Ibéria Quatrocentos Quinhentos

Anuncio
IBÉRIA: QUATROCENTOS/QUINHENTOS
DUAS DÉCADAS DE CÁTEDRA (1984-2006)
HOMENAGEM A LUÍS ADÃO DA FONSECA
IBÉRIA: QUATROCENTOS/QUINHENTOS
DUAS DÉCADAS DE CÁTEDRA (1984-2006)
HOMENAGEM A LUÍS ADÃO DA FONSECA
FICHA T É C N I CA
TíTULO
I B É R IA: Q u atroce ntos/ Q u i n h e ntos. D u as Décadas de Cátedra (1984-2006)
Ho m e n a g e m a Luís Adão da Fo nseca
Copy r i g ht © 2009 C E P E S E
T o d os o s d i reitos res e rva d os
DESIGN DA CAPA
Co m u n i c a r Essência - EV
COORDENAÇÃO EDITORIAL
J o a n a Ferre i ra da S i lva
EDITORES
C E P E S E - Ce ntro de Estu d os da Pop u l ação, E co n o m i a e S o ci e dade
R u a d o Ca mpo Aleg re, 102 1-1055
E d i fício C E P E S E
4169-004 Po rto
www.ce pese. up.pt
C i v i l ização E d ito ra
Rua A l b e rto Ai res d e G o u v e i a , 27
4050-023 Po rto
www.civi l izacao.pt
PAGINAÇÃO, IMPRESSÃO E ACABAMENTO
C E M , Artes G ráficas
Pa rq u e I n d ustri a l ACI B- Apa rta d o 28
4750 B a rc e l os
Tel. 253 811 124
i nfo@ce m.pt
I mp resso em 2009
ISBN 978-989-95922-9-2
Depósito Legal 302012/09
Sumário
Dados B i o g ráfi cos e Percu rso I ntelect u a l
Lu ís Ad ã o d a Fo n seca : Tra ba l h os p u blicados ( 1 968-2 0 08 )
Fotog rafi as
7
23
42
SECÇÃ O 1
As relações entre Portugal e Castela (sécs. XIV-XVI)
E/ restablecimiento de la paz entre Castilla
y
Portugal: 1402-1431
VICE NTE Á N G E L Á LVAREZ PALE NZUE LA
47
Relações fron teiriças luso-castelhanas, nos séculos XIV-XV
J O S É MARQUES
91
S ECÇÃ O 2
A Coroa de Aragão (sécs. XIV-XVI)
La Carona de Aragón
y
Luís Adão da Fonseca
SALVADOR C LARAMUNT
1 45
Carona d'Aragona e papato nel primo Quattrocento: riflessioni su un
difficile equilíbrio
MASS I M O M I G LI O
1 51
SECÇÃ O 3
Cu ltu ra e Propaganda Pol ítica nas Espa n has de Quatrocentos
e de Quin hentos
Nobleza y caballeria: la Espana que descubrio America
L U I S SUÁ R E Z FE R N Á N DEZ
1 65
Aristocracia e cortes senhoriais. Patrocínio, mecenato e clientelismo
como prá ticas de reputação, séculos XV-XVI
MAFALDA S OA R E S DA CUN HA
181
5
S u m á ri o
SECÇÃ O 4
Entre o Mediterrâ neo e o Atlântico - sécs. XIV-XVI
(Navegações, Com ércio Marítimo, Descobri m entos, Expansão Portu guesa)
Genovesi e Portoghesi verso un mondo globale
GAB R I E LLA AI RALDI
211
Bulas, territórios, vassalagens e especiarias. Portugal e as Formas
de Domínio nas Malucas de Quinhentos
ANT Ó N I O VASCO N C E LOS DE SALDAN HA
223
S ECÇÃ O 5
As Ordens Mil ita res (sécs. XIV-XVI)
The association in the minds of the early Knight� Hospitaller
of warfare with the care of the sick
J O NATHAN R I LEY- S M ITH
251
Outros legados do "Príncipe Perfeito �' Os Lencastre: uma família entre
as Ordens Militares de Avis e de Santiago e a Corte de Quinhentos
MARIA C R I STI NA PI M E NTA
263
SECÇÃ O 6
H istória, Narração, Memória, Com emorações, Representações
O. João I, o fundador da linhagem de Avis. Da biografia à microbiografia
MARIA H E LE N A DA CRUZ COE LH O
295
O sentido das comemorações do 5° centenário do descobrim ento do Brasil
J O S É J O B S O N DE A N D RADE AR RUDA
307
Um abraço para Luís Adão da Fonseea
VASCO G RAÇA M OURA
33 1
Catá logo d a s p u blicações do C E P E S E
333
6
DADOS BIOGRÁFICOS
E PERCURSO INTELECTUAL
Luís ALBERTO ADÃO D A FoNSECA nasceu a 6 d e J u n h o d e 1 945, n a freg uesia de
S . Sebastião d a Ped rei ra , d a c i d a d e d e Lisboa . É fi l h o do Do uto r Au re l i a n o
Ba pti sta d a Fo n seca ( n . 1 9 1 4) , co nsag ra d o méd ico d erm ato l o g i sta e ta m bé m p ro­
fessor d a Facu l d a d e d e M e d i c i n a I U n i versidade do Po rto e d a Un ivers i d a d e
Fed e ra l d e Ca m p i n a s ([UN I CAM P] S P, B rasil), e a i n d a a ntigo executa nte de violi n o
e, co m o ta l , m e m b ro, nos a n os 3 0 , d a Orqu estra U n i ve rsitá ria d e Ta n g os e d a Tu n a
U n i ve rsitá ria do Po rto1 e a utor d a m ú si ca d o co n h eci d íss i m o ta n g o «Am o res d e
Estu d a nte» (poe m a : D r. Pa u l o Po m bo ) .
O j ovem L u ís Albe rto freq u e ntou a escola pri m á ri a de Cedofeita, n o Po rto,
c i d a d e pa ra o n d e reg ressou depois d e u m a b reve passa g e m pelo Colég i o dos
M a ristas d e Lisboa, term i n a n d o o e n s i n o secu n d á ri o n o Liceu de D . M a n u el 11,
a ctual Rod rig u es de Freitas.
I nteg ro u o p ri m e i ro cu rso de l i ce n c i atu ra e m História da recé m -resta u ra d a
Faculd a d e d e Letras d a Un ivers i d a d e do Po rto, o n d e i n g ressou n o a n o lectivo de
1 962-63 . Co n clu i u a pa rte cu rricu l a r e m 1 967, o bte n d o o g ra u e m N ove m b ro de
1 968, d e p o i s de ter d efe n d i d o uma d i ssertação sobre O Condestá vel O . Pedro de
Portugal. Subsídios para o estudo da sua mentalidade. N o a n o seg u i nte, por co n ­
v i t e d o Professor Douto r Antó n i o C r u z ( 1 9 1 1 - 1 989), p a s s o u a i nteg ra r o corpo
docente da referida Faculd a d e co m o Ass i stente do 4.0 G ru po (História) - categ o­
ria q u e ocu pou até 1 97 5 -, te n d o dado a sua p ri m e i ra a u l a n o dia 27 de J a n e i ro
d e 1 969.
O i nce ntivo pate rno, por um lado, e a s u g estã o do D r. Ca rlos E d u a rd o Bastos
d e Sove ra l ( 1 920-2 0 07 ) - q u e fo ra leito r em Ba rcelo n a e e n s i n o u n a F L!UP de 1 962
a 1 968 - so b re um i m po rta nte n ú cleo docu m e ntal re l ativo a D . Ped ro existente n o
Arq u i vo d a Co roa de Aragão, por o utro, t e r ã o s i d o d ete rm i n a ntes pa ra a s u a
o p ç ã o d e tra bal h a r n a q u ela c i d a d e espa n h ola . Com eçou; e n t ã o , a estu d a r as
o b ras do Co n d estáve l , assu m i n d o u m co m p ro m i sso d e e d i çã o j u nto d a Fu n d ação
G u l be n ki a n , por i n d i cação do Professo r Do uto r L u ís F. L i n dley Ci ntra ( 1 92 5- 1 99 1 ) .
1
Orga n i s m os m a i s tarde i ntegrados n o O rfeão U n i versitá rio d o Po rto.
7
D a d os B i o g ráfi cos e Percu rso I ntel ectu a l
Deu a ss i m i n ício à p repa ração do do utora m e nto, com u m a bolsa d o I n stituto
'
d e Alta Cu ltu ra - em resu lta do de pa rece r favorável d a Profess o ra Do uto ra
Vi rg í n i a R a u ( 1 97 1 - 1 97 3 ) -, te n d o desenvo l v i d o a ctivida des de i nvesti gação e m
M a d ri d e B a rce l o n a ( 1 97 1 e 1 973- 1 97 5 ) . Ass i m , a o a b ri g o d essa bolsa, tra b a l h o u
n a B i b l i oteca Nacio n a l d e M a d ri d , n o Arq u ivo H i stórico N a ci o n a l , n o Arq u i vo
H istórico M u n i c i p a l de B a rce l o n a , n a B i b l i oteca d a Cata l u n h a (então d e n o m i n a d a
B i b l i oteca Central), n a B i b l i oteca d o C o nsej o S u pe r i o r d e l nvesti g a ci o n es
C i e ntíficas (C. S . I . C . ) e, sobretudo, n o Arq u i vo d a Coroa d e Ara g ã o , o n d e desen­
vo lveu activida des de pesq u isa docu m e nta l e b i bliog ráfi ca, que contri b u íra m
decisiva m e nte pa ra a s u a fo rmaçã o co m o h i sto r i a d o r e p a ra o esta belec i m e nto
de re l a ções p rofiss i o n a i s e pesso a i s co m vá rios colegas espa n h ó i s e itali a n os,
so l i d a m e nte refo rça d a s até a o p resente.
Em vi rtude do refe rido estatuto d e bolsei ro, e q u a n d o a i n d a estava em
B a rce l o n a , rece beu uma re n ovação d a bolsa d e estudos pa ra m a i s um a n o, o q u e
l h e poss i b ilitou a p rossecução d o s tra ba l h o s e m Espa n h a . Po r s u g estão do
Professo r D . Federico Ud i n a M a rtore ll, fo i receb i d o n a Un ivers i d a d e d e N ava rra
(Pa m plo n a ) p e l o Professor D. Á n g e l J. M a rti n D u q u e; este d e u - l h e o m a i o r i nce n­
tivo p a ra a e l a boração d a d isse rtação d e d o utora m e nto, i ntitu l a d a O Condestá vel
D. Pedro de Portugal, a Ordem Militar de Avis e a Península Ibérica do seu tempo
( 1429- 1466), q u e d efe n d e u em 24 de J u l h o de 1 97 5 (co m efeitos civis em Po rtuga l
reco n h ecidos pela Un ivers i d a d e do Po rto, e m 23 d e J u l h o d e 1 97 9 ) . J á d o utorado,
e q u a n d o se p repa rava pa ra reg ressa r a Po rtu g a l , rece beu os co nvites s i m u ltâ­
neos dos co n ceitu ados h i sto r i a d o res do Pa ís vizi n h o, Professo res D . E m íl io Sáez,
D . Fed e rico Ud i n a M a rto re l l e D . Á n g e l M a rt i n D u q u e p a ra , respecti va m e nte, l ec­
ci o n a r na U n i versi d a d e Autó n o m a de Ba rcelo n a , na Un ivers i d a d e Ce ntra l de
B a rce l o n a e n a Un ivers i d a d e d e N ava rra, aca ba n d o p o r o pta r p o r esta ú lt i m a .
Ass i m , fo i Professo r d a U n i ve rsi d a d e d e N ava rra e ntre 1 97 5 e 1 98 1 , p ri m e i ro
co m o Professor Visitante ( 1 975- 1 976), d e p o i s co m o Professor A djunto ( 1 976- 1 980)
e, fi n a l m e nte, co m o Professor Agregado ( 1 980- 1 98 1 ) .
E nt reta nto, o s contactos perm a n e ntes d e ca rácter fa m ili a r com Po rtugal
fo ra m ta m bé m m a ntidos co m os meios a ca d é m i cos, n o m e a d a m e nte com os
seus co legas d a Facu l d a d e de Letras: Aq u i ve i o a o bter o títu l o d e Agregado e m
História Medieval p e l a U n i ve rs i d a d e d o Po rto ( 6 e 7 d e M a rço d e 1 98 0 ) , co m u m a
l ição so b re as Relações Luso-Castelhanas no Século XV. Reg ressou então à
Facu l d a d e n a q u a l i d a d e de Professor Associado Convidado, te n d o to m a d o posse
e m 22 d e J u n h o de 1 98 1 . Ati n g i u o topo d a ca rre i ra e m 1 984, co m o Professor
Catedrático do 4.0 G ru po (História), d a Facu l d a d e d e Letras da Un ivers i d a d e do
Po rto .
8
I bé r i a: Q u atroce ntos/Q u i n h e ntos
Na p ri m e i ra fase da sua docência na FUU P, e ntre 1 969 e 1 973, foi responsável
pelas a u las p ráticas das d isci p l i nas de História da Cultura Clássica, História da Idade
Média e História Moderna e Contemporânea de Portugal ( 1 � 68-69), e pelas a u las teó­
ricas e p ráticas das d isci p l i nas de História da Idade Média (de 1 969-70 a Nove m b ro
de 1 973) e de História da Cultura Portuguesa (de 1 970-7 1 a N ovem b ro de 1 973). As
d u a s ú lt i m a s d isci p l i na s m e n c i o n a d a s m a rca ra m i n d e l eve l m e nte o e n s i n o d o
e ntão j ovem assistente « L u ís Fo nseca »2 n a F L/U P. N a p ri m e i ra m i n istrou sem p re
u m p rog ra m a cro n o l og ica mente a bra ngente, a a rra nca r na " crise" da Rom â n i a no
sécu lo III e a term i n a r nos p ri m e i ros i n d ícios da " pa ragem do crescimento" do
Ocidente Medieva l , em fi nais de Duzentos, e isto co m um enfoque predom i n a nte­
mente eco n ó m i co-soci a l a pa rti r dos tempos m e rovíng ios. Em apoio às a u las teóri­
cas e práticas i ncu lcou um vasto ace rvo de textos docu menta is e uma B i b l iog rafia
i n c l u i n d o a uto res co mo H e n ri P i re n n e ( 1 862- 1 935) - e seus críticos na H i storiog rafia
do post- G u e rra, maxime Roberto Sa bati no Lopez ( 1 9 1 0-1 986), M a rc B l och ( 1 886- 1 994)3, Jacq u es E l l u l ( 1 9 1 2- 1 994), Ferd i n a nd Lot ( 1 866- 1 952), Lucien M usset ( 1 922-2004), C l a u d i o Sánchez-Ai bornoz ( 1 892-1 984)4, Robert Boutruche ( 1 902- 1 975), Roge r
Rémondon, Jea n H u be rt, Josia h C. Russe l l , Robert Latouche, Georges Du by ( 1 9 1 9- 1 996), Léopo l d Gén icot ( 1 9 1 4- 1 995), Guy Fou rq u i n ( 1 925- 1 988), Bern a rd G u enée,
Robert Fossi e r, Jacq u es Le G off ou José M a ria Laca rra ( 1 907- 1 987 ) , ou a i n d a séries
de p u b l icações com o as sucessivas Settimane di Studio sul/�lto Medioevo, de
Spoleto, o u os Recueils d e la Société Jean Bodin, entre ta ntas outras, i ncl u i ndo ta m­
bém a l g u n s a rtigos dados à esta m pa nos Annales.
N a seg u n d a d i sci p l i n a , o n d e suced e u , co mo reg e nte, a Antó n i o Cruz e a M a ri a
d e Lou rdes Belch i o r ( 1 925-1 998)5, o p rog ra m a fo i ta m bé m cro n o l og i ca mente
' Co mo era co n h ecido e t rata do ao te m po . «Ad ã o d a Fo nseca» o u « L u ís Ad ã o d a Fo n seca »
são a pe l ativos posterio res, e ntre nós, ao seu reg resso de Espa n h a , e m 1 9 8 1 .
3 Q u e e ra refe rido e m contexto d i d áctico desde os a n os 4 0 , p o r M estres c o m o To rq u ato d e
S o u s a Soa res ( 1 903-1 988) n a U C , e c o m o J o s é Antó n i o Ferre i ra d e A l m e i d a ( 1 9 1 3- 1 98 1 ), a o
t e m p o n a U L ( s e r i a M estre d a FL/U P a pa rti r d e 1 962 ) .
4 Este h i sto ri a d o r e ra cita do n a U C p e l o m e n o s desde os a n os 3 0 , p o r acção d o seu g ra n d e
a m i g o To rq u ato d e S o u s a Soa res.
5 Esta p rofesso ra e n s i n o u b reve m e nte n a FUU P, e ntre Deze m b ro d e 1 969 ( a p rova ção e m con­
cu rso de p rovas p ú b l icas p a ra p rofesso ra cated rática, s e n d o a p ri m e i ra M u l h e r a ati n g i r ta l cate­
g o r i a em toda a U P) e N ove m b ro d e 1 970 ( reg resso, por tra n sfe r ê n c i a , à FUU L, o n d e já l eccio­
n a ra d e 1 949 a 1 969); pelo meio ( 1 963- 1 966) exercera fu nções d e a d i d a cu ltu ra l n a E m baixada
p o rtu g u esa e m B rasíl i a . Apesa r d a b revi d a d e d o exercíc i o d o ce nte n a FUU P, ficou i n d e l evel­
m e nte ligada a o a rra n q u e d a l i cenciatu ra e m Filologia Românica.
9
Dados B i o g ráficos e Percu rso I ntel ectu a l
exte nso (sécs. X I I I -XX) e tem atica m e nte d ife re n c i a d o . Ainda que a l g u m as d i s­
cu rs i v i d a d es "frá g e i s " (a vant-la-/ettre e a vant-/e-temps . . . ) 6 p u d essem a p reci a r
sobera n a m e nte a s u a a bo rd a g e m à p ro b l e m át i ca d a. « s a u d a d e » n a Cu ltu ra
Po rt u g u esa ( n as se m a n a s l ectivas term i n a i s ) , o ba l a nço d e q u e m seq u e nte­
m e nte se te n h a to r n a d o ta m bé m m ed i evista põe co ntra r i a m e nte a tó n i ca n o seu
t rata m e nto d a n ossa H i stó ria Cu ltu ra l d e Quatroce ntos e d e Qu i n h e ntos, po ntos
do p rog ra m a q u e passa ra m p e l a Casa d e Avi s (com l e itu ras d o Livro da
Montaria, do Leal Conselheiro, d a Virtuosa Benfeitoria o u d o " s e u " Con­
d estáve l ) , p e l a s ideias po l íticas n o Po rt u g a l ta rdo- m e d i eva l e re n a scentista (com
referenci a i s e m Pa u l o M e rêa [ 1 888- 1 977] e e m M a rti m d e Al b u q u e rq u e ) e pela
Cu ltu ra d o H u m a n i s m o ( o g ra n de, g ra n d e e i ns u bstitu ído referenci a l estava e m
J osé Sebasti ã o d a S i lva D i a s [ 1 9 1 6-1 994] , g ra n d e M estre t ã o esq u e c i d o - e tão
s i l e n c i a d o - nos ú lt i m o s 1 5-20 a n o s ) .
Sa l i e nte-se a i n d a q u e Lu ís A l b e rto Adã o d a Fonseca fo i u m dos p ri m e i ros
l i cenc i a dos e m História pela FL/U P a exe rce r a docência n a Esco l a , a par de
E u g é n i o dos Sa ntos e d e Ca r l os A l b e rto Ferre i ra d e Almeida ( 1 934- 1 996) - ambos
ta m bé m e m estreia no a n o l ecti vo d e 1 968-69 - e a i n d a d e Câ n d i d o dos Sa ntos­
q u e l ecci o n o u a p a rti r d e 1 969-70.
Desta s u a p ri m e i ra fase n a FL/U P ficou desde l o g o a i m a g e m d e M estre exi­
g e nte, por vezes d u ro, m a s sabendo se m p re reco n h ece r os m é ritos do a l u no q u e
t ra b a l h asse. E a modernidade d o s seus referenci a i s fo i u m d o s c l a ros i n d ícios d e
q u e o E n s i n o d e C L I O n a FLIU P s e a p roxi m ava a passos l a rgos d e u m a rea l pari­
dade co m a s co n g é n e res Esco l a s d e m a i o r vetera n i a .
Depois de reg ress a r de Espa n h a , e m 1 98 1 , e j á d o uto rado, assu m i u a regê n ­
cia d a s d i sci p l i n as de História Económica e Social (Sécs. 111-X/V), n a l ice nciatu ra e m
História ( d e 1 98 1 -82 a 1 986-87 ) , de Metodologia da Investigação, no Cu rso de
Ciências Documentais ( M a i o -J u n h o d e 1 98 6 ) , e d e Teoria das Fon tes e
Problemática do Saber Histórico ( 1 987-88) e d e Introdução à História ( 1 988-89 ) ,
a m bas ta m bé m d a l i cenciatu ra em História. Depois de u m i nterva l o de a l g u ns
a nos, por exe rcício de fu n ções oficiais, reg ressou à docência com a regência das
d i sci p l i nas de Sociedade, Economia � Política na Época Medieval ( d e 1 996-97 a
1 998-99 ) , d e História da Historiografia, a m bas n a Licenciatu ra e m História ( 1 997-98
e 1 998-99 ) e de História Medieval /, na Licenciatu ra em História da Arte ( 2 0 0 0-01 ) .
6 S o b retu d o e ntre o s est u d a ntes d e Filosofia.
10
I bé r i a: Q u atroce ntos/Q u i n h e ntos
Se n d o u m dos responsáve i s p e l a criação do p ri m e i ro Cu rso de M estra d o e m
História Medieval n a Facu l d a d e de Letras, e m 1 983, asseg u rou a reg ê n c i a d a d is­
ci p l i na d e Cartografia Histórica ( 1 984-85, 1 985-86 e 1 987-.88), do sem i n á ri o sobre
Comércio Externo Medie val ( 1 984-8 5 ) e d o s e m i n á ri o so b re Sociedade
Portuguesa nos Séculos XIV e XV ( 1 986-87, 1 988-89 e 1 990-9 1 ) .
U m a d a s s u a s i n i ci ativas m a i s i n ova d o ras, fruto d a s u a l a rga experi ên cia
acad é m i ca i nternaci o n a l , fo i a criação do Curso Integrado de Estudos Pós­
Graduados em História Medieval e do Renascimento, sendo o p ri m e i ro cu rso
desta natu reza q u e permitia aos a l u nos u m a fo rmação i nteg ra d a a o n ível da
Especi a l ização, d o M estra do e do Do uto ra m e nto . N este ciclo d e estudos assu m i u
o l u g a r d e Presi d e nte d a Co m i ssão de Coord e n a çã o ( d e 2 0 0 0 a 2003) e a reg ê n ­
c i a dos sem i n á rios sobre História d o Medievalismo ( d e 1 999-20 0 0 a 20 03-04), d e
Elites Medievais ( c o m o Do uto r J o s é Au g u sto d e Sotto M ayor Piza rro ) e d e Guerra
e Paz na Idade Média (com o Do uto r Lu ís M i g u e l D u a rte) e, por fi m , d a d isci p l i n a
de História Medieval e Internet ( d e 2001 -02 a 20 03-04) .
E ntre 1 996 e 2003 acu m u l o u as fu n ções doce ntes exe rcidas n a U n iversida d e
d o Po rto c o m as de p rofesso r da U n ivers i d a d e L u s í a d a do Po rto o n d e, desde
J a n e i ro de 2 0 04, exerce a s fu nções de Vice-Re ito r. N esta i n stitu i ção, e no â m b ito
da Lice n c i atu ra em Relações Internacionais, asseg u ro u a reg ên cia das a u l a s teó­
ricas d a d i sci p l i n a de História Política e Diplomática I (de 1 996-97 a 1 998-99), de
História dos Descobrimentos ( 1 997-98) e d e História da Cultura Portuguesa ( d e
1 998-99 a 2 0 03-04 ) . Po r s u a vez, a o n ível d a pós-g ra d u a ção, coo rd e n o u o Cu rso
d e Douto ra m e nto em História, o n d e reg e u a d i sci p l i n a de Formação Teórica
Avançada - História da Historiografia ( 1 999-2 0 0 0 e 2 0 0 0-01 ) , e as sessões de
Metodologia das Ciências Sociais, no cu rso d e Do uto ra m e nto e m Relações
Internacionais e em Direito (2008 e 2 0 0 9 ) .
Fruto dos contactos q u e, desde m u ito cedo, esta bel eceu co m i nstitu ições aca­
d é m i cas estra ngei ras, exerceu fu nções docentes em vá rias u n iversidades. Co mo é
natu ra l , atendendo ao percu rso já referido a nteriormente, l eccionou n a Facu ltad de
Fil osofia y Letras da U n i versidade de N ava rra as cadei ras d e Historia de Espana e
de Historia General de la Edad Media (de 1 975-76 a 1 980-8 1 e de 1 976-77 a 1 980-8 1 ,
respectiva mente). N a mesma i n stitu ição l ecci ono u u m cu rso so b re Experiencia
humana e experiencia religiosa en e/ viaje marítimo (siglas XII-XVI), i nteg rado no
cu rso de douto ra m e nto o rg a n izado pelo Depa rta m e nto de H i stó ria, i ntitu lado
Ruptura, continuidades y transformaciones: sentido y experiência de lo divino en la
época medieval y moderna (de 9 a 1 3 de Setem b ro de 2008). Ainda e m Espa n h a,
n a U n iversidad I nternacio n a l M e n é n dez y Pe l ayo (Sa nta nder), m i n istrou u m cu rso
sobre Los Descubrimientos Portugueses ( d e 24 a 29 de J u l h o de 1 989) .
11
D ados B i o g ráficos e Pe rcu rso I ntel ectu a l
O j u sto p restíg i o a d q u i ri d o n a s á reas d e História Medieval e d e História da
Expansão Portuguesa ex p l i ca o co nvite d a É co l e des H a utes É t u d e s e n Scie nces
Soci a l es ( Pa ri s ) pa ra l ecci o n a r um cu rso s o b re Les Décou vertes Portugaises a u
xve siecle: h o rizo ns in telectuels e t expériences � a ritim es ( 1 2 e 1 9 d e
N ove m b ro e 3 e 4 d e Deze m b ro d e 1 99 1 ) , n a q u a l i d a d e d e Director d e Estudos
Asso cia do. Po r s u a vez, a g o ra no I n st i t u t o d e E st u d o s Ava n ça d o s d a
U n i ve r s i d a d e d e S ã o Pa u l o ( B ra s i l ) , fo i n o m e a d o Pro fessor Titular Visita n te n o
â m b ito d o cu rso d e pós-g ra d u a çã o s o b re História e Imagin ário d o Oceano
A tlântico (21 e 28 d e Agosto e 11 d e Sete m b ro d e 1 997 ) , co m p l eta d o co m u m
seg u n d o cu rso d e g ra d u a çã o s o b re a m e s m a temática ( 2 2 e 2 9 d e Agosto e 1 2
d e Sete m b ro d e 1 997 ) .
C o m o c o ro l á ri o d a s u a i nternaci o n a l ização a o n ível d a d o cê n c i a , reg i ste-se
a n o m ea ç ã o co m o Pro fessor Visita n te da J o h n s H o p k i n s U n i ve rs ity ( B a lt i m o re )
n o Undergraduate course s o b re Portuguese Maritime Expansion a n d the
Development of lnternational Rela tions in Europe between the 1 5th and the
1 7th cen turies, co m p l et a d o co m u m Gra duate Co urse s o b re The Imaginaria in
the A tlan tic and lndian Oceans, 1400- 1 600 (7 d e Sete m b ro a 24 d e O utu b ro d e
1 998 ) .
E m a rti cu l ação com a docê n c i a , e como i n eq u ívoco s i n a l d e u m ente n d i ­
m e nto p l e n o d a s s u a s fu n ções co m o p rofessor u n i ve rs itá rio, foi respo nsáve l p e l a
o r i e ntação c i entífica d e o ito d i ss e rtações d e m estra d o e d e o ito d i ss e rtações d e
d o uto ra m e nto, tod a s d e d i ca d a s a o tema d a s O rd e n s M i l ita res e m Po rt u g a l n a
I d a d e M é d i a . Com o m e s m o e m p e n h o i nteg ro u p e rto d e u m a cente n a d e j ú ri s
u n i versitá ri os, q u e r p a ra a co n cessão d e g ra u s aca d é m i cos q u e r d e concu rsos
p a ra a p rog ressão n a ca rrei ra7•
Co m o te mos vi n d o a s u bl i n h a r, a expe r i ê n c i a p rofi ss i o n a l de Lu ís Adã o da
Fo nseca e m Espa n h a , a o l o n g o de vá rios a n os, não só teve a m a i o r i m p o rtâ ncia
n a s u a fo rmação h u m a n a , cu ltu ra l e c i e ntífi ca , co m o lhe d e u uma visão a l a rgada
d o que se d eve e nte n d e r p o r espírito aca d é m i co e u n ivers itá rio. E ssa m a i o r a b e r­
tu ra d e h o rizo ntes, os i n ú m e ros contactos i n stitu c i o n a is, e os l aços d e a m izade
teci dos co m m u itos Co l egas d o p a ís vizi n h o, são e l e m e ntos d a s u a perso na l i da d e
q u e n ã o pod i a m deixa r d e se refl ecti r n o seu m a g i sté rio n a FL/U P.
' Setenta e q u atro p rovas (2 de Apt i d ã o Ped a g ó g i ca e Capaci d a d e C i e ntífi ca, 30 de
M estra do, 2 1 de Douto ra m e nto e 2 1 d e Ag regaçã o ) , e vi nte e d o i s concu rsos ( 1 4 p a ra Professor
Associ a d o e 8 pa ra Professor Cated rático ) .
12
I bé r i a: Q u atroce ntos/Q u i n h e ntos
Desta q u e m -se, p o r i sso, e por u m l a d o, a perm a n e nte d i s po n i b i l i d a d e pa ra
i ntrod u z i r os seus co l egas, especi a l m e nte os m a i s n ovos - p ro m ove n d o se m i ná­
rios b i l atera is, i n ce ntiva n d o a i d a a co n g ressos o u esta d i a s de cu rta d u ração - n o
'
m e i o u n ive rsitá rio m e d i evístico espa n h o l o u , p o r o utro, n a e m pe n h a d a criaçã o
d e l a ços i n stituci o n a i s e ntre a U n ivers i d a d e d o Po rto e as U n i ve rs i d a d es
Autó n o m a de M a d ri d e d e Sevi l h a . Protoco l o s q u e se materi a l iza ra m e m 1 999,
d estaca n d o-se, especi a l m e nte, a criação das Cáte d ras Alexandre Herculano de
História Medieval de Portugal ( U n ivers i d a d e Autó n o m a d e M a d r i d ) e Sánchez
Albornoz de História Medieval de Espanha ( U n ivers i d a d e do Po rto ) , q u e p ro m o­
ve ra m , por exe m p l o, a ci rcu l ação de d oce ntes, o e n ri q ueci m e nto dos respectivos
fu ndos b i b l i o g ráficos o u os d o uto ra m e ntos e m reg i m e d e co-tutel a .
Esse afã , q u ase se poderia d izer o carif10, co m q u e promoveu as re l a ções
acad é m i cas e cie ntífi cas l u so-espa n h o las, ati n g i u p o rventu ra o seu po nto a lto em
1 985 q u a ndo, e m g ra n d e m e d i d a pelo seu e m pen h a m e nto, se criou a Sociedade
Portuguesa de Estudos Medievais, à i m a g e m d a co n g é n e re espa n h o l a - Sociedad
Espano/a de Estudios Medievales -, a m bas desde e ntão g e m i n a d a s8• Foi , co m o é
natu ra l , seu m e m b ro fu n d a d o r e p ri m e i ro Secretário-Geral ( 1 985-1 988) e depois
Vice-Presidente ( 1 988- 1 992 e, d e novo, desde 2003 ) . Como é seu ti m b re, n ã o
aceita ca rgos por razões d eco rativas, pelo q u e, n o exe rcício das fu nções m e ncio­
nadas e co m o Di recto r do I nstituto d e Docu m e ntação H istórica M e d i eva l d a
Facu l d a d e de Letras ( U n ivers i d a d e d o Po rto ) , f o i o Pres i d e nte d a s Co m i ssões
Executivas das 2. as e 4. as Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval, rea l i ­
zadas n o Po rto e m N ove m b ro d e 1 985 e N ove m b ro d e 1 997, res pectiva m e nte.
Ta m bé m é m e m b ro d a Academia Portuguesa da História, d a Academia da
Marinha ( e co m o ta l p resi d i u à Co m i ssão C i e ntífica d o VI Simpósio de História
Marítima - Pedro Álvares Cabral- o rg a n izado pela Aca d e m i a e ntre 25 e 27 d e
O utu b ro d e 2000), d a Sociedade Científica da Universidade Católica Portuguesa e
d a Society for the Study for the Crusades and the Latin East.
S u b l i n h e-se, a i n d a , a s u a pa rtici pação co m o vog a l n a Com issão Po rtu g u esa
de H istó ria M i l ita r, e ntre 1 99 1 e 1 997, co m o m e m b ro d o Conse l h o C i e ntífico do
Instituto de História da Europa Mediterrânea d o Consiglio Nazionale dei/e
•
Pa rt i c i p o u n a s Asse m b l e i as-G e ra i s da Soci e d a d Espa ri o l a de Estu d i o s M e d i ev a l es rea l i ­
zadas e m Cova d o n g a ( 1 983 ) . J a ra n d i l l a ( 1 984), S itges ( 1 985 ). Pa m p l o n a ( 1 986), E l Esco r i a i ( 1 989)
e S a n t i a g o d e Com poste l a ( 2 0 07 ) . N a reu n i ã o d e 1 984 p a rti c i p o u ta m bé m um peq u e n o g ru po de
m e d i eva l i stas p o rtu g u eses, e ali nasceu a ideia d e c ri a r a Soc i e d a d e Po rtu g u es a .
13
D a d o s B i o g ráficos e Pe rcu rso I ntelectu a l
Ricerche, d e s d e 2 0 0 3 ( Ca g l i a ri - Itá l i a ) , e, m a i s rece nte m e nte (2007 ) , a s u a n o m ea­
ção p a ra Pres i d e nte d o Conse l h o C i e ntifico d o CEPESE- Centro de Estudos da
População, Economia e Sociedade, d a U n ivers i d a d e d o . Po rto .
Pratica m e nte desde o i n ício d a ca rrei ra q u e, p a ra a l é m d a docê n c i a , se
e m pe n h o u n o exe rcício d e fu n ções d i rectivas e m i n stâ ncias aca d é m i cas e cie ntí­
ficas, com u m cu n h o m a i s u n i ve rs itá rio, co m o as d e Sub-Director do Instituto de
Artes Liberais da Universidade de Na varra ( d e 1 978 até 1 98 1 ) , d e Director do
Cen tro de Documentação e Estudos Europeus do Porto, em re p resentação d a
U n ivers i d a d e do Po rto ( e ntre 1 985 e 1 987 ) , e d e Director d o Instituto de
Documentação Histórica da Faculdade de Letras, d a mesma U n ivers i d a d e (e ntre
1 985 e 1 989, e nova m e nte de 1 996 até 2003), mas ta m bé m n u m a verte nte de
m a i o r visi b i l i d a d e sóci o-cu ltu ra l e até pol ítica .
Ass i m , fo i Co o rdenado r-A djunto d a C o m i ss ã o N a ci o n a l p a ra a s
C o m e m o ra ções dos Desco bri m e ntos Po rtu g u eses ( d e 1 989 a 1 992 ) . D u ra nte este
período fo i ta m bé m Vogal do Conse l h o C i e ntífico da refe rida Co m i ssão, e seu
Presiden te ( d esde J u l h o d e 1 992 até J a n e i ro d e 1 996), contri b u i n d o d e fo rm a-deci­
siva pa ra o b ri l h o que as co m e m o ra ções d esta s efe m é ri des exi g i a m , e m estreita
co l a b o ração co m o Co m i ssário Va sco G ra ça M o u ra . Na q u a l i d a d e d e Pres i d e nte
( 1 992-1 996), fo i ta m bé m Director da U n ivers i d a d e de Ve rão Estudos Gerais da
Arrábida, e d a revista Mare Liberum.
E nt reta nto, já dese m p e n h ava fu n ções co m o Pres i d e nte do I nstituto Ca m ões,
desde J u l hà de 1 992, cargo q u e ocupou até Sete m b ro de 1 995, e q u e l h e p e r m i ­
t i u o desenvo lvi m e nto de p roj ectos d a m a i o r i m po rt â n c i a pa ra a d i vu l gação d a
cu ltu ra p o rtu g u esa n o Mu n d o .
A fo rma e m pe n h a d a co m o Lu ís Ad ã o d a Fo nseca se m p re assu m i u as res­
ponsa b i l i d ades p rofiss i o n a is, e o crescente p restíg i o q u e fo i co n q u i sta n d o j u nto
dos seus pa res e nos m e i os a ca d é m i cos e c i e ntífi cos, ta nto a n ível n acio n a l co m o
i ntern a ci o n a l , exp l icam q u e desde m u ito j ovem ocu passe ca rgos de rel evo .
Refi ra m -se, a p ro pósito, os p resti g i ados ca rgos d e Vogal d a Com issão
Pe rm a n e nte dos Cong ressos d e H i stória d a Coroa d e Ara g ã o ( ú n i co h i sto r i a d o r
portu g u ês, d e s d e 1 976) , e d e M e m b ro d o Com ité I nternaci o n a l Assess o r pa ra
Prog ra m a s de H i stó ria da E d ito ra da U n ivers i d a d e de N ava rra ( d esde 1 97 8 ) .
D e s d e o i n ício d a s u a p rese n ça e m Pa m p l o n a , e a t é 1 982, a n o e m q u e reg ressou
a Po rtu g a l , fo i secretá rio d a q u e l e Com ité - p o r co nvite do Professo r Á n gel M a rti n
D u q u e -, te n d o a seu ca rgo a coo rd e n ação d a e d i çã o d a Historia Universal
d a q u e l a ed ito ra u n ive rsitá ria ( 1 4 vo l u mes p u b l icados e ntre 1 979 e 1 984)9• Fu n ções
9 Um desses vo l u m e s é d a s u a a utoria, p o r s u g estã o do Professo r L u ís S u á rez Fe r n á n d ez.
14
I béria: Q u atrocentos/Q u i n h e ntos
q u e i n eq u i voca m e nte o d estaca ra m , q u e r co m o h i sto r i a d o r q u e r co m o coo rde­
n a d o r d e p roj ectos científicos.
N o p l a n o d a e d i ção cie ntífi ca, d esta q u e-se a i n d a q u e e m e m b ro d o Conse l h o
Assesso r d a revista Acta Historica e t Archaeologica Mediaevalia ( U n i ve rs i d a d e d e
B a rce l o n a ) , do Conse l h o C i e ntífi co das revi stas Camoniana e Mimesis. Ciências
Humanas ( U n ivers i d a d e do Sa g ra d o Coração - S . Pa u l o ) , e do Co n se l h o
Consu ltivo d a revi sta Península. Revista de Estudos Ibéricos ( I nstituto d e Estu dos
I bé r i cos d a Facu l d a d e d e Letras da U n i versidade do Po rto ) . Po r o utro lado, s u b l i ­
n h e-se o s e u l a bo r edito r i a l ao m a i s a lto n íve l , co m o fu n d a d o r e d i recto r d a col ec­
ção Militarium Ordinum Analecta ( 1 0 vo l u m es p u b l i ca d os, e ntre 1 997 e 2008),
co m o m e m b ro do Conse l h o C i e ntífi co d a Col ecção História da Cultura Portuguesa
d a s E d i ções I NA PA ( d es d e 1 99 9 ) e co m o Editor-in-chief do e-Jo urnal o f
Portuguese History, em e d i ção e l ectró n i ca d e s d e o Ve rão d e 2 0 0 3 ( U n i ve rsity of
Po rto - B rown U n i versity I Provi d e n c e ) .
E m te rmos d e o rg a n ização e coo rd e n a çã o d e e d i ções, te n h a-se ta m bé m,e m
co n s i d e ração q u e dese m p e n h o u funções d e p ri m e i ro p l a n o e m c i n co o b ra s p u b l i ­
c a d a s e m E s p a n h a (Las in dividualida des en l a Historia. Actas d a s 11
Co nversac i o n es l nternaci o n a les de H isto r i a . Pa m p l o n a , E U N SA, 1 985), em Itá l i a
(Portogallo Mediterrâneo. Cag l i a ri , l stituto s u i R a p p o rti lta lo-i berici, 2002; 11 viag­
gio verso /e Americhe. ltaliani e Portoghesi in Brasile. Convegno di studi per i/ V
centenario de/la Scoperta de/ Brasile. Ro m a : Società Geog ráfica Ita l i a n a , 2004), n a
B é l g ica ( Catá logo d a exposi çã o Hoogtij der Middeleeuwen. Portugese kunst 12de
- 15de eeuw. B ruxe l as, E u ro pa l i a , 1 99 1 ) '0, e n o B rasi l (Brasil-Portugal. História,
agenda para o Milénio. Ba u ru , E D U SC, 2001 ) . Se, p o r u m l a d o , a s u a p rofu n d a
l i gação à Soci eda de Po rtu g u esa d e Estu dos M e d i eva i s o e nvo lveu n a e d i ção d a s
Actas das 2. as e 4. as Jornadas Luso-Espanholas, p ro m ovidas p o r a q u e l a o rga n i ­
zação, a s u a faceta d e aca d é m i co, por o utro, fez co m q u e assu m i sse a coord e n a ­
ção co nj u nta d a o b ra O s reinos ibéricos na Idade Média (3 vo l s . , Po rto,
C i v i l ização, 2003), m i sce l â nea de estudos e m h o m e n a g e m a H u m b e rto B a q u e ro
M o re n o . Po r fi m , reg i ste-se a coo rd e n a çã o e revisão técn i ca d a edição p o rtu g u esa
d a História Universal [Salvat] ( p u b l icada pelo j o r n a l Público, 2 0 vo l u m es, Lisboa,
2005), onde teve a o p o rtu n i d a d e d e i n c l u i r extensos co m e ntá rios d a s u a p ró p ri a
a uto r i a .
10 Reed itado e m p o rt u g u ês, c o m o títu l o d e Nos Con fins da Idade Média ( Li s b o a , Secreta ria
d e Esta d o d a C u ltu ra , 1 99 2 ) , e e m caste l h a no, co m o t ítu l o d e Portugal en e/ Medievo. De los
Monasterios a la Monarquia ( M a d ri d , Fu n d a c i ó n B a nco Central H i s p a n o , 1 99 2 ) .
15
Dados B i o g ráficos e Pe rcurso I ntel ectu a l
Tod a a experi ênc ia acu m u l a d a m ate r i a l izou -se n a o rg a n ização d e ce rca de 30
eve ntos científicos, e ntre os q u a i s se d esta ca m a o rg a n ização e coo rd e n ação da
exposição Hoogtij der Middeleeuwen. Portugese kunst 12de - 15de eeuw {A ux
confins du Moyen Age], i nteg rada n a E U RO PALIA 9 1 PORTU GAL ( G e nt, S i nt­
P i etersa bdij, 29 de Setem b ro de 1 99 1 a 5 de J a n e i ro de 1 992), bem co m o d a s u a
repetição e m Po rtu g a l ( Po rto, M useu Soa res dos R e i s , 1 3 d e M a rço a 26 d e Abri l
d e 1 992) e e m Espa n h a ( M a d ri d , Fu n d a c i ó n Ba nco Centra l H is p a n o , 25 d e M a i o a
26 de J u l h o de 1 99 2 ) . N o mesmo â m b ito, coo rd e n o u o co l ó q u i o Les Decouvertes
Portugaises ( B ruxe l as, 30 d e N ove m b ro d e 1 99 1 ) . Seg u i u -se d e p o i s a coo rd e n a ­
ção d e d o i s cu rsos nos Estudos Gerais da Arrábida- Con ferências d o Convento,
p r o m ov i d o s p e l a C o m i s s ã o N a c i o n a l p a ra a s Co m e m o rações d o s
Desco b ri m e ntos Po rtu g u eses, o p ri m e i ro e m t o r n o d e " 1488- 1489: a ruptura do
horizon te europeu numa perspectiva luso-espanhola " ( e m co l a b o ração co m
Agostín G o nzá l ez E n ciso, d a U n ivers i d a d e d e N ava rra - 1 992) e o seg u n do sobre
"A Fé, as Armas e a Honra. As Ordens Militares e Ca valeirescas na Europa
Mediterrânica dos séculos XII a XIX" ( e m co l a b o ração com Fra nco Ang i o l i n i , d a
U n ivers i d a d e de Pisa - 1 994) .
O i nte resse q u e d e d i cou à fi g u ra d e D. Ped ro, q u e fo i Cond estável d e
Po rtu g a l , G ove r n a d o r d a O rd e m d e Avis e Rei Intruso d a Cata l u n h a , patente n a
e l a boração d a s s u a s d i ssertações d e l i ce n c i atu ra d e d o utora m e nto, co n stitu i u o
po nto d e p a rtida pa ra a exp l o ração d e u m a d a s á reas d e t ra ba l h o m a i s g ratas ao
Prof. Lu ís Ad ã o d a Fo nseca - a s Ordens M i l ita res. Ass i m , n esta temática co n stru i u
esco l a , fo rm a n d o n ovos i nvesti gado res, através d a o r i e ntação d a s teses de m es­
tra d o e de doutora m e nto já m e n c i o n a d a s . Esta d i m e n sã o a ca d é m i ca fo i sem p re
e n q u a d ra d a p e l a o rg a n ização d e d i versas i n i ci ativas d e perfi l c i entífico, q u e c u l ­
m i n a ra m n a criação d e u m a p u b l icação i ntei ra m e nte d e d i ca d a a o estudo d estas
i nstitu i ções ( a j á refe rida co l ecçã o Militarium Ordinum Analecta).
Desde o i n ício do seu percu rso d e i nvestigação m a nteve contactos co m co l e­
gas ita l i a nos, q u e v i r i a m a co nstitu i r a base d e u m dos seus ca m pos d e tra b a l h o
em p rojectos col ectivos. A este n íve l , o Professor A l b e rto Bosco lo, e j á n a g e ração
seg u i nte o Professo r Fra ncisco Cesa r Casu l a ( U n ive rs i d a d e d e Cag l i a ri ), por via do
lstituto di Storia deii'Europa Mediterranea, seri a m os seus p r i n c i p a i s i nterlocuto­
res. N este senti do, foi co-responsáve l pelos p rog ra mas Mercadores Italianos em
Portugal e Mercadores Portugueses em Itália: Comércio e Navegação no período
dos Descobrimentos (séculos XIV-XVI), desenvo lvido a o a brigo do acordo entre o
I nstituto N a c i o n a l de I nvestigação Cie ntífica e o Consig l i o N a zi o n a l e de R i ce rche, e
pelo p rojecto Relações Históricas entre Portugal e Itália na Baixa Idade Média e na
Época Moderna ( 1 997-20 0 0 ) , e n q u a d ra d o pelo p rotoco l o e ntre o I CTI [ Lisboa] e o
16
I bé r i a: Q u atroce ntos/Q u i n h e ntos
C N R [ Ro m a ] . Desde então tem co l a borado activa m e nte nos s u cessivos p rog ra ­
m a s q u e se t ê m re n ova do c a d a d o i s a n os, j u nto d a Fu n dação p a ra a C i ê n c i a e a
Tec n o l o g i a d e Po rtu g a l e d o Consi g l i o N a z i o n a l e d e l l a � i ce rch e d e Itá l i a , tendo
desenvolvido vá rias m i ssões e m a rq u ivos e b i b l i otecas deste ú lti m o pa ís e a p re­
se nta do d i ve rsos traba l hos científicos, o n d e se pode i n cl u i r a p u b l icação de
a l g u n s l ivros.
A coord e n a çã o d a secção " Eco n o m i a e C o m é rcio M a ríti m o " n o Congresso
Bartolomeu Dias e a sua Época ( 1 988), q u e de ce rta m a n e i ra o i ntrod u z i u no ciclo
co m e m o rativo d a nossa " Expa nsão" e exp l i ca a s u a pa rtici pação conti n u a d a e m
eventos d a m e s m a natu reza, co m o m e m b ro d o Com ité d e Te m a d a EXPO 98
( 1 994- 1 997 ) , como m e m b ro do Comité Acesor para la Commemoración de/
Centenario de Carlos V ( 1 997), ou co m o o rg a n iz a d o r ( e m co l a boração com o
Professo r José J o bson Arru d a ) e coord e n a d o r d a pa rtici pação p o rtu g u esa n o
Congresso Projecto Resgate & Agenda d o Milénio ( S . Pa u l o, 2000), o u a i n d a
c o m o coo rd e n a d o r d a p a rti ci pação p o rtu g u esa n a sessão d e H i stó ria' d o
Congresso Portugal-Brasil 2000 ( Sa lva d o r, 2 0 0 0 ) . M a i s recente m e nte, e por d es­
pacho co nj u nto dos M i n i stros d e Esta d o e d a Defesa N a c i o n a l e d a Cu ltu ra, de 4
d e Deze m b ro d e 2002, foi n o m ea d o resp o n sáve l p e l o Projecto de Valorização do
Campo Militar de S. Jorge de A ljubarrota.
U m a das ve rtentes m a i s actu a i s do seu percu rso dese nvo lve-se n o contexto
d a s i n stitu i ções e u ropeias l i ga d a s às C i ê n c i a s H u m a n a s . Ass i m , fo i M e m b ro d o
Standing Comittee for the Humanities d a E u ro pea n Sci e nce Fo u n dati o n , sedeada
e m Estra s b u rgo, e m re p resentação d e Po rtuga l (2002 a 2008). N esta co n d i çã o
esteve p rese nte n a s re u n iões d e C ra cóvi a ( 2 0 0 2 ) , E stra s b u rg o ( 2 0 0 2 ) , Estrasb u rg o
( 2 0 0 3 ) , I sta m bu l (2004), Estrasb u rg o (2004), N icós i a ( 2 0 0 5 ) , J e rusa l é m (20 06) e d e
B ruxe l a s (2006). E m 2 0 0 3 foi e l eito p a ra o Core Group do mesmo Standing
Com ittee for the Humanities, ca rgo q u e o c u p o u até ao a n o de 2006. N esta co n d i ­
ç ã o esteve p resente n a s reu n i ões d e B o n a ( 2004), E stoco l m o (2004), Porto (2005),
H e lsínq u i a (2005) e d e O s l o (2006).
E m resu lta d o do dese m p e n h o d e ca rgos co m o perfi l que a ca bá m os d e men­
cio n a r, participou a i n d a , e m re p resentação d a Fu ndação pa ra a C i ê n c i a e a
Tec n o l o g i a , n a reu n i ã o d e a p resentação d o European Reference Index for the
Humanities [ E R I H ] ( Pa ri s, 2007 ) , to m a n d o parte n u m a d a s m a i s i m po rta ntes q u es­
tões cie ntífi cas d a a ctu a l i d a d e .
Em a cu m u l ação, e i g u a l m e nte e m rep rese ntação d e Po rtu g a l , ta m bé m pa rti­
cipou nos sem i n á rios o rg a n izados p e l o Comité Dinamarquês de Humanidades d e
17
D ad os B i o g ráficos e Percu rso I ntel ectu a l
Copen h a g u e n ( 2 0 0 2 ) e de O d e n s e (2002 ) . E , com o mesmo títu lo, no Sem i n á ri o
d a European Network of Research Councils for the Humanities (Am este rd ão,
2004) e n o se m i n á ri o p ro m ovi d o pela Academia Europa f!a, British Academy, The
European Science Foundation e The Ro yal Academies of the Sciences and the
Arts of Belgium, s u b o rd i n a d o a o tema Humanities and the European Research
Council ( B ruxe l as, 20 04) . E ntre 2003 e 2007 fo i m e m b ro do Conselho Cien tífico
das Ciências Sociais e Humanas, d a Fu n d a çã o pa ra a C i ê n c i a e a Tec n o l og i a .
N o â m b ito d a cada vez m a i s n ecessá ria e exi g e nte ava l i ação u n i ve rs itá ria e
c i e ntífi ca, á rea q u e desde h á m u ito va l o riza, Lu ís Adão d a Fo nseca d e u o p r i ­
m e i ro contri b uto a o pa rt i c i p a r e nt re 1 987 e 1 989, e m rep resentação d a
U n iversi d a d e d o Po rto, n a s a ctiv i d a d es d a Associação d a s U n ivers i d a des d a
Reg i ã o N o rte .
A p a rt i r d o fin a l d a déca d a d e 1 990, e q u a n d o toda a co m po n e nte d a ava l ia­
ção c i e ntífi ca é e m g ra n d e p a rte assu m i d a p e l a Fu n dação pa ra a C i ê n c i a e a
Tecn o l o g i a , passou a i nteg ra r vá rias d a s s u a s eq u i pa s : co m o m e m bro d o pái n e l
d e ava l iação d a s ca n d i d atu ras i n d ivi d u a i s a b o l s a s d e M estra d o , Doutora m e nto e
Pós-Doutora m e nto, n a á rea d e H i stória e Arq u eo l o g i a , d a Fu n d a çã o p a ra a
C i ê n c i a e a Tec n o l o g i a ( Li s boa, 1 999 a 2003, coord e n a n d o as sessões d e 2002 e
2003); co m o coo rd e n a d o r d o pa i n e l d e ava l i ação d a s U n i d a des d e I&D n a á rea d e
H istó ria a po i a d a s p e l a Fu n d a çã o pa ra a C i ê n c i a e a Tec n o l o g i a ( Li s boa-Co i m b ra ­
Po rto - B r a g a , 1 999; e Lisboa- É vo ra-Co i m b ra - Po rto- B ra g a , 2002; coo rd e n a n d o
a i nd a o p a i n e l d e ava l i ação extra o rd i n á ri a do N ú cleo d e Estudos d a Po p u l ação e
Socied a d e d a U n i versidade do M i n h o e m 2 0 0 5 ) .
Desta q u e m-se a i n d a as fu n ções d e coo rd e n a d o r d o pa i n e l d e ava l i ação d a s
ca n d i d atu ras de p roj ectos d e i nvestigação d a Fu ndação pa ra a C i ê n c i a e a
Tec n o l o g i a , n a á rea d e H istó ria e Arq u eo l o g i a ( Lisboa. 2003), do pa i n e l d a á rea
das C i ê n c i a s Soci a i s e H u m a n as d a mesma Fu n dação ( Lisboa. 2006), a ss i m como
d o pa i n e l d e ava l i ação dos recu rsos a p resentados a o co ncu rso d e p rojectos de
i nvestigaçã o ( Li s boa, 2008).
N o plano d a ava l i ação d a s i n stitu i ções u n i ve rs itá rias, fo i m e m bro d a
Co m i ssão d e Ava l i ação Exte rna do E�s i n o U n ive rsitá rio Priva do, q u e n o a n o d e
2 0 0 0 ava l i o u o I nstituto S u perior de E ns i n o Soc i a l d o Po rto, a U n ivers i d a d e
Fern a n d o Pessoa, o I nstituto S u pe r i o r d a M a i a e o I nstituto S u perior de C i ê n c i a s
de Sa ú d e do N o rte, te n d o sido R e l ato r d o I nstituto S u peri o r d e E n s i n o Soci a l do
Po rto. Vei o depois a i nteg ra r o g ru po d e t ra b a l h o e n ca rregado d e e l a bo ra r u m
re l ató rio s o b re a ava l i ação n o E ns i n o S u peri o r, n o â m bito d o Consel h o N a c i o n a l
d e Ava l i a çã o d o E ns i n o S u pe r i o r ( Lisboa, 2006).
18
I bé r i a: Q u atrocentos/Q u i n h e ntos
A s u a l a rga expe riência, e a i n d i scutível com petê ncia no exe rcício d a s fu n ­
ç õ e s d e ava l i a d o r, fi ca m bem pate ntes p e l a esco l h a d e Lu ís Ad ã o d a Fo nseca
co m o e l e m e nto d o pa i n e l d e ava l i ação das bolsas Rpmón y Gaja/ ( á rea de
H i stó r i a , H i stó ria d e Arte e Arq u eo l og i a ) d a Ag e n cia N a c i o n a l d e Eva l u a c i ó n y
Prospectiva d o M i n i sté rio de C i e n c i a y Tecn o l o g i a ( M a d ri d , 2003 e 2004), co m o
pe rito n a ava l i ação e l ectró n i ca dos p roj ectos de i nvestigação a p rese nta dos a o
co ncu rso promovi d o p e l a Ag e n ce Nati o n a l e d e l a Rech e rch e ( Pa ris, 2 0 0 5 ) , co m o
m e m b ro do g ru po d e scientific referees d o Cons i g l i o N a zi o n a l e d e l l e R i ce rche, d e
Itá l i a ( R o m a , 2 0 0 7 ) e, fi n a l m e nte, co m o m e m b ro da E u ropea n Science Fo u n d ati o n
Poo l o f Reviewers, n a á rea d e H i stória ( Estrasbu rg o , 2008 ) .
Pe l a expe riência a ca d é m i ca e p e l o perfi l d e h i sto r i a d o r q u e a p rese nta mos, é
natu ra l q u e L u ís Ad ã o d a Fo nseca te n h a fe ito i n ú m e ras i nterve n ções o ra i s e m
co n g ressos e e m reu n i ões cie ntífi cas e p rofe r i d o d i versas pa l estras, ta nto e m
Po rtu g a l co m o no estra n g e i ro . Ass i m s ã o d e s u b l i n h a r as 65 com u n i cações a p re­
senta d a s n o n osso pa ís, 29 e m Espa n h a , 19 em Itá l i a , 9 e m Fra n ça e 1 8 m a i s' d i s­
tri b u ídas p o r o utros pa íses e u ropeus e e m M a rrocos, n o B ras i l e nos Esta dos
U n idos. Acresce ntem-se a i n d a a s 43 a u l a s e o utro ti po d e i nte rve n ções d ispersas
p rofe r i d a s n o estra n g e i ro, e as 86 m i n i st ra d a s e m Po rt u ga l .
Apes a r d e ter a ss u m i d o co m g ra n d e e m p e n h o o exercício d e d i ve rsos ca r­
gos p ú b l i cos, não de ixo u de p u b l i ca r o res u lta do do seu i ntenso l a b o r de i nvesti­
gação e d e reflexão h i storiog ráfi ca . Com efeito, os 17 l ivros e os mais d e 100 a rti­
gos d a sua a utori a , p u b l i cados n u m ritmo crescente, são a m e l h o r p rova d o q u e
acabámos d e afi r m a r'' .
Tod a esta o b ra refl ecte, co m o é natu ra l , a evo l ução d o seu g o sto e m re l a ­
ç ã o a d ife rentes te m a s h isto riog ráfi cos, m a s ta m bé m a s u a co n sta nte cu riosi­
d a d e i ntel ectu a l e p e rm a n e nte a ctu a l i zação, v i s ível n u m a i m pressi o n a nte b i b l i o­
teca pessoa I .
N este sentido, e fruto do seu pe rcu rso aca d é m i co, a H istó ria Po l ítica, no seu
â m bito m a i s vasto, tem esta do se m p re p rese nte n a sua o b ra , q u e r sej a através d a
a n á l ise d a s re l a ções e ntre os d ifere nte::; rei n os pe n i ns u l a res, q u e r sej a p e l a i nte r­
p reta ção i n ova d o ra de m u itos dos passos dos d esco b r i m e ntos e da expa nsão
p o rtu g u es a . M a s ta m bé m p e l o estudo b i o g ráfico d e certas fi g u ras p a rticu l a r­
m e nte n otáve is no exercício do poder pol ítico . Pa ra l e l a m e nte, e co m o expressão
11
Na década de 1 970 p u b l icou 7 a rtig os, passa n d o p a ra 22 n a década seg u i nte, p a ra 44 nos
a n os d e 1 990, passa n d o j á os 40 n a a ctu a l déca d a .
19
Dados B i o g ráficos e Percu rso I ntel ectu a l
d a m atu r i d a d e d o seu pensa m e nto como h i sto riado r d esta q u e-se o seu i nte resse
p e l a H i stó ria d a H i storiog rafi a , patente em a l g u n s dos seus textos m a i s recentes
d e d i cados à s co m e m o ra ções e à m e m ó ri a .
D e resto, o perfi l e a d i n â m ica d a o b ra d e Lu ís Ad ã o d a Fo n seca aca baram
p o r o r i e nta r a estrutu ra do l ivro que a g o ra se a p rese nta co m o uma j u sta
Homenagem.
*
*
*
Q u e l u g a r, o d e Lu ís Adã o d a Fo nseca, n a H i sto riog rafi a do n osso Pa ís a o
l o n g o dos ú lti m os 4 0 a n os ?
Sa l i e nte-se a ntes d e m a i s q u e n a F L/U P, e j u nta m e nte co m , « m ututis m uta n­
d i s », C a r l os A l b e rto Fe rre i ra d e A l m e i d a , fo i um dos p ri m e i ros doce ntes a evi d e n ­
cia r u m a vocação c l a ra m e nte m e d i evística'2•
Os ru mos d a s u a i nvestigação desde cedo o l eva ra m às re l a ções entre os
Re i n o s Pe n i n s u l a res, p a rt i c u l a r m e nte at ravés do â n g u l o de e nfoq ue do
Co n d estável D . Ped ro, cuja o b ra i ntel ectu a l e percu rso po l ítico estu d o u . Sem
e m b a rgo, esta fi g u ra perm a n ece, n a sua O b ra , uma « ca p e l a i m perfeita » :
O s materi a i s co n sta ntes d a s u a tese d e l icenci atu ra q u ase n ã o fo ra m
d i v u l gados e m edição i m p ressa;
a ed. pela G u l be n ki a n d a Obra Completa d esto utro D . Ped ro, l eva d a
a efeito e m 1 975, teve u m a ti ra g e m red u z i d a , q u e ra p i d a m e nte esgo­
tou e n u nca fo i rei m p ressa;
fontes i néd itas, e m d evi d o te m po co m p u l sadas, pa ra o co n h eci­
m e nto do i d e á r i o po l ítico d o Co n destáve l e p a ra a propa g a n d a d a
d i n a st i a d e Avi s a g u a rd a m a i n d a t rata m e nto.
As re l a ções po l ít i ca s e eco n ó m i c a s d o Po rt u g a l d e Treze ntos e de
Quatroce ntos l evá-lo-i a m mais ta rd e1 a q u a n d o d a cel e b ração d e efe m é ri d es, ao
1 2 J u nte-se-lhes J osé Vi e i ra d e C a rva lho ( 1 938-2 0 0 2 ) , d o ce nte, n o e nta nto, d e ca rrei ra b reve
( 1 966- 1 97 5 ) e d e escassa o b ra p u b l i ca d a . Na g e ração s u bseq u e nte, co nstitu íd o já por a l u nos dos
a nteri o r m e nte citados, esco l h e ra m os tem pos m e d i ev a i s Arm a n d o Lu ís d e C a rva l h o H o m e m
( d o c u rso 1 968- 1 973), J o s é M a rq u es ( d o c u rso 1 969-1 974) e Arm i n d o d e S o u s a ( 1 942 - 1 998; t a m ­
b é m d o c u rso 1 969-1 974 ) .
20
I bé r i a: Q u atroce ntos/Q u i n h e ntos
i nte resse pelos t rata dos de Wi ndsor ( 1 386) e de To rdes i l h a s ( 1 494), te n d o pa ra
este ú lt i m o da do à esta m pa u m « co rp u s » docu m e nta l .
A s O rd e n s M i l ita res e o i d e a l d e Cruza d a seri a m O\Jtro ca m po d e e l e i ção,
pelo que escreveu ( i nc l u i n d o edição d e fo ntes) e e n s i n o u ( é o vecto r d a s u a O b ra
o n d e m a i s n i ti d a m e nte deixou Escola); p a ra a l é m d o q u e, u m a i nternaci o n a l iza­
ção d a pesq u i sa, n u m q u a d ro de contactos co m as H istoriog rafi as espa n h o l a e
ita l i a n a .
Foi a i n d a p e l a v i a d a s re l a ções i ntra-pe n i n s u l a res q u e L u ís Ad ã o d a Fo nseca
ch e g o u , logo nos a n os 70, à H istó ria d a Expansão Po rtu g u esa, co m o a bo rd a r da
p resença l u s a n o M e d iterrâ neo ( n avegações, co rso, co m é rcio m a rít i m o . . . ) , n u m a
perspectiva de H i stória d o s M a res e Oce a n os c o m a m a rca co n ce ptu a l d e P i e rre
C h a u n u . U m m a i s caba l e m p e n h a m e nto nos ru mos expa n s i o n i stas l evá-lo-i a m
u lte riormente a o e n ca ra r d o Rei n o q u e fo mos e m Quatrocentos e Qu i n h e ntos
co m o um « Po rtu g a l e ntre d o i s m a res». Po r outro l a d o , se a a bo rd a g e m biog ráfica
estava já p rese nte no estu do do Co n d estáve l , a p a rti r dos a nos 90 g a n h o u peso
acent u a d o na sua O b ra , co m os vo l u mes d e d i cados a G a m a , Ca b ra l e D . Joãó 11.
N este se ntido se pode d ize r q u e e m Lu ís Ad ã o d a Fo n seca se m a n ifesta m
a l g u m a s te n d ê n c i a s centra i s do tardo- m e d i evi smo e d o a lti-modern i s m o p o rtu­
g u eses d a s ú ltimas q u atro décadas.
Po rto, Páscoa d e 2009
Arm a n d o L u ís d e Ca rva l h o H o m e m
J osé Au g u sto de Sotto M ayor Piza rro
Pa u l a M a ri a de Ca rva l h o Pi nto Costa
21
LU ÍS AD ÃO DA FONSECA:
TRABALHOS PU B LICADOS
(1968-2008)
1 . Livros
1 . O Condestável D. Pedro de Portugal. Subsídios para o estudo da sua mentali­
dade [d i sse rtação de l icenci atu ra, pol i co p i a daL Po rto, Facu l d a d e de Letras, 1 968.
2 . Obras Completas do Condestável D. Pedro de Portugal, Lisboa, Fu n d ação
Ca l o u ste G u l be n k i a n , 1 975.
3 . Navegación y corso en e/ Mediterraneo Occiden tal. L o s Portugueses a media­
dos dei siglo XV, Pa m p l o n a , E U N SA, 1 978.
4. O Condestável D. Pedro de Portugal, a Ordem Militar de Avis e a Pen ínsula
Ibérica do seu tempo ( 1429- 1466), Po rto, I nstituto N a c i o n a l de I nvestigação
C i entífi ca, 1 982.
5 . La Cristiandad Medieval, " H i sto ria U n i ve rsa l E U N SA", to m o 5, Pa m p l o n a ,
E U N SA, 1 984.
6. O Essencial sobre o Tratado de Windsor, Lisboa, I m prensa N a c i o n a l I Casa da
M oeda, 1 986.
7. O Essencial sobre Bartolomeu Dias, Lisboa, I m p rensa N a c i o n a l I Casa da
Moeda, 1 987. Reed ita do pa rci a l m e nte com o títu l o d e " Ba rto l o m e u Dias, do pouco
q u e se sabe . . :; Ocean us, Lisboa, n ° 3, !Yi a rço d e 1 990, p á g . 50-55.
8 . O Tratado de Tordesilhas e a diplomacia luso-castelhana no século XV Estudo
i ntrod utó rio ( l eitu ra do texto do trata d o d e M a ri a Cristi n a C u n h a ), Lisboa, E d i ções
l n a pa , 1 9 9 1 . E d i çã o b ú l g a ra , Sófi a , 1 993.
9. Portugal entre dos mares, M a d ri d , E d itori a l M a pfre, 1 993.
23
Luís Adão da Fon seca: Tra b a l h os Pu b l i ca d o s (1968-2008)
1 0 . O A tlântico: a memória de um Oceano. Vol . 1 - Do Imaginário do A tlântico ao
A tlântico Imaginado. E d i ção, sel ecçã o d e textos e reco l h a i conog ráfica e m co n­
j u nto com J O S É ADRIANO DE CARVA L H O . Porto, B a n e� Po rtu g u ês do Atl â ntico,
1 993. Pa l avras de a p rese ntação ( pág . 7- 1 3) e i ntrod u ção i ntitu l a d a "O Atl â ntico do
fa ntástico e do m a ravi l hoso" ( pá g . 1 5-3 1 ). U m a p ri m e i ra versão do texto da i ntro­
d u ção, co m o títu lo d e "O i m a g i n á ri o dos n avega ntes p o rtu g u eses dos sécu los 1 5
e 1 6 '; foi p u b l icado e m USP. Estudos Avançados, vol . 6, n ° 1 6, São Pa u l o,
Sete m b ro-Deze m b ro d e 1 992, pá g . 35-5 1 .
1 1 . Corpus Documental dei Tratado de Tordesillas. D i recção co nj u nta co m J O S É
M AN U E L R U I Z AS E N C I O . I ntrod ução i ntitu l a d a De Tordesilhas a Saragoça, do
A tlântico ao Pacífico, 500 anos depois ( p á g . 9-23 ) . Va l h a dol i d , Sociedad V
Cente n a rio d e i Trata d o d e Tord es i l l a s-Com i ssão N a c i o n a l pa ra as Co m e m o rações
dos Desco b ri m e ntos Port u g u eses, 1 995.
1 2 . O A tlântico: a memória de um Oceano. Vo l . 2 - A descoberta do Oceano: saga
e memória (séc. XI-XVI). E d i ção, sel ecção de textos e reco l h a i co nog ráfi ca e m
conj u nto co m J O S É ADRIAN O DE CARVA L H O . Po rto, Ba nco Po rtu g u ês do
Atl â ntico, [ 1 996] . Posfácio i ntitu l a d o "A expe r i ê n c i a da v i a g e m da descoberta "
( pá g . 301 -328 ) .
1 3 . Vasco da Gama. O homem, a viagem, a época, Lisboa, Expo 9 8 e Com i ssão de
Coord e n a ção d a Reg i ã o do A l e ntej o, 1 997. E d i çã o a b revi a d a (sem i l u strações e
sem a pê n d ice), Lisboa , Expo 98, 1 998.
1 4. Os Descobrimentos e a formação do Oceano A tlântico, Lisboa , Com issão
N a c i o n a l pa ra as Co m e morações dos Desco b ri m e ntos Portu g u eses, 1 999. Ve rsão
e m l ín g u a i n g l esa co m o tít u l o d e The discoveries and the formation of the
A tlan tic Ocean, L i s boa, Co m i ssão N a c i o n a l p a ra a s Co m e m o ra ções dos
Desco b ri m e ntos Portu g u eses, 1 999. Ve rsão em l ín g u a ita l i a n a co m o titulo d e Da/
Mediterraneo aii'Atlantico. Le scoperte e la formazione de/ Mare Oceano nel seco/i
XIV-XIV, Pisa-Ca g l i a ri , E d i z i o n i ETS-Istituto d i Sto ria d e i i ' E u ropa M ed ite rra nea, '
2 0 04.
1 5 . Pedro Álvares Cabral. Uma viagem, Lisboa, E d i ções I NAPA, 1 999. O ca p ítu l o
3, i ntitu l a do "A vi a g e m : d e Lisboa à costa b rasi l e i ra '; foi reed ita d o n a revi sta Voz
Lusíada. Revista da Academia Lusíada de Ciências, Letras e Artes, n° 1 4, S . Pa u l o,
p ri m e i ro sem estre d e 2000, pág . 1 3-5 1 .
24
I bé r i a: Q u atrocentos/Q u i n h e ntos
1 6. De Vasco a Cabral, Ba u ru , E D U SC, 2001 .
1 7. O. João 11, Lisboa, Círcu l o de Le itores, 2005. Reed itado e m Lisboa, Te m a s e
Debates, 2007.
1 8. História das Ínclitas Ca valarias de Cristo, Santiago e Avis de Fr. Jerónimo
Román ( d i r. PAU LA PI NTO COSTA), Col ecçã o " M i l ita ri u m O rd i n u m A n a l ecta '; vo l .
1 0, Po rto, C E PE S E e Fu ndação E n g . Antó n i o d e Al m e i d a , 2008 ( e m co nj u nto co m
PAU LA PI NTO COSTA, MARIA C R I STI N A P I M E NTA, I SA B E L M O RGADO S . S I LVA
e J O E L MATA ) .
2. Coordenação de edições
1 . Las individualidades en la Historia (Actas d a s l i Co nversaciones l nternaci o n a les
d e H i sto r i a , Pa m p l o n a , 1 979), Pa m p l o n a , E U N SA, 1 985 ( e m co nj u nto com VAL E N ­
TI N VÁ ZOU EZ DE PRADA E ALFR E DO F LO R I STÁ N ) .
2 . Actas das 2as Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval, 4 vo l u m es,
Po rto, I N I C, 1 987- 1 989- 1 990.
3 . Catá l o g o da exposição " H oogtij d e r M i d d e l eeuwe n . Po rtugese ku n st 1 2de1 5d e eeuw [Aux confi n s d u M oyen Ag e] '; i nteg rada n a E U R O PALIA-9 1 - PO RTU GAL
( G e nt, S i nt- P i etersa bdij, 1 99 1 . Set.29/ 1 992.Ja n . 0 5 ) , B ruxelas, E u ro pa l i a, 1 99 1 .
Reeditado e m portu g u ês, co m o títu l o d e Nos Confins da Idade Média ( Lisboa,
Secreta ria de Estad o d a Cu ltu ra, 1 992), e e m caste l h a no, com o títu l o d e Portugal
en e/ Medievo. De los Monasterios a la Monarquia ( M a d ri d , F u n d a c i ó n Ba nco
Centra l H is p a n o , 1 992 ) .
4 . D i recção d a col ecçã o Militarium Ordin um Ana/ecta, vo l . 1 - 1 0, Po rto, Fu n d a çã o
E n g . Antó n i o de A l m e i d a , 1 997-2008.
5 . Actas das 4as Jornadas Luso-Espanholas de História Medieval, 2 vo l u m es,
Po rto, 1 998 [20 0 0] .
6 . Brasil-Portugal. História, agenda para o Milénio (Acta s d o Co l óq u i o o rga n izado
e m S . Pa u l o, 2000), Ba u ru , E D U SC, 2001 ( e m co nj u nto com J O S É J O B S O N DE
A N D RADE AR R U DA ) .
25
Luís Adão da Fon seca: Tra ba l h os Pu b l í cados (1968-2008)
7. Portogallo Mediterraneo, Ca g l i a ri , l stituto s u i R a p p o rti lta lo-i berici, 2002 ( e m
co nj u nto co m MARIA E U G E N IA CADE D D U ) .
8 . Os reinos ibéricos n a Idade Média, 3 vo l . , Po rto, Civi l ização, 2003 ( e m co nj u nto
co m L U Í S CAR LO S AMARAL e MARIA F E R NAN DA F E R R E I RA SANTO S ) .
9. 11 viaggio verso / e Americhe. ltaliani e Portoghesi in Brasile. Convegno di studi
per ii V centenario de/la Scoperta de/ Brasi/e (Cag l i a ri . 2 000. 1 1 .30/1 2 . 0 2 ) , Memorie
delta Società Geografica Italiana, vo l . LXXI I , Ro m a , 20 04, pág . 5-3 1 9 ( e m co nj u nto
co m MARIA E U G E N IA CAD E D D U e LU CIAN O GALLI NAR I ) .
1 0 . História Universal [Salvat}. Coord e n ação e revisão técn i ca d a edição portu­
g u esa p u b l icada pelo j o r n a l Público, 20 vo l u m es, Lisboa, 2005. Auto ria de co m e n ­
tá rios nos seg u i ntes vo l u m es : vo l . 3 (A semana d e Santa Helena e a identificação
dos povos a fricanos [ p á g . 287-290] ); vo l . 5 (A cultura grega e José Maria Latino
Coelh o [ p á g . 5 1 3-5 1 6] ) ; vo l . 6 (A romanização do ocidente peninsular [ p á g . 5 1 3520] ) ; vo l . 7 (A Bíblia na cultura portuguesa [ p á g . 5 1 3-5 1 9] ); vo l . 8 ( Origens do cris­
tianismo na Península Ibérica [ p á g . 5 1 3-520 ] ) ; vo l . 9 (As incursões na Península
Ibérica Ocidental [ p á g . 392-395] e Arabismos na língua portuguesa [ p á g . 5 1 35 1 9 ] ) ; vo l . 1 0 (A Cruzada em Portugal [ p á g . 5 1 3-520] ) ; vo l . 1 1 (A crise portuguesa
de 1383- 1385 e a Guerra dos Cem Anos [ p á g . 5 1 3-520] ) ; vo l . 1 2 (A/vise Cadamosto
e os relatos portugueses sobre a costa ocidental africana [pág . 5 1 3-5 1 6] ) ; vo l . 1 3
( Colombo em Portugal [ p á g . 5 1 3-5 1 8] ); vo l . 1 4 ( Os índios brasileiros no momento
da descoberta [ p á g . 1 80-1 82] e A formação do Brasil no século XVI [ p á g . 5 1 35 1 9] ) ; vo l . 1 5 ( Os Portugueses e o Japão [ p á g . 5 1 3-5 1 8] ) ; vo l . 1 6 ( Portugal e a
Revolução Francesa [ p á g . 5 1 3-520] ) ; vo l . 1 7 (A Á frica portuguesa no século XIX
[ p á g . 5 1 3-520] ); vo l . 1 8 (A África portuguesa no século XX. 1890- 1975 [ p á g . 5 1 3520] ) ; vo l . 1 9 ( Portugal e a Grande Guerra [ p á g . 5 1 3-5 1 9 ] ) ; vo l . 20 (As com emora­
ções e os caminhos da Memória colectiva [ p á g . 5 1 3-520] ) .
1 1 . A Europa e o mar, Lisboa, C h aves Fe rre i ra , 2008.
3 . Artigos
1 . " U m a ca rta do Cond estável D . Ped ro sobre a pol ítica m a rroq u i n a d e D.Afo nso
V '; Revista da Faculdade de Letras do Porto, série d e H istó ria, vo l . 1 . 1 970, pág . 8396.
26
I bé r i a: Q u atroce ntos/Q u i n h e ntos
2. "Al g u n s aspectos das re l a ções d i p l o m áticas e ntre Po rtu g a l e Caste l a em mea­
dos d o sécu l o XV ( 1 449- 1 456) " , Revista da Faculdade de Letras do Porto, série de
H istó ria, vo l . 3, 1 972, p á g . 5 1 - 1 1 2 .
3 . "A Ass i stê ncia a o s p o b res n a Cata l u n h a d u ra nte o re i n ado d o Co n d estável
D . Pe d ro co m o re i " i ntruso" d e Ara g ã o ( 1 464/1 466) '; A Pobreza e a Assistência aos
pobres na Península Ibérica durante a Idade Média [Actas d a s " 1 as J o r n a d a s
Luso-Espa n h o l as de H istó ria M e d i eva l . L i s b o a , 1 97 2 ] , L i s b o a , I nstituto d e Alta
Cu ltu ra, to m o 1 , 1 974, pág . 401 -438.
4. "At l a s d e N ava rra . G eog ráfi co . Eco n ó m ico. H i stórico'; B a rce l o n a , Di áfo ra, 1 977
(em co nj u nto com vá rios a uto res) .
5 . " Co ntri b u c i ó n a i est u d i o d e l a pol itica fi n a n c i e ra d e i Co n desta b l e D . Ped ro d e
Po rtuga l co m o rei " i ntruso" de Ara g ó n ( 1 464- 1 466) : l os aspectos m o n eta rios';
Homenaje a D. José Maria Lacarra, vo l . 4, Za ra goza, 1 977, pág . 1 37- 1 5 1 .
6 . " Co ntri b u c i ó n pa ra e l est u d i o d e l a s re l a c i o n es d i p l o m áticas e ntre Po rtu g a l y
Ara g ó n e n l a E d a d M ed i a '; "Actas " do X° Congresso de História da Coroa de
Aragão, vo l . 1 , Za ragoza, 1 980, pá g . 547-556.
7.
"
B a u e rt u m auf der l be risch e n H a l bi nsel; C a p itão d o n atá rio; Ceuta, H a u s vo n ';
Lexikom des Mittelalters, M u n i q u e, A rte m i s Ve r l a g , 1 980.
8 . " La é poca de E n ri q u e IV y J u a n 11 d e Ara g ó n '; Historia General de Espana y
América, to m o V, M a d ri d , R i a l p, 1 98 1 , pá g . 405-447.
9. "O Po rto nas rotas do M ed ite rrâ neo Ocide nta l (vésperas da época m o d e rn a ) ';
Revista de História do Centro de H i stória d a U n ivers i d a d e do Po rto, vo l . 3, 1 982,
pá g . 1 27- 1 39 .
1 0 . " l ncl ita G e ração. Altos I nfa ntes ( Lus(adas. IV. 5 0 ) . A l g u m a s co n s i d e ra ções sobre
a i m po rtâ ncia d a s ci rcu n stâ ncias h i stó ricas n a fo rmaçã o de u m te m a l iterá rio';
Actas da IV8 Reunião Internacional de Camonistas, Po nta Delgada, 1 984, pág . 295302.
1 1 . "Al g u m a s co n s i d e rações a p r o p ó s ito d a d o c u m e ntação existente em
B a rce l o n a respeita nte à O rd e m d e Avi s : s u a contri b u i ção pa ra u m m e l h o r co n h e27
Luís Adão da Fonseca: Tra ba l h os Pu b l i ca d o s (1968-2008)
c i m e nto dos g ru pos d e p ressão e m Po rtu g a l e m meados do sécu l o XV'; Revista
da Faculdade de Letras do Porto, vo l . 1 , 1 984, pág . 1 9-56. Reed ita d o nas "Actas "
d a s Jornadas sobre Portugal Medieval ( Le i r i a , 1 983), Lei ri a , 1 987, p á g . 276-3 1 1 .
1 2 . " La h i storiog rafi a m e d i eva l p o rtu g u esa ( 1 940- 1 984) '; L a historiografia en
Occidente desde 1945, "Actas de las III Conversaciones lnternacionales de
Historia " ( Pa m p l o n a . 1 984) , Pa m p l o n a , E U N SA, 1 985, pá g . 5 1 -67.
1 3 . "Al g u m a s co n s i d e ra ções sobre o co m é rcio exte rno a l g a rvio na é poca m e d i e­
va l '; Actas das I Jornadas de História Medieval do Algarve e Andaluzia ( Lo u l é,
1 984), Lo u l é, Câ m a ra M u n i c i p a l , 1 987, pá g . 6 1 -89 ( e m co nj u nto co m J . A. S .
PIZAR R O ) .
1 350- 1 5 0 0 '; Ha n dbuch der Europaischen Wirtscha fts u n d
Sozialgeschichte, vo l . 3 ( d i r. H . KE LLE N B E N Z ) , Sttutg a rt, Kl ett-Cotta , 1 986, pág .
777-799.
1 4.
" Po rt u g a l
1 5 . " U n a e l e g i a i néd ita sobre l a fa m i l i a d e Avi s . Un aspecto de l a p ro pa g a n d a po l i ­
tica e n l a Pe n i ns u l a I bérica a m e d i ados d e i s i g l o XV'; Anuario de Estudios
Medievales, vo l . 1 6, 1 986, pág . 449-463.
1 6. "As re l a ções co m e rci a i s e ntre Po rtu g a l e os rei n os pe n i nsu l a res nos sécu los
XIV e XV'; Actas das 2as Jornadas Luso-Espanholas d e História Medieval ( Po rto,
1 985), vo l . 2, Po rto, I N I C, 1 988, pá g . 541 -56 1 .
1 7. " Ba rto l o m e u D i a s e a g é n ese d a m o d e rn i d a d e '; Descobrimentos. História e
Cultura, Lisboa, 1 988 [ Deze m b ro d e 1 987), pág . 49-56. Reed ita d o e m Bartolomeu
Dias. No 500 ° aniversário da dobragem do Cabo da Boa Esperança. 1487/88- 1988.
Comemorações em Durban, Po rto, Fu n d a çã o E n g . Antó n i o de A l m e i d a , 1 990, pág .
2 1 -48.
1 8. " Quatro Razões'; Diário de Notícias d e 1 988. 02.03 [su p l e m e nto d e d i cado a
Ba rto l o m e u Dias] . Reedita d o , co m o títu l o d e Dias: co-autor do A tlântico, em "A
e ra d e Vasco d a G a m a " ( e d i çã o especi a l d o Diário de Notícias, d e 1 992.04. 1 5 . ) ,
pá g . 38-40.
1 9 . " La m o d e r n ità di B a rt o l o m e u D i a s : u n a p ro posta di i nterp reta z i o n e '; Columbus
92, a n o 4, no 9, Setem b ro de 1 988, pá g . 34-39.
28
I bé r i a: Q u atroce ntos/Q u i n h e ntos
20. a p a p e l de G ra n a d a no h o rizo nte da po l ítica pen i ns u l a r p o rtu g u esa em mea­
dos d o sécu l o XV'; Relaciones Exteriores de/ Reino de Granada ( IV Colóq u i o d e
H i stó ria M e d i eva l An d a l uza; d i r. C R I STI N A S EG U RA G RAI N O ) , Al m e ri a , I nstituto
de Estu d i os A l m e ri e n ses, 1 988, pág . 383-392 .
��
2 1 . /JA U n ivers i d a d e e os fu n d a m e ntos cu ltu ra i s d a i nteg ração eu ro pei a '; A
Universidade e a Construção Europeia, Po rto, U n ivers i d a d e d o Po rto, 1 988, pá g .
55-60.
22. /J le Po rtu g a l e nt re l a M éd ite rra née et I 'Atl a nti q u e au XVe siecle'; Le Portugal
au XVe siecle (Actas do co l ó q u i o ) , Pa ris, Fu n d a çã o Ca l o u ste G u l be n ki a n , 1 989,
p á g . 1 47- 1 62 [sepa rata dos Arquivos do Centro Cultural Português, vo l . XXV I ,
1 989] .
23. /JAi g u m a s co n s i d e ra ções ace rca d a s re l a ções co m e rc1 a 1 s e m a ríti m a s d e
Po rt u g a l co m G é n ova n a Ba ixa I d a d e M é d i a '; Actas d o Congresso ln ternaciónal
Bartolomeu Dias e a sua época, vo l . 3, Po rto, U n ivers i d a d e do Po rto e Co m i ssão
N a ci o n a l p a ra as C o m e m o rações dos Desco b ri m e ntos Po rtu g u eses, 1 989, p á g .
635-644.
24. a Iti n e rá ri o de U sod i m a re : i ns p i ração l iv resca , expe riência med ite rrâ n i ca e
n avegações a t l â n t i c a s e m m ea d o s d o sécu l o XV '; A ctas do 11 Colóquio
In ternacional de História da Madeira , Lisboa, Com i ssão N a c i o n a l p a ra as
Co m e m o ra ções dos Desco b ri m e ntos Po rtu g u eses, 1 990, pá g . 963-97 1 .
��
2 5 . /JA visão d o ocea n o n o sécu l o XV'; Jornal de Letras d e 1 990.03 . 1 3 . Reed ita d o
e m Forma, no 3 6 , M a rço d e 1 990 ( Lisboa, edição d a D i recção G e r a l d e Exte nsão
E d u cativa ) , pá g . 9- 1 1 .
2 6 . /JThe i m po rta nce o f t h e d i scove ries t o t h e h i sto ry o f t h e Atl a ntic'; Shape.
Community Life, vo l . 23, no 1 0, 1 990, pá g . 3-4.
27. Discu rso, e m re p resentação d a Fu n d ação E n g . Antó n i o d e A l m e i d a , d o Po rto,
n a i n a u g u ração do m o n u m e nto a Ba rto l o m e u D i a s em D u rba n ( 1 988), Bartolomeu
Dias. No 500° aniversário da dobragem do Cabo da Boa Esperança. 1487/88- 1988.
Comemorações em Durban, Po rto, Fu n d a çã o E n g . Antó n i o de A l m e i d a , 1 990, pá g .
1 1 6-1 23.
29
Luís Adão da Fon seca: Tra ba l h os Pu b l i ca d o s (1968-2008)
28. "As rotas da n avegação p o rtu g u esa e ntre o M ed ite rrâ neo e o Atl â ntico n a
é poca d e C o l o m bo'; A tti de/ V Convegno lnternazionale di Studi Co/ombiani (Navi
e na vigazione nei seco/i XV e XVI) [ G é n ova, 1 987],. G é n ova, Civico l stituto
Co l o m b i a n o , 1 990, p á g . 5 1 9-535 .
29. « La d écouve rte d e I ' espace atla nti q u e », Cadmos, a n o 1 4, n ° 53, G é n eve,
1 99 1 , pág . 1 1 -25. E d ição e m l ín g u a i n g l esa, com o títu l o de "The d iscovery of
Atl a ntic S pace'; Portugal, the Path finder. Journeys from the Medieval toward the
Modem World, 1300-ca. 1 600 ( d i r. G E O R G E D . WI N I U S ) , M a d i son, The H i s pa n ic
Sem i n a ry of M e d i eva l Stu d i es, 1 995, p á g . 5- 1 7.
30. O rg a n ização e co l a bo ração d o fo l h eto i ntitu l a d o " I nvestigaçã o . Acções n a á rea
u n i ve rsitá ria d a Com issão N a ci o n a l pa ra as Co m e m o ra ções dos Desco b ri m e ntos
Po rtu g u eses '; p u b l icado como s u p l e m e nto d o se m a n á ri o EXPRESSO ( Lisboa,
1 99 1 .07.20 . ) . Red acção das notícias Programa de investigação e relações universi­
tárias ( p á g . 4), Os Descobrimentos e os desafios dos anos 90 ( pá g . 1 4) e o' mile­
nário do A tlântico ( p á g . 1 5 ) .
3 1 . Catá l o g o da exposi ção Hoogtij der Midde/eeuwen. Portugese kunst 12de- 15de
eeuw [ Aux confins du Moyen Age], i nteg ra d a n a E U RO PALIA-9 1 -PO RTUGAL
( G e nt, S i nt- P i etersa b d i j , 1 9 9 1 . 09 . 29/ 1 99 2 . 0 1 . 0 5 ) , B ru xe l a s , E u ro pa l i a , 1 9 9 1 .
I ntro d u çã o e a utoria d a s fich as e respectivos co m e ntá rios d a s peças n °s 70, 7 1 ,
72, 73, 74, 75, 76, 78, 79, 80, 8 1 , 82, 1 73, 1 74, 1 75, 1 76, 1 7� 1 78, 1 79, 1 80, 1 8 1 , 1 82,
1 83, 1 84. 1 85, 1 86, 1 87, 1 88, 1 89, 1 89, 1 90, 1 9 1 , 1 92, 1 93, 1 94, 1 95, 1 96 e 1 97.
Reed ita d o e m portu g u ês, com o títu l o de Nos Confins da Idade Média ( Lisboa,
Secreta ria d e Estad o d a Cu ltu ra , 1 992), e e m caste l h a n o , co m o títu l o d e Portugal
en e/ Medievo. De los Monasterios a la Monarquia ( M a d ri d , F u n d a c i ó n B a n co
Ce ntra l H is p a n o , 1 992 ) .
3 2 . " Le Po rtuga l et I ' E u rope a u XVe siecle'; Catá l o g o d a exposição " Feitorias. L 'Art
au Portugal au temps des Grandes Découvertes (fin X/ Ve siécle jusqu 'à 1548) ';
i nteg ra d a n a E U R O PALIA 9 1 PORTU GAL (Antu é r p i a , Ko n i n kl ij k M u seu m voa r
Sch o n e Ku n ste n , 1 99 1 .09.29/1 2 . 2 9 ) , B ruxe l as, E u ropa l i a , 1 99 1 , pá g . 1 9-24.
33. " La descoberta p o rtu g u esa '; ABC d e 1 99 1 . 1 0 . 1 2 . , Aná l i sis, pág . 1 2- 1 3 .
3 4 . Co l a bo ração n o catá logo d a exposição O Castelo e a Ordem d e Santiago na
História de Palmela ( Pa l m e i a , J u l h o de 1 990), Pa l m e i a , Câ m a ra M u n i ci p a l , 1 990.
30
I béria: Q u atroce ntos/Q u i n h e ntos
Auto ria d a s fi ch as e dos seg u i ntes co m e ntá rios:
" I ntro d u çã o sobre a H i stó ria d a O rd e m de Santi a g o " ( pá g . 5 1 -52)
" Livro dos Copos" ( p á g . 52)
" Reg ra , Estatutos e Defi n i ções d a O rd e m de Sa nti a g o " ( pá g . 53-54)
" Reg ra e Estatutos d a Ordem de Santiago [de 1 542] " ( p á g . 54)
" Reg ra e Estatutos da Ordem d e Santiago [de 1 548] " ( p á g . 54)
"Apu nta m e nto l e g a l sobre e l d o m i n i o so l a r q u e por expresas rea l
d o n a c i o n es pertence a l a Orden d e Sa nti a g o e n todos s u s p u e b l os "
( p á g . 55)
"Vida e m o rte dos cava l e i ros e dos frei res d e Sa nti a g o " (pág. 201 202 ) .
3 5 . A l g u m a s p a l avras d e a p resentação, A s Ordens Militares e m Portugal (Actas
d o 1 ° E n contro so b re O rd e n s M i l ita res [ Pa l m e i a , 1 989), Pa l m e i a , Câ m a ra
M u n i c i p a l , pág . 1 1 - 1 2 .
36. "A m e m ó ri a d a s O rd e n s M i l itares: o Livro d o s Copos d a O rd e m d e Sa nti a g o ';
As Ordens Militares em Portugal (Actas d o 1 o E n co ntro sobre Ordens M i l ita res
[ Pa l m e i a , 1 989), Pa l m e i a , Câ m a ra M u n ici p a l , pág . 1 5-22.
37. " O m a r, o ocea n o e os Desco bri m e ntos do sécu l o XV '; Communio, ano VI I I , n °
6, N ove m b ro-Deze m b ro de 1 99 1 , pág . 492-50 0 . E d i çã o fra n cesa co m o t ítu l o de
Découvertes et voyages océaniques, Communio, XVI I , 4, J u l h o-Ag osto de 1 992,
pá g . 35-45.
38. " U m a l i n h a i m a g i n á ri a '; A era de Vasco da Gama (ed ição especi a l d o Diário de
Notícias, de 1 992.04. 1 5 ), pág . 48-50.
39. " La sto riog rafi a p o rto g h ese tra M e d ite rra neo e Atl â ntico'; L 'Europa tra
Mediterraneo e A tlantico. Economia-Società -Cultura ( d i r. GAB R I E LLA A I RA L D I ) ,
G é n ova, E C I G , 1 992, pá g . 1 5-2 1 .
40. " Las rentas ecl esiásticas y los fo ndos d e l a ca p i l l a rea l d u ra nte e l g o b i e r n o d e i
Co n d esta b l e Do n Ped ro d e Po rtuga l co m o " Rey I ntruso" d e Ara g ó n ( 1 464- 1 466) ';
Medievalia, 1 0 ( Estu d i os d e d i cados a i Profeso r Fred e ri c U d i n a i M a rtore l l ) ,
B a rce l o n a , P u b l icaci o n s d e l a U n iversitat Autà n o m a de B a rce l o n a " , 1 992, pág . 1 1 40.
31
Luís Adão da Fo n seca: Tra b a l h o s P u b l icados (1968-2008)
4 1 . " Ped ro, Co n d estável o :; Enciclopédia LOGOS, vo l . 4, Lisboa, Ve rbo, 1 992, p á g .
6-7.
42 . " Ped ro, Dom, Cond estável d e Po rtu ga l '; Dicionário da Literatura Medieval
Galega e Portuguesa ( d i r. G I U LIA LAN CIAN I e G I U S E PPE TAVAN I ) , Lisboa,
Ca m i n h o , 1 993, pág . 526-529.
43 . "A M o rte co m o tema d e p ropaga n d a pol ítica n a h i storiog rafia e n a poesi a p o r­
t u g u esa do sécu l o XV'; Biblos (Actas do C o n g resso Co m e m o rativo do 6°
Cente n á ri o d o I nfa nte D . Ped ro [Co i m bra, 1 992] ) , vo l . LXIX, 1 993, pá g . 507-538.
44. " E I Tratad o d e To rdesi l l as: a ntecedentes y s i g n ifica d o '; E/ Tratado de Tordesillas,
[s. l . ] , B a n co B i l ba o Vizcaya , 1 993, pá g . 1 33- 1 8 2 . E d ição p o rtu g u esa - "O Trata d o de
To rdesi l h as: Antecede ntes e s i g n ifica d o '; O Tratado d e Tordesilhas, Lisboa, B a n co
B i l ba o Viscaya ( Po rtu g a l ) , 1 994, pág . 1 29- 1 73 .
4 5 . " N os 500 a n os d o Trata d o d e To rdesi l h a s '; E/ País, J u n h o d e 1 994.
46. " S i g n ifi cado d o Trata do d e To rdes i l h a s '; Oceanos, n o 1 8, J u n h o d e 1 994, pá g .
8- 1 0 . Reed ita d o e m Nação e Defesa ( I nstituto d e Defesa N a c i o n a l ) , n ° 70, Abri l ­
J u n h o d e 1 994, pá g . 1 03- 1 1 0 .
47. "A g é n ese dos Desco b ri m e ntos '; Henrique o navegador ( catá l o g o d a exposi­
ção), Po rto, Co m i ssão M u n i co pa l I N FANTE 94, 1 994, pá g . 33-36.
48. " Li s boa m e d i eva l e o seu termo'; Lisboa Substerrânea ( catá l o g o d a exposi­
ção ) , Lisboa, Lisboa 94, 1 994, pág . 86-9 1 .
49. "A Lín g u a p o rtu g u esa e m co ntexto e u ropeu e Sete m e d i d a s n o h o rizo nte d a
l u sofo n i a '; Notícias Língua, Deze m b ro d e 1 994, pá g . VI I I e Manchete, n ° 1 2, e d i ção
especi a l 1 994/95, p á g . 24-27.
50. " Po rt u g a l e B ra s i l no h o rizo nte d a Lu sofo n i a '; Cultura Portuguesa na terra de
Santa Cruz ( d i r. MARIA B EATR I Z N I ZZA DA S I LVA) , Lisboa, Esta m pa , 1 995, pág . 1 1 21.
5 1 . "A M e m ó ri a dos Desco b ri m e ntos, hoje'; [Actas das] Comunicações a p resenta­
das no XII E n contro d e Professo res d e H i stó ria d a Zo n a Ce ntro, o rga n izado na
32
I bé r i a: Q u atroce ntos/Q u i n h e ntos
U n i ve rs i d a d e de Coi m b ra ( Co i m b ra . 1 994) , Co i m bra, 1 995, pág . 5-1 4. Rei m p resso
nos A rquivos do Centro Cultural Ca/ouste Gulbenkian, vo l . 34, Lisboa-Pa ris,
Ce ntro Cu ltu ra l Ca l o u ste G u l be n ki a n , 1 995, pá g . 1 2 1 - 1 29 . .
52. " O Tratado d e To rdesi l h a s : a l g u m as refl exões sobre o seu s i g n ifica d o '; Actas d o
co n g resso " E I Trata do d e To rd esi l l as y s u é poca " , o rg a n i za d o p e l a Co m i ssão
N a c i o n a l pa ra as Co m e m o rações dos Desco b r i m e ntos Po rtu g u eses e pela
Soci e d a d V Cente n a ri o dei Trata d o d e To rd es i l l a s ( Setú ba l . Sa l a m a nca .
To rd es i l h as, 1 994) , Va l h a d o l i d , 1 995, vo l . 2, p á g . 1 1 87- 1 205.
53. " Do Atl â nti co M e d i eva l a o Atl â ntico M od e r n o : Os Desco bri m e ntos e a fo rma­
ção d o espaço oceâ n i co '; A Ciência e os Descobrimentos, Lisboa . J u nta N a c i o n a l
de I nvestigação C i e ntífica e Tec n o l ó g i ca , 1 996, p á g . 69-83 .
54. " La co n c i e n c i a d e E u ropa e n e l h o rizo nte d e l a expa n s i ó n p o rtu g u esa (si g l os
XV-XVI ) '; Europa: proveeciones v percepciones históricas ( d i r. Á N G E L VÁCA
LO R E N Z O ) , Sa l a m a nca, E d i ci o nes U n ivers i d a d de Sa l a m a nca, 1 997, pag, 1 33- 1 47.
E d ição e m l ín g u a i n g l esa, co m a lterações: "The awa re n ess of E u rope with i n the
h o rizo n of Po rtu g u ese Expa n s i o n in t h e Fifteenth a n d S ixteenth Centu ries';
Portuguese Studies, Lo n d res, vo l . 1 4, 1 998, pág . 33-44. E d i çã o e m l ín g u a portu­
g u es a : "A consci ê n c i a d e E u ro p a n o h o rizonte d a expa nsão p o rtu g u esa ';
Camoniana, 3a série, vo l . 1 2, Ba u ru , S . Pa u l o, 2002, pág . 2 6 1 -284.
55. "A cruzada, a paz e a g u e rra n o h o rizonte d a " N ova E u ro p a " do sécu l o X I ';
Primera cruzada. Novecientos Afias después: e/ concílio de Clermont v los oríge­
nes dem movimiento cruzado ( e d i çã o de L U I S GARC ÍA-G U IJAR R O RAM O S )
[Actas d a s Jornadas lnternaciona/es sobre I Primera Cruzada, M a d ri d , 1 995],
M a d ri d , 1 997, pá g . 223-252. E d ição, e m sepa rata a utó n o m a , n a série dos
Trabalhos do Instituto de Documentação Histórica Medieval da Faculdade de
Letras da Universidade do Porto, n o 1 , Po rto, Ce ntro Leo n a rdo Co i m b ra d a
Fa cu l d a d e d e Letras d a U n ivers i d a d e d o Po rto, 1 998.
56. " Evocação d e Vasco d a Gama nos 500 a n os d a v i a g e m i n a u g u ra l d a co m u n i ­
cação e ntre os Ocea nos'; Revista Unibanco, a n o 1 8, n ° 70, Lisboa, M a rço- M a i o d e
1 998, pág . 22-29.
57. Depo i m e nto s o b re " Vasco d a G a m a . De Po rtu g a l à l n d i a . 500 a n os d e p o i s '; O
Tripeiro, r série, a n o XVI I , n o 5, Po rto, M a i o d e 1 998, pág . 1 4 1 - 1 46 .
33
Luís Adão da Fo nseca : Tra ba l h os Pu b l i ca d o s (1968-2008)
58. "Vasco d a G a m a : u m a biog rafi a fa ntástica '; Oceanos, n o 33, Lisboa, J a n e i ro­
M a rço d e 1 998, pág . 73-89 .
59. " E I h e redero d e l a Ca ro n a portu g u esa : los n o m b res d e i príncipe'; La Figura dei
Príncipe de Astúrias en la Carona de Espana, M a d ri d , E d ito ri a l DYKI N S O N , 1 998,
p á g . 85-87
60 . E ntrevista sobre Vasco d a G a m a , Jornal de Letras, Artes e Ideias, a n o XVI I I , n °
7 2 3 , 1 998.07. 01 - 1 4, p á g . 1 8- 1 9 .
6 1 . "A exp e ri ê n c i a h i stó rica d o s po rt u g u eses: a l g u m a s l i n h as de fo rça '; Quando o
A tlân tico encontra a Europa. Portugal, Lisboa, I C E P, 1 998, pág . 20-47.
62. "A i m a g e m de Fi l i pe 1 1 na h i sto riog rafi a portu g u esa '; Actas do Congresso
In ternacional Las Sociedades Ibéricas y e/ mar a finales de/ siglo XVI, o rga n izado
p e l o Com i ssa ri ado d e Espa n h a n a EXPO 98 ( Li s b o a . 1 998), to m o 5, M a d ri d , 1 998,
pág . 59-99.
63. "Os co m a n dos da seg u nda a rmada de Vasco da G a m a à Í ndia ( 1 502- 1 503 ) '; Mare
Liberum. Revista de História dos Mares, Lisboa, no 1 6, Deze m b ro de 1 998, pág . 1 1 -32.
64. " Vasco d a G a m a e a expa nsão p o rtu g u esa '; Da Ocidental Praia L usitana. Vasco
da Gama e o seu tempo. Catá logo da exposição [ S i n es, 1 998. 07. 30 . - 1 999.01 . 30 . ] ,
Lisboa e S i nes, Com issão N a c i o n a l p a ra as Co m e m o ra ções d o s Desco b ri m e ntos
Po rtu g u eses, Câ m a ra M u n i c i p a l d e S i nes e Ad m i n i stração do Po rto de S i n es,
1 998, pá g . 1 03- 1 27. Um excerto d este texto fo i p u b l icado n o fo l h eto-rote i ro d a
exposição: D a Ocidental Praia Lusitana. Vasco da Gama e o s e u tempo, Lisboa,
CNCDP, 1 998, pá g . 1 3-2 1 .
65.66. " O A l g a rve d a Reco n q u i sta à conj u ntu ra d e p ressiva d o sécu l o XIV" e "A
l i gação d o A l g a rve aos g ra n des centros d o co m é rcio i nternaci o n a l '; O Algarve da
Antiguidade aos nossos dias (elementos para a sua história) ( d i r. MARIA DA
G RAÇA MAIA MARQU E S ) , Lisboa, E d i ções Co l i bri, 1 999, res pectiva m e nte, p á g .
1 1 5- 1 22 e 1 3 1 - 1 38 .
67. "Vasco d a G a m a e a O rd e m de Sa nti a g o '; Ordens Militares. Guerra, religião,
poder e cultura ( d i r. I SAB E L C R I STI NA F. F E R N A N D E S ) , Lisboa, E d i ções Co l i bri,
1 999, vo l . 2, pá g . 277-292 .
34
I b é ri a: Q u atrocentos/Q u i n h e ntos
68. "O s i g n ifica do p o l ítico em Po rtu g a l das d u a s p ri m e i ras v i a g e n s à l n d i a d e
Va sco d a G a m a '; Actas d a Conferência Internacional Vasco da Gama e a Índia,
o rg a n izada pela Fu n d ação Ca l o u ste G u l be n kian e a C h a n ce l l e ri e des U n ive rsités
d e Pa ris, e m co l a boração com a Fu n dação O ri e nte ( Pa ris. 1 998), Lisboa, Fu n dação
Ca l o u ste G u l be n ki a n , 1 999, vo l . 1 , pág. 69- 1 0 0 .
69. " Po rtu g a l n a Pe n ínsu l a I bé rica. H o rizo ntes m a rít i m os, a rti c u l ação pol ítica e
re l a ções d i p l o m áticas (sec. X I I -XVI ) '; Las Espanas Medie vales ( d i r. J Ú L I O
VALDE Ó N BAR U QU E ), Va l l a d o l i d , U n ivers i d a d de Va l l a d o l i d , 1 999, pág . 83-93 .
7 0 . " H o rizo nte caste l h a n o no d e bate pol ítico e m Po rtu g a l n o fi n a l d a I d a d e
M éd i a '; Jornadas de Cultura Hispano-Portuguesa ( d i r. V I C E NTE A. Á LVAREZ
PAL E N Z U E LA), M a d ri d , U n ivers i d a d Autó n o m a d e M a d ri d , 1 999, pág . 1 47- 1 6 1 .
c
7 1 . "O reg resso de Vasco da G a m a e a defi n i çã o d a estraté g i a m a ríti m a portug u esa e m fi n a i s do sécu l o XV'; Sessão Solene do Lançamento do 3° volume da
História da Marinha Portuguesa. 19 de Maio de 1999, Lisboa, Aca d e m i a d e
, M a r i n h a , 1 999, pá g . 1 3-20.
7 2 . "A Comenda de N o u d a r d a O rdem d e Avi s : a m e m ó ri a d a fro ntei ra n a I d a d e
M é d i a e n a I d a d e M oderna '; Las Órdenes Militares e n la Península Ibérica ( d i r.
R I CARDO IZOU I E RDO B E N ITO e FRA N C I SCO R U I Z G Ó M EZ), vo l u m e 1 , C u e n ca ,
E d i cio nes d e l a U n ivers i d a d de Casti l l a- La M a n ch a , 2 0 0 0 , p á g . 655-68 1 .
7 3 . " O senti do d a novi d a d e n a Ca rta d e Pero Vaz d e Ca m i n h a '; Revista USP ( S .
Pa u l o ) , n ° 45, M a rço- M a i o de 2 0 0 0 , pág . 38-47.
74. Prefácio à o b ra de CAR LOS R O B E RTO F. N O G U E I RA, O diabo no imaginário
cristão, B a u ru , E D U SC, 2000, pá g . 7- 1 0 .
7 5 . " Do i s a n os n a vida d e Ped ro Á lva res C a b ra l '; Actas do colóquio "Dos mares de
Cabral ao Oceano da Língua Portuguesa ", o rg a n izado p e l a Esco l a N ava l ( Lisboa,
2000), Lisboa, Esco l a N ava l , 2001 , sem pág . .
76. "A p ri m e i ra expa nsão'; Memória de Portugal. O milénio português ( d i r.
R O B E RTO CAR N E I RO e ARTU R TE O D O R O DE MATO S ) , Lisboa, Círcu l o d e
Leitores, 2001 , pág . 2 1 5-265.
35
Luís Adão da Fonseca: Tra ba l h os P u b l icados (1968-2008)
77.
«
Le Po rtu g a l et l a M éd ite rra née a u XVe siecle
Calouste Gulbenkian, vo l . XLI I I , 2000, pá g . 3-34.
»,
Arquivos do Centro Cultural
78-79. " O h o rizo nte i n s u l a r n a experi ê n c i a cu ltu ra l d a p ri m e i ra expa nsão portu­
g u esa '; Actas d o C o n g resso I nternaci o n a l Co m e m o rativo do Reg resso d e Va sco
da G a m a a Po rt u g a l - Portos, Escalas e Ilhéus no relacionamento entre o Ocidente
e o Oriente (An g ra d o H e ro ís m o e Po nta D e l g a d a , 1 999), [Lisboa ] , U n iversi d a d e
dos Açores e Com issão N a c i o n a l p a ra as Co m e m o rações dos Desco b ri m e ntos
Po rtu g u eses, 2001 , vo l . 1 , pág . 57-93 . U m a síntese d este tra b a l h o e n co ntra-se
p u b l icado (em p o rtu g u ês e e m ita l i a n o ) e m Descubrir e/ Levante por e/ Poniente.
I viaggi e /e esplorazioni attraverso /e collezioni de/la Biblioteca Universitaria di
Cagliari ( d i r. L U C IA N O GALLI N AR I ) (Vi l l a n ovafo rru . 2001 ), Cag l i a ri , l stituto s u i
R a p p o rti lta lo-l berici, 2 0 0 2 , pág . 1 1 -26.
80. "Alexa n d re VI e os d esco b ri m e ntos p o rtu g u eses'; Roma di fronte a// 'Europa a/
tempo di Alessandro VI, Atti dei co nveg n o Ro m a . 1 999) ( d i r. M . C H IABO, S . MAD­
DALO, M. M I G LI O e A. M. O LIVA), vo l . 1 , R o m a , 2001 , pá g . 227-247.
8 1 . [ Pa l avras d e a p rese ntação ] , Brasil-Portugal. História, agenda para o Milénio
(Actas d o Co l ó q u i o o rg a n izado e m S . Pa u l o, 2 0 0 0 ) , B a u ru , E D U SC, 2001 , p á g . 1 32 1 ( e m co nj u nto co m J O S É J O B S O N DE A N D RADE AR R U DA ) .
82. "A d u p l a d i m e nsão d a s co m e m o ra ções n a é poca conte m po râ n ea '; L a s con­
memoraciones en la historia, Va l l a d o l i d , U n ivers i d a d de Va l h a d o l i d , 2001 , pág . 256 1 . Reed ita do e m Revista Mimesis. Ciências Humanas, B a u ru [S . P. ] , vo l . 26, n ° 1 ,
2005, p á g . 29-52 .
83. " Pa l avras d e a p resentaçã o '; Professor Doutor Humberto Carlos Baquero
Moreno. Bibliografia ( 196 1-2001) ( d i r. L U Í S CAR LOS AMARAL), Tra ba l h os do
I n stituto d e Docu m e ntação H i stó rica d a Facu l d a d e d e Letras d a U n ivers i d a d e do
Po rto, n ° 2 , Po rto, C e n t ro Leo n a rd o C o i m b ra I Fa c u l d a d e d e Let ras da
U n ivers i d a d e d o Po rto, 2001 , pá g . 3-5. Rei m p resso, co m peq u e n a s a lterações, em
Os reinos ibéricos na Idade Média, vo l . 1 , Po rto, Civi l izaçã o, 2003 ( d i r. L U Í S AD Ã O
DA FO N S E CA, L U Í S CAR LOS AMARAL e MARIA F E R NA N DA FE R R E I RA SANTO S ) ,
p á g . 7-9
84. " O rd e n s M i l ita res '; Dicionário de História Religiosa de Portugal ( d i r. CAR LOS
M O R E I RA DE AZEVE D O ) , vo l . 3, Lisboa, Círcu l o d e Leito res, 2001 , pág . 334-345 .
36
'
I bé r i a: Quatrocentos/Q u i n h e ntos
85. " Po rtu g a l '; ltinerario universal de Francisco de Ja vier ( d i r. JAVI E R F É LIX CAR­
M O NA SANTO S ) , Pa m p l o n a , G o b i erno d e N ava rra , 2002, pág . 1 77-2 1 1 .
86. " Po rtu g a l e o M ed ite rrâ neo no fi n a l d a I d a d e M é d i a : u m a visão d e co nj u nto';
Portogallo Mediterraneo ( d i r. LU Í S AD Ã O DA FO N S E CA e MARIA E U G E N IA
CAD E D D U ) , Cag l i a ri , l stituto s u i Ra pporti lta l o-i berici, 2002, pá g . 1 3-25.
87. "A v i a g e m d e Fe rnão d e M a g a l hães: um p ro b l e m a d e a utori d a d e nava l '; Fernão
de Magalhães e a sua viagem no Pacífico. Antecedentes e consequentes, Actas do
VI l S i m pósio d e H i stória M a ríti m a o rga n izado p e l a Aca d e m i a d e M a ri n h a, Lisboa,
Aca d e m i a d e M a ri n h a , 2002, pá g . 1 3-30.
88. " Po l ítica e cu ltu ra nas re l a ções l u so-caste l h a n a s n o sécu l o XV'; Península.
Revista de Estudos Ibéricos, n° O, 2003, pág . 53-6 1 . Reed ita do em Sem ear. Revista
da Cátedra Padre António Vieira de Estudos Portugueses, R i o de J a n e i ro, vo l . 9,
20 04, pág. 39-54.
89. "As fi n a n ças rea i s no g overno d o Co n d estável Ped ro de Po rtu g a l em
B a rce l o n a ( 1 464- 1 466) '; Actas do XVI I C o n g resso d e H i stória da Co roa de Aragão,
to m o 3, B a rce l o n a , U n ive rsitat d e B a rce l o n a , 2003, pág . 3 5 1 -355.
90. "The l nte rnati o n a l izati o n of Po rt u g u ese H i sto riog ra p hy : A C h a l l e n g i n g
O p p o rtu n ity': e-Journal of Portuguese History [http ://www. b rown . e d u/De pa r­
tments/Po rtu g u ese_ B razi l i a n_St u d i es/ej p h/] , n ° 1 , verão d e 2003.
9 1 . "A ca rta d e Ca nti n a e a rep resentação oceâ n i ca n o ú lt i m o q u a rtel d o sécu l o
XV'; As novidades do m undo. Conhecimento e representação n a época moderna
(Actas das XI Reunião In ternacional de História da Náutica e da Hidrografia/ VIII
Jornadas de História Ibero-Americana) , Lisboa, E d i ções Co l i bri, 2003, p á g . 365377.
92. [ Re s posta ao i n q u é rito s o b re a U n i v e rs i d a d e Po rtu g u es a ] em Avaliação,
re visão e consolidação da legislação do ensin o superior ( d i r. A L B E RTO A M A­
RAL), [ s . l . ] , C I P E S - Fu n d a ç ã o d a s U n ivers i d a d e s Po rt u g u esas, 2 0 03, p á g . 5 1 -63 .
93. " Los p recede ntes p o rtu g u eses: De l a Casa d a M i n a a l a Casa d a Í n d i a '; Espana
y América. Un océano de negocias. Quinto Centenário de la Casa de la
37
Luís Adão da Fon seca: Tra ba l h os P u b l icados (1968-2008)
Contra tación. 1 503-2003, [s. l . ] , Soci edad Estata l d e Co n m e m o ra ci o n es Cu ltu ra l es,
2003, pág . 33-46.
94. "As re l a ções e ntre H i stó ria e Literatu ra no co ntexto d a actu a l crise d a d i men­
são soci a l da n a rrativa h i storiog ráfi ca '; Literatura e História (Actas do Colóq u i o
I nternaci o n a l o rga n izado p e l a Facu l d a d e de Letras do Po rto [2003] ) ( d i r. MARIA
DE FÁT I M A MAR I N H O e FRA N C I S C O TO PA), Po rto, Facu l d a d e d e Letras, 20 04, vo l .
1 pág . 267-280.
'
95. " Po rtu g u ese Resea rch l n stituti o n s in H i sto ry'; e-Journal of Portuguese History
[ http ://www. brown . e d u/Depa rtme nts/Po rtu g u ese_B raz i l i a n_St u d i es/ej p h/] , no 2,
i nverno d e 2003 ( e m co nj u nto com J O S É L U Í S CAR DOS O ) .
9 6 . " D. Afo nso co n d e d e O u ré m , p o l ítico e d i p l o m ata '; Actas do congesso histó­
rico D. A fonso, 4° conde de Ourém e a sua época, O u ré m , Câ m a ra M u n i c i p a l de
O u ré m , 20 04, pág . 2 5 1 -265.
97. " l m po rta nza e s i g n ificato dei sog g i o rno d i Co l o m bo in Po rtoga l l o '; Cominciai a
na vigare in giovanissima età . . . Genova e Cristoforo Colombo ( d i r. GAB R I E LLA
A I RALDI ) [actas do co l ó q u i o Genova e Cristoforo Colombo, G é n ova . 20 04] ,
G é n ova, Frate l l i Fri l l i E d itori, 20 04, pá g . 4 1 -54.
98. "Ai essa n d ro VI e l'espa n s i o n e ocea n i ca : u n a rifl ess i o n e '; Alessandro VI dai
Mediterraneo ai/ Atlantico ( a ctas do co n g resso, Cag l i a ri , 2001 ) , Ro m a , Ro m a n e l
R i n a sci m e nto, 20 04, pág . 2 2 1 -233.
99. " E I rei n a d o de Isabel l a Cató l i ca e n l a h i sto riog rafi a portu g u esa '; Visión dei rei­
nado de Isabel la Católica desde los cronistas coetáneos hasta e/ presente ( d i r.
J U LI O VALDE Ó N BAR U QU E ) [actas do IV S i m posio sobre o rei n a d o d e Isabel a
Cató l i ca ce l e b rado e m Va l l a d o l i d e Li m a , 2003], Va l l a d o l i d , I n stituto U n iversita rio
de H i storia S i m a n cas, 20 04, pág . 1 33-1 46.
1 0 0 . "As O r d e n s M i l ita res e a Expa n s ã o '; A A lta Nobreza e a Fun dação do
Esta do da Ín dia ( a ctas do co l ó q u i o o rg a n i z a d o p e l o Ce ntro d e H i st ó r i a de A l é m ­
M a r d a U n ivers i d a d e N ova d e L i s b o a , 2 0 0 1 ) , L i s b o a , C H A M d a U n ivers i d a d e
N ova d e L i s b o a e I n stituto d e I nvest i g a ç ã o C i e ntífica Tro p ica l , 20 04, p á g . 32 1 347.
38
I b é ri a: Q u atrocentos/Q u i n h e ntos
1 01 . " De To rdesi l l as a Za ra g oza : d e i O r i e nte ai Pa cífico ( 1 494- 1 529)'; Espana y e/
Pacífico. Legazpi ( d i r. L E O N C I O CAB R E RO ) , to m o 1 , M a d ri d , Soci edad Estata l de
Co n m e m o racio nes Cu ltu ra l es, 20 04, pá g . 1 67- 1 83 .
1 02 . "O s i g n ifi cado p o l ítico e n á utico d a v i a g e m de Ped ro Á lva res Ca b ra l '; 1 1 viag­
gio verso /e Americhe. ltaliani e Portoghesi in Brasi/e. Convegno di studi per i/ V
centenario de/la Scoperta dei Brasile ( Ca g l i a ri . 2 0 0 0 ) , Memorie de/la Società
Geografica Italiana, vo l . LXX I I , Ro m a , 20 04, pág . 9-22.
1 03 . " St u d i a Lusita n a . Reperto rio b i b l iog rafico ita l i a n o d i stu d i sul Po rtoga l l o .
Pri m i risu ltati ( 2 0 0 0-04) '; 11 viaggio verso / e Americhe. ltaliani e Portoghesi in
Brasile. Convegno di studi per i/ V centenario de/la Scoperta dei Brasile (Cag l i a r i .
2 0 0 0 ) , Memorie de/la Società Geografica Italiana, vo l . LXX I I , Ro m a , 20 04, pág .
25 1 -3 1 9 ( e m co nj u nto com MARIA E U G E N IA CADE D D U ) .
1 04. " La sto riog rafi a d e l l 'espa n s i o n e m a ritt i m a p o rto g h ese (secc. XIV-XV) ';
Bulletino de/1'/stituto Storico Italiano per i/ Media Eva, 1 06/2, 20 04, pá g . 299-346.
1 05 . "A sobera n ia p o rtu g u esa n o fi n a l d a I d a d e M é d i a : a g é n ese d a i d e i a de
e s p a ç o po l ít i c o d esco nt í n u o '; Estudos Comemora tivos dos 1 5 Anos da
Licenciatura em Relações Internacionais ( d i r. CAR LOS C . L. S I LVA M OTTA; JOS É
DE M ATOS C O R R E IA), vo l . 2, Lisboa, U n ivers i d a d e L u s í a d a E d ito ra, 20 04, p á g .
1 27- 1 48 .
1 06. " G l o b a l ização a ntes d a g l o b a l ização? A expa nsão e u ropei a n o sécu l o XV. O
caso p o rtu g u ês '; "Das kommt mir Spanish vor�' Eigenes und Frem des in den
deutsch-spanischen Bezieh ungenn des Spiiten Mittelalters ( d i r. KLAU S H E R B E R S
e N I KO LAS JAS PE RT) , M u nste r, L i t Ve r l a g , 20 04, pá g . 643-684.
1 07. " Frei J e ró n i m o Ro m á n , cro n i sta das O rd e n s M i l ita res '; Actas do 4° Encon tro
sobre Ordens Militares (Palmela. 2002). As Ordens Militares e as Ordens de cava­
laria na construção do mundo ocidental, Lisboa, E d i ções Co l i bri e Câ m a ra
M u n ic i p a l d e Pa l m e i a , 2005, pá g . 2 1 -33 ( e m co nj u nto co m MARIA C R I STI NA
P I M E NTA ) . Est u d o reed ita d o com a lterações e a d e n d as, co m o t ít u l o de
" I ntro d u çã o . As Cró n i cas so b re as Ordens M i l ita res Po rtu g u esas d e J e ró n i m o
Ro m á n '; e m História das Ínclitas Ca valarias de Cristo, Santiago e Avis de Fr.
Jerónim o Román ( d i r. PAU LA P I NTO COSTA), Militarium Ordin um Analecta, vo l .
1 0, Po rto, C E P E S E e Fu n dação E n g . Antó n i o d e A l m e i d a , 2008, pág . 7-20 .
39
Luís Adão da Fo nseca: Tra ba l h os Pu b l i ca d o s (1968-2008)
1 08 . "Os est u d os h u m a n ísti cos e a co m u n i d a d e u n iversitá ria l u so-brasi l e i ra . U m a
refl exã o c o m dez a n os'; Literatura/Política/Cultura ( 1994-2004) ( d i r. I ZA B E L MAR­
GATO e R E NATO CO R D E I R O G O M E S ) . Belo H o rizonte, ·E d ito ra U FM G , 2005, p á g .
341 -353.
1 09 . " O co rso e a g u e rra n ava l p o rtu g u esa e ntre o M e d ite rrâ neo e o Atl â ntico no
sécu l o XV. O teste m u n h o d e Zu ra ra '; La Península Ibérica entre e/ Mediterráneo y
e/ A tlántico. Siglas XIII-XV ( d i r. MAN U E L G O N ZÁ LEZ J I M É N EZ e I SA B E L M O N ­
T E S R O M E RO-CAM AC H O ) , Sevi l h a-Cá d i z, D i p utaci ó n d e Cá d i z - Soc i e d a d
Espa ií o l a de Estud ios M e d i eva l es, 2 0 0 6 , p á g . 233-254.
1 1 0 . "O M ed ite rrâ neo e a fro nte i ra m a rít i m a d e Po rt u g a l nos sécu los XIV-XV';
Frontiere de/ Mediterraneo ( d i r. MARIA E U G E N IA CAD E D D U e M A R I A G RAZIA
M E LE ) . Pisa, E d i z i o n i ETS, 2006, pág . 4 1 -60.
1 1 1 . Review of the quality assurance and accreditation policies and pratices in the
Portuguese Higher Education (texto d o g r u po d e tra b a l h o e n ca rrega d o d e e l a bo­
ra r um re l atório sobre a ava l iação n o E n s i n o S u perior, n o â m b ito d o Conselho
Nacional de Avaliação do Ensino Superior [CNAVES] ( d i r. S É R G I O MACHADO
DOS SANTOS; e m co nj u nto com L U Í S CAR R I LH O G O N ÇALVES, J O Ã O D UARTE
S I LVA. ANT Ó N I O F E R R Ã O FI LI PE, CAR LOS V I E I RA. MARIA DE J E S U S LI MA e
M Á R I O F E R RAZ DE O LIVE I RA). Lisboa, CNAVE S- F U P-A D I S PO R-AP E S P, 2006.
1 1 2 . "A d i p l o m a ci a l u so-caste l h a n a n a seg u n d a m eta d e d o sécu l o XV. O trata do
d e To rdesi l h a s '; Encontros e desencontros ibéricos. Tratados hispano-portugueses
desde a Idade Média ( d i r. MARTI M DE A L B U Q U E R Q U E , I N Á C I O G U E R R E I RO,
F E L I C I A N O N OVOA PO RTE LA e E LE NA POSTI G O CASTE L LA N O S ) . Lisboa,
C h aves Ferre i ra - Pu b l i cações SA. 2006, pá g . 9 1 - 1 09 .
1 1 3. " La co l o n i a ita l i a n a i n Po rtoga l lo, I ' O rd i n e d i Santi a g o e Co l o m bo '; Genova
Europa Mondo. Cristoforo Colombo cinque seco/i dopo ( d i r. MASS I M I LIANO
MACCO N I ) [actas do Co n g resso I nternaci o n a l , G é n ova . 2006]. G é n ova, Frate l l i
Fri l l i E d itori, 2006, p á g . 53-73.
1 1 4. " J osé M a rq u es h i stori a d o r e m e d i eva l ista '; Estudos em homenagem ao
Pro fessor Doutor José Marques, vo l . 1 , Po rto, Fa c u l d a d e de Letras da
U n ivers i d a d e do Po rto, 2006, pá g . 1 5-2 1 .
40
I bé r i a: Quatroce ntos/Q u i n h e ntos
1 1 5 . "A O rd e m do Hospita l na Pe n ínsu l a I bérica na I d a d e M é d i a . O caso p a rti cu l a r
d e Po rtu g a l '; A lie origini deii'Europa Mediterranea. L.:Ordine dei Ca valieri
Giovanniti ( d i r. ANTO N E LLA PELLETTI E R I ), Actas d o co .l ó q u i o o rga n izado p e l o
Co n s i g l i o N a z i o n a l e d e l l e R i ce rch e, d e Itá l i a (Caste l l o d i Lago peso l e . 2005), Ro m a ­
-Fi re nze, C N R-Casa E d itice L e Lette re, 2007, pág . 1 23-1 34.
1 1 6 . O afã pelo Saber. "Na Alma-Mater entra-se mas dela não se sai, Psiconomia.
U n ivers i d a d e L u s ía d a . Po rto, n o 4, 2 0 07, pá g . 9-1 2 .
1 1 7. "The Po rt u g u ese M i l ita ry Orders a n d t h e Ocea n i c Navigati o n s : Fro m Pi racy to
E m p i re ( Fifteenth to early Sixteenth Ce ntu ries ) '; The Military Orders, vo l . 4 ( On
land anf by the Sea) ( d i r. J U D I U PTO N -WA R D ) , A l d e r s h ot, As hgate, 2008, pág . 6373.
1 1 8. "A E u ropa e o m a r '; A Europa e o mar ( d i r. L U Í S AD Ã O DA FO N S E CA), Lisboa,
Ch aves Ferre i ra , 2008, pág. 1 9-25.
1 1 9 . "Ap rese ntaçã o '; As Ordens Militares en tre o Ocidente e o Oriente. Actas do V
Encontro sobre Ordens Militares ( d i r. I SAB E L C R I STI NA F E R N A N D E S ) , Pa l m e i a ,
Câ m a ra M u n i c i p a l d e Pa l m e i a , 2009, p . 1 9-25.
41
Fig.
À
1 - 2003,
J u l h o : I n ic i o de u m a cto de d o ut o ra m e nto s o l e n e na S a l a d o s C a p e l o s ( U n i v e rs i d a d e de C o i m b r a ) .
e s q u e r d a reco n h ecem-se o s D o utores L u c i a n o Lo u re n ç o e J o s é C a r l o s Sea b ra Pe r e i r a ; à d i reita o s D o u t o res A n a
Pa u l a A r n a ut, C a r l o s R e i s , Antó n i o R i be i ro R e b e l o , J o s é G e r a l d e s F r e i r e , Sa u l Antó n i o G o m es e M a ri a H e l e n a d a C r u z
C o e l h o ; a o c e n t r o , e m co rtej o , d a d i r. p a r a a e s q . o s D o u t o res H e r m í n i a Vi l a r, L u ís A d ã o d a F o n s e c a , A r m a n d o L u ís
de Ca rva l h o H o m e m , L u ís M i g u e l D u a rte, J o s é M a rq u es, J o s é Antó n i o Seg u ra d o e C a m pos, Ai res N a s c i m e nto,
A rn a l d o E s p í rito Sa nto, A m é ri c o d a Costa R a m a l h o e M a n u e l d e O l i ve i ra P u l q u é r i o , entre o u t r o s .
Fig.
2 - 1 975,
O u t u b ro , U n i v e rs i d a d e d e N ava rra, a b e rt u r a d o a n o l ectivo d e
d o R e i t o r o ch a pé u refe rente a o g ra u d e doutor e m
42
História Medieval o bt i d o
1 975/76:
Lu ís A d ã o d a Fonseca recebe
m e s e s a ntes.
Fig.
3
-
1 987,
J u l h o , B r a g a , Sé Cate d ra l : No t e r m o da c e ri m ó n i a de i nvesti d u ra c o m o c ó n e g o do Douto r J o s é
M a rq u e s . D a e s q . p a r a a d i r. p o d e m v e r-se o s D o utores L u is C a r l o s A m a r a i , M a ri a d a C o n c e i ç ã o F a l c ã o , L u ís A d ã o
d a F o n seca, Ad e l a i d e M i l l á n d a C o s t a , A u r é l i o d e O l i ve i ra , J o ã o Fra n c i sco M a rq u es ( a o t e m p o Pres i d e nte d o
C o n se l h o D i rectivo d a Fa c u l d a d e d e Letras
I
U P ) , I s a b e l M o rg a d o , I s a b e l L a g o B a r b o s a , J osé M a rq u es, A r m a n d o Lu ís
d e Ca rva l h o H o m e m , M a ri a C r i sti n a C u n h a , M a ri a C r i sti n a P i m e nta e Antó n i o M atos R e i s .
Fig. 4 -
1 999,
N o ve m b ro , U P
I
Facu l d a d e d e Let r a s : N o fi n a l d a s p r o v a s d e d o ut o ra m e nto d a até entã o M estre M a r i a
C r i sti n a P i m e nta Ag u i a r P i nto. Senta d o s , d a e s q . p a ra a d i r. : D o utores E l e n a Post i g o Caste l l a n os, M a r i a Cristi n a
P i m e nta, R u i C e n te n a ( p re s i d e nte d o J ú ri ) . M a ri a H e l e n a d a C r u z Coe l h o e H u m b e rt o B a q u e ro M o re n o ; d e p é , d a e s q .
p a r a a d i r. : D o u t o res Lu ís A d ã o d a F o n s e c a , Arm a n d o L u ís d e C a rva l h o H o m e m , J o s é M a rq u es e L u ís M i g u e l D u a rte.
43
Secção 1
As Re l ações E n t re Po rtu g a l e
C a ste l a ( sécs . X I V-XV I )
El resta b l eci m iento d e l a paz entre
Casti l l a y Portu ga l :
1 402-1 43 1
Vicente Ángel Álva rez Pa lenzuela
U n i v e rs i d a d Autó n o m a d e M a d ri d
Las treg u a s d e Le u l i n g h a m de 1 8 d e j u n i o de 1 389, a pesa r dei ca rácte r tra n­
sitorio p ro p i o de u n as treg uas, te n ía n voca ci ó n d e perm a n e ncia y esta b l ecía n u n
siste m a g e n e ra l d e paz pa ra los conte n d i e ntes e u ro peos i m p l icados e n l a g ra n
g u e rra, cuyo ej e h a b ía s i d o e l enfrenta m i e nto fra nco-i n g l és . Las treg u a s d e
M o n çao, d e 2 9 d e n ovi e m b re d e este a fi o , i nserta ba n a Po rtu g a l e n e l siste m a
g e n e ra l d e treg u a s : a pa rente m e nte, se reso lvía con e l l a s e l e nfrenta m i e nto l u so­
caste l l a n o .
S i n e m b a rg o , e l e n o r m e d esga rro q u e e n l a s re l a c i o n e s e n t re Po rt u g a l y
C a st i l l a s u p u s o e l terri b l e a co nteci m i e nto d e A lj u ba rrota d ej a ba d e m a s i a d a s
c u esti o n es p e n d i e ntes: te m o r y d esco nfi a n za p o r u n a p a rte; deseo d e reva n ­
c h a p o r otra ; m u ch o s m u e rtos, p ri s i o n e ros, exi l i a d o s , d a n o s m ate ri a l es y
e nt rec r u z a d o s i nte reses po l ít i cos, p o r a m b a s p a rtes, se o p o n ía n a l a esta b i l i ­
d a d d e l a s treg u a s . Fu e ro n , p o r e l l o , m a l o bs e rva d a s y s u m a m e nte d ifíci l s u
co n so l i d a c i ó n 1 •
Las p r i m e ras negociaciones ten d e ntes a a l ca nza r l a paz m ovi l iz a ro n los
m ej o res recu rsos d i p l o m áticos d e cada una d e l a s pa rtes2; fu e ro n d u ras n egocia­
c i o n es, i n i c i a d a s e n Sa b u g a l y co n c l u i d a s u n os m eses después e n Lisboa, en
m ayo de 1 393. N o perm itieron a l ca nza r l a paz sino a pe n a s u nas treg uas, l a rgas
' S i g u e s i e n d o i m p resci n d i b l e e l a n á l i s i s d e este p roceso rea l izado, co n g r a n a p o rtaci ó n
docu m e nta l , p o r L. S U Á R E Z F E R N Á N DEZ. Relaciones entre Portugal v Castilla e n la época dei
Infante don Enrique. 1393- 1460. M a d ri d 1 960.
' Fueron l o s negoci a d o res, p o r p a rte caste l l a n a , Ped ro López d e Aya l a , J u a n Se rra n o ,
o b i s p o d e S i g ü e nza, y e l doctor Antó n S á n chez; p o r p a rte p o rtu g u esa Á lva r G o n z á l ez C a m e l h o ,
p r i o r d e i H o s p ita l , y Joao d a s Reg ras.
47
V i c e nte Á n g e l Á l v a rez Pa l e n z u e l a
e s o s í, p o r u n periodo d e q u i n ce a n os, espac i o q u e pa recía suficie nte p a ra nego­
ci a r con tra n q u i l i d a d l a so l u c i ó n d efi n itiva3•
Ta m poco a h o ra las treg u a s fu e ro n adecu a d a m e nte o bserva d a s . AI contra rio,
se s u ce d e n verd a d eras o pe ra c i o n es b é l i cas, s o b re todo entre 1 396 y 1 399, n u evas
y trasce n d e nta l es sa l i d a s h a c i a e l exi l i o, especi a l m e nte d e n o b l es p o rtu g u eses
l l a m a d os a te n e r u n g ra n p rota g o n i s m o e n Casti l l a , s u cesivas negociaci o n es, y
b reves treg u a s . A través d e e l l a s p u ed e a l ca nza rse, e n a g osto d e 1 402, l a fi rma d e
u na s n u evas treg uas; ta m poco se trata d e u n a p a z , s o l o treg u a s l a rgas, pero pa re­
cen fi r m a d a s en u n a m b i e nte de m e n o r d esco nfi a nza y a p u nta n c l a ra m e nte a l a
fi rma d e l a d efi n itiva paz.
1. LA DI F Í C I L R E C O N C I LIAC I Ó N
La fa l' l i d a ca m p a n a p o rtu g u esa sobre Alcá nta ra y l a toma d e Pe n a macor y
M i ra n d a por los caste l l a nos co nstit u ía n e l ú lt i m o ca p ítu l o de u n a g u e rra e n l a q u e
l o s conte n d i e ntes s o l o a s p i ra b a n a d is po n e r d e e l e m e ntos de p res i ó n e n l a i n evi­
ta b l e negociaci ó n . Pro b a b l e m e nte p o r i n i ci ativa p o rtu g u esa, co m o será casi h a bi­
tual, se i n i c i a n negoci a c i o n es entre O l ivenza y Vi l l a n u eva d e Ba rca rrota y se esta­
b l ece u na treg u a i n i c i a l , q u e perm ita la negoci a c i ó n , h a sta m a rzo de 1 40 0 .
L a s fu e rtes d i ve rg e n c i a s de pa rtida i m p i d e n ! l eg a r a a c u e rd os4: los p o rtu­
g u eses a s p i ra n a u n a paz, que c i e rre d efi n itiva m e nte e l pasado, co n s i m p l e d evo­
l u ci ó n de p l azas o c u p a d a s y de prisi o n e ros, s i n i n d e m n izaci o n es; los caste l l a nos
n o podían olvida r l o s d e rech os de Beatriz, y, e n s u caso, d e i i nfa nte D i o n ís, q u e
' Esta n e g o c i a c i ó n y l a s poste r i o res t i e n e n u n conte n i d o po l ítico, o bj eto d e este estu d i o , y
ta m b i é n i m porta ntes aspectos eco n ó m i cos q u e h e m o s t rata do en otro trabajo a nteri o r:
" Li be rtad de co m e rc i o y seg u ri d a d m a ríti m a e n l a s re l a c i o n es d i p l o m áticas e ntre Casti l l a y
Po rtu g a l '; e n La Península Ibérica entre e/ Mediterráneo y e/ Atlántico. Siglas XIII-XV. M .
G O N ZÁ LEZ J I M É N EZ e I . M O NTES R O M E R O-CAMAC H O (eds. ) . V J o r n a d a s h i spa no-portu g u e­
sas de H i storia M e d i eva l . Sevi l l a-Cá d i z, 2006, p á g s . 367-378 .
4 N o se p rete n d e u n a n á l i s i s d e l a negociaci ó n , q u e a bo rd a re m os e n p róx i m o t r a b a j o , s i n o
s e fi a l a r a l g u nos h itos q u e l l eva n a l a fi r m a d e l a s treg u a s . U n a re l a c i ó n d e estas negoci a c i o n es,
con d o c u m e ntos i m po rta ntes, L. S U Á R E Z F E R N Á N D EZ, Relaciones. , págs. 27-28 y does. 1 8, 2 1 ..
-29. S o b re a l g u nos aspectos d e l a n e g o c i a ci ó n d e 1 399, v i d . C . O L I V E RA S E R RA N O, Beatriz de
Portugal. La pugna dinástica Avís- Trastámara. S a n t i a g o de Com poste l a 2005, p á g s . 1 26 y s i g s .
l nteresa ntes n o t a s biog ráfi cas d e l o s d i p l o m áticos q u e l a s negoci a n e n I . B E C E I R O PITA, " Las
n e g o c i a c i o n e s e ntre Casti l l a y Port u g a l e n 1 39 9 '; Revista da Faculdade de Letras de Porto, Serie
11, vo l . 1 3, 1 996, 1 49-1 85.
48
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
s u po n ía n la negaci ó n d e la leg iti m i d a d d e J o ã o I, ni los i nte reses d e los n u m e ro­
sos exi l i ados portu g u eses e n Casti l l a . N o pudo l l ega rse a otro co m p ro m iso q u e
p ró rrogas de l a s treg u a s, p ri m e ro h a sta oct u b re d e 1 40 0 � l u eg o p o r u n a n o más,
n o sin sobresa ltos bé l i cos.
Antes d e concl u i r e l p l azo de treg u a s se a b ren n u evas negociaci o n es, por i n i­
ci ativa p o rtu g u esa n u eva m e nte . E l d ía 1 d e j u n i o d e 1 401 l l eg a b a a Segovia u n a
e m baj a d a p o rtu g u esa5; esa m is m a ta rde exp u s i eron a i rev e l o bj etivo d e l a e m ba­
j a d a , que e ra e l l o g ro d e l a paz o, e n s u caso, l a fi rma de n u evas treg u a s6•
La resp u esta caste l l a n a es, e n p r i n c i p i o , m uv a l e nta d o ra porq u e se desea
h a b l a r d e paz d efi n itiva , n o treg u a s . S i n e m b a rgo, las co n d i c i o n es p u esta s pa ra
a l ca nz a r l a m u estra n u n a posici ó n m axi m a l i sta de i m posi b l e aceptaci ó n . E l
Co n sej o d e Casti l l a exi g ía u n a creci d a i n d e m n izaci ó n p o r l a ru ptu ra d e l a s tre­
g u as', q u e, a d e m á s d e su vo l u m e n eco n ó m ico, i m p l i caba acepta r l a responsabi ­
l i d a d ú n ica d e l a m is m a ; avu d a m i l ita r h a bitu a l , pa rticu l a rme nte e n g u e rra co ntra
G ra n a d a , q u e s u po n ía u n a posici ó n d e vasa l l aj e8; perd ó n a todos los exi l i ados
portu g u eses, desde el m atri m o n i o d e l a re i n a Beatriz, v devo l u ci ó n d e todos los
b i e n es que les h a b ía n s i d o confiscados, l o que s i g n ifica ba u n a victo ria m o ra l pa ra
Casti l l a9; v d evo l u c i ó n de B a d ajoz v los d e m á s l u g a res ocupados p o r los p o rtu­
g u eses, v d e todos los p risi o n e ros caste l l a nos: n i s i q u i e ra se h a b l a ba d e reci p ro­
c i d a d caste l l a n a e n este p u nto .
E ra n exi g e n c i a s d e m uv d ifíc i l acepta ci ó n , pero, a d e m ás, l a resp u esta co nte­
n ía u n a q u i nta co n d i ci ó n , sorpre n d e nte n ove d a d en l a pos i c i ó n d i p l o m ática cas­
tel l a n a , no esg ri m i d a h a sta el presente, cuva a ce pta c i ó n , por h u m i l l a nte, res u l ­
t a b a i n n egoci a b l e10• N o s e trata ba d e l o s d e rech os de Beatriz a i tro n o portug u és,
o d e los eve ntu a l es de don D i o n ís, s i n o de los dei p ro p i o E n ri q u e I I I , e n razó n de
5 La i nteg ra n J o ã o Affo nso d e Aza m b uj a, o b i s p o d e Coi m bra, J o ã o Vázq u ez d e Almada y
M a rtím do S e m , doctor en Leyes .
' Deta l l a d a g u ía d e l a s n e g o c i a c i o n e s e n Fe rn ao LO PES, Crónica d e don João I . M . LO PES
DE ALM E I DA y A. d e MAGALHAES BASTO (eds.) B a rcelos 1 990. 2 vo l s .
7 Se eva l ú a e n vei nte c u e ntos d e l a m o n e d a p o rt u g u esa a nt i g u a , e q u i va l e nte a setecie ntos
fra ncos d e o ro, y u n a p e n s i ó n d e 40. 0 0 0 d o b l a s a n u a l e s d u ra nte l a vida d e E n ri q u e I I I y s u h e re­
d e ra , la i nfa nta M a ría.
' An u a l m e nte, d u ra nte l a v i d a de a m bos reyes, J o ã o I d e be ría p o n e r d i ez g a l e ra s y m i l
h o m bres, a rm a d o s a su costa d u ra nte seis m eses, a d i s p o s i c i ó n d e i m o n a rca caste l l a n o .
' E ra u n a co n d i c i ó n m u y a rriesgada po l it i ca m e nte y d e m u y d ifíc i l a p l icac i ó n , p o rq u e l o s
b i e n es confiscados h a bían s i d o atri b u i d o s y a a l o s n u evos p a rti d a rios d e l a d i n a stia .
1 0 O bs e rva c i o n e s i m po rta ntes s o b re estas negociacio nes, C . O LIVERA S E R RA N O, Beatriz
de Portugal, págs. 1 29-1 30.
49
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n z u e l a
s u pa rentesco con Fe r n a n d o I. Ofrecía re n u n c i a r a los m i smos y olvi d a r l a s i nj u ­
r i a s rec i b i d a s por su pa d re y por é l m i s m o a ca m bi o d e u n a i n d e m n iza c i ó n , q u e
pod ría va l o ra rse de m o d o s i m i l a r a l a acord a d a co n e l ,d u q u e de La ncaster y s u
esposa Consta nza, h ij a de Ped ro I , p o r l a re n u n c i a a s u s d e rech os a i t ro n o caste l ­
l a n o'' .
Co m o e ra p revi s i b l e, los e m baj a d o res portu g u eses rech aza ro n d e p l a n o
negoci a r sobre esta ú lt i m a exi g e ncia y c u a l q u i e r p a ra l e l is m o entre los casos de
Co nsta nza y E n ri q u e I I I , h i ciero n ver e l d ifíci l c u m p l i m i e nto d e l a s otras co n d i ­
c i o n es, d e s h o n rosas a d e m ás, y resa lta ro n e l hecho d e q u e h a b ía s i d o s u senor
q u i e n h a b ía i n i c i a d o l a s negociaciones. Como p o r pa rte caste l l a n a se co n d i cio­
naba l a paz a l a acepta c i ó n d e tod a s l a s exi g e n ci a s eco n ó m i cas, res u lta ba o b l i ­
g a d o n egoci a r ú n i ca m e nte u na n u eva treg u a .
M a rtín do Sem e s el e n ca rgado d e i nfo rm a r o ra l m e nte a su senor, q u e somete
la p ro p u esta caste l l a n a a la d e l i beración de las Cortes, co nvocadas en Sa nta ré m .
L a resp u esta d e i esta m e nto n o bi l i a rio propone, si s e trata de paz, u n s i m p l e i nte r­
ca m bio de las posicio n es ocu padas y de prisioneros h echos por a m bas pa rtes y
l a eq u i p a ra c ión de d a n os, por ta nto s i n co m pensaci ó n a l g u na . Desde l u ego,
rech aza c u a l q u i e r neg oci ación respecto a l a ayu d a m i l ita r, pero, m u y m atizada­
m e nte, acepta e l perd ó n d e todos los exi l i ados y l a devo l u c i ó n de todos sus bie­
nes patri m o n i a l es, n o de las m e rcedes reg ias. S i se trata de treg u a s por och o o
d i ez a nos, p rocédase s i m p l e m e nte a i i nterca m b i o de vi l l as y prisi o n e ros.
La resp u esta d e los co n cej os aconsej a negar e l perd ó n de q u i e n es se exi l i a­
ron con l a re i n a Beatriz, salvo que con e l l o se co n si g u i e ra l a paz, pero h a ce exce p­
c i ó n d e a l g u nos d este rra dos cuyo exi l i o ha s i d o m otiva d o por ag ravi os, cuyo per­
d ó n p ropo n e . Desde l u ego, rech aza a bso l uta m e nte l a posi b i l i d a d d e acced e r a l a
ayu d a m i l ita r ta l co m o se h a exi g i d o, p u es e l rey n o p o d ía g rava r a i rei n o co n
ta l es co m p ro m i sos; s i a l g u n a ayu d a se p restase, solo pod ría serlo e n l a fo rma
h o n o ra b l e e n q u e, e n su d ía , l o h i zo Alfo n so IV'2•
Las treg u a s se p ro rro g a n n u eva m e nte hasta m ayo d e 1 402, m i e ntras se
desa rro l l a n contactos prepa rato rios a nte e l e nvío d e u n a n u eva e m baj a d a portu­
g u es a . Es proba b l e que Joao I i ntentase a p rovech a r a l g u n a d ife re n c i a d e crite rio
e n e l g o b i e r n o caste l l a n o o co nvenc�r a los m á s reacios a l a negociaci ó n : q u izá
ese sentido t i e n e e l e nvío dei escri ba n o Á lva ro G o nzá l ez p a ra h a b l a r co n el
i nfa nte Fern a n d o . Cu a n d o e l d i p l o m ático p o rtu g u és I lega a To ledo, d o n d e espera
11
12
F. LO PES, Crónica de don João /, 11, cap . 1 84, p .406.
" n a d evi a l e ixa r s e u s s u bd itos e taaes fi l h os c o m o ti n h a asy soge itos a Castee l l a com
taes o b r i g u açoes " ; F. LO PE S , Crónica de don João /, 11, ca p . 1 85, p . 407-409 .
50
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
h a l l a r ai I nfa nte, es i nfo rmado de q u e ha p a rt i d o h a c i a Anda l u cía y q u e rech aza
cu a l q u i e r negociaci ó n . Po r e l l o e nvia un co rreo e n seg u i m i e nto dei I nfa nte:
m e d i a nte ca rta, don Fe r n a n d o co nfi rma su negativa a p a r.ti ci p a r e n l a negoci a c i ó n
n i rec i b i r s i q u i e ra a los e m baj a d o res port u g u eses; l a razón esg ri m i d a es q u e s e
trata d e u n a negoci a c i ó n contra ria a los i ntereses d e s u h e r m a n o e l rey y d e l o s
s uyos p ro p i os13•
Desde l u ego, era pos i b l e un fracaso d e l a s negociacio n es, dada l a pos i ci ó n
m a n ifesta d a p o r Casti l l a , pero esa posi b i l i d a d se a g rava ba más a ú n p o r l a nega­
tiva a c u a l q u i e r negoci a ci ó n m a n ifesta d a p o r e l I nfa nte caste l l a n o . As i l o i nter­
p retá e l m o n a rca p o rtu g u és q u e co nvoca u rg e ntem e nte Cortes pa ra trata r, a ntes
'
de l a co n c l u s i ó n de las treg uas, d e l a p revi s i b l e g u e rra co n Ca sti l l a'4. A i a r m a rea l
o a p a rente, a ntes de u n mes se h a b ia d i l u í d o e l pel i g ro y João I pod ia co m u n i ca r
n u eva p ró rroga d e l a s treg u a s h a sta m a rzo de 1 403; a i hacerlo most,ra ba s u i nte­
rés en evita r c u a l q u i e r e p isod i o q u e perm itiera cu l pa rl e d e su ru ptu ra15•
A fi n a l es d e a b ri l oto rga e l m o n a rca poderes a los e m baj a d o res que e nv i a ba
n u eva m e nte a Casti l l a '6, cuyas atri b u c i o n es se d e l i m ita ba n c u i d adosa m e nte'7:
neg oci a c i ó n d e paz, p refe ri b l e m e nte, o treg uas, pero d e bati e n d o ú n i ca m e nte
s o b re devo l u c i ó n de l u g a res tomados p o r a m bas pa rtes, p ri si o n e ros y re h e nes.
" ( 1 402}. e n e ro, 27. B a i l é n . Ca rta d e Fe r n a n d o a Á lva ro G o nzá l ez confi r m á n d o l e q u e s e
a p a rta d e l a s negociaci o n es, t a l como l e h a n i nfo r m a d o e n To l edo y l a razón d e s u rech azo.
Rem ite l a n e g o c i a c i ó n excl u s i va m e nte a i rey. G . H . C . P. ( G a b i n ete d e H i storia d a C i d a d e d e Po rto }.
Vereaçoes, l i b. 2, f. 47v. Monumenta Henricina, Coi m bra 1 960 y s i g s . 1 5 vo l s . Vo l . I , doe. 119. Cfr.
Vizco n d e de Sa nta ré m, Quadro elementar das relaçoes políticas e diplomáticas de Portugal com
as diversas potencias do m undo desde o principio da Monarchia Portuguesa até aos nossos
días. Pa ris-Lis boa, 1 842-1 876. 1 8 vo l s . Vo l . I, p á g . 283-285.
1 4 1 402, fe brero, 10. M o nte m o r-o- N ovo. C a rta d e João I a l a Câ m a ra d e Porto o rd e n a n d o e l
e nvio de p rocu radores h a sta de pri m e ro d e m a rzo. Expl ica l a m i s i ó n de Á lva ro G o n z á l ez y l a
p o s i c i ó n b e l i c i sta d e i g o b i e r n o caste l l a n o q u e t ra s l u ce l a carta d e i i nfa nte Fe r n a n d o , q u e
a dj u nta . G . H . C . P. , Vereaçoes, l i b . 2 . fi . 4 7. Monumenta Henricina, I , doe. 1 20 .
1 5 1 402, m a rzo, 5 . É vora . Co m u n ica esta p ró rro ga a l a Câ m a ra d e Porto, y o rd e n a q u e s e
p u b l i q u e y c u m p l a q u e l o s j u eces y conserva d o res d e l a s tre g u a s está n o b l i g a d o s a restitu i r l o
q u e fuese to m a d o e n e l otro rei n o y a h a c e r j l.[ sti c i a . G . H . C . P. Vereaçoes, l i b . 2 . fi . 50. Monumenta
Henricina, I, doe. 1 2 1 .
16 Los e m baj a d o res eran los m i s m o s dei a fi o a nteri o r : João Affo nso de Aza n b u j a , a h o ra
a rzo bispo e l ecto de Lisboa, J u a n Vázq u ez de Al m a d a y M a rti m do S e m . Po r p a rte caste l l a n a , d o n
Ped ro Fe r n á n dez d e Frias, ca rde n a l , Ruy López Dáva los, c o n d esta b l e y e l doctor Ped ro Yá fi ez,
o i d o r y refe re n d a ri a .
1 7 1 402, a b r i l , 2 3 . M o nte m o r-o- N ovo . A. G . S . (Arch i vo G e n e ra l d e S i m a ncas}. Patronato Rea l ,
l e g . 4 9 , f . 7. L. S U Á R EZ, Relaciones. . . , d o e . 3 1 , p á g . 1 35-1 36.
51
Vicente Á n g e l Á lva rez .Pa l e nz u e l a
La e m baj a d a portu g u esa l l egaba a Segovia e l 1 d e j u n i o . Las posici o n es de a m bas
pa rtes n o han experi m e ntado va ri a c i ó n a l g u n a : por pa rte p o rtu g u esa se b u sca u n
a c u e rd o l o más co m p l eto pos i b l e , q u e c i e rre e l pasa d o , s i n entra r e n cu esti o n es
q u e s u p o n g a n d u das s o b re l a l e g iti m i d a d d e l a n u eva d i nastía o i m p l i q u e n u n a
pos i c i ó n d e i nfe ri o ri d a d ; p a ra l o s caste l l a nos· l a leg iti m i d a d e ra , p recisa m e nte, e l
n ú cl eo de l a negociaci ó n : ta nto l o s d e rech os d e Beatriz o de Di o n ís, co m o l o s d e i
p ro p i o E n ri q u e 'III , n ecesa ri a m e nte i ncom pati b l es co n l o s d e i sobera n o p o rtu g u és .
N atu ra l m e nte, e n ta les co n d i c i o n es e ra i m posi b l e a l ca nz a r l a paz y h u bo q u e
negoci a r t reg uas, e s o s í, d e c i e rta d u ració n . Desco nocemos e l d eta l l e de esta
n eg ociaci ó n q u e co n d uj o a u n acuerd o a l ca nzado con basta nte ra p i d ez, a l g o so r­
p re n d e nte d a d a s l a s pos i c i o n es de p a rt i d a , a u nq u e a h o ra solo se t rata ba de tre­
g u a s . El a c u e rdo se fi rmá el 1 5 d e a g osto, en Segovi a18• Se acord a b a n d os tre­
g u as: u n a b reve, desde e l p róxi m o 29 d e septi e m b re h a sta 1 d e m a rzo d e 1 403,
fech a e n que se exti n g u ía la treg u a téc n ica aco rd a d a p a ra perm iti r e l d esa rro l l o
d e l a s negociaci o n es; a p a rt i r de ese d íà se i n i c i a ba l a ve rd a d e ra treg u a , l a rg a , por
d i ez a n os, h a sta ese m is m o d ía d e 1 4 1 3 . N oveda d i m p o rta nte: e n e l siste m a de
treg u a s se i nc l u ía a Fra n cia, si q u i siese, hecho qu e debería ser co nfi rm a do ai
m o n a rca portu g u é s e n e l p l azo d e ano y m e d i o19•
Treg u a s so l a m e nte, pero co n deseo de que se convi rtie ra n e n u n a verdadera
paz m u ch o a ntes d e q u e co ncl uya s u vigencia, d u ra nte l a q u e, n atu ra l m e nte, n o se
p roduci ría acci ó n bél ica de n i n g ú n ti po20• El p ro p i o texto dei acuerdo esta b l ecía el
i n icio de las negociaciones de paz en el p l azo de seis m eses co nta dos a pa rti r d e i
d ía e n q u e se h u biere cu m pl i d o l a devo l u c i ó n de p l azas ocu padas, l a l i beraci ó n de
pris i o n e ros y l a e ntrega d e reh e n es, y l a d eterm i n ac i ó n d e i lugar d e l a negociaci ó n
y los d i p l o m áticos encargados de la m i s m a , ci rc u n sta ncias q u e se p ro po n d rá n p o r
m e d i a d e i enviado pa ra recoger los j u ra m e ntos d e estas treg u a s21 •
E l acuerd o a l canzado ve rsa sobre cu atro g ra n d es a s pectos : situ a c i ó n po l í­
tica , cu esti o n es co m e rci a l es, reso l u ci ó n d e l a s secu e l a s d e l a g u e rra , y p revi sio­
nes rel ativas a l a conserva c i ó n y p royecc i ó n futu ra d e l a s treg u a s .
1 8 A.G.S. Patro n ato Rea l , l e g . 4 9 , f . 3 . P u b . L. S UÁREZ, Relaciones entre Portugal. . . , doe. 3 2 ,
p á g . 1 36-1 58.
, E ste p l azo se estab l ecía e n e l a rtíc u l o 18 de l o s a c u e rd os, d e d i ca d o a l a u lte r i o r nego­
ciación d e l a paz.
20 Artíc u l o 1 . l n c l uye ta m b i é n e l co m p ro m i so d e n o co nsenti r q u e otros l l even a ca bo ope­
raci o n es m il ita res y l a g a ra ntía d e que estas t re g u a s n o será n rotas con e l p retexto d e l a ru ptu ra
de l a s a nteri o res, l as de q u i n ce a n os fi r m a d a s e n 1 393, n i e n razó n d e i c i s m a exi ste nte en l a
l g l es i a , a rg u m e nto éste q u e d eb e s e r especi a l m e nte te n i d o
21 Artícu l o 1 8 .
52
en
cuenta.
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
La g ra n cu esti ó n po l ítica q u e enfrenta a a m bas m o n a rq u ias, resu lta do d e los
aco nteci m i e ntos p rod ucidos e n l a s dos ú lt i m a s d écadas, es l a leg iti m i d a d : co m o
h e m os d i ch o , frente a l a n u eva d i n astia rei n a nte e n Po rtug a l a pa rt i r d e l a " crisis
naci o n a l " d e 1 383-1 385, se a lza n los d e rech os d e Beatriz, los eve ntu a l es d e D i o n ís
y los m á s reci ente m e nte esg rim i dos d e i p ro p i o E n ri q u e I I I . Co m o es l ó g i co,
d u ra nte l a v i g e n c i a de l a s treg u a s n o h a b rá hosti l i d a d es con Po rtu g a l e n d efensa
d e los d e rech os d e Beatriz o d e Di o n ís, ni se conse nti rá que otros l a s p rota g o n i ­
ce n , caste l l a nos o extra njeros; e n este ú lt i m o caso, los a uto res d e l a s m is m a s
será n expu l sados de Casti l l a . S u i ncu m p l i m i e nto pod rá ser co n s i d e ra d o q u e­
bra nta m i e nto de las treg u a s22•
L l a m a la ate n c i ó n q u e en este m o m e nto no se h a g a m e n c i ó n a l g u n a de los
d e rech os d e E n ri q u e I I I , ta n reci a m e nte exh i bidos pocos m eses atrás. Es pos i b l e
q u e esta postu ra m á s m o d e ra d a s e d e b a a l a i nterve n c i ó n de l a rei n a Cata l i n a ,
s i e m p re p rocl i ve a i e nte n d i m i e nto co n Po rtuga l ; e n los p róxi mos a n os, ya
rege nte, e l l a y s u g ru po m a nte n d rá n esa m i s m a pos i c i ó n en contra posici ó n a i
i nfa nte Fern a n d o y s u e ntorno, s i e m p re m á s exi g e nte e n l a s negociaci o n es co n
João I .
A I pa rece r, l a re i n a Cata l i n a d efe n d ia l a negociaci ó n co n Po rtu g a l p o r razón
d e los víncu los d e pa rentesco entre a m bas m o n a rq u ías'3; E n ri q u e I I I , que m a n i ­
festaba d eseo d e ce rra r l a s h osti l i d a des, se m ostra ba d i s p u esto a d efe n d e r s u s
d e rech os y a n o ren u nci a r a e l l os p o r razó n d e pa rentesco, h ech o q u e sería pa ra
él d es h o n roso. M uy veros ím i l res u lta ta m b i é n su verd a d e ro p royecto : co n q u i sta r
a q u é l rei n o, e ntreg á rselo a s u h ij o , d e i q u e e n ese m o m e nto ca recia , o h ij a , y co n ­
certa r l u ego u n m atri m o n i o co n a l g u no d e l o s h ijos d e i m o n a rca p o rtu g u és . L a
rei n a trata ba d e conve n ce r l e d e q u e so l o h a c ía l a g u e rra e n razón de Beatriz cuyos
d e rech os l e pa recía n d i scuti b l es24• Asi nt i e n d o e n pa rte a esas razo nes, E n ri q u e I I I
l e co nfesa ba q u e p reci sa m e nte p o r e l l o h a b ía acord a d o estas treg u a s d e d i ez
a n os.
" Artíc u l o 2 .
2 3 L a noti c i a p rocede d e i cro n i sta Fe rnao Lopes q u e n o l a fech a a u n q u e , s i n d u d a , e s poco
poste r i o r a la fi r m a de estas treg u a s . Pese a q u e, por ser favo ra b l e a l a leg iti m i d a d d e Joao I,
debe ser m a n ej a d a co n caute l a , m e pa rece fi ded i g n a y acorde co n las posici o n es vi s i b l es m á s
a d e l a nte e n l a co rte caste l l a n a . F. LO PES, Crónica d e don Joao /, 1 1 , c a p . 1 87, p . 4 1 1 -4 1 2 .
