terapia de grupo - Clínica Jorge Jaber

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TERAPIA DE GRUPO
ALESSANDRO ALVES
“Nenhum homem é uma ilha isolada; cada homem é uma
partícula do continente, uma parte da terra; se um torrão
é arrastado para o mar, a Europa fica diminuída, como se
fosse um promontório, como se fosse a casa dos teus
amigos ou a tua própria; a morte de qualquer homem
diminui-me, porque sou parte do gênero humano. E por
isso não perguntes por quem os sinos dobram; eles
dobram por ti.”
JOHN DONNE, poeta inglês do século XVI, em seu texto “Meditações XVII”,
escreveu esse belíssimo trecho, mais tarde imortalizado pelo escritor norteamericano Ernest Hemingway em seu romance “POR QUEM OS SINOS
DOBRAM”.
1.Uma breve história
Os fundadores da Psicoterapia de Grupo nos EUA foram
Joseph H. Pratt, Burrow Trigant e Paul Schilder Todos os
três deles estavam ativos e trabalhando na Costa Leste na
primeira metade do século 20. Após a Segunda Guerra
Mundial, a psicoterapia de grupo foi desenvolvida por
Jacob L. Moreno, Slavson Samuel, Spotnitz Hyman, Irvin
Yalom e Ormont Lou. A abordagem de Yalom para a
Terapia de Grupo tem sido muito influente não apenas nos
EUA, mas em todo o mundo, através de seu texto clássico
"A Teoria e Prática da Psicoterapia de Grupo". Moreno
desenvolveu
uma
forma
específica
e
altamente
estruturada de terapia de grupo conhecido como
Psicodrama.
A psicoterapia de grupo do Reino Unido foi inicialmente
desenvolvida de forma independente, com os pioneiros
S.H. Foulkes e Wilfred Bion usando terapia de grupo como
uma abordagem para tratar a fadiga de combate na
Segunda Guerra Mundial. Foulkes e Bion foram
psicanalistas,
e
conceitos
da
psicanálise
foram
incorporados à terapia de grupo, reconhecendo que os
processos de transferência podem surgir não só entre os
membros do grupo e do terapeuta, mas também dentre os
membros do grupo entre si.
Além disso, o conceito
psicanalítico do inconsciente foi estendido com o
reconhecimento de um inconsciente do grupo, em que os
processos inconscientes dos membros do grupo poderiam
ser encenados na forma de processos irracionais em
sessões de grupo.
A abordagem de Bion é comparável à terapia social,
desenvolvida pela primeira vez nos Estados Unidos no final
de 1970 por Lois Holzman e Newman Fred, que é uma
terapia de grupo em que os profissionais se relacionam
com o grupo, e não com seus indivíduos, como a unidade
fundamental de desenvolvimento. A tarefa do grupo é a de
"criar o grupo", ao invés de se concentrar na resolução de
problemas ou fixar-se nos indivíduos.
PRINCÍPIOS TERAPÊUTICOS
 UNIVERSALIDADE
O reconhecimento de experiências partilhadas e
sentimentos entre os membros do grupo, e que estes
sentimentos podem ser amplos e universais, serve para
remover de um membro do grupo a sensação de
isolamento, validar as suas experiências e aumentar a
autoestima.

ALTRUÍSMO
O grupo é um lugar onde os membros podem ajudar uns
aos outros, e a experiência de ser capaz de dar algo a
outra pessoa pode levantar a autoestima do membro e
ajudar a desenvolver estilos de enfrentamento e
habilidades interpessoais.

INSTILAÇÃO DE ESPERANÇA
Em um grupo misto, que tem membros em vários
estágios de desenvolvimento ou recuperação, um
membro pode ser inspirado e encorajado por outro
membro que superou os problemas com os quais ele
ainda esta lutando. Fé e esperança são importantes
para mobilizar a motivação, o esforço, a perseverança,
a criatividade e as energias do paciente na luta e
resolução da dificuldade. Acreditar que esteja
recebendo o tratamento apropriado e profícuo
contribui
para
o
auto
ajuste.
