Fatoração Única e o Teorema de Fermat O bem conhecido (Último) Teorema de Fermat diz que a equação n > 2. inteira para todo Para n=2 xn + y n = z n não tem solução todos conhecemos inúmeras soluções. A tratamento desse problema pode ser simplicado para considerarmos somente os casos n=p um irredutível impar (de um determinado n p e Z). Realmente, se existirem inteiros for um irredutível impar que divide n, a, b, c ∈ Z =4 e que são solução para então, escrevendo n = pm, vamos ter que (am )p + (bm )p = an + bn = cn = (cm )p , e assim, a equação terá solução inteira para o expoente equação não tem solução para todo irredutível impar quando para n fosse uma potência de 2. n = 4, n = 2r p, p. Logo, se alguém demonstrasse que a então xn + y n = z n só poderia ter solução Mas, adicionalmente, se soubermos que a equação não tem solução poderíamos, como foi feito acima, concluir também que a equação não tem solução para para todo r ≥ 2. Como isso caria demonstrado o Teorema de Fermat. Para lidar com essa equação os matemáticos (de alguns séculos atrás) pensaram em usar a seguinte decomposição: n Y (x + ξ i y) = z n , onde ξ = cos i=1 é uma raiz primitiva n-ésima decomposição ocorre em que da unidade, isto é 1 ξn = 1 + sen 2π n e para todo Z[ξ] que é o fecho inteiro de Z em Q(ξ). Z[ξ] é um anel de fatoração única, onde n = p de Fermat . 2π n √ −1 1 ≤ i ≤ n, ξ i 6= 1. Essa Usando essa fatoração e assumindo é um primo impar, Kummer demonstrou o Teorema Vamos refazer a demonstração de Kummer para o caso p = 3 como um exemplo de como a fatoração única pode ser usada. Embora esse caso pode ser vericado com argumentos mais elementares que os que vamos usar, nossa apresentação vai conter quase todos os ingredientes do caso em que Z[ξ] é fatorial. Por isso vamos trabalhar como se única restrição é que Z[ξ] p fosse um primo qualquer onde a seja fatorial, contudo para não tornar esta apresentação muito longa com a inclusão de muitos resultados auxiliares sempre que for necessário fazemos p = 3 e indicamos como seria no caso geral. Vamos ao trabalho, que não é pouco. 1 Na verdade ele demonstrou para um caso um pouco diferente: quando p é um primo regular, conforme explicado no m destas notas. 1 Iniciamos com o estudo das propriedade de ξ, raiz primitiva p-ésima da unidade, onde p é um primo impar. Amação 1: clotômico : ξ O polinômio minimal de Φp (x) = xp−1 +xp−2 +· · ·+x+1. em relação a Q polinômio ci- Φp (x) é Q(ξ) com [Q(ξ) : Q] = p−1. O corpo de raízes de Mais ainda, temos para o grupo de Galois dessa extensão: p-ésimo é chamado de G(Q(ξ); Q) ' Z/(p−1)Q (Ver denição de grupo de Galois na página 23 das Notas V; veja também a observação que a precede e a Questão 18, página 24.) O fecho inteiro de Z em Q(ξ) é dado por Z[ξ]. Esse anel é um Z-módulo livre onde 1, ξ, . . . , ξ p−2 é uma base. Essa base é chamada de base inteira, ou base integral. O corpo Q(ξ) Vericação. é chamado de corpo ciclotômico e Sabemos que ξ Z[ξ] de anel de inteiros ciclotômicos. xp − 1. é raiz do polinômio Observe que xp − 1 = (x − 1)(xp−1 + xp−2 + · · · + x + 1) = (x − 1)Φp (x). A vericação de que Φ(x) é irredutível é relativamente fácil usando-se um truque e o critério de Eisenstein (simplicamos a notação escrevendo cortando o observemos que f (x) = g(x)h(x) f (x) é redutível se e somente se com Φ(x) p de Φp (x)). é redutível. De fato, se gr g(x), gr h(x) < gr f (x), e g(x), h(x) ∈ Q[x]. Φ(x) = f (x − 1) = g(x − 1)h(x − 1), e assim Φ(x) f (x) = Φ(x + 1) Tomemos f (x) é redutível, então Mas isso leva a decomposição é redutível. Igualmente, se Φ(x) = g(x)h(x) gr g(x), gr h(x) < gr Φ(x), então f (x) = g(x + 1)h(x + 1) vai ser uma decomposição de f (x). Vamos então mostrar que f (x) é irredutível usando o Critério. Observe que f (x) = Φ(x + 1) = (x + 1)p − 1 (x + 1)p − 1 = . (x + 1) − 1 x Usamos agora a fórmula do Binômio de Newton p p−1 p p−2 p (x + 1) = x + x + x + ··· + x + 1, 1 2 p−1 p p onde p i = p! . i!