24 "A Ra i n h a d i z i a q u e n a m e r a a e l l e m i m g u oa a l g u a , c a e l l e n e m seu p a d re n a m faz i a ta l
g u e rra s a l ivo p o r p a rte de Ra i n h a d o n a B r i atiz, e q u e e l l a o u v i ra dyzer a l eteraados q u e seu
p a d re se o uvera t a m m a a l l a cerca dos tra utos que s o b re ta li sobces a m fora feita s que seu d i reito
e ra m u i dovidoso e que p o rtamto e ra bem aver paaz. F. LO PES, Crónica de don João /, 1 1 , ca p .
1 87, P. 4 1 2 .
53
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n z u e l a
Las cu esti o n es co m e rci a l es co n stitu ía n e l g ru eso d e i conte n i d o d e i trata do;
se les ded icaba s i ete a rtícu los y se p rete n d ia l a plena reg u l a rizaci ó n de l a s re l a ­
cio n es co m e rci a l es y p o n e r fi n a los g raves d a nos 6lco n ó m i cos p ro d u cidos a
ca usa d e l a g u e rra25• Se esta b l ecía l a l i be rta d d e co m e rcio, co n l a s restricc i o n es
h a bitu a l es s o b re " cosas ved a d a s '; sujeto a l a n o r m ativa fisca l ; castigo de rabos y
otros d a nos; re p res i ó n de l a pi rate ría ; re m i s i ó n a los co nserva do res d e los l itíg ios
por estas cu esti o n es; modo p rocesa l d e d e n u ncias, j u icios y sente n c i a s y p roce­
d i m i e nto d e las rep resa l i as; y extra d i c i ó n d e fu g itivos co n b i e n es ro bados26•
M uy a m p l i o es ta m bi é n e l a rticu l a d o dedicado a reso lver las secu e l a s d eja­
d a s p o r l a s pasadas g u e rras. Un pri m e r aspecto d e d i ch a s secu e l a s es e l de l a s
.
rep resa l i as y l a ca ptu ra de Ci u d a d es, v i l l a s o casti l l os. E n cua nto a l a s rep resa l i a s27
p revista s en dete rm i n ados casos, se p rete n d e m i n i m iza r su rea l izaci ó n , red u ci r a
u n c i e rto n ú m e ro d e efectivos28, p a ra evita r q u e d e riven e n a uténticas o p e racio­
nes m i l ita res, y veta rias a bso l uta m e nte e n otros s u p u estos, hasta e l p u nto de
ppder co nstitu i r causa d e ru ptu ra d e treg u a s , s i se ej ecuta n p o r orden o co n co n ­
senti m i e nto d e i m o n a rca; e n c a s o co ntra rio q u ed a o b l igado a l a persecu c i ó n y
re p res i ó n d e q u i e nes a ct ú e n por s u c u e nta29•
E s peci a l ate n c i ó n se p resta a la posi b l e to m a d e ci u d a d es y vi l l as, aspecto
m á s visi b l e de acci o n es h osti l es y q u e reviste m ayor g raveda d30• Queda p ro h i bi d a
l a to m a d e c i u d a des, vi l l as y casti l l os, s e a co m o ej ecu c i ó n d e p re n d a s o por c u a l ­
q u i e r otra razó n , i n c l u so a u nq u e l a e ntreg u e n los p ro p i os natu ra les. S i es to m a d a
p o r orden d e i rey, será causa de ru ptu ra de l a s treg uas, a vo l u ntad d e i perj u d i­
cado, a d e m á s d e q u e d a r o b l i g a d o e l i nfracto r a l a d evo l u c i ó n ; si es u n hech o
aj e n o a l a vo l u ntad d e i m o n a rca, d e be rá p roced e r e n j u sticia co ntra los respon­
sa b l es e i n d e m n iz a r con los b i e n es de éstos a los d a m n ificados, s i los tuviere n .
2 5 Artíc u l o s 3 , 4 , 5 , 6 , 7, 8 y 1 1 .
26 De las cuest i o n e s eco n ó m icas conte n i d a s e n l o s d i ve rsos a c u e rdos e ntre Po rt u g a l y
Casti l l a , treg u a s o paces, me he o cup ad o en m i a rtíc u l o " Li bertad de co m e rc i o y seg u ri d a d m a rí­
t i m a .. :; ya cita d o .
27 Artíc u l o 9 .
28 l nte rve n d rá n e n l a acci ó n h a sta u n máxi m o d e 3 0 0 l a nzas o 6 0 0 h o m b res d e a p i e ; si fue- ,
s e n fu e rzas co nju ntas será n i nfe r i o res a 300 l a nzas y en tota l n o a l ca nz a rá n l o s 600 h o m b res.
" E l cast i g o que debe i m po n e r es l a pena d e m u e rte y confisca c i ó n d e b i e n es; de berá
to m a r l a c i u d a d o casti l l o en q u e se h i cieren fuertes o p roce d e r co ntra en e l l o s e n re b e l d ia si
h uyere n d e i re i n o; e n caso co ntra rio podrá ser to m a d o co m o ca usa d e ru pt u ra d e treg u a s . E n
todo caso esta rá o b l i ga d o a resa rci r los d a nos e n e l p l azo d e dos m eses d e p resenta d a rec l a ­
m a c i ó n ; c a s o d e n o ate n d e rse ésta, e l d a m n ifi cado pod rá l e g iti m a m ente to m a r p r e n d a s .
3 0 Artíc u l o 1 0 .
54
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Ad e m á s pod rá e l a dversa ria ce rca r y recu pera r la c i u d a d , vi l l a o casti l l o a rre ba­
tados y ca ptu ra r a los m a l h echo res, si n que e l otro rey pueda o p o n e rse ni ayu d a r
e n m o d o a l g u n o a l o s responsa b l es; a i co ntra rio, d e b e rá qct u a r e n j u sticia y, si n o
l o h i c i e re, será ca u sa de ru ptu ra d e treg u a , a vo l u ntad d e l a otra pa rte.
Caso de q u e e l perj u d icado n o d esee te n e r por rota l a treg u a , en e l s u p u esto
de conse nti m i e nto de su a dversa ria en la to m a , req u e ri rá q u e le sea d ev u e lta l a
c i u d a d , vi l l a o casti l l o, l o q u e d e be rá cu m p l i rse e n e l p l azo d e u n m e s ; e n l o s
d e m á s s u p u estos, si ta m bi é n q u i s i e re m a nte n e r l a treg u a , deberá i n d e m n izá rse l e
por los d a nos s ufri dos e n e l p l azo de dos m eses d e s d e hecho e l req u e ri m i e nto,
q u eda n d o facu ltado, e n caso d e n o o bte n e r i n d e m n izaci ó n a ej ecuta r prendas p o r
e l va l o r d e los d a n os ca u sa d os, decl a rados p o r sente n c i a rea l , de a c u e rdo co n e l
proced i m ie nto esta b l ecido e n e l a rtíc u l o n u eve de este a c u e rdo, re l ativo a re p re­
sa l i as . El ej ercicio d e este d e rech o n o fa cu lta rá a s u a dversa ria p a ra efect u a r, a su
vez, rep resa l i a s o p l a ntea r d e m a n d a a l g u n a .
G ra n co m p l ej i d a d p rese nta l a d evo l u c i ó n de ci u d a d es y vi l l as ocu padas e n
los pasados enfrenta m i e ntos, seg u n do aspecto d e l a s sec u e l a s d e l a g u e rra : Se
decl a ra la rel a c i ó n d e posici o n es ocu padas y se esta b l ece un d eta l l a d o p roce d i ­
m i e nto p a ra rea l iza r ta l e ntrega31 • Po r pa rte d e Po rtu g a l h a n d e ser devue ltas
B a d aj oz, Tuy, Sa lvatierra y Sa n M a rti n o; Casti l l a h a d e e ntreg a r B raga nça, Vi n h a is,
La Pico n i a , M i ra n d a , Pe n a macor, Pe n a G u a rd a , Seg u ra y N o u d a r. El p roceso de
retrocesi ó n , extra o rd i n a ri a m e nte co m p l ejo, p u e d e a l a rga rse d u ra nte casi acho
m eses y consta d e ach o fases s u cesivas.
Lo i n icia Casti l l a co n , 1. l a e ntrega d e re h e n es por pa rte d e i m aestre de
Santiago, d o n Lo renzo S u á rez d e F i g u e roa, a i co n d esta b l e N u n Á lva res Pe re i ra ,
l a s dos fig u ras cl ave d e este p roceso, e n l a fro ntera, entre Vi l l a n u eva d e
B a rca rrota y O l i venza32• 2 . E n e l p l azo m áxi m o d e vei nte d ías, Po rtu g a l devo lverá
B a d ajoz. 3 . De ntro d e los sese nta d ías s i g u i e ntes, Casti l l a devo lve rá B raga nça,
Vi n h a is, Pico n i a y N o u d a r. 4. Un n u evo p l azo de vei nti c i n co d ía s pa ra l a d evo l u ­
c i ó n d e l os re h e n es caste l l a nos e ntregados e n l a p r i m e ra fa se d e i p roceso, e n e l
m i s m o l u g a r e n q u e fu e ro n e ntregados. 5 . AI c a b o d e trei nta d ías s i g u i e ntes a esta
d evo l u c i ó n , Po rt u g a l d e b e rá e ntreg a r, a su vez, re h e n es33, en el m is m o l u g a r de l a
3 1 Artíc u l o 1 2 .
3 2 Los rehenes caste l l a nos so n : D i e g o Fe r n á n d ez, a l g u a c i l mayor de Córdoba; Á lva r Pérez
d e G u z m á n , a l g u a c i l mayor d e Sevi l l a ; y G ó mez S u á rez, h ij o dei m a estre de Sa nti a g o .
3 3 L o s desi g n ados so n : J o a o M é n des d e Va sco ncel os, h ij o d e M a rtín R u iz, m a estre d e l a
O r d e n portu g u esa d e S a n t i a g o ; G o n za l o Pereyra, p r i m o g é n ito d e J u a n R u i z Pereyra; y Va sco
Ferra n d es, p ri m o g é n ito d e G o n za l o Vázq u ez Couti n h o .
55
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n z u e l a
e ntrega a nteri o r. 6. E n e l térm i n o d e c u a re nta d ías, Casti l l a h a de d evo lver
M i ra n d a , Pe n a macor, Pe n a G u a rd a y Seg u ra . 7. Trei nta d ías más ta rde, co mo
m áxi mo, Casti l l a h a de reci b i r Tuy, Sa lvati e rra y Sa n M a,rti n o . 8 . Po r ú lt i m o , e n u n
n u evo p l azo d e trei nta d ías, deberá n ser d evu e ltos los re h e n es e ntregados por
Po rtu g a l . E n ese mismo acto, e n l a fo rma que esta b l ezca n los p l e n i pote n c i a ri os,
Po rtuga l d evo lve rá los re h e n es q u e t i e n e en s u poder34, q u e fu e ro n e ntregados
co m o g a ra ntía d e l a s treg u a s fi rmadas e n 1 393.
Ta m b i é n se p revé l a posi b i l i da d de que n o pueda ser devue lta a l g u n a de las
c i u d ad es o vi l l as i n c l u i d a s e n l a a nteri o r re l a c i ó n35• Si, esta n d o e n poder d e los
reyes, n o se efectúa l a restitu c i ó n e n los p l azos esta b l ecidos, será ca usa d e q u e­
b ra nta m i e nto de treg u as; s i n o p u d i ese h a ce rse l a e ntrega por resi ste ncia de
q u i e n l a t i e n e, e l m o n a rca que h a d e restitu i ri a d e b e rá p o n e r l e ce rco hasta
to m a ri a , y, u n a vez to m a d a , hacer su e ntrega en el p l a zo de sesenta d ía s . Si el rey
de Po rt u g a l h u b i e ra de recu pera r s u s p ro p i o s d o m i n ios, l os resiste ntes no será n
a poya dos p o r e l m o n a rca caste l l a no, q u e p roced e rá co ntra e l l os y s u s b i e n es
co m o tra i d o res. Pa ra estas o pe ra c i o n es m i l ita res se perm ite l a e ntra d a de m á s de
300 l a nzas, l ím ite a nteri orme nte esta b l ecido, e n un espacio d e c i n co leguas e n
to rno a l a vi l l a ce rca d a ; los d a nos q u e ca u s e n estas tro pas deberá n ser pagados
o, caso d e n o h a cerlo, facu lta rá n a i otro m o n a rca p a ra ej ecuta r rep resa l i as e n l a
fo rma p revista e n el correspo n d i e nte ca p ítu l o .
Co ncl uye este d e l icado a p a rtado, d esti n a d o a resta b l ecer e l m a pa fro nterizo,
co n e l esta b l eci m i e nto d e g a ra ntías s o b re co nserva c i ó n d e las c i u d a des y vi l l as
o bj eto d e d evo l u c i ó n36, y l a caute l a d e q u e s u devo l u c i ó n n o i m p l i q u e re n u ncia a
l os eve ntu a l es d e rech os q u e p u e d a n esg ri m i rse s o b re e l l as37•
La g u e rra ha dej a d o u n d o l o roso p a n o ra m a de prisi o n e ros y ta m b i é n re he­
nes cuya l i beraci ó n es i m p resci n d i b l e p a ra u n a p l e n a ca n ce l a c i ó n d e i pasado
34 Se m e n c i o n a a l fí i g o d e M e n d oza, h ij o d e J u a n H u rtado; G o n z a l o d e E stú fí i g a , h i j o d e
D i e g o Ló pez d e Aya l a ; S u e ro Vázq u ez, h ijo d e Lo re nzo S u á rez, m a estre d e S a n t i a g o ; R o d r i g o ,
h ijo d e J u a n G ó m ez d e Ave l l a n e d a ; Ped ro Te n o ri o , s o b ri n o d e d o n Ped ro Te n o r i o , a rzo bispo q u e
fu e d e To ledo, y t o d o s l o s d e m á s .
35 Artíc u l o 1 3 .
3 6 Artíc u l o 1 4. Los te n e ntes de l a s vi l l a s o bj eto de devo l u c i ó n d e b e n ve l a r p o r su a d e­
c u a d o m a nte n i m i e nto y el co rrecto trato eco n ó m ico a s u s h a bita ntes. Po r e l l o d e b e n i m p e d i r,
so p e n a de v i d a y b i e n es, q u e se p r o d u zca n d estru cci o n e s o se s a q u e de e l l a s l o q u e n o s e a n
p e rtrechos, m a nte n i m i e ntos y p ro p i e d a d es p r i v a d a s , y n o p o d r á n i m po n e r contri b u c i o n e s a
s u s vec i n os .
3 7 Artíc u l o 1 5 . N i se ente n d e rá c o m o re n u n c i a s u d evo l u ci ó n , n i e l t i e m p o d e tre g u a s podrá
conta b i l iza rse a efectos de p rescri pci ó n .
56
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
bél ico. Po r e l l o se esta b l ece38 q u e, u n a vez rea l izada l a d evo l u ci ó n d e c i u d a des y
vi l l as ocu padas, seg ú n l o p revisto e n los a rtíc u l o s doce y trece, se p roceda a l a
l i be ra c i ó n d e p ri s i o n e ros d e l a s ú lt i m a s g u e rras y d e l os re h e n es q u e h u b i e re n
d a d o ; e n caso d e h a be r e ntregado p re n das, q u e sea n rescata d a s p o r e l p recio
esta b l ec i d o .
Pa ra I l eva r a c a b o l a l i beración de prisi o n e ros se rea l iza u n a deta l l a d a d i v i s i ó n
por á reas, co n u n respo n s a b l e de l a operació n39, dotado d e a m p l ias poderes para
proced er co ntra q u i e n es se n i e g u e n a l i be ra r a sus prisi o n eros, a u nq u e ta m bi é n se
esta b l ece l a pos i b i l idad de los reyes de p roced e r, o no, a a l g u n a l i beraci ó n e n co n ­
ciencia, s i n q u e l a negativa facu lte a i a dversa ria p a ra rea l iza r rep resa l i as.
El ú lt i m o aspecto d e que se ocupa e l a c u e rdo tiene un ca rá cter técn i co, re l a ­
tivo a l a conso l i d a c i ó n y p royecc i ó n futu ra d e l a s treg u a s , o ri e nta d a a i l o g ro d e l a
d efi n itiva paz, l a j u ra , y l a s eventu a l es ca usas d e ru ptu ra de l a s m i s m a s . Con
o bj eto de vel a r por l a a p l icaci ó n de l a s treg u a s y d i ri m i r los p ro b l e m a s que p u d ie­
ra n p l a ntea rse p a ra su a p l icaci ó n , se rea l izaba una d ivis i ó n p o r zo n a s p a ra l a s q u e
s e n o m b ra b a n co nserva d o res y j u eces40, d e m o d o s i m i l a r a l o esta b l ecido pa ra l a
l i beraci ó n d e prisio n e ros.
38 Artícu l o 1 6.
39 D a d o q u e el docu m e nto q u e m a n ej a m os es el a n u n c i o de estas tre g u a s p o r E n ri q u e I I I ,
recog e esa d i v i s i ó n e n territo rio caste l l a n o so l a m e nte. S o n l a s s i g u i e ntes c i rc u n scri pci o n e s y
respo nsa b l es : J u a n Faj a rd o , h ijo d e i a d e l a ntado Alfo ns o Yári ez, y el d o ctor Ped ro S á n ch ez, e n
M u rc i a y C a rta g e n a ; e l a l c a i d e d e Ta rifa, e n Alg eci ras y Ta rifa; e l a rzo bispo d e S a n t i a g o o s u per­
t i g u e ro y el co rreg i d o r de l a Coru ri a , en G a l i c i a ; D i e g o Fe r n á n dez de Qu i ri o n es, m e r i n o m ayor,
y Á lva ro R u iz, escu d e ro, a l ca i d e mayor, e n Astu rias; G ó m ez M a n ri q u e , a d e l a ntado de Casti l l a , y
G i l G o nz á l ez de Arce, ca m a rero, en Casti l l a l a Vieja y Astu r i a s de Sa nti l l a n a; Fe r n á n Pé rez d e
Aya l a , m e r i n o m a y o r d e G u i púzcoa, y e l doctor G o n z a l o M o ro, correg i d o r d e Vizcaya, e n Vizcaya
y G u i púzcoa; e l m a estre d e S a n t i a g o , Pe r Afá n d e R i bera, a d e l a ntado mayor d e l a fro ntera, y el
doctor J u a n Á lva rez, co rreg i d o r d e Sevi l l a , e n la fro ntera d e Casti l l a , desde M é rto l a h asta
B a d ajoz y M i ra n d a , con sus térm i n os; e l m a estre d e Alcá nta ra, G a rcía Go nzá l ez, m a risca i , y e l
o b i s p o d e C i u d a d Rodrigo, desde l o s co nfi nes d e l o s té r m i nos d e B a d ajoz y M i ra n d a co n C i u d a d
R o d r i g o y s u t i e rra h a sta l a Fi nojosa, c o n s u s térm i n os; Ruy S á n ch ez, m a risca i d e i i nfa nte, desde
l o s confi nes d e l a Fi n ojosa h a sta l o s térm i n os d e Za m o ra ; Anto n i o E n ríq u ez, a d e l a ntado mayor
d e Leó n , e n Za m o ra y s u s té r m i nos h a sta l o s d e Puebla d e Sa n a b ri a y M i l m a n d a ; e l a d e l a ntado
d e G a l i c i a desde e l térm i n o d e M i l m a n d a h a sta e l m a r.
40 N u eva m e nte, d a d a l a natu ra l eza d e i docu m e nto, se refi e re ú n i ca m e nte a los caste l l a nos.
So n : e n l a mar y costas, e l a l m i ra nte d e Casti l l a o s u l u g a rte n i e nte, y e n s u a u se n c i a e l ca p itá n
de l a m a r; en Algeci ras y Ta rifa , el a l ca i d e de Ta rifa ; e n G a l i c i a , h asta Astu rias, el p e rti g u e ro d e
S a n t i a g o y e l co rreg i d o r d e l a Co r u ri a ; e n Astu rias, e l m e r i n o d e Astu rias y e l a l ca i d e m ayor; e n
Casti l l a l a Vieja y Astu rias d e Sa nti l l a n a , e l a d e l a ntado d e Casti l l a y G a rcía Sá nchez d e Arce; e n
57
Vice nte Á n g e l Á l v a rez Pa l e n z u e l a
L a a s p i ra c i ó n a l a paz n o es u n a m e ra a s p i ra c i ó n retó rica s i n o u n o bjetivo
a n h e l a d o ; se esta b l ece u n p l azo d e seis m eses p a ra e l co m i e nzo d e l a s nego­
c i a ci o n es d e paz, una vez cu m p l i d as todas l a s o b l i g a c i o nes esta b l ec i d a s p a ra l a
ca n ce l a c i ó n d e l a g u e rra , y se d eterm i n a e l m o m ento e n q u e se p ro po n d rá e l
l u g a r d o n d e se desa rro l l a rá n l a s negoci a c i o n es y l a s p e rso n a s q u e l a l l eva rá n a
ca bo41 •
Ta m b i é n se determ i n a d e modo m uy estricto e l p l azo de ratifi ca c i ó n d e estas
treg u a s por los m o n a rcas fi rma ntes42, y l a s perso n a s fís i cas y j u ríd icas q u e h a n d e
j u ra ri a s e n e l p l azo d e seis m eses43; e l i n cu m p l i m i e nto d e este req u i sito permitirá
a l a otra pa rte co nsiderar rotas d i chas treg u a s .
Se p rocu ra g a ra ntiza r a i máxi m o l a seg u ri d a d , c a s o d e q u e l a s treg u a s sean
rotas p o r p rod uci rse a l g u n o d e l o s s u p u estos p revi stos44• Antes d e i n i c i a r c u a l ­
q u i e r o p e raci ó n m i l ita r, d e be rá co m u n ica rse a l a otra p a rte l a ru ptu ra d e l a s tre­
g u as, l a s razo nes d e d i ch a ru ptu ra y, a ú n así, h a b rá de tra nscu rri r u n periodo de
cu atro m eses. C onc l uye el a rticu l a d o co n el j u ra m e nto d e res peta r los ac � erdos
y n o uti l iza r recu rsos j u rídi cos pa ra i nva l i d a r i as, entre e l l os l a e d a d d e i rey cas­
te l l a n o, m e n o r d e vei ntici n co a n os, o l a situ a c i ó n d e C i s m a e n q u e vive la
l g les i a .
Vizcaya y G u i p ú zcoa, e l m e r i n o d e G u i p ú zcoa y e l p resta m e ro d e Vi zcaya ; e n l a fro ntera, desde
M é rto l a h a sta B a d ajoz y Mérida con s u s térm i n os, e l m a estre d e S a n t i a g o y e l a d e l a nta d o d e l a
fro ntera ; d e s d e l o s confi n e s d e los té r m i n o s a nt e r i o res co n C i u d a d Rodrigo y s u térm i n o h a sta
la F i n ojosa con sus té rm i n os, e l m aestre de Alcá nta ra y G a rci G o n zá l ez d e H e rrera, m a riscai de
Casti l l a ; desde el térm i n o de la F i n ojosa h a sta los d e Z a m o ra , Ruy S á n ch ez, m a risca i d e i i nfa nte;
desde Z a m o ra c o n sus térm i n os h a sta co m i e nzo dei térm i n o d e P u e b l a d e Sa n a b ri a , Alfo n so de
Va l e n c i a ; e l térm i n o d e P u e b l a d e S a n a b r i a h a sta e l d e M i l m a n d a , Alfo n s o E n ríq u ez, a d e l a ntado
de Leó n ; desde e l fi n a l d e i térm i n o d e M i l m a n d a h asta e l m a r, e l a d e l a ntado d e G a l i c i a .
4 1 Artíc u l o 1 8. E l e n v i a d o q u e reco g e rá l o s j u ra m e ntos d e l a s tre g u a s propo n d rá l u g a r y
negoci a d o res. La n e g o c i a c i ó n co m e n z a rá e n l a ú lt i m a se m a n a de l o s s e i s m eses de p l azo esta­
blecido.
42 Artíc u l o 1 9 . E I docu m e nto m a n ej a d o se refi e re s o l a m e nte a i m o n a rca caste l l a no, a u n q u e
l a o b l i g a c i ó n h a d e s e r recíproca : e l p l azo d e ratifica c i ó n es d e d o s m eses y m e d i o a p a rti r d e l a
fech a d e l a s treg u as, o m u ch o m á s pe rento rio, s o l a m e nte tres d ías, s i se req u i e re ta l ratifi ca c i ó n
p o r e l o t r o m o n a rca.
43 La l a rg a re l a c i ó n i n c l uye, p o r p a rte caste l l a n a , e n p ri m e r lugar a i i nfa nte Fe r n a n d o . Le
s i g u e n l o s a rzo bispos y o b i s pos d e l a s sedes d e i re i n o, l o s p r i n c i pa l es m i e m b ros d e l a n o b l eza
y las ci u d ad e s con voto e n cortes, otras ta m b i é n i m po rta ntes y las q u e t i e n e n g ra n d es i ntereses
e n e l m a r.
44 Artíc u l o 2 0 .
58
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
2. O BSTÁ C U LOS EN LA N EG O C IACI Ó N
E l proced i m iento previsto para co nfi rmaci ó n y j u ra de l .a s treg uas fu ncioná co n
reg u l a ri d a d . E l 6 de octubre com p a recía n en Segovia los d i plomáticos portu g u eses
q u e las ha bía n negociado45; el doctor M a rti m do Sem expo n ía a nte E n ri q u e I I I que,
de acuerdo co n l o previsto, él h a b ía co m u n icado a su serior el contenido dei acuerdo
de treg uas a l ca nzado, que éste l o ha bía ratificado e n todos sus térm i n os, co n oto r­
g a m i e nto dei oportu no docu mento de co nfi rmación, dei q u e a h o ra hacia e ntrega, y
q u e él y sus com pa ri e ros de e m bajada, en vi rtud de los poderes de él reci bidos, co n­
fi rm a b a n dichos acuerdos e n todos sus extremos y req uería n a i monarca caste l l a n o
l a e ntrega de docu mentos s i m i l a res. É ste co nfi rma e n todos s u s térm i nos e l relato
de los h echos, ordena ai ca rdenal Ped ro Fern á n d ez de Frías q u e haga entrega a los
e m bajadores portu g u eses de los docu mentos de confi rmación que e n su d ía otor­
g a ra y cuya custodia le ha bía confiado, y reitera la co nfi rmació n de las treg uas.
Antes de tra n scu rri r m es y medio, J o ã o I j u ra ba l a s treg u a s a req u e ri m i e nto
de Alfo nso Yá ri ez, envi a d o a i efecto46, y en los m eses i n med i atos l l eg a b a n oticia
d e l a i n co rporaci ó n de Fra ncia a l a s m i s m a s47, e i ba d á n dose cu m p l i m i e nto a s u
p u b l i cació n48 y a i l a bori oso j u ra m e nto por l a s pers o n a s a e l l o o b l i g a d as49•
S i n e m ba rg o, p ro nto i b a n a p rese nta rse serios o bstácu l os a i cu m p l i m i e nto de
l a s treg u as, e n particu l a r i nci dentes e n e l mar y actos de pi rate ría . Los i ncidentes
son casi s i m u ltá n eos a la fi rma de l a s treg u as, ya q u e l a s p r i m e ras recl a m aciones
s o b re estos asu ntos se p ro d u ce n ya e n los pri m e ros m eses de 1 403, e n re l a c i ó n
co n l a s acci o n es de H a rry Pay y otros corsa r i o s i n g l eses s o b re l a s costas g a l l egas
y ba rcos de esa p roced e n c i a , tras l a s cua les han h a l l a d o favo ra b l e acog i d a e n
45 A. G . S . Patro n ato Rea l , l e g . 49 . f . 4 . L . S U Á REZ, Relaciones entre Portugal , doe. 3 3 . p á g .
1 59- 1 62 .
'"' A. G . S . Patro n ato Rea l , l e g . 49, f . 9 . L. S U Á REZ, Relaciones entre Portugal , d o e . 34, p á g .
1 62-1 64.
4' Ca rta d e Antó n Sá nchez ai rey d e Po rtu g a l a n u n c i á n d o l e la ! l e g a d a de Fe r n á n Alfon so de
...
...
To ro, escri b a n o dei rey, p o rta d o r d e u n a ca rta d e i rey de Fra n c i a a p ro b a n d o las treg u a s . A. G . S .
Esta d o . Casti l l a . l e g . 1 -2, f . 2 . L. S U Á REZ, Relaciones entre Portugal , d o e . 35. pág . 1 64- 1 65 .
48 Po r eje m plo, l a p u b l i cación de las treg uas e n l a vil l a de Al l a riz, e l 22 de e n e ro de 1 403. A. G . S .
...
Patro n ato Rea l , l e g . 49, f . 1 3. L. S U Á R EZ, S u á rez ; Relaciones entre Portugal , doe. 3 6 , pág . 1 65-1 66.
49 El 24 d e fe brero d e 1 403, en Caste l o B ra n co, Lope D i a s d e Sousa, m a estre d e la O r d e n
...
d e Cristo, conserva d o r d e l a s treg u a s , oto rg a b a poderes a G o n z a l o Vaz q u e z Couti n h o y a
Fe r n a n d o Á lva rez p a ra q u e e n su n o m bre otorg u e n e l p rece ptivo j u ra m e nto. Vizco n d e d e
S a n t a r é m , Quadro elementar, I , p . 283-285. Monumenta Henricina . . . , I , doe. 1 27. Ta m b i é n l a s
j u ra n d o n M a rtín G i l , o b i s p o d e Si lves, y l a s c i u d a d e s d e C o i m b ra y É vora . Monumenta
Henricina . . . , I , doe. 1 27, p á g . 305-307.
59
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e nz u e l a
Po rt u g a l 50• Rec l a m ac i o n es s i m i l a res, será n p resenta d a s por p a rte portu g u esa en
los a ri os i n med iatos51 •
E l p ro b l e m a d e i C i s m a q u e vive l a l g l es i a , exp resp m e nte m e n c i o n a d o e n e l
texto d e l a s treg u a s co m o h ech o q u e n o pod ría ser i nvoca do p a ra s u ru ptu ra , tuvo
re percu s i ó n , s i n e m ba rgo, en e l retra so q u e expe ri m e nta ron l a s p revistas nego­
ciaci o n es pa ra a l ca nza r u na paz p l e n a52• Es q u e, p recisa m e nte e n e l m o m e nto en
que se fi rm a n l a s tre g u as, se está o p e ra n d o un g i ro e n l a posici ó n caste l l a n a de
s u stracci ó n d e o bed i e n c i a a B e n e d i cto XI I I : u n a a sa m b l ea d e i c l e ro caste l l a n o
deci d ía restitu i r o bed i e n c i a , h ech o q u e e ra co m u n i cado a i Po ntífice e n Avi ri ó n e n
septiem b re de 1 402. A pa rti r d e e s e m o m e nto se p repa ra m i n uci osa m e nte l a fu ga
d e i Pa pa d e l a ce rca d a c i u d a d d e Avi ri ó n ; s u fu ga e n l a noche d e l 1 1 a l 1 2 d e m a rzo
de 1 403 a b ría u n a casca d a de restituciones de o be d i e n ci a . La cere m o n i a ofi ci a l d e
restit u c i ó n caste l l a n a te n ía l u g a r e n Va l l a d o l i d , e l 29 d e a b r i l d e 1 403, e l m is m o d ía
e n q u e l o s ca rde n a l es se reco nci l i a ba n co n e l Pa pa53; E n ri q u e I I I co m u n ica ba d e
5° Ca rta d e Antón Sá nchez a i rey d e Po rt u g a l a n u n ciá n d o l e l a I l e g a d a d e u n correo q u e I l eva
la a d h es i ó n de Fra nci a a l a s treg u a s; en e l l a se p l a ntea n estas recl a m a c i o n e s p o r acciones con­
trarias a todo d e rech o y a i texto d e l a s treg u a s acordadas y se rec l a m a j u sticia co n v e l a d a s a m e­
nazas d e rep resa l i a s caste l l a n a s . A . G . S . Esta d o . Casti l l a . l e g . 1 -2, f. 2. S u á rez, Relaciones entre
.
Portugal . . , doe. 35. p á g . 1 64- 1 65 .
5 1 S i n d u d a conocemos u n a m ín i m a parte d e los i n c i d e ntes producidos, q u e d e b i e ro n s e r
casi consta ntes. E l 1 7 d e d i c i e m b re, p roba b l e m e nte d e i a n o 1 405, escri be e l a rzo bispo de Lisboa
a i co nd esta b l e caste l l a no, Diego López d e Estú n i g a , p rese ntá n d o l e a i escri bano Á lva ro G on z á l ez
q u e va a prese nta r u n a recl a m ación por las to m a s de navíos y otros i ncidentes p rota g o n izados por
ba rcos g a l l egos y vizca ínos. A. G . S . Esta d o . Casti l l a . leg. 1 - 1 °, f. 86. L. S U Á REZ, Relaciones entre
Portugal . . . , doe. 37, p á g . 1 66. Ese m i s m o d ía Go n zalo Lo reno, escri bano d e l a poridad escri be a
J u a n M a rtínez, canci l l e r caste l l a no, acred ita ndo a Á lva ro G o n z á l ez, escri bano, e nvi ado a Casti l l a
para rec l a m a r a nte l o s ':. . esca n d a l los e m a l es q u e o ra d e s pouco tempo a c a acaesçerom e acae­
çem m u i a m e u d o .. :' A. G . S . Estado. Casti l l a , leg. 1 - 1 °, f. 1 02 . L. S U Á REZ, Relaciones entre Portugal
. . . , doe. 38, pág . 1 66-1 67. M e nos de u n mes después, el 1 2 de e n e ro, el propio Gonzalo Lorenzo
escri bía de n u evo a i canci l l e r caste l l a n o p i d i é n d o l e j u sticia por la to m a de u n ba rco portu g u és, de
Oporto, que e n viaje a F l a ndes h u bo de refu g i a rse e n Vive ra a causa d e i m a l t i e m po y fu e captu­
rado por dos ba rcos fra nceses. A. G . S . Estado. Casti l l a , leg. 1 - 1 °, f. 1 03. L. S U Á REZ, Relaciones entre
.
Portugal . . , doe. 39, pág. 1 67- 1 68 . De n u evo [ e escribe dos d ías después con n u evos deta l l es sobre
la to ma de este ba rco y de otro de Co i m b ra, captu ra dos por u n b a l l e n e ro fra ncés y u n ba rco de l a
m i s m a naci o n a l idad, capita neado por G u i l l e rm o d e Arboy, vecino d e l a Roch e l a . A. G .S . Esta do.
Casti l l a , l e g . 1 - 1 °, f. 1 01 . L. S U Á R EZ, Relaciones entre Portugal . . . , doe. 40, p á g . 1 68-1 69.
5 2 C. O LIVE RA, Beatriz de Portugal . . . , pág. 1 3 1 .
" L a situ a c i ó n d e Casti l l a e n r e l a c i ó n co n B e n e d i cto X I I I , e n L . S U Á R E Z F E R N Á N D EZ,
Castilla, e/ Cisma y la crisis conciliar ( 1378- 1440). M a d ri d 1 960, págs. 46-49 . La d i m e n s i ó n i nter­
n a c i o n a l dei p ro b l e m a dei C i s m a e n mi o b ra E/ Cisma de Occidente. M a d ri d 1 982, págs. 1 62-1 69.
60
'
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
i n m e d i ato la reso l u c i ó n ai rei n o o rd e n a n d o acata r la a utori d a d d e i Po ntífice d e
Avi ri ó n54•
A pesa r d e e l l o , l a s re l a ci o n es e ntre E n ri q u e II I y e l �o ntífi ce fu e ro n d ifíci les.
Ade m á s d e l a s n u m e rosas cuest i o n es p e n d i e ntes s o b re l a p rovi s i ó n d e vaca ntes
d u ra nte los a n os de s u stracci ó n de o bed i e n c i a , se p l a ntea ro n los p ro b l e m a s re l a ­
tivos a l a p rovi s i ó n d e l a s si l l a s a rzo b i s pa l es d e Sevi l l a , especi a l m e nte co m p l ej a
t r a s e l ases i n ato d e d o n J u a n Serra n o55, y l a d e To l e d o . N o h u bo excesi vo p ro­
b l e m a e n l a p rovi s i ó n d e l a p ri m e ra , p a ra l a q u e fu e desi g n a d o Alfo n so d e Egea,
un fe rvo roso b e n e d i ctista, pero e n e l caso de To l e d o se p ro d uj o un e nfre nta­
m i e nto i nso l u b l e : B e n ed i cto XI I I desi g n á a s u sobri n o Ped ro d e L u n a ; E n ri q u e I I I
s e n e g á e n red o n d o56, i n d ucido por s u i nfl uye nte h e r m a n o Fe rn a n do, q u e
d esea ba e l n o m b ra m i e nto d e s u h ij o Sa ncho, u na p i eza m á s e n e l a m bi cioso p ro­
yecto po l ítico d e i I nfa nte .
La n eces i d a d d e B e n e d i cto XI I I de co nta r co n a poyos e n e l mayor n ú m e ro d e
re i nos cristi a n os, i ncl uye n d o n atu ra l m e nte a Po rtuga l , l e a p re m i a ba a b u sca r l a
a p rox i m a c i ó n a este rei n o; pero n o a i Po rt u g a l d e J o ã o I , q u e h a b ía o ptado defi­
n itiva m e nte por l a a l i a nza co n I n g l ate rra y, e n co nsecu e n c i a , l a obed i e ncia
ro m a n a , sino co n e l q u e, e n e l exi l i o d e Casti l l a , rep rese nta ba l a rei n a Beatriz. La
m ej o r exp res i ó n d e esa a p roxi m a c i ó n es l a co n cesi ó n d e beneficias a m i e m b ros
d e s u ento r n o más p róxi m o57•
54 A.V. I n stru m e nta M iscel l a n e a , 3739. P u b . L. S U Á REZ, Castilla . . . , d o e . 5 6 , p . 238-243 .
55 N I ETO S O R IA, J . M . Un crimen en la Corte. Caída y ascenso de don Gutierre Á lvarez de
Toledo, sefior de Alba ( 1376- 1446). M a d ri d 2006.
56 18 d e febrero d e 1 404, E n ri q u e III p ro h íbe a i ca b i l d o to l e d a n o que reci ba a d o n Ped ro d e
Lu n a . S U Á REZ, L. Castil/a . . . , p á g . 49 .
57 1 403, octu bre, 1 3. S ú p l ica de Diego S á n ch ez de C i s n e ros, su capel l á n . A.V: Reg . S u p l . 99,
f. 47v-48 r. Monumenta Portugaliae Vaticana, e d . COSTA, A. Do m í n g u ez de Sousa. Porto 1 968- 1 970. 1 1 , p . 3 1 3 . OLIVE RA, C. Beatriz de Portugal. Doe. 29, p á g . 48 1 . De Beatriz, en esa m i s m a
fech a , a favo r d e To r i b i o Fern á n d ez d e Fró m i sta. A.V. Reg . S u p l . 9 9 , f . 50v. COSTA, A. lbid. 1 1 , 3 1 3 .
OLIVE RA, C. lbid. . doe. 30, p á g . 482 . 1 403, octu bre, 1 7 y 20. S ú p l icas de l a rei n a Beatriz a favo r d e
v a r i o s c l é r i g o s p o rtu g u eses. A. V. Reg. S u p l . 1 0 0, f . 7 1 r-73r. COSTA, A. lbid. 1 1 , 3 1 7-3 1 8. OLIVERA,
C. lbid.. doe. 3 1 , p á g . 482-483. Otras a favo r de varios fa m i l i a res, en 21 de octu bre. A. V. Reg. S u p l .
1 0 0, f . 73v-79 r. COSTA, A. lbid. 1 1 , 324-325. O L i VE RA, C. lbid. . d o e . 3 2 , p á g . 484-485. Otras d e 2 1
de m a rzo d e 1 406 y de 1 2 d e ag osto d e e s e a n o, a favo r d e d ive rsos clérigos. A . V. Reg . S u p l . 1 02,
f. 240 r. COSTA, A. lbid. 11, 339. OLIVE RA, C. lbid. . doe. 33, pág. 485, y A.V. Reg . S u p l . 1 02, f. 1 42 r.
COSTA, A. lbid. l i , 34 1 . OLIVE RA, C. lbid. . doe. 34, p á g . 486, respectiva m e nte. Fi n a l m e nte otra co n ­
ced i d a e l 1 4 d e septi e m bre d e 1 407 a favo r d e s u cape l l á n m ayo r. A.V. Reg. S u p l . 1 03, f . 50r-50v.
COSTA, A. lbid. 1 1 , 346-347. B E LTR Á N DE H E R E DIA, V. Cartulario de la Universidad de Salamanca
( 1 2 19- 1 549). S a l a m a nca 1 966. O LIVE RA, C. lbid. . doe. 35, p á g . 486-487.
61
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n z u e l a
E l fracaso d e l a via conventionis p a ra l a so l u c i á n d e i C i s m a , que B e n e d i cto
X I I I d e n o m i n á via iustitiae, defi n itiva m e nte cerra d a en a b ri l de 1 405, el a pa rente
reto rno a m e d i d a s d e fu e rza, prácti ca m e nte desde fi n a !es dei a n o a nterior, y los
esfu e rzos caste l l a nos p a ra l a reso l u ci á n dei p ro b l e m a m e d i a nte un co m p ro m iso
e ntre a m bos pontífices, bien acog i d o por Fra n cia, h u b i e ro n de i nfl u i r e n e l retraso
q u e experi m e ntaron las negoci a c i o n es de paz58• Sobre todo es la m u e rte de
E n ri q u e I I I , 25 d e d i c i e m b re d e 1 406, la q u e, ai a b r i r u n a m i n o ría s u m a m e nte
i nc i e rta, p l a nteaba i n espera d a s d ificu ltades a l a ya d ifíci l neg oci aci á n : l a ra d i c a l
oposici á n e ntre los reg e ntes, l a rei n a Cata l i n a y e l i nfa nte Fe r n a n d o , ta m bi é n e n
s u s postu ras res pecto a l a negoci a c i á n co n Po rtu g a l , i b a n a d ificu lta r d e m o d o
extra o rd i n a ri o e l ava n ce d i p l o m áti co59•
AI cabo de seis m eses de c u m p l i d a s l a s c l á u s u l a s p revistas en las treg u a s
debe ría n h a be r co m e nzado las negociaci o n es, e ntre E lvas y B a d aj oz, pero fu eron
a p l azadas y fi n a l m e nte fij a d a s pa ra e l 29 d e septi e m b re de 1 406, e ntre C i u d a d
Rod rigo y Sa n Fe l i ces d e los G a l l egos. Poco a ntes d e cu m p l i rse e s e p l azo el
m o n a rca p o rt u g ués oto rga b a un n u evo a p l aza m i e nto d e seis m eses pa ra i n i ci a r
l a s negociaci o n es, e n estas l u g a res cita dos, e l d o m i n g o s i g u i e nte a Pascua d e
Resu rrecc i á n ( 3 de a b ri l de 1 407)60•
E l pri m e r e n c u e ntro e ntre los e m baj a d o res desi g n a d os61 tuvo l u g a r, co n
c i e rto retraso, e l d ía d e l a Asce n s i á n62, e n Esca rigo, u n l u g a r a pocos ki l á m etros
de Sa n Fe l i ces de los G a l l egos y Caste l o Rod rigo. Las negociaci o n es efectivas
d e b i e ro n co m e n za r e l ! u n es si g u i e nte, es deci r e l 1 6 d e m ayo . Tras los sa l u dos
p rotoco l a rios y l a m ut u a ces i á n d e l a pa l a b ra i n i c i a l entre los dos j efes d e d e l e­
gaci á n , to m á fi n a l m e nte l a p a l a b ra e l a rzo bispo d e Lisboa, q u e h izo u n b reve
res u m e n d e i a c u e rdo de negoci a c i á n de la paz, de los a p laza m i e ntos q u e h a n
58 Á LVAREZ PALE N Z U E LA, V.A. E/ Cisma . , págs. 1 72- 1 84.
59 De creer a Fe r n a o Lopes, J o ã o I se prepa rá p a ra e n t ra r e n Casti l l a e n caso d e que por
..
d o n Fe r n a n d o se t o m a s e n medidas l e s ivas pa ra l a re i n a y s u h ij o , y a s í se l o h izo s a b e r a
Cata l i n a . F. LO PES, Crónica . . . , 1 1 , cap . 1 88, p á g . 4 1 4.
60
1 406, se pti e m bre, 2 1 . Santaré m . A. G . S . Patro n ato R e a l , l e g . 49, f. 1 1 . S U Á REZ, L.
Relaciones entre Portugal
61
...
, doe. 41. pág. 1.69- 1 7 0 .
Po r p a rte p o rtu g u esa, J u a n Alfo ns o d e Aza buja, a rzo b i s po de Lisboa, experto e n l a s re l a ­
c i o n e s c o n Casti l l a , M a rtín Alfo nso d e M e l l o y e l d o ctor G i l M a rt i n s ; p o r p a rte caste l l a n a , J u a n ,
o bispo d e S i g ü e nza, Pedro d e Vi l l egas, a l ca i d e d e Córdoba y e l doctor Pedro S á n ch ez, ta m b i é n
conoced o r d e l a s r e l a c i o n e s e ntre l o s dos re i n os.
62
Fernao Lopes, e l m ej o r g u ía d e estas n e g o c i a c i o nes, seííala ese d ía , que este ano cor­
respo n d i ó a i 1 2 de m ayo, co m o e l d e i p r i m e r e n c u e ntro de l a s d e l eg a c i o n e s . Se des i g n á a dos
.
escu d e ros p a ra que e l i g i e ra n e l l u g a r exacto d e negociaci ó n . F. LO PES, Crónica . . , 11, 4 1 3 .
62
I bé ri a : Q u atroce ntos/Qu i n h e ntos
te n i d o l u g a r, seg ú n aseg u ró, s i e m p re a peti ci ó n caste l l a n a , y dei d eseo de
Po rt u g a l d e l l ega r a l a paz efectiva .
L a resp u esta caste l l a n a correspo n d i ó a i o b i s po de. S i g ü e nza, q u e h izo u n
ca nto a l a paz, l l e n o d e citas d e a uto res c l á s i cos, afi rmá q u e ésa e ra u n a peti ci ó n
s i e m p re p l a ntea d a p o r Po rtu g a l , q u e l o s caste l l a nos esta ba n d i s p u estos a nego­
ci a r, pero q u e, pa ra que l a paz fuese eq u itativa y esta b l e, e ra preciso p revi a m e nte
h a b l a r d e las co m pe n s a c i o n es d e b i d a s por Po rtu g a l , en razó n d e l a s pasa das
g u e rras, de todo l o c u a l entrega ría n un escrito . Como e ra p revi s i b l e, los p o rtu­
g u eses p ro p u s i eron negoci a r a c u e rdos de paz y se n e g a ro n a h a b l a r s i q u i e ra d e
ta les cu esti o n es63•
Las pos i c i o n es se m a nte n ía n casi en la m i s m a situ a c i ó n q u e seis a n os atrá s .
João I b u scaba u na paz q u e, ce rra n d o d efi n itiva m e nte e l p a s a d o , aseg u rase e l
futu ro d e s u d i n astía ; Casti l l a , q u e pa rece ú n i ca respo nsa b l e de los su ces ivos
a p l aza m i e ntos, exi g e u n a p revia neg oci a c i ó n d e las cu esti o n es p e n d i e ntes, q u e
i n evita b l e m e nte l l eva ría a p l a ntea r e l p ro b l e m a ese n ci a l d e l a leg iti m i d a d .
Pa rti e n d o de esas bases era i m posi b l e l l ega r a u n a c u e rd o .
E l escrito p rese nta d o por los caste l l a nos p l a ntea tres co n d i c i o n es p revi as a
l a n egociaci ó n de l a paz, práctica m e nte l a s m is m a s q u e l a s p rese nta d a s e n
Segovia e n j u n i o de 1 401 : devo l u c i ó n d e b i e n es co nfisca dos a exi l i a d os, ta nto po r
pa rte p o rtu g u esa co m o caste l l a n a , desde época d e Fe rn a n d o I y J u a n 164; ayu d a
po rtu g u esa a i rey de Casti l l a e n l a g u e rra co ntra los m u s u l m a n es65; e i n d e m n iza­
ci ó n a Casti l l a p o r los gastos causados por l a g u e rra ta nto a J u a n I co m o a
E n ri q u e 1 1 1 66•
La resp u esta p o rt u g u esa l a m e nta l a escasa vo l u ntad d e paz que tra s l u ce n las
exi g e n cias caste l l a nas, e n vivo contraste co n l a pos i c i ó n p o rt u g uesa q u e,
p u d i e n d o p l a nte a r exi g e n c i a s a ú n m ayo res, p refe ría olvi d a ri a s a favo r de l a paz,
...
" F. LO PES, Crónica , 11, 4 1 4-4 1 5 .
64 A h o ra se h a b l a ba d e d evo l u c i ó n d e b i e n es a todos l o s exi l i a d os, ta nto p o rtu g u eses co m o
caste l l a nos, m i e ntras e n l a fech a citada s o l o se p e d ia e l p e r d ó n d e los p o rtu g u eses; a p a re nte­
m e nte, e ra u n a p o s i c i ó n eq u i l i brada, p e ro l a d ife re n c i a en e l n ú m e ro e i m po rta n c i a e ntre u n os
y otros e ra m u y g ra n d e .
65 La exi g e n c i a de a y u d a se i n c re m e ntaba e n re l a c i ó n co n l a p r i m e r a : se m a nte n ía e l
n ú m e ro d e g a l e ras, d i ez, y e l t i e m p o d e s e rvicio, s e i s m eses, p e ro e l n ú m e ro d e com batie ntes
pasaba de m i l a 600 l a nzas y dos m i l h o m b res.
" E n 1 401 se d e m a n d a ba i n d e m n i zación p o r l a g u e rra d e é poca d e E n r i q u e I I I ; a h o ra se
i n cl u ía ta m b i é n l a d e época d e J u a n I . E n consecu e n c i a , se esta b l ecía que l a c a n t i d a d a satisfa­
cer por el m o n a rca p o rt u g u és asce n d ia a 1 . 6 1 6 . 0 0 0 d o b l as, advi rt i e n d o q u e d i ch a s u m a no
a l ca nzaba ni e l d i e z por c i e nto de l a d e u d a rea l .
63
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n zu e l a
natu ra l e ntre m o n a rcas u n i dos por ta les víncu los. Sobre l a devo l u c i ó n d e bie nes
confisca dos a exi l i a d os, pide l a re l a c i ó n d e p e rso n a s afectadas y p ro m ete estu­
d i a r e l asu nto; co n s i d e ra que l a ayu d a ped i d a s o l o t i e n e senti do cu a n d o se h aya
fi r m a d o la paz; y, respecto a l a s i n d e m n izac i o n es, e nti e n d e n q u e lo a d ecu ado
sería l a m utua co n d o n a c i ó n , pero q u e, s i l o d esea n , p resenten s u s d e m a ndas por
escrito y l a pa rte portu g u esa h a rá l o m is m o , sin duda e n cua ntía s u pe r i o r.
Los d i p l o máticos caste l l a nos p rese nta n e nto nces u n escrito con l a re l a c i ó n
d e pers o na s cuyos b i e n es e n Po rtu g a l se rec l a m a ba n67• Fue respo n d i d o por pa rte
portu g u esa con otro escrito, p rovi s i o n a l , con l a s d e m a ndas q u e ca b ía p rese nta r
por s u pa rte68, y u n n u evo a l egato contra l a s exi g e n c i a s ca ste l l a nas, q u e co nsi de­
ra ba n ca usa ntes de e nfre nta m i e nto y g rave o bstácu l o pa ra l a paz. Respecto a la
d evo l u c i ó n de b i e n es confi sca dos, e nte n d ia q u e e ra i m p rocede nte por cua nto
q u i e n es a b a n d o n a n u n rei no y h a ce n g u e rra a su s e fí o r m e recen ta l sanci ó n .
Sobre l a i n d e m n izaci ó n de g u e rra , afi rma ba q u e a n a d a está o b l i g a d o e l rey d e
Po rtu g a l , p u es l e asiste e l d e rech o d e d efensa; q u e ta l o b l i g a c i ó n reca e e n e l cas­
te l l a no, p u es fu e res po nsa b l e d e l a ru ptu ra de la treg u a , y q u e e l m o n a rca portu­
g u és pod ría recl a m a r l a s tierras que J u a n d e La ncaster, " s i e n d o rey d e Casti l l a ';
d o n ó a su h ij a Fe l i pa , d e l o q u e t i e n e n o p o rt u n o docu m e nto . N o o bsta nte, i n sis­
te n , n o es ése e l ca m i n o d e l a paz s i n o e l q u e ! l eva rá a u n a a g u d izaci ó n de l a s ten­
siones.
l ns i ste n , s i n e m ba rg o los caste l l a nos e n s u a rg u m e ntos, co n s i d e ra n d o q u e
ta les p l a ntea m i entos s õ n i n d ispensa b l es pa ra a l ca nza r u n a paz fi rme y, a nte l a
ra d ica l d i ve rg e n c i a0 d,!il post u ras, p l atea n l a conve n i e n c i a d e u n a rb itraj e e m iti do
p o r un Po ntífice i n d u bita d o , c u a n d o l o h u b i e re, que h a b rá de resolver e n e l p l azo
67 E s u n a re l a c i ó n d e 56 pe rso n a s e ntre las q u e se cita a los s i g u i e ntes: e l co n d e d e Vi a n a ,
J u a n R u i Po rtoca rrero, A r i a s G ó m ez d a S i lva, Fe r n á n G ó m ez d a S i lva, M a rtin Alfo n s o d e M e l o,
Á lva ro G i l de C a rva l h o , Fe r n á n G o n z á l ez d e Sousa, G o n z a l o Rod ríg u ez d e S o u s a , y G o nza l o
Vázq u ez d e A ceved o. F. LO PES, Crónica . . . , 1 1 , ·ca p . 1 89, p á g . 4 1 8 .
68 Las d e m a n d a s p o rtu g u esas, i n i c i a l m e nte, e ra n : l a m itad d e l a s t i e rras que fu e ra n to m a ­
d a s a i co n d e d o n Alfo n s o , q u e p e rte necía n a . l a co ndesa d o n a I s a b e l , s u e s p o s a , so bri n a d e i rey
de Po rtu g a l ; Ag u i l a r de Ca m pos, co n todas l a s t i e rras q u e fu e r on d a d a s a d o n Ped ro, h ij o d e i '
co n d e de Vi a n a ; Sa lvatie rra , co n todos l o s l u g a res q u e fu e ra n d e i c o n d e Á lva ro Pé rez, q u e p e r­
tenecen a d o n Ped ro de Castro, su h ijo; l a s ti e rras y l u g a res q u e e ra n de Va sco M a rt i n s de M e l o,
m á s l a s p e n a s de l a s t i e rras d e l a re i n a q u e fu e r a n d a d a s a su m uj e r; F u e nteg u i n a l d o q u e t e n ía
M i cer Lanza rote y otros l u g a res; l o s casti l l os y l u g a res q u e t i e n e M a rtin G o nzá lvez, su h ijo;
A l a rcón y otras t i e rras que fu e r o n d a d a s a Gil Vázq u ez d e Acu rí a ; l a s d i g n i d a d e s y b i e n es q u e
te n ía e l a ba d d e S a n J u sto y otras vei nte pe rso n a s m á s . Ad e m á s , i n d e m n izaci o n es d e 1 80 . 0 0 0
d o b l a s p o r l o s pris i o n e ros y 5 0 . 0 0 0 m á s p o r l a captu ra d e n a o s . F. LO P E S , lbid.
64
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
de d i ez a n os: m i e ntras ta nto la situ a c i ó n d e be rá perm a n ece r en e l p u nto actu a l .
E ra u n s i m p l e a p laza m i e nto p u es, a u n q u e d i ese e l m ej o r res u ltado pos i b l e l a
entrevi sta q u e B e n e d i cto XI I I y G regorio X I I a ca b a ba n d El acord a r69 pa ra l l eva r a
cabo l a via conven tionis, n o ca bía espera r q u e se a l ca nzase l a a n h e l a d a paz co n
l a necesa ria ra p i d ez. As í l o ente n d i e ro n los p o rtu g u eses q u e rech aza n esa so l u ­
c i ó n y a p e l a n a i j u icio d e Dios, q u e y a l o h a b ía m a n ifesta d o e n u n a oca s i ó n , e n
c l a ra referencia a Alj u ba rrota70•
Recl a m a ro n los p o rtu g u eses u n a mod ifica c i ó n de la postu ra caste l l a n a ; res­
po n d e n los caste l l a nos q u e, de a c u e rd o co n l a s i nstrucci o n es de q u e d i s p o n e n ,
su postu ra es i n a m ovi b l e : e n co n secu e n c i a , se s u s p e n d e n l a s negociaci o n es s i n
a l ca nza r acu erdo a l g u n o .
Pro b a b l e m e nte a co m i e n zos de agosto se i n iciá u n a n u eva ta n d a de negocia­
ciones e n l a fronte ra e ntre a m bos rei n os, e ntre Aldeia d a Po nte, p róx i m a a
Sa b u g a l , y La Al berg u e ría d e Arga n á n . Pero n a d a h a b ía va riado e n l a posi ción cas­
te l l a n a : m a nten ía sus tres co n d i ci o n es p revias q u e hacía n i m posi b l e el ava nce de
las negociaciones. A mediados de ag osto resu lta ba ya evi d e nte q u e so l o e ra posi­
b l e negoci a r un n u evo a p l aza m i e nto de los contactos a l a espera de q u e se pro­
d uj e ra n ca m bias q u e des b l o q u e a ra n l a situ ació n71 • A co m i e nzos de septiem b re
co n cl u ía n las negociaciones co n e l ú n ico acuerd o d e rea n u d a rlas e l p ri m e ro d e
a g osto d e i p róx i m o a n o , por d e l egaci o n es de co m posici ó n s i m i l a r a las a ctu a l es,
e n un l u g a r e ntre E lvas y Badajoz, a u nq u e pod rá n ser acordados otros situados
entre e i Tajo y e l G u a d i a n a , cua ntas veces l o est i m e n o p o rtu n o a m bas pa rtes72•
Con esos p l a ntea m i e ntos, resu lta ba i n a l ca nza b l e u n acuerdo co n Po rtuga l ; ta l
d e b ió ser l a i nfo rmación a portada por los em baj a d o res caste l l a nos. Acaso por e l lo,
e n los p róxi mos meses, l a d i recc i ó n de los co ntactos co n Po rtu g a l pa rece esta r e n
m a nos d e Cata l i n a , cuya posici ó n d ista ba m u ch o de l a s exigencias p l a nteadas
69 E l 2 1 d e a b ri l d e 1 407 B e n e d i cto X I I I y l o s e m baj a d o res d e G regorio X I I h a b í a n acordado
e ntrevi sta rse e n Sava n a e l p róxi m o d ía 29 d e s e pti e m b re, o caso d e a l g ú n retraso e n l a prepa­
rac i ó n d e l a s n aves, e l d i a 1 de n ovi e m bre. Á LVAREZ PAL E N Z U E LA V.A. E/ Cisma , pág . 1 86 .
7 0 F. LO PES, Crónica , 1 1 , ca p . 1 89, p,.42 1 .
7 1 E l 1 6 d e agosto J o ã o I oto rg a ba pod � res a s u s e m baj a d o res p a ra acord a r u n a p l aza­
..
...
m i e nto d e las n e g o c i a c i o n e s h a sta 1 d e ago sto d e 1 408, e n e l l u g a r que co n s i d e ra s e n a d e c u a d o
p a ra l a reu n i ó n d e e m baj a d a s i ntegradas d e fo r m a s i m i l a r a l a s q u e a ctu a l m e nte l l eva b a n l a s
n e g o c i a c i o n e s . A. G . S . Patro n ato Rea l , l e g . 4 9 , f . 8 . L. S U Á R E Z, Relaciones entre Portugal , d o e .
...
42. p á g . 1 70 - 1 7 1 .
7 2 1 407, se pti e m b re, 5 . Testi m o n i o redacta do p o r l o s e m baj a d o res p o rtu g u eses, q u e i n cl uye
l o s p o d e res oto rgados e n ese sentido p o r el m o n a rca p o rtu g u és. A . G . S . Patro n ato Rea l , l e g . 49,
f. 1 4. L. S U Á R EZ, Relaciones entre Portugal
...
, doe. 43. p á g . 1 7 2- 1 7 5 .
65
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n z u e l a
h a sta ese m o m e nto, ta l co m o ya m ostra ra e n vida d e s u m a ri d o . La ca m p a n a de
A n d a l u cía rea l izada por Fe r n a n d o e n e l vera n o d e 1 407, y e l i nterés p refe rente d e i
I nfa nte por l a g u e rra con G ra n a d a , a pesa r d e i fracaso. d e l a s o pe racio nes sobre
Sete n i l co n q u e a q u e l l a se cierra , j u nto con l a d i v i s i ó n de fu n c i o n es d e g o b i e rn o
e ntre los rege ntes, perm itieron e s e p rota g o n i s m o d e l a Rei na y e l ca m bi o de
o ri e ntaci ó n e n l a s negociaci o n es con Po rtu g a l .
Cata l i n a e nvía u n co rreo co n la m isión de so ndear la vo l u ntad portu g u esa de
proseg u i r las negociaciones, recl a m a r el e nvío de u n a em bajada, y, p roba blemente,
h acer ver la va riaci ó n q u e se esta ba prod uciendo en la postu ra caste l l a n a . La res­
p uesta de João I m uestra sus pocas espera nzas de acuerdo, tras el fracaso de tres
em bajadas, co mo co nsecuencia de las i n a cepta bles exig encias caste l l a nas: a ntes de
i n iciar u n a n u eva ro nda desea ba co nocer cuáles era n las bases de negociació n73•
Es u n h o m b re de co nfi a nza de la rei n a , J u a n R u iz, a rced i a n o de G o rd ó n , el
e n ca rg a d o de p ropo n e r en Sa nta rém q u e sea e l propio m o n a rca p o rtu g u és e l q u e
se ii a l e l o s a s u ntos a negoci a r. Los a rg u m e ntos d e J o ã o I , q u e l o s expo n e a l a
rei n a por m e d i a d e Á lva r G o nzá l ez d a M a i a , s o n los y a re itera d a m e nte exp u estos
co n a nteri o ri d a d por sus e m baj a d o res: Po rtu g a l es la pa rte d a m n ifica d a , vícti m a
d e u n a g u e rra i nj u sta q u e exi g ía repa ra c i o n es; q u e p refe ría enfrenta rse a u n a
n u eva g u e rra a acepta r l a s exi g e n ci a s p resenta das; q u e a p e l a r a i a rbitraje d e i
Pa pa n o e ra so l u ci ó n por l a l a rga espera q u e exi g ía , l o q u e dej a ría entreta nto e l
l it i g i o a bi e rto, por l a d ifi cu ltad de q u e l a pa rte perj u d icada a ce ptase u n fa l i a,
acaso, d e un g ra n vo l u m e n eco n ó m ico, y por l a pos i b l e pa rci a l i d a d de c u a l q u i e r
j u ez, a u n q u e s e a Pa p a . Ta m poco e ra acepta b l e l a exi g e n c i a d e ayu d a m i l ita r, q u e
i m p l ica s u b o rd i n a c i ó n ; l a ayu d a pod ría p resta rse e n razó n d e l a paz, c u a n d o ésta
se fi rmase. M e nos a ú n el perd ó n a los exi l i ados, so l u c i ó n q u e le re p u g n a y ofe n d e
a s u s vasa l l os, sobre t o d o s i se oto rga ba e n v i rt u d d e u n t ratado74•
La resp u esta de la rei n a fu e p resentada p o r el m i s m o e m isa rio, s i n a pa rato
de e m baj a d a , en Lis boa75• En e l l a afi rma q u e, por la ca rta q u e le e nviá, co n oce su
postu ra res pecto a l a s peti c i o n es caste l l a nas, y l a s razo nes por l a s q u e rech aza su
aceptaci ó n , pero q u e, b i e n m i ra d o , " l os de su pa rte"76 e n t i e n d e n q u e su h ij o t i e n e
...
" F. LO PES, Crónica , 1 1 , p á g . 422. E:;ta cró n ica constituye n u eva m e nte l a m ej o r g u ía , e n '
este caso l a ú n i ca , p a ra seg u i r e l cu rso de la negoci a c i ó n ; nos perm ite esta b l ec e r la secu e n c i a
d e l a s negoci a c i o n es, p e ro n o , a i m e n os p o r a h ora, dete rm i n a r l a s fech a s d e cada u n a d e s u s
fases.
74 I D E M , lbid. 11, p á g . 423.
75 I DE M , lbid, 11, págs. 424-427.
76 I D E M , /bid. 1 1 , p á g . 424. E n esa expresi ó n creo ver u n a c i e rta d i sta n c i a de l a R e i n a res­
pecto a la o p i n i ó n dei C o nsejo, co m o s i ofreciese u n a post u ra perso n a l más accesi b l e .
66
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
razó n ai p rese nta r estas d e m a n das y q u e no son de reci bo las excusas p o rtu g u e­
sas. J u stifica Cata l i n a l a s razo nes sobre l a s q u e se basa n l a s petici o n es caste l l a ­
n a s : e l recu rso a i a rbitraje pontificio, p o r trata rse de u n á rp itro i m pa rci a l por defi­
n ic i ó n , y porq u e este confl i cto debe ser res u e lto por vía de d e rech o; e l co m p ro­
m i so d e ayu da m i l ita r, q u e co n s i d e ra g a ra ntía frente a terceros, n o es ve rg o n zoso,
d i ce, ya q u e l a ayu d a co ntra los m o ras p u ed e te n e r carácter recíp roco77, l o q u e
co n s i d e ra m á s ventajoso pa ra e l m o n a rca p o rtu g u és q u e p a ra e l caste l l a n o78• E n
c u a nto a i perd ó n a los exi l i ados p o rtu g u eses y d evo l u c i ó n d e b i e n es confiscados,
asu nto e n e l q u e, seg ú n pa rece, l a ú lt i m a ca rta de João I ofrecía posi b i l i da d es de
a c u e rd o e n c u a nto a l a p ri m e ra g u e rra79, ente n d ía l a Rei n a que debe te n e rse e n
c u e nta q u e se trata d e perso nas n ota b l es, q u e ta les situ a c i o n es s e p rod ucen fre­
c u e nte m e nte, q u e a n a d a co n d u ce p l a ntea rse la j u sticia de ta les a ct u a c i o n es e n
e l confl i cto e ntre é l y Beatriz sobre e l d e rech o a i tro n o80, porq u e todos c u e nta n
co n razo n es pa ra h a be r o b rado así, y q u e e l perd ó n es p ro p i o de l a d i g n i d a d rea l .
L a resp u esta de João I , tras co n s u lta r co n su Consejo, está p e n etra d a d e pro­
fu n d a i ro n ía81 • Fe l i cita ai a rced i a n o por s u exce l e nte serm ó n , l a m e nta b l e m e nté ya
o íd o en todos los a nte riores e n c u e ntros con rep resenta ntes caste l l a nos. Su nega­
tiva a l a fi rma d e l a paz e n l a s co n d i ci o n es presentadas, a d e m á s d e otros a rg u ­
m e ntos, se basa e n q u e e l co m p ro m iso de ayu d a m ut u a e s m u y desig u a l , p u es,
77 La propu esta n o pa rece eq u i l i brada, ya que Po rtu g a l h a co n c l u i d o h a ce m u ch o t i e m p o
s u reco n q u i sta p e n i nsu l a r y Casti l l a t i e n e p e n d i e nte e l g r a n p royecto g ra n a d i n o , s a lvo q u e se
ba raj ase un p royecto africa n o .
78
E n d o s oca s i o n e s consecutivas, a i p o n d e r a r l a s ventajas d e l a ayu d a recíproca, d e j a tras­
l u c i r Cata l i n a u n a so l u c i ó n d e facto d e i p ro b l e m a d i n á stico, a l a espera d e que e l trascu rso d e i
t i e m po tra i g a l a d efi n itiva s o l u c i ó n , y a q u e Beatriz n o p u e d e tras m i t i r a n a d i e s u s eve ntu a l es
d e recho s : " E q u e se a vos p rouver p e m s a r bem em esto, q u e p e ra vos e p e ra vossos fi l h os s e ra
g ra m d e p rove ito reg n a m d o em paaz e asosego, s e m d o s e m p re p o d e rosos de fazer vosa vo m ­
t a d e " ; y , poco despu és, l o expo n e a ú n m á s c l a r a m e nte: ·: . . c a a p e r a q u í seg u u raes voso esta a d o
e l i n h a g e m p e ra todo sem p re ': F. LO PES, Crónica . . . , 1 1 , 425 y 4 2 6 , respectiva m e nte.
79 AI acusar recibo de l a ca rta d e J o ã o I , res u m e l a re i n a l a respu esta d e i m o n a rca a l a cues­
t i ó n d e l o s exi l i a d o s d e i m o d o s i g u i ente: ·: .. a q u a rta q u o a n d o se e m m e m d a o uvese d e faze r aos
p u rtu g u eses, que aos d a g u e rra p ri m e i ra q u e vosos vasa l l os n a o fo r a m se devía d e faze r mas
_
aos o utros na. F. LO PES, Crónica ... , 11, 424.
80
La exp res i ó n no es s u pe rfi ci a l . Cata i i n a está p rese nta n d o el confl i cto no co m o un e nfre n ­
ta m i e nto e ntre Po rtu g a l y Casti l l a , s i n o co m o u n a q u e r e l l a d i n ástica e ntre d o s ca n d i d atos co n
d e rechos a i tro n o . De a c u e rdo con este p l a ntea m i e nto se ría posi b l e la fi rma de la paz e ntre
Casti l l a y Po rtu g a l ai m a rg e n d e l a s o l u c i ó n q u e se d i ese a ese contencioso. l nteresa ntes o bs e r­
vaci o n es s o b re esta cu esti ó n , C. O L I V E RA, Beatriz. . . , p á g s . 1 36-1 37.
81
...
E I b ri l l a nte d i á l o g o h a s i d o reco g i d o d e m o d o vív i d o p o r F. LO P E S , Crónica , 1 1 , 426-428.
67
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n z u e l a
m i e ntras Casti l l a t i e n e m u chos vi rtu a l es e n e m i g os, Fra n c i a , I n g l aterra, N ava rra ,
Ara g ó n y G ra n a d a , p a ra Po rtu g a l solo hay u n e n e m i g o posi b l e Casti l l a , de modo
que ta l ayu d a ca rece d e senti d o . E n esas co n d i c i o n es todos i nterp reta ría n que se
co m p ra ba l a paz y que se oto rga ba a ca m b i o d e i pago d e pa rias.
Pro p o n e e nto n ces J u a n Ruiz que se fi rme l a paz excl u ye n d o l a c l á u s u l a re l a ­
tiva a l a a y u d a m i l ita r, a u n q u e a su s e n o ra l e pa rece e q u itativa, y q u e d i ch a ayuda
sea co m p ro m etida e n vi rtud d e un a c u e rdo separado, secreto, que s ó l o se h a ría
p ú b l ico en caso d e i n cu m p l i m i e nto, y q u e la ayu d a se so l i cite en razó n d e pa re n ­
tesco . La p ro p u esta fue rechazada de m o d o contu n d e nte por J o ã o I , porq u e n o
veía d ifere n c i a e ntre u n a y otra p ro p u esta sa lvo q u e, a s u j u icio, e l secreto nece­
sa ri a m e nte sería d esve l a d o y, e nton ces, sería a ú n más verg o nzoso pa ra él, p o r­
q u e tra s l u ci ría de m o d o m á s n eto su pos i ci ó n s u b o rd i n a d a .
L a rép l ica d e i enviado de l a Rei n a pa rece a l ivi a r el co m p ro m iso, p u esto q u e
s u n u eva propu esta e s q u e e l m o n a rca portu g u és s e co m p ro m eta a p resta r ayu d a
perso n a l co ntra l os m u s u l m a n es, co n h o m b res y ba rcos e n n ú m e ro a d e c u a d o a su
d i g n i d a d , ú n i ca m e nte d u ra nte cu atro a nos; sin e m b a rgo, las razo nes que e s g ri m e
pa ra co nvencerle d e l a conve n iencia d e a d q u i ri r este co m p ro m iso so n , e n u n caso,
h o n o ra b les: e l servicio de D i as, razó n pri n c i p a l de esta g u e rra, y la g l o ri a perso n a l ,
p u es s e reco n q u i sta rá n tierras desde l a s q u e ta nto m a l h a ve n i d o a tod a Espa na;
pero otra es casi ofensiva : e n pen itencia por sus pecados, por una vida gastad a e n
g u e rra co ntra cristi a n os82• Respo n d e e l m o n a rca q u e l a pro p u esta de la Rei n a está
fu e ra de l u g a r, sobre todo vista la ca rta q u e le envió desde Sa ntarém por Á lva ro
G o nzá l ez da M a i a , y q u e no ca be h a b l a r m á s sobre estas cuest i o n es n i i nterca m­
biar n u evos m e nsaj e ros; sin e m b a rgo, co n s i d e ra n do l os víncu los d e pa rentesco l e
p i d e q u e a n u ncie a s u Se n o ra e l e nvío de n u evos m e n saje ros por su pa rte.
A pesa r dei tenso a m b i e nte e n q u e se d esa rro l l a n l o s contactos, pa rece posi­
ble a d ivi n a r u n a c i e rta m ej o ría d e l a situ a ci ó n e n l a p ri m avera d e 1 4 1 0, co m o i n d i ­
ca ría n l a s so l u ci o n es d a d a s p o r l a s co m i s i o n es a rb itra l es pa ra d eterm i n a r l a fro n ­
tera e ntre a m bos rei n os83 y l a s d i ri g i d as a resolver l a toma d e g a n a d os84• S i n
" D i ce e l a rced i a n o : ·: . . p o i s q u e toda a vosa v i d a despe m d estes e m g u e rra d e cristaos
espa rg i m d o m u ito sa n g u e d e l l es, que i sto_ fose co m o e m m e n d a e p e m d e m ça d e vosos peca- '
dos . . :: F. LO PES, Crónica . . . , 1 1 , 428.
83 1 4 1 0, m ayo, 30. Acu e rdo s o b re la adscri pción d e l o s l u g a res d e Pe n a m a co r, Va lverde,
C a rva l h a l y otros l u g a res. A. N .T. T. , G aveta 1 4, m azo 8, n. 1 6. Sa nta re m , V. d e . Quadro elementar
. . I , pág. 9 . L. S U Á REZ, Relaciones entre Portugal , pág. 35.
84 1 4 1 0, m ayo, 30. Deci s i ó n d e l o s j u eces co m i s a ri o s s o b re l o s g a n a dos que l o s caste l l a nos
.
...
to m a b a n e n Va lverd e . A. N .T. T. , G aveta 1 8, m azo 6, n . 1 3 . S a n t a r e m , V. d e . Quadro elementar ... I ,
pág. 9.
68
I bé r i a : Q u atroce ntos/Qu i n h e ntos
e m b a rg o , u n os m eses después, l a ru ptu ra pa rece p róxi m a , u n a vez más: a i
m e n o s p o r pa rte p o rt u g u esa s e a d o pta n m e d i d a s a nte u n a eventu a l i nvas i ó n cas­
tel l a n a85 y se a l lega n todos los recu rsos posi b l es86.
3. LA PAZ DE 1 4 1 1
Pro ba b l e m e nte a m e d i a dos d e fe brero d e 1 4 1 P7 l l egaba a Va l l a d o l i d u n a
e m baj a d a p o rtu g u esa p res i d i d a p o r e l a lfé rez m ayo r, Joao G o m es d a S i lva, d e l a
q u e fo r m a n pa rte, a d e m ás, los d octo res M a rti n do S e m , y a experi m e ntado e n l a s
negociaci o n es co n Casti l l a , y Fe r n á n G o nzá l ez B e l ea g u a . S o n porta d o res de u n a
ca rta d e J o ã o I p a ra Cata l i n a e n l a q u e a n a l iza l a s ú lti m a s tres p ro p u estas d e i
a rced i a n o d e G o rd ó n sobre ayu d a m utu a : ayu d a perm a n e nte a n u a l , co m o u n a d e
l a s c l á u s u l a s d e i trata d o de paz; s i m i l a r ayu d a pero e n vi rtud de a c u e rdo secreto
sepa ra d o ; u n a ayu d a d u ra nte cu atro a n os. Rech aza cu a l q u i e ra de e l l a s p o r h u m i l ­
l a ntes, ta nto q u e p i e nsa n o h a n s i d o red actas p o r e l l a s i n o p o r a l g u i e n i nte res a d o
e n e l fracaso d e l a negoci a c i ó n , y l e co m u n i ca s u pri m e ra deci s i ó n d e n o m a nte­
ner n u evas negoci a c i o n es . S i n e m b a rgo, en ate n c i ó n a su pa rentesco, le e nvía
85 Ese sentido t i e n e, a m i j u icio, una b u l a d e J u a n XXI I I , d e 20 d e m a rzo d e 1 41 1 , conce­
d i e n d o a João I q u e l a s Ó rd e n es M i l itares p o rtu g u esas p u e d a n ayu d a rl e a é l y a sus s u ceso res
e n g u e rra j u sta contra cristi a n os, m u s u l m a nes y otros e n e m i g o s dei re i n o . En e l l a se m e n c i o n a
e l te m o r a u n a i nva s i ó n d e i re i n o p o r s u s e n e m i g o s s i se l e resta e l a poyo d e l a s Ó rd e n e s . Ta l
co l a bo ra ci ó n h a de refe ri rse so l a m e nte a u n e n fre nta m i e nto c o n cristi a n os: no exi ste te m o r a
i nvas i ó n m u s u l m a n a a l g u n a , n i t i e n e sentido l a co n d i c i ó n de g u e rra j u sta, ya q u e l a l u ch a con­
tra l o s m u s u l m a nes, p o r d efi n i c i ó n , l o e ra s i e m pre. E n c u a nto a e n e m i g o s exte r i o res n o h a bía
otro s i n o C a sti l l a , afi r m a c i ó n hecha, como hemos visto, p o r e l p ro p i o rey p o rtu g u és ai poner de
re l i eve l a d e si g u a l d a d d e un co m p ro m i so d e ayu d a m ut u a . A.V. Reg . S ú p l i cas, 1 45, f. 1 45 r.
Monumenta Henricina, I , doe. 1 47.
86 1 4 1 1 , m a rzo, 2 1 . J u a n XXI I I concede a J o ã o I q u e no i n c u rra n e n p e n a s de i rreg u l a ri d a d ,
i n h a b i l itaci ó n o i nfa m i a l o s eclesi ásticos q u e co ntribuyan a l a defe n s a d e Po rt u ga l . Ta m b i é n e n
este caso se d ej a m u y c l a ro, s i n cita rio, q u i e n es e l e n e m i g o a i refe ri rse a l a s i nvas i o n e s y d a nos
que e l re i n o h a sufrido p o r p a rte d e otros re i r:10 s m á s p o d e rosos. A. N .T.T. B u l a s , m azo 4, n . 1 1 .
A . V. Reg. Lat. 1 45, f. 5 7 r. V. d e SANTAR É M , Quadro elementar, t . 9 , p . 402 . Monumenta Henricina,
I, doe. 1 48.
87 N o res u lta fá ci l fij a r l a c ro n o l og ía d e estas negociaciones. Por u n a ca rta d e J u a n 11 a i con­
cej o d e B u rgos, d e 30 d e m ayo d e este a fi o, s a b e m o s que e n ese m o m e nto l o s e m b aj a d o res
p o rt u g u eses l l ev a n e n Casti l l a a l g o m á s d e tres meses. B u rg os. Actas dei Ayu nta m i e nto, 1 41 1 , f.
30. p u b . L. Se rra n o , Los conversas don Pablo de Santa María y don Alfonso de Cartagena.
M a d ri d 1 942 . p á g s . 263-265. Monumenta Henricina, I. doe. 1 52 .
69
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e nz u e l a
n u eva e m baj a d a p a ra co m u n i ca rl e su posici ó n d efi n itiva y l e ruega, e n térm i n os
a p re m i a ntes, q u e l e h a g a co nocer l a suya, d e m o d o q u e la cu esti ó n dese m bo q u e
e n u n a so l u c i ó n d e u n o u otro s i g n o88•
So l i cita d a a u d i e n c i a , los em baj a d o res resu m e n a nte la Rei n a l a s ú lti mas
negociaci o n es ha bidas desde q u e ella fu e ra e n ca rg a d a de l a s m i s m a s : su so l i ci­
tud de e nvío d e i nterl ocuto res, por media de Á lva ro G o nzá l ez da M a i a; l a res­
p u esta q u e éste trajo y l a s petici o n es ca ste l l a nas; el p ri m e r viaje de J u a n Ru iz,
a rc i p reste d e G o rd ó n , pa ra d e m a n d a r un í n d i ce d e la negociaci ó n , y su res p u esta ;
e l seg u n do viaje d e i a rc i p reste y s u s d esafo ra d a s d e m a n d as, y e l e nvío de l a
a ct u a l e m baj a d a , e n ate n c i ó n a l a perso n a d e l a Rei n a . Respo n d i ó Cata l i n a a g ra­
deci e n d o e l gesto y p i d i ó a los em baj a d o res que l e h i ci e ra n e ntrega de un escrito
conte n i e n d o sus peti c i o n es . Pa ra Po rtuga l , así se lo m a n ifi esta n los e m baj a d o res,
l a ú n ica so l u c i ó n pos i b l e es la paz i n co n d i ci o n a l , d e modo q u e n i n g u n a co n d i ­
c i ó n , perj u d i c i a l pa ra a l g u n a d e l a s p a rtes, p u ed a ser c a u s a de u n a n u eva ru ptu ra .
Ta l e s l a posici ó n fi n a l a l a q u e rueg a n rá p i d a res p u esta89•
Tras l a e ntrevi sta co n l a Re i n a , los e m baj a d o res visita ro n a Fe rn a n do,
recie nte co n q u ista d o r de Anteq u e ra , cuya pos i c i ó n e n re l a c i ó n co n Po rtuga l
pa rece h a be r experi m e ntado u n a ra d i ca l tra n sfo r m a c i ó n90• Da n p o r s u p u esto q u e
e l I nfa nte está p l e n a m e nte a i co rri e nte de l a neg oci a c i ó n y l e p i d e n q u e i nter­
p o n g a todo su poder pa ra l a fe l iz concl u s i ó n d e i asu nto .
Los d e bates e ntre los e m baj a d o res p o rtu g u eses y los rep resenta ntes caste l ­
l a n os f u e r o n l a rgos, co n j o r n a d a s de especi a l tensi ó n . L a i n i ci a l resp u esta caste l ­
l a n a f u e ratifica rse e n l o y a expu esto e n a nteri o res oca s i o n es; repiten los portu­
g u eses sus a rg u m e ntos a favo r de u n a paz i nco n d i c i o n a l y co ntra l a ayu d a exi­
g i d a por Casti l l a . Au n q u e e l Consej o caste l l a n o entiende q u e esta co n d i c i ó n
8 8 F. LO PES, Crónica , 1 1 , 429-430.
89 F. LO PES, Crónica , 11, 43 1 -433.
9° Con a g u deza a n ota F. LO PES, Crónica , 11, 43 1 , que "o lfamte se offe recio a todo o q u e
d i z i a m c o m g racioso v u l to . . :: Las razo nes d e l a posici ó n i n i c i a l d e d o n Fe r n a n d o contra ria a l a
p a z co n Po rtu g a l , s o n l a s q u e i n d i ca L. S U Á REZ, Relaciones entre Portugal, p á g . 3 6 : e n l a s nego­
...
...
...
c i a c i o n e s d e 1 399 se h a bía n m a n ej a d o pcopu estas d e matri m o n ias e ntre los h ijos d e i rey d e '
Port u g a l y l o s d e i I nfa nte, q u e fu e r o n rech azadas de p l a n o p o r E n ri q u e I I I . C u a n d o Cata i i na t o m a
l a s r i e n d a s d e l a n e g o c i a ci ó n , se trató u n pos i b l e matri m o n i o d e l a i nfa nta caste l l a n a Cata l i n a
c o n e l h e re d e ro p o rtu g u ês, D u a rte, e i n c l u so e l d e J u a n 1 1 c o n l a i nfa nta p o rtu g u esa I s a b e l , l u eg o
d u q u esa d e B o rg o n a . Ta l e s m atri m o n i a s ca n ce l a b a n c u a l q u i e r posi b i l i d a d e n ese sentido a los
h ij o s d e i I nfa nte. Pero, e n este m o m e nto, Fe r n a n d o está p e n d i e nte d e l a evo l u c i ó n d e l o s a s u n ­
t o s a r a g o n eses; p a ra a l ca nza r a q u é l tro n o p recisa ayu d a eco n ó m ica y m i l ita r caste l l a n a y n ece­
sita co nta r con la b u e n a vo l u ntad d e s u c u n a d a .
70
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
p u e d e d a r l u g a r a m a l a s i nterp reta ci o n es, co n s i d e ra necesa rio m a nte n e r l a p a ra
te n e r ga rantías d e reci b i r l a ayu d a esta b l ec i d a ; los e m baj a d o res a rg u m e nta n q u e
ta l co n d i c i á n e s p ro p i a d e re i n os e n e m i gos, pero n o de qu i e n es t i e n e n ta l es vín­
cu l os fa m i l i a res, y l o i m p rocede nte de nega rse a u n a paz m uy i m po rta nte co n e l
a rg u m e nto de u n a ayu d a portu g u esa, d i ez o doce g a l e ras, de vo l u m e n i ns i g n ifi­
ca nte p a ra Casti l l a91 •
Ta m b i é n fu e i ntensa l a co ntrove rsi a e n e l seno d e i Co n sej o de Casti l l a e n e l
q u e h a b ía p a rtida r i o s de fi rm a r l a p a z , co m o ped ía n los p o rtu g u eses, y otros co n ­
tra rias. L o s de bates se a l a rg a n g racias a u n a m e d i d a o bstru cci o n i sta d e i i nfa nte
Fe rn a n d o q u e, s i n nega rse ai a c u e rdo, p l a nteá la n eces i d a d de averi g u a r p revi a ­
m e nte si J u a n 1 1 te n ía d e rech os a i tro n o de Po rtu ga l92• N o se l o g rá u n a so l u c i á n a
esta c u est i á n , pero i n d u d a b l e m e nte e l l o a l a rg á l a s negociaciones q u e a fi n a l es d e
m ayo pa recía n a p u nto de ro m perse con posi b i l i d a d , i ncl u so, d e reto rno a l a s
hosti l i d a des93•
Con toda seg u ri d a d , los d i p l o m áticos portu g u eses ca l i b ra ro n adecuada­
m e nte l a s d ife re n c i a s exi ste ntes e n e l gobierno de Casti l l a , perso n ifica d a s en
Cata l i n a y Fe rn a n d o . E n l a h o ra d ifíci l e n que l a s negociaciones pa recen a p u nto
de ro m pe rse a c u d e n a Cata l i n a , a la q u e, en co nve rsa c i á n priva d a , p i d e n q u e
trate d e cu m p l i r el co m p ro m iso de m e d i a c i á n q u e a d q u i ri á , y p o n e n d e re l i eve
q u e la ayu d a q u e los caste l l a nos req u i e ren ca rece de sent i d o : si se p i d e por e l
p rovech o q u e se p u e d e d e ri va r, éste es i rre l eva nte, d a d o e l i ns i g n ifica nte n ú m e ro
de n aves so l i cita das, e n co m p a ra ci á n con l a s q u e h a d e a rm a r Casti l l a ; si se h a ce
por u n a cu esti á n d e h o n o r, l a Re i n a cu m p l i ría s u co m p ro m iso i n i c i a l d e q u e fuese
un a c u e rdo i g u a l a d o p a ra las pa rtes .
9 1 F. LO PES, Crónica , 1 1 , 433-435.
...
" Crónica de Juan 11, 1 4 1 1 , p á g . 335. Cu esti ó n esenci a l es l a l e g iti m i d a d . Ya n o se habla d e
Beatriz, s i n o de l o s eve ntu a l es d e rechos d e J u a n 1 1 : s i exi stía n éstos, n o era posi b l e u n a p a z q u e
s u p o n e re n u n c i a a e l l os, s o l o treg u a s co n a c u e rdos so b re cu esti o n es col atera l e s .
" L o p o n e n d e re l i eve dos ca rtas d e J u a n 1 1 a l o s concej os d e B u rgos y M u rc i a , d e 30 d e
m ayo d e 1 4 1 1 . E n e l i as se h ace u n a deta l l a d a .expos i c i ó n d e l a s n e g o c i a c i o n e s d e s d e época d e
E n ri q u e I I I , d e l o s a n os i n i c i a l es de s u re i n a d o y d e l a s d i ri g i d a s p o r d o n a Cata l i n a ; e n l a a ctu a l
situ a c i ó n , d a d a l a posi b i l i d a d d e ru pt u ra y n u eva g u e rra, a s u nto q u e desea trata r e n l a s Cortes,
p i d e a l o s concejos q u e otorg u e n poderes a sus p rocu radores pa ra aconsej a r l e s o b re esta cu es­
tión y to m a r l a s decis i o n es a d e c u a d a s . La ca rta ai concejo d e B u rg o s en, B u rg os. Actas . . . , 1 4 1 1 ,
..
f. 30. p u b . L. Se rra no, Los conversas . , págs. 263-265. Monumenta Henricina, I . doe. 1 52 . La d e
M u rc i a e n A. M . M u rc i a . Reg i stro d e ca rtas rea l e s d e 1 39 1 a 1 4 1 2, fo l s . 1 45- 1 46 . L S U Á REZ,
Relaciones en tre Portugal ... , doe. 44, pags. 1 7 5-1 76.
71
Vicente Á n g e l Á lva rez Pa l e n z u e l a
N u eva m e nte e l rel ato d e Fe rnão Lopes a d q u i e re ti ntes vivís i m os, m uy p ró­
xi m os a la m e nta l i d a d y l e n g u aj e popu l a res. Los p o rtu g u eses i n si ste n e n l o i n ne­
cesa rio que es p a ra Casti l l a ped i r ayu d a a un rei n o ta n peq u e n o co m o Po rt u g a l
p a ra h a ce r g u e rra a u n os i ns i g n ifica ntes m o ros94, h ech o q u e red u n d a ría más b i e n
e n s u despresti g i o . N o dej a n d e reco rd a r q u e J o ã o I l a ayu d a ría a h o ra , s i n esta r
o b l i g a d o por a c u e rdo, con mayor razó n q u e c u a n d o se l a ofreció e n e l m o m e nto
de la m u e rte de E n ri q u e I I I . La Re i n a d i ce ente n d e r s u s a rg u m e ntos, pero q u e
h a b ía d e defe n d e r s u s p ro p i os i ntereses, " p ri m e ro s o n d i e ntes q u e pa ri e ntes '; e n
co loq u i a l exp res i ó n q u e p a n e e l c ro n i sta e n s u boca95•
A pesa r dei a m b i e nte d e ru ptu ra q u e pa rece n tra s l u c i r estas conversacio­
n es, e l eq u i po d e l a Re i n a ava nza e n s u a p roxi m a c i ó n a Po rtu ga l . El d o m i n g o 1 4
d e j u n i o, a h o ra d e vísperas, p u ntu a l iza Fe r n ã o Lopes, Cata l i n a co nvoca a los
e m baj a d o res p o rt u g u eses pa ra a n u n c i a rles q u e, tras negoci a r co n e l I nfa nte
Fe rn a n d o , el Consej o y las Cortes, se ha acord a d o fi rm a r la paz en la fo r m a por
e l l os req u e r i d a . La p u esta e n esce n a m u estra c l a ra m e nte que s o n l o s m á s estre­
ch os co l a bo res de l a Rei n a , p rese ntes en esta a u d i e n c i a , los q u e h a n l o g ra d o e l
p a s o decisivo: Sa ncho d e Rojas, o b ispo d e Pa l e n c i a , J u a n Vázq u ez, o b i s po de
Segov i a , Alfo n so E n ríq u ez, a l m i ra nte, y D i e g o López d e Estú ri i g a96• E s i n d u d a b l e
q u e e l I nfa nte h a s i d o e l o bstácu l o cl ave d e l a n e g o c i a ci ó n : a é l a c u d e n i n me­
d i ata m e nte l o s e m baj a d o res p o rtu g u eses pa ra ratifica r l a n oti c i a reci b i d a ; e l
I nfa nte se fe l i cita p o r e l l o g ro d e l a p a z q u e, seg ú n s u s pa l a b ras, h a b ía s i d o s u
máxi m a a s p i raci ó n .
Ape n a s e s u n es bozo de acu erdo q u e exi g i rá todavía va rias m eses p a ra s u
red a cci ó n , p e ro s e d es b l o q u ea ba l a s it u a ci ó n . Se ría u n a c u e rdo e ntre i g u a l es, s i n
exi g e n c i a de ayu d a m i l ita r, co m o h a b ía d e m a n d a d o Po rtu g a l , y se esta b l ecería n
co m pensaci o n es a los exi l iados, co m o h a b ía exi g i d o Casti l l a , p e ro co n fu e rtes
l i m ita c i o n es : se ría n i n d e m n izados los p o rtu g u eses q u e h a b ía n a ba n d o n a d o
Po rtu g a l e n seg u i m i e nto d e l a rei n a Beatriz y n o h a b ía n reco n o c i d o a J o ã o I , pero
n o q u i e nes l e h a b ía n a ba n d o n a d o co n poste ri o ri d a d , e i g u a l m e nte se h a ría por
p a rte caste l l a n a . Ta m bi é n se i n d e m n iza ría a los caste l l a nos, p o r s u s b i e n es e n
Po rtu g a l y a los port u g u eses por s u s b i e n es e n Casti l l a a i co m i e nzo d e l a g u e rra .
Nada más.
94 " E d e m a es q u e vise a h u a ta m g ra Casa c o m o h e e a d e Caste l l a g u oa rn i d a d e ta mtas
boas g e mtes ped i r a ayu d a d e h u u ta m peq u e n o Reg n o co m o he o d e Pu rtu g a l l p e ra g u e rrea r
h u s p o u cos destrosos m o u ros d e q u e n a h e d e faze r conta . :' F. LO P E S , Crónica, p á g . 437.
95 F. LO PES, Crónica . . . , 1 1 , 436-438.
96 F. LO PES, Crónica , 11, 438.
.
...
72
I bé ri a : Q u a t roce ntos/Qu i n h e ntos
E ra u n tri u nfo d e los p u ntos d e vista d e Joao I, q u e l e perm itía ce rra r el
pasado, a u n q u e no se resolvía l a cu esti ó n ese n c i a l d e l a l e g iti m i d a d , es deci r, los
d e rech os d e Beatriz, si bien, e n l a p rá ctica, se rem itía es.t e asu nto a s u so l u c i ó n
b i o l ó g i ca n at u ra l97• N o fa ltá l a co n s u lta a Fra ncia e n re l a c i ó n a i p royecto d e paz:
Carlos VI oto rg a ba s u asenti m i e nto a las paces y se s u m a ba a e l las, co m o m e d i a
p a ra i m p u l s a r l a g u e rra co ntra los m u s u l m a nes, s i e m p re q u e n o perj u d icase s u
a l i a nza con Casti l l a , q �:J e e ra s u p refe rente i nterés98•
En la n egociaci ó n de d eta l l e sobre e l a rti c u l a d o , de la q u e se e n ca rg a n por
pa rte ca ste l l a n a Alfo n so d e l l l escas, o b i s po d e Za m o ra , y e l docto r Ped ro Yá n ez,
se p l a ntea u n n u evo o bstá c u l o , refe rente ai j u ra m e nto d e l a m i s m a por J u a n 1 1 ,
q u e e n ese m o m e nto ten ía so l a m e nte seis a n os; s i n o p o d ía j u ra ri a h a sta l o s 1 4,
se a b ri ría u n l a rg o periodo e n q u e Po rtu g a l esta ría o b l i g a d o a u n os co m p ro m i sos
sin g a ra ntía p l e n a d e q u e, l l egado a l a edad lega l , e l m o n a rca caste l l a n o ratifi case
e l acuerdo. U n a vez más es l a Rei n a l a que i m p u lsa e l p roceso, aseg u ra n d o q u e
s u ratifi caci ó n y l a de l o s d e m á s re prese nta ntes d e i rei n o e ra g a ra ntía s u ficie nte99•
El texto a rticu l a d o de la paz se fi rm a ba fi n a l m e nte e l 31 de octu b re de 141 1 ,
e n Ayl l ó n '00, res i d e n c i a ento n ces d e Fern a n d o , ate nto a los asu ntos a ra g o n eses.
N o es casu a l i d a d : h a sta e l ú lt i m o m o m e nto e l I nfa nte tuvo bajo contra i las nego­
ciaci o n es d e paz.
Vei nti ú n a rtícu l os i nteg ra n e l texto d e i a c u e rdo d e paz pe rpetu a10' , que p revê
la re n u n c i a recíp roca a todos los d a nos ca usados d u ra nte la g u e rra , sa lvo los p ro­
d u ci d os desde l a s treg u a s de 1 402, que son co n s i de ra d a s como p u nto d e pa rtida
d e l a n o r m a l iza c i ó n d e re l a c i o n es102• Las dos g ra n des cu esti o n es re l ativas a l a
leg iti m i d a d , e l C i s m a y los d e rech os d e Beatriz, p ro b l e m a s j u ríd icos sobre l o s
q u e n o ca ben a c u e rdos po l íticos, n o s e res u e lve n , pero se g a ra ntiza q u e n o será n
97 I m po rta ntes co n s i d e ra c i o n e s s o b re l o s acu erdos d e 1 4 1 1 , e n re l a c i ó n co n l o s d e rech os
d e Beatriz, e n C. O LIVE RA, Beatriz, págs. 1 48- 1 5 5 .
98 1 4 1 1 , j u l i o, 1 5 . Pa r i s . A. G . S . Patro nato Rea l , l e g . 4 9 , f . 1 5 . L. S U Á REZ, Relaciones . ,
..
p á g . 37.
.
.
" F. LO P E S , Crónica . , 1 1 , p á g s . 439-440 .
100
1 4 1 1 , octu b re, 3 1 . Ayl l ó n . A . N .T.T. G aveta 1 8, m a zo 1 1 , n . 0 4. P u b . E n Monumenta
Henricina, 1 1 , doe. 5, p á g s . 7-32 . Vi d . l a s co n s i d e ra c i o n es, en p a rticu l a r en materia eco n ó m i ca , e n
n u estro " Li be rtad d e co m e rc i o . . :; págs. 6 y 7; s o n esenci a l m e nte dos los c a p ít u l o s d e esta p a z
rel ativos a cuest i o n es co m e rci a l es, l o s n ú m e ros 8 y 9 .
101
Art. 1. Se i n cl uye en la paz ai rey de Fra n c i a y a Fe r n a n d o co m o a s p i ra nte ai tro n o de
Ara g ó n .
102
Artíc u l o s 2 y 3, éste ú lt i m o co nti e n e l a expresa re n u n c i a de Casti l l a a u lteri o res d e m a n ­
d a s d e repa ra c i o n e s .
73
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e nz u e l a
ca usa d e ru ptu ra d e l a paz103. J u a n 1 1 deberá ratifica r e l a c u e rd o a i cu m p l i r cato rce
a n os y dos m eses, en el p l azo de trei nta d ías de efect u a d o el req u e ri m i e nto pa ra
e l l o104.
La d evo l u c i ó n de b i e n es, o la i n d e m n izaci ó n p o r e l los, esta b l ecida en los
a c u e rdos d e bases, se recoge e n los a rtícu l os seis y si ete, sin mod ifica c i ó n sobre
l o acord a d o i n i ci a l m e nte; ú n i ca m e nte se es pecifica n l a s ci rcu n sta n c i a s pa ra
hacerla efectiva 105. E l resto d e i a rticu l ado, exce pto los a rtícu los ach o y n u eve, re l a ­
tivos a cu esti o n es co m e rci a l es, y e l catorce, rel ativo a los l a d ro n es q u e p a s e n co n
b i e n es ra badas a otro rei n o, se d e d i ca a i esta b l eci m i e nto de p roce d i m i e nto j u d i ­
c i a l 106 y g a ra ntías j u ríd i cas107 pa ra resolver l a s cuest i o n es pe n d i e ntes y oto rga r fi r­
m eza a los a c u e rdos a l ca nzados.
Poco desp u és d e l a fi rma de l a paz, escri b i ó Cata l i n a a i m o n a rca portu g u és
p o n d e ra n d o su p ro p i a i nterve n c i ó n e n e l l o g ro d e l a paz y p i d i é n d o l e e l e nvío de
g a l e ras dei q u e ta nto se h a b ía h a b l a do; respo n d i ó positiva m e nte João I, prome­
tiendo ta l ayuda pa ra c u a n d o h u b i ese co m e nzado l a g u e rra; seg ú n Fe rnao Lopes,
e l m o n a rca portu g u és ofreció ta m b i é n esa ayu d a ai i nfa nte Fe rn a n do, ya r ey de
Ara g ó n , y l a reiterá, a m e n os e n dos oca s i o n es a J u a n 11, todavía nino y después
10 3 A rtícu l o 4 .
10 4 Artíc u l o 5 .
10 5 E l rey e l e g i rá l a fo rm u l a p refe r i d a , d evo l u c i ó n o i n d e m n i z a c i ó n ; se dete r m i n a e l n o m ­
b ra m i e nto d e q u i e n es rea l i zará n l a va l o ra c i ó n , e n e l p l azo d e n u eve m eses de l a fi r m a d e l a paz,
e l ti e m po pa ra rea l i zaria, ocho m eses, y e l d e pago efectivo, seis m eses más. Se excl uye d e la
restitu c i ó n a l o s b i e n es eclesi ásticos p o rtu g u eses e n Casti l l a , co nfisca dos e n razó n d e i C i s m a :
s u s o l u c i ó n se rem ite a l a d e i p r o p i o C i s m a . S i m i l a res co n d i c i o n es p revé e l a rt. 7 s o b re l a
i n d e m n izaci ó n p o r b i e n e s d e caste l l a n os exi l i a d os e n Po rtu g a l , co n l i g e ra s va r i a c i o n e s e n l o s
p l azos y l a exce pci ó n d e q u e e l p a g o se efect ú e u n a v e z ratifi cadas l a s treg u a s p o r J u a n 1 1 , c u m ­
p l i d os l o s cato rce a n os, e n l a fo r m a p revi sta .
106 Po rt u g u es e s y caste l l a n o s s e r á n j u z g a d o s y p o d r á n a c u d i r a l o s t ri b u n a l es c o m o
n a t u ra l e s d e i o t r o re i n o ( a rt. 1 0 ) ; s e deta l l a e l p roced i m i e nto p a ra e l l i b ra m i e nto d e a pe l a ­
c i o n e s , y p a ra l o s req u e ri m i e ntos, a s í co m o l a s re p re s a l i a s y co n d i c i o n es q u e d e b e n c u m ­
p l i rse ( a rt . 1 1 ) , l o rel ativo a l a va l i d e z d e l a s s e n te n c i a s , l a s a pe l a c i o n e s y l a s r e p resa l i a s p re­
v i st a s en caso d e i n c u m p l i m i e nto d e este _a c u e rd o ( a rt. 1 2 ) . Lo r e l a t i vo a la toma d e c i u d a d e s
se p revé e n e l a rt . 1 3 .
107 Se s u p l e todo d efecto d e fo r m a ( a rt. 1 5 ); se esta b l ece e l p l azo de seis m eses p a ra e l j u ra­
m e nto d e l a paz por pe rso n a s y c i u d ades, d e a c u e rd o co n l a fó rm u l a que se i ns e rta ( a rt. 1 6) , y
se re n u n c i a a todo privi l e g i o , exe n c i ó n y p roced i m i e nto especi a l , ( a rt. 1 7 ) . Los d e m á s a rtíc u l os
se refi eren especi a l m e nte a l o s tuto res q u e a utoriza n y j u ra n esta paz, ( a rt. 1 8) , j u ra n cu m p l i rl a
h a sta l a m ayoría d e e d a d d e i rey ( a rt. 1 9 ) , y se co m p ro m eten, e n s u m o m e nto, a aconsej a r l a
ratificaci ó n ( a rt. 2 0 ) .
74
'
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
de cu m p l idos los cato rce a n os108• Ta m poco olvidá hacer efectivo el recíproco d e re­
cho d e petici ó n ayu d a 109•
4. LA PAZ AM E NAZADA
Ape nas ratificada la paz, co m e nz a rá n a s u rg i r a m e nazas a su esta b i l i d a d ;
so b reve n i d a s o d e l i bera d a m e nte p l a nteadas, pa recieron a p u nto de h a cerla
i m pos i b l e . Una de d i ch a s a m e nazas l a constituyen los a ctos de ra p i n a co m o los
d e n u nciados a nte Fe rn a n d o I p o r los j u rados y e l consejo de l biza rea l izados por
fl a m e n cos y po rtu g u eses110• Disputas e i n c i d e ntes fro nte rizos como los p ro d u c i ­
dos por l a s to mas rea l izadas por los h a b ita ntes d e Va lverde e n tierras d e i M a estre
de Alcá nta ra , sobre las q u e n o se ha hecho j u sticia a pesa r de h a be rse d e m a n ­
d a d o111 ; l a resp u esta d e i m o n a rca p o rtu g u és es q u e ta l es p re n d a s son resp u esta a
otras ante r i o res rea l izadas por caste l l a nos, cuyo motivo es l a i nsuficie nte d e l i m i ­
taci ó n d e l a fro nte ra e n Va lverd e . S e h a negociado y aco rd a d o d evo l u ci ó n d e
108 Las ofertas no se materi a l izaron en el caso de Fe r n a n d o , por su tem p ra na m u e rte; en e l
d e J u a n 1 1 p o r su escasa e d a d y, d e s p u és, p o rq u e n u nca f u e efectiva m e nte req u e r i d a . L a noticia
es, proba b l e m e nte, c i e rta, a u n q u e e l c ro n i sta p o rtu g u és l a i n cl uye p a ra d e m ostra r que su exi­
gencia d u rante l a s n e g o c i a c i o n e s h a bia s i d o un m e ro p retexto . F. LO P E S , Crónica ... , 11, págs. 44 1 445 . Ta m b i é n e n Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 7, págs. 35-39.
10 9 E l 20 d e octu b re d e 1 4 1 5, expedia J o ã o I u n a cre d e n c i a l a favo r d e Á lva ro G o nzá l ez d a
M a i a , tantas veces p rota g o n i sta e n l a s cu esti o n es re l ativas a Casti l l a , q u e v a a so l i cita r a y u d a a
Fe r n a n d o I pa ra l a l u ch a contra l o s i nfi e l e s . La e ntrevi sta d e b i ó te n e r l u g a r e n Perpi fí á n ; d a d o e l
p rog reso d e l a e n fe r m e d a d d e i m o n a rca a ra g o n és, n o tuvo efecto a l g u n o . ACA. Fe r n a n d o I , caj a
1 3, n . 2490. Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 1 06, p. 225-226.
110 1 4 1 2, novi e m b re, 2 2 . Ruega a u d i e n c i a p a ra G . Ro i g y B e r n a rdo N i co l a u q u i e nes, co m o
otros h a bita ntes d e l a i s l a , h a n sufri d o e l r o b o d e d i ez cautivos m o ros p o r u n b u q u e fl a m e n co
y otro p o rtu g u és q u e l o s l l evaron a G é n ova d o n d e h a n s i d o ve n d i d os. ACA. Fern a n d o I, caj a 1 ,
n . 33. Otra ca rta d e los m i s m os, fech a d a u n d ia d e s p u és, p i d e j u st i c i a a i rey a favor d e N i co l á s
A b r i , a i q u e u n a n a o p o rtu g u esa e n trá n s ito p o r l b iza r o b ó dos cautivos m o ros. ACA. Fern a n d o
I , caj a 1 , n . 3 2 .
111 1 4 1 4, octu b re , 1 2 . M o n t b l a n ch . F e r n a n d o I p i d e a J o ã o I q u e to m e m e d i d a s res p e cto
a las v i o l e n c i a s co m et i d a s por p o rt u g u e s e s en t i e rras fro n t e r i z a s caste l l a n a s , e n p a rt i c u l a r
e n l a s d e s u h ij o S a n c h o , M a estre d e A l c á n t a r a , d o n d e h a s i d o d estru í d a u n a a l d e a y
to m a d o g a n a d o p o r h a b i t a nte s d e Va l v e r d e , p e s e a h a b e r s i d o n o m b ra d o s j u e c e s p o r
a m b a s p a rt e s . E nvia a R o d r i g o d e A l m a z á n p a ra req u e ri r resti t u c i o n e s y l a a d o pc i ó n d e
m e d i d a s p a ra q u e ta l e s h e c h o s n o s e p ro d u zca n . A . C . A. R e g i stro 2405, f . 5 6v. Mo n u m e n ta
Hen ricin a, 1 1 , d o e . 37.
75
Vice nte Á n g e l Á l v a rez Pa l e nz u e l a
p re n d as, l o q u e h a n h echo l o s p o rtu g u eses s i n q u e l o s caste l l a nos h aya n h ech o
l o p ro p i o , pese a q u e así se l o h a req u e r i d o a l a rei n a Cata l i n a 112•
Ou izá tiene m ayo r e nverg a d u ra l a sospecha d e i mp l icaci ó n d e a g e ntes por­
t u g u eses e n a poyo d e l a rebe l i ó n d e i co n d e d e U rg e l , i n i c i a d a e n m ayo d e 1 4 1 3,
i ncl uso e n u n a co n s p i ra ci ó n pa ra asesi n a r a Fern a n d o I . E n j u n i o d e ese a fi o escri­
b ía ai rey e l g o b e r n a d o r g e n e ra l dei rei n o de Va l e n c i a exp l i cá n d o l e los pormeno­
res de l a d ete n c i ó n de u n p o rtu g u és, Ped ro Ea nes, q u e h a b ía s i d o s o m etido a tor­
tu ra , y e n cuyo poder se h a b ía n e n co ntra d o ca rtas co m p ro m eted o ra s113• E n e l
m is m o s e n t i d o l e escri ben los j u rados d e Va l e n c i a , respa l d a n d o l a a ctu a c i ó n d e i
g o b e r n a d o r114•
En re l a c i ó n co n este m i s m o asu nto, en oct u b re d e ese m i s m o a fi o, m o m e nto
c u l m i na nte de la resi ste n c i a d e i co n d e de U rg e l en B a l a g u e r, i nfo r m a n a i rey los
có n s u l es d e Pe rp i fi á n d e i a rresto de G ó mez Pa is, un s ú b d ito p o rtu g u és, s u p u es­
ta m e nte en m i s i ó n d i p l o m ática a nte el d u q u e de M i l á n , cuya va l ij a h a n i n spec­
ci o n a d o . Le d a n noticias sobre las s u p u estas co n ce ntra c i o n es d e tro pa s e n ayuda
d e i co n d e d e U rg e l , i n existentes o i rr!31 eva ntes, proba b l e m e nte p ro p a l a d a s por
a g e ntes d e i co n d e115• Tras l a ca ída d e B a l a g u e r y l a prisión d e i co n d e d e U rg e l , fue
ta m b i é n j uzgada y co n d e n a d a s u m a d re por i ntenta r e nve n e n a r a Fe rn a n d o I y a
s u s h ijos y por contactos co ntra é l e n Po rt u g a l 116• Ad e m á s d e i pertu rba do
a m b i e nte de desco nfi a nza, pod ría n dar veros i m i l it u d a estas contactos e l h echo
d e q u e, ya e n 1 4 1 0, João I y M a rtin I h u bi e ra n ! l eg a d o a un a c u e rd o p a ra e l m atri­
m o n i o d e i i nfa nte portu g u és Ped ro co n Leo n o r, h e r m a n a dei co n d e d e U rg e l 117•
11 2 1 4 1 4, nov i e m bre, 9. S i ntra . Ad e m á s , sena la e l m o n a rca p o rtu g u és otros i n c i d e ntes co m o
l a d estru cci ó n d e m oj o n e s p o r u n co m e n d a d o r d e l a Ó rd e n , r a z ó n p o r l a q u e h a n s i d o n o m bra­
dos n u evos j u eces, caste l l a n o y portu g u és . Po r su p a rte h a ordenado que se proceda en d e recho
y le pide q u e se haga l o m is m o p o r p a rte caste l l a n a . C o n s i d e ra q u e l a adecuada d e l i m ita c i ó n es
la ú n ica so l u c i ó n d efi n itiva . A.C.A. Fern a nd o I , caj a 1 3, n. 2549. Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 38.
11 3 1 4 1 3, j u n i o, 8. Va l e n c i a . Le co m u n i ca q u e h a s u s p e n d i d o el p roced i m i e nto o bedeci e n d o
s u o r d e n d e 1 d e j u n i o , p e ro q u e está seg u ro d e b e p roseg u i rse p a ra p o n e r a i descu b i e rto l a
t ra m a . Le aseg u ra q u e se h a p roce d i d o recta m e nte, a u n q u e e l dete n i d o h a sufrido a l g u nos
d a nos, y que se e q u ivoca n q u i e nes l e han a co n sej a d o o rd e n a r s u pu esta e n l i be rta d . ACA.
Fern a n d o I, caja 1 , n. 245.
11 4 1 4 1 3, j u n i o, 1 5 . Va l e n c i a . A.C.A. Fern a n d o I , caj a 2, n . 257.
11 5 1 4 1 3, oct u b re, 7, s á b a d o . Perpi n á n . Dicen q u e m a n ifi esta s e r e nvi a d o d e i p r i m o g é n ito d e i
rey d e Po rtu g a l , d o n Alfo n s o ( s i c ) , p a ra conce rta r s u matri m o n i o co n l a d u q u esa d e M i l á n . E n e l
a s u nto d e l a s co nce ntraci o n es d e tropas l e co m u n i ca n q u e t i e n e n e s p i a s e n G ascu n a y To u l o u s e
y q u e t a l e s n o t i c i a s p a recen fa lsas. A.C.A. Fern a n d o I , c a j a 3, n . 465.
116 Crónica d e Juan //. . . , 1 4 1 3, c a p . 25, p á g . 357.
11 7 Monumenta Henricina , 1 1 , does. 1 4 1 y 1 42 .
...
76
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
La ca m p a n a de Ceuta, u n a i m pe n s a d a a m e n aza p a ra l a paz, causá u n
extra o rd i n a ri o sobresa lto, especi a l m e nte e n Ara g á n ; co rri eron los m á s d i s p a rata­
dos ru m o res sobre e l d esti n o d e l a exped i c i á n q u e se p re p a ra ba , d e ta l fo rma q u e
casi todos l o s veci n os118 s e si ntieron a m e n azados e n a l g u n a fo rma, a u n q u e fu e
Fe rn a n d o I , a i m e n o s d e c u e rd o co n l a docu m e ntaci á n d e q u e d i s p o n e m os, e l q u e
mostrá u n m ayo r n e rviosismo, acaso p o rq u e e ra e l q u e h a b ia p u esto m á s o bstá ­
cu l os a l a paz co n Po rtu g a l .
Provoca te n s i á n e n Casti l l a : desde l a co l o n i a g e n ovesa e n Lisboa l l ega l a
n oti c i a de los p repa rativos b é l i cos a sus co m patriotas d e Sevi l l a co n e l co n sej o
de q u e po n g a n a b u e n reca u d o s u s b i e n es e n l a c i u d a d . L a s it u a c i á n fu e trata d a
p o r l o s veinticuatro d e Sevi l l a , q u e envi a ro n n oticia a l a Co rte, entonces e n
Pa l e n c i a , e n pa rticu l a r a J u a n d e G uz m á n , e nto n ces o bispo de Ávi l a , sol i cita n d o
i n stru cci o n es a i respecto119•
Discutido e l a s u nto e n e l Consejo, p o b l a d o d e hech u ras d e Fe rn a nd o I, el
Ad e l a nta do d e Cazo rla d esaco n sejá la a d o p c i á n d e m e d i d a s d e d efensa porq u e
co n stit u i ria n u n u ltraj e pa ra e l rey d e Po rtuga l , a i d a r p o r s u p u esto q u e v i o l a ria l a
paz; p ro p u so e l e nvio d e u n a e m baj a d a pa ra req u e r i r l a ratifica c i á n d e l a m i s m a :
s i l o h acía, te n d ria n u n a g a ra ntia, s i po n ia excusas p a ra e l lo, pod ria n a d o pta r
m e d i d a s d e d efensa a bi e rta m e nte.
Se deci d i á e l e nvio de u n a e m baj a d a caste l l a n a , i nteg ra d a p o r don Á lva ro de
l s o r n a , o b i s po d e M o n d o ii edo, y Dia Sá n ch ez d e B e n avides, co n o bj eto d e ped i r
l a ratificaci á n y ta m bi é n trata r sobre l a s ca ptu ras d e ba rcos y l o s p ro b l e m a s fro n ­
terizos120. Se tem ia u n a recepci á n fria , i nc l u so hosti l , a l a e m baj a d a , d e s p u és d e i
d e l i bera d o retraso q u e se h a bia i m pu esto a l a confi r m a c i á n q u e a h o ra se rec l a ­
m a b a . F u e ro n m a g n ifica m e nte reci b i d os, e l rey p o rtu g u és y s u s h ijos j u ra ro n l a s
paces, e i n cl uso los gastos de l a e m baj a d a , d u ra nte s u esta n c i a e n Po rt u g a l , co r­
ri ero n a cargo de João ! 121 .
118 Desde l u eg o , l o s g ra n a d i nos se s i nt i e ro n a m e nazados y envi a ro n u n a e m baj a d a p a ra
o bte n e r g a ra ntías. Z U RARA, Crónica . . . , eap . 34. Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 47.
11 9 ZU RARA, Crónica da tomada de Ceuta, e a p . 3 1 . Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 39.
1 20 Z U RARA, Crónica , ea p . 3 2 . Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 40.
...
121 M a g n ífiea m e nte a l ojados y e s p l é n d i d a m ente a p rovi s i o n a d o s p o r e u e nta d e i rey. Vi d .
1 4 1 5, e n e ro, 1 0 . Saeave m . Ca rta d e q u ita e i ó n d e J o ã o I a favo r d e J o ã o Rois p o r l o s gastos
heehos e n e l m a nte n i m i e nto d e l a e m baj a d a dei o b i s p o d e M o n d o ri e d o y Díaz S á nchez de
Benavides. A. N .T. T. C h a ncel e ría d e João I , l i b ra 5, fi . 97. Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 50, p . 1 221 23 . En el cu rso d e la e m baj a d a e nfe rmá Día S á n ch ez d e B e navides; e l rey p o rtu g u ês p u so a d i s ­
posición d e i e m baj a d o r a s u s p r o p i o s m é d i cos q u e, no o bsta nte, no p u d i eron i m pe d i r s u fa l l e­
c i m i e nto.
77
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n zu e l a
Estos h ech os co n stitu ia n u n a g a ra ntia pa ra Casti l l a , pero, por e l l o m i s m o ,
perm itia n s u po n e r q u e l a fl ota q u e se prepa ra ba ataca ria Ara g á n 122• A fi n a l es de
n ovie m b re, Fe rn a n do I desti n a ba u n a e m baj a d a a Po rJ: u g a l 123, co n i nstrucci o n es
m uy deta l l adas, pa ra entrevi sta rse co n e l Rey, l a Re i n a y con e l co n desta b l e N u n
Alva res Pe re i ra , co n o bj eto d e d esca rta r q u e e l o bj etivo d e l a fl ota p o rt u g u esa
fuese i ntenta r l i bera r ai co n d e d e U rg e l , co m o pod ria n i n d ica r a l g u nos docu m e n ­
t o s h a l l a d os e n poses i á n d e su m a d re, l a co n q u i sta d e i re i n o d e Va l e n ci a , o l a co n ­
q u i sta d e Sicí l i a e n co n n iven cia con l a reg e nte B l a nca, y o bte n e r j u ra m e nto
escrito en ese se nti do o, a i m e n os, u n a ca rta d i ri g i d a a i sobera n o a ra g o nés q u e
conte n g a g a ra ntias expl icitas124•
Las g a ra ntias p o rtu g u esas fu e ro n p l e n a s : J o ã o I fe l i citá a Fe rn a n d o I p o r
h a be r a l ca nzado u n tro n o y l e co m u n icá q u e p ro nto co n oce ria e l dest i n o d e l a
fl ota q u e, a h o ra , s e veia o b l i g a d o a m a nte n e r e n secreto; ta m b i é n l a Rei n a ofre­
c i á l a s m ayo res g a ra ntias de q u e n a d a se p re p a ra ba co ntra Ara g á n 1 25• Au n q u e
esta res p u esta d e b e ria h a be r s i d o sufi c i e nte pa ra tra n q u i l iza r l os á n i m os126,
Fe rn a n d o I m a ntuvo a b i e rtas tod a s l a s vias pos i b l es de i nfo rm a ci á n 127 y u n a
1 22 1 22 As í lo i n d i c a ZU RARA, Crónica . , Zu rara, Crónica, ca p . 33. Monumenta Henricina,
..
doe. 1 1 , 46, 1 1 , y lo confi r m a p l e n a m e nte la docu m e ntaci ó n co n o c i d a .
1 23 1 4 1 4, novi e m b re, 28. M o nt b l a n ch . Cred e n c i a l es a favo r d e S u e ro de N ava y Da l m a u d e
S a n D i o n is, e m baj a d o res a nte J o a o I , a nte l a re i n a Fe l i pa y a nte e l C on d esta b l e . A.C.A., Reg .
2406, f. 53. lbid. f. 53v. lbid. f. 54, respectiva m e nte. Monumenta Henricina, 1 1 , does. 42, 43 y 44,
respectiva m e nte.
1 24 A. C .A. Reg . 2 . 406, f. 54. Monumenta Henricina, doe. 4 1 , 1 1 , 1 06-1 08.
1 2 5 1 4 1 5, e n e ro, 9. Sacave m . A.C.A. Alfo ns o V, caja 1 8, n . 1 . Mo nu menta Henricina, 1 1 , doe. 49,
p- 1 2 1 - 1 22 .
1 26 1 4 1 5, m a rzo , 2 2 . Va l e n c i a . Fe r n a n d o I a g radece a J o ã o l i a acog i d a d a d a a s u s e m baja­
d o res y l a respu esta dada, ya esperada, te n i e n d o e n c u e nta e l pa re ntesco y a m ista d . A,C.A.
Reg i stro 2405, f. 1 42v. Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 5 5 . Aparente m e nte, Fe r n a n d o I se dio por
p l e n a m e nte sati sfecho con l a s ga rantias rec i b i d as; sin e m b a rgo, l a s m e d i d a s a d o ptadas d es­
m i e nten esa i m p res i ó n .
"' 1 4 1 4, d i c i e m b re, 5 . Va l e n c i a . J o a n M e rcader, ba i l e g e n e r a l d e Va l e n ci a notifica a
Fern a n d o I l o q u e ha pod i d o s a b e r p o r decl a ra ci ó n d e i patró n d e u n ba rco caste l l a n o , q u e v i e n e
d e Po rtu g a l , s o b re l o s prepa rativos d e a r m a d a q u e a l l í se h a ce n . A.C.A. Fern a n d o I , caj a 1 0, n .
1 7 59. Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 45.
1 4 1 5, e n e ro, 2 . J u a n Otg e r co m u n ica a Fern a n d o I que h a to m a d o m e d i d a s d e d efe nsa e n
l b iza p o r s i l a flota p o rtu g u esa q u e se prepa ra a ct u a ra co ntra e l los; p i d e a i rey q u e l e i nfo r m e
p a ra q u e m a nte n g a l a s m e d i d a s o l a s s u s p e n d a p a ra evita r l o s g ra n d es g a stos q u e h a h e c h o l a
i s l a . A.C.A. Fe r n a n d o I , caj a 6, n . 9 3 6 . Monumenta Henricina, 1 1 , d o e . 48 .
1 41 5, fe brero, 23. C a l a moch a . G u i l l e r m o M i r i nfo r m a a Fe r n a n d o I q u e el c o n d e d e
Arm a g n a c h a re u n i d o u n i m po rtante conti n g e nte a rm a d o , q u e l o s i n g l eses h a n c a u s a d o i m p o r-
78
I b é r i a : Quatroce ntos/Qu i n h e ntos
a ctiva red de e s p i o n a j e pa ra conocer el vo l u m e n , c a p a c i d a d y desti n o de l a
fl ota 128•
Es peci a l i m p o rta ncia tiene l a m i s i ó n d e Ruy D íaz d e Vega e n Lisboa, co m o
"
envi a d o d e Fern a n d o I , e n rea l i dad c o m o o bserva d o r d e los prepa rati vos q u e a l l í
s e h a ce n . E s e l a uto r d e u n d eta l l a d ís i m o i nfo rm e129 e n e l q u e, co n d eta l l es casi
n ovel escos, i nfo rma s o b re l a fa bricaci ó n d e m á q u i n a s de g u e rra , l a prepa raci ó n
d e p rovi s i o n es p a ra u n os tres m eses, e l n ú m e ro d e co m batie ntes y m a ri n as, l a
p rocedencia d e a l g u nos ba rcos q u e i nteg ra rá n l a fl ota j u nto a los p o rtu g u eses, y
l os d ife rentes d esti nos q u e se s u p o n e n . Ad emás, trasm ite a n á l i sis p o l íticos h o n ­
d a m e nte p reoc u pa ntes p a ra e l a ra g o n és, co m o q u e se p rete n d a d e s p l aza rle de l a
reg e n c i a e n Casti l l a , q u e desem pefía ría n co nj u nta m e nte Cata l i n a y e l rey p o rtu­
g u és; que l a re i n a , y un g r u po de caste l l a nos, n o d esea e l m atri m o n i o de s u s h ijos
co n los d e i I nfa nte, sino co n los d e i rey d e Po rtu g a l ; un pos i b l e m atri m o n i o de la
rei n a Beatriz co n e l infante p o rtu g u és Alfo n so; posi b l es m a n i o b ras de don
Fa d ri q u e d e Lu n a , cuyo sentido d esco noce, o d e i obispo d e M o n d o fí ed o'30, a m bos
e n contacto m uy frecu e nte co n e l rey d e Po rtuga l , y otras n oticias d i ve rsas.
�
ta ntes d a n o s e n Fra n c i a , y q u e l o s reyes de Po rtu g a l e I n g l ate rra está n h a c i e n d o g ra n d es p re­
pa rativos bél i cos cuyo desti n o desco n oce. A.C.A. Fe r n a n d o I , caja 6, n. 898. Monumenta
Henricina, 1 1 , doe. 53.
1 28 1 4 1 5, a b r i l , 3. Va l e n c i a . Fe r n a n d o I o r d e n a a Ruy Díaz de Vega q u e I e i nfo r m e d e i n ú m e ro
de p i l otos q u e l l eva la a rm a d a po rtu g u esa, su p roce d e n c i a e i d i o m a , vo l u m e n de vitu a l l a s y
m e rca ncias y c u a ntas ci rcu n sta n c i a s respecto a l a s m i s m a s p u e d a ave r i g u a r. A.C.A. R e g i stro
2406, f. 1 27v. Monumenta Henricina, 11, doe. 56, p . 1 3 1 .
1 29 1 4 1 5, a b r i l , 23. Lisboa. A.C.A. C a rtas rea l es, caja 1 , Fern a n d o I , n . 3 . Pub. Javi e r d e S a l a s ,
D o s cartas sobre l a expedición a Ceuta en 14 1 5, p . 3 1 8 y s i g s . Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 57,
p . 1 32- 1 45 . Es u n docu m e nto d e i m po rta n c i a exce pci o n a l p a ra e l conoci m i e nto de los tensos
m o m e ntos que se vive n . Ape n a s reci b i d o este i nfo rm e , Fe r n a n d o I l e pide m á s i nfo r m a c i ó n y I e
e nvía u n a c a rta p a ra la re i n a , co a rtada q u e el a g e nte a i s e rvicio d e i m o n a rca a r a g o n é s p recisa
p a ra j u stifica r s u p rese n c i a e n Po rtu g a l q u e, seg ú n é l o p i n a , n o satisfa ce d e m a s i a d o . 1 4 1 5,
m ayo, 1 8 . Va l e n c i a . Ca rta d e Fe r n a n d o I a Ruy Díaz d e Veg a . Acusa recibo d e l a suya, le p i d e q u e
l e i nfo r m e a m p l i a m e nte y l e e nvía l a ca rta d esti n a d a a l a rei n a q u e l e p i d i ó . A.C.A. R e g i stro 2408,
f. 5 . Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 58.
'3 0 En efecto, d o n Á lva ro d e ! s o r n a , obispo d e M o n d o fíedo, h a bía enviado varios m e n s a ­
jes, e ntre e l l o s a J u a n G ó m ez d a S i lva, a lférez d e J o ã o I . E l d ía a ntes d e z a r p a r l a flota, s i n d u d a
p a ra t ra n q u i l i za r l o s á n i mos, J u a n G ó m ez escri be a i o b i s p o d á n d o l e c u e nta d e i n ú m e ro d e
n avios, 2 7 0 , d e los h o m b res q u e i nteg ra n l a fu e rza exped i c i o n a ri a , 7. 500 h o m b res d e a rmas,
5 . 0 0 0 b a l l esteros y 2 1 . 0 0 0 p e o n es, y d e i dest i n o d e l a misma, M a rruecos. La m e nta n o h a b e r
p o d i d o i nfo r m a r l e a ntes p o r ca rece r d e p e r m i s o d e i rey. A.C.A. Alfon so V, caj a 1 5, n . 1 9 .
Monumenta Henricina, 1 1 , d o e . 68, p . 1 64.
79
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e nz u e l a
Ape n a s u n d ía d e s p u é s d e l a sa l i d a d e L i s b o a d e los ú lti m os b u q u es de l a
fl ota , escribe Ruy Díaz d e Vega su ú lti m o i nfo rme. Da c u e nta d e i fa l l eci m i e nto y
sepe l i o d e l a rei n a Fe l i pa , l a s ú lt i m a s h o ras d e João I e n. tierra , l a sa l i d a de l a fl ota
y, co n adecuada i nfo rm a c i ó n , aventu ra q u e el d esti n o de la fl ota es G i b ra lta r o
Ceuta131 • Ape n a s to m a d a Ceuta, João I co m u n icaba este h ech o a i rey de Ara g ó n 132
y éste l e fe l i cita ba por e l éxito o bte n i d o'33: así se ce rra ba u n a a m e n aza q u e h a b ía
g ravita d o sobre l a s paces fi rmadas.
5 . E L CAM I N O HACIA LA PAZ
La m u e rte d e Fe rn a n d o I y, poco d e s p u és, d e l a re i n a Cata l i n a y d e los m i e m ­
b ras m á s s i g n ifica dos d e i eq u i po de g o b i e r n o caste l l a n o , p rovoca n u n ca m bi o e n
e l p a n o ra m a p o l ítico cuya m a n ifestac i ó n m á s visi b l e es l a t o m a d e i p o d e r p o r l o s
I nfa ntes d e Ara g ó n . L a p a z co n Po rtu g a l , p e n d i e nte d e ratificaci ó n h a sta q u e J u a n
1 1 a l ca n ce l a m ayo ría d e e d a d , se co nve rti ría e n u n o d e los fa cto res d e l a ten s i ó n
i nte r n a e n Casti l l a y, a s u vez, l a p u g n a pol ítica i nterna caste l l a n a i ba a provoca r
u n retraso de a q u e l l a ratificaci ó n y serias va c i l a ci o nes e n e l ca m i n o q u e fi n a l ­
m e nte l l eva rá a l a paz.
En oto n o d e 1 41 8 l l eg a ba a Casti l l a u n a e m baj a d a i nteg ra d a por Joao G ó m es
d a S i lva, M a rt i n d o Sem y Fe rn á n G o nzá l ez B e l ea g u a , los d i p l o m áticos q u e
h a b ía n l l eva d o l a s d u rís i m a s negociaci o n es d e l a p a z d e 1 4 1 1 . Au n q u e fa lta ba n
a p e n a s u n os m eses p a ra q u e e l m o n a rca a l ca nzase l a edad de cato rce a n os, se
les res po n d i ó q u e a h o ra n o podía ratifi ca r la paz, q u e vo lvi e ra n c u a n d o efectiva­
m e nte h u b i e ra cu m p l i d o a q u e l l a edad 134• Pocos m eses después, e n j u n i o d e 1 4 1 9,
1 3 1 A . C . A . C a rt a s R e a l es , Fe r n a n d o I , caja 6, n . 9 6 9 . P u b . J avi e r d e S a l a s , Dos cartas
sobre la expedición de Ceuta , p. 3 3 6 . Monumenta Henricina, 1 1 , d o e . 7 1 . Ta m b i é n reci b i ó
n o t i c i a s d e Lo p e d e M e n d oz a , a rzo b i s p o d e C o m poste l a , q u e h a b í a e n v i a d o v a r i o s a g e ntes
p a ra co n o c e r n o t i c i a s d e la fl ota . Le e nv i a u n a c a rta d e J u a n G ó m ez d a S i l v a , sin d u d a s i m i ­
l a r a l a reci b i d a p o r e l o b i s p o d e M o n d o n e d o . A. C. A . A l fo n so V, c a j a 1 5, 1 59 . Monumenta
Henricina, 1 1 , d o e . 74.
1 32 1 4 1 5, ag osto . Z u ra ra , Cró n ica, cap. 9 1 . V. d e SANTAR E M , Quadro Elementar , I, 295.
...
Monumenta Henricina, 11, doe. 97.
1 33 1 4 1 5, octu b re 1 8 . Pe rpi n á n . La fech a i n d i ca un c i e rto retraso q u e e l m o n a rca j u stifica co n
l a g rave e n fe r m e d a d q u e ha sufrido e l mes p a s a d o . ACA, reg . 2409, f. 1 04v. Monumenta
Henricina, 1 1 , doe. 1 06 .
1 34 L. S U Á R EZ, R e l a c i o n e s e ntre Po rtu g a l . . . , p á g . 38-39. C ró n i ca s d e J u a n 1 1 . 1 4 1 8, c. IV, p .
375. M o n u m e nta H e n ri c i n a , 1 1 , doe. 1 50 .
80
I bé ri a : Quatroce ntos/Qu i n h e ntos
l l ega ba n n u eva m e nte a Segovia co n i d é ntico req u e ri m i e nto . Tras co n s u lta r co n el
Consejo, J u a n 11 respo n d i ó , g a n a n d o tiem po, q u e envia ría u n a e m baj a d a 1 35•
La to m a dei poder por el i nfa nte E n ri q u e i ba a retras9 r e l e nvío de esa e m ba­
jada. Se debatió áspera m e nte respecto a l a m isma esta ndo la Corte e n Ta l avera , tras
el matri m o n i o de E n ri q u e y Cata l i na , lo q u e l e hacía senti rse especi a l m e nte fu e rte.
Son sus p a rti da rios i os q u e i m po n e n q u e, a ntes de la ratificación de la paz, se reú n a
u n poderoso ej ército q u e i n d uzca a i rey portu g u és a acepta r cu a l q u ie r co ndición
q u e se l e ponga136• E ra , a l o su mo, u na dem ostraci ó n de fu erza a nte Po rtu g a l , pero,
sobre todo, un media de disponer de d i nero para los enfrenta m i e ntos i nternos.
Solo d e s p u és d e l a ca ída de don E n ri q u e, y tras fu e rtes de bates e n e l seno
d e i dividido Consejo, se e nvía fi n a l m e nte l a espera d a e m baj a d a1 37; pero su m is i ó n
n o e s l a ratificación d e l a paz, d e cuya fi rma h a n trascu rri do y a ocho a n os, s i n o l a
negociaci ó n de n u evas co n d i c i o n es y su fi rma p o r e l m e n o r espacio d e ti e m po
posi b l e . La e m baj a d a p e rm a n ecería e n Po rtu g a l casi dos a n os: ta n l a rga d u raci ó n
s e d e b e a q u e, de h ech o, se a b ría u n a n u eva negociaci ó n , pero, q u izá m á s a ú n , a
l a i n esta b l e situ a c i ó n i nte rna caste l l a n a .
Alcanzadas l a s bases de u n a c u e rd o , J o ã o I rem itía u n a e m baj a d a a Casti l l a
pa ra l a fi rma ofi ci a l d e i n u evo tratado138, q u e J u a n 1 1 j u rá e h izo p u b l i ca r e n Áv i l a ,
e l 30 d e a b ril d e 1 423139; a conti n u ac i ó n , fu e ro n e nviados de n u evo a Po rtuga l
Alfo nso G a rcia d e Sa nta M a ría y J u a n Alfo nso d e Za m o ra , negoci a d o res d e i
n u evo a c u e rdo, pa ra esta r p rese ntes e n l a j u ra d e i m i s m o por João I , q u e ordená
su p u b l icaci ó n e n S i ntra e l 4 d e sept i e m b re d e este a n 0140•
1 35 Crón ica d e J u a n 11 . . . , 1 4 1 9, c.VI I I , p . 379. Monumenta Henricina, 1 1 , doe. 1 58, p . 3 1 8-3 1 9 .
1 3 6 Crónica de Juan //. . . , 1 420, c.XX I I , p. 388-389 . A l a s C o rtes reu n i d a s ai efecto se l e s
req u i eren recu rsos p a ra reu n i r u n a g r a n a rm a d a y u n ej é rcito d e 8 . 0 0 0 l a nzas y 30 . 0 0 0 peones,
pres u p u esta do e n 1 20 m i l l o n es d e m a ravedís.
1 37 La i nteg ran Alfo n s o G a rcía d e Sa nta M a ría, deán d e S a n t i a g o , afecto a l o s aragoneses,
a u n q u e no a la pos i c i ó n d e i i nfa nte E n ri q u e , a q u i e n h a bía tras m it i d o l a s órdenes de no to m a r
poses i ó n d e l a s vi l l as d e i m a rq u esado d e Vi l l e n a (vi d . L . F E R N Á N D EZ GALLAR DO, Afonso de
Cartagena. Una biogra fía política en la Castilla dei siglo XV. Va l l a d o l i d 2002, págs. 1 1 4- 1 1 9 ) , y
J u a n Alfo nso de Za m o ra , escri b a n o de Cá m a ra , h o m b re d e l a confi a nza de d o n Á lvaro. Crónica
de Juan //. . . , 1 42 1 , c. 34, p a g . 4 1 1 . L. S U Á REZ, Relaciones entre Portugal . . , p á g . 39-40 .
·
1 3 8 La i nteg ra n Fern a n d o de Castro, q u e resu lta ria h e ri d o en u n a de l a s j u stas q u e a co m ­
pa ri a n a este t i p o d e ce l e braci o n es, y Fern a n d o Afo nso d a S i lve i ra , doctor e n l eyes. F. LO P E S ,
Crónica . , 440 .
1 39 A. N .T.T. G aveta 1 8, m a zo 1 1 , n . 4. Monumenta Henricina, I I I , doe. 37. Crónica de Juan 11,
.
..
1 423, c a p. 2 . p á g . 423.
1 40 A. G . S . Patro n ato Rea l , l e g . 49, fo i . 1 6 . L. S U Á REZ, Relaciones entre Portugal
...
, d o e . 47,
p . 1 79- 1 8 1 . Monumenta Henricina, I I I , doe. 40 .
81
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n z u e l a
E l a c u e rdo ta n penosa m e nte a l ca nzado n o e ra una paz, so l a m e nte una tre­
g u a , h a sta el 6 de m a rzo de 1 434, fech a en q u e el m o n a rca caste l l a n o cu m p l i ría
vei nti n u eve a n os: d u ra nte ese ti e m po h a b ría paz y se Eilsta b l ecía u n a g a ra ntía de
un afio y m e d i o sin h osti l i d a d es desde l a d e n u ncia d e l a tre g u a por u n a de las
p a rtes. Tres son ese n ci a l m e nte l a s n oved ades de este n u evo trata do141 : e l reto rno
a un s i m p l e acuerdo d e treg uas, a nte l a i m posi b i l i d a d de a l ca nzar l a paz plena; e l
re p l a ntea m i e nto d e l a s i n d e m n izaci o n es, a l a s q u e se h a b ía re n u n c i a d o e n e l tra­
ta d o d e 1 4 1 1 , p a ra l o q u e se n o m b ra rá un j u ez por cada rei n o y se p i d e a M a rtín
V e l n o m b ra m i e nto d e un j u ez i n d e pe n d i e nte d e las pa rtes142; y l a reite ra d a m e n ­
c i ó n d e l a re i n a Beatriz y los eve ntu a l es d e rech os q u e d e e l l a pod ría h e red a r e l
m o n a rca caste l l a n o143•
A pa rt i r d e este m o m e nto i rru m pe en las re l a c i o nes caste l l a n o- p o rtu g u esas,
co m o e n e l resto d e l a po l ítica pen i n s u l a r, l a fig u ra d e Alfonso V, que vuelve a su
re i n o de Ara g ó n d i s p u esto a o rd e n a r l a situ a c i ó n fa m i l i a r, los i nte reses caste l l a ­
nos d e l a fa m i l i a y s u p ro p i a reta g u a rd i a a ra g o n esa p a ra vo lver d e n u evo, co n
bases m á s fi rm es, a l a áspera p o l ítica ita l i a n a . Pasos ese n ci a l es d e esa po l ítica
so n : l a reco n c i l i a c i ó n co n su h e r m a n o J u a n , d u q u e de Pe nafi e l y rey d e N ava rra
( pa cto de To rre de Arc i e l , de ag osto de 1 425); la p u esta en l i bertad de su h e r m a n o
E n ri q u e, e n octu b re d e e s e a fi o; e l a n u ncio d e i co m p ro m iso m atri m o n i a l de su
h e r m a n a Leo n o r co n e l h e redero p o rtu g u és, D u a rte, e n ag osto d e 1 427144, y, u n
m es después, l a s a l i d a d e Á lva ro d e Lu n a d e l a corte, d esterra d o d u ra nte a fi o y
medio.
Pru e b a d e l a n u eva situ a c i ó n , pocos d ía s d e s p u és, Casti l l a y Po rtu g a l fi r­
m a b a n u n a c u e rd o , p rá ct i ca m e nte u n a a d d e n d a a l a s treg u a s de 1 423, q u e
1 4 1 Vi d . ta m b i é n l a s observa c i o n e s h ech a s p o r m í a este a c u e rd o e n " Li be rtad d e co m e rcio
y seg u ri d a d m a ríti m a . . ."
1 42 Art. 4. Esta s o l icitud fu e p resenta d a ai Pontífice por Á lva r Pérez B a rreg u ín , d e á n d e Leó n ,
res i d e nte d u ra nte v a r i o s a n os e n Ro m a , p o r razo nes perso n a l e s y d e l a sede l e g i o n e nse, y p o r
J u a n d e O l m e d o , e nvi a d o especi a l m e nte p a ra e l l o . A. G . S . Patro n ato rea l , l e g . 4 9 , f . 1 7. L .
S U Á REZ, Relaciones entre Portugal , doe. 4 8 . Monumenta Henricina, I I I , doe. 47.
1 43 E n tres oca s i o n es, a rts. 1 , 6 y 7, se cita a l a re i n a Beatriz; a u n q u e se h a ce p a ra g a ra nti- '
.
z a r q u e no será a rg u m e nto de ru ptu ra de estas treg u as, su m e n c i ó n h a b ía d e t e n e r ta m b i é n u n
...
c i e rto ca rácter coactivo .
1 44 E l d ía 4, Alfo n so V co m u n icaba este a c u e rdo a i i nfa nte p o rtu g u és Ped ro, de viaje e n
Al e m a n i a ; este i nfa nte e r a ta m b i é n u n a i m po rtante p i eza e n l a n e g oci a c i ó n p e n i n s u l a r. A. C.A.
Chancil/ería Real, 2577, f. 32v. Pu b. Monumenta Henricina . . . , I I I , doe. 80. Una l a rga negoci a c i ó n
q u e e l m o n a rca a ra g o n és c u i d ó m u ch o p o rq u e q u e ría d ej a r c l a ro q u e t a l matri m o n i o se h a cía
por s u m e d i a c i ó n , n o d e l a co rte caste l l a n a .
82
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
co m p re n d ía cu atro ca p ítu los, ú n ica m e nte de í n d o l e co m e rci a l , desti nados a
resolver los p ro b l e m a s q u e a m bas pote n ci a s s ufría n por l a s activi d a d es corsa­
rias145.
Las re l a c i o n es caste l l a n o-portu g u esas co n stituye n , en efecto, u n o de los
ej es d e l a pugna p o l ítica e n Casti l l a e ntre los I nfa ntes d e Ara g ó n , bajo l a d i rec­
c i ó n de su h e r m a n o Alfo nso V, y el g ru po e n ca beza d o por Á lva ro de Lu n a , q u e h a
vu e lto a l a corte e n fe brero d e 1 428; es u n a so l u ci ó n a u s p i c i a d a por los p ro p i os
I nfa ntes, conve n c i d os d e co ntro l a r l a p o l ítica caste l l a n a , p a ra d a r u n a a pa ri e n c i a
d e n o rm a l i d a d . Se trata d e u n a m e ra a p a r i e n ci a : e n rea l i d a d se v i v e u na d u ra
p u g n a d e l a q u e son u n b u e n i n d i ca d o r l a s re l a c i o nes co n Po rtuga l., e n co ncreto
el m atri m o n i o de Leo n o r y el d e i i nfa nte p o rtu g u és Ped ro, asu ntos en q u e a m b o s
ba n dos p u g n a n por dej a r patente s u p rota g o n is m o .
E s e sentido tiene el d e l i berado retraso q u e Alfonso V i m puso a l a s ca pitu lacio­
nes m atri m o n i a les y a i viaje de Leo nor a Po rtuga l146 y el cuidado que puso pa ra q u e
q u edase de m a n ifiesto su p rotagon ismo y e l de sus herma nos en todó e l p roceso147•
Ta m b i é n don Á lva ro y su partido te n ía n i nterés e n presenta r la boda de Leo n'or y
145 Ratifi c a c i ó n d e l o s a c u e rdos por J u a n 1 1 el 20 d e se pti e m bre d e 1 427, e n Tu d e l a d e D u e ro
(Va l l a d o l i d } ; J o ã o I lo h a cía e n Lisboa, el 22 d e d i c i e m b re de este m i s m o a n o ; su docu m e nto
i ns e rta el dei m o n a rca caste l l a n o . Arq u i vo d a Câ m a ra M u n i c i p a l d o Po rto, Pe rga m i nos, vo l . 3,
doe. 19. Pu b . Monumenta Henricina .. , I I I , does. 82 y doe. 89.
1 4 6 1 427, d i c i e m bre, 5 . Te ru e l . Alfo n so se excusa dei retraso q u e estas a s u ntos está n expe­
ri m e nt a n d o , pese a l o s esfu e rzos d e don Ped ro d e N o ro n h a , a rzo b i s p o d e L i s b o a , p o r las g ra ­
v e s ocu paci o n es q u e se l o h a n i m pe d i d o ; p ro m ete d e s p a ch a r e s t e a s u nto a l o l a rg o d e i p ró­
x i m o m e s d e e n e ro . A.C.A. C a n ci l l e ria Rea l , Reg. 2680, f. 1 46 . Monumenta Henricina, I I I , doe.
8 5 . E l contrato matri m o n i a l se fi r m ó e n Oj os N e g ros, Te r u e l , e l 16 d e fe b r e ro d e 1 428. A. N . T. T.
G aveta 1 7, m azo 4, n . 8 . Monumenta Henricina, I I I , d o e . 9 1 . Alfo n s o pa recía d e c i d i d o fi n a l m e nte
a reso l ver este a s u nto porq u e , ese m i s m o dia, se co m p r o m etia, e n n o m bre p ro p i o y d e sus h e r­
m a n os, a q u e l a i nfa nta esté e n Po rtu g a l e n e l p l azo de d o s m eses a p a rti r d e q u e l e sea n e n t re­
g a d o s fi r m a d o s todos l o s docu m e ntos o p o rt u n o s . A.C.A. C a n c i l l e ría Rea l , R e g . 2692, f. 1 8v.
Monumenta Henricina, I I I , doe. 9 2 . La ratifi c a c i ó n de d i ch a s c a p i t u l a c i o n e s p o r J o ã o I, y l o s
i nfa ntes D u a rte, E n ri q u e, J u a n y Fe rn a n d o fu e oto rga d a e n Al m e i r i m e l 1 2 d e a b ri l d e 1 428.
Alfo n s o V otorga testi m o n i o d e s u rece p c i ó n e n Va l e n c i a , e l 2 d e m ayo d e ese ano. A.C.A.
.
C a n ci l l e ría Rea l , Reg . 2692, f. 19. C u i d a ba , n o o bsta nte, l a s b u e n a s re l a c i o nes e nvi a n d o a João
I u n os m ú s i cos d e s u casa p a ra d e l eite d e l a co rte p o rtu g u es a . 1 428, fe brero, 8. Te ru e l . A.C.A.
C a n ci l l e ria Rea l , Reg . 2577, f. 1 06 .
147 Todavía e l 1 6 d e ag osto d e 1 428, desde Va l e n c i a , oto rg a ba p o d e res a s u co n sej e ro y p ro­
to n ota rio Ped ro Ram pa ra m o d ifica r los ca p ít u l os q u e co n s i d e rase o p o rt u n o s dei contrato matri­
m o n i a l fi r m a d o e n fe brero. A. N .T. T. G aveta 1 7, m azo 8, n . 4. Monumenta Henricina, I I I , doe. 1 1 6.
Ta m b i é n J o ã o I , u n mes d e s p u és, a uto rizaba a su h ij o D u a rte a i ntro d u c i r m o d ifica c i o n e s e n l a s
83
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n z u e l a
D u a rte co m o u n aconteci m ie nto a l ca nzado g racias a su i ntervenció n : l o pusieron de
m a n ifiesto las espectacu l a res fiestas que tuvieron lugar e n Va l l a d o l i d cuando la
i nfa nta pasó por l a ciudad, e ntre abril y j u l i o de 1 428, ca 111 i n o de Po rtugal 148•
E n o rm e i nte rés m ut u o ta m b i é n en re l a c i ó n co n el I nfa nte d o n Ped ro de
Po rt u g a l , que tuvo oca s i ó n d e m a n ifesta rse co n oca s i ó n d e i reg reso d e i i nfa nte
en s u extra o rd i n a ri o viaje e u ropeo. Su p royecto e ra h a cer un viaje rá p i d o h a c i a
Po rt u g a l 149; s i n e m ba rg o, se d e s v i ó a Va l e n c i a , y e n e l cu rso d e i m i s m o a co rd a rá
u n matri m o n i o co n l s a b e P50, h ij a d e i co n d e d e U rg e l , e l riva l m á s ca racte riza do
d e Fe rn a n d o I e n Caspe, p royecto que contó co n e l a poyo d e Alfo nso V, que a g a ­
s a j ó d e m o d o extra o rd i n a rio a d o n Ped ro151 y costeó los gastos d e viaje d e l a
capitu l a c i o n es. 1 428, septi e m b re, 1 5 . E stre moz. A. N .T.T. G aveta 1 7, mazo 1 , n . 2 . Monumenta
H e n ri c i n a , I I I , d o e 1 24, y n u eva m e nt e l e a utoriza otras m o d ificacio n es, d e a c u e rd o co n Alfonso V.
1 428, oct u b re, 6. É vora . A. N .T.T. G aveta 1 7, m azo 8, n . 4. Monumenta Henricina, I I I , doe. 1 26.
Efecti va m e nte fu eron m o d ificadas e n un n u evo a c u e rd o , Coi m b ra 4 d e n ovi e m b re d e 1 428, q u e
i nc l uye u n a verd a d e ra a l i a nza e ntre e l rey d e Po rt u g a l y s u s h ijos, p o r u n a p a rte, y e l rey d e
Ara g ó n y s u s h e r m a nos, p o r l a otra , c o n co m p ro m iso d e n o p resta r ayu d a a l o s respectivos e n e ­
m i gos, exce pt u a dos los reyes d e Casti l l a e I n g l ate rra . A. N .T.T. G aveta 1 7, m azo 8, n . 4.
Monumenta Henricina, I I I , doe. 1 28 .
1 48 E stos aco nteci m i e ntos t i e n e un a m p l i o eco e n las C ró n i ca s caste l l a n as, q u e l o s reco g e n
con e l rico co l o ri d o d e l a m e nta l i d a d ca ba l l e resca . Vi d , p o r ej e m p l o , Crónica d e Juan 11 , 1 428,
caps. 7- 1 1 .
1 49 Desde B a rce l o n a , a i co m u n i c a r s u l l eg a d a , e l 1 2 d e j u l i o, m a n ifesta ba s u deseo d e p a r­
ti r h a c i a Po rtu g a l e n e l p l azo de u n a se m a n a . Monumenta Henricina, I I I , doe. 1 09 .
1 50 E n Va l e n c i a , e l 1 d e a g osto d e 1 428, oto rga b a poderes a Ai res G o m e s d a S i lva y a Estevao
Afo nso p a ra negoci a r s u m atri m o n i o con a l g u n a s e ri o ra i l u stre, s i n m e n c i o n a r su n o m bre. A.C.A.
Canci l l e ría Rea l , Reg. 261 3, f. 1 1 6 r. Monumenta Henricina, I I I , doe. 1 1 3 . E l 1 d e septi e m b re de 1 428,
desde Va l l a d o l i d , ratifica esos poderes i n cl uye n d o e l n o m b re d e l a desposa d a . A.C.A. C a n ci l l ería
Rea l , Reg . 2 6 1 3, f. 1 1 6v. Monumenta Henricina, I I I , doe. 1 20, y reitera d i ch o oto rg a m i e nto e n
Za m o ra , e l 5 d e septi e m bre. A.C.A. Canci l l e ría Rea l , Reg. 261 3, f . 1 1 6v. Monumenta Henricina, I I I ,
doe. 1 2 1 . Pode res s i m i l a res otorga Isabel a B e re n g u e r B a rute l l p a ra negoci a r s u m atri m o n i o con
e l l nfa nte. A.C.A. Canci l l ería Rea l , Reg. 2 6 1 3, f. 1 1 4r. Monumenta Henricina, I I I , doe. 1 1 4. Las capi­
t u l aciones fu eron fi r m a d a s e l 13 de septi e m b re, todo e l l o con exp reso m a n d ato d e Alfo nso V.
A,C,A, C anci l l e ría Rea l , reg . 261 3, f. 1 1 2 . Mo_numenta Hericina, I I I , 1 22 .
1 5 1 Salvoco n d u cto e m it i d o por Alfonso V a favo r d e i I nfa nte y s u co m itiva. 1 428, j u l i o, 6.
Va l e n c i a . A.C.A. C a n c i l l e ría Rea l , Reg . 2577, f. 1 70 r. Monumenta Henricina, I I I , doe. 1 06 . Tres d ías
d e s p u és co m u n ica a i B a i l e G e n e ra l l a p róx i m a l l e g a d a d e i I nfa nte y l a o r d e n d e que esté exento
d e pago d e de rech o s y t e n g a l i b re trá n s ito d e j oyas, p a n o s y otros b i e n es . A.C.A. Ca n ci l l e ría
R e a l , Reg . 2577, f. 1 7 1 v. E l 1 0 de j u l i o o rd e n a ba a las a ut o r i d a d e s cata l a n a s q u e le reci b i e r a n co n
l o s m á x i m o s h o n o res. A.C .A. C a n c i l l e ría Rea l , Reg . 2577, f. 1 73 . Monumenta Henricina, I I I , doe.
1 08 . Los i m po rta ntes g a stos d e s u esta n c i a e n Va l e n c i a , e n Monumenta Henricina, I I I , doe. 1 1 2 .
84
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
n ovi a152• De este modo po n ía térm i n o ai resenti m i e nto de los p a rt i d a rios u rg e l is­
tas, fu e rtes e n Cata l u fí a , y ce rra ba otra fue nte i nterna d e co nfl i cto.
A su I legada a Casti l l a , e l l nfa nte rec i b i ó ta m b i é n exc.e pci o n a l es m u estras d e
co n s i d e ra c i ó n por p a rte caste l l a n a , e n pa rticu l a r de J u a n 1 1 153: d e esta visita
a rra nca u n a a m i stad y u n a coi n c i d e n c i a pol ítica, ta m b i é n d e d esti no, e ntre el
I nfa nte y Á lva ro de L u n a q u e perm a n ecerá i n a ltera b l e h a sta e l fi n .
M e ro a pa rato ca ba l l e resco . Pasa das l a s fi estas, d o n J u a n , rey de N ava rra,
reci bía l a escu eta orden de a b a n d o n a r Casti l l a y e l i nfa nte E n ri q u e, a u n q u e agasa­
jado, e ra e nvi ado a l a fro ntera g ra n a d i n a . Alfo nso V solo deseaba pa rti r n u eva­
m e nte hacia lta l i a , resu e ltos de modo pacífico los p ro b l e m a s e n Casti l l a , pero las
d e l i beradas p rovocaciones de d o n Á lva ro a ca b a n e m p uj á n d o l e a decl a raciones
be l icistas : e n octu b re de 1 428 h a b l a ba a bi e rta m e nte d e i nterve n i r e n Casti l l a , a u n­
q u e e n todo m o m e nto bu scá so l u ci ones negociadas, pese a sus a l a rdes belicosos.
En vísperas d e l a g u e rra con Casti l l a , Alfo nso V e nvi a b a a Po rtu g a l a u n o de
sus a g e ntes154 p a ra q u e l a i nfa nta Leo n o r ave r i g ü e si hay a l g u n a i n i ciativa d i p lo­
m ática por pa rte d e Casti l l a , que se ría contra ria a los i nte reses d e s u s h e r m a n os,
y le i nfo rme d e l a conve n i e n c i a d e q u e las negociaci o n es se ca n a l i ce n a t ravés de
e l l os. Des p u és, si la i nfa nta l o est i m a o p o rtu no, p rese nta rá sus cred e n ci a l es ai rey
y a los I nfa ntes y les rog a rá q u e n o p resten ate n ci ó n a a q u e l l a s i n i ci ativas s i n o
por l a v í a d e i rey de Ara g ó n y s u s h e r m a nos, q u e está n p restas p a ra servi rles. S i
l a I nfa nta no co n s i d e rase conve n i e nte p rese nta r ta l peti c i ó n , q u e se m a ntenga
ate n ta pa ra hacerlo e n e l m o m e nto o p o rtu n o e i nfo rme secreta m e nte ai rey de
Ara g ó n p a ra a d o pta r l a s medidas co nve n i e ntes155•
1 5 2 1 429, m a rzo, 7. Zaragoza . Alfo n s o ordena l a entrega d e 1 . 0 0 0 fl o ri n es d e oro p a ra ayu d a
d e d i c h os gastos. A.C.A. C a n c i l l e ría R e a l , Reg . 27 1 2, f . 7 0v. Monumenta Henricina, I I I , d o e . 1 33 .
1 53 Visitá a i r e y e n Ara n d a d e D u e ro, a d o n d e l l eg á e l 23 d e a g osto . Sa l i e ro n a reci b i r l e
Á lva ro d e L u n a , D i e g o G á m ez d e Sa n d ova l , Ped ro M a n ri q u e y Ped ro Po n d e d e Leá n , i nc l uso e l
propio rey. CAR R I L LO DE H U ETE, P. Crónica de/ halconero d e Juan 11. CAR R I AZO, J . d e M . ( ed . ) .
M a d ri d , Espasa Ca l pe, 1 946, ca p . 1 1 - 1 2, p á g . 3 0 . Pe r m a n eciá c i n co d ía s e n l a co rte y, a s u m a r­
ch a , el rey l e reg a l á joyas, caba l l o s y d i n e ro p a ra s u s g a stos y d i a o r d e n de pasa r a su cargo
c u a nto necesitase d u ra nte s u viaje p o r Casti l l a . Ta m b i é n I e a g a sajá e n Pen afi e l e l rey d e N ava rra .
Crónica de Juan 1/, 1 428, ca p . 1 4, págs. 448-449 . BAR R I E NTOS, L. Refundición de la Crónica de/
Halconero. CAR R I AZO, J . de M . ( ed . ) . M a d r i d , Espasa C a l pe, 1 946. C a p . 33, p á g s . 68-69 .
1 54 1 429, m a rzo, 7. Cred e n c i a l de Alfo n s o V a favo r d e su escri b a n o d e Câ m a ra , Ped ro d e
Reus, a nte J o a o I y s u s h ijos, co n u n a m i s i á n e n a p a ri e n c i a s o l o p rotoco l a r i a . A.C.A. C a n c i l l e ría
.
Rea l , Reg . 2579, f. 39 Monumenta Henricina, I I I , 1 34.
1 55 E n vís p e ra s d e s u i rr u p c i á n b é l i ca e n Casti l l a , Alfo n s o V trata d e n e u t ra l iza r l a s p ro­
p u estas d i p l o m áticas dei bando caste l l a n o h o sti l a l o s I nfa ntes d e Ara g á n . A.C.A. C a n c i l l e ría
Rea l , R e g . 2677, f. 92v. Monumenta Henricina, I I I , 1 35.
85
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n z u e l a
Al a rd e bé l i co, m á s que a uténtico d eseo de e nfre nta m i e nto es e l que m u eve
a Alfonso V; por e l l o p revé la i nterve n c i ó n m e d i a d o ra de su esposa M a ría, la d e i
legado Ped ro d e Fo ix y , en e s a m is m a d i recc i ó n , bl,J sca u n a a p roxi m a c i ó n a
Po rtu g a P56• E n a g osto d e 1 429, cu a n d o ya l a i nvas i ó n a ra g o n esa h a b ía fracasado,
y se produ cía l a co nfiscación d e los b i e nes d e los i nfa ntes, J u a n d e N ava rra
e nvi a b a a G a rcía Az n a r a Po rtu g a l , con p l enos poderes p a ra la fi rma de cua l es­
q u i e r co m p ro m i sos157 • E ra la m is m a p o l ítica de s u h e r m a n o : i ntenta r m e d i acio­
n es q u e i m p i d i e r a n u n éxito d e m a s i a d o n eto d e J u a n l i y de Á lva ro d e L u n a y s a l ­
va r los restos d e i n a ufra g i o po l ítico.
Po r eso Alfonso V reci b i ó con s u m o a g ra d o l a ofe rta de m e d i a c i ó n rea l izada
por João 1 1 58; además D e u na eventu a l so l i d a ri d a d fa m i l i a r co n los i nfa ntes de
Ara g ó n , estrech a m e nte ce rca dos e n Al b u rq u e rq u e, ta m poco e l m o n a rca p o rtu­
g u és d esea ba un excesivo éxito dei sobera n o ca ste l l a n o . La resp u esta d e Alfonso
V, e n n o m b re d e s u s h e r m a nos, es e n t u s i a sta159; l a d e J u a n 11, co rrecta co m o e ra
n ecesa rib, pero co n la p eti c i ó n d e q u e i nfo r m e n a su s e n o r d e l o q u e h a suce d i d o
rea l m e nte e n Casti l l a .
1 5 6 Véase a i respecto l o p o r m í p u b l icado e n Extinción dei Cisma de Occidente. L a legación
dei cardenal Pedro de Foix. 1425- 1430. M a d ri d 1 977, págs. 1 1 0- 1 1 1 , y en " Re l a c i o n es e ntre Ara g ó n
y Casti l l a e n época d e Alfo n so V. Esta do de l a cu esti ó n y l í n e a s d e i nvesti g a ci ó n " . X V I C on g reso
d e H i storia d e l a Co ro na d e Ara g ó n . La escasa vo l u ntad b é l i ca d e Alfo n so V e n esta oca s i ó n ha
s i d o d e m ostra d a por MARTI N EZ SAN MARTI N , LP. Guerra, estado y organización social de la
producción: la Carona de Aragón en guerra con Castilla. 1429- 1430. An u a ri o d e Estu d i o s
M e d i ev a l es, 23, 1 993, 445-47 1 .
1 5 7 1 429, ag osto, 1 9 . C a l atayu d . A. N .T.T. G aveta 1 8, m azo 4 , n . 1 9 . Monumenta Henricina, I I I ,
doe. 1 44.
