Era uma vez... cartas de adolescentes e jovens vivendo com HIV na América Latina e no Caribe “Era uma vez…” Cartas de adolescentes e jovens vivendo com VIH na América Latina e no Caribe © Fundo da Criança das Nações Unidas, a UNICEF Escritório Regional para América Latina e Caribe Alberto Tejada Street, Edifício 102, Ciudad del Saber Panamá, República do Panamá PO Box: 0843-03045 Telefone: (507) 301-7400 www.unicef.org/lac Los comentários e opiniões expressas nesta publicação não representam necessariamente a política oficial ou vista da UNICEF. Agradecimentos: Todos os adolescentes que compartilharam suas histórias e mensagens pessoais para esta publicação: Tito, Thiago, L'Orangelis, Tami, Leandro, Micaela, Barby e Antonio. Também a Mariana, Pablo e Carlo por impulsionar esta iniciativa. Natalie Bailey, Jessica Rodrigues, Adriana Negry, Tâmara Simão, Gabriela Dutra, Hervé Bessou, José Bergua pela sua generosa colaboração na tradução em Inglês, Português, Francês e Espanhol. Oscar Acuña que desenhou a coleção. Federico Simcic e Gladys Hauck pela adaptação gráfica das quatro versões linguísticas. Era uma vez... cartas de adolescentes e jovens vivendo com HIV na América Latina e no Caribe Caro leitor: Para mim é um enorme prazer apresentar o "Era uma vez ..." a voce, esta breve mas intensa coleção de cartas e mensagens que nos contam os desafios enfrentados por adolescentes vivendo com HIV em alguns países da América Latina e do Caribe. Esta primeira edição se concentra principalmente nas luzes e sombras em torno dos medicamentos, os anti-retrovirais famosos que mantêm a AIDS sob controle, mas que representam uma série de desafios e incertezas para aqueles que têm de tomar diariamente. Neste ano de 2014, em que celebramos o 25 º aniversário da Convenção sobre os Direitos da Criança, e em que se está definindo novos alvos para o desenvolvimento de todo o mundo, podemos celebrar incríveis avanços na luta contra a AIDS; como por exemplo, estamos muito perto de eliminar a transmissão do HIV da mãe para o bebê e, finalmente, existem medicamentos para pessoas com HIV para viver uma vida plena e saudável. Ao mesmo tempo, sabemos que a AIDS é a segunda principal causa de morte entre os adolescentes do mundo, depois de acidentes de transito; que os adolescentes entre 10 e 19 são a única faixa etária em que mortes por AIDS têm aumentado nos últimos 7 anos; e, infelizmente, o estigma e a discriminação em relação a esses adolescentes ainda estão muito longe de ser eliminados. Eu sinceramente acredito que esta publicação, embora represente um grão de areia, nos ajuda a entender melhor os jovens que vivem com o HIV, a visualizar os desafios que enfrentam, além de entender que eles não são apenas portadores de um vírus, mas sim adolescentes como os demais, com seus medos e problemas, e também com esperanças e sonhos para o seu futuro. Finalmente, profundamente grato a todos os adolescentes que compartilharam suas histórias e mensagens pessoais para esta publicação: Tito, Thiago, L'Orangelis, Tami, Leandro, Micaela, Barby e Antonio. Também Mariana, Pablo e Carlo para colocar esta iniciativa. Bernt Aasen, Diretor Regional do UNICEF para a América Latina e Caribe era uma VEZ... Os contos de fadas e fábulas que nos contavam quando éramos crianças tem uma forte influência em como veremos o mundo dos adultos. A fantasia destas histórias que tanto nos alegrava, muitas vezes se vê interrompida pelo dia-a-dia que não é tão fantasioso. "Era uma vez ..." nasce desse dia-a-dia. Em um mundo onde cada vez mais os dados empíricos e os números controlam a forma de tomar decisões, teremos que perguntar: onde está a nossa humanidade? Onde estão as pessoas que formam esses números? Um número mais? De repente, nos transformamos em estatística e esquecemos a maneira pela qual os seres humanos gerenciamos nós mesmos e todos os problemas e situações que podem afetar a forma de relacionarmos. "Era uma vez ..." procura trazer esta história. Isto é, procura trazer as histórias de tod@s aqueles jovens que estavam vindo a este mundo na época em que ainda se lutava para ter os primeiros medicamentos para o HIV. É a história que somente a gente pode contar. Atualmente, os avanços em matéria de HIV apresentam uma