(p − i)! Substituindo-se essa expressão na equação anterior vamos obter Φ(x + 1) = xp + p 1 xp−1 + p 2 xp−2 + · · · + x p p−1 x =x q−1 p q−2 p + x + ··· + . 1 1 Recorde que p = p, p−1 e para todo 1 ≤ i ≤ q − 1, p 2 e divide p , i com pelo lema da página 22 das Notas V. Podemos então concluir que independente que é p, Eisenstein, o polinômio é p e p divide todos os coecientes desse polinômio, p2 não divide o coeciente dominante que é f (x) 1. não divide o termo Portanto, pelo critério de Φ(x) é irredutível e como vimos no inicio, isso leva a que é irredutível. √ −1 + −3 Por exemplo, o polinômio nosso conhecido relacionado com a raiz cúbica da unidade ξ = 2 Φ3 (x) = x2 + x + 1. Para p = 5 temos outro exemplo: Φ5 (x) = x4 + x3 + x2 + x + 1. Do fato de que Φp (x) 1, ξ, ξ 2 , . . . , ξ p−1 ser o polinômio mínimo de são todos distintos, pois 1, ξ, ξ 2 , . . . , ξ p−1 ainda todos os números de Φp (x). ξ podemos concluir que ξp = 1 e para todo são raízes de xp − 1. [Q(ξ) : Q] = p − 1. Observe 1 ≤ i ≤ p − 1, ξ i 6= 1. Logo ξ, ξ 2 , . . . , ξ p−1 Mais são as raízes Pelo Corolário da Proposição, página 14, das Notas V, o corpo de raízes de Φp (x) é Q(ξ, ξ 2 , . . . , ξ p−1 ) = Q(ξ). Antes de calcularmos p − 1 = [Q(ξ) : Q]. grupo tem ordem termos o grupo. G(Q(ξ) : Q) Para cada observe que pela Questão 18, página 24, das Notas V, esse Logo basta acharmos 1 ≤ r ≤ p−1 p − 1 Q-automorsmos considere o único isomorsmo distintos para σr : Q(ξ) → Q(ξ r ) que estende id, conforme o item (2) do Teorema da Unicidade, página 14, das Notas V. Claramente Q(ξ r ) = Q(ξ): de fato, como Logo ξ 1 = (ξ r )t ∈ Q(ξ r ) Q(ξ), i.e., Seja e p são relativamente primos existem implicando σr ∈ G(Q(ξ) : Q) Q(ξ) ⊂ Q(ξ r ) ⊂ Q(ξ). pois ξ t, s ∈ Z Logo cada σr tais que é um 1 = tr + sp. Q-automorsmo de e são todos distintos. O o fecho inteiro de Z em Q(ξ). Z } ⊂ O, sobre r é inteiro sobre Z Claramente Z[ξ] = { ao +a1 ξ+· · ·+ap−2 ξ p−2 | ao , a1 , . . . , ap−2 ∈ e também é claro que 1, ξ, ξ 2 , . . . , ξ p−2 é uma base livre de Z[ξ] Z. Contudo, mostrar a igualdade O = Z[ξ] seria muito longo e está fora de nossos objetivos. Mas isso nos dá mais um exemplo de fecho inteiro de Z em corpos de números além do caso quadrático que vimos. Vamos em seguida demonstrar que para quando Z[ξ] p = 3 o anel Z[ξ] é fatorial. Para é fatorial. Armação 2: Para p = 3, Z[ξ] é um anel euclidiano (e portanto fatorial). 3 p > 3 não é claro Vericação. Vamos mostrar isso como no caso de vamos usar a descrição de √ Z[ −1] = O(−3) √ Z[ −1] feito em Notas I, página 3. Para isso dada página 11 das Notas III. Observe que −3 ≡ 1 (mod 4). Dados α, β ∈ Z[ξ], β 6= 0, seja γ= Inicialmente encontramos mesma paridade que n e n∈Z √ √ α = u + v −3 ∈ Q( −3). β tal que |n/2 − v| ≤ 1/4. |m/2 − u| ≤ 1/2. Seja então Denindo-se então r = α − βδ temos que r=0 O e novamente consideramos Armação 3: λ = 1 − ξ Mais ainda, para todo que que a projeção natural Z sobre então Z/pZ. 1 ≤ j ≤ p − 1, λ O/λO ou p tal que m tem Obtemos que e N (r) < N (β) O α = βδ + r. o anel de inteiros. Veremos