Subido por Eduardo Salgado

Don Quijote de la Mancha ( IV CE - Cervantes

Anuncio
MIGUEL
DE
CERVANTES
DON
QUIJOTE
DE LA MANCHA
MIGUEL DE CERVANTES
D O N Q U IJO TE DE
LA M A N C H A
E D IC IÓ N D E L
IN S T IT U T O C E R V A N T E S
16 0 5 - 2 0 0 5
D IR IG ID A POR
F R A N C IS C O R IC O
con la colaboración de
JO A Q U ÍN F O R R A D E L L A S
ESTUD IO PR ELIM IN A R DE
FERN A N D O LÁ ZA R O C A R R E T E R
G A L A X IA G U T E N B E R G
·
C ÍR C U L O DE L E C T O R E S
C E N T R O P A R A LA E D IC IÓ N DE LO S C LÁ SIC O S ESPAÑ O LES
L a presente edición va dedicada a ¡a memoria
Fem ando Lázaro Carreter
C o n la participación de la
SOCIEDAD
ESTATAL
DE
CONMEMORACIONES
CULTURALES
P O R EL
C E N T R O P A R A L A E D IC IÓ N
D E L O S C L Á S IC O S E S P A Ñ O L E S :
Fern an d o L ázaro C a rre te r
Estudio preliminar
F r a n c i s c o R ic o
Texto crítico y Dirección
Jo a q u ín F o r ra d e lla s
Notas
G u ille r m o Seres
Adjunto a la Dirección
G o n z a lo P o n tó n
Jefe de redacción
P a triz ia Cam pana
L a u ra Fern ánd ez
Coordinación general
M o n tg r o n y A lb e r o la · M a r g a r it a F reixas
S ilv ia Iriso · M a r ib e l M a r tín e z
Ju liá n M o lin a · G e ra rd o S a lv a d o r
P a tric ia S a lv a d o r · A g u stín Sánch ez A g u ila r
Gem a V a ll ín
■ Ín g rid V in d e l
Redacción
M o n ts e r r a t A m ores · P ila r B e lt r á n
Ju a n Jo sé G o n z á le z B u en o ■ M a r c G ra u
Ju a n R am ó n M a y o l · M a ría N ogués
V icen te S a n t o la r ia · O m ar San z · X a v ie r T u b au
C r istin a U ja ld ó n ■ G u ille m U sa n d iz a g a
Ayudantes de redacción
CO LABO RAD O RES
E lle n M . A n derson
Je a n C a n a v a g g io
A n th o n y C lo se
A n to n io D o m ín g u ez O r t iz
E d w ard C. R ile y
S y lv ia R o u b au d
Prólogo
Jo a q u ín A lv a re z B a rrie n to s
C a rm e n B e rn is
Jo sé M a r ía C a sa sa y a s
A n to n io C o n tre ra s
J a i m e F e r n á n d e z , S .J.
R ic a rd o
G a rc ía C á rc e l
Ju a n G u tié rre z C u a d ra d o
B e rn a t H ern án dez
M a r i C a rm e n M a r ín P in a
Ju liá n M a rtín Abad
Jo sé M a n u e l M a r tín M o rá n
R a fa e l Ram os
M ig u e l R e q u e n a M a r c o
M a r tín de R iq u e r
A lb e rto Sánchez
Documentación
Jo sé M o n te ro R e g u e ra
Lecturas del «Quijote»
L E C T U R A S D E L « Q U IJO T E »
Y R E V IS IÓ N D E N O T A S
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J. A
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· I, 25-26, 2 9 -31
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· I I, 6-7
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■ II, 22-23
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G
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· II, 33-35
· II, 36-39
· II, 40-41
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F o r r a d e l l a s · I, 1
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G
· II, 54
S t e f a n o · I, 4-5
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· II, 45, 47, 49
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· II, 30-32
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· I, 2 1-2 2
· I, 1 1 - 1 4
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L o u is C
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valle-A rce
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· I I, 25-27
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■ II,
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· I, 7-8
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■ II, 63-65
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L u is I g l e s i a s F e i j o o - I, 9 -10
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· II, 28
· II, 44, 46, 57, 69-70
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■ I, 43-46
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· II, 73
L a p e s a · II, 5
afael
I s a í a s L e r n e r ■ II, 59
F r a n c isc o L
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L. M
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· I, 50-52
· II, 50
■ II, 29
P i n a ■ I, 2-3
· I, Versos preliminares y finales
J a i m e M o i l ■ I y II, Portada y Preliminares
M i c h e l M o n e r ■ I, 3 7 - 4 2
M a r g h e r i t a M o r r e a l e · II, 58
L u ís A n d r é s M u r i l l o · I, 1 5 - 1 7
H a n s - J ö r g N e u s c h ä f e r · I, 3 3 - 3 5
J e a n - M a r c P e l o r s o n · II, 5 1 , 53
H e l e n a P e r c a s d e P o n s e t i ■ II, 4 2 - 4 3
S v e t l a n a P i s k u n o v a · II, 24
R a n d o l p h P o p e ■ II, 1 6 - 1 8
■ II, 1 9 - 2 1
A u g u stin R e d o n d o
A l f o n s o R e y · II, 55
F ra n cisco R ic o
· I, 1
E d w a r d C . R i l e y ■ II, 1
M a r t i n d e R i q u e r · II, 60-62
E l i a s L . R i v e r s · II, Prólogo y Dedicatoria
J u l i o R o d r í g u e z - L u i s · II, 8 - 1 0
C a r l o s R o m e r o M u ñ o z ■ II, 6 6 - 6 8
■ I, 6, 3 2
S y lv ia R o u b a u d
P e t e r R u s s e l l · I, 49
M a r i a C a t e r i n a R u t a ■ II, 7 2
A l b e r t o S á n c h e z · I, 2 3 - 2 4 , 2 7 - 2 8 , 36
R i c a r d o S e n a b r e ■ II, 2 - 4
H a r r y S i e b e r · II, 7 1
M a r i o S o c r a t e · I, Prólogo
E d u ard o U
■ II, 1 2 - 1 5
r b in a
· I, 4 7 -4 8
D a r io V il l a n u e v a
B ruce
W. W
E d w in W
ardropper
il l ia m so n
D o m in g o Y n d u r á in
■ II, 7 4
· I, 1 8 - 2 0
· II, 48, S2, 56
P R E SE N T A C IÓ N
En 1994, el Instituto Cervantes confió al Centro para la E d i­
ción de los Clásicos Españoles* la preparación de un Quijote
que pudiera ser ventajosamente manejado por un público tan
amplio como el ámbito del propio Instituto. Am én de dar, por
primera vez, un texto crítico, establecido según la ecdótica más
rigurosa, la edición, pues, había de aclarar ágilmente las dudas
e incógnitas que un libro de antaño, y de semejante enverga­
dura, por fuerza provoca en el lector sin especial formación en
la historia, la lengua y la literatura del Siglo de Oro; pero tam­
bién debía tomar en cuenta las necesidades del estudiante y, por
otro lado, prestar algún servicio al estudioso, ofreciéndole,
por ejemplo, una primera orientación entre la inmensa biblio­
grafía que ha ido acumulando la tradición del cervantismo.
Tales planteamientos coincidían en sustancia con la concep­
ción general de la Biblioteca Clásica por mí dirigida, cuyas nor­
mas de anotación -e n dos estratos: a pie de página y en sección
aparte- atienden señaladamente a hacer posible que cada uno
de los distintos tipos de usuarios aproveche la edición de acuer­
do con sus conveniencias peculiares. D e ahí que el Quijote del
Instituto Cervantes apareciera, en 1998, incorporado a B iblio­
teca Clásica, y, gracias al interés de Editorial Crítica, que en*
E l Centro para la Ed ición de los Clásicos Españoles (www.cece.
edu.es) se constituyó el 1 de octubre de 19 9 1 con el designio de «realizar o
favorecer los estudios o proyectos que conduzcan a la publicación de los clá­
sicos españoles en ediciones de la máxima calidad filológica». Los miembros
fundadores fueron Ignacio Arellano, Eugenio Asensio, Alberto Blecua, José
M . Blecua, Pedro M . Cátedra, Aurora Egido, Joaquín Forradellas, Luciano
García Lorenzo, Luisa López Grijera, R afael Lapesa, Femando Lázaro C a rreter (director), José María M icó, Francisco R ic o (secretario general), M ar­
tín de R iquer, Darío Villanueva y D om ingo Ynduráin; a ellos se han aña­
dido posteriormente Antonio Carreira, R o g e r Chartier, Luis Alberto de
Cuenca, Inés Fernández-Ordóñez, Víctor García de la Concha y Guiller­
mo Serés. Hasta 1998 estuvo adscrito a la Fundación Duques de Soria, y al
año siguiente se convirtió en asociación cultural independiente.
XIII
XIV
F R A N C I S C O R IC O
tonces la publicaba, acrecentado con materiales no previstos en
el plan inicial: en particular, la versión del texto en c d - r o m ,
con un sistema de búsqueda y análisis que proporciona el más
completo vocabulario, concordancia y registro lingüístico de la
obra maestra de las letras españolas.
Ese Quijote de 1998 ha tenido una fortuna más que próspera,
y, saludado por la crítica con abrumadora generosidad, ha co­
nocido tres ediciones corregidas y a su vez con varias reimpre­
siones/' E l cuarto centenario de la princeps de E l ingenioso hidal*
Po r diversas razones, quiero agradecer también especialmente los ma­
drugadores comentarios y recensiones de Jo h n J. Alien, «A Don Quijote for
the N e w Millennium», Cavantes, X IX :2 (1999), pp. 204-214; M ónica M a­
ria Arango, «El Quijote interactivo», y Ju an José García Posada, «Don Q ui­
jo te en el ordenador», E l Colombiano (Medellin), suplemento Literario Domi­
nical, 24 de mayo de 1998; R o g e r Charrier, «Les vicissitudes de l’âne volé
puis retrouvé», Le Monde, 7 de mayo de 1999, p. v i de Le Monde des livres (y
luego en su libro E l juego de las reglas: lecturas, Fondo de Cultura Económ i­
ca, M éxico, 2000, pp. 31-33); Daniel Eisenberg, «Rico, por Cervantes», His­
panic Review, L X V III (2001), pp. 84-88; Alejandro González Acosta, «Miguel
de Cervantes: Don Quijote de la Mancha. Edición: Francisco Rdco», Sábado,
suplemento de Unomásuno, M C X IX , 13 de marzo de 1999; Juan Goytisolo,
«Sobre duelos y quebrantos», E l País, 14 de agosto de 1998, p. 26; B .W . Ife,
«Another sally for the knight», Times Literary Supplement, 9 de octubre de
1998, p. 15 ; Paul Ingendaay, «Der elektrische Reiter», Frankfurter Allgemeine
Zeitung, Feuilleton del 19 de septiembre de 1998, p. 33; T . Lathrop, en Bu­
lletin of Hispanic Studies (Liverpool), L X X V I I (2000), pp. 298-299; Fernando
Lázaro Carretel', «El Quijote de Francisco Rico», A B C Literario, 12 de junio
de 1998, pp. 26-27; François López, «Compte Rendu», Bulletin Hispanique,
C I (1999), pp. 6 21-635; José-Carlos Mainer, «Una enciclopedia quijotesca»,
E l País, Babelia, 18 de abril de 1998, p. 9; C o ry A . R eed , «The Instituto C er­
vantes’ Quijote: A Definitive Edition», Bulletin o f Hispanic Studies (Glasgow),
L X X V I I (2000), pp. 350-364; Mariarosa Scaramuzza Vidoni, «El Quijote de
R ico», Revista de Libros, X X IV (diciembre de 1998), pp. 23-24; Elisa'oetta
Samiati, «L’utilità dei supporti magnetici nello studio di testi letterari: il Don
Quijote de la Mancha di M . de Cervantes in versione C D -R o m » , Critica del
testo, II/3 (1999), pp. 935-950; Florencio Sevilla Arroyo, «Editar a Cervan­
tes», Voz y Letra, I X :i (1998), pp. 14 1- 15 4 ; Enrique Turpin, «Don Quijote
de la Mancha», E l Cieri>o, D L X X I V (enero de 1999); Francisco Umbral, «El
Quijote de Rico», 25 de mayo de 1998, p. 64; y M aría José Vega, «Novela de
novelas», Quimera, C L X X I I I (octubre de 1998), pp. 65-67. E n el Anuario bi­
bliográfico cervantino, a partir de 1998, se encontrará indicación de otras rese­
ñas y de algunas de las numerosas informaciones, entrevistas, gacetillas, etc.,
aparecidas en publicaciones de Europa y América.
PR ESEN TA C IÓ N
XV
go (acabado de estampar en los últimos días de 1604, pero ya
con la fecha de 1605 en la portada), el apoyo de la Sociedad E s­
tatal de Conm emoraciones Culturales y la favorable disposición
del Círculo de Lectores nos brindan ahora la oportunidad de
presentar una nueva edición, notablemente aumentada y pues­
ta al día, pero siempre dentro del espíritu de la primera.
En efecto: los numerosos cambios y revisiones, incrementos
y actualizaciones que se han introducido en esta edición del
2005 siguen respondiendo esencialmente a los mismos propó­
sitos de 1998. Valga, pues, repetirlos al pie de la letra.
«Es obvio, en primer lugar, que un Quijote de dimensiones
manuales nunca podrá aspirar ni remotamente a ningún género
de exhaustividad. C om o se imponía, pues, señalar un objetivo
principal al del Instituto Cervantes, se acordó que el grueso de
las notas y otros complementos, concentrándose en el plano en
que asimismo convergen los múltiples destinatarios del proyec­
to, tuviera un carácter más inform ativo que interpretativo y,
por ahí, mirara primordialmente a la elucidación del sentido lite­
ral. (A nuestro propósito, bastará caracterizarlo, con Marcel B a ­
taillon, y «par opposition à d’autres sens non-littéraux», como el
núcleo semántico que respetan o deben respetar incluso las exégesis críticas diametralmente opuestas.) Por tanto, la parte fun­
damental de la anotación, al igual que en otra manera el Prólo­
go, los apéndices o las ilustraciones gráficas, pretende antes de
nada resolver los interrogantes que hoy suscitan muchos de los
usos léxicos y gramaticales, referencias a cosas y personas, suce­
sos y costumbres, temas y alusiones de diversa índole, refranes,
sentencias... que se encuentran en la novela, brindando al lector
los datos imprescindibles para una correcta comprensión del
texto en el contexto del autor y de su tiempo.
»Sin embargo, el hincapié en el sentido literal no implicaba
cerrar el paso a las interpretaciones literarias con categoría de
clásicas o más estimadas en los últimos tiempos. La ocasión de dar­
les entrada ha venido de la mano de otro de los designios cen­
trales del Instituto Cervantes al fraguar el Quijote que ahora ve
la luz: allegar una válida muestra de la situación actual de los es­
tudios cervantinos acogiendo las contribuciones de un buen
número de los más prestigiosos representantes del hispanismo
internacional.
XVI
F R A N C ISC O RICO
»Para alcanzar ese doble objetivo, un equipo de redacción for­
mado por miembros de número y asociados del Centro para la
Edición de los Clásicos Españoles se ha ocupado en el estable­
cimiento del texto y del aparato crítico, en la elaboración de las
notas a pie de página y complementarias y en otros quehaceres
anejos; pero esa labor básica ha venido a enriquecerse merced a
las aportaciones, por diferentes vías, de arriba de medio cente­
nar de distinguidos especialistas españoles y extranjeros.
»Los más de entre ellos han tenido encomendado un frag­
mento, capítulo o grupo de capítulos y revisado las corres­
pondientes notas elaboradas por la redacción, velando por la
exactitud y la pertinencia de las noticias o explicaciones ahí
ofrecidas (y a veces recomendándonos anotar tal o cual detalle
en principio no atendido por nosotros), mientras por otra par­
te escribían un comentario crítico al segmento en cuestión,
para subrayar sus elementos y aspectos más importantes, cada
cual desde el punto de vista que libérrimamente juzgaba más
oportuno (dentro de una extensión, ella sí, draconianamente li­
mitada) y todos con la misma voluntad de proponer las exege­
sis más penetrantes y reveladoras. La suma de esos comentarios,
en la sección Lecturas del «Quijote», y ju nto al admirable ensayo
preliminar de Fem ando Lázaro Carretel·, constituye una anto­
logía única de la m ejor crítica cervantina de nuestros días y, al
correr paralela a una anotación asentada en el sentido literal, da,
creemos, una óptima idea de la inagotable riqueza del libro y
de la multiplicidad de enfoques a que se presta. (Ni que decir­
se tiene que quizá ningún otro se aviene m ejor con un trata­
miento colectivo de tal estilo: someter el Quijote a una pers­
pectiva única, por aguda que sea, ¿no implica acaso reducir el
alcance de una obra cuyo supremo atractivo está en la capaci­
dad de responder inagotablemente a las preguntas que en cada
época le han dirigido, los talantes, intereses y métodos más di­
versos y aun contradictorios?)
»Junto a los responsables de las Lecturas y de la revisión de
nuestras notas, otros eminentes estudiosos nos han favorecido
con su concurso, haciéndose cargo de los varios apartados del
Prólogo (y aceptando las cortapisas que suponía su derrotero
predominantemente factual), proporcionándonos documenta­
ción para las notas, apéndices e ilustraciones, asesorándonos a
PR ESE N T A C IÓ N
XVII
propósito de la bibliografía, y en algunos casos participando en
más de uno de tales cometidos. U n reconocimiento especial
queremos expresar a dos insignes decanos del cervantismo: E d ­
ward C . R ile y , quien desde el primer momento nos aconsejó
en puntos tan delicados como la segmentación de la obra en las
series de capítulos glosadas por cada uno de los autores de las Lec­
turas·, y Martín de R iqu er, que no sólo puso a nuestra disposi­
ción preciosas informaciones sobre el arnés de don Q uijote y la
Barcelona de Cervantes, sino que además nos regaló un m on­
tón de atinadas sugerencias.
»Nuestra gratitud, como sea, alcanza a todos los colaborado­
res, no ya por la calidad de su aportación tangible, sino aun más
por el entusiasmo con que acogieron la empresa y nos anima­
ron a llevarla hasta el cabo. Debem os agradecerles en particular
la extrema generosidad con que han tratado el trabajo de la re­
dacción, por lo regular limitándose a la corrección de erratas y
a la introducción de pequeños retoques o de adiciones m enu­
das. (En los casos en que han insertado alguna nota enteramen­
te nueva o modificado o incrementado de forma significativa la
propuesta por la redacción, su firma figura en la nota com ple­
mentaria.) Pero también estamos convencidos de que críticos e
investigadores de tanta solvencia no hubieran dejado pasar des­
lices de alguna cuantía, y por ello mismo nos sentimos confor­
tados al pensar que cada una de nuestras notas lleva un respal­
do de máxima autoridad, que, si no le asegura el acierto,
cuando menos avala que se m ueve en el terreno de lo admisi­
ble u opinable dentro de nuestros conocimientos.»
N o otros principios fundamentales han gobernado la presen­
te edición, en el cuarto centenario de la princeps. E l texto, aco­
modado a la ortografía académica de 1999, incorpora nuevas
lecciones, y el aparato crítico se enriquece con el cotejo de más
ediciones antiguas. E l Prólogo y las notas, tanto complementa­
rias como a pie de página, se han variado o reformulado de
acuerdo con los estudios recientes, propios y ajenos. Las Lectu­
ras del «Quijote» han sido revisadas por sus autores o, cuando
ello no era posible, actualizadas bibliográficamente por la re­
dacción. Los apéndices y las ilustraciones se acrecen en núm e­
ro y calidad. E l c d - r o m ofrece una versión superior del banco
de datos. Los cuerpos tipográficos son ahora mayores, y el for-
XVIII
F R A N C ISC O RICO
mato viene a coincidir con el que Francisco de R obles eligió
para las impresiones de Juan de la C uesta.11' Pero todas esas in­
novaciones respecto a nuestra edición anterior no pretenden
sino aproximarnos un poco más a las mismas metas de 1998, a
sabiendas de que nunca conseguiremos alcanzarlas plenamente
ni habrá jamás un Quijote que pueda reputarse «definitivo».
Llegado el momento de entregar el nuevo original a la impren­
ta, recordamos con em oción a los miembros del Centro para la
Edición de los Clásicos Españoles que ya no han podido volver
a prestamos sus luces: Fernando Lázaro Carreter, nuestro primer
director; don Rafael Lapesa, maestro de todos nosotros, y el in­
olvidable compañero que fue D om ingo Ynduráin. U n tributo
no menos sentido queremos rendir a nuestro correspondiente
Edw ard C . R ile y , cervantista impar, que nos guió con el tino y
el eficaz fervor que le eran propios. C o n cariño traemos tam­
bién a la memoria a los otros colaboradores de 1998 a quienes
la muerte se ha llevado: Stefano Arata, Carm en Bernis, Antonio
D om ínguez Ortiz, M onique Jo ly y Alberto Sánchez.
Obligación harto más grata, pero no menos de justicia, es decir
que detrás de los entes y entidades mentados en los primeros pá­
rrafos con sus denominaciones oficiales están o han estado hom­
bres y nombres con quienes tenemos contraída una deuda de
extraordinario peso. Detrás del Instituto Cervantes, Nicolás Sán­
chez-Albornoz y Juan Gimeno, y más tarde el marqués de T amarón, Femando Rodríguez Lafuente, Jo n Juaristi y César Anto­
nio Molina. Detrás de la Fundación Duques de Soria, a la que el
Centro para la Edición de los Clásicos Españoles estuvo adscrito
hasta 1998, Rafael Benjumea, José María Rodríguez Ponga y M a­
ría Pardo de Santayana. Detrás de Editorial Crítica, que tanto puso
en nuestra primera salida, Gonzalo Pontón (el Viejo). Detrás del
Círculo de Lectores, Femando Carro y Joan Tarrida. Detrás de la
Sociedad Estatal de Conmemoraciones Culturales, Luis M iguel
Enciso R e c io y, al cabo, José García Velasco. U n recuerdo es­
pecial m erecen aún la Biblioteca N acional y la Biblioteca de
Cataluña.
*
U na exposición más detallada de otros criterios y modos de proceder,
así como del reparto de tareas, se hallará en las páginas c c c v y ss.
PRESEN TA CIÓ N
X IX
N o son todos los que están, pero sí quienes mejor pueden re­
presentarlos a todos. Finalmente, no como director del pro­
yecto, sino en mi concreto papel de encargado del texto críti­
co, me urge dejar constancia de que no habría podido seguir
todas las pistas que los materiales me apuntaban, dedicándoles
un libro aparte, si no hubiera contado con la largueza de la
Fundación Juan M arch y con la amistad de José Luis Yuste.
Francisco Rico
E S T U D IO P R E L IM IN A R
LAS V O C ES DEL «QUIJOTE»
La mutación fundamental que introduce el Renacimiento en la litera­
tura de ficción consiste, esencialmente, en la independencia creciente de
los personajes. Frente a su subordinación absoluta al autor en la edad
anterior, tienden ahora a escapar de tal dominio, afirmándose, cada vez
más, dueños de su albedrío. Quizá en La Celestina se observa ya este
proceso autonómico; con la oposición inicial de Pármeno a la alcahue­
ta, el autor primitivo parece dejar el triunfo de ésta a merced de que a
Calisto lo persuadan las fuertes razones del criado, lo cual habría des­
mantelado su plan, autorizado y vigente desde el Pamphilus, que im­
plicaba la mediación victoriosa de la vieja. Más claramente ocurre en
aquel momento de singular penetración psicológica en que Celestina, en ca­
mino hacia la casa de Melibea después de asegurar a Calisto y a Sem­
pronio lo infalible de su tercería, duda de sí misma con el largo monó­
logo del acto V, se confiesa insegura de sus poderes y tiembla ante su
compromiso. Otra vez el autor parece dejar a la libre decisión del per­
sonaje el curso que ha pensado para la acción facultándolo para desba­
ratar su proyecto. Hubiese bastado con que algún presagio hubiera con­
firmado los miedos de la ensalmadora —un perro ladrándole o un ave
nocturna volando a deshora: ella lo dice- para que hubiese quedado en
nada la tragedia prevista.
En la narrativa, la emancipación renacentista de las criaturas de fic ­
ción es ya declaradamente visible en el Lazarillo, donde el anónimo
autor se propone mostrar el hacerse de una vida que nace y cursafuera
de su mente, para lo cual se subroga en el pregonero de Toledo y le cede
la palabra con el fin de que cuente a su modo sus fortunas y adversi­
dades. Si en el tratado V II resulta perceptible que el autor se burla del
maridillo cornudo y contento, ello prueba hasta qué punto lo ha deja­
do desbarrar por su cuen ta, sin hacerse cómplice de su vergonzosa fe li­
cidad.
E l admirable, el áspero Mateo Alemán da un paso definitivo en esa
concesión de autonomía cuando permite que Guzmán obre abierta­
mente en contra de su propio sentido del lícito obrar, dejándolo hacer
libremente: pero, eso sí, manifestando su total desacuerdo con él y proXXIII
X XIV
FERNANDO LÁZARO CARRETER
pillándole una tunda moral en las digresiones cada vez que lo soli­
vianta la conducta del picaro. Se diría que no es suyo.
Algo importante ha ocurrido, sin duda. Algo tan aparentemente sen­
cillo, sin embargo, como el descubrimiento por parte del narrador de que
el mundo circundante puede ser ámbito de la ficción y de que los vecinos
del lector pueden ocuparlo con peripecias interesantes. E l Lazarillo ha
revelado que cuanto pasa o puede pasar al lado es capaz de subyugar
con más fuerza que las cuitas de azarosos peregrinos, pastores refinados
o caballeros andantes por la utopia y la ucronía. Ha sido obra de aquel
genial desconocido que ha afrontado el riesgo de introducir la vecindad
del lector en el relato e instalar en ella su propia visión de un mundo ya
no remoto e improbable, sino abiertamente comprobable. Autor, perso­
najes y público habitan un mismo tiempo y una misma tierra, compar­
ten un mismo censo y han de ser otras sus mutuas relaciones.
E l riesgo estriba en que la visión personal del escritor no tiene por
qué coincidir con la particular del lector; sus respectivos puntos de vista
pueden ser discordantes y hasta hostiles, por cuanto ya no los aúna lo
consabido y lo coaceptado. De ahí que Lázaro se vele, hable con se­
gundas intenciones, pero que, osadamente, avise de ellas: quiere que
sus cosas se aireen, «pues podría ser que alguno que las lea halle algo
que le ayude, y a los que no ahondaren tanto, los deleite». Tal pro­
puesta de dos lecturas es el signo de la nueva edad, porque el escritor
ya no repite siempre enseñanzas inmutables, sino que aventura con
riesgo su propio pensamiento. Cervantes va a proclamarlo en las pri­
meras palabras del prólogo del Q uijote, declarando su libro «hijo del
entendimiento».
Esta nueva actitud del narrador impone un nuevo tipo de lector. Po­
drá buscar mera recreación en la lectura, pero, inevitablemente, al to­
parse con cosas que ocurren en sus cercanías, se convierte en coloquiante activo con el relato y con el autor, dotado de facultades para disentir:
«Libertad tienes, desenfrenado eres, materia se te ofrece; corre, destro­
za, rompe, despedaza como mejor te parezca», dice Mateo Alemán al
vulgo que le lea. Cervantes le brinda el libro que llama hijo suyo, acep­
tando que, pues tiene libre albedrío, puede decir de la historia todo lo
bien o lo mal que le parezca. Y una cosa fundamental que tiene que
■someter a su aprobación es el idioma, el cual ha de ser tan reconocible
como el mundo que se le muestra.
A partir de los estudios de Bajtín, se ha caído en la cuenta de la ín­
tima relación que existe entre el descubrimiento de lo cotidiano como
EST U D IO PR E LIM IN A R
XXV
objeto del relato y la irrupción de 1o que él llamó polifonía lingüística.
En efecto, la narración mundial, que se había movido en ámbitos y
tiempos indefinidos o inaccesiblemente lejanos, podía y hasta debía em­
plear un idioma muy distante del común y ordinario, fuertemente retorizado, abismalmente remoto. Pero el Lazarillo se propone contar p e­
ripecias muy poco maravillosas, que ocurren entre Salamanca y Toledo,
en años precisos del reinado de Carlos I, acaecidas a un muchacho me­
nesteroso que sirve a amos ruines. No es posible narrar sus cuitas y re­
producir las palabras con los primores y ornamentos que se aprendían
en las escuelas de latinidad. A l introducir la verdad de la calle y de los
caminos, penetra en el relato la verdad del idioma. Tímidamente aún
en el Lazarillo; con decisión en el Guzm án; plena y extensamente con
el Q uijote. Cuando se asegura que éstefunda la novela moderna, esto
es esencialmente lo que quiere afirmarse: que Cervantes ha enseñado a
acomodar el lenguaje a la realidad del mundo cotidiano. Y algo muy
importante: que ensancha el camino abierto por el autor anónimo y por
las primeras novelas picarescas; ha respetado, se diría que exhibitorici­
mente, la libertad de sus criaturas de ficción.
Esto último es bien evidente desde el principio, cuando el narrador
confiesa ignorar el nombre del hidalgo manchego, aunque ha acudido
a informantes que tampoco lo conocen. Sólo por sospechas colige que
debe llamarse Quijana, lo cual quizá resulte falso ai fin al de la no­
vela, cuando sea el propio hidalgo quien declare ser Alonso Quijano
(II, 74, 1330). No cabe mayor alejamien to del personaje. Cuando las
exigencias de la narración le obliguen a inventar a Sancho Panza
—hablaremos luego de ello-, le atribuirá sin vacilación tal nombre;
pero, en el original de Benengeli hallado en el Alcaná toledano, el
rótulo que figura junto al retrato del escudero llama a éste Sancho
Zancas. Y Cervantes ignoraba el apodo, conjeturando, «a lo que
mostraba la pintura» (nótese: él no sabía antes cómo era Sancho), que el
mote se debía a que tenía «la barriga grande, el talle corto y las
zancas largas» (I, 9, 120). E l hecho de que ambos, el hidalgo y el
criado, se salgan de la novela en la Segunda parte, para enterarse de
la primera y juzgarla, es muestra preclara de su independencia. R e ­
sulta ostensible el afán de Cervantes por desarraigar de sí los entes de
ficción.
Hace nacer a su Quijada o Quesada o Quijana, para embarcarlo en
seguida en una acción por el mundo de la literatura y del lenguaje. E n ­
loquece leyendo. Y no sólo las aventuras de los caballeros lo vuelven
XXVI
FERNANDO LÁZARO CARRETER
orate, sino, tanto como ellas, el modo de contarlas, con la mención ex­
presa de Feliciano de Silva, «porque la claridad de su prosa y aquellas
entricadas razones suyas le parecían de perlas» (I, i, 40). Don Qui­
jote deviene así un héroe novelesco enteramente insólito, inimaginable
en época anterior: un enfermo por la mala calidad del idioma consu­
mido.
Antes, fu e posible la enajenación mediante contagio por el desvarío
de los disparates narrados, y no por la prosa que los narraba. La Igle­
sia, desde la difusión impresa de los libros, no había cesado de preve­
nir contra el efecto letal de ciertas lecturas, protegiendo a los fieles con­
tra ellas mediante condenas y censuras previas. No era difícil atribuir
festivamente ese poder infeccioso a ciertas lecturas autorizadas, y un
desconocido escribe el Entremés de los romances, cuyo influjo deci­
sivo en la invención del Q uijote probó irrefutablemente don Ramón
Menéndez Pidal en 1920. Es bien conocido su asunto: el labrador Bar­
tolo pierde la razón leyendo el Romancero, abandona su hogar imagi~nándose héroe de aquellos poemas y habla con fragmen tos de ellos aco­
modados a su demencia; confunde a una pareja campesina con Tarfe y
Daraja, desafia al imaginario moro y éste le rompe la lanza en las cos­
tillas. Los trozos de romance que declama coinciden en gran parte con
los de don Quijote en su primera salida. Hallado Bartolo por quienes
han ido en su busca, lo devuelven a casa y lo acuestan; pero, al mo­
mento, sufre otro ataque de locura y prorrumpe en nuevos versos que
dan fin a la breve pieza, la cual, por su insignificancia, no parecía des­
tinada a tan importante consecuencia.
Aparte de su precedencia cronológica respecto del Q uijote (Menén­
dez Pidal la fecha hacia 1591), su influjo en los orígenes de la novela
inmortal es patente: también el hidalgo empieza enajenándose en di­
versos personajes del Romancero, coincidiendo abundantemente con
Bartolo en los pasajes que declama. Se trata, sin duda, de un hecho
enigmático. Porque si en el designio primero de Cervantes entraba que
el agen te nocivo fueran los libros de caballerías, no se explica que, des­
de el primer momento, sean otros héroes quienes invaden los sesos del
protagonista.
Menéndez Pidal atribuye el hecho a que el autor empieza a escribir
bajo el influjo del Entremés y que, agotado éste como modelo ar­
gumentai, rectifica «la conexión de la locura del hidalgo con el R o ­
mancero» - aunque no del todo- y la establece con el Amadís. E n esta
decisión, habría intervenido, según el maestro, una suerte de arrepen­
ESTU D IO PR E L IM IN A R
X X V II
timiento de Cetvantes por haberse burlado cruelmente de los admira­
bles romances que, como español, debía de amar. Pero si eso hubiera
ocurrido de ese modo, sigue careciendo de explicación el que, desde el
principio, lo alucinen los libros de caballerías, y que, sin embargo, al
ponerse a actuar como caballero se nos presente con una enajenación
romancesca.
No podemos exigir a don Quijote, tal vez ni a Cetvantes mismo,
la precisión en la distinción de géneros que nosotros nos imponemos.
La identificación de lo caballeresco con lo romanceril aparece ya en el
Entremés de los romances, donde se dice de Bartolo que «de leer
el Romancero, / ha dado en ser caballero, /p o r imitar los romances».
N o es preciso, pues, suponer con don Ramón que haya dos fases en
la elaboración del hidalgo; la inducida por el Romancero, de la que se
arrepiente el autor por haberse encarnizado en género tan noble; y otra
en la que apela al de caballerías, que Menéndez Pida! llama «bastar­
do». Los dos géneros andaban tan confundidos en la opinión general,
que Covarrubias (s.v. «arma») asegura que los versos «Mis arreos son
las armas, mi descanso el pelear» que don Quijote recita ante el ven­
tero que imagina alcaide (I, 2, 55), los repetía «un caballero andan­
te». Los hechos fabulosos de la caballería se mezclaban en los roman­
ceros impresos con los de los paladines épicos; en ellos, junto con los
temas de la pérdida de España o de las hazañas del Cid, aparecían
las proezas del Marqués de Mantua o la penitencia de Amadís, se­
gún ocurre, por ejemplo, en el Cancionero de romances de Ambe­
res. O, como en el R om an cero historiado (Alcalá, 1572), se ju n ­
taban la traición de Vellido Dolfos con largas metrificaciones que
narraban las peripecias del Caballero del Febo (el que escribió uno de
los poemas preliminares del Q uijote, saludando a su cofrade), y sus
andanzas por la Insula Solitaria. Tan personajes del Romancero ca­
paces de enloquecer son unos como otros y, juntos, volvieron tarumba
a don Quijote.
De igual modo, son grandes amadores románcenles los pastores. M e­
néndez Pidal notó que el episodio de Cardenio está directamente ins­
pirado por un popular romance de Juan del Encina. Podemos añadir
que también obedece a parecida motivación la trágica historia de G ri­
sóstomo, muerto por los desdenes de Marcela. En varios romances, el
pastor fenece por amar; recuérdese el que vertió a lo divino San Ju an
de la Cruz o aquel otro, «Al pie de, un hermoso sauce», del R o m an ­
cero historiado, en que un pastor acaba sus días habiendo previsto su
XXVIII
FERNANDO LA ZA RO CARRETER
epitafio y su inhumación al pie de un árbol, igual que Grisóstomo, del
mismo modo, ha dejado unos papeles con versos de queja elegiaca por
el desamor de la pastora que pretendía.
Lógicamente, Cervantes no sale del ámbito del Romancero cuando
pasa de lo heroico a lo caballeresco o a lo pastoril D e haberse produci­
do la contrición que postulaba Menéndez Pidal, lo normal es que hu­
biera reelaborado los capítulos en que imitaba el Entremés. Pero, evi­
dentemente, los dio por buenos. Y eso conduce a un viejo problema no
resuelto y de imposible solución, pero siempre provocativo. Es la sos­
pecha apuntada por Heinrich M o f en 1905, más tarde asumida o dis­
cutida por no pocos cervantistas, según la cual el proyecto inicial del
autor consistió en un relato breve («la novela ejemplar de un loco», de­
cía el hispanista germano). Menéndez Pidal desechó tal hipótesis pareciéndole que «el primer capítulo, sin olvidar otros pasajes convincen­
tes, anuncia ya una novela mayor». Eso es así, en efecto, ¿pero quién
puede asegurar que todo ese arranque anunciador de un empeño largo,
no fue reescrito cuando a Cervantes se le reveló que tenía entre manos
algo digno de mayor desarrollo? E l relato inicialmente previsto podría
haberse limitado a aprovechar la ocurrencia malograda por el Entremés
de los romances que tanta ocasión proporcionaba para escarnecer las
lecturas neciamente imaginativas. La novelita podría muy bien acabar
con el retorno del caballero a casa con el labrador que lo ha encontrado
molido a palos por el mozo de los mercaderes toledanos.
Mientras el caballero descansa, el cura y el barbero hacen el escruti­
nio de su biblioteca. En ella no aparece ninguno de los romanceros que
han contribuido a enloquecerlo. Esa ausencia chocaba a Menéndez P i­
dal, que asegura: «Para Cervantes, los poemitas contenidos en esas
colecciones eran como obra de todo el pueblo español y no podían ser
causantes de la locura del nobilísimo caballero de la Mancha ni debían
estar sujetos al juicio del cura y el barbero». ¿Por qué no, si lo estaba
La Galatea misma? Es difícil imaginar que Cervantes tuviera de los
romances un concepto crítico-literario tan exactamente coincidente con
el de don Ramón. E l licenciado Pero Pérez y Maese Nicolás expur­
gan los anaqueles del hidalgo en el momento justo en que el Entre­
més ha terminado su influjo inspirador. Aceptemos la probabilidad de
que con ese fin al coincidiera el del primer proyecto del autor. Es en­
tonces cuando Cervantes cae en la cuenta de que dispone de un filón
incompletamente explotado y de que puede beneficiarlo mucho más si
prolonga la demencia romanceril del manchego con la demencia caba-
ESTU D IO PR E LIM IN A R
X XIX
Ueresca, E l capítulo 6, el del examen de la biblioteca, marcaría el
arranque de este Q uijote ensanchado. D e ahí que los censores se apli­
quen a juzgar principalmente libros de caballerías. Y con un furor que
Cervantes acaba de atribuirles. Porque, y esto no parece haber sido no­
tado, el cura y el barbero, antes de ser aquejados por esa furia, eran
bien aficionados a las lecturas de que ahora, inesperadamente, abomi­
nan. En el capítulo primero se lee que el hidalgo «tuvo muchas veces
competencia con el cura de su lugar ... sobre cuál había sido mejor ca­
ballero: Palmerín de Ingalaterra o Amadís de Gaula; mas maese N i ­
colás, barbero del mesmo pueblo, decía que ninguno llegaba al Caba­
llero del Febo, y que si alguno se le podía comparar era don Galaor,
hermano de Amadís de Gaula» (1, i, 41). Y he aquí que ahora, cin­
co capítulos más adelante, aquellos expertos en caballerías se revuelven
contra éstas, y quienes antes discutían sobre los méritos de Amadís y
de su hermano, ahora parecen conocerlos sólo de oídas: «Según he oído
decir, este libro [el Amadís] fu e el primero de caballerías que se im­
primió en España» (I, 6, 84), dice el cura; «...también he oído decir
que es el mejor de todos los libros que de este género se han compues­
to», responde el barbero (I, 6, 84).
Da la impresión de que si han variado tanto es porque Cervantes ha
cambiado de proyecto. No juzga necesario reemplazar los sucesos romanceriles de la primera salida, pues, como he dicho, se podía llegar a
ser caballero andante a través del Romancero. Pero ahora se aplica con
vehemencia al nuevo rumbo recién hallado y son sólo los libros de sus
aventuras los que escrutan los censores.
Cuando la gran pareja de caballero y escudero Im quedado ya cons­
tituida, la novela halla camino definitivo hacia su destino inmortal.
Pero lo hace, según he dicho antes, transitando por el mundo del len­
guaje y de la literatura. La búsqueda de altos simbolismos en la in­
tención de Cervantes ha ocultado este aspecto del Q uijote que es el
fundamento de todos los demás. E l alcalaíno es un obseso de la pala­
bra: ya vimos cuánto contribuyó su mal empleo a la demencia del ca­
ballero. La necesidad de usar un lenguaje actual, que ya habían senti­
do los autores de los primeros relatos picarescos, es en él agudísima y
no sólo en el Q uijote, sino en obras como el R inconete o E l rufián
dichoso. E l rigor con el que asume la propiedad del idioma es paten­
te, por ejemplo, cuando libra del fuego el Palmerín de Inglaterra,
porque, entre sus virtudes, el cura estima «las razones, cortesanas y cla­
ras, que guardan y miran el decoro del que habla, con mucha propie­
XXX
FERNANDO LÁZARO CARRETER
dad y entendimiento» (I, 6, 89). E l decoro, esto es, la adecuación ju s­
ta del modo de expresarse el personaje a su calidad y carácter, variable
según las circunstancias en que habla, y bien diferenciado del de los
otros personajes, era una de las dificultades que Cervantes debía afron­
tar para escribir el libro. Va a ser la única que va a ocuparme, y aun
así, limitada a don Quijote y Sancho.
¿Cómo se expresa el caballero en ¡os primeros momentos de su in­
vención? Los primeros esfuerzos de su demencia ¡os realiza con las pa­
labras. Cuatro días tardó en hallar nombre a Rocinante; ocho, en pro­
curárselo a él. No se dice cuántos, pero aún debieron de ser más, para
nominar a Dulcinea del Toboso. Y se holgó máximamen te cuando acer­
tó a acuñar aquella fórmula con que algún gigante vencido por su brazo
iría a tributar homenaje a su dama: «Yo, señora, soy el gigante Caraculiambro, señor de la ínsula Malindrania, a quien venció en singular
batalla el jamás como se debe alabado caballero don Quijote de la Man­
cha...» (I, 1, 47). Esta es la primera vez que oímos su voz directa­
mente. La segunda, cuando, apenas iniciada su salida, imagina la li­
teralidad con que será contada: «Apenas había el rubicundo Apolo
tendido por la fa z de la ancha y espaciosa tierra las doradas hebras de
sus hermosos cabellos...» (I, 2, 5 o). Es obviamente una burla de los li­
bros de caballeros o de pastores que leía (sin excluir su propia GalateaJ.
Esa intención burlesca patentiza la intención primaria con que Cer­
vantes afronta su tarea. Eso es lo que parece querer hacer: parodia, lin­
güística también, por supuesto, de tales géneros falaces. Tras ese ama­
necer, continúa exclamando don Quijote: «¡Oh princesa Dulcinea,
señora deste cautivo corazón! Mucho agravio me habedes fecho en des­
pedirme y reprocharme con el riguroso afincamiento de mandarme no
parecer ante la vuestra fermosura. Plégaos, señora, de membraros deste
vuestro sujeto corazón, que tantas cuitas por vuestro amorpadece» (I, 2, 51).
Su locución se llena de arcaísmos, al modo caballeresco; el autor advierte
ahí, en efecto, que el demente habla «imitando en cuanto podía» el len­
guaje de sus libros.
Llega a la venta que imagina castillo y hace reír a las dos coimas con
la insólita vetustez de su saludo. Y él se enfada. Hasta ahora don
Quijote existe sólo por su raro idioma. Pero este procedimiento de ca­
racterizarlo no podía prolongarse mucho; hubiera resultado insoportable
para el lector. Y el autor lo alterna luego con otro, en contraste cómico,
cuando el hidalgo experimenta el vulgar apremio del hambre y rebaja
su lenguaje hasta el chiste ramplón y a los modos más vulgares, para
ESTU D IO PR E LIM IN A R
XXXI
responder a las mozas que le advierten que sólo hay truchuelas: «Como
haya muchas truchuelas ... podrán servir de una trucha, porque eso se
me da que me den ocho reales en sencillos que en una pieza de a ocho.
Cuanto más, que podría ser que fuesen estas truchuelas como la terne­
ra, que es mejor que la vaca, y el cabrito que el cabrón. Pero, sea lo
que fuere, venga luego, que el trabajo y peso de ¡as armas no se puede
llevar sin el gobierno de las tripas» (I, 2, 57).
Se trata de un juego impensable antes del Q uijote; ni el Lazarillo
ni el Guzmán ofrecen nada comparable. Cervantes lleva hasta el lí­
mite aquel propósito suyo, expuesto en el prólogo, de hacer perfecta la
imitación; que incluye, obviamente, no sólo la de lugares, acciones y
caracteres, sino, sobre todo, la del lenguaje, la de los múltiples lengua­
jes con que la vida se manifiesta. Don Quijote, a partir de ese primer
momento en que el autor le puebla el habla de arcaísmos, empieza a
dosificarlos. Se los administra con sabia prudencia y confia la caracteri­
zación de su parla al énfasis oratorio que se gastan en la orden que pro­
fesa. Vuelve a la dicción pretérita cuando, al traerlo apaleado el labra­
dor, ha de manifestar intensamente su insania ante las mujeres de su
casa y sus amigos: «Ténganse todos, que vengo malferido, por la cul­
pa de mi caballo. Llévenme a mi lecho, y llámese, si fuere posible, a
la sabia Urganda, que cure y cate de mis feridas» (I, 5, 81). E l autor
da una muestra de agudeza psicológica cuando el cura, tratando de
aquietarle, le habla en el mismo estilo: «...atienda vuestra merced a su
salud por agora, que me parece que debe de estar demasiadamente can­
sado, si ya no es que está malferido» (I, 7, 96). Luego, ese modo de
dirigirse a don Quijote con arcaísmos será repetido por otros personajes.
Y
aun con mejor instinto idiomático, el propio Cervantes, al narrar
en estilo indirecto, esto es, cuando escribe por su cuenta y no reprodu­
ce lo que dicen o piensan sus personajes, se cuida a veces de evocar cómo
lo dicen o piensan, con toques que los definen. A sí cuenta el ataque de
don Quijote a los benedictinos: «.. .picó a Rocinante y, la lanza baja,
arremetió contra el primero fraile, con tanta furia y denuedo, que si el
fraile no se dejara caer de la muía él le hiciera venir al suelo mal de su
grado, y aun malferido, si no cayera muerto» (I, 8, 109). Si el narra­
dor emplea ahí prim ero antepuesto al nombre por única vez en sus es­
critos, y ferido, es perceptiblemente para que oigamos el pensamiento
del andante mientras arremete. Pero ya antes, al aparecer Sancho, y sin
que haya transcrito aún ninguna frase suya, se las ingenia para impo­
ner al lector en el habla villanesca que se gasta. Su amo le encarga que
X X X II
FERNANDO LAZARO CARRETER
lleve alforjas: «El dijo que sí llevaría y que ansimesmo pensaba llevar
un asno que tenía muy bueno, porque él no estaba duecho a andar mu­
cho a pie» (I, 7, 100). Pese a las continuas vacilaciones de los tipógra­
fos de Cuesta, que ansimesmo reproduce exactamente lo que dijo
Sancho parece confirmarlo el hecho de que sólo seis líneas más arriba el
narrador ha empleado asimesmo. Comoquiera que sea, el raro voca­
blo duecho por ducho ya era diagnosticado por Covarrubias como
«lenguaje antiguo castellano»; nunca más escribió Cervantes duecho
en obra suya alguna.
Este es el sistema expresivo con que se caracteriza al hidalgo en lo
que muy bien pudiera ser el primer proyecto cervantino: arcaísmos api­
ñados al principio, que luego se entreveran en una elocución de léxico
más llano, pero muy retorizada. Cuando don Quijote habla descuida­
do de su condición de héroe, su idioma pierde tales rasgos y deja paso
a una espontaneidad coloquial que puede recaer en la vulgaridad, con­
trastando cómicamente con el énfasis anterior. Frecuentemente, el na­
rrador avisa de las circunstancias de ¡a enunciación que van a condicio­
nar la expresión del personaje: «Con gentil talante y voz reposada les
dijo...» (I, 2, 53); «Don Quijote alzó los ojos al cielo y, puesto el pen­
samiento —a lo que pareció- en su señora Dulcinea, dijo...» (I, 3, 62);
«levantó don Quijote la voz y con ademán arrogante dijo...» (1, 4, 73).
Este acomodar lo que se dice a la manera como se enuncia, es ya com­
pletamente moderno.
Con todo, tal sistema de conferir verdad al hidalgo no podía mante­
nerse durante mucho tiempo sin cansar e impedía que la obra se re­
montara a mayores trascendencias. Por otra parte, al ampliar el pro­
yecto inicial, una vez extinguido el modelo del Entremés de los
romances, de tan limitados alcances, y al introducirse amo y criado en
ámbitos más amplios y complejos, las exigencias de su elocución aumen­
tan. Y Cervantes vuelve a escuchar la variedad de los lenguajes habla­
dos y escritos para hacerlos resonar en la novela. La polifonía se hace
más compléja y en la prosa de su narración y en la heterofonía diferenciadora del habla de los protagonistas se hacen presentes múltiples
estilos orales y escritos de su época, a veces, pero no siempre, reprodu­
cidos paródicamente. Veamos unos pocos ejemplos significativos.
H e aquí a don Quijote derrengado en el suelo tras una paliza. San­
cho lo cree muerto. E l instante es apropiado para un planto funerario
en el tono elegiaco de la novela sentimental: «¡O hflor de la caballería,
que con sólo un garrotazo acabaste la carrera de tus tan bien gastados
ESTU D IO PR ELIM IN A R
X X X III
años! ¡Oh honra de tu linaje...! ... ¡Oh liberal sobre todos los A le ­
jandros...! ... ¡Oh humilde con los soberbios y arrogante con los hu­
mildes...!» (I, 52, 643). Con esta última invocación, entra, por cierto,
contrahecha la palabra de Virgilio que, por boca de Anquises, había
anunciado el destino de Roma: «parcere subiectis et debellare superbos»
(Eneida, VI, 853). Como vemos, la mera dilatación del relato ha con­
vertido a Sancho, de simple que era, en poseedor de aptitudes retóricas
dignas de un estudiante de latinidad, aunque las emplee en simplezas.
Ahora don Quijote se dispone a dar consejos al escudero, antes
de que éste marche a Barataría. Su lenguaje ha de ser precisamente el de
la doctrina de avisos de buen gobierno. ¿Quién los había dado mejor
que fray Antonio de Guevara, consejero del Emperador? Cervantes
había captado exactamente su fórmula prosística esencial, consistente
—lo he mostrado en otra ocasión— en un exhorto seguido de una expli­
cación causal, confinal bimembre: «Cuando pudiere y debiere tener lu­
gar la equidad, no cargues todo el rigor de la ley al delincuente, que no
es mejor lafama del ju ez riguroso que la del compasivo» (II, 42, 1061).
La misma organización sintáctico-retórica, aprendida en el obispo de
Mondoñedo, sigue articulando la carta que, desde Barataría, dirige
Sancho al hidalgo.
Oigamos otra voz, que cualquier lector puede y podía recordar: el
prólogo del Lazarillo. A llí justifica el pregonero su afán de conquistar
honra ofama. Dice: «¿Quién piensa que el soldado que es primero del
escala tiene más aborrecido el vivir? No, por cierto; mas el deseo de ala­
banza le hace ponerse al peligro». Oigamos ahora a don Quijote:
«¿Quién piensas tú que arrojó a Horacio del puente abajo...? ...
¿Quién abrasó el brazo y la mano a Mudo? ¿Quién impelió a Cur­
do...? ... Todas estas y otras grandes y diferentes hazañas son, fueron
y serán obras de la fama, que los mortales desean» (II, 8, 753-754)·
Don Quijote calca, multiplicándolo, el movimiento retórico que el pró­
logo del Lazarillo había hecho bien conocido.
Pero el blanco más constante de esta cetrería cervantina por los esti­
los coetáneos es el oratorio. No son sólo las disertaciones célebres de la
Edad de Oro, o de las armas y las letras: otras muchísimas veces, don
Quijote perora con la dignidad del profeta o del tribuno, jugando con
motivos clásicos. En trance que cree sublime, ante la noche poblada de
amenazadores ruidos —serán los batanes—, adopta las fórmulas memo­
rables del yo nací para y del yo soy aquel que, resonantes desde el
Mantuano: «Sancho amigo, has de saber que yo nací por querer del
X X X IV
FERNANDO LA ZA RO CARRETER
cielo en esta nuestra edad de hierro para resucitar en ella la de oro, o la
dorada, como suele llamarse» (I, 20, 227; se advertirá el cómico pro­
saísmo). «Yo soy aquel para quien están guardados los peligros, las
grandes hazañas, los valerosos hechos» (I, 20, 227). E l noble chorro re­
tórico está en marcha, y ¿para qué? Para anunciar aquel esperpento a
caballo que restaurará la Edad de Oro, la magna utopía - todo lector
culto la conocía entonces—que había de restablecer aquel misterioso niño
anunciado por Virgilio en su égloga IV . Cuando amanece y se com­
prueba lo infundado de la preocupación de don Quijote y del terror de
Sancho, palpable en sus calzones, éste le repite en son de burla aque­
llos yo nací, yo soy aquel. E l hidalgo le propina un par de lanzonazos; pero, entre tanto, el discurso, engarzado con tan remontados re­
cursos formales, ha saltado hecho trizas, después de contribuir a la
polifonía de la novela.
No es posible aquí ir comprobando cómo las más ilustres voces escri­
tas de la literatura áurea se suman a ese magno coro con dos solistas
.que es el Quijote. D e todas se aprovecha el hidalgo para dar magni­
ficencia, ironía, contundencia dialéctica y rigor a su elocuencia. Pero sus
réplicas se cargan también de sencillez urbana o campestre, de emoción
directa, de vehemencia, de malicia espontánea. Hay muchos don Qui­
jote, como hay muchos Sanchos, según su palabra. Aunque todos ellos
constituyan una sola persona verdadera. E l hidalgo puede dirigirse así
a su escudero: «¿De qué temes, cobarde criatura? ¿De qué lloras, cora­
zón de mantequillas? ¿Quién te persigue, o quién te acosa, ánimo de
ratón casero?» (II, 29, 950). Pero también de este modo: «Hijo San­
cho, no bebas agua; hijo, no la bebas, que te matará» (I, 17, 201). D i­
rige a Dulcinea los más encendidos, castos y retóricos conceptos; pero,
tras contar el picante cuento de la viuda que, desdeñando para la cama
a los sabios teólogos del convento, prefirió a un fraile motilón y rollizo,
apostillará rijoso, casi obsceno: «Así que, Sancho, por lo que yo quie­
ro a Dulcinea del Toboso, tanto vale como la más alta princesa de la
tierra» (I, 25, 3 11) . Los personajes cambian cien veces de tono y de re­
tórica como lo hacemos todos los hablantes. Y esto sucede así, de modo
continuo, por primera vez en el Quijote.
Tampoco cabe ahora entretenerse en explicar cómo funciona en él la
heterofonía, que llega a provocar conflictos como el que ocurre cuando
un cuadrillero, viendo al hidalgo roto y desastrado, hecho un ecce
hom o, le pregunta qué le ocurre, llamándolo «buen hombre», como
podía preguntárselo a un insignificante lugareño. «¿Usase en esta tie-
EST U D IO PR E LIM IN A R
XXXV
na hablar desa suerte a los caballeros andantes, majadero?» (I, íy,
195), le contesta don Quijote, herido idiomáticamente en su dignidad.
Voy a limitarme a tratar deprisa un solo aspecto de la creación de San­
cho mediante sus modos expresivos. ¿Cuál es el rasgo más chocante en
su hablar? Nadie dudará de que su continuado empleo de refranes.
Y ello se ha justificado, como hizo Angel Rosenblat, por dos tipos de
causas: de un lado, porque abundaban en la antigua conversación cas­
tellana; de otro, por la exaltación que de ellos hicieron los humanistas,
como manifestación admirable de lo natural. Pero estos dos hechos, que
parecen tan evidentes, ni de lejos explican la adicción refranera de San­
cho, porque son de naturaleza extraliteraria; y es dentro de la literatu­
ra donde los fenómenos literarios deben obtener su primera explicación.
Tratemos de dársela, aunque sea en esquema. Sancho ha de hablar
conforme al genus humile que corresponde a su naturaleza. Pero es
sumamente difícil reflejar ese estilo en un texto literario, porque su ex­
cesiva presencia podría causar un abatimiento estético del conjunto.
En la literatura española se habían dado al problema cuatro solucio­
nes principales, y, a veces, combinadas: a) la creación de un idioma ar­
tificial, el sayagués, para los pastores bobos del teatro; b) las incorrec­
ciones al hablar, esto es, un lenguaje subestándar; c) el empleo de un
lenguaje estándar, bajo pero no desviante, que sea <grosero», esto es,
humilde, por la simplicidad, estupidez o vivacidad de lo que se dice:
así hablan, en buena parte, los necios o los graciosos de la comedia; y
d) el uso de refranes que ya hacen el Ribaldo del Caballero Zifar, a
principios del siglo X IV ; varios personajes de los dos Arciprestes, y, por
supuesto, las heroínas de Rojas, Delicado y López de Úbeda. Cer­
vantes apela al tercer procedimiento algunas veces. No sólo Sancho dice
necedades: el barbero que reclama por suya la albarda, habla así: «Se­
ñores, así esta albarda es mía como la muerte que debo a Dios, y así
la conozco como si la hubiera parido, y ahí está mi asno en el establo,
que no me dejará mentir» (I, 44, 568).
Pero son los refranes lo propio del escudero. Aunque Cervantes no
renuncia a caracterizar su expresión por faltas de léxico o de prosodia.
Recurso cómico que, por cierto, no suscita Sancho, sino Pedro el cabre­
ro, en el capítulo I, 12, a quien el hidalgo corrige cris por eclipse, estil por estéril, y sarna por Sarra (Sara). Hasta entonces, a Cervantes
no se le habían ocurrido los errores prosódicos como recurso cómico; será
mucho más tarde, nueve capítulos después, cuando Panza empiece a
prevaricar (para decirlo con Amado Alonso). Es una muestra de cómo
XXXVI
FERNANDO LÁZARO CARRETER
Cetvantes no lo tenía todo decidido al ponerse a escribir, y, mucho me­
nos, cómo caracterizar al escudero.
Y
es que éste, como personaje ignorante, era muy difícil de elaborar
Cervantes lo dice por boca de don Quijote, aunque sea a propósito del
teatro; asegura, en efecto, el hidalgo: «Decirgracias y escribir donaires
es de grandes ingenios: la más discreta figura de la comedia es la del
bobo, porque no lo ha de ser el que quiere dar a entender que es sim­
ple» (II, 3, 712). Un modo de darlo a entender era éste, que Lope de
Rueda había explotado hasta la saciedad: hacer hablar disparatada­
mente a sus personajes más burdos. Cervantes ve que aquel modo de
expresarse el cabrero, con las interrupciones doctas del andante, puede
trasladarse a Sancho. Pero, como siempre, amenaza la fatiga del lector
si se abusa del procedimiento, y habrá de administrarlo prudentemen­
te, después de un primer aprovechamiento intenso. Será Sancho quien
advierta a don Quijote que no insista corrigiéndole, como síntoma del
tiento con que se anda el autor: «Una o dos veces ... si mal no me
. acuerdo, he suplicado a vuestra merced que no me emiende los vocablos,
si es que entiende lo que quiero decir en ellos» (II, 7, 741).
Es claro que Cervantes va buscando con ahínco la voz diferente de
Sancho en la polifonía quijotesca. La logrará, al fin, y se sentirá orgu­
lloso de su victoria. Porque, según dice Sansón Carrasco al escudero, al
leer la gente la Primera parte de sus aventuras, hay quien «precia más
oíros hablar a vos que al más pintado de toda ella» (II, 3, 709). Otras
personas, esperando la Segunda parte, exclaman: «Vengan más quijo­
tadas, embista don Quijote y hable Sancho Panza» (II, 4, 718). E l
habla de Sancho: el gran desafío en que ha triunfado Cervantes.
Como he recordado, parte esencial de esa palabra son los refranes.
Los primeros que aparecen en la novela no los pronuncia él, y son bien
comunes. Los dicen el mercader y el narrador mismo. E l tercero es traí­
do a cuento por la sobrina, y tampoco revela excesivo conocimiento del
refranero: «Muchos van por lana y vuelven tresquilados» (I, 7, 98).
Sancho no suelta su primer refrán hasta el capítulo 19 y lo enuncia así,
nótese bien: «Como dicen, váyase el muerto a la sepultura y el vivo a
la hogaza» (I, 19, 225). Ese com o dicen remite a un dicho que San­
cho Ira oído y que cita sin brotarle de caudal propio alguno, es algo aje­
no a él y traído a la ocasión como un recuerdo. Ello sugiere que Cer­
vantes aún no está seguro del empleo de refranes para forjar a Sancho.
E l procedimiento se le va revelando poco a poco y sin firmeza. Algu­
no salta en su charla; pero será en el capítulo 25 donde se produce la
EST U D IO PR E LIM IN A R
X XX VII
primera acumulación de una réplica: «Allá se lo hayan, con su pan se
lo coman ... De mis viñas vengo, no sé nada, no soy amigo de saber vi­
das ajenas, que el que compra y miente, en su bolsa lo siente» (I, 25, 298).
Pero este primer chorreo queda inexplicablemente aislado, y Cervantes
ya no volverá a él hasta la Segunda parte.
E l procedimiento de la acumulación de refranes se había empleado en
otros géneros, pero no, según ha notado Louis Combet, en la novela.
Menudean en la expresión de Celestina y también en las de Lozana
y Justina, pero no los prodigan tanto. Y aun con el precedente del R i ­
baldo y Rampín, eran más propios de gente vieja y, sobre todo, de mu­
jeres, de «honorables ancianos y reverendas mujeres», como se dice en
los anónimos Refranes glosados. A otro propósito, recordó Rodríguez
Marín que a las viejas los atribuye el Marqués de Santillana y que so­
lía llamárseles ensiemplos de la vieja. Me parece que, en efecto, Cer­
vantes se adueña definitivamente del recurso del chaparrón refraneril
como estímulo cómico, cuando lo ha hecho pasar por boca de una mu­
jer, de Teresa Panza, aunque no fuera vieja; pero tampoco lo eran L o ­
zana y Justina.
E l descubrimiento ocurre en el importantísimo coloquio de Sancho
con su mujer, en el capítulo 5 de la Segunda parte. Momento difícil
para el novelista, porque ha de hacer hablar a dos analfabetos. Se im­
pondría que entre ellos fluyera un coloquio toscamente humilis; pero
eso hubiera descompensado la ponderada concertación de la obra, tan
delicadamente equilibrada por el escritor. Imaginemos lo chocante que
resultaría una larga conversación entre dos personajes tan rudos. Para
prevenir una estrategia que conjure ese riesgo, Cervantes utiliza una
admirable argucia. A l frente del capítulo inserta la siguiente adverten­
cia: «Llegando a escribir el traductor desta historia este quinto capítu­
lo, dice que le tiene por apócrifo, porque en él habla Sancho Panza con
otro estilo del que se podía prometer de su corto ingenio y dice cosas tan
sutiles, que no tiene por posible que él las supiese, pero que no quiso
dejar de traducirlo, por cumplir con lo que a su oficio debía» (II, 5, 723).
De ese modo, haciendo que el escudero alce, aunque sea apócrifamen­
te, su calidad expresiva, evitará el insoportable arrusticamiento de los
dos aldeanos, y restablecerá el desnivel elocutivo que, mutatis mutan­
dis, mantienen don Quijote y Sancho.
E n efecto, a ¡as primeras de cambio, Teresa Panza amonesta a su
marido: «Mirad, Sancho ... después que os hicistes miembro de caba­
llero andante, habláis de tan rodeada manera, que no hay quien os en­
X XXVIII
FERNANDO LÁ ZA RO CARRETER
tienda» (II, 5, 724). E l traductor señala las réplicas de Panza que, por
su elevación, le parecen sospechosas de falsedad: «Por este modo de ha­
blar, y por lo que más abajo dice Sancho, dijo el tradutor desta histo­
ria que tenía por apócrifo este capítulo» (II, 5, 727); poco más adelan­
te, avisa: «Todas estas razones que aquí va diciendo Sancho son las
segundas por quien dice el tradutor que tiene por apócrifo este capítulo,
que exceden a la capacidad de Sancho» (II, 5, 730). Y es que, en efec­
to, en ausencia de don Quijote, el escudero asume su palabra. Siendo
él tan gran prevaricador corrige a Teresa por hablar mal, de igual modo
que él solía ser corregido. Y cuando ella le advierte: «Yo no os entien­
do, marido ... haced lo que quisiéredes y no me quebréis más la cabe­
za con vuestras arengas y retóricas. Y si estáis revuelto en hacer lo que
decís...» (II, 5, 731), Sancho salta: «Resuelto has de decir, mujer ...
y no revuelto» (II, 5, 731). A lo que la rústica replica como antes hi­
ciera su marido al hidalgo: «Yo hablo como Dios es servido y no me
meto en más dibujos» (II, 5, 731).
\ Pues bien, en esta conversación Teresa suelta refranes en cascada:
«Eso no, marido mío ... viva ¡a gallina, aunque sea con su pepita: vi­
vid vos, y llévese el diablo cuantos gobiernos hay en el mundo ... La
mejor salsa del mundo es la hambre ... advertid al refrán que dice: “ A l
hijo de tu vecino, limpíale las narices y métele en tu casa” ... mi hija
ni yo por el siglo de mi madre que no nos hemos de mudar un paso de
nuestra aldea: la mujer honrada, la pierna quebrada, y en casa; y la
doncella honesta, el hacer algo es su fiesta» (II, 5, 723-729). La he­
morragia refranesca de la Panza es incoercible. Su marido ha de ata­
jarla: «¡Válate Dios, la mujer, y qué de cosas has ensartado unas en
otras, sin tener pies ni cabeza! ¿Qué tiene que ver ... los refranes ...
con lo que yo digo?» (II, 5, 729).
Dos capítulos más adelante, don Quijote pregunta al escudero qué
piensa su mujer de la nueva salida; y él contesta: «Teresa dice ... que ate
bien mi dedo con vuestra merced, y que hablen cartas y callen barbas,
porque quien destaja no baraja, pues más vale un toma que dos te daré.
Y yo digo que el consejo de la mujer es poco, y el que no le toma es
loco» (II, 7, 741). Esta réplica representa el trasvase definitivo de la ca­
tarata refraneril de Teresa a Sancho; ella ha dicho una sarta de refra­
nes; él dice —«y yo digo»- otros refranes: el anudamiento se ha produ­
cido, y el escudero es ya dueño del artificio. Don Quijote se da cuenta
e ironiza: «Decid, Sancho amigo, pasad adelante, que habláis hoy de
perlas» (II, 7, 742). E n ese hoy de la novela, en ese instante, que está
ESTU D IO PR ELIM IN A R
X XX IX
bien pasada ya ¡a mitad de ella, se ha afianzado, tras tanteos insegu­
ros, el Sancho ensartador de refranes. Y a Cervantes te urge hacer no­
tar ai lector su decisión; menos de dos páginas después, don Quijote
afirma: « Y advertid, hijo, que vale más buena esperanza que ruin po­
sesión, y buena queja que mala paga. Hablo de esta manera, Sancho,
por daros a entender que también como vos sé yo arrojar refranes como
llovidos» (II, 7, 741-742).