Pode
parecer
surpreendente, mas os
fatores expectativa e
esperança têm influência tão importante quanto à
técnica no processo de mudança.

TRANSMITIR INFORMAÇÕES
Enquanto isso não é, estritamente falando, somente um
processo psicoterapêutico, os membros muitas vezes
relatam que ele tem sido muito útil para aprender
informações factuais de outros membros do grupo, por
exemplo, sobre o seu tratamento ou sobre o acesso aos
serviços.
 RECAPITULAÇÃO
CORRETIVA
FAMILIAR PRINCIPAL
DA
EXPERIÊNCIA
Membros, muitas vezes inconscientemente, identificam o
terapeuta de grupo e outros membros do grupo com seus
próprios pais e irmãos em um processo que é uma forma
de transferência, porém específico para psicoterapia de
grupo.
Interpretações do terapeuta podem ajudar os
membros do grupo ganhar a compreensão do impacto das
experiências da infância em sua personalidade, e eles
podem aprender a evitar a repetição inútil dos últimos
padrões interativos.

DESENVOLVIMENTO DE TÉCNICAS DE SOCIALIZAÇÃO
A configuração de grupo fornece um ambiente seguro e de
apoio para os membros a assumir riscos, alargando o seu
repertório de comportamento interpessoal e melhorando
suas habilidades sociais.
 COMPORTAMENTO IMITATIVO
Uma maneira pela qual os membros do grupo podem
desenvolver habilidades sociais é através de uma
modelagem de processo, observando e imitando o
terapeuta e outros membros do grupo; por exemplo, em
partilha de sentimentos pessoais, mostrando preocupação
e apoiando os outros.

COESÃO
Foi sugerido que este é o principal fator terapêutico a
partir do qual ocorre o fluxo de todos os outros. Os seres
humanos possuem uma necessidade instintiva de
pertencer a grupos, e o desenvolvimento pessoal só pode
ter lugar num contexto interpessoal. Um grupo coeso é
aquele em que há em todos os membros um sentimento de
pertencimento, validação e aceitação.

FATORES EXISTENCIAIS
Aprendizado
onde
é
necessário
assumir
a
responsabilidade por sua própria vida e as consequências
das decisões individuais

CATARSE
Catarse é a experiência de alívio de estresse emocional
através da expressão livre e desinibida da emoção.
Quando os membros contam a sua história para um
público favorável, podem obter alívio de sentimentos
crônicos de vergonha e culpa.

APRENDIZAGENS INTERPESSOAIS
Membros do grupo podem alcançar um maior nível de
autoconhecimento através do processo de interação com
outros membros, que dão retorno (feedback) sobre o
comportamento do membro e
seu impacto sobre os
outros.
 COMPREENSÃO DE SI MESMO
Este fator se sobrepõe com a aprendizagem
interpessoal, mas refere-se à realização de maiores
níveis de insights sobre a gênese de nossos problemas
e as motivações inconscientes que são subjacentes ao
comportamento de cada um.
QUANDO A AJUDA É NECESSÁRIA?
A indicação de psicoterapia, independentemente de
suas especificidades, deve levar em consideração que
se trata de uma técnica destinada a toda e qualquer
pessoa que pretende expandir sua autoconsciência, e
não apenas às consideradas doentes. Basta lembrar
que, em seu sentido etimológico, psicoterapia é cura
da alma e, como tal, pode beneficiar todo aquele que
deseja aprofundar o conhecimento de si mesmo, a
partir do contato interpessoal. Por outro lado, o
encaminhamento requer que conheçamos as diversas
modalidades existentes de tratamento em saúde
mental.