agora algumas 1 − ξj (para tal que λp−1 ∼ p são associados em p=3 é canonicamente isomorfo a π : O → O/λO e vale a igualdade um primo impar qualquer. é um irredutível de 1 + ξ + ξ 2 + · · · + ξ t ∈ O× O anel quociente de m∈Z δ = (m + n −3)/2 ∈ Z[ξ]. O = Z[ξ], Para simplicar as contas vamos denotar 1≤t≤p−2 √ m 2 3 n 2 1 N (γ − δ) = u − < 1. +3 v− ≤ + 2 2 4 16 √ no caso Z[ −1]: α N (α − βδ) = N (β)N − δ = N (β)N (γ − δ) < N (β). β Finalizamos como propriedades de A seguir tomamos O. p=3 Z/pZ. α ∈ O, λ2 = −ξ3). temos Temos também para todo temos simplesmente que 1 + ξ = −ξ 2 ). Por canonicamente queremos dizer quando restrita ao subanel Ou dito de outra maneira: para todo (para Z coincide com a projeção natural existe a∈Z α − a ∈ λO, tal que ou π(α) = π(a). Vericação: Para Iniciamos com a vericação de que 1 ≤ j ≤ p − 1, λ | 1 − ξj . temos t, u ∈ Z (Equivalentemente, como Fp para todo 1 ≤ j ≤ p − 1. 1 − ξ j = (1 − ξ)(1 + ξ + · · · + ξ j−1 ) = λ(1 + ξ + . . . + ξ j−1 ) Reciprocamente, como todo Teorema de Bezout, λ ∼ 1 − ξj , tais que 1 ≤ j ≤ p−1 1 = jt + up. é um corpo existe é relativamente primo com Observe que podemos escolher 1 ≤ t ≤ p−1 tal que λ ∼ 1 − ξj , como armado. 4 existem, pelo 1 ≤ t ≤ p − 1. jt ≡ 1 (mod p).) λ = 1 − ξ 1 = 1 − ξ jt+up = 1 − ξ jt ξ up = 1 − ξ jt = (1 − ξ j )(1 + ξ j + · · · + ξ j(t−1) ). portanto p, e portanto Assim Portanto 1 − ξj | λ e Observe que acabamos de mostrar que se λ(1 + ξ + · · · + ξ t ). Portanto Vejamos agora que ξ j 6= 1 é raiz de 1 + ξ + ξ 2 + · · · + ξ t ∈ O× , λp−1 ∼ p : xp − 1. 1 ≤ t ≤ p − 2, de fato, 1 − ξ t+1 ∼ λ então e que 1 − ξ t+1 = como queríamos. xp −1 = (x−1)(1+x+· · ·+xp−1 ) e para todo 1 ≤ j ≤ p−1, 1 + x + · · · + xp−1 . Portanto tem que ser raiz de 1 + x + ··· + x Logo p−1 Y (x − ξ j ). = p−1 j=1 Fazendo-se x=1 1≤j ≤p−1 nessa igualdade obtemos 1 − ξj ∼ λ vale a relação Considere agora a norma p= p = µλp−1 Como a fração acima é um número de implicando que No caso p=3 O, obtemos que de Z. Portanto λ λ Q λ2 e 3 O p = µλp−1 . N (µ) = ±1 podemos demonstrar que α∈O p−1 = 1. O. 1 é um irredutível λ = (3 − √ −3)/2 ξ N (λ) = p). é uma unidade tem norma 3, irredutível O. existem δ, r ∈ O 0. 2 ≡ −1(mod λO), Z/3Z α = λδ + r, tais que r = 0, Igualmente a divisão de o anel quociente terá três classes: classe do Conclusão: para todo N (λ) = ±p O/λO, para p = 3, fazemos como nos inteiros e usamos o Algorítimo de e quociente exatamente as classes de Portanto é simples vericação e como Também Portanto só temos três possibilidades para o resto: tem resto ±1. (aqui também podemos demonstrar que λ2 = −ξ3 são associados em é irredutível de Euclides. Para cada observe que tal que pp−1 = N (λ)p−1 , pois N (µ) = 1 (embora então tem que valer é um irredutível de Quanto ao anel quociente λ µ ∈ O× obtemos µν = 1, N (λ) p as contas são mais fáceis: de por Como acabamos de ver que para todo Logo Z, − ξ j ). N : Q(ξ) → Q, como na Questão 19, página 25 das Notas V. Calculando- a primeira vista só possamos dizer que se de j=1 (1 existe unidade se a norma nos dois termos da igualdade N (µ) = 1). Qp−1 pois pois α∈O 0 = λO ou 2 onde r = 0, N (r) = 1, 2. tem resto e classe do −1 N (r) < N (λ) = 3. Mais ainda a divisão de e quociente 1 = 1 + λO. 2 = 3 + (−1) = −ξ 2 λ2 + (−1). ou −ξ −1 λ. 1 Assim Para a terceira classe Logo classe de 2 = −1 + λO, 2 + 3Z = −1 + 3Z. existe um único a ∈ Z, com a ∈ { 0, 1, −1 } tal que α − a ∈ λO, como armado. Esta última parte não é tão fácil de ser vericada para p>3 irredutível