados e de outros idealistas mais recentes, como Gandhi, Luther King etc. Mas, voltando ao país que se pretendia fundar, a religião que vigoraria seria a da convicção de cada cidadão, sem obrigatoriedade nem prevalência de nenhuma pela força ou contra a vontade de cada um. Trata-se, se formos analisar bem, de um absurdo a instituição de uma religião oficial do Estado, pois cada um deve poder crer ou deixar de crer no que e como quiser. Naquela época, todavia, isso era muito avançado para caber na cabeça de um homem comum, ainda mais de gente como o rei e o papa daquele momento histórico. 19 2 – O SISTEMA SOCIAL A instituição de castas, separação de pessoas em classes estanques e coisas desse tipo: tudo isso representa atraso, espírito antidemocrático e negação do ideal de democracia e do instituto republicano. As experiências, sobretudo, da Grécia e da Roma antigas, no que tiveram de melhor, seriam modelos a ser seguidos na nova nação, para que não houvesse reis, imperadores, ditadores e outras figuras retrógradas de dirigentes autoritários. De Molay tinha sido eleito grão mestre da Ordem e queria que seu país adotasse esse meio de escolha dos dirigentes: as eleições, onde os escolhidos não adquiririam o direito de comandar vitaliciamente, mas sim apenas enquanto a maioria lhes desse apoio. Assim deve ser, não sendo, todavia, essa fórmula adotada até hoje, porque, os eleitos julgamse no direito de terminar o mandato, mesmo quando deixem de ser aceitos pelo povo que os elegeu. O sistema eletivo e representativo adotado na Ordem dos Templários seria o vigorante no novo país, apenas que sem distinção de classes como forma de classificar pessoas como inferiores. 20 O país que surgiria seria um modelo para o mundo inteiro, mas isso não interessava ao papa e ao rei da França, respectivamente Clemente V e Filipe IV, que, ao revés, queriam se apropriar das riquezas da Ordem e, ao mesmo tempo, impedir que o novo país surgisse, o que representaria um descrédito para o autoritarismo de ambas as personalidades cavernosas e corruptas. 21 3 – O SISTEMA JURÍDICO Alguns falam que os templários eram homens de pouca cultura, mas a verdade é que estudavam tudo que conseguiam quanto às novidades que iam surgindo, bem como se informavam acerca das antigas civilizações e seus melhores feitos e realizações. O sistema jurídico mais avançado que havia na época era o Direito Romano, que não era novidade para os templários mais eruditos, dentre os quais De Molay. Alguém perguntará como adquiri tanta certeza sobre isso, mas respondo que a forma como esse grande líder procedeu, inclusive conseguindo controlar a eventual rebeldia dos amigos presos e suas falas nos interrogatórios, sem contar o último discurso, diante das autoridades e do povo enquanto era queimado vivo em praça pública, tudo mostra que se tratava de um homem de grande cultura, liderança e inteligência. A própria organização da Ordem, suas regras de administração, o sistema bancário por ela inventado e praticado e outras tantas programações, mostram o quanto se conhecia de Direito nas intimidades do 22 universo dos templários da época que estamos abordando. Uma instituição organizada no mais alto grau de complexidade e bom funcionamento, como era a Ordem dos Templários, na certa que contava com juristas do mais alto nível, que tinham condições de estabelecer um sistema jurídico e judiciário do melhor nível no novo país. 23 CAPÍTULO III – A FÉ INQUEBRANTÁVEL NOS DESÍGNIOS DIVINOS O contato espiritual estabelecido rotineiramente entre De Molay e seus orientadores invisíveis lhe dava a certeza de estar no rumo certo, sendo que4, em algumas ocasiões, avistou-se diretamente com Jesus e, na oportunidade a que me referi acima, linhas atrás, foi o próprio Divino Mestre quem determinou que ninguém praticasse qualquer revide ou oposição aos atos injustos, caso quisesse se manter fiel aos mandamentos de Deus de Amor Incondicional. Assim é que De Molay passou essa mensagem adiante a todos que tinham condições psicológicas de se submeterem ao que viesse a acontecer. Dessa maneira separou-se o joio do trigo dentro da Ordem dos Templários, tendo os de pouca fé preferido a fuga, enquanto que os crentes na Justiça e na Proteção Divinas permanecido, no aguardo do que Deus enviasse como sendo sua Vontade, assim como tinha sido feito em relação a Jesus. Quem pensa que os templários se acovardaram está redondamente enganado, pois, mesmo sofrendo torturas inimagináveis, mantiveram-se firmes na certeza de que Deus estava com eles. 24 Muitos foram queimados vivos de início, como forma de intimidação para os demais, outros morreram durante as sessões de tortura, enquanto que outros tantos continuaram vivos até 1314, para serem expostos publicamente, como convinha à coroa francesa e ao papado, como forma de dizerem ao povo que quem ousasse enfrenta-los teria fim idêntico. O resultado foi o contrário, pois o povo viu que os templários seguidores de De Molay eram verdadeiros religiosos e homens de bem. As palavras de De Molay enquanto o fogo queimava suas carnes tiveram o condão de mostrar que estava sendo cometida uma tremenda injustiça contra pessoas honestas e dignas do maior respeito, enquanto que a “maldição” que saiu da boca desse líder dos templários funcionou como um alerta a todos quanto ao Poder de Deus, tendo isso sido confirmado com as desgraças que se abateram contra o papa e vários membros da família real. A submissão ao martírio e a “maldição” mostraram a todos que Jesus não é uma estátua no altar, mas sim um representante de Deus, vivo e atuante através dos seus emissários, dentre os quais De Molay e vários dos seus amigos castigados pela 25 maldade dos falsos representantes da religiosidade e do poder. Tudo o que aconteceu relembrou a crucificação de Jesus e os fatos que se sucederam após a escuridão súbita e surpreendente. A França nunca mais seria a mesma e nem o papado, pois Jesus tinha mostrado que não está apenas no Céu, mas acompanha e consola seus emissários e repreende seus perseguidores. A lição ficou na memória dos contemporâneos, mas os pósteros maliciosos trataram de sepultá-la. Por isso estou relembrando-a neste pequeno livro. 26 CAPÍTULO IV – AS FIGURAS MAIS PROEMINENTES DO PROJETO DE IMPLANTAÇÃO DO REINO DE DEUS NA TERRA Não é minha intenção escrever biografias, mas sim resumir o que fizeram alguns daqueles homens de fé e de coragem. Existem biógrafos desses todos, infelizmente sem compreensão sobre o verdadeiro contributo que deram à humanidade, que foi o da fé absoluta em Deus e na sua Justiça. Esses biógrafos se preocupam com detalhes que nada acrescentam ao que é importante e relatam fatos e dados sem valor algum para mostrar o quanto a mensagem deixada abalou as estruturas do Vaticano e do trono francês. 27 1 – JACQUES DE MOLAY Jacques de Molay é homenageado por muita gente que não entendeu sua vida e sua mensagem, mas, de qualquer forma, ficou o nome como o de um herói, que enfrentou a morte numa fogueira e desafiou os maiores poderes do momento: o rei e o papa. Nesse ponto valeu também a lição, para que as gerações lutem contra as injustiças perpetradas pelos poderosos, pagando com a própria vida, se assim for necessário. 28 2 – GEOFFROY DE CHARNAY Os historiadores divergem se foi Charnay quem morreu ao lado de De Molay, mas tenho para mim que essa confusão foi provocada pelos próprios interessados em falsear a verdade, lançando várias versões diferentes. Interessava ao papa e ao rei que ninguém tivesse certeza sobre quem eram os heróis que os afrontaram na hora da morte na fogueira. Acho que não foram apenas dois os que pereceram pela ação do fogo, mas muitos mais e seus nomes não foram registrados. Todavia, isso não importa, porque o povo viu a injustiça ser desmascarada e, depois, a morte dos carrascos do povo e da religião de fachada. Geoffroy de Charnay também falou esclarecendo o povo enquanto suas carnes eram dilaceradas pelo fogo e era um homem forte nas suas convicções e respeitado pelos que o conheciam. Ninguém tinha visto antes tanta firmeza diante dos homens mais poderosos da França: o rei e o papa, ambos desafiados publicamente. 29 Os corpos dos condenados ardiam no fogo, mas suas palavras abalavam as mentes, gerando arrependimentos e desmoralizando os poderosos sem caráter. 30 3 – GUI DAUPHIN Esse foi outro que pereceu queimado em praça pública, em 1314, junto com De Molay. Não disse nenhum discurso, porque era discreto e silencioso por natureza, mas sua credibilidade era conhecida de todos. 31 4 – GEOFFROY DE GONNEVILLE Esteve preso de 1307 a 1317, ou seja, por onze anos, mas conseguiu fugir e prosseguiu, longe da França incentivando os ideais templários. 32 NOTAS [1] “Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (em latim: "Ordo Pauperum Commilitonum Christi Templique Salominici"), conhecida como Cavaleiros Templários, Ordem do Templo (em francês: Ordre du Templeou Templiers) ou simplesmente como Templários”. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_dos_Templ%C3%A1 rios) [2] “Revela a história que a Ordem do Templo passou por muitas dificuldades e dissidências. Por consequência, hoje em dia há muitas organizações de gêneros diferentes que afirmam ser as “Autênticas Ordens do Templo”. Porém, confirmamos que a “Ordo Supremus Militaris Templi Hierosolymitani (OSMTH) é uma verdadeira Ordem Eclesiástica de Cavaleiros Templários, afiliada e nascida de sua Ordem Templária Mãe, com sede na cidade do Porto, em Portugal. Identificada pelo uso da mesma cruz de “barra dupla”, bem como pelo antigo lema da Ordem. A OSMTH é uma Ordem de Cavaleiros do Templo, não sendo, portanto, uma Ordem Maçônica e nem a ela é conectada, a não ser historicamente, como qualquer das Organizações Templárias dentro da Maçonaria. Muitos conteúdos sobre os templários foram altamente romantizados por vários historiadores e escritores ao longo dos séculos. Atribui-se aos Cavaleiros Templários a posse de segredos enigmáticos, e acredita-se que isso é devido à longa natureza histórica da Ordem e à sua considerável exposição às filosofias religiosas orientais encontradas no Oriente Médio. Nem a OSMTH nem sua Ordem Mãe, na Europa, afirmam estar de posse de 33 quaisquer segredos enigmáticos ou poderes de qualquer tipo. Não há absolutamente nada oculto sobre a OSMTH. As cerimônias de posse da Ordem (As concessões do título de Cavalaria) são religiosas, geralmente abertas a qualquer um que deseje vê-las. As cerimônias são em grande parte baseadas naquelas dos Templários antigos. A OSMTH também não tem nenhuma associação com organizações “Templárias”, originalmente sediadas na Espanha, se intitulando “A Aliança Federada Internacional”. Exemplos semelhantes da separação da Ordem Internacional ocorreram com grupos menores na Europa e na Grã-Bretanha. A maior parte da liderança de todas estas outras organizações Templárias foi originalmente admitida na Ordem pelo Grão-Mestre Europeu, mas elas escolheram se dividir na dissidência, por suas próprias razões, e formar suas próprias “Ordens Templárias”. É opinião geral nos círculos de Cavalaria que estas Ordens quebraram sua linhagem histórica e, desta forma, são consideradas como Templários ilegítimos e “Autointitulados”. Os membros da OSMTH recebem o título de Cavaleiro (ou Dama) Templário (a) da maior autoridade templária mundial, sediada no Porto, em Portugal. Estes títulos de Cavaleiro (ou Dama) Templário (a) são concedidos pela mais prestigiada das Ordens Cavalheirescas Eclesiásticas vindas do período histórico das Cruzadas. O título de Cavaleiro é altamente seletivo e geralmente é concedido pelas seguintes razões: 1) Reconhecimento e honra a uma pessoa por seus traços cristãos e de caridade, filantropia e melhora da humanidade; 2) Fornecimento de uma estrutura sem fins lucrativos, por meio da qual um Cavaleiro ou Dama possa canalizar estes esforços; e 3) Fornecer um caminho religioso adicional aos membros para que possam se alinhar com a estrutura monástica interna leiga, caso queiram. Além disso, a Ordem do Templo fornece também um caminho único através do qual 34 uma pessoa pode apreciar uma parte da história, peculiar aos seus interesses. No aspecto moderno busca-se resgatar os valores morais, éticos e de uma cidadania virtuosa. Além de outros importantes valores humanos que hoje estão muito depreciados, tais como a palavra, que antigamente era como um título de crédito, o comportamento, exemplos de bons atos, a cultura, e tudo mais que agrega valor ao ser humano. Os membros da Ordem Templária devem priorizar o seu desenvolvimento e cultura pessoal através da experiência acumulada de seus estudos. Respeito a todas as religiões e credos. Apoio a entidades filantrópicas, de assistência aos necessitados e àquelas de âmbito cultural. Para atender aos seus objetivos, a Ordem distribui monografias, boletins, revistas e experiências variadas aos seus membros.” (http://templarios.org.br/novosite/quem-somos) [3] “A Aquitânia (em francês: Aquitaine) foi até 2015 uma região administrativa do centro-oeste de França, e que hoje integra a região da Nova Aquitânia. É limitada a oeste pelo Oceano Atlântico e a sul pela Espanha. Compreende os departamentos de Dordonha, Gironda, Landes, Lot e Garona e Pirenéus Atlânticos. Os gentílicos desta região são aquitânico, aquitano e aquitanense. História Provavelmente o primeiro homem que chegou na Aquitânia foi o homem de Cro-Magnon mais ou menos há 40 mil anos. No paleolítico superior, os Aquitanos deixaram vários vestígios entre eles pinturas nas cavernas Lascaux e um busto chamado Vênus de Brassempouy ou Dama de Brassempouy. Do período neolítico são achados vestígios 35 humanos pela presença de dólmens (espécies de túmulos) e pelos menires (monumentos em pedra). Durante a conquista romana da Gália por Júlio César, a população que lá residia era chamada de ibérica pelo imperador romano. Na verdade eram os vascões, prováveis antepassados dos bascos. Não se sabe ao certo em que época eles começaram a habitar a região. A Aquitânia foi conquistada pelos romanos em 56 a.C. por Marco Licínio Crasso a mando de Júlio César. Sob o Império Romano faziam parte da Aquitânia o sudoeste da Gália dos Pirenéus ao vale do rio Loire incluindo Auvérnia. Saintes e Bordéus foram capitais da Gália Aquitânia. Os visigodos chegaram à região em 412-413 vindos de Provença e da Itália pouco antes do início da Idade Média. A região foi posteriormente conquistada pelos Francos e finalmente estruturada como um ducado independente, Ducado da Aquitânia. Em 671, a Aquitânia conseguiu sua independência liderada pelo duque Lupe. O Duque da Aquitânia, Eudes, vence uma batalha contra os Sarracenos que invadiam a Aquitânia. Entre 742 e 743, os filhos de Carlos Martel fazem campanhas contra a Aquitânia. Em 781, Carlos Magno (rei franco) nomeia seu filho, Luís I o Piedoso (aos três anos de idade) Rei da Aquitânia. Com a morte de Carlos Magno, Luís passa seu trono a seu filho, Pepino. Com a morte de Pepino, Luís nomeou outro filho (Carlos II, o Calvo) como rei mas com sua morte surgiu uma guerra pela sucessão do trono entre o filho de Pepino (Pepino II) e Carlos, o Calvo. A disputa só terminou em 860. Em 877, a Aquitânia se dividiu em dois ducados: Gasconha e Aquitânia. Em 1058, eles se uniram novamente. No século XII, a Duquesa Leonor da Aquitânia casou-se com o rei Luís VII de França com quem teve duas filhas. O 36 casamento foi anulado com a alegação de laços de consanguinidade, causa frequente quando a nobreza queria desfazer um casamento, porque Leonor queria se casar novamente, mas com o rival de Luís VII, o rei inglês Henrique II. Com a morte de Henrique II, seu filho Ricardo Coração de Leão assumiu o trono e o título de Duque de Aquitânia sempre ameaçado pelo seu irmão, João I de Inglaterra -o João Sem Terra- que não poupou esforços na tentativa de usurpar o trono enquanto o irmão lutava contra Saladino na Terceira Cruzada. Com a morte de Ricardo, atingido por uma flecha numa batalha sem nenhuma importância, João tornou-se o Rei da Inglaterra assumindo também o Ducado de Aquitânia, contra