oportunidade sem precedentes para uma melhor qualidade de vida. No entanto, todos os dias, @s jovens que conhecemos o HIV na adolescência enfrentamos o vírus com um olhar diferente e nos vemos e nos sentimos diante de um sistema que não prioriza as nossas necessidades. Nossa história é a sua história. É uma história de organizações internacionais, agências de cooperação, os ministérios da saúde e todos os tomadores de decisão. Estas cartas são para vocês, porque em cada uma delas existe uma vida. Um olhar pessoal sobre o nosso tratamento, o nosso crescimento e desenvolvimento, nossos relacionamentos, nossas famílias, a nossa adesão à violência institucional, o amor e os desafios da vida. Estas são apenas algumas cartas entre milhares de outras que ainda sao inéditas, sem rosto, sem uma voz. "Era uma vez ..." é a nossa história. É o nosso relato da verdade esquecida depois de 30 anos. Estas são as histórias que realmente devem nos fazer lembrar de que muito tempo já se passou, desde que isso começou e ainda muitos e muitos vivem como se tivesse acabado de começar. Era uma vez uma adolescente que vivia com HIV…... Bueno, en primer lugar, tomo medicamentos desde que tengo memoria. En alguna parte de mi, recuerdo que una vez al mes iba al dispensario y me ponían una medicación intravenosa, adicional a la que tomaba por boca. De pequeña los tomaba líquidos y antes de que supiera para que fueran, ya los tomaba en pastillas. Las dosis iban aumentando hasta que a mis 9 años tomaba alrededor de 13 diarias, mientras que la medicación por vena disminuía, hasta que a finales de los 90’ dejaron de administrármela. En el 2000, a mis 11 años, mi madre murió, por lo tanto tuve que aprender a tomar los medicamentos por mi misma, sin el apoyo suficiente, y desde los 15 años iba a mis citas por mi misma. Fui muy descuidada, y cambie de terapia en dos ocasiones, sin poder tomar ninguna decisión sobre mi cuidado medico. Nunca recibí educación sexual allí, aunque “autoestima” era el tema principal de cada taller. De igual manera, eran demasiadas pastillas como para llevar una vida completamente normal, ya que eran tres veces al día. No me caían muy bien al estomago, me cambiaban el humor, me debilitaban y sentía mi cuerpo intoxicado. A veces faltaba a clases o simplemente me ausentaba a la escuela, lo que disminuía mi aprovechamiento académico, sin tener las herramientas para dialogar con mis maestras sobre la situación. Algunas me ponían los ojos amarillentos y compañeros de clase me preguntaban si tenía Hepatitis.Sentía que el remedio era peor que el VIH. Por tal razón a mis 14 años deje de tomar los medicamentos hasta los 20 años, aunque continué durante los siguientes 4 años asistiendo a mis citas medicas para al menos saber como estaba. Sentía que el no tomar la medicación era la mejor manera de disfrutar mi adolescencia, experimentar y hasta llegue a olvidarme del VIH. Nunca fui hospitalizada durante ese tiempo, además que siempre me mantuve haciendo ejercicios, lo que me mantuvo fortalecida durante un periodo, hasta mi intento de suicido, en el cual decidí entrar nuevamente a cuidado medico hasta la fecha. "Em 2012, em todo o mundo, morreram 1,3 milhões de adolescentes. Segundo o relatório do Organização Mundial de Saúde (OMS), e a segunda principal causa dessas mortes é o HIV / AIDS." L’ORANGELIS porto Rico Era uma vez uma adolescente que vivia com HIV…... Desde que me lembro eu tomo medicação. Em princípio, não sabia por quê, mas sabia que se não tomasse eu iria morrer. Quando eu tinha 12 anos de idade, descobri a razão pela qual eu tinha que tomar tantas pílulas e um xarope horrível. Desde esse dia, eu tinha em mente que não tinha muito tempo para viver. Não podia acreditar que vivi 12 anos sem saber. Quando eu tinha 15 anos descobri mais sobre o vírus, e conheci pessoas jovens que tinham a mesma coisa, as mesmas preocupacões, problemas com a medicação, o medo da revelacão e outros medos que temos nessa idade. Eu fiquei mais forte e me tornei uma ativista na Rede Argentina de Jovens e Adolescentes HIV Positivo até hoje. Quando eu tinha 18 anos, decidi parar de tomar a medicacão por um período indefinido de tempo, até que meu corpo disse o suficiente. Todos temos problemas com