de em geral o Algorítimo de Euclides. Mas continua a ser verdade que para todo tal que α ≡ a (mod λ). Isso é verdade mesmo que 5 O Z, pois não temos α∈O existe a∈Z não seja fatorial, mas provar esse fato fugiria muito dos objetivos do curso. Contudo podemos vericar que para os números módulo t−j λ. De fato, dados 0 ≤ t 6= j ≤ p − 1, λp−1 ∼ p e portanto λ | p. Resulta então que Dessa forma podemos dizer que acima, O/λO p tem elementos, suponhamos que u, v ∈ Z são relativamente primos, existem O/λO 0, 1, . . . , p − 1 tais que λ | 1, são dois a dois não congruentes λ | (t − j) em 1 = pu + v(t − j). O/λO ' Z/pZ p Como em Z, p e Mas vimos acima que λ∈ / O× . o que é um absurdo, pois tem pelo menos O. elementos. Mas, como mencionamos e para todo α ∈ O existe a ∈ Z tal que α ≡ a (mod λ). Armação 4: Vericação: Para todo α∈O existe a∈Z tal que αp ≡ a(mod λp ). Pelo que acabamos de ver na Armação 3, existe b ∈ Z tal que α ≡ b(mod λ). Temos também a equação p−1 Y α −b = (α − ξ i b). p p (1) i=0 Como λ=1−ξ temos ξ ≡ 1(mod λ). Assim, para cada um dos fatores α − ξib temos α − ξ i b ≡ α − b ≡ 0(mod λ). Isto é, α − ξ i b = λβi , Tomando-se a = bp Armação 5: positivo e r para algum vamos obter βi ∈ O. Dessa forma a equação (1) implica αp ≡ a(mod λp ), Toda unidade ε ∈ O× αp − bp = λp βo · · · βp−1 . como desejado. pode ser escrita na forma ε = ξ g r, onde g é um inteiro é um número real. Vericação: A vericação no caso geral é muito longa, dependendo por exemplo do fato de que todo α∈O grau gr r(x) < p − 1, como vimos no Armação 1. pode ser escrito de maneira única na forma r(ξ) onde r(x) ∈ Z[x] é um polinômio com √ a + b −3 Já para p = 3 é uma simples vericação: escrevemos ε = , onde a, b ∈ Z e 2 a2 + 3b2 a ≡ b( (mod 2)). Em seguida tomamos a norma, N (ε) = que deve valer 1 porque ε é uma 4 2 2 2 2 unidade e N (ε) é positiva. Portanto a + 3b = 4. Vemos agora que se |b| > 1, então a + 3b > 12. Logo |b| ≤ 1, a2 + 3b2 = 4. isto é b ∈ { 0, 1, −1 }. Mas então ε = (±1)ξ g , Se b 6= 0, onde então g = 1, 2. b = ±1 Se Voltemos agora ao problema de Fermat e a equação 6 b = 0, e a = ±1 então também, para poder valer a = ±2 xp + y p = z p . e ε = ±1 = (±1)ξ 0 . Passo 1. a, b, c. Assumimos que a equação tem solução inteira Podemos assumir que a, b, c são relativamente primos, pois caso contrário cancelaríamos o fator comum. Em seguida mostramos que um dos inteiros a, b, c p é divisível por (e somente um deles, pois são relativamente primos). Vamos demonstrar esse fato por absurdo assumindo-se que p não divide nenhum dos termos a, b, e c. O Iniciamos com a decomposição em p−1 Y (a + ξ i b) = ap + bp = cp , (2) i=0 e seja p um divisor comum de dois fatores distintos Então p divide a λ, O (a + ξ t b) − (a + ξ j b) = ξ t b(1 − ξ j−t ). como vimos na Armação 3. Logo p divide b (a + ξ t b) Como ou p e (a + ξ j b) j−t>0 divide λ 0 ≤ t < j ≤ p − 1. com temos que (lembrar que ξ 1 − ξ j−t é associado é uma unidade e que é fatorial). Vamos assumir que p 6= λ p | c, Por outro lado obtemos que p | a. Consequentemente que existe irredutível q p de e provar que isso leva a uma contradição. Como devido a fatoração (2) acima. é um fator comum de pela Questão (10) das Notas IV, temos que logo existe irredutível α ∈ O. q A ⊂ B, de Z q Consequentemente e se I pO c. de O. tal que e pO ∩ Z = qZ. é um fator comum de c, e resulta que B, c, O é o fecho inteiro de Z em Q(ξ), Mas esse ideal é também primo (Para então Mas então a, b , ap + b p = c p Como p | b. contrário a nossa