Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação ISSN 2408-4751 Volúmen 2 - Número 3 2015 Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación, A.C. Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação, A.C. ALFE ASOCIACIÓN LATINOAMERICANA DE FILOSOFÍA DE LA EDUCACIÓN, A.C. - ALFE ASSOCIAÇÃO LATINOAMERICANA DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO, A.C. - ALFE JUNTA DIRECTIVA / COMITÊ GESTOR 2015-2017 Presidencia: Renato Huarte Cuellar Universidad Nacional Autónoma de México- México Secretaria: Natalia Sánchez Corrales Universidad de La Salle - Colombia Tesorero: Juan Martín López Calva Universidad Popular Autónoma del Estado de Puebla - México Organizador nuevo Congreso 2017: Gustavo Javier Rio Universidad Nacional de San Martín - Argentina Organizadora del Congreso pasado 2015; Angel Alonso Salas Universidad Nacional Autónoma de México - México Vocales: Andrea Díaz Genis Universidad de la República - Uruguay Angela Medeiros Santi Universidad Federal do Rio de Janeiro - Brasil http://alfe-filosofiadelaeducacion.org [email protected] Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación, A.C. Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação, A.C. ALFE IXTLI - REVISTA LATINOAMERICANA DE FILOSOFÍA DE LA EDUCACIÓN REVISTA LATINO-AMERICANA DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO ISSN 2408-4751 COMITÉ EDITORIAL / COMITÊ EDITORIAL: Alexandre Filordi de Carvalho, Universidade Federal de São Paulo, Brasil. Angela Santi, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brasil. Eduardo Gabriel Molino, Instituto A.M. de Justo, Argentina. (curador) Jesús Ernesto Urbina Cárdenas, Universidad Francisco de Paula Santander, Colombia. Leopoldo Arteaga, Universidad Ricardo Palma, Perú. Samuel Mendonça, Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Brasil. Contacto con / Contato com IXTLI en: www.revista.ixtli.org [email protected] IXTLI Ixtli: Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación es una publicación latinoamericana, arbitrada, electrónica, de frecuencia semestral, de acceso gratuito, que sirve como espacio de diálogo crítico acerca de asuntos educativos desde un abordaje filosófico, indagando sobre los problemas conceptuales y de sentido en la educación. Publica artículos originales de investigación filosófica que no hayan aparecido en otras revistas o medios de divulgación, después de un proceso doblemente ciego de evaluación. Es de interés para investigadores en filosofía de la educación, investigadores educativos en general, y personas que trabajan o se interesan por la educación en sus múltiples dominios de acción. Ixtli: Revista Latino-americana de Filosofia da Educação é uma publicação latino-americana, arbitrada, eletrônica, de frequência semestral, de acesso gratuito, que serve como espaço de diálogo crítico acerca de temas da educação a partir de uma perspectiva filosófica, indagando sobre os conceitos e os sentidos da educação. Publica artigos originais de pesquisa filosófica que não tenham sido publicados outras revistas ou meios de divulgação, depois de um processo duplo cego de avaliação. É de interesse de pesquisadores em filosofia da educação, pesquisadores da educação em geral e pessoas que trabalhem ou se interessem pela educação em seus múltiplos campos de atuação. IXTLI - VOLÚMEN 2 - NÚMERO 3 - 2015 ISSN 2408-4751 SUMARIO / CONTEÚDO: ARTÍCULOS / ARTIGOS: 1. Pagni, P. Filosofia da Educação no Brasil: uma particular experiência do pensar na educação? p. 11 2. Soneira, I. Supuestos y posibilidades para una enseñanza de la Filosofía a través del Arte. p. 43 3. Trevisan, A., Viero Devechi, C., Tauchen, G. Possibilidades de aprendizagem comunicativa nas pesquisas sobre formação de professores. p. 57 4. Valera-Villegas, G. Lectura dramatizada e interrumpida. El sebucán emancipador. p.79 5. Sørensen, A. La Bildung según Habermas: publicidad, discurso y política. p. 109 6. Gomes, L. Cultura Digital, Esfera Pública e Educação. p. 129 7. Soares da Silva, L., das Chagas Alves Rodrigues, F, Carvalho Moura, M. A influência do pragmatismo norte-americano de John Dewey na escola de tempo integral no Brasil. p. 147 8. Hernández Marín, G., Castillo Ortega, S., Arias Gómez, L.(2015).Construcción de la identidad en el profesional de la educación, a través del curso de filosofía. p.165 9. Rangel Torrijo, H. Rousseau y la educación ciudadana moderna.Sus conceptos políticos y educativos vistos desde Latinoamérica. p. 185 RESEÑAS / RESENHAS: 1.Mateus de Sá, G., Cardoso de Oliveira, W. (2015). Michel Serres e o desafio de educar os jovens na era digital. p. 209 CRITERIOS EDITORIALES / CRITÉRIOS EDITORIAIS. p. 214 1. Políticas de IXTLI. 2. Envío de trabajos. Normas para autores. ARTÍCULOS - ARTIGOS IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación Volúmen 2 - Número 3 - 2015 pp. 11-42 Filosofia da Educação no Brasil: uma particular experiência do pensar na educação? Pedro Angelo Pagni FFC-UNESP/Campus de Marília Pesquisador CNPq [email protected] Pedro Angelo Pagni é Doutor em Educação e Livre docente em Filosofia da Educação pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), com pós-doutoramento na mesma área pela Universidad Complutense de Madrid. É professor adjunto da Faculdade de Filosofia e Ciências-UNESP e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). É autor do livro Experiência estética, formação humana e arte de viver: desafios filosóficos à educação escolar (Loyola, 2014), dentre outras produções acadêmicas em Filosofia da Educação. Resumen - Resumo - Abstract Existe uma diferença entre a filosofia da educação produzida no Brasil e a de outros países ou a sua pretensão de universalidade já a eximiria de buscar qualquer particularidade da experiência do pensar na educação brasileira? Diante dessa questão e dos desafios lançados por uma constituição cultural múltipla e étnica diversificada como a brasileira, a presente pesquisa se propôs a buscar uma resposta à questão mencionada, ao reconstituir histórica e filosoficamente a gênese e o desenvolvimento na filosofia da educação no Brasil. Embora alguns estudos tenham tentado abordar a trajetória da filosofia da educação no Brasil desde os anos 1980, a presente pesquisa procura contribuir para a construção Hay una diferencia entre la filosofía de la educación se produce en Brasil y los otros países ¿o de su pretensión de universalidad se exime el buscar cualquier característica de pensar en la experiencia de la educación brasileña? Frente a esta cuestión y los desafíos planteados por la constitución multicultural y la diversidad étnica que caracteriza al Brasil, la presente investigación se propuso buscar una respuesta a la cuestión mencionada, para reconstruir histórica y filosóficamente la génesis y el desarrollo de la filosofía de la educación en Brasil. Aunque en algunos estudios han tratado de abordar la trayectoria de la filosofía de la educación en Brasil desde la década de 1980, esta investigación tiene como objetivo, There is a difference between the philosophy of education produced in Brazil and other countries, or its claim to universality to exonerate him of seeking any particularity of experience of thinking in Brazilian education? On this issue and of the challenges thrown by a multiple ethnic and diverse cultural constitution as Brazil, the present research proposed to seek an answer to the question referred, to reconstitute the historical and philosophically the genesis and the development in the philosophy of education in Brazil. Although some studies have tried to address the history of the philosophy of education in Brazil since the years 1980, the present research aims to contribute to the construction ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 11 de outro olhar sobre a reconstrução histórica das manifestações da filosofia da educação como campo de ensino, de pesquisa e de pensamento. Para tanto, desenvolvemos uma análise histórico-filosófica dos momentos em que essas manifestações emergem como uma experiência do pensar na educação e os interpelamos sobre a possibilidade ou não de sua particularidade, especificamente, com o objetivo de indicar os seus principais desafios na atualidade. Concluímos com uma resposta afirmativa em relação à existência de uma particular experiência do pensar na educação, porém, ponderamos que tal particularidade foi se perdendo, graças à sua institucionalização, ao abandono do pensar os problemas emergentes da realidade cultural e educacional brasileiras e o próprio ethos do sujeito que o pensa, para se estabelecer a parâmetros supostamente generalizantes no meio acadêmico. hacerlo desde otra mirada, recostruyendo la historia de las manifestaciones de la filosofía de la educación como campo de enseñanza, de investigación y de pensamiento. Desarrollamos un análisis histórico-filosófico de los momentos en que estas manifestaciones surgen como una experiencia de pensar en la educación y nos preguntamos acerca de su pertinencia hoy, específicamente con el objeto de considerar su desafíos actuales. Concluimos con una respuesta afirmativa en relación a la existencia de una experiencia particular respecto a pensar la educación, sin embargo destacamos que tales particularidades se fueron produciendo gracias a la institucionalización, al abandono del pensar los problemas emergentes de la realidad cultural y educativa brasileña y al propio ethos del sujeto que lo piensa, para establecer los parámeros superstamente generalizables en el medio académico. of another look on the historical reconstruction of the manifestations of the philosophy of education such as teaching, field research and thought. To this end, we have developed a historical-philosophical analysis of the moments that emerges these manifestations emerge as an experience of thinking in education and we talk about the possibility or not of its particularity, specifically, in order to indicate their main challenges today. We conclude with an affirmative answer in relation to the existence of a particular experience of thinking in education, however, we can imagine that such particularity was lost, thanks to its institutionalization, the abandonment of the emerging problems of thinking cultural and educational reality and the very ethos of the subject who thinks, to settle the supposedly generalization parameters in academia. Palavras-chave: filosofia da educação no Brasil; experiência do pensar; modos de subjetivação Palabras Clave: filosofía de la educacióp en Brasil; experiencia de pensar; modos de subjetivación Keywords: philosophy of education in Brazil; experience of thinking; modes of subjectivation Recibido: 02/06/2013 12 Aceptado: 27/09/2013 Para citar este artículo: Pagni, P. (2015). Filosofia da Educação no Brasil: uma particular experiência do pensar na educação?. Ixtli. Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación. 2(3). 11-42. IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Filosofia da Educação no Brasil: uma particular experiência do pensar na educação? Desde os anos 1980, alguns artigos e capítulos de livro têm sido escritos com o propósito de analisar as principais tendências e correntes da Filosofia da Educação no Brasil. Dentre esses estudos se destacam os de Dermerval Saviani (1983), Durmerval Trigueiro Mendes (1987) e Antônio Joaquim Severino (2000). Embora sejam matriciais, tais estudos induzem a olhar para o desenvolvimento desse campo de determinados pontos de vista, evidenciando algumas concepções filosófica-educacionais, dando maior visibilidade aos sujeitos que as protagonizam e das práticas filosóficas que as compreenderam em detrimento de outras, como toda interpretação1. Apresento também aqui uma interpretação sobre o tema que, embora não difira do caráter interpretativo desses estudos, assume-o na forma de um ensaio em que apresento alguns dos resultados da pesquisa “Filosofia da Educação no Brasil (1960-2000): problemas, fontes e conceitos nas práticas do filosofar na educação”2, desenvolvida de 2005 a 2008. Neste ensaio interessa Esses estudos apresentam alguns problemas historiográficos que necessitariam ser mencionados a meu juízo, ainda que essas críticas não possam ser aprofundadas nesta ocasião. Tais problemas estão relacionados ao modo como definem as epistêmes desse campo, circunscrevendo-o à temática do humanismo das concepções ou círculos da Filosofia da Educação e elegendo-a como eixo fundamental, sem considerar a emergência de outras temáticas ao largo de seu desenvolvimento no Brasil. Estão relacionados também a uma periodização externa à constituição do campo e nutridos por questões que decorrem de certo presentismo, para usar uma linguagem historiográfica, sem que os autores se detenham na explicitação das diferenças entre essas que enunciam desde o presente em que vivem e às que emergem no horizonte histórico do pensamento do filósofo da educação estudado, de sua inserção na história intelectual do período. Por vezes, para tais autores vale mais a reafirmação do ponto de vista filosófico adotado ou perspectiva teórica assumida do que os conflitos e as lutas efetivas para a constituição do campo da Filosofia da Educação no Brasil. 1 Em busca de oferecer outra abordagem ao assunto, essa pesquisa objetivou: a reconstrução histórica das manifestações da filosofia da educação como campo de ensino, de pesquisa e de pensamento entre 1960 e 2000; a análise filosófica dos momentos em que emerge como uma experiência do pensar na educação, interpelando a possibilidade ou não de sua particularidade; a indicação de seus principais desafios na atualidade, indicando alguns pontos em que poderia ser intercambiada com outros países. Elegeu como objeto de análise, para isso, os periódicos educacionais brasileiros de maior circulação no período para, então, interpretar os discursos filosófico-educacionais em circulação e identificar os sujeitos de sua enunciação, juntamente com as práticas de apropriação das fontes filosóficas, das formas de sua composição e de seus efeitos nos debates produzidos no contexto de sua época. 2 ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 13 verificar, na análise dos movimentos e conflitos desse campo, a questão de saber se existe uma diferença entre a filosofia da educação produzida no Brasil e a de outros países ou a sua pretensão de universalidade já a eximiria de buscar qualquer particularidade da experiência do pensar na educação brasileira? Particularmente, gostaria de discutir se, ao ensaiar uma gênese e desenvolvimento na filosofia da educação no Brasil, em uma constituição cultural múltipla e étnica diversificada como a brasileira se pode vislumbrar a emergência de uma particular experiência do pensar na educação. Com tais objetivos, diagnostico quais as tradições das práticas e as perspectivas teóricas que sustentaram a experiência do pensar na educação brasileira e proponho discutir quais delas interessariam retomar criticamente, no presente, para resistir ao seu atual esfacelamento na ação docente, por um lado, e ao excessivo afastamento da pesquisa em Filosofia da Educação das práticas escolares, por outro. Parto de questões delineadas em estudos anteriores (Pagni, 2011a; 2011b), assim formuladas, para discutir em quais das práticas discursivas circulantes nesse campo poderiam se aproximar, senão da resistência política pressuposta pela arte da superfície, encontrando nos discursos de Anísio Teixeira, de Paulo Freire e de Marilena Chauí elementos de resistência a algumas tradições que se instauraram no âmbito da filosofia da educação no Brasil, argumentando que, cada um ao seu modo procurou escapar, respectivamente, de uma concepção de democracia em que as vanguardas intelectuais seriam as guias de reformas educacionais, de uma fundamentação da teoria pedagógica em uma antropologia filosófica e do estabelecimento do intelectual universal como sujeito da práxis educacional. Dessa forma, tento indicar que o projeto de cada um deles poderia ser revisto e suas obras recordadas no sentido de colaborarem para pensar os acontecimentos emergentes na práxis e na experimentação de modos de vida que, ao imergir na produção de modos de subjetivação constitutivos do ethos do brasileiro, poderiam colaborar para a sua (trans)formação. Entre uma modernização pelo alto e um ethos propagado desde baixo pelo modernismo 14 Entre o final de 1920 e meados de 1930, se acentua o debate acerca da criação da Filosofia da Educação, como disciplina constituinte do currículo das Escolas Normais e como campo de saber responsável por fundamentar os pressupostos teóricos a orientar axiologicamente a educação tanto no âmbito político educacional quanto pedagógico. Embora os contendores IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 desse embate postulem um ideal universal de homem ou um ideal relativo às particularidades da sociedade brasileiras, o que nele prepondera parece ser um debate sobre que projetos são mais concernentes a essa realidade social para que adquira a unidade cultural necessária à sua constituição como nação e, concomitantemente, adentre a modernidade alcançada pelos países ditos civilizada. Esse foi, particularmente, o teor da discussão observada no embate entre os intelectuais católicos e os educadores profissionais no período, tanto no campo ideológico quanto no campo teórico-filosófico (Pagni, 2000). A discussão travada entre esses grupos ocorreu, ainda, em torno da polarização entre o tradicional e o moderno, ou, o que parece ser mais apropriado, de que grupo de intelectuais supostamente universais representaria, em um campo específico como a educação, o apego à tradição ou a aspiração à modernidade. Em um caso, se tratava da utilização pelos educadores profissionais de estratégias de desqualificar as ideias defendidas por seus adversários, designando-as de arcaicas, ao mesmo tempo em que estes os acusavam de advogarem o esquecimento da tradição e provocarem o esfacelamento da cultura espiritual, produzindo uma espécie de desordem política e reiterando a deterioração moral da população brasileira. No outro, se tratava de saber qual desses grupos seria capaz de resolver, em termos práticos e discursivos, os problemas culturais decorrentes ao progresso (material) ocorrido na sociedade brasileira em meados do século XX. Assim, entre uma acusação e outra, haveria uma obsessão em definir que grupo de intelectuais estaria em condições de guiar o processo de desenvolvimento da sociedade brasileira, modernizá-la com rupturas mais ou menos profundas com a tradição e propor uma reforma educacional e moral da educação capaz de formar a população e a não brasileiras. Diante desses desafios, brevemente contextualizados, esses grupos apresentavam uma série de características comuns, sintetizadas a seguir. Em primeiro lugar, tais grupos eram constituídos de intelectuais que atuavam em campos específicos da cultura e, mesmo com posições teóricas divergentes entre si, buscavam elaborar um discurso universal, assentado em enunciados e proposições que fossem capazes de diluir essas diferenças e aquelas especificidades, para conferir unidade às ideias, principalmente, às doutrinas por eles elaboradas e postas em circulação. A segunda característica é a de que, por mais diferentes que fossem as ideias e às doutrinas defendidas por esses grupos, as suas práticas e estratégias eram bastante semelhantes ou, como interpretaram alguns historiadores da educação (Chagas De Carvalho, ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 15 1986; Monarcha, 1990), no limite, se posicionavam em prol de uma modernização conservadora. O que significa dizer que esses grupos criaram campos ideológicos e teóricos supostamente opostos, mas evidenciados dessa forma para alimentar um projeto conservador de modernidade, se posicionando na opinião pública, no meio editorial e na sociedade política, nos quais travam um embate sem precedentes, em meios de difusão específicos – tais como manifestos lançados na imprensa dos grandes centros para o público letrado, artigos em periódicos especializados (que começam a surgir no período) e, principalmente, livros destinados aos educadores 3. Estes meios de veiculação caracterizam o terceiro ponto em comum da atuação dos intelectuais desse grupo, propondo taticamente um modo de circular o seu discurso, fazendo-o chegar aos destinatários que elegem e, em tese, que poderiam replicar eficientemente as suas doutrinas nos campos político-educacional e pedagógico. O que chama a atenção nesta tática é que os sujeitos que enunciam e que colocam em circulação esse discurso, estrategicamente, elaboram-no a partir de práticas enunciativas e performativas pouco convencionais aos campos do saber disciplinar e às normativas do ambiente acadêmico, criados após 1934, com a fundação da Universidade de São Paulo, ou, mesmo, presente nesse contexto em intelectuais com formação acadêmica em outros países. Esta estratégia é a quarta característica comum, pois, confere aos sujeitos que enunciam e fazem circular esse discurso um modo próprio de pensar que, precisamente, compreende a utilização de referências diversas das filosofias e teorias sociais contemporâneas para justificar, senão a coerência interna de seus discursos, a fidelidade à doutrina do grupo ao qual se filiam e à postura universal que postulam, pressupondo sua relação a uma verdade e a um projeto particular de modernidade. Dos manifestos do período, destacam-se o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Fernando de Azevedo, em 1932, e o Manifesto dos Diretores da Instrução Pública, redigido por Paschoal Lemme, em 1936, o debate que esses documentos políticos suscitam na imprensa da época, com notas favoráveis e contrárias em relação a eles (PAGNI 2000; BRANDÃO, 1992). Dos livros, os que parecem acentuar a polêmica entre as doutrinas filosóficas educacionais de católicos e reformadores no campo editorial são os livros Introdução à Educação Progressiva de Anísio Teixeira (1950) e a Filosofia da Educação de Santo Tomás de Aquino de Mayer e Fitzpatrick (1935), com apresentação e tradução de Leonardo Van Acker, publicado em 1935. No âmbito da filosofia da educação, esses livros serviram de base para que os professores ou os futuros professores que cursam a Escola Normal se apropriem das doutrinas pedagógicas inspiradas no Pragmatismo de Dewey e no Neotomismo para orientar axiologicamente a sua prática de ensino, conferindo a ela uma fundamentação filosófica e científica necessária ao tempo histórico no qual vivem: em constante transformação. 3 16 IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Essa última característica demarca uma particularidade da experiência do pensar brasileira, produzida no período, mas que, de um ponto de vista genealógico, parece acontecer desde o período imperial brasileiro, que prenuncia a República. Isso porque os pensamentos, doutrinas e discursos resultantes das práticas de pensar desses sujeitos, historicamente situados, constituído de várias referências às obras de filósofos e cientistas sociais contemporâneos, podem parecer, teoricamente, ecléticos, por utilizarem fontes teóricas divergentes entre si, rearranjadas conceitualmente para refletir sobre as especificidades de problemas para os quais não foram pensados originalmente ou, simplesmente, para adequá-los a uma realidade sociocultural específica. No entanto, justamente em razão dessa necessidade de rearranjo ou mesmo da necessidade de criação de conceitos na elaboração das proposições, essa sua feição eclética das práticas de pensar desses sujeitos históricos é justificável em razão de sua consequência em relação aos problemas aos quais se refere. Ao tentar apreender esses problemas conceitualmente em suas particularidades nas realidades socioculturais e das ações políticaseducacionais das quais emergem, a composição, a readaptação ou a criação de conceitos se fazem, mais do que justificáveis, necessárias para elaborálos e para a confecção de sentidos às proposições apresentadas por esses sujeitos históricos, sobretudo, em contextos como o da sociedade brasileira. Exemplos dessas formas de composição, em um dos grupos, são as junções entre o pragmatismo de John Dewey e a sociologia de Durkheim, desenvolvidas por Fernando de Azevedo (1950/1962) para definir a educação como processo de reconstrução e transmissão da cultura, nos termos em que assinalou Alves (2004). Em outro grupo, como pode ser observado em Silva (2004), as junções entre o neotomismo e o pragmatismo, desenvolvidas por Leonardo Van Acker (1935), para justificar a precedência daquela corrente filosófica na enunciação do ensino ativo e do protagonismo do aluno na educação, também trazem essas marcas. Esses exemplos demonstram que essa forma de composição de conceitos, mediante uma prática de utilização de referências filosóficas contemporâneas diversas para a elaboração e sistematização de pensamentos, por assim dizer, ecléticos, mas consequentes com os problemas emergentes, demarcam a principal particularidade das práticas do pensar a experiência educacional brasileira de um grupo e do outro, nesse contexto, indicando ainda um traço de continuidade com o momento histórico anterior 4. No caso dos chamados “primeiros educadores profissioTal indicação pode ser observada no estudo de Roque Spencer Maciel de Barros (1959). 4 ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 17 nais”, porém, segundo Micelli (1979) pode se acrescentar que há adoção de uma tática que altera o simples sentido bacharelesco do uso do argumento de autoridade e às referências teóricas ecléticas para tornar formalmente rebuscado o discurso para fazer prevalecer sua posição sobre um suposto público de ignorantes e para se colocar no lugar do sábio. Para os “primeiros educadores profissionais” a apropriação das fontes teóricas e, principalmente, dos saberes científicos dá sustentação à outra forma enunciativa para em sua prática discursiva e em seu exercício performativo na esfera pública, ao se apoiarem num regime de verdade fundado nas Ciências Sociais, por um lado, e numa tática que consiste em se diferenciar de seus opositores atribuindo a eles a carga do arcaísmo e do empirismo grosseiro presentes na tradição para se apresentarem como porta-vozes de modernidade. São essas demarcações da alteração do jogo de poder e de verdade dos intelectuais brasileiros que aparecem no principal documento que congrega os “educadores profissionais”: o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova. Em tal manifesto, conforme demonstrado em outra ocasião (Pagni, 2000), tanto essa tática de exprimir publicamente uma forma de legitimação das ações dos “educadores profissionais” quanto a estratégia de se pautarem em uma hierarquização que os apresentariam como vanguardas intelectuais que se propõem a guiar e a formar a população, justificam um modo particular de pensar, demarcado pela utilização de referências filosóficas diversas e por uma elaboração teórica eclética, a experiência educacional brasileira. Os principais signatários desse documento elaboram essa experiência à luz de ideais universais de civilização e de cultura, procurando enquadrá-las a categorias filosóficas e teórico-sociais, produzidas por pensamentos que analisam outros contextos socioculturais, conferindo-lhe um sentido adequado ao olhar dos sujeitos históricos que a pensam e, portanto, subjugadas aos seus discursos de verdade e de poder, anteriormente descritos. 18 Um olhar que se caracteriza, como assinalado em outro momento (Pagni, 2011a), por uma visão filosófica que procura da altura das categorias preconcebidas e dos ideais supostamente universais, propagados em países ditos civilizados ou centrais do capitalismo, compreender uma experiência educacional como a brasileira, readaptando conceitos ou os recriando para este contexto sociocultural, mas sem percebê-la em sua singularidade, na multiplicidade dos modos de ser compreendido por sua população, às suas misturas subjetivas e, em uma palavra, aos seus ethos. Dessa forma, mesmo que demarque um pensar particular dessa experiência, o pensamento dos principais protagonistas do movimento de modernização educacional IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 acentua o tom etnocêntrico em sua reflexividade, em sua elaboração teórica e em suas proposições que, ulteriormente, foram objetos de alguns questionamentos à sua forma de legitimação e ao seu ponto de vista, por outros manifestos e pontos de vistas parcialmente concorrentes à época 5. Aliás, é possível inferir que parte desses pontos de vistas tinha em comum um traço de eugenesia, próprio da Cultura Ocidental, sobretudo, de sua configuração na modernidade 6. Diversamente da adoção desse ponto de vista que, em nome do universal, reforçaria uma hierarquização que vem das alturas ou que se propõe a falar pelos que vêm de baixo, há outro enunciado em circulação, no período, protagonizado pelo modernismo literário e artístico e condensado no Manifesto Antropofágico, redigido por Oswald de Andrade. Como retratado em outra ocasião (Pagni, 2011a), esse manifesto agrega parte das propostas do modernismo e assume um ponto de vista inverso aos apresentados anteriormente. Isso porque, por um lado, inverte o ponto de vista que o modernismo cultural brasileiro copia a modernidade europeia, já que segundo esse manifesto as revoluções bolchevique e francesa se inspiraram na revolução Caraíba e mimetizaram as formas sociais do Matriarcado de Pindorama; por outro, usa a metáfora da antropofagia para caracterizar as mesclas em torno das quais o ethos do brasileiro é formado e a prática pela qual devora ou digere os elementos provenientes da cultura externa, europeia ou norte-americana, para se tornarem seus, misturados aos seus corpos e modos de ser. Este uso metafórico das práticas antropofágicas dos aborígenes brasileiros apre- No que se refere à sua forma de legitimação parece ser interessante contrastar esse manifesto com outro, publicado em 1937, o dos Supervisores da Instrução Pública, nos termos desenvolvidos por Zaia Brandão (1992). 5 De acordo com Antônio Negri (2007, p. 93), a eugenesia é a forma de se referir ao belo e ao bom como um atributo dos “bem nascidos”, atribuindo a estes últimos a condição para o mando e conferindo a essa posição hierárquica uma universalidade, que se constituiu num dos pressupostos da Metafísica Clássica. Se o materialismo critica essa posição hierárquica como um modo de legitimar a dominação que na sociedade gregas os homens livres exercem sobre os escravos, esse autor vê nessa ‘forma “eugenésica” do universal, que não inclui nem produz iguais, mas que excluí e legitima implicitamente a escravidão’(NEGRI, 2007, P. 94) um princípio que compreende esse outro como excluído, como estrangeiro, como de fora ou como monstro, configurando, mais do que um pensar, um modo de legitimar o exercício do poder e da dominação, desde a sua genealogia, no Ocidente. Na modernidade, esse princípio perdura, porém, estabelecendo uma forma supostamente mais tênue, em que esse exercício é legitimado por outra forma de nascimento: o dos que despertaram para o saber e, portanto, se colocam no lugar dos chamados sábios. 6 ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 19 senta uma resposta afirmativa da formação do ethos dessa população, assim como traz elementos para retratar a cultura na qual foi formada, como uma espécie de movimento artístico-filosófico de inverter, como uma caricatura carnavalesca, a hierarquização social que a despreza, para legitimar uma ordem política estruturada em função do saber para legitimar o poder exercido pelas elites, ou, mesmo, a estrutura patriarcal presente na vida pública e na sociedade brasileira. Assim, tal movimento postulou se colocar no lugar do ethos constitutivo da cultura e, ao retratar artisticamente os modos de ser da população brasileira, lançar uma filosofia que procurasse fazer emergir do baixo ou das profundezas de suas marcas, de suas atitudes e das condutas que caracterizam as suas experiências cotidianas um outro olhar sobre a modernização do país. Não se pode ignorar que essa perspectiva, também, tem um ranço elitista na medida em que é postulado por uma vanguarda artística que aspira valorizar a cultura popular, a miscigenação racial e o sincretismo de nossa formação cultural para fazer frente à mera imitação dos modelos europeus. Esse movimento também reitera um traço eugênico da Cultura Ocidental, restabelecendo uma ordem para a sociedade e uma hierarquia que, ainda que inverta a produzida sob os auspícios do saber científico, se legitima pela arte e por um tipo de experiência artística protagonizada pelo gênio, instaurado por assim dizer um primado ontológico para esse sujeito similar àquele fundado na metafísica transcendental. Contudo, os intelectuais que desenvolveram esse modo de pensar e se colocaram na vanguarda desse movimento artístico, como Oswald de Andrade, Anita Malfatti, Tarsila do Amaral, Mario de Andrade, pela primeira vez tentaram mirar na cultura popular e no modo de ser da população, elaborando um modo de conviver com o que vêm do exterior e mesclando-o aos hábitos, aos costumes e às atitudes imperantes na formação cultural brasileira, denominado por eles, metaforicamente, de antropofagia. 20 Esta última parece sintetizar a particularidade da experiência do pensar na cultura brasileira, presente também em outros projetos de modernidade do período, ainda que elaborado neste movimento artístico-filosófico de um ponto de vista bastante determinado. Esse modo antropofágico de se relacionar com as referências filosóficas contemporâneas parece configurar certa filosofia da cultura e da educação que, ao elaborá-las teoricamente, produzem uma série de discursos relativamente ecléticos, mas não menos rigorosos para retratarem os problemas emergentes da realidade sociocultural e educacional brasileiras. Assim, almejam a assunção de uma posição afinada com a modernidade, do ponto de vista seja das elites e, portanto, do alto, seja do IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 lugar ocupado pela população ou de sua cultura, desde baixo, mas raramente essa posição filosófica, se seguirmos as imagens dos filósofos esboçadas por Deleuze (2001), é assumida como uma arte da superfície por parte dos intelectuais que atuam no campo artístico e, principalmente, no da educação. O que existe, como ponderado em outras ocasiões (Pagni, 2011a; 2011b), são modos de pensar filosoficamente na ação educativa que se aproximam de uma de uma conduta que resiste às práticas existentes, se colocando contra as condutas morais imperantes, para abrirem espaços a outros modos de subjetivação. E, embora não haja muitos registros documentais desses focos de resistências, sinais deles se vislumbram em algumas posições assumidas, nas obras de alguns intelectuais brasileiros e em alguns de seus embates do campo educacional e filosófico, quando se opõe ao caráter vanguardista assumido por boa parte de seus pares seja por um projeto de modernidade em que as reformas educacionais deveriam ocorrer desde o alto ou, melhor dizendo, da visão das elites, seja por um modernismo artístico-cultural que valoriza os traços quase caricaturais de um ethos dos modos de existência provenientes dos de baixo. Isso porque o modernismo artístico não reverte a forma eugenésica postulada pela modernidade educacional na medida em que o saber científico que se estabelece como condição para as elites que devem comandar as massas deste último movimento é substituído pela genialidade artística ou por uma sensibilidade estética própria, ao propor a inversão dos de baixo sobre os de cima, reforçando essa divisão hierárquica e substituindo uma fundamentação metafísica por outra materialista. Diversamente dessas posturas, a filosofia da educação de Anísio Teixeira parece protagonizar uma espécie de resistência aos vanguardismos e à unidade cultural postulada pelos porta-vozes tanto da modernidade educacional quanto do modernismo artístico ou literário, oferecendo alguns elementos para se pensar o problema da diversidade étnica e da multiplicidade cultural presentes na ação educativa. Ao postular a democracia como uma concepção ética de vida e o pensar reflexivo como o da experiência educacional, nos termos analisados em outra ocasião (Pagni, 2008), Anísio Teixeira mostra-se sensível a uma diversidade étnica e a uma cultura múltipla como constitutiva dos ethos do brasileiro. Faz dela não apenas objeto de suas reflexões, o que ocorrerá especialmente nos anos 1950, como também da manifestação e da reflexão produzida na escola, tal como pressuposto por sua filosofia da educação que, seguindo o pragmatismo deweyano, advoga que essa instituição seria um laboratório da filosofia. Na escola, segundo ele, as crianças e os jovens experimentariam conhecimentos e valores ainda não professados ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 21 pela comunidade na qual vivem, assim como os que são nela socializados, de modo a julgá-los e deliberar conscientemente quais seriam os valores mais adequados para a condução de suas vidas e a da comunidade em que vivem. Esse julgamento seria possível se, segundo Teixeira (2000, p. 115), a escola se ocupasse da “formação de pequeninos Sócrates”, pressupondo uma pedagogia em que o aprendizado do pensar reflexivo fosse primordial ao aluno e os problemas suscitados no ambiente escolar e comunitário no qual os vivencia fossem refletidos por seu pensamento, mediante um método lógico-investigativo, que daria mais garantia às suas asserções. A condição para o aprendizado do pensamento reflexivo na escola, além de sua relação com a comunidade, seria a democracia. Esta deveria garantir na análise dos problemas, como condição, a manifestação da opinião dos diferentes pontos de vista, assim como o seu refinamento no sentido de aproximá-las das proposições científicas e dos significados instituídos pela comunidade acadêmica. A democracia é vista pelo autor como um modo de vida social, como uma atitude diante da vida e de sua condução, que uma vez experimentada na escola não seria mais admitida fora dela, isto é, em outros círculos sociais em que vive o aluno. Na escola, desse modo, o aluno teria a oportunidade de se confrontar com sentimentos, valores e crenças distintos daqueles adquiridos nos círculos familiares e sociais, até então frequentados, ampliando o seu horizonte em relação aos mesmos e lidando com essas diferenças. Isso porque eles seriam colocados em situações que os fizessem julgar reflexivamente quais seriam os melhores sentimentos, valores e crenças a regerem a sua vida e a da comunidade na qual vivem, quem sabe, adotando uma atitude ética mais flexível e tolerante em relação ao modo pelo qual os outros vivem e pensam. Assim, os alunos aprenderiam a respeitar as diferenças, admirando-as mais do que as condições em que se tem um modo único de pensar, de agir e de sentir, nos termos até então dominantes na tradição cultural brasileira, pois, entendendo que aí residira a democracia como ética de vida e o princípio político no qual a democracia social deveria se assentar. 22 Essa concepção de democracia como ética de vida pode ser entendida como uma tentativa de fazer emergir os ethos brasileiros com toda a sua diversidade étnica e multiplicidade cultural, ao destinar às novas gerações, que tiverem acesso à escola, a responsabilidade de constituir modos de convivência social. Tais modos de existência deveriam ser não apenas eficazes para integrar as etnias e as diferentes formas de vida, como também da adaptar inteligentemente às novas gerações à civilização em constante mudança, IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 graças ao desenvolvimento científico-tecnológico desta e a capacidade de pensar reflexivamente a sua direção prospectiva por aquelas. Na acepção do autor, dessa forma, pode-se dizer que a diversidade étnica e cultural tenderia a unidades provisórias, advindas do consenso estabelecido pelos grupos sociais em torno de certos sentimentos, crenças e valores de uns e de outros, convencionados como os melhores para a vida comunitária na ocasião e para o seu progresso no sentido da constituição de uma sociedade cada vez mais inclusiva. Essa é utopia postulada por Anísio Teixeira. Nela parece ser possível vislumbrar a possibilidade tanto de emergência da diversidade étnica e cultural constitutiva dos ethos dos brasileiros e da possibilidade de ser pensado reflexivamente pelas novas gerações quanto uma teleologia sem telos que sustenta a filosofia deweyana apropriada por ele, a saber: que postula a integração, mais do que a unidade, em torno de critérios comuns e do princípio da inclusão progressiva. A emergência dos ethos dos brasileiros, que o aproxima mais dos objetivos dos modernistas, apresenta uma relação de continuidade com essa teleologia democrática, que os coloca entre os integrantes da modernidade educacional, condiciona uma à outra (e vice-versa) e confere unidade doutrinária à filosofia educacional postulada por Anísio Teixeira. Nesse sentido, afetado pelo contexto que antecede o Estado Novo, pelos embates entre modernizadores que almejam revolver do alto a cultura e modernistas que desejam a revolução das raízes do ethos do brasileiro, ele parece optar, anti-estrategicamente, para usar uma expressão de Foucault (1997), por indicar outro caminho. Tal posição, no campo filosófico-educacional, propõe compreender a educação nem tanto à luz das ciências, tampouco a partir de uma fundamentação teórica em qualquer expressão da Metafísica, mas como uma arte, que requer à ciência para lhe dar maior consistência e, sobretudo, a filosofia para dar sentido aos resultados das pesquisas científicas e à sua aplicação à ação educativa. Pragmaticamente, dessa forma, a filosofia da educação de Anísio Teixeira transita entre um ponto de vista metafísico das alturas e outro materialista das profundezas em busca dos sentidos a serem empreendidos na, pela e para a experiência educacional. Sentidos estes que estão relacionados ao modo de ser e de pensar de grupos e de suas respectivas filosofias que, ao rivalizarem na esfera pública, produzem uma experiência educacional na medida em que incitam os indivíduos a trocarem de posição, ao serem interpelados pelos modos de ser diversos dos seus, deslocando-se: ora para reafirmar suas convicções de uma forma mais sofisticada e coerente, ora para ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 23 muda-las e assumir um ponto de vista de outrem, em tese, mais convincente, porque melhor para a comunidade e para si mesmo. A filosofia da educação de Anísio Teixeira admite esse processo, por meio do qual, vislumbra a implantação gradual da democracia como ética de vida no plano da escola e da esfera pública, assim como indica a conversação entre grupos sociais e o intercâmbio de experiências entre indivíduos como meios de mobilidade social e de negociação de pontos de vista comuns em torno dos quais se estabelecem consensos relativos a fim de que, gradativamente, todos sejam incluídos e haja maior circulação no exercício do poder. Juntamente com esse deslocamento – epistêmico por assim dizer –, as posições da filosofia da educação de Anísio Teixeira parecem indicar, também, um contraponto tanto ao ecletismo quanto a metáfora antropofágica que caracterizavam essa particular experiência do pensar a ação educativa no período, ao adotar uma postura, senão mais ortodoxa em relação ao pragmatismo de John Dewey, ao menos mais acadêmica. Estrategicamente, nesse contexto histórico, em razão de sua própria formação universitária 7, Anísio Teixeira produz uma inflexão na particular experiência do pensar a educação brasileira, por um lado, em contraponto ao ecletismo, propondo um modo de refleti-la mais abalizado e rigoroso em relação às fontes teóricas da filosofia contemporânea e das ciências, conferindo-lhe um sentido mais acadêmico; por outro, como alternativa ao vanguardismo postulado pela modernização cultural e artística, aspira a uma concepção de democracia em que os agrupamentos comunitários participam e as comunidades deveriam ser compreendidas em suas diferenciações de ponto de vista, de filosofia e de modos de existência. Assim, historicamente, assumiu um papel significativo para constituição do campo da Filosofia Educacional e, particularmente, para a formação dessa particular experiência do pensar a educação brasileira. No entanto, tanto a tendência a academicização do pensar a experiência educacional em torno de fontes filosóficas ou escolas de pensamento cada vez mais rígida, e por Após deixar o cargo de Diretor da Instrução Pública no Estado da Bahia, em 1928, Anísio Teixeira foi estudar essa filosofia da educação na qual se apoiava a educação progressiva nos Estados Unidos, com a qual havia se encantado em sua visita às escolas desse país, na Columbia University, retornando em meados de 1930 com o título de Master of Arts. A formação obtida nessa instituição norte-americana, onde teve a oportunidade de frequentar algumas conferências de John Dewey e ser aluno de William Heard Kilpatrick, possibilita a Anísio Teixeira no horizonte de sua época assumir um ponto de vista filosófico mais acadêmico, menos eclético, e mais especializado, prenunciando um modo de pensar a educação que somente se consolidou com a criação das primeiras universidades brasileiras a partir de 1934 e, subsequentemente, com a gradativa instituição da filosofia da educação entre os saberes especializados da Pedagogia ou das Ciências da Educação. 7 24 IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 vezes únicas, com a criação das universidades brasileiras nas décadas subsequentes, quanto a preponderância de um paradigma científico emergente com esse modelo norte-americano propagado produziu certo distanciamento da reflexão radical dos problemas emergentes da experiência brasileira, indicam certos limites senão subsequentes para se considerar essa inflexão, ao menos para generalizá-la para outros contextos e momentos históricos. Pode-se objetar que esta concepção substitui uma matriz europeia de desenvolvimento por outra norte-americana e institui uma visão comunitarista alheia à experiência brasileira, o que não deixa de ser real, mas o que importa salientar é o sentido estratégico com que esse paradigma é adotado no debate filosófico-educacional e a sua preocupação com a ampliação da participação da comunidade. O mesmo se pode dizer em relação ao sentido mais acadêmico que imprime ao pensar reflexivo, tornando-o mais rigoroso e menos afeito ao seu uso bacharelesco na experiência educacional brasileira ou ao seu uso respaldado na aplicação das ciências do social. Caso se considere a tendência desse sentido acadêmico nas décadas subsequentes, com o desenvolvimento e proliferação dos cursos de formação docente e das universidades no Brasil, porém, observa-se um forte pendor em direção ao enrijessimento desse modo de pensar, ao se submeter a uma lógica estritamente científica, e certo afastamento dos problemas emergentes da experiência educacional brasileira, provocados mais pelos embates em torno da constituição do campo da filosofia da educação do que da influência de Anísio Teixeira. Destoa desse desenvolvimento subsequente do campo o pensamento de Paulo Freire, no qual é possível encontrar, como demonstro a seguir, tanto uma radicalização da concepção de democracia como modo ético de vida e que se funda na participação efetiva dos setores marginalizados da população brasileira, quanto certo retorno a um modo de pensar a educação a partir de várias fontes teóricas. Se, em sua emergência, esse modo eclético ou antropofágico de pensar a experiência educacional brasileira, genealogicamente, parecia ser profundamente coerente com os problemas emergentes das culturas brasileiras, com o seu desenvolvimento empreendido por esse educador ele se torna criativo na medida em que gera um comprometimento ético com as fontes filosóficas e teóricas apropriadas para pensa-los e para conferir a ação educativa um sentido eminentemente político. É assim que a experiência do pensar a educação brasileira, historicamente, ganha outro impulso e se aproxima de uma filosofia educacional como arte da superfície, ao propor uma ruptura com os traços elitistas da modernidade educacional ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 25 e certa aliança com o teor popular do modernismo artístico, como exposto a seguir. Da antropologia das alturas à etnografia das profundidades 26 A Filosofia da Educação começa a fazer parte como disciplina dos currículos dos cursos de Pedagogia, recém-criados nas universidades para formar os especialistas da Educação e os professores. Contudo, segundo Tomazetti (2004), nesses currículos, essa disciplina se responsabiliza por ensinar aos futuros especialistas e professores História da Filosofia, uma ou outra doutrina filosófica, dependendo da filiação teórica do professor, assumindo aí um caráter fundamentador, por vezes metafísico, de uma teoria pedagógica ou uma função mais pragmática. Assim essa disciplina se desenvolve até o final dos anos 1960, quando o influxo das novas perspectivas e o debate trazido nas revistas especializadas, assim como nos livros publicados nesse campo, parecem modificar o modo de ensiná-la, os conteúdos a serem administrados e a sua função no currículo dos cursos de Pedagogia. Por sua vez, como um campo em constituição, as perspectivas teóricas anteriormente mencionadas, que se posicionam no debate ocorrido nos periódicos educacionais, o fazem em relação aos problemas emergentes de nossa realidade, mas parece haver um deles que concentra parte significativa das discussões: o decorrente das consequências da modernização para a formação humana e o papel a ser assumido pela educação na humanização do homem, sem que esta renuncie ao avanço científico e tecnológico da época. Ora, esse problema emergente nesse período faz com que os sujeitos que se apropriam de interpretações mais ou menos ortodoxas do neotomismo ao existencialismo fenomenológico, passando pelo pragmatismo e marxismo, se posicionem em relação ao assunto, advogando, muitas vezes, a necessidade de uma antropologia filosófica para sustentar e normatizar a práxis educativa. Para tanto, essa antropologia deveria ser fundamentada em uma ontologia espiritualista ou naturalista, no instrumentalismo filosófico, na sociologia, no materialismo, dependendo da base teórica adotada mais ou menos ortodoxamente pelos sujeitos que elaboram essa posição. Desse modo, a filosofia da educação é alçada à altura dos saberes pedagógicos, pois, a ela caberia a coordenação dos demais ou, mesmo, definir axiologicamente os destinos das ciências da educação. Nesse contexto, as apropriações dessas perspectivas filosóficas ocorreram também de modo bem menos ortodoxo, como já havia ocorrido nas aproIXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 priações do neotomismo por Leonel Franca, do pragmatismo por Fernando de Azevedo ou, mesmo, por Anísio Teixeira (quando, por exemplo, procura estabelecer relações do pragmatismo com a teoria da comunicação de MacLuhan no final dos anos 1960). Outras formas de apropriação menos ortodoxas podem ser observadas também nas interlocuções entre o existencialismo e o marxismo desenvolvidas por Álvaro Vieira Pinto, entre o pragmatismo e a sociologia positivista ou a ontologia, desenvolvidas por João Roberto Moreira e Newton Sucupira, respectivamente, e a vinculação entre a sociologia empírica e o marxismo, por Florestan Fernandes, para citar alguns nomes. Essas formas de fazer filosofia da educação demonstram a necessidade de esses sujeitos reformularem as fontes filosóficas ou teóricas sociais apropriadas para adequá-las aos problemas emergentes da realidade sociocultural brasileira pensado por eles, ao mesmo tempo em que elaboram reflexões originais e propostas consequentes para solucioná-los praticamente. É como se seguissem um estilo antropofágico da experiência do pensar a educação brasileira, ao se apropriar de várias fontes e digeri-las como quem as incorporasse para pensar, porém, nesses casos, na reflexão acerca de um problema senão universal, ao menos generalizado a todos os países após a Segunda Guerra: o problema das consequências do desenvolvimento científico e tecnológico para as Ciências do Homem e para a pedagogia centrada na dignidade da pessoa humana ou no humanismo. De certo modo, independente do matiz teórico ou ideológico adotado, o procedimento comum nesses casos é o de fundamentar as teorias pedagógicas e as indicações propostas para a práxis educativa em uma antropologia filosófica que as fundamente e justifique, alinhavando a altura desta com a profundidade do problema do homem, em uma cultura particular e um ethos difuso como a brasileiro. Procedimento esse que parece, por um lado, atenuar um pouco o estilo antropofágico no que se refere à apropriação das fontes teóricas de acordo o problema em vista e a sua profundidade no solo cultural brasileiro; por outro, cria um estilo antropológico de fazer filosofia da educação e da cultura, que privilegia a coerência entre as fontes e a sua possível unidade em torno de uma determinada concepção de humanismo, ao qual a abordagem do problema se adequaria, fazendo a práxis educativa e cultural alçar as alturas do espírito humano. Não saberíamos precisar se uma fratura, mas, certamente, um alargamento dessa perspectiva antropológica de filosofia da educação aparece com a obra de Paulo Freire. Ao articular o existencialismo, com o marxismo e a teologia da libertação, Freire produz não apenas uma antropologia filosófica na qual fundamenta ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 27 seu pensamento, como também antropofagicamente utiliza a etnografia como recurso para conhecer a cultura na qual estão inseridos e o ethos da população ao qual se destina a sua pedagogia: os marginalizados. Nisso reside a originalidade de sua reflexão e a consequência de sua proposta pedagógica que, ao partir da cultura do oprimido e do ethos no qual vive, almeja a formação do homem como sujeito emancipado da opressão e, para isso, postula seu engajamento na práxis política. Originalidade essa que, mesmo não sendo reconhecido como filósofo da educação no Brasil, fez com que o seu pensamento e a sua pedagogia se tornassem conhecidos internacionalmente, justamente por ser um dos poucos intelectuais a se preocuparem com os excluídos, com a diversidade da cultura na qual se inserem e com a educação como práxis política, ao menos até os anos 1970. Por sua vez, internamente à filosofia da educação no Brasil, Paulo Freire desempenha um papel anti-estratégico ao seu desenvolvimento, ao contrabalançar o peso da antropologia filosófica na qual funda a sua pedagogia com uma disposição à etnografia que, em tese, deveria recorrer à experiência do outro e ao ethos do educando, elegendo a este como o sujeito dileto da práxis educativa. A etnografia deveria ser uma das ferramentas utilizadas pelos educadores para conhecer a situação social, a cultura e o ethos nos quais se insere o educando, servindo como ponto de partida, segundo a pedagogia de Paulo Freire (2005), para formar a consciência crítica do sujeito emancipado e engajado politicamente. Isso implica pressupor uma antropologia filosófica que fundamenta essa pedagogia, conferindo universalidade e verdade à categoria de sujeito político utilizada. Contudo, mesmo pressupondo essa a qual os educandos deveriam se identificar e os educadores poderiam representar, por meio da ação dialógica de sua pedagogia, Freire estabelece uma ligação do conhecimento acerca das profundezas da cultura popular e dos modos de vida dos chamados oprimidos com a altura da utopia da emancipação da opressão e, principalmente, dos estados de dominação política. Dessa forma, Paulo Freire procura aliar a alteridade necessária à utilização do procedimento etnográfico, admitindo a diferença da situação social e cultural entre os sujeitos da educação, com a identidade requerida pela antropologia filosófica na qual se assenta a sua pedagogia. 