Jorge Morais Carvalho O objecto da presente dissertação consiste

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Os Contratos de Consumo
Reflexão sobre a Autonomia Privada no Direito do Consumo
RESUMO
O objecto da presente dissertação consiste na análise geral, por um lado, dos
contratos de consumo e, por outro lado, da autonomia privada e dos seus limites. O
objectivo final passa pela ligação entre estes dois pontos, aplicando às relações de
consumo as conclusões extraídas a propósito das normas imperativas.
O estudo do regime jurídico aplicável aos contratos de consumo (formação,
direito de arrependimento, conteúdo e cumprimento e incumprimento) constitui um
elemento necessário para a compreensão dos problemas colocados, permitindo a
interpretação correcta das normas e dos interesses subjacentes a estas.
A liberdade contratual, princípio fundamental do direito privado, encontra-se
limitada com vista a salvaguardar interesses relevantes de natureza variada. Por um
lado, a limitação pode resultar da lei. Por outro lado, o contrato tem de passar pelo crivo
da ordem pública, dos bons costumes e da boa fé, que visam garantir, em última
instância, a conformidade do contrato com os princípios fundamentais do ordenamento
jurídico e da vida em sociedade num determinado contexto histórico e geográfico.
No que respeita à contrariedade à lei, a tarefa do aplicador do direito consiste em
determinar o âmbito de imperatividade do conteúdo de uma norma. O principal
elemento interpretativo para o efeito resulta da verificação dos interesses que, em
concreto, a lei visa salvaguardar, os quais podem ser classificados em interesses gerais,
interesses de terceiros, interesses de ambas as partes ou interesses de uma das partes.
No direito do consumo, o conteúdo imperativo das normas visa tendencialmente a
protecção exclusiva de interesses de uma das partes do contrato, o consumidor. Este
aspecto conduz, em regra, a um regime específico de invalidade, nos termos do qual o
destino do contrato depende apenas da intenção manifestada pelo consumidor.
Depois de determinar, em relação a cada norma, os limites precisos da
imperatividade, o aplicador do direito deve analisar se os interesses subjacentes ao
conteúdo imperativo identificado se encontram contratualmente acautelados de outra
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forma
ou
compensados
por
outros
interesses
igualmente
relevantes
face
às
circunstâncias concretas.
Nos contratos de consumo, uma vez que o conteúdo imperativo das normas visa a
protecção exclusiva do consumidor, o âmbito dessa protecção não deve contrariar o seu
próprio interesse, pelo que nada justifica que este se encontre impedido de negociar
termos mais favoráveis do que os resultantes da lei. Neste caso, se o equilíbrio de
interesses previsto legalmente não for posto em causa no contrato, por via de os
interesses do consumidor se encontrarem acautelados ou compensados, deve considerarse que o acordo é válido.
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ABSTRACT
The object of this thesis consists of a general analysis of both consumer contracts
and private autonomy and its limits. The final objective is to connect these two aspects,
applying to consumer contracts the conclusions drawn from mandatory rules.
The study of the legal regime applicable to consumer contracts (formation, right
of withdrawal, content, performance and breach) is necessary to understand the issues
that are raised, and is important to a correct interpretation of the rules and their
underlying interests.
The freedom of contract – fundamental principle of private law – is subject to
limitations in order to safeguard relevant interests of a different nature. On the one hand,
such limitations may stem directly from statutory law. On the other hand, the contract
has to stand to the review of public policy, morality and good faith, that are intended to
ensure that the contract complies with the fundamental principles of law and society in a
particular historical and geographical context.
With regard to solutions that can be considered to contradict applicable legal
provisions, the task of the person applying the law is to determine the scope of the
mandatory nature of a legal provision. The main interpretive element to this regard is
the verification of the interests that, in concrete, the law seeks to protect, and these can
be classified as general interests, third parties’ interests, common interests of the parties
or interests of a single party.
In consumer law, the mandatory content of the legal provisions seeks frequently
to protect only the interests of one of the parties to the contract, in the case the
consumer. This leads, as a general rule, to a particular legal regime for the invalidity of
the contract, where the fate of the contract depends only on the expression of the
consumer’s intention.
After determining, for each type of rule, the precise limits to the mandatory nature
of the rule, the interpreter has to evaluate whether the underlying interests in the
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imperative nature identified in the rule are contractually protected through another way
or are effectively balanced by other equally relevant interests in the particular case.
As in consumer contracts the mandatory content of the existing rules seeks
exclusively to protect the consumer, the scope of that protection should not be too wide
as to be contrary to the consumer’s own interest. Nothing would justify that the
consumer would be prevented to negotiate on more favourable terms than those
resulting from the law. In this case, if the balance of interests envisaged by the law isn’t
put into question by the contract, because consumer’s interests are adequately protected
or duly compensated, the agreement should be considered valid.