adesão. Hoje é difícil voltar à forma como estava. Não quero ter nada a ver com medicamentos e me irrita saber que a minha vida depende do tratamento. Eu não conheço nenhuma outra vida além da que eu vivo. Faz cinco anos que não tomo medicação. Nesse tempo nada incomum aconteceu comigo, mas desenvolvi uma erupcão na pele dolorosa e fiquei de cama com febre por dois ou três dias. A cada dia que passa, eu percebo que eu realmente preciso de medicacão, mas é muito difícil ser consistente com o tratamento. "Em 2012, em todo o mundo, morreram 1,3 milhões de adolescentes. Segundo o relatório do Organização Mundial de Saúde (OMS), e a segunda principal causa dessas mortes é o HIV / AIDS." Tami/Argentina Rede Argentina de Jovens e Adolescentes HIV Positivo Era uma vez um adolescente que vive com HIV... Quando eu tinha 11 ou 12 anos, eu descobri que tinha HIV. Diferente de muitos, eu nasci com HIV, mas só soube que tinha o vírus depois de ser hospitalizado com pneumonia, quando os médicos me deram a notícia. Desde então, eu tomo medicacão. Não é fácil viver com o vírus, muito menos nessa sociedade em que as pessoas, por medo ou por falta de conhecimento, te discriminam e se mantêm à distância. Com o tempo aprendi a não me importar com esse tipo de gente. O fato de tomar medicacão todo dia não é fácil. Chega um momento em que você se cansa e para de tomar. Eu fiz isso e foi um erro, porque eu acabava no hospital com frequência. A pessoa tem que ser muito forte e saber que não está sozinha nessa luta. Sim, eu ainda estou de pé e comecei a fazer o tratamento de novo. Sei que não é fácil, mas tenho minha família e amigos que me dão forca para continuar. Não é fácil viver o dia-a-dia com as pílulas, mas é a única coisa que me deixará de pé e que me permitirá viver como qualquer outra pessoa e a não ser mais uma estatística de HIV. Eu escolho continuar tomando a medicacão. Não é fácil e ninguém disse que a vida seria fácil. Você deve ser consciente e aprender a enfrentar a luta. “Não há morte para aqueles que lutam”. Estar com pessoas que me amam alivia a dor. Eu espero que isso inspire e sensibilize outras pessoas de que não é fácil viver com o tratamento todo dia, mas que é a coisa certa a ser feita. "Em 2012, em todo o mundo, morreram 1,3 milhões de adolescentes. Segundo o relatório do Organização Mundial de Saúde (OMS), e a segunda principal causa dessas mortes é o HIV / AIDS." Leandro/20 ANos/Argentina, Membro da Rede Argentina de Jovens e Adolescentes HIV Positivo O único professor Era uma vez havia um adolescente que morava com sua avó, seu tio e seus amigos, os seus sonhos, as suas ideias, as suas fantasias, e seu estado serológico. O seu HIV foi chamado de VIH, e nasceu com ele. Não era o HIV dos outros: era o seu HIV. Ele tinha sua própria forma, sua própria mutação, a sua própria resistência, a sua própria medicação, o seu próprio tratamento e sua própria história. Mas quando o adolescente foi capaz, com grande esforço, de aceitar estas razões, ele percebeu um primeiro ponto: o seu HIV não era o problema dos outros, nem do outro, como as pessoas conservadoras costumavam dizer nos anos 80, mas se deu conta de que era um problema bem próprio, bem dele. Dessa meneira, ele aprendeu a cuidar-se em fortes tempestades e prevenir a gripe, ele aprendeu a tomar garrafadas inteiras cheias de medicamentos mágicos para cura e salvação, e ele aprendeu a injetar-se com uma versão beta de uma nova droga que estava em desenvolvimento, em um curso de enfermaria rápido, entre os 5 e os 17 anos. Quando ele chegou à puberdade ele queria ser um galã da sua geração hipersexual da década de 90 e 2000. Infelizmente, no final, ele se viu impedido por um muro de preconceito que não estava lá antes, e não fazia parte do seu pensamento ou do seu ser. Então, ele se deu conta do segundo ponto que parecia contradizer o primero: na realidade, o HIV não era apenas problema seu, mas era agora o problema dos outros, dos conhecimentos sobre o mundo que tiveram os demais, das dores que eram produto do preconceito dos outros. O seu HIV era então: um problema verdadeiramente dos outros (e nao por exclusão) e um problema dele. Crescendo pouco a pouco, ainda na adolescência, ele queria ser livre, desapegado, libertário, amante