Tumor de células gigantes – evolução histórica do seu

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ARTIGO DE REVISÃO
Tumor de células gigantes – evolução histórica do seu
diagnóstico e tratamento junto ao Instituto de Ortopedia e
Traumatologia da FMUSP*
Giant Cells Tumor – diagnosis and treatment history evolution in Instituto de Ortopedia e
Traumatologia from FMUSP *
OLAVO PIRES DE CAMARGO1, ALBERTO TESCONI CROCI2, CLÁUDIA REGINA GOMES CARDIN MENDES DE OLIVEIRA3, ANDRÉ MATHIAS BAPTISTA4,
MARCELO TADEU CAIERO5, MARCELO ABRANTES GIANNOTTI 6
O tumor de células gigantes (TGC) é uma neoplasia óssea
benigna agressiva de comportamento biológico incerto,
constituído histologicamente por células gigantes
multinucleadas dispersas pelo tecido tumoral, cujo núcleo
apresenta as mesmas características das células ovóides e
fusiformes que formam o seu estroma.
A graduação anatomopatológica é dada pelo seu estroma
e não pelas células gigantes, que podem estar presentes
também em outras lesões tumorais e pseudotumorais como o
tumor marrom do hiperparatireoidismo, o cisto ósseo
aneurismático, o condroblastoma epifisário, o osteoblastoma
e o fibroma não osteogênico.
Os aspectos radiográficos clássicos do TGC o definem
como uma lesão epifisiometafisária, lítica, insuflativa, excêntrica,
com afinamento ou erosão da cortical, em adulto jovem na
faixa dos 20 aos 35 anos de idade, localizado mais
freqüentemente no fêmur distal e na tíbia proximal, podendo
ocorrer em outras patologias, destacando-se pela sua
gravidade o osteossarcoma telangectásico e o fibrohistiocitoma
ósseo maligno. Dentre as lesões benignas, notadamente o cisto
ósseo aneurismático e o condroblastoma epifisário fazem o
diagnóstico diferencial com o TGC. Com menor freqüência,
pode estar localizado no úmero proximal, rádio distal, fêmur
proximal, coluna dorsal e sacro.
Clinicamente, seu comportamento é agressivo
(estadiamento B3 de ENNEKING), com crescimento rápido, às
vezes em semanas, apesar de oligossintomático, levando ao
afinamento e ruptura da cortical óssea, com invasão das partes
moles adjacentes, sem entretanto invadir e ulcerar a pele e o
tecido celular subcutâneo. A princípio pode ser confundido
como uma lesão intrínseca do joelho, principalmente se a
radiografia não for atualizada e bem feita, já que alterações
nítidas podem ser notadas com intervalo de 10-15 dias. A nossa
própria experiência mostra que, em alguns casos encaminhados
* Trabalho realizado no Grupo de Oncologia Ortopédica do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo.
1 Professor Livre-Docente e Chefe do Grupo de Oncologia Ortopédica do IOTHCFMUSP.
2 Professor Livre-Docente e Sub-chefe do Grupo de Oncologia Ortopédica do IOTHCFMUSP.
3 Chefe do Serviço de Anatomia Patológica do IOTHCFMUSP.
4 Médico Assistente do Pronto-Socorro e do Grupo de Oncologia Ortopédica do IOTHCFMUSP.
5 Médico Assistente do Pronto-Socorro e do Grupo de Oncologia Ortopédica do IOTHCFMUSP.
6 Médico Assistente do Serviço de Anatomia Patológica do IOTHCFMUSP.
Giant Cells Tumor (GCT) is an aggressive benign bone
neoplasia, with an uncertain biological behavior. It is histologically
constituted of giant multinuclear cells spread over tumoral tissue
with a nucleus presenting the same features of the ovoid and
fusiform cells forming its stroma.
The anatomopathological rate is given by its stroma and not
by the giant cells that can also be present in other tumoral and
pseudo-tumoral lesions such as the hyperparatireoidism brown
tumor, the aneurismatic bone cyst, the epiphysial
condroblastoma, the osteoblastoma and the non-osteogenic
fibroma.