Esta propiedad del lenguaje de Sancho se hará ya consustancial con
su persona: no tengo «otro caudal alguno, sino refranes y más refra­
nes», declara más adelante (II, 43, 1067); y aún después: «No sé de­
cir razón sin refrán, ni refrán que no me parezca razón» (II, 71, 1316).
Y así ha pasado Panza a la historia de nuestra lengua artística: como
portador de «un costal de refranes en el cuerpo», según dictamen del
cura (II, 50, 1138), aunque ello no figurara en el proyecto inicial de su
creador. A l construir así al escudero, al imponerle un uso del refrán tan
distinto del que hacen otros personajes, la voz de Sancho ingresa con
un timbre diferenciado y potente en el gran conjunto polifónico del
Quijote.
Como ha escrito Martín de Riquer, la idea primitiva de Cervantes
era que Sancho fuese un tonto. En efecto: fu e creado como el comple­
mento que necesitaba don Quijote, proyectado inicialmente como un
loco. E l escudero nace en la mente del autor cuando éste decide rebasar
los límites que a su novela sugería la imitación del insustancial Entre­
més. E l mánchego hace su primera salida sin escudero; ni siquiera se
le ocurre llevar con él al «mozo de campo y plaza» que le servía como
criado (I, 1, 38), sencillamente porque Bartolo no contaba con seme­
jante compañía. Y ni siquiera se le ocurre a él procurársela: fue el pri­
mer ventero quien le aseguró «que eran pocas y raras veces» en que los
caballeros andantes «no tenían escuderos» (I, 3, 61). Es al principio del
capítulo siguiente, el cuarto, cuando don Quijote decide volver a casa y
«recebir a un labrador vecino suyo que era pobre y con hijos, pero muy
a propósito para el oficio escuderil de la caballería» (I, 4, 67).
Cervantes lo inventa a impulsos de la misma experiencia con que
Lope de Vega crea la figura del donaire en la comedia. E l héroe litera­
rio necesita del «otro al lado», que sea su confidente y cooperador. Sin
alguien junto a él con quien hablar, las andanzas de un orate por la
Mancha hubieran dado poco juego. Tanto en la comedia áurea como
en el relato, hacen falta dos conciencias compenetradas, pero en oposi­
ción dialéctica, de modo que una rebote en la otra, y permita revelar el
XL
EST U D IO PR E L IM IN A R
pensamiento del personaje principal, dado que, normalmente, las mi­
ras del amo han de ser altas, sus hazañas valerosas y sus sentimientos
elevados y sutiles. Pero ocurrió que a Cervantes le fu e creciendo la f i ­
gura del tonto, hasta hacerse tan importante como la de su señor. Y que
éste fue soltando lastre de locura hasta hacerse un tipo humano de má­
xima trascendencia. Basta observar de qué hablan ambos en sus pri­
meras jornadas y el crecimiento progresivo del interés de sus temas.
La famosa interpretación de don Quijote como héroe del ideal, opues­
to al rudo materialismo de Sancho, no parece cierta si se entiende corno
un proyecto, digamos, filosófico de Cervantes, previo al momento de es­
cribir su libro. Muchas cosas «sublimes» de la literatura tienen su origen
y fundamento en causas hasta cierto punto mecánicas, que el genio del
autor dota de sublimidad. Sancho es tosco, gordo, sensato y utilitario
para que, a su lado, el caballero deje ver su cuerpo esperpéntico y su
alma fantasiosa y acrisolada, una vez que Cervantes ha decidido dar
formato grande a su narración. Y es inicialmente tonto, porque sus po­
cas luces no deben impedir el desvarío del héroe. Sólo a medida que éste
vaya mostrando admirable cordura fuera de lo caballeresco, podrá ir en­
riqueciendo Sancho su personalidad hasta adquirir volumen comparable
a la del caballero. A esto debe atribuirse lafamosa quijotización de San­
cho, tan notada por la crítica. Cervantes advierte varias veces, sutil­
mente, del crecimiento moral solidario de amo y criado, y, en algún mo­
mento, de manera tan clara como en el capítulo 22 de la Segunda parte,
en que Sancho, tras haber escuchado las reflexiones que hace su señor a
Basilio sobre el matrimonio, comenta cómo ambos, él y don Quijote, es­
tán dotados de singular discernimiento. Dice: «Este mi amo, cuando yo
hablo cosas de meollo y de sustancia suele decir que podría yo tomar un
púlpito en las manos y irme por ese mundo adelante predicando linde­
zas; y yo digo dél que cuando comienza a enhilar sentencias y a dar
consejos, no sólo puede tomar un púlpito en las manos, sino dos en cada
dedo, y andarse por esas plazas a ¿qué quieres, boca? ¡Válate el diablo
por caballero andante, que tantas cosas sabes ! ... no hay cosa donde no
pique y deje de meter su cucharada» (II, 22, 884).
Y
así, picando en todo, hablando cosas de meollo y de sustancia, acu­
ñados como cara y cruz de una medalla de oro, don Quijote y Sancho
siguen haciendo este milagro secular de reunimos a mujeres y a hombres
a escuchar o a leer o a interpretar su propia y libre palabra nuestra.
Femando Lázaro Carreter
PRÓ LO GO
I.
V ID A Y L IT E R A T U R A :
C E R V A N T E S E N E L « Q U IJO T E »
Jean Canavaggio
En busca de un perfil perdido
Dos caminos suelen ofrecerse a quien intenta acercarse al vivir
cervantino. O bien dedicarse a la consulta de documentos y ar­
chivos, cuyo laconismo deja inevitablemente frustrado al que
no se satisface con los pocos datos sacados de actas notariales y
apuntes de cuentas, ajenos a la intimidad del escritor; o bien
buscar esta intimidad en su obra, a riesgo de ceder a un espe­
jism o: el testimonio de unas «fábulas mentirosas» que no han
tenido nunca como fin el de llenar los vacíos de nuestra infor­
mación. *
Así y todo, tantas experiencias biográficas, intelectuales y li­
terarias del autor vienen a confluir, de un modo u otro, en las
ficciones cervantinas, que el lector del Quijote no puede resis­
tir al deseo de aventurarse por una senda que le lleva a descu­
brir una nueva forma de entroncar vida y literatura. Aventura,
por cierto, azarosa, y que el propio Cervantes nos induce a em ­
prender con cautela, al disimularse, como lo hace, detrás de
unas máscaras, delegando sus poderes en narradores imaginarios
al estilo de C ide Hamete Benengeli. N o obstante, a quien sabe
leer entre líneas el Quijote se le aparece impregnado del sentir
*
Puede consultarse el Resumen cronológico de la vida de Cervantes, según
lo reconstruimos al final de este Prólogo, junto a la mención de las fuentes
documentales en que nos basamos. Citamos el Quijote por el texto de la pre­
sente edición; las Novelas ejemplares, por la de Jorge García López, Crítica,
Barcelona, 2001; Los tratos de Argel, La Numancia y las Poesías sueltas, por la
de R . Schevill y A . Bonilla, en Comedias y .entremeses, V y V I, Gráficas R e u ­
nidas, Madrid, 1920 y 19 22; las demás citas cervantinas remiten al folio de
las primeras ediciones, fácilmente accesibles en los facsímiles publicados
(no sin retoques) por la R e a l Academ ia Española. La ortografía de todos
los textos se ha modernizado según las normas seguidas en el resto de la
edición.
XLV
XLVI
PRÓLOGO
del que lo compuso. U n ejemplo sin más tardar: como se sabe,
la historia del ingenioso hidalgo no se amolda al esquema
pseudoautobiográfico elegido por M ateo Alem án al concebir
su Guzmán de Alfarache, el relato retrospectivo de su propia
vida que nos hace el protagonista. Las reservas de Cervantes
ante la forma que cobra la confesión del picaro se perfilan en
el capítulo 22 de la Primera parte de su novela. Ahí nos sale al
encuentro, en una cadena de forzados, el galeote Ginés de Pa­
samonte, autor de un libro de su vida, y tan bueno, que «mal
año para Lazarillo de Tonnes y para todos cuantos de aquel gé­
nero se han escrito o escribieren» (I, 22, 265-266). G om o ha
mostrado Claudio Guillén, clara denuncia nos ofrece aquí G i­
nés del doble artificio que caracteriza la narración picaresca:
p o r un lado, prometiendo un libro que «trata verdades, y no
mentiras», o sea, sucesos efectivamente ocurridos y no cosas in­
ventadas que se pretenden sucedidas; y, por otro lado, con si­
derando este libro com o inconcluso, sin que pueda publicar­
se mientras no se acabe el curso de su propia existencia. Así
pues, este encuentro con el galeote abre com o un resquicio
por donde vienen a filtrarse las preferencias estéticas de C er­
vantes, com o si éste, por medio de su portavoz, nos diera a co­
nocer algo de la circunstancia en que se fraguó su quehacer de
escritor.
Ahora bien, no siempre permanece Cervantes entre bastido­
res. Hay, a lo largo de su obra, textos clave en que parece asu­
m ir su identidad, hablando en primera persona. En prim er lu­
gar, los dos prólogos al Quijote, separados por diez años cabales,
igual que las dos partes del mismo; luego, compuestos en el fe­
cundo crepúsculo de su vida, otros textos liminares, como los
respectivos prólogos a las Novelas ejemplares y a las Comedias y
entremeses, el prólogo al Persiles o la conm ovedora dedicatoria al
C onde de Lemos, fragmentos dispersos de un retrato de artista
cuya verdad no exige verificación. Varias razones explican el
interés que, para nosotros, ofrecen estos fragmentos; pero más
que nada, quizá, el ser el retratado un hombre cuya existencia
histórica apenas se conoce. D ebido al silencio de los archivos,
ignoramos, en efecto, casi todo de los años de infancia y ado­
lescencia de nuestro escritor. Podem os afirmar a ciencia cierta
que nació en 154 7 en Alcalá de Henares, de padre cirujano;
V ID A Y LIT ER A T U R A
XLVII
pero no se sabe en qué fecha exacta, y la supuesta ascendencia
conversa que se le atribuye sigue siendo tema controvertido.
Tal vez empezara a estudiar en Sevilla, donde habría visto re­
presentar a Lope de R u ed a; pero su traslado a Madrid no que­
da documentado. Hace falta esperar al año de 1569 para ver
comprobada su presencia en la Villa y Corte, la cual se infiere
de su contribución a las Exequias publicadas por su maestro L ó ­
pez de Hoyos con m otivo de la muerte de Isabel de Valois, ter­
cera esposa de Felipe II.
M ejor conocim iento tenemos de los años heroicos que m e­
dian entre 15 7 1 y L580: el contacto de Cervantes con la «vida
libre de Italia», primero en R o m a, en el séquito del cardenal
Acquaviva, luego com o soldado, a las órdenes de D iego de U r ­
bina; las heridas recibidas en Lepanto, el 7 de octubre de 1 5 7 1 ,
donde, a bordo de La Marquesa, pelea «muy valientemente» y
pierde de un arcabuzazo el uso de la mano izquierda; al año si­
guiente, las acciones militares llevadas con desigual suerte por
don Juan de Austria en C orfú, Navarino, Túnez y La Goleta;
en 15 7 5, la captura por corsarios turcos, al volver a España en
la galera Sol; por fin, los cinco años del cautiverio argelino, do­
lorosa experiencia marcada por cuatro intentos frustrados de
evasión y concluida con un inesperado rescate, conseguido por
obra de los padres trinitarios.
La falta casi completa de escritos íntimos no nos permite con­
cretar el cómo y el porqué de estas peripecias: así la partida a
Italia, quizás a consecuencia de un misterioso duelo; la vida ancilar llevada durante unos meses en R o m a; el alistamiento en
los tercios; la vuelta proyectada a la madre patria; y en Argel, a
pesar de reiteradas tentativas de fuga, la extraña clemencia del
rey Hazán.
Otro tanto puede decirse de los acontecimientos que siguie­
ron al regreso de M iguel a Madrid, una vez rescatado. Tras una
breve misión desempeñada en Orán, se inicia entonces su ca­
rrera de escritor: hace representar varias comedias, «sin silbos,
gritos ni barahúnda», en tanto que, en 158 5, publica La Galatea, novela pastoril al estilo de La Diana de M ontem ayor. Pero
no se explica la pérdida casi completa de sus primeras piezas
(exceptuando E l trato de Argel y La Numancia, conservadas en
copias del siglo x v m ) ; tampoco se ha aclarado el misterio que
XL VIII
PRÓLOGO
envuelve el nacimiento de su hija natural, Isabel, habida de Ana
Franca de R ojas, esposa de un tabernero; apenas se conocen las
circunstancias de su matrimonio, en 1584, en Esquivias, con
Catalina de Salazar, dieciocho años m enor que él; menos aún
las razones exactas de su partida del hogar, en 1587, hacia Se­
villa («tuve otras cosas en que ocuparme», nos dice en el pró­
logo a Ocho comedias y ocho entremeses nuevos, £ 3); por no decli­
nada de los motivos de un silencio de casi veinte años, duran­
te los cuales Cervantes recorre Andalucía, primero como pro­
veedor de la Armada Invencible y luego desempeñando varias
comisiones para la hacienda pública.
Tan sólo adivinamos una vida de dificultades y molestias: en
1590 solicita del rey un oficio en las Indias que le es negado;
en 1597, tras haber sido excomulgado, es encarcelado en Sevilla
por retrasos y quiebras de sus aseguradores. Hay que esperar a 1604
para verle reaparecer en el campo de las letras, establecido con su
familia en Valladolid, adonde Felipe III acaba de trasladar la sede
de la corte. Allí, en este mismo año, concluye la Primera parte
del Quijote, publicada en diciembre ya con fecha de 1605.
Cervantes en primera persona
Se comprenderá, entonces, lo que viene a representar, en nues­
tra búsqueda de la vivencia cervantina, el prólogo con que se
abre esta Primera parte; pero no debe engañarnos aquel yo que,
de entrada, dirige la palabra al «desocupado lector». E l C ervan­
tes de carne y hueso, muerto hace casi cinco siglos, nos es in­
asequible por definición; es una sombra que no podemos al­
canzar. Q uien se descubre al hilo de nuestra lectura es más bien
el doble de aquel sujeto desaparecido, un ente nacido de un
acto de escritura, establecido com o tal por la mirada del lector,
y que se deja entrever en las muestras dispersas de un autobiografismo episódico. Pero es así como nos abre una perspectiva
que contribuye a crear la modernidad del Quijote: el encuentro
de nuestra voluntad receptiva de lector con una voluntad proyectiva a la que debemos la inserción de este yo cervantino
dentro del espacio textual; un espacio al que configura y orde­
na, comunicándole su presencia y su sabor de vida.
V ID A Y LIT ER A T U R A
X L IX
C om o era de esperar, este primer prólogo ha llamado la aten­
ción de los cervantistas, preocupados por desentrañar lo que se
nos sugiere, al parecer, de la génesis del Quijote mediante una
fugaz e incierta alusión a la cárcel en que hubo de ser engen­
drado el libro, Pero, a decir verdad, no es su contenido infor­
mativo, sino su misma estructura la que fundamenta el interés
y la radical novedad de este texto. E n efecto, aunque parece, a
primera vista, conformarlo con el género prologal, el yo cer­
vantino va alterando poco a poco sus protocolos, hasta llegar fi­
nalmente a subvertirlos: primero, interpelando, tras veinte años
de silencio, a aquel «desocupado lector» que se habrá olvidado de
sus obras de mocedad; luego, manifestando un aparente des­
precio por el libro prologado, nuevo «hijo de su entendimien­
to», por cierto, pero «seco, avellanado, antojadizo», y del que
declara renegar como «padrastro», antes de cambiar repentina­
mente de tono y asumir su paternidad.
Así pues, en el momento en que nos esperábamos la tradicio­
nal captatio benevolentiae, Cervantes, por no querer «ir con la
corriente del uso», deja de pedir la indulgencia del público. A l
contrario, con el pretexto de ponderar el trabajo que le dio com ­
poner esta «prefación» que vamos leyendo, decide salir en perso­
na a las tablas, bosquejando su perfil de escritor: «suspenso, con
el papel delante, la pluma en la oreja, el codo en el bufete y la
mano en la mejilla, pensando lo que diría...» (I, Prólogo, n ) .
E n esta circunstancia introduce a un primer alter ego: un su­
puesto amigo con el cual el prologuista empieza a debatir de lo
que habrá de ser el prólogo que se empeña en escribir. Así va
surgiendo, ante nuestra mirada cómplice, un «prólogo imposi­
ble» (para decirlo con frase de M aurice M olho, «la Préface est
une anti-préface tenant lieu de préface impossible») o, si se pre­
fiere, un prólogo del prólogo, que brota de las reticencias de
Cervantes ante los adornos del exordio canónico: en especial,
unas poesías liminares que se niega a pedir a otros ingenios, fin­
giendo encargarlas a figuras poéticas o novelescas, así com o,
también, las inevitables acotaciones eruditas, procedentes de un
saber de segunda mano, de las que se burla con evidente satis­
facción.
.
A lgo se adivina, en esta insólita determinación, de las tensio­
nes propias del mundillo literario coetáneo: parece ser la pri­
L
PRÓLOGO
mera indirecta de Cervantes contra un Lope de V ega que ha­
cía un uso poco discreto de estos adornos, y del que se conser­
va una carta, nada amena, en la que se refiere a las dificultades
que conoció su rival en la búsqueda de plumas dispuestas a en­
comiar su libro. Pero aquí el partido elegido trasciende lo m e­
ramente anecdótico; está en perfecta concordancia con lo no­
vedoso del propósito que anima al escritor: componer «una
invectiva contra los libros de caballerías, de quien nunca se
( acordó Aristóteles, ni dijo nada San Basilio, ni alcanzó C ice­
rón», con miras a «deshacer la autoridad y cabida que en el
mundo y en el vulgo tienen» sus «fabulosos disparates» (I, Pró­
logo, L 8 -19 ) . Por si no viéramos hasta dónde nos puede llevar
semejante «invectiva» al revestir la forma de una parodia de es­
tos libros, Cervantes, con la resolución y firmeza de un casi
principiante de cincuenta y siete años, pone los puntos sobre
las íes, aclarando las finalidades que persigue y el pacto que
pretende establecer con sus lectores. A l procurar que, leyen­
do su historia, «el melancólico se m ueva a risa, el risueño la
acreciente, el simple no se enfade, el discreto se admire de la in­
vención, el grave no la desprecie, ni el prudente deje de ala­
barla», expresa una clara conciencia de su capacidad de inno­
vación, en tanto que, de entrada, somete su empresa al ju icio
del público.
A raíz del salto que damos del prólogo a la historia propia­
mente dicha del hidalgo manchego —una vez salvados los ver­
sos preliminares—, podría pensarse que el yo cervantino va a
esfumarse. Lo que ocurre, en realidad, es que cambian y se di­
versifican, a la vez, las formas de su intromisión. Cabe obser­
var, ante todo, que este mismo yo vuelve a aparecer com o tal
dos veces en el texto. Asoma acto seguido en la primera frase
del capítulo primero, cuando el narrador se niega a concretar
aquel lugar de la M ancha donde Alonso Q uijano pasó su vida
antes de salir en busca de aventuras: un lugar, nos dice, «de
cuyo nombre no quiero acordarme».
E l que expresa esta negativa es un ser fantasmal (y, de creer a
R odríguez M arín, engastado, además, en un verso de roman­
ce); pero, para nosotros, la pluma que ostenta tiene que ser la
del prologuista, en un momento en que no se han introducido,
todavía, los varios autores «que deste caso escriben» (I, 1, 39).
V ID A Y LITER A TU RA
LI
Más adelante, en el capítulo octavo, se prepara su reaparición:
tras suspenderse el combate de don Q uijote con el colérico es­
cudero vizcaíno, se introduce improvisadamente la idea de que
el relato es obra de dos autores. N unca se nos dirá quién es el
segundo autor, nacido de la voluntad de parodiar un recurso
de los libros de caballerías. Pero es precisamente entonces
cuando el yo del capítulo primero vuelve a tomar la palabra,
para contamos luego, en el capítulo noveno, cóm o halló en
Toledo la continuación de las aventuras del héroe, cómo se en­
teró de que esta narración, más o menos fidedigna, fue com ­
puesta por Cide Hamete Benengeli, y cómo la hizo traducir al
castellano por un morisco aljamiado. Por m uy borroso que nos
resulte, sus andanzas por el Alcaná, su natural inclinación a leer,
«aunque sean los papeles rotos de las calles» (I, 9, 118 ), hacen
que no se le pueda reducir a una mera persona gramatical: lo
relacionamos, de manera espontánea, con la figura del manco
de Lepanto.
Sólo que su intervención se complementa con la primera
m ención de Cide Hamete, la más fascinante de las máscaras in­
ventadas por Cervantes para disimularse y excitar así nuestra
curiosidad. Si se admite la etimología propuesta por Bencheneb
y M arcilly, el mismo nombre de C ide Hamete Benengeli con­
lleva, en sus tres segmentos, una notable carga autobiográfica:
este ‘señor’ (Cide) ‘que más alaba al Señor’ (Hamete) no sería, a
despecho de Sancho, m oro aberenjenado, sino, paradójica­
mente, Ben-engeli; es decir ‘hijo del Evangelio’ y no del Corán,
y, como tal, cristiano. D e ahí el que Cide Hamete venga a re­
clamar para sí la responsabilidad exclusiva de la narración. Pero
las circunstancias de su introducción, su marginación con res­
pecto al relato, así como el ju ego de encajes al que da lugar,
bastan para evidenciar, desde el principio, todo lo que separa a
nuestro moro de un narrador omnisciente.
A sí se entiende m ejor cóm o, en esta proliferación de voces
narrativas, se expande y diluye a la vez el autobiografismo del
Quijote: un autobiografismo disperso, fragmentado, que se des­
cubre al lector en el fluir de la narración, detrás de unas alusio­
nes no siempre fáciles de entender y apreciar como se deben.
R equieren, eso sí, la mirada atenta de un conocedor de la épo­
ca, pero siempre con el riesgo de referirlas preferentemente a
lu
PRÓLOGO
unas experiencias singulares, concediéndoles otro valor del que
tienen en realidad. Pongamos por caso la boca sin muelas de
don Q uijote, consecuencia de la aventura de los carneros: ¿será
lícito ver en ella una réplica de otra boca monda y desnuda, la
del propio Cervantes, tal como se describe en el prólogo a las
Novelas ejemplares?* Asimilación, por cierto, peligrosa.
E n una conexión menos azarosa, otras ocurrencias, esparci­
das a lo largo de las dos partes de la novela, remiten, de forma
más bien velada, a la gravitación del escritor, a su vida privada,
a su form ación intelectual o a los varios ambientes que llegó a
conocer. Esta contaminación del relato por el vivir cervantino
puede observarse a veces en dichos que son reveladores, con
toda probabilidad, de una actitud personal no siempre de
abierta disconformidad, pero sí, al menos, de marcada reserva
frente al tono medio de la España filipina. Suele citarse, entre
numerosos ejemplos, una conocida frase de Sancho, a veces
aducida en el debate sobre la supuesta «raza» de Cervantes:
«Dos linajes solos hay en el m undo, com o decía una agüela
mía, que son el tener y el no tener» (II, 20, 872). Tam bién cabe
mencionar, más allá de su posible relación con tal o cual fuen­
te, oral o escrita, varias sentencias de don Q uijote sobre la
virtud, que «vale por sí sola lo que la sangre no vale» (II,
42, 1060), o sobre si el juez ha de ser riguroso o compasivo (II, 42,
10 6 1). Pero en esta reconstrucción problemática de una visión
cervantina del mundo -p o r no decir de un «pensamiento»—hay
que andar, por cierto, con pies de plom o. La defensa que hace
don Q uijote de la justicia en sí, a la hora de poner a los galeo­
tes en libertad, puede leerse a la luz de los abusos cometidos en
esta materia por los poderes públicos, indiferentes a la discor­
dancia entre delitos y penas. Pero el campeón de esta justicia
ideal sigue siendo un inadaptado: lo atestigua el que pida a los
forzados, en señal de agradecimiento, que vayan a presentarse
ante Dulcinea cargados de sus cadenas. Mientras el ingenioso
hidalgo queda atrapado en este absurdo, Cervantes se nos des­
*
Compárese «la boca pequeña, los dientes ni menudos ni crecidos, por­
que no tiene sino seis...» (Novelas ejemplares, Prólogo, p. 16) con «Pues en
esta parte de abajo -d ijo Sancho- no tiene vuestra merced más de dos m ue­
las y media; y en la de arriba, ni media, ni ninguna...» (Quijote, I, 18, 216).
V ID A Y LITER A TU RA
LUI
liza. Tam poco debe engañarnos el elogio de la libertad que se
pone en boca del caballero: para entenderla en su cabal senti­
do, conviene relacionarla con su contrario —el cautiverio- con
el cual forma díptico aquí (II, 58). D icho de otro modo, no
hay que tomar estas oraciones al pie de la letra, ni separarlas de
sus respectivas contextualizaciones, sino tener en cuenta la p o ­
lifonía que las va diseminando entre don Q uijote, Sancho, el
cura Pero Pérez, Sansón Carrasco o C ide Hamete: uno de los
muchos recursos aprovechados por Cervantes en la construc­
ción de un relato que iba a abrir un nuevo camino en la his­
toria de la prosa novelesca.
La voz del cautivo
Llega un momento, sin embargo, en que este entronque entre
vida y literatura se vuelve muchísimo más llamativo; más exac­
tamente en uno de los cuentos interpolados: la historia de R u y
Pérez de Viedma, la cual, com o es sabido, ocupa en su casi to­
talidad los capítulos 39 a 4 1 de la Primera parte. Nutrido de la
rememoración cervantina del cautiverio, este relato evidencia
un autobiografismo ya no disperso, sino compacto; pero no por
eso deja de mantener una relación ambigua con las experien­
cias del autor. Los sucesos que nos refiere el capitán hasta su
captura ofrecen, eso sí, un notable parecido con las aventuras
del propio Cervantes; pero no menos significativos son los
constantes desajustes, reveladores de una minuciosa reelabora­
ción del material aprovechado.
Las mocedades de R u y Pérez de Viedm a son tan azarosas
como las del escritor; pero quien nos las cuenta no es hijo de
cirujano alcalaíno, sino prim ogénito de un hidalgo leonés. Su
partida a Italia corre parejas con la de M iguel, salvo que no es
huida y le lleva, en una serie de rodeos, a alistarse en los tercios
de Flandes. Luego, tras embarcarse en las galeras de la Santa
Liga, a las órdenes del mismo D iego de Urbina, el narrador lle­
ga a combatir en Lepanto, con tanta valentía como el famoso
manco; pero no lo hace com o soldado raso, sino en calidad de
capitán de infantería; y, en vez de quedar herido, es capturado
por los turcos, víctima de su temeridad.
LIV
PRÓLOGO
Así es como el cautivo llega a presenciar, al año siguiente, la
acción intentada por don Ju an de Austria contra Navarino;
pero, esta vez, la contempla desde el lado enemigo. D e esta
manera, está en condiciones de puntualizar «la ocasión que allí
se perdió de no coger en el puerto toda el armada turquesca»
(I, 39, 498); y, desde el mismo enfoque, puede enjuiciarse la
caída de la Goleta, episodio funesto sucedido en agosto de
1574 , a consecuencia de la recuperación de Túnez por los tur­
cos. N o sólo deplora las fuertes pérdidas sufridas, sino que nos
da sin rodeos su opinión. Algunos, nos dice, han pretendido
que se podía haber conservado la fortaleza, aunque no hubiera
sido socorrida:
Pero a muchos les pareció, y así me pareció a mí, que fue particular
gracia y merced que el cielo hizo a España en permitir que se asola­
se aquella oficina y capa de maldades, y aquella gomia o esponja y
polilla de la infinidad de dineros que allí sin provecho se gastaban, sin
servir de otra cosa que de conservar la memoria de haberla ganado la
felicísima del invictísimo Carlos Quinto, como si fuera menester para
hacerla eterna, como lo es y será, que aquellas piedras la sustentaran
(I, 3 9 . 501).
Aquí, sin lugar a dudas, habla Cervantes por boca del capitán:
a la hora del balance, y con la altura de miras que se impone,
aprueba el abandono de una plaza sin verdadero interés estra­
tégico y la liquidación, por dolorosa que sea, de una conquista
utópica e inútil como fue la del reino de Túnez. D e hecho, así
es como razonó Felipe II, al cual, dicho de paso, R u y Pérez de
Viedm a nunca llega a acusar.
U na vez en Argel en tanto que cautivo de rescate, R u y Pé­
rez de Viedm a ve que su destino coincide de nuevo con el de
su creador. Igual que él, aunque en distintas circunstancias,
queda en poder del rey Hazán; y la visión que nos ofrece de los
baños se nos aparece henchida de los recuerdos del escritor:
[Yo estaba] encerrado en una prisión o casa que los turcos llaman
baño, donde encierran los cautivos cristianos, así los que son del rey
como de algunos particulares ... Yo, pues, era uno de los de rescate,
que, como se supo que era capitán, puesto que dije mi poca posibi­
V ID A Y LITER A TU RA
LV
lidad y falta de hacienda, no aprovechó nada para que no me pusie­
sen en el número de los caballeros y gente de rescate. Pusiéronme
una cadena, más por señal de rescate que por guardarme con ella, y
así pasaba la vida en aquel baño, con otros muchos caballeros y gen­
te principal, señalados y tenidos por de rescate. Y aunque la hambre
y desnudez pudiera fatigarnos a veces, y aun casi siempre, ninguna
cosa nos fatigaba tanto como oír y ver a cada paso las jamás vistas ni
oídas crueldades que mi amo usaba con los cristianos (I, 40, 506-507).
Cervantes, como queda dicho, no era capitán; pero llevaba car­
tas de recomendación de don Juan de Austria y del duque de
Sessa, las cuales hicieron que los turcos lo considerasen como
«persona principal»; de ahí los quinientos escudos de oro que,
a pesar de su «falta de hacienda», su amo reclamó como precio
de su rescate. Ahora bien, com o para desmentir esta identifica­
ción, el·narrador, en una manera de desdoblamiento, concluye
esta evocación de las crueldades del rey incorporando la figura
emblemática de un compañero:
Sólo libró bien con él un soldado español llamado tal de Saavedra, el
cual, con haber hecho cosas que quedarán en la memoria de aquellas
gentes por muchos años, y todas por alcanzar libertad, jamás le dio
palo, ni se lo mandó dar, ni le dijo mala palabra; y por la menor cosa
de muchas que hizo temíamos todos que había de ser empalado, y así
lo temió él más de una vez; y si no fuera porque el tiempo no da lu­
gar, yo dijera ahora algo de lo que este soldado hizo, que fuera par­
te para entreteneros y admiraros harto mejor que con el cuento de
mi historia (I, 40, 507-508).
E n este deslinde entre historia y poesía, surge, pues, aquel sol­
dado llamado Saavedra. Este nombre, como se sabe, es el se­
gundo apellido que Cervantes, al iniciar sus comisiones anda­
luzas, añade a su patronímico: lo usa en el memorial de 1590,
dirigido al Consejo de Indias, pero no lo llevó ninguno de sus
antepasados directos; lo tomó, probablemente, de uno de sus pa­
rientes lejanos, Gonzalo de Cervantes Saavedra, el cual había
sido obligado a huir de Córdoba, en 1568, tras un asunto de
sangre, y se embarcó en las galeras de d o n ju án , llegando tal vez
a combatir en Lepanto. Este segundo nombre, que se da a tres
LVI
PRÓLOGO
de los muchos personajes que pueblan las ficciones cervantinas,
ha sido interpretado como una conducta de compensación: a
falta de poder deshacerse, por razones desconocidas, del patro­
ním ico paterno, M iguel lo habría doblado en el plano social y
simbólico. Sea lo que fuere, con el triunfo del Quijote la poste­
ridad ha consagrado, definitivamente, el doble apellido de C er­
vantes Saavedra, en un desquite de todos los fracasos experi­
mentados por el que lo foijó.
Lo que sí viene a compensar la odisea del capitán es la frus­
tración nacida de las cuatro evasiones fallidas del escritor. En
enero de 1576, Cervantes trata en vano de huir por tierra al
presidio español de Orán. En septiembre del año siguiente es­
pera un barco mallorquín, que no acude a la cita prevista. Seis
meses después, en marzo de 1578 , manda unas cartas al gober­
nador de Orán por medio de un m oro cómplice al que sor­
prenden a la entrada de dicha ciudad y empalan por orden del
rey. Por fin, en octubre de 1579 , proyecta armar una fragata de
doce bancos y ganar España con sesenta pasajeros, pero es de­
nunciado por un renegado florentino, manipulado por otro
cautivo, el doctor Juan Blanco de Paz. El-mismo anhelo de li­
bertad anima, en el Quijote, a R u y Pérez de Viedma:
...pensaba en Argel buscar otros medios de alcanzar lo que tanto de­
seaba, porque jamás me desamparó la esperanza de tener libertad, y
cuando en lo que fabricaba, pensaba y ponía por obra no correspondía
el suceso a la intención, luego sin abandonarme fingía y buscaba otra
esperanza que me sustentase, aunque fuese débil y flaca (I, 40, 506).
Pero, al contrario que Cervantes, su primera tentativa va a ser
un éxito: quien le permite salir del baño, facilitándole los m e­
dios de su rescate y compartiendo su destino, es la hermosa Z o ­
raida, hija de un rico renegado esclavón.
Aquí, por cierto, la odisea del capitán se separa definitiva­
mente de la de su modelo: como ha mostrado M axim e C h e­
valier, se ciñe a una leyenda que desarrolla un m otivo tradicio­
nal, a través de múltiples versiones entre las cuales destaca el
cuento de La hija del diablo. Dentro de la remodelación cer­
vantina resalta, sin la m enor duda, el papel concedido por el
narrador al padre de Zoraida, cuando, tras haber sido informa­
V ID A Y LIT ER A T U R A
LVII
do por su hija de su conversion, ve alejarse, desde la playa de­
sértica en que ha sido abandonado por sus raptores, el barco
que lleva a la pareja. A l dar a esta figura patética el nombre de
A gi M orato, Cervantes la ha dotado de una identidad sacada
de su propia experiencia, sin dejar, por supuesto, de acomodar
a su relato la cronología de los hechos históricos. A gi M orato
se llamaba, en efecto, aquel suegro del rey de Fez del que nos
habla la Topografía e historia general de Argel (publicada en 16.12
a nombre de D iego de Haedo, aunque quizá compuesta por un
compañero de cautiverio de Cervantes). Alcaide de la Pata, A g i
M orato había peregrinado a la M eca y, según otro testimonio
que conservamos, era tenido «por hombre de buen ju icio y de
m uy buena manera». Por fin, en tanto que chauz (o ‘enviado’)
del Turco, desempeñó varias misiones secretas. C om o queda
dicho, Cervantes tenía en su poder, cuando fue capturado, car­
tas de recomendación. ¿Q uién sabe si no fue introducido,
como posible informador oficioso, en la intimidad de A gi M o ­
rato? Así se nos aclararía la extraña mansedumbre que le mani­
festó el rey de Argel después de sus tentativas de fuga, al per­
donarle tres veces la vida.
T al es el trasfondo sobre el cual se recortan los recuerdos per­
sonales esparcidos en la narración: entre otros detalles, la refe­
rencia al jardín de A gi M orato, cercano a la puerta de Babazón
(I, 40); lo que se nos dice del trato que solían mantener, en A r ­
gel, amos y esclavos (I, 4 1); el ansia de libertad de los renega­
dos reconciliados, también llamados «tornadizos» (I, 40); el
miedo de los moros a los turcos (I, 41); o el uso de la «lingua
franca», «que en toda la Berbería y aun en Constantinopla se
halla entre cautivos y moros, que ni es morisca ni castellana ni
de otra nación alguna, sino una mezcla de todas las lenguas, con
la cual todos nos entendemos» (I, 4 1, 519). Desglosar estas alu­
siones, en detrimento de su función artística, para componer
un cuadro costumbrista de la vida argelina, nos llevaría, desde
luego, a cometer un error de perspectiva. Pero otro error sería
negarles, en un exceso de hipercriticismo, cualquier valor d o ­
cumental. Nuestro conocim iento del cautiverio cervantino se
apoya en fuentes que, por varios motivos, reordenan, deforman
u ocultan, a veces, los hechos ocurridos, y conviene manejar­
las con precaución: así, la relación firmada por D iego de H ae-
LVIII
PRÓLOGO
do no se puede separar de su requisitoria contra la ciudad y sus
piratas, lanzada con el fin de sacar a la opinion española de su
indiferencia y estimular la obra de las órdenes redentoras; las
actas notariales referentes al caso se centran en las gestiones em­
prendidas por la familia del escritor para conseguir su rescate;
en cuanto a las deposiciones de amigos y compañeros, fueron
reunidas a petición del propio Cervantes en las dos informa­
ciones de 1578 y 1580 com o respuesta a los alegatos infaman­
tes de sus enemigos. A diferencia de estos testimonios, el cuen­
to del cautivo nos restituye de m odo insustituible, envuelta en
el ropaje de una «fábula mentirosa», la forma en que el futuro
autor del Quijote interiorizó una experiencia excepcional.
E l rostro del escritor
Este autobiografismo decantado por un propósito artístico, una
constante voluntad de estilo, viene a cobrar nuevo interés en
cuanto nos descubre la otra cara del manco de Lepanto: ya no
el cautivo de los baños argelinos, protagonista de un episodio
concluso y rememorado por un alter ego de papel, sino el «raro
inventor» que se insinúa en su propia creación, en una recons­
trucción que Ëega a confundirse con el mismo proceso narra­
tivo. Aquel Cervantes creador, que asomó por primera vez en
el prólogo a la Primera parte, reaparece en el capítulo sexto de
la misma, aprovechando el forzoso descanso de don Q uijote al
volver de su primera salida. E l m otivo de su intromisión no es
otro que el famoso escrutinio de la biblioteca del hidalgo. U n
escrutinio en el cual, dicho sea con perdón de don M iguel de
Unam uno, no sólo se trata de libros, sino también de vida, ya
que en las lecturas de don Q uijote y en los juicios críticos que
éstas merecen, algo se trasluce de las preferencias estéticas del
escritor.
Entre los libros examinados figura La Galatea, cuya presencia
en la biblioteca suscita, por boca del cura, la conm ovida reme­
moración del autor:
Muchos años ha que es grande amigo mío ese Cervantes, y sé que es
más versado en desdichas que en versos. Su libro tiene algo de bue­
V ID A Y LIT ER A T U R A
LIX
na invención: propone algo, y no concluye nada; es menester espe­
rar la segunda parte que promete: quizá con la emienda alcanzará del
todo la misericordia que ahora se le niega (I, 6, 94).
E n el momento en que escribe esta frase, Cervantes está a pun­
to de corresponder a la espera del cura: no con la segunda par­
te de su Galatea, nunca publicada, aunque sí prometida hasta en
la dedicatoria del Persiles, sino con otra obra que alcanzaría «del
todo» algo más que la «misericordia» que se negó a su primera
novela. Pero no por eso va a convertirse en mero plumífero.
A u n cuando nos descubra su interés por las cuestiones de po é­
tica -lo ha aclarado Edw ard C . R ile y en un libro fundamen­
tal-, nunca lo hace con el dogmatismo del preceptista. Su m e­
ditación sobre las formas y los fines de la literatura, diseminada
entre sus portavoces, en los capítulos 47 a 50 de la Primera par­
te, desarrolla dialécticamente el debate entre teoría y praxis n o­
velesca, en el contraste de pareceres al que da lugar la crítica de
los libros de caballerías. Y en cuanto a la condena de las com e­
dias al uso, expresada conjuntamente por el canónigo y el cura,
no sólo se articula con el recuerdo nostálgico del «arte antiguo»,
cultivado en otros tiempos por el autor de La Numancia; tam­
bién traduce el rencor experimentado ante el triunfo de un ri­
val más jo v e n y más afortunado: aquel Fénix de los Ingenios
que quiso «acomodarse al gusto de los representantes» adaptán­
dose a las exigencias férreas de una producción masiva y con­
virtiendo el teatro en «mercadería vendible».
E n ju nio de 1605, a los pocos meses de publicarse la Prim e­
ra parte del Quijote, Andrea de Cervantes, comprometida a p e­
sar suyo en la muerte de un jo v en calavera, Gaspar de Ezpeleta, depone ante el juez Villarroel. Traza entonces un alusivo
perfil de su hermano: «un hombre que escribe e trata negocios,
e por su buena habilidad tiene amigos». M enos confidencial,
por cierto, y harto distinto es el retrato que, siete años más tar­
de, el escritor nos ofrece de sí mismo, en el prólogo a sus N o ­
velas ejemplares:
Este, digo, que es el rostro del autor de L a Galatea y de D on Quijote
de la Mancha ... llámase comúnmente Miguel de Cervantes Saavedra.
Fue soldado muchos años, y cinco y medio cautivo, donde aprendió
LX
PRÓLOGO
a tener paciencia en las adversidades. Perdió en la batalla naval de Le­
panto la mano izquierda de un arcabuzazo... (Prólogo, p. 17).
Aquí, con trazo vigoroso, fija las pocas imágenes que, todavía
hoy, lo designan en la m emoria colectiva: el combatiente de
Lepanto, el cautivo de Argel, el autor del Quijote. Esta última
estampa, que vimos surgir con m otivo del escrutinio, es la que
campea en las obras consecutivas al éxito de la Primera parte,
aquellas que salen a la luz durante los diez años que median en­
tre este éxito y la muerte del «raro inventor». Diez años que
transcurren en Madrid, después del regreso de la corte, duran­
te los cuales Cervantes se reintegra al mundo de las letras. E n ­
tonces asiste con Lope de V ega a la Academ ia Selvaje, a la vez
que ingresa, por motivos que no debieron de ser exclusiva­
mente religiosos, en la Hermandad de los Esclavos del Santísi­
m o Sacramento y en la O rden Terciaria Franciscana. Entonces
empieza su período más fecundo, hasta tal punto que, para
nosotros, su vivir acaba confundiéndose con su quehacer lite­
rario. E n 16 13 se editan las Novelas; al año siguiente el Viaje del
Parnaso, sarta de alabanzas de poetas amigos, engastada en una
odisea imaginaria cuyo alegorismo se compagina -o tra vez—
con un fino sentido autobiográfico; en 16 15 las Ocho comedias y
ocho entremeses nuevos, dados a la imprenta tras padecer la indi­
ferencia de empresarios y cómicos; en 16 16 se redactan los úl­
timos capítulos de Los trabajos de Persiles y Sigismunda, «historia
septentrional» con tono y traza de novela bizantina, concluida
cuando el que la compuso tenía ya «el pie en el estribo» de la
muerte, y que se publicará como libro postumo. Pero, un año
antes, había salido a la luz la Segunda parte del Quijote, donde
el yo cervantino, mal disimulado detrás de sus dobles, se deja de
nuevo captar.
La reaparición de este yo, en el prólogo de 16 15 , no se pro­
duce en circunstancias idénticas a las que originaron el exordio
de la Primera parte. Cervantes, esta vez, no tiene por qué asu­
m ir ante los lectores la novedad de su empresa. En cambio, sí
la reivindica frente a un nuevo interlocutor: el misterioso A v e ­
llaneda que, un año antes, había publicado una segunda parte
espuria, conocida hoy como el Quijote apócrifo. Por cierto, no
faltaban antecedentes: sin remontarnos a La Celestina, el Laza-
V ID A Y LITER A TU RA
LXI
rillo de Tonnes había suscitado toda una descendencia, en tanto
que Gaspar G il Polo prolongaba La Diana de M ontem ayor con
una Diana enamorada que no es indigna del modelo. En años
más recientes, M ateo Luján había dado a luz una Segunda parte
del Guzmán de Alfarache, mientras M ateo Alem án trabajaba to­
davía en la suya. Pero Avellaneda, amén de esconderse detrás
de una máscara, había acumulado calumnias y afrentas para su
predecesor. E n un prólogo «menos cacareado y agresor de sus
lectores» -según é l- que el de la Primera parte, disparaba sin
piedad los ataques ad hominem, burlándose de los achaques de
su víctima, acusándole de tener «más lengua que manos» y con­
cluyendo con esta agria advertencia: «Conténtese con su Galatea
y comedias en prosa, que eso son las más de sus Novelas: no nos
canse» (Avellaneda, Don Quijote de la Mancha, Prólogo, p. 12).
N o vamos a detenernos en este triste episodio. Pero sí recal­
car el tono inconfundible de la respuesta, en un ajuste de cuen­
tas del que brota el prólogo de 16 15 . Sabe Cervantes con qué
impaciencia la está esperando el «lector ilustre o quier plebeyo»,
con quien mantiene un trato preferente. Ahora bien, mejor le
conviene burlar esta esperanza:
Pues en verdad que no te he de dar este contento, que, puesto que
los agravios despiertan la cólera en los más humildes pechos, en el
mío ha de padecer excepción esta regla. Quisieras tú que lo diera del
asno, del mentecato y del atrevido, pero no me pasa por el pensa­
miento: castigúele su pecado, con su pan se lo coma y allá se lo haya
(II, Prólogo, 673).
¿Supo Cervantes quién se ocultaba tras el nombre de Avella­
neda? Si hemos de creer a M artín de R iqu er, éste no sería sino
Jerónim o de Pasamonte, el soldado-escritor que, diez años an­
tes, le inspiró el personaje del galeote Ginés. Pero aquí poco le
importa ese oscuro compañero de milicia al que sólo reprocha
expresamente una cosa, sus insultos personales:
Lo que no he podido dejar de sentir es que me note de viejo y de
manco, como si hubiera sido en mi mano haber detenido el tiempo
... o si mi manquedad hubiera nacido en alguna taberna, sino en la
más alta ocasión que vieron los siglos pasados, los presentes, ni espe-
LXII
PRÓLOGO
ran ver los venideros. Si mis heridas no resplandecen en los ojos de
quien las mira, son estimadas a lo menos en la estimación de los que
saben dónde se cobraron: que el soldado más bien parece muerto en
la batalla que libre en la fuga (II, Prólogo, 673).
A qu í es donde la creación literaria se resorbe en la experiencia
viva: la indignación del prologuista acaba por subvertir el dis­
curso prologal. La respuesta no carece de garbo; pero respira,
más que nada, la melancolía del superviviente de un tiempo ca­
ducado.
Enmarcado por dos textos de notable sabor autobiográfico
—por un lado, la aprobación del licenciado M árquez Torres,
donde se inserta una anécdota protagonizada por M iguel (y, po­
siblemente, dictada por él); y, por otro lado, la irónica dedica­
toria al conde de Lemos—, el prólogo al segundo Quijote acaba
devolviendo a Avellaneda a su oscuridad. E n cuanto a la conti­
nuación espuria, Cervantes va a incorporarla a su modo en su
propia obra. Examinar esta mise en abîme nos apartaría de nues­
tro cometido. Pero, al contemplar a don Q uijote con el falso
Quijote entre manos, poniéndose a hojearlo «sin responder pala­
bra» (II, 59, L 2 14 ), ¿cómo no pensar en su padre o padrastro
quien, en la misma circunstancia, tuvo tal vez idéntica reacción?
Los disfraces del «raro inventor»
Pero no nos equivoquemos: la contaminación del relato por el
vivir y el crear cervantinos no se encierra en los moldes de esta
polémica, convertida, hoy en día, en pasto de eruditos. E n dos
momentos claves por no decir nada de otros muchos, el «raro
inventor» vuelve a asomar la oreja, aunque escondido detrás de
sus portavoces. Primero, al confrontar a sus héroes con la his­
toria de sus hazañas. M ejor dicho, con la noticia, comunicada
por Sancho a su amo, de que dicha historia «andaba ya en li­
bros ... con nombre del Ingenioso hidalgo don Quijote de la Man­
cha» (II, 2, 70 3). E l asombro del escudero, encantado de saber,
por el bachiller Sansón Carrasco, que sus hechos están imbri­
cados con los de su señor, corre parejas con la inquietud del ca­
ballero, a quien el mismo Sansón revela que la epopeya ideal
V ID A Y LITER A TU RA
LXIII
de sus hazañas no es más que una crónica, compuesta por un
m oro mentiroso y traducida al «vulgar castellano, para univer­
sal entretenimiento de las gentes» (II, 3, 705). E l «ridículo ra­
zonamiento» -divertido coloq uio- que, sobre el particular, reú­
ne a los tres interlocutores es, por cierto, un hábil recurso
literario: a través de su vaivén entre el perfil con que soñaba y
el que le es impuesto, el ingenioso hidalgo afirma con pertina­
cia su independencia, reivindicando obstinadamente la imagen
que quiere dejar de sí mismo. Pero también Cervantes se vale
de este recurso, haciéndose eco de los juicios emitidos sobre el
Quijote de 1605: disimulado detrás de sus tres portavoces, les da
alternadamente la palabra, sin acreditar a ninguno com o depo­
sitario de su propia opinión. Este procedimiento, entre otras
consecuencias, le permite dar cuenta del éxito de su libro sin
pecar de presumido. Prim ero, encarga al bachiller que m encio­
ne, con tonillo de burla, los doce m il ejemplares que, «el día de
hoy», andan ya impresos, llegando a profetizar, en una paradó­
jica premonición, «que no ha de haber nación ni lengua don­
de no se traduzga» (II, 3, 706). Más adelante, hace que el mis­
mo don Quijote venga a com unicar la noticia a don D iego de
Miranda, acrecentando la cifra y anticipando el acontecimien­
to, en un alarde de ingenua vanagloria:
...y, así, por mis valerosas, muchas y cristianas hazañas, he merecido
andar ya en estampa en casi todas o las más naciones del mundo:
treinta mil volúmenes se han impreso de mi historia, y lleva camino
de imprimirse treinta mil veces de millares, si el cielo no lo reme­
dia (II, 16, 821).
Otra de las máscaras elegidas por el yo cervantino es, por su­
puesto, Cide Hamete Benengeli. Desde la perspectiva que nos
corresponde, tan sólo queremos aludir aquí a su intervención
más significativa, cuando, al principio del capítulo 44 de la Se­
gunda parte, el «moro mentiroso» vuelve a abordar la cuestión
de las novelas interpoladas, planteada inicialmente por Sansón
Carrasco. Parece ser que la presencia de estos cuentos en el
prim er Quijote, si no dio lugar a una polémica, al menos susci­
tó opiniones contrarias, referidas aquí de m odo explícito:
LXIV
PRÓLOGO
Dicen que en el propio original desta historia se lee que llegando
Cide Hamete a escribir este capítulo no le tradujo su intérprete como
él le había escrito, que fue un modo de queja que tuvo el moro de
sí mismo por haber tomado entre manos una historia tan seca y tan
limitada como esta de don Quijote, por parecerle que siempre había
de hablar dél y de Sancho, sin osar estenderse a otras digresiones y
episodios más graves y más entretenidos; y decía que el ir siempre
atenido el entendimiento, la mano y la pluma a escribir de un solo
sujeto y hablar por las bocas de pocas personas era un trabajo in­
comportable, cuyo fruto no redundaba en el de su autor, y que por
huir deste inconveniente había usado en la primera parte del artificio
de algunas novelas, como fueron la del Curioso impertinente y la del
Capitán cautivo, que están como separadas de la historia, puesto que
las demás que allí se cuentan son casos sucedidos al mismo don Qui­
jote, que no podían dejar de escribirse (II, 44, 1069-1070).
C om o se echa de ver, la referencia despectiva a la «historia ... de
don Quijote» es casi la misma que hemos encontrado en el pró­
logo a la Primera parte. Pero el yo del prólogo se sustituye aquí
por todo un juego de encajes: mediante un doble giro imperso­
nal -«dicen que ... se lee»-, nos enteramos de una infidelidad
cometida por el supuesto traductor de la historia compuesta por
un supuesto Cide Hamete. Esta distancia permite a Cervantes
introducir con evidente ironía el tema que le preocupa:
También pensó, como él dice, que muchos, llevados de la atención
que piden las hazañas de don Quijote, no la darían a las novelas, y pa­
sarían por ellas o con priesa o con enfado, sin advertir la gala y artifi­
cio que en sí contienen, el cual se mostrara bien al descubierto, cuan­
do por sí solas, sin arrimarse a las locuras de don Quijote ni a las
sandeces de Sancho, salieran a luz. Y , así, en esta segunda parte no
quiso ingerir novelas sueltas ni pegadizas, sino algunos episodios que
lo pareciesen, nacidos de los mesmos sucesos que la verdad ofrece, y
aun éstos limitadamente y con solas las palabras que bastan a declarar­
los; y pues se contiene y cierra en los estrechos límites de la narración,
teniendo habilidad, suficiencia y entendimiento para tratar del uni­
verso todo, pide no se desprecie su trabajo, y se le den alabanzas, no
por lo que escribe, sino por lo que ha dejado de escribir (II, 44, 1070).
V ID A Y L IT ER A T U R A
LXV
N ada más ambiguo que esta aparente autocrítica. Tras recordar
el procedimiento intercalado!· que usó en la Primera parte, re­
emplazado, en la Segunda, por una trabazón más íntima que
supone una m ayor colaboración del lector, Cervantes, con la
soltura que le concede el artificio aquí elegido, desarrolla todo
un proceso reflexivo que concluye con una clara autodefensa:
la nueva relación establecida, en el segundo Quijote, entre fá­
bula y episodios, no debe entenderse como corrección o en­
mienda; tampoco es mera concesión al gusto del público. E n
plena conformidad con la nueva lógica interna que rige la
aventura, se impone como concertada y permanente tensión
entre lo que se escribe y lo que se ha dejado de escribir.
Una especie de pacto
¿Q uién será, a fin de cuentas, aquel yo al que hemos acosado,
en un ímprobo esfuerzo por desalojarlo de las páginas del Qui­
jote? N o el Cervantes de carne y hueso, que muere a los pocos
meses de publicar su gran libro, tras dictar en su lecho de ago­
nía la dedicatoria del Persiles. Más bien la proyección de un in­
dividuo cuya obra, aunque exprese los deseos y los sueños del
que la engendró, desborda su aventura personal al vivir con
vida propia, cargándose, al correr de los siglos, con sentidos
nuevos. Después de referir la muerte del ingenioso hidalgo,
Cide Hamete, en una última advertencia a Avellaneda, da la
palabra a su pluma; ésta, entonces, se despide del lector reivin­
dicando su bien: «Para mí sola nació don Q uijote, y yo para él:
él supo obrar y yo escribir, solos los dos somos para en uno...»
(II, 74, 1336). Prueba indiscutible, com o observa José Manuel
Martín Morán, de que, «tras los dos autores que hasta entonces
han venido narrando las gestas de don Q uijote, se esconden
otros tantos desdoblamientos de un narrador incógnito que, sin
gran esfuerzo por nuestra parte, podemos identificar con el
propio Cervantes».
¿En qué estriba, entonces, la fascinación que ejerce, sobre
nosotros, aquel narrador escondido? Probablemente en que el
autobiografismo del Quijote, aun cuando no llegue a iluminar
del todo un perfil perdido, nos permite, eso sí, reconocer en-
LXVI
PRÓLOGO
tre miles la voz de este incognito: una voz apta para suscitar, de
entrada, nuestra complicidad, antes de fundirse en una com ­
pleja polifonía que, si bien la disfraza, la difracta y hasta la obli­
tera a veces, nunca la anula. Así es com o esta voz establece,
desde el principio, una manera de pacto que nunca se rompe
ni disuelve; un pacto que no se limita a alimentar el encanto de
nuestra lectura, sino que, entre otros muchos recursos, ha con­
tribuido a sellar el acta de nacimiento de la novela moderna.
N O T A B IB L IO G R Á F IC A
Los principales repertorios bibliográficos y obras de consulta dedicados a
Cervantes se hallarán relacionados al principio de la bibliografía incluida en
el volum en complementario de la presente edición.
i. Lo que sabemos de la vida de Cervantes es fruto de investigaciones su­
cesivas, realizadas desde el primer tercio del siglo x v m . U na contribución
inicial, m uy importante, fue la de los primeros biógrafos del manco de Le­
panto: Gregorio Mayans y Sisear, Vida de Miguel de Cervantes Saavedra, B riga-R eal, 17 37 ; Juan Antonio Pellicer y Saforcada, Vida de Miguel de Cer­
vantes Saavedra, Gabriel de Sancha, Madrid, 1800; M artín Fernández de
Navarrete, Vida de Miguel de Cervantes Saavedra escrita e ilustrada con varias no­
ticias y documentos inéditos..., Imprenta R eal, Madrid, 18 19 . Pero la aporta­
ción documental más significativa ha sido la de varios eruditos de principios
del siglo X X . Entre éstos destacan particularmente Cristóbal Pérez Pastor,
Documentos cervantinos hasta ahora inéditos, Imprenta de Fortanet, Madrid,
1899-1902, 2 vols.; Pedro Torres Lanzas, «Información de M iguel de C er­
vantes de lo que ha servido a S.M . y de lo que ha hecho estando captivo en
Argel...», Revista de Archivos, Bibliotecas y Museos, 3a serie, V (1905), pp. 345397 (reed. José Esteban, Madrid, 19 8 1); Francisco Rodríguez Marín, Nue­
vos documentos cervantinos, R e a l Academia Española, Madrid, 19 14 (incluido
en sus Estudios cervantinos, Atlas, Madrid, 1947, pp. 175-350). Los docu­
mentos publicados por ellos proceden o bien de los archivos públicos (Si­
mancas, Sevilla, Madrid) o bien de los parroquiales y notariales. Se refieren,
en su mayoría, al cautiverio de Cervantes, a las comisiones que desempeñó
durante su estancia en Andalucía, y a sucesos particulares de su vida exter­
na, tales como el asunto Ezpeleta, ocurrido en Valladolid en 1605. E n cam­
bio, m uy escasos son los que arrojan alguna luz sobre su carrera de escritor,
por no decir nada de su personalidad. Otro tanto puede decirse del material
descubierto y publicado por Luis Astrana Marín en su monumental biografía.
L o que se echa de menos, sin la m enor duda, es una presentación me­
tódica y comentada de estos documentos. Esta fue esbozada hace ya años
p or Jam es Fitzmaurice K elly, Cervantes Saavedra. A Memoir, O xford U n i-
V ID A Y LITER A TU RA
LXVII
versity Press, 19 13 (obra ampliada y traducida luego al castellano: Miguel
de Cervantes Saavedra. Reseña documentada de su vida, O xford U niversity
Press, 19 17 ). Las recopilaciones más recientes son las que debemos a
Krzysztof Sliwa, Documentos de Miguel de Cervantes Saavedra, Eunsa, Pam ­
plona, 1999, y Documentos cervantinos. Nueva recopilación, lista e Indices, P e ­
ter Lang, N u eva Y o rk , 2000.
Carecemos asimismo de una biografía crítica digna de este nombre; la
mayoría de las Vidas de Cervantes son, en efecto, relatos novelados, entre los
cuales el más ameno sigue siendo el de Francisco Navarro y Ledesma, E l in­
genioso hidalgo Miguel de Cervantes Saavedra. Sucesos de su vida..., Imprenta
Alemana, Madrid, 1905 (reed. Espasa-Calpe, Colección Austral 401, B u e ­
nos Aires, 1944). La ya mencionada obra de Luis Astrana Marín, Vida ejem­
plar y heroica de Miguel de Cervantes Saavedra, Imprenta de R eu s, Madrid,
1948-1958, 7 vols., es muy discutible en su método y adolece de varios pre­
juicios, pero reúne una suma considerable de informaciones, a veces inédi­
tas, y constituye por ello una referencia insustituible. Existe un índice de
este libro, que se ha publicado en microfilm: Phyllis S. Emerson, Index of
Astrana Marin's «Vida ejemplar y heroica de Miguel de Cervantes», with a Chro­
nology of Cervantes’ Life, Erasmus Press, Lexington, 1978. Es de desear que
se publique en España en forma de libro. Entre las biografías posteriores que
aspiran a mayor rigor, las más recientes son: Jean Canavaggio, Cervantes. E n
busca del p e fil perdido, trad, española en Espasa-Calpe, Madrid, 1987 (ed. re­
visada, 1997), y Antonio R e y Hazas y Florencio Sevilla, Vida de Cervantes,
Alianza, Madrid, 1995. Para un bosquejo de las cuestiones metodológicas
planteadas por esta labor, nos permitimos remitir a je a n Canavaggio, «Cer­
vantes en su vivir: ¿un arte nuevo para una nueva biografía?», Miguel de Cer­
vantes: la invención poética de la novela moderna, en Anthropos, X C V III-X C IX
(junio-agosto de 1989), pp. 41-48.
Aportaciones recientes sobre la familia de Cervantes son el artículo de
K rzysztof Sliwa y Daniel Eisenberg «El licenciado Ju an de Cervantes, abue­
lo de M iguel de Cervantes Saavedra», Cervantes, X V II (1997), pp. 10 6 -114 ;
los de Sliwa «La supuesta hidalguía de R o d rigo de Cervantes, padre del au­
tor del Quijote», Volver a Ceivantes. Actas del I V Congreso Internacional de la
Asociación de Cervantistas, Universität de les liles Balears, Palma de Mallorca,
2001, pp. 1 3 1- 13 8 , «La dualidad de Leonor de Cortinas, madre de M iguel
de Cervantes Saavedra», Actas del X III Congreso de la Asociación Internacional
de Hispanistas, Castalia, Madrid, 2000, I, pp. 758-763, e «Hija y nieta de M i­
guel de Cervantes Saavedra, Isabel de Cervantes y Saavedra e Isabel Sanz»,
Actas del V III Coloquio Internacional de la Asociación de Ceivantistas, Ediciones
Dulcinea del Toboso, E l Toboso, 1999, pp. 267-274; el de Eisenberg «El
convenio de separación de Cervantes y su mujer Catalina», Anales Ceivantinos, X X X V (1999), pp. 14 3-14 9 ; y el de M anuel Andrino «Luis de M olina,
yerno de Cervantes», Gazeta de los Notarios, X C II (agosto-septiembre de
1997 ). PP· 8-10.
H e aquí, por otra parte, los episodios biográficos que, en los últimos
treinta años, mayor interés han suscitado:
LXVIII
PRÓLOGO
- La actuación de Cervantes en Lepanto, el 7 de octubre de 1 5 7 1 (Ma­
rio Penna, «II “ lugar del esquife” . Appunti cervantini», Annali della Facoltà
di Lettere e Filosofía délia Universitá degli Studi di Perugia, II, 1964-1965, pp.
213-288).
- La captura de la galera Sol, en 157 5, por corsarios argelinos (Juan B au­
tista de Avalle-Arce, «La captura de Cervantes», Boletín de la Real Academia
Española, X L V III, 1968, pp. 237-280; reed, en Nuevos deslindes cervantinos,
Ariel, Barcelona, 1975, pp. 277-333).
- E l cautiverio de Cervantes en Argel, entre 1575 y 1580 (Emilio Sola y
José F. de la Peña, Cervantes y la Berbería, Fondo de Cultura Económica, M éxico-M adrid, 1995; Alberto Sánchez, «Revisión del cautiverio cervantino en
Argel», Cervantes, X V II, 1997, pp. 7-24; María Antonia Garcés, Cervantes in
Algiers. A Captive’s Tale, Vanderbilt University Press, Nashville, 2002).
- Las relaciones entre Cervantes y Lope de Vega a partir de 1604 (N ico­
lás M arín López, «Belardo furioso: una carta de Lope mal leída», Anales Cer­
vantinos, X II, 1973, pp. 3-37; reed, en Estudios literarios sobre el Siglo de Oro,
Universidad de Granada, 1988, pp. 317-358 ).
- E l posible viaje de 16 10 a Barcelona, con m otivo de la partida del con­
de de Lemos a Nápoles (Martín de R iq u er, Cervantes en Barcelona, Sirmio,
Barcelona, 1989; ahora en Para leer a Cervantes, E l Acantilado, Barcelona,
2003, pp. 283-387).
- La identidad del misterioso Avellaneda, autor del Quijote apócrifo de
16 14 (Martín de R iquer, Cervantes, Passamonte y Avellaneda, Sirmio, Barce­
lona, 1988; reed. en Para leer a Cervantes, E l Acantilado, Barcelona, 2003,
pp. 387-535; y Alfonso Martín Jim énez, E l «Quijote» de Cervantes y el «Qui­
jote» de Pasamonte, una imitación recíproca, Centro de Estudios Cervantinos,
Alcalá de Henares, 2001).
- La supuesta carta de Cervantes a su protector, el cardenal Sandoval y
R ojas, fechada en 26 de marzo de 16 16 , la cual resulta ser una falsificación
del siglo X I X , obra probable de Adolfo de Castro (Antonio R odrígu ez-M oñino, «La carta de Cervantes al cardenal Sandoval y Rojas», Nueva Revista
de Filología Hispánica, X V I, 1962, pp. 81-89).
A fin de cuentas, poco se puede añadir, hoy en día, al ponderado «Estado
actual de los estudios biográficos» establecido por Alberto Sánchez hace más
de veinte años (en J.B . de Avalle-Arce y E .C . R ile y , Suma cervantina, T a­
mesis, Londres, 19 73, pp. 3-24) y, para decirlo con palabras de Américo
Castro todavía válidas, «la biografía de Cervantes está tan escasa de noticias
com o llena de sinuosidades» (Cervantes y los casticismos españoles, Alfaguara,
Madrid, 1967, ρ. 169η).
2. Ofrecemos a continuación las fuentes bibliográficas que amplían las cues­
tiones tratadas en el presente capítulo. Otras se encontrarán en el listado de
las obras de referencia citadas con más frecuencia en el Resumen cronológico
de la vida de Cervantes que figura com o apéndice a continuación de este Pró­
logo.
V ID A Y LITER A TU RA
LX IX
Acerca de la posibilidad de rastrear datos biográficos en las obras de C e r­
vantes véase nuestro Cervantes, Espasa-Calpe, Madrid, 2003+, pp. 17-22, así
com o «Hacia la nueva biografía de M iguel de Cervantes», en Cervantes en­
tre vida y creación, Centro de Estudios Cervantinos, Alcalá de Henares, 2000,
pp. 17 - 3 1.
La disconformidad de Cervantes con respecto a la técnica narrativa del
Guzmán de Alfarache es analizada por Claudio Guillén en «Luis Sánchez,
Ginés de Pasamonte y los inventores del género picaresco», reed. en E l pri­
mer Siglo de Oro. Estudios sobre géneros y modelos, Crítica, Barcelona, 1988,
pp. 19 7 - 2 11.
Rem itim os a los estudios de Am érico Castro, especialmente Cetvantes y
los casticismos españoles, Alfaguara, Madrid,. 1966, para la hipótesis sobre la su­
puesta ascendencia conversa atribuida a Cervantes. A m én de que el autor
del Quijote no adujo nunca pruebas de su limpieza de sangre, no debe ex­
cluirse que tuviera a conversos entre sus antepasados: recuérdese que Ju an
de Cervantes, su abuelo paterno, casó con una Torreblanca, perteneciente
a una familia de médicos cordobeses. Pero otra cosa es hacer de esta ascen­
dencia una clave explicativa de su «diferencia» y de su creación, como pre­
tende, por ejemplo, R o sa R ossi en su controvertido Ascoltare Cervantes. Saggio biográfico, Editori R iun iti, R o m a, 1987 (trad, española, Cetvantes. Un
ensayo biográfico, Ambito, Valladolid, 1988).