da navegação, eterno viajante e nômade dos mares do mundo, artista vagabundo, um ativista social romântico contra castas, corrupção e opressão. Ele queria se tornar todas as coisas que ele tinha aprendido com a literatura, com o confinamento solitário de sua infância provocada por semanas de doença, juntamente com os medos da morte e abandono. Mas, mesmo assim, o terceiro ponto essencial apareceu - foi se voltando para separar as águas e deixou o HIV ser uma questão complicada: que sim ele queria aproveitar todos esses impulsos, todos os seus instintos, e também descobrir o que significa viver no mundo. Apesar de tudo isso, finalmente, ele não podia. Não, ele não podia, pelo simples fato de viver e estar vinculado mas que os outros ao vai-e-vem de uma nacionalidade, de ter um passaporte, de uma obra social. Sem trabalho e amarrado ao apoio do Estado par receber a boa vontade da burocracia que reservava milhares de dólares mensais para o tratamento. Também se via amarrado à paranóia do incriível azar de ter nascido na Argentina, da lei da AIDS ou de nascer em Angola, da lei do nada; ou de nascer nos Estados Unidos, da lei da oferta e da demanda. O HIV já não era apenas um problema dele ou dos outros, seja no nível Individual e social, o HIV era também um problema político e econômico. Houve um tempo em que esse adolescente ouviu de outro adolescente, também vivendo com o HIV, o seguinte: "o HIV me ajudou a ver o outro". E ele pensou sobre todos os problemas que o HIV lhe trouxe na vida. Problemas com a sociedade: problemas de saúde, corpo e mente. Problemas com a sociedade: problemas com os outros, preconceito, incertezas, a decisão de contar ou não contar. Problemos com poder: governos, políticas, obras sociais, e nações que oferecem serviços gratuitamente, as nações que cobram pelos serviços e nações que não dão nada. Uma grande e maldita paranóia; então não poderia ser, nuna pôde ser que o seu HIV não tinha lhe ensinado absolutamente nada e portanto, o outro adolescente estava muito enganado. E ele percebeu que não, na verdade o seu HIV não tinha lhe ensinado nada, ele mesmo era o seu único professor porque se não fosse assim, então o HIV já teria lhe ensinado a morte antes que ele tivesse a chance de viver. E isso aconteceu com o apoio da família, amigos e amor, e o mérito de sua própria força era ele mesmo, o seu único professor. "Em 2012, em todo o mundo, morreram 1,3 milhões de adolescentes. Segundo o relatório do Organização Mundial de Saúde (OMS), e a segunda principal causa dessas mortes é o HIV / AIDS.” Tito Era uma vez um adolescente que vive com HIV... Contraí o VIH aos 15 anos, após compartilhar droga injetável. Mas não acredito que a forma como contraí seja importante ou fundamental para definir como vivo diariamente enfrentando todas as conseqüências. Depois de descobrir que compartilhamento de seringas é uma forma provável de se contrair o vírus, assim que pude fui realizar o exame respeitando o período da janela imunológica. Neste intervalo, tive uma crise aguda ficando de cama uma semana com infecção na garganta e febre, além de dores no corpo inteiro e muita sudorese principalmente noturna. Foram alguns anos de conflitos até o início dos medicamentos, primeiramente com Biovir (lamivudina + zidovudina) e Efavirenz. Porém, o AZT me causou muitas reações desagradáveis durante o período em que tomei, destacando-se os frequentes enjôos e estômago inchado. Tomei um nojo terrível de café, que é uma coisa que amo, por conta deste medicamento. Comecei a emagrecer muito por não conseguir comer nada mesmo com fome, até que eu marquei uma consulta após realizar algumas pesquisas onde verifiquei que uma combinação de remédios menos agressivos estavam disponíveis para mim. Ficou claro que era uma questão de critério médico e de cumprimento de protocolo a prescrição do mais agressivo, em detrimento dos menos danosos. Portanto, troquei de médico e, consequentemente, de medicação com a qual continuo até hoje – Tenofovir, Lamivudina e Efavirenz. Não tenho nenhum desconforto com a atual combinação e vou aprendendo mais a cada dia sobre a vida com eles. Mas ainda assim, gostaria de esclarecer que minha vida não se resume aos medicamentos, bem como minha saúde