Classic radiologic features of GCT: lytic, pumping, eccentric,
with thinning or erosion of cortical bone, epiphysial-metaphyseal
lesion, found in young adults from 20 to 35 years old, more
frequently located in distal femur or proximal tibia, can be found
in other pathologies, deserving emphasis for its severity the
teleangectasic osteosarcoma and malignant bone
fibrohystiocitoma. Among benign lesions, aneurismatic bone cyst
and epiphysial condroblastoma are differential diagnosis from
GCT. Less frequently it can be located in proximal humerus, distal
radius, proximal femur, dorsal spine and sacrum.
It has a clinically aggressive behavior (B3 ENNEKING staging),
with a fast growth, sometimes in weeks, however has few
symptoms, leading to thinning and rupture of bone cortical,
invasion of adjacent soft tissues, but not however invading or
ulcerating skin and subcutaneous tissue. Can be misdiagnosed
as an intrinsic knee injury especially if radiography is not up to
date and well performed, since clear changes can be noticed in
a 10 to 15 days interval. Our own experience shows cases sent
from very far away not surgically treated which after a period of
fast growth stopped evolution and had bone bars formed inside
and necrosis areas, but never ulceration.
* This work was performed at the Orthopedic Oncology Group from Instituto de
Ortopedia e Traumatologia of Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo.
1 Livre-Docente Professor and Chief of Orthopedic Oncology Group from IOTHCFMUSP.
2 Livre-Docente Professor and Sub chief of Orthopedic Oncology Group from IOTHCFMUSP.
3 Chief of Pathologic Anatomy Service from IOTHCFMUSP.
4 Assistant Doctor from Emergency Room and Orthopedic Oncology Group from IOTHCFMUSP.
5 Assistant Doctor from Emergency Room and Orthopedic Oncology Group from IOTHCFMUSP.
6 Assistant Doctor of Pathologic Anatomy Service from IOTHCFMUSP.
Trabalho recebido em 04/01/2000. Aprovado em 12/06/2001
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de locais longínquos e que não foram tratados cirurgicamente,
houve após certo período de crescimento rápido uma parada
de evolução, com formação de traves ósseas no seu interior,
além de áreas de necrose, mas nunca ulceração.
Dos 389 casos tratados no Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, no período
de 1950 a 1998, só tivemos dois casos que ocorreram abaixo
dos 15 anos de idade, com a epífise ainda aberta (TGC
estritamente metafisário). Em apenas um paciente houve
acometimento de mais de um osso (rádio distal e fíbula
proximal) e apenas dois casos foram classificados
histologicamente como grau III, ou seja, TGC malignos, que
acabaram falecendo por metástase pulmonar um ano após o
diagnóstico. Em dois casos ocorreu metástase pulmonar com
características histológicas benignas, que tiveram boa evolução
clínica, após ressecção da lesão pulmonar, atualmente com
mais de 15 anos de seguimento.
As neoplasias ósseas são relativamente raras,
correspondendo a 2% das neoplasias em geral. Os TGC
constituem 8% dos tumores ósseos primários. É freqüente entre
os povos asiáticos como na China, onde a incidência
corresponde a 20% dos tumores ósseos.
Histologicamente, sabe-se que foi descrito primeiramente
por COOPER em 1818 (8), sendo considerado uma “exostose
medular fúngica”. Em 1845, LEBERT (19) descreveu um grupo
de tumores ósseos com células gigantes multinucleadas que
apresentam tendência a recidivar, mas que foram curados com
a amputação.
PAGET, em 1854 (28), denomina esta lesão como um sarcoma
mielóide e faz seu primeiro esboço macroscópico. Em 1860,
NELATON (27) estuda 46 casos, considerando-os como lesões
benignas, sendo entretanto todos os casos amputados.
MORRIS em 1876 (25), KRAUSE (1889) (18) e VOLKMANN (1899)
(35)
descrevem os primeiros casos tratados com curetagem
local, que tiveram boa evolução clínica e funcional.
Foi entretanto BLOODGOOD, em 1912 (1), que emprega o
nome TGC, estabelece suas características clínicas e descreve
os resultados de 52 pacientes submetidos à curetagem com o
uso de um adjuvante local (ácido carbólico), colocando enxerto
ósseo de ilíaco para preencher a cavidade. Foi o primeiro a
usar a cauterização química e a considerar o TGC como um
tumor benigno agressivo, evitando assim a amputação.