28 Dessa perspectiva, Paulo Freire não apenas postula um diálogo entre o profundo do ethos do brasileiro e a altura de uma utopia de emancipação social, como também funda nesse diálogo uma pedagogia em que o educador como sujeito consciente politicamente age no sentido de elevar a consciência política do educando. Nesse diálogo, a conciliação que a pedagogia freireana faz IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 da etnografia com a antropologia filosófica, em vistas a fundamentá-la e a perspectivar elevar esse sujeito histórico à altura de uma consciência política revolucionária, parece afinada com o propósito de determinar o lugar para onde o ethos de parte da população brasileira deve ser conduzido. Assim, a perspectiva de mergulhar nesse ethos e conhecê-lo melhor, por meio do recurso à etnografia, vê-se condicionada e determinada por uma visão a priori do que seria a consciência crítica e o sujeito revolucionário, colocando em risco a possibilidade de pensar os acontecimentos, que revolvem em suas profundezas e que emergem na superfície da práxis educacional. Entretanto, não se pode ignorar que a pedagogia de Paulo Freire tem o mérito de inaugurar a possibilidade de que se abordar as questões acerca de sua diversidade étnica e cultural da população brasileira e de um modo que poderia ter outro tipo de interpretação. Pois, a sua pedagogia não postula seguir o modelo de homem civilizado europeu ou norte-americano como protótipo desse sujeito, nos termos assinalados pelos porta-vozes da modernidade educacional das décadas anteriores, tampouco implica na sua assimilação à metáfora do antropófago construída pelos modernistas, como a do protagonista bárbaro de todas as revoluções. Trata-se, ao contrário disso, de aspirar a um conceito de sujeito em que não é destituído de experiência e de corpo, pois, sente na pele a opressão, percebendo-a como algo mediato, porque provocada pelo sistema social, que pode ser pensado, tornando-se consciente enquanto ser no mundo e agente de sua transformação radical, em busca de sua libertação. Lida sob essa ótica, relativizando o apelo que faz ao sujeito universal e o privilegio à sua fundamentação em uma antropologia filosófica, a ênfase etnográfica da pedagogia freireana poderia ser retomada para auxiliar os professores e os filósofos da educação a ouvir a voz daqueles a quem ela se destina. Nesse sentido, poder-se-ia perspectivar em sua obra, especialmente, por meio dos círculos de cultura, um dar a voz ao oprimido e ao seu universo vocabular, revelando a expressão dos modos de ver e de viver nos quais está imerso, assim como as perspectivas fragmentárias ou não que compreendem o seu ethos em vistas à sua representação. É mediante esse apelo, graças à apropriação dos recursos técnico-científicos da etnografia, que o educador submerge na diversidade étnica e na multiplicidade cultural na qual vive o educando, se aproximando de seus modos de ver e de viver para, então, emergir com um conhecimento e com estratégias que permitam a esse seu outro exprimir o que sente, pensa e crê. Para ouvir a voz, ver os signos e pensar os modos de vida desse outro, porém, seria necessário o confronto tanto com o que o seu outro ouve, vê e pensa que, supostamente, seriam diferentes dos seus quanto consigo mesmo, pois, para esse exercício ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 29 de alteridade, precisa abrir mão de seu ponto de vista, do ouvido comumente e do pensado habitualmente. 30 Esse talvez fosse o maior desafio do sujeito da práxis educativa, nos termos pressupostos por essa pedagogia, já que supõe uma disposição em lidar com seus próprios preconceitos e hierarquias pré-estabelecidas, assim como em se transfigurar como tal. Se esse desafio é grande para o educando, sobretudo, no presente, quando a cultura se massificou ao extremo, ele é ainda maior para o educador. Entretanto, o uso do diálogo como ferramenta privilegiada da razão para que o educador leve o educando a representar o que exprime nessa relação, se tornando consciente de sua condição sociocultural e política e das possibilidades de transformá-la, parece partir de pressupostos que a comprometem. Por mais que o uso da etnografia indique a possibilidade de mudança do educador nessa relação com o educando, tais pressupostos conferem àquele uma condição superior epistemológica e politicamente em relação a este, assim como almejam a unidade da cultura diversa que intercambiam entre si. Tais pressupostos antropológicos da pedagogia freireana aspiram, sob o signo do universal, além das condições de condução do educador pelo educando no processo educativo, o nivelamento de suas diferenças na medida em que chegam a um saber sintético e uno, ao qual ambos deveriam acessar, como seres humanos e sujeitos históricos. Assim, do mesmo modo que a conversação teria levado a consensos relativos, pressupondo uma comunicação dos significados do educador ao educando e vice-versa, assim como de sua experimentação, com o sentido dado por aquele que teria maior refinamento linguístico e intelectual, o diálogo também parece persistir nessa determinação: a diferença é dada pelo aporte ao epistemologicamente superior e ao universal politicamente, pretendido pelo educador, em vista a ascender e, conjuntamente, a levar o educando a outro patamar da consciência e a vislumbrar a possibilidade de condições ideais de vida para todos. Provavelmente, se pode notar neste aspecto, por mais que pareça se aliar e radicalizar o pendor popular do movimento artístico modernista, uma recaída no seu vanguardismo ou, mesmo, certa aspiração de universalidade do modernismo educacional brasileiro. Embate semelhante com essas tradições, com outros indicativos para se pensar a filosofia da educação como arte da superfície, pode ser vislumbrado em um ensaio de Marilena Chauí. Publicado em meados de 1980, como apontado subsequentemente, o referido ensaio parece dar outro impulso a particular experiência do pensar a educação brasileira, aprofundando conceitualmente as categorias do marxismo que poderiam auxiliar a compreender os problemas emergentes da ação educativa no contexto do início de abertura política IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 brasileira, refletindo sobre a sua ação como educadora na universidade. Da especialização do conhecimento à ação intelectual específica Os cursos de Pós-graduação em Educação, criados nos anos 1970, corroboraram a necessidade de maior sofisticação do discurso pedagógico e das bases teóricas da pesquisa em Educação, reclamada desde o final dos anos 1950 com a criação da CAPES e os centros regionais de pesquisa. Neles a Filosofia da Educação se consolidou, segundo Severino (2000), como não apenas uma disciplina, como também uma subárea de pesquisa importante da Educação: mais precisamente no rol dos Fundamentos da Educação. Isso fez com que a pesquisa nessa subárea se incrementasse, seguindo aqueles desafios gerais postos no contexto dos anos 1970 e o da consolidação dessa disciplina acadêmica como campo de pesquisa responsável pela definição das bases epistemológicas e ontológicas da educação, em vistas de conferir coerência teórica aos discursos pedagógicos e fundamentação aos saberes e práticas em circulação. Nesse contexto, a apropriação do pragmatismo perde a força que teve em fins dos anos 1960, sobretudo no âmbito acadêmico, vendo-se proliferar nas revistas especializadas e no mercado editorial, por um lado, as críticas dirigidas aos seus pressupostos teóricos e metodológicos, tais como as desenvolvidas por José Mario Pires Azanha (1974) à luz de certa apropriação da filosofia analítica da educação; por outro, a emergência de perspectivas fenomenológica e existencial que, ao serem aplicadas à educação, nos termos desenvolvidos por Joel Martins & Maria Vigianni Bicudo (1983), disputaram com ele outra base de fundamentação teórica para a prática do ensino protagonizado pelo educando, supostamente fundada em uma ontologia e humanismo, antes do que no naturalismo e instrumentalismo filosófico postulado por John Dewey. A recepção tanto da filosofia analítica da educação quanto do existencialismo e da fenomenologia parece haver uma apropriação das fontes bastante diversas, mantendo certa atitude de recorrer às ferramentas disponíveis desses horizontes teóricos para, então, os autores brasileiros mencionados elaborarem teoricamente e enunciarem propostas para equacionar o que delimitam como seus problemas teóricos e/ou práticos da educação. É nesse contexto, com os desafios acadêmicos e o início da abertura política do país, que a perspectiva teórica do marxismo se tornou mais sistematizada no âmbito dos saberes pedagógicos e se colocou em confronto com as outras perspectivas que constituíram a filosofia da educação no Brasil. Isso porque ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 31 a contribuição dessa perspectiva teórica foi significativa, no final dos anos 1970 e meados dos anos 1980, ao debate epistemológico das ciências da educação a discussão acerca não apenas do sujeito universal, como também do viés ideológico das ciências, destacando o caráter político das práticas e dos saberes educacionais e as suas vinculações com a práxis social. É desse ponto de vista que autores brasileiros que se apropriaram do marxismo, como Saviani (1983) e Trigueiro Mendes (1987), endereçam as suas críticas às outras perspectivas teóricas, advogando um método histórico-dialético para a concepção de filosofia da educação que professam: à luz do qual seria possível a crítica das concepções anteriores, recuperando o seu núcleo de verdade, no passado, e os superando no sentido da referida transformação social, no presente. Nessa conjuntura teórica, coube à concepção dialética postulada pela filosofia da educação não apenas o refinamento e a discussão desse método, como também a fundamentação última das teorias educacionais, assegurando um ponto de vista verdadeiro à luz do qual o sujeito histórico universal poderia orientar sua ação política e pedagógica. Nesse campo, em processo de constituição nas linhas de pesquisa dos Programas de Pós-graduação, se seguiu majoritariamente as propostas de Saviani (1983) de que uma vez esboçado didaticamente o quadro das tendências e correntes da educação brasileira à luz da concepção dialética de filosofia da educação, bastaria completá-lo com monografias de base em história da educação. Assim se verificaria a pertinência das críticas endereçadas às outras concepções ou, então, se ampliaria as possibilidades de utilização do método dialético no sentido de investigar outros objetos para compreender a totalidade do fenômeno e da práxis educativa. Por sua vez, essas possibilidades de utilização do método dialético, que do ponto de vista estratégico acenavam para a sua generalização no campo dos saberes escolares, no plano dos discursos circulantes assumiam a aspiração pela universalidade, propondo a adoção de certa ortodoxia marxista, assegurada pelo domínio das questões relativas aos seus pressupostos teórico-metodológicos. Dessa forma, se postulava certa ruptura com a tradição conservadora do pensamento educacional brasileiro e um acerto de contas com as perspectivas ideológicas de esquerda que até então haviam colocado em circulação suas proposições, sem o rigor científico e acadêmico exigido à época. 32 Embora propusesse a ruptura com a tradição político-ideológica na qual se sustentava o pensamento pedagógico brasileiro e a tentativa de reverter algumas ideias produzidas pelas filosofias da educação nas quais se assentava ao IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 plano das relações humanas concretas, no período, o que se pôde notar foi, senão o prosseguimento daquela ideologia, que passou a ser mais discutida é verdade, ao menos o reforço de certas condutas que a empreenderam. Algumas dessas condutas estavam relacionadas ao estabelecimento de uma dicotomia entre o senso comum e a consciência filosófica, que traz consigo certa aspiração às alturas proveniente da modernidade educacional; a uma ideia de formar o homem enquanto sujeito, consciente e engajado na práxis política, alegando que esta seria a sua concretude na história, reforçando o pendor antropológico da filosofia da educação. O que parece criar a partir das incorporações dessas condutas anteriores é a ideia do professor como intelectual orgânico que, após sair de seu estado sincrético rumo à síntese que faz da cultura e da história, se coloca como guia dos demais: como um sujeito que age em prol da classe historicamente universal, especificamente, socializando a cultura acumulada historicamente a qual essa classe não teria acesso na escola e instrumentalizando-a para a ação política; ao mesmo tempo em que age politicamente em outras instituições da sociedade civil, como o partido político e o sindicado, em vistas a lutar pela conquista da hegemonia das classes trabalhadoras nesses setores da vida social. Assim, o professor poderia aspirar à categoria de um intelectual universal, mesmo atuando em um campo específico cultura e especializado dos saberes e práticas, desde que se comprometesse com a práxis política nas outras esferas da vida social. O argumento apresentado em relação à multiplicidade da cultura é o de que a cultura popular na qual essa diversidade apareceria em um país como o Brasil teria se massificado graças à mídia eletrônica, à televisão e à cultura de massas. Os raros focos da particularidade dessa cultura popular, no contexto da época, não seriam suficientes para que o homem almejasse a realidade em sua totalidade e universalmente, mediante a sua formação, sendo necessário o acesso à cultura erudita acumulada historicamente para que se tornasse um sujeito consciente de sua condição sócio-histórica e da necessária transformação social. Por esses motivos e em razão da determinação social segundo o modelo marxista, o problema da multiplicidade da cultura e da diversidade do ethos é colocado em segundo plano nessa análise, embora não abandonados. Afinal, somente com a transformação radical da sociedade poderia promove uma convivência pacífica com as diferenças, já que nessa outra sociedade a divisão de classes das quais proviriam seria plenamente superada. Mesmo que o tema da multiplicidade da cultura e de sua massificação tenha assumido um papel importante no âmbito do debate dos marxistas com ouALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 33 tras vertentes teóricas e entre si, poucos artigos como o de Marilena Chauí (1984) foram tão precisos ao retratá-lo filosoficamente, graças não apenas ao refinamento dessa autora, como também de seu comprometimento em pensar seu próprio presente: como professora que pensa a própria práxis na universidade brasileira, desde a natureza daquela até as relações de poder desta, em pleno fim da Ditadura Militar. Para Chauí (1984), a instrumentalização da cultura moderna, metaforicamente falando, concorreu para a morte do educador. Algo que ocorreu na medida em que a arte de educar se rendeu ao conhecimento científico e tecnológico, interditando tudo aquilo que pode ser pensado reflexivamente em busca de sentidos diversos e de caminhos alternativos ao instituído. Concomitantemente, a própria instituição onde se desenvolve se restringiu à qualificação profissional, formalizando os seus espaços de decisão e racionalizando a vida que nela pulsava para restringir as suas decisões sobre os destinos da sociedade aos produtos que deveriam servir ao mercado. Nesse sentido, a formação do educador na universidade teria se restringido à qualificação para o ofício do ensino, por meio do desenvolvimento de competências técnicas e da aquisição de um saber científico, que tornassem a sua práxis objetiva, já destituída de suas dimensões artística e política, constituída em mais uma tecnologia, dentre as tantas circulantes na vida social. A forma mais radical dessa objetivação da arte de educar se manifestaria, segundo Chauí, como um discurso competente que se interpõe, por um lado, “entre nós e nossos alunos, a fala do pedagogo” e, por outro, “entre nós e nossas experiências”, fazendo com que considere ‘minha própria vida como desprovida de sentido enquanto não for obediente aos cânones do “progresso científico” que me dirá como ver, tocar, sentir, falar, ouvir, escrever, ler, pensar e viver’ (1984, p. 58-59). 34 Fazendo uma analogia das artes com a práxis educativa, a autora argumenta que “toda arte é segredo e mistério. A morte do educador é a morte de uma arte milenar: a de fazer vir ao mundo um saber que já estava lá e pedida para nascer” (Chauí, 1984, p. 55-56). Com a tendência de conversão do ensino em tecnologia, os mistérios envolvidos nessa arte teriam passado por um processo de desencantamento, por meio dos saberes científicos que a compreendem, e dela subtraídos, mediante a sua restrição a uma operação que, ao adequar os meios aos fins estabelecidos socialmente para essa atividade, procura torná-la eficiente e objetiva. Os elementos subjetivos que envolvem a relação humana entre educador e educando seriam secundarizados, desse modo, conjuntamente com aquilo que a caracteriza enquanto práxis: o seu IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 sentido imanente de propiciar o bem aos sujeitos que por essa atividade se relacionam, se formando mediante a apropriação viva da cultura que partilham entre eles e o trabalho reflexivo do pensamento que exercem sobre si mesmos. Isto não significa admitir que as formas lógicas do aprendizado, as normas do ensino e a disciplina da escola sejam dispensáveis, significando somente a morte, a renúncia a vida e a estagnação do pensamento, mas também que elas não são suficientes, estando em construção, reconstrução e em constante devir, implicando a vida, o desejo de mudança e a vontade de poder. Significa considerar também que é nesse jogo entre a estagnação/ morte e o devir/vida que o aprendizado e o ensino desenvolvidos na instituição escolar podem ser pensados para além de sua formalização, regulamentação e dos dispositivos disciplinares da escola, característicos da modernidade. Esse para além implica em um compromisso pessoal e político com a recuperação da educação como arte e de seu caráter reflexivo, pois, implicaria em resistir ao esfacelamento da subjetividade, à morte do educador e à destituição do trabalho da reflexão exigido pelo pensar, na instituição escolar. Desse ponto de vista, embora prefira apoiar-se na postura de MerleauPonty, a autora parece se aproximar bastante do que Foucault denominou de intelectual específico, em oposição ao que até então era conhecido como intelectual universal, a saber: àquele que se pretendia fazer ouvir como “representante do universal”, desejando “um pouco ser a consciência de todos” e “a figura clara e individual de uma universalidade da qual o proletariado seria a forma obscura e coletiva” (1979, p. 8-9) 8. É essa configuração de intelectual que parece ser indicada, quando Marilena Chauí (1984) adentra na esfera da universidade e, como professora, se coloca como elemento e atriz dessa instituição, onde os seus delineamentos relação à cultura, ao ensino e à pesquisa parecem ainda indefinidos: melhor dizendo, se encontram em um presente espremido entre um recente passado autoritário e os ares em prol da democracia futura. A autora opta claramente pela democracia políPara o filósofo francês, o intelectual específico seria não aquele que é “portador de valores universais”, mas que se ocupa uma “posição específica”, embora ligadas “às funções gerais do dispositivo de verdade em nossa sociedade” (FOUCAULT, 1979, p. 13). Particularmente, o intelectual específico teria as especificidades de sua “posição de classe”, de suas “condições de vida e de trabalho” e da “política da verdade nas sociedades contemporâneas”, deslocando a sua atuação para o combate local das estruturas de poder, em vistas de implicações gerais e capazes de transformá-las. Diferentemente do intelectual universal, que pensa os problemas políticos em termos da relação entre ciência e ideologia, o intelectual específico os pensa em termos da relação entre verdade e poder, isto é, em torno do estatuto da verdade e do papel econômico-político que desempenha. 8 ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 35 tica contra o passado autoritário e o enraizamento desse autoritarismo nos capilares da vida universitária, denunciando os limites da democracia liberal e as possibilidades de luta em prol da democratização dessa instituição, tendo como ponto estratégico a relação pedagógica. Pois, de acordo com ela: ‘Se não pensarmos sobre o significado do ato de ensinar e de aprender, não seremos capazes de pensar a democracia universitária. Condenados à morte pela organização “científica” da escola, seremos autores de nosso próprio suicídio. ’ (Chauí, 1984, p. 69) Nessas relações começaria a se construir relações democráticas que poderiam ou não se expandir para outras instâncias da universidade, como o de órgãos deliberativos que exigem formas de participação representativa e o sindicato, articulando assim esferas micropolíticas entre si e com esferas macropolíticas, sem desvalorizar as primeiras em detrimento das segundas e vice-versa. Isso porque acredita que nas relações pedagógicas as relações entre saber e poder vigentes poderiam ser revertidas na medida em que o professor e o aluno ao invés de se relacionarem entre si se relacionassem com o saber e o buscassem por meio do diálogo. Se nas relações pedagógicas prevalecesse o diálogo, nos termos mencionados, seria garantido não apenas o acesso aos saberes, como também a expressão das particularidades das condições étnicas e culturais dos alunos e a potencialidade criativa do professor que, ao pensar os problemas emergentes de sua práxis cultural e educativa, por assim dizer, poderia criar outros modos de subjetivação, diversos dos existentes. Marilena Chauí parece detalhar, assim, o papel exercido pelo intelectual na universidade, em um contexto determinado como o de meados dos anos 1980, assinalando para o exercício de uma função específica, sem abandonar as aspirações universais. 36 Ao renunciar ao alto e mergulhar no profundo da subjetividade, a autora propõe o diálogo como meio de trazer à superfície não apenas um saber que não se sabe e que estaria pronto para emergir, orientando a práxis humana, como também as diversidades étnicas e a multiplicidade das culturas envolvidas, levando à reflexão de professores e alunos o que restou de seu ethos em um momento de instrumentalização da cultura. Contudo, esses objetos da reflexão explicitariam apenas a diferença existente como ponto de partida para que, na chegada, fossem superadas em nome de uma igualdade que não pertence ao professor, nem ao aluno, originalmente, mas que seria construída da relação entre ambos e do resultado do trabalho reflexivo desses sujeitos. Por mais aberta e plural que essa reflexão fosse, porém, o diálogo conduziria a uma verdade superior, comum ou igual a ambos, professor e IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 aluno, que não se estabeleceria por consenso, como na conversação, mas que estaria na relação com o saber e na aspiração subjetiva de se chegar por seu intermédio ao universal. O problema é que também aqui nas relações concretas e nos jogos de poder que a compreende trazem consigo a polarização entre um saber particular e outro universal, assim como os limites para se julgar se o abandono do particular rumo ao universal, pressuposto epistemologicamente, traz efetivamente a igualdade aspirada do ponto de vista ético e político. Mesmo atuando à luz de uma moral anti-estratégica a meu ver, a autora parece esbarrar nos limiares da modernidade educacional brasileira para abarcar a particular experiência do pensar a educação brasileira, deixando de abarcar, em suas análises e em função de seu horizonte histórico, a democracia como sendo, mais do que uma isonomia quantitativa em que a maioria governa, modos de existência e formas de expressão de suas diferenciações, com destaque às suas qualidades e visibilidade às disputas que as compreendem na esfera pública. Não obstante esse limite, Marilena Chauí oferece uma experiência do pensar a educação brasileira num contexto da universidade, num momento de profunda luta política pela democratização das relações institucionais e pedagógicas, apontando a necessidade de o intelectual ou o educador pensar a sua própria ação educativa e, quem sabe, evidenciar parte de seu ethos na relação com os estudantes e oferecer mais alguns elementos para que esse pensar se constitua como uma arte da superfície. Considerações finais Embora não se veja nos pensamentos de Anísio Teixeira, de Paulo Freire e de Marilena Chauí o delineamento da filosofia da educação como uma arte de superfície, neles se configuram alguns elementos para que esse campo perceba a formação de uma particular experiência do pensar a educação brasileira e, concomitantemente, esboços de resistências contextuais às suas tradições hegemônicas. Tais pensamentos aludem a tal configuração na medida que assumem em seus contextos de emergências posições em prol de uma moral anti-estratégica e postulam a emergência de um ethos da população na comunidade, na esfera pública ou, mesmo, na instituição de ensino, dando visibilidade aos sujeitos que delas participam no sentido de um trabalho ético de si e da filosofia como um modo de existência. Se, por vezes se aproximam da concepção deleuzeana de arte da superfície, em outras dela se distanciam em razão seja do modelo teórico ao qual a subjugam ou, ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 37 mesmo, do lugar que esses intelectuais ocupam no cenário institucional e público brasileiro. Se a relação com a arte da superfície parece muitas vezes pouco precisa, porém, cada um dos pensamentos aqui brevemente reconstituídos, auxiliam a jogar luzes para responder a pergunta se temos ou não uma particular experiência do pensar a educação brasileira. E a resposta é afirmativa, embora nem sempre muito evidenciada pelos estudos que priorizam as perspectivas teóricas pensadas por esses e outros autores ao invés dos problemas emergentes e das resistências às tradições hegemônicas. Por isso, procurei explicitar, genealogicamente, um modo de pensar assumido aqui como antropofágico, que vai se constituindo pela emergência de problemas emergentes da cultura e da educação brasileiras e produzindo uma experiência, por assim dizer, particular. Entre duas tendências de modernização em torno do qual a experiência educacional se produziu, esse pensar procurou desalojar tanto a sua forma artística que buscou caricaturar os traços peculiares da cultura popular brasileira quanto a sua forma educacional que demarcou um olhar do alto, por vezes, elitista. No entanto, como salientado aqui, essa experiência do pensar também tangenciou ambas as tendências, se formando em seu limiar e, por vezes, incorrendo em seus limites materialistas ou metafísicos de seus pressupostos e fundamentos. Interessou evidenciar neste ensaio as linhas de fuga representadas por aspectos dos pensamentos de Anísio Teixeira, de Paulo Freire e de Marilena Chauí, em seus contextos de origem, e também segundo as questões atuais que orientaram esta escrita. 38 Com esse objetivo, procurei dar visibilidade ao sentido ético conferido por Anísio Teixeira à democracia, que faz emergir da comunidade os diferentes modos de vida. Apontei também, com a etnografia freireana, um caminho para trazer à baila na sociedade civil a participação dos marginalizados e, principalmente, dos modos de ser e de existir que possui na medida em que a sua pedagogia os privilegia para chegar à autoconsciência do que são como sujeitos, como classe e como grupos, por vezes minoritários, que exprimem um modo de existência diferenciado e são formados por uma cultura múltipla. Por fim, destaquei a preocupação de Chauí com a democratização em suas práticas específicas de pesquisa e de docência na universidade como um modo de destacar que não apenas os seus destinatários deveriam pensar sobre o seu ethos, como também os próprios intelectuais e educadores que a desenvolvem, conotando o caráter ético que supõe a ação política, em face de seu esvaziamento atual, e o quando torná-lo objeto da experiência do pensar poderia ser estratégico para a filosofia da educação nesse momento histórico. IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Cada um desses aspectos presentes nessa tradição não hegemônica, pouco visível na constituição desse campo, poderia ser estratégico na atualidade na medida em que se contrapõe ao caráter especializado e autossuficiente das pesquisas em Filosofia da Educação que, embora tenham ampliado o rigor teórico-conceitual de suas produções, se afastaram dos problemas emergentes da própria experiência educativa, com seus traços culturais e sociais próprios. Poderiam se apresentar também como uma alternativa àquelas concepções tão em voga de que somente os sujeitos que atuam nesse campo possuem legitimidade para pensar esta última ou se pensar, determinando o que se deve fazer em matéria de educação, como se todos educadores não pensassem suas próprias experiências educativas e nelas não experimentassem seus pensamentos e a si mesmos, desconsiderando o pensamento daí resultante em função de sua ausência de rigor ou de seu não enquadramento aos cânones e saberes especializados da Filosofia da Educação. Dessa forma, valorizariam um modo de pensar capaz de conferir sentidos outros as estilísticas da existência a partir da retomada de um movimento antropofágico que o caracterizou historicamente, sem desprezar as conquistas mais recentes desse campo, mas admitindo que a atitude ou o ethos desses sujeitos é primordial em relação ao discurso filosófico. Estes aspectos destacados neste ensaio, mais do que simplesmente se caracterizar um modo de pensar próprio, de incidir sobre problemas emergentes da cultura brasileira e dos contextos sociais em que os sujeitos desse pensamento atuam, trazem os traços (subjetivos) de sua formação para o centro do pensar na ação educativa, acolhendo-a como uma singular experiência. Não obstante ser menos aceita nos círculos universitários pelas práticas de pesquisa e de ensino em Filosofia da Educação, julgo que essa particular experiência do pensar a educação poderia ser revisitada para problematizar o modo de ser hegemônico desse campo, no Brasil, e revitalizada em potencialidade criativa, com destaque à sua forma de ser diferenciada para produzir resultados afeitos à diversidade étnica e à multiplicidade cultural brasileira. Quem sabe, assim, se possa ver nesses seus resultados não somente uma subordinação aos padrões de uma suposta internacionalização que esconde as marcas de um jogo determinado do centro em relação à periferia, em termos geopolíticos, como também uma afirmação de um modo de ser e de pensar particular, diferenciado dos hegemônicos, próprios de uma experiência educacional como a brasileira. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 39 Referências Alves, C.E.R. (2004) Fernando de Azevedo na batalha do humanismo. [Dissertação de mestrado]. Marília: UNESP. Azevedo, F. (1950/1962) Na batalha do humanismo: aspirações, problemas e perspectivas. 2 ed. São Paulo: Melhoramentos. Azanha, J.M.P. (1976) A questão dos pressupostos do discurso pedagógico. In: Nagle, J. Educação e Linguagem. São Paulo: EDART, pp. 83-98. Barros, R. S. (1959) A ideia de universidade e a ilustração brasileira. São Paulo: Ed. USP. Brandão, Z. 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Para tal propósito se analizarán una serie de actividades sugeridas en algunos de los manuales de filosofía más utilizados en los últimos años en la Argentina. En rigor, el trabajo busca dilucidar la manera en cómo operan estos supuestos, reduciendo finalmente las potencialidades que ofrecería una enseñanza de la filosofía O presente artigo busca explicar, por um lado, uma série de suposições sobre o que é arte e filosofia nos modelos tradicionais de ensino de filosofia, nos quais se utiliza a arte como recurso didático. Para tal propósito, analisaram-se uma série de atividades sugeridas por alguns dos manuais de filosofia mais utilizados na Argentina nos últimos anos. De fato, o trabalho busca elucidar a maneira como operam essas suposições, reduzindo as potencialidades que o ensino de filosofia centrado na arte ofereceria. Isso então permite outro aspecto de nosso trabalho. Nele, The following article attempts to clarify on the one hand a series of assumptions about what is art and philosophy in the traditional models of teaching philosophy, in which the art is used as a teaching resource. For this purpose will be analyzed a series of activities in some of the manuals of philosophy more used in the past few years in Argentina. Strictly speaking, the work tries to elucidate the way in how they operate these assumptions, reducing finally the potentialities that would offer a teaching philosophy that focuses on art. This enables key then the other ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 43 centrada en el arte. Dicha clave habilita entonces el otro aspecto de nuestro trabajo. En el mismo intentaremos delinear un horizonte en el cual arte y se filosofía se correspondan en el hecho educativo. tentaremos delinear um horizonte no qual a arte e a filosofia se correlacionem no ato educativo. aspect of our work. In the same try to delineate a horizon in which art and philosophy are matched in the educational process. Palabras Clave: Arte, Filosofía, Enseñanza, Recurso, Didáctica Palavras-chave: Filosofia, Educação, Recursos, Ensino Keywords: Art ,Philosophy, Teaching, Resort Recibido: 09/10/2014 44 Aceptado: 24/03/2015 Para citar este artículo: Soneira, I. (20159: Supuestos y posibilidades para una enseñanza de la Filosofía a través del Arte. Ixtli. Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación. 2(3). 43-56. IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Supuestos y posibilidades para una enseñanza de la Filosofía a través del Arte 1 Introducción El tema que indica el título de este trabajo anuncia y explicita una posición a la vez. En efecto, utilizar algo para otra cosa implica instrumentalizarlo, condicionarlo en sus funciones, definirlo en su utilidad, transformarlo en una mediación para arribar a una finalidad específica. El caso del “recurso artístico” no suele ser ajeno a la didáctica de la enseñanza de la filosofía, por el contrario, es una fórmula que se repite en manuales de texto, actividades, secuencias didácticas, etc. No obstante, vale la pena la pregunta ¿se puede enseñar filosofía a través del arte? Precisamente esa pregunta nos posiciona ante la necesidad circular de revisar aquello que entendemos por arte y por filosofía. Pero, antes de sumergirnos en las profundas aguas a las que nos llevaría esa especulación, también sería lícito preguntarnos ¿para qué lo vamos a hacer? Es decir, ¿en qué medida sería relevante pensar la enseñanza de la filosofía desde el arte?¿En qué sentido ello sería un aporte al campo específico de esta disciplina? La respuesta a estas preguntas nos posiciona ante una serie de cuestiones que van desde la necesidad de generar un insumo para la didáctica de la filosofía, hasta una reflexión eminentemente filosófica que analiza el estatus del arte y la filosofía en las discusiones teóricas contemporáneas. Por ello, es menester definir los alcances y búsquedas del presente trabajo. Intentaremos entonces dejar en evidencia que: a) En toda pretensión de plantear una reflexión semejante en el ámbito educativo, existe un previo compromiso filosófico con lo que es arte y con lo que es filosofía, no siempre traslúcido al momento de proponerlo en el aula. Ello se hace evidente en la inadecuación entre el arte y el uso de éste como motivador para la enseñanza de la filosofía. 45 Este trabajo parte de una indagación conjunta con Muriel Vázquez, llevada adelante desde sus inicios a partir de experiencias áulicas 1 ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación b) En los tradicionales usos del arte en la enseñanza de la filosofía, el mismo queda reducido a un mero instrumento y, por tanto, cercenado en tanto forma de pensamiento y expresión específica. c) Resulta relevante explorar la relación entre estos dos ámbitos o modos de pensamiento, no sólo por los aportes específicos que le ofrece a la didáctica de la filosofía, sino también por una razón básicamente filosófica que nos posiciona nuevamente ante el filosofar que subyace a toda enseñanza de la filosofía. Para llevar adelante nuestro trabajo relevaremos algunas actividades de manuales escolares de filosofía de nivel secundario en los cuales filosofía y arte se encuentren implicados, a los fines de revisar los supuestos y consecuencias que se desprenden de dichas propuestas. En un segundo lugar, buscaremos analizar la relevancia de hacerse la pregunta y la pertinencia de asumir una propuesta de enseñanza de la filosofía a través del arte bajo la forma de una metodología. Finalmente, intentaremos establecer un marco teórico para la propuesta, explicitando que la apelación al arte por parte de la filosofía es un tema de actualidad e interés para el debate filosófico. SUPUESTOS ACRÍTICOS SOBRE ARTE Y FILOSOFÍA EN LAS ACTIVIDADES DE LOS MANUALES DE TEXTO El recurso artístico en el marco de la motivación Frecuentemente nos encontramos con diversas actividades que parten de una fórmula considerada artística para generar interés en el grupo de estudiantes y presentar de una “manera más accesible” el contenido filosófico. En esa clave, podemos analizar la propuesta del manual de Filosofía 5.ES de la Editorial “Tinta Fresca”. En el contexto de la primera de las unidades en la cual se aborda el problema de “la utilidad de la filosofía”; el libro sugiere trabajar con la película Plata quemada, basada en la novela del escritor Ricardo Piglia 2. A partir de la proyección de la película se les pide a los estudiantes 46 Ver en Raffín Marcelo, Filosofía 5 ES, La Plata: dirección General de Cultura y Educación de la provincia de Buenos Aires. 2007, p. 6. El cual en su primera edición fue publicado por la editorial “Tinta fresca” (2006). 2 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 que vinculen ciertos elementos de la misma con contenidos específicos de la materia, como por ejemplo: la relación entre Tales de Mileto y la vida práctica. La forma de abordar el film y vincularla con los contenidos es a partir de consignas como: “relacionen el fragmento de la película en el cual los protagonistas queman la plata con la segunda anécdota de Tales de Mileto” o “¿Por qué la gente consideraba que los ladrones eran verdaderos asesinos cuando quemaban la plata?” Más allá de que la utilización del recurso nos parezca bastante tradicional (hemos hecho esto como alumnos infinidad de veces y posiblemente también alguna como docentes); claramente la intención de la propuesta consiste en que a partir de un recurso motivador –lo audiovisual, medio que aparentemente es una atracción en sí mismo– se pueda abordar un contenido filosófico. El contenido es “extraído” entonces de la película y la misma sólo es analizada en función de ese contenido específico de la currícula de filosofía. Pero ¿en qué lugar quedan las sensaciones y emociones que despierta su proyección? ¿Y en cuál las identificaciones que el espectador efectúa con los personajes, los valores implicados, la secuencia narrativa, los efectos? ¿Qué margen queda para el análisis de la composición, la fotografía, la actuación, el guión, etc? ¿Qué lugar para los otros posibles pensamientos y reflexiones que dispara el encuentro con una obra de arte? ¿Cuál para el juego de las interpretaciones o las conexiones con la vida vivida? ¿En qué sentido podríamos decir entonces que hay una “valoración artística” de lo utilizado? Claramente el arte ha quedado aquí reducido a un mero recurso, un medio “no tan aburrido” como la clase expositiva para llegar al concepto. En efecto, el arte ha sido relegado a una función para, finalmente, ser sometido al imperio dogmático del contenido filosófico curricular. Por otro lado, en el Manual de polimodal Santillana del año 1999 podemos observar la utilización de una historieta del humorista gráfico argentino Carlos Loiseau (Caloi), con el objetivo de introducir una posterior reflexión sobre aspectos de la ética relacionados con la pregunta: “¿cómo se determina lo que está permitido y lo que debe ser prohibido?” y una invitación a redactar normas de convivencia entre los alumnos en el aula. En este caso, lo artístico visual de la historieta es limitado a ser un mero ilustrador, ya no de un concepto o contenido filosófico, sino solamente de un término (“prohibido”, palabra que aparece en la viñeta) relacionado con un concepto filosófico propio de una teoría ética que pasará a ser estudiada por los alumnos (El de “deber” de la ética kantiana). En este sentido, lo fundamental de la utilización del dibujo consiste en relacionar esas palabras que resultan disparadoras a la hora de ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 47 esbozar la ética kantiana, sin la necesidad de ningún tipo de reflexión direccionada sobre la realización gráfica misma, sus elementos iconográficos o el humor como un estado anímico diferencial para el pensamiento 3. No es distinta la situación en la unidad 3 del manual de “Tinta Fresca”, vinculada al problema del conocimiento, en la cual se presenta como actividad inicial y disparadora de la problemática, el análisis de la famosa pintura de Rembrandt La lección de anatomía del doctor Nicolaes Tulp. En esa instancia, las consignas que guían el análisis afirman: 1) “En grupos describan la escena que representa la pintura”, 2) “¿cómo se relaciona esta escena con el problema del conocimiento?” En rigor, el capítulo se había iniciado con una descripción de las ideas principales del Ensayo sobre el entendimiento humano de Locke y con el análisis de la pintura se quiere presentar un disparador que permita establecer un puente entre dicha problemática y la imagen. De todos modos, el dispositivo es el mismo que en el caso de la película o la historieta. Lo importante no es la obra de arte ahí presente sino “lo que ella debe decir” relevante para la clase de filosofía. Lo importante sería entonces el concepto a reponer, tal y como lo plantearon los grandes del panteón de la historia de la filosofía. Sin ahondar demasiado en el tema, podemos encontrar un paralelo entre esta concepción de arte y aquella que Susan Sontag critica en su famoso ensayo “Contra la interpretación” 4. Allí la autora establece una diferenciación entre forma y contenido en el arte, asumiendo que a lo largo de la historia de ésta última siempre se ha exaltado el contenido por sobre la forma, al punto que la relación con las obras se ha limitado a intentar dilucidar (interpretar) qué dicen. Esta operatoria transforma a la interpretación en la traducción de un contenido que, en definitiva, sería el lugar en el que muere el arte. El recurso artístico en el marco de la producción Muchos docentes suelen considerar que la modalidad artística puede ser mucho más prolífica para expresar determinadas ideas que, en un lenguaje Ver en Raffín Marcelo, Filosofía 5 ES, La Plata: dirección General de Cultura y Educación de la provincia de Buenos Aires. 2007, p. 6. El cual en su primera edición fue publicado por la editorial “Tinta fresca” (2006). 3 48 Sontag, Susan, Contra la interpretación y otros ensayos, Buenos aires, Alfaguara, 1996. 4 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 enunciativo, serían pobres y rudimentarias (además de apáticas y repetitivas). Es así que se les pide a los estudiantes que presenten sus ideas a través de fotomontajes, collages, historietas, dramatizaciones, etc. Actividades que, muchas veces, suelen ser motivadoras y conducentes al acto creativo. Pero ¿cómo se dan efectivamente esas propuestas? Podríamos tomar algunos ejemplos, nuevamente recuperados a partir de libros de texto, con la intención de analizar el alcance del recurso artístico en relación a la enseñanza de la filosofía. El primer ejemplo que traemos a colación se presenta en el Manual de Filosofía de AZ Editora 5. En la página 241 de dicho libro, en el marco de la actividad destinada a trabajar la lectura del fragmento del libro VII de La República de Platón, se propone que los alumnos realicen un “dibujo de la caverna, los prisioneros dentro de ella y el que ha sido liberado, saliendo al mundo externo”. Esta tarea constituye solamente uno de los cinco puntos propuestos por la actividad. Es interesante señalar que en ninguno de los otros puntos se propone que este dibujo sea analizado por los alumnos o se vean las diferentes formas de representar/ interpretar la escena. Se entiende, por lo tanto, que la producción artística en este caso tendría nuevamente una función meramente ilustrativa, con la finalidad de que los estudiantes puedan visualizar en una imagen la situación presentada por Platón. En el mismo manual se sugiere la realización de una técnica de dinámica grupal para “aplicar lo estudiado” en el primer capítulo del libro en el que se trabajaron temas como “¿Qué es la filosofía?” y “¿Quién es el filósofo?”. La técnica que se sugiere es la conocida como role-playing consistente en la dramatización de determinadas situaciones en las que los estudiantes representan diferentes “papeles”. En términos artísticos, podríamos señalar que esta actividad sugiere una introducción a la práctica teatral y una utilización de sus técnicas de producción a la enseñanza de la filosofía. Los objetivos planteados para la actividad se dirigen a adquirir conocimientos relacionados con los temas estudiados en el capítulo, desarrollar habilidades de expresión oral, de capacidad crítica y “aplicar adecuadamente conocimientos teóricos a situaciones verosímiles” 6. Frassineti de Gallo, Salatino; Filosofía, esa búsqueda reflexiva, AZ Editora S.A., Buenos Aires. 2004. 5 6 Idem ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 49 Creemos que esta actividad permite ofrecer a la clase de filosofía un dinamismo que no tendría si sólo se abocara al tratamiento teórico de los contenidos del manual. Sin embargo, llegados al punto del cierre de la unidad, podríamos preguntarnos respecto a la utilización de la dramatización teatral como recurso en el marco de la producción: ¿Qué agrega a lo que se estudió anteriormente sobre la filosofía? ¿Qué permite mostrar el hecho de poner en práctica esas ideas teóricas que hasta ese momento se encontraban en palabras escritas? ¿Qué aportan el “diálogo” y la “representación” al significado mismo de la filosofía y del filósofo? ¿Cómo se pueden repreguntar, a partir de una exploración de los sentimientos y emociones que implicó la representación teatral, las formulaciones sobre las que versa el capítulo que cierra con esta actividad? ¿En qué medida se vinculan los sentidos y el uso del cuerpo en el hecho teatral con la teoría de Platón? ¿Cómo sentir entonces el concepto? LA PERTINENCIA DEL ARTE EN LA ENSEÑANZA DE LA FILOSOFÍA Volvemos a repetir una pregunta que ya hicimos antes: ¿qué tienen que ver, para el caso de la enseñanza, arte y filosofía? ¿Qué potencialidades puede esconder una respuesta a esta pregunta? Bien, hemos resaltado el papel que tiene el arte como motivador. Sabemos que la motivación se ha transformado progresivamente en la condición de posibilidad del aprendizaje, pero ¿en qué sentido el arte es un motivador? Para un adolescente posiblemente sea mucho más interesante, al menos hipotéticamente, ver una película que escuchar a un profesor hablar de Kant o que buscar respuestas en algún texto a unas preguntas consignadas por el docente en el pizarrón sobre algunos puntos centrales de la filosofía de Platón. Entonces, se nos sugiere que utilicemos el recurso artístico para motivar a que los estudiantes “lleguen” a Platón o a Kant de una manera no tan tormentosa y tediosa como la clase tradicional. Pero ¿qué hacemos cuando les pedimos después de ver la película que la comparen con la alegoría de la caverna o las ideas del mundo inteligible? 50 En definitiva, como hemos visto, no sólo hay aquí una idea muy sesgada en juego de lo que es el arte –cosa que no siempre se problematiza– sino también de lo que es la filosofía. Utilizar el recurso artístico como un mero motivador implica, al menos desde un abordaje superficial, instrumentalizar al arte y con ello prescindir de sus potencialidades específicas. Dicha situación viene de la mano de otra que radica en el hecho de que, cuando se instrumentaliza el arte, se lo hace para enseñar una concepción tradicional de la filosofía. Con ello se sigue sosteniendo que enseñar filosofía consiste IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 en reproducir su historia, sus autores y sus problemas, tamizados por algún manual y motivados por algún recurso medianamente agradable. Ello deja en evidencia una definición específica y sesgada de lo que es la filosofía y, además, revela que este supuesto se encuentra definitivamente instalado, aún cuando se pretenda modificar la práctica docente tradicional apelando a recursos artísticos. En esta clave, consideramos que para hacer que el arte participe verdaderamente en y con la enseñanza de la filosofía es necesario, en primer lugar, abrir la pregunta por la filosofía en todas sus dimensiones. Aceptando, para el caso, que el estudiante que participa, discurre y habita el aula pueda pensar filosóficamente, sin necesidad de acudir a una autoridad filosófica ni a una tradición canónica. Por otro lado, el docente que utiliza recursos artísticos en el ámbito de la enseñanza de la filosofía, muchas veces se siente en la obligación de tener que brindar a sus alumnos “obras de arte”, designadas como tales por un criterio de autoridad, para desde allí trabajar contenidos filosóficos. Como vimos en el análisis realizado en el apartado anterior, esta transferencia suele realizarse en base al reconocimiento de la obra (como el cuadro de Rembrandt) o a la eficacia que se cree que la obra posee (el caso del cine). Sin embargo, muchas veces suele olvidarse o no percibirse que los jóvenes que pueblan el aula están constantemente vinculados con manifestaciones artísticas, con las cuales se sienten identificados, y estrecha y cotidianamente relacionados. Los jóvenes consumen arte, piensan arte, intercambian arte, producen arte. ¿Es ello habitualmente valorado en las aulas? Esta forma de entender la realidad artística precisa de una concepción amplia de lo que se entiende por tal y no de una que lo confine a los límites estrechos de los círculos académicos o las tradiciones hegemónicas. Es decir, partir del arte como un fenómeno socio-cultural complejo que no necesariamente se encuentra enmarcado en un canon. Sólo de esta manera podremos visibilizar la cantidad de elementos artísticos a los que los alumnos acceden constantemente y que constituyen su identidad. Por lo tanto, tal vez sea necesario reflexionar sobre la necesidad de partir del arte que ya está en la escuela, más que intentar aplicar el arte desde el exterior, haciendo por ejemplo, que la música del auricular escondido en al oreja de ese alumno al que siempre llamamos la atención sea escuchado y pensado por todos. El arte está entre los estudiantes, es importante para ellos, el problema reside en no advertir las propias limitaciones al momento de valorar o rechazar esas formas artísticoculturales. Ahora bien, las consecuencias difusas que se desprenden de nuestras advertencias, intentan componer el horizonte para una metodología ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 51 en el cual las formas artísticas que preexisten a la clase de filosofía sean el espacio para el filosofar. Cuestión a la que buscaremos darle una forma más acabada en el siguiente apartado. Mas allá de lo que hemos afirmado, es relevante sostener que creemos que arte y filosofía son dos ámbitos autónomos e independientes. Arte y filosofía son dos maneras de pensar, distintas, divergentes, específicas. Pero ¿cómo vincularlas entonces en el hecho educativo? Y nuevamente, ¿por qué hacerlo? Un posible marco teórico para la fundamentación de una metodología La cercanía entre arte y filosofía es antigua, tan antigua como el contundente poema de Parménides y tan cercana como la prosa oracular de Heráclito. Platón mismo ya consciente de ese origen difuso de la filosofía, dedicó sustanciosas páginas de sus obras a intentar demostrar como la diferencia entre arte y filosofía residía en su disímil cercanía a la verdad. Él había vislumbrado que en el arte se alberga un poder de instauración de verdad que podía resultar sensiblemente eficaz al momento de educar pero que corría el riesgo de la falsedad. Por ello sostiene que los poetas épicos, aquellos que profesaban la teología homérica, debían ser expulsados de la República ideal. Ello es así porque ese tipo de poesía no sería filosófica, no buscaría la verdad y por tanto daría lugar a una moral distorsionada, fundante, en definitiva, de un sistema político que el pensador griego no consideraba genuino. Para Platón, arte y filosofía en apariencia se oponen, y lo hacen en el hecho educativo (Paideia), pero no sin antes haber sido pensadas juntas 7. La filosofía de hecho siempre se ha ocupado del arte, sea para elevarla al cielo de las ideas o para arrojarla al barro de pasiones. No hay sistema filosófico que no haya tenido algo que decir sobre esta práctica presente en todas las sociedades humanas. En ese camino creó “una ciencia del arte y la belleza”, forma en la que Baumgarten solía denominar a la Estética. Si bien existen innumerables lecturas sobre los famosos pasajes de La República, se mantiene un acuerdo en relación a la importancia que tenía la poesía épica sobre la Paideia, como una de los motivos centrales del argumento de Platón direccionado a la potencial expulsión de los poetas. Para esto ver: H. G. Gadamer, “Platón y los poetas”, en Estudios de Filosofía no. 3, Instituto de Filosofía de la Universidad de Antioquia, Bogotá, febrero 1997, pp. 87 – 108. 7 52 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Disciplina que ha demostrado las dificultades que reviste el entender ese primario modo de expresión. Progresivamente el arte se ha transformado en un problema central para la filosofía. Sus enigmas circundantes a la belleza, la verdad, la revelación, el genio se han mantenido hasta la aparición de las vanguardias. Allí el arte en tanto actividad histórica ingresa en un sinuoso laberinto del que ya no va a salir. Este gesto del arte coincide con una crisis de la filosofía de la que, en apariencia, tampoco hay punto de retorno: su divorcio definitivo de la ciencia 8. Filosofía y arte ingresan en el “mundo contemporáneo” en un territorio común, un espacio de juego en el que se discute su autonomía, un campo en donde se libra una batalla entre ambas por adueñarse legítimamente del horizonte del pensamiento. Lugar en el que resulta necesario caracterizar no sólo la apelación al arte por parte de la filosofía contemporánea a los fines de una superación de un modelo metafísico que ya actuaba desde el método y el lenguaje; sino también la apelación a la filosofía por parte del arte con el objetivo de abrirse conceptualmente, repensarse y, en definitiva, redefinirse (o ingresar definitivamente al lugar de su indefinición). Es A. Danto quien afirma que en la época contemporánea las obras de arte se han transfigurado claramente en ejercicios de filosofía del arte (Danto, 2004, p. 96). Pero a la vez, los filósofos apelan de forma creciente a una retórica artística, a un afuera de la filosofía que resulta, en última instancia, un en el arte. Vale la pena destacar en ese sentido las conocidas adopciones de poetas y literatos por parte de muchos filósofos contemporáneos, entre otros: Baudalaire por parte de Benjamin, Beckett por Adorno o Celan por Gadamer; como el intento de establecer una forma intermedia entre literatura y filosofía como son los casos de Blanchot, Mallarmé, Artaud, Nietzsche o el último Heidegger. Todos ellos parecen coincidir en una crítica a un modelo de explicación científico de lo real y en el hecho que para poder decir cosas nuevas y liberar a las pasiones y al pensamiento en toda su dimensión, es necesario dar lugar a una forma de expresión renovada, acudir a un pensar “externo” a las enunciaciones teóricas. En esa línea de producciones, es recurrente la apelación al arte como recurso superador del lenguaje y de los límites que éste le impone al pensar, herramienta para presentar lo indecible, 53 8 Al menos en la llamada “Filosofía continental”. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación metodología para trasvasar el sentido de lo dado. La armonía que unifica los esfuerzos de estos autores se vincula a posibilidad de superar un modelo de pensamiento que se presenta como una mera repetición que pervive en las formas y no en el contenido. Autores como A. Badiou nos recuerdan de todos modos que “el arte como pensamiento singular es irreductible a la filosofía” (Badiou, 2009, p. 14), por ello sería necesaria una “inestética”. De hecho, como él mismo afirma, arte y filosofía se vinculan a través de la educación: Recordaremos que no existe educación sino por medio de verdades. Todo el insistente problema es que existan, ya que sin ellas la categoría filosófica de verdad es completamente vacía y el acto filosófico una racionalización académica. Éste existe indica una corresponsabilidad del arte, que produce verdades, y la filosofía, que, bajo condición de que existan, tiene como obligación y como tarea muy difícil, mostrarlas (Badiou, 2009, p. 60) Desde el camino de pensamiento planteado por Parménides y Heráclito pasando por la Paideia de Platón y el filosofo-artista de Nietzsche, hasta la educación como forma de democracia en Badiou; arte y filosofía se muestran en un sendero en el cual, sin perder autonomía, se retroalimentan, se entrecruzan y se hacen posibles en el hecho educativo. CONCLUSIONES 54 A lo largo de este trabajo hemos intentado sostener un conjunto de preguntas que no respondimos, sólo demostramos nuestro interés en recuperarlas y la relevancia de trazar algunas pistas. En esa tarea, buscamos dejar en evidencia la manera en que el arte puede ser instrumentalizado por la filosofía en el marco de su enseñanza y como es factible con ello, esconder una idea profundamente dogmática sobre lo qué es la filosofía y sobre lo qué es (o debe ser) el arte. Esto último lo efectuamos con la intención de cristalizar los supuestos artísticos y filosóficos que preexisten en las aulas, mucho antes de las propuestas motivadoras o tediosas de los docentes de filosofía. En efecto, pusimos sobre la mesa la sospecha de que el arte, bajo una de las formas en las que puede ser entendido, está entrañablemente ligado a la vida de nuestros estudiantes y que por ello es central partir de allí a los fines de IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 consolidar un estilo de enseñar y aprender filosofía. Dicha búsqueda resultaría necesaria no sólo por la urgencia de hacer de la filosofía en la escuela algo cercano y vinculado a la vida de quienes habitan el aula, sino porque también dicho camino es profunda y entrañablemente filosófico. Todo nuestro trabajo siempre se encontró enmarcado en un universo teórico que expusimos sobre el final del mismo y que nos permitiría potencialmente encontrar un núcleo de discusión filosófica en el cual se ubicaría nuestra pregunta y, en definitiva, una futura y posible propuesta donde cual arte, filosofía y educación se encuentran implicados. En la medida en que se hace necesaria la configuración de nuevas situaciones de enseñanza y aprendizaje resulta imprescindible modificar de alguna manera los modelos existentes, para que sean capaces de dar respuesta a las necesidades que el panorama presentado aquí origina. Por esto sugerimos la posibilidad de hablar de una “metodología” y cuestionamos en oposición a ello el concepto de recurso. En definitiva, de lo que se trata es de asumir que la tarea de enseñar filosofía es básicamente filosofar y si se quiere hacer a través del arte, es necesario refundar lo que está instituido, abriendo la pregunta por el arte y por la filosofía en toda su dimensión, más allá del desamparo que ello pueda generar. BIBLIOGRAFÍA Badiou, A. (2009). Pequeño manual de inestética. Buenos Aires: Prometeo. Danto, A. (2004). La transfiguración del lugar común. Buenos Aires: Paidós. Di Sanza, Fernández y La Porta. (1999). Manual de Filosofía, Polimodal. Buenos Aires: Ediciones Santillana S.A. Frassineti de Gallo, S. (2004). Filosofía, esa búsqueda reflexiva. Buenos ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 55 Aires AZ Editora S.A. Gadamer, H.-G. (1997). Platón y los poetas. Estudios de Filosofía. Instituto de Filosofía de la Universidad de Antioquia, Bogotá. (3). 87–108. Raffin, M. (2007). Filosofía 5 ES, La Plata: Dirección General de Cultura y Educación de la Provincia de Buenos Aires. Sontag, S. (1996). Contra la interpretación y otros ensayos. Buenos aires, Alfaguara. 56 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación Volúmen 2 - Número 3 - 2015 pp. 57-77 Possibilidades de aprendizagem comunicativa nas pesquisas sobre formação de professores. Amarildo Luiz Trevisan Universidade Federal de Santa Maria – UFSM [email protected] Doutor em Educação (UFRGS). Atua na área de Educação, interessando-se por discussões sobre teorias pedagógicas, pesquisa educacional e formação de professores. Pesquisa os seguintes temas: formação cultural do professor, teorias pedagógicas e reconhecimento do outro, virada hermenêutica e teoria crítica, Estética e formação docente. Catia Piccolo Viero Devechi Universidade de Brasília – UnB [email protected] Doutora em Educação (UFSC). Atua na área de Educação, interessando-se por discussões sobre teorias pedagógicas, pesquisa educacional e formação de professores; Pesquisa os seguintes temas: estudos comparados, formação de professores, teorias pedagógicas e reconhecimento do outro, virada hermenêutica e teoria crítica. Gionara Tauchen Universidade Federal do Rio Grande- FURG [email protected] Doutora em Educação (PUCRS) Atua na área de Educação, interessando-se por discussões sobre epistemologia e pesquisa educacional, formação de professores e políticas, gestão e docência na Educação Superior. Pesquisa os seguintes temas: Educação Superior, gestão educacional, epistemologia, educação em ciências, formação de professores e ensino-aprendizagem. 57 ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação Resumen - Resumo - Abstract O artigo discute as possibilidades de uma aprendizagem comunicativa entre as diferentes abordagens epistemológicas utilizadas nas pesquisas realizadas na área de formação de professores, tendo como referência os propósitos de continuação do mundo da ação e do mundo discursivo. O estudo, de natureza reconstrutiva, analisou as abordagens paradigmático-epistemológicas que perpassam as teses de doutorado sobre formação de professores, defendidas nas universidades federais brasileiras, no último triênio de avaliação da Capes (2007 - 2009). Buscou-se identificar os elementos que caracterizam as abordagens: materialista-histórica, fenomenológico-hermenêutica, epistemologia da prática, epistemologia da complexidade, teoria da representação social e pós-estruturalista - indicando saberes comuns capazes de colocar, como referência prática necessária, as relações discursivas. Concluímos que existe, nos trabalhos de diferentes abordagens, uma pretensão à objetividade prática que autoriza o desenvolvimento de aprendizagens comunicativas, explicitando a possibilidade evolutiva de processos de entendimento entre o que a realidade ensina na experiência com o mundo e o que se aprende na troca argumentativa. El artículo analiza las posibilidades del aprendizaje comunicativo entre los distintos enfoques epistemológicos utilizados en la investigación llevada a cabo en el área de formación del profesorado, en función de la finalidad de continuar con el mundo de la acción y el mundo discursivo. El estudio, de naturaleza reconstructiva, analizó los enfoques paradigmáticos y epistemológicos que subyacen a las tesis doctorales sobre la formación del profesorado, defendidas en las universidades federales brasileñas en los últimos tres años de evaluación de la Capes (2007-2009). Se ha tratado de identificar las características de los enfoques: histórico-materialista, fenomenológico-hermenéutico, de la epistemología de la práctica, de la epistemología de la complejidad, de la teoría de la representación social y postestructuralistas; indicando saberes comunes capaces de colocar, como referencia práctica necesaria, las relaciones discursivas. Se concluye que existen trabajos con diferentes enfoques, una pretensión de objetividad práctica que autoriza el desarrollo del aprendizaje comunicativo, explicando la posibilidad evolutiva de los procesos de comprensión entre lo que la realidad enseña por la experiencia en el mundo y lo que se aprende en el intercambio argumentativo . The article discusses the possibilities of a communicative learning between different epistemological approaches used in studies in the teacher training area, with reference to the purposes of continuing the world of action and discursive world. The study, reconstructive in nature, analyzed the paradigmatic and epistemological approaches that underlie the doctoral theses on teacher training, defended in the Brazilian federal universities in the last triennium assessment by CAPES (2007-2009). The authors sought to identify the factors which characterize the approaches: historical-materialist, phenomenologicalhermeneutic, epistemology of practice, epistemology of complexity, social representation and poststructuralist theory indicating common knowledge able to put discursive relations as necessary practice reference. The authors conclude that there is, in the works of different approaches, a claim to practical objectivity authorizing the development of communicative learning, explaining the evolutionary possibility of understanding processes between what reality teaches in the experience with the world and what is learned in the argumentative exchange. Palavras-chave: Epistemologia. Pesquisa. Formação de professores. Aprendizagem comunicativa. Palabras Clave: Epistemología; Investigación; Formación de profesores; Aprendizaje comunicativo Keywords: Epistemology. Research. Teacher training. Communicative learning Recibido: 15/04/2013 Aceptado: 30/01/2015 58 Para citar este artículo: Trevisan, A., Viero Devechi, C & Tauchen, G. (2015). Possibilidades de aprendizagem comunicativa nas pesquisas sobre formação de professores. Ixtli. Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación. 2(3). 57-77. IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Possibilidades de aprendizagem comunicativa nas pesquisas sobre formação de professores. Considerações iniciais Os estudos sobre a formação de professores no Brasil já possuem certa densidade histórica, com significativas contribuições, capazes, conforme expressa Macedo (2010, p. 22), de “[...] criar e desenvolver um debate relativamente (in)tenso sobre sua emergência”, seus estruturantes epistemológicos e político-pedagógicos. Ou seja, a formação de professores vem sendo um tema central para as (re)configurações socioeducativas, colocando os atores implicados nos processos formativos diante de responsabilidades históricas locais e globais. No entanto, Gatti (2010) aponta a ausência de uma base formativa comum nos currículos dos cursos de pedagogia e licenciaturas, como uma das causas do cenário ambíguo e fragmentado em que a área se encontra. Segundo a autora, apesar de constantes discussões, ainda temos dificuldade de lidar com os propósitos dessa formação, tendo em vista a complexidade da sua demanda no que se refere ao compromisso de atender às necessidades da escola básica além, é claro, de outras instâncias formativas. Diante disso, o que temos é um quadro diversificado, tendo em vista que as instituições possuem autonomia para “fixar os currículos de seus cursos e programas, observadas as diretrizes gerais pertinentes” (Brasil, 1996). Assegurando a tarefa de atender os objetivos dos contextos, os currículos são construídos a partir da compreensão das comissões institucionais representativas, perpetuando um quadro de diversidade formativa que, muitas vezes, provocam dúvidas em torno da legitimação prática diante do mundo que nos é comum. Trata-se de uma tendência que, na tentativa de superar as metanarrativas educacionais por meio de práticas de autoreflexão e afirmação das necessidades adversas da vida, parece incorrer na diminuição do compromisso e da responsabilidade com a prática coletiva. Numa mesma instituição é possível encontrar interpretações e ações distanciadas que parecem tratar de realidades completamente impossíveis de serem compartilhadas. Pode-se dizer que se trata de um momento crítico da formação docente, em que, ao mesmo tempo em se nega a fundamentação teórica única, por não atender à multiplicidade do movimento histórico e dos contextos, ela se apropria de várias perspectivas sem a devida aprendizagem argumentativa mútua. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 59 Em função da compreensão de que é preciso resistir a toda e qualquer tentativa de unidade interpretativa, os acertos na discussão sobre formação de professores tem sido uma tarefa árdua, haja vista a necessidade de afirmação da liberdade dos discursos. No entanto, no lugar da afirmação das múltiplas possibilidades discursivas, o que temos é “uma guerra epistemológica pautada pela tendência de estabelecer supremacia de uma visão frente à outra, à base de denúncias ideológicas mútuas” (Flickinger, 2004, p. 203). O resultado disso não tem sido o correto equacionamento dos problemas da área, mas sim o avanço de um cenário empobrecido, em que a compreensão do outro é entendida como ofensiva e afrontosa, nunca uma opinião a ser avaliada ou reconhecida. Por isso, talvez seja o momento de repensar a ideia de unidade de entendimento por meio de estruturas comunicativas, apostando no consenso como telos de compreensão nas diferenças e assim como possibilidade de desproblematização das questões práticas diante do mundo comum. Frente a tal preocupação, nos apropriamos da perspectiva comunicativa de Habermas para analisar a possibilidade de fomentar uma comunicação mais ampliada no tratamento da formação docente, acreditando que esta posição poderá contribuir mais enfaticamente com as práticas educacionais. Seguimos a perspectiva do autor, de que é necessário desenvolver um discurso mais universalizado, para evitar relativismos ou irracionalismos que conduzem a posições exageradamente contextualistas. Segundo ele, é no discurso com pretensões de universalidade que podemos “examinar criticamente e certificar os saberes tornados problemáticos. Os acertos comunicativos contribuem no sentido de nos libertarem das condutas inadequadas e dos fracassos, orientando-nos diante das atividades teóricas e práticas de uma forma que talvez nenhuma interpretação isolada conseguisse fazer” (Habermas, 2004, p.50). Trata-se de ultrapassar, portanto, os discursos particularistas em favor de acordos mais favoráveis a práticas comuns. 60 Sendo assim, enquanto a tendência atual é abandonar a razão em favor da multiplicidade linguística e discursiva, Habermas procura desenvolver os aspectos comunicativos da racionalidade, colocando a razão na base de validade da comunicação. Trata-se de uma racionalidade não unilateral, possível apenas pela multiplicidade das vozes e “compreensível de uma linguagem para outra” (Habermas, 2002b, p. 153). Um enunciado só é racional nessa perspectiva quando satisfaz as condições necessárias de uma comunicação voltada ao entendimento, quando os sujeitos saem dos limites de suas subjetividades em favor da intersubjetividade justificada. IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Diante dessa compreensão, é que buscamos identificar a possibilidade de comunicação entre as diferentes abordagens paradigmáticas utilizadas nas investigações sobre formação de professores, apostando na possibilidade de ampliar os entendimentos sobre o assunto e desse modo permitir ações práticas bem sucedidas. Tratamos de reconhecer o que Habermas (2004) entende como certezas não epistêmicas, ou seja, elementos tidos como não problemáticos que possam encaminhar as discussões para além dos campos singulares de justificação. Esta pode representar uma reviravolta na discussão sobre formação de professores, pois deixamos de defender discursos isolados em favor de um discurso preocupado com o coletivo, enquanto alicerçado na busca do êxito das práticas vividas e compartilhadas. Para alcançar tal objetivo, procuramos catalogar os paradigmas que orientam os saberes na área de formação de professores, procedendo a uma análise das teses de doutorado em educação que tratam do assunto, tendo como delimitação as que foram defendidas em universidades federais no último triênio de avaliação da Capes (2007, 2008 e 2009), disponibilizadas no portal Domínio Público. Para tanto, o recurso utilizado para o levantamento do material foi a busca por palavras-chave que tivessem relação com o tema da formação de professores, como: formação do professor, formação docente, formação de educadores ou formação do educador. Ao todo foram identificadas 49 teses provenientes das diferentes regiões do país, expressando uma ideia que baliza o estado da arte das pesquisas realizadas na área. Procedemos ao mapeamento das categorias epistemológicas, metodológicas e teóricas das 49 teses, identificando, basicamente, a abordagem metodológica utilizada por cada uma delas. E, além disso, alguns elementos complementares a esta visão, tais como: o problema de pesquisa, os objetivos do estudo, a perspectiva de cientificidade, os métodos de pesquisa, os instrumentos de coleta ou produção de dados, as concepções de sujeito e objeto, a relação teoria e prática, a concepção de formação de professores, o paradigma que a sustenta, a relação particularidade e totalidade e os autores utilizados. A ideia foi, primeiramente, observar os elementos implícitos e explícitos que pudessem caracterizar as abordagens epistemológicas utilizadas nos trabalhos, para então, reconhecer os entendimentos compartilhados que podem ser colocados como objetividade prática comum em favor da aprendizagem comunicativa. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 61 A objetividade prática comum e a possibilidade de uma aprendizagem comunicativa Habermas (2004) apresenta a aprendizagem como processo evolutivo, num sentido de continuidade entre o que se tem objetivamente (questões não problemáticas) e aquilo que se pode desproblematizar por meio da comunicação. Entende como objetivo aquilo que, junto às práticas cotidianas, funciona (certezas não epistemológicas), e é discutível aquilo que encontra resistência diante do mundo, manifestando-se por meio dos problemas encontrados. Para o autor, estas questões problemáticas só podem ser encaminhadas ao discurso tendo como referência essas “certezas”, somente pelo qual é possível uma aprendizagem evolutiva. Trata-se de um processo circular, no qual as dificuldades comuns são discutidas diante dos saberes que já encontraram o sucesso prático, tendo como foco uma compreensão sempre melhorada. O autor explica que o trato cotidiano com o mundo “manifesta a resistência dos objetos a que nos referimos quando afirmamos fatos sobre eles” (Habermas, 2004, p. 35), oferecendo falibilidade aos consensos discursivos. Assim, a cada correção discursiva, surge uma nova aprendizagem, um saber sempre melhorado. A tarefa do discurso encaminhado ao entendimento seria desproblematizar os saberes práticos para que eles possam entrar em acordo com o mundo. Para o autor, o discurso oferece a oportunidade não individualizada de renovar as veracidades da prática, pois o conhecimento se desenvolve por um progresso natural em que os processos de aprendizado cultural apenas “dão continuidade aos ‘processos de aprendizado evolucionários’ prévios, os quais, por seu turno, produziram as estruturas de nossas formas de vida” (Habermas, 2004, p. 36). A intenção do autor é abordar o conhecimento como possibilidade de estabelecer continuações de estruturas sempre mais elaboradas, capaz de alimentar a reconstrução racional das interpretações do mundo vivido. 62 A sua perspectiva é permitir que os saberes sejam constantemente reparados diante das necessidades das práticas comum, em que um suposto mundo objetivo é colocado como resistência às nossas ações cotidianas. Desse modo, o conhecimento verdadeiro se realiza a luz da capacidade do homem de falar e agir integrado às relações com o mundo real. Na verdade, trata-se de duas vertentes complementares: o discurso e a ação, que se completam na aprendizagem entre a problematização e a solução argumentativa. Habermas (2004, p. 35) explica esta situação, dizendo que: “nas interpretações IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 fundamentais, reflete-se o que a realidade nos ensina em nosso trato ativo com o mundo e o que nos ensinam as objeções que encontramos na troca discursiva”. A renovação dos discursos práticos acontece pela tradução das certezas abaladas da ação em enunciados hipotéticos e pela retradução das asserções discursivamente justificadas em certezas da ação restabelecida. Perspectivas paradigmático-epistemológicas nas pesquisas sobre formação de professores Das 49 teses analisadas, 17 são claramente fundamentadas no materialismohistórico, 18 estão fundamentadas na epistemologia da prática, 9 têm como alicerce fundamentador a perspectiva fenomenológico-hermenêutica, 6 encontram-se embasadas na epistemologia da complexidade, 5 são fundamentadas na teoria da representação social e 4 são pós-estruturalistas. Após a identificação das perspectivas, as teses foram reagrupadas e codificadas, possibilitando a produção de um metatexto que procura expressar a síntese das abordagens. A partir de análise das categorias, buscamos identificar as especificidades das teses, o que permitiu contextualizar a tendência de como o seu formato vem sendo entendido pelos pesquisadores da área de educação. Nesse artigo, caracterizamos as abordagens pelas compreensões apresentadas nos próprios textos analisados, sendo nossa pretensão elucidá-los somente a partir da própria literatura enfocada. Por isso, faremos algumas sínteses a partir da nossa compreensão, utilizando, para isso, geralmente de citações extraídas do material encontrado nas teses. A formação como práxis transformadora As teses que se caracterizam como abordagem materialista-histórica buscam identificar as concepções subjacentes às propostas de formação de professores, procurando: problematizar as relações de controle que permeiam o trabalho docente, especialmente no âmbito da formação continuada; identificar as ações que constituem os processos de formação; analisar as políticas de formação de professores, as reformas educacionais e compreender as contradições das práticas pedagógicas. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 63 Os métodos de pesquisa foram majoritariamente identificados pelos pesquisadores como “dialéticos” ou “materialismo histórico-dialético”, com algumas incidências e associações com estudos de caso e análise de conteúdo. Em relação aos instrumentos de coleta/produção de dados, a maioria das pesquisas é de base documental (70%), sendo complementada por meio de entrevistas ou questionários. Expressam a teoria e prática como “processos indissociáveis e que dialogam com contextos externos àqueles em que a prática docente se realiza” (Teixeira, 2009, p. 57), articulando relações objetivas e subjetivas de forma contraditória. Assis (2007, p. 154), salienta que “[...] a prática não pode limitarse a uma simples teorização para entender ou explicar a prática, devendo, ao contrário, ser crítica para que se perceba a relação teoria-prática, pois, se assim não procedermos, a teoria pode tornar-se um mero discurso ‘vazio’ e a prática não passar de ativismo”. Assim, destacam a necessidade de repensar a fragmentação da teoria e da prática, justificando que a “teoria é prática na medida em que, materializa, através de uma série de mediações, o que antes só existia idealmente, como conhecimento da realidade ou antecipação ideal de sua transformação” (Torres, 2007, p. 242). Toda teoria é, portanto, prática. A concepção de formação de professores se expressa ancorada na concepção de trabalho docente, ou seja, “[...] os professores constroem um saber (conhecimentos, competências, saber-fazer, saber ser, etc.) a partir das experiências profissionais e, também, pré-profissionais, em um longo processo de socialização” (Teixeira, 2007, p. 23). Por isso, a formação continuada é considerada “espaço privilegiado” para a formação de professores, voltada para a pesquisa/reflexão na prática, com vistas a emancipação. A compreensão é balizada e relacionada com todos os contextos que envolvem a prática docente, desde micro até macroestruturais. Nesse âmbito, buscam desenvolver “uma análise ampla e genérica acerca da história, da cultura, da sociedade e dos projetos político-econômicos que regem o ensino” (Torres, 2207, p. 18), com o objetivo de compreender a realidade e as possibilidades para transformá-la. Desse modo, a formação de professores é compreendida como um processo amplo, complexo e contínuo que tem como foco a transformação social. 64 IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 A formação na construção do processo identitário Muitas teses analisadas são balizadas pela epistemologia da prática, explicada por Tardif (2000, p. 10) como “o estudo do conjunto dos saberes utilizados realmente pelos profissionais em seu espaço de trabalho cotidiano para desempenhar todas as suas tarefas”. Tal perspectiva defende o “interesse pela pessoa do professor, por sua história de vida e, principalmente, pelo modo como ele constrói seus conhecimentos para a docência” (Dal-Forno, 2009, p. 82). O saber é tratado num sentido mais amplo “que engloba os conhecimentos, as competências, as habilidades (ou aptidões) e as atitudes, isto é, aquilo que muitas vezes foi chamado de saber, saber-fazer e saberser” (Tardif, 2000, p. 11). As pesquisas fundamentadas nessa perspectiva se voltam ao estudo do conjunto dos saberes utilizados pelos professores em seu espaço de trabalho, ou seja, para o estudo do contexto real docente que representa e, ao mesmo tempo, é mobilizado como um guia da autoformação. O propósito é revelar os saberes na prática dos profissionais em situações concretas de ação. Nessa perspectiva, os professores são concebidos como “sujeitos que se constituem através da temporalidade das ações, bem como nos diversos mundos nos quais convive como família, nas relações interpessoais, escolas, isto é , pela interação com os outros e a sociedade que os rodeia, constituindo assim sua identidade profissional e pessoal (Araújo, 2009, p. 115). Por isso, a formação é compreendida como um processo contínuo, “sistemático, organizado e permanente de desenvolvimento pessoal e profissional que permite um movimento de construção e reconstrução de conhecimentos e competências profissionais. Possibilita uma melhor compreensão e aprimoramento dos procedimentos utilizados para um melhor desempenho e resultado do trabalho”. (Dal-Forno, 2009, p. 94) Sob o aspecto metodológico, os estudos são eminentemente qualitativos, utilizando a pesquisa exploratório-descritiva, a pesquisa-intervenção, a análise retórica do discurso, a etnografia e instrumentos como a observação participante, narrativas, casos de ensino e memórias de aulas. Por meio dessas abordagens acredita-se ser possível conhecer o que os professores pensam, fazem, por que fazem, como superam os problemas da vida escolar, como elaboram e modificam as rotinas e recriam suas estratégias. Há uma crítica também às várias propostas de formação continuada de professores, que “têm se mostrado, muitas vezes, inadequadas às necessidades formativas dos docentes, pois não abordam aspectos considerados relevantes relacioALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 65 nados à sua prática. Além disso, apresentam-se fragmentadas e dissociadas do contexto prático de sala de aula, e ainda, muitas vezes, superficiais em sua abordagem teórica”. (Dal-Forno, 2009, p. 55) O professor formado no diálogo As teses caracterizadas como fenomenológico-hermenêuticas buscam compreender como se dá o processo formativo dos professores nas diferentes modalidades (a distância, presencial, no campo) e licenciaturas, procurando “examinar a presença da tomada de consciência na formação continuada do educador” (Mendonça, 2009, p.4). Os trabalhos buscam analisar a “relação entre a formação realizada e a significação atribuída pelos professores ao percurso da aprendizagem” (Santos, 2008, p.7), identificar os sentidos que os professores formadores atribuem aos saberes pedagógicos “a partir de processos de atribuição de significados, a construção de identidades individuais e coletivas dos sujeitos” (Silva, 2008, p.5). O objetivo é “descrever como os professores concebem o caminho percorrido e a sua situação de formação” (Carrilho, 2007, p. 6), e “situar perspectivas teóricas de formação de professores, contextualizar a instituição e o memorial da formação”, bem como “analisar as trajetórias de formação e os saberes docentes”. (Carrilho, 2007, p.6) Os métodos de pesquisa utilizados foram os mais variados: etnometodologia, estudos de caso, pesquisa intervenção, etnografia, pesquisa documental e pesquisa narrativa. Quanto aos instrumentais de produção de dados, foram apresentados grupos focais, entrevistas individuais e coletivas, histórias de vida, observações participantes, narrativas escritas e questionários. 66 Tais teses apresentam uma compreensão de sujeito histórico, dialógico, construtor das práticas nos múltiplos e diferentes contextos. O sujeito é compreendido “como escritor de histórias que se constroem a partir de diversas situações da prática docente, nos seus diferentes níveis de complexidade e constituídas de crenças, hábitos, teorias implícitas, referencias científicos ou não, contextos políticos, sociais, culturais, econômicos, entrelaçados com situações da vida” (Santos, 2008, p. 117). O sujeito influencia o objeto e é influenciado por ele, expressando uma inseparabilidade entre o sujeito que observa e o sujeito observado. Trata-se de uma “não-dicotomização” (Silva, 2008, p. 49), de uma relação “mutuamente implicada” (Carrilho, 2007, p.6). Defendem uma inter-relação entre a dimensão teórica e a dimensão prática, IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 ou seja, uma “articulação entre teoria e prática que se implica diretamente em um processo formativo experiencial” (Maioli, 2009, p.99). A prática deve pôr “à prova a teoria, noções e preconceitos, impulsionando ao refletir e ao avançar”. (Mendonça, 2009, p.42) A compreensão dos autores acerca do compromisso da formação de professores está voltada à formação de um profissional com consistência teórica e prática, capaz de construir e problematizar o conhecimento na relação com os outros e com as diferentes realidades, devendo a formação ter como base a reflexão e ser permanente. Defendem a formação de professores “reflexivos e investigativos” (Santos, 2008, p. 7) “formador, orientador de memoriais, a partir da sua voz, falando de si, dos elementos da sua formação, da suas estratégias, desempenho e saberes”(Carrilho, 2007, p.254). A formação deve ser problematizadora “e propiciadora de aprendizagens” (Maioli, 2009, p. 106). A multirreferencialidade da formação Encontramos, também, teses balizadas pela epistemologia da complexidade, a qual (complexidade) é definida por Morin (2003, p.44) como “um tecido de elementos heterogêneos inseparavelmente associados, que apresentam a relação paradoxal entre o uno e o múltiplo”. Ou seja, esta abordagem assenta-se sobre uma rede de eventos e interações ambíguas, desordenadas e incertas que constituem o nosso mundo fenomênico. Nessa perspectiva, o método é um programa de aprendizagem que encontra seu êxito não no resultado final, mas através das retroações, da errância e das regulações que ocorrem durante o processo. A participação inventiva do sujeito pode evidenciar os princípios gerativos do método e, ao mesmo tempo, promover a criação de outros princípios. Por isso, comporta pelo menos dois níveis que se retroalimentam, favorecendo o desenvolvimento de estratégias para o conhecimento e, também, para a ação. Assim, método, para o pensamento complexo, é o “que ensina a aprender” (Morin, 2003, p.29) e não somente o que permite chegar a uma verdade. Esse movimento é decorrente da transição entre paradigmas tradicionais e paradigmas emergentes, pois “veem-se necessidades de investimentos nas multiplicidades nascidas da não linearidade, mapeando outras formas de diálogo na diferença, nas interconexões, realizando diferentes configurações” (Silva, 2008, p. 64). A complexidade não aspira à clareza, à distinção e à deliALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 67 mitação de fronteiras conceituais. Entende que as fronteiras são permeáveis, degradáveis e fluidas, operando com macroconceitos ou princípios-guia que podem ser considerados operadores cognitivos da complexidade, sendo que [...] “tais referências estão intrinsecamente ligadas ao paradigma da complexidade que requer um pensamento dialógico, recursivo e multidimensional onde ligar e problematizar caminham juntos”. (Silva, 2008, p. 64) Para Moraes e Valente (2008, p. 41), a dialógica “se apresenta nas relações entre o pesquisador e o objeto pesquisado, e que, no caso, produz a organização da pesquisa”. Por isso, a maioria das teses caracteriza-se como pesquisa qualitativa e expressa a vinculação do pesquisador com o estudo, utilizando um repertório diversificado de instrumentos de investigação, tais como: entrevista compreensiva, planos evolutivos, fichas de interpretação, diários reflexivos, memória autobiográfica, interações virtuais nos fóruns, narrativas, diários, casos de ensino, questionários de avaliação e observação participante. O princípio da reintrodução do sujeito cognoscente é outro princípio-guia do pensamento complexo e expressa o indispensável papel ativo do sujeito no processo de conhecimento. O conhecimento não é produto da acumulação de informações, mas a organização (inter)ativa dessas e, por isso, a ação do sujeito é a estratégia da complexidade. A produção do conhecimento envolve processos de auto-organização e de codeterminação que são ativos e, por isso, dinâmicos e emergentes. A definição dos objetos de pesquisa, a motivação dos pesquisadores, por exemplo, são influenciadas pela historicidade dos sujeitos, pois a construção do conhecimento manifestase a partir do que somos capazes de perceber, de compreender, de construir e de reconstruir. Consequentemente, a realidade interpretada e descrita pelo pesquisador é uma das possibilidades, uma das possíveis compreensões que emergiu das relações codeterminadas sujeito/objeto. A formação construída nas representações socioculturais 68 Algumas teses analisadas fundamentam-se na teoria das representações sociais (TRS) do psicólogo social Serge Moscovici que propõe a compreensão dos fenômenos sociais por meio de conceitos psicológicos e sociológicos. Moscovici (2003, p. 21) define as representações sociais como um sistema de valores, ideias e práticas, com uma dupla função: primeiro estabelecer uma ordem que possibilitará às pessoas orientar-se em seu mundo material e social e controlá-lo; e, em segundo lugar, possibilitar que a comunicação seja possível entre os membros de uma comunidade, fornecendo-lhes para IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 nomear e classificar, sem ambiguidade, os vários aspectos de seu mundo e de sua história individual e social. Trata-se de uma ciência mista que combina conceitos psicológicos com sociológicos, buscando compreender como os processos de socialização nos proporcionam representações culturalmente compartilhadas, modos de ver e de nos ver no mundo sem que, habitualmente, sejamos conscientes dessas “teorias implícitas”. Situa-se no campo da psicologia social, contudo numa visão diferente daquela de Durkheim sobre os estudos das representações coletivas” (Oliveira, 2008, p. 62). “Enquanto que as representações coletivas de Durkheim são orientadas para a conservação e preservação da sociedade , as representações sociais de Moscovici buscam questões sobre como as coisas na sociedade se transformam, ou seja, como a novidade, a conservação e a preservação se tornam parte da vida social” (Oliveira, 2008, p.63). Trata-se de uma abordagem que busca recuperar e classificar os discursos coletivos a partir de seus atributos sociológicos, antropológicos e psicossociais para interpretar e compreender as intenções e os motivos das ações das pessoas sobre a realidade. (Moscovici, 2003) Tais teses apresentam como objetivos de estudo: “verificar se, nas concepções sobre ensino e aprendizagem, a existência de diferenças e semelhanças entre as representações sociais de professores licenciados e não licenciados” (Perez, 2008, p. 10); “descrever e analisar o processo de formação do professor” (Melo, 2008, p. 6); “compreender quais as representações sociais de pesquisa que orientam e/ou ressignificam as experiências de formação” (Bortolini, 2009, p. 20). Trata-se de pesquisas que buscam compreender ações educacionais por meio da restituição das percepções e opiniões dos professores diante de determinados fenômenos sociais, na tentativa de tornar os significados dessas experiências conhecidos. Os métodos utilizados nas pesquisas foram: análise de conteúdo, narrativas biográficas e estudos de caso. Como instrumentais de coleta de dados, os autores utilizaram a entrevista, a análise documental, o grupo focal e o questionário. Quanto à relação teoria e prática, propõem uma articulação que facilite as interações entre o ensino e aprendizagem. “Construídas nas interações sociais, as representações sociais acabam por se constituir em mediações entre sujeito e o mundo, interpenetrando sentimentos, ideias, biografia, ideologias, fundindo as histórias dos sujeitos com as histórias das ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 69 nações e apropriadas pelos sujeitos para dar sentido às duas ações, à sua vida”. (Bortolini, 2009, p. 29) Em relação à formação de professores, a abordagem defende que se deve priorizar a produção do conhecimento a partir da experiência. No entanto, “o fato de professores desenvolverem as competências para ensinar em sua formação continuada não quer dizer que uma formação inicial consistente não seja necessária” (Perez, 2008, p. 17). Só que esse investimento deve levar a autoconsciência de que: “Toda formação implica uma ação do indivíduo sobre si mesmo – formar, constituir, criar” (Melo, 2008, p. 87). Ou ainda, “prescinde uma aproximação entre esses diferentes saberes a partir da experiência docente, que permita problematizar e delimitar um campo de trabalho” (Bortolini, 2009, p, 17). Portanto, essa abordagem requer uma retomada do si mesmo na relação com o outro e o mundo, de modo a operar mudança na subjetividade a partir das experiências vividas, antes de qualquer tentativa de modificação da realidade concreta. Formação docente pela liberdade dos discursos Já as teses identificadas na perspectiva pós-estruturalista objetivam: “compreender como, no presente, os sujeitos, alunos/as e professores/as (...) rememoram o tempo vivido na (...) instituição” (Almeida, 2007, p.25); “realizar uma leitura transversal dos referenciais teóricos que fundamentam as políticas públicas brasileiras destinadas a formação docente” (Silva, 2009, p. 10)”; “conhecer como se dá o processo de formação de professores no curso de pedagogia” (Bittencourt, 2008, p.9) e “compreender a educaçao a distancia como instrumento de mudança paradigmática na formações de professores na perspectiva dos estudos culturais. (Carvalho, 2009) 70 Quanto aos métodos, são utilizados a análise do discurso, a pesquisa documental, o estudo de caso e a análise de conteúdo. Em relação aos instrumentos de produção de dados, encontramos a entrevista, o questionário e a história oral. O olhar sobre o objeto de estudo é visto por uma “base epistemológica de caráter descontrucionista” (Silva, 2009, p. 40). No que se refere à concepção de sujeito, apresentam uma visão de que este “constrói os dados de pesquisa, estabelece relações entre eles, confecciona imagens, produz sentidos e enredos” (Almeida, 2007, p.13) e que devem ser críticos e capazes de compreender e interferir de forma positiva no movimento social do qual fazem parte” (Silva, 2009, p.18). Quanto à relação teoria e prática, acreIXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 ditam que elas se implicam uma na outra, devendo dialogar entre si (Almeida, 2007), pois “a suposta separação entre teoria e prática, entre quem pensa e quem faz, entre o discurso e a prática, possibilita a profissão idealizada” (Bittencourt, 2008, p.42). A compreensão sobre a formação de professores é que se deve reconhecer a pluralidade de sentidos, as formas simbólicas e os discursos, contribuindo “com o aprofundamento das reflexões que, no conjunto, irão colaborar com a construção de uma coletividade” (Silva, 2009, p. 41); ou ainda, “extrapolar as discussões sobre como ensinar e possibilitar ao futuro professor vivências que lhe deem subsídios para compreender a profissão e toda a complexidade que lhe condiciona” (Bittencourt, 2008, p.14). Trata-se de uma abordagem que percebe a formação do professor como uma oportunidade de alcançar o espaço das diferenças e cuidado com a vida. Aprendizagens comunicativas na formação de professores Diante das compreensões mapeadas nas teses, percebemos que, embora alicerçadas em paradigmas diferenciados, as problematizações aparecem de formas muito aproximadas, evidenciando certezas comuns a todas elas. Mesmo tratando da formação de professores em diferentes níveis e modalidades, existem verdades compartilhadas no trato ativo com o mundo, ou seja, verdades não questionadas que são utilizadas por todos os discursos. Certezas como a indissociabilidade entre o sujeito e o objeto, a necessidade de associação entre teoria e prática, a necessidade da formação continuada dos professores, de reflexão crítica das práticas como elas acontecem e de crítica ideológica. Ainda, que a educação deve ser emancipatória, devendo respeitar as diferenças e preocupar-se com os contextos. Por fim, elas têm em comum o pressuposto que o sujeito é histórico, o professor deve ser pesquisador, a realidade é complexa, entre outros. Pode-se dizer que em geral todas as pesquisas se empenharam na busca pela compreensão de como ocorre o processo de formação docente, explicitando uma vontade coletiva de transformação do estado atual da constituição formativa, tendo em vista a unanimidade na insatisfação das práticas docentes atuais. Além disso, os métodos de investigação e os instrumentos de coleta ou produção dos dados são semelhantes: estudo de caso, análise do discurso, análise de conteúdo, etnografia, análise narrativa, pesquisa documental. Ou seja, não percebemos métodos e instrumentais específicos para cada abordagem. Inclusive, pudemos observar a prevalência de métodos qualitativos e a utilização de mais de um instrumento de pesquisa, revelando a intenção ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 71 de ampliar as percepções dos pesquisadores sobre o objeto de estudo. Em relação à concepção de sujeito, apresentam-no como reflexivo, dialógico, crítico e transformador das práticas nos múltiplos e diferentes contextos. A diferença está na relação desse sujeito com o real. Enquanto as abordagens fenomenológicas-hermenêuticas, as pós-estruturalistas, a teoria da representação social, a epistemologia da e a teoria da complexidade apostam na possibilidade de o sujeito construir o real por meio da linguagem e do discurso nos diferentes contextos culturais, a abordagem materialista sustenta a possibilidade do acesso, cada vez mais aproximado, ao real, buscando a superação do que Marx chama de “falsa consciência”. Ou seja, para esta última a transformação não é resultado de processos contínuos de interpretação e de comunicação, mas do confronto dos sujeitos com as condições concretas da vida, pois a história está alicerçada no mundo material. No que se refere à relação entre teoria e prática, parece ser comum a ideia de que elas estão articuladas e que são processos indissociáveis, implicando uma na outra. A compreensão acerca da formação de professores também parece já ter consolidado a ideia de que se trata de um processo complexo e contínuo, voltado à formação de um profissional com consistência teórica e prática, capaz de construir e problematizar o conhecimento na relação com os outros e com as diferentes realidades, transformando e emancipando contextos sociais. Parece-nos que, mesmo referindo-se à formação em níveis ou modalidades diferentes, ou com outra compreensão de realidade, o propósito maior das pesquisas foi dar conta de uma prática formativa bem sucedida. Ou seja, apesar de aparecerem de formas adversas, foi possível perceber a existência de um eixo comum de objetividade caracterizada pelas certezas compartilhadas e pelo foco nas mesmas problematizações. Talvez o não reconhecimento desse eixo comum seja um dos motivos da resistência à comunicação e assim da lentidão dos avanços na produção do saber da área. 72 Desse modo, podemos dizer que há grande possibilidade de comunicação entre as diferentes abordagens paradigmática que tratam a formação. Os propósitos identificados são saberes que não encontram resistência nas atividades práticas cotidianas junto ao mundo real e que por isso se colocam como uma referência comum. Trata-se de uma objetividade alcançada nas experiências práticas que simplesmente se dão a partir da estabilidade diante do mundo e que por isso podem se colocadas como ponto de partida para a aprendizagem comunicativa. A identificação dessas certezas coletivas justifica a aproximação das diferentes abordagens em relação às suas questões IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 problemáticas. Para além das suas especificidades, as raízes dos problemas são praticamente as mesmas, pois partilham de experiências comunicativas. Isso significa que não se está investigando questões acerca de realidades diferentes, mas de mundos que de alguma forma se associam. Assim, há uma enorme e rica possibilidade de desenvolver acertos mais universalizados na discussão sobre a formação de professores, tendo em vista a unânime vontade de resolver problemas comuns. A objetividade prática identificada autoriza a desproblematização discursiva para além dos contextos de justificação, ao mesmo tempo em que explicita a possibilidade evolutiva de continuações de processos de aprendizagem na área, desfrutando do que a realidade nos ensina na experiência com o mundo e do que nos ensina a troca argumentativa. Trata-se de uma possibilidade de superar as patologias da comunicação contemporânea próprias do campo da formação e atender as necessidades que nos são apresentadas no mundo da vida. Considerações finais Em função do estudo realizado, acreditamos ser possível haver acertos discursivos entre as abordagens identificadas no tratamento dos problemas da formação docente. As pesquisas partem de um mesmo referente objetivo e de problematizações de fundo semelhantes, indicando as condições para uma discussão guiada ao entendimento. O diferencial entre as abordagens, expresso nas compreensões e no tratamento dado à mesma problemática, revela a importante contribuição que elas denotam ao processo de interação argumentativa. Tendo como ponto de partida uma base problemática comum, cada abordagem oferece um conjunto de ideias, concepções, compreensões e, ao compartilhar as diferentes proposições, têm como foco o sucesso prático diante das exigências da ação. Reconhecida a objetividade, a pretensão do discurso sempre se orienta pelas práticas bem sucedidas, aprendendo também com os desacertos que levaram a este consenso. Parece-nos que teríamos assim uma maior aprendizagem em torno do conhecimento sobre a formação de professores, reforçando ações articuladas. Enfim, acreditamos, com base na pesquisa realizada, na potencialidade de uma conversação mais ampla no tratamento dos problemas da área. Os dados encontrados nos levam a crer que, diante de saberes já compartilhados, a solução de problemas teria maiores chances de êxito na interação comunicativa. Não estamos defendendo a supressão das compreensões ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 73 perspectivistas, mas a possibilidade de colocá-las numa abertura crítica de argumentação, que desenvolva a oportunidade de uma aprendizagem mais evolutiva. Segundo Habermas, “só podemos apreender alguma coisa com a resistência, performativamente vivenciada, da realidade na medida em que tematizamos as convicções implicitamente postas em questão e apreendemos com as objeções de outros interlocutores” (2004, p. 24). Assim, no tratamento de problemas comuns, a prioridade não está na defesa individualizada de uma compreensão, mas nos processos de aprendizagem em que o confronto com o diferente forçaria a revisão da legitimidade do próprio ponto de vista. É claro que o estabelecimento das condições para a construção de um diálogo mais profícuo entre as abordagens, não significa que ele vai acontecer automaticamente. Para trilhar os caminhos que conduzem a esse acordo, os pesquisadores da área deverão sair da zona de conforto produzida pela relatividade discursiva, na medida em que se sentirem provocados a melhor se entender sobre o assunto. Se tal objetivo ainda não for conquistado por esse trabalho, é porque não conseguimos ser suficientemente convincentes na explicitação da necessidade de dar o primeiro passo, na longa caminhada em busca da direção do entendimento. Referências Almeida, D. B. (2007). Memórias da rural: narrativas da experiência educativa de uma escola normal rural pública. 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El sebucán emancipador. Gregorio Valera-Villegas Universidad Central de Venezuela y Universidad Simón Rodríguez [email protected] Profesor titular de Filosofía de la Educación de la Universidad Central de Venezuela y de la Universidad Simón Rodríguez. Realizo estudios de filosofía y de doctorado en filosofía de la Educación por la Universidad Central de Venezuela. Sus Áreas de estudio son: filosofía del lenguaje, filosofía y literatura, filosofía de la educación y la epistemología de las ciencias humanas. Resumen - Resumo - Abstract En este estudio se propone una caja de herramientas: el sebucán, paradigma/phármakon, como espiral fenomenológica hermenéutica de emancipación de la persona, el cual se despliega en un dispositivo escolar: la lectura narrada e interrumpida. Así, la escuela como lugar de narraciones, de lectura y de escritura, es asumida como desafío para vislumbrar el lugar de la persona (llámese maestro o alumno), su palabra, su padecer, su sentir, su pensar, en síntesis: su singularidad, por cuanto se trata, fenomenológicamente hablando, de hacer lugar a un ser hablante en su autonomía/heteronomía, ética y políticamente hablando. Uno de los objetivos principales de este estudio es la realización de una fenomenología Neste estudo, propõe-se uma caixa de ferramentas: o sebucán, paradigma/ phármakon, como espiral fenomenológica hermenêutica de emancipação da pessoa, da qual se desdobra um dispositivo escolar: a leitura narrada e interrompida. Assim, a escola como lugar de narrações, de leitura e de escrita, é considerada como desafio para vislumbrar o lugar da pessoa (leia-se professor ou aluno), sua palavra, seu sofrimento, seus sentimentos, seu pensar, em síntese: sua singularidade, que se trata, fenomenologicamente falando, de dar lugar a um ser falante em sua autonomia/heteronomia, ética e politicamente falando. Um dos principais objetivos deste estudo é realizar uma fenomenologia hermenêutica In this study a toolbox is proposed: the “sebucán”, paradigm/phármakon, as a phenomenological hermeneutics spiral of the person’s emancipation, which opens in a school device: the narrated and discontinuous reading. Thus, the school as a place of stories, of reading and of writing, is assumed like a challenge to distinguish the person’s place (be called a teacher or pupil), his/her word, suffering, feeling, thinking, in synthesis: his/her singularity, because phenomenologically speaking it’s all about making place to a speaking being in his/her autonomy/”heteronomia”, politically and etically speaking. One of the main targets of this study is the achievement of a critical hermeneutics phenomenology and from the ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 79 hermenéutica crítica en los términos descritos, y desde la relación mimesis/metáfora de la persona escolar, por así llamarla, que vive y padece la violencia. Para ello tomaremos como referentes primordiales al texto narrativo, al relato de ficción concretamente, con el objeto de aplicar el sebucán como espiral fenomenológica para mostrar la eficacia de una caja de herramientas al servicio de la emancipación de la persona escolar crítica nos termos descritos, e, a partir da relação mimesis/ metáfora da pessoa escolar, por assim dizer, que vive e padece da violência. Para isso, utilizamos como referencias primordiais ao texto narrativo, o relato de ficção, especificamente, com o objetivo de aplicar o sebucán como espiral fenomenológica para mostrar a eficácia de uma caixa de ferramentas ao serviço da emancipação da pessoa escolar. diad mimesis/metaphor of the school person who lives and suffers violence. For this purpose we take the narrative text as a main reference, especially fictional stotytelling, in order to apply the “sebucán” as a phenomenological spiral to show the efficacy of a toolbox to the service of the emancipation of the school person. Palabras Clave: escuela narrada; sebucán, paradigma/phármakon. Palavras-chave: Escola narrada; sebucán paradigma / phármakon. Keywords: narrated school; sebucán, paradigm/phármakon Recibido: 14/11/2014 80 Aceptado: 12/02/2015 Para citar este artículo: Valera-Villegas, G. (2015). Lectura dramatizada e interrumpida. El sebucán emancipador. Ixtli. Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación. 2(3). 79-108. IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Lectura dramatizada e interrumpida. El sebucán emancipador. 