não tem como requisito central o consumo dos mesmos. Minha vida depende antes de tudo de Vida. Depende de condições básicas para o desenvolvimento do corpo, da mente e da alma. Não terei uma vida digna enquanto viver somente de remédio e acreditar que isto é o essencial e me contentar com isto. Não admito e não aceitarei que me dêem remédios enquanto me tiram todas as demais coisas com as quais tenho o direito de viver. Quero morar em boas condições, comer coisas saldáveis, viver relações saudáveis, construir o conhecimento favorecendo a libertação e a dignidade, quero o respeito de quem decide minha vida por mim. "Em 2012, em todo o mundo, morreram 1,3 milhões de adolescentes. Segundo o relatório do Organização Mundial de Saúde (OMS), e a segunda principal causa dessas mortes é o HIV / AIDS.” Thiago Belo Horizonte, MG – Brasil 27 ANos Era uma vez uma adolescente que vivia com HIV…... Vivo com HIV desde que nasci, a 25 anos e desde os 06 anos faço o uso dos antirretrovirais, tomo medicamentos a quase 20 anos, sei que muitas pessoas morreram por não existir todos esses remédios. Eu sempre tive dificuldade de tomar medicamentos, quando criança por seu gosto amargo e comprimidos grandes, na adolescência parei de tomar o medicamento varias vezes, pois me falavam que ele me fazia bem, meus exames estavam bons, mas eu não me sentia bem fisicamente, isso não mudou muito ate hoje. Sei da importância do medicamento e sou grata a todos os ativistas que lutaram para que a distribuição do medicamento fosse gratuitas, ativistas que morreram lutando, mas estamos a 30 anos dessa epidemia e por mais que muitos foram salvos há muito que fazer, muito no que avançar. Eu estou em um momento de não aguentar mais tomar remédios, o meu corpo já não aguenta mais, meus ossos, meu estomago, meu rim, meu fígado, a cada dia funcionam menos e eu me pergunto; para que vale uma carga viral indetectável? Um CD4 elevado? Se eu não consigo ter uma qualidade de vida. Se eu não consigo me divertir, estudar, trabalhar...A indústria farmacêutica investe em novos medicamentos, mas faltam pesquisas especificas, medicamentos específicos, nunca foi pensado em antirretroviral especifico para crianças, ou para mulheres.O meu cansaço é de alguém que já viu muitas pessoas morrer, tendo uma boa adesão ou não, o meu cansaço é de saber que podemos avançar em tantas coisas e estagnar nas outras. Eu estou estagnada, os médicos dizem se eu não tomar meus medicamentos eu morro, mas tantos já morreram e quantos mais precisaram morrer para que a vida de uma pessoa com HIV mude realmente? Para que haja uma qualidade de vida? Hoje os medicamentos que eu tomo não estão mais fazendo efeito em meu corpo, na ultima consulta a medica me receitou BACTRIM enquanto aguardo uma genotipagem para saber quais medicamentos eu ainda posso tomar. No hospital Emillio Ribas que é referencia no tratamento de Aids, o BACTRIM esta em falta a maus de um mês. Eu aguardo esse exame e continuarei lutando, mas até quando eu terei que lutar contra os remédios? O quanto isso vale? Eu como jovem vivendo com HIV no Brasil, pais de referencia no tratamento de Aids, pais que sediara a COPA do Mundo. Eu exijo novas pesquisas referente ao HIV, eu exijo um olhar especifico para cada pessoa vivendo com HIV, eu exijo a CURA. Micaela/J+LAC rnajvcha-brasil "Em 2012, em todo o mundo, morreram 1,3 milhões de adolescentes. Segundo o relatório do Organização Mundial de Saúde (OMS), e a segunda principal causa dessas mortes é o HIV / AIDS." Era uma vez uma adolescente que vivia com HIV no equador... A coisa “certa” nem sempre é a coisa “boa”. Medo, ignorância, vergonha e desinformação me levaram a tomar uma decisão que, naquele momento, eu considerei “correta”. Ter 17 anos, estar grávida de três meses e descobrir que tinha HIV. Um psiquiatra me deu a notícia e me disse, “toda ação na vida têm consequência e a consequência de suas ações é que você tem HIV. Agora temos que nos assegurar de que o seu bebê nasça negativo”. Nesse momento tudo se tornou um labirinto. Por um lado eu queria fazer todo o possível para que meu filho nascesse sem HIV. Por outro lado eu não entendia. Por que eu? Por que HIV? Eu queria desistir da vida, mas eu tinha uma razão para continuar. Durante