1 5 8 E n e l cu rso d e l a s o p e ra c i o n e s contra Al b u rq u e r q u e , e n d i c i e m bre d e 1 429, J o ã o I e nvía
Á
a lva ro G o n ça lves de Ata i d e y N u n o M a rtíns d a S i lvei ra p a ra actu a r como i ntermed i a rias; l o
m i s m o h a c e n l o s I nfa ntes p o rtu g u eses. Crónica d e Juan 1/, 1 429, caps. 44-45; Refundición, cap.
52, pág . 97. Ta m b i é n s u m i n i stra víve res a l o s I nfa ntes e n Al b u rq u e r q u e , Crónica de Juan 1/, 1 429,
ca p . 46, p o r l o q u e don Á lva ro a dvi rtió q u e e l l o e ra contra rio a l a paz fi r m a d a co n Casti l l a y p i d i ó
q u e n o se l e s e nviasen n i h o m b res n i víve res. Crónica d e don Á lvaro d e L una, ca p . 3 3 , págs.
1 1 7- 1 1 8.
1 59 1 430, fe brero 1 9 . Alfo n so V y Juan d e N ava rra res p o n d e n a N u n o M a rtíns d a S i lvei ra q u e
oto rga n treg u a s a i rey d e Casti l l a , desde l a fech a d e l a fi r m a h a sta fi n a l es d e m a rzo p róxi m o , s i
d a seg u ri d a d es s o b re l a s pe rso n a s y b i e n e s d e s u m a d re, l a re i n a Leo n o r, s u s h e rm a nos E n ri q u e
y Ped ro y l a i nfa nta Cata l i n a . A.C.A. Canci l l e ría Rea l . Reg . 2683, f . 5 9 . Monumenta Henricina, I I I ,
doe. 1 48. E l 1 9 d e fe brero d e 1 430, desde Ca ri fí e n a , p ro rro g a n d i cho p l azo h a sta e l 1 5 d e m ayo
p róx i m o , i n cl uyendo e n d i ch a s treg u a s a sus ofi c i a l e s y s e rv i d o res. A.C.A. C a n c i l l e ría Rea l , reg .
2683, f. 59. Monumenta Henricina, doe. 1 49.
86
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
En a b r i l de 1 430 vis ita ba n los e m baj a d o res p o rt u g u eses a J u a n 1 1 e n
B u rgos160; l e p i d e n l a p u esta e n l i be rta d d e l a re i n a Leo n o r, a l a q u e e l m o n a rca
caste l l a n o h a bía recl u i d o en To rdes i l l a s16\ y la rest\t u c i ó n de s u s re nta s .
Respo n d e J u a n 1 1 j u stifica n d o s u e n c i e rro co m o u n m e d i a d e p o n e r l a a s a l vo d e
t o d a sospecha y e l e m b a rg o co m o u n m e d i a d e i m ped i r q u e ayu dase e n s u res is­
te n c i a a s u s h ijos; pide a l os e m baj a d o res p o rtu g u eses que n o m e d i e n e n e l co n ­
fl i cto con los I nfa ntes d e Ara g ó n , p u es es u n a s u nto i nte r n o . Deci d e , a d e más, e l
e nvío co m o e m baj a d o res d e Ped ro López d e Aya l a y e l docto r D i e g o G o nzá l ez
Fra nco q u e i nfo r m a r á n a d e cu a d a m e nte a J o ã o I d e todo l o s u ced i d o e n Casti l l a
desde e l fa l l eci m i e nto d e l a re i n a Cata l i n a . A s u paso p o r Tordes i l l a s, l os e m ba­
j a d o res i nfo rm a rá n a l a re i n a Leo n o r d e s u l i be ra c i ó n y d e que l a a co m p a fí a rá a
d o n d e q u i e ra G o nza l o d e Sa nta M a ría, o b i s p o d e P l a s e n ci a .
Ta m bién Alfonso V q u e ría q u e João I co nta ra co n i nfo rmación de p ri me ra m a n o
sobre las negociaci ones, q u e él y su h e r m a n o ma nte n ía n con l os em bajadores cas­
tel l a nos, a través de la cu a l ente n d ía n q u eda ría claro q u e no ten ía n responsa b i l idad
a l g u n a en la g u e rra entre e l l os y el m o n a rca caste l l a no162• Alfo nso V p reten d ía evita r
a toda costa q u e se rea n u dase la g u e rra en la fro ntera sari a n a co n Aragón p a ra l a
q u e s e esta ba p repa ra ndo el ejército caste l l a n o co n a b u n d a ncia de med i os163•
E l g o b i erno caste l l a n o deseaba evita r l a m e d i a c i ó n portu g u esa. Po r ello fi r­
m a rá co n Alfo nso V y J u a n de N ava rra, tras u n mes de d u ras negociacio nes, l a s
treg u a s d e Majano, e l 1 9 de j u l i o de 1 430: a b ría n u n l a rg o periodo de treg u a , c i n co
a nos, y rem itía n l a cuestión d e las co m pensaci o n es por los b i e n es confiscados a
los I nfa ntes a i estu d i o de u na co m i s i ó n , cuyos res u lta dos e ra n de espera r. La s o l u ­
c i ó n d esa g ra d á a João I , q u e mostrá su sorpresa por ta l deci s i ó n , a d o pta d a s i n s u
co noci m i e nto, a pesa r de h a berle dado poderes p a ra i nterve n i r co m o á rbitro164•
Alfo nso V e nvía por un h e ra Ido co n afectu osos y p rotoco l a rios sa l u dos ai m o n a rca
p o rtu g u és, a sus h ijos y a la i nfa nta Leo no r165, pero no cesa en su propósito de
160 Crónica de Juan /1, 1 430, ca p . 1 5, p. 483.
1 6 1 M a g n ífica d escri pción d e i m o m e nto de l a rec l u s i ó n e n Halconero, 54-56.
1 62 1 430, a b r i l 1 . Va l e n c i a . N u eva m e nte Alfonso V oto rga p l e n os p o d e res ai rey d e Po rtu g a l
e n s u m e d i a c i ó n , l e e nvía p l e n a i nfo rmaci q n y se co m p r o m ete a h a c e r q u e s u s h e rm a n os
E n r i q u e y Ped ro fi r m e n estas co m p ro m isos co n ta l q u e d u rante el mes de m ayo todas l a s p a r­
tes fi r m e n u n a tre g u a d u rante seis m eses, a co nta r d e p ri m e ro d e j u n i o p róxi m o . A.C.A
C a n c i l l e ría Rea l , reg . 2683, f. 59v. Monumenta Henricina, I I I , doe. 1 5 1 .
163 So b re el cu rso de la g u e rra, v i d . Á LVAREZ PAL E N Z U E LA, V.A. Enrique, infante de
Aragón, maestre de Santiago. M e d i eva l i s m o , 1 2, 2002, 37-89.
164 Crónica de Juan /1, 1 430, c a p . 26.
165 1 430, a g osto, 9 . A.C.A. C a n c i l l e ría Rea l , reg . 2580, f. 1 07.
87
Vice nte Á n g e l Á l v a rez Pa l e nz u e l a
cre a r l a s m ayo res d ificu ltades a i g o b i e rn o caste l l a no, a cuyo efecto propone u n a
a l i a nza a Po rtuga l 166•
Más n ecesa rio a ú n e ra i m ped i r, co m o p rete n d ía Alfonso V, q u e la g u e rra se
p ro l o n gase d e m o d o i n defi n i do, situaci ó n q u e req u e ría l a co l a bo raci ó n portu­
g u esa; p e ro e l g o b i e rno caste l l a n o co nta ba con e l recu rso ese n ci a l p a ra hacer
i nv i a b l e a q u é l a poyo : ofrecer, ai fi n , a João I l a paz que d u ra nte ta ntos a n os ven ía
persi g u i e n d o s i n éxito .
Acaso l a s p r i m eras ofe rtas e n ese sentido se h i cieron por m e d i a d e l a e m ba­
jada d e Ped ro Ló pez d e Aya l a y Diego G o nzá l ez Fra nco. E n fe brero d e 1 43 1 l l e­
g a ba a Pa l e ncia u na e m baj a d a portu g u esa167 p a ra negoci a r la paz perpet u a , de
a c u e rd o con lo esta b l ecido e n las treg u a s d e 1 41 1 , es deci r, s u p r i m i e n d o e l retro­
ceso expe ri m e ntado en los ú lti m os a n os; J u a n 11 a g ra d ece las i nte n c i o n es m a n i ­
festa das y promete resp u esta, tras co n s u l ta r co n e l Con sejo'68
Las negociaci o n es sufrieron u n i n evita b l e a p laza m i e nto a ca u sa de l a
e ntra d a d e i ej é rcito caste l l a n o e n G ra n a d a , a pes a r d e q u e los e m baj a d o res por­
t u g u eses se desplazaron en seg u i m i e nto d e i rey h a sta Córdoba '69• De vue lta a
166 E I 1 5 de octu bre de 1 430, desde Va l e n c i a , e nvia a J u a n Fe r n á n d ez de H ij a r, co n varias
g a l eras y fustas, con i nstrucci o n es pa ra p ro p o n e r l a s s i g u i e ntes i n i c i ativas: una a l i a nza con e l
rey d e Po rt u g a l ; q u e e l i nfa nte E n ri q u e vue lva co n é l p a ra h osti g a r a Casti l l a d e s d e Seg u ra y e l
re i n o d e Va l e n c i a ; q u e e l i nfa nte Ped ro p e rm a n ezca a l l í p a ra soste n e r e l l eva nta m i e nto e n
Extre m a d u ra y e l á n i m o d e l o s p a rt i d a r i o s ; a g radecer a i r e y y a l o s I nfa ntes e l a poyo p resta d o a
l o s I nfa ntes de Ara g á n ; d iscu l p a r a Alfo nso V p o r el retraso en i nfo r m a r l e de l a s treg u a s a q u e
h a l l eg a d o c o n e l rey d e Casti l l a , q u e co n s i d e ra d e n i n g u n a uti l i d a d , cuya razán h a s i d o l a g u e rra
en el m a r, q u e ha conti n u a d o en el m a r sesenta d ía s d e s p u é s de la treg u a ; q u e i nfo r m e a l a
i nfa nta Leo n o r, p a ra q u e a poye estas i n i c i ativas; q u e d i g a a l o s i nfa ntes E n ri q u e y Pedro q u e
h a g a n l i g a s c o n n o b l es caste l l a nos, s i p u e d e n , p e ro q u e expl i q u e n q u e l a s h a c e n contra q u ie­
nes son respo nsa b l es d e l a g u e rra, no contra e l rey d e Casti l l a . A.C .A. Ca n ci l l e ría Rea l , reg . 2692,
f. 1 1 1 . Monumenta Henricina, I I I , 1 58. Con fech a dei d ía s i g u i e nte escri be a s u h e r m a n o E n ri q u e ,
a J o ã o I y a l o s i nfa ntes p o rtu g u eses co m u n i cá n d o l es e l e nvio d e J u a n Fe r n á n dez d e H ij a r.
A.C.A. C a n c i l l e ría Rea l , reg . 2687, f. 9v; l b i d . f. 9v, e l bi d . f. 1 1 v. Monumenta Henricina, does. 1 59,
1 60, 1 6 1 .
167 La i nteg ra n l o s h e r m a nos Ped ro y Luis G o nça lves M a lfa i a , e l d o cto r Rui Fern a n d es y R u i
G a lvao co m o secreta r i o . E n n o m bre d e i m q n a rca caste l l a n o l l eva rá n l a s n e g o c i a ci o n es R o d r i g o
Alfo nso P i m entel, c o n d e de B e n avente, el d o ctor Ped ro Yá nez y D i e g o Rod ríg u ez.
168 Crónica de Juan 1/, 1 43 1 , ca p . 4, p á g . 49 1 .
169 N o fa ltaron e ntreta nto contactos e ntre Alfo n so V y l a corte p o rtu g u esa, e n espec i a l con
e l p rí n c i p e D u a rte, e n res p u esta a una m i s i á n d e éste confi a d a a M e m Rod ríg u ez. 5 d e m a rzo d e
1 43 1 . A.C.A. Canci l l e ría R e a l , Re g. 2689, f . 1 5 . Monumenta H e n ri c i n a , I I I , doe. 1 66. E l m o n a rca
a ra g o nés conti n u á m a n ej a n d o l a i d e a d e u n a a cci á n co nj u nta contra Casti l l a , a cuyo efecto
enviá a G a rcia Az n a r, d e á n d e Ta rra g o n a . 1 7 de a b r i l de 1 43 1 . A . N .T.T. G aveta 1 8, m azo 4, n. 1 9 .
88
'
I bé r i a : Q u atroce ntos/Qu i n h e ntos
M e d i n a dei Ca m po, d o n d e J u a n 11 h a b ía co nvoca d o C o rtes, se p l a ntea n u eva­
m e nte e l asu nto d e l a paz con Po rtuga l , negociado d u ra nte los ú lt i m os m eses. A
pesa r d e i ti e m po tra nscu rri do, l a cuest i ó n p l a nteó serias, de bates e n e l Consejo,
d o n d e todavía se a l za b a n voces rec l a m a n d o l a reva ncha d e Alj u ba rrota, a u n q u e
s e i m puso l a o p i n i ó n d e q u i e n es co n s i d e ra b a n o p o rtu n a l a paz a nte l a i m posi bi­
lidad d e a l ega r d e rech os ai t ro n o d e Po rtu g a l , a i h a be r fa l l eci do Beatriz s i n d es­
ce n d e n c i a , y por la conve n i e n c i a d e la paz e n un m o m e nto d e g u e rra con N ava rra ,
Ara g ó n y G ra n a d a 170•
La paz se fi r m a ba en M ed i n a d e i Ca m po el 30 de oct u b re de 1 43 1 , y e ra rati­
fica d a por pa rte p o rt u g u esa e l 27 de e n e ro d e i ano s i g u i e nte e n Al m e i ri m 171 • La paz
d e M ed i n a d e i Ca m po-Al m e i r i m , ta n l a bo r i osa m e nte a l ca nzada, e ra e l pu nto d e
I l e g a d a d e l a s aspi raci o n es d e João I , y e l fi n a l d e u n l a rg o p e r i o d o de e n e m i sta d .
Esenci a l m e nte recog ía l a s d i s posici o n es d e l a s treg u a s d e 1 41 1 , y l a s i ntrod ucidas
e n los de 1 423 y 1 427, que h a b ía n pe rfi l a d o los acu e rdos eco n ó m i cos172• La n ove­
dad e ra n los a c u e rdos p o l íticos, res p o n sa b l es d e los l a rgos a n os de negoci a c i ó n
i nfru ctu osa .
J u a n 1 1 re n u nciaba a cua l q u i e r de rech o a i tro no de Po rt u g a l , tras exa m i n a r los
docu m e ntos y testa m entos d e l a rei n a Beatriz, por co nsiderar q u e no pod ía tras­
m iti r sus derech os, "en caso q u e a la d ich a s e n o ra reyna a l g u nd de recho pertene­
ciese'; en detri mento de a q u é l a q u i e n ta les d e rechos, después d e su m u e rte, co r­
res po n d ía n . 173. Se a n u l a ba n todas las co m pensacio nes debidas por Po rtu g a l a los
caste l l a nos resi d e ntes e n ese rei n o y l a s p revistas a favo r de los exi l i a dos con la
rei n a Beatriz e n e l tratado de 1 4 1 1 174, y a m bas pa rtes re n u nci a b a n a l a recl a m ación
Monumenta Henricina, I I I , d o e . 1 67. Ta m b i é n escri be a D u a rte y a s u esposa Leo n o r p i d i é n d o l es
excu sas p o r el retraso en e l p ago de la d ote de l a q u e e nvía en ese m o m e nto 5 . 0 0 0 fl o r i n e s .
A . C .A. C a n ci l l e ría Rea l , reg . 2688, fi . 7. Monumenta Henricina, I I I , d o e s . 1 72 y 1 73 . E n vís p e ras d e
l a p a z c o n Casti l l a , e l 20 d e octu b re d e 1 43 1 , s a l u d a ba a J o ã o I re m i t i e n d o a l a m á s a m p l i a i nfo r­
m a c i ó n q u e le d a rá el c o n d e de O u re m . A.C .A. C a n c i l l ería de Alfo n so V, reg . 2689, f. 1 29v.
Monumenta Henricina, IV, doe. 6 .
1 7° Crónica d e Juan /1, 1 43 1 , c. 25, p . 501 .
1 7 1 Conserva mos los dos textos, con las lóg icas varia ntes e ntre sí: e l oto rgado por Casti l l a e n
A. N .T.T. Livro das Demarcaçoes e Pazes, fo l s . J 42 y sigs. P u b . Monumenta Henricina . . . , IV, d o e . 9;
e l fi rmado por e l rey de Po rtu g a l e n A. G . S . Patronato Real, leg. 49, 2 1 . P u b . L. S U Á REZ
F E R N Á N DEZ. Relaciones. , doe. 49, págs. 1 83-207. Ta m bi é n e n Monumenta Henricina . , IV, doe. 1 5.
1 7 2 M e d i n a , a rtíc u l o s 4 a 1 4; Al m e i r i m , a rtíc u l os 3 a 1 4 .
1 73 M e d i n a d e i C a m po, a rtícu l o 1 . E I a rtícu l o 1 d e Al m e i r i m conti e n e l a decl a ra c i ó n d e p a z
..
.
.
e ntre a m bos r e i n o s .
1 74 M e d i n a d e i Ca m po, a rtíc u l o 2 . La especifi c i d a d d e e s t e a rtíc u l o p a ra Casti l l a , s i n p a ra­
lelo e n l a p a rte p o rtu g u esa, p rod u ce e l desfase n u m é ri co e n l o s a rtíc u l os d e a m bos textos .
89
Vice nte Á n g e l Á lva rez Pa l e n zu e l a
d e d a n os recíp rocos, i n cl uye n d o los re l ativos a i p e r i o d o poste r i o r a 1 402, hasta
1 41 1 , e nto nces p revi stos175, y las c l á u s u l a s sobre va l o ra c i ó n de d a nos por u n a
co m is i ó n de á rb itros q u e i n cl u ía u n o desi g n a d o p o r e l Po ntífi ce176•
S i g u e n las g a ra ntías h a bitu a l es sobre esta b i l i d a d d e la paz, pese a i n cu m p l i ­
m i e nto d e a l g u n a de l a s c l á u s u las, a n u l a c i ó n d e todo a cu e rdo a nte r i o r, p roced i ­
m i e nto d e ratifi cac i ó n de l a paz, p ro m esas d e cu m p l i m i e nto y s u bsa n a c i ó n d e
d efectos de fo rm a . Concl uye c o n l a ratificaci ó n d e los n o b l es, e n e l texto caste l ­
l a n o , y l a d e los I nfa ntes y el Consej o, e n e l p o rtu g u és . Solo u n p u nto q u eda
a b i e rto, rel ativo a los d e rech os sobre e l casti l l o de Po rte lo, ce rca d e M o nte rrey,
q u e h a comenzado a ed ifica r d o n Alfonso, octavo co n d e de Ba rce los, q u e a m bos
m o n a rcas co n s i d e ra n se h a l l a e n su territo ri o177•
Paz d efi n itiva, pero n o exenta d e a m e nazas. Ya c u a n d o e l d octo r Diego
G o nzá l ez Fra nco fue a Po rt u g a l p a ra asisti r a l a ratifica c i ó n d e l a paz, p u d o co no­
cer los p repa rativos d e g u e rra que se h a c ía n p a ra ayu d a r a los I nfa ntes d e
Ara g ó n , res i ste ntes e n Ext re m a d u ra ; a nte su p rotesta , João I co rtá d e ra íz ta les
h ech os178•
175 Treg u a s d e 1 4 1 1 , a rtícu l o 2.
176 M e d i n a d e i C a m po, a rtícu l o 3; Al m e i r i m , a rtíc u l o 2 .
177 M e d i n a , a rti cu l o 20; Al m e i r i m , a rt. 1 9 .
178 Crónica de Juan 11, 1 43 1 , cap . 26, p á g . 5 0 1 . EI e nvi a d o caste l l a n o fu e reci b i d o co n
extra o rd i n a ri o s h o n o res y ate n c i o n e s .
90
Relações fro nteiriças l uso-caste l h a n as,
n os sécu l os XIV-XV
José Marques
P rof. Catedrático d a Fa c u l d a d e d e Let ras d o P o rto ( a p . ) .
CEPESE
1 . - I ntrod ução
N o q u a d ro das re l a ções entre Po rtu g a l e Caste l a , nos dois sécu l o s fi n a i s da
I d a d e M é d i a , m u lti p l i ca m -se as h i póteses d e temas a desenvo lver s o b re este vas­
tíss i m o assu nto, q u e j á n o utras ocasi ões atra i u a n ossa atenção. Sem g ra n d e
esfo rço, n o estudo d estas re l a ções, é fác i l d i sti n g u i r e ntre as q u e s e desenvo lve­
ra m a n ível d e Esta do, co n d u z i d a s q u e r por via d i p l o m ática, q u e r, mesmo, em
ce rtos casos bem co n h ecidos, m e d i a nte o recu rso à fo rça m i l ita r, situações q u e,
à d i stâ ncia, q u a nto a este ú lt i m o aspecto, n ã o podemos d eixa r de l a m e nta r.
Ao l o n g o d e m a i s d e t rês décadas, por d i versas vezes, a bo rd á m os esta temá­
tica, m ovido p e l o desej o d e reve l a r aspectos i n éd itos e p e l o p ro pósito de, pon­
tu a l m e nte, escl a rece r o u a p rofu n d a r outros j á , e m p a rte, co n h ecidos. N a s actu a i s
ci rcu n stâ ncias, ate n d e n d o a q u e o nosso h o m e n a g eado, reite ra d a m e nte, s e ocu­
pou d esta tem ática e m estudos que situ a m os no â m b ito d o p ri m e i ro n ível aci m a
refe r i d o , e porq u e outros estudos i n ci d i rã o n essa esfe ra, pa rece u - n os m a i s ade­
q u a d o co l oca rmo-nos no â m b ito d a s re l a ções e ntre p o p u l ações e i n stitu i ções
situ a d a s d e a m bos os l a dos d a l i n h a d e fro nte i ra , sej a ela defi n i da por vias fl u ­
via is, sej a co nstitu ída por ra i a seca, co m o d u p l o o bj ecti vo de s u rpree n d e rmos o
sentido d a s u a convivê n c i a o u , eve ntua l m e nte, de o posição e os contrastes e m e r­
g e ntes nos va riados seg m e ntos d a fro nte i ra , te nta n d o ca pta r, a o mesmo te m po,
os refl exos co ncretos d a s re l a ções d i p l o m áticas e m i l ita res, ao n íve l d a s re l a ções
de p roxi m i d a d e tra n sfro nte i riça .
91
J osé M a rq u es
M a i s d o q u e a d uzi r e l e m e ntos n ovos d e cu n h o fa ctua l , e m bora n ã o p resci n­
d a m os ta m bé m d este contri buto, p rete n d e m os p roced e r a uma refl exã o sobre a
natu reza dos va riados fa cto res de re l a ci o n a m e nto, p rocu ra n d o sa i r do p l a n o da
ca su ística e pers pectiva r os pri n c i p a i s vecto res do re l a ci o n a m e nto co ncreto e ntre
popu l a ções situ a d a s j u nto d a l i n h a d e fro nte i ra .
A defi n i çã o d esses vecto res i m p l ica u m a revisão atenta de q u a nto n ó s e
o utros sobre e l es a p u rá m os, convi n d o , a i n d a , p roce d e r a u m a revisão d a rea l i ­
d a d e j u ríd ico-a d m i n i strativa, civi l e eclesiástica, reaj u sta d a e conso l i d a d a n o
sécu l o XIV, pod e n d o co n s i d e ra r-se i ns i g n ifica nte a reso l u ção do d ife re n d o entre
o M oste i ro d e Oya, n a G a l iza, e D. D u a rte, a l ca nçada n o seu cu rto rei n a d o .
Pa ra nos m ovi m e ntarmos com seg u ra n ça n a exposição d este te m a , em
o rd e m aos o bj ectivos p rete n d i dos, é i n d ispensáve l ter p rese nte a co m p l ex i d a d e
d a s i t u a ç ã o j u ríd i co-a d m i n i strativa d a s reg i ões fro nte i riças e d a s m ú lt i p l a s p ráti­
cas d e i nte rcâ m bi o e ntre a s p o p u l ações co nfi n a ntes, d e fo rma a p roceder a u m a
síntese co m p reensiva .
N essa l)erspectiva, d esenvo lvere m os a nossa exposi ção, d e acordo co m os
e n u nciados destas d u a s pa rtes:
- Realidades jurídico-administrativas da fronteira luso-castelhana
- Complexidade das relações fronteiriças.
*
O esfo rço pa ra co n d e n sa r o tema e m e p íg rafe i m p l ica o ri sco co nsci e nte de
i n evitáveis, e m bora i n d esejáveis, o m i ssões fact u a is, faci l m e nte s u p rívei s p e l o
recu rso aos estudos refe rencia dos ao l o n g o d a exposição. Apesa r d i sso, pa rece u­
-nos p refe rível e n sa i a r esta te ntativa d e sistematização d a s i nfo rmações d i s pe r­
sas nos vários t ra b a l hos d e d i cados a esta temática, e m vez d e a u m e nta r o
vo l u m e d e dados factua is, n ã o o bsta nte a s u a uti l i d ade, n o utras ci rcu n stâ ncias.
2.
-
Realidades jurídico-administrativas da fronteira luso-castelhana
Ao i n icia rmos esta exposição, é do m a i o r i nte resse vincar a ideia d e que a
d e l i m itação d a fro nte i ra entre Po rtu g a l e Caste l a , q u e, e m sentido g e n é ri co, faze­
mos re m o nta r ao sécu l o X I I - m a i s co ncreta m e nte, a 1 1 43, a n o em q u e o i m pera­
dor Afo nso VI l reco n h eceu a i n d e p e n d ê n c i a d e Po rtuga l - n ã o se pode co n s i d e r a r
92
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
co m o u m a fro nte i ra ríg i d a , d efi n itiva, e ntre Po rtuga l e Caste l a , n a s u a g l o ba l i­
d a d e, pois fo i-se a m p l i a n do, à m e d i d a q u e a Reco n q u ista p rog red i a p a ra s u l .
Q u e r i sto d izer q u e, a l é m d a fro nte i ra pol ítica n u clea r i n,ici a l , su bsisti a m o utras
rea l i d a des que m atizava m e conti n u a ra m a ate n u a r o i m a g i n á ri o ri g o r i ntra nsi­
g e nte d e uma l i n h a d ivisória q u e, desde a foz d o M i n h o, e m Ca m i n h a , até à
desem boca d u ra do rio D o m a o u Tra ncoso, n a desi g n a çã o m o d e r n a , o n d e i nfl ecte
p a ra a d i reita, a fi m d e conto r n a r o n ovo rei n o d e Po rt u g a l , d i vi d i n d o-o, a n o rte,
d a G a l iza, e p roj ecta n d o-se, depois, pelas reg iões caste l h a n as e estre m e n h as,
seg u i n d o , n a p a rte fi n a l , o cu rso d o G u a d i a n a , até Vi l a Rea l de Sa nto Antó n i o .
A o l o n g o deste estudo, fixa re mos a n ossa ate nção n a s rea l i d a d es q u oti d i a ­
n a s d a vida d a fro nte i ra , nos sécu los XIV e XV, facto q u e n ã o n o s poderá d i stra i r
n e m d i spensa r de evi d e n c i a rmos a l g u n s m atizes q u e a rea l i d a d e po l ítica n ã o co n­
seg u i u a n u l a r, n a s d u as centú rias a nteri o res, ta nto mais que a l g u m a s p reced i a m
a a uto n o m i a po rt u g u esa e qutras s u rg i ra m a o l o n g o d o s sécu los XI I e XI I I
Co nvi rá, por i sso, evoca r ta i s s itu a ções, a ter p rese ntes n o p l a n o d a s re l a ­
ções fro nte i riças l u so-caste l h a n a s dos fi n a i s d a I d a d e M é d i a , cujos v i g o r e i m po r­
tâ ncia j u ríd i co-po l íti cos os p ró p rios m o n a rcas n ã o co nseg u i ra m a n u l a r. N este
contexto, a ntes de i n i c i a rmos a síntese q u e n os propomos e l a bo ra r, i m põe-se
ch a m a r a ate nção p a ra a co m p l exa rea l i d a d e a q u e, va g a m e nte, até a q u i a l u d i ­
mos, s e ndo certo q u e n e l a se cruza m a s pectos d e natu reza ecl esiástica e civi l , a
a n a l isa r.
2 . 1 . - Aspectos de â m bito eclesiástico
Começa m os, p o r i sso, por o bserva r q u e, a n o rte, a zo n a de E ntre M i n h o e
L i m a perma necia i nteg ra d a na d i ocese de Tu i , situação q u e re m o ntava à d ivisão
co n s i g n a d a no Paroch iale suevicum, prom u l g a d o pelo rei su evo M i ro o u
Teo d o m i ro ' , e m Lugo, n o d i a 1 de J a n e i ro d e 5692, p e l o q u e, nos tem pos poste­
r i o res à i n d e p e n d ê n c i a d e Po rt u g a l , este te rritó rio i nte ra m nense estava, si m u lta­
n ea m e nte, s u b m etido à j u risd i çã o rég i a p o rtu g u esa e, n o p l a n o eclesiástico, à
1 Liber Fidei, doe. n . 0 1 1 : - «serenissim us et catholicus rex Miro, cognomento Teudemirus,
subscripsi».
' Liber Fidei, n .0' 1 0 e 5 5 1 . DAV I D, P i e rre - Études historiques sur la Gatice et /e Portugal du
VI/" au Xl/e siecle, Pa ris-Lisboa, 1 947, p p . 30-3 1 . O e l e nco d a s d i oceses e respectivas p a róq u i a s
e n co ntra-se ao l o n g o d a s p p . 3 1 -44.
93
J osé M a rq u es
j u risdição do bispo d e Tu i . Esta situação p o l ítico-a d m i n i strativa eclesiástica co n­
t ri b u i ri a pa ra flexibilizar a fro nte i ra do M i n h o, até fi n a i s d o sécu l o XIV. N ote-se
q u e o te rmo d essa i nfl u ê n ci a j u risd i c i o n a l eclesiásti<;a não ficou a d eve r-se a
razões de natu reza pol ítica, mas fo i d eterm i n a d a p e l a cisão p rovoca d a por a l g u n s
ca p itu l a res tude nses: Afo nso Anes, a b a d e d e Trovi scoso, Á lva ro G o n l ça lves,
a b a d e d e R i ba de M o u ro, M a rtins Ba rre i ros e outros q u e, a p retexto de Caste l a ,
n os p ri m ó rd i os do C i s m a do Ocidente, t e r o pta d o p e l a o bed i ê n c i a a o a nti p a pa
sedeado e m Avi n h ão, e m 1 38 1 , deixa ra m d e o bedecer a o bispo d e Tu i e fu n d a ra m
a Coleg i a d a de Sa nto Estêvã o d e Va l e n ça d o M i n h o , q u e passou a s e r o centro
a d m i n i st rati vo ecl esiástico de todo o E ntre M i n h o e L i m a3•
2. 1. 1. - As vicissitudes do Entre Minho e Lima
A p a rti r d esta d ata, no p l a n o eclesiástico, este te rritó rio ficou n u m a situação
com p l exa, pois, a pesa r d e não esta r s u b m et i d o à j u risd i çã o episco p a l d e TÚ i , q u e
ti n h a s i d o recusada, ta m bé m n ã o pertencia a B ra g a , te n d o passad o a co nstitu i r,
com a p rova ção d a Sa nta Sé, u m a a d m i n istração eclesiástica i n d e p e n d e nte, q u e,
desde 1 382 até 1 4 1 4, fo i g ove r n a d a o p o r d i ve rsos a d m i n i stra do res, cujo e l e nco
e a cção g overnativa e pasto ra l são bem co n h ecidos.
E ntre 1 4 1 4 e 1 422, este te rritó rio d e e ntre M i n h o e Lima perm a n eceu n u m a
situação de vacância d e a d m i n istra d o r, te n d o reca ído n o s v i g á rios-g erais, có ne­
gos G o n ça l o M a rti n s e João Rod ri g u es d e Fe l g u e i ras, as respo n sa b i l i d a d es do
seu g ove rno, nos p l a nos eclesiástico e eco n ó m ico. Fi n a l m e nte, reso lvidos os p ro­
b l e m a s q u e ti n h a m motivado a situação a q u e aca ba m os de nos refe ri r, fo i
n o m ea d o a d m i n ist ra d o r D. João Afo nso, q u e p e rm a n eceu e m fu n ções, desde
1 422 até, sensive l m e nte, 1 465, mesmo a pós a a n exação desta co m a rca à d i ocese
d e Ceuta, p e l a b u l a d e E u g é n i o IV, Romanus Pontifex, de 14 d e J u l h o d e 1 444,
te n d o perm a n ecido sob esse estatuto até à s u a i nteg ração na Arq u i d i ocese de
B ra g a , e m 5 de Agosto de 1 5 1 44•
' Cf. COSTA, P. • Ave l i n o d e Jesus d a - A comarca eclesiástica de Valença do Minho.
(Antecedentes da Diocese de Viana do Castelo), Ponte d e Li m a 1 /5 d e Sete m b ro d e 1 98 1 [ 1982] ,
p p . 1 32 - 1 33. MARQUES, José - O E ntre M i n h o e L i m a : da d i ocese de Tu i à d i ocese de Ceuta, i n
Estudos Regionais. Revi sta do C E R . Vi a n a do Caste l o , 1 1 Série, n . 0 1 , 2007, p p . 1 1 -2 9 .
4 COSTA, P. • Ave l i n o d e J e s u s d a - A comarca eclesiástica d e Valença, p p . 1 33- 1 47.
94
,_
I b é ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Esta nova situ ação a d m i n ist rativa eclesiástica, de a l g u m modo, aj u d ava a
co nso l i d a r a fro ntei ra po l ítica, q u e, desde a i n d e p e n d ê n c i a d e Po rt u g a l até à data
d a refe rida cisão ( 1 38 1 ) , m e rcê da perm a n e nte i nteg ração, do E n t re M i n h o e L i m a
n a d i ocese d e Tu i , o b ri gava a u m a i n d i spen sável permea b i l i d a d e n a l i n h a d o
M i n h o, determ i n a d a p e l a n ecess i d a d e d e c l é ri g os e l e i gos a cruzarem p e l o s m a i s
va riados m ot i vos de natu reza pasto ra l o u , eve nt u a l m e nte, j u ríd i co-ca n ó n i cos a
reso lver, nos serviços centra i s d i ocesa nos d e Tu i , atravess a n d o-a ta m bé m ,
d e pois, e m s e n t i d o i nverso, no reg resso às s u a s pa róq u i a s e aos res pect i vos
dom icílios.
E ra ta m bé m d a c i d a d e de Tu i q u e os prelados pa rt i a m com as res pectivas
co m itivas, bem co m o outros a g e ntes seus d e l eg a dos, pa ra a s visitas past o ra i s a o
E nt re M i n h o e Li m a , situações q u e, p a ra o sécu l o XIV, temos l a rg a m e nte d o c u ­
m e nt a d a s .
2 . 1. 2 . - Influência d o culto d e S . Tiago
E nt reta nto, n ote-se q u e, a l é m d esta rea l i d a d e , extensiva a toda a reg i ã o d e
entre M i n h o e L i m a , havia situações pontu a is, s i t a s e m p l e n o Ba ixo M i n h o, cria­
d a s p e l os m o n a rcas o u p o r e l es confi r m a d as, m u ito a nt e ri o res à constitu i çã o d o
C o n d a d o Po rtuca l e nse e d a afi rmação d a a uto n o m i a n a ci o n a l port u g u esa, q u e
perm a n eci a m , n o s d o i s ú lt i m o s sécu los d a I d a d e M é d i a , co m o o u t ros ta ntos
m ot i vos d eterm i n a ntes d a freq u e nte t ravessi a d a fro ntei ra do M i n h o, i m po n d o­
-se o bserva r q u e a todas essas situações está s u bj a ce nte a d evoçã o a o Apósto l o
S . T i a g o , rá p i d a e i nte nsa m e nte d ifu n d i d a , a pós a d esco berta ( inventio) d o seu
co rpo, q u e, seg u n do a o p i n i ã o mais p l a u s íve l , terá ocorrido entre 820 e 8305•
Co m o teste m u n h o p recoce desta d evoçã o n o te rritó rio n o rte n h o, a s u l do rio
L i m a , temos d e reg i sta r a d e d i cação d a i g rej a d e S . Tiago de N eiva, p e l o bispo
N a u sto de Coi m b ra , e m 8626, que é a p ri m e i ra i g rej a jacobea, no act u a l te rritó rio
p o rt u g u ês .
Face à p rog ressiva afi r m a çã o deste cu lto, n ã o a d m i ra q u e, e m 8 8 3 , Afo nso
I I I d a s Ast ú rias te n h a co nfi r m a d o a ,doaçã o do M ostei ro d e S . Frutu oso de
M o nté l i os, feita p e l o p resbít e ro Cristóvã o a o Apósto l o S . Tiago, e, e m 899,
5 LO PEZ ALS I NA - La ciudad de Santiago de Com poste/la en la Alta Edad Media, S a n t i a g o
d e C o m poste l a , Ayu nta m i e nto e Ce ntro d e Estú d i o s J a co beos, 1 988, p . 1 1 0 .
6 COSTA, P.' Ave l i n o de J e s u s d a - O bispo D. Pedro e a organização da diocese de Braga,
C o i m bra, 1 959, vo l . I, p. 338 e vo l . 1 1 , p . 1 1 9 .
95
J osé M a rq u es
to m a sse a i n ici ativa d e l h e d o a r a i g rej a de S . V íto r e o utras p ro p ri e d a d es, sitas
e m Braga, ca b e n d o a O rd o n h o li o m é rito d a doação a o mesmo Apósto l o d a v i l a
rústica d a Co rre l h ã , e m 9 1 57• A l é m d i sso, p a ra n ã o r,� o s d esvi a rm o s d o n osso
o bj ecti vo p ri m á rio, reco rd e m os, a pe n as, a s co n h ec i d a s d o a ções e/o u co nfi r m a ­
ç õ e s dos Co n d es Po rtuca l e nses - D . H e n ri q u e e D . Te resa -, d e D . Afo nso 11, D .
Afo nso I I I e D . D i n i s a Sa nti a g o d e Com poste l a , s a b e n d o-se q u e D . Afo nso IV, a pe­
sar do rig o r posto nos p rocessos rel ativos à s j u risd i ções d e m u itas i n stitu i ções
p o rtu g u esas, res pe ito u a s d o Ca b i d o d e Sa nti a g o d e C o m poste l a e d o M oste i ro
d e Ante-Alta res, d a m e s m a c i d a d e, e d e o utros m oste i ros g a l eg o s e caste l h a n os
s o b re d i ve rsos coutos poss u ídos n o E ntre M i n h o e L i m a e e m Trás-os- M o ntes8•
E stas e o utras situ a ções, q u e nos d i s p e n s a m o s d e especifi ca r, o b rigava m a
u m re l a ci o n a m e nto freq u e nte entre os re p rese nta ntes d a s i n stitu i ções titu l a res
d esta s i g rej a s e coutos com os c l é ri g os n e l a s co nfi r m a d o s e os seus m o ra d o res.
Se até meados d o sécu l o XIV d i s p o m os d estes e l e m e ntos j u stificativos da tra­
vess i a da fro ntei ra n a l i n h a do M i n h o - a l g u ns, i n cl usive, situ ados n a m a rg e m
esq u e rda d o L i m a , e m p l e n a Arq u i d i ocese d e B ra g a - p o d e m o s afi r m a r, a g o ra ,
d evi d a m e nte docu m e ntados, q u e essa n ecess i d a d e se este n d i a , n ã o só a o c l e ro e
à po p u l a ção d o E ntre M i n h o e L i m a , m a s ta m bé m a m u itas o utras pessoas d a d i o­
cese t u d e nse, d esde a m a rg e m d i re ita d o M i n h o até aos l i m ites com a d i ocese de
Santi a g o d e Com poste l a . É o q u e nos perm ite concl u i r e afi rm a r o c o n h eci m e nto
d i recto dos 248 reg i stos do Livro das Confirmações de Tui, re l ativos ao período d e
1 352 a 1 366, q u e reve l a m o m ovi m e nto eclesiástico d e t o d a esta vasta d i ocese,
p a rticu l a rmente a g ita d o na seq u ê nc i a da peste q u e, n o seg u n d o sem estre d e 1 362,
fl a g e l o u a s popu l ações das d u a s m a rg e n s d o M i n h o , perm iti n d o-nos co n h ecer,
n o m i n a l m e nte, os sesse nta e seis (66) clérigos p o r e l a viti m a d os, e ntre 1 1 de
J u n h o e 1 1 d e Deze m b ro d e 1 3629, bem co m o os su bstitutos n o m ea d o s e co nfi r­
m a d o s p e l o bispo D. J o ã o de Castro ( 1 35 1 - 1 385)'0• D u ra nte este g rave e a g ita d o
' MARQU E S , José - O cu lto d e S . T i a g o n o N o rte d e Po rtu g a l , i n L usitania Sacra, 2 . " S é r i e ,
Lisboa, vo l , 4, 1 992, p p . 99- 1 48.
8 MARQU E S , José - D. Afo nso IV e a s j u risd i ções se n h o ri a is, in Actas das 11 Jornadas Luso­
Espanholas de História Medieval, vo l . IV, Po rto, I N I C-CH U P. 1 990, p p . 1 527- 1 566. I D E M D. Afo nso IV e as j u risd i ções s e n h o r i a i s g a l a i co-leo nesas no N o rte de Po rtu g a l , i n Brigantia ­
Revi sta d e Cu ltu ra, vo l . X I I , n . 0 4 - Out. Dez. 1 992, p p . 1 7 5- 1 96 .
9 Cf. A. D. B . , Registo geral, n . 0 3 1 4.
' 0 G . SANTI SO, Aq u i l i n o - Los obispos de Tuy y sus armas. Heráldica eclesiástica, Tuy, 1 994,
pp. 53-54.
96
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
período d a v i d a d i ocesa n a , não fa lta ra m os casos em q u e o Pre l a d o se vi u o b ri ­
g a d o a i nvoca r a situação d e urgente necessidade p a ra u lt ra passa r o p razo lega l
d e q u e os padroeiros d i s p u n h a m p a ra exe rce rem o d i reito de apresentação. N ã o
é possíve l p roced e rm o s a q u i à a n á l i se desta extra o rd i n á ri a fo nte docu m e nta l ,
reve l a d o ra d a m ovi m e ntação e ntre a s d u a s m a rg e n s d o r i o M i n h o, basta n d o ch a­
mar a ate nção pa ra a p resença d o refe r i d o p re l a d o d i ocesa n o e res pectiva co m i ­
tiva, n a s d i ve rsas câmaras o u q u i ntas q u e possu ía n o E ntre M i n h o e L i m a e n a s
pa róq u i a s q u e vis ito u e o n d e despach o u e assi n o u a l g u n s docu m e ntos, p o d e n d o
servi r d e co ntra po nto a esta s i t u a ç ã o a q u a nt i d a d e c l é r i g o s e l e i gos d e d i ve rsos
estratos soci a i s, p rocede ntes d a m a rg e m s u l d o M i n h o, q u e fi g u ra m co m o teste­
m u n h a s em docu m e ntos l avra d o s e a utentica dos na cú ria d i ocesa n a de Tu i .
Fa lta m o s l i v ros a nteri o res e poste ri o res a este d e 1 35 2 - 1 366, q u e a ca ba m os
de refe ri r, até 1 38 1 , data d a cisão o perada n o C a b i d o d e Tu i , m a s n ã o é d ifíc i l
a d m iti r q u e, exce pção fe ita a o contu rba d o período d a peste, o a m b i e nte e o rit m o
d e travessia d a fro ntei ra e d e co nvívio entre a s po p u l a ções, e m co n d i ções n o r­
m a is, n ã o seria m u ito d ife rente. E nt reta nto, n ã o se esq u eça q u e, a p a rt i r d e 1 369,
a s três g u e rras fe rn a n d i n a s e, desde fi n a i s d e 1 383, o a m b i e nte da revo l u ção e a
g u e rra da I n d e p e n d ê n c i a n ã o d e ixa ra m d e p e rtu rba r o cl i m a de re l a ci o n a m e nto
e nt re a s po p u l a ções da fro nte i ra e o utras, entreta nto, a q u i ch e g a d a s .
A l é m d o i ntercâ m b i o m otiva d o p o r ci rcu n stâ n c i a s d e natu reza eclesiástica e
re l i g iosa, ta m bém n este seg m e nto d e fro ntei ra se docu m e nta m o utros ti pos d e
re l a ções, a q u e, m a i s à fre nte, nos va m os refe ri r. E ntreta nto, p o r é m , i m põe-se
n ã o perder d e vista q u e, no â m bito d a s i ste m ática travess i a d a fro nte i ra , ocu p a m
u m l u g a r p rivi l e g i a d o os p e reg r i n o s q u e se d i ri g i a m a Co m poste l a e m vis ita a o
tú m u l o d o Apósto l o S . T i a g o .
N esta iti n e râ n cia j a cobea, a pa r dos p o rtu g u eses q u e pa ra l á se d i ri g i a m p e l a s
co n h ec i d a s vias d e pereg ri n ação, q u e cruzava m o Re i n o, d esde o su l d e Po rtu g a l ,
deve m os t e r p rese ntes ta m bé m os n u m e rosos estra n g e i ros q u e ca l c o rrea ra m o s
ca m i n h os portu g u eses e at ravess a ra m a fro ntei ra q u e a g o ra n o s o c u p a , n o s d o i s
sentidos o u , a o m e n os, n u m d e l es, asp_ecto a ct u a l m e nte bem co n h ec i d o11 , m e rcê
dos estudos rea l izados s o b re esta temática, nas ú lt i m a s déca d a s .
1 1 MARQU E S , José - Viaj a r e m Po rtu g a l , nos sécu l o s X V e XV, i n Revista d a Faculdade de
Letras - História, 1 1 Série, vo l . XIV, Po rto, 1 997, pp, 9 1 - 1 2 1 . A p p . 1 09- 1 1 5, e n co ntra m-se as refe­
rê n c i a s a viaja ntes notávei s q u e passa ra m por Po rtu g a l , especi a l m e nte, por oca s i ã o das s u a s
p e reg ri n a ções a S a n t i a g o d e Com poste l a . Ve r t b . I D E M - O cu lto d e S . T i a g o n o N o rte de
97
J osé M a rq u es
2 . 1 . 3.- Lisboa e É vora, sufragâneas de Santiago de Compostela
As re l a ções l u s o-caste l h a n a s i m postas p o r m otivos de natu reza a d m i n i stra­
tiva eclesiástica não se co nfi n ava m à l i n h a d o M i n h o, esta n d o ta m bé m , l a rg a ­
m e nte, exe m p l ifica d a s , a o l o n g o d a fro ntei ra estre m e n h a l u so-caste l h a n a , o r i g i ­
n a d a s e m d i ve rsos co ntextos, q u e se i m põe evoca r, s u m a ri a m e nte.
A situação mais rem ota e d u ra d o i ra re m o nta a o sécu l o XII e p ro l o n g o u -se
até fi n a i s d o sécu l o XIV, só te n d o sido e l i m i n a d a n o co ntexto po l ítico d a g u e rra
da I n d e p e n d ê ncia . Referi m o - n o s ao fa cto de as d i oceses de Lisboa e Évo ra , a o
l o n g o d este período, se e n co ntra rem n a situação ca n ó n i ca d e sufra g â n ea s d o
a rce b i s p a do d e S a n t i a g o d e C o m poste l a . Ate n d e n d o a q u e estes a s pectos n ã o
costu m a m ser a bo rd a d o s nos cu rsos u n iversitá rios n e m n a s o b ra s h i stóricas
m a i s a cessíve is, co nvi rá esc l a rece r, d e fo rma suci nta, co m o se ch e g o u a esta
situação, a p a rente m e nte estra n h a , no co ntexto da l uta p e l a i n d e p e n d ê n c i a d e
Po rtu g a l , e m re l a çã o a Leã o e Caste l a , s e n d o n ecess á r i o a n u n ci a r, d e s d e j á , q u e
e l a re m o nta a o período d o g overno d e D . Te resa, q u a n d o Évo ra e Lisboa e os ter­
ritó rios q u e v ir ia m a co n stitu i r as á reas d a s d i o ceses d e q u e esta s d u a s c i d a d e s
ti n h a m s i d o e vo lta ri a m a ser s e d e s estava m a i n d a s o b o d o m í n i o á ra be .
E m res u m o, d i rem os, a penas, q u e te n d o o a rcebispo de B r a g a , D . M a u rício
B u rd i no, na seq u ê n ci a d a o posição a nti b racare nse, m a n ifesta da p e l o sínodo d e
B u rg os, d e 1 1 1 7, pelo legado po ntifício, B o s o , ca rdeal de Sa nta Anastásia, e p e l o s
bispos do Po rto e de Co i m b ra , a ceita do, e m 1 1 1 8, a s u a p roc l a m ação co m o antipapa
pelo i m pera d o r H e n ri q u e V, com o n o m e de G regório VI I I , o pção q u e l h e va l e u a
d e posição d a cáte d ra b ra ca rense, o bispo de Diogo G e l m i res, conseg u i u de G e l ásio
1 1 a p ro m essa d e tra n sfe rência da d i g n i d a d e m etro po l ítica d e Braga, vaga pela
cita d a deposição d e M a u rício B u rd i no, p a ra Santi a g o d e Com poste l a , m e d i a nte a
ofe rta de 1 20 o n ças de o u ro . Q u a n d o os ca pitu l a res com poste l a n as, porta d o res
d essa q u a ntia, atravessava m o re i n o d e Ara g ã o , com d esti n o a R o m a , fora m i nte r­
ce pta dos p e l o s ofi c i a i s do rei Afo nso I, q u e se ti n h a sepa ra d o de D. U rra ca, futu ra
Po rtu g a l , in Lusitania Sacra, 2." Série, n.0 4, Lisboa, C E H R - UCP, 1 992, pp. 99- 1 48. Pe l a sua i m po rtâ ncia, vej a m-se os estu dos de ALM E I DA, Carlos Alberto Ferrei ra d e - Os ca m i n hos e a assistên­
cia no N o rte de Po rt u g a l , in Pobreza e assistência aos pobres na Península Ibérica durante a Idade
Média. Actas das 1."' Jornadas Luso-Espanholas de Histórias Medieval. Lisboa, 25-30 de Sete m b ro
de 1 972, Lisboa, tomo I, I N I C-Centro de Estudos H i stóricos, An exo à Facu l d a d e de Letras d a
U n ivers i d a d e d e Lisboa, 1 973, pp. 39-57. I D E M - Ca m i n h os M e d i evais no N o rte de Po rtu g a l , i n
Caminhos d e Peregrinação a Santiago. Itinerários Portugueses, Xu nta d e G a l icia - Ce ntro Reg i o n a l
d e Artes Tra d i ci o n a i s - Co m u n i d a d e de Tra b a l h o G a l i c i a - N o rte de Po rtu g a l , 1 995, pp.339-356.
98
"
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
h e rd e i ra d e Afo nso VI l , a p o i a d a por D i o g o G e l m i res, e co nfisca ra m - l h e a avu lta d a
s o m a , te n d o reg ress a d o a Sa nti a g o d e m ã o s vaz i a s . U m a vez rea basteci dos,
p u s e ra m -se, d e n ovo, a ca m i n h o , m a s, q u a n d o ch e g a r a m ? Ro m a , G e l á s i o 11 ti n h a
fa l ec i d o , e o s u cesso r, Ca l i sto 1 1 , n ã o s a n c i o n o u a p ro m essa d o a ntecess o r, m a s
tra n sfe r i u p a ra Sa nti a g o d e C o m poste l a os d i reitos m etro po l íticos d e M é r i d a ,
a i n d a s o b d o m ín i o m u çu l m a n o 1 2, ta l co m o a co ntecia com a s d i oceses d e L i s b o a
e É v o r a , q u e só e m 1 1 4713 e 1 1 6614, seri a m , res pectiva m e nte, reco n q u i sta d a s, n ã o
v i n d o p a ra a q u i a co m pa n h a r a s vicissitu d es d esta ú lt i m a , a t é a o sécu l o X I I I .
Ass i m s e cri o u a n ecess i d a d e d e t ravess i a p e r i ó d i ca d a fro nte i ra l u so-caste­
l h a n a por e l e m e ntos d esta s d u a s d i oceses, bem co m o , eve ntu a l m e nte, dos e m is­
sá rios d e Sa nti a g o , co nvi n d o o bserva r q u e a d e Évo ra co nfi n ava com o re i n o vizi­
n h o . E sta situação conservo u -se até fi n a i s d o sécu l o X I V, a ltu ra em que D. João I
n ã o p o d i a co nsenti r q u e, a pós a afi rmação d a I n d e p e n d ê ncia, n a seq u ê ncia d a
vitó ria d e Alj u ba rrota, o a rcebispo d e Santi a g o d e C o m poste l a conti n u asse a
exercer a s u a a uto ri d a d e m et ro po l ítica s o b re a ca p ita l d o re i n o d e Po rtu g a l . A
so l u çã o d i p l o m ática co n s i sti u e m a l ca n ç a r d a Sa nta Sé a e l evação d e Lisboa à
d i g n i d a d e de m etró p o l e eclesiástica, atri b u i n d o- l h e co m o s ufra g â n e a s as d i oce­
ses Évo ra, G u a rd a e La m e g o , até então, l i ga d a s a Sa n t i a g o d e Com poste l a , e
a i n d a a d e S i lves, q u e pertencia a Sevi l h a , p roj ecto co n c retizado p e l a b u l a ln emi­
nen tissime dignitatis, d e B o n ifácio IX, data d a d e 1 0 d e N ove m b ro de 1 393, a ss i m
term i n a n d o u m a situação q u e se m a nteve a o l o n g o d e q u a se três sécu l o s15, com
evi d e ntes re percu ssões n a s re l a ções fro nte i riças l u so-caste l h a nas, co nvi n d o te r
p rese nte q u e a G a l i za estava i nteg ra d a e m Caste l a .
2. 1. 4 .
-
Nova realidade eclesiástica n a zona de Riba Côa
Se, na l i n h a da fro ntei ra com Caste l a , esta e ra u m a situação de co i n c i d ê n c i a
d a s j u risd i ções civi l e eclesiástica n u m extenso te rritó rio q u e e n g l o bava a p ró p r i a
ca p ita l d o Re i n o, i m põe-se a n ota r q u e, d u ra nte o sécu l o X I I I , o utras su rg i ra m q u e
1 2 E R D MAN N , C a r l - O Papado e Portugal no primeiro século da história portuguesa,
Co i m bra, 1 937, p p . 20-34, presertim 30-34.
1 3 H E R C U LA N O, Al exa n d re - História de Portugal, 8." e d . , Lisboa, s. d . , pp. 1 5-5 1 .
1 4 Sobre os a uto res q u e se p ro n u n c i a ra m sobre a reco n q u i sta d e É vora, vej a-se B E I RANTE ,
M a ri a  n g e l a da Roch a - Évora na Idade Média, Lisboa. F. C. G u l be n ki a n - J N I CT. 1 995, p p . 1 7- 1 9 .
" AL M E I DA, Fort u n ato d e - História da Igreja e m Portugal. N ova e d i ção, preparada p o r
D a m i ã o Peres, vo l . I , Po rto, Portu c a l e n s e Ed ito ra, 1 967, p p . 283-284.
99
José M a rq u es
i m po rta ter p rese ntes n este ca p ítu l o , rel ativo à s i m p l i cações d e natu reza ecle­
s i á stica n a fl exi b i l ização n a travess i a d e a l g u n s seg m e ntos d a fro ntei ra l u so-cas­
tel h a n a . Ta l fo i o caso d a n ova rea l i d a d e o ri g i n a d a n.a reg i ã o d e R i ba Côa, na
seq u ê n ci a dos co n h ecidos aco nteci m e ntos po l íti cos, q u e nos l i m ita mos a evoca r
e m b reve s í ntese, a pa rti r d a s n e g o c i a ções d e paz entre D. D i n i s e Sa ncho IV d e
Ca ste l a , q u e, a l é m d e t e r e m fracassa d o , l eva ra m a s fo rça s caste l h a n a s a ata ca­
rem a s costas a l g a rv i a s p o rtu g u esas e a s n a u s a n co r a d a s n a foz d o Tej o, tendo a
i m e d i ata res posta d o a l m i ra nte Pessa g n o i nfl i g i d o pesa da d e rrota à a rm a d a cas­
tel h a n a . Apesa r d a seve ra p u n ição, c o n cretizada e m á g u a s atlâ nticas, D . D i n i s
deci d i u i nva d i r a s co m a rcas d e C i d a d e R o d r i g o e Led es m a , d i s p osto a ch ega r a
Va l h a d o l i d , p roj ecto q u e n ã o ch e g o u a co ncl u i r. Te n d o retroce d i d o , pa rci a l m e nte,
fixo u a s s u a s fo rça s e m d i ve rsas l oca l i d a d es sitas na m a rg e m d i reita d o Côa, q u e,
pelo t rata d o d e Alca n i ces, d e 1 2 d e Sete m b ro d e 1 297, fica ra m a p e rte ncer a
Po rtu g a l , n o m e a d a m e nte: Sa b u g a l , Alfa i ates, A l m e i d a , Caste l o Rod rigo, Vi l a r
M a i o r, Ca ste l o B o m , Caste l o M e l h o r, M o nfo rte e outros, n ã o i nteressa n d o , d e
m o m e nto, especifi ca r a s c l á u s u l a s d o m e s m o t rata d o , re l ativas à s zo n a s d o
M i n h o e d o A l e ntej o16• Pa ra o n osso estu d o i m põe-se a n ota r q u e, se o te rritó rio e
a s p o p u l a ções co m p ree n d i d a s entre a n ova l i n h a de fro nte i ra , d efi n i d a e m
A l ca n i ces, e a m a rg e m d i reita d o Côa, n o p l a n o po l ítico, pa ssava m a esta r s o b a
j u risdição de D . D i n i s e seus s u cesso res, s o b o po nto d e vi sta eclesiástico, conti­
n u ava m sob a j u risd i ç ã o d i ocesa n a d e C i d a d e Rod rigo, co m o bem se co m p rova
p e l a s taxas co n s i g n a d a s no Catálogo da igrejas, de 1 32 0- 1 32 1 17, e n a s inquirições
o r d e n a d a s p o r D. J o ã o I pa ra esta reg i ã o , em 1 395'8•
A i n c l u s ã o destes te rritó r i o s e m Po rtu g a l é co n h ec i d a , mas j á não d i re m o s
o m e s m o q u a nto à especificação d a s freg u e s i a s a í existentes e a o s m o nta ntes
e m q u e fo ra m taxa d a s, não o bsta nte p e rte n c e r e m ao b i s p a d o de C i d a d e
Ro d ri g o , ta l co m o aco nteceu c o m a s d o E ntre M i n h o e Li m a , e n t ã o , a i n d a
d e p e n d e ntes d e Tu i , seg u n d o a s m e n c i o n a d a s fo ntes . A fi m d e m e l h o r ava l i a r­
m o s a freq u ê n c i a e i nte n s i d a d e d a ci rc u l a çã o po r m ot i vos d e n atu reza a d m i n i s­
t rativa e c l e s i á st i ca e p a sto ra l , co nvé m especifica r a d i stri b u i ç ã o d esta s p a ró­
q u i a s p e l o s c o n ce l h os d esta reg i ã o , d e p e n d e nte d a j u risd i ç ã o d o b i s p o de '
C i d a d e Rod ri g o :
16 S E R R Ã O, J o aq u i m Ve rís s i m o - História de Portugal. Vo l I ( 1 080- 1 41 5 ) , Lisboa E d ito ri a l
Ve rbo, 1 977, p p . 1 48- 1 50 .
" ALM E I DA, Fo rtu n ato d e - História da Igreja em Portugal, vo l . IV, p p . 1 42- 1 43 .
18 Arq. Hist. de Portugal, vo l . X. pp. 286-29 5 .
1 00
Catálogo de 1 320/ 1 32 1
Dioceses
Concelhos
Paróq uias I I g rejas
Taxas
ALM E I DA,
F.-0.
Inquirições
de 1 395
c.,
p p . : 1 42 - 1 43
1 42
S a n t a M a r i a d o Ca ste l o
Castelo
e S . B a rto l o m e u
30
))
S . S a lva d o r
30
))
X"
X
Rodrigo
(vi l a )
X
S. J o ã o
15
))
S . J u l i ã o d o Pe re i ra
60
))
S . S a l va d o r e S. T i a g o
30
))
S . S a lva d o r d e Caste l o
30
))
30
))
15
))
S. Ped ro d e A l m ofa la
20
))
X
S . Vice nte d e F i g u e i ra d e
7
))
X
20
))
S a n t a M a ria d e Pe na
de Á g u i a
30
))
M o nfo rte e C o l m e a l
15
))
S a nta M a ria Vi l a r
24
))
30
))
X
45
))
X
X
Melhor
Santa Maria de
A l m e n d ra
S a n t a M a ria d e
Ve r m i osa
Castelo
Rodrigo
(te r m o )
Ca ste l o R o d r i g o
M a l p a rt i d a c o m S a n t a M a r i a
de V i l a r To m é
X
To rp i m
S . M a rti n h o d e Mata
de Lobos
E s ca l h ã o
S a n t a M a ri a de A l g o d res
30
))
S. M i g u e l de Esca r i g o
42
))
S a n t a M a ria de Vi l a r d e
1 2 . 1 020
))
X
Ama rgo e Fre ixeda
))
X
19 As ig rejas ou paróq u ias assi n a l adas n esta co l u n a com X, nos d i versos termos dos conce l hos
a b ra n g i dos pela j u risdição da d iocese de Cidade Rodrigo dividiam todas as suas rendas e m três par­
tes, sendo a parte do Rei dividida, de novo, em três ( terçai/os), de q u e o monarca só l eva ntava dois.
" N este e nos casos s i m i l a res, a p ri m e i ra p a rte do n ú m e ro i n d ica a s libras e a seg u n d a os
soldos.
1 01
Cidade
Fre ixeda, taxada c/ a
Rodrigo
a nt e r i o r
))
X
X
Lu z e l o s
Sta . M a ri a d e
1 0. 1 5
X
1 43
O u a d ra z a i s
Sab u g a l
Vilar Maior
(vi l a )
M u rg a n h e i ra
X
N ave
X
S . Pedro d e Vi l a r M a i o r
40
1 42
Sa nta M a r i a
20
))
S. João de M a l hada
20
))
S a nta Maria d e B i s m u l a
20
))
S. B a rto l o m e u d e N ave
20
))
S . João d e Ferm e l o
710
1 42
S a n t a M a ri a de A l m e i d a
50
))
S". Maria M a d a l e n a d e J u n ç a
710
))
Sa nta Maria d e Va l e
15
))
15
))
Sorda
Vi l a r Maior
(te rmo)
d e H aver (Aver)
Almeida
(vi l a e
termo)
de M u la
S. T i a g o
Alfa iates
(vi l a e
termo)
Castelo
S. João
15
))
Sa nta M a ri a d e Peça
Não taxada
))
S. Salvador de Aldeia de D o n a
N ã o taxada
))
Santa Maria Madalena
10
))
Sa nta Maria d e Vi l a F l o r
N ã o taxada
))
Sa nta M a r i a de S a c a p a rte
8
))
(0 Arc i p restado)
N ã o taxado
))
Sa nta M a ri a do Caste l o
20
1 42
S . M a rti n h o
10
))
S . João d e V i l a r
15
))
S . Tiago d e N aves ( N a b a i s ? )
15
))
S a n t a M a ri a d e Fre i n ed a
710
))
S. Pedro de R i o Seco
25
Formoso
Caste lo
Bom
(te rmo)
))
Q u a d ro n . 0 1
Pa ró q u i a s da m a rg e m d i reita do Côa, seg u n d o o Catálogo de 1320- 132 1
1 02
(erma)
X
(erma)
de A l d e i a de Po nte
Bom
(vi l a )
X
X
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
2. 1. 5 - In fluência monástica e religiosa-militar
Prosseg u i n d o p a ra n o rte, ao l o n g o da fro nte i ra com Caste l a , entre o utros,
depa rá m os com os efe itos d a a cção povo a d o ra co n d u z i d a n a reg i ã o tra n s m o n ­
ta n a p e l o s m o n g es cisterci e n ses d e M o re r u e l a e p e l o s frei res d a O rd e m do
Te m p l o , ra d i cados e m A l ca n i ces, a que j á nos refe r i m o s n o utros est u d os2\ bas­
ta n d o o bserva r que o g ove r n o d e cada uma d esta s a l d e i a s , d e p e n d e ntes do m os­
te i ro d e M o re r u e l a , estava confi a d o a u m a d u p l a "magistratura ;' cujos titu l a res
e ra m , res pectiva m e nte, e l eitos p e l o m o n g e d e M o re ru l a e p e l o s rep resenta ntes
d e ca d a u m a d essas a l d e i a s .
Ate n d e n d o a q u e o â m bito cro n o l óg i co d o n osso est u d o i n cide, esse n c i a l ­
m e nte, n o s sécu l o s XIV e XV, em q u e conti n u ava m a faze r-se se nti r os rea i s efe i ­
t o s d a s situações o ri g i n a d a s n o s sécu l o s X I I e X I I I , é i n d i s p e n sável esc l a rece r,
s u m a ri a m e nte, os seus p ri m ó rd i os, a ntes d e a n a l isa rmos o utros p a râ m et ros ,d as
re l a ções d e fro nte i ra l u so-caste l h a n a s .
Deixa n d o d e pa rte os casos d a d i ocese d e S i lves, esse n c i a l m e nte p rota g o n i ­
za d o p e l o I m pera d o r Afo nso X e p e l o n osso D . Afo nso I I I , a propósito d a n o mea­
ção dos seus p ri m e i ros b i s pos, a pós a reco n q u i sta d o A l g a rve, concretiza da
d u ra nte a ca m p a n h a m i l ita r d e 1 249- 1 25022, e o d a O rd e m M i l ita r d e Santiago,
so l u c i o n a d o , n o sécu l o XI I I , m e d i a nte a sepa ra ção d a casa - m ã e d e U c l és; a n ível
d e co m u n i d a des cisterci e n ses d e fro nte i ra , p o d e re m os a p o nta r, n a reg i ã o ribacu­
dana, o d e Sa nta M a ri a d e Ag u i a r e, n a l i n h a d o M i n h o , os d o m oste i ro g a l eg o d e
Sa nta M a ri a d e O i a23 e d o po rt u g u ês d e Sa nta M a ri a d e F i ã es, p o d e n d o-se afi rm a r,
q u a nto a este ú lt i m o , q u e a s u a i nfl u ê n c i a n a G a l i za se p ro l o n g o u até à ext i n çã o
d a s O rd e n s Re l i g i osas, e m Po rtu g a l , em 1 834, a ltu ra e m q u e a i n d a conservava , n o
rei n o vizi n h o, os coutos d e G a n ce i ros e G oj i n d e , bem docu m e ntados n o s e u
fu n d o docu m e nta l , d i s p e rso p e l o s Arq u i vos N a c i o n a l d a To rre do To m bo e Dist rita l
de B r a g a , s e n d o re l eva nte, pa ra os sécu l o s X I I e X I I I , o co ntri b uto d o cé l e b re Livro
" MARQU E S , José - Aspectos do povo a m e nto do N o rte d e Po rtu g a l nos sécu los X I I I -XIV,
i n Actas do Congresso Histórico Comemorativo dos 150 Anos do Nascimento de Alberto
Sampaio, G u i m a rã es, 1 995, p p . 209-234, sobret u d o , p p . 226-227. I D E M - Os m u n i c íp i os n a estra­
tég i a d efe n siva d i o n i s i n a , in Revista da Faculdade de Letras - História, 11 Série, vo l . XV, 1 998,
p p . 523-544.
22 MARQU E S , José - Afo nso X e a Di ocese d e S i lves, i n Boletim d o Arquivo Distrital do
Porto, Po rto, I n stituto Po rtu g u ês do Patri m ó n i o Cu ltu ra l , 1 985, p p . 3 1 -46.
" I D E M - O M oste i ro de O i a e a G ra nj a da S i lva, i n Relações entre Portugal e Castela,
p p . 205-233.
1 03
J o s é M a rq u es
das Datas o u Cartulário de Fiães24• Q u a nto a o M oste i ro d e O i a , a l é m d a s n u m e­
rosas p ro p ri e d a des d e q u e e ra titu l a r, e m Po rtu g a l , esse n c i a l m e nte n o va l e do
M i n h o, s o b retu d o n a zo n a d e Vi l a N ova d e Cerve i ra , d eve m os reg i sta r q u e, e m
p l e n a g u e rra da I n d e p e n d ê n c i a , D . J o ã o I c o n c e d e u l i vre trâ n s ito a o seu D.
Abad e'5, situação a q u e, a l é m d o a l ca n ce po l ítico que l h e estava s u bj a ce nte, não
será estra n h o o fa cto d e o n osso m o n a rca ter sido Mestre da Ordem de Avis, cuja
espi ritu a l i d a d e m u ito devia à i nfl u ê n c i a cisterc i e n se26•
Às b reves n otas re l ativas à i nfl u ê n c i a das i n stitu i ções e c l e s i á sticas n o q u e
te m o s des i g n a d o flexibilização da tra vessia da linha de fronteira, d eco rrente d a s
n ecess i d a d es d e o r d e m a d m i n ist rativa eclesiástica e pa sto ra l , q u e r n a zo n a d o
M i n h o , a b ra n g i d a p e l a d i ocese d e Tu i , q u e r n a co nfi n a nte com a d e B a d aj oz,
m e rcê da j u risdição m etro po l ita n a d e Santi a g o d e C o m poste l a , d eve m o s a c res­
centa r a s situações p o ntuai s, o ri g i n a d a s por i nfl u ê n c i a de o r d e n s m o n á sticas e
m i l ita res, ra d i ca d a s e m te rritó rio caste l h a n o , e m p ó l os d a zo n a t ra n s m o nta n a , a
n o rte d o rio D o u ro e n a s u a m a rg e m d i re ita, a q u e j á nos refe ri m os, e m porme­
n o r, n o utros est u d o s . E m j e ito d e s í ntese, ba sta o bserva r o que aco nteci a com
lfa n es, Co n sta nti m , Pa l a ço u l o , e M o ntez i n h o , Ág u a s Vivas e Ang u e i ra , d e p e n d e n ­
t e s d o M o stei ro cisterci ense d e M o re r u e l a'7, c u j o povo a m e nto s ó a c a b o u d e s e
concretiza r e m 1 3 1 0, m ed i a nte a d i spersão e fixa ção d e setenta e d o i s povo a d o­
res p o r estas a l d e i a s'8• Situações i d ê nticas e ra m a d o s Te m p l á ri o s d e Alca n i ces,
q u e povo a r a m Sera p i cos, Ave l a noso, Vi l a d e Fra des (Va l e d e Fra d e s ) e S . J o ã o de
R i ba Dou ro, n a te rra d e M i ra n da'9, e a s dos re l i g i osos d o m oste i ro d e S . M a rti n h o
d a Ca sta n h e i ra , exp ressa m e nte refe r i d o co m o s e n d o d e rei n o d e Leã o , q u e
24 A . D . B . , Ms. 1 05 2 .
25 Arq u i vo H i stórico N a c i o n a l d e M a d ri d (A. H . N . ( M a d r i d ) , Clero (carpeta 1 838, n . 0 1 6) ,
p u b . p o r MARQU E S , J o s é - C a rtas i n éd itas d e D. J o ã o I d o Arq u i vo H i stórico N a c i o n a l de
M a d ri d . N ovos e l e m e ntos p a ra o estud o das re l a ções g a l a i co-portu g u esas, nos sécu l o s XIV-XV,
i n Relações entre Portugal e Castela nos finais da Idade Média, Lisboa, F. C. G u l be n ki a n - J N I CT,
1 994, p p . 2 57-282.
26 MARQU E S , J osé - C a rtas i n éd itas. d e D . J o ã o I , i n Relações en tre Portugal e Castela,
1 994, p. 267.
" Documentos de O. Sancho I. ( 1 1 74- 12 1 1 ). Coord . p o r R u i de Azeved o , P.• Ave l i n o de Jesus
d a Costa, M a rce l i n o R . Pe re i ra , Coi m bra, U n i v. - Centro d e H i stó r i a , 1 979, p . 3 1 2 .
28 ALFO N S O ANTO N , I s a b e l - La colonización cisterciense e n la Meseta de/ Duero. E / domí­
nio de Morerue/a (Siglas XII-XIV), D i p utaci ó n Za m o r a n a , I nstituto de Estú d i o s Za m o ra n os
« Fi o r i a n d e Oca m p o » ( C . S . I . C . ) , 1 986, pp. 525-526.
" P.M. H. lnquisitiones, I , p . 1 279.
1 04
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
povo a ra m S. M a rti n h o d e Ang u e i ra , n o te m p o d e D . Sa ncho I, p o rta nto, a ntes de
1 2 1 1 , a n o da s u a m o rte30, o m e s m o te n d o fe ito, em re l a çã o a S. M a rt i n h o da
R i bei ra3\ a m ba s d a te rra d e M i ra n d a . A este m oste i ro perte n ci a m , a i n d a , a i g rej a
e vi l a rústica d e Sta . O l a i a ( E u l á l i a ) de Vi l a M eã , a d q u i ri d a , p o r co m p ra , a a l g u n s
cava l e i ros32, e a v i l a e i g rej a d e S . C i b rã o d e Ave l a n e d a , d esco n h ece n d o-se a q u e
t ítu l o ti n h a m e l es e ntra d o na s u a posse33•
E stes teste m u n h o s d a i nterve nção d e i n stitu i ções m o n á sticas e re l i g i oso­
- m i l ita res n a reg i ã o fro nte i ri ça t ra n s m o nta n a não se pode sepa ra r d a fase de
povo a m e nto, m a i s i ntensa n o sécu l o X I I I , a que ta m bé m se a ssoci a ra m a l g u ns
pa rt i c u l a res p o d e rosos, d e q u e as I n q u i ri ções d e D . Afo nso I I I n o s fo rnecem
n u m e rosas i nfo r m a ções.
E sta s i stem ática i nfl u ê n c i a vinda d o o ut ro lado d a fro ntei ra desag ra d ava a D .
D i n is, q u e n a s u a l o n g a e efi caz po l ítica d e d efesa d o te rritó rio n a ci o n a l se l h e fo i
o p o n d o , d e vá r i a s fo r m a s34, p roj ecto a q u e D . Afo nso IV, seu fi l h o e s u cesso r, d e u
o contri b uto possíve l , através d o l o n g o p ro cesso d a s inquirições à s jurisdiçõe�5,
q u e ficou a caracte riza r o seu re i n a d o , i m p ri m i n d o - l h e u m a c l a ra n ota de ténta­
tiva d e centra l i zação d o p o d e r. A t ítu l o d e exe m p l os, a p raz-nos reco rd a r q u e, se
o m oste i ro d e M o nte d e Ra m o , e m 1 6 d e N ove m b ro d e 1 335, viu co nfi r m a d a a
j u risdição cíve l , d e q u e, até então, g ozava s o b re C i d õ es e Vi l a r d e Pe reg ri nos, teve
de averba r ta m bé m o facto d e o m e s m o m o n a rca l h e ter cassa d o a j u risdição
rel ativa à s l oca l i d a d e s d e N u n es, E d rosa, Zo i o ( Ousoio), Pe n h a s J u ntas, N ozed o
( Jozedo ) , etc.36•
A docu m e ntação n ã o esc l a rece se a l i gação d este m oste i ro com a s a l d e i a s
e m c a u s a está re l a c i o n a d a com a s p ri m itivas a cções d esti n a d a s à fixa ção dos p r i ­
m e i ros povo a d o res, res p o n sáve i s p e l o seu a rrotea m e nto, m a s n e m p o r isso
3 0 P.M. H. lnquisitiones, I , pa rs 11, fasc. l l l , O l i s i po n e , 1 96 1 , p . 1 28 1 .
3' P.M. H. lnquisitiones, I , p p . 1 282 e 1 283.
" P.M. H. lnquisitiones, I , p . 1 33 5 .
3 3 P.M. H. lnquisitiones, I , p . 1 337.
34 MARQ U E S , José - Os m u n i cípios p o rtu g u eses n a estratég i a d efe nsiva d i o n i s i n a , i n
Revista da Faculdade de Letras - História, l i � érie, vo l . XV, Po rto, 1 998, p p . 523-544.
35 MARQU E S , José - D . Afo nso IV e a s j u risd i ções s e n h o r i a i s , in Actas das 11 Jornadas L uso­
Espanholas de História Medieval, vo l . IV, Po rto, I N I C-CH U P, 1 990, pp. 1 527- 1 566. I D E M D. Afo nso IV e as j u r i s d i ções s e n h o r i a i s g a l a i co - l e o n esas no N o rte de Po rtu g a l , i n Brigantia ­
Revista de Cu ltu ra, vo l . XI I , n . 0 4 - Out. Dez. 1 992, p p . 1 7 5 - 1 9 6 .
" A. N .T. T. , Além Douro, l i v. 2, fi . 2 0 4 . Pu b l . p o r MARQU E S , José - O . A fonso IV e as jurisdi­
ções senhoriais galaico-leonesas, no Norte de Portugal, i n « B ri g a nti a », B ra g a nça, vo l . 1 2 (4) Out.­
Dez., 1 992, p p . 1 88- 1 90 .
1 05
José M a rq u es
p o d e rá d es l i g a r-se d o dese nvo lvi m e nto e g estã o d o respectivo te rritó rio e e n q u a ­
d ra m e nto d a s s u a s g e ntes.
I d ê ntico fo i o q u e a co ntece u e m re l a ç ã o a o . m o ste i ro za m o ra n o de
M o re r u e l a , cuja j u risdição s o b re as a l d e i a s d e M o ntesi n h os e Ou i nte l a , fo i cas­
sada por se nte nça d e D . Afo nso IV, d ata da d e 4 d e J a n e i ro d e 1 34037, situações
d eco rre ntes, n atu ra l m e nte, das a cções d e povo a m e nto aci m a d escritas, que n e m
se m p re tive ra m a p e rm a n e nte efi cácia espera d a .
C o m efe ito, q u a nto a o m oste i ro d e M o re r u e l a , a o q u a l D . Sa n ch o I , e m
J a n e i ro d e 1 2 1 P8, confi o u u m conj u nto d e a l d e i a s ra i a n a s pa ra a s povo a r, n o
t e r m o d e M i ra n d a , co m o lfa nes, Co n sta nti m , Pa l a ço u l o, Ág u a s Vivas e A n g u e i ra ,
ta l d e s i d e rato, a pesa r d a s i nfo r m a ções reg i sta d a s n a s i n q u i rições d e 1 2 58, só
v i r i a a co n c retiza r-se, defi n itiva m e nte, e m 1 3 1 0, co m o j á d i ss e m os, m ed i a nte a
d i s p e rs ã o e fixa çã o d e sete nta e d o i s povo a d o res p o r essas a l d e i a s39, fa cto q u e
v e m co m p rova r o s e u d efi c i e nte esta d o d e povo a m e nto. E sta situação é ta nto
m a i s d e estra n h a r q u a nto é ce rto q u e e ntre esta s d u a s d atas - 1 2 1 1 e 1 3 1 0, afi n a l ,
d i sta n c i a d a s u m sécu l o - o refe ri d o m oste i ro z a m o r a n o , e m 1 0 d e M a i o d e' 1 253,
b e n efi c i o u d e t rês ca rtas d e D . Afo nso I I I : u m a confi rm a n d o- l h e todas a s p ro p rie­
d a d es que possu ía n a te rra d e B ra g a n ça , o utra, outorgada a ped i d o d o a ba d e
Ped ro e d o respectivo co nve nto, i s e nta n d o-os d o pa g a m e nto d e p o rt a g e m d e
t u d o o q u e co m p rassem e m Po rtu g a l , e, fi n a l m e nte, u m a te rce i ra , p e l a q u a l o
m o n a rca d e c l a rava q u e to m ava s o b a s u a e n co m e n d a e p rotecção q u a nto o
M oste i ro d e M o re ru e l a possu ía e m te rra p o rtu g u esa, ca rtas q u e, m a i s u m a vez,
acentu a m e j u stifica m o l ivre trâ n s ito da fro nte i ra , a q u e, repeti d a m e nte, n o s
v i m o s refe ri n d o40• Com esta m e d i d a povo a d o ra , a cti va d a e m 1 3 1 0, se a i n d a n ã o
exist i a , esta bel eceu-se a í u m i nteressa nte s i ste m a d e a d m i n istração j u d i c i a l ,
i nte rro m p i d o p o r sentença d e D . Afo nso IV, d e 3 1 d e Ag osto d e 1 340, p ro d u z i d a
n a seq u ê n c i a d a s refe r i d a s inquirições senhoriais, p o r e l e m a n d a d a s efect u a r4 1 •
37 A. N . T. T. , Chancelaria de O. Afonso IV, l i v. 4, fi . 57v-58. Pu b l . p o r MARQU E S , José O. A fonso IV e as jurisdições galaico-leonesas, p. 1 90 - 1 9 2 .
" Documentos d e O . Sancho 1. ( 1 1 72- 1 2 1 1). C o o r d . p o r R u i d e Azevedo, P. Ave l i n o d e Jesus
d a Costa . M a rcel i n o R . Pe re i ra , U n iv. d e Co � m b ra, Centro d e H i stó r i a , 1 979, p . 3 1 2 .
39 ALFO N S O ANTO N , I s a b e l - L a colonización cisterciense e n la Meseta de/ Ouero. E/ domí­
nio de Morerue/a (Siglas XII-XIV), Di putaci ó n Za m o r a n a , I n stituto de Estú d i o s Z a m o r a n o s
« Fi o r i a n d e Oca m p o » ( C . S . I . C . ) , 1 986, p p . 525-526.
40 VE NTU RA, Leonti n a e O LIVE I RA; Antó n i o Rese n d e - Chancelaria de O. A fonso III, l i vro I ,
vo l . 1 , fi . 1 , Co i m b ra , I m p rensa d a U n ivers i d a d e d e Coi m b ra U n i versity Press, 2 0 0 6 , p p . 1 6- 1 8 .
4 1 A. N . T. T. , Chancelaria d e O . Afonso Jv, l i v.4, fi . 58. Pu b l i ca d o por MARQU E S ; José - D .
Afo nso IV e a s j u risd i ções s e n h o r i a i s g a l a i co - l e o n esas n o N o rte d e Po rtu g a l , i n O. c.,. p . 1 92- 1 94.
1 06
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Em l i n h a s g e ra i s, este s i ste m a j u d i c i a l e ra exe rci d o , s o l i d a ri a m e nte, por u m
re p rese nta nte d o m oste i ro , esco l h i d o p e l o fra de, q u e a í s e e n co ntrava , e p o r
o utro, e l e ito p e l a a l d e i a , p a ra a re p rese nta r. Da sentençp e m itida p o r estes d o i s
juízes h avia possi b i l i d a d e d e a pe l a r p a ra o mampastor, q u e se e n co ntrava e m
B ra g a n ça , e d este pa ra o m o n a rca .
A l é m d a s i nte rve n ções d o s m oste i ro s d e M o re r u e l a , S . M a rti n h o d a
Casta n h e i ra e d a O r d e m d o Te m p l o , d e q u e j á nos ocu p á m os, ta m bé m a O rd e m
d o H o s p ita l m a rcava p resença e m Ave l a n oso e A l g oso42 e e m g ra n d e pa rte d a
te rra d e M i ra n d a , se d e r m o s créd ito a o d e po i m e nto d e D o m i n g os E steves,
a l ca i d e d e Trava nca, q u e, te n d o s i d o i n e rrog a d o dixit quod audivit dicere homini­
bus qui sciebant quod tota terra de Miranda fuit Domni Regis sicut dividit com
regno Legionis et modo tenent ipsam terram Ordo Hospitalis et Ordo Templi et
monasterium de Moreirola et milites de Legione et de Portugalia et non faciunt
inde forum Domno Regi»43•
Estas n otas d i s p e rsas, n o utros co ntextos, p o d e ri a m e até d everi a m ser
a m p l i a d a s , m a s a q u i d esti n a m -se, a pe n a s a ch a m a r a ate nção pa ra a s pectos d o
re l a ci o n a m e nto e ntre po p u l a ções l u so-caste l h a n a s q u e n ã o t ê m s i d o m u ito va l o ­
riza d a s .
N a seq u ê n ci a d a s sentenças res u lta ntes d o s p rocessos o r i g i n a d o s p e l a s
inquirições dec reta d a s po r D . Afo nso IV, e m o rd e m à d e m o n stração da l e g iti m i ­
d a d e d a s j u risd i ções d e q u e i n stitu i ções e pessoas eclesiásticas e l e i g a s e ra m titu­
l a res e co m o res u lta d o d a s a cções bé l i ca s l u so-caste l h a nas, desenca d e a d a s
d u ra nte os re i n a d os d e D . Fern a n d o e d e D . J o ã o I , a q u e a c resce ra m as re p e r­
cussões d o C i s m a d o O c i d e nte, i nvoca d a s co m o p retexto pa ra a cisão d o E ntre
M i n h o e Li m a d a Sé d e Tu i e o afa sta m e nto d a j u ri s d i ç ã o d e S a n t i a g o d e
Com poste l a s o b re a s d i oceses d e Évora e L i s b o a , é patente u m a c l a ra d i m i n u i ção
da p ressão eclesiástica s o b re o que desig n á m os flexi b i l i d a d e n a t ravessi a d a
exte nsa fro nte i ra , q u e t e m p re n d i d o a n ossa ate n ç ã o .
2 . 1 . 6.
-
Duas realidades de âmbjto diocesano
Apesa r d i sso, pa ra o sécu l o XV, i m põe-se ch a m a r a ate nção pa ra a s traves­
s i a s da fro nte i ra nos d o i s sentidos, p ratica d a s p e l o s n u m e rosos ca n d i d atos à
42 P.M. H. /nquisitiones, I, p . 1 280.
43 P.M. H. lnquisitiones, I , p . 1 280.
1 07
J osé M a rq u es
recepçã o d e o rd e n s m e n o res e o rd e n s sacras, p rocede ntes d e d i o ceses h i s p â n i ­
cas, com pa rticu l a r i n c i d ê n c i a d a s d e Tu i , O re n s e e Santi a g o d e Co m poste l a , q u e
se desl oca ra m a B ra g a e a o utros po ntos d esta Arq u i d) ocese, o n d e sa b i a m q u e
teria l u g a r a colação d a s mesmas, co m o c o n sta d o s m a ços d e Matrículas de
ordens, conserva d a s n o Arq u i vo D i strita l d e B r a g a , re l ativas a o pe río d o d e 1 430
a 1 50 0 , s itu a n d o-se fo ra d o n osso o bj e ctivo a s refe rentes aos te m pos poste r i o res.
É possíve l que este n ovo dado se afi g u re i n s i g n ifica nte a a l g u m l e ito r, m e n os
i nfo r m a d o da i m po rtâ n c i a h i stórica d esta docu m e ntação, m a s n ã o p a ra n ó s q u e,
d u ra nte vários m eses, p roce d e m o s a o seu l eva nta m e nto exa u stivo e, poste rior­
m e nte, a o res pectivo est u d o , q u e r i nteg ra d o e m o b ra m a i s extensa44, q u e r e m tra­
ba l h o a utó n o m o , exc l u s i va m e nte, d e d i c a d o à repercussão d a e l eva d a p rese n ça
d e ca n d i d atos o r i u n d o s d a s d i ocese h i s p â n icas, m a s, s o b retu d o , d a s c i n co d i o­
ceses g a l egas, n a s re l a ções l u so-g a l a i ca s45• Procu ra n d o concretiza r um p o u co o
q u e a ca ba m os d e afi rm a r, vej a-se o q u a d ro q u e n o s fo i poss íve l e l a bo ra r, com a
i n d icação d o s ca n d i d atos d a s m e n c i o n a d a s ci n co d i oceses g a l egas, consta ntes
da� Matrículas de ordens, rel ativas, a pe n as, a o pe río d o de 1 430 até 1 46846: ,
D ioceses:
N.0 de candidatos:
O re n s e
228
Tu i
242
Santiago
81
Lugo
24
Mondon hedo
22
Tot a l
597
Q u a d ro n . 0 2 - Ca n d i d atos g a l eg o s o r d e n a d o s e m B ra g a
44 MARQU E S , José - A Arquidiocese de Braga, no século XV, Lisboa, l N - C M , 1 988, pp.
953-99 1 .
45 I D E M - R e l ações g a l a i co-braca renses, no sécu l o XV, seg u n do as Matrículas de Ordens
do Arq u i vo D i strita l de B ra g a , i n Relações entre Portugal e Castela nos finais da Idade Média, p p .
325-347.
46 MARQU E S , José - A fro nte i ra do M i n h o , espaço d e convivê n c i a g a l a i co-m i n h ota, na
Idade Média, i n Estudos de Homenagem a Luís António de Oliveira Ramos, vo l . 2, Po rto
Facu l d a d e de Letras, 20 04, p. 708. A l é m d estes 597 ca n d i d atos d a s d i oceses g a l egas, no m e s m o
est u d o ( Q u a d ro n . 0 2 ) , reg i sta m os a p rese nça d e 65 ca n d i d atos p rocede ntes d e m a i s 1 7 d i oce­
ses h i s p â n i cas, q u e não co n s i d e ra m o s p e rt i n e nte i n cl u i r no p rese nte estu do, remete n d o , no
e nta nto, os l e itores i nteressados p a ra o est u d o Relações entre Portugal e Castela nos finais do
século XV, q u a d ro i ns e rtos e ntre a s p p . 330-33 1 .
1 08
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Pa ra e n ce rra r m o s esta p ri m e i ra pa rte do n osso est u d o , é o p o rt u n o refe r i r
a s i t u a ç ã o d e natu reza a d m i n i strativo-ec l e s i á st i c a , d eco rrente d a s p o s i ções d e
Po rt u g a l e d e Ca ste l a e m re l a çã o a o C i s m a d o O c i d e nte � a g rava d a p e l a s o pções
p o l ítico-pa rt i d á ri a s d e um s i g n ificativo n ú m e ro d e c l é r i g os po rtu g u eses e cas­
t e l h a n os, e s p e c i a l m e nte, e n t re 1 385 e 1 394, co i n c i d e nte c o m a fa se m a i s
i nt e n s a d a g u e rra d a I n d e p e n d ê n c i a . A co m p l ex i d a d e d esta rea l i d a d e , pa rt i c u ­
l a riza d a n o decu rso d o est u d o e m q u e fo i a n a l i s a d a , a ce nt u a -se p e l o fa cto d e a s
n u m e ro s a s súplicas s e r e m a p resenta d a s q u e r n a C ú ri a Ro m a n a , q u e r e m
Avi n h ã o , e patroci n a d a s p o r a ltas fig u ra s d a v i d a po l ítica e e c l e s i á stica, n ã o fa l ­
ta n d o o s casos d e i n s i ste ntes súplicas d e b e n efíc i o s p o r e c l e s i á sticos q u e s e
e n co ntrava m e m s itu a ções ext re m a s d e s o b revivê n c i a , c u j a a n á l i s e é i m possí­
v e l n e ste m o m e nt o .
C o m o , o p o rtu n a m e nte, o bservá m os, cre m o s q u e, e m m u itos casos, d a d a a
situação po l ítica v i g e nte, d ifici l m e nte se terão co n c retizado as to m a d a s de posse
d e c l é ri g o s d e d i oceses g a l egas e caste l h a n a s e m Po rt u g a l e d e po rtu g u eses em
d i oceses d e a l é m fro nte i ras, a pesa r de, m e rcê das m e n c i o n a d a s o pções po l íti cas,
j á se e n contra re m , nos re i n os o n d e estava m situ a d os os b e n efícios conced i d os e
co nfi rmados.
Mesmo q u e, e m m u itos casos, o a cesso aos b e n efícios atri b u ídos te n h a
fi cado p o r concretiz a r, até p o r fa cto res d e o posição l oca l à p resença d e titu l a res
estra n g e i ros, a docu m e ntação confi r m a a p rese n ça de c l é ri g o s p o rtu g u eses no
re i n o d e Caste l a , e d e o utros o ri u n d o s d e d i oceses h i s p â n i cas, e m Po rtuga l47•
2 . 2.
-
Com plexidade das relações fronteiriças
N a p ri m e i ra p a rte d este e st u d o , t i v e m o s a p re o c u p a ç ã o de ev i d e n c i a r a s
co n se q u ê n c i a s d a p re s e n ç a d e j u risd i çõ e s e c l e s i á st i c a s caste l h a n a s , e m terri­
tórios po rt u g u eses, nas re l a ções c o n c retas e ntre Po rt u g a l e C a ste l a , p ra t i ca d a s
a o l o n g o d a fro nte i ra , esse n c i a l m e nte, p e l a s p o p u l a ç õ e s ra d i ca d a s n o s d o i s
l a d o s d a m e s m a . E m b o ra te n d o s e m p re p rese nte a p re o c u p a ç ã o d a s í ntese,
p ro c u rá m o s q u e a m e n s a g e m exp o sta n a p ri m e i ra p a rte ficasse bem c l a ra ,
ta nto m a i s q u e se t ratava d e a s s u nto q u e n ã o t e m o s v i sto a b o rd a d o n esta
p e r s p ect i va .
47 I D E M
-
C l é ri g o s p o rtu g u eses exi l a d o s e b e n efi c i a d o s e m Caste l a N ova e na And a l u z i a
nos fi n a i s d o sécu l o XIV, i n Revista d e Ciências Históricas, vo l . IV, Po rto, U n ivers i d a d e
Po rtuca l e n se, 1 989, p p . 1 77- 1 94.
1 09
J osé M a rq u es
Deve r e m o s , p o r isso, e n u n c i a r, a g o ra , o utras fo r m a s d e re l a ci o n a m e nto
tra n sfro nte i riço, d eterm i n a d a s p o r n u m e rosos e va ri a d íss i m os m ot i vos q u e
passa m o s a expo r, ta m bé m d e fo r m a a b revi a d a , n a c e rteza d e q u e cada u m d e l es
p o d e r i a ser o bjecto de a m p l o d ese nvolvi m e nto, te n d o a l g u n s atra ído j á a n ossa
ate nção, em estudos a utó n o m os, ci rcu n stâ n c i a q u e nos perm ite fa l a r d a co m p l e­
x i d a d e d a s re l a ções concretas, vivi d a s a o n íve l d a fro nte i ra l u so-caste l h a n a .
2. 2. 1.
-
Efeitos da guerra e pressão dos fronteiros
N atu ra l m e nte, é fá c i l pensa r n essa rea l i d a d e, p rese nte n a s zo n a s de fro nte i ra
p o r oca s i ã o dos co n h ecidos confl itos b é l i cos e d a s res pectivas seq u e l a s . Fixa ndo­
-nos, a pena s , nos sécu l o s XIV e XV, ba sta evoca r a g u e rra l u so-caste l h a n a d e
1 338- 1 340, entre D. Afo nso IV e Afo nso X I , term i n a d a p e l a n ecess i d a d e d e os d o i s
m o n a rcas se e n ca m i n h a re m pa ra o Sa l a d a - o n d e d e rrota ra m a s fo rças m u ç u l ­
m a n a s - , m a s cujas conseq u ê n c i a s a n íve l da fro nte i ra , d o l a d o p o rtu g u ês, n a s
reg i ões d e Ba rroso, M o nta l e g re e M o nfo rte d e R i o Li vre, fo ra m , d rastica m e nte,
sentidas p e l a s s u a s po p u l a ções q u e o b ri g a ra m D . Afo nso IV a re negoci a r-l hes os
fo ra is p ri m itivos, red uzi n d o a re n d a a n u a l co l ectiva a p resta ções q u ase s i m bó l i ­
cas, pa ra evita r q u e a ba n d o n a ssem a s m e n c i o n a d a s terras, d e ixa n d o-as despo­
vo a d a s o u mesmo d e fog o-m o rto48, sendo co n h ec i d a ta m bé m uma c e rta reci p ro­
c i d a d e n o q u e se passou n a fro nte i ra caste l h a n a , m a i s concreta m e nte, n a zo n a d e
B a d ajoz e n a l i n h a d o G u a d i a n a . A títu l o d e exe m p l os, reco rd e m os q u e D . Afo nso
IV, co m o fu n d a m e nto d a red ução d o fo ro c o l ectivo d a s g e ntes d e M o nta l e g re, n a
te rra d e Ba rroso, afi r m a «que no tempo d a guerra q u e ora foy antre mim e e/ Rey
de Castela que campanhas do seu senhoryo dei Rey de Castela chegaram ao dieta
logo de Montalegre e que queimaram a moor parte dei e que lhis ardereu hy
entom a dieta carta (de fo ra l ) que lhis assi o dieta meu pai dera »49• E m re l a ç ã o a
M o nfo rte d e R i o Livre, o m e s m o m o n a rca d iz : - « . . . a quantos esta carta virem faço
saber que os moradores e concelho de terra de Monforte de Rio Livre me envia­
ram dizer en como a dieta terra esta va estragada per razom de demandas que
antre eles ouve outrossi da guerra que recreceu antre mim e e/ Rey de Castela
48 MARQU ES, José - Reflexos da g u e rra l u so-caste l h a n a de 1 338-1 340 n a s terras d e
B a rroso e M o nfo rte d e R i o Livre, i n Estudos Transmontanos, n . 0 1 2, Vi l a Rea l , Arq u i vo D i strita l ,
2005, p p . 39-6 1 .
49 A . N . T T., Chancelaria de O. A fonso IV, l i v ro 4 , fi . 47v. MARQU ES, J . - Refl exos d a g u e rra
l u so-caste l h a n a d e 1 338-1 340, in O. c. , p p . 5 1 -54.
1 1o
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
que receberam muyto dano . . . »50• I d ê ntica situação d e p o b reza reve l ava a po p u l a ­
ç ã o d e Ba rroso, afi rm a n d o q u e e l a ti n h a ch e g a d o a ta l po nto q u e n ã o pod i a m
p a g a r o fo ro d e «tres m il e quinhentos mara vedis velh os», n e m , m e s m o , vive r a í,
s e n d o a co nseq u ê n c i a i m e d i ata o des povo a m e nto da te rra51 •
D u ra nte esta m e s m a g u e rra , as fo rça s p o rtu g u esas ataca ra m as vi l a s d e
Aroch e, Aracena e Co rteg a n a , cujos a rra ba l des «foram queymados, e mortas asaz
de gentes, e deles cativos, que eles trouverom com gramde parte da terra que ha
Ordem de Santiago aly tem recebeu muy gramde dapno>P . O Conde D . Ped ro ,
i rm ã o d e D . Afo nso IV, p raticou n a G a l i za i d ê nticas vi o l ê ncias, q u e a g rava m o
ce n á ri o d e d evastação desta g u e rra , n ã o o bsta nte os s e u s i nte rve n i e ntes pa rece­
rem q u e re r evita r os co nfro ntos pesso a i s53, o pta n d o por evi d e ntes a cções d e reta ­
l i ação, t i p i ca m e nte, ca ra cte rísticas de u m a m b i e nte d e g u erri l h a .
Po r s u a vez, Afo nso X I d e Caste l a n ã o d e ixou d e e ntra r e m Po rtu g a l p a ra d a r
a res posta q u e Fe r n ã o Lopes descreve nestes termos: « e chegou a Elvas, rou­
bando os seus e destrojndo qualquer cousa que achavam. E as gemtes. que
vinham em sua campanha corriam a terra toda, trazen do dos lugares domde che­
ga vam, gramdes roubos e muytos cativos, poemdo foguo ao Açumar e a outras
aldeas daquela comarca e queymando quamtas outras povoações, em guisa que
h u se acerta uom de chegar tudo ficava estroydo»54•
-
Reg i stá mos a l g u n s efe itos d eva sta d o res de g a l egos e caste l h a n o s n a s
reg i ões d o n o rte d e Po rtu g a l , concreta m e nte, e m B a rroso, M o nta l eg re e M o nfo rte
de R i o Li vre, e ta m bé m em E lvas, co m o reta l i ação p e l o s d esacatos causados
p e l o s p o rtu g u eses e m a l g u m a s povoações estre m e n h a s caste l h a n a s .
A s u l d a l i n h a d o M i n h o, h o uve ta m bé m reta l i ação contra o m oste i ro c i ste r­
c i e n s e de Sa nta M a ri a de O i a , q u e, em te rmos m i l ita res, n ã o ofe recia q u a l q u e r
peri g o p a ra a reg i ã o d e Va l e nça, cujas a uto r i d a d es n ã o h esita ra m co nfisca r o
vasto patri m ó n i o q u e esta co m u n i d a d e m o n á stica poss u ía, n o va l e d o M i n h o,
e ntre Va l e n ça e Ca m i n h a , n u m tota l d e 69 t ítu l o s d e posse, d i s pe rsos p o r deza-
50 A. N . T. T . , Chancelaria d e O . A fonso IV, l ivro 4, fi . 5 1 . I D E M
-
Refl exos d a g u e rra, i n . O. c.,
5 1 A. N . T. T., Chancelaria de O. Afonso IV, l i vro 4, fi . 67. I D E M
-
Refl exos da g u e rra, i n . O. c.,
55-57.
57- 6 1 .
52 Crónica d e O . A fonso IV, p . 254.
53 Crónica de O. A fonso IV, p . 25 5 .
54 Crónica de O. A fonso IV, p . 257.
111
José M a rq u es
n ove freg uesi a55• Desco n h ecemos a d ata exa cta e m q u e o m e n c i o n a d o co nfisco
teve l u g a r, e m b o ra se d eva situ a r nos p ri m ó rd i o s d o co nfl ito bél ico q u e l h e d e u
o ri g e m , m a s s a b e m o s q u e D . Afo nso IV, e n co ntra n d o- � e em M u ge, n o d i a 1 8 d e
Agosto d e 1 340, o rd e n o u a o a l m oxa rife e a o escrivão d e Va l e nça, a d evo l u çã o a o
refe r i d o m oste i ro g a l e g o dos bens d e ra i z confisca d o s d u ra nte a g u e rra, a g o ra
fi n d a . A ca rta rég i a fo i a p rese nta d a aos d esti n atá rios, e m 1 6 d e Sete m b ro
seg u i nte, te n d o o a uto d e e ntrega s i d o l av ra d o , n a g ra nj a d a S i lva, n a p resença
d o D . Aba d e, p e l o co m i ss i o n a d o ta b e l i ã o , L u ís Pi res56, m a s a d evo l u çã o dos bens
m óveis e s e m ove ntes só vi ria a ser a uto riza d a e m 24 d e J u n h o d e 1 34257•
As tra nscri ções até a q u i fe itas a p ro pós ito d esta g u e rra q u e d u ro u ce rca d e
d o i s a n os, fo ra m , certa m e nte, excess ivas, m a s perm item l eva nta r u m p o u co o
véu s o b re as d eva sta ções ca u s a d a s d e a m bos os l a dos d a fro nte i ra .
Depois, seg u i ra m -se a s três g u e rras fe rn a n d i nas, cujos rastos d e dest r u i ­
ção fica ra m reg i sta d o s n o s re l atos cron ísticos e n o utra docu m e ntaçã o . E m re l a ­
ção à pass a g e m d o s exércitos d e H e n ri q u e 1 1 , p e l o n o rte d o Rei n o , d e s d e Va l e n ça
até B ra g a n ça , d u ra nte a p ri m e i ra d estas g u e rras, basta a p o nta r co m o exe m p l o
i n eq u ívoco d a s u a a cção d eva sta d o ra o esta d o e m q u e d e ixo u B ra g a , a ntes d e
p a rt i r p a ra ce rca r G u i m a rães58, consta n d o d o Tombo d o Cabido, q u e só n o Eirado
e na Rua dos Chãos fica ra m d e rru b a d a s 32 casas, n a Rua Nova 1 8 e n a Rua de
Maximinos 2859•
Depois, a g u e rra d a I n d e p e n d ê n c i a ( 1 383- 1 43 1 /3 2 ) e a q u e e n co ntrou o seu
e p í l o g o n a co n h ec i d a ca m p a n h a d e To ro ( 1 47 5- 1 479) d i s p e n sa m referências d e
p o rm e n o r, p o i s n ã o é d ifíci l co m p re e n d e r a s p e rm a n e ntes d ifi cu l d a d es d a s p o p u ­
l a ções situ a d a s j u ntos d a l i n h a d e fro n te i ra .
55 MARQU E S , J osé - O M oste i ro d e O i a a g ra nj a d a S i lva, n o contexto d a s rel ações l u so-caste l h a n a s dos sécu l o s XIV-XV, in Relações entre Portugal e Castela, pp. 208-209.
56 I D E M - O. c., pp. 2 2 2 - 224.
57 I D E M - O. c . , pp. 2 24-226.
58 LO PES, Fernão - Crónica do senhor Rei Dom Fernando nono Rei destes Regnos, com
u m a i ntro d ução pelo Prof. Salvador Dias Arna ut, Po rto, Livra ria Civi l ização - Ed itora, 1 966,
pp. 9 1 -9 1 (ca p . 33 ) : - «e depois que e/ Rei hi esteve huuns seis dias, veemdo como era maa de
manteer, des i a terra gastada de mantijmentos, poseromlhe fogo, e foromse a Guimaraaens,
que som d'hi tres /egoas».
" A. D. B . , Tombo do Cabido, fls. 1 33-1 34. MARQU E S , José - O Caste l o de B ra g a , 1 350- 1 450, in Livro do Congresso. Segundo Congresso sobre Monumentos Militares Portugueses,
Lisboa, 1 984, p. 1 77. I D E M - B ra g a na crise de 1 383- 1 385, i n Relações entre Portugal e Castela,
p. 239.
112
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
A estes ce n á rios, d eterm i n a d os p e l o s p ro l o n g a d o s períodos de g u e rra , d e
acordo com as cro n o l o g i a s m e n c i o n a d a s, t e m o s d e a c resce nta r outros q u e, a pe­
sa r d e não serem ca ra cte riza dos p e l a v i o l ê n c i a o rg a n i zacja, tí pica dos tempos de
b e l i g e râ n c i a , l h es são s u cedâ n eos e i n e re ntes à a d m i n i straçã o m i l ita r d o R e i n o ,
m e rcê d e u m a po l ítica defe n s i va , s u g e ri d a p e l a l o n g a experi ê n c i a d a l uta p e l a
independência, cuja reed ição u rg i a evita r. Pe nsa m o s n a p e rtu rbação deco rrente
d a m o rte d e D . D u a rte, q u e, por testa m e nto, entregava a Regência à ra i n h a vi úva,
D . Leo n o r. Após co m p l exas m ovi m e ntações pa rt i d á ri a s i nte rnas, as fu n ções de
Rege nte reca íra m n a pessoa d o I nfa nte D . Ped ro , i rm ã o d o m o n a rca d efu nto e tio
d o h e rd e i ro, futu ro D . Afo nso V, e co n seg u i u -se afa sta r o perigo d a h i potética
i nvasão caste l h a no-a ra g o n esa, q u e a ca bou p o r se d i l u i r60, te n d o , n o e nta nto,
e m e r g i d o a n ecess i d a d e d e u m a v i g i l â n c i a te nta d a fro ntei ra l u so-caste l h a n a ,
através d a d es i g n a çã o d e fronteiros, q u e a exe rce ra m n a s d i ve rsas co m a rcas,
desde a foz d o M i n h o à foz d o G u a d i a n a , desde M a i o d e 1 440 até meados d e 1 485,
q u e nos d i s p e n sa m o s d e re p rod uzi r a q u i6' .
Ve rifica m os, assi m , q u e, d u ra nte q u a se sécu l o e m e i o ( 1 338- 1 485), éo m
exce pção d o rei n a d o de D . Ped ro I , as p o p u l ações ra d i cadas a o l o n g o d a l i n h a d e
fro nte i ra , f l u vi a l o u te rrestre, sofre ra m os efe itos d a g u e rra e a p ressão d a p re­
s e n ça e vig i l â n c i a dos fro ntei ros, com m a n ifesta p e rtu rbação d o q u ot i d i a n o d a s
po p u l a ções fro nte i riças e d a s s u a s tra d i ci o n a i s e d i ve rsifica d a s fo r m a s d e re l a ­
c i o n a m e nto. N ã o se esq u eça q u e, m e rcê d esta s rea l i d a d e s d o q u oti d i a n o e d e
o utros fa cto res, o des povo a m e nto d a s te rra s p róxi m a s d a s fro nte i ra s se fo i acen­
t u a n d o , te n d o os n ossos m o n a rcas p rocu ra d o ate n u a r a g ravi d a d e d a situ a çã o ,
m e d i a nte a criação d e coutos d e h o m i z i a d os, d i stri b u ídos, p refe re n c i a l m e nte, a o
l o n g o d e t o d a a fro nte i ra p o rtu g u esa, d e s d e 1 308 até 1 539, a n o e m q u e D . J o ã o
I I I i n stitu i u o d a c i d a d e d e S i lves «pera oytenta omyziados que nela vivessem>>62 •
60 So b re este assu nto vej a-se M O R E N O, H u m b e rto Baq u e ro - A Batalha de Alfarrobeira.
Antecedentes e significado histórico, 1 . • e d i çã o , Lo u re n ço M a rq u es, 1 973, p p . 1 6 1 - 1 7 1 .
6 1 MARQU E S , José - Aspectos d a v i d a d e fro nte i ra nos fi n a i s d a I d a d e M é d i a , i n Jornadas
de Cultura Hispano-Portuguesa, (Vicente Á . Alva rez Pa l e n z u e l a - E d ito r C i e ntífi co), M a d ri d ,
U n ivers i d a d e Autó n o m a , 1 999, p p . 1 94- 1 98, es peci a l m e nte as p p . 1 95-1 96, o n d e se a p resenta o
e l e nco dos fro ntei ros q u e fo i possível i d e ntifi c a r, a começa r p e l o C o n d e B a rcelos, D. Afo nso,
futu ro 1.0 D u q u e d e B ra g a nça, o I nfa nte D . H e n r i q u e e m u itos ou t ros m e m b ros d a n o b reza p o r­
tu g u esa do sécu l o XV.
62 M O R E N O, H u m b e rto B a q u e ro - E l e m e ntos p a ra o est u d o dos coutos de h o m i z i a d o s i ns­
titu ídos p e l a Coroa, in Portugaliae histórica, vo l . 1 1 , Lisboa, Facu l d a d e de Letras d a U n ive r s i d a d e
d e Lisboa-I n stituto H i stórico I nfa nte Dom H e n ri q u e, 1 974, p p . 1 3-63.
113
J osé M a rq u es
2. 2. 2. - Projectos de paz, em clima de vizinhança, e alguma resistência . . .
Consciente dos i n co nve n i e ntes l u so-caste l h a n os entre o s Reis Cató l i cos Fern a n d o e I s a b e l - e D . Afo nso V, d e 1 47 5- 1 479, n o a rti c u l a d o d o Trata d o d a s
Alcáçovas, d e 4 d e Sete m b ro d e 1 479, o Prín c i p e D . J o ã o , futu ro D . J o ã os 1 1 , reco­
n h ece n d o a s g raves conseq u ê n c i a s dos rrgrandes debates, mortes, rrobos, fuer­
ças. tomas de çibdades e vil/as e Jogares e de outras cosas, quemas, danos, ynju­
rias, ofensas, perdidas, despensas, yntereses, penas e otros males, por /uengos
tienpos e desuariadas maneras; e agora nos, queriendo euitar e arredrar de se
non fazer más de aqui ade/ante semelhamtes guerras , discórdias e males, e non
se acreçen tar nin anadir males a males en tre cristianos, <amando> e deseando la
paz e concórdia, e considerando sobre e/lo e/ servicio de Dias, pró e bien de nues­
tros rreinos . . . » 63, entre m u itas o utras c l á u s u l a s su bsc reve u ta m bé m esta , ati n e nte
a o p ro b l e m a da travess i a da fro nte i ra , em q u e temos concentra d o a n ossa ate n­
ção, a o l o n g o d este estu d o : - ((y por mayor segurança de la dicha paz, queremos
e otorgamos que de aqui ade/ante los vezinhos e moradores en los dichos rrey­
·
nos de Castilla e de León, senorios, tierras, partydas de/los e cada vno de/los, pue­
dan en trar, estar e andar e salir en estas n uestros rreynos e senorios y tierras sal­
vos e seguramente, y traer e sacar e 1/euar qualesquier mercadurías, que les non
sea fech o enbargo nin contrario alguno mal nin sinrrazón alguna pagando los
derechos e tributos que ouieren e fueren tenudos de pagar los n uestros súbditos
e naturales a los que las truxieren, sacaren e 1/evaren de tales mercadurías, y non
pagando los dichos derechos e tributos que cayan en aquellas penas neçesarias
en que caherian si fueran nuestros naturales . . . » 64 •
E m contra po nto co m as situações b é l icas o u d e s i m p l es co ntro l o d a fro nte i ra
exe rc i d o p e l o s fro ntei ros e s e u s h o m e n s, va l e a p e n a a centu a r as p reocu pações
q u e os re p rese nta ntes d a s p o p u l a ções dos dois l a d o s d a fro nte i ra , freq u e nte­
m e nte, reve l ava m e a s d i l i g ê n cias fe itas j u nto dos m o n a rcas no senti d o d e o bte­
re m a utorização pa ra q u e estas po p u l ações p u d esse m vizi n h a r e ntre s i , n ã o
s e n d o d e estra n h a r q u e e m a l g u m po nto d a fro ntei ra p u d esse m oco rre r eve n­
tuais situações d i sso n a ntes d a g e n � ra l i d a d e d o s casos d e b o m re l a c i o n a m e nto .
O caso m a i s t í p i co e ra , seg u n d o o a l ca i d e d e Caste l o d e Vi d e co m u n i cava a
63 Corpus documental de/ Tratado de Tordesilhas. L u ís Adão Fonseca - José M a n u e l R u i z
Ase nc io (coord e n a d o res) , Va l l ad o l i d , Soci e d a d V Cente n a ri o d e i Tratado d e To rdesi l h a s Co m i ssão N a c i o n a l p a ra as Co m e m o ra ções d o s Desco b r i m e ntos Po rt u g u eses, 1 995, p. 73.
64 Corpus documental de/ Tratado de Tordesilhas, p p . 77.
1 14
'
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
D . D u a rte, na ca rta data d a d e 10 d e J u l h o e 1 434, o dos m o ra d o res d e (<Valência
Alcân tara, Braças (Vioças), Rio de/ Porco, Cáceres e de outros lugares do senho­
rio de Castela levam muito mais pelos direitos das alfandegas e portagens do que
na vila de Castelo de Vide lhes é levado pelos portugueses»65, h ave n d o , m e s m o
n otícia d e o utras atit u d es d e vi o l ê n cias co ntra os p o rtu g u eses q u e l á cheg ava m a
cava l o o u m o ntados n o utras bestas de s e l a o u a l ba rd a , o b ri g a n d o-os a a pea re m ­
- s e a ntes d e se a p resenta rem n a a lfâ n d e g a o u d e co m p a recerem p e ra nte os a l ca i ­
des p a ra paga re m os devidos d i reitos, fica n d o sujeitos a perderem a s p ró p ri a s
m o nta d a s . Foi p o r i s s o q u e D . D u a rte a uto rizo u q u e, e m Caste l o d e Vi de, se p ra ­
ticasse com e l es essa m e s m a (úgua/dade». N a s déca d a s seg u i ntes, a s i t u a ç ã o n ã o
m e l h o ro u , te n d o D. Afo nso V co nfi r m a d o , p o r ca rta d e 30 d e Deze m b ro d e 1469,
o d i s posto po r D. D u a rte s o b re este assu nto, co m o a ca bá m os d e refe ri r66•
N ã o e ra a p e n a s Va l ê n c i a de Âlca nta ra a ú n i ca l o ca l i d a d e o n d e os p o rtu g u e­
ses e n co ntrava m d ifi cu l d a des, co m o se pode co n c l u i r d o fa cto de, e m 24 e 2 5 d e
M a i o d e 1 474, terem s i d o exped i d a s pa ra os j u ízes d e Po rta l e g re67 e d e Aleg rete68,
a uto riza n d o a p ratica da m e s m a « igualdade» com as m o ra d o res o r i u n d o s d esta s
e d a s l o ca l i d ades caste l h a nas, aci m a refe ri d a s, à s q u a i s fo i a c resce nta d a a d e
Al b u q u e rq u e69•
Apesa r d estas d i s posições rég i a s, te n d e ntes a esti m u l a re m - l h e o se nti m e nto
de d efesa, s a b e m os q u e a situação d a vi l a de Aleg rete e ra d ifíci l , a po nto de D.
Afo nso V, ter o r d e n a d o , de To ro, e m 1 6 d e Abri l de 1 476, q u e, a pós a s u a l i be rta­
ção, ((cobrando-se a vila de Alegrete das mãos dos adversários, se faça» u m a fo r­
ta l eza p a ra s u a d efesa , com a co l a b o ração dos m o ra d o res dos l u g a res d a s red o n ­
d ezas, n u m perím etro até ci n co l ég u a s, q u e a b ra n g i a , entre outras, a s povoa ções
d e Arro n ch es, Ve i ros, M o nfo rte, Ca beça d e Vide, Alter, C rato, Po rta l e g re e Ca ste l o
d e Vide, esta b el ece n d o o reg i m e d e p resta ção d este serviço, até à co n c l u s ã o d a
65 A. N . T. T. , Guadiana, l i v . 3, fi . 5v.
" A. N . T. T., Guadiana, li v.
67 A. N . T. T., Guadiana, l i v.
68 A. N . T. T. , Guadiana, l i v.
69 A. N . T. T., Guadiana, l i v.
3, fi . 54v. ( p p . 363-364) .
6, fi . 25.
4, fi . 1 34v.
4, fi . 1 34v. Q u ÇJ nto ao conte ú d o d estas três ú lt i m a s notas, ver o
nosso estu d o 'As pectos da v i d a de fro nte i ra nos fi n a i s da I d a d e M é d i a ', i n Jornadas de Cultura
Hispano-Portuguesa, (Vicente Á . Alva rez Pa l e n z u e l a , E d ito r C i e ntífi c o), M a d ri d , U n ivers i d a d e
Autó n o m a , 1 999, p . 1 99 . N a fro nte i ra d a Estre m a d u ra n ã o e ra m r a r a s a s s i t u a ções d e m a l -esta r
e ntre p o rt u g u eses e caste l h a nos, co m o reve l o u Da n i e l Rod ri g u ez B l a nco na co m u n i cação Las
relaciones fronterizas entre Portugal v la Carona de Castilla. E/ caso de Extremadura, a p resen­
tada à s l i Jornadas Luso-Espa n h o l a s d e H i stó ria M e d i ev a l e p u b l icada n a s respectivas Actas . . . ,
vo l . I, Po rto, I N I C-CH U P, 1 987, p p . 1 35-1 46.
115
J osé M a rq u es
o b ra , bem co m o as p e n a l i d a d e s a q u e ficava m sujeitos os fa ltosos70• N este con­
texto, p o d e m o s a d i a nta r que o esta d o d a s fo rta l ezas d o lado caste l h a n o ta m bé m
s u scitava a l g u m a s p reoc u p a ções aos res pectivos ppderes, co m o reve l a u m
est u d o q u e co nta j á m a i s d e d u a s décad as71 •
2. 2. 2. 1. - Exemplos galaico-minhotos e transmontano
B e m d ife rentes e ra m as expressões q u e ca racte rizava m a s re l a ções entre
g a l eg o s e p o rtug u eses d a l i n h a d o M i n h o , esse n ci a l m e nte, p e rtu rbadas p e l a
a p e rta d a vig i l â n c i a dos a l ca i des d a s sacas, q u e o b r i g o u os g a l eg o s a desisti rem
d e t raze r a s suas m e rcadorias à fe i ra d e Ca m i n h a , rea l izada por o ca s i ã o d o dia de
S . B e nto, d e 1 1 d e J u l h o, q u e e ntro u e m rá p i d o d ec l í n i o, m otivo por que D.
Afo nso V, e m 1 d e J_u l h o d e 1 462, e m p l e n a vis ita a o M i n h o , p rivi l e g i o u esta fe i ra ,
ise nta ndo-a d a p ress ã o dos a l ca i des d a s sacas, co nve rte n d o-a e m fe i ra fra nca,
d ota n d o-a d a paz da feira72• M a i s d o que i sto, d u ra nte o contacto que este mesmo
m o n a rca m a nteve co m as g e ntes d o va l e d o M i n h o p o r onde passava, ate n d e u as
q u e ixas e pedidos d o s m o ra d o res g a l egos d e B a i o n a , La G u a rd i a , G oya n ,
S a l vate rra e a uto rizo u q u e a s po p u l a ções d esta s l o ca l i d a d es p u d essem vizinhar,
e m p l e n a l i be rd a d e, com a s das vi l a s p o rtug u esas d e Ca m i n h a , Va l e nça, M o nção,
e que a d e Ca stro La b o re i ro e s u a s g e ntes fizessem o m e s m o n a s v i l a s g a l egas d e
Ara újo e M i l m a n d a . N esta m e s m a a lt u ra , concedeu ta m bém p rivi l é g i o s especi a i s
à vi l a d e Via n a d a Foz d o Li m a , a o c o n d a d o d e Va l a d a res e a o co nvento d e
S . D o m i n g os d e Tu i , c u j a s ca rtas tive mos o p o rtu n i d a d e d e p u b l ica r73, p o d e n d o-se
afi rm a r q u e, se o utro fruto não tivesse, esta ofi c i a l ização d o co nvívio g a l a i co­
- m i n h oto bastava pa ra j u stifi c a r o êxito d esta visita rég i a a o Alto M i n h o .
N o contexto d esta a p roxi m a ção, i ntenci o n a l m e nte d esej a d a e ped i d a p o r
g a l eg o s e p o rtu g u eses, va l e a p e n a sa l i e nta r a j u stifi caçã o a p rese nta d a p e l o con­
ce l h o e h o m e n s b o n s d e B a i o n a , n a s ú p l ica d i ri g i d a a D . Afo nso V, n o senti d o d e
'" A. N . T. T. , Guadiana, l iv. 5, fi . 29 1 v.
, QU I NTA N I L LA RAS O, M . • Concepci ó n - Co n s i d e ra c i o n e s s o b re l a s fo rta l ezas de l a fro n ­
tera caste l l a no-portu g u esa e n l a B a j a E d a d M é d i a , i n Actas das 1 1 Jornadas L uso-Espanholas de
História Medieval, vo l . I, Po rto, I N IC-CH U P. 1 987, p p . 401 -430.
" A. N. T. T. , Chanc. de D. A fonso 11, l i v. 1, fi . 40.
73 Cf. MARQU ES, José - 'Rel ações eco n ó m icas d o N o rte de Po rtu g a l com o Reino de
Caste l a , n o sécu l o XV', in Relações entre Portugal e Castela nos finais da Idade Média, Lisboa, F.
C. G u l be n ki a n - J . N . I . C. T., 1 994, pp. 1 1 -64. Ve r especi a l m e nte o a pê n d ice docu m e nta l , p p . 53-64.
116
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
l h es co nced e r o priv i l é g i o de p o d e r e m conti n u a r a vizinhar co m os p o rtu g u eses:
«nos enviaram dizer que elles teveram por custume vizinharem com n osos
sobre dictos vasa/os asi com aquelles que com elles .vizinhavam como com
todo/los outros moradores de nosos regnos e senhorios sem lhe defenderem
nem embargarem gaados ca va/los e armas e m oedas e toda/las outras cousas
vedadas mas que livremente lhe leixa vam todo pasar pera nosos regnos sem
con tradiçam alguua e que elles pellos nosos alcaides das sacas e per outros
nosos oficiaaes quando quer que acontecia de virem a nosos regnos por algíJuas
mercadarias e per outras cousas a eles necesarias a sua tornada recebiam muitas
injurias e lhes tomavam e buscavam suas mercadaris, ouro, prata e armas, bois e
bestas as quaees cousas ainda que vedadas fosem nom levavam como pessoas
que tinham por oficio pasarem e levarem as cousas defesas soomente lhe acon­
teciam em sorte de casamento lhe darem porque casa vam os filhos e filhas os
dhua parte com outra ou compra vam os dictos gaados e leva vam as ditas cousas
per suas necesidades»74• Pe ra nte esta fu n d a m e ntaçã o, o m o n a rca d e u m a i s u m a
p rova d a s u a l i be ra l i d a d e e co n ced e u - l hes a desej a d a ca rta de vizinhança, neu­
t ra l iza n d o a p ress ã o que os a l ca i des d a s sacas o u ofi c i a i s d o fisco faz i a m n esta
l i n h a da fro nte i ra .
N ote-se q u e n este ped i d o d e ofi c i a l ização d o estatuto d e vizinhança c o m o s
p o rtu g u eses, está expl ícito o reco n h eci m e nto d a p rática d o contra ba n d o n a afi r­
m a ç ã o de q u e e l es se q u e r i a m d i sti n g u i r dos contra ba n d i stas, p o i s « nom leva­
vam [os bens refe ridos] como pessoas que tinham por o ficio pasarem e levarem
as cousas defesas>>, co m o outros fazi a m .
-
O p rivi l é g i o afo n s i n o o uto rg a d o a o s Do m i n ica n o s d e Tu i , a o i nvoca r a res­
ta u raçã o d a fa ci l i d a d e com q u e a g o ra pod i a m conti n u a r a l eva r, l i vre m e nte, de
Po rt u g a l p a ra o refe r i d o co nvento a s m a i s va r i a d a s es m o l as q u e l h es fossem
dadas por a m o r d e Deus, reve l a que estes Pa d res Pre g a d o res exe rci a m a l g u m a
i nfl u ê n c i a re l i g i osa e m i ssi o n á ri a n o E ntre M i n h o e Li m a e q u e a s vá rias j u stiças
e ofi c i a i s d a Vi l a d e Va l e n ça viam l i m itadas a s s u a s poss i b i l i d a d es d e i nte rve nção
n a á rea que l h es estava confi a d a . Po d e m os, p o r isso, concl u i r q u e, a pesa r d a
a p e rta d a v i g i l â n c i a exe rc i d a p e l o s fro nte i ros e s e u s ofi c i a is, ta m bé m n esta fro n ­
tei ra n o rte n ã o fa ltava m p rivi lég i o s e exce pções q u e flexi b i l izava m a travess i a d a
mesm a .
74 MARQU E S , José - O. c., p p . 58-59.
1 17
José M a rq u es
Pa ra a l é m d este re l a ci o n a m e nto d e reco n h ec i d a base eco n ó m i ca e co m e r­
c i a l , h a v ia situações m a i s p rofu n d a s q u e a a ctu ação d a fisca l i zaçã o d o s a l ca i d es
d a s sacas e o utros ofi c i a i s d ificu ltava, d e fo r m a i n co m p re e n s íve l , co m o os m o ra ­
d o res d a vi l a tra n s m o nta n a d e M o n fo rte d e R i o Livre m a n ifesta ra m a D. Afo nso
V, q u a n d o , e m 1 467, se e n co nt rava e m Évo ra, d ize n d o - l h e q u e : - «casa vam seus
filhos e filhas com outros dos moradores dos dietas lugares de Galiza e da vam
boys e vacas e outros guados e cousas em casamento aos dietas seus filhos e
assy recebiam das outras partes e asy o tinham de custume de o fazerem sempre
e bem assi troca vam boys e vacas velhas por outros novos com os dietas vezi­
nhos de Galiza e os de Galiza com elles e que ora os nossos ( d o re i ) oficiais que
tem carrego das sacas em a dieta comarca os demanda vam e traziam em
demanda por os dietas boys e vacas e guados que assi trocavam e cousas que
assi da vam em casamento aos dietas seus filhos e filhas no que lhes era feito
agra vo»75• R e p a re-se co m o , m a i s u m a vez, sã9 i nvoca d o s os l a ços fa m i l i a res
co m o e l e m e ntos d eterm i n a ntes n este t i p o d e re l a ções soci a i s, q u e, natu ra l !ll e nte,
a pa rti r d e l es, te n d e ri a m a a m p l i a r-se.
Sa l i e ntá m o s a s res postas favo ráve i s d e D . Afo nso V aos ped i d o s d e a utori­
zação p a ra a i n sta u ração d o reg i m e d a p ráti ca d e l ivre vizinhança e ntre os m o ra ­
d o res d a s loca l i d a d e s m a i s i m po rta ntes d a fro ntei ra d a l i n h a d o M i n h o e d a s
zo n a s te rrestres d e Castro La b o re i ro e, n a reg i ã o flavi e n se, d e M o nfo rte d e R i o
Li vre, co m p rova d a s p e l a s m e n c i o n a d a s ca rtas rég ias, co nvi n d o a g o ra acentu a r a
i nvoca ção dos freq u e ntes l a ços fa m i l i a res esta bel ecidos e nt re pessoas o r i u n d a s
d o s d o i s l a dos da fro ntei ra co m o p o d e roso facto r d e conso l i dação d a s re l a ções
soci a i s e ntre fa m í l i a s d este seg m e nto d a fro ntei ra n o rte n h a , que não é o u s a d o
to m a r c o m o p o d e roso i n d íc i o d o q u e, certa m e nte, se pa ssava n o utros po ntos, a o
l o n g o d a l i n h a d i vi s ó ri a .
N a p ri m e i ra pa rte d este estu d o , refe ri m os o eve ntu a l efe ito s o b re a l i n h a
d i visóri a , n a reg i ã o d e R i b a Côa, i n e re nte a o facto de o te rritó rio i n c l u ído e m
Po rtu g a l p e l o t rata d o d e Alca n i ces conti n u a r d e p e n d e nte d a d i o cese d e C i d a d e
Rodrigo.
N a d ata co rres po n d e nte à co n cessão d o s privi l é g ios d e vizinhança, aci m a
refe r i d os, essa situ ação j á ti n h a term i n a d o, a pós a e l evação d e L i s b o a a a rce bis­
p a d o ( 1 0 . 1 1 . 1 393), m a s podemos verifi ca r que ta m bé m n este secto r d a fro ntei ra
com Caste l a h o uve u m a cl a ra p reocu pação de cri a r situ a ções de l i v re vizinhança,
75 A. N . T. T., Além Douro, l i v. 3, f i . 36v-37.
118
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
sem e l h a ntes à s esta b e l e c i d a s n a fro ntei ra g a l eg a do M i n h o e d e Trá s-os- M o ntes,
co m o va m o s si ntetiza r, s e m , contu d o , o lvida rmos a situação aci m a d escrita, de
q u e A l câ nta ra e ra a p rota g o n i sta p r i n c i p a l .
Q u a l q u e r d o s a s pectos j á referidos o u q u e, m a i s à frente, v i e r m o s a m e n ­
ci o n a r, é su sceptíve l d e ser a co m p a n h a d o n u m a perspectiva d e l o n g a d u ração
pa ra se poder ca pta r a s suas d i ve rsas ca m b i a ntes, m e s m o l i m ita n d o - n o s a o h o ri ­
z o n t e cro n o l ó g i co d o s sécu l o s XIV e XV, a q u e o p rese nte est u d o se confi n a . N ã o
s e n d o viável seg u i r, a q u i , ta l m eto d o l o g i a e p o rq u e n este po nto se trata , a pe n a s,
d e assi n a l a r um contra po nto entre a reg i ã o d e R i ba Côa - C i d a d e Rod rigo, com a
p rática d e criação d e situações d e vizinhança e ntre a s p o p u l ações d e l o ca l i d a d es
g a l egas e p o rtu g u esas, q u e bo rdejava m a fro nte i ra n a l i n h a do M i n h o e d a d i vi­
s ó r i a te rrestre, desde Cast ro La b o re i ro até à zo n a flaviense d e M o nfo rte d e Rio
Livre, co nfi r m a d a s p e l o s res pectivos p rivi l ég i os d e D . Afo nso V, e m 1 462, va mos
a co m p a n h a r o que se passou n este d o m ín i o , e m re l a çã o à fro nte i ra ri bacu d a n a ,
n o tercei ro q u a rte l d o sécu l o XV. Antes d e p roced ermos a u m a s í ntese d a s i nfo r­
m a ções d i s po n íveis em docu m e ntação já p u b l i c a d a , a p raz-nos o bserva r q u e, e m
contraste com o q u e reg i stá m os na fro ntei ra n o rte, ess e n ci a l m e nte, p o r o ca s i ã o
da vis ita d o Africano p o r te rra s d o A l t o M i n h o, e m 1 462, o p roj ecto d e c ri a r s i t u a ­
ç õ e s d e s o l i d a ri e d a d e e ntre os m o ra d o res d o s d o i s l a d o s d o seg m e nto d a fro n ­
tei ra l u so-caste l h a n a , e m q u e C i d a d e Rod ri g o é, s e m d úv i d a , o po nto d e refe rê n ­
c i a m a i s i m po rta nte, a ntecede d e a l g u n s a n os e u lt ra passa o termo d o tercei ro
q u a rtel do sécu l o XV, i m p o n d o-se a c resce nta r q u e, na g e n e ra l i d a d e dos casos, a
i n i ci ativa pa rte, q u e r d o n osso m o n a rca, q u e r, m e s m o , d e conce l h o s situ a d os n a
p roxi m i d a d e d a fro nte i ra .
É i sso q u e s e d e p re e n d e d a ca rta passa d a p e l o Rege nte D . Ped ro, e m n o m e
d e D . Afo nso V, a i n d a d e m e n o ri d a d e , datada d e Sa nta ré m , 1 4 d e M a rço d e 1 442,
p e l a q u a l o r d e n a a o I nfa nte D . H e n r i q u e q u e, n a sua q u a l i d a d e d e fro nte i ro - m a r
d a co m a rca d a Bei ra , e à s j u stiças p o rtu g u esas com a l ça d a n essa á rea d e fro n ­
tei ra, q u e perm ita m a o s m o ra d o res d e C i d a d e Rod r i g o e seu te r m o v i re m l i vre­
m e nte a Po rtuga l e trazerem os seus g a d os, bestas e m e rc a d o r i a s e q u e sej a m
«tratados e aguasalhados com o irmãaos de nossos naturaaes», p ro i b i n d o q u e
s o b re e l es e s e u s bens fosse m p rati cados q u a i sq u e r d a n os76; E m 1 7 d e Ag osto d e
1 458, e ra to d a a vereação d e Caste l o M e n d o - j u ízes, verea d o res e p rocu rad o r 76 MARTI N S , R u i C u n h a
-
Portugal en e/ Archivo Municipal de Ciudad Rodrigio (Edad
Media), C i u d a d Rodrigo, Ayu nta m i e nto, 1 997, p p . 59-60.
119
J osé M a rq u es
q u e, n a seq u ê n c i a d a s d úv i d a s s u rg i d a s e m torno d a co l h eita d o pão d e u m a
sea ra d e Fo ntes d e O n o ro ( Danara) e d o m a l -esta r q u e s e p revia p u d esse v i r a
desenca d e a r-se, ped i ra m às a uto r i d a d es d e C i d a d e Rod ri g o q u e o bsta ssem à s
a n u n c i a d a s vi o l ê n c i a s : - «E aguorra senhorres a n ó s he dieta q u e nessa cidade
apreguoa vam certos homens desta vil/a, por que vos roguoamos e pedymos de
muita mercee que nom queyrraaes proceder em tal/ causso porquanto em e/lo
nom somos culpados e vos praza de guardardes a boa vyzi n h a nça que sempre
ouvemos. Fazendo-se de tan pouca coussa doutra gissa faz-se a trabalho de todas
partes ho que nom he bem de se fazer a semelhante coussas»77• Doze a n os
d e p o i s , e m 1 8 d e M a i o e em 21 d e Deze m b ro d e 1 470, i ntercede D . Afo nso V j u nto
dos a l ca i d es e reg e d o res d e C i d a d e Rod r i g o a favo r dos m e rca d o res po rtu g u eses
d a B e i ra , d o E ntre Dou ro e M i n h o e d e Trás-os- M o ntes q u e p rete n d i a m d i ri g i r-se
à s fe i ra s d e M e d i n a dei Ca m p o e d e o utras l o ca l i d a d es d e Ca ste l a , no senti d o de
evita rem q u e fosse m m o l esta dos, «O que nós creemos que nom sera per vaso
grado nem comsemtimento mais ante follgarees de fazer guardar os tractos das
pazes antre nosos regnos e os de Castella»78•
Apesa r d esta s d i l i g ê nci as j u nto d a s a uto ridades m i ro b r i g e n ses, aos m e rca­
d o res p o rt u g u eses não fa ltava m m otivos d e rece i o d e i n seg u ra n ça n o s ca m i n hos
d e i d a e vo lta d a fe i ra d e M e d i n a o u d e outras d o re i n o d e Caste l a , patente n o
a ssa lto d e q u e fo ra m v íti m a s os j u d e u s Sa l a m a m h a m e seu i rm ã o J a c o b, m e rca­
d o res d e La m e g o , a o reg ressa r d a fe i ra d e M e d i n a , a pesa r d a a p re g o a d a seg u ­
ra nça, m otivo q u e l evo u D . Afo nso V a d i ri g i r-se, m a i s u m a vez, e m 4 d e M a rço d e
1 472, à s a uto rida des d e C i d a d e Rod ri g o a ped i r- l h es q u e fizess e m respe ita r os
acordos esta belecidos s o b re a s q u estõ es d e seg u ra n ça79•
Face a estas s i t u a ções, o p rojecto i n i ci a l , q u e pa reci a o r i e nta d o pa ra a co n­
so l i d a ç ã o d e um c l i m a d e vizinhança, e n c o ntro u fre q u e ntes d ifi cu l d a d es, q u e, n o
a m b i e nte d a g u e rra d e 1 47 5 a 1 479, o bvi a m e nte, se a g ravo u . É ce rto q u e, e m 25
d e M a i o d e 1 476, o b i s p o d e Co i m b ra e conde d e Arga n i l , co m o fro nte i ro - m a r
d a s co m a rcas d a B e i ra e d e R i ba Côa p ro m eteu seg u ra n ça à s pessoas p roce­
d e ntes d e C i d a d e R o d r i g o80, mas fa lta m p rova s d a sua c o n c retização no
a m b i e nte contu rba d o e m q u e conti n u o u a viver-se. M a i o res g a ra nt i a s d e seg u ­
ra nça e esta b i l i d a d e ofe recem a ca rta d e Ped ro d e Al b u q u e rq u e, s e n h o r d a Vi l a '
d o Sa b u g a l e d e Alfa i ates, d e 1 5 d e Outu b ro d e 1 479, n a seq u ê n c i a d o a n ú n c i o
" IDEM
78 I D E M
79 I D E M
80 I D E M
1 20
- O. c., p p . 6 1 -62.
- O. c. , p p . 63-66.
- O. c. , pp. 67-68.
- O. c. , p p . 8 1 -82 .
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
do fi m da g u e rra8', e a s d o Prínci pe D . J o ã o , de 24 e 25 d esse m e s m o m ês, p ro­
cu ra n d o resolver assu ntos p e n d e ntes d a g u e rra fi n d a82•
A todas esta s tentativas n o senti d o d e cri a r re l a ções d e cord i a l i d a d e e m útuo
ente n d i m e nto e ntre bei rões e caste l h a n o s d eve m os a c resce nta r o desej o d e
Alfa i ates q u e, seg u n d o u m ca p ítu l o especi a l a p rese nta d o à s Co rtes d e L i s b o a d e
1 459, p rete n d i a vizinhar com a v i l a caste l h a n a d e S . M a rti n h o d e Tre be l h o, a fi m
d e viverem «huuns com os outros como parentes e compadres e amigos» e,
a ss i m , os m o ra d o res d esta s d u a s l oca l i d a des fro nte i riças p o d e re m tra n sacci o n a r
e ntre si a l g u m a vaca o u po rco p o r oca s i ã o d a s bodas e o utras re u n iões d e fa m i ­
l i a res e o utros pa rentes, co m o a co ntecia n o Sa b u g a l , n a base d o p r i n c í p i o «como
usarem com elles usassem elles»83, fu n d a m e ntaçã o q u e e n co ntrá m os m a i s v i n ­
cada a i n d a nos seg m e ntos ra i a n o s m i n h oto e t ra n s m o nta n o .
Pe ra nte as i nfo r m a ções q u e a ca ba m os d e a p rese nta r, fica-se c o m a i m p res­
são d e q u e a s re l a ções e ntre a s po p u l a ções ra d i cadas dos d o i s l a d o s da fro ntei ra
g a l a i co-m i n h ota se a p rese nta m m a rcadas p o r m a i o r cord i a l i d a d e do q u é a s
a g o ra refe r i d a s p a ra a zo n a caste l h a n a . E m a b o n o desta afi rmação, a p raz- n o s s i n ­
teti z a r o conte ú d o d e u m dos ca p ítu l os espec i a i s a p rese nta dos p e l os p rocu ra do­
res d a vila d e Va l e n ça d o M i n h o às Co rtes d e Évo ra, d e 1 475, reve l a d o r do
a m b i e nte d e paz e m que a s po p u l a ções va l e n c i a n a s q u e ri a m vive r, a pesa r d a vio­
l ê n c i a a que ti n h a m esta d o exposta s . Reco rdava m os p rocu ra d o res d e Va l e nça
q u e os g a l egos d a c i d a d e d e Tu i se ti n h a m a po d e ra d o , n o rio M i n h o, perto d esta
vi l a , de u m a ba rca ca rreg a d a de vi n h os da c i d a d e do Po rto, e de d o i s navios d e
Ave i ro , q u e, a pesa r d a o m i ssão d a refe rê n c i a à natu reza d o s p rod utos tra n s p o r­
ta dos, bem p oderi a m ter ch egad o ca rreg a d o s d e sa l , c o m o e ra freq u e nte. Deste
i n c i d e nte res u lta ra m «escaramuças e guerras em que se seguiram aleigões e
mortes de nossos vezinhos e presos e ramçoamento e roubos asi como se fora
guerra apregoada ». A fi m d e p ô r te r m o a esta situação, fo i e nvi a d o pa ra a í u m
fro ntei ro com o i n d i s pe n sáve l conti n g e nte m i l ita r, te n d o a p o p u l ação sofri d o as
co n seq u ê n c i a s d a p resença d esta fo rça a rm a d a , com o i n evitáve l afasta m e nto
dos m e rca d o res e g raves p rej u ízos pa ra o co m é rc i o e p a ra a s re n d a s d a Co roa .
8 ' I D E M - O. c. , p p . 83-84
8 2 I D E M - O. c. , pp. 85. 87.
" C O E L H O, M a ri a H e l e n a d a Cruz - R Ê PAS , L u ís M i g u e l - Um cruzamento de fronteiras.
O discurso dos concelhos da Guarda em Cortes, Po rto, Ca m po d a s Letras, 2006, p. 67, Ref. ta m­
b é m p o r C O E L H O, M. H . C. - Li n h a s d e fro nte i ra : e m a cto e e m d i scu rso, i n Raízes Medievais do
Brasil moderno. Actas. 2 a5 de Novembro de 2007, Lisboa, A. P. H . , 2008, p. 1 08 .
1 21
J osé M a rq u es
Resta b e l e c i d a a paz e o sossego, «as mercadarias passam ora seguramente de
huua parte pera outra e as vossas rendas e direitos sam acrecen tados e posto que
aqui achemos aquellas pessoas mesmas de que rece<be>mos os dietas dapnos
ou suas cousas nom somos ousados tornar a elle posto que o poderamos fazer e
isto por nom romper a paz ante con trebuimos a paguar amtre nos pera al/guuns
danificados desta terra». E o m e s m o ca p ítu l o escla rece q u e ti n h a ch e gado a
Va l e nça o m e rca d o r d e Ave i ro , Lou renço E a nes d e M o ra i s, q u e l h es req u e ri a q u e
confiscassem os b e n s d e u m a ta l C o n sta nça Fern a n d es, natu ra l d e Va l e nça,
casa d a e m Tu i , e res i d e nte e m Vi g o . Ta l p rete nsão d o ave i rense não teve êxito,
com o fu n d a m e nto ex p resso n o docu m e nto em a n á l ise:
«E taees bens de
molheres nunca vimos aqui tomar, ante a outros que sam de mais pequeno
estado que vivem em os ditos luguares da Gualiza e tem aqui herdamentos vee­
m os teer cartas per que seus beens nom lhe sejam penhorados». O q u e a s popu­
l a ções va l e n c i a n a s p rete n d i a m e ra viver e m p az, p o i s alé m d o res pe ito d evi d o à
p ro p ri e d a d e a l h e i a , o eve ntu a l co nfisco req u e ri d o p e l o m e rca d o r de Ave i ro
d ese n ca d e a r i a u m a ta l rea cçã o dos s e u s fi l h os e pa rentes d a refe r i d a Consta nça
Fe r n a n des e reace n d e r i a um a m b i e nte d e i n d esej a d a vi o l ê n c i a , q u e d esej ava m
evita r, d i ri g i n d o-se a o m o n a rca n estes term os:- «Porem senhor vos pedimos por
m ercee que nos mamdes dar vossa carta per que aqui em este luguar que estaa
em este estremo se nom faça penhora nem represaria em nenh uuns nem mer­
cadarias que os moradores de Galiza tenham ou tragam a esta vil/a por outras
cousas que sejam tomadas a outras quaeesquer pessoas que nossos vezinhos
nom forem e que ao dito Lourenço Annes mandees fazer sua represaria em outra
parte onde for vossa mercee por allguum dapno ou mal/ se lhe foy feito»84•
-
O p ro b l e m a da co nso l i d a ção d a s re l a ções fro nte i riças p e l a v i a dos m atri m ó­
n i os e ntre m o r a d o res dos d o i s l a d o s d a fro nte i ra , refe r i d o n o ca p ítu l o d e Va l e nça
a q u i a n a l i s a d o , fo i ta m bé m c l a ra m e nte m e n c i o n a d o pelos rep rese nta ntes de
M o nfo rte d e R i o Livre n a s Co rtes d e 1 467, co m o aci m a fi cou reg i sta d o , e ta m bém
i nvoca d o n o ped i d o d i ri g i d o a D . Afo nso V, p o r ocasi ã o d a cita da vis ita a o M i n h o,
e m 1 462, n o senti d o d e d is p e n s a r os m o r a d o res de Va l a d a res do M i n h o d e d a rem
rogos, q u a n d o a l g u m a s pessoas casava m , q u e r fossem d a d o s e m te rritó rio p o r­
t u g u ês, q u e r tivessem de os l eva r, i sto é, d e os i re m cu m p ri r à G a l iza, e q u e, do
m e s m o m o d o , os g a l egos fossem d i s pe n s a d o s d e vi re m d á - l os a Va l a d a res, p o r­
q u e esta p rática a rru i n ava os l avra d o res. O m o n a rca ate n d e u - l hes o ped i d o ,
84 A. N . T. T. , Além Douro, l iv. 3, f l s . 7 1 v-72, p u b l . p o r MARQU E S , J o s é
-
Relações entre
Portugal e Castela nos finais da Idade Média, Lisboa, F. C . G . -J . N . I . C . T. , 1 994, p p . 364-366.
1 22
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
d eterm i n a n d o q u e, de futu ro, q u e m q u isesse ta i s rogos - i sto é, os serviços d e
ca m p a n h a s d e c i n q u e nta h o m e n s - , q u e os pagasse, e se a l g u é m os d esse o u
req u e resse p a g a r i a p o r c a d a u m d e l es m i l rea i s pa ra a � a u sa d a red e n çã o d o s
cativos, fica n d o o co rre g e d o r d a co m a rca e os j u ízes dos l u g a res o b ri g a d os a
e nt re g a re m ta i s verbas aos mamposteiros q u e reco l h i a m as esm o l a s pa ra a
red e n ç ã o d o s cativos, a c resce nta n d o q u e n o caso d e i n c u m p r i m e nto d a execução
d a cita d a p e n a , p a g á - l a - i a m à s u a cu sta85•
O facto d e os co n ce l h os d e B a i o n a , Va l a d a res, M o nfo rte de R i o Livre e
Va l e nça i nvoca rem os casa m e ntos e o res pe ito e p rotecção d a s m u l h e res consti­
t u i uma i n eq u ívoca exp ressão d a s u a i m po rtâ n c i a n o re l a c i o n a m e nto e ntre a s
pesso a s d e a m bos os l a d os d a fro nte i ra , q u e, o bvi a m e nte, se re p e rcuti a m , a
vários n íveis, n a s a ctivi d a d es eco n ó m i cas, p rática q u e se p ro l o n g o u p e l o s tem­
pos m o d e rnos, co m o os l i vros d e a sse ntos p a roq u i a i s d estas reg i ões co m p ro­
va m , tendo, mesmo, ch egad o à a ctu a l i d a d e , co m o o co n h eci m e nto d i recto q u e
possu ímos d e m u itos casos n o s perm ite afi rm a r.
A estas m a n ifesta ções d e convívio soci a l podemos acrescenta r a p rática d e
so l i d a ri e d a d e na a ctivi d a d e co merci a l a l o n g a d i stâ ncia, q u e nos o b ri g a a pensa r
nas re l a ções das g e ntes g a l a i co-m i n h otas d o va l e d o M i n h o co m pólos come rci a i s
d o l itora l portu g u ês, c o m p o rtos d e Ara g ã o , n o M e d ite rrâ neo, e até com a l g u ns d o
n o rte d e E s pa n h a e d a F l a n d res, d e q u e p o d e m o s a po nta r a l g u n s exe m p l o s . Q u e r
isto d ize r q u e, se a t é a q u i t e m o s fixa dos a nossa ate nção p ri m o rd i a l m e nte nas
d ive rsifica d a s re l a ções l u so-g a l a i cas e caste l h a nas, quer cruza n d o vias fl uvi a i s e
uti l iza n d o-as co m o exce l e ntes meios d e p e n etração d o l ito ra l p a ra o i nteri o r, q u e r
atravessa n d o m a i s freq u e ntemente a fro ntei ra te rrest re, n ã o d eve m o s p e rd e r d e
vista a s re l a ções co m e rci a i s pote n c i a d a s por a l g u n s rios e a navegação coste i ra e
e m p l e n o a lto m a r, co m o a docu m e ntação d i s po n ível perm ite afi rm a r. M a s a ntes
d e a p o ntarmos a l g u n s exe m p l os, co nvé m o bserva r q u e as l i gações e ntre as m a r­
g e n s d o rio M i n h o, estava m a sseg u radas p e l a bem co n h ecida série de ba rca s d e
passa g e m86, a q u e n ã o podería m os deixa r d e fazer m e nção, sem olvida rmos as
peq u e n a s "bate/as ;' freq u e ntes n a p rática d o contra ba n do, que s e m p re h o uve.
Teste m u n h o p recoce e exp ress i vo d a a rti cu l ação co m e rci a l d o p o rto fl uvi a l
d e Va l e n ça d o M i n h o c o m o l ito ra l p o l}:u g u ês é o fa cto d e o a ba d e d e Alcobaça,
Frei Fern a n d o , e o co nventos d o seu m oste i ro, n a ca rta d e ve n d a d o patri m ó n i o
85 A . N . T. T, Chanc. de O. Afonso 11, l i v. 1 , fi . 42; Além Douro, l iv. 3, fi . 277, p u b l . p o r MAR­
QU E S , José - Relações en tre Portugal e Castela, pp. 60-6 1 .
86 I G L E S IAS ALM E I DA, E rn esto - Los antigos "portos " de Tui y las barcas de pasaje a
Portugal, Tuy, M u seo y Arch ivo H i stórico Di ocesa no, 1 984. 90 p .
1 23
J osé M a rq u es
q u e poss u ía m e m Va l e nça e seu te r m o a o M oste i ro d e F i ã es, fe ita e m 14 de
Outu b ro d e 1 240, terem reserva d o o d i reito de a n co ra r o seu ba rco, se m p re q u e
a í ch egasse, co m o e m l u g a r p ró p r i o : - « ita tamen quod s i evenerit quod na vis nos­
tra veniat ad portum illud ut recipiatur tanquam in loco suo»87 •
O i nte resse p e l o co m é rc i o m a ríti m o , e m q u e o sa l ocu pava u m l u g a r d e
re l evo88, seg u n d o consta d e u m ca p ítu l o a p rese nta d o à s cortes d e Lisboa d e 1 459,
l evo u o m e rca d o r Afo nso Lou re n ço a co n stru i r u m a ba rca d e c i n q u e nta tonéis, no
p o rto d e Va l e nça, q u e, l o g o n a p ri m e i ra v i a g e m , a o reg ressa r d e Set ú b a l ca rre­
g a d a d e sa l , fo i a p risio n a d a , j u nto da B e r l e n g a , p o r p i ratas i n g l eses, do pa ís d e
G a l es, q u e, te n d o s i d o ca ptu rados, poste ri o r m e nte, t u d o fize ra m pa ra evita r o
paga m e nto d e «Noventa VIII mil e tantos Reaes»89•
M a s, o exe m p l o m a i s c l a ro d o b o m re l a ci o n a m e nto l u so-ga l a i co fo i l eva d o
a o co n h ec i m e nto d e D. Afo nso V, n a s C o rtes d e L i s b o a d e 1 459, n a q u eixa a p re­
senta d a contra o conta d o r rég i o n esta reg i ã o , G o n ça l o Afo n s o . Seg u n d o afi rma­
ra m os p rocu ra d o res João Paz e Fe r n ã o M a rt i n s n u m ca p ítu l o especi a l d e Vi a n a ,
Vi l a N ova d e Cerve i ra , Va l e n ça e Ca m i n h a , todos os a n os se ca rregava n cí p o rto
d e Va l e n ça um navio com d esti n o à F l a n d res e [ outro pa ra ] Ara g ã o com os p ro­
d utos re u n i d os das m a rg e n s e e n costas do M i n h o , em Va l e n ça e e m Tu i . Na a ltu ra
d o e m ba rq u e, ca rregava m -se as m e rca d o ri a s d o l a d o p o rtug u ês, e m Va l e n ça ,
d e s l o ca n d o-se o navio pa ra o m e i o d o rio, a fi m d e rece ber os prod utos c o n c e n ­
tra d o s e m Tu i , s e n d o t u d o a rro l a d o p e l o a l m oxa rife pa ra a co b ra n ça dos respecti­
vos d i reitos, seg u i n d o , d e p o i s , a e m b a rcaçã o pa ra o seu d esti n o . Este p roce d i ­
m e nto h a bitu a l fo i p e rtu rbado p e l a a c ç ã o d o conta d o r rég i o , G o n ça l o Afo nso, q u e
«ora a vera dous anos q u e Gonçalo A fonso vosso contador mandou q u e nem
huum na vyo deste Regno nom fretasse no dieta rio nem em Galiza alguua mer­
cadoria levase neelle nem trouxese em o que recebemos grande agra vo e vasas
ren das e dizima nom ren de nada». Te n d o ped i d o a a n u l a çã o da i nterve nção d o
conta d o r, o m o n a rca o rd e n o u «que s e tal cousa faz façam sobre e/lo requeri­
mento e tragam estormento com reposta »90•
87 A. D. B . , Ms. 1 052, fl . 60 .
88 RAU, Vi rg í n i a - A exploração e o co_mércio do sal de Setúbal. Estudo de História econó­
mica, Lisboa, 1 9 5 1 . I D E M - R u mos e vicissitudes do co m é rc i o do s a l p o rt u g u ês nos sécu l o s XIV­
XVI , i n Estudos de História, Lisboa, Editori a l Ve rbo, 1 968, p p . 1 75-202.
89 A. N. T. T. , Chancelaria de O. Afonso 11, li v. 36, fi . 1 62v; p u b l . p o r MARQU E S , J . M . d a S i lva
- Descobrimentos Portugueses, vo l . I , Lisboa, I , A. C., 1 944, p . 566, d o n d e o reprod u z i m o s nas
Relações entre Portugal e Castela nos finais da Idade Média, p . 56.
90 Arq u i vo M u n i c i p a l d e Vi a n a do Caste l o (A. M. V. C . ) , Pergaminhos, pasta 1 , n.0 1 0 . Pu b l .
p o r MARQU E S , José - Relações entre Portugal e Castela, p . 57.
1 24
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Apes a r de d esco n h ecermos q u a l fo i a decisão d o m o n a rca s o b re esta g rave
i nterve nção do m áxi m o res p o n sáve l l oca l p e l o fisco rég i o , q u e m u ito p rej u d i cava
m i n h otos e g a l egos n a exp o rtaçã o dos seus p rod utos, o g u e p rete n d e m os reg i s­
ta r, n este m o m e nto, é a so l i d a ri e d a d e o u , se p referi rmos, «parceria» g a l a i co­
- m i n h ota n a exp o rtação co nj u nta, q u e r p a ra Ara g ã o , q u e r pa ra a F l a n d res. E sta
i nfo rmação ati n g e u m a d i m e n s ã o m a i s p rofu n d a , na m e d i d a em q u e às co n h eci­
d a s re l a ções co m e rci a i s d e Po rt u g a l com Ara g ã o , d e que o n osso h o m e n a g e a d o ,
Prof. Doutor L u ís Ad ã o Fo n seca, h á m u ito n o s i nfo r m o u9\ p o d e m o s a c resce nta r­
l h es, a g o ra , u m a exte nsão p e l a via fluvi a l d o M i n h o , desde d e Va l e nça e Tu i , co m o
po ntos d e co n ce ntração d a s m e rca d o ri a s q u e a í chegava m , s e n d o , d e p o i s ,
e m b a rcadas p a ra os refe r i d o s d esti n o s .
E stas d u a s n otícias situa m -se e m 1 459, e m p l e n o te rce i ro q u a rtel d o sécu l o
XV, e conti n u a ra m , b e m co m o o utras, d e q u e n ã o temos i nfo rmação.
Q u e esta a ctivi d a d e co m e rci a l , a longa d i stâ n c i a , co nti n u � u e se desenvo l ­
v e u , n o va l e d o M i n h o, e se ra m ificou p e l o Alto M i n h o, até M o nção, Va l a d áres,
Ponte d e Li m a , Ca m i n h a e Vi a n a , bem c o m o p e l a s v i l a s d o B a ixo M i n h o , n o mea­
d a m e nte, B a rce l o s e G u i m a rã es, ch ega n d o , m e s m o , à c i d a d e d o Po rto, l oca l i d a ­
des q u e, a p a rt i r d o p o rto d e Ca m i n h a , passa ra m a esta r e m re l a çã o com a
Bisca i a , F l a n d res, I n g l ate rra e com os Açores e a M a d e i ra , é l a rg a m e nte co m p ro­
va d o p e l 'O Livro de sisa da alfândega de Cam inha do ano de 1 52792 •
A l e itu ra p e rfu n ctó ria d este Livro da sisa da alfândega de Caminha, a l é m d e
co nstitu i r u m a p reciosa i nfo rmação d a a cti v i d a d e co m e rci a l d o A l t o M i n h o , n a
, F O N S E CA, L u ís Adão d a - A s re l a ções co m e rci a i s e ntre Po rt u g a l e os rei n os p e n i n s u l a ­
r e s nos sécu l o s XIV e XV, i n Actas das 1 1 Jornadas L uso-Espanholas d e História Medieval, vo l . 1 1 ,
Po rto, I N I C-CH U P, 1 987, p p . 54 1 -5 6 1 . N o vo l . 1 1 d estas m e s m a s Jornadas, a temática d a s re l a ções
co m e rci a i s m e receu a atenção d e vários p a rticipa ntes, n o m e a d a m e nte: M .• I s a b e l dei Va i
Va l d ivieso - Mercadores portugueses en Medina de/ Campo (siglo XV), p p . 5 9 1 -608) ; A n g u s
M a ckay - Existieron aduanas castellanas e n l a frintera c o m Portugal?, p p . 625-643; E d u a rdo
Az n a r Va l l ej o - M e rcedes Bo rre ro Fe r n a n d e z - Las relaciones comerciales entre la Andaluzia
Betica y los archipelagos portugueses, p p . 645-66 1 ; José H i n ojosa M o nta lvo - Jntercambios
comercia/es entre Portugal y Valencia a fine � de/ siglo XV: E/ «Dret Portogues», p p . 759-779;
Beatriz Arizaga Bo l u m b u ru - E/ comercio Vasco-portugues a fines de la Edad Media, p p . 7 8 1 -803;
José M a ri a S a n chez B e n ito - Medidas de política comercial de la Monarquia Gastei/ana, limites
a los intercâmbios com Portugal, p p . 805-83 1 . Na i m poss i b i l i d a d e de a m p l i a rmos esta i nfo rma­
ção, p a ra l á o ri e nt a m o s os eve ntu a i s i nteressados.
92 CASTRO, E l isa e C U N HA, M á ri o - O Livro d e sisa d a a lfâ n d ega d e Ca m i n h a do a n o d e
1 527, i n Caminiana, Ca m i n h a , A n o V I I I , n . 0 1 3, 1 986, p p . 1 49-2 1 5, e A n o X , n . 0 1 6, (cont. d o n . 0 1 3 ) ,
1 988, p p . 1 79-2 1 0 .
1 25
J osé M a rq u es
d o b ra g e m d a I d a d e M é d i a pa ra os te m pos m o d e rnos, perm ite- nos i d e ntifica r
n o m i n a l m e nte d i ve rsos m e rca d o res, co m o Antó n i o G o n ça lves, de M o nção, J o ã o
E steves, d e Po nte d e L i m a , G re g ó r i o E steves, d e Va l ? d a res d o M i n h o , Afo nso
Álva res, d e Ca m i n h a , Diogo Lopes d e Li m a , fi d a l g o , co m e n d a d o r, João Afo nso,
c l é r i g o , S i m ã o Rebe l o , Álva ro Rod rig u es e J o ã o Fe rre i ra , m o ra d o res e m
G u i m a rã es, J o ã o Pi nto, m o ra d o r e m L i s b o a , bem co m o a l g u n s p i l otos, m o ra d o­
res e m Vi a n a e e m Ca m i n h a , a l é m d e m u itas o utras pessoas l i g a d a s a esta a ctivi­
dade m e rcanti l , que n ã o é possível i n c l u i r n este a ponta m e nto. Apesa r d e nos
e n co ntra rmos s o b a exi g ê n c i a d a b revi d a d e, seria g rave n ã o a l u d i rmos à p re­
s e n ça d e d o i s co m e rcia nte i n g l eses reg i sta dos n este l i vro : «Richarte Chapelim,
ymgres», q u e a p a rece a d i z i m a r d ez peças de p a n o de Lo n d res, e «Ruberto
Parquin », i g u a l m e nte, d ito i n g l ês .
E ntre a s p reciosas i nfo rm ações q u e é possível reco l h e r n esta fo nte, a cujo
p rocesso d e p u b l icação estivemos l i g a d o , p o d e m o s sa l i e nta r esta, seg u n d o a
q u a l , Pê ro Afo nso, m e rca d o r, m o ra d o r e m Via n a , m a n d o u p a ra B i l ba u 330 cruza­
dos, n o navio d e mestre João G o n ça lves, m o ra d o r e m Vi a n a , «hos quais foram
vistos pelos oficiais»93, o q u e e q u i va l e a d ize r q u e fo ra m d ec l a ra d o s na a lfâ n d e g a .
N o conju nto dos prod utos vi n d os d e v á r i o s po ntos d a E u ro p a d o N o rte e i l h a
d a M a d e i ra , e reg i sta d o s n esta a lfâ n d e g a co nta m -se a s peças d e pa n o d e
Lo n d res, Ypres, O rl ys, Vi o q u e rq u a ( Nioquerqua), O rm e nti m , Tu m , e ta m bém ce r­
tas q u a nt i d a d es de «coiros em cabelo», i sto é, p o r c u rt i r.