Sobre la presencia del yo cervantino en su obra, véase nuestro «Cervan­
tes en primera persona», en Cervantes entre vida y creación, cit., pp. 65-72, y,
con m ayor amplitud de miras, M ichel M oner, Ceivantès conteur. Ecrits et pa­
roles, Bibliothèque de la Casa de Velázquez, Madrid, 1989.
La alusión, en el prólogo de la Primera parte del Quijote, a la cárcel en la
que se engendró la obra fue entendida denotativamente por Hartzenbusch,
a mediados del siglo pasado, quien creyó que se ubicaba en Argamasilla de
Alba y allí transportó todo el material de imprenta requerido para su edi­
ción del Quijote. Otros han propuesto identificarla con la de Castro del R ío ,
donde Cervantes estuvo preso en 1592, o, más plausiblemente, con la C ár­
cel R e a l de Sevilla, donde permaneció varios meses en 159 7-159 8 . Pero no
debe excluirse un uso metafórico de esta palabra, acorde con la tradición
cancioneril. Cualquiera que sea su significado, cabe observar que el Quijote
de 1605 se dice engendrado, o sea, concebido, y no escrito, en dicha cárcel.
La apreciación de M aurice M olho acerca del prólogo de la Primera par­
te del Quijote se encuentra en «Texte/paratexte: Don Quichotte», en M . M o ­
ner, ed., Le livre et l’édition dans le monde hispanique (x v f-x x " siècles). Pratiques
et discours paratextuels, Université Stendhal, Grenoble, 1992, pp. 99-100. D e
los estudios dedicados a los exordios que encabezan sendas partes de la no­
vela, merece destacarse Am érico Castro, «Los prólogos al Quijote», en Hacia
Cervantes, Taurus, Madrid, 19673, pp. 2 6 2 -30 1, así como M ario Socrate,
Prologhi al «Don Chisciotte», Marsilio, Venecia, 1974. Sobre la carta de Lope
de Vega y su recta interpretación, véase Nicolás M arín, «Belardo furioso.
U na carta de Lope mal leída», en sus Estudios literarios sobre el Siglo de Oro,
ed. A . de la Granja, Universidad de Granada, 1988, pp. 317-358 .
LX X
PRÓLOGO
N o nos incumbe traer a colación los numerosos estudios dedicados a los
narradores ficticios del Quijote. Baste señalar, entre las contribuciones más
sugestivas, las páginas que les dedica José M anuel M artín M orán en E l
«Quijote» en ciernes, D ell’Orso, Turin, 1990, pp. 10 7 -19 7 . E n relación a la
etimología del nombre de Cide Hamete Benengeli, véase S. Bencheneb y
Ch. Marcilly, «Qui était Cide Hamete Benengeli?», Mélanges offerts à Jean
Sarrailh, Editions Hispaniques, Paris, 1966, I, pp. 9 7 -116 .
En torno a la reconstrucción del ideario de Cervantes a partir de sus
obras, hay que recordar la labor en 1925 de A m érico Castro, quien operó,
con E l pensamiento de Cervantes, algo parecido a una revolución copem icana en los estudios cervantinos. M edio siglo más tarde, en el prólogo a la
nueva edición de esta obra, publicada en 19 72, concedía que, «después de
todo, algo se dice en ella de Cervantes y del Quijote». Pero se mostraba más
que reservado ante un libro que hubiera querido rehacer y que a su ju icio
ordenaba de m odo arbitrario un ideario cervantino abstracto, desprendi­
do de la «textura literaria» de las obras aprovechadas com o material de in­
vestigación (A. Castro, E l pensamiento de Cervantes, N oguer, Barcelona,
19 72, pp. 7-8).
La retórica de algunos discursos de don Q uijote y su posible reflejo de
ideas cervantinas es analizada por Anthony Close, «Don Q uixote’s sophistry
and wisdom», Bulletin of Hispanic Studies, L V (1978), pp. 1 0 4 - i n .
Entre los numerosos trabajos dedicados a la historia de R u y Pérez de Vied­
ma (Quijote, I, 39-41), véase, sobre su trasfondo histórico, el artículo pionero
(aunque en varios aspectos discutible) de Jaim e O liver Asín, «La hija de A gi
M orato en la obra de Cervantes», Boletín de la Real Academia Española, X X V II
(1947-1948), pp. 245-339. Desde un enfoque más amplio, merece leerse el
rico y sugestivo estudio de Francisco Márquez Villanueva, «Leandra, Zoraida
y sus fuentes francoitalianas», en Personajes y temas del «Quijote», Madrid, Tau­
rus, 1975, pp. 92-146.
Acerca de las apreciaciones de R u y Pérez de Viedma sobre «un soldado es­
pañol ... tal de Saavedra» (Quijote, I, 40, 507), compañero suyo, nótense las
coincidencias con el autor de la Topografía e historia general de Argel, publicada
en Madrid en 16 12 , a nombre de Diego de Haedo, y reeditada moderna­
mente (Bibliófilos Españoles, Madrid, 1929, 3 vols.). Esta obra fundamental
ha sido atribuida, con buenos argumentos, al doctor Antonio Sosa, compa­
ñero de cautiverio del manco de Lepanto. Véase George Camamis, Estudios
sobre el cautiverio en el Siglo de Oro, Gredos, Madrid, 1977; Emilio Sola, «Mi­
guel de Cervantes, Antonio de Sosa y Africa», en Actas del Encuentro de la
Asociación de Cervantistas, Anthropos, Barcelona, 1990; Mohamed M ounir Sa~
lah, E l Doctor Sosa y la «Topografía e Historia General de Argel», U A B , Barcelo­
na, 19 91. Posición distinta es la de Daniel Eisenberg, «Cervantes, autor de la
Topografía e historia general de Argel publicada por D iego de Haedo», Cervantes,
X V I (1996), pp. 32-53. E l Diálogo de los mártires de Argel, incluido en la Topo­
grafíay ha sido editado a nombre del doctor Sosa por E. Sola y J.M . Parreño
(Madrid, 1990). E n opinión de Sosa, «del cautiverio y hazañas de M iguel de
Cervantes pudiera hacerse particular historia» (f. 185 de la edición original y
1
V ID A Y LIT ER A T U R A
LXXI
p. 165 del tomo III de la reedición de 1929). Y a anteriormente a este inten­
to de atribución se había sugerido que, entre las fuentes utilizadas en la ela­
boración de esta obra, tal vez figurasen informes debidos a Cervantes, cuyo
segundo intento de evasión se relata aquí con todo detalle. Para un balance de
conjunto del papel desempeñado por Cervantes durante estos acontecimien­
tos, véase el citado libro de E. Sola y José F. de la Peña Cervantes y la Berbería.
La interpretación referida a los motivos, en el plano social y simbólico,
por los cuales Cervantes adopta el apellido de Saavedra procede de Louis
Com bet, Cervantès ou les incertitudes du désir, une approche psychostructureïïe de
l’oeuvre de Cervantes, Presses Universitaires de Lyon, 1980, pp. $53-558; pu e­
de verse también María Antonia Garcés, «Los avatares de un nombre: Saa­
vedra y Cervantes», Revísta de Literatura, L X V (2003), pp. 351-37 4 . Entre los
personajes de ficción cervantinos, reciben el nombre de Saavedra, además
del ya mencionado «soldado español ... tal de Saavedra», uno de los cauti­
vos de E l trato de Argel y el protagonista de E l gallardo español.
Las aportaciones de M áxim e Chevalier acerca de los motivos tradiciona­
les en la historia del cautivo se encuentran en «El Cautivo entre cuento y
novela», Nueva Revista de Filología Hispánica, X X X II (1983), pp. 4 0 3 -4 11.
La figura de A gi M orato, chauz (o ‘enviado’) del Turco, queda reflejada
en las «Respuestas de Juan Pexón, M ercader de Valencia, a lo preguntado
por el Duque de Gandía» (abril-mayo de 1573), Simancas E ° 487, citado en
Jean Canavaggio, «Agi M orato entre historia y ficción», Crítica Hispánica,
X I, 1- 2 (1989), pp. 17-22 . Véase también E . Sola y José F. de la Peña, Cer­
vantes y la Berbería, cit., pp. 2 18 -2 7 5 . Sobre la figura histórica de A gi M ora­
to téngase en cuenta, además del estudio citado de M axim e Chevalier, otro
trabajo nuestro, «Le “ vrai” visage d’A gi Morato», Hommage à Louis Urrutia,
Les Langues Néo-latines, C C X X X IX (1980), pp. 23-38.
La opinion de M iguel de Unam uno, que matizamos, sobre el escrutinio
de la biblioteca se encuentra en Vida de Don Quijote y Sancho, ed. Alberto
Sánchez, Cátedra, Madrid, 1988, p. 192.
Acerca de la poética cervantina, véase Edward C. R iley, Cervantes’ Theory
of the Novel, O xford University Press, 1962 (trad, española, Teoría de la novela
en Cernantes, Taurus, Madrid, 1966).
E l comentario más sugestivo de los capítulos 47 a 50 del Quijote sigue sien­
do el de Alban K . Forcione, en Ceivantes, Aristotle and the «Persiles», Prince­
ton University Press, 1970, pp. 9 1-13 0 .
E n cuanto a la implicación de Cervantes en la muerte de Gaspar Gómez
de Ezpeleta, véase nuestro Cervantes, pp. 249-254. Se conservan las declara­
ciones tomadas por el ju ez en el manuscrito núm. 1 de la colección de la
R e al Academia Española, publicado por R am ó n León Máinez e incluido
más tarde por Cristóbal Pérez Pastor en sus Documentos cervantinos hasta aho­
ra inéditos, cit., II, pp. 454-537. Véase el resumen que da Luis Astrana M a­
rín de este documento en su Vida ejemplar y heroica de Miguel de Ceivantes
Saavedra, Instituto Editorial R eu s, Madrid, V I, I o, 1956, pp. 93-10 5. H eri­
do de muerte a las puertas de la casa del escritor, el 27 de junio de 1605, a
consecuencia de una expedición amorosa nocturna, Gaspar de Ezpeleta fue
LX X II
PRÓLOGO
transportado a ella y expiró a los dos días. E n el proceso incoado a raíz de
este misterioso asunto, quedó Cervantes implicado con los suyos, viniendo
sus hermanas y su hija a ser blanco de malintencionadas declaraciones. Véase
Jean Canavaggio, «Nueva aproximación al proceso Ezpeleta», Actas del Ho­
menaje de los Cervantistas a José María Casasayas, Argamasilla de Alba, no­
viem bre de 1995; también en Cetvantes, X V II (1997), pp. 25-45.
E n relación con la combinación de alegoría y autobiografismo en el Viaje
del Parnaso, véase Jean Canavaggio, «La dimensión autobiográfica del Viaje del
Parnaso», en Cetvantes entre vida y creación, cit., pp. 73-83.
La cita de la continuación de Avellaneda se ha tomado de la edición de
Martin de Riquer, Segundo tomo del ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha,
Espasa-Calpe, Madrid, 1972, I, p. 12 . Sobre la identificación de Avellaneda
con Pasamonte, véase el ya citado estudio de Martín de R iquer, Cetvantes,
Passamonte y Avellaneda. Esta hipótesis ha sido discutida por Edward C . R i ­
ley, «¿Cómo era Pasamonte?», Actas del III Congreso Internacional de la Asocia­
ción de Cetvantistas, Universität de les liles Balears, Palma de Mallorca, 1998,
pp. 85-96; la han defendido con nuevos argumentos Alfonso Jim énez M ar­
tínez, E l «Quijote» de Cervantes y el «Quijote» de Pasamonte. Una imitación recí­
proca, Alcalá de Henares, Centro de Estudios Cervantinos, 2001, y Helena
Percas de Ponseti, «Un misterio dilucidado: Pasamonte fue Avellaneda», Cer­
vantes, X X II [1] (2002), pp. 12 7 -15 4 .
Las apreciaciones de José M anuel Martín M orán acerca de los desdobla­
mientos del narrador identificables con el propio Cervantes se encuentran
en E l Quijote en ciernes, cit., p, 167.
2. C E R V A N T E S : P E N S A M I E N T O ,
P E R S O N A L ID A D , C U L T U R A
Anthony Close
Son evidentes los riesgos que comporta el intento de esbozar,
en pocas páginas, nada más y nada menos que una imagen de
la personalidad, el pensamiento y la cultura de M iguel de C e r­
vantes. En primer lugar, tal designio se enfrenta con el mismo
tipo de tropiezos que dificultan la labor de los biógrafos de
Cervantes: las numerosas etapas oscuras en su currículum, que
nos impiden conocer con suficiente detalle sus estudios, lectu­
ras y relaciones literarias; la falta de testimonios íntimos y di­
rectos de su ideario y personalidad. ¡Ojalá tuviéramos un co ­
pioso epistolario cervantino, com o el dirigido por Lope de
Vega al duque de Sessa, o algún tratado político o moral, como
los que manaron de la pluma de Quevedo! Nuestro empeño,
además, puede parecer temerario si se tiene en cuenta la idea
de la ambigüedad de Cervantes com o aspecto ineludible de su
profundidad, convertida en tópico desde la publicación en
1925 de E l pensamiento de Cervantes de Am érico Castro. En otro
capítulo del presente prólogo me ocupo del impacto funda­
mental del citado libro sobre la crítica cervantina posterior. Las
reacciones divergentes que suscitó, junto con el hecho de que
la teoría literaria moderna haya puesto de m oda el insistir ma­
chaconamente en lo escurridizo del yo del autor literario, no
han hecho más que reforzar el tópico.
Sin embargo, si queremos comprender históricamente a C er­
vantes y su época, nos conviene abandonar semejantes preven­
ciones, pues uno y otra se habrían extrañado de nuestra actitud
de perplejidad reverencial ante el Quijote y su autor. E l juicio de
Sansón Carrasco sobre la Prim era parte es tajante al respecto:
«es tan clara, que no hay cosa que dificultar en ella: los niños
la manosean, los mozos la leen, los hombres la entienden y los
viejos la celebran» (II, 3, 7 1 1 ) . Adem ás, en aquellos tiempos,
los hombres solían dar por sentada la relación directa entre el
L X X III
LXXIV
PRÓLOGO
yo de un autor (sus experiencias, opiniones, etc.) y la máscara o
personalidad ficticia que asumía dentro de su obra, y no com ­
partían los escrúpulos que hoy en día nos impiden saltar de ésta
a aquél. Innumerables textos del Siglo de O ro fueron com ­
puestos, en todo o en parte, con un propósito autorevelador: la
novela pastoril en conjunto, la Vida de Marcos de Obregón de V i­
cente Espinel, La Dorotea de Lope de Vega... Los escritos cer­
vantinos no deben sustraerse de la lista; Suárez de Figueroa, en
un pasaje de E l pasajero (16 17 ), y pensando sin duda en la his­
toria del capitán cautivo (Quijote, I, 39-42), ironiza incluso so­
bre el hábito de Cervantes de convertir sus vivencias en mate­
ria de ficción. D e todas las obras cervantinas, el Quijote es la que
más claramente deja constancia de haber sido compuesta con
espíritu de compromiso personal: la Primera parte es un apa­
sionado credo estético, cuyas implicaciones rebasan con m ucho
el marco caballeresco; la Segunda constituye un homenaje lúdico pero sentido al triunfo popular de los dos héroes, y, por
extensión, a la genialidad de su concepción. Incurriríamos,
pues, en un anacronismo perverso si renunciáramos a ver al
hombre tras su obra, ya que está instalado de m odo manifiesto
dentro de eËa.
Em pecem os con la cultura literaria de don M iguel, tema que
fue tratado por M arcelino M enéndez Pelayo en una conferen­
cia magistral de 1905, y posteriormente por Am érico Castro,
M arcel Bataillon, Armando Cotarelo, Arturo Marasso, Agustín
G . de Am ezúa y M ayo, Edw ard C . R ile y , Alban Forcione,
Francisco M árquez Villanueva, M axim e Chevalier y, de un
m odo u otro, por cuantos han investigado las deudas de C er­
vantes con el pensamiento «ilustrado» del siglo x v i , condena­
do a la clandestinidad por la ortodoxia predominante. A pesar
de no haber cursado estudios universitarios, circunstancia que
explica el habérsele puesto en vida la etiqueta de ingenio lego
(es decir, persona sin conocim iento de las lenguas y disciplinas
doctas), Cervantes fue alumno destacado del Estudio de la V i­
lla de M adrid, regentado por el maestro López de H oyos,
quien, en un libro compuesto para conm emorar la muerte y
exequias de la tercera esposa de Felipe II, lo califica de «nues­
tro caro y amado discípulo». Desconocem os el programa de es­
tudios preuniversitarios que se impartían en esa institución o en
PEN SA M IEN TO , PER SO N A LID A D , C U L T U R A
LXXV
otras escuelas a las que Cervantes asistiera antes. Pero cabría su­
poner que no difería m ucho de la ratio studiorum de los jesuítas,
cuya escuela sevillana es calurosamente elogiada en el Coloquio
de los perros. E l programa incluía el estudio intensivo de la gra­
mática latina, prolongado durante años, ju n to al exam en de
autores y textos: las cartas de Cicerón, las comedias de Terencio, las églogas de Virgilio, las Epistolae ex Ponto y los Tristia de
O vidio, fragmentos de Séneca y de Salustio. E l último año. se
dedicaba a la enseñanza de la composición latina, la poética y
la retórica, basada en el D e copia y D e conscribendis epistolis de
Erasmo, el Ars poetica de H oracio, las oraciones y las Tusculanae
disputationes de Cicerón, la Retorica ad Herennium y partes de la
Institutio oratoria de Quintiliano. E l aprendizaje de Cervantes en
las lenguas clásicas no sería desaprovechado posteriormente: se
manifiesta en el sesgo académico de su teoría literaria y en su
gusto por el estilo característico de los prosistas más destacados
de la segunda mitad del siglo x v i , con la tendencia a reprodu­
cir la ampulosidad, sonoridad y simetría de la oratoria cicero­
niana. Tal estilo es típico sobre todo de La Galatea y de la Pri­
mera parte del Quijote (discurso de las armas y las letras, de la
Edad de O ro, etc.). Aunque tanto M enéndez Pelayo como
Marasso adjudican a Cervantes un dominio razonable del latín,
hay que añadir que también estaría familiarizado con las tra­
ducciones de los textos antiguos que más directamente influye­
ron sobre su obra: la Eneida, recordada con frecuencia en el
Quijote y traducida por Hernández de Velasco; la Odisea y la
Historia etiópica de Heliodoro, modelos del Persiles, en las tra­
ducciones, respectivamente, de Gonzalo Pérez y Femando de
M ena; las sátiras de Luciano (de las que existían numerosas ver­
siones latinas), el Asno de oro de Apuleyo (fue m uy leída la tra­
ducción de D iego López de Cortegana) y las fábulas de Esopo
(cuya primera edición vernácula data de 1488), que han dejado
su huella en el Coloquio de los perros.
Si pasamos de la Antigüedad al Renacim iento, se enturbia,
por las razones aludidas, el panorama de la form ación intelec­
tual y literaria de nuestro autor. Destrozando la imagen de un
Cervantes inconscientemente genial e intelectualmente vulgar,
que había sido trazada por M enéndez Pelayo en su Historia de
las ideas estéticas en España, Am érico Castro, en el libro ya cita-
IX X V I
PRÓ LO GO
do, le atribuye cualidades m uy distintas: una inteligencia olím ­
picamente superior, un vaivén ambiguo entre la afirmación
trascendental y la negación materialista, la cautelosa disimula­
ción de su escepticismo bajo una capa de hipocresía, una pro­
funda familiaridad con las corrientes más avanzadas e ilustradas
del humanismo europeo. C o n estos materiales, según Castro,
Cervantes forja un sistema ético que, plasmado en forma n o­
velesca más bien que teórica, rivaliza en belleza y originalidad
con el de M ontaigne y demuestra el mismo sesgo racionalista y
secular. Los elementos constitutivos del sistema se hallan tanto
en los escritos menores com o en los mayores y conforman un
mosaico coherente e inteligentemente pensado. E l cervantismo
posterior a 19 25, embelesado por esa visión audaz e innovado­
ra del pensamiento cervantino y atraído por la manera en que
se anticipaba al relativismo, agnosticismo y liberalismo del siglo
X X , aceptó, y sigue aceptando, algunas de las tesis principales
de Castro; fundamentalmente, las relativas al perspectivismo de
Cervantes y a su hábito de reflexión crítica y consciente sobre
todos los aspectos de su arte. N o obstante, ha rechazado la ten­
dencia a convertirlo en precursor del racionalismo europeo del
siglo X V I I , con la consiguiente secularización y ampliación in­
verosím il de sus horizontes intelectuales.
Hasta fechas relativamente recientes, los estudios que han se­
guido los derroteros de E l pensamiento de Cetvantes, intentando
vincular el ideario cervantino con tradiciones contrarias a las de
la España postridentina, se han centrado sobre todo en la he­
rencia intelectual y espiritual de Erasmo de Rotterdam (1469?1536), es decir, en la aspiración a armonizar el cristianismo con
los estudios humanísticos y el Serm ón de la M ontaña con la
moral socrática y estoica, para llevar a cabo de acuerdo con es­
tos ideales una reforma radical de la vida cristiana en todas sus
esferas: eclesiástica, política, laica, pedagógica. Los conocidos
ataques satíricos de Erasmo al materialismo de la Iglesia de
R o m a y a su obsesión por el simbolismo externo del culto fue­
ron aspecto integrante de este programa. Los aludidos estudios
incluyen los trabajos de M arcel Bataillon, Francisco Márquez
Villanueva y Alban Forcione. Todos estos críticos, a pesar de
su admiración declarada por E l pensamiento de Cervantes, reac­
cionan en parte contra él esforzándose por ofrecer versiones
PEN SA M IEN TO , P ER SO N A LID A D , C U L T U R A
LXXVII
más matizadas y precisas de las deudas intelectuales y literarias
de Cervantes o bien por reducir su inconformismo a dimen­
siones proporcionadas al contexto ideológico circundante.
C o n todo, incluso esas aplicaciones moderadas de las leccio­
nes de Castro incurren en interpretaciones que pecan por ex ­
ceso de sutileza. Ello se debe a que en el Siglo de O ro español
estaba rigurosamente censurado todo lo que suponía una ame­
naza para los ritos, dogmas e instituciones de la Iglesia católica
y, además, los residuos de pensamiento erasmista que pueden
tal vez hallarse en los escritos de Cervantes y sus coetáneos co ­
bran un sentido m uy distinto al que tenían medio siglo antes
por estar encuadrados en un contexto ideológico postridentino.
Acaso por estos motivos la tendencia a liberalizar el pensa­
miento cervantino ha tomado en años recientes, aproximada­
mente desde 1980, caminos distintos: los críticos han abando­
nado la cantera erasmista, quizá agotada, para explotar otras,
incluidas las teorías de Bajtín sobre el diálogo novelístico, su
naturaleza polifónica y su relación con el espíritu subversivo del
mundo al revés carnavalesco.
C o n las observaciones anteriores, no tengo el propósito de
hacer de Cervantes un pacato partidario de la Contrarreforma,
ni dar a entender que aceptase sin reservas el régimen político
de la época en que le tocó vivir. M i objetivo es, sencillamen­
te, sugerirle al lector que la grandeza esencial de Cervantes —su
tolerancia y humanidad, su capacidad para cuestionar nuestras
certezas e identificar rasgos perennes de la psicología humana,
su incomparable estilo- no quedaría explicada en el fondo, ni
a m i entender aumentaría en un ápice, si de repente descubrié­
ramos milagrosamente que tenía ascendencia judía, aborrecía el
régimen de Lerma y el Santo O ficio y poseía una biblioteca
atestada de ediciones de Erasmo, M ontaigne, Giordano Bruno,
Pomponazzi, etc. C reer lo contrario es en cierta medida repe­
tir el error de los críticos esotéricos del siglo x i x , como Díaz de
Benjum ea, que presentaban a Cervantes com o precursor del
republicanismo librepensador.
¿Cuáles eran, pues, las lecturas de Cervantes? C o n la caute­
la que exige cuestión tan controvertida, ofreceré una lista de
sus libros de cabecera o de los que ayudaron de manera deci­
siva a moldear su pensamiento y arte: toda la lírica española,
LXXVIII
PRÓLOGO
desde la época de los cancioneros hasta comienzos del siglo
con Garcilaso de la Vega a la cabeza; varios líricos italia­
nos, com o Petrarca, Bem bo, Tansillo, a quienes cita en sus
obras; La Celestina (1499) de Fernando de R o jas y sus imita­
ciones; el Lazarillo de Tomes (1554); el Guzmán de Alfarache
(1599, 1604) de M ateo Alem án; entre los poemas heroicos, La
Araucana de Alonso de Ercilla (1569) y el Orlando furioso de
Ariosto (15 16 ); R odríguez de M ontalvo, Amadís de Gaula
(1508); Jo a n M artorell, Tirante el Blanco (traducción castellana
de 1 5 1 1 ) ; Jo rg e de M ontem ayor, La Diana (hacia 1559); Gas­
par G il Polo, Diana enamorada (1564); el teatro español de su
tiempo, en especial el de Lope de Vega; los novelliert italianos
y, sobre todo, Boccaccio (mediados del siglo x iv ) y Bandello
(mediados del x v i) ; el Galateo español de Gracián Dantisco
(popularísimo libro de etiqueta, publicado hacia 1586); la B i­
blia; los Diálogos de Amor de León H ebreo (tres traducciones
españolas en el siglo x v i) ; las obras de Antonio de Guevara,
incluidas las Epístolas familiares (1539); la Philosophia antigua po­
ética de Alonso López Pinciano (1596); libros didácticos o de
misceláneas, como la Historia natural de Plinio, la Silva de varia
lección, de Pero M ejía (1540), y tal vez la Miscelánea de Luis Z a ­
pata (hacia 1590) en alguna versión manuscrita; libros de his­
toria y biografías, com o los citados por el canónigo de Toledo
en el Quijote (I, 49). Entre los nombres de autores, conviene
destacar dos, ya que Cervantes parece distanciarse de ellos:
Lope de V ega y M ateo Alem án. La enemistad literaria entre
Cervantes y Lope por un lado, y entre Cervantes y Alem án
por otro, ha sido comentada a m enudo, y a m i ver exagerada.
E l ejem plo de Lope no soló induce a Cervantes a plegarse a las
normas de la comedia nueva en sus Ocho comedias -p ese a la
censura severa a los desmanes artísticos del lopismo puesta en
boca del cura (Quijote, I, 48)—, sino que le brinda una fuente
fecunda de situaciones y personajes para sus novelas románti­
cas, que pudieran calificarse, m odificando ligeramente una fra­
se de Avellaneda, de «comedias de capa y espada en prosa» (en
el prólogo a la continuación espuria del Quijote se lee: «Con­
téntese con su Galatea y comedias en prosa, que eso son las
más de sus novelas»). Para poner de relieve la importancia de
la deuda de Cervantes con Alem án, basta apuntar que todas
X V II,
PEN SA M IEN TO , PE R SO N A LID A D , C U LTU R A
L X X IX
las obras cervantinas famosas del decenio 16 0 0 -16 10 —la P ri­
mera parte del Quijote, Rinconete y Cortadillo, el Coloquio de los
perros, E l celoso extremeño, E l licenciado Vidriera, La ilustre frego­
na, La gitanilla—mantienen una especie de dialéctica soterrada
con la obra maestra de Alem án, inspirándose en ella al tiem ­
po que atenúan su didactismo y los aspectos groseros de su
comicidad.
Asi que la formación de Cervantes consistiría en una educa­
ción humanística a nivel preuniversitario, a la cual se vendría a
añadir un autodidactismo gracias al cual adquirió un cono­
cim iento íntim o de la literatura española e italiana: poesía,
ficción, teatro, historia, preceptiva literaria, obras didácticas.
Convendría hacer aquí dos matizaciones. La primera viene al
hilo de lo expuesto por A ngel Rosenblat en La lengua de Cer­
vantes, donde sostiene que el estilo del Quijote presenta una ar­
moniosa síntesis de lo culto y lo popular que afirma su propia
individualidad jugando burlonamente con los elementos trilla­
dos o fosilizados de la lengua, sea cual sea su nivel de proce­
dencia. La observación es certera en la medida en que el autor
del Quijote acoge en su libro, con indulgencia irónica, un am­
plio abanico de registros y sociolectos que desborda el marco
de lo estrictamente literario: la germanía, chistes y cuentecillos,
los lugares comunes del habla cotidiana, satirizados por Q uevedo en su Cuento de cuentos, el lenguaje notarial, comercial, li­
túrgico, términos del ju ego, juramentos e imprecaciones, el re­
franero, fórmulas epistolares, el lenguaje rústico. Esta actitud
corresponde a la tendencia, fundamental en el Quijote, y anun­
ciada desde su primera página, a contraponer a las quimeras
exaltadas del protagonista, de inspiración arcaizante y libresca,
un nivel de vida prosaico, casero y actual. Corresponde asimis­
mo al empeño constante de Cervantes como creador: escribir
literatura de entretenimiento asequible a todos, sin menoscabo
de las reglas del arte y las exigencias del buen gusto: «Procurad
también que, leyendo vuestra historia, el melancólico se m ue­
va a risa, el risueño la acreciente, el simple no se enfade, el dis­
creto se admire de la invención, el grave no la desprecie, ni el
prudente deje de alabarla» (Quijote, I, Prólogo, 19). Por lo tan­
to, la cultura de Cervantes —y concretamente, la que cristaliza
en su obra m aestra- no se limita a las manifestaciones literarias,
LXXX
PRÓLOGO
sino que incluye también las orales y folclóricas, además de
todo tipo de prácticas sociales y usos cotidianos. Por su des­
lumbrante poder de asimilación y de síntesis, el Quijote puede
equipararse con la obra de Shakespeare.
La segunda matización consiste en observar que saber cuáles
fueron los libros leídos por Cervantes nos importa m ucho m e­
nos que saber cómo los leyó y qué partido sacó de sus lectu­
ras. En un notable ensayo, Am érico Castro llamó la atención
sobre la «literariedad» de la obra maestra de Cervantes, es de­
cir, el hecho de que casi todos sus personajes se muestren ob­
sesionados con la palabra escrita, creándola, consumiéndola,
criticándola y, como el protagonista, convírtiéndola en núcleo
de sus vivencias. Y a lo habríamos adivinado si no lo hubiera
confesado el mismo Cervantes: «como yo soy aficionado a leer
aunque sean los papeles rotos de las calles, llevado desta m i na­
tural inclinación tomé un cartapacio de los que el muchacho
vendía y vile con carácteres que conocí ser arábigos» (Quijote,
I, 9, i i 8). Aquí, en el m om ento de fingir el descubrimiento
del manuscrito de C ide Ham ete Benengeli, Cervantes nos
hace partícipes de su intim idad y aclara el porqué del rasgo
principal de su «ingenioso» hidalgo, cuya ingeniosidad se ma­
nifiesta precisamente en su prodigiosa capacidad para articular,
entretejer y, de m odo involuntario, parodiar registros y con­
textos literarios. Tras la manía del héroe entrevemos la de su
creador, para quien la literatura es una forma de vida, no m e­
ramente un ameno accesorio de ella; su misma conciencia de
lo manido de los tópicos que maneja el hidalgo, sacados de las
más variadas fuentes, no le impide sumarse a este delirante
eclecticismo y deleitarse en el elegante pero absurdo derroche
de citas y tropos. A propósito de la descripción quimérica de
los dos ejércitos —en realidad, dos manadas de ovejas- exclama
Cervantes: «¡Válame D ios, y cuántas provincias dijo, cuántas
naciones nom bró, dándole a cada una con maravillosa preste­
za los atributos que le pertenecían...!» (Quijote, I, 18, 210 ). La
«maravillosa presteza» que aquí se aplaude, con una mezcla de
ironía y admiración, no está motivada solamente por las rem i­
niscencias caballerescas, sino por el recuerdo de pasajes de la
litada (rapsodia III), la Eneida (canto V II), Ju an de M ena y tal
vez Luis Zapata, de los que se nos brinda un espléndido pasti­
PEN SA M IEN T O , P ER SO N A LID A D , C U L T U R A
LXXXI
che. La literariedad del Quijote, con la actitud de autocrítica y
de autorreflexión que supone, es tal vez el rasgo que más lo
acerca a nuestra época; es una novela que, además de criticar
otro género literario, incorpora a su propio entramado ficticio
los problemas planteados por dicha crítica —la «verdad de la
historia» o la verosimilitud, entre o tros- junto con el proceso
de su com posición y recepción.
Volvam os a la espinosa tarea de precisar las particularidades
del pensamiento de Cervantes. Para tratarla, conviene tomar
La Galatea como punto de partida, ya que en este libro C e r­
vantes desarrolla una serie de ideas destinadas a fundamentar su
pensamiento ético en general. C om o las demás novelas pasto­
riles españolas, ésta versa sobre el tema del amor y, en especial,
sobre la cuestión de la licitud del amor cortés —la relación
amorosa del cortesano con su dama—, que se remonta hasta La
Celestina y los cancioneros del siglo x v , pasando por la lírica
de Garcilaso y La Diana de M ontem ayor. Puesto que tal códi­
go pretendía emanciparse del yugo matrimonial, constituía, de
entrada, una flagrante infracción contra la m oral cristiana y las
convenciones sociales y, por consiguiente, suscitaba una pre­
visible condena dirigida a la literatura y las prácticas sociales
que lo glorificaban. M ontem ayor y sus sucesores, valiéndose
de las doctrinas neoplatónicas que circulaban en las cortes y
academias italianas, intentaron distinguir el buen amor de su
contrario: en aquél, la sensualidad quedaría sublimada en la
contemplación de la belleza espiritual de la amada, reflejo de
la de D ios. Cervantes, mediante el discurso de Tirsi en el libro
cuarto de La Galatea, da un fundamento ortodoxo a este sue­
ño idealizado, fundiendo la concepción neoplatónica del am or
con la teología cristiana, que afirma la santidad del m atrimo­
nio y la bondad de los instintos naturales, siempre que éstos es­
tén sujetos al precepto religioso y a la razón. Desde La Galatea hasta el Persiles y Sigismunda, Cervantes se mantiene fiel a la
visión idealizada del buen am or com o servicio puro y ardien­
te de la amada, servicio que, sin desacato a su honestidad y li­
bre albedrío, aspira al m atrimonio. Este ideal fundamenta su
concepción de la relación entre los sexos en la medida en que
no sólo los amantes nobles (Elicio y Galatea, etc.), sino tam ­
bién los degradados o paródicos (don Q uijote y Dulcinea,
LX X XII
PRÓLOGO
etc.), están ideados en función del mismo. Además - y es esto
lo que importa subrayar— demuestra la creencia de Cervantes
en el potencial noble del ser humano si se ajusta a la provi­
dencia divina, la razón, la naturaleza bien concertada, la expe­
riencia y los usos sociales, excluidos aquellos que contravienen
las normas anteriores.
«Si estos preceptos y estas reglas sigues, Sancho», le dice don
Q uijote al futuro gobernador, «serán luengos tus días, tu fama
será eterna, tus premios colmados, tu felicidad indecible, ca­
sarás tus hijos com o quisieres, títulos tendrán ellos y tus nie­
tos, vivirás en paz y beneplácito de las gentes» (II, 42, 10 6 11062). H ay algo de hipérbole en esta promesa y, no obstante,
da fe de una actitud bien distinta al pesimismo de un Gracián.
N o quiero decir con ello que Cervantes profese un optim is­
m o ingenuo: ni su propia experiencia de la vida ni su religión
se lo habrían perm itido. U n aspecto fundamental de su con­
cepto de la condición humana es el reconocim iento de los es­
tragos causados por el pecado original. E n el Coloquio de los
perros, la obra en que más claramente se acusa la influencia del
Guzmán de Alfarache, lo expresa en tonos amargos que re­
cuerdan los pasajes donde el picaro pondera la bestialidad y
m alicia de sus prójimos. E n el Persiles impera la visión de la
vida com o peregrinación dolorosa a través de un mar insegu­
ro en busca de bienes forjados por el engaño. Las Ocho come­
dias, si bien con una tonalidad más risueña, com plementan
esta actitud presentando la m ente humana com o una especie
de cueva de M ontesinos donde acechan monstruos engendra­
dos por el sueño de la razón. N o obstante, si Cervantes suele
burlarse de esos monstruos en vez de tratarlos com o m otivo
de tragedia, ello se debe a que suelen presentársele bajo el as­
pecto de imprudencia, irracionalidad o ignorancia en que el
ser humano incurre por ceguera propia. Esta actitud suya
obedece sin duda al racionalismo, o gusto por la armonía y la
proporción, del que hace alarde en numerosos pasajes de su
obra, com o éste, extraído del capítulo sexto del Viaje del Par­
naso (vv. 49-58, f. 47v):
PEN SA M IEN TO , PE R SO N A LID A D , C U L T U R A
LX X XIII
Palpable vi, mas no sé si lo escriba,
que a las cosas que tienen de imposibles
siempre mi pluma se ha mostrado esquiva;
las que tienen vislumbre de posibles,
de dulces, de süaves y de ciertas,
explican mis borrones apacibles.
Nunca a disparidad abre las puertas
mi corto ingenio, y hállalas contino
de par en par la consonancia abiertas.
Pero dicha postura obedece también a un impulso a la vez com ­
plementario y contrario al anterior, que lleva a Cervantes a
compartir hasta cierto punto, y por ende a comprender, las fan­
tasías extravagantes de su personaje más famoso. E l pasaje si­
guiente, en el primer capítulo del mismo poema (w . 94-102,
f. 3), es esencial para la comprensión de la mentalidad cervanti­
na; fundamento del retrato que de sí mismo ofrece en el Viaje,
está destinado a explicar por qué, a pesar de todos los inconve­
nientes de la empresa, ha decidido viajar al monte Parnaso en
busca de la gracia poética que no quiso darle el cielo:
El poeta más cuerdo se gobierna
por su antojo baldío y regalado,
de trazas lleno y de ignorancia eterna.
Absorto en sus quimeras, y admirado
de sus mismas acciones, no procura
llegar a rico, como a honroso estado.
Vayan, pues, los leyentes con lectura,
cual dice el vulgo mal limado y bronco,
que yo soy un poeta desta hechura.
Claro está, el yo de Cervantes, tal com o se presenta en el Viaje
del Parnaso, es un personaje ficticio, que no puede identificarse
sin más ni más con el autor de carne y hueso. E n cuanto al pa­
saje citado, debemos descartar com o broma la manera irónica
en que rebaja su propio talento poético. Sin embargo, el ensi­
mismamiento, el impulso fantaseador y la vanagloria son rasgos
tan insistentes de este yo, y concuerdan con un tipo de persona­
LX X XIV
PRÓLOGO
je tan recurrente en las obras de Cervantes, que no puedo m e­
nos de inferir que se basan en el conocimiento de sí mismo. E l vai­
vén entre los dos móviles que acabo de ejemplificar, el racional
y el quijotesco, es una de las constantes de su creación literaria.
Llegado al jardín de A polo en el m onte Parnaso, adonde ha
acompañado a los buenos poetas de España, Cervantes sufre
una decepción humillante. Mientras a los demás poetas se les
asignan asientos correspondientes a sus méritos, él es el único a
quien dejan en pie. Cervantes reclama indignado ante Apolo
(IV, w . 70-87, ff. 29 -29 V ), el cual le contesta serenamente:
Vienen las malas suertes atrasadas,
y toman tan de lejos la corriente,
que son temidas, pero no excusadas.
El bien les viene a algunos de repente,
a otros poco a poco y sin pensallo,
y el mal no guarda estilo diferente.
El bien que está adquirido, conservallo
con maña, diligencia, y con cordura
es no menor virtud que el granjeallo.
Tú mismo te has forjado tu ventura,
y yo te he visto alguna vez con ella;
pero en el imprudente poco dura;
mas si quieres salir de tu querella
alegre, y no confuso, y consolado,
dobla tu capa y siéntate sobre ella;
que tal vez suele un venturoso estado,
cuando le niega sin razón la suerte,
honrar más merecido que alcanzado.
'
E l providencialismo manifestado en este pasaje, intrínseco a la
actitud vital de Cervantes, comporta la premisa de que los alti­
bajos de la fortuna, por arbitrarios que parezcan a primera vis­
ta, están diseñados para poner a prueba el temple moral de los
mortales y desembocan, a la larga, en el castigo de los culpables
y el triunfo de los virtuosos. Por lo tanto, don Q uijote y A p o ­
lo están conformes en que «cada uno es artífice de su ventura»
(Quijote, II, 66, 1276). Corolario de esta sabia sumisión al des­
tino es la percepción de una oscilación constante entre el bien
PEN SAM IEN TO , PE R SO N A LID A D , C U L T U R A
LXXXV
y el mal en el orden cósmico —«che per tal variar natura è b e­
lla» (el refrán italiano remata el bello soneto del libro V de La
Galatea: «Si el áspero furor del mar airado,..», ff. 2 4 7 V -24 8 )—,
la cual exige que el hombre reaccione con ecuanimidad ante la
buena o mala suerte, y renuncie a afanarse por parar los golpes
de la fortuna por medios materiales, error del protagonista de
E l celoso extremeño. Cervantes cree, igual que Calderón, que el
hombre vence a la fortuna venciéndose a sí mismo. E l providencialismo cervantino incluye, además, una actitud racionalis­
ta que halla la virtud en un término medio entre el exceso y la
deficiencia, fijado asimismo por la naturaleza. E l pastor Damón,
puesto a juzgar cuál de las desgracias lamentadas por cuatro pas­
tores es más digna de compasión, niega su voto al pastor
O rom po, que llora la muerte de su pastora. D am ón se funda en
que «la causa es que no cabe en razón natural que las cosas que
están imposibilitadas de alcanzarse puedan por largo tiempo
apremiar la voluntad a quererlas ni fatigar al deseo por alcan­
zarlas» (La Galatea, libro III, ff. 16 2 - 16 2 V ) . Y añade, con ecos
de Garcilaso, que si bien el no llorar la pérdida de un ser ama­
do sería inhumano y bestial, el entregarse indefinidamente al
dolor supondría carecer de ju icio, puesto que el discurso del
tiempo cura esta dolencia, la razón la mitiga, y las nuevas oca­
siones tienen mucha parte para borrarla de la memoria. La mis­
ma fe en la prudente moderación se demuestra en la yuxtapo­
sición de don Q uijote con Sancho: la temeridad y abstinencia
delirantes por un lado, y la glotonería, cobardía y pereza por
otro, se ironizan mutuamente y apuntan al valor de la aurea me­
diocritas. Dada esta exaltación de la prudencia aristotélica, hay
algo de paradójico en la fascinación cervantina por los chiflados
y marginados de la fauna humana.
E l racionalismo ético de Cervantes, junto con su repudio ins­
tintivo de la injusticia y la crueldad, le llevan a condenar la bar­
barie del precepto que reza: «la mancha del honor sólo con san­
gre del que ofendió se lava», y, en general, todo tipo de
venganza impulsiva. A diferencia de la m ayor parte de los dra­
maturgos y novelistas españoles del siglo x v n , Cervantes, al
tratar el tema del adulterio, hace que los maridos ultrajados aca­
ben perdonando a sus esposas y reconociendo que ellos mismos
cargan con parte de la culpa. E l padre de Leocadia, la heroína
L X X XV I
PRÓLOGO
de La fuerza de la sangre, violada brutalmente en la primera es­
cena de la novela, muestra el mismo tipo de comprensión, ab­
solviéndola noblemente de toda culpa: «La verdadera deshonra
está en el pecado, y la verdadera honra en la virtud; con el di­
cho, con el deseo y con la obra se ofende a D ios, y pues tú ni
en dicho, ni en pensamiento, ni en hecho, le has ofendido, ten­
te por honrada, que yo por tal te tendré, sin que jamás te mire
sino como verdadero padre tuyo» (Novelas ejemplares, f. 130V).
Pero el que Cervantes reconozca que la opinión social es a m e­
nudo injusta, y lo sienta tan de veras que remata su Coloquio de
los perros con esta amarga reflexión, no debe tomarse como in­
dicio de que mirase con altivo desprecio la honra mundana. La
única perspectiva desde la que cabía tal objetividad era la vida
monástica, por la que ni él ni la m ayor parte de sus personajes
muestran vocación. Sus reservas respecto a los preceptos del
código del honor relativos al adulterio están compuestas, en
partes casi iguales, por escrúpulos cristianos («No matarás») y
por pragmatismo mundano. Este pragmatismo incluye la idea
de que el deshonor equivale a la muerte social (Quijote, II, 3),
la insistencia en la necesidad de evitar el escándalo («más lasti­
ma una onza de deshonra pública que una arroba de infamia se­
creta», dice el padre de Leocadia), la concepción paternalista
del papel social de la mujer, para quien la virtud se limita, en la
práctica, a la obediencia y la castidad. Es cierto que este paternalismo está atenuado en parte por las exigencias de la fábula
romántica que llevan a Cervantes, igual que a Lope, a pintar
con indulgencia a heroínas atractivas (Marcela, D orotea, etc.)
que reclaman su derecho a decidir su destino matrimonial. En
fin, el pensamiento de Cervantes sobre el honor es inteligente
y humanitario, pero concorde con las premisas comunes de su
tiempo; las obligaciones del caballero honrado expuestas por
don Q uijote ante la sobrina constituirían, para el lector coetá­
neo, una doctrina sumamente equilibrada (Quijote, II, 6).
E l mismo pragmatismo se observa en el ámbito político y so­
cial. R afael Lapesa señaló ya que las actitudes de Cervantes pa­
san de un período de inconformismo e irreverencia, que com ­
prende la década 15 9 5-16 0 5 y se refleja en escritos como el
soneto burlesco al túmulo ornamental erigido en la catedral de
Sevilla para conmemorar la muerte de Felipe II, a otro de ma-
P EN SA M IEN TO , PE R SO N A LID A D , C U L T U R A
LXXXVII
yor conformismo, marcado por la creciente devoción de los
años postreros. Am érico Castro interpretó este cambio com o
un acto de renuncia a la marginación social: el rebelde que es­
cribiera el primer Quijote anunciaba, con las melosas declara­
ciones de ejemplaridad del prólogo a las Novelas ejemplares, que
se proponía alinearse con el orden establecido y escribir litera­
tura acorde con sus valores. Pese a la simplificación de esta te­
sis, no hay duda de que el autor del segundo Quijote se nos di­
rige con un acento más moderado y benigno del que adoptó
en la Primera parte, donde dividía el mundo -sobre todo el li­
terario- entre los buenos y los malos y manifestaba sus discre­
pancias con una agresividad a veces teñida de malicia personal.
Aunque, en com paración1con la Primera parte, la Segunda
está en principio m ucho más orientada hacia la realidad social
y pinta a numerosos personajes (R oque Guinart, el morisco
R ico te, los duques...) que parecen surgir de un tupido contex­
to histórico, la manera en que Cervantes los presenta suele es­
camotear este contexto, ya sea por el escenario estilizado, tea­
tral, indeterminado o evasionista en que los coloca, ya porque
su punto de mira está centrado en el caso o idiosincrasia indi­
vidual, más bien que en el problema colectivo. Creo que la fal­
ta de precisión es deliberada. Si comparamos a Cervantes con
Alem án y Q uevedo, observamos en el primero una actitud de
abstencionismo político que se manifiesta en la negativa a de­
clararse sobre temas polémicos y a meterse con las clases g o ­
bernantes. Así, en el Coloquio de los perros, la obra que ofrece la
versión más completa -y a que no la más clara y explícita- de
su ideario social, las críticas asestadas a distintos grupos van casi
siempre acompañadas de comentarios destinados a suavizar y
moderar su impacto. Además, las denuncias más severas apun­
tan a grupos parasitarios o marginados cuya maldad está a la vis­
ta y constituye un escándalo para cualquier ciudadano honrado
y prudente: la plaga de buhoneros, titereros, mendigos («gente
vagamunda, inútil y sin provecho; esponjas del vino y gorgo­
jo s del pan»), los gitanos, los moriscos, las brujas. E n cuanto a
las clases superiores, Cervantes mantiene un discreto silencio,
con una excepción: el Ayuntam iento de Sevilla. E l m otivo de
este silencio se manifiesta hacia el final del coloquio: «Mira,
Berganza, nadie se ha de m eter donde no le llaman, ni ha de
LX XXVIH
PRÓLOGO
querer usar del oficio que por ningún caso le toca. Y has de
considerar que nunca el consejo del pobre, por bueno que sea,
fue admitido, ni el pobre humilde ha de tener presunción de
aconsejar a los grandes y a los que piensan que se lo saben todo»
(.Novelas ejemplares, f. 273v). N o obstante, lo que el Coloquio
cervantino pierde en especificidad, lo gana en universalidad y
en potencial inquietante. M ediante esta parábola Cervantes da
a entender que el mal social no consiste meramente en una se­
rie de abusos o cabezas de turco que el satírico, encaramado en
su púlpito, deba fustigar con desdén objetivo; los amos dege­
nerados de Berganza ejemplifican impulsos viciosos que el pe­
rro, personificación del Hom bre, lleva dentro de sí mismo. Este
enfoque es característico de Cervantes. Todas sus ficciones ma­
yores - e l Coloquio, el Quijote, el Persiles- son odiseas cuyos es­
collos, sirenas, naufragios y encantadores cumplen el fin ejem ­
plar de llevar a los protagonistas al descubrimiento de la verdad,
que tiene una dimensión personal: el conocimiento de uno
mismo, el temor de Dios, la superación del engaño mediante el
uso de la razón. '
Para conocer la personalidad de Cervantes disponemos de
una serie de preciosos autorretratos: los prólogos y un dilatado
poem a en tercetos, el Viaje del Parnaso, mezcla de fantasía m i­
tológica, de alegoría y de sátira. Los prólogos contienen im ­
portantes declaraciones sobre sus principios y motivaciones ar­
tísticas; el Viaje del Parnaso, entre otras cosas, recapacita sobre
una de esas motivaciones, la pesadumbre producida por su fal­
ta de éxito com o poeta dramático y por no haber obtenido los
premios y el prestigio correspondientes a su valía.
E l prólogo al Persiles, escrito cuando estaba en su lecho de
muerte y que Sánchez Ferlosio, según confesión propia, no po­
día leer sin lágrimas, deja constancia de la importancia capital
que para Cervantes tenían la risa y la amistad. La primacía que
les otorgaba se infiere del hecho de que les rinda tributo al
final del texto, que es, efectivamente, su epitafio literario:
«¡Adiós, gracias; adiós, donaires; adiós, regocijados amigos, que
yo me v o y muriendo, y deseando veros presto contentos en la
otra vida!» (Persiles y Sigismunda, I, f. 4v). La imagen que de sí
mismo proyecta en este y otros prólogos -alegre, chistoso, de
condición apacible, aficionado a charlar con sus amigos— es en
PEN SA M IEN T O , PE R SO N A LID A D , C U L T U R A
L X X X IX
parte una estrategia retórica para ganarse la simpatía del lector,
y, en el Quijote, atenuar el impacto de la sátira. N o obstante,
creo que el recurso retórico y la personalidad subyacente son
una y la misma cosa, puesto que los pasajes de los prólogos en
que Cervantes se retrata de tal manera corresponden a un tipo
de escena reiterado en sus obras de ficción. La misma insisten­
cia en el tema me hace sospechar otra vez que la literatura es
prolongación de la vida. Tom em os un ejemplo concreto: el
encuentro pintado en el prólogo al Persiles, que sin grandes
modificaciones pudiera incorporarse al capítulo que describe el
encuentro de don Q uijote con los dos licenciados, camino de
las bodas de Camacho (II, 19). La escena está pintada con h u ­
m or magistral: el estudiante montado en su borrica, jadeando y
dando voces, y con un cuello precariamente sujeto con dos
cintas, logra por fin alcanzar al pequeño grupo de jinetes que
se dirige a Madrid; nada más enterarse de que uno de ellos es
el famoso M iguel de Cervantes, se precipita para darle un abra­
zo, haciendo volar su cojín por un lado y su portamanteo por
otro; Cervantes, correspondiendo al abrazo, le destroza el cue­
llo de una vez por todas. La torpe e ingenua manifestación de
entusiasmo por parte de este admirador de Cervantes no resta
valor al brío y elegancia del saludo: «¡Sí, sí, éste es el manco
sano, el famoso todo, el escritor alegre, y, finalmente, el rego­
cijo de las Musas!» (I, Prólogo, f. 4v). N o me parece creíble que
Cervantes, ya en su lecho de muerte y habiendo recibido la ex­
tremaunción, inventase este incidente. Ocurriría así como lo
cuenta, y sirve de testimonio de la profunda satisfacción que le
producía su renombre, debido sobre todo al éxito del Quijote.
Cervantes apreciaba y necesitaba la amistad; dentro del Quijo­
te, ella y la risa están íntimamente vinculadas; gracias a esa obra,
se había ganado la amistad de toda España.
A juzgar por la frecuencia y el orgullo con que recuerda L e ­
panto y el cautiverio, y por el silencio en que deja sumido el
desempeño de los cargos de alcabalero y de requisidor de pro­
visiones en Andalucía, la posteridad acierta al suponer que el
primer período fue, para él, un episodio glorioso, y el segun­
do, una fuente de decepción. Compárese el laconismo de esta
referencia a sus experiencias andaluzas: «tuve otras cosas en que
ocuparme, dejé la pluma y las comedias, y entró luego el m ons-
xc
PRÓLOGO
truo de naturaleza, el gran Lope de Vega, y alzóse con la m o­
narquía cómica» (prólogo a las Ocho comedias, I, £ 3) con el
tono triunfante de su alusión, en el prólogo a las Novelas ejem­
plares, a sus proezas militares y logros literarios. E n este pasaje
(Novelas ejemplares, Prólogo, f. 4), imagina que el elogio es una
inscripción compuesta por un amigo para acompañar un retra­
to de Cervantes hecho por Juan de Jáuregui:
Este digo que es el rostro del autor de La Galatea y de Don Quijote
de la Mancha, y del que hizo el Viaje del Parnaso ... y otras obras que
andan por ahí descarriadas, y, quizá, sin el nombre de su dueño. Llá­
mase comúnmente Miguel de Cervantes Saavedra. Fue soldado mu­
chos años, y cinco y medio cautivo, donde aprendió à tener pacien­
cia en las adversidades. Perdió en la batalla naval'de Lepanto la mano
izquierda de un arcabuzazo, herida que, aunque parece fea, él la tie­
ne por hermosa, por haberla cobrado en la más memorable y alta
ocasión que vieron los pasados siglos, ni esperan ver los venideros,
militando debajo de las vencedoras banderas del hijo del rayo de la
guerra Cario Quinto, de felice memoria.
La modestia no es, por cierto, una de las virtudes de don M i­
guel. Pero este defecto suyo, que él mismo confiesa mediante
su alegoría de la Vanagloria en el capítulo sexto del Viaje del
Parnaso (w . 6 4-231), está redimido por el hecho de que él nun­
ca se toma demasiado en serio a sí mismo. Además, el heroís­
m o y demás virtudes que se adjudica en el citado pasaje están
corroborados por testimonios independientes.
E l orgullo de Cervantes, y su exceso de preocupación por su
imagen pública, deben tenerse en cuenta para comprender el
estado de ánimo en que escribió el prim er Quijote. M u y reve­
lador a este respecto es el prólogo a las Ocho comedias (16 1$), es­
crito para explicar por qué Cervantes, ya autor célebre y, años
atrás, dramaturgo popular, tuvo que recurrir a la imprenta para
que el público pudiera conocer estas piezas y disfrutar de ellas.
Según él, esta situación extraordinaria tiene una explicación
m uy sencilla: la corta estima en que los autores, o sea, directo­
res de compañías de actores, le tienen com o dramaturgo. «En
esta sazón me dijo un librero que él m e las compraría [las co­
medias], si un autor de título no le hubiera dicho que de mi
PEN SA M IEN T O , PE R SO N A LID A D , C U L T U R A
XCI
prosa se podía esperar m ucho, pero que del verso, nada; y, si va
a decir la verdad, cierto que me dio pesadumbre el oírlo» (Ocho
comedias, Prólogo, f. 3v). Cervantes no nos dice cuánto tiempo
había durado esta pesadumbre. Pero lo podemos adivinar le­
yendo entre líneas un pasaje anterior del mismo prólogo: «Al­
gunos años ha que volví yo a m i antigua ociosidad, y pensan­
do que aún duraban los siglos donde corrían mis alabanzas,
volví a componer algunas comedias; pero no hallé pájaros en
los nidos de antaño; quiero decir que no hallé autor que me las
pidiese, puesto que sabían que las tenía» (f. 3v). Es decir, su
rencor databa de la época -postreros años del x v i - en que se
retiró de su cargo de funcionario de Hacienda y reanudó su ca­
rrera literaria, esperando, com o era natural, escribir comedias
para los teatros públicos. La decepción que sufrió, sumada a
otras más notorias, le heriría profundamente, sobre todo por
motivos personales: la envidia y la pérdida de dinero («entró
luego el monstruo de la naturaleza, el gran Lope de Vega, y al­
zóse con la monarquía cómica»), la vanidad herida («pensando
que aún duraban los siglos en que corrían mis alabanzas») y la
impresión de que la literatura de entretenimiento en conjunto
estaba echada a perder por el oportunismo comercial, interesa­
do solamente en halagar los gustos chabacanos del populacho.
H e aquí el m otivo de la agresividad del primer Quijote, en
comparación con los escritos posteriores de nuestro apacible es­
critor. Afortunadamente para nosotros, los autores de com e­
dias contribuyeron a que Cervantes cambiara de rumbo, es de­
cir, consiguieron que renunciara a sus ambiciones teatrales y se
dedicara principalmente a la ficción en prosa. E l género de fic­
ción al que se sentía naturalmente atraído era el de las novelas
de aventuras, de tipo romántico, como los episodios intercalados
en el Quijote y el Persiles. Pero las circunstancias decepcionantes
a las que he hecho referencia le hicieron suponer que todo in­
tento en el campo novelístico resultaría vano dado que el público
se aficionaba al mismo tipo de chabacanerías -e n este caso, la lec­
tura de libros de caballerías—que habían frustrado sus ambiciones
teatrales. Era inútil proseguir, pues, mientras no se hubiera lle­
vado a cabo una operación masiva de purga. Es por esta razón
por la que Cervantes equipara los desmanes artísticos del géne­
ro caballeresco con los de la comedia nueva (Quijote, I, 47-48),
X C II
PRÓLOGO
arremetiendo contra ellos - y contra un amplio abanico de aberra­
ciones literarias- con furia quijotesca.
C o n estas reflexiones sobre los móviles que inspiraron la
com posición del Quijote no subestimo la seriedad de los prin­
cipios literarios de Cervantes. Sólo quisiera hacer ver que este
dios literario era un ser humano, sometido al mismo tipo de
flaquezas, ambiciones y decepciones que los demás. Además,
fue un gran hombre, que al final de su vida fue capaz de hacer
balance de sus logros y fracasos, reconocer objetivamente sus
flaquezas y asumir su destino con irónica serenidad.
N O TA B IB LIO G R Á FIC A
La primera edición de E l pensamiento de Cetvantes de Américo Castro fue pu­
blicada entre los anejos de la Revista Española de Filología y ha sido reimpre­
sa por Crítica, Barcelona, 1987. La mencionada conferencia de Marcelino
M enéndez Pelayo, «Cultura literaria de M iguel de Cervantes y elaboración
del Quijote», se encuentra en la Edición Nacional de las Obras Completas de
M enéndez Pelayo; Estudios y discursos de crítica histórica y literaria, C S IC , San­
tander, 19 4 1, I, pp. 323-356. Los otros estudios aludidos son los siguientes:
Agustín G. de Amezúa y M ayó, Cetvantes, creador de la novela corta española,
C S IC , Madrid, 1956, 2 vols, (véase I, pp. 41-56); Marcel Bataillon, «El erasmismo de Cervantes», en Erasmo y España, Colegio de M exico, 1966, pp.
777-801 (incluido en Erasmo y el erasmïsmo, Crítica, Barcelona, 1977); «R e­
laciones literarias», en Suma cervantina, ed. J.B . Avalle-Arce y E .C . R ile y , T a­
mesis, Londres, 1973, pp. 2 15 -2 3 2 ; M axim e Chevalier, «Cinco proposicio­
nes sobre el Quijote», Nueva Revista de Filología Hispánica, X X X V III (1990),
pp. 837-848; Armando Cotarelo Valledor, Cetvantes lector, Publicaciones del
Instituto de España, Madrid, 1943; Alban Forcione, Cervantes and the Huma­
nist Vision, Princeton University Press, 1982; Arturo Marasso, Cetvantes, Aca­
demia Argentina de Letras, Buenos Aires, 1947; Francisco Márquez Villa­
nueva, Fuentes literarias cervantinas, Taurus, Madrid, 1973; Personajes y temas
del «Quijote», Taurus, Madrid, 1975; Edward C. R iley, Teoría de la novela en
Cervantes, Taurus, Madrid, 1966.
Para más detalles sobre los estudiosos del movimiento de oposición inte­
lectual en el siglo x v i frente a la ortodoxia reinante, véase mi artículo «La
crítica del Quijote desde 1925 hasta ahora», en Cetvantes, Centro de Estudios
Cervantinos, Alcalá de Henares, 1995, pp. 3 11 - 3 3 3 y, en especial, la p. 325.
Por supuesto, cualquier estudio sistemático de las fuentes de Cervantes
comporta la investigación de su cultura literaria; véase, dentro de esta línea,
el valioso libro de Aurora Egido Cervantes y las puertas del sueño. Estudios so­
bre «La Galatea», el «Quijote» y el «Persiles», PPU , Barcelona, 1994.
PEN SAM IEN TO , P ER SO N A LID A D , C U L T U R A
XCIII
La calificación de «ingenio lego» dirigida a Cervantes proviene de Tomás
Tam ayo de Vargas, que así le llamó en su Junta de libros, la mayor que ha fis­
to España, hasta el año de 1624. E l mismo Cervantes se aplica este calificativo
en su Viaje del Parnaso, V I, v. 174, f. 50.
Angel Rosenblat trata de la actitud de Cervantes ante la lengua en La len­
gua del «Quijote», Credos, Madrid, 19 7 1, cap. 1.
E n cuanto a los estudios de Am érico Castro y a la peculiar visión racio­
nalista y europeizadora de E l pensamiento de Cervantes, debe tenerse en cuen­
ta que él mismo reaccionó contra estas primeras apreciaciones con la tesis
que sobre «la realidad histórica de España» fue exponiendo en libros y ar­
tículos a partir de 1948. Desde esa fecha, Castro interpreta el Quijote com o
la máxima expresión del sistema de valores que los conversos o marranos es­
pañoles, entre los que Castro cuenta a Cervantes, elaboraron como res­
puesta a su angustiosa situación social. Véase, por ejemplo, Cervantes y los
casticismos españoles, Alfaguara, M adrid-Barcelona, 1966-1967, y mi artículo
«La crítica del Quijote desde 1925 hasta ahora», cit., p. 326.
Acerca de las nuevas lecturas que recibe en nuestros días el Quijote, véase el
artículo de Carroll B . Johnson «Cómo se lee hoy el Quijote», en la ya citada
antología Cervantes, pp. 335-348 (y, sobre todo, p. 342). Menciono a Bajtín
sobre el particular porque el interés por su teoría novelística es punto de con­
tacto entre los cervantistas europeos y sus colegas norteamericanos. En Esta­
dos Unidos el esfuerzo por definir y contextualizar la disidencia ideológica de
Cervantes y los elementos modernos de su pensamiento es industria en pleno
auge, no restringida a la doctrina bajtiniana. E l lector interesado puede com ­
probarlo con un repaso somero de la revista norteamericana Cervantes. Los ex­
ponentes destacados incluyen a Carroll Johnson, George Mariscal, James Iffland, Antonio Gómez Moriana, N . Spadaccini y, en España, a Jenaro Talens.
Para las conflictivas relaciones entre Cervantes y Lope de Vega, véase J o ­
aquín de Entrambasaguas, Estudios sobre Lope de Vega, C S IC , Madrid, 19 672,
I, pp. 108 y ss.; en cuanto a M ateo Alemán, el citado artículo de Marcel B a ­
taillon «Relaciones literarias», pp. 226 y ss.
E l aludido ensayo de Am érico Castro sobre la «literariedad» del Quijote es
«La palabra escrita y el Quijote», en Hacia Cervantes, Taurus, Madrid, i9 602,
pp. 292-324.
E n cuanto al soneto de Cervantes al túmulo ornamental erigido en la ca­
tedral de Sevilla para conmemorar la muerte de Felipe II (que empieza con
el verso «Voto a Dios que me espanta esta grandeza»), calificado de «honra
principal de mis escritos» en el capítulo IV del Viaje del Parnaso, véase la edi­
ción de las Poesías sueltas de R o d o lfo Schevill y Adolfo Bonilla, incluida en
el tomo sexto y último de las Ocho comedias, Gráficas Reunidas, Madrid,
19 15 -19 2 2 , pp. 73-74. Sobre la primera etapa de inconformismo cervanti­
no y la posterior resignación del escritor, véase el aludido ensayo de R afael
Lapesa «Sobre La española inglesa y el Persiles», en De la Edad Media a nues­
tros días, Gredos, Madrid, 1967, pp. 242-263.
Am érico Castro entendió la postrera adecuación cervantina al orden so­
cial establecido como un intento de impedir su propia margination: véase
XCIV
PRÓLOGO
«La ejemplaridad de las novelas cervantinas», en Hada Cavantes, cit., pp.
353 - 374 -
En lo referente al abstencionismo político de Cervantes, véase mi artícu­
lo «Algunas reflexiones sobre la sátira en Cervantes», Nueva Repista de Filo­
logía Hispánica, X X X V I I I (1990), pp. 4 9 3 -5 11.
M e aproximo también al autorretrato de la personalidad cervantina en un
artículo, «A Poets Vanity: Thoughts on the Friendly Ethos o f Cervantine
Satire», publicado en la revista Cervantes, X I I I (1993), pp. 31-6 3.
3. LA ESPAÑ A DEL «QUIJOTE»
Antonio Domínguez Ortiz
E l descrédito de un concepto meramente político de la histo­
ria ha multiplicado los apelativos y las divisiones basadas en re­
ferencias culturales («el siglo del Barroco», «la España de la Ilus­
tración», etc.). Por ello se habla hoy corrientemente de «la
España del Quijote», título adoptado, entre otras obras dedica­
das a la cultura de nuestro Siglo de O ro, por los dos volúm e­
nes de la gran historia de España que patrocinó M enéndez P i­
dal. La España del Quijote y la España de Cervantes son
expresiones sustancialmente idénticas, pues si bien la composi­
ción de la inmortal novela coincide con la década final de la
vida del escritor, no es menos cierto que en ella vertió las ex ­
periencias de toda una vida. E l Quijote apareció a comienzos
del siglo X V I I , durante el reinando Felipe III, pero Cervantes
fue un hombre del x v i : su «circunstancia» fue la España de F e­
lipe II, aunque viviera lo suficiente para contemplar el tránsito
de un siglo a otro, de un reinado a otro, con todos los cambios
que comportaba ese tránsito. D ecir que los años situados a ca­
ballo del 1600 fueron de transición parece una banalidad; en el
curso de la historia todas las épocas son de transición, porque
el devenir humano es una mezcla de continuidad y cambio;
pero hay épocas en las que las transformaciones se aceleran y los
contemporáneos experimentan la sensación de cambio, ya sea
para bien, como lo percibió Feijoo al pisar, ya anciano, los um ­
brales del reinado de Fernando V I, ya para mal, y entonces sur­
ge la nostalgia del «viejo buen tiempo».