1.Presentación La escuela enseña a leer, se afirma y se reconoce como una de sus principales tareas, aunque no siempre sea así. El alumno irá desde la lectura mecánica, asociación de letras con sonidos; o de desciframiento de signos gráficos por medio de la percepción visual para identificarlos oralmente; denominados métodos fónico y global, respectivamente. Luego, vendrá la lectura comprensiva, es decir, darle sentido a lo que se lee; y después llegará, a veces no, a la lectura reflexiva y crítica de lo leído. El tiempo que se vive en el espacio escolar tiene mucho que ver con el dedicado a la lectura. El curriculum explícito así lo establece. La lectura es tarea obligatoria de la cual no se puede escapar. Enseñar a leer se considera como una de las obligaciones principales del maestro, y aprender a leer será para el alumno uno de sus principales deberes. El caso es que al dársele este carácter de tarea, de deber, se le puede estar convirtiendo en un obstáculo para la adquisición del hábito de la lectura. Por cuanto leer supone que a la persona le gusta leer, porque quiere hacerlo; porque la lectura le permite soñar, imaginar, aprender, conocer, entretener; y no porque hacerlo sea una obligación, un mandato. Ahora bien, la escuela como lugar de lecturas puede significar también, aquel lugar en el que se hacen diferentes tipos de lectura y, también, en el que se leen diferentes textos. Por lo que no es lo mismo leer un libro de texto, una guía de estudio que leer una obra literaria, son lecturas distintas. En las primeras se lee, muchas veces, para aprender un contenido, un tema determinado, como una asignación del profesor de una materia o asignatura. Se lee para memorizar y repetir en un examen escrito u oral, y listo se acabó el acto de la lectura. Es un leer sin darse cuenta el lector, el alumno, de qué lee, ni, muchas veces, por qué lo hace, sin tomar conciencia de para qué lo hace. En cuanto a la lectura de un texto literario, la cosa es distinta, debe ser distinta; porque, entre otras cosas, se trata de un texto diferente; aunque es verdad que también puede ser tomado como una tarea escolar a cumplir y nada más. Para fines de este estudio nos concentraremos en este ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 81 tipo de lectura, de entre las muchas que se realizan en la escuela. Veamos. Se trata de aprender a valorar los textos literarios tanto en su valor poético y estético, y como vías de conocimiento que son. De esta manera, la lectura de la obra literaria, poesía, narrativa y drama en la escuela, se convierte en un espacio y un tiempo en el que unas personas, alumnos y docente, crean y re-crean sentido, y no como un lugar de reproducción y conservación de saberes. Así, esta lectura no es sólo un leer por leer, o un leer por deber; sino más allá, un leer para que a los lectores algo les pase, es decir, para que experimenten una auténtica experiencia de lectura, en el sentido de Gadamer (1999) y Larrosa (2003). Se trata pues de que la lectura de la literatura en la escuela deje de tener el sabor de la tarea, y se convierta en una práctica para imaginar, soñar y conocer. Una lectura de la obra literaria, de acuerdo con Cañón y Hermida (2013), con otros ojos, de viajar con la lectura, de un encuentro para leer junto al otro y compartir sentidos y volver a hacer hablar las palabras igual y distinto a la vez. Para mostrar que puede leerse en la escuela de otro modo. En este estudio se asume una lectura de la obra literaria, sí, de la obra narrativa, novelas y cuentos, realizada en unas obras seleccionadas por la presencia del asunto de la violencia en la escuela ; con el propósito de que dicha lectura pueda ayudar en la formación de un lector crítico, capaz de emanciparse de las redes de la violencia en que pudiera estar atrapado. Para ello se presentará y fundamentará el despliegue de una caja de herramientas: el sebucán como paradigma/phármakon, el cual servirá de fundamento de la puesta en escena de un tipo de lectura que hemos denominado: lectura interrumpida y dramatizada. 82 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 2. El sebucán como paradigma/phármakon. El sebucán, visto como metáfora, nos permite significar ideas como: la del phármakon, remedio y veneno, la de unidad y diversidad a la vez, y la alteridad y liberación junto al otro. Sin embargo, cabe preguntar ¿al afirmar que el sebucán es un paradigma/phármakon a qué nos estamos refiriendo? Vamos por partes. El sebucán es un paradigma que, en cuanto tal, puede entenderse como un ejemplo, no en el sentido de aquello que pretende ser igualado, sino como aquello que propicia una mimesis para un alguien, es decir, una persona que resulta tocada, trastocada, cambiada y que puede llegar a ser otra; luego de vivir una experiencia auténtica, que puede ser la lectura de una obra escrita. Conviene aclarar que, en tanto paradigma, no es modelo de nada y para nada, ni plan de obra, ni modelo a seguir. Aunque, paradigma, parádeigma en griego (παράδειγμα), significa patrón, modelo. Más bien su sentido puede estar orientado por una suerte de fábula, pero de carácter distinto a la fábula tradicional . Es decir, su referente primordial, o aquello, de carácter importante, que se espera guarde relación estrecha con la vida de una persona, denominada lector; en una experiencia de lectura. Referente que puede ser un relato de ficción (ficción en tanto ‘como si’, o lo verosímil), novela o cuento sin moraleja, del cual puede inferirse un tema ético/político y de formación, y propiciar un ejercicio de mimesis. El sebucán como paradigma, desde su referente primordial, busca refigurar expresiones del mal y de virtud en función de la narración de unas personas o personajes, que pueden aludir a personas de carne y hueso. De allí que pueda también mirarse como una especie de parábola (parábola de carácter kafkiano, al no tener un fin de enseñanza moral en sí, sino mostrar las particulares circunstancias de una persona o personaje), porque refiere a un relato figurado y verosímil del cual puede refigurarse, en términos de mimesis , una enseñanza ética, y aun política. Visto así, el paradigma hace uso de una carga metafórica de riqueza imaginativa y refigurativa. Ahora bien, el paradigma como parábola no es una guía de acción correcta a seguir; sino que por su riqueza simbólica y metafórica, y el ejercicio de mimesis que propone al lector o a quien la escucha, puede ayudarle a emancipar su pensamiento al ofrecer una experiencia vivenciada en la lectura. Así el sebucán como paradigma implica una mostración, y un darse cuenta a partir de lo mostrado. Es oportuno señalar que el sebucán como paradigma no sólo se despliega ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 83 con base en la lectura del relato de ficción; sino que también puede hacerlo en función de la escritura de narración histórica/biográfica. De allí que, entendido como ejemplo, el ejercicio metafórico y mimético puede desplegarse tanto en la lectura como en la escritura de este tipo de narración, con el mismo propósito emancipatorio de la persona que lee o escribe. El sebucán como paradigma es definido, en parte, por lo ambiguo, por tanto, bien distante está del carácter dado por Kuhn a este concepto, es decir, de ejemplar o ciencia normal, y de observación de una matriz disciplinaria (Cfr. Valera-Villegas, 1995). Se refiere, más bien, a la vida de una persona y su circunstancia, vista desde la praxis de una ética y una política. El sebucán, concebido así, pretende dar imagen a algo que a primera vista no tiene; es decir, funge de alegoría que puede ayudar a comprender-se al contribuir a hacer visible lo que no es, o no se sabe mirar. La ambigüedad es entendida aquí como característica de la vida humana que puede dar múltiples interpretaciones. Y no debe ser entendida en términos de una figura retórica como la anfibología porque no tiene que ver con lo sintáctico o semántico. Sino con el carácter inconcluso, del ser-se y el hacerse de la persona; donde nada es definitivo, ni de una sola cara. Además, un paradigma por su carácter ambiguo no es, como lo entendía Kuhn, una realización científica universalmente reconocida que durante un tiempo da modelos de problemas y soluciones a una comunidad científica practicante de ciencia normal.(Cfr. Kuhn, 1989). El sebucán como paradigma es un ejemplo que asume unas implicaciones ontológicas, antropológicas, epistémicas, y de una praxis ético/política para vivir. Por consiguiente, es una perspectiva de la realidad de una persona, lector o escritor, que involucra una fenomenología desplegada en una espiral hermenéutica, orientada a propiciar la comprensión, en sentido ético/político, y la emancipación de una persona de carne y hueso. Ahora bien, el sebucán es un phármakon si como paradigma asume la ambigüedad, la cual tiene que ver con la idea de la persona como proyecto inconcluso: nada hay en ella definitivo mientras viva. Y, de igual modo, expresa la condición de la persona como ser sapiens y demens, cordura y locura. 84 El sebucán, en tanto phármakon, asume también la contradicción como principio: una cosa y la otra, remedio y veneno, no una cosa u otra. Niega el principio del tercero excluido que en lógica proposicional se simboliza así: A v A, el cual es siempre verdadero. Aristóteles lo formulaba así: “es imposible IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 que el mismo atributo pertenezca y no pertenezca al mismo sujeto, en un tiempo mismo y bajo la misma relación…” (Aristóteles, 2007, IV 3, 123) Dados dos juicios contradictorios, no puede darse un juicio intermedio . Asimismo, niega o no reconoce el principio de no contradicción, según el cual un juicio o proposición y su negación no pueden ser ambas verdaderas al mismo tiempo y en el mismo sentido . Aquí es importante destacar la asunción de la implicación ontológica que la negación de este principio supone: algo, o alguien, puede ser y no ser al mismo tiempo y en el mismo sentido. Otro principio que niega, especialmente el sebucán como phármakon, es el de identidad que reza: toda entidad es idéntica a sí misma: A = A. Y, por consiguiente, asume el compromiso ontológico que la negación de este principio supone, por cuanto la persona es un ser-se, un hacer-se, y un sí mismo como otro, en términos de Ricoeur; es decir su identidad es narrativa y supone el la identidad Ídem y la Ipse, algo así como: A implica un ¬A. Es phármakon el sebucán por cuanto la ambigüedad que lo caracteriza presume la presencia en la persona, que es antropológicamente hablando su razón de ser, de la ambivalencia en solicitud recíproca. Unas personas serán, por así decirlo, más malas que buenas, pero ninguna será puramente una u otra. Será su vida, su relato histórico/biográfico, quien dirá en qué proporción ha sido su actuación. Y es allí en donde puede actuar el sebucán desde el relato, desde la mimesis, en la lectura o la escritura en relación con su Yo como Otro. El límite preciso y predicho entre lo malo y lo bueno, en sentido moral, no existe como tal; sino en la propia vida narrada de la persona. De lo contrario significaría entrar en las redes de las lógicas clásica y formal. Ahora bien, la vida de una persona, en el aquí y el ahora, es vida en relación. Es vida individual sí, y también vida en relación estrecha con el Otro. Esta vida suya está ubicada en un espacio y un tiempo propio. Está ubicada en una realidad que, al decir de Ortega y Gasset, “está ahí, ex-iste re-siste”. Realidad distinta, en tanto que es lo que existe, y a la vez implicada en la persona; por cuanto la persona no existe como una cosa, un objeto, sino que vive. O “… es viviendo. Son precisamente todas las demás cosas que no son el hombre, yo, las que existen, porque aparecen, surgen, saltan, me resisten, se afirman dentro del ámbito que es mi vida”.(Ortega y Gasset, 1957, p. 64). De tal suerte que es allí en esa realidad, en ese existir, en ese mundo en el que tiene que ser la persona al vivir, es en el que es posible elegir dentro de él, al ser libre, el sitio donde estar y donde actuar, ética y políticamente hablando, incluso para transformarlo. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 85 De igual modo, la persona atraviesa un proceso de subjetivación que se despliega en una relación sujeto-objeto-sujeto consigo misma, que genera el yo, es un en-sí y un para-sí; es decir, llega a su autonomía y autoposesión consciente, un sí mismo como otro, de allí su ser-se y hacer-se. Y también un para-el-otro, la heteronomía que puede llegar a alcanzar. La persona en tanto un sí mismo como otro, en términos de Ricoeur, es ídem e ipse. (Cfr. Ricoeur, 1996). Un ser-se y hacer-se en la narración, se desdobla al narrarse y se da cuenta, se reconoce en un sí mismo como otro. Un sí mismo que busca comprenderse como como un alguien capaz de acciones cognoscitivas, volitivas, sensibles, estimativas, etc. La persona, diríamos con Sartre, es proyecto inconcluso, y también es responsable de sí y condenada a ser libre (Cfr. Sartre, 2011). Así también, la persona vive la inquietud de sí, y también del Otro, al menos cuando se es capaz para hacerlo. Esta inquietud forma parte de su hacer-se haciendo. Hacer-se en el vivir de manera incesantemente. Respondiendo libremente de sí y también del Otro, ética y políticamente hablando. El sentido de la natalidad en Arendt es la novedad de la persona que llega al mundo. Nada puede tener el carácter o la condición de lo fabricado, de lo que llega hecho como una cosa o artefacto. De allí la radical novedad del recién llegado. Aquí también está implicado el desafío de decidir sobre sí, qué hacer, con quién hacerlo, con qué hacerlo, desde dónde hacerlo. Lo cual tiene que ver con ese ser-se, con ese llegar a ser, con ese ser él que se es. De allí la cuestión: “…Quod vitae sectabor iter, ¿qué camino, qué vía tomaré para mi vida? Pero la vida no es sino el ser del hombre…” ( Ortega y Gasset, 1957, p. 67). Ello conlleva el tener que elegir, decidir el tomar un camino u otro, entre muchos otros; y el ponerse en camino, actuar, aun a costa de que la elección, en el momento en que se eligió, no fuera, a la larga, la correcta. 86 Es verdad, que la persona, según su circunstancia, elige, decide y actúa en su soledad . Soledad que le acompaña en el vivir-se y en el extrañar, en el anhelar compañía. Y aquí se hacen presente los sentimientos, el drama de la soledad: la nostalgia, el desamparo, y también el amor en sus distintos tipos. Soledad en una específica circunstancia. Y paradójicamente: soledad en compañía del Otro y de lo otro, el afuera, lo extraño, y a veces lo propio extrañado. De allí el juego de las caras en el ser-se y hacer-se de la persona en el mundo: la autonomía y la heteronomía. Yo, Yo-Otro, Yo-y-el Otro, Yo-y-lo-otro. Mundo que es su mundo, al que pertenece y, en cierta medida, le pertenece, con sus bondades y maldades, por así decirlo. Y con el cual IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 desarrolla una práctica, un hacer en ese mundo, en sus cosas, con sus cosas que tienen que ver con ella. Esas cosas son pragma, es decir, son cosas que no son un algo que está ahí y que no tiene nada que ver con ella. En cuanto pragma, una cosa es: … algo que manipulo con determinada finalidad, que manejo o evito, con que tengo que contar o que tengo que descontar, es un instrumento o impedimento para…, un trabajo, un enser, un chisme, una deficiencia, una falla, una traba, en suma, es un asunto en que andar, algo que, más o menos, me importa, que me falta, que me sobra, por tanto, una importancia. …” (Ortega y Gasset, 1957, pp. 76-77). La persona, en su ser-se y hacer-se, vive, se desvive, en un mundo de pragmas, de importancias. Y en él es donde podemos ubicar la relación, relaciones, múltiple y compleja entre la violencia y los sentimientos. A ella no sólo le importa lo que le genera sentimientos de amor, de alegría, de amistad; sino también, aunque no los quiera y los rechace, los de: odio, tristeza, enemistad, miedo. La persona es constitutivamente también desde el Otro. Ella se constituye, se forma, no sólo en su soledad, sino en el establecimiento de relaciones con el Otro. Se encuentra con ella, como persona distinta que es, da con ella, sin saber a ciencia cierta la que busca, en un determinado lugar. Se reúnen y, luego, pueden desunirse al oponerse, al enfrentarse, al mantener posturas distintas. Pueden llegar a rivalizar e incluso a ser enemigas. O llegar a considerarse amigas, unidas por sentimientos de amor y lealtad. El Otro, en su singularidad y pluralidad, que se resiste y abraza alternativamente a la persona que está delante de él. O le rechaza y le da la espalda ignorándole, como si no existiera. Y a pesar de ello, está en el mundo de ella, es contemporáneo a ella, es su semejante. Y aunque su existencia y su permanente referencia a él es necesaria, no es suficiente. Ella requiere que el Otro se singularice en el nos-otros, que particularicen la relación, que el encuentro se haga íntimo, en el mejor de los casos, mediante lo que Ortega y Gasset denomina: el trato (Ortega y Gasset, 1957, pp. 76-77). Lo que quiere decir que el nos-otros se deberá manifestar en el trato, en la relación Yo – Tú. Relación que se erige en las preguntas: ¿quién soy yo? ¿Quién eres tú? Una de las claves del descubrimiento de la relación nos-otros, por vía del trato y la relación Yo – Tú, está en la manifestación del altruismo; aunque pueden acechar o aparecer el egoísmo y el narcisismo, como males del alma; el alALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 87 truismo es una poderosa señal del reconocimiento del Otro, capaz de producir, entre otras cosas, el nos-otros y posibilitar el convivir, el poder vivir juntos. El Otro, por el contrario, puede mantenerse en su extrañeza, en su condición de extraño. Un alguien con quien se tiene, si es válido decir tener, un grado cero de intimidad, parafraseando a Ortega y Gasset. Y este grado cero de intimidad puede sentirse al mirar a un recién llegado, un nuevo venido, de quien no se sabe nada personal, nada de su biografía. Y también puede sentirse ese cero de intimidad al toparse con él en su reacción adversa ante mi presencia, capaz incluso de llegar a asesinarme. No me saluda, sino que arremete contra mí. No hay cortesía, sino desatención, irrespeto, incluso odio. Ante la ausencia del saludo, y de la mínima cortesía, puede irrumpir la violencia. Ahora bien, ese Otro agresivo, violento ¿siempre debe ser visto así, como enemigo, siempre en actitud defensiva ante él? O, por el contrario, todo prejuicio de este tipo debería de ser matizado mediante el beneficio, al menos, de la duda. Por cuanto, si como lo hemos dicho antes, la persona no es un ser fijo, acabado. Ella, en tanto ser libre, tiene libertad de ser, y puede llegar a ser distinta de lo que ha sido. En este mismo orden de ideas puede decirse que el Otro, para la persona, puede llegar a ser dintorno y contorno en un entorno. Es su contemporáneo, su semejante, pero también su antepasado y, porque no, su sucesor. El Otro, sí, puede también ser visto como peligroso , entendido como riesgo, aventura, experiencia. Experiencia que puede ser adversa, pero también buena, provechosa, por eso en cuanto tal hay que vivirla exponiéndose a sus peligros. El Otro es peligroso: “… y este carácter que se acusa superlativamente cuando se trata del por completo desconocido, en gradación menguante perdura cuando se nos convierte en Tú y (…) no desaparece nunca. Todo otro ser humano nos es peligroso, cada cual a su modo y en su peculiar dosis.” (Ortega y Gasset, 1957, pp. 190-191). 88 El Otro peligroso, o la periculosidad del Otro, en términos de Ortega y Gasset, se mantiene en mayor o menor medida. En el Otro extraño y en el Tú con cierto grado de intimidad. La experiencia del Otro puede manifestarse en la violencia compensadora, dado el caso, porque el Otro, convertido en Tú es distinto del Yo, con su modo de ser particular; por lo que, en un momento dado, en una determinada circunstancia, surge la negación de uno al otro, por intereses distintos, por intereses encontrados. O porque ese Otro, convertido IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 en Tú o no, quiere tener algo que es del Yo, y sobreviene el enfrentamiento. La negación de uno con respecto al otro. Por tanto, no siempre se puede pensar que el Otro es un: “yo─alter─otro pero yo, ego─alter ego”. (Ortega y Gasset, 1957, p. 193). Sino que puede llegar a ser un anti-Yo, en un momento dado, debido a su carácter de peligroso en el sentido referido. El peligro que es el Otro y la sorpresa que es el Yo. Experiencia negativa o positiva, sorpresa y la subsecuente alegría o miedo. El descubrir, al experimentar en el encuentro con el Otro, aun cuando se haya alcanzado con él cierto grado de intimidad, algo no revelado en él, bien porque lo ocultaba o bien porque no se había visto. Es la línea delgada entre el bien y el mal presentes en la persona, en mayor o menor medida. Y es también, en alguna medida, expresión de la ambigüedad en la persona, a la cual hemos hecho referencia antes. Y, a todas estas, cabe preguntar: por el ¿qué hacer, cómo salvar una circunstancia concreta en el que una persona se encuentre tomada por el mal? ¿Qué hacer para ayudar a un alguien que está sumido en una circunstancia de violencia? ¿Cómo hacer para lograr su emancipación? Las posibles respuestas a estas preguntas pueden ser muchas. Aquí nos hemos limitado a presentar una vía, un instrumental que hemos denominado sebucán. Veámoslo a continuación con más detalles. 3. El sebucán, paradigma/phármakon: bildung y emancipación de la persona. El sebucán como paradigma/phármakon supone la singularidad de lo histórico/ biográfico. Así, siguiendo a Agamben, el sebucán supone, en tanto paradigma, la posibilidad del surgimiento de un ejemplo, sí, pero de carácter extraordinario, un acontecimiento histórico singular. Sin embargo, “… el ejemplo es una singularidad entre las demás, pero que está en lugar de cada una de ellas, que vale por todas.” (Agamben, 1996, p.13). Es, por tanto, un caso de carácter singular, que, al mismo tiempo, puede tener validez para otros casos similares. De allí que se mueva entre lo singular y lo que tiene de común con otros casos. Ahora bien, en tanto ejemplo, un paradigma no representa necesariamente una generalización de carácter inductivo . Aunque, cabe citar que “… tampoco es un particular que quede encerrado en su especificidad y no pueda ser extrapolable a otros casos”. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 89 (Paredes, 2004, p.10). Ubicado en el ‘entre’ de lo particular y lo común con otros casos, el paradigma es un ejemplo, “… un singular que se muestra como tal”. (Paredes, 2004, p.10). El paradigma es una mostración en términos de una inclusión-exclusiva, que al mostrarse de singulariza. De igual modo, el sebucán, paradigma/phármakon, se concibe en relación con lo que pueda producir en la persona, lo que pueda pasarle al entrar y estar, por así decirlo, en él; como parte de su experiencia biográfica/narrativa. Por lo que la relación bildung / emancipación es fundamental; porque el sebucán será empleado para ayudar a la emancipación de la persona, si así lo requiere y desea, en función de su vida narrada, o desde la narración de la vida de personajes, en la obra literaria, que al leer-los, interpretarlos, se constituyen en referentes claves para hacer nacer el paradigma, vía ejercicio de mimesis sobre el texto y sobre sí misma. Ello implica un darse cuenta, por parte de la persona, que puede llegar a ver en ellos referentes/remedios capaces de ayudar a su trans-formación o emancipación. Al mirarlos imaginariamente pueden llegar a particularizarse en la persona mediante la refiguración (mimesis) de su propia vida, haciendo nacer, desde allí, un ejemplo. El (re) nacimiento de la persona igual y distinta a la vez. El juego de la narración, biográfico/narrativa o de ficción, de los personajes puestos en escena por el sebucán, mediante la lectura dramatizada e interrumpida, se orienta hacia el tocar (o trastocar) la identidad de la persona en cuestión. La lectura dramatizada e interrumpida constituye el arte de la puesta en escena del sebucán. Ella busca el distanciamiento/extrañamiento del texto literario leído para generar una reflexión autocrítica de sí misma, por parte de la persona en cuestión, desde y más allá del texto. Esta lectura, en tanto puesta en escena pedagógica, se fundamenta en el sebucán como espiral fenomenológica hermenéutica, paradigma/phármakon de lectura, que busca la emancipación de la persona/lector/escucha. En ella el texto leído, dramática e interrumpidamente, supone la ambigüedad, la mimesis y el pleno uso de la metáfora, es decir, con el texto, desde el texto y más allá del texto leído. 90 La lectura dramatizada e interrumpida, a la cual nos referimos, es, en tanto dramatizada, lectura de oído, del escuchar, ver e imaginar desde el texto puesto en escena de lectura, en lección. Ella recurre a la experiencia teatral denominada: leer el libro o libreto de la obra dramática por los actores y actrices. Ella se acompaña de gesto y movimiento, a elección. Se trata de volver hacer hablar un texto literario a viva voz, y con gesto expresivo. La lectura dramatizada de la obra literaria es una representación, y como tal IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 busca hacer presente un algo del texto en la imaginación de quienes leen, miran y escuchan; para inquietar, para tratar de hacer posible la refiguración de lo configurado en el texto. Y es, además de dramatizada, interrumpida por cuanto en ella se produce la interrupción intencionalmente de la primera; por medio de pausas, silencios, gestos, risa, preguntas, capciosas o no, sobre el texto, a los escuchas. La lectura dramatizada e interrumpida es metafóricamente hablando el oír entre líneas, escuchar los espacios en blanco. Una de sus claves o razones, es hacer consciente a los lectores/escuchas de sus prejuicios, precomprensiones y supuestos preliminares, en torno al texto leído. Ahora bien, el referirnos a tocar o trastocar la identidad de la persona, tiene que ver con la dinámica bildung y experiencia narrada. Por cuanto, esta bildung es entendida, ya lo hemos dicho, como experiencia en función de la formación y la trans-formación de la persona. Formación que es vista aquí en relación directa con la narración y la emancipación. De la misma manera, puede decirse que la bildung es de la persona, de tal suerte que al establecer la relación implicativa de ella con la experiencia, se está hablando de viaje, viaje de formación, de aventura, sin plan trazado, de una persona en particular. Un viaje de aventura, de búsqueda de sí a través de un itinerario, circunstancia, personal, y, por tanto, propio, particular. La bildung, por consiguiente, tiene que ver con una mimesis de sí desde la narración. Narración de sí, autobiográfica, o narración leída o escuchada de un alguien, persona histórica o personaje de ficción. Desde una o la otra se propicia una mimesis de sí, desplegada en la triple mimesis de Ricoeur, a saber: mimesis I (prefiguración o de la vida vivida), mimesis II (configuración vida narrada histórica o ficcionalmente) y mimesis III (refiguración o volver a figurar-se desde la mimesis II). Esa acción de refigurarse desde el texto narrado en la mimesis II es clave para el sebucán, como ya lo hemos señalado; porque la bildung, desde la experiencia, es acción sobre sí para la formación de su singularidad de una persona. Un experimentarse a sí mismo desde la periculosidad del Otro, y desde la sorpresa del Yo. Sorprenderse al descubrir algo no conocido de uno mismo. O de algo que puede uno alcanzar o llegar a hacer y a ser. Por ello, la vida como aventura y viaje es un experimentar-se. Y el que la vive narra lo vivido; y al hacerlo, de algún modo, se narra, para un dar cuenta y un darse cuenta de un sí mismo como otro. Y allí, en ese distanciamiento/extrañamiento de sí, contar la vida de uno mismo como si de Otro tratase. Desde este ejercicio narrativo, junto con la lectura/escucha de otras narraciones, ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 91 de biográfico/narrativas o de ficción, se va configurando, de manera siempre inacabada, identidad narrativa. La bildung es, de esta manera, “…el proceso temporal e histórico por el que un individuo (…) adquiere su forma”. (Fabre, 2011, p.217). La vida vivida se convierte en experiencia de sí, si, vía mimesis, se refigura, y a la vez nos toca, trastoca, en una palabra: trans-forma. Por ende, la bildung, entendida de esta manera, es aventura, viaje, y asunción del imperativo: “llega a ser el que eres”, y lo serás cuando lo devengues, es decir, cuando llegues a ser, a convertirte en ese alguien. En este sentido, puede enfatizarse, una vez más, que la bildung es de la persona. La formación de ella no es asunto puramente intelectual, de adquirir una cultura, un saber, unas habilidades o competencias científicas/tecnológicas; sino también, y principalmente, con una trans-formación que toca profundamente los sentimientos, lo espiritual, y lo ético/político; en un trayecto vital temporal e histórico. De allí que la bildung es paralelamente formación y emancipación de una persona para el ejercicio de una praxis libertaria, y la adquisición de una ciudadanía a ser ejercida en espacios democráticos para la participación, como expresión de la libertad de la persona referida. En este marco referencial, puede decirse que el sebucán, paradigma/phármakon, tiene en la lectura/escritura del texto narrado, histórico/biográfico y ficcional, al compás de la mimesis, un dispositivo para un mirar-se retrospectiva y prospectivamente, desde la lectura dramatizada e interrumpida del texto narrado, en un ahora. Un auténtico “post hoc ergo propter hoc” , por cuanto, la experiencia de la lectura, si es auténtica, propicia que algo le pase a la persona, de lo contrario no ha habido experiencia. 4. El sebucán, paradigma /phármakon: caja de herramientas. 92 El sebucán como paradigma/phármakon supone la formación, trans-formación, de una persona. En otras palabras, el (re)nacimiento o vuelta a nacer, en el sentido de acontecimiento de llegar de otro modo. Aquí radica la idea del acontecimiento, singular/universal, del ejemplo desde la lógica exclusión/ inclusión. Aquí, no podemos olvidarlo, está presente, como acontecimiento singular, la dinámica de la periculosidad del Otro y la sorpresa del Yo. Y también juego dialéctico, en un primer momento: bien/mal; y en el segundo, anadialéctico: Yo/Otro. El Otro y su reconocimiento ético y político, en la perspectiva de Dussel. Por cuanto, la persona en cuestión no llega a trans-formarse, a emanciparse, a hacer-se y ser-se ejemplo, desde un puro ensimismamiento, IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 sino que requiere la alteración ante el Otro, desde el Otro, y lo otro, su circunstancia histórico/social. De esta manera, la persona, el Yo, puede mirar-se desde el sebucán. Penetrar en su interior, o mejor ensimismarse, y retornar hacia su exterior, su circunstancia, y pueda responder las preguntas: ¿quién eres Tú? ¿Quién soy Yo? Preguntas que implican compromisos de carácter antropológico, ontológico y ético/político. Y cuyas respuestas pueden implicar el acto de la narración de un sí mismo como otro. La persona, por ende, se convierte en ejemplo desde la potencia del ser-se, del hacer-se, siempre de manera inacabada. El guión que separa la fecha de nacimiento del de su fin, su muerte segura, está mientras vive abierto, incluso, carente de ese dato cronológico que nos dice que es ser temporal, histórico e inconcluso; un: (2014 ). Y también es un perfeccionarse, un llegar a ser el que se es. Creación y re-creación de sí, para-sí y para-el-Otro, en una circunstancia que tiene que salvar, trascender para emanciparse. Y puede llegar a convertirse ejemplo, sólo si se concibe su trayecto vital como novedad, proyectividad, esperanza, ilusión; y como expresión manifiesta de la libertad que le constituye. Ella, llega a ser ejemplo, desde la relación paradigma/phármakon, si ponen en juego tres facetas de sus facetas constitutivas: la persona pública, la privada y la misteriosa; atravesadas todas por la ambigüedad del no poder ser definida, del no poder ser de una sola vez y para siempre; sino de múltiples formas, modos y maneras: sapiens/demens, diría Morin. De allí, la sorpresa que es el Yo para sí mismo y para el Otro. Ahora bien, el sebucán en tanto y en cuanto es paradigma/phármakon puede entenderse también como caja de herramientas, en palabras de Foucault. Es, sí, caja de herramientas para ayudar a la emancipación de la persona, como es el caso de aquella sumida en el dilema de la violencia y la no violencia. El sebucán se abre hacia la posibilidad de propiciar una reflexión, una reflexión de sí, del Yo y su circunstancia, en el darse cuenta y dar cuenta. Así, como caja de herramientas, está orientado a ser usado en la práctica de una lectura emancipadora del texto narrado. En él sus herramientas están dispuestas con base en la holgura y el libre uso, para abordar un proceso de ayuda a la emancipación de la persona. Al constituirse como paradigma/phármakon lo hace en referencia exclusiva a la persona en proceso de emancipación, fundado en una experiencia lectora, y desde el cual puede emerger como ejemplo desde la ambigüedad del phármakon. Porque cada experiencia de lectura, vivida por una persona, es, por un lado, particular, y por el otro, con características universales, de allí su condición de ejemplo. Además de suponer el carácter de potencia y de imprevisibilidad del resultado a obtener. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 93 El sebucán como caja de herramientas es narración, lectura narrada, y apuesta al juego de la imaginación, mimesis y metáfora, de la persona en la puesta en escena de la lectura dramatizada e interrumpida en uno de los dos escenarios, a saber: el texto narrado de ficción y el texto histórico/biográfico/narrativo, este último escrito por el propio lector o por otra persona. El sebucán provoca así el acontecimiento del encuentro, de periculosidad y sorpresa, entre el Yo y el Tú: lector, texto, en la búsqueda del comprender-se, trans-formar-se y emanciparse como persona. El núcleo duro del sebucán como caja de herramientas es la búsqueda de la emancipación de la persona. Una ayuda que no garantiza ningún éxito, y que se asume como una caja de herramientas entre otras. Eso sí, supone que algo hay que hacer para ayudar a la persona atrapada, confundida y presa de una circunstancia de violencia. El sebucán es caja de herramientas, sí, de carácter interpretativa/analéctica / ambigua en función del proceso de emancipación de una persona. Esto supone partir de un ser humano, de carne y hueso, situado en un contexto histórico y político. Además, un ejercicio (auto)reflexivo que puede ser desde el texto leído, desde el cual es provocado un filosofar, un pensar concientizador/ emancipador. De allí que su principal dispositivo sea la lectura dramatizada/ interrumpida del texto narrado de ficción o del texto histórico/biográfico/narrativo; que puede permitir, además, un ejercicio de refiguración mimético/ metafórico de sí mismo, del Otro, y de su circunstancia histórica/concreta; desde el cual podrá darse el (re)nacimiento como ejemplo. Vista desde el sebucán la persona es vida vivida y creatividad. Es un alguien de carácter profundo y misterioso que puede mostrarse en su singularidad mediante el juego: paradigma/phármakon. La persona, fuente primera y primaria de la subjetividad, se mostrará desde su temporalidad e historicidad en el ‘entre’ de la particularidad y lo común con otros casos. La persona, puede decirse con Ortega y Gasset, es razón vital, y, con María Zambrano, razón poética que se manifiestan en toda su plenitud, tanto en el conocer como en sus sentimientos, afectos y en todas las dimensiones de su vida. El Yo, la persona, se identifica, se posee y es libre para pensar, decidir y actuar, con las implicaciones éticas y políticas que ello supone. 94 La emancipación de la persona tiene que ver con el alcanzar el Yo, alcanzar la autonomía, es decir, la capacidad de deliberar, elegir y decidir libremente sin tutela ajena. Decir y afirmar el Yo asumiendo las consecuencias a que haya IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 lugar. Emanciparse supone el despliegue de la dinámica: ensimismamiento / alteración; Yo/Otro, lo otro. Ello, puede requerir la ayuda de un alguien, mediante el uso de un algo, de unas herramientas adecuadas para salvar la circunstancia (social, ético/política) en la que esa persona ha permanecido. Una persona autónoma es aquella capaz de hacer uso de su razón, de tener conciencia de sí mismo, capaz de autoreflexión, y de tener una identidad . El alcanzar una auténtica autonomía, mediante la ayuda, en algo o en mucho, del sebucán. Esa llega a poseer una sensibilidad y una voluntad para vivir junto al Otro, para relacionarse con él sin destruirlo. La persona emancipada, convertida en ejemplo, hace escuchar su voz, busca que la escuchen y escuchar. Y genera una deixis de su Yo, de su lugar y su tiempo. Y a la vez, es capaz del deíctico: Tú. O mejor: Yo – Tú, Él, Nosotros, Ellos. Los de aquí, ahora, los que ya no están, los que vendrán. La persona llega a ser un individuo libre capaz de compromisos éticos y políticos. Cabe aclarar aquí, que una perspectiva de la persona como la que estamos presentando enfatiza el sentido de su singularidad, de su subjetividad, no implica para nada olvidar que si bien una persona emancipada asume conscientemente su autonomía, no significa el olvido de la heteronomía. Es identidad, es particularidad, es un Yo, sí, pero también se constituye desde el reconocimiento de un Tú, que es también un Yo. Reconocimiento que es estar, el vivir, junto a un Tú, y también, un Él, que es también un Yo. Un Nosotros, al alcanzar una intimidad, y un Ellos, los que están allá, con los que puedo relacionarme desde una periculosidad. Por tanto, se trata sí, en términos analécticos, además de una autonomía, de una heteronomía, que me impele a decir, a sentir y a identificarme, desde la compasión, también desde el Otro como si fuera Yo, es decir: Otro, Yo mismo. Un Otro que también me constituye y me identifica. El Otro, como Yo, no es una cosa, no es un objeto, sino una persona. La relación implicativa autonomía / heteronomía: Yo / Otro / Yo, encarna el asunto de cómo la persona desde su identidad, Yo, es capaz de ser y asumirse también desde el Otro, el Tú, tomando en cuenta relación de periculosidad que ello implica. Aquí se hace presente, una vez más, el trío libertad / responsabilidad/responsividad. Así como también asuntos como: el mal, hacer mal al Otro, o el Otro como posiblemente malo; y el perdón. El sebucán, como paradigma/phármakon, es también, en términos figurativos, una espiral. Una espiral definida como fenomenológica hermenéutica, analéctica, mimética, ambigua; que busca servir de caja de herramientas para ayudar a la emancipación de una persona; que, pongamos por caso, ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 95 pueda sentirse o estar atrapada en la violencia, o que sea muy proclive a ella. Por tanto, esa otra persona, el Otro, que puede llegar incluso a ser yo mismo, requiere nuestra atención y cuidado. Y ese cuidado se manifiesta, o se puede manifestar, mediante la palabra en su significado profundo, íntimo, existencial, que puede revelarnos no sólo lo público y lo privado, sino también, en parte, lo misterioso de ella. El sebucán al desplegarse mediante su dispositivo de la lectura, o de la escritura de sí y la lectura, permite el accionar de la espiral que lo configura, y buscar, mediante la lectura y la escucha atenta de la palabra, la comprensión, el interpretar-se y el comprender-se, para de esta manera tener una auténtica experiencia de lectura que le trans-forme y le ayude a emanciparse. El sebucán, así concebido, pretende hacer posible, o ayudar a hacer posible, desde su condición de paradigma/phármakon, la manifestación de la identidad narrativa del Otro, Yo/Otro, su singularidad en tanto ejemplo inclusivo/exclusivo. 5. El sebucán como espiral fenomenológica hermenéutica de emancipación de la persona. 96 Lo hemos dicho antes, un sebucán es un paradigma/phármakon, valga decir que de él saldrá un ejemplo y se probará un remedio . Aquí la idea de probar tiene que ver con la de peligro. Y a su vez con la riesgo, aventura y ambigüedad. O una caja de herramientas de la cual puede resultar una ayuda para la emancipación de una persona. ¿El sebucán como ayuda? Sí, entendida, la ayuda, como un: valerse de, un apoyarse en, remediarse con. Siempre en el entendido de que es la propia persona quien deliberará (en diálogo con el Otro), elegirá y decidirá libremente. El sebucán es, entre otras cosas, el lugar en el que puede la persona encontrarse con el Otro (persona, texto, contexto) para leer-se, para escribir-se, para dar-se cuenta, para dar cuenta de sí junto al Otro (personas, personajes, texto). El espacio principal del sebucán es el de la lección, no entendida como la instrucción de un maestro a sus alumnos; sino como lectura junto al Otro, como convocatoria a leer juntos (Cfr. Larrosa, 2000) unas lecturas seleccionadas para el encuentro pedagógico. Preferimos esta denominación a la de clase, así como también a la de asesoría, usada en las modalidades de educación semipresencial o a distancia. El encuentro es convocatoria intersubjetiva en la novedad, para leer junto al Otro, para estudiar junto al Otro, para dialogar, debatir, consentir, disentir. Para dar la lección, dar a leer, sin que signifique un contrato de aprendizaje, ni la donación de una herencia con testamento, sino una herencia libre y abierta a la re-creación, IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 renovación y presentación de lo nuevo desde la interpretación crítica de una tradición de pensamiento. (Cfr. Valera-Villegas, 2002). Esta lección implica las distintas maneras de leer con base en la lectura dramatizada e interrumpida, una de las bases del sebucán. La lección, asimismo, es breviario de lecturas, de allí, en parte, su carácter de phármakón. El breviario está constituido: por textos completos, extractos, citas textuales, referencias, comentarios y reseñas de un texto mayor, una novela por ejemplo. El breviario a leer junto al Otro presupone la lectura previa o posterior, privada, solitaria o no, del texto de referencia. El breviario de lecturas puede referirse a uno o más textos. El sebucán, en tanto phármakón, pretende ayudar a “curar”, ayudar a combatir la alienación, desde los principios activos y excipientes que ofrece la lección fundada en la lectura dramatizada e interrumpida. Desde él sebucán phármakon se ayudará a propiciar el desvelamiento del ejemplo, la persona de carne y hueso emancipada (tocada en su espíritu por la palabra leída, escrita, escuchada) o de camino a la emancipación, con su carácter particular y particular común con otros, es decir, con elementos que le dan el carácter único y similar a la vez. El sebucán phármakon no actúa, sobre el cuerpo y el espíritu, siempre de la misma manera, ni desde el resultado que se espera. De allí su carácter de remedio y veneno, y a su condición de ambigüedad y de potencia, puede producir el efecto deseado o no producirlo. El sebucán phármakon muestra la condición de ambigüedad y de potencia, o potencialidad dual, que puede revelarse en la persona, al ser ésta cuerpo para la vida, para la novedad, la natalidad; y también para la indolencia, la indiferencia, la violencia y la muerte. De allí que, siguiendo a Derrida, el sebucán, como phármakon, puede ser interpretado como lectura de un texto mentiroso, fantasioso que nada tiene que ver con la persona que lo lee. Y, al contrario, puede ser dañino al pretender cambiarla. El sebucán es una caja de herramientas para lectura/escritura/lectura, valga decir, supone una perspectiva fenomenológica hermenéutica que busca comprender e interpretar. La persona que lee/escribe/lee lo hace para comprender-se, para interpretar-se, no sólo a sí mismo y a su circunstancia, sino también al Otro, y desde el Otro. Por lo que puede decirse que la mirada analéctica está también en él. Mirada que podrá salvar la dialéctica totalitaria del círculo hermenéutico, heideggeriano/gadameriano, al ir, en espiral y no en círculo, a la identidad y al reconocimiento del Otro en tanto diferente, ubicado, muchas veces, fuera del círculo y, por tanto, ser ignorado, ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 97 desconocido. De allí, que el sebucán implique un ejercicio (auto)reflexivo, adentro/afuera, desde el texto leído/escrito/leído, el cual es provocador de un filosofar, un pensar concientizador/liberador. Este ejercicio permite además un ejercicio de refiguración mimético/metafórico de sí mismo, del Otro, y de la circunstancia histórica/concreta. El sebucán no es un círculo que puede indicar una totalidad; sino, como metáfora, es una espiral en el que el punto que la genera es el Otro, su comprensión e interpretación, el Otro como el sí mismo como otro, relación riqueriana: ídem / ipse. Así, pues, como metáfora representa una línea curva plana imaginaria que es generada por un punto, el cual se va alejando del centro, como otro, en la dinámica ídem/ípse, a la vez que gira alrededor de él, sí mismo: ídem. Y a la vez el Otro, en su radicalidad ética y política de identidad y reconocimiento: YO y TÚ. Y en su lógica/metódica: analéctica y dialógica situada. El sebucán representado en la metáfora de la espiral muestra lo inacabado de la bildung, en tanto experiencia/viaje de formación de la persona, así como el carácter impredecible de la formación; por lo que no puede ser asociada a lo cíclico por el carácter ambiguo y de phármakon. El sebucán trasciende el círculo hermenéutico, de corte heideggeriano/gadameriano ; por cuanto va un poco más allá de lo que propone este círculo, como vía de interpretación dialógica que fundamenta el proceso hermenéutico de la comprensión, propiciando una nueva interpretación. Así, el dialogo y la comprensión orientan el preguntar y el hacer que el texto vuelva a “hablar”. (Cfr. Gadamer, 1999). Por lo que puede decirse que si bien en el sebucán está presente la dialéctica, entendida como el arte de conducir un diálogo, cuyo núcleo es el preguntar y el responder, abierto y libre y no sobre preguntas “prefabricadas” ni respuestas cerradas, conclusivas; no se limita sólo a ella. En esta dialéctica la verdad se expresa desde la perspectiva del arte como juego, la verdad flota en el juego, y claro está, en los jugadores (sin que ninguno sea su dueño); sin decir concluyente o definitivo. (Cfr. Gadamer, 1999). Y va más allá de la dialéctica por cuanto el diálogo se hace no sólo con un Tú, con el texto, sino con el Otro, como radicalmente Otro, para buscar comprenderle desde mis preguntas y sus repuestas, y mis preguntas y sus respuestas, desde un horizonte autónomo y heterónomo de sentido. 98 El círculo encierra de algún modo una totalidad para designar la relación entre el todo y las partes. La parte, lo singular, es entendido en el todo e igualmente en lo singular; pero que pasa con aquello o aquel que no está en el círculo, que no pertenece a la tradición, que no está en los prejuicios IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 o presupuestos, ni tampoco en las preguntas previas, contenidas en la precomprensión del todo, o iniciales del proceso hermenéutico; ese singular es desconocido, ignorado o descartado. De allí, el carácter analéctico del sebucán al incluir a ese Otro, radicalmente Otro, que está más allá, o más acá, del circulo hermenéutico. A lo que habría que agregar que ese sí mismo como otro, la persona, al constituirse en ejemplo, en el giro emancipatorio del sebucán, se convierte en distinta, de acuerdo con una lógica inclusiva/ exclusiva, del conjunto o circunstancia de la cual proviene, es un particular distinto con elementos comunes a un conjunto de casos. El sebucán es una espiral hermenéutica fenomenológica crítica situada. El diálogo, en términos hermenéuticos, que se produce en la lectura del texto narrativo de ficción o narrativo histórico/biográfico, no depende solamente del momento (horizonte) histórico del autor, sino también del momento (horizonte) o situación del lector (o lectores); ambos pasarían a constituir una interpretación abierta y ambigua que resultaría incompleta; porque no es suficiente el comprender; sino que es necesario ir más allá y realizar una refiguración, la mimesis III de Ricoeur, de la configuración (mimesis II) presentada en el texto leído. De igual modo, puede decirse, que en el sebucán no suponga propiamente una fusión horizontes, en el sentido de Gadamer; porque ella implicaría la asunción de totalidad del círculo hermenéutico, partes/ todo/ partes. Y, por consiguiente, la eliminación de la analéctica. De manera que es más que una interpretación nueva, ya que está abierta al Otro en su radical diferencia; y la refiguración que realiza también toma en cuenta ese Otro. Este razonamiento, a nuestro entender, es clave para presentar al sebucán como paradigma, en los términos en los que lo hemos hecho. Podría, por tanto, afirmarse la condición analéctica de la lectura, es decir, que se pueda trascender la pregunta hecha al texto para ir al encuentro con ese Otro que no está dentro del círculo hermenéutico; y desplegar así, plenamente, la espiral. El sebucán no es un círculo, visto como totalidad hermenéutica y ontológica, sino una espiral, abierta a la mimesis y a la ambigüedad que supone la presencia del Otro, y lo otro, en su radical diferencia; valga decir: el extranjero, el de mal vivir, el delincuente, el violento (mujer o varón), el analfabeta, etcétera. En pocas palabras, el excluido. Así, el sebucán, al combinar la analéctica con la ambigüedad y la mimesis, es una espiral hermenéutica fenomenológica crítica, donde el punto que la genera es la persona (presa o confundida, por una situación de violencia, dado el caso): Yo/Otro, sí mismo como otro; Otro, radicalmente Otro; y el punto donde culmina, temporal e históricamente, es la persona emancipada constituida como ejemplo (particular, incluida/excluida) ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 99 con elementos semejantes a un conjunto. El sebucán espiral fenomenológica hermenéutica crítica de emancipación de la persona. Puede, en síntesis, tener como notas características las siguientes: El sebucán, espiral fenomenológica hermenéutica de emancipación de la persona es un paradigma/phármakon que supone una persona (lector) histórica y temporal, valga decir, situada. Un texto, una lección, un maestro de lectura (el cual acompaña, ayuda y guía el acontecimiento de la lectura), y a la lectura dramatizada e interrumpida. El sebucán, como espiral fenomenológica hermenéutica supone una aplicación. El lector está situado, y desde ese horizonte busca comprenderse e interpretar-se. Es un yo y su circunstancia, la cual busca salvar. El Otro está ubicado en esa circunstancia, de tal forma que si no lo salva a él tampoco se salva. De allí el carácter de heteronomía y compasión que tiene el sebucán. El sebucán como espiral fenomenológica hermenéutica, mirado como paradigma/phármakon, es juego, en el sentido del arte como juego de Gadamer, en el que jugar supone in-corporar-se a una dinámica de relaciones como: Otro radical Otro y un sí mismo como otro (como bildung, como identidad narrada y como proceso inacabado); lectura, experiencia, lectura dramatizada e interrumpida; mimesis, metáfora, potencia; analéctica y ambigüedad. Elementos que atraviesan el proceso de la espiral. El carácter hermenéutico/mimético/ambiguo de la espiral se expresa, entre otras cosas, en que el Otro juega a las caras: la persona-lectora, el texto leído/escrito y el Otro en su radical diferencia. 100 El Otro, núcleo primero y primario del sebucán, se manifiesta como ejemplo (paradigma) al mostrarse como natalidad (novedad, o extraño, incluido/excluido), es decir, como el que llega al emanciparse; y al cual se le ha brindado hospitalidad. Ahora bien, ello quiere decir que el sebucán se despliega desde la compasión, la cual se funda en una auténtica experiencia del Otro narrado; porque es en la narración de lo vivido por el Otro, en su lectura o escucha, cuando se puede decir que se siente dentro de sí lo vivido por Él. Sólo así se puede llegar a decir: que en esa experiencia se han convertido en uno solo. Por lo que se afirma: “Todo conocimiento del otro es verdadero sólo si se basa en mi vivir dentro de mí IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 lo que él vivencia”.(Fromm, 1980, p.84). Es un juego situado que implica el adentro/el afuera, la mimesis refigurativa y el proceso emancipador. La compasión es un sentimiento que en su núcleo fundamental tiene al sentir con o el padecer con. Lo que quiere decir que una persona es capaz, como expresión de su libertad y su responsabilidad, de experimentar lo que la otra experimenta; sólo así se puede entender el surgimiento del Otro como paradigma/ejemplo desde el despliegue del sebucán. El sebucán espiral fenomenológica hermenéutica de emancipación de la persona implica, en alguna medida, una filosofía de la educación y una pedagogía, orientadas hacia la persona y su (trans)formación, con base en una hermenéutica fenomenológica crítica y mimética ambigua, que se relaciona con la phronesis griega o sabiduría práctica. De allí, el esfuerzo por comprender lo que no puede ser jamás plenamente comprendido ni iluminado, la persona humana; por su carácter simbólico, ambiguo, misterioso, singular, contingente, e incluso periculoso. El sebucán puede desplegarse mediante, al menos, dos opciones: la lectura del texto narrativo de ficción y la lectura del texto biográfico/ narrativo. Este último puede suponer la escritura y posterior lectura del texto autobiográfico. La lectura dramatizada e interrumpida, como una de las bases del sebucán, se afinca en la puesta en escena de una lección en el que entra en juego: el distanciamiento/extrañamiento reflexivo y autoreflexivo provocado por el gesto, la risa, la voz dramática y sus inflexiones y giros. El sebucán en tanto paradigma/phármakon supone una lógica de lo particular / particular, o particular con elementos semejantes al conjunto de casos. De igual modo, el Otro (sí mismo como otro) (re)nace como ejemplo en tanto y en cuanto responde a la lógica inclusión/exclusión y al ejercicio de la compasión. Al emanciparse se incluye y se excluye de un conjunto, pongamos por caso de los enajenados de la violencia, se particulariza con elementos comunes, biográfica e históricamente hablando, del conjunto. El sebucán es una herramienta interpretativa analéctica y ambigua para el proceso de constitución de una persona liberada ((re)nacer como ejemplo). Esto supone partir de un ser humano, de carne y hueso, situado ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 101 en un contexto histórico y político; desde un ejercicio (auto)reflexivo y crítico que puede ser desde el texto leído, valga decir, un filosofar concientizador/liberador. De allí, el importante papel dado a la lectura del texto literario (novela, cuento, teatro, poesía) porque permite, además, un ejercicio de refiguración mimético/metafórico de sí mismo, del Otro, y de la circunstancia histórica/concreta. La violencia en una sociedad capitalista puede ser mirada desde la pérdida de la compasión (acompañada muchas veces de otras pérdidas de sentimientos como el amor y la ternura). Esta pérdida contribuye a hacer aparecer violencias del tipo: reactiva, vengativa y compensadora (Cfr. Fromm, 1979). que marchan a contrapelo: del amor a sí mismo y del desarrollo de su potencial creador (cuidado de sí, cuidado del otro) como vías de emancipación. La compasión es una mostración de una auténtica heteronomía por parte de la persona que la ha adquirido. No es suficiente la adquisición de la autonomía, es decir, del cuidar de sí mismo, de responder de sí desde relación libertad/responsabilidad. Lo que implicaría un hacerse cargo de sí y actuar libremente. Sino que además sea también necesario el sentido del Yo y el Tú, del Otro en su radical diferencia, y el sentir junto a, sentir con; incluso llegar a ser capaz de sentir o a padecer lo que siente el Otro. El Otro en la compasión llega también a constituirme, llego también, de algún modo, a ser él. Estos aspectos contribuyen a constituir el ejemplo, la persona emancipada, y a darle el carácter de incluido/excluido. El concepto de potencia creativa de sí puede llegar a expresarse en ese Yo autónomo que se reconoce y se identifica, libre y responsablemente, como persona en su ahora/pasado/futuro. Así como también capaz de reconocerse e identificarse, libre y responsablemente, desde el Otro en su radical diferencia y novedad, y desde el cual también resulta constituido al reconocerse y reconocerlo. Valga citar aquí el verso de Celan: “Yo soy tú cuando soy yo”. 