CRITÉRIO DE SELEÇÃO
É necessário adotar critérios de seleção, uma vez que
a psicoterapia de grupo não é um tipo de tratamento
apropriado para todas as pessoas e circunstâncias, o
que não difere de outros métodos terapêuticos. É bom
lembrar que a psicoterapia não pode ser aplicada
como panaceia universal. Nesse sentido, é necessário
estabelecer critérios precisos de inclusão e de
exclusão. A seleção apropriada proporciona melhor
desenvolvimento e potencializa o resultado.
O QUE SE ESPERA DA PSICOTERAPIA DE GRUPO?
Em geral, a maioria das pessoas soluciona seus
problemas de forma satisfatória no dia-a-dia. Todavia,
em circunstâncias especiais, de acordo com a
natureza da situação, um indivíduo pode se ver diante
de um dilema ou conflito e sentir-se incapacitado para
alcançar a resolução. Neste extremo, e diante do
sofrimento psíquico vivenciado, parte em busca de
apoio: geralmente um amigo, um familiar ou um
religioso. A cooperação social é essencial para o bemestar pessoal e exerce, portanto, importante papel,
mas, ao mesmo tempo, é possível que o indivíduo opte
por procurar um profissional especializado em saúde
mental: um terapeuta. O que esperar da psicoterapia
de grupo? Que possa solucionar seu problema. Para
isto, terá de reavaliar suas ideias, sentimentos
comportamentos ao longo de sua história, num
passado recente ou, se necessário, longínquo. O
estado em que se encontra exige mudança. Neste
sentido, o processo psicoterápico tem por objetivo
modificar padrões de comportamento inapropriados
que dificultam o processo de desenvolvimento pessoal.
CARACTERÍSTICAS DO PACIENTE QUE
PERMITEM FAZER O PROGNÓSTICO
1. GRAVIDADE
DO
TRANSTORNO
MENTAL:
pacientes gravemente afetados têm propensão a
obter resultado inferior.
2. MOTIVAÇÃO PARA MUDANÇA: corresponde ao
interesse e desejo do paciente em participar
ativamente no tratamento; pôr à prova, refletir,
compreender e reconhecer sem dissimulação
seus
sentimentos,
pensamentos,
comportamentos e aspectos desagradáveis de
sua pessoa. E nesta sequência, coloca-se aberto
a novas ideias e soluções, e faz expectativas
positivas e realistas. Ao mesmo tempo, elege a
terapia como uma das atividades prioritárias,
evitando compromissos simultâneos, e esforça-se
para encontrar recursos necessários para sua
regularidade (por exemplo, dinheiro e transporte).
3. CAPACIDADE DE SE RELACIONAR: habilidade de
se engajar e desenvolver aliança terapêutica e,
consequentemente,
confiar
pensamentos
e
sentimentos pessoais. Esta condição não implica
apenas cordialidade e sentimentos calorosos,
mas, também, a possibilidade de expressar e
verbalizar emoções associadas à indignação, ira
e discórdia, e assumir riscos na interação
interpessoal. Por outro lado, o paciente que se
coloca
numa
interação
superficial
inevitavelmente
não
irá
obter
benefício,
aproveitamento e melhora.
4. FORÇA DO EGO: definida como capacidade de
tolerar
frustrações
e
estresse,
postergar
gratificações, resolver com flexibilidade e
criatividade conflitos internos e problemas
emocionais, e integrar construtivamente a
experiência. Relaciona-se à autonomia individual,
que se traduz pelo grau de segurança em si
próprio,
confiança
em
suas
habilidades,
apreciações e decisões.
5. “MENTALIDADE PSICOLÓGICA” (psychological
mindedness): envolve a habilidade em verbalizar
pensamentos, sentimentos, fantasias e a vida
psíquica interior. Corresponde à capacidade de
introspecção e o desejo de compreender seus
problemas e dificuldades do ponto de vista
psicológico. É considerado um atributo positivo.