a vontade dos seus opositores, que preferiam seu sobrinho Artur, filho de seu irmão Godofredo com Constance de Bretanha. Um século mais tarde a França e a Inglaterra se enfrentaram na Guerra dos Cem Anos (1337–1453), quando o rei inglês Eduardo III (descendente da Dinastia Plantageneta e do rei Henrique II) reivindicou o trono de França. Com o fim da guerra, a Aquitânia passou a fazer parte definitivamente de França. Geografia Área: 41 400 km² (7.6 % da superfície total de França). População: 2 967 000 (4.97% da população total de França) (2002). A região é banhada ao oeste pelo Oceano Atlântico (golfo da Biscaia ou da Gasconha) desde o estuário da Gironda até à desembocadura do rio Bidasoa (Costa da Prata). Ao sul, está atravessada pelos Pirenéus que a separa de Espanha (Aragão, Navarra e País Basco). As cidades mais importantes da Aquitânia são: Bordéus (Bordeaux), Pau, Baiona (Bayonne), Agen, Mont-deMarsan, Biarritz, Périgueux, Bergerac, Dax e Libourne. Economia 37 Agricultura: cultivo de uvas é uma das principais produções da região. Indústrias: Petróleo e gás natural são encontrados e produzidos na região. Produção de vinhos: a produção dos famosos vinhos de Bordéus. Aeroespacial Língua Fala-se principalmente o francês. Alguns falam a língua Occitana (de origem românica), Gascão (língua própria da Aquitânia) e Euskera ou Língua basca. Aquitanos famosos Maurice Ravel (1875-1937), compositor e pianista Francis Cabrel (1953-), cantor Pascal Obispo (1965-), cantor Michel de Montaigne (1533-1592), pensador e político Montesquieu (1689-1755), pensador e filósofo Papa Clemente V (1264-1314), Papa Henrique IV (1553-1610), Rei de França D. Jordan Leonor da Aquitânia (cerca 1122 - 1 de Abril 1204) foi Duquesa da Aquitânia e da Gasconha, Condessa de Poitiers e Rainha consorte de França e Inglaterra. São Vicente de Paulo Aymeric Laporte (1994-), jogador de futebol” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Aquit%C3%A2nia) [4] “Democracia é um regime político em que todos os cidadãos elegíveis participam igualmente — diretamente ou através de representantes eleitos — na proposta, no desenvolvimento e na criação de leis, exercendo o poder da governação através do sufrágio universal. Ela 38 abrange as condições sociais, econômicas e culturais que permitem o exercício livre e igual da autodeterminação política. O termo origina-se do grego antigo δημοκρατία (dēmokratía ou "governo do povo"), que foi criado a partir de δῆμος (demos ou "povo") e κράτος (kratos ou "poder") no século V a.C. para denotar os sistemas políticos então existentes em cidades-Estados gregas, principalmente Atenas; o termo é um antônimo para ἀριστοκρατία (aristokratia ou "regime de uma aristocracia" como seu nome indica). Embora, teoricamente, estas definições sejam opostas, na prática, a distinção entre elas foi obscurecida historicamente. No sistema político da Atenas Clássica, por exemplo, a cidadania democrática abrangia apenas homens, filhos de pai e mãe atenienses, livres e maiores de 21 anos, enquanto estrangeiros, escravos e mulheres eram grupos excluídos da participação política. Em praticamente todos os governos democráticos em toda a história antiga e moderna, a cidadania democrática valia apenas para uma elite de pessoas, até que a emancipação completa foi conquistada para todos os cidadãos adultos na maioria das democracias modernas através de movimentos por sufrágio universal durante os séculos XIX e XX. O sistema democrático contrasta com outras formas de governo em que o poder é detido por uma pessoa — como em uma monarquia absoluta — ou em que o poder é mantido por um pequeno número de indivíduos — como em uma oligarquia. No entanto, essas oposições, herdadas da filosofia grega, são agora ambíguas porque os governos contemporâneos têm misturado elementos democráticos, oligárquicos e monárquicos em seus sistemas políticos. Karl Popper definiu a democracia em contraste com ditadura ou tirania, privilegiando, assim, oportunidades para as pessoas de controlar seus líderes e de tirá-los do cargo sem a necessidade de uma revolução. 39 Diversas variantes de democracias existem no mundo, mas há duas formas básicas, sendo que ambas dizem respeito a como o corpo inteiro de todos os cidadãos elegíveis executam a sua vontade. Uma das formas de democracia é a democracia direta, em que todos os cidadãos elegíveis têm participação direta e ativa na tomada de decisões do governo. Na maioria das democracias modernas, todo o corpo de cidadãos elegíveis permanece com o poder soberano, mas o poder político é exercido indiretamente por meio de representantes eleitos, o que é chamado de democracia representativa. O conceito de democracia representativa surgiu em grande parte a partir de ideias e instituições que se desenvolveram durante períodos históricos como a Idade Média europeia, a Reforma Protestante, o Iluminismo e as revoluções Americana e Francesa. Características Classificação política dos países de acordo com a pesquisa da Freedom House em 2016 Livre Parcialmente livre Não livre 40 Países em azul são designados "democracias eleitorais" pela pesquisa Freedom in the World de 2015, elaborada pela Freedom House. Não existe consenso sobre a forma correta de definir a democracia, mas a igualdade, a liberdade e o Estado de direito foram identificadas como características importantes desde os tempos antigos. Estes princípios são refletidos quando todos os cidadãos elegíveis são iguais perante a lei e têm igual acesso aos processos legislativos. Por exemplo, em uma democracia representativa, cada voto tem o mesmo peso, não existem restrições excessivas sobre quem quer se tornar um representante, além da liberdade de seus cidadãos elegíveis ser protegida por direitos legitimados e que são tipicamente protegidos por uma constituição. Uma teoria sustenta que a democracia exige três princípios fundamentais: 1) a soberania reside nos níveis mais baixos de autoridade; 2) igualdade política e 3) normas sociais pelas quais os indivíduos e as instituições só consideram aceitáveis atos que refletem os dois primeiros princípios citados. O termo democracia às vezes é usado como uma abreviação para a democracia liberal, que é uma variante da democracia representativa e que pode incluir elementos como o pluralismo político, a igualdade perante a lei, o direito de petição para reparação de injustiças sociais; devido processo legal; liberdades civis; direitos humanos; e elementos da sociedade civil fora do 41 governo. Roger Scruton afirma que a democracia por si só não pode proporcionar liberdade pessoal e política, a menos que as instituições da sociedade civil também estejam presentes. Em muitos países, como no Reino Unido onde se originou o Sistema Westminster, o princípio dominante é o da soberania parlamentar, mantendo a independência judicial. Nos Estados Unidos, a separação de poderes é frequentemente citada como um atributo central de um regime democrático. Na Índia, a maior democracia do mundo, a soberania parlamentar está sujeita a uma constituição que inclui o controle judicial.[15] Outros usos do termo "democracia" incluem o da democracia direta. Embora o termo "democracia" seja normalmente usado no contexto de um Estado político, os princípios também são aplicáveis a organizações privadas. O regime da maioria absoluta é frequentemente considerado como uma característica da democracia. Assim, o sistema democrático permite que minorias políticas sejam oprimidas pela chamada "tirania da maioria" quando não há proteções legais dos direitos individuais ou de grupos. Uma parte essencial de uma democracia representativa "ideal" são eleições competitivas que sejam justas tanto no plano material, quanto processualmente. Além disso, liberdades como a política, de expressão e de imprensa são consideradas direitos essenciais que permitem aos cidadãos elegíveis serem adequadamente informados e aptos a votar de acordo com seus próprios interesses. Também tem sido sugerido que uma característica básica da democracia é a capacidade de todos os eleitores de participar livre e plenamente na vida de sua sociedade. Com sua ênfase na noção de contrato social e da vontade coletiva do todos os eleitores, a democracia também pode ser caracterizada como uma forma de coletivismo político, porque ela é definida como uma forma de governo em que todos os cidadãos elegíveis têm 42 uma palavra a dizer de peso igual nas decisões que afetam suas vidas. Enquanto a democracia é muitas vezes equiparada à forma republicana de governo, o termo república classicamente abrangeu democracias e aristocracias. Algumas democracias são monarquias constitucionais muito antigas, como é o caso de países como o Reino Unido e o Japão. História Origens na antiguidade O termo "democracia" apareceu pela primeira vez no antigo pensamento político e filosófico grego na cidadeestado de Atenas durante a antiguidade clássica. Liderados por Clístenes, os atenienses estabeleceram o que é geralmente tido como a primeira experiência democrática em 508-507 a.C. Clístenes é referido como "o pai da democracia ateniense". A democracia ateniense tomou a forma de uma democracia direta e tinha duas características distintivas: a seleção aleatória de cidadãos comuns para preencher os poucos cargos administrativos e judiciais existentes no governo e uma assembleia legislativa composta por todos os cidadãos atenienses. Todos os cidadãos elegíveis eram autorizados a falar e votar na assembleia, que estabelecia as leis da cidade-estado. No entanto, a cidadania ateniense excluía mulheres, escravos, estrangeiros (μέτοικοι, metoikoi), os que não eram proprietários de terras e os homens com menos de 20 anos de idade. Dos cerca de 200 a 400 mil habitantes de Atenas na época, havia entre 30 mil e 60 mil cidadãos. A exclusão de grande parte da população a partir do que era considerada cidadania está intimamente relacionada com a antiga compreensão do termo. Durante a maior parte da antiguidade, o benefício da cidadania era associado à obrigação de lutar em guerras. 43 O sistema democrático ateniense não era apenas dirigido no sentido de que as decisões eram tomadas pelas pessoas reunidas na assembleia, mas também era mais direto no sentido de que as pessoas, através de assembleias e tribunais de justiça, controlavam todo o processo político e uma grande proporção dos cidadãos estava envolvida constantemente nos assuntos públicos. Mesmo com os direitos do indivíduo não sendo garantidos pela constituição ateniense no sentido moderno (os antigos gregos não tinham uma palavra para "direitos"), os atenienses gozavam de liberdades não por conta do governo, mas por viverem em uma cidade que não estava sujeita a outro poder e por não serem eles próprios sujeitos às regras de outra pessoa. A votação por pontos apareceu em Esparta já em 700 a.C. A Apela era uma assembleia do povo, realizada uma vez por mês. Nessa assembleia, os líderes espartanos eram eleitos e davam seu voto gritando. Todos os cidadãos do sexo masculino com mais 30 anos de idade podiam participar. Aristóteles chamava esse sistema de "infantil", em oposição a algo mais sofisticado, como a utilização de registros de voto em pedra, como os usados pelos atenienses. No entanto, em termos, Esparta adotou esse sistema de votação por causa da sua simplicidade e para evitar qualquer tipo de viés de votação. Mesmo que a República Romana tenha contribuído significativamente com muitos dos aspectos da democracia, apenas uma minoria dos romanos era considerada cidadãos aptos a votar nas eleições para os representantes. Os votos dos poderosos tinham mais peso através de um sistema de gerrymandering, enquanto políticos de alto gabarito, incluindo membros do senado, vinham de algumas famílias ricas e nobres. No entanto, muitas exceções notáveis ocorreram. Além disso, a República Romana foi o primeiro governo no mundo ocidental a ter uma república como um Estado-nação, apesar de não ter muitas características de uma democracia. Os romanos inventaram o conceito de 44 "clássicos" e muitas obras da Grécia antiga foram preservadas. Além disso, o modelo romano de governo inspirou muitos pensadores políticos ao longo dos séculos e democracias representativas modernas imitam mais o modelo romano do que os gregos porque era um Estado em que o poder supremo era realizado pelo povo e por seus representantes eleitos, e que tinha um líder eleito ou nomeado. A democracia representativa é uma forma de democracia em que as pessoas votam em representantes que, em seguida, votam em iniciativas políticas; enquanto uma democracia direta é uma forma de democracia em que as pessoas votam em iniciativas políticas diretamente. Era contemporânea Índice de democracia de 2015. As transições do século XX para a democracia liberal vieram em sucessivas "ondas" de democracia, diversas vezes resultantes de guerras, revoluções, descolonização e por circunstâncias religiosas e econômicas. A Primeira Guerra Mundial e a subsequente dissolução dos impérios Otomano e AustroHúngaro resultaram na criação de novos Estadosnação da Europa, a maior parte deles, pelo menos nominalmente, democráticos. 45 Na década de 1920 a democracia floresceu, mas a Grande Depressão trouxe desencanto e a maioria dos países da Europa, América Latina e Ásia e virou-se para regimes autoritários. O fascismo e outros tipos 46 de ditaduras floresceram na Alemanha nazista, na Itália, na Espanha e em Portugal, além de regimes não democráticos terem surgidos nos países bálticos, nos Balcãs, no Brasil, em Cuba, na China e no Japão, entre outros. A Segunda Guerra Mundial trouxe uma reversão definitiva desta tendência na Europa Ocidental. A democratização dos setores estadunidense, britânico e francês da Alemanha ocupada(disputado), da Áustria, da Itália e do Japão ocupado pelos Aliados serviu de modelo para a teoria posterior de "mudança de regime". No entanto, a maior parte da Europa Oriental, incluindo o setor soviético da Alemanha, caiu sob a influência do bloco soviético não democrático. A guerra foi seguida pela descolonização e, novamente, a maioria dos novos estados independentes tiveram constituições nominalmente democráticas. A Índia emergiu como a maior democracia do mundo e continua a sê-lo. Em 1960, a grande maioria dos Estados-nação tinham, nominalmente, regimes democráticos, embora a maioria das populações do mundo ainda vivesse em países que passaram por eleições fraudulentas e outras formas de subterfúgios (particularmente em nações comunistas e em ex-colônias). Uma onda posterior de democratização trouxe ganhos substanciais para a verdadeira democracia liberal para muitas nações. Espanha, Portugal (1974) e várias das ditaduras militares na América do Sul voltaram a ser um governo civil no final dos anos 1970 e início dos anos 1980 (Argentina em 1983, Bolívia e Uruguai em 1984, o Brasil em 1985 e o Chile no início de 1990). Isto foi seguido por nações do Extremo Oriente e do Sul da Ásia no final da década de 1980. O mal-estar econômico na década de 1980, juntamente com o ressentimento da opressão soviética, contribuiu para o colapso da União Soviética, o consequente fim da Guerra Fria e a democratização e liberalização dos antigos países do chamado bloco oriental. A mais bem 47 sucedida das novas democracias eram aqueles geográfica e culturalmente mais próximas da Europa Ocidental e elas são agora, em sua maioria, membros ou membros associados da União Europeia. Alguns pesquisadores consideram que a Rússia contemporânea não é uma verdadeira democracia e, em vez disso, se assemelha a uma forma de ditadura. A tendência liberal se espalhou para alguns países da África na década de 1990, sendo o exemplo mais proeminente a África do Sul. Alguns exemplos recentes de tentativas de liberalização incluem a Revolução Indonésia de 1998, a Revolução Bulldozer na antiga Iugoslávia, a Revolução Rosa na Geórgia, a Revolução Laranja na Ucrânia, a Revolução dos Cedros no Líbano, a Revolução das Tulipas no Quirguistão e da Revolução de Jasmim na Tunísia (parte da chamada "Primavera Árabe") De acordo com a