102 La relación dialéctica y anadialéctica entre el Yo, lector, y el Tú, el texto; así como también con el Otro, en su natalidad, en términos de Arendt, en su presencia y ausencia; se despliega, principalmente en tres momentos, a saber: desde la eisegénesis, desde dentro, Yo/lector/interprete; desde la exegénesis, desde afuera, texto y contexto de lo interpretado; y desde éxtasis o recibimiento y bienvenida al Otro en su natalidad y desde la compasión. IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Epílogo: El sebucán emancipador desde la lectura dramatizada e interrumpida en el aula. La lectura dramatizada e interrumpida tiene como supuesto principal e infraestructura filosófica/pedagógica al sebucán, como espiral fenomenológica hermenéutica de emancipación de la persona. Ello le da su fundamentación que la distingue como lectura y la caracteriza como suerte de juego fenomenológico, hermenéutico, mimético, analéctico, ambiguo de reconocer-se/ reconocer-te desde el yo/lector situado. Como tal tiene un carácter histórico y temporal, y una verdad que responde al juego de la lectura, por cuanto él marca la relación: lector, texto, circunstancia. En este juego se apostará a que al lector le pase algo, es decir, que viva una auténtica experiencia de la lectura: una experiencia de la cual resulte de algún modo afectado. La lectura dramatizada e interrumpida busca el distanciamiento y el extrañamiento del lector/escucha, o lectores/escuchas, en el aula escolar, o en otros espacios de lección pública si fuere el caso. Tal distanciamiento extrañamiento tiene como fundamentos el ensimismamiento y la alteración, en el sentido de Ortega y Gasset (1957). Un permitir/posibilitar el adentramiento (ensimismamiento), desde lo leído/escuchado, una in-corporación profunda, seguido de una alteración, un salir fuera de sí mismo, un volcamiento al Otro, a la circunstancia de la lectura, a la circunstancia en que se lee y desde donde se lee; para esa (trans)formación del Yo: sí mismo como otro; a la vez que encuentro y reconocimiento con el Otro que está afuera, incluso fuera del marco de lo leído, y al que se salva para ese encuentro con el Otro. El lector/escucha, lectores/escuchas, alcanzan un hacer-se y un ser-se de otro modo para estar presentes en el acontecimiento de la lectura, en ese ‘ahora’, pasado y futuro; para pensar y actuar junto al Otro, analécticamente hablando, y desde la ambigüedad. El sebucán como espiral fenomenológica hermenéutica de emancipación de la persona sirve de infraestructura, ya lo hemos dicho, a esta lectura y su búsqueda del distanciamiento y extrañamiento. Ello implica asumir como supuesto la influencia de la historia efectual gadameriana y al ejercicio de la aplicación hermenéutica filosófica. Se interroga al texto leído, dramática e interrumpidamente, en el seno de la espiral del sebucán desde una circunstancia temporal e histórica para interpretar y comprender, y desde allí el salto de (trans)formación del lector/escucha en juego analéctico con el Otro. 103 ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación La lectura dramatizada e interrumpida pone en juego un conjunto de elementos dinamizadores en su despliegue, a saber: Voz, gesto, risa. En la lectura dramatizada e interrumpida quien lleva la voz lleva la palabra. Hace hablar al texto al leer. Hace hablar a los personajes, en el caso específico del texto literario. La voz dará vida, fuerza y hará sentir el texto. Podrá caracterizar la voz de los personajes en sus parlamentos, en sus diálogos. La voz en la lectura requiere concentración e interpretación apropiadas. El gesto, por su parte, dice mucho en la lectura, forma parte de hacer hablar un texto. La lectura debe penetrar el cuerpo y hacerse gesto, cara, manos, cuerpo. El gesto puede usarse de interruptor, al igual que la voz. La risa, de igual modo, más que un asunto de alegría y sentirse bien, es herramienta de lectura para dramatizar e interrumpir, siempre como reírse con alguien y no de alguien. Es risa de acogida a lo leído o para interrumpir la lectura. Se trata de una risa de circunstancia, de la lectura, para buscar cambiar el comportamiento de los lectores/escuchas. Es inducir lo cómico para interrumpir el ensimismamiento que pudiera producir la lectura, y la conjugación, vía ambigüedad, de lo cómico y lo serio. La risa puede ser: unilateral, el lector se ríe solo; compartida, el lector invita a reír al lector/ escucha; risa del lector/escucha por algún gesto o frase del lector. La risa, lo cómico, puede jugar a un paralelismo de sentimientos, como la compasión; por lo que se ha dicho: “… que lo cómico sólo puede producirse cuando recae en una superficie espiritual y tranquila. Su medio natural es la indiferencia. No hay mayor enemigo de la risa que la emoción (...) Basta que cerremos nuestros oídos a los acordes de la música en un salón de baile, para que al punto nos parezcan ridículos los danzarines. ¿Cuántos hechos humanos resistirían esta prueba? ¿Cuántas cosas no veríamos pasar de lo grave a lo cómico, si las aislásemos de la música del sentimiento que las acompaña? Lo cómico para producir todo su efecto, exige como una anestesia momentánea del corazón. Se dirige a la inteligencia pura.” (Bersong, 1985, pp. 27-28). 104 Voz y escucha apagadas y encendidas. Cambiar el tono de la voz así como su intensidad y su fuerza. Apagarla y encenderla según el caso para dramatizar o interrumpir la lectura, y así provocar el ensimismamiento y la alteración del lector/escucha. Preguntar impertinente e incesante. La pregunta es núcleo del sebucán como espiral paradigma/phármakon hermenéutico fenomenológico, en IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 cuanto juego de lectura dramatizada e interrumpida. La pregunta atraviesa la lección pública del texto. En la práctica de lectura, el preguntar es herramienta de interrupción al pedir a alguno de los lectores/escuchas que responda una duda, o niegue o afirme algo. O el lector inicia la lectura con una o varias interrogantes con la intención de mostrar sus dudas, o animar el interés por la lectura y provocar el ensimismamiento. El preguntar es plataforma de la lectura y soporte clave del diálogo para: desde la lectura, con la lectura y más allá de la lectura provocar una experiencia auténtica de emancipación de la persona lectora. El sebucán guarda relación directa, como espacio y tiempo de experiencia de la lectura, con el diálogo, con el auténtico diálogo, es decir, como el lugar en el que se practica la duda, la crítica y el juicio argumentado y fundamentado. Se dialoga desde la pregunta en el marco de la lección dramatizada e interrumpida para, con base en el sebucán, salvar y salvarse el Yo y su la circunstancia, desde y con el Otro. La lectura dramatizada e interrumpida de un texto narrativo, puede realizarse de manera secuencial o a la manera tradicional (párrafo tras párrafo o páginas sucesivas, de principio a fin) de leer un texto; la lectura puntual, se lee párrafos destacados, seleccionados con anterioridad. Ambas pueden suponer a la intensiva, que puede llevar a decir el texto, en voz alta, de memoria o con las propias palabras. A manera de un ejemplo de lección dramatizada e interrumpida. Antes de iniciar el encuentro pedagógico, el maestro leerá con un grupo de cuatro alumnos el relato corto Liberación de Araujo (1977). Allí ensayarán la lectura dramatizada e interrumpida. Al iniciar el encuentro el maestro hará una introducción a la lección, con el propósito de provocar el interés del grupo de alumnos convocados para el encuentro. Después de un minuto de silencio aproximadamente se iniciará la lección. Nadie desea un palmetazo, es un castigo humillante, el maestro ordena que uno extienda la mano, la agarra por la punta de los dedos con su izquierda, con la derecha levanta la madera y la deja caer sobre la palma extendida, con ira suave o estallante según la gravedad de la falta. La palmeta es redonda con cinco huecos para que arda más… El maestro ha interrumpido con un gesto de tristeza. Su voz ha tenido 105 un tono dramático como de radio novela. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación Después el ajusticiado corre hacia la pared y pega la mano hirviendo sobre la cal fría que la alivia… El maestro interrumpe para provocar el suspense de la narración. Nadie quiere un palmetazo, al contrario, el temor de recibirlo frena malas intenciones. Sin embargo, saber cómo es el ardor, cómo es el miedo antes de recibirlo, cuál es el frío de la cal sobre el ardor, y la vergüenza y la humillación. Saberlo era crecer. Y crecer era la ansiedad con que yo perseguía la flagelación… (Es la voz de uno de los alumnos quien hace uno de los personajes principales). El maestro interrumpe y pregunta: ¿por qué quiere este alumno padecer esta horrible experiencia? Allí estaba Gil Ruiz, el primero de la clase. El palmetazo debía ser duro y por una falta grave. Romper definitivamente la cáscara, ser de los otros, entrar en la conversación de los malos, sólo así. Mojé bien el corcho en la tinta negra, lo agarré por la punta seca y me acerqué distraídamente a Gil que estaba ajeno al mundo, sacando cuentas apoyado en la mesa grande. Me daba tumbos el corazón, pero no me vaciló el pulso cuando pasé el corcho lleno de tinta entre la nariz y el labio superior… El alumno lector con su voz adecuada al suspense dramatiza la escena narrada. El maestro gesticula su cara al escuchar. Y luego pregunta: ¿Qué busca este chamo?... (Y así continúa la lección). Al final, se dará la sesión de diálogo, de confrontación de interpretaciones sobre: el sentido del relato, sobre la violencia reactiva escolar que buscará trascender la trama del relato para ir hacia su relación con la vida vivida por los alumnos, con sus circunstancias personales. Y así provocar la acción del sebucán como emancipador de la persona. 106 Referencias Bibliográficas Agamben, G. 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En danes ha escrito libros sobre utilitarismo, etica sociologica, filosofía de la ciencia y Bataille. Antologías sobre Rawls, Dussel y, en ingles, sobre dialectica y filosofía de la educacion. Articulos en ingles en Philosophy and Social Criticism, Hegel-Studien, Ethics and Education, Journal of Philosophy of International Law, Public Reason and Danish Yearbook of Philosophy. Resumen - Resumo - Abstract El argumento es que la cuestión de Bildung ha ocupado a Habermas desde los primeros escritos. En estos escritos, critica la idea de “ser educado” como una expresión de las habilidades innatas y subraya en cambio la importancia de las condiciones sociales de la educación. Este es el tema de la primera sección (1ª). La segunda sección ofrece una presentación de Bildung que se encuentra en la tesis doctoral sobre La transformación estructural de la esfera pública. La crítica fundamental de esta obra es que el ideal de Bildung individual está demasiado estrechamente conectada a la dominación económica y política, pero aún así el ideal contiene algo de verdad (2ª). La tercera sección ofrece una O argumento central sustenta que a questão de Bildung tem ocupado Habermas desde seus primeiros escritos. Nestes textos, ele critica a ideia de ser “educado” como uma expressão das habilidades inatas e sublinha, por sua vez, a importância das condições sociais da educação. Este é o tema da primeira seção (1a). A segunda seção oferece uma apresentação de Bildung, que se encontra na tese de doutorado sobre A transformação estrutural da esfera pública. A crítica fundamental desta obra é que o ideal de Bildung de indivíduo está muito conectado à dominação econômica e política, mas, ainda assim, seu ideal contém algo de verdade (2a). A terceira seção oferece um guia de seus comentários, relativamente escassos, em The argument is that Bildung has occupied Habermas from the earliest writings. In these writings he criticizes the idea of being educated as an expression of innate abilities and emphasizes instead the significance of the social conditions of the upbringing. This is the subject of the first section (1st). The second section provides a presentation of the ideology-critical analysis of Bildung found in Habermas’s doctoral thesis on The Structural Transformation of the Public Sphere. The basic critique is that the ideal of individual Bildung is too tightly connected to economic and political dominance, but still the ideal contains some truth (2nd). The third section maps his relatively sparse comments regarding Bildung ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 109 guía de sus comentarios relativamente escasos en relación a Bildung en las décadas posteriores. Significativo aquí es Conocimiento e interés, donde él mismo hace esfuerzos para salir del marco de la filosofía de la conciencia hacia la Teoría de la acción comunicativa. Este se convierte en el enfoque comunicativo, que se convierte en el marco de la discusión de Habermas sobre Bildung, tanto en relación con la ética filosófica - la ética del discurso - como en los debates más específicos sobre el papel de la universidad en la sociedad moderna (3ª). Finalmente dedicaré unas pocas palabras a la filosofía política y la filosofía del derecho, que Habermas presenta en Facticidad y validez, donde una vez más permite a Bildung tener un significado normativo positivo, pero ahora desde una perspectiva comunicativa colectiva (4ª). relação ao Bildung de décadas posteriores. Significativo aqui é Conhecimento e Interesse, no qual o mesmo realiza esforços para sair do marco da filosofia da consciência para a Teoria da Ação Comunicativa. Este converte-se em um enfoque comunicativo, que se converte no marco da discussão de Habermas sobre Bildung, tanto em relação à ética filosófica – a ética do discurso – como nos debates mais específicos sobre o papel da universidade na sociedade moderna (3a). Finalmente, dedicar-se-á umas poucas palavras à filosofia política e à filosofia do direito, que Habermas apresenta em Entre Fatos e Normas, onde, uma vez mais, garante a Bildung um significado normativo positivo, mas agora por uma perspectiva comunicativa coletiva (4a). in the subsequent decades. Significant here is Knowledge and Human Interest, where he works himself out of the philosophy of consciousness framework towards the Theory of communicative action. This becomes the communicative approach, which becomes the framework of Habermas’ discussion of Bildung, both in relation to philosophical ethics – discourse ethics – and in more specific discussions, such as what is the role of the university in modern society (3rd). Finally just a few words on the political philosophy and the philosophy of law, which Habermas presents in Between Facts and Norms, where he once again allows Bildung have a positive normative significance, but now in a collective communicative perspective (4th). Palabras Clave: Bildung, Habermas, la filosofía de la conciencia, lacción comunicativa, publicidad Palavras-chave: Bildung, Habermas, filosofia da consciência, ação comunicativa, publicidade Keywords: Bildung, Habermas, philosophy of consciousness, communicative action, publicity Recibido: 13/03/2015 110 Aceptado: 04/05/2015 Para citar este artículo: Sørensen, A. (2015). La Bildung según Habermas: publicidad, discurso y política. Ixtli. Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación. 2(3). 109-127. IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 La Bildung según Habermas: publicidad, discurso y política Introducción Normalmente se presupone que la cuestión de la Bildung no tiene importancia para Jürgen Habermas. Voy a argumentar que se trata de un error. Desde sus primeros escritos se ha preocupado por la Bildung, y este sigue siendo el caso, aunque en en cierta etapa de su desarrollo filosófico le fue crucial tanto criticar como distanciarse del ideal de Bildung. 1 Al echar un vistazo a la filosofía política madura de Habermas tal y como se presenta en Facticidad y validez, en su conjunto, puede decirse que esta obra es un argumento a favor de la democracia. Para respaldar este argumento tenemos la idea habermasiana de la política deliberativa, en la que la opinión pública y la sociedad civil han de desempeñar un papel importante en relación con las estructuras formales de poder. Habermas hace hincapié en gran medida en la importancia de la formación, a la vez como opinión y como voluntad, y después como formación política. Un punto muy importante es, por supuesto, que esta formación debe ser comunicativa, discursiva, y por lo tanto deliberativa (Habermas, 1992, p. 396). Por lo tanto, la formación política puede llegar a ser “razonable”, no sólo como motivación individual, sino también a nivel social (1992, p. 411). A pesar de la importancia que el propio Habermas, obviamente, atribuye a este tema en dos de los capítulos centrales de Facticidad y validez, capítulos VII y El término alemán Bildung es muy difícil de traducir adecuadamente en castellano. Bildung es un tipo específico de formación mental, y la palabra puede significar tanto el proceso de lo que en los EE.UU. se llamaría la educación liberal, como la meta normativa de este tipo de educación, es decir, adquirir Bildung o acabar como una persona educada, una persona culta. El trabajo presentado aquí tiene su origen en trabajo hecho en la lengua danesa, que luego se ha convertido al inglés y después al castellano, y ya que Bildung en danés tiene un equivalente, a saber ‘dannelse’, inicialmente no he hecho mucho caso de los problemas de traducción. Estos problemas no pueden ser ignorados cuando se trata de este asunto en inglés o castellano, pero por ahora me he limitado a una solución técnica simple. En lo que sigue, he usado el término alemán, cada vez que había alguna posibilidad de malentendidos. 1 ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 111 VIII, se piensa muy a menudo que la cuestión de la formación como Bildung no es interesante en relación a las discusiones y preocupaciones sistemáticas de la filosofía de Habermas. En el Habermas Handbuch, es comprehensivo en otros aspectos (Brunkhorst, Kreide y Lafont 2009), el concepto de Bildung no está incluido en la lista de los conceptos básicos, y en las entradas temáticas no hay casi nada que indique su interés en la formación, ni en relación con la ética, la política o la educación. Ni la impresionante colección de cuatro volúmenes de estudios sobre el pensamiento de Habermas (Rasmussen y Swindal 2002) al parecer contiene ninguna discusión sistemática en relación a Bildung. Este trabajo tiene como objetivo desplazar algunos de los lugares comunes en la comprensión del pensamiento de Habermas que son responsables de estas omisiones. La idea es, pues, que Habermas se ha ocupado de la Bildung desde sus primeros escritos. En estos escritos critica la idea de ser educado como una expresión de las habilidades innatas y subraya en cambio la importancia de las condiciones sociales de la educación. Este es el tema de la primera sección (1ª). La segunda sección ofrece una presentación más completa del análisis crítico-ideológico de la Bildung que se encuentra en la primera obra de Habermas a partir de 1962, la tesis doctoral Historia y crítica de la opinión pública. La transformación estructural de la vida pública. La crítica fundamental es que el ideal de Bildung individual está demasiado estrechamente conectado con la dominación económica y política, pero que aún así el ideal contiene algo de verdad (2ª). 112 La tercera sección esboza sus relativamente escasos comentarios en relación a la Bildung en las décadas posteriores. Es importante aquí Conocimiento e interés de 1968 (segunda edición de 1973), donde él mismo trabaja dejando el marco de la filosofía de la conciencia en dirección a la Teoría de la acción comunicativa, publicado en 1981. Acercarse a la realidad a través de la filosofía de la conciencia, donde el punto de partida es la relación de un sujeto en primera persona a un objeto, es para Habermas básicamente un error en la filosofía práctica. En su lugar se debe emplear una perspectiva intersubjetiva colectiva, es decir, una perspectiva de interacción sujeto-sujeto. Esto se convierte en el enfoque comunicativo, que en los años subsiguientes se convierte en el marco de la discusión de la Bildung por parte de Habermas, tanto en relación con la ética filosófica - la ética del discurso - como en las discusiones más específicas, tales como ¿cuál es el papel de la universidad en la sociedad moderna? (3º). IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Finalmente, caben unas pocas palabras sobre la filosofía política y la filosofía del derecho, que Habermas presenta en Facticidad y validez, donde se permite una vez más que Bildung tenga un significado normativo positivo, pero ahora desde una perspectiva comunicativa colectiva (4º). 1. La formación es social, no innata Para el joven Habermas de los años sesenta Bildung hace referencia sobre todo a la idea de una educación liberal clásica, como la conocemos hoy en el Gymnasium del norte de Europa y las humanidades en las universidades de todo el mundo. Ser una persona educada significa ser un ser humano, que reflexiona acerca de dónde venimos, quiénes somos, y las posibilidades que tenemos como seres humanos (Habermas, 1959, p. 48 f). Esta reflexión supone una gran cantidad de conocimiento de historia, lengua y bellas artes, literatura, teatro, arte pictórico, lenguaje simbólico, analogías y alegorías, el análisis de las formas de expresión artística, y de las referencias típicamente empleadas en actividades creativas. Como señala Habermas, en la actualidad ser una persona educada muy bien se puede confundir con el ideal de los concursos de televisión tipo “trivial pursuit” de estar “bien informado” (Habermas, 1957, p. 31). Para Habermas, sin embargo, lo importante es que ese conocimiento sea una expresión de interés en aspectos específicos de la realidad. Es por tanto a causa de tal interés comprometido por lo que uno entra en las discusiones sobre estos asuntos y adquiere los conocimientos necesarios para entender lo que está en juego. Para ser una persona educada no basta sólo con estar familiarizado o informado sobre estos asuntos. Ser educado significa que uno se esfuerza por alcanzar el conocimiento de la cultura establecida como nuestra segunda naturaleza. Una persona educada quiere saber lo que la gente realmente ha creado, y esto da una mejor comprensión de aquello a lo que los seres humanos podrían posiblemente aspirar. Debido a esto el ideal de ser educado - Bildung - trasciende lo que es meramente una cuestión de bellas artes o de la alta cultura. Una cuestión importante en este contexto es, por supuesto, cómo este interés por las artes y la cultura -, así como el ideal de ser educado - surge en un ser humano individual. Aparte de estas cuestiones objetivas lo que es interesante 113 es, también, por qué se convierten en valiosas para una perspectiva subjetiva. Habermas critica duramente la idea de que los talentos innatos son el princiALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación pal factor explicativo. Según Habermas se puede distinguir entre dos formas diferentes de llevar la propia vida: uno puede optar por tomar el camino más corto a la profesión, el trabajo y los ingresos, pero también puede optar por tomar un “desvío” en torno a “el cultivo del estudio del mundo” (Habermas, 1961, p. 59). Lo que es importante aquí es que es este desvío muy a menudo da a una persona el acceso a los estratos superiores de la sociedad. Por tanto, es importante saber cómo y por qué ocurre esta elección. La teoría del niño talentoso justifica que aquellos que llegan a la cima también son los que merecen llegar a la cima. Simplemente son los superdotados. Sobre la base de investigaciones sociológicas americanas, sin embargo, Habermas puede argumentar que la inteligencia se relaciona con la motivación, y que la “capacidad para la educación [Bildung]” en realidad se puede desarrollar en la escuela primaria, si se encuentran “los estímulos adecuados para la educación” (Habermas, 1961, p. 79). Lo que importa en última instancia no son, pues, ni los talentos innatos de cada niño, ni tan sólo el patrimonio social que ofrecen los padres. Lo que es crucial es la cultura específica de la educación o de la “subcultura” (Habermas, 1961, p. 78), en la que el niño crece. Habermas se refiere directamente a un proyecto estadounidense de los años cincuenta, que deliberadamente proporciona un “clima de educación [Bildung]” fructífero en las escuelas para familias de bajos ingresos. En estas escuelas se ofreció instrucción didáctica intensiva, y fuera de la escuela los niños podían disfrutar de películas, teatro, museos, bibliotecas, etc. Los tutores supervisaban, y el resultado fue un marcado aumento en la “voluntad de educación” y “la capacidad de educación” (Habermas, 1961, p. 80) entre los niños de las clases más bajas. 2. El ideal burgués de la educación liberal [Bildung] es ideología, pero no sólo ideología. 114 El ideal de Bildung está como se ha dicho estrechamente relacionado con el curriculum del Gymnasium y de las humanidades en las universidades, y así como estas instituciones tienen sus historias, este es también el caso del ideal en sí. Habermas puede por lo tanto investigar el ideal de la educación general o liberal como un fenómeno histórico, que desempeña un papel cultural, social y político especial. Históricamente, la Bildung es la forma específica de educación, que expresa las ideas de la Europa del norte y, en particular, el ideal de vida humana de la burguesía alemana de los siglos XVIII y XIX. Es en la dinámica de la sociedad vinculada a estas ideas donde Habermas se centra IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 en su obra doctoral sobre La transformación estructural de la esfera pública. Ser educado en este contexto se manifiesta como un elemento crucial de la ideología liberal de la burguesía, ya que la idea de Bildung funciona como legitimación de la propiedad privada de la burguesía y su poder económico y político general en la esfera pública. El marco para el análisis de Habermas es una investigación de la génesis y el desarrollo de la esfera pública, la idea de tal esfera pública y como la lógica ideológica trabaja efectivamente en este ámbito. Habermas concibe inicialmente la esfera pública como una “esfera” de las personas privadas, que se reúnen como “audiencia” (Habermas, 1962:, p.42). Por tanto, la esfera pública está, en primer lugar, unida a las bellas artes y la cultura, es decir, el teatro, la literatura, conciertos y museos, y aquí la audiencia son, respectivamente, espectadores, lectores, oyentes y visitantes (1962, pp. 54-56). En la audiencia se pueden obtener experiencias de tipo privado, pero, sin embargo, trascienden lo que podría considerarse íntimo. A pesar de que tales experiencias son privadas, son de del tipo del que puede haber conversación pública. En segundo lugar, Habermas determina la esfera pública burguesa como “un lugar para practicar el razonamiento público”, lo que contribuye a “el proceso de la autorrealización de los ciudadanos burgueses privados en relación con las experiencias genuinas de la nueva privacidad” (1962, p. 44). Claramente la lectura destaca como proceso de educación, que en tanto que actividad requiere aislamiento privado, pero donde el carácter de su contenido puede no obstante ser de interés general y, como tal, el punto de partida para el posterior razonamiento público. Antes de la aparición de la esfera pública burguesa específica ya había una esfera pública humanista-aristocrática establecida por la nobleza y la corte. Este tipo de esfera pública puede ser llamado “representativo” (1962, p. 44), y dentro de él las artes, la cultura y el entretenimiento eran los objetos de la experiencia, la reflexión y el razonamiento público. Este espacio público cortésmente noble y su “mundo elegante” (1962, p. 44) es continuado por la esfera pública burguesa y transformado en sus instituciones específicas, es decir, las cafeterías, los salones y las cenas (1962, pp. 45, 48 f). Es en estas instituciones donde uno se encuentra con el razonamiento público, aunque al principio sólo en forma de conversaciones sobre arte y cultura. Habermas pone mucho énfasis en el hecho de que la esfera pública literaria en gran medida fue constituida por la ficción, es decir, la literatura, la poesía y el teatro. Fue así como en las cafeterías y los salones, se conversaba intensamente sobre obras de teatro, novelas y relatos breves. Este universo ficticio, sin embargo, ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 115 crea una conciencia acerca de la psique humana, y constituye, además, aquel conocimiento psicológico, fundamento tanto de la idea general del ser humano concreto como de la Bildung, por el que uno tiene que pasar para realizar su potencial como tal ser humano. Como público en relación a las obras de arte, pues, uno es educado para poder razonar sobre “lo universal”, como se manifiesta en “la literatura y el arte”, así como en la “filosofía” (1962:, p.52). Como condición material para la formación de la esfera pública burguesa Habermas llama la atención sobre la importancia del capitalismo emergente. Contribuye con la mercantilización de los bienes culturales, lo que significa que estos productos pueden ser ofrecidos y demandados en un mercado. Estos procesos nos traen teatros con obras o espectáculos, de los que se pueden comprar entradas, así como los editores ofrecen una amplia gama de material impreso, además de libros también diarios, semanarios y revistas mensuales, donde los artículos se mezclan con las cartas al editor. La forma de mercancía trae la discusión sobre “lo universal” fuera de un contexto meramente verbal, por lo que puede escapar de los monopolios de interpretación de la iglesia y el estado. La mercantilización hace por lo tanto que los debates sobre lo universal sean de acceso universal. El público está, en principio, siempre incompleto como una esfera pública que consiste en una masa infinita de lectores, oyentes y espectadores. Cultura y el arte ya no son propios de una pequeña “camarilla” privilegiada, a pesar de que todavía presuponen recursos materiales y mentales, o - con una expresión a la que Habermas es realmente aficionado - “Besitz und Bildung”, “propiedad y educación” (1962, pp. 53, 75, 115 y ss.) 116 Entre estos productos culturales están las revistas especializadas, lo que contribuye a elevar el nivel de la crítica cultural y artística (1962, p. 56 f). En comparación con la sentencia jurídica especializada, los jucios culturales y artísticas siguen manteniendo un carácter “algo amateur” (1962, p. 58), pero es aquí donde encontramos el origen de la actual crítica altamente especializada y cualificada de la literatura, el arte, el teatro, etc. El punto de Habermas es que el desarrollo de la crítica en las revistas de la época es esencial para la transformación de la audiencia en un espacio público, que por primera vez tiene acceso al razonamiento sobre cuestiones universales. La crítica les hace así ilustrados y educados como ciudadanos y seres humanos, y esto además les da la oportunidad de entenderse a sí mismos como parte de un proceso de ilustración más amplio. IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Según Habermas, en primer lugar la esfera pública burguesa pone su anclaje institucional en una división de la esfera privada entre la íntima y la representativa. Esta división se manifiesta en el hogar del ciudadano burgués privado, donde la sala de estar privada se transforma en un salón, en el que se pueden organizar diferentes tipos de fiestas. Y este tipo de socialización representativa es considerada como una contribución al bien público (1962, p. 63). Es a partir de esta esfera pública literaria original de los salones como la esfera pública burguesa se formó como una esfera pública política. En contraste con la esfera pública antigua y republicana, que transmite la opinión pública de los asuntos comunes desde la sociedad al Estado, la esfera pública burguesa se dirige hacia la “sociedad civil” (1962, p. 70). Con ello se opone a la idea de la soberanía absoluta del monarca. En su lugar tenemos la idea de la soberanía popular, es decir, que la ley - por ejemplo, para Montesquieu y Locke - en última instancia, debe referirse a la gente. La ley tiene que expresar la voluntad del pueblo y debe estar de acuerdo con “la naturaleza de las cosas”. Las leyes tienen que ser sólidas reglas de la razón con una cierta duración. Tampoco es suficiente que el gobernante sólo dé decretos, ni que constante y consistentemente demuestre su poder (1962, p. 71). Partiendo de los debates en la esfera pública artística y cultural sobre la psique humana y la moral, se puede imaginar dentro de la esfera pública burguesa una organización de la sociedad más allá del Estado, a saber, el tipo de auto-organización que se presupone en la idea de la sociedad civil. Con su enfoque en la generalidad, la razón y la universalidad, la esfera pública literaria allana el camino para las demandas de la esfera pública política sobre la legislación. La igualdad ante la ley se basa en una idea de la igualdad entre las personas educadas, cuya subjetividad ha sido realizada para cada uno individualmente como “meros seres humanos”. Este es de acuerdo con Habermas el núcleo vivo de esos “clichés fijos”, realizados en la “fórmula de la propaganda burguesa revolucionaria sobre la ‘igualdad’ y ‘libertad’”(1962, p. 72). La idea es que Bildung califica a la opinión pública como algo más que opiniones (1962, p. 115). Tratándose de una crítica de la ideología como la de Habermas, ésta por supuesto no es la última palabra. Bildung está estrechamente relacionada con Besitz – es decir, la propiedad – ya que la educación cultural y artística, así como la política, requiere de recursos materiales. El espacio público es el lugar para la educación en la razón y la autoridad (Mündigkeit), pero el 117 acceso a la esfera pública sigue siendo un privilegio (1962, p. 330). Bildung presupone educación, y esto es posible sólo para unos pocos en la Europa ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación de los siglos XVIII y XIX. Con Hegel, por lo tanto, Habermas puede destacar que la desigualdad material resulta en “la educación intelectual y moral” desigual (1962, p. 145). Con Marx, Habermas puede hacer aún más obvio que la esfera pública burguesa yuxtapone bourgeois, citoyen y l’homme, es decir, propietario, ciudadano y ser humano, y que las características del primero determinan las ideas de los últimos. En la sociedad burguesa real hay una enorme desigualdad material. Dado que la propiedad es un criterio para la participación en ese tipo de vida social, que desarrolla las cualidades consideradas simplemente humanas, la consecuencia es que los ciudadanos y especialmente los seres humanos se convierten en una minoría en la sociedad burguesa real. En otras palabras: es una ficción que todo el mundo tiene las mismas oportunidades – con industria, inteligencia y buena suerte – para obtener acceso a la propiedad, la educación y por lo tanto la razón y la influencia política (1962, p. 152). Con la comprensión de Habermas de la reciprocidad de la relación entre publicidad y privacidad, este punto de la crítica de la ideología en general se agudiza aún más. La publicidad demanda una vida privada. En particular, la lectura requiere privacidad y Habermas considera la lectura como una condición previa para el razonamiento y la distancia, que caracteriza la Bildung de la esfera pública en la universalidad (1962, p. 192). Sin embargo Habermas quiere sostener que “la cultura burguesa no era sólo ideología” (1962, p. 193). Cuenta con un elemento (Moment) de verdad, aunque no pudo realizarse en las condiciones materiales de la época. Eso no significa, sin embargo, que la cultura burguesa desarrollada posteriormente haya mejorado. Por el contrario, para Habermas ha habido un deterioro en la cultura burguesa desde entonces. Gran parte de lo que solía ser el razonamiento público sobre las artes y la cultura se ha desarrollado hoy apenas en el consumo cultural. 118 El capitalismo temprano pudo distribuir los bienes culturales bajo la forma de mercancía, donde el contenido universal estaba en contradicción con esa forma, convirtiéndose en crucial para la creación de la esfera pública cultural, educada. En el capitalismo tardío lo que ocurre es más bien una destrucción de la esfera pública, es decir, a través de la producción y distribución de puro entretenimiento destinado al consumo pasivo por un público de personas con sólo un poco de educación (1962, p. 199). Así como la lectura en su aislamiento privado educa a distancia de la autoridad, lo que hace que sea posible decir “no”, los medios de comunicación modernos encantan “la conciencia del público consumidor” (1962, p. 205 f). Mientras la Bildung en la esfera pública burguesa promete razón y universalidad, el mundo moderno IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 de los medios de comunicación no deja mucha esperanza para la realización de la autonomía humana. 3. Bildung es un concepto central en la filosofía de la conciencia, pero puede ser reconstruido comunicativamente Con tal análisis crítico-ideológico, la relación de Habermas con el ideal normativo de la Bildung es, en el mejor de los casos, ambivalente. Por ello no es de extrañar que Bildung sólo juegue un papel menor en sus escritos de los años posteriores, e incluso en el sentido descriptivo se nota una clara ausencia de la palabra Bildung. En 1964 Habermas argumenta a favor de un cambio en la Forschungs- und Bildungspolitik – es decir, la política de la educación y investigación – de lo que entonces era la República Federal Alemana. Su argumento es sencillo: si se quiere evitar que el desarrollo de la ciencia y la tecnología vaya acompañado de la aparición de una tecnocracia, entonces uno tiene que ilustrar la esfera pública política para poder entender y discutir la investigación, la ciencia y la tecnología, y esto requiere elevar el nivel de la educación – Bildung – de la sociedad en general (1964, p. 135). Bildung es de esta forma mencionada, pero no se proporcionan detalles en cuanto a lo que esto significa, es decir, en qué debe consistir tal tipo de educación pública. Al parecer, ahora prefiere discutir sus ideas en términos de publicidad, diálogo, comprensión, etc (1964, p. 134 y ss). Se utiliza de este modo la palabra Bildung, pero sólo esporádica y descriptivamente. Habermas parece haber dejado para siempre el ideal clásico normativo de la Bildung. Este parece ser el caso también en los escritos de los años siguientes, en realidad se podría decir que la tendencia es incluso cada vez más pronunciada, ya que, al parecer, se abstiene de usar la palabra, incluso en su sentido descriptivo, también en los casos en que el contexto hubiera sugerido lo contrario. En la primera parte de Conocimiento e interés tenemos una reconstrucción muy clara de la lógica conceptual de la comprensión hegeliana de la Bildung, es decir, la crítica de la teoría clásica del conocimiento y el desarrollo a través de esta crítica del propio concepto de experiencia de Hegel. Con una cita clásica Habermas enfatiza precisamente cómo Hegel conecta conceptualmente la idea de Bildung a la experiencia de la conciencia (Habermas, 1973, p. 22; Hegel 1807, p. 67). Para Hegel, está muy claro que es partiendo de la 119 experiencia de la conciencia a través de la negación y superación como se puede concebir el desarrollo de la conciencia a la autoconciencia, la razón y el espíritu como Bildung. Sin embargo, en la reconstrucción de esta lógica ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación hegeliana Habermas utiliza constantemente la palabra menos cargada normativamente y mucho más psicologizada de “Bildungsprozesse”, es decir, los procesos de formación (1973, p. 25-30). La cuestión es, probablemente, que Habermas obtiene con el vocabulario mucho mas psicológico una objetivación de la conciencia, que contribuye a poner una distancia respecto de la filosofía clásica de la conciencia, en que es fundamental la idea de la Bildung del sujeto. Las reflexiones de Habermas siguiendo a Marx apuntan en la misma dirección. Para Marx, los seres humanos se conciben a sí mismos en términos de trabajo, y como especie se crean a sí mismos a través de la producción y la reproducción (Habermas, 1973, p. 55). Del joven Marx, Habermas se hace cargo de la idea de que los propios seres humanos crean la distancia con los animales desde el momento en que “producen sus propios medios de subsistencia” (1973, p. 55). Cuando Habermas habla así de “procesos de formación [Bildung]” en este contexto, la atención se centra más bien en el “acto de creación” material de “la especie” a través de la “dominación [social] de la naturaleza” y “la lucha de clases sociales” (1973, p. 75 f) y no tanto en la Bildung de la conciencia de un sujeto único o universal. Así, objetivado, el proceso de formación depende de “las condiciones contingentes de la naturaleza subjetiva, así como de la naturaleza objetiva”, en primer lugar en el “‘metabolismo’ del [ser humano] actuando comunicativamente” con su entorno humano. Lo que determina este proceso es “una nueva interpretación materialista de los intereses de la razón introducido por el idealismo: el interés emancipador” (1973, p. 259), como Habermas lo llama. 120 En la Teoría de la acción comunicativa se podría pensar que Habermas se basará en la idea normativa de la Bildung en su ideal de un mundo de la vida amenazado por el sistema. Y esto en realidad podría ser el caso, aunque, como Habermas presenta su caso, en general se realiza implícitamente, de manera indirecta y negativamente. El mundo de la vida está constituido por una reproducción simbólica de las normas de la vida cultural y social a través de la interacción lingüística, y, como es bien sabido Habermas habla de colonización, cuando esta reproducción es perturbada por los medios de control del sistema, es decir, el poder y el dinero. En la determinación positiva de los conceptos normativos de la acción comunicativa y el mundo de la vida Habermas no hace uso de la expresión Bildung. Sin embargo, cuando tiene que dar ejemplos de las amenazas reales de la colonización de los sistemas del mundo de la vida, de repente se pone de relieve la importancia de la Bildung en el sentido normativo clásico. IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Así Habermas afirma que el mundo moderno se caracteriza por un aumento de la burocratización y la juridificación de las esferas del mundo de la vida, que antes eran sólo informales. Como ejemplos, analiza, en particular, la familia y la escuela (Habermas 1981a: II, 540), y aquí de repente a la Bildung se le permite desempeñar su papel tradicional. Habermas deja claro que la judicialización moderna del mundo de la vida es ambivalente, ya que, al mismo tiempo, tanto amplía las posibilidades de intervención de las autoridades como incrementa la protección del derecho de cada individuo. Lo que es interesante aquí, sin embargo, es que Habermas, en una cláusula subordinada, establece que “el proceso de formación en las familias y las escuelas, que tiene lugar a través de la acción comunicativa” (1981a: II, 542) debe hacer posible seguir funcionando independientemente de la reglamentación jurídica. Aún es más explícito cuando critica el “imperativo económico del sistema”, que yuxtapone “el sistema escolar” con un “sistema de ocupación”. Aquí él trasciende la objetivación obtenida anteriormente y destaca “el derecho fundamental a la Bildung” (1981a: II, 545). En la perspectiva de la acción comunicativa de Habermas la sociedad moderna tardía se caracteriza por una multiplicidad de comunidades de valor, que pueden justificarse éticamente. Fue por el reconocimiento positivo de esto como un hecho por lo que Karl-Otto Apel (Apel 1967/72) y posteriormente Habermas han desarrollado conscientemente una ética formal del discurso. Sin embargo Habermas subralla una y otra vez que este formalismo contribuye a una formación de la voluntad moral (Willensbildung) invitando a todos los posibles afectados por una posible acción a la comunicación al respecto en la forma de argumentación y debate. La ética del discurso se propone desarrollar un “procedimentalismo”, ya que es posible a través de la argumentación desarrollar una “formación de la voluntad discursiva” (Habermas 1983a, p. 133). Habermas insiste en que “la formación de la voluntad razonable” requiere la argumentación en relación con los criterios de validez orientados al consenso. No se trata de que un “diálogo [...] como una dinámica de grupo vaya a mejorar la competencia de la empatía” (Habermas 1986a, p. 301). La participación en un discurso práctico hace posible una “formación completa de la voluntad” (Habermas 1986a, p. 312), y la ética del discurso tiene como objetivo el desarrollo de “estructuras cognitivas”, a pesar de que no va a determinar “el contenido de las sentencias morales”. En el nivel cognitivo, que el psicólogo Lawrence Kohlberg llama el “nivel post-convencional” (Habermas 1983a, p. 135), Habermas piensa que uno puede exigir “la universalidad 121 en el sentido de incluir a todos los afectados” (Habermas 1983a, p. 133). En la continua discusión de Habermas con la psicología del desarrollo, él ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación desarrolla el lenguaje objetivante aún más. Ahora se dice que cuando “uno crece” reflexivamente se puede entender “su propio desarrollo moral como un proceso de aprendizaje” (1983a, p. 136), es decir, no como Bildung, ni como toma de conciencia. La Bildung aún está en el fondo, y esto se hace más evidente cuando Habermas discute el papel de la universidad en la sociedad moderna. Dentro de la ciencia la Bildung ha jugado tradicionalmente - al menos en el norte de Europa - un papel importante. El ideal clásico de la Universidad Humboldt se basa en la idea de que la Bildung, la ciencia y la educación formal van de la mano, y que no hay contradicción en principio entre la especialización científica y la educación general, es decir la Bildung. Habermas reconoce que en una sociedad moderna compleja, caracterizada por el pluralismo y una división del trabajo altamente desarrollada, la especialización científica también es necesaria. Para Habermas, sin embargo, es importante afirmar que no se debe renunciar, con un ideal post-moderno de la educación liberal, a la exigencia de conocer la verdad, y es aquí donde la idea de Bildung se vuelve relevante. Para Habermas, es tarea de la filosofía el mantener la conexión interna entre la verdad y la educación (Bildung) (Habermas 1981b, p. 21), así como debe subrallar que no hay una distinción clara entre “la ciencia y la promesa filosófica de Bildung” (1981b, p. 22). La filosofía debe asumir la responsabilidad de seguir recordando la importancia del mundo de la vida en su totalidad y con ello estimular una mayor interacción entre los diferentes valores y esferas de validez del mundo de la vida, es decir, entre lo cognitivoinstrumental, lo moral-práctico y lo estético-expresivo (Habermas, 1983, p. 27). 122 Aquí Habermas presupone el ideal tradicional de la educación general o liberal (Algemeine Bildung) como parte integrante de la educación superior y la ciencia. El problema es, como ya se ha destacado por el joven Habermas, que la ciencia ya no es lo que era en la época de Humboldt. Entonces había mucha especulación en la ciencia, que casi era igual a la filosofía, lo que hoy no es el caso. Las creencias filosóficas que originalmente crearon la idea de la ciencia por lo tanto “ya no se ajustan en relación con los procedimientos empírico-analíticos” (1963, p. 105). La cuestión de la Bildung todavía está conectada con la ciencia, pero porque la ciencia se ha desarrollado como lo ha hecho – teórica, así como prácticamente – la cuestión ya no puede simplemente ser respondida por la ciencia misma (1963, p. 114). Habermas también es escéptico acerca de los mejores productos de las universidades clásicas alemanas, los académicos “apolíticos”, “los mandarines de la ciencia”. De forma consciente plantean “demandas educativas elitistas (Bildungselitäre) IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 de algo más elevado” (1986b, p. 33), pero la experiencia con el nazismo ha demostrado claramente para Habermas con qué facilidad una “burguesía educada” se dejó corromper (1986b, p. 46). El problema es que el precio de la libertad de enseñanza garantizada por el Estado fue la abstinencia política, y no está claro cómo esa abstinencia puede unirse con los ideales de la Ilustración y la emancipación (Habermas, 1986c, p. 710). Para Habermas, el ideal de la universidad moderna ya no puede, pues, ser determinado por la Bildung espiritual, artística e histórica de cada ser humano individual. Sin embargo, la idea de la universidad contiene un “excedente utópico”, que tiene “un potencial crítico” (1986c, p. 711), y como tal, es digno de preservar. Por lo tanto, se vuelve en contra de la reducción de la ciencia a poco más que la tecnología y la profesión. En su lugar, quiere hacer hincapié en los “procesos de aprendizaje”, a los que los estudiantes y los científicos están sometidos, cuando en la universidad se enfrentan no sólo a las diferentes especialidades, sino también a las exigencias de las diferentes funciones. En todos estos contextos tienen que justificar sus puntos de vista a través de la argumentación imparcial. Habermas quiere argumentar que en un mundo tan complejo “la educación general, la tradición cultural y la formación de la voluntad razonable en la esfera pública política” se convierte en “una cuestión de vida o muerte para la ciencia misma” (1986c, p. 707). Habermas sostiene que para el científico “no importa si uno parece estar solo en la biblioteca, en el escritorio, en el laboratorio, ya que los procesos de aprendizaje son ineludiblemente una parte integral de una comunidad pública de comunicación junto a otros científicos” (1986c, p. 716). La ciencia para Habermas se nutre de “el poder estimulante y productivo de las disputas discursivas”, avanza a través de las promesas de “el argumento sorprendente” (1986c, p. 716). La ciencia, sin embargo, no es sólo una parte de su propia esfera pública, sino que contribuye también a los procesos de aprendizaje en un espacio público más amplio a través de enseñanza, conferencias y seminarios, que se caracterizan, en principio, por ser de acceso público. Las universidades son para Habermas, pues, muy importantes para la esfera pública política de la sociedad. La democracia moderna no depende de la formación espiritual de las conciencias individuales, sino de un éxito colectivo en la “formación política de la opinión y la voluntad”. Esto está hoy generalmente mediado 123 a través de partidos y otras organizaciones movilizadoras (1962, p. 248), y en tales contextos la Realpolitik, es decir, la pragmática y los compromisos, ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación por supuesto juegan un papel importante. Sin embargo, todavía se puede cuestionar la validez discursiva, y esto es en parte porque las universidades mantienen las normas ideales de discursos teóricos y prácticos. Por lo tanto, gracias a la esfera pública de la Bildung científica, en la esfera pública la política puede ser esclarecedora y búsqueda de la razón. 4. Final. Una democracia debe tener como objetivo la formación de la voluntad y la opinión colectiva hacia la autonomía Desde el principio, el joven Habermas era muy crítico en relación a la Bildung como ideología en el sentido más clásico. La Bildung como ideal era una idea que pretendía ser universalmente válida, pero en realidad resultó ser muy particular y cubrir precisamente las diferencias de clase, que el ideal legitima. Lo que demuestra la falsedad de Bildung como ideal es la desigualdad social objetiva en el orden capitalista de la sociedad realizado por la clase burguesa. Para el Habermas maduro es fundamental repensar la teoría crítica desde una perspectiva comunicativa, que trascienda la filosofía tradicional de la conciencia, y la idea de Bildung como se ha mencionado tal vez es una de las figuras más características de este enfoque de la filosofía. Sin embargo, como hemos visto, la palabra Bildung puede entenderse de varias maneras, a saber, tanto en un sentido casi psicológico individual, un sentido societal social e incluso en un sentido general que cubre la especie humana. Igualmente se puede hablar de Bildung de la opinión y de la voluntad, de manera privada y pública, consciente tanto como discursivamente, tanto individual como colectivamente, tanto moral como políticamente - y en la obra de Habermas se desarrolla el uso de Bildung de los primeros hacia los segundos. 124 Con la idea de acción comunicativa Habermas amplía la perspectiva de lo meramente subjetivo y singular a una colectividad comunicándose intersubjetivamente. El punto de partida es el ideal moral de Kant sobre la autonomía de la buena voluntad, es decir, la voluntad – el ser humano como una criatura que actúa a través de la razón – que estar sujeto a una ley universal que al mismo tiempo es tu propia ley. Es esta voluntad lo que nos eleva de lo que es meramente local, valioso y ético a la universalidad moral. En la ética del discurso esto equivale a decir que una norma es válida si cumple con la aprobación de todos, un todo comprometido y que posiblemente podría ser considerado un participante en un discurso práctico (Habermas 1983a, p. 132). El problema se produce cuando tenemos que ir desde el Otro por principio, ideal y apenas imaginado, “al otro como alguien con el que en reaIXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 lidad nos enfrentamos” (Habermas, 1988, p. 116). Esto nos lleva a “discursos pragmáticos”, que “hacen referencia a la necesidad de compromisos”, y es por eso que para Habermas precisamente en este momento se da la “transición de la moral a la ley”. Por lo tanto no se puede simplemente transferir la formación de la voluntad del individuo al nivel colectivo. La formación de la voluntad colectiva se enfrenta con el problema de que no se ha establecido un “entendimiento entre las partes, cuyas voluntades e intereses chocan” (1988, p. 117). Este problema es el punto de partida para el principal trabajo político de Habermas, Facticidad y validez (Habermas 1992). Es en este trabajo donde Habermas finalmente despliega ese elemento – o momento – de verdad de la Bildung y la esfera pública burguesa, que era la razón por la que no acababa de denunciar aquellas ideas como exclusivamente ideológicas. Al ideal de Bildung ahora se le da una forma más acorde con la concepción de Habermas de la época, es decir, colectiva y política. Partiendo de los ideales republicanos clásicos se desarrolla la idea de la política deliberativa, donde la formación de la opinión pública a través del discurso argumentativo, así como de compromisos pragmáticos, continuará impulsando la sociedad moderna en la dirección de la ilustración, la razón y la justicia. Desde los primeros escritos crítico-ideológicos a la filosofía política madura la Bildung ha desempeñado así un papel esencial para Habermas, por lo tanto, es sorprendente que su obra sólo raramente se discuta en estos términos. Este trabajo pretende ser una contribución a llenar este vacío. Estoy muy agradecido a Alessandro Ferrera, Arne Johan Vetlesen, David Rasmussen, James Swindal, Lotte Rahbek Schou y Rainer Forst para sugerencias útiles en la fase inicial de este estudio. Gracias también para comentarios, la crítica y las correcciones a los participantes en las sesiones sobre la filosofía de la educación en la reunión anual de la Asociación de Investigación Educativa Nórdica en Copenhague, Dinamarca, marzo de 2012, y en el Congreso Europeo de la Investigación Educativa en Cádiz, España septiembre el mismo año. Gracias por la misma a los participantes en el Seminario de Filosofía y Ciencias Sociales en Praga, República Checa, mayo de 2013 y en la octava Conferencia Internacional de la Teoría Crítica en Roma, Italia, mayo de 2015. Gracias además a los asistentes comentando mis conferencias sobre Habermas y Bildung, en Inglés, en la Universidad de la República, Montevideo, Uruguay, marzo de 2013, y en español, en la Universidad de las Islas Baleares, Palma de Mallorca, España, mayo del mismo año. Gracias finalmente a Ingrid Straume para iniciar este trabajo y de observaciones al primer resultado, que era un capítulo en danés en una antología de Noruega sobre la historia de Bildung (Sørensen 2013).Gracias al final especialmente a Joaquin Valdivielso para ayudarme con la lengua española. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 125 Bibliografía Apel, K.-O. (1967/72). Das Apriori der Kommunikationsgemeinschaft und die Grundlagen der Ethik, in Apel: Transformation der Philosophie, vol. 2, Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1973. Brunkhorst, H., R. Kreide & C. Lafont (2009; Eds.). Habermas-Handbuch, Stuttgart: Metzler. Habermas, J. (1957). Das chronische Leiden der Hochschulreform, in Habermas 1981c. Habermas, J. (1959). Konservativer Geist – und die modernistischen Folgen, in Habermas 1981c. Habermas, J. (1961). Pädagogischer ”Optimismus” vor Gericht einer pessimistischen Anthropologie, in Habermas 1981c. Habermas, J. (1962). Strukturwandel der Öffenlichkeit. Neuwied: Luchterhand, 1976. Habermas, J. (1963). Vom sozialen Wandel akademischer Bildung, in Habermas 1981c. Habermas, J. (1964). Verwissenschaftlichte Politik und öffentliche Meinung, in Habermas: Technik und Wissenschaft als >Ideologie<. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1969. Habermas, J. (1973). Erkenntnis und Interesse. Frankfurt a.M.: Suhrkamp, 1977. Habermas, J. (1981a). 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Educação e Programa de Pós-graduação em Educação E-mail: [email protected] Luiz Roberto Gomes é doutor em Educação na área de Filosofia, História e Educação pela UNICAMP e licenciado em Filosofia pela PUC-Campinas. Autor de livros, capítulos de livros, artigos publicados em periódicos nacionais e internacionais. Atualmente é professor adjunto IV do Departamento de Educação da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR, professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Educação PPGE/UFSCar (mestrado e doutorado) e professor colaborador do Programa de Pós-graduação Profissional (mestrado) da UFSCar. É líder do Grupo de pesquisa “Teoria Crítica e Educação” (UFSCar/CNPq) e membro pesquisador doutor do grupo de pesquisa “Teoria Crítica e Educação” - UNIMEP / CNPq. Os projetos de pesquisas em andamento versam sobre a seguinte temática “teoria crítica, política e formação”. Resumen - Resumo - Abstract Esse artigo aborda, no contexto da denominada cultura digital, o tema da formação e as implicações políticas do movimento de expansão da EaD no Brasil. Para além dos avanços, em termos de democratização do acesso à informação pela mediação das tecnologias de informação e comunicação (TIC), que devem ser reconhecidos como um esforço de disseminação de uma determinada “cultura política”, isso não significa necessariamente, tal como nos lembra Habermas (2003b), que a participação política efetiva do cidadão esteja assegurada, sobretudo em função da desarticulação recorrente entre a esfera pública política e a sociedade civil. Que interesses estariam por trás desse fenômeno de Este artículo aborda, en el contexto de la llamada cultura digital, el tema de la educación y las implicaciones políticas de la expansión del movimiento de educación a distancia en Brasil. Además los avances en términos de democratización del acceso a la información a través de la mediación de las tecnologías de la información y la comunicación (TIC), deben ser reconocidos como un esfuerzo de difusión de una cierta “cultura política”, esto no significa necesariamente, como recuerda Habermas (2003b), que la participación política efectiva de los ciudadanos esté asegurada, sobre todo dada la desconexión demandante entre la esfera pública política y la sociedad civil. ¿Qué intereses estarían detrás de ese fenómeno de In the context of the so-called digital culture, this paper discusses the issue of education and the political implications of the distance learning expansion movement in Brazil. In addition to the advances in the democratization of the access to information through the mediation of information and communication technologies (ICTs), which should be recognized as an effort to spread a certain “political culture”, this does not necessarily mean, as Habermas (2003b) recalls, that the effective political participation of citizens is assured, especially in light of recurrent dislocation between the political public sphere and civil society. What are the interests behind the phenomenon of digitization of culture? And what is the purpose of education in ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 129 digitalização da cultura? E ainda: qual seria a finalidade da educação nesse novo contexto cultural? A cultura digital, como expressão da vida social contemporânea, gera mudanças estruturais, não só na forma de transmissão e acesso à cultura, mas no próprio conceito e na atitude perante a cultura, com implicações políticas decisivas para a formação, o que nos faz refletir, por exemplo, sobre as diferenças entre as concepções de formação presentes na cultura clássica da Paideia grega, na cultura moderna da Bildung e no modelo educacional cada vez mais subserviente às TIC que temos hoje. la digitalización de la cultura? Y de nuevo, ¿cuál sería el propósito de la educación en este nuevo contexto cultural? La cultura digital, como una expresión de la vida social contemporánea, genera cambios estructurales, no sólo en la forma de transmisión y acceso a la cultura, sino en el concepto mismo y la actitud hacia la cultura, con implicaciones políticas decisivas para la formación, que nos hace pensar por ejemplo, sobre las diferencias entre los conceptos de formación presentes en la cultura clásica griega de la Paideia, en la cultura moderna de la Bildung y en el modelo educativo, cada vez más subordinado a las TIC, que tenemos hoy. this new cultural context? As an expression of contemporary social life, digital culture generates structural changes, not only in the form of transmission and access to culture, but also in the very concept and attitude towards culture, with decisive political implications for education. That leads us to think, for example, about the differences between the concepts of education present in the classical Greek Paideia culture, in the modern culture of Bildung, and in the contemporary educational model increasingly subservient to the ICTs we now have. Essa é uma versão revista e ampliada do artigo “Cultura Digital e Formação: implicações políticas do movimento de expansão da EaD no Brasil” publicado no Vol. 23, N.57 (2013) da Revista Impulso. Palavras-chave: Cultura Digital; Política; Formação Palabras Clave: Cultura digital; Política; Formación. Keywords: Digital culture; politics, education. Financiamento: Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES Recibido: 16/04/2013 Aceptado: 30/01/2015 130 Para citar este artículo: Gomes, L. (2015). Cultura Digital, Esfera Pública e Educação. Ixtli. Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación. 2(3). 129-145. IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Cultura Digital, Esfera Pública e Educação Introdução Em face do fenômeno recente de digitalização da cultura, o objetivo principal desse artigo é introduzir uma reflexão, notadamente a partir do conceito de esfera pública, sobre os desafios a serem enfrentados pela educação na era da cultura digital. O extraordinário avanço tecnológico das últimas décadas tem produzido um contínuo processo de mudança em todos os setores da sociedade. Refiro-me a Revolução Digital estabelecida pela forma de criação e processamento dos códigos digitais universais sobre os elementos da vida individual ou coletiva, e da realidade empírica que se torna hoje virtual. Tal revolução tem exercido um conjunto de mudanças nas diversas formas de percepção e interação humana. Estamos sendo afetados pelo crescente uso que fazemos das tecnologias digitais, muitas vezes sem a devida reflexão crítica de suas consequências. Tal ação de subserviência, inclusive dos processos educativos formais, nos moldes da Servidão Voluntária descrita no século XVI pelo filósofo francês La Boéti, tem gerado um consequente processo de transformação de nossas ações, sejam elas individuais ou coletivas. Isso quer dizer que o indivíduo, a sociedade e as instituições também são impactados por essa nova visão que passamos a ter do mundo e de nós mesmos. Trata-se de uma nova ontologia, com forte poder de intervenção e que encontra nas novas mídias digitais um novo conteúdo de interação social (Negt e Kluge 1999 e Martins 2010). A cultura digital, como expressão da vida social atual, tem gerado mudanças estruturais não só na forma de transmissão e acesso à cultura, mas no próprio conceito e na atitude que temos em relação a mesma, com implicações políticas decisivas para a formação. Isso nos faz refletir, por exemplo, nas diferenças entre as concepções de formação presentes na cultura clássica da Paidéia grega, na cultura moderna da Bildung, e no modelo educacional atual, cada vez mais subserviente às novas tecnologias digitais que temos hoje. A esse respeito, a análise empreendida por Theodor Adorno na primeira metade do século XX, sobre a crítica à Sociedade Administrada e à Indústria ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 131 Cultural, e um pouco mais tarde sobre a generalização da Halbbildung (semiformação), nos parece ainda muito atual e procedente. Acrescente-se ainda a falta de compreensão clara e crítica sobre o status político da inclusão das tecnologias digitais, como forma de comunicação, de formação, de produção e de interação social. A análise dos pressupostos políticos da cultura digital, enquanto instância formativa, assume um caráter crítico nessa reflexão, no sentido de se explicitar as ambiguidades decorrentes da tensão entre os processos de adaptação a essa nova cultura e as possibilidades de resistência inerentes à vida social. A título de ilustração, e no caso específico dos processos formais de ensino e aprendizagem, se focarmos o nosso olhar para o movimento recente de expansão da Educação à Distância (EaD) no mundo, na América Latina e no Brasil encontraremos, sem sombra de dúvida, um campo muito fértil de pesquisa para as análises no âmbito da Teoria Crítica da Sociedade, principalmente, se considerarmos o poder de intervenção que as novas tecnologias digitais exercem no âmbito da constituição de uma nova ontologia cultural, com mudanças significativas na forma dos seres humanos se relacionarem entre si e com esse novo ambiente social de ensino e aprendizagem que se materializa. Nesse contexto de reflexão, que interesses estariam por trás do fenômeno de digitalização da cultura? O que muda na esfera pública? E ainda, qual seria a finalidade da educação nesse novo contexto cultural? 132 A hipótese de trabalho que orienta essa reflexão pressupõe que a cultura digital, em pleno processo de consolidação, está consubstanciada por uma ideologia muito potente, com o apoio político dos setores econômicos da sociedade, potencializada pela racionalidade técnico-instrumental e que exige, quase que obrigatoriamente, a adaptação do indivíduo à cultura digital como uma questão de sobrevivência ao sistema. O caso específico da inclusão de tecnologias digitais no processo formativo figura-se como uma das vertentes de expressão de uma política social mais ampla, e que considera o desenvolvimento tecnológico e econômico, como algo unidimensional. A esfera pública, enquanto espaço legítimo da vida social, também é impactada por tais mudanças, tanto do ponto de vista da adaptação, como nas instâncias possíveis de resistência a esse novo modelo cultural. IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 1. Cultura Digital e as Formas Digitais de Educação O processo de constituição da cultura digital, e que exerce uma força política decisiva na formação de um novo ambiente social, é resultado de um conjunto de ações, que se utiliza da mediação das tecnologias digitais, como marca social do nosso tempo. A esse respeito, e com o intuito de problematizar a questão, cabe destacar as análises desenvolvidas por Adam Schaff (1985) na Sociedade Informática; por Pierry Lévy (1996 e 1999) com a explicitação dos conceitos de Mundo Virtual e Cibercultura; por Manuel Castells (1999) na Sociedade em Rede; por Mateu Cabot (2007a e 2007b) na Cultura Audiovisual e na Cultura Digital de Massas, e ainda as considerações de Cristoph Türcke (2010) sobre a Sociedade Excitada. O filósofo espanhol, Mateu Cabot observa que: O elemento de distinção da nossa cultura é ser audiovisual. O meio dominante e emergente é o audiovisual. O meio de comunicação, de intercâmbio simbólico, de criação de outras realidades, para além da realidade imediata, já não é o oral como foi durante milhares de anos. Tão pouco a escrita, ainda que continue bastante presente. O que pudemos observar ao longo do século XX, foi a emergência de uma cultura audiovisual e sua progressiva imposição. É a cultura (e a arte) de uma sociedade de massas e tecnificada. Quase 80 anos depois da publicação da “obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica de Benjamin”, as transformações não deixam de suceder-se, cada vez com mais potência e amplitude, direcionada a maioria da população, e não somente para uma minoria culta, para qual existia essa cultura. Com isso, temos finalmente, que a estética hoje, entendida como análise filosófica de âmbito poiético, é um bom instrumento para abordar o núcleo do que hoje é a Realidade (Cabot, 2007a, p.3) Decorre da análise acima a importância de investigarmos a influência transformadora dos novos meios digitais sobre a experiência (cognitiva, estética e política) e que passam a definir novas formas de percepção das noções de espaço, tempo e interação entre o real e o virtual. Em termos de novas linguagens, por ocasião da revolução digital, Edméa Santos (2010) considera, no artigo “educação online para além da EAD: um fenômeno da cibercultura”, que o fundamento desse contexto de mudanças emerge do desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comuALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 133 nicação, que se caracterizam por uma nova forma de materialização, em que os bits – códigos digitais universais - passam a ser a principal linguagem de circulação das informações. Trata-se, conforme Castells (1999), de uma Revolução Digital, em que: ... a informação representa o principal ingrediente de nossa organização social, e os fluxos de mensagens e imagens entre as redes constituem o encadeamento básico de nossa estrutura social (Castells, 1999, p. 505). O que podemos constatar, de forma inequívoca, é a constituição de uma nova cultura, fortemente influenciada pelas tecnologias digitais, e que tem como característica essencial a estrutura de rede como fundamento desse novo modelo de organização social. A esse respeito, a obra de Manuel Castells, “A Sociedade em Rede” de 1999, pode ser tomada aqui como uma referência. Castells (1999) ressalta, desde meados da década de 80 do século XX, que os microcomputadores não poderiam ser concebidos sem atuarem em rede, o que traria uma mobilidade cada vez maior, com base nos computadores portáteis. Assim, vemos que as redes de computadores se expandiram e as tecnologias digitais surgiram como infra-estrutura do ciberespaço que se constitui como novo espaço de comunicação, sociabilidade, informação e conhecimento (Lévy, 1999). A informação digital que também pode ser caracterizada como virtual, na medida em que só pode ser acessada por meio de uma forma virtual de exibição, transforma uma informação em uma combinação numérica (a linguagem binária, sob a forma de zero e um). O forte poder de interação entre as diferentes classes de informação, imagens, textos e sons ocasionaram uma grande transformação na forma de organização da sociedade, que passou a definir novas possibilidades de interação, aprendizagem e comunicação. Trata-se de uma nova realidade, a virtual, que é caracterizada por Pierre Lévy como “(...) toda entidade capaz de gerar diversas manifestações concretas em diferentes momentos e locais determinados, sem, contudo estar ela mesma presa a um lugar ou tempo em particular” (Lévy, 1999, p. 47). 134 O interesse econômico, como expressão do modo de produção globalizado e fundamentado pelo argumento da inovação também marca profundamente o desenvolvimento das tecnologias digitais, conferindo-lhes uma alta capacidade de armazenamento e processamento de informações, o que altera e muito o sistema produtivo, sobretudo, em termos de otimização do tempo. Tais IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 mudanças corroboram a razão de ser do mercado, em que o grande objetivo, é antes de qualquer outra coisa, a eficiência, a velocidade da produção e comercialização dos produtos, e principalmente o lucro. Esse processo de aceleração do mundo digital também exerce uma influência decisiva na velocidade da veiculação das informações, com mudanças no modo de ser das pessoas. As transformações estão ocorrendo num ritmo tão acelerado, bem diferente, por exemplo, do tempo de constituição dos processos de aprendizagem escolar, ou da transmissão dos valores familiares na tradição oral, que passam a ser, no mínimo objeto de preocupação, a ponto de Cristoph Türcke (2010) caracterizar esse novo momento que estamos vivendo, de Sociedade Excitada, sobretudo, na constituição de um novo conceito de sensação e de vício perante os usos que fazemos da tecnologia e das imagens. A educação à distância (EaD), sobretudo no modelo mais recente de Educação Online (Silva, Pesce e Zuin, 2010), que se serve das tecnologias digitais e da mediação dos Ambientes Virtuais de Aprendizagem (AVAs), também é uma expressão importante dos processos de formação da cultura digital. Independentemente do contexto político de implantação dessa modalidade de ensino, há uma racionalidade educativa que precisa ser pensada criticamente. A título de exemplo, conforme a análise de Silva Jr, Kato e Santos (2010): A EaD põe-se como uma prática instrucional entre diferentes sujeitos, mediada por tecnologias de informação e comunicação com foco no processo de ensino-aprendizagem, num contexto tal em que a objetividade social apresenta um horizonte de possibilidades orientado pela racionalidade mercantil produzida pela mudança nas estruturas sociais, resultado do processo de reformas que se assistiu no país na segunda metade da década de 1990, especialmente as do Estado e da Educação. (Silva Jr, Kato e Santos, 2010, p. 50). Nara Pimentel no artigo, “A Educação Superior a Distância nas universidades públicas no Brasil: reflexões e práticas”, publicado em 2010, também argumenta que o processo de expansão da modalidade EaD nas Instituições de Educação Superior no Brasil é resultado de políticas educacionais que tentam ajustar a realidade do país, conforme o desenvolvimento das políticas econômicas e culturais mais amplas implementadas no contexto do mundo 135 globalizado. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação Conforme a consistente análise de Fiori (1995), no artigo “Globalização, Estados Nacionais e Políticas Públicas”, nos anos 1990, em face do processo de mundialização do capital, tanto no campo geográfico, como no social, o Consenso de Washington empreendeu a produção de um ajuste econômico mundial. Em termos gerais, isso quer dizer que a globalização e o neoliberalismo exerceram um forte poder de intervenção política no metabolismo social mundial, impondo um movimento de profundas reformas, na economia, na política e nas instituições sociais, especialmente na educação formal. Agora, quais as implicações políticas decorrentes desse fenômeno recente de digitalização da cultura? O estímulo à interatividade, pelo modelo digital de uma sociedade em redes, impacta a esfera pública, dando a ela um novo status político? Como diria Laymert dos Santos: “É preciso colocar a tecnociência no centro e começar a discutir politicamente o que ela faz, o que ela é, o que ela pretende, o que faz conosco e o que nós fazemos com ela” (Santos, 2003, p. 6). 2. As Redes Sociais Digitais no contexto da Esfera Pública O conceito de esfera pública, tal como o conhecemos hoje, nos remete necessariamente a tese de livre docência de Jürgen Habermas, apresentada à Faculdade de Filosofia de Marburg em 1961, e que foi posteriormente publicada sob o título “Mudança Estrutural da Esfera Pública”. Essa pertinente tese de Habermas, além de explicitar os diversos sentidos atribuídos aos conceitos de público e privado, analisa também, no contexto da sociedade burguesa do século XVIII, as mudanças estruturais (políticas, econômicas e culturais) que modificaram o próprio sentido da esfera pública, enquanto função de legitimação das diversas instâncias que compõem vida social. 136 Habermas identificou, nos propósitos da classe burguesa emergente, a defesa de um ideal de acessibilidade universal, de superação dos privilégios de uma cultura de elite pela via da legitimação racional. Quando Habermas retratou a primeira mudança estrutural da esfera pública e sua passagem dos cafés para os jornais; a burguesia estava se constituindo e encontrou na imprensa grande apoio para seus interesses econômicos e suas ambições políticas. Segundo os estudos mais recentes de Habermas, ainda hoje a esfera púIXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 blica continua sendo o espaço público propício ao discurso racional e crítico, enquanto instância de legitimação do poder político. Entretanto, vários acontecimentos na sociedade civil, contrapostos ao Mercado e ao Estado, fizeram com que a ação política assumisse um novo sentido Habermas (2003a, 2003b e 2005). Assim, a esfera pública passa a ser fundamentada por uma compreensão de ação política que pressupõe a distinção necessária entre os domínios administrativo e comunicativo que envolve o sistema político como um todo, de modo que o poder administrativo só pode funcionar de maneira legítima se for alimentado constantemente pelos fluxos comunicativos contidos na esfera pública, nas associações e na esfera privada. Sabemos, no entanto, que a abertura do sistema político ao mundo da vida não ocorre de forma espontânea, devido às formas dominantes de resistência dos interesses institucionais corporativos, que acabam distorcendo todo o processo político. No âmbito da exigência de legitimidade comunicativa das ações políticas administrativas, Habermas desenvolve os conceitos de esfera pública e sociedade civil, com o propósito de refletir sobre as formas de circulação de poder no âmbito da sociedade e, ainda, sobre os obstáculos que os fluxos comunicativos precisam enfrentar para transformar o poder comunicativo em poder administrativo. A esfera pública, que não pode ser concebida como uma instituição, nem como sistema ou organização, pois não há uma estrutura normativa de atuação; é o espaço da opinião pública que funciona como “uma rede para a comunicação de conteúdos, tomadas de posição e opiniões, e nela os fluxos comunicacionais são filtrados e sintetizados, a ponto de se condensarem em opiniões públicas enfeixadas em termos comunicacionais” (Habermas, 2003b, p. 92). Trata-se de um ambiente comunicativo orientado pelo entendimento, e que reproduz o mundo da vida na forma de uma grande “caixa de ressonância” das vontades e opiniões da sociedade civil. A sociedade civil, por sua vez, é constituída pela trama não-estatal e nãoeconômica, ancorada nas estruturas de comunicação da esfera pública e nos componentes sociais do mundo da vida. Refere-se às associações, organizações e movimentos sociais, e com capacidade de influência sobre a esfera pública política (Habermas, 2003b, p. 99). 137 O que nos chama atenção é a ideia de rede que ganha um sentido próprio na forma como Habermas está entendendo o conceito de esfera pública hoje. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação E nesse sentido em particular nós poderíamos refletir sobre duas questões que necessitam ser pensadas no contexto da cultura digital. 1) Qual a configuração de “rede” presente na cultura digital? 2) Que tipo de legitimação política pode ser estabelecida a partir da cultura digital? Seguindo a argumentação de Habermas, para a primeira questão, seria interessante discernir que tipo de domínio (administrativo ou comunicativo) prevalece na estruturação das “redes digitais”. O dinheiro e o poder, como expressão da racionalidade estratégica, continuam sendo hegemônico, e ainda exercem forte influência na vida das pessoas? Se a resposta for afirmativa, poderíamos dizer que as redes digitais, são formas mais rápidas de circulação de ideologias que conformam o modo de vida das pessoas na lógica de uma eficiência antes impensada. Se a resposta for negativa, que tipos de resistência comunicativa, de novas formas organização social nós podemos observar hoje? No que concerne à segunda questão, os processos de formação da opinião pública, oriundos da cultura digital, parecem ter um alcance cada vez mais rápido e eficaz, principalmente pela sofisticação dos mecanismos de publicização das informações veiculadas pela internet. Agora, qual a legitimação política de tais informações? Elas representam os interesses de quem? Habermas, ao revitalizar o conceito de esfera pública, no contexto da sociedade atual, o coloca como critério de legitimação das sociedades democráticas, que só tem valor efetivo pela força da opinião pública gerada nos espaços comunicativos e não burocratizados do mundo da vida. O que isso tudo significa, em termos de formação na era da cultura digital? 3. Conclusões: notas sobre Teoria Crítica e Formação na Era da Cultura Digital 138 O comportamento crítico e a orientação para a emancipação (Horkheimer, 1980) como princípios decisivos da Teoria Crítica da Sociedade, sobretudo, na forma como os intelectuais da Escola de Frankfurt a compreenderam, nos parecem ainda bastante instigantes, quando nos propomos a diagnosticar os problemas do nosso tempo. Assim, a orientação para a emancipação, que está na base da teoria crítica, faz com que esta não se limite a descrever a realidade, mas também apontar IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 as possibilidades nela embutidas e não realizadas (Habermas, 2003a, p. 113). Ou como salienta Adorno em uma das suas últimas aulas, publicada sob o título Introdução a sociologia, “O melhor que podemos esperar é que nos seja facultada uma certa chance de maioridade emancipatória através do objeto de que nos ocupamos e da liberdade de que dispomos para dele nos ocuparmos” (Adorno, 2008, p. 310). Nesse universo teórico, cabe destacar os estudos sobre o impacto da tecnologia na vida privada e coletiva, empreendidos pela tradição intelectual dos autores da teoria crítica da sociedade em seus contextos específicos. O processo de reificação não só das forças produtivas e relações de produção, conforme diagnóstico estabelecido pela crítica da economia política de Marx, mas também da cultura, por ocasião do incremento das ciências e desenvolvimento das diversas tecnologias, registra um campo de investigação específico nas pesquisas conduzidas pela Escola de Frankfurt, com forte impacto nas análises desenvolvidas pelas ciências humanas, sobretudo, a partir da segunda metade do século XX, e que reverbera até hoje. Nessa tradição intelectual, algumas categorias, devidamente adaptadas aos seus contextos específicos de análise, continuam muito atuais e ainda apresentam potencial crítico-investigativo, que nos parecem oportunas para a análise do objeto que estamos analisando. São elas: Experiência, Indústria Cultural, Sociedade Administrada, Tecnologia, Semiformação, Formação Cultural, Emancipação, Sistema, Esfera Pública, Reconhecimento, entre outras. Cabe destacar ainda, o caráter dialético e a crítica imanente presente nos conceitos que originaram o desenvolvimento das categorias analíticas citadas. A título de exemplo, quando Adorno e Horkheimer (1985) analisam na Dialética do Esclarecimento, o sentido ambíguo da tecnologia na Sociedade Administrada eles afirmam: “no trajeto da mitologia à logística, o pensamento perdeu os elementos de reflexão sobre si mesmo, e hoje a maquinaria mutila os homens mesmo quando os alimenta” (Adorno e Horkheimer, 1985, p. 48). E ainda, em outra passagem da Dialética do Esclarecimento: ... a técnica, desde as origens da ciência moderna, foi desenvolvida como resultado de um saber prático, vinculado ao poder e à dominação: O saber que é poder não conhece nenhuma barreira (...) está a serviço de todos os fins da economia burguesa na fábrica e no campo de batalha (...) A 139 técnica é a essência desse saber (...) o que os homens querem aprender com a natureza é como empregá-la para dominar completamente a ela ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação e aos homens. Nada mais importa. (...) O que importa é a operation, o procedimento eficaz (Adorno e Horkheimer, 1985, p.20). No ensaio, Educação após Auschwitz, escrito em 1965, Adorno desenvolve, de forma ainda mais explícita, o caráter ambíguo da tecnologia: Um mundo como o atual, em que a técnica ocupa posição-chave, produz pessoas tecnológicas, afinadas com a técnica. (...) Por outro lado, na relação atual com a técnica existe algo de exagerado, irracional, patogênico (...). Os homens inclinam-se a considerar a técnica como algo em si mesma, um fim em si mesmo, uma força própria, esquecendo que ela é extensão do braço dos homens. Os meios – e a técnica é um conceito dos meios dirigidos à autoconservação da espécie humana – são fetichizados, porque os fins – uma vida humana digna – encontram-se encobertos e desconectados da consciência das pessoas. (Adorno, 1995, p. 132). Herbert Marcuse, em sua obra “Tecnologia, Guerra e Fascismo”, é muito claro ao conceber a tecnologia como um processo ambíguo e social. Ele não fala sobre a tecnologia como transformadora do indivíduo, mas sim da forma como a tecnologia pode ser usada como instrumento de dominação e controle, sendo manipulada pelos próprios indivíduos para este fim. Ele considera que a tecnologia detém poder na medida em que “A técnica pode promover tanto o autoritarismo quanto a liberdade, tanto a escassez quanto a abolição do trabalho árduo” (Marcuse, 1999, p.74). Pierre Lévy, em sua obra Cibercultura, também nos mostra seu ponto de vista em relação às novas tecnologias: “Por trás das técnicas agem e reagem ideias, projetos sociais, utopias, interesses econômicos, estratégias de poder, toda a gama dos jogos dos homens em sociedade, portanto, qualquer atribuição de um sentido único à técnica só pode ser dúbia” (Lévy, 1999, p.19). 140 Esse caráter ambíguo da técnica, e que assume em Benjamin (1985a e 1985b), Adorno e Horkheimer (1985), Marcuse (1999), e também em Habermas (1968), um sentido estritamente ideológico, com vistas à transformação da sociedade capitalista, necessita ser analisado no contexto da sociedade atual, sobretudo, em termos da intencionalidade política dos modelos formativos. A esse respeito, o conceito de esfera pública, que é central nas análises de filosofia política do pensamento de Jürgen Habermas constitui-se como uma chave analítica importante, sobretudo no contexto das chamadas sociedades democráticas, já que segundo Habermas (2005b), a esfera pública continua sendo um espaço público propício ao discurso racional e crítico, de IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 modo que seu papel implica influência e legitimação de poder político. O que seria importante destacar é o fato das tecnologias digitais avançarem em uma velocidade tão rápida que criam uma crise de instabilidade. Sendo assim, as implicações na sociedade e suas formas de organização ficam difíceis de serem previstas, e é justamente isso que nos causa o espanto frente às inovações. Cabe salientar ainda, que o potencial formativo das informações, mesmo que não tenham de imediato uma intencionalidade pedagógica e /ou formativa, podem influenciar a ideologia e o comportamento do indivíduo se não forem organizadas e processadas de maneira adequada, impondo às pessoas valores e destruindo sua autonomia. Segundo Zuin: A convergência dos textos, números e sons em imagens que se consubstanciam em arrebatadores estímulos audiovisuais promove, paradoxalmente, a dispersão da concentração, uma vez que as informações conectadas são substituídas por outras, por meio do ritmo alucinante das trocas de links. A pausa necessária para que o conhecimento possa ser, digamos, digerido, rarifica-se cada vez mais, na medida em que a concentração é pulverizada para, logo em seguida, se reconfigurar momentaneamente, até que outro link seja acessado (Zuin, 2010a, p. 969). É a partir dessas análises que identificamos a necessidade de uma reflexão crítica sobre o impacto das tecnologias digitais nos processos de ensino e aprendizagem, sendo que a reprodutibilidade técnica e o consumo imediato de informações fragmentadas podem atrofiar, conforme Benjamin (1985a), a experiência no seu sentido autêntico. Tal fato causa um impacto na vida social e essa passa a ser produzida, conforme os mecanismos ideológicos de controle da “indústria cultural”. Com tais mecanismos da cultura produzida industrialmente, e dado o seu caráter sistêmico, parece que não há alternativa senão nos adaptar, já que ser bem sucedido tornou-se equivalente ao adaptar-se, conforme bem argumentou Horkheimer em “O eclipse da Razão” (1999). Os sistemas dominantes não mais se mantém por meio da força, mas por adesão voluntária do povo que é atraído e seduzido. Esta mecânica herdada pela racionalidade das máquinas, que passa da ordem tecnológica para a ordem social, modifica 141 todas as estruturas da sociedade. Nesse sentido, os indivíduos perdem sua individualidade não mais por coerção externa, mas movidos pela própria ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação racionalidade que os envolve, Tal como afirma Pedro Goergen: Encontramo-nos no limiar entre, de um lado, um mundo da vida totalmente manipulado ao gosto dos interesses hegemônicos, isolado da esfera pública e, de outro, um mundo da vida capaz de resistir e de preservar as relações entre a esfera privada e a esfera pública. Sabendo que o espaço da opinião pública depende dos impulsos vindos da elaboração privada de problemas sociais que têm ressonância na vida individual, cabe investir na formação da consciência política dos cidadãos. Essa é uma questão fulcral para a constituição da democracia e é nela que se torna perceptível o sentido mais profundo disso que Paulo Freire expressou ao dizer que toda educação é política. A isso se relaciona também, a luta pela preservação da educação como bem público de responsabilidade do Estado Democrático. (Goergen, 2008, p. 70). Diante do inequívoco poder de controle exercido pela racionalidade tecnológica, e também segundo Adorno, pela Semiformação (2010), que parecem se intensificar com a cultura digital, que sentido estamos atribuindo à nossa formação? Essa é, no meu modo de entender, a questão fulcral que precisa ser tematizada pela esfera pública hoje. Referências Adorno, T. (2010). Teoria da Semiformação. tradução de Newton Ramos de Oliveira. In: Pucci, B., Zuin. A. & Lastoria, Luiz (orgs.). Teoria Crítica e Inconformismo: novas perspectivas de pesquisa. Campinas: Autores Associados. Adorno, T. W. (2008). Introdução à Sociologia. São Paulo: Editora da Unesp. Adorno, T. 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É membro do Núcleo Interdisciplinar de pesquisa e extensão em práticas pedagógicas e curriculares de profissionais da Educação (NIPPC/UFPI). Atua na área de Educação, interessandose por pesquisas na área de Educação de Jovens e Adultos. Maria da Glória Carvalho Moura Universidade Federal do Piauí-UFPI [email protected] Doutora em Educação (UFRN). É professora permanente do Programa de Pósgraduação em Educação (PPGEd/UFPI). Tem experiência na área de Educação Básica, Formação de Professores, atuando principalmente nos seguintes temas: Alfabetização, Educação de Jovens e Adultos, Educação Integral, Ensino, Pesquisa e Extensão, Didática do Ensino Superior, Currículo e Práticas Pedagógicas. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 147 Resumen - Resumo - Abstract O presente artigo é resultado de uma pesquisa bibliográfica que busca discutir o pensamento filosófico de John Dewey acerca do ideário pragmatista, que serviu de base para o pensamento educacional brasileiro, a partir do Movimento dos Pioneiros da Educação Nova de 1932. Logo, a concepção de educação integral vigente no país norteou um novo direcionamento para o papel da escola na realidade brasileira, em frente aos desafios impostos pela sociedade, nos dias atuais. Estruturado em três momentos de reflexão, o presente estudo traz inicialmente as bases da escola de tempo integral, segundo o pensamento de John Dewey; em seguida estabelece conexões entre as ideias de Dewey e o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova no Brasil e, por fim, apresenta alguns aportes legais da escola de tempo integral. Assim, esse estudo contribui para o debate do ideário da educação integral na visão de Dewey, situado à realidade contemporânea da escola no Brasil. Além de apontar nos documentos oficiais a organização e o funcionamento da escola de tempo integral, como parte expressiva das políticas públicas educacionais no contexto brasileiro. Este artículo es el resultado de una literatura que analiza el pensamiento filosófico de John Dewey sobre las ideas pragmatistas, que constituyó la base para el pensamiento educacional brasileño del Movimiento de los Pioneros de la Nueva Educación de 1932. Por lo tanto, el diseño educación integral actual en el país guió una nueva dirección para el papel de la escuela en la realidad brasileña, frente a los retos de la sociedad actual. Estructurado en tres momentos de reflexión, este estudio aporta inicialmente la escuela base a tiempo completo, de acuerdo con el pensamiento de John Dewey; a continuación, establece conexiones entre las ideas de Dewey y el Manifiesto de los Pioneros Nueva Educación en Brasil y, por último, presenta algunas contribuciones de la escuela tiempo completo. Por lo tanto, este estudio contribuye al debate de las ideas de la educación integral en vista de Dewey, situado a la realidad contemporánea de la escuela en Brasil. Además de señalar en los documentos oficiales de la organización y funcionamiento de la escuela a tiempo completo, como una parte importante de las políticas educativas en el contexto brasileño. This article is the result of a literature that discusses the philosophical thought of John Dewey about the pragmatist ideas, which formed the basis for the Brazilian educational thought from the New Education Pioneers Movement of 1932. Therefore, the design current comprehensive education in the country guided a new direction for the school’s role in Brazilian reality, opposite to the challenges of society today. Structured in three moments of reflection, this study initially brings the foundation school full-time, according to the thought of John Dewey; then establishes connections between the ideas of Dewey and the Manifesto of the New Education Pioneers in Brazil and, finally, presents some nice contributions of school full time. Thus, this study contributes to the debate of ideas of integral education in Dewey’s view, situated to the contemporary reality of school in Brazil. Besides pointing in official documents the organization and operation of the school full-time, as a significant part of the educational policies in the Brazilian context. Palavras-chave: Dewey. Pragmatismo. Democracia. Educação. Tempo Integral Palabras Clave: Dewey. Pragmatismo. Democracia. Educación. Tiempo Completo Keywords: Dewey. Pragmatism. Democracy. Education. Full Time Recibido: 24/11/2014 148 Aceptado: 30/04/2015 Para citar este artículo: Soares da Silva, L., das Chagas Alves Rodrigues, F, Carvalho Moura, M. A influência do pragmatismo norte-americano de John Dewey na escola de tempo integral no Brasil. Ixtli. Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación. 2(3). 147-163 IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 A influência do pragmatismo norte-americano de John Dewey na escola de tempo integral no Brasil Considerações iniciais Este estudo consiste em uma pesquisa bibliográfica que busca de forma histórica discutir o pensamento do filósofo norte-americano John Dewey (18591952) acerca do ideário pragmatista que serviu de base para o pensamento educacional brasileiro, sobretudo ao Movimento dos Pioneiros da Educação Nova a partir de 1932. Com efeito, proporcionaram um novo pensar sob o papel da escola no Brasil, em frente aos desafios impostos pela sociedade. Como princípio norteador respaldado no debate do ideário da educação integral na visão de Dewey, as discussões têm por base a corrente filosófica conhecida como pragmatismo e a sua influência na educação escolar. Traz ainda, as contribuições relevantes destes para o entendimento da escola de tempo integral proposta na realidade da educação brasileira, na atualidade. Para Dewey a escola tem como eixo central a vida, a experiência e a aprendizagem, de modo indissociável, tendo como função a de propiciar a reconstrução permanente da experiência e da aprendizagem, que ultrapassem o espaço escolar e sirva de base para a vida dos alunos. Resumindo, os alunos apreendem melhor quando colocam em prática os conteúdos recebidos pela escola. Diante disso, a educação passa a ter uma função mais democratizadora, no sentido de democratização do conhecimento e das experiências vivenciadas pelos alunos. Assim, as reflexões proporcionadas neste artigo estão distribuídas em três temáticas intituladas: “As bases da escola de tempo integral segundo o pensamento de John Dewey”; “Interseções entre as ideias de Dewey e o Manifesto dos Pioneiros da Educação no Brasil”; e por último, “Escolas de tempo integral: aportes legais”. 149 ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação As bases da escola de tempo integral segundo o pensamento de John Dewey O legado do norte-americano John Dewey (1859-1952) influenciou vários educadores no mundo inteiro. Nas áreas da educação fundamentou-se nas concepções de que a escola deve valorizar o pensamento dos alunos, preparando-os para questionar e problematizar a realidade em que estão inseridos. Simpatizante do empirismo e pela sua influência como docente universitário promoveu a criação de uma escola-laboratório, onde exerceu com maestria sua pedagogia através da testagem dos seus métodos pedagógicos. A filosofia deweyana foi denominada de pragmatismo, embora preferida por ele pelo nome de instrumentalismo, porque na sua visão o conhecimento só tem relevância se servir de instrumento para resolver problemas do cotidiano dos alunos. Pode-se entender historicamente sobre o termo pragmatismo que este havia sido: introduzido pela primeira vez em filosofia por Charles Peirce, em 1978, em um artigo intitulado “Como tornar claras as nossas ideias” no Popular Science Monthly, de janeiro de 1879. Peirce após salientar que nossas crenças são regras de ação, dizia que para desenvolver o significado de um pensamento, necessitamos apenas determinar que conduta está apto a produzir: aquilo é para nós o seu único significado (James, 1979, apud Sasaki, 2007, p. 15-16). Assim, para diferenciar o seu pragmatismo dos demais, Pierce utilizou a expressão pragmaticismo buscando estabelecer um estatuto sobre o significado dos conceitos no plano intelectual. Como justificativa para tal diferenciação, Silva (2008) aponta que “a razão principal para a substituição de pragmatismo por pragmaticismo pode ter sido aquilo que Pierce denomina de ética da terminologia” (p.18). Entretanto, 150 Independentemente de suas origens, dá-se o nome de ‘pragmatismo’ a um movimento filosófico, ou grupo de correntes filosóficas, que se desenvolveram, sobretudo nos EUA e na Inglaterra, mas que repercutiram em outros países, ou se manifestaram independentemente em outros países com outros nomes (Mora, 2001, p. 234). IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Para o pragmatismo o essencial encontra-se na crença de que o significado de uma doutrina será idêntico aos efeitos práticos que resultam de sua adoção. Nessa perspectiva, o pragmatismo tem na concepção de verdade um eixo norteador, em que a crença na verdade tem conexão direta com o sucesso de uma determinada ação. Há assim uma valorização da prática, embasada em uma teoria, sem a qual não é possível dar importância às consequências e efeitos da ação em seus princípios e pressuposto. Por isso, a validade de uma ideia ou de um pensamento encontra-se na concretização dos resultados que se espera obter. O legado deixado por Dewey é de suma importância para a fundamentação da educação, que está por vezes enraizada na expansão da democracia em várias esferas da vida social. Ele é um dos educadores do século XX de maior renome, sendo reconhecido como o filósofo mais importante do pragmatismo estadunidense, respeitado pelo seu comprometimento com a educação progressista e com as políticas de cunho democrático. De acordo com Muraro (2008) o pensamento para Dewey “é instrumental para o conhecimento e para a verdade e é um objeto formado do mesmo objeto ao qual é aplicado. O objeto do conhecimento não é algo com que o pensamento começa, mas com o qual termina” (p. 45). Diante disso, o ensino é eficaz, na medida em que absorvem os interesses e as necessidades do sujeito, adequando os conteúdos escolares à sua realidade de mundo, ao seu contexto sociocultural. Note-se que para a tese deweyana, se a educação é um processo de vida, então a escola, que é uma das formas e o lugar privilegiado da educação, deve necessariamente proporcionar ao aluno o raciocínio e a elaboração de conceitos que posteriormente serão confrontados com os conhecimentos sistematizados. Essa teoria aprecia a experiência cotidiana do sujeito e da própria sociedade. Como já mencionado, a educação unida à vida é valorizada por Dewey em sua totalidade. A educação formal ou institucionalizada, sob a ótica de Dewey compreende a escola num ambiente democrático e de compartilhamento de experiências, relacionada às necessidades e interesses individuais e sociais do sujeito. A partir de tal percepção, o sujeito reflexivo e ativo compreende o seu papel na sociedade, ao mesmo tempo em que se apropria de sua própria 151 realidade individual. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação Para tal desenvolvimento, Dewey aponta que a educação desenvolvida nas escolas necessita do aporte teórico de outras ciências, pois a prática educacional por si só não pode resolver sozinha os problemas educativos. Nesse sentido, apresenta uma concepção em que a educação deve ser uma espécie de preparação do sujeito para a vida adulta. A essência deweyana no entender de Japiassú (1996) “consiste em lançar mão das motivações e dos interesses espontâneos do sujeito para a descoberta, pela experiência pessoal, das informações úteis a serem assimiladas” (p. 34). Pelo exposto, compreende-se então que, a filosofia da educação proposta por Dewey é construída com base no pensamento reflexivo, resultante de novos conhecimentos. Educar é dar mais sentido as experiências e vivências dos sujeitos, relacionando-as aos problemas reais, na reconstrução dessas experiências, bem como na busca de responder aos desafios impostos pela sociedade. Nessa perspectiva, Daniel (2000) diz que Dewey analisou a escola como “um laboratório comunitário onde a criança aprende, com a ajuda de seus pares, a se maravilhar e a se espantar diante da complexidade dos seres e das coisas” (p. 96). Posto isto, ao mesmo tempo em que desempenha a função de transmitir os saberes para as novas gerações, a escola assume também o papel de levar o aluno a uma situação de experimentação, a fim de construir o conhecimento, a partir da reflexão e da ação. É necessário destacar nesse contexto que: a escola deve constituir a ponte necessária que permite à criança efetuar de forma eficaz a passagem do universo simples de sua família ao universo mais complexo de sua sociedade. Ela deve ajudar a criança a encontrar um sentido para essa passagem porque, se ela não percebe a continuidade entre sua experiência vivida e a nova, não pode nela se integrar nem assumi-la (Daniel, 2000, p. 97). É necessário haver uma relação direta entre o conhecimento e a experiência, para que o sujeito em formação possa pela reflexão, verificar por si mesmo a consistência de suas hipóteses, tornando-se um indivíduo autônomo e crítico. Além disso, a educação precisa despertar nos sujeitos o interesse e a vontade de crescer continuamente. Para Henning (2009) “o pragmatismo 152 de Dewey, estrelou com grande presença, especialmente através de Anísio Teixeira, intelectual atuante no movimento da Escola Nova” (p. 2). IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Ainda sobre essa questão, afirma Chaves Junior (1999) que “é fato que os pressupostos teóricos de Anísio Teixeira acerca da escola que desejava ver implantada no Brasil advêm das premissas elaboradas por John Dewey” (p. 86). O educador brasileiro Anísio Spínola Teixeira (1900-1971) entusiasta das ideias de Dewey, as incorporou no Manifesto dos Pioneiros da Escola Nova. Neste, o pensar e o fazer nas práticas educativas colabora para a formação integral da criança, em todas as suas dimensões: psicológicas, sociais, intelectuais, dentre outras. Outro ponto a destacar na herança teórica e filosófica deweyana diz respeito à democracia, entendida como sendo um modo de vida, pois através dela é possível atuar sobre os problemas cotidianos que se fazem presentes no contexto individual e social, de modo a investigar as possíveis soluções. A escola é, pois, lócus de vivência dessa democracia por meio das ações didáticas metodológicas na superação do ensino tradicional, livresco e memorístico. É necessário compreender que, nessa perspectiva o conceito de democracia não pode se prender apenas à definição de que seja democrático um conjunto de indivíduos que participam de modo “igualitário” na escolha dos seus representantes políticos por meio do voto direto e participativo, por exemplo. A democracia necessita, pois, ser compreendida por um conceito mais amplo que busque a resolução dos conflitos de modo coletivo, consequentemente a educação estará diretamente ligada à democracia, como meio de ascensão dos sujeitos na resolução democrática dos conflitos. Relacionando tais aspectos, com o ensino proposto pela escola de tempo integral, pode-se observar que promover uma educação de inserção democrática pautada para uma formação crítica e reflexiva é de fundamental importância para o estabelecimento de uma educação de qualidade, observando os princípios democráticos como apresenta Dewey. Dewey defendeu a democracia no local de trabalho para liberar as capacidades de resolução de problemas dos trabalhadores, em beneficio de si próprios, dos empregados e de toda a sociedade. Dewey defendeu a democracia no controle e operação de sistemas escolares, para que o público pudesse avaliar e aperfeiçoar a eficácia das escolas. Ele defendeu a democracia na sala de aula, para que as crianças pudessem aprender a solucionar problemas de modo cooperativo, participativo de atividades grupais que exijam pensamento reflexivo (Shook, 2002, p. 171-172). ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação 153 Como se vê, a democracia das ações e práticas pedagógicas é imprescindível para a formação dos sujeitos, que desde o início do seu contato com a escolarização é necessário criar uma consciência colaborativa, criativa e dinâmica das aprendizagens. Compete à escola de tempo integral, devido à extensão do tempo de permanência dos alunos e professores, suscitar essas características nos atores envolvidos no processo educativo. Aprofundar-se-á essa discussão nas próximas temáticas abordadas nesse texto, em que será delineado o conceito de educação integral e suas implicações na escola de tempo integral brasileira. Para tanto, será discutido, a seguir a confluência das ideias de Dewey e o pensamento dos pioneiros da escola nova. Interseções entre as ideias de Dewey e o manifesto dos pioneiros da educação no Brasil O Movimento escolanovista liderado por Anísio Teixeira trouxe um ideal de educação nos moldes preconizados pelo filósofo americano John Dewey, que se dedicou à educação em bases pragmatistas, como já mencionado. A ideia de uma escola para todos, que visava à formação integral dos indivíduos estava sendo discutida há tempos no Brasil. Firma-se no país no ano de 1932, quando do marco histórico do Manifesto dos Pioneiros da Educação, um importante documento para o setor educacional com o intuito de promover a reforma no ensino. Assim, o próprio redator do texto do Manifesto dos Pioneiros, Fernando de Azevedo, afirmou que: 154 esse documento público que teve a mais larga repercussão, foi inspirado pela necessidade de precisar o conceito e os objetivos da nova política educacional e desenvolver um esforço metódico, rigorosamente animado por um critério superior e pontos de vista firmes, dando a todos os elementos filiados à nova corrente as normas básicas e os princípios cardeais para avançarem com segurança e eficiência nos seus trabalhos. Não é apenas uma bandeira revolucionária, cuja empunhadura foi feita para as mãos dos verdadeiros reformadores, capazes de sacrificar pelos ideais comuns a sua tranquilidade, a sua energia e a sua própria vida; é um código em que se inscreveu, com as teorias da nova educação infletidas para um pragmatismo reformador, um programa completo de IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 reconstrução educacional, que será mais cedo ou mais tarde a tarefa gigantesca das elites coordenadoras das forças históricas e sociais do povo, no seu período critico de evolução (Azevedo, 1985, p. 50). O Manifesto supracitado, concebido como projeto de reformulação e laicização da educação brasileira provocou o movimento escolanovista no país, visto como possibilidade de despertar nas ações pedagógicas e práticas docentes a investigação, a crítica e o raciocínio para superação da pedagogia tradicional. Neste contexto, influenciado pelo pragmatismo e pelo pensamento de John Dewey, o educador baiano Anísio Spínola Teixeira e um grupo de pensadores brasileiros passam a defender a ideia da escola de turno integral como possibilidade qualitativa para a escola pública. Otávio Mangabeira, então governador da Bahia, em fins da década de 1940, solicitou ao seu Secretário de Educação e Cultura na época, Anísio Teixeira, que elaborasse um sistema escolar para resolver a crescente demanda da população por vagas nas escolas públicas. Teixeira, na década de 1950, idealizou as Escolas Parque na Bahia e na década de 1980, Darcy Ribeiro programou os Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) no Rio de Janeiro, lugar em que ambos vislumbravam um Brasil educado e democrático fundamentados nos ideais do pragmatismo norte-americano. A base de ensino proposta apresentava que o centro deveria oferecer ao aluno, ao longo do ano letivo regular dias inteiros em atividades divididos em dois períodos distintos: um de instrução, seguindo o currículo escolar nas chamadas Escolas Classe; e o outro período em trabalhos, educação física, atividades sociais e artísticas, na chamada Escola Parque. A ideia era de que o Centro Educacional funcionasse como um semi-internato, recebendo os alunos no início da manhã e devolvendo-os às famílias no final da tarde. Percebe-se, nesse sentido, que a Escola de Tempo Integral tem sua introdução no cenário da educação brasileiro, antes mesmo da promulgação da Constituição Federal de 1988, que por sua vez, trouxe possibilidades para a consciência do direito à educação pública de qualidade para todas as pessoas. De acordo com Dewey, a escola não pode ser uma preparação para a vida, mas sim, a própria vida onde todo o conhecimento seria construído em estreita relação com o contexto em que se encontra inserida. Por sua vez, os 155 professores e alunos, ao fazerem parte desse projeto se envolveriam em uma experiência educativa do aprender fazendo, na integração teoria e prática. Assim, as aprendizagens ocorrem através do pensar e agir na busca de ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação respostas às situações desafiadoras. Dando continuidade a esta política Darcy Ribeiro (1922-1997), na década de 1980 retomou a concepção de educação integral de Teixeira por meio dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEP’s), construídos no Estado do Rio de Janeiro. Os CIEP’s foram instalados para atender os filhos das classes populares que ocupavam a periferia da cidade. Com isso, algumas indagações surgiram sobre a aprendizagem desses alunos que frequentavam as escolas de tempo integral. Seria realmente significativa ou, na verdade, a jornada escolar ampliada não tem sido bem aproveitada para a aprendizagem desse aluno? Essa expansão passou a ser utilizada apenas como uma forma de retenção do aluno no espaço escolar, sem uma preocupação de cunho mais formativo? A proposta de implementação de escola em tempo integral esteve e tem estado nos planos de governo? Há uma continuidade no projeto político pedagógico das escolas de tempo integral? Diante destas questões, destacam-se como possíveis inferências às reflexões apresentadas pelo estudioso Vitor Paro (2009), acerca da luta que se faz para que as escolas em tempo integral, integrada se constituam em uma educação integral. Esta reflexão permite questionar que tipo de educação se quer: aquela que reproduz a exclusão? O assistencialismo? A violência? Logo, entende-se que antes de se pensar em estender o tempo da escola, é preciso, portanto, situar que não somente a escola é de tempo integral, mas trata-se de uma educação integral. Para Moraes (2009) tem-se que a “educação integral forma pessoas íntegras. Integral significa inteiro, completo, total e em latim, integrum significa íntegro, sincero, sã, puro, não corrupto, sóbrio” (p. 21). 