E ntre as m e rcadorias expo rta das, a l é m d a m o e d a reg ista d a o u « a l ea l d a d a »
n a a lfâ n d e g a , pa rece o p o rtu n o ch a m a r a ate nção p a ra a s p i pa s d e v i n h o q u e
seg u i a m p a ra B i l ba u e p a ra o re i n o d a G a l iza, s e m m a i s es pecifi cação d o s e u d es­
ti n o . Em re l a ç ã o a esta s d u a s situ a ções, q u a nto à p ri m e i ra , ba sta a n ota r q u e
Afo nso Álva res, m e rca d o r d e Ca m i n h a , «arrecadou cinquenta quintais de breu
que trouxe de Bilbau, em retorno de dez pipas de vinho que le vou desta vila para
Bilbao»94, e e m re l a ç ã o à seg u n d a , s a b e m o s q u e G re g ó r i o E steves, m e rca d o r d e
e m o ra d o r e m Va l a d a res ( d o M i n h o ) , ca rreg o u c i n q u e nta p i pas d e vi n h o , n o n a v i o
d e m estre J o ã o d e [ ? ] , m o ra d o r e m Vi l a d o Co nde, pa ra as l eva r pa ra o re i n o d a
G a l iza, n a d a m a i s se s a b e n d o q u a nto a o seu d esti n o95•
A ri q u eza d e i nfo rmação d esta _fo nte terá d e ser exp l o ra d a n o utra ocas i ã o, ,
servi n d o estas b reves n otas pa ra co m p rova r q u e a a cti v i d a d e co m e rci a l d a fro n­
tei ra d o M i n h o não se co nfi n ava à s re l a ções d e vizinhança e cord i a l i d a d e com as
93 Livro da sisa da a lfâ ndega de Ca m i n h a , fi . 26; Caminiana, Ano VI I I , n . 0 1 3, 1 986, p . 1 78.
94 Caminiana, n.0 1 3, p . 1 90 .
9 5 Caminiana, Ano X, n . 0 1 6, 1 988 ( contin. d o n . 0 1 3 ) , p . 1 86 .
1 26
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
po p u l ações g a l egas e caste l h a nas, mas a p o ntava m ta m bé m pa ra h o rizo ntes m a i s
d i sta ntes e d iversifi cados, co m o a B i sca i a e Ara g ã o , q u e, n ã o s e n d o tota l m e nte
desco n h ecid os, i m po rta rá a p rofu n d a r, co m o já a co ntece1,1 em re l a çã o aos Livros
de receita da alfândega de Vila de Conde dos anos de 1 504 e 150596•
To d a esta m ovi m e ntação co m e rci a l p o r via m a ríti m a e fl uvi a l situa-se n a
l i n h a d e d esenvolvi m e nto q u e se pode docu m e nta r, d e s d e os fi n a i s d o te rce i ro
q u a rtel d o sécu l o X I , pois, seg u n d o Ávi l a y Lacueva, n u m a escritu ra d a I g rej a d e
Tu i , data d a d e 1 9 d e M a i o d e 1 074, « e l monasterio d e San Bartolomé estaba fun­
dado cerca dei rio Mino, y que por la parte de arriba dei motivado puente confi­
nado com el rio Lour por la derecha de este hay unos campos de la tierra que en
e/los se ataban las barcas dei rio Mino, que sin duda eran las de pasaje a
Portugal>>97• M es m o s e n d o a nte ri o res, a posse d esta s ba rcas e o d i re ito d e passa­
gem d o M i n h o , e m frente a Tu i , fo i couta d o , i sto é, dado e m exc l u si vo, a o p re l a d o
d i ocesa n o , D . Afo nso, p e l a ra i n h a D . Te resa, i nteg ra d o n a vasta d o a ç ã o d e vá rias
i g rej as e outros d i reitos, datada d e 4 d e Sete m b ro d e 1 1 25, d eterm i n a n d o s o b re
este po nto :
«Et n ullus habeat navem conducticiam in portu de Tude excéptis
vobis>>98 • Se tivermos p rese nte q u e, a l é m de o ba rco d o M oste i ro d e Alcobaça,
que j á a ntes d e 1 240 cheg ava a Va l e nça e se p revia que aí vo lta ria mais vezes99, no
fo ra l d e G a i a , d e Sete m b ro d e 1 255, D . Afo nso I I I esta b e l e c i a que p o r ca d a cara­
ve l a o u ba rco ( na vigio) que fosse pesca r à G a l iza, n o reg resso, se paga ri a m dez
pesca d a s ( pissotas) '00, fá ci l será co m p re e n d e r q u e n o sécu l o XV e n a p ri m e i ra
m eta d e d a centú ria i m e d i ata, dos p o rtos f l u v i a i s e d e todos os d o l ito ra l po rtu­
g u ês p a rtissem ca rave l a s e n a us, n ã o só p a ra o N o rte d a E u ro p a , m a s ta m bé m
p a ra o M e d ite rrâ neo, Ceuta e N o rte d e África, i l h a s e costa atl â nticas, b e m co m o
p a ra o B ras i l e a s pa ra g e n s o ri e nta i s .
-
96 P E R E I RA J o ã o Cord e i ro - Para a história das alfândegas e m Portugal no início d o século
XVI. (Vila do Conde - organização e movimentos), Lisboa, U n iversi d a d e N ova. Facu l d a d e d e
C i ê n c i a s Soci a i s e H u m a n as, 1 983.
97 I G L E S IAS ALM E I DA, E rn esto - O. c.,- p . 29.
98 Documentos Medievais Portugueses. Documentos Régios. Vo l . I , Lisboa, A. P. H., 1 958,
p . 89. Cita d o t b . por I G LE S IAS ALM E I DA, E. -, 0. c. , p . 1 1 .
9 9 A . D . B . , Ms. 1 052 { Livro das Datas o u Cartulário de Fiães) , fi . 6 0 . Pu b l . p o r MARQU E S ,
José - B a rco d o M oste i ro d e Alcobaça n o p o rto d e Va l e nça, i n A Voz- d e Melgaço, d e 1 5 . 0 3 .
2 0 06, p . 3 .
1 00 -
«Si piscatores fuerin t ad Galizam ad piscandum et exierint d e mari et fecerint pousa­
das et salga verint piscatum quando venerint mando quod dent maiordomo decem pissotas de
unaquaque caravella sive na vigio» { C R UZ, Antó n i o - O Porto nas Na vegações e na Expansão,
Po rto, Facu l d a d e d e Letra s - Ce ntro d e Estu dos H u m a n ísticos, 1 972, p. 45.
1 27
J osé M a rq u es
Se d a fro ntei ra d o M i n h o passa rmos p a ra a d o Leste tra n s m o nta n o , a l é m d o
p o rto d e Freixo d e E s p a d a à Ci nta, a q u e j á fize mos a l g u m a s referências, pode­
m o s a po nta r ta m b é m os d e M i ra n d a e d a To rre d e .M o nco rvo, cujos reg i stos
a g u a rd a m q u e m d e l es se ocu pe. N este m o m e nto, até p a ra contra po nto com as
b reves n otas, rel ativas a o Livro de sisa da alfândega de Caminha do ano de 1 527,
aci m a expostas, a p raz-nos i ntrod u z i r m a i s a l g u m a s acerca d a a lfâ n d ega d e Freixo
d e E s p a d a à Ci nta, reco l h i d a s n u m est u d o p u b l icado, em 1 998101 •
As Auto ras ocu p a ra m -se, a pe n a s , d a s p ri m e i ra s 70 fo l h a s d o cód i ce n . 0 825
d o Núcleo A n tigo d o Arq u i vo N a c i o n a l d a To rre do To m b o , d e s i g n a d o
«Aiealdeamento das Alfândegas dos Portos de Trás-os-Montes», data d o d e 1 5 1 7,
rel ativas a esta a lfâ n d e g a , reg ista n d o as resta ntes 1 29 as m e rca d o ri a s decl a ra d a s
e m M i ra n d a e n a To rre d e M o n co rvo . Apesa r d e a s i nfo rmações fo rnecidas p o r
esta fo nte u lt ra passa rem o fi m d o sécu l o XV, c re m o s q u e o seu conte ú d o n ã o s e
afasta d a s rea l i d a d es aci m a a n a l isadas, n e m d esca racte riza os a s pectos d o q u o­
t i d i a n o e d a s re l a ções d a v i d a d e fro nte i ra , p e l o q u e n ã o h esitá m o s e m i nt ro d u z i ­
- l a s n este m o m e nto d a n ossa expos i çã o .
Po r b revi d a d e, n ã o n o s d ete re m o s n o e l e m e nto h u m a n o, co n sta nte d esta
fo nte, n e m nos a s pectos soci o l ó g icos, q u e exi g i ri a m m a i s vasto e n q u a d ra m e nto,
o pta n d o , n u m a perspectiva d e ce rto pa ra l e l i s m o com a s refe rê n c i a s ace rca da
a lfâ ndega d e Ca m i n h a , p e l a m e nção d a s m e rca d o ri a s mais reg i sta d a s n a passa­
g e m d o p o rto d e Freixo, a g ru pa n d o-as n a s t rês ru b ricas tra d i c i o n a is, e n ri q u ecidas
com a l g u mas especificações. Ass i m , q u a nto aos têxteis, sa l i e nta m -se os seg u i n­
tes: va l e n c i a n o , sed a , seda fi n a , pa n os, l o ri d a , l e nço e pa n o d e esto pa; n o peixe ­
a l é m de l a m p re i a , i n devi d a m e nte i n cl u s a nesta categ o r i a -, co nta-se o sáve l , a
pesca d a e o so l h a; co m o pão, fig u ra m o tri g o e o cente i o ; e, fi n a l m e nte, na g a m a
dos produtos vários, t e m o s : cera, m e l , m esas, fusos, câ n h a mo, a p restos d e a l mo­
creva ria, m oeda ( reais), etc. O trata m e nto q u a ntitativos d estes e l e m e ntos permitiu
a l g u m a s co n c l u sões re l ativas a o p red o m í n i o , q u a l i d a d e e q u a nt i d a d e dos têxteis,
d o peixe e dos p rod utos mais reg ista dos. A t ítu l o d e p rova do m eti c u l oso estudo
d a fonte p e l a s cita d a s Autoras, podemos ava nça r que a s 13 1 50 va ras d e tec i d o d e
esto pa re n d e ra m a o fisco 40 0 l i b ras, a o p a s s o q u e as 5 340 va ras d e l e n ço l h e
g a ra nti ra m 6 0 0 l i b ras; n a c l a sse d o '� peixe'; n u m e ri ca m e nte, o s sáve i s ocu p a m o '
p ri m e i ro l u g a r, co m 867 u n i d a d es reg ista das, seg u i n do-se as 288 l a m p re i as, os
101
P I NTO, Pa u l a M . de C. Pi nto e CASTRO, J ú l i a I s a b e l Coe l h o C. Alves d e - A a lfâ n d e g a
d e Freixo d e E s p a d a à Ci nta, e m 1 527, i n Douro - Estudos e Documentos, Po rto, l n st. d o Vi n h o
d o Po rto - U n i v . de Porto - U n iv. d e Trás-os- M o ntes e Alto Do u ro - GVEVI D, A n o 3, n . 0 5, 1 998,
pp. 9 5- 1 08.
1 28
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
20 0 s o l has, contra a s 6 d ú z i a s ( 72) d e pesca d a s . A d i s p a r i d a d e d a q u a l i d a d e e
n ú m e ro dos vá rios p rod utos n ã o perm ite esta b e l ecer q u a l q u e r o rd e n a çã o s i g n i ­
ficativa . Pa ra e n ce rra r este a p o nta m e nto, co nvé m o bserv� r q u e a l e itu ra d a evo­
l u ção m e n s a l dos reg i stos a rticu l a d a com a natu reza das m e rca d o ri a s a p resenta­
d a s perm ite fa l a r d e u m a ce rta sazo n a l i d a d e, que futu ros estudos d a s a lfâ n d egas
d e M i ra n d a e d e M o ncorvo poderã o conso l i d a r o u i nfi r m a r.
E stes d o i s a po nta m e ntos, n a s u a s i m p l i c i d a d e e d i vers i d a d e, n ã o s e n d o
co m pa ráveis a o est u d o d a a lfâ ndega d e Vi l a d o Co n d e, ch a m a m a ate nção p a ra
u m a c l a ra d i sti n ção entre a rea l i d a d e d o l ito ra l e d o i nteri o r e p a ra a n ecess i d a d e
d e p rosseg u i r os estudos d esta natu rez a .
2 . 2 . 2 . 2 . - Isenção das portagens
A v i d a de m u itas po p u l a ções ra d i ca d a s nas p roxi m i d a d es da fro ntei ra p o r­
t u g u esa com Caste l a estava , de certo m o d o fa ci l itada p e l o privi l ég i o d a isenção
d e paga m e nto d e p o rta g e m n o Re i n o, co m o e m m u itos fo ra i s m a n u e l i n os ficou
c o n s i g n a d o , sendo red u n d a nte te nta r e n u m e rá - l os n este m o m e nto .
N este sentido, se d a fro ntei ra fl uvi a l d o M i n h o e d a l i n h a te rrest re d i visória
c o m o sul d a G a l iza passa rmos pa ra a d a E stre m a d u ra caste l h a n a , d e p a ra m os
c o m d i ve rsos ped i d o d e a l g u n s co n ce l h os, q u e aj u d a m a co m p re e n d e r as d ifi­
cu l d a d es d a vida d a s po p u l a ções aí res i d e ntes e a s a s p i rações a ce rtas fa ci l i d a ­
des q u e l h e m i n o rassem os co nst ra n g i m e ntos d o seu q u ot i d i a n o . Ta l fo i o c a s o d o
co n ce l h o d e Alfa i ates, q u e n a s Cortes d e Lisboa d e 1 459, n ã o hesitou l eva r a o
co n h eci m e nto d e D . Afo nso e ped i r- l h e o seg u i nte:
rreste Jogar he e m este
estremo que parte com Gaste/la e todos os concelhos d'arredor asi com o o
Sabugal/, Sortelha e a Guarda, Vil/ar Mayor, Castello Boom seam privilegiados
que nom paguem portajem no regno e teem cartas por que os vizinhos seendo
conhecidos atee oyto legoas que nom sejam constrangidos nem theudos a hir
recadar aa vil/a», fo rm u l a n d o , de seg u i d a , o p e d i d o d a co n cess ã o d o m e s m o p ri ­
v i l é g i o, a q u e o s o b e ra n o acedeu '02 N essas m e s m a s C o rtes, o c o n ce l h o d e
Ca ste l o Rod ri g o ped i a a o m o n a rca q u� n ã o ate n d esse o ped i d o d a q u e l es q u e
a g o ra l h es rec l a m ava m a s terras a ba n d o n a d a s h á c i n q u e nta, sesse nta o u m a i s
-
•
102
.
C O E L H O, M. H. Cruz - R Ê PAS, L. M . - Um cruzamento de fronteiras. O discurso dos con­
celhos da Guarda em Cortes, Po rto, Ca m po das Letras, 2006, p . 67. C O E L H O, M. H. C. - L i n h a s
d e fronte i ra : e m a cto e e m d i scu rso, i n Raízes Medievais d o Brasil moderno. Actas. 2 a 5 de
Novembro de 2007, Lisboa, A. P. H . , 20 08, p. 1 07.
1 29
J osé M a rq u es
a n os e q u e e l es, rece nte m e nte, ti n h a m cu ltiva d o e posto a d a r fruto, a l eg a n d o em
a bo n o do seu d i reito q u e «esta terra he em este estremo e por bem das guerras e
trabalhos se despoboou e as terras que sempre foram çproveitadas se meteram a
montes». De n u nciava, ass i m , o c l a ro oportu n i s m o dos q u e, a g o ra , as vi n h a m recl a ­
m a r, situação q u e o R e i co m p ree n d e u , te n d o-se p ro n u nciado nos seg u i ntes termos:
«A esta respondemos que pedem bem e assi o faremos segundo requerem» 1 03•
Anos a ntes, Ped ro E a n es, p rocu ra d o r d e Ca ste l o Rod ri g o às Co rtes d e Évora
d e 1 447, j u stifi cava o ped i d o d e a utorização pa ra se repa ra r p a rte d esta fo rta l eza
-
com a rg a m a ssa d e ca l , pa ra m a i o r seg u ra n ça d a m e s m a , ta nto m a i s q u e tra­
ta n d o-se d e um l u g a r <<do estremo de Castella», o n d e «portam muitos castelãaos
e homeens estramgeyros», q u a nto m e l h o r re pa ra d a estivesse, m a i o r seg u ra n ça
e l a teria, bem co m o toda a te rra e p o p u l a çã o104•
2. 2. 2. 3. - Âmbito comercial
A p rática das re l a ções fro nte i riças l u so-caste l h a n a s ati n g e u m a d i m e n são
pa rticu l a rm e nte exp ress iva no â m b ito d a vida co m e rci a l , e ntre outros aspectos,
pote n c i a d a p e l a s n u m e rosas feiras q u e, a o l o n g o dos ú lti m os sécu l o s da I d a d e
M éd i a , os nossos m o n a rcas fo ra m a utoriza n d o e p rivi l e g i a n d o , e m l o ca l i d a d es
relativa m e nte p róxi m a s d a fro nte i ra , a q u e caste l h a nos e g a l eg os, ta l como os por­
t u g u eses, pod i a m a ced e r com g ra n d e fa ci l i dade, ta nto m a i s q u e, e m g e ra l , bene­
fici ava m d a paz da feira, n ã o só e n q u a nto elas deco rri a m , mas ta m bé m d u ra nte
a l g u n s d i a s p recede ntes e o utros ta ntos i m ed i atos, a fi m d e q u e n i n g u é m os
m o l estasse, q u a n d o pa ra l á se d i ri g i a m , e n q u a nto a feira d u rava, nem n o reg resso
a casa, co m o se pode co ncl u i r n u m a rá p i d a l e itu ra d a o b ra cl ássica q u e Vi rg ín i a
R a u l h es consa g ro u 105• N ã o é possível a co m pa n h a r, a q u i , a evo l ução d e ca da u m a
d estas i n stit u i ções d i n a m iza d o ras da a ctivi d a d e co m e rci a l , m a s é patente q u e m u i ­
tos d estes n ú c l eos o u centros d e co m é rcio, a pesa r d e , i n i ci a l m e nte, s o b o n o m e
d e "feira ;' n ã o passa re m d e s i m p l es mercados 1 06, a ca b a ra m por asce n d e r à cate­
g o ri a de feiras, n o p l e n o se nti d o téc n i co d o te r m o . Esta co n d ição d e feira franca a
10 3 C O E L H O, M . H . C. - Li n h a s de fronte i ra : em a cto e em d i scu rso, i n O. c. , p. 1 05 .
104 C O E L H O, M . H . C. - R Ê PAS , L. M . - O. c., p p . 84-85 .
10 5 RAU, Vi rg í n i a - Subsídios para o estudo das feiras medievais portuguesas, Lisboa, 1 943.
106 S o b re estas d i sti nção, vej a-se VALDEAVE L LA N O, L u ís G . d e - E/ mercado. Apuntes para
su estúdio en León y Castilla durante la Edad Media, 2 . a e d . , Sevi l l a , Secreta r i a d o de p u b l i ca ­
c i o n e s d e l a U n ivers i d a d , 1 975, p p . 68-76.
1 30
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
q u e m u itas fo ra m e l evadas, especia l m e nte, p e l o s m o n a rcas d a seg u n d a d i n a st i a ,
d esde D . J o ã o I a o fi m d o re i n a d o d e D . Afo nso V, contri b u i u pa ra a s u peração d a
c r i s e eco n ó m i ca a q u e n ã o e ra m estra n h a s a s conseq u ê,n cias d a s g u e rras e d a
d e p ressão d e m o g ráfi ca, q u e se fo i a ce ntu a n d o a t é m e a d o s d a centú ria d e
Quatrocentos, sem esq u ece rmos os efe itos d o s reite ra dos su rtos e p i d é m i cos.
A m e n c i o n a d a p rotecção rég i a d e que passa ra m a g oza r os que a elas acorri a m ,
a s po l íticas d e concessão d o s referidos privi l é g i o s d e vizi n h a nça, c o m a i n e re nte
red u ç ã o da a cti v i d a d e dos a l ca i d es das sacas e dos fro nte i ros esti m u l ava a p re­
s e n ça n ã o só d e po rt u g u eses, mas ta m bé m d e m e rca d o res do re i n o vizi n h o, p re­
d o m i n a nte m e nte g a l egos e caste l h a nos, confo r m e a s zo n a s o n d e a s m e n c i o n a ­
d a s fe i ras estava m sed e a d a s . S e m q u a i sq u e r p reoc u p a ções d e o r d e m cro n o l ó g i ­
cas, d e i m p o rt â n c i a o u da res pectiva d u ração, n este contexto, p o d e m o s evoca r,
e ntre o utras, a s d e Ca m i n h a , Va l e n ça, M o n çã o , M e l g a ço, Ch aves, B raga n ça ,
M i ra n d a d o Dou ro, Ca ste l o M e n d o , Sa b u g a l e M o u ra , c u j a i m p l a ntação geog rá­
fica atra ía os vizi n h os d e a l é m fro ntei ra - g a l eg o s e/o u caste l h a nos -, ta l co m o a s
caste l h a n a s d e M ed i n a d e i Ca m po e d e m u itas o utras l oca l i d a des o b ri gava m os
m e rca d o res p o rtu g u eses a l o n g a s ca m i n h a d a s .
N este m o m e nto, convém especifica r a l g u m a s d a s m e rca d o ri a s m a i s t ra n ­
sacci o n a d a s e m e n ci o n a r as v i a s d e i nte rcâ m b i o co m e rci a l m a i s freq u e nta d a s .
Ass i m , p e l a fro nte i ra d a B e i ra , a l é m d e a l g u n s tecidos p r o d u z i d o s n esta reg i ã o ,
q u e os m e rca d o res p o rtu g u eses l evava m p a ra as fe i ra s d e Caste l a , t raze n d o d e l á
ta nto e l es, co m o os m e rca d o res caste l h a nos, o utros d e q u a l i d a d e su p e r i o r e ,
s o b retu d o , pão, em tem pos d e crise cere a l ífe ra . N este sentido, é e l u ci d ativa a
g a m a d e prod utos tra n sa cci o n a d os, consta ntes d a s " pa uta s " a lfa n d eg á ri a s d e
a l g u n s p o rtos secos e fl uvi a i s da ra i a com Caste l a , pod e n d o servi r d e exe m p l o o
caso d e Freixo de E s p a d a à Ci nta , cujo p rocu ra d o r, L u ís E a n es, a p resentou à s
C o rtes d e Lisboa d e 1 439 o ped i d o d e isenção d o paga m e nto d a s d íz i m a s e sisas
que o res pectivo escrivão d este po rto l h es a p l i cava p e l a s ro u pas fe itas e a l g u n s
reta l h os d e p a n os q u e traz i a m d e Caste l a p a ra uso pesso a l , co m o se de m e rca­
d o res se trata sse. Na res posta , dada pelo I nfa nte D . Ped ro co m o Rege nte e tuto r
d o m o n a rca de m e n o ri d a d e, e m 1 0 d e _ J a n e i ro d e 1 440, fo i-l h es co n ced i d a ise n­
ção d o p a g a m e nto d a sisa s o b re as ro u pas e reta l h os e m q u estão, m a s «na parte
da dizima se nam pode escusar qua desta he nosso dereito rea/1>>107•
'" A. N . T. T. , Além Douro, l i v. 3, fi . 2 8 1 v-282. Pu b l . po r MARQU E S , José - Relações entre
Portugal e Castela, p p . 53-55.
1 31
J osé M a rq u es
Pa ra e n ce rra rmos a evoca ção d o s va riados a s pectos co n s i d e rados co m o
po ntos s e n s íve i s o u p rivi l e g i a d os p a ra a travess i a d a fro ntei ra e o esta bel eci­
m e ntos d e re l a ções entre a s p o p u l a ções situ a d a s n a s p roxi m i d a d es d a l i n h a d i v i ­
s ó r i a o u m e s m o m a i s afa sta das, co m o aci m a fico u c l a ra m e nte refe r i d o , n este
d i ve rsifi c a do i nte rcâ m b i o co m e rci a l , convém n ã o perder de vi sta as p ráticas i l e­
g a i s o u d e co ntra ba n d o e d e fu g a a o paga m e nto dos i m postos, co ntra a s q u a i s
a g i a m , p o r vezes, seve ra m e nte, os co n h eci d o s fro ntei ros e os a l ca i des d a s sacas.
N este m o m e nto, p e n sa m o s n a s p ro i b i ções d e expo rtação d e certos p rod utos,
co m o pão, g a d os, sa l , a rm a s e o utros o bj ectos, cuj o envio pa ra o estra n g e i ro e ra
g e r a l e seve ra m e nte p ro i b i do, n ã o fa lta n d o , n o e nta nto, excepções i nt ro d u z i d as,
e m períodos d e i ntensa ca rest i a d e bens a l i m e nta res, sendo, te m po ra ri a m e nte,
perm itida ta l s a í d a , m e d i a nte a co ntra pa rt i d a d e fo rneci m e nto de p ã o . N ã o va m o s
i nt ro d u z i r a q u i a s refe rê n c i a s docu m e nta i s j á reu n i d a s n o utros est u d os, m a s vi rá
a p ro pósito reco rd a r q u e em períodos de ca rest i a s de p ã o m a i s acentuadas,
c o m o a co nteceu com a d o s a n os d e 1 438- 1 440, que fo i ta m bé m m u ito senti d a n a
c i d a d e d o Po rto, ve n d o-se o p o d e r centra l o b r i g a d o a d i s pe nsa r a d íz i m a d o p ã o
q u e ch egasse p o r m a r a esta c i d a d e ((por a grande mingua que deli ham»'08•
Se estes a n os co rres p o n d e m à fa se m a i s a g u d a d esta crise, n ã o esq u ece m os
q u e a m e s m a se vi n h a a rrasta n d o , desde a n os a nteri o res, a po nto de D . D u a rte,
na concórd i a ce l e brada com a a ba d essa e o co nvento de Sa nta C l a ra de Vi l a d o
C o n d e p o r causa d a d ízi m a dos ba rcos q u e e ntrassem n a foz d o Ave, ter re n u n­
c i a d o à d ízi m a d e ta i s navi os, a favo r d o refe r i d o moste i ro , co nta nto ((que vies­
sem carregados com mercadorias, que carregarem em os Reynos de Castela, que
devydamente, sem outro engano, e de sua von tade vierem pera o dito lugar de
Vila do Com de» 1 09• Apesa r d a fa lta d e pão q u e ati n g i a o Rei n o, especi a l m e nte a
s u l d o Dou ro , sa be-se q u e d o Alto M i n h o sa ía p ã o e v i n h o pa ra Tu i , a pa rti r d e
Va l e n ça, pa ra B a i o n a p o r terra, pa ra M i l m a n d a e Ara újo p o r Cast ro La b o re i ro ,
pa ra a reg i ã o d e L í m i a p e l a estra d a d o va l e d e Li m a e p e l a ba rra d o M i n h o pa ra
a l g u n s po ntos de Ca ste l a e outros re i n os p e n i n s u l a res e e u ro p e u s"0•
Pa ra a i d e ntifi cação das m e rca d o ri a s m a i s freq u e nte m e nte t ra nsacci o n a d a s
convém perco rre r os reg i stos d a s a lfâ n d eg a s - p a ra o tema q u e n o s i nte ressa , ,
1 08 Descobrimentos Portugueses /1 1 47- 1 460), vo l . I ( S u p l e m e nto a o vo l . 1 ) , E d ição Co m e­
m o rativa dos Descobri m e ntos Portu g u eses, Lisboa, I N I C, 1 988, p. 5 1 4.
1 0' TAR O U CA Carlos da S i lva - O cartulário do mosteiro de Santa Clara de Vila do Conde,
s e p . de «Arq u e o l o g i a e H i stóri a », Lisboa 8 . 8 série, IV, 1 947, p. 7 5 .
110 MARQU E S , José - Relações entre Portugal e Castela, p p . 36-37.
1 32
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
s o b retu d o os reg i stos das a lfâ n d e g a s ou p o rtos secos com Caste l a , p o d e n d o
co l h e r-se ta m bé m , a l g u m a i nfo rmação s o b re p ro d utos ch egados da reg i ã o b i s ­
ca i n h a , p o r v i a m a ríti m a , e ntre outros, a o p o rto d e Vi l a d.o Conde, c u j o s reg i stos
m e n ci o n a m a l g u n s d esses p rod utos co m e rci a i s111 •
2. 2. 2. 4
-
Rotas comerciais
I n d e p e n d e nte m e nte de a l g u m a s a l u sões con cretas a m e rc a d o r i a s q u e s a í a m
p a ra a G a l iza p o r ce rtas v i a s e po rtos d a fro nte i ra n o rte, n ã o i g n o ra m os as rota s
d a a l m ocreva ria m e d i eva l , ru m o aos p o rtos fro nte i riços com Caste l a , q u e n ã o
esg ota n d o esta temática, co n stit u e m po ntos d e referência a te r e m co nta .
Co n c retiza n d o certos a s pectos p o d e m o s a d i a nta r q u e as rotas co m e rci a i s d o
N o rte d e Po rtu g a l c o m Ca ste l a ti n h a m a l g u n s r i o s co m o po ntos d e referência,
s e n d o possível fa l a r d e uma a rti c u l ação o u m e s m o co m p l e m e nta r i d a d e entre
v i a s fl uvi a i s e te rrestres, s e n d o os casos m a i s co n h ec i d o s os dos va l es d o M i n h o ,
d o L i m a e d o D o u ro .
Q u a nto a o M i n h o , está b e m docu m e ntada a ch e g a d a d e m e rca d o ri a s p o r via
fl u vi a l até a o a m p l o p o rto d e Va l e nça, especi a l m e nte, pesca d o e sa l , que seg u i a m ,
d e p o i s, ta nto p a ra a s reg i ões g a l egas, a p a rti r d a c i d a d e d e Tu i , co m o pa ra a s
reg i ões d o Alto M i n h o, sitas n a m a rg e m esq u e rd a deste rio, e p a ra a s zo n a s d o
s u l d a G a l iza, p a ra o n d e at ravessava m , ta nto p e l o co n h ec i d o Po rto d o s As nos,
j u nto d o l u g a r d e A l co baça, m e e i ro d e La m a s d o M o u ro e d e F i ã es, co m o pela ra i a
seca, n o s l i m ites d e Castro La bore i ro . E m b o ra n ã o p rete n d e n d o d e m o ra r- n o s
s o b re a s v i c i s s i t u d e s d o p e rcu rso d e Va l e nça a t é à e ntra d a e m te rritó rio g a l eg o ,
n ã o p o d e m o s d e ixa r d e esc l a rece r q u e o s m e rca d o res e a l m ocreves, p o u co
d e p o i s d a co n h ec i d a Ponte d e M o u ro, a b a n d o n ava m a estra d a d e M o nção a
M e l gaço e i nflect i a m p a ra a d i re ita, s u b i n d o p e l o s m o ntes d e S . To m é , pa ssa n d o ,
d e p o i s , p o r Po m a res, C u ba l h ã o e La m a s d o M o u ro , o n d e o ptava m , confo r m e o
seu d esti n o , p e l a s a ída p e l o Po rto dos As n o s o u p e l o s m o ntes d e Ca stro
La b o re i ro. N ã o se tratava, a pe n a s , d e seg u i r o percu rso m a i s d i recto, m a s e ra a
m e l h o r fo r m a d e evita r a a p roxi m a ç ã o � p raça e vi l a d e M e l g a ço, cujo a l ca i d e n ã o
se d i s p e n sava d e c o b ra r a p o rt a g e m , c r i a d a p o r D . Ped ro I , e m 28 d e M a i o d e
1 36 1 , o b ri g a n d o os m e rca d o res e a l m ocreves a a ba n d o n a re m o refe r i d o ca m i n h o
111 P E R E I RA, J o ã o Cord e i ro - Para a história das alfândegas em Portugal, pp. 205-337, o n d e
se a p rese nta a transcrição i nteg ra l dos Livros d e receita desta a l fâ n d e g a .
1 33
José M a rq u es
d a Ponte d e M o u ro - Po rto dos As n o s I Castro La b o re i ro, pa ra passarem p o r
M e l gaço11 2•
À i m po rtância do p o rto d e Va l e nça j á nos refe r i m o s mais aci m a , podendo
acresce nta r, a títu l o i l u strativo, que o p ró p r i o m oste i ro cisterciense d e Alcobaça,
a pesa r d e n o sécu l o X I I I , ter ve n d i d o a o co n g é n e re d e F i ã es o patri m ó n i o que pos­
s u ía em Va l e n ça e seu termo, rese rvo u o d i re ito d e poder a n co ra r a sua ba rca neste
po rto fluvi a l , sem p re q u e aí ch egasse, e se p rete n d e rmos um reg isto iconog ráfico
d este p o rto, termo co nve n ci o n a l d a n avega b i l i d a d e d o rio M i n h o, basta rá co n s u l ­
ta r a s vistas q u e D u a rte d e A r m a s nos d e i x o u n o cé l e b re Livro das Fortalezas1 13•
Ponte d e Li m a e ra o po nto d e exce l ê n c i a n a a rticu l a ção e ntre a via fluvi a l e
os rote i ros te rrestres q u e d a í pa rti a m , i nte ress a n d o-nos, d e m o m ento, o q u e,
pelas terras d e N ó b rega e d e Li n d oso, perm itia esco a r p a ra a G a l iza o pesca do, ­
especi a l m e nte, sa rd i n h as - e o sa l d e Ave i ro , p ro g ress iva m e nte, su bstitu ído p e l o
d e Setú b a l , e rece ber os p rod utos traz i d o s p e l o s m e rca d o res g a l eg o s e p o rtu­
g u eses. E m b o ra o p rese nte est u d o estej a , esse n ci a l m e nte, rest ri n g i d o aos sécu­
l os XIV-XV, sa be-se que j á n o sécu l o XI I I a s ca rave l a s red o n d a s s u b i a m o rio,
desde Vi a n a até Po nte d e Lima, o n d e, a pós terem d e posita d o as m e rcadorias tra­
zidas, se a ba stec i a m m u itos a l m oc reves e os m e rca d o res d o re i n o vi z i n h o , q u e,
n o reto rno, l evava m pa ra a povoações g a l egas d e Ara újo, M i l m a n d a , Cel a n ova e
outras l oca l i d a d es os m e n ci o n a dos os p rod utos d o m a r a q u i ch egados p o r via fl u ­
v i a l , e m pa rticu l a r, s a l e pesca d o .
N este i nte rcâ m b i o , n e m se m p re e ra m pacíficas a s v i a g e n s d e a l m oc reves e
m e rca d o res, s a b e n d o-se q u e a l g u m a s d essas p e rtu rbações oco rri a m , l o n g e d a
fro nte i ra, e m p l e n o te rritó rio portu g u ês. Pe n s a m os, concreta m e nte, n a p ressão
o u vio l ê n cia fisca l , i ntro d u z i d a pelo se n h o r d a te rra d e N ó brega, João d e
M a ga l h ães, q u e, i n espera d a m e nte, deci d i u i nt ro d u z i r a o b rigação d o paga m e nto
de p o rta g e m por todas a s bestas m u a res q u e passassem ca rregadas p e l a s s u a s
terras, tendo, assi m , p rovoca d o a retracção dos m e rca d o res g a l eg o s e caste l h a ­
n o s , q u e d e ixa ra m d e p rocu ra r os p rod utos po rtu g u eses, d e q u e se a bastec i a m
e m Po nte d e Li m a , p rej u d i ca n d o , a o- m e s m o te m po, outras po p u l a ções d o va l e d o '
Li m a , p e l o q u e os m u n icípios d e Ponte de Li m a , Po nte d a B a rca e Arcos d e
Va l d evez deci d i ra m a p rese nta r q u e ixa co nj u nta a o m o n a rca, n a s Co rtes d e L i s b o a
11 2 B E R NARDO PI NTO R , P. ' M a n u e l Antó n i o - Melgaço medieval, B ra g a , 1 975, p p . 1 20-1 2 1 .
11 3 AR MAS, D u a rte d e - Livro das fortalezas. I ntro d u ç ã o d e M a n u e l d a S i lva Caste l o B ra n co,
Lisboa, Arq u i vo N a c i o n a l d a To rre do To m bo - E d i ções I NAPA, 1 997, fls. 1 1 0v - 1 1 2 .
1 34
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
de 1 459, co ntra a a b u s i va i n i ciativa de J o ã o de M a ga l h ães114, na ce rteza de q u e o
facto d e se esta r a dese n h a r u m su rto de se n h o ri a l i s m o n ã o l h e perm itia s o b re­
por os seus i nteresses aos das p o p u l ações d estes co n ce l h os .
A o l o n g o d a s m a rg e n s do Dou ro, m ovi m e ntava m-se ta m bé m os a g e ntes d o
co m é rcio com a s zo nas caste l h a nas, sit u a d a s a l é m d e Freixo d e E s p a d a à Ci nta,
s a b e n d o-se ta m bé m q u e, d a q u i até B raga nça, havia q u atro o u c i n co po rtos de
l i gação co m Caste l a . Em re l a ção à p ri m e i ra d estas l o ca l i da des, sabemos q u e e ra
u m dos po ntos por o n d e entrava m e m te rritó rio portu g u ês d i ve rsas m a n ufactu ras,
n o m e a d a m e nte, ro u pas fe itas e reta l h os d e p a n o s pa ra seu uso - q u e não p a ra
ve n d a , confo r m e d i z i a m - bem co m o o utros a rtigos pa ra s u ste nto de s u a s casas.
Deste p o rto a l fa n d e g á ri o , os prod utos p rocede ntes d e Caste l a ch egava m ao
Po rto, a Co i m b ra e a o utras l o ca l i d a d es, m e rcê d o d u ro tra b a l h o dos a l m oc reves,
q u e bo rd ej ava m o cu rso do D o u ro , ru m o ao l ito ra l , o n d e , a l é m d e o utros p ro d u ­
tos, se a ba steci a m d e peixe e s a l 11 5• A s i ntensas m e d i d a s fisca l i za d o ra s a p l icadas
n esta zo n a d a fro ntei ra p rovoco u uma ret racçã o d o co m é rcio com Ca ste l a , com
g raves q u e b ras n o vo l u m e d a s d íz i m a s e sisas que os ofi c i a i s rég i o s p rete n d i a m
a rreca d a r. Face a estes res u ltados negativos, i nverte ra m a estraté g i a e te nta ra m
esti m u l a r o co m é rc i o de p a n o s q u e ti n h a m repri m i d o . Foi p o r i sso q u e n a s cortes
d e Évo ra de 1 48 1 a p a receu u m re p rese nta nte da v i l a de Freixo a ped i r que não
constrangessem os seus vizinhos e moradores a trazer panos quando regressas­
sem de Castela, onde leva vam cargas de sardinhas, pescado e frutas, cebolas e
hortaliças, e d o n de, h a bitua l m e nte, traz i a m «pam pera seu comer e dinheiro e
queijos pera suas casas». C o m o fu n d a m e ntaçã o d este p e d i d o , a d u z i a m o m a g ro
re n d i m e nto dos p rod utos ve n d i d o s d o outro l a d o d a fro nte i ra 116
2. 2. 2. 5 - O pastoreio de transumância
I n s i st i m o s , p refe re n c i a l m e nte, n a s rea l i d a d es fro nte i r i ç a s l u so-caste l h a ­
n a s d o N o rte d e Po rt u g a l , m a s n ã o esq u ec e m o s q u e h av i a o utros fa cto res q u e
11 4 MARQU ES, José - Relações entre Portugal e Castela, p p . 28-29.
11 5 M O R E N O, H u m b e rto B a q u e ro - A acção dos a l m oc reves no d esenvo lvi m e nto d a s co m u ­
n i ca ções i nter-reg i o n a i s p o rtu g u esas n o s fi n a i s d a I d a d e M é d i a , i n Papel das áreas regionais na
formação histórica de Portugal - Actas do Colóquio, Lisboa, Aca d e m i a Po rtu g u esa d a H i stória,
1 975, p p . 1 85-239, presertim 207-209.
116 A. N. T. T. , Alem Douro, li v, 3, fi . 77. Ve r tb. a s nossas Relações entre Portugal e Castela,
p p . 43-45 .
1 35
J osé M a rq u es
o b ri g ava m a cruza r a fro nte i ra , n ã o só n a zo n a d a B e i ra , m a s ta m bé m n o exte nso
seg m e nto a l e ntej a n o , co m o i m p u n h a m a s t ra d i c i o n a i s p ráticas d e pa sto re i o d e
tra n s u m â n c i a , d e q u e M a ri a J osé L a g o Tri n d a d e, entre outros, d i vu l g o u p rovas
i rrefutáve is117• E m b o ra a s reg i ões d a Se rra d a Estre l a e a s p l a n ícies a l e ntej a nos
constitu ísse m á reas d e e l eição p a ra este secto r d e re l a c i o n a m e nto e d e travess i a
d a l i n h a d e fro ntei ra nos d o i s sentid os, e m m e n o r esca l a , ta m bé m se docu m e n ­
ta m a l g u m a s e ntradas n a zona n o rte, ta nto p e l a l i n h a d o M i n h o co m o p e l a ra i a
seca d e Castro La b o re i ro e d e Ba rroso. E m re l a çã o a o s q u e e nt rava m p o r Castro
La b o re i ro, a l é m dos teste m u n h o s co m p rovativos d e terem ch e g a d o a o couto d e
Ca rvo e i ro, n o termo d o a ctu a l co n ce l h o d e Vi a n a d o Ca ste l o , o ut ro ra, d ita d a Foz
do L i m a 11 8, p e l o d i s posto no fo ra l m a n u e l i n o de Castro La b o re i ro, a í se e n co ntra
ta m bé m u m a c l a ra p roposta d e vizinhança com os l oca l i d a d es d e Ce l a n ova e d e
M i l m a n d a , o n d e os g a d o s port u g u eses pastava m g ratu ita m e nte, c o m o o s g a le­
g o s e m Po rtu g a l 119•
2. 2. 2. 6. - Percorrendo a fronteira
Co m o rem ate d a v i s ã o d e co nju nto q u e te ntá m o s esboça r s o b re a s re l a ções
fro nte i riças e ntre Po rtu g a l e Caste l a , n o s d o i s ú lti m os sécu l o s d a I d a d e M é d i a ,
e m b o ra e l a bo ra d o n a p ri m e i ra m eta d e d o sécu l o XV I , va l e a p e n a p resta r
a l g u m a ate nção a o re l ató r i o d a ve rifi cação e eve nt u a l rectifi cação d e toda a
d e m a rcação d a fro ntei ra l u so-caste l h a n a , o r d e n a d a p o r D . J o ã o I I I , e m 1 537.
Desta m i ss ã o , do m a i o r i nte resse no p l a n o do contro l o da i nteg ri d a d e do terri­
tó r i o n a c i o n a l , fo i i n c u m b i d o o escrivão M e n d o Afo n s o d e Rese n d e, q u e i n i c i o u
a s u a execução, n a Câ m a ra M u n i c i p a l d e Castro M a ri m , n o d i a 1 3 d e J u l h o d e
1 537, e só v i ri a a term i n a r, e m Ca m i n h a , m a i s d e u m a n o d e p o i s , e m 3 1 d e J u l h o
d e 1 53 8 .
11 7 TR I N DADE, M a ri a José Lagos - Al g u ns p ro b l e m a s do pa sto re i o , e m Portu g a l , nos sécu­
l o s XV e XVI , in Do Tempo e da História. I , Lisboa, I nstituto d e Alta Cu ltu ra-Centro d e E stu dos
H i stóricos An exo à Fa cu l d a d e d e Letras d a. U n iversi d a d e d e Lisboa, 1 965, p p . 1 1 7- 1 24.
118 É
o q u e se pode co ncl u i r d e u m a sentença, d e 1 d e J u l h o d e 1 460, co ntra o D u q u e de
Braga nça por causa d o a rre n d a m e nto q u e ele t i n h a feito d o s m o ntes do couto d e C a rvoe i ro aos
va q u e i ros g a l egos, q u e j u nta m e nte co m os d e M o nção e d e Cast ro L a b o re i ro se a poderaram
dos refe r i d o s m o ntes (A. D. B . , Conven to e Mosteiro de Carvoeiro, m a ço 96, « S e nt e n ça d a j u ris­
d i çã o d o Couto d e C a rvo e i ro dada n o a n n o d e 1 642», fls. 67-67v. Cf, MARQU E S , José - Relações
entre Portugal e Castela, p . 47.
"' TR I N DADE, M a ri a José Lagos - Alguns problemas do pastoreio, p . 1 1 7.
1 36
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
As a ctas fe itas d u ra nte esse l o n g o p e rcu rso e a ss i n a d a s p e l a s d i ve rsas
vereações m u n i c i p a i s e teste m u n h a s p rese ntes à s i n q u i ri ções rea l i zadas co n sti­
t u e m um exte nso re l atório, d i stri bu ído p o r três l i vros, c, uja e d i çã o , e m i d ê ntico
n ú m e ro d e vo l u m es, fo i p repa ra d a p o r I s a b e l Vaz d e Freitas120, perm item co n h e­
cer a rea l i d a d e d a l i n h a d a fro nte i ra , as tensões existentes e ntre m o ra d o res e
a l g u n s m u n i c íp i os situ a d o s dos d o i s l a dos d a ra i a , n ã o fa lta n d o ta m bé m i nfo r­
m a ções re l ativas à po p u l a ção d a s l oca l i d a d e s p o rtu g u esas visita d a s p o r M e n d o
Afo nso d e Rese n d e e a s u a co m itiva, i n c l u i n d o , a i n d a , a l g u n s d a d o s s o b re povo a ­
ç õ e s caste l h a n a s .
E m C a stro M a ri m , o e m issá r i o rég i o d e p a ro u l o g o c o m g raves p ro b l e m a s ,
existentes e nt re esta v i l a e a d e Aya m o nte, q u e re m o ntava m a o te m po e m q u e
D . Pe d ro d e Stu n i g a assu m i u e c o n s e rvo u o s e u s e n h o ri o , esse n ci a l m e nte, o ri ­
g i n a d o s p e l a rec u s a d o p a g a m e nto d a ancoragem, q u e o s titu l a res d o s ba rcos,
s eg u n d o rem ota t ra d i ç ã o , d ev i a m p a g a r a Ca stro M a ri m , p e l o modo co m o p ra ­
ti cava m a pesca n o r i o G u a d i a n a e p e l a tentativa d e a lteração d a l i n h a d e fro n ­
tei ra fl u vi a l , q u e o s se n h o res d e Aya m o nte, s i ste m atica m e nte, e m p u rrava m
p a ra o m e i o d o ri o . N o d e c u rso d esta i n q u i ri ç ã o , M e n d o Afo nso d e Rese n d e
q u i s s a b e r se n o ca rtó r i o m u n i ci p a l h a v i a a l g u m a d o c u m e ntação s o b re ta i s
a s s u ntos, s o b re e l es reco l h e n d o ta m bé m d e p o i m e ntos o ra i s e d e t u d o fo i red i ­
g i d a a n ecess á r i a a cta . O s e u i nteresse p e l a i d e ntifi caçã o d e fo ntes escritas,
e s c l a rece d o ra s d a v e rd a d e i ra p o s i ç ã o d a l i n h a d e fro nte i ra , repet i r-se- i a ,
d u ra nte o l o n g o p e rcu rso seg u i d o n o c u m p ri m e nto d a m i ssão rece b i d a , cuja
exec u ç ã o estava a i n i c i a r.
As d i l i g ê n c i a s fe itas n a Câ m a ra d e Cast ro M a ri m , d e certo m o d o , p o d e m
to m a r-se co m o p ri m e i ro e n s a i o d o q u e v i r i a a rea l iz a r e m m u itos o utros m u n i c í­
p i o s situ a d o s a o l o n g o d a fro ntei ra a vis ita r121 •
N a i m possi b i l i d a d e d e a p rese nta rmos a q u i u m a síntese d a d i vers i d a d e d e
assu ntos a rq u ivados n esta fo nte, cremos o p o rt u n o o bserva r q u e a s u a a n á l ise
perm iti rá u m a visão d e co nj u nto s o b re os p ro b l e m as, então, d etecta dos, n ã o só
d a l i n h a d e fro nte i ra , q u e n u m o u n o qt ro caso fo i n ecess á r i o rectifi ca r, mas ta m ­
bém e p ri n ci pa l m e nte rel ativos à convivê n c i a e m c l i m a d e vizinhança e a m iza d e
1 2° F R E I TAS, I s a b e l Vaz - Demarcações de Fronteira.Vo l . I. De Castro Marim a Montalvão;
vo l . 1 1 . DE Vila Velha de Ródão a Castelo Rodrigo; vo l . I I I . Lugares de Trás-os-Montes e de Entre­
-Douro-e-Minho, Po rto, U n ivers i d a d e Po rtu ca l e n s e - I nfa nte D. H e n r i q u e - C I D H M , 2003.
,, I D E M - O. c . , vo l . I , p p . 1 9-25.
1 37
J osé M a rq u es
o u d e o posição e ntre as po p u l a ções m a i s p róxi m a s d a d e m a rcaçã o co m u m aos
dois re i n os, l a rg a m e nte nela re p resenta d o s . N este sentido, j u l g a m o s o p o rtu n o
ch a m a r a ate nção pa ra as n u m e rosas situ a ções te n s i o r.� a i s o u , m e s m o , d e o p o s i ­
ção fro nta l , exi ste ntes a o l o n g o da fro ntei ra d o G u a d i a n a 1 22, s e n d o m u ito va ri a d a s
ta m bé m n a s zo n a s d a s B e i ra s e d a Estre m a d u ra 123•
As i nfo rmações reco l h i d a s n esta s n u m e rosas a ctas, l avra d a s a o ritmo da
p ro g ress ã o do em issá rio rég i o e s u a co m itiva, de s u l p a ra n o rte, bem m e recem
um co nve n i e nte a p rove ita m e nto, ta nto n o â m bito d a h i stória g e r a l l u so-caste­
l h a n a , co m o d a h i stória l oca l - m a i s co ncreta m e nte, dos m u n i c í p i o s visita dos -,
sem p e rd e r de vi sta os contri b utos soci o l ó g i cos, d e m o g ráfi cos e do q u oti d i a no,
que elas p ro p o rci o n a m .
E m contraste c o m a s refe rê n c i a s q u e acaba m os d e fazer - p o r certo, ext re­
m a m e nte vagas -, n a s a ctas rel ativas à s zo n a s g a l a i co-tra n s m o nta n a s e g a l a i co­
- m i n h otas, avu lta a n ota d e convivê n c i a e h a rm o n i a , j á patente n a docu m e ntação
q u atrocentista, a nteri o rm e nte, refe r i d a , s o b ressa i n d o a s freq u e ntes a l u sões a o
i nte rca m b i o d e l i v re pasto re i o n o s d o i s l a d o s d a fro ntei ra 124, oco rre n d o situação
i d ê nticas n a pesca n o rio M i n ho, podendo os g a l egos l a nça r a s suas redes d e
a rra sto a t é j u nto d a m a rg e m p o rt u g u esa, ta l co m o os po rtu g u eses pod i a m faze r
até à m a rg e m d i re ita d este rio, sem q u e estes p roced i m e ntos d e s p e rtassem ati­
t u d es a g ressivas o u conte n d a s j u d i c i a i s e ntre os pesca d o res, o mesmo se
p o d e n d o afi rm a r q u a nto ao uso das ba rca s de passa g e m , co m o a seg u i r se
exe m p l ifica . N ã o o bsta nte trata r-se d e citações ba sta nte exte nsas e de red a cção
d efi cie nte, não h esitá m os a p resentá - l a s por sere m e l u c i d ativas d a s afi rmações
p recede ntes. A p ri m e i ra consta d a a cta l avra d a , e m 31 d e J u l h o d e 1 538, na
Câ m a ra d a Vi l a N ova d e Cerve i ra , o n d e, e ntre o utros, fico u a rq u iva d o o seg u i nte
d e po i m ento: - «E que esta vil/a tem todos per persunçaom que todo o ryo do
Minho he de Portugal/ porem esta vil/a nam esta em pose senam da metade do
dyto ryo de fyo de meo d'agoa per esta vylla e pera aliem he de Galiza e que em
o dieta ryo os moradores desta vil/a pesquaom com sus redes per todo ho ryo do
Minho ate a foz do mar que em Caminha e porem naom saem com suas redes
com que pesquam em tera da Galiza senam vem nas tyrar em este termo e isto
he com as redes grandes que com as pequenas que nam saem fora pesquaom '
honde querem e os recolhem as barquas e se vem com e/las pera este regno e
122 I D E M - O. c., vo l . I, passim.
12 3 I D E M - O. c . , vo l . I , passim . .
124 I D E M - O. c. , vo l . I I I , p p . 1 50-1 5 1 . N ote-se q u e, n o aspecto d o pasto rei o , havia ta m bém
s i t u a ções m e nos c l a ras, v. g . p p . 1 44, 1 46-1 47, etc.
1 38
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
com as grandes que he necesaryo tyra las entram com o ho pescado em terra
(fi. 1 788) com as taes redes senam trazem nas.
E arrogam nas com seus pes quando em o term o de� ta vil/a e desta maneira
o fazem sem pagarem nhum direito a Galiza por naom sa yrem com e/las em ter­
raa e que os de Galiza que tambem pesquaom em o dieta ryo do Minho outro
tanto fazem asy e da maneira que ho fazem os desta vil/a e termo e do reg no sem
pagarem nada. E que se trataom desta maneira no modo de pesca no ryo asy os
gallegos como os portugueses que vam tyrando o pexe fora de seu term o naom
pagam nenhum trybuto posto que pesquam em todo o ryo asy ate o meo dei/e
como pera outra parte nom sayndo em terra como já dyto he e que asy se acos­
tum ou sempre a fazer em esta vil/a sobre as pesquaryas de cem anos e mais a
esta parte sem contenda nem debate que en tr'elles aja ate ora» 1 25
É d o m e s m o d i a 3 1 de J u l h o a a cta d a i n q u i rição s o b re a fro nte i ra e p ro b l e­
m a s co n exos, rea l izada n a Câ m a ra d e Ca m i n h a , o n d e , entre o utras, n ã o poderia
fa lta r a i nfo rmação re l ativa à pesca fl uvi a l , fe ita p o r p o rt u g u eses e g a l egos, q u e
é i d ê ntica à d escrita e m Vi l a N ova d e Cerve i ra , p e l o q u e n o s d i spensa m os d e a
re p ro d u z i r, p refe ri n d o o pa rá g rafo s o b re as ba rcas d e passa g e m :
«E que tem
esta vil/a huua barqua que pasa gente de ca va/lo e bestas que pasaom pera Galiza
somente e nam pasao a gente de pe esta tera senam somente a barca desta vylla
as bestas e donos de/las e que Galiza tem houtra barqua que pasa toda a gente
-
de pe que de Galyza vem pera esta vylla e a que desta vylla vay pera Galiza (fi.
183A) a pe que naom pode pasar a barqua desta vil/a gente de pe senam a de
Gaf/yza e que estaom em esta pose ja d'antyguydade de ser da dieta maneira a
pasagem das barcas asy a desta vil/a com o a de Galiza nam sabem se ha na
camara allguua scripytura que niso falle»126•
Seg u n d o M e n d o Afo n s o d e Rese n d e fo i reg i sta n d o a o l o n g o d a ú lt i m a
pa rte deste péri p l o fronte i riço, n a b a s e d esta co nvivê n c i a , m a rca d a p e l a a m i ­
z a d e e c o n so l i d a d a p e l o reg i m e d e vizinhança, reco n h ec i d o p o r p ri v i l é g i o s
rég i os, p e r m a n e c i a m o s l a ços fa m i l i a res, esta b e l e c i d o s p e l o s casa m e ntos e n t re
g a l eg o s e m i n h otos e t ra n s m o nta n o s , i nvoca d o s n o s p e d i d o s a p rese nta d o s e m
Co rtes e a o m o n a rca, fe n ó m e n o soci � l d e l o n g a t ra d i ç ã o , q u e se p ro l o n g a ri a n o
fut u ro .
12 5 I D E M - O. c., vo l . I I I , p p . 1 86-1 87.
1 26 I D E M O. c. , vo l . I I I , p. 1 92 .
-
1 39
J osé M a rq u es
E m bo ra ca reça d e a p rofu n d a m e nto, é este m a i s um e l e m e nto a co m p rova r
a si m i l it u d e e i d e n t i d a d e g a l a ico-m i n h ota, d e certo m o d o , co ntra sta nte com o q u e
fi cou reg i sta d o q u a nto à s Bei ras, Estre m a d u ra e l i n h a <;l o G u a d i a n a .
3
-
Concl usão
Antes de e n ce rra rmos esta exposição, j u l g a m os o p o rtu n o o bserva r, n ova­
m e nte, q u e as re l a ções l u so-caste l h a n a s esta b e l e c i d a s a n ível dos p o d e res cen­
tra i s e a s p rati cadas n o q u ot i d i a n o d a v i d a rea l s ã o m u ito d ife rentes. É certo q u e
o cl i m a d e cord i a l i d a d e o u d e o p o s i çã o q u e m a rcava a s p ri m e i ra s aca bava p o r se
re p e rcuti r nas seg u n das, basta n d o ter p rese nte o q u e se passou em períodos d e
g u e rra o u d e s i m p l es tensões d i p l o m át i cas, c o m a s s u bseq u e ntes vi g i l â n c i a s dos
vá rios seg m e ntos d a l i n h a d e fro nte i ra .
N este estu d o , d es e nvo lvido e m torno d e d o i s P <? ntos esse n c i a i s , com eÇá mos
p o r tenta r evi d e n ci a r a s situ a ções, d e certo modo, a m b íg u a s d e p a rce l a s s i g n ifi­
cativas d e te rritó rio po rtu g u ês, q u e perm a n ece ra m i nteg ra d a s e m d i oceses g a l e­
g a s o u caste l h a nas, i sto é, s o b a i nfl u ê n c i a j u ri s d i ci o n a l d e p re l a d o s estra n g e i ros,
ch ega n d o-se à situação, q u e pode ría m o s co n s i d e ra r a n a c ró n i ca, de a p ró p ri a
ca p ita l d o Rei n o se e n co ntra r, co m o sufra g â n e a , n a ó rbita d o a rce b i s p a d o d e
Sa nti a g o d e Co m poste l a . Ta i s situ ações, e m t e r m o s d o iso l a m e nto q u e a s fro n­
tei ras d eve ri a m proporci o n a r n o p l a n o po l ítico, seg u n d o a s co n ce pções d e e ntão,
o b ri g ava m a u m a p e rm a n e nte flexi b i l ização d a s m e s m a s pelas m a i s co m p reen­
s íve i s razões.
Q u a nto a o s a s pectos co n cretos d o q u oti d i a n o das po p u l ações ra d i c a d a s
n a s p rox i m i d a d es d a fro nte i ra , a l é m d e a s s i t u a ções d e natu reza a d m i n i st rativa
e c l e s i á stica, n o s casos refe r i d o s , fa ci l itarem a a p roxi m a ç ã o e ntre e l a s , n ã o fa lta­
ra m freq u e ntes re l a ções conso l i d a d a s p e l o s víncu l o s m atri m o n i a i s , cuj o v i g o r
s u pe rava a s d ete r m i n a ções d a l e g i s l a ç ã o e a c ç ã o fisca l i za d o ra d o s p o d e res
rég i o s e o utras a uto r i d a d es m a i s p rqxi m a s d estes s ú b d itos, a b ri n d o a s p o rtas à
desej a d a p rática d e vizinhança. N esse se nti d o , a ex p ressão m a i s evi d e nte d o
d esej o d e co nvív i o e nt re a s g e ntes g a l eg a s e p o rtu g u esas d o va l e d o M i n h o,
fico u pate nte n o s fre q u e ntes ped i d o s d e ta i s p r i v i l é g i o s d i ri g i d o s a D . Afo n s o V,
p o r o ca s i ã o d a s u a v i sita a o M i n h o , e m 1 462, e n a l i be ra l i d a d e c o m q u e o
m o n a rca a todos ate n d e u .
1 40
"
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Nas reg i ões d e R i ba Côa e da Estre m a d u ra caste l h a n a , a pesa r d e a l g u m a s
m a n ifesta ções d a vo nta d e d e esta b e l eci m e nto reg i o n a l d e u m cl i m a d e vizi­
nhança s i m i l a r, com to d a s a s va nta g e n s m út u a s d a í adve n i e ntes, a s fo ntes uti l i ­
z a d a s n ã o perm item co ncl u i r da p l e n a co ncretização d e ta l desi d e rato, m e s m o
q u e, e m re l a ç ã o à zo n a estre m e n h a , se a p o nte co m o j u stificação d a fa l ê n c i a d o
p roj ecto a p rese nça d e se n h o rios d e O r d e n s M i l ita res .
A s o b revivê n c i a d a s situações e n u n c i a d a s a p a rece co nfi r m a d a n o rel ató rio
d a verificação d e to d a a fro ntei ra p o rtu g u esa, deci d i d o po r D . J o ã o I I I , e m 1 537- 1 538, va l e n d o a pena te nta r d esco b ri r u m a fu n d a m e ntação c i e ntífica desta c o n ­
vivência h i stórica n a s reg i õ es g a l a i co-m i n h ota e t ra n s m o nta n a .
É certo q u e as d u a s centú rias a n a l i s a d a s n a i nvestigação rea l izada fica ra m
m a rcadas p o r d i ve rsos períodos d e g u e rra , cuj os res u lta dos n ã o d e ixa ra m de se
repercut i r s o b re a s p o p u l a ções, q u e, a pesa r d i sso, co nti n u ava m a p refe ri r o co n ­
v ívi o , a paz e o i nte rcâ m b i o co m e rci a l , d e q u e d e p e n d i a a s o b revivê n c i a d e m u i ­
tos d o s seus m o ra d o res.
No co n h eci m e nto d a s re l a ções l u so-caste l h a n a s q u e, d e a l g u m a fo rma, te n ­
tá m os s i ste m atiza r, p red o m i n a m a s i nfo rmações s o b re os seg m e ntos d a fro ntei ra
te rrestre g a l a ica e caste l h a n a , com p a rticu l a r i n c i d ê n c i a no centro - n o rte, q u e, p re­
fe re n ci a l m e nte, te mos visita d o n o utros estu dos.
M e s m o assi m , n ã o i g n o rá m os a a be rtu ra dos p o rtos fluviais - co m l i g e i ra
referência n o corpo d o texto -, q u e esta b eleci a m a l i gação com a G a l i za e Ca ste l a ,
pa ra o utros d esti nos d o N o rte e d o S u l , n o m ea d a m e nte, d o M e d ite rrâ neo oci­
d e nta l .
1 41
Secçã o 2
A Co ro a d e Ara g ã o ( sécs . X I V-XV I )
La Coro n a d e Aragón y Lu ís Adã o da Fo nseca
Sa lvador Clara m u n t
U n iv ers itat d e B a rce l o n a
E s p a ra mi un verd a d e ro co m p ro m i so p e rso n a l escri b i r e n este vo l u m e n
d e d i c a d o a m i i l u st re co l e g a , co m pa n e ro y a m i g o Lu ís Ad ã o d a Fonseca, c o n
m ot i vo d e su j u b i l a c i ó n co m o cate d rático d e l a U n i v e rs i d a d d e O p o rt o .
Co m p ro m iso p o r q u e te m o n o p o d e r ser t o d o l o o bj etivo q u e desearía, d e b i d o a
l a a nt i g u a y fl u i d a a m i sta d q u e h e m a nte n i d o a t ravés d e casi cu atro déca d a s' co n
Lu ís, y a q u e s o m o s p rá ctica m e nte coetá neos, a u n q u e e l ba l a nce tota l m e es u n
poco d esfavo ra b l e e n e l có m p uto d e a n u a l i d a des. Los d o s co m e nza m o s n u estras
ca rre ras doce ntes u n ivers ita rias en 1 968, a n o d e m íticas y utó p i ca s revo l u ci o nes
que m a rca r on e l i n i c i o d e un período que h a co n d u ci d o ai esta d o a ct u a l e n q u e
se e n c u e nt ra e l m u n d o u n ive rsita r i o . L a s m e ntes pensa ntes d e i m ayo d e i 6 8 n o
se d i e ro n cue nta q u e e l p rota g o n i sta d e l a H i sto ria es e l g é n e ro h u m a n o y éste
esta fo r m a d o por h o m b res y m uj e res cuyos vícios, a m b i c i o n es, v i rt u d es, a uto j u s­
tificaci o n es y e n so n a c i o n es n o h a n ca m b i a d o n u nca, n i ca m b i a rá n . Las civi l iza­
c i o n es c o n s u s co rres p o n d i e ntes re l i g i o nes s o n ú n i ca m e nte un te n u e ba r n iz q u e
a pe n a s ocu lta l a verd a d e ra i d iosi ncrasia d e i g é n e ro h u m a n o , l l a m a d o p o r
m u ch os raci o n a l .
N u estra re l a c i ó n p e rso n a l s e i n i c i á m uy a p r i n c í p i o s d e l a déca d a d e l o s a n os
sete nta dei sa n g r i e nto si g l o que fu e e l XX. Desde e ntonces se puede deci r, que a
pesa r d e l a s i nte rru pci o n es te m po ra l es, m otiva d a s p o r l o s asu ntos fa m i l i a res o
a ca d é m icos n u estra re l a c i ó n h a s i d o � i e m p re estrech a y s o b re tod o cord i a l ; ya
q u e Lu ís es un h o m b re q u e e m a n a j ovi a l i d a d , ca m a ra d e ría y co m pa n e ri s m o , cosa
poco h a bitu a l en el a m b i e nte u n iversita rio, en d o n d e la e nvi d i a se ceba y con­
fo r m a p e rs o n ajes h u ra n os, va n i dosos y e n g re ídos.
U n a serie d e a n écd ota s p o d rá i l u stra r n u estros p ri m e ros co ntactos e n
B a rce l o n a , y o co m o ayu d a nte d e cl ases p rá cticas y d e s p u és co m o Prof. Adj u nto
i nteri n o d e i Prof. E m í l i o Sáez S á n ch ez, cated ráti co e nto n ces de H i storia M e d i eva l
1 45
S a l va d o r C l a ra m u nt
d e Espa n a d e l a U n ivers i d a d d e B a rce l o n a . D o n E m i l i o m e a n u n c i á q u e u n j oven
p o rtu g u és tra baj a ba s o b re docu m e ntos rel ativos a Po rtu g a l e n e l Arch i vo d e la
Caro n a d e Ara g ó n y que s i e m p re que p u d i ese l e i ntr <;> d ujese e n l o s a m b i e ntes
b a rce l o n eses. N u estro n ú c l e o de m e d i eva l i stas, e n ca beza dos por d o n E m i l i o
S á ez y d o n A l b e rto d e i Casti l l o, ten ía p rofu n d a s y cord i a l es re l a c i o n es con l o s h i s­
to ri a d o res m e d i eva l i stas p o rtu g u eses, m uy especi a l m e nte co n d o n a Vi rg i n i a R a u ,
a l a s a z ó n cated ráti ca d e H i storia M e d i eva l d e l a U n ivers i d a d d e L i s b o a y e l Prof.
H u m berto B a q u e ro .
Po r otro l a d o y a sa b ía p o r u n a a nt i g u a co m pa n e ra m ía , q u e h a b ía g a n a d o
u n a p l aza d e a rch i ve ra e n e l a rch i vo d e l a C a ro n a d e Ara g ó n , d e l a I l e g a d a d e u n
j oven est u d ioso p o rtu g u és, m u y atractivo, cuya p rese n c i a h a b ía a n i m a d o l a
peq u e n a y u n poco triste s a l a d e co nsu lta, p o r l o m e n os pa ra l o s oj os d e l a s fu n­
c i o n a ri a s m á s j óve nes. Y es que a l a H i storia con mayú scu l a s i e m p re a co m p a n a
l a s h i sto rias c o n m i n ú scu l a , q u e ta nto éxito t i e n e a h o ra c o n l a s fa nta s i osas n ove­
l a s h i stóricas, la m ayo ría de l a s cu a l es n o l o g ra n s u p e ra r a la verd a d e ra H i sto r i a .
Lu ís e ntra ba d e esta m a n e ra e n contacto d i recto co n l a H i storia d e l a Caro n a
d e Ara g ó n , n a d a m e n o s q u e i nvestiga n d o e n su Arch i vo p o r a nto n o m a s i a . E ra n
a n os fe l i ces d e j uve ntud, a u n q u e L u ís y a esta ba ata d o p e rso n a l m e nte c o n l a q u e
h a s i d o s i e m p re su esposa, M a ri a José. Yo m e até m u ch o m á s ta rde y p o r l o ta nto
p u d e l l eva r u n a v i d a más viaj e ra y soci a l , s i ca be, q u e la de Lu ís . Recu erdo con
especi a l afecto e l p ri m e r d ía que Lu ís a cu d i ó a una re p resenta c i ó n d e ó p e ra e n e l
G ra n Teatro d e i Liceo d e B a rce l o n a , e n d o n d e u n g r u po d e j óvenes p rofeso res d e
a m bos sexos te n ía m os n u estro a b o n o l o s s á b a d o s p o r l a noch e e n u n p a l co e n l a
pa rte m á s centra l d e l a p l atea . Aq u e l l a s ve l a d a s m u si ca l es q u e n o s perm itieron
co nfrate r n i za r a l o s s o n d e l a s va r i a d a s y be l l a s ro m a nzas d e Ve rd i , Po n ch i e l l i ,
D o n i zetti o Stra u ss, h a d ej a d o h u e l l a e n m i h a be r cu ltu ra l d e j uventu d , y espero
q u e e n L u ís ta m b i é n .
A I m a rg e n d e l a v i d a soci a l y d e re l a c i o n es p ú b l icas, Lu ís Ad ã o d a Fo n seca
s i e m p re fu e un tra baj a d o r e m pedern i d o y d e m ostró s u b u e n a p repa ra c i ó n h i stó­
rica a d q u i ri d a e n otros centros u n iv�rsita rios q u e d ej a ro n h u e l l a é l , co m o la u n i ­
ve rs i d a d d e O p o rto y l a u n ivers i d a d de N ava rra .
Lu ís ya a ntes d e su l l e g a d a a B a rce l o n a m ostrá u n g ra n a pa s i o n a m i e nto p o r
l a H i storia y l o s p e rso n ajes d e l a a ntig u a Ca ro n a d e Ara g ó n , y m u y especi a l m e nte
p o r a q u e l l o s q u e co m p a rtieron vive n c i a s y exp e r i e n c i a s en Po rt u g a l y e n
Cata l u n a . E s co m o si e l l be r i s m o n o stá l g ico, ta n d e m o d a e n l a seg u n d a m itad d e i
1 46
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
s i g l o XIX, tuviese e n las i nvesti g a c i o n es d e Lu ís el o r i g e n d e un m ito h i stó rico q u e
q u izás a l g ú n d ía p u e d a co nve rti rse e n rea l i d a d , si e s q u e n u est ra cu ltu ra y civi l i­
zaci ó n n o desapa rece n a ntes. E n Cata l u íí a l o s g ru pos q u e. h a n d ete nta d o e l p o d e r
desde e l s i g l o XI I I , m uy a pesa r d e l a fa m a d e i pact i s m o cata l á n , n u nca h a n s a b i d o
perder, y l o q u e es m á s g rave g a n a r y p a ra co l m o n i pacta r. N o sé si e n Po rtu g a l
pasa l o m i s m o , p e ro esta n o e s u n m a l e n d é m ico cata l á n , s u ce d e e n m u ch o s pa í­
ses con l a rg a h i sto ria y m itos a rra i g a d o s en u n s u bco nsci e nte d efo r m a d o en e l
q u e se m ezcla l a c ru d a rea l i d a d con l o s d eseos n o a l ca nzados.
L u ís Ad ã o d a Fo n seca ya esta ba desde m uy j oven p red esti n a d o a e n l aza r s u s
i nvesti gaci o n es con l a Caro n a d e Ara g ó n p o r q u e esco g i ó a u n p e rso naje t ra n s­
versa l , c o m o e l co n d esta b l e Ped ro de Po rtu g a l , p a ra i n i ci a r su ca rrera i nvestiga­
dora.
Ya e n 1 968 h a b ía p u b l i cad o O Condestá vel O . Pedro de Portugal. Subsídios
para o estudo de sua mentalidade, q u e d e s p u é s a m p l i a ría y m atiza ría g ra c i a s a
l a s i ntensas i nvesti g a ci o n es q u e rea l izá e n e l Arch i vo d e l a Caro n a d e Arág ó n
entre 1 973-75 s o b re este perso naje cl ave e n l a g u e rra civi l cata l a n a d u ra nte e l re i ­
n a d o d e J u a n 11 d e Ara g ó n , y q u e fo rma pa rte d e l a tría d a d e l o s l l a m a d o s reyes
i ntrusos de Cata l u íí a . As í se fra g u ó u n a m a g n ífica tes i s d o cto ra l q u e d efe n d i ó e n
l a U n ivers i d a d d e N ava rra e n 1 975 y q u e a p a reció p u b l icada p o r e l I n stituto
N a ci o n a l d e I nvestigação C i e nt ífica d e l a U n ivers i d a d d e O p o rto e n 1 982, g ra c i a s
a ayu d a d e l a Fu n d a c i ó n Ca l o u ste G u l be ki a n , c o n e l títu l o O Condestá vel O.
Pedro de Portugal. E sta fig u ra e ntro n ca co m o n a d i e a Po rt u g a l y l a Caro n a d e
Ara g ó n , y m u y especi a l m e nte Cata l u íí a , y será u n verd a d e ro leiv motiv e n s u s
i nvest i g a c i o n es a ntes y d e s p u és d e l a tes is, co m o l o d e m u estra n s u s p u b l icacio­
nes: Obras Completas do Condestá vel O. Pedro de Portugal, Lisboa, 1 975; O
Condestá vel O. Pedro de Portugal, a Ordem Militar de Avis e a Península Ibérica
do seu tempo ( 1429- 1466), p u b l icada e n 1 982. Tod avía reto m a este s i n g u l a r p e r­
s o n aj e e n u n a i nteresa nte contri b u c i ó n q u e rea l i za p a ra e l h o m e n aj e a i Prof.
Fed e rico U d i n a M a rtore l l titu l a d a , Las rentas eclesiásticas y los fondos de la
capilla real durante el gobierno dei condestable don Pedro de Portugal como "rey
intruso " de Aragón ( 1464- 1466).
Co m pa rto tota l m e nte l a pasi ó n q u e este personaje despertá e n Lu ís y l a s
h o ra s q u e ded i cá a resit u a r e n l a h i storia pe n i n s u l a r esta s i n g u l a r fi g u ra h i stórica,
co n o c i d o e l Co n d esta b l e co m o Ped ro IV d e Cata l u íí a p o r l o s h i sto r i a d o res cata l a ­
n e s . De h echo s ó l o re i n á e n u n a pa rte d e i te rrito rio cata l á n d e 1 363 a i 1 366. H ij o
d e i i nfa nte Ped ro d e Po rtu g a l , d u q u e d e Co i m b ra y d e s u m uj e r I s a b e l , h ij a d e
1 47
Sa lva d o r C l a ra m u nt
J a i m e 1 1 de U rg e l l . Fue h ech o co n d esta b l e po r su pa d re e n 1 443, c u a n d o éste ej e r­
cía l a reg e n c i a d u ra nte l a m i n o ría d e Alfo n so V. S u v i d a está m a rcada p o r dos j u a ­
n es, J u a n l i d e Casti l l a y J u a n l i d e Ara g ó n . E n 1 445 e nfró e n Casti l l a con u n ej é r­
cito p a ra ayu d a r a J u a n 1 1 d e Casti l l a co ntra l os l l a m a d o s i nfa ntes d e Ara g ó n ,
e ntre l o s q u e se e n co ntra ba e l futu ro J u a n l i d e Ara g ó n . A consecu e n c i a d e l a d e r­
rota y m u e rte de s u pad re e n l a bata l l a d e Alfa rro be i ra e n 1 449 reg resó a Casti l l a
e n d o n d e s o b revi v i ó e n m e d i a d e g ra n des d ificu ltades h a sta cu a n d o p u d o reg re­
sar de n u evo a Po rt u g a l en 1 454. Aco m p a n ó a s u rey Alfo n so V de Po rtu g a l en u n a
exped i c i ó n co ntra Tá n g e r y p reci sa m e nte esta n d o e n Ceuta es cu a n d o reci b i ó l a
e m baj a d a d e l a G e n e ra l itat d e Cata l u n a e n l a q u e se l e co m u n icaba q u e h a b ía
s i d o e l eg i d o rey pa ra l u ch a r contra J u a n 1 1 d e Ara g ó n , d e s p u és d e l a re n u n c i a d e
E n ri q u e IV d e Casti l l a a i p rete n d i d o tro n o d e Cata l u n a . S u s ú lt i m o s t i e m pos e n
B a rce l o n a , e n m e d i a d e g ra n d es d ificu lta des po l íticas y m i l ita res fu e ro n d u ros, l o
q u e n o i m p i d i ó s i g u iese d esa rro l l a n d o u n a l a bo r d e m ece nazgo s o b re tod a s l a s
a rtes, y a q u e fue u n g ra n h o m b re d e l etras, y e n 1 464 h a b ía e n ca rg a d o a J a u m e
H u g u et e,l fa m oso reta b l o d e i C o n d esta b l e q u e h oy se p u e d e a ú n a d m i ra r e n l a
ca p i l l a d e Sa nta Ág u e d a e n l a Pa l a c i o Rea l M ayo r d e B a rce l o n a . Des p u és d e
se m a n a s d e e nfe r m e d a d m u ri ó e n 1 466 y fue sepu lta d o e n Sa nta M a ría d e i M a r
d e B a rce l o n a .
Los t ra bajos d e Lu ís Ad ã o d a Fo n seca po n e n e n c l a ro toda l a l a bo r q u e rea­
l izá e n l os más va r i a d o s ca m pos este p e rso n aje, desde el po l ítico, ai m i l ita r, a i
a rtístico y e l l itera ri o . E l co n d esta b l e Ped ro e n c i e rta m a n e ra fu e a ba n d o n a d o p o r
l a fo rt u n a , p e ro n u nca p o r e l b u e n g u sto y s i e m p re m a ntuvo i ntacto s u senti d o
d e i d e b e r.
Precisa m e nte u n tra bajo d e cu rso q u e m e h izo h a c e r e l p rofes o r M a n u e l R i u
e n q u i nto d e ca rrera e n e l cu rso 1 966-67 l o d ed i q u é a a n a l iz a r y t ra nscri b i r e l tes­
ta m e nto dei Co n d esta b l e Pedro d e Po rtuga l conserva d o e n la B i b l i oteca de
Cata l u n a . Me i m p res i o n a ra n l a s pocas cosas q u e dejó u n personaje de su l i naje
y d e v i d a ta n a g ita d a .
L a s re l a c i o n es c o n l o s re i n os y co n d a d os m á s o ri e nta l es d e l a Pe n ínsu l a
I bé ri ca fu e ro n e n a u m e nto, c a s i a i m i s m o t i e m po q u e l a s re l a c i o n es h u m a nas, e n '
l a o b ra d e L u ís Ad ã o d a Fo nseca . Se p u e d e deci r q u e e l m a r y to d a s l a s co n n ota­
c i o n es h i stóricas q u e esto co n l l eva será n u n a d e los g rande temas trata dos por
n u estro h o m e n aj e a d o . Lu ís n a c i d o a o ri ll a s dei At l á ntico y e n u n a c i u d a d situ a d a
j u nto a l a desem boca d u ra d e u n o d e l o s ríos m á s e m b l e m áticos d e n u estra pen ín­
s u l a , e l D u e ro , l e h izo rá p i d a m e nte co m p re n d i ó que e l mar y l a m a s a acu ífe ra es
un todo i n d ivisi b l e, a u n q u e los i nte reses sea n m u ch o s . De hech o las re l a c i o n es
1 48
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
u n e n a los i ntereses y el m a r e n g e n e ra l , sea c u a l sea s u d e n o m i n a c i ó n l o ca l . Lo
d ej ó entreve r en su o b ra Portugal entre dos mares, 1 993. Pe ra ya en 1 978 p u b l i cá
u n l i b ra titu l a d o , Na vegación v corso en e/ Mediterrâneo Occidental. Los
Portugueses a mediados de/ siglo XV.
La vi ncu l a c i ó n d e Lu ís Ad ã o da Fo n seca co n l a p ro b l e m ática m a rít i m a
m e d i eva l l e h a l l eva d o n o s ó l o a estu d i a r a l o s descu b ri d o res p o rtu g u eses p o r l a s
costas afri ca nas, a s i áticas y a m e ri ca nas, s i n o a l a p res e n c i a d e l o s p o rtu g u eses
e n el M e d ite rrá n e o . La co n sta nte p rese n c i a d e L u ís e n las ses i o n es a ca d é m i ca s
ce l e b ra d a s e n l a p a rte m á s o r i e nta l d e n u estra Pe n ín s u l a , y m u y especi a l m e nte
en l o s C o n g resos d e H i sto ria la Ca ro n a d e Ara g ó n , no ú n ica m e nte co m o p o n e nte
s i n o co m o m i e m b ro d e la Co m i s i ó n Pe rm a n e nte o rg a n iza d o ra d e d i ch os co n g re­
sos, m u estra n m uy c l a r a m e nte su v i n c u l a c i ó n co n todos l o s te rrito rios q u e fo r­
m a ro n la a nt i g u a Caro n a de Ara g ó n .
Los est u d i os, co l a boraciones y p e rte n e n ci a s a Co m i s i o nes l ntern a c i o n a l es
h a n d e m ostra d o q u e L u ís n o es s ó l o u n p rofes o r e i nvesti g a d o r, s i n o ta m b i é n u n
h o m b re po l ítico q u e h a dese m p e n a d o cargos d e g ra n i m p o rta n c i a e n s u p a ís
n ata l y e n E s pa n a . N o h ay co n m e m o ra c i ó n estata l h i s p á n i ca e n q u e Lu ís n o h aya
pa rti c i p a d o en s u com ité aseso r o h a l l a p rese nta d o u n a p o n e n c i a . La ce l e b ra c i ó n
d e l o s cente n a ri o s d e i fa l l eci m i e nto d e Fe l i pe 1 1 y d e I s a b e l l a Cató l i ca es u n a
b u e n a m u estra d e e l l o , a s í co m o l a co n m e m o ra c i ó n d e l a fi rma d e i Trata d o d e
To rd es i l l a s . To d o e l l o h a ce q u e Lu ís Ad ã o d a Fo n seca s e a u n H O M O I B ERICUS e n
e l m á s a m p l i o senti d o d e l a p a l a bra, y a q u e d esde s u Portu Calem n ata l h a a b ra ­
zado con s u s est u d i o s y co l a b o ra c i o n es to d a l a Pe n ín s u l a I bé rica d e u n ext re m o
a i otro . L o s re i n os d e Leó n y Casti l l a , e l p r i n c i p a d o d e Cata l u n a , l a Ca ro n a d e
Ara g ó n e n s u exte n s i ó n p e n i nsu l a r h i s p a n a e itá l i ca e i n s u l a r, A n d a l u cía a l o q u e
h a y q u e a n a d i r s u fo rmaci ó n e n N ava rra .
Las J o r n a d a s Luso-Espa n h o l a s de H i stó ria M ed i eva l h a n s i d o y s i g u e n s i e n d o
u n os d e l o s víncu l o s m á s i m po rta ntes q u e te n e m os l o s h i sto ri a d o res med i eva l i s­
tas pen i n su l a res p a ra co m u n ica rnos, y estoy tota l m e nte segu ro, q u e s i n l o s
esfu e rzos q u e h a rea l izado e l p rofeso r Fonseca e n pos d e su perd u ra c i ó n y l a
_
p u b l icaci ó n d e l a s Actas co rres po n d i e ntes l a situ a c i ó n se ria h oy tota l m e nte d i s­
ti nta . Ta m b i é n hay q u e d eci r q u e u n verd a d e ro g ru po de j óve n es h i sto ri a d o res de
la E d a d M e d i a s u rg i dos en su en to rno le ha perm iti d o rea l i zar todas estas cosas,
especi a l m e nte l a o rg a n izaci ó n d e Co n g resos y los más va riados e n c u e ntros. Vaya
ta m bi é n pa ra e l l o s mi más s i n ce ro reco noci m i e nto a l a s o m b ra d e su m a estro .
1 49
S a l va d o r C l a ra m u nt
Lu ís tu h a s contri b u i d o d e ntro de tus pos i b i l i d a d es a q u e l a H i storia n o sea
co m o d ij o Am b rose B i e rce: Un relato, casi siempre falso, de las hazaiías, casi
siempre carentes de la menor importancia, que realiza,n gobernan tes, casi siem­
pre deshonestos, y soldados, casi siempre necios. Y q u e e l p rofes o r u n i ve rsita rio
n o sea un a n i m a l ta n e n s i m i s m a d o e n l a exta s i a d a conte m p l a c i ó n d e l o que es
que se l e pasa p o r a lto l o que i n d u d a b l e m e nte d e b e ría ser.
Pa ra m í es u n g ra n h o n o r h a be r contri b u i d o con estas p á g i n as a este m e re­
c i d o h o m e n aj e q u e se le ri n d e con m otivo d e su j u b i l a c i ó n fo rm a l co m o cate d rá ­
t i c o d e s u a m a d a u n ivers i d a d d e O p o rto . Pri m e ro co m o a m i g o , seg u n d o co m o
p res i d e nte d e l a Co m i s i ó n Pe rm a n e nte d e l os Co n g resos d e H i sto ria d e l a Co ro n a
d e Ara g ó n , ta m b i é n e n estos m o m e ntos co m o Pres i d e nte d e l a Soci edad
E s pa fí o l a d e Estu d i os M e d i eva l es y s i e m p re co m o un co l eg a a i que a d m i ra y co n
e l q u e h e co m pa rt i d o m u chos m o m e ntos fe l i ces y g ratifica ntes e n este d o b l e va l l e
d e l á g ri m a s q u e e s pa ra nosotros l a p ro p i a vida y l a v i d a u n iversita r i a . G ra c i a s
Lu ís p o r tu b u e n h a c er h u m a n o y cie ntífi co.
1 50
Coro n a d'Arag o n a e papato n e l pri m o Qu attrocento :
riflessio n i su u n d iffici l e eq u i l i brio
Massimo M i g l i o
U n ive rsità d i Vite r b o ; l stituto Sto rico I ta l i a n o p e r i i M e d i o E v o
I ra p p o rti t ra Ca ro n a d 'Ara g o n a e p a pato a fi n e Trecento e n e l Ou attrocento,
h a n n o avuto i nt e rventi i m p o rt a n t i in passato, m a h a n n o te rrito ri a n co ra da
,
es p l o ra re o d a affro nta re n e l l a l o ro tota l e co m p l essità; a l t retta nto a cca d e per
q u a nto r i g u a rd a g l i Ara g o n a d e l l ' l ta l i a m e ri d i o n a l e : a n ch e se l a fo rt u n a dei
Tra sta m a ra h a i n i z i o c o n ii po ntifi cato d i Pe d ro d e Lu n a . Am p i spazi d i rice rca
ri m a n g o n o a n co ra a p ro posito d e l l a p o l i t i ca b e n efi c i a l e, d e l l e b i o g rafi e vesco­
vi l i e di q u e l l e ca rd i n a l i z i e , d e l l a sto r i a d eg l i o rd i n i re l i g i o s i , d e l l a l i be l l i st i ca
co nt rove rsist i ca e d i tutt i q u eg l i a s p ett i ch e q u a l ifica n o l a g esti o n e d i u n te rrito­
rio e d i ra p p o rti con Ro m a .
N e l l o stu d i o d e i s i n g o l i po ntificati i i te m a e se m p re affro ntato m a , q u a s i s e m ­
p re, s o l o come ta n g e nzi a l e n e l l ' a m bito d i a n a l i s i co m p l essive, a d eccez i o n e ch e
p e r l a recente b i o g rafia d i Ca l l i sto I I I , che e a n ch e l ' u n ica d e d i cata a d u n po ntefi ce
d a l l a m o d e r n a sto riog rafi a ' .
Sci s m a d 'Occi d e nte, t rasfo r m a z i o n i p o l itiche e soci a l i , crisi d i n a stiche, fa n n o
d e l l ' a rg o m e nto u n m o m e nto d i co nfro nto essenzi a l e p e r l 'a n a l i si d e i ra p p o rto t ra
q u esti o n i re l i g i ose e q u esti o n i n a z i o n a l i . Laffe rmazi o n e d i Alfo n so d'Ara g o n a i n
lta l i a co i n c i d e con i tentativi p a pa l i d i resta u ra z i o n e d e l l o Stato d e l l a C h iesa : l a
, M . N ava rro So r n í, Alfonso de Borja, papa Calixto III. En la perspectiva de sus relaciones
con Alfonso e/ Magnánimo, Va l e n c i a 2005 (tra d . ita l i a n a : Cal/isto III. Alfonso Borgia e Alfonso ii
=
Magnanimo, tra d . ita l i a n a a c u ra d i A. M . O l iva e M . C h i a bà, R o m a 2006
M . N ava rro S o r n í,
Cal/isto III) : i i vo l u m e e i n p ratica u n a b i o g rafi a p a ra l l e l a d e i d u e perso n a g g i e p u à costitu i re
a n che u n uti l e rife ri m e nto b i b l i o g rafico fi n o a l l ' a n n o d e l l a p u b b l icaz i o n e i n l í n g u a o ri g i n a l e ,
a l l ' i nterno d i u n a d e n s i ss i m a l ette ratu ra sto riog rafi c a . P e r M a rt i n o V cfr. K . A. Fi n k, Martin V. und
Aragon, B e rl i n 1 938 ( H i storisch e n Stu d i e n , 340 ) .
1 51
M a ssi m o M i g l i o
p resenza a ra g o n ese costitu i sce u n m o m e nto d i q u esto a rticol ato g i oco d i eq u i l i ­
b ri e d i scontri2•
Nel c l i m a co m p l esso e confuso d e l l a d o rsa l e tra i d u e seco l i s i a ccentu a n o
l e s p i nte a d u n i ntrecc i o tra p ro b l e m i re l i g i o s i e q u esti o n i n a z i o n a l i . L e d i ve rse
o b b e d i e n ze so n o di n ecessità p o rtate a g u a rd a re c o n a n co ra m a g g i o re atte n ­
z i o n e a i ra p p o rti con l e strutt u re p o l itiche d i rife r i m e nto n e i te rrito ri d a l o ro c o n ­
t ro l l at i .
L a situ azi o n e istitu z i o n a l e d e i pa pato e l e s u e scelte p o l itiche, a n co ra fi no a l i a
m età d e i Ou attrocento, conti n u a n o a d essere fo rte m e nte co n d i z i o n ate d a l l o
Sci s m a e d a l l e s u e conseg u e nze.
Offro a Luis Ad a o d a Fon seca un ve l oce sco rci o dei te m a , visto s o p rattutto
att raverso l ' otti ca di un cu ri a l e d e i Ouattrocento, u m a n i sta e b i o g rafo po ntificio,
q u a l e e tracci ato n e l Liber de vita Christi ac omnium pontificum d e i Pl ati n a , scritto
a l i a m età d eg l i a n n i Setta nta d e i seco l o e ch e ra p p resenta, q u i n d i , p e r m o lti d eg l i
avve n i m enti conte m po ra n e i racco ntati , g i à u n a rifless i o n e sto riog rafi ca, a n ch e se
fo rte m e nte co n d i z i o n ata3• Le u lt i m e notizie dei Liber de vita Christi si rife rlsco n o
a l l 'otto b re d e i 1 474, con l a reg istrazi o n e d e i rito rno a Ro m a d e i ca rd i n a l e Ba rbo
(26 otto b re ) . t.: i nterru z i o n e d e l l a b i o g rafia di S i sto IV e d e l l ' i nte ra o p e ra non ha
u n a g i u stificaz i o n e : ii po ntefi ce, co m e e n oto, m o r i rà nel 1 484, p reced uto d a i s u o
b i o g rafo, che m o r i rà n e l 1 48 1 . t.:a n n o su ccessivo a l i a b ru sca i nterru z i o n e, i i 1 475,
e un a n n o i m po rta nte p e r ii po ntefi ce ch e sa rà i m peg n ato n e l l o svo l g i m e nto d e i
G i u bi l eo , e p e r i i s u o b i o g rafo, n o m i n ato d a S i sto gubernator et custos d e l l a
B i b l i oteca Vatica n a e c o n q u esta n o m i n a ri a b i l itato co m p l eta m e nte d a l l 'a ccusa d i
co m p l otto i n cu i e ra stato coi nvo lto n e l 1 468 d a Pa o l o l i ( 1 464- 1 47 1 ) . l n poch i a n n i
' J . A m ete l l e r y Vi nyas, Alfonso V de A ragón e n /ta/ia y la crisis religiosa de/ siglo XV.
O b ra postu m a , 1 - 1 1 ( e d . J. Co l l e l ) , G i ro n a 1 903, I I I ( e d . R. H e r a s ) , S. Fe l i u de G u ixo l s 1 928; J .
Vice n s Vives, Eis Trastàmares (segle XV), B a rce l o n a 1 956; E . D u p ré T h e se i d e r, La politica ita­
liana di Alfonso i/ Magnanimo, i n IV Congreso de Historia de la Carona de A ragón, l i , Pa l m a
d e M a l l o rca 1 955, p p . 225-252 ( B o l o g n a 1 956'); M . D e i Tre p p o , L a 'Carona d'Aragona ' e ii
Mediterraneo, i n La Carona d'Aragona e i/ Mediterraneo: aspetti e prob/emi comuni da
Alfonso i/ Magnanimo a Ferdinando i/ Çattolico ( 14 1 6- 1 5 1 6), IX C o n g resso d i sto r i a d e l l a '
Coro na d 'Ara g o n a , I , R e l a zi o n i , N a p o l i 1 978, p p . 301 -33 1 ; V. A. Alva rez Pa l e n z u e l a , Los intere­
ses aragoneses en /ta/ia: presiones de Alfonso V sobre e/ pontificado, i n La Carona d'Aragona
in /ta/ia (secc. XIII-XVIII). 2. Presenza ed espansione de/la Carona d'Aragona in /ta/ia (secc. XII­
XV). III. Comunicazioni, X I V C o n g resso d e i l a C o r o n a d 'Ara g o n a . Sassa r i -Ai g h e ro 1 9-24 M a g g i o
1 990, Sassa ri 1 996, p p . 65-89 .
' Platynae historiei Liber de vita Christi ac omnium pontificum ( 1 - 1474), e d . G . G a i d a , i n
R I S 2 3/1 ( 1 9 1 3 - 1 9 3 2 ) .
1 52
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
ii P l ati n a avre bbe cosi scritto, t ra 1 47 1 e 1 475, la sua vo l u m i nosa sto ria d e i pa pato,
a co m i n c i a re d a Cristo fi n o ai p ri m i a n n i dei po ntifi cato d i S i sto4•
Pl ati n a e se m p re m o lto atte nto a l i a p ro b l e m atica co n c;i l i a re. Piu vo lte ii rico rso
ai conci l i o e so l l ecitato, in m o m e nti d i ve rsi, a n che in a m b i e nti cu ri a l i ro m a n i e i n
p ri m a ista nza contra Pa o l o 1 1, da l l o stesso a uto re d e l l a racco lta b i o g rafica. E p roprio
a p roposito d i un conci l i o, d e i conci l i o d i S i e n a ( 1 423)5, a p p a re per l a p ri m a vo lta n e l
Liber, m a i p ri m a menzionato, Alfo nso d'A ra g o n a . 1 1 P l ati n a ricorda, n e l s u o s i g n ifi­
cati vo p rocesso d i selezi o n e d eg l i avve n i m e nti, l ' i nte rvento s u l conci l i o d i Alfo nso
d'A ra g o n a a favo re d e l l ' a ntipapa d i Pe íi isco l a e n e i n d i v i d u a una g i u stificazi o n e
tutta e solta nto po l itica . Alfo n so aveva reag ito a l i a con cessi o n e d e i tito l o a L u i g i
d:Ang i à e aveva te ntato i n o g n i modo d i crea re d ifficoltà a i po ntefi ce M a rti no V:
«Ai p h o n s u s a utem Ara g o n u m rex M a rt i n o i nfe nsus, q u i titu l u s reg n i Sici l i a e
e t N e a p o l i s h a bere n eq u ive rat, d atu m [ . . . ] A l ov i s i o reg i s Lodovici fi l i o , o rato rem
a d conci l i u m m ittit, q u i et co n ci l i u m in l o n g u m d u ce re, et ca u s a m Pet ri Lu n a e
a d h u c i n Pa n i sch o l a su perstitis restit u e re, l a rg it i o n e, po l l icitati o n i b u s a m b i e n d o
u n u m q u e n q u e e x h i s, q u i i n conci l i o a u cto ritatem h a be ret»6•
N e l l o stesso m o d o i i P l ati n a rico n d uce l a deci s i o n e d e i po ntefi ce M a rti n o V
d i rico n oscere l e posizi o n i d ottri n a l i d e i conci l i o e d i sci o g l i e r l o , a d u n a reazi o n e
p rovocata d a i tentativi d i Alfo n s o :
« H a n c o b re m M a rti n u s n o n i g n a ru s q u a nta m ca l a m itatem ea res Ecclesiae
Ro m a n a e a l l at u ra esset, q u a nt u m q u e pericu l i in m o ra h a be retu r, m a n d avit conci­
l i u m stat i m d i sso lvi, a p p ro batis decreti s conci l i o h a b itis, quae a d fi d e m p e rti ne­
ba nt [ . . ] Atq u e h oc modo sci s m atis et d i sco rd i a ru m sem i n a a q u i b u s d a m in con­
ci l i o Senensi i a cta et spa rsa , s u b l ata h o m i n i s p r u d e nt i a et a stu su nt»7•
I semi d e l l a d i scord i a e d e l l o sci s m a , d u n q u e, sono l a n ciati a S i e n a per
ra g i o n i p o l itiche da Alfo nso e d a ch i l o ra p p rese ntava ; s o n o resi va n i d a l l a p r u ­
d e nza e d a l l ' a cc o rtezza d i M a rti n o V, p reocc u p ato d e i l a situ azi o n e re l i g i osa e d e l l e
l a c e razi o n i d e l l a Ch i esa . I d u e p rota g o n isti se m b ra n o m u ove rs i , n e l l a p rosa d e i
Pl ati n a , s u d u e l ivel l i co m p l eta nte d i vers i , ch e to r n a n o a co i n c i d e re s o l o q u a n d o
l o stesso b i o g rafo es p l i cita l e ra g i o n i d e i ra nco re d i Alfo nso, c h e rit i e n e i i po nte­
fice ii m a n d a nte d e l l e scelte di G i ova n n a 1 1 :
.
' M . M i g l io, Tradizione storiografica e cultura umanistica nel «Liber de vita Christi ac omnium
pontificum", in Bartolomeo Sacchi i/ Platina, Pad ova 1 986, pp. 63-89, o ra in Scritture, scrittori e sto­
ria. 11. Città e corte a Roma nel Quattrocento, M a n z i a n a 1 993, pp. 1 1 1 - 1 27 ( Patri m o n i u m, 4).
5 W. B ra n d m ü l l e r, 11 Concilio di Pavia-Siena. 1423- 1424. Verso la crisi de/ conci/iarismo,
S i e n a 2 0 04.
•
Platynae historiei Liber, p . 3 1 0 .
' lbidem.
1 53
M a ss i m o M i g l i o
«Tu m ve ro Al p h o n s u s pa l a m d e M a rt i n o co n q u estu s est, q u o d d i ce ret e i u s
o p e ra e t se a reg i n a l oa n n a a b rogatu m reg n o esse, q u e m p r i u s h a e redem i n sti­
t u e rat, et A l ovi s i u m reg i s Sici l i a e fi l i u m , n ovu m h a e red,e m i n stitutu m »8•
Va rrei s o l o a g g i u n g e re ch e l a p o l itica , in q u esto caso, si g i oca a n ch e s u l rico­
nasci m e nto o sul rifi uto di d i ritt i . Ad Alfo n so , che accusa ii po ntefi ce d i tra m e ai
s u o i d a n n i , M a rti n o V h a fa ci l e g i oco nel ribatte re ch e Lu i g i e ra stato riconosci uto
e rede di G i ova n n a e co nferm ato n e l reg n o p ri m a di l u i d a Al essa n d ro V e da
G i ova n n i XXI I I , e a lt retta nto fa ci l e g i oco n e l d i re ch e la res po nsa b i l ità e ra d e l l a
reg i n a e n o n s u a : « a d q u e m p e rti n e ret p h e u d ata rios E ccl esiae co nfi rm a re » 9 • E n o n
e certo senza s i g n ificato ch e a p p e n a q u a lche a n n o d o po, n e l m o m e nto d i p i u fo rte
co ntra pposi z i o n e con E u g e n i o IV ( 1 440 ) , Lorenzo Va l i a ricord e rà con vi o l e nto d i ­
s p rezzo l a p retesa d e i po ntefice d e i rico n osci m e nto fe u d a l e d a p a rte d e i r e d i
N a p o l i e d i S i ci l i a : «ve l uti a b rege N e a po l ita n o atq u e S i c i l i e » 10, cosl co m e r i p re n ­
d e rà sosta nz i a l m e nte n e l l a pa rte fi n a l e d e i s u o D e falso credita et ementita
Costantini donatione i conte n uti d e l l e istru z i o n i i nvi ate, n e l 1 436, d a Alfo n s o
d 'Ara g o n a a i s u o ra p p rese nta nte a R o m a J u a n G a rcía, che e ra n o state g i à 'l a rg a ­
m e nte uti l i zzate d a i conci l i o d i Basi l ea n e l memoratorium i nvi ato a d E u g e n i o IV11 •
1 1 racco nto se m b ra esse re to rn ato o ra s u l so l o p i a n o p o l itico e su l l e co n se­
g u e n ze m i l ita r i . B raceio d a M o nto n e d'accordo con Alfo n so, ob sim ultatem cum
Alphonso con tractam, a ssed i a t.:Aq u i l a . Pe r l i b e ra re la città d a l l ' a ssed i o l e tru ppe
• Platynae historiei Liber, p p . 3 1 0-3 1 1 .
9 l bidem, p. 3 1 1 .
10 Lorenzo Va l i a , De falso credita et ementita Constantini donatione, H e ra u sg e g e b e n vo n W.
Setz, M ü n ch e n 1 986 ( M o n u m e nta G e rm a n i a e H i storica, Q u e l l e n z u r G e i stesch i chte des
M i tte l a lters, B d . 1 0 }, p. 9 1 e cfr. J . IJ sewij n , Le edizioni critiche dei/e opere di Lorenzo Valia, R om a
n e l R i nasci m e nto, 1 992, p . 4 6 ; W. Setz, Lorenzo Valias Schrift gegen die Konstantinische
Schenkung. De falso credita et ementita Constantini donatione. Zur lnterpretation und
Wirkungsgeschichte, Tü b i n g e n 1 975; M. Reg o l i os i , Tradizioni e redazioni nel "De falso credita et
ementita Constantini donatione" di Lorenzo Valia, in Studi in memoria di Paola Media/i Masotti,
a cu ra d i Franca M a g n a n i , N a p o l i 1 995, p p . 39-46. Per u n esa m e co m p l essivo d e l l a fo rt u n a d e i
Costitutum Constan tini, c h e p e r à sottova l uta l ' u t i l izzazi o n e fatta n e d a i p a p ato n e l Qu attrocento,
vedi G i ova n n i M a ri a Vi a n , La donazione di ç;ostantino, B o l o g n a 2 0 04.
11
M. Fois S . l . , 11 pensiero cristiana di Lorenzo Valia ne/ quadro storico-cultura/e dei suo
ambiente, Ro m a 1 969 (An a l ecta G re g o ri a n a , 1 74}, p p . 2 96-348, n e l cap ito l o d i g ra n d e i m po rta nza
d e d i cato a La politica di conquista di Alfonso V in /ta/ia e la ((Declamatio» contra la Donazione
di Costantino; s i veda a n ch e M. M i g l i o, Lorenzo Valia e /'ideologia municipa/e romana nel De
falso credita et ementita Constantini donatione, in /ta/ia et Germania. Liber Amicorum Arnold
Esch, H e r a u s g e g e b e n vo n H a g e n Ke l l e r, We r n e r Pa ravi c i n i , u n d Wo lfg a n g Sch i e d e r, Tü b i n g e n
2001 p p . 2 2 5-236.
'
1 54
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
d e i po ntefice e q u e l l e a l l eate affro nta n o in ca m po a pe rto B racei o, lo sco nfi g g o n o
e l o u cci d o n o .
l n m o d o d e i tutto s i g n ificativo i i b i o g rafo po ntifi c i q f a seg u i re i m m ed i ata­
m e nte a l i a m o rte dei co n d otti e ro, ed a l i a conseg u e nte sconfitta d e i p rog etti a lfo n ­
s i n i , l ' esa ltazi o n e d e i rito r n o d e l l 'età d e l l ' o ro n e i te rrito ri d e l l o Stato d e l l a C h i esa,
ch e e ra stato m otivo to p i co dei po ntifi cato di M a rti n o , uti l i zzato e d iffuso g i à
vivente i i po ntefi ce : « H aec a utem victo r i a ta nta d e i n ceps tra n q u i l l itas exo rta est
[ . . . ] ut O ctavi i Au g u sti fe l i citas et pax red i i sse s u a a etate v i d e retu r [ . . . ] » 1 2 •
M a i i d i scorso torna d i n u ovo a l i o sci s m a , e s i a m o a l i e u lt i m i ss i m e battute
d e l l a b i o g rafi a di M a rt i n o , co n ii ricordo d e l l a m o rte di Ped ro d e L u n a e d e l l 'e l e­
z i o n e d e l i ' a nt i p a pa C l e m e nte VI I I ; a n ch e se h a u n o sca rto s i g n ificati vo :
« l nterea ve ro m o rt u o Petrus L u n a i n Pa n i sch o l a , n e a l i q u i d d esse, q u od
E c c l es i a m vexa ret, duo i l l i a nt i ca rd i n a l es d e q u i b u s m e nt i o n e m fec i m u s ,
Al p h o nso M a rt i n i h oste a d h o rta nte, E g i d i u m cog n o m e nto M u n i o n is, ca n o n i c u m
B a rch i n o n e n\s; e m g e n e re n o b i l e m , po ntificem d e l i g u nt, C l a e m e n te m q u e O ctavu m
a p p e l l a nt, q u i stati m et ca rd i n a l es creavit, et fecit q u a e a po ntifi ci b u s fi eri éon­
s u everu nt. Ve ru m c u m M a rti n u s in g rati a m c u m Al p h o nso red i sse, eo stati m
Petru m d e Fuso ca rd i n a l e m m i sit a p osto l i ca e sed i s l egatu m , i n cu i u s m a n u s
i u be nte Al p h o n so Pa n i sch o l a e d o m i n o , E g i d i u s o m n i s po ntificatus i u ra d e posu it
[ . . . ] ».
La situ a z i o n e ê o ra ca m b i ata . � a ccordo ra g g i u nto con Alfo nso, perm ette a i
po ntefi ce, e d a i s u o b i o g rafo, d i p ro i etta re s u tutta l a C h i esa i i rito rno a l l 'età d e l ­
l ' o ro ra g g i u nto n e l l o Stato : «Atq u e h o c m o d o M a rti n i po ntificis sa p i e nt i a e t i n d us­
tria o m n e sci s m a u n d i q u e s u b l at u m est. Pacata h o c modo u n d i q u e Ecclesia Dei
[ • • • ] )) 1 3 .
Prudentia e astus, sapien tia e industria g u i d a n o M a rti n o V n e l l a co n d u z i o n e
d e l l a C h i esa, n e l l e s u e scelte e decisi o n i , n e l l a d i p l o m a z i a e n e l co ntrasto a d
Alfo n so. Pl ati n a se m b ra co n c l u d e re i n ta l m o d o u n a vice n d a ch e e ra i n izi ata a
Pe íi i sco l a , m a che eg l i n o n ricorda, q u a n d o !'a nti p a p a B e n e d etto X I I I ( Pe d ro
M a rtínez d e L u n a ) , a l i a m o rte d i M a rti n o I , aveva soste n uto d ecisa m e nte p e r l a
s u ccess i o n e n e l l a Ca ro n a d'Ara g o n a , Fe rd i n a n d o d e Anteq u e ra . E ra stato q u e l l o i i
m o m e nto, co m e ê stato d etto, i n cu i « l o svi l u p po d e l l o scisma e l a q u esti o n e
1 2 Platynae historiei Liber, p. 3 1 1 ; M . G. B l a s i o , Radiei di un mito storiografieo: ii ritratto
umanistieo di Martino V, i n AI/e origini de/la nuova Roma. Martino V ( 14 1 7- 143 1). Atti d e i
Co nveg n o . R o m a , 2 - 5 m a rzo 1 992, a c u ra d i M . C h i a bà , G . D'Ai essa n d ro, P. P i a centi n i , C. Ra n i e ri ,
Ro m a 1 992, p p . 1 1 1 - 1 24.
'' Platynae historiei Liber, p . 3 1 2 .
1 55
M a ssi m o M i g l i o
d i n astica d e l l a Caro n a d 'Ara g o n a fi n i ro n o p e r i nt recci a rs i e co n d i zi o n a rs i reci p ro­
ca m e nte» 14.
R i s u ltato dei " co m p ro m esso di Caspe" fu, non so lta nto l ' e l ezi o n e di
Fe rd i n a n d o , m a a n ch e l ' i m peg n o ch e ii n e o l etto offrl a B e n e d etto XI I I d i un tota l e
sosteg n o a l i e s u e rive n d icazi o n i , d i a r m a re c i n q u e navi p e rch é i i po ntefice
potesse ra g g i u n g e re R o m a , e fu ii rico n o sc i m e nto verso ii po ntefi ce di un censo
a n n u a l e d i 8 . 0 0 0 fi o ri n i fi o renti n i . A fro nte di cià, Ferd i n a n d o otte n eva dai po nte­
fice l ' i nvestitu ra dei Reg n i di S i ci l i a , Sa rdeg n a e Corsica .
Qu est' u lt i m a era, a l i a ra , u n a decisi o n e p u ra m e nte teorica, ch e avrà perà con­
seg u e nze d i g ra n d e s i g n ifi cato .
I m p o rta m e n o i n q u esto co ntesto che i i s u ccesso re d i Fe rd i n a n d o , Alfo n s o i i
M a g n a n i m o , a fro nte d e l l a sco m u n i ca d i B e n e d etto X I I I d a pa rte d e i Conci l i o d i
Costa nza n e l 1 4 1 7 ed a fro nte d e l l e res i stenze d e i po ntefi ce, avesse ci rco n d ato
con le s u e tru p pe ii caste l l o di Pe ii i sco l a .
P i u s i g n ificativo, fo rse, e l ' a ppog g i o c h e Alfo nso co nti n u a a d a re a l i ' a nt i p a pa
C l e m e nte VI I I fi n o a i 1 427/1 429 ( a R o m a e po ntefi ce M a rti n o V ) , m e ntre e ásso l u ­
ta m e nte i m po rta nte che i i d i si m pe g n o d i Alfo n s o costri n g a ! ' a nti p a p a , i i 26 l u g l i o
1 429, a l i a ri n u n c i a a l i a ti a ra po ntifi c i a e i ca rd i n a l i d e l l 'o b bed i e nza avi g n o n ese,
co m e rico rdava ii Pl ati n a , ai ricon osci m e nto dei po ntefice ro m a n o .
N o n e i m po rta nte, i n q u esto co ntesto, seg u i re q u a nto a cca d d e n eg l i a n n i
s u ccess i v i . Arrivi a m o a i 2 g i u g n o d e l 1 442 q u a n d o , d o po l a co n q u i sta d i N a po l i d a
p a rte d i Alfo n so, d i v i e n e n ecessa rio otte n e re l a i nvestitu ra d e i Reg n o d a pa rte d e i
po ntefi ce, c h e e o ra E u g e n i o IV.
I m e s i s u ccess i v i seg n a n o i i t r i o nfo d e l l e d i p l o m a z i e : d a u n a pa rte q u e l l a
p o ntifi c i a e , d a l l ' a ltra, q u e l l a a ra g o n es e . E i n s i e m e u n a s u ccess i o n e d i d e c i ­
s i o n i p o l it i ch e a ra g o n es i e po ntifi c i e , ch e potre m m o d efi n i re fo rte m e nte s i m ­
bo l i ch e .
1 4 M . Va q u e i ro P i fí e i ro, Benedetto XIII, antipapa, i n Enciclopedia dei Papi, 1 1 , R o m a 2000, pp.
606-609 [607 ] . Per una rifl ess i o n e sto riog rafica sul co m p ro m esso d i Caspe cfr. M . D u a l d e
Se rra n o
-
J . Ca m a re n a M a h i q u es, E/ Interregno y e/ Compromiso d e Caspe, i n IV Congreso de
la Carona de Aragón. Ponencias, Pa l m a d e_ M a l l o rca 1 955, p p . 7-20; ved i i n o ltre A. Bosco l o , La
politica italiana di Ferdinando d'Aragona, Cag l i a ri 1 954; R. M e n e n d ez P i d a l , E/ compromiso de
Caspe, autodeterminación de un pueblo ( 14 10- 14 12), i n Los Trastàmara de Castilla y Aragón en
e/ siglo XV, M a d ri d 1 964 ( H i sto r i a de E s p a n a XV) e F. S o l d evi l a , E/ compromís de Casp (Resposta
ai sr. Menendez Pidal) , M a d ri d 1 965; p e r le reaz i o n i i n S i ci l i a P. Co rra o, Da/ re separata a/ re
assente. 11 potere regia nel regno di Sicilia nel '300 e nel '400, i n E/ poder real en la Carona de
Aragón (siglas XIV-XV). Actas d e i XV Co n g reso de H i storia d e l a Co ro na d e Ara g ó n , I I I , 1 ,
Zaragoza 1 996, p p . 65-78.
1 56
'
I bé ri a : Quatroce ntos/Qu i n h e ntos
Alfo n so co nvoca, a d esem pio, ii Pa rl a m e nto G e n e ra l e d e i Reg n o a B e n eve nto
( città ch e e ra stata in passato u n o dei ca pisa l d i strate g i c i , ma a n ch e i d e o l o g ici, d e i
pa pato ) , per poi trasfe r i r l o q u asi i m m e d i ata m e nte a N a po l i, . 1 1 po ntefi ce E u g e n i o IV,
da pa rte s u a , n o m i n a l egato n e l Reg n o i i s u o p i u stretto co l l a bo rato re, l'eclettico
cond ottiero, da poco n o m i n ato ca rd i n a l e, L u d ovico Trevisa n ( Sca ra m po ) .
L..: a ccordo ve n n e s i g l ato n e l g i u g n o d e i 1 443 a Te rra c i n a ( a ltra città ch e
e ra se m p re stata m o lto i m po rta nte n e l l e strate g i e po ntifi c i e ) e p reved eva i i rico­
n asci m e nto di E u g e n i o IV co m e po ntefi ce l e g itt i m o ( an c o ra g l i stra scich i pesa nti
d e l l o sci s m a ) e l ' i nfe u d a z i o n e dei Reg n o a favo re d i Alfo n s o ; p reved eva i n o ltre
p e r ii re d 'A ra g o n a ii vica riato vita l i z i o d i B e n evento e Te rraci n a . So l o ta n g e n zi a l ­
m e nte sa rà o p p o rtu n o rico rd a re ch e l o stesso a n n o , s u b ito d o po l ' a ccordo d i
Te rra ci n a , Lorenzo Va l i a te ntava d i ria n n o d a re i ra p p o rti c o n R o m a s o p rattutto con
l a l ette ra a i ca rd i n a l e Trevisa n in cu i g i u stifi cava l e ra g i o n i d e i l a scritt u ra d e l i ' o­
p e ra contra l a D o n a z i o n e d i Costa nti no'5•
S o n o deci s i o n i sicu ra m e nte i m po rtanti, ch e, in q u a l ch e m o d o , po rtava n o a
co m p i m e nto a l cu n i aspetti d e l l 'a ccordo d i Caspe e l 'atto d i a d o z i o n e d a pa rte d i
G i ova n n a 1 1 , se m p re rive n d i cato d a Alfo n s o . M a a n co ra p i u s i g n ificative sem­
b ra n o a l c u n e c l a u s o l e " a ccesso rie" d e l l 'a cco rdo che, rich i este dai po ntefi ce e
a ccettate d a i re d 'A ra g o n a , s i g n ifi cava n o i n s i e m e l a tota l e a ccettazi o n e d e l l a po l i ­
tica po ntifi c i a , m a a n ch e i i ricon osci m e nto a p i e n o tito l o d e i sovra n o a ra g o n ese
co m e u n o d eg l i atto ri d e l l a p o l itica ita l i a n a . Alfo n s o s i i m peg n ava i nfatti ad
a rm a re tre g a l e re co ntra i tu rch i e prom etteva l ' i nv i o i m m e d i ato d i un conti n g e nte
m i l ita re di 5 . 0 0 0 u o m i n i ch e avre b b e d ovuto co m batte re per ii po ntefi ce n e l l a
M a rca a n co n eta n a , p e r rec u p e ra re i te rrito ri occu pati d a Fra n cesco Sfo rza .
Se ! ' a r m a m e nto d e l l e g a l e re rispo n d eva a l l ' i rriso lta vo l o ntà po ntifi c i a d i
o p po rsi a l l 'ava nzata d e i m u s u l m a n i n e l M e d ite rra n e o e d i rea l i zza re l a croci ata
( u n sog n o vi ru l e nto, ma i rrea l izzato per tutto i i Qu attrocento ) , la co n cess i o n e d i
tru p p e p e r l e rico n q u i ste po ntifi c i e n e i te rrito ri d e l l o Stato po ntifi c i o n o n s o l o e ra
u n i m m e d i ato ricon osci m e nto conseg u e nte a l l ' i nfe u d az i o n e, m a i n seriva a p i e n o
tito l o Alfo n s o t ra i g ra n d i p rota g o n i sti d e i l a p o l itica ita l i a n a .
N o n s o va l uta re q u a nta cosci e nza d i c i à vi fosse n e l l a d i p l o m azia po ntifi c i a e
n e l l o stesso E u g e n i o IV (che ri m a n e a t utt' o g g i u n o d e i p a p i d e i Qu attroce nto p i u
.
trascu rati d a l l a sto riog rafi a ) , m a l a concessi o n e d i tru p p e rich i esta a d Alfonso l o
l e g itti m à co m e i nterlocuto re, n o n so l o m i l ita re, n e l co m p l esso pa n o ra m a p o l itico
ita l i a n o .
1 5 Laurentii Vai/e Epistole, e d d . O. Beso m i - M . Reg o l i os i , Pad ova 1 984 (Thes a u ru s M u n d i
24), p p . 2 1 9-234, 246-249.
1 57
M a ssi m o M i g l i o
C o m e ê n oto, l a bo l l a d i i nfeu dazione e m a n ata a favo re d e i i 'Ara g o n a u n m ese
dopo g l i a cco rd i di Te rraci n a , rimase per q u a lche te m po seg reta e n o n ve n n e resa
p u b b l ica . E certo ch e i co nte n uti d e i docu m e nto capovo l g eva no tota l m e nte i g i u d izi
d i E u g e n i o IV nei co nfro nti d i Alfo nso, espressi p u b b l ica m e nte solo q u a lche a n n o
pri m a , e rico rdava no a n che come l a d i p l o m azia a lfo n s i n a avesse se m p re ri m a rcato
i m e riti di Ferd i n a n d o di Anteq u e ra nei s u o i tentativi di esti rpa re lo sci s m a .
Alva rez Pa l e n z u e l a h a r i p e rcorso con ch i a rezza i i co ntesto d e l l ' e m a n a z i o n e
d e l l a bo l l a p a pa l e ed i s u o i d i versi conte n uti 16• N e ri p e rco rro so l o a l cu n i p u nti, ch e
servo n o m eg l i o a va l uta re l e p rospetti ve po ntifi c i e : l ' i m pe g n o d i Alfo nso a n o n
a p p og g i a re n u ovi sci s m i e g l i scismatici ( ê e s p l icita m e nte rico rdato ! ' a nti papa
Fe l i ce V); a non u n i re ii Reg n o d i S i c i l i a a l l ' l m pe ro e a i te rrito ri d e l l ' lta l i a setten­
tri o n a l e; a versa re un ce nso a n n u o d i 8.000 o n ce d ' o ro e, co m e ce nso s i m bo l i co ,
u n p a l afre n o b i a nco.
Lo Scisma conti n u a a co n d i zi o n a re l e scelte po ntifi c i e .
E d ê n a t u ra l e l e g g e re n e l d o c u m e nto l ' e c o d i p reoccu pa z i o n i p o ntifi c i e
c h e h a n n o o r i g i n i l o nta n e , l o nta n i ss i m e . L a m e m o r i a d e l l a ca n ce l l e r i a po ntifi­
cia, in di l u n g o p e r i o d o , di a n n ota non s o l o i p rovve d i m e nt i co n t ro le l i b e rtà
re l i g i o s e di G i ova n n a 1 1 , ma a n ch e q u e l l i d e l l ' i m p e rato re Fe d e ri co 1 1 , d i
Ce rra d o I V e d i M a nfred i ; v u o l e r i sta b i l i re i p r i v i l e g i n o b i l i a ri d e l l ' età d i
G u g l i e l m o 1 1 . l n o l t re e m e rg e l a p re o cc u p a z i o n e p o n t i fi c i a , ch e é u n a costa nte
ch i l u n g o p e r i o d o di evita re l ' a cce rch i a m e nto da n o rd e d a s u d .
L a bo l l a ê ta nto d etta g l i ata, co m e s o l o i n ota i po ntifici sa n n o esse r l o n e l p re­
ved e re tutti i casi d i n u l l ità d e l l ' i nfe u d a z i o n e q u a l o ra , in q u a l s i a s i m o d o , s i rea l iz­
zasse la unia Regni ad imperium, ed in ta l senso ri p ro p o n e u n a p reoccu pazi o n e
che, se aveva toccato i i p a ross i s m o c o n g l i Svevi, risa l i va b e n p i u i n d i etro n e l
te m po e conti n u e rà a n co ra a fa rsi senti re, s e p p u re sotto a ltre fo rme, d u ra nte i i
po ntificato d i N i cco l à V.
G i a n n ozzo M a n etti , ch i a m ato a R o m a d a i po ntefi ce per scrive rne l a b i o g rafi a
ed a l u i l egato da strettiss i m i ra p p o rti d i co m u n a nza i nte l l ettu a l e e d ' a m icizia, rac­
conta n e l l a Vita d e i p a p a , in m o d o a b basta nza d etta g l i ato, ra g i o n i e m o m e nti
d e l l a p a ce d i Lod i d e i 1 454. I Ve n ezi a n i e Fra n cesco Sfo rza sono o r m a i esa u sti e
d i ssa n g u ati eco n o m i ca m e nte per I � s pese d i u n a g u e rra i nfi n ita . l ntervi e n e u n
u o m o d i sa nti costu m i , ! ' a g osti n i a n o S i m o n e d a C a m e r i n o , ch e ott i e n e q u a nto
a ltri n o n aveva n o otte n uto.
16
V . A . Alva rez Pa l e n z u e l a , Alfonso V, rey d e Nápoles: refutación d e l a sucesión y reconci­
liación con e/ pontificado, i n E/ poder real en la Carona de Aragón (siglas XIV-XV). Actas d e i XV
C ong reso de H i sto r i a de l a Corona de Ara g ó n , I I I , 5, Za ragoza 1 996, p p . 509-522 .
1 58
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
I Ve n ez i a n i sottoscrivo n o pace e a l l ea nza co n Fra n cesco Sfo rza e con
F i o renti n i « i nscio et i g n o ra nte A l p h o nso al/'insaputa di Alfonso, con i/ quale
prima si era no alleati contra questi u/timi, acerrimi nemi�i» 17•
Ve n g o n o i nviati a m basci ato ri a d Alfo n so, ch e passa n o p e r R o m a ed i nfo r­
m a n o i i po ntefi ce, a ltretta nto a l l 'oscu ro d e l l 'a ccordo ra g g i u nto : « a i q u a l e co m u ­
n i ca n o l a p a ce sti p u l ata tra l o ro p e r l a s a l vezza d e l l ' lta l i a i ntera, esorta n d o S u a
Sa ntità c o n p reg h i e re a d a cconsenti re e a d e ri re a l i a pace co ncl usa ( cosi d i ceva n o )
per l a s a l vezza d e l l ' lta l i a ».
Alfo nso ed i i po ntefi ce n o n s o n o g l i a rtefi ci d e l l a pace rag g i u nta; ne s o n o
a nzi a l l 'oscu ro . Ad d i ritt u ra i i po ntefi ce l a s u b i sce " m e ravi g l i ato e d o l uto" e
decide, racconta i i M a n etti , che n o n p u à conti n u a re a « d iss i m u l a re ( n o n a m p l i u s
d i ssi m u l a n d u m fo re ratu s ) » 18, a n a sco n d e re l a s u a ost i l ità verso u n a pace ch e
avre b be potuto crea re d i fficoltà a d u n o Stato po ntifi c i o a cce rch i ato d a stati i n
pace tra l o ro , e ch e i n o g n i caso avre b be sott ratto centra l ità a l l 'azi o n e p o l itica d e i
po ntefi ce . l n occa s i o n e d e l l e trattative p reced e nti, q u a l ch e m ese ava nti, N i cco l à V
aveva capito e presagito « ch e l a g u e rra t ra i p ri n c i p i d i q u a s i l ' i ntera lta l i a avreb be
s i g n ifi cato l a pace d e l l a sua C h i esa, m e ntre la concord i a tra l o ro avre b b e p o rtato
a l i a C h i esa la g u e rra » 19•
Se m b ra che in q u esta ci rcosta nza (ma si rifl etta ch e l a pace d i Lo d i co n d izio­
n e rà in positivo q u a l ch e dece n n i o d e l l a sto ria ita l i a n a ) , l e vo l o ntà p o l itiche dei
po ntefi ce e d e i sovra n o d 'Ara g o n a co i n ci d a n o n e l non va l e re u n a pacificazi o n e tra
g l i stati ita l i a n i , a n ch e se le m otivazi o n i dei l o ro co m po rta m e nti s o n o co m p l eta­
m e nte d iverse.
E so l o l ' u lt i m a d e l l e contra d d i z i o n i sto riog rafi che ch e seg n a n o i ra p p o rti tra
g l i Ara g o n a ed i po ntefi ci di Roma, p r i m a d e l l a sta g i o n e di Alfo n so B o rg i a/Ca l l i sto
I I I , che perm ette di to rna re a l e g g e re ii P l ati n a . Anch e se s o l o per p ro p o rre l e
p ri m e battute d e l l a b i o g rafi a d e i n u ovo po ntefi ce ch e consento n o a l l ' a uto re d i
to rna re a pa r l a re d i B e n e d etto X I I I ( q u esta vo lta n o n d efi n ito a nt i p a p a ) , d i to r n a re
a racco nta re d e i l a ri n u ncia a l i a t i a ra d i C l e m e nte VI I I a seg u ito d e l l 'a ccordo ra g­
g i u nto t ra Alfo n so e M a rti n o V, d i p recisa re notizie q u a l ch e pag i n a p ri m a l a sci ate
i n co m p l ete.
Pl ati n a d eve n a rra re g l i i n izi d e l l a_ carri e ra ecc l e s i a st i ca d i Alfo nso B o rg i a e
n o n p u à n o n racco nta re d e i ca n o n i cato d i Le rida otte n uto p e r l a s u a n otevo l e
" /annotii Manetti De vita a c gestis Nico/ai Quin ti summi pontificis, e d . critica e tra d u z i o n e
a c u ra d i A n n a M o d i g l i a n i , Ro m a 2005 ( R I S 3 ) , p p . 1 1 2 , 204.
'" l b i d e m .
1 9 l b i d e m , p p . 1 09, 203.
1 59
M a ssi m o M i g l i o
com pete nza g i u ri d ica d a B e n e d etto X I I I : « p ro p r i o m otu n e m i n e ro g a nte » 20; d e i
ra p p o rto c o n Alfo nso c h e l o i n se ri sce p ri m a n e l l a s u a ca n ce l l e ri a e l o uti l izza
c o m e c o n s i g l i e re : « e i u s co n s i l i o et secreti s stat i m a d h (betu r». Deve p a r l a re d e l l a
d i ocesi d i M a i o rca affi data, eg li affe r m a , in temporalibus a d Alfo n s o d a M a rt i n o
V e ch e, n o n osta nte l e i n s i stenze d i a m i c i , q u esti avre b b e rifi utato : m a o ra sa p­
p i a m o ch e « N o fue M a rt i n V, s i n o Alfo nso V de Ara g ó n q u i e n i n sta l á a B o rj a en
la sede m a l l o rq u i n a p a ra q u e a ct u a s e co m o testa fe rro suyo, p o n i e n d o a s u s e r­
v i c i o l a s rentas d e esa l g l es i a s , q u e i ba n a pa l i a r l o s e n o rm e s g a stos d e l a g u e rra
co ntra Casti l l a y a sufra g a r otras n eces i d a d e s de la casa rea l , co m o lo p r u e ba n
l o s n u m e rosos p a g o s q u e e n co ntra m o s reg i st ra d o s e n l o s a rch i vos d e l a
co ro n a » 21 •
1 1 b i o g rafo torna pai a racco nta re d e l l a m o rte d i B e n e d etto X I I I , d e l l 'e l ez i o n e
d i C l e m e nte VI I I , d e l l ' a ccord o ra g g i u nto t r a Alfo nso d 'A ra g o n a e M a rti n o V, c o n
u n a sch e d a ri p resa q u as i a l i a l ette ra d a l l a b i o g rafi a d i pa pa M a rti n o , m a ch e e o ra
i nteg rata con l a m e n z i o n e d i Alfo nso B o rg i a :
« C u m e n i m m o rtuo B e n e d i cto X I I I , d u o i l l i a ntica rd i n a l es, d e q u i b u s i n
M a rt i n o m e nt i o n e m fec i m us, E g i d i u m q u e n d a m B a rch i n o n e n s e m ca n o n i c u m i n
l o c u m d e m o rtu i Pa n i sch o l a e creasse nt, q u e m C l e m e ntem Octavu m a p pe l l a ba nt,
eo stati m m i ss u s ab Al p h o n so rege, q u i i a m c u m M a rti n o po ntefi ce in g rati a m
red i e rat, A l p h o n s u s B o r i a est, n o n s i n e m a g n o s u i a c com itu m d i scri m i n e »22•
Poco i m po rta seg n a l a re le varia nti, che p u r h a n n o un s e n so ( i i n u ovo a nti­
p a p a non e piu e l etto p e r l ' i ntervento sui ca rd i n a l i d i Alfo n so d 'Ara g o n a ; non e p i u
d i fa m i g l i a n o b i le, m a e so l o u n certo ca n o n ico d i B a rce l l o n a ) , q u a nto sotto l i nea re
co m e l ' i nte rve nto d e i B o rg i a , i nvi ato d a Alfo n s o d 'A ra g o n a , fosse stato p rece de n­
te m e nte d e i tutto taci uto; co m e fosse stato privi l e g i ato i i ricordo d e l l a sotto m i s­
s i o n e di Pe ri i sco l a ai l egato po ntifi c i o e c o m e sia dei tutto fu nz i o n a l e a p resenta re
la co n cess i o n e d e i vescovato di Va l e nza co m e u n a rico m pe n sa per ave r co nvi nto
' 0 Platynae historiei Liber, p p . 339-340 .
21 N ava rro Sorn í, Alfonso de Borja, p . 8 1 .
" Trascrivo d i n u ovo i i bra n o rel ativo a l i a b i o g rafia d i M a rt i n o V, p e r u n p i u fa c i l e c o n ­
tro l l o d e l l e m o d ifiche ed i nt e g r a zi o n i : « l nt.e rea vero m o rt u o Pet r u s L u n a i n Pa n i sch o l a , n e a l i q u i d desse, q u o d E c c l es i a m vexa ret, d u o i l l i a ntica rd i n a l es d e q u i b u s m e n ti o n e m feci m u s,
Al p h o n s o M a rt i n i h o ste a d h o rt a n t e , E g i d i u m c o g n o m e n to M u n i o n i s , c a n o n i c u m
B a rch i n o n e n s e m g e n ere n o b i l e m , pontificem d e l i g u nt, C l a e m e n te m q u e O ctav u m a p p e l l a nt,
q u i stati m et c a rd i n a l es creavit, et fecit q u a e a pontifi c i b u s fi e r i co n s u eve r u nt. Ve r u m c u m
M a rti n u s i n g rati a m c u m A l p h o n so redisse, eo stati m Petru m d e F u s o ca rd i n a l e m m i s i t a pos­
to l i ca e s e d i s l e g a t u m , in c u i u s m a n u s i u be nte Al p h o n s o Pa n i s ch o l a e d o m i n o , E g i d i u s o m n i s
po ntificatus i u ra d e p o s u i t [ . . . ] ».
1 60
e
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
C l e m e nte VI I I a l i a ri n u ncia a l i a ti a ra . M a , a n ch e i n q u esto caso, o ra s a p p i a m o ch e
l a respo nsa b i l ità d e l l a scelta ricade su Alfonso i i M a g n a n i m o23•
Anche le successive notizie deli nea no un personaggio qai contorni poco defi n iti,
cosi co m e poco defi n ita e nel De vita Christi la fig u ra dei sovra no a rago nese: l'i nter­
vento per com po rre i contrasti tra ii re di Castig l ia e q u e l l o d'A ragona, la pa rteci pa­
zione sem pre ri nviata a i conci l i o d i Basilea, l'am basciata a i po ntefice Eugenio IV che
avrebbe ta nto apprezzato Alfonso Borgia da vo lerlo n o m i n a re ca rd i na le. La selezione
dei Plati na sceg l i e episodi opportu n i ad i n d ivi d u a ra l e q u a l ità d i u n futu ro po ntefice,
ma d i l u isce com p l eta mente ii significato dei ra pporti tra Alfonso d�ragona e Alfonso
Borg i a . Sva n isce completa mente ii «ca m bi o radica l e dei ra pporti tra ii re d'A ragona e
i i vescovo Alfonso Borg i a e tra i i re delle d u e Sici l i e e i i papa Ca l l isto I I I , tota lmente
ded ito ai suo progra m ma la crociata . ln un primo momento i i vescovo sem b ra
" l'uomo" dei re, e cioê i i dotto ca non ista e d i plomatico, prelato a i servizio dei progetti
pol itici e econom ici dei sovra no; successiva mente, u n a volta elevato a i sog l i o ponti­
ficio, Ca l l i sto I I I si contra ppone ad Alfonso V n e l l e sue strateg i e nepotistiche, ma a nche
i n q u e l l e pol itiche e m i l ita ri. S i pu à pari a re d i u n ca mbio radica l e [ . . ] »24•
Se m b ra ch e, nel racco nta re Alfonso d'A ra g o n a , p reva l g a n o n e l Pl ati n a i co n­
d i z i o n a m e nti d e l l a cu ltu ra class i ca . E p ro p ri o ii racconto d i q u a nto a cca d e d u ra nte
ii po ntificato di Ca l l isto p u à serv i re d a rea g e nte, se la m a n cata p a rteci pazi o n e a l i a
croci ata v i e n e i nterp retata co m e u n ced i m e nto a l i e l u s i n g h e d e i Reg n o :
« Re pete bat tu m vot u m A l p h o nsus te rtio q u o q u e verbo, q u od i n T h u rcos fece rat,
et se q u od vove rat, b revi factu ru m d i ce bat: veru m n ec s i c q u o q u e i m pel i i ad sanc­
ta m m i l it i a m potu it, adeo e rat i l l ecebris N e a po l ita n i reg n i i rretitu s »25•
La croci ata contra i Tu rch i e ra stata l 'ossess i o n e dei po ntifi cato di Ca l l isto, ma
e ra stata a nch e u n a d e l l e occa s i o n i p i u rico rre nti dei co ntrasti co n ii re d 'A ra g o n a .
Sa re m m o a l i a ra te ntati d i l e g g e re i n q u este s u e p a ro l e, t ravestite d i i m p restiti
a ntich i , ii ba l u g i n a re di u na co nsa pevo l ezza .
!..: u n o e l'a ltro, l ' u n o e g l i a ltri, Alfo nso e Ca l l i sto, m a co m e Ca l l isto a nch e
M a rt i n o V ed E u g e n i o IV, aveva n o l a stessa cosc i e nza d e i l a propria potestas: n eg l i
Ara g o n a d i q u e l l a te m po ra l e; d i q u e l l a s p i ritu a l e, ch e n o n ri n u nci ava perà a i tem­
pora le, n e i po ntefi ci d i Ro m a .
Da i d iffici l e eq u i l i brio d i u n a ta �to fo rte i d e o l o g i a d e i potere a p pa i o n o
seg n ati i l o ro ra p p o rti cosi co m e q u e l l i , per tutto i i Ou attrocento, t r a l a casa
d 'Ara g o n a ed ii pa pato.
.
23 N ava rro S o r n í, Cal/isto III, p p . 82-89.
24 M. Fo is, Prologo, in N ava rro So r n í, Cal/isto III, p . V I l .
25 Platynae historiei Liber, p p . 343-344.
1 61
Secção 3
C u l t u ra e Pro pa g a n d a Po l ít i ca n a s
E s p a n h a s d e Q u a t roce ntos
e de Qu i n h e ntos
Nob l eza y ca b a l leria:
l a Espa n a que descu b ri o America
Luis S u á rez Ferná ndez
U n i v e rs i d a d Auto n o m a d e M a d ri d
N o d e be m os perd e r d e vista que e l d escu b ri m i e nto d e Amé rica p o r los espa­
n o l es e n 1 492 y l a a pe rtu ra dei ca m i n o hacia l a l n d i a p o r los portu g u eses, entre
1 488 y 1 498, n o fu e ro n sorpre n d e nte e i n esperado p u nto d e p a rt i d a s i n o cu l m i­
n a c i ó n d e u n esfu e rzo, de m u chos a n os, a través d e los cu a l es se d e m ostró q u e
u n os y otros h a b ía n a l ca nzado p repa raci ó n téc n i ca y h u m a n a pa ra l a n avegaci ó n
a l a rga d i sta n ci a . L a m eta m i s m a - o bte n c i ó n d e rutas h a c i a los m e rca dos l ej a nos
d e C h i n a y d e l a l n d i a , respectiva m e nte - se h a b ía i d o perfi a n d o so bre l a m a rch a .
Puede deci rse q u e los p o rtu g u eses e n co ntra ro n l o q u e b u sca b a n , pero los espa­
n o l es n o : con g ra n d i s g u sto p a ra Co l ó n y q u i e n es pensa ba n co m o él, se p ro d uj o
e l d escu b ri m i e nto d e a l g o i g n o ra d o , u n e n o r m e Conti n e nte l a cu a rta pa rte d e i
M u ndo, co m o d íría A m é rico Ves pucio y Wa ldsem u l l e r, q u e se i nterpon ía e ntre
E u ropa y Á s i a . S i n d i s m i n u i r en n a d a el m é rito d e B a rto l o m e u Di as, Co l ó n o Va sco
da G a m a , h e m os de reco nocer en e l los la i m a g e n q u e h ace visi b l e u n tra baj o
co l ectivo e n q u e pa rti c i p a ro n ce nte n a res y a u n m i l l a res d e h o m b res. N o debe
red uci rse l a e m p resa a una s o l a l ínea : se h a bía cu l m i n a d o , e n d efi n itiva, un tra­
bajo fo rm i d a b l e, d e ai m e n os s i g l o y m e d i a .
Po r otra pa rte, pa ra cu a l q u i er espa n o ! q u e viviera e n 1 492, n o fu é este e l
" a n o d e A m é rica " co m o s u cede co n n osotros, q u e fo rz a m o s l a m a rch a pa ra a nte­
d ata r la co n c i e n c i a q u e se reve l a ría ta n s o l o un decé n i o después, s i n o e l " a n o de
G ra n a d a ': C ro n i stas, p red i ca d o res y poetas nos lo d i ce n : la Espa n a " pe rd i d a " e l
7 1 1 h a b ía s i d o fi n a l m e nte resta u ra d a . A Fe rn a n d o e I s a b e l se reco noció e l titu l o
d e " resta u ra d o res" y n o de " fu n d a d o res" d e l a u n i d a d .
A h o ra b i e n , los coetá n eos y de n u evo tenemos q u e l i b ra rnos de pe rspecti­
vas demasiado a ctu a l es - n o refe ría n ese j u eg o de pérd i d a /resta u ración a u n a
estructu ra po l ítica s i n o a l a co n d i c i ó n rel i g i osa, q u e b ra nta da p o r e l l s l a m . L o q u e
-
1 65
L u i s S u á rez Fe r n á n d ez
ca racte riza el m o m e nto de 1 492 es la p l e n a recu peració n de l a u n i da d de fe y, ade­
más l a p royección de ésta en l a estructu ra soci a l y po l ítica de l a co m u n i d a d h i s­
p á n ica: ca d a rei n o co nserva sus i n stitu cio nes pecu l i ares, o b ra de s i g l as, pero
i n me d i ata m e nte se proh íbe la p ratica d e j u d a ís m o y, no ta rd a n d o m u ch o, ta m b i é n
l a dei l s l a m exce pto en ciertas co m a rcas va l e n c i a n a s por razo nes m u y específicas.
Los h i stori a d o res, s i e m p re d i s p u estos a trasm iti r ai pasado n u estro próprio
ó rd e n de va l o res, hemos o ri g i n a d o confu s i ó n : no se trata ba d e expu lsa r a los
j u d íos sino de p ro h b i r l a re l i g i ó n h e b ra i ca, de m o d o que l a d i spos i c i ó n o b l i g a ba
a exi l i a rse a q u i e n es no q u i s i e n reci b i r e l bautismo, y p o d ía n reg resa r so l a m e nte
a q u e l los q u e, después de h a be r s a l i do, q u i s i esen a d o pta r la re l i g i ó n cristi a n a . N o
se t rata ba por ta nto d e u n m a n d ato u n ívoco s i n o a lternativo - l o q u e d e s d e l u eg o
n o l o h a ce m á s j u sto s i n o a i contra rio - porq u e j u d íos y m u s u l m a nes pod ía n e l e­
g i r entre su fi d e l i d a d a i Ta l m u d y e l Cora n co n dest i e rro, o l a a d h e s i ó n a i
Eva n g e l i o co n perm a n e n c i a e i nteg raci ó n soci a l .
Los rei n os y p ri nci pados q u e h e reda ro n o a d q u i ri e ro n Fe r n a n d o , Isabel y sus
'
s u ceso res, pasa ro n a i nteg ra rse e n u n a pecu l i a r estructu ra q u e, sobre todo desde
lta l i a , se ría contem p l a d a como M o n a rq u ia Cató l ica . Ni raza, n i te rrito rio, n i estruc­
tu ras po l íticas se co n s i d e ra ba n esenci a l es, p u es todo d e pe n d ia d e u n pensa­
m i e nto re l i g i oso; ta l e ra su " l ey" p a ra deci r l o con l a s p ro p i a s p a l a b ra s .
Po r e s o to m a mos a q u í l a deci s i ó n d e enfrenta mos a u n a soci edad concreta,
no a bstracta, d i sti nta de la n u estra, q u e es esenci a l m e nte i n d ife rente en cu estio­
nes rel i g i osas, trata ndo además de co m p re n d e r l a y exp l ica ria, sin j u icios de va l o r
p revias q u e son verd a d e ros " p rej u icios". E l deseo q u e i m pu lsaba a los h o m bres d e
a q u e l l a g e n e raci ó n a sa l i r h a c i a fu e ra e ra e n g e n d rado bien por l a o btención d e
g a n a ncias en p reciosas materias p r i m a s co m o los m eta les o las perlas y e n costo­
sas m a n ufactu ras co m o la seda o las especias, b i e n por el h a m b re de l o g ra r n u e­
vos cristi a n os. N o detecta mos otros p ropósitos d e l i berados, ni p rog ra mas p a ra la
co nq u i sta ni a q u e l l a s otras cosas q u e desde n u estra m e nta l idad actu a l nos senti­
mos tentados a atri b u i r. A l g u nas pe rso nas trata ban d e conj u g a r a m bos o bj etivos,
pero l o frecue nte era q u e se d i stri buyesen e n u no u otro . La soci edad i bérica q u e,
s i g u i e n d o este fu e rte i m pu lso hacia fu era, trata ria de co nstru i r a i otro lado d e i m a r
u n m u n d o n u evo, i ntenta ba q u e este fuese m ej o r, más pe rfecto, más va l i oso p a ra '
s u s p rota g o n i stas, q u e e l m u n d o viejo, pero no d i sti nto de éste . Se encuentra
ca racteriza d a por tres rasgos inti m a m e nte u n i d os hasta fo r m a r un todo: e l senti­
m i e nto de l a ca ba l l e ría p ropio de l a n o b l eza, e l h u m a n is m o de ra iga m b re espa fí o l a
y poderosa i nfl u e ncia ita l i a n a , y l a pecu l i a r post u ra re l i g i osa q u e esta mos co men­
zando a defi n i r co m o reforma cató l ica espa fí o l a . Y deci mos espa fí o l a , no caste l ­
l a n a , portu g u esa o cata l a n a , porq u e a b a rca ba a t o d a l a Pe n ínsu l a .
1 66
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Dichos rasgos tuvi e ro n un p roceso de g esta c i ó n q u e co i n cide en el t i e m p o
co n e s e " i m p u lso hacia fu e ra " q u e h e m os m e n c i o n a d o .
1 . E n torno a 1 340 - se trata de u n a fech a conve n ci o n a l a u n q u e m uy a p roxi ­
m a d a - los pen i n s u l a res, ayu dados y, e n g ra n pa rte, d i ri g i d os por g e n oveses,
co m p ro ba ro n l a existe ncia d e i s l a s h a bita d a s en e l Atl á ntico, las cua l es p ra ctica­
m e nte e n ce rra ba n un n u evo " m e d ite rrá neo", seg ú n a p reci a n los m o d e rnos h is­
to r i a d o res p o rtu g u eses. Estas se a d e l a ntaron tec n ica m e nte perfecc i o n a n d o la
ca ra be l a , y ta m b i é n h u m a n a m e nte a los otros pen i ns u l a res. S i n e m b a rg o h a sta
1 432 la n aveg aci ó n a i s u r d e i ca bo de Boj a d o r estuvo cerra d a : se d esco nocía l a
ruta q u e perm itía reg resa r a L i s b o a , e n rea l i d a d l a corri e nte d e i G o lfo, q u e i ba a
co nseg u i r l a victo ria sobre los vientos a l i s i os . H u bo u n co m pás de espera, u n
tiem po d e p u g n a .
L a m e nta l i d a d d e l o s crist i a n os occi d e nta les h u bo d e hacer frente a dos
n ovedades m u y s i n g u l a res: l a aventu ra hacia l o d esco n ocido - descu b i e rta dei
h o rizo nte- que ve n i a envue lto e n l o fa ntástico, y l a co n d u cta que h a b ía que o bser­
va r e n re l a c i ó n co n los se res humanos q u e p o d ía n h a l l a rse en l a s i s l a s y t i e rras
rec i é n descu b i e rtas. Un m u ndo, cerra do y co m p l eto, co m o e l q u e la E d a d M e d i a
h a bía l l egado a esta b l ecer, se desga rra ba a nte s u s oj os: a d e m á s de los m u s u l ­
m a nes sa rrace nos, e n e m igos de l a fe, a los q u e se d e b ía somete r y hasta destru i r,
p ro l o n g a n d o así l a reco n q u ista , a p a recía n a h o ra los i d ó l atras q u e no co n stitu ía n
re i n o a l g u no, verd a d e ros pri m itivos q u e vivía n e n esta d o d e n atu ra l eza . S i g l o y
m e d i a a ntes de q u e se p ro d uj e ra e l d escu b ri m i e nto d e Amé rica, ya esta ba p l a n ­
tea d a l a g ra n cu esti ó n : q u e trato te n ía n q u e d a r l o s exp l o ra d o res a l o s h a b ita ntes
d e l a s i s l as?
La p r i m era d efi n i c i ó n a i respecto co rres po n d i ó a l a l g l es i a cató l ica . M i e ntras
los j u risco n s u ltos ai servi cio d e los reyes e l a bo ra ba n sus a rg u m e ntos pa ra
dem ostra r q u e asistía a éstos d e rech os de co n q u ista , el Pa pa C l e m e nte VI se a d e­
l a nta ba a todos atri b u é n d ose, en cua nto Vica rio d e Cristo, l a facu ltad d e fu n d a r
d e rech o sobre l a s tierras s i n d u e fí o y e ri g i ó l a s l s l a s Ca n a rias e n rei no pa ra u n
d esce n d i e nte d e Alfonso X de Casti l l a , . L u i s d e l a Cerd a , por m e d i a de d o s b u l as,
Tuae devotionis sinceritas y Vinea Domini Sabaoth, a m bas d e 1 344. En e l l a s se
esta b l ecía q u e los h a bita ntes e ra n se res h u m a nos, d esti n a dos ai bautismo, asis­
tidos de d e rech os sobre s u s perso n a s y s u s b i e n es; podía n ser sometidos a
g o b i e rno, porq u e esta e ra p rocu ra r su b i e n , pero n o red ucidos a esclavitu d .
L u i s d e l a Cerda m u ri ó s i n h a be r ejecuta d o s u d e rech o q u e , a través de J u a n
de Bet h e n co u rt, pasó l u eg o a l a Carona de Casti l l a . Los fra ncisca n os n o creye ro n
1 67
L u i s S u á rez Fe r n á n d ez
n ecesa rio espera r a l a su m is i ó n po l ítica p a ra co m e nza r a ej e rcer s u a cc i ó n m isio­
n e ra : e n 1 35 1 se esta b l eció e l obispado de Te l d e, e n G ra n Ca n a r i a . Tra baj a ro n va­
rias a n os co n g ra n e ntu s i a s m o , pero ai fi n a l los m is i o n e ros que n o p u d i e ro n esca­
p a r a t i e m po, fu eron asesi n a d os . S i n re n u nci a r e n m o d o a l g u n o a s u e m p resa, se
re p l eg a ro n a Sevi l l a , e n d o n d e se i n sta l á e n 1 403 un o b i s p a d o " i n p a rti b u s " titu­
l a r d e R u b i có n . Pera se h a b ía ! l egado ai co nve n ci m i e nto d e que s i se q u eria lo­
g ra r l a co nve rs i ó n de los i n d íg e n a s era i m p resci n d i b l e un p revi a s o m eti m i e nto de
s u s estruct u ras pol íticas a g o b e r n a ntes cristi a n o s . Las co nces i o nes que los Pa pas
i b a n h a c i e n d o a Po rtu g a l - m á s ta rd e ta m b i é n a Casti l l a - te n ía n un ca rácter m u y
d i sti nto a l a s q u e, co n n o m b re d e cruza d a , se h icieran a ntes: p u es los cruzados
podían d estru i r a s u s e n e m i g os sin conte m p l a c i o n es, m i e ntras que los h a bita n­
tes d e l a s t i e rras n u evas te n ía n que ser conserva dos.
2 . En l a práctica todas l a s e m p resas d e exp l o raci ó n y co n q u ista, e n Espa na
co m o e n e l resto de E u ro p a , se ej ecuta ba n s i g u i e n d o e l molde d e l a s co m pa n ías
m e rca nti l es, pues no se co n ocía otro . M a ri nas, co m e rcia ntes y ba n q u e ros s e reu ­
n ía n , a po rt a b a n los ca p ita les n ecesari os, acord a b a n e l re p a rto d e beneficias,
o bte n ía n d e los reyes un permiso que d eve n g a ba e m o l u m e ntos a cue nta d e i
q u i nto d e l a s g a n a ncias q u e te n ía q u e ser e ntrega d o a l a Caro n a , y a rm a b a n por
ú lt i m o los b u q u es n ecesa rios. Esta s i g n ifica ba que e l éxito o fracaso d e l a
e m p resa n o d e pe n d ia d e i d escu b ri m i e nto u ocu paci ó n d e n u evas t i e rras s i n o d e
l a s ri q u ezas q u e ésta s p u d iesen proporci o n a r. D e s d e e l a n o 1 43 2 e n q u e los por­
t u g u eses co n s i g u i eron sa lva r e l ca bo d e Boj a d o r, a d e ntrá n dose e n l a s rutas de
G u i nea, l a s o p e ra c i o n es m e rca nti les fu eron d e n o m i n a d a s " rescates " porq u e se
t rata ba de a dq u i ri r m e rca ncias, como e l o ro o los escl avos, paga n d o p o r e l l a s .
La esclavit u d , q u e seg u ia exi st i e n d o d e h ech o, p u g n a ba co n l a doctri n a d e
l a l g l e s i a q u e h a b ía a c a b a d o p o r p ro h i b i rl a e n re l a c i ó n co n l os crist i a n os; n o , e n
ca m b i o , l a d e l o s n o cristi a n os, p o rq u e s o b re éstos ca recia d e j u risd icci ó n . La
p res e n c i a de escl avos m u su l m a n es o p a g a n o s e ra , en el s i g l o XV, casi
i ns i g n ifica nte y, desde l u eg o , sin n i n g ú n efecto s o b re l a p rod u cci ó n eco n ó m i c a .
P e r a desde Africa co m e nza ro n a afl u i r escl avos neg ros, u n a m e rca ncia q u e '
a l ca nzaba b u e n os p recios s o b re todo e n m e rcados m u s u l m a n es; l a soci e d a d
cristi a n a ta m bi é n se h a bituá a e m p l e a r escl avos co m o s i g n o d e l uj o y e l e g a n c i a
e n c a s a s r i c a s o co m o m a n o d e o b ra e n peq u e nos ta l l e res. L o s co m e rc i a ntes q u e
frec u e nta ba n los p u e rtos afri ca nos se j u stifica ba n d i c i e n d o q u e n o e ra n e l l o s l o s
q u e red u cía n a s u s v ícti m a s a esclavit u d ; se l i m ita ba n a co m p ra ri a s y a u n pod ía n
a l eg a r e n s u d esca rg o q u e , s i n o l o s co m p ra b a n , a i ca bo d e a l g ú n t i e m po sería n
1 68
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
m u e rtos por ser m e rca n cía i nserv i b l e y costosa e n s u m a nte n i m i ento. No pode­
mos d ete n e rnos a h o ra e n l a veraci d a d o fa l s ía d e ta les a l egatos. Ab u n d a ba la
m e rca n cía h u m a n a co m o consecu encia de l a s g u e rras p r,ovocad a s p o r l a expa n­
s i ó n ba ntú .
Los Pa pas, e n especi a l E u g e n i o I V, q u e es u n o d e los g ra n des h u m a n i stas d e i
s i g l o XV, perfi l a ro n ento n ces s u s d i s posici o n es acerca d e esta cuest i ó n ; d e e l l a s
nos i m po rta m u cho se n a l a r tres. L o s h a b ita ntes d e l a s i s l a s y tierras q u e se i b a n
d escu b r i e n d o , seres h u m a n os s u sce pti b l es d e reci b i r e l b a u t i s m o , pod ía n ser
sometidos a g o b i e rn o y a d m i n i st ra c i ó n de p rínci pes cristi a n os, e n l a medida e n
q u e les fuese oto rga d a esta ta rea por los R o m a n o s Po ntífices, pero d e n i n g u n a
m a n e ra red u c i d os a esclavitu d . Esta e s u n a co n d ic i ó n q u e ta nto l o s co n q u i stado­
res d e Ca n a rias co m o Co l ó n , trata rá n de q u e b ra nta r. Ad e m á s - a n a d i ó E u g e n i o IV
- l os que m a n u m itiesen un escl avo g a n a ría n i n d u l g e n c i a p l e n a ri a eq u iva l e nte a la
que proporci o n a ba l a pereg r i n a c i ó n a los Sa ntos Luga res; d e este m o d o se esti­
m u l a ba l a a pa rici ó n d e una c l á u s u l a e n los testa m e ntos que d a ba l i be rtad a los
escl avos d e i d ifu nto e n a q u e l l a h o ra s u p re m a . La m i s m a clase d e i n d u l g e n cia se
co n ced i ó a c u a ntos ayudasen a com bati r e l vergo nzoso co m e rcio h u m a n o .
Esta l e g i s l a c i ó n , co nverg e nte e n e l l o g ro d e bautismos, fu é ínteg ra m e nte
acepta d a e n Casti l l a . No s i e m p re fu é a p l icada co n el r i g o r n ecesa rio, pero e n todo
caso e l Consej o Rea l se atuvo a e l l a . En l a déca d a d e los a nos 70, m i e ntras
Fe r n a n d o e I s a b e l p u g n a b a n por aseg u ra rse l a s u ces i ó n , un fra ncisca no, Alfo n so
d e B o l a nos, s i g u i e n d o i nstrucc i o n es dei Pa pa, trata ba de o rg a n iz a r u na Vica ria de
G u i n e a . E sta d e l egaci ó n , v i n c u l a d a ai m e n c i o n a d o o b i s p a d o d e R u b i có n y a los
fra ncisca nos d e i co nve nto d e Sa nta M a ri a d e l a Rábida, s i g n ifica ba que l a l g l es i a
p reco n iza ba, a d e m á s d e l a eva n g e l izaci ó n e ntre los h a b ita ntes d e l a s i s l a s, s i e m ­
p r e escasos, u n a ta rea de m is i ó n ce rca de l a s p o b l a c i o n es neg ras de posi b i l i d a ­
des i l i m ita d a s . Este p rota g o n is m o fra ncisca n o a p a recerá asociado a t o d a l a
e m p resa a m e ri ca n a , s i e n d o e l e m e nto s u sta nci a l e n l a co n strucc i ó n d e l a n u eva
soci edad q u e l l ega rá a co n stitu i rse desde Ca l ifo r n i a h a sta el río B i o B i o .
3 . Po r l a s razo nes a ntes exp l i ca d a s - exte n s i ó n d e los contratos m e rcanti les
a l a s n u evas e m p resas - e n l a va n g u a_rd i a d e l a s exp l o ra c i o n es fig u rá un d eter­
m i n a d o secto r soci a l d e m a ri n os q u e, a i m is m o t i e m po, e ra n m e rca d e res.
A l g u nos d e e l l o s fo r m a b a n pa rte d e l a peq u e n a n o b l eza d e h i d a lgos o ca ba l l e ros
ci u d a d a nas, pero otros no. I n d i q u e m os a l g u nos d e los p r i m e ros n o m b res:
Alfonso d e las Casas, s u h ij o G u i l l é n , G o n za l o Pé rez M a rte l , Este ba n Pérez
Ca b itos, J u a n Rej ó n , Ped ro de Ve ra, Ped ro Fern á n d ez Ca b ró n . E ncontra mos s u s
n o m b res e n o p e raci o n es m i l ita res o e n e m p resas m e rca nti l es i n d isti nta m e nte.
1 69
Lu i s S u á rez Fe r n á n d ez
A este g ru po perte n ecerá n todos los ca p ita n es de l a s p r i m e ras exped icio nes,
i n cl uye n d o a Co l ó n . Au n q u e ta m b i é n otros resu lta ro n e l e m e ntos d ecisivos a u n­
q u e s i n sa l i r d e i estricto papel d e co m e rcia ntes.
Fij é m o nos especi a l m e nte e n J o a n otto B e ra rd i , ve n i d o a Espa n a desde
Lisboa p a ra recl a m a r un ca rg a m e nto d e escl avos que m a ri n as d e l a costa de
H u e lva h a b ía n ro bado a ntes d e 1 488. S u re l a ci ó n co n l a Ba nca M éd i ci s no se
e n c u e ntra a bs o l u ta m e nte esta b l eci d a . Pero será é l q u i e n proporc i o n e a Cristó b a l
Co l ó n l o s 250 . 0 0 0 m a rave d i s q u e co nstitu ía n l a pa rte d e ca pita l co rrespo n d i e nte
a i a l m i ra nte en su p r i m e r viaje. Es i m po rta nte s e n a l a r có mo, a i i nsta l a rse e n
Sevi l l a , co m o fa cto r i n d e p e n d i e nte, tuvo q u e a ba n d o n a r e l n e g o c i o d e l a trata de
esclavos, a q u í sin perspectivas, pa ra e ntra r e n e l d e i co m e rcio d e Ca n a ri a s y
l u eg o d e l a s l n d i as . M u ri ó e n 1 496 n o m b ra n do a l bacea y a d m i n istra d o r de sus
neg ocias a A m é ri co Ves puci o que s í e ra o h a b ía s i d o fa cto r de los M éd i cis. De
modo que n o es ta n a bs o l u ta m e nte casu a l que e l n u evo Conti n e nte se l l a m a ra
A m é rica.
La m e nta l i d a d d e estas m a ri n as n o res u lta m uy d ifíci l de ente n d e r: l a expe­
d i c i ó n exp l o rato ria no e ra otra cosa q u e un negocio; i nvertía n d i n e ro y esfu e rzo
pa ra o bte n e r g a n a ncias. Con a l g u n a s m uy escasas sa lved a d es, n i n g u n a i m por­
ta ncia d a b a n a l a p ro m oc i ó n soci a l ; a l o s u m o pod ía n mostra r i nterés e n acceder
a l a h i d a l g u ía o a l a ca ba l l ería, cu a n d o n o l a poseía n d e a nte m a no, p o r l a s venta­
jas q u e a m ba s p ro p o rci o n a ba n , pero n a d a m á s . Lo i m p o rta nte e ra o bte n e r ben e­
ficias, los cua l es a su vez ta m bi é n oto rg a b a n poder. No ca recía n de p reocu pacio­
nes re l i g i osas, si bien éstas les i n d u cía n a una a ctitu d d efensiva: evita r que Dios
p u d i e ra casti ga rles porq u e s u s acci o n es co n frecuencia esta ba n d esaj u sta d a s en
re l a c i ó n co n l o que una buena m o ra l i d a d debe exi g i r. Cuando las g a n a ncias e ra n
fá ci les y a b u n d a ntes s e acomod a b a n a l a n o r m a m o ra l esta b l ec i d a , pero e n caso
contra rio, e ra n p rocl ives ai a b u so, no ta nto por cru e l d a d i n n ata cua nto porq u e se
se ntía n respo nsa b l es d e i b u e n resu lta do de los negocias a nte sus socios. H a bía
q u e l o g ra r beneficias a cu a l q u i e r p reci o .
4. U n rel evo soci a l m uy i m po rta nte se h a b ía p rod ucido desde e l s i g l o XIV: la
n o b l eza l l a m a d a " a nti g u a " q u e a poya ba s u poder e i n g resos e n las rentas a g ra rias
d i rectas se a rru i n á y fu e sustitu i d a por otra cuyos medias de vida depen d ía n
menos de a q u e l l a s q u e de los de rechos j u risd i cci o n a l es, raci o n es o q u itaciones d e
Corte o dese m pe n o d e oficias. E ra u n a n o b l eza " n u eva " q u e co m p a rtia co n el rey
las fu ncio nes de a d m i n istración y de g o b i e rn o . En el cu rso d e i mencionado re l evo
m u chas de las fa m í l i as a nt i g u a s se exti n g u i e ro n , otras co n s i g u i e ro n a d a pta rse,
1 70
�
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
pero la m ayoría, d e ntro de la doce n a y m e d i a de l i najes en Casti l l a y la m itad de
e l los en la Ca ro n a de Ara g ó n , pod ía n co n s i d e ra rse a utentica m e nte " n u evas" :
s i m p les ca ba l l e ros e h i d a l g os q u e asce n d ía n h a sta a l ca.nza r e n l a é poca de los
Reyes Cató l i cos l a cúspide d e l a g ra n deza co n títu los d e d u q u e, m a rq u és o, a i
m e nos, co n d e .