organização Freedom House, em 2007, havia 123 democracias eleitorais (acima das 40 registradas em 1972). De acordo com o Fórum Mundial sobre a Democracia, as democracias eleitorais agora representam 120 dos 192 países existentes e constituem 58,2 por cento da população mundial. Ao mesmo tempo, as democracias liberais, ou seja, os países que Freedom House considera livre e que respeitam os direitos humanos fundamentais e o Estado de direito são 85 e representam 38 por cento da população global. Em 2010, as Nações Unidas declararam 15 de setembro o Dia Internacional da Democracia. Tipos A democracia tem tomado diferentes formas de governo, tanto na teoria quanto na prática. Algumas variedades de democracia proporcionam uma melhor representação e maior liberdade para seus cidadãos do que outras. No entanto, se qualquer democracia não está estruturada de forma a proibir o governo de excluir as pessoas do 48 processo legislativo, ou qualquer agência do governo de alterar a separação de poderes em seu próprio favor, em seguida, um ramo do sistema político pode acumular muito poder e destruir o ambiente democrático. Países do mundo de acordo com sua forma de governo em 2011 Repúblicas presidencialistas Repúblicas semipresidencialistas Repúblicas parlamentaristas Estados unipartidários Monarquias constitucionais parlamentares Monarquias absolutas Ditaduras militares Monarquias constitucionais onde o monarca exerce poder pessoalmente Repúblicas com um presidente executivo dependente do parlamento 49 Países que não se encaixam em nenhum dos sistemas políticos acima Vários Estados constitucionalmente considerados repúblicas multipartidárias são amplamente descritos pela comunidade internacional como países autoritários. Este mapa apresenta apenas a forma de governo de jure e não o grau de democracia de facto de cada país. Direta Democracia direta refere-se ao sistema onde os cidadãos decidem diretamente cada assunto por votação. A democracia direta tornou-se cada vez mais difícil, e necessariamente se aproxima mais da democracia representativa, quando o número de cidadãos cresce. Historicamente, as democracias mais diretas incluem o encontro municipal de Nova Inglaterra (dentro dos Estados Unidos), e o antigo sistema político de Atenas. Nenhum destes se enquadraria bem para uma grande população (embora a população de Atenas fosse grande, a maioria da população não era composta de pessoas consideradas como cidadãs, que, portanto, não tinha direitos políticos; não os tinham mulheres, escravos e crianças). É questionável se já houve algum dia uma democracia puramente direta de qualquer tamanho considerável. Na prática, sociedades de qualquer complexidade sempre precisam de uma especialização de tarefas, inclusive das administrativas; e, portanto, uma democracia direta precisa de oficiais eleitos. (Embora alguém possa tentar manter todas as decisões importantes feitas por voto direto, com os oficiais meramente implementando essas decisões). Exemplos de democracia direta que costumavam eleger Delegados com mandato imperativo, revogável e temporário podem ser encontrados em sedições e revoluções de cunho anarquista como a Revolução 50 Espanhola, a Revolução Ucraniana e no levante armado da EZLN, no estado de Chiapas. Contemporaneamente o regime que mais se aproxima dos ideais de uma democracia direta é a democracia semidireta da Suíça. Uma democracia semidireta é um regime de democracia em que existe a combinação de representação política com formas de Democracia direta (Benevides, 1991, p. 129). A Democracia semidireta, conforme Bobbio (1987, p. 459), é uma forma de democracia que possibilita um sistema mais bem-sucedido de democracia frente às democracias Representativa e Direta, ao permitir um equilíbrio operacional entre a representação política e a soberania popular direta. A prática desta ação equilibrante da democracia semidireta, segundo Bonavides (2003, p. 275), limita a “alienação política da vontade popular”, onde “a soberania está com o povo, e o governo, mediante o qual essa soberania se comunica ou exerce, pertence ao elemento popular nas matérias mais importantes da vida pública”. Representativa Em democracias representativas, em contraste, os cidadãos elegem representantes em intervalos regulares, que então votam os assuntos em seu favor. Do mesmo modo, muitas democracias representativas modernas incorporam alguns elementos da democracia direta, normalmente referendo. Nós podemos ver democracias diretas e indiretas como os tipos ideais, com as democracias reais se aproximando umas das outras. Algumas entidades políticas modernas, como a Suíça ou alguns estados norte-americanos, onde é frequente o uso de referendo iniciada por petição (chamada referendo por demanda popular) ao invés de membros da legislatura ou do governo. A última forma, que é frequentemente conhecida por plebiscito, permite ao governo escolher se e quando mantiver um referendo, e 51 também como a questão deve ser abordada. Em contraste, a Alemanha está muito próxima de uma democracia representativa ideal: na Alemanha os referendos são proibidos—em parte devido à memória de como Adolf Hitler usou isso para manipular plebiscitos em favor do seu governo. O sistema de eleições que foi usado em alguns países capitalistas de Estado, chamado centralismo democrático, pode ser considerado como uma forma extrema de democracia representativa, onde o povo elegia representantes locais, que por sua vez elegeram representantes regionais, que por sua vez elegiam a assembleia nacional, que finalmente elegia os que iam governar o país. No entanto, alguns consideram que esses sistemas não são democráticos na verdade, mesmo que as pessoas possam votar, já que a grande distância entre o indivíduo eleitor e o governo permite que se tornasse fácil manipular o processo. Outros contrapõem, dizendo que a grande distância entre eleitor e governo é uma característica comum em sistemas eleitorais desenhados para nações gigantescas (os Estados Unidos e algumas potências europeias, só para dar alguns exemplos considerados inequivocamente democráticos, têm problemas sérios na democraticidade das suas instituições de topo), e que o grande problema do sistema soviético e de outros países comunistas, aquilo que o tornava verdadeiramente não democrático, era que, em vez de serem escolhidos pelo povo, os candidatos eram impostos pelo partido dirigente. Direito ao Voto O voto, também chamado de sufrágio censitário, é típico do Estado liberal (século XIX) e exigia que os seus titulares atendessem certas exigências tais como pagamento de imposto direto; proprietário de propriedade fundiária e usufruir de certa renda. 52 No passado muitos grupos foram excluídos do direito de voto, em vários níveis. Algumas vezes essa exclusão é uma política bastante aberta, claramente descrita nas leis eleitorais; outras vezes não é claramente descrita, mas é implementada na prática por meios que parecem ter pouco a ver com a exclusão que está sendo realmente feita (p.ex., impostos de voto e requerimentos de alfabetização que mantinham afro-americanos longe das urnas antes da era dos direitos civis). E algumas vezes a um grupo era permitido o voto, mas o sistema eleitoral ou instituições do governo eram propositadamente planejados para lhes dar menos influência que outros grupos favorecidos. Hoje, em muitas democracias, o direito de voto é garantido sem discriminação de raça, grupo étnico, classe ou sexo. No entanto, o direito de voto ainda não é universal. É restrito a pessoas que atingem certa idade, normalmente 18 (embora em alguns lugares possa ser 16—como no Brasil—ou 21). Somente cidadãos de um país normalmente podem votar em suas eleições, embora alguns países façam exceções a cidadãos de outros países com que tenham laços próximos (p.ex., alguns membros da Comunidade Britânica e membros da União Europeia). A prática do voto obrigatório remonta à Grécia Antiga, quando o legislador ateniense Sólon fez aprovar uma lei específica obrigando os cidadãos a escolher um dos partidos, caso não quisessem perder seus direitos de cidadãos. A medida foi parte de uma reforma política que visava conter a radicalização das disputas entre facções que dividiam a polis. Além de abolir a escravidão por dívidas e redistribuir a população de acordo com a renda, criou também uma lei que impedia os cidadãos de se absterem nas votações da assembleia, sob risco de perderem seus direitos. Critérios Muitas sociedades no passado negaram a pessoas o direito de votar baseadas no grupo étnico. Exemplo disso é a 53 exclusão de pessoas com ascendência africana das urnas, na era anterior à dos direitos civis, e na época do apartheid na África do Sul. A maioria das sociedades hoje não mantém essa exclusão, mas algumas ainda o fazem. Por exemplo, Fiji reserva certo número de cadeiras no Parlamento para cada um dos principais grupos étnicos; essas exclusões foram adotadas para barrar a maioria dos indianos em favor dos grupos étnicos fijianos. Até o século XIX, muitas democracias ocidentais tinham propriedades de qualificação nas suas leis eleitorais, o que significava que apenas pessoas com certo grau de riqueza podiam votar. Hoje essas leis foram amplamente abolidas. Outra exclusão que durou muito tempo foi a baseada no sexo. Todas as democracias proibiam as mulheres de votar até 1893, quando a Nova Zelândia se tornou o primeiro país do mundo a dar às mulheres o direito de voto nos mesmos termos dos homens. No Brasil, pela constituição de 1822 e suas emendas antes dessa data, permitiu-se o direito de voto feminino, desde que pertencesse à classe determinada dos fazendeiros e fosse alfabetizada. Isso aconteceu devido ao sucesso do movimento feminino pelo direito de voto, tanto na Nova Zelândia como no Brasil, sendo que houve participações parlamentares já no Brasil depois dessa época. Hoje praticamente todos os Estados permitem que mulheres votem; as únicas exceções são sete países muçulmanos do Oriente Médio: Arábia Saudita, Barein, Brunei, Kuwait, Omã, Qatar e Emirados Árabes Unidos. O direito de voto normalmente é negado a prisioneiros. Alguns países também negam o direito a voto para aqueles condenados por crimes graves, mesmo depois de libertados. Em alguns casos (p.ex. em muitos estados dos Estados Unidos) a negação do direito de voto é automática na condenação de qualquer crime sério; em outros casos (p.ex. em países da Europa) a negação do 54 direito de voto é uma penalidade adicional que a corte pode escolher por impor, além da pena do aprisionamento. Existem países em que os prisioneiros mantêm o direito de voto (por exemplo, Brasil e Portugal). Problemas Os pensadores italianos do século XX Vilfredo Pareto e Gaetano Mosca(independentemente) argumentaram que a democracia era ilusória, e servia apenas para mascarar a realidade da regra de elite. Na verdade, eles argumentaram que a oligarquia da elite é a lei inflexível da natureza humana, em grande parte devido à apatia e divisão das massas (em oposição à unidade, a iniciativa e a unidade das elites), e que as instituições democráticas não fariam mais do que mudar o exercício do poder de opressão à manipulação. Como Louis Brandeis uma vez profetizou, "Podemos ter democracia ou podemos ter riqueza concentrada nas mãos de uns poucos, mas não podemos ter as duas coisas." Hoje todos os partidos políticos no Canadá são cautelosos sobre as críticas de alto nível de imigração, porque, como observou The Globe and Mail, "no início de 1990, o antigo Partido da Reforma foi marcado como 'racista' por sugerir que os níveis de imigração deveriam ser reduzidos de 250.000 a 150.000." Como o professor de Economia Don J. De Cortez destacou: "Em uma democracia liberal como o Canadá, o seguinte paradoxo persiste. Mesmo que a maioria dos entrevistados respondendo sim à pergunta: 'Há muitas imigrantes chegando a cada ano?' números de imigrantes continuam a subir até que um conjunto crítico de custos econômicos apareçam'". A ideia de “crise da democracia” vem ganhando repercussão na Teoria Política Contemporânea. Desde a década de 1970, autores da vertente partipacionista associam a legitimidade dos regimes democráticos a 55 fatores que vão além da mera possibilidade de exercício livre do voto. A demanda, nesse sentido, é por efetiva atuação na concepção das políticas públicas, o que causa resistência em agentes representativos receosos de compartilhar o poder que o design institucional moderno lhes conferiu..” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Democracia) [5] “A República (do latim res publica, "coisa pública") é uma estrutura política de Estado ou forma de Governo em que, segundo Cícero, são necessárias três condições fundamentais para caracterizá-la: um número razoável de pessoas (multitude); uma comunidade de interesses e de fins (communio); e um consenso do direito(consensus iuris). Nasce das três forças reunidas: libertas do povo, auctoritas do senado e potestas dos magistrados. A República é vista, mais recentemente, como uma forma de governo na qual o chefe do Estado é eleito pelo povo ou seus representantes, tendo a sua chefia uma duração limitada. A eleição do chefe de Estado, por regra chamado presidente da república, é normalmente realizada através do voto livre e secreto. Dependendo do sistema de governo, o presidente da república pode ou não acumular o poder executivo permanecendo por quatro anos. A origem deste sistema político está na Roma antiga, onde primeiro surgiram instituições como o senado. Nicolau Maquiavel descreveu o governo e a fundação da república ideal na sua obra Discursos sobre a primeira década de Tito Lívio (1512-17). Estes escritos, bem como os de seus contemporâneos, como Leonardo Bruni, constituem a base da ideologia que, em ciência política, se designa por republicanismo. O conceito de república não é isento de ambiguidades, confundindo-se às vezes com democracia, às vezes com liberalismo, às vezes tomado simplesmente no seu sentido etimológico de "bem comum". Hoje em dia, o termo república refere-se, regra 56 geral, a um sistema de governo cujo poder emana do povo, ao invés de outra origem, como a hereditariedade ou o direito divino. Ou seja, é a designação do regime que se opõe à monarquia. No entanto, res publica, como sinónimo de administração do bem público ou dos interesses públicos, foi frequentemente utilizada pelos escritores romanos para se referir ao Estado e ao governo, mesmo durante o período do Império Romano. A palavra república foi, com o mesmo significado, também frequentemente usada no Reino de Portugal. D. João II, por exemplo, numa carta ao rei de França, escreveu: "obrigação é do bom Príncipe e prudente, não somente galardoar seus vassalos com honras, cargos e dignidades merecidas, mas castigar com rigor, severidade e justiça aos que são prejudiciais em sua república, para que os bons com o exemplo do prémio sejam melhores e os maus ou com castigo se emendem, ou com as maldades pereçam". Um novo conjunto de significados para o termo república veio, também, da palavra grega πολιτεία (politeía ou politeia). Cícero, entre outros escritores latinos, traduziu politeia para res publica que, por sua vez, os estudiosos do Renascimento passaram a república. Esta, sendo uma tradução precisa para res publica no seu significado primitivo, já não o é no atual. Politeia é hoje geralmente traduzida por "forma de governo" ou "regime". No entanto, um exemplo da persistência desta tradução original é o título do grande trabalho de ciência política de Platão, A República, (Politeia, no original). Antônio Houaiss regista a entrada da palavra na língua portuguesa no século XV nas formas res publica, respublica, ree publica, repruvica, rrepublica e republica. Na língua inglesa, a palavra republic foi usada pela primeira vez na era do Protetorado de Oliver Cromwell, embora common wealth, tradução mais fiel da latina res publica, seja o termo mais comum para designar este regime sem 57 monarca. Na concepção moderna de República por Roque Antônio Carrazza: "República é o tipo de Governo, fundamentado na