Am bos sentimientos se mezclaban en el sentir de los españo­
les en aquellas fechas; en 1598, al recibirse la nueva del falleci­
miento del solitario del Escorial, España experimentó la sen­
sación de alivio de toda persona liberada de una tensión
insoportable; las suntuosas exequias, las ampulosas oraciones fú­
nebres no podían desvanecer los sentimientos penosos que se
habían acumulado en los últimos años del reinado del viejo
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XCVI
PRÓLOGO
monarca: las guerras incesantes, las demandas de hombres y di­
nero, el carácter poco accesible de un soberano que dirigía el
m undo más bien a través de papeles que de contactos humanos
habían engendrado en Castilla un temor reverencial y un mal
solapado disgusto entre sus súbditos, que, al conocer su desapa­
rición, se sintieron a la vez apesadumbrados y ligeros, com o los
escolares tras la ausencia del severo dómine. Por desgracia, el
caudal de confianza que se otorgaba a cada nuevo soberano se
agotó pronto, al comprobar la inoperancia del tercer Felipe, su
total entrega a don Francisco Góm ez de Sandoval, marqués de
Denia, pronto decorado con el título de duque de Lerma, la in­
moralidad y avidez del favorito y de la cohorte de familiares y
amigos que lo acompañaba. Y si éstas eran las encontradas sen­
saciones de la generalidad del pueblo, más críticos aun eran los
miembros de la alta administración imperial (generales, emba­
jadores, consejeros de Estado), que temían que la nueva políti­
ca internacional, tachada de pacifista y abandonista, resultara fa­
tal para el prestigio del m ayor imperio del mundo, prestigio
conquistado al precio de tantos sacrificios.
Estos temores eran exagerados. E l nuevo equipo gobernante
se hizo cargo de la necesidad de aliviar el peso que soportaba
España, en especial Castilla; circunstancias favorables, com o la
desaparición de Isabel de Inglaterra y de Enrique IV de Fran­
cia, y la coincidencia con un equipo gobernante en Holanda
inclinado también a una paz o, al menos, a una tregua (firma­
da en 1609) dieron la impresión de que iba a cesar el estrépito
de las armas. Los hechos demostraron que, en el fondo, la po­
lítica del gabinete de M adrid permanecía inmutable. Quería la
paz, pero no a cualquier precio; no al precio del triunfo del
protestantismo sobre el catolicismo y la humillación de la casa
de Austria; por eso, cuando la rama austríaca de los Habsburgo
se vio acosada, el hermano mayor, o sea, la rama española, en­
tró con todo su poder, con el oro de Am érica y los soldados de
los tercios, nuevamente en liza.
En lo sustancial, pues, no hubo cambio en la política de Es­
paña. Pero ¿qué era España? H ay palabras que usamos conti­
nuamente y que nos ponen en un aprieto si tratamos de defi­
nirlas. ¿Era entonces España una nación, un estado, un ámbito
cultural o meramente una evocación de la antigua Hispania, sin
LA E SPA Ñ A DEL «Q U IJO TE»
XCVII
contenido sustancial? Las controversias nacionalistas de hoy han
agudizado el problema; se cuestiona que los R eyes Católicos
fundaran un verdadero Estado, que los habitantes de la Penín­
sula se sintieran solidarios, miembros de una entidad superior a
la de su pueblo, comarca o región y, aunque en estas afirmacio­
nes hay mucho de exageración y prejuicio, no puede negarse
que el concepto España estaba entonces lleno de ambigüedad.
D e un lado, lo desbordaba una entidad más vasta, el Imperio, o,
como entonces se decía, la Monarquía; de otro, se descompo­
nía en una serie de unidades diversas y mal engarzadas: Castilla
de una parte y los reinos integrantes de la Corona de Aragón de
otra tenían sus leyes, instituciones, monedas, fronteras aduane­
ras, como también las tenía Navarra y, a m ayor abundamiento,
Portugal, reunido en 1580 a este vasto conglomerado. Y dentro
de cada una de estas partes, la autoridad real tenía más o menos
fuerza, mayores o menores atribuciones. Especialísima era la si­
tuación de Canarias y más aun la de las tres provincias vascon­
gadas, a pesar de que en muchos aspectos se consideraban in­
cluidas dentro de la Corona de Castilla.
N o era ésta una situación peculiar de España. En su postuma
e inacabada historia de Francia, Braudel ha hecho notar lo mis­
mo respecto a la Francia del Antiguo R égim en, con no pocas
resonancias y supervivencias en la Francia actual, que tan largo
tiempo se ha tenido como m odelo de homogeneidad. Esas va­
riedades, esas ambigüedades, esa herencia de un pasado m edie­
val, que aún tenía mucha vigencia, exigía de los gobernantes un
conocim iento m uy detallado de las peculiaridades de cada rei­
no, de cada provincia, y un tacto exquisito para no herir sus­
ceptibilidades, porque el privilegio no era la excepción sino la
norma. Es poco exacto dividir la España del siglo x v x en paí­
ses forales y no forales, porque fueros y privilegios tenían to­
dos. La diferencia consistía en que en unos se trataba de una
realidad viva, con la que había que contar, mientras que en
Castilla, después del fracaso de las Comunidades, la balanza del
poder se había desequilibrado de m odo irreversible en favor
del poder real y, entonces, la solemne jura de los privilegios de
una ciudad de un reino, com o hizo Felipe II al entrar en Sevi­
lla el año 1570, era una mera ceremonia que no le com prom e­
tía a riada, mientras que la ju ra de los fueros de Aragón sí tenía
xcvm
PRÓLOGO
un hondo significado; tan hondo y tan anclado en el corazón
de los aragoneses que, aun después de los gravísimos sucesos de
15 9 1, el monarca sólo se atrevió a introducir leves m odifica­
ciones en un sistema ya totalmente anquilosado.
La diversidad de los pueblos que componían España se ma­
nifestaba también de m odo espontáneo en las naciones o bandos
que se formaban en las universidades, en los colegios, en cier­
tas órdenes religiosas y que no eran formaciones sólidas, ins­
titucionales, sino agrupaciones ocasionales que delataban afini­
dades y preferencias; así ocurría que con la nación vasca se
agrupaban otras gentes del norte, y con la andaluza, los extre­
meños y murcianos, y en los castellanos puros se decantaban a
veces los manchegos de un lado y los campesinos, o sea, los de
la Tierra de Campos, por otro. N o llegaron estos bandos a te­
ner la virulencia que en Am érica tuvieron las divisiones entre
peninsulares y criollos, que preocuparon seriamente a las auto­
ridades de las órdenes religiosas y obligaron a establecer la al­
ternativa, o sea, un turno en la provisión de cargos; algo de eso
hubo aquí en los capítulos benedictinos, mas, por lo regular, las
peleas de las naciones, com o en la Universidad de Salamanca,
sólo traducían afinidades innatas sin contenido político. E l caso
de los portugueses es distinto: no tuvieron reparo en usar am­
pliamente el castellano y en llamarse españoles mientras España
fue concebida como un ámbito cultural (en el sentido amplio,
antropológico, de esta palabra). Pero al transformarse, en [580,
en una entidad política, este sentimiento de pertenencia, de in­
tegración, fue sustituido por un rechazo total, expresado con
más violencia en las clases populares que en las altas, y más en
el bajo y medio clero que en las altas jerarquías.
Es fácil distinguir las raíces históricas de esta diversidad ,de
planteamientos: cuando la gran crisis del siglo x v i i puso a
prueba el entramado íntimo de la M onarquía, aquellas regiones
con un pasado aún vivo de autogobierno reaccionaron de for­
ma m uy distinta a aquellas otras englobadas en el complejo cas­
tellano; es lógico que no fuera igual el comportamiento de A n ­
dalucía, que tenía una acusada personalidad cultural pero nunca
fue una entidad política como Navarra o Cataluña. Ahora bien:
mientras Portugal rechazó la integración plena, en las demás
partes de aquel conjunto sí fue posible la integración gracias a
LA ESPA Ñ A DEL «Q U IJO TE»
X C IX
la herencia medieval de las fidelidades múltiples, tan alejadas de
los nacionalismos excluyentes, y que hacía posible que una per­
sona conjugara un apego intenso a su pueblo, a su patria chica
(era m uy intenso el patriotismo local), con el sentimiento de
pertenecer a una región, a una nación, a un imperio y, por en­
cima de todo, al orbe cristiano. La verdadera frontera, más bien
un foso profundo, era la que separaba esta comunidad cristiana
del Islam y de la infidelidad.
Dentro de la Cristiandad, la multiplicidad de fronteras estaba
atenuada por ese sentimiento de pertenecer a una patria co­
mún; sentimiento quebrantado por la disidencia religiosa que
marcó un hito en las relaciones de los pueblos europeos. R a ­
zones religiosas, políticas y humanas se mezclaban en dosis v a ­
riables en los sentimientos de los viajeros extranjeros en Espa­
ña y en los españoles, tan numerosos, que salían fuera del
recinto de su patria. A l alejarse de España, aquellas diferencias
regionales se difiiminaban; el viajero no se declaraba extreme­
ño o aragonés, sino español. Percibía en los países extraños una
gradación, unas sensaciones diversas de alejamiento o cercanía:
el país más cercano, Italia, por razones evidentes. Cervantes,
como tantos de sus compatriotas, se sentía allí como en su casa.
Sus elogios a las ciudades italianas revelan el afecto de quien ha­
bla de cosa propia. ¡Q ué diferencia con aquella Berbería, tan
cercana y tan lejana! N o se puede comprender bien la España
renacentista ni barroca sin tener en cuenta estos influjos italia­
nizantes que se infiltraban en la vida española por m il caminos
y de m il maneras.
Más notable es la fidelidad a la M onarquía hispana de países
m uy diversos del nuestro, como Flandes y el Franco Condado.
Fidelidad al Príncipe-Sím bolo, a una entidad supranacional en
la que cabían muchas personalidades nacionales bajo la égida de
un Poder moderador, de un árbitro imparcial al que se deno­
minaba R e y de España sin desmenuzar la multitud de títulos
jurídicos que encerraba este nombre. Los tratadistas podían p o ­
lemizar sobre el alcance y significado de esa titularidad; el pue­
blo sabía de qué se trataba. Y porque en esta fase aún incom ­
pleta del Estado era la M onarquía la figura jurídica que lo
representaba y el m otor de aquel múltiple organismo es por
lo que el carácter personal de los reyes tuvo tanta importancia.
c
PRÓLOGO
D e un reinado a otro las leyes cambiaban poco, pero su aplica­
ción cambiaba mucho; de ahí que una división de la historia
m oderna de España por reinados, aunque tenga cierto olor ran­
cio, a conceptos pasados de moda, no deja de tener efectividad.
E l talante personal de Felipe II dejó una profunda huella; por
ejemplo, él fue responsable del ensoberbecimiento del tribunal
de la Inquisición hasta límites increíbles; los gobernantes del si­
glo x v ix tuvieron que aplicarse, con paciencia, a limar las ga­
rras de aquel monstruo que se había hecho temible no sólo a
los herejes, sino a todos los organismos e instituciones.
U nidad y variedad eran también las características de la so­
ciedad española de la época. Ciertamente, el panorama social
de Galicia tenía numerosas peculiaridades, aun más acentuadas
en el caso de Vasconia. E n los países de la Corona de Aragón
los gremios tenían un vigor institucional del que carecían los
castellanos, y había un estrato situado a medio camino entre la
nobleza y la burguesía comerciante, los ciutadans honráis, que no
tenía equivalente en otros países peninsulares. E l clero patri­
monial, con visos de mayorazgos sacerdotales, estaba mucho más
arraigado en el norte que en el sur, y así podríamos ir señalan­
do una serie de diferencias, no incompatibles, sin embargo, con
una sustancial unidad. U nidad basada en la herencia ideológica
del m edievo y reforzada por el interés de sus beneficiarios para
que no se alterase de forma esencial. D e hecho, sólo fue de­
molida, y no por completo, en el siglo x i x .
Ese m odelo de sociedad era m uy simple en teoría y m uy
com plejo en la realidad. La teoría se asentaba, com o es bien co­
nocido, en el reconocim iento de dos clases privilegiadas, la no­
bleza y el clero, y un tercer estado que solía llamarse general o
llano. A veces se usaban otras denominaciones, como estado de
los buenos hombres pecheros, porque el distintivo com ún de los
privilegiados, aparte de otras preeminencias, era no pagar pe­
chos, o sea, impuestos directos, personales, símbolo de sumisión
y servidumbre. Este concepto estamental de la sociedad era,
por decirlo así, el oficial y reconocido; aparece a través de toda
la legislación, de la literatura jurídica, de los arbitrios, m em o­
riales y producciones de tipo político, tan abundantes en aque­
lla época; por ejemplo, en el llamado Gran M em orial que don
Gaspar de Guzmán dirigió a Felipe IV a comienzos de su pri-
LA E S P A Ñ A D E L « Q U I J O T E »
CI
vanza, en el que, para dar una información al jo v e n rey del
pueblo que tenía que regir utiliza el esquema estamental. Y , por
supuesto, aparece constantemente en la amena literatura, p o r­
que era el molde en que se configuraba la realidad social; el
Quijote usa constantemente estos conceptos: nobles, plebeyos,
señores, vasallos...
Las insuficiencias del esquema estamental eran, sin embargo,
notorias, y de ahí que hallemos también una multitud de ex ­
presiones y conceptos para designar las solidaridades y los en­
frentamientos que latían en el seno de aquella sociedad que, en
teoría, parecía inm óvil, hecha de una pieza. Además de la dua­
lidad fundamental, hom bre-m ujer, tema eterno, argumento y
raíz de innumerables disquisiciones, hallamos también expresa­
das y, a veces, largamente comentadas y debatidas, otras oposi­
ciones y conjunciones, individuo y linaje, campo y ciudad, ar­
mas y letras y, como tema recurrente —verdadero bajo continuo
de aquella sinfonía inacabable—, la distinción que, en muchos
aspectos, aparecía como fundamental: ricos y pobres. D e esta
manera, la simplicidad de la división tripartita se complicaba y
el paisaje social se enriquecía con infinitos matices; riqueza re­
lacionada con el carácter de transición que tenía la época en
que se foijó el Quijote.
Confieso que tengo cierta prevención contra el concepto de
transición en la historia, porque cierta escuela histórica ha abu­
sado de él para intentar persuadirnos de que los tiempos m o ­
dernos carecen de sustantividad, de que no son más que una
transición entre el feudalismo y el capitalismo. Por fortuna, esta
deformación de realidades evidentes se halla en franco retroce­
so, pero antes de continuar quiero hacer constar que no niego
que haya épocas de transición: en el curso histórico todo es
transición, porque en toda edad hay una combinación de ele­
mentos heredados y otros que van surgiendo del inagotable
manantial de la creatividad humana. Pero así como en ese cur­
so hay remansos, tramos tranquilos que pueden dar una idea
engañosa de inmovilidad, hay otros turbulentos, en los que
aparecen rápidos y cascadas; épocas en que los antagonismos se
exacerban y pueden desembocar en situaciones críticas, revo ­
lucionarias, tomando la palabra revolución en un sentido amplio,
no necesariamente violento.
CII
PRÓLOGO
La época en que vivió y escribió Cervantes sin duda fue crí­
tica, aunque los cambios se espaciaron lo suficiente como para
no dar la sensación de estar ante una época revolucionaria.
Aquellos hombres se daban cuenta, por ejemplo, de que la m o­
neda perdía valor adquisitivo; el ritmo de inflación era m uy
modesto; un uno o dos por ciento anual, que hoy haría las de­
licias de cualquier ministro de Economía, pero que, por el efecto
acumulativo, acababa por hacer insuficientes sueldos y dotacio­
nes que veinte o treinta años antes se consideraban suficientes;
de ahí las frecuentes peticiones de aumento de salarios, de re­
ducciones del número de misas a que obligaba la fundación de
una capellanía, de quejas de los que vivían de rentas fijas, etc.
Causa importante, aunque no única, de esta inflación era la gran
cantidad de plata americana que se acuñaba en las Casas de M o ­
neda y cuya abundancia disminuía su valor; pero los contempo­
ráneos reaccionaban como nosotros y, en vez de hablar de pér­
dida del valor de la moneda, se referían obsesivamente a la
«carestía general».
Era éste uno de los factores del choque entre dos sistemas eco­
nómicos, con repercusiones de todo género, incluso morales: la
economía dineraria sustituía parcialmente a la economía cerra­
da, con gran proporción de autoconsumo y de pagos en espe­
cie. La economía urbana era de preferencia monetaria y la rural
se atenía más a los moldes tradicionales, pero hay que tener cui­
dado ante engañosas simplificaciones. E l triunfo de don Dinero
sobre los valores tradicionales era algo que estaba en la atmósfe­
ra y lo mismo se expresaba en tratados magistrales que en frases
proverbiales: «Dineros son calidad»; «Dos linajes solos hay en el
mundo ... que son el tener y el no tener» (Quijote, II, 20, 872),
etc. La misma relación entre don Q uijote y Sancho expresa esta
ambigüedad: Sancho aspiraba a una relación laboral, un salario,
idea rechazada con indignación por don Quijote, que sólo con­
cebía entre caballero y escudero una relación vasallática, pre­
miada con mercedes (véanse los primeros capítulos de la Se­
gunda parte del Quijote, esenciales para el conocimiento de este
y otros aspectos de la sociedad española coetánea).
Otro aspecto de la transición, cambio o ruptura, según la im ­
portancia que se dé a las transformaciones operadas en aquella
época, es el relativo al significado político-institucional en gran
LA E S P A Ñ A D E L « Q U I J O T E »
cm
parte como reacción a los cambios que se producían en una
Europa convertida en un hervidero de pasiones. Para el con­
junto europeo ya hace tiempo que se acuñó el concepto, hoy
m uy discutido, de Contrarreforma, identificable con el T ridentinismo. Para la evolución en el interior de España, el his­
toriador catalán Juan R e g la introdujo el concepto de viraje f ili­
pino, que durante algún tiempo fue ampliamente adoptado. E n
esencia, su tesis era la siguiente: a un Carlos V moderado y ecu­
ménico, empeñado en resolver las diferencias de la Cristiandad
por medio de un concilio general, sucedió un Felipe II que,
tras unos años de vacilación, dio un giro brusco hacia la in co­
municación y la intolerancia, en gran medida como reacción
contra la situación de la frontera pirenaica, a través de la cual se
filtraban predicantes calvinistas del sur de Francia. Este viraje
culminaría en 1570 con medidas entre las que R eglá destacaba
tres: impermeabilización de la frontera pirenaica, rigor antimo­
risco que provocaría la revuelta de los granadinos, y actitud in­
transigente frente a los flamencos, origen de las interminables
guerras de Flandes.
C om o se apresuraron a manifestar Ernesto Belenguer y otros
historiadores, tal modo de interpretar las cosas era unilateral y
limitado. E l paso del irenismo carolino inicial hacia posturas
más duras comenzó en cuanto el Em perador se dio cuenta de
que el conflicto iniciado en Alem ania no era sólo religioso sino
político y que amenazaba su sistema europeo y los intereses de
su linaje. D e ahí sus medidas de rigor y sus admoniciones a F e ­
lipe II, ya desde su retiro de Yuste, para que los brotes de luteranismo que surgían en Castilla fueran sofocados de manera
implacable. Medidas que su hijo adoptó con diligencia; ya des­
de comienzos de su reinado hallamos un apoyo total al Santo
O ficio, los grandes autos de fe de Valladolid y Sevilla, la perse­
cución al arzobispo Carranza, los primeros índices de libros
prohibidos, el famoso decreto prohibiendo estudiar en univer­
sidades extranjeras, la ratificación del estatuto de limpieza de
sangre de la catedral de Toledo; pruebas de que ya antes de 156 0
reinaban en España los «tiempos recios» que tanta amargura
causaron a varios de los más destacados representantes de nues­
tra espiritualidad: Carranza, Luis de León, Teresa de Jesús,
Arias M ontano, los primeros jesuítas, objeto de sospechas cuan-
CIV
PRÓLOGO
do no de persecución declarada. Cervantes, por lo tanto, no
presenció el tránsito; las huellas erasmianas détectables en su
obra las recibió a través de una difusa tradición, no de viven ­
cias personales. E l lenguaje críptico que suele ser la respuesta a
un clima intelectual enrarecido impide saber con seguridad si
ciertas frases, como la famosa «con la iglesia hemos dado, San­
cho» (II, 9, 759), tenían un doble sentido o pecamos por exce­
so de suspicacia al atribuírselo. E n todo caso, hay que hacer
constar que la Inquisición sólo borró en el Quijote una corta
frase relativa al valor de las buenas obras y dejó indemnes pá­
rrafos de indudable Sabor anticlerical, como la pintura del «re­
ligioso grave» que amonestó al caballero y al escudero por sus
locuras (II, 31).
E n el ámbito politico-social es importante destacar también la
contraposición entre los dos reinados: en el de Carlos V aún te­
nían los magnates suficiente fuerza e independencia para opo­
nerse con éxito a las propuestas del emperador en las Cortes de
Toledo de 1538. Frente a Felipe II aparecen totalmente someti­
dos; su máxima aspiración eía ser admitidos en el estrecho círcu­
lo que rodeaba al monarca y formar parte de su servidumbre: or­
ganizar su casa, vestirle la catnisa, servirle los platos, acompañarlo
en sus cacerías, autorizar J u corte, serían las máximas aspiraciones
de los hijos y nietos de quienes, no mucho tiempo antes, habían
hecho temblar a los reyes. Paso decisivo en el afianzamiento de
un poder real absolüto d ei que los R eyes Católicos habían dise­
ñado las piezas maestras sin poder perfilar los detalles.
La contaminación de los valores estamentales por los dinerarios produjo una terminología, no oficial pero m uy extendida,
para designar a los que, siñ tener privilegios legales, tenían una
situación real de privilegio; eran los poderosos, las personas princi­
pales, casi siempre nuevos ricos, encumbrados por los tratos,
por la usura, que aunque prohibida, era frecuentísima, sobre
todo en el ámbito rural; eran los que especulaban con los gra­
nos, acumulándolos en las épocas de baratura y vendiéndolos
en las de escasez a precios m úy superiores a la tasa. U n a tasa de
granos esporádica en la Edad M edia que en el siglo x v i se hizo
general sin grandes resultados. I.a C oron a favoreció indirecta­
mente la ambición de estos parvenus con las ventas de cargos,
de tierras, de oficios, de pueblos, títulos y señoríos. Aparente­
LA E S P A Ñ A DEL «Q U IJO TE»
CV
mente, el edificio estamental no se vino abajo, porque lo que
pretendían estos intrusos no era derribarlo sino instalarse có­
modamente en él.
Los que no tenían dinero para comprar señoríos o altos car­
gos y los que querían subir peldaños en la escala social por m e­
dios más honrosos utilizaban otros procedimientos que la sabi­
duría popular resumía en esta frase: «Iglesia, M ar o Casa Real».
E l ascenso por los cauces eclesiásticos era el más fácil, porque la
Iglesia admitía a todos y en ella podían hacerse carreras m agní­
ficas. Antes hemos mencionado a fray Luis de Granada; este
hijo de un emigrante gallego a quien la miseria obligó a buscar
nueva patria en tierras andaluzas, llegó a ser, gracias a su profe­
sión monástica, escritor cimero y figura de ámbito internacio­
nal, amigo y consejero de altos personajes, incluyendo el pro­
pio rey de España.
E l segundo término, M ar, es ambiguo: lo mismo puede in­
dicar la alta mercadería, que incluía tanto a los cargadores a In­
dias, en primer lugar, com o a los armadores de buques, m er­
cantes o de guerra (las naos bien construidas servían para ambas
cosas) y a los altos cargos de las flotas y galeones. La gran for­
tuna de don Alvaro de Bazán provenía a la vez de sus hazañas
navales y de sus actividades mercantiles. E n el norte, muchos
marinos cántabros y vascos se enriquecieron con la arriesgada
profesión del corso marítimo, admitida y regulada por las leyes.
E l tercer término, Casa R eal, puede indicar a los que de­
sempeñaban oficios palatinos: el m ayordom o mayor, el caballe­
rizo mayor, los gentiles hombres y otros miembros de la servi­
dumbre regia tenían buenos sueldos y facilidades para obtener
hábitos de órdenes militares y otras prebendas. Pero en la se­
lección de estas personas se hilaba delgado. N o era un m edio
para introducirse en la nobleza, sino un cauce para los que ya
la disfrutaban. La verdadera vía de prom oción era la del alto
funcionariado: secretarios reales, magistrados, consejeros. A quí
sí podían deslizarse y trepar individuos de dudoso origen, com o
Antonio Pérez, com o aquel M ateo Vázquez de Leca, ministro
de la m ayor intimidad de Felipe II, sobre cuyo origen gravitan
pesadas incógnitas.
E l desarrollo de la burocracia estatal estaba en todo su apo­
geo en la época cervantina, y en la obra del Príncipe de los In -
CVI
PRÓLOGO
genios hay multitud de alusiones a esta realidad. A pesar del es­
truendo de las incesantes guerras, declinaba en España la voca­
ción militar y se multiplicaban las vocaciones hacia la carrera de
las letras. Nuestro Siglo de Oro provenía de una sociedad vio ­
lenta, militar, fruto de unas condiciones especiales: el perma­
nente estado de guerra en la frontera granadina, los bandos ur­
banos, la ausencia de una fuerza de orden público, todo se
conjuraba para que cada señor tuviera necesidad de poseer una
fortaleza, una armería y una hueste. Después de la pacificación
interna operada por los R eyes Católicos la situación cambió de
m odo radical; todavía en la época de Carlos V, los tutores de sus
hermanas Juana y M aría cuidaban de elegir como residencia lu­
gares bien fortificados, pero con Felipe II tales precauciones es­
taban de más: en Castilla no se m ovía una mosca; los señores
abandonaban sus castillos o los mantenían sólo como lugares
residenciales.
Tam bién fueron desapareciendo paulatinamente las milicias
privadas de los señores y aquellos contingentes en paro forzoso
integraron, en buena parte, las huestes que conquistaron el
N u evo M undo y los tercios que combatieron en todos los
campos de batalla de Europa. Era un m edio de ganarse la vida,
de enriquecerse si había suerte y también de correr mundo y
vivir aventuras. Los caballeros aventureros, con frecuencia segun­
dones de casas hidalgas que se enrolaban voluntariamente, fue­
ron numerosos en el siglo x v i ; algunos iban m ovidos por no­
bles ideales, respondiendo al tipo del «caballero andante».
T o d o este mundo estaba en crisis al finalizar el siglo x v i y
por eso Felipe II instituyó una M ilicia General, porque la na­
ción que fuera de sus fronteras ostentaba la primacía militar, en
su propio territorio estaba casi indefensa, como lo demostró el
vergonzoso episodio de la toma y saqueo de Cádiz por los in­
gleses en 1596. Y a antes, con m otivo de la sublevación de los
moriscos granadinos y, en 1580, la invasión de Portugal, hubo
que traer tropas profesionales de Italia. E n adelante, la situación
no hizo sino empeorar; la nación que había sido semillero de
soldados ya apenas producía vocaciones militares; la sociedad
seguía siendo violenta pero no guerrera y una de las causas que
continuamente se aducían era «ser tan cortos los premios de las
armas en comparación con las letras». La contienda entre las ar­
LA ESPA Ñ A D E I «Q U IJO TE»
CVII
mas y las letras, que en el Quijote aparece desarrollada en dos
ocasiones, era un tema clásico; ya Quintiliano, entre los ejerci­
cios escritos que proponía a sus alumnos, incluía éste: «¿A quién
se debe conceder la preeminencia, a los juristas o a los milita­
res?». Porque no hay que imaginarse que por letras se entendía
la bella literatura; ésta no salió nunca de la indigencia eco ­
nómica ni constituía una profesión. Las letras eran los estudios
superiores, universitarios, centrados en el conocimiento utriusque iuris, el derecho canónico y el derecho civil. E l primero
abría la puerta a las prelacias, el segundo, a la magistratura, los
tribunales, los consejos, el gobierno de la M onarquía. Form a­
ban los togados, los garnachas, un enorme grupo de presión,
m uy corporativista, con sus raíces bien afincadas en los colegios
mayores. La inexistencia de una separación de poderes perm i­
tió que una casta de juristas sin especial preparación para los
aspectos técnicos del gobierno llegara casi a copar los altos
puestos, con gran disgusto de la clase militar* a la que se iden­
tificaba, sin mucha razón, con la clase noble. En teoría, las ar­
mas disponían de más premios que las letras, porque les perte­
necían importantes corregimientos y la totalidad de los hábitos
y encomiendas de las órdenes militares. E n la práctica, la alta
burocracia cobraba puntualmente sus sueldos, tenía muchas p o ­
sibilidades de enriquecimiento y ascenso social y fue acaparan­
do las prebendas de las órdenes. Todavía en los tiempos en que
escribía Cervantes no se había llegado a los abusos de la época
de Olivares, cuando los hábitos se dieron a mercaderes enri­
quecidos y las más sustanciosas encomiendas se atribuían a los
burócratas, a sus mujeres y a sus hijos. N o se había llegado a ta­
les extremos, pero ya se barruntaban. En la segunda mitad del
siglo X V I I , en vez de enviar tropas en apoyo de Austria, Espa­
ña recibía tropas austríacas para combatir en las fronteras de
Portugal y Francia.
Otra dualidad digna de m ención es la que se establecía entre
individuo y linaje. U n consejo m uy sensato da don Q uijote a
Sancho sobre este punto: «Jamás te pongas a disputar de lina­
jes» (II, 43, 1065). Era una obsesión general, alimentada por las
informaciones de nobleza y limpieza de sangre, necesarias para
obtener cargos honrosos, a veces para ingresar en una cofradía
e incluso en algunos gremios. Las rencillas, las enemistades, los
CVHI
PRÓLOGO
sobornos a que daban lugar eran conocidos y lamentados, aun­
que no se les pusiera remedio. Es m uy clara la contradicción
con la idea, m uy extendida, de que el Renacim iento ensalzó las
virtudes individuales, el principio de que «cada uno es hijo de
sus obras» (Quijote, I, 4, 70) y no pueden serle imputables los
méritos o deméritos de su parentela. Lo cierto es que en este
punto, como en otros, se había producido una simbiosis de ele­
mentos de origen diverso, una síntesis en la que se fundían ideas
caballerescas de raíz pagana y otras procedentes del cristianismo
medieval. Ante Dios, el hombre sólo es responsable de sus
obras, pero la idea de premiar o castigar a un hombre en sus des­
cendientes «hasta la cuarta generación» también la aceptó el
cristianismo a través de la Biblia. La solidaridad familiar expre­
sada en los bandos medievales no se disipó en la Edad M oder­
na, sino que tomó otras formas y el ansia innata de inmortali­
dad también tomó dos direcciones: la prolongación de la vida
en un mundo mejor, en el paraíso, y la perviven da a través de
la fama, de la memoria de los hombres. D os direcciones entre
las que se tendieron numerosos puentes, consiguiendo fundirlas
en una sola. Su representación tangible, el monumento funera­
rio rara vez individual; por lo común, panteón familiar que re­
cogía la cadena generacional. Los sufragios colectivos quedaban
asegurados por medio de la institución de capellanías, mandas,
memorias y otras instituciones que destinaban a los muertos
una parte importante de la renta total de que gozaban los vivos.
La devoción a las ánimas del Purgatorio, que por entonces ex­
perimentó extraordinario auge, respondía a esta misma idea de
solidaridad entre la sociedad de los muertos y la de los vivos.
Las disposiciones testamentarias reforzaban este sentimiento de
colaboración y corresponsabilidad. La fundación del panteón
escurialense, la obsesión de Felipe II por las reliquias, detalles
com o la real cédula de Felipe IV exim iendo de retenciones y
descuentos los juros consagrados al culto de las ánimas del Pur­
gatorio subrayan el enorme papel que en la mentalidad colec­
tiva desempeñaron estas ideas.
U na visión global de la sociedad española resultaría incom ­
pleta sin dedicar, al menos, unas alusiones a los elementos que
con ella coexistían sin fundirse, com o cuerpos extraños, ya por
razones étnicas, religiosas o de otro orden. E l interés actual
L A E S P A Ñ A D E L « Q U I JO T E »
CIX
por los marginados se explica no sólo por el considerable volumen
de algunas de estas minorías y los conflictos a que dieron lugar,
sino porque a través de ellas y del trato que recibieron es p o ­
sible adentrarse en el estudio de los comportamientos y m en­
talidades de la sociedad dominante. Los criterios que regían la
integración o exclusión de individuos y grupos no eran econó­
micos; los pobres no eran marginados, sino un estrato m uy am­
plio y m uy respetado, con lugar propio en la Res publica Chris­
tiana. La pobreza era un valor, no un oprobio, y lo mismo los
que la elegían voluntariamente que los que caían en ella por
azares de la adversa fortuna tenían derecho a una solidaridad
fraternal expresada en multitud de donaciones e instituciones
benéficas. Eran m uy dadivosos los españoles de la época y no
sólo los naturales sino muchos extranjeros se beneficiaban de
su generosidad. Los abusos, la infinidad de falsos pobres pro­
dujo disputas (Vives, M edina, Pérez de Herrera) acerca de las
medidas que sería prudente adoptar en relación con el proble­
ma de la mendicidad. Discusiones teóricas que tropezaban en
la práctica con la dificultad de distinguir el inválido, el parado,
el desgraciado, del truhán y del vagabundo. Había una grada­
ción m uy matizada que comenzaba con el pobre vergonzante,
persona de buena familia que había caído en la indigencia y a
la que había que socorrer a domicilio, de forma que no se las­
timara su honor, y terminaba en el transeúnte anónimo al que
no rara vez se hallaba en la calle muerto de hambre y frío una
noche invernal. A los primeros dedicaban los prelados sumas
importantes y trato decoroso. Los últimos sólo tenían a su dis­
posición alguna casilla a la entrada del pueblo que se decoraba
con el título de hospital aunque no contuviera alimentos ni
medicinas.
Tam poco deshonraba ni excluía de la comunidad la depen­
dencia personal en sus variadas formas: señor-vasallo, am ocriado, maestro-aprendiz, etc. Formas de dependencia que no
tienen equivalente exacto en la actualidad. La servidumbre no era
un estigma, aunque revistiera formas que h o y nos parecen hu­
millantes, como los castigos corporales. E l lacayo Tosilos refie­
re a Sancho con toda naturalidad que el duque su señor había
mandado que le dieran cien palos por una falta en el servicio
(II, 66). La servidumbre doméstica con frecuencia generaba
ex
PRÓLOGO
afecto mutuo; los rasgos de fidelidad que a veces descubren los
documentos nos sorprenden; R odríguez M arín, en su intro­
ducción a Rinconete y Cortadillo, cuenta su estupefacción ante el
testamento de una pobre criada que en el preámbulo enco­
mendaba su alma a Dios y su cuerpo a la tierra «con licencia del
señor marqués mi amo». E l aprendizaje tenía aspectos, detalla­
damente descritos en los contratos, que mezclaban rasgos fami­
liares y laborales.
La auténtica marginación tenía aspectos m uy variados. E n
unos casos era irremisible, en otros no. E l no creyente, el no
católico, estaba fuera de la comunidad; se toleraba en los ex­
tranjeros defendidos por tratados internacionales. La conver­
sión los integraba plenamente, sin que quedaran máculas de su
anterior condición. Las prostitutas podían redimirse y lavar sus
culpas; pero no los homosexuales: perseguidos en la época de
Cervantes con ensañamiento, no pocos acabaron en la hogue­
ra. Tam poco el bautismo, por más sincero que fuera, restituía
su honor a los musulmanes y judíos. Esa fue la tragedia de los
conversos. La esclavitud también dejaba secuelas. España era
entonces el único país de la Europa occidental con elevado nú­
m ero de esclavos; sus fuentes, la trata de negros y las luchas
contra turcos y berberiscos. Eran frecuentes los casos de manu­
misión, pero, como ocurría en la antigua R o m a, el liberto su­
fría limitaciones y restricciones no menos duras por el hecho· de
no ser legales. Había también oficios viles, que no hay que con­
fundir con los oficios mecánicos.
Estos últimos eran todos los que necesitaban un esfuerzo fí­
sico, un trabajo manual, que llevaba aparejada cierta descalifi­
cación; por eso, aquellos artífices que tenían interés en procla­
mar la ingenuidad de su arte, se esforzaban por dejar bien claro
que ellos ejecutaban sólo la labor magistral, dejando a sus ayu­
dantes los aspectos materiales de su tarea; los farmacéuticos te­
nían mancebos que pulverizaban, calentaban y mezclaban los
ingredientes, los pintores se valían de su sirviente para preparar
los lienzos y los colores (el caso de Ju an Pareja respecto a V e ­
lázquez), etc. Pero si bien las actividades mecánicas se reputa­
ban incompatibles con la hidalguía, no descalificaban al artesa­
no, que tenía su puesto señalado en la escala social y en los
cortejos se agrupaba tras la enseña de su gremio. E n cambio, la
L A E S P A Ñ A D E L « Q U I JO T E »
CXI
profesión vil envilecía a quien la practicaba, por ejemplo el m a­
tarife, el pregonero, el verdugo. Los precedentes clásicos in­
cluían en esta reprobación a cuantos se ganaban la vida divir­
tiendo al público, como los comediantes, aunque la práctica
atenuase mucho este ju icio tan severo. Fue un argumento m uy
usado en las polémicas sobre la licitud del teatro.
Y
de los picaros ¿qué diríamos? La picaresca no estaba legal­
mente definida; sus contornos eran tan vagos que resulta difícil
indicar si estaba dentro de los límites tolerables o se situaba fue­
ra del sistema adm itido. Cervantes, que conocía a la perfección
aquel ambiente, no lo incluyó en el Quijote, y la razón es cla­
ra: la picaresca era un fenóm eno urbano, crecía en los bajos
fondos de ciudades cosmopolitas, mal gobernadas, con una p o ­
licía deficiente. N o tenía lugar en el Quijote, cuyo escenario es
puramente rural.
Estas someras pinceladas están lejos de agotar la inmensa ri­
queza y variedad de la sociedad hispana en torno al año 1600.
A su vez, esa infinita complejidad explica el carácter suscepti­
ble, puntilloso y pleitista de hombres que querían dejar bien
definido su puesto y aventajarlo lo más posible por medio de
una complicada simbología en la que entraban los tratamientos,
las cortesías, el vestido y otros rasgos externos.
N O TA B IB LIO G R Á F IC A
i . Cervantes no indicó la fecha en que su héroe realizó sus extraordinarias
aventuras, pero es evidente que protagonista y autor eran contemporá­
neos; por lo tanto, la España del Quijote es la de finales del siglo x v i y co­
mienzos del x v i i , época de enorme densidad histórica que ha suscitado
abundantes investigaciones y copiosa historiografía. Com o reacción a la
herencia positivista del pasado siglo que primaba la historia político-institucional, la de épocas más recientes y más inclinada al estudio de los he­
chos culturales y sociales sustituye con frecuencia el marco secular («el si­
glo XV II») o dinástico («el siglo de Luis XIV») por la referencia a una figura
cultural destacada («la época de Velázquez», «de Goya», etc.). Resulta cu­
rioso comprobar que, en este aspecto, Cervantes ha sido fagocitado p or su
criatura, pues no se suele hablar de «la época de Cervantes», sino de «la
época» o «el tiempo del Quijote». Este es el título de un artículo del hispa­
nista Pierre Vilar, incluido luego en su volum en Crecimiento y desarrollo
(Ariel, Barcelona, 1964), en el que se dice: «Ese libro eterno [el Quijote] si-
CXII
PRÓLOGO
gue siendo un libro español de 1605 que no cobra su sentido más que en
el corazón de la historia».
Seleccionar unas cuantas obras que introduzcan al lector en el ambiente
de la España del Quijote es tarea hartó difícil. Mencionaremos en primer lu­
gar a los grandes comentaristas (Clemencín, R odríguez Marín) y al biógra­
fo singular pero inevitable,(Astrana Marín). Luego, obras de conjunto como
los dos volúmenes coordinados por J.M . Jo v e r que en el conjunto de la gran
Historia de España de Menéndez Pidal llevan el título E l siglo del «Quijote»
(1580-1680) (Espasa-Calpe, Madrid, 1986). Contienen mucha y buena infor­
mación sobre los hechos culturales y sociales. E l título no es afortunado en
cuanto a su delimitación temporal: más allá de 1640 España cayó en una de­
presión material y moral que no se corresponde con la atmósfera del Quijo­
te, obra de extraordinaria vitalidad y alegría.
Puesto que el ambiente del.Quijote es rural, pueden constituir una útil in­
troducción obras como .Las crisis agrarias en la España moderna de Gonzalo
AneS (Taurus, Madrid, 1970) o La pida rural Castellana en tiempos de Felipe II
de N o ël Salomon (Planeta, Barcelona, 1973), más centrada en el tiempo y
en el espacio, pues se basa en las respuestas de seiscientos municipios del ar­
zobispado dé Toledo a un cuestionario m uy detallado ordenado por el m o­
narca en 1575. Más concreto aun es el libro de Jerónim o López Salazar E s­
tructuras agrarias y sociedad rural, Instituto de Estudios Manchegos, Ciudad
R eal, 1986.
D e mucha ayuda al lector del Quijote serán también las obras de Jo sé A n ­
tonio Maravall, de las que sólo citaré dos: Utopía y contrautopía en el «Quijo­
te» (Pico Sacro, Santia'gó, 1976) y La literatura picaresca desde la historia social
(Taurus, Madrid, 1986), más general que su título, verdadero testamento li­
terario de su autor. D e carácter más ideológico son las varias aproximacio­
nes de Am érico Castro al Quijote y al pensamiento cervantino en general;
trabajos m uy afectados por la evolución de su pensamiento pero, en todo
caso, con intuiciones certeras. Puntos de vista originales hay también en va­
rias obras de Francisco Márquez Villanueva, por ejemplo los trabajos reco­
gidos en Personajes y tentas del «Quijote» (Taurus, Madrid, 1975).
U n aspecto del Quijote que no puede soslayarse es el de la caballería, cuya
máxima expresión la ostentaban los caballeros de las órdenes militares; acer­
ca de ellas destacaremos como la m ejor y más reciente obra de síntesis la de
Elena Postigo, Honor y privilegio en la Corona de Castilla (Valladolid, 1988).
Sobre otros temas también relacionados con la nobleza, me permito rem i­
tir a mi obra La sociedad española del siglo x v n (C SIC , Madrid, 1963, 2 vols.;
ed. facsímil por la Universidad de Granada, 1992), muy necesitada ya de una
puesta al día.
Estas sucintas indicaciones generales pueden ampliarse en lo específica­
mente cervantino con el útil y sugestiva artículo de Agustín R edondo
«Acercamiento al Quijote desde una perspectiva histórico-social», en A n­
thony Close y otros, Cetvantes, Centro de Estudios Cervantinos, Alcalá de
Henares, 1995, pp. 257-293; la monografía· de Javier Salazar R in có n E l mun­
do social del «Quijote», Gredos, Madrid, 1986; y los perspicaces ensayos de
LA E S P A Ñ A DEL «Q U IJO T E»
CXIII
Alberto Sánchez, «La sociedad española en el Quijote», Anthropos, suple­
mento X V II (1989), pp. 267-274; Je a n Canavaggio, «La España del Quijote»,
ínsula, D XXX VIII (octubre de 19 91), pp. 7-8, y Francisco R ic o , «La ejecu­
toria de Alonso Quijano», Príncipe de Viana, anejo XVIII (2000), pp. 2 6 1268. A hí se hallará a su vez la bibliografía sobre otros puntos más concretos.
2. D o y a continuación unas pocas indicaciones relativas a cuestiones de de­
talle rozadas en mi texto. Así, en el libró sobre Fray Luis de Granada, del pa­
dre Alvaro Huerga (BA C , Madrid, 1988), hay detalles y datos impresionan­
tes del rechazo popular a la unidad política del Estado español. N o poco
tuvo que padecer en aquellos años el gran prosista, que en el asunto de la
sucesión al reino fue instrumento de Felipe II, y como provincial de los do­
minicos en Portugal tuvo que tragar muchos sapos, (véase, por ejemplo, la
p. 42 del libro citado).
C om o hice notar en otras ocasiones, resulta simbólico que las solemnísi­
mas honras fúnebres de Felipe II en. la catedral de Sevilla resultaran inte­
rrumpidas por un conflicto de precedencia entre el Tribunal de la Inquisi­
ción y la Audiencia. D e aquel sonado escándalo fue testigo Cervantes, que
quizá recitó públicamente su soneto «Al túmulo de Felipe II».
Acerca de los consejos de don Gaspar de Guzmán dirigidos a Felipe IV,
véase J.H . Elliott y J.F . de la Peña, Memoriales y cartas del Conde Duque de
Olivares, I, Alfaguara, Madrid, 1978.
Sobre la tesis de R eglá y sus contradictores, véase mi opúsculo Notas para
una periodización del reinado de Felipe II, Universidad de Valladolid, Cátedra
Felipe II, núm. 4.
E l relato de los orígenes del poderoso secretario de Felipe II, Mateo V áz­
quez Leca, parece una novela de .aventuras, pero es más probable que fue­
ra, simplemente, el fruto de los amores de un. canónigo sevillano con su
criada (véase A .W . Lovett, Philip I I and Mateo Vázquez de Leca, Ginebra,
1977 )·
E n cuanto a las ganancias que podían obtenerse al ejercitar las armas, re­
cuérdese, como ilustración, que todas las ciudades donde residía guarnición
debían tener corregidor de capa y espada. C om o necesitaba además el asesoramiento de un letrado para juzgar las causas, resultaban más costosos. Por
ello, el Consejo de Hacienda decía en 1628 que no se debía permitir que a
Cáceres se le vendieran sus lugares, pues sólo podría mantener un corregi­
dor letrado, necesitándolo caballero p o r ser ciudad llena de nobleza y ban­
dos (Simancas,. C JH , leg. 643).
3. Se indican en lo sucesivo, por orden alfabético, otras referencias biblio­
gráficas de interés para el conocimiento de. la España de finales del siglo x v i
y principios del x v n : Bartolom é Beni 1
l i España del Siglo de Oro, C r í­
tica, Barcelona, 1990; Fernando Díaz-Plaja. La Vida cotidiana en la España del
Siglo de Oro, Edaf, Madrid, 1994; J.H . EUiott. -La España imperial, 1469-1716,
Vicens-Vives, Barcelona, 1998; J.H . Elliott, ed., Poder y sociedad en la Espa­
ña de los Austrias, Crítica, Barcelona, 1982; Henry Kam en, La España impe-
CXIV
PRÓLOGO
rial, Anaya, Madrid, 19 9 1; Jerónim o López Salazar, Estructuras agrarias y so­
ciedad rural en la Mancha (ss. xvi-xvii), C S IC , Madrid, 1986; Pedro Luis L o ­
renzo Cadarso, Los conflictos populares en Castilla (siglos xvi-xvii), Siglo X X I,
Madrid, 1996; Joh n Lynch, Los Austrias (1516-ιγοο), Crítica, Barcelona,
2000; Jord i Nadal, España en su cénit (1516-1598), Crítica, Barcelona, 2001;
M . R odríguez Salgado, Un imperio en transición. Carlos V, Felipe I I y su mun­
do, Crítica, Barcelona, 1992; Joseph Pérez, La España de Felipe II, Crítica,
Barcelona, 2000; Luis Antonio R ib o t García, coord., La monarquía de Feli­
pe I I a debate, Sociedad Estatal para la A cción Cultural Exterior, Madrid,
1999; Teófilo F. R u iz, Historia social de España, 1400-1600, Crítica, Barcelo­
na, 2002; I.A .A . Thompson, Guerra y decadencia. Gobierno y administración en
la España de los Austrias, 1560-1620, Crítica, Barcelona, 19 8 1; Francisco T o ­
más y Valiente, Gobierno e instituciones en la España del Antiguo Régimen,
Alianza, Madrid, 1999; Bartolom é Y u n , Marte contra Minerva. E l precio del
imperio español, c. 1450-1600, Crítica, Barcelona, 2004.
4. LOS L IB R O S DE C A BA LLER ÍA S
Sylvia Roubaud
«Libros de caballerías: los que tratan de hazañas de caballeros
andantes, ficciones gustosas y artificiosas de mucho entreteni­
miento y poco provecho, com o los libros de Amadís, de don
Galaor, del Caballero del Febo y de los demás.» Así reza la bre­
ve definición —elogiosa y despectiva a un tiem po- que de la li­
teratura caballeresca española propone Sebastián de C ovarrubias en su Tesoro de la lengua castellana de 1 6 1 1 . Publicada entre
la Primera y la Segunda parte del Quijote, sus pocas líneas ex­
presan bien el ambivalente m odo de sentir del público de aque­
llos años frente al género caballeresco; y bien concuerdan, en
lo esencial, con las muchas páginas de la historia del ingenioso
hidalgo que versan sobre los libros de caballerías: esas páginas
en que, puestos a discutir de sus lecturas, los personajes cer­
vantinos se lanzan a enjuiciar a la caballeresca prodigándole al­
ternadamente alabanzas y críticas, encomios y vituperios, apro­
baciones benevolentes y desdeñosas condenas; y que culminan
con los dos capítulos (I, 47 y 48) donde cura y canónigo discu­
rren amplia y detalladamente de los méritos y las tachas del gé­
nero, mientras el autor va tomando nota de las observaciones
de ambos con sonriente neutralidad.
U na neutralidad que, al revés de la simple y concisa frase del
Tesoro, tiene más vueltas de lo que parece, pues no impide que,
por detrás de sus personajes, Cervantes, lector atento y buen
conocedor de la narrativa caballeresca, exprese con típica am­
bigüedad sus propias y complejas opiniones con respecto a ella.
Ora le muestra innegable afición, ensalzando liberalmente sus
libros de caballerías predilectos; ora se burla oblicuamente de
ella o la ataca frontalmente, manifestándole marcada hostilidad.
B u en ejemplo de lo último son las flechas que le dispara tanto
al principio como al final de la biografía de Alonso Quijano. La
burla encubierta viene prim ero en aquellos altisonantes sonetos
preliminares que, con afectada solemnidad, celebran el advenicxv
CXVI
PRÓLOGO
miento del heroico manchego por boca de cuatro conocidas fi­
guras de la caballería literaria, tres hispánicas -A m adís de Gau­
la, Belianís de Grecia y el Caballero del F e b o - y una italiana,
el Orlando furioso de Ariosto. La hostilidad aparece en las cé­
lebres advertencias que enmarcan, a modo de aviso preliminar
y de proclama retrospectiva, las dos partes del Quijote: en el
prólogo de 1605, la declaración del bien entendido amigo por
boca de quien Cervantes nos informa de que su obra es toda
ella «una invectiva contra los libros de caballerías», pues «no
mira a más que a deshacer la autoridad y cabida que en el m un­
do y en el vulgo tienen» sus «fabulosos disparates» (I, Prólogo,
18 -19 ); y en el capítulo conclusivo de 16 15 , las postreras pa­
labras del apócrifo autor Cide Ham ete Benengeli, allí donde
afirma que no ha sido otro su deseo «que poner en aborre­
cimiento de los hombres las fingidas y disparatadas historias de
los libros de caballerías, que por las de m i verdadero don Q ui­
jo te van ya tropezando y han de caer del todo sin duda algu­
na» (II, 74, 1337).
Hace m ucho ya que se ha cumplido esta orgullosa profecía
cervantina. Relegados al olvido, los representantes de la consi­
derable producción caballeresca del Siglo de O ro español -d es­
contando aqueUos que con el tiempo se perdieron sin dejar más
recuerdo que su n om bre- hoy día yacen sepultados en las sec­
ciones de «libros raros» de unas pocas bibliotecas europeas,
donde se conservan silenciosamente en contado número de
ejemplares, carcomidos por las polillas y envueltos en espesa
capa de polvo. Verdad es que los ataques de Cervantes no fue­
ron la causa directa de su desvalorización, que se había inicia­
do bastante antes de la publicación del Quijote y sólo mucho
después acabaría por provocar el derrumbe definitivo del géne­
ro; pero sí influyeron decisivamente sobre el destino ulterior de
éste, contribuyendo a desacreditarlo de m odo irremediable, so­
bre todo a partir del siglo x i x , cuando, junto con el culto a la
obra cervantina, nació y se afianzó la convicción de que las opi­
niones expresadas en ella eran punto menos que verdades in­
controvertibles. Fruto de esta actitud es el estado de abandono
en que están todavía, salvo raras excepciones, los libros de ca­
ballerías. Sólo se acuerdan de ellos, fuera de algunos aficiona­
dos dispersos por el mundo, los manuales de historia de la lite-
LO S L I B R O S D E C A B A L L E R Í A S
CXVII
ratura; allí reaparece periódicamente la caballeresca, no releída
por cierto ni reexaminada, sino despachada en un corto capí­
tulo que, por lo general, suele repetir sin mayores novedades
los antiguos dictámenes enunciados a su respecto en el Quijote
y acatados deferentemente por los eruditos decimonónicos.
Entre ellos Clem encín, que se obligó a escudriñar con escru­
puloso empeño cuantas ficciones caballerescas le salían al paso
en las páginas del Quijote y a consultar otras muchas que C e r­
vantes no menciona; Gayangos, que se dedicó a inventariar y
clasificar la totalidad de la producción caballeresca sin dejar por
ello de censurarla sarcásticamente; y más tarde, Menéndez P e layo, a quien le bastó con leer unas pocas obras y con hojear
condescendientemente parte de las restantes para aprobar la ri­
gurosa sentencia pronunciada por el canónigo cuando declara
que los libros de caballerías «son en el estilo duros; en las haza­
ñas, increíbles; en los amores, lascivos; en las cortesías, malmi­
rados; largos en las batallas, necios en las razones, disparatados
en los viajes, y, finalmente, ajenos de todo discreto artificio y
por esto dignos de ser desterrados de la república cristiana,
com o a gente inútil» (I, 47, 601).
A ún no se han apagado los ecos de tan enérgica condena. P o r
comodidad, por rutina, la crítica y el público la siguen hacien­
do suya. N o siempre le han prestado suficiente atención a la
simpatía que el canónigo, en otro m om ento de su plática con
el cura, muestra tener por la caballeresca, «largo y espacioso
campo» (I, 47, 601) abierto a todo aquel que sepa escribir «con
apacibilidad de estilo y con ingeniosa invención» (I, 47, 602).
N i siempre han tomado verdadera conciencia del papel que
desempeñan los libros de caballerías en el Quijote, donde no
sólo son tema de discusión literaria entre los personajes, sino
también fuente de inspiración vital para el protagonista, y, so­
bre todo, fundamento de la reflexión de Cervantes sobre las
dos caras del mundo en que se m ueve Alonso Quijano: intre­
pidez guerrera, andanzas heroicas, amores ideales y hermosas
ilusiones por un lado, y por el otro, prudencia burguesa, vida
sedentaria, sentido práctico y férrea realidad.
Sólo en época reciente —en los últimos veinte o treinta
años— empezaron los libros de caballerías a salir del largo con ­
finamiento al que se los había condenado. Salida lenta y p ro -
CXVIII
PRÓLOGO
gresiva. U n pequeño núcleo de investigadores volvió inespe­
radamente a interesarse por ellos y se dio a estudiarlos con el
fin de levantar nuevo mapa del género rehabilitándolo hasta
donde fuera posible. Lo mismo hicieron varios lectores de
fama, entre ellos M ario Vargas Llosa, quien se lanzó a la de­
fensa de la narrativa caballeresca, señalando el lugar central que
ocupa en el Quijote y arguyendo que de ella, de su venerable
materia y su continuada renovación, procede la novela m o­
derna. Tam bién se fueron reeditando, además de dos o tres
obras mencionadas por Cervantes, unas cuantas más que no
habían vuelto a salir a luz desde el Siglo de O ro. Pero pese a
todos estos esfuerzos no se han disipado hasta ahora los prejui­
cios ni la indiferencia casi general de que suelen ser víctimas
los libros de caballerías. Considerados com o curiosidades ar­
queológicas de difícil acceso y fastidioso contenido, desestima­
dos y desatendidos, siguen gozando de escasa difusión. Apenas
sobreviven en la memoria del público de hoy los títulos de
aquellos que tienen la suerte providencial de figurar, aunque
sea a poca honra, en el Quijote.
Actualmente, la literatura caballeresca española es una térra in­
cógnita de la que los lectores desertaron para emigrar a otras re­
giones literarias, un verdadero continente cuyas múltiples pro­
vincias están por redescubrir y explorar nuevamente. Tan
desprestigiada se halla, que nos cuesta imaginar la prodigiosa v i­
talidad con la que sus representantes fueron multiplicándose
durante más de tres siglos: desde fines del siglo x m , cuando
surgen en España, junto con traducciones de los romans france­
ses, las primeras muestras de la novelística peninsular —el Caba­
llero Zifar y el Amadís prim itivo-, hasta principios del x v i i , en
que se publican la últimas creaciones cabaherescas hispánicas, el
Policisne de Boecia castellano y el Clarisol de Bretanha portugués.
E l género comprende, entre obras impresas y textos manuscri­
tos, no menos y tal vez más de setenta títulos, si incluimos en
él -c o m o solían hacerlo los lectores del Siglo de O ro, un Juan
de Valdés o bien el mismo Cervantes— no sólo las narraciones
castellanas, sino también las forasteras que se habían traducido
al castellano: las de procedencia francesa, ya artúricas, ya carolingias; las de nacionalidad valenciana como el Tirant lo Blanc;
las de origen portugués como el Palmerín de Inglaterra, o bien
LO S L I B E O S D E C A B A L L E R Í A S
CXIX
italiano como el Espejo de caballerías, inspirado en parte por el
Orlando ¡nnamorato de Boiardo.
Igualmente impresionante es la enorme difusión que alcanza­
ron muchos de estos setenta libros, reeditados algunos de ellos
varias veces, no solamente a lo largo del Siglo de O ro, sino in­
cluso después de 1650 : cerca de veinte ediciones totaliza el
Amadís de Gaula durante el siglo x v i , y unas sesenta y seis
el conjunto de sus continuaciones; doce el Palmerín de Oliva,
once el Caballero de la Cruz; diez Las sergas de Esplandián, siete
y seis respectivamente el Amadís de Grecia y el Caballero del Febo,
cuya última reimpresión data de 1 6 1 7 ; y nada menos que nue­
ve entre 1500 y 1590 y otras tantas entre l ó o o y L 705 la Histo­
ria del emperador Carlomagno y los Doce Pares de Francia (cuya lon ­
gevidad, dicho sea de paso, muestra cuán infundada es la idea
de que Cervantes logró, según se lo proponía, acabar brusca y
definitivamente con la boga de los libros de caballerías; en 1653
Gracián todavía hostiga ásperamente en el Criticón a aquellos
que leen estos «trastos viejos»). Verdad es que el ritmo al que
fueron saliendo todas estas ediciones, m uy acelerado antes de
L 550 , se hizo bastante más lento después de esta fecha, am ino­
rándose aún más a partir de 1600 , disminución que indica a las
claras el debilitamiento progresivo sufrido por el género en los
decenios posteriores al nacimiento de Cervantes. Pero ello no
quita que globalmente las cifras editoriales resulten Nevadísi­
mas, viniendo a ser la caballeresca el sector más importante en
cantidad de toda la literatura del Siglo de O ro.
Y
uno de los más importantes en cuanto a número y a va­
riedad de lectores. Tanto en España misma como en las colo­
nias americanas de la monarquía española, la larga y abigarrada
lista de los aficionados a libros de caballerías se nos presenta
com o un desfile de todos los estamentos de la sociedad. A la
delantera están los reyes y reinas: Pedro IV de Aragón, el C e ­
rem onioso, que en L 361 le reclama a su capellán el «librum
m iliti SifFar»; Isabel la Católica, en cuyo inventario de bienes fi­
guran versiones hispánicas de las principales narraciones artúricas francesas, un Merlin, una Ystoria de Lanzarote, una Demanda
del Santo Grial; Carlos V , que gusta del Belianís de Grecia y, en
compañía de la Emperatriz, suele hacerse leer alguna obra ca­
balleresca a la hora de la siesta. En pos de las figuras regias v ie-
cxx
PRÓLOGO
nen los santos y santas: Teresa de Ávila e Ignacio de Loyola,
encandilados ambos en su juventud por las aventuras de la caballería libresca; los grandes señores y los hombres de letras, un
D iego Hurtado de M endoza, un Fernando de R ojas, que en
sus bibliotecas disponen de respetable cantidad de libros de ca­
ballerías; la gente menuda, a quien también deleita la materia
de estos libros y que, de una forma u otra, consigue acceder a
ella; oscuros oficiales com o aquel enfermero del hospital de
Santiago de Com postela que a su muerte, en 154 3, posee un
ejemplar del Amadís, o aquel pregonero valenciano que en
1558 lega a sus herederos un Caballero de la Cruz y un Valerian
de Hungría; artesanos y aprendices desocupados com o los que
alrededor de 1550 se reúnen los domingos en las gradas de la
catedral de Sevilla para atender a la lectura en voz alta de algún
episodio caballeresco escogido; estudiantes modestos, como ese
hijo de labradores de Cuenca que hacia 1579 se acuerda de Las
sergas de Esplandián; curanderos de pueblo, como el morisco
aragonés R o m án Ram írez, en cuyo proceso inquisitorial de los
años 1590 se declara capaz de recitar de m emoria todo el Cia­
rían de Landaniso y el Florambel de Lucea. Y , por fin, surgidos de
todas estas capas sociales, las altas y las bajas, los conquistadores
y los primeros colonos emigrados a Am érica, quienes se lleva­
ron a Ultramar las muestras más antiguas del género caballeres­
co, dejando al cuidado de sus descendientes la adquisición de
las más recientes. D e esa adquisición son testimonio las nóminas
de encargos enviadas desde M éxico o Lim a a los impresores pe­
ninsulares a lo largo de los siglos x v i y x v u . Y de la difusión
ultramarina de los libros de caballerías quedan indiscutibles
huellas en la toponimia americana del norte y del sur: la C ali­
fornia debe su nombre al del imaginario reino de las Amazonas
evocado en Las sergas de Esplandián, y la Patagonia el suyo al de
una tribu de salvajes monstruosos descritos en el Primaleón.
A la luz de estos datos y noticias es difícil seguir creyendo,
como hicieron algunos, que los libros de caballerías fueron ante
todo lectura de la aristocracia, que en ellos hallaba representa­
dos sus refinamientos amorosos, sus acciones heroicas y sus
ocupaciones cortesanas. N o cabe duda, eso sí, de que en la li­
teratura caballeresca renacentista, nacida a la sombra y al arri­
mo de la antigua narrativa medieval, se ofrece la expresión nos­
IO S LIB EO S DE C Á B Á llE R Í A S
CXXI
tálgica y la celebración casi exclusiva de un mundo nobiliario
arcaico, habitado por figuras masculinas y femeninas de en­
cumbradísima posición social -em peradores, reyes, príncipes,
infantas, duques, condes y algún que otro caballero o escudero
de m enor cuantía-, en cuyas vidas sólo hay lugar para las haza­
ñas guerreras y las intrigas sentimentales, y a cuyo lado apenas
si se perfilan, de tarde en tarde, las siluetas borrosas de un mer­
cader o un rústico de plebeya extracción. Pero también es ob­
vio que la pintura de ese mundo, lleno de ferocidad y cortesía,
de peligros y prodigios, de amantes desdichados y parejas feli­
ces, consiguió granjearse el favor de una multitud de lectores:
no solamente miembros de la nobleza y la hidalguía sino bur­
gueses acomodados, campesinos opulentos, humildes jornaleros
(y venteros socarrones com o el que alberga a don Q uijote y
Sancho). N o una minoría más o menos selecta, sino un públi­
co amplio, numeroso y variado, precisamente aquel que des­
cribe el ingenioso hidalgo cuando le declara al canónigo que los
libros de caballerías «impresos con licencia de los reyes y con
aprobación de aquellos a quien se remitieron ... con gusto ge­
neral son leídos y celebrados de los grandes y de los chicos, de
los pobres y de los ricos, de los letrados e ignorantes, de los ple­
beyos y caballeros..., finalmente, de todo género de personas de
cualquier estado y condición que sean» (I, 50, 622).
N o m uy diferente del de España fue el público que en el res­
to de Europa se dejó cautivar por la abundante inventiva de los
autores caballerescos españoles. Là m ayor parte de las ficciones
hispánicas, tanto las castellanas com o las catalanas y portugue­
sas, pasaron unas tras otras a Italia y a Francia, a Inglaterra y a
Alemania, donde sus traducciones tuvieron lectores y se fueron
reeditando hasta bien entrado el siglo x v m . Las traducciones
más tempranas se realizaron en Francia, patrocinadas por Fran­
cisco I, quien, tal vez por haber tenido noticia del Amadís
mientras estuvo preso en M adrid después de la batalla de Pavía,
encargó hacia 15 3 0 que se vertiera al francés junto con los de­
más «Amadises». Y entre los lectores más tardíos descuellan, en
Inglaterra y en Alemania, dos ingenios ilustres: el doctor Jo h n ­
son, que en sus años mozos dio con el Felixmarte de Hircania en
la biblioteca de un amigo y en 1776, ya viejo, se compró un
Palmerín de Inglaterra en italiano; y Goethe, que en carta de 1805
CXXII
PRÓLOGO
a Schiller se muestra impresionado por «tan hermosa y exce­
lente obra» como el Amadís de Gaula y lamenta no haberla co­
nocido hasta entonces «si no es a través de la parodia que de ella
se ha escrito».
Ahora bien: ¿de qué tipo de obras se com pone esta produc­
ción caballeresca, tan enorme en cantidad como dilatada en el
tiempo? Puede decirse, simplificando m ucho, que de dos sec­
tores novelísticos diferentes en cuanto a origen y naturaleza. E l
uno comprende las viejas narraciones francesas —los romans—es­
critas en verso a fines del siglo x n y prosificadas en el siglo si­
guiente, que a su vez se subdividen en tres categorías: las de tema
«clásico», cuyo fondo enlaza con las fábulas heredadas de la A n ­
tigüedad y en particular con los legendarios sucesos de la fun­
dación y destrucción de Troya; las de ambiente artúrico, en el
que evolucionan, en torno a la mítica figura del rey Artús de
Gran Bretaña, las parejas simétricas formadas por Lanzarote y
Ginebra y por Tristán e Iseo; y en tercer lugar, los relatos de
asunto carolingio como el ya citado Carlomagno y los Doce Pa­
res o el Enrique f i de Oliva, a los que hay que añadir breves 110velitas de amor y aventuras com o son, por ejemplo, las histo­
rias de Clamades y Clarmonda o de Pierres de Provenza y la linda
Magalona. Parte de este material, considerado por muchos
com o histórico, había penetrado en España en época m uy tem­
prana, ya a mediados del siglo x m , incorporándose primero a
las crónicas, en especial a la Grande e general estoria de Alfonso
el Sabio, y expandiéndose más tarde por toda la Península a tra­
vés de adaptaciones en catalán, portugués y castellano, que, re­
tocadas y modernizadas, se dieron a la imprenta a fines del si­
glo X V y en los dos primeros decenios del x v i : en 1490 salía a
la luz la Crónica troyana, y algo después, los libros artúricos (la
Tragedia de Lançalot catalana en 1496, el Baladro del sabio Merlin
en 1498, el Tristán de Leonís en 15 0 1, el Tablante de Ricamonte en 1 5 1 3 , y la Demanda del Santo Grial en 15 15 ). Igual suce­
dió con los relatos más breves que, además de publicarse por
separado o juntándose varios de ellos en un solo volum en, se
fueron imprimiendo en forma de pliegos sueltos de amplísima
difusión.