A esta tra n sfo r m a c i ó n l a l l a m a n los h i sto ri a d o res a ctu a l es " revo l u c i ó n
Tra stá m a ra ': Se h i zo i rrevers i b l e e n e l m o m e nto e n q u e E n ri q u e de Trastá m a ra ,
q u e co m e nzó s i e n d o u n o de los co n d es, ocu pá e l tro n o . D u ra nte todo e l s i g l o XV
h u bo g ra n m ovi l i d a d , u n a especi e de promoci ó n en ascenso de los m i e m b ros d e
l a n o b l eza, q u e a u m e ntada sus sefío ríos, s u s re ntas y su poder. L a s q u e re l l a s po­
l íticas de esa centu ria favo recía n d i ch a m ovi l i d a d ; a l g u nos patri m o n ios se desha­
cía n pero, en g e n e ra l , iban creci e n d o . Pe nsemos e n los M e n doza, p o r eje m p l o ,
q u e e n e l m o m e nto d e l a revo l u c i ó n poseía n ta n s o l o dos p r e d i o s con casa fu e rte
en M e n d ioz y O rozco de Al ava pero q u e en la é poca de los Reyes Cató l i cos e ra n
y a d u q u es d e i l nfa nta do y ta n fa b u l os a m e nte ricos q u e podía n i r desde
G u a d a l aj a ra a Sa nti l l a n a d e i Mar sin te n e r que pern octa r en casa que no fu e ra
suya .
J u nto a esta a lta n o b l eza m uy rica h a b ía u n secto r soci a l n o bi l i a ri o - h a sta
s u m a r el 5% de la p o b l a c i ó n - q u e e ra p o b re y n ecesita ba de i m pu lsos pa ra co n ­
seg u i r i ncre m e nta r de a l g u n a m a n e ra s u s i n g resos. A h o ra b i e n , l a pacificación
e m p re n d i d a p o r Fe rna n d o e Isabel ga rantizó e l statu s n o bi l i a rio, rodeá n d o l o de
seg u ri d a d es j u ríd icas y de h o n o r, pero puso fi n a l a ca rre ra de p ro m oc i o n es . Las
o p o rtu n i d a d es d e los s i m p l es ca ba l l e ros o d e los l i najes m e d i a nos p a ra promo­
c i o n a rse desapa rec i e ro n . Ouedaba, sin e m b a rg o u n a pos i b i l i d a d fu e ra , hacia
África , h a c i a lta l i a y, desde p r i n c i p i as d e i s i g l o XVI , hacia América .
H a c i e n d o toda l a clase de reservas te n d ría mos q u e a d m it i r q u e s e a p recia­
ba n e n l a n o b l eza ai menos tres secto res : e l s u perio r co m p u esto p o r a q u e l los q u e
h a b ía n a l ca nzado l a " g ra n d eza " s i g n ifica d a p o r u n títu l o ; e l i nte rmed i o de l o s titu­
l a res d e sefío ríos s i m p l es cuyas rentas n o basta ba n pa ra aseg u ra r s u status y
n ecesita ba n p o r ta nto d e ofi cias o e m p l eos pa ra co m p l eta rias; y e l i nfe rior d e los
s i m p l es h i d a l gos, co n d e n a dos a p o b r�za si n o e ntra ba n e n e l servicio d e i rey o d e
otros n o b l es .
U n r a s g o com ú n ca racte rizaba a los n o b l es : l a ca ba l l ería . E n su a cepci ó n más
s i m p l e, ca ba l l e ría es e l a rte de com bati r co n las a rm a s propias d e i j i n ete o d e i
g e nti l h o m b re . Pero e n e l s i g l o X V esto h a b ía p a s a d o a u n seg u n do p l a no; s e
espera ba d e i ca ba l l e ro, s i e n d o crea d o r - " i n g e n i oso h i d a l g o " co m o h a b rá de
171
L u i s S u á rez Fe r n á n d ez
retrata rse a sí m is m o M i g u e l de Cerva ntes - fuese a i m i s m o t i e m p o crea d o r de
vi rt u d es mod é l i ca s . La ca ba l l e ría fué, p u es, n o r m a d e co n d u cta . Co nve rti das en
ca l ificativos, l a s pa l a bras n o b l eza y ca ba l l e rosidad se a_ p l i ca ro n a q u i e n es te n ía n
co n d u cta m o ra l s u pe r i o r o , a i m e n os, esta b a n o b l i g a d o s a e l l a . Au n s e e m p l e a n
e n n u estro i d i o m a co n estas ca racte res y e l a l m a espa f w l a se esponja s i a l g u i e n ,
a i d i ri g i rse a e l l a , afi rma q u e es " n o b l e " o q u e s u co n d u cta es l a d e "todo u n
ca ba l l e ro ': Vi l l a n o o vi l l a n ía h a n p a s a d o a ser peyo rativos, c u a n d o e n p ri n c i p i o
a pe n a s si s i g n ifica ba n l a co n d i c i ó n d e los ca m pe s i n o s n o n o b l es .
Esta a ctitu d psico l ó g ica nos reve l a có m o e n e l s i g l o X V h a b ía ! l egado a esta­
b l ecerse u n fi rme m i m et i s m o : todo e l m u n d o t rata ba d e a co m o d a r s u co n d u cta a
l a d e l o s n o b les i n cu rri e n d o a veces e n exa g e ra c i o n es ri d ícu l a s . Los espa fi o l es
q u e viaj a ro n a A m é ri ca pa ra i n sta l a rse a l l í, crea n d o u n a soci edad " n u eva " q u e s i n
e m bargo e ra rép l i ca d e l a q u e perm a n ecía e n l a Pe n ínsu l a , esta b a n i m b u í dos de
esa m is m a co nvicci ó n y p rete n d ía n co m po rta rse co m o n o b l es .
5 . Ese g ra n ca m b i o soci a l tuvo l u g a r p recisa m e nte m i e ntras l a Pe n ínsu la
I bérica, que ten ía e n s u s ra íces cu ltu ra les fu e rtes dosis de h u m a n i s m o, esta ba
reci b i e n d o g ra n des dosis d e i nfl u e n ci a ita l i a n a . El h u m a n is m o espa fi o l fu é más
fu e rte que e n otros l u g a res d e E u ro p a p recisa m e nte porq u e l a Pe n ín s u l a esta ba
p repa ra d a p a ra reci b i r ta l es corri e ntes. El H u m a n is m o reco n ocía dos ca racte rísti­
cas e n e l h o m b re - i ns e rtas e n s u natu ra l eza - que l e e l eva b a n a p l e n a d i g n i d a d :
ca paci d a d raci o n a l pa ra u n co noci m i e nto especu l ativo s o b re l a s g ra n des verda­
des co nceptu a l es, y l i b re a l bed río pa ra aco m o d a r respo nsa b l e m e nte s u co n d u cta .
Am bas, p rese nta das co m o fu e nte d e confl i cto, será n e l e m e ntos fu n d a m e nta l es
e n e l teatro espa fi o l d e i S i g l o d e O ro .
E l ser h u m a n o - soste n ía n los h u m a n i stas - crea d o por Dias c i e rta m e nte,
l l eva d e ntro d e s i potenci a l i d a des q u e, s u scepti b l es d e desa rro l l o le perm iten
a l ca nza r un n í ve l s u perior de d i g n i d a d e n sus h ech os. El ej e rci cio d e ta les pote n­
cia l i d a des es l o que co n stituye l a "vertú '; conserva n d o e l térm i n o que e m p l ea ro n
los ita l i a nos p a ra evita r cua l q u i e r confu s i ó n co n l a s vi rt u d es ca rd i n a l es o sobre­
natu ra l es de l a doctri n a cató l ica . La m eta ú lt i m a a conseg u i r es s i e m p re l a "o p i ­
n i ó n '; l a " h o n ra " y sobre t o d o l a fa m � p o rq u e ésta perdu ra m á s a l i á d e l a m u e rte.
H ay un c i e rto p a ra l e l i s m o e ntre e l p re m i o d e la vida ete r n a fruto d e vi rtudes
s o b re n atu ra l es y e l d e l a fa m a que log ra n l a s vi rtudes p u ra m e nte h u m a nas.
Tod a l a existe ncia h u m a na , conte m p l a d a desde esta perspectiva, n o es sino
un trá nsito a t ravés d e i t i e m po b reve - "te m p u s fu g it " co m o rec u e rd a n los re lo­
jes m ecá n i cos que se co n struyen e n esta é poca - m ed i a nte e l cual se accede a
u n a vida m ej o r e n e l cielo, sa lva c i ó n ete rna, p e ro ta m bi é n e n l a t i e rra p u es p u e d e
1 72
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
oto rga r l a fa m a . Esta " fa m a " n o es i g u a l p a ra todos: d e p e n d e d e las cu a l i d a d es
específicas q u e posee s u ser; porq u e se n ecesita te n e r u n a p revi a d i s posici ó n
pa ra q u e e l ej ercicio d e l a "ve rt ú " extra i g a u n s a b i a , u n . negocia nte, u n po l ítico,
un escu lto r, un g e n e ra l , etc. Se h a b ía v u e lto a la viej a idea p l ató n i ca d e que la
p o l ítica no es un a rte ai a l ca nce d e cu a l q u i e ra s i n o ú n i ca m e nte d e los q u e poseen
s u v i rtu a l i d a d . Pera así co m o e l d i a m a nte, q u e posee todas l a s cu a l i d a d es d e la
bel l eza, h a d e ser ta l l a d o pa ra que ésta res p l a n d ezca, ta m b i é n e n e l h o m b re l a s
vi rtu a l i d a d es en pote ncia deben cu ltiva rse. Ej e rcicio y e d u caci ó n son as pectos
ese n ci a l es dei h u m a n i s m o , pero esta ed u ca c i ó n es s i e m p re e l itista . Col oca d o
a nte e l espectácu l o d e l a m u e rte, J o rg e M a n ri q u e d i rá q u e " cu m p l e te n e r b u e n
t i n o , pa ra a n d a r esta j o r n a d a si n e rra r':
E l H u m a n is m o refo rzó otro d e los rasgos p ropi os d e i espi ritu d e l a ca ba l l e­
ría : " n o b l eza o b l i g a ': N o son los d e rech os y su exi g e n c i a l o s q u e co nfo r m a n e l
co m po rta m i e nto d e i n o b l e, s i n o sus d e b e res. A veces esta menta l i d a d resu lta
m uy d ifíci l d e ente n d e r p o rq u e, co m o sucede sie m p re e ntre los h o m b res, la dis­
ta ncia que m e d i a e ntre los idea l es y su rea l izaci ó n res u lta ba extra o rd i n a ri a me nte
g ra n de; pod ría mos reu n i r m i l l a res d e casos en q u e la co n d u cta n o resu lta n a d a
ej e m p l a r. Pera p recisa m e nte se d a noticia d e l o q u e ro m pe l a n o r m a y n u n ca d e i
cu m p l i m i e nto d e i deber, q u e n i s i q u i e ra se p i e nsa q u e d e b e ser noti c i a d o .
La p r i m e ra d e l a s vi rtudes d e i ca ba l l e ro, co m o fu e exp l i ca d o por J u a n I e n
l a s Co rtes d e Va l l a d o l i d d e 1 385, cu a n d o u n o d e los m ayo res eje m p l os aca baba
d e d a rse, es l a l e a lta d . Y n o hay duda d e que los casos e n que los n o b l es come­
ten t ra i c i ó n son i n n u m e ra b l es. H i l a n d o u n poco m á s fi n o debe a dve rti rse que e n
e l s i g l o X V n u nca se confu n d ia lea ltad c o n fi d e l i d a d p u es esta ú lt i m a i n d u ce a i
vasa l l o a seg u i r a i sef10 r s i n p reg u nta rse p o r l a j u sticia d e s u ca usa, m i e ntras q u e
l a p r i m e ra o b l i g a a i m ped i r q u e e l s e f 10 r co m eta entu e rtos. J u nto a e l l a l a s otras
c i rcu n sta ncias d e va l o r, h o n ra d ez, res peto, co n d u cta exte rior, fo rm a n e l co rtejo
i m p resci n d i b l e pero n o t i e n e n e l m is m o ra n g o .
6 . L a confl u e n c i a e ntre e l H u m a n is m o y e l esp íritu d e l a Ca ba l l e ría se p ro­
dujo e n dos l i b ras que a p a rece n e ntre l o s más d ifu n d i dos e n las p r i m e ra s déca­
d a s d e i s i g l o XVI : e l Amadis de Gaulé!, i m p reso e n 1 508, y e l Enchiridion militis
christiani ( M a n u a l d e i ca ba l l e ra cristi a n a ) d e Des i d e ri o E ra s m o d e Rotte rd a m , tra­
d u ci d o ai caste l l a n o e n 1 529 que a l canzó e n Espa n a más éxito que e n otra p a rte.
E ntre a m bos extrem os, l a s fa ntásticas aventu ras i m a g i n a d a s e n u n a n ovela de
ca ba l l e ría, y l a p rofu n d a refl ex i ó n ace rca d e l a s vi rtudes que s i rven d e p l atafo r m a
a l a co n d u cta d e u n n o b l e cristi a n a, i b a n a m overse q u i e n es e m p re n d ía n e l
ca m i n o d e A m é ri ca . E l h isto r i a d o r M o ra l es Pa d ró n ca l ifica rá d e " a m a d i ses" a l o s
1 73
Lu i s S u á rez Fe r n á n d ez
co n q u i sta d o res d e l a seg u n d a g e n e ra ci ó n . Ta l vez d e be ríamos a n a d i r q u e los pru­
d e ntes a d m i n i stra d o res que fo r m a n l a te rce ra tuvi eron m uy p rese nte e l modelo
que E ra s m o p ropo n ía acerca d e i pe rfecto ca ba l l e ro cris.t i a n o .
Fa m a y ri q u eza e n c i e rto modo se co ntra p o n e n porq u e no se p u e d e servi r a
dos s e n o res ta n d i sti ntos co m o estos. Los b i e n es m ate ri a l es y l a s rentas e ra n ,
desde l a m e nta l i d a d d e i ca ba l l e ro, i m p resci n d i b l es, pero como m e d i o p a ra con­
seg u i r l a p r i m e ra y n u nca co m o un fi n e n sí m is mos. Las m i n uci osas i nvesti ga­
c i o n es act u a l es perm iten esta b l ecer, a veces co n basta nte p reci s i ó n , los i n g resos
d e u n a casa g ra n de, pero n u nca los gastos: se gastaba l o que e ra d e b i d o , s i n
te n e r e n c u e nta pos i b i l i d a d es . L a p rod i g a l i d a d e s te n d e n c i a d e i ca ba l l e ro, l a ava­
ricia e l vicio de los b u rg u eses. En todo caso sabemos q u e los gastos s i e m p re d es­
bord a b a n a los i n g resos; h u b i e ra pa recido a bs u rd o dej a r u n a pa rte d e e l l os s i n
e m p l e o . M u chos seno ríos j u risd i cci o n a l es a rroj a b a n perd i d as y s i n e m b a rg o s e
p rocu ra b a n o se rete n ía n porq u e co m po rta ba n p resti g i o soci a l . Fo rtu n a s a dq u i ri ­
d a s e n otras pa rtes se i nvertía n e n esto, co m o fu e e l c a s o d e Q u evedo, q u e' p u d o
d e este m o d o titu l a rse, n o s i n o rg u l lo, " s e n o r d e l a To rre d e J u a n Aba d ':
Porq u e , co m o reco rda ría Ca l d e ró n , " a i rey l a h a c i e n d a y l a vida se deben d a r;
pero e l h o n o r es patri m o n i o d e i a l m a , y e l a l m a s o l o es d e D i o s ': H o n o r, fa m a , o p i ­
n i ó n , p resti g i o, d i g n i d a d soci a l , esos e ra n los a uténticos va l o res.
7. Los espa n o l es l l eva ro n a América su cristi a n ismo; e l res u lta d o más visi b l e
d e u n tra bajo d e trescie ntos a n os e s p recisa m e nte q u e l a pa rcel a m ayo r de l a cato­
l ic i d a d , en el m u ndo, se exp rese en espa n o l o portu g u és . Es l o q u e a l g u nos a h o ra
rep roch a n a Espa n a d iciendo q u e l a sustitu ción de los va l o res propios de las c u l ­
t u ras i n d ígena s - i nc l uye n d o las h o rr i b l es p rácticas d e sacrifi cios h u m a nos - h a n
ca usado u n m a l y n o u n b i e n . Desde l a p r o p i a Espa n a se afi rma a d e m á s q u e l a
u n i d a d cató l ica fu e e l o bstácu l o q u e i m pi d i ó e l a cceso a l a modern i d a d . E n estos
d e bates ai a uto r no es l ícito entra r: no debe fo rm u l a r j u icios de va l o r y m e n os
ace rca d e l o q u e p u d o h a be r s i d o y n o fu e .
I m po rta m u ch o sena l a r có m o l a g ra n cu ltu ra popu l a r i be roa m e ri ca n a ,
d ej a n d o a u n l a d o l a s m i n o rías d i ri g e ntes d e i s i g l o XIX q u e se o r i e nta ba n hacia
Fra ncia o I n g l aterra, b u sca n d o su i nflujo, es un m estizaje e ntre l a s costu m b res
i n d íg e n a s y l a fe cristi a n a . Amé rica e n ca rn á d e ta l m a n e ra e l cristi a n i s m o q u e en
e l l a es éste p rofu n d a m e nte popu l a r y ha resi stido i n cl uso los esfu e rzos d e l i bera ­
dos d e s u s d i ri g e ntes pa ra desa rra i g a r i a . A h o ra b i e n te n d ría mos a q u í q u e reco r­
d a r el p a ra l e l i s m o co n la co l o n izaci ó n a n g l osajo n a : ta m b i é n ésta se e m p e n á e n
1 74
,
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
esta b l ece r u n a n u eva Cristi a n d a d , ca lvi n i sta, más q u e a n g l ica n a , y más pe rfecta
q u e la q u e h a b ía q u ed a d o en E u ropa; en esta seg u n d a , por su co ntext u ra dog­
m ática, e l m estizaj e no rep resenta ba n i n g ú n pa pel .
Se trata de u n a fo rma concreta d e Cristi a n i smo, q u e h a b ía expe ri m e nta d o
u n a " refo rm a '; a nteri o r a l a p rotesta nte y m uy d ife rente d e ésta . Pod e m os deci r
q u e s u i n iciación se produjo e n to rno a l a fech a d e 1 37 5 y q u e tuvo e n los j e ró n i ­
m o s - L u p i a n a , Yuste, G u a d a l u pe, E I Esco ri a i - u na especie d e tronco p a ra l a a po­
yatu ra de todos los ca m bias. E n e l p l a n o teo l ó g i co se sepa rá ca d a vez m á s dei
vo l u nta rismo, a u n q u e e n Espa n a s u rg i e ro n m uy n ota b l es escotistas, y afi rmá,
co n E ra s m o y contra Lutero, que e l h o m b re es criatu ra d ota d a d e ca paci d a d racio­
nal pa ra e l co noci m i e nto especu l ativo, y d e l i b re a l bedrío. Se rep roch a a ctu a l ­
m e nte a Espa n a cierto " atraso" e n re l a c i ó n co n E u ropa, pero d i ch o atraso s e
refi ere s o l o a l a ciencia expe r i m enta l y e s u n prej u icio fa b ricado e n m o m e ntos e n
q u e d i ch a c i e n c i a se atri b u ía a s í m i s m a e l a bsol uto m o n o p o l i o d e los conoci­
m i e ntos h u m a nos, i n cl uye n d o l a g u ía d e l a co n d u cta . La refo rma espa n o l a i ba en
otra d i recci ó n . N a d i e, h oy, se atreve ría a a si g n a r a l a ciencia experi m e nta l dich o
m o n o po l i o so pena d e s e r acusado a su vez d e retró g ra d o .
Como d efe n d e rá n e n Tre nto los teó l o g os espa n o l es, y en e l i nteri o r d e
Espa n a los q u e co nstituye n l a l l a m a d a "escu e l a d e Sa l a m a nca " - u n term i n o q u e
te n e m os q u e e m p l e a r uti l iza n d o m uy n u m e rosos m atices - D i a s y a i n cu lcado e n
e l h o m b re u n a l ey natural q u e i nfo rma d e l o q u e o bj etiva m e nte e s b u e n o , j u sto,
d esea b l e . S u co noci m i e nto, q u e pa rte d e deberes, perm ite d escu b ri r l a existe ncia
d e u nos " d e rech os natu ra l es h u m a n os" que son co m o l a contra pa rtida i n evita b l e
d e a q u e l l os . Esta defe n d e rá n no s o l o los g ra n des pensa d o res co m o Vito ria,
S u á rez o M e l ch o r Ca no, sino i n cl uso los p o l e m i stas co m o B a rto l o m é d e l a s
C a s a s , q u e n o fu e u n fe n ó m e n o a i s l a d o . E n l a s postri m e rías d e i s i g l o XV, cu a n d o
esta ba e n m a rch a u n g ra n ca m b i o e n l a s U n ivers i d a d es espa n o l as, ta les axi o m a s
p e rte n ecía n a i ace rvo com ú n , s i g n ifica n d o q u e e l ser h u m a no, d ota do de l a s m e n ­
c i o n a d a s ca paci d a d es de raci o n a l i d a d y l i b re a l bed río, puede a d q u i r i r e n este
m u n d o m e ritos co m p uta b l es en ó rd e n a la vida ete r n a . Pa ra d eci rlo con térm i n os
co rrie ntes, a u n a b u s a n d o dei l e n g uaje: Dias h a q u e rido que e l h o m b re p u e d a
m e recer s u p ro p i a sa lvaci ó n . N o es E l q u i e n t i e n e p redete r m i nados los h o m b res
que h aya n d e sa lva rse, a u n q u e l o sepa por h a l l a rse e n l a i ntem po ra l i d a d . Di rá
J o rg e M a n ri q u e q u e "este m u n do b u e n o si b i e n usásemos de él co m o debemos,
ya q u e, seg ú n n u estra fe, es pa ra g a n a r a q u e l que ate n d e m os ':
8 . Dos ra sgos ca racte rísti cos confo rm a ba n l a m e nta l i d a d d e i ca ba l l e ro : e l
a rtificio d e l o h e ro i co y l a n osta l g i a de u n a vida m á s be l l a . H a ce t i e m p o q u e
1 75
L u i s S u á rez Fe r n á n d ez
H u iz i n g a l o d escu b r i ó . N o e ra suficie nte e l va l o r s i éste n o a p a recia d e u na
m a n e ra p ú b l i ca co m o l a o b ra de a rte q u e se ofrece a l a conte m p l a ci ó n . De a h í
c i e rta a m p u l o s i d a d e n l a s m a n e ras, c i e rto a l a rd e e n l ? s m o m e ntos d i fíci les: l a
re n d i c i ó n d e G ra n a d a s e aj u sta casi a u n ritu a l . Todos l l o ra n so b re l a h e rmosa ci u­
dad. L l o ra b a n los cristi a n os e n l a p r i m e ra m isa ce l e b ra d a e n l a Al l a m bra, ai des­
p u nta r e l d i a 2 d e e n e ro d e 1 49 2 . L l o ró ta m b i é n Boa bd i l u n as h o ras más ta rde
m i e ntras e ntreg a b a las l l aves h a c i e n d o g esto d e a rrod i l l a rse, q u e los Reyes no
co n s i nt i e ro n . Pero nadie se engane p u es ta les g estos ca recía n d e esponta n e i d a d :
h a b ía n s i d o negociados c u i d adosa m e nte d e a nte m a n o .
L a a rtificiosidad se v i n cu l a a i ca ba l l o , a l a espada y, e n consecu e n c i a , a i l ujo,
ai a l a rd e y ai cere m o n i a l : a rm a d u ra d e p l ata con esp u e l a s de o ro trajo ai rea l de
To rdesi l l a s e n 1 475 d o n Beltrá n d e l a C u eva . Ca ba l g a n d o ai e n c u e ntro d e i e n e­
m i g o e n l a j o r n a d a d e " Ceri n o l a " -, G o n za l o Fe r n á n d ez d i eta l a ca rta e n q u e a n u n­
c i a l a seg u ri d a d d e l a victo ria q u e a u n n o se h a p rod ucido, y cu a n d o sa lta n por
l os a i res l a s ca rgas d e pó lvora l a s ca l ifica d e " l u m i n a ri a s " pa ra su festej o . ,
U n a l eye n d a q u e se atri b uye ta nto a Fern á n Pé rez d e G uz m á n co m o a
G a rci l aso d e l a Veg a , co rri ó p o r e l ca m pa m e nto d e Sa nta Fe, a l a vista de
G ra n a d a . La g u e rra h a bía co ncl u i d o ya p rá ctica m e nte: so l o d i p l o m áti cos, a g e n ­
t e s y co rreos, cruza ba n d e u n o a otro l a d o acord a n d o l a s co n d i c i o n es j u stas de
l a ca p itu l a c i ó n , a q u e l l a s que i m po n ía l a " n o b l eza " d e á n i m o d e l o s dos co nte n­
d i e ntes. Un ca ba l l e ro rea l iza ento n ces e l a l a rd e d e cruza r, baj o l a s flech a s e n e­
m i gas, h a sta cl ava r u n ca rte l co n dos p a l a b ras, Ave M a ri a , e n l a p u e rta d e l a m ez­
q u ita . H ech o a bso l uta m e nte i n úti l , g esto g ratu ito, i n capaz de a n a d i r n a d a a l os
res u ltados d e u n a g u e rra . Pe ro g estos g ratu itos s o n ta m b i é n , a u n q u e pa rezca l o
contra rio, los d e H e r n á n Co rtés a i p e rfo ra r s u s n aves y h u n d i rl a s, y los d e P i ­
za rro, traza n d o l a raya e n l a a re n a pa ra q u e fu ese cruzada p o r a q u e l l o s "trece de
l a fa m a ':
Fa m a , esa es l a p a l a b ra cl ave. Pe nsemos e n e l extre m e n o Ped ro de Va l d iv ia,
q ue fu é a F l a n d es, s i rvió a Carlos V, estuvo e n Wo rms c u a n d o por ahí a n d a ba
M a rti n Lute ro y, ten i e n d o 23 a n os y g ra d o d e ca p itá n , estuvo e n l a bata l i a d e Pavía
d o n d e cayó p r i s i o n e ro Fra ncisco I . L a_ i n q u ietud q u e le d o m i n a ba le i m pi d i ó per­
m a n ec e r e n t i e rra d e Ext re m a d u ra y, e n 1 53 5 , e m ba rcá p a ra A m é ri c a .
Apa rente m e nte t rata ba d e l o g ra r u n a b u e n a pos i c i ó n e n Pe ru, pero cu a n do, ve n­
ced o r d e Al m a g ro, reci b i ó una e n co m i e n d a y una m i n a , buenas bases pa ra u n a
v i d a h o l ga d a , d escu b re l a s verd a d e ra s m etas de s u a m bi c i ó n : h a b ía pasado a
l n d i a s n o p a ra ser rico s i n o p a ra co b ra r fa m a . Y, e n m e d i a d e pel i g ros s i n cuento,
tras esca l ofri a ntes aventu ras, se rá fu n d a d o r de C h i le, m u ri e n d o e n e l e m pe n o .
1 76
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Pe ro la " fa m a " perm a n ece, en sus p ro p i a s pa l a b ras, g ra ba d a s ai p i e d e i ce rro e n
e l co razó n de Sa nti a g o .
9 . H a y u na ínti m a contra d i cc i ó n entre l o s i d ea l es d e i ca ba l l e ro y l a rea l i d a d
q u e l e toca vivi r; é l l a res u e lve m e d i a nte l a nosta l g i a d e u n a vida m á s b e l l a , q u e
se sitú a a veces e n e l ti e m po pasado - " d i ch osa edad y d i ch osos s i g l as a q u e l los
a q u i e n es los a ntig u os p u s i e ro n e l n o m b re d e d o ra d o s '; excl a m a rá d o n Qu ij ote e n
s u s i n g u l a r locu ra - y ta m b i é n e n e l futu ro, a l a búsq u ed a d e cu a l q u i e r E l Do ra d o
e n l a s S i ete c i u dades d e C i b o l a . Ta m b i é n e n s u aspecto eco n ó m ico: e l ca ba l l e ro
pa rece co n d e n a d o a vivi r e n u n a te n s i ó n conti n u a d a e ntre l o q u e " p u ede" y l o
q u e " q u i e re'; o b l i g a d o s i e m p re a d i si m u l a r ca rencias, i m p u lsado a gasta r más d e
l o d e b i d o , i ncu rriendo e n p rod i ga l i d a d .
Es p recis a m e nte esa l a nosta l g i a q u e e n co ntra mos co m o u n n e rvio centra l e n
e l Poem a d e M a rt i n Fierro - " h u bo u n tiem po en q u e ten i a casa, h ijos y m ujer" q u e rem o nta a i pasado e l t i e m po "fe l i z p a ra l a g a u ch a d a " m ie ntras a p u nta b ráva­
m e nte ai futu ro, co n vi o l e ncia - "yo a b ri ré co n mi cuch i l l o e l ca m i n o pa seg u i r" y, s u b l i m i n a l m ente, e n l a nove l a d e C i ro Aleg ri a : E I m u n d o es a nch o y ajeno, co mo
e n m uch as d e las o b ras de M a ri o Va rgas Llosa.
De n u evo J o rg e M a n ri q u e vi ene a ayu d a rnos a tra n s m iti r l a co nciencia d e
u n a g e n e ra c i ó n q u e creía q u e " cu a l q u ie ra t i e m p o p a s a d o fu e m ej o r " y a c a b a s i n
e m ba rg o d escu b r i e n d o " d e c u á n poco va l o r son l a s cosas t r a s q u e a n d a m os y
co rre m os, q u e e n este m u n d o tra i d o r a u n p r i m e ro q u e m u ra m os, l a s perd e m o s ':
Esa tensi ó n o b l i g a b a a los n o b l es a busca r conti n u a m e nte u n a sce nso socia l y d e
re ntas. M u ch as veces nos p reg u nta m o s p o r q u é Extre m a d u ra d i o u n a p ro p o rci ó n
ta n g ra n d e d e col o n iz a d o res y exp l o ra d o res a América. Pro ba b l e m e nte l a exp l i ­
caci ó n está e n ese pu nto d e i ascenso: l a co nso l i d a c i ó n d e l a s O rd e n es M i l ita res y
ta m bi é n d e dos o tres l i najes de g ra n d es, e n especi a l l o s Stu n i g a , tra n sfo r m a d os
e n Z ú n i g a pa ra h a ce rse olvida r los o ríg e n es nava rros, b l o q u eó l a s pos i b i l i d a d es
d e p ro m oci ó n d e los h i d a l g os y s i m p l es ca ba l l e ros, q u e se viero n o b l i gados a
b u sca ria e n otros esce n a rios, co m o lta l i a o América .
1 0 . Los senti m i e ntos d e l a caba l l ería tuvi e ro n tres esce n a rios privi l eg i ados
e n los que m a n ifesta rse: p ri m e ro G ra n a d a , g u e rra ca ba l l e resca por exce l e n c i a ,
l u eg o lta l i a , p o r ú lt i m o A m é rica . Tod o a q u e l l o q u e los a uto res de La m u e rte d e
A rtu ro, T i ra nt l o B l a nch y A m a d i s d e G a u l a d escri b i e ro n - i ncl uye n d o e l a m o r
h u m a n o q u e h acía penetra r l o fem e n i n o e n l a v i d a d e i g u e rrero, con i n depen­
d e n c i a d e que p u d i e ra revesti r fo rma d e m atri m o n i o - fu e vivido e n u n a especi e
1 77
L u i s S u á rez Fe r n á n d ez
d e búsq u ed a d e u n t i e m p o y d e u n espacio d o n d e l o h e roico fuese verd a d e ra­
m e nte h e ro i co y l o bel l o sati sfacto r i o . N u nca o casi n u nca, se co nseg u ía l a m eta :
m i e ntras l a h aza n a esta ba e n m a rch a , i rra d i a ba fe l i c i d a <;l sobre s u s p rota g o n i stas,
pero a pe n a s co ncl u ía , s u rg ía n las m e n u d as y sórd i d a s q u e re l l as, e l desenca nto .
Po r eso los perso n ajes más reco rd ados s o n a q u e l los q u e m u eren p ro nto, los
j óve nes sobre los que se puede l l o r a r corno M a rtín d e Va rgas, d a n cei de
S i g ü e nz a , e l co n d e d e B e l a l cáza r, h e ri d o p o r una fl ech a enve n e n a d a en
Casa ra bo n e l a , o e l p ro p i o J o rg e M a n ri q u e ú lti m o ca ído d e una g u e rra que h a b ía
co n cl u i d o ya . H u bo u n l l a nto especi a l e n Casti l l a cu a n do se tro nchá l a vida e n fl o r
d e i h e re d e ro, príncipe de Astu rias, e l i nfa nte d o n J u a n , sobre cuya tu m ba fl o rece
el recu e rd o de la " m u e rte d e a m o r ': Hay l l a ntos a n ó n i mos pa ra los pers o n aj es de
los ro m a n ces - " q u e por m ayo era, por m ayo" - a fi n de q u e todo q u e d a ra
e nvue lto e n l a n e b l i n a d e l a n osta l g i a por l o q u e p u d o h a be r s i d o y n o fu e .
N o b l eza y ro m a n ce ro aca b a ro n co nfl uye n d o e n l o q u e e n c i e rto m o d o
podría m os co n s i d e ra r reto rno a u n a l ite ratu ra é p i ca si n o fu e ra porq u e e n el
seg u n d o l a d escri pci ó n d e senti m i e ntos ocu p a ra l a p a rcela m á s i m po rta nte. Lo
m i s m o s u cede en la vida o rd i n a ri a , d o n d e g u e rra y fi esta se i d e ntifi ca n y, a veces,
se co nfu n d e n . La fiesta por exce l e n c i a d e los ca ba l l e ros e ra e l torneo, paso de
a rm a s d o n d e se q u i e b ra n ca nas o l a nzas, con pel i g ro, no d e m a s i a d o g ra n d e pa ra
la p ro p i a v i d a , pero en d o n d e todo q u ed a ba s o m et i d o a u n j u eg o de n o rmas, casi
un ritu a l , con d ivisas, a d o rnos y p re m i as p a ra l o s más com pete ntes. J u eg o q u e
perm itía ta m bi é n exp resa r si n desd o ro l o s senti m i e ntos de a m o r, a nsiedad o
espera nza, co m o h izo Fe rn a n d o e l Cató l i co e n Va l l a d o l i d , a i co m i e nzo d e s u rei ­
n a d o , c u a n d o sa l i ó a j u sta r co n u n a d ivisa q u e d ecía : " co m o yu n q u e sufro y ca l l o
p o r e l t i e m po e n q u e m e h a l l o ':
Ese m i s m o sentido d e l a fiesta pasó a l a g u e rra, q u e tod avía e ra escasa­
m e nte m o rtífe ra , h ech a por com batie ntes b i e n entre n a dos y poco n u m e rosos. La
bata l i a se o rd e n a , p reced i d a por e l d esafío, y los ca p ita nes descu e l l a n por e n c i m a
d e sus s o l d a d os g racias a los a d o rnos q u e co m po n e n su c i m e ra . Se bu sca a i
a dversa ria y, e n é l , ta m bi é n l a i m a g e n d e otro y o , refl ej a d a co m o e n u n espej o .
L a v i d a d e i vencido, s u h o n ra y s u d i g n i d a d ta m b i é n m e recen respeto - hay u n fi n_
cre m atístico su bsi d i a ri a , e l pago d e i. rescate, l a a d q u i s i c i ó n d e s u s a rm a s - so b re '
todo p o r este sentido d e n o b l eza, q u e es exte n s i vo a los m u e rtos . S i a l g u i e n e ntra
en el m o n a sterio de Bata l h a q u e n o d ej e d e co n s i d e ra r el h ech o d e q u e la tu m ba
m á s i n m ed i ata a l a d e N u n o Á lva res Pe rei ra , e l ve n ce d o r d e i ca m po de
Alj u ba rrota , es l a de Ped ro G o nzá l ez d e M e n doza, ej e m p l o de lea lta d , que entregá
ai rey s u ca ba l l o p a ra que se sa lva ra y m u ri ó e n s u l u g a r. La victo ria p rod u ce más
h o n o r y, por ta nto, m á s fa m a , cua nto más n o b l e y m e reced o r d e est i m a es e l
1 78
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
a dversa r i a . He a h í otro de los ra sgos p rofu ndos d e l a menta l i d a d d e la é poca .
Ca u po l i cá n , pa ra A l o n so de E rci l l a , o M a nco Capac p a ra los cro n i stas d e l n d i as,
fu e ro n , d e h ech o, a dversa rias: e l usu rpa d o r fratricida Ata h u a l pa e ra s i m p l e m e nte
un e n e m i g o .
1 1 . Amé rica a p a reci ó, a nte l a sociedad espa n o l a , e n espec i a l l a caste l l a na ,
co m o esce n a ri o pa ra u n a n u eva haza n a acometida e n t res fases s u cesivas.
Pri m e ro fu e ro n m a ri nas y co m e rcia ntes, a q u e l los que se defra u d a ro n ai no
e n co ntra r l a s ri q u ezas en perlas y m eta les p reciosos que se h a b ía n a n u n c i a d o .
Expertos n avega ntes, sorpre n d e ntes exp l o ra d o res, ca recía n de l a m e nta l i d a d y
prepa raci ó n suficie ntes pa ra g o b e rn a r, y fracasa ro n . Esa " d estrucc i ó n de l a s
l n d i a s " q u e e l P. B a rto l o m é d e l a s Casas - y n o fu e e l ú n i co - p rese ntá a Ca r l os V
esta ba refe rida a l a s i s l a s d e i Cari be y e n co ncreto a Sa nto Do m i n g o y C u ba ,
d o n d e vivi e ra , y, s i n q u e esta h a g a d e s m e recer l o s m é ritos d e s u o b ra , a l ca nzaba
a Co l ó n y s u s h e r m a nos.
'
E ntonces pasó e l tu rno a l a peq u e n a n o b l eza d e h i d a l gos y ca ba l l e ros, q u e
busca b a n e n Amé rica n u evas ra íces, p l atafo rma sobre l a q u e e l eva rse a u n n ivel
soci a l s u p e r i o r. l ba n i m b u idos d e i esp íritu d e l a ca ba l l e ría, e n sus vi rtudes y ta m ­
b i é n e n s u s e n o rm es d efectos y por e s o M o ra l es Pa d ró n aconsej a l l a m a rlos
" a m a d ises" d e l a co n q u ista : Co rtês, Ouesa d a , B e l a l cáza r, Piza rro, Al m a g ro,
Va l d ivia o Coro n a d o respo n d e n m uy bien a este m o d e l o ; e ntre e l l os se i ncrusta­
ba n ta m b i é n a l g u nos seg u n d o nes d e l i najes d e g ra n d es . E l ias m o l dea ro n los ras­
gos de ese m u n do n u evo e n e l q u e se perci ben las h u e l l a s de s u s vi rtudes y de
s u s d efectos. En é l tuvi eron q u e a d m iti r a los i n d ios porq u e l a l g lesia y l a Caro n a
se l o i m po n ía n y porq u e, a d e m ás, l a s restricci o n es esta b l ecidas pa ra la e m i g ra ­
c i ó n d e m uj e res d i e ro n a l a s i n d íg e n a s u n a opci ó n q u e, a i pa rece r, d esea ba n
a p rovech a r. E l m estizaje, ca racte rístico d e l a Amé rica i be roa m e ri ca n a no fu e
ca s u a l s i n o d e l i be ra d o . Esta opci ó n , d i a m et ra l m e nte o p u esta a l a de los a n g l osa­
j o n es y d i verge nte d e i calvi n i s m o , se p rese nta ta m bi é n e n e l Ca n a d á p o r i nfl u e n ­
cia cató l i ca fra ncesa .
Puede deci rse q u e los espa n o l es y p o rtu g u eses l l eva ro n a Amé rica so b re todo
dos cosas, e l Pa d re n u estro y el ca ba l l 9 . Pa ra deci rlo m ej o r, e l se nti m i ento i n he­
rente a l a ca ba l l ería . H o m bre y ca ba l l o dan s u esta m p a a América, ya este mos en
las p ra d e ras de Arizo n a , en l a pa m pa a rg e nti n a o e n las m á rg e n es d e i Bio-Bio, ya
les l l a memos cowboys, ch a rros, ga uchos o h u asos. Más a l i á de l a esta m pa dei
j i n ete está u na co ncepci ó n específica de l a existencia, a veces co n las exa g e racio­
nes p rop ia s d e una vi ri l i dad des m e d i d a que se co m p l a ce e n ser h o m b re-macho,
seg ú n se d i ce e n M éxico, pero s i e m p re co n l a ca rga de esos rasgos h e redados,
1 79
L u i s S u á rez Fe rn á n d ez
a rtifi c i o s i d a d e n e l va l o r, n osta l g i a d e u n a v i d a m á s bel l a , q u e son patri m o n i o de
varias s i g l as .
Después d e 1 542 e l tiem po d e l a peq u e n a n o b l ezq concl uyá : h a b ía h ech o l a
g ra n co n q u i sta, pero e ra l l egado e l tiem po de g o b e rn a r. La Caro n a re m o d e l á l a s
l eyes d e l n d i as, asu m i á s u p l e n a res ponsa b i l i d a d y p ro h i b i á los a ntig uos contra­
tos p rivados pa ra l a exp l o raci á n y ocu paci á n d e l a tierra . P i d i á a los g ra n d es,
a q u e l los q u e lo te n ía n todo ga n a d o , sa lvo e l servicio dei rey, q u e tomasen e l l u g a r
d e éste y l l egasen a l o s n u evos re i n os pa ra esta b l ecer e l á rd e n y l a paz, e n d efi­
n itiva, pa ra i m p l a nta r a l l í los tej idos propios d e u n a m o n a rq u ía : hay n o m b res
co m o Anto n i o de M e n doza, Fra ncisco de To ledo, el co n d e de M o nte rrey, e l m a r­
q u és d e Ca n ete y, m á s ta rde, Am at, Abasca l o C h i nch á n , q u e perm a n ecen e n e l
corazá n y e l recu erdo d e los a m e rica nos p o r s u s o b ra s . E l ias ta m b i é n co n q u i sta­
ro n l a fa m a .
A l g u n a s veces s e n o s p reg u nta q u é ll evá Espa n a a América . Respu esta sen­
ci l l a : se l l evá a sí m is m a , con todo l o que d e bueno y d e maio te n i a , p u es se tra­
ta ba d e constru i r ai otra Espa n a , l a q u e a h o ra existe, i n d e pe n d i e nte y s u perior a
l a q u e a q u í q u e d á . Lo q u e ocu rre es q u e, co n frecu e n c i a , olvi d a m os cua l es e ra n
s u s senas d e i denti d a d .
1 80
Aristocracia e cortes sen h o ri a is.
Patrocín io, m ecen ato e c l iente l ismo
com o práticas de reputação, sécu los XV-XV f
Mafalda Soares da C u n h a
U n i v e rs i d a d e d e Évo ra-C I D E H U S . U É
Quadros historiográficos
A actu a l l iteratu ra s o b re a n o b reza da Pe n ín s u l a I bé rica na p ri m e i ra fase d o
período m o d e r n o d e m o nstra q u e a a ri stocraci a , o u seja o g ru po dos titu l a res e m
Po rtu g a l e o g ru po d a q u e l es q u e a l ca nça ra m a G ra n d eza e m Ca ste l a e Ara g ã o ,
constitu ía u m u n ive rso soci a l pa rticu l a r m e nte h o m o g é n eo nos seus m o d e l os d e
estrutu ração e rep rod u çã o soci a l , o mesmo é d izer nas fo ntes do seu poder p o l í­
tico e soci a l , nos seus p a d rões de co m po rta m e nto, n a s s u a s refe rê ncias cu ltu ra i s
e até n a evo l ução das s u a s re l a ções c o m a m o n a rq u ia2• O q u e as d i sti n g u i a e ra m
q u estões d e esca l a e, certa m e nte, d ifere nças n a geog rafi a d o s serviços m i l ita res
p resta dos à coroa q u e se tra d u z i a m n u m a d ife re n c i a d a permea b i l i d a d e às i n ova­
ções cu ltu ra i s : m a i o r a b e rtu ra das casas caste l h a n a s e a ra g o n esas à i nfl u ê n c i a
cu ltu ra l dos d o m ín ios h ispâ n icos n a E u ro p a , e m pa rticu l a r d a s possessões ita l i a ­
n a s , e n q u a nto a s casas p o rtu g u esas ta lvez tivessem esta d o m a i s p recoce m e nte
' Este texto i nteg ra-se nos tra b a l h o s desenvo lv i d o s n o â m bito d o p roj ecto " H i stória do
A l e ntej o , sécu l o s X I I -XX. Ap rofu n d a m e ntos e m p íricos " ( POC I/HAR/5621 0/2004).
' Anto n i o Do m i n g u ez O rtiz, La sociedad espano/a en e/ siglo XVII, vo l . I , E/ Estamento
Nobiliario, e d . facsím i l e , G ra n a d a , 1 992, p p . 209-222; " Pu e d e afi rm a rse q u e u n a te n d e n c i a m a n ­
te n i d a a l o l a rg o d e l o s s i g l o s XVI e XVI I fu e e l ace rca m i e nto e ntre l a s d i sti ntas a r i stocra c i a s d e
l a M o n a rq u ia H i s p á n ica, n o s ó l o l a s i béricas, s i n o ta m b i é n l a s d e otros re i n os y territo rios e u ro­
peos, d e fo r m a que e l o r i g e n geog ráfico red u j o s u i m po rta n c i a como fa cto r difere n c i a d o r " em
Ad o l fo Ca rrasco M a rtínez, Sangre, honor y privilegio. La nobleza espano/a bajo los Austrias,
B a rce l o n a . Ari e l , 2 0 0 0 , p. 79; E n r i q u e Soria M esa, La nobleza en la Espana moderna. Cambio y
continuidad, M a d ri d , M a rc i a l Po ns, 20 07.
1 81
M afa l d a Soa res d a Cu n h a
d i s po n ívei s p a ra a i n corporação d e i nfo rmações e p rod utos resu lta ntes d a expa n­
são u lt ra m a ri n a .
Concom ita nte m e nte, a re novação h i storiog ráfica ,d os estudos sobre a co rte
proporci o n a a n á l ises cada vez m a i s d i sta ntes de a l g u ns dos p r i n c i p a i s contr i b u ­
t o s d e N o rbert E l ias, n o m ea d a m e nte n o q u e res peita a o reco n heci m e nto da per­
s i stê n c i a d e co rtes se n h o ri a i s perifé ricas co ntra a i d e i a d a m o n o p o l ização rég i a
do fe n ó m e n o cu ria l . Ad i a nta m a i n d a n ovos d a dos sobre o s s i g n ificados d o s sis­
temas cu r i a i s rég ios que podem ser p roveitosa m e nte a p l icados às co rtes se n h o­
r i a i s . S u b l i n h a m , por u m l a d o , a i m po rtâ ncia po l ítica d a s e l ites n o b i l i á rq u icas cor­
tesãs e, por outro l a d o , enfatiza m a eficácia pol ítica d a d i m e nsão re l i g iosa n a
l itu rg i a ceri m o n i a l i sta o u a i nda a p l u ra l i d a d e d e s e n t i d o s dos co n s u m os s u m p­
t u á rios e d a s p ráticas co l ecci o n i stas3•
Fi n a l m e nte, as l e itu ras, soci a l e pol itica m e nte m a i s contextu a l izadas, q u e os
h i stori a d o res d a a rte e d a cu ltu ra têm desenvolvido nas ú lt i m a s déca d a s perm i ­
t e m u m a m a i o r a rticu l ação entre as p ráticas d e m ece nato a rtístico e as d i n â m icas
soci a i s d o g ru po n o bi l i á rq u i co .
Reag i n d o a o desafio q u e m e fize ra m pa ra a e l a boração d este texto e q u e
p ro põe co mo t e m a a l i gaçã o e ntre cu ltu ra e p ropa g a n d a po l ítica n a s Espa n h as d e
Qu atrocentos e Qu i n h e ntos, atrevo-me a co n s i d e ra r q u e o p l u ra l p a n o d e fu n d o
h i sto riog ráfico aci m a e n u nciado perm ite a l g u m a g e n e ra l ização sobre certos
m o d e l o s d e actuaçã o pol ítica d a a ri stocracia i bé rica, a pa rti r d a a n á l ise dos seus
p ro g ra mas de m ecenato e d e patrocín i o socia l4•
Hierarq uias nobiliárq uicas, tem pos e espaços. Com parações
Convé m , n o e nta nto e a ntes d e m a is, exp l i cita r a l g u m a s q u estões centra i s
p a ra o co n h eci m e nto do l u g a r soci a l d a a ri stocracia e m Po rtu g a l e q u e estã o
assoc i a d a s à ca racte rização g e r a l do g ru po n o bi l i á rq u ico. É s a b i d o q u e este c res­
ceu co n s i d e rave l m e nte ao l o n g o dos sécu los XV e XVI e q u e ta l fe n ó m e n o se rel a 3 Cf. S íntese e m J o h n Ad a m so n , " T h e m a k i n g o f t h e Ancien-Reg i m e Cou rt, 1 50 0- 1 7 0 0 '; i n
J o h n Ad a m s o n ( ed . ) , The princely courts of Europe. Ritual, politics and culture under the Ancien
Regime 1 500- 1 750, Lo n d res, Seve n D i a ls, ?000, p p . 7-42 . Pa ra a p l i cação a casos i n g l eses p a ra o ,
pe ríodo em a p reço ver David H owa rt h , lmages of rufe. Art and politics in the English
Renanaissance, 1 485- 1 649, l o s A n g e l es, Be rke l ey U n i versity Press, 1 997.
4 Pa u l o Pere i ra c o n d e n s o u esta i d e i a tão i m po rta nte pa ra a n ova h i sto riog rafi a da a rte e d a
h i stória po l ítica : " é ( e s e r á ) c a d a v e z m a i o r a i nterve nção d a i d e o l o g i a e dos co nte ú d os cu ltu ra i s
e po l íticos d o s com itentes n a s próprias o b ras, o b ras q u e a d q u i re m c a d a vez m a i s o estatuto d e
d e po i m e ntos p ú b l i co s '; Pa u l o Pere i ra , "As g ra n d es ed ificações ( 1 450- 1 530 ) " i n História da Arte
Portuguesa, d i r. Pa u l o Pere i ra , vo l . 1 1 , Lisboa, Círc u l o de Leito res, 1 995, p. 1 3 .
1 82
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
c i o n ava ta nto co m a conj u ntu ra expa n s i o n i sta d a época, q u a nto com a própria
co nfi g u ração do siste m a pol ítico v i g e nte, uma vez que este a d m itia a coexi stê n ­
cia d e vá rias fo ntes e d i ve rsos vecto res d e classificação soci a l .
N o sécu l o XV, o co nj u nto de d i s positivos d e o rd e n a m e nto do espaço soci a l
d a n o b reza q u e o s m o n a rcas p o rtu g u eses fo ra m a p l i ca n do - titu l a ção, fo ros d e
m o ra d o res d a casa rea l , L e i M e nta l , siste m a d e t rata m e ntos, cu ri a l ização -, cri o u ­
- l h es co n d i ções pa ra se i nstitu írem e m á rb itros d a class ificação soci a l ofi ci a l .
Todavi a , a estrutu ração autó n o m a do g ru po a i n d a e ra g ra n d e e consu bsta nciava­
-se p r i o rita ri a m e nte n a acção po l ítica s o b re as periferias territo r i a i s . E ntre os
esca lões su periores do g ru po, essas estraté g i a s o ri e ntava m -se pa ra o co ntro l o de
exte nsos se n h o rios j u risd i c i o n a i s , d a n d o azo a u m a s i g n ificativa com petitiv i d a d e
i nterna q u e, se tra d u z i a , depois, n o esfo rço p e l a tute l a e contro l o do próprio ce n ­
t r o d a m o n a rq u i a . Os n u m e rosos confl itos a rmado s q u e o p usera m g ru pos e fac­
ções pa rece m - m e , assi m , u m a expressão c l a ra das possi b i l i d a d es d e i nstru m e n ­
ta l ização dos recu rsos pe riféricos por pa rte d a ca m a d a ci m e i ra d a n o b reza n a
constru ção g l o b a l dos eq u i l íbrios de poder.
U m pouco m a i s ta rde, já n o sécu l o XVI , os crescentes p rove ntos e os n ovos
recu rsos d istri butivos g e rados pela expa nsão atlâ ntica e o ri e nta l refo rça ra m a cen ­
tra l i d a d e d a co roa, e n q u a nto pri n c i p a l enti d a d e co ncessora de m e rcês e recruta­
d o ra d e serviços m i l ita res, a d m i n i strativos e po l íticos. É verdade, n o e nta nto, q u e
a coroa n ã o m o n o p o l izava a i n d a a d i stri b u i çã o de ca rgos e m e rcês. A s casas d a
ra i n ha , d o s i nfa ntes e a l g u mas g ra n d es casas sen h o ri a i s conti n u ava m a d i spor de
recu rsos e poderes ta m bém a l i e náveis e q u e , e m pa rte, co nco rri a m com a co roa .
M a nti n h a m -se, p o rta nto, co m o re l eva ntes pa rcei ros d a m o n a rq u i a n a g estão po l í­
tica do te rritó rio e co m o e nti d a d es a ltern ativas n a atri bu ição de postos e d i sti n ­
ções. A s p r i n c i p a i s d ifere n ças face a o período a nteri o r decorri a m , por u m lado, de
a d i sp uta soci a l pelo contro l o dos novos recu rsos d i stri b u ídos pela m o n a rq u i a se
fazer j á n o centro po l ítico, sobre a s estrutu ras do a pa re l h o a d m i n istrativo centra l
e, a pa rti r d e l e, sobre a semi-periferia i m pe r i a l ( a d m i n i stração co l o n i a l ) e, por
outro lado, de o acesso aos esca lões s u pe ri o res d a n o b reza ser j á co ntro l a d o pela
co roa através d a co ncessão o u confi rmação das principais d i sti nções socia i s - títu­
l os, j u risd i ções, ca rgos n a a d m i n istração centra l e n a corte rég i a . Esta situação
acentu ava a i m po rtâ ncia das posições po l íticas d o m i n a ntes n o i nteri o r d a co rte
rég i a - sede i nd i scutível do poder do rei -, o q u e, se por u m lado a tra nsfo rm ava
n o pa l co p r i n c i p a l d a co nfl it u a l i d a d e i nter- n o b i l i á rq u i ca , ta m bé m refo rçava o papel
d a m e d i ação e com e l a o dos m e d i a d o res. J á l á i re i .
Contudo, u m a vez q u e a h i e ra rq u ização destas d i sti n ções a i n d a e ra re l ativa­
m e nte i n d efi n i d a e a sua atri b u i çã o soci a l d ispersa por um n ú m e ro a l a rg a d o de
1 83
M afa l d a Soa res d a Cu n h a
l i n h a g e n s, casas, e i n d i víd u os, u m dos p r i n c i p a i s efeitos d este s i ste m a de classi­
ficação e ra a n ã o co i n cidência e ntre titu l a res e a ristocra c i a . E esta d i screpâ ncia
assu m e pa rti cu l a r re l evâ ncia, uma vez que o n ú m e ro de titu l a res e m Po rtuga l até
1 580 e ra basta nte red u zi do5• Deste modo, se todos os titu l a res i nteg rava m o topo
d a n o b reza, este a ba rcava i g u a l m e nte os se n h o res d e terras, os d etento res dos
cargos su periores da a d m i n istração e dos ofícios m a i o res d o paço; ta lvez mesmo
ta m bé m os a l ca ides- m o res'.
Po r excl u são, os esca l ões i nfe rio res do g ru po n o bi l i á rq u ico i n corporava m
n u m e rosos i n d ivíd u os e g ru pos fa m i l i a res m a rg i n a l izados dos ofícios e d a s p r i n ­
c i p a i s d i st i n ções d a m o n a rq u i a . I ncl u ía m q u e r os ra mos seg u n dos dos g ru pos
fa m i l i a res d e se n h o res j u risd i c i o n a i s e a l g u m a s l i n h a g e n s m ed i eva is secu n d á ­
r i a s , q u e r os n o b res recé m fe itos. Os p ri m e i ros e r a m fi d a l g os e a s u a s u b a lte r n i ­
z a ç ã o decorria essenci a l m e nte da h i e ra rq u i a de fi l i ação e dos siste m a s de h e ra n ­
ç a s d o m i n a ntes; j á os seg u n dos não p e rte n c i a m à fi d a l g u i a e a s u a m a rg i n a l iza­
ção d evi a-se sob retu d o à o r i g e m soci a l dos p rog e n itores. E este facto r l i m itava­
l h es m a i s a a m p l it u d e das s u a s trajectó rias d e m o b i l i d a d e d e ntro do g ru po do
q u e n o caso das po p u l a ções de extracção fi d a l g a . Ass i m , a g ra n d e d ife re n ça e ntre
estes d o i s seg m e ntos i nfe r i o res d o g ru po n o b i l i á rq u i co p re n d i a-se com as neces­
s i d a d es d e reco n h ec i m e nto soci a l , o q u e i n centivava os n o b res n ã o fi d a l gos a
e n sa i a r estraté g i a s d e i nteg ra ção soci a l m a i s a g ressivas do q u e os d a fi d a l g u i a
secu n d á r i a . Co m u m a a m bos os seg m e ntos i nfe r i o res e ra a n ecess i d a d e d e
e n co ntra r v i a s d e serviço e co m e l a s d e p ro m oção soci a l . É co n h ecido q u e a
expa nsão u ltra m a ri n a co n stitu i u u m a i m po rtantíss i m a vá lvu l a d e esca pe pa ra
estas estratég ias, m a s h á q u e e ntra r ta m bé m em l i n h a de co nta com a poss i b i l i­
d a d e d e d i ve rsificação dos m e rcados de p restação de serviços. Exp l i co-me
m e l h o r, se as n ecess i d a d es d e serviço d a m o n a rq u i a e ra m c rescentes, a s g ra n d es
casas se n h o r i a i s ta m bém se assu m i ra m co m o atrae ntes pólos d e serviços, não
a p e n a s e m fu nção d a ca paci d a d e de re m u n e ração a utó n o m a que propici ava m ,
m a s ta m bé m p e l o poder d e m e d i ação q u e evi d e n ci ava m j u nto d a m o n a rq u i a .
' L u ís Fi l i pe O l ive i ra e M i g u e l J a s m i n s R o d ri g u es, " U m p rocesso de reestrutu ração do
d o m í n i o soci a l d a n o b reza . A titu l ação n a 2• D i n a sti a '; Revista de História Económica e Social,
n° 22, 1 988, p p . 77- 1 1 4 e J e a n Au b i n , " La n o b l esse titré s o u s D. J o ã o I I I '; Arquivos do Centro
Cultural Português, vo l . XXV I , 1 989, p p . 4 1 7-432 .
' M a fa l d a Soa res d a C u n h a , " Casas se n h o ri a is, e l ites po l íticas co l o n i a i s, m o b i l i d a d e soci a l ,
d i n â m icas soci a i s (sécu l o s XV-XVI I ) " i n J o s é J o bson Arru d a e L u ís Ad ão d a Fo nseca ( o rg . ) ,
Brasil-Portugal: História, agenda para o milênio, B a u ru/S . Pa u l o, E D U SC, 2001 , p p . 3 1 3-342 .
1 84
I bé r i a : Q u atroce ntos/Q u i n h e ntos
E m u lação, m ediadores e reconhecim ento socia l
Creio, ass i m , pod e r afi r m a r-se q u e a centra l i d a d e p o l ítica d a m o n a rq u i a n o
sécu l o XVI se refo rço u notori a m e nte, m a s q u e ta l fe n ó m e,n o n ã o co l i d i a e m a bso­
l uto com a pe rs istê ncia d e outros pó l os a utó n o m os d e poder, n o m e a d a m e nte
dos poderes se n h o r i a i s . Co m o d i ssera m o utros h i sto r i a d o res, as teo rizações
d o m i n a ntes sobre o bom g overno d a com u n i d a d e po l ítica ass i m o p rescrevi a m7•
E , co m o a l g u ns a uto res j á d e m o nstra ra m p a ra o utros te rritó rios e u ropeus, n ã o há
n ecessa r i a m e nte contra d ição p rática e nt re um e o utro fe n ó m e n o , u m a vez que o
sa l d o d a evo l u çã o do poder n o bi l i á rq u i co e d o poder rég i o n ã o era pensáve l
co m o i g u a l a ze ro; o mesmo é d i ze r, p o rta nto, q u e o refo rço dos d i s positivos d e
i nte rve nção e de contro l o p o l ítico d a m o n a rq u i a n ã o ti n h a q u e res u lta r d a espo­
l i ação de o utros g ru pos soci a is, e m p a rticu l a r d a n o b reza8• N o caso p o rt u g u ês
pa rece-m e ser este o caso, razão pela q u a l te n h o d efe n d i d o q u e a m o n a rq u i a não
só a d m it i u tra n q u i l a m e nte essa coex i stê ncia, co m o ch e g o u mesmo a contri b u i r
pa ra o fo rta l eci m e nto d o s i n stru m e ntos d e i nte rve nção pol ítica sobre o te rritó rio
d e a l g u m a d a s u a p r i n c i p a l a ristocracia9•
Três fe n ó m e nos s i m u ltâ neos, p o rta nto: a u m e nto n u m é ri co dos m e m b ros d o
g r u po n o bi l i á rq u i co, persistê ncia de re l eva ntes poderes se n h o r i a i s te rrito ri a l iza­
dos e p rog ressivo a l a rg a m e nto d a centra l i d a d e d a m o n a rq u i a e, p o rta nto, d a
co rte rég i a , n o m e a d a m e nte no q u e respeitava à j u stiça d i stri butiva e a o e n q u a ­
d ra m e nto j u d i ci a l .
C o m o boa p a rte d a p ro d u ção d i scu rsiva re l ativa a o sécu l o XVI e l u c i d a a b u n ­
d a nte m e nte - sej a a d o s a u to res coetâ neos, seja a l iteratu ra h i storiog ráfica - , ta l
situação g e ro u u m s i g n ifi cativo a u m e nto d a e m u l ação e ntre os m e m b ros dos
' Cf. p o r t o d o s Antó n i o M a n u e l H espa n h a , As Vésperas d o Leviathan. Instituições e Poder
Político. Portugal - séc. XVII, Coi m bra, Livra r i a Al m e d i n a , 1 994 ( e d . a uto r 1 98 6 ). U m a s íntese
s u g estiva e m Ana I s a b e l B u escu, D. João III, Lisboa, Círc u l o d e Leito res, 2005, pp. 1 8 1 - 1 85 o n de,
todavi a , se s u b l i n h a a e m e rg ê n c i a d e pro postas d i scu rsivas m e nos favo ráve i s à pa rti l h a de
p o d e re s .
•
R . Asch , " C o u rt a n d H o u s e h o l d fro m t h e F i ft e e n t h to t h e Seve nteenth Centu ries'; i n
R o n a l d G . Asch e Ad o l f M . B i rke ( e d s . ) , Princes, Patronage and the Nobility. The Court a t the
Beginning of the Modem Age c. 1450- 1 650, Oxfo rd, Oxfo rd U n i ve rsity Press, 1 99 1 , p p . 1 -38; o u
Alessa n d ro B a rbero, « Pr i n c i pe e N o b i l ità n eg l i Stati S a ba u d i : g l i C h a l l a nt i n Va l l e d 'A ostatra XIV
e XVI Seco l o n in C. M ozza re l l i ( e d . ) , " "Familia " de/ Príncipe e Famiglia Aristocratica, vo l . I , R o m a ,
B u l zo n i , 1 988, p p . 245-276.
9 M a fa l d a Soa res d a C u n h a , " N o breza, riva l i d a d e e c l i e nte l i s m o na p ri m e i ra m etade do
sécu l o XVI '; Penélope. Revista de História e Ciências Sociais, n° 29, 2003 (2006), pp. 33-48, espe­
c i a l m ente p p . 39-4 1 .
1 85
M afa l d a Soa res d a Cu n h a
d i ve rsos esca l ões d o g ru po n o bi l i á rq u ico p e l a p roxi m i d a d e a pote n c i a i s fo ntes de
d i stri b u i çã o de recu rsos. Desde logo e d e fo rma evi d e nte, pela conti g u i d a d e à
pessoa d o re i . Se essa â ns i a exp l i ca e m pa rte o c resci m.e nto d a co rte rég i a q u e os
conte m porâ n eos d e n u nci a m , e ra co n h ecido q u e o a cesso d i recto ao m o n a rca
constitu ía um privi l é g i o restrito, seg u n d o a cada vez m a i s e l a borada codifi cação
ceri m o n i a l co rtesã, pelo que a i nterm e d i ação se i m p u n h a co m o a via d e co m u n i ­
cação m a i s co rrente e ntre o rei e a com u n i d a d e po l ítica . O papel de m e d i a d o r
ass u me, ass i m , u m a re n ova d a i m po rtâ ncia no sécu l o XVI e j u stifica a m p l a m e nte
q u e r a co m petição pelas posi ções de va l i m e nto, q u e r o perm a n e nte cl i m a de
i ntriga q u e se vivia n a co rte.
Com efe ito, a posição soci a l d e cada um d e p e n d i a d o reco n heci m e nto rég i o
e este asse ntava n a ca paci d a d e q u e ca d a u m d i s p u n h a de i n stru m e nta l iza r a
i nfo rmação q u e ch egava ao m o n a rca e m benefício p r ó p r i o . Uti l izava m as fo rmas
d e co m u n icação usuais ( p resença física, req u e ri m e ntos, m e m o r i a is, ca rtas), mas
e ra m o ( o u os) a g e nte(s) que contro l ava m o fl uxo d essa com p l exa e p l u ra l rede
d e com u n i cações, q u e m deti n h a um papel fu l c ra l n o p rocesso decisório ; assu­
m i n d o fu n ções d e JJ n ó ( s ) d a red e ': Esta a topo l o g i a que exp l i ca , afi n a l , o e n o r m e
poder dos 'va l i d os'.
J á a com peti ção soci a l p o r recu rsos escassos - d eco rrente d o a u m e nto dos
serv i d o res d a m o n a rq u i a e d o ca rácte r p r o p o rci o n a l m e nte l i m ita d o dos bens
d i stri b u íve i s - a l i a d a a o fa cto d e a posição soc i a l d e ca d a um se ava l i a r e s e r ava­
l i a d a e m fu nção d o l u g a r que d eti n h a n a h i e ra rq u i a g l o b a l d a s h o n ra s j u stifi c a m
o a m bi e nte d e m a l ed i cê n c i a , os ru m o res e, p o r conseq u ê n c i a , os q u eixu m es e
as críticas q u e e nxa m e a ra m os textos dos se rvi d o res d a Co roa . E ra po nto de
h o n ra co n s i d e ra r que toda e q u a l q u e r reco m pensa a ufe r i d a e m res u lta d o d e ser­
viços p restados e ra i nsufi c i e nte e n ã o faz i a a d evi d a j u stiça n e m à q u a l i d a d e d a
pessoa e dos a ntepassa dos, n e m aos m é ritos dos seus d ese m p e n hos. U m d o s
m e i o s e n co ntrados p a ra u ltra passa r ta i s l i m itações e ra cada u m tenta r p roj ecta r
p u b l i ca m e nte esses atri butos. As e n co m e n d a s d e re l atos e o utras va r i a d a s fo r­
m a s de patrocín i o a rtístico ( m o n u m e ntos fú n e b res, p i ntu ra, a rq u itectu ra ) e o
a p o i o a vá rias i n stitu i ções re l i g i osas o u assiste n c i a i s e n q u a d rava m-se bem nes­
ses p ropós itos.
C o m o se d i sse a nte riormente, a geog rafi a d o poder perm itia a existê ncia d e
outros pó l os de d i stri b u i çã o de recu rsos p ró p rios. E ntre e l es co ntava m -se as
g ra n des casas se n h o ri a is, m u ito p r i n c i pa l m e nte a q u e l a s que se e ntro ncava m n a
fa m í l i a rea l , co m o as c a s a s dos i nfa ntes, a d e Avei ro o u a d e B ra g a n ça .
E n g l o bava-se ta m b é m neste g ru po a casa d o s m a rq u eses de Vi l a Rea l , vi sto ter
log ra d o a o l o n g o d a centú ria d e Quatrocentos acu m u l a r um s i g n ificativo vo l u m e
1 86
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
de bens. Pa ra m a is, em vi rtude do l u g a r soci a l de n a sci m e nto, os seus titu l a res
d eti n h a m u m a acess i b i l i d a d e privi l e g i a d a a o rei e aos ó rgãos p a l at i n as . N u m
a m b i e nte d e recu rsos escassos, este co nj u nto d e predic9dos to rn ava a s u a p ro­
x i m i d a d e a petecíve l , pelo q u e estrutu ra ra m i m po rta ntes redes de d e p e n d e ntes.
Pa rti l h ava m , todavi a , o siste m a soci a l d e referências si m bó l icas p e l o q u e, mesmo
e l es, estava m co m p e l i dos a ze l a r pela p reservaçã o dos signos d a s u a p ró p ri a pri­
m a z i a , d e modo a que essa p roe m i nência fosse evi d e nte p a ra todos e p o r todos
respeita d a .
Reputação e autoridade. A actividade construtiva
Qu a l i d a d e e m e reci m e ntos d evi a m , pois, ser visívei s . N esse senti do a " g eo­
g rafi a espaci a l " do te m p o ceri m o n i a l o bedecia à " g e o m etria d a a uto ri d a d e " 10•
M a s n ã o s ó . A a uto r i d a d e devia espe l h a r-se e m todo o a m b i e nte vivenci a l . O q u o­
t i d i a n o dos se n h o res d evi a , por i sso, t ra d u z i r a posição soci a l q u e d eti n h a m o u
q u e q u ereri a m v e r reco n heci d a . N essa pers pectiva os l u g a res de res i d ê n c i a , o
esti l o d e v i d a , a d i m ensão dos séq u itos, as h o n ras e d i sti n ções q u e a ufe ri a m
d evi a m patentea r, s e m so m b ra d e e q u ívocos, o respectivo estatuto soci a l . Ta l
ocorreu ta nto no sécu l o XV, q u a nto no sécu l o seg u i nte, e m bora se possa m
e n co ntra r d ife re nças s i g n ificativas e ntre a s d u as centú rias q u e se p re n d e m com
a evo l ução d o s i ste m a pol ítico. Expl i co- m e m a i s c l a ra m e nte, a pa rti r d e a l g u ns
exe m p los e l uci dativos.
Ficou perfeita m e nte esta b e l ecido por José C u stó d i o Vi e i ra d a S i lva que a
centú ria d e Quatroce ntos assist i u a u m a i ntensa acti v i d a d e construtiva patroci­
nada pela casa rea l d e Avi s - rei e i nfa ntes - e pela casa de B ra g a n ça 11 • Ou sej a ,
e m b o ra e m posi ções d i ve rsas, esta s casas, l i ga d a s por estreito pa rentesco, l i da­
va m com p ro b l e m a s a o n íve l d a afi rmação d a s u a leg iti m i d a d e . A casa rea l e m
fu nção d a s co n d i ções específicas d a s u a recente to m a d a de poder; a c a s a s e n h o ­
ri a l B ra g a n ça pela o r i g e m i g u a l m e nte recente e a i n d a pouco co nso l i d a d a do s e u
i m enso e d i sperso poderio territoria l . Ta lvez fosse e s s e o p ri n c i pa l m otivo pelo
q u a l , quer o m o n a rca e os i nfa ntes, quer os B ra g a n ça promovera m a co n stru çã o
( o u re m o d e l açã o ) d e n u m e rosas res i d ê n c i a s n o te rritó rio q u e sen h o reava m ,
em bora sej a ta m bé m a d m i ss ível reco n_h ece r n esse afã d o s B ra g a n ça u m a d i m e n ­
são d e concorrência co m os m e m b ros da c a s a rea l d a q u a l d esce n d i a m p o r l i n h a
1 ° C a r m e l o Lisón To l o s a n a , L a lmagen de/ Rey (Monarquía, Realeza e Poder Ritual en la
Casa de los Austrias), M a d r i d , Espasa C a l pe, 1 99 1 , p. 1 45 .
11
Pa ra estas matérias s i g o José C u stó d i o Vi e i ra d a S i lva, Paços Medievais Portugueses,
Lisboa, I P PAR, 1 995, p p . 1 1 9- 1 97.
1 87
M afa l d a Soa res d a Cu n h a
basta rd a . É c l a ro q u e n esta p rática i nte rv i e ra m o utros facto res, e ntre o s q u a i s a
recepção d a s n ovi d a d es e u ropeias sobre a m o n u m e nta l i d a d e dos paços rég ios e
se n h o ri a i s e a va l o rização do confo rto. N ã o d e ixa, co.ntu do, d e ser s i g n ificativo
q u e os l u g a res d e ed ificação desses n ovos paços se te n h a m d i ssem i n ado p e l o
te rritó rio e, m a i s co ncreta m e nte, q u e m u itos d esses paços te n h a m to m a d o
asse nto e m vi l a s q u e d ava m n o m e aos se n h o rios co m títu l os n o b i l i á rq u i cos.
Vej a m-se os casos de G u i m a rães, B a rcelos e O u ré m pa ra o g ru po fa m i l i a r dos
B ra g a n ça , pese e m b o ra n ã o esg ota re m a s u a a ctivi d a d e co nstruto ra d e res i d ê n ­
cias, ta m bé m co ncretizada no caste l o de Po rto d e M ós, por exe m p l o . De u m ra m o
col ate ra l d os B ra g a n ça - D . Afo nso, bispo d e É vo ra, e fi l h o natu ra l de D. Afo nso,
co n d e de O u ré m e m a rq u ês d e Va l e nça, fi l h o p r i m o g é n ito do 1 o d u q u e de
B ra g a n ça - co n h ece-se a "veia ed ifica d o ra " co nsu bsta nciada e m be nfeito rias n a
sé e vá rios paços d a m itra e b o rense ( Q u i nta d a M itra, Po rtei e So b ra i d e M o nte
Ag raço) ou e m paços privados co m o o q u e a ctu a l m e nte é co n h ec i d o por p a l á c i o
d o Vi m i oso e a q u i nta d e recrei o d a Se m p re N o i va12•
Sa be-se i g u a l m e nte que este g ru po fa m i l i a r dos B ra g a n ça (to m a d o d e fo rma
a l a rg a d a ) patroci n o u outro ti po d e o b ras n a s s u a s terras, co m o é o caso do a po i o
à e l evação de co nventos e i g rejas d e q u e se p o d e cita r co m o exe m p l o a
Co l e g i a d a d e O u ré m , s u p o rta d a por D . Afo nso, co n d e de O u ré m 1 3 o u as q u e fo ra m
a p o i a d a s p e l o seu fi l h o i l eg ít i m o bispo d e É vo ra14•
Mas este cl i m a d e com petição o bj ectivado e m p rog ra mas construtivos
esteve l o n g e d e ser exc l u s i vo do sécu l o XV, d a m o n a rq u i a o u d a sua a ristocracia
l a i ca . Soci o l o g i ca m e nte a b ra n g e u quer os g ra n des se n h o res eclesiásticos, q u e r
estratos m e n o s g rados d a n o b reza . Pa ra a h i e ra rq u i a d a I g rej a , a po ntou-se j á o
caso de D . Afo nso, bispo d e É vo ra , m a s poder-se-i a m cita r o utros exe m p los,
co m o os do a rcebispo D . Diogo de Sousa e m B raga15 o u do bispo D . M i g u e l da
S i lva e m Vi seu16• Pa ra o utras ca m a d a s d a n o b reza , J. C . Vi e i ra d a S i lva exp l i cou
que ta m bé m o utras co n struções res i d e n c i a i s n o b res q u atroce ntistas se podem
i n sc reve r n este p rocesso d e e m u lação soci a l , pese e m bora a d ificu l d a d e e m as
" Joaq u i m O l i ve i ra Caeta no, Sombras.e alguma luz sobre o bispo D . Afonso d e Portugal, sep.
Eborensia. Revista do Instituto Superior de Teologia de Évora, a n o XI, 2006, n° 38, pp. 1 57- 1 63 .
1 3 Pa u l o Pere i ra , "As g ra n d es e d i fi cações ( 1 450- 1 530 ) " . . , op. cit. p.
.
14 J o a q u i m O l i ve i ra Caeta no, Sombras e alguma luz . . . , p . 1 57.
1 5 R u i M a u rício, O mecenato de D. Diogo de Sousa, Arcebispo de Braga ( 1 501- 1532): urba­
nismo e arquitectura, 2 vo l s . , Le i ri a , M a g no, 2 0 0 0 .
1 6 Rafa e l M o rei ra , " U m a Corte B e i r ã : D . M i g u e l d a S i lva e o Paço d e Fo nte l a '; Monumentos,
1 3, 2 0 0 0 , p p . 82-9 1 .
1 88
'
I bé ri a : Quatroce ntos/Qu i n h e ntos
i d e ntifi ca r co m p recisão, u m a vez q u e os vest íg i os de g ra n de pa rte d esses edifí­
cios se perdera m no te m p o .
Do po nto d e vi sta cro n o l ó g i co, o uso d e patroci n a r .e difi cações e, e m p a rti­
cu l a r, o de c ri a r o u benefi c i a r estrutu ras res i d e n c i a is, p ro l o n g o u -se pelas centú­
rias seg u i ntes, afi rm a n d o-se co m o uma p rática estrutu ra l e estrutu ra nte de p ro­
jecta r a re p utação soci a l . Os estudos dos h i stori a d o res d a a rte são pa rticu l a r­
m e nte i n strutivos a esse respeito e ofe rece m-nos u m a q u a nt i d a d e e va ried a d e
g ra n d e d e exe m p l os a o l o n g o dos vá rios sécu los.
S i ntetiza n d o : a d i s p e rsão g eog ráfica dos i nvesti m e ntos rea l izados co i n c i ­
d i a , n u m p ri m e i ro m o m e nto, com a g eo g rafi a se n h o r i a l dos co m itentes,
e n q u a nto, d e p o i s , a a cti v i d a d e d e patroc ín i o a rq u itectó n i co t e n d e u a c i rcu ns­
creve r-se g e o g rafi ca m e nte, n u m m ovi m e nto centrípeto que co ncentrava os
i nvest i m e ntos n a s sedes d o s s e u s se n h o ri o s e/o u n o l o ca l d e res i d ê n c i a por
e l es p rivi l e g i a d o o u que a co m p a n h ava a red u çã o d a iti n e râ n c i a d a corte rég i a 1 7
a t é à s u a p ro g ressiva fixa ção e m L i s b o a 18• Deste m o d o , a p ro l o n g a d a estâ n c i a
dos re i s e m É vo ra, atra i u pa ra essa c i d a d e u m a s é r i e d e i nvesti m e ntos const r u ­
t i vos d e casas se n h o r i a i s q u e a pe n a s p rete n d i a m ter i n sta l a ções co n d i g n a s
p e rto d a co rte. Fo i u m a situ a çã o q u e o b r i g o u a o desd o b ra m e nto d o s i nvest i ­
m e ntos, p o i s g ra n d e p a rte d estas c a s a s j á poss u ía m res i d ê n c i a s e m L i s b o a ,
q u e, a pesa r d e t u d o , i a s o b ressa i n d o co m o a p r i n c i p a l sede d a co rte rég i a . E sta
b i p o l a ri d a d e da co rte fo i , todavi a , b reve . Desse m o d o , se m u itas d a s casas
se n h o r i a i s m a ntivera m , depois, ed ifícios e m É vo ra, fora m g ra d u a l m e nte d es­
l eixa n d o a s u a m a n ute nção, e m s i n a l c l a ro da i rrel evâ n c i a q u e estes passa ra m
a ter n a eco n o m i a d a rep resentação dos s e u s titu l a res. Deste m o d o , ta l c o m o
os m o n a rcas, os g ra n d es titu l a res n o sécu l o XVI ci rcu l a ra m m e n o s , d e i xa n d o
" Lu ísa Fra nça Luzío tem v i n d o a dese nvo lve r u m a i nterpreta ção, q u e s e espera v i r a s e r
co m p rova d a n a s u a d i ss e rtação d e doutora m e nto, q u e refo rça e s t a pers pectiva e s u rg e e n u n ­
c i a d a n o s e u texto , " D . Antó n i o , 1 ° c o n d e d a Casta n h e i ra e o patrocín i o d e a rq u itectu ra a o
romano na p ri m e i ra m etad e d o sécu l o XVI " i n O . João III e o Império. Actas d o Congresso
Internacional comemorativo do seu nascimento, Lisboa, CHAM-CE PCE P, 20 04, p p . 1 01 3- 1 046.
Co n s i d e ra essa h i sto ri a d o ra q u e , p a ra a l é m
�a
ed ificação nos seus s e n h o rios, a d e m a i s geo­
. .
g rafi a d a activi d a d e co nstrutiva d e D . Antó n i o d e Ata íde torna " be m vi síve l [ . ] a s i m et r i a exis­
te nte e ntre a d i s persão d este t i p o d e construções h a bitaci o n a i s e d e recrei o e a s desl ocações
sazo n a i s d a co rte q u i n h e nti sta " (p. 1 03 1 ) .
'" Para a co i n ci d ê n c i a e ntre o loca l d e res i d ê n c i a p referenci a l d o s titu l a res e a sede seden­
tarizada d a co rte rég i a após a Resta u ração d e 1 640 cf. N u n o G . M o ntei ro, O Crepúsculo dos
Grandes. A Casa e o Património da Aristocracia em Portugal ( 1 750- 1832), Lisboa, I m p re n sa
N a c i o n a l , 1 998.
1 89
M afa l d a Soa res d a Cu n h a
d e p e rcorrer t ã o reg u l a rm e nte co m o o utrora a s terras m a i s d i sta ntes d a s sedes
d o s seus se n h o ri o s .
Com efe ito, os titu l a res d e casas co m j u risd i ções. m a i s a ntigas te n d e ra m a
p rivi l eg i a r n o sécu l o XVI os i nvest i m e ntos construtivos n a s sedes dos respectivos
se n h o rios q u e m u itas vezes co i nc i d i a m com a m o ra d a d o m i n a nte. Os Ave i ro em
Azeitão, os Ca nta n h ede e m Ca nta n hede, os Vi l a Rea l e m Lei ri a , os Castro em
É vo ra'9, os co n d es d e Te ntú g a l - m a rq u eses d e Ferre i ra ta m bé m e m É vo ra ou em
Á g u a d e Peixes (Aivito)20, os B ra g a n ça e m Vi l a Viçosa .
Uti l i za n d o o exp ressi vo exe m p l o d a casa d e B ra g a n ça pode afi rm a r-se q u e
a m a rca b r i g a nti n a estava d i ssem i n a d a u m p o u co p o r toda a Vi l a Viçosa , vi l a q u e
desde o i n ício do sécu l o XVI fo i esco l h i d a co m o sede d o d u ca d o e res i d ê n c i a
p e rm a n e nte dos d u q u es . Os p r i n c i p a i s ed ifícios u rba n os b e n efi c i a ra m do patro­
cín i o d u ca l , tivessem e l es fi n s re l i g iosos (os p e l o m e n o s sete co nventos e m os­
tei ros - q u at ro m a scu l i nos e t rês fe m i n i n os e a s co n stru ções o u refo rm u l ações
das i g rej as pa roq u i a i s d e N ossa Se n h o ra d a Conceição e d e S . B a rto l o m e u ) ,
assiste n c i a i s ( o h o s p ita l , a Casa d a M i sericórd i a e o Co l é g i o d o s Ó rfã ós), d a
a d m i n i stração se n h o ri a l (ca d e i a , c a s a d a o u v i d o r i a e a ço u g u e ) o u d e a ctivi d a d es
eco n ó m icas (fo r n o d e vi d ro e e n g e n h o d e p a p e l ) . S i nto m atica m e nte, m u itos
d estes ed ifícios estava m assi n a l a dos com o m o n o g r a m a o u o escudo d u ca l ,
asseg u ra n do, assi m , a v i s i b i l i d a d e d o s e u patrocín i o21 • Os d u q ues co nced i a m ,
i g u a l m e nte, ve rbas pecu n i á ri a s a o s s e u s cri a d os, exp ressa m e nte d esti n a d a s a
a uxíl i o n a co m p ra o u n a s o b ras d e i m óveis p a ra m o ra d a e m Vi l a Viçosa . A fixa­
ção d a co rte d u c a l , a par d essa d i s po n i b i l ização d e verbas, co ntri b u i u p a ra a p ro­
fusão d e casas n o b res e m a rcou d efi n itiva m e nte a estrutu ra d o seu traça d o
u rb a n o . D o i s p roj ectos do d u q u e D . Teo d ó s i o I n ã o co n c retizados - tra n sfe rê n c i a
d a co l e g i a d a d e O u ré m p a ra Vi l a Viçosa e c r i a ç ã o d e u m a U n ivers i d a d e d e
1 9 J o a q u i m O l i ve i ra Ca eta n o e José A l b e rto S e a b ra d e Ca rva l h o, Frescos Quinhentistas do
paço de S. Miguel, É vora, I n stituto de Cu ltu ra Va sco Vi l a 'A iva, 1 998.
20 Tú l i o Espa nca, Duques de Cadaval, Cadernos d e H i stória e Arte E b o re n ses, XXI , 2 • e d . ,
É vo ra, 1 999.
" Esta p rática seg u i a o u s o que se � i s se m i n a ra e m fi n a i s do sécu l o XV d e os reis e os '
m e m b ros da fa m íl i a rea l a po re m os s e u s e m b l e m as e sím b o l os h e r á l d icos nos e d i fícios q u e
patroci nava m , m e s m o no i nt e r i o r d a s i g rej a s . J . C. Vi e i ra d a S i lva i nterpreta-o como afi rmação
do p o d e r m o n á rq u i co e "de uma nova i m a g e m d a pessoa rea l ': Cf. J . C. Vi e i ra d a S i lva, "A i m p o r­
tâ n c i a da G e n e a l o g i a e da H e rá l d i ca na represe ntação a rtística m a n u e l i n a " i n A Arte na
Península Ibérica ao Tempo do Tratado de Tordesilhas. Actas do Colóquio, Lisboa, C N C D P, 1 998,
pp. 485-533. Será esta u m a p rática q u e se d ifu n d e e ntre os d ife rentes esca l õe s d a n o b reza q u e
ass i m s i n a l iza p u b l i ca m e nte o s s i g n os d a s u a l i be ra l i d a d e e p o d e r.
1 90
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Est u d os G e ra i s22 - co nstit u e m outras d e m o n strações do mesmo i nte resse d u ca l
n a p roj ecçã o d a sede d o se n h o ri o23•
Não s i g n ifica isto, evi dentemente, o a b a n d o n o do pat,rocín i o e m o utras te rras
dos seus se n h o rios q u e , sa be-se bem, se ma nteve, em bora ta lvez de fo rma m a i s
ate n ua d a24, mas a penas u m a tendência de co nce ntração q u e vi sava maxi m izar a
s u a reputação nos espaços o n d e o espectácu l o do seu q u oti d i a n o se dese n ro l ava .
Este p rocesso de conce ntração geog ráfica dos i nvesti m e ntos e nt revê-se
desde fi n a i s da centú ria de Qu atrocentos e acentu a -se na de Qu i n h entos. E , em
m i n h a o p i n i ã o, exp ressou-se co m m a i o r acu i d a d e e ntre as casas s e n h o r i a i s m a i s
p roem i n e ntes, m a i s a ntigas e m a i s co nso l i d a d as, do q u e n a q u e l a s q u e vivi a m
traj ectó rias asce n d e ntes. Exp l i co-m e m e l h o r. U m a vez q u e o ti po de ed ificações
q u e atrás se refe r i u se desti nava a d isse m i n a r pelos se n h o rios m a rcas i n eq u ívo­
cas das o ri g ens, dos fe itos e d a l i bera l i d ade, n u m a p a l avra, do poder dos seus
d o n atários, a q u e l es que senti a m m a i o r n ecess i d a d e d e afi r m a r os s i g nos do seu
poder j u risdicio n a l so b re o co nj u nto dos seus te rritó rios e ra m a q u e l es que os
d eti n h a m h avia pouco . O estudo de Lu ísa Fra nça Luzia sobre D . Antó n i ó de
Ata íde, 1 o co n d e d a Casta n h e i ra , d e m o n stra-o sem so m b ra pa ra d úvid as25•
Tra ba l h os si m i l a res pa ra outras ca sas em ascensão nos i n ícios do sécu l o XVI ,
co m o a dos G a m a26 o u d o s Sorte l h a , co nfi rm a ri a m certa m e nte essa p rática q u e
22
E ste ú lt i m o p roj ecto ao q u a l se ch e g a ra m a consi g n a r a l g u ns p rove ntos e c l e s i á sticos
aca b o u p o r ter u m a confi g u ração basta nte mais m o d esta n o C o l é g i o dos R e i s .
23 P a r a t o d o s estas ed ificações cf. M a fa l d a Soa res d a C u n h a , A Casa d e Bragança. 1 5601 640. Práticas senhoriais e redes cliente/ares, Lisboa, E sta m p a , 2000, p p . 1 73- 1 77 e b i b l i o g rafia
a í i n d i c a d a , e m q u e c u m pre destac a r o doss i e r d a revi sta Monumentos d e d i c a d o a Vi l a Viçosa,
n o n° 6 d e 1 997. Esta temática fo i rece nte m e nte a p rofu n d a d a n u m o utro doss i e r s o b re Vi l a Viçosa
na mesma revista Monumentos, n o 27, 2007.
24 C o m o m e ro exe m p l o de a l g u n s dos patrocín i o s b r i g a nti nos d i sp e rsos p e l o seu s e n h o­
rio rel ativo a o rd e n s re l i g iosas: convento de S. Fra n c i sco e m Ch aves, convento do B o m J es u s
do M o nte Fra n q u e i ra e m B a rce los, convento d o Bosq u e e m Bo rba, Co nvento d e Sa nto Antó n i o
d a P i e d a d e e m Po rte i , convento d e S . Fra ncisco e m Arra i o l os, Co nvento d e N ossa S e n h o ra d a
C o n c e i ç ã o e m B ra g a nça; o u a i n stitu i ções assiste n c i a i s : M isericórd i a e H os p ita l d e Arra i o l os, de
. .
Po rte i , M o nfo rte, Alter do C h ã o . Cf. M a fa l d a Soa res d a C u n h a , A Casa de Bragança. 1 560- 1 640 . ,
p p . 360-373 .
25
Lu ísa Fra nça L u z i o, " D . Antó n i o, 1 o c o n d e d a Casta n h e i ra e o patrocínio de a rq u itectu ra
ao romano . . . ::
26
C o mo s i m p l es exe m p l o d este t i p o d e estraté g i a , vej a-se o esforço construtivo d e Vasco
d a G a m a e m S i n es, q u a n do te ntava g a ra nti r o s e n h o r i o dessa vi l a : em p o u cos a n os ( 1 503- 1 507)
patroci n o u " s u m ptuosas res i d ê n c i a s p a ra s i e [ . . . ] a construção d a e r m i d a d e S ã o G i ra l d o e
N ossa S e n h o ra d a s S a l a s " i n Sanjay S u b ra m a nya m , A Carreira e a Lenda de Vasco da Gama,
Lisboa, C N C D P, 1 998, p . 280.
1 91
M afa l d a S o a r e s da C u n h a
se pode, ta lvez, até este n d e r pelos i n ícios d o sécu l o XVI I pa ra as casas e m a n á ­
l o g o p rocesso d e i m p l a ntação territo ri a l .
Qua nto aos outros m e m b ros d estaca dos d a fi d a,l g u i a d e Qu i n h e ntos ( ma s
q u e n ã o p e rte n ci a m a o g ru po d a n o b reza titu l a r) constata-se q u e a p l icara m u m a
estratég i a si m i l a r à d a s g ra n des casas a ri stocráticas atrás refe r i d a , e m bora c o m
fu n d a m e ntos d i sti ntos . N estes casos, fo ra m os recu rsos m a i s escassos pa ra a
p roj ecçã o d a s respectivas reputações q u e l i m ita ra m as poss i b i l i d a d es d e i nvesti­
m e ntos, p e l o que estes te n d e ra m a ser a p l icados n o l oca l de res i d ê n c i a que co i n ­
c i d i a p ratica m e nte c o m a s terras q u e se n h o riava m . Ass i m , pese e m bora estes
i nvest i m e ntos seg u i re m a mesma l ó g i ca de afi rmaçã o soci a l e usa rem u m a ti po­
l o g i a si m i l a r - construção d e paço res i d e n ci a l , j a rd i ns, ca p e l a , m o n u m e ntos fú ne­
b res - são d e a m p l itude m u ito mais l i m ita d a . O cl i m a de m o b i l i d a d e asce n d e nte
e d e e m u l a çã o q u e se viveu n a centú ria d e Qu i n h e ntos m u lt i p l icou estes casos,
torn a n d o vi rtu a l m e nte i m possível e n u m e ra r todas essas situ a ções'7•
A a b u n d a nte l ite rat u ra h i storiog ráfi ca espa n h o l a so b re estes te m a s a p re­
senta-nos um p a n o ra m a m u ito sem e l h a nte pa ra a a ri stocra c i a caste l h a n a : Ra ros
e r a m os titu l a res q u e não e m p re e n d e ra m ca m p a n h as d e o b ras nos seus s e n h o ­
rios e, e m p a rticu l a r, n a s s e d e s dos m e s m os, sej a p e l o a l a rg a m e nto dos s e u s
espaços res i d e n ci a i s, construção d e ca p e l a s e m o n u m e ntos fu n e rá ri os, sej a p e l o
patrocín i o a i n stitu i ções re l i g i osa s'8• Ta l co m o e m Po rtu g a l , ta m bé m e l es tende­
ra m a m a n d a r ed ifica r paços n a s c i d a des onde a co rte costu m ava esta nci a r
(veja-se a osc i l ação d e Va l h a d o l i d pa ra M a d ri d ) e fo ra m e m u l a n d o as p ráticas d e
re p resentação dos estratos ci m e i ros d o g ru po, ta nto q u a nto, p o r s e u tu rno, estes
" A s i stem atização destes casos é basta nte co m p l icada pois, e m b o ra os h i stori a d o res da
a rte nos bri n d e m reg u l a r m e nte com n ovos est u d os, estes te n d e m a esta r d is p e rsos por a ctas
d e colóq u i o s o u revistas locais; conti n u a , p o r i sso, a fazer um catá l o g o seg u ro dos paços q u i ­
n h e nti stas e s u a evo l u çã o , pese e m bora a l g u m a re l evante i nfo r m a ção esta r d i s p o n ível na base
d e dados www. m o n u m e ntos.pt da respo n sa b i l i d a d e da a nt i g a DG E M N , hoje I H R U .
2 8 C o m o exe m p l o s possíve i s , c f os est u d o s d e J u a n M a n u e l M a rtín G a rcía, Arte y
Diplomacia en e/ Reinado de los Reyes Católicos, M a d ri d , Fu n d a c i ó n U n i v e rs itá r i a E s p a n o l a ,
2 0 0 2 ; M e rcedes S i m a l López, L o s conde � -duques d e Benavente e n e/ siglo XVII. Patronos y '
coleccionistas en su vil/a solariega, B e n avente, Ce ntro d e Estu d i o s B e n aventa n o s " l ed o D e i
Pozo " ( C E C E L-CS I C ) , 2 0 0 2 ; S a n t i a g o M a rt í n e z H e r n á n dez, Obras . . . q u e hazer para entrete­
n erse. La arquitectura en la cultura nobiliario-cortesana dei Siglo de Oro: a propósito dei mar­
qués de Velada y Francisco de Mora, s e p . Anua rio dei Departamento de Historia y Teoria dei
A rte ( UA M ) , vo l . XV, 2003; B e g o n a A l o nso, M a ri a C r u z de C a r l o s e Fe l i p e Pe r e d a , Patronos Y
coleccionistas. Los condestables de Castilla y e/ arte (siglas XV-XVII), Va l l a d o l i d , U n iversi d a d e
d e Va l l a d o l i d , 2 0 0 5 .
1 92
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
m i m etizava m os co m po rta m e ntos d a m o n a rq u i a . Vej a-se, por todos, B e g o rí a
Alo nso q u e, a p ro pósito dos Ve l a sco n u m texto a o q u a l d e u o e l oq u e nte títu l o
Arquitectura y arte ai servicio de/ poder afi rm o u : " La a rq u jtect u ra servia ento n ces
a los fi nes po l íticos de asenta m i e nto y d o m í n i o se rí o r i a l ; e l m o d e l o d e i m p l a nta­
ción te rrito ri a l a t ravés d e a l caza res, to rres y casas fu e rtes se h a b ía este n d i d o por
todos sus d o m í n i os [ . . ] sus fo rta l ezas e n las v i l l a s d e Frias, B e l o ra d o , Ped raza,
Vi l l a pa n d o o B rivi esca res p o n d e n ai m is m o o bj etivo de i m p l a ntaci ó n s e rí o ri a l a
t ravés d e i poder s i m bó l i co de l a a rq u itectu ra "29•
J á a d i scussão e ntre os h i sto r i a d o res d e a rte s o b re a s t i p o l o g i a s co nstrutivas
e a rece pção d e d i sti ntas i nfl u ê n ci a s est i l ísticas nos p rog ra m a s a rq u itectó n i cos
tem por p a n o de fu n d o d o i s d e bates i nte r l i gados. Um p ri m e i ro, q u e a co l h e ta m ­
bém contri butos de o utras á reas de estudo, n o m ea d a m e nte sobre as p ráticas
co l ecci o n i stas d a n o b reza, e se p re n d e com a exi stê n c i a , o u não, d e u m a certa
i d e n t i d a d e cu ltu ra l do g ru p o n o b i l i á rq u i co . U m o utro, m a i s a b ra n g ente, q u e p re­
te n d e a q u i l ata r as ca racte rísticas e/o u a seg m e ntação soci a l dessa i d e n t i d a d e cu l ­
tu ra l através d a a n á l ise e d escod ificação d o ti po d e co nsu m os . N esta d ú p l a
ó ptica, esta l ite ratu ra h i storiog ráfica t e m ava l i a d o o n ível cu ltu ra l do g ru po a p a r­
ti r d e crité rios fo rma l i stas q u e ava l i a m os co n s u m os d a n o b reza e m fu nção d a
m o d e r n i d a d e do gosto a ri stocrático por co m p a ração co m a s co rre ntes estéticas
dos p ó l os de va n g u a rd a e u ro p e i a ; d a resi stê ncia o u a b e rtu ra às i n ovações; d a
q u a l i d a d e estética d o mecen ato; d o vo l u m e dos i nvest i m e ntos cu ltu ra i s . E m
Espa n h a e, e m b o ra co m o m e n os i nte n s i d a d e, ta m bé m e m Po rtu g a l , este d e bate
tem v i n d o a a ssoci a r-se à refl exã o so b re os recu rsos d e p ropaga nda e l e g it i m a ­
ç ã o d o poder das coroas i béricas o n d e os a uto res a n a l isa m exte nsiva m e nte as
a rticu l a ções e ntre a rq u itectu ra , e n co m e n das, co l ecci o n i s m o e d i scu rsos n o
refo rço d o poder m o n á rq u i co30• A o mesmo te m po, o ca m po d e i nte resses tem
.
29 B e g o n a Alonso, "Arq u itect u ra y a rte a i s e rv i c i o d e i poder. U n a v i s i ó n s o b re l a Casa d e
Ve l asco d u ra nte e l s i g l o XVI " i n B e g o n a Alo nso, M a ri a C r u z d e C a r l o s e Fe l i pe Pere d a , Patronos
y coleccionistas . . , pp. 1 2 1 -206 (cit pp. 1 25- 1 26 ) .
3 0 A p r o d u ç ã o é extraord i n a ri a m e nte vasta e i m possível d e s i ntet i z a r n estas ci rcu nstâ n c i a s .
.
A p e n a s p a ra d a r u m a i d e i a d a v a r i e d a d e d i sci l? l i n a r d o s contri butos cf. os d iversos t ra b a l h o s d e
Fe r n a n d o C h eca C re m a d es, e ntre os q u a i s J o s é M i g u e l M o r á n Tu ri na e Fern a n d o C h eca
C re m a d es, E/ coleccionismo en Espana: de la cámara de mara vil/as a la galeria de pinturas,
M a d ri d , Cáted ra, 1 985, Fe r n a n d o Ch eca Cre m a d es, " Fe l i pe 1 1 e n E l Escori a i : l a re p resenta c i ó n d e i
p o d e r rea l " , Anafes d e historia de/ arte, W 1 , 1 989, p p . 1 2 1 - 1 40 o u i d e m , Pintura y escultura dei
. . .
Renacimiento en Espana, M a d ri d , Cáted ra, 1 999; C a r m e l o L i só n To l os a n a , La lmagen de/ Rey ;
os n u m e rosos e i m po rta ntes estudos de Fe r n a n d o Bouza Alva rez, d e m a s i a d o s p a ra a q u i e n u ­
m e r a r ( cf. http://d i a l net. u n i ri oja . e s/se rvl et/b u squ e d a d o c ? d b - 2 &t - fe r n a n d o+ b o u z a &td ) ; J o s é
1 93
M afa l d a Soa res d a C u n h a
vi n d o a ser a l a rgado, p e l a i n se rção e m p ro b l e m áticas m a i s g e ra i s q u e se p re n ­
d e m com a d ifu são e ci rcu l ação dos m o d e l o s cu ltu ra is, e m senti do a m p l o , com
i nte ressa ntes desd o b ra m e ntos sobre os ca n a i s e os a g e ntes dessas i rra d i ações.
A acção dos d i p l o m atas tem v i n d o a ser s u b l i n h a d a , d e m o n stra n d o-se que se
constitu íra m co m o veícu los fu n d a m e nta i s d a re novação a rtística e cu ltu ra l , fos­
sem e l es de o r i g e m eclesi ástica ou n o b re . Dada a d i spersão re i n íco l a d a
M o n a rq u i a Cató l ica, os vice-reis e g ove r n a d o res dos d i sti ntos d o m ínios d o s
H a bs b u rgos i bé ricos assu m i ra m i d ê ntico papeP' .
Reputação e autoridade. Consu mos e colecções
N este e m a ra n h a d o tem ático, u m dos tó p i cos q u e tem s i d o basta nte a n a l i­
sado, refe re-se às b i b l i otecas . N ã o o bsta nte, poderem ser estu d a d a s no q u a d ro
m a i s a l a rgado d a actividade co l ecci o n i sta , exi g e m a l g u m a s caute l a s a n a l íticas,
n o m e a d a m e nte n o que res peita à co m p a ra b i l i d a d e e ntre os sécu l os XV e XVI ,
fu n d a d a s n a d ifusão d o l iv ro i m p resso e n a própria h etero g e n e i d a d e d a q u a l i ­
d a d e d o s i nventá rios d i s p o n íve i s . I m po rta, p o r i sso, s u b l i n h a r a e n o rm e d i scre­
p â n c i a do vo l u m e d e t ra b a l hos s o b re o tema e m Po rtu g a l e e m Espa n h a32, q u e ,
e m pa rte, se exp l i ca pela m a i o r ra ri d a d e d este tipo d e i nve ntá rios e m Po rtu g a l .
Apesa r d i sso, u m d e n o m i n a d o r razoave l m e nte co m u m destes m ú lti p l os, e à s
M a n u e l N i eto S o r i a , " Propa g a n d a a n d Leg iti m a t i o n i n Casti l e : Re l i g i o n a n d C h u rch , 1 250- 1 5 0 0 "
i n Al l a n E l l e n i u s (ed . ) , /conography, Propaganda and Legitimation, Oxfo rd, E u ro p e a n Sci e n ce
Fo u n d at i o n - C i a r e n d o n Press, 1 998, p p . 1 05- 1 1 9 .
3 ' S e m q u a l q u e r p rete nsão d e esg ota r os n u m e rosíss i mos est u d o s d i s po n íveis s o b re i nter­
.
.
m e d i á ri o s cu ltu ra i s cf. J u a n M a n u e l M a rtín G a rcía, Arte y Diplomacia . ; M a ri a Cruz d e Carlos,
"EI VI C o n d esta b l e de Casti l l a , col ecci o n i sta e i ntermed i a ri a d e e n ca rgos rea l es ( 1 592- 1 6 1 3 ) " in
Arte y Diplomacia de la Monarquía Hispánica en e/ siglo XVII, M a d ri d , Fe r n a n d o Vi l l averde
E d i c i o nes, 2 0 03, pp. 247-273; Pa b l o A n d rés Escapa & J. L . Rod ríg u ez M o nt e d e rra m o
" M a n uscritos e s a b e res e n l a l i breria d e i c o n d e d e G o n d o m a r" i n M a ri a L u i s a López-Vi d r i e ro e
Ped ro M . Cáted ra ( d i r. ) , Coleccionismo y Bibliotecas (siglas XV-XVIII), Sa l a m a n ca , E d i c i o n es
U n ivers i d a d d e Sa l a m a nca-Patr i m o n i o N a c i o n a i-Soci e d a d Espa íí o l a de H i storia d e i Li bro, 1 998,
pp. 13 e ss.; C a r l o s J osé H e r n a n d o S a n ch ez, " La vida materi a l y e l g u sto a rtistico en la corte de
N a po l es d u ra nte e l Renaci m i e nto. El i nvepta rio d e b i e n es dei vi rrey Ped ro d e To l e d o '; Archivo
Espano/ de Arte, 1 993, 66 (2 6 1 ), p p . 35-55.
32 O estu d o d a cu ltu ra n o b i l i á ri a feito a p a rti r d a a n á l ise d a s b i b l i otecas teve um i m p u lso
d e cis ivo co m os tra b a l h o s d e Fe r n a n d o B o u za Alva rez, s o b retu do a p a rt i r d a s u a o b ra Dei escri­
bano a la biblioteca. La civilización escrita europea en la Alta Edad Moderna (siglas XV-XVIII),
M a d ri d , S íntesis, 1 992. Ve r a re n ovação destes estu d o s s i ntetizada p o r Ped ro M . Cáte d ra ,
" l ntro d u cc i ó n '; Nobleza y Lectura e n Tiempos d e Felipe 11. La Biblioteca d e Don Afonso Osorio
Marqués de Astorga, Va l l a d o l i d , J u nta de Casti l l a Leó n , 2002, p p . 9- 1 1 .
1 94
>
I b é ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
vezes red u n d a ntes, estudos é a co m p a ração do ta m a n h o das co l ecções de l ivros
e cód i ces e a t i p o l o g i a dos co n h eci m e ntos aí re p resenta d os . Ta l co m o pa ra a
d e m a i s a ctiv i d a d e co l ecc i o n i sta , estes i n q u é ritos têm ser�ido p a ra afe r i r os n íve is
cu ltu ra is dos seus poss u i d o res n a perspecti va d a permea b i l i d a d e aos n ovos
s a b e res e, q u a n d o se t rata das b i b l i oteca s da n o b reza, à ava l i ação de u m a h i po­
tética u n i d a d e cu ltu ra l d o g ru po ou, pelo contrá rio, à e l ucidação d e cl i va g e n s q u e
perm ita m exp l i cações sobre co m po rta m e ntos, p rog ra m a s e p ráticas po l íticas d e
certas facções n o bi l i á rq u icas. J á o estudo s o b re a l i gação e ntre as d e d i cató rias
dos l ivros e o mecen ato a ristocrático aos seus a uto res tem evi de ntes pa ra l e l is­
mos com as p ro b l e m áticas atrás e n u nciadas e ntre a rq u itect u ra e poder. Pa ra o
te m a e m a n á l ise i m po rta, n o e nta nto, d i sti n g u i r o papel m a i s o u m e n os passivo
dos co m itentes, através d a d ife re nciação e ntre a s e n co m e n d a s fe itas, q u e reve­
l a m i ntenci o n a l i d a des pol íticas e soci a i s c l a ras dos patro nos e as ofe rtas espon­
tâ neas a certos n o b res que te n d e m , sobretu do, a d esco b r i r as cró n icas n ecessi ­
d a d es eco n ó m icas d o s escrito res33•
No caso p o rtu g u ês está bem esta b e l e c i d o q u e, e ntre o sécu l o XV e o XVI , a
c i rcu l a çã o d a s nov i d a d es cu ltu ra i s e u ro p e i a s se fez senti r, sob retu d o nos círcu­
l o s p róx i m os d a co rte. A co m u n i cação e ntre ca sas rea is, d e que as ra i n h a s fo ra m
e l e m e ntos prepo n d e ra ntes, as d i versas esta d a s d e eclesiásticos, fi d a l g o s e titu­
l a res e m e m ba ixa d a s n a s d iversas co rtes e u ro pei as, a ss i m co m o a s t e m p o ra d a s
pa ra est u d o e m va r i a d a s u n ivers i d a d e s co nstitu íra m-se n a s p r i n c i p a i s v i a s d e
e ntra d a d a s n ovas co rre ntes cu ltu ra i s . A h i storiog rafi a s o b re o Renasci m e nto e m
Po rt u g a l está , p o r i s s o , polvi l h a d a d e evi d ê nc i a s so b re a s e n co m e n das, a s co l ec­
ções, os i nte resses e os gostos h u m a n i stas d e n u m e rosa fi d a l g u i a ou ecl esiásti­
cos i l u stres. Pa ra Caste l a e Ara g ã o o p a n o ra m a é se m e l h a nte, e m b o ra bem m a i s
a b u n d a nte.
Fo i n este q u a d ro h i sto riog ráfico q u e, h á j á a l g u ns a n os, Lu ís d e M atos exp l i ­
c o u c o m razoáve l p o r m e n o r as i nfl u ê n c i a s h u m a n i stas p rese ntes n a co rte de Vi l a
Viçosa n a p ri m e i ra m eta de d o sécu l o XVP4• Listou n o m es, co ntratos e m e rcês
o uto rg a d a s pelos d u q u es D . J a i m e e D. Teodósio I a h u m a n istas e a ca d é m icos
33 R o g e r C h a rt i e r, " Pri ncely Patro n a g e ansJ t h e Eco n o my of Ded i cati o n " i n idem, Forms and
Meanings. Texts, Performances, and Audiences from Codex to Computer, F i l a d é lfi a , U n iversity
of Pen nsylva n i a Press, 1 995, p p . 2 5-42, reto m a d o em " Po d e r y escritu ra: el Príncipe, la b i b l i oteca
y la d e d i cato ria ( s i g l os XV-XVI I ) '; Manuscrits: Revista d 'histària moderna, W 1 4, 1 996 ( Ej e m p l a r
d e d i ca d o a : L a H i stó ria soc i a l a Espa nya a p a rti r d e l ' o b ra d e D . Anto n i o Do m í n g u ez O rtiz), p p .
1 93-2 1 2 .
34 L u ís de M atos, A Corte Literária dos Duques de Bragança no Renascimento, s/1 ,
F u n d ação da Casa de B raga nça, 1 956.
1 95
M afa l d a Soa res da Cu n h a
q u e g ravita ra m e m to rno d a casa d u ca l , d efe n d e n d o q u e, pa ra a l é m d e asseg u ­
ra rem o e n s i n o e a a p re n d i za g e m d o s s e u s d esce n d e ntes, co n st itu ía m o s i g n o
d a s i nto n i a e ntre os B ra g a n ça e os m ovi m e ntos cu ltu ra i s d a E u ro p a d e entã o .
De e n t re a s d iversas á re a s d o s a b e r d esta cou o i nte resse p e l a astro n o m i a , p e l a
m ate m á tica e p e l a m ú s i c a . Co m o p rova d a i m po rtâ n c i a cu ltu ra l , m a s ta m bé m
s i m bó l i c a , d esses i nvesti m e ntos s u b l i n h o u a p reocu pação co m a b i b l i oteca e a
ca p e l a . De fa cto, pa ra g a ra nti r a p reserva ção d a col ecçã o d e l i vros e asseg u ra r
o seu e n g ra n d eci m e nto D . Teo d ó s i o I reco m e n d a ra-a e m testa m e nto a seu fi l h o,
i nteg ra n d o-a n o m o rg a d o35• Ti n h a o d u q u e fu n d a d a s razões pa ra ta l , p o rq u e os
fu n d o s d essa b i b l i oteca eram s i g n ificativos: asce n d i a m a 1 596 vo l u mes, q u a n ­
titativo q u e, m e s m o à esca l a i bé r i c a , a d estacava e ntre o utras g ra n des casas
titu l a res.
Esses acervos seri a m d e p o i s a u m entados, n ã o a pe n a s pela conti n u a d a a q u i ­
s i çã o d e o b ras, m a s ta m bé m p e l a i nteg ração n o m o rgado d a l ivra ria h e rd a d a d e
D . D u a rte, i rm ã o d a Sen h o ra D. Cata r i n a . Q u a nto à ca p e l a , s ã o co n h ecidos os
n u m e rosos e bem s u ced i dos esfo rços d a casa d u ca l j u nto d e R o m a pa r á a s u a
o rga n ização e consta nte a l a rg a m e nto d e p rivi l é g i os36•
Em tra b a l h o recente so b re o col ecci o n i s m o dos n o b res a n d a l uzes n o
Ren asci m e nto, A. U rq u íza r H e rrera s u b l i n h o u os seus co nto rnos pecu l i a res,
exp l i ca n d o q u e a d i s po n i b i l i d a d e d e riq u eza l h es perm iti u a a q u i s i çã o d e p r o d u ­
t o s cu ltu ra i s re l a c i o n a d o s com a e m e rg ê n c i a e a d ifusão dos m o d e l os h u m a n is­
tas. Po ré m , e m sua o p i n i ã o esse tipo d e i nvesti m e ntos, pa ra a l é m d e m a n ifesta r
p roxi m i d a d e com n ovos m o d e l os e p rod utos cu ltu ra i s, ta m bé m pod i a s i m p l es­
m e nte t ra d u z i r m o d a s e b u sca de d i sti nção soci a l . O bj ectos e col ecções tra ns­
fo rm ava m -se e ntão e m s i g nos d e estatuto soci a l e não a p e n a s e m i d e ntifica do­
res d e n ovos co n s u m os cu ltu ra i s . N o l i m ite, estes pod i a m até n e m exi sti r, o u
re p rese nta r a pe n a s u m s i n a l d a h a bituação a certo t i po d e bens, s e m q u e a s u a
fru i çã o s i g n ificasse q u a l q u e r i nterio rização dos s i g n ifi ca dos o ri g i n á ri o s . O a utor
a pe l a , p o rta nto, à n ecess i d a d e d e se com p re e n d e r a i nte n ci o n a l i d a d e s u bj ace nte
35 E ra esta u m a p rática re l a t i va m e nte u s u a l n o g ru po em v a r i a d a s épocas h i stó ricas e
e s p a ços e u ro p e u s . Cf. p a ra o 1
o
d u q u e çlo l nfa nta d o e m 1 47 5 e pa ra o 4° e m 1 565, H e l e n '
N a d e r, Los Mendoza y e/ Renacimiento espano/, G u a d a l aj a ra , l n stituti o n Provi n c i a l d e C u ltu ra
' M a rq u és d e S a n t i l l a n a ', 1 985 ( e d . o r i g . 1 97 9 ) , p . 2 1 0 o u a s reco m e n d ações d o co n d e de
Aru n d e l a o fi l h o e m L i n d a Levy Peck, " B u i l d i n g , B u y i n g and Co l l ecti n g in Lo n d o n , 1 60 0 - 1 6 2 5 "
i n Le n a C o w e n O rl i n ( e d . ) Material London, c a . 1 600, F i l a d é lfi a , U n i v e rs ity of Pe n s i l vâ n i a
Press, 2 0 0 0 , p . 283.
3 6 José A u g u sto Alegria, História da Capela e Colégio dos Santos Reis de Vila Viçosa,
Lisboa, Fu ndação C a l o u ste G u l be n k i a n , 1 983.
1 96
I bé r i a : Quatroce ntos/Qu i n h e ntos
Dimensão de bibliotecas da alta nobreza ibérica37
Titu l a r
No
Data
vo l u mes
Ra i n h a I s a b e l a Cató l i ca
1503
383
3° d u q u e de M e d i n a S i d ó n i a
1507
230
R o d r i g o de M e n doza, 1° m a rq u es de Cenete e c o n d e de Va l e n c i a
1523
63 1
A l o n s o P i m e n te l , 5° c o n d e de B e n ave nte
1530
21
Frad i q u e E n ri q u ez d e R i bera, 1 o m a rq u ês de Ta rifa
1532
263
D i e g o H u rta d o de M e n d oza, 1 o co n d e de M é l ito
1 536
66
Fra n c i sco Alva rez d e To l e d o , 2° c o n d e d e O ro pesa
1543
67
Franci sco de Z u n i g a , G u z m á n y Soto m ayo r, 3° d u q u e de B éj a r
1544
251
1546-7
193
Fern a n d o de Ara g ó n , d u q u e de C a l á b r i a
1550
795
D. Teodósio I, 5° d u q u e d e Bragança"
1 564
1 596
D. A l o n s o O s o r i o , 7° M a rq u ê s de Asto rga"
1573
707/1000
1575 ?
2024
Ped ro Faj a rd o C h a c ó n , 1° m a rq u és d e los Ve l ez
D i e g o H u rtado de M e n doza, fi l h o do 2° c o n d e d e Te n d i l la"
à a q u isição dos bens e co n h ece r a c i rc u l ação d e m o d e l o s de d i sti nção a pa r d a
ci rcu l ação dos m o d e l os cu ltu ra i s, u m a v e z q u e d e m o n stra q u e p a rte s i g n ificativa
" Dados extra ídos d e M a ri a Isabel H e r n á n dez G o nzá l ez, " S u m a d e i nventa rio d e b i b l i ote­
cas dei s i g l o XVI ( 1 501 - 1 560 ) " in M a ri a L u i s a Ló pez-Vi d ri e ro e Pedro M. Cáted ra ( d i r. ) ,
Coleccionismo y Bibliotecas (siglas XV-XVIII), E d i c i o n e s U n ivers i d a d d e Sa l a m a nca-Patri m o n i o
N a c i o n a i -Soc i e d a d Espa ri o l a d e H i storia d e i Li bro, 1 998, p p . 2 57-373 e d e M i g u e l A n g e l Ladero
Q ues a da e M a ría C o n cepci ó n Qu i nta n i l l a Raso, " B i b l i otecas de la a lta n o b l eza caste l l a n a en e l
s i g l o XV" i n Livre et lecture e n Espagne e t e n Erance sous I 'A ncien Régim e. Col/oque d e la Casa
de Velazquez, Pa ris, e d . A. D . P. F. , 1 98 1 , p p . 47-59.
" Ai res A. d o N a sci m e nto, "A Livra ria d e D. Teo d ó s i o I , D u q u e d e B ra g a nça " in Congresso
de História do IV Centenário do Seminário de Évora - Actas, 1 ° vo l. , É vora, I nstituto S u pe r i o r d e
Teo l o g i a-Se m i n á ri o M a i o r d e É vo ra, 1 994, p p . 209-220.
39 Ped ro M. Cátedra, Nobleza y Lectura en Tiempos de Felipe //. . . , p . 69.
40 Ant h o ny H o bs o n , Renaissance book collecting. Jean Grolier and Diego Hurtado de
Mendoza., their books and bindings, Ca m b ri d g e , Ca m b r i d g e U n ive rsity Press, 1 99 9 .
1 97
M afa l d a Soa res d a Cu n h a
d a s col ecções a n d a l uzas é i nconsistente, n ã o reve l a n d o fa m i l i a ri d a d e c o m o ideá­
rio h u m a n i sta . Corpo riza ri a m um modo d e col ecci o n i s m o específi co, d i ve rso do
h u m a n i sta, q u e visava sobretu d o u m d i scu rso social e que o a utor classifica
co m o coleccionismo familiar. A seu ve r as ú n i cas co l ecções coe re ntes re porta­
va m -se às ca pel a s e o rató rios, j á que reflect i a m p rog ra mas i d eo l ó g i cos perfeita­
m e nte i nte rio rizados•' .
Deste po nto de vista, sem co ntra ri a r a clássica síntese de J . M . M o rá n e F.
C h eca asse nte n a a n á l ise d e n u m e rosos i nventá rios a ri stocráti cos do sécu l o XVI42,
o q u e verda dei ra m e nte U rq u ízar H e rrera d i scute é a própria a p l i ca b i l i d a d e do
co nceito de co l ecção à reu n i ã o d e o bjectos rea l izada pelos d i sti ntos g ra n des co m ­
p r a d o res. Ass i m , n ã o co ntra ria a c l a ssificação d esses conj u ntos de o bjectos feita
por M o rá n e Ch eca seg u n d o d u as g ra n des te n d ê ncias temáticas: a) exotismos
a m e ricanos e re novado i nteresse e r u d ito e a rq u eo l ó g i co p róxi mos do i d e á r i o
h u m a n i sta; b ) i nte resses re l i g i osos vizi n h os d a refo rma cató l i ca .
Do q u e se co n h ece so b re os B ra g a n ça , ta m bé m e l es seg u i a m estes pad rões
d e co n s u m o . A crer, porém, e m Lu ís d e M atos, o mece n ato d u ca l até D . Teodósio
I i n d i c i ava um g e n u í no i nte resse pelos vestíg ios d a Anti g u i d a d e , p e l a prom oção
d o s a b e r c l á ss i co e até d e a l g u m a s novi d a d es cie ntífi cas. J á a s a q u i si ções p a ra
d ecoração d os i nteri o res d o m ésticos a po nta m pa ra a p reva l ê nc i a d a s ta peça rias
so b re a p i ntu ra, n o que pode ser i nterp reta d o co m o um g osto co nserva d o r, m a s
tota l m e nte co n s o n a nte com o g osto d o m i n a nte e m Po rt u g a l 43 e, a pesa r d e t u d o ,
n ã o i nvu l g a r e ntre os seus pa res i bé ricos. De fa cto, só a n o b reza m a i s p róx i m a
d e Fi l i pe 1 1 co m eçou a e n co m e n d a r p i ntu ra, m a nte n d o-se o u s o p l u ra l d a s tape­
çarias co m o s i g n o d e ri q u eza e d e confo rto p o r exce l ê ncia pelo q u e, de acordo
com B rown e E l l i ott, mesmo e m p a l á ci o s d e um tão g ra n d e a m a nte d a p i ntu ra
q u a nto F i l i pe IV, estas s u bstitu ía m a p i ntu ra d u ra nte o I nve rno co m o fo rma de
41 Anto n i o U rq u íza r H e rrera, Coleccionismo y nobleza. Signos de distinción social en la
Andalucia de/ Renacimiento, M a d ri d , M a rc i a l Pons, 2007.
42 José M i g u e l M o r á n Tu r i n a e Fern a n d o C h eca C re m a d es, E/ coleccionismo en Espana
. . .
,
p p . 1 53 - 1 7 0 .
43 Sobre uso d e tapeça rias e m Po rtu g a l cf. J o a q u i m d e Vasco n ce l l os, "Os p a n nos d e r a z m
Po rtu ga l '; Revista de Guimarães, vo l . XXV I I , n° 3, J u l h o 1 900, p p . 1 1 7- 1 29 o n d e tra nscreve u m
i nventá rio d a casa rea l b r i g a n t i n a d e fi n a i s do séc. XVI I o n d e c on sta m 4 3 g ru pos d e ta peça rias
num tota l d e 388 peças, m u itas d a s q u a i s podem s e r atri b u íd a s à col ecção ducal d e Vi l a Viçosa .
S o b re estas co l ecções ca l i po l enses ver N u n o Va ssa l l o e S i lva, As colecções de O. João IV no
Paço da Ribeira, Lisboa, Livros H o rizonte, 2003, p p . 64-67 e n u m a síntese g e r a l s o b re Port u g a l :
Roza H uy l e b ro u ck, " Po rtu g a l e a s ta peça rias fl a m e n g a s '; Revista da Faculdade de Letras,
História, s e r i e 1 1 , vo l . 03, 1 986, p p . 1 65-1 98.
1 98
>
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
a m e n iza r o fri o44• De to dos os modos, os B ra g a nça terão i n s isti d o n essa p refe­
rê n c i a , q u e fo ra m co m pag i n a n d o com a l g u m a p i ntu ra a fresco45, m e s m o q u a n d o
o uso d e co l ecções d e p i ntu ra e ra j á co rrente nos i nvest i m e ntos d e o utros
G ra n des i béricos46• Q u a nto aos conte ú d os, as ta peça rias briga nti n a s n a rrava m
e p i s ó d i os o u a l eg o ri a s re l i g i osas e h i stori ava m t rech os d a vida d e h e ró i s e m ito­
l og i a c l á s s i cos, s e n d o todavia d e s u b l i n h a r o co nj u nto d e doze p a n o s s o b re a
v i d a d e N u n o Á lva res Pere i ra , fu n d a d o r d a l i n h a g e m e p e rso n a g e m p l u ra l m e nte
exa lta d a n o m ecen ato b r i g a nti n o . De ntro d e um pad rã o d e gosto co m u m e ntre
o utras casas se n h o ri a i s e rea is d a época, poss u ía m n u m e rosos o bjectos exóticos
q u e co nvi vi a m co m as a b u n d a ntes re l íq u i a s a co n d i c i o n a d a s e m l uxu osos re l i cá­
rios, q u e teri a m s i d o o bjecto d e desve l o p a rti cu l a r pela Se n h o ra D. Cata ri n a47•
E n q u a nto peças d e cu lto e ra m pa rticu l a r m e nte a p reci a d a s, so b retu d o e m
a m bi e ntes p róx i m os d a refo rma cató l ica, o q u e seria o c a s o briga nti n o . N estes
ú lti mos exe m p l os, co m pa g i n ava m-se h a rm o n iosa m e nte os i nvesti m e ntos d e
oste ntação e o cato l i ci s m o ca n ó n i co . Atitu d e cu ltu ra l ta m bé m d e ca riz co nserva­
dor pode reve r-se no p ró p ri o g osto m u s i ca l de D. Teodósio 1 1 . Ass i m e n q u a n to o
d u q u e D . João I , seu pa i , e ra u m ente n d i d o m u sica l m e nte, o mesmo n ã o se pas­
sava co m e l e . G ostava sobretu do d e o uvi r m ú s i ca sacra p a ra aco m pa n h a r as
ce l e b rações l itú rg i cas o que o l evo u a favo rece r a fo rmação m u s i ca l pa ra a ca pela
co m atenções especi a i s .
Ta m bé m a a n á l ise tem ática d a b i b l i oteca d e Vi l a Viçosa d e m o n stra u m a
c l a ra p reva l ê n c i a d a s o b ras re l i g i osas (ce rca d e u m terço)48, n o q u e n ã o d iverge
s i g n ificativa m e nte d e ta ntas o utras dos a ri stocratas i bé r i cos49, e m b o ra sej a d e
44 J o n a t h a n B rown e, J . H . E l l i ott, A Pa/ace for a King. The Buen Retiro and the Court o f
Philip IV, 2 • e d . , N ew Haven e Lo nd res, Va l e U n i versity Press, 1 986, p . 1 05 . D e resto, estes m es­
mos a utores refe re m , a i n d a pa ra o tempo d e Fi l i pe IV, o s u p e ri o r va l o r eco n ó m i co das tapeça­
r i a s face à p i ntu ra .
45 Víto r Serrão, "A P i ntu ra Fresq u i sta à So m b ra do M ecen ato D u c a l ( 1 6 0 0 - 1 640 ) ';
Monumentos, n° 6, 1 997, pp. 1 4-2 1 e i d e m , "O Parnaso pictórico. M ito l o g i a , fá b u l a e a l egoria moral
nas d eco rações a fresco no Paço de Vi l a Viçosa ( 1 550- 1 63 0 ) " Monumentos, no 27, 2007, pp. 66-79.
46 J o n a th a n B rown e R i ch a rd L. Ka g a n , " T h e D u ke of A l ca l á : His Co l l ect i o n and lts
Evo l uti o n '; The Art Bulletin, Vo l . 69, n o 2, (J LJ n . , 1 987), p p . 2 3 1 -255 ( http://www.jsto r. o rg/sta­
b l e/305 1 02 0 ) .
47 N u n o Va ssa l l o e S i lva, As colecções d e O . João IV . . p p . 45-52
.
48 Ai res A. do N a sci m e nto, "A Livra ria d e D . Teodósio 1 . . . "
e
56-59.
•
49 Apreço p e l a s o b ra s de cava l a ri a e i nteresse crescente p e l a s o b ras de d evoçã o p a ra o
d u q u e do l nfa nta d o , cf. H e l e n N a d e r, Los Mendoza y e/ Renacimiento . , p. 2 1 1 e ou t ros casos
. . .
e m M i g u e l Angel Ladero Ouesada e M a ría Concepci ó n Qu i nta n i l l a Raso, " B i b l iotecas d e l a a lta
n o b l eza caste l l a n a e n e l s i g l o XV . . . "
1 99
M a fa l d a Soa res d a C u n h a
s u b l i n h a r q u e e m Caste l a s e e n co ntra m exe m p l os d e co l ecções d e l iv ros e m q u e
o utros temas c o m o a H istó ria, F i l osofi a po l ítica e natu ra l , m atemática, a rq u itec­
tu ra assu m e m m a i o r s i g n ificad o50• De q u a l q u e r modo, . h á q u e ter a l g u m a ca ute l a
a o p ro p o r class ificações i d e o l ó g icas taxativas a p a rt i r d o s co nteú d o s d a s b i b l io­
teca s, pois, mais do que expri m i re m os g ostos p a rticu l a res dos seus vários pos­
s u i d o res, estas e ra m prod uto de a q u i si ções d e g e ra ções a nterio res e/ou d e acu­
m u l a çã o d e h e ra n ça s51 •
N o ca m po l iterá rio, a ca racte rização do m ecenato a pa rti r dos a uto res q u e
dedica ra m o b ras a o s d u q u es exi g i ri a u m a a n á l ise co m p a ra d a c o m o utros casos, o
q u e fo i i m possível de rea l iz a r neste m o m e nto . E m todo o caso, se ava l i a rmos as
dedicató rias a D . Teodósio 11 so b ressa i o seu teo r reactivo à modern i d a d e e o a p e l o
à p reservação dos va l o res portu g u eses a ntigos ou à m e m ó ri a i l u stre dos s e u s
a ntepassados co m o é o caso fl a g ra nte d a dedicató ria q u e Rod rig u es Lo bo l h e fez
na História do Condestable Dom Nuno Aluares Pireira principiador, da il/ustrissima
caza de Bragança de 1 603 e depois em 1 609, re l ativa à ediçã o de 1 6 1 0, e q u e l h e
va l e u u m a m e rcê d u c a l de 2 0 . 0 0 0 réis52• Deste po nto de vista, o l eq u e d e i n te res­
ses cu ltu ra i s da casa de B raga nça, a pa rt i r d a seg u n d a m etade do sécu l o XVI ,
pa rece fech a r-se q u e r a o n ível d o s co nteú d os das o b ras, q u e r a o n ível d a a p l i ca ­
ção p rática de novos saberes. O u sej a , as o b ras conti d a s n a b i b l i oteca d u c a l não
reve l a m p reocu pações o bjectivadas e m p rog ra m a s de acção po l ítica, co m o se
d e m o n strou a p ropósito d a p rática refo r m i sta d e Ped ro Á lva rez d e To l edo ( 1 5321 553) e n q u a nto vice-rei de N á po l es53, nem a co rte briga nti n a fo i foco d e i rra d i a ção
cu ltu ra l , co m o ocorreu com os M e n doza54, nem a actividade co n strutiva pode ser
to m a d a co m o resu lta do d e i nterio rização d e i nfo rmaçã o téc n i ca sobre a rq u itectu ra
bebida em l ite ratu ra específica co m o sucedeu com o m a rq u ês de Vel a d a55, nem os
p ró p rios B raga nça fo ra m p rod uto res a rtísti cos co ntra r i a m e nte a o q u e ocorreu em
5 0 Ped ro M . Cáte d ra , Nobleza y Lectura e n Tiempos d e Felipe / / . . . , p . 1 94 e outros casos e m
M i g u e l A n g e l Ladero Ouesada e M a ria Concepci ó n Ou i nta n i l l a Raso, " B i b l i otecas d e l a a lta
n o b l eza caste l l a n a e n e l s i g l o XV . . . " .
5 1 H e l e n N a d e r, Los Mendoza y e/ Renacimiento . . . , p p . 2 1 0-2 1 7 e, no caso b r i g a n t i n o , a j á
.
a l u d i d a i n co r p o ração d a b i b l i oteca d e O . p u a rte, i rm ã o d a Se n h o ra O . Cata r i n a , n a b i b l i oteca
ducal.
52 M a n u e l I n ácio Pesta n a , " M estres d e várias a rtes ao s e rv i ço d e O . Teo d ó s i o 1 1 , d u q u e d e
B ra g a n ça ( 1 583 - 1 630 ) '; Cal/ipote, n°s 1 0- 1 1 , 2002-20 03, p . 1 47.
53 C a r l o s José H e r n a n d o S a n ch ez, " Po d e r y cu ltu ra e n el re naci m i e nto n a p o l i ta n o : l a b i b l i o­
teca d e i vi rrey Ped ro d e To l e d o '; Cuadernos de Historia Moderna, 1 988, ( 9 ) , p p . 1 3-33.
54 H e l e n N a d e r, Los Mendoza y e/ Renacimiento . . . .
55 S a n t i a g o M a rtínez H e r n á n d ez, Obras . . . que hazer para entretenerse . . .
200
e
I bé r i a : Q u a t r o c e ntos/Q u i n h e ntos
outras l i n h a g e n s co m o os M e n d oza o u até os R i be ra (3° d u q u e d e Alca l á ) . Só re l a ­
tiva m e nte à m ú s i ca se pode a ponta r u m gosto pa rti cu l a r e s i stem ático d o s
B ra g a n ça , q u e se evi de ncia sobretu do co m o 8° d u q u e , P . João 1 1 . Mas, mesmo
n este d o m í n i o d e exce l ê n c i a , que n ã o e ra ta m bé m i nvu l g a r entre os seus pa res
a ri stocratas56, o seu i m pacto soci a l a l a rg a d o só veio a oco rre r d e p o i s da s u a
s u b i d a a o t ro n o d e Po rtu g a l . Teste m u n h o d o a ctivismo colecci o n i sta d o p ri m e i ro
m o n a rca d e B ra g a n ça foi a vasta b i b l i oteca d e m a n u scritos e i m p ressos sobre
m ú s i ca q u e l e g o u , d a q u a l q u e se d i z ter s i d o a pe n a s i nfe r i o r à q u e existia e m
Ro m a57, o q u e e m n a d a contra ria q u e as s u a s p referências m u si ca i s te n h a m t i d o
u m cu n h o basta nte conserva d o r.
A n á l o g a posição pode ser i nte rpretad a a pa rt i r das p ráticas do seu mece n ato
a rtístico, pois se os estudos já rea l izados atesta m sem equ ívocos a p reocupação
d u ca l n essas matérias58, o ce rto é que ta m bé m evi denci a m o ca rácte r cultural­
m e nte basta nte pe rifé rico da corte briga nti n a , ava l i ável pela q u a l i d a d e das exp res­
sões a rt ísticas dos a rtistas patroci nados, não o bsta nte o esfo rço em recruta r e até
�
a p o i a r a fo rmaçã o de g e ntes das a rtes pa ra o seu servi ço59• Já a q u a ntidade das
acções de patrocín i o d u ca l é m u ito s i g n ificativa e deixo u , por isso, uma m a rca
i n d i scutível em Vi l a Viçosa e em terras do sen h o ri o q u e n ã o tem q u a l q u e r pa ra l e l o
em Po rtuga l . À esca l a i bérica, poré m , a exce pci o n a l i d a d e da actuação briga nti n a
ate n u a-se. E n q u a nto sedes de i m po rta ntes se n h o rios, Le rma o u Sa n l ú ca r de
Ba rra meda podem ser cita d a s co m o fo nte de co m p a ração com Vi l a Viçosa, pa ra
n ã o fa l a r já da riq u eza e q u a l i d a d e estética das exp ressões de poder de l i n h a g e n s
q u e e m outros re i n os d eti n h a m i d ê ntico estatuto d e sa n g u e por pa re ntesco c o m
as casas rea is. Vej a-se, por exe m plo, o caso dos prínci pes d e sa n g u e fra nceses.
56 Cf. Pere M o l as R i b a lta s o b re os Cardona t:Aita noblesa catalana a I'Edat Moderna,
U n ive rsitat de Vic, E u mo E d ito ri a l , 20 04, p. 206.
57 Rui Vi e i ra N e ry, The m usic manuscripts in the Library of King D. Joao IV of Portugal
( 1 604- 1 656): a study of lberian m usic repertoire in the sixteenth and seventeenth centuries,
U n ive rsity ofTexas - Austi n , 1 990 ( P h D d i ss e rtati o n , m i m e o . ) .
5 8 Cf. o recente e exp ressivo estud o d e Vítor Serrão q u e acentua a i m portâ n c i a d o m ece­
nato b r i g a nti n o n a p i ntu ra a fresco, " O Parnaso pictórico . . . ·:
59 M a fa l d a Soa res d a C u n h a , A Casa d� Bragança. 1 560- 1 640 . . ; M a n u e l I n á c i o Pesta n a ,
.
" M estres d e v á r i a s a rtes a o s e rviço d e D. Teodósio 1 1 . . . " e o exe m p l o co n c reto d a s aj u d a s d e
cu sto e p a g a m e nto concedidos ao p i nto r M a n u e l Fra nco p a ra m e l h o ra r a s u a técn i ca e m M a d ri d
"e l l e d ito se n h o r o m a n d a u a a m a d ri d p e ra se a p refe i çoa r no d ito ofi s i o e a rte d e p i nta r e l a tra­
ta ra d e a p re n d e r a p i nta r o m o l eo a p refeisoa n d o se n o que l h e fa lta asim fi g u ras c o m o p a i zes e
todas as o utras corozi d a d e s p a ra q u e en t u d o posa faze r o q u e e l l e s e n h o r l h e o rd e n a r e a l e m
d i so a p re n d e ra a p i nta r ao fresq u o e se a ch a r q u e m l h e d e noti s i a a p re n d e ra a p i nta r a te m p e ra ';
em 1 637, ADE, Notariais de Vila Viçosa, L.96, fl s . 1 89- 1 9 1 .
201
M afa l d a Soa res d a C u n h a
De todo o m o d o , o q u e so b ressa i d a l eitu ra d o s a utores q u e n a época se refe­
r i ra m à casa de B ra g a n ça e, em pa rticu l a r, dos a utores estra n g e i ros é a o p u l ê n ­
cia, a ri q u eza e a eti q u eta c o m q u e os d u q u es se servi a m . O ta m a n h o do te rrei ro
d u ca l , a vasti d ã o d a ta p a d a , a ri q u eza dos trajes, d a j oa l h a ri a e d a s baixelas, a
d i m e nsão d a a rm a ri a e a co m p l ex i d a d e ceri m o n i a l fe ita d e n u m e rosíss i m a fami­
lia (fi d a l ga , j u rista , m ecâ n i ca e escrava ) o u a i n d a as decorações de i nte r i o res, co m
especi a l re l evo p a ra as ta peça rias, fo ra m aspectos q u e a rra nca ra m co m e ntá rios
d e a d m i ração a m u itos60• Ta is visões, p rese ntes nos rel atos d e viaja ntes ou em
d escri ções vá rias, repo rta m -se, no e nta nto, a m o m e ntos ce ri m o n i a i s s i g n ificati­
vos, co m o é o caso de rece pções a i l u stres visita ntes o u festiv i d a des de casa­
m e nto, o que ta m b é m s i g n ifi cava que a casa então se exi b i a n o seu m a i o r
esp l e n d o r. Se a d m iti rmos a perspectiva coeva sobre a a u steri d a d e d o q u oti d i a n o
d e D. J o ã o I , d e D . Teodósio l i e de D . J o ã o 1 1 - feito esse nci a l m e nte d e caçadas,
ceri m ó n i a s re l i g i osas e do despacho dos seus negócios - talvez sej a e ntão possí­
vel pensa r q u e o co l ecci o n i s m o l h es te ria servi do s o b retu d o co m o base pa ra a
exi bição do pod e r e estatuto d a s u a casa e l i n h a g e m e n ã o ta nto co m o fo nt é reg u ­
l a r de fru ição cu ltu ra l , co n stitu i n do-se o a p reço p e l a m ú s i ca e m c l a ra exce pção a
este p a d rã o .
Se a l g u n s a uto res q u i s e r a m l e r este t i p o d e g o sto co m o u m a atit u d e d e
a po i o à co ntesta ção po l ít i ca q u e fez cu rso a o l o n g o d a d o m i n a ção h i s p â n i c a , o
certo é q u e os traços caracte r i a i s s u g e ri d o s p e l os coevos a estes d u q u e s m a i s
p a rece m i n d i ca r posi ções cu ltu ra l m e nte co n s e rva d o ra s , atentas so b retu d o à
m e m ó ri a e exa ltação d a s u a l i n h a g e m , q u e a ss i m contrastava m co m a n a t u ­
reza m a i s a ctu a l i z a d a e a b ra n g e nte d a s p reocu p a ções cu ltu ra i s d o s s e u s a nte­
passados.
Cortes periféricas e clientelas. Exercício do poder e m ediação
A traj ectó ria da casa de Bragança, as s u a s fo rmas de o rga n ização e g estão
se n h o r i a l ou a co rte ca l i po l e nse n ã o são s i g n ificativa m e nte d ife rentes das d e
o utras g ra n des casas i béricas c o m o as dos d u q u es d e M e d i n a S i d ó n i a , dos a l m i ­
ra ntes d e Caste l a o u d o s co n d es d o s Arcos. Ta l co m o o s B ra g a n ça , ta m b é m e l es
u sufru ía m d e u m fo rte e a n cestra l pod e r territo r i a l izado e d eti n h a m s i g n ifi cativo
contro l o sobre recu rsos eco n ó m i cos e m i l ita res estraté g i cos nas periferias terri­
tori a i s . E , d e modo a n á l o g o , estrut u ra ra m m o d e l os d e o rg a n ização a d m i n i strativa
6° C o m o exe m p l o , ver " Vi a g e m do Ca rd e a l Al exa n d ri n o , 1 57 1 ; in Al exa n d re H e rcu l a no,
Opúsculos, t. V I , Controvérsias e estudos históricos, t. I I I , 3a e d . , Lisboa, Anti ga Casa Be rtra nd '
José Bastos e c . a E d s . , s/d , p p . 53-64.
202
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
se n h o ri a i s p l a s m ados d a Coroa; cria ra m e g e r i ra m redes c l i e nte l a res loca i s de
fo rma m a i s neg oci a d a q u e a uto ritá ri a6' .
N este fu n d o co m u m , o espaço de s i n g u l a ri d a d e d a casa de B ra g a n ça deco r­
ria esse nci a l m e nte da i ns i stência em u m ou o utro s í m b o l o de preem i n ência e n o
ca rácter extra o rd i n á ri o d e certos privil égi os, q u e c r e i o n ã o serem poss u ídos por
outras casas i bé ricas. Ta lvez os B ra g a n ça fossem ta m bé m m a i s m a rca d a m e nte
pe rifé ri cos à co rte rég i a e à g ra n d e pol ítica h i spâ n ica do q u e a m a i o ri a dos
G ra n des d e Caste l a e Ara g ã o que fo ra m sendo ch a m ados a exe rce r ca rgos na
d i p l o m acia ou nos g ove rnos dos territó rios eu ro peus d a M o n a rq u i a . O isola­
m e nto a n d a l uz dos Medina Sidónia o u dos condes de Arcos pode, todavi a , ofe­
rece r a l g u ns p a ra l e l ismos com esta casa d u ca l portu g u esa, e m bora o l e q u e d e
s e rviços d i recta m e nte p resta dos p e l a casa briga nti n a à m o n a rq u i a sej a , com
efeito, basta nte mais l i m ita d o . C i rc u nscreve u -se, q u ase se m p re, a o a p o i o defe n ­
s i vo p a ra o q u a l m o b i l izou tropas dos seus sen h o rios, sem q u e, n o e nta nto, o s
seus titu l a res � à exce pção d e D . J a i m e c o m Aza m o r e m 1 5 1 3 e D . João l l e m 1 639
- p rota g o n izassem ca rgos de co m a n d o m i l ita r. O ra n u m a época e m q u e o serviço
à m o n a rq u i a j á e ra u m dos p r i n c i p a i s i n stru m e ntos n a p roj ecçã o e co nso l i dação
d o p restíg i o das casas e l i n h a g e n s n o b res não de ixa d e su rpree n d e r que os
B ra g a nça o d ispensassem de fo rma tão a lta n e i ra e que a m o n a rq u i a dele reti­
rasse tão poucas conseq u ê n ci a s . A m e n os que fosse essa fa lta d e serviços e con­
seq u e nte m otivo p a ra re m u n e rações pela m o n a rq u i a que exp l i q u e, afi n a l , a a rro­
ga nte resposta de D. Teodósio 11 a Fi l i pe I I I em 1 6 1 9 de q u e não n ecessitava d e
novas m e rcês.
Com efe ito, e e m co nfro nto com o q u e se verifica ra d u ra nte todo o sécu l o
XV, a pa rtici pação q u ase co nsta nte n o s p r i n c i p a i s assu ntos do re i n o q u e ca racte­
riza ra os q u atro p ri m e i ros d u q u es, fo i s u bstit u íd a pela a u sência q u ase perma­
n e nte da co rte rég i a e fixação e m Vi l a Viçosa , sede do seu sen h o rio e p ó l o d e u m a
red e c l i ente l a r d i recci o n a d a q u ase exc l u s i va m e nte p a ra a co nservação da s u a
posição soci a l . I m p o rta s u b l i n h a r q u e a d i stâ ncia fís i ca n ã o sig n ificava porém
a l h e a m e nto o u i n d ife re n ça pera nte tod a s as q u estões; se é d e m o n strável que a
6 1 l g n a c i o Ati e nza H e r n á n d ez, " E I S e íí o r Avi s a d o : Pro g r a m a s Pate r n a l istas y C o n t r o l Soci a l
·
e n l a Casti l l a d e i S i g l o XVI I '; Manuscrits, na 9, p p . 1 55-204; l g n a c i o Ati e nza H e r n á n d ez, "Pater
Fa m í l ia s , Se íí o r y Patró n : Oeco n ó m ica, C l i e n te l i s m o y Patro nazgo e n e l Anti g u o Rég i m e n " in
Rey n a Pasto r ( co m p . ) . Relaciones de Poder, de Producción v Paren tesco en la Edad Media v
Moderna, M a d ri d , CSIC, 1 990, p p . 4 1 1 -458; Davi d G a rcía H e r n á n , Aristocracia y senorío en la
Espana de Felipe I. La Casa de Arcos, G ra n d a , U n ivers i d a d e d e G ra n a d a , Ayu nta m e nto d e S a n
Fe r n a n d o e Ayu nta m e nto d e M a rch e n a , 1 999. P a r a u m a s íntese cf. Ad o l fo Ca rrasco M a rtín ez,
Sangre, honor y privilegio. La nobleza espano/a bajo los Austrias, B a rce l o n a , Ed. Ari e l , 2 0 0 0 .
203
M afa l d a Soa res d a Cu n h a
s u a pa rticipação nas d ecisões po l íticas e ra d i m i n uta, so b retu d o a pa rti r d e meados
do sécu l o XVI , sa be-se que os d u q ues dedicava m g ra n d e ate nção à evo l ução e sig­
n ificado das fó rm u l as po l íticas, soci a i s e s i m bó l i cas, pe_l o q u e p rocu ra ra m acom­
pa n h a r, no te m po e n a esca l a possíve l , as i n ovações o pe radas nos modelos o rga­
n izativos e d e rep resentação d a Casa Rea l bem co m o nas fo rmas d e g estão e de
a d m i n istração dos recu rsos. Através d este co nsta nte afã de o btenção de novos
privi lég ios ou confi rmação dos a ntigos p rocu rava m i m ped i r o a l a rg a m e nto da d is­
tâ ncia entre a casa e a Coroa e m a nte r as d isti n ções q u e a sepa rava m d a pri ncipal
n o b reza do rei n o de Po rtugal e, depois, d e Castel a , a o mesmo te m p o q u e g a ra n ­
t i a m co n d i ções excepcio n a i s pa ra a a d m i n i stração d o seu se n h o ri o . De fa cto, o s
conteú dos das m e rcês q u e l h e fo ra m s e n d o co nced i d a s reve l a m bem q u e o s
d u q u es p referi ra m a p rofu n d a r o l e q u e de i n stru m e ntos d e i nte rve nção se n h o ri a l
e m d etri m e nto do acresce nta me nto d a base te rrito ri a l d o s e n h o r i o . N a rea l i dade,
esta até se contra i u l i g e i ra m e nte e m resu ltado, sej a d a ve nda d e j u risd i ções, sej a
d a com posição de dotes de casa m e nto. J á no q u e respeita à g estão sen h o ria l
g a ra ntiram privi l égios q u e l h es perm iti ra m u m a a m p l a auto n o m i a , n u m org a n i­
g ra m a a d m i n i strativo q u e, no essenci a l , não se d i sti n g u i a do d a Co ro a . Uti l izava a
mesma m atriz fo rm a l , co m lóg icas basta nte s i m i l a res, ta nto n o q u e refere a
n o m eação d e pessoas, q u a nto à a p l i cação d a j u stiça e à extracção fisca l .
O ra s e a a m p l it u d e dos poderes se n h o ri a i s e a po l ítica d e patrocín i o g a ra n ­
t i a u m a lto n ível d e d o m í n i o so b re as com u n i d ades sob a s u a tute l a , d eve-se
a i n d a d estaca r q u e os d u q u es uti l iza ra m a s e l ites e as i nstitu i ções l oca i s co m o
i n stru m e ntos coadj uva ntes do contro l o s o b re esses m e s m o s espaços. O u sej a ,
uso p o l ítico d a s redes i nterpessoa is estrutu ra d a s à so m b ra d o s recu rsos d a p ró­
pria cas a . Ass i m , os B ra g a n ça , e m vez d e afro nta rem os poderes l oca is, refo rça­
ra m - nos, uti l iza n d o-os em seu p roveito . N ote-se q u e a i nteg ração d e m e m b ros de
p a re nte l a s de e l ites loca i s n a co rte d u ca l e m fo ros d e m o ra d o res fo i a este títu l o
a bsol uta m e nte decisiva . Essas pessoas a g i l iza ra m a com u n i cação e ntre o paço
d e Vi l a Viçosa e as terras e aj u d a ra m a a m o rtiza r tensões e ntre estas e a sede do
se n h o ri o . Os d i fe re ntes ti pos d e m e rcês d i s pensados p e l a casa fo ra m estratég i ­
c o s n esse p rocesso. Exe rcitava-se a l i be ra l i d a d e p a ra h a rm o n iza r re l a ções i nter­
pessoa i s através de jogos d e trocas e d e negociaçã o dos d i fe re ntes i nte resses e m
_
p resença e, natu ra l m e nte, ( re ) p roduzi r a i m a g e m d e m a g n a n i m i d a d e ca ra a o
i d e á r i o d e p rínci pes q u e se a rrogava m s e r. E estas vi rtudes contri b u ía m pa ra
a u m e nta r a atracçã o soci a l pa ra o seu serviço e, ass i m , acresce nta r o n ú m e ro dos
seus d e p e n d e ntes d i rectos .
M a s se a i nfl u ê n c i a po l ítica e soci a l d a s c a s a s se n h o ri a i s é ava l i ável pela
d i m e nsão d a cri a d a g e m co m l a ços fo r m a i s d e d e p e n d ê n c i a , n ã o se esg ota n esse
204
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
i n d ica d o r e d eve ser a l a rgado através d a q u a ntifi cação e da tipolog i a soci a l dos
ped idos d e m e d i a çã o j u nto do rei o u d e q u a l q u e r o utra enti d a d e . Po r razões
ó bvias, re l a c i o n a d a s com a docu m e ntação hoje d i s p o n íve l , é m a i s fác i l e n co ntra r
exe m p l os d i r i g i d o s a o m o n a rca . As ch a n ce l a ri a s rég i a s estã o e nxa m e a d a s d e
p rovi m e ntos d e ca rgos n a a d m i n istração l oca l , d e privi l é g i os aos co n ce l h os, a o s
seus m o ra d o res o u a i n d i víd u os fe itos a ped i d o d e d ife rentes se n h o res. N i sto os
g ra n des titu l a res não estã o i so l a d os mas, n a ava l i a çã o g l o b a l do poder de
i nfl u ê nc i a , h á que p o n d e ra r pri n ci pa l m e nte o p a p e l dos fi d a l gos cortesãos. Co m o
se refe riu a nteri o r m e nte, a p roxi m i da d e física c o m o m o n a rca fazia c o m q u e o s
s e u s 'va l i dos' estivessem e m m e l h o r posição pa ra m ed i a re m ped i d os e i nfl u írem
n a s d ecisões rég i a s o que co n stitu ía um recu rso d e poder que co ncorria cada vez
m a i s efi caz m e nte com o t ra d i ci o n a l pod e r te rrito ri a l dos d o n atários. Pa ra o fu n ­
d a m e nta r ca ba l m e nte s e r i a , todavia, n ecessá rio q u a ntifica r q u e r o vo l u me, q u e r
a i m po rtâ ncia d a s m e rcês co ncretiza das e a i n d a o estatuto soci a l dos respectivos
peti c i o n á rios, o u sej a , m ed i r a a m p l it u d e d a s respectivas i nfl u ê n ci a s soci a i s .
I n d ícios avu l sos s u g e re m j á q u e os co rtesãos e m i n e ntes p o l a rizava m u m a rede
m a i s n u m e rosa e soci a l m e nte m a i s h etero g é n e a , e m bo ra ta lvez m a i s vo l úve l , de
c l i e ntes q u e os d o n atá rios, pois estes te n d i a m a conce ntra r n a pa rente l a e nos
seus vassa los as so l i citações d e m e d i açã o . Os estudos s o b re a M o n a rq u ia
H is p â n i ca te n d e m a co m p rova r a p rog ressiva d is p a r i d a d e d e poder e ntre os g ra n ­
d e s va l i dos co m o Le rma o u O l iva res e os resta ntes titu l a res, e m b o ra u m a a n á l ise
a médio e longo p razo d e m o n stre que a estreita d e p e n d ê n c i a e ntre o seu poder
e o favo r rég i o torn ava o seu poder m u ito mais i nstável e efé m e ro que o dos titu­
l a res d e g ra n des se n h o rios j u risd i c i o n a i s62•
Pa ra Po rt u g a l , a i nfl u ê n c i a q u e D . Antó n i o d e Ata íd e , 1 o co n d e d a
Casta n h e i ra , d eteve j u nto d e D . João I I I é b e m co n h ecida u m a vez q u e o rel eva n ­
tíss i m o p a p e l d e m e d i a çã o po l ítica q u e d esem p e n h o u é teste m u n h a d o por vo l u ­
mosa co rrespondência e n d e reça da p o r servi d o res d a m o n a rq u i a d e vá rios ca ntos
do i m pério e d e todos os estratos soci a i s p a ra o bte nção de m e rcês rég ias.
Constit u i , p o r isso, um sinal evi d e nte do reco n h eci m e nto soci a l a l a rgado d esse
p a p e l d e brokerage, e n q u a nto q u e as, a pesa r d e tudo, co p i osas so l i citações d i ri­
gidas aos d u q u es d e B ra g a n ça se refe r i a m , s o b retu d o , a petições pa ra m e rcês
d u ca i s e a q u e l a s q u e e l es i nte rmed i ava m se re p o rtava m q u ase se m p re a g e nte
62 A b i b l i o g rafia s o b re este t e m a é extra o rd i n a r i a m e nte n u m e rosa e i m possível d e a p re­
senta r n este contexto . Para fu n d a m e nta r esta i d e i a ver por todos J. H. E l l i ott, Richelieu y
Olivares, B a rce l o n a , E d . Crítica, 2002 ( e d . o r i g . 1 984), no c a p ít u l o a q u e d e u o expressivo títu l o
" S e n h o res e C r i a d o s '; p p . 47-8 1 .
205
M afa l d a Soa res d a C u n h a
s u a e, va l h a a ve rd ade, n e m se m p re e ra m ate n d i d a s . U m a exp l i cação p l a u s ível
p a ra os casos d e recusas rég i a s seria o facto d e esses c l i e ntes reco rre rem aos
p résti mos briga nti nos pa ra u ltra passa rem fl a g ra nte m � nte o que estava co nsa­
g ra d o p o r l e i e n ã o a pe n a s p a ra a p ressa r o u faci l ita r p roced i m e ntos. A m e ro tít u l o
exe m p l ificativo vej a-se a co nsu lta do Dese m ba rg o d o Paço sobre Estêvão N u nes
Estaço, desem ba rg a d o r e ouvidor dos fe itos d a faze n d a da casa d e B ra g a n ça , a
ped i d o d a Se n h o ra D . Cata ri n a e m 1 58863• So l i citava essa se n h o ra q u e o rei l h e
fizesse m e rcê de se serv i r do d ito l i ce n c i a d o Estêvão N u nes Estaço n a Relação d a
Í n d i a , co m o O u v i d o r G e ra l , faze n d o-o p ri m e i ro desem ba rg a d o r d a s C a s a s d a
S u p l i cação co m a s m a i s m e rcês q u e h o uvesse l u g a r. Pa receu n a M esa o n d e o rei
m a n d o u ver essa peti ção q u e não e ra coisa q u e Sua M aj esta d e d evesse conce­
d e r, p o rq u e não so m e nte não convi n h a ser p rovi do este l etra d o no cargo e m e r­
cês q u e se ped i a m , m a s n e m p a ra o utros ca rgos se l h e d evia faze r m e rcê pelos
m u itos i nco nve n i e ntes que advi ri a m se se lhe co nced esse, e m razão d a ordem
que S u a M aj estad e d e ra sobre h averem d e s e r p rovi dos p a ra os ofícios que h avia
n o Dese m bargo d a Re l a çã o d a Í n d i a e n a s Casas d a S u p l i cação os ouvido rés q u e
s e rvi ra m n a s fo rta l ezas d o O ri e nte. O u sej a , o ped i d o i m p l i cava u m c l a ro atro p e l o
a o q u e estava i n stitu ído e a d i vi n h a-se n a resposta do Dese m ba rg o u m i rrita do
s o b ressa lto corpo rativo face a o perigo pote n ci a l d e ru ptu ra do cursus honorum
esta bel eci d o . O utro exe m p l o d e ntro d esta mesma l ó g ica fo i o ped i d o feito a
D . J o ã o I I I p a ra H e itor d e Fig u e i redo, ved o r d a casa d e B ra g a n ça e m 1 542, m a n ­
t e r os d i reitos de exp l o ração das faze n d a s q u e os s e u s fi l h os h e rd a ra m e m
Sa nti a g o d e Cabo Ve rde, assi m co m o os d i reitos d e vizi n h a n ça n essa i l h a , a pesa r
d o n otó rio a bsenti s m o64•
M a i s u s u a is, e m b o ra ta m bé m n e m se m p re ate n d i dos, e ra m os ped i d os d e
m e rcês pa ra fa m i l i a res d i rectos co m o s o l icitou o d u q u e d e B ra g a nça D . J a i m e
e m 1 5 1 5 e 1 525 pa ra o s e u so b ri n h o D . Ped ro65 o u p a ra o s e u fi l h o D . Fu l g ê n c i o
e m 1 54766, com o o bj ectivo d e l h es g a ra nti r u m a d ecente posição n a co n d ição
c l e r i ca l .
63 B i b l i oteca d a Aj u d a , 44-XIV-3 ( n °239), fi . 1 98, co n s u lta d e 1 9 d e Outu bro d e 1 588.
64 ANITT, CC, P. 1 a, mço. 72, doc. 1 46, carta d u ca l d e 21 d e O u t u bro d e 1 542. S o b re a i m p o r­
tâ n c i a dos privi l é g ios d e m o r a d o r e vizi n h o ver José Anto n i o G o n s a lves d e M e l l o e C l eo n i r
Xavi e r d e Al b u q u e rq u e , Cartas de Duarte Coelho a E/ Rei, 2 a e d . Recife, Fu ndaJ - E d .
M a ssa n g a n a , 1 997, p p . 1 6- 1 8.
65 AN/TT, CC, P. 1 a, mç o . 32, doe. 78, ca rta d u c a l d e 25 d e J u l h o de 1 5 1 5 e ANITT, CC, P. 1 a,
mço. 32, doe. 75, ca rta d u c a l d e 22 d e J u l h o 1 52 5 .
66 AN/TT, CC, P. 1 a, mço. 79, doe. 1 26, ca rta d u c a l de 2 1 de N ove m b ro de 1 547.
206
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Em jeito de concl usão
Reto m a n d o a g o ra o p ropós ito i n i c i a l d este texto, c re i o p o d e r afi rm a r-se
q u e existe u m a estreita a rticu l a ção e nt re os co n s u m o s cu ltu ra i s d a a ri stocra c i a
'
i bé ri ca e a oste ntaçã o, ente n d i d a esta co m o p roj ecçã o p ú b l i ca d a reputação e
v i rt u d es d a s respectivas ca sas e l i n h a g e n s e nt re os sécu l o s XV e i n ícios d o XVI I .
Pe l o m e n o s pa ra o caso p o rtu g u ês, d i scorrer perem pto ri a m e nte s o b re a i nten­
c i o n a l i d a d e s u bj a ce nte a ta i s i nvest i m e ntos é, n o e nta nto, a rri sca d o , uma vez
q u e escasse i a m os reg i stos m e m o r i a l ísti cos o u a uto b i o g ráfi cos q u e ofe reça m
e l e m e ntos o bj ectivos s o b re o g osto e a fru ição c u l t u ra l . Desse m o d o , s u rp ree n ­
d e r p ro p ó s itos, d es íg n i os o u o bj ecti vos p ress u põ e u m a a n á l ise s o b re reg i stos
o u i n d icad o res, q u ase se m p re i n d i rectos . Um dos q u e fo i s u g e ri d o p r e n d e-se
com o e nvo lvi m e nto d i recto desses a ri stocratas e m p rocessos de p ro d u çã o c u l ­
tu ra l , o u s ej a e m a utoria d e o b ra s . A l g u n s h a v i a 67, e m b o ra pa reça q u e, e m
Po rtu g a l , os se n h o res d a s p r i n c i p a i s c a s a s titu l a res ( B ra g a nça, Ave i ro , Vi l a Rea l )
q u a s e n u n ca o n ã o fize ra m . Patroci n a ra m h o m e n s d e l etras e d a s a rtes, o q u e
a pesa r d e p o d e r constitu i r u m i n d i ca d o r d e i nte resses cu ltu ra i s e, ce rta m e nte,
de a l g u m co n h eci m e nto e g osto, ta m bé m pode ser l i d o co m o m i m et i s m o de
p ráticas e m voga e m o utras pa ra g e n s . Po r o utro l a d o , o ti po d e co n s u m os i d e n ­
tifica d o s u g e re q u e a p r i o r i d a d e e ra conce d i d a a o b ra s d evoci o n a i s e à c r i a ção,
o u d i v u l gação, dos s i g nos co n s a g ra d o s d e reputação d a s l i n h a g e n s : a nt i g u i ­
d a d e e q u a l i d a d e d e sa n g u e, q u ase se m p re tra d u z i d o e m v i rt u d e s m i l ita res e
s e rviço à C o roa . Sej a s o b re a fo r m a d e c ró n icas, d e rel atos g e n e a l ó g icos, d e
b i o g rafi a s , d e pa l ácios, ca p e l a s o u m o n u m e ntos fu n e r á r i o s . Tod a v i a u m a a n á ­
l i se m a i s seg u ra d estes tó p i cos d eve ria a posta r n a p o n d e ração d o va l o r eco n ó­
m i co destes i nvest i m e ntos n o conj u nto dos b e n s d e ca d a u m a d a s casas.