JAFFE et al., em 1940 (16), estabelecem o TGC como uma
entidade clínica e patológica, separando esta lesão das ali então
consideradas como variantes: fibroma não osteogênico,
condroblastoma epifisário e o osteoblastoma. Seu amplo
espectro de comportamento clínico é baseado no grau de atipia
de células de seu estroma: Grau I – sem atipia celular, Grau II –
com algum grau de atipia e Grau III – grande atipia celular,
sendo considerado francamente maligno.
DAHLIN et al. (1970) (9) publicam trabalho clássico na Clinica
Mayo com 60% de recidiva local em pacientes com TGC
submetidos a curetagem e enxertia, recomendando uma
ressecção mais agressiva para seu controle local, como a
artrodese tipo “Putti-Juvara” nos casos de tumor ao nível do
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From the 389 cases treated at Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital das Clínicas da FMUSP, from 1950 to
1998, only two cases were observed under 15 years of age, with
a still open epiphyses (strictly metaphyseal GCT). Only one patient
had more than one bone committed (distal radius and proximal
fibula) and only two cases were histologically graded III or more,
that means, malignant GCT who died due to pulmonary
metastasis one year after diagnosis. In two cases pulmonary
metastasis histologically benign were observed, and had a more
than 15 years follow-up good clinical evolution after resection of
the pulmonary lesion.
Bone neoplasias are relatively rare, being 2% of all neoplasias.
GCT represents 8% of all primary bone tumors. It is frequent
among Asian people as in China, where it represents 20% of
bone tumors.
Histologically it is known this lesion was first described by
COOPER in 1818(8), and considered a “fungal medullar exostosis”
In 1845 LEBERT(19) described a group of bone tumors with multinucleated giant cells presenting a trend to recur and healed by
amputation.
PAGET in 1854(28) calls this lesion myeloid sarcoma and draws
its first macroscopic scheme. In 1860 NELATON(27) studies 46
cases understanding them as benign lesions, being however all
cases amputated. MORRIS in 1876(25), KRAUSE in 1889(18) and
VOLKMANN in 1899(35) described the first cases treated by local
curettage having good functional and clinical evolution.
However BLOODGOOD(1) in 1912 was the first to use the
name GCT, establishing its clinical features and describing the
results of 52 patients who underwent curettage and the use of a
local adjuvant, carbolic acid, filling the cavity with iliac grafting.
He was the first to use chemical cauterization and to understand
GTC as an aggressive benign tumor, so avoiding amputation.
JAFFE et al. in 1940(16) established GCT as a clinical and
pathological entity, differentiating it from the lesions considered
as variants so far: non-osteogenic fibroma, epiphysial
condroblastoma and osteoblastoma. Its large spectrum of
clinical behavior is based on the degree of atypia of its stroma
cells: Grade I – without cellular atypia, Grade II with some degree
of atypia and Grade III with much cellular atypia, being considered
as frankly malignant.
DAHLIN et al. (1970)(9) published a classical paper from Mayo
Clinic with 60% of local recidivation in patients who underwent
curettage and grafting, so recommending a more aggressive
resection for local control with an arthrodesis as “Putti-Juvara” in
cases of tumors around the knee.
GOLDENBERG in 1970(14), reports 55% of local recidivation
in 218 cases of GCT and McCARTHY in 1980(24), describes in 52
patients 45% while HUTTER et al. in 1940(15) reports 66% among
72 cases. All these works indicate for GCT segmental resection
followed by arthrodesis.
Analyzing GCT cases treated at IOT from 1950 to 1972 it is
observed that treatment performed followed the trends of the
largest oncologic centers of the time, being at the beginning
amputated or even underwent radiotherapy. Later on, in 1960,
47
joelho.
GOLDENBERG, em 1970 (14), refere 55% de recidiva local
em 218 casos de TGC e McCARTHY, em 1980 (24), descreve em
45% de recidiva em 52 pacientes, contra HUTTER et al., em
1940 (15), com 66% em 72 casos. Todos estes trabalhos passam
a indicar uma ressecção segmentar para o TGC, seguida de
artrodese.