156 No entender de Cunha (2002) o Manifesto apresentou simpatias com relação às ideias de Dewey, afirmando que “o Manifesto expressou as ideias políticas, filosóficas e educacionais que vinham sendo defendidas desde os anos de 1920. Dentre as muitas noções ali apresentadas havia várias ideias cuja inspiração deweyana era inegável” (p. 255). Constatado esses aspectos pode-se perceber a estreita relação entre as escolas de tempo integral no cenário nacional e os ideais do pragmatismo de Dewey, onde a concepção de educação integral, tomada em sua essência deve se apresentar como sendo emancipadora, libertadora e humanizadora, na medida em que não se pode separar o fazer do pensar, ou mesmo a atividade física da atividade intelectual. IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Escolas de tempo integral: aportes legais No Brasil, durante a década de 1950, Anísio Teixeira já questionava o curto período diário da escola primária no país. Analisando o contexto educacional da época, e mais precisamente o papel social da instituição escolar, o intelectual brasileiro defendia que o funcionamento desta não poderia ocorrer em tempo parcial, visto que: sendo a escola primária a escola por excelência formadora, sobretudo porque não estamos em condições de oferecer a toda à população mais do que ela, está claro que, entre todas as escolas, a primária, pelo menos, não pode ser de tempo parcial. A escola primária visando, acima de tudo à formação de hábitos de trabalho, de convivência social, de reflexão intelectual, de gosto e de consciência, não pode limitar as suas atividades a menos que o dia completo. Deve e precisa ser de tempo integral para os alunos e servida por professores de tempo integral (Teixeira, 1977, p.79). Percebe-se que Teixeira sendo um defensor do direito à educação no país, bem como do tempo integral nas escolas, afirmava a prioridade desta extensão de permanência dos alunos desde o primário, conhecidas hoje no contexto brasileiro por séries iniciais. O debate sobre o horário integral se intensificou nos anos 1980, estando restrito principalmente no Estado do Rio de Janeiro. As discussões foram decorrentes do surgimento dos CIEP’s nesse estado, pelo governador na época, Leonel Brizola e seu vice Darcy Ribeiro, que tinha sido parceiro de Anísio Teixeira nos projetos de criação das Escolas Classe/ Escola Parque do Distrito Federal. Com relação ao tempo de permanência do aluno na escola brasileira, a ampliação do tempo, a extensão da jornada escolar ou a maior quantidade de horas de permanência do aluno na escola não é condutor direto para a melhoria da qualidade. Não é a intensidade do tempo de ensino que garante a aprendizagem, mas a efetiva qualidade do trabalho pedagógico (Arcoverde, 2003, p. 383-384). Assim, observa-se a defesa de uma ampliação da jornada escolar com qualidade do trabalho pedagógico, na valorização da ação diversificada e 157 produtiva para o desenvolvimento integral da criança, do adolescente e do jovem. Concorda-se, então com Rios (2006) que diz: “ou a educação é integral ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação ou ela não pode ser chamada de educação” (p. 52). Para tanto, após a Constituição brasileira de 1988, dentre os avanços e melhorias legais de reconhecimento dos direitos à educação e à proteção social que se seguiram no país, pode-se enfatizar os seguintes: o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069/1990; a nova LDB Lei nº 9.394/1996; e o Plano Nacional de Educação (PNE) Lei 13.005 aprovado em 25 de junho de 2014, confirmando assim, o direito à educação de caráter integral. A proteção social direcionada à criança e ao adolescente requerida através do documento ECA, de modo especial, incube-se de garantir a esses sujeitos a formação, ou seja, o desenvolvimento integral que muitas vezes está ausente da tutela da família, por causa das situações de pobreza que passam as classes populares, Faria (2010) expõe que “dessa forma, a proteção social deve ser parte fundamental da implantação da Educação Integral para que haja garantia de vida digna e inclusão social sem as quais não haverá condições para o exercício da cidadania” (p. 32). Por outro lado, as legislações brasileiras: LDB e o PNE, com vigência para o período de 2014 a 2024, trazem para o debate educacional a questão da escola de tempo integral, integrada para os níveis de ensino fundamental e médio, inclusive para a modalidade de educação infantil. No âmbito do Ministério da Educação, as discussões sobre a expansão da escolarização das crianças e jovens e da oferta de ensino público se reafirmam nas metas e estratégias do PNE, como um dos mecanismos de reconstrução de uma educação básica de qualidade, que oportuniza a todos as aprendizagens e o prosseguimento dos estudos. Nesse sentido, é importante destacar o financiamento dessa educação que requer atenção das esferas públicas do governo brasileiro, no atendimento de qualidade dos alunos e dos demais atores escolares presentes na escola de tempo integral. Este atendimento diz respeito à dimensão física, humana e material das instituições. Quanto à distribuição desses recursos públicos, verificados pelo Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB) às escolas de tempo integral esclarece 158 que, IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 com vistas à distribuição dos recursos do Fundeb, necessário se fez com que, no âmbito desse Fundo, fosse delimitado o conceito de educação básica em tempo integral, uma vez que vinham, e continuam sendo, desenvolvidas no país, por vezes sob a responsabilidade de uma mesma esfera administrativa, experiências de educação em jornada ampliada com diferentes extensões de carga horária. Enfim, era necessário, entre outros aspectos, estabelecer um limite mínimo de tempo associado à jornada escolar, a fim de que os governos municipais e estaduais pudessem fazer jus ao recebimento de recursos relacionados ao empenho vinculado à implantação, manutenção e estímulo ao aumento das matrículas com tempo integral sob sua responsabilidade (Meneses, 2012, p. 141). A distribuição de recursos financeiros, a toda a educação básica, representou um avanço na consolidação das escolas com jornada ampliada, visto que a estrutura física das escolas também sofreram modificações significativas quanto à ampliação de salas, refeitórios, banheiros, quadras de esporte e outros acessos que contribuíam para a estadia dos alunos durante o contra turno, bem como de materiais gastos essas atividades. Assim, a fim de que as atividades pedagógicas sejam executadas eficazmente, é necessário que os gestores públicos reorganizassem a distribuição dos recursos financeiros nas esferas municipais e estaduais. No âmbito do governo federal, foi criado o Programa “Mais Educação”, no ano de 2010 pelo Decreto n° 7.083/2010, com o intuído de melhorar a aprendizagem dos alunos com o acréscimo de atividades pedagógicas, voltadas para as artes, cultura, direitos humanos, esporte e lazer, prevenção de drogas, entre outras. Considerações finais O pensamento filosófico de Dewey trouxe profundas transformações na educação brasileira, no começo do século XX e se atualizando no século XXI. A teoria da aprendizagem da Escola Nova, embora tenha sido difundida há muitas décadas como tendência pedagógica nas escolas brasileiras, ainda é bastante presente na prática pedagógica dos professores. O escalonovismo está presente principalmente nos programas e propostas de escolas de tempo 159 integral, que estão em voga no país. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação Desde o Manifesto dos Pioneiros da Educação vem se pensando em uma escola pública que alargue os distintos direitos, no progresso da educação brasileira, onde todos tenham acesso e permaneçam usufruindo uma aprendizagem rica e ativa em metodologias e práticas contextualizadas e dinâmicas, sem as quais, não é possível educar para a liberdade de pensamento e para autonomia. Nessa perspectiva, o Programa “Mais Educação”, como indutor de política educacional no país, por exemplo, atua na ampliação do tempo de permanência dos estudantes na escola, aumentando o espaço utilizado e motivando mais pessoas interessadas em contribuir socialmente com esse projeto educacional. Assim, o Programa colabora para o aumento do tempo de permanência dos alunos na escola, proporcionando ações educativas, mas por si só não garante uma formação escolar de qualidade. Nesse sentido, a ampliação do tempo de permanência dos estudantes na escola, através da adoção do tempo integral está intrinsecamente relacionada aos contextos de vulnerabilidade social aos quais tais estudantes estão expostos. Observa-se que a equação qualidade versus quantidade passa a ser a nova demanda da educação pública brasileira, onde mesmo que não seja suficiente colocar todas as pessoas na escola, é possível discutir e procurar formas qualitativas de atender a expansão da escolarização, na promoção de uma educação capaz de responder aos anseios da sociedade moderna. Nota-se ainda, o grande desafio da duração da jornada diária das escolas, por causa da existência de opiniões divergentes quanto à defesa de um tempo maior para alunos e professores desenvolver as atividades e conteúdos escolares. Mas, acredita-se com esse estudo que muitos outros poderão se desenvolvidos, no sentido de compreensão e entendimento de uma educação de ampliação de jornada escolar, capaz de cumprir sua função formativa integral. Portanto, a base da escola de tempo integral no Brasil, pautado na filosofia de John Dewey tem em vista que a educação integral, integrada deverá está presente no espaço escolar como extensão da vida social, materializadas nas propostas politicas e pedagógicas da escola de tempo integral. 160 IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Referências Azevedo, F. (1985) A reconstrução educacional no Brasil. Ao povo e ao governo. O manifesto dos pioneiros da educação nova. São Paulo: Nacional. Brasil, MEC. (2010) Decreto – lei nº 7.083, de 27 de janeiro. Dispõe sobre o Programa Mais Educação. Brasil, MEC. (2007) Decreto nº. 6.253, de 13 de novembro. Dispõe sobre o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - FUNDEB regulamenta a Lei nº 11.494, de 20 de junho de 2007, e dá outras providências. Diário Oficial da União: Brasília. Brasil, MEC. (1996) Lei nº 9.394, de 20 de dezembro. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial da União: Brasília. Brasil, MEC. (1988) Constituição Federal de 1988. Brasília: Senado Federal. Brasil, MEC. (2002) Estatuto da criança e do adolescente: Lei federal nº 8069, de 13 de julho de 1990. Rio de Janeiro: Imprensa Oficial. Chaves Junior, J. G. (1999) Tempo integral: A utilização neoliberal da escola pública fundamental, a implantação das ETIS no estado de São Paulo. In: IV Simpósio Internacional O Estado e as Políticas Educacionais no tempo presente. Uberlândia- MG. Cunha, M. V. (2002) John Dewey: Uma Filosofia para Educadores em Sala de Aula. Petrópolis: Vozes. Daniel, M. (2000) A filosofia e as crianças. 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Tiene la Certificación Internacional en Gestión Curricular Módulos y Proyectos Formativos por Competencias por el Centro de Investigación en Formación y Evaluación: Santiago, Chile. Es evaluadora en los Comités para la Evaluación de Programas de Pedagogía y Educación. Líder del Grupo Disciplinario Investigación en Humanidades con el proyecto: Desarrollo Curricular, Formación e Instrucción por el Enfoque de Competencia. Sara Esther Castillo Ortega Universidad Autónoma del Carmen (UNACAR), Facultad de Ciencias de la Salud [email protected] Doctora en Psicología. Experiencia docente y de investigación en la Lic. en Psicología Clínica de la Universidad Autónoma del Carmen, cultiva la L.GyA.C. Desarrollo del pensamiento complejo en Educación para la salud. Responsable del proyecto: Representaciones sociales y construcción de conocimiento en Educación y Salud. Miembro del Centro de Investigación Educativa y Ciencias Sociales –CIECSO-. Leticia Arias Gómez Universidad Autónoma del Carmen (UNACAR), Facultad de Ciencias Educativas [email protected] Pedagoga con Especialidad en Docencia y Asesoría de Calidad. Maestra en Planeación de la Educación Superior. Actualmente elabora disertación para el Doctorado 165 en Educación, impartido por la NOVA Southeastern University de Miami, Florida; ha desarrollado trabajos de investigación en la línea de Gestión Educativa. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación Resumen - Resumo - Abstract La identidad profesional, como categoría analítica, constituye un eje necesario de estudio en el curso de Filosofía Educativa, ya que permite reflexionar las razones, los motivos, las expectativas y las percepciones que el estudiante de primer semestre de la Licenciatura en Educación asume como sujeto, respecto de la profesión de la docencia. Se exponen diversas estrategias de aprendizaje vivenciales, aplicadas como dispositivos para construir desde los procesos de comprensión, pautas para formar en el alumno, una identidad profesional sobre las responsabilidades que implica el actuar del profesional en educación. El resultado de las 37 entrevistas realizadas mostró, que los estudiantes reconocen la influencia del contexto histórico, social y los principios filosóficos educativos, que ellos han experimentado para fundamentar la creación de sus proyectos formativos, en práctica simulada, para el ejercicio de la profesión docente. Identidade profissional, como categoria analítica, é necessário um eixo de estudo no curso de Filosofia educacional, permitindo refletir as razões, motivações, expectativas e percepções que os alunos de primeiro semestre do Bacharelado em Educação assumidas como sujeito no que diz respeito à profissão de ensino. Várias estratégias de aprendizagem experiencial, aplicados como dispositivos para construir a partir dos processos de compreensão, orientações formaren estudante, uma identidade profissional sobre as responsabilidades dos agindo educação profissional são discutidos. O resultado de 37 entrevistas mostrou que os alunos a reconhecer a influência dos princípios filosóficos históricos, sociais e educacionais, que experimentaram a apoiar a criação de seus projetos de formação na prática simulada para o exercício da profissão docente. Professional identity as an analytical category is a vital focus of study in the course of Educational Philosophy since it allows reflecting the reasons, motives, expectations and perceptions that a first semester undergraduate student from the Education degree assumes as an individual regarding teaching as a profession. Several experiential learning strategies are presented. They are used as tools to construct comprehension processes, interludes to provide a professional identity in students about the responsibilities while being an educator. The results of 37 interviews have shown that learners admitted the historical, social and educational philosophical principles have influenced them while supporting their training projects in simulated practice within the educational area. Palabras Clave: . posestructuralismo, profesión docente, filosofía educativa, curriculum, construcción de conocimiento Palavras-chave: pós-estruturalismo, profissão de ensino, filosofia educacional, currículo, construção do conhecimento Keywords: Post-structuralism, teaching profession, educational philosophy, curriculum, construction of knowledge Recibido: 12/05/2015 166 Aceptado: 16/07/2015 Para citar este artículo: Hernández Marín, G., Castillo Ortega, S., Arias Gómez, L.(2015).Construcción de la identidad en el profesional de la educación, a través del curso de filosofía. Ixtli. Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación. 2(3). 165-183 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Construcción de la identidad en el profesional de la educación, a través del curso de filosofía La figura del docente en un contexto crítico y reflexivo de su quehacer Uno de los grandes retos que tiene la Universidad Autónoma del Carmen al incorporar una educación por competencias en sus diseños curriculares, es no reducir el proceso de enseñanza a un simple proceso instruccional como lo expresa Carmona (2008) que se convierta en “procedimientos e instrumentos que condicionen el sentido de la práctica docente y con ello se descuide la dimensión moral y cualitativa de la acción educativa” (p.133). Es así que, se requiere reconstruir y configurar un punto de equilibrio en el cual se pueda ofrecer una formación pertinente a las necesidades sociales, laborales y profesionales que no sacrifique la esencia de una educación humanista, participativa, crítica y reflexiva. Sobre la base de lo anterior, el currículo no debe basarse únicamente en los aspectos cognitivos e instrumentales de la cultura, sino en todos los componentes de la interacción, incluyendo como lo cita Vila (2011) las emociones y todas sus dimensiones del ser humano, con una concepción dinámica y crítica “configurar como un punto de encuentro intercultural, común para todas las personas y donde todas las voces confluyen y participan en su construcción desde su diversidad experencial y cultural” (p.12). Por ello, el Programa de Educación preocupado por la formación integral del futuro profesional incorporó una formación filosófica en el currículo de manera que propicie en los estudiantes la generación de procesos reflexivos y analíticos de lo que se está aprendiendo. El curso de filosofía en el primer semestre, tiene el propósito de desarrollar la capacidad de juicio, de discusión crítica sobre los fundamentos en los que se basa la educación actual, también promueve un pensamiento práctico reflexivo a través de la construcción de proyectos formativos, así 167 como la comprensión ética y valorativa que envuelve el actuar docente. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación Formación filosófica e identidad profesional Ante la necesidad de acercarnos al propósito del curso de filosofía, se diseñó un esquema de investigación acción para explorar en qué medida con la formación filosófica que se le da a los estudiantes de la Licenciatura de Educación, durante un semestre, se contribuye a generar las primeras bases para construir gradualmente la identidad profesional, mediante la articulación de procesos de diálogo, reflexión, de auto-observación y autocorrección al interactuar con hechos o sucesos reales que han marcado a la sociedad mexicana, por ejemplo la matanza de Tlatelolco en 1968, la Matanza de Acteal de 1997, etc. Al respecto Carmona (2008) destaca que el pensamiento crítico y creativo debe ser incorporado a la acción formativa en la que se generan prácticas reflexivas, críticas y creativas en la experiencia compartida del aula, como una comunidad de investigación en dónde la escuela se vislumbra como espacio de humanización. Prieto (2003) denota que la identidad profesional se construye través de un “proceso complejo, dinámico y sostenido en el tiempo, resulta de la generación de colectivos críticos que articulan, a partir de la reflexión conjunta, sistemas simbólicos, experiencias y representaciones subjetivas en el contexto de la realidad construida en la escuela (en Santibañez, 2012, párr. 3). Por ello la necesidad de generar espacios que permitan la construcción de la identidad profesional desde que el estudiante ingresa a la carrera universitaria, propiciar el apego por la vocación con los semestres previos puede evitar la deserción, que hace crisis en los primeros años de formación. Comprender que el estudiante, es un “ser humano a la vez físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico, unidad compleja de la naturaleza humana” (Morín, 1999, p. 37), la educación requiere reconocer la multidimesionalidad con la que se construye la identidad profesional y desde el currículo restaurar la conciencia de esta identidad mediante los diversos cursos que integran la trayectoria académica del alumno. Al respecto Cervantes (2011) configura para la formación de la profesión docente, el Ciclo Reflexivo (CR) como un camino en donde se entrecruza el pasado, el presente y futuro de la práctica pedagógica pasando por momentos que permiten reconstruir, revisar, resituar y generar nuevas configuraciones en formas de pensar, sentir y actuar. Por ello el desarrollo de la identidad 168 profesional docente, se incrementará cuando el estudiante disponga de espacios de oportunidad para reflexionar con sus pares sobre su quehacer en los contextos sociales, disciplinares, laborales, éticos, profesionales y personales. IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 De ahí la importancia del desarrollo de proyectos formativos integrales que complejicen las competencias de los diversos cursos que habrán de ir dando, gradualmente, la identidad profesional a los nuevos docentes. Por tanto, planteamos la lógica establecida por Zemelman (2002) para pensar la identidad profesional desde la necesidad de tomar conciencia del propio yo, que establece en la vida tres categorías espacio temporales entendidas como el pasado- presente, el presente- presente y el futuro- presente donde el sujeto social es actor de su propia historia y no un simple espectador de la misma. El presente potencial permite que el estudiante se posicione ante su praxis profesional como un arquitecto de su propia identidad y no como un simple alienado a discursos ajenos que le son impuestos por agentes del sistema ya instaurado esperando únicamente una respuesta automática de ejecución. Para Fagermoen (1997) los valores van configurando la identidad profesional, considera que la interacción social y el simbolismo cultural definen la formación de los valores, por un lado favorecen la construcción de la identidad profesional y por otro, se expresan a través de significados en auto presentación y contenidos de un rol particular. Asimismo, de manera específica Burke y Stets (2000) determinan que las identidades están compuestas por auto observaciones que emergen de la actividad reflexiva, de la autocategorización a un grupo o a un rol en particular. Ante estos marcos referenciales, es que se orienta una didáctica de la enseñanza de la filosofía procurando generar la consciencia por la identidad profesional, con la intensión de tener estudiantes más satisfechos con la disciplina que estudian, a fin de que se convierta en una extensión de su proyecto de vida y no solamente se autoconceptualice como un producto para obtener un trabajo al egresar. Como proyecto de vida, se comparte lo propuesto por Tobón (2005) de construir la identidad profesional como parte integral de un proyecto ético de vida entendido como una planeación consciente e intencional con el fin de dirigir y proyectar la propia vida en diversos campos de desarrollo humano con el fin de avanzar en la plena realización de la misma, asumiendo responsablemente implicaciones y consecuencias de los actos (p. 10). Es por ello, que es intención de este trabajo, generar posibles aproximaciones a los conceptos y significados que se van involucrando en la construcción de 169 la identidad profesional del Licenciado en Educación, a partir dela reconocimiento de la historicidad del sujeto, sus vivencias con diversas estrategias ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación áulicas, en donde la relación entre el maestro y aprendiz, dicta Heidegger (2005) “nunca entra en juego la autoridad del sabihondo, ni la influencia autoritaria de quien cumple una misión” (p.23). De esta misma forma la postura del postestructuralismo, es una base para este análisis de identidad profesional, porque ofrece la oportunidad de trabajar el conocimiento como proceso y no como producto es decir que la identidad profesional, no sólo se logrará únicamente con un curso de filosofía, sino del conjunto del currículo en sus diversos niveles de concreción, en el sentido de ser “construido socialmente en perspectivas no jerárquicas, ni universales, ni definitivas”. (González, 2008, p.12). Metodología El curso de filosofía en primer semestre pretende hacer reconocer en los profesionales de la educación, que ellos trasmitirán con la enseñanza, la investigación y el diseño de proyectos valores fundamentales de la cultura, que harán su contribución a la formación integral de las personas mediante el desarrollo de una consciencia crítica, reflexiva e histórica de la sociedad. Es así como mediante la investigación acción, se llevó a cabo una aproximación a la construcción de la identidad profesional del estudiante de la Licenciatura en Educación. Se valoró como el curso de filosofía contribuyó a crear un andamiaje en seis conceptos claves de la construcción docente: fines de la educación, actuación con la sociedad, qué es conocimiento, aprendizaje, rol del profesor y el yo como profesional de la educación. Como estrategia pedagógica, se sometió al análisis diversos temas filosóficos, movilizando la reflexión con siete temáticas: Movimientos magisteriales en México, la Matanza de Tlatelolco, Movimiento del EZLN, Actualidad e Influencia de la Tecnología en la Sociedad, Análisis del Plan Sectorial de Educación en México, Los 7 Saberes de la Educación del futuro de Edgar Morín y La Civilización del Espectáculo a través de la crítica de Vargas Llosa. Ver figura 1. Los dispositivos que se usaron como estrategia de enseñanza y aprendizaje estuvieron compuestos por nueve metodologías diversas que permitieron ir construyendo la toma de consciencia sobre cada uno de los siete temas o hechos. Ver figura 2. 170 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Figura 1. Temas filosóficos con los que se trabajó la discusión y el análisis 171 Fig. 2. Estrategias vivenciales para mover los contenidos filosóficos ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación Para la aplicación de las estrategias vivenciales, se aprovecharon espacios formativos como la Semana de la Facultad de Ciencias Educativas, Semana Nacional de Ciencia y Tecnología, espacios institucionales que se propician para que los estudiantes adquieran créditos por Actividades de Formación Integral (AFI´S), como lo son eventos culturales y académicos. En la investigación participaron 37 estudiantes y las entrevistas se hicieron sobre los seis ejes de análisis, se aplicaron en dos momentos: al inicio del semestre, antes de aplicar las estrategias pedagógicas y después de aplicar las estrategias para identificar si se había modificado la percepción en las seis categorías de análisis: (1) concepto en educación, (2) la actuación con la sociedad, (3) conocimiento, (4) aprendizaje, (5) rol del profesor y (6) el yo como profesional de la educación. Los registros de aprendizaje de los 37 estudiantes y las entrevistas escritas, estructuradas sobre los seis ejes de análisis, permitió contar con una aproximación en la comprensión de significados que contribuyen a largo plazo en la construcción de la identidad profesional en las siguientes dimensiones. Ver figura 3. 172 Figura 3.Aproximaciones a la construcción de la identidad profesional IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Resultados Se puede observar (Tabla 1) a través de los fragmentos de la entrevistas que el estudiante, reconfigura su forma de pensar sobre el rol del profesor de manera gradual, se destaca una función mediadora del docente, una construcción de un quehacer más flexible y democrático. Es de destacar que en el discurso previo, el estudiante colocaba al profesor en una posición muy distanciada con respecto a la relación profesor- estudiante, aunque lo reconocía inicialmente como un sujeto estricto lo incorporaba como una figura ajena y desarticulada en el plano afectivo. En el discurso posterior el estudiante identifica la importancia que tiene la parte afectiva en el proceso formativo sin que eso desconfigure las capacidades reales del sujeto aprendiz, es decir, valora el papel del profesor como un guía que orienta pero que de manera afectiva puede transmitirlo al estudiante. Es capaz de señalar los errores pero también de orientar en la construcción del conocimiento. De acuerdo con Vygotsky, el profesor es un mediador en la construcción del conocimiento y no solo un facilitador de información, lo cual se pone en juego cuando el profesor puede destrabar ciertos bloqueos que se producen en los estudiantes ante la construcción del conocimiento alentándolos a que continúen de manera autónoma su propio proceso formativo. El significado que el profesor posea, sobre el aprendizaje, según Díaz (2002) impactará en su práctica pedagógica, pues el análisis epistemológico que un profesor tenga de aprendizaje condicionará una función reproductora de trasmisión ideológica o una función socializadora y constructiva en la intervención educativa. Los procesos de aprendizaje necesariamente implican la movilización subjetiva de cualquier estudiante, puede evidenciarse mediante emociones encontradas como inseguridades, comportamientos de autosuficiencia, pasión por comprender o saber más. (Ver Tabla 2) Es significativo el valor que los estudiantes en el discurso posterior le otorgan al error al interior de los procesos formativos, el cual es un aspecto analizado a detalle por el constructivismo (Coll, 2002) que implica reconocer que se puede fallar en la construcción del conocimiento porque éste no es una verdad absoluta sino que es susceptible de transformarse mediante ejercicios de análisis y reflexión que posibiliten la comprensión de lo aprendido tanto a nivel individual como colaborativo. La mejora no es un proceso de deconstrucción exclusiva del aula sino de toda la vida. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 173 Antes pensaba… Ahora pienso… “Pues llegar a dar clase y marcar tareas” “Trasmitir conocimientos y comprobarlos mediante exámenes” “Un profesor debe conocer bien su materia de enseñanza” “Los profesores deben ser serios, imponerse para dar una mejor clase” “El profesor, solo da la clase y nada más”. “La clase debe ser estricta y seria” “Enseñar conocimientos” Ser estrictos con los alumnos, mantener la disciplina en un salón de clase, para que hagan la tarea los alumnos”. “enseñar su conocimiento, para que los alumnos aprendan de ellos” “No tenía idea, no me había puesto a pensar”. “Para mí el profesor, sólo imparte clases y el alumno, sólo tomaba el conocimiento regalado por el profesor” “Poner a leer a los alumnos” “Dar clases” “Dar clase y ya” “Enseñar saberes que se han adquirido” “Trasmitir los conocimientos aprendidos” “El profesor debe dar la lectura para que se comprenda bien” “El profesor debe enseñar, dar su clase si entendiste bien y si no también”. “Es una guía, ya no es el que te da toda la información, el alumno ya debe intervenir y los profesores son un apoyo”. “Es un facilitador de los conocimientos, tienen una relación personal en vez de una tan profesional” “El profesor debe darse tiempo de conocer a su estudiante para mejorar su enseñanza.” “Los profesores ayudan a fortalecer los conocimientos y deben hacer sentir emoción por lo que se aprende” “El maestro ayuda al alumno para expresarse y explicar, se preocupa por las emociones que dificultan el aprendizaje” “Con las vivencias de las estrategias aplicadas, nosotros tomamos el control y el rol de ser profesores”. “El maestro debe dar independencia para que el alumno se vaya encontrando” “Es un facilitador del conocimiento, guía del alumno para que alcance aprendizajes significativos”. “Ayudar a desarrollar capacidades reflexivas en él alumno”. “el profesor debe respetar las diferentes opiniones de los alumnos, estar de acuerdo en que ellos se pueden equivocar”. Es una guía en la formación académica”. “El profesor debe ayudar a reflexionar los aprendizajes que el alumno adquiere”. Tabla 1. Rol del profesor - Fuente: Fragmentos de entrevista con estudiantes. 174 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Antes pensaba… Ahora pienso… “Un medio para aprender nuevas. Cosas. Todo el conocimiento que tienes acerca de las cosas”. “Conocimiento que se adquiere por la enseñanza de un maestro”. “El miedo me gana cuando tengo que aprender algo nuevo, soy insegura para aprender” “Sólo se obtiene en la escuela”. “Hay una sólo forma de aprender, el maestro”. “Es todo lo que logramos percibir” “Ni idea” “Pensaba que sólo era aprender por aprender”. “Ni idea” “Es algo comprendido” “Solo es adquirir conocimiento”. “es lo que se aprende de las cosas” “tener que aprender algo, sin tener que innovar o ser creativo”. “el aprendizaje bueno, solo se obtiene en la escuela” “lo que nos enseñan los maestros “Se adquiere aprendizaje por diversos medios, investigaciones individuales, sin necesidad del maestro. El maestro coordina ideas”. “Que aprender trae equivocaciones y que estas ayudan a mejorarnos, además que si se vale equivocarse a diferencia de lo que nos han hecho creer los papas y otros maestros” “Se aprende de diferentes maneras” “El aprendizaje es como nosotros transformamos la información en conocimiento, con la ayuda del maestro y de las actividades en la clase, después de vivirlo nos deja ganas de seguir aprendiendo, se nos queda algo bueno que se puede compartir ”“El aprendizaje es lo que nos queda después de algo vivido, es cuando nos transformamos para algo bueno”. “Que se aprende todos los días, de diferentes modos y con situaciones diferente de la vida”. “Es un proceso que va en evolución. “Las experiencias adquiridas de varios procesos, llegando a un conocimiento flexible y tomando una buena asimilación de este”. Es un proceso que ayuda a reflexionar y a construir nuevas ideas”. “Es descubrir la esencia de un conocimiento, es comprender las circunstancias y para que se crea”. “Es continuo y nunca se termina de aprender” “Es algo continuo que se hace durante toda la vida a través de diferentes medios, experiencias que dejan un aprendizaje” “El aprender es la base de todo conocimiento, por eso es continuo y no sólo se adquiere de manera individual, también colectivo”. “Se aprende de muchas maneras y en diferentes lugares” “Es un proceso que se acompaña con la vida”. Tabla 2. Aprendizaje - Fuente: Fragmentos de entrevista con estudiantes. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 175 Los alumnos han incorporado a su repertorio una idea de que conocimiento, es razonar (Ver Tabla 3), que se debe aprender a pensar, lo que al respecto se enriquece con el postestructuralismo, al concebir el conocimiento como proceso y no como producto “ser construido socialmente en perspectivas no jerárquicas, ni universales, ni definitivas”. (González- Gaudiano, 2008, p.12). Antes pensaba… Ahora pienso… “Adquirir la verdad” “Es Lo que sabemos de las distintas cosas. “Adquisición de lo que sabe otro” “Ni idea” Se debe poseer conocimiento”. “Tener muy claro algo” “El conocimiento es el que debe aprenderse” La información que nos enseñan” “Es saber un tema a tratar,” es información, verdadera”. “Saber profundamente sobre un tema”. “es poseer la verdad” “ni idea “ “es una herramienta para cada ser humano” “no sabía” “son los temas de los cursos que vamos a aprender” “El conocimiento ayuda a ser más reflexivos, a querer saber más” “El conocimiento se construye de dos formas de manera individual y de forma colectiva”. “A razonar el conocimiento que se aprende”. “Es más que información, es reflexionar, porque ese conocimiento debe aprenderse”. “El conocimiento se va transformando y nos va transformando también, en nuestra forma de pensar y de actuar” “No es memoria, es comprensión” “se construye en un individuo y se enriquece en grupo”. “Es flexible, no todo es válido se tiene que reflexionar lo que se sabe, analizar las fuentes” “Está en varias partes y somos nosotros los que tenemos que querer saber, si nos interesa aprender”. “con el conocimiento se puede transformar a una sociedad” “que saber es bonito, pero que se debe ser responsable, reflexivo, pues me he dado cuenta que si uno, no se esfuerza por saber te quedas rezagado, sin poder interactuar con los demás”. “conocimiento es muy amplio, uno no logra aprenderlo todo, es constante, es progreso, porque no me puedo quedar con lo que ya sabemos por siempre” Tabla 3. Conocimiento - Fuente: Fragmentos de entrevista a los estudiantes. 176 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Conocer es diferente a saber. Se puede saber mucha información pero no comprender nada de ella. La construcción del conocimiento implica que el alumno pueda poner en juego ese conocimiento cuando se requiera, no solo de manera memorística sino de manera reflexiva y crítica. El saber se refiere al Antes pensaba… Ahora pienso… “Ni idea” “Ser buena persona” “Ni idea” “Ni idea” “estar arraigada que a como me tratan, uno trata”. “Convivir con ellos” “pues me importa lo que los demás piensen” “No me tomaba el tiempo para conocer, lo que sucedía a mi alrededor, podría decir que no estaba involucrada con la sociedad”. “Permanecer con un grupo con el que te sientes bien” “Es de forma individual”. “Me daba igual, sobresalir o no, dentro de la sociedad”. “No me interesaban ciertos temas”. “era egoísta, temida y muy reservada” “No había pensado en esto” “Ajustarme a las normas” “yo era antisocial, odiaba leer libros cada vez leía menos” “no lo había pensado” “Pienso que debo ser un buen ciudadano para ser un buen profesional” Convivir y aportar algo de lo bueno que tengo con otros” “Comunicarme y dar a conocer lo aprendido con mi familia, mis amigos. Amo mi carrera y la defiendo, porque ocupa un papel muy importante en la sociedad”. ”Pienso que para ser un profesional implica muchos recursos, el mejor es saber aplicar con sabiduría la solución a los problemas, el profesional es aquel que cree y da todo por todo y no sólo por un papel”. “Ya no soy la misma persona de antes, ahora sé que mi contribución como profesor, es importante para otros”. “mi actuar es más activo, comparto puntos de vista de temas actuales, con compañeros y familiares, me gusta saber los sucesos que acontecen en el país y más si tienen que ver con educación. Aportó más cosas, porque ya tengo más consciencia de mi papel como profesional de la educación”. “Relacionarme con los demás, acepto sus diferencias y formas de pensar, los acepto tal como son”. “Que si tengo capacidad para mi profesión, pero los miedos no me dejan actuar y pasar nuevos obstáculos”. “Deriva de un trabajo en equipo para poder involucrarse de verdad con la responsabilidad social”. “Saber que con la profesión que elegí puedo llevar un poco de lo que estoy aprendiendo para ayudar a cambiar mi entorno social y mejorarlo con mis actos”. Tabla 4. Actuación con la sociedad - Fuente: Fragmentos de entrevista con estudiantes. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 177 soporte teórico que puede ser reconocido por el sujeto poseedor de la verdad que la aplica. El conocimiento implica que aún en el reconocimiento de ese soporte teórico el estudiante esté siempre dispuesto a recibir lo inesperado (Mannoni, 2005, p. 139) por los otros con quienes se relaciona y del medio donde se desempeña, que pueda analizar los eventos en base a ese referente teórico y más allá de él para que no se limite en sus propias construcciones intelectuales. Que no se deje guiar por creencias que desvirtúen su praxis. Los estudiantes de primer semestre, ofrecen una aproximación de cómo se auto-observan con su actuación como profesional de la educación, para con los demás “Ya no soy la misma persona de antes, ahora sé que mi contribución como profesor, es importante para otros”; “Aportó más cosas, porque ya tengo más consciencia de mi papel como profesional de la educación”. Se presenta lo que Ruvalcaba- Coyaso, Uribe y Gutiérrez (2011) advierten en cuanto que la identidad profesional está relacionada con variables como la autoevaluación y el auto-concepto y que es necesario explorar condiciones de significancia en las características de tránsito en la adolescencia y la adultez. Los procesos de autoevaluación, autoconcepto, autoestima, entre otros que implican el prefijo auto necesariamente llevan a una construcción de toma de conciencia que propicia que el alumno se movilice en su propio proceso formativo. Cabe destacar la diferencia existente entre el discurso inicial, plano, de los estudiantes con respecto al rubro de actuación con la sociedad y lo fomentado con ellos en el proceso formativo. Es notable observar que la percepción inicial que tenían con respecto al impacto que la formación profesional tiene hacia la sociedad para la mayoría de ellos era inexistente. No dimensionaban que la formación profesional además de ser un proceso individual también tiene su razón de ser en función de su contribución a la humanidad. El sujeto no es un solo un cuerpo que ocupa un espacio en la inmensidad del mundo como espectador sino que es actor de su propio mundo. (Zemelman, 2002). En el discurso posterior la mayoría de ellos transforma esa concepción apático- pasiva y son capaces de pensarse como responsables de la formación de otros y de su impacto para contribuir a mejorar la sociedad. 178 En esta dimensión se da una interacción entre los valores de los estudiantes con el acercamiento a la profesión en la que escogieron, de esta manera cita Fagermoen (1997) se va configurando la identidad profesional al encontrar significados en auto-presentación y contenidos de un rol particular. IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Antes pensaba… Ahora pienso… No sabía. Enseñarles todo lo que pueda a mis alumnos para que aprendan correctamente. “Ser una persona diferente para educar”. Estaba muy enfocada con niños, porque me daba miedo estar frente a un grupo de personas adultas” “Formarme como profesional” “Enseñar a niños” “Antes pensaba…para que dar si otros no aportan”. Ni idea Ni idea “Mi trabajo” “Muy lejano a los alumnos”. “Nunca me había puesto a pensarlo” “Trabajar con niños” “ni idea” “no sabía que quería” “Dar una buena enseñanza con base a valores universales. “enseñarles a mis alumnos a desenvolverse en la vida, inculcar paciencia para aprender”. “Mejorar como persona, porque educaré personas que serán parte de la sociedad” “Ahora sé que puedo trabajar con adultos, estoy interesada con dar clases de esa edad. Quiero contagiar a mis alumnos de ganas de aprender, motivarlos para alcanzar sus metas, creo ese es mi principal aporte como profesional de la educación. “Trasformar procesos de mejora con mi profesión” “A marcarme metas educativas que ayuden a la formación de los niños con valores”. “aporto creatividad a las tareas, porque ya soy licenciada en educación”. “Formar mejores personas a lo largo de mi actuar profesional”. “Innovar la forma de educar a los alumnos, asumir responsabilidades y compromisos, para poder formar integralmente”. “Echarle ganas, porque me he convencido que es la carrera que me gusta y que elegí”. “Educar nuevas generaciones para una sociedad más justa”. “Mis valores que se dejaran ver con mi comportamiento, mis habilidades y el conocimiento que tengo para ayudar a formar a otros, soy ejemplo. “Orientar y motivar a sus alumnos en sus dificultades de aprendizaje, para que sean mejor personas” “ser responsable con mi quehacer como docente, con amor y sencillez”. “hacer feliz a mis alumnos, buscar el bienestar de ellos para que se desenvuelvan con éxito en la vida”. Tabla 5. Aporte como profesional de la educación - Fuente: Fragm de entrevista con estudiantes. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 179 De acuerdo a los fragmentos de la entrevistas expuestos, los fines de la educación (Ver Tabla 6), en el estudiante adquieren un matiz más de transformación social que de sólo “Estudiar para trabajar” el rescate por “Reflexionar la formación que se recibe”, deja entrever que el curso de Filosofía en el primer semestre de la carrera de educación, está contribuyendo con una formación más consciente, más crítica y más humana que reconstruya a crear nuevos sentidos de vida, desde una práctica pedagógica que realmente potencie lo que señalan los alumnos “educar al ser humano no solo es la mente, también el alma para que sea una buena persona y después un buen profesionista”. Lo cual se traduce a la concepción de una Educación Integral basada en la praxis social y no solo a una concepción teórica o pragmática. Conclusión Debido a que el debate, la crítica y la reflexión por parte de los docentes, se plantea como un proceso gradual y continúo que posibilita significados en la identidad profesional, la práctica docente debe fundamentarse en procesos de construcción y reflexión desde la formación curricular, que inicie para los Licenciados en Educación desde los primeros ciclos escolares y que incluso seguirá construyéndose a lo largo de su práctica profesional. Con ello el estudiante podrá generar de manera individual y colectiva la recuperación y mejora de su quehacer como profesional, desde la práctica de una filosofía ética que respete la individualidad del sujeto, en lugar de formarse en un discurso de significado único que destruye la diversidad. Finalmente, la formación en competencia sigue presentando un desafío para las instituciones que pretenden atender la formación integral del estudiante, ya que como se ha observado en este ensayo la identidad profesional implica la comprensión del sujeto desde diversas concepciones filosófica, epistemológica, histórica, sociocultural y pedagógica que se construye a través de procesos complejos que evolucionan con el tiempo, por ello es preciso atenderlo desde la formación inicial para que se fortalezca la vocación durante las experiencias de estudio, sólo así de esta manera se tendrá profesionales dispuestos a transformar verdaderamente su sentido de vida frente a la crisis social en la que se está viviendo en México. 180 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Antes pensaba… Ahora pienso… “Estudiar para trabajar” “Tener conocimientos” “Todos necesitan educación” “Ni idea” “Lo que los padres implementan a través de lo que se vive en casa”. “Saber cómo educar y enseñar para un mejor entendimiento”. “Que la educación es muy extensa”. “Formar persona con capacidades” “Ni idea”. “Ni idea “Formar el carácter de las personas”. “Enseñar sólo el programa de la institución o de la escuela”. “Que sólo se trata de enseñar, dar clase” “Educar para ser un buen profesional” “trasmitir conocimientos” “No me había preguntado esto” “formar alumnos competentes” “Es estar preparados para integrarnos de manera armoniosa con la sociedad” “Reflexionar sobre cómo se actúa, qué se quiere cuando se desea educar”. “Ahora se que debe plantearse una finalidad de aprender, no sólo pensando en uno mismo” “La educación es una forma de recibir e intercambiar conocimientos y aprendizajes a lo largo de nuestra vida, forma mejores personas, porque se trasmiten valores para enfrentar los retos del mañana”. “Orientar a las personas a ser mejores”. “Formar personas con valores y de calidad” Llevar a las personas a un momento de análisis y reflexión propia en donde su conducta y actos se modifiquen para un bien personal y social”. Reflexionar la formación que se recibe”. “Enseñar a preparar a los individuos para las diferentes etapas de la vida”. “Se trata de ayudar a los demás, la educación trasciende fronteras, no sólo es el aula”. “educar al ser humano no solo es la mente, también el alma para que sea una buena persona y después un buen profesionista”. “es más que trasmitir conocimientos, son también valores, cultura, etc.” “formar alumnos para la vida, para que transformen su sociedad”. Tabla 6. Finalidad de la educación - Fuente: Fragm de entrevista con estudiantes. 181 ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación Referencias Burke, P. y Stets, J. (2000) Identity theory and social identity theory. Social psychology quaterly, 63 (3). Recuperado de http://wat2146.ucr.edu/ papers/00a.pdf Carmona, M. (2008) Hacia una formación docente reflexiva y crítica: fundamentos filosóficos. Revista de Teoría y Didáctica de la Ciencias Sociales, 13 (13). 125- 146. 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Necesidad de conciencia: Un modo de construir conocimiento. Barcelona: Anthropos. 183 ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación Volúmen 2 - Número 3 - 2015 pp. 185 - 206 Rousseau y la educación ciudadana moderna. Sus conceptos políticos y educativos vistos desde Latinoamérica. Hugo Rangel Torrijo Universidad de Guadalajara-CUCI [email protected] Hugo Rangel Torrijo, estudió las maestrías de Cultura y Valores en Educación en la Universidad McGill y de sociología en la Universidad de Montreal en donde obtuvo un doctorado en educación. Ha conducido estudios sobre políticas educativas, la democracia, la ciudadanía y las migraciones. Es profesor asociado en la Universidad de Quebec, donde realizó una estancia posdoctoral en políticas de diversidad. Resumen - Resumo - Abstract Este texto argumenta que los conceptos de filosofía política de Rousseau son convergentes con sus ideas sociales y educativas. Se argumenta que es pionero de una educación infantil moderna y promotor de la democracia directa no formal, ya que fue precursor de la asociación política y de la soberanía popular. Mostramos la pertinencia de los principios de la libertad y la igualdad tanto en el ámbito pedagógico como para el desarrollo de la democracia. Además defendió dimensiones esenciales de la democracia como la igualdad y la legalidad. Así mismo se mostró defensor de una república de apertura y reconocimiento que fundamenta la cohesión social. De esta manera el texto expone Esse texto argumenta que os conceitos de filosofia política de Rousseau são convergentes com suas ideias sociais e educativas. Argumenta que ele é pionero de uma educação infantil moderna e promotor da democracia direta não formal, já que foi precursor da associação política e da soberania popular. Mostramos a pertinência dos princípios da liberdade e a igualdade, tanto no âmbito pedagógico como para o desenvolvimento da democracia. Além disso, ele defendeu dimensões essenciais da democracia como a igualdade e a legalidade. Mostrou-se também defensor de uma república de abertura e reconhecimento que fundamenta a coesão social. Desta maneira, o texto expõe que esses conceitos são fun- This article shows that Rousseau political philosophy is inseparable from his social and educational ideas. I evince the relevance of freedom and equality both for the pedagogic sphere than for democracy. Rousseau defended social equality and the rule of law, which are essential dimensions of democratic societies. I argue that he is a pioneer of the notions of early childhood education. He is also precursor of the direct democracy from the political association; which is a base for social cohesion. I argue that Rousseau ideas are useful reference for building an open republic. Then, I argue that these concepts are fundamental for a modern civic education, which is relevant considering the current conservative tendencies ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 185 que estos conceptos son fundamentales para la educación ciudadana moderna, abierta y tolerante ante las tendencias conservadoras en la crisis contemporánea. damentais para a educação cidadã moderna, aberta e tolerante frente às tendências conservadoras na crise contemporânea. in the global crisis. Palabras Clave: Rousseau, educación cívica, igualdad, democracia, asociación política Palavras-chave: Rousseau, educação cívica, a igualdade, a democracia, a associação política Keywords: Rousseau, civic education, equality, democracy, political association Recibido: 24/02/2015 Aceptado: 18/07/2015 186 Para citar este artículo: Rangel Torrijo, H. (2015). Rousseau y la educación ciudadana moderna. Sus conceptos políticos y educativos vistos desde Latinoamérica.. Ixtli. Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación. 2(3). 