Um p e r i g o evi d e nte d este esfo rço d e g e n e ra l ização é o d e dese n h a r p e r­
cu rsos d e pessoas e/o u casas excess i va m e nte raci o n a l izados, a l h eados d a s evi­
d e ntes i d ioss i ncra s i a s pesso a i s o u s i m p l es acasos d e fo rtu n a . Em todo o caso e
p rocu ra n d o u ltra passa r a d escrição d e casos avu lsos, a s e m e l h a nça d e práticas
soci a i s d a pri nci p a l n o b reza i bé rica não d eixa de su r p ree n d e r e se i m por. O q u e
67 Vej a-se o caso d o 1 co n d e d e Vi m i oso, a u t o r d e Poesias e sentenças de O. Francisco de
Portugal 1 ° Conde de Vimioso, Lisboa, C N C D P, 1 999. I m p o rta, porém, s u b l i n h a r q u e a m a i o ri a
a
dos a utores d e extracçã o fi d a l g a p e rte n c i a m a u m a fi d a l g u i a co rtesã i nterméd i a e só m a i s ra ra­
m e nte nas fra njas d a titu l atu ra como é o caso est u d a d o rece nte m e nte por L u ís Fe r n a n d o d e Sá
e Fa rd i l h a , A nobreza das letras: os Sá e Meneses e o Renascimento português, Lisboa,
FCG/FCT- M CTES, 2008, e n a b i b l i o g rafi a a í refe re n c i a d a s o b re a p ro d u çã o l iterá r i a d e
R e n asci m e nto e d o H u m a n i s m o e m Po rt u g a .
207
M afa l d a Soa res d a C u n h a
i m p l ica ci rcu l a çã o d e m o d e l o s e i d e á ri os. De afi n i d a d es e ntre os d ife rentes
n ívei s d e co ncepção e d e o rg a n ização d o p o d e r n a Pe n ín s u l a , ta m bé m . Pese
e m b o ra a a lteri d a d e d e contextos, c re i o bem q u e o ta � ativo e d es p u d o ra d o tes­
tem u n h o d o 5° d u q u e de B ra g a n ça a p ro pós ito d a d i scussão d o m o nta nte do
dote d e casa m e nto d a sua fi l h a D . I s a b e l com o i nfa nte D . D u a rte e m 1 530 s i nte­
tiza bem o habitus d a a ri stocracia i bérica :
" q u e e u não a u i a d e d a r a m i n h a fi l h a cousa q u e m e o u u esse de o faze r, n e m
d estru i r, por q u e eu l h e [ao rei ] d i sse l o g u o , q u e e u q u eria a i nd a m a r bem a m i m
q u e a m e u s fi l h os e a pos m i m a m i n h a caza m a is, q u e a e l l es, e p o r i sso n ã o a u i a
d e faze r co uza q u e d i sfizesse e m m e u fi l h o h e rde i ro, e n a caza q u e l h e a u i a d e
fica r e porq u e ti n h a esta te nção esta u a b e m fo ra d e dezu i a r pa ra m i n h a fi l h a
m a ri d o a q u e e u o u u esse d e bei a r a m ã o e q u e q u e r i a a ntes caza l a c o m h o m e n
q u e m a b e i a s e a m i m ; e q u e l h e ce rtifi ca u a q u e se achase u m m a n cebo d e q u e
m e co ntentase m u ito s u a pessoa q u e n ã o t i u ese n a d a q u e fo l g a r i a d e caza r com
ele m i n h a fi l h a p a ra a te r e m m i n h a caza pa ra m e a p ro u e ita r, e seru i r d e l l e é fa ria
conta d e lhe bu sca r d e co m e r, co m o e i d e b u sca r p a ra esso utros fi l h os
m a chos . . . " 68•
68 B P E , cód . C l l l/2-22, fls. 36-39V0•
208
Secção 4
E nt re o M ed ite rrâ n e o e o At l â n t i co ­
sécs . X I V-XV I ( N ave g a çõ es,
Co m é rc i o M a r íti m o , Desco b ri m e ntos,
Expa n s ã o Po rt u g u esa )
Gen ovesi e Portog h esi verso u n m o ndo g lo b a l e
G a briella Airaldi
U n ive rsità d e g l i Stu d i d i G e n ova
Seca n d o la Cronaca Compostelana i g e n ovesi co m pa i o n o s u l l e coste
d e i i 'Atl a nti co co m e costrutto ri di g a l ee e m a r i n a i g i à nei pri m issi m i a n n i d e i X I I
seco l o . E s s i certa m e nte co m batto n o co ntra i sa ra ce n i per conto d e i vescovo d i
Sa nti ago, m a e i n d u b b i o ch e n o n fa n n o so l o q u e l l o . N e l l o stesso m o m e nto peró
ved i a m o ch e l a fi g u ra , u n po' troppo eva n escente, d e i capo m issi o n e O g e ri o c o r­
rispo n d e pe rfetta m e nte a q u e l l a d i G u g l i e l m o E m b ri a co, a s u a vo lta "capo"
g e n ovese in O ltre m a re, co nsole d e i n a sce nte Co m u ne, g u e rriero e uomo d'affa ri
ca pace di d i stru g g e re l e sue g a l ee per fa rne to rri d a g u e rra d a p o rta re sotto le
m u ra di G e ru sa l e m me, di contri b u i re a l i a conq u i sta di Cesa rea e di a ltre l oca l ità
su l l ito ra l e si ro-p a l est i n ese e, i nfi ne, di d i ve nta re i i ca post i p ite di u na s i g n o ri a ch e,
ra m ifi cata ai di q u a e ai di l à dei Med ite rra neo, s i a p re, i ns i e m e co n a ltre g ra n d i
fa m i g l i e g e n oves i , a i contatto co l m o n d o 1 •
Esatta m e nte d u e seco l i dopo - i i pri m o fe b b ra i o 1 3 1 7 - Dom D i n is, re d i
Po rtoga l lo, sceg l i e, co m e almirante moor i i g e n ovese M a n u e l e Pessa g n o . I privi­
l e g i m e rca nti l i d e i g e n ovese, m a ben p resto natu ra l izzato Pessa g n o ( o ltre a i feu d i
e a l i e esazi o n i i m positive a nch e l 'ese rcizio d e l l a l i be ra attività m e rca nti l e e m a rit­
t i m a d u nq u e a n ch e p i ratesca e corsa ra ) , asso m i g l i a n o non poco a q u e l l e ch e assa i
p i u ta rd i Co l o m bo co ncord e rà co n l a Ca ro n a casti g l i a n a n e l l e C a p ito l a zi o n i d i
Sa nta F e . E'fo n d a m enta l e rico rd a re i n q u esta sede ch e M a n u e l e d eve a n ch e
i m peg n a rsi a d avere se m p re p ressa _d i sé venti u o m i n i " sa bedores d e m a r ';
esp ress i o n e a ssa i rive l atrice.
, G .A i ra l d i , Guglielmo e l a saga deg/i Embriaci, G e n ova, 2005e R . Lopez, Benedetto
Zaccaria, G e nova, 2003 ( m a 1 93 8) .
21 1
G a b r i e l l a Ai ra l d i
l n q u eg l i stessi a n n i i i g e n ovese Benedetto Zacca ria, ch e h a u na s u a fl otta e d
e stato i i vi ncitore d e i pisa n i a l i a batta g l i a d e l l a M e l oria ( 1 284), d o po aver p i ra­
tegg i ato n e l m a re g reco per conto d e i basileus biza nti. no otte n e n d o n e i n m o no­
pol i o l 'a l l u m e d i Focea, h a a i utato l a Coro n a a ra g o n ese in fu n z i o n e a nti a n g i o i n a
i n S i ci l i a n e l l a vice n d a d e i Ves pro. Po i h a d i feso fi n o a l i a fi n e l e m o renti co l o n i e
l eva nti ne, i nfi ne e d ive ntato almirante mayor casti g l i a n o . Dopo l a vitto riosa bat­
tag l i a di Ta rifa , deci d e perà di offri re i s u o i servizi a Fi l i ppo IV di Fra ncia, per i i
q u a l e ste n d e a nch e u n i nte ressa nte p rog etto d i " b l occo conti n e nta l e " a nt i n g lese.
N e l l a pri ma età moderna, gli i m perato ri d e i l a casa d'Asbu rgo, che si acco rd a n o
con Andrea D o r i a e i suoi a l l eati per i i co ntro l l o dei Med ite rra neo e per g l i " a s i e n ­
tos " nava l i e fi n a nz i a ri , non fa n n o n u l la d i d i verso d a q u e l che h a n n o fatto g l i
H o h e n sta ufe n tre seco l i p ri m a . Perfi no i i g ra n d e Federico 1 1 si é scelto a m m i ra g l i
g e n ovesi tra g l i S p i n o l a e i de M a ri nel m o m e nto i n cui h a deciso d i scaten a re l a
sua offe nsiva contro g l i i m batti b i l i genoves i . Bench é g l i sto rici fra ncesi n o n a m i no
rico rd a rlo, Lu i g i IX d i Fra ncia si serve d i d u e a m m i ra g l i g e n ovesi (e d i d e n a ró geno­
vese) nel m o m e nto i n cui decide d i a n d a re i n croci ata . E' su l l a n ave genovese
" Pa rad isus" ch e si reg istra ii pri mo ricordo d e l l 'uso di u n a ca rta m a ri n a; la pri ma
citazi o n e d i navi med iterra nee costa nteme nte i n m ovi mento tra i i M ed iterra neo e l e
Fia n d re nel 1 277 rig u a rda i i g i à rico rdato Benedetto Zacca ria; e sem p re a q u eg l i
a n n i , tra i l 1 297 e i l 1 298, risa l e i i via g g i o a d partes lndie tentato da U g o l i n o e Va d i n o
Viva l d i , a p p a rtenenti a u n cl a n genovese p resente a n ch e a Lisbo n a .
M e ntre l a d i n a st i a dei Pessa g n o p rospera , s'i n q u a rta co n l e fa m i g l i e loca l i e
fu n z i o n a d a rich i a m o, l a g e nte " n u ova " d i G e n ova , s a l ita a i potere n e l 1 339 co n l a
n ascita d e i dogato g e n ovese, - i cos i d d etti populares - a g g i u n g e solta nto a ltri
n o m i a d un siste m a di gest i o n e eco n o m ica e d i contatto co n ii mondo ch e resta
i m m utato . E cco, i nfatti, co m pa ri re s u l l a sce n a occi d e nta le, tra la M a n i ca e l ' a rea
s pa g n o l a , E g i d i o Bocca neg ra , ii Blackbeard ca ntato d a La u re n ce M i n ot, u o m o d i
m a re o d i ato e tem uto d a g l i i n g l es i . D'a ltra p a rte d a se m p re a nch e s u l côté i s l a ­
m ico i g e n ovesi m etto n o i n atto co m po rt a m e nti a n a l og h i .
A q u esto p u nto e evi d e nte ch e n o n s i tratta n é d i azi o n i i n d ivid u a l i n é d i fatti
casua l i , m a d i u n a cate n a d i fatti a n a l o g i c i , l e g g i b i l i i n una spazi a l ità a m p i a e i n
u n a cro n o l o g i a d i l u n g a d u rata . Ovvero s i a m o i n p resenza d i u n "fe n o m e n o d i
struttu ra '; ch e co m e ta l e v a esa m i n ato . Occo rre a l l o ra fa rsi q u a lche d o m a n d a i n
p i u s u q u esti a m m i ra g l i g e n ovesi e ch i e d e rsi ch i s i a n o g l i " stra n i e ri " ch e occu­
p a n o posiz i o n i cosl i m po rta nti n e l l a sto ria d e l l 'espa n s i o n e e u ro pea .
21 2
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Conv i e n e i n n a nzitutto non fa rsi tro p po d i stra rre d a l l a ti p o l og i a dei doeu­
m e nti ch e l i ri g u a rd a n o e co m p a ra r l i n e l l e fo rme e n e i conte n uti a g l i atti d i co n­
cess i o n e d i q u a rti e ri e d i attracch i p o rtu a l i in a rea co l o n i, a l e med ite rra nea, dove
p u re s i p a r l a di p rivi l e g i ri lasciati in ca m b i o di u n a q u a l ch e "fede ltà " in base a i
ca n o n i d e i te m p o .
Tuttavi a q u a n d o l a p ro p ri età e l a g esti o n e dei capita l i , d e i navi g l i o e d e i co m ­
m e rcio sta n n o d a u n a pa rte, i i contratto tra i b a ro n i oltre m a ri n i e i cos i d d etti m e r­
ca nti " ita l i a n i " - ovve ro sop rattutto i g e n ovesi -, ê certa m e nte i nteso d a a m be d u e
i prota g o n i sti su u n a b a s e pa rita ria, a nch e se s i tratta d a u n a pa rte d i i stituzi o n i e
d a l l ' a ltra d i p ri vati , ch e s pesso ra p p rese nta n o i n s i e m e se stessi e i i Co m u n e g e n o­
vese . Capita l i e tecn ici sono pagati con concess i o n i d i e ntrate, te rre e m o n o po l i .
Evi d e nte m e nte c'ê a l l ' o ri g i n e u na converg e nza d i i nte ress i , ch e co nse nte opera­
z i o n i co m p l esse, ed ê q u esta l a ch i ave per ca p i re a n ch e ii ra pporto ch e lega l e
l o b by g e n ovesi c o n l a Caro n a p o rto g h ese.
M a co m e a g i sco n o a l i a ra g e n ovesi e l i g u ri ?
Pe r ca p i r l o occo rre soffe r m a rsi s u l l a va rietà d i co m po n e nti soci a l i ch e si rac­
cog l i e sotto l 'etichetta " a m m i ra g l i o '; q u a l u n q u e sia la d u rata d e l l a ca ri ca e ricor­
d a re che, s i a p u re nei l i m iti d e i tempo, a G e n ova esiste u n d i n a m i s m o soci a l e
legato d a seco l i a l l 'atti vità m a ritti m a . A G e n ova i i m a re se lezi o n a u n a s u a " a ris­
tocrazia d e l l a ve l a '; ch e s i fo rma solo in base a d un d u ro a p p re n d i stato co n d otto
d i retta m e nte s u l m a re, q u a l u n q u e s i a I' orig i n e soc i a l e d e l l ' u o m o ch e lo p ratica . Lo
fa e lo racco nta G i a n n a d re a D a r i a , ch e n a v i g a co n A n d re a ; m a a n ch e
C o l o m bo,fi g l i o d i u n l a n a i o l o, ne p a r l a co m e d i u n a via p rivi l eg i ata p e r a rriva re
a l i a co n oscenza e n o n resta re " u n pove ro m a r i n a i o i g n o ra nte':
Tutto n a sce d a i co m p l esso ra p p o rto ch e, n e l C o m u n e m e d i eva l e
ita l i a n o , l ega stato i n d ivi d u o e ch e a G e n ova, m a ss i m a p rota g o n i sta d i u n a sto ria
d i a lta e m i g ra z i o n e in q u esto senso, si co l o re d i sfu m atu re piu i ntense. 11 s i ste m a
posto i n atto d a i g e n ovesi e d a i l i g u ri fi [l d a l l a fi n e d e i M i l l e ê a d u n tem po rí g i d o
ed e l a stico, m o b i l e e d i n a m i co e per sop ravvivere d eve conti n u a m e nte a m p l i a re
i s u a i spazi d'azi o n e . Al i a base c' e l a fo rm u l a d i o ri g i n e d i u n Co m u ne,ch e a p p a r­
t i e n e a d u n' a rea co l l egata d a se m p re a l l 'eco n o m i a - m o n d o e ch e rea l i zza l a s u a
i sta nza g l o b a l izza nte co n m eto d i e stru m e nti pecu l i a ri . Da s e m p re i g e n ovesi c o n ­
verg o n o i n zo n e strateg iche, m a , co ntra ri a m e nte a q u a nto m o lti pensa no, n o n si
m u ovo n o so l o a fi n i d i m e rcato . So n o - co m e d i ce Co l o m bo - " c u riosi " d e i
21 3
G a b ri e l l a Ai ra l d i
m o n d o . D i ve rsa m e nte d a a ltri " ita l i a n i '; essi perseg u o n o co n te nacia fi n d a l l ' i n i ­
z i o u n a pol itica d i "o rizzo nti a p e rt i '; a ntici p a n d o per q u a nto possi b i l e l e d i n a m iche
di u n'espa n s i o n e ch e d'a ltra pa rte l o ro stessi contri b u i $co no a costru i re .
11 Co m u n e m e d i eva l e ita l i a n o, u n a fo rm u l a pol itica ch e s i rea l izza co m p i uta­
m e nte e co n fi n a l i ca ratte ristich e di "sovra n ità " so lta nto in u n a parte d e l l a p e n i ­
s o l a ita l i a n a , e cioe t r a l e A l p i e i i Tevere, ra p p rese nta u n siste m a d e i tutto o r i g i ­
n a l e n e l q u a d ro e u ro peo, ta nto d a d i ve nta re s u b ito i i m od e l l o per ecce l l e nza
a ltern ativo a l i a m o n a rch i a e a q u a l s i a s i potere m o n ocratico.
ln effetti fi n d a l l'ori g i n e essa e d i verso dag l i a ltri cosiddetti co m u n i e u ropei,
d efi n iti g i u sta m e nte " i sole" in m a ri feu d a l i , co m e d'a ltra pa rte sono l e città d a p­
pe rtutto m e n o ch e n e l l ' lta l i a ce ntro sette ntri o n a l e . l ns i e m e a u n'asse m blea popo­
l a re, co nvocata perà solo per ratifica re o co ntesta re palese m e nte l e deci s i o n i p i u
i m po rta nti, nasce q u i u n a p ri ma , ru d i m e nta l e o rg a n izzazione pol itica, prom ossa d a
u n'aristocrazia m i sta d i picco l i n o bi l i e g ra n d i borg h esi (e c i o e d i fa m i g l i e póte nti ) .
N e e m e rg o n o d u e o rga n i decisio n a l i e operativi ( i conso l i e i i co n si g l io, da i nte n­
d e re perà seca n d o un n u ovo l essico pol itico, d iseg nato n o n d a patrizi m a d a mag­
n ati ) . Cià d i fatto p ropo n e l a fra ntumazione deg l i o rd i n i tra d i zi o n a l i : bellatores, ora­
tores, laboratores. D i n a m ico m i c rocosmo, ii Co m u n e ita l i a n o p ro m u ove u n a fo rte
a utocosci e nza i d e ntita ria " nazi o n a l e " e a i te m po stesso fo rnisce i p ri m i stru menti
a l i a fo rmazione d e l l a cosci enza i n d i vi d u a l e, co m e g l i stessi conte m pora n e i ri le­
va n o . La pa ro l a d'ord i n e dei Co m u n i e " l i b e rtà ': Ovv i a m e nte n o n si tratta del l a
" l i be rtà " dei fi l osofi , ma d i q u e l l a ch e vuole dife n d e re u n partico l a re d i ritto d i i n i ­
ziativa, sba razza ndosi d i q u a lsiasi a uto rità s u periore, sia essa u n i m pero o u n
reg no, ch e i m ponga sanzi o n i e d i vi eti a rbitra ri, senza corrispettivi . N e d e rivera n no
certa m e nte u n i n debol i m e nto d e l l 'esecutivo e u n a notevo l e a n a rch i a . Tuttavi a l e
" città-re p u b b l ica ita l i a n e'; fa ra n no cresce re l e possi b i l ità i n d i vi d u a l i d i ch i entrerà a
fa r pa rte d e i siste m a , n o n solo i g ru pp i e l ita ri va ri a m e nte associati per a l lea nze
m atri m o n i a l i , m a ch i , g razie a d u n a crescente a ccu ltu raz i o n e l a ica, espri m a
va l e nze " profess i o n a l i ': I rea l izza cosi n e l l 'lta l i a centro settentri o n a l e u na fo rm u l a
pol itica, eco n o m i ca e soc i a l e, ch e, su l l a sosta nzi a l e s i m biosi tra feu d a l ità m i n o re '
este rna, nasce nte bo rg hesia e m assa dei l avo rato ri, fi n i sce cal d a re vita a u n n u ovo
concetto di repubblica, certa m e nte d i ve rsa d a l l 'a ntica repubblica romana, che h a
sem p re m a nten uto ben p recisa e netta l a frattu ra t r a patrizi e p l ebei2•
' P. M . H O H E N B E R G - L . H O LL E N L E E S , La città europee da/ medioevo a oggi, R o m a - B a r i ,
1 987 ( e d . o r. 1 98 5 ) , p p 1 7- 1 74. e, p e r l a p e n i s o l a , D.AB U LAFIA, Le due ltalie, N a p o l i , 1 9 9 1 .
214
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Da Otto n e di Frisi n g a a Ra m o n M u nta n e r m o lti i no rri d i sco no di fo nte a q u eta
fo rm u l a pol itica basata s u l l a vo l o nta ria associ azi o n e di u o m i n i l i be ri e g u i d ata da
u o m i n i d'affa ri, n e l l a q u a l e a nch e i " m ecca n i ci '; i borg h esi ovvero i n o n " n o bi l i ';
posso n o a s p i ra re a l i e p i u a lte ca rich e . Perà g i à i i borgog n o n e Vi p o n e g i à h a seg­
n a l ato ch e g l i ita l i a n i m a n d a n o a scu o l a i fi g l i a n ch e se non h a n n o i ntenzi o n e di
avvi a r l i a l i a ca rri e ra ecclesiastica . N e l l 'lta l i a co m u n a l e dei XI I seco l o , ii l a i co e ra
cu ltu ra l m e nte m o ita avva nta g g i ato rispetto a i l a ico d e l l e F i a n d re o d e l l a
Sasso n i a , d ato ch e l a p a rteci pazi o n e d e i l a ici a l i a vita p u b b l i ca é u n a ve ra scu o l a
d i fo rmazi o n e pol itica e d i res po n sa b i l ità a va ri l i ve l l i a nch e se s i resta l o nta n i d a i
p i e n o god i m e nto dei d i ritti; d'a ltro ca nto, s i g u a rd a a l i a con oscenza d i retta e cioe
" s p e ri m e nta l e " co m e a un e l e m e nto fo n d a nte d e l l a co m p l eta fo r m a z i o n e cu ltu­
ra l e d e l l ' i n d i v i d u o3•
Presto ii Com u n e g e n ovese ass u m e un ru o l o egemone sui vici n i piu d e bo l i
e si espa n d e oltre m a re . l n q u esto pa n o ra m a a m p i o e d iffe ren ziato, s i a p u re n e i
s u a i m o d i e co n l e s u e reg a l e, l a società d e ntro e fu o ri l e m u ra citta d i n e n ó n e
ce rta m e nte statica. Lo d i m ostra l a va ri egata t i p o l o g i a g i u ri d ica d e l l e s u e com po­
n e nti soci a l i , ch e ved o n o , ass i e m e a l i a rifo rm u l az i o n e dei ru o l i già esistenti, la
creazi o n e d i n u ovi e l'a rrivo d a l l a ca m pa g n a di u n a fetta cospicua e crescente d i
popo l a z i o n e - m a r i n a i , a p p re n d i sti, d o m estici; l 'avvio d i u n' e d u caz i o n e sco l a stica
affi d ata a i m o n d o l a i co, ch e l i m ita i i m o n o p o l i o d e l l a ch i esa; i i sorgere d i u n a
l e g i s l a z i o n e a nti m a g n atizia e l a fo rm u l az i o n e d i s i ste m i b i pa rtitici . l.:eco n o m i a d i
sca m bi o p ro m u ove l a ten uta d i scritti, i nfo rmazi o n i e m e m o ri e d i vi a g g i o , l'atti ­
vità d i n ota i e ca n ce l l i e ri . Anche l e ragazze sa n n o l e g g e re e g l i a p p re n d i sti i m pa ­
ra no a te n e re u n reg i stro d i conti . l nfatti, co m e h a n n o d etto Sant'Ag osti n o e
Sant' l s i d o ro d i Sivig l i a , l a città e fatta n o n d i so l i sassi, bens] d i u o m i n i .
N atu ra l m e nte G e n ova a g g i u n g e, co m e a cca d e p e r tutti i C o m u n i ita l i a n i , s u a i
ca ratteri "o ri g i n a l i ': l nfatti, n o n osta nte p a s s i per a ppa renti rivo l uzi o n i i stituzi o n a l i
e p e r s i g n o ri e stra n i e re, m a ntiene costa nte m e nte i ntatta l a fo rm u l a d i base ch e
l a reg ge, sce lta e soste n uta d a. c l a n fa m i l i a ri ch e si s p a rtisco n o ca rich e pol itiche e
l e e ntrate i m pos itive, ch e contro l l a n o i i p o rto e tutte l e vie d i com u n i caz i o n e
i nterne, ch e fo rm a n o u n n etwo rk d i fo rze spa rse i n tutto i i m o n d o , ch e fo rm a n o
3 O l tre a i g i à citato W. U LLMAN N , s i veda no a n che D.WALEY, Le città - repubblica dell'lta/ia
medioeva/e, To r i n o , 1 980 ( e d . o r. 1 978) e a n che G . B E RTE L L I , 11 potere oligarchico nello stato-città
medievale, Fi renze, 1 978, s o p rattutto l e p p . 1 4- 1 27.
21 5
G a b r i e l l a Ai ra l d i
pote nti l o b by, ch e porta n o co n sé ca p ita l i , u o m i n i e navi, ch e si n atu ra l izza no l a d ­
d ove s i a n ecessa rio p i a nta re u n a n u ova ra d i ce .
Cosi I ' a g g ressività g e n ovese l ascia s p a z i o a l l 'avve ntu ra e a l i a costru z i o n e d i
p i cco l e o g ra n d i fo rtu n e . Tutti i l i g u ri , i ped e m o nta n i e i pada n i ch e ru ota n o i nto rno
a l i ' asse p o rtu a l e i nternazi o n a l e, ch e fa perna su G e n ova e Sava n a fi n d a l l 'età cro­
ciata, se nto n o ii rich i a m o d e i m o n d o .
l m pa ra re a d a n d a re p e r m a re, a fa re l a g u e rra e i i co m m e rcio e p e r i i l i g u re
essenz i a l e . Pe r I u i l a n ave e co m e i i cava i l o , l'ars na vigandi e l ' a ltra fa cc i a d e l ­
I ' a rte d e l l a g u e rra . S i p u à d i ve nta re cava l i e r i ; sop rattutto, co m e e ovvio, l o nta no
d a l l a m a d re patri a . Pe r i l i g u ri l 'e m i g razi o n e e u n a d e l l e ta nte v i e p e r l e q u a l i
passa i i sovve rti m e nto i n n escato d a i Co m u n e ita l i a n o , g ove rn ato d a u o m i n i
d'affa ri .
A G e n ova, l a navigazi o n e n o n h a n u l i a a ch e ved e re con l o stato, ch e n o n h a
n e p p u re fl otta . 1 1 ca p ita no-patronus co n osce l a s u a n ave fi n d a i m o m e nto d e l l a
costruz i o n e , d a i cont ratto co n i i m a estro d'ascia a q u e l l o steso p e r l 'eve ntu a l e
fo r m a z i o n e d e l l a società a ca rati s u l l a p ro p r i età d e i n ata nte ( u n'a ltra speci a l ità
g e n ovese); tratta co n negozia nti e sensa l i e, i nfi n e , deci d e ii carico, l ' iti n e ra ri o , i
p a rti d i sca l o e i te m p i d i sosta . E ' l o s p i rito d i avve ntu ra e d i sco perta, ca ratte­
ristico dei g e n oves i , u n ito a l i a l o ro perizia m a ri n a ra , ch e a i uta a costru i re u n
n u ovo s i ste m a i ns u l a re n e i i 'Atl a ntico, m ette n d o a n co ra u n a volta a ss i e m e l a
g u e rra , i i co m m e rcio e l 'esercizio d i ca riche loca l i c o n i i con cetto d i i nvesti­
m e nto4.
Né va n n o sottova l u tate l e l o ro ca pacità g u e rresch e, ch e cresco n o in m i s u ra
m a g g i o re e co n p i u pervicacia ch e i n og n i a ltra città ita l i a n a , sfoc i a n d o i n pere n n i
g u e rre d i fazi o n e e fa ce n d o d eg l i esi l i ati pol itici p reziosi a m m i ra g l i d i fl otte n e m i ­
ch e o perico l os i p i rati . 1 1 navi g l i o g e n ovese si m u ove d a l l e Fi a n d re fi n o a i m a re
d 'Azov i n tota l e l i bertà, senza rotte p refissate d a i l o stato,d i ve rsa m e nte d a q u e l ch e
ca p ita a Ve nezi a . La l i be rtà i n d ivi d u a l e d e i patronus, ch e vi a g g i a per costeriam
a nch e sei mesi senza ri g u a d a g n a re G e n ova , ne fa u n a fi g u ra fo rte e p o l i va l e nte.
Lo re n d e p a d ro n e d e i m a re e dei tem p i m a ritti m i . I g e n ovési s i a bitu a n o a d i n con­
tra re a d og n i sosta g e nte d i versa, un ti roci n i o ch e li p repa ra a non stu p i rsi mai di
4 Cfr. J . H e e rs, Colombo: perché u n genovese ?, i n " ' Co m i n c i a i a navi g a re i n g i ova n i s s i m a
e t à . . . ' G e n ova e Cristofo ro C o l o m b o '; a c u ra d i G .Ai ra l d i , G e n ova, 20 04, p p . 3-1 2 .
21 6
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
fro nte a l i a " sco p e rta ': D'a ltra pa rte te n e re ii m a re per ta nto te m p o e i nco ntra re
g e nte se m p re d i versa, senza i ntacca re la s o l i d a ri età di fo n d o d e l l 'esperi enza
co m u ne, conferi sce l a com a n d a nte u n a ca pacità d i g est i Q n e d eg l i u o m i n i ta l e d a
i m ped i re a m m ut i n a m e nti . L a so m m a d i q u esti d a t i g i u stifica l a fa m a d e l l e g e nti
m a r i n a re l i g u ri e l a trasversa l ità d e l l a fi g u re d i a m m i ra g l i .
Pe r g e n ovesi e l i g u ri ê n o rm a l e m ette re l a p ro p r i a p rofess i o n a l ità a i servizio
d i q u a lcu n o . l n q u esto senso l'operatività g e n ovese se m b ra fatta a p p osta per
m ettere ass i e m e e l e m e nti u ltro n e i . Pe r l o piu i g ra n d i cl a n trova n o g l i u o m i n i
a d atti a l i ' i nte rno d e i l o ro affo l l ati c l a n , m a - i i caso d i Co l o m bo ê i l l u m i n a n e i n
p ro posito - i i tec n i co p u à ve n i re a nch e d a l l e fi l a d e i l o ro fed e i i . C h i u n q u e co n d u ca
i i g i oco, co m u n q u e l a perizia d e i tec n i co ê u n e l e m e nto decisivo . Di fattc l e scelte
tocca no s o l o a ch i ha ca pita l i , navi e u o m i n i e sa q u a n d o e dove m ette rl i a p ro­
fitto, m a non ê se m p re cosi . Co l o m bo e a ltri co m e l u i , pri m a o dopo di l u i , sono
so l o stru m e nt i . Ma in o g n i caso l ' u o m o - stru m e nto usato, co m e i ca pita l i i nves­
titi o p restati s o n o solo l ' a n e l l o di u n a rete p i u a m pi a .
D a u n a p a rte ci s o n o d u n q u e g l i " a m m i ra g l i '; ch e d e ri va n o l a l o ro fu nzi o n e
d a u n term i n e d i o ri g i n e a ra ba d i conten uto co m p l esso a l -a m i r o e m i r (capo,
g u i d a ) co m e l a fi g u ra ch e n e d e riva, pastiche osci l l a nte tra un titulus vi nco l ato a d
u n'a lta o ri g i n e soci a l e ( n o n n ecessa ri a m e nte l egato a l i ' operatività concreta )
o p p u re risu ltato fi n a l e d i u n iti n e ra ri o d i fo r m a z i o n e co m p l essa a pe rta a m a lte,
d i ve rse poss i b i l ità e uti l i zza b i l e, co m e ii " m esti e re d e l l e a rm i " in u n a varietà d i
siste m i pol itici eco n o m ici e soci a l i . Da l l 'a ltra, esiste u n a " m a nova l a nza " d a u s a re
i n va ri ru o l i , fu n g i b i l e i n sede loca l e o i n g i ro per i i m o n d o : a bati e vescovi, ca n ­
ce l l i e ri e a m basci ato ri, a m m i n i strato ri d i doga n e o conta b i l i d i g ra n d i s i g n o ri
a n d a l u s i , co l l a b o rato ri dei g ra n d i arrendatarios d i i m poste, a g e nti d i affa ri d e i
g ra n d i m o n o p o l i sti d e l l o zucch ero, d e i g ra n o, d e l l 'a l l u m e, d e l l a seta, d e i s a p o n e ,
d e l l 'o ri ce l l o, del l a frutta secca , i m peg nati i n contro l l i m i n era ri e i n m a n ifattu re,
"facto res " a d og n i l ive l l o . N atu ra l m e nte i p i u s u g g estivi e i m po rta nti sono g l i
a m m i ra g l i , cava l i eri n eg l i o rd i n i m i l ita re d i Sa nti ago, d ove s'i ncontra n o a n ch e l e
l o ro d o n ne, l a mog l i e d i u n Pessa g n o o q u e l l a d e i g i ova n e Co l o m bo . M a tutte
q u este perso n e l avo ra n o i n rea ltà ta nto per le Coro n e co m e per i i n etwo rk a i
q u a l e a p p a rte n g o n o .
I g e n ovesi e i l i g u ri ch e va n n o p e r m a re ris pecch i a n o pe rfetta m e nte i i l o ro
s i ste m a d ' o ri g i n e " m i sto" e l o ro stess i , q u a l s i a s i g ra d o d e l l a società ra p p resen­
tino, posso n o m o d ifi ca re atti vità e ru o l i a seco n d a d e l l e occa s i o n i e d e i l u o g h i :
217
G a b ri e l l a Ai ra l d i
u o m i n i d'affa r i , g u e rr i e r i , p i rati o co rsa r i , co m a n d a nte d i m a re, s i g n o ri d i te rre,
a m m i ra g l i . D'a ltra pa rte e q u esta fu n g i b i l ità a fo rn i re l o ro ii g ra n d e b a g a g l i o
cu ltu ra l e cos m o p o l ita d i cu i sono tito l a ri , d i c u i sono p a l estra i i fo n d a co, i paesi
n u ovi e g l i u o m i n i i n co ntrati , ch e costit u i sco no l a vera base d e i ricch issi m o know
h ow d e i g e n oves i . N e l 1 604, q u a n d o i i pri nci pe G i a n n a n d rea Daria, d i sce n d e nte
d e i fa moso A n d rea, e g ra n d e d i S p a g n a e m e m b ro d e i Consej o de E sta do di S u a
M a està catto l i ca , a rd i na a G i a n n a nto n i o de M a ri n i , navigato re i m peg n ato n eg l i
a p pa lti d i g a l e re, d i l a sci a re l a p ro p r i a attività p e r accetta re u n i n ca ri co nel
g overno g e n ovese, eg l i a b b a n d o n a su bito l a navigazi o n e per 4 a n n i " pa ra m ej o r
servi re a su m a i estad e n m u ch a s cosas" n o n p i u privata m e nte co m e m a r i n a io,
m a i n veste p u b b l i ca co m e u o m o d i g ove r n o .
La g e nte atla ntica co n osce bene l a capacità n ava le, m a ritt i m a e g u e rresca
g e n ovese, co m e ricorda - lo si e detto - I' a ntica Historia Compostellana. N e l 1 277
le navi med ite rra nee di Benedetto lacea ria so no le p ri m e a navi g a re tra ii m a r
N e ro e l e Fia n d re . Ve nt'a n n i d o p o i frate l l i Viva l d i te nta no u n vi a g g i o " a d pa rtes
l n d i e " attraverso u n a rotta occi d e nta l e . A q u e l l 'e poca l a p e n i s o l a i berica p u l l u l a d i
g e n oves i , d i g ra n d e e p i cco l o n o m e s i a n e l l a pa rte i s l a m ica ch e i n q u e l l a cristi a n a .
Capita n i e p i l oti b e n pagati e navi avrebbe dovuto p o rta re c o n s é U g o Ve nto se
avesse pe rfezi o n ato ii suo contratto di a m m i ra g l i o casti g l i a n o . C e rta m e nte l i
aveva p o rtati co n s é Benedetto lacea ria; l o stesso fa ra n n o A l a o n e D o ria e E g i d i o
Bocca n e g ra , ch e s i m u overà i n acq u e med ite rra nee e atla ntich e m ezzo seco l o p i u
t a r d i co n a l m e n o venti ga lee. G l i a m m i ra g l i g e n ovesi pera ltro s o n o a nch e i n
g ra d o d i fa rne costru i re i n og n i l u og o q u a n d o c e n e s i a bisog no; cosi co m e sono
in g ra d o d i sovri nte n d e re ala costruz i o n e d i a rse n a l i e parti, co m e avv ien e Ai g u es
M o rtes o a Ro u e n . Anche Co l o m bo fa rà pa rte d i q u esta categ o r i a , ca pace d i p o l i ­
va l e nze i n u s u a l i a ltrove e per l a q u a l e i i m a re ra p p rese nta u n venta g l i o d i fo rt u n e .
Se va l e per i i p i u g ra n d e c l a n fa m i l i a re - q u e l l o d e i D a r i a ( d ove An d rea d e i ra m o
o n eg l i ese d eve costrui rsi l a s u a fo rtu n a ) va l e a m a g g i o r rag i o n e per u n "tec n i co"
d i mod esta o ri g i n e .
E' evi d e nte ch e l e g ra n d i fa m i g l i e s i pass a n o i i co m a n d o d i navi q u asi p e r via
e red ita ri a ; m a é ii nota i o B i a g i o Asse reto a coma n d a re l a fl otta, ch e, n e l 1 435,
batte a G a eta l ' a r m ata a ra g o n ese; se i Fi esch i sono tra d i zi o n a l m e nte a m m i ra g l i ,
a n ch e u n l o ro p rotetto, u n l a n a i o l o e v i ag g i atore d i co m m e rcio co m e Cristofo ro
Co l o m bo, p u à d i ve nta re "Am m i ra g l i o d e i m a re Oce a n o ': Da pa rte s u a Co l o m bo
d i ch i a ra d i aver m o ita navi gato e p u re d i aver fatto i i co rsa ro per conto d i Renato
21 8
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
di A n g i à . E' ch i a ra ch e Anto n i o da N o l i , ch e s a rà p e r q u a ra nt'a n n i ca p ita n o
d o n at a r i o d i Sa nti a g o a l i e i s o l e d e i C a p o Ve rde, n o n e u n perso n a g g i o ta nto
d i ve rs o . l nfatti e i i frate l l o di q u e l " pove rissi m o " Agost i r;10 da N o l i , u n i co m a es­
t ro in g ra d o di d i seg n a re " ca rte p ro navi g a n d o '; ch e, ii 7 n ove m b re 1 438, ch i e d e
a i Doge d i essere ese ntato d a i p a g a re l e i m poste co m e g i à otte n uto d a i m a es­
tro ch e fa b b ri ca " a g u g i a s ': Ou este le m otivaz i o n i a d d otte : " Co n s i d e ra ntes o p u s
esse conti n u o i n h a c ci vitate m a g i stris a d a rtem navi gati o n i s c o n s e rva n d e , q u i
n ecessa r i a i n i psa a rte confi ci a nt et speci a l iter ca rtas a d navi g a n d u m ; cog n os­
ce ntes eti a m s u p ra d i ctu m Au g u sti n u m s u p p l i ca ntem p a u peru m non posse ex
d i eta a rte m u ltu m l a b o ri osa m a g n a s cu m u l a re pecu n i a s . . . :' G l i v i e n e concessa
u n'ese n z i o n e dece n n a l e a patto ch e conti n u i n e l l ' a rte e a m m a estri suo frate l l o , i l
futu ro co l o n izzato re . D'a ltra pa rte i i n ota i o , m e rca nte e ca n ce l l i e re Anto n i o
G a l l o , a m i co d e i Co l o m bo, ricorda ch e Ba rto l o m eo d i seg n à u n p l a n i sfe ro p e r i i
r e i n g l ese E n rico VI l .
l n effetti n e l l a sto r i a d e l l 'espa n s i o n e g e n ovese s i i n co ntra n o n o m i i m p o r­
ta nti e m e n o i m po rta nti . La nza rotto M a l oce l l o, ch e d à i i n o m e a l l ' i so l a d e l l e
Azzo rre e p e r u n q u i n d i ce n n i o e vassa l l o p o rto g h ese, e i m p a re ntato co n i m a r­
ch esi d i Fi n a l e e d i Po nzo n e . S i g n o ra d i Va razze, Ce l l e e A I biso l a , p rese nte a n ch e
i n n u m e rose p i a zze a n d a l u s e , i n M a rocco e i n Po rto g a l l o , l ' a ntica sti rpe g e n o­
vese d e i M a l ocel l o e l egata i a i pote ntiss i m i F i esch i cosi c o m e l i s o n o Pessa g n o .
Lanza rotto h a a p p u nto sposato u n a Fi esch i . Anch e a ltri " scop rito ri " o " co l o n iz­
zato ri " h a n n o l e g a m i co n fa m i g l i e di g ra n d e peso co m e Fra ncesco R i va ro l a ,
a m ico e fi n a nzi ato re d i C o l o m bo, co l o n i zzato re e m o n o p o l i sta d e l l ' o ricel l o a l i e
C a n a r i e . Anto n i otto U s od i m a re, ch e v a a l i e i so l e d e i C a p o Ve rde co n i i venezi a n o
C a ' d a M osto e es p i a ra l e foci d e i G a m b i a ,a p p a rt i e n e a d u n a fa m i g l i a p resti g i o­
s i s s i m a . Nel 1 447, ii m e n o i m po rta nte Anto n i o M a lfa nte - ch e p e rà fa rife ri m e nto
ai potenti Centu r i o n e - e i i p r i m o e u ro peo a v i s ita re per p r i m o l ' o a s i di Tu at i n
p i e n o Sa h a ra . C o n i M a l oce l l o h a q u a l ch e re l a z i o n e l o " s peci a r i u s " N i co l oso d a
Recco,ch e l e g a i i s u o n o m e a u n vi a g g i o co m p i uto i n s i e m e a i fio renti n o Teg g h i a
de' C o r b i zz i , a l i e Ca n a ri e n e l 1 34 1 , ce l e b rato i n u n' o p e r i n a a n ch e d a G i ova n n i
Bocca cci o . S i a An d a l à d i Savi g n o n e c.h e G e ro l a m o d i Sa nto Stefa n o , tutti e d u e
l egati a i F i esch i , a u n seco l o e m ezzo d i d i sta nza l ' u n o d a l l ' a ltro, va n n o i n
O ri e nte ( u n o d a i Kh a n M o n g o l o e l ' a ltro i n l n d i a con G e ro l a m o Ad o r n o ) . Co m e
s i e d etto Anto n i o d a N o l i , pa rtito d a G e n ova co n d u e n a v i e u n barin el i n co m ­
p a g n i a d e i frate l l o B a rto l o m e o e d e i n i pote Raffa e l e, d a i 1 462 e attivo n e l c o m ­
m e rc i o co n l a M i n a , d ove f a p re n d e sch iavi e o ro; p a i , fo rse i n u rto co n i p o r­
tog h e s i , ch e n e vog l i o n o l i m ita re l 'attività, t ra i i 1 476 e i i 79 passa a i s e rv i z i o
219
G a b r i e l l a Ai ra l d i
d e l l a Casti g l i a ; p a i r i e ntra n e l l a s u a ca p ita n i a d i S a n t i a g o , d ove v i v rà tra n q u i l l o
fi n o a i 1 4975•
O u e sti s o n o a l cu n i dei n o m i ch e co nosci a m o , q u e l l i ch e s o n o ri m a st i a tes­
t i m o n i a re u n a l u n g a sto r i a . La v i ce n d a dei frate l l i Pess a g n o r i e ntra pe rfetta­
m e nte in q u esto p a n o ra m a . G i à in p i e n o D u ece nto l a g e nte dei c l a n n a v i g a e
co m m e rc i a n e l l e zo n e ch e s i affa cc i a n o s u i i 'At l a ntico. Anto n i o , frate l l o d i
M a n u e l e, e i m p a re ntato con D a r i a , D e M a ri e S p i n o l a , h a s posato u n a F i esch i
e sta i n l n g h i lte rra d ove i F i esch i o p e ra n o, tra p r e be n d e e ca n o n i cati, fi n d a i
tem p i d i Otto b u o n o F i esch i , futu ro Ad ri a n o V I , ch e v i sog g i o rn a a l u n g o e p a i
d e i pote ntiss i m o ca rd i n a l e L u c a . N e l 1 3 1 2 Anto n i o , p rotetto p u re d a l l a C a ro n a
fra n cese e d a i pa pato avi g n o n ese, d i ve ntato ki n g 's m e rch a nt, ri ceve i n peg n o i
g i o i e l l i d e l l a Ca ro n a i n ca m b i o d i a lt i ss i m i p restit i . Dato ch e i p restiti n o n v e n ­
g o n o o n o rati ott i e n e l e e n t rate p rove n i e nt i d a l l e m i n i e re d i C o r n ova g l i a e d e l l e
d o g a n e p o rtu a l i d i Lo n d ra e Bosto n n o n ch é l e d e c i m e i rl a n d e s i ; s u ccessiva­
m e nte l e entrate d o g a n a l i e l e re n d ite dei vaca nte a rc i vescova d o di C a n te rb u ry.
N e l 1 3 1 4 e yeoman d e i re e tes o r i e re d e l l a C a ro n a ; l ' a n n o d o po e fatto cava­
l i e re c o n u n a re n d ita di trem i l a ste rl i n e s u l l e e ntrate in G u a scog n a e ri ceve i i
m a n i e ro d i Ke n n i n g to n . N atu ra l m e nte h a i s u a i traffi c i : n e i m o m e nt i d i ca res­
tia i m po rta g ra n o e, i n s i e m e con a lt r i , o ltre a fa re un e n o r m e p restito a l i a
C a ro n a p e r o p e ra z i o n i m i l ita ri i n Scoz i a , n e g a ra ntisce p e rso n a l m e nte g l i
a p p rovv i g i o n a m e nt i .
1 1 1 3 1 7 e fo n d a m e nta l e p e r i d u e frate l l i Pessa g n o : i i p ri m o fe b b ra i o, M a n u e l e
ott i e n e l a p rest i g i osa carica d i a m m i ra g l i o d e i reg no d i Po rtoga l l o; n e l n ove m bre
su ccessivo, Anto n i o i i p i u fi ero co nco rrente d e i Fresco ba l d i n e l ru o l o d i b a n ch i e re
del l a Caro n a i n g l ese, d i ve nta s i n i sca l co d i G u asco g n a , s i g n o re d i C réo n e d e l l ' i ­
s o l a d i O l é ro n . Propr io i i g i o rn o p ri m a u n te rzo frate l l o, Leo n a rdo, a n ch e l u i attivo
i n zo n a i n g l ese, h a ri cevuto d a E d o a rdo 1 1 u n a l ette ra co m m e n d atizia o n d e reca rsi
a G e n ova e l à p rovved e re ai n o l e g g i o per tre mesi di c i n q u e g a l ee co rredate da
d u ecento u o m i n i d a i m p i eg a re n e l l a g u e rra di Scoz i a .
L e sto rie d e i l i g u ri n e l m o n d o s o n o ta nte e, tutto som m ato, a n ch e q u e l l a d e i
Pessa g n o s e m b ra rie ntra re pe rfetta m e nte n e l g ra n d e n etwo rk. M a l a vice n d a
' P. R EV E L L I , Cristoforo Colombo e l a sua scuola cartografica genovese, G e nova, 1 937.
E . PA N D I A N I , /a vita de/la rep ubblica di Genova nell'e tà di Cristoforo Colombo, G e n ov a ,
1 95 2 .
220
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
perso n a l e di M a n u e l e e certa m e nte la p i u i m po rta nte di tutte q u e l l e ch e conos­
ci a m o . l nfatti l ' i n co ntro tra Dom D i n i s e M a n u e l e p ro m u ove una svo lta e poca l e .
E' vero ch e i g e n ovesi sta n n o s u i i 'Atl a ntico g i à i n te m p i a ntich i , ê vero ch e a g is­
ca n o d a p pe rtutto, m a ê a n ch e vero p e rà ch e ii patto tra i d u e, tra l ' u o m o dei
Co m u n e e ii Re, seg n a un passo in p i u , q u e l l o dest i n ato a d a p ri re l a g ra n d e sto­
ria d e i m o n do6•
•
Cfr. L. Ad ã o d a F O N S E CA, O s descobrimentos e a formação d o oceano Atlântico. Século
XIX - Século XV, Lisboa 1 992 (trad it. Cag l i a ri , e d i z i o n i ETS, 2004).
22 1
B U LAS, TERRIT Ó RIOS, VASSALAGENS E ESPECIARIAS
Portu gal e as Form as de D o m ín i o n as M o l u cas de
Qu i n h entos
Antón i o Vasconcelos d e S a l d a n h a
Profe s s o r d o I n stituto S u p e r i o r d e C i ê n c i a s S o ci a i s e Po l ít i c a s
U n i v e rs i d a d e Téc n i ca d e L i s b o a
" . . . E sabendo quão poderoso na dita Ín dia era o dito
Senh o r e quantos lugares e cidades e rein os conquistara e tinha
debaixo de sua jurisdição e como os reis que lh e obedeciam e
se faziam seus vassalos recebiam dele acrescentamento em
seus rein os e estados se nom earam logo por vassalos dei Rei
de Portugal. . .:'
" Pa p e i s p e l o s q u a i s c o n stava q u e em 1 508 se desco b r i ra
M a l a ca e as i l h a s d e M a l uco"
Antes d e q u a l q u e r d esenvo lvi m e nto d a q u estão e m a n á l ise, não é d e m a i s
repeti rmos q u e a a n á l ise d a co m p l exa p ro b l e m ática j u ríd ica e p o l ítica respeita nte
à Expa nsão i m p l ica a co n s i d e ração de u m a d u a l i d a d e de p l a nos ou o rd e n s j u rí­
d i ca s e pol íticas q u e, natu ra l m e nte, co n d i ci o n a ra m a a ctu a çã o da Co roa d e
Po rtu g a l . A q u estão dos títu los d e a q u i s i çã o te rrito ri a l é d a s m a i s sensíveis e das
mais p ro p ícias à m a n ifestação d essa d u a l i d a d e .
S e e m termos l atos se p o d e d ize r g u e, no i nteri o r da Crista ndade, não h o uve
pejo em determ i n a r l ivre m e nte entre os seus m e m b ros o n a i pe dos d i reitos ou co n­
d i ções que a cada u m assistia para se a p ro p ri a re m das va ntagens prio rita ria m e nte
proporci onadas por u m a oportu n a desco berta e expa nsão nas Í n dias O ri e nta is e
Ocidentais, do mesmo modo se recon hecia no trato corrente co m os potentados do
Oriente a i n o perâ ncia de outros tít u l os q u e não fossem a ch a m a d a conquista o u ,
co m o a doação, todos a q u e l es q u e pudessem ser o btidos por via co ntratu a l .
223
Antó n i o Va sco n ce l o s d e Sa l d a n h a
Q u a n d o os R e i s d e Po rtu g a l se i ntitu l ava m ta m bé m d e Senhores da
Conquista, do Comércio e da Na vegação da Etiópia, da Arábia, da Pérsia e da
Índia, h á q u e e nte n d e r-se o s i g n ifi cad o esse nci a l m e n�e " i ntra-e u ropeu " de u m a
afi rmação q u e pa rece ria d esaj u stada à p rática d e re l a ci o n a m e nto - pa ritá rio o u
d es i g u a l , m a s de q u a l q u e r dos modos te n d o s u bj ace nte o reco n h eci m e nto d o s
d i reitos d a co ntra pa rte - q u e os Po rt u g u eses i n a u g u ra ra m no O r i e nte1 •
*
Contudo, é i m possíve l co m p ree n d e r o p rocesso exp a n s ivo p o rtu g u ês o m i ­
t i n d o a s p rete nsões q u e fo ra m o s e u s u stento p r i m a ci a l , e, ta m bé m , as razões d a
e l e ição d o O r i e nte como á rea p rivi l e g i a d a d e u m re l a ci o n a m e nto i nternaci o n a l
co n d u z i d o p e l os Po rtu g u eses e m d etri m e nto d e q u a l q u e r outra n a çã o e u ropei a .
Com ece m os, pois, p o r i nterroga rmo-nos sobre q u a l e ra o espaço q u e, com
ri g o r e n o â m bito do Di reito vige nte n a Christianitas, e ra a d m itido o u se procu­
'
rava faze r a d m iti r co rres p o n d e r a o títu l o usado pelos Reis de Po rtu g a l n o sécu l o
XVI .
A o entra rmos a ssi m n u m a q u estã o q u e é a d a d e m a rcação d a á rea d e dom í­
n i o u ltra m a ri n o dos m o n a rcas l u sita nos, é m i ster recu a rmos aos p ri m ó rd i os d a
E x p a n s ã o , a i n d a n o co m eço do sécu l o XV, e às p ri m e i ra s a q u i s i ções territo r i a i s
d a Coroa2• Refi ra m -se e m p ri m e i ro l u g a r a s i l h a s d a M a d e i ra e dos Açores q u e s e
conced i a tacita m e nte p e rte ncere m aos Reis d e Po rtu g a l p e l o d i reito pacífico d e
p ri m e i ros ocupa ntes e povoadores. E a i n d a q u e d u ra nte m u itos a nos su bsistis­
sem d úvida s n o que tocava às Ca n á rias, terras, m a res e i l h a s d e África, o Trata d o
d e Alcáçovas ( 1 479) co nfi rmado pela B u l a Aeterni Regis ( 1 48 1 ) to rn ava i n d is p u ­
tada a sobera n i a p o rtu g u esa n a s i l h a s d a M a d e i ra , dos Açores, d e Ca bo Ve rd e,
atri b u i ndo-l h e a i n d a os m a res e co n q u i stas d e Fez e d a G u i né . O Trata d o de
To rdesi l h as ( 1 494) - co nfi rmado por a uto r i d a d e po ntifícia e m 1 506 pela B u l a Ea
quae pro bano - co m p l e m e ntava o a nteri o r e i nte ressava p a rticu l a rme nte por
, A q u estão fo i trata d a co m m a i o r desenvolvi m e nto in Antó n i o Vasco ncelos d e Sa l d a n h a ,
/ustum lmperium. Dos Tratados como fu ry damento do Império dos Portugueses n o Oriente. ,
Estudo de História do Direito Internacional e do Direito Português, 1 • e d . M a c a u , I nstituto
Po rtu g u ês do O r i e nte, 1 996, 2• ed. Lisboa, I S C S P- UTL, 2 0 0 5 . O m e s m o tema foi t ratad o p e l o
a uto r n a conferência ( n ã o p u b l i ca d a ) " To rd esi l h a s, a s M a l u ca s e o m é rito p robatório dos co n ­
tratos ce l e b rados com os pote ntados l o ca i s '; feita n o Seminario d e Historia de/ Derecho - E/
Tratado de Tordesillas en e/ Derecho Internacional, patroci n a d o p e l a Fu n d a c i ó n D u q u es de Soria,
Soria 1 994
2 Vide A. V. d e Sa l d a n h a , lustum lmperium . . . , P. 1 1 , caps. I e 1 1 .
224
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
a b ra n g e r o Ocea n o Atl â ntico. E ra todavia o m i sso, co m o o de Alcáçovas, no d e l i ­
m ita r q u a l q u e r esfe ra de expa nsão p o rt u g u esa o u caste l h a n a n a Í n d i a e no
O r i e nte. Quando m u ito e i nterpreta n d o co m p l e m e nta r r;n e nte os capítulos d e
Alcá çovas e a B u l a lnter Caetera ( 1 456), os Po rtu g u eses só poderi a m reivi n d i ca r
o excl u sivo d a s te rras e navegações atlâ nticas q u e co n d u z i a m e facu ltava m o
acesso n ã o j á à va ga p ra i a m e ri d i o n a l e polum antarticum a q u e a l u d i a a B u l a
Romanus Pontifex ( 1 45 5 ) , mas através d e l a à África O r i e nta l , à Ará b i a , à Pérs i a ,
a t é à Í n d i a , usque ad lndos, tod a s a q u e l a s terras c u j a d e n o m i nação a lnter
Caetera o m itia, mas q u e d ava co m o exp ressa . S u bsistia a i n d a a d úvida se a Í n d i a
fica ria i n cl u íd a n a zo n a d e co n q u i sta; porq u e, resta s a b e r até q u e po nto a exp res­
são " a té aos Índios, inclusive'; deve ser l i d a co m o u m a i nterpretação g ratu ita d e
cro n i stas q u i n h e ntistas co m o Ru i d e P i n a e J o ã o de Ba rros, u m a asserção q u e a
l eitu ra ate nta dos docu m e ntos po ntifícios de modo a l g u m perm ite faze r.
De q u a l q u e r m a n e i ra , a Í n d i a e o O ri e nte perm a n eci a m co m o o d e rra d e i ro e
teó rico ca m po d e co nfronto d e Po rt u g a l e Caste l a . A p rova é q u e a B u l a Dudum
siquidem ( 1 493) co nce d i a aos Reis de Caste l a a fa cu l d a d e de se a possa re m d e
tod a s as terras q u e, n aveg a n d o o u ca m i n h a n d o p a ra o Ocide nte e M e i o D i a , esti­
vessem n a Í n d i a , i n c l u s ive a q u e l a s eve ntu a l m e nte j á doadas mas n ã o efectiva­
m ente ocu padas. N a m e l h o r das h i póteses, a i n d a que os Po rtu g u eses d esco b ris­
sem q u a l q u e r á rea a O ri e nte só l h es e ra reco n h ec i d o o d o m í n i o das á reas efecti­
va m e nte ocu padas e - depois d a co n cessão d a B u l a lneffabilis, dois m eses a ntes
da p a rt i d a de Vasco da G a m a , em 1 497 -- tod a s a q u e l a s te rras, c i d a d es ou fo rta­
l ezas d e i nfi é i s que se s u b m etessem o u q u i sessem paga r tri buto o u reco n h ecer
a o Rei d e Po rtu g a l co m o Se n h o r.
A B u l a Praecelsae Devotionis de 1 5 1 4 pa rece reeq u i l i b ra r o sta tus favo ráve l
aos Po rt u g u eses, a m p l i a n d o a s facu l d a d es d a Romanus Pontifex a o co n ced e r o
se n h o ri o so b re todos os m a res e te rras d esco b e rtas e n avegados n ã o só até a o
q u e ch a m ava m a " praia meridional'; m a s até à Í n d i a e t o d a s a q u e l a s pa rtes d e
q u e n e m h av i a n otíc i a pa rticu l a riza d a . I sto é, co nsag rava o d o m í n i o te m po ra l
dos Po rtu g u eses até a o l i m ite m a rca d o n a B u l a ln ter Caetera e faz i a - l h e acres­
centa r um termo i n d efi n i d o q u e a l a rgava à co n q u i sta dos Po rtug u eses t u d o o
q u e e ra desco n h ecido d o Ocide nte cristão n esse a n o d e 1 5 1 4. F i n a l m e nte, o
Trata d o d e Sa rag oça i rá e m 1 529 e a p ropós ito d a q u estã o d a s M a l u ca s p recisa r
o d e rra d e i ro l i m ite d a expa nsão dos Po rtu g u eses, i sto é, o cé l e b re s e m i - m e ri ­
d i a n o i m a g i n a d o a passa r 2 9 7 l é g u a s a o r i e nte d a q u e l a s i l h a s . O u sej a , o q u e s e
p o d e co n s i d e ra r o " s e n h o ri o v i rt u a l " dos Po rt u g u eses, d e m a rca d o n o g l obo n a
d i m e n s ã o e nos termos d a s b u l a s po ntifícias e dos acordos d i p l o m áticos cel e­
b rados com Caste l a .
225
Antó n i o Va sco n ce l os d e Sa l d a n h a
Sa be-se q u e estes l i m ites j a m a i s fo ra m co ncretizados n a p rática . Ai n d a
ass i m os po ntos a l ca nçados são suficie ntes pa ra i m p ress i o n a r e a m e d i d a o rg u ­
l h osa d essa d i m e n sã o dão-na o s ve rsos de C a m ões, subente n d e n d o , cremos q u e
p e l a p ri m e i ra vez n a l ite ratu ra , o co nce ito d e u m i m pério o n d e n u nca s e p u n h a o
S o l , depois tão g l osado p e l os e n co m i astas d a M o n a rq u i a dos Á u stri a s :
" Vós, poderoso Rei, cujo Alto Império
O Sol, logo em nascendo, vê primeiro;
Vê-o também no meio Hemisfério;
E, quando desce, o deixa derradeiro ".3
No termo do g overno fi l i p i no e mesmo o m it i n d o as possessões do Atl â ntico,
o cro n i sta seiscentista Fa ria e Sousa pod i a e n u nci a r u m a l o n g a l i sta d e esta bele­
ci m e ntos e fo rta l ezas co m p ree n d i d as n a esfera do d o m í n i o p o rtu g u ês n a África e
n a Á s i a . A esse espaço dava - l h e p o r l i m ites " o Cabo da Boa Esperança na Cafraria
e o de Liampó na Ch ina " e - escrevia - essas q u atro m i l l é g u a s pod i a m ser d ivi­
didas e m sete porções: " . . . A primeira termina com o Cabo da Boa Esperança e
com as entradas do Mar Roxo; a segunda com elas e com a do de Orm uz; a ter­
ceira com este mar e com o Rio Indo; a quarta com este rio e com o Cabo
Camarim; a quinta com este cabo e com o Ganges; a sexta com ele e com o Cabo
de Singapura; a sétima com este m esmo cabo e com o de Liam pó �'•
Fa ria e Sousa ch a m o u a esse todo o " Estado ou Império português da Ásia ".
D i o g o do Couto, nos fi n a i s do sécu l o XVI ta m bé m usou d a p a l avra Império p a ra
desi g n a r o co nj u nto das possessões u ltra m a ri n a s p o rtu g u esas, tra d ição q u e se
m a nteve i n i nterru pta até aos n ossos d i a s . A i m a g e m é p u ra m e nte l iterá ria e m a i s
p ró p r i a d o s a rq u éti pos d a p ropag a n d a d a m o n a rq u i a h ispâ n i ca q u e do ri gorismo
j u rídico e das concepções geopo l íticas dos g a b i n etes de Lisboa dos sécu los XVI
e XVI I . Aq u i fa l a -se do Rei n o e " suas conquistas ", do Rei n o " e seus domínios ",
o u , n a fó rm u l a r i g o rosa d a ch a nce l a ri a rea l , dos " Reinos e senhorios " d a Coroa
p o rtu g u es a . " Reinos " eq u iva l e a q u i , evi d e ntem e nte, a o que se ch a m a "Rein o "
n a s fó rm u l as a nte ri o res, o Rei no de Po rtu g a l e o Rei n o d o Alga rve, i sto é, o tod o
dos d o m í n i os pen i n s u l a res. Os " senhorios ", esses, co m p ree n d i a m tudo a q u i l o ,
3 Os L usíadas, C. I , est. 8. S o b re este t e m a vide J o ã o V i d a g o, " U m I m pério o n d e n u n ca se
p u n h a o so l " in Studia, n.0 37, Dez. 1 973 [pp. 205-2 1 5] p p . 208-209.
4 M a n u e l d e Fa ria e Sousa, Á sia Portuguesa por , ed. tra d . com uma I ntro d u çã o d e
. . .
M . Lopes d e A l m e i d a , B i b l i oteca H i stórica - S é r i e U lt ra m a ri n a - WVI , Po rto, Livra ria Civi l ização
Ed., [VI vo l s . ] 1 945-1 947, vo l . V I , p p . 459ss.
226
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
q u e a Coroa d o m i n ava e m vá rios po ntos do g l o bo, um co nj u nto de te rritó rios e
possessões cuj a perso n ificação ou re l a ci o n a m e nto i nternaci o n a l d e p e n d i a d a
m etró p o l e e u rope i a .
M a s a situação pecu l i a r d e Po rtu g a l e E s pa n h a o b ri gava a i n d a , n esta m até­
ria d o "es paço pol ítico'; à co n s i d e ração de rea l i d a d es d ifícei s de co m p re e n d e r por
o utras n a ções que n ã o estivessem d i recta m e nte envolvidas no p rocesso d e
Expa nsão. Aos o l h os dos g ove rna ntes estra n g e i ros é evi d e nte q u e o "espaço"
dos Po rtu g u eses e ra um espaço l i m ita d o . Quer p o r fro nte i ras natu ra is o u por co n­
fro nto d i recto co m o utros re i n os pertence ntes a outras Coroas. O ra , se se a d m i ­
t i a q u e o pod e r rea l n ã o pod i a s e r exe rc i d o extra territorium, ente n d e r q u e o
espaço aci m a defi n i d o p reench i a por co m p l eto o territorium po rtu g u ês, e ra a d m i ­
ti r q u e fo ra d essas á reas q u a l q u e r a cto determ i n a d o p e l a Coroa portug u esa e ra
j u ri d ica m e nte i rre l eva nte. O q u e esta j a m a i s a d m iti u .
I n d e p e n d e ntem e nte d a existê n c i a d e vastíssi m as zo n a s o n d e, por p u ra
i m possi b i l i d a d e pol ítica, m i l ita r e h u m a n a , n ã o e ra exe rci d a co rpora l m ente a
\
sobera n i a portu g u esa, o s i m p l es facto d a s u a i ncl usão n a á rea d e " p ro p ri edade"
d efi n i d a pelos trata dos e pelas B u l as, fazi a a c rescer a o territorium efectivo, à á rea
d e " co n q u i sta con cretiza d a '; uma zo n a fl u i d a , a á rea d e " co n q u i sta pote n ci a l ': Aí,
a i n d a que a Coroa de Po rt u g a l n ã o p u d esse d o m i n a r d i recta m e nte, o s i m p l es
facto d e ter d esco b e rto ou esta r " em processo de descobrir'; pa ra usa r das p a l a ­
v r a s d o p r ó p r i o D . João I I I , e ra suficie nte p a ra leg iti m a r a convicção a q u e o
e m ba ixa d o r Pe rei ra Da ntas d ava voz n a co rte d e I s a b e l d e I n g l aterra, i sto é, " que
todas as terras descobertas pela Coroa de Portugal são do seu dom ínio, e esta as
possui real e actualmente, em consequência do que os Reis de Portugal podem
restringir e proibir tudo o que puder causar dano ou prejuízo, sem que nisso
façam injúria ou dano a outro Príncipe Cristão �'
É evi d e nte q u e à mesa d a s n egociações, o n d e os h o m e ns joga m com o peso
das a rm a d a s, dos exércitos, dos a l i ados, dos i n i m i g os, das rotas m a ríti m a s e suas
redes co m e rci a i s, do re n d i m e nto d o açúca r, d a m a d e i ra e das especi a rias, d o
o u ro, dos escravos e dos cava los, os d a dos são n ecessa ri a m e nte co ncretos e as
á reas p a l páveis. Razão p o rq u e a Coroa p o rtu g u esa, se n o plano teó rico e dos
g ra n des p r i n cípios n ã o a bd icou um pa ! m o d a d e m a rcação g l o b a l fruto dos acor­
dos com Espa n h a e a l a rgada p e l os Po ntífices, é fo rça d a à mesa das negociações
a co ntra por a o red uzido se n h o ri o co nce b i d o p e l os I n g l eses e Fra nceses, o q u e,
sob pena d e peca r por i rrea l ismo, se co n s i d e ro u o " s e n h o ri o vita l " p a ra a co nti ­
n u ação d a co n q u i sta e co nservação do co n q u i sta d o .
É esse o senti do das pa l avras a p a rente m e nte contra d itó rias d o E m ba ixa d o r
Pe re i ra Da ntas, q u a n do e m 1 562 a dve rte os m e m b ros d o Conse l h o i n g lês q u e a
227
Antó n i o Va sco n c e l o s d e Sa l d a n h a
Ra i n h a " não devia estranhar que EI-Rei de Portugal seu A m o n ã o tivesse actual­
mente a posse de todos os territórios que haviam sido descobertos. EI-Rei seu
Amo esta va satisfeito com a posse dos Reinos e costqs e comércio da Guiné, da
Malagueta, da Etiópia, da Arábia, da Pérsia e da Índia "5• É a essa mesma " á rea
. . .
vita l " - que não pode nem deve ser confu n d i d a com a " á rea pote n ci a l " de expa n ­
são - q u e D . J o ã o I I I a l u d i ra j á e m 1 540, n a s i nstru ções a o e m baixa d o r e m Pa ris:
a costa d a G u i né, a costa d o B rasi l e os m a res da n avegação d a Í n d i a a Sul e a
O r i e nte, até a o s e m i - m e ri d i a n o d a s M o l ucas.6
Co m o , poré m , p roj ecta r n o rigor fo rm a l d e um títu l o rég i o a co m p l eta rea l i ­
d a d e d e todo u m espaço político co m posto p o r á reas efectiva m e nte d o m i n a d a s
e o utras sobre a s q u a is m a i s n ã o se ti n h a q u e u m tít u l o vi rt u a l a concretiza r p l e­
n a m e nte e m d ata i ncerta ? Os Reis d e Po rtu g a l reso lvera m a q u estã o com a d m i ­
ráve l h a b i l i d a de, recu pera n d o o m e n c i o n a d o co nce ito d e " co n q u i sta "'. E ra u m
ve l h o co nce ito n a term i no l o g i a j u ríd i co-po l ítica pen i n s u l a r: expri m i u p ri m e i ra ­
m e nte as zo n a s � eog ráfi cas q u e por a c o r d o o u tacita m e nte se sa b i a ca bere m e m
excl u s i vo a u m dete rm i n a d o r e i n a á rea d a Pe n ínsu l a a i n d a ocu pada pelos 'i nfiéis,
e, ass i m , d esti n a d a à " reco n q u i sta " cristã8• E d a Pe n ínsu l a o co nce ito é a l a rgado
5 C i t . in Visco n d e d e Santarém, Quadro Elementar das Relações Políticas e diplomáticas de
Portugal com as diversas Potências do Mundo desde o Princípio da Monarchia Portuguesa até
os nossos dias, Lisboa, 1 864- 1 866, ( R e l a ções co m l n g l aterra ) T. I X, p. 1 28 .
•
Arq u i vo N a ci o n a l d a To rre d o To m bo, Gaveta X I , m a ço 8 1 , doc.20, p u b . i n As Gavetas da
Torre do Tombo, Lisboa, Ce ntro d e Estu dos H i stóricos U lt ra m a ri n os da J u nta d e I nvest i g a ções
C i e ntífi cas d o U lt ra m a r, 1 1 vo l s , 1 960- 1 975, 11, p p . 720-728.
' S o b re este tópico vide A.V. d e Sa l d a n h a , /ustum lmperium . . . , P. l l , Ca p . l .
É u m facto esta b e l e c i d o q u e u m a l o n ga série d e trata dos c e l e b ra d o s e ntre re i s p e n i n s u ­
•
l a res i n c l u e m desde o sécu l o XI m e d i d a s rel ativas à p a rti l h a d a " c o n q u i sta " d e te rras m u ç u l ­
m a n as, i n c l u s ive no N o rte d e África, cf. L u ís Fi l i pe Th o m az, " L ' i d é e i m pé r i a l e m a n u é l i n e " i n L a
Découverte, / e Portugal et I ' Europe, Actes d u Co l l o q u e, Pa ris, l e s 2 6 , 27, e t 2 8 , m a i 1 988, Pa ris,
Soci eté Fra nçaise d' histoire d u Po rt u g a l , Fo n d a t i o n Ca l o u ste G u l be n k i a n , Ce ntre Cu ltu re l
Port u g a i s , 1 990, [ p p . 35-1 03], p.37. A este p ro pósito va l e a p e n a reco rd a r ta m b é m as co n s i d e ra ­
ç õ e s q u e Truyol Se rra, s o b re u m passo d e J o s é Anto n i o M a rava l l [E/ concepto d e Espana en la
Edad Media, M a d ri d , 1 954, p p . 1 50 e 348] faz s o b re as marcas: " La marca - escri be M a rava l l - es
un procedimiento bélico en una situación de guerra perpetua, pero no permanente. Y como tal, ,
.
fué usada por los árabes, así como por los cristianos, y no só/o por los francos, sino también
por los dei Occidente hispan o ". La i m p reci s i ó n d e los l im ites, seg ú n M a rava l l , se d i ó en l a
Pe n ín s u l a c o n u n ca rácte r m á s p ro n u n c i a d o q u e e n otros p a íses, ! l e g a n d o a s e r a l g o co n stitu­
tivo e n e l conce pto mismo d e rei n o : l o s r e i n o s h i s p á n i cos n o fu e r on n u nca « c u e rpos>>, s i n o
«ti e rras», c o n p a rtes e n d ife rente esta d o d e coa g u l a c i ó n po l ítica '; Anto n i o Truyo l Se rra, " La s
Fronteras y l a s m a rcas. Factores geog rafico-p o l iticos d e l a s re l a c i o n es i nt e r n a ci o n a l e s " in
Revista Espano/a de Derecho Internacional, Vo l . X, N . 0 1 -2, [ p p . 1 05-1 24] p . 1 1 0 .
228
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
a todas a s terras u ltra m a r i n a s poss u íd a s por i nfi é i s m e n c i o n a d a s nas B u l a s pon­
tifíci a s . N esse e nte n d i m e nto d a " co n q u i sta " co m o d i reito d e ocu pa r m a n u mili­
tari, o Al g a rve fo ra da " co n q u i sta " dos Reis d e Po rtu g a l , co m o G ra n a d a pertenceu
à " co n q u i sta " dos d e Caste l a . Os g ra n des trata dos ce l e b rados e ntre Po rt u g a l e
Espa n h a n o sécu l o XV pa ra d ete rm i n ação d e p ro p r i e d a d e e m á reas d e expa nsão
são ta m bé m - n a s p ró p r i a s p a l avras d o texto d e Alcá çovas e d e To rdesi l h as acordos d e d eterm i n ação d e á reas d e " co n q u i sta " e " d esco b e rta '; confo rm e se
trate de te rras reco n h ecidas e poss u íd a s por i nfiéis o u i ncertas e d e possível ocu­
pação pacífica . Ass i m , vemos o rei n o d e Fez e as I l h a s Ca n á ri a s ca racte riza das
co m o " co n q u i stas" e as i l h a s e te rras fi rmes eve ntu a l m e nte loca l izadas no M a r
Ocea n o cl assifica d a s co m o " d esco bertas ':
O conceito vi rá, p o ré m , a perder ri g o r e " co n q u ista " - à l u z das doações pon­
tifícias e d o seq u e nte ius ad rem, i. e. um d i reito a te rritó rios o ri g i n a d o n esses títu­
l os, uma ca u s a p a ra uma a q u i s i çã o d e um ius i n re poste rga d o n o te m po -- torna­
se, n a verd a d e, o e q u iva l e nte a " á rea l e g ít i m a d e expa nsão'; p rocessa d a i n d i st i n ­
ta m e nte p o r via bél i ca o u pacífi ca . Razão p o rq u e o Rei D . M a n u e l se l i m ite a s e r
" senhor da conquista" co n s i d e ra n d o po rve ntu ra red u n d a nte o títu l o d e " se n h o r
d a desco b e rta e d a co n q u i sta ': Razão porq u e n ã o é paradoxa l q u e D . J o ã o I I I a l u d a
i ns i stente m e nte à s terras d esco bertas e p o r d esco b r i r n o s e u se n h o rio, u m
se n h o r i o q u e a p a re nte m e nte é e m exc l u s i vo d e " co n q u i sta ': Razão ta m bé m p o r­
q u e u m j u rista c l á ss i co possa a l u d i r a propósito d a do utri n a do mare clausum às
" na vigationes vulgo conquistas "9• Razão, fi n a l m e nte, p o rq u e ofi ci a l m e nte se fa l e
do " Reino e suas conquistas'; e n g l o ba n d o a q u i tudo q u a nto se a d q u i ri u por fo rça
d a s a rm a s e acordos pacíficos de cessã o ou vassa l a g e m . E nte n d i m e nto bem
exp resso e m m e a d os d o sécu l o XVI por J o ã o d e Ba rros n a s Décadas, a o afi rm a r
q u e p e l o títu l o d e conquista estão "metidas n a Coroa deste Reino " u m a série d e
te rritó rios cuja n atu reza do títu l o a q u i s itivo é ca ra cte rizado p e l o m a i s acentu ado
po l i m o rfi s m o . 10
O p rocesso d e esco l h a dos tít u l os rég ios to r n o u -se, pois, n u m p rocesso d e l i ­
ca do, co n d i c i o n a d o p o r u m a exi g ê n c i a p ri m á ri a : a d e q u e u m títu l o d evesse co r­
respo n d e r a u m espaço efectivo, e q u e este espaço d evesse co nte r r i g o rosa­
m e nte a exte nsão e l i m ites d o poder rea l . Decorri a m d a q u i duas co nseq u ê ncias:
9 Do m i n g o s Antu nes Po rtu g a l , Tractatus D e Donationibus Jurium et Bonorum Regiae
Coronae, e d . L u g d u n i , 1 7 57, T. p ri m u s, L i b e r I I I , Cap.VI I , n . 0 7, p. 27.
10 J o ã o de B a rros, Da Á sia de . . . e de D i o g o de Couto. N ova E d i ç ã o ofe reci d a a S u a
M a g esta d e D . M a ri a I , etc . , Lisboa, Reg i a Offi c i n a , 1 778, 2• e d . Lisboa, Livra ri a Sa m C a r l o s , 1 973,
L V I , Cap. I in fine.
229
Antó n i o Va sco n c e l o s d e Sa l d a n h a
a i m possi b i l i d a d e de exercício d a j u risdição rea l extra territorium e a i n a d m issi­
b i l i d a d e intra territorium de o utra que n ã o a q u e l a que oste ntava com leg iti m i ­
d a d e o tít u l o co rresp o n d e nte. É possível co m p reend e r a esta l u z o e n o r m e
esfo rço i nternaci o n a l d e d i v u l gação do â m b ito e natu reza d a d esco berta ou d a
co n q u i sta recl a m a d a por D . M a n u e l , s i m u ltâ neo co m o a n ú ncio dos novos títu los
e m moedas, docu m e ntos ofi c i a i s e s i m p l es o b ras l iterá rias.
O uso i n co ntestado dos títu los rég ios torna-se, pois, num a rg u m e nto j u ríd i co
i n su bstitu íve l . U m títu l o rea l i n co ntesta do - n o pa rece r dos j u ristas e dos po l íti­
cos portu g u eses - concede a quem o oste nta uma beatitude possessionis ca usa,
a p rova de u m d o m í n i o pacífico e i n d es m e ntível q u e deco rre de u m a afi rmação
n ã o contra ri a d a , de uma aceitação tácita d e d i reitos o p o rtu n a m e nte i nvoca dos
pera nte a assem b l e i a dos p rínci pes cristã os. Precisa m e nte porq u e, seg u n do a
l i ção d o Di reito Ro m a n o e dos seus co m e nta do res, u m dos três m e i o s d e p rova
do animus possidendi, a vonta de de poss u i r, e ra p reci sa m e nte a decl a ração e m
q u e expressa m e nte se d izia fazer ta l c o i s a por d i re ito p ró p r i o . L i ç ã o q u e e ra bem
co n h ecida no Po rtu g a l d a Expa nsão e que co n stitu i u um a rg u m e nto d e peso n a s
constru ções dos g ra n des j u ristas dos sécu los X V I e XVI I q u a n d o a bordam a d o u ­
tri n a do mare clausum. R e b e l o , Bento G i l , S e l d e n , Antu nes Po rtu g a l , são u n â n i­
mes e m co nsiderar, co m Fr. Se rafi m d e Freitas, q u e, co m o u m a verd a d e i ra decla­
ração, o títu l o dos Reis d e Po rtugal " foi conhecido de todos os príncipes e povos
livres do mundo cristão, e de tal modo divulgado por todos os historiadores de
todos os países, que nenhum príncipe da Cristandade pode alegar ignorância
dessa declaração': 11
É certo q u e os t ítu los tra d uzem m e n os d i recta m e nte u m a d i m e nsão eva n g e­
l iz a d o ra e cu ltu ra l d o q u e u m feixe d e p reocu pações p resas à eco n o m i a e à p o l í­
tica exte rna de Po rtu g a l . Contu do, n ã o sería mos j u stos se pensássemos q u e o Rei
D . M a n u e l , no p ró p r i o m o m e nto e m que assu m e pela p ri m e i ra vez o l o n g o ditado
n ã o estava de boa fé, poss u ído de u m sentido de e l eição d i v i n a p a ra u m a espe­
ci a l m i ssão a postó l i ca e ass i m p l e n a m e nte co nvicto d e te r n a mão, j u stifica d os,
todos os poderes po ntifícios que j u ri d ica m e nte o exp l i cava m . N o p ró p ri o dia d a
ch egada de Vasco d a G a m a a L i s b o a o M o n a rca escreveu ao Ca rdea l Protecto r d e
1 1 " Qui titulus omnibus Principibus, popu/isque orbis Christiani notus fuit, et per omnes
omnium Provinciarum Historiographos scriptis traditus, ita ut nu/Jus Princeps orbis Christiani
ignorantiam huius dec/arationis causari possit", Fr. Se rafi m d e Freitas, De iusto imperio Jusita­
norum Asiatico. Do Justo Império Asiático dos Portugueses. I ntro d u çã o do Professo r Do uto r
M a rcel l o Caeta n o . Tra d u ção de M i g u e l Pi nto de M e n ezes, 2 vo l s . , Lisboa, I n stituto N a c i o n a l d e
I nvestigação C i e ntífi ca, 1 983, 1 1 , ca p . XIV, n . 0 3 3 , p . 1 9 2 .
230
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Po rtu g a l e m Rom a , a p o nta n do-l h e a desn ecess i d a d e de o bter do Pa pa o utra coisa
que não fosse uma re petição o u co nfi rmação h o n o rífica d e a nteri o res doações
q u e l h e g a ra nti a m o títu lo12• E o mesmo se passa e m m o m e ntos poste r i o res. De
facto, co n s i d e rado o co nj u nto d este tipo de d i p l o m a s po ntifícios, verifi ca m os q u e
a co n cessão d a B u l a Ea Quae Pro Bano d e 1 506 q u e s a n c i o n a o Trata do d e
To rdes i l h as, só co rres po n d i a à so l i citação q u e os p ró p rios m o n a rcas se ti n h a m
co m p ro m etido a faze r n o texto d e 1 494, a ntes d a v i a g e m do G a m a . E mesmo n a
B u l a Praecelsae Devotionis de 1 5 1 4, o btida n a seq u ê n cia d a cé l e b re e m baixada
d e obediência a Ro m a 13, o Pa pa Leão X l i m ita ra-se a confi r m a r i nteg ra l m e nte u m a
série de B u l a s m u ito a nteri o res à v i a g e m d e Vasco d a G a m a ( Dum Diversas,
1 45214, Romanus Pontifex, 1 452 e 1 45415, e Aeterni Regis, 1 48 1 ) e a este n d e r g e n e­
rosa m e nte e ad in finitum ( "ubicumque et in quibuscunque partibus etiam nostris
temporibus forsan ignotis ") u m a á rea d e " co n q u i sta " só l i m itada e m 1 529 pelo
trata d o d e Sara g oça . 1 6
D e p o i s d e d e m a rcado nos m a pas e co nfi r m a d o co m o u m d i reito vi rtu a l , to r­
n a d o efecti vo p o r u m acto l eg íti m o de a q u i s i çã o ( n este caso os a ctos m ate r i a i s d e
d esco berta e posse co rpora l a q u e p roced eu Va sco d a G a m a n a s u a vi a g e m ) o R e i
de Po rtu g a l estava seg u ro pa ra a n u nci a r ao M u n d o n ã o a p ro p ri e d a d e d e u m s i m -
1 2 "Outrossy como quer que por doações apostolicas m u y largamente tenhamos o
Senhorio e domino de todo o per nos achado de guisa que pouco neçessario pareça mais nada
porem muito nos prazera e affectuosamente vollo Rogamos que depois de dadas nossas cartas
ao santo padre e ao collegio queiraees falando nysso como vosso ao menos por mostra dalgum
nouo contentamento pera em cousa tam noua e tam grande e nouo mereçimento aveer de Sua
San tida de noua aprouaçam e o u to rga de/lo na milh a r forma que parecer a vossa
Reverendissima . . .;' carta p u b l i ca d a in A. Fo ntou r a da Costa, Roteiro da Primeira Viagem de Vasco
da Gama ( 1497- 1499) por Á lvaro Velho, Lisboa, 1 940, p . 1 97. Em s e n t i d o tota l m e nte i nverso a o
n o s s o e n te n d i m e nto d este texto , vide C h a rles Boxer, O Império Colonial Português ( 14 15- 1825),
Lisboa, E d . 70, 1 98 1 .
1 3 Arq u i vo N a c i o n a l da To rre do To m bo, Bulas, m . 29, n . 0 6, e C h a r l e s M a rti a l d e Witte, Les
e
lettres papales concernant l 'expansion portugaise au XV/ siécle, Les Ca h i e r s d e la N o u ve l l e
Rév u e d e s c i e n ce m i ss i o n a i re, XXI , l m m e nsee, N o u ve l l e Révue d e Sci e n c e M m i ss i o n a i re, 1 986,
p p . 1 1 8- 1 1 9 .
1 4 B u l a q u e era, ess e n c i a l m e nte, u m a a utorização p a ra g u e rre a r os I nfi é i s .
1 5 A Romanus Pontifex conti n h a o reco n h e ci m e nto essen c i a l do m o n o p ó l i o d e n avegação
e d i reito d e co n q u i sta .
16 Vej a-se o texto do trata do in Pri m itivo M a ri ii o, Tratados lnternacionales de Espana.
Carlos V. 1 - Espana-Portugal. 11 - Espana-Norte de A frica. Po r . . . co n l a co l a bor a c i ón d e M. M o r a n ,
M a d ri d , Con sejo S u p e ri o r d e l nvesti g a c i o n e s C i e ntificas, 1 978-1 980, I , p p . 201 -305, bem co m o a
d escrição das negóciações a p p . XCVI I I -CI I .
23 1
Antó n i o Va sco n c e l o s d e Sa l d a n h a
p i es te rritó rio, m a s a p ro p ri e d a d e d e todo u m espaço o n d e só e l e t i n h a o d i re ito
a expa n d i r-se, cujos m a res só e l e pod i a contro l a r, cujo co m é rc i o só a e l e ca b i a
reg u l a r e d esfruta r. Q u e r d i zer: o d i reito d e " co n q u i sta '; u m ius privativum n o
s e n t i d o l ato q u e se refe ri u d e u m ius ad rem, e os d i reitos co n exos d a navega­
ção e co m é rcio; o u sej a , n a s p a l avras d o E m ba ixa d o r Pe re i ra Da ntas em
Lo n d res, os meios fu n d a m e nta i s que os R e i s pen i n s u l a res ti n h a m pa ra " deter­
minarem nas suas conquistas acerca dos negócios delas como conviesse às
necessidades e in teresses comerciais das m esmas conquistas com os respecti­
vos reinos':1 7
*
Contudo, esta i m a g e m de s ó l i d a coe rê n c i a i d eo l ó g i ca , j u ríd ica e p o l ítica
a p rese nta d a pel a s m o n a rq u ias h ispâ n icas n o seio d a Crista n d a d e n ã o fo i cons­
tru íd a sem perca l ços: poucos, mas co m p l exos. O Tratad o d e To rdesi l h a s s u scitou ,
p o rve ntu ra , o m a i s g rave. Refe ri m o-nos a o p l e ito l u so-caste l h a n o s o b re a posse
das I l h a s M o l ucas.18
Co m ri g o r, por M a l ucas o u M a l u co ente n d e m -se as c i n co i l h a s situadas ao
longo d a costa de H a l ma h e ra , n a l ns u l í n d i a : Ternate, Tidore, M oti r, M a ki a n e Baca n ,
as ch a m adas "Ilhas das Especiarias " d a d a a s u a q u a l i d a d e d e ú n i co p rod uto r
m u n d i a l do p recioso cravo . Se bem q u e o termo p u d esse a l a rg a r-se p a ra a b ra n ­
g e r u m a á rea vasta o n d e os Po rtug u eses se e m pen h ava m n a e m p resa co m e rci a l ,
..
" Visco n d e d e Santarém, Quadro Elementar. , To m o IX, p . 1 30.
'" Um q u a d ro m u ito co m p l eto d a q u estão d o Trata d o n o â m bito d a po l ítica exte r n a e d a
d i p l o m a c i a do Rei D . J o ã o 1 1 i n L u ís Adão d a Fonseca, O . João /1, Lisboa, Círcu l o d e Leito res,
2005, C a p . 4. S o b re os p o r m e n o res d a seq u e nte q u estão das M a l ucas, vide J o ã o d e Ba rros,
...
.
Décadas , Dec. l l l , L.V, Cap.V-X, p p . 5 64-663, J o a q u i m Ve ríss i m o Se rrã o, História de Portugal. . ,
vo l . l l l , p p . 37-39, e, em g e ra l , o vo l u m e A viagem de Fernão de Magalhães e a Questão das
Malucas, Actas do Seg u n do Co l óq u i o E s pa n h o l de H i stó r i a U ltra m a ri n a , L i s b o a , 1 975, com
especi a l d esta q u e p a ra os tra b a l h o s d e L u ís d e Al b u q u e rq u e e R u y G raça Feijó, "Os Pontos d e
Vi sta d e D . J o ã o I I I na J u nta d e B a d ajoz:E iva s '; p p . 528-545, L u ís Fi l i pe T h o m az, " M a l u co e
M a l a c a " in Idem, p.37. Vej a m -se ta m bé m , pa ra m a i o res p o r m e n o res, os vários d e po i m e ntos
coevos tra nscritos em " I n q u i rição q u e se t i r o u , por o rd e m d e e l - re i , a resp e i to d a to m a d a de
..
M a l aca e desco b r i m e nto de M a l u co, 1 52 3 '; in As Gavetas . , I I I , p p . 1 7-39. Vide a i n d a os " Pa p e i s
p e l o s q u a i s constava q u e e m 1 508 se d esco b r i ra M a l a ca e as i l h a s d e M a l u c o " in As Gavetas ,
...
IV, p . 2 5 6 . U m q u a d ro co m p l eto da evo l u çã o da q u estão no sécu l o XVI I em F. M e n des da Luz,
O Conselho da Índia, Lisboa, Ag ê n c i a Geral do U ltra m a r, 1 952, p p . 1 56- 1 7 1 , e A.V. d e Sa l d a n h a ,
lustum lmperium , P. I , ca p .V, n . 0 3 .
...
232
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
n o esfo rço de m i ssi o n a çã o o u n a i nfl u ê n cia po l ítica q u e tudo s u stentava, o n o m e
d e "Maluco " a p l i co u -se ta m bém à ú n ica i l h a d e Te rn ate, sendo o seu sobera n o
m u çu l m a n o co n h ecido n o rm a l m e nte p o r "Rei de Maluco "'9• É esse o centro d o
i nte resse d o s Po rtu g u eses. O pção q u e, a l i ás, co rres po n d i a à rea l i d a d e pol ítica,
i sto é, à p repo n d e râ n c i a e poder h e g e m ó n i co que e m Te rn ate os Po rtu g u eses
v i ra m dese n ro l a r-se sob os seus o l hos a o l o n g o d a p ri m e i ra m eta d e d o sécu l o
XVI .
As ci rcu n stâ ncia s q u e e nvo lvem esta i nteressa nte q u estão d e D i reito
I nternaci o n a l são co n h ecidas d e todos: escassos três m eses passa dos s o b re a
co n q u i sta d e M a l aca , Afo nso de Al b u q u e rq u e envia e m n o m e d o Rei d e Po rtu g a l ,
e m N ove m b ro d e 1 5 1 1 , u m a p ri m e i ra exped i çã o d e três navios d esti n a d a à des­
co berta das I l h a s M a l ucas. Um teste m u n h o coevo é m u ito c l a ro q u a nto aos
o bj ecti vos d e Al b u q u e rq u e; n a verd a d e trata r-se-ia d a p u ra s u bstitu i çã o do Rei
l u sita n o n o l u g a r e m i n e nte do S u ltão d e M a l aca n a co m p l exa teia d a s h i e ra rq u i a s
pol íticas d a l n su l ín d i a : " que fosse a Maluco a assentar o trato com ele e a notifi­
car ao rei como Malaca era d 'el rei nosso senhor e assim todas suas terras e
senhorios e que podiam tratar e navegar com Malaca seguramente e assim lhe
notificasse ao dito rei de Maluco e a todos os outros reis e senhores por onde
fosse que seguramente na vegassem e viessem a Malaca que era d 'el rei nosso
senhor onde receberiam muita honra e lhe fariam m uita justiça e que não haviam
de pagar outros direitos nem tributos senão os que saíam a pagar ao rei que foi
de Malaca �'20
. . .
Sa be-se q u e a exped i ç ã o fraca sso u d ev i d o a n a ufrá g i o; tod a v i a , os
Po rt u g u eses a ca ba ri a m p o r ch ega r às M a l ucas e m 1 5 1 2, q u a n d o o S u ltão Baya n
S i rru l a h co nvi d o u Fra nci sco Serrão, u m dos ca p itães d a expe d i çã o m a l o g ra d a , a
esta bel ecer-se e m Te rnate. De facto, o m o n a rca ternatense a p e rcebe ra-se com
fa ci l i d a d e d a i m po rtâ ncia po l ítica dos Po rtu g u eses, e, n a e m baixada q u e enviou
a M a l aca e m 1 5 1 4, os pedidos de a uxíl i o pa ra os p roj ectos de s u p re m a c i a terna­
tense e ra m mais d o que m a n ifestos .
E nt reta nto, a v i a g e m d e c i rcu m - n av e g a ç ã o i n i c i a d a p o r Fe r n ã o d e
M a g a l h ã es e co m p l etada p o r Sebasti ã o d e i Ca no, a b ri u novas pers pectivas à
'9 Para a a n á l ise da q u estão de seg u i d a estu d a d a , a l é m d a s c ró n i cas de J o ã o de Ba rros e
de D i o g o do Couto, u s a m o s o e n q u a d ra m e nto g e r a l de o b ras c o m o as de L u i s Fi l i pe T h o m az,
Maluco e Malaca . . . , cit., e Pa ra m ita Abd u rach m a n , " N i a ch i l e Poka ra g a . A sad sto ry of a
M o l u cc a n Q u e e n '; in Modem Asian Studies, Vo l . 22, Pa rt 3, J u l y 1 988, p p . 57 1 -592.
20 ln " Pa p e i s pelos q u a i s constava q u e em 1 508 se d esco bri ra M a l a ca e as i l h a s de M a l uco"
.
in As Ga vetas . . , IV, p . 256.
233
Antó n i o Va sco n c e l o s d e Sa l d a n h a
co m p reensão d a s á reas expa nsivas d a Coroa caste l h a n a e à ava l i ação do e n o rm e
pote n ci a l co m e rci a l ofe reci do pelas ch a m a d a s " ilhas d o cravo �' A o po nto de o
I m pe ra d o r Carlos V e nvi a r p a ra o O ri e nte u m a série d e. expe d i ções q u e, ao s u sci­
ta r os p rotestos po rt u g u eses, i rão despoleta r o d i ssíd i o l u so-caste l h a n o sobre as
M a l ucas.
Apesa r d a p r i o ri d a d e d a desco b e rta e esta b e l eci m e nto dos Po rtu g u eses n a s
i l h a s, a s d úv i d a s s u scita d a s p e l a a u sê n c i a n o Trata d o d e To rdesi l h a s d e u m a
d e m a rca ção a O r i e nte, l eva ntava m u m a q u estã o d e l i ca d a : o n d e fi cava m a s
i l h a s ? " N o cá lcu l o d e M a g a l h ã es - escreve Ve ríssi m o Serrã o - j á de ntro d o
h e m i sfé rio p o rtu g u ês, e m b o ra Carlos V estivesse co nve n c i d o d e q u e, te n d o o
s e m i - m e ri d i a no te rrestre 60 0 0 l é g u as, ca b i a à E s pa n h a a contesta d a posse. M a s
a coroa d e D . J o ã o I I I desde 1 523 q u e reco l h e ra o teste m u n h o d e n a utas, p i l otos
e ca rtóg rafos q u e h a vi a m visitado ou t i d o co n h eci m e nto d a q u e l a reg i ã o e q u e
m a nti n h a m o d i reito q u e assistia a Po rt u g a l à posse e co m é rcio d a s M a l u ca s . Do
l a d o espa n h o l b u scou -se ta m bé m o a po i o d a ca rto g rafi a p a ra fu n d a m e nta r a
p r i o r i d a d e , asse nta n d o u m d i reito a o m es m o te m po h i stórico, g e o g r á fi co e
co m e rci a l ':2'
Deste m odo, d i scuti n d o-se a i n ce rteza d a d e m a rcação e m q u e ca ía m as
M a l ucas, d i scuti a -se a i ncerteza do dominium, situação que aca rretava a n ecessi ­
d a d e d e esta b e l ecer q u e m fosse o poss u i d o r, possu i d o r este q u e a do utri n a ,
n essa situ açã o d e d úv i d a , co n s i d e rava o d etento r do m e l h o r d i reito.
São co n h ec i d o s os termos d a 1 " fa se d a p o l é m i ca , q u e, a rra sta d a a o l o n g o
d o s a n os d e 1 522 até a o acordo d e Sa ra g oça e m 1 524, p rete n d e u c l a rifi ca r o
p ro b l e m a d a d e m a rcação d e m o d o a d eterm i n a r a p ro p ri e d a d e e posse d a s
i l h a s22• O s p r i n c i p a i s s u stentos d a t e s e caste l h a n a m o stra-os a i n st rução
e nv i a d a p o r Carlos V a D . J u a n d e Z u fí i g a , e m b a i xa d o r e m Lisboa, q u e, p o r sua
vez, o s d eve r i a m a n ifesta r a o R e i d e Po rt u g a l 23• Pa ra só refe ri r os que à n ossa
q u estã o toca m , a rg u m e ntava o I m p e ra d o r q u e à j u stiça da s u a p o s i ç ã o e ra
s u f i c i e nte, e m p ri m e i ro l u g a r, a posse d a s i l h a s exerci d a p e l a Coroa d e Caste l a ,
a q u e se n ã o o p u s e ra n e m o m o n a rca re i n a nte d e Po rtu g a l , n e m o a ntecess o r;
e m seg u n d o l u g a r, e ra j u sta a ocu pação exe rc i d a pe l os E s p a n h ó i s , especi a l ­
m e nte à l u z d o D i re ito Co m u m q u e. afi r m a t e r d i reito d e posse a q u e l e q u e d es- '
co b re, ocu pa e poss u i . E m t e rce i ro e ú lt i m o l u g a r, à s m e s m a s i l h a s t i n h a m - n a s
21
J oa q u i m Ve ríss i m o Serrão, História de Portugal, Lisboa, Ve rbo, vol . l l l , p.38.
S o b re a period ização da q u estã o, a l é m dos estu d o s citados, seg u i mos a Pri m itivo
M a ri rí o, Tratados lnternacionales . , I , p. LIX.
22
.
.
'' M a ri rí o, op. cit., p p . LXX I I - LXI I I .
234
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
d esco b e rto e ocu p a d o efectiva m e nte s ú b d itos de Caste l a , poss u i n d o-as pacífica
e conti n u a d a m e nte.
Os a rg u m e ntos dos Caste l h a nos e ra m , co m o se sa b � , passíveis d e reservas .
É certo, p o r exe m p l o , q u e, a o contrá rio d o afi rmado, D . M a n u e l se o pôs deci d i ­
d a m e nte à exped ição d e M a ga l h ã es24• Sa be-se ta m bé m q u e a desco berta d a s
I l h a s co u be a o s Po rtu g u eses e não a o s Caste l h a nos. E a i n d a q u e s e p u d esse a rg u ­
m e nta r q u e , a pesa r d a prioridade d a d esco berta , esta j a m a i s fo i co m p l e m e nta d a
co m a ctos d e a p reensão j u stificativos d a posse, o a rg u m e nto m e rece a l g u m a
rese rva . D e facto, contra a i m possi b i l i d a d e p o rtu g u esa e m p rod uzi r p rovas docu­
m e nta is de a ctos de a p reensão, poder-se-á a l ega r o va l o r p ro bató rio dos vá rios
trata dos ou asientos de paz y trato " co ncl u ídos pelos Espa n h ó i s d e Setem b ro a
Deze m b ro de 1 52 1 com os Reis das M a l ucas em confo r m i d a d e com as i nstru ções
i m peri a i s d e 1 5 1 925• É j u sto, porém, q u e se reco rde a i nvoca ção d e actos do
m e s m o teo r q u e, no tem po, se co n s i d e ra ra m s usceptíve is d e fu n d a m e nta r u m
se m e l h a nte m a s a nte rior d i re ito . Efectiva m e nte, u m a exposição dos procurado­
res do Rei de Po rt u g a l p rod uzida no d ecu rso do p l e ito é categó rica ao afi r m a r q u e
a Fra ncisco Serrão, i d o_ p o r com issão d e Afo nso de Al b u q u e rq u e à d esco b e rta das
M a l u cas, o m a n d a ra m busca r os reis d e Maluco " à I l h a d e Amboi n o : . . . E
11
11
"
sabendo quão poderoso na dita Índia era o dito Senhor e quantos lugares e cida­
des e reinos conquistara e tinha debaixo de sua jurisdição e como os reis que lhe
obedeciam e se faziam seus vassalos recebiam dele acrescentamento em seus
reinos e estados se nomearam logo por vassalos de/ Rei de Portuga/. . .�' 26
As co nve n ções ce l e b ra d a s co m os pote nta dos i n d íg e n a s d i ri g i d a s à fo rma­
ção d e l a ços de p rotecçã o o u vassa l a g e m , a dq u i ri a m assi m o va l o r p ro bató rio d e
q u a isq u e r o utros e l e m e ntos corpora i s de posse. E nte n d i m e nto a nterior, a l i ás, à
q u estã o das M a l ucas. Basta rá nota r q u e esses trata dos d e vassa l a g e m q u e tão
l a rg o uso teri a m n a h i stó ria da Expa nsão po rt u g u esa, têm um fu n d a m e nto pre­
ciso q u e se ra d i ca n a B u l a lneffabilis et Summi, de 1 d e J u n h o de 1 497.
Co n h ecem -se as c i rcu n stâ ncias q u e j u stifica ra m a e l a boração deste d i p l o m a
po ntifíci o : p rocu ra n d o contra ba l a n ça r os efeitos q u e a B u l a Dudum siquidem
( 1 493) p rovocou no eq u i l íbrio l u so-caste l h a n o cri a d o pelo Trata do de To rdes i l h a s
- p roporci o n a n d o a o s Espa n h ó i s a fa <: u l d a d e d e reco rre r à apreensão co m o títu l o
24 Vide João d e Ba rros, Décadas . . . , Dec. l l l , Liv.V, Cap.VI I I , p p . 628-629, e c o m re l a ção a
M a l aca, Ruy de Al b u q u e rq u e, Os Títulos de Aquisição Territorial na Expansão Portuguesa (Séc.
XV e XVI), E d i ção p o l i co p i a d a , Lisboa, 1 960, p. 340 .
25 Vide p . ex. M a ri fío, Tratados lnternacionales . . . , I , p p . LXXI I I , CXI I I .
26 Vide os cit " Pa pe i s pelos q u a i s se co nstava . . :' in As Ga vetas . . . , IV, p . 259-260.
235
Antó n i o Va sco n c e l o s d e Sa l d a n h a
d e a q u isição de te rritó rios d esco bertos a o n aveg a r pa ra O ri e nte - D . M a n u e l so l i ­
citou e m Ro m a a co nfi rmação d o s efeitos j á n o rm a l m e nte reco n h ecidos pelo
Di reito e p e l a Teo l o g i a às s u b m issões vo l u ntá ri a s : i sto � "licitamente poder rece­
'
ber e reter as cidades, fortalezas, lugares, terras e senhorios " q u e se s u b m etes­
sem à s u a a uto r i d a d e e l h e pagassem tri b uto27• De facto, na B u l a , com eça n d o por
referi r-se o d esej o do Rei D . M a n u e l d e co m bater os I nfi éis, a l u d e-se ta m bé m à
petição d e q u e se a l g u mas cidades, terras, caste l os, l u g a res o u sen h o rios se l h e
s u b m etessem ou pagassem tri b uto, reco n h ecend o-o co m o se n h o r, p u desse l i ci­
ta m e nte rece ber e reter uma e o utros.
Qua nto a o aspecto uti l itá rio do d i p l o m a , é desn ecessá rio s u b l i n h a r a s u a
o p o rtu n i d a d e . De facto, co m o n otou G a rcia G a l l o , o btida a s u b m issão dos povos
i nfi é i s e te n d o-os e g overna n d o-os o Rei de Po rtu g a l , co m o d i z a b u l a , como aos
seus outros rei nos, te rras e se n h o rios, o m o n a rca p o rt u g u ês poderia conseg u i r,
e m pa íses q u e n ã o poderia povo a r co m g e ntes i d a s d a Pe n ín s u l a , u m a ocu pação
corpora l e efectiva que d e fa cto i nva l i d a sse a co n cessão fe ita aos Reis de Espa n h a
através d a B u l a Dudum siquidem.28
Razão uti l itá ria cujas v i rt u a l i d a d es estã o bem patentes q u a n d o e m 1 562, por
oca s i ã o d a s á rd u a s d i scussões m a ntidas e m I n g l ate rra s o b re os d i reitos portu­
g u eses às te rras por e l es d esco bertas, os I n g l eses não tivera m a m e n o r d úvida
e m a ceita r - reco n h ecend o-a co m o e l e m e nto corpora l d e posse - to d o o ti po de
situação d e rivada de um acordo o u trata do d e vassa l a g e m , a o po nto d e a Ra i n h a
I s a b e l ter g a ra ntido p ro i b i r aos sú bd itos o n aveg a r e m d i recção a todas as terras
"em que EI-Rei de Portugal era obedecido e em que lhe paga vam tributo �'29
A lneffabilis não é u m d i p l o m a pacífico, m a s de m o m e nto o q u e de essenci a l
h á a nota r n o texto é a poss i b i l i d a d e d a s u a i nteg ração n u m corpus m a i s vasto d e
a ctos po ntifícios a q u e pres i d i sse u m o bjectivo com u m . D e facto, esta m o s pera nte
27 S o b re esta B u l a vide Ruy d e Al b u q u e rq u e, Os Títulos de Aquisição ... , p p . 57-58, C h a r l es­
- M a rt i a l d e Witte, " Les B u l l es Po ntifi ca l es et I ' Ex p a n s i o n Po rtu g a i s e au
x..,f
s i e c l e " in Révue
d 'Histoire Ecclesiastique, [t. XLV I I I , 1 953, p p . 683-7 1 8; t. XLIX, 1 954, p p . 438-46 1 ; t. L I , 1 956, p p .
4 1 3-453 e 809-836; t. L i l i , 1 958, p p . 5-46 e 443-47 1 ] , T. L I I I , p p .45 1 -453, e G a rc i a G a l l o , " Las B u l a s
d e A l ej a n d ro VI y e l orde n a m i e nto j u r i d i co d e l a expa n s i ó n p o rtu g u esa y caste l h a n a e n Africa y
l n d i a " in Los Origenes Espafwles de las lnstituciones Americanas. Estudios de Derecho Indiano.
C o n m e m o ra c i o n es dei V cente n a ri o dei d escobri m i e nto d e A m e r i c a . M a d ri d , Rea l Aca d e m i a de
J u r i s p ru d e n c i a y Leg i s l a c i ó n , 1 987 [ p p . 3 1 3-666] , p p . 442-443 . O texto da B u l a lneffabilis está
tra nscrito em l a t i m e tra d u z i d o e m espa n h o l in G a rc i a G a l l o , op. cit., pp. 6 5 1 -654.
'" G a rc i a G a l l o , op. cit., p . 443 .
'" Visco n d e de Sa nta rém, Quadro Elementar. . . , XV, p p . CIV-CV, XCIX, 1 99, e ta m b é m Ruy de
Al b u q u e rq u e, Os Títulos de Aquisição ... , p . 342.
236
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
u m a outra m a n ifestação de actos po ntifíci os q u e tra d u ze m s i m u lta ne a m e nte u m a
decl a ração d e vonta d e d e tra n s m it i r d i reitos e u m a p revi são de u m acto d e
a p reensão p e l o q u a l s e rea l izaria u m modus adquir:en di. A exp ressão d a
lneffabilis e t Summi "doamos, concedemos e assignamos " é i n d icativa da re i ­
vi n d i cação po ntifícia d e u m d o m í n i o e m i n e nte s o b re te rritó rios n a posse d e
I nfi éis, e e l i m i n a n d o por i s s o os efeitos p ró p rios d o a cto dos pote ntados i n d íge­
nas, reti ra-l hes o ca rácter d e negócio j u ríd ico, red uzi n d o-os à conditio iuris d u m
a cto po ntifício d e atri b u ição. Efectiva m e nte, pa ra l á d a decl a ração d a vo nta d e d e
tra n s m iti r, o q u e s e prevê a q u i n ã o é a g o ra u m a i nvasão m i l ita r do o bjecto doado
co m o acto de i n possessionem mittere, m a s tão s o m e nte uma to m a d a d e posse
pacífi ca , m ateri a l izada pela aceitação de tri b utos e reco n h eci m e nto de a uto ri­
d a d e , i n d ispe nsável co m o no p ri m e i ro caso pa ra a a q u i s i çã o d o corpus posses­
sionis pelos Reis de Po rtu g a l .
*
E ntre a l g u m a s situações passívei s d e contri bu i r pa ra o escl a reci m e nto d a
o p e ra ci o n a l i d a d e d a s u b m issão vo l u ntá ria co m o títu l o d e a q u i s i çã o te rrito ri a l n a
Expa nsão o r i enta l portu g u esa, a vassa l a g e m d o S u lta n ato d e Ternate co n stitu i -se
co m o u m a situ a çã o e m b l e m ática que refl ecte m u ito c l a ra m e nte d eterm i n a dos
a s pectos que nos i m po rta d eixa r m a n ifestos, sem q u e, todavia , te n h a mos a q u i
o p o rtu n i d a d e d e o s a bo rd a r a todos: e m p ri m e i ro l u g a r, a vassa l a g e m vo l u ntá ria
e o e l e n co dos vá rios a ctos que a i l u stra ra m ; e m seg u n d o l u g a r, o n ível de exi ­
g ê n c i a técn i co-j u ríd i co q u e se exi g i u d esses m e s m o s a ctos o n d e a vassa l a g e m fo i
co nsag ra d a ; e m te rce i ro l u g a r, a su scepti b i l i d a d e d a passag e m d a situação d e
vassa l a g e m à p u ra e s i m p l es i n corporação n a Coroa; e m q u a rto e ú lt i m o l u g a r, o
pote n c i a l s i g n ifica d o o u m é rito destas convenções co m o e l e m e nto p ro bató rio
n u m q u a d ro j u ríd i co d e n atu reza p u ra m e nte i ntra-e u ro p e i a .
É este o a s pecto q u e m a i s n o s i nte ressa . Reto m e m os, p o i s , o fi o d a h istó ri a ,
reco rd a n d o c o m o o S u ltão m u çu l m a n o d e Tern ate, c i e nte d a i m po rtâ ncia pol ítica
dos Po rt u g u eses, e nv i o u a M a l a ca e m 1 5 1 4 u m a e m baixa d a . N essa m issão te rá
s i d o e nvia d o ta m bé m u m termo de s u_ b m i ssão do S u ltão d e Ternate. B e m q u e se
d esco n h eça h oj e q u a l q u e r s i n a l d e l e, o p ró p r i o S u ltão o reco rda rá escreve n d o a o
G ove r n a d o r Lo po Soa res d e A l b e rg a r i a : " eu ha verá cinco ou seis anos q u e no
mando de Maluco tenho conhecido por Senhor a EI-Rei de Portuga/ "30• Pouco
...
3 ° Carta d e 1 5 1 8- 1 5 1 9 do Arq u i vo Nacio n a l , Ga vetas X V 1 5- 1 7, p u b l i cada p o r A. Basíl i o d e
S á , Documentação para a História das Missões d o Padroado Português d o Oriente. Co l i g i da e
237
Antó n i o Va sco n ce l o s d e Sa l d a n h a
. . . Esta carta
mando a Vossa Alteza a dar obediência e fazer acatamento que sempre lhe tive
como a meu senhor [ . . ] como já disse e torno a dizer, E/U sou vassalo com tudo o
que debaixo de m im há, e isto será enquanto viver e depois os que de mim vie­
rem o serão, porque no m undo, debaixo das estrelas, não há tal Rei como V.
Alteza . .':31
te m po passado, e m 1 520, escreve rá a o p ró p r i o Rei D . M a n u e l :
"
.
.
*
O caso co ncreto d a s M a l u cas torna-se, ass i m , n u m exe m p l o c l a ríss i m o de
que co m o aos homens d a s p ri m e i ras déca d a s do sécu l o XVI não fo i d ifíci l faze r
u m a po nte e ntre noções, co nceitos e i n stitutos cuja g é n ese re m o nta à I d a d e
M é d i a , q u a n d o n ã o mesmo a o I m pério R o m a n o , e as n ecess i d a d es modern íssi­
m a s d e afi rmação d e um d o m í n i o e m m o l des geog ráficos, po l íticos e cu ltu ra i s
n u nca expe ri m e nta dos por u m m o n a rca cristã o .
O s res u ltados d a s i n q u i ri ções p ro m ovi d a s e m 1 523 p o r i n i c i ativa d a C o ro a
d e Po rt u g a l n o decu rso d o p l e ito l u so-caste l h a n o s ã o co n h ec i d o s j á q u e se
co n s e rva m n o Arq u i vo N a çi o n a l os d e po i m e ntos j u ra d o s de oito teste m u n h a s
a l g u m a s d a s q u a i s i nte rve n i e ntes d esta c a d o s n a q u estã o d a s re l a ções com
Te rnate32• N u m q u esti o n á ri o d e d oze items (em q u e o 11 o res peitou p recisa­
m e nte à efecti v i d a d e d o esta bel eci m e nto d e re l a ções d e vassa l a g e m e ntre os
Reis d e Te rn ate - " os Reis de Maluco" - e o d e Po rtug a l e m d ata a nte ri o r à ch e­
g a d a dos Caste l h a n o s ) o d ito das teste m u n h a s é u n â n i m e e , n esse po nto,
p o u co va r i a s o b re a versão ce ntra l d o p ró p ri o G ove r n a d o r d e M a l a ca , G a rc i a
de Sá:
�� . Estando ele testemunha p o r Capitão e m Malaca, El-Rei d e Maluco mandou
um seu filho, a ela testemunha, embaixador como à pessoa dei-Rei de Portugal
em que manda va a ei-Rei toda a obediência [ . ] E que com esta obediência vinha
.
.
a n ota d a por . . . l n s u l ín d i a [ 1 ° Vo l . ( 1 506-1 549 ) , 2 ° Vo l . ( 1 550- 1 562 ), 3°Vo l . ( 1 563- 1 567 ), 4° Vo l . ( 1 568- 1 570), 5° Vo l . ( 1 580- 1 595), 6° Vo l . ( 1 595- 1 599). Lisboa, Ag ê n c i a G e ra l do U ltra m a r - I nstituto de
I nvest i g a ção C i e ntífi ca Tro p i ca l , 1 954 - � 988] I , p . 1 1 4. Vide ta m b é m G. Sch u rh a m m e r,
" O r i e n ta l i sche B r i efe a u s d e r Zeit des H l . Fra nz Xave r ( 1 500- 1 5 52 ) " in Euntes Docete, 2 1 ( 1 968)
[pp. 255-301 ] . p . 297, n.0 3 1 6.
31 C a rta de 1 520 do Arq u i vo N a c i o n a l , Ga vetas XV 4-1 , p u b l icada por A. B a s í l i o de Sá,
...
...
Documentação , I , p p . 85-86. Vide ta m bé m G . Sch u rh a m m e r, Orientalische Briefe , p . 298,
n.0 3 1 8 .
32 Vide a " I n q u i rição q u e se t i ro u , p o r o rd e m de el-r e i , a respe ito da to m a d a de M a l aca e
...
d esco b r i m e nto de M a l u co, 1 523", in As Ga vetas , I I I , p . 2 8 .
238
I bé r i a : Qu atrocentos/Qu i n h e ntos
o dito filho dei Rei de Maluco e trazia consigo cento e cinquenta ou duzentos
homens de guerra e em toda/as guerras e necessidades de Malaca serviriam
como vassalos dei-Rei de Portugal. Em seis meses que aí estiveram e que ele tes­
tem unha, vendo a carta e obediência e como a vassalo dei-Rei Nosso Senhor, lhe
manda va artilharia e tudo o que lhe manda va pedir. . .:�3
Ai n d a q u e a co nve nção fi rmada pelos rep rese nta ntes d a Co roa d e Po rtuga l
com o m o n a rca ternatense se a p resente fo rm a l m e nte m a i s s i m p l es q u e os trata­
dos d e s i m p l es trato e amizade co ncl u ídos vários a n os depois p e l os Caste l h a nos
com os p rínci pes d a s mesmas i l h as, torna-se d ifíci l nega r a natu reza contrat u a l
dos víncu los de vassa l a g e m e protecçã o e ntão fi rmados c o m os Po rtu g u eses, a
ta l po nto q u e os factos podem ass i m d e s m e nti r rot u n d a m e nte a afi rmação d o
I m pera d o r d e q u e os h a bita ntes das i l h a s aos Po rtu g u eses " nunca los tuvieran n i
reconocieron como senores, sino que los Portugueses fueron los q u e s e hicieron
vasa/los suyos"34•
Al i á s, reafi rm a n d o a efectividade e a rel evâ ncia i nternaci o n a l do t i p o de co n­
ven ções que d ã o o r i g e m a este ti po d e re l a ções, e, conseq u e nteme nte, o seu
va l o r p ro bató rio n o p l e ito l uso-caste l h a no, J o ã o d e Ba rros escreveria n ã o m u itos
a n os passados sobre o termo d a po l é m i ca q u e " quanto à posse, quem ler o que
atrás escrevemos, da contin uação que os nossos tinham naquelas ilhas, do ano
que A fonso de Albuquerque as mandou descobrir até o ano de vinte, antes que a
,
armada de Castela lá fosse, são dez anos de tempo com todolos os negócios de
cartas e requerimentos que os reis daquelas ilhas tiveram connosco, parece que
[se] julgará a posse por boa "35 •
*
O p ri m e i ro S u ltão co n h ecido dos Po rtu g u eses, Baya n , aca baria por m o rre r
n o a n o seg u i nte de 1 52 1 , mas, co m o reco rd a rá o próprio fi l h o e s u cessor, o
S u ltão Abu H ayat a o Rei D . M a n u e l , Baya n S i rru l a h " à hora da morte con fiou o
" I dem. Vide ta m b é m o depo i m e nto de B a rto l o m e u G o n ça lves a p p . 2 9-33 e a própria ca rta
..
do Rei d e Te r n ate: ·: ordenamos de mandar este meu filho lá [a M a l a ca] com aquela obediência
que é bem que aos tais senhores [Reis] se dê e também, Senhor, por ter fama que a todos os
reis que vassalos e servidores são de/ Rei de Portugal dais ajuda ", in As Ga vetas. . . , IV, p. 520.
Mais p o r m e n o res s o b re a co rres p o n d ê n c i a dos Reis d e Te rn ate com os Po rtu g u eses in As
Gavetas ... , IV, p . 5 1 0, n.0 3, p . 5 1 1 , e n a a b u n d a nte docu m e ntação p u b l icada por Basílio d e Sá in
Documentação . . . , I , p p . 1 1 2ss.
34 ln P. M a ri ri o, op. cit., p . LXV.
35 J o ã o de B a rros, Á sia . . . , Dec. I I I , L. V, C a p .X,
239
Antó n i o Va sco n c e l o s d e Sa l d a n h a
Sultão Abu Hayat a seu tio o Rei de Portugal "36• E d e facto, o Ca pitão d e Te rn ate,
Antó n i o d e B rito, escreverá a o Rei e m M a i o d e 1 522, pa rti c i p a n d o a m o rte de
Baya n S i rru l a h , a sucessão d e Abu H ayat e o facto d e q u e " ele se me entregou
por vassalo "37•
A fo rtu n a dos Po rtu g u eses pa recia ass i m asseg u ra d a e Antó n i o d e B rito d ava
i n ício à construção da fo rta l eza de S.João de Te rnate. Co ntu do, u m a série i nte r­
m i nável de d i ss íd i os i nternos, su scita dos p o r o p ressões ou p e l a riva l i d a d e l u so­
caste l h a n a n a zo n a , i rã o tra n sfo r m a r a h istó ria do d o m í n i o das M a l ucas n a h i stó­
ria d e um dos m a i s s a n g rentos e contu rba d os ca p ítu los d a expa nsão portu g u esa
n a l n su l ín d i a ,
U m a das s u a s ca racte rísticas é a rá p i d a s u cessão dos g ove rna ntes l oca is,
q u ase sem p re a o sabor dos i nte resses d a a d m i n istração p o rtu g u es a . É o q u e
s u cede n a 3 a década d e Qu i n he ntos, q u a n d o, acusado d e tra ição, o S u ltã o Ta ba rija
é re m eti d o p reso p a ra G o a . Um i rmão, H ayru n , é p rocl a m a d o s u cesso r e fe ito
S u ltão de Te rnate em n o m e do Rei de Po rtu g a l .
E m G o a , l eva do o caso de Ta ba rija a o Conse l h o p resi d i d o p e l o G ove r n a d o r
N u n o d a C u n h a , dão-no por i n oce nte e l ivre pa ra reg ressa r a Te rn ate . Todavi a , os
tu m u ltos que se seg u i ra m à p risão d o S u ltão e o p ró p r i o ce rco d a fo rta l eza obri­
g a ra m o g ove r n a d o r a rete r Ta ba rija e m Goa. Ada ptado a o m o d o d e viver dos
Po rtu g u eses, o jovem S u ltão aca baria p o r se co nve rter a o Cristi a n i s m o , vindo a
ser so l e n e m e nte ba ptiza d o n a I g rej a de S . Cata ri n a d e G o a , e m 1 537, com o n o m e
d e D . M a n u e P8• Após u m período d e rel ativa i n d ife re nça por pa rte dos g ove r n a n ­
t e s d o Estado, a ch egada d o G ove r n a d o r M a rti m Afo nso d e Sousa - p ress i o n a d o
a l i á s p e l a i nsatisfação crescente dos Tern ate nses face a o m a u ca rácte r d o S u ltão
Hayru n - i rá perm iti r o reg resso d e Ta ba rij a a Te r n ate. Seu pa d ri n h o d e b a ptismo,
36 Ca rta o r i g i n a l e m m a l a i o d o Arq u i vo N a c i o n a l , Gavetas X V 1 6-38, p u b l icada c o m a res­
pectiva tra d u ção e m i n g l ê s por A. B a s í l i o de Sá, Documentação . . . , I , pp. 1 2 1 - 1 23 . Vide ta m bé m
G . Sch u rh a m m e r, Orientalische Briefe . . . , p p . 2 9 8 , n . 0 3 1 9 .
37 Ca rta d e 6 d e M a i o d e 1 522 d o Arq u ivo N a c i o n a l , Gavetas XVI I I 2-25, p u b l i ca d a in Alguns
Documentos do Archivo Nacional da Torre do Tombo àcerca das Navegações e Conquistas dos
Portugueses. P u b l icados p o r O rd e m do G overno d e S u a M aj esta d e F i d e l íssi m a ao ce l e b ra r-se a
Co m m e m o ração Q u a d ricente n á ri a do Descõ b ri m e nto da A m é rica, Lisboa, I m p re n s a N a c i o n a l ,
1 892, p p . 464-466 .
" A s m a i s co m p l etas refe rê n c i a s b i o g ráfi cas e docu m e nt a i s res peita ntes a D . M a n u e l
Ta ba rija p o d e m s e r vistas e m G e o rg Sch u rh a m m e r, Francis Xavier. His life, his times, [Vo l . I , Vo l .
1 1 ( l n d i a , 154 1 - 1 545 ), Vo l . I I I , ( l n d o n e s i a a n d l n d i a ) , Vo l . IV ( J a p a n a n d C h i n a , 1 549- 1 5 5 2 ) ] ,
Tra n s l ated b y M . Joseph Coste l l oe, S . J . , R o m a , The J e s u i t H i storical l nstitute, 1 982, 1 1 , p p . 249-256, e I I I , pp. 38-42 .
240
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
J o rd ã o de Fre itas, é n o m e a d o C a p itão d e Te rn ate, e, fa ce à i n sta b i l i d a d e n a s
M o l ucas e p reced e n d o a ch egada d e Ta b a rija, d estro n a o S u ltão H ayru n e re m ete­
o p reso pa ra G o a . Escla rece rá m a i s tarde D i o g o do Co utp q u e J o rd ã o de Freitas
"não manda va aquele Rei por culpas que dele tivesse, senão por se recear que
com a chegada d 'ei-Rei O. Manuel feito Cristão, houvesse alguma alteração que
se tornasse a governar aquele reino da mão d 'EI-Rei de Portugal ".39
Seg u i d a m e nte, J o rdão d e Freitas a p ressa-se a g a ra nti r a n o m eação d e
Ta ba rija co m o S u ltão de Te rn ate e a s u p re m a c i a o u d o m í n i o e m i n e nte d a Coroa
d e Po rtuga l e m Te rnate. Co m o e l e p ró p r i o escreve rá a o Rei e m 1 545, . . . fiz ajun­
"
tar aqui à porta da fortaleza todos os mouros mais honrados velhos cacizes, e fiz­
lh es uma fala, representando-lhes as coisas passadas e quantos trabalhos e guer­
ras tiveram porque lhe prenderam seu rei, meu afilhado, o qual eles fizeram e
sustentaram como bons e leais vassalos a seu rei, e depois sofreram m uitas tira­
nias a Cachi/ Aeiro, seu irmão, que regia como tirano e não como rei natural e que
se eles sofriam, era por nosso fa vor. E algum pejo que eles tinham em O. Manuel
ser cristão com o qual Aeiro e os de sua valia faziam medo, que não haviam de
fazer a ninguém por força, porque a nossa lei o defendia [ . . ] E que pois viam que
Vossa Alteza por fazer justiça e verdade, manda va meter de posse a O. Manuel
por dar o seu a seu dono, era de crer que, pois o tomava debaixo de sua enco­
menda e favor, era para sempre ter cuidado dele e de sua terra para ser guardada
e fa vorecida [ . . ] Foram disso conten tes e mandaram vir um moçafo no qual jura­
ram todos de obedecer à fortaleza, em nome de V. Alteza, e a mim, em nome de
meu afilhado, seu rei O. Manuel :'40
.
.
M a s com o se sa be, o m o n a rca ternatense vi ria a morrer na esca la em M a l aca,
q u a n d o reg ressava às Mo I u cas. H ouve tempo, porém, pa ra o l eva r a fazer red i g i r em
30 d e J u n h o de 1 545 um testa mento em q u e doou todos os seus d i reitos ao rei n o
de Ternate à Co roa de Po rtuga l . C o m base nesta doação e na seq uente m o rte d o
Su ltão, p ô d e o Ca pitão portug u ês deTernate, o célebre Jordão de Freitas, acl a m a r ao
3 9 D i o g o d o Couto, D a Á sia d e João d e Barros e d e . . . . N ova E d ição ofereci d a a S u a
M a g esta de D . M a ri a I , etc., Li sboa, Reg i a Offi c i n a , 1 778, 2• e d . Lisboa, Livra ria S a m Carlos, 1 973
Décadas . . . , Dec.VI, L. 1 , C a p . IV, p . 2 3 . Dessa pri_são se j u stifica i m e d i ata m e nte Jordão d e Freitas
a o Rei D . João I I I : " Eu, Senhor, não determinava de prender o Rei, irmão de meu afilhado que
ora rege, senão um mês antes que viesse a nau da carreira que anda neste caminho. E porque
ele se começava a antecipar com coisas que quis fazer e esperava fazer, lancei mão por ele e
quis prevenir antes que ser prevenido, e mandei-o para a índia, por estar lá mais sossegado . . :;
ca rta de 1 3 d e Feve rei ro d e 1 545, do Arq u ivo N a c i o n a l , Corpo Cronológico, I , 76-22, p u b l icada
p o r A. Basíl i o de S á , Documentação . . . , I , p p . 436-44 1 .
40 Idem, ibidem.
241
Antó n i o Va sco n ce l o s d e Sa l d a n h a
R e i de Po rtu gal co m o Rei das MalucaS'' . Contu do, preso em Coch i m , no ca m i n h o d e
G o a , o deposto Su ltão Hayru n tom ava co n h eci mento da morte do i rmão e , e m
J a n e i ro de 1 546, a p ressou-se a escrever ao R e i D. J o ã o 1) 1 : �� . tenho escrito a \/.A. da
maneira que o servia em Maluco e quão certo seu vassalo era, e que o reino que
tinha como coisa sua possuía, pois me pôs \/.A., e em nome rei dado. . .�'42
Alega n d o se m p re q u e "meu irmão é morto e a mim me vem o reino de
direito ", H ayru n ch ega a Goa o n d e , efectiva m e nte é rece b i d o co m todas as h o n ­
r a s p e l o G ove r n a d o r D . João de Castro. Leva do o assu nto a Consel h o do Esta do
e a o Tri b u n a l d a Relaçã o d e G o a , co n s i d e ro u -se H ayru n ise nto d a s c u l pas assaca­
das e l e g ít i m o s u cesso r d e D . M a n u e l Ta barij a .
''Assentado isto, o Governador e m u m dia solene, tendo para isso dado
recado aos Vereadores, Fidalgos, Capitães e Oficiais da Fazenda e Justiça, em sala
pública investiu E l-rei Aeiro no Reino de Maluco e o levantou por esse, com con­
dição e declaração que recebia aquele reino da mão d 'EI-Rei de Portugal e que
todas as vezes que o quisesse lho tornaria a entregar livre e desembargado à pes­
soa que ele mandasse, de que tudo se fizeram autos assinados por EI.:Rei de
Portugal, e jurou nas mãos do Governador de ser servidor e vassalo d 'EI-Rei de
Portugal ele e todos os que dele herdassem aquele reino, o que tudo se fez com
o mar aparato e solenidade que pôde ser�'43
Co n h ece-se o q u e de seg u i d a suced e u . B e rn a rd i m d e Sousa fo i e n ca rre g u e
d e resta u ra r H ayru n n o tro n o d e Te rn ate, o q u e efectiva m e nte fez, contra a vo n­
ta d e d e J o rd ã o d e Freitas depois ta m bé m desa utoriza d o por sentença do Tri b u n a l
d a Re l a çã o de G oa44• Contudo, a pós a s repeti d a s q u eixas e nvi a d a s p o r Freitas
p a ra Lisboa, o Rei não terá deixado d e se a pe rce ber das exte nsas vi rtu a l i d a d es
j u ríd icas d o acto ass i m frustra d o . Efectiva m e nte, e m fi n a i s do sécu l o XVI o cro­
n i sta D i o g o d o Co uto re l ata-nos a severa p u n i çã o do Ca pitão Bern a rd i m de
4 1 O test a m e nto d e Ta ba rij a , repro d u z i d o n u m a có p i a coeva , existe n a B i b l i oteca N a c i o n a l
d e L i s b o a , C x . 6 1 , n . 0 1 7, e fo i p u b l icado p o r A. B a s í l i o d e S á i n Documentação . . . , 1 1 p p . 1 9-25.
Vide ta m bé m Diogo do Diogo, Décadas . . . , Déca d a V, cap. X.
42 Ca rta d e 18 d e J a n e i ro d e 1 546 do Arq u ivo N a c i o n a l , Corpo Cronológico I , 77,7 1 , p u b l i ­
c a d a p o r A. B a s í l i o d e S á , Document� ção . . . , I , p . 47 3 . Vide ta m bé m G . Sch u rh a m m e r,
Orientalische Briefe . . . , p. 299, n . 0 326.
43 Diogo do Couto, Décadas . . . , Dec., Liv. I , Cap. IV. , p p . 23-24 .
.
pois se fez sem mandado d 'ei-Rei Nosso Senhor, nem com sua provisão, porque não é
de crer que coisa de tanto peso se havia de bulir, senão com especial mandado . . . ". Vide o "Treslado
44
"• • •
dos e m ba rg u es com q u e veo J u rd a m de Freitas a a semte m ça q u e contra e l e o uve Aei ro, Rei de
M a l u q u o, a p resentados a Berna l l d i m de Sousa, capitão da Fo rta l eza de M a l u q uo", B i b l ioteca
N a c i o n a l de Lisboa, ex. 61 n . 0 1 7, p u b l i cado por Artu r Basílio de Sá, Documentação . . . , 1 1 , p. 36.
242
,
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Sousa, e n ca rreg u e e m Goa d a entro n ização de H ayru n45, a cto j u l g a d o em Lisboa
p o r n ocivo, especi a l m e nte reco rd a n d o "todos os desgostos passados entre EI-Rei
O. João e o Imperador Carlos V seu cunhado sobre o dire.ito das Ilhas de Maluco,
cujas diferenças cessaram pelo empenho de que na quarta Década, no Cap. I do
Liv. VI/ fazemos menção, que tan to que os Reis Católicos tornassem os trezen tos
e cinquenta mil cruzados logo se tornaria a con tender sobre o mesmo direito,
como os povos de Espanha m uitas vezes lhe requereram. O que não poderiam
fazer se Bernardim de Sousa não metera de posse E/-Rei Aeiro [ H ayru n ] , tendo-a
ele Jordão de Freitas tomado por EI-Rei O. João de Portugal, por virtude do tes­
tamento de EI-Rei O. Manuel, que morreu em Malaca, porque se fica vam aca­
bando as contendas todas, porque já EI-Rei de Portugal, além do direito que ale­
ga va de posse e propriedade, fica va-lhe agora m uito m elhor pela herança como
verdadeiro herdeiro de El-Rei O. Manuel de Maluco . . . "46
H ayru n , co ntu do, perm a n eceu no tro n o e com u m co m p o rta m e nto tão con­
vi nce nte que e m 1 548 o Pa d re Fra ncisco Xav i e r, o sa nto Apóstolo das Índias,
poderia escreve r pa ra Roma q u e "E/-Rei de Maluco es moro y vasa/lo dei Rey de
Portugal y honrase m uch o de lo ser, y quando en e/ habla lo /lama "EI-Rey de
Portugal, mi Seflor" :'47•
. .
Contudo, escassos ci nco a n o s passados, u m a i nte ressa nte ca rta do Ca p itão
de Te rn ate, Fra ncisco Pa l h a , d i ri g i d a a o Rei e m 1 553, reve l a - n os q u e, m a u g rado
o acto p ú b l i co de e ntrega do rei n o e do co rresp o n d e nte j u ra m e nto d e fi d e l i d a d e
do S u I tão H ayru n fe ito e m G o a e m 1 546, se co n s i d e rava a necess i d a d e d e refo r­
ça r n ova m e nte a posição da Coroa face ao S u ltã o :
" . . . E s e cumpre dizer-se q u e El-Rei, nosso Senhor, está e m posse dos reinos
de Maluco, há m ister que se disponham os outros reis e granjear-se o próprio
45 "Mandou também outro alvará em que mandava "que prendessem Bernardim de Sousa
e que lhe tomassem toda a fazemda porque fora meter EI-Rei Aeiro de posse do Reino de
Maluco " e segundo nos disseram que o mandava EI-Rei levar preso para o Reino; mas estes
papeis nem os vimos, nem os achámos [ . . . ] esta execução assim crua mandava El-Rei fazer por­
que lhe escreveu Jordão de Freitas de Maluco, que fora muito contra seu serviço levar
. .
Bernardim de Sousa EI-Rei Aeiro a Maluco E! metê-lo de posse daquele Reino [ . ] EI-Rei não
tinha outra informação mais que a que lhe mandou Jordão de Freitas mandava fazer aquela
execução em Bernardim de Sousa estando ele sem culpa pois fora mandado do seu
Governador, sobre sentença dada na Relação de Goa, porque julgaram El-Rei Aeiro por Rei de
Maluco e para o meterem de posse dele mandou o Governador D.João de Castro a Bernardim
de Sousa . . .", D i o g o do Couto, Décadas . . , Dec.VI, Liv.X, C a p . XIV, p p . 499.
.
46 Idem, p p . 498-499.
..
47 Ca rta p u b l icada p o r A. Basílio d e Sá in Documentação . , vo l . 1 . 0, p . 534.
243
Antó n i o Vasco n c e l o s de Sa l d a n h a
Rei d e Terna te para que da m ã o d 'EI-Rei nosso Senhor aceite o rein o e o reja e
governe em nome de S.A. [ . . . ] agora que o Rei está seguro de o desapossarem
olhará por a terra como sua e confiado de se lhe fazer justiça dos Capitães se
queixará deles, pelo qual os Capitães em si terão um freio e o rei sofrea­
mento .. . ':48
L i g a n d o a q u estão a o desa g rado m a n ifesto p o r Lisboa a p ro pósito d a a n u ­
l a çã o d a i n corporação, d iz-nos o mesmo Couto q u e, a fi m de so l u ci o n a r de a l g u m
m o d o o p ro b l e m a , o C a p itão M a n u e l d e Vasco ncelos fo i e nviado e m 1 56 1 a
Te rn ate co m o rd e n s expressas p a ra faze r desisti r a o S u ltão H ayru n "do Reino de
Maluco para tomar posse dele por EI-Rei de Portugal, como verdadeiro Senhor e
herdeiro dele, pela verba do testamento de EI-Rei O. Manuel que morreu em
Malaca, onde deixava a EI-Rei de Portugal e a todos os seus descenden tes por
herdeiros daquele Reino de Maluco. E posto que já Jordão de Freitas tinha
tomado posse dele por virtude da dita verba, foi necessário fazer-se de novo esta
solenidade para ficar melhor direito naquela herança. "49
,
J á n o seu te m p o co nfessava Co uto n ã o ter co n heci m e nto dos a utos ou de
q u a i sq u e r o utros docu m e ntos respeita ntes a estas d i l i g ê ncias, decl a ra n d o repor­
ta r-se a "umas lembranças que estão em nosso poder" d a a utoria d o cé l e b re cro­
n i sta das M a l u ca s G a briel Rebe l o .50 Seg u n d o e l a s, o Ca p itã o te ria ch a m a d o à fo r­
ta l eza o S u ltão de Te rn ate, q u e, "sem con tradição alguma ", desisti u do rei n o n a s
s u a s m ã os, decl a ra n d o "que dali p o r diante n ã o conheceria outro Rei p o r Senhor
daquele Reino senão EI-Rei de Portugal, como verdadeiro herdeiro dele por vir­
tude da verba do testamento d 'EI-Rei O. Man uel seu irmão, em que o declarava
por tal " 5 1
Feitos e d evi d a m e nte ass i n a d os os a utos, ''juraram a El-rei O. Sebastião de
Portugal por Rei de Maluco com as solenidades costumadas no Reino ".52
Procedeu-se e ntão ao acto seq u e nte da e ntro n ização do rei vassa l o , n o m e a d o e
48 Ca rta d e 26- 1 2 - 1 553 p u b l icada in idem, 1 1 , p p . 1 23- 1 24.
.
49 D i o g o do Couto, Décadas. . , Dec.VI I , Liv. IX, Cap. XV, pp. 4 1 7-41 9 .
50 Idem, ibidem.
" Idem, ibidem.
52 Idem, ibidem. I g n o r a m o s se o texto de G a b r i e l R e b e l o u s a d o p o r Couto é a lnformaçam
das Cousas de Maluco devida à p e n a do m e s m o a utor e p o r n ó s já uti l izada na versão p u b l i ca d a
p o r A . B a s í l i o d e S á i n Documentação . . . , vo l . 6°, p p . 1 63. A v e r s ã o a í l a nçada rez a : " E ficando o
Ternate vencedor pacífico, em lugar de se satisfazer dos agra vos recebidos (com o muitos espe­
ravam) renunciou todo seu reino e senhorio em EI-Rei, nosso Senhor, e o recebeu em seu nome
e como da sua mão, para o governar e lho tornar a entregar cada vez que Sua Alteza mandasse,
e se fez vassalo, que dantes não era. De maneira que de livre se fez servo . . ." ( p . 2 8 6 ) .
244
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
s u bord i n a d o a o pod e r e m i n e nte d o Rei d e Po rtu g a l (acto q u e estava, a l iás,
exp ress a m e nte co n s i d e ra d o n o testa m e nto d o Rei D . M a n u e l Ta ba rija53) entre­
g a n d o o Ca pitão o Rei n o a o S u ltão H ayru n , q u e se decl .;� ro u vassa l o "pelo cos­
tum e do Reino de Portugal, prometendo de o tornar a en tregar a quem E/ Rei de
Portugal seu Senhor mandasse, todas as vezes que disso fosse servido ". 54
Espa ntosa m e nte, em Feve re i ro de 1 564 va mos assisti r à repetição da ce ri­
m ó n i a de vassa l a g e m rea l izado três a n os a ntes, m a s a g o ra sob a d i recçã o d e
o utro C a p itão de Te rn ate, H e n r i q u e de S á . É d i fíci l co m p re e n d e r a razão d a re no­
vação d o a cto . Te r-se-á exi g i d o d e Lisboa o c u m p ri m e nto estrito d e fó rm u l a m a i s
co nfo r m e a o s req u i sitos d o utri n á rios d a va l i d a d e do acto de vassa l a g e m ?
Sa bemos, por exe m p l o , q u e ta l sucedeu poucos a n o s m a i s ta rde co m a doação
mortis causa d o Reino s i n g a lês d e Kotte à Coroa p e l o Rei D.João Pe rya B e n d a ra ,
refe ita a pós a n á l ise d e u m p ri m e i ro a cto e m Lisboa .55
Sej a co m o fo r, o ch a m a d o " Formão pelo qual o Rey, Príncipe e Gra n des
das Ilhas de Maluco cederam a EI-Rey de Portugal e seus sucessores o direito
e senhorio d 'ellas, reserva n do o dom ínio úti/ "56, é d e c e rto u m d o s m a i s i n te­
ressa ntes d ocu m e ntos d a h i stó r i a j u ríd i ca e po l ít i ca d a Expa n s ã o p o rtu g u esa
d e Qu i n h e ntos. Red i g i d o c o m um extre m o c u i d a d o que reve l a a mão d e j u r i sta
l i d o ou s a p i e nte e m q u estões de d i reito fe u d a l , o texto - ta l vez até re m et i d o j á
p ro nto d e G o a o u d e L i s b o a - é rea l m e nte i nvu l g a r; o firma n o u d o c u m e nto
q u e co rres p o n d e ao a cto, a s s i n a d o p e l o S u l t ã o , p e l o p rí n c i p e h e rd e i ro
B a a b ' u l l a h e n otáve i s d e Te rnate, a b re co m u m exó rd i o j u stificativo d a s u b­
m i s s ã o, o n d e se l o u va m a s vi rt u d e s d a p rotecção co n ce d i d a p e l os R e i s d e
Po rt u g a l a todos q u a ntos "procura rem s e u amparo e amiza de � passa n do-se
d e p o i s à d escrição d e um a cto s i m u ltâ n e o d e re n ú n c i a d o d o m í n i o d i recto do
re i n o n a Co roa d e Po rt u g a l e sua aceitação p o r p a rte d o r e p rese nta nte d esta ,
l o g o seg u i d o d e o u t ro a cto, este d e co n cessã o d o d o m í n i o úti l a o S u ltão d e
Te r n ate, m ed i a nte o co m p ro m isso d a a ss u n ç ã o d e "todas a s con dições d e feu-
5 3 "Peço p o r mercê a S.Aiteza que, havendo nele d e p ô r rei ou governador d e s u a mão, que
o ponha tal que tenha propósito de fazer crist�os todos aueles povos de Ternate ... ".
54 D i o g o do Couto, Décadas . . . , Dec. V i l , Liv. IX, Ca p . XV, p p . 4 1 8-4 1 9 .
5 5 S o b re esta q u estão vide A. V. d e Sa l d a n h a , lustum lmperium . . . , .P. I I I , ca p . l .
5 6 I n stru m e nto o ri g i n a l , s e l a d o p e l o S u ltão, no Arq u i vo N a c i o n a l d a To rre d o To m bo, Corpo
Cronológico, P. 1 , m . 1 06, doc. 1 1 9, p u b l icado p o r J. J ú d i ce B i ker, in Collecção de Tratados e
Concertos de Pazes que o Estado da lndia Portuguesa, fez com os Reis e Senhores com quem
teve relações nas partes da Á sia e Á frica Oriental desde o princípio da conquista até ao fim do
século XVIII, Lisboa, I m prensa N a c i o n a l , 1 88 1 - 1 887, I, p p . 1 57- 1 60.
245
Antó n i o Va sco n ce l o s d e Sa l d a n h a
da tários " e d o reco n h ec i m e nto d o R e i d e Po rt u g a l "por verda deiro e direito
senhor destes rein os :'57
Qua nto se s a i b a e a ntes d o d o b re d e fi n a d os à p rese n ça dos Po rtu g u eses e m
Te rn ate, escassos seis a n o s passa dos, e m 1 570, é a ú lt i m a consag ra ção d a vas­
sa l a g e m i n a u g u ra d a m e i o sécu l o a ntes p e l o S u ltão Baya n S i rru l a h .
*
N o ba l a nço desta contu rbada cró n ica d a s p ri m e i ras déca d a s d a p resença
p o rt u g u esa n a s M o l ucas, é i nteressa nte nota r-se q u e, p a ra l á d a s vicissitudes
pol íticas locais, a p rocu ra d a s so l u ções i nteg ra d o ras do d o m í n i o l u sita no no
O r i e nte o bedeceu a n ecess i d a d es po l íticas e j u ríd i cas m u itas vezes d e n atu reza
p u ra m e nte i ntra-e u ro p e i a . O se nti do e o m é rito dos vá rios co ntratos de vassa l a ­
g e m ce l e b rados e ntre a Coroa portu g u esa e os pote nta dos das M o l ucas, reafi r­
m a m a efectividade e a rel evâ ncia i nte rnaci o n a l d esse tipo de conve n ções, e,
con seq u e nte m e nte, u m va l o r p ro bató rio reco n h ecido desde os p ri m ó rdi os do
p l eito l uso-caste l h a n o . O cro n i sta d e Qu i n h e ntos J o ã o d e Ba rros escreverá n ã o
m u itos a n os passa dos s o b re o t e r m o d a p o l é m i ca q u e "quanto à posse, quem ler
o que a trás escrevemos, da contin uação que os nossos tinham naquelas ilhas, do
ano que A fonso de Albuquerque as mandou descobrir até o ano de vinte, antes
que a armada de Castela lá fosse, são dez anos de tempo com tôdolos os negó­
cios de cartas e requerimentos que os reis daquelas ilhas tiveram connosco,
parece que [se] julgará a posse por boa ". 58
De t u d o se vê, ass i m , q u e na p e n d ê n c i a e ntre as coroas de Po rt u g a l e Caste l a
j a m a i s fo i d iscutida a i m possi b i l i d a d e j u ríd ica d e co ncl u i r acordos co m pote nta­
dos o ri e nta is, o u seq u e r a h i pótese d e não os co n s i d e ra r co m o re p rese nta n d o
co m u n i d a des po l íticas a utó n o m a s . Discuti u -se, s i m , a i n certeza d e u m a d e m a r­
cação l e g a d a por To rdesi l h as, isto é, d iscuti u-se a i nce rteza d e u m dominium,
situ açã o q u e, co m o d i ssem os, aca rretava a n ecess i d a d e de esta bel ecer q u e m
fosse o possu i d o r. O m e l h o r d i reito q u e a d o utri n a afi rm ava s u ste nta r essa q u a ­
l i d a d e d e possu i d o r, p rocu ra ra m-no ta m bé m a m bas a s pa rtes n a s convenções
ce l e b ra d a s com os potenta dos i n d ig e n a s d i ri g i d as à fo rmação d e l a ços de p ro- ,
tecçã o o u vassa l a g e m , m a s ostenta das fu n d a m e nta l m e nte p e l o va l o r p ro bató rio
d e q u a isq u e r o utros e l e m e ntos co rpora i s d e posse.
57 Idem, p . 1 58.
5 8 J o ã o d e B a rros, Á sia , Dec. I I I , L. V, Ca p . X, p . 662.
...
246
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
O Di reito I nternaci o n a l não é estra n h o a este recu rso q u e teve o seu período
á u reo n a s g ra n des d i s p utas eu ro peias d e O itocentos sobre a posse d a África .
N ote-se, todavi a , q u e, q u a nto s a i b a mos, n a h i stória m u lti�secu l a r dos p l eitos j u rí­
d i cos s u rg i dos no decu rso da Expa nsão e u ro p e i a , Po rtu g u eses e Espa n h ó i s i n a u ­
g u ra m u m ti po d e d iscussão e m q u e, p e l a p ri m e i ra vez q u e s e acentua a re l e­
vâ ncia j u ríd i ca deste ti po de co nve n ções e o seu refl exo n o q u a d ro do Di reito
I nternacio n a l e das re l a ções i nternacio n a i s d a Christianitas.
247
Secção 5
As O rd e n s M i l ita res ( sécs . X I V-XV I )
The association i n the m i nds of the ea rly Kn i g hts
Hospita l ler of wa rfa re with the ca re of the sick
Jonathan Riley-S m ith
C a m b ri d g e U n ive rs ity
The m i l ita rizati o n of the O rd e r of the Hosp ita l of St J o h n of J e rusa l e m i nvo l ­
v e d t h e reconci l i at i o n of i t s orig i n a l rô l e o f n u rs i n g the s i ck poor w i t h t h at o f fi g h ­
t i n g i n d efe nce o f C h riste n d o m . T h e fi rst Hospita l l e rs, i n s p i red b y t h e i nj u nét i o n
t o beh ave towa rds each p e r s o n a s t h o u g h h e o r s h e was Ch rist h i m self, treated
poor p i l g ri m s to J e rusa l e m with the exa g g e rated respect wh i ch at the t i m e was
g i ve n to secu l a r l o rd s a n d t h ey m a d e t h e i r i d e a l a rea l ity by m i n i steri n g to t h e m
when they we re s i ck a n d b u ryi n g them w h e n t h ey d i e d . Th e i r a d o pt i o n o f m i l ita ry
fu ncti o n s was a ra d i ca l depa rtu re a n d it i s not s u rpri s i n g t h at the tra n s iti o n was a
p a i nfu l o n e fo r some of t h e m . I h ave come to be l i eve t h at the diffe re nces wh i ch
a rose at t h at t i m e a bout the way the O rd e r's m iss i o n s h o u l d be i nterp reted were
m u ch m o re seri o u s tha n I had s u p pose d .
The batt/e standard and the care o f the sick poor
U nti l the 1 250s the b rothe rs-at-a rms of t h e H ospita l of St J o h n h a d ri d d e n
i nto batt l e wea ri n g b l a ck su rcoats w i t h a cross - p res u m a bly the fa m o u s e i g ht­
poi nted o n e - e m b ro i d e red on t h e i r breasts . ' l n 1 259 Pa pe Alexa n d e r IV a u t h o ri ­
z e d t h e b rot h e r k n i g hts t o wea r a r e d su rcoat w i t h a n o rd i n a ry wh ite cross u po n
it. This, t h e p a p e wrote, re p l i cated the d es i g n of thei r batt l e sta n d a rd . H e h a d been
pers u a d e d to i ntro d u ce this ch a n g e to d i sti n g u is h the kn i g hts fro m oth e r b ro­
t h e rs, beca use of a re l u cta nce o n the p a rt of n o b l es to m a ke p rofessi o n i nto a n
' Cartulaire général de / 'ordre des Hospitaliers de S t Jean de Jérusalem, e d . Joseph
Delavi l l e Le Rou lx, 4 vo l s ( Pa ri s 1 894- 1 906) ( H e reafter C a rt H o s p ) 2 . 67 2 . The b l a ck s u rcoats re p l a ­
c e d t h e b rothers' cappae befo re 1 248. S e e J o n ath a n R i l ey-S m it h , The Knights o f S t John in
Jerusalem and Cyprus c. 1050- 13 10 ( Lo n d o n 1 967 ) , p p . 255, 323.
251
J o n at h a n R i l ey-S m it h
i n stituti o n in wh i ch t h e i r b i rth was n ot a d eq u ately recog n ized .2 1f t h e i ntenti o n h a d
b e e n t o m a rk the n o b l es out fro m the rest, h oweve r, the measu re fa i l ed, beca u se
i n 1 278 the use of t h i s type of su rcoat was exte n d ed to the b rot h e r sergea nts-at­
a rm s as wel l . 3
T h e O rd e r, the refo re, ca m e t o h ave two d i sti n ctive fo rms o f d ress, vivi d ly
i l l u strated i n Pi ntu ricch i o's fa m o u s frescoes of kn i g hts of R h odes i n the ba pti ste ry
at S i e n a . O n e wea rs the co nve ntu a l b l a ck h a b it, e m b ro i d ered with a wh ite e i g ht­
poi nted cross; the oth e r the wa r su rcoat, d i s p l ayi n g an o rd i n a ry wh ite cross on a
red g rou n d . B l ack was not s pecifi ed as com p u l so ry wea r i n t h e O rd e r 's R u l e ,
w h i ch d ated fro m t h e seco n d q u a rter o f t h e twe lfth centu ry.4 O n ly i n 1 305, w h e n
a n effo rt was m a d e t o sta n d a rd ize d ress, was it d efi n itively esta b l i s h ed as the
co l o u r of t h e conventu a l h a biV and eve n we l l after t h at d ate the i l l u strato r of the
m a n u scri pt of Wi l l i a m Caou rsi n's Obsidionis Rhodiae urbis descriptio ( 1 480), who
g e n e ra l ly portrayed t h e b roth e rs in b l a ck o r red , d e p i cted some m e m bers of the
g ra n d m a ster's cou nc i l in b rown ove r-coats .6 N eve rt h e l ess, b l a ck a lways see ms to
h ave been t h e n o r m , perha ps beca use t h e Hospita l h a d orig i n ated i n a hospice i n
J e rusa l e m esta b l i s h ed by the Bened i cti n e a b bey of St M a ry of the Lati ns.7The use
of both wh ite o n b l a ck and wh ite o n red made i co n og ra p h ical sense and ca n be
exp l a i ned with refe re n ce to a treat m e nt of t h e m ea n i n g of the co l o u rs of M ass
vest m e nts in Po pe l n n ocent l l l 's De sacro altaris m ysterio, w h i ch was com posed
in the 1 1 90s. B l a ck, the l itu rg i ca l co l o u r fo r Adve nt a n d Lent, fo r days of pen itence
a n d fast i n g and fo r i ntercessi o n fo r s i n s a n d fo r the dead, s i g n ified sa d n ess a n d
p e n a n ce, w h e reas wh ite, u s e d i n M asses co m m e m o rati n g co nfesso rs a n d vi r­
g i ns, sym bo l i zed pu rity a n d i n n oce nce, a n d red, worn w h e n ce l e b rati n g M a sses
of t h e a postles a n d m a rtyrs, m e m o r i a l ized C h rist's b l ood a n d the fi e ry a p p e a ra n ce
of t h e H o l y S p i rit. Red was a l so wo rn, very a p p ro p riately i n view of t h e Hospita l 's
patro n sai nt, o n the fea st of the N ativity of St J o h n t h e Ba ptist.8
' Ca rt Hosp 2 . 878; 3 . 370.
3 A capital l n t h e Israel M u seu m i n J e r u sa l e m , w h i ch h a d been o n a co l u m n i n t h e con­
ventu a l ch u rch in Acre, d e p i cts t h e fa m i l i a r white cross o n a red g ro u n d .
4 C a rt H o s p 1 . 63-4. The o n l y i nj u ncti o n_s i n t h e R u l e were t o d ress h u m b ly a n d n eve r to wea r '
expensive furs o r fa brics. As l ate as 1 30 0 m a ntles were n ot n ecessa r i l y b l a ck. R i l ey-S m it h , The
Knights of St John, p. 254.
' C a rt Hosp 4. 1 20.
' B i b l . N at. M s . Lat. 6067, fo i . 83 v .
' R i l ey-S m i t h , The Knights of St John, p p . 32-43 .
' l n nocent I I I , 11 Sacrosanto Mistero deii'Aitare, e d . Sta n i s l a o F i o ra m o nti ( M o n u m e nta
Stu d i a I n stru m e nta Litu rg i ca 1 5, Vati c a n , 2 0 0 2 ) , pp. 1 02-8.
252
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
There m u st h ave been sig n ifica nce in the d iffe rent types of cross used on the
h a bit a n d o n the su rcoat a n d battle sta n d a rd . The e i g ht-poi nted o n e may wel l h ave
been a d o pted by the O rd e r in the fi rst h a lf of the twe lfth � e ntu ry.9 lt was i n co rpo­
rated i nto the i nscri ptions a ro u n d both faces of the sea l of the master Raym o n d d u
P u y ( 1 1 20-58/60 ),10 a lthoug h i t i s t r u e that it was a l so depicted o n t h e sea ls o f oth e r
i n stituti ons a n d the fi rst re p resentation o f it o n cloth i n g known t o m e is t o be fo u n d
fifty yea rs l ater o n a sea l of the master G a r i n d e M o nta i g u ( 1 207-28 ) . 11 The a lte rna­
tive "ord i n a ry" fo rm of the cross m ay h ave been a d o pted to d i sti n g u ish the O rde r's
sta n d a rd m o re clea rly i n the confu s i o n of battle, beca use a cross q u a rteri n g the
fl a g wo u l d h ave been m u ch m o re visi b l e than a n e i g ht-po i nted one.
The fi rst evi d e nce fo r t h e wh ite cross o n a red g ro u n d occu rs in a s u rprisi n g
co ntext, h oweve r. Th e O rd e r d ecreed i n 1 1 8 1 t h at clot h s o f t h i s desi g n , wh i ch were
a l ready bei n g e m p l oyed a s the fu n e ra l pa l l s of d eceased b roth e rs, were a l so to
cover t h e bod i es of poo r p i l g ri ms who h a d d i ed i n the h os p ita l i n J e rusa l e m .12The
pa l l s m u st h ave d ra ped t h e b i e rs of the poor d u ri n g fu n e ra l M a sses in t h e con­
ventu a l ch u rch and the s u bseq u e nt p rocessi o n out of t h e city to the ch a rn e l pit
wh i ch t h e Hospita l l e rs own ed at Ake l d a m a . 1 3
Po pe Al exa n d e r 's IV's l ette r o f 1 259 i s , as fa r a s I a m awa re, t h e fi rst refe­
re nce to t h e co l o u rs on t h e batt l e-sta n d a rd . We re t h e pa l l s refe rred to i n 1 1 8 1
a l ready i m itati n g it? Th e b r i ef refe re nce i n t h e statute t o t h e m m a d e n o d i st i n c­
t i o n betwee n b rot h e rs-at-a rms a n d -at-se rvi ce14 a n d t h e word u sed fo r t h e pa l l
was n ot vexíllum, but cohopertoríum ( drap i n t h e Fre n ch m a n u scri pt). 15 A b roth e r
' Th e refe rence to t h e wea r i n g o f crosses, t h e fo rm o f w h i ch was not specifi e d , i n t h e R u i e,
was a n a ccretion and was p ro b a b ly a n ea rly statute wh i ch dated fro m befo re 1 1 53. C a rt Hosp 1 . 68.
10 G u stave sch l u m berger, " N e u f Sce a u x d e I ' O r i e n t l ati n '; Revue de I'Orient latin 2 ( 1 894),
p . 1 80 and p i ate l i , no 5 . This sea l esta b l i s h e d a fo rm w h i ch was in use, at l e a st with respect to
its reve rse, fo r h u n d reds of years. G u stave Sch l u m berger, Ferd i n a n d C h a l a n d o n a n d Ad ri e n
B l a n ch et, Sigillographie d e I'Orient /atin ( Pa ris, 1 943 ), p p . 232-43 . .
1 1 Sch l u m b e rg e r, C h a l a n d o n a n d B l a n ch et, Sigillographie, p. 235.
12 C a rt H o s p 1 . 426.
1 3 "A Twe lfth-Ce n t u ry Descri pti o n of t h e J e rusa l e m H o s p i ta l '; e d . B e nj a m i n Z. Ked a r, The
Military Orders. Volume 2. Welfare and Warfare, e d . H e l e n N i ch o l son (Ai d e rs h ot, 1 998), p. 22;
Ca rt H o s p 1 : 347, 426, nos 504, 627; J o n at ti a n R i l ey-S m it h , " T h e death a n d b u r i a l of Lati n
C h risti a n p i l g ri m s to J e r u sa l e m a n d Acre, 1 099- 1 2 9 1 '; Crusades 7 (2008), p p . 1 65-79.
1 4 lt i s true that the va r i o u s cate g o r i es of m e m bersh i p in the Order we re n ot defi ned u nt i l
1 206, but brot h e r k n i g hts, s o m e o f w h o m were co n s i d e red to be n o b l e, were a c l e a rly d efi ned
g ro u p by t h e 1 1 80s. "ATwe lfth-Cent u ry Descri pti o n '; p . 2 1 .
1 5 C a rt H o s p 1 .426. Alt h o u g h i t s h o u l d b e a d d e d that n o n e o f t h e mss i n w h i ch t h i s statute
i s reco rded a re fro m as e a r l y a s the twe l fth centu ry.
253
J o n at h a n R i l ey-S m ith
sta nda rd-bea rer, the gonfanonier, was ce rta i n ly in post by 1 20616 and on 22 M ay
1 207 the O rder's sta n d a rd ( vexillum) was ra ised ove r G i bel (Jaba l a ) i n Syria when
it took possession of the city, 17 but th ese refere nces co m y two decades afte r the sta­
tute. lf the battle sta n d a rd was o n ly i ntrod uced afte r 1 1 8 1 , it may be that it was deli­
berate ly designed to i m itate the fu nera l pa l l s of b roth e rs a n d the poor a n d its adop­
tion may therefo re have demonstrated a close association i n thei r m i nds of the
Knig hts Hospita l l e r between death, the sick poor and the experience of wa rfa re.
On the oth er h a nd, the ci rcumsta nces which led to the statute o n fu nera l pa l l s
s u g g est that t h e O rder's battle-sta n d a rd was i n deed i n u s e b y 1 1 8 1 . B y t h e seco nd
h a lf of the twelfth centu ry the Hospita l l e rs were ru n n i ng the l a rgest p i l g ri m hospi­
ta l i n Jerusa l e m . They were a lso responsi b l e fo r perh a ps two oth e r h ospita is, the
m a n agem ent of two p i l g ri m sites, a n enormous conventu a l ch u rch , a prim itive
a m bu l a nce service, a l a rg e o rp h a nage, to which a school was attached, a l ms-g ivi ng
o n a massive sca l e a n d a tra nsport service fo r p i l g ri ms. Th e i r statutes a n d a des­
criptio n of them at work in the 1 1 80s p rovi de evi dence fo r the h i g h q u a l ity of thei r
ca re of wo men as we l l as of men a n d of M us l i m s a n d Jews as we l l as of Ch risti a ns.18
By that ti m e they were a lso h eavi ly engaged in the defe nce of the C h risti a n settle­
m e nts and were a l ready ga rriso n i n g at least fo u r m aj o r castl es. The fi rst steps
towa rds the m i l itarization of the O rder had been taken as early as the 1 1 20s, with i n
six yea rs of the fou ndatio n of the Tem p l a rs,19 but the p rocess h a d not been a n easy
o n e a n d h a d led to i nternal confl ict, g e n e rated both by u nease at re l ationsh i p bet­
wee n n u rs i n g a n d wa rfa re a n d by wo rry a bout reso u rces, since the ca re of the sick
o n such a l a rge sca l e co m peted with a n expo nenti a l g rowth i n the costs of wa r.
l n t h e 1 1 60s t h e maste r, G i l bert d 'Assa i l ly, h a d m a d e expensive l o n g-te rm
m i l ita ry co m m itme nts, i n c l u d i n g the co m p l ete re bu i l d i n g of the cast l e of Belvo i r
( Ka u ka b a i - H awa ) a n d m a j o r wo rks a t t h e cast l es o f Bel mont ( S u ba ) a n d
Bet h g i bel i n ( B a it J i b ri n ) .20 B y 1 1 69 the O rd e r h a d fa l l e n deeply i nto d e bt a n d
16 R i l ey-S m i t h , The Knights of St John, p . 32 1 .
1 7 Cat H o s p 2 . 7 1 . T h e m a ster's s e a i wa s p r o b a b l y h u n g o n red a n d white s i l k cords, b u t t h e re
is no good evi d e n ce fo r t h i s u nti l we l l after 1 259. See R i l ey-S m it h , The Knights of St John, p. 279.