os oito meses da minha gravidez eu esperava receber apoio psicológico e social adicionais ao apoio médico que se limitava a me dar o tratamento de ARVs e vitaminas. No meu último exame com o ginecologista, quando eles marcaram a minha cesárea, me disseram: “Vamos aproveitar o momento de dar à luz para ligar as trompas. É melhor que você não tenha mais filhos, pois um bebê exige muito do corpo de uma mulher. Agora você é jovem, teve um diagnóstico precoce e está tomando toda a medicação, então estamos confiantes de que a criança não vai nascer com HIV. Porém, se você não ligar as trompas e no futuro quiser ter um bebê, seu corpo estará afetado pelo HIV e a criança que você quer pode não nascer livre do HIV e isso não é justo com a criança. Além disso, um bebê precisa de uma mãe que esteja viva e nós não sabemos como o HIV pode te afetar. Já que você tem 18 anos já pode assinar o consentimento, pense nisso e no dia da cesariana você nos avisa da sua decisão.” A única coisa que passou pela minha cabeça foi que uma criança precisa de uma mãe. Meses depois, vendo meu filho crescer sem HIV eu descobri mais sobre o HIV e sobre os meus direitos. Quando refleti sobre a minha experiencia, eu me dei conta de que a maioria dos meus direitos havia sido violada – fizeram o teste sem o meu consentimento, não proveram aconselhamento antes ou depois, contaram pra minha mãe os resultados do teste com uma única frase: “leve-a ao hospital público para que ela seja tratada lá”, compartilhando o meu diagnóstico com a minha família e o meu antigo parceiro sem o meu consentimento. E a pior de todas as violações – insistindo que eu fosse esterilizada. Depois de aprender muito eu entendi que poderia ser mãe novamente, mas a falta de informação e a privação dos meus direitos me levaram a tomar uma decisão irreversível que eu acreditei ser a melhor naquele momento. A coisa “certa” nem sempre é a coisa “boa”. Medo, ignorância, vergonha e desinformação me levaram a tomar uma decisão que, naquele momento, eu considerei “correta”. barby/J+LAC/J+equador equador “Em 2012, em todo o mundo, morreram 1,3 milhões de adolescentes. Segundo o relatório do Organização Mundial de Saúde (OMS), e a segunda principal causa dessas mortes é o HIV / AIDS. " Era uma vez um adolescente que vive com HIV no México... Aos dezesseis anos, recebi o diagnóstico de HIV positivo. Eu me lembro de que naquele momento, eu estava sozinho e muito preocupado para que minha família, especialmente a minha mãe, não soubesse dessa noticia. Demoraram alguns meses para receber os resultados finais que me permitiriam solicitar os serviços de saúde que eram oferecidos no hospital. Para a minha surpresa, no dia em que apresentei os resultados do meu exame ao assistente social, ele se recusou a dar início aos trâmites para eu poder me beneficar dos serviços médicos, com o argumento de que eu era menor de 18 anos e eu nao estava acompanhado de nenhum familiar adulto. Passaram alguns anos até o médico me dar meu primeiro tratamento ARV que continua sendo o mesmo que uso atualmente, mas têm causado grandes danos na minha vida. Eu perdi quase 20 quilos, o que em um primeiro momento foi muito assustador, eu não podia me olhar no espelho. Inclusive, me sentia muito inseguro para conhecer novos pessoas ou sair com os meus amigos, pelo simples medo de ouvir: "você está muito magro!"; "você está comendo bem?"; "o que há de errado?" e "certeza de que está em boa saúde?". Estes são algumas das frases que em algum momento me chateavam me deixavam com muito medo. Esses medos e inseguranças me fizeram pensar que eu poderia deixar a medicação. mas em alguns momentos, páro para pensar e lembrar que todas as dificuldades que passei com a minha família, com os meus amigos e conhecidos têm sido tão valiosas e, especialmente, reforçaram a minha auto-estima, a minha confiança e o meu amor pelo meu corpo e por mim mesmo. "Em 2012, em todo o mundo, morreram 1,3 milhões de adolescentes. Segundo o relatório do Organização Mundial de Saúde (OMS), e a segunda principal causa dessas mortes é o HIV / AIDS." Antonio/J+ LAC/J+ Mexico IDEIA ORIGINAL: MARIANA IACONO PABLO AGUILERA CARLO ANDRE OLIVARES OBRIGADO PELA PARTICIPACAO DE: MIEMBROS DE J+ LAC RAJAP Y REDE J+ BRASIL