Ao analisarmos a casuística dos TGC tratados no IOT de
1950 até 1972, iremos observar que a conduta seguiu a tendência
dos maiores centros oncológicos da época, sendo que a
princípio os casos foram amputados e até submetidos a
radioterapia. Posteriormente, em 1960, os casos foram
submetidos a curetagem e enxerto ósseo, havendo também
um alto índice de recidiva local (48%). A partir de 1964, a conduta
passou a ser então mais agressiva, com ressecção segmentar
e artrodese tipo “Putti-Juvara” para os tumores do joelho e
endoprótese de acrílico para os casos de fêmur e úmero
proximais.
patients underwent curettage with bone grafting, also with a high
degree of local recidivation (48%). Starting from 1964 it was
started a more aggressive indication, with segmental resection
and “Putti-Juvara” arthrodesis for knee tumors and acrylic
endoprosthesis for cases of proximal femur and humerus.
In 1972, Professor FLÁVIO PIRES DE CAMARGO, based on
personal experience of WILTSE et al. (1957) (37) is the pioneer in
using mety-metacrilate along with cavity cauterization as local
adjuvants of GCT getting 9% of recidivation in his first cases, so
preserving joint movement. This work was published with 135
cases in 1987(3) as Professor OLAVO PIRES DE CAMARGO FreeTeaching Thesis. In addition to methylmethacrylate used a
polyethylene module based on the radiography of the lesion. In
1984 PERSSON et al. in Sweden present the same experience
with 12% total recidivation, also with a minimal follow-up of two
years(29). Other authors followed among them WILLERT in 1987 (36)
equally well succeeded.
Em 1972, o Professor FLÁVIO PIRES DE CAMARGO,
baseado na experiência pessoal de WILTSE et al., de 1957 (37),
passa a empregar pioneiramente o metilmetacrilato associado
à cauterização da cavidade como adjuvantes locais no
tratamento do TGC, obtendo 9% de recidiva local nos seus
primeiros casos e preservando assim a mobilidade articular.
Este trabalho veio a ser publicado com casuística de 135 casos
em 1987 (3) e foi tema da Tese de Livre-Docência do Professor
OLAVO PIRES DE CAMARGO (4). Além do cimento, colocavase na época um módulo de polietileno baseado na radiografia
da lesão. Em 1984, PERSSON et al. apresentam na Suécia a
mesma experiência com 12% de recidiva local, também com
seguimento mínimo de dois anos (29). Seguiram-se outros
autores, dentre os quais destaca-se WILLERT, em 1987, com
igual sucesso (36).
PERSSON was the first to publish in Clinical Orthopedics in
1976 his initial results, also inciting Professor Flávio to publish
his reports in the same issue, but he preferred to wait for a longer
follow-up before doing it. All merits went this way to PERSSON
as the creator of the method. WILLERT (1987) (36) recommended
the removal of the cement two years after the surgery, for
understanding that it could cause future problems to the joint.
PERSSON foi o primeiro a publicar no Clinical Orthopedics,
em 1976, seus resultados iniciais, tendo inclusive incitado o
Professor Flávio que publicasse no mesmo número seus
resultados, mas este preferiu aguardar por um seguimento mais
longo, antes de fazê-lo. Deste modo, todos os méritos recaíram
sobre PERSSON como idealizador deste método. Já WILLERT
(1987) (36) preconizava a retirada do cimento dois anos após a
cirurgia, por achar que o mesmo pudesse causar problemas
futuros à articulação envolvida.
Disregarding these good results, some oncological centers
still were not confident on a more conservative treatment of GCT,
mainly in USA where wide resection and arthrodesis was prevalent,
mostly by ENNEKING (1983) who was by that time the most
important authority in orthopedic oncology.
Em 1973, no Memorial de Nova Iorque, MARCOVE et al. (23)
empregam o nitrogênio líquido como adjuvante para controle
local do TGC, conseguindo 5% apenas de recidiva local, mas
tendo como complicação um alto índice de fratura patológica
(25%) conseqüente a este procedimento.
Na Clinica Mayo, em Rochester, ROCK (1980) (32) emprega
o fenol associado ao cimento como adjuvante, alcançando
resultados semelhantes quanto à recidiva da neoplasia, com
poucas complicações.
Apesar destes bons resultados, alguns centros oncológicos
ainda viam com reservas uma conduta mais conservadora para
48
In 1973, in New York Memorial, MARCOVE et al.(23) used liquid
nitrogenium as an adjuvant for local controlling of GCT, getting
only 5% of local recidivation, however with a high incidence of
pathological fracture (25%) as a complication of this method.