igualdade formal das pessoas, em que os detentores do poder político exercem-no em caráter eletivo, representativo (via de regra), transitório e com responsabilidade". História Repúblicas clássicas Há vários estados da Antiguidade clássica que, pelos parâmetros atuais, podemos considerar repúblicas, como é o caso das cidades-estados da Grécia Antiga, como Atenas e Esparta, bem como da própria República Romana. No entanto, a estrutura e o modo de governo desses estados eram consideravelmente diferentes dos que iríamos encontrar bem mais tarde, na Idade Moderna. Há, inclusive, uma controvérsia entre os estudiosos da matéria sobre se há ou não um continuum histórico entre as repúblicas clássica, medieval e moderna. Por um lado, o historiador J.G.A. Pocock, que tem desempenhado um papel central neste debate, argumenta que há uma tradição republicana própria que se estende do mundo clássico até ao presente. Paul Rahe, pelo contrário, argumenta que as repúblicas clássicas tinham uma forma de governo com poucas semelhanças com a de qualquer república moderna. Seja como for, parece inegável que a filosofia política das repúblicas clássicas teve uma influência central no pensamento republicano ao longo dos séculos seguintes. Uma série de escritores clássicos discutiram formas de governo alternativas à monarquia em obras que filósofos e políticos posteriores — como Maquiavel, Montesquieu, Adams e Madison — acabaram por considerar fundacionais sobre a natureza das repúblicas. A Política de Aristóteles discutia várias formas de governo. Uma delas, a politeia, uma forma de governo híbrida, foi 58 considerada por Aristóteles como a forma ideal de governo. Políbio expandiu muitos desses princípios, mais uma vez desenvolvendo a ideia de governo misto. A mais importante obra romana nesta tradição é De res publica de Cícero. Com o tempo, as repúblicas clássicas foram conquistadas por impérios ou tornaram-se, elas próprias, impérios. A maioria das repúblicas gregas foi anexada ao Império Macedónio de Alexandre, o Grande. A república romana expandiu-se, anexando sucessivamente outros estados do Mediterrâneo, alguns deles repúblicas, como Cartago. A república romana acabou, ela própria, por se transformar no Império Romano. Outras repúblicas antigas Geralmente considera-se que as repúblicas pré-modernas foram fenómenos exclusivamente europeus, no entanto houve estados noutras partes do mundo com formas de governos similares. São exemplos disso algumas cidades do Próximo Oriente antigo. Arwad, na atual Síria, tem sido citada como um dos primeiros exemplos de uma república, em que são as pessoas que são descritas como soberanas e não um monarca. A Confederação Israelita, da era anterior ao Reino de Israel, também tem sido considerada uma espécie de república. Durante a Idade Média, várias cidades-estados italianas tinham uma forma de governo de tipo comunal, chamada signoria. Escritores coevos, como Giovanni Villani, teorizaram sobre a natureza destes estados e as diferenças em relação às monarquias da época, usando termos como libertas populi para designar o regime destes estados. O renovado interesse pelas obras da Grécia e da Roma Antigas levou os escritores no século XV a preferirem uma terminologia mais clássica. Para descrever os estados não monárquicos, os escritores quatrocentistas, principalmente Leonardo Bruni, passaram a adotar a expressão latina res publica. Na primeira das suas obras, Nicolau Maquiavel dividia os 59 governos em três tipos: monarquia, aristocracia e democracia. Mas como, segundo o próprio Maquiavel, é difícil destrinçar entre uma aristocracia governada por uma determinada elite e uma democracia governada por um conselho nomeado pelo povo, no momento em que começou a trabalhar em O Príncipe, Maquiavel já tinha optado por usar a palavra república para se referir tanto a aristocracias como a democracias. Outra zona do globo onde se tem vindo a dar atenção ao fenómeno das repúblicas antigas é a Índia. No início do século XX, uma série de estudiosos indianos, principalmente K.P. Jayaswal, começou a defender que vários estados da Índia Antiga tinham formas republicanas de governo. Como não há constituições ou obras de filosofia política desse tempo que tenham sobrevivido até aos nossos dias, as formas de governo têm de ser deduzidas, a maioria das vezes, dos testemunhos dos textos religiosos. Estes textos referem que determinados estados eram Gana sangha, ou seja, baseados em conselhos, em oposição aos governos monárquicos. Outra fonte que atesta esta forma de governo são os relatos gregos da Índia, durante o período de contato que se seguiu às conquistas de Alexandre. Escritores gregos como Megástenes e Arriano escreveram que diversos estados indianos tinham governos republicanos semelhantes aos da Grécia. A partir de 700 a.C., aproximadamente, as repúblicas foram-se desenvolvendo numa faixa que ia do Vale do Indo, a noroeste, até à Planície do Ganges, a nordeste. Eram, principalmente, estados de pequeno porte, embora algumas confederações de repúblicas parece terem-se formado, cobrindo vastas áreas, como Vajji, por volta de 600 a.C., que tinha Vaishali como capital. Tal como na Grécia, a era republicana chegou ao fim pelo século IV a.C., com a ascensão de um império monárquico — o Império Máuria — que conquistou quase 60 todo o subcontinente, pondo fim à autonomia das repúblicas. Algumas continuaram sendo repúblicas, sob a suserania máuria, ou regressaram ao sistema republicano mais tarde, após a queda do império. Madra, por exemplo, sobreviveu como república até ao século IV d.C. O fim das repúblicas na Índia acabou por vir, no entanto, com a ascensão da Dinastia Gupta e a propagação da filosofia da natureza divina da monarquia, que lhe esteve associada. Repúblicas mercantis As repúblicas reapareceram na Europa no final da Idade Média, quando uma série de pequenos estados adotaram sistemas republicanos de governo. Apesar de geralmente pequenas, eram repúblicas comerciais ricas em que a classe mercantil adquiriu proeminência social e política. O historiador dinamarquês Knud Haakonssen refere que, no Renascimento, a Europa estava dividida entre os estados controlados pela elite terra tenente — as monarquias — e os controlados pela elite comercial — as repúblicas. Ao longo da Idade Média, um pouco por todas as cidades da Europa foi crescendo uma abastada classe de comerciantes que, apesar da sua grande riqueza, não detinha qualquer poder, totalmente concentrado nas mãos da nobreza feudal. Por toda a Europa os burgueses começaram também a reivindicar privilégios e poder, levando os monarcas a conceder regalias pontuais a certas localidades, expressas em documentos que tomaram o nome de royal charters na Inglaterra; fueros em Castela; cartas de foral em Portugal; etc. Nos territórios menos centralizados, como no Sacro Império Romano-Germânico, 51 das maiores cidades tornaram-se cidades livres. Ainda que sob o domínio mais ou menos simbólico do imperador, muitas destas urbes adotaram formas republicanas de governo local. O mesmo 61 se passou com as cidades comerciais mais importantes da Suíça que, graças à geografia alpina, tinham ficado de fora do controlo central. Ao contrário do que ocorreu em Itália e na Alemanha, na Suíça grande parte das zonas rurais nunca chegou a ser controlada por senhores feudais, mas sim por agricultores independentes que também utilizaram formas comunais de governo. Quando, no final do século XIII, os Habsburgos tentaram retomar o controlo da região, tanto os agricultores rurais como os comerciantes urbanos rebelaram-se, proclamando a Confederação Helvética. A Suíça mantém a forma republicana de governo até ao presente. Durante a Idade Média, a Itália era a zona mais densamente povoada da Europa e também a que tinha o governo central mais fraco. Muitas das cidades, por isso, declararam-se independentes e adotaram formas comunais de governo. Completamente livres do poder feudal, as cidades-estados italianas expandiram-se, passando a controlar também o interior rural. As mais poderosas destas repúblicas marítimas foram a República de Veneza e a República de Génova que rivalizavam entre si. Ambas eram grandes potências comerciais marítimas que se foram expandindo pelo Mediterrâneo. Foi também em Itália que primeiro se desenvolveu uma ideologia advogando a forma republicana de governo. Escritores como Bartolomeu de Lucca, Brunetto Latini, Marsílio de Pádua e Leonardo Bruni viram as cidades-estados medievais como verdadeiras continuadoras do legado da Grécia e da Roma Antiga. No entanto, estas repúblicas estavam longe de se poder comparar às democracias de hoje em dia. Por regra, o governo das repúblicas medievais assentava num conselho, constituído por uma elite de patrícios. Em muitos estados nunca foram realizadas eleições diretas, sendo os lugares no conselho hereditários ou nomeados pelos membros já existentes. Nas repúblicas onde foram realizadas eleições, o direito de votar e de ser eleito estava grandemente 62 condicionado à riqueza da pessoa em questão e à sua filiação em corporações de ofícios, mesteres ou guildas. Isto deixou a grande maioria da população sem poder político, pelo que eram comuns os motins e as revoltas das classes mais baixas. O final da Idade Média viu mais de duzentos levantamentos nas cidades do Sacro Império Romano-Germânico. Revoltas semelhantes ocorreram um pouco por toda a Europa, como em Florença com a Revolta dos Ciompi. Repúblicas protestantes Enquanto que, para as repúblicas italianas, os escritores clássicos haviam sido a principal fonte ideológica, no Norte da Europa, a Reforma Protestante seria utilizada como a grande justificação para o estabelecimento de novas repúblicas. A mais importante foi a teologia calvinista, que se desenvolveu na Confederação Suíça, uma das maiores e mais poderosas repúblicas medievais. João Calvino não pediu a abolição da monarquia, mas defendeu o direito dos fiéis a derrubar os monarcas contrários à religião. O calvinismo também defendia um rigoroso igualitarismo e uma oposição à hierarquia. A defesa da república apareceu nos escritos dos huguenotes durante as guerras religiosas em França. O Calvinismo desempenhou um importante papel nas revoltas republicanas na Grã-Bretanha e na Holanda. Tal como as cidades-estados de Itália e da Liga Hanseática, também a Grã-Bretanha e a Holanda eram importantes centros de comércio, com uma grande classe de comerciantes prosperando com o comércio com o Novo Mundo. Grande parte da população destes dois países também abraçou o calvinismo. A Revolta Holandesa, começando em 1568, viu a República das Sete Províncias Unidas dos Países Baixos rejeitar o domínio da Espanha dos Habsburgos num conflito que durou até 1648 — a Guerra dos Oitenta Anos. 63 Em 1641, estalou a guerra civil inglesa. Liderada pelos puritanos e financiada pelos mercadores de Londres, a revolta triunfou e o rei Carlos I acabou por ser decapitado. Na Inglaterra, James Harrington, Algernon Sidney e John Milton foram dos primeiros autores a defender a rejeição da monarquia e a adoção de uma forma republicana de governo. A República Inglesa teve vida curta e a monarquia foi restaurada onze anos depois. A República Holandesa continuou oficialmente até 1795 mas, a partir de 1747, o Stadthouder torna-se um monarca de facto. Os calvinistas foram também dos primeiros colonizadores das colónias holandesas e britânicas da América do Norte, influenciando decisivamente a evolução política desses territórios. Repúblicas liberais No início da Idade Moderna, assistiu-se, na Europa, a duas evoluções antagónicas. Por um lado, a monarquia absolutista substituiu a monarquia descentralizada que havia existido na maior parte da idade média. Por outro, foi-se desenvolvendo uma forte reação contra o poder absoluto dos monarcas, levando à criação de uma nova ideologia conhecida como liberalismo. No entanto, a maioria destes novos pensadores iluministas estava mais interessada na implantação da monarquia constitucional do que da república. O regime de Cromwell tinha desacreditado o republicanismo e a maioria dos pensadores entendia que as repúblicas conduziam à anarquia ou à tirania. Assim, filósofos como Voltaire, por exemplo, opunham-se ao absolutismo ao mesmo tempo em que eram fortemente prómonárquicos. Rousseau e Montesquieu elogiaram as repúblicas e encararam as cidades-estados da Grécia antiga como modelos. Rousseau descreveu a sua estrutura política ideal de pequenas comunas autogeridas. Montesquieu escreveu 64 que uma cidade-estado idealmente deveria ser uma república, mas defendeu que uma monarquia com poderes limitados seria mais adequada para uma grande nação. Ambos concordavam que não seria possível governar um grande estado-nação como a França, com vinte milhões de pessoas, como uma república. A revolução americana começou apenas como uma rejeição da autoridade do parlamento britânico sobre as colónias. O fracasso do monarca britânico em proteger as colónias do que consideravam uma violação do seu direito a um governo representativo, a sumária condenação como traidores dos que defendiam os seus direitos, agravado pelo envio do exército como demonstração de autoridade resultou na percepção generalizada da monarquia britânica como tirânica. Com a declaração da independência, os líderes da revolta rejeitaram firmemente a monarquia e, como tal, abraçaram o republicanismo. Os líderes da revolução eram bem conhecedores dos escritos dos pensadores liberais franceses e também da história das repúblicas clássicas. John Adams tinha até escrito um livro sobre as repúblicas ao longo da história. Além disso, a ampla distribuição da obra Common Sense, de Thomas Paine, de forma sucinta e eloquente propagou junto do grande público os ideais republicanos e a independência. A Constituição dos Estados Unidos, ratificada em 1789, criou uma república federal relativamente forte, em substituição de uma confederação relativamente fraca, primeira proposta para um governo nacional através dos Artigos da Confederação, ratificados em 1783. As primeiras dez emendas à constituição, chamadas Bill of rights, consagraram certos direitos naturais fundamentais para os ideais republicanos, que justificaram a revolução. Tal como a americana, também a revolução francesa não era republicana no seu início. Somente após a fuga de Varennes ter retirado o que restava da pouca simpatia de que o rei gozava, é que foi declarada a república e Luís XVI enviado para a guilhotina. O sucesso estrondoso da 65 França nas guerras revolucionárias francesas viu as repúblicas espalharem-se pela força das armas um pouco por toda a Europa, à medida que uma série de repúblicas clientes foi criadas em todo o continente. A ascensão de Napoleão marcou o final da Primeira República Francesa e a sua posterior derrota permitiu às monarquias vitoriosas porem fim a muitas das mais antigas repúblicas do continente, incluindo Veneza, Génova e a Holanda. Fora da Europa, outro grupo de repúblicas foi sendo criado à medida que as Guerras Napoleónicas permitiram que os estados de América latina ascendessem à independência. A ideologia liberal teve apenas um impacto limitado nestas novas repúblicas. O impulso principal foi da população crioula, descendente dos europeus, em conflitos com os governadores peninsulares enviados d'além-mar. A maioria da população na América Latina era de ascendência ameríndia ou africana, com a qual a elite crioula tinha pouco interesse em partilhar o poder através de uma soberania popular alargada. Simon Bolívar, o principal instigador das revoltas e também um de seus teóricos mais importantes, simpatizava com os ideais liberais, mas entendia que, à América Latina, faltava a coesão social para que esse sistema funcionasse e defendeu a autocracia, sempre que necessária. Anúncio da Proclamação da República Irlandesa 66 No México, esta autocracia tomou, por pouco tempo, a forma de uma monarquia no Primeiro Império Mexicano. Devido à guerra peninsular, a família real portuguesa transferiu-se para o Rio de Janeiro em 1808. O Brasil atingiu