1 8 "ATwe lfth-Centu ry descri pti o n '; pp . 1 3-26; "Ad m i n i strative Reg u l at i o n s fo r t h e Hospita l of ,
.
St J o h n i n J e rusa l e m d ati n g fro m t h e 1 1 80s '; e d . S u s a n E d g i n gt o n , Crusades 4 ( 2 0 0 5 ) , p p . 2 1 -37;
C a rt Hosp 1 . 339-40, 425-9; R i l ey-S m it h , "The death a n d b u ri a l '; passim ..
1 9 J o n a t h a n R i l ey-S m i t h , The First Crusaders 1095- 1 1 3 1 ( C a m bridge, 1 99 7 ) , pp. 1 63-4.
" R i l ey-S m i t h , The Knights of St John, pp. 69-74, 292-3; R i ch a rd P. H a rper a n d Denys
Pri n g l e, Belmont Castle ( Oxfo rd, 2 0 0 0 ) , passim; De nys Pri n g l e, Secular Buildings in the
Crusader Kingdom of Jerusalem. An Archaeo/ogica/ Gazetteer ( C a m b r i d g e , 1 997), pp. 27, 32-3,
96; Ad r i a n Boas, Archaeo/ogy of the Military Orders ( Lo n d o n , 2006), pp. 228-30.
254
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
G i l bert, s u ccu m b i n g to what seems to h ave been a c l i n i ca l d e p ress i o n , res i g ned
t h e m a sters h i p and reti red to a cave to l ive as a h e r m it. ln t h e ch aos t h at e n s u e d ,
wh i ch w a s co m po u nded b y G i l be rt's mood-swi ngs, most o f the b roth e rs i n the
centra l co nvent wa nted to be rid of the wei g ht of s u p e rfl u o u s a n d need l ess
expenses a n d they i n sisted on a co m m itm e nt fro m futu re m a sters t h at fro nti e r
cast l es s h o u l d n ot b e a cq u i red a n d i m po rta nt a g ree m e nts s h o u l d n ot be e nte red
i nto with out the assent of ch a pte r. Th e i r d e m a n d s were confi rmed a yea r or two
! ate r by Po pe Al exa n d e r 1 1 1 .2'
T h i s crisis, wh i ch was one of the most seri o u s in the O rd e r 's h i sto ry, took a
l o n g t i m e to resolve a n d t h e stre ngth of t h e d i ffe rent fa ct i o n s a decade afte r
G i l be rt's res i g nati o n was reflected i n two pa p a l l ette rs. l n the fi rst, Piam admo­
dum, a d d ressed in the l ate 1 1 70s to the m a ster Rog e r des M o u l i ns, Al exa n d e r I I I
poi nted out that the Hospita l l e rs' p ri m e o b l i gation was to ca re fo r t h e poor a n d
t h a t t h ey s h o u l d not be d i ve rted i nto m i l ita ry e nterpri ses except o n very speci a l
occa s i o n s - when t h e re l i c o f t h e Tru e C ross acco m pa n ied t h e C h rist i a n a rmy ­
a n d t h e n o n ly if t h e co u rse of act i o n was seen to be a p p ro p ri ate a n d reaso n a b l e .
The Hosp ita l , h e a d d e d , h a d b e e n i n stituted fo r the rece pt i o n a n d refect i o n o f the
poor and it s h o u l d co n centrate o n those d uties, "espec i a l l y as it i s bel i eved the
poor a re better defe n d ed by s h owi n g l ove and m e rcy than by t h e fo rce of a rm s ':22
At a l m ost t h e s a m e t i m e, h oweve r - o n 1 5 M ay 1 1 79 - t h e papa l cu ria reis­
sued Ouam amabilis Deo, one of the O rd e r's most i m po rta nt early p rivi l eges, i n
w h i ch passa g es bo rrowed fro m a n ea r l i e r ch a rter fo r the Te m p l a rs a n d d escri b i n g
a m i l ita ry fu n ct i o n were i nte rpo l ated . I a n d oth e rs co n s i d e red the l etter t o be a fo r­
g e ry,23 but Professor R u d o l f H i esta n d h a s d e m o n st rated that it was g e n u i n e a n d
t h a t with th ese a d d it i o n s t h e c u r i a fo rma l l y reco g n ized the Hospita l 's m i l ita ry
rô l e .24 S i nce p a p a l l ette rs tended to be writte n i n res ponse to req u ests fo r t h e m , it
l o o ks as t h o u g h d iv i s i o n s with i n the arder o n prio ritizat i o n were bei n g reflected
in A l exa n d e r's co rres p o n d e nce.
lt was t h e reissue of Ouam amabilis Deo wh i ch wo n the day and the res­
ponse with i n the O rd e r seems to h ave been to sea rch fo r some m e a n s by w h i ch
wa rfa re wo u l d a p pea r to be closely re l ated to t h e ca re of the sick poo r. A statute
of 1 1 82, wh i ch conta i ned the fi rst ove rt refe rence i n Hospita l l e r l e g i s l at i o n to a
21 Papsturkunden für Templer und Johanniter, e d . R u d o l f H i esta n d , (Vora rbeiten zu m O r i e n s
Po ntifi c i u s 1 - 1 1 ) , 2 vo l s . ( G ôtti n g e n , 1 97 2-84) 2 . 222-30.
"
C a rt Hosp 1 . 360- 1 .
23 R i l ey-S m i t h , The Knights of S t John, p . 77.
'4 Papsturkunden für Templer und Johanniter 2 . 1 36-62; esp. p p . 1 50- 1 .
255
J o n a t h a n R i l ey-S m it h
m i l ita ry wi n g and m u st h ave been ve ry ca refu l ly wo rded, co u l d not h ave exp res­
sed the h o ped-fo r re l ati o n s h i p betwee n fi g ht i n g a n d l ave m o re s u cci n ctly.
These a re t h e speci a l ch a rities esta b l i s h e d i n t h e H o s p ita l , a p a rt fro m
t h e b roth e rs-at-a rms, wh i ch t h e H o u se o u g ht to s u ppo rt h o n o u ra b ly, a n d
m a ny oth e r cha rities wh i ch ca n n ot be i n d i vi d u a l ly d eta i l e d .25
The sa m e concern to associ ate m i l ita ry a ctivities with h ospita l l e r o n es m ay
h ave g i ven rise to a p ra ctice described by a G e r m a n visitar i n t h e 1 1 80s, accord i n g
t o wh i ch t h e b rot h e r k n i g hts, i n a r d e r t o d e m o nstrate t h at what t h ey h a d b e l o n ­
g e d t o t h e si ck, h a d t o su rre n d e r t h e i r wa r- h o rses if i n t h e o p i n i o n o f t h e s u rg e o n s
i n t h e O rd e r 's m o b i l e fi e l d h o s p ita l t h e re were n ot e n o u g h a n i m a i s ava i l a b l e t o
m ove t h e i nj u red i n t h e afte rmath o f batt l e .26Th e statute o n pa l l s o f 1 1 8 1 may h ave
been a n ot h e r exp ress i o n of t h i s a p p roach, beca use, if t h e b rot h e rs ' fu n e r a l pa l l s
we re a l ready copies o f a n exist i n g batt l e sta n d a rd , t h e d ecree u n e q u i voca l ly l i n ­
ked t h e ca re of t h e s i ck to wa rfa re.
The O rd e r m ay h ave been fi n d i n g a way out of its d ifficu lti es, the refo re, by
stressi ng that wa rfa re wa s n o m o re t h a n an exte n s i o n of the ca re of the poor, m a n i ­
fested i n the treatment o f the sick, t h e h o u s i n g o f o r p h a n s a n d the b u r i a l o f t h e
dead .27 A n d t h o u g h out t h e O rd e r's h i sto ry i t re m a i ned i m po rta nt to stress t h e p rio­
rity of n u rs i n g , eve n if it wa s h e ncefo rwa rd to benefit fro m only a fraction of the
ava i l a b l e resou rces.28 At L i m asso l , to w h i ch the Order's hea d q u a rters were d riven
after the fa l i of Acre in 1 29 1 , the b rothers were b u i l d i n g a hosp ita l in 1 296.29 O n t h e i r
a rriva l o n R h odes i n 1 309 they at o n ce esta b l i s h ed a te m po ra ry hospita l , which
betwee n 1 3 1 4 a n d 1 356 was rep l a ced by a p u rpose-bu i lt o n e . Th i s gave way i n 1 440
to a m a g n ificent n ew b u i l d i n g . Th e i r fi rst a ct on evacu ati ng R h odes i n 1 523 was to
co nstruct a tented hosp ita l on a south lta l i a n beach a n d the e rection of a g reat n ew
h ospita l was a desi d e ratu m i n the p l a n n i n g of Va l l etta o n M a lta after 1 565 .30 lt was
25 C a rt Hosp 1 .429.
26 "A Twe lfth-Ce ntu ry Descri pti o n '; p p . 2 1 -2 .
2 7 T h i s confl a t i o n o f ro l e s was ech oed fo rty yea rs l ater i n t h e crusa d e r Ki n g And rew o f
H u n g a ry extrava g a nt p r a i se o f t h e Order's th reefo l d fu n cti o n s : t h e ca re o f t h e s i ck poor, its b u r i a l
o f t h e m a n d i t s s h o u l d e r i n g o f m i l ita ry respo n s i bi l ities. C a rt H o s p 2 . 23 1 -4, 238-40 . S e e a l so C a rt '
H o s p 2 . 856.
28 it l o o ks as though a bo u t nine p e r cent of t h e O r d e r 's i n co me wa s s p e nt o n t h e h o s p ita l
on R h od e s i n t h e fifteenth centu ry. Anth o ny T. Luttre l l , " T h e M i l itary O r d e rs, 1 3 1 2- 1 798'; The
Oxford 11/ustrated History of the Crusades, e d . J o n a t h a n R i l ey-S m ith ( Oxfo rd, 1 99 5 ) , p. 343 .
29 R i l ey-S m it h , The Knights of St John, p. 1 98 .
3 0 Anth o ny Luttre l l , The To wn of Rhodes, 1306- 1356 ( R h odes, 2 0 0 3 ) , p p . 99- 1 0 0 . S e e
Anthony L. Luttre l l , "The H o s p i ta l l e rs' M e d i c a l Tra d i t i o n '; The Military Orders. Figh ting for the
256
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
t h i s conti n u i n g tradition which p rovided the basis fo r the i n itiatives taken in the
m i d d l e of the n i n eteenth centu ry by G ottfri ed vo n Sch rote r, Au g u st vo n H axth a u sen
and oth e rs, when they revita l ized the O rd e r's a n cient m i ssip n of m e rcy.3'
At a ny rate the ba ckg ro u n d to the statute of 1 1 8 1 on t h e use of fu n e ra l pa l l s
s u g g ests t h at t h e O rd e r was a l ready u s i n g t h e wh ite cross o n a red g ro u n d a s a
batt l e sta n d a rd a n d t h at t h e exte n s i o n to t h e co rpses of t h e p o o r of t h e p ra ctice
of cove ri n g the b o d i es of dead b roth e rs with it wa s one of the me asu res ta ken i n
t h e afte rmath o f a tra u matic period, d u ri n g w h i ch t h e H o s p ita l l e rs h a d t o co m e to
terms with m i l ita rizati o n .
Changes in the meaning o f the word caravana
An a nx i ety to a ssoci ate wa rfa re a s c l osely a s poss i b l e with n u rs i n g m ay a l so
h ave co ntri b uted to the c u r i o u s path the word cara vana took in the O rd e r's h i s­
to ry. The use of cara vana to d escri be a ny co nvoy ca rry i n g m e rch a n d i se o r ot h e r
g o ods, w h eth e r o f pa ck-a n i m a l s o r s h i p p i n g , wa s a co m m o n p l a ce i n t h e Lati n
E a st.32 By t h e l ate th i rteenth centu ry, w h e n t h e Usances, t h e O rd e r 's custoín s,
we re co p i e d by B rot h e r Wi l l i a m d i Sa nto Stefa n o , t h e wo rd h a d beg u n to be
e m p l oyed to d escri be a l a n d-based m i l ita ry expe d i t i o n of the b rot h e rs-at- a r m s .
W h e n t h e b roth e rs l eave t h e co nvent a n d g o o n ca rava n
a nywh e re, the m a rs h a l ca n a p p o i nt i n h i s p l a ce a ny b rot h e r
w h o seems g o o d to h i m .33
A n d t h e statutes of a ch a pter g e n e ra l i n 1 301 l e g i s l ated o n t h e res po nsi b i l i ­
ties o f a co m m a n d e r o f t h e b rot h e r k n i g hts ( o r t h e m a rs h a l 's l i eute n a nt) " w h o
s h a l l be o n ca rava n i n Arm e n i a o r e l sewh e re o uts i d e t h e i r cast l e s '.'34
Faith and Caring for the Sick, e d . M a l c o l m Ba rber (Ai d e r s h ot, 1 994), p p . 68-8 1 ; Foti n i Ka rassava­
Tsi l i n g i ri , "The F i ftee nth-Centu ry H o s p ita l of R h o d e s '; The Military Orders. Figh ting for the Faith
and Caring for the Sick, e d . M a l c o l m B a r b e r (Ai d e r s h ot, 1 994), p p . 89-96; A n n Wi l l i a m s,
" Xenodochium to Sacred l nfi rm a ry'; The Military Orders. Fighting for the Faith and Caring for
the Sick, e d . M a l c o l m B a r b e r (Ai d e rs h ot, 1 994), p p . 97- 1 02; Rog e r E l l u l M i ca l l ef, " T h e M a ltese
M e d i c a l Tra d iti o n '; Malta. A Case Study in lnternational Cross-Currents, ed. Sta n l ey F i o ri n i a n d
Vi cto r M a l l i a - M i l a nes ( M a lta, 1 99 1 ) , p p . 1 88-94_.
3 1 H e n ry S i re, The Knights of Malta ( N ewhaven a n d Lo n d o n , 1 994), p p . 2 5 1 -3; M axi m i l i a n
Fre i h err vo n Twi cke l , " Di e nati o n a l e n Assoziati o n e n d e s M a ltese r-o rd e n s i n Deutsch l a n d '; Der
Johanniterorden, Der Malteserorden, e d . Ad a m Wi e n a n d ( C o l o g n e , 1 97 0 ) , p p . 47 1 -8 .
3 2 S e e , fo r exa m p l e , Tabulae ordinis Theutonici, e d . E r n st Stre h l ke ( B e r l i n 1 869), p . 4; Ca rt
H o s p 1 . 86-7.
33 Ca rt Hosp 2 . 549.
34 C a rt Hosp 4. 1 7.
257
J o n at h a n R i l ey-S m it h
Al i h i sto ri a n s h ave a ss u med t h at cara vana a cq u i red a m i l ita ry m ea n i n g fro m
a n associati o n with co nvoy d ut i es i n s u p p o rt of t h e l i nes of ca m e l s a n d m u l es
ca rryi n g s u p p l i e s . lt wa s, m o reover, easy to see h ow . i n t h e cou rse of t h e fo u r­
teenth centu ry, w h e n t h e O rd e r was g ove r n i n g its i s l a n d -state of R h o d es, the
u s a g e wa s t ra n sfe rred fro m land o p e rati o n s to tou rs of d uty at sea, p a rti c u l a rly a s
lta l i a n m e rcha nts h a d co m m o n ly used t h e w o r d to d escri be t h e i r fleets.35 The
word cara vana wa s now e m p l oyed to d e n ote a b rot h e r kn i g ht's period of s e rvice,
eith e r o n a s h i p, o r o n t h e o utlyi n g i s l a n d of Cos, or in t h e cast l e of St Pete r at
B o d ru m . Ca rava ns were needed if he was to g a i n t h e se n i o rity req u i red fo r p ro­
m oti o n to a co m m a n d e ry or to a n ot h e r offi ce36 and t h e word cara vana wa s used
in co n n ecti o n with n ava l a p p rentices h i ps u nt i l t h e l oss of M a lta to N a po l e o n i n
1 798.
The cou rse of t h e word's d eve l o p m e nt used to l o o k c l e a r e n o u g h , but we
now fi n d that it had a s i g n ifi ca ntly d i ffe rent m ea n i n g fo r t h e H o s p ita l l ers in the
twe lfth centu ry. Acco rd i n g to statutes re l ati n g to t h e i r h os p ita l in J e rusa l e m ,
w h i ch h ave b e e n rece ntly ed ited b y D r S u s a n E d g i ngton a n d dated b y h er t o t h e
1 1 80s, n ewly a d m itted patie nts :
wi l l be taken i nto t h e roo m of t h e kara vane a n d u n d ressed
a n d t h e i r c l ot h es tied up t i g htly a n d s h own to the s i ck so t h at
e a ch o n e ca n reco g n ize h i s own b u n d l e w h e n h e wa nts to
l eave. And t h e kara vannier is to g i ve each perso n a p a i r of l i n e n
s h eets a n d a cove r l et a n d a p i l l ow a n d a g o b l et a n d a s p o o n a n d
a ba rre i to put wi n e i n . . . 37
Eve ry n i g ht a l i t h e yea r l o n g t h e p rocessi o n g oes ro u n d t h e pati e nts,
a n d the kara vannier g o es in fro nt with a l i g hted ca n d l e in h i s h a n d
a n d cove rs t h e u n cove red a n d g e ntly exh o rts t h e pati e nts t o beh ave
pea cefu l l y a n d reve rently u nti l the p rocess i o n has passed by.38
l n t h e twe lfth-centu ry h o s p ita l , t h e refo re, t h e cara vana, u n d e r a m i n o r offi ce r
ca l l ed a cara vannier, wa s a d e p a rt m e nt fo r sto ri n g a n d issu i n g bedclot h es a n d
u te n s i l s . T h i s u s a g e was s i m i l a r t o t h at e m p l oyed b y t h e Te m p l a rs, fo r w h o m t h e
cara vana wa s a depa rt m e nt i n t h e i r centra l m a rs h a l sy, with a n exte n s i ve staff of
35 Se e M a rs i l i o Zorzi, Der Bericht des Marsi/io Zorzi, ed. O l iver Bergg i:itz { K i e l e r We rkstücke,
Rei h e C, 2, Fra n kfu rt a m M a i n , 1 99 1 } , pp. 1 73-7.
3 6 See J ü rg e n S a r n ows ky, Mach t und Herrschaft im Johanniterorden des 15. Jahrhunderts
{ M ü nste r, 2001 }, p p . 22 1 -2 .
3 7 "Ad m i n i strative Reg u l at i o n s '; p p . 26-8.
" "Ad m i n i strative Reg u l at i o n s " p . 32.
258
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
g ro o m s a n d a rtisans, w h e re wa r h o rses were sta b l e d a n d t h e i r tack a n d sa d d l e ry
sto red a n d repa i re d . Ot h e r d e p a rt m e nts of t h i s s o rt were perh a ps a l so to be fo u n d
i n Te m p l a r cast l es, beca use t h e re wa s a cara vannier a t S a p h et i n c. 1 2 0 0 .39 l n both
o rd e rs, the m ea n i n g of the wo rd cara vana had i n d eed been a d a pted fro m t h at
used to d escri be t h e tra i n s of tra d e rs co m i n g u p to J e ru s a l e m fro m t h e coast o r
fro m t h e i nteri o r, b ri n g i n g i n o n e case wa r h o rses a n d m i l ita ry eq u i p m e nt, i n t h e
oth e r b e d c l ot h es a n d n u rs i n g ute n s i l s . lt now d escri bed depa rtme nts w h i ch i n
o n e a rd e r m et the needs o f wa r a n d i n t h e oth e r wa s a resou rce fo r a cts o f m e rcy,
Th e Te m p l a rs n eve r a p p l i e d t h e wo rd cara vana to t h e i r ca m pa i g ns, but con­
ti n u e d to e m p l oy it solely to d escri be t h e d e p a rt m e nt in their m a rs h a l sy. The h i s­
to ry of the term in O rd e r of the H o s p ita l of St J o h n is m o re co m p l ex, beca use
a lt h o u g h t h e wo rd conti n u ed to be used i n t h e th i rteenth -ce ntu ry with respect to
a m e d i ca l office, a l o n g s i d e its n ew m ea n i n g of a m i l ita ry exped iti o n , t h e m e d i ca l
d e p a rt m e nt concerned see m s t o h ave been tra n sfe rred fro m t h e h os p ita l fo r t h e
s i ck p o o r to t h e b rot h e rs' i nfi r m a ry, a sepa rate i n stituti o n l o cated i n a d i ffe rent
p l a ce . 40 ln a statute issued by a ch a pte r g e n e ra l in 1 262, it wa s d ecreed thaÚhe
b rot h e r in ch a rg e of t h e i nfi rm a ry s h o u l d see t h at " n o cara vanier o r ot h e r ser­
g e a nt s h o u l d g i ve a s i ck brot h e r t h e m o n ey t h at i s c u sto m a ri ly g i ven "4' a n d i n t h e
statutes o f the fo l l owi n g yea r t h e re wa s a refe re n ce to a " ca rava n p r i est'; w h o wa s
o n e of five assista nt ch a p l a i n s to t h e co nve ntu a l p r i o r.42 I used to be l i eve t h at t h i s
m a n wa s a n a rmy ch a p l a i n ,43 but s u re l y t h e a p p o i ntment o f a pri est t o a cco m p a ny
a m i l ita ry exped iti o n o r ra i d wo u l d h ave been a te m po ra ry o n e a n d a c l e ri c of t h i s
so rt wo u l d n o t h ave b e e n a m e m ber o f t h e co nve ntu a l esta b l i s h m e nt. lt i s m o re
l i ke l y t h at t h e ca rava n p ri est was ass i g ned to t h e cara vana i n t h e i nfi r m a ry.
The p rocess of caravana's d eve l o p m e nt, t h e refo re, seems to h ave been a s
fo l l ows. l n the twe l fth centu ry a depa rtment i n t h e h os p ita l fo r t h e s i ck p o o r d rew
its n a m e fro m t h e ca rava ns t h at b ro u g ht s u p p l ies to t h e city. By t h e th i rteenth
centu ry this d e p a rt m e nt - o r a d u p l i cate - wa s to be fo u n d in t h e b rot h e rs ' i nfi r­
m a ry. At t h e s a m e t i m e, or perh a ps a l itt l e l ater, t h e word a l so beg a n to be a p p l ied
to land exped iti o n s and i n t h e fo u rteenth centu ry it ca m e to be used of s e rvice i n
t h e O rd e r 's fl eet o r outlyi n g fo rtresses .
39 La reg/e du Tem pie, e d . H e n ri de Cu rzo n ( Pa ri s 1 886}, p p . 75, 77-8, 89, 9 1 , 93, 98, 1 07-8,
1 3 1 -2, 1 86, 243, 3 1 3 .
40 R i l ey-S m ith, The Kníghts of S t John, p . 337.
41 See C a rt Hosp 3 . 5 1 .
42 C a rt H o s p 3.77.
43 R i l ey-S m ith, The Kníghts of St John, p. 323.
259
J o n at h a n R i l ey-S m it h
This i s n ot t h e o n ly exa m p l e in t h e th i rteenth centu ry of d o m esti c a rra n g e­
m e nts a cq u i ri n g a m i l ita ry flavo u r. By 1 230 t h e O rd e r h a d m oved t h e conventu a l
b roth e rs fro m t h e centra l co m p o u n d i n Acre t o a n auberge i n t h e n o rthern su b u rb
of M o nt m u s a rd , w h e re t h ey l i ved u n d e r t h e co m m a n d of t h e m a rs h a l .44 The rea­
son wa s p ro b a b l y beca use the needs of e n c l os u re, so i m p o rta nt fo r a re l i g i o u s
co m m u n ity, co u l d n ot be m et i n t h e m a i n co m p o u n d , w h i ch rece nt a n d specta­
cu l a r excavati o n s h ave revea l e d to h ave been a major d i stri buti o n centre, with
wa re h o u ses in wh i ch m ateri a i s co u l d be sto red befo re bei n g sent out to cast l es
a n d co m m a n d e ries t h ro u g h o ut t h e Leva nt. A l a rg e body of m e rc e n a ries wa s a l so
p ro b a b l y h o u sed t h e re.45Th e Te m p l a rs, w h o e m p l oyed m a ny m e rce n a r i es in Ac re46
a n d we re t h e refo re fa ced by t h e sa m e p ro b l e m , toyed with t h e i d ea of m ovi n g
t h e i r co nve nt o u t o f Acre to t h e i r cast l e o f Ch a ste l Pe l e ri n down t h e coast, b u t i n
t h e e n d a b a n d o ned t h e p roj ect.47
The d i sta n ce of t h e a uberge fro m t h e m a i n H os p ita l l e r b u i l d i n g s wo u l d n ot
h ave been m o re t h a n 7 0 0 m etres . Th e ficti o n t h at t h e m a i n co m po u n d was sti l l t h e
centre of co m m u n ity l ife wa s m a i nta i n ed b y i n s i sti n g that t h e b roth e rs e a t i n t h e
conventu a l refecto ry t h e re, to w h i ch t h ey wo u l d p rocess th ro u g h t h e town two by
two . The m a rs h a l wa s res po nsi b l e fo r see i n g that t h ey d i d so a n d t h at t h ey we re
p ro pe rly d resse d . 48 A n d a lt h o u g h t h e re wa s a ch a p e i i n t h e auberge, it see m s that
o n ly ce rta i n h o u rs - s u ch a s Matins i n t h e m i d d l e of t h e n i g ht - we re said in it.49
Fo r co nve ntu a l M a ss, Ves p e rs a n d p ro b a b l y La u d s t h e b rothers h a d to p ro cess
44 Tabu/ae ordinis Theutonici, p . 58, no 73; R i l ey-S m it h , The Knights of St John, p . 248. l n
1 239 a b rot h e r aubergere, who m u st h ave h a d a s u b o rd i n ate ro l e t o t h e m a rs h a l , was a l so i n
post. C a rt Hosp 2 . 565.
45 J o n at h a n R i l ey-S m it h , " Fu rt h e r t h o u g hts o n t h e l ayout of t h e H o s p i ta l in Acre'; Chemins
d'outre-mer. Études sur la Méditerranée médiévale o ffertes à Michel Balard, ed. Da m i e n
Co u l o n , Catheri n e Otte n - Fro ux, Pa u l e Pages a n d Do m i n i q u e Va l é r i e n , 2 vo l s . , ( Pa r i s , 2004),
2 . 76 1 .
46 lt was p res u m a b l y these m e rc e n a ries w h o ri oted i n t h e p resence o f t h e g ra n d m aste r
Wi l l i a m d e B e a u j e u , d e m a n d i n g t h e paym e n t of t h e i r wa g es . Le proces des Templiers, e d . J u l es
M i ch e l et, 2 vo l s ( Pa ris, 1 84 1 - 5 1 ) . 1 . 646.
47 O l iver of Pa d e rb o r n , " H i storia Da m i ati n a '; ed. H e rm a n n H o o g eweg, Die Schriften des
Kolner Domsch o lasters . . . 0/iverus (Tü b i n g e n 1 89 4 ) , p. 1 7 1 ; R u d o l f H i esta n d , " Castrum
Peregrinorum e la fi n e d e i d o m i n i o croci ato i n S i ri a, in Acri 1 29 1 ·; La fine de/la presenza degli
ordini militari in Terra Santa e i nuovi orientamenti nel XIV seco/o, e d . Fra n cesco To m m a s i ,
( Pe ru g i a 1 996), p . 3 1 .
48 See C a rt Hosp 2 . 36; 3.227, 2 2 8 , 527.
4' C a rt Hosp 2 . 544, 556.
260
I b é ri a : Q u atroce ntos/Qu i n h e ntos
d own to the m a i n co nve ntu a l ch u rch a n d the m a rs h a l wa s d escri bed sta n d i n g o ut­
s i d e t h e ch u rch with a l a nte rn to m a ke s u re t h at t h ey a rrived on t i m e . 50
By t h e l ater th i rtee nth centu ry t h e auberge wa s " a ve ry l a rg e palais'; "very
l o n g a n d ve ry b ea utifu l '; with a h a l l l a rg e e n o u g h to be t h e sce n e of l avish fo rt­
n i g ht- l o n g festivities to ce l e b rate t h e coro n at i o n of Ki n g H e n ry i n 1 286.51 The n a m e
g i ven t o it, h oweve r, was a n a lternative fo rm o f herberge, t h e wo rd u sed b y t h e
Te m p l a rs fo r a m a rch i n g ca m p .52 lt m u st h ave h a d t h e s a m e m ea n i n g fo r t h e
Hospita l l e rs,53 w h o s e e m t o h ave h e l d t o t h e i d e a t h a t t h e " pa l a i s " i n M o nt m u s a rd
wa s a p e rm a n e nt m i l ita ry e n ca m p m e nt. T h e ficti o n m ay h ave been ech oed i n t h e
way w e h ave seen t h e m u s i n g o f the wo rd cara vana to d escri be b o t h a depa rt­
m e nt i n t h e co nve ntua l i nfi rm a ry a n d a m i l ita ry exped iti o n . Th i s wo u l d h ave been
pa rti c u l a rly a p p ro p ri ate if t h e i nfi rm a ry wa s itself l ocated in t h e auberge, wh i ch is
proba b l e . At a ny rate it i s c e rta i n t h at by t h e l ate th i rteenth centu ry t h e
Hospita l l e rs, u n l i ke t h e Te m p l a rs, h a d bo rrowed fo r m i l ita ry u s a g e a w o r d w h i ch
h a d been o ri g i n a l ly associ ated with t h e ca re of t h e s i ck p o o r a n d wa s now b e i n g
e m p l oyed t o d escri be a d e p a rt m e nt i n t h e i r i nfi r m a ry fo r s i ck b roth e rs .
Effo rts t o a ssoci ate wa rfa re with t h e ca re o f t h e s i ck u n d e r l i n e t h e g u lf t h at
existe d, but i s ofte n i g n o red, betwe e n t h e eth o s of t h e m i l ita ry o rd e rs a n d t h at of
secu l a r kn i g h t h o o d , wh i ch by 1 2 50 wa s i n c rea s i n g ly i nfl u e nced by ch iva l ry, a n
essenti a l ly a - re l i g i o u s m ove m e nt i n wh i ch re l i g i o n wa s n ot s o m u ch p red o m i n a nt
as p a ro d i e d . lt ca n n ot be sa i d ofte n e n o u g h t h at t h e m i l ita ry o rd e rs, p rovi d e d t h ey
were n ot secu l a rized, re m a i ned re l i g i o u s o n es . Alth o u g h t h ey co u l d m a ke use of
ch i va l ri c t h eatre w h e n it su ited t h e m , a s i n t h e feasts stage- m a na g ed by t h e
Te uto n i c K n i g hts i n t h e fo u rteenth centu ry to e n co u ra g e E u ro pea n n o b l es to serve
in t h e i r wa rs a g a i n st the paga n Lith u a n i a ns/4 it i s i m po rta nt to re m e m be r that t h e
b roth e rs w e r e p rofessed re l i g i o u s a n d that t h e i r eth os was a b ove a l i th at of
m e m b e rs of O rd e rs of t h e C h u rch .
5° Ca rt H o s p 2 . 556; 3.227, 228.
" Th e Te m p l a r ofTyre, Cronaca, e d . La u ra M i n e rvi n i ( N a p l e s 2000), p p . 1 70, 222 . T h e a ut h o r
refe rs to it a s " l a H e rberge ':
5 2 La reg/e du Temple, p p . 1 01 , 1 1 4-20, 206- 1 4. For t h e ety m o l o g y, see Al g i rd a s J . G re i mas,
Dictionnaire de l'ancien trançais. Le Moyen Âge ( Pa ri s 1 99 5 ) , p . 3 1 0; Le Petit Robert 1 .
Dictionnaire, e d . Al a i n Rey a n d Josette Rey-De bove, 2 n d e d n ( Pa ri s 1 990), p . 1 29.
53 See t h e ru b ri c to t h e statutes of 1 262. C a rt H o s p 3 . 44. Also Ca rt H osp 3 . 45, w h e re a sta­
tute s e e m s to refe r to a ny e n ca m p m e nt a n d not s o l e ly to the auberge in Acre.
54 M a u rice Kee n , Chivalry ( N ew Haven and Lo n d o n , 1 984), pp. 1 72-4; We r n e r Pa ravi ci n i , Die
Preussenreise des Europasichen Adels, 2 vo l s . ( S i g m a r i n g e n , 1 989-9 5 ) , 1 . 288-344.
261
Outros l egados do
11
Príncipe Perfeito ".
Os Lencastre: u m a fa m íl i a entre as O rdens M i l ita res
de Avis e de Santiago e a Corte de Qu i n h entos
M a ria Cristina P i m enta
C E P E S E ( C e ntro d e E stu d o s d a Po p u l a ç ã o ,
E co n o m i a e S o c i ed a d e )
1 . Antes do tema
U m a perspectiva a l a rg a d a d o tempo de O. João 11 fo i , desde se m p re, u m
tema q u e s u scitou i n ú m e ra s a bo r d a g e n s , a s q u a i s, d e fo r m a , m a i s o u m e n os con­
seg u i d a , nos a p o nta m a s p r i n c i p a i s d i rectrizes d o que se passou e m Po rtu g a l
d e s d e q u e o futu ro D . J o ã o 1 1 i n i c i a u m a co m p a n h a m e nto m a i s contín u o d a
governança d o re i n o . Co m fa ci l i d a d e, são h oj e co n h ecidos os co nto rnos d a po l í­
tica p o rt u g u esa tardo q u atroce ntista, é poca p o r s i só d a m a i o r i m po rtâ n c i a pa ra
a fixação de u m a d iversi d a d e de p roced i m e ntos q u e n o rtea ra m os ca m i n h o s
e n ceta dos p e l o s seus s u cess o res.
É a ss i m que a ss u m e especi a l re l evo o reco n h eci m e nto d a co m p l ex i d a d e d o
g overno d e D . Afo nso V, o n d e po ntu a m os e q u ívocos d a s ave ntu ras e m Caste l a
d a d é c a d a d e sete nta d o sécu l o XV, i nteg rados n a a m b i g u i d a d e q u e assiste à
po l ít i ca exte r n a d e e n tã o . A este res pe ito, c u m p re l e m b ra r q u e d eterm i n a d a s
o pções to m a d a s p recisa m e nte à s o m b ra d o s i nte resses po l íti cos pa ra com os
re i n os vizi n h os i ri a m d eterm i n a r e m a rca r i n d iscutive l m e nte a h e ra n ça d o
Príncipe Perfeito e a l g u m a s d a s l i n h a s d a s u a a ct u a ç ã o poste ri o r, j á co m o r e i d e
Po rtu g a l .
Refl exões d e fu n d o s o b re ta i s temáticas ocu pa ra m u m a boa p a rte d o s i nte­
resses d e i nvest i g a ç ã o d e Lu ís Ad ã o d a Fo n seca, à s q u a i s, este m e s m o h i storia­
d o r tem fe ito co rres p o n d e r, sem p re que possíve l , uma i n cu rs ã o p e l o u n i ve rso
das O rd e n s M i l ita res (especi a l m e nte das O rd e n s d e Avi s , S a n t i a g o e d e Cristo ) ,
263
M a ri a C r i sti n a Pi m e nta
a rticu l a n d o a rea l i d a d e d a época estu d a d a co m a s especifi c i d a des d esta s i n sti ­
t u i ções.
Preci s a m e nte p o rq u e o fez, é h oj e poss íve l co n h ecer a l g u m a s d a s d i m e n ­
s õ e s m e n o s exp l o ra d a s e tra b a l h a d a s d estas o rd e n s co m o a co ntece, p o r exe m ­
p l o, com a s u a pa rtici pação nos p roj ectos expa n s i o n i stas j o a n i n o s e m a n u e l i nos.
Fo i , neste a s p ecto fu n d a m e nta l , a contri b u ição dada p e l o cita d o h i sto ri a d o r n a
red a cçã o d a s " bi o g rafi a s " 1 d e Vasco d a G a m a e d e Ped ro Álva res Ca b ra l , tra ba­
l h os q u e a nteced e m outros d e ca rácte r mais específico co m o aco nteceu com Os
comandos da segunda armada de Vasco da Gama à Índia ( 1502- 1 503) e As Ordens
Militares e a Expansão2•
Efectiva m e nte, a a m b i ê n c i a e m que se m ovi a m os refe r i d o s n aveg a d o res,
todo o u n ive rso d e a l m i ra ntes, g ove r n a d o res, ca p itães, p i l otos, fe ito res e ntre
m u itos o utros q u e fazem pa rte das v i a g e n s d escritas nos tra b a l h os citados,
tocava m u ito d e p e rto o m u n d o d a s O rd e n s M i l ita res, fosse pela fi l i ação d i recta
d o s e nvo l v i d os, fosse p e l a s teia de pa re ntescos e ntre e l es q u e, de a l g u m a fo r m a ,
i a a p o rt a r a o m u n d o d a s O rd e n s .
E m fa ce d o exposto, e p o rq u e o ca m i n h o estava a b e rto pa ra p rosseg u i r
n u m a a posta m a i s atenta à s d i n â m icas fa m i l i a res g e ra d a s n o â m bito d a s O rd e n s
M i l ita res, o pta m os, p a ra esta oca s i ã o , p o r a p rese nta r a l g u m a s refl exões a p ro­
pósito d a h e ra n ça fa m i l i a r d e D. J o ã o 1 1 , não ta nto, n o q u e se refe re à acção do
seu fi l h o basta rdo, D . J o rg e - tema co n h ec i d o nas s u a s l i n h a s g e ra i s3 - mas,
a ntes, através d a a cçã o dos seus n etos4 e b i s n etos, a q u e l es q u e, d e fo rma desi­
g u a l , m a s certa m e nte i nte ressa nte, contri b u íra m pa ra dar conti n u i d a d e à m e m ó ­
ria fa m i l i a r d o Príncipe Perfeito q u e, d e o u t ro m o d o , t e r i a te r m i n a d o a 1 3 d e J u l h o
' F O N S E CA, L u ís Ad ã o d a , Vasco da Gama, o Hom em, a Viagem, a Época. L i sboa :
Expo/98/Co m i ssão de Coord e n a ção da reg i ã o A l e ntej o , 1 998 e F O N S E CA, L u ís Ad ã o d a , Pedro
Á lvares Cabral. Uma Viagem. Lisboa : E d i ções l n a pa , 1 999.
' Mare Liberum, na 1 6, L i s boa : CNCDP, 1 998, p . 1 1 -32 e A Alta Nobreza e a Fundação do
Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, e d . J o ã o Pa u l o Costa e V íto r G a s p a r
R o d ri g u es, L i s b o a : U n iversi d a d e N ova d e Lisboa, 20 04, p . 3 2 1 -347.
' P I M E NTA, M a ri a Cristi n a G o m es, "As O rd e n s de Avi s e d e S a n t i a g o n a B a ixa I d a d e M é d i a :
O G overno d e D . J o rg e " , Militarium Ordinum Analecta, vo l . 5, Po rto: Fu ndação E n g . 0 Antó n i o d e
A l m e i d a , 2001 , p . 5-94, e m especi a l .
4 O a rra n q u e n a co n s i d e ração d este t e m a , u n i ca m e nte n o q u e se refe re a o s fi l h o s d e D .
J o rg e foi d a d o , e m b reves l i n has , p o r R O D R I G U E S , M i g u e l J a s m i ns, " D . J o rg e , D u q u e d e
Coi m b ra e s e u s h e rd e i ros: u m a das p r i n c i p a i s c a s a s n o b res n o contexto d o I m pé r i o '; A Alta
Nobreza e a Fundação do Estado da Índia. Actas do Colóquio Internacional, e d . J o ã o Pa u l o Costa
e Víto r G a s p a r R o d ri g u es, L i s b o a : U n ivers i d a d e N ova de Lisboa, 20 04, p . 33-44.
264
I bé r i a : Q u atroce ntos/Qu i n h e ntos
d e 1 49 1 q u a n d o o seu ú n ico fi l h o l eg ít i m o , D . Afo nso, m o rre a c i d e nta l m e nte em
Sa nta ré m5•
Co n h ece r, e m p o rm e n o r, esta d esce n d ê n c i a d e D. � o ã o 11, a i n d a q u e, n u m
â m b ito restrito d o u n iverso d a s O r d e n s e d a l i gação d e a l g u n s dos s e u s m e m b ros
a o dia a dia d a co rte p o rtu g u esa d o sécu l o XVI , não constit u i ta refa fá c i l , por
va r i a d o s m otivos.
Em p ri m e i ro l u g a r, a reco n stitu ição p o rm e n o rizada d a g e n ea l o g i a dos des­
ce n d e ntes d o D u q u e d e Co i m b ra esba rra, não ra ra s vezes, com a s d ifi cu l d a d es
q u e a co n s u lta d o s N o b i l i á ri os6 q u a se se m p re i m p l ica, fruto, q u e r d a fa lta d e e l e­
m e ntos q u e co n g reg a m , q u e r dos e q u ívocos com q u e, p o r vezes, n o s fo rnecem
a i d e ntifica ção d o s p e rso n a g e n s .
E m seg u n d o l u g a r, e a despeito d e n u m e rosa, a p ro l e d e D. J o rg e n ã o cons­
titu i m otivo d e p rota g o n i s m o especi a l n a docu m e ntação d a s O rd e n s d e Avi s e d e
Sa nti a g o , i n stitu i ções p e l a s q u a i s a l g u n s e l e m e ntos passa ra m , facto q u e torna
a l g o red uto r o co n h ec i m e nto d a s s u a s a cções n o que a o g ove r n o d estas i n stitu i ­
ções d i z res pe ito7: s a b e m os, se m p re, o c a r g o o u d i g n i d a d e q u e ocu p a ra m m a s o
q u ot i d i a n o d a s u a a cção fica m u ito a q u é m d e u m razoáve l co n h eci m e nto .
5 5 P I NA, R u i d e , " C h ro n i ca d ' E I Rey D. J o ã o 1 1 " . Crónicas. I ntro d u ç ã o e revisão d e M . Lopes
d e A l m e i d a , Po rto : Le l l o & I rm ã o s - E d itores, 1 977, cap. XLV I I , p . 977. Ta m bé m refe rido por
R E S E N D E , G a rc i a d e , Crónica de D.João 11 e Miscelânea, rei m pressão fac-s i m i l a d a d a n ova e d i ­
ção confo r m e a d e 1 798, p refá c i o d e J o aq u i m Ve ríss i m o S e rrão, L i s b o a : I . N .\C. M . , 1 97 3 . , c a p .
CXXI I I , p . 1 7 1 .
' Soco rre m o-nos p r i n c i pa l m e nte dos seg u i ntes títu l o s : Livro de Linhagens do século XVI,
i ntro d u ção d e Antó n i o M a c h a d o d e Fa ria, L i s boa : Aca d e m i a Po rtu g u esa d e H i st ó r i a , 1 956; FE L­
G U E I RAS GAYO, M a n u e l José d a Costa, Nobiliário de Famílias de Portugal, ed ição de Agost i n h o
d e Azevedo M e i re l l es e Do m i ngos d e Ara újo Afo nso, B ra g a : 1 938,To m o Déc i m o Sexto, p . 330-334; M O RAIS, Cristóvão Al ã o de, Pedatura Lusitana, nobiliário de familias de Portugal, tomo IV,
vo l . I, ed Al exa n d re Antó n i o Perei ra de M i ra n d a Va sco n ce l l os, Antó n i o A u g u sto Ferre i ra da Cruz,
E u g e n i o E d u a rdo And rea d a C u n h a e Freitas, Po rto: Livra r i a Fe r n a n d o M a ch a d o , 1 945, p . 434-463, cuja i nfo r m a ção co m p l et a m o s co m d a d o s reti rados de S O U SA, D. Antó n i o Ca eta n o d e ,
História Genealógica d a Casa Real Portuguesa, 2" e d i çã o d e M a n u e l L o p e s d e A l m e i d a e Césa r
Pega d o , vo l . X I , Coi m b ra : Atl â nt i d a , 1 953, p. 1 9 -2 1 ; TÁVORA, D. L u i z G o nzaga d e L a ncastre e, A
Heráldica da Casa de Abrantes. Sás e Lancastre, Alcaides-mores do Porto desde o Séc. XIV.
Po rto: B o l et i m C u ltu ra l , [C. M . P. L vo l . XXX I I I , fase. 1 -2, 1 970, p . 1 97 a 1 99; S OVE RAL, M a n u e l
Abra nches d e ; M E N DO N ÇA, M a n u e l La m a s d e , O s Furtados de Mendonça portugueses, ensaios
sobre a sua verdadeira origem, s/1 : G reca Artes G ráficas, 2 0 04.
7 Com efe ito, e a pesa r d e a l g u n s dos fi l h os d e D . Jorge terem ocu p a d o l u g a res d e expres­
são nas d u a s O r d e n s refe r i d as, a especifi c i d a d e d a docu m e ntação co n h ec i d a q u e a po i a o
estu do d a s m es m a s d u ra nte o g overno de D. J o r g e n ã o fac i l ita o co n h eci m e nto exa u stivo do
265
M a ri a Crist i n a P i m e nta
Em tercei ro l u g a r, a posição o c u p a d a na corte dos reis p o rtu g u eses de
Qu i n h e ntos p e l o s Len castre ( co rte q u e, nesta b reve refl exã o, é ente n d i d a até ao
fi n a l da d i n a sti a de Avi s - 1 580) reve l a -se de a l g u m a form a m u ito e n evo a d a , u m a
vez q u e, p o r u m l a d o , n e m todos o s desce n d e ntes d e D . J o rg e ti n h a m o m e s m o
g ra u d e p roxi m i d a d e pa ra com os r e i s o u o utros m e m b ros d a fa m íl i a rea l8 e, p o r
o utro l a d o, p o rq u e a s u a h i stó ria, co n h ec i d a p e l o s re l atos cron íst i cos, fo i , p o r
vezes, co n d i c i o n a d a p e l o p e s o dos a nteced e ntes fa m i l i a res q u e o seu a p e l i d o
a ca rretava .
O ra , a despeito d esta s l i m itações ( à s q u a i s se pode, a i n d a , a c rescenta r a
d i m e n s ã o pessoa l d a v i d a d e c a d a u m d o s fa m i l i a res d e D . J o rg e , d esco n h e c i d a
n a q u ase tota l i d a d e ) , a c red ita m o s q u e u m a a p resentação d o q u e n o s fo i possí­
vel a p u ra r acerca d esta desce n d ê n c i a p o d e c o n stit u i r-se c o m o u m a resposta
c a p a z pa ra i n centiva r n ovas l i n h a s de ru m o em to r n o das O rd e n s M i l ita res q u e
u lt ra passem a si m bó l i ca datação d a e ntrega d o s m estra dos d e Avi s e d e
S a n t i a g o a D . J o ã o I I I p a ra ocu pa re m , ta m bé m , os i nte resses d e pesq u i sa até a o
período fi l i p i n o . O i m pe rativo d este a l a rg a m e nto d e cro n o l o g i a pa rece -ó bvi o,
u m a vez que o tempo que m e d e i a e ntre a b u l a d e J ú l i o 11 d e 1 55 P e o termo da
d i n a st i a d e Avi s n a s co rtes d e To m a r d e 1 58 1 confi g u ra-se co m o um n ovo te m po
o n d e j á se e n c o n t ra m s i n a i s d e a l g u m a s a lterações n o g ove rno d a s O rd e n s d e
p e rc u rso d o s perso n a g e n s . N o e nta nto, a l g u n s d a d o s p o d e m s e r l i dos e m P I M E NTA, M a ri a
Cristi n a G o m es, "As O rd e n s d e Avi s e d e Santi a g o n a B a i x a I d a d e M é d i a . O G ove rno d e G .
J o rg e '; p . 300-60 0 .
•
A este respe ito fo i fu n d a m e nta l a co n s u lta d e G Ó I S , D a m i ã o, Chronica d o Sereníssimo
Senhor Rei O. Manoel, Co i m b ra : Rea l Ofi c i n a da U n i v e rs i d a d e , 1 790 e Crónica do Príncipe
O. João, e d i ç ã o c rítica e c o m e n t a d a p o r G raça Al m e i d a R o d ri g u es, L i s b o a : U n i ve rs i d a d e N ova
d e L i s b o a , 1 977; LE Ã O, D u a rte N u nes de, Crónicas dos Reis de Portugal, i nt ro d u çã o e revisão
d e M. Lopes d e Al m e i d a , Po rto : Le l l o & I rm ã o E d ito res, 1 975; OS Ó R I O, J e ró n i m o , Da Vida e
Feitos de EI-Rei D. Manuel, 2 vo l s , Po rto: L i v ra r i a C i v i l ização, 1 944; P I NA, R u i d e , Crónicas, i ntro­
d u ção e revisão d e M. Lo pes d e Al m e i d a , Po rto: Lei l o & I rm ã o s - E d ito res, 1 977, a par com as
o b ras d e F O N S E CA, L u ís Ad ão d a , O. João 1/. Lisboa: Círcu l o d e Leitores, 2005; COSTA, João
Pa u l o O l i ve i ra e , O. Manuel /, Lisboa: Círc u l o d e Leitores, 2 0 0 5 ; B U E S C U , Ana I s a b e l , O. João
III, L i s b o a : Círcu l o de Leito res, 2005; C R U �, M a ri a Au g u sta L i m a , O. Sebastião, L i s b o a : C írcu l o '
d e Leito res, 2006 e P O L Ó N IA, Am é l i a , O. Henrique. O Cardeal-Rei, L i s b o a : C írcu l o d e Leito res,
2005.
' B u l a d e J ú l i o I I I , Preclara charissimi i n Christo, I A N m Gaveta 4, m a ço 1 , docu m e nto 1 8;
Gaveta 5, m aço 1 , docu m e nto 9 e m a ço 3, docu m e nto 4. D i p l o m a s u m a ri a d o p o r SANTAR É M ,
Visco n d e d e , Quadro Elementar das relações políticas e diplomáticas d e Portugal com a s diver­
sas potências do mundo, desde o princípio da monarquia até aos nossos dias, vo l . 1 2 , Lisboa:
Aca d e m i a Rea l d a s C i ê n c i a s , 1 874, p . 337.
266
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Avi s e de S a n t i a g o'0, a p a r co m a m a n utenção das reg u l a m e ntações a nteri o res,
n u m a i nte racçã o s o b re a q u a l tem m u ito i nte resse reflecti r. N u m a p ri m e i ra ava­
l i a ç ã o d esta situação, q u e se p rete n d e ver desenvo l v i d a. e m t ra b a l h o s poste rio­
res, o pta m o s p o r recorrer a o d ese m p e n h o d a d esce n d ê n c i a d e D. J o rg e , a q u a l ,
e ntre fi l h os e n etos, a c a b a p o r corpo riza r u m a evo l u ç ã o d e postu ras d e nt ro e
fora d a s O rd e n s M i l ita res, co m a pa rticu l a ri e d a d e de ter vive n c i a d o a i nteg ração
d o s m estra d os n a coroa d e 1 55 1 e a s suas m a i s d i rectas conseq u ê n c i a s , ser­
vi n d o , a ss i m , os nossos o bj ectivos.
Exp resso o po nto d e p a rt i d a , te m po a i n d a pa ra exp l i ca r que esta expe r i ê n ­
c i a q u e nos l eva rá através d e " n ovas c ro n o l o g i a s" a ser fe ita co m os exe m p l os
p rove n i e ntes da fa m í l i a dos d esce n d e ntes de D . J o rg e - u m a o pção ci rc u n scrita
aos Le ncastre - fo i , o bvi a m e nte u m a esco l h a conscie nte e p ro posita d a , tota l ­
m e nte co m p ro m et i d a c o m o p ro pós ito d e te nta r ava l i a r, n esse te m po n ovo, a
s o b revivê n c i a o u n ã o d e u m l e g a d o ta rd o q u atroce ntista .
A fa m íl i a e m est u d o , te m , co m o é co n h ec i d o , u m passado co m p l exo o n d e
a s o p ções p o r esta o u p o r a q u e l a o r i e ntação po l ít i ca d o re i n o m a rca ra m a l g u n s
d o s m o m e ntos m a i s co n h ec i d o s d a h i st ó r i a p o rtu g u esa nos re i n a d o s d e D . J o ã o
1 1 e d e D . M a n u e l . Po r esta razã o, p o rve ntu ra u m a esco l h a q u e co m p o rta, à p a r­
t i d a , a l g u m a s l i m itações q u e i m po rta conti n u a d a m e nte u ltra passa r. Po r o utra
pa rte, pa rece ser c l a ro q u e a co m p l ex i d a d e d a po l ít i ca p o rtu g u esa e ntre o re i ­
n a d o d e D . J o ã o I I I e a a cl a m ação d a d i n a st i a fi l i p i n a , a ltu ra e m q u e n ã o fa lta m
osci l ações n o s a po i o s c o n ced i d os a o s d ife rentes m e m b ros d a casa rea l 1 1 , a pa ­
rece c o m o u m a é p o c a fu l c ra l , p o rve ntu ra, a m a i s p ro p íc i a , p a ra o b s e rva r os
co m p o rta m e ntos d e um g ru p o, n este caso d e u m a fa m í l i a . N este sentido, este
p ri m e i ro passo, p o r certo a i n d a m u ito h esita nte, d a n o ssa i nvestigação, a p o i a -se
n u m todo fa m i l i a r q u e, n a sua d u p l a q u a l i d a d e de d esce n d e ntes d e D . J o ã o 11 e
d e h e rd e i ros d i rectos d a a d m i n i straçã o d e D . J o rg e n a s d u a s O rd e n s, n ã o se
co n stitu i co m o u m a fa m í l i a q u a l q u e r.
Co n h ecê- l os, s i g n ifica, e ntre m u itas outras co isas, rever a l g u m a s d a s o pções
e te n d ê n ci a s d a po l ítica portu g u esa d e Qu i n h e ntos o q u e, por s i só, to r n o u m u ito
a l i ci a nte reflecti r e m torno d esta tem ática .
10 U m a vez q u e a O rd e m d e Cristo conti n u a a s e r a d m i n i stra d a p o r D. M a n u e l , a pós a
s u b i d a ao tro n o em 1 495.
" E m especi a l d evi d o ao d iferente ente n d i m e nto que os reg e ntes ti n h a m s o b re a po l ítica
exte r n a ( Cfr. MACE DO, J o rg e B o rges de, História Diplomática Portuguesa. Constantes Linhas de
Força, Estudo de Geopolítica, Lisboa: I n stituto de Defesa N a ci o n a l , 1 987 p. 1 0 1 - 1 1 0 ) .
267
M a ri a C r i sti n a Pi m e nta
2 . O tema
A ltri dicono che,
essendo tan to difficile e quasi impossibile trovar un a m o cosi perfetto
come ia voglio ch e sia i/ cortegiano,
e stato superfluo i/ scriverlo
perch é vana cosa e insegnare que/lo ch e imparare non si po.
CAS TIGLIONE, 11 L ibra dei Cortegian o, s/1: A ldus, 1960, cap. III.
D . J o rg e , fi l h o basta rdo d e D. J o ã o 1 1 e d e D. Ana d e M e n d o nça, M estre d e
Avi s e d e Sa nti a g o desde 1 49 1 , c a s a , e m M a i o d e 1 50012, com D . Beatriz de
Vi l h e n a , u m a « Senhora de rara excelência»13• Fi l h a d e D . Álva ro d e Po rtu g a l ,
Se n h o r d e Tentú g a l , e d e D . Fi l i pa d e M e l o14, e r a , assi m , s o b ri n h a , d o 3° D u q u e d e
B ra g a nça, D . Fe r n a n d o , sente n c i a d o p e l o rei D . J o ã o 11 e m 1 483.
Já t i ve m os o p o rt u n i d a d e de co m e nta r a i nt e n c i o n a l i d a d e ( o u n ã o ) s u bj a ­
c e n t e a este c a s a m e nto 1 5, p e l o q u e , n este m o m e nt o , u n i ca m e nte se re l e m b ra
a est r u t u ra fa m i l i a r d a D u q u e s a d e C o i m b ra n a s u a l i g a ç ã o à c a s a d e
B ra g a n ça . Po r p a rte d o s e u p a i , D . Á l va ro, a m u l h e r d e D . J o rg e co n ce n t rava
em s i u m a h e ra n ça q u e a p o ntava i n e q u i vo c a m e nte p a ra a d efes a d a sua casa
e l i n h a g e m : s ã o b e m co n h ec i d a s a s m ov i m e nt a ç õ e s d e D . Á l v a ro, a ntes e
d e p o i s d o e p i s ó d i o d e Évo ra d e 1 483, d e s d e a s u a s a íd a d e Po rt u g a l e m d i rec­
ção a Fra n ç a (fica n d o -s e , no e nta nto p o r B a rce l o n a ) , o co nfisco dos s e u s b e n s
p o r p a rte d o rei d e Po rt u g a l e o s e u reg resso t r i u nfa l c o m o a dv e n t o d o r e i ­
n a d o m a n u e l i n o e a s c o n s e q u e ntes c o l a b o ra çõ e s � u e p resto u a o n ovo
12
As n e g o c i a ções t e m i n íc i o em fi n a i s de M a i o de 1 50 0 q u a n d o " . . . ajustou EIRey O.
Manoel, e a Rainha O. Leonor sua irmãa o casamento do Senhor O. Jorge com O. Brites de
Vilhena, filha do Senhor D. Alvaro, cujo Tratado se fez estando el/e presente, e sua mulher O.
Filippa, . . . ", S O U SA, Antó n i o Caeta n o d e , História Genealógica . . , to m o X I , p. 8, refe rido, ta m­
.
bém, p o r G O I S , Da m i ã o d e , Crónica do Sereníssimo . . , p ri m e i ra p a rte, c a p . XLV, p . 1 1 1 - 1 1 2 . A ceri­
m ó n i a teve l u g a r e m Lis boa n o dia 30 desse mês. O texto d o contrato d e casa m e nto pode
e nco ntra r-se e m S O U SA, Antó n i o Ca eta n o de, Provas da História Genealógica da Casa Real
Portuguesa, Co i m bra: Atl â ntida, to m o V I , 1 9 54, pa rte I, p. 1 1 - 1 9 .
1 3 OS Ó R I O, J e ró n i mo, D a Vida e Feitos de EI-Rei D. Manuel, vo l . I , p . 77.
1 4 S o b re D. Á lva ro e D . Fi l i pa e a respectiva desce n d ê n c i a , vej a-se S O U SA, Antó n i o
Caeta n o d e , História Genealógica . . . , t o m o X , p . 1 -2 5 .
1 5 P I M E NTA, M a ri a Cristi n a G o m es, " A s O rd e n s d e Avi s e d e S a n t i a g o n a B a ixa I d a d e
M é d i a : O G overno d e D. J o r g e " , p . 89-90.
268
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
m o n a rc a , n o m e a d a m e n te na n e g o c i a ç ã o do s e u c a s a m e nto co m I s a b e l , fi l h a
d o s R e i s Cató l i cOS 1 6•
I m p o rta, e n t re m u itos outros m ot i vo s não esq u ece � a s ra ízes fa m i l i a res de
D . Beatriz p o rq u e, m a i s a l é m d a óbvia i nt e r p reta ç ã o q u e c o l oca o m o n a rca
Ve ntu roso n a co n d u çã o d o s " n e g ó c i o s " q u e l eva ra m a este casa m e nto, o
a s s u nto co m p o rta o u t r a s i m p l i ca çõ e s q u a n d o n o s a p e rc e b e m o s q u e " D e t o d o s
o s d es ce n d e ntes rég i o s , s ó o b a sta rdo d e D . J o ã o 1 1 , D . J o rg e , c o n s e g u i u
s u ce s s ã o n a casa a o l o n g o d o s sécu l os XVI e XVI I . E s s a fo i p rovave l m e nte a
razã o p e l a q u a l o s D u q u es d e Co i m b ra/Avei ro m a n t i v e ra m u m a fe roz co m pet i ­
ç ã o c o m o s d u q u e s d e B ra g a n ç a " 1 7 • C re m o s q u e esta afi r m a ç ã o p o d e aj u d a r a
exp l i ca r c e rtos p e rfis, d e se m pe n h os e re l a çõ e s fa m i l i a res d o s d e s ce n d e ntes d e
D . J o rg e .
N este m o m e nto, i m po rta co n h ecê- l o s n a q u i l o q u e d e n o m i n a mos u m a ca rac­
terizaçã o s u m á ri a .
D o c a s a m e nto c o m D . B rites d e Vi l h e n a n a sce ra m o s seg u i ntes h e rd e i ro s :
D . J o ã o d e Le n c a stre, 1 o D u q u e d e Ave i ro e M a rq u ês d e To rres N ovas; D .
Afo n s o d e Le n castre, Co m e n d a d o r M o r d a O rd e m d e Sa nti a g o ; D . L u ís d e
Le n c a stre, Co m e n d a d o r M o r d a O r d e m d e Av i s ; D . J a i m e d e La n castre, B i s p o
d e C e u t a e c a p e l ã o d a R a i n h a D . C a t a r i n a ; D . H e l e n a d e Le n c a s t r e ,
Co m e n d a d e i ra d e Sa ntos e D . M a r i a , D . F i l i pa e D . l s a b e l , re l i g i o s a s n o M o ste i ro
d e S . J o ã o d e Setú ba l .
Ta m bé m p o r via basta rd a teve D . J o rg e desce n d ê n ci a , a q u a l está d evi d a ­
m e nte decl a ra d a n o seu testa m e nto, n o m e a n d o-se q u atro fi l h o s : D . J o rge, Pri o r
d a O rd e m d e Avis, D. J o rge, fra d e d a O rd e m d e S . J e ró n i m o n o M oste i ro d e
G u a d a l u pe, D. J o rg e , c ri a d o n a vi l a d e Ca b re l a p o r J o ã o d a C r u z e u m a fi l h a « . . . de
que tem cuidado Heitor Nunes Almoxarife de Grandolla . . . » 18 •
De todos estes fi l h os d o M estre d e Avi s e d e S a n t i a g o , n etos d e D . J o ã o 1 1 , se
espera m h i stó rias d e v i d a d ife rentes, a l g u m a s tota l m e nte d esco n h ecidas, p o u co
o u n a d a ce l e b ra d a s p e l o l e g a d o q u e a m e m ó ri a h i stó rica d e l es nos d e ixou e
o utras, p o rq u e i nva riave l m e nte cruza d a s com o p e rcu rso d e d ife rentes m e m b ros
d a fa m í l i a rea l p o rtu g u esa, se e n contra m c o m fa ci l i d a d e n o s rel atos cron ísticos
16 Vej a-se S O U SA, Antó n i o Ca eta n o de, História Genealógica ... , t om o X, p . 1 3- 1 9 . Cfr.
C U N HA, M a fa l d a Soa res d a , Linhagem, Parentesco e Poder. A Casa de Bragança ( 1 384- 1483),
L i s b o a : Fu ndação da Casa de B ra g a nça, 1 990, p. 77 e seg u i ntes.
" C U N HA, M a fa l d a Soa res d a , A Casa de Bragança 1 560- 1 640. Práticas senhoriais e redes
cliente/ares, L isboa : E d ito ri a l E sta m pa , 2000, p. 553.
'" SOU SA, Antó n i o Caeta n o de, Provas ... , to m o V I , p . 39.
269
M a ri a C r i sti n a Pi m e nta
o u nas vá rias o b ras d e ca rá cte r m a i s específico s o b re a vida dos m o n a rcas p o r­
t u g u eses, desde D. J o ã o 1 1 a D. Sebast i ã o19•
Do seu conj u nto, pa receu-nos l ícito, porq u e i m pe ra,ivo, deixa r d e p a rte n estas
co nsiderações a q u e l es que a docu mentação s i l encia, a p a rente m e nte porq u e o per­
cu rso das suas vidas assi m o exi g i u e os outros q u e fo ra m já a lvo de co nsiderações
d i ve rsas q u e p refe ri m os não re peti r. Referi m o-n os, no p ri m e i ro caso, à s suas três
fi l h a s q u e seg u i ra m a vida re l i g iosa em Setú b a l e a a l g u ns dos seus fi l h os basta r­
dos e, no seg u n d o caso, a u m a fi l h a q u e fo i Co m e n d a d e i ra de Sa ntoS20•
Qua nto aos outros descende ntes, a q u e l es q u e vão ocu par a p róximas pág i nas
g u iados pelos dese m pe n h o nas ordens e na vida do rei n o, esca pa-nos uma d i m e n ­
são i m po rta nte - o pouco q u e se s a b e da sua v i d a fa m i l i a r, pessoal, especi a l me nte em
termos da sua ed u cação. Vidas que atravessa m q u ase todo o sécu l o XVI , nascidos no
seio d e duas casas titu l a res (Co i m bra e Avei ro), esperava-se uma educação esmerada
q u e, na a u sêndia de dados co ncretos, não ousamos co loca r a par da que recebera m
os p rínci pes21 o u , até, o s mem bros da Casa de B ragança22• N o e nta nto, é co n h ecida a
' 9 C i n g i m o-nos, o bvi a m e nte, à consu lta dos tra b a l hos já citados de F O N S E CA, Lu ís Adão da,
COSTA, João Pa u l o O l ive i ra , B U ESCU, Ana Isabel; C R U Z, M a ri a Au g u sta L i m a e POL Ó N IA, Amél i a .
2 0 D . H e l e n a d e Len castre, C o m e n d a d e i ra d e Sa ntos, fo i a lvo d e a l a rg a d a s co n s i d e rações
por p a rte d e SOVE RAL, M a n u e l Abranches d e and M E N DO N ÇA, M a n u e l La m a s d e , Os Furtados
de Mendonça Portugueses. Ensaio sobre a sua verdadeira origem, s/1, e d . M a n u e l Abranches d e
Sove ra l , 2004 e d e MATA, J o e l , A comunidade feminina da Ordem d e Santiago: a comenda de
Santos em finais do século XV e no século XVI. Um estudo religioso, económico e social.
Militarium Ordinum Analecta. vo l . 9, Po rto: Fu ndação E n g e n h e i ro Antó n i o de A l m e i d a , 2007.
21 N o q u e se refe re a o s fi l h o s d e D . J o rg e , l e m b re-se, s o m e nte, q u e o futu ro r e i D. J o ã o I I I
n a sce e m e m 1 502, p reci s a m e nte n a m e s m a é poca e m q u e D . Beatriz d e Vi l h e n a e o D u q u e d e
Ave i ro começava m a ver cresce r o s s e u s fi l h os o q u e, com a devida d i stâ n c i a q u e o s sepa ra,
pode aj u d a r a co m po r um retrato d a e d u cação q u e os Lenca stre tivera m . Pod e m l e r-se co m p ro­
veito, a l g u n s p a râ m etros seg u i d os n a e d u cação d o futu ro m o n a rca em B RAGA, Pa u l o Dru m o n d ,
O . João III, L i b b o a : H u g i n E d itores, L d a , 2 0 0 2 , p . 37-4 1 ; B U E S C U , Ana I s a b e l , O . João III, p . 354 1 , i d e m , Catarina de Austria. Infanta de Tordesilhas. Rainha de Portugal, Lisboa : A Esfera dos
Livros, 20 07, p . 2 1 3 e ss e, s o b retu do, idem, "A E d u cação d e príncipes e n i fíos g e n e rosos. U m
m o d e l o q u i n h e ntista p e n i n s u l a r" , Revista de História das Ideias, vo l . 1 9, Co i m bra: I . H .T I ./F. L . U . C . ,
1 998, p . 339-38 1 , o b ra d a p ri m e i ra m etade d o s é ci l o XVI s o b re a q u a l a a utora escreve q u e " O
p rota g o n i s m o pri n c i p a l p e rtence a o príncipe, m a s d esti natários desse iti n e rá ri o e d u cativo são
ta m b é m a s cria nças n o b res" (p. 3 8 1 ).
22 I n cl u s i va m e nte, n o caso d e D. João, D u q u e d e Ave i ro, ta lvez i nvest i g a ções poste r i o res
nos poss a m escla recer s o b re a constitu ição d a sua casa d e q u e, n este m o m e nto, co n h ecemos
a pe n a s a l g u n s deta l h e s p rove n i e ntes dos re l atos d o s e u casa m e nto e d a com posição do séq u ito
q u e o a co m pa n h o u n a recepção feita n a ra i a à pri ncesa D . J o a n a , futu ra m u l h e r do p rí n c i pe
D. J o ã o ( S O U SA, Antó n i o Caeta n o d e , História Genealógica . . . , to m o X I , p. 32-33 e 3 5 ) .
270
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
tendência pa ra estes titu l a res se a p ropri a rem dos modelos em voga na educação dos
I nfa ntes e é saudável que a m u itos destes perso nagens sej a reco n h ecida a p roxi m i ­
dade q u e, a m i úde, exi bem pa ra c o m o rei e outros m e m b ros da fa m í l i a rea l23•
2 . 1 . Netos e bisnetos de O. João 11
O i nteresse q u e pode te r u m a a p rese nta ção dos percu rsos destes d esce n d e n ­
t e s d e D . João 1 1 exi g e q u e se u ltra passe a i n d i spen sáve l e n u m eração dos ca rgos
q u e ocu param n o seio das O rdens M i l ita res d e Avis e d e Santiago, p a ra , i n do m a i s
l o n g e, os i nteg ra r no â m bito da co rte p o rtu g u esa d e q u i n h e ntos. M e m b ros d e u m
g ru po soci a l m e nte privi l eg i ado, fu nci o n a m , p o r isso, m u ito condiciona dos em fu n­
ção d o m o n a rca e d a co rte que os e nvo lve. Al g u ns d e l es são i n d ivíd u os o b ri gato­
ri a m e nte ba l izados pelos d o i s u n iversos e m q u e se i n se re m , u n iversos esses q u e,
tendo e m m e nte a s u a ascendência, nem se m p re serão fá ceis de rel a c i o n a r.
No seu conj u nto, e na primeira geração, os Lencastre, fi l h os do Duque de Coi m bra,
conjugam em si mesmos d iferentes catego rias sociais; há um ú n ico titu l a r - D. João,
M a rq uês e Duque, o qual, por outro lado, não deixa de ter responsa bil idades na O rdem
de Sa ntiago como acontece com o seu i rmão D. Afonso. Já D. Lu ís, professa rá na O rdem
de Avis, assim como D. Jorge, basta rdo do Duque de Coi m bra. D. Jai me, seg u i ndo um
percu rso diferente, servi rá a Diocese de Ceuta, pouco mais h avendo a dizer sobre ele24•
Esta mos, pois, em presença de um g ru po h íbrido, no qual cada um dos elementos é
conhecido com enormes desníveis de notoriedade, mas a quem a ascendência fa m i l i a r
conferiu u m a coesão identitá ria mu ito forte. I m porta, porta nto, identificá-los n o s u niver­
sos a que pertencera m, fazendo uma primeira chamada de atenção pa ra a trajectória
daqueles que tivera m respo nsabil idades nas O rdens M i l ita res.
Ass i m , D . J o ã o d e L e n c a st re, fi l h o p r i m o g é n ito25 d e D. J o rg e , M a rq u ês d e
23 Vej a-se CU RTO, D i o g o R a m a d a , " A c u ltu ra p o l ít i c a " , História de Portugal, d i r. d e José
M attoso, vo l . I I I . No alvorecer da modernidade ( 1480 - 1 620), L i s bo a : E d ito r i a l Esta m pa , 1 993, p .
1 1 5 e ss e N I ETO S O R IA, José M a n u e l ( d i r. d e ) , Orígenes d e l a Monarquía Hispánica. Propaganda
y Legitimación (ca. 1 40 0 - 1 520), M a d r i d : Dyki nson, 1 999, p. 63- 1 03, em especi a l .
24 E nco ntra-se m e nc i o n a d o n u m d i p l o m a d e 2 3 d e Deze m b ro d e 1 547, IANm, Colecção
...
Especial, Ca ixa 76, m a ço 1. S O U SA, Ca eta n o d e , História Genealógica , t om o X I , p. 1 9-20 e
ALM E I DA, Fo rtu nato d e , História da Igreja em Portugal, 2a e d i çã o , preparada e d i ri g i d a p o r
D a m i ã o Peres, Po rto, Po rtuca l e n s e E d itora, vo l . 1 1 , p . 689.
2 5 N a sce e m 1 501 , ta l como se d e p ree n d e d a s suas próprias p a l avras escritas n u m a ca rta
q u e, e ntre 1 557 e 1 562, e n d e reçou à Ra i n h a D. Cata r i n a , rege nte do re i n o . S O U SA, Ca eta n o d e ,
...
Provas , tomo V I , p.49 : " . . . e c r e o q u e foy n a e ra d e treze e u seria d e d oze a n n os . . . " . Casou com
D . J u l i a n a d e Lara, fi l h a d e D . Ped ro d e M e n eses, 3° M a rq u ês d e Vi l a Rea l , e m Al m e i r i m , a 22 d e
27 1
M a ri a C r i st i n a P i m e n t a
To rres N ova s26 e 1 o D u q u e d e Ave i ro27, fo i um h o m e m com e n o r m e s res p o n s a ­
b i l i d a d e s n o s e i o d a O rd e m d e Sa nt i a g o , n a q u a l , d e p o i s d e a r m a d o cava l e i ro
p e l o p a i , rece b e o h á b ito a 24 d e J u l h o d e 1 5 1 5 , n <;> co nvento d e Pa l m e l a 28•
A p ó s este p a s s o d e c i s i vo p a ra a s u a v i n c u l a ç ã o à O r d e m , fo i p rovi d o n a a d m i ­
n i st ra ç ã o d e vá r i a s co m e n d a s : A l h o s Ve d ro s29, B a rre i ro30, Ferrei ra3\ A l m a d a 32,
Feverei ro de 1 547 ( Livro de Linhagens do século XVI, p. 1 2, FELG U E I RAS GAYO, M a n u el José da Costa,
Nobiliário . . . , p. 88, FREIRE, Anselmo Braamcamp, Os Brasões da Sala de Sintra, vol . I I I , Lisboa:
I . N ./C. M . , 1 996, p. 387, SOUSA, António Caeta no de, História Genealógica . . . , tomo XI, p. 31 ). Morreu a
22 de Agosto de 1 57 1 (Cfr.entre outros, OLIVEI RA, Lu ís Filipe; RODR I G U ES, Miguel Jasmi ns, " U m pro­
cesso de reestrutu ração do domínio social da nobreza : a titu lação na 2• di nastia", Revista de História
Económica e Social, Lisboa: Sá da Costa, no 22, 1 988, p. 77- 1 1 4, republ icado em Nobreza e poderes: da
Baixa Idade Média ao Império, Lisboa: Patri mónia, 2005, p. 1 05, de onde se cita). É natu ra l, porta nto,
q u e o Rol das Comendas organ izado em 1 572 a i nda refi ra o seu nome.
26 Po r ca rta d e 27 de M a rço de 1 520 ( IANm, Leitura Nova, Místicos, l i vro 6, fi . 5 1 ) , refe rido
p o r F R E I R E , Anse l m o B r a a m ca m p, Brasões. . . , vo l . I I I , p . 385 e S O U SA, Antó n i o Caeta n o de,
História Genealógica . . . , to m o X I , p . 2 5 .
2 7 A ca rta com o títu l o fo i p a s s a d a e m 1 557 p o r D . Sebasti ã o ( e nt e n d a -se, p e l a Regente),
m a s p e l o m e nos desde 1 535, D . J o ã o j á se i ntitu l a D u q u e d e Ave i ro, a ava l i a r p e l o d i scu rso c ro­
n ístico (AN D RADA, Fra ncisco de, Chronica dei Rey Dom João III, pa rte I I I , p . 627; S O U SA,
Antó n i o Ca eta n o de, Provas. . . , to m o V I , p. 4 1 -43 ) , e p e l a conj u gação de dados ret i rados de vários
a utores a p resenta d a p o r B U E S C U , Ana Isabel, O. João III, p . 296. Cfr. , a i n d a , n o m e s m o sentido
d o s resta ntes a uto res, FR E I R E , Anse l m o B r a a m ca m p, Os Brasões, vo l . I I I , p . 401 . Ass i m , está co r­
recta a m e nção feita p e l o s fu ndos da O rd e m de S a n t i a g o , q u a n d o, no a n o a nt e r i o r, p o r oca s i ã o
d a vis ita à co m e n d a d e To rrão e m 27 d e J a n e i ro d e 1 534, u n i ca m e nte o a n u n c i a m co m o
M a rq u ês d e To rres N ovas, I A N m , Ordem d e Santiago, Códice n o 1 86, fi . 3 .
28 Ca rta p u b l i ca d a p o r AZEVEDO, Ped ro d e , " Le m branças de u m Códice do Ca rtório de
Pa l m e i a " , Archivo Historico Portuguez, vo l . I , n ° 1 0, Outu b ro d e 1 903, p . 339; doe. I I I . Te r i a 14
a n os, d e acordo com as exi g ê n c i a s d a n o r m a ( cfr. Regra, Estatutos e Definições da Ordem de
San tiago de 1509, fi . 9 1 , p u b l icada p o r BAR B O SA, I s a b e l Lago, "A O rd e m de Santiago e m
Po rtu g a l nos fi n a i s d e I d a d e M é d i a " , Militarium Ordinum Analecta - A s O r d e n s d e Cristo e d e
S a n t i a g o n o i n ício d a É poca M o d e r n a : A N o rmativa, vo l . 2, Po rto : Fu n d ação E n g 0 Antó n i o d e
Al m e i d a , 1 998, p . 1 41 ) acred ita n d o n a p rovável d ata nasci m e nto e m 1 501 , vd. n o t a 2 5 .
29 Ca rta d e 1 0 de M a rço d e 1 5 1 7, IANm , Convento d e Palmela, maço 3, doe. 1 62 e m aço 4,
doe. 264. Após a s u a m o rte, a c o m e n d a será a d m i n i stra d a p o r D. Afo nso de Lencastre, seu i rm ã o .
30 Pe l o m e nos a ss i m se m e n c i o n a e m I A N m , Gaveta 5, m a ço 1 , n o 47, p u b l i ca d o no
Archivo Historico Portuguez, vo l . IV, 1 906, p : 354, re l ativo a o ano d e 1 53 2 .
" R e c e b e a co m e n d a d e Ferre i ra a 1 0 d e M a rço d e 1 5 1 7 ( IANm, Convento d e Palmela,
m a ço 3, doe. 1 62 e m a ço 4, doe. 264 ) . E m J a n e i ro de 1 534, a i n d a é refe rido p o r ocasião da visi­
tação ( IAN/TT. , Ordem de Santiago, Códice n o 1 49, fi . 56-57 ) .
3 2 A i nfo r m a ção p rové m d a visitação a A l m a d a e m 2 4 d e J a n e i ro d e 1 527 ( IAN/TT. , Ordem
de San tiago, Códice no 1 77, fi . 3 ) . Ai n d a se e n co ntra a a d m i n istra r esta co m e n d a e m 1 0 de M a rço
de 1 534, C ó d i ce n° 1 77, fi . 2v (2• n u m e ração do cód i c e ) .
272
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Fa ro33 e N o u d a r, esta ú lt i m a , n a O rdem d e Avi s34• Rece be, a i n d a , a re n d a d a porta ­
g e m d e Setú ba l e a a l ca i d a ri a da mesma l o ca l i d a d e e m 1 6 d e Ag osto d e 1 52735 Fo i
Co m e n d a d o r e a l ca i de-m a r de To rrã o36, p e l o m e n os entr� 1 534 e M a i o de 1 548.
Pe rtenceu aos Treze, ta l co m o se refe re n o ca p ítu l o g e ra l d e 14 d e Outu b ro de
1 53237• Na vésp e ra da m o rte d o seu p a i , a 21 d e J u l h o d e 1 55038, s o l icitou ao
Co nvento d e Pa l m e i a u m a ca rta d e h á b ito d a O rd e m d e Santiago, p a ra o seu fi l h o
J o rg e . É co n h ecido u m d i p l o m a d e 1 d e M a rço d e 1 565 o n d e se pode perceber q u e
o ro l d e co m e n d a s e m s e u poder t i n h a a u m e nta d o desde os te m pos a nteri o res.
Ass i m , n essa é poca, d eti n h a a a d m i n istração d e To rrã o, Ferre i ra , Castro Ve rde,
Santiago d o Cacé m , S i nes, Arrá b i d a , Ses i m b ra , Ba rrei ro e Sa m o ra Co rrei a39•
Já D . Afo nso d e Lencastre, cava l e i ro da O rd e m d e Sa nti a g o e seu co m e n d a ­
d o r m a r d e s d e 2 d e Agosto d e 1 52540, fo i , ta m bé m , co m e n d a d o r de A l m o d ôva r,
33 J á se e n co ntra n a posse d a s re n d a s d a co m e n d a d e Fa ro desde 1 0 d e M a rço d e 1 5 1 7
( IANm, Convento de Palmela, m a ço 3 , doe. 1 62 e m a ço 4, doe. 2 64 ) . N esta q u a l i d a d e fo i v i s i ­
ta d o e m 1 0 d e J a n e i ro d e 1 5 1 8 ( IANm, Ordem d e Santiago, Cód i ce n ° 229, fi . 1 64v. Refe r i d o p o r
C O R R E IA, Fe r n a n d o C a l a pez; VI EGAS, Antó n i o , "Visitação d a O r d e m d e S a n t i a g o ao A l g a rve,
1 5 1 7- 1 5 1 8" , s u p l . d a Revista Al'u/yã, n° 5, Arq u i vo H i stórico M u n i c i p a l d e Lo u l é, 1 996, p . 1 06 ) .
34 C i rcu nstâ n c i a refe r i d a n u m a ca rta d e 26 d e N ove m b ro d e 1 522 ( IAN/TT. , Ordem de
San tiago, C ó d i ce no 1 3, fi . 25-25v), m as, de facto, p o d e ri a esta r na posse de D. J o ã o desde a ntes,
u m a vez q u e o ú n i co co m e n d a d o r a nteri o r q u e os d i p l o m a s i n d i c a m é Fernão M ate l a , docu­
m e nta d o u n i ca m e nte até Agosto d e 1 503 ( IANm, Ordem de Avis, n ° 944 ) .
35 IAN/TT. , Ordem d e Santiago, Cód i ce n o 1 4, fi . 75v - 7 6 . M a i s tarde, a 27 d e Outu b ro d e
1 533, a p a rece refe r i d o como co m e n d a d o r e a l c a i d e - m a r d e Setú b a l n a vis ita efect u a d a n essa
data, IAN/TT. , Ordem de Santiago, Cód i ce no 264, fi. 34v.
3 6 IAN/TT. , Ordem de Santiago, Cód i ce no 1 86, fi . 3. No e nta nto, já se e n co ntra n esta
co m e n d a desde 10 de M a rço de 1 5 1 7, IANm, Convento de Palmela, m a ço 3, doe. 1 62 e m a ço 4,
doe. 264. IANm, Ordem de Santiago, Cód i ce n o 25, fi . 274-274v.
37 IANm, Ordem de Santiago, Ca ixa 77, m a ço 1 .
38 IANm, Ordem de Santiago, Códice n ° 27, f i . 1 8v- 1 9 .
3 9 De acordo co m a i nvestigação fe ita p o r D U TRA, Fra ncis A , " E vo l ut i o n o f t h e Po rtu g u ese
Order of S a n t i a g o , 1 492-1 600", Mediterranean Studies, vo l . 4, p . 83. M a ntem estas l o ca l i d a d e s
a t é a o fi m d a v i d a ( IAN/TT. , Gaveta 5, m a ço 1 , n ° 49 ) .
40 IANm, Ordem de Santiago, Códice n ° 1 3, fi . 1 78v- 1 79v. N ã o temos co n h eci m e nto d a s u a
d a t a d e nasci m e nto, m a s seg u i u -se ao p r i m o g � n ito q u e n a s c e u e m 1 50 1 . E ra a i n d a vivo e m 1 572
q u a n d o se l avra um ro l d e co m e n d a s d a Ordem ( IAN/TT, Gaveta 5, m a ço 1 , n°. 49) e p o r ocasião
d a redacção do testa m e nto d a ra i n h a D . Cata ri n a e m 1 574, a ct u a co m o teste m u n h a ( S O U SA, D.
Antó n i o Caeta no de, História Genealógica . . . , tomo I I I , p . 3 1 0 ) . D UTRA, Fra ncis A., " Evo l uti o n of
t h e Po rtu g u ese Order of Sa nti a g o " , p . 83 a po nta a data c. 1 57 5 co m o a época p rovável e m q u e
fa lece u . Casou c o m V i o l a nte H e n r i q u es, fi l h a d e D . J o ã o Couti n h o, Conde de Redo ndo e d e I s a b e l
H e n ri q u es ( Livro d e Linhagens d o século XVI, p . 1 3; S O U SA, Antó n i o Caeta no de, História
Genealógica . . . , tomo XI, p. 47 e S O U SA, Anse l m o B r a a m ca m p, Brasões, vo l . I I I , p. 386 ) .
273
M a ri a C r i sti n a Pi m e nta
p e l o m e n o s entre 1 52 1 e 1 5334\ d e Ca n h a , C a b r e l a e G a rvão e m 1 52 542, d e Cace l a ,
Alcouti m e Castro M a ri m e m 1 52843 e d e Arru d a e m 1 52944• M a i s ta rd e, fica rá à
fre nte d a s co m e n d a s d e G ra n d o l a e Alj u strel e m 1 537, � d e Al cochete, co m seg u­
ra nça, a pós o i n ício d a déca d a d e c i n q u e nta e d e Al h o s Ved ras, e m 1 57 245•
Ta l co m o o seu i rm ã o , ta m bé m assiste ao ca p ítu l o g e ra l da O rd e m , co nvo­
ca d o pa ra Pa l m e i a , no d i a 1 4 de O utu b ro de 1 53246• E sta n d o D . J o rg e i m poss i b i l i ­
ta d o p o r d o e n ça d e su bscreve r d i p l o m a s d a O r d e m , c o m m u ita reg u l a ri d a d e
e n contra re mos este seu fi l h o, n a q u a l i d a d e d e co m e n d a d o r m a r d a O rd e m a assi­
nar d i ve rsas ca rta s47• A 20 d e J u l h o d e 1 55048 está i d e ntificado co m o um dos tes­
ta m e ntei ros d e seu p a i , q u e a e l e se refe re d i z e n d o « . . . q u e bem confi o n e l l e . . . »49•
D . Lu ís d e Len castre, e D . J o rg e d e Le ncastre50, este ú lt i m o , fi l h o natu ra l de
D . J o rg e , i n g ressa ra m n a O rd e m d e Avi s . O p ri m e i ro fo i seu Co m e n d a d o r M o r5\
41 IANm, Ordem de Santiago, Cód i ce no 1 2, fi . 1 07 e IANm, Ordem de Santiago, Códice
n ° 1 53, fi . 6 1 ; Ordem de Santiago, C ó d i ce n ° 248, fi . 2, IAN/TT. , Convento de Palmela, maço 5,
doe. 355.
42 IAN/TT. , Ordem de Santiago, Códice n o 1 3, fi . 1 76v- 1 77; IAN/TT. , Ordem de Santiago,
Códice no 1 3, fi . 1 77- 1 78 e IANm, Ordem de Santiago, Códice n° 1 3, fi . 1 36v- 1 37; Convento de
Palmela, m a ço 4, doe. 3 1 9, respectiva m e nte. Ai n d a m a nti n h a a co m e n d a de G a rvão no a n o d e
1 533, ( IANm, Ordem d e Santiago, C ó d i c e n o 1 68, fi . 60v-6 1 ) .
43 IANm, Ordem de Santiago, Cód i ce n° 1 4, fi . 1 2 5v. C o m o a d m i n i stra d o r d estas c o m e n ­
d as , a p a rece a i n d a refe r i d o p o r ocasi ã o d a v i sita efect u a d a a e s s a s l o ca l i d a d e s e m 23 d e J a n e i ro
d e 1 534. IAN/TT. , Ordem de Santiago, Cód i ce no 2 54, fi . 1 . Cfr. CAVACO. H u g o , "Visitações " da
Ordem de Santiago no Sotavento Algarvio (Subsídios para o estudo da História da Arte no
Algarve), Vi l a R e a l de Sa nto Antó n i o, 1 987, p . 1 1 2 .
44 IAN/TT. , Ordem de Santiago, Códice n° 1 4, fi . 1 63 .
45 I A N m , Ordem d e Santiago, Códice n ° 1 58, fi . n ã o n u m e ra d o ; I A N m , Ordem de
Santiago, Caixa 77, m a ço 1 ; IANm, Ordem de Santiago, Cód i ce no 1 9, fi . 1 40; IANm, Ordem de
Santiago, Códice n° 1 90, fi . 1 05v e IANm, Gaveta 5, m a ço 1 , no 49 .
46 IAN/TT. , Ordem de Santiago, Caixa 77, m a ço 1 .
47 A títu l o d e exm p l o , IANm, Colecção Especial, Caixa 76, m a ço 2, d e 20 d e J u l h o d e 1 550
o u IAN/TT. , Colecção Especial, Ca ixa 76, m a ço 2, d e 2 1 d e J u l h o d e 1 550.
48 S O U SA, Caeta n o de, Provas , t o m o V I , p a rte 1 , p . 35-4 1 .
49 S O U SA, Caeta n o d e , Provas , to m o V I , p a rte 1 , 40 .
5 0 S O U SA, Caeta n o d e , História Gene_alógica , to m o X I , p. 2 1 .
5 1 Ai n d a detem o cargo e m 1 568. Casou co m D . M a d a l e n a d e G ra n a d a , i n d icada como
dama d a ra i n h a D . Cata r i n a . S o b re D . L u ís d e Lencastre, vej a-se " H i stó ria d a s Í ncl itas Cava l a ri a s
...
...
...
d e Cristo, S a n t i a g o e Avis, p o r F r . J e ró n i m o Ro m á n " , coord . Pa u l a Pi nto Costa, Militarium
Ordinum Analecta, vo l . 1 0, Po rto : F u n d ação E n g 0 Antó n i o de A l m e i d a e C E P E S E , 2008, p. 262;
S O U SA, Antó n i o Caeta n o de, Provas. . . , to m o V I , p a rte 1 , p . 1 3 1 e História Genealógica . . . , to m o
X I , p . 1 1 7- 1 23; F E LG U E I RAS GAYO, M a n u e l José d a Costa , Nobiliário . . . , p . 89. Livro d e Linhagens
do século XVI, p . 1 3 .
274
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
está refe r i d o por ocasi ã o do Ca p ítu l o G e ra l reu n i d o a 14 d e Ag osto d e 1 5 1 552 e em
1 534, é d a d o co m o Co m e n d a d o r d e E stre m oz, Co ruche, Alca ne de , Ve i ros,
Al a n d ro a l , Seda e Frontei ra53• O seg u n d o , rece be ca rta d.e h á bito p a ra fre i re clé­
rigo a 1 3 d e O utu b ro d e 1 547, tendo p rofess a d o t rês d i a s d e p o i s54• Vi ria a s e r Pri o r
M o r e co m e n d a d o r d e Vi l a Viçosa e E rved a l 55 • N a O rd e m d e Avis, q u e te n h a mos
co n h ec i m e nto, e n co ntra-se refe r i d o p e l a docu m e ntação até 1 56356•
Destes p e rcu rsos nas O rd e n s , d evi d a m e nte i d e ntificados p e l a docu m e nta­
ção, i m po rta ch a m a r a ate nção pa ra a l ó g ica d i stri b u i ç ã o d e b e n esses pelos fi l h os
n a s o rd e n s que D . J o rg e g overn ava, c o l o ca n d o , a l i á s, três d e l es e m ca rgos d e
g ra n d e res p o n sa b i l i d a d e .
C r e m o s ter, a i n d a , a l g u m i nte resse re l e m b ra r q u e, se o fi l h o m a i s ve l h o ,
d a d a a titu l a ri d a d e q u e, desde cedo rece be57, o c u p a u n i ca m e nte o l u g a r d e
co m e n d a d o r, j á D . Afo nso e D . Lu ís, s ã o co m e n d a d o res- m a r d e Sa nti a g o e d e
Avi s , respectiva m e nte. E n estes d o i s casos, i m po rta perce b e r a q u e m s u ced e m :
D . Afo nso d e Lencast re seg u e n a Co m e n d a M o r d e S a n t i a g o e, a i n d a , n a a d m i ­
n i stração d e Ca b r e l a , a D. H e n ri q u e d e N o ro n h a , s e n ã o a ntes, n o a n o d e 1 52558•
Ta m bé m D. L u ís de Len castre s u cede na co m e n d a m o r d e Avis, p o r m o rte de D .
Ped ro d a S i lva, fi l h o dos Co n d es d e Abra ntes . N os d o i s casos, estes fi l h os d e D .
J o rg e s u bstitu íra m p e rso n a g e n s m u ito p róxi m a s d o D u q u e d e Co i m b ra - l e m b re­
-se, so m e nte, q u e H e n ri q u e d e N o ro n h a j á s u ced e ra n o cargo a seu pa i , D . Ped ro
d e N o ro n h a59, m o rd o m o m o r d e D . J o ã o 1 1 e q u e D . Ped ro d a S i lva, m a nti n h a u m a
52 IAN/TT , Ordem de Avis, n o 927.
53 IAN/TT , Gaveta 4, m a ço 1 , no 9. Refe rido p o r S O U SA, Antó n i o Caeta n o d e , Provas ,
...
t omo V I , p a rte 1 , p. 1 3 1 - 1 32 .
54 I A N m , Ordem d e Avis, Papéis Diversos, m a ço 6, n ° 283.
55 IAN/TT , Ga veta 4, m a ço 1 , n o 9 . S o b re este Prior M o r, vej a-se " H i stória das Í n c l itas
Cava l a ri a s d e Cristo, S a n t i a g o e Avis, p o r Fr. J e ró n i m o Ro m á n " , p . 264 q u e afi r m a ter fa l ecido
e m 1 577; S O U SA, Caeta n o d e , Provas ... , to m o V I , p a rte 1 , p . 35-4 1 .
5 6 IAN/TT , Ordem de Avis, no 1 039.
57 Vd. notas 26 e 27.
58 D . H e n r i q u e d e N o ro n h a s o m e nte está i d e ntifi c a d o n a d o c u m e ntação c o m o c o m e n d a ­
d o r m o r a t é 1 520 o q u e p o d e , eventu a l m e f)te, s i g n ifica r q u e D . Afo nso Lecastre o c u p o u o
c a r g o a ntes da p ri m e i ra refe rê n c i a q u e l h e é efect i va m e nte co n h ec i d a ( a n o d e 1 52 5 , IAN/TT ,
Ordem de Santiago, C ó d i c e n° 1 3, fi . 1 78v- 1 7 9v ) . C o m o se p e rc e b e , e. a d e s p e ito d e se c o n h e ­
c e r u m a a l u s ã o d a t a d a d e 3 d e J u l h o d e 1 530 a H e n r i q u e d e N o ro n h a co m o co m e n d a d o r d e
C a b r e l a ( I AN/TT , Ordem d e San tiago, C ó d i c e n o 1 70 . fi . 23v ) , ta l d eve s e r e nte n d i d o co m o e rro
d o escrivão da visita q u e s e l i m itou a co p i a r o "fo rm u l á ri o " da visitação a nt e ri o r, o r i g i n a n d o
este e q u ívoco.
59 Livro de Linhagens do século XVI, p . 222-223.
275
M a ri a C r i sti n a Pi m e nta
re l a çã o d e p roxi m i d a d e ( l e i a -se confi a n ça ) pa ra com D . J o rge, com o r i g e n s no
te m p o d a g e ração q u e a nteced e u a m bos60•
Pa ra a l é m desta d i m e n s ã o m a i s " a d m i n istrativa " q.u e e nvo lve os d esce n d e n ­
t e s d e D . J o rge, a l g u n s d estes p e rso n a g e n s e n co ntra m -se, ta m bé m , e nvo lvidos
n o q u oti d i a n o d a co rte p o rtu g u esa, p o r vezes cita dos a propós ito d e e pisódios
n e m se m p re m u ito dignos de memória, os q u a is, p o r i sso m e s m o , podem cons­
titu i r-se co m o b o n s i n d icad o res pa ra ava l i a r o l u g a r que ocu pava m n o â m b ito d o
q u oti d i a n o d e entã o .
Ass i m , e sem g ra n d e n ovi d a d e pa ra o l e ito r m a i s ate nto, d eve refe ri r-se q u e,
a i n d a e m v i d a d o D u q u e d e Co i m b ra , D. J o ã o , o M a rq u ês de To rres N ovas, te ndo
a co m p a n h a d o o p a i n o l eva nta m e nto d e D . J o ã o I I I p o r Rei6\ va i , p o u co depo is,
ce l e b riza r-se aos o l hos d o p ú b l ico, n a d esave nça que o opôs a o Co n d e d e
M a ri a lva, a res pe ito d a s u a p rete n s ã o e m casa r com a s u a fi l h a D . G u i o m a r, j á
p ro m et i d a a o I nfa nte D . Fe rn a n d o , i rm ã o d e D . J o ã o 1 1 1 62• Efectiva m e nte, u m
casa m e nto entre a futu ra c a s a d e Ave i ro e a c a s a d e M a ri a l va contra riava, em
t u d o , a s o r i e ntações que D . M a n u e l ti n h a deixado a o seu fi l h o n o sent id o d e
" . . . i m ped i r a conce ntração d e fo rtu n a s d a n o b reza titu l a r" 63•
E ste episód i o q u e, n a rea l i d a d e, a i n d a n ecessita ria d e mais a l g u ns esc l a reci­
m e ntos, co m o bem s u g e re Ana Isabel B u escu64, d eve ter-se despo l etado pelo a n o
d e 1 52 2 q u a n d o se assi n a m a s "capitu l a res d o e n l ace" 65 rea l . A q u estão teve co m o
60 B a sta l e m b ra r q u e o rei D . João 11 a 7 d e J u n h o d e 1 482, re u n e ca p ít u l o g e r a l d e Avi s e
d e l e g a a a d m i n i stração d a Ordem e m três pessoas, u m a d e l a s é D. Ped ro da S i lva ( IANffi ,
O rd e m d e Avis, no 867, d i p l o m a d e 29 d e Agosto d e 1 482 ) . Ta m bé m D . J o ã o de A l m e i d a , 2° C o n d e
d e Abra ntes s e rá o esco l h i d o p a ra a co m p a n h a r D . J o r g e nos s e u s p ri m e i ros p a s s o s como
Gove r n a d o r d e Avi s e d e Santiago, t a l como a p rouve ao re i D . J o ã o 1 1 . Sobre este Co m e n d a d o r­
m a r e a s u a fa m í l i a d eve l e r-se S I LVA J o a q u i m Ca n d e i as, O Fundador do "Estado Português da
lndia ". O. Francisco de Almeida 1457 (?) - 15 10, Lisboa : C . N . C . D . P.\I . N . C . M , Co l . M a re Li beru m e,
n o que se refe re à l i gação à s Ordens, P I M E NTA M a ri a Cristi n a G o m e s . "As O rd e n s d e Avi s e de
Sa nti a g o : o G overno d e D . J o rg e " , p . 80.
61 A N D RADA, Fra nci sco de, Chronica de/ Rey Dom João III, p a rte 1 , c a p . V I I I , p . 1 5 .
6' A N D RADA, Fra ncisco d e , Chronica dei Rey Dom João III, p a rte 1 , c a p . X I I , p. 26-28;
S O U SA, Frei Lu ís de, Annaes de E/ Rei DofJl João Terceiro, Lisboa, 1 844, cap. V I I I , p . 34-37.
63 C o m o a c e rta d a m e nte refe re P E R E I RA, J o ã o Cordei ro, "A R e n d a d e u m a G ra n d e Casa
Se n h o r i a l d e Qu i n h e ntos", Actas das Primeiras Jornadas de História Moderna, L i s b o a : Ce ntro d e
H i stó ria d a U n ivers i d a d e d e L i s b o a , vo l . 1 1 , 1 986, p . 8 1 7, n o t a 8 6 .
64 B U ESCU, Ana I s a b e l , O . João III, p . 1 23, o n d e a a u to ra f a z referência à troca d e correspo n­
dência entre o rei e a i rm ã , a I m peratriz Isabel, n a q u a l se m e n c i o n a a existê ncia de cartas troca­
das e ntre os e nvolvidos (o M a rq u ês e D. G u io m a r) exp ressa ndo p ro m essas d e fi d e l i d a d e m ú t u a .
65 B U E S C U , Ana I s a b e l , O . João III, p . 1 23 e p . 1 27.
276
I bé r i a : Q u atroce ntos/Qu i n h e ntos
resu lta d o a p ri s ã o d o M a rq u ês e o d esej o exp resso d o m o n a rca d e ver D . J o rg e
afasta d o d a corte. E sta situação o ri g i n o u , até, u m trata m e nto l iterá rio co n h ec i d o .
D ra m a a m o roso, bem a o gosto ro m â ntico, n ã o p o d e r i a ter esca p a d o à p e n a d e
u m dos m a i s e m b l e m át i cos vu ltos d o g é n e ro : e m m e a d os d o sécu l o XIX, Ca m i l o
Ca ste l o B ra n co escreve pa ra teatro O Marquês de Torres Novas, e m c i n co a ctos66•
Co rre n d o o risco d e nos afasta rmos p o r m o m e ntos d o percu rso d o p ri m e i ro
n eto d e D. J o ã o 1 1 , cremos te r i nte resse refe ri r q u e se p o r u m l a d o , o M a rq u ês
cu m p ri u a s u a p e n a n a p ri s ã o n o caste l o d e S . J o rg e até 1 52967, j á o seu p a i pa rece
te r des res pe ita d o a o r d e m rég i a de se afa sta r d a corte e de t u d o o q u e no seu s e i o
d e i m po rta nte ía a co ntece n d o . E n ã o se estra n h e este co m po rta m e nto d e D .
J o rg e - afi n a l , u m afa sta m e nto, p o r m u ito p o u co te m po q u e fosse, d o s m e a n d ros
d a corte, poderia i m ped i r o u s ufruto d e ben esses e reco n heci m e ntos68 -, m a s,
n este caso, m a i s d o q u e isso, poderia contri b u i r p a ra q u e fosse vota d o a o esq u e­
c i m e nto o q u e poderia to rna r-se especi a l m e nte co m p l i ca d o . Co m o vere m os, o
M estre d e Avi s e d e Sa nti a g o , n ã o só va i situ a r-se p o r p e rto d o m o n a rca, p a u ­
ta n d o , ass i m , a s s u a s o pções p e l a iti n e râ n c i a , ta l co m o aco ntecia n estes i n íéios
d o sécu l o XVI e m que os m o n a rcas o pta m " . . . p o r Lisboa, Évo ra , Sa nta rém e
A l m e i ri m "69•
De facto, a docu m e ntaçã o co n h ec i d a d a s O rd e n s d e Avi s e d e S a n t i a g o , s u s­
tenta q u e n o i n íc i o d a déca d a d e vi nte d o sécu l o XVI , q u a n d o tod a esta conte n d a
co m o Co n d e d e M a ri a lva tom ava fo rma, a p rese n ça d e D . J o rg e está docu m e n ­
ta d a e m a l g u m a s d a s l oca l i d a des o n d e o m o n a rca ta m bé m se e n co ntra70•
Face à o r d e m d o re i , é co m p re e n s ível q u e a cro n íst i ca o m ita71 a l g u n s d estes
fa ctos co m o é o caso da p rese n ça de D. J o rg e p o r oca s i ã o da ch e gada da futu ra
66 CAST E LO - B RAN CO, Ca m i l o , O Marquez de Torres-Novas, Porto : Typog ra p h i a de
Fra ncisco G o m es d a Fonseca, 1 858.
67 B U E S C U , Ana Isabel, O. João III, p . 1 23 .
68 Sobre esta d i m e n s ã o , vej a-se o q u e já se escreveu em O LIVE I RA, Lu ís Fi l i pe; R O D R I ­
G U E S , M i g u e l J a s m i ns, "A Titu l a ção na 2• D i n a sti a " , Actas das I Jornadas d e História Moderna,
L i s b o a : Ce ntro de H i stória da U n ivers i d a d e de Lisboa, vo l . 1 1 , 1 986, p .737-738.
6 9 C U RTO, D i o g o R a m a d a , " R itos e ceri m ó n i a s d a m o n a rq u i a em Po rtu g a l (sécu l o s XVI a
XV I I I ) , A Memória da Nação, Actas do Co l ó q u i q , ( o r g . de Fra ncisco Beth e n co u rt e D i o g o R a m a d a
C u rto), L i s b o a : S á d a Costa , 1 99 1 , p . 224.
7 0 Po r exe m p l o , n o ano d e 1 523, o M estre está e m To m a r a 21 d e J u l h o, dois d i a s a ntes d a
to m a d a d e p o s s e d o m estrado d e C r i sto p o r D . J o ã o I I I . ( IANm, Ordem d e Santiago, Cód i ce n o
1 3, fi . 36v-37 ) .
" S O U SA, Frei L u ís d e , Annaes d e E/ Rei Dom João Terceiro, Livro I I I , ca p . l i , p . 1 30-1 33;
AN D RADA, Fra nci sco de, Chronica de/ Rey Dom João III, p a rte I , cap. LXI , p . 1 6 1 - 1 64. So b re este
assu nto cfr. P I M E NTA, M a ri a Cristi n a G o m es, "As O r d e n s d e Avi s e de Santi a g o . O g ove rno d e
277
M a ri a Cristi n a P i m e nta
ra i n h a de Po rt u g a l em 1 524, assi m co m o no seu casa m e nto em Feve rei ro de 1 525,
n o C rato, e, a i n d a n a s desped i d a s fe itas a D . l s a b e l , i rm ã d o Rei, q u a n d o deixa o
rei n o p a ra casa r com o I m p e ra d o r Ca rlos V72 . Ta m bé m n,este ú lt i m o caso - j á o d i s­
s e m o s em tra ba l h o a nteri o r - esta o m issão pode esta r a m p l a m e nte co m p ro m e­
t i d a u m a vez q u e, e m fi n a i s de J a n e i ro d e 1 526, o M estre estava e m A l m e i r i m d e
o n d e pa rti u a Pri n cesa'3•
Po u co d e po i s, q u a n d o , a 24 d e Feve rei ro d esse m e s m o a n o , n a sce D . Afo nso
o pri m o g é n ito d o re i'\ i g u a l m e nte e m Al m e i r i m , é n essa mesma l o ca l i d a d e q u e,
a despeito d e n ã o ser m e n c i o n a d a a s u a p rese n ça n a s cró n i cas'5, o M estre assi n a
u m a ca rta data d a d e 2 1 d e Feve rei ro76• E e m J u n h o, m o rre n d o o peq u e n o i nfa nte
em Sa nta ré m , é aí q u e D . J o rg e concede u m a tença com o h á bito a o cava l e i ro de
Santi a g o , Lu ís G o nça lves77•
I m po rta , assi m , refo rça r a i d e i a d o e n evoa d o e nte n d i m e nto q u e p a i rava
e nt re o m o n a rca e o D u q u e de Coi m b ra , ao m e s m o te m po q u e se p e rcebe ter s i d o
so m e nte a pa rti r d e m e a d o s da déca d a d e vi nte q u e D . J o rg e pa rece ci rcu nscre­
ve r a s s u a s esta d i a s a Pa l m e i a e Setú ba l , co m o D . J o ã o I I I , tem pos a ntes; h av i a
o r d e n a d o a o uti l i z a r a expressão "fôsse p a ra s u a casa "78•
Pe l o m e nos pa ra os seus fi l h os, u m a n ova eta pa pa rece a b ri r-se q u a n d o , a
p a rt i r d a déca d a d e 30, j á l i be rto d o cati vei ro, o M a rq u ês d e To rres N ovas, D . J o ã o ,
é fe ito D u q u e d e Ave i ro . U m t ítu l o d e i m po rtâ n c i a cru ci a l q u e l h e é co n ced i d o
D . J o rg e " , p . 9 2 e B U E S C U , A n a I s a b e l , O . João III, p . 1 53 . N ã o s e d eve, n o e nta nto, despreza r a
i nfo rm ação q u e a docu m e ntação nos faz ch e g a r de q u e o M estre de Avi s e de S a n t i a g o , p o r
e s t a s d atas, ass i n a d i p l o m a s e m É vora (co m o é o c a s o d e u m a c on cessão d e tença com o h á bito
d e S a n t i a g o a D u a rte G a ivão datada d e 21 de N ove r m b ro d e 1 524, IAN/TT. , Ordem de Santiago,
Cód i ce n° 1 3, fi . 1 36 ) , facto q u e acentua a já co n h ec i d a d i m e n s ã o p a n e g írica do d i scu rso cro­
n ístico.
7 2 A N D RADA, Fra n c i sco de. Cronica de/ Rey Dom João III, p a rte I , cap. LXXXX I I I , p . 2 6 1 -265.
73 IAN/TT. , Ordem de Santiago, Códice n o 1 4, fi . 1v o u Ordem de Santiago, Cód i ce n o 1 4,
fi . 27.
74 A N D RADA, Fra nci sco d e . Cronica de/ Rey Dom João III, p a rte I , c a p . LXXXX I I I , p . 265.
75 B U E S C U , Ana Isabel, O. João III, p , 1 62 .
" IAN/TT. , Ordem d e Santiago, C ó d i c e n o 25, fi . 1 4v.
77 IAN/TT. , Ordem de Santiago, Cód i ce n° 1 4, fi . 23.
7 8 N a s p a l avras d e Antó n i o C a r n e i ro, citado a p a rt i r d e B U E S C U , Ana Isabel, O. João III, p .
1 23 . Le m b re-se, a i n d a , q u e D . Jorge voltará ao exílio p o r força dos se u s i nte ntos e m q u erer
casa r, aos 67 a n os d e idade, com D . M a ri a M a n u e l , uma j ovem d a casa d a Ra i n h a (AN DRADA,
Fra ncisco de, Chronica de/ Rey Dom João III, p a rte 1 , ca p . X I I , p. 26-28; S O U SA, Frei Lu ís de,
Annaes de E/ Rei Dom João Terceiro, Lisboa, 1 844, cap . V I I I , p . 34-37 ) .
278
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
possive l m e nte p e l o a n o d e 1 53579, j u stifica q u e, no ba ptiza d o do I nfa nte D.
Antó n i o, fi l h o dos Reis, este fi l h o de D. J o rg e a co m p a n h e o co rtej o tra n s p o rta n d o
n a m ã o a ve l a d o ba pti s m o . Outros m o m e ntos d e reco n h ec i m e nto p a ra este titu­
l a r s u ce d e m -se, j á e m 1 543, q u a n d o a i nfa nta D . M a ri a pa rte pa ra Caste l a pa ra
casa r com D. Fi l i pe, o d u q u e de Ave i ro está e nt re " . . . as pessoas de titu l o , e h o n ­
ra d a s q u e a v i a n a co rte . . . "80, j á e m N ove m b ro d e 1 552 q u a n d o D . J o a n a , fi l h a d o
I m p e ra d o r Ca rlos V, a ca m i n h o d o seu casa m e nto com o I nfa nte D . J o ã o , e ra rece­
b i d a em E lvas p e l o p ró p r i o D u q u e8' . N esta o ca s i ã o , a d i sti n ção este n d e-se aos
s e u s i rm ã o s D . Afo nso e D . Lu ís que o a co m p a n h a m82•
E sta i m a g e m d e u n i ã o fa m i l i a r dos Le ncastre, e m posição d e d esta q u e, n este
p reciso m o m e nto do ceri m o n i a l da corte p o rtu g u esa, pa rec i a a n u n ci a r n ovos
t e m p o s . Cremos q u e, fa ce à cro n o l o g i a em q u e asse nta este e p i s ó d i o ( 1 552) é for­
çoso re l e m b ra r q u e, um mês a pós a m o rte de D . J o rg e em 1 55083, já o m o n a rca
D. J o ã o I I I rece b i a do Pa pa a a d m i n istração vita l íca d a s o rd e n s de Avi s e de
Sa nti a g o ao q u e se seg u e a s u a a n exação à C o ro a p o r b u l a de 30 de Deze m b ro
d e 1 55 1 84• Ta l pode, p o r h i pótese, exp l i ca r a p rese n ça d o s t rês fi l h os d e D . J Ó rg e :
pa ra a l é m d o M a rq u ês d e To rres N ovas e D u q u e d e Ave i ro q u e n ã o se estra n h a
79 Vd . n ota 27. N ã o é s i m p l es a expl icação pa ra a co n cessão d este títu l o . F R E I R E , Anse l m o
B ra a n ca m p, O s Brasões, vo l . I I I , p . 401 s u g e re q u e D . J o ã o I I I o terá conce d i d o e m c o m p e n s a ­
ção p e l a rea l ização d o casa m e nto d o I nfa nte D . Fe r n a n d o com D . G u i o m a r Couti n h o . U m a i nter­
p retação que ch a m e a ate nção p a ra a co i nc i d ê n c i a d a d ata p rováve l d a c on cessão e o j u ra m e nto
do p r í n c i p e h e rd e i ro, D. M a n u e l ( 1 535). pode a p a recer co m o h i pótese exp l i cativa d a b e n evo­
l ê nc i a rég i a . M a s , a concessão d e m a i s um tít u l o, s o b retu d o a u m a fa m íl i a q u e já ocu pava u m
l u g a r d e desta q u e n a h i e ra rq u i a d a ri q u eza n o b i l i a rq u ica, n ã o era certa m e nte u m a boa po l ítica
rég i a ( cfr. o p i n i ã o , j á refe r i d a , d e P E R E I RA, J o ã o Cordei ro, "A Renda d e uma G ra n d e Casa
S e n h o r i a l d e Qu i n h e ntos", p . 8 1 7, n ota 86).
80 A N D RADA, Fra n ci sco d e , Cro nica de/ Rey Dom João III, pa rte I I I , ca p . LXXXIX, p. 860. É
cu rioso refe ri r, seg u i n d o B U E S C U , Ana I s a b e l , D. João III, p. 1 80 e p. 2 1 5, q u e, n este m e s m o a n o ,
m o rr i a o basta rdo d e D . J o ã o I I I e o m estre d e Avi s e d e S a n t i a g o , D . J o rge, a p a receu n o e n te rro
" s e m s e r ch a m a d o p a ra isso " .
8 ' Ceri m ó n i a d e rece b i m e nto d e q u e o r e i recebe u m re l ato p o r m e n o rizado ( IANm, Corpo
Cronológico, Pa rte I, m ç . 89, n . 0 2 2 ) . E ste fi l h 9 de D. J o rg e rece be u m trata m e nto e l o g i oso nos
Poemas L usitanos d e Antó n i o Ferre i ra ( Lisboa, Sá d a Costa , 1 97 1 , p . 54 e p . 80 ) .
82 A N D RADA, Fra n c i sco d e , Cronica de/ Rey Dom João III, p a rte IV, c a p . LXXXXV, p. 1 1 48.
83 S O U SA, D . Antó n i o Ca eta n o d e , Provas . , to m o V I , I p a rte, p . 3 5 .
84 B u l a Regimini Universa/is d e 2 5 d e Agosto d e 1 550 e B u l a Praeclara charissimi in
. .
Christo, respect i va m e nte. (Vej a-se IAN/TT. Gaveta 4, m a ço 1 , docu m e nto 1 8; Ga veta 5, m aço 1 ,
docu m e nto 9 e m a ço 3, docu m e nto 4. SANTAR É M , Visco n d e d e , Quadro Elementar das rela­
ções políticas e diplomáticas de Portugal, vo l . 1 2, p. 337 ) .
279
M a ri a C r i sti n a Pi m e nta
ver em cen a85, a co m p a n h a m - n o os Co m e n d a d o res m a r de Avi s e Sa ntiago, este
ú lt i m o , um a ctivo pa rtici pa nte nas n e g o c i a ções com R o m a p a ra a a n exação das
O r d e n s .asA Os Reis d e Po rtu g a l , a g o ra , ta m bé m , m áxi m os res po nsáve i s p e l a s três
O rd e ns, a b ri a m com chave d e o u ro a tute l a dos M est ra d o s .
É i n co ntesta d o o s i g n ifica d o q u e a i nteg ração d a s O r d e n s a p a rto u à coroa86,
em especi a l em termos d o s re n d i m e ntos de co m e n d a s e da possi b i l i d a d e de os
p o d e r d i recci o n a r, a pa r com a s co n cessões d e tenças, pa ra " n ovas esco l h a s",
a i n d a q u e, ta l te n h a d eco rri d o a pa r com a m a n ute nção dos fi l h os d e D . J o rg e em
l u g a res c i m e i ros d a a d m i n i stração d a s o rd e ns, co m o teria d e ser. Seg u e-se, pois,
um d i a -a-d i a espe l h a d o pela docu m e ntação que d á co nta fi e l m e nte d o eq u i l íbrio
que pa uta estes ú lt i m o s a n os d e v i d a d e D . J o ã o I I I : o rd e n a-se uma visitação a
Pa l m e i a e m 1 552 a cargo d e D. Afo nso Preto87, d ete rm i n a-se o m od o d e " d izer as
m i sas n o Comve nto d e Pa l m e l l a "88, p rovê-se aos ped i d o s dos fre i res d o Co nve nto
85 A q u e m o m o n a rca co nce d i a privi l é g i o s p ró p rios da s u a co n d i çã o d e titu l a r (vej a-se, por
exe m p l o , a ordem rég i a a o o u v i d o r do D u q u e d e Ave i ro p a ra que, n a s s u a s terras fosse a utori­
z a d a a prisão d e l a d rões o u d e assass í n i os, IAN/TT. , Corpo Cronológico, Pa rte I , maço. 98, n.0 40,
de 6 de M a i o de 1 55 6 ) .
85A Cfr. O L I VAL, Fe r n a n d a , Stru ct u r a l C h a n g es wit h i n t h e 1 6 th Centu ry Po rt u g u ese M i l ita ry
O r d e rs, e
-
Journal of Portuguese History, vo l . 2, n° 2 winter 2 0 04, p. 5 [www. brow n .
ed u/Depa rtm e nts/Po rtu g u ese_Brazi I i a n_Stu d i es/ej p h/] .
86 Ve r, p o r todos, OLIVAL, Fe r n a n d a , As Ordens Militares e o Estado Moderno. Honra,
Mercê e Venalidade em Portugal ( 1 64 1- 1 789) , L i s b o a : Esta r Ed itora, 2001 , p. 42-45.
" Com efe ito a visitação d e 10 d e N ove m b ro d e 1 552 ( IANm, Ordem d e S a n t i a g o , Códice
n ° 280, f i . 3-77, p u b l icada p o r RAM OS, M a ri a Reg i n a Soa res B ro nze, As Igrejas de Palmela nas
visitações do século XVI. Rituais e manifestações de culto. D i sse rtação de M estra d o , Po rto .
FLU P. 20 04, p. 1 80-229) é co n d u z i d a p o r Frei Antó n i o Preto, Prior M o r d e S a n t i a g o desde 1 547
( IANm, Ordem de Santiago, Códice no 22, fi . 39v-40 ) , o q u a l a i n d a é refe rido no cargo no a n o
d e 1 553 ( I AN/TT. , Ordem de Santiago, Códice n o 1 96, fi . 1 - 1 v) .
88 IANm, Gaveta 5, maço 1 , n ° 1. S u m a ri a d o As Gavetas da Torre do Tombo, vo l . 11, Lisboa:
Centro de Estu dos H i stóricos U ltra m a ri nos, vo l . 1 1 , 1 962, p . 375. N ã o se d eve deixar d e co m e nta r
q u e este d i p l o m a refere o e l e nco de m issas a c e l e b r a r com u m p o rm e n o r n u nca a ntes reg istado,
atri b u i ndo, pa ra cada ocasião, a cor d a vest i m e nta d o ce l e b ra nte e do fro nta l que o r n a m e nta o
a lta r, ta l co m o se pode l e r n este exce rto : " E �e ouver a l l g u u m fre i re q u e nese d i a q u e i ra dizer m isa
das d u a s festas de N osso S e n h o r, convém a saber, da C i rc u n cisão o u do Espi rito S a n cto ou de
M a rti res esta raa revestido com vest i m e nta verm e l h a e tamto que os aci m a d itos ch e g u a re m aa
sãocristya sayraa a dizer m i sa ao terce i ro a l lt a r que estaa co m fromta l l verm e l h o " (fi . 6 ) . Com
efeito, a visitação d e 1 1 d e N ove m b ro d e 1 552 a Sa nta Maria d e Pa m e l a refe re, n o títu lo das ves­
t i m e ntas, um tota l de o ito, todas de co res va riadas ( RAMOS, M a ri a Reg i n a Soa res Bronze, As
Igrejas de Palmela nas visitações do século XVI. Rituais e manifestações de culto, p . 1 82 ) . É caso
p a ra reter, no deta l h e d a orden ação, u m a p reocupação rigo ri sta por p a rte dos m o n a rcas.
280
•
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
de Avi s no se nti d o de verem a u m enta d o s os s e u s re n d i m e ntos89• D i p l o m a s , e m
g e ra l , su bseq u e ntes a a lterações n a ch efi a d a s i n stitu i ções, d esta fe ita, fruto d e
u m a g ra n d e m u d a n ça n o estatuto d a s O r d e n s fa ce à .coro a . Apa rece m , p o i s,
revestidos de u m a fo rte co m po n e nte d e i nterve nção q u e se m a nterá bem p re­
se nte n o s tem pos seg u i ntes.
Pe rseg u i n d o a s o rte dos Lencastre n esta n ova conj u ntu ra, assiste-se, s e m
m á c u l a , a o dese n rro l a r d o ceri m o n i a l rég i o n o fu n e ra l d e D . J o ã o I I I n o q u a l D .
J o ã o , D . Afo nso e D. L u ís i nteg ra m , p o r o rd e m d o Ca rdea l D . H e n ri q u e, o g ru po
d e n otáve i s q u e tra n s p o rtou o caixão pa ra o c o l o ca r s o b re " . . . as a n d a s fo rra d a s
d e ve l u d o p reto . . . "90 a co m p a n h a n d o , d e p o i s , o c o rtej o fú n e b re d o r e i entre a
R i b e i ra e o M oste i ro d o s J e ró n i m o s . M a s esta ceri m ó n i a q u e, m a i s u m a vez
re u n e os Lencastre j u nto da rea l eza, a b ria ca m i n h o pa ra tempos políticos com­
plexos.
Co m efe ito, a m o rte de D. J o ã o I I I , três a n os d e p o i s de ter p rese n c i a d o o
fu n e ra l d o seu p ró p r i o fi l h o D. J o ã o e o nasci m e nto d o seu n eto D. Sebasti ã o , d e i ­
xava o re i n o n a s m ã os d a ra i n h a D . Cata ri n a q u e, co m o rege nte, asseg u ra ri a o
g ove r n o até 1 562, a ltu ra e m q u e l h e s u ce d e n esta ta refa o ca rdea l D . H e n ri q u e .
E stas reg ê n ci a s, q u e p reced em a m a i o ri d a d e d e D . Sebast i ã o e m 1 568, n ã o evi­
ta ra m q u e, l o g o a pós a m o rte d o avô, e m 1 557, D . Se b a st i ã o ti vesse sido a c l a m a d o
re i . Aí " . . . vest i d o d e ceti m b ra nco [ . . . ] ch e g a r i a a o co l o d e D . L o p o d e A l m e i d a ,
q u e ti n h a a secu n d á - l o o M a rq u ês d e To rres N ovas . . . " 9' . N a seq u ê n c i a d o q u e
t e m o s vi n d o a o bserva r, n ã o se espera ria m e n os .
E m te m po s d a s Reg ê n ci a s , a s O rd e n s d e Avi s e d e Sa nti a g o ocu p a m , d e
i g u a l fo r m a , a s p reocu p a ções d a c o ro a . Ass i m , D . Lu ís d e Len castre e a O rd e m
M i l ita r d e Avi s d e q u e e ra , a i n d a , co m e n d a d o r m o r, vi r i a a rece b e r, d o re i ­
- m e n i n o , p o r v i a d e D . Cata ri n a , u m auto de juramento, datado d e 3 d e
Deze m b ro d e 1 55992, p e l o q u a l a c o r o a p ro m et i a o b e d i ê n c i a a o Sa nto Pa d re,
co m p ro m et i a -se a faze r p a g a r a s m e i a s a n atas a o co nve nto d e Avis, a m a nter o
co nvento "seg u n d o m a n d a a reg ra " co m m a nt i m entos e " veste a r i a s a ba sta d a ­
m e nte" p a ra os frei res, a re p a ra r os caste l o s e casas d a o r d e m , e ntre o utras c l á u ­
s u l a s . N o s a n os i m e d i atos s ã o co n h ec i d o s o utros d i p l o m a s q u e, a p a r co m a s
89 IAN/TT. , Corpo Cronológico, p a rte I , m a ço 87, d o e . 1 1 6 d e 2 2 d e Feve re i ro d e 1 552.
90 B U E S C U , Ana I s a b e l , O. João III, p . 285-286 ( cfr. A N D RADA, Fra nci sco d e . Cronica dei Rey
Dom João III, p a rte IV, ca p . CXXV I I I , p. 1 249 ) .
9 1 C R U Z, M a ri a Au g u sta L i m a , O . Sebastião, p . 42-43 .
92 IAN/TT. , Ordem de Avis, n° 1 042 . O assu nto é versado p o r C R U Z, M a r i a do Rosá rio
Th e m u d o Ba rata Azevedo, As Regências na menoridade de O. Sebastião. Elementos para uma
história estrutural, Lisboa : I . N ./C . M . , 1 992, vol 2, p. 27.
281
M a ri a Crist i n a P i m e nta
d i s po s i ções p a p a i s o rd e n a d a s no m e s m o sentido, a ce l a ra m o p rocesso de i nter­
fe rê n c i a d o p oder rea l n o s e i o d a O r d e m , co m o j á se esperava93•
Seis a n os d e p o i s , na p resença de D. Sebast i ã o , sob os o l h a res d a reg ê n c i a
d o Ca rd ea l , cheg ava a v e z d a O rd e m d e Sa nti a g o , p e l a rea l izaçã o d o ca p ítu l o
g e ra l o rd e n a d o e m 1 564 e m Lis boa94• D . Cata r i n a , s u a avó, d o i s a n os a ntes, ti n h a
e nv i a d o n ovas d i rectrizes a o co nvento d e Pa l m e i a q u e, poss i ve l m e nte, a n u ncia­
ra m o refe r i d o ca p ít u l o95, bem co m o o Pa pa que ti n h a j á a utoriza d o a refo rma dos
estatutos d a O rd e m96•
Aí, D . Afo nso d e Lencastre, co m e n d a d o r m a r d esta Ordem a co m p a n h a d o
p e l o seu i rm ã o D . J o ã o , D u q u e d e Ave i ro , d etento r d e i n ú m e ras co m e n d a s e d o s
o utros co m e n d a d o res e cava l e i ros p rofessos, g ru po o n d e se j á se m e n c i o n a u m
b i s n eto d e D . J o ã o 1 1 , D . J o rg e d e Len castre, assistem à p réd i ca d e D . D i o g o d e
G o u ve i a , Pri o r m a r d a O r d e m d i ri g i d a a D . Sebast i ã o n a q u a l se " . . . p e d e a V.
Alteza [ . . ] q u e q u e i ra o l h a r p a ra o bem espi ritu a l , e te m po r a l n ã o co m m e n o s c u i ­
d a d o , d i l i g e n c i a , e affeição, m a s a ntes com m a i o r, se fo r passive i , d o q u e fize rão
os M estres passados, I nfa ntes, e Reys vossos p red ecesso res . . . "97• Ta l vez a pri­
m e i ra res posta d e fô l e g o d o m o n a rca a este p e d i d o se tra d uza n a vis itação o rde­
nada a Pa l m e i a a 4 d e Sete m b ro d e 1 57 1 ,98 a q u a l m a ntém as p reocu pações das
que se co n h ecem pa ra tem pos a nteri o res, mas que não fo i certa m e nte a ú n i ca .
Basta rá ter e m conta o teo r d e a l g u n s d i p l o m a s d a O rd e m d e S a n t i a g o q u e
a p o nta pa ra a i n si stê n c i a n a s d e m a rcações d e p ro p ri e d a d es d a M esa M estra l e m
.
93 Po d e m l e r-se a este p ropósito, os d i p l o m a s d e Ag osto d e 1 560 ( I AN/TT , Ordem de Avis,
n ° 1 034), de 1 0 de N ove m b ro de 1 562 ( IANm, Ordem de Avis, n° 1 037), a p a r co m b reves e b u l a s
d e P i o IV conced e n d o à Coroa a facu l d a d e d e visita r, corri g ir e cast i g a r os m e m b ros d a s Ordens
M i l ita res e a o s conservado res n o m eados o poder d e emitir sentenças n a s co m e n d a s ( IANm,
Bulas, M a ço 27, n ° 26 e m a ço 28, n o 37; IANJTT , Bulas, m a ço 28, n o 24), p o r exe m p l o .
94 IAN/TT , Ordem d e Santiago, Cód i ce n ° 3 5 1 . Este ca pít u l o está refe rido p o r MACHADO,
D i o g o B a rbosa, Memorias para a História de Portugal, to m o 11, p . 43 1 -437 e fo i co m e ntado por
CR UZ, M a ri a d o Rosá r i o Th e m u d o Ba rata Azevedo, As Regências na menoridade de D.
Sebastião, p. 28.
95 D i p l o m a d e 1 6 d e N ove m bro d e 1 562 ( I AN/TT. , Ordem de Santiago, Códice n o 1 34, fi .
1 0- 1 0v ) .
96 B reve d e P i o IV d e Sete m b ro d e 1 563 ( IANJTT , Bulas, m a ço 1 1 , n o 1 6) .
97 MACHADO, D i o g o B a rbosa, Memorias para a História de Portugal, to m o 1 1 , p . 436.
" IANJTT , Convento de Palmela, m a ço 9, n ° 7 1 1 e IAN/TT , Ordem de Santiago, Códice no
28 1 . Co m o e ra h á b ito e m tem pos a nteri o res, a rea l i zação d esta visitação d e u o r i g e m à o rga n i ­
zação d e to m bos d e propriedades o n d e consta a re l a çã o d e fo rei ros, os fo ros pagos, pa ra a l é m
d e o utras i nfo rm ações rel ativas a c a p e l a s e co nfra rias d a reg i ã o ( IAN/TT. , Ordem d e Santiago,
Cód i ce n° 9 1 , re lativo aos a n os de 1 57 1 e 1 57 3 ) .
282
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Pa l m e l a99, p a ra p e rce b e r o i m e d i ato refl exo do i nte resse d a coroa p e l a sede da
O rd e m , pa ra a l é m das i n ú m e ra s vis itações o rd e n a d a s p recisa m e nte e ntre 1 564 e
1 565 a u m a vasta á rea d e i m p l a ntação d o m estra d o '00.
É i nte ressa nte referi r q u e, c o m o aco ntec i a com os M estres e G ove r n a d o res
das O rd e n s q u a n d o i n i ci ava m a sua gestã o , ta m bé m D . Sebasti ã o rece be, n este
Ca p ítu l o G e ra l de 1 564, u m a p rocu ração q u e legitimava a s u a acção futu ra'01 • N ã o
a cred ita m o s q u e o futu ro Rei d e l a n ecessitasse, m a s a m a n ute nção d a s tra d i ções
a nterio res não d e ixa d e ser si nto m ática d a vo nta d e rég i a d e tenta r m a nter u m
satus quo co nco rd a nte c o m o s p receitos d a n o rm a , a i n d a em voga .
E ntre a ctos administrativos, n ovos escâ n d a l os n a co rte. E sq u ece n d o , p o r
i n sta ntes, riva l i d a d es a ntigas, q u e, cont u d o , p e rm a neci a m bem a cesas102, o s
B ra g a n ça e os Len castre, q u e m sabe d escre ntes n a s o l u çã o s u cess ó r i a q u e se
p e rfi l ava e m D . Sebasti ã o103 ou/e pa ra " . . . o bedecer m a i s a i n c l i n a ções pes­
s o a i s . . . " , co m o esc reve M a fa l d a Soa res d a C u n h a 104, advog a m , e m 1 559, a u n i ã o
m at ri m o n i a l d o 5° D u q u e d e B ra g a n ça com D . Beatriz, n eta d e D . J o rg e e fi l h a d o
Co m e n d a d o r M o r d e Avis, D . L u ís d e Lencastre. Pe ra nte a d úv i d a n a d i versi d a d e
d a s possíve i s m otivações s u bj a ce ntes a o e n l a ce, s u rg e c l a ra a conseq u ê n c i a ,
p l a s m a d a n o exíl i o fo rça d o a q u e a Ra i n h a D . Cata ri n a confi n o u os i nte rve n i e n ­
tes'05. M a n d o s perfe ita m e nte co m p re e n s íveis p o rq u e p ro p u g n a d o s p e l o p o d e r
9 9 IAN!TT. , Convento d e Palmeia, m a ço 8, does. 594,595, 596, 598, 6 1 6, 6 2 1 e 626, IANm,
Convento de Palmeia, m a ço 9, n ° 689, p o r exe m p l o .
100 E n u m e radas por FAR I N HA, M a ri a do Carmo Jasm i n s Dias; JARA, Anabela Azevedo, Mesa
da Consciência e Ordens, Lisboa, I n stituto dos Arq u ivos Nacionais!To rre do To m bo, 1 997, p. 333-335.
101 IANm, Convento de Palmeia, m a ço 8, doe. n° 645 .
102 Le m b re-se, u n i ca m e nte, a ca rta do D u q u e de Ave i ro à rege nte D. Cata r i n a s o l icita ndo,
co m o ta m bé m faz i a D . Teo d ó s i o d e B r a g a n ça , o tít u l o d e D u q u e pa ra o s e u fi l h o D . J o r g e
( S O U SA, Antó n i o Ca eta n o de, Provas . . . , to m o V I , p . 43-54 ) . Cfr. C U N HA, M a fa l d a Soa res d a ,
A Casa d e Bragança ( 1 560- 1 640), p . 3 1 e nota 34 o n d e se l ê co m p roveito u m a síntese d e ou t ros
m o m e ntos ch ave i l u stra d o res d esta riva l i d a d e e ntre a s duas m a i o res casas titu l a res.
103 C o mo s u g e re C R U Z, M a ri a Au g u sta Li m a, O . Sebastião, p . 7 2 . Pod e , a i n d a l e m b ra r-se,
e m favo r d esta i nterp retação, q u e razões não fa ltava m p a ra o d escréd ito n a s u cessão de
D . João, o ú lti m o dos 9 fi l h os d e D . João I I I , todos fa l ecidos e m vida dos p a i s .
1 04 C U N HA, Mafa l d a Soa res da, A Casa de Bragança ( 1 560- 1 640). Práticas senhoriais e
redes cliente/ares, p. 2 1 .
10 5 To do o p rocesso re l ativo a este e p i s ó d i o pode l e r-se e m MACHADO, D i o g o Ba rbosa,
Memorias para a História de Portugal que comprehendem o governo dei rey O. Sebastião, tomo
I , Lisboa: Lisboa Occi d e nta l , 1 737, p . 227-232. As reacções poste r i o res ao afasta m e nto d a co rte
de B ra g a nças e Len castres e o posici o n a m e nto do C a r d e a l D. H e n r i q u e no p rocesso fora m a lvo
de p a l avras c e rte i ra s p o r p a rte de POL Ó N IA, A m é l i a , O. Henrique, p. 1 44.
283
M a ri a Cristi n a P i m e nta
rea l h a bitu a d o a l i d a r com estas casas titu l a res n u m desejável esta d o d e h osti l i ­
d a d e p ro p íc i o a o s s e u s i nte resses.
A p roxi m i d a d e d e fa m í l i a d o Príncipe Perfeito j u nto a D . Sebasti ã o , j á Rei de
Po rt u g a l e m 20 d e J a n e i ro d e 1 568, fica m a rca d a , n ã o só p e l a p rese nça, espera d a ,
n o a cto d e entro n ização co mo , ta m bé m , n a v i a g e m d e D . Lu ís, co m e n d a d o r- m a r
d e Avis, envi a d o a Ca ste l a pa ra a p rese nta r co n d o l ê n c i a s a Fi l i pe 1 1 p e l a m o rte do
seu fi l h o, D . C a r l o s106•
Po u c o t e m p o d e po i s , e no â m b ito da s u a d e s l ocação a Coi m b ra em 1 570, o
rei d e c i d e pa ra r n a Bata l h a e p resta r h o m e n a g e m a D . J o ã o 1 1 . Aí, o rd e n o u a
D . J o rg e d e Le n ca stre, futu ro 2° D u q u e d e Ave i ro , q u e beijasse o re i , seu b i savô107 •
Pode p e rg u nta r-se se a assu m pçã o , n o pa nteão d a d i n a st i a d e Avi s , d a a d m i ra­
ç ã o que n ut r i a p o r D . João 11 te rá aj u d a d o o m o n a rca a a ca ri n h a r o i n íc i o d e u m
n ovo c i c l o q u e, p o r s u a decisão, o l eva ria a Áfri ca . S e assi m aco ntece u , q u a se
um sécu l o d e po i s , fo i d evi d a m e nte recu p e ra d a a m e m ó ri a d o l e g a d o q u at ro­
centista d o Príncipe Perfeito. I n d e p e n d e nt e m e nte d a s conseq u ê n ci a s, co m o é
ó bvi o .
Pa ra p a rt i r, o r e i n ecessitava d e va ri a d íssi m os a po i o s . Rece beu-os, através
das O rd e n s M i l ita res, d i recta m e nte d a Sa nta Sé. Basta p e n s a r n a b u l a q u e o rde­
n ava aos cava l e i ros d a s Ordens servi r e m África se m p re que pa ra ta l fossem con­
voca dos pelo m o n a rca, o u n u m a o utra d e Ag osto d e 1 570 p e l a q u a l se exi g i a o
serviço e m África p a ra se p o d e r to m a r o h á bito e rece b e r co m e n d a n a s t rês
O r d e n s M i l ita res108•
E n este senti d o é especi a l m e nte reve l a d o r o n ovo s u po rte i n stitu c i o n a l des­
tas i n stitu i ções q u e passa rá a s e r a p reci a d o e m fu nção d o Regimento e Estatutos
106 S O U SA, Antó n i o Caeta no d e , História Genealógica . . , t om o XI, p. 1 1 7- 1 1 8. Fez-se acom­
.
p a n h a r d e s e u fi l h o, ta m bé m D . L u ís que s u ce d e ao p a i e m 1 574, O LIVAL, Fe r n a n d a , D. Filipe 11,
L i s b o a : Círc u l o d e Leitores, 2005, p . 43.
1 07 C R U Z, M a ri a Au g u sta L i m a , O. Sebastião, p. 1 85 - 1 86. Deve l e m b ra r-se q u e, já p o r oca­
sião d a tras l a d a ção do corpo d e D . João li d e S i lves p a ra a Bata l h a , e m 1 499, fo i nota d o q u e " . . . o
corpo está ínteg ro . . . ", s e n d o i sto m e s m o co m e ntado q u ase u m sécu l o d e p o i s . Vej a-se F O N ­
S E CA, L u ís Ad ão d a , O . João 1/, p . 242.
108 IAN/TT. , Bulas, m a ço 28, doe. 42, d e J u l h o d e 1 570 e IANm, Bulas, m a ço 1 0, n ° 1 7, p u b l i ­
c a d a s n o Corpo Oiplomatico Portuguez con tendo o s actos e relações politicas e diplomaticas de
Portugal com as diversas potencias do mundo desde o século XVI até aos nossos dias, e d . J osé
d a S i lva M e n des Lea l , tomo X, L i s b o a : Aca d e m i a Real d a s Sci e n c i as, 1 884, p . 381 -383 e tomo XI,
p . 630-640, respectiva m e nte. O L I VAL, Fe r n a n d a , As Ordens Militares e o Estado Moderno, p . 53,
exp l i ca d eta l h a d a m e nte o conte ú d o e a l ca n ce das d ete r m i n a ções do d i p l o m a po ntifício de
Agosto d e 1 570.
284
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
e l a borado sob o o l h a r d e D. Sebasti ão em seis de Feve rei ro de 1 572, e m A l m e i ri m 109•
Esta n ova geração d e Lencastres q u e com eça j á a ocu par o seu l u g a r j u nto do re i,
co m o vi m os, va i m ovi menta r-se no q u a d ro das m a i s i m p,o rta ntes d i rectrizes q u e,
a pós a i n corporação dos mestrados na Co roa de 1 55 1 , fora m efectiva m e nte l a nça­
das. Po r este d i p l o m a , e na seq u ê n cia das b u l a s cita das a nte riormente, são esta be­
l ecidas co n d i ções para a concessão de novos h á b itos, nomeadamente a já co n h e­
cida exigência de três a nos de serviço em África, agora extensíve l , ta m bé m , à Índia,
esboça ndo-se u m texto tota l m e nte co ndicionado pela vocação com bativa d e D.
Sebasti ão, vocação essa q u e , a l iás, se m a nti n h a fie l a o o bjectivo d a Sa nta Sé
exp resso por ocasião da co ncessão da b u l a de a n exação dos M estra dos à Coroa.
Po r i sso, a pa r com a s exi g ê n ci a s d a idade p a ra o rece b i m e nto n a s Ordens
( a g o ra os 18 a n os ) e a p ro i bição d e e nt ra d a aos d e « raça d e m o u ro [ . . ] j u d e u ,
n e m fi l h os n e m n etos d e offi c i a l m a ca n i co . . . » 110, o docu m e nto refe re ta m bé m , as
co n d i ções e m q u e p oderi a m ser atri b u íd a s a s co m e n d a s cujas re n d a s seri a m a p l i ­
cadas n o b o m dese m pe n h o m i l ita r. Chega m e s m o a escreve r-se s o b re a n ecess i ­
d a d e d e " d efe n sa m destes Reynos d e Po rtu g a l & dos A l g a rves, & seg u ra n çà 'dos
l u g a res que os Reys meus a ntepassa dos g a n h a ra m e m Afri ca, & e po l i a co nfede­
raça m dos h e reg es, & po l l o poder d o Xa rife i n i m i g o vez i n h o e fro nteyro d o s d itos
l u g a res d e Africa ser j á tão g ra n d e por m a r & por te rra . . . " 111 • E stas pa l avras são
si ntom ática m e nte co m p l eta d a s p o r esta n otável afi rmação que n ã o res i st i m o s
e m tra nscreve r: « Pe ra q u e a d iffe rença n o a b ito a ce n d a m a i s os a n i m o s dos cava­
l eyros [ . ] m e co n cedeo sua Sa n cti d a d e q u e [ . ] possa m a n d a r a c resce nta r ha
seta a o a b ito d e a l g u n s cava l eyros das d itas o rd e e n s q u e n o serviço d e g u e rra se
assi n a l a rã o & fize rão feytos n otaveys » 112•
.
.
10 9
.
.
.
B . N . L. , Reservado n ° 4294P, [s./1 . por J o ã o d e B a rreyra, 1 57 2 ] . p u b l icado p o r F E R R E I RA,
M a ri a I s a b e l Rodri g u es, A Normativa das Ordens Militares Portuguesas (séculos XII-XVI).
Poderes, Sociedade, Espiritualidade, vo l . 1 1 - A p ê n d i ce D o c u m e nta l - D i s s e rt a ç ã o d e
Douto ra m e nto, Porto: F L U P, 2 0 04, p o l i c o p i a d a , p . 2 7 1 -28 1 . Sem p re q u e cita rmos excertos d este
d i p l o m a , a versão uti l i z a d a é a q u e esta a utora p u b l ica, i n d i ca n d o-se, assi m e s o m e nte, a pág i n a
o n d e o texto se enco ntra n a refe rida d i ssertaçã o . Cfr. a relação e ntre este d i p l o m a e o
Regimento dos capitães mores . . . , p u b l i ca d o em 1 570 p a ra a q u a l ch a m a a atenção C U RTO,
D i o g o , R a m a d a , "A cu ltu ra po l ít i c a " , p. 1 22 .
1 1 ° F E R R E I RA, M a ri a I s a b e l R o d ri g u es, A Normativa das Ordens Militares Portuguesas
(séculos XII-XVI) . . . , p. 273. S o b re este d i p l o m a vej a-se, p o r todos, O LIVAL, Fern a n d a , As Ordens
Militares e o Estado Moderno, p. 54 e i d e m , Structural changes . . . , p. 1 1 .
111 F E R R E I RA, M a ri a I s a b e l Rodri g u es, A Normativa das Ordens Militares Portuguesas
(séculos XII-XVI) . . . , p . 272.
112 F E R R E I RA, M a ri a I s a b e l Rod r i g u es, A Normativa das Ordens Militares Portuguesas
(séculos XII-XVI) . . . , p . 280.
285
M a ri a Cristi n a P i m e nta
Pro m ovida a refo rma d a s o rd e n s d e Sa nti a g o , Avis e Cristo, e i n d e p e n d e n ­
te m e nte d o seu rea l a l ca n ce113, i m po rt a aos n ossos o bjectivos assi n a l a r os p l a nos
que D . Sebast i ã o ti n h a pa ra a s O rd e n s e p a ra os s e u s . m e m b ros. S u rg e m , ass i m
com u m va l o r acresci d o os docu m e ntos q u e, n o â m b ito de Avi s e d e Santiago,
fo ra m l avra dos n esta época'14•
Ai n d a a ntes d e i n i c i a r os prepa rativos m a i s i m e d i atos q u e a nteced e ra m a
j o r n a d a d e Alcácer Qu i b i r, o rei m a rcou p resença, j u nto d a avó, e m B e l é m , p a ra
assisti r à tras l a dação dos restos m o rta i s d e D . M a n u e l , de s u a m u l h e r a ra i n h a
D . M a ri a e d e D. J o ã o I I I . Os caixões fo ra m traspo rtados p e l o re i , p e l o s e u p r i m o
D . D u a rte e p e l o 2° D u q u e d e Ave i ro, D . J o rg e e p e l o seu tio, D . Afo nso, o ve l h o
co m e n d a d o r- m a r d e Sa nti a g o . J á fo i s u g e ri d a 11 5 a l g u m a i ntenci o n a l i d a d e n a esco­
l h a d estes d o i s Lencastre p a ra u m a ce ri m ó n i a tão si m bo l i ca m e nte i m po rta nte e a
s u g estão fo i n o senti d o ce rte i ro d e fazer co rres p o n d e r ta l esco l h a à vonta d e do
Rei D . Sebastião, fruto d a a d m i ração n ut ri d a p o r D . J o ã o 1 1 . Se, p o rve ntura, a
esco l h a pa rti u d a Ra i n h a D. Cata ri n a , co m o ta m bé m se a d m ite ter aco nteci do, o
s i g n ifica do, sa lvo m e l h o r o p i n i ã o , va i e m senti d o i d ê ntico, ta lvez matizad�o p e l o
e n cerra m e nto d e riva l i d a d es e p e l o afa sta m e nto d e fa nta s m a s d o passa d o , atra­
vés d e D. Afo nso d e Lencast re e d e D. J o rg e d e Le ncastre, res pecti va m e nte, fi l h o
e n eto d e D . J o rg e , re p rese nta ntes da ve l h a e d a n ova g e ração fa m i l i a r116•
Pa ra o Rei d e Po rtu g a l , esta déca d a d e 70 d o sécu l o XVI fo i d eterm i n a nte
p a ra a p rossecução dos seus o bj e ctivos m a i s ca ros. C h e g ava a h o ra e o te m po de
a g i r. M a l ou b e m , D . Sebasti ã o , te ntava seg u i r a s s u a s esco l h a s q u e a po ntava m ,
11 3
J á devi d a m e nte d i scutido p o r O L I VAL, Fe r n a n d a , A s Ordens Militares e o Estado
Moderno, p. 54-55.
114
Pa ra a Ordem de Avis e sob a desig nação genérica de " registos gerais", s u rgem três i m por­
tantes códi ces q u e espe l h a m o i nteresse do "novo a d m i n istrador" pelas Ordens, os q u a i s co ntém,
entre outros, uma cópia do reg i m e nto dado por D. Jorge ao co nvento de Avis em 1 9 d e Agosto de
1 546 (IANm, Livros do Convento de Avis, no 9, fi . 4-32; Ordem de Avis, n° 1 087 e Livros do Convento
de Avis, n° 24 [cópias do séc. XVI I ] , p ub l icada a pri m e i ra versão mencionada por PI M E NTA, M a ria
Cristi na, As Ordens de Avis e de Santiago na Ba ixa Idade Média: O Governo de D. J o rge, p. 269-289).
11 5 B U E S C U , Ana I s a b e l , Catarina d e Austria. Infanta d e Tordesilhas, p . 40 0 .
1 1 6 Acrescenta ri a m os, a i n d a , n esta i nt.e r p reta ção, u m a ch a m a d a d e atenção p a ra a co i n ci- '
d ê n c i a da cro n o l o g i a q u e faz p rece d e r esta ceri m ó n i a fú n e b re da dotação do Regimento e
Estatutos para as Ordens Militares, d e cujos m e m b ros se esperava co l a bo ração. Ve m à m e m ó­
r i a , e m data a nterior ( O utu b ro d e 1 55 1 ), a p resença dos Lencastre na tras l a d ação pa ra os
J e ró n i m os dos m o n a rcas, pais d e D . João I I I . ( Cfr. B U E S C U , Ana I s a b e l , Memória e Poder ­
Ensaios de História Cultural (sécu l o s xv-xv11 1 ) , Lisboa : Cosmos, 2000, p . 84-96 e P I N H E I RO, D.
Antó n i o, Summario da Pregaçam Funebre e Trasladaçam dos Ossos d'el Rey Dom Manuel, e d .
Fac-s i m i l a d a , Lisboa : B i b l i oteca N a c i o n a l , 1 98 5 ) .
286
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
i nvariave l m e nte, p a ra o com bate a o Mouro117• Em termos g e n é ri cos, a a p reciação
d este tema n ã o cabe nos pro pós itos d estas refl exões. I m po rta-nos, contudo,
o l h a r d e perto os m ovi m e ntos d o Re i .
Ass i m , n o s prepa rativos q u e a ntece d e ra m A l cácer Qu i b i r, desde a l o n g a j o r­
n a d a até G u a d a l u pe o n d e D. Sebast i ã o e n co ntra Fi l i pe 1 1 de Espa n h a até à ú lt i m a
j o r n a d a d e África, o r e i t e m a s e u l a d o D . J o rg e d e Len castre118, 2° D u q u e d e Ave i ro
e 2° M a rq u ês d e To rres N ovas q u e, n a bata l h a , co m a n d ava u m corpo d e cava l e i ­
ros . E m África j u nta-se- l h es o utro D . J o rge119, co m e n d a d o r- m a r d e Sa nti a g o ,
co m o o fô ra D . Afo nso, seu pa i e D . L u i s 1 20, co m e n d a d o r m o r d e Avis, ta m bé m h e r­
d e i ro d a d i g n i d a d e d o p a i , d o m e s m o n o m e .
D . Lu ís é o ú n i co q u e sob revive s e n d o resgata d o . Tod o s os o utros m o rre ra m
n o ca m po d e bata l h a , com o Rei .
3 . Depois do Tema
Q u a n d o o Ca rdea l D . H e n ri q u e sobe ao tro n o e m 28 de Ag osto d e 1 578, o
co rtej o q u e p resti g i a a ceri m ó n i a n ã o i nteg ra u m ú n ico m e m b ro d a fa m í l i a
Le n castre. Os fi l h os d e D . J o rg e , J o ã o , Afo nso e Lu ís j á ti n h a m fa l ec i d o . D o i s dos
s e u s n etos, J o rge, 2° d u q u e d e Ave i ro e J o rge, fi l h o d o Co m e n d a d o r- m a r d e
11 7 Acred ita-se q u e, a par co m os co n h ecidos co n s e l h os d e s e u t i o Fi l i pe I d e Espa n h a pa ra
q u e se d e s m otivasse da e m p resa, ta m bé m o D u q u e de Ave i ro, D . J o rge, terá a g i d o na m e s m a
m e s m a d i recção, a i n d a q u e s e m s u cesso. Cfr. A N DRADA, M i g u e l Leitão d e , Miscellanea, i ntro­
d u çã o d e M a n u e l M a rq u es D u a rte, Li s b o a: I . N ./C. M . , 1 993, p . 1 36 : " Po r o n d e a i n d a q u e m u itas
pessoas d e conta vião nossa tota l perdição, nos p roced i m e ntos d esta g u e rra, e j o r n a d a , n i n ­
g u e m contu d o o u sava d izer- l h e o q u e todos sentião, p o r l h e n ã o aco ntecer co m o o D u q u e d e
Ave i ro Dom J o r g e d e Len castre . A q u e m n ã o l h e soffre n d o o s a n g u e , e o coração, v e n d o t u d o
i r ca beça a ba ixo e m p e r d i ç ã o , d e ixa r de advert i r a e i - R e i d e a l g u m a s co u sa s u m d i a . O u d o u s
.
a ntes d a bata l h a [ . . ] D u q u e , se n ã o q u ereis p e l ej a r p o d e i -vos i r e m b a rca r. A o q u e o D u q u e :
Se n h o r, n e m e u n e m a q u e l l e s d o n d e eu ve n h o se e m ba rcarão, s e n ã o e m s e rviço d e vossa
Alteza . . . " .
118 J o r g e d e Le ncastre, fi l h o d e D . João d e Lencastre, e ra casado co m D . M a d e l e n a d e
G i ro n , fi l h a d o 4 ° C o n d e d e U re n h a , s e n h o r d e_ Oss u n a . S ã o p a i s d e D . J u l i a n a q u e h e rd a o tít u l o
e c a s a e m 1 588 co m Á lvaro d e Len castre, seu t i o , fi l h o d e Afo nso d e Lencastre, co m e n d o r- m o r
d e Sa nti a g o .
11 9 S O U SA, Antó n i o Ca eta n o d e , História Genealógica . . . , to m o X I , p. 48.
1 20 É
resgata do p o r 1 2 m i l cruzados, de acordo com S O U SA, Antó n i o Ca eta n o de, História
Genealógica . . , tomo X I , p. 1 57. S o b reviv e u, efectiva m e nte, esta n d o m e n c i o n a d o n u m d i p l o m a
.
d a O r d e m d e Avi s d e 26 d e M a i o d e 1 594 ( IANm, Ordem d e Avis, n ° 1 03 2 ) . Cfr. a l g u m a s das
s u a s acções e m O LIVAL, Fe r n a n d a , O. Filipe 1/, p . 43.
287
M a ri a Cristi n a P i m e nta
S a n t i a g o , ti n h a m m o rrido e m Áfri ca . U m o utro n eto, Lu ís,
m o r d e Avis, haveria d e ser resg ata d o a o Mouro.
I n d e p e n d e nte m e nte d a ce rteza n a conti n u i d a d e da
Ave i ro sofri a u m a g rave perda n a j o r n a d a d e Áfri ca . É por
Le ncast re, fi l h o d o ve l h o co m e n d a d o r m o r d e S a n t i a g o
h e rd e i ro d a co m e n d a
l i n h a g e m , a Casa de
i sso q u e D . Alva ro de
casa, em 1 588, co m
D. J u l i a n a fi l h a ú n ica dos D u q u es d e Ave i ro, d a n d o seq u ê ncia a o t ítu l o . As nego­
c i a ções d este casa m e nto fo ra m d e m o ra d a s121 até p o rq u e D. J u l i a n a n ã o a ce itava
casa r. Dos a rg u m e ntos p e rce be-se q u e o p ro b l e m a ra d i ca n o d i reito ao t ítu l o
d u ca l e p o r esse m otivo é i m po rta nte a i nterfe rê n c i a d a corte n este p rocesso.
Ass i m , e m 1 583, p repa ra n d o o reg resso a Ca ste l a , Fi l i pe I d e Po rt u g a l escrevia à s
l nfa ntas, s u a s fi l h a s desde A l d e i a G a l e g a . D i z i a a c e rt o p a s s o d a ca rta " . . . d e
D . J u l i a n a , d izem q u e é u m a j ó i a , co m o a í vere i s . 1 22" Viajava, p o rventu ra contra­
fe ita, a h e rd e i ra d a casa d e Ave i ro pa ra a co rte caste l h a n a o n d e , ci n co a n o s
d e p o is, a ce itava a proposta d e casa m e nto.
Os te rce i ros D u q u es d e Ave i ro s i ntetizava m , a ss i m , uma h e ra n ça d a fa m íl i a
d e D . J o rg e recu perada p e l a m ã o d a m o n a rq u i a d u a l q u e, e m 1 606, l h es éo nfere
o tão cobiçado trata m e nto d e Exce l ê n c i a 123• É, a este res pe ito, e l u c i d ativa esta
passa g e m :
" Q u a n d o E I Rey D. F i l i p pe I I I passou a Po rtu g a l [ . ] , foy h u m d i a vis ita r a
D u q u eza J u l i a n a ( . . . ) . E sta tão g ra m d e vis ita s a h i o a rece ber o D u q u e de Ave i ro
a co m pa n h a d o d e ci n co fi l h os [ . . . ] . A D u q u eza d esceo até o p ri m e i ro ta bo l e i ro da
esca d a onde beij o u a m ã o a S u a M a g esta de, e Alteza; e s e n d o rece b i d a com
b e n evo l e n c i a , e affa b i l i d ade, s o b i rã o aci m a , e sentados E I Rey, e o Prí n c i pe e m
ca d e i ra s postas s o b re h u m a este i ra , a rri m a d a s a o d o ce l , m a n d o u E I Rey traze r
a l m ofa d a p a ra a D u q u eza, q u e se poz s o b re a m e s m a este i ra a o l a d o d e S u a
M aj esta de, e m q u e se assentou [ . . . ] e d u ro u a vis ita te m po, em a l e g re co nve rsa­
ção, e ba sta nte fa m i l i a ri d a d e . 124" .
.
.
1 2 1 Deta l h a d a m e nte d escritas po r S O U SA, Antó n i o Ca eta n o d e , História Genealógica . . . ,
to m o X I , p. 54-62.
1 22 Cartas para Duas ln fantas Menina!'. Portugal na correspondência de O. Filipe I para as '
suas filhas ( 1 58 1 - 1 583). O rg a n i za ç ã o , i ntrod u ç ã o e notas d e Fern a n d o S o u z a Á lva rez, a p re­
sentação d e Antó n i o H e s pa n h a , L i s b o a : Pu b l icações D o m Q u ixote/C . N . C . D . P. , 1 999, p . 1 87 e
n ota 2 3 1 .
123 S O U SA, Antó n i o Caeta n o d e , História Genealógica . . . , t om o X I , p. 59 e Provas . , to m o
. .
IV, p a rte I , p . 3 8 0 . O assu nto é a bo rdado com po r m e n o r p o r C U N HA, M a fa l d a Soa res d a , A Casa
de Bragança ( 1 560- 1 649), p. 32.
1 24 S O U SA, Antó n i o Ca eta n o d e , História Genealógica . . , to m o XI, p. 62.
.
288
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
Ta m bé m D . Lu ís de Len castre, o co m e n d a d o r d e Avis, d e p o i s d e reg ressa d o
a o re i n o no numero dos oitenta Fidalgos, to m a a cargo a c a s a d o D u q u e d e Avei ro
até D. J u l i a n a a ce ita r casa r125, e serve os Áustri a s . S u a i rm. ã , Beatriz de Le n ca st re,
e ra D u q uesa d e B ra g a n ça p o r casa m e nto com o D u q u e D . Teo d ó s i o .
Ao v i ra r d e Qu i n h e ntos, o s L e n c a stre, a i n d a l i g a d o s à s o rd e n s d e
S a nti a g o e d e Avi s c u m p ri a m a s n ov a s fó r m u l a s q u e a i n co r p o r a ç ã o h a v i a
d it a d o e o c u pava m o s e u l u g a r n a c o rte o n d e, n a é p o c a , g ove r n ava m o u t ro s
s e u s fa m i l i a re s . E t e r i a m i g u a l m e n te l a ço s d e p a re ntesco p a ra c o m o n ovo
R e i , q u a n d o , a 1 de Deze m b ro de 1 640, o D u q u e de B ra g a n ça a s s u m i sse o
t ro n o d e Po rt u g a l .
E m fa ce d o exposto, esta i m a g e m d e co l a boração q u e, d e fo rma m a i s acen­
tuada, se faz senti r e ntre os Lencast re e a casa rea l p o rtu g u esa a pós a m o rte d e
D . J o rg e pa rece res u lta r d a co nj u g ação d e vá rios fa cto res com q u e i m po rta con­
c l u i r estas refl exões.
Em p ri m e i ro l u g a r e d e ixa n d o d e lado o fa nta s m a d a q u estão s u cessó ria, até
1 550, a s Ordens d e Avi s e d e Santiago e ra m a d m i n i stra d a s p o r um m e m b ró da
fa m íl i a rea l , m a s não pela fa m í l i a rea l . E sta d eti n h a a a d m i n i stração d a O rd e m de
Cristo, facto m a i s d o que sufi c i e nte pa ra va l o riza r s u m a m e nte a n ecess i d a d e d e
contro l o d a s o utras d u a s i n stitu i ções.
Po r isso, e e m seg u n d o l u g a r, a pós a i n corporação dos m estra d o s n a coroa,
a re l a çã o e ntre a fa m íl i a e os reis d e Po rt u g a l é menos co nfl ituosa ( ú n i co caso de
d esente n d i m e nto p re n d e-se com o casa m e nto d o 5° d u q u e B ra g a nça com Beatriz
d e Len castre ) e o ce ri m o n i a l d a co rte ofe rece i n ú m e ro s exe m p l os das d i sti nções
confe r i d a s aos Le n castre .
E m t e rce i ro l u g a r, esta a p roxi m a ç ã o d a fa m í l i a , m a i s evi d e nte d e s d e
m e a d o s d o s é c u l o , favo receu a s u a s o b revivê n c i a e n t re a s reg ê n c i a s d e D .
Cata ri n a e d o Ca r d e a l D . H e n ri q u e . A í , t e n d o e m v i sta a co l a b o ra ç ã o futu ra
d o s Le n ca st re na e m p resa m a rroq u i n a de D . S e b a st i ã o , e co n h eci d a q u e é a
d i fe re n ça d e postu ras e n tre a Ra i n h a D . Cata r i n a e o s e u cu n h a d o s o b re a p re­
s e n ça e m Áfr i c a ( v. g. M a z a g ã o ) , p a rece, p o i s evi d e nte q u e esta fa m í l i a s eg u i u
a fa m í l i a rea l i n d e p e n d e nt e m e nte d a o ri e n t a ç ã o q u e c a d a m o n a rca d e u à
g ove r n a ç ã o .
Fi n a l m e nte, e e m q u a rto l u g a r, q u a n d o D . Sebast i ã o ati n g e os 1 4 a n os e m
1 568 e n co ntra " u m a po l ítica exte rna e m p rocesso d e revi s ã o " , n o â m bito d a q u a l ,
n ã o seria m u ito fá ci l s o b reviver s e m a po i os e l e a l d a d e s i nternas. E pa ra seg u i r n o
"' Ped e a Fi l i pe 1 1 o p a g a m e nto p e l o e n c a rg o , c o m o co nsta d e u m a ca rta d e 1 3 d e Ag osto
de 1 590 ( IAN/TT. , Corpo Cronológico, Pa rte I, mç. 89, n . 0 2 2 } .