At Mayo Clinic in Rochester, ROCK in 1980(32) used phenol in
association to cement as adjuvant, getting similar results in regard
to recidivation of the tumor, with few complications.
There was still fear of malignant transformation of the GCT
based on HUTTER et al. (1940)(15) and ELLIS (1949)(11) papers.
However, it is today known that or a GCT is primarily malignant,
what is rare (4%), or is transformed due to radiotherapy
(COMPERE – 1953) (6).
Some experimental works as that performed by LINDER
(1977)(20) prove the local effect of methylmethacrylate that reaches
72º C during its polymerization phase, what is enough to destroy
the neoplasic cells around inner wall of the cavity, since protein
denaturation takes place at 42º C. MALLAWER et al. in 1987(20)
performed an experimental work in rabbits, using liquid
nitrogenium and methylmethacrylate showing nitrogenium
necrosis to be superior. In 1999 we performed a similar work,
comparing acrylic cement, liquid nitrogenium, phenol and
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o TGC, principalmente nos EUA, onde predominava a ressecção
ampla e artrodese, principalmente por ENNEKING (1983), que
era na época a maior autoridade em oncologia ortopédica (12).
Ainda existia o receio de transformação maligna do TGC
pelos trabalhos de HUTTER et al. (1940) (15) e ELLIS (1949) (11).
Hoje se sabe que o TGC ou é primeiramente maligno, o que é
raro (4%), ou se transforma devido à radioterapia (COMPERE,
1953 (6)).
Alguns trabalhos experimentais, como o realizado por
LINDER (1977) (20) , comprovam o efeito local do
metilmetacrilato, que atinge 72ºC na sua fase de polimerização,
suficiente para destruir as células neoplásicas junto à parede
interna da cavidade, já que a temperatura de desnaturação
protéica é de 42ºC. MALLAWER et al., em 1987 (21), realizam
trabalho experimental em coelhos empregando o nitrogênio
líquido e o metilmetacrilato, mostrando a superioridade do grau
de necrose do nitrogênio. Em 1999, realizamos trabalho
semelhante comparando o cimento acrílico, o nitrogênio líquido,
o fenol e a eletrocauterização em coelhos, obtendo resultados
semelhantes com todos estes adjuvantes quanto ao grau de
necrose obtido.
Após a visita de ENNEKING ao nosso país em 1984, tivemos
oportunidade de mostrar o trabalho pioneiro do Professor
Flávio, sendo então convidados a participar do encontro da
MSTS (Musculoskeletal Tumor Society) realizado em Orlando
em 1987, onde apresentamos os resultados com 12 anos de
seguimento, juntamente com PERSSON, WILLERT e CONRAD.
Naquela mesa redonda, este procedimento passou a ser
consenso nos centros americanos, europeus e asiáticos.
No Instituto Rizzoli, em Bolonha, em 1990 foram avaliados
776 casos de TGC operados, comparando-se o uso de
adjuvante contra apenas curetagem e enxerto ósseo.
Participamos com 56 casos como únicos representantes da
América Latina. Este estudo multicêntrico veio sedimentar de
vez o emprego de dois ou mais adjuvantes locais para controle
do TGC, já que houve uma diferença de 45% do não adjuvante
contra 17% com o uso destes (5).
Em trabalho experimental (1986) realizado em nosso
Laboratório de Biomecânica, foi comparado o polietileno e o
cimento com relação à resistência do material, sendo
constatada uma melhor resistência do cimento isolado.
Passamos então, a partir desta data, a empregar somente o
metilmetacrilato para o revestimento da cavidade, o que tornou
este método mais simples e passível de ser realizado em vários
centros, sem a necessidade da confecção do polietileno sob
medida para cada caso.
Na nossa experiência, achamos que a técnica cirúrgica com
ampla abertura da cavidade, permitindo uma curetagem
criteriosa, inclusive com broca elétrica, seguida de uma
exaustiva revisão local, é fundamental para um bom resultado
final, não importando o tipo de adjuvante utilizado. O
metilmetacrilato, além de agir como adjuvante, preenche
completamente a cavidade tumoral, sem deixar espaço morto,
o que certamente é mais um fator para se evitar recidiva. Sua
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electron-cauterization in rabbits, getting similar degree of necrosis
with all these adjuvants.
