Subido por Diego Beck

História sobre “O crime da Baronesa de Grajaú”

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01/09/2022
História sobre “O crime da Baronesa de Grajaú” é retratada sob nova perspectiva em artigo produzido por professor de História do Câmpus de Co…
História sobre “O crime da Baronesa de Grajaú” é
retratada sob nova perspectiva em artigo produzido
por professor de História do Câmpus de Codó, em
parceria com professora da USP
publicado: 17/03/2022 14h17, última modificação: 23/03/2022 13h31
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História sobre “O crime da Baronesa de Grajaú” é retratada sob nova perspectiva em artigo produzido por professor de História do Câmpus de Co…
Dois irmãos escravizados aparecem mortos em circunstâncias duvidosas. A morte
do primeiro não é investigada. Na morte do segundo, a mãe das crianças exige
que o caixão seja aberto, e a hipótese de assassinato é levantada, devido às
condições do corpo. O caso ocorreu no Maranhão no século 19, mais
precisamente em 1876, e até hoje é objeto de estudo de diversos pesquisadores.
Nomeado como “O crime da Baronesa de Grajaú”, o caso é amplamente
conhecido e faz parte da história do estado.
O caso serviu de base ao artigo “Geminiana e seus filhos: escravidão e morte;
maternidade e infância na São Luís (MA) da década de 1870”, escrito pelo
professor e pesquisador do Câmpus Codó Antônio Alexandre Isidio Cardoso,
coordenador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em História Social dos Sertões
(NephSertões), junto com a professora e pesquisadora Maria Helena Pereira
Toledo Machado, da Universidade de São Paulo (USP), que também é professora
visitante da Universidade de Reading, no Reino Unido.
Os relatos históricos contam sobre o comportamento violento de Anna Rosa Viana
Ribeiro com seus escravos, também chamada de Baronesa de Grajaú, que
compra duas crianças como “presentes” para seus filhos. Pouco tempo depois, em
outubro de 1876, o irmão mais novo, chamado Jacinto, é dado como morto, porém
a causa da morte não é investigada. Menos de um mês depois, em 14 de
novembro, ocorre antes do sol nascer uma tentativa de um enterro clandestino,
com caixão fechado no centro de São Luís. Geminiana, mulher preta que havia
acabado de comprar sua liberdade e mãe dos meninos, desconfiada, exige que o
caixão seja aberto. Ali descobre seu filho mais velho, Inocêncio, morto com sinais
de tortura por todo o corpo.
Devido ao estado do corpo e o histórico comportamental da baronesa, é aberto
um inquérito para investigar a morte de Inocêncio. Sob o comando do promotor
Celso Magalhães, Anna Rosa é presa, processada e levada a júri popular para
julgamento por homicídio. Apesar das evidências de tortura e dos testemunhos, é
absolvida pelo júri, em 1877. O promotor tenta recorrer, mas não obtém sucesso.
A condenação da baronesa não era algo possível na época, por causa da
sociedade elitista que compôs o júri e a configuração geral da sociedade, que
apenas começava a mostrar indícios de sair do regime escravagista. Magalhães
foi demitido anos mais tarde, por Carlos Fernando Ribeiro, marido de Anna Rosa,
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quando este se tornou presidente da Província do Maranhão, em 1878. Apesar de
não ocorrer a condenação, o caso foi um grande escândalo na sociedade da
época e ficou marcado na história pela crueldade e por Anna ter sido presa e
levada a julgamento, apesar de sua posição social.
Hoje, várias perspectivas e problemáticas a respeito do ocorrido são debatidas por
historiadores e pesquisadores. No artigo “Geminiana e seus filhos", Antônio
Alexandre Cardoso e a professora e pesquisadora Maria Helena Pereira (foto)
abordam a história do crime por uma perspectiva que tem como foco principal o
papel de Geminiana, na descoberta do crime e luta por justiça, retratando também
a avó das crianças e mãe de Geminiana, dona Simplícia, que denunciou a
baronesa por suas ações violentas antes mesmo da morte das crianças.