a independência como uma monarquia em 7 de setembro de 1822, tendo o império do Brasil durado até 1889. Nos demais estados, diferentes formas de república autocrática existiram até sua liberalização no final do século XX. A Segunda República Francesa foi criada em 1848 e a Terceira República Francesa em 1871. A Espanha inaugurou a sua primeira república, apenas para ver regressar a monarquia poucos anos depois. No início do século XX, a França e a Suíça mantinham-se como as únicas repúblicas na Europa. Antes da primeira guerra mundial, a república portuguesa, implantada através da revolução de 5 de outubro de 1910, foi a primeira do novo século. Isto estimularia o aparecimento de mais repúblicas no rescaldo da guerra, quando vários dos maiores impérios europeus entraram em colapso. O império alemão, o império austro-húngaro, o império russo e o império otomano foram substituídos por várias repúblicas. Novos estados tornaram-se independentes e muitos destes, como a Irlanda, a Polónia, a Finlândia e a Checoslováquia, escolheram formas republicanas de governo. Em 1931, a Segunda República Espanhola terminou numa guerra civil que seria o prelúdio da segunda guerra mundial. As ideias republicanas foram se espalhando, especialmente na Ásia. A partir do final do século XIX, os Estados Unidos começaram a ter uma influência crescente na Ásia, com os missionários protestantes a desempenharem um papel central. Os escritores liberais e republicanos ocidentais também exerceram influência. Isto, combinado com o confucionismo, inspirou a filosofia política que há muito argumentava que a população tinha o direito de rejeitar um governo injusto que tivesse perdido o mandato do céu. 67 Duas repúblicas de vida breve foram proclamadas no extremo oriente: a república de Formosa e a Primeira República das Filipinas. Na China, um forte sentimento contra a dinastia Qing e uma série de movimentos de protesto levaram à criação de uma monarquia constitucional. O líder mais importante deste movimento foi Sun Yat-sen, cujos Três Princípios do Povo combinavam ideias americanas, europeias e chinesas. A república da China acabou por ser proclamada em 1 de janeiro de 1912. Repúblicas socialistas e comunistas Edital da Comuna de Paris. Entre a década de 1920 e o início da de 90, numerosos estados adotaram designações como "república democrática", "república popular" ou "república socialista": República Popular da Mongólia (19241992), República Popular Federal da Jugoslávia (1946– 1963), República Popular de Angola (1975– 1992), República Popular Democrática do Iémen (1967– 1970), República Democrática Alemã(1949– 1990), República Socialista do Vietname (1976atualidade), etc. Tratava-se, por regra, de repúblicas com formas de governo caraterizadas pela adoção da ideologia comunista como princípio orientador da ação do estado. Estas repúblicas podiam ter vários partidos políticos legais, mas ao Partido Comunista era concedido um papel privilegiado ou dominante no governo, princípio muitas vezes definido na própria Constituição, ao ponto de se confundirem as instituições do estado com as do partido. 68 A grande fonte de inspiração para as repúblicas socialistas do século XX veio da Comuna de Paris de 1871, quando as classes sociais mais desfavorecidas tomaram o controle da capital de França. Karl Marx descreveu a Comuna como o protótipo do governo revolucionário do futuro "a forma política, finalmente descoberta, com a qual se realiza a emancipação económica do trabalho." Friedrich Engels observou como um dos grandes ensinamentos a recolher da Comuna, a forma como se remunerou a todos os funcionários "grandes e pequenos, apenas o salário que outros operários recebiam. (...) Assim se fechou a porta, eficazmente, à caça aos cargos e à ganância da promoção". Nas palavras de Engels, a "classe operária, para não perder de novo a sua própria dominação, acabada de conquistar, tinha, por um lado, de eliminar a velha maquinaria de opressão até aí utilizada contra si própria, mas, por outro lado, de precaver-se contra os seus próprios deputados e funcionários, ao declarar estes, sem qualquer excepção, revogáveis a todo o momento." Engels defendeu, no entanto, que tal estado seria temporário, apenas "até que uma geração crescida em novas, livres condições sociais, se torne capaz de se desfazer de todo o lixo do Estado". Essas ideias foram adotadas por Vladimir Lenine, em 1917 pouco antes da Revolução de Outubro na Rússia e publicadas em O Estado e a Revolução, um texto fundamental para muitos marxistas. Com o fracasso da revolução mundial prevista por Lenine e Trotsky, a Guerra Civil Russa, e, finalmente, a morte de Lenine, as medidas de guerra que eram considerados temporárias, como a requisição forçada de alimentos e a falta de controlo democrático, tornaram-se permanente e uma ferramenta de reforço do poder de Estaline. Ao longo do século XX, a maioria das repúblicas socialistas e comunistas adotaram economias planificadas. No entanto, houve algumas exceções: a União Soviética durante a década de 1920 e a Jugoslávia após 69 a Segunda Guerra Mundial permitiram um mercado limitado e um grau de autogestão dos trabalhadores; enquanto a China, o Vietname e o Laos introduziram profundas reformas económicas após a década de 1980. No início da década de 1990, a grande maioria destes países fizeram acompanhar o processo de abertura económica e política dos seus regimes do abandono destes qualificativos, passando simplesmente a designarem-se por "repúblicas". Há, no entanto, estados na atualidade que, não sendo propriamente marxista-leninistas, usam termos como "democrática", "popular" e "socialista" nos títulos oficiais dos países. São exemplos disto a Argélia (República Argelina Democrática e Popular); o Bangladesh (República Popular do Bangladesh); a Líbia (Grande República Socialista Popular Árabe da Líbia); São Tomé e Príncipe (República Democrática de São Tomé e Príncipe) e Timor-Leste (República Democrática de Timor-Leste). Repúblicas islâmicas Muitas repúblicas de população maioritariamente muçulmana quiseram juntar a palavra "islâmica" à sua designação oficial. O Paquistão, por exemplo, adotou o título através da Constituição de 1956; a Mauritânia adotou-o em 28 de novembro de 1958; o Irão após a Revolução Iraniana de 1979 que derrubou a dinastia Pahlavi; o Afeganistão após o derrube dos talibãs em 2001. A filosofia política islâmica tem uma longa tradição de oposição à monarquia absolutista, expressa, nomeadamente, na obra do filósofo muçulmano Al-Farabi. A Xariá, lei islâmica, tinha precedência sobre a vontade do governante que deveria ser escolhido através de um conselho, a Ash-Shura. Apesar dos primeiros califados terem mantido os princípios da eleição do governante, mais tarde os estados tornaram-se ditaduras 70 ou militares, embora muitos mantivessem uma, pouco mais do que simbólica, ash-shura consultiva. hereditárias No entanto, nenhum desses estados é geralmente referido como sendo uma república. O termo árabe atual ( ججججج ججjumhūrīyyat), surgiu no final do século XIX, decalcando o conceito ocidental de república. No século XX o republicanismo tornou-se um movimento importante em grande parte do Médio Oriente, à medida que as monarquias foram caindo em muitos estados da região. Alguns, como o Iraque e a Turquia, tornaram-se repúblicas seculares. Outras nações, como a Indonésia e o Azerbaijão, começaram também como seculares, mas seguiram outros caminhos. No Irão, a revolução de 1979 derrubou a monarquia e criou uma república islâmica baseada nas ideias de democracia islâmica. O termo república islâmica, no entanto, pode ter significados diferentes, às vezes até antagónicos. A república islâmica do Irão, por exemplo, está em contraste com o estado semissecular da República Islâmica do Paquistão. Num caso, trata-se de uma república com um governo teocrático, no qual o código penal do estado obedece às leis da Xariá. No outro, a designação "islâmica" parece mais uma alusão à identidade cultural do país. O Paquistão foi o primeiro país a adotar o adjetivo "islâmico" para qualificar o seu estatuto republicano através da sua constituição de 1956 que, no restante, era bastante secular. Apesar desta definição, o país não teve uma religião de estado até 1973, quando uma nova constituição, mais democrática mas menos secular, foi aprovada. O Paquistão só usa o nome "República Islâmica" nos seus passaportes e vistos. Em todos os documentos oficiais a designação utilizada é simplesmente "Governo do Paquistão". Apesar disso a atual Constituição do Paquistão, parte IX, artigo 227 diz expressamente: "Todas as leis existentes devem ser postas 71 em conformidade com os preceitos do Islão tal como expressos no Alcorão e na Suna". Chefe de Estado Repúblicas presidencialistas Poder executivo partilhado entre presidente e parlamento Repúblicas semipresidencialistas Repúblicas parlamentares Repúblicas partido único de Estrutura Nas repúblicas contemporâneas, o chefe de Estado é geralmente designado por presidente da república ou simplesmente presidente. O termo deriva do latim præ sidere ("sentar à frente"), significando liderar, dirigir, presidir, aplicável à direção de uma cerimónia, de uma reunião ou de uma organização. Usado na Grã-Bretanha nessa acessão, o título presidente foi aplicado em 1608 ao líder da Virgínia e depois estendido a outras das Treze Colónias inglesas na América do Norte, com a designação de "Presidente do Conselho". Os Estados Unidos foi a primeira república a usar este título, mantendo o significado inicial da palavra: "Presidente do Congresso Continental", o líder do primeiro parlamento. Quando a nova Constituição foi escrita o título de "Presidente dos Estados Unidos" foi atribuído ao responsável pelo poder executivo. 72 Designa-se por presidencialismo o sistema de governo no qual o chefe de Estado é também chefe de governo. Num sistema presidencial completo, o presidente desempenha o papel político central e detém uma autoridade considerável. Os Estados Unidos foram o primeiro exemplo de tal sistema que serviu de base ao modelo adotado noutros países, como na França e no Brasil. Noutros estados, a legislatura domina e o papel do presidente é pouco mais do que cerimonial e apolítico, como na Alemanha e na Índia. Esses estados são repúblicas parlamentaristas e funcionam de forma semelhante às monarquias constitucionais com sistemas parlamentaristas, onde o poder do monarca é também extremamente circunscrito. Nos sistemas parlamentares, o chefe de governo, na maioria das vezes intitulado primeiro-ministro, exerce o maior poder político real. Nos sistemas semipresidencialistas o chefe de governo e o chefe de Estado compartilham em alguma medida o poder executivo, participando, ambos, do quotidiano da administração do Estado. Difere do parlamentarismo por apresentar um chefe de Estado com prerrogativas que o tornam muito mais do que uma simples figura protocolar ou mediador político; difere, também, do presidencialismo por ter um chefe de governo com alguma medida de responsabilidade perante o legislativo. Em França, o presidente define a política externa, em Portugal, o presidente tem menos poder, tendo poder de vetar leis e dissolver a Assembleia. As regras para a nomeação do presidente e do líder do governo, em algumas repúblicas permitem a nomeação de um presidente e de um primeiro-ministro com convicções políticas opostas: na França, quando os membros do governo e o presidente vêm de fações políticas opostas, esta situação chama-se coabitação. Em alguns países, como na Suíça e em San Marino, o chefe de Estado não é 73 uma única pessoa, mas sim um conselho. A República Romana tinha dois cônsules, nomeados por um ano. Eleição Nas democracias constitucionais os presidentes ou são eleitos diretamente pelo povo ou, indiretamente, por um parlamento ou conselho. Nos sistemas presidencialistas e semipresidencialistas o presidente tanto pode ser eleito diretamente como indiretamente, caso dos Estados Unidos. Neste país o presidente é oficialmente eleito por um colégio eleitoral, escolhido pelos estados através de direto dos eleitores. Apesar de, na opinião de alguns, a eleição direta conferir maior legitimidade ao presidente e dar ao cargo muito do seu poder político, a Constituição dos Estados Unidos estabelece que a legitimidade do presidente advenha da ratificação da Constituição por nove estados. A ideia de que a eleição direta é necessária para a legitimidade também contradiz o espírito do Grande Compromisso de 1787, cujo resultado real foi manifestado na cláusula que garante aos eleitores dos estados menores uma representação ligeiramente maior do que os grandes estados na escolha presidencial. Nos países com um sistema tipicamente parlamentar o presidente é normalmente eleito pelo parlamento. Estas eleições indiretas subordinam o presidente ao parlamento, conferindo-lhe, também, uma legitimidade limitada, transformando a maioria dos poderes presidenciais em poderes de reserva que só podem ser exercidos em circunstâncias excecionais, como acontece na República da Irlanda.” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Rep%C3%BAblica) [6] Verdadeiro crápula, Filipe IV é mencionado na Wikipédia nos seguintes termos: 74 “Filipe IV & I (Fontainebleau, 1268 – Fontainebleau, 29 de novembro de 1314), também chamado de Filipe, o Belo, foi o Rei da França como Filipe IV de 1285 até sua morte e também Rei de Navarra como Filipe I de 1284 a 1305 em virtude de seu casamento com Joana I. Filipe IV foi um rei polémico, estando na origem da tentativa de deposição do papa Bonifácio VIII e da transferência do papado para a cidade de Avinhão, e criando as condições para, algumas décadas depois da sua morte, a eclosão da Guerra dos Cem Anos. No seu reinado suprimiu a Ordem dos Cavaleiros Templários a 13 de outubro de 1307, facto que provavelmente esteve na origem da superstição de as sextas-feiras dia 13 serem dias aziagos. Há quem pense que o cognome o Belo deve-se a uma sua extraordinária beleza, segundo relatos contemporâneos. Também apelidado pelos seus inimigos e admiradores de o rei de Mármore ou o rei de Ferro, foi notável pela sua personalidade rígida e severa. Um dos seus mais ferozes oponentes, o bispo Bernardo Saisset de Pamiers, disse sobre o rei: «Não é um homem nem uma besta. É uma estátua». Subida ao trono Segundo filho de Filipe III de França com Isabel de Aragão, Filipe o Belo nasceu no castelo de Fontainebleau no ano de 1268. Quando o seu irmão mais velho morreu aos 12 anos de idade em 1276, tornou-se novo herdeiro do trono. Teve como preceptor Guilherme d'Ercuis, o capelão do seu pai. Em 1284-1285 participou da cruzada aragonesa, a fracassada campanha francesa na Catalunha para depor o rei Pedro III de Aragão e colocar no seu lugar Carlos de Valois, o seu irmão mais novo. Com a derrota militar e a epidemia de disenteria que marcaram o fim desta campanha e atingiram o rei Filipe III, assumiu a liderança da hoste. 