A l lado de esta multitud de textos forasteros —«exóticos» los
llamaba M enéndez P e layo - están las obras «indígenas», o sea las
LOS LIB R O S DE C A B A L L E R ÍA S
CXXIII
de aquellos autores peninsulares que, a partir de fines del siglo
se lanzaron a com poner libros de caballerías por cuenta
propia y siguieron elaborando ficciones nuevas hasta com ien­
zos del X V I I : el Caballero Zifar, escrito posiblemente antes de
1300 y editado en 15 12 ; el Tirant lo Blanc, redactado hacia 1460
e impreso treinta años más tarde; el Amadís de Gaula, objeto de
varias refundiciones sucesivas a lo largo de los siglos x i v y x v ,
que salió finalmente a luz, en la versión de Garci Rodríguez de
M ontalvo, en los albores del x v i , y el resto de los «Amadises»
entre 15 10 y 1549; el Palmerín de Oliva, impreso en 1 5 1 1 , cuya
media docena de continuadores, los «Palmerines», se distribu­
yen entre Castilla y Portugal, siendo de procedencia lusitana,
además del Palmerín de Inglaterra, los dos últimos miembros de
la serie, el Don Duardos de Bretanha y el Clarisol, fechado en
1602. A estas obras se suman cantidad de otras menos conoci­
das o, por m ejor decir, más olvidadas, que es imposible enu­
merar de forma exhaustiva; valgan com o muestras y por hacer
sonar el nombre de algunas, el Floriseo, el Polindo, el Félix Mag­
no, la familia de los cinco «Clarianes», libros publicados todos
antes de 1550, y, posteriores a esa fecha, Florando de Inglaterra,
Leandro el Bel, Febo el troyano, Rosián de Castilla y, por fin, las
cuatro partes del Caballero del Febo.
Entre los libros «exóticos» y los «indígenas» hay estrecha re­
lación, pues los escritores hispánicos mantuvieron con extraor­
dinario conservadurismo la tradición narrativa instaurada por
sus predecesores franceses. Desde la eclosión del género hasta
su extinción perduró en la Península la influencia de los romans
medievales, que transmitieron a la prim itiva novelística espa­
ñola, en particular al Amadís, su contenido y su forma, pasan­
do éstos luego del Amadís a toda la novelística posterior. En ese
contenido predominaban, asociados el uno con el otro, dos
elementos básicos: militia et amor, según escribiera lacónica­
mente, acordándose de un verso de O vidio, el anónimo autor
de un tratado de retórica en latín compuesto alrededor de 1220.
Militia, o sea ‘caballería’ (que así solían interpretar la palabra la­
tina aquellos que en la Edad M edia la traducían a una lengua
vernácula), vale decir las actividades militares propias de los ca­
balleros: por un lado, las guerras, los retos, los combates singu­
lares a ultranzá, emprendidos por necesidad u obligación; y,
X III,
CXXIV
PRÓLOGO
por otro, las competiciones organizadas por gusto y ostenta­
ción, pasos de armas, justas y torneos, merced a los cuales la
aristocracia feudal se ofrecía a sí misma, en la vida real como en
los libros, la confirmación de su arrojo y gallardía. Amor, el
‘amor cortés’ o ‘amor fino’ (fin amors lo habían denominado los
trovadores provenzales del sur de Francia, imitados después por
los poetas catalanes, gallego-portugueses y castellanos de los si­
glos X I I I y x iv ) , aquella relación amorosa en que el caballero
prendado de una dama noble se le entrega por entero, some­
tiéndose a su voluntad, dedicándose a servirla y obligándose a
observar estrictas reglas de conducta erótica -discreción abso­
luta, paciencia ilimitada, rigurosa fidelidad-; turbado cuando ve
a su señora, suplicante cuando le habla, triste al alejarse de ella,
dolorido si la descontenta, pero deslumbrado si obtiene sus fa­
vores y logra hacerla suya en apasionada unión de cuerpo y
alma. Otro tópico fundamental de la narrativa ultrapirenaica
fue el que sus personajes se m ovieran dentro de un marco geo­
gráfico de fantasía, una Europa y un mundo asiático poblados
de islas y comarcas imaginarias donde a cada paso podían apa­
recer castillos fantásticos, surgir seres monstruosos y temibles
gigantes, y verificarse toda suerte de prodigios funestos o bené­
ficos.
E n cuanto a la forma y composición de sus relatos, los auto­
res de los romans habían ido elaborando y afinando progresiva­
mente una técnica narrativa compleja, inspirada en aquella de
la digressio o digresión ornamental, que recomendaban, aplicán­
dola a la oratoria, los tratados de retórica medievales. Traslada­
da al ámbito de las obras de ficción, la utilización sistemática de
esta técnica digresiva había quedado magistralmente ejemplifi­
cada en el monumental Lanzarote en prosa de los años 1200;
consistía en ir desviando la narración de un episodio a otro
nuevo y de éste a muchos más, dejándolos todos momentá­
neamente inconclusos hasta darles remate uno tras otro en im ­
bricada e ininterrumpida sucesión de aventuras de toda índole,
cuyos hilos entrelazados se han podido comparar con los de
una inmensa tapicería al estilo medieval: un intrincado laberin­
to de historias varias, por el que Dante profesara una honda ad­
m iración en su De vulgari eloquentia, allí donde elogia los «bellí­
simos meandros artúricos», y que, siglos más tarde, aún había
LOS LIB R O S DE C A B A L L E R ÍA S
CXXV
de alabar a su manera el canónigo del Quijote al evocar «una
tela de varios y hermosos lizos tejida, que después de acabada
tal perfección y hermosura muestre, que consiga el fin m ejor
que se pretende en los escritos» (I, 47, 602).
A l transmitirse a los autores peninsulares, todos estos ingre­
dientes o, m ejor dicho, componentes de los antiguos romans
franceses estaban ya algo desgastados por el uso. C o n el tiem ­
po habían ido perdiendo parte de su eficacia, llegando a trans­
formarse la técnica del «entrelazamiento» en m ero recurso
form al destinado a prolongar indefinidamente, merced a la
multiplicación mecánica de combates, amoríos e incidentes fa­
bulosos, la biografía del protagonista. Pero no por ello dejaron
los escritores hispánicos de conservar e imitar el material fran­
cés, basándose en él para com poner sus ficciones. E n el Amadís
es manifiesta la impronta de dos grandes modelos, el Tristán en
prosa y el Lanzarote, cuyo prestigio se había impuesto a toda
Europa; como la historia de Tristán, «los cuatro libros del vale­
roso y virtuoso caballero Amadís de Gaula, fijo del rey Perión
y de la reina Elisera», comienzan con una evocación de los pa­
dres del héroe y sus amores; y com o Lanzarote, el héroe espa­
ñol es un príncipe que desconoce sus orígenes y se cría lejos de
su familia en la corte de un rey de Gran Bretaña, llegando a
convertirse, gracias a sus dotes excepcionales, en «el mejor ca­
ballero del mundo». Tam bién perdura en el texto amadisiano,
incluso en la versión modernizada por M ontalvo a fines del si­
glo X V , el empleo de un léxico arcaico que permite situar la ac­
ción, supuestamente desarrollada «no muchos años después de
la pasión de nuestro Salvador Jesucristo», en una época venera­
ble y atribuirles a los personajes la indumentaria, las armas y a
veces hasta el lenguaje propios de sus antecesores artúricos del
siglo X I I I , anacronismo obstinadamente cultivado por los auto­
res de libros caballerescos posteriores al Amadís y sabrosamente
parodiado a lo largo del Quijote.
Sin embargo, después de 1530 , las narraciones hispánicas fue­
ron suplantando poco a poco a las viejas traducciones de los ro­
mans medievales y sólo algunos novelistas siguieron inspirándo­
se directamente en el antiguo material de procedencia francesa;
poco corriente es el caso del leído autor portugués del Memo­
rial das proezas da segunda Távola Redonda, Ferreira de Vascon­
CXXVI
PRÓLOGO
celos, quien, al empezar su relato, rememora con em oción la
grandiosa muerte del rey Artús tal com o la cuentan los últimos
capítulos de la Demanda del Santo G rial D el Amadís y sus pri­
meras continuaciones, como también del Palmerín de Oliva y las
suyas, es, en realidad, de donde deriva en su m ayor parte la ca­
balleresca española. U n género que, con puntillosa fidelidad a
su propio pasado literario, preservó incansablemente, en pleno
R enacim iento, el recuerdo de modos de vivir, hablar y pensar
caídos en desuso, de costumbres y jerarquías sociales desapare­
cidas, encerrando ese recuerdo en un molde narrativo hereda­
do de la Edad Media; pero que al mismo tiempo supo reno­
varse, evitando con típico optimismo renacentista los desastres
sentimentales y los trágicos desenlaces que solían ensombrecer
a las ficciones medievales. E l libro de caballerías peninsular ex­
cluye el amor adúltero -aq u el que había unido a Lanzarote con
Ginebra, esposa de Artús, y a Tristán con Iseo, mujer del rey
M a rc o - y sólo admite los amores ilícitos con tal de que los san­
tifique, como en el caso de Amadís y su dama Oriana, un ma­
trimonio secreto, confirmado después de algún tiempo por bo­
das públicas y solemnes. Tam bién ignora aquellos epílogos
patéticos de las narraciones francesas, en que perecen los aman­
tes y se derrumba, en torno a ellos, el mundo heroico que los
rodeaba; superados los peligros y sinsabores de la juventud, sus
protagonistas viven felices sin envejecer y a veces sin m orir si­
quiera, gozando de inusitada longevidad, mientras su descen­
dencia, hijos, nietos y demás allegados, perpetúa interminable­
mente su historia.
Así es com o, a pesar de su apego a la tradición, los escrito­
res hispánicos se esforzaron por adaptar sus obras a los tiempos
en que vivían y, con prudencia pero con clara conciencia de lo
que les exigía su quehacer literario, fueron introduciendo en
ellas elementos originales. Si cada autor reproduce la sustancia,
la trama, el tono y el esquema constitutivo de los arquetipos
novelísticos de los que su obra es, en cierto m odo, la repeti­
ción, también inventa variantes o elabora motivos novedosos
que dan a su relato una fisonomía y una andadura propias. Se­
mejantes variaciones se deben, por lo general, a que los escri­
tores rivalizan entre sí, proponiendo monstruos más espantosos
que el Endriago vencido por Amadís, combates más impresio-
LO S L I B R O S D E C A B A L L E R Í A S
CXXVII
nantes, torneos más complicados, amores más contrariados,
vestimenta más lujosa, edificios de arquitectura más extrava­
gante, en continua amplificación de los motivos desarrollados
ya por sus predecesores. Muestra característica de este fenóm e­
no es la forma en que va evolucionando, a partir del Amadís, la
atribución a dos autores sucesivos, un redactor antiguo y un
traductor moderno, del libro que se está leyendo, desdobla­
miento iniciado por M ontalvo y tan sutilmente aprovechado
después por Cervantes en su creación de C ide Hamete Benengeli: en el Caballero de la Cruz (15 2 1) los autores son un cro­
nista m oro y un cautivo cristiano capaz de verter al castellano
el texto árabe; en el Amadís de Grecia (1530) coexisten dos res­
ponsables cuyos prólogos se oponen y contradicen; en el Palmerín de Inglaterra (1547) Francisco de Moraes finge que la b io ­
grafía de su protagonista no es sino un extracto, vertido al
portugués, de las viejas crónicas de Gran Bretaña conservadas
en la biblioteca de un erudito parisino; y en el Felixmarte de Hircania (1556) aparecen nada menos que cuatro personajes: el
griego Philosio, cuyo texto, supuestamente traducido al latín
por Plutarco y retraducido por Petrarca al idiom a toscano,
pasa finalmente al castellano en la versión del oscuro M elchor
Ortega.
A l margen de estas variaciones, que a buen seguro eran per­
ceptibles para los lectores del Siglo de O ro más sensitivos y más
familiarizados con la caballeresca, com o podía serlo un C e r­
vantes, también hay notables diferencias de fondo y estilo en­
tre cada uno de los representantes del género. Compuestos por
individuos de condición y cultura m uy diversas -nobles pala­
ciegos, hidalgos provincianos, profesores de universidad, ju ris­
consultos, oscuros medicastros y mujeres letradas-, los libros de
caballerías reflejan la personalidad de sus autores, sus gustos li­
terarios, sus aficiones científicas y a veces hasta sus experiencias
personales. E l Clarimundo del docto historiador lusitano Joao de
Barros conmemora los míticos orígenes y las gloriosas figuras
de la dinastía real portuguesa; el segundo de los «Clarianes»,
obra de un cierto «maestre Alvaro», físico del Conde de Orgaz,
va encabezado por un prólogo pedantesco donde, a base de ci­
tas aristotélicas, se encarecen las distancias que median entre las
nueve esferas celestiales; en el Florindo del piadoso Fernando
CXXVIII
PRÓLOGO
Basurto se describen las riñas de los tahúres y se censura la pa­
sión del ju ego; el Amadís de Grecia y el Florisel de Niquea, del
prolífico regidor de Ciudad R o d rig o , Feliciano de Silva, de
cuyo estilo enrevesado se burló tan sarcásticamente Cervantes,
contienen largos episodios pastoriles; en el proemio del Cristalian de España, doña Beatriz Bernal contrasta la «femínea debi­
lidad» de su sexo con la bravura combativa de sus personajes
masculinos; en el Valerián de Hungría, el notario Dionís C le­
mente multiplica las arengas y debates de corte jurídico para
compensar su escaso interés por las armas y la guerra; y en el
Belianís de Grecia, el cultísimo licenciado Jerónim o Fernández
pretende ambiciosamente entroncar con los poemas hom éri­
cos, ofreciendo de paso una guía turística de las cuatro partes
del mundo.
R eflejo de épocas pretéritas y representación de los tiempos
presentes, la caballeresca española sin duda debió su asombroso
éxito precisamente a esta variedad de enfoques, a esta mezcla
de rutina e invención, que le permitió conservar intactas sus es­
tructuras a lo largo de toda su trayectoria y, al mismo tiempo,
diversificar su temática poniéndola al día y ajustándola en par­
te a la realidad contemporánea. E n los libros de caballerías los
hombres y las mujeres del Siglo de O ro pudieron contemplar,
com o en un espejo lejano, la imagen de un mundo m uy dife­
rente y a la vez bastante próxim o de aquel en que vivían: un
mundo más primitivo, más heroico, más incóm odo, pero que,
por haber perdido su vigencia, les parecía más atrayente que la
conflictiva edad en que les había tocado nacer. M undo ilusorio
y ficticio por cierto, pero que les daba la posibilidad de evadir­
se del suyo sin desprenderse totalmente de él. Ese refugiarse en
la ficción caballeresca para escapar de la mediocridad y las tri­
bulaciones del vivir cotidiano accediendo a otra forma de vida
más noble y mejor, bien lo conoce don Q uijote y bien se lo
describe al canónigo cuando, después de largo alegato en de­
fensa de los libros de caballerías, termina diciendo: «No quiero
alargarme más en esto, pues dello se puede colegir que cual­
quiera parte que se lea de cualquiera historia de caballero an­
dante ha de causar gusto y maravilla a cualquiera que la leyere.
Y vuestra merced créame, y ... lea estos libros, y verá cóm o le
destierran la melancolía que tuviere y le m ejoran la condición,
LO S L I B R O S D E C A B A L L E R Í A S
C X X IX
si acaso la tiene mala. D e m í sé decir que después que soy ca­
ballero andante soy valiente, comedido, liberal, bien criado,
generoso, cortés, atrevido, blando, paciente, sufridor de traba­
jos, de prisiones, de encantos; y ... pienso, por el valor de m i
brazo ... en pocos días verm e rey de algún reino, adonde pue­
da mostrar el agradecimiento y liberalidad que mi pecho en­
cierra» (I, 50, 625-626).
«Cualquiera historia de caballero andante ha de causar gusto
y maravilla a cualquiera que la leyera»: en la perentoria afirma­
ción de don Q uijote se percibe el eco tenue de lo que pudo
representar quizá para Cervantes, en algún momento de su
vida, la lectura de los libros de caballerías. E n algún momento
de su vida que nos es imposible ubicar en el tiempo, pues ig­
noramos cuándo los leyó, si a lo largo de su vida o en sus años
mozos (según hicieran, arrepintiéndose de ello en su edad m a­
dura, Pero López de Ayala y Ju an de Valdés). Tam poco sabe­
rnos a ciencia cierta cuáles y cuántos de ellos juntó en su bi­
blioteca, suponiendo que los coleccionara y su colección se
pareciera a la de Alonso Quijano. Es evidente en todo caso que
en el momento de escribir la historia del ingenioso hidalgo dis­
taba mucho de compartir el ciego entusiasmo de éste por el gé­
nero caballeresco, pero sí lo tenía m uy presente en la m em o­
ria, como quien lo frecuentara desde antiguo compenetrándose
con su materia y su estilo.
N i cuantitativa ni cualitativamente es fácil apreciar lo que
pudo ser esta compenetración, que en opinión de la mayoría de
los críticos denota por parte de Cervantes un conocimiento ex­
tensísimo a la vez que minucioso de la producción caballeres­
ca. E n realidad, si se echa la cuenta de los libros de caballerías
presentes en el Quijote se comprueba que sólo doce de ellos
aparecen en el capítulo del «donoso escrutinio» llevado a cabo
por el cura y el barbero en la biblioteca de Alonso Quijano,
quedando mencionados otros nueve en el resto de su historia y
tal vez aludidos de manera indirecta unos tres o cuatro más: en
total, veinticinco títulos, cifra limitada que equivale a una ter­
cera parte más o menos de los que comprende el género en su
conjunto. Pero cantidad respetable, hay que reconocerlo, si se
tienen en cuenta las voluminosas dimensiones de cada libro y
se admite hipotéticamente la posibilidad de que Cervantes, con
cxxx
PRÓLOGO
parquedad m uy propia de su ingenio, haya omitido intencio­
nadamente algunos de los que había leído, seleccionando cui­
dadosamente aquellos a los que iba concediendo el honor de fi­
gurar en su obra. Cabe notar, por otro lado, que semejante
selección privilegia notablemente la caballeresca peninsular, ya
que Cervantes dedica casi exclusiva atención a las narraciones
españolas, si bien no las designa expresamente como tales ni di­
ferencia claramente de las castehanas las obras catalanas o por­
tuguesas como Tirante el Blanco y Palmerín de Inglaterra, que casi
seguramente conoció a través de sus traducciones. M enos caso
hace, en cambio, de la narrativa francesa: tan sólo de pasada
alude a uno o dos relatos carolingios, y no parece haber leído
ni el Merlin ni el Tristán ni la Demanda del Santo Grial, sino úni­
camente el modesto Tablante de Ricamonte, texto secundario
pero en cuyas páginas iniciales pudo hallar una escueta lista de
héroes que diestramente utilizó para suplir su ignorancia de la
materia, valiéndose también para ello del romance de Lanzaro­
te y de la vieja leyenda relacionada con la metamorfosis de Artús
en cuervo y con su posible resurrección en algún siglo futuro.
Bien indica este recuento que la lectura cervantina de la ca­
balleresca no fue enciclopédica ni ordenada, sino, com o es na­
tural en un escritor - y más en uno tan ajeno a toda ostentación
erudita com o sabemos que era Cervantes—, lectura libre, ex­
ploración caprichosa y desenvuelta, puesta al servicio de la crea­
ción personal. Así lo sugieren las confidencias del canónigo,
quien significativamente admite que jamás se ha podido aco­
m odar a leer ningún libro de caballerías del principio al cabo
(I, 47), y en otro momento confiesa que ha tenido cierta ten­
tación de escribir uno, guardando de él todos los puntos que le
parecen convenir e imponerse en esta clase de literatura (I, 48).
D e hecho, en las lecturas caballerescas de Cervantes se da una
mezcla singular de atención escrupulosa a ciertas obras y de
desenfadada distracción por lo que respecta a las demás. Ejemplos
de lectura cuidadosa y memoriosa son la del Amadís de Gaula y
la de Tirante el Blanco. E l Amadís no solamente es el libro de ca­
ballerías más frecuentemente aludido en el Quijote (donde se le
m enciona de treinta a cuarenta veces), sino que es evidente que
Cervantes lo tenía m uy en la uña: por boca de don Q uijote
señala que hay en el libro una figura - la de Gasabal, el nebulo-
LOS L I B R O S D E C A B A L L E R Í A S
CXXXI
so escudero de G alaor- cuyo nombre aparece una vez sola, in­
dicación tanto más meritoria cuanto que la obra encierra a más
de doscientos cincuenta personajes diferentes, siendo, por lo
demás, esta densidad de población una característica funda­
mental de las tierras caballerescas y una de las causas que hoy
en día más desalienta al turista-lector que se anima a visitarlas.
Tam bién en el Tirante, donde los personajes son casi trescien­
tos, recuerda Cervantes, ju nto con varios incidentes que le han
caído en gracia, a un insignificante caballero, llamado Fonseca,
que sólo fugazmente y de manera marginal surge entre las pá­
ginas de la novela catalana.
Cuatro obras más ocupan en el Quijote un lugar preferente: el
Palmerín de Inglaterra, puesto sobre las nubes por el cura en el ca­
pítulo del «escrutinio»; el Caballero del Febo y el Belianís de Grecia,
cuyos protagonistas, además de vitorear al ingenioso hidalgo en
los sonetos preliminares, vuelven a mencionarse varias veces a lo
largo de su historia, pareciéndole admirables a maese Nicolás el
barbero las hazañas del Caballero del Febo y problemáticas a
Alonso Quijano las heridas de D on Belianís; y el Carlomagno, re­
petidamente aludido en las páginas cervantinas, donde ha dejado
inolvidable huella uno de sus personajes, el gigante Fierabrás, de­
tentor del salutífero bálsamo codiciado por Sancho Panza. Por lo
que respecta a los demás representantes del género, Cervantes se
contenta por lo general con referirse a su título, sin meterse en
detalles ni pormenorizar su contenido, o bien se limita a evocar
los aparatosos nombres de sus protagonistas; es típico a este res­
pecto el catálogo que de ellos hace don Quijote, aplicándole a
cada uno adjetivos intercambiables que, según advierte acertada­
mente Clemencín, a cualquier héroe caballeresco pueden con­
venirle: «Díganme quién más honesto y más valiente que el fa­
moso Amadís de Gaula. ¿Quién más discreto que Palmerín de
Inglaterra? ¿Quién más acomodado y manual que Tirante el
Blanco? ¿Quién más galán que Lisuarte de Grecia? ¿Quién más
acuchillado ni acuchillador que don Belianís? ¿Quién más intré­
pido que Perión de Gaula, o quién más acometedor de peligros
que Felixmarte de Hircania, o quién más sincero que Esplandián?
¿Quién más arrojado que don Cirongilio de Tracia?» (II, i, 691).
Verdad es que en el capítulo del «escrutinio» los juicios em i­
tidos por el cura a propósito de cada libro examinado son algo
C XXXII
PRÓLOGO
menos generales y, ya sean elogios, ya sean condenas, concuerdan m ejor con la obra a que se aplican. E l Palmerín de Inglaterra
de Francisco de Moraes, gran señor portugués de finísimo in­
genio y educación cortesana, justifica plenamente lo que dice
Pero Pérez del «grande artificio» y «mucha propiedad y enten­
dimiento» de su autor; y son muchos los lectores del Tirante
que han hallado en él, como el buen sacerdote, «un tesoro de
contento y una mina de pasatiempos» (I, 6, 90). Sin embargo,
para quien ha leído los demás libros de caballerías inspecciona­
dos por cura y barbero, no siempre son comprensibles ni apro­
piados los reproches que se le hacen a cada uno. A Clem encín
ya le extrañaba que al Olivante de Laura se le calificara de «to­
nel» a pesar de que no es particularmente volum inoso, exce­
diéndole en mucho numerosas narraciones de m ayor tamaño;
tampoco en el Felixmarte de Hircania es más conspicua que en
otros textos echados al fuego por el ama «la dureza y sequedad»
de estilo que se le achaca, ni más patente en el Caballero de la
Cruz la «ignorancia» de la que lo acusa su implacable censor.
N o dejan, por otro lado, de ser desconcertantes las confusio­
nes en que reinciden una y otra vez los personajes cervantinos
al comentar ciertos episodios específicos de las obras que su­
puestamente han leído. N im io error de la dueña D olorida es
atribuirle a Pierres de Provenza el caballo volador en cuyas an­
cas, dice, se lleva por los aires a la linda Magalona, siendo así que
esta montura mágica -prefiguración del Clavileño en el que ca­
balgan Sancho y su am o - pertenece a la Historia de Clamades y
Clarmonda (II, 40). Pero de magna equivocación del ventero
Ju an Palomeque -¿ o negligencia intencional de Cervantes?- es
imputarles a Cirolingio de Tracia y a Felixmarte de Hircania
dos aventuras que no figuran en absoluto en sus respectivas his­
torias: la disparatada navegación submarina de uno a horcajadas
de una sierpe acuática, y el inverosímil enfrentamiento del otro
con un ejército de un millón seiscientos m il soldados a quienes
desbarata «como si fueran manadas de ovejas» (I, 32, 408). Se­
mejantes inexactitudes parecen a primera vista sorprendentes en
un escritor que en otras ocasiones saca a relucir los nombres de
personajes ínfimos y totalmente subalternos del Amadís o del Ti­
rante, pero, bien miradas, muestran en realidad cuán poco siste­
máticas pudieron ser, por fortuna y para bien nuestro, las lectu­
LOS L I B R O S D E C A B A L L E R Í A S
C XX XTTT
ras caballerescas de Cervantes. D e su distante proximidad, por
llamarla así, a los libros de caballerías surgió la inimitable postu­
ra, mezcla de interés, irritación y descuido, que adoptó con re­
lación a ellos, esa postura en que se aúnan la dedicada atención
a mínimos detalles que hoy nos parecen sin importancia; una
panorámica pero aguda visión de los más ilustres representantes
del género; y un recuerdo a veces inexacto de su contenido,
que no se dignó verificar mientras escribía el Quijote o tal vez
prefirió modificar inventando deliberadamente episodios de su
propia cosecha. Y no sólo episodios apócrifos como aquellos
que insertó en el Felixmarte y el Cirongilio, sino también m ininarraciones caballerescas com o las dos que el ingenioso hidalgo
se lanza a improvisar compendiando con talento las farragosas
ficciones reunidas en su librería: la novelita del caballero del
lago ferviente, que en arquetípico viaje al mundo subterráneo
penetra en un castillo fantástico habitado por doncellas silencio­
sas y músicos invisibles (I, 50); y la biografía abreviada del an­
dante que se enreda en los amores de una infanta desconocida
hasta casarse con ella, coleccionando de paso gloriosas victorias,
encuentros con enanos y gigantes, y llorosas entrevistas senti­
mentales con su dama (I, 21).
E l que Cervantes haya capacitado a Alonso Quijano para m a­
nejar con soltura los lugares comunes de la literatura caba­
lleresca y recom ponerlos a su antojo en cualquier m om ento
influye de m odo determinante, según todos sabemos, en la his­
toria de don Quijote. E n estos lugares comunes se inspira el de
la Triste Figura para tejer la trama de su vida amoldándose al
esquema de las biografías heroicas que se le presentan en sus li­
bros. Pero por lo mismo que son tópicos el ritual de la inves­
tidura de armas, la elección de un escudero fiel, el amor a una
dama de belleza sin par, los combates contra enemigos desco­
nocidos, las maquinaciones urdidas por encantadores malinten­
cionados, no se les puede asignar a casi ninguno de ellos, cuan­
do aparecen en la obra cervantina, una fuente precisa o un
precedente seguro en las narraciones leídas por el hidalgo manchego. Los motivos de la literatura caballeresca reutilizados a
cada paso en el Quijote jamás proceden directa y sencillamente
de uno de los textos que quiso imitar su cándido protagonista
y parodió su escurridizo e irónico autor: siempre son fruto de
C XX XIV
PRÓLOGO
reminiscencias múltiples que Cervantes combina a su manera,
elaborando su propia variante del tema y dándole ese sesgo hu­
morístico que es propio de su ingenio. Bien nos lo indica él
mismo al señalar socarronamente, a propósito de la penitencia
amorosa de don Q uijote en Sierra M orena (I, 25 y 26), que el
episodio se remonta a dos modelos juntam ente: el retiro m e­
lancólico de Amadís en las soledades de la Peña Pobre y el fu­
rioso vagar del Orlando de Ariosto por los bosques donde A n ­
gélica y M edoro le han traicionado.
La indicación, por cierto, es valiosa en la medida en que deja
entrever algo del com plejo proceso creativo que, a partir de
los libros de caballerías, dio origen a buena parte del Quijote.
Y conviene no olvidarla cuando, para determinadas aventuras
del ingenioso hidalgo, se buscan antecedentes en la literatura
caballeresca. Pero, a decir verdad, en la mayoría de los casos la
identificación de semejantes antecedentes resulta sumamente
insegura e insatisfactoria. A la célebre carta que don Q uijote le
envía a Dulcinea del Toboso por m ediación de Sancho -«la
m ejor carta de amores de la literatura española», en opinión de
Pedro Salinas— se la puede relacionar con prácticamente cual­
quiera de las innumerables epístolas amatorias incluidas en los
libros caballerescos; al mandato conminatorio que el hidalgo
dirige a los mercaderes toledanos para que confiesen, sin ha­
berla visto, la inigualada hermosura de su dama, se le han en­
contrado equivalentes en varias obras que Cervantes conocía,
entre ellas el Caballero de la Cruz y el Belianís de Grecia; en la
grande aventura de la cueva de Montesinos se ha detectado
la posible influencia no sólo de diversas cuevas caballerescas -la
de Urganda en Las sergas de Esplandián, la de Hércules en el
Clarián de Landanís o la de Artidón en el Caballero del Febo- ,
sino también de una multitud de cavernas e infiernos subterrá­
neos situados en otras regiones de la literatura, como la Repú­
blica de Platón, la Eneida de Virgilio, la Divina Comedia de D an­
te y el Orlando de Ariosto.
Si algo muestran estos ejemplos es que el Quijote es, ante
todo, un libro de y sobre libros. E n él, los de caballerías han
servido, junto con otros muchos, de material de construcción
para que Cervantes levantara un edificio nuevo inventando ar­
quitecturas narrativas que la novelística anterior no había des­
LOS L I B R O S D E C A B A L L E R Í A S
CXXXV
cubierto. Esta novelística antigua no disponía aún, después de
tan larga carrera, de un término específico para designarse a sí
misma ni hallaba cabida en los tratados de preceptiva literaria
(«historias fingidas» son para M ontalvo a fines del siglo x v las
narraciones caballerescas, y «fábulas milesias o cuentos dispara­
tados» las llama López Pinciano a fines del x v i) ; pero, a pesar
de ello, seguía triunfando de las continuas censuras de eclesiás­
ticos y moralistas, y era todavía lo bastante vigorosa como para
estampar profundamente su sello en la obra cervantina, dejan­
do inscritos en ella sus temas y sus formas. Cervantes, sin em ­
bargo, la transfiguró y la hizo otra, ridiculizando con devasta­
dora ironía lo peor que había en ella y aprovechando lo m ejor
con magistral eficacia. La historia del ingenioso hidalgo es un
ataque feroz a la tradición narrativa que representan los libros
de caballerías. Pero, por una paradoja típicamente cervantina,
también es la victoria postuma de aquellos escritores m edieva­
les que, en palabras de Ju an de Valdés, «escribieron cosas de sus
cabezas» y fueron, sin tener quizá clara conciencia de ello, los
precursores de la novela.
N O TA B IB LIO G R Á FIC A
(Con la colaboración de M ari Carm en M arín Pina)
D e la especial afición de Cervantes por toda clase de libros, incluidos los de
caballerías, y del papel preeminente que desempeñan en su obra se han ocu­
pado Am érico Castro («La palabra escrita y el Quijote», en Hada Cervantes,
Taurus, Madrid, 19673, pp. 359-419), M ia Gerhardt (Don Quichotte, ¡a vie et
les livres, Noord-Hollandsche Uitgevers Maatschapij, Amsterdam, 1955),
Martin de R iq uer («El Quijote y los libros», Papeles de Son Armadans, X IV ,
1969, pp. 9-24) y Carlos Garcia Gual («Cervantes y el lector de novelas del
siglo X V I » , en Mélanges de la Bibliothèque Espagnole. Paris, 1976-1977, M inis­
terio de Asuntos Exteriores, D irección General de Relaciones Culturales,
Madrid, 1978, pp. 13-38). Su conocimiento es tal que, como sugiere A l­
berto Blecua («Cervantes historiador de la literatura», en Silva. Studia philologica in honorem Isaías Lerner, coords. I. Lozano-Renieblas y J . C . Mercado,
Castalia, Madrid, 2001, pp. 87-97), Cervantes es el primer historiador de los
libros de caballerías, seleccionando los valores de unos y otros.
Desde finales del siglo x v , fecha de la refundición del Amadís de Gaula
por Garci Rodríguez de M ontalvo, hasta 16 23, año de la publicación de la
Tercera y cuarta parte de Espejo de príncipes y caballeros, el género caballeresco
C XXXVI
PRÓLOGO
gozó de una larga vida con períodos lógicos de esplendor y decadencia (José
M anuel Lucía Megías, «El corpus de los libros de caballerías castellanos:
¿una cuestión cerrada?», Tirant lo Blanc [http://parnaseo.uv.es/Tirant/Btdleti-4] (2001), p. 11) . La cuestión de la fecha del declive del género caballe­
resco en España es la que ha suscitado m ayor controversia. M axim e C h e­
valier insiste en que los libros de caballerías gozaron de popularidad hasta
bien entrado el siglo x v n («El público de las novelas de caballerías», en Lec­
tura y lectores en la España del siglo x v i y xvn , Turner, Madrid, 1976, pp. 65103), idea que también comparte José M anuel Lucía Megías, a juzgar por
las críticas de autores graves del siglo x v n («Los libros de caballerías a la luz
de los primeros comentarios del Quijote: D e los R ío s, B ow le, Pellicer y C le­
mencín», Edad de Oro, X X I , 2002, pp. 499-539) y por la difusión de los li­
bros de caballerías manuscritos («Libros de caballerías manuscritos», Voz y Le­
tra, V II/ 2 , 1997, pp. 6 1-12 5 ) recientemente descubiertos, mientras Daniel
Eisenberg opina que el auge de la literatura caballeresca corresponde a la
época imperial de Carlos V , y su decadencia se inicia ya en las primeras dé­
cadas del reinado de Felipe II, hacia 1560 («Who R e a d the Rom ances o f
Chivalry?», en Romances of Chivalry in the Spanish Golden Age, Juan de la Cues­
ta, Newark, 1982, pp. 8 9-118 ; y A Study of «Don Quixote», Juan de la Cuesta,
N ew ark, 1987, pp. 3-44, traducido al español como La interpretación cervan­
tina del «Quijote», Compañía Literaria, Madrid, 1995); sobre la perduración
paralela de libros de caballerías y poesía de cancionero hasta la edad barro­
ca son importantes las consideraciones de Francisco R ic o , «“ U n penacho de
penas” . D e algunas invenciones y letras de caballeros», en su libro Texto y
contextos, Crítica, Barcelona, 1990, pp. 189-230.
Incesantes a partir de fines del siglo x v , las críticas a la caballeresca, a la
que moralistas, predicadores y preceptistas literarios de los siglos x v i y x v n
seguirían reprochando ásperamente su inmoralidad e inverosimilitud, han
sido reproducidas y comentadas por M arcelino Menéndez Pelayo (Orígenes
de la novela, C S IC , Madrid, 1962, I, pp. 440-447), H enry Thomas (Spanish
and Portuguese Romances of Chivalry, Cambridge University Press, 1920;
reimpresión por Kraus, N ueva Y o rk , 1969; trad, española, Las novelas de ca­
ballerías españolas y portuguesas, C S IC , Madrid, 1952, pp. 115 - 13 4 ) , M arcel
Bataillon (Erasmo y España, Fondo de Cultura Económ ica, M éxico-M adridBuenos Aires, 19 9 16, pp. 615-622), Edward Glaser («Nuevos datos sobre la
crítica de los libros de caballerías en los siglos x v i y x v n » , Anuario de Estu­
dios Medievales, III, 1966, pp. 393-410), M artín de R iq u er («Tirante el Blan­
co, Don Quijote y los libros de caballerías», separata del prólogo a la edición
de Tirante el Blanco de la Asociación de Bibliófilos de Barcelona, 1947-1949,
pp. x x v - l x ; y «Cervantes y la caballeresca», en Suma cervantina, ed. J.B .
Avalle A rce y E .C . R ile y , Tamesis Books, Londres, 19 73, pp. 273-292) y,
más recientemente, Elisabetta Sarmati (Le critiche ai libri di cavalleria nel Cin­
quecento spagnolo (con uno sguardo sul Seicento). U n’ analisi testuale, Giardini,
Pisa, 1996). Críticas que, sin embargo, no cuajaron en un debate sobre el
género com o el suscitado en Italia (Susana Gil-Albarellos Pérez Pedrero,
«Debates renacentistas en tom o a la materia caballeresca. Estudio compara-
LO S L I B R O S D E C A B A L L E R Í A S
CXXXVII
tivo en Italia y España», Exemplaria, I, 1997, pp- 43-73), aunque muchas de
ellas, especialmente las de los humanistas, unidas a la respuesta de los auto­
res y editores de libros de caballerías en sus prólogos, constituyen una pri­
mera etapa en el proceso de inserción de la novela en la teoría literaria (Karl
Kohut, «Teoría literaria humanística y libros de caballerías», en Libros de ca­
ballerías (de «Amadis» al «Quijote»), Poética, lectura, representación e identidad,
eds. E .B . Carro Carbajal et al., S E M Y R , Salamanca, 2002, pp. 17 3 -18 5 .
A l margen de estos vituperios, que quizá contribuyeran en parte al des­
doro del género, y cuyos tópicos, en todo caso, reelabora Cervantes en el
Quijote, son varias las causas que se han venido invocando para explicar el
descrédito de la novelística cabaüeresca a fines del siglo x v i: Am érico Cas­
tro consideraba que éste se debía ante todo a la condena pronunciada por el
Concilio de Trento en contra de la literatura profana en general (El pensa­
miento de Cervantes, N oguer, Barcelona-M adrid, 19 72 2, p. 26), hipótesis
apoyada por Karl Kohut (Las teorías literarias en España y Portugal durante los
siglos X V y XVI, C S IC , Madrid, 19 73, pp. 39-41) y complementada por E isenberg, quien aduce ejemplos de la hostilidad a la caballeresca manifestada
por algunos de los censores consultados por el Santo O ficio («An Early C e n ­
sor: A lejo Venegas», en Medieval, Renaissance and Folklore Studies in Honor o f
f . E . Keller, Juan de la Cuesta, N ew ark, 1980, pp. 229-241). En cambio, P e­
ter Russell insiste en que no figura ningún libro de caballerías entre los pro­
hibidos por los índices tridentinos de 1558 y 1564, com o tampoco en los
sucesivos índices publicados por la Inquisición española entre 1559 y 1640,
sino que recaía en los censores contratados por el Consejo de Castilla la res­
ponsabilidad del imprimatur concedido o denegado a las obras de ficción («El
Concilio de Trento y la literatura profana: reconsideración de una teoría»,
en Temas de «La Celestina», Ariel, Barcelona, 1978, pp. 441-478). De gran
interés resultan en este sentido los cuadernos de anotaciones misceláneas
con citas del Amadís de Gaula del humanista Alvar Góm ez de Castro (Cha­
ro M oreno y Carlos Sainz de la Maza, «Alvar Gómez de Castro y el Amadís de Gaula», Criticón, L X X V III, 2000, pp. 59-74), autor del opúsculo Pareçer çerca de prohibifión de libros de poesía y otros, elaborado a finales del decenio
de 1570 por encargo de la Inquisición (Peter E . Russell, «Secular Literatu­
re and the Censors: A Sixteenth-Century Docum ent Re-exam ined», Bulle­
tin o f Hispanic Studies, L IX , 1982, pp. 219-225). Por otra parte, en las colo­
nias americanas fueron ineficaces, según Irving Leonard, las ordenanzas
reales en virtud de las cuales periódicamente se prohibió la importación o la
lectura de obras caballerescas (Los libros del Conquistador, Fondo de Cultura
Económ ica, M éxico, 19792, pp. 92-100 y 16 0 -16 3). D e hecho, los libros de
caballerías siguen pasando al N u evo M undo todavía en el siglo x v n , como
revela el inventario del rico surtido de libros, ciento cuatro de ellos de ca­
ballerías, que el segoviano Pedro Durango lleva a Lima en 1603 (Carlos A l­
berto González Sánchez, Los mundos del libro. Medios de difusión de la cultura
occidental en las Indias de los siglos x v i y x v ii, Universidad de Sevilla, 1999,
pp. 12 5 -13 6 ). Harry Sieber relaciona el declive del género con cambios so­
ciales de mayor alcance, como la aparición de un público lector nuevo o las
CXXXVIII
PRÓLOGO
transformaciones experimentadas por las prácticas militares de los ejércitos
(«The R om ance o f Chivalry in Spain. Prom Rodríguez de M ontalvo to
Cervantes», en Romance: Generic Transformation from Chrétien de Troyes to
Cervantes, eds. K evin Brow nlee y Marina Scordilis Brow nlee, Published for
Dartmouth College by University Press o f N e w England, Hanover y Lon­
dres, 1985, pp. 203-219). Cambios a los que habría que sumar otros factores
apuntados por Carlos Alvar y José M anuel Lucía Megías («Los libros de caba­
llerías en la época de Felipe II», en Silva. Studia philologica in honorem Isaías
Lenier, pp. 25-35) como la Pragmática de 1558 , la reforma tridentina del
N u evo Rezado, la crisis de 1590, la aparición de una nueva estética y, como
también señala Pedro M . Cátedra (Nobleza y lectura en tiempos de Felipe II.
La biblioteca de don Alonso Osorio, marqués de Astorga, Junta de Castilla y León,
Valladolid, 2002), la normalización de la nueva pedagogía jesuítica.
Junto a las censuras y vituperios, se alzan también voces que, si bien cri­
tican sus defectos, en el fondo aprecian esta forma de ficción, com o son las
de Juan de Valdés (Elisabetta Sarmati, «Los libros de caballerías en el Diálo­
go de Ia lengua de Juan de Valdés», en Actas del I V Congreso Internacional de la
Asociación Internacional Siglo de Oro, coord. M .aC . García de Enterría y A .
Cordón Mesa, Universidad de Alcalá, 1998, II, pp. 14 9 1-14 9 8 ), Juan Arce
de Otálora (Maxime Chevalier, «Arce de Otálora lector y crítico de los
amadises», Boletín de la Biblioteca Menéndez Pelayo, L X X III, 1997, pp. 3 5 1357), la del desconocido autor de la carta a Pedro M exía (15 4 5 -15 5 1) (N ie­
ves Baranda, «En defensa del Amadís y otras fábulas. La carta anónima al ca­
ballero Pero Mexía», Journal of Hispanic Philology, X V , 19 9 1, pp. 221-236 ),
o la del humanista Antonio de Toledo, que a finales del siglo x v n defien­
de el valor moral y la ejemplaridad del género (Mercedes Cornelias A guirrezábal, «Otra posibilidad de salvar los libros de caballerías: la de Antonio
de Toledo en su Discurso de las buenas letras humanas», en Actas del Congreso
Internacional sobre Humanismo y Renacimiento, coords. J . Matas Caballero et
al., Universidad de León, 1998, II, pp. 277-285).
N o hace mucho, Daniel Eisenberg recordaba que los libros de caballerías
son en su mayoría prácticamente inaccesibles al lector de hoy, al no haber­
se reeditado desde el Siglo de Oro («El problema del acceso a los libros de
caballerías», Insula, D L X X X IV -D L X X X V , agosto-septiembre de 1995, pp.
5-7). En poco tiempo, sin embargo, la realidad empieza a ser otra gracias a las
publicaciones del Centro de Estudios Cervantinos, que en la colección Los
libros de Rocinante ha editado ya más de doce títulos de libros de caballerías,
algunos incluso inéditos, así como más de una treintena de Guías de lectura
caballeresca (José Manuel Lucía Megías, «Los libros de caballerías castellanos:
textos y contextos», Edad de Oro, X X I , 2002, pp. 9-60), sin olvidar la Anto­
logía de libros de caballerías (coord. José M anuel Lucía Megías, Centro de Es­
tudios Cervantinos, Alcalá de Henares, 2001), en la que se demuestra la ri­
queza y variedad de estos libros, así como el corpus de relatos caballerescos
breves editados y estudiados por N ieves Baranda (Historias caballerescas del si­
glo XVI, Turner, Madrid, 1995, 2 vols.). Gracias a la catalogación sistemáti­
ca de ejemplares en bibliotecas (José M anuel Lucía Megías, «Catálogo des-
LO S L I B R O S D E C A B A L L E R Í A S
C X X X IX
criptivo de los libros de libros de caballerías», proyecto del Seminario de F i­
lología de la Universidad de Alcalá de Henares; http://www.uah.es/filmr/), a
la edición y estudio de textos concretos, se están asentando las bases nece­
sarias para trazar una historia certera del género caballeresco.
E l precario conocimiento que se tiene del género es herencia del pasado.
D e la poca estimación que sintieron por la caballeresca los críticos de fines
del siglo X I X y principios del x x son buen ejemplo las páginas de Pascual
de Gayangos («Discurso preliminar», en Libros de caballerías, Rivadeneyra,
Madrid, 1857, B A E 40, pp. i n - L x n ) , Menéndez Pelayo (Orígenes de la no­
vela, I, pp. 293-466) y Thomas (Spanish and Portuguese Romances of Chivalry,
passim), aunque hay que reconocer que estos estudios no dejaron de ser un
primer paso hacia la recuperación del género y un punto de referencia para
análisis posteriores (Rafael M . M érida, «Tirant lo Blanch y los libros de ca­
ballerías: en tom o al “ Discurso preliminar” de Pascual de Gayangos», Cua­
dernos para Investigación de la Literatura Hispánica, X X , 1995, pp. 15 3-15 9 )· La
nueva valoración tuvo su inicio a partir de la década de los cincuenta, gra­
cias a los estudios de Justina R u iz de Conde (El amor y el matrimonio secreto
en los libros de caballerías, Aguilar, Madrid, 1948) y Pierre Le Gentil («Pour
l’interprétation de 1’Amadís», en Mélanges à la mémoire de J . Sarrailh, Centre
de Recherches de l ’Institut d’Etudes Hispaniques, Paris, 1966, II, pp. 4754). E n fechas más próximas destacan el repertorio bibliográfico de Eisenberg (Castilian Romances of Chivalry in the Sixteenth Century. A Bibliography,
Grant & Cutler, Londres, 1979), el modélico estudio del Amadís realizado
por Juan M anuel Cacho Blecua (Amadís: heroísmo mítico cortesano, Cupsa,
Madrid, 1979), el enfoque estructural de Federico Curto Herrero (Estructu­
ra de los libros de caballerías en el siglo x v i, resumen publicado en la Fundación
M arch, Madrid, 1976, Serie Universitaria 12) y el valioso inventario de re­
ferencias bibliográficas y críticas que ofrecen M .a Carm en M arín Pina y
Nieves Baranda («La literatura caballeresca. Estado de la cuestión», Roma­
nistischesJahrbuch, X L V , 1994, pp. 271-294 , y X L V I, 1995, pp. 314-338), re­
visado, actualizado y ampliado ju nto a M .a Carmen M arín Pina (La Biblio­
grafía de los libros de caballerías españoles, Prensas Universitarias, Zaragoza,
2000), así com o el elaborado por Nieves Baranda para los relatos caballeres­
cos breves («La literatura caballeresca. Estado de la cuestión», Romanistisches
Jahrbuch, X L V , 1994, pp. 271-294). El interés por la literatura caballeresca
está en auge, como puede comprobarse en la consulta de la base de datos
Clarisel (http://clarisel.unizar.es) y en las recientes publicaciones colectivas
sobre el género: La caballería antigua para el mundo moderno, monográfico de
Insula, D L X X X IV -D L X X X V (1995), coord. Jesús D . R odríguez Velasco;
Voz y Letra, V I I / 1 y V II/2 (1996), números en los que se recogen las con­
ferencias pronunciadas en el curso Libros de caballerías, dirigido por Carlos
Alvar, Cuenca, 1995; Literatura de caballerías y orígenes de la novela, ed. R afael
Beltrán, Universität de Valéncia, 1998; Estudios sobre narrativa caballeresca es­
pañola de los siglos XVI y xvil, monográfico de la revista Thesaurus, L IV
(-[999); Libros de caballerías: textos y contextos. Edad de Oro, X X I (2002); F e ­
chos antiguos que los cavalleros passaron. Estudios sobre la ficción caballeresca, ed.
CXL
PRÓLOGO
Julián Acebrón, Universität de Lleida, 2001; Libros de caballerías (De «Amadís» al «Quijote»), Poética, lectura, representación e identidad, S E M Y R , Sala­
manca 2002, o en la revista electrónica Tirant (http:/ /parnaseo.uv.es/tirant).
Los campos de investigación abiertos son múltiples y muchos los avances
realizados, por ejemplo, en el análisis externo del género editorial caballe­
resco (José M anuel Lucía Megías, Imprenta y libros de caballerías, Ollero &
Ram os, Madrid, 2000), en la evolución del género desde sus orígenes artúricos y en el análisis de algunos de sus personajes y recursos narrativos (Anna
B ognolo, Lafinzione rinnovata. Meraviglioso, corte e avventura nel romanzo cavalleresco del primo Cinquecento spagnolo, Edizioni E T S , Pisa, 1997; Sylvia
Roubaud-Bénichou, Le roman de chevalerie en Espagne. Entre Arthur et Don
Quichotte, H onoré Champion Editeur, Paris, 2000), en el descubrimiento
del hum or (Marie C ort Daniels, The Function o f Humor in the Spanish R o ­
mances o f Chivalry, Garland, N ueva Y o rk , 1992), del realismo de algunos li­
bros (Javier Guijarro Ceballos, E l «Floriseo» de Fernando Bernal, Editora R e ­
gional de Extremadura, Mérida, 1999) o en las traducciones y adaptaciones
de los textos italianos (Javier Góm ez-M ontero, Literatura caballeresca en Es­
paña e Italia (1483-1542): E l “Espejo de caballerías", M ax N iem eyer, Tubinga,
1992), entre otros.
E l ingente número de ediciones y reediciones de obras caballerescas que
salió a luz en España durante el Siglo de O ro puede apreciarse merced a las
estadísticas propuestas por Chevalier («El público de las novelas de caballe­
rías», pp. 65-66), al catálogo bibliográfico de Eisenberg, del que quedan ex­
cluidas las novelas catalanas y portuguesas (Bibliografía de los libros de caballe­
rías castellanos), al corpus propuesto por Lucía Megías («El corpus de los
libros de caballerías castellanos: ¿una cuestión cerrada?») y a la lista publica­
da por Baranda («Compendio bibliográfico sobre la narrativa caballeresca
breve», en Evolución narrativa e ideológica de la literatura caballeresca, ed. M .E .
Lacarra, Universidad del País Vasco, Bilbao, 19 9 1, pp. 18 3 -19 1). Para un
cómputo del número total de ejemplares de los libros de caballerías que cir­
cularon en España, consúltese a R iq u e r («Cervantes y la caballeresca»,
pp. 285-286).
Aunque Chevalier («El público de las novelas de caballerías»), seguido por
Eisenberg («Who R e ad the Rom ances o f Chivalry?», pp. 90-100), sostiene
que las ficciones caballerescas fueron degustadas principalmente, si no de
forma exclusiva, por los miembros de la nobleza y la hidalguía, a quienes
ofrecían lecciones de heroísmo y cortesanía propias de su estado, al igual
que en la Edad M edia (Rafael Ram os, «Lectura y lectores de relatos de ca­
ballerías en la Castilla medieval», Insula, D C L X X V , marzo de 2003, pp. 2427), se han descubierto documentos, escasos pero fehacientes -entre ellos,
los aducidos por Sara T . Nalle («Literacy and Culture in Early M odem Castile», Past and Present, C X X V , 1989, pp. 65-96), Philippe Berger (Libro y lec­
tura en la Valencia del Renacimiento, Valencia, 1987, 2 vols.) y M anuel Peña
(El laberinto de los libros. Historia cultural de la Barcelona del Quinientos, Pirá­
mide, Madrid, 19 97)-, que confirman la certera intuición de R iq u er según
la cual la popularidad de los libros de caballerías se extendió a las capas más
LO S L I B R O S D E C A B A L L E R Í A S
CX LI
modestas de la sociedad española aurisecular («Cervantes y la caballeresca»,
p. 286). Los nuevos datos aportados por la crítica llevan a Chevalier («Lec­
tura y lectores... veinte años después», Bulletin Hispanique, IC , 1997, pp. 19 24) a revisar de nuevo el problema de la recepción del género planteado en
su pionero estudio, aunque entiende que la lectura de novelas ante grupos
analfabetos sigue siendo materia opinable («Lectura en voz alta y novela de
caballerías. A propósito del Quijote, I, 32», Boletín de la Real Academia Espa­
ñola, L X X IX , 1999, pp. 55-65). Para valorar los hábitos de lectura y la ña­
mada «lectura coetánea», la crítica reciente atiende a las marcas textuales que
puedan desvelar el modo de recepción de los mismos (Anna Bognolo, «So­
bre el público de los libros de caballerías», en Actas do I V Congresso da Associaçâo Hispánica de Literatura Medieval, coords. A .A . Nascimento y C. A lm ei­
da R ibeiro, Cosmos, Lisboa, 1993, pp. 12 5 -12 9 ) o a las anotaciones
marginales presentes en algunos libros de caballerías (José M anuel Lucía
Megías, «Una nueva página en la recepción de los libros de caballerías: las
anotaciones marginales», en Libros de caballerías (de «Amadís» al «Quijote»),
Poética, lectura, representación e identidad', cit., pp. 201-243).
Los distintos aspectos del originalísimo entrelazamiento narrativo propio
de las ficciones caballerescas francesas fueron expuestos por Ferdinand L ot
(Etudes sur le «Lancelot en prose», Champion, Paris, 1954, pp. 17-28) y E u gè­
ne Vinaver («La création romanesque», en A la recherche d’une poétique mé­
diévale, Nizet, Paris, 1970, pp. 128-149); la puesta en práctica de estas téc­
nicas en los primeros cinco libros de la serie de los Amadises ha sido
estudiada por Juan M anuel Cacho Blecua («El entrelazamiento en el A m a­
dís de Gaula y en Las sergas de Esplandián», en Studia in honorem prof. Martín
de Riquer, Quaderns Crema, Barcelona, 1986, I, pp. 2 35-2 71). La estructu­
ra narrativa de los tempranos libros de caballerías españoles en comparación
con el modelo del román artúrico ha sido tratada por Anna Bognolo (La fin zione rinnovata) quien demuestra cóm o a partir del mismo se construye un
nuevo paradigma caballeresco «omnívoro», integrador de diferentes tradi­
ciones.
Las huellas de los romans franceses de tema artúrico o troyano en el A m a­
dís han sido detectadas por los estudios fundamentales de Grace Williams
(«The Amadís Question», Revue Hispanique, X X I, 1909, pp. 1-16 7 ) y M a­
ría R o sa Lida («El desenlace del Amadís primitivo», Romance Philology, V I,
19 5 2 -19 5 3 , pp. 283-289; reimpreso en Estudios de Literatura española y com­
parada, E U D E B A , Buenos Aires, 1966, pp. 14 9 -156 ). R iq u er ha señalado
el arcaísmo léxico del Amadís («Las armas en el Amadís de Gaula», Boletín de
la Real Academia Española, L X , 1980, pp. 33 1-4 2 7 ; reimpreso en Estudios so­
bre el «Amadís de Gaula», Sirm io, Barcelona, 1987, pp. 55-189), que imitan
los libros de caballerías posteriores; su aprovechamiento y parodia en el
Quijote quedan ampliamente ejemplificados por H ow ard M ancing (The
Chivalric World o f «Don Quijote», U niversity o f M issouri Publications, C o ­
lumbia, 1982, pp. 1 3 - 2 1 y 2 17 -2 19 ). E l conocim iento que Cervantes de­
muestra del género caballeresco ha llevado a la crítica a plantear la posesión
de estos libros y el tiempo de su lectura, ju ven il según R iq u er (Nueva Apro­
CXLII
PRÓLOGO
ximación al «Quijote», Teide, Barcelona, i960) y adulta en opinión de E isenberg (La interpretación cervantina del «Quijote»), N o sabemos si Cervantes,
hombre de extensas lecturas, según asegura Arm ando Cotarelo Valledor
(Ceivantes lector, Publicaciones del Instituto de España, Madrid, 1943), po­
seyó una biblioteca propia; la cuestión ha sido analizada por Eisenberg
(«Did Cervantes Have a Library?», en Studies in Honor of A . Deyermond,
Hispanic Seminary ofM ed ieval Studies, Madison, 1986, pp. 93-106), quien
intenta reconstituir el contenido de la misma a partir de los títulos m en­
cionados o aludidos por Cervantes en sus obras («La biblioteca de Cervan­
tes», en Stndia in honorem Prof. Martin de Riquer, Quaderns Crem a, Barce­
lona, 1987, II, pp. 271-328 ) y si en ella figuraba una colección de libros
similar a la reunida por su hidalgo (Francisco López Estrada, «La función
de la biblioteca en el Quijote», en D e libros y bibliotecas. Homenaje a Roclo
Caracuel, Universidad de Sevilla, 1994, pp. 19 3-200; Hernando Cabarcas,
E l conjuro de los libros. La biblioteca de (Servantes en la Biblioteca Nacional de
Colombia, Biblioteca N acional de Colom bia, 1997), variopinta y extraña a
ju icio de Edw ard Baker (La biblioteca de don Quijote, M arcial Pons, Madrid,
1997) y desfasada en opinión de T revo r J . Dadson («La librería de Cristó­
bal López (1606): estudio y análisis de una librería madrileña de principios
del siglo X V II» , en su Libro, lectores y lecturas. Estudios sobre bibliotecas parti­
culares españolas del Siglo de Oro, Arco/Libros, Madrid, 1998, pp. 2 83-30 1).
E l «donoso escrutinio» efectuado en el capítulo I, 6 puede entenderse en
este sentido com o un deseo de actualizarla y acomodarla a los nuevos gus­
tos estéticos, de manera que, como sugiere Pedro M . Cátedra (Nobleza y
lectura en tiempos de Felipe II), la práctica de expurgo o eliminación de libros
no sería una mera creación literaria con referentes inquisitoriales o institu­
cionales, sino también el reflejo de una práctica realizada en bibliotecas coe­
táneas, com o la del marqués de Astorga Alonso Osorio.
U no de los primeros en rastrear las posibles lecturas y fuentes caballerescas
cervantinas fue Jo h n B ow le, editor del Quijote a fines del siglo x v m , segui­
do de Diego Clemencín, en su «Comentario» de los años 18 33-18 3 9 al Inge­
nioso hidalgo (José Manuel Lucía Megías, «Los libros de caballerías a la luz de
los primeros comentarios del Quijote: D e los R ío s, B ow le, Pellicer y C lemencín»); en época más reciente, y a la zaga de María R o sa Lida («Dos hue­
llas del Esplandián en el Quijote y en el Persiles», Romance Philology, IX , 19 551956, pp. 156 -16 2) y de Daniel Eisenberg, («Don Quijote and the Rom ances
o f Chivalry: the N eed for a Reexamination», Hispanic Review, X L I, 1973, pp.
5 11- 5 2 3 , después traducido al español y recogido en su libro Romances of Chiναΐιγ in the Spanish Golden Age, pp. 13 1- 14 5 ) , la crítica se ha esforzado por
hallar antecedentes de algunos episodios del Quijote en los libros de caballe­
rías mencionados por Cervantes: Eisenberg, en el Espejo de príncipes y caballe­
ros, por otro nombre Caballero del Febo, de D iego Ortúñez de Calahorra (in­
troducción a su edición del Espejo, Espasa-Calpe, Madrid, 1975, I, pp.
L X i - L X i n ) ; Sydney Paul Cravens, en los «Amadises» de Feliciano de Silva
(«Feliciano de Silva and his Rom ances o f Chivalry in Don Quijote», Inti, V II,
1978, pp. 28-34); Eduardo Urbina («El caballero anciano en Tristan de Leonis
LO S L I B E O S D E C A B A L L E R Í A S
CXLIII
y don Quijote, caballero cincuentón», Nueva Revista de Filología Hispánica,
X X I X , 1980, pp. 16 4 -172), M ario Martins («O pré-cervantismo em Tristan
de Leonis», Boletim de Filología, X X V III, 1983, pp. 33-44) y M .a Luzdivina
Cuesta Torre («La estética del plagio en el Quijote», Estudios Humanísticos. F i­
lología, X IX , 1997, pp. 10 7 -12 3), en el Tristón de Leonís; Sylvia Roubaud, en
el Caballero de la Cruz o Lepolemo, así como en el Belianís de Grecia («Cer­
vantes y el Caballero de la Cruz», Nueva Revista de Filología Hispánica,
X X X V III, 1990, pp. 525-566); Javier R oberto González, («Palomeque, don
Quijote, Cervantes: tres lectores de Cirongilio de Tracia de Bernardo Vargas»,
Letras, X L II-X L III, 2001, pp. 29-50), en el Cirongilio de Tracia; o Judith A .
W hitenack («Don Quijote y los libros de caballerías del tipo neo-cruzado», en
Ensayos de literatura europea e hispanoamericana, ed. Félix Menchacatorre, U n i­
versidad del País Vasco, San Sebastián, 1990, pp. 581-586), en los libros del
tipo «neo-cruzado», que determinan la evolución de don Quijote de la ca­
ballería andante a la caballería santa. También se ha de prestar atención, sin
embargo, al material caballeresco silenciado, por ejemplo el tipo de la mujer
maga estudiada por Judith Whitenack, «Don Quijote y la maga: otra mujer
que ‘no parece’», en La mujer y su representación en las literaturas hispánicas, ed.
Juan Villegas, 1994, II, pp. 81-96), pues las omisiones de material caballeres­
co pueden ayudar a explicar los métodos creativos de Cervantes y, como en
el caso citado, a explicar la consistencia ética del personaje.
Semejantes antecedentes, más que «fuentes» propiamente dichas, son
muestras de la entera libertad con que Cervantes hizo suyo el material li­
bresco que tenía a mano o conservaba en la memoria, conforme expone
agudamente Francisco Ayala («Experiencia viva y creación poética. U n pro­
blema del Quijote», en Experiencia e invención. Ensayos sobre el escritor y su mun­
do, Taurus, Madrid, i960, pp. 79 -10 3; y «Nota sobre la novelística cervan­
tina», Revista Hispánica Moderna, X X X I , 1965, pp. 36-45).
Por último, que el Quijote constituye a un tiempo un enérgico ataque y
un sentido homenaje a los autores caballerescos que precedieron a Cervan­
tes en la invención de la novela es firme convicción de Mario Vargas Llosa
(«Presentación» de la traducción española del libro de Edwin Williamson
The Halfway House of Fiction. «Don Quixote» and Arthurian Romance, Claren­
don Press, O xford, 1984, traducido como E I «Quijote» y los libros de caballe­
rías, Taurus, Madrid, 19 9 1, pp. 1 1- 1 7 ) .
5. C E R V A N T E S : T E O R Í A L I T E R A R I A
Edward C. Riley
H ay escritores, hay críticos y hay escritores-críticos. C ervan ­
tes fue uno de estos últimos. N o escribió ningún tratado o
discurso sobre la poesía com o Torcuato Tasso, ningún arte
poética en verso com o el Arte nuevo de hacer comedias de Lope
de Vega. C o n todo, su obra literaria embebe un sustancioso
com pendio de teoría y crítica literaria: se encuentra en los
diálogos entre los personajes y en las observaciones del narra­
dor, sobre todo en el Quijote, el Viaje del Parnaso, la com edia
del Rufián dichoso y, más al paso, en algunas de las Novelas
ejemplares (La gitanilla, E l licenciado Vidriera, La ilustre fregona y
E l coloquio de los perros). A éstas deben añadirse las im portan­
tes contribuciones de casi todos los prólogos publicados al
frente de sus obras.
E n cuanto escritor deseoso de expresar sus ideas sobre el arte
que practica, Cervantes no se distingue esencialmente de otros
de su siglo. Pero se diferencia, si no totalmente, al menos en
gran medida, por la manera en que llega a incluir en sus consi­
deraciones la misma obra que las contiene. E l ejemplo más des­
tacado de tal autocrítica es, por supuesto, el Quijote. En cierto
sentido, toda obra literaria es producto de un proceso autocrí­
tico, pues no se puede com poner sin tener en cuenta ciertos
criterios y convenciones. N o es obligado ni necesario, sin em­
bargo, hacer que éstos se transparenten ni se comenten. La
autocrítica que encontramos en el Quijote representa un acto de
reflexión en el que vienen a prolongarse las consideraciones so­
bre la prosa de ficción integradas con toda naturalidad en el
asunto principal de la historia narrada.
E l Quijote llega como culminación de más de un siglo de ex­
perimentación -sin paralelo en la Europa de entonces- en el
campo novelístico. Cervantes es uno de los más asiduos en la
experimentación, según vemos en la variedad de sus escritos.
A ún más que cualquiera de sus antecesores, fueran estos autoC X L IV
C ERV A N T ES: TEO RÍA L IT E R A R IA
CXLV
res de diálogos, novelas picarescas o romances caballerescos, pas­
toriles o griegos, Cervantes, al escribir el Quijote, se halla prac­
ticando un género en buena medida nuevo y, de todos modos,
falto de un conjunto tradicional de preceptos, es decir, falto de
una poética propia.
O curre así por más que el Siglo de O ro, producto del R e ­
nacimiento con su renovado clasicismo, esté imbuido de cul­
tura preceptista. Para la novela no había más remedio que apro­
piarse, en lo posible, el contenido de los abundantes tratados de
poesía y retórica. Los grandes principios generales, como las
ideas sobre la inspiración, la invención, la unidad, la imitación,
etc., se adaptaron sin dificultad. Pero habría que esperar siglos
enteros para que la novela se viera tratada com o género inde­
pendiente y no sólo como una variedad de la poesía. E l presti­
gio de los antiguos lo dominaba todo y, según observa C e r­
vantes a propósito de los libros de caballerías, de éstos «nunca
se acordó Aristóteles, ni dijo nada San Basilio, ni alcanzó C ice­
rón» (I, Prólogo, 18). E n los escritos teóricos sobre la prosa de
ficción se encuentran poco más que observaciones dispersas so­
bre los libros de caballerías, los otros romances y las novelle ita­
lianas. A lo que se sabe, Cervantes había ponderado, como p o ­
cos o ninguno antes que él, los principios y condiciones del arte
de novelar.