suposição inicial. Como pO ∩ Z 6= { 0 }. é um ideal primo de temos que Vamos a seguir mostrar que isso implica a, b , que é um fator comum de Z Consideremos o ideal principal, não nulo e primo, toda extensão de anéis a, b , p - λ, I ∩A q ∈ pO é um ideal primo de e assim q = pα A.), para algum conforme dissemos. Concluímos assim que o único possível (a menos de unidades) divisor irredutível de dois termos a + ξ i b da equação (2) é λ. se u∈Z que e α∈O N (λ) = ±p. são tais que λ λ divida algum dos a + ξ i b, teremos que λ dividirá c. u = λα, Isso implica que esse conclusão ao fato de no início. Logo Caso λ dividir p | u. c parcela a + ξib particular Conclusão, se vamos obter que não divide nenhum dos temos dois a dois relativamente primos em Como temos tomando-se normas obtemos cp p λ | u, para up−1 = ±pN (α), u ∈ Z, é um divisor de a + ξ i b, com c, ε ∈ O× Pela Armação 5, existem g, p | u. pois já vimos Aplicando-se contra o que foi assumido e assim esses termos são O. é, a menos de unidade de com então 0≤i≤p−1 no lado direito a equação (2), a fatoração única em a + ξb = εαp Por outro lado, e O, uma potência p-ésima O vai implicar que cada de algum elemento de O. Em α ∈ O. inteiro positivo, e 7 r real, tais que ε = ξ g r. Logo a + ξb = ξ g rαp . Pela Armação 4, existe Armação 3, p | λp . conjugados em Logo e ∈ Z αp ≡ e(mod λp ). tal que Assim a + ξb ≡ ξ g re(mod λp ). a + ξb ≡ ξ g re (mod p), ou então ξ −g (a + ξb) ≡ re (mod p). da congruência acima, o lado direito não se altera, porque C ξ g (a + ξ −1 b) ≡ re (mod p), ξ pois o conjugado de em C é re Pela Tomando-se os é real. Logo obtemos ξ −1 . Subtraindo-se uma congruência da outra obtemos aξ g + bξ g−1 − aξ −g − bξ 1−g ≡ 0 Observe que Como g 6≡ 0 (mod p), pois, caso contrário, teríamos na equação (3) b(ξ −1 − ξ) = bξ −1 (1 − ξ 2 ) 1 − ξ 2 ∼ λ, e unidade). Mas, também pela Armação 3, implicando λ | b. p p ∼ λp−1 . ξ −1 ) ≡ 0 (mod p)). p Como p > 2, também divide não divide nenhum dos termos Podemos igualmente vericar que (3) b(ξ −1 − ξ) ≡ 0 (mod p). pela Armação 3, vamos ter que Mas então, como vimos acima, feita bem no início, de (mod p). g 6≡ 1 (mod p) a, b, e vamos obter b, p | bλ (ξ −1 é uma λ2 | p e assim λ2 | bλ o que contradiz nossa hipótese, c. usando um raciocínio semelhante (agora a(ξ − Vamos agora reescrever a equação (3) na forma aξ g + bξ g−1 − aξ −g − bξ 1−g = pα, α ∈ O, onde g 6≡ 0 (mod p) e g 6≡ 1 (mod p). Dividindo-se (4) acima por p (4) obtemos b a b a α = ξ g + ξ g−1 − ξ −g − ξ 1−g . p p p p Sabemos pela Armação 1 que que ξ, ξ 2 , . . . , ξ p−1 1, ξ, ξ 2 , . . . , ξ p−1 1, ξ, ξ 2 , . . . , ξ p−2 também é uma base inteira de com p−2 ξ g , ξ g−1 , ξ −g , ξ 1−g , tomadas módulo Por outro lado são uma base inteira de O sobre Z α ∈ O = Z[ξ] p, g , g − 1, −g e O sobre Z. Decorre disso (Na verdade qualquer subconjunto de elementos é uma base inteira, pois nenhum dos pares formado pelos números (5) 1−g for congruente módulo estarão entre os elementos (Armação 1). Logo existem 1 + ξ + ξ 2 + · · · + ξ p−1 = 0.) p Se as potências ξ, ξ 2 , . . . , ξ p−1 . d1 , d2 , . . . , dp−1 ∈ Z tais que α = d1 ξ + d2 ξ 2 + · · · + dp−1 ξ p−1 Usando agora que ξ, ξ 2 , . . . , ξ p−1 é uma Z-base de livre de representações (5) e (6) nessa base devem coincidir. igualmente e c, b/p ∈ Z. p 1−g as coordenadas de a/p = aj ∈ Z, α nas duas para algum não divide nenhum dos números j, e a, b , p. Já g 6≡ 0 (mod p) e g 6≡ 1 (mod p); também g 6≡ g −1 (mod p) e g −1 6≡ 1−g (mod p). As necessariamente