Quando ausente pode acarretar falta de
progresso. É o que se observa em determinados
pacientes, que ao serem questionados sobre
como se sentem, discutem repetitivamente e sem
fim suas sensações somáticas, incapazes de
relacioná-las a qualquer sentimento, fantasia ou
conflito.
Outros
respondem
às
perguntas
descrevendo as ações ocorridas em determinadas
circunstâncias, sem associar absolutamente a
qualquer aspecto emocional.
O PACIENTE COMO AGENTE DA
PRÓPRIA MUDANÇA
Independentemente da forma de tratamento que será
adotada, no primeiro momento é recomendável que o
paciente
seja
acompanhado
em
psicoterapia
individual. Essa fase é fundamental para que se
consiga o envolvimento ativo e criativo do paciente,
condição sine qua non para que se desenvolva a
ALIANÇA TERAPÊUTICA.
Aliás, esta é considerada
mais potente do que a técnica, e não importa qual
técnica. É necessário oferecer ao paciente condições
para desenvolver sua própria mudança. A técnica
corresponde a elementos que ativam e mobilizam o
potencial e a propensão natural de recuperação.
Contudo, é o empenho do paciente que faz a
psicoterapia funcionar e atingir o resultado almejado.
Cada uma das abordagens de psicoterapia possui
diferentes caminhos e ingredientes, que mobilizam a
capacidade de resolução dos problemas e o
restabelecimento individual. Cada abordagem tem,
portanto, sua contribuição específica, seu valor
estratégico e seu alcance. Todas podem ser eficientes
desde que sejam capazes de mobilizar esse potencial
de mudança. A psicoterapia de grupo favorece muito o
trabalho do paciente como agente de sua própria
mudança. A interação é particularmente realizada
entre os participantes. São eles próprios que
desenvolvem a terapia e rompem o modelo médico, no
qual o terapeuta é o expert, aquele que está em
condições de definir o correto e o errado, e de
estabelecer e aplicar o procedimento ou a intervenção.
Em condições favoráveis, eles paulatinamente passam
a assumir papel ativo no decorrer do processo. A
prioridade dos assuntos a serem discutidos é da
competência dos integrantes do grupo, sendo,
portanto, responsáveis pelos temas que escolhem. Os
próprios membros devem encontrar auxílio entre si,
ficando implícito que qualquer um poderá se
manifestar, permitindo-se a espontaneidade dos
participantes. Atuam assim, estabelecendo diálogo,
escutando de forma empática, formulando perguntas
que estimulam o esclarecimento do assunto e,
concomitantemente, reflexão e análise sob diferentes
perspectivas. Ao mesmo tempo, oferecem entre si
recursos diversos: informações, ideias, interpretações,
apoio, feedback, conselhos, sugestões de estratégias
e procedimentos. E cada um, na sua condição peculiar,
estabelece a direção que lhe seja mais produtiva.
Nesse sentido a força para a mudança provém dos
membros do grupo.
Condição fundamental para a obtenção da mudança é
a disposição franca para a autorevelação. Há
pacientes que ao serem convidados a participar do
grupo referem: aceito o convite, mas não garanto que
venha a falar. Entretanto, existe um clima que é criado
no grupo que favorece a autorevelação. E,
surpreendentemente, ocorre o que é conhecido por
contágio afetivo. A revelação de um estimula o outro a
se expor. O tema desenvolvido tem alguma relevância
para os participantes, suscitando pensamentos e
sentimentos relacionados a experiências do presente
ou do passado. E, dessa forma, o paciente acaba se
envolvendo e se tornando membro ativo da terapia. A
esse respeito, alguns deles chegam a dizer o seguinte:
participar do grupo é semelhante ao que ocorre
quando se entra na igreja, inevitavelmente ajoelha-se e
reza; no grupo, se integra e se revela. O simples ato de
expressar suas preocupações favorece uma atitude de
reavaliar e recompor o problema e colocá-lo em nova
perspectiva. Entre os mecanismos descritos pela
literatura, um que muito contribui para a mudança é o
aprendizado por intermédio do outro. É mais fácil ver
nos outros aquilo que não se consegue reconhecer em
si próprio. E o próprio paciente tira suas conclusões.