C om o era de esperar, su teoría está arraigada en las poéticas
clásicas y contemporáneas, pero rebasa los límites de ambas. N o
se puede afirmar con certeza absoluta cuáles son las fuentes
principales de sus ideas -aparte de las autoridades primarias
com o Platón, Aristóteles, Horacio y Cicerón, comunes a to­
dos-, porque no las cita a la letra, sino que, al parecer, se vale
principalmente de la memoria. Sin embargo, no cabe duda de
que había leído mucho, tanto autoridades italianas como espa­
ñolas. D e vez en cuando se ve una correspondencia, que pare­
ce ser algo más que fortuita, con algún pasaje de Torcuato Tasso, Giraldi Cinthio, Alessandro Piccolom i, M inturno y tal vez
Castelvetro, entre los italianos. Entre los españoles, las fuentes
más probables parecen ser Alonso López Pinciano, Luis A lfon ­
so de Carvallo y M iguel Sánchez de Lima. H ay otros margina­
les, españoles e italianos, com o Juan Luis Vives, Baldassare Castiglione o Ju an Huarte de San Juan.
CXLVI
PRÓLOGO
Es m uy posible que Cervantes empezara a familiarizarse con la
teoría italiana durante los años de su estancia en Italia entre 1570
y 1575. Sin embargo, varios de los tratados que más probable­
mente conocía son de fechas posteriores. Y aunque el aristotelismo no esté ausente de La Galatea, es incomparablemente más
acusada su presencia en el Quijote de 1605. Tradicionalmente se
ha supuesto que la lectura que hizo Cervantes de la Philosophia
antigua poética (1596) del Pinciano fue determinante, pero igual
lo pudo ser la de los Discorsi de Tasso (desde el decenio de los
ochenta). Es difícil tener alguna seguridad. Cervantes no era de
los que citaban los dichos de los preceptistas para hacer alarde
de erudición, como Lope de Vega en alguna que otra ocasión.
Otra fuente de sus opiniones al respecto fueron tal vez las
academias que frecuentó durante los últimos años de su vida,
donde pudo tomar parte en las discusiones de crítica y teoría.
Finalmente, no debe olvidarse su propia experiencia de escri­
tor, otro impulso, sin duda, de sus ideas teóricas.
H ay una rama de la crítica española del siglo x v i que vuelve
a florecer en el Quijote. M e refiero a los comentarios sobre los
libros de caballerías, comentarios dispersos, ciertamente, pero
que se encuentran no sólo en tratados críticos, sino también en
escritos de otro tipo. Desde el comienzo de su renovada popu­
laridad, inaugurada por el Amadís de Gaula a principios de si­
glo, los libros en cuestión habían sido blanco de censuras y ju i­
cios adversos pronunciados por teólogos, humanistas y otros
intelectuales. Las opiniones favorables eran m uy pocas. Los li­
bros fueron reprobados más que nada por lascivos e indecentes
y, por ahí, por poner en peligro la virtud de las doncellas afi­
cionadas a su lectura. Según Ju an Luis Vives, un padre podía
encerrar con toda precaución a su hija, pero «déjale un Amadís
en las manos y deseará peores cosas que quizá en toda la vida».
Vives, Erasmo, Juan de Valdés, M alón de Chaide y muchos
más expresaron su desaprobación con razones vehementes. N o
sólo se censuraba la falta de moralidad; también fueron critica­
dos estos libros por razones estilísticas: por estar mal cons­
truidos y peor escritos. Finalmente, sus detractores los conde­
naban por mentirosos, insensatos e increíbles.
A veces, los mismos autores de los libros caballerescos (tales
como Oliveros de Castilla, Las sergas de Esplandián y Don Olivante
C ERV A N TES: TEO RIA LIT E R A R IA
CXLVII
de Laura, por ejemplo) demostraban ser conscientes de esta acu­
sación, ocasionando una autocrítica adulterada por una ironía
poco convincente. Pero valgan por todos estas palabras del P in ciano (Philosophia antigua poética, epístola quinta): «Las ficciones
que no tienen imitación y verisimilitud no son fábulas, sino dis­
parates, como algunas de las que antiguamente llamaron m ilesias, agora libros de caballerías, los cuales tienen acaecimientos
fuera de toda buena imitación y semejanza a verdad».
Todas estas censuras se encuentran en el Quijote puestas en
boca de distintos personajes o bien se dejan inferir de la misma
historia. La supuesta lascivia se trata más bien por su lado ri­
dículo, como cosa de risa. ¿Cóm o no acordarse de aquella doncella «con toda su virginidad a cuestas», que andaba «de monte
en monte y de valle en valle» y al fin «se fue tan entera a la se­
pultura como la madre que la había parido» (I, 9, 117 )? Más di­
rectos son los reparos críticos a cuenta de los defectos de es­
tructura o de estilo verbal. Sin duda el más memorable es el que
cita las palabras de Feliciano de Silva sobre «la razón de la sin­
razón que a m i razón se hace» (I, 1, 40), razones suficientes para
enloquecer al hidalgo de una vez. Pero la crítica más sentida y
poderosa es, con m ucho, la de que los romances caballerescos
son extravagantes, increíbles y absurdos. N o es necesario adu­
cir ejemplos: tal opinión impregna la novela entera y contribu­
ye en mucho a su comicidad.
Las cuestiones teórico-críticas están ensambladas en el Quijo­
te de tres maneras: directamente (como tema de diálogo o dis­
curso, como núcleo de la locura del héroe y como m óvil de su
conducta), y en su aplicación directa o indirecta a la misma n o ­
vela de Cervantes.
Las grandes discusiones se encuentran fundamentalmente en
la Primera parte. Se inician con el escrutinio de la biblioteca de
don Quijote, en el que se enjuician obras en su mayoría indi­
viduales: libros de caballerías, romances pastoriles y obras de
poesía, épica y lírica (I, 6). Los juicios se hacen progresivamen­
te menos severos al repasar estos géneros. Luego vienen las opi­
niones expresadas por el cura y el ventero, en particular sobre
los libros de caballerías que hay en la venta (I, 32). E n tercer lu ­
gar, los diálogos del canónigo de Toledo con el cura sobre los
libros caballerescos y las comedias, y del canónigo con don
CXLVIII
PRÓLOGO
Q uijote otra vez sobre aquéllos (I, 47-50). Es aquí donde más
se profundiza en los problemas literarios.
E n la Segunda parte del Quijote el tema reaparece, pero con
m enor frecuencia y extensión. La discusión más importante es
la de don Q uijote y Sancho Panza con el bachiller Sansón C a­
rrasco (II, 3-4). C on un cambio de dirección extraordinario, se
centra ahora en la Primera parte de la propia novela. Más tar­
de se lee el discurso de don Q uijote sobre la poesía (II, 16). Fi­
nalmente, el tema literario surge con brevedad en pocas oca­
siones, como por ejemplo al comienzo del capítulo 44, sobre la
unidad de la obra.
C om o es natural, tales discusiones implican diferentes voces
y distintas opiniones según los personajes que dialogan. H ay
que tomar en cuenta incluso las de Maritornes y la hija del ven­
tero, sin olvidar las del mismo don Q uijote. Hablan también al
propósito el autor en los prólogos, el narrador Cide Hamete
Benengeli y sus afines (el «traductor», etc.). C o n tantas inter­
venciones, esperar uniformidad y coherencia en las ideas teóri­
cas sería demasiado. Diríase que Cervantes tenía preferencia
por el diálogo como modo de teorizar. Incluso en el primer
prólogo parece que se le ocurre inventar un «amigo» con quien
dialogar. Es probable que ello refleje una inclinación o necesi­
dad temperamental -expresada también con su equívoca iro­
nía— a ver las distintas caras de las cosas.
Por la misma razón, es a menudo difícil fijar con precisión las
opiniones personales de Cervantes. Repetidas veces resultan
ambiguas o inconclusas. Sería natural identificar la voz de algún
personaje discreto, com o el canónigo o el cura, con la del pro­
pio Cervantes, pero en muchas ocasiones resulta dudoso que así
deba ser. Ciertos principios (la credibilidad, por ejemplo) se
reiteran con bastante insistencia a través de las obras cervanti­
nas, persisten ciertos puntos de vista y, a veces, el contexto
ayuda a determinar la categoría de una afirmación. Indudable­
mente, Cervantes aceptaba gran parte de la teoría del siglo x v i .
Pero al mismo tiempo propone o insinúa razonamientos con­
trarios o subversivos. Así, coexisten en la obra opiniones aris­
totélicas y antiaristotélicas, por ejemplo.
Más extraordinario que la discusión de cuestiones de crítica
literaria es que éstas formen una parte sustancial de la caracte­
C ERV A N T ES: T EO RÍA LIT ER A R IA
CXLIX
rización del héroe y, por ende, del argumento de la novela. Se
trata de un hombre tan obsesionado por los libros de caballe­
rías, que llega a perder el ju icio. E l irreductible y verificable
punto de partida de su locura consiste en tomar al pie de la le­
tra, como historias verídicas, las fabulosas invenciones que na­
rran. En el centro nuclear del Quijote, así, se encuentra un pro­
blema de teoría literaria. Este problema puede expresarse de
varias maneras: la credibilidad de las obras de imaginación, la
relación entre la historia y la ficción (poesía, para emplear la pa­
labra aristotélica), la relación de la literatura con la vida o los
efectos de aquélla en ésta en un caso determinado.
A raíz de esta locura, el protagonista se decide a imitar a los
fingidos héroes caballerescos, armarse caballero y salir al m un­
do en busca de aventuras, com o si la España de alrededor del
año 1600 fuera en realidad el mundo extraordinario represen­
tado en aquellos libros. Pone manos a la obra siguiendo de m a­
nera m uy deliberada el precepto artístico -enunciado por H o ­
racio y Quintiliano, y m uy repetido en el Renacim iento desde
Girolam o Vida y Ju lio César Escalígero—de que es preciso im i­
tar los grandes modelos ejemplares para alcanzar la perfección
en lo que se profesa. D o n Q uijote recuerda este precepto a
Sancho en Sierra M orena, al iniciar su penitencia a imitación
de Amadís de Gaula (I, 25). Pero el hecho es que los modelos de
don Q uijote eran creaciones ficticias tan exageradas, que en el
mundo real resultaban imposibles de imitar. Por lo tanto, la
imitación quijotesca resulta ser una parodia cómica. A diferen­
cia de sus héroes, no es un superhombre vencedor de ejércitos
enteros, matador de gigantes malévolos, enemigo formidable
de encantadores malignos, sino un pobre hidalgo «de apacible
condición» que ya va para viejo. Este contraste entre la fantasía
literaria y la realidad escueta de la vida salta a los ojos a lo lar­
go de la narración.
La imitación de los modelos com o m odo de perfecciona­
miento propio no sólo era bien conocida sino hasta prescrita
por la educación humanística (basta leer E l cortesano de Castiglione). Importaba poco que la figura ejemplar fuese histórica
o imaginada; en el siglo x v no pocos caballeros españoles, fran­
ceses e ingleses se dedicaron a imitar a los héroes de los roman­
ces. Pero lo que tiene de insólita la ambición imitativa de don
CL
PRÓLOGO
Q uijote es que aspira a ser total. N o le satisface sino que el
mundo en torno a él se conforme también con el ejemplo lite­
rario imaginado. Quiere hacer desaparecer la diferencia entre
los dos mundos, logrando que el mundo material exterior se
absorba en el de la imaginación. D icho en otras palabras, trata
de vivir un romance caballeresco. C om o era inevitable, fracasa y
protagoniza, como ya se ha dicho, una parodia cómica. Vale la
pena notar que el parodista aquí no es Cervantes directamente,
sino don Quijote, por querer convertir la vida vivida en una
vida fantástica.
E n el Quijote un tipo de literatura romántica se compara con
la vida real representada mediante las acciones de un «héroe»
incapaz de diferenciar uno y otra. E n este sentido puede decir­
se que la novela de Cervantes es, también, una obra de crítica
literaria. La cuestión se complica porque es m uy evidente que
la «vida real», por llamarla así, no es sino otra invención de M i­
guel de Cervantes. Por lo tanto, lo que se compara en realidad
es un tipo de literatura ficticia con otro tipo de literatura ficti­
cia. E n términos generales modernos, se comparan el romance
con la novela moderna y, en particular, el romance que don
Q uijote querría que fuera su vida con la novela del Quijote: o
sea, dos versiones m uy distintas de su historia. La narración fin­
ge ser una historia verdadera, lo cual es una complicación su­
plementaria. Repetidas veces se habla de la «verdad» y la «pun­
tualidad» de la historia, y también de «anales» y «archivos». Sin
embargo, tal fingimiento se hace de manera tan obvia y absur­
da, que se contradice en seguida la historicidad pretendida. Así,
al final de la Primera parte el autor pide a sus lectores «que le
den el mesmo crédito que suelen dar los discretos a los libros
de caballerías, que tan validos andan en el mundo» (I, 52, 647).
Ciertamente, todo esto es una especie de ju ego literario para
hacer sonreír al lector discreto. Pero en el fondo, se encuentran
aquí los problemas teóricos que surgen de la interacción de la
historia verídica con la ficción inventada. Según la teoría del
Siglo de Oro la historia y la poesía son los dos polos entre los
cuales circulan los relatos de todo tipo. A partir de tales consi­
deraciones fueron formulándose los nuevos conceptos de la na­
rrativa que habían de engendrar la novela moderna, a diferen­
cia de las variedades antiguas de la prosa de ficción. Sólo que
CERV A N TES: TEO RIA L IT E R A R IA
CLI
casi nadie, ni siquiera los autores de las grandes novelas pica­
rescas, se preocupó de comentar las novedades que se iban pro­
duciendo. La gran excepción es Cervantes, y aun él intuyó más
por medio de la creación novelesca de lo que expresó com o
proposición teórica. N o obstante, la teoría literaria impregna el
Quijote de una manera u otra desde el concepto más sencillo del
héroe enloquecido hasta las consecuencias intrincadas de hacer
que unos personajes ficticios se enteren de que tienen una exis­
tencia literaria. Declara el cura en la venta:
Y si me fuera lícito agora y el auditorio lo requiriera, yo dijera cosas
acerca de lo que han de tener los libros de caballerías para ser bue­
nos, que quizá fueran de provecho y aun de gusto para algunos; pero
yo espero que vendrá tiempo en que lo pueda comunicar con quien
pueda remediallo (I, 32, 409).
Es difícil no suponer que esta persona anónima es el mismo
Cervantes, ya mencionado anteriormente por el cura com o
amigo suyo (en I, 6, 94). N o hay duda alguna de que C ervan­
tes había meditado acerca de los romances de caballerías. E l ca­
nónigo de Toledo, quizá actuando de sustituto del autor, de­
dica una parte de su discurso sobre esos libros a la censura de
sus defectos, y otra parte a la exposición de sus buenas poten­
cialidades. Estas se concentran especialmente en la ejemplaridad y la variedad. E n cambio, su m ayor defecto, según el ca­
nónigo y el cura y, sin duda, el propio Cervantes, el rasgo más
comentado y puesto en ridículo es su incredibilidad. ¿Qué sa­
tisfacción estética, pregunta el canónigo, puede recibirse de
«un libro o fábula donde un mozo de diez y seis años da una
cuchillada a un gigante com o una torre y le divide en dos m i­
tades, com o si fuera de alfeñique, y que cuando nos quieren
pintar una batalla, después de haber dicho que hay de la parte
de los enemigos un millón de competientes, como sea contra
ellos el señor del libro, forzosamente, mal que nos pese, habe­
rnos de entender que el tal caballero alcanzó la vitoria por solo
el valor de su fuerte brazo» (I, 47, 599-600)? Compárese con
un solo pasaje de Vives:
CLII
PRÓLOGO
Cuando se ponen a contar algo, ¿qué placer o qué gusto puede haber
adonde tan abiertamente, tan loca y tan descarada mienten? El uno
mató él solo veinte hombres y el otro treinta. El otro, traspasado con
seiscientas heridas y dejado por muerto, el día siguiente se levanta
sano y bueno, y cobradas sus fuerzas, si a Dios place, torna a hacer ar­
mas con dos gigantes y mátalos, y de allí sale cargado de oro y plata,
y joyas y sedas, y tantas otras cosas que apenas las llevaría una carraca
de genoveses. ¿Qué locura es tomar placer de estas vanidades?
Para quienes se plantean semejantes preguntas, claro está que
prevalece el criterio histórico-empírico sobre cualquier placer
imaginativo. E l canónigo prosigue con esta descripción de la
verosimilitud:
Hanse de casar las fábulas mentirosas con el entendimiento de los que
las leyeren, escribiéndose de suerte que facilitando los imposibles,
allanando las grandezas, suspendiendo los ánimos, admiren, suspen­
dan, alborocen y entretengan, de modo que anden a un mismo paso
la admiración y la alegría juntas (I, 47, 600).
Interesa esta notable observación sobre el funcionamiento de la
verosimilitud por el énfasis que se pone en lo extraordinario
com o aceptable y hasta deseable en la narración, una vez que
se haya encontrado m odo de acomodarlo. N o se trata de huir
de lo maravilloso, sino de hacerlo aceptable al lector. La admi­
ratio se había convertido en un principio artístico importante en
la época barroca. Había que reconciliar lo verosímil con lo ma­
ravilloso, a pesar de la diferencia entre ellos, subrayada por Tasso y el Pinciano. Así se trasladaba este atributo de la épica a la
prosa de ficción. Sin duda, tal reconciliación era del gusto de
Cervantes. Su última obra da buena prueba de su predilección
por el género del romance, lleno de peripecias y aventuras que
admiran y asombran. Por la misma razón, sin duda, se había de­
dicado a leer tantos libros de caballerías, a pesar de los defectos
que con tanta claridad veía en ellos.
Entre las voces discrepantes destaca la del mismo don Q uijo­
te, quien alguna vez tiene razones de bastante fuerza. E n su
gran diálogo con el canónigo, el ingenioso hidalgo hace hinca­
C ERV A N TES: T EO RÍA LITER A R IA
CL III
pié en el puro placer que le proporciona leer los romances caba­
llerescos, cosa que pasa a demostrar, enseguida, de la manera
más práctica. Inventa y cuenta en el acto el episodio fantástico
del caballero que se zambulle en el lago encantado, magistral
parodia de un trozo de libro de caballerías. ¿Cóm o confutar esa
demostración con discursos razonables? En efecto, el canónigo
de Toledo no sale m uy bien de la contienda. D on Q uijote hace
una mezcla indiscriminada de ejemplos ficticios e históricos en
defensa de la literatura caballeresca. A él no le importa un co­
m ino que sus héroes hayan existido o no: todo sería igual a los
ojos del imitador (sobre este punto opinaba lo mismo la pre­
ceptiva). En cambio, el canónigo se esfuerza por distinguir lo
fabuloso de la verdad y la media verdad. Pero frente a la certi­
dumbre quijotesca resulta poco convincente. D e hecho, en pro
de las razones de don Q uijote, la ejemplaridad no depende de
la historicidad ni el placer de la lectura depende de la verosi­
militud sino para quien se niegue a despojarse de los criterios
empiristas. Más aun, es posible sostener que para la posteridad
no hay manera infalible de comprobar que una personalidad
histórica haya existido más auténticamente que un personaje
ficticio (podemos inferir la conclusión aunque don Q uijote no
la enuncie). E l buen canónigo habla como hombre moderno,
razonable, ilustrado, y es difícil no aprobar sus razones. D o n
Q uijote habla como hombre medieval más bien, para no decir
com o loco. Pero no por ello está desprovisto de intuiciones
acertadas.
Para Cervantes hay otro gran problema teórico, que no tie­
ne la trascendencia del de la credibilidad, pero que es todavía
suficiente para preocuparle. Es la cuestión de la estructuración
de la obra. E l canónigo condena rotundamente los libros p o r­
que no llegan a contener «un cuerpo de fábula entero con to­
dos sus miembros, de manera que el medio corresponda al
principio, y el fin al principio y al medio» (I, 47, 6 o l ) . Por otra
parte, la variedad de personajes, de acontecimientos y de temas
es uno de los rasgos man ifiestos de su receta para el romance
ideal. ¿Cóm o armonizar las exigencias neoaristotélicas de uni­
dad estética con los placeres de la variedad? Era éste uno de los
grandes problemas de la teoría literaria, en especial italiana. Se­
gún el Pinciano, la fábula había de ser a un mismo tiempo «una
CLIV
PRÓLOGO
y varia» (Philosophia antigua poética, epístola quinta), y para Tasso lo difícil era conseguir que «la misma variedad se encuentre
en una sola acción» (Del poema eroico, III, 79). Es dudoso que
Cervantes llegara a solucionarlo a su satisfacción; por lo menos,
en sus grandes obras se encuentran por todas partes disculpas y
críticas de las digresiones y de la prolijidad.
Tras interponer una crítica del Curioso impertinente (II, 3, y
de nuevo en II, 44) ju nto con otra del cuento del Capitán cau­
tivo, por constituir ambos largas digresiones, el autor se en­
frenta finalmente al gran problem a de definir el «episodio». Lo
hace en términos m uy parecidos a los que emplearon Giraldi
C inthio, M inturno, el Pinciano y otros teóricos de la épica.
D ice:
Y , así, en esta segunda parte no quiso ingerir novelas sueltas ni pe­
gadizas, sino algunos episodios que lo pareciesen, nacidos de los mesmos sucesos que la verdad ofrece, y aun éstos limitadamente y con
solas las palabras que bastan a declararlos (II, 44, 1070).
Q uiere decir que los episodios externos serán independientes,
com o novelas cortas, de extensión limitada y, al mismo tiem­
po, nacidos de los sucesos del argumento principal. Cierto, la Se­
gunda parte del Quijote se acerca más a esta fórmula que la Pri­
mera o el Persiles, pero no se puede decir que Cervantes llegue
a sustituir la «escritura desatada» de los romances (la frase es del
canónigo) y la nueva forma de novela que va desarrollando en
el Quijote.
Los romances tenían otro atributo relacionado con la cuestión
de la verosimilitud, no tan molesto para Cervantes como lo fan­
tástico pero capaz todavía de preocuparle de vez en cuando.
H ay claras muestras de inquietud y ciertas reservas sobre la idea­
lización fundamental de los romances (los pastoriles, los griegos
y otros, tanto como los caballerescos). Afecta a la caracteriza­
ción, la cual se distingue por un perfeccionismo, un refina­
miento y una simplificación psicológica m uy distintos de lo que
se encuentra en la clásica novela realista. Cervantes nunca llega
a rechazar este idealismo literario, que en cambio suele provo­
car la impaciencia del lector de hoy: llena las páginas de los ro­
mances pastoriles, a los que siempre fue tan aficionado, e incon-
CERV A N T ES: TEO RÍA LIT ER A R IA
CLV
tables páginas suyas desde el primer capítulo de La Galatea has­
ta el último del Persiles. Pero también este idealismo despierta a
Cervantes algunos recelos. Tienen éstos sus raíces en la con­
ciencia de la exageración inevitable que lo acompaña, o sea, la
desviación o distorsión de la verdad, defecto censurado por
múltiples autoridades, desde Cicerón hasta Nebrija y otros pos­
teriores. Se trata de un inextirpable escepticismo frente al elogio
hiperbólico. E n el caso extrem o de la sin par Dulcinea, el elo­
gio hiperbólico se incorpora a la contradicción irónica para
producir la paradoja. Insiste don Q uijote que en ella «se vienen
a hacer verdaderos todos los imposibles y quiméricos atributos
de belleza que los poetas dan a sus damas» (I, 13 , 155). Una afir­
m ación en el prólogo de las Novelas ejemplares esclarece el pen­
samiento de Cervantes al respecto: «pensar que dicen puntual­
mente la verdad los tales elogios es disparate, por no tener
punto preciso ni determinado las alabanzas ni los vituperios»
(f. 4). A pesar de estas y otras muestras de duda, persiste el ro­
mance en el mismo Quijote en los episodios que cuentan las fo r­
tunas de Marcela, Grisóstomo, Cardenio, Dorotea, Basilio,
Quiteria, Ana Félix y otros personajes más o menos idealizados,
cuyas aventuras tienden a llegar a su conclusión feliz gracias más
bien a una casualidad providencial que a una causalidad proba­
ble o necesaria.
C om o lo fantástico, lo idealizado ha de comprenderse en el
contexto contemporáneo de la verosimilitud. C om o se sabe,
este concepto se basa en la idea de que el poeta debe represen­
tar las cosas «como pueden o deben ser». L o que «puede ser»
respeta la probabilidad histórica. Por eso el cura y el canónigo
de Toledo censuran la fantasía de los romances (lo prodigioso, lo
mágico, lo sobrehumano) a menos que se tomen las medidas
necesarias para hacerla aceptable. E l otro aspecto, el ideal, res­
peta lo que «debe ser». Esto es lo que Sansón Carrasco co n ­
trapone a la verdad histórica al decir: «El poeta puede contar
o cantar las cosas, no com o fueron, sino com o debían ser; y el
historiador las ha de escribir, no com o debían ser, sino com o
fueron, sin añadir ni quitar a la verdad cosa alguna» (II, 3, 708).
La om isión aquí de «o com o podían ser» pone de relieve la
idea que tiene don Q uijote de su historia como narrativa idea­
lizada.
CLVI
PRÓLOGO
H ay que subrayar la falta habitual de distinción entre lo po­
sible y lo ideal. Por extraño que nos pueda parecer, el R en aci­
miento hacía equivalentes lo que «podía» y lo que «debía» ser.
(Para Fernando de Herrera, por ejemplo, la poesía representa
las cosas «como pueden o deben ser», en las Obras de Garcilaso
de la Vega con anotaciones de Fernando de Herrera, Sevilla, 1580,
p. 329.) Así es que se aceptaban y se justificaban los héroes y
heroínas sin tacha y los desenlaces narrativos tan inesperada­
mente afortunados (pero no imposibles). Por eso Cervantes po­
día com poner sus romances pastoriles y heroicos, como hemos
visto, aunque no sin alguna reserva. A l mismo tiempo, en el
acto mismo de com poner el Quijote, iba tanteando una idea de
la novela, ya no ligada a la poesía épica, como lo estaba el ro­
mance, sino a la historia.
En su nueva novela, que representa la fingida historia de la
vida, exterior o interior, de un hombre que quiere vivir un ro­
mance de caballerías, descubre la interacción misteriosa de esos
componentes. En tal incorporación creadora de unos principios
críticos, derivados en su m ayor parte del clasicismo de la épo­
ca a la historia de don Quijote, consiste la m ayor originalidad
de la teoría literaria de Cervantes.
N O TA B IB L IO G R Á FIC A
(Revisada por José M ontero Reguera)
i . Preparó el terreno para los estudios modernos sobre la teoría literaria de
Cervantes Giuseppe Toffanin, La fine deH’umanesimo, Bocea, M ilán-TurínR o m a, 1920, llamando la atención sobre los preceptistas italianos del siglo
X V I . Otro precursor de tipo muy distinto fue José Ortega y Gasset en las Me­
ditaciones del «Quijote», Madrid, 19 14 , por varias intuiciones seminales des­
pués desarrolladas por otros. E l verdadero fundador de la investigación de la
teoría literaria cervantina es Américo Castro en el primer capítulo de E l pen­
samiento de Cavantes, Centro de Estudios Históricos, Madrid, 1925 (ed. facs.
Crítica, Barcelona, 1987), donde identifica los temas fundamentales y los si­
túa en el contexto del pensamiento renacentista tanto italiano como español.
Jean Canavaggio examina las correspondencias cervantinas con la fuente es­
pañola más importante en «Alonso López Pinciano y la estética literaria de
Cervantes en el Quijote», Anales Cavantinos, V II (1958). Según indica el tí­
tulo, en mi Teoría de la novela en Cavantes (1962), Taurus, Madrid, 1989, pre­
C ERV A N TES: TEO RÍA LIT ER A R IA
CLVII
sentó la teoría cervantina a base de numerosos comentarios y de las poéticas
españolas e italianas contemporáneas. Alban Forcione ensancha la discusión,
demostrando que se entabla un diálogo en la novelística cervantina entre los
principios aristotélicos y los procesos creativos del arte. E l artículo de Bruce
W . Wardropper, «Don Quixote: Story o History?», Modern Philology, L X III
(1965), destaca la importancia de los significados de la palabra historia para la
teoría y la práctica de Cervantes. Don Quixote and the Poetics of the Novel, de
Félix Martínez Bonati, Cornell University Press, Ithaca y Londres, 1992
(trad, española E l «Quijote» y la poética de la novela, Centro de Estudios C e r­
vantinos, Alcalá de Henares, 1995) propone una interpretación personal de
muchas de las cuestiones tratadas por los investigadores arriba citados.
2. Em pleo la palabra romance, en inglés, para diferenciar estas formas narra­
tivas de la novela de base realista. La distinción es importante en el contex­
to cervantino. Véase Edward C . R ile y , «Cervantes: una cuestión de géne­
ro», en G. Haley, ed., E l «Quijote» de Cervantes, Taurus, Madrid, 1984
(reimpr. en La rara invención, Crítica, Barcelona, 2001, pp. 185-202).
Las obras de los preceptistas italianos que con toda probabilidad conocía
Cervantes son las siguientes: de Torcuato Tasso, los Discorsi dell’arte poetica e
in particolare sopra il poema eroico (1587) y los Discorsi del poema eroico (1594),
que cito por la edición de las Opere, Florencia, 1724 , IV; de Giambattista
Giraldi Cinthio, el Discorso... intorno al compone dei romanzi, Venecia, 1554 ;
de Alessandro Piccolomini, las Annotazzioni... nel libro della poetica d’Aristotele, Venecia, 1575; de Antonio Sebastiano M inturno, L ’Arte poetica, V en e­
cia, 156 3, y, finalmente, de Ludovico Castelvetro, la Poetica d ’Aristotele vulgarizzata et sposta, Basilea, 1576.
Los textos españoles que nutren la teoría literaria cervantina parecen ser
la Philosophia antigua poética (1596) de Alonso López Pinciano (manejo la
edición de Alfredo Carballo Picazo, Madrid, 1953, 3 vols.), el Cisne de A po­
lo (1602) de Luis Alfonso de Carvallo (del que existe edición moderna de
Alberto Porqueras M ayo, Reichenberger, Kassel, 1997), y E l arte poética en
romance castellano (1580) de M iguel Sánchez de Lima.
Finalmente, com o fuentes marginales, tanto españolas com o italianas,
cabe mencionar los escritos de Ju an Luis Vives, Obras completas (traducidas
por Lorenzo R iber, Madrid, 1947-1948, 2 vols.), Ju an Huarte de San Juan,
Examen de ingenios para las sciencias (1575), y Baldassare Castiglione, II libro
del Cortegiano (1528).
E n cuanto a la definición del episodio digresivo y su relación con la tra­
ma novelesca, vale la pena recordar las palabras, parecidas a las cervantinas,
de Giraldi Cinthio, que repara en el placer que producen las digresiones
cuando parecen surgir del tema mismo (D ei romanzi, p. 25), mientras que
M inturno ve el episodio como algo «fuera de la fábula, pero no tan fuera
que le sea extraña» (L ’Arte poetica, p. 18), y el Pinciano declara que «los epi­
sodios han de estar pegados con el argumento de manera que si nacieran
juntos, y se han de despegar de manera que si nunca lo hubieran estado»
(.Philosophia, III, p. 173).
CL VIII
PRÓLOGO
La conciencia de la desmesura de los halagos fruto de una visión idealis­
ta de los personajes puede verse en el Persiles y Sigismundo cuando el héroe
dice a la heroína: «las hipérboles alabanzas, por más que lo sean, han de pa­
rar en puntos limitados; decir que una mujer es más hermosa que un ángel
es encarecimiento de cortesía, pero no de obligación». Pese a que a conti­
nuación añade: «Sola en ti, dulcísima hermana mía, se quiebran reglas y co­
bran fuerzas de verdad los encarecimientos que se dan a tu hermosura»
(II, 2, f. 6 iv).
Otras referencias. Para una valoración global de las aportaciones de R ile y de­
ben releerse ahora los trabajos reunidos en su miscelánea postuma La rara in­
vención, Crítica, Barcelona, 2001, así como la síntesis de José Montero R e ­
guera «Edward C . R ile y o el honor del cervantismo», en J . Robbins y E.
Williamson, eds., Cernantes: Essays in Memory o f E . C. Riley on the Eve of the
Four-Hundredth Centenary of the Publication of Don Quijote, Part I, número es­
pecial del Bulletin o f Spanish Studies, Glasgow, 2004.
Algunas de las cuestiones no planteadas o sólo esbozadas por R ile y en su
clásico libro sobre la teoría de la novela han sido desarrolladas satisfactoria­
mente por dos discípulos suyos: Edw in Williamson, E l «Quijote» y los libros
de caballerías, Taurus, Madrid, 19 9 1, sobre la aplicación del termino romance
a la novelística cervantina, y Anthony J . Close, Cervantes and the Comic Mind
o f His Age, O xford University Press, 2000, en lo que se refiere a la teoría
cervantina de lo cómico. E l primer asunto ha dado pie a una nutrida bi­
bliografía reciente, con contribuciones relevantes de Edward Dudley, The
Endless Text: «Don Quixote» and the Hermeneutics, The State University o f
N e w Y o rk , Albany, 1997; Javier Blasco, Cervantes, raro inventor, Universi­
dad de Guanajuato, 1998, pp. 145-207; Pedro Javier Pardo Garcia, «El Ro­
mance com o concepto crítico-literario», Hesperia, II (1999), pp. 7 9 -114 ; A n­
thony J. Cascardi, «Rom ance, Ideology and Iconoclasm in Cervantes», en
A .J. Cruz y C .B . Johnson, eds., Ceivantes and His Postmodern Constituencies,
Garland, N ueva Y o rk , 1999, pp. 22-42.
E l agudo trabajo de Wardropper sobre el Quijote como ficción o historia
ha generado en los últimos tiempos un interesante conjunto de trabajos que
perfilan la cuestión; entre ellos sobresalen los de Dom ingo Ynduráin, E l des­
cubrimiento de la literatura en el Renacimiento español, R e al Academia Española,
Madrid, 1997; M ary M . Gaylord, «Pulling Strings with Maese Pedro’s Pup­
pets: Fiction and History in Don Quixote», Cervantes, X V III [2] (1998), pp.
1 17 -14 7 ; Anthony J. Close, «¿Cómo se debe remunerar a un escudero, a sa­
lario o a merced? La cuestión del realismo del Quijote», en I. Lozano R e n ie ­
blas y J .C . M ercado, coords., Silva. Studia Philologica in honorem Isaías Lerner,
Castalia, Madrid, 2001, pp. 15 3 -16 5 ; y Charles Presberg, Adventures in Para­
dox: «Don Quixote» and the Western Tradition, Pennsylvania State University
Press, University Park, 2001.
Los trabajos de R ile y han supuesto también replantear la cuestión de las
lecturas cervantinas: es el caso de Daniel Eisenberg, «La biblioteca de Cer­
vantes», Studia in honorem Martín de Riquer, Quadems Crema, Barcelona,
CERV A N T ES: TEO RÍA LIT ER A R IA
CLIX
1987, II, pp. 271-328 ; Edward Baker, La biblioteca de Don Quijote, Marcial
Pons, Madrid, 1997; o Alberto Blecua, «Cervantes, historiador de la literatu­
ra», en Silva. Studia philologica in honorem Isaías Lemer, cit., pp. 87-97.
Por último, la relación entre los episodios y digresiones y su inserción en
la trama novelesca ha suscitado un abundante discusión en los dos últimos
decenios. Aportaciones fundamentales al respecto son las de Alberto Sán­
chez, «Arquitectura y dignidad moral de la Segunda parte del Quijote», A na­
les Cervantinos, X V III (1979-1980), pp. 2-23, y «Arquitectura y teoría narra­
tiva en el Quijote de 1605», Edad de Oro, II (1983), pp. 179-200; José M anuel
Martín Morán, E l «Quijote» en ciernes: los descuidos de Cervantes y las fases de
elaboración textual, D ell’ Orso, Turin, 1990; Javier Blasco, «“ ...Y los demás
que contiene son episodios” (La fábula y los episodios del Quijote)», Casti­
lla. Estudios de Literatura, X V III (1993), pp. 19-40; Anthony J . Close, «Los
episodios del Quijote», en M . Rom anos, coord., Para leer a Cervantes. Estu­
dios de Literatura Española. Siglo de Oro, Eudeba, Buenos Aires, 1999, I, pp.
25-47; David Quint, «Narrative Interface and Narrative Genres in Don Q ui­
jote and the Orlando Furioso», Modern Language Quarterly, L V III [3] (1997),
pp. 241-268, y «Entrelazamientos cervantinos: la Historia del cautivo y su lu­
gar en Don Quijote», en G. D opico Black y R . González Echevarría, eds.,
En un lugar de la Mancha. Estudios ceivantinos en honor de Manuel Duran, A l­
iñar, Salamanca, 1999, pp. 2 13 -2 2 8 ; H ans-Jörg Neuschäfer, La ética del
«Quijote»: función de las novelas intercaladas, Gredos, Madrid, 1999; yjo a ch im
Küpper, «Die novelas intercaladas in Cervantes’ Quijote», Romanistisches Jah r­
buch, LII (2001), pp. 387-421.
6. LAS IN T E R P R E T A C IO N E S
DEL «QUIJOTE»
Anthony Close
La bibliografía crítica del Quijote es, como el caos primitivo,
vasta y pletórica. Y a en el siglo x i x escaseaban los epítetos ne­
cesarios para ponderar su inmensidad y, desde entonces, se han
impreso no pocos millones de palabras sobre el Quijote. E l na­
rrar la historia de su interpretación desde 1605 hasta nuestros
días dentro del breve ámbito de un prólogo es, pues, una tarea
que exige por parte del historiador un brutal esfuerzo de selec­
ción. Solamente v o y a tomar en cuenta las interpretaciones
que, bien por su amplia repercusión o por su valor representa­
tivo, constituyen importantes hitos de esa evolución histórica.
Además, para dar un enfoque preciso a lo que pudiera fácil­
mente degenerar en un catálogo de fechas, nombres y títulos,
pienso centrarme en una de las constantes de tal historia: el
conflicto entre dos actitudes hacia los clásicos. La primera es
el tipo de comprensión histórica definido por Schleiermacher,
que remite siempre al dominio lingüístico del autor y de sus
lectores contemporáneos; la segunda, de índole acomodaticia,
trata de adecuar el sentido del texto, a pesar de su infraestruc­
tura de supuestos arcaicos, a la perspectiva mental del lector
m oderno. Esta segunda actitud es la postura espontánea del lec­
tor medio y también la del crítico literario, en cuanto portavoz
de los intereses de ese simbólico personaje.
C om o suele pasar en los matrimonios, la frecuente tensión
entre las dos actitudes oculta una simbiosis latente que se re­
monta a los orígenes de la hermenéutica -la ciencia de la in­
terpretación de los textos sagrados—, de la cual se derivan las
premisas de la historia literaria moderna. Si bien la exégesis de
la primera era del Cristianismo interpreta el Antiguo Testa­
mento a la luz del N u evo , acomodándolo por medio de un có­
digo alegórico, aquellos intérpretes, ante la proliferación de
versiones heréticas, se vieron obligados a fijar reglas de interCLX
LAS IN T E R P R E T A C IO N E S DEL «Q U IJO TE»
CLXI
pretación para acotar el terreno de las lecturas legítimas. La
misma alternancia entre flujo liberador y reflujo regulador pue­
de observarse en la tradición que ahora nos ocupa. Aquí, el yel­
mo de la acomodación lucha por imponerse a la bacía del historicismo o de la m etodología rigurosa, y a la inversa, resultando
muchas veces del conflicto el objeto híbrido acuñado humorís­
ticamente por Sancho Panza. Examinemos un momento clave,
a comienzos del siglo x x , en que nace el baciyelmo de la crítica
m oderna del Quijote.
U n mito es una leyenda acerca de los orígenes: su objeto es
justificar las prácticas o creencias de un pueblo, hallándoles una
génesis divina. D e acuerdo con esto, el comentario de Unam u­
no, Vida de don Quijote y Sancho (1905), debe considerarse una
recreación mítica del Quijote, que lleva la tendencia acomodati­
cia a sus últimas consecuencias. Para comprender sus premisas,
tenemos que echar nuestra mirada atrás, hacia la segunda mitad
del siglo x v m , cuando Herder puso en circulación la idea de
que cada pueblo tiene un alma histórica, que inspira su peculiar
manera de ser y alcanza su más cálida expresión en las grandes
obras de arte nacionales. Después de atravesar varias etapas en su
desarrollo a lo largo del siglo x i x —Hegel, Carlyle, Taine—, la
tradición, casi a punto de agotarse, llega a su culminación iróni­
ca en el comentario de Unam uno. Aquí, por medio de capri­
chosas inversiones de las premisas de Cervantes, Unam uno se
muestra picaramente consciente de lo idiosincrático de su co ­
mentario al Quijote: por ejemplo, don M iguel toma al pie de la
letra la burlesca ficción de que nos las habernos con la crónica
verdadera de un caballero heroico; de ahí que trate a Cervantes
como a un tonto jovial incapaz de entender el alcance de su crea­
ción. ¿Interpretación legítima o malabarismos de un prestidigi­
tador perverso? A juzgar por el prólogo a D el sentimiento trágico
de la vida (19 13), la segunda alternativa parece la más verosímil.
A quí Unam uno declara en tono desafiante: «¿Qué me importa
lo que Cervantes quiso o no quiso poner allí y lo que realmen­
te puso? Lo vivo es lo que yo allí descubro, pusiéralo o no C e r­
vantes». Para Unamuno, este mensaje vivo se relaciona con una
corriente de espiritualidad congénita a la esencia histórica del
pueblo español, común a sus grandes santos (San Ignacio, Santa
Teresa) y a sus anónimas tradiciones populares. T al como ha
CLXII
PRÓLOGO
sido plasmada en el personaje de don Quijote, concuerda con el
cristianismo secularizado, lúcidamente irracional, del propio
Unam uno, que él ofrece a los lectores españoles como vocación
colectiva, capaz de catalizar una futura regeneración de España.
E l don Quijote unamunesco, pues, es un héroe mítico, vate de
la fe propia de nuestro tiempo.
Y a hemos observado que la actitud acomodaticia lleva den­
tro de sí los gérmenes de su contraria y no se resigna fácil­
mente a renunciar a sus derechos de legitimidad. Resulta evi­
dente para todo el que lo lee que el comentario de Unam uno,
a pesar de sus caprichos y bufonadas, aspira a imponerse al lec­
tor com o una legítima explicación del sentido del Quijote, y
descansa sobre la distinción entre el sentido vivo de un texto
clásico correspondiente a sus rasgos perdurables y la efímera
capa histórica que tanto preocupa a los especialistas universita­
rios. Este tipo de distinción la hallamos también en los demás
miembros de la llamada generación del 98, m ayormente A zorín, quien, com o Unam uno, se opone vigorosamente al tipo
de historia literaria vigente en la época de M enéndez Pelayo
(18 5 6 -19 12 ). Lo que la generación aborrece en esa pedagogía
institucional es su cerril sensatez, típica del positivismo de­
cim onónico, preocupado siempre por el preciso sentido fi­
lológico y los determinantes históricos del texto literario.
T od o ello, los noventayochistas pretenden reemplazarlo por
una aproxim ación íntima y viva a los clásicos, que los haga ase­
quibles al lector m oderno y descubra en ellos señales que
apunten a un nuevo ideario colectivo, catalizador de una nue­
va España.
Sin embargo, por razones evidentes, la nueva valoración de
los clásicos no podía imponerse eficazmente si no se tomaba en
serio el problema m etodológico al que Unam uno volvía capri­
chosamente las espaldas. Esta justificación metodológica la apor­
tarían dos hombres ilustres: primero, Jo sé Ortega y Gasset; des­
pués, Am érico Castro. Consideremos primero las Meditaciones
del «Quijote» de Ortega, cuya publicación en 19 14 marca el
mom ento en que el yelmo de la interpretación unamunesca se
convierte en baciyelmo.
En unas breves y, al parecer, inocentes frases de su prólogo,
Ortega efectúa una revolución en la interpretación del Quijote,
LA S I N T E R P R E T A C I O N E S D E L « Q U I J O T E »
CLXIII
mediante una distinción entre personaje y estilo: «Conviene,
pues, que haciendo un esfuerzo, distraigamos la vista de don
Q uijote, y vertiéndola sobre el resto de su obra, ganemos en su
vasta superficie una noción más amplia y clara del estilo cer­
vantino». Sugerencia que supone un rechazo tanto de la in­
terpretación noventayochesca del Quijote, centrada obsesi­
vamente en la figura del héroe, com o de la crítica positivista
(M orel-Fatio, R odríguez Marín), empeñada en ver los textos
literarios como mero reflejo o producto de las circunstancias
históricas y biográficas en que se engendraron. Para Ortega,
como para su contemporáneo Benedetto C roce, dichos textos
tienen una estructura regida por leyes propias e internas, de ín­
dole estética, que corresponden a la intuición creadora del ar­
tista, su peculiar manera de ver el mundo; «El ser definitivo del
m undo no es materia ni es alma, no es cosa alguna determina­
da, sino una perspectiva». C o n esta afirmación, Ortega sienta
no sólo las bases de su propia filosofía, sino las del cervantismo
moderno. Las palabras reflejan una filosofía postkantiana que da
primacía a la mente, no a la materia, y le confiere la función de
estructurar a priori nuestro conocimiento de la realidad. P o r
aquellos mismos años, Ferdinand de Saussure difundía unas en­
señanzas semejantes en su Curso de lingüística general, enseñanzas
que sus sucesores aplicarían al lenguaje literario, a la antropolo­
gía, a la semiótica en sus diversas ramas. La estilística (Spitzer,
Hatzfeld, Casalduero, Rosenblat), m uy influyente en la crítica
cervantina del siglo x x , sacará de tal fuente sus premisas fun­
damentales: sobre todo, la concepción del lenguaje como un
sistema formal reducible a unos pocos principios dinámicos y
simetrías estructurantes. E l pensamien to de Cervantes de Am érico
Castro (1925), que inaugura el cervantismo moderno, es com ­
plementario de ese movimiento.
Pero, junto a esos elementos nuevos, hay otros supuestos en
el libro de Ortega que se remontan directamente al R om an ti­
cismo alemán: la mencionada creencia en el alma de un pue­
blo; la idealización del arte como síntesis simbólica del pensa­
miento de toda una época; la convicción a priori acerca de la
profundidad enigmática de las obras maestras. Estos supuestos,
que no desaparecerán, ni mucho menos, en el transcurso del si­
glo x x , favorecen la supervivencia de la interpretación mítica
CLXIV
PRÓLOGO
del Quijote. Así que, si bien Ortega opone una bacía al yelmo de
Unam uno, la oposición dista m ucho de ser radical.
Para Ortega, el Quijote es un llamamiento a los españoles para
que domeñen la sensualidad anárquica inherente a su cultura y
reivindiquen su herencia teutónica: la meditación, en un senti­
do lato del término. E n efecto, sin mencionar a Unam uno, O r­
tega contrasta el vitalismo irracional de aquél con su propia fi­
losofía de la razón vital. Para Ortega, la alucinación de don
Q uijote, que toma por gigantes los prosaicos molinos de vien­
to del campo de M ontiel, simboliza el eterno esfuerzo en el
que se debate la cultura toda por dar claridad y seguridad al
hombre en el caos existencial en que se halla metido. E l error
quijotesco, pues, es heroico y ejemplar. Pero no constituye en
absoluto una advocación de un racionalismo abstracto, aislado
en su torre de marfil. A l enfrentar el plano del mito, propio del
género épico, con el plano de la tosca realidad, vinculado con
la comedia, Cervantes define la misión de la cultura en el m un­
do moderno y el tema del género híbrido encargado de expre­
sar su Weltanschauung: la novela. Esa misión consiste en procla­
mar un nuevo valor, distinto a las verdades absolutas o a las
consabidas tradiciones milenarias: la vida, radicada en el yo de
cada ser humano. T al es el sentido de la aventura del retablo
de maese Pedro. D e la misma manera que don Quijote se halla
imantado por la ilusión teatral hasta el punto de creer verdade­
ros los sucesos representados en el retablo, asimismo el lector se
halla sutilmente sugestionado por la ilusión novelesca, arrastra­
do hacia su interior, gracias al truco mediante el cual C ervan­
tes opone ilusión (el retablo y lo que representa) a realidad (el
cuarto del mesón y los espectadores allí reunidos). D e esta ma­
nera, el lector percibe que la alucinación de don Q uijote sim­
boliza el voluntarismo autocreador en que consiste la existen­
cia humana, obligada a alzar el vuelo del plano cotidiano hacia
un «más allá» de ideales subjetivos. C om o veremos, las sucintas
páginas dedicadas a la aventura del retablo de maese Pedro son
el punto de arranque de dos corrientes de crítica literaria que
surgen después de la Guerra C ivil española: el existencialismo
y el perspectivismo.
Volvam os ahora al punto de partida cronológico de nuestra
historia: el siglo x v u . «El Quijote ni fue estimado ni compren­
LA S I N T E R P R E T A C I O N E S D E L « Q U I J O T E »
CLXV
dido por los contemporáneos de Cervantes», falla tajantemente
Azorín en uno de sus ensayos. Este ju icio, aunque esencial­
mente falso, encierra una verdad a medias. Es falso porque pasa
por alto la gran popularidad de que disfrutó el Quijote en la E s­
paña del siglo X V I I , época en que era casi tan familiar como el
R om ancero para el hombre de la calle. U n ejemplo curioso de
esta familiaridad nos lo ofrece la conversión de la lamentación
de Sancho por la pérdida del rucio en tópico consagrado que
se saca a colación cuando a algún personaje de comedia le so­
breviene una desgracia semejante. Ahora bien, lo que contri­
buyó sin duda a la consagración del tópico, aparte de los m éri­
tos del pasaje, tan acorde con el regocijo, típico en aquella
época, ante cualquier confusión de lo asnal con lo humano, son
las asociaciones más o menos proverbiales que lo envuelven
todo: el famoso olvido de Cervantes con respecto a la pérdida
y hallazgo del rucio; el tema de la amistad de éste con su amo,
con antecedentes en el refranero; la encarnación de Sancho y
su asno en figuras carnavalescas que desfilaban por las calles en
fiestas públicas, como las organizadas en honor de la Inmacula­
da Concepción en Utrera y Baeza en 16 18 .
E l mencionado ju icio de Azorín es inexacto por dos razones
más. En primer lugar, resta valor a los enfáticos tributos que a
los méritos de Cervantes -invención, ingenio, gracia, elegancia,
decoro, discreción— rinden jueces tan calificados como Valdivielso, Salas Barbadillo, Tirso de Molina, Q uevedo, Tamayo de
Vargas, M árquez Torres y Nicolás Antonio. E l juicio de este úl­
timo es significativo. Para un siglo que estimaba tan altamente
el ingenio, no debe considerarse menudo elogio lo siguiente,
proferido por su principal bibliógrafo: «ingenii praestantia et
amoenitate, unum aut alterum habuit parem, superiorem nem i­
nem» (‘por la excelencia y amenidad de su ingenio, tuvo algún
que otro igual, pero ninguno superior’). E n segundo lugar,
Azorín exige anacrónicamente que los hombres del siglo x v u ,
al enjuiciar el Quijote, compartiesen el criterio de profundidad
propio de la generación del 98. Todos, sin excepción, incluso
tan perspicaz y entusiasta admirador de Cervantes com o el fran­
cés Saint-Evremond, vieron en la novela simplemente una obra
de entretenimiento genial, de naturaleza risible y propósito sa­
tírico. C om o justificación de esta «miopía» masiva, conviene
CLXVI
PRÓLOGO
añadir que los numerosos juicios que el propio Cervantes emi­
te sobre su obra no disienten esencialmente de la opinión co­
mún; el más elocuente de estos juicios, por ser sin duda el que
Cervantes querría que tuviese valor de epitafio literario, es la
entusiasta salutación proferida por el estudiante a quien C er­
vantes y su pequeña comitiva encontraron en el camino de Esquivias a Madrid: «¡Sí, sí; éste es el manco sano, el famoso todo,
el escritor alegre, y, finalmente, el regocijo de las Musas!» (Persiles y Sigismunda, Prólogo). Salutación repetida con variantes en
múltiples ocasiones en la Segunda parte del Quijote, donde C er­
vantes recoge fielmente las reacciones de lectores contemporá­
neos ante su libro, diferenciándolas según sus especies: juvenil,
madura, sofisticada, plebeya, regocijada, despectiva...
Sin embargo, el ju icio de A zorín llama la atención sobre una
curiosa deficiencia en la actitud del siglo x v i i hacia el Quijote.
C o n algunas excepciones, como el licenciado Márquez Torres,
aprobador de la Segunda parte del Quijote, el siglo se muestra
extrañamente reacio a otorgar a un autor tan estimado el ran­
go clásico que lógicamente parece corresponderle y que, en Es­
paña, les fue conferido a Garcilaso, Góngora, Lope de Vega,
Alem án, Fernando de R ojas, Q uevedo y Calderón. A falta de
tal prom oción, la obra de Cervantes nunca consigue la aten­
ción ponderada que se presta a estos otros autores. A este res­
pecto, es relevante comparar la fortuna del Quijote con la de
Guzman de Alfarache y La Celestina, dos obras que, como aquél,
pertenecen a un género bajo y risible y son excéntricas en re­
lación con los cánones de la poética clásica. Los factores que
llevan a los traductores extranjeros de La Celestina y Guzmán,
y a Gracián, en sus fervorosos elogios a ambas obras en su Agu­
deza y arte de ingenio, a elevarlas al nivel del Parnaso son la gra­
vedad ejemplar y sentenciosa, de origen libresco, que manifies­
tan. Cualidades que para Gracián tienen el realce privilegiado
de la agudeza. Aunque el Quijote no esté exento, ni mucho
menos, de tales propiedades, Cervantes, en el prólogo a la Pri­
mera parte, casi hace alarde de renegar de las mismas y, en el
cuerpo de la obra, tiende a ocultarlas bajo un velo de amena jo ­
vialidad. Así que, a ojos de sus contemporáneos, el Quijote no
pone en prim er término las cuahdades más indicadas para redi­
mirle de cierto aire de alegre intrascendencia, y ello a pesar del
LA S I N T E R P R E T A C I O N E S D E L « Q U I JO T E »
CLXVII
general reconocimiento de que Cervantes, «ese ejecutor acérri­
mo de la expulsión de andantes aventuras» (Tirso de Molina),
se propuso un fin provechoso y lo logró con éxito fulminante.
A esto se deberá sin duda el que Gracián no mencione nunca
el nombre de Cervantes y el que aluda a él de forma tan des­
pectiva en E l Criticón, en el episodio de la Aduana de las E d a­
des, destinado a calificar la lectura apropiada para la madurez
varonil (El Criticón, II, crisi primera). Por otra parte, algunas de
las cualidades más destacadas del Quijote —la famosa urbanidad
de Cervantes, el naturalismo de su caracterización, su brillante
sátira contra la afectación literaria y los estereotipos y conven­
ciones novelescos- no coincidían exactamente con los juicios
de valor preconcebidos vigentes en la época, al menos en E s­
paña e Inglaterra. Buen ejemplo al propósito es la versión del
Quijote de Avellaneda. A quí desaparece todo el chispeante hu­
m or dél estilo narrativo de Cervantes, incluso la ficción acerca
de Benengeli, los incansables juegos de palabras, la parodia de
diversos registros. Se esfuma el relieve dado a la textura de la
vida cotidiana y a la psicología correspondiente. Se eliminan el
entorno pastoril o montañoso, imbuido de alusiones literarias y
las continuas interferencias entre lo cóm ico y la evasión ro ­
mántica. Lo más llamativo de estas modificaciones es el notable
empobrecimiento de las personalidades de amo y mozo; éste,
en manos de Avellaneda, se vuelve el simple gárrulo, tosco,
glotón y maloliente de la comedia del siglo x v i , mientras que
aquél apenas si sale del molde fijado por Cervantes en los capí­
tulos iniciales de su novela: el delirante y ensimismado imita­
dor de literatura caballeresca.
E l Quijote goza de m ayor prestigio en Francia. En el siglo del
bon goût y del academicismo literario, los mencionados méritos
del Quijote cundieron com o ejemplo práctico, repercutiendo
brillantemente en Le roman comique de Paul Scarron, y recibie­
ron aprobación formal por parte del padre R ap in en sus Réfle­
xions sur la poétique ci’Aristote (1674). M erecen m ención especial
los elogios de sti contemporáneo Saint-Evrem ond, que consi­
dera el Quijote com o el libro más capacitado para enseñarnos a
formar «un bon goût sur toutes choses»; partidario de los M o ­
dernos, en la querella de los Antiguos y los M odernos, equipa­
ra el Quijote con la Aminta de Tasso y los Essais de Montaigne,
CLXVIII
PRÓLOGO
que pueden rivalizar con cualquier producción de la Antigüe­
dad. C o n estos juicios, pisamos ya los umbrales del siglo x v m .
E n el siglo x v m Cervantes tuvo m ejor suerte; a este siglo se
debe el honor de haberle colocado sobre un pedestal, empresa
en que tienden a confundirse los elogios a las virtudes del hom ­
bre con los méritos de su obra. Se suele decir que fueron los
extranjeros, mayormente los ingleses, quienes enseñaron a los es­
pañoles a estimar en su justo valor a Cervantes. Aunque no
puede negarse que la fervorosa afición a Cervantes manifestada
por los ingleses del siglo x v m estimulara en parte el giro de
opinión producido en España, éste, a m i juicio, habría surgido
espontáneamente de una u otra manera, gracias a una serie de
factores característicos de la Ilustración española, que eran fa­
vorables a Cervantes en la misma medida en que no lo eran
para Góngora y Calderón. Estos factores son el espíritu crítico
y normativo de la época, acorde con los motivos neoclásicos
que inspiran la sátira cervantina del género caballeresco; la ac­
titud moralizante que lleva a Luzán, en su Poética (1737), a de­
clarar que «el fin de la Poesía es el mismo de la filosofía moral»;
la propensión a mirar con ojos benignos a escritores del Siglo
de Oro clásicos y castizos, no contaminados por las tendencias
«decadentes» del siglo x v ix , com o el culteranismo. Este último
m otivo lleva a Gregorio Mayans y Sisear, en su Retórica castella­
na (1757), y a Antonio Capm any, en su Teatro histórico-crítico de
la elocuencia española (1786), a citar múltiples trozos de C er­
vantes com o modelos estilísticos. Las dos obras citadas marcan
importantes hitos en el proceso de institucionalización pedagó­
gica de Cervantes en España. Por lo que hace a las interpreta­
ciones extranjeras del Quijote, sólo mencionaré de paso dos as­
pectos: primero, la nueva valoración del figurón (humourist) en
Inglaterra, que da pie a la creación de personajes extravagantes
pero amables modelados directamente sobre don Q uijote; y, en
segundo lugar, la elaboración del tipo de hum or caprichoso y
reflexivo que exhibe Cervantes com o narrador del Quijote, in­
cluido todo el repertorio de trucos tendentes a llamar la aten­
ción sobre la ilusión ficticia o ironizar acerca de las convencio­
nes literarias. T odo ello culmina en The Life and Opinions of
Tristram Shandy de Laurence Sterne, que, además de ser una
novela genial, encierra, de m odo implícito, una interpretación
LA S I N T E R P R E T A C I O N E S D E L « Q U I J O T E »
CLXIX
audazmente innovadora del Quijote, que tendrá que esperar
hasta el siglo x x para su formulación. Ahora vuelvo la mirada
a España, donde tienen lugar los adelantos más significativos.
E l libro de Mayans y Sisear Vida de Miguel de Cervantes Saa­
vedra es un estudio crítico fundamental, que sienta las bases de
la investigación metódica de la vida y obra de Cervantes. Fue
traducido al inglés y al francés y reeditado varias veces en E s­
paña. Se trata de una obra de encargo, solicitada por lord Jo h n
Carteret para servir de prólogo a la esmerada edición del Q ui­
jote, corregida por Pedro Pineda, que imprimió el librero lon ­
dinense Jacob Tonson en 1738 y que Carteret regaló a la reina
Carolina para adornar los estantes de su pabellón de R ich m ond
Park. E l valenciano Mayans, jurisconsulto, latinista, impugna­
dor de la decadencia lingüística y, en las postrimerías de su vida,
editor de una magistral edición de las obras de Juan Luis Vives,
ejercía de bibliotecario real en la época en que escribió el libro.
Habida cuenta de que éste se compuso en los albores de la in­
vestigación metódica de la historia literaria, no es de extrañar
que contenga una apreciable cantidad de errores o suposiciones
inexactas; lo impresionante del libro es la frecuencia con que
Mayans da en el blanco, gracias a su conocimiento detallado de
los textos cervantinos, que cita copiosamente. En cuanto inter­
pretación del Quijote, fija las grandes líneas que seguirán los
principales sucesores de Mayans en la época neoclásica españo­
la, y tiene el mérito de ver la obra de Cervantes com o un sis­
tema artístico coherente, cuyos «manifiestos» teóricos, como la
discusión entre el canónigo de Toledo y el cura (I, 47-48), concuerdan entre sí y con la práctica de Cervantes. Esta idea fe­
cunda fue desechada en el siglo x i x , para no ser rehabilitada
hasta el tercer decenio del siglo x x . La aproximación de M a­
yans es fundamentalmente apologética y da por sentada la pre­
misa que al siglo x v i i español le había resultado tan difícil
reconocer: la de que las obras en prosa de Cervantes son de­
chados de regularidad neoclásica y pueden rivalizar con los m o­
numentos de la Antigüedad. Así que el Quijote es comparable
con la Ilíada: «Si la ira es una especie de furor, yo no diferen­
cio a Aquiles airado de don Q uijote loco. Si la Ilíada es una fá­
bula heroica escrita en verso, la Novela de don Quijote lo es en
prosa, “ que la épica (como dijo el mismo Cervantes) tan bien
CLXX
PRÓLOGO
puede escribirse en prosa como en verso” » (Vida, p. 158). Por
supuesto, Mayans reconoce que este principio formal está de­
sarrollado en el Quijote bajo un aspecto gracioso, popular y co­
tidiano, y con la variedad de estilos y asuntos que caracteriza las
novelas de Cervantes en general (Vida, pp. 43, 5 1, 156). Las ac­
titudes reformistas de Mayans y su simpatía hacia los humanis­
tas españoles del siglo x v i se hacen patentes en su tratamiento
del desarrollo de la literatura caballeresca y de los errores que
había introducido en la historia, denunciados por hombres
com o Pedro de R húa, Pero M exía y Ju an Luis Vives. Para M a­
yans, estas denuncias y la sátira de Cervantes obedecen al mis­
mo impulso crítico. U na sección importante del ensayo está
dedicada a rebatir, mediante una exposición de las teorías dra­
máticas de Cervantes, las acusaciones que Avellaneda le había
hecho de escribir el Quijote impulsado por la envidia que les te­
nía a él y a Lope de Vega. H e aquí otra oportunidad para in­
sistir en el neoclasicismo de Cervantes, y además en su sereni­
dad y magnanimidad, cualidades estéticas y morales que Mayans
contrasta repetidamente con los defectos de su detractor.
Sobre los cimientos puestos por Mayans, el docto artillero
Vicente de los R ío s montó el edificio de su Análisis del Quijo­
te, que sirve de prólogo a la magnífica edición del Quijote pu­
blicada por la R e a l Academia Española en 1780. E l ensayo fue
objeto de un caluroso elogio en la Historia de las ideas estéticas
de M enéndez Pelayo. E n España, al menos hasta mediados del
siglo X I X , ninguna otra interpretación del Quijote superaría a
ésa en autoridad e influencia. Lo que Vicente de los R ío s aña­
dió a la interpretación de Mayans fue, principalmente, un pe­
netrante análisis de la dicotomía entre ilusión y realidad en que
se funda la acción de la novela. Para D e los R ío s, el Quijote con­
tiene una novela épica, con todas las de la ley, encajada dentro
de una novela realista; y esta estructura concéntrica la consigue
Cervantes mediante las dos perspectivas sobre la acción, anta­
gónicas pero perfectamente sincronizadas, que mantiene desde
el comienzo hasta el fin. La primera, que es la del protagonista
y permanece inmune a la realidad gracias a su locura, le perm i­
te interpretar todo lo que le pasa como una serie de maravillas
propias de la épica caballeresca, con sus peripecias, obstáculos y
resoluciones correspondientes. La segunda, que es la nuestra,
LA S I N T E R P R E T A C I O N E S D E L « Q U I JO T E »
CLXXI
nos hace considerar la primera com o ridiculamente extraviada
y contraponer a su cadena de lances imaginarios una serie m uy
distinta: casual, prosaica, caprichosa y, sobre todo, verosímil.
Así que, en el crisol de la verosimilitud psicológica con que ha
retratado la manía quijotesca, Cervantes ha fundido dos m un­
dos artísticos en uno, logrando los efectos maravillosos del gé­
nero caballeresco sin incidir en su empalagosa inverosimilitud.
N adie se acuerda ya de Vicente de los R ío s, pero, en esencia,
esta idea suya acerca de la doble perspectiva del Quijote ha so­
brevivido a todos los cambios de interpretación sucedidos des­
de su tiempo hasta el nuestro.
En el balance arrojado por la interpretación neoclásica del Qui­
jote hay que tener en cuenta también el debe. Después de los pa­
negíricos prodigados a Cervantes por sus más destacados intér­
pretes dieciochescos, entre los que se cuentan los grandes
editores del siglo (John Bow le, Juan Antonio Pellicer), tenía for­
zosamente que llegar una reacción, y ésa se produjo en la gran
edición de D iego Clem encín (1833-1839). Henos aquí ante una
nueva forma de la dicotomía que definimos al principio de este
prólogo. Por extraño que parezca el calificar de neoclásico a un
hombre del siglo x i x , las premisas de Clemencín cuadrarían per­
fectamente en el siglo x v m , y sus mismos reparos al Análisis de
Vicente de los R ío s se inspiran en la estética neoclásica: una con­
cepción antihistórica de la pureza de la lengua, y también de las
sacrosantas reglas. Estos son los palos que empuña Clemencín
para castigar en sus notas a pie de página las supuestas incorrec­
ciones del Quijote -torpezas gramaticales y estilísticas, inconse­
cuencias cronológicas y geográficas—, abriendo así un debate y
una temática que han permanecido vivos hasta época muy re­
ciente, y haciendo revivir virulentamente el antiguo tópico de
«Cervantes, ingenio lego». D e aquí en adelante, al menos hasta
1925 (año de la publicación de E l pensamiento de Cervantes), la crí­
tica más autorizada considerará a Cervantes como un genio in­
consciente. La inmensa autoridad de la edición de Clemencín,
que completa y corona los esfuerzos de sus grandes precursores
B o w le y Pellicer por documentar las referencias de Cervantes a
la literatura caballeresca, contribuye a perpetuar esta opinión.