dois dos números sabemos que Mas então Como isso contradiz a hipótese de que g , g − 1, −g Z[ξ], (6) 8 e devem ser congruentes módulo 2g ≡ 1 (mod p). possibilidades restantes implicam em Como 2g ≡ 1 (mod p) e ξ p = 1, a equação (4) pode ser escrita como αpξ g = a + bξ − aξ 2g − bξ 2g−1 = (a − b)(1 − ξ) = (a − b)λ. N (α)pp−1 = (a − b)p−1 (±p). Tomando-se normas, obtemos Mas isso implica que p | (a − b), ou então a ≡ b (mod p). ap + bp = cp , podemos reescreve-la na forma ap + (−c)p = (−b)p e p−1 Y (a + ξ i (−c)) = (−b)p , etc...) para chegarmos a conclusão (iniciando com Voltando-se ao equação inicial repetir o processo todo i=0 a ≡ (−c) (mod p). Mas então 0 = ap + bp + (−c)p ≡ 3ap Logo p | 3ap e p - a; portanto p = 3. (mod p). Assim nossa equação terá a forma a3 + b3 + c3 = 0, a, b, c ∈ Z e 3 não divide nenhum dos números os números (mod 9). 0, 1, −1, a, b , devemos ter que Igualmente e c. Tomando-se como representante das classe de a = 3k ± 1. b3 ≡ ±1 (mod 9) c1 ≡ (±1) + (±1) + (±1) 6≡ 0 (mod 9) e p Logo a3 = 27k 3 ± 27k 2 + 9k ± 1 c3 ≡ ±1 (mod 9). e assim Como isso implica que Z/3Z a ≡ ±1 a3 + b 3 + obtemos uma contradição com a equação (7). Essa última contradição mostra que a hipótese feita de que i.e., provamos que (7) p não divide nenhum dos números divide um (e somente um) dos números a, b , e c, a, b , e c é falsa, como armado. O argumento que acabamos de ver é longo e cheio de auto-referências. Para o caso p = 3 podemos obter uma demonstração elementar. Na verdade vamos mostra um pouco mais: A congruência x3 + y 3 ≡ z 3 (mod 9) não tem solução inteira a, b, c com 3 não dividindo pelo menos um dos fatores. Suponhamos que temos também que (mod 3). a, b, c ∈ Z é uma solução da congruência acima. Como a3 + b3 ≡ c3 (mod 3). Vamos escrever c = a + b + 3d, Pelo Pequeno Teorema de Fermat resulta então para algum d ∈ Z. a3 + b 3 dos dois lados e dividindo-se tudo por 0 ≡ a2 b + ab2 ≡ ab(a + b) ≡ abc 9 a+b ≡ c Tomando-se o cubo vamos obter a3 + b3 ≡ (a + b + 3d)3 ≡ a3 + b3 + 3a2 b + 3ab2 Cancelando-se o termo a3 + b3 ≡ c3 (mod 9), (mod 9). 3 (mod 3). obtemos Isto é, um dos termos Passo 2. a, b , c Suponhamos agora que um dos termos a, b , c 3 é divisível por como queríamos. a, b, c ∈ Z é uma solução da equação x3 + y 3 = z 3 . é divisível por 3. Podemos também supor que podemos rearranjar ciclicamente a equação nas formas: 3. para termos o inteiro da esquerda divisível por escolhemos a solução uma nova solução a, b, c de forma que k a1 , b 1 , c 1 onde 0 c1 = 3k d1 c Já sabemos que é o inteiro divisível por a3 + (−c)3 = (−b)3 , ou Consideramos então que 3 pois b3 + (−c)3 = (−a)3 , c = 3k d, onde 3 - d e seja o menor possível. Em seguida mostramos que existe k0 < k com e chegamos a uma contradição. Temos então ap + bp = pp k dp = ελp(p−1)k dp , pois sabemos que λp−1 ∼ p. p-d onde e ε ∈ O× (8) Queremos mostrar que essa equação não acontece com relativamente primos e não divisíveis por mas vamos mostrar um pouco mais: a, b, d ∈ O, a equação (8) não tem solução com Iniciamos com a decomposição em p, a, b, d ∈ Z, relativamente primos e não divisíveis por λ. O p−1 Y (a + ξ i b) = ελp(p−1)k dp , (9) i=0 onde continuamos a considerar a escolha da solução que λ a + ξ i b, divide um dos fatores Por outro lado, dados ξ i b(1 − ξ j−i ), com já que λ é irredutível em j − i > 0. Vimos acima que para todo par λ ∼ 1 − ξt Por outro lado se existirem vamos ter que 1 − ξ i−n = µλ com λ2 µ ∈ O× λ|b em O, 0 ≤ n 6= i ≤ p − 1 O, mínimo. Essa