“A saúde para todos, não sem a loucura de cada um” Guillermo

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“A saúde para todos, não sem a loucura de cada um”
Guillermo Bustamante Zamudio
NEL-Bogotá
É este enunciado um tipo teorema cuja demonstração somente verifica sua justeza e seu
fechamento? A possibilidade de seu primeiro termo depende do segundo: um à condição do
outro, não sem o outro. O curioso é que o primeiro termo é um universal, de maneira que – para
os ditos contemporâneos que o desfraldam – pareceria não necessitar de acréscimos: Para todo x,
a saúde. Sem dúvida, Freud nos ensinou que a condição humana pode fazer conjuntos universais
ao preço de ao menos uma exceção: todos os irmãos iguais, com a condição de terem matado o
pai que encarnava a exceção à regra que ele mesmo impunha e que, de agora em diante, a
encarnará nos impasses de cada um deles, de maneira singular.
E as matemáticas que, em algum momento, luziram como o campo perfeito do simbólico (no
presente estado de desenvolvimento científico, diz Hannah Arendt, o discurso deixa de ter
significado: sua linguagem de símbolos matemáticos já não são mais abreviaturas de expressões
faladas: agora são impossíveis de traduzir como discurso), também revelaram sua ascendência nos
avatares do significante: não há o conjunto total.
Lacan, então, pôde formular o dictum freudiano: se Para todo x, f(x), também é certo (ou
inclusive: isso é certo à condição de) que Existe um x que não cumpre f(x). O tema do encontro
evoca esta história. Há, porém, um detalhe: o segundo termo do tema não fala de ao menos um,
mas de cada um.
Isso é o mesmo que dizer “todos”? Não pareceria mais de acordo com a história aludida em um
tema como: “ A saúde para todos, não sem a loucura de ao menos um”? Que Existe um x que não
cumpre f(x), quer dizer que é somente um? Miller introduz uma elucidação nesse ponto. Se o
operador diferença, constitutivo do simbólico, é aplicado a um monte de elementos, obtemos “o
tesouro dos significantes” – como dizia Saussure – à condição de deixar um elemento por fora.
De tal maneira que o elemento excluído é estruturante e os elementos incluídos são estruturados.
Até aqui, daríamos razão à ideia de que o tema é demasiado generoso com o segundo termo.
Contudo, o operador diferença aplica-se indistintamente a qualquer dos elementos desse monte:
basta aplicar a mesma operação, mas a partir de outro elemento, e teremos outro conjunto da
língua e outro elemento excluído.
Nenhuma característica intrínseca aos elementos do monte os torna privilegiados para ser o pivô,
a partir do qual se gere o conjunto (será mais algo unido à contingência – sujeito). Isso libera a
teoria da repressão de certas amarras às quais estava condenada na versão freudiana.
Nesse sentido, tomado em conjunto, o assunto deveria ser anunciado com o tom de Totem e
Tabu, formalizado nas fórmulas da sexuação, dizendo-de: “A saúde para todos, não sem a loucura
do ao menos um”.
Porém, tomados um a um, que é como a psicanálise faz sua escolha forçada, em atenção às
condições estruturais da condição humana, cada um brilha como a exceção à regra. Recordemos a
ode que Keats compõe ao rouxinol e que Borges comenta lindamente. Miller tira as conclusões –
porque vai mais-além de “lindamente” – necessárias: cada espécime humano é a exceção à
espécie.
De maneira que quem quiser fazer o conjunto dos humanos (que não é fictício, porque, então, de
que seríamos exceção?) que o saiba: à condição de que cada um seja uma exceção. Como
conclusão: “A saúde para todos, não sem a loucura de cada um”…Quod erat demonstrandum1.
Tradução: Cassandra Dias
1
N.T.: “Como se queria demonstrar”, expressão usual ao final de uma demonstração matemática com a
abreviatura Q.E.D.
“La salud para todos, no sin la locura de cada uno”
Guillermo Bustamante Zamudio
NEL-Bogotá
¿Es este enunciado como un teorema cuya demostración sólo verifica su justeza y su cierre? La
posibilidad de su primer término depende del segundo: uno a condición del otro, no sin el otro. Lo
curioso es que el primer término es un universal, de manera que —para los dichos
contemporáneos que lo enarbolan— no parecería necesitar de más: Para todo x, la salud. Sin
embargo, Freud nos enseñó que la condición humana puede hacer conjuntos universales al precio
de al menos una excepción: todos los hermanos iguales, a condición de haber matado al padre
que encarnaba la excepción a la regla que él mismo imponía y que, de ahora en más, la encarnará
en los impases de cada uno de ellos, de manera singular. Y las matemáticas, que en algún
momento lucieron como el campo perfecto de lo simbólico (en el presente estado del desarrollo
científico, dice Hannah Arendt, el discurso deja de tener significado; su lenguaje de símbolos
matemáticos ya no son más abreviaturas de expresiones habladas: ahora son imposibles de
traducir a discurso), también revelaron su ascendencia en los avatares del significante: no hay el
conjunto total. Entonces, Lacan pudo formalizar el dictum freudiano: si Para todo x, f(x), también
es cierto (o incluso: eso es cierto a condición de) que Existe un x que no cumple f(x). El lema del
encuentro evoca esta historia. Pero hay un detalle: el segundo término del lema no habla de al
menos uno, sino de cada uno. ¿Es lo mismo que decir “todos”? ¿No parecería más acorde con la
historia aludida un lema como: “La salud para todos, no sin la locura de al menos uno”? Que Existe
un x que no cumple f(x), ¿quiere decir que es sólo uno? Miller introduce una elucidación en este
punto. Si el operador diferencia, constitutivo de lo simbólico, es aplicado a un montón de
elementos, obtenemos “el tesoro de los significantes” —como decía Saussure—, a condición de
dejar un elemento por fuera. De tal manera, el elemento excluido es estructurante y los elementos
incluidos son estructurados. Hasta aquí, daríamos razón a la idea de que el lema es demasiado
generoso con el segundo término. Pero el operador diferencia aplica indistintamente con
cualquiera de los elementos del montón: basta con aplicar la misma operación, pero a partir de
otro elemento y tendremos otro conjunto de la lengua y otro elemento excluido. Ninguna
característica intrínseca a los elementos del montón los hace privilegiados para ser el pivote a
partir del cual se genere el conjunto (será más bien algo unido a la contingencia-sujeto). Eso libera
la teoría de la represión de ciertas ataduras a las que estaba condenada en la versión freudiana.
Así las cosas, tomado en conjunto, el asunto habría que enunciarlo, con el tono de Tótem y Tabú,
formalizado en las fórmulas de la sexuación, diciendo: “La salud para todos, no sin la locura de al
menos uno”. Pero tomados uno a uno, que es como el psicoanálisis hace su elección forzada, en
atención a las condiciones estructurales de la condición humana, cada uno luce como la excepción
a la regla. Recordemos la oda que Keats compone al ruiseñor y que Borges comenta bellamente.
Miller saca las conclusiones —porque va más allá de “bellamente”— necesarias: cada espécimen
humano es la excepción a la especie. De manera que quien quiera hacer el conjunto de los
humanos (que no es ficticio, porque, entonces, ¿de qué seríamos excepción?) que lo sepa: a
condición de que cada uno es una excepción. En conclusión, “La salud para todos, no sin la locura
de cada uno”... Quod erat demonstrandum.
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