At ENNEKING’s visit to Brazil in 1984, we had the opportunity
to show the pioneer work of Professor Flávio, being so invited to
take part in the MSTS (Musculoskeletal Tumor Society) meeting,
in Orlando (1987), where we presented the results of 12 years
follow-up together with PERSSON, WILLERT and CONRAD. At
this round table this procedure starts to be a consensus in
American, European and Asian Centers.
At Rizzoli Institute in Bologna, in 1990 776 operated GCT
cases were analyzed, comparing the use of adjuvant to the single
curettage and grafting. We participate with 56 cases as the only
representatives from Latin America. This multicenter study made
even clearer the use of two or more local adjuvants for controlling
GCT, since a difference of 45% of recidivation in non-adjuvant
group to 17% in the adjuvant group was observed(5)
In an experimental work (1986) performed at our
Biomechanics Laboratory, it was compared the use of
polyethylene and cement in relation to material resistance being
found the isolated cement to be more resistant. We so started
from this date to use only methylmethacrylate for filling the cavity,
and this made the method more simple and feasible in many
other centers, without the need of preparing custom-made
polyethylene molds for each case.
From our experience we think that it is fundamental to get
good results, whatever is re used adjuvant, a wide opening of
the cavity, allowing a very careful curettage, including with electric
drill, followed by an exhaustive local review. Methylmethacrylate,
besides acting as an adjuvant, fills completely the tumoral cavity
leaving no dead space, what is certainly one more factor
contributing to avoid recidivation. Its mechanical stability, as
demonstrated by few cases of pathologic fracture and absence
of complications in more than 25 years of follow-up, allows a
fearless use of it. When GCT reaches meta-diaphyseal region,
we use a “Ender” kind intramedullary rod along with cement or
even AO type plates, fixed over the cement (it is possible to
perforate and place screws in the cement) allowing a higher
mechanical resistance at this transition place, avoiding a
pathological fracture.
A reevaluation of GCT cases operated with resection,
cauterization plus methylmethacrylate was performed in 1999,
aiming check the persistence of the good functional results
observed in the first 15 years (1972 to 1985) now with 25 years
follow-up. Also incidence of osteoarthrosis was evaluated in this
review. It was demonstrated that knee osteoarthrosis incidence
was low (12%) and the patients were oligo-symptomatic,
maintaining joint range of movement, being the diagnosis rather
radiological than clinical.
Even though these good results in treatment of GCT, its
treatment is still far form the ideal. Not all cases are eligible for
resection plus curettage and cement. According to radiographic
staging as proposed by ENNEKING and CAMPANACCI in 1987
cases are divided in three degrees (Grade I – Well limited
49
estabilidade mecânica, demonstrada para poucos casos de
fratura patológica e sem complicações após mais de 25 anos
de seguimento, permite o seu emprego sem maiores receios.
Nos casos em que o TGC atinge a região meta-diafisária temos
empregado hastes intramedulares tipo “Ender” junto ao
cimento, ou mesmo placas tipo AO fixadas sobre o cimento (é
possível se fazer perfurações e colocar parafusos no cimento),
proporcionando uma maior resistência mecânica neste local
de transição, evitando-se assim uma fratura patológica.
Em 1999, fizemos uma reavaliação dos casos de TGC
operados com ressecção, cauterização e colocação de
metilmetacrilato visando observar a persistência dos bons
resultados funcionais obtidos nos primeiros 15 anos (19721985), já com 25 anos de seguimento. Também a ocorrência de
osteoartrose foi pesquisada nestes pacientes. Ficou
demonstrado que a incidência de osteoartrose do joelho foi
baixa (12%), sendo que os pacientes mostraram-se
oligossintomáticos, com manutenção da mobilidade articular,
sendo mais um diagnóstico radiográfico do que clínico.
Apesar desses bons resultados, o tratamento do TGC está
ainda longe do ideal. Nem todos os casos são elegíveis para
ressecção por curetagem seguida de cimento. De acordo com
o estadiamento radiográfico estabelecido por ENNEKING e
CAMPANACCI em 1987, os casos dividem-se em três graus:
Grau I – Tumor com bordas bem delimitadas, e corticais íntegras,
Grau II – Cortical expandida com bordas bem delimitadas e
Grau III – Bordas não delimitadas com invasão de partes moles.