Estando aberto a novas informações, é possível
observar como o outro expressa uma idéia e tenta
solucionar um problema que guarda relação com o seu.
Neste processo, é capaz de descobrir a resposta a
uma situação em que se encontrava preso. No
processo psíquico conhecido como identificação, a
pessoa assimila um aspecto ou atributo de outra. No
grupo, o participante se depara com uma variedade de
modelos de conduta. Esse processo pode ocorrer
conscientemente, por simples imitação, ou
inconscientemente, fora de seu nível de percepção.
Algum nível de identificação é necessário para garantir
a coesão grupal. Aprendizado interpessoal
corresponde ao retorno que o paciente recebe dos
seus colegas, informando-lhe dados a seu respeito.
Desta forma, tem chance e liberdade de fazer as
correções necessárias. Um paciente pode sentir-se
estimulado não somente pelo seu progresso, mas,
também, observando a melhora obtida pelos outros
participantes e considerar: se os demais conseguem,
eu também posso conseguir!
O PAPEL DO TERAPEUTA
Não se pode definir psicoterapia sem incluir a figura do
terapeuta. Seu papel sempre será fundamental. Ocupase com aspectos da vida emocional e afetiva, trabalha
no sentido do esclarecimento das dificuldades
apresentadas pelo paciente, auxiliando-o a remover
obstáculos que perturbam o curso do desenvolvimento.
O que muda na psicoterapia de grupo é o modo como o
terapeuta atua, valendo-se do grupo como agente que
permite processar as informações e experiências
necessárias para incentivar as mudanças. Para tanto,
o terapeuta continua utilizando uma determinada
técnica que considera mais apropriada para ajudar o
grupo a examinar os problemas e, se possível,
solucioná-los, de modo a levar o paciente a lidar de
forma mais crítica e adequada com a realidade . Nesse
contexto, o CONSELHEIRO desenvolve, ou deve
desenvolver as seguintes capacidades:
 SUPORTAR O SOFRIMENTO: Entender e participar com
dignidade e ajudando a devolver dignidade ao paciente
que necessita falar da intimidade de sua “ativa”, ou
seja, seu uso de drogas.
 CORDIALIDADE: “A relação Conselheiro-Paciente é uma
relação de amizade, que tem lugar para acontecer e
tempo para acabar”.
 IDENTIFICAR O PACIENTE: Ter uma entrevista prévia
minuciosa. O paciente não deve iniciar no grupo sem
que o Conselheiro detenha o máximo de informação
possível sobre sua história.
 AVALIAR AS NECESSIDADES DO PACIENTE: É comum o
paciente buscar o tratamento ainda ambivalente, à
espera de ganhos secundários, como aceitação
familiar, resgate de trabalho, etc. Independente de
suas razões, o paciente tem o direito de ser acolhido.
O quanto antes identificarmos seus desejos e
necessidades, melhor será nossa abordagem.
 AVALIAR OS RECURSOS DISPONÍVEIS: É preciso saber
se você está em um espaço onde o paciente pode
receber todo o atendimento que precisa e merece.
Cuidado para não manter em atendimento um paciente
que necessita, por exemplo, de internação, e você não
pode oferecer.
Tentar ajudar sem ter meios e
sacrificando o grupo como um todo, além de
contraproducente, é co-dependência.
 LINK: “Unir, manter junto”.
O Conselheiro é a
argamassa da obra que o grupo faz.
 BROKERING: “Mediação”. Muito além e bem diverso do
que o papel de um Juiz, o Conselheiro carrega dentro
do grupo o papel de Conciliador, resolvendo dúvidas e
conflitos que venham a surgir durante o processo de
amadurecimento do grupo.