E n torno a 1800, la interpretación neoclásica del Quijote se
vio minada por el Rom anticism o alemán, que tomó la obra
C LX X n
PRÓLOGO
com o m odelo del género que proclamaría com o suyo, la no­
vela, y lo convirtió, además, en una de las piedras angulares de
su reconstrucción de la estética y de la historia literaria. Gracias
al impacto de esta revolución sobre la historia intelectual pos­
terior, sus repercusiones en la interpretación del Quijote habían
de ser profundas. Para los hombres de aquella generación —Frie­
drich y August W ilhelm Schlegel, F.W .J. Schelling, L. Tieck,
Jean Paul R ich te r-, el Quijote constituía una cima artística tan
elevada com o las obras de Shakespeare y cumplía el requisito
de la novela ideal: el de ser un poem a en prosa que «ejecuta
fantásticas variaciones sobre la m elodía de la vida». Lo admira­
ban por su rica polifonía de tonos y estilos, las caprichosas pi­
ruetas de su humor, su actitud agridulce hacia la caballería m e­
dieval, su universalidad mítica; e interpretaban todo eso de
acuerdo con su visión del destino histórico del hombre, escin­
dido entre el espíritu y la naturaleza, y en un proceso de desa­
rrollo continuo hacia una síntesis. Para ellos, la obra ejemplifi­
caba la llamada ironía romántica en todas sus manifestaciones:
el sentido de la oposición entre lo ideal y lo real; el escepticis­
m o del artista hacia sus más queridas ilusiones; el lúdico desin­
terés que demuestra ante su propia creación. Entre estos juicios
y los característicos del siglo x v m media una distancia inm en­
sa. Y a no se califica el Quijote de «épica burlesca» (Vicente de
los R íos), ni de «sátira contra el entusiasmo y el extremismo»
(lugar com ún compartido por Voltaire, D ’Alembert, el doctor
Johnson, Fielding y el alemán Bertuch, en su traducción del
Quijote de 1775). N i mucho menos se lo considera una obra de
burda comicidad solamente válida para «entretener la hora de la
digestión después del almuerzo», según la caricaturesca frase de
Friedrich Schlegel. A hora se habla de su «exquisita seriedad», se
insiste en la ambigua profundidad de su alcance satírico, y, en
cuanto obra épica, se le equipara con los grandes poemas de
Cam öes, Ariosto, M ilton, Tasso. La apoteosis de esta nueva in­
terpretación la marcan las páginas que en su Philosophie der
Kunst el filósofo Schelling dedica al género de la novela, cuyos
paradigmas principales son el Quijote y Wilhelm Meister de
Goethe. Aquí, Schelling desarrolla la idea, fundamental para el
siglo X I X , de que mediante el personaje de don Q uijote C er­
vantes presenta la lucha simbólica entre lo ideal y lo real, adop­
LAS IN T E R P R E T A C IO N E S D EL «Q U IJO T E»
CLXXIII
tando un tono robustamente cóm ico y realista en la Primera
parte del Quijote, y un sofisticado perspectivismo en la Segun­
da, donde lo ideal se halla atrapado, reflejado y degradado por
la sociedad, de manera algo semejante a lo que les ocurre a los
compañeros de Ulises con la maga Circe.
U na de las grandes ideas innovadoras del Rom anticism o re­
presenta una inversión —y por eso mismo una prolongación—
de la premisa fundamental del Siglo de las Luces, que postula que
la civilización europea representa una progresiva superación
del pensamiento mítico y prim itivo. E l romanticismo acepta
la premisa, pero saca conclusiones diametralmente opuestas, al
considerar como proceso negativo la enajenación a la que se
ve sometido el hombre urbano apartado de sus orígenes. Estos
-e l mundo gótico, los mitos, la robusta sencillez de la Edad M e ­
dia— se evocan ahora con nostalgia idealizante. Revolucionaria
también es la concepción de la naturaleza com o un vasto orga­
nismo, animado por una corriente de energía vital, que al ex ­
teriorizarse en el mundo de las criaturas se ve sometida a con­
tinuas evoluciones, destinadas a llegar algún día a una síntesis
de la naturaleza y el espíritu. T al concepto de la naturaleza
mina la fe neoclásica en la universalidad de las leyes del gusto,
y, en cambio, celebra la diversidad cultural. Así, en sus discur­
sos sobre literatura antigua y moderna (Viena, 18 12 ), Friedrich
Schlegel afirma que el Poema de Mio Cid, por su casticismo de
pura cepa, es de más valor para España que toda una bibliote­
ca, y que el Quijote revive ese espíritu de caballería medieval y
retrata en colores im perecederos las costumbres y los valores
de la España de Felipe II. A partir de este m omento, la crítica
decimonónica del Quijote estará marcada por un carácter histórico-nacionalista, en contraposición con el espíritu precepti­
vo del siglo anterior. Sin embargo, com o veremos, la oposición
entre las dos posturas oculta rasgos de continuidad menos apa­
rentes.
E n España, la manifestación más temprana de la aproxima­
ción romántica ai Quijote exhibe claramente el aludido carácter
nacionalista y sirve para rechazar una acusación de antipatrio­
tismo que se le venía haciendo a Cervantes desde mediados del
siglo X V II. Según sus detractores —el más célebre era Lord
Byron —, Cervantes «destrozó con una sonrisa» no sólo los libros
CLXXIV
PRÓLOGO
de caballería, sino la caballería en general, y con ella, el pun­
donor castellano. La necesidad de rechazar esta especie nada li­
sonjera originó un tipo de aproxim ación al Quijote que, en Es­
paña, durante un siglo y medio, gozaría de gran autoridad.
Entre sus epónimos figuran Agustín Durán (1849), Ju an Valera
(1864), M enéndez Pelayo (1905) y M enéndez Pidal (1920). Fue
Agustín Durán, en el prólogo a su gran edición del R o m an ce­
ro español en la Biblioteca de Autores Españoles, quien dio con
el germen de un alegato de defensa convincente. Según Durán,
lejos de acabar con el espíritu guerrero de Castilla, Cervantes
limpió un foco de infección que lo iba estragando, a saber, una
forma de caballería perniciosa, de origen francés, que se intro­
dujo en España a raíz de la im posición de la monarquía autori­
taria por los R eyes Católicos. En efecto, Durán convierte a
Cervantes en un liberal patriótico que se rebela contra el afrancesamiento cultural y un gobierno despótico semejante al in­
troducido por los Borbones. Y desvirtúa la tradicional acusa­
ción de que Cervantes «deshizo con una sonrisa la caballería
española» añadiéndole las palabras: «y de buena nos libramos».
Cuando los tres mencionados sucesores de Durán recogen y
desarrollan esa tesis, en sendas conferencias magistrales, ya se ha
establecido en España la idealización romántica de la caballería
m edieval y del carácter de don Q uijote. La visión que del Qui­
jote proyectan los tres críticos es, hasta cierto punto, hom ogé­
nea. Todos señalan la sobriedad y el realismo histórico de la
épica y el R om ancero españoles, en contraste con sus exóticos
congéneres del norte de Europa; todos dividen la personalidad
de don Q uijote en dos mitades, una noble y otra ridicula, co­
rrespondientes a los dos aspectos de la dicotomía entre castizo y
extranjero; todos atribuyen a Cervantes una actitud ambivalente
hacia la épica medieval, en relación con la cual el Quijote es a
la vez canto de cisne y ave fénix, destruyéndola en su aspecto
anacrónico y renovándola en una nueva forma -la novela—más
adecuada al mundo moderno.
La conferencia de M enéndez Pelayo «Cultura literaria de
M iguel de Cervantes y elaboración del Quijote» es, como cabía
esperar del maestro santanderino, una sinopsis magistral, aún no
envejecida, de las conexiones intertextuales en que se sustenta
la obra cervantina. Exhibe el casticismo conservador típico de
LA S I N T E R P R E T A C I O N E S D E L « Q U I J O T E »
CLXXV
todas sus obras de historia intelectual o literaria, y además un
clasicismo latente, que se manifiesta en los epítetos con los que
intenta captar los rasgos más típicamente cervantinos: «lo claro
y armónico de la composición»; «el buen gusto que rara vez fa­
lla»; «cierta pureza estética que sobrenada en la descripción de
lo más abyecto y trivial»; «cierta grave consoladora y optimista
filosofía»; «la olímpica serenidad de su alma, no sabemos si re­
gocijada o resignada». Para M enéndez Pelayo, todo esto es sín­
toma de un clasicismo espiritual, no aprendido en los libros,
que hace de Cervantes un alma gemela de Luciano, Boccaccio
y los erasmistas y humanistas españoles. Y , por encima de todo,
descuella esa entrega candorosa a la realidad, propia del artista
helénico, que suprime toda afectación de estilo, toda con­
torsión de la fantasía, y hace que nos preguntemos constante­
mente: «Entre la naturaleza y Cervantes, ¿quién ha imitado a
quién?». Estas palabras resumen la actitud del positivismo deci­
m onónico ante el Quijote, contra la que va a arremeter A m érico Castro veinte años después.
La conferencia de M enéndez Pidal «Un aspecto en la elabo­
ración del Quijote» es, en realidad, la comprobación sistemática
de una idea de M enéndez Pelayo: la de que el carácter de don
Q uijote evoluciona mediante un proceso de depuración, a m e­
dida que Cervantes se va emancipando de la tosca fórmula pa­
ródica adoptada en los primeros capítulos de la novela. La apor­
tación de M enéndez Pidal consiste en hallar catalizadores
precisos para las etapas de dicho proceso: en especial, el anóni­
mo Entremés de los romances, supuesto modelo de los capítulos
iniciales del Quijote. Aunque la tesis de Menéndez Pidal, por lo
que al entremés respecta, ha perdido crédito en años recientes,
esta conferencia fue durante m ucho tiempo una demostración
ejemplar de cómo analizar la relación entre el artista y sus fuen­
tes. Por otra parte, de esta conferencia, como de la de M enén­
dez Pelayo, trasciende un espíritu conservador que hace ver el
Quijote como paradigma del tradicionalismo de la cultura cas­
tellana: según esta visión, la novela de Cervantes es un sober­
bio fruto tardío de corrientes creadoras derivadas de la Edad
Media.
E l libro de Salvador de Madariaga Guía del lector del «Quijo­
te» (1926) sirve de colofón a estas dos conferencias, y analiza la
CLXXVI
PRÓLOGO
supuesta depuración de la personalidad de don Q uijote bajo un
aspecto psicológico.
E l estereotipo de un Cervantes genialmente irreflexivo, co­
m ún a los críticos más autorizados del período 18 6 0 -19 25, debe
considerarse históricamente com o una prolongación de los re­
paros pedantescos de Clem encín a las «incorrecciones» del Qui­
jote y, com o ellos, representa un m ovim iento de péndulo con­
trario a una postura de fervoroso elogio. En el mencionado
período, este desenfrenado entusiasmo estaba representado por
dos bandos, que podemos calificar de «escuela panegírica» y
«escuela esotérica». Los del prim er grupo intentaban com pro­
bar la pasmosa pericia de Cervantes en una determinada pro­
fesión o ciencia: navegación, medicina, economía, geografía,
teología, psicología; los del segundo grupo, encabezados por
Nicolás Díaz de Benjum ea, sostenían que el Quijote era una su­
til alegoría alusiva a la biografía del autor y la historia contem­
poránea. E n sus panfletos polémicos, que lucen los donosos tí­
tulos de «La estafeta de Urganda» (186 1), «El correo de Alquife»
(1866) y «El mensaje de Merlin» (1875), Benjum ea identifica a
don Quijote con el propio Cervantes y le equipa de una ideo­
logía de librepensador republicano. Para este crítico, el discur­
so de la Edad de O ro proclama los ideales de libertad, igualdad
y fraternidad; Dulcinea del Toboso simboliza el Libre Pensa­
miento; Avellaneda es un seudónimo tras el cual se oculta una
cábala —Lope de Vega, López de U beda y otros— que contra­
pone al caballero de izquierdas cervantino con una contrahe­
chura mojigata y reaccionaria. Hasta qué punto la «benjumeización» del Quijote logró hacerse respetable a partir de 1859,
fecha de publicación del primero de los foËetos de Benjum ea,
lo podemos ver siguiendo el desarrollo de lo que él llamaba la
aproxim ación «filosófica» al Quijote.
C o n este pomposo epíteto se designaba cualquier tipo de in­
terpretación que rompiera con el neoclasicismo; el m áximo ex­
ponente europeo era Hippolyte Taine, quien, en los años se­
senta, dio a luz una serie de obras destinadas a descubrir nada
menos que el pensamiento colectivo de un pueblo a través de
su literatura. Para el crítico francés, los estudios literarios se
convierten en una rama de la historia, que intenta demostrar
cóm o el ideario nacional, en cualquier etapa de su desarrollo,
LA S I N T E R P R E T A C I O N E S D E L « Q U I J O T E »
CLXXVII
es el producto riguroso de tres determinantes: raza, medio am­
biente, momento histórico. Entre las obras españolas que si­
guen este camino se cuenta La filosofía del derecho en el «Quijo­
te», de Tomás Carreras y Artau (1903), compilación erudita y
sustanciosa de los lugares comunes del Siglo de O ro acerca de
la soberanía, los derechos de la guerra, las minorías étnicas y las
relaciones internacionales. B u en representante del positivismo
de la época, Carreras y Artau da por sentado que en el Quijote
asistimos a una «representación cinematográfica del siglo x v i» ,
la cual ofrece el panorama «del m odo de pensar, de sentir y de
obrar de aquella generación española», dividida en un estrato
culto (don Quijote) y otro plebeyo (Sancho).
Sin embargo, daríamos una idea equivocada de la escuela de
Benjum ea si le atribuyéramos el rigor erudito exhibido por el
mencionado libro. E l rasgo más típico de esa generación es su
impresionismo novelesco, manifiesto en su manera de conjugar
los avatares vividos por Cervantes con los propios de su época.
Para estos críticos, la sátira contra los libros de caballerías lleva­
ría a Cervantes a adivinar una crisis histórica en ciernes: el co ­
lapso del feudalismo y su reemplazamiento por un nuevo sis­
tema de valores, democrático, burgués, racional. H e aquí la
verdadera grandeza del Quijote.
Según Francisco Tubino (1862), «como artista, pertenece
Cervantes a su siglo; como pensador, a la posteridad». Y lo que
hizo posible tan genial intuición fue que varios de los factores
que contribuyeron a esa crisis repercutieron también en la aza­
rosa existencia de Cervantes: Lepanto, la Armada, los triunfos
militares de Carlos V , los fracasos económicos de Felipe II, la
expulsión de los moriscos, la frivolidad de la corte de Felipe III.
¿Cóm o no ver que las decepciones de Cervantes coincidían
con las de otros dos idealistas fracasados, España y don Q uijo­
te? Y , si se toma en cuenta que el siglo x v i fue decisivo para
la form ación de los rasgos castizos del pueblo español, ¿cómo
no comprender que la meditación sobre tales simetrías llevaría
forzosamente a la comprensión del alma de la raza?
Estos tópicos vienen repitiéndose, casi sin variación, desde
los artículos de Benjum ea, publicados en La América en 1859,
hasta Don Quijote, don fuan y La Celestina de R am iro de M aeztu (1926). La influencia de este tipo de idealización sentimen­
CLXXVIXI
PRÓLOGO
tal de Cervantes se percibe fácilmente en múltiples estudios pu­
blicados en tiempos más recientes: por ejemplo, los ingentes
tomos de la biografía de Cervantes compuesta por Astrana M a­
rín (1948-1958).
E l pensamiento de Cervantes de Am érico Castro marca una
ruptura tan decisiva con la crítica anterior com o lo hicieron en
su momento los juicios sobre el Quijote del Rom anticism o ale­
mán. A l igual que las Meditaciones del «Quijote», es una reacción
declarada contra la imagen de candorosa sensatez que le había
adjudicado a Cervantes la escuela de M enéndez Pelayo. R e a li­
za triunfalmente la necesidad que sentía la generación del 98 de
hallar un sentido vivo y actual en Cervantes, sin tener, para
ello, que sacrificar el rigor universitario, lo cual era para esa ge­
neración una condición ineludible.
La premisa dinámica de Castro, que conforma todo el mapa
de relaciones que entre Cervantes y el pensamiento renacentis­
ta presenta en su libro, es la de que para fijar estas relaciones hay
que saber primero cuáles fueron los «supuestos primarios» de
Cervantes, más bien que cómo pensaban sus precursores. Estos
supuestos son el observatorio desde el cual otea el panorama in­
telectual en torno a él, constituyen el prisma que lo refracta en
múltiples facetas, cada una de las cuales está orientada hacia una
vida individual. Tales imágenes ópticas son un rasgo recurren­
te del libro y el aspecto más evidente de sus varias deudas con
Ortega, sobre todo su relativismo. E l desarrollo sistemático de
la mencionada premisa a lo largo de E l pensamiento de Cervantes
le confiere la m ayor parte de su valor, que consiste concreta­
mente en tratar el pensamiento de Cervantes como un sistema
coherente que se manifiesta en todo el repertorio de sus obras.
Y puesto que -según C astro- este sistema opta por el medio
artístico más bien que por el discursivo o teórico para su ex­
presión, arte y pensamiento son aspectos inseparables. D e gol­
pe, las ideas de Cervantes adquieren vida e interés propios, en
vez de quedar relegadas a la categoría de lugares comunes de la
época, irrelevantes para las intuiciones del Cervantes creador.
T od o ello repercutirá provechosamente en la crítica cervantina
posterior a 1925, sobre todo en lo tocante a la apreciación de
las obras menos populares de Cervantes, com o Persiles y Sigismunda, que van a sacarse del trastero reservado a las modas li­
LA S I N T E R P R E T A C I O N E S D E L « Q U I JO T E »
CLXXIX
terarias anticuadas para estudiarse con detenimiento y respeto,
com o fruto del mismo sistema que produce las obras maestras.
Quizá la tesis más fecunda de Castro fuese la de que Cervan­
tes estaba plenamente familiarizado con las poéticas del R e n a ­
cimiento y que el tema central del Quijote se identifica con una
de sus candentes polémicas: la relación de la poesía con la his­
toria. Esta tesis está vinculada con la concepción fundamental
de un Cervantes congénitamente ambiguo, partidario de la fe
renacentista en los valores y verdades absolutos, pero dispuesto
también a echar las garras de su ironía sobre tan preciadas abs­
tracciones. Esta ironía se matiza de un melancólico escepticis­
mo típico de los espíritus más ilustrados de fines del siglo x v i ,
escindidos entre la adhesión a la Contrarreforma y la nostalgia
por el ambiente secular del humanismo. D e ahí la ironía «pris­
mática» de Cervantes y su forma peculiar de tratar el problema
teórico que más de cerca le afectaba: ¿hasta qué punto puede
acomodarse a la verosimilitud, con su aire de veracidad histó­
rica, la mimesis universal y ejemplar a que debe aspirar la po e­
sía? E n vez de resolver la pregunta, Cervantes da con la ocu­
rrencia genial de dramatizarla en la antítesis de don Q uijote y
Sancho, contraponiendo los dos aspectos de la dicotomía en
abierta e irresoluble dialéctica. En fin, en el mundo cervantino
todo se resuelve en un ju ego de puntos de vista contrastados;
el único valor que escapa a este relativismo es el deber de cada
cual de adherirse a las leyes de su propia subjetividad.
T al es, en resumen, el argumento de este libro, el cual, a pe­
sar de haber suscitado previsibles antagonismos por parte del
cervantismo tradicional, reforzados por el clima conservador de
la España de posguerra, sigue repercutiendo en la crítica cer­
vantina de hoy en día. Su vigencia se explica no sólo por el
acierto de determinadas tesis, sino también por la fecundidad
de los supuestos metodológicos que las sostienen. C o n todos
estos méritos, E l pensamiento de Cervantes, considerado en rela­
ción con el ciclo de oscilaciones de péndulo que hemos ido
observando, representa un m ovim iento excesivo hacia el polo
acomodaticio. Éste impulso tendencioso queda de manifiesto
en la frecuente torsión a la que se someten tanto los textos cer­
vantinos como su contexto ideológico, y obedece al deseo de
derribar de su pedestal al Cervantes hecho a la medida de la
CLXXX
PRÓLOGO
época de la Restauración, para reemplazarlo por un Cervantes
más digno de la España del siglo x x . Este nuevo Cervantes es
algo así como un M ontaigne español: un novelista profunda­
mente escéptico y reflexivo, quien, nutrido por las ideologías
más innovadoras de su siglo, y en m edio de un clima de opi­
nión reaccionario, ha llevado a cabo una revisión radical del
programa del yo, disimulando su mensaje por medio de un arte
cargado de elocuentes apartes y de segundas intenciones.
Entre la publicación de E l pensamiento de Cervantes y 1947 no
hubo más que un puñado de estudios que hayan repercutido
significativamente sobre la crítica posterior (entre ellos, el de
Hatzfeld de 1927) y una inevitable pausa provocada por la
Guerra C ivil española y la Segunda Guerra mundial. Pero desde
1947 —fecha del cuarto centenario del nacimiento de C ervan­
tes, marcado por la publicación de varias colecciones de traba­
jo s conmemorativas— el interés de la crítica literaria por C er­
vantes y su obra, y el ritmo de producción resultante, se han
mantenido sin tregua, intensificándose, si cabe, en los últimos
veinticinco años. Entre otros factores que explican este entu­
siasmo colectivo, hay que poner de relieve uno en especial: el
lugar privilegiado que ha sido otorgado, y sigue otorgándose,
al Quijote como prototipo de la novela moderna por teóricos o
filósofos de la talla de Ortega y Gasset, Lukács, Bajtín, Booth,
Trilling, Levin, Girard, R o b ert, Foucault, Genette, Segre. Este
ju icio ha sido avalado, con autoridad inapelable, por los mis­
mos novelistas, de los que pudiera citarse una lista aun más lar­
ga de aficionados a Cervantes.
Desde 1947, las tendencias dominantes de la crítica del Q ui­
jo te podrían dividirse en las siguientes categorías temáticas,
que, desde luego, no son netamente separables: 1) un grupo de
trabajos, encabezados por los estudios seminales de Leo Spitzer
y Edw ard C . R ile y -q u e se examinarán más adelante- deriva­
dos de la tesis de Am érico Castro sobre la relación del Quijote
con la preceptiva literaria del Renacim iento, y que desarrollan
el concepto de perspectivismo, ambigüedad y actitud autocrí­
tica de Cervantes; 2) interpretaciones de tendencia existencialista (Rosales, Durán, Avalle-Arce), inspiradas por las visiones
del Quijote de Unam uno, Ortega, y más directamente, Castro,
incluidas sus ideas desarrolladas después de 1925; 3) la estilísti­
LA S I N T E R P R E T A C I O N E S D E L « Q U I JO T E »
C LXXXI
ca y el estudio de los estilos de época, como el manierismo o el
barroco (Hatzfeld, Spitzer, Casalduero), así como los estudios
lingüísticos (Amado Alonso, Rosenblat, Lerner, Lázaro Carreter); 4) aplicaciones de la semiótica, basadas en las teorías de J a ­
kobson, Greimas, Iser, Eco , y, sobre todo, Genette (Segre,
Parr, Güntert, Paz Gago); 5) investigaciones de las fuentes inte­
lectuales y literarias de Cervantes, incluidos el erasmismo (Ba­
taillon, Vilanova, M árquez Villanueva, Forcione, Egido), el
pensamiento utópico (Maravall, López Estrada, Scaramuzza V idoni), la literatura caballeresca (Riquer, W illiamson, Urbina,
Eisenberg, R oubaud, Dudley); 6) aproximaciones inspiradas
por las ideas del teórico ruso M ijail Bajtín sobre los orígenes
populares y carnavalescos de lo risible, y la naturaleza dialógica
y polisémica de la novela (Socrate, R ed on d o, R ivers, Parr,
Gorfkle, Iffland); 7) investigaciones sobre las relaciones del
Quijote con el folclore y la cultura oral y plebeya (Chevalier,
M olho, Jo ly , Frenk, R ed on d o, M oner); 8) la llamada escuela
«dura», que hace hincapié en la naturaleza risible del Quijote, la
tendencia correctiva y crítica de su humor, y su condición de
libro de burlas para los coetáneos de Cervantes (Auerbach, Par­
ker, M andel, R iqu er, Russell, Close); 9) estudios centrados en
el trasfondo sociohistórico de la obra cervantina (Castro, M a ­
ravall, Salazar R in có n , Bem is), influidos recientemente por el
«nuevo historicismo» y los llamados estudios culturales (Carroll
B . Johnson, Close, Garcés, y véanse asimismo los ítems 6 y 7);
10) la composición del Quijote, incluidos su génesis, fases de
elaboración, estructura, descuidos y relación con la continua­
ción de Avellaneda (Stagg, M urillo, Percas de Ponseti, Flores,
M artín M orán, R o m ero , M artín Jim énez); 1 1 ) la recepción del
Quijote, incluidas su interpretación en distintos períodos histó­
ricos y su influencia sobre la literatura posterior (Russell, C h erchi, Close, Chevalier, M eregalli, M ontero Reguera, Martínez
Mata); 12) la aproximación psicoanalítica, practicada asidua­
mente en Estados Unidos desde 1980 y potenciada por las teo­
rías de Freud, Ju n g , y, últim am ente, Lacan, el fem inism o
francés y norteámericano, y los estudios de identidad sexual
(Com bet, E l Saffar, C arroll B . John son , Sullivan, Garcés).
A una categoría distinta de la crítica literaria, aunque a menudo
en convergencia con ella, pertenecen los estudios en la tradi­
CLXXXII
PRÓLOGO
ción más propiamente histórica y filológica, como son los rela­
tivos a la biografía de Cervantes y a sus escritos autobiográficos
(Astrana M arín, O liver Asín, M eregalli, Canavaggio, Sliwa,
Garcés) o a los problemas ecdóticos del Quijote (Flores, Alien,
Avalle-Arce, Casasayas, Eisenberg, R ic o , Urbina).
E l escoger, entre esa masa heterogénea de trabajos críticos,
unos pocos que representen adecuadamente las mencionadas
tendencias es imposible, tanto por razones de espacio com o por
el hecho de que las tendencias se entrecruzan. M e limitaré,
pues, a m encionar cuatro estudios sobre el Quijote que han re­
percutido profundamente en la crítica posterior e ilustran el
tema central del presente prólogo. Todos manifiestan el afán de
renovación de que he venido hablando, contrarrestado por un
rigor o una sutileza analíticos que vuelve a establecer el debido
equilibrio entre acomodación y comprensión histórica.
La Teoría de ¡a novela en Cervantes, de Edw ard C . R ile y
(1962), arranca de premisas derivadas de E l pensamiento de Cer­
vantes. Para R iley, gracias al espíritu de autocrítica propio de C er­
vantes y, también, mediante las sutiles yuxtaposiciones de lite­
ratura y vida que abundan en el Quijote, la novela somete la
mimesis épica a un interrogatorio que contiene en germen otro
tipo de mimesis, destinado a florecer en la novela moderna, e
imbuido de realismo y relativismo. Así que el título del libro de
R ile y encierra un equívoco. A nivel explícito, la teoría en
cuestión se desenvuelve dentro de los parámetros de un neo­
clasicismo ortodoxo y afecta principalmente a la épica en pro­
sa, que culmina en Persiles y Sigismunda. A nivel implícito, se
trata de una contra-teoría, síntoma del racionalismo prem oderno, que mina o matiza todos los conceptos clave de la teoría
oficial y sobre todo los relacionados con la dicotom ía entre
poesía e historia. E l libro de R ile y origina una serie de temas y
problemas fecundos: la poética de Cervantes, su perspectivismo, su condición de precursor de la novela moderna.
E l influyente ensayo de Leo Spitzer «Perspectivismo lingüís­
tico en el Quijote» forma parte de un libro concebido para
ejemplificar las aplicaciones de la lingüística al análisis de los
textos literarios. E l ensayo se inspira en la concepción de la lla­
mada ironía romántica: la idea de que, al darse cuenta del con­
flicto irresoluble entre lo absoluto y lo relativo, el artista se
LAS IN T E R P R E T A C IO N E S D EL «Q U IJO T E»
CLXXXIII
siente impulsado a distanciarse, con humorismo despreocupa­
do, de todos los puntos de vista, valores e ideas contenidos en
su propia creación. H e aquí de nuevo la escisión entre el C e r­
vantes crítico y el creador de ilusiones, que Spitzer rastrea a tra­
vés de varias esferas de la obra cervantina: la inestabilidad de los
nombres y de las etimologías, y los múltiples desdoblamientos
y máscaras del narrador. La idea rectora del ensayo de Spitzer
es la de que el estudio microscópico de la periferia de la obra
cervantina —sus menudencias estilísticas- puede llevar certera­
mente a su núcleo filosófico, que Spitzer identifica con una
exaltación premodernista de la autonomía del arte y, también,
con el perspectivismo diagnosticado por Am érico Castro, con
exclusión de la irreligiosidad que Castro le atribuye.
Esta posibilidad de pasar del análisis minucioso a sacar conse­
cuencias de gran envergadura la demuestra asimismo el capítulo
de Erich Auerbach «La encantada Dulcinea», que incluyó en su
libro Mimesis posteriormente a su primera redacción. La pregun­
ta que se plantea Auerbach es la siguiente: ¿cómo, en Occiden­
te, se dio el paso de la mimesis clásica, según la cual lo cotidia­
no era esencialmente risible, a la propia de la novela moderna,
que es capaz de tratarlo como algo trágico y problemático? Para
Auerbach, el Quijote es un momento clave de esta evolución, ya
que aquí se hallan todos los ingredientes de la forma moderna de
representación —un héroe con motivaciones nobles, que choca
constantemente con la sociedad y se ve sometido a repetidos fra­
casos—sin que los ingredientes cuajen en la síntesis esperada. T o ­
das las técnicas narrativas de Cervantes, que Auerbach ilustra con
un análisis detallado de un capítulo específico (II, 10), niegan la
problemática inherente a tal conflicto: el héroe nunca sufre sus
fracasos trágicamente; su sabiduría ocupa los paréntesis de su lo­
cura, y nunca pone en duda el derecho de la sociedad a ser como
es; el autor ve toda la acción lúdicamente como una serie de le­
ves enredos, deleitándose en su multicolor variedad. La grandeza
del ensayo de Auerbach se debe a que, situado en una perspec­
tiva postorteguiaiia y m uy consciente de su atracción, reconoce
los rasgos del Quijote que apuntan a su trascendencia potencial,
para negar que lleguen jamás a actualizarse. Por así decirlo, de­
muestra la valentía intelectual de poner en tela de juicio sus pro­
pios impulsos acomodaticios.
C LXXXIV
PRÓLOGO
U na form a m uy distinta de heroísmo intelectual está repre­
sentada por el nutrido grupo de ensayos que Am érico Castro
publica bajo el título Hacia Cervantes (1957), y también por su
hbro Cervantes y los casticismos españoles (1966). Aquí Castro se
retracta de la imagen europea e intelectualizante que del pen­
samiento de Cervantes había presentado en su libro de 1925.
Ahora propone una interpretación m uy distinta, complemen­
taria de la tesis sobre «la realidad histórica de España» que v e­
nía exponiendo desde 1948. M e refiero a su concepción de la
forma de vida, junto con los valores y creencias resultantes, que
forjaron las tres castas españolas (cristianos, judíos y musulma­
nes) que conviven en la España de la Edad M edia y la «edad
conflictiva» (el siglo x v i) . A estas alturas Castro interpreta el
Quijote com o la m áxima expresión del sistema de valores que
los hispano-judíos del siglo x v i , entre los que cuenta a C er­
vantes, se construyeron en reacción a su angustiosa situación
social: la novela expresa la visión utópica de una España libre
de renciUas y antagonismos, donde cada individuo, cual don
Q uijote ante el retablo de maese Pedro, puede remontar el
vuelo hacia la órbita de su propio «más allá». Estos ensayos de
Castro, que, desde luego, no han disminuido la influencia de E l
pensamiento de Cervantes, han estimulado una serie de estudios
sobre la «forma de vida» de Cervantes, considerada com o de­
terminante de su arte y poética, y además han atizado una po­
lémica sobre la relación de Cervantes con su entorno social.
Antes de concluir, conviene destacar los rasgos más caracte­
rísticos de la crítica del Quijote de los últimos veinticinco años.
D e las líneas de investigación enumeradas más arriba, algunas
han persistido vigorosamente durante la segunda mitad del si­
glo x x y siguen estimulando nuevas pesquisas o controversias.
Sin embargo, todas las aproximaciones mencionadas están mar­
cadas por la evolución de la crítica literaria y las veleidades de
la moda, aunque no dejan de atestiguar al mismo tiempo la pervivencia de tradiciones anteriores, algunas de origen m uy anti­
guo. Es así que las relacionadas con la composición del Quijote
(ítem 10) reviven a menudo temas que puso sobre el tapete el
cervantismo del siglo x i x , tratándolos con m ayor sofisticación
m etodológica que la erudición de antaño. Por ejemplo, los des­
cuidos cervantinos, que eran antiguamente mero campo de
LAS IN T E R P R E T A C IO N E S DEL «Q U IJO T E»
C LXXXV
contienda entre la censura pedantesca (encabezada por D iego
Clemencín) y la justificación panegírica (Juan Calderón, A m enodoro Urdaneta), se consideran ya como síntomas revelado­
res que permiten reconstruir, con fino análisis textual, las fases
de elaboración y organización del Quijote (Stagg), explicar el
concepto temporal de su acción en función del cronotopo m í­
tico de la tradición caballeresca (Murillo) e iluminar la prosa
cervantina desde una perspectiva de filología histórica (Rosenblat). E n los tres casos citados, la m ayor sofisticación del análi­
sis refleja los adelantos de la crítica literaria en el siglo x x .
O tro efecto de los vaivenes de la moda ha sido la decadencia
de algunas de las aproximaciones arriba mencionadas, con la
consiguiente prom oción de otras. La estilística, m uy en boga en
los años cincuenta y sesenta del pasado siglo, ha dejado de prac­
ticarse como método explícito y formal, aunque sus huellas
persisten en los hábitos de atento análisis textual que fomentó,
centrados en matices lingüísticos, imágenes, motivos y enlaces.
Su lugar ha sido ocupado por la semiótica, aproximación m uy
cotizada en el último cuarto de siglo en Europa. Asimismo, las
aproximaciones de tendencia existencialista (ítem 2) han des­
aparecido con la mengua de dicho m ovim iento filosófico, aun­
que su influencia es todavía perceptible en la tendencia gene­
ralizada a resaltar lo antidogmático, tolerante y relativista de las
ficciones de Cervantes, su preferencia por presentar el hacerse
y entrecruzarse de vidas humanas sin enjuiciarlas, por horizon­
tes abiertos, puntos de vista divergentes y libertad de interpre­
taciones (Blanco Aguinaga, Percas de Ponseti, Márquez V illanueva, R e y Hazas). D e la misma manera, la tendencia de la
crítica cervantina de los años sesenta y setenta (R iley, Haley,
W ardropper, Bataillon, Márquez Villanueva, Forcione, Canavaggio) a atribuir a Cervantes actitudes propias del modernism
del siglo x x —ambigüedad, perspectivismo, m etaficcionalidadju nto con una mentalidad disidente y crítica supuestamente de­
rivada del liberalismo ilustrado de Erasmo, se perpetúa, al mis­
m o tiempo que se modifica, por la tendencia actual a alinearlo
con el llamado posmodernismo y sus temas característicos: sub­
versión de todo tipo de autoridad, deconstrucción de valores y
jerarquías tradicionales, presentación de un mundo fragmenta­
do y desintegrado, desciframiento de los códigos arcanos del
CLXXXVI
PRÓLOGO
subconsciente. Esta nueva orientación, típica del cervantismo
norteamericano y ejemplificada profusamente por la revista
Cervantes, boletín de la Cervantes Society o f America, se ha vis­
to potenciada por la influencia de diversos tipos de teoría de
vanguardia (deconstrucción, feminismo, psicoanálisis lacaniano, estudios de identidad sexual o racial), e incluso ha empeza­
do a comunicarse, aunque todavía de m odo superficial, a la crí­
tica europea. E n las manifestaciones más recientes del proceso
de modernización de Cervantes, la tendencia a atribuirle pre­
ocupaciones típicas de los campus universitarios de hoy en día,
junto con la falta de preocupación por la verosimilitud históri­
ca, alcanzan a menudo extremos exorbitantes.
La crítica cervantina actual podría caracterizarse por tres ras­
gos predominantes. Prim ero, su acusado carácter autocrítico,
reflejado en la disposición a poner en tela de ju icio sus propios
supuestos y afinar cada vez más los métodos de investigación.
Este rasgo, debido en parte a la influencia masiva de la teoría li­
teraria, se observa en el renovado interés por la historia de la
crítica y recepción del Quijote (véase el ítem n ) , que ya no se
limita al tipo de catálogo factual o narración descriptiva que era
típico de la primera mitad del siglo x x (Rius, Bertrand, B ardon) , sino que pone al descubierto y critica premisas ideológi­
cas, al tiempo que relaciona m ovimientos de crítica literaria
con modas intelectuales y literarias contemporáneas. La exten­
sa gama de este tipo de trabajos va desde historias generales has­
ta enfoques centrados en países, períodos o escritores específi­
cos. Además, esta tendencia no se restringe a estudios de tipo
histórico, sino que se manifiesta en otros tipos de investigación,
como, por ejemplo, la reacción crítica que ha suscitado en años
recientes, entre cervantistas com o Alberto Sánchez y Jean C anavaggio, el impresionismo novelístico o el amontonamiento
incontrolado de datos exhibido por los biógrafos de Cervantes.
E l segundo rasgo es la tendencia a desplazar la mirada del
contexto intelectual y literario de la obra cervantina a sus cir­
cunstancias sociohistóricas. Esto podría considerarse una repe­
tición, y a la vez, una renovación radical de la orientación típi­
ca del positivismo decim onónico. Se trata de una renovación
radical porque, además de arrinconar las premisas míticas o
cuestionables de aquel período, como la creencia en el alma de
LAS IN T E R P R E T A C IO N E S DEL «Q U IJO T E»
CLXXXVII
un pueblo o en la relación fotográfica del texto literario con su
entorno social, los trabajos de última hora siguen rumbos tra­
zados por el «nuevo historicismo» o los llamados estudios cul­
turales, con un enfoque hacia aspectos del pasado ignorados
por la historiografía positivista, tales como la vida rural o urbana,
la cultural popular, la vida privada y doméstica. Es cierto que la
historiografía francesa del siglo x x , representada por ilustres in­
vestigadores del período áureo como Fernand Braudel, Bartolo­
mé Benassar y N o ël Salomon, se interesó por dichos aspectos
del pasado mucho antes de que los mencionados movimientos
los pusieran de moda, y no es de extrañar, por consiguiente,
que los hispanistas franceses hayan tomado la delantera en estu­
diar a Cervantes desde este ángulo, ocupándose del folclore
(Molho), la cultura popular y oral (Chevalier, Moner) o las
burlas en sus diversas especies (Joly). Estas aproximaciones es­
tán ampliamente representadas en el reciente libro de Agustín
R ed on d o Otra manera de leer el «Quijote» (1998). Dentro de esta
línea; de investigación hay que resaltar la impresionante eclo­
sión de trabajos inspirados por las teorías de Bajtín, tanto por lo
que se refiere a la cultura popular com o en los aspectos rela­
cionados con la pluralidad de voces y discursos reunidos en el
lenguaje de la novela. Además de los temas mencionados, la
perspectiva sociohistórica de la crítica actual abarca un diverso
abanico de materias: el trasfondo económ ico y estamental del
Quijote, las vivencias argelinas de Cervantes, su actitud ante
grupos marginados o marginales, la comercialización y recep­
ción del libro en el Siglo de O ro, el mecenazgo, el pensa­
miento político, la censura y muchas otras cuestiones.
La tercera tendencia es la influencia masiva sobre la crítica
cervantina de la teoría literaria, cuyos diversos «ismos» ya han
sido mencionados. Pero en este punto hay que hacer un dis­
tingo entre lo que sucede en Europa y lo que ocurre en Esta­
dos Unidos. En Europa sólo han disfrutado de amplia acepta­
ción los movimientos y métodos compatibles con la filología
tradicional, comó la semiótica (narratología, teorías de la co ­
municación y recepción) y las ideas de Bajtín, mientras que el
cervantismo norteamericano los ha acogido todos, sin excluir
las teorías de vanguardia (deconstrucción, feminismo francés,
psicoanálisis lacaniano, estudios de identidad sexual y racial), a
CLXXXVIII
PRÓLOGO
pesar de que éstas suelen partir de premisas opuestas al huma­
nismo tradicional, incluidos sus conceptos clave de intenciona­
lidad autorial y sentido históricamente determinable del texto.
La diferencia entre los dos continentes se puede medir con el
rasero de dos ejemplos: el ya mencionado libro de Agustín R e ­
dondo y el volum en (coordinado por E l Saffar y Armas W il­
son) Quixotic Desire: Psychoanalytic Perspectives on Cervantes
(1993); colección de ensayos aportados mayormente por cer­
vantistas norteamericanos que estudian los textos cervantinos
desde una perspectiva psicoanalítica. E l libro de R ed on d o re­
presenta el nuevo rumbo seguido por este estudioso después de
la publicación en 1976 de su tesis sobre Antonio de Guevara,
esto es, una orientación sistemática, mediatizada sobre todo pol­
las teorías de Bajtín, hacia la cultura popular y sus huellas en el
Quijote (refranes, supersticiones, alusiones a fiestas, etcétera).
A pesar de la novedad del enfoque, hay evidentes continuidades
entre la tesis doctoral y los trabajos posteriores, sobre todo la
densa contextualización sociohistórica, que equipara el criterio
de evidencia con circunstancias objetivas antes que con las elu­
cubraciones o intuiciones de teóricos modernos. En el volu­
m en norteamericano, el orden de prioridades es el contrario, y
la iluminación de los textos cervantinos suele resultar de la con­
jugación de la sutil lectura de los mismos con las teorías del
gurú de turno, ya sea Lacan, Kristeva o Freud. N o es de extra­
ñar, por tanto, que se haya hablado con alarma de una posible
ruptura, por lo que al cervantismo se refiere, entre los dos con­
tinentes. N o obstante, dudo de que la evidente desviación en­
tre ellos provoque tal crisis. E l m otivo de mis dudas es que los
cervantistas norteamericanos siguen adhiriéndose a porciones
esenciales del bagaje filológico tradicional, pese a su incompa­
tibilidad con las teorías que esgrimen; en especial, a la premisa
de un Cervantes que controla a sabiendas el significado de su
creación y se halla plenamente inmerso en su contexto históri­
co e intelectual.
Parece que debiéramos concluir que el sentido del Quijote es
nada más que una sucesión de estructuras históricas, sin esencia
estable. Sin embargo, tal escepticismo, aunque m uy a tono con
algunos de los sistemas teóricos de moda, sería injustificado.
C om o hemos podido ver en párrafos anteriores, los cambios de
LAS IN T E R P R E T A C IO N E S DEL «Q U IJO T E»
C LXXXIX
rumbo resultantes de la moda suelen superponerse a continui­
dades profundas entre lo moderno y lo antiguo. Por paradóji­
co que resulte afirmarlo, la comprensión de ciertos aspectos
esenciales del Quijote no ha variado en cuatrocientos años. U n
solo ejemplo basta para confirmarlo: Vicente de los R ío s
(1780), con su tesis acerca de las dos perspectivas que funda­
mentan la acción del Quijote. C om o hemos visto, Am érico
Castro, un siglo y medio después, sostiene una tesis parecida.
Ahora bien, por m uy grande que sea la distancia entre los su­
puestos intelectuales de ambos críticos, y también entre los sis­
temas de interpretación dentro de los cuales se encuadran las
tesis respectivas, es evidente que los dos se están refiriendo al
mismo fenómeno. Por eso mismo, cabe hablar, sin caer en el
ridículo, de la posibilidad de diálogo entre interpretaciones dis­
crepantes, de rectificación de interpretaciones torpes o equivo­
cadas, de progreso en la comprensión del texto. D icho de otro
m odo, los yelmos remiten a las bacías.
NO TA B IB LIO G R Á FIC A
Incluir en una lista a todos los autores hasta aquí mencionados la alargaría
desmesuradamente. Así pues, omitiré los autores o textos que sólo se m en­
cionan de paso y, para otras indicaciones, así como para precisiones biblio­
gráficas más detalladas, remito a los demás capítulos de este prólogo, a la b i­
bliografía del volum en complementario y a las fuentes siguientes: Edward
C . R ile y , Don Quixote, A llen & U n w in , Londres, 1986 (trad, española, In­
troducción ai «Quijote», Crítica, Barcelona, 1990); mi libro The Romantic A p ­
proach to «Don Quixote», Cam bridge University Press, 1978, relevante sobre
todo en cuanto a la historia de la interpretación del Quijote en España, In­
glaterra y Alemania; M aurice Bardon, Don Quichotte en France au x v if et au
x v iif siècle, París, 19 3 1; M iguel Herrero García, Estimaciones literarias del si­
glo XVII, Madrid, 1930; Peter E. Russell, «Don Quixote as a Funny Book»,
Modern Language Review, L X IV (1969), pp. 312 -32 6 ; Leopoldo R ius, Biblio­
grafía crítica de las obras de Miguel de Cervantes Saavedra, Madrid, 1895-1904,
3 vols.; Paolo Cherchi, Capitoli di critica cervantina (1605-1789), Bulzoni, R om a,
19 77; Dana B . Drake y D om inik L. Finello, A n Analytical and Bibliographi­
cal Guide to Criticisip on «Don Quijote» (1790-1893), Ju an de la Cuesta, N e ­
w ark, 1987; Luis Andrés M urillo, «Bibliografía fundamental», apéndice a su
edición del Quijote, Castalia, Madrid, 1978, 3 vols.; Jaim e Fernández, S.J.,
Bibliografía del «Quijote» por unidades narrativas y materiales de la novela, C e n ­
tro de Estudios Cervantinos, Alcalá de Henares, 1995; José M ontero R e -
cxc
PRÓLOGO
güera, E l «Quijote» y la crítica contemporánea, Centro de Estudios Cervanti­
nos, Alcalá de Henares, 1997. U na visión global ofrece Francisco R ic o , «Las
dos interpretaciones del Quijote», en su Breve biblioteca de autores españoles,
Seix-Barral, Barcelona, 19 9 13, pp. 13 9 -16 1.
A continuación, detallamos en orden alfabético las referencias bibliográ­
ficas en las que se ha hecho mayor hincapié a lo largo de estas páginas: N i­
colás Antonio, Biblioteca Hispana nova, Madrid, 1778, 2 vols.; Erich A uer­
bach, Mimesis: Dargestellte Wirklichkeit in der abendländischen Literatur, A.
Francke, Berna, 1946 (trad, española, Mimesis: la realidad en la literatura, Fon­
do de Cultura Económica, M éxico, 1950); Jo h n B ow le, ed., M iguel de
Cervantes, Quijote, E . Aston, Salisbury, 17 8 1; Tomás Carreras y Artau, La
filosofía del derecho en el «Quijote», Madrid, 1903; Am érico Castro, E l pensa­
miento de Cervantes, Revista de Filología Española, Madrid, 1925 (ed. facsí­
mil, Crítica, Barcelona, 1987); Hacia Cavantes, Taurus, Madrid, 1957 (3a edi­
ción revisada, Madrid, 1967); Cervantes y los casticismos españoles, Alfaguara,
M adrid-Barcelona, 19662; Diego Clem encín, ed, M iguel de Cervantes,
Quijote, Aguado, Madrid, 18 33 -18 3 9 ; Nicolás Díaz de Benjumea, «Comen­
tarios filosóficos del Quijote», serie de nueve ensayos publicados en La Amé­
rica, Crónica Hispano-Americana, del 8 de agosto al 24 de diciembre de 1859;
Agustín Durán, introducción al primer tomo de su edición del Romancero
general, en Biblioteca de Autores Españoles, Madrid, vols. X y X V I, 1849;
R u th S. E l Saffar y Diana de Armas Wilson, eds., Quixotic Desire. Psychoa­
nalytic Perspectives on Cervantes, Cornell U niversity Press, Ithaca y Londres,
1993; Alonso Fernández de Avellaneda, E l Ingenioso Hidalgo Don Quijote de
la Mancha, ed. Martín de R iquer, Espasa-Calpe, Madrid, 1972, 3 vols.; R o ­
bert M . Flores, The Compositors of the First and Second Madrid Editions o f «Don
Quijote» Part I, The M odem Humanities Research Association, Londres,
1975; Baltasar Gracián, Agudeza y arte de ingenio, ed. Evaristo Correa Cal­
derón, Castalia, Madrid, 1969, 2 vols,; E l Criticón, ed. Carlos Vaíllo, Biblio­
teca Clásica (en prensa); Helmut Hatzfeld, E l «Quijote» como obra de arte del
lenguaje (1927), Aguirre, Madrid, 1949 (2a ed. revisada y aumentada, C SIC ,
Madrid, 1966); Salvador de Madariaga, Guía del lector del «Quijote», EspasaCalpe, Madrid, 1926; José Martínez R u iz (Azorín), «Cervantes y sus coetá­
neos», en Clásicos y modernos, Renacim iento, Madrid, 19 13 ; Gregorio M a­
yans y Sisear, Vida de Miguel de Cervantes Saavedra, Londres, 1737 ; ed.
Antonio Mestre, Madrid, 1972; M arcelino Menéndez y Pelayo, «Cultura li­
teraria de M iguel de Cervantes y elaboración del Quijote», Revista de Archi­
vos, Bibliotecas y Museos, IX (1905), pp. 309-339; reimp. en Estudios y discur­
sos de crítica histórica y literaria, C S IC , Santander, 19 4 1, I, pp. 323-356;
R am ó n M enéndez Pidal, «Un aspecto en la elaboración del Quijote», dis­
curso leído en el Ateneo de Madrid (1920); reimp. Madrid, 19242; José O r­
tega y Gasset, Meditaciones del Quijote, Madrid, 19 14 ; reimp. Madrid, 19 2 12;
Juan Antonio Pellicer, ed., M iguel de Cervantes, Quijote, Sancha, Madrid,
1797-1:798, 5 vols.; Agustín R edon do, Otra manera de leer el Quijote, Casta­
lia, Madrid, 1998; Edward C . R ile y , Cervantes’ Theory of the Novel, Claren­
don Press, O xford, 1962 (trad, española, Teoría de la novela en Ceivantes,
LA S I N T E R P R E T A C I O N E S D E L « Q U I J O T E »
CXCI
Taurus, Madrid, 1966); Don Quixote, Allen & U nw in, Londres, 1986 (trad,
española, Introducción ai «Quijote», Crítica, Barcelona, 1990); Vicente de los
R ío s, «Análisis del Quijote», introducción a la edición del Quijote de la R e a l
Academia Española, Madrid, I, 1780; Leo Spitzer, «Perspectivism in Don
Quijote», en Linguistics and Literary History: Essays in Stylistics, Princeton
University Press, 1948, pp. 68-73 (trad, española, «Perspectivismo lingüísti­
co en el Quijote», en Lingüistica e historia literaria, Gredos, Madrid, 1955, pp.
16 1-2 2 5 ); M iguel de Unam uno, Vida de don Quijote y Sancho, según Miguel
de Cavantes, explicada y comentada, Femando Fe, Madrid, 1905; Obras com­
pletas, ed. M . García Blanco, A . Aguado, Madrid, III, 19 6 6 -19 7 1; Del senti­
miento trágico de la pida, Madrid, 19 13 ; Obras completas, cit., IX ; Juan Valera,
«Sobre el Quijote y sobre las diferentes maneras de comentarle y juzgarle»,
en Obras escogidas. Ensayos, segunda parte, Madrid, 1928.
η.
LA CO M PO SICIÓ N D EL «QUIJOTE»*
Ellen M. Anderson y Gonzalo Pontón
i. T oda especulación sobre la fecha en que Cervantes tomó la
pluma para iniciar E l ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha
ha tenido en cuenta unas célebres palabras del prólogo en las
que, a ju icio de la mayoría de estudiosos, el autor habría que­
rido señalar las circunstancias en que se originó su novela:
«¿Qué podía engendrar el estéril y mal cultivado ingenio mío,
sino la historia de un hijo seco, avellanado, antojadizo y lleno
de pensamientos varios y nunca imaginados de otro alguno,
bien com o quien se engendró en una cárcel, donde toda inco­
modidad tiene su asiento y donde todo triste ruido hace su ha­
bitación?» (I, Prólogo, 9). La frase no aclara de suyo si tiene un
sentido literal o metafórico, pero el cervantismo ha optado mayoritariamente por creer que debe tomarse al pie de la letra: el
Quijote se ideó, e incluso empezó a escribirse, mientras C er­
vantes estaba recluido en una prisión. La presunción de que cár­
cel pueda tener un sentido figurado (‘el m undo’ , ‘el alma del es­
critor’), como creyeron Nicolás Díaz de Benjum ea, Am érico
Castro y Salvador de Madariaga, ha ido diluyéndose ante el
atractivo de la interpretación literal, que perm ite soñar con
el m omento de la génesis creativa. E l mismo Alonso Fernán­
dez de Avellaneda tomó esas palabras en sentido recto, como
vemos en su prólogo: «Pero disculpan los yerros de su primera
parte, en esta materia, el haberse escrito entre los de una cár­
cel; y, así, no pudo dejar de salir tiznada dellos, ni salir menos
que quejosa, mormuradora, impaciente y colérica, cual lo están
los encarcelados». Los datos de la biografía cervantina arrojan
dos momentos como candidatos a la identificación: otoño de
1592, fecha de su estancia forzosa en Castro del R ío (Córdo* E l segundo apartado del presente capítulo se debe a Ellen M . Ander­
son y ha sido revisado por Geoffrey Stagg. Las secciones primera y tercera,
así com o la nota bibliográfica, han corrido a cargo del je fe de redacción.
C X C II
LA C O M PO SIC IÓ N DEL «Q U IJO TE»
CXCIII
ba), y los últimos meses de 1597, cuando fue encarcelado en la
prisión de Sevilla. Sin embargo, nada hay en las palabras del
prólogo que obligue a creer, con R odríguez Marín, que C e r­
vantes escribió en la cárcel parte de la historia. En el Quijote, el
verbo engendrar se asimila menos a ‘redactar’ que a ‘imaginar’ ,
como demuestran algunos paralelos: en el prólogo a la Segun­
da parte leemos que la continuación de Avellaneda «se engen­
dró en Tordesillas y náció en Tarragona» (II, Prólogo, 673); en
la conversación sobre poesía entre don Q uijote y don D iego de
Miranda, aquél afirma que «la pluma es lengua del alma: cuales
fueren los conceptos que en ella se engendraren, tales serán sus
escritos» (II, 16, 828); por último, la Duquesa le recuerda a don
Q uijote que, según la Primera parte, «nunca vuesa merced ha
visto a la señora Dulcinea, y que esta tal señora no es en el
m undo, sino que es dama fantástica, que vuesa merced la en­
gendró y parió en su entendimiento, y la pintó con todas aque­
llas gracias y perfeciones que quiso» (II, 32, 978). De este
m odo, la m ención del prólogo, aun tomada en su sentido lite­
ral, sólo parece autorizarnos a suponer que el primer aliento de
la historia, la percepción de su contenido, sobrevino a C ervan­
tes mientras permanecía en prisión.
A l margen de este pasaje, hay algún otro indicio en la obra
que puede arrojar luz sobre su cronología. Los libros pastoriles
y composiciones épicas que se citan al final del capítulo 6 se
publicaron en el decenio de 1580, especialmente en su segun­
da mitad; así, el título más reciente de cuantos se mencionan en
el escrutinio es E l pastor de Iberia, de Bernardo de la Vega, im ­
preso en 15 9 1. E l aposento del hidalgo se revela como una nu­
trida biblioteca de obras de ficción actualizada a la altura de
1 5 9 1-15 9 2 . La conclusión parece obvia: ¿por qué no suponer
que en esas fechas se escribió el primer núcleo de la narración?
D e no ser así, mal se entiende, com o señaló Geoffrey Stagg,
que Cervantes no m encione algunos libros, en especial las G ue­
rras civiles de Granada, de Ginés Pérez de Hita (1595), que con­
tiene los mismos'temas presentes en el delirio quijotesco del
capítulo 5, y La Arcadia de Lope de V ega (1598), referencia
ineludible en el desarrollo del género pastoril. C om o refrendo
de esta impresión puede aducirse que el mismo narrador se
hace eco de la modernidad del relato: «me parecía que, pues
CXCIV
PRÓLOGO
entre sus libros se habían hallado tan modernos como Desenga­
ño de celos y Ninfas y pastores de Henares [de 1586 y 158 $], que
también su historia debía de ser moderna» (I, 9, 116 ). Ello in­
duce a pensar que el episodio del escrutinio se habría conclui­
do en una fecha comprendida entre 15 9 1 y 159 5. Pero esta hi­
pótesis también plantea problemas, com o los que se desprenden
de la referencia a Luis Barahona de Soto, «porque ... fue uno de
los famosos poetas del mundo, no sólo de España, y fue felicí­
simo en la tradución de algunas fabulas de Ovidio» (I, 6, 95).
E l uso del pasado parece indicar que el escritor había fallecido
cuando Cervantes escribió el elogio. Si se entiende así, habría
que trasladar la fecha por lo menos a 159 5, año de la muerte del
poeta lucenés. Por otra parte, en la conversación entre el cura
y el canónigo de Toledo, éste recuerda tres tragedias de L u percio Leonardo de Argensola (La Isabela, La Filis y La Alejan­
dra) que «ha pocos años que se representaron en España» (I, 48,
604) y cuyas fechas de composición se han establecido en el
lapso 15 8 1- 15 8 5 . A l mismo tiempo, es sabido que la reflexión
teórica de los capítulos finales de la Primera parte presenta la
influencia de la Philosophia antigua poética de Alonso López Pinciano, publicada en 1596: así, «pocos años» podría significar en
este caso ‘quince o veinte años’, lo que restaría todo alcance a
la expresión, y, de paso, a la modernidad mencionada en el ca­
pítulo 9.
La principal hipótesis externa sobre la fecha inicial de la no­
vela se basa en argumentos no menos problemáticos. Fue R a ­
m ón M enéndez Pidal quien señaló, com o probable fuente de
las locuras de don Q uijote en los capítulos 4 y 5, al Entremés de
los romances, pieza breve en que el labrador Bartolo enloquece
a causa de la lectura de romances heroicos, hasta creerse perso­
naje de ellos. M enéndez Pidal defendió que el entremés era in­
mediatamente posterior a 15 9 1, pues los romances que se citan
en él podían leerse juntos sólo en la Flor de varios romances nue­
vos, compilada por Pedro de M oncayo en el año referido e im ­
presa varias veces en 159 2 y 159 3. Si es cierto, como parece,
que los capítulos iniciales del Quijote siguen de cerca a la pieza
teatral, cabría pensar, habida cuenta de la efímera vida del tea­
tro corto, que Cervantes experimentó su influencia en torno a
15 9 1-15 9 2 . La fecha, se habrá reparado, concuerda significati-
LA C O M P O S I C I Ó N D E L « Q U I J O T E »
CXCV
vamente con las que se derivan del escrutinio de la librería. N o
son datos determinantes, pero parecen indicar, como quiso
Stagg, que hacia 1592 ya existía una parte de la obra, quizá esa
debatida narración corta que podría hallarse en el origen de la
novela.
Q ue la fecha inaugural más probable sea 159 2 (o incluso 159 7,
momento en que, según Edward C . R ile y y Luis Andrés M u rillo, Cervantes se habría concentrado en la elaboración de la
novela) no significa que el Quijote no contenga secciones escri­
tas con anterioridad. Tal parece el caso de la historia del Capi­
tán cautivo, verosímilmente compuesta de forma independiente
a E l ingenioso hidalgo e integrada en la novela en una fase tardía
de composición. E l relato se escribió en vida de Felipe II, como
demuestran las siguientes palabras: «venía por general desta liga
el serenísimo don Juan de Austria, hermano natural de nuestro
buen rey don Felipe» (I, 39, 496-497); el que no se añada nada
más significa a todas luces que el monarca reinaba en el m o­
mento en que transcurre la acción. Ahora bien, ¿cuándo suce­
den los hechos de la novela intercalada? A l iniciar el relato de
sus fortunas, R u y Pérez de Viedm a recuerda: «Este hará veinte
y dos años que salí de casa de mi padre» (I, 39, 495-496). Dado
que ese acontecimiento tuvo lugar en 1567, hay que situar el
presente de la acción (la llegada del cautivo y Zoraida a la ven­
ta) en torno a 1589, dato que entra en conflicto con la tenue
cronología del resto de la novela: sabemos, por el escrutinio de
la librería, que ya ha transcurrido el año 15 9 1. Se ha creído v e­
rosímil que la fecha de la acción coincida con la del momento
de creación, y que el relato sea de 1589 -159 0. Para abundar en
esta hipótesis, M urillo, entre otros, ha subrayado el significativo
paralelo entre las palabras del cautivo ya citadas y las que C er­
vantes dictó en el memorial de 21 de mayo de 1590 por el que
pedía merced de un oficio en Indias: «Miguel de Cervantes Saa­
vedra dice que ha servido a Vuestra M erced muchos años en las
jornadas de mar y tierra que se han ofrescido de veinte y dos
años a esta parte». También se debe a M urillo un interesante es­
tudio de las similitudes entre la historia del cautivo, E l celoso ex­
tremeño y el principio del Quijote, tres relatos que se inician de
forma m uy parecida y que cuentan la historia de un hombre
maduro enamorado de una m ujer mucho más joven, temática
cxcvx
PRÓLOGO
que sin duda interesó profundamente a Cervantes hacia 1590.
Cree M urillo que el relato del cautivo pudo iluminar uno de los
perfiles del hidalgo manchego (el que lo caracteriza como un
hombre m ayor enamorado de una muchacha vecina), y podría
ser incluso que Cervantes hubiese decidido interpolar en su no­
vela la vieja historia de ambiente argelino porque, entre otras
cosas, servía como correlato realista a los amores de don Q ui­
jote. C om o quiera que fuese, parece seguro que Cervantes, an­
tes de que se engendrara la historia del hidalgo, había escrito un
relato independiente, de notorio carácter biográfico en su pri­
mera parte, que luego decidió incorporar a la novela de 1605.
Resulta evidente que, en última instancia, el problema de la
cronología temprana del Quijote es el problema de su com po­
sición. Pocas obras muestran de un m odo tan evidente las hue­
llas del proceso de elaboración que las recorrió, desde la pri­
mera intuición de la historia hasta la novela completada en
1604. A la vista de las pruebas reunidas por la crítica, no resul­
ta descabellado suponer la existencia de un núcleo narrativo so­
bre el hidalgo Quijana por lo menos una década antes de la pu­
blicación del libro. Y m ucho más se fue generando a lo largo
de un proceso de transformación y revisión que sólo se detuvo
—y ni siquiera del to d o - en los umbrales de la imprenta.
2. Cervantes escribió la Primera parte del Quijote a lo largo de
un período de tiempo bastante dilatado, durante el cual su con­
cepción de la obra fue creciendo y cambiando. Según parece,
los capítulos 1 a 18 se escribieron com o texto seguido, sin di­
visiones internas y, por consiguiente, sin epígrafes. Es posible
que Cervantes abandonara la historia durante un tiempo, m ien­
tras se dedicaba a otros proyectos, y que al regresar a ella deci­
diera desarrollarla y dividirla en capítulos: tal decisión se pro­
dujo en la linde del actual capítulo 19. Los cambios pudieron
deberse a la voluntad de interpolar nuevos materiales en lo que
ya había escrito; así, la nueva y más elaborada parodia de las no­
velas de caballerías que Cervantes tenía en mente implicaba una
división retrospectiva del texto.
¿Qué clase de adiciones realizó Cervantes y cómo las conci­
lio con lo que ya había escrito? Stagg recuerda que una nove­
la, a diferencia de lo que sucede con la narración breve, se abre
L A C O M P O SIC IÓ N D E L «Q U IJO T E»
CXCVII
camino mediante la acumulación de detalles, que generan una
atmósfera particular. La trama novelesca se desarrolla a través de
la proliferación de episodios y la elaboración compleja de sus
elementos. A l volver a su historia, Cervantes interpoló pasajes
que confirieron a la trama un alcance mayor (lo que le perm i­
tía alargarse a voluntad y resultar creíble), al tiempo que añadía
detalles precisos. Parecen muestra de ello las redundancias del
capítulo 5 (la reiteración de la amistad que el cura y el barbero
profesan a don Q uijote; la repetición del topónimo del C am ­
po de M ontiel; la identificación del maltrecho protagonista por
parte del labrador Pedro Alonso com o «señor Quijana», cir­
cunstancia que repite y contradice la multiplicación de nom ­
bres del capítulo i), que se insertaron durante la revisión que
convirtió el texto en una narración mucho más extensa.
Mientras iba conformándose la idea del Quijote como paro­
dia de los libros de caballerías, Cervantes tuvo que introducir
cambios en pasajes preexistentes y añadir episodios completos
que concentraran o amplificaran ese foco paródico. Según
Stagg, la más célebre de esas interpolaciones tempranas fue pro­
bablemente el escrutinio de la librería. E l episodio está entre
dos capítulos (5 y 7) en los que Cervantes, acaso por imitación
del Entremés de los romances, presenta a su protagonista decla­
mando versos del R om ancero, en lugar de frases tomadas de los
libros de caballerías. La interpolación del capítulo 6 parece de­
mostrarse asimismo porque el episodio entraña una contradic­
ción: el ama de don Q uijote quema sus libros mientras éste
duerme; sin embargo, en el párrafo siguiente, el cura y el bar­
bero deciden que «le murasen y tapiasen el aposento de los li­
bros, porque cuando se levantase no los hallase» (I, 7, 97). ¡U n
aposento cuyo contenido acaba de reducirse a cenizas! La in­
coherencia podría indicar que el episodio del escrutinio y auto
de fe se escribió posteriormente y se insertó entre los actuales
capítulos 5 y 7.
A l tiempo que realizaba estos cambios, Cervantes inició la di­
visión en capítulos, empezando por el actual número 18, don­
de se localiza la primera m ención al respecto. R o b ert M . Flores
piensa que el escritor se limitó a insertar en el lugar en que de­
bía de producirse la solución de continuidad las palabras «lo que
se dirá en el siguiente capítulo» (I, 18, 216), tras las que escribió
CXCVIII
PRÓLOGO
un epígrafe que resumía los contenidos de la nueva sección.
A su juicio, la elección de los lugares en que se operó la divi­
sión retrospectiva dependió menos de la lógica narrativa que de
exigencias prácticas, como el ahorro de tiempo, trabajo y papel.
Es probable, así, que las últimas y las primeras palabras de cada
capítulo se escribieran en la hoja o página contigua del manus­
crito original. Ello habría permitido a Cervantes interpolar pul­
cramente el encabezamiento del nuevo capítulo en la parte su­
perior de la página siguiente, sin alterar en lo más mínimo los
contenidos de las secciones. Aunque esta forma de proceder dio
buenos rendimientos, su arbitrariedad produjo un tipo de error
que aumenta en número e importancia a lo largo de la Primera
parte: los epígrafes incorrectos (por ejemplo, el del capítulo 10,
en que califica de «yangüeses» a los «gallegos»). Es posible que
Cervantes escribiera esos epígrafes bastante después de poner fin
a la redacción original, lo que explicaría el olvido de algunos de­
talles. A l igual que sucede en el resto de sus obras, Cervantes no
revisó en profundidad los capítulos cuando introdujo cambios.
Lo cierto es que las discrepancias entre contenido y encabeza­
miento se reiteran a lo largo del libro.