Apenas alguns casos classificados como Grau II podem ainda
ser operados por este método. Na nossa casuística, são
justamente estes casos que apresentam pior resultado funcional
pela falta de arcabouço ósseo e comprometimento do osso
subcondral.
Assim, nos TGC grau III, onde há destruição excêntrica das
paredes do tumor, com comprometimento da cartilagem
articular, optamos pela ressecção ampla da lesão (distal do
fêmur, proximal da tíbia, proximal do úmero e proximal do fêmur)
e substituição por endoprótese, a qual mantém a mobilidade
articular, mesmo sendo indivíduos jovens com neoplasia
benigna. Somos contrários à indicação de artrodese nesses
casos, mesmo sabendo que estes pacientes são candidatos a
revisão da endoprótese em 10 a 15 anos. Nos casos do rádio
distal, realizamos a ressecção ampla e substituição por fíbula
livre na maioria dos casos, sem artrodese da articulação
radiocárpica como primeira opção.
O desafio atual no tratamento do TGC reside nos casos
localizados na coluna dorsal e no sacro, onde o uso de
adjuvante local quase nunca é conseguido. Temos oportunidade
de acompanhar estes pacientes juntamente com o Grupo de
Coluna do IOT, e as opções cirúrgicas são restritas. A
radioterapia é sempre um risco, pois além de ter resposta
duvidosa nos TGC, por ser uma neoplasia benigna com poucas
atipias celulares, a literatura mostra que no passado foram
justamente esses casos que desenvolveram uma degeneração
sarcomatosa (HUTTER et al. (15) e ELLIS (11)).
50
boundaries tumor, and integral cortical, Grade II – Expanded
cortical with well limited borders and Grade III – Non limited
borders, with soft tissue invasion). Some few cases rated as
Grade II could still undergo this method. Our experience
demonstrates that exactly these cases are those who have the
worst functional results, because lack bone support and
commitment of subcondral bone.
So, in Grade III GCT, with eccentric destruction of tumor walls,
with articular cartilage commitment, we choose to perform a wide
resection of the lesion (distal femur, proximal tibia, proximal
humerus, proximal femur) and with endoprosthesis replacement,
which keeps articular movement, even being young individuals
with a benign tumor. We disagree of arthrodesis indication in
these cases, even knowing they are candidates to revision of the
prosthesis in 10 to 15 years. In cases of distal radius, we perform
a wide resection and replacement by a free fibula, in most of the
cases without arthrodesis of radio-carpal joint as a first option.
Current challenge of GCT is in dorsal spine and sacrum
locations, where the use of local adjuvant is very seldom possible.
We have the opportunity to follow-up these patients together
with our colleagues from Spine Group form IOT, and surgical
options are restricted. Radiotherapy is always a risk because
besides being of doubtful result in GCT, since it is a benign
tumor with few cellular atypias, literature shows that exactly these
cases were those with sarcomatous degeneration observed in
the past (HUTTER et al(15). e ELLIS(11)).
In sacral GCT the problems remains, even though in our
experience we used also curettage plus cementation without
cauterization with good results using an anterior or posterior
approach with a wide exposure of the cavity and direct view of
sacral plexus which is preserved. We prefer this treatment to
sacrectomy that, when bilateral at S2 level or more proximal, will
worsen very much life quality of these patients due to sphincter
incontinency and perineal anesthesia.
In regard of surgical treatment, state of the art in GCT
treatment had not large changes in the last two years except for
new less morbidity local adjuvants such as H 202.
In other oncology areas, works like those of RADIG et al (30).
and DE SOUZA et al(10). emphasize the study of genes related to
cellular cycle regulation, the so called onco-genes. Among them
the most studied are P53, c-myc and mdm2, in addition to the
protein Ki67. So, genetic stability, much studied in gastrointestinal
neoplasias, is now being studied in GCT through the evaluation
of the micro-satellites as in SCHEINER et al(33) work. Cytogenetic
studies performed by BRIDGE et al (2). show GCT characteristic
chromosomal changes, especially those related to telomeric
regions. However, due to the small number of studied cases
there is no consensus regarding its relation to prognosis.