 ADVOGAR: A palavra ADVOGADO deriva do Latim
ADVOCATUS, particípio passado de ADVOCARE,
“chamar junto a si”, formado por AD, “a”, mais
VOCARE, “chamar, apelar para”, já que este
profissional é chamado para ajudar seu cliente quando
necessário.
 TRATAR: Possamos observar o que diz a Sexta
Tradição dos Alcoólicos Anônimos: “Nenhum Grupo de
A.A. deverá jamais sancionar, financiar ou emprestar o
nome de A.A. a qualquer sociedade parecida ou
empreendimento alheio à Irmandade, a fim de que
problemas de dinheiro, propriedade e prestígio não nos
afastem de nosso propósito primordial”. O propósito
primordial de um Conselheiro é TRATAR seu paciente,
uma vez que, independente do espaço que ele estiver
usando ou de quem financia seu trabalho, o
Conselheiro não distingue cor, condição sexual,
posição sexual, orientação político-partidária ou credo
religioso.
O Conselheiro entende a dependência
química como uma DOENÇA, e nesse modelo, o
paciente não é culpado, e, portanto, não deve ser
penalizado.
Ao contrário, deve o Conselheiro
direcionar seus esforços para oferecer as ESCOLHAS
que levam aos caminhos da Recuperação.
QUEM É O CONSELHEIRO NO GRUPO?
É o líder. Mas que tipo de líder é o Conselheiro?
O líder é aquele que se aproxima mais da realização
daquelas normas a que o grupo dá mais valor. Tais
normas podem nos parecer estranhas, mas enquanto
são realmente aceitas pelo grupo, o líder do grupo
terá de incorporá-las, pois é exatamente isso o que
lhe dá sua alta posição. E é a posição que atrai os
outros; o líder é aquele que os outros procuram; nele
o esquema de interações tem o seu centro. Ao
mesmo tempo sua alta posição implica o direito de
assumir o controle sobre o grupo, e o exercício do
controle, por sua vez, contribui para a continuidade
do prestígio do líder. É particularmente pela sua
colocação no cume da pirâmide que ele está em
condições de manter o controle. Ele é mais bem
informado do que os outros e dispõe de mais canais
para distribuir diretivas. O grupo é dirigido por ele,
mas ele mesmo é também, em certo sentido, dirigido
pelo grupo, mais do que os outros, pois uma
condição para sua liderança consiste em que suas
atividades e decisões estejam, mais que as dos
outros, de acordo com uma norma abstrata.
A respeito do líder, são estabelecidas, entre outras,
as seguintes regras:
- Um líder precisa manter a sua posição;
- Um líder tem que cumprir as normas do grupo;
- Um líder precisa liderar;
- Um líder precisa saber escutar;
- Um líder terá de possuir autoconhecimento;
Todos os conhecimentos da psiquiatria sugerem que o
homem tem a necessidade de pertencer a um grupo
para se sentir seguro, e assim manter seu equilíbrio
interno nos costumeiros contratempos da vida e para
educar filhos que por sua vez sejam também felizes e
resistentes. Quando, porém, o grupo em torno dele é
destruído, ou quando ele abandona o grupo do qual era
um membro estimado, e, sobretudo quando não
encontra nenhum outro grupo em que possa se
incorporar, então o peso psíquico fará com que
apresente distúrbios nos pensamentos, sentimentos e
comportamentos. Seu pensamento é atormentado por
ideias fixas, que se desenvolvem sem o necessário
contato com a realidade. Ele fica ansioso e irritado;
atrapalha sua própria vida e a dos outros. Sua conduta
é compulsiva, sem autocontrole. E se o processo da
educação, que possibilita ao ser humano um fácil
contato com os outros, pode ser considerado como um
processo social, então uma pessoa isolada educará
também filhos que, por sua vez, possuirão capacidades
sociais reduzidas. É uma espiral perniciosa: a perda de
um lugar como membro de um grupo numa geração
pode tornar as pessoas da seguinte geração menos
aptas ainda para pertencerem a um grupo.
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