185-206 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Rousseau y la educación ciudadana moderna. Sus conceptos políticos y educativos vistos desde Latinoamérica. Introducción El presente texto valora la contribución que Rousseau ha aportado a la concepción de la educación y la ciudadanía. Exploramos sus aportes conceptuales para la educación infantil y sus aportaciones a la política democrática. Integrar estas dos fuentes constituye un gran interés para la construcción de una educación ciudadana y una ciudadanía moderna. En efecto, como Reich (2002) afirmó, Rousseau concibió su teoría política de manera indisociable a su teoría educativa. Se pueden identificar en Rousseau un gran número de conceptos de vanguardia que han contribuido a la modernización de la pedagogía y la filosofía política. Hemos propuesto una breve revisión conceptual, de un conjunto de ideas de Rousseau para poner en evidencia su lógica y coherencia. En la actualidad, los sistemas educativos en el mundo tratan de definir una educación ciudadana. Sin embargo tanto los conceptos como los contextos en los que son formulados cambian en el ámbito de la llamada globalización. Justamente por eso los principios expresados por Rousseau son de tanta trascendencia, porque responden en general a este deseo de búsqueda del ciudadano libre y a la vez inmerso en una participación política concreta. No es vano recordar que Rousseau revoluciona la concepción de la niñez y su educación, pues ofrece una idea moderna de la infancia, con rasgos cognitivos particulares, (formas de ver, sentir y pensar que le son propias) o “considerar al niño en el niño” (2009, p.9). Asimismo propuso una educación moral (de los deberes y la verdad) y por lo tanto una noción nueva de ciudadanía. Estos principios han influido a la educación y a la pedagogía moderna. De esta manera el texto trata de integrar sus ideas pedagógicas y políticas con el fin de desarrollar el concepto de ciudadanía moderna. Este ejercicio valora la aportación de Rousseau y reconoce su vigencia teórica. Como dijera Piaget, Rousseau aportó las intuiciones claves para la educación moderna (Oelkers, 2000). Por eso, Rousseau, según Enrique Dussel, pertenece a ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 187 los grandes pensadores críticos de Occidente. Por lo que es pertinente su lectura a la luz de las injusticias actuales. Rousseau es uno de los filósofos clásicos más conocidos en la actualidad, aunque es necesario conocer más su pensamiento y sus implicaciones para la comprensión de la democracia y la ciudadanía. Más aún, sus importantes aportaciones han sido a veces “fragmentadas” por las disciplinas como la pedagogía y la politología, que han estudiado separadamente aspectos de sus teorías. Proponemos que se requiere una perspectiva integral para estudiarlo. I. Igualdad vs. Lujo y la ciencia. Es necesario comprender su teoría sobre la igualdad. Propuso que el lujo y los privilegios son fuentes de las desigualdades de las sociedades. Este principio es de gran valor, ya que en la actualidad los discursos conservadores observan las desigualdades como simples consecuencias del subdesarrollo y sobre todo se responsabiliza a los marginados, es decir a las víctimas de las desigualdades como los culpables de su condición. Por desgracia esta concepción persiste no solamente en partidos conservadores, sino en el discurso económico dominante y los medios de comunicación. Incluso la concepción del estado de Smith está determinada por esta noción del pobre como un sujeto negativo, ya que insistía que el Estado fue creado para defender al rico del pobre, aquellos que tienen propiedades de los que no las tienen (Smith, 1977). De esta manera el estado es meramente subsidiario de la propiedad privada. La primera fuente del mal es la desigualdad, señaló Rousseau. Es decir, observó atinadamente la existencia de un vínculo entre la moral y la desigualdad y ésta como una característica social negativa. “El lujo corrompe todo, tanto al rico que lo disfruta, como al pobre que lo desea”, escribió (1992, p. 88)1. De esta manera, concibe al lujo como fuente de avaricia que alimenta la corrupción. Esta observación es trascendente para las ciencias sociales ya que se inserta en la tradición occidental, en la que Milton definía 188 Para abordar directamente a Rousseau, esta cita, como todas las que aparecen en este artículo, son traducciones personales de los textos en lengua original como se indica en la bibliografía. De esta manera se evitan las confusiones comunes de estudios basados en traducciones y ediciones críticas de Rousseau en español. 1 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 la corrupción como la plaga de una República, (2009, p. 99). Rousseau se inscribe en una corriente libertaria que critica al confort y al hedonismo superficiales tan presentes en la sociedad de consumo moderna. En efecto, la valoración social del lujo en la sociedad profundiza la desigualdad. Desde la publicación de su libro sobre este tema, Rousseau enfrentó fuertes críticas por su defensa de las personas consideradas como ignorantes, que entonces y ahora se utiliza como una justificación de las desigualdades. Sin embargo el filósofo ginebrino se refería a que “la virtud no es incompatible con la ignorancia” (1992, p. 10). Insistió acertadamente que los males no surgen de la ignorancia, sino de las desigualdades y que aún las personas cultas (o pedantes) pueden ser inmorales, cínicas y corruptas. Es decir, Rousseau distinguía entre una ignorancia razonable y una ignorancia feroz (producto de la carencia de valores). Ciertamente exageró la influencia negativa de lo que se conoce como alta cultura sobre una sociedad, pues afirmó que casi siempre tenía un poder corruptor e incluso afirmó que las bellas artes “derivan del lujo pues se presentan juntos” (1992, p. 43 y 87). Sin embargo hay que considerar la enorme y radical exclusión de las clases populares (entonces mayoritarias) que no solamente carecían de oportunidades culturales, sino de los bienes para subsistir. Es entonces comprensible su inconformidad con la aristocracia culta pero cínica al servicio del poder durante el absolutismo europeo. En este sentido Piaget hizo una crítica roussoniana del egoísmo y de la búsqueda de la riqueza y del lujo. Así podemos entender a Piaget cuando dijo que el hombre se libera por medio de la educación de su egoísmo espontáneo para poder elevarse a lo universal 2. Este principio corresponde a Rousseau, pues atacaba el orgullo y la vanidad (1992, p. 41). Buscar las fuentes de la desigualdad y atacarlas, constituye uno de los grandes aportes del filósofo como lo señala Dussel, (2012). Su discurso sobre la ciencia es en su totalidad una crítica al rol que adoptan artistas y científicos para sostener al poder corrupto; buscando la reputación, el aplauso y las recompensas reales. Rousseau afirma que “la única recompensa digna de sabios y científicos se realiza a través de la sabiduría”… Entonces “podrá verse lo que pueden hacer la virtud, la ciencia y la autoridad trabajando en conjunto para la felicidad del género humano” (2011, p.27). 189 2 Selon Xypas en Crahay, 1999, p. 193. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación En este sentido su crítica a la corrupción no se aparta de la ciencia, por el contrario, es esencial para centrar la misión social científica. Como lo señala Miranda, solamente las ciencias positivistas ignoran la crítica y los valores, por lo que contribuyen a mantener las injusticias sociales. Por eso la visión crítica de Rousseau ante la ciencia es esencial en América Latina, para construir ciencias sociales comprometidas con el bienestar de la población y por lo tanto deben luchar contra la corrupción. Quien pretenda que la crítica a la corrupción falta de objetividad y no sea científicamente relevante, sencillamente desconoce la contribución científica de Rousseau a lo que Miranda llama ciencias sociales emancipatorias, es decir, con un sentido social y moral del conocimiento científico. La noción de igualdad de Rousseau incluía la igualdad ante la ley, esencial en la política moderna. En efecto, el filosofo estimaba que para que un país goce de una verdadera libertad, “es necesario que cada hombre sea sometido a las leyes emanadas de la voluntad general de los ciudadanos. Que nadie tenga el poder de se sustraer de la ley, ni de violarla impunemente”. (1992, p.71) ¿Qué tan cierto es esta observación en un continente latinoamericano de impunidades galopantes que a menudo atizan la violencia? Es un gran acierto señalar la necesidad de esta igualdad ante la ley, misma que ha sido desdeñada por los grupos poderosos en el continente. Al pronunciarse por la igualdad, Rousseau no demandó que todos tengan las mismas riquezas, sino que el poder vaya más allá de la violencia y que no se ejerza en virtud del rango de las leyes. “Por lo que respecta a la riqueza, que ningún ciudadano sea tan opulento para poder comprar otro y nadie sea tan pobre para ser presionado a venderse”(2001, p. 91). Este principio es de gran valor en América Latina, en donde el poder y la ausencia de leyes causa violencia y donde la opulencia puede comprar voluntades. Asimismo la pobreza propicia que las personas puedan venderse al crimen organizado, corromper las elecciones o promover el clientelismo partidario (Rangel, 2011). II) Educación ciudadana 190 Como lo había señalado Miranda, Rousseau ha tenido una gran influencia en la concepción de la enseñanza moderna. Por ejemplo el pedagogo francés Freinet retomó de Rousseau la importancia del niño, pues éste se concibe como un verdadero actor de la sociedad, confiriéndole una libertad de observar el mundo de manera crítica. Por su parte, Montessori tuvo una influencia clara IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 de Rousseau, por ejemplo criticó “el mundo de los adultos” que no toma en cuenta a los niños. De esta manera se opuso a la utilización de instrumentos para hacer caminar a los bebés (como las andaderas) para promover el desarrollo independiente del infante. Insistió que por medio de la libertad, los niños desarrollen sus funciones superiores (Rohrs, 1994). La obra del Emilio ha tenido un gran impacto sobre la educación, pero por desgracia muchos de sus preceptos han sido desvirtuados o malentendidos. Por ejemplo mucho se ha hablado que la libertad que pedía para la educación de los niños deriva en caos y se manifieste contra la razón, sin embargo Rousseau señaló que “la obra maestra de una buena educación es hacer un hombre razonable” (2009, p.99). Además insistió sobre el humanismo y la condición humana: “que los hombres sean humanos, es su primer deber” (2009, p. 82). Es decir, el filósofo estaba lejos de defender una libertad irresponsable o ilimitada. Es importante mencionar que la idea central de autodeterminación de Rousseau se logra si se somete a las leyes establecidas o a la voluntad general. De esta manera la interpretaron importantes pedagogos, como Montessori (quien propusiera un equilibrio entre la disciplina y la libertad) y para Freire (quien defendiera un equilibrio entre autoridad y libertad). Este aspecto de la autoridad es importante destacarlo en el contexto actual en el que el conservadurismo pretende que la libertad en la escuela es responsable no solamente de la indisciplina, sino incluso de la violencia en la sociedad (ver por ejemplo Finkielkraut , 2013, p.196-200). Pestalozzi, elogió a Rousseau porque: “rompió las cadenas del espíritu y devolvió al niño a sí mismo y la educación a la naturaleza humana (en Soëtard, p. 235)”. Así, Pestalozzi, procuró dejar la iniciativa a la libertad autónoma de los infantes a partir de la visión idealista de Rousseau. Adoptó la noción de hombre natural no corrompido y en este sentido es difícil establecer una separación neta con Rousseau. Para ambos autores, la educación a la libertad tiende a preservar un estado natural. Es importante mencionar que esta noción de naturalidad tuvo una gran influencia incluso en Piaget debido a su connotación de espontaneidad (Oalkes). Por otra parte Pestalozzi vivió un proceso similar al vincular la política a la educación. Es decir, el proceso que vivió Rousseau del paso del Contrato Social al Emilio. Pestalozzi afirmo, “el comienzo y el fin de mi política es la educación” (en Soëtard p. 234). Ambos convergieron en que la práctica educativa es portadora de valores, de libertad 191 y de una significación política. ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación Si las críticas al racionalismo a menudo tienden a presentar la razón como una instrumentalización fría, Rousseau, por el contrario, la presentó como vía para acceder a la moral. En efecto, afirmó que “la razón es la sola que nos permite conocer el bien y el mal” (2009, p.66). De esta manera sentó las bases para una educación moral moderna, pues anteriormente se habían inculcado solamente costumbres a los niños. Más aún, el niño se convierte en un sujeto moral, no solamente un objeto receptor de información. Es necesario, decía Rousseau considerarlo “como un ser moral” (2009, p. 81) Es decir, el infante es concebido como un actor social y moral. Por ejemplo, criticó el hecho de querer hacer memorizar a los niños las fábulas de La Fontaine. Para Rousseau era más importante que los infantes comprendieran los aspectos morales de la vida, que memorizar moralejas. Para Rousseau no hay obstáculos físicos, ni la pobreza, que justifiquen eludir el camino de los alumnos hacia la educación de la independencia y la formación de carácter. El desarrollo de la autonomía es de un gran trascendencia: “hay que dar más libertad y mayor autonomía, dejar que ellos mismos hagan las cosas y que pidan menos de los demás” (Rousseau, 2009, p. 68). Aquí hay que subrayar que la autonomía es uno de los elementos más importantes de la psicopedagogía contemporánea y del llamado constructivismo. En este sentido Rousseau propone por ejemplo lo que podemos llamar esquemas o rasgos cognitivos particulares, es decir que los niños desarrollen formas de ver, sentir y pensar que les son propias. Asimismo, el autor fue un pionero de la educación sin castigo (2009, p. 119). Esto fue de gran valor en el siglo XVIII, ya que los castigos persistieron como procedimientos educativos durante los siglos subsecuentes. Por ejemplo, como lo muestra Caron, (1999) los castigos en las escuelas derivaron en cientos de casos de violencia graves que documentó; éstos llegaron incluso a violaciones y muertes a lo largo del siglo XIX en Francia. Caron señala la existencia de un discurso de la violencia que se instaló en las escuelas del siglo XIX. Sabemos que el maltrato supuestamente disciplinario persistió en las escuelas del mundo por lo menos a mediados del siglo XX. En este sentido la pertinencia de Rousseau fue visionaria para prevenir la violencia como método disciplinario en el medio escolar. Ciertamente, no pretendemos hacer un compendio detallado su obra el 192 Emilio, lo cual sería muy extenso, más bien identificamos los conceptos más significativos que integran un pensamiento social coherente. Así, podemos coincidir con Némorin en el sentido que la propuesta educativa de Rousseau IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 tiene por objetivo la formación un hombre total, es decir que da cabida a un hombre libre, a un hombre patriota y a un hombre creyente. En este sentido propone un ser humano que de significación a su proyecto filosófico. Es decir, la construcción de un hombre cívico que satisfaga el sueño de la libertad de su época. Esto es lo que llamamos una educación ciudadana moderna. Miranda y pedagogos como Makarenko criticaron su noción de la naturaleza humana original como positiva (Filonov, 1994). Es decir que el hombre es bueno por naturaleza. Si bien este principio Rousseau lo defendió con brío, habría que hacer algunos matices. Si se toma tal cual, es cuestionable, ya que, como Miranda insistió, es la moral que nos aleja de la animalidad salvaje justamente porque se carece de valores. Es esta moral la que nos hace hombres responsables, siguiendo la tradición filosófica de Kant y Hegel. Sin embargo como observamos, Rousseau concedía una gran importancia a la moral y a las leyes. De hecho Dewey criticó lo que llamó confusión entre dos ideas sin relación de la naturaleza: las capacidades innatas no aprendidas y un tipo de desarrollo. Es decir existe según él una oposición entre la vida social y la cultura.3 Es preciso recordar que la inclusión de la moral y el desarrollo de la autonomía disipan dicha crítica que le han formulado al filósofo. ¿Acaso Rousseau fue un defensor del “hombre salvaje bueno” como lo sugirió alguna vez el propio filósofo Miranda? Si bien muestra una cierta ingenuidad ante la naturaleza, la defensa que hace de los valores es clara. Dewey critica de manera enfática esta noción de hombre natural e incluso señala que se trata de una falacia utilizada por Rousseau para justificar sus principios sociales y pedagógicos. No obstante, a pesar de su oposición ambigua entre naturaleza y vida social persiste (no solamente en este autor sino es común en su tiempo). Además, Rousseau aclara, vía los principios de soberanía y asociación, cualquier etiqueta de antisocial que se le quiera asignar. De esta manera, tomando en cuenta los conceptos de Rousseau, la interpretación de Dewey parece inexacta. Además, hay que precisar que Lecomte (2012) confirma las intuiciones de Rousseau, basado en los estudios recientes de Warneken y Tomasello. En efecto, estos autores confirman que los infantes son naturalmente altruistas. Este es el sentido que le dio Rousseau y que Trujillo describe como el sentimiento de piedad (2009, p. 82). Para Keltner 193 3 Citado por Garrison (2012, p. 2). ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación es “instinto de compasión” o para Rand un impulso de ayuda o cooperación (Seppala, 2013). Asimismo los estudios recientes de historia militar y neurobiología demuestran la empatía humana como lo afirmara Rousseau en el sentido que “los seres humanos tienen una repugnancia innata a ver sufrir a sus semejantes” (1991, p. 162). Ahora bien, como lo señala el mismo Lecomte, la sociedad no necesariamente corrompe al niño, lo que puede ser cierto en algunas circunstancias, pero depende del medio en el que se desenvuelva. Además es importante señalar que más que discutir el estatus natural de la piedad, hay que recordar que Rousseau adoptó esta compasión moralmente con los marginados de su época. Otro aspecto capital del pensamiento de Rousseau radica en su crítica a ese “prejuicio inventado por los grandes” que consiste en el “arte de conducir a los pueblos es más difícil que el de ilustrarlos”(1992, p. 54). Así se opone a las pretensiones de los poderosos para justificarse y despreciar la educación. Contrariamente este elitismo, Rousseau luchaba por una virtud cívica. Esta virtud, también presente en Montesquieu, da vida a una democracia y como insiste Taylor (1991), se opone al atomización que vivimos en la actualidad. Es justamente esta virtud cívica que sintetiza la idea de educación ciudadana que planteamos. Es pertinente señalar que Rousseau concebía a la educación como hoy se concibe a la educación permanente, es decir de una manera integral y continua. “La educación comienza desde que se nace” afirmaba (2009, p. 58). Esta noción de la educación es moderna porque rebasa la visión convencional de escolarización que ha limitado desde hace mucho tiempo las prácticas educativas y que continúa presente en la actualidad. En este sentido su noción de educación es moderna porque no la equipara la educación con la escolaridad o la escuela. En efecto, como los constructivistas proponen, Rousseau asume que se aprende en todo momento. Aunque hay que aclarar que Rousseau vivió antes que el sistema escolar público fuera edificado en Francia en el siglo XIX, que fue el primero en Occidente según A. Green (2013). Ciertamente la nebulosa experiencia en la que entrega sus hijos a las autoridades de asistencia pública (Les Enfants-Trouvés) fue una gran contradicción personal y moral que ha suscitado cuestionamientos sobre su obra educativa. Fabre incluso niega que Rousseau tenga autoridad para hablar de educación. 194 Sin embargo, más allá de este triste suceso paradójico, su obra educativa debe entenderse como complementaria de su obra de filosofía política. La lectura de sus textos educativos y filosóficos deben (como los de cualquier IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 teórico) observarse con base a sus argumentos, más que por su vida personal. Como escribió Cassirer, existe una distancia entre la doctrina y la vida. Esto se puede decir de Rousseau, quien mantuvo en general un pensamiento constante y claro en sus obras, como lo afirma Cassirer (1967, p. 19). Paradójicamente, como lo señala Crombrudgge, Rousseau fue un visionario al reclamar los derechos de los niños, ya que la convención internacional relativa a los derechos infantiles se instauró hasta el siglo XX. Sus estudios sobre la educación mostraron una valoración del individuo como sujeto libre, autónomo y creador. A los ojos de la politología convencional, estas ideas son antisociales, individualistas o incluso hedonistas, como lo acusó Cassirer (1967, p.7). Sin embargo como vimos, para Rousseau, la educación apuntala los valores para formar ciudadanos. Además, Rousseau apostó por la felicidad y bienestar de los niños y sus madres y no por el simple placer de los niños, como dijera Crombrudgge. Como toda propuesta pedagógica, la de Rousseau no es absoluta ni estática y debe confrontarse a la práctica y a los diferentes contextos. Por ejemplo Dow señala que en Inglaterra se probaron desde el siglo XIX aspectos de su teoría que no correspondían a ese contexto. Pero como afirma Domenech (2004), Rousseau creó una revolución pedagógica que transformó la relación entre padres, infantes y pedagogos, sin embargo las dificultades operativas apenas comienzan a verificarse con su aplicación. En efecto, las propuestas pedagógicas de Rousseau deben entenderse y probarse en contextos particulares. Además, estas propuestas deben valorarse a la luz de sus principios sociopolíticos. III) Democracia y educación Una frase malentendida de Rousseau es aquella “que en rigor, la democracia no ha existido ni existirá jamás” (2001, p.106). Evidentemente esto no quiere decir que negó la posibilidad de realizar la democracia, como lo han insinuado tanto conservadores como anarquistas. Más bien Rousseau hace alusión de manera figurada a una democracia ideal cuya perfección es en cierto sentido inalcanzable. Esto se puede entender porque, de manera concreta defendió los principios democráticos al ampararse sobre la soberanía popular y sobre todo, las distintas formas de libertad e igualdad que como lo hemos consta- 195 tado, constituyen los pilares de la democracia (Rangel, 2011). ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación ¿Qué entendió Rousseau por la democracia? Distinguimos tres vertientes: a) la asociación y soberanía popular; b) la igualdad sociopolítica, c) la justicia y d) la apertura y la tolerancia. Si los teóricos convencionales de entonces y ahora reclaman una democracia formal solamente circunscrita a los procesos electorales, Rousseau defendía una voluntad constante de los miembros del estado, una voluntad general constituida por ciudadanos libres (2001, p. 147). Esto no quiere decir que esta voluntad general sea infalible, como lo critica Gutmann (1987, p. 96), sino como una vía de democracia directa. Incluso el propio filósofo cuestionó claramente que las elecciones definieran a la democracia (2001, p.150). Rousseau había sugerido que la democracia solamente podía ser directa y fundada en los derechos naturales. Como lo menciona Bobbio, Rousseau criticó la democracia representativa (Bobbio, p. 34). La actual valoración de la participación y la democracia directa han revelado la pertinencia de estas observaciones y su vínculo con la educación (Rangel, 2011). Por otra parte, una dimensión central de la democracia la constituyen los sistemas de justicia. Hay que tener en cuenta que dichos sistemas se encuentran en crisis en toda América Latina y que son objeto de una profunda lógica punitiva. Asimismo los sistemas legislativos fallidos tienen funestas consecuencias como el crecimiento de la violencia y la impunidad. En este sentido cabe mencionar que Rousseau defendió un principio en el marco de la ilustración que es digna de ser considerada en la actualidad. En efecto, se trata de otorgar una importancia capital a la ley. “Todo sistema de legislación se reduce a dos objetivos principales: la libertad y la igualdad”, afirmó (2001, p. 91). Es de particular relevancia esta afirmación cuando los sistemas de justicia en Latinoamérica apuntan a la punición y el castigo, no a la búsqueda de igualdad y libertad. Así, las leyes por si mismas nutren una burocracia sin sentido. Si bien las leyes son esenciales, estas pueden derivar en autoritarismo, pues Rousseau afirmaba que “la inflexibilidad de las leyes impide adaptarse a los eventos, puede en ciertos casos hacerlas perniciosas y causar la pérdida del Estado por su crisis” (2001, p. 164). En este contexto situaba Rousseau a las dictaduras. Podemos observar que la dureza de las leyes en América Latina es la causa de penas severas y de injusticias diversas que han ocasionado en los años recientes la aumentación descontrolada de la población de las cárceles (Rangel, 2009). 196 Como es sabido, Dewey desarrolló en el siglo XX el vínculo entre democracia y educación. Es heredero de Rousseau en varios sentidos. Como lo señala Riley & Welchman (2005), gracias a ambos pensadores ahora se estima que IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 la educación debe cultivar las virtudes necesarias para ejercer la ciudadanía en una democracia. En efecto, estas virtudes se centran principalmente en la promoción de la autonomía individual que hemos señalado. Dewey propuso además que la escuela debe jugar un rol social activo en la promoción del cambio y la democratización de la sociedad. Podemos afirmar que Rousseau confirió a la educación y a la escuela en particular, una dimensión social y política. Es pertinente destacar que la democracia reposa en el interés común. De hecho la expresión de este interés es la soberanía. Si Auguste Comte afirmaba que la soberanía popular era un “dogma metafísico” (2008, p. 194), para Rousseau es más bien “la totalidad concreta de los individuos” (2001). Esta comparación ofrece una idea del carácter progresista del ideal roussoniano que tiene implicaciones concretas de los sistemas educativos sobre la formación soberana de naciones, como lo mostró Green (1997). La cohesión social se retroalimenta con la acción educativa. Contrariamente a lo que se supone, Rousseau refutó que la institución gubernamental constituya un contrato social formal, ya que aclaró: “solamente hay un contrato en el Estado: es el de la asociación, y éste excluye cualquier otro” (2001, p. 137). Esta afirmación (que constituye el centro de su obra el Contrato Social) es uno de los llamados más radicales que se hayan formulado sobre la asociación como fundamento democrático. Esta concepción es de tal magnitud y acierto, que rebasa incluso conceptos en boga como el de capital social (utilizado en varias disciplinas sociales y educativas). De esta manera Rousseau contribuye al concepto de cohesión social desarrollado por académicos y adoptado por las instituciones europeas. La de Rousseau es una noción muy contemporánea que la podemos comparar con la democracia asociativa de Paul Hirst, misma que utiliza la asociación como motor de una democracia participativa. Cabe destacar que la politología convencional pretende la existencia de un contrato social formal e incluso autores como Streck critican que éste no sea compatible con la realidad del continente. Sin embargo Rousseau concibió al contrato como una asociación, que se opone a esta noción formal. Además, podemos decir que la asociación ciudadana está en el centro de la democracia directa que la sociedad civil busca en América Latina (Maxwell & Cameron, 2012). Contra las diversas interpretaciones y tergiversaciones de Rousseau, coincidimos con Habermas (1997) en el sentido que la concepción republicana del filósofo suizo articuló la autonomía de los derechos y libertades individuales ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación 197 a la autonomía pública de los derechos políticos. La defensa de los derechos individuales sólo cobra significación con la participación de la voluntad general para la elaboración de las normas jurídicas, esenciales para una democracia. Además, es importante destacar que según Taylor, Rousseau valoró la dignidad, que es un valor compatible con la democracia (Taylor, 1991, p. 46). Cuando hablamos de democracia deliberativa, hay que tomar en cuenta que para Rousseau la opinión es el verdadero cimiento de la política. En efecto, el filósofo afirmó que la voluntad general solamente puede dirigir las fuerzas del Estado según el bien de su institución, que es el bien común. La comunidad de intereses forma el lazo social y es “bajo este interés común que la sociedad debe ser gobernada” (2001, p. 65). De esta manera es clara la prioridad que se otorga al bien y al interés común, base de las democracias modernas. Cassirer interpreta la voluntad general roussoniana como una abdicación de lo individual y un sometimiento al Estado (1967, p. 52). Sin embargo, si bien es cierto que Rousseau utiliza ambiguamente el término de Estado como depositario de la soberanía popular, es claro que dicha ambigüedad estaba presente en su época. Esto es normal, ya que el Estado que conocemos era difuso en la realidad del siglo XVIII, por lo que se hacía referencia a un Estado ideal. IV) Cohesión social y la educación república El conservadurismo populista pretende defender la cohesión nacional difundiendo el miedo hacia las religiones y a los migrantes. Contrariamente a esta idea populista, Rousseau insistió que la voluntad general fomenta la cohesión social: “La suprema dirección de la voluntad general y cada miembro es parte indivisible de un todo” (2001, p. 57). Esta voluntad acompaña y confiere legitimidad al poder. 198 En la actualidad tanto el positivismo como el pseudo- republicanismo niegan cualquier tipo de expresión religiosa. Sin embargo Rousseau se manifestó por una apertura a las prácticas religiosas “a condición de que los dogmas no se opongan a los deberes de los ciudadanos” (2001, p. 179). Antes de haberse enunciado la laicidad, este filósofo, junto con Voltaire se habían pronunciado por una apertura a la libertad de culto, signo distintivo de las democracias liberales contemporáneas. Esta apertura es necesaria en un ambiente internacional en donde persisten la intolerancia a la religión y a la IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 diversidad de creencias. Así debe entenderse el aumento de la islamofobia, el antisemitismo y la xenofobia en el los países occidentales. “Debemos tolerar a las religiones que toleran a las otras” (2001, p. 179), afirmó Rousseau y esta apertura a las religiones es de actualidad, como lo señala Taylor (2003b). Actualmente existe una concepción hermética de la república en Francia que se cierra a la diversidad y los “comunitarismos”. Por ejemplo, para la derecha en su conjunto y la opinión pública considera la República como un concepto inamovible, último bastión de un país católico de raza blanca. De esta manera se rechazan a las migraciones, a la religión musulmán e incluso se pretende que el reconocimiento de los homosexuales y las causas feministas atentan contra la cohesión de la república. Esta noción inflexible y obtusa de la república ha tenido su vertiente educativa: la llamada “educación republicana”, que pretende defender ese credo conservador. Además esta noción defiende una metodología convencional de los llamados cursos magistrales y “transmisión de conocimientos”, defendida por ejemplo por Vitiello (2010). Por el contrario, Rousseau concebía la república como “un cuerpo político construido por sus miembros. Los ciudadanos que participan a la autoridad soberana están sujetos a la ley del Estado” (2001, p.57). Esta noción de republicanismo puede tener vertientes educativas más progresistas y adopta una visión humanista más que nacionalista (2009, p.10). Cabe mencionar que Taylor considera a Rousseau como uno de los iniciadores del discurso del reconocimiento (Taylor, 2009, p. 79). Esta noción de reconocimiento es fundamental para desarrollar una colectividad, es decir, una intersubjetividad. Se trata de concebir y formar la república con el reconocimiento de todos sus miembros, sin distinguir diferencias, es decir en plano de igualdad que asumimos. Por eso también Taylor estima que el currículo debe plasmar no solamente la historia y la literatura, sino el reconocimientos de quiénes somos como cultura (Taylor, 2009, p.130). Más aún, Rousseau estima que “la asociación encierra un compromiso recíproco del público con los particulares. Cada individuo tiene compromiso por un lado con los particulares y por el otro con el Estado” (2001, p. 58). De esta manera hay una interacción, una democracia directa diríamos hoy, en la que está inmerso el ciudadano como ente activo, como actor social. En este sentido se vinculan sus ideas con la pedagogía crítica de Giroux en la que educación es concebida como un proyecto para la democracia y la 199 ciudadanía crítica (2006). ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación Conclusiones desde América Latina La presencia de Rousseau en América Latina no es nueva, remonta al s. XIX, ya que a pesar de la prohibición que le impuso la Inquisición, sus escritos fueron difundidos formal o informalmente4. La influencia del filosofo en las independencias de México y Argentina fue real pero sujeta a contradicciones (Farinati). Por ejemplo Villoro señala que en México fue hasta avanzado el proceso de independencia y que incluso conservadores y liberales se decían defensores de principios rousonianos. Sánchez Vásquez dice que “democratizó la ideología de independencia que nutriría el liberalismo” (1969, p.75). Lo que es importante destacar es que los ideales de Rousseau influyeron y consolidaron la ideología liberal del s. XIX en México y en gran parte de Latinoamérica. Desde el siglo XX, Latinoamérica luchó para superar los regímenes autoritarios y en la actualidad construye su democracia. En esta tarea, la lectura de Rousseau es de una gran pertinencia conceptual y política. Rousseau nos ayuda a concebir la democracia más allá de la representación y de las elecciones. Así, él contribuye a construir una democracia en América Latina más directa y participativa, como lo señala Vargas (2001). Hay que tomar en cuenta que la democracia posibilita la igualdad política y debe ser también una igualdad material (Fernández, 2006, p. 121) como insistió Rousseau. Como lo he mostrado, la igualdad es una dimensión esencial de la democracia que justamente falta materializarse en el continente (Rangel, 2011). En efecto, las desigualdades son profundas, por eso esta lucha por la igualdad es pertinente. Además, luchó por la dignidad como un valor democrático, que en Latinoamérica la igualdad significa la dignidad para todos los ciudadanos. Otra dimensión de la democracia la constituye el estado de derecho. Es decir construir sistemas de justicia efectivos. La pertinencia de Rousseau estriba en su valoración de la fuerza de las leyes y la aplicación de éstas de manera equitativa. Así, pocos autores clásicos han atacado con tanta vehemencia la corrupción como Rousseau. Es claro que este reclamo tiene gran actualidad en el mundo, especialmente en América Latina en donde persisten profundas 200 Por ejemplo en 1822 se publica la primera edición mexicana de El Contrato Social. Villoro nos recuerda que en ese entonces Fernández de Lizardi adopta muchos puntos de vista de Rousseau, tanto en política como en educación (Villoro, 2005, p. 59). 4 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 injusticias sociales. Por doquier el descrédito de algunos políticos y sus partidos se explica porque relegan el interés común y la voluntad general como fundamento social que el filósofo nos evoca. Asimismo es pertinente poner de relieve que el de la igualad es quizá para la realidad latinoamericana una disfunción social más apremiante, debido a su histórica desigualdad y sobretodo a la escasa atención que ponen las autoridades ante este problema. Su ataque al lujo, la corrupción y la desigualdad es oportuno en las sociedades latinoamericanas tan profundamente desiguales. El lujo en la actualidad es representado por aparatos tecnológicos y la moda clasista en el continente. Justamente atacó la corrupción que rodeaba la ciencia, los intelectuales y artistas. Así, antepuso la virtud de los pueblos ante sus vicios y la ignorancia. Es decir, Rousseau apoya el proyecto científico crítico necesario en América Latina porque en este continente nunca antes como ahora se requieren ciencias comprometidas socialmente. Ciencias que puedan contribuir al bien común, como insistía el filósofo. Si bien para la cabal comprensión de Rousseau es necesario tener una idea de la ilustración y de los ideales de la modernidad, las particularidades del filósofo son sobresalientes por su incursión en la educación y su defensa de principios de la democracia que hoy cobran importancia. Es notable que en América Latina haya tenido eco este filósofo, un impacto sobre la educación y los proyectos políticos con ideales libertarios. No obstante, hemos expuesto que lo ameritan no solamente sus conceptos, sino su visión sobre las libertades en una sociedad democrática. El reconocimiento de Rousseau ha cambiado en América Latina, incluso Dussel antes lo consideraba un portador de un “proyecto burgués de la naturaleza” (1996, p.113). Sin embargo este autor ahora estima que Rousseau, debido a sus estudios sobre los orígenes de la desigualdad, cobra actualidad en América Latina. Hemos insistido que sus principios pedagógicos están íntimamente ligados a sus principios políticos y en este sentido contribuyen a la noción de educación ciudadana. Vale la pena entonces no solamente recordar, sino repensar las contribuciones que Rousseau hiciera a esta noción de ciudadano moderno en una época de crisis, no solamente económica, sino política y moral. Además hay que valorar sus contribuciones a una educación de la tolerancia hacia las religiones y las diferencias. 201 ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación Las ideas expuestas aquí tratan de mostrar la amplitud y diversidad de la influencia de Rousseau. Muchos de los conceptos de Rousseau se inscriben en el marco de la transformación teórica que daría origen a la revolución francesa y a la ilustración. Además, ha influido a autores del siglo XX como Freinet, Freire o Montessori, que a su vez han contribuido a desarrollar conceptos y principios expuestos por Rousseau. Esta influencia tan basta da cuenta de la envergadura y la trascendencia de Rousseau. La lectura desde América Latina debe comprender todas estas dimensiones desde una perspectiva crítica como la que él mismo desarrolló. 202 IXTLI - Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 Bibliografía Bobbio, N. (2001) Liberalismo y Democracia. México : FCE. Caron, J.-C. (1999) À l’école de la violence. Châtiments et sévices dans l’institution scolaire au XIXe siècle, Paris : Aubier. Cassirer, E. (1967) The Question of Jean Jacques Rousseau, Indiana: Miliband Book. Comte, A. (2008) Discours sur l’ensemble du positivisme. Paris : Flammarion. Domenech, J. (2004) Emile avant Emile : Rousseau et Mme D’Epinay entre fiction et théorie. En : Dupont, P. & Termolle M. (2004) Émile ou de la practicabilité de l’éducation. Bruselas : UMH. Dussel, E. (2012) Rousseau y la voluntad popular en el mundo actual. 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Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Processos Socioeducativos e Práticas Escolares da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), MG, Brasil. Wanderley Cardoso de Oliveira Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), MG, Brasil. [email protected] Professor do Departamento de Ciências da Educação (DECED) e do Programa de Pós Graduação em Educação da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), MG, Brasil. Doutor em Filosofia pela UFRJ, RJ, Brasil. RESEÑAS / RESENHAS Serres, Michel (2013). Polegarzinha: uma nova forma de viver em harmonia e pensar as instituições, de ser e de saber. Rio de Janeiro, RJ, Brasil: Bertrand Brasil. Palavras-chave: Michel Serres, Educação, Conhecimento Palabras Clave: Michel Serres, Educación , Conocimiento Keywords: Michel Serres, Education, Knowledge Recibido: 13/05/2015 Aceptado: 25/07/2015 Para citar este artículo: 209 Mateus de Sá, G., Cardoso de Oliveira, W. (2015). Michel Serres e o desafio de educar os jovens na era digital. Ixtli. Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación. 2(3). 209 - 213. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação Michel Serres e o desafio de educar os jovens na era digital Michel Serres nasceu na cidade de Agen, sul da França, em 1930. No curso de sua vasta e diversificada produção intelectual publicou mais de 60 livros, os quais abordam vários campos do conhecimento e questões centrais da realidade contemporânea, tais como a tecnologia, a ciência, a educação e o meio ambiente. É um filósofo atento às configurações políticas, sociais e históricas de seu tempo. Seu espírito liberto das convenções filosóficas tradicionais o permite considerar que somente a invenção transcende o imitável e o repetitivo. Como um pensador insubmisso, inconformado e crítico, Michel Serres busca perceber a raridade do homem e do mundo de um ponto de vista flexível e fluido, ao mesmo tempo em que propõe e acredita no surgimento de um novo humanismo, sem, contudo, abrir mão de sua originalidade e permanente diálogo com as diferentes áreas do conhecimento. Neste sentido, Polegarzinha, uma de suas obras mais recentes, é a tradução, no Brasil, de Petite Poucette, originalmente, um discurso proferido na Academia Francesa no ano de 2011. O termo que intitula a presente obra é uma analogia com o jovem que usa seus polegares com alta habilidade e destreza para manipular as mídias digitais. Nesta obra, ambientada na contemporaneidade francesa, Michel Serres nos convida para uma reflexão sobre a realidade do jovem que, na atualidade e ao seu próprio modo, estabeleceu novas relações com o mundo virtual e iniciou uma nova era que, segundo sua percepção, suplantará o saber no formato atualmente conhecido. O livro em questão está dividido em três partes: Polegarzinha, Escola, Sociedade. Na primeira parte, o filósofo fala sobre o aluno e os o jovens atuais que vivem num mundo diferente daquele outrora vivenciado por seus pais, e com o qual não mais se relacionam. Neste contexto, segundo Michel Serres, a realidade mudou de forma significativa, a exemplo do expressivo crescimento demográfico francês e mundial. Atualmente, estes jovens vivem, convivem e estudam num mundo multicultural, e vivenciam outra história em um tempo marcado pela influência da mídia que, continuamente, propaga a morte e a violência de forma cada vez mais abrangente e constante. 210 Nesta obra, Michel Serres ressalta a transformação do mundo em que a mídia assumiu a função do ensino e os professores não são mais ouvidos como outrora. As crianças de nossa época, por sua vez, habitam um mundo virtual e adquiriram a habilidade de lidar, simultaneamente, com múltiplas IXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 informações. Portanto, não tem mais a mesma cabeça nem vivem no mesmo lugar de seus antepassados, de seus pais e professores. Sem que fosse percebido, no curto intervalo de tempo que nos afasta dos anos 70, emergiu outro ser humano, com a cabeça diferente daquela de seus pais e que, por este motivo, conhecem e escrevem de outra forma e sequer falam a mesma língua de antes. Encantado pela facilidade de como tais jovens manipulam as mídias digitais, Michel Serres substitui o antigo conceito de datilógrafo por ‘Polegarzinha’ e ‘Polegarzinho’, por conseguinte, levando em conta as mudanças da sociedade, da educação, da língua e do trabalho. Estes novos habitantes do mundo, agora também indivíduos, passaram por intensas transformações e adquiriram uma forma diferente de conviver e de aprender. Para Michel Serres, abre “no nosso tempo e nos nossos grupos, uma rachadura tão larga e evidente” (Serres, 2013, p. 24) que se pode assemelhá-la às notórias transformações ocorridas no passado, como o neolítico, a era cristã, o final da Idade Média e a gênese do Renascimento. Em razão de tais mudanças, enfrentamos o desafio de querer ensinar a estes jovens, de nossa atualidade, fazendo uso ainda de uma forma ultrapassada, a qual eles não reconhecem nem ouvem mais. Ao longo da história, gradativamente, se deu a objetivação do saber e a sua consequente democratização com a propagação do uso da internet, o que culminou em expressiva mudança na pedagogia, de forma análoga àquilo que ocorreu na “aurora da paideia” (2013, p. 28) e da Renascença. Com o surgimento da imprensa, a propagação do livro e, consequentemente, da informação e do conhecimento, o mundo mudou e continua em acelerado ritmo de transformação em virtude das novas tecnologias, em especial aquelas relacionadas ao campo da informática e da internet. Assim, diante das mudanças vivenciadas pelos jovens na contemporaneidade, segundo Michel Serres, tudo precisa ser refeito e inventado. Na segunda parte da referida obra intitulada Escola, Michel Serres fala sobre a cabeça da Polegarzinha, ao mesmo tempo em que recorda a lenda de Denis, antigo bispo de Paris capturado e decapitado pelo exército romano antes de se chegar ao local da execução. Narra a antiga lenda que Denis, então decapitado, pegou com suas próprias mãos sua cabeça caída no chão e com ela seguiu até o local determinado para a sua execução no topo da colina, atual Montmartre. A partir da presente narrativa, Michel Serres faz uma ana- 211 logia com Polegarzinha que, ao abrir seu computador, vê sua própria cabeça à sua frente, ‘bem cheia’. De forma análoga nos tornamos São Denis, pois ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação “nossa cabeça foi lançada à nossa frente, nesta caixa cognitiva objetivada” (2013, p. 36). Assim, Michel Serres concebe que, decorrida a decapitação do antigo bispo, no espaço vazio entre a cabeça e o tronco, resta acima de nossos ombros a intuição inovadora e a invenção. O filósofo também cita Montaigne que optou por ‘uma cabeça bem-constituída’ a um acúmulo de saber, tal como disposto nos livros e nas bibliotecas de sua época. Michel Serres afirma também que, atualmente, há uma nova e radical economia, quando um buscador online nos dispensa de uma cabeça repleta de saber acumulado e, a exemplo de Polegarzinha, podemos preferir uma cabeça mais bem-constituída do que cheia. Em seu tempo, Polegarzinha poderá ajudar a revolucionar o “formato espacial inspirado pelo livro e pela página” (2013, p. 41). Assim, o pensamento e a invenção se dão no distanciamento do velho formato-página, agora obsoleto ante as novas tecnologias. É a partir deste distanciamento que se pode inventar, pois ‘a inteligência inventiva’ se dá quando nos afastamos do saber acumulado. Ninguém mais quer ouvir o professor preso à ‘uma página-matriz’; nem Polegarzinha lê ou dá ouvidos ao escrito recitado pelos porta-vozes deste saber, então considerado ultrapassado. Este novo tempo anuncia uma reviravolta na pedagogia, quando se deverá ouvir mais os ruídos de fundo e a tagarelice que, hoje, incomoda os professores tradicionais desde o ensino fundamental até o ensino superior, como se fosse um ato de protesto contra “a antiga voz do livro” (2013, p. 44). Agora, o saber não habita mais um campus universitário, formatado página a página nos moldes dos acampamentos do exército romano, mas trafega pelas redes virtuais de forma anônima. Logo, não é mais necessário se submeter aos professores ou a uma filosofia que professa um ‘Saber Absoluto’ e exigente de ‘corpos humilhados’, tanto da parte de quem aprende quanto da de quem ensina. A facilidade de acessar a informação, quando e onde ela deseja, proporcionou a Polegarzinha cumular seus bolsos de saber. Para Michel Serres, a antiga sala de aula morreu e os jovens se emanciparam “das correntes da Caverna multimilenar” (2013, p. 49) que os subjugavam a um saber acumulado e inflexível. Por sua vez, Polegarzinha, habilidosamente, busca o saber em sua própria máquina, quebrando a ordem estabelecida pela ‘classe’ que, frequentemente, aprisiona e desmotiva a descoberta criativa e a invenção. 212 Em Sociedade, última parte desta obra, Michel Serres discute o espaço social que Polegarzinha habita e o trabalho que, também, a entedia, o que provavelmente decorre daquilo que ele denomina como um ‘roubo do inteIXTLI - Revista Latino-Americana de Filosofia da Educação - ISSN 2408-4751 2(3). 2015 resse’. Nesta sociedade, como nunca antes ocorrido na história humana, todos podem ser ouvidos, pois a “palavra humana balburdia no espaço e no tempo” (2013, p. 69) e uma era de democratização do saber já se vislumbra onde e quando se esvai a velha pedagogia. Aí o filósofo critica o mercado, as mazelas da fome e o assistencialismo desta sociedade que prioriza o espetáculo. Ademais, Polegarzinha vive numa realidade mesclada, onde se ouve uma confusão de vozes que prenunciam outras tantas mudanças. Nesta mesma sociedade, ‘polegarzinhos’ disseminados no anonimato apontam para a emergência de novas competências. Em razão de sua originalidade, contextualizada na realidade contemporânea, Polegarzinha é uma obra que chama atenção para as constantes mudanças na sociedade, no saber e na educação. Com uma linguagem simples e acessível aos jovens, Michel Serres aborda a informação e o conhecimento produzidos e divulgados a partir das novas tecnologias, em especial através da internet e das mídias digitais. Como a jovem Polegarzinha, hoje, ele nos lembra de que nossos alunos acessam livre e diretamente o saber, fato que cobra mudanças e constantes invenções no campo da educação. Ao seu próprio modo, num estilo provocativo, inconformado, e às vezes controverso, mas em sintonia com o novo que emerge e àquilo que se inventa, Michel Serres nos instiga a pensar e atentar para as intensas transformações da sociedade contemporânea. Em suma, a referida obra apresenta um importante rol de qualidade, competência e assimilação com a realidade atual, embora o filósofo não aponte nenhuma solução evidente em relação ao problema dos jovens no tocante à educação e ao conhecimento. Ainda que relevante e recomendada como uma obra indispensável para a compreensão e o entendimento dos atuais desafios da Educação, Polegarzinha não aprofunda sobre as possíveis consequências daquilo que, hoje, sucede com a juventude, principalmente em relação ao saber e ao emprego das novas tecnologias, não raramente assimiladas e utilizadas num formato até mesmo patológico e alienado. Um aparente excesso de otimismo, característica forte do pensamento de Michel Serres, deixa a obra fragilizada no tocante a uma análise crítica sobre a realidade dos jovens que, hoje, habitam as próprias tecnologias quando, também, sãos suscetíveis aos seus malefícios. No entanto, ainda que se faça um juízo crítico e de valor sobre Polegarzinha, a qualidade e a pertinência desta obra se sobrepõe aos seus pontos frágeis, e é inegável o mérito de 213 Michel Serres em ouvir e dialogar, a partir de uma nova postura pedagógica, com a juventude e a sociedade de nosso tempo. ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação IXTLI - REVISTA LATINOAMERICANA DE FILOSOFÍA DE LA EDUCACIÓN POLÍTICA EDITORIAL Ixtli es la revista de la Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación (ALFE). Temática y alcance Ixtli: Revista Latinoamericana de Filosofía de la Educación es una publicación latinoamericana, arbitrada, electrónica, de frecuencia semestral, de acceso gratuito, que sirve como espacio de diálogo crítico acerca de asuntos educativos desde un abordaje filosófico, indagando sobre los problemas conceptuales y de sentido en la educación. Publica artículos originales de investigación filosófica que no hayan aparecido en otras revistas o medios de divulgación, después de un proceso doblemente ciego de evaluación. Es de interés para investigadores en filosofía de la educación, investigadores educativos en general, y personas que trabajan o se interesan por la educación en sus múltiples dominios de acción. Los artículos de Ixtli están escritos en varios idiomas, principalmente español y portugués. Proceso de revisión por pares El proceso de evaluación es doblemente ciego. Es decir, los evaluadores no saben quiénes son los autores, y los autores no saben quiénes son los evaluadores. Normas para autores/as Artículos de investigación filosófica Se entiende que todo artículo enviado a Ixtli es original, y que no ha sido publicado ni está siendo simultáneamente sometido a revisión para publicación en alguna otra revista, libro u otro medio de divulgación. Lineamientos de forma. Los archivos deberán ser enviados en formato Word (.doc ó .docx) o Rich Text Format (.rtf). El tipo de letra preferido es Times New Roman, tamaño 12 puntos. Los artículos que se publican en Ixtli normalmente tienen una longitud de 5000 a 7000 palabras, incluyendo el título y las referencias, sin contar el resumen y las palabras clave. Sin embargo, artículos de menor o mayor longitud podrán ser considerados. La citación de fuentes debe seguir el estilo APA en su 3ª edición española. 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Ixtli es una revista de investigación, y por lo tanto los artículos que publica deberán caracterizarse por presentar tesis originales, argumentadas sólidamente, que han entrado en una conversación rigurosa con los trabajos de otros autores en la literatura filosófica y educativa, entre otras disciplinas. Se aceptan artículos con diferentes orientaciones filosóficas, así como de diferentes tipos de discusiones incluyendo las que son acerca de conceptos importantes en educación, de concepciones y formas de dar sentido en programas y políticas educativas, de las implicaciones de las teorías e ideas de diferentes autores para asuntos de la educación, entre otras. Los artículos publicados por Ixtli pueden hacer referencia o analizar información empírica, pero deben necesariamente mantener una aproximación de reflexión filosófica. No existe un esquema o formato estándar para la organización y estructura de los textos. Cada autor deberá decidir sobre este aspecto de la manera en que sea más conveniente dependiendo del tipo de argumento presentado y de las estrategias retóricas que sean más apropiadas. Reseñas Lineamientos de forma. Los archivos deberán ser enviados en formato Word (.doc o .docx), o Rich Text Format (.rtf). El tipo de letra preferido es Times New Roman, tamaño 12 puntos, a menos que existan razones de contenido para que sea diferente. Las reseñas que se publican en Ixtli normalmente tienen una longitud de 1500 a 3000 palabras, sin incluir la información bibliográfica del libro reseñado. Sin embargo, reseñas de menor o mayor longitud podrán ser consideradas. Las referencias deben seguir el estilo APA en su 3ª edición en español. Las tablas, gráficas, y figuras, deberán ser enviadas en archivos independientes, y su lugar de inserción dentro del cuerpo del artículo deberá ser claramente marcado. 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[email protected] 215 ALFE - Asociación Latinoamericana de Filosofía de la Educación IXTLI - REVISTA LATINO-AMERICANA DE FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO POLÍTICA EDITORIAL Ixtli é a revista da Associação Americana de Filosofia da Educação (ALFE). Temática e alcance Ixtli: Revista Latino-americana de Filosofia da Educação é uma publicação latino-americana, arbitrada, eletrônica, semestral, de acesso gratuito, que serve como espaço de diálogo crítico sobre asuntos educativos na perspectiva filosófica, indagando sobre os problemas conceituais e de sentido na educação. Publica artigos originais de investigação filosófica que não tenham sido publicados em outras revistas ou outros meios de comunicação, depois de um processo duplamente cego de avaliação. A revista é de interesse para investigadores em filosofía da educação, investigadores de educação em geral e pessoas que trabalham ou se interessam pela educação em seus múltiplos domínios de ação. 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A resenha deverá apresentar, de maneira breve, as ideias principais desenvolvidas pelo livro resumido, e discutir solidamente sua pertinência e significância, entre outros aspectos possíveis. Deve permitir que o leitor faça uma ideia do que encontrará no livro, assim como de qual é oposicionamento do autor da resenha a respeito dos aspectos mencionados anteriormente. Envio de trabalhos para: A solicitação de avaliação de artigos deve ser feita para o endereço eletrônico abaixo, indicando, no assunto, de “Solicitação e revisão de artigo” ou “Solicitação de revisão de resenha”. [email protected] 217 ALFE - Associação Latinoamericana de Filosofia da Educação