75 Tentou negociar a passagem da família real através dos Pirenéus mas recebeu uma recusa do rei aragonês, e depois sofreu uma pesada derrota na batalha travada a 30 de setembro e 1 de outubro, na qual Pedro massacrou o exército francês mas poupou a família real. Com a morte do rei de França em Perpinhã a 5 de outubro, por disenteria, Filipe subiu ao trono e abandonou a campanha. Foi coroado a 6 de janeiro de 1286 na catedral de Reims. Consolidação do poder real Determinado a fortalecer a monarquia, Filipe confiou, mais do que qualquer dos seus predecessores, na burocracia profissional de legalistas. Auxiliado por ministros como Pierre Flote, Guilherme de Nogaret e Enguerrardo de Marigny, favoreceu o desenvolvimento das instituições administrativas e judiciárias. Homem solene e silencioso, ao seu povo parecia distante do governo e, tendo encarregado os seus ministros de políticas específicas, especialmente as impopulares, foi chamado de "coruja inútil" pelos seus contemporâneos. Na verdade o seu reinado marcou a transição da França, de uma monarquia carismática, passível de perder muito do seu poder sob um rei incapaz, para um reino burocrático, na direção da modernidade. Um ano antes de subir ao trono, a 14 de agosto de 1284, o Belo casara-se, aos 16 anos de idade, com Joana I de Navarra, filha de Henrique I de Navarra e Branca de Artois. O matrimónio conferiu-lhe os títulos de rei de Navarra e conde de Champagne, como Filipe I, até à morte da sua esposa a 4 de abril de 1305. O principal benefício administrativo desta união era que a herança de Joana em Champagne e Brie, adjacente aos domínios reais na Île-de-France, foi efetivamente unida às terras do rei, formando uma ampla área. Durante os reinados de Joana e dos seus três filhos (1284–1328), estas terras pertenciam à pessoa do rei. 76 Mas em 1328 já se encontravam tão ligadas aos domínios reais que o Filipe VI de França (da casa de Valois, não um herdeiro de Joana) fez uma troca de terras com a herdeira dessa época, Joana II de Navarra. Estes territórios permaneceram com a coroa francesa, tendo Joana II recebido terras no oeste da Normandia em compensação. O reino de Navarra nos Pirenéus não tinha a mesma importância para os interesses da época dos monarcas franceses. Permaneceu em união pessoal de 1284 a 1328, tendo depois revertido para Joana II de Navarra e para a casa de Évreux. Outras adições de Filipe aos domínios reais foi Lião em 1312 e a compra da região de Quercy (aproximadamente o atual departamento de Lot) à Inglaterra por três mil libras. Política externa Relações com os mongóis No seguimento da política externa de São Luís, Filipe teve vários contatos com o Ilcanato mongol no Médio Oriente, que pretendia obter a cooperação de reinos cristãos para a luta contra os muçulmanos. Recebeu a embaixada do monge sino-mongol Rabban Bar Sauma, e um elefante como presente. Filipe terá respondido com uma positiva à solicitação. O rei francês também ofereceu presentes à embaixada e enviou um dos seus nobres, Gobert de Helleville, para acompanhá-los até aos domínios mongóis. Este partiu a 2 de fevereiro de 1288, juntou-se a Bar Sauma em Roma e seguiram para a Pérsia. De Bagdade, Arghun Khan voltou a escrever em 1289, em reposta a uma carta de Filipe de 1288, reafirmando a cooperação militar, exortando-o a conquistar o Egito, em troca do qual o mongol oferecerlhe-ia Jerusalém.. Ao contrário do seu avô Luís IX de França, Filipe IV não deu continuidade a estes planos sob a forma de uma cruzada. No entanto, organizou uma colaboração 77 militar com os mongóis através dos Templários contra os mamelucos. O plano era coordenar as ações entre as ordens militares cristãs, o rei e a aristocracia de Chipre e do Reino Arménio da Cilícia, e os mongóis do Ilcanato. “ Se de facto os mongóis, apesar de não ser cristãos, vão lutar contra os árabes pela captura de Jerusalém, é especialmente adequado que nós lutemos [ao lado destes], e se Deus quiser, avançar com toda a força. ” — Filipe IV de França, Os Monges de Kublai Khan, Imperador da China[5]. De 1298 a 1302, o grão-mestre Jacques de Molay esteve no Próximo Oriente a combater os mamelucos e a aguardar a ligação com as forças mongóis, o que não chegou a acontecer[6]. Em Setembro de 1302 os Templários foram expulsos da sua fortaleza em Arwad e quando Gazã, o ilcã mongol da Pérsia, morreu em 1304, acabaram os planos de uma rápida reconquista da Terra Santa. Em abril de 1305, o novo governante mongol Oljeitu enviou cartas para Filipe, o papa, e para Eduardo I da Inglaterra. Mais uma vez ofereceu uma aliança militar e as nações europeias prepararam uma cruzada, mas houve atrasos na preparação e esta acabou por nunca se realizar. Entretanto o filho de Oljeitu assinou um tratado em Apelo com os mamelucos em 1322. Guerra com a Inglaterra O início de hostilidades com a Inglaterra em 1294 era o resultado inevitável das monarquias competitivas e 78 expansionistas, despoletado por um secreto pacto francoescocês de ajuda mútua contra Eduardo I. Foram realizadas campanhas inconclusivas pelo controlo da Gasconha em 1294–1298 e em 1300–1303. Filipe ocupou a Flandres em 1300 e conquistou a Guyenne, mas foi obrigado a devolver este último território aos ingleses e a dar a sua irmã Margarida de França em casamento ao monarca inglês em 1299. Há décadas que não ocorria um importante conflito na Europa, e, entretanto a natureza da guerra tinha mudado: tornara-se mais profissional, tecnologicamente mais avançada e muito mais dispendiosa. A procura de rendimentos para pagar as despesas militares marcou o reinado de Filipe e a reputação que criou para os seus contemporâneos. Segundo os termos do Tratado de Paris de 1303, foi acordado o casamento de Isabel, filha de Filipe, com Eduardo, príncipe de Gales e herdeiro de Eduardo I. A união ocorreu em Bolonha a 25 de janeiro de 1308, e pretendia selar uma paz. Em algumas décadas levaria a uma posterior pretensão inglesa ao trono francês e à Guerra dos Cem Anos. Invasão do Flandres Em 11 de julho de 1302, a França sofreu uma derrota de um exército de 2500 nobres (cavaleiros e escudeiros) e 4.000 soldados de infantaria, enviado para suprimir uma revolta na Flandres, na batalha das esporas douradas, perto de Kortrijk. O Rei de Ferro reagiu energicamente e liderou pessoalmente uma vitoriosa campanha com a batalha de Mons-en-Pévèle, na atual região de Nord-Pas-deCalais, dois anos depois. Em 1305, obrigou os flamengos a aceitar um desvantajoso tratado de paz que obrigou a fortes reparações e penalidades humilhantes, e adicionou 79 as ricas cidades de Lille e Douai, grandes produtoras de tecidos, ao território real. Béthune, a primeira cidade a render-se, foi concedida a Matilde, condessa de Artois. Para garantir a sua fidelidade, as suas duas filhas, Joana e Branca, casaramse com Filipe e Carlos, respectivamente, filhos de Filipe IV. Política religiosa Conflito com o papado Para financiar estas guerras, Filipe IV viu-se obrigado a recorrer a várias desvalorizações da moeda entre 1290 e 1309. Como medida de curto prazo, perseguiu os judeus de modo a tomar os seus bens, prendendo e chegando a expulsá-los dos territórios franceses em 1306. Também confiscou os bens dos banqueiros lombardos em 1292 e de abades mais abastados. Para a história ficou a condenação destas ações e dos seus gastos excessivos pelos seus inimigos na Igreja Católica, uma vez que os cronistas deste tempo eram na maioria monges. Quando lançou alguns impostos sobre o clero, de cerca de metade do seu rendimento anual, iniciou um conflito com o papado. A 24 de fevereiro de 1296, o papa Bonifácio VIII emitiu a epístola decretal Clericis laicos, proibindo a transferência de qualquer propriedade da Igreja para a coroa francesa sem o acordo prévio de Roma, e a incitar uma aberta batalha diplomática contra o rei. Envolvido em outros problemas com os aragoneses da Sicília e a família Colonna, o papa acabou por ceder, compondo as bulas Romana mater (fevereiro de 1297) e Etsi de statu (julho de 1297). Esta última continha uma renúncia formal à defesa dos bens eclesiásticos contra o arbítrio real da decretal Clericis laicos. No mesmo ano canonizou o 80 rei Luís IX de França sob o nome de "São Luís da França", um processo impulsionado por Filipe IV. Mas em 1300, pela bula Unam Sanctam, Bonifácio declarou a superioridade do poder espiritual sobre o poder temporal, e por consequência, a superioridade do papa sobre os reis, que responderiam perante o líder da Igreja. Era de facto uma tentativa de instauração de uma teocracia na Europa ocidental. Filipe respondeu proibindo a exportação de dinheiro francês para os Estados Pontifícios e convocou uma assembleia de bispos, nobres e grandes burgueses de Paris. Esta seria a precursora dos Estados Gerais que também surgiriam pela primeira vez no seu reinado, mais uma medida profissional e organizativa que os seus ministros introduziram no governo. O rei saiu vitorioso do encontro, adotando uma política de independência em relação à Santa Sé e opondo-se ao papa. Procurou então o apoio de todos os seus súbditos a fim de legitimar a sua luta. Bonifácio VIII ameaçou-o de excomunhão e de interdição (o equivalente à excomunhão, aplicada a um território) sobre o reino da França. Legalistas franceses falsificaram a bula para torná-la injuriosa ao poder civil e à França. Com um forte apoio no seu reino, em 1303 o Belo enviou o seu conselheiro Guilherme de Nogaret com uma pequena escolta armada para Roma, com o objetivo de prender o papa e de levá-lo a julgamento perante um concílio. Este episódio, conhecido como o atentado de Anagni tornar-se-ia em um dos grandes escândalos do reinado de Filipe IV. A sua narrativa popular teve uma grande importância na reputação de poder e implacabilidade do "Rei de Ferro", apesar de não ter estado diretamente envolvido no incidente. “ A Nogaret juntou-se um inimigo ” 81 pessoal de Bonifácio, Sciarra Colonna, membro da nobreza romana, que lhe indicou que o papa se refugiara em Anagni. Encontraram-no só, um homem de 68 anos de idade, na grande sala do palácio episcopal, abandonado pelos seus partidários. Sentado numa alta cadeira, com hábitos de cerimónia, não reagiu à irrupção dos homens armados. À aproximação do francês e do italiano, inclinou ligeiramente a cabeça e declarou: 'Eis a minha cabeça, eis a minha tiara: morrerei, é certo, mas morrerei papa'. Guilherme de Nogaret recuou, impressionado, enquanto Sciarra Colonna, no seu ódio por Bonifácio VIII, avançou e lhe deu uma bofetada, com a mão coberta pela luva de ferro da armadura. Sob a violência do golpe, o papa caiu do trono para o chão. Pouco depois, a população de Anagni, envergonhada de ter abandonado o papa, acorreu ao palácio e perseguiu a destacamento francês, mas tarde demais: a violência a que fora sujeito perturbara a sanidade mental de Bonifácio. Morreu no mês seguinte, sem reconhecer os seus conhecidos e a recusar 82 a extrema unção. — Narração do atentado Anagni segundo a tradição popular. de Em 1305, depois da morte, sob suspeitas de envenenamento, do sucessor do papa Bento XI, o novo papa Clemente V revelar-se-ia mais cooperante. De origem francesa, permitiu o estabelecimento pelo rei francês do papado de Avinhão, em um enclave no sul da França, e seria uma ajuda preciosa na supressão da Ordem dos Templários. Supressão da Ordem dos Templários Fundada em 1118 com o objetivo de proteger os peregrinos que se dirigiam a Jerusalém, ao longo de dois séculos a Ordem dos Templários acumulara grandes riquezas. O seu poder era tal que tinham apenas o dever de responder perante o papa. Com graves problemas de caixa e tendo de recorrer a empréstimos junto aos templários para custear os negócios do seu reino, Filipe IV usou a sua influência sobre Clemente V, sob a sua dependência, para acabar com a ordem e confiscar todos os seus bens. Para isso pôs em andamento uma estratégia de descrédito, acusando-os de heresia, imoralidade, sodomia e diversos outros crimes. Na sexta-feira, dia 13 de outubro de 1307, centenas de cavaleiros templários por toda a França foi presos simultaneamente por agentes de Filipe o Belo e sujeitos a tortura para confessarem a heresia da própria ordem religiosa, facto que provavelmente esteve na origem da superstição de as sextas-feiras dia 13 serem dias aziagos. Em 1312, o papa francês extinguiu a ordem por uma bula, retirando a sua proteção e o seu estatuto eclesiástico. Filipe tomou as consideráveis riquezas dos templários e acabou com o seu sistema bancário monástico. 83 Os líderes templários foram supliciados. Em 1314, o último grão-mestre, Jacques de Molay, foi queimado na fogueira em Paris. De acordo com a lenda, de dentro das chamas este amaldiçoou o rei Filipe IV e sua descendência, o papa Clemente V e o ministro Guilherme de Nogaret, afirmando estes seriam convocados perante o tribunal de Deus no prazo de um ano. De facto, todos os três morreram dentro desse prazo. Posteridade Morte e legado Filipe o Belo morreu a 29 de novembro de 1314 devido a um derrame cerebral, vindo a falecer dias depois de um segundo ataque, no castelo de Fontainebleau. Segundo os documentos e os relatórios de embaixadores, chega-se à conclusão de que tenha sucumbido a uma apoplexia cerebral em zona não motora, que se manifestou pela primeira vez enquanto caçava um cervo com sua tropa, dias antes da recaída mortal. O seu coração foi transportado para o Mosteiro de Poissy, assim como a cruz dos Templários, e lá permaneceu até à noite de 21 de julho de 1695, quando um raio caiu sobre a igreja do mosteiro e incendiou-a quase completamente, destruindo a cruz e o coração do rei. A sua sepultura na Basílica de Saint-Denis, como muitas outras, foi profanada em 1793, durante a Revolução Francesa. O seu reinado assinalou o declínio do poder papal, depois de um período de autoridade absoluta sobre as nações europeias. O palácio do rei, na Île de la Cité, é atualmente representado pelas secções remanescentes da Conciergerie. O final do seu reinado foi marcado também pelo caso da Torre de Nesle, quando as suas três noras foram envolvidas em um escândalo de adultério e crime de lesamajestade que marcaria a história da França, com graves consequências na linha sucessória do trono francês. As 84 repercussões deste caso condicionariam os reinados dos seus três filhos, no desejo de darem continuidade à dinastia capetiana. Nas décadas seguintes seriam sucedidos pelos seus três filhos varões sobreviventes, um após o outro. A morte do último, Carlos IV, trouxe a coroa para Filipe VI da casa do seu irmão Carlos de Valois. Esta sucessão foi contestada por Eduardo III da Inglaterra, filho da sua filha Isabel, o que originou a Guerra dos Cem Anos entre as duas nações. Descendência Do seu casamento em 14 de agosto de 1284 com Joana I de Navarra, filha de Henrique I de Navarra e Branca de Artois, nasceram: Luís X de França (Luís I de Navarra), o Teimoso, o Cabeçudo ou o Turbulento (4 de outubro de 1289 - 5 de junho de 1316), sucessor dos pais nos tronos de França e Navarra e no condado de Champagne Margarida (c.1290-1294), noiva de Sancho IV de Leão e Castela em novembro de 1294 Isabel de França, a Loba de França (1292 - 21 de novembro de 1358), casada em 1308 com Eduardo II da Inglaterra Filipe V de França (Filipe II de Navarra), o Longo, o Comprido ou o Caolho (17 de novembro de 1293 - 3 de janeiro de 1322), conde de Poitou, conde palatino da Borgonha por casamento com Joana II, Condessa da Borgonha, e sucessor do irmão Luís nos tronos de França e Navarra, e no condado de Champagne Branca (c.1293 - c.1294) Carlos IV de França (Carlos I de Navarra), o Belo (18 de junho de 1294 - 1 de fevereiro de 1328), conde de la Marche e sucessor do irmão Filipe tronos de França e Navarra, e no condado de Champagne Roberto (1297-1308) 85 Representações na cultura Filipe o Belo é um dos principais personagens dos dois primeiros volumes da série de sete, do romance histórico Os Reis Malditos (em francês: Les Rois maudits) de Maurice Druon, publicada entre 1955 e 1977. A série foi adaptada para a televisão por duas vezes na França, em 1972 e em 2005.” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Filipe_IV_de_Fran%C3%A7a) [7] “Clemente V, nascido Bertrand de Gouth (perto de Villandraut, 1264 — Roquemaure, 20 de Abril de 1314) foi Papa entre Junho de 1305 até à sua morte. Seu túmulo está na igreja colegiada (que ele havia construído) em Uzeste, província de Gironde. Foi bispo de Saint-Bertrand-de-Comminges, antes de se tornar papa. Foi eleito após um longo conclave realizado em Perugia, onde se defrontaram os interesses dos cardeais italianos e franceses. Isso acontece após um pacto selado com o então rei da França, Filipe, o Belo, no qual o monarca, com seu poder e influência o ajudou a alcançar esse lugar principalmente para que retirasse a excomunhão da família real francesa, colocada pelo Papa Bonifácio VIII. O seu pontificado ficou marcado por duas coisas: pela mudança da Santa Sé de Roma para Avinhão em 1309, justificado pelos tumultos existentes em Itália, e pela destruição trágica da Ordem dos Cavaleiros Templários (ordem criada pela própria Igreja Católica), que defendiam e protegiam os cristãos pela Terra Santa. Clemente V foi forçado por Felipe a realizar uma investigação post mortem contra a memória do Papa Bonifácio VIII, inimigo de Felipe, que forjou acusações, porém durante o Concílio de Vienne, que se reuniu em 1311, a ortodoxia e moralidade do papa morto foi confirmada.” 