U na característica fundamental de los métodos de redacción
y revisión de la Primera parte del Quijote es la tensión entre el
desarrollo de la trama principal y la elaboración de episodios in­
dividuales e historias intercaladas. Parte de la crítica piensa que
la imagen mental que Cervantes tenía de su historia progresa­
ba unidad a unidad, episodio a episodio, sobre todo a partir del
capítulo 9. José M anuel M artín M orán ha sostenido que C er­
vantes era materialmente incapaz de imaginar como un todo
coherente una trama tan extensa: mediante formas de com po­
sición oral, habría empleado un método próxim o al collage,
yuxtaposición suelta de episodios e historias, con los que habría
conformado una narración continua. La imaginación cervanti­
na prefería com o unidad básica de com posición el episodio en
lugar de la trama unificada; ello contribuiría a explicar la proli­
feración, a lo largo de la Primera parte, de historias intercala­
das, conectadas de forma m uy leve con las aventuras de don
Q uijote. D el mismo m odo, esta hipótesis permite dar cuenta
de la descuidada revisión cervantina: sencillamente, cuando el
escritor se concentraba en la escritura o corrección de un capí-
LA C O M P O S I C I Ó N D E L « Q U I JO T E »
C XCIX
tulo concreto no era capaz de retener una imagen coherente y
detallada de toda la historia.
Si bien no puede negarse la influencia de los métodos de
composición oral en Cervantes, es cierto que tal influencia no
lo explica todo. En primer lugar, la trama única y unificada, tan
admirada por los novelistas del siglo x i x , no gozaba del mismo
prestigio a principios del siglo x v n . Además, el autor del Qui­
jote tuvo que enfrentarse al mismo problema que M ateo A le ­
mán, López de U beda y otros pioneros de la ficción extensa:
¿cómo mantener el interés d eflecto r a lo largo de un número
elevado de páginas, sin menoscabo de la verosimilitud y el de­
coro narrativos? ¿Lograrían unos pocos personajes, con puntos
de vista y experiencias restringidos, entretener a un público en
disposición de leer y releer las mismas páginas una y otra vez?
La popularidad de la novela de caballerías invitaba a esperar una
respuesta negativa. Por otra parte, el crédito concedido a H e ­
liodoro y sus imitadores confirmaba el atractivo que tenían las
tramas con muchos y variados episodios.
Alonso López Pinciano, en su Philosophia antigua poética, re­
comendaba la armonización de unidad y diversidad mediante la
inclusión en la trama principal de episodios ajenos a ésta. Pare­
ce indisputable (o al menos así lo creen Stagg y M artín Morán)
que Cervantes recurrió al tratado del Pinciano para encontrar
respuestas a los problemas que le planteaba la composición de
una obra de ficción extensa que resultara interesante, y por lo
tanto comercial. E l escritor halló en ese libro una exhortación
a variar la historia y a capturar la atención del lector mediante
la inclusión de episodios que fueran tan interesantes que pu­
dieran separarse de la narración principal y disfrutarse por sí
mismos. A partir del capítulo 22 de la versión impresa, el nú­
mero de episodios de este tipo se multiplica. E n el esquema pri­
m itivo, los veintidós primeros capítulos se centraban en las
aventuras de don Q uijote y Sancho; los demás, escritos bajo la
influencia de la reciente lectura del Pinciano, se decantaron por
las historias intercaladas.
A u n si Cervantes pensó desde un principio en este orden y
procedim iento de com posición, tal perspectiva nos permite
aclarar sus modos de revisar y trasladar materiales previos para
ajustarse a la idea -siem pre en ev o lu ció n - del tipo de libro
cc
PRÓLOGO
que estaba escribiendo. D os excelentes ejemplos de esta fase
de com posición son los problemas ocasionados por la redac­
ción y la transposición de la historia de Grisóstom o y M arce­
la (los actuales capítulos 1 1 - 1 4 ) y la desaparición de la m ontu­
ra de Sancho.
Según Stagg, Cervantes escribió el episodio de Grisóstomo y
M arcela dentro del conjunto narrativo que hoy conforman los
capítulos 2 1-2 5 , Y luego lo trasladó de esa ubicación original al
lugar que ocupa en la primera edición. Esta hipótesis explica
una serie de discrepancias narrativas presentes en la versión pu­
blicada:
1) El epígrafe del capítulo 10 («De lo que más le avino a don Qui­
jote con el vizcaíno y del peligro en que se vio con una caterva de
yangüeses», 123) no se corresponde con su contenido: el combate
con el vizcaíno ha concluido al final del capítulo 9, y la aventura de
los gallegos no ocurre hasta el capítulo 15, después de la historia de Gri­
sóstomo y Marcela. La incorrección del epígrafe parece indicar que
en alguna fase de elaboración de la novela el episodio de los arrieros
seguía al del vizcaíno.
2) Una extraña frase de Sancho Panza, que presenta la aventura de
los gallegos como inmediata a la del vizcaíno: «¿Quién dijera que tras
de aquellas tan grandes cuchilladas como vuestra merced dio a aquel
desdichado caballero andante había de venir por la posta y en segui­
miento suyo esta tan grande tempestad de palos que ha descargado
sobre nuestras espaldas?» (I, 15, 177-178). Ello aumenta la impresión
de que los capítulos 1 1 - 1 4 se interpolaron.
3) Tras el combate con el vizcaíno, don Quijote y Sancho entran
en un bosque, a primera hora de la tarde, y comen al final del capí­
tulo. Esta secuencia aparece repetida en su integridad, de forma in­
necesaria, al inicio del capítulo 15. Cervantes utiliza las mismas pala­
bras para describir las dos comidas y su atmósfera de cordialidad («en
buena paz y compaña/compañía», I, 10, 130, y 15, 173).
L o más probable es que Cervantes diseñara, ya en su primera
redacción de la obra, el ámbito del encuentro de don Q uijote
y Sancho con los arrieros gallegos. La interpolación de los ca­
pítulos 1 1 - 1 4 (posiblemente para repartir por la novela las his­
torias independientes, en un principio concentradas en torno al
LA C O M P O SIC IÓ N DEL «Q U IJO T E»
CCI
capítulo 23, como se verá más adelante) obligó al autor a tras­
ladar a sus protagonistas de la majada de los cabreros a un esce­
nario de llanuras y espacios amplios, parecido al que habían
abandonado en el capítulo 10. Apurando ese argumento, pue­
de afirmarse que la persecución de M arcela por parte de don
Q uijote tiene menos que ver con un intento de ridiculizar al
hidalgo como caballero andante que con su utilidad como m e­
canismo para situar a la pareja protagonista en un espacio ade­
cuado al encuentro con los arrieros. E n su revisión, Cervantes
habría modificado el final del capítulo 10 y el principio del ca­
pítulo 15 , reparando así las nuevas y evidentes fracturas de la
historia.
Por otra parte, la topografía del capítulo 10 es la propia del
llano, mientras que, repentinamente, en el capítulo 1 1 don
Q uijote y Sancho se encuentran en terreno montañoso, al que
sólo llegarán cuando se adentren en Sierra M orena (capítulo
23). Stagg concluye de form a elocuente: «sólo cuando super­
ponemos el perfil de M arcela a las cumbres elevadas y adustas
de Sierra M orena, contemplamos a esa figura desafiante —la
m ujer con el corazón tan duro com o la piedra- en su correcta
perspectiva ... Sierra M orena es su espacio natural».
La hipótesis de que la historia de M arcela y Grisóstomo se es­
cribió entre los actuales capítulos 23 y 25 ayuda a explicar que
en los capítulos 1 1 - 1 4 se manifieste una fase avanzada del «in­
genio entreverado» de don Q uijote. E n estos capítulos, el hi­
dalgo manifiesta un relativo buen ju icio y una percepción lite­
raria que contrastan vivam ente con las alucinaciones y los
desvarios caballerescos de los capítulos ι - i i y otros posteriores.
Este nuevo comportamiento coincide con el gusto por las dis­
cusiones sobre la corrección del lenguaje, manifiestas en los ca­
pítulos de Sierra M orena y siguientes. D e este m odo, en la
com posición original del manuscrito, y a diferencia de lo que
percibe el lector en la versión publicada, esos momentos ini­
ciales de lucidez no habrían sido una «aparición temprana de
“ rasgaduras en la cortina de la obsesión” », com o quiso Otis H .
G reen, sino la prueba de que la idea cervantina de don Q u i­
jo te había ido evolucionando hacia un retrato de m ayor com ­
plejidad. D on Q uijote se refiere por primera vez a la vocación
de «reprochador de voquibles» en el actual capítulo 12 , y no
CC II
PRÓLOGO
vuelve a mencionarla hasta el capítulo 2 1, seguido de varios ca­
sos en 23, 25 y 26. D e ese extraño hiato ha deducido Stagg que
Cervantes ideó el mecanismo mientras escribía el capítulo 2 1,
y decidió recurrir a él durante un trecho de la narración. Es po­
sible, así, que esa parte del capítulo 12 se escribiera en origen
com o una porción ubicada textualmente en los capítulos 2 1 26, y se trasladara posteriormente hasta el lugar que ahora ocupa.
E l traslado de la historia de Grisóstomo y M arcela a un con­
texto anterior, junto con otros materiales destinados originaria­
mente al actual capítulo 2$, explica no sólo la desmesurada ex­
tensión del mismo, sino también la aparición y desaparición del
asno de Sancho. N o hay lector que deje de advertir que el asno
está presente desde el capítulo 7 al 2$. En este último se alude
a la desaparición de la montura («Bien haya quien nos quitó
ahora del trabajo de desenalbardar al rucio», I, 25, 306), pero
sin mencionarla de forma explícita, ni mucho menos aclarar sus
causas. E n la segunda edición de Francisco de R ob les se añadió
al capítulo 23 una explicación de lo sucedido: Ginés de Pasam onte había robado el asno mientras don Q uijote y Sancho
dormían al raso en Sierra M orena.
¡
En el capítulo 27 de la Segunda parte, Cervantes quiso pre­
sentar el descuido como un error del impresor: «por no haber­
se puesto el cómo ni el cuándo en la primera parte, por culpa
de los impresores, ha dado en qué entender a muchos, que atri­
buían a poca memoria del autor la falta de emprenta» (II, 27,
934). Sin embargo, el único error que podría haber cometido el
impresor sería la inserción del robo del rucio en un capítulo
equivocado. N o hay duda de que la explicación tendría que ha­
berse incluido en el capítulo 25, entre el momento en que se
menciona al asno como presente por última vez («entremétete
en espolear a tu asno», 299) y la primera referencia de Sancho al
robo de su montura. La propia versión de Sancho ex postfacto,
publicada diez años más tarde en la Segunda parte, confunde
aún más las cosas, al afirmar que el asno fue robado durante una
noche que no existe en la primera edición: «yo dormí con tan
pesado sueño, que quienquiera que fue tuvo lugar de llegar y
suspenderme sobre cuatro estacas que puso a los cuatro lados de
la albarda, de manera que me dejó a caballo sobre ella y me sacó
debajo de mí al rucio sin que yo lo sintiese» (II, 4, 715).
LA C O M PO SIC IÓ N DEL «Q U IJO TE»
CCIII
A partir de estas anomalías Stagg concluyó que Cervantes, en
una fase temprana de composición, escribió los actuales capítu­
los 1 1 - 1 4 como parte del texto que se publicó luego como ca­
pítulo 25, es decir, entre nuestras páginas 299 (la intervención
de Sancho que finaliza «...acabándonoslas de romper de todo
punto») y 302 (la referencia, fuera de lugar, a Ambrosio: «como
ya oíste decir a aquel pastor de marras, Ambrosio...», m encio­
nado por última vez en el capítulo 14). D e este modo, la pri­
mitiva versión del robo del asno habría formado parte del epi­
sodio pastoril. E l robo del rucio se narraba en su ámbito
original, Sierra M orena, dentro de una sección que se trasladó
al actual capítulo 1 1 . A l cambiar de lugar esos folios, Cervantes
advirtió que no podía m over la historia de la desaparición del
asno, puesto que había numerosas referencias a su presencia a lo
largo de los capítulos 15 y siguientes. E n consecuencia, tuvo que
suprimir el episodio, lo que le obligó a desgajar el pasaje sobre
la recuperación de la montura. A l proceder de este m odo no ad­
virtió que iba a provocar inconsecuencias textuales de peso.
La versión sobre el robo del asno publicada en la Segunda
parte pone de manifiesto hasta qué punto le resultó imposible
a Cervantes conciliar las anomalías que había provocado en su
apresurada reescritura de la novela. E n la continuación de 16 15 ,
astutamente, decidió desviar la atención del verdadero proble­
ma mediante la introducción del divertido paralelo entre la
desaparición del rucio y el robo del corcel de Sacripante por
parte de Brúñelo, que se cuenta en el Orlando furioso. Tal como
cree Flores, no puede descartarse tampoco que el episodio del
robo del asno sucediese en el diseño original de Cervantes de for­
ma parecida a como Sancho lo describe en el capítulo 4 de la
Segunda parte. C om o quiera que fuese, esta posibilidad no deja
de ser un apoyo a la tesis de que la historia del robo del rucio
se hallaba en medio de la secuencia de capítulos sobre Grisós­
tomo y Marcela.
A partir de un análisis de los argumentos de Stagg, Flores ha
llegado a la conclusión de que la historia de Grisóstomo y M ar­
cela se escribió en una fase de redacción posterior a la de los ca­
pítulos que la circundaban originariamente, compuestos para
formar parte de la sección de Sierra M orena (numerados en un
principio, según cree, com o capítulos 18-23). Dada la ausencia
CCIV
PRÓLOGO
de menciones del asno en esas paginas, salvo en el párrafo que
conecta los actuales capítulos n y 12 (numerados en un prin­
cipio com o 2 1 y 22), Cervantes habría querido interpolar la
historia de Grisóstomo y M arcela tras el episodio —luego elimi­
nado— en el que Ginés se apoderaba de la montura de Sancho,
pero más tarde habría cambiado de opinión, y el robo (que era
entonces el capítulo 20) se habría situado en el centro de los ca­
pítulos precedentes. D e este m odo, el episodio de M arcela y
Grisóstomo se habría redactado más tarde, en torno a la prim i­
tiva historia de la estancia de don Q uijote y Sancho con los ca­
breros y el robo del asno.
¿Qué repercusiones estructurales provocó la decisión de tras­
ladar la historia de Grisóstomo y M arcela a un lugar tan aleja­
do de su ubicación original? La crítica ha notado el desequili­
brio en el número de páginas de las cuatro partes en que se
divide la versión publicada: I (capítulos 1-8), II (capítulos 914), III (capítulos L 5 -2 7) y IV (capítulos 2 8 - 5 2 ) . La decisión de
dividir el texto en partes, tomada in medias res, es claro indicio
de hasta qué punto la imaginación de Cervantes se había ido
orientando hacia una parodia de la estructura y el contenido de
los libros de caballerías, normalmente divididos en grandes sec­
ciones. Probablemente debamos a esta decisión la aparición de
C ide Hamete Benengeli, el supuesto autor y presentador de cada
parte, a imitación de los modelos caballerescos. Stagg ha su­
gerido la posibilidad de que Cervantes pensara primero en una
división homogénea, de unos ocho capítulos por parte; sin em­
bargo, esa idea se reveló irrealizable a medida que fue reelaborando y trasladando materiales.
E n la reconstrucción del hipotético diseño original de la
novela, el final del episodio de M arcela señalaba el cierre de
la tercera parte. A l trasladar este episodio a su posición actual,
Cervantes dejó la división entre partes en un lugar en que to­
davía indicaba un corte importante en la trama. La acortada
tercera parte resultante (capítulos 22-24 Y la primera mitad de
25) se compensó con el añadido de la segunda mitad de 25 y
los capítulos 26-27. Que existió una división originaria entre los
capítulos 2 1 y 22 se pone de manifiesto en el inusual trata­
miento de C ide Hamete. Hasta ese m om ento ha aparecido en
cada división de parte; en el inicio del capítulo 22 vuelve a in-
L A C O M P O S I C I Ó N D E L « Q U I JO T E »
CCV
traducírsele, por supuesto sin m ención alguna de cambio de
sección («Cuenta Cide Hamete Benengeli, autor arábigo y
manchego, en esta gravísima, altisonante, mínima, dulce e im a­
ginada historia...», I, 22, 257). Esta anomalía parece indicar que
en un origen Cide Hamete introducía una nueva parte en ese
lugar; esa parte se habría sustituido por el simple inicio de un
capítulo, con lo que se perturbaba mínimamente el texto exis­
tente.
Pero Benengeli desaparece tras el capítulo 27. Stagg ha visto
en esta circunstancia una nueva señal de que Cervantes recon­
sideró la estructura de la novela. A medida que iban aumen­
tando las interpolaciones y transposiciones, la división en ca­
pítulos y partes resultó más difícil de m antener de form a
consistente. D el mismo m odo que la decisión de dividir la obra
en capítulos se había establecido en el 18, la resolución de des­
echar sin comentario alguno la división en partes puede ubi­
carse en el capítulo 28, donde se ignora a C ide Hamete y se
destaca la inclusión de «cuentos y episodios» (I, 28, 347). C ide
Ham ete es el cronista de las aventuras de don Q uijote e intro­
duce el episodio de Cardenio, Luscinda y Dorotea, pero otros
personajes son los que narran E l curioso impertinente y E l capitán
cautivo. Por este m otivo, Cervantes va abreviando sus ulteriores
referencias al cronista (en el inicio de la tercera parte original,
capítulo 15 , y al final del capítulo 27) y finalmente se deshace
de su narrador de ficción, que permanece com o el fósil de un
plan primitivo.
La división de la obra en partes y las técnicas cervantinas para
encajar las narraciones breves en la historia principal son aspec­
tos íntimamente relacionados. T al com o se ha dicho, en la P ri­
mera parte el autor manifiesta su compromiso con la idea de
que el libro debe contener muchos y variados episodios, que
serán de este m odo testigos de su talento creativo y de su pre­
ocupación por suscitar y mantener el interés de los lectores. S e­
gún se desprende de los indicios señalados, Cervantes dividió
primero el texto en capítulos y luego en partes, e insertó final­
mente la historia de Cardenio, Dorotea y Luscinda, y los rela­
tos del Curioso impertinente y E l capitán cautivo.
¿Por qué razón incluyó precisamente estas historias en el
Quijote, y en qué m omento de la redacción pudo haberlo h e-
ccvx
PRÓLOGO
cho? Es probable que en algún punto poco posterior al capítu­
lo 22 Cervantes llevara a la práctica los argumentos de López
Pinciano en favor de las narraciones breves e independientes:
en ese capítulo se inician las interpolaciones (no hay que olvi­
dar que la historia de Grisóstomo y Marcela se compuso pro­
bablemente para el actual capítulo 25). Según M artín M oran, el
escritor pudo considerar su novela un cauce adecuado para la
publicación de cierto número de narraciones cortas que había
escrito con anterioridad: así, E l capitán cautivo, que luego fue in­
cluida en la novela propiamente dicha.
Si es correcta la hipótesis de que Cervantes varió su técnica
de composición en plena redacción para incluir episodios in­
dependientes, y si también es cierto que empleó materiales pre­
viamente elaborados, entonces resulta lícito preguntarse por las
huellas de tales interpolaciones. Flores ha propuesto una re­
construcción del método de sutura del Curioso impertinente a la
historia de don Q uijote y de los distinguidos huéspedes de
la venta. Cervantes, ya en una fase avanzada de redacción de la
novela, habría preferido alterar lo menos posible el material es­
crito. Para ello, habría dispuesto el cuerpo de la historia pre­
existente de forma que permitiese la inclusión del episodio de
los cueros de vino, con el que devuelve a don Q uijote y San­
cho a la acción principal. Habría situado ese episodio de tal
m odo que la historia intercalada y la escaramuza de don Q ui­
jo te mantuvieran sus posiciones relativas en el capítulo, con lo
que realizaba el m enor número posible de alteraciones en el
manuscrito. A l hacerlo, habría cambiado el epígrafe de un ca­
pítulo, introduciendo accidentalmente otra anomalía: el epí­
grafe de 36 anuncia el episodio de los cueros de vino ex postfac­
to. Quizá Cervantes no advirtió el error porque el viejo
epígrafe permaneció en la última página, con la conclusión del
capítulo previo: ello impidió que se percatara de que el epígra­
fe no se correspondía con el contenido.
Esta interpolación, como la del Capitán cautivo, creó un nue­
vo problema: el equilibrio narrativo entre las aventuras de don
Q uijote y Sancho y las historias intercaladas se había decantado
de forma manifiesta en favor de estas últimas. C om o ha señala­
do Flores, el discurso de las armas y las letras pronunciado por
don Quijote (capítulo 38) concede al protagonista de la novela
L A C O M P O S I C I Ó N D E L « Q U I JO T E »
CCVII
la oportunidad de brillar nuevamente en el centro del esce­
nario, después de una larga ausencia, dirigiéndose, práctica­
mente sin interrupción, a una luminosa asamblea de damas y
caballeros de alta alcurnia. Pero incluso esta ingeniosa interpo­
lación dio pie a una nueva anomalía textual: en el capítulo 42,
el grupo cena por dos veces en una misma noche («Ya en esto
estaba aderezada la cena, y todos se sentaron a la mesa, eceto el
cautivo y las señoras, que cenaron de por sí en su aposento»,
I, 4 2 , 5 4 3 )·
E n conclusión, puede considerarse la Primera parte del Qui­
jote como una especie de laboratorio en el que Cervantes, de
forma consciente y resuelta, experimentó numerosas y variadas
técnicas de la narrativa extensa en prosa. Las críticas a la Pri­
mera parte, que el autor recoge en tono de broma en el capí­
tulo 3 de la Segunda, pueden verse como una reflexión crítica
sobre el proceso creativo desarrollado: episódico, variado, gra­
cioso, heroico y edificante. Las historias intercaladas, que cons­
tituyen el sello de la Prim era parte, desaparecen en la Segunda
para ceder su lugar a una m ayor concentración de aventuras y
al despliegue de las personalidades del caballero y su escudero.
C ide Hamete Benengeli, mecanismo al que recurre Cervantes
con la misma facilidad con que lo abandona, se convierte en la
Segunda parte en un filtro indispensable de la acción. Todos es­
tos cambios revelan al lector atento y paciente la imaginación
incansable y observadora del artista consciente que fue M iguel
de Cervantes a lo largo de los sinuosos caminos y los ásperos
lugares de su vasto universo de invención.
3. Los abundantes y detallados estudios sobre la composición
del Quijote de 1605 contrastan con la m enor cantidad de inves­
tigaciones acerca de la elaboración de la Segunda parte. Esta
asimetría no. se debe, por supuesto, a que la continuación haya
suscitado un interés menor, sino a que el texto de 16 15 im po­
ne unos límites a la especulación sobre las etapas de construc­
ción de la novela. Gracias a los epígrafes incorrectos, los cam­
bios repentinos de escenario, los pasajes que se duplican o se
anulan y los acontecimientos que suceden y no se refieren, la
Prim era parte presenta trazas de una concepción original de
la obra que fue modificándose a lo largo del tiempo. En la Se-
CCVIII
PRÓLOGO
gunda, por el contrario, hay menos espacio para que el crítico
ponga a prueba su talento de escudriñador, pues la arquitectu­
ra de la novela es más trabada y su acción avanza hacia el des­
enlace sin titubeos evidentes. E l que Cervantes deje bien sen­
tado que «en esta segunda parte no quiso ingerir novelas sueltas
ni pegadizas, sino algunos episodios que lo pareciesen, nacidos
de los mesmos sucesos que la verdad ofrece, y aun éstos limita­
damente y con solas las palabras que bastan a declararlos» (II,
44, 1070) limita las posibilidades de rastrear por la obra la pista
de refundiciones o interpolaciones. E l Quijote de 16 15 , así, se
ofrece a primera vista como un conjunto desarrollado en un
solo aliento creativo. Claro está que tal impresión no impide
reflexionar sobre las fases de com posición del texto, pero la es­
casez de indicios sitúa a la mayoría de propuestas en el ámbito
de la especulación. T an sólo podemos estar seguros de que la
lectura de la continuación de Avellaneda afectó a los planes y
al ritmo de elaboración de la obra; por ahí, y con m uy distin­
tas perspectivas, se ha abierto la principal brecha de discusión,
particularmente animada en los últimos años.
Com encem os por la cronología. A l igual que sucede con la
Primera parte, la intriga novelesca apenas ofrece elementos so­
bre los que basar una datación aproximada. N o hay duda de
que el episodio de Sancho y R ic o te (capítulo $4) tuvo que es­
cribirse después de la expulsión de los moriscos, acaecida en
16 0 9 -16 10 . Si, como cree Joseph Sanchez, una m ención del
Quijote en E l caballero puntual (16 13 ) de Salas Barbadillo se re­
fiere a la continuación en ciernes (que el autor, como amigo de
Cervantes, podría haber conocido m ucho antes de su conclu­
sión), tendrá que convenirse en que el episodio de los leones
(capítulo 17) ya estaba escrito a la altura de 16 13 , cosa que, de
otra parte, era de suponer, pues en el prólogo a las Novelas ejem­
plares, redactado hacia ju lio de ese mismo año (es la fecha de la
dedicatoria al conde de Lemos), Cervantes promete al lector
que «primero verás, y con brevedad, dilatadas las hazañas de
don Q uijote y donaires de Sancho Panza», lo que parece prue­
ba de que en esos días la Segunda parte estaba bastante avanza­
da. Estos indicios no aportan una información sustancial, y se
limitan a reafirmar la impresión de que la obra tuvo que ges­
tarse en un período de tiempo dilatado. Ello confiere especial va-
L A C O M P O S I C I Ó N D E L « Q U IJ O T E »
CCIX
lor a la única fecha contenida en el cuerpo de la novela: 20 de
ju lio de 16 14 , día en que Sancho dicta la carta para su m ujer
(capítulo 36). Es m uy posible que Cervantes le pusiera a la epís­
tola la fecha del día en que la escribió. Ese acto, ya fuera delibe­
rado o fruto del descuido, sitúa la acción en el verano de 16 14 ,
rompe la cronología interna de la Segunda parte y, de paso,
desarticula sus vínculos con la Primera. Sorprende que tan sólo
medio año antes de la conclusión de la novela (la aprobación es
del 27 de febrero de 16 15 , aunque el libro no se publicó hasta
noviembre) a Cervantes le quedara por escribir más de la m i­
tad de la obra. N o puede descartarse que interpolara la carta en
un texto previamente escrito, y que introdujera la fecha para
crear un marco adecuado a la presencia de sucesos contem po­
ráneos, como la publicación de la novela de Avellaneda (tén­
gase en cuenta que en la continuación apócrifa hay también
una carta del escudero a su mujer, cuestión sobre la que debe­
remos volver más adelante).
La tradición cervantista ha tendido a pensar que la redacción
de la Segunda parte no comenzó inmediatamente después de la
publicación de la Primera, sino que transcurrió cierto tiempo
antes de que Cervantes se decidiera a escribir la continuación.
C o n tal fin se ha aducido una célebre frase de Sansón Carrasco
sobre la fortuna editorial del Quijote de 1605: «Tengo para mí
que el día de hoy están impresos más de doce mil libros de la
tal historia: si no, dígalo Portugal, Barcelona y Valencia, don­
de se han impreso, y aun hay fama que se está imprimiendo en
Amberes» (II, 3, 706). Si esta afirmación se acepta com o literal,
hay que situarse forzosamente después de 1607, cuando se p u ­
blicó la edición de Bruselas, que quizá Cervantes confunde con
Amberes. Pero esta imprecisión, junto con la mención de B a r­
celona, que no imprimió una edición del Quijote hasta 16 17 ,
aconsejan no tomar la frase al pie de la letra, pues podría refle­
ja r igualmente un m omento anterior, al arrimo del éxito inicial
(las ediciones de la Primera parte estampadas en Lisboa y V a­
lencia se publicaron antes del otoño de 1605). En el capítulo
16, dos semanas más tarde de la conversación que mantiene con
Carrasco, don Q uijote le dice a D iego de Miranda: «He m e­
recido andar ya en estampa en casi todas o las más naciones
del mundo: treinta mil volúmenes se han impreso de mi histo-
ccx
PRÓLOGO
ría» (II, ιό , 821), aseveración a la que puede darse aun menos
crédito que a la anterior.
Para defender una redacción temprana de los primeros capí­
tulos, Daniel Eisenberg ha traído a colación las referencias al
robo del rucio contenidas en el inicio de la novela. C o n la ex­
plicación que pone en boca de Sancho, Cervantes intenta disi­
mular una incongruencia textual: la desaparición y reaparición
de un asno cuyo robo y restitución no se mencionan. Pero la
mayoría de lectores no había advertido tal incongruencia, por
cuanto la segunda edición madrileña de Francisco de Robles
(1605), y a su zaga todas las posteriores, incluía dos pasajes in­
terpolados sobre la pérdida del rucio. Eisenberg ha supuesto,
así, que las precauciones de Cervantes se comprenden sólo si se
enmarcan en los meses siguientes a la publicación de la princeps.
Tras la segunda edición, los lectores podrían quejarse de las im ­
precisiones de la historia, pero no de que al autor «se le olvida
de contar quién fue el ladrón que hurtó el rucio a Sancho, que
allí no se declara, y sólo se infiere de lo escrito que se le hurta­
ron» (II, 3, 714). C on todo, el argumento plantea no pocos
problemas: cuando menos, resulta curioso que Cervantes pro­
cediera con tanto cuidado al incluir referencias al episodio en
un nuevo texto, y con tanta despreocupación al insertar en la
segunda edición los pasajes que remediaban el problema; por
otra parte, una vez resuelta (mal que bien) la laguna de la prin­
ceps, el autor podría haber suprimido ese pasaje de la continua­
ción. Lo más prudente es suponer que Cervantes, tiempo des­
pués de 1605, volvió sobre uno de los puntos más debatidos en
el m omento de la publicación, sin importarle que ese conflic­
to ya se hubiera remediado.
N o hay, pues, unanimidad en torno a la fecha inicial: 1605,
1607, incluso 1609 han sido los años más favorecidos. E n cam­
bio, parece existir cierto consenso sobre la posibilidad de que
Cervantes detuviera la redacción de la obra a la altura del capí­
tulo 30, antes del inicio de las aventuras en el palacio de los D u ­
ques; así lo han creído, de forma explícita o implícita, M urillo,
Nicolás M arín y Eisenberg. Es indudable que la Segunda parte
presenta tres grandes secciones narrativas (capítulos 1-29 , pri­
meras aventuras de los protagonistas; capítulos 30-58, estancia
en el mundo palaciego de los Duques, con las aventuras de la
LA C O M P O SIC IÓ N D EL «Q U IJO T E»
CCXI
ínsula; capítulos 59-74, conclusión de la obra, marcada por la
presencia del apócrifo), y que la primera de estas secciones des­
pliega unas peripecias y unos personajes más cercanos a los de
la Primera parte que a los del resto de la continuación. Tal cir­
cunstancia se ha tenido por señal de una composición no de­
masiado alejada del Quijote de 1605. Abunda en esta presunción
la aventura del barco encantado (capítulo 29), que ha desperta­
do sospechas sobre su ubicación primitiva. Después de la aven­
tura de la cueva de Montesinos y el episodio del pueblo de los
rebuznadores, en las proximidades de las lagunas de Ruidera,
don Q uijote y Sancho alcanzan las orillas del Ebro en apenas
dos días («Por sus pasos contados y por contar, dos días después
que salieron de la alameda llegaron don Q uijote y Sancho al río
Ebro», II, 29, 948), lapso inverosím il para una distancia cerca­
na a los quinientos kilómetros. Por otra parte, la aventura aca­
ba con una nota de decepción que será típica de capítulos pos­
teriores, como el episodio de la manada de toros (58) o el de la
piara de cerdos (68). Quizá en un plan primitivo la aventura
fluvial sobrevenía después de la estancia con los Duques, y C e r­
vantes la desplazó a su posición actual cuando renunció a seguir
la derrota de Zaragoza.
Y a se ha indicado que en la Segunda parte no abundan las in­
congruencias que delaten estadios de redacción previos. E l úni­
co lugar claramente anómalo se encuentra en el capítulo 45, el
primero sobre la estancia de Sancho en la ínsula Barataría. A su
llegada, el mayordomo le dice al nuevo gobernador que los ha­
bitantes esperan que responda a una pregunta «que sea algo intricada y dificultosa» (II, 45, 1083), pero Sancho se pone de
inmediato a resolver litigios entre sus gobernados. ¿Hay que en­
tender que Cervantes olvida la prueba? Quizá, como aventura
Martín M orán, ésta pueda identificarse con la «pregunta que un
forastero le hizo» (II, 5 1, 11 4 1 ) al gobernador a propósito del
puente de la horca, seis capítulos más adelante. Pero eso no es
todo: tras aclarar Sancho el pleito de las caperuzas, el narrador
admite que «si là sentencia pasada de la bolsa del ganadero m o ­
vió a admiración a los circunstantes, ésta les provocó a risa» (II,
45, 1085). Sin embargo, la sentencia de la bolsa no ocurre has­
ta unas páginas más abajo, después del episodio del báculo. Flo­
res ha propuesto una explicación de este desorden a partir de un
CCXII
PRÓLOGO
trastrueque del original en la imprenta; R ic o apunta a una con­
fusion provocada por un original cervantino con adiciones o
cambios redactados en hojas aparte y luego interpolados erró­
neamente por el amanuense del taller. Otra posibilidad es que
Cervantes cambiara de parecer en la elaboración de los juicios
de Sancho y desplazara el episodio de la bolsa al último lugar,
quizá añadiéndolo en el manuscrito usado en la imprenta, alte­
rando así una hipotética serie primitiva bolsa-caperuzas-báculo
en caperuzas-báculo-bolsa. ¿Con qué fin? Quizá para ordenar
los elementos según la capacidad de suscitar la admiración de los
lectores, que crece a medida que el ingenio de Sancho se agu­
za: ante el primer pleito, sentido común; en el segundo, perspi­
cacia para descubrir el engaño que se ofrece ante sus ojos; en el
tercero, astucia al provocar que la culpable se ponga en eviden­
cia. C om o sucede a menudo en la Primera parte, Cervantes no
habría borrado por completo las huellas del estadio anterior.
Pero no son éstas las únicas incoherencias detectadas en la his­
toria del gobernador Sancho. E l capítulo 5 1, que contiene el in­
tercambio de cartas entre éste y don Quijote, presenta un final
que parece señalar la conclusión del episodio: «En resolución, él
ordenó cosas tan buenas, que hasta hoy se guardan en aquel lu­
gar, y se nombran “ Las constituciones del gran gobernador San­
cho Panza” » (II, 5 1, 1150 ). Además, la existencia de esas cons­
tituciones u «ordenanzas tocantes al buen gobierno de la que él
imaginaba ser ínsula» (II, 5 1, 1149 ) es desmentida más tarde por
el propio Sancho ante los Duques: «Aunque pensaba hacer al­
gunas ordenanzas provechosas, no hice ninguna, temeroso que
no se habían de guardar» (II, 55, 118 2 ). Eisenberg deduce de
ello que el episodio se elaboró en fases sucesivas, e, incluso, que
pudo darse una interpolación de materiales previos. Lo cierto
es que estas anomalías no afectan en lo sustancial al desarrollo
de la historia, ni mucho menos a su concepción, pero ponen
de relieve que las incongruencias textuales afloran cuando C er­
vantes opta por una construcción episódica, que le permite
modificar con m ayor libertad la peripecia en revisiones poste­
riores.
Si hay un hecho indiscutible en la elaboración de la Segun­
da parte es que la continuación de Alonso Fernández de A v e­
llaneda alteró la forma final de la novela. ¿En qué momento co­
LA C O M P O SIC IÓ N DEL «Q U IJO T E»
CCXIII
noció Cervantes el libro de su rival? La licencia de publicación
de éste es del 4 de ju lio de 16 14 ; en rigor, Cervantes podría ha­
berlo leído a fines de ese mismo mes, pero lo más probable es
que llegara a sus manos en el otoño. La primera m ención in­
equívoca de la existencia de una continuación falsa se halla en
el capítulo 59: «Por vida de vuestra merced, señor don Jeró n i­
mo, que en tanto que traen la cena leamos otro capítulo de la
segunda parte de Don Quijote de la Mancha» (II, 59, 12 13 ). La
crítica ha tendido a creer que Cervantes convirtió la novela de
Avellaneda en materia literaria inmediatamente después de leer­
la, con lo cual la m ención del capítulo 59 señalaría a la poste­
ridad el momento aproximado en que conoció la obra.
Las consecuencias más evidentes provocadas por la continua­
ción de Avellaneda fueron el cambio de itinerario de Zaragoza
a Barcelona y la inclusión del rival en la trama de la obra. Sobre
el primer aspecto resultan elocuentes las palabras de don Q u i­
jote, al término del capítulo 59: «Por el mismo caso ... no pon­
dré los pies en Zaragoza y así sacaré a la plaza del mundo la m en­
tira dese historiador moderno» (II, 59, 12 17 -12 18 ). Es sabido que
el designio de ir a las justas de Zaragoza se presentaba al final de
la Primera parte («sólo la fama ha guardado, en las memorias
de la Mancha, que don Q uijote la tercera vez que salió de su
casa fue a Zaragoza, donde se halló en unas famosas justas que
en aquella ciudad se hicieron, y allí le pasaron cosas dignas de su
valor y buen entendimiento», I, 52, 646-647), y los dos conti­
nuadores -Avellaneda y el propio C ervantes- se hicieron eco de
la invitación con que concluía la novela de 1605. E l cambio
de rumbo comportó la inclusión de nuevas historias (Roque
Guinart, la visita a la imprenta, la aventura de las galeras) y la re­
modelación de algunas ya previstas (la continuación de la histo­
ria de R icote, la derrota del protagonista a manos de Sansón C a ­
rrasco). Es m uy posible que Cervantes se sintiera en la necesidad
de completar cuanto antes su novela, para atenuar los efectos del
apócrifo. Las lógicas prisas implicaron acaso una selección de los
materiales: algunas de las últimas historias (Roque Guinart, la ca­
beza encantada; el episodio de las galeras) son unidades narrati­
vas que exigían relativamente poco esfuerzo al escritor, por tra­
tarse de invenciones cuya estructura y contenido le resultaban
familiares.
CCXIV
PRÓLOGO
Las menciones a la novela de Avellaneda se reiteran en el tra­
mo final de la obra: tras su revelación en el capítulo 59, el apó­
crifo regresa a escena en la imprenta barcelonesa (capítulo 62),
en la visión infernal de Altisidora (capítulo 70), en el encuen­
tro con D on Alvaro Tarfe (capítulo 72) y en el testamento de
Alonso Quijano (capítulo 74). N o faltan ahí algunas imitacio­
nes inequívocas de pasajes de Avellaneda: por ejemplo, la iro­
nía de D on Antonio M oreno dirigida a Sancho, «Acá tenemos
noticia ... que sois tan amigo de manjar blanco y de albondi­
guillas, que si os sobran las guardáis en el seno para el otro día»
(1,-62, 12 3 7 ), remite a un episodio del capítulo 12 apócrifo
(«Y apartándose a un lado, se com ió las cuatro [pellas] con tan­
ta prisa y gusto como dieron señales dello las barbas, que que­
daron no poco enjalbegadas del manjar blanco; las otras dos que
dél le quedaban se las metió en el seno, con intención de guar­
darlas para la mañana», p. 230). Durante la resurrección de A l­
tisidora, en el capítulo 69, un sirviente de los Duques coloca
una coroza en la cabeza de Sancho, para lo que tiene que des­
pojarle de su caperuza. Pero Cervantes no había mencionado
antes ese tocado, que es, en cambio, característico del escude­
ro falso.
Esos indicios de imitación adquieren m uy distinto relieve
cuando parecen advertirse en lugares de la novela anteriores al
capítulo 59. Se ha destacado el parecido entre la destrucción del
retablo de Melisendra (capítulo 26) y el acceso de locura del don
Q uijote apócrifo durante la representación de E l testimonio ven­
gado (capítulo 27 de Avellaneda); asimismo, las dos segundas
partes contienen sendas cartas de Sancho a su mujer, y la del
Quijote de 16 15 lleva, según se ha dicho más arriba, fecha de ju ­
lio de 16 14 . Estas coincidencias parecen desvelar puntos de
contacto previos al capítulo 59, aspectos en los que ha abunda­
do la crítica de los últimos años (Carlos R o m ero M uñoz, Luis
Góm ez Canseco), multiplicando los paralelos -n o todos indis­
putables- entre la continuación de Avellaneda y el Quijote de
16 15 . D e forma análoga, y cuando se suponían abandonadas las
hipótesis sobre algún tipo de influencia anterior a la impresión
(así, que Cervantes hubiese leído el manuscrito de Avellaneda,
como creía R am ó n M enéndez Pidal, o bien que Avellaneda
hubiese sabido de algunos episodios de la continuación cervan­
LA C O M P O SIC IÓ N D EL «Q U IJO T E»
CCXV
tina, como supuso Stephen Gilman), Alfonso M artín Jim énez
ha defendido que Cervantes tuvo acceso al manuscrito de A v e ­
llaneda antes de empezar su continuación, y sostiene que el
Quijote de 16 15 es, desde la primera a la última línea, una obra
marcada por la constante réplica al apócrifo, que se revela com o
fuente principal de la inspiración cervantina.
Son hipótesis que merecen atención y que no carecen de
atractivos. Pero tampoco de problemas. La circulación manus­
crita del Quijote de Avellaneda está lejos de ser un hecho pro­
bado; y, en todo caso, los indicios que acaso apunten a una p o ­
sible difusión de la obra ya en la primavera de 16 13 (según
sostiene Martín Jim énez), no dejan a Cervantes un margen de
tiempo demasiado holgado para escribir la totalidad de la Se­
gunda parte. E l tiempo es también el principal adversario de una
revisión en profundidad llevada a cabo después de la impresión
del apócrifo, pues resulta difícil aceptar que en apenas seis m e­
ses (entre finales del verano de 16 14 , cuando se publicó la con­
tinuación de Avellaneda, y finales de febrero de 16 15 , fecha de
la primera aprobación del Ingenioso caballero) Cervantes haya p o ­
dido no sólo escribir los capítulos 59 a 74, sino transformar im ­
portantes secciones de los capítulos 1 a 58. Se ha prestado m u­
cha menos atención a otra posibilidad, a saber, que Cervantes se
viese sorprendido por la continuación espuria cuando tenía
prácticamente acabada su novela, y que dedicara los meses fina­
les a una tarea de sustitución, modificación e interpolación de
todo lo escrito, a partir de una lectura atenta de su rival. Con todo,
este planteamiento suscita otras dudas: no es fácil explicar que,
a partir de un determinado momento, las referencias a Avella­
neda sean explícitas y meridianas, mientras que en otros puntos
de la novela, y no de forma esporádica, se cifren en clave, como
ju ego privado repetido una y otra vez (e inasequible para el lec­
tor). Si es cierto, como los críticos citados sostienen, que los ca­
pítulos iniciales de la Segunda parte fueron retocados a la luz de
Avellaneda, ¿por qué dejó pasar Cervantes, al hablar de la Pri­
mera parte y de las dudas que suscita en los dos protagonistas, la
inmejorable ocasión de mencionar a Avellaneda? N o o lvi­
demos, además, que el lector ya conoce -d esd e el p ró lo g o la existencia del apócrifo, y que nada, en la lógica interna del
relato, justificaría encubrir esa información hasta el capítulo 59.
CCXVI
PRÓLOGO
La reflexión sobre el peso del autor tordesillesco en el Qui­
jote, pues, tiene que inclinarse por una de las dos conjeturas
siguientes: o bien Cervantes incluyó en su propia obra a esa no­
vela sólo para denunciarla públicamente, o bien quiso integrar­
la como una fuente más, sin declarar su utilización cuando no
le pareció oportuno. Si se opta por la primera respuesta, basta
con aceptar que el libro de Avellaneda determinó el cambio de
itinerario y, a lo sumo, provocó algunos ajustes previos al capí­
tulo $9; si se prefiere la segunda, queda abierto un portillo -d e
quicios m uy variables- a la contemplación del crecimiento de la
novela. E n todo caso, un criterio sensible a esta percepción de
los hechos puede aclarar ciertas incoherencias del relato, al
igual que sucedía en la Primera parte. M ediado el capítulo 58,
tras abandonar el palacio de los Duques, don Q uijote y Sancho
comparten mesa con los pastores de la fingida Arcadia. Después
de la comida, el caballero se enfrenta a un tropel de toros bra­
vos, e inmediatamente después, pero ya en el capítulo $9, los
protagonistas vuelven a comer. A l cabo de la jornada cenan en
una posada del camino, donde conocen la existencia del falso
Quijote. La incongruencia podría ser fortuita, pero resulta sig­
nificativo que se encuentre tan cerca de la primera aparición
manifiesta del apócrifo. Cabe la posibilidad de que Cervantes,
al saber del nuevo libro, detuviera la redacción para planificar
algunos cambios, y decidiera mantener lo escrito hasta el capí­
tulo $8 (recuérdese que don Q uijote desafia a los toros «en m i­
tad de ese camino real que va a Zaragoza», II, 58, 1206), para
reconducir la historia a partir del capítulo 59. N o es imposible
que en esas circunstancias olvidara que al final del capítulo an­
terior sus personajes habían acabado la comida. H ay otras mar­
cas de desmemoria: al comenzar el capítulo 59 se refiere «Al
polvo y al cansancio que don Q uijote y Sancho sacaron del
descomedimiento de los toros» (II, 59, 1209), pero Sancho no
había recibido daño ni cansancio alguno. ¿Simples descuidos,
sin m ayor significación? Los descuidos suelen ser huellas de la
interrupción del hilo del discurso, y en este caso (como en las
dos cenas del capítulo 42 de la Primera parte) un alto en la na­
rración puede resultar significativo.
En suma, la Segunda parte del Quijote, frente a la Primera,
trasluce un proceso de elaboración menos atormentado. C er-
LA C O M P O SIC IÓ N D EL «Q U IJO T E»
CCXVII
vantes probablemente compuso la novela a lo largo de un p e­
ríodo de tiempo extenso y a la vez que escribía y revisaba otras
obras (el Viaje del Parnaso, el Persiles, los libros que aún promete
en su lecho de muerte), y es posible que detuviera la redacción
para concentrarse en alguno de los proyectos que acometió en
sus años finales, ricos en actividad creativa y editorial. Según
parece, estas circunstancias no dejaron huellas significativas en
la obra, que manifiesta un pulso sostenido. La estructura acci­
dentada del Quijote de 1605 pone de reheve que Cervantes de­
sarrolló y perfeccionó su libro a medida que lo reescribía: las
renuncias, los arrepentimientos y las incoherencias del texto
permiten evocar un apasionante proceso de arquitectura n ove­
lística. La obra de 16 15 se beneficia de ese aprendizaje: a partir
de la novela precedente y de los juicios de los lectores, a cuya
opinión siempre fue sensible, Cervantes planea una ficción que
completa —y, en cierto sentido, rectifica-^ las posibilidades de su
antecesora. Sólo un imprevisto, la osadía de Avellaneda, pudo
desafiar al diseño original; el ardor de ese último combate se
manifiesta a las claras en el tramo final de la novela, prólogo in­
cluido. La influencia del apócrifo sobre la Segunda parte cer­
vantina promete ser, en los próxim os años, el más activo foco
de debate sobre la composición de la obra.
N O TA B IB LIO G R Á FIC A
i. E l trabajo más importante sobre la fecha de composición de la obra, por
acopio de información y prudencia en el manejo de los datos, es el artícu­
lo de Geoffrey Stagg «Castro del R ío , ¿cuna del Quijote?», Clavileño, X X X V I
( I 955 )> PP· ι - i i . Otras monografías de interés son las de Francisco R o d rí­
guez Marín, «La cárcel en que se engendró el Quijote», en Estudios cervanti­
nos, Atlas, Madrid, 1947, pp. 65-77, qúe resume las propuestas de la crítica
decimonónica; -y Em ilio O rozco Díaz, «¿Cuándo y dónde se escribió el
Quijote de 1605?», en Cervantes y la novela del Barroco, Universidad de G ra­
nada, 1992, pp. 1 13 - 12 8 . Luis Andrés M urillo, en The Golden Dial. Tempo­
ral Configuration in '«Don Quijote», T he Dolphin B o o k, O xford, 1975, pp.
72-92, propone uña cronología completa y detallada de la Primera parte,
que divide en cinco fases de elaboración. Por último, hay breves considera­
ciones en Daniel Eisenberg, A Study of «Don Quixote», Juan de la Cuesta,
N ew ark, 1987, p. 35, n. 89; y Edward C . R ile y , Introducción al «Quijote»,
Crítica, Barcelona, 1990, p. 4 1. E l mejor análisis de las disquisiciones en tor-
CCXVIII
PRÓLOGO
no a la hipotética novela corta original es el de Erw in Koppen, «Gab es ei­
nen Ur-Quijote? Z u einer Hypotese der Cervantes Philologie», Romanisti­
sches Jahrbuch, X X V II (1976), pp. 330-346 (trad, española, «¿Hubo una pri­
mera versión del Quijote? Sobre una hipótesis de la filología cervantina», en
Thomas Mann y Don Quijote, Ensayos de literatura comparada, Gedisa, Barce­
lona, 1990, pp. 15 9 -18 1). U n nuevo enfoque del problema, así como argu­
mentos convincentes para la datación de la historia del cautivo, en Luis A n­
drés M urillo, «El Ur-Quijote: nueva hipótesis», Cetvantes, I (1981), pp. 43-50.
Sobre el carácter independiente de la historia de R u y Pérez de Viedma y su
posterior unión al Quijote, véase Franco Meregalli, «De Los tratos de Argel a
Los baños de Argel», en R izel Pincus Siegle y Gonzalo Sobejano, eds., Ho­
menaje a Casalduero. Critica y poesía, Gredos, Madrid, 1972, pp. 395-409. Las
precisiones sobre la parodia de los libros de caballerías y sus vínculos con la
fecha de la obra pueden completarse con Peter E . Russell, «The Last o f the
Spanish Chivalric Rom ances: Don Policisne de Boecia», en R o bert B . Tate,
ed., Essays on Narrative Fiction in the Iberian Peninsula in Honour o f Frank Pier­
ce, The Dolphin B ook, O xford, 1982, pp. 14 1 - 1 5 2 , E l principal estudio so­
bre las relaciones entre los capítulos iniciales del Quijote y el Entremés de los
romances es el discurso de R am ó n Menéndez Pidal «Un aspecto en la elabo­
ración del Quijote», pronunciado en el Ateneo de M adrid en 1920; puede
leerse en De Cetvantes y Lope de Vega, Espasa-Calpe, Madrid, 1940, pp. 960. Véase también Geoffrey Stagg, «Don Quijote and the Entremés de los R o ­
mances: A Retrospective», Cetvantes, X X II [2] (2002), pp. 12 9 -15 0 , que se­
ñala 159 2 como fecha más probable de composición del entremés; a
continuación de este artículo (pp. 15 1-17 4 ), el propio Stagg y Daniel Eisenberg ofrecen una edición de la pieza, con identificación de los romances ci­
tados. Ténganse en cuenta asimismo Antonio Pérez Lasheras, «El Entremés
de los romances y los romances del Entremés», en La recepción del texto literario,
Casa de Velázquez-Universidad de Zaragoza, Zaragoza, 1988, pp. 6 1-76;
Alfredo Baras, «El Entremés de los romances y la novela corta del Quijote», en
Actas del III Coloquio Internacional de la Asociación de Cervantistas, Anthropos,
Barcelona, 1993, pp. 3 3 1-3 3 5 · La cita de Avellaneda se ha tomado de la edi­
ción de Martín de R iquer, Segundo tomo del ingenioso hidalgo don Quijote de
la Mancha, Espasa-Calpe, Madrid, 1972, 3 vols.
2. Los trabajos fundamentales sobre la elaboración de la Primera parte se de­
ben a Geoffrey Stagg: «Revision in Don Quixote Part I», en Studies in Honour
of I. Gonzalez Llubera, ed. Frank Pierce, Oxford, 1959, pp. 347-366 (trad, es­
pañola, «Cervantes revisa su novela», Anales de la Universidad de Chile,
C X X IV , 1966, pp. 5-33); «Sobre el plan primitivo del Quijote», en Actas del
I Congreso Internacional de Hispanistas, ed. Frank Pierce y Cyril A. Jones, O x ­
ford, 1964, pp. 463-471. Las conclusiones de Stagg han sido revisadas y am­
pliadas por R obert M . Flores en «Cervantes at W ork: T he W riting o f Don
Quixote, Part I», Journal of Hispanic Philology, III (1979), pp. 13 5 -15 0 . Sobre
la «tardía segmentación en partes y capítulos» en el curso de la cual Cervan­
tes decidió calificar al héroe de «ingenioso» y probablemente eligió el título
L A C O M P O S I C I Ó N D E L « Q U IJ O T E »
CCXIX
de E l ingenioso hidalgo de la Mancha, véase Francisco R ic o , «El título del Qui­
jote», Bulletin of Spanish Studies, L X X X I (2004), pp. 5 4 1-5 5 1; sobre otros as­
pectos de la division en capítulos de la Primera parte, Raym ond S. Willis,
Jr., The Phantom Chapters of the «Quijote», Hispanic Institute in the U nited
States, N ueva Y ork, 1953. José M anuel Martín M orán, en E l «Quijote» en
ciernes: los descuidos de Cervantes y ¡asfases de elaboración textual, D ell’ Orso, T u ­
rin, 1990, ha estudiado las inconsistencias narrativas de la obra como indicio
de sus fases de construcción. E l papel de Cide Hamete se estudia en el ar­
tículo de R o b ert M . Flores «The R o le o f Cide Ham ete Benengeli», Bulle­
tin of Hispanic Studies, L IX (1982), pp. 3 -14 . Por último, la cita de Otis H.
Green pertenece a «El ingenioso hidalgo», Hispanic Review, X X V (1957),
pp. 17 5 -19 3 .
3. La única propuesta de conjunto sobre las fases de elaboración de la Se­
gunda parte se encuentra en Luis Andrés M urillo, The Golden Dial. Tempo­
ral Configuration in «Don Quijote», The Dolphin B o o k, O xford, 1975, pp.
10 2 - 110 , que puede completarse y compararse con las hipótesis de D aniel
Eisenberg en «El rucio de Sancho y la fecha de composición de la Segunda
parte del Quijote», Nueva Revista de Filología Hispánica, X X V (1976), pp. 94X02, y, de forma más general, en A Study o f «Don Quixote», Ju an de la C ues­
ta, N ew ark, 1987, pp. 13 5 y 17 3 . Joseph Sanchez, en «A N ote on the Date
o f Composition o f Don Quijote», Hispanic Review, IV (1926), pp. 375-378,
ha destacado y evaluado la mención del Quijote en E l caballero puntual de Sa­
las Barbadillo. H oy debemos descartar toda interferencia del proceso de re­
dacción de las Novelas ejemplares en la elaboración de la Segunda parte del
Quijote, puesto que aquéllas parecen ser coetáneas a la Primera parte, según
sostiene, con argumentos difícilmente rebatibles, Francisco R ic o , «Sobre la
cronología de las novelas de Cervantes», Mélanges Jean Canavaggio, en pren­
sa. E l artículo de R o b ert M . Flores «More on the Compositors o f the First
Edition o f “ D on Q uixote” , Part II», Studies in Bibliography, X L III (1990),
pp. 272-285, supone un intento de explicar las incoherencias narrativas del
capítulo 45 desde la bibliografía material; para una explicación atenta al
modo en que solían realizarse materialmente los añadidos e interpolaciones
en libros e impresos, véase Francisco R ic o , «El original del Quijote: del bo­
rrador a la imprenta», Quimera, C L X X III (octubre de 1998), p. 1 1 . E l aná­
lisis de las anomalías narrativas de la Segunda parte ha sido intentado por
José M anuel Martín M orán en E l «Quijote» en ciernes, pp. 199-225. Estudian
la influencia entre Avellaneda y Cervantes, y su efecto sobre la composición
de la Segunda parte, con los distintos enfoques reseñados, R am ó n M enéndez Pidal, «Un aspecto en la elaboración del Quijote», en De Cetvantes y Lope
de Vega, cit., p. 60,· n. 6; Stephen Gilman, Cervantes y Avellaneda, Estudio de
una imitación, E l Colegio de M éxico, M éxico, 19 5 1, pp. 16 7 -17 6 ; Martín de
R iq uer, prólogo a Alonso Fernández de Avellaneda, Segundo tomo del inge­
nioso hidalgo don Quijote de la Mancha, Espasa-Calpe, Madrid, 1972, I, pp.
x x x v - x x x i x , y Cervantes, Pasamonte y Avellaneda, Sirmio, Barcelona,
1988; Nicolás Marín, «Camino y destino aragonés de don Quijote», Anales
ccxx
PRÓLOGO
Cervantinos, X V II (1978), pp. 53-66, y «Reconocim iento y expiación. Don
Juan, don Jerónim o, don Alvaro, don Quijote», en A . Gallego M orell, A.
Soria y N . Marín, eds., Estudios sobre literatura y arte dedicados al profesor Em i­
lio Orozco Díaz, Universidad de Granada, 1979, II, pp. 323-342 (ambos
reimpresos en sus Estudios literarios sobre el Siglo de Oro, ed. A. de la Granja,
Universidad de Granada, 1988, pp. 2 3 1-2 4 7 y 249-271 respectivamente);
Carlos R o m ero M uñoz, de entre cuyos trabajos consagrados a la cuestión
cabe destacar, como muestra característica de su argumentación, «“ Anim a­
les inmundos y soeces” (Quijote, II, 58-59 y 68)», Rassegna Iberistica, L X III
(1998), pp. 3-24, y «Genio y figura de Teresa Panza», en Peregrinamente pe­
regrinos. Actas del V Congreso Internacional de la Asociación de Cervantistas, A so­
ciación de Cervantistas, Palma de Mallorca, 2004, especialmente pp. 13 3 13 7 , donde resume las aportaciones de artículos anteriores; Luis Góm ez
Canseco, «Cervantes contra la hinchazón literaria (y frente a Avellaneda
16 13 -16 15 )» , en Cavantes en Italia. Actas del X Coloquio Internacional de la
Asociación de Cervantistas, Asociación de Cervantistas, Palma de Mallorca,
2001, pp. 12 9 -14 7 , así como el prólogo a su edición de la continuación apó­
crifa (Alonso Fernández de Avellaneda, E l ingenioso hidalgo don Quijote de la
Mancha, Biblioteca N ueva, Madrid, 2000); Alfonso Martín Jim énez, E l
«Quijote» de Cervantes y el «Quijote» de Pasamonte, una imitación reciproca,
Centro de Estudios Cervantinos, Alcalá de Henares, 2001. Las citas de la
continuación de Avellaneda se dan por la edición de M artín de R iquer.
8.
H IST O R IA D EL T E X T O
Francisco R ico
Las ediciones de Robles
P or agosto de 1604, cansado quizá de mendigar entre grandes
señores y «poetas celebérrimos» sin dar con ninguno «tan necio
que alabe a Don Quijote» (o así lo contaba la mala lengua de
Lope de Vega), M iguel de Cervantes debió decidirse a com po­
ner él mismo los versos burlescos que ocupan en el Ingenioso hi­
dalgo el lugar que en otros volúm enes de la época corresponde
a una sarta de loas al autor y a la obra; y en la misma sentada
hubo de escribir también la «prefación» en que ajusta las cuen­
tas con «la inumerabilidad y catálogo de los acostumbrados so­
netos, epigramas y elogios que al principio de los libros suelen
ponerse» (I, Prólogo, 10).
La concentración en las piezas preliminares supone que el
resto del Quijote estaba ya en vías de publicación. Pocos o m u­
chos meses atrás (los trámites administrativos solían ser largos),
Cervantes, pues, había presentado al C onsejo de Castilla el ori­
ginal de la novela (acaso titulada entonces E l ingenioso hidalgo de
la Mancha), solicitando la licencia indispensable para imprimir­
la, y sin duda tenía apalabrada la edición con Francisco de R o ­
bles, acreditado «librero del R e y nuestro Señor» y hombre de
negocios diversos (y de diversos grados de licitud). C om o edi­
tor, R ob les no mostró nunca demasiado interés por la literatu­
ra, pero el éxito del Guzmän de Alfarache le tuvo que hacer ver
las posibilidades comerciales de la narrativa de aire realista, y en
1603 las tanteó con buen pie sacando a la luz el Viaje entreteni­
do de Agustín de R ojas; de suerte que no vaciló en apostar
fuerte por el Quijote e invertir en él un m ínimo de entre siete
y ocho m il realfes.
Mientras el papel se llevó casi la mitad del presupuesto (y al
autor le tocaría alrededor de un quinto), sólo la cuarta parte del
total, aproximadamente, estaba destinada a pagar, a siete reales
y medio por resma, la com posición e impresión del libro. R o c cx x i
CCXXII
PRÓLOGO
bles confió esa tarea, cuando lo hiciera, a uno de los más acep­
tables entre los pocos talleres que el traslado de la Corte había
dejado a orillas del Manzanares: la vieja imprenta de Pedro M a­
drigal, ahora propiedad de la viuda, M aría R odríguez de R i valde, cuyo yerno desde 1603, Juan de la Cuesta, actuó de re­
gente entre 1599 y 1607, año en que salió huyendo de Madrid
(aunque su nombre perviviera cerca de dos decenios más en los
productos de la casa).
E l original presentado por Cervantes al Consejo R e a l segu­
ramente no fue, desde luego, un manuscrito autógrafo, sino
una copia en limpio realizada por un amanuense profesional
particularmente atento a la claridad de la escritura y la regula­
ridad de las páginas. Tal era el proceder seguido en la inmensa
mayoría de los casos (si no se trataba de una reimpresión), tan­
to para hacer más cómoda la lectura a censores y tipógrafos
como en especial para que la imprenta -d o n d e los libros no se
com ponían siguiendo el orden lineal del texto, porque no lo
permitía la escasez de tipos- pudiera calcular fácilmente qué
partes de un manuscrito en prosa equivalían a cada una de las
planas discontinuas del impreso contenidas en una forma, es de­
cir, en una cara del pliego.
U na vez acabado por el amanuense, ese original era com ún­
mente revisado por el autor, para colmar lagunas, tachar o co­
rregir ciertos fragmentos e incluir adiciones marginales, entre
líneas, en banderillas o en folios intercalados o añadidos al final.
Tales modificaciones, y otras menores o mayores, hasta afectar
a la misma estructura de la obra (redistribuyéndola, por ejem­
plo, en libros y capítulos), se introducían a veces mediante sig­
nos de llamada o indicaciones expresas que remitían de unos
lugares del manuscrito a otros, con el consiguiente peligro de
confusiones por parte de los cajistas. Es lícito conjeturar que al­
gunas de las anomalías más ostensibles en el Quijote (omisiones,
rupturas de la continuidad, epígrafes erróneos, etc.), tanto si
son culpa del novelista como si se deben a los impresores, tie­
nen su origen en semejante m odo de trabajar.
Sería, pues, un original con no pocas variaciones respecto al
autógrafo el que llegara al Consejo y, desde ahí, a los censores
encargados de aprobarlo, para que a su vez el escribano Juan
Gallo de Andrada lo rubricara página por página y el secretario
H ISTO RIA DEL TEXTO
CCXXIII
Ju an de Amézqueta despachara el oportuno privilegio real a 26
de septiembre de 1604. H ay indicios para sospechar que la n o­
vela no escapó de la censura enteramente indemne: así, la in­
congruencia del m omento en que se precisa que don Q uijote
«queda descomulgado por haber puesto las manos violenta­
mente en cosa sagrada» (I, 19, 225) tal vez responda a la con­
veniencia de salvar desmañadamente el expurgo o la objeción
de un espíritu escrupuloso. Pero no podemos saber si C ervan­
tes, como a menudo se hacía, insertó todavía cambios en el ori­
ginal rubricado.
E n cualquier caso, la imprenta hubo de ponerse inmediatamente a la labor. E n efecto, el conjunto del Ingenioso hidalgo es
un volum en de seiscientas sesenta y cuatro páginas, en ochen­
ta y tres pliegos en cuarto (conjugados, salvo el primero y los
dos últimos, en cuadernos de dos pliegos); pero los ochenta que
constituyen el grueso del libro, del comienzo del relato al «Fin
de la tabla» (aparte, pues, los preliminares), se compusieron y
tiraron en los dos meses justos que median entre el 26 de sep­
tiembre y el primero de diciembre de 1604. N o nos las habe­
rnos, ciertamente, con ninguna obra maestra de la tipografía:
todo ahí, desde el papel del Monasterio del Paular hasta la letra
del texto (una atanasia: a grandes rasgos, una redonda de la pro­
le de Garamond, del cuerpo catorce), se mantiene en el nivel
medio de la imprenta española de la época, un nivel que sólo
cabe calificar de bajo. N o obstante, ningún juicio al respecto
debe descuidar que el Quijote se hizo en un lapso excepcional­
mente breve.
E l taller de Cuesta se nutría entonces de una veintena de
operarios (la proporción solía ser de unos cinco por prensa),
que simultanearon el Ingenioso hidalgo con un gordísimo infolio
de Ludovico Blosio, «luz de la vida espiritual» (Cervantes, al
parecer, scripsit) y uno de los best-sellers del período. El primer
paso correspondía al corrector, quien, según la usanza, revisa­
ría el original para señalar en un cierto número de páginas los
criterios de regúlarización ortográfica y de puntuación a que en
principio debíán atenerse los componedores. N o menos de tres
de ellos, verosímilmente reemplazados o reforzados a ratos por
otros colegas o aprendices, se afanaron después, a lo largo de
octubre y noviembre (quizá incluso en las fiestas, a condición
CCXXIV
PRÓLOGO
de oír misa), en la confección de los ochenta pliegos del texto
y el índice, con una cadencia de pliego y medio diario, a for­
ma (cuatro planas) por barba de cajista. Tal ritmo era superior
al normal, si, como hay que pensar, la tirada fijada por R obles
no fue de un millar, sino de m il quinientos o mil setecientos
cincuenta ejemplares, y es probable que en ocasiones obligara
a emplear dos prensas, com o más regularmente se venía ha­
ciendo desde ju lio con el tomazo de Blosio. T odo el volum en
se elaboró porformas, contando el original, vale decir, deslindando
previamente en el manuscrito las porciones que iban a corres­
ponder a las cuatro páginas no seguidas que se repartían en cada
una de las caras de los pliegos impresos (por ejemplo, la cara ex­
terior del pliego exterior del cuaderno A comprende los folios
i , 2v, 7 y 8v), de manera que varios componedores pudieran
trabajar al mismo tiempo, ya fuera coordinándose en las dos
formas de un pliego, ya en los dos pliegos de un cuaderno o en
diversas secciones de la obra.
Acabados los ochenta pliegos en cuestión, Francisco M urcia
de la Llana, a quien competía verificar que concordaban con el
original rubricado, firmó el primero de diciembre la oportuna
certificación («Testimonio de las erratas», 4), que los tipógrafos
añadieron en seguida a los preliminares (Privilegio, Prólogo,
etc.) que ya tenían compuestos en dos cuadernos (con las sig­
naturas í y ??). Sin embargo, como la «Tasa» (3) imprescindi­
ble para que el libro pudiera circular tenía que expedirse en la
Corte, Cuesta, siguiendo las instrucciones de R obles, dejó en
blanco el folio 2 recto del pliego de la portada (donde, con as­
tucia siempre corriente en el gremio, figuraba como año el de
1605, no el de 1