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R ÉSUMÉ
Le sujet de cette thèse consiste en une analyse générale, d’une part, des contrats
de consommation et, d’autre part, de l’autonomie privée et de ses limites. L’objectif
ultime est de relier ces deux points, en appliquant aux relations de consommation les
conclusions tirées à propos des normes impératives.
L’étude du régime juridique applicable aux contrats de consommation (formation,
droit de repentir, contenu et exécution et inexécution) est un élément nécessaire pour
interpréter correctement les normes et les intérêts sous-jacents.
La liberté contractuelle, un des principes fondamentaux du droit privé, est limitée
afin, notamment, de sauvegarder d’autres intérêts majeurs de diverses natures. D’une
part, cette limitation peut avoir pour origine la loi. D’autre part, le contrat doit être
conforme à l’ordre public, aux bonnes mœurs et à la bonne foi, principes qui visent à
garantir le respect des principes fondamentaux de l’ordre juridique et de la société dans
un contexte historique et géographique particulier.
En ce qui concerne la non-conformité à la loi, la tâche de l’interprète consiste à
déterminer la portée de l’impérativité d’une norme. A cet égard, le principal élément
d'interprétation est la vérification des intérêts que la loi cherche, dans le cas concret, à
sauvegarder, lesquels peuvent être considérés comme intérêts généraux, intérêts des
tiers, intérêts communs aux parties ou intérêts d'une des parties au contrat.
En droit de la consommation, le contenu impératif des règles ne cherche
tendanciellement qu’à protéger les intérêts des consommateurs. Cet aspect conduit, en
règle générale, à un système spécifique de nullité, dans lequel le sort du contrat ne
dépend que de l’intention manifestée par le consommateur.
Après avoir déterminé, pour chaque règle, les limites précises de leur impérativité,
l’interprète doit examiner si les intérêts, sous-jacents au contenu impératif identifié, sont
sauvegardés dans le contrat ou s’ils sont compensés par d’autres intérêts également
pertinents dans chaque situation concrète.
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Dans les contrats de consommation, comme le contenu impératif des règles vise la
seule protection du consommateur, la portée de cette protection ne doit pas porter
atteinte aux intérêts propres de chaque consommateur et rien ne justifierait qu’il soit
empêché de négocier des conditions plus favorables que celles fixées par la loi. Dans ce
cas, si l’équilibre des intérêts prévu par la loi n’est pas mis en cause, les intérêts des
consommateurs étant protégés ou compensés, on sera donc en mesure de reconnaître la
validité du contrat.
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RESUMEN
Esta disertación tiene como objetivo principal el análisis, por una parte, de los
contratos de consumo y, por otra parte, de la autonomía privada y de sus límites. El
objetivo final es la interconexión entre estos dos puntos, aplicando a las relaciones
jurídicas de consumo lo que se concluyó sobre las normas imperativas.
El estudio del régimen jurídico aplicable a los contratos de consumo (formación,
derecho de desistimiento, contenido y cumplimiento e incumplimiento) constituye un
elemento necesario para la comprensión de los problemas planteados, permitiendo la
interpretación correcta de las normas y de los intereses subyacentes a estas.
La libertad contractual, principio fundamental del derecho privado, está limitada
en los casos en que sea necesario salvaguardar intereses relevantes de diversa
naturaleza. Por un lado, la limitación puede ser consecuencia de un comportamiento
contrario a la ley. Por otro lado, el contrato debe pasar el control del orden público, las
buenas costumbres y la buena fe, destinados a garantizar, en última instancia, la
conformidad del contrato con los principios fundamentales del derecho y de la sociedad
en un determinado contexto histórico y geográfico.
En cuanto a la ley, la tarea del intérprete es determinar el alcance de la
imperatividad del contenido de una norma. El elemento clave para la interpretación es la
verificación de los intereses que la ley trata de proteger, que pueden ser clasificados en
intereses generales, intereses de terceros, intereses de ambas partes o intereses de una
parte.
En el derecho del consumo, el contenido imperativo de las normas trata
tendencialmente de proteger intereses del consumidor. Esto conduce, en general, a un
régimen específico de invalidez, en el cual el destino del contrato depende sólo de la
intención manifestada por el consumidor.
Después de determinar, para cada norma, los límites precisos de la imperatividad,
el intérprete debe examinar si los intereses que subyacen en el contenido imperativo
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identificado están salvaguardados en el contrato de otra manera o compensados por
otros intereses también relevantes ante las circunstancias concretas.
En los contratos de consumo, como el contenido imperativo de las normas se
destina a la protección exclusiva del consumidor, el alcance de dicha protección no debe
socavar su propio interés, por lo que no hay ninguna razón para que éste no pueda
negociar términos más favorables que los derivados de la ley. En este caso, el equilibrio
de intereses previsto en la ley no es contrariado por el contrato, una vez que los
intereses del consumidor están salvaguardados o compensados, por lo que se debe
considerar que el acuerdo es válido.
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