289
M a ri a Cristi n a P i m e nta
e n ca l ço do Príncipe Perfeito n ã o d escu ra n d o o refo rço no At l a ntico S u l como con­
trafo rte d a d efesa d o N o rte d e África, D . Sebasti ã o tento u , ta m bé m , p reserva r
pa ra o re i n o as ú n icas p raças m a rroq u i n as'26• Fê- l o e m � l cácer Qu i b i r e m 1 578. Ao
q u e pa rece, n ã o pa rt i u sozi n h o, Po rtu g a l a co m p a n h o u-o.
N a a u sê n c i a d e uma vitó ria m i l ita r que ce l e b rizasse o Rei e as g e rações q u e
o a co m pa n h a ra m , o l eg a d o q u e h e r d a m o s é, a pesa r d e t u d o , i m e n s o . C o m o pas­
sa r d o te m po fo m o s a p re n d e n d o a ch a m a r- l h e s a u d a d e .
« Po r i s s o vós, ó Rei, q u e p o r d i v i n o
Co n se l h o esta i s n o rég i o só l i o posto,
O l h a i q u e sois (e vede as o utras g e ntes )
Se n h o r só d e vassa l o s exce l e ntes. »
C a m ões, Os L u s ía d a s , Ca nto X
1 26 MACEDO, J o r g e B o rg es d e , História Diplomática Portuguesa. Constantes Linhas de
Força, Estudo de Geopolítica, p. 1 06 a 1 1 7.
290
mar da
O. Santiago
Torres N ovas
Duque Avei ro
D. Luís
O. Avis
mar da
Comendador
de Ceuta
Bispo
D. J a i m e
D . A n a de Mendonça
D. Helena
de Sa ntos
Comendadeira
Setú bal
Setúbal
S. João de
S. João de
D. Fi l i pa
Convento
Convento
D. M a ria
Bragança)
Setúbal
S . João de
Convento
D. lsabela
( F i l h a de D. Álva ro, sobri n h a do 3.' duque de
D. Beatriz de Vi l h e n a
=
??
Mestre das Ordens de Santiago e de Avis
D. Jorge
(fi l h a de N u n o Furtado de Mendonça)
Fonte: SOUSA, Antó n i o Caeta n o de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo XI, Coim bra: Atlâ ntida, 1 953.
D. Afonso
Comendador
D. João
M a rq u ês
(XV-XVI)
D. João 1 1
Lencastre
Ordem de
Sa nto
S. Jeró n i m o
d a O. Avis
Agosti n h o
. D. Jorge
D. Jorge
Ordem de
D. Jorge
Prior-mar
:
:
:
:
: · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · -: · · · · · · · · · · · - · · · · · · · · · · · :· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · :
=
Duque de Aveiro
( 1 501 ?-1 571 )
Ped ro D i n i s
Jorge de Lencastre
=
3.' Duque de Aveiro
Álvaro de Lencastre
I
I
I
(+ 1 578)
Jorge de Lencastre
Comendador mor de
Santiago
Viola nte Henriques
=
D. Afonso
Comendador mo r da O. Santiago
I
D. Beatriz de Vi l h e n a
( F i l h a de D. Álvaro, sobri n h a do 3.' duque de
Bragança)
=
D. Jorge
Mestre das Ordens de Santiago e de Avis
D. A n a de Mendonça
Fonte: SOUSA, António Caeta no de, História Genealógica da Casa Real Portuguesa, tomo XI, Coim bra: Atl â ntida, 1953.
J u l i a n a de Lencastre
I
Madalena de G i ro n
=
2.' Duque de Aveiro
I
I
D. J u l i a n a de Lara
1.'
D. João
M a rquês de To rres Novas
lXV-XVI)
D. João 1 1
Lencastre
F i l i pa de Meneses
=
L u ís de Lencastre
Comendador mor
de Avis
Resgatado
A. Qu i b i r
�
I
I
D. Teodosio Duque de
Braga nça
Duquesa de Bragança
Beatriz de Lencastre
Madalena de G ranada
D. Luís
Comendador mo r de Avis
Secção 6
H i stó ri a , N a rra çã o , M e m ó ri a ,
Co m e m o ra ções, Re p rese ntações
D. João I, o fu ndador da l i n h agem d e Avis.
Da biografia à m icro b i o g rafia
M a ria H e l e n a da Cruz Coel h o
U n i v ers i d a d e d e Co i m b r a
H i stória com rosto . H i stó ria com n o m es .
Rostos e n o m es d e h o m e n s com i m po rtâ n c i a , sej a e l a po l ítica, re l i g iosa,
soci a l , eco n ó m i ca o u cu ltu ra l ; rostos e n o m es que nos d e ixa ra m m e m ó ri a d a s
s u a s l i n h a g e ns, d o s seus a ctos, dos s e u s escritos, a i n d a q u e m u ito p o u co, s o b re­
tudo e m tem pos m e d i eva is, dos seus se nti m e ntos e g ostos . São e l es os d i ri g e n ­
t e s e o s i nfl u e ntes d o s ru m os p o l íticos d o E sta do, são e l es os h o m e n s l et rados e
cu ltos d e u m a soci e d a d e .
Tê m n o m es q u e ressoa m d o fu n d o d a poei ra dos a rq u i vos, rostos q u e nos
fita m n a s g a l e r i a s dos m u seus, d esej osos d e nos co nta r expe ri ê n c i a s d e v i d a .
I nte nta mos o uvi-l os, m a s j á n ã o poss u e m voz, e n a d a nos a utoriza a fa l a r p o r e l es
e m u ito m e n o s e m n o m e d e l es. N e m seq u e r, s i m p l es m e nte, d a r- l h es voz. Tã o só
nos cabe, co m o h i sto ri a d o res, fa l a r d e l es, das m e m ó ri a s q u e nos l e g a ra m .
U m a b i o g rafia n u n ca é u m a v i d a q u e fo i . Apenas u m a versão d essa v i d a ,
e ntre m u itas possíve i s . O d i scu rso b i o g ráfi co é assi m , e m boa p a rte, u m a ficçã o,
a i n d a que conti d a entre refe rentes d a m e m ó ri a h i storiáve l , o u sej a , d o que acerca
d a p e rso n a g e m se sabe, ou se j u l g a s a b e r das s u a s vivê n c i a s . Acresci d a d a h e r­
m e n ê utica d a s rea l i d a d es e m q u e viveu e d e ntro d a s q u a i s se fo r m o u a s u a " c i r­
cu nstâ n ci a ':
N a verd a d e cada u m d estes h o m e n s n ã o estava só n e m a ctuava sozi n h o . E
m u itas vezes as m a ssas a n ó n i m as, a m u lti d ã o sem rosto, d e u m p rota g o n i s m o
d e d o m i n a d a e d i ri g i d a , g u i n d a-se exce pci o n a l m e nte a o p l a n o decisivo d a re i ­
v i n d i cação e d a tra n sfo r m a ç ã o . Pa ra a l é m d e q u e todos a q u e l es q u e d i ri g e m têm
se m p re d e co nta r com os p rést i m os dos que os s e rvem e a cata m , mais o u m e n o s
co rdata m e nte. O i n d i vi d u a l d i a l o g a , pois, com o c o l ectivo .
Po r isso, escrever a b i o g rafi a d e u m q u a l q u e r h o m e m c o m rosto, concreta ­
m e nte a d e u m rei, co m o m a i s nos i nteressa d e m o m e nto, d everá se m p re l eva r
295
M a ri a H e l e n a d a Cruz Coe l h o
e m l i n h a d e co nta a l g o ci rcu nsta n ci a l à atm osfe ra d o te m po soci a l e m e nta l q u e
fo i o s e u , pois, co m o afi rma L u c i e n Febvre, n ã o h á h o m e m a l g u m " q u e n ã o te n h a
n a s u a própria s u bstâ n c i a a atmosfe ra d e u m a é poca :' 1 • Reitera n d o - n o s a sa be­
d o ri a d o p rové rbio á ra be q u e os h o m e n s são m a i s fi l h os d o seu te m po do q u e de
s e u s pais. E n esse te m po h á que co n s i d e r a r a s estrutu ras m e nta i s d a l o n g a d u ra­
ção, mas não m e n o s co nta r com o peso d o te m p o cu rto, o d o aco nteci m e nto, e
m e s m o com a fo rça d o acaso. H á p o i s q u e eq u i l i b ra r n a s a n á l ises as conj u ntu ras
e a s estrutu ras, a m a c ro h i stó ria e a m i c ro h i stó ria . O que nos re m ete ta m bém
pa ra o co m p l exo l a ço e ntre a vida e a o b ra d e um h o m e m , s e n d o que esta é bem
mais co m p l eta e tota l , n ã o se esg ota n d o n a s q u estõ es d a v i d a .
A b i o g rafi a é u m a cto construtivo e m q u e se to r n a m p rese ntes vivê ncias,
a ctos d e um h o m e m e d o te m p o e m que vive u . Trata-se d e uma co n strução fe ita
a p a rti r da i nfo rmação h i stórica d i s po n íve l , q u e dá e n sej o a u m a n ova síntese,
se m p re suje ita a u m a exeg ese crítica, em q u e os l i m ites d a fi cção e os d ita mes
d o h i stori a d o r se a b rem à sensi b i l i d a d e d o b i ó g rafo .
Co m o é s a b i d o , a b i o g rafia d e a l g u é m , co m o q u a l q u e r escrito d e h istó ria,
a i n d a que n este caso mais v i n ca d a m e nte, a p rese nta-se co m o uma l e itu ra d o seu
b i ó g rafo, que ca rrega, ta m bé m e l e, a s m a rcas d a é poca e m que vive e pensa, e
q u e co n st ró i a s u a própria re p resentação m e nta l d o passado dos h o m e n s de q u e
se ocu p a . É p o r i sso q u e a h i storiog rafi a é s e m p re a l e itu ra d e u m te m p o fe ita
n u m outro, s e n d o , co m o d iz M a rc B l och , um contacto de m e nta l i d a d es . M a i s
a i n d a . S e n d o a h i sto riog rafi a u m a l e itu ra d i a c ró n i ca d e u m tempo, é ta m bé m a
exp e r i ê n c i a h u m a n a d e d o i s tem pos, d o te m po aco ntecido e d o te m po d a na rra­
tiva b i o g ráfi ca .
N a a be rtu ra d a o b ra s o b re D . J o ã o I q u e red i g i m os, e q u e d e d i c á m os aos
seus l eito res, deixá m os, p o i s, i nscrito este pensa m e nto " n este l i v ro u m a vida
e n reda-se e m m u itas o utras ( pensa n d o n o b i o g rafa d o ) , teci d a p o r u m a o utra,
a co m p a n h a d a d e ta ntas m a i s ( repo rta n d o - n o s a nós p ró p ri a , sua b i ó g rafa ) "2 •
N u m texto b i o g ráfico será se m p re o i n d i v íd u o e m a n á l ise o s u j e ito d e t o d o
o d i scu rso, m a s o seu a uto r n ã o fi ca ta m bé m o m isso. N a p o l isse m i a q u e u m a
' L u c i e n Febvre, O problema da descrença n o século XVI. A religião de Rabeia is, tra d . p o rt.,
Lisboa, E d itori a l I n ício, s . d., p p . 1 5- 1 6. E p a ra as co n s i d e rações gerais que a q u i expe n d e m o s
s o b re o g é n e ro h i stórico d a b i o g rafi a , t o r n a - s e a i n d a fu n d a m e nta l o recu rso, e ntre m u itas
o utras o b ra s possíve is, à l e itu ra dos tra b a l h o s re u n i d os e m Problemes et méthodes de la bio­
graphie. Actes du Colloque (mai 1985), Paris, P u b l icati o n s de la Sorbo n n e , 1 985.
' M a ria Helena da Cruz Coe l ho, O. João I, o que re-colheu Boa Memória, Lisboa, Tem a s e
De bates, 2008, p. 5. Esta é a biog rafi a q u e fu n d a m e nta o q u e a q u i , m u ito suci nta m e nte, expo mos.
296
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
b i o g rafi a e nvo l ve, u m a p ri m e i ra re l a ç ã o se esta b e l ece, desde l o g o , e nt re o q u e
esc reve e a q u e l e s o b re q u e m esc reve . Só a ca ba l consci ê n c i a d esta i nte rl i g ação
perm iti rá a e m e rg ê n c i a d a o bj ecti v i d a d e , reco n h ece n d o o . b i ó g rafo que o b i o g ra ­
fa d o é p l e n a m e nte u m "o utro'; q u e p e l a s u a a n á l ise s e rá d e l i m itado e d escrito,
mas q u e esca p a rá sem p re a um contro l o d a sua i d e nti d a d e .
O b i ó g rafo sel ecci o n a d a s fo ntes o q u e l h e pa rece i nte ressa nte rete r, é e l e
q u e o rg a n iza a i nfo rmação, n a s u a seq u ê n c i a e co ntext u a l i d a de, pa ra a p rese nta r,
p o r fi m , u m a n a rrativi d a d e co m p re e n s íve l . Escreve r u m a v i d a é p ro d u z i r u m
texto, u m escrito d e u m a v i d a , l o g o , u m a constru ção, e n u n ca u m a v i d a " rea l ': O
b i ó g rafo , n a s u a escrita, i m po rá m e s m o certa "o rd e m " i d e o l ó g i ca a u m p e rcu rso
i n d i vi d u a l q u e, n a verd a de, l h e p o d e rá ser extrín seca .
A m u n d i v i d ê n c i a d o q u e escreve reca i , i nfa l ive l m e nte, s o b re a q u e l e q u e e l e­
g e u pa ra a s u a a n á l ise h i storiog ráfi ca . A b i o g rafi a , co m o g é n e ro l iterá rio, assi­
m i l a -se à a rte d e co m p o r um ret rato . E ta l co m o o p i nto r está p rese nte n a ca pta ­
ção d o corpo e d o espírito d a q u e l e q u e fig u ra n a s u a te l a , a ss i m o n a rra d o r d e ixa
m a rcas n a co m posição d o p e rfi l d o h o m e m a q u e deu fo rma p e l a pa l avra .
N a re p rese ntifica ção d essa m e m ó ri a d e u m h o m e m e d o seu te m po , d e p a ­
ra m o-nos com a m e d i ação d a s fo ntes. D e s d e l og o , d i g a-se, fo ntes q u e s ã o i n d i ­
recta s, n o refe rente à q u e l e q u e q u e remos b i o g rafa r. Pa ra o período m e d i eva l fa l ­
ta m - n o s os teste m u n h o s escritos pesso a i s d o s q u e b i o g rafa m os. É c e rto q u e
p o d e m t e r escrito o b ras, co m o n o caso d e D. J o ã o I , m a s s o b re u m a tem ática pa r­
ticu l a r, n ã o s o b re si p ró p ri o s ou s o b re a s u a v i d a , a i n d a q u e, m e s m o n estas, nos
esfo rce m o s p o r vi s l u m b ra r, q u a se n a s entre l i n h a s , a p e rso n a l i d a d e d o h o m e m
q u e a s e l a bo ro u .
Acresce q u e, n o caso d e u m a fi g u ra rég i a , os s e u s a rq u ivos s ã o o s q u e d izem
res peito à sua p ú b l ica pessoa, m u ito p o u co n o s deixa n d o e ntreve r, n a d u a l i d a d e
q u e a co m põ e m , s o b re a s esfe ras p ri va d a s d a s u a v i d a . Pa ra a l é m d e q u e esses
a rq u i vos g u a rd a m a pe n a s as m e m ó ri a s dos a ctos q u e o p o d e r po l ít i co a ch o u
i m po rta ntes e d i g n o s d e reg i sta r. Lacu n a s e s e l ecçã o d e i nfo rmação, m e m ó ri a s e
esq u eci m e ntos, co n c reti zados j á n esses tem pos passados, são d a d os o bj ecti vos
que tere m os d e reco n h ecer, i nterio riza r e ter e m co nta .
O utras fo ntes, s o b re m a n e i ra as c ro n ísticas, estão i m b u íd a s d a s m e nta l i d a ­
des d e e n co m e n d a stes e a uto res, q u e e ntre n ó s se i nterpõem j á co m o u m a l e i ­
tu ra e co m o u m p ro g ra m a a d ifu n d i r s o b re o d ito p rota g o n i sta e os seus a ctos.
É com esta p rofu n d a convicção dos m u itos h i atos docu m e nta is com q u e
d e p a ra m os, e n a ce rteza de q u e l i d a m os c o m m ú lt i p l a s escritas, reescritas e a bo r­
d a g e n s, m a i s p róxi m a s o u m a i s afasta das, q u e de u m h o m e m e de u m te m po nos
fo ra m ch e g a n d o , que tere m os d e co m po r a te i a d e um v i d a , nos seus m ea n d ros
297
M a ri a H e l e n a d a Cruz Coe l h o
d a i nti m i d a d e e d a expos i çã o p ú b l i ca . C i e ntes d e q u e a pe n a s a p re e n d e remos e
refl ecti re m o s s o b re tra n sposições, fixa d a s n a p e re n i d a d e d a escrita , de g estos,
co m p o rta m e ntos e a co nteci m e ntos passados e ú n ico .s, mas d e q u e h oj e só nos
poderemos acerca r p o r teste m u n h os, que s ã o j á uma cod ificação o u m e s m o u m a
i nterpreta ção d o s m es m os, s e m q u a l q u e r i l u s ã o d e rea l i s m o
F o i co m esta atit u d e q u e traçá mos o p e rfi l d o fu n d a d o r d a l i n h a g e m d e Avis,
um rei e um h o m e m , a m bos m o l d a d os n o te m po h i stórico e m que vivera m e
a g e ntes a ctivos d a s u a tra nsfo r m a çã o .
Tra çado d e u m p e rfi l a l g o co m p l exo, q u e se a p rese nta a pe n a s co m o u m a
d a s possíve i s l e itu ras, entre m u itas, d a v i d a e a cção d esse m o n a rca . O q u e reti ra
q u a l q u e r ve l e i d a d e de q u e re r ati n g i r o rea l vivido, ú n ico e i rrepet íve l , d a q u e l e
q u e dá pelo nome de D. João I.
E n este texto m i cro b i o g ráfi co, a i n d a m a i s q u e n a s u a b i o g rafi a , p a ra a q u a l
rem ete m o s o l e ito r p a ra co m p l eta r o a q u i s e escreve, reco rtá m os, n u m d i scu rso
l i n ea r e cro n o l óg ico, os m o m e ntos e a ctos q u e po n d e rá m os co m o m a i s rel eva n ­
t e s d a s u a v i d a , co ntextu a l iza n d o-os e i nterp reta n d o-os, o q u e a d e n sa� n este
escrito, a co m p o n e nte de re l ativi d a d e q u e a n a rrati va de u m a v i d a sem p re
e n ce rra .
Rei fo i . Aco nteceu ser. Rei fo i . Sou be-o ser.
Esta a n ossa visão g l o b a l s o b re o g ove rna nte D . J o ã o I . C o n c o rd a n d o e dis­
cord a n d o d e O l ivei ra M a rtins, que m a i s q u i s e n co m i a r os fi l h os que o paP.
Não perfi l h a mos a adjectivação com que este a utor traça o retrato m o r a l d o
M estre, d e fo goso e b ruta l , a m a n h oso e m e s m o med íocre, pa ra a l é m d e q u e, se
esta mos co nvi cta d e q u e, co m o h i stori a d o ra , reesc reve m os e rep rese ntifica mos
a h i stó r i a , n ã o n o s p ro p o m os, e n q u a nto ta l , j u d i ca r os seus a cto res.
Mas a ce ntu a m os, e m u n ísso n o com a q u e l e escrito r, os coadj uva ntes d este
m o n a rca, desde os h o m e n s aos aco nteci m e ntos. M a s então p refe ri m os l o uva r­
-nos n a p rofética m e n s a g e m pesso a n a .
"O h o m e m e a h o ra são um só
Qu a n d o Deus faz e a h i stória é fe ita
O m a i s é carne, cujo pó
A te rra espreita " 4
' O l i ve i ra M a rtins, Os Filhos de O . João /, Lisboa, G u i m a rães E d itores, 1 983.
4 Fern a n d o Pessoa, Mensagem, 7" ed., Lisboa, E d i ções Ática, 1 963, p . 32.
298
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
J o ã o seria a pe n a s um M estre da O r d e m Avis, se toda u m a série de ci rcu ns­
tâ n c i a s não se tivessem concerta d o .
Com ece m o s p e l o a cto p ri m evo - o d o seu n a sci m e nto.
"
D . Ped ro I casa ra-se com D . Co n sta n ça e d esta u n i ã o n a sceu o h e rd e i ro d o
tro n o d e Po rtu g a l , D. Fern a n d o . D . Ped ro p r e n d e ra-se d e a m o res p o r D . I n ês d e
Ca stro e d e l es v i e ra m a o m u n d o Afo n so, q u e m o rre u ced o, J o ã o , D i n i s e Beatriz.
I n ês fo i d e g o l a d a e m 1 355. E Ped ro deses p e ro u .
M a s, a 1 1 d e Abri l d e 1 357, n a scia a i n d a e m Lisboa o u o utro s e u fi l h o , J o ã o .
N i n g u é m o espera ri a , m a s e l e entra e m ce n a n o g ra n d e teatro d a v i d a .
E l o g o se l h e co nfi n a u m d esti n o - s e r i a eclesiástico. E c o m ce rca d e sete
a n os e ra já M estre de Avi s . E ntre os fre i res a p re n d e u os va l o res da cava l a ri a , da
re l i g i ã o e d a m o ra l . Viveu e ntre a s te rras d a O rd e m e d a corte de seu m e i o- i r m ã o
Fern a n d o, a p re n d e n d o a s a rtes d a co rtesa n i a n o p a ç o e n o m o nte. Co nviveu
estreita m e nte com um o utro seu m e i o - i r m ã o , João, fi l h o d e I n ês. E n a m o ra d o de
u m a d o n a d e Ve i ros - a i n d a u m a outra I n ês - teve d o i s fi l h os n atu ra is, Afo nso e
Beatriz.
Como especta d o r o u a cto r assist i u à tu rbu l ê n c i a d o re i n a d o fe rn a n d i n o .
Rei n a d o e rei d esafi a ntes, co m o o s ã o se m p re os q u e se i n screve m e m te m pos
d e crise. D i rei a ntes d e crises o u m utações. A asce n s ã o dos Trastâ m a ra s a o tro n o
d e Leã o e Caste l a , a d i spersão d o s pa rti d á rios d o r e i assass i n a d o , d itos "e m pe­
rog i l a d o s '; por Po rtu g a l e I n g l ate rra , as a l i a nças d e Ca ste l a com a Fra n ça e de
Po rtu g a l com a I n g l ate rra, n o contexto m a i s a l a rg a d o d a g u e rra atl â ntica dos Cem
Anos, co n d uzi rã o a fo rtes tensões e ntre Po rtu g a l e Ca ste l a e mesmo a três n efa s­
tas g u e rras entre estes d o i s re i n os, nas q u a i s o p ró p ri o a p o i o i n g l ês fo i m a i s
pesa d o q u e va ntaj oso p a ra Po rtu ga l . D . Fe rn a n d o teve d e l i d a r c o m u m a d ifíci l
co nj u ntu ra exte rna d e l utas po l íticas, q u e e ra m s o b re m a n e i ra l utas p e l a d i s p uta
de rotas e i nte rcâ m b i o s co m e rc i a i s, n e m se l i vra n d o m e s m o , nos fi n a i s d o seu
re i n a d o , d a s b rech as re l i g i osas que o Cisma d a I g rej a a b r i u n a crista n d a d e .
N este contexto, q u e m a i s n ã o poderemos d es e nvo lver, D . Fern a n d o casa,
e m 1 372, com D . Leo n o r Te l es . Esca pa-se a co m p ro m i ssos m atri m o n i a i s h i spâ n i ­
cos, esti p u l a d os e m trata dos d e trég u a s com Ca ste l a , m a s a l i a-se aos Te l es d e
M e n eses, fa m í l i a d e asce n d ê n c i a pe n i n s u l a r, q u e se h avia g u i n d a d o aos m a i s
a ltos títu l os e cargos d o re i n o, e q u e só c o m a l i n h a g e m dos Castras o m b reava .
E os Castras, fi l h os d e I n ês, rea g e m . D. D i n i s n ã o ace ita a ra i n h a e l o g o a pós
este casa m e nto exi l a -se p a ra Caste l a .
D . J o ã o d e Castro e nvo lve-se co m a i rm ã d a ra i n h a , M a ri a Te l es, q u e a ca b a rá
p o r a ssassi n a r e m 1 379, u m a vez m a i s n essa te rra d e a m o res e d o res q u e é
Co i m bra. Ta m bé m e l e seg u i rá o ca m i n h o d o exíl i o .
299
M a ri a H e l e n a d a Cruz Coe l h o
D . Leo n o r, p o r s u a vez, d e u à l u z, e m 1 373, u m a fi l h a , Beatriz, q u e seria a h e r­
d e i ra d o tro n o .
Os Castras, possíve is riva is, co m o m e i os-i rmãos. d o r e i e m u ito q u eridos
p e l o povo, p o rq u e frutos d o amor e d a tra g é d i a , estã o e m Caste l a .
Resta e m Po rt u g a l u m m e i o - i r m ã o d e D . Fe r n a n d o , o M estre d e Avi s . E , sem
n o s d ete rmos e m e p isód i os d e a cções o u p risões, d i re m os que o g ra n d e p rota­
g o n i s m o dos a n os a h aver será seu .
Beatriz vem a casa r-se e m 1 383 com o rei D . J u a n I d e Caste l a .
Pe l o acordo d o Trata do d e Sa lvate rra d e M a g os, esti p u l a d o a ntes d o co nsór­
cio, a pós a m o rte de D. Fern a ndo, n ã o have n d o fi l h o va rão m a i o r do casa l , a reg ên­
cia do tro n o caberia a D. Leo n o r Te l es . D. Fern a n d o m o rre em Outu b ro d e 1 383.
D . Leo n o r é reg e nte e tem a seu l a d o J o ã o Fern a n d es A n d e i ro, um exi l a d o
d e l a rg a experi ê n c i a e m te rra s i n g l esas e n a c o rte fe rn a n d i n a , m u ito afecto, ta l
co m o a reg e nte, à a lta n o b reza p o rt u g uesa e pen i n s u l a r.
Outros secto res d a n o b reza e d a s d e m a i s fo rça s soci a i s d o rei n o b u sca m
n ovas so l u ções d e g ove r n o e a l i a n ças, com o povo à ca beça, j á q u e esté, a g ri ­
l h o a d o com i m postos, recruta m e nto d e b ra ços p a ra os exércitos e a rm a das, esfo­
m e a d o e ca rente d evi d o a m a u s a n os a g ríco l a s e e p i d e m i a s, está se m p re p ro nto
a s e r ca u d i l h o de o positores.
G iza-se o p l a n o d a m o rte do va l i d o d a ra i n h a . O nome que i n evitave l m e nte
su rg e, p e l a consa n g u i n i d a d e co m a fa m í l i a rea l , é o do M estre de Avi s . E este, a
n osso ver, m e n o s h esita n o a cto, co m o m u ito se tem d ito, e m a i s o so pesa,
s a b e n d o que ele é p l e n o d e co n seq u ê n ci a s - bastava l e m b ra r o assass í n i o de
D . Ped ro d e Caste l a por D . H e n ri q u e de Trastâ m a ra o u até o d e M a ri a Te l es por
D . João d e Castro . Espera e ntão pelo a cú m u l o d e a po i os soci a i s d i ve rsificados - a
n o b reza, nos seus m a i s d i ve rsos g ra u s h i e rá rq u i cos, os l e g i stas e l etra d os d o ofi ­
ci a l ato rég io, a n o b reza toga d a , o c l e ro, pelos m e n os os p reg a d o res q u e i nfl a m a ­
va m o coração dos fi éis, e o povo d e L i s b o a . Aj u sta d o o tem po, o a co nteci m e nto
pe rpetra-se e J o ã o Fe r n a n des Andei ro é assassi n a d o , em Deze m b ro de 1 383.
Do rava nte os aco nteci m e ntos p reci p ita m -se. Ab re-se a caixa d e Pa n d o ra .
O M estre d e Avi s é esco l h i d o p e l o povo e c i d a d ã o s d e Lisboa p a ra Reg e d o r
e Defe n s o r d o Rei no, a i n d a n esse m_ês.
D . J u a n d e Caste l a , e m nome dos d i re itos d e D . Beatriz, entra e m Po rtuga l
e m J a n e i ro d o a n o seg u i nte e d e p ro nto afasta D . Leo n o r d a reg ê n c i a . N o re i n o
fra ctu ra m -se o s a l i n h a m e ntos soci a i s - tema d e l a rg o a l ca n ce m a s q u e a q u i n ã o
cabe d esenvo lve r - e ntre D . Beatriz e o rei d e Ca ste l a e o M estre d e Avi s .
E m M a i o d e 1 384, D . J u a n d e Ca ste l a põe ce rco a Lisboa . Pri m e i ra tri b u l a çã o
d o M est re . A c i d a d e d a s m u itas to rres e m u ra l h a s n ã o te m e . M a s os siti a d os, s e m
300
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
ca paci d a d e de se a bastece ra m , d eses pera m . A fo m e a m ea ça ve ncer a g u e rra .
M a s m a i s fo rte se e rg u e rá a te rce i ra pa rca - a peste . E p o rq u e se e rg u e d o l a d o
d e Ca ste l a será e l a q u e, e m ú lt i m a i nstâ n c i a , e ntrega a .vitó ria a o M estre, o b ri ­
g a n d o o r e i caste l h a n o a l eva nta r o ce rco e m i n ícios d e Sete m b ro .
O M estre d e Avi s é j á o M essias d e L i s b o a , a q u e l e q u e todos espera m co m o
o S a l va d o r e m te m po d e c r i s e , e q u e os p reg a d o res m e n d i ca ntes a n u n c i a ria m a o
povo . M a s é p reciso m a i s q u e u m ch efe carism ático e esfo rça d o . Q u e r-se u m re i .
Só u m re i s e pode o p o r a o utro re i .
Po r entre l utas co ntra v i l a s q u e d ã o voz p o r Ca ste l a , e m q u e ca m pe i a N u n o
Álva res Pe re i ra , a q u e l e q u e será o b raço a rm a d o d o M estre e d e p o i s d o rei
D. J o ã o , ca m i n h a -se pa ra Co i m b ra .
E m a i s u m a vez n esta c i d a d e , n o paço rea l , se reú n e m , entre M a rço e Abri l
d e 1 385, as " revo l u c i o n á ri a s " co rtes de Co i m b ra . Seg u n d a t ri b u l a ç ã o d o M estre .
Ve n c i d a p e l a a stuta a rg u m e ntação j u ríd i ca de J o ã o d a s Reg ras e p e l a a m eaça d a s
a rm a s d e N u n o Álva res Pe re i ra q u e, d e p o i s d e acesos d e bates, a n u l a m a vonta d e
dos " ro n c a d o res" q u e d efe n d i a m o pa rtido dos fi l h os d e I n ês, consu bsta ncia d o
e m D . J o ã o d e Cast ro . A 6 d e Abri l d e 1 385 J o ã o sofre u m a n ova m eta m o rfose ­
o M estre d e Avi s é a c l a m a d o Rei de Po rtu g a l .
M a s o ca m i n h o q u e se l h e a p resenta é o d a g u e rra , p a ra s u b m eter a s c i d a ­
des e vi l a s q u e l h e são contrá rias, s o b retu d o n o E nt re D o u ro e M i n h o . N a certeza,
a i n d a m a i s d u ra , d e q u e o rei d e Ca ste l a i ri a res po n d e r a este a cto d e D. João I .
N a seg u n d a se m a n a d e J u l h o , o rei caste l h a n o está d e fa cto a e nt ra r p e l a
Bei ra . Advog ava m a l g u n s dos seus conse l h e i ros q u e se d i ri g isse a L i s b o a , p o i s
"to m a d a esta c i d a d e . . . to m a d a s e ra m toda l l a s o u t r a s vi l l a s e c i d a d e s e o reyn o
to d o " 5, d e c l a rava m-se outros p o r u m a bata l h a e m ca m po a be rto.
Do lado p o rtu g u ês, q u e ri a i n e q u i voca m e nte u m a bata l h a ca m p a l N u n o Álva­
res Pe re i ra , q u e não e ra h o m e m d e m a n h a s o u d e cercos. E se o rei e a s suas g e n ­
tes h e s itasse m , co m o a co ntece u , e l e se l a nça ria n e l a com os s e u s h o m e n s . M a s
D. J o ã o I aca b o u , u m a vez m a is, p o r confi a r n o j ove m , m a s exce l e nte estratega,
que e ra N u n o Álva res Pe rei ra e em secu n d a r o seu pa rece r. E fá- l o - i a a pesa r d e
vozes contrá ri a s q u e certa m e nte se t e r ã o l evanta d o e nt re os seniores d a n o b reza
e m e s m o e nt re os ofi c i a i s d a corte, p o i s bem s a b e m os, p o r exe m p l o , co m o e ra
g ra n d e a riva l i d a d e entre J o ã o d a s Reg ras e N u n o Álva res Pe re i ra .
5 Fe rn ão Lopes, Crónica de/ Rei Dom Joham I de Boa Memoria e dos Reis de Portugal o
Decimo, Parte Segunda, p o r Wi l l i a m J . E ntwistle, Lisboa, I m prensa N a c i o n a l - Casa da M o e d a ,
1 977, c a p . XXV I I .
301
M a ri a H e l e n a d a Cruz Coe l h o
An u n ciava-se a te rcei ra tri b u l açã o . Q u e teve l u g a r no d i a 1 4 d e Agosto de 1 385.
N este b reve e n u nciado d e um percu rso d e vida não nos cabe pondera r as m ú lti p l a s
verte ntes desta bata l h a rea l - l oca l esco l h ido, n u m a . p ri m e i ra e seg u n da vez,
n ú m e ro de com bate ntes e nvo lvid os, estratég ias acci o nadas - bata l h a q u e é co nsi­
derada a " m ã e d e todas as bata l h a s ': M u ito j á se escreveu e ava nçou n esta m até­
ria, em exe m p l a res i nvestigações i nterd isci p l i n a res, q u e co nvoca ra m os saberes da
h i stória, da a rq u e o l o g i a e da a ntropo l o g i a , p a ra o ca m po d e Alj u ba rrota , o n d e se
desenvo lvera m n otáve is traba l h os cie ntíficos sobre este reco ntro6•
A bata l h a , i n i ci a d a já d e p o i s d a h o ra de vés p e ra , fo i m u ito b reve - ta lvez n ã o
ch ega n d o a d u ra r u m a h o ra - m a s a vitó ria d e Po rtu g a l s o b re Caste l a fo i i n con­
testa d a . Em s íntese, d i g a m os q u e, n o seu todo, e l a se concretizo u p o r u m exce­
l e nte co m a n d o de D. N u n o , por um efi c i e nte dese m pe n h o dos a rq u e i ros i n g l eses
e dos beste i ros p o rtu g u eses, sem esq u ecer o p r i n c i p a l - a esco l h a s á b i a d e u m a
boa posição d efe n s i va , c o m o bstá cu l os natu ra i s q u e i m ped i ra m o a cesso a o p l a ­
n a lto d a s a l a s d o exército i n i m i g o , refo rça d o s a i n d a p o r o bstá cu l os a rtifi c i a is,
q u e, n o seu efe ito su r p resa, reta rd a ra m a p ro g ressão d a s fo rças caste l h a nas,
expo n d o-as a o t i ro d a s besta s, e i nvi a b i l iz a n d o a ca rga d e cava l a ri a pesa d a , q u e,
o b r i g a d a a d es m o nta r, fo i co m p l eta m e nte desba rata d a .
Ve ncera o " re i d e Avi s " - co m o sa rcasti ca m e nte o a pod ava o r e i d e Caste l a
- a terce i ra t ri b u l ação, to rn a n d o-se e m bata l h a r e i d e Po rtu g a l . Leg iti m ava p e l a s
a rm a s o t ítu l o co l h i d o e m co rtes. E p o rq u e D . J o ã o e ra fi e l à i g rej a d e R o m a e a o
s e u pasto r e o r e i d e Ca ste l a a l i n h ava p e l o p a p a d e Avi n h ã o , s e n d o co n s i d e ra d o
p e l o s ro m a n i stas u m c i s m ático e h e rético, n esta vitó ria, co m o reza m a s c ró n i cas,
m a n ifesta ra-se a vo nta d e d i vi n a . Alj u ba rrota torna ra-se um j u ízo d e Deus e
D. J o ã o u m n ovo rei fu n d a d o r, à i m a g e m d e D . Afo nso H e n ri q u es e n a re p rod u ­
ção d o m i l a g re d e O u ri q u e .
E co m o esc reve o g ra n d e h i sto r i a d o r Peter R u sse l l , a g o ra " D . J o ã o I e n c o n ­
t rava-se à bei ra d e co n d uzi r, ru m o a u m a n ova e ra d e co n q u i sta u ltra m a ri n a e d e
m e rca nti l i s m o b u rg u ês i ntrafro nte i ras, u m peq u e n o m a s e n é rg i co re i n o "7•
Co m p l etava-se um ciclo, a i n d a que sem ru ptu ras n a passa g e m pa ra o o utro
q u e d e i m ed i ato se l h e seg u i u . A g u e rra i nte r n a o u a g u e rra d e ntro e fo ra das
fro nte i ra s e ntre p o rtu g u eses o u fo rças a n g l o- l u sa s co ntra os ca ste l h a n os fo i
• Reu n i d o s na o b ra Aljubarrota Revisitada, co o rd . de J o ã o G o uveia M o ntei ro, C o i m bra,
I m prensa d a U n ivers i d a d e , 2 0 0 1 .
7 Peter E . Russel l ! , A intervenção inglesa na Península Ibérica durante a guerra dos Cem
Anos, tra d . p o rt . , Lisboa, I m p rensa N a c i o n a l - Casa da M o e d a , 2 0 0 0 , p. 432 .
302
>
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
q u a se u m a consta nte nos a n os fi n a i s d e Treze ntos e i n ícios de Qu atrocentos, a pe­
nas se fi rm a n d o u m a paz d u ra d o u ra em 1 4 1 1 .
Mas, entreta nto, u m a n ova co m po n e nte ve i o coadj u .v a r D . J o ã o , a d a l i n h a ­
g e m e estrutu ra ção p ú b l i ca e p rivada d a s u a co rte.
Em Feve re i ro d e 1 387, D . João casa, n o Po rto, com D . Fi l i pa d e Len castre.
Esco l h e a fi l h a m a i s ve l h a d e João d e G a n d , seu a l i a d o , e d e B ra nca d e Lencastre,
e n ã o Cata r i n a , fi l h a d o seg u n d o casa m e nto d e J o ã o d e G a n d com Co n sta nça,
fi l h a d e D . Ped ro I d e Caste l a . Não ti n h a p rete nsões a o rei n o vizi n h o, m a s a pe n a s
q u e ria g ove r n a r Po rtu g a l sem i nterfe rê n c i a s d e Ca ste l a .
O casa l i m p u n h a -se p e l a m atu r i d a d e d o s a n os e p e l a g ra n d e experi ê n c i a d e
v i d a , nos q u a se tri nta a n os d o r e i e vi nte e sete d a ra i n h a . M a s , a i n d a q u e d e
i d a d e ava nçada, D . Fi l i pa fo i u m p rod i g i oso exe m p l o d e m u l h e r fé rti l e m te m pos
m e d i eva i s . E nt re 1 388 e 1 402 d e u à l u z o ito cri a n ça s e p e rd e u um feto . Vi u m o rrer
d o i s dos seus fi l h os, s o b revive n d o- l h e ci n co va rões - D u a rte, Ped ro, H e n ri q u e,
J o ã o , Fern a n d o - e u m a d o nze l a , I s a be l .
Estava a sseg u ra d a u m a l i n h a g e m , estava g a ra nt i d a a h e ra n ça d o tro n o,
estava d i s po n ível um pote n ci a l h u m a n o que se g u i n d o u a a ltos desíg n ios cu ltu­
ra is, cortesãos e cava l e i rescos e à s mais p resti g i a ntes a l i a nças d i p l o m ático­
matri m o n i a i s n o seio d a Crista n d a d e .
E nt ã o , afa sta d o o p e r i g o caste l h a n o , c ri a d a u m a fa m í l i a , fi r m a d a u m a
c o rte, d e se n h a d a u m a po l ítica d e g ove r n a n ça q u e , e m tem pos d ifíce i s , p ro c u ­
rava g a n h a r p rove ntos n a te rra e n o m a r, e c o n c e rta r, n ã o s e m tensões, i nte­
resses soc i a i s d i ve rsos e contra d itó rios, o q u e ex i g i u um p ro g ra m a d e a cçã o
p a u ta d o p o r u m a i d eo l o g i a e p ra x i s d e fo rta l ec i m e nto d o p o d e r rég i o e c o n t ro l o
d o a p a re l h o d o E sta d o , e ntão, d i z i a , o te m po estava m a d u ro pa ra u m a n ova
e m p re s a .
O rei n o d e Po rtu g a l , a cossa do e m te rra p e l o re i n o d e L e ã o e Caste l a , o l h ava
o m a r. E p a ra a te rra a l é m d e l e . To dos - re i , i nfa ntes, n o b reza, c l e rezi a , b u rg u eses,
povo - por m otivos vários d e via b i l i d a d e po l ítica, d e g a n h o d e te rra s, d e b u sca de
cere a i s o u o u ro, d e o bte n ç ã o d e n ovas rota s d e m e rca n c i a , d e o bst rução à p i ra­
ta ria m u çu l m a n a , d e i ntu ito e p rove ito eva n g e l izado res - esta r i a m com vonta d e
_
d e d efe n d e r o re i n o com u m a pa l içada d e m a d e i ra e d e l a n ça r a o m a r, n e l a
e m ba rca n d o , a j a n g a d a d e te rra q u e e ra Po rtu g a l .
Pa ra l á d o s u l atlâ ntico estava M a rrocos, te rra d e " i nfi é i s ': Da í v i e ra m e l es, l á
n o l o n g í n q u o sécu l o VI I I . Ag o ra , e m tem pos d e i d e a i s cruzad ísticos, n a s u a p ró­
pria te rra d eve r i a m ser s u rpree n d i dos, j á que a e rra d i cação dos m o u ros d e
G ra n a d a e ra m i ssã o d e Caste l a .
303
M a ri a H e l e n a da Cruz Coe l h o
M a is u m a vez n ã o n o s d etere mos, n a s peri pécias d o l o n g o te m po d e m a i s d e
três a n os d e p repa ração d esta m a g n a ca m p a n h a e m m e i o s e conti n g e ntes - su pe­
ri o res a d uzentas e m ba rcações e 50 m i l h o m e n s -, na� i n ú m e ras d i ssi m u l ações
d i p l o m áticas exi g id a s , n o m u ito d i n h e i ro q u e e nvo lve u , nas vo nta d es contrad itó­
rias q u e se afronta ra m , ou m e s m o nas vicissitu d es d a p ró p r i a a cçã o m i l ita r.
Di re m os a pe n a s q u e, n o d i a 2 1 d e Agosto d e 1 4 1 5, a p ra ça m a rroq u i n a d e
C e u t a estava n a s m ã o s dos po rtu g u eses e q u e, l o g o n o d i a 25, a m e sq u ita s e
t ra n s m utava e m espaço sa g ra d o dos cristãos, e a í D . J o ã o I a rm ava cava l e i ros o s
s e u s fi l h os, D u a rte, Ped ro e H e n ri q u e .
Pe rg u ntemos então - o q u e re p rese nto u Ceuta n o p roj ecto po l ítico d e D .
João I?
Ceuta c onc retizo u -se g raças a u m a vo nta d e fé rrea e p l e n a a uto ri d a d e d e D .
J o ã o , g a lva n i zadas p e l o sa n g u e n ovo e a rd e nte d o s i nfa ntes .
D . J o ã o , co m o q u e se s o b repôs à m e nta l i d a d e coeva d o s p ress á g i os, e se
o pôs à s fo rças p o u co adj uva ntes d a natu reza e d o d esti n o . N ã o se d e ixo u a bater
pela peste, pela m o rte d a ra i n h a D . Fi l i pa , sua esposa, a 1 8 d e J u l h o d é 1 41 5,
pelas ca l m a rias, pelas to r m e ntas, pelo tresm a l h a r d o s ba rcos, pelos e njoas, p e l a s
o p i n iões o u m e s m o vo nta des co ntrá ri as. E co ntava co m 58 a n os d e i d a d e !
Ai n d a q u e D . J o ã o se p u d esse ter a pe rce b i d o d e q u e esta e m p resa poderia
con cita r o i nte resse dos p r i n c i p a i s esta m e ntos d o re i n o, ele ti n h a o seu i d ea l .
A vitó ria d e Ceuta a m p l i ava e red i m e n s i o n ava Alj u ba rrota . A expe d i ç ã o m i l i ­
ta r a Ceuta n ã o e ra fo rça d a . Foi q u e ri d a . E i ntencio n a l m e nte deci d i d a . D . J o ã o I
q u is, a i n d a e p o r u m a ú lt i m a vez, u m a g u e rra . O seu p ri m evo m e m o r i a l e ra g u e r­
re i ro . A e l e reto r n o u . Pa ra o sacra l iza r. O re i d e Avi s q u e fo ra cava l e i ro p e l a s u a
ca usa, e ra a g o ra cava l e i ro d e C ri sto . E l e fo i m e s m o , co m o reza o seu e p itáfi o , o
p ri m e i ro rei cristã o , q u e d e p o i s d o g e ra l d o m ín i o d a H i s pâ n i a p e l o s i nfi éis, a
d esafro ntou to m a n d o Ceuta, e m África, n a p ró p r i a te rra dos i nvaso res.
E ste será um m e m o r i a l bél ico que repe rcuti rá por toda a Crista n d a d e .
Porq u e i n e q u i voca m e nte D . J o ã o s o u be cu i d a r d a m e m ó ri a e teve q u e m , n o
i nte resse d a d i n a stia e d a l i n h a g e m , d e l a d esej a sse cu i d a r d e p o i s d e l e .
C u m p ri n d o a p ro m essa fe ita a rtes d a bata l h a rea l , m a n d o u e rg u e r o m ostei ro d e Sa nta M a ri a d a Vitó r i a , q u e é j á e m s i m e s m o , n a s u a m o n u m e nta l i ­
d a d e a rq u itectó n i ca e h i e rofa n i a escu ltó ri ca, u m m e m ori a l a ri st o c rático e p ro­
p a g a n d íst i c o d o poder po l ít i c o d a j ovem d i n a st i a d e Avi s . Mas D . J o ã o esco­
l h e u -o a i n d a p a ra pa nteão rea l e a co p l a d o a e l e fez c o n st r u i r a Ca p e l a do
Fu n d a d o r. E desde e nt ã o a B a ta l h a p rojecta-se c o m o a c a s a - re l i c á r i o dos restos
m o rta i s do re i , da ra i n h a e dos i nfa ntes, c i m e n ta n d o u m a m e m ó ri a c o l ectiva,
304
�
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
q u a s e l it ú rg i c a , de u m a sa g ra d a fa m í l i a , de u m a l i n h a g e m fi d e l íss i m a e l ea l ,
u n i d a m e s m o p a ra a l é m d a m o rte.
Nas l etras, a s o b ras d o m o n a rca avi s i n o e d e seus fi l ,h o s e l eva ra m -se, à s i m i ­
l it u d e d a s a rtes, e m m o n u m e ntos s i n g u l a res d a fi l osofi a d o p o d e r e d a p rática
po l ítica d o rei e i nfa ntes d e Avi s . Po r fi m , j á g raças a o seu h e rd e i ro , a h i stó ri a ,
escrita p e l o g é n i o ga lva n i za nte d e Fe r n ã o L o p e s o u p e l a p rosa a s s e rt i v a d e
Zu ra ra, ofe rece ra m - l h e a p e re n e l e m b ra n ça d o s seus a ctos e m q u e o rea l s e
fu n d e j á com o m ito.
N esta s íntese d a n ossa l e it u ra s o b re a vida e os fe itos D . João I pensa m os
n ã o ser n ecessá rio i r m a i s a l é m .
M a s co m o s e d e m ú s i ca se tratasse, a petece- nos fazer da capo, vo lta n d o a o
princípio.
O l i v e i ra M a rt i n s esc reve : " Tu d o l h e s a i u b e m a e s s e h o m e m fe l i z .
Co n q u i sto u o rei no, e se nto u -se n o Tro n o a c l a m a d o p e l o povo i ntei ro . Ace rto u
casa n d o e teve a m a i s b e l a g e ração d e fi l h os. N u n o Álva res co roou-o e J o ã o d a s
Reg ras s a n c i o n o u com a l e i o q u e o co n d estáve l traça ra com a espa d a . Ve l h o e
vi úvo, com os fi l h os à rod a , co m ete e te m e r i d a d e de i r a Ceuta, e co n q u i sta n d o ­
a com a m áxi m a fa ci l i d ade, d e ixa e m h e ra n ça a o rei n o o ca m i n h o d a g l ó r i a
patente':
N o a r pa i ra então a i nterrogativa - q u e p rota g o n i s m o cabe assi m a o h o m e m
e re i D . J o ã o I ? A nosso ve r, o d e m a i o r vu lto.
O rei sábio e j u sto é a q u e l e que s a b e esco l h e r os s e u s conse l h e i ros, co m pa ­
n h e i ros e a u x i l i a res. D. J o ã o sou be fazê- l o . C o m e l es p ô d e tra ba l h a r p a ra o bem
co m u m d e to d o o rei n o .
D . J o ã o g ove rnou co m p ro m eti d a m e nte por s i e c o m os s e u s até m a i s d e
m e i a i d a d e d a s u a vi d a . D e p o i s a ssoc i o u a o g ove r n o o seu fi l h o e s u cess o r,
D . D u a rte, e c o l ocou s o b re os s e u s o m b ros g ra n d e pa rte d o fa rdo do desem­
ba rg o . Sem n u nca, ass i m o cre m os, d e ixa r d e t u d o s u pervi s a r e contro l a r, p o i s
q u e D . J o ã o I t e r i a fo rte perso n a l i d a d e .
Q u a n d o h o m e m rea l i z a d o , cava l e i ro e c r u z a d o , seg u ro d a s u cessão a o
t ro n o e m e s m o d a conti n u i d a d e d o S.!3 U p l a n o d e g ove r n o , D . J o ã o terá s a b i d o
d esfruta r, m a i s p ro l o n g a d a e ca l m a m e nte, o s p razeres d a v i d a . Co rre r o s m o n ­
tes e m a n i m a d a s caça d a s . Escreve r, co m e n o rm e g o sto e p a ra p rove ito d o s l e i ­
to res, s o b re esse j u b i l oso d e l eite e exe rcíc i o p l e n o d e a d estra m e nto fís i co e
desenfa d o i nteri o r q u e e ra a a rte d a caça . E sta n ci a r, p l á c i d a e a co m p a n h a d a ­
m e nte, e m paços d e confo rto e reco rte estético, co m o os d e S i ntra o u Al m e i ri m .
E m ba n q u etes s a b o rea r a s vitu a l h a s d o s e u g o sto e e m serões d e m ú s i ca e
305
M a ri a H e l e n a da Cruz Coe l h o
d a n ça , c o m d o n ze l a s e d o nzéis vestidos à m o d a , recri a r o a m b i e nte ra d i oso e d e
b e l eza, co n d i ze nte c o m a p l e n it u d e d e u m rei n o e m p a z e a paz i g u a d o .
Pe nsa n d o n o fi m , reco nfo rta r-se- i a c o m l e itu ra s . re l i g i osas e trata dos d e
m o ra l , vig i a ri a d e p e rto a s o b ras d o s e u m oste i ro e, e m g estos p i e d osos d e o ra­
ção e d á d iva, i ri a a g ra dece n d o a Deus e à Vi rg e m , o apoio q u e, co m o acred ita ria,
d e l es recebera em vitó rias, sa ú d e e afo rtu n a d a desce n d ê n c i a . Retrato u-se, p o r
i s s o , e m post u ra d e d evoto o ra nte, co m o fi e l a g radeci d o .
E o fi m ch e g o u , e m tem pos d e ve l h ice, à si m i l it u d e d a g ra ça co n ced i d a aos
s á b i os p rofetas d o Anti g o Testa m e nto, n o ext re m o d e u m a l o n g a vida d e setenta
e s e i s a n os. C u m p ri ra m -se todos os p receitos d e u m a boa m o rte. E os s ú bd itos
ch o ra ra m , mas não te m e ra m . Po rq u e o rei n o ti n h a j á ch efe e pa sto r e a co nti n u i ­
d a d e d o p oder rég i o estava p l e n a m e nte a sseg u ra d a .
E desde e ntão D . J o ã o p roj ecta-se, p a ra os tem pos v i n d o u ros, n u m a m e m ó­
ria, tec i d a e m c ró n i ca s e d i v u l g a d a e m rel atos d e m i l a g res, e m a u ra sacra l iza d o ra
d e rei fu n d a d o r.
306
O sentido das com e m o rações do 5° cente n á ri o
do d escobri m ento do Brasil
José Jobson d e Andrade Arruda
Profe s s o r titu l a r d a U S P; U N ICAM P e USC
1 . POR QU Ê COMEMORAR?
N a s co m e m o ra ções, co m o xa m ã s da h i stó r i a , i nvoca mos o passa d o . Q u a l
passa d o ? N ã o q u a l q u e r u m ! M a s u m passa d o p reciso, ci rc u n sta n c i a d o , n ecessa­
ri a m e nte p a rce l a r, reco rta d o a pa rt i r das re p rese nta ções d o p rese nte, m o d e l a g e m
i d eo l ó g i ca q u e o red uz à s s u a s m ín i m a s exp ressões a p ro p ri áveis, esco i m a d a s a s
d i m e nsões q u e p o d e ri a m co m p ro m eter a esta b i l i d a d e d o p rese nte q u e, p o r esta
v i a , esta bel ece as bases da a l i a nça i n d isso l úve l e ntre passa d o , p rese nte e futu ro .
N u m a t ravessia cé l e re através dos tem pos, os Desco b ri m e ntos reto r n a m d o
passa d o pa ra s e r e m i m e d i ata m e nte d i ss o l v i d o s n o p rese nte, assi m i l a d os e m s u a
p a l ata b i l i d a d e e, d e n ovo, re l a nçados à s u a o r i g e m , d e o n d e ress u rg i rã o n a o p o r­
t u n i d a d e d a p róxi m a co m e m o ra çã o . Faces i l u m i n a d a s ; p e rfis n u b l a d o s .
M uti l a ções i n evitáve i s o peradas p e l a a ç ã o s e l etiva d o p rese nte, q u e re m ete p a ra
o o b l ív i o os tesou ros ocu ltos d o N ovo M u n d o , q u e p o r m u itos sécu l o s p reservo u ­
- s e " e n co b e rto " ' .
Co m e m o rações ritu a l izadas, ce l e b rações re l i g i osas e festas cívicas n ã o eram
i n co m u ns n o m u ndo a ntigo. Com o a dve nto d o cristi a n ismo, a s ce l e b ra ções da
m o rte e ressu rreição de Cristo to rna ra m-se p ráticas coti d i a nas nos círcu los cristã os.
' A i d é i a q u e éramos os " e ncobertos" e m e rg e nos escritos d e João d e Ba rros, q u a n do se
refe re a "este n ovo m u n d o ta ntas cente n a s de a n os en co b e rto", reiterada pelas a rg utas ponde­
rações do Pad re Antô n i o Vi e i ra s o b re " o desco b ri m e nto d o m e s m o m u n d o que ta ntos mil a n os
ti n h a estado i n cóg n ito e i g n o ra d o " , exp ressões rec u peradas p o r G O D I N H O, Vito r i n o M a ga l h ã es.
Po rt u g a l e os Desco b r i m e ntos. Revista de História Económica e Social. Lisboa: 1 988, p . 23. No
i m a g i n á ri o e u ro p e u a expressão N ovo M u n d o se j u stifi cava p l e n a m e nte, pois se co n s i d e rava
q u e o conti n e nte a m erica n o s u rg i ra ta rd i a m e nte.
307
J osé J o bs o n d e An d ra d e Arru d a
N o fi n a l d a Idade M é d i a , a i ntensifi caçã o d a fé e a crise d a consci ê n c i a re l i g i osa
p ro p i c i a m a g e n e ra l ização d o cu lto dos sa ntos, i nterm ed i á ri o s m a i s a cessíve i s
e ntre os fi é i s e Deus . M a s fo i exata m e nte com a ru ptu ra p rotesta nte, com a a bo­
l i ção d a h a g i o g rafi a cató l i ca, q u e se i n i c i a ra m as c o m e m o ra ções d e eventos m a r­
ca ntes. O p ri m e i ro d e l es fo i , exata m e nte, a re m e m o ração d e 1 6 1 7, cente n á ri o d a s
95 teses d e M a rti n h o Lutero afixa d a s n a p o rta d a ca p e l a d e Witte n be rg . A p rática
res i stente dos p rotesta ntes não d e m o ro u a ser co p i a d a pelos p ró p rios cató l i cos.
Em 1 640, os jesu ítas co m e m o ra ra m festiva m e nte o p ri m e i ro sécu l o d e exi stê n c i a
d a Co m pa n h i a .
C o n t u d o , fo i n o fi n a l d o sécu l o XVI I I q u e e m e rg i u a fo r m a m o d e r n a d e
co m e m o ração, e a c r i a ç ã o d e u m n ovo ca l e n d á ri o civi l p e l a Revo l u çã o Fra n cesa
é seu m a rco e m b l e m á t i c o . S i g n ifica o n a sci m e nto das co m e m o rações l a i cizadas,
esse n ci a l m e nte d ife re n c i a d a s e m re l a ç ã o à s co m e m o ra ções cató l i cas, m a s fu n ­
d a m e nta d a s e m s e u s rit u a i s . A s festas c ívicas i n a u g u ra d a s p e l a Revo l u çã o
Fra ncesa, m u ito p a rti cu l a rm e nte o cu lto d a h u m a n i d a d e, t ra d u z i d o n a i d é i a d e
" g ra n d e h o m e m " , fo ra m i n co rp o r a d a s p o r Au g u ste Co mte, ree l a b o r a d a s é s i ste­
m atizadas, d e m o d o a cri a r u m a rq u ét i p o co m e m o ra c i o n i sta capaz d e fu n d a r u m
n ovo ca l e n d á ri o d e festas cív i cas, u m a n ova h a g i o g rafi a ; e m s u m a , u m a re n o ­
va d a co n strução d a m e m ó ri a n a c i o n a l . Exata m e nte n este espaço , a b ri a -se u m
va sto ca m po d e a ç ã o p a ra a h i st ó r i a e nte n d i d a e m s u a d i m e n s ã o uti l itá r i a , q u e
"teve u m a d a s s u a s m a i s m a rca ntes exp ressões n o recu rso a fo r m a s ritu a l i stas
d e evoca r o passa d o , te n d o e m vista c ri a r re p resentações s i m bó l icas q u e p u d es­
sem fu n c i o n a r co m o l i ções vivas d e m e m o rizaçã o " 2 • A pa rt i r d a Revo l u çã o
F r a n ce s a , a s s u m e- s e q u e a s r e p r e s e n t a ç õ e s r a c i o n a i s s o m e nt e s e ri a m
m o b i l iza d o ra s n a m e d i d a e m q u e confe rissem s i g n ifi ca d o s i m bó l i co e co l etivo
a o senti d o d o te m p o e, co n c o m ita nte m e nte, cata l i zassem a s co n sci ê n c i a s ato­
m iz a d a s " à vo lta de m e m ó ri a ( s ) co n se n s u a l i za d o ra ( s ) . Daí a i m po rtâ n c i a d e ritu a ­
l iza r a i nvoca ção ( e a evoca çã o ) d o passa d o e d e s e l e ci o n a r d e a c o r d o co m os
i nte resses d o p resente"3•
' CATROGA, Fe r n a n d o . Ritu a l izaçõe� d a H i stó r i a . l n : TO R GAL, Lu is Reis, M E N DES, José '
A m a d o , CATROGA, Fern a n d o . História da História em Portugal. Sécs. XIX-XX. Lisboa : E d itora
Círcu l o , 1 996, p . 547.
3 I d e m , p. 550. Pa ra R I B E I RO, M a ri a M a n u e l a Tavares. "O Cente n á ri o H e n ri q u i n o . I m a g e n s
e I d e o l og i a " . Revista d e História das Idéias, v . 1 5, Coi m b ra , 1 993, p . 3 3 1 , " C e l e b rações, co m e ­
m o rações e cente n á ri o s n ã o são i n úteis n e m i n ex p ress i vos, q u e r p a ra a i n strução d o c i d a d ã o ,
q u e r pa ra a ' i l u straçã o ' do h i sto ri a d o r. São fo r m a s d e i n strução cívica q u e assu m e m u m s i g n i ­
ficado r e a l e m nossa soci e d a d e " .
308
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
N estes t e r m o s , o passa d o revifi ca-se; o s m o rtos re n a sce m , p o i s s u a s
o b ra s s ã o co l o c a d a s a o s e rv i ç o d o s v i vos, a o s q u a i s se p resta u m a h o m e n a ­
g e m reco n h ec i d a , m a s d o s q u a i s n ã o se d e ixa d e extra i r m a i s va l i a s i m b ó l i c a ,
_
p o i s s u a s a ç õ e s exe m p l a res ca u c i o n a m a a ç ã o d o s v i vos, i n sc reve n d o-se
n u m a l i n h a g e m u n ive rsa l 4• O s h e ró i s l e i g o s s u bstitu e m o s re l i g i o sos, c u j a
v i d a , m a i s d o q u e a m o rte, é c u l tu a d a . Po r i s s o , a s d a t a s reg i stra d a s p a ra
m e m o r i z a ç ã o , e m s u a fu n ç ã o p e d a g ó g i c a , p o d e m co i n c i d i r co m o n a sci m e nto
o u co m a m o rt e . E l o g i a r o s m o rtos s i g n ifica s o l i d ifica r o s l a ço s d e s o c i a b i l i ­
d a d e e ntre o s v i vo s e p ress u p õ e , n e cessa ri a m e nte, u m a d i m e n s ã o re l i g i os a d a
c i v i l i d a d e , o q u e l eva a o a d e n s a m e nto d a co m u n h ã o d e s e n t i m e ntos e i d e a i s,
p a s s o d e c i s i vo n a co n stitu i ç ã o d a co m u n i d a d e i m a g i n á ri a , p e l o refo rço d a
n o ç ã o d e p e rte n c i m e nto5• O E sta d o N a c i o n a l , o n a c i o n a l i s m o , a i d e n t i d a d e s ã o
os b e n efi c i á r i o s d i retos d a s co m e m o ra ç õ e s c ív i c a s q u e, n a s p a l avras l a p i d a res
d e Fe r n a n d o Catro g a , "fo ra m c ri a d a s p a ra serem v i v i d a s co m o m a n ifesta ções
s i m b ó l i c a s e m q u e se reafi rm ava a c o n t i n u i d a d e h i stó rica d o s povos e da
h u m a n i d a d e , p rete n s ã o fi l h a d a m e s m a co n ce pç ã o d o te m po q u e e n c o ntra­
mos s u bj a ce nte à s h i sto r i o g rafi a s d a é p o c a . A sua i m p o rtâ n c i a s o ci a l ex i g i a - a s
co m o m e i o d e c o m bate co ntra a a m n é s i a co l et i v a , o u m e l h o r, co m o fo r m a d e
l uta p e l a p ro d u çã o ( e r e p ro d u çã o ) d e u m a n ova m e m ó ri a , a s s i m e l ev a d a a u m a
e s p é c i e d e g a ra nt i a d a n ecess á r i a a rt i c u l a ç ã o e ntre o p a ssa d o , o p rese nte e o
fut u ro"6•
Retó rica vaz i a , exi b i c i o n i s m o ba l ofo, p s e u d o - rea l iza ções, s ã o os m a l es atá­
vicos das co m e m o ra ções. O q u e tem a ver a v i d a dos h o m e n s e m sua vivê n c i a
coti d i a n a "com a s fl o res d e retó rica q u e, q u a n d o se conve n c i o n a co m e m o ra r
a l g u m fe ito, p rofu sa m e nte se d e rra m a m s o b re o seu m ito o u a s u a m i ra g e m
ro m â ntica ?"7• A h i stó ria n a d a tem a v e r com a s co m e m o rações, e l a é s o m e nte
esfo rço de co m p re e n s ã o . Po r i sso, os cente n á rios s o m e nte podem ser úteis
•
G O U L E M OT, J e a n M a ri e e WALT ER, E ric. L e s Cente n a i res d e Vo ltai re et Roussea u . l n :
N O RA, P i e rre e t a/. Les Lieux de Mémoire, I . L a R é p u b l i q u e . Pa ris: G a l l i m a rd , 1 984, p . 407.
5 A noção d e co m u n i d a d e i m a g i n á ri a foi uti l izada a q u i no sentido de A N D E R S O N ,
B e n e d i ct. Nação e Consciência Nacional, Tra d . p o rt., S ã o Pa u l o, Ática, 1 989.
6 CATRO GA, Fern a n d o . opus cit., p . 55 Õ . N o mesmo sentido, R I B E I RO, M a ri a M a n u e l a ,
opus cit., confi r m a "As c e ri m ô n i a s co m e m o rativas q u e se s u ce d e m n a s décadas fi n issecu l a res
reve l a m a b u sca de um consenso, a p rocu ra d e o utras bases d e co ncórd i a , d e um m ovi m e nto
de so l i d a ri e d a d e e d e frate r n i d a d e em to r n o d o senti m e nto n a c i o n a l . Tu do g i ra em vo lta da i d é i a
d e Estado-N ação, d e Pátri a , d e patriot i s m o " . p . 374.
7 G O D I N H O, Vito ri n o M a g a l hães. " Co m e m o ra ções e H i stó r i a " , Lisboa, 1 947, p . 1 4- 1 5, citado
e m " Po rt u g a l e os Desco b ri m e ntos ", a rt. cit., p . 23.
309
J osé J o bs o n d e A n d r a d e Arru d a
desde que e n sej e m "est u d a r p ro b l e m a s, m e d ita r d i ret rizes, criti ca r certezas dog­
m áticas, caso co ntrá rio, m u m ifi ca m os vivos, sem ress u scita r os m o rtos"8•
2 . AS COMEMORAÇ Õ ES SALAZARISTAS
A a d ve rtê n c i a d e Vito ri n o M a g a l h ã e s G o d i n h o t i n h a ra z ã o d e s e r.
Fu n d a m e ntava-se n o q u a d ro específico d a s co m e m o ra ções po rtu g u esas n o
â m b ito d o reg i m e sa l aza rista e, a pesa r d e t e r e m s i d o fo rm u l a d a s e m 1 947, por
oca s i ã o d a s rem e m o ra ções s o b re a d esco b e rta d a G u i n é, a d eq u ava m -se perfe i ­
ta m e nte a o m o m e nto crítico vivido p e l o reg i m e d itato ri a l p o rtu g u ês nos i n ícios
d o s a n os 60. A perda d e vita l i d a d e d o I m pé r i o e ra patente n o pós-g u e rra q u a n d o
a ce l e rava-se o m ovi m e nto d esco l o n iza d o r. A g u e rra col o n i a l n a Áfri ca, e m
Ang o l a , teve i n íc i o e m m a rço d e 1 96 1 e, d e p o i s d e g e n e ra l i z a r-se p e l a G u i n é e
M o ça m b i q u e, a c a b o u p o r i nvi a b i l iza r o I m pé r i o po rtu g u ês, p o n d o fi m a o reg i m e
sa l aza rista, exti nto p e l o m ovi m e nto m i l ita r d e 25 d e a b ri l d e 1 974. Po rta nto, ca n ­
ta r o I m pério, entusi a s m a r os c i d a d ã os, com bater o espírito deca d e nt i sta; a po n ­
ta r pa ra u m n ovo p o rvi r, e ra o ú n i co ca m i n h o c a p a z d e g esta r a revita l ização
q u a se i m poss íve l .
A i d é i a n ã o e ra n ova . Despo nta ra com fo rça n a s co m e m o ra ções dos a n os 80
e 90 do sécu l o XIX. Contra p u n h a -se à i d é i a d e deca d ê n c i a veicu l a d a p e l a i ntel ec­
tu a l i d a d e críti ca dos a n os 70, exo rtava o a co rd a r pa ra a s vi rtudes c ívicas, a e l e­
vaçã o patri ótica e o esp írito d e g ra n d eza, m o b i l i z a d a s n a rem e m o ração d e fi g u ­
ras exe m p l a res d o passa d o , q u e p u d esse m espel h a r o senti m e nto n a ci o n a l i sta ,
a nt i b ritâ n i co e a nti m o n á rq u ico, e n q u a d ra d o s n u m co ro l á ri o d e i d e o l o g i a repu b l i ­
ca n a . N esse co ntexto, os cente n á rios d e C a m ões ( 1 880 ) , d e Po m b a l ( 1 882), d e
Sa nto Antô n i o ( 1 890) , d e D . H e n ri q u e ( 1 894) e d e Va sco d a G a m a ( 1 898), e n sej a m
o revi g o ra m e nto d a sensi b i l i d a d e p o rtu g u esa . Va sco d a G a m a , especi a l m e nte,
por sua v i a g e m , co m p l etada e m 1 498, por seu fa l eci m e nto, ce l e brado e m 1 924,
torna-se o s í m bo l o da raça e da o u sa d i a dos p o rtu g u eses nos m a res do m u n d o .
O cente n á ri o d a bata l h a d e Alj u ba rrota , e m 1 935, envo l ve n d o a s fi g u ra s h i stóricas
d e N u n o Álva res Pe re i ra e D . João I , bem co m o a s ce l e b ra ções d u p l a s d e 1 940,
e n l a ça n d o o cente n á ri o d a fu n d a çã � do Re i n o e d a Resta u ração, fo ra m a p ro p ri a dos e a s p e rg i dos p e l o i d e á r i o d o E sta d o N ovo .
É nesse p rocesso q u e se e nte n d e m as co m e m o ra ções d o q u i nto cente n á ri o
d a m o rte d o I nfa nte D . H e n ri q u e, e m 1 960. E l eva d o à co n d ição d e h e ró i l a ico da
n a ci o n a l i d a d e , torn a-se a fi g u ra e m b l e m ática d a ação civi l iza d o ra dos p o rtu g u eses
•
31 0
I d e m , p . 23.
•
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
por m e i o d a gesta dos Desco b ri m e ntos, fo r m a h i stó rica d e ação co n c reta q u e
vi a b i l iza a d ifu são d o s va l o res d a civi l ização o c i d e nta l , a a ç ã o h u m a n a e cristã d o
g ê n i o p o rt u g u ês . Os t ra b a l hos d a co m i ssão o rg a n i za d o ra dos festej os co m e m o­
rativos tive ra m i n íc i o e m 1 954 e, p o r seu i m pacto, co n stit u e m -se e m referência
o b rigató r i a p a ra a co m p reensão d a natu reza d a s co m e m o ra ções d o V Cente n á ri o
d o Desco bri m e nto d o B ra s i l , rea l i zadas ta nto l á , q u a nto cá . O e l e n co d a s p a l a ­
vras-chave, consa g ra d a s e m ca d a u m a d a s co m e m o ra ções, d e n ota u m a si m bo­
l o g i a reve l a d o ra : co m e m o rações sa l azaristas dos a n os 60; co m e m o ra ções d a
re d e m o c ra t i z a ç ã o d o s a n o s 90; e co m e m o ra çõ e s d o V C e nte n á ri o d o
Desco bri m e nto d o B rasi l , n a vi ra g e m d o m i l ê n i o .
Ass u m i d o co m o fi g u ra s i m bó l i ca d a e ra d o s Desco b r i m e ntos e d a constitu i ­
ção d o I m pé r i o p o rtu g u ês e, p o r d eco rrê n c i a , com seu s ím i l e o Esta d o N ovo s a l a ­
za rista , refo rço u -se s u bsta n c i a l m e nte o m ito d o I nfa nte, a d e nsa n d o seu perfi l
h a g i o g ráfi co, de h o m e m s o l itá r i o e s á b i o , e m p resá rio exitoso e re l i g i oso d evoto,
cuja ação cruza d i sta co ntra os i nfi é i s l e m b rava a cruza d a d o sa l az a r i s m o co ntra
os n ovos i nfi é i s vi n d o s d o O ri e nte, os co m u n i sta s . À s e m e l h a n ça d e Sa l aza r,
O. H e n r i q u e n ã o tive ra m u l h e r, fi l h os o u l a r. Casa ra-se com a nação, o p e rfi l d u p l i ­
cita d o d o h e ró i casto, l ú c i d o e o b rei ro . O passa d o v i aj a ra a o p resente. O .
H e n r i q u e fo ra to m a d o p o r Sa l aza r. S u a m i ssão, d e ca ráte r u n i ve rsa l , exp ressava
o m o m e nto cruci a l d a h i stó ria p o rtu g u esa, s i m bo l i za n d o o cu m p r i m e nto d e u m
i d ea l , q u ase u m a m i ssão, q u e acaba p o r u n ifica r a nação e o I m pério, conferi n d o­
lhe um senti d o h i stó rico.
Em d eco rrê n c i a , um e l e n co i nteg ra d o d e exp ressões passou a co m po r o u n i ­
verso s i m b ó l i co d a s co m e m o rações p o rtu g u esas, bati d o p o r d ete rm i n a ções d e
natu reza i d e o l ó g i ca , q u e se e n ra i z a r a m d e fo r m a p rofu n d a e fo ra m i n co rp o r a d a s
acritica m e nte : civilização ocidental, civilizar, missão, catequese, epopéia, saga,
conquista, heroísmo, descobrimen to, império, lusocen trismo, lusotropicalismo.
A este g l ossá r i o se contrapôs, d e fo rma ra d i ca l , um n ovo conju nto d e exp ressões
e p a l avras d e o r d e m , um n ovo e m e ntá rio, exp ressã o s e m â ntica d o re n ova d o
cód i g o d e va l o res e n g e n d rados p e l a Revolução dos Cravos, a pa rti r d e 1 974.
3. AS COM EMORAÇ Õ ES DA REDEMOCRATIZAÇÃ O
Ofi c i a l m e nte, com a i n sta l a ção d a Co m i ss ã o N a ci o n a l p a ra as Come­
m o ra ções dos Desco b ri m e ntos Po rtu g u eses ( C N C D P ) , e m 22 d e n ove m b ro d e
1 986, com a nteci pação d e m a i s d e u m a década e m re l a çã o aos p r i n c i p a i s eve n ­
t o s esco l h i d os pa ra s i m bo l iza r o eve nto, teve i n íc i o a ação g ove r n a m e nta l r u m o
à s co m e m o rações. C o n d u z i d a desde s u a criação p e l o Pa rtido Soci a l D e m o c rata ,
31 1
José J o bs o n d e A n d ra d e Arru d a
co u be a o poeta e e n s a ísta Va sco G ra ça M o u ra d i ri g i - l a até fi n a i s d e 1 995, q u a n do
a vitó ria n a s e l e i ções tra n sfe r i u o po der n o p a ís a o Pa rtido Soci a l i sta, e a l i d e ra n ça
n a Co m issão a o h i sto ri a d o r Antó n i o M a n u e l H espa n h a .
O Pro g ra m a E st raté g i co d a C o m i s s ã o , e n t ã o v e i c u l a d o , r e p resenta,
d efi n itiva m e nte, a p ri m e i ra co m e m o ração post mortem d o I m pé rio p o rt u g u ês.
A i nflexão e m re l a çã o aos p ri n c ípios n o rtea d o res d a s c o m e m o ra ções sa l aza ristas
é ex p l ícita . Ê nfa se n a d i m e n s ã o u n iversa l , n a i nteg ração d a h u m a n i d a d e , no
ava n ço cie ntífico e tecn o l ó g i co, n a a p roxi m a çã o d e g e ntes e cu ltu ras, passa m a
ser o centro d e s u a s p reoc u p a ções. A co n sci ê n c i a crítica d o q u e s i g n ifica come­
m o ra r tra nspa rece n o reco n h ec i m e nto d e que co m e m o ra r é um "exercício d e
reco rdação co l etiva cujas vi rt u d es ped a g ó g icas res i d e m j u sta m e nte n o fato d e
n a d a , d o b o m e d o m a u , se d ever esq u ecer". Vi s l u m b rava-se o esfo rço d e i nves­
ti r n u m a co m e m o ração co rreta , a po nto d e reco n h ecer q u e a p ró p r i a p a l avra
" descobrimento co m po rta um evi d e nte e nvi esa m e nto e u rocê ntrico ", pois se os
p o rtu g u eses fo ra m desco b r i d o res, ta m bé m fo ra m , por o utro l a d o , d esco b e rtos.
" O seu o l h a r s o b re os outros não d eve o b l itera r a fo r m a co m o os outros nos o l h a ­
ra m o u co m o e l es se o l h ava m a si m e s m o s " . E nte n d e n d o os Desco b r i m e ntos
co m o co nfro nto i ntercu ltu ra l , "as co m e m o ra ções d evem ser, p o rta nto, a oca s i ã o
d e resta u ra r e s s e co m p l exo j o g o d e i m a g e n s e d e reve rbera ções p rovoca d o p e l a
i nteração d e vá rias cu ltu ras, por vezes ra d i ca l m e nte d ife re ntes", resi d i n d o exata ­
m e nte a í a d i sti n ção e nt re co m e m o ração e p ro p a g a n d a , a resta u ração d a " i nte­
g ra l i d a d e d a m e m ó ri a "9•
O m u n d o d e ca beça p a ra ba ixo . E ste é o s i g n ifi c a d o d estas fo rm u l a ções vis
a vis à s co m e m o rações d o sa l az a r i s m o . Ass i m i l a n d o os reite ra d o s a pe l o s d e
Vito ri n o M a g a l h ã es G o d i n h o10, o Pro g ra m a E st raté g i co acentu ava pesa d a m e nte
a d i m e n s ã o c i e n t ífica d a s co m e m o ra ções, até m e s m o p o r o p o s i ç ã o ao excess i vo
ce l e b ra c i o n i s m o d a p rog ra m a ç ã o a nteri o r. Ao ri g o r d a i nvest i g a ç ã o c i e n t ífica é
atri b u ída a res p o n s a b i l i d a d e p e l a d i sti n ç ã o e ntre p ro p a g a n d a e m e m ó ri a , d a í a
p refe r ê n c i a p e l a s versões co m p l etas d e fo ntes e i nvest i g a ções, evita n d o-se a s
a ç õ e s s u p e rfi c i a is, os p rod utos fá ceis, d e rá p i d a d i vu l g a ç ã o e co n s u m o . N ã o s e
exc l u i , evi d e nte m e nte, a d i m e n s ã o co m u n itá ria e c ívi ca, m a s a ê nfa se d everia
s e r ca rrea d a pa ra " d i fu n d i r o co n h eci m e nto d o passa d o p o rtu g u ês " 11 • Exo rta o ,
9 Programa Estratégico da Comissão Nacional para as Comemorações dos Desco­
brimentos Portugueses. Lisboa : C N C D P, 1 996, p. 23.
' 0 O p ri m e i ro destes apelos s u rg i u a p ro pósito d a co m e m o ração d o cente n á ri o d a G u i né,
que fo r a m re n ovados e ntre 1 960- 1 962 e d e novo reto m a d o s e m 1 988, confo r m e opus cito.
11 Programa Estratégico, p. 2 .
31 2
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
rastre i o , i nve ntá rio, reco l h a , conservação, e d i ç ã o d o patri m ô n i o docu m e nta l h i s­
tó rico e a rtístico dos p o rtu g u eses o u re l ativo a o s p o rt u g u eses.
A ca rtog rafi a d a s a çôes p revistas pela Co m issão rev,a l a n otáve l a rg ú ci a nos
termos d o que se poderia co n s i d e ra r uma co m e m o ração " m o d e rn a " . N o Índ ico,
p ressentem-se d ificu l d a d es, pela a g u d a s e n s i b i l i d a d e cu ltu ra l e po l ít i ca q u e pôe
as p o p u l a ções e m esta do d e a l e rta p a ra q u a l q u e r ti po d e m a n ifestação q u e
p u d esse l e m b ra r, m e s m o q u e va g a m e nte, etnocentri s m o o u reviva l i s m o . Po r
isso, a refe rê n c i a é o Índ i co , e n ã o a Í n d i a , p o r co nta d a confi g u ração po l ítica atu a l
m u ito d ista nte d a o r i g i n a l . Reco n h ecer q u e esta i d enti d a d e e ra m atiza d a p o r d ife­
rentes i nteresses eco n ô m i cos, p o r p roxi m i d a d es cu ltu ra i s, re l i g iosas e l i n g ü ísti ­
cas, q u e g estava m u m senti m e nto d e coesã o i nterna e d e aversão aos estra n h os,
um espaço d efi n i d o p e l a sed i m e ntaçã o secu l a r d e h á b itos e re l a ções, em m e i o à
q u a l "os p o rtu g u eses i rro m pe m com u m fato r estra n h o e d ifi ci l m e nte c l a ssificá­
vel n o i m a g i n á ri o l o ca l " , s i g n ifica n ecess a ri a m e nte va l o riza r os co ntextos l o ca i s
d a h i stória d a expa n s ã o p o rtu g u esa, u m a d i m e n s ã o neg l i g e n c i a d a , freq ü e nte­
m e nte a m putada das h i stórias d a exp a n s ã o12 •
É i n egável q u e o foco d a s ate n ções co n ce ntra-se n o Í n d i co . É o o l h a r pa ra a
Ás i a , a ete rna m i ra g e m d a h i stó ria p o rtu g u es a . O co m p o rta m e nto e m re l a çã o a o
Ext re m o O ri e nte, especi a l m e nte pa ra o territó rio d e M a c a u q u e passa rá aos ch i ­
n eses a i n d a e m 1 999, n ã o d eve ser ente n d i d o c o m o m a rco fi n a l íssi m o d o "fi m d e
I m p é r i o " , m a s s i m "co m o u m a eta pa d a evo l u ç ã o d e u m a co m u n i d a d e q u e
Po rtu g a l aj u d o u a cri a r e a evo l u i r" . Vê-se a q u i , e m b l e m at i ca m e nte, a n ova pos­
t u ra pela q u a l os p o rt u g u eses to rn a m-se os pate r n a i s c ri a d o res d e n a ções m od e r­
n a s . E m re l a ç ã o ao B ra s i l , p res u m e-se q u e a s d ifi cu l d a des co m e m o rativas serão
m e n o res d o que o seri a m n o Í n d i co, m a s vi s l u m b ra -se que " o utras a pa rtações
h i stó ricas q u e não a p o rtu g u es a " são va l o riza das, a l é m d e serem os b ra s i l e i ros
ci osos d e sua especifi c i d a d e e o r i g i n a l i d a d e cu ltu ra i s13•
A resse m a ntização d o l éxico co m e m o ra ci o n ista está e m cu rso. Saem d e moda
as pa lavras co nsa g radas pelas co m e m o rações sa l aza ri stas . Adentra m o ce n á ri o u m
n ovo conj u nto d e exp ressões: cultura, pluralidade cultural, confronto inter cultural,
interação de culturas, encontro do outro, imagens, olhares, sensibilidade, desco­
bertas recíprocas, policentrismo históric_o, co nsa g radas p e l o novo rito da co m e m o­
raçã o . Ta l i nve ntá rio m u ito se d eve, por certo, a o com issári o-g e ra l Antó n i o M a n u e l
Hespa n h a , p a ra q u e m a escrita da h i stória d eve ser p l u ra l ista , a u scu lta r fo ntes
d iversas, esta r atenta aos va l o res p ró p rios d o passado, d esco nfi a n d o s e m p re d a
12 I d e m , p . 1 1 .
13 Idem, p. 1 0.
313
J osé J o bs o n d e A n d r a d e Arru d a
l i n ea ri d a d e d a s exp l i ca ções, dos j u ízos d o g m atizados d e va l o r, e nfi m , esta r l i g a d a
p a ra o fato d e q u e cu ltu ras extre m a m e nte d i ve rsas s ã o postas e m co ntato e q u e
o d i á l o g o e ntre e l a s é teci d o d e m a l -e nte n d i d o s e d e desenco ntros, o q u e refo rça
a ação co m p reensiva dos h i stori a d o res. Pa ra e l e, a a uto-est i m a de u m povo, o
o rg u l h o p o r seu passa d o , exi g e m o reco n h ec i m e nto d a s p ró p ri a s fa l h a s e a capa­
cidade d e res i st i r às críticas, ú n ica fo r m a d e e l i d i r o n a rc i s i s m o e n g a n a d o r, q u e
afa sta o co n h eci m e nto d e si m e s m o e d e s e u pass a d o .
I n evitave l m e nte te ria i n íc i o a d e m o l ição dos m itos e r i g i dos p e l o a nt i g o
reg i m e . D . H e n ri q u e perm a n eceu e m ce n a , m a s s u a h a g i o g rafi a e n t r o u e m fa se
de d esco n stru çã o . G ra d ativa m e nte perdeu o cetra q u e l h e fo ra confe r i d o p o r
Fern a n d o Pessoa, e m Mensagem: o d e ser o ú n ico i m p e ra d o r q u e teve, d everas,
"O g l o b o m u n d o e m sua m ã o " . Ao ca rtaz co m e m o rativo d e 1 960, q u a n d o o
I nfa nte, com traços fi si o n ô m i cos n ít i d os, fitava confia nte o p o rvi r, se contra p u n h a
a c a p a d o catá l o g o da expos ição rea l i za d a e m To m a r, e m 1 994, o n d e o rosto
ocu lta-se sob ret ícu l a q u e o d i sso lve, n u m a c l a ra refe rê n c i a ao n u b l a m e nto da
fi g u ra h i stórica, i ro n i ca m e nte rotu l a d o "O Rosto do I nfa nte " . Só q u e n ã o há rosto .
H á u m a m a n ch a , através d a q u a l vi s l u m b ra-se a si l h u eta co n h ec i d a d o I nfa nte.
G ra d u a l m e nte, a s n ovas pesq u i sas fo ra m c o rri g i n d o os excessos e n g a sta l h ados
à fi g u ra d o i m p e ra d o r d o m u n d o : n ível d e seus co n h eci m e ntos, i nte resses m ate­
ria i s n a expa nsão, ação s o l itá ria n a e m p resa m a rít i m a , m é rito rel ativo a outros
conte m p o râ n eos, a exe m p l o d e D . Ped ro , D . D u a rte (fi l h o s d e D . João 1 ) , D . J o ã o
1 1 e B a rto l o m e u D i a s, com a reva l o rização d a passa g e m d o Ca bo d a B o a
E s p e ra n ça . A D. J o ã o 1 1 passa a ser atri b u íd o o m é rito d e te r s i d o o verd a d e i ro
fu n d a d o r d o I m pério Po rt u g u ês . A D . H e n ri q u e recusa-se a fi g u ra d e cava l e i ro
ro m â ntico e h e ró i , co m o fo i i m o rta l izado p o r G o m es E a nes de Az u ra ra . N ã o pas­
saria d e um e m p resá rio consci e nte, cujo m é rito rea l fo i o d e t o rn a r rot i n e i ra a
navegação e m a lto m a r, n o Atl â ntico, p o r co nta de seus i nte resses n o s a rq u i pé­
l a g o s da M a d e i ra e Aço res . O I nfa nte cog n o m i n a d o " N aveg a d o r" never crossed
more than the Strait of Gibraltar"14•
Va sco da G a m a , i g u a l m e nte, n ã o esca p o u à revi s ã o h i sto r i o g ráfica .
Pe rso n a g e m de fô l e g o h istó rico i n co m pa ráve l , pois fo i d esta q u e n a s co m e m o ra­
ções re p u b l ica n a s d e 1 898 e 1 924, reto rna a o centro d a s co m e m o rações a o i n spira r o p ri n c i p a l eve nto da a g e n d a festiva, a ú lti m a exposição m u n d i a l d o sécu l o , a
EXPO 98, a o mesmo te m po q u e e m p resta seu n o m e à po nte q u e será, certa m e nte,
14 Cf. V E R L I N D E N , C h a rles. " Pri nce Remy in M o d e r n Perspective as Fat h e r of t h e
' Desco b r i m e ntos " ' , Portugal, The Pathfinder. Joumeys from the Medieval To ward the Modem
World 1300-ca. 1 600. WI N I U S , G e o rg D. ( E d . ) . M a d i s o n , 1 995, p. 87.
314
•
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
u m dos ca rtões posta is d o m o d e r n íssi m o Po rt u g a l , q u e b u sca ser a p l atafo r m a
Atl â ntica da E u ro p a . Bastava m esta s d u as refe r ê n c i a s pa ra a q u i l ata rmos a p re­
s e n ça i n d e l éve l d e Va sco d a G a m a n o i m a g i n á ri o p o rt u g u ê,s, ex p ressão, n o fu n d o ,
d a persistê n c i a d o m ito d o O ri e nte. S u a fi g u ra h i stórica, p o ré m , n ã o res ist i u i n có­
lume.
Festej a d o co m o expressão m a i o r d o a g u e rri m e nto, d o esp írito d e i n i ci ativa,
d a ca p a c i d a d e e m p re e n d e d o ra d a raça, d a i m a g e m fo rte e positiva d a p resença
p o rt u g u esa nos outros l u ga res d o m u n d o e m ce l e b ra ções pa ssa das, sofreu fo rtes
restrições n o co n g resso rea l izado e m N ova De l i , em 1 998, i ntitu l a d o s i g n ifi cati­
va m e nte Do colonialismo à globalização: cinco séculos depois de Vasco da Gama,
centra d o na te m ática d a s re l a ções d es i g u a i s e i nj u stas e nvo l ve n d o e u ro p e u s e
a s i áticos, cujo po nto d e p a rt i d a teria s i d o a v i a g e m de 1 498. Po r ce rto, a cati l i n á ­
ria a nte Va sco d a G a m a terá conti n u i d a d e n o s eve ntos o rg a n izados n a Í n d i a ,
d a q u i a t é o fi m d a s co m e m o ra ções. S i m pósios e co n g ressos p ro g ra m a d o s pa ra
Ca l ecut e Coch i m d a rã o , certa m e nte, o p o rtu n i d a d e a m a n ifestações d e fu n d o
u ltra n a ci o n a l i sta, senti m e nto extre m a m e nte exace rbado n a Í n d i a n o s d i a s q u e
co rre m , e q u e se trad uzem em m o b i l izações a nti-i m pe r i a l i stas, pa ra a s q u a i s a s
v i a g e n s d e Va sco d a G a m a , s o b retu d o a seg u n d a , d e 1 502, é u m festi m d e q u e i­
xas. I n sta l a -se, a l i , um verd a d e i ro tri b u n a l a ntico m e m o ra ci o n i s m o que ressoa até
m e s m o em g ra n des eve ntos patroci n a dos por i n stitu i ções po rt u g u esas, co m o a
Fu n d a çã o G u l be n ki a n , rea l i zado e m m a i o d e 1 998 e m Pa ris. O e;o n g resso Vasco
da Gama e a Índia, começou p e l a s d u ra s críticas à po l ítica de co nve rsã o fo rça da
d o s h i n d u s a o cato l i c i s m o , u m ret rato c ru e l d a ação i n q u isito r i a l e m G o a , exp l i ­
cita m e nte d e n u n c i a d a p e l a h i sto ri a d o ra i n d i a n a Prati m a Ka m at co m o p rod uto d e
u m t ri b u n a l i nfa me, concl u i u -se com a frase: " Esse h e ró i é p u ra fi cçã o " , p rofe r i d a
p e l o p o l ê m i c o h i sto r i a d o r i n d i a n o , n a s c i d o e m N ova Dé l i , Sa n j a y
S u b ra h m a nya m .
O espaço d a d o a Sa njay p e l a s l i d e ra n ça s p o rtu g u esas res p o n sáve i s p e l o
p ro g ra m a d a s co m e m o ra ções, especi a l m e nte p o r seu co m i ssá rio-g e ra l , Antó n i o
M a n u e l H es p a n h a , é b e m u m a p rova d e a be rtu ra e m re l a ção a o s q u e fo ra m s e m ­
p re os " o utros", a o p o rtu n i d a d e pa ra q u e s u a s vozes se fizessem o u v i r, n u m a
d e m o n stração i n eq u ívoca d e q u e a s d i retrizes i n cl usas n o Programa Estratégico
n ã o e ra m m e ra p r o pa g a n d a s e m m a i s co n seq ü ê n c i a , a n ú ncios vazios d esti n a ­
d o s a fi ca r n o p a p e l . Ta refa d ifíci l , co m o se v ê , p o i s n ã o fo ra m p o u cos os cons­
t ra n g i m e ntos p rovoca d o s pelas revisões c ríticas, que se t ra d u z i ra m e m ata q u es
acé rri m o s à s l i d e ra n ças d a Comissão, p e l o q u e co n s i d e rava m s u a excess i va
l i be ra l i d a d e e, até m e s m o , fa lta d e patriot i s m o . Afi n a l d e contas, a h e ra n ça d o
i d e á ri o sa l aza rista e m Po rt u g a l m a nte m -se fo rte m e nte e n ra i z a d a n o s seto res
31 5
J osé J o bs o n d e A n d ra d e Arru d a
m a i s c o n s e rva d o res d a soci e d a d e , e n ra iza m e nto este q u e u m q u a rto d e sécu l o
n ã o fo i a i n d a capaz d e e rra d i c a r.
Po r t u d o i sto, é a lta m e nte s i g n ificativo q u e u m . h i sto ri a d o r i n d i a n o , co m
passa g e n s p o r u n ivers i d a d es a m e ri ca nas, q u e l e ci o n o u e m Po rtu g a l e, atu a l ­
m e nte, enco ntra-se n a École des Hautes Études e n Sciences Sociales, q u e escre­
veu u m l i vro extre m a m e nte crítico s o b re a p rese n ça po rt u g u esa na Í n d i a , O
Império Português na Ásia, 1 500- 1 700, sej a i nterl ocuto r p e rm a n e nte dos pesq u i ­
s a d o res e d a media p o rt u g u esa . O l i vro p o r e l e escrito, The Career a n d Legend o f
Vasco da Gama, d e 1 99715, p e rseg u e a d e m o l ição d o m ito, o u m itos, p o i s Va sco
da G a m a teria sofri d o n u m e rosas rea p ro p ri a ções h i stó ricas e h i sto riog ráfi cas em
Po rtu g a l . Em seu p ró p r i o te m po , fu n ci o n o u co m o um cata l i s a d o r, um s í m b o l o d a
u n i d a d e i n existente n o s e i o d a própria e l ite, e m re l a çã o a o s d esti n o s d a expa n ­
s ã o . E l e rep rese nta a i l u s ã o d e u m aco rd o , q u e reco b re a s fo rtes d i ss e n ções entre
o s d efe n s o res d e u m a v 1 s a o m es s i â n i c a e o u tra m a i s p r a g m át i ca .
Pa rti cu l a rme nte, Vasco d a G a m a d efe n d i a a m i n i m a l ização d a p rese n ça p o rtu­
g u esa n a Í n d i a , red u z i n do-se o n ú m e ro d e fo rta l ezas estrateg i ca m e nte posicio­
n a d as, a exe m p l o d e G o a e Coch i m , d e ixa n d o-se a s d e m a i s p raças a o e ncargo d e
pa rticu l a res. U m dos aspectos m a i s p o l ê m i cos d a pe rso n a g e m reco nstru ída p e l o
h i sto r i a d o r i n d i a n o , q u e a b re fi ss u ras n a fig u ra m o n o l ítica d o h e ró i , é o d esta q u e
p a ra s e u s i nte resses p rivados e m re l a çã o a o s p ú b l icos. Apo nta d o co m o u m m e r­
ca d o r d o s serviços rég ios q u e vi sava exc l u s i va m e nte b e n efícios pessoa i s e fa m i ­
l i a res, u m c a s o d e b u sca i n conti d a p o r asce n s ã o soci a l , q u e o p roj eta ra m a o esca­
l ã o dos se n h o res m a i s p o d e rosos d o re i n o p o rtu g u ês . Um exe m p l o d e privatiza­
ção p recoce d a ação co l etiva m o b i l izada pelo E sta d o Po rtu g u ês, que o l evo u a o
l i m ite d e ch a nta g e a r a c o r o a e m b e n efíc i o pessoa l .
A escassez d e i nfo rmações s o b re a traj etó ria h i stórica d e Vasco d a G a m a
sobreleva a fo rça i nterp retativa . N a fa lta d e d a d os, reco rre-se à co ntextu a l ização e ,
s o b retu d o , à i m a g i n a çã o . E m d ecorrê n c i a , os retratos s ã o contrasta dos, d i l acera­
dos m e s m o . E n q u a nto Sa njay escovava a contra p e l o a b i o g rafia d e a nti-heró i , a
h i sto ri a d o ra fra ncesa G e n evi eve Bouchon rea l iza u m tour de force e m seu l ivro
Vasco da Gama, de 1 998'6, pa ra tra nsfo r m a r os pa rcos e ru d i m e nta res fra g m e ntos
h i stó ricos d i s po n íveis n u m a b i o g rafi a centra d a n a i d é i a d e recri a r a traj etó ria do
naveg a d o r, d a n d o m a rg e m , n ecessa ri a m e nte, a u m desmed i d o esfo rço i nterpre­
tativo, res u lta n d o n u m a espécie d e b i o g rafi a ro m a n ce ada, p o rq u e u lt ra p a ssa em
1 5 S U B RAH MANYA M , Sanj ay. The Career and Legend af Vasca da Gama. Ca m b rid g e :
Ca m b r i d g e U n i versity Press, 1 997.
16 B O U C H O N , G e n ev i eve. Vasco da G a m a . Pa ris: Faya rd, 1 998.
31 6
•
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
m u ito a s poss i b i l i d a d es conti d a s no m ate ri a l e m p í rico d i s po n íve l . Co m o o te r­
re n o docu m e nta l é ced i ço, i m põe-se a fo rça da cri ação l iterá ri a . M a i s contido, p l e­
n a m e nte conscie nte d a s d ificu l d a d es d e s u a ta refa , o e m é rito h i stori a d o r p o rtu­
g u ês, L u ís Ad ã o d a Fo nseca, com a m p l o d esco rtín i o e co n h ec i m e nto d o s p ro b l e­
m a s re l a c i o n a d o s com a tem ática d a s co m e m o ra ções, p o i s p res i d i u a co m i ssão
científica d a Comissão dos Descobrimentos e ntre 1 99 1 e 1 995, a l é m d e ter sido
p o r m u itos a n os p res i d e nte d o I n stituto C a m ões, p u b l icou o a l enta d o est u d o
Vasco da Gam a - O Homem, a Viagem, a Época, e m 1 99817• Co m o o p ró p r i o t ítu l o
i n d ica, reco rre m a i s a o co ntexto e m e n os à i nterpreta ção d a s pa rcas evi d ê n ci a s
existentes, a c a ute l a n d o-se co ntra os excessos cri ativos, sej a n a perspectiva m a i s
crítica, sej a n a s u a d i m e n são ro m a ncea i . O p rofu n d o co n h eci m e nto q u e t e m d a s
o r d e n s m i l ita res e m Po rtu g a l , especi a l m e nte d a O r d e m d e Sa nti a g o , à q u a l p e r­
te n c i a Va sco d a G a m a , l eva-o a c o n t ra p o r-se à i nt e r p reta ç ã o d e Sa n j a y
S u b ra h m a nya m , p o n d e ra n d o q u e e ra d a natu reza d o te m po, p ráti ca co m u m n a
época, m i l ita res p rofiss i o n a i s a o serviço d a rea l eza b e n efi c i a rem -se com os p ro­
veitos d a expa n s ã o , n ã o se p o d e n d o , p o rta nto, atri b u i r esta fa ceta d e Va sco d a
G a m a a u m a fa l h a d e ca ráter'8•
É extre m a m e nte i nteressa nte n ota r q u e, a pesa r das revisões em cu rso, o m ito
do g ra n d e h e ró i Vasco da G a m a a i n d a se p ropaga, sem restrições, sem j aça, na
fo rma de s u a p ri m e i ra criaçã o . O ce l e b ra d o h isto r i a d o r n o rte-a merica n o David
La n d es, e m seu best-seller rece nte, A Riqueza e a Pobreza das Nações, exa lta os fe i ­
t o s d e " h o m e n s como Va sco da G a m a , afeito à s l i des d o m a r d e s d e a i nfâ ncia, tem­
pera m e nto i nflexíve l e capaz de decisões d u ras"19, um verdadei ro e m p resá rio
sch u m pete riano, capaz d e i n ici ativas a rrojadas e o ri g i n a i s . Nada fica a d ever a o e l o ­
g i oso retrato d e b uxado por Diogo do Couto, e m 1 599, pa ra q u e m Vasco d a G a m a
d eve ria ser a p e l i d ad o "o Índ ico", po r t e r rea l izado ta refas só asse m e l h a d a s a J acob,
que por seu va l o r e esfo rço m e receu ser ch a m a d o " I s ra e l " . De fato, por ter co m u n i ­
c a d o o Tej o e o G a n g es, o M i n h o e o E u frates, o Dou ro e o N i l o , o G u a d i a n a e o
T i g re, a Í n d i a d everia passa r a ch a m a r-se " G a m a "20• Retratos u n ívocos, c o m o se vê,
17 F O N S E CA, L u ís Ad ã o da. Vasco da Gama - O Homem, a Viagem, a Época. L i s b o a : E d i çã o
EXP0 ' 98, 1 997.
1 8 As co m e m o ra ções e n sej a ra m u m a d a s p ri m e i ras i n i ci ativas edito r i a i s a propósito dos
desco b r i m e ntos, n a fo r m a d e uma co l eção, Cf. BETH E N C O U RT, Fra n cisco e CHAU D H U R I , Ki rt i .
História da Expansão Portuguesa. L i s b o a : Círcu l o d e Leito res, 1 998.
1 9 C F. LAN D E S , Dav i d . A Riqueza e a Pobreza das Nações. Tra d . R i o d e J a n e i ro : Ca m pus,
1 998, p . 9 5 .
" Cf. C O U TO, D i o g o d o . Tratado dos Feitos d e Vasco d a Gama e seus Filhos n a Índia ( 1 599,
1. ed . ) , reed ita d o pela C N C D P. 1 998.
31 7
José J o bs o n d e An d ra d e Arru d a
e q u e fl u e m d a m e s m a fo nte, o e l ã e u roce ntrista q u e i nfo rma os d o i s textos,
m e s m o q u e sepa ra d o s por q u atro sécu l o s d e h i stó r i a .
A esco l h a d e n ovos te m a s pa ra a co m e m o ração, m u itos d e l es re l egados a o
esq u eci m e nto e, s o b retu do, d i v i d i d o s com com peti d o res h i stó ricos, co m o é o
caso d o Tratado de Tordesilhas, q u e exi g e u m a re m e m o ração conj u nta com a
Espa n h a , si n a l i za o red i reci o n a m e nto d a a g e n d a d a Comissão i m p l ícito nos
n u m e rosos co n g ressos rea l i zados n a Espa n h a , e m Po rt u g a l e n o B ras i l , passa n d o
p e l a s p u b l i ca ções, d e ntre as q u a i s d esta ca-se o Corpus Documental d o Tratado
de Tordesilhasl', até o ato si m bó l i co de m e d i ç ã o do m e ri d i a n o de To rdesi l h as, rea­
l i zado por eq u i pe cie ntífica i n sta l a d a a bordo d e u m a frota d e navios q u e pa rt i u
d e Po rtu g a l e m 26 d e j u n h o d e 1 994, i nteg ra d a p o r ba rcos p o rtug u eses, espa­
n h ó i s, b rasi l e i ros, a rg e nti nos e ve n ezu e l a n o s . A a b e rtu ra pa ra a cooperação i nter­
n a ci o n a l , com eça n d o p e l a Espa n h a , e ra u m a a nt i g a d e m a n d a d e Vito ri n o
M a g a l h ães G o d i n h o , q u e pen sava ser esta a ú n i ca fo rma p e l a q u a l as co m e m o­
rações p o d eri a m revita l i za r a h i sto riog rafi a dos desco b ri m e ntos22• Os 450 a � os d a
ch e g ad a d o s po rtu g u eses a o J a pã o fo ra m co m e m o ra d o s e m 1 993 com u m a série
d e eve ntos e p u b l i ca ções, sendo, contu do, a s co m e m o ra ções p revistas pa ra o
a n o 2000 i nte i ra m e nte d e d i c a d a s ao B ras i l , e l e g e n do-se as c i d a d e s d o Po rto e
S a l va d o r co m o refe rê n c i a s pa ra a ce l e b ra çã o . Fi n a l m e nte, va l e a p e n a ressa lta r o
e n o r m e esfo rço de m o b i l ização i nterd isci p l i n a r, especi a l m e nte d es e nvo l v i d o
p e l o s sem i n á ri o s rea l izados n o Centro d e E st u d o s G e ra i s d a Arrá b i d a .
O viés u n ive rsa l i za nte d a co m e m o ração d o fi n a l d o m i l ê n i o p ressu põe,
co m o j á v i m os, o afasta m e nto d a visão l u socê ntrica e e u rocê ntri ca, d esca rta n d o ,
d efi n itiva m e nte, a ce l e b ração dos Desco bri m e ntos e m t e r m o s d e s u a voca ção
cruza d i sta . E m seu l u g a r e m e rg e a q u a l ificação d e Po rtu g a l co m o pa rce i ro e i nte r­
l ocuto r p rivi l e g i a d o d a s n a ções q u e fo ra m ex-co l ó n i a s em re l a çã o à U n i ã o
E u ro p é i a , i m p reg n a n d o com u m a uti l i d a d e n ova a co m e m o ração e m cu rso : " l e m ­
b ra r aos n ossos pa rce i ros a p o s i ç ã o privi l e g i a d a q u e p o d e m o s ocu pa r n o d i á l o g o
d a E u ro p a com i m po rta ntes reg i ões d esco l o n iz a d a s . F a z assi m se nti d o l uta r p e l o
2 1 Corpus Documental do Tratado de.Tordesi/has, F O N S E CA, Lu ís Adão da e ASCE N S I O,
José M a n u e l , coord e n a d o res c i e ntífi cos, E d i ção Soci e d a d V Cente n a rio Trata do de To rd esi l h as,
Va l l ad o l i d , 1 995.
22 Vito ri no M a g a l h ã e s G od i n h o s e m p re ente n d e u a s co m e m o rações co m o fo r m a de revit a l ização da h i sto riog rafi a dos desco b ri m e ntos, a b ri n d o-se n e cessa r i a m e nte à co l a boração
i nternaci o n a l , especi a l m e nte co m os espa n h óis, pois, p e re m pto r i a m e nte afi rm ava, co m o é de
seu t e m p e ra m e nto, " Recusamos ass i m sacra l iza r seq u e r a n a çã o , q u e re m o s h o m e n s co nscien­
tes d a s u a d i g n i d a d e n a c i d a d a n i a " . Opus cit., p . 3 5 .
318
'
,
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
p ro l o n g a m e nto d a n ossa p resença cu ltu ra l (a l ín g u a , os m o n u m e ntos) nas a ntigas
co l ô n i a s, ta refa ca da vez mais d ifíc i l p o rq u e se te rá d e co n cretiza r n o co ntexto d a
concorrê n c i a m u n d i a l , e n o i nteri o r d e u m b l oco po l íti co-eço n ô m ico o n d e existem
vá rias h e ra nças co l o n i a i s conco rrentes e ntre si ( Espa n h a , Fra nça, l n g l ate rra ) . "23•
Po r essa v i a , Po rtuga l se despe, d efi n itiva m e nte, d a ro u pa g e m co l o n i a l ista .
Abd i ca d a co n d i çã o d e " m etrópo l e " . Põe n o esq u eci m e nto a exp l o ração co l o n i a l
rea l izada d u ra nte m u itos sécu l os e m vá rios conti n e ntes. Reva l o riza, n a s entre l i ­
n h a s, s e m assu m i r exp l i cita m e nte, a i d é i a d e fo m e nto, t ã o ca ra à h i sto riog rafi a
d o E sta d o N ovo, pois o exe rcíc i o d o n ovo p a p e l p ress u põe enfati za r u m certo
pate rn a l i s m o , q u e teria l eva d o as co l ô n i a s a se tra n sfo r m a re m em n a ções i n d e­
p e n d e ntes, a p roxi m a n d o o u n i versa l i s m o dos Desco bri m e ntos com o m u n d o da
G l o b a l izaçã o . N esse co ntexto, m a i s u m a vez, torna-se i n d ispe nsável n u b l a r as
ru ptu ra s tra u m áticas, m u ito especi a l m e nte as g u e rras co l o n i a i s tão recentes, a p l i ­
ca n d o n a s fe rid a s a bertas o l e n itivo d a s p ro m essas i n scritas n o futu ro, m u ito
especi a l m e nte n o fo rta l eci m e nto da co m u n i d a d e q u e fa l a p o rtu g u ês, d i s pe rsa
p o r ci nco conti n e ntes, co m u n i d a d e p e n s a d a co m o so l i d á ri a , mas n ecessári a­
m e nte d i ve rsa, com d ife rentes sensi b i l i d a d es p e ra nte a h i stó ria, m a s q u e, at ravés
da L usofonia, p o d e rá cri a r um futu ro co m u m . M a i s u m a vez, fo i n ecessá r i o refo r­
ça r as a postas no p rese nte, exo rciza n d o os fa nta s m a s do passado q u e conti n u a m
a ro n d a r a m ã e-pátri a .
I sto exp l i ca a esco l h a d o s Oceanos co m o s í m b o l o m a i o r d a s co m e m o ra ções,
pois, a par d o visíve l a pe l o eco l ó g i co, s i g n ifica re m eter a g ê n ese d o p rocesso de
g l o b a l ização p a ra a e ra dos Desco b r i m e ntos; o pote n c i a l po rtu g u ês n o d i á l og o
c o m a s reg i ões d esco l o n iz a d a s em vi rt u d e d e s e u ca p ita l h i stó rico-cu ltu ra l ; e o
refo rço d o d i á l og o Po rtu g a l - B rasi l co m o co n d i çã o sine qua non d a a p roxi m a çã o
M e rcosu i - U n i ã o E u ro p é i a , fu nção p a ra a q u a l Po rtu g a l está sobej a m e nte voca­
c i o n a d o . A re l a ç ão d o h o m e m com o m a r, d e u m a fo r m a i nte m po ra l ressa lta a
g ra n d e m etáfo ra d a g l o b a l ização, as á g u a s i nteg ra m os conti n e ntes e os h o m e n s,
são l ím p i d a s e tra nspa rentes, p o rta nto, u n i ve rsa i s . No fu n d o , a s i m bo l o g i a da
co m e m o ração dos Cente n á rios em Po rtu g a l é um h i n o a o seu l u g a r n o m u n d o da
g l o b a l izaçã o .
U m Po rtu g a l q u e se q u e r d esenv_o l v i d o , d e m o c rático e e u ro p e u , tra n s p a ­
rece n o esfo rço e m t ra n s m iti r m o d e r n i d a d e , d e va l o riza r a d i m e n s ã o c i e ntífica
d o s Desco b r i m e ntos, " a p recu rsora a p l i ca ç ã o d e c rité r i o s d e raci o n a l ização e de
g estã o p l a n ifica d a "2\ q u e se t ra d u z i u n a p re p a ração m et i c u l os a , n a exe c u ç ã o
" CATRO GA, Fe r n a n d o , opus cit., p . 6 1 9 .
24 I d e m , p . 6 1 7.
31 9
José J o bs o n de A n d ra d e Arru d a
ra ci o n a l , n a ação estratég i ca q u e reva l o riza o s i g n ifica d o d e Sag res . Q u e o m ito
do cruza d i s m o n ã o sej a s i m p l es m e nte s u bstitu ído p e l o m ito do c i e ntifi c i s m o .
Desta rte, a o g l ossá rio e l e ncado a l g u res, tería mos q u e a d u z i r a s ex p ressões:
dimensão cien tífica, inovação tecnológica, gestão planificada, execução racional,
ação estratégica.
N otáve l , p o rta nto, a res po nsa b i l i d a d e co m a q u a l o g ove r n o p o rtu g u ês
e nfre nto u o co m p l exo p ro b l e m a d a s co m e m o ra ções d o s Desco b ri m e ntos. Pod e­
se d i sco rd a r de m u itas coisas, m a s n ã o d a q u a l i d a d e d a s d i scu ssões, d a co n d u ­
ção d e m ocrática, d a e n o rm e visi b i l i d a d e e, p o r certo, d o s res u lta d o s a t é a q u i
a l c a n ça d os, q u e se tra d u ze m , m o d esta m e nte, e m m a i s d e 300 l i v ros p u b l icados.
Po r certo, esc u d a d os n a s experi ê n c i a s a nte r i o res, os p o rtu g u eses co m eça ra m
ced o , p o i s o l a n ça m e nto ofi c i a l d a Comissão é d e 22 d e n ove m b ro d e 1 986, q u er
d izer, dez a n os a ntes d e s u a co n g ê n e re b ras i l e i ra . De fato, a Com issão Nacional
para as Comemorações do V Centenário do Descobrimento do Brasil fo i cri a d a
p o r decreto Presi d e n c i a l d e 1 2 d e m a i o d e 1 993, po rta nto, s o b a p re s i d ê n c i a d e
Ita m a r Fra nco, q u e d e u a s u a co n d u çã o a o M i n isté rio d a E d u cação e Despo rtos,
e ntão sob a res ponsa b i l i d a d e d o M i n i st ro M u ri l o H i n g e l . M a s fo i s o m e nte sob o
g overno Fe r n a n d o H e n r i q u e Ca rdoso, a 6 de feve rei ro d e 1 996, q u e a C o m issão
fo i refo r m u l a d a e tra n sfe r i d a p a ra a sea ra d o M i n i stério d a s Rel ações Exte rio res,
d e p o i s de ter s i d o recu sada por o utros M i n istérios. A p res i d ê n c i a da C o m issão
N a c i o n a l co u be a o rep rese nta nte d o M i n i sté rio das R e l a ções Exte rio res, que i n d i ­
c a o Secretá rio-Executivo, n o m o m e nto u m e m ba ixa d o r d e ca rre i ra .
4 . AS COMEMORAÇ Õ ES O FICIAIS BRAS I LEI RAS
So m e nte em 1 6 de j u n h o de 1 997 fo i p u b l i ca do no D i á ri o Ofi ci a l o p ro g ra m a
d e a ç ã o d e n o m i n a d o Diretrizes e Regulamento, q u e p o d e r i a ter-se b e n efi c i a d o
e n o rm e m e nte d o Programa Estratégico d a Comissão p o rt u g u esa . M a s i sto n ã o
aco ntece u e o resu lta d o é n efasto, co m o se v e r á a seg u i r, o q u e p o d e r i a t e r s i d o
evita d o soco rre n d o-se d a p resença d e h i sto ri a d o res d e p rofi ssão n a Comissão de
Apoio, o u , o q u e seria m a i s próprio, ch a m a n d o u m a d i scussão m a i s a m p l a p a ra
o uvi r s u g estõ es, especi a l m e nte da assoc i a ções a lta m e nte re p rese ntativas, a
exe m p l o d a AN P U H (Assoc i a çã o N a ci o n a l dos Profiss i o n a i s U n ivers itá rios d e
H i stóri a ) .
A s Diretrizes com eça m p o r d efi n i r o o bj eto d a s co m e m o rações: " a ch egada
d a esq u a d ra d e Ped ro Álva res Ca b ra l à s costas" brasi l e i ra s . Privi l e g i a-se d esse
m o d o , o d esco bri m e nto, a pesa r das rese rvas conti d a s na u n i d a d e VI A questão
do "descobrimento ; o n d e se reco n h ece o possível coro l á ri o e u rocê ntrico q u e a
320
•
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
exp ress ã o e n ce rra, mas i n s i ste q u e a " m e ra t roca de n o m es" n ã o d e s m o nta rá os
m itos constru ídos, q u e p reserva r o te r m o d esco b ri m e nto não s i g n ifica aceita r o
e u roce ntri s m o e q u e a Comissão p o d e rá a p o i a r p roj etos , " q u e p rocu re m a m p l i a r
o co n h eci m e nto d a q u e l a rea l i d a d e e q u e p o d e rã o l eva r à p ró p ri a s u p e ração d o
co nce ito d o desco b r i m e nto"25• Desco b ri m e nto n ã o é u m co n ceito . É u m a exp res­
são q u e reco b re d eterm i n a d a rea l i d a d e h i stórica conti d a n u m reco rte te m po ra l .
O co n ceito p ress u põe se m p re u m a e l a bo ração teórica e contém u m a e l eva d a
d o sa g e m d e a bstraçã o . Po rta nto, se p e n s a r m os n a expressão d esco b ri m e nto,
co m o refe r i d a a um evento o u co nj u nto d e eve ntos a p roxi m a d os, q u e i n c l u i a
ch e g a d a a o conti n e nte a m e ri ca n o de u m n aveg a d o r p o rtu g u ês, Ped ro Álva res
Ca b ra l , é p reciso reco n h ece r q u e esta mos a q u é m dos p ró p ri o s e p res u m íveis
d esco b r i d o res, pois o d ec reto i n stitu i nte d a Comissão p o rtu g u esa uti l izava a
expressão descobrimento com p u d o r, su bstitu i n d o-a p o r descoberta. O Programa
Estratégico d e 1 996 e ra a i n d a m a i s exp l ícito, a o afi rm a r q u e a exp ressã o
descobrimento co m p o rtava u m evi d e nte e nviesa m e nto e u rocê ntrico e q u e, p o r­
ta nto, se os p o rtu g u eses fo ra m descobridores, fo ra m ta m bé m descobertos. Cisto
s i g n ifica q u e as p o p u l a ções a utócto nes h a b ita ntes d a s ce rca n i a s da Co ro a
Ve rm e l h a fize ra m i g u a l m e nte, a seu m o d o , seu p r ó p r i o d esco bri m e nto .
M a i s g rave a i n d a é reco rd a r q u e a expressão d esco bri m e nto l i d e rava o
i nventá r i o d a s pa l av ra s-ch ave co nsag ra d a s p e l a s co m e m o rações S a l aza ristas, o
q u e n o s col oca n u m a posição n a d a confo rtáve l . E n ã o é q u e fa ltassem l i ções n o
sent i d o contrá r i o . Desde q u e Ca p i stra n o d e Abreu p u b l icou s e u s Capítulos de
História Colonia f26, e m 1 907, já se d e l i n ea ra u m a i nversão m a rca nte n a escrita d e
n ossa h i stó ri a , p o i s com eça s u a o b ra a p a rt i r d o desco b ri m e nto d e u m q u a d ro
h u m a n o e a m b i e nta l q u e p recede a ch e g a d a d e Ca b ra l . N e m m e s m o os l i vros
d i d áticos d esta s é r i e atu a i s p a rtem d a ch e g a d a dos e u ro p e u s . Com eça m com a
p ré-h i stória b ra s i l e i ra , u m d esco bri m e nto m a ravi l h oso q u e res u lta d o s ava n ços
s i g n ificativos d a s pesq u i sas a rq u eo l ó g i cas, que tra n sfo r m a m S ã o Ra i m u n d o
N o n ato n u m be rço n o rd esti n o d o nasci m e nto d o povo b ra s i l e i ro . Po r q u e n ã o
p a rti r d o n osso p ró p ri o a utodesco b r i m e nto?
O seg u n d o tema e m d esta q u e é ca racte riza r a nação " pe l a p l u ra l i d a d e ét n i ca
e p e l a d i ve rs i d a d e cu ltu ra l " . Escu d a d.a s n a h e ra n ça p o rtu g u esa, a g reg a d a p o r
o utras contri b u i ções, " a cu ltu ra b ra s i l e i ra d e m o n stra, ta nto e m s u a m atriz e r u d ita
2 5 Diretrizes e Regulamento, Com issão N a c i o n a l pa ra as C o m e m o rações do V Cente n á ri o
d o Desco b r i m e nto do B ra s i l , B rasíl i a , 1 997, p . 9- 1 0 .
26 A B R E U , C a p i stra n o d e . Capitulas d e História Colonial, ( 1 907 1 . e d . ) , 3 . e d . Revi sta e a n o ­
tada p o r J o s é H o n ó rio Rod ri g u es . R i o d e J a n e i ro : B r i g u i et, 1 954.
321
J osé J o bs o n d e A n d ra d e Arru d a
co m o n a p o p u l a r, essa p l u ra l i d a d e q u e se m a n ifesta a ntes p e l a a g regação q u e
p e l a seg regação e co nfl ito . C o m o resu lta d o d e s s e ca l d ea m e nto d e et n i a s e cu ltu­
ras, o B ra s i l se a p rese nta h oj e co m o uma i n é d ita expe ri.ê n c i a d e civi l ização tro p i ­
ca l , com traços p ró p rios e s i n g u l a re s " . Reco n h ece n d o a exi stê n c i a d e ten sões, d e
fo rtes d es n íve i s eco n ô m i cos e soci a i s, " o n d e se i d e ntifi c a m d o i s, se n ã o m a is,
B ra s i s " , não se exc l u i que estej a " d est i n a d o a ser o pa ís d o futu ro e vi sto co m o
g i g a nte a d o rmeci d o "27•
O q u e está i m p l ícito? O p ressu posto s i ste m atica m e nte reaviva d o de q u e a
i d enti d a d e B ra s i l se d efi n e p e l a exa ltaçã o d a co m u n h ã o d e d ife rentes etn i a s, o
b ra nco, o neg ro, o í n d i o , cujo ca l d e a m e nto t ro p i ca l izado constrói a d i ve rs i d a d e
s i ncrética e contrasta d a , e a po nta p a ra a co n strução d o q u e a cu ltu ra e r u d ita
s e m p re ente n d e u co m o a nação d o futu ro, q u a n d o n ã o d o req u e nta d o afo r i s m o
fa b u l a r d o g i g a nte a d o rmeci d o . Presentes estã o , nesta e l a b o ração i ntel ect u a l , o s
fu n d a m e ntos o nto l ó g i cos l a st reados n a m esti ça g e m so l i d á ri a d e G i l b e rto Freyre,
na sexu a l i d a d e extre m a d a d e Pa u l o Pra d o , na h e ro i c i d a d e sem ca ráte r d e M á ri o
d e A n d ra d e , n a m a l a n d ra g e m tática d e Ro b e rto d a M atta , n a p e r e n e cord i a l i d a d e
d e S é rg i o B u a rq u e d e H o l a n d a e, a t é m e s m o , n o s B ra s i s d o s contra stes d e u m
b ras i l i a n i sta co m o J a cq u es La m be rt. Resu lta u m a p l a i n a m e nto d a s d ife renças,
u m a exa ltação d a u n i d a d e d o d iverso, u m a a nt ro p o l o g ização d o d i scu rso come­
m o ra ci o n i sta d o V Cente n á ri o d o s Desco bri m e ntos, q u e reca lca p rofu n d a s d ife­
renças de c l a sses, de fl a g ra ntes exc l u sões soci a i s, de i n a ceitáve i s p rivi l é g i os via
m e ca n i s m os d e E sta d o p e rd u l á ri o , b u sca n d o o i n existente consenso, a tra n sfo r­
m a ç ã o de d i sta n ci a m e ntos soci a i s i n co nto rnáveis em m e ros contra stes, q u estã o
d e to n a l i d a de, fa ci l m e nte s u p e ráve l p e l a convivê n c i a cord i a l . M a i s u m a vez va l e
l e m b ra r a p roxi m i d a d e com o ideá rio co m e m o ra c i o n i sta d o reg i m e sa l aza rista
nos a n os 60. G i l b e rto Freyre viu e m D. H e n ri q u e o p i o n e i ro da construção do l u so­
tro p i ca l i s m o , pois o "co l o n i a l i s m o d o I nfa nte ter-se-á basea d o n a criação d e
soci e d a d es ' c ristocê ntri ca s ' , experi ê n c i a i nterét n i ca e d e m i sc i g e n ação cu ltu ra l "28•
Em d eco rrê n c i a , o espírito d e i g u a l d a d e e frate r n i d a d e p res i d i a as co m e m o rações
h e n ri q u i nas, " exe m p l o vivo d a d i v e rs i d a d e das raças q u e co m põ e m , e m vá rios
conti n e ntes, a N a ção Po rtu g u esa "29•
O te rcei ro po nto do p rog ra m a recusa a co m e m o ração m e ra m e nte passa d i ça,
p resa a o evento Desco bri m e nto. Propõe a refl exã o s o b re a traj etó ria da nação no
decu rso dos 500 a n os, "as rea l izações d o povo b rasi l e i ro " e a s " p rospectivas do
27 Diretrlzes e Regulamento, p . 9-1 O .
28 CATRO GA, Ferna n d o . op. cit., p . 608.
" I d e m , p . 6 1 7.
322
I bé ri a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
B ra s i l no tercei ro m i l ê n i o " ; e m s u m a , d efi n i r "os ru m os d a N a ç ã o " , de fo rma
p e re m ptória, b u sca-se " esta bel ecer as a s p i ra ções d o povo brasi l e i ro p a ra a evo­
l u çã o n a ci o n a l nos d i ve rsos seto res da v i d a n a c i o n a l " e, e nfatica m e nte, " d eter­
m i n a r q u e p ro b l e m a s n a ci o n a i s d everão ser s u p e ra d o s " . Exo rta a p roj eção d e
u m a " i m a g e m co rreta d a rea l i d a d e brasi l e i ra n o exte ri o r" , o u sej a , n a s u a ótica
positiva, se bem que os aspectos negativos não d eva m ser o m itidos, m a s d eve­
rão fazer-se a co m pa n h a r das " m etas do G overno brasi l e i ro p a ra o a n o 2 0 0 0 "30•
A voca ção a uto ritá ria do texto é i n d esca rtáve l . É poss íve l d eterm i n a r q u e p ro b l e­
m a s n a ci o n a i s d everão ser su perados? N ã o se d á o r d e m u n i d a aos p ro b l e m a s .
M u ito m e n os d eve-se confu n d i r c o m e m o ra çã o com propa g a n d a d a s m etas
g ove r n a m e ntais, por m a i s próprias e viáveis q u e sej a m , como, a l i á s, bem enten­
d e ra m os p o rtu g u eses e m seu Programa Estratégico. No seu co nj u nto, esta s d i re­
trizes n ã o se co n stitu e m em n ovi d a d e pa ra q u e m co n h ece a h i stória das come­
m o ra ções, s o b retu d o a s Henriquinas, cuja m e m ó ri a não está vo lta d a " exc l u s iva­
m e nte pa ra o passa d o , co m o m e ra m a n ifestação d o s a u d os i s m o h i stórico, mas
serão a d e m o n stração d o va l o r e d a s possi b i l i d a d es das g e rações d e h oj e e co m o
q u e u m ato d e f é nos d esti nos d a Pátri a "31 •
O texto exa l a u m a postu ra evo l u c i o n i sta , n ã o só p e l a repeti d a p rese n ça d a
p a l avra evo l u çã o , m a s p e l o q u e co n s i d e ra "ca ráte r eq u i l i brado, o bj eto e n ã o- p a r­
t i d á rio" d e e nfrenta m e nto d o s "fatos da H i stó ria d o B ra s i l " . N u m a só p á g i n a , a 1 4,
refe re-se a "fatos re l eva ntes " , " re n ova d a visão d o s fatos h i stóricos fu n d a m e n ­
ta i s " , a p o nta n d o co m o m eta s : " a ) u m a i nte rpreta ção conte m p o râ nea dos p r i n c i ­
p a i s fatos; b ) a co rreçã o d e versões d i sto rc i d a s o u i n exatas d esses fatos; e, c) a
d i vu l gação d e eve ntos h i stóricos d esco n h ec i d o s . . . "32• Os fatos são petrifi cados: o u
são fa lsos o u s ã o ve rd a d e i ros. N ã o se assi m i l a a i d é i a d e q u e os "fatos " são cons­
truções e passíveis d e d ife rentes a p re e n sões, consoa nte o p ró p ri o m ovi m e nto d a
h i stó r i a . O m áxi m o d e atu a l ização h i storiog ráfica a q u e ch ega o texto é i nvoca r
J a i m e Co rtesã o e atri b u i r- l h e a fo r m u l a ç ã o d e q u e "to d a h i stória escrita te n d e a
to r n a r-se u m a i nterpreta ção atu a l d o passa d o " , n a verd a d e u m a fo rm u l a ção c l á s­
s i ca de B e n e d etto C roce, d a q u a l se extra i a m áxi m a "cada g e ração escreve, à s u a
m a n e i ra , a H i stó r i a . Ass i m é, e a ss i m d eve se r"33• M a s q u e h i stória é esta? U m a
h i stória reg i d a p o r m a n d a m e ntos !
30 Diretrizes e Regulamen to, p. 9, 1 3, 1 5, 17.
" CATROGA, Fern a n d o . op. cit., p. 606.
32 Diretrizes e Regulamento, p . 1 4.
" I d e m , p. 1 9 . A ba ixa d e n s i d a d e i ntel ectu a l d a s Diretrizes e Regulamento é constra n g e­
d o ra , especia l m e nte q u a n d o posta vis a vis com o Programa Estratégico.
323
J osé J o bs o n d e A n d ra d e Arru d a
Contra d ito ri a m e nte, d e s d e q u e perfi l a d o n u m a l i n h a g e m d e g o sto positi­
vista, se nte-se a fa lta d e u m a ê nfa se m a i o r n a q u estã o docu m e nta l . Ao i nvés de
a p a recer n o â m bito d a s refl exões, s u rg e e m meio a et ca terva que i nteg ra a s ce l e­
.
b ra ções, as festas c ívicas p ro p ri a m e nte d itas, a o l a d o d e "co n stru ções d e ré p l i cas
d e n a u s d a esq u a d ra d e Ped ro Álva res Ca b ra l , a rea l ização d e regata que observe
a rota do n aveg a d o r p o rtu g u ês, torneios es p o rtivos co m e m o rativos, docu m e ntá­
rios h i stóri cos, etc. "34• Docu m e ntári os, não c o n stitu ição d e acervos d o c u m e nta is
que dêem à s futu ras g e ra ções a o p o rtu n i d a d e d e reava l i a r crítica e c i e ntifica­
m e nte n osso passa d o . Até m e s m o a s co m e m o ra ções Henriquinas d e ra m o r i g e m
a p u b l i cações d e vu lto, a exe m p l o , d a Portugaliae Monumenta Cartographica, da
Mon umenta Henriciana, d a Biblioteca Henriquina e d a Iconogra fia Henriquina,
q u e, a pesa r d o tô n u s p a n e g i rístico, rep rese ntava m s i g n ificativos a pa rtes docu­
m e nta i s que ensej a ra m m e s m o uma certa a be rtu ra i ntel ectu a l d o reg i m e Sa l aza­
rista, p o r i nteg ra rem a pa rtici pação d e i ntel ectu a i s a dversos a o reg i m e, como
J a i m e Co rtesão o u Da m i ã o Pe res.
Po r i sso m e s m o , i n i ci ativas co m o o Projeto Resgate de Documentação
Histórica Barão do Rio Branco, coord e n a d o por Esth e r B e rto l etti, d o M i n i sté rio da
C u ltu ra , tem um s i g n ifica d o especi a l . N ã o é um p rojeto d a Com issão. Foi a rro l a d o
e ntre a s cente n a s d e p rojetas q u e rece bera m a s u a ch a n ce l a . É u m p roj eto pen­
s a d o h á m u itos a n os, executa d o d i s p e rsa m e nte p o r vários atares i n d i vi d u a is,
mas s o m e nte o rg a n izado d e modo s i stemático a p a rti r d e 1 994. O rg a n i za r, m i cro­
fi l m a r e p u b l i ca r e m C D R O M 250 m i l peças docu m e nta i s brasi l e i ras, existe ntes no
Arq u i vo H i stórico U lt ra m a ri n o d e Lisboa, q u e co rres p o n d e m a ce rca d e 80% dos
docu m e ntos re l ativos ao período co l o n i a l d a h i stó ria d o B ra s i l , existe ntes no
exte r i o r, este é o a m b i cioso p rojeto, a m e l h o r fo r m a d e co m e m o ra r o V
Cente n á ri o , p o i s h á casos d e reg i õ es b ra s i l e i ra s e m q u e 90% d a docu m e ntação
e ra d esco n h ec i d a35• " E sta m a n e i ra d e co m e m o ra r ra d i ca n a atitu d e c i e ntífi ca, crí­
tica, po rta nto i nvestigação ri g o rosa e l ú ci d a , n u m a criação c u l t u ra l q u e n ã o seja
d e ci rcu n stâ n c i a s " , q u e sej a u m a ve rd a d e i ra e l evação cu ltu ra l36•
Ass i m co m o nas co m e m o ra ções Henriquinas dos a n os 60 e nas co m e m o ra­
ções d o s d esco b ri m e ntos po rt u g u eses atu a i s, o p ro g ra m a d a Com issão Nacional
e n sej a um conj u nto coere nte d e exp ressões-ch ave q u e refl ete m , n ecessa ria­
m e nte, uma d eterm i n a d a l i n h a g e m h i sto riog ráfi ca, u m a m o l d a g e m i d e o l ó g i ca ,
u m a visão d e B ra s i l e d e s u a traj etó ria h i stórica, a s a b e r : descobrimento, herança
34 Diretrizes e Regulamento, p . 24.
35 " O com eço d e uma N ova H i stó ria d o B ra s i l " . Noticias Fapesp, n . 34, p . 6-8, ago. 1 998.
3 6 G O D I N H O, Vito r i n o M a g a l h ã es, op. cit., p . 35.
324
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
lusitana, pluralidade étnica, caldeamento étnico, agregação social, diversidade
cultural, civilização tropical, convivência pacifica. E m s u m a , n a scemos p e l o des­
cobrimento, cresce m o s p e l o ca l d e a m e nto de et n i a s e .cu ltu ra s a m p a ra d a s n o
s u bstrato l u sita n o , v i n g a m o s c o m o expe r i ê n c i a i n éd ita d e civi l ização t ro p ica l ,
m a is p e l a a g regação d o q u e p e l a seg reg ação o u co nfl ito, n u m a convivê n c i a re l a ­
tiva m e nte pacífi c a . Ra ízes fi ncadas, co m o se v ê , n u m a v i s ã o d a cordialidade d e
H o l a n d a e n a s soci e d a d es cristocêntricas d e Frey re .
E sta mos m a i s p róx i m o s d a p ri m e i ra fó rm u l a co m e m o ra ci o n i sta p o rt u g u esa
d o q u e d a seg u n d a . Não se re p u d i a o descobrimento, não se fa l a e m d esco b e r­
tas recíp rocas d o o utro, n e m m u ito m e n o s d e reve rbera ções cu ltu ra is. M a s s u b­
s u m e-se, n a s e ntre l i n h a s , o s í m b o l o g l o b a l iza nte d a co m e m o ração p o rt u g u esa,
os Ocea nos, v i s ível n o p roj eto d o Memorial do Encon tro, que será constru ído n a
C o ro a Ve rm e l h a e m Sa nta Cruz Ca b rá l i a , d e a c o r d o co m p roj eto d o a rq u iteto
Wi l s o n Reis N eto. O m o n u m e nto fi ca rá s o b re o ist m o , co m o u m fa lso p ó rtico, a
1 80 m etros d a p ra i a . C o m põ e-se de t rês l â m i n a s fi n a s d e concreto, i nterl i g a d a s
n a b a s e e revest i d a s d e m á rm o re b ra nco, servi n d o d e s u p o rte a u m a cruz d e p a u ­
b ra s i l . Seu fo rm ato s u g e re a s a s a s d e u m a g a i vota , q u e l e m b ra os ocea n os, o u a
n a u d o desco b ri m e nto, especi a l m e nte q u a n d o a m a ré estive r a lta, p o i s o m o n u ­
m e nto toca rá d e l eve a á g u a e pa rece rá flutu a r. A ca rave l a , sa bemos, é o s í m b o l o
m a i o r d a e p o p é i a p o rt u g u esa, m a rca h i stórica e m tod a s a s ce l e b ra ções, m e s m o
d a s atu a i s .
O p roj eto co m e m o ra ci o n i sta d o V Cente n á ri o este n d e u m a po nte e nt re 1 50 0
e 2000, n o q u a l a p l a i n a a traj etó ria, esco i m a os confl itos, expu rga a s d ifere n ças;
n o fu n d o , l a n ça a h i stó ria a o ostra c i s m o e re m ete a l o n g a d u ração d a s visões
a nt ro p o l o g iza d a s à l i n h a d e fre nte d a s co m e m o rações. Ca b e rá à e l ite i ntel ect u a ­
l iz a d a a rea l ização d e sem i n á ri o s c i e ntífi cos e d e p o i s a t ra n s m issão d o res u l ta d o
d essas reflexões " a o s d e m a is seg m e ntos soci a is "37• E sta é a ped a g o g i a co m e m o ­
ra ci o n i sta q u e " i nstru i rá " o povo b ra s i l e i ro, n u m a v i s ã o d etu rpada d o q u e sej a
cu ltu ra p o p u l a r. A p rete nsa co m e m o ração se t ra n sfo r m a e m reco n h eci m e nto d a
exc l u s ã o . De fato, o q u e h á pa ra co m e m o r a r, d o po nto d e vi sta dos n ã o i n cl u ídos?
Pa ra os a p roxi m a d a m e nte 340 mil í n d i os, rem a n esce ntes dos 5 m i l hões
existentes n o m o m e nto da ch egad a � os p o rt u g u eses, o p rojeto co m e m o racio­
n i sta é a bs o l uta m e nte neoco l o n i a l i sta . Suas l i d e ra n ças re p u d i a m a co n cepção
ed u l co r a d a d o " e nco ntro d e cu ltu ra s " . Rej e ita m a p a l avra descobrimento, p refe­
ri n d o uti l iz a r invasão. M es m o q u e os í n d i o s pataxós, atu a i s h a bita ntes do l oca l
o n d e haverá a m a i o r i nte rve nção co m e m o ra c i o n i sta , - te rra s pertencentes a o s
3 7 Diretrizes e Regulamento, p . 1 5 .
325
J osé J o bs o n de A n d ra d e Arru d a
t u p i n i q u i n s n o te m po d o desco b ri m e nto -, a ceitem os p rese ntes oferecidos pela
C o m issão N a ci o n a l , n a fo rma d e uma ta ba pa ra ex posições, p ra ça pa ra co m e rci a r
a rtes a n ato e vi l a h a bitaci o n a l , O N G S i n d íg e nas, especi. a l m e nte o I n stituto N ova
Tri bo , com sede em lta pecerica da Se rra, l i d e r a d o p e l o í n d i o de o r i g e m txu ca rra ­
m ã e Ka ka We ra J a c u pé, decl a ra m u m a g u e rra s i m bó l i ca às ce l e b ra ções q u e terão
l u g a r n a p ra i a d a Co roa Ve r m e l h a . Dela d everão p a rti ci pa r re p rese nta ntes d e
vá rias tri bos i n d íg e nas, n u m exercício d e exo rci s m o s i m bó l i co, n o q u a l , p e l a
d a n ça ritu a l , b u sca r-se-á afasta r os espíritos m a u s q u e ch ega ra m com os p o rt u ­
g u eses e m 1 50 0 .
S ã o , n a verd a d e, tím i d a s a ções d e res i stê n c i a a o s i m bo l i s m o d a s co m e m o­
rações. N a d a q u e se co m p a re às fo rtes m a n ifesta ções oco rri d a s n a América
Lat i n a co ntra as co m e m o rações e m torno d e Cristóvã o Co l o m bo , q u e passou a
ser res po nsa b i l izado p e l os 60 m i l h ões d e í n d i o s m o rtos s o m e nte n o s p ri m e i ros
50 a n o s d a d esco berta . O dia 1 2 d e outu b ro , D i a d e Co l o m bo o u D i a do
H i s p a n i s m o , tra nsfo r m o u -se e m d ata s í m b o l o d a res i stê n c i a , onde n ã o fa lta m
j u l g a m e ntos póstu mos todos os a n os re n ova d os, p o i s co n s i d e ra-se q u e os d e l i­
tos co m etidos não p rescrevem e os j u l g a m e ntos rea l i za m -se e m esfi n g e . Em
H o n d u ras, e m 1 998, o n avega nte g e n ovês fo i sente n c i a d o à m o rte, depois que u m
j ú ri d e d ez m e m b ros c o n s i d e ra ra m - n o cu l pa d o p o r dez cri m es : seq ü estro, ro u bo
d e patri m ó n i o cu ltu ra l , estu p ro, escravi d ã o , to rtu ra, assass i n ato e m m a ssa, d es­
tru i ç ã o de cu ltu ras, i nva s ã o d e povo a d os, tráfico de a l i m e ntos e g e n ocíd i o contra
a s etn i a s d o pa ís .
C e rta m e nte, Ped ro Álva res Ca b ra l está a sa lvo d e j u l g a m e ntos s e m e l h a ntes
no B ra s i l , d ife rente m e nte d o q u e se passa n a Í n d i a , co m o j á vi m os, o n d e a i d e n ­
tifica ção e ntre a s co m e m o ra ções e u m neoco l o n i a l i s m o é i m ed i ata, pa rticu l a r­
m e nte p e l a ação dos revi g o rados pa rt i d o s n a c i o n a l istas, ve nced o res d a s ú lt i m a s
e l e i ções. Ass i m m e s m o , o o l h a r d a s co m e m o ra ções p o rtu g u esas vo lta-se p refe­
re n ci a l m e nte pa ra o l eva nte, atra ído p o r seu m i sté rio e p o r seu de sprezo . I sto
t u d o , n u m m o m e nto em q u e as ca rave l a s dos i nvest i m e ntos po rt u g u eses d e
n ovo ro n d a m as costas brasi l e i ras, e m b u sca d e p o rtos seg u ros pa ra s u a s a p l i ­
cações d e ca pita l p ro p i ci a dos p e l a g l o b a l izaçã o . Vo lta r-se pa ra o At l â ntico, n ã o
co m o fo rma d e exc l u sã o d a E u ro pa! m a s c o m o po nte seg u ra d e s u a p ró p r i a
i ns e rção n a U n i ã o E u ro p é i a , c u m p r i n d o ta rd i a m e nte o desejo d e J o a q u i m
B a rra d a s d e Ca rva l h o, i n scrito e m seu p re m o n itó rio Rumo de Portugal. A Europa
ou o A tlântico ?38•
38 CARVA L H O, J o a q u i m B a rradas d e . Rumo de Portugal. A Europa ou o Atlântico ? Lisboa:
Li vros H o rizonte, 1 974. p . 78-82.
326
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
5 . O SIGNI FICADO DAS COMEMORAÇ Õ ES
O q u e s i g n ifica co m e m o ra r? O q u e s i g n ifica m a s co m e m o ra ções n o te m po
p resente? As co m e m o ra ções s ã o m a n ifesta ções vivas d à h i stó r i a . M a s são ta m ­
bém d i m e n sões exp l ícitas d o l e m b ra r e d o esq u ecer - p o rta nto, d a m e m ó r i a . H á
m o m e ntos h i stóricos d e fo rte exa ltação d o senti m e nto co m e m o ra c i o n ista . Co m o
os a n os 30 e 40, especi a l m e nte n o co ntexto dos tota l itarism os, d e fo rte a p e l o
e m o ci o n a l e passa d i ço . A b u sca d ese nfrea d a , n a s l o n g í n q u a s ra ízes d o passa d o ,
d a j u stificativa pa ra as t res l o u ca d a s a ç õ e s d o p resente. Da m e s m a fo r m a , os reg i ­
mes d e exceção tra b a l h ava m i ntensa m e nte n o o bscu reci m e nto d a h i stória i n con­
ve n i e nte, d a h i stória que n ã o se aj u stava aos pa d rões éticos, estéticos e i d eo l ó­
g i cos a l m ej a d os. O d e s m o ro n a m e nto d estes reg i m es n o s a n os 40, n o pós­
seg u n d a g u e rra m u n d i a l , p r o m ove ra m , por o utro l a d o , a exp l osão i n co n t i d a da
m e m ó ri a , o esfo rço d o s s i l e n c i a d o s por l e m b ra r, pa ra não esq u ecer, exata m e nte
p a ra evita r q u e o pesa d e l o d e n ovo a sso m a sse a s sociedades desa p e rce b i d a s e
d e s p roteg i d a s . " N os exe rcícios d e re m e m o ração, a h i stória reco rd a d a esga rça a
c ro n o l o g i a , desbo rd a o espaço, p reenche as l a c u n a s e nt re os aco ntec i m e ntos,
p rese ntifica a s a u sê n c i a s . Po r i sso, a pesa r d e a m e m ó ri a ensej a r u m a h i stória
n a rra d a , a reco n strução m e m o ri a l ística ' n ã o p recisa d e m atéri a ' , n o senti d o p re­
ciso d e q u e e l a fi a a própria s u bstâ n c i a "39
A u rd i d u ra d o teci d o h i st ó r i co se faz a p a rt i r d o s i m p u l s o s d o p resente. É
o p rese nte, e m s u a fu g a c i d a d e i n co n t ro l áve l , q u e n u m áti m o d e te m po to r n a o
p rese nte e m passa d o , a o m e s m o te m p o q u e i l u m i n a-o bscu rece, s i l e n c i a ­
exa l t a , co n g e l a - rea q u ece, m a s ta m bé m o b l itera o l u g a r d e o n d e se fa l a , t ra n s­
fo r m a n d o p e r m a n e nt e m e nte o passa d o "sob o s i n fl uxos d o p rese nte, u m a vez
q u e a s trajet ó r i a s pesso a i s e co l et i v a s s ã o i n cessa nte m e nte re postas "40• C r i a-se
um tec i d o i m a g i n á ri o , p o r força d o " s u j e ito q u e l e m b ra e s i g n ifica o q u e fo i
p revi a m e nte s i g n ifica d o , n u m p rocesso d e ress i g n ifi ca ç ã o p e r m a n e nte q u e
c o n stitu i o p r ó p r i o tec i d o d o i m a g i n á ri o "41 • O p rese nte d est r ó i o passa d o , d e l e
se a l i m e nt a , m a s p resc i n d e d e s u a ex p e r i ê n c i a s o c i a l co n c reta . Po r i s s o , a s
co m e m o ra ções s ã o m a i s efi cazes q u a nto m a i s l eg ít i m a s se c o n fi g u ra re m , po r
força d e s u a s d u rações. O q u e se rec u p e ra d o passa d o é o m í n i m o a s s i m i l áv e l
•
39 AR R U DA, M a ri a Arm i n d a d o N a sci m e nt o . " Pr i s m a s d a M e m ó r i a : E m i g ra ç ã o e
Dese n ra iza m e nt o " . Revista do CEPFAM, Fa cu l d a d e de Letras da U n ivers i d a d e do Po rto, v. 4,
p. 1 7, 1 998.
40 I d e m , p . 1 8.
4' I d e m , ibidem.
327
J osé J o b s o n d e A n d ra d e Arru d a
pelo p rese nte co m fo rça d e t ra d i ç ã o e s i n g u l a r i d a d e . O q u e não se e n q u a d ra é
resíd u o exót i c o .
N a s co m e m o ra ções, p o rta nto, o evento passa d o é p l e n a m e nte reo rg a n izado
e assi m i l a d o p e l o p rese nte, expri m i n d o , n esta ação, a b u sca d e u n ificação d o p re­
se nte p e l o eve nto p reté rito, red uzi n d o o passa d o às s u a s exp ressões m í n i mas,
a p re e n s íveis e va l i d a d a s p e l o p rese nte42• Reve rsa m e nte, as reco nstruções m e m o ­
ria l ísticas d o passa d o reve l a m o tec i d o esga rça d o d a soci e d a d e q u e co m e m o ra,
p o rq u e co m po rta d i scu rsos e contra d iscu rsos, construções e d esco n struções,
q u e a po nta m p a ra a d i m e n s ã o fu gaz d o p rese nte h i stó rico e a va l i d a d e das
co m e m o ra ções co m o espa ços cri ativos d e refl exão h i stórica q u e e n l a ça m , vigo­
rosa m e nte, a tríp l i ce te m po ra l i d a d e n u m a u n i d a d e d e se nti d o . É exata m e nte a
p l eto ra d e possi b i l i d a d es q u e p e rm ite a i m e n s a va ri e d a d e d e a p ro p ri a ções i d e n ­
titá rias d o passa d o . O q u e é n o civo pa ra o p rese nte to rna-se, si m p l es m e nte, "cu l ­
tu ra d a d ife re n ç a " , e n ã o " a lteri d a d e " .
A co m e m o ração d o V Cente n á ri o o p e ra n o s l i m ites ext re m o s d a cu ltu ra d a
a c o m o d a çã o , d a p e r d a d e senti d o d a h i st ó r i a , d a m e m ó ri a e d o a co nteci m e nto. A
co m e m o ração n ã o visa l e m b ra r. Pe l o co ntrá rio, n o sent i d o d e reifica r a perma­
nência, co m e m o ra-se, e m ú lti m a i n stâ n c i a , o p ró p ri o p resente. O passa d o n ã o se
constitu i co m o a lteri d a d e e m re l a çã o a o p resente. O refo rço d o te m po p rese nte
s i g n ifica o es m a eci m e nto d a m e m ó ri a , d a p ró p r i a h i stó ria, e a ss i m , re põe-se co n ­
ti n u a m e nte u m a n ova h i stó r i a . O p rese nte torna-se s i n g u l a r e m re l a ção a o pas­
sado, e sua i d enti d a d e é dese n h a d a por o posição a o " o utro " , e n co nt ra d i ço nas
p rofu n d ezas d o passa d o . Não é a a lteri d a d e d e um povo e m re l a çã o a o utro; mas
d e u m a experi ê n c i a h i stórica, vivida e m d ife rentes te m po ra l i d a d es, q u e busca,
d esco b re, e n co ntra, i d e ntifi ca, nega, assi m i l a , e l a bo ra e re ne ga, p e rm a n e nte­
m e nte, o outro.
O d esco bri m e nto, como m ito fu n d a d o r d a n a ção, e n ce rra uma p rofu n d a co n­
t ra d ição. Se e l e é m ito fu n d a d o r n a m e m ó ri a dos desco b r i d o res, os p o rtu g u eses,
p o i s é o ato i n i ci a l q u e co n d u z i ri a a s te rra s d esco bertas à co n d ição d e futu ra s
n a ções i n d e p e n d e ntes, e l e ta m bé m o é pa ra os " d esco b e rtos" e p a ra os q u e a i n d a
perm a n ecem "e ncobertos ': Este é o nosso d ra m a . Q u e remos co m e m o r a r, m a s n ã o
co m o os "o utros'; os p o rtu g u eses, os e u ro p e u s . M a s os l i a m es d essa m e m ó ri a
co l etiva são i n d isso l úve is. N ã o podem os n e g á - l o s sem nos nega rmos. I sto exp l ica
n ossa fu g a a o ce l e b raci o n ismo; p rocu ra m os esca p u l i r à s ritu a l izações e refu ­
g i a m o-nos n a d i m e n s ã o especu l ativa, crítica, reflexiva, p ro p ri a m e nte cie ntífi ca,
42 CAR DOSO, I re n e . "A C o m e m o ração I m possíve l . " Tempo Social, Revi sta d e Soc i o l o g i a d a
U S P, v . 1 0, n . 2, p . 1 1 , out. 1 998.
328
I bé r i a : Qu atroce ntos/Qu i n h e ntos
q u e reco rre ao source minning, à constitu ição de acervos q u e g a ra nta m a conti­
n u i d a d e d a i nvestigação e d a p rocu ra ú lt i m a d e n osso a utoco n heci m e nto, ú n ica
fo r m a poss ível d e com bate à a m n é s i a co l etiva reitera d <;� pela ritu a l ização cel e­
b rativa, q u e nos perm iti rá cruza r a s fro ntei ras d o i n co nto rnave l m e nte "outro': O
"outro " q u e n ã o s o m o s nós; o "o utro " q u e s ã o "e l es ': É p reciso esta r a l e rta con­
tra a co m e m o ração d o s d esco b ri m e ntos co m o m etáfo ra d o passa do, que s i g n i ­
fica o esga rça m e nto d a tra d ição, a rec u p e ração d a h u m a n i d a d e de fo r m a natu ra­
l iz a d a , coa rta d a d e sua expe ri ê n c i a h i stórica rea l , expe r i ê n c i a s estas q u e pode­
riam a po nta r pa ra d ra m as, tra g é d i a s e fa rsas que não sej a m s i m p l es m e nte
h o m og e n e i z a d a s na l i n h a do te m po , m a s se c o n stitu a m em co n d i ções de n ossa
co nsci ê n c i a h i stó rica .
Po r m a i s q u e i n s i sta m o s q u e a o p o rtu n i d a d e d a co m e m o ração d o s 5 0 0 a n os
sej a ta m bé m a o p o rtu n i d a d e pa ra pensa r todos os d esco b ri m e ntos h avidos em
n ossa traj etó ria h i stórica, i n cl u s i ve os "e n co b ri m e nto s '; o q u e co m e m o ra m os d e
fato é o p ró p r i o p resente. Pa ra ta nto, d e p u ra m os o eve nto " d esco b ri m e nto " d e
t u d o q u e possa re p rese nta r u m a afro nta a o p resente: g e n oc íd i o i n d íg e n a , d evas­
tação a m b i e nta l , d estru i ç ã o d e cu ltu ras; e i n co rp o ra m o s os a s pectos p a l atáve is,
refo rço i n sofi s m áve l d o p rese nte, ta is co m o , m i st u ra i nterétn ica, e n co ntro d e cu l ­
tu ras, nasci m e nto d e n a ções, g esta ção d o m u n d o g l o b a l iza d o . Faz-se tá b u l a rasa
d o passa d o . Refo rça -se a i nterve nção d a media, d o m e rcado d e bens s i m bó l i cos,
co m todos os s u p r i m e ntos n ecessá rios à a m o l d a g e m d o passa d o a o te m po p re­
se nte, q u e a g e nos i nte rst ícios do vaz i o d a m e m ó ri a e da h i stó r i a . Tu d o se red uz
a o si m bo l i s m o d o te m p o . S o m o s s u bj u ga d os p o r um re l ó g i o q u e, i n exorave l ­
m e nte, m a rca a conta g e m reg ressi va ru m o a o g ra n d e festej o e, a propósito, p ro­
d utos co m u n s e d esgasta dos d a i n d ú stria cu ltu ra l são req u e ntados e, s o b n ovas
ro u pa g e ns, d a s vestes ce l e b rativas d o V Cente n á ri o , consu m i dos avi d a m e nte
p e l a p o p u l a ção naci o n a l . É o show dos 500 a n os : sob a fa rsa d a e l evaçã o d o povo
brasi l e i ro , co m e m o ra -se m etafó rica e t ra g i ca m e nte a s u a deg ra d a ç ã o .
329
U m abraço para Lu ís Adão da Fonseca
Vasco G raça M o u ra
E u ro D e p uta d o . Poeta . E n s a ísta
U m d i a , em 1 986, e ra eu a d m i n i stra d o r da I m p rensa N a c i o n a l - Casa da
M o e d a , tive de desl oca r- m e à Asse m b l e i a da Repú b l i ca pa ra trata r d e j á n ã o sei
que assu nto re l ativo à edição d o D i á rio da Repú b l i ca . N o s passos perd i dos cruzei­
m e com o Pri m e i ro- M i n istro, Prof. Cavaco S i lva, que m e perg u nto u o que é que a ·
l N -CM tencionava faze r p a ra co m e m o r a r os 600 a n os d o Tratado d e Wi n d s o r.
Respo n d i - l h e q u e a i n d a n ã o t í n h a mos n a d a e m ca rte i ra , m a s q u e isso se resolve­
ria d e ntro e m pouco. E , ch egado a o meu g a b i n ete, te l efo n e i a J osé M attoso 'pe r· g u nta n d o- l h e q u e m poderia p repa ra r, com q u a l i d a d e e ra p i d ez, u m texto s o b re o
Trata d o de Wi ndsor. I n d icou-me Lu ís Ad ã o d a Fo nseca, a q u e m telefo n e i n esse
m e s m o d i a , convi da n d o-o p a ra a l m oça r e m Lisboa n u m dos d i a s seg u i ntes.
E fo i assi m . N a q u e l a ta rd e j á re m ota e m q u e d i scuti mos a escrita e p ro d u çã o
d o l iv ro O essencial sobre o Tratado de Windsor, p u b l icado ( e e nvi a d o a o Pri m e i ro­
M i n i st ro . . . ) p o u cas s e m a n a s m a i s ta rde, não com eçou a pe n a s u m a co l a bo ração
que viria a reve l a r-se m u ito a u s p i ciosa n o p l a n o i n stituci o n a l . Teve ta m bé m i n ício
uma re l a ção pesso a l d e g ra n d e a m izade e res pe ito m útuos, ra d i cada n u m a p ro­
fu n d a l i gação d e a m bos a o Po rto e n u m a série d e afi n i d a d es i ntel ectu a i s e cu ltu­
ra is, e ntre elas o a m o r dos l i vros, d a s a rtes e d a m ú s ica, a pa ixão pela H i stó ria, o
i nteresse n a i nte rd isci p l i n a ri d a d e e n o H u m a n i smo, o gosto p e l a a cçã o, o com­
p razi m e nto n o d i á l o g o , a p rática da tolerância e d o ameno d i sco rre r s o b re a vida
e o m u n d o , a i d e ntifi cação d e a m bos com os va l o res civi l izaci o n a i s e u ro p e u s .
Le m b ro-me d a s s u a s ext ra o rd i n á ri a s q u a l i d a d es d e co m u n i ca d o r e d a
m a n e i ra c l a ra e s u g estiva co m o expõe o q u e te m a d izer, i nte rre l acio n a n d o a s pec­
tos po l íticos, soci a i s, cu ltu ra is, e p i ste m_ o l ó g i cos, eco n ó m i cos e tec n o l ó g i cos l i g a ­
dos à s n avegações m e d ite rrâ n i ca s e atlâ nticas, à tra n sição d a I d a d e M é d i a p a ra o
Renasci m e nto, à evo l ução da consci ê n c i a e u ro p e i a , a o senti d o d a d esco b e rta n o
m u n d o d o s sécu l o s X V e XVI . E oco rre-me até q u e, u m a vez, e m Sa nta n d e r, n o
entu s i a s m o c o m q u e e l e fa l ava e g esti cu l ava p a ra u m a p l ate i a d e j ove ns u n iver­
sitá rios espa n h óis, a ca bava p o r l h e a p a recer a fra l d a d a ca m i sa, a es p re ita r e m
re be l d i a p o r deba ixo d o casaco . . .
33 1
Vasco G raça M o u ra
M a i s ta rde, Lu ís Ad ã o d a Fo nseca asseg u ro u , n a Com issão N a ci o n a l p a ra as
Co m e m o rações dos Desco b ri m e ntos Po rt u g u eses a a rticu l a çã o e ntre as com is­
sões cie ntífica e executiva e nesse período teve d e des.m u lt i p l ica r-se i nfati gave l ­
m e nte, faze n d o u m pouco d e t u d o : p re p a ro u p rog ra m as, contactou u n ive rsida­
des e especi a l istas, reg e u cu rsos, p ro m oveu e fez i nvesti gação, g ravo u p rog ra­
m as, escreveu textos, aj u d o u a co nceber e a p re p a ra r exposi ções, co l a borou co m
a E U RO PALIA e o Co m i ss a r i a d o d e Po rtu g a l p a ra a Expo ' 98 de Sevi l h a , rep rese n­
tou a CNCDP numa série d e i n i ciativas a ca d é m icas internaci o n a i s . . .
N o d esenvo lvi m e nto d a s vá rias á reas a seu ca rg o, Lu ís Ad ão d a Fo nseca fo i ,
com Lu ís d e Al b u q u e rq u e, n ã o só u m dos a g e ntes fu n d a m e ntais d a d i n a m ização
das co m e m o rações dos Desco b ri m e ntos Po rtu g u eses, m a s ta m bé m um dos dois
p ri n c i p a i s res ponsáve i s p e l o rigor cie ntífico, p e l a d i g n i d a d e cu ltu ra l e p e l o d i na­
m i s m o e m l a rga esca l a de que as activi d a d es s u cessiva m e nte desencadeadas se
revest i ra m . De resto, mesmo d e p o i s d e te r s i d o n o m e a d o p res i d e nte d o I nstituto
C a m õ es, conti n u o u a coopera r uti l m e nte co m as a ctiv i d a d es d a C N C D P e, já
d e p o i s dessa fase, a p rod u z i r i nvestigaçã o d a m a i o r q u a l i d a d e tra d uzida nas
vá rias o bra s que p u b l i co u . N este sentido, pode d izer-se que Lu ís Adã o d a Fo nseca
m a rc o u p rofu n d a m e nte t o d a a a ct i v i d a d e d a s co m e m o rações d o s Des­
cobri m e ntos, e i sto, m u ito p a ra a l é m do período e m que nelas pa rti c i p o u .
Po r razões d e serviço, aca bá m os por faze r j u ntos a l g u mas v i a g e n s n a E u ropa
e n a A m é rica, por pereg ri n a r co nvivia I m e nte pelos mesmos l u g a res d e civi l ização
e p o r d ea m b u l a r pelas m e s m a s l i vra rias ( o n d e a rra nj áva mos m a n e i ra d e ass i n a ­
l a r d i screta m e nte, n a s esta ntes q u e c a d a u m d e nós s a b i a v i ri a m a ser percorri­
das pelo outro, os l ivros q u e pod i a m i nte ressa r- l h e . . . ) .
A o l o n g o dos a nos e m q u e co l a b o ráva mos m a i s estreita m e nte, p u d e ta m bém
verifica r que os a l u nos de Lu ís Adão d a Fo nseca m a nti n h a m com e l e uma re lação
especi a l íssi m a e m u ito fecu nda no toca nte à p rod utivid a d e académ ica, ass i m esti­
m u l a d a por um m estre que respeitava i ntei ra m e nte a auto n o m i a e os i nteresses
d e cad a um d e l es, sem deixa r de os o b ri g a r a um d i á l og o crítico e exi g e nte.
Te n h o pena d e não poder dese nvo lve r um pouco m a i s este b reve tri b uto ao
h i sto r i a d o r, a o i ntel ectu a l , a o ped a g o g o e a o Amigo, n a a ltu ra e m que é tão j u s­
ta m e nte h o m e n a g e a d o . M a s cre i o q u e a d ívida d e g rati d ã o q u e pessoa l m e nte ,
te n h o ( e co m o p o rtu g u eses temos todos) p a ra com e l e fica p e l o m e n o s assi na­
lada co m o a b raço m u ito fo rte que d aq u i lhe envio.
B ruxe l as, 17 d e Sete m b ro de 2008
332
CATÁLOGO DAS PUBLICAÇÕES
DO CEPESE
REVISTA POPULAÇÃO E SOCIEDADE
=
POPULAÇAO !!
P O P U L AÇ Ã O I,! $ 0 C i t! D A D ii!
S P C I I: O A I.> E!
POPULAÇÃO
POPULAÇAO E SOCIEDADE
-
PGPl,ll.AÇ.AO
fi S O C I E DA b t:
1: S O C I E O IIL O E
� �-''"' 1�«-e<l><:m...l
!<c�!'"or<"''_�!-J:"f>UM
<:(
l­
I./)
>
LU
0:::
>
POPI.IIAÇJ.0 � 5õ O(!tD.liH
I! U(<>"UO<"f(.U(<tlWAI
�HA�0.,5PO.TYGA<•f$P M
.....
<:(
l­
I./)
>
WJ
0:::
POPUVoÇAO E SOC!�D"'D�
<(
I­
V')
POPULAÇAO l SOCIEDAOE
II SEMINÁRIOtNftftN.Ao(JONAl
e�����V:U%VINilA E DO
<(
l­
I/)
POPII lAçlO E SOCIEDAOE
>
>
<(
l­
I/)
III ENCONTRO INTERNACIONAL
RELAÇÕES PORTUGAL-ESPANHA
>
�OPlllA(�O E SOCtfDADf
>
<(
l­
I/)
>
LLJ
<(
1V'l
POPULAÇI.O
Descargar