Drusas Autossômicas Dominantes (Distrofia retiniana “em favo de mel”/Malattia Leventinese) CAPÍTULO 33 Gabriel Costa de Andrade Definição: Doença hereditária caracterizada por um padrão radial de drusas pequenas, numerosas e alongadas. Também chamada de mallatia leventinese e distrofia retiniana “em favo de mel”. Epidemiologia: Pode ocorrer em todas as raças e é mais comum em indivíduos jovens, geralmente com idade entre 20 e 40 anos. Acomete igualmente ambos os sexos. Etiologia: Doença autossômica dominante com penetrância completa e expressividade variável. As drusas autossômicas dominantes ocorrem secundariamente a mutações no gene EFEMP1, também conhecido como fibulina 3. A deficiência deste gene está relacionada com o aparecimento de depósitos drusiformes abaixo do epitélio pigmentado da retina (EPR). Clínica: Comumente se apresenta de forma bilateral. As drusas maiores e arredondadas tipicamente estão distribuídas na região entre o disco óptico e o centro da mácula, e as drusas menores e alongadas têm distribuição radial na região temporal da mácula. A acuidade visual é geralmente normal. Algumas vezes, a doença pode evoluir com neovascularização de coroide, atrofia e fibrose sub-retiniana. A presença de neovascularização de coroide pode levar à confusão diagnóstica com a distrofia de Sorsby. Diferentemente das drusas autossômicas dominantes, a acuidade visual é pior e a frequência de neovascularização de coroide é maior na distrofia de Sorsby. Exames Complementares: Na retinografia, é possível a identificação da característica radial e da distribuição perifoveal das drusas autossômicas dominantes (Figs. 33-1 A e B). Na autofluorescência, observa-se hiperautofluorescência, ao contrário das drusas típicas da DMRI que normalmente são hipoautofluorescentes (Figs. 33-1 C e D). A angiofluoresceinografia auxilia na detecção de complicações, como a neovascularização de coroide. A tomografia de coerência óptica (OCT) é útil na identificação de edema da retina, descolamentos do EPR, atrofia das camadas externas da retina e neovascularização de coroide (Figs. 33-1 E e F). Na maioria dos casos, o eletrorretinograma (ERG) de campo total é normal. O eletro-oculograma (EOG) pode ser anormal nas fases avançadas da doença. 147 148 SEÇÃO 3 n Maculopatias Distróficas Diagnóstico Diferencial: Distrofia macular de Sorsby, doença de Stargardt, distrofia padrão e doença de Best. Tratamento: Não há tratamento específico para a doença e o aconselhamento genético é recomendado. Nos casos complicados com neovascularização de coroide, agentes antiangiogênicos intravítreos estão indicados. A B C D E F Figura 33-1 A retinografia (A e B) demonstra lesões hipopigmentandas correspondentes às drusas com distribuição radial em ambos os olhos. A confluência das drusas leva ao aspecto descrito “em favo de mel”. A autofluorescência (C e D) evidencia pontos hiperfluorescentes correspondentes às drusas radiais e pontos hipopigmentados correspondentes às áreas de atrofia retiniana. A infra-red mostra lesões hiper-refletivas perifoveais correspondentes aos acúmulos drusiformes sub-EPR identificados no OCT em ambos os olhos (E e F). (Cortesia do Dr. Stephen Tsang e do Dr. Tharikarn Sujirakul.) Drusas Autossômicas Dominantes n CAPÍTULO 33 149 Rreferências Bibliográficas 1. Doyne R. A peculiar condition of choroiditis occurring in several members of the same family. Trans Ophthalmol Soc UK 1899; 19:71. 2. Edwards AO, Klein ML, Berselli CB, Hejtmancik JF, Rust K, Wirtz MK, Weleber RG, Acott TS. Malattia leventinese: refinement of the genetic locus and phenotypic variability in autosomal dominant macular drusen. Am J Ophthalmol 1998; 126(3):417-424. 3. 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