86 (https://pt.wikipedia.org/wiki/Papa_Clemente_V) [8] “A Ordem dos Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão (em latim: "Ordo Pauperum Commilitonum Christi Templique Salominici"), conhecida como Cavaleiros Templários, Ordem do Templo (em francês: Ordre du Templeou Templiers) ou simplesmente como Templários, foi uma ordem militar de Cavalaria. A organização existiu por cerca de dois séculos na Idade Média (1118-1312), fundada no rescaldo da Primeira Cruzada de 1096, com o propósito original de proteger os cristãos que voltaram a fazer a peregrinação a Jerusalém após a sua conquista. Os seus membros fizeram voto de pobreza e castidade para se tornarem monges, usavam mantos brancos com a característica cruz vermelha, e o seu símbolo passou a ser um cavalo montado por dois cavaleiros. Em decorrência do local onde originalmente se estabeleceram (o monte do Templo em Jerusalém, onde existira o Templo de Salomão, e onde se ergue a atual Mesquita de Al-Aqsa) e do voto de pobreza e da fé em Cristo denominaram-se "Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão". O sucesso dos Templários esteve vinculado ao das Cruzadas. Quando a Terra Santa foi perdida, o apoio à ordem reduziu-se. Rumores acerca da cerimônia de iniciação secreta dos Templários criaram desconfianças, e o rei Filipe IV de França - também conhecido como Felipe, O Belo - profundamente endividado com a ordem, começou a pressionar o papa Clemente V a tomar medidas contra eles. Em 1307, muitos dos membros da Ordem em França foram detidos e queimados publicamente. Em 1312, o papa Clemente dissolveu a ordem. O súbito desaparecimento da maior parte da infraestrutura europeia da ordem deu origem a especulações e lendas, que mantêm o nome dos templários vivo até aos dias atuais. 87 História Este artigo é parte de ou relacionados com a série sobre os Cavaleiros Templários Ordem dos Templários História dos Cavaleiros Templários Lendas dos Cavaleiros Templários Selo dos Cavaleiros Templários Grão-mestres dos Cavaleiros Templários Cavaleiros Templários na Inglaterra Cavaleiros Templários na Escócia Lista de Cavaleiros Templários Lista de lugares associados aos Cavaleiros Templários Associações modernas Cavaleiros Templários (maçonaria) Ordem Suprema Militar do Templo de Jerusalém Fundação A ordem foi fundada após a Primeira Cruzada, por Hugo de Payens, em 1118, com o apoio de mais 8 cavaleiros, entre eles André de Montbard, tio de Bernardo de Claraval, e do rei Balduíno II de Jerusalém, que os acolheu em seu palácio em uma das esplanadas do Templo. Nascem assim os Pobres Cavaleiros de Cristo, que, por se estabelecerem no monte do Templo de Salomão, vieram a ficar conhecidos como Ordem do Templo, e por Templário quem dela participava. A finalidade da Ordem era proteger os peregrinos que se dirigiam a Jerusalém, mais precisamente o caminho de Jafa a Cesareia, vítimas de ladrões em todo o percurso e, já na Terra Santa, dos ataques que 88 os muçulmanos faziam aos reinos cristãos que as Cruzadas haviam fundado no Oriente. No outono de 1127, Hugo de Payens e mais 5 cavaleiros se dirigem à Roma visando solicitar ao papa Honório II o reconhecimento oficial da Ordem. Nessa visita, conseguem não só o reconhecimento oficial como o apoio e influência de Bernardo de Claraval, no Concílio de Troyes em 13 de janeiro de 1128. Através da bula papal Omine datam oprimem, emitida em 29 de março de 1139 pelo papa Inocêncio II, a Ordem foi reconhecida oficialmente pelo Papado e ganhou isenções e privilégios, dentre os quais o de que seu líder teria o direito de se comunicar diretamente com o papa e o direito de construir seus próprios oratórios e serem enterrados neles. A ordem tornou-se uma das favoritas da caridade em toda a cristandade, e cresceu rapidamente tanto em membros quanto em poder; seus membros estavam entre as mais qualificadas unidades de combate nas Cruzadas e os membros não combatentes da ordem geriam uma vasta infraestrutura econômica, inovando em técnicas financeiras que constituíam o embrião de um sistema bancário, e erguendo muitas fortificações por toda a Europa e a Terra Santa. Em 14 de outubro de 1229, o papa Gregório IX emitiu a bula, Ipsa nos cogit pietas, dirigida ao grão-mestre e aos cavaleiros da Ordem do Templo que os isenta de pagar o dízimo para as despesas da Terra Santa, atendendo "à guerra contínua que sustentavam contra os infiéis, arriscando a vida e a fazenda pela fé e amor de Cristo". Um contemporâneo (Jacques de Vitry) descreve os templários como "leões de guerra e cordeiros no lar; rudes cavaleiros no campo de batalha, monges piedosos na capela; temidos pelos inimigos de Cristo, a suavidade para com Seus amigos". Levando uma forma de vida austera, os templários não tinham medo de morrer para defender os cristãos que iam 89 a peregrinação à Terra Santa. Como exército, nunca foram muito numerosos: aproximadamente não passavam de 400 cavaleiros em Jerusalém no auge da Ordem. Mesmo assim, foram conhecidos como o terror dos muçulmanos. Quando presos, rechaçavam com desprezo a liberdade oferecida em troco da apostasia, permanecendo fiéis à fé cristã. A Regra Templária Um cavaleiro templário é verdadeiramente um cavaleiro destemido e seguro de todos os lados, para sua alma, é protegida pela armadura da fé, assim como seu corpo está protegido pela armadura de aço. Ele é, portanto, duplamente armado e sem ter a necessidade de medos de demônios e nem de homens. Bernard de Clairvaux, c. 1135, De Laude Novae Militae—In Praise of the New Knighthood A regra dessa ordem religiosa de monges guerreiros (militar) foi escrita por São Bernardo. A sua divisa foi extraída do livro dos Salmos: "Non nobis Domine, non nobis, sed nomini tuo ad gloriam" (Slm. 115:1 - Vulgata Latina) que significa "Não a nós, Senhor, não a nós, mas pela Glória de teu nome" (tradução Almeida). A regra dividia-se em 72 capítulos distribuídos em sete seções: I- A regra primitiva; II- Os estatutos hierárquicos; IIIPenitências; IV- Vida Monástica; V- Capítulos comuns; VI- Maiores detalhes de penitências e VII- Recepção na Ordem. A regra era bem típica de uma sociedade feudal, entre algumas regras estavam que a admissão de novos 90 candidatos seria aprovada pelo bispo local, abster-se de carne às quartas-feiras e algumas curiosas, como dois cavaleiros deveriam comer do mesmo prato. Oficialmente, como consta na regra templária, o termo correto para designar o maior superior hierárquico era Mestre do Templo e não grão-mestre, como lhe é referido nos dias atuais. Para ser admitido como cavaleiro, o postulante deveria ser cristão, conhecer a regra templária (antes mesmo de ser admitido), jurar viver em castidade e pobreza e ser obediente ao mestre do templo. A iniciação se dava com uma cerimônia religiosa realizada por um dos padres da ordem. Primeiras batalhas Os Templários "estreiam" oficialmente em campo de batalha no ano de 1129, quando tiveram que intervir em um ataque ao Rei Balduíno II em sua ida a Damasco. Em 1138, os Templários são derrotados pelos turcos na cidade de Tecoa, onde nasceu o profeta bíblico Amós, em uma infrutífera tentativa de tomá-la dos turcos. Outra derrota se deu na fracassada tentativa de invasão à cidade de Ascalão, no ano de 1153, quando 14 cavaleiros foram cercados e mortos pelos turcos. Em 1166, tropas do rei de Alepo, invadiram uma fortaleza templária na Transjordânia. Em 1168, o rei Amalrico I de Jerusalém convocou um exército para invadir o Egito, contudo os Templários recusaram tal empreitada alegando que não havia razões para que se procedesse à invasão. Em 25 de novembro de 1177, os Templários travam, contra o exército de Saladino, a batalha de Montgisard (livremente abordada em diversas formas de arte, como nos filmes Kingdom of Heaven e Arn; no livro The Leper King, Santo Sepulcro em português, de Zofia Kossak). A partir de Montigisard, diversas batalhas ocorrem ano após ano, como o ataque a uma caravana muçulmana em 1182, a batalha de Tubaniya em 1183, a 91 de Al Karak em 1184, até que aos 4 dias de julho de 1187 ocorre a batalha de Hattin, na qual 30 mil cruzados enfrentam 60 mil muçulmanos e perdem não só a batalha como também Jerusalém. Três décadas mais tarde, em 1219, aproveitando-se do enfraquecimento dos exércitos de Saladino em vista do crescimento do exército Mongol, os cruzados conseguem tomar Damieta, no Egito. Contudo, a falta de união entre as três grandes ordens dos cruzados (Templários, Hospitalários e Teutônicos) impossibilitou alianças e as tropas se retiraram meses depois. Crescimento da ordem e a perda de sua missão Com o passar do tempo, a Ordem do Templo ficou riquíssima e muito poderosa: receberam várias doações de terras na Europa. Entre algumas doações estão a herança do rei Afonso I de Aragão que, por não possuir herdeiro do sexo masculino, deixou todos seus bens às ordens de cavalaria (Templários, Hospitalários e do Santo Sepulcro) e a floresta de Cera com o Castelo de Soure, doados pela Rainha de Portugal, Teresa de Leão, com a condição de que expulsassem os sarracenos do país. Além das doações de seculares à ordem, os Templários também recebiam constantes benesses do Papado: 1139: Bula Omne datum optimum: a Ordem é oficialmente reconhecida pela Igreja Católica e lhe dá proteção; 1144: Bula Milites templi: os cristãos são incentivados a doar bens à Ordem; 1145: Bula Milícia Dei: aumenta a autonomia da Ordem junto à Igreja; 1198: Bula Dilecti filli nostri: garantia à Ordem a fruição completa das doações que recebiam. 1212: Bula Cum dilectis filiis: reafirma a bula Dilecti filli nostri. 1229: Bula Ipsa nos cogit pietas: isenta a Ordem do pagamento do dízimo da defesa da Terra Santa. 92 Mas não só de doações vivia a Ordem, os templários usavam as propriedades que lhes eram doadas para plantar trigo, cevada e criar animais. Assim a subsistência dos cavaleiros se dava com a venda de trigo, cevada, lã de carneiro, carne de bovinos e queijo feito com leite dos animais criados nas propriedades templárias. Também começaram a ser admitidas na ordem, devido à necessidade de contingente, pessoas que não atendiam aos critérios que eram levados em conta no início. Logo, o fervor cristão, a vida austera e a vontade de defender os cristãos da morte deixaram de ser as motivações principais dos cavaleiros templários. Nesse diapasão, Bernardo de Claraval, em seu De laude novæ militiæ, divide a Ordem em dois grupos: militia, que são os cavaleiros cristãos comprometidos com as motivações iniciais da ordem, e malitia, pessoas que buscavam apenas reconhecimento e status por pertencer à ordem. A Ordem em Portugal A Ordem do Templo chegou ao Condado Portucalense ainda à época de Teresa de Leão, condessa de Portugal, que lhe fez a doação da vila de Fonte Arcada, atual concelho de Penafiel, anteriormente a 1126. Em 1127, a condessa fez-lhe a doação do Castelo de Soure, na linha do rio Mondego, sob o compromisso de colaborar na conquista de terras aos Muçulmanos. No reinado de Afonso I de Portugal (1143-1185), a ordem recebeu a doação do Castelo de Longroiva (1145), na linha do rio Côa. Pouco depois os cavaleiros da ordem apoiaram o soberano na conquista de Santarém (1147) ficando sobresponsabilidade da Ordem a defesa do território entre o rio Mondego e o rio Tejo, a montante de Santarém. A partir de 1160, a ordem estabeleceu a sua sede no país em Tomar. O processo de extinção da ordem no país iniciou-se com a recepção da bula "Regnans in coelis", datada de 12 de agosto de 1308, através da qual o papa Clemente V deu conhecimento aos monarcas cristãos 93 do processo movido contra os seus membros. Posteriormente, pela bula "Callidi serpentis vigil", datada de dezembro de 1310, o pontífice decretou a detenção dos mesmos. Dinis I de Portugal (1279-1325), a partir de 1310 procurou evitar a transferência do património da ordem no país para a Ordem de São João do Hospital, vindo a obter, do Papa João XXII a bula "Ad ae exquibus", expedida em 15 de março de 1319, pela qual era aprovada a constituição da "Ordo Militiae Jesu Christi" (Ordem da Milícia de Jesus Cristo), à qual foram atribuídos os bens da extinta ordem no país. A nova ordem, após uma curta passagem por Castro Marim, veio a sediar-se também em Tomar. O Julgamento dos Templários Não é de supor que a Ordem do Templo tenha surgido totalmente armada, como PalasAtena, da cabeça de Hugo de Payens, ou tenha sido o fruto de qualquer inteligência humana individual. A função oficial dos templários, por eles professada, tinha por certo surgido das Cruzadas; mas está claro que já existia uma série de funções especiais que só esta Ordem poderia realizar. A interação entre a mais elevada espiritualidade cristã e a mais elevada espiritualidade islâmica (sufismo) na Alta Idade Média exigia uma ordem soberana, acima de reis e bispos, não sujeita à legislação comum ou mesmo a interditos e excomunhões, e capaz, quando necessário, de se pôr de parte em relação a ambas as civilizações, para agir como mediadora ou árbitro entre elas. Angus Macnab, Spain under the Crescent Moon[35] 94 As derrotas sofridas pela ordem reforçaram a ideia, nos altos escalões do clero, de que os templários já não cumpriam sua missão de liberar e proteger os caminhos para Jerusalém. A principal derrota aconteceu em 1291, quando os muçulmanos conquistaram São João de Acre, a última cidade cristã na Terra Santa . Antes de tal ocorrido, o rei Filipe IV de França havia solicitado sua entrada na ordem, porém, não foi aceito por se recusar a abdicar de suas riquezas e poderes, a partir desse momento começou sua perseguição à Ordem do Templo acusando-os de heresia. A ordem de prisão foi redigida em 14 de setembro de 1307 no dia da exaltação da Santa Cruz, e no dia 13 de outubro de 1307 (uma sexta-feira), todos os cavaleiros que estavam em território francês são detidos. Após a tomada de Acre pelos muçulmanos em 1291, os Templários se estabeleceram no Reino do Chipre, em 1306 depuseram o rei Henrique II e elegeram um cavaleiro como novo monarca, Amalrico de Tiro. Contudo, Amalrico foi assassinado e, em 1310, Henrique II voltou ao poder e expulsou os templários de Chipre, queimando o convento no qual os cavaleiros haviam se estabelecido. Com a expulsão de Chipre, a ordem de prisão emitida na Europa e a Terra Santa tomada pelos muçulmanos, Tiago de Molay, em sua prisão, apresentara ao papa Clemente V um novo plano de tomada da Terra Santa. Contudo, já estava decidido que a função militar não tinha mais razão de ser e o pontífice tentava, sem sucesso, convencer o rei Filipe, o Belo, a apenas remodelar a Ordem. Entre 19 de outubro e 24 de novembro de 1307, 138 prisioneiros templários foram interrogados em Paris. Em uma carta do papa Clemente V ao rei Filipe, datada de 27 de outubro de 1307, deixa a entender os protestos do pontífice para com os meios pelos quais os cavaleiros eram interrogados e as confissões lhe eram arrancadas. 