igualdade mostra que estamos assumindo fatorial. p λ não divide então para todo 1 ≤ 1 ≤ p − 1. λ divide tais que a + ξib para todo p|b em Portanto divide a e Z.). b 0 ≤ i ≤ p − 1. a + ξ n b ≡ a + ξ i b(mod λ2 ), (a + ξ n b) − (a + ξ i b) = ξ n b(1 − ξ i−n ), divide resulta que só estivéssemos supondo que no Passo 1, se k i 6= j . Juntando os dois fatos anteriores concluímos que n < i, com i 6= j , que assumimos j > i por simplicidade, obtemos (a+ξ i b)−(a+ξ j b) = a + ξ i b ≡ a + ξ j b (mod λ), que a, b, d b (ξ n µ ∈ O× ), com e assumirmos i − n > 0. Como contrário a hipótese feita acima (Se também teríamos uma contradição, pois como vimos Concluímos então que os números a + ξib , i = 0, 1, . . . , p − 1, λ são dois a dois não congruentes módulo λ. Como O/λO tem p são um sistema completo de representantes das classes de 10 elementos distintos, os números acima O/λO. Portanto um deles corresponde a 0, classe isto é, um deles é divisível por equação (8), ou em (9), podemos assumir divide a + ξj b não divide para todo j > 0. λ. Como podemos trocar i = 0, b por isto é vamos assumir que Isto é, para todo 1 < j ≤ p − 1, bξ t , t ≥ 0, λ2 temos que divide λ nos termos da a + b mas λ2 divide a + ξ j b, mas as potências de fatoração de λ m é divisível por λ. λ2 λp−1 = λp+1 . Comparando nos dois lados da equação (9) podemos determinar qual é a potência de a + b. Seja agora Ela terá que ser a o MDC de e b em é divisível por a+b λ O .2 Como m e λ λm e a+b a e b não são divisíveis por são relativamente primos em é divisível por O λ, também m λ(p−1)(pk−1) m. Sejam = λ(p−1)(pk−1) meo , (10) a + ξj b 0 ≤ i < j ≤ p−1 tais que ei e ej serão divisíveis por `λm. Resulta então que λ ∼ (1 − ξ j−i ), escolha de são dois a dois relativamente tem um fator ` ∈ O em comum, então a+ξ i b (a + ξ i b) − (a + ξ j b) = ξ i b(1 − ξ j−i ), ξ j (a + ξ i b) − ξ i (a + ξ j b) = ξ j a − ξ i a = −ξ i a(1 − ξ j−i ), que eo , e1 , . . . , ep−1 O. De fato se existirem e Mostraremos a seguir que não e portanto para todo a + ξ j b = λmcj , j = 1, 2, . . . , p − 1, eo , e1 , . . . , ep−1 ∈ O. na (p − 1)(pk − 1). Consequentemente, 1 ≤ j ≤ p − 1, a + ξ j b primos em λ2 a + ξ j b. Concluímos então que o lado esquerdo da equação (9) é divisível por onde não m. pois j − i > 0, serão divisíveis por chegamos a conclusão de que `m `λm. divide a e e também Usando novamente b, contradizendo a A seguir substituímos o valores dados em (10) na equação (9) e obtemos mp λp(p−1)k eo e1 · · · ep−1 = ελp(p−1)k dp , de onde deduzimos que cada ei é, a menos de uma unidade de dois a dois primos entre si e assumimos que todo i = 0, . . . , p − 1. O O, uma é fatorial. Sejam então, Reescrevendo as equações (10) substituindo os a+b p-potência ei = εi api , ei s pelos em com ai s O, pois são εi ∈ O × , temos = λ(p−1)(pk−1) mεo apo , a + ξ j b = λmεj apj , j = 1, 2, . . . , p − 1, Calculando-se m (11) na primeira equação e substituindo-se o resultado obtido na segunda obtemos −1 p (a + ξ j b)λp(p−1)(k−1) = (a + ξ j b)λ(p−1)(pk−1)−1 = (a + b)(εj ε−1 o )(aj ao ) , j = 1, 2, . . . , p − 1, 2 Temos para (12) como hipótese que a, b, e d são relativamente primos, mas isso não implica que eles sejam dois a dois primos entre si. 11 Consideremos agora a seguinte igualdade: (a + ξb)(1 + ξ) − (a + ξ 2 b) = ξ(a + b). Multiplicando-se (13) por λp(p−1)(k−1) obtemos de (12) com j=1 e (13) j=2 que −1 p p(p−1)(k−1) −1 −1 p , (a + b)(ε1 ε−1 o )(a1 ao ) (1 + ξ) − (a + b)(ε2 εo )(a2 ao ) = ξ(a + b)λ a+b onde cancelando-se