O professor afirma que o artigo foi pensado e produzido por meio da
reconstituição dos fatos, com base nas fontes — jornais e relatos da época — que
inseriam as duas mulheres na narrativa do acontecimento, focando também na
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perspectiva dos subalternizados sobre a perspectiva das camadas trabalhadoras
de São Luís, das quais elas faziam parte. Também busca ressaltar essas
mulheres que, em geral, segundo o docente, ficaram esquecidas nos relatos
dessa história.
“Esse caso é muito estudado na perspectiva do crime, da conduta violenta dessa
senhora Anna, que é inegável. Também é muito estudado sob a perspectiva da
atuação do promotor, Celso de Magalhães, que acusou essa senhora em juízo.
Mas, essas duas mulheres praticamente somem da perspectiva da pesquisa, e as
vozes delas aparecem de maneira muito pequena, muito suscinta dentro do
debate do caso. Nós achamos que é fundamental incluir nesse caso as vozes
dessas personagens, que estavam diretamente envolvidas, implicadas
diretamente na dor de ver essas duas crianças mortas”, explanou o docente.
Coletânea
O artigo foi recentemente publicado no livro “Ventres Livres? Gênero, maternidade
e legislação.”, que se trata de uma coletânea organizada pelos historiadores Maria
Helena Pereira (USP), Luciana da Cruz Brito (UFRB), Iamara da Silva Viana
(PUC-RJ) e Flávio dos Santos Gomes (UFRJ). O livro foi organizado em memória
dos 150 anos da Lei do Ventre Livre, completados em setembro de 2021. De
acordo com a lei, à época, os filhos das escravizadas se tornariam ingênuos, ou
seja, não nasceriam mais escravizados. Porém estes não estariam livres até os 21
anos, mesmo não sendo mais considerados escravizados. O que tornava o termo
“liberdade” bem relativo nesse contexto, pois as crianças continuavam a passar
por situações de escravidão.
A coletânea traz essa temática e uma série de reflexões sobre a maternidade,
centralizada nessas mulheres pretas cujos filhos eram objetos dessa lei. O
coordenador comentou como seu artigo se encaixa na temática da coletânea: “O
artigo que nós publicamos sobre a Geminiana e os seus filhos, entra de uma
maneira muito importante nessa coletânea, justamente porque vai discutir um
pouco sobre a vivência de uma mãe dessa década de 1870, diante do desafio de
tentar proteger os seus filhos, ter contato com essa maternidade, em um mundo
atravessado por violência, por exclusão. O texto entra como uma peça que vai
discutir um pouco a trajetória de uma mulher preta liberta, dessa que é a década
em que se iniciam os movimentos resultados da Lei do Ventre Livre”.
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Livro
Com o apoio do pesquisador Hugo Enio, os pesquisadores estão produzindo um
novo livro, “Geminiana e seus filhos”, que, de acordo com Cardoso, se trata de um
desdobramento do artigo. O livro, que tem publicação prevista para o início de
2023, é uma continuidade do estudo, que foi aprofundado e teve seu escopo de
análise ampliado. “Vamos continuar tratando da trajetória da Geminiana e de sua
mãe Simplícia. Falar das redes de contato que essas mulheres tinham, da relação
que elas tinham com as famílias. Vamos falar um pouco sobre essa história do
Maranhão do século 19, incluindo também a família da Anna Rosa Viana Ribeiro.
São vários detalhes que vão trazer mais subsídios sobre esse caso, que é super
importante da história do Maranhão e que merece ser estudado também sobre o
ponto de vista dessa figura que é praticamente silenciada em todas as reflexões,
que é a mãe, e da família do Inocêncio, as pessoas no entorno, os trabalhadores,
gente que estava na rua e que viu o enterro e gerou o escândalo”, finalizou.
Por: Bruna Castro
Produção: Laís Costa
Revisão: Jáder Cavalcante
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