95 Em 22 de novembro de 1307, pela bula Pastoralis præminentiæ o papa Clemente V recomenda a prisão dos Templários em outros estados da Europa. A partir de 1310, a Igreja institui sua própria investigação sobre a Ordem, na qual chegaram a depor 573 cavaleiros. Todos em defesa da Ordem e afirmando que as confissões foram arrancadas no tribunal francês por meios de tortura. Em 16 de outubro de 1311, o papa Clemente V abre o Concílio de Vienne afirmando que, com base nos inquéritos eclesiásticos, bem como nos inquéritos civis, não havia fato palpável de culpabilidade. A Ordem do Templo é extinta em 22 de março de 1312, pela bula Vox clamantis. O papa Clemente V, através bula Ad providam de 2 de maio de 1312, transfere todos os bens templários para os Hospitalários, exceto os de Portugal, de Castela, de Aragão e de Maiorca, os quais ficariam na posse interina dos monarcas, até o conselho decidir qual o seu destino. No adro da Igreja de Notre-Dame, em Paris, fora instalado um cadafalso, para no dia 18 de março de 1314 anunciar a sentença de prisão perpétua aos cavaleiros Tiago de Molay, Hughes de Pairaud, Geoffroy de Charnay e Geoffroy de Gonneville. Em meio ao anúncio da sentença, De Molay e Geoffroy de Charnay levantaram-se bradando sua inocência e a de todos os Templários, que todos os crimes e geresias a eles atribuídos foram inventados. No mesmo dia, armou-se uma fogueira próxima ao jardim do palácio onde foram queimados Tiago de Molay e Geoffroy de Charnay. Da sentença do papa Clemente V aos nossos dias O chamado "Pergaminho de Chinon" ao declarar que Clemente V pretendia absolver a ordem das acusações de heresia, e que poderia ter dado eventualmente a absolvição ao último grão-mestre, Jacques de Molay, e aos demais cavaleiros, suscitou a reação da monarquia francesa, de tal forma que obrigou o papa Clemente V a uma discussão 96 ambígua, sancionada em 1312, durante o Concílio de Vienne, pela bula Vox in excelso, a qual declarava que o processo não havia comprovado a acusação de heresia, contudo afirma que, pelo bem da Igreja, a Ordem deveria ser suprimida ou remodelada. Após a descoberta nos arquivos do Vaticano, da ata de Chinon, assinada por quatro cardeais, declarando a vontade de dar a inocência dos templários, sete séculos após o processo, o mesmo foi recordado em uma cerimónia realizada no Vaticano, a 25 de outubro de 2007, na Sala Vecchia do Sínodo, na presença de monsenhor Raffaele Farina, arquivista bibliotecário da Santa Igreja Romana, de monsenhor Sergio Pagano, prefeito do Arquivo Secreto do Vaticano, de Marco Maiorino, oficial do arquivo, de Franco Cardini, medievalista, de Valerio Manfred, arqueólogo e escritor, e da escritora Barbara Frale, descobridora do pergaminho e autora do livro "Os templários". Os cavaleiros templários, enquanto ordem simultaneamente militar e monástica, ativa e contemplativa, tinha como missão original levar a Terra Santa ao controle cristão, mas, como aponta o historiador brasileiro das religiões Mateus Soares de [46] Azevedo durante os séculos XII e XIII os templários tiveram um importante papel na criação de um clima de respeito pela erudição e espiritualidade da cultura islâmica, tanto na Europa como na Terra Santa. Eles perceberam o terreno comum que havia entre as camadas mais profundas das civilizações cristã e muçulmana. Lendas e relíquias A destruição do arquivo central dos Templários (que estava na Ilha de Chipre) em 1571 pelos otomanos, tornouse o principal motivo da pequena quantidade de informações disponíveis e da quantidade enorme de lendas e versões sobre sua história. 97 Os Templários tornaram-se, assim, associados a lendas sobre segredos e mistérios, e mais rumores foram adicionados nos romances de ficção populares, como Ivanhoe, Pêndulo de Foucault, e O Código Da Vinci, filmes modernos, tais como "A Lenda do Tesouro Perdido" e Indiana Jones e a Última Cruzada, bem como jogos de vídeo, como Broken Sword e Assassin's Creed. Uma das versões faz ligação entre os Templários e uma das mais influentes e famosas sociedades secretas, a Maçonaria. Contudo a mesma é fundada apenas em 1717, quatro séculos após o fim dos Templários, na Inglaterra. Historiadores acreditam na separação dos templários quando a perseguição na França foi declarada. Um dos lugares prováveis para refúgio teria sido a Escócia, onde apenas dois Templários haviam sido presos e ambos eram ingleses. Embora os cavaleiros estivessem em território seguro, sempre havia o medo de serem descobertos e considerados novamente como traidores. Por isso teriam se valido de seus conhecimentos da arquitetura sagrada e assumiram um novo disfarce para fazerem parte da maçonaria. A associação dos Templários a sociedades secretas ou práticas alquímicas ou de bruxaria se deve à lenda de que era quase uma ordem secreta, totalmente hermética na qual ninguém de fora tinha acesso, quando, na verdade, era o oposto, abriam suas igrejas e oratórios aos moradores locais onde se estabeleciam e acolhiam peregrinos em suas casas e conventos. Muitas das lendas dos templários estão relacionadas com a ocupação precoce pela ordem do Templo em Jerusalém e da especulação sobre as relíquias que os templários podem ter encontrado lá, como o Santo Graal ou a Arca da Aliança. No entanto, nos extensos documentos da inquisição dos templários nunca houve uma única menção de qualquer coisa como uma relíquia do Graal, e muito 98 menos a sua posse, por parte dos templários. Na realidade, a maioria dos estudiosos concorda que a história do Graal é apenas uma ficção que começou a circular na época medieval. O tema das relíquias também surgiu durante a Inquisição dos templários, pois documentos diversos do julgamento referem-se à adoração de um ídolo de algum tipo, referido em alguns casos, um gato, uma cabeça barbada, ou, em alguns casos, a Baphomet. Essa acusação de idolatria contra os templários também levou à crença moderna por alguns de que os templários praticavam bruxaria. Contudo, segundo historiadores, a cabeça barbada nada mais era quem um manto com o rosto de Jesus Cristo. Ao líder templário, Tiago de Molay, é imputada a maldição da Sexta-Feira 13, que ao ser queimado na fogueira teria amaldiçoado a data. Contudo, não há qualquer documento ou registro de tal maldição, além do que, De Molay, e mais 3 líderes templários, foram queimados no dia 18 de março de 1314, e não dia 13. Tal crença se origina com a morte de seus executores no mesmo ano da morte de Molay; do papa Clemente V em 20 de Abril de 1314 e de Filipe IV de França em 29 de novembro. Além de possuir riquezas (ainda hoje procuradas) e uma enorme quantidade de terras na Europa, a Ordem dos Templários possuía uma grande esquadra. Os cavaleiros, além de temidos guerreiros em terra, eram também exímios navegadores e utilizavam sua frota para deslocamentos e negócios com várias nações. Devido ao grande número de membros da ordem, apenas uma parte dos cavaleiros foram aprisionados (a maioria francesa). Os cavaleiros de outras nacionalidades não foram aprisionados e isso hes possibilitou refugiarem-se em outros países. Segundo alguns historiadores, alguns cavaleiros foram para Escócia, Suíça, Portugal e até mais distante, usando seus navios. Muitos deles mudaram seus 99 nomes e se instalaram em países diferentes, para evitar uma perseguição do rei e da Igreja. O desaparecimento da esquadra é outro grande mistério. No dia seguinte ao aprisionamento dos cavaleiros franceses, toda a esquadra zarpou durante a noite, desaparecendo sem deixar registros. Por essa mesma data, o rei português D. Dinis nomeava o primeiro almirante português de que há memória, apesar de Portugal não ter armada; por outro lado, D. Dinis evitava entregar os bens dos templários à Igreja e consegue criar uma nova Ordem de Cristo com base na Ordem Templária, adotando por símbolo uma adaptação da cruz orbicular templária, levantando a dúvida de que planeava apoderar-se da armada templária para si. Um dado interessante relativo aos cavaleiros que teriam se dirigido para a Suíça, é que antes desta época não há registros de existência do famoso sistema bancário daquele país, até hoje utilizado e também discutido. Como é sabido, no auge de sua formação, os cavaleiros da ordem desenvolveram um sistema de empréstimos, linhas de crédito, depósitos de riquezas que na sua época já se assemelhava bastante aos bancos de hoje. É possível que tenham sido os cavaleiros que se refugiaram na Suíça que implantaram o sistema bancário no lugar e que até hoje é a principal atividade do país.” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Ordem_dos_Templ%C3%A1 rios) [10] “Jacques de Molay, por vezes também chamado Tiago de Molay, (em latim: Iacobus Burgundus; em francês: Jacques de Molay; [Pronúncia: (ʒak də molɛ) Jak Demolé]; Molay, 1244 — Paris, 18 de março de 1314) foi um nobre, militar, cavaleiro e o último grãomestre da Ordem dos Cavaleiros Templários. Nascido 100 em Molay, pertencia a uma família da pequena nobreza francesa. É hoje o patrono da Ordem DeMolay. Biografia Nascido em Molay, comuna francesa atualmente localizada no departamento de Alto Sona, França, embora à época o vilarejo pertencesse ao Condado da Borgonha. Muito pouco se sabe sobre sua infância e adolescência; aos seus 21 anos de idade, como muitos filhos da nobreza europeia, de Molay entrou para a Ordem dos Cavaleiros Templários (organização sancionada pela Igreja Católica para proteger as estradas entre Jerusalém e Acre importante porto no mar Mediterrâneo). Nobres de toda a Europa enviavam os filhos para serem cavaleiros templários, e isso fez com que a Ordem passasse a ser muito rica e popular em todo o continente europeu e Oriente Médio. Em 1298, Jacques de Molay foi nomeado grão-mestre dos templários (assumiu o cargo após a morte de seu antecessor, Teobaldo Gaudin), uma posição de poder e prestígio. Mas passou por uma difícil situação: as Cruzadas não estavam atingindo seus objetivos. O anticristianismo sarraceno derrotou as Cruzadas em batalhas, capturando algumas cidades e portos vitais dos cavaleiros templários e dos hospitalários (outra ordem de cavalaria). Restou apenas um único grupo do confronto contra os sarracenos. Os templários resolveram, então, se reorganizar e readquirir sua força. Viajaram para a ilha de Chipre, esperando que a população se levantasse em apoio à outra Cruzada. Em vez de apoio público, os cavaleiros atraíram a atenção dos poderosos senhores feudais, muito deles seus parentes, pois para se entrar na ordem teria de se pertencer à nobreza. 101 Em 1305, o rei da França Filipe IV, o Belo (r. 1285– 1314) resolveu obter o controle dos templários para impedir a ascensão da ordem no poder da Igreja Católica. O rei era amigo de Jacques de Molay devido ao parentesco deles; o delfim Carlos, mais tarde Carlos IV (r. 1322– 1328), afilhado de Jacques. Mesmo sendo seu amigo, o rei de França tentou juntar a ordem dos Templários e a dos Hospitalários, pois sentiu que as duas formavam uma grande potência econômica e sabia que a Ordem dos Templários possuía várias propriedades e outros tipos de riqueza. Sem obter o sucesso desejado, de juntar as duas ordens e se tornar um líder absoluto, o então rei de França armou um plano para acabar com a Ordem dos Templários. Chamou o nobre francês Esquino de Floyran com a missão de denegrir a imagem dos templários e de seu grão-mestre, e como recompensa receberia terras pertencentes aos templários logo após derrubá-los. O ano de 1307 marcou o começo da perseguição aos cavaleiros. Apesar de possuir um exército com cerca de 15 000 homens, Jacques foi a França para o funeral de um membro feminino da realeza francesa e levou consigo alguns cavaleiros. Onde foram capturados na madrugada de 13 de outubro por Guilherme de Nogaret, homem de confiança do rei Filipe IV. Durante sete anos, Jacques de Molay e os cavaleiros aprisionados na masmorra sofreram torturas e viveram em condições subumanas. Enquanto isso, Filipe IV gerenciava as forças do papa Clemente V (1305–1314) para condenar os templários e suas riquezas e propriedades foram confiscadas e dadas à proteção do rei. Mesmo após três julgamentos Jacques continuou sendo leal com seus amigos e cavaleiros, recusando-se a revelar o local das riquezas da Ordem e denunciar seus companheiros. Em 18 de março de 1314, de Molay foi levado à Corte Especial. Como evidências, a corte dependia de confissões forjadas, supostamente assinadas pelo grão-mestre. 102 Desmentiu as confissões, sob as leis da época a pena por desmentir era a morte. Foi julgado pelo Papa Clemente V, e assim como Jacques de Molay o cavaleiro Guido de Auvérnia desmentiu sua confissão e ambos foram condenados. Filipe IV ordenou que ambos fossem queimados naquele mesmo dia. Durante sua morte na fogueira intimou aos seus três algozes, a comparecer diante do tribunal de Deus, amaldiçoando os descendentes do então rei de França. Grão-mestrado Jacques de Molay assume o grão-mestrado da ordem em 1298, não se sabendo, no entanto a data exata da sua eleição. Eleito em detrimento de outra figura de peso dentro da ordem, Hugo de Pairaud, sobrinho do visitador do templo em França. O inicio do seu mestrado é marcado pela ação a favor de uma nova cruzada, desenvolvendo uma campanha diplomática na França, Catalunha, Inglaterra, nos estados da península Itálica e nos Estados Pontifícios. Esta campanha visou não só resolver problemas internos da ordem, problemas locais, como disputas entre a ordem e bispos, e também pressionar as coroas e a igreja a uma nova cruzada. Organizou a partir da ilha de Chipre ataques contra as costas egípcias e síria para enfraquecer os mamelucos, providenciando apoio logístico e armado ao Reino Arménio da Cilícia, e também intentou uma aliança com o Canato da Pérsia, sem resultados visíveis. Outro assunto discutido durante o seu mestrado foi a fusão entre as duas maiores ordens militares, a dos Templários e a dos Hospitalários. A Ordem do Templo com a perda de Acre começava a ser questionada quanto à razão da sua existência. As suas funções de proteger os peregrinos e de defender a Terra Santa tinham cessado quando se retiraram para a ilha de Chipre. Em maio de 1307 103 em Poitiers, Jacques de Molay junto do papa Clemente V apresentou uma defesa contra a fusão e ela não se realiza. A prisão e o processo Dia 13 de outubro de 1307 no reino da França, os templários foram presos em massa por ordem de Filipe IV, o rei de França. O grão-mestre Jacques de Molay é capturado em Paris. Imediatamente após a prisão, Guilherme de Nogaret proclama publicamente nos jardins do palácio real em Paris as acusações contra a ordem. Esta manobra régia impedira o inquérito pontifício pedido pelo próprio grão-mestre, o qual interno à Igreja, discreto e desenvolvido com base no direito canônico, emendaria a ordem das suas faltas promovendo a sua reforma interna. A prisão, as torturas, as confissões do grão-mestre (De Molay nunca confessou as acusações como menciona anteriormente), criam um conflito diplomático com a Santa Sé, sendo o papa o único com autoridade para efetuar esta ação. Depois de uma guerra diplomática face ao processo instaurado contra a ordem entre Filipe, o Belo e Clemente V, chegam a um impasse, pois estando o grão-mestre e o preceptor da Normandia, Godofredo de Charnay sob custódia dos agentes do rei, estão no entanto protegidos pela imunidade sancionada pelo papa e absolvidos não podendo ser considerados heréticos. Em 1314, o rei pressiona para uma decisão relativa à sorte dos prisioneiros. Já num estado terminal da sua doença, com violentas hemorragias internas que o impedem de sair do leito, Clemente V ordena que uma comissão de bispos trate da questão. As suas ordens seriam a salvação dos prisioneiros ficando estes num regime de prisão perpétua sob custódia apostólica e assegurando ao rei que a temida recuperação da ordem não será efetuada. Perante a comissão, Jacques de Molay e Godofredo de Charnay proclamam a inocência de toda a ordem face às acusações 104 dirigidas a ela, a comissão para o processo e decide consultar a vontade do papa neste assunto. Ao ver que o processo estava ficando fora do seu controle e estando a absolvição da ordem ainda pendente, Filipe IV, o belo, decide um golpe de mão para que a questão templária fosse terminada. Ordena o rapto de Jacques de Molay e de Geoffroy de Charnay, então sob a custódia da comissão de bispos, e ordena que sejam queimados numa fogueira na Île de la Cité, pouco depois das vésperas, em 18 de março de 1314. Com isso Jacques de Molay passou a ser conhecido como um símbolo de lealdade e companheirismo, pois preferiu morrer a entregar seus companheiros ou faltar com seu juramento. Teatro e cinema No cinema o ator francês Gerard Depardieu interpretou De Molay no filme Os Reis Malditos (2005). No teatro, o ator brasileiro John Vaz interpretou De Molay no espetáculo Jacques de Molay: O Fim da Ordem do Templo, em turnê pelo Brasil.” (https://pt.wikipedia.org/wiki/Jacques_de_Molay)