o termo e multilplcando-se por p (1 + ξ)−1 (ε−1 1 εo )ao obtemos p −1 −1 p(p−1)(k−1) p ao . ap1 − (1 + ξ)−1 ε−1 1 ε2 a2 = (1 + ξ) (ε1 εo )ξλ ε0 = (1 + ξ)−1 ε−1 1 ε2 Chamemos ε00 = (1 + ξ)−1 (ε−1 1 εo )ξ e e nossa equação ca na forma ap1 − ε0 ap2 = ε00 λp(p−1)(k−1) apo , onde de a1 , a2 , ao ∈ O, O. são relativamente primos em Observe que se for possível provar que O, (14) não são divisíveis por ε0 = η p , com η ∈ O× λ, λp O , ε0 e ε00 são unidades essa última equação cará na forma (9) produzindo uma contradição, pois encontramos uma solução com Tomemos agora a equação (14) módulo e k−1 no lugar de isto é, ap1 − ε0 ap2 ≡ 0(mod λp ). Vimos na Armação 3 que podemos mesmo escolher βp O/λO ' Z/pZ, β ∈ Z) tal que k. (15) que é um corpo. Como a2 β ≡ 1(mod λ). λ - a2 , exite β∈O (na verdade Multiplicando-se a congruência (14) por obtemos (a1 β)p − ε0 (a2 β)p ≡ 0(modλp ), do que resulta ε0 ≡ (a1 β)p (mod λp ). Pela Armação 3 existe potência p a∈Z tal que a1 β ≡ a (mod λ). (16) Escrevendo e elevando a vamos obter p p p p (a1 β) = a + γ λ + p−1 X p j=1 Pelo lema da página 23 das Notas V sabemos que p j divide ap−j γ j λj . p j para todo divide todas as parcelas da somatória acima. Pela Armação 3, µ ∈ O× . a1 β = a + γλ Portanto pλ divide λp . 12 1 ≤ j ≤ p − 1. λp−1 = µp, Podemos então reescrever (17) na forma (a1 β)p = ap + pλδ, (17) Logo pλ para alguma unidade para algum nos dá δ ∈ O. Resulta disso que ε0 ≡ ap (mod p). segundo o qual se (a1 β)p ≡ ap (mod p), que combinado com a igualdade (16) Recorremos agora a um resultado de Kummer, que não vamos demonstrar, ε0 ∈ O × é congruo a um inteiro módulo p, então existe η ∈ O× ε0 = η p . tal que Mas isso é exatamente o que precisamos na equação (14) para obtermos a contradição procurada. p = 3 Aqui também vamos tomar primeiro que para p=3 temos Vamos mostrar que somente ε = ±ξ , √ δ = (a/2) + (b/2) −3 De fato, seja Z[ξ]× = { ±1, ±ξ, ±ξ 2 }, ε = e + 3δ , com ε ∈ Z[ξ]× δ ∈ Z[ξ]. e e ∈ Z. Vamos escrever ε = ±ξ . Temos então √ √ −1 + −3 a + b −3 ± =e+3 . 2 2 ±1 = 3b, obtemos uma contradição. mesma contradição. Logo somente ε = ±1 No caso ε = ±ξ 2 obteríamos a podem satisfazer a uma congruência do tipo acima. Mas como armado pelo resultado de Kummer. Com isso terminamos a demonstração do Teorema de Fermat para primos Uma palavra nal sobre o anel de inteiros ciclotômicos da unidade, com e considerar o caso Como essa igualdade implica que ±1 = (±1)3 , e suponhamos que Observe conforme vimos na Armação 5, página 6. ±1 pode satisfazer uma equação ε ≡ e (mod 3), ε = ±ξ 2 ou e vericar a validade do resultado de Kummer. p Z[ξp ], onde ξp p tais que [ξ] é fatorial. é uma raiz primitiva p-ésima primo impar. Com já dissemos esse anel não é em geral fatorial e portanto seus ideais não são principais. Contudo tal que para todo ideal I de Z[ξp ] tem uma propriedade muito interessante: existe inteiro positivo Z[ξp ], I n é principal. Escolhendo-se essa propriedade, denimos que um primo p é de regular se p - n. n de forma que seja mínimo com Os argumento que apresentamos nestas Notas podem ser aplicados com poucas modicações para anéis é, na verdade, o teorema de Kummer: Se p>2 n Z[ξp ], é regular, então a equação com p regular. Esse xp + y p = z p não tem solução inteira. Em particular, se Z[ξp ] for fatorial, então n = 1, isto é, todo ideal é principal. Logo p é regular. Recorde que nem todo anel fatorial é principal, mas no caso particular de um anel de inteiros algébricos as duas coisas são equivalentes. 13