Histo and cytomorphometric techniques (ploidia evaluation
and cell quantification in cellular cycle) are much used in
prognosis evaluation of GCT with conflicting results in several
papers (FORNASIER et al (13). e MURATA et al(26).). Another very
much studied subject in this field is the role of the
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Nos TGC sacrais, o problema persiste, ainda que na nossa
experiência tenhamos empregado também a curetagem mais
cimentação, sem cauterização, com bons resultados usando
via posterior ou anterior, com ampla exposição da cavidade e
visualização direta do plexo sacral, que é preservado.
Preferimos esta conduta à sacrectomia, que caso seja bilateral
à nível de S2 ou mais proximal, irá piorar muito a qualidade de
vida destes pacientes por incontinência dos esfíncteres vesical
e anal, e anestesia da região perineal.
O estado atual do diagnóstico e tratamento do TGC mantémse nos últimos dois anos sem grandes alterações no que tange
a conduta cirúrgica, a não ser o surgimento de novos
adjuvantes locais com menor morbidade como a água
oxigenada (H2O2).
Nas outras áreas da oncologia, trabalhos como os de
RADIG et al. (30) e DE SOUZA et al. (10) têm dado grande ênfase
ao estudo de genes relacionados à regulação do ciclo celular,
os chamados oncogenes. Dentre eles, os mais estudados são
o P53, o c-myc e o mdm2, além da pesquisa da proteína Ki-67.
Deste modo, a estabilidade genética, tema bastante abordado
em neoplasias do trato gastrointestinal, também vem sendo
estudada nos TGC através da avaliação dos micro-satélites,
como no trabalho de SCHEINER et al. (33). Os estudos
citogenéticos realizados por BRIDGE et al. (2) mostram
alterações cromossômicas características dos TGC,
principalmente relacionadas às regiões teloméricas. Porém,
devido ao pequeno número de casos estudados, não há
consenso sobre suas relações com o prognóstico.
As técnicas de histo e citomorfometria (avaliação da ploidia
e quantificação de células dentro do ciclo celular) são bastante
empregadas na avaliação prognóstica dos TGC, com resultados
conflitantes nos diversos artigos (FORNASIER et al. (13) e
MURATA et al. (26)). Um outro assunto bastante estudado nesta
área é o papel das metaloproteinases (MMP2 e MMP9) na
capacidade e no grau de invasibilidade dos tumores, com
alguns trabalhos relacionando-as à agressividade e à recidiva
local (RAO et al. (31) e SCHOEDEL et al. (34)). As interleucinas
moduladoras também vêm sendo estudadas.
Uma nova técnica de estudo é a capacidade de angiogênese
tumoral. KABAN (17) relata um caso mostrando a boa evolução
de um TGC com terapia antiangiogênica através de interferon
alfa-2 , estimulando os estudos de quantificação de vasos
sangüíneos, bem como a presença de receptores específicos.
O tumor de células gigantes constitui-se assim, pelo exposto,
em um tema apaixonante pelos seus desafios quanto ao seu
diagnóstico, que deve ser precoce. A conduta cirúrgica deve
ser muito bem planejada e individualizada, devido ao caráter
imprevisível da neoplasia quanto ao seu prognóstico local.
Certamente os estudos citogenéticos abrirão novos caminhos
e tornarão o TGC mais previsível quanto ao seu comportamento
biológico num futuro próximo. Desta forma, algumas
perspectivas mais longínquas da terapia genética farão com
que todas as técnicas e táticas cirúrgicas atuais constituam
apenas história da medicina.
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metalloproteases (MMP2 e MMP9) in the capacity and degree
of invasion by the tumors, with some papers relating them to
aggressivity and local recidivation (RAO et al(31). e SCHOEDEL et
al(34).). Modulating interleukins are also being studied.
A new study technique is the tumoral angiogenesis capacity.
KABAN(17) reports a case, showing good evolution of a GCT with
anti-angiogenesis therapy with interferon alfa-2, stimulating the
studies quantifying blood vessels as well as presence of specific
receptors.
For the above exposed, giant cells tumor is an exciting subject
for its challenges regarding diagnosis, that should be early, for
its surgical treatment, that should be very well planned and
custom-made and for the uncertainty of the local prognosis of
this neoplasia. Certainly cyto-genetic studies will open new ways,
making in a near future GCT more previsible in terms of biological
behavior. So, some less near future perspectives of gene therapy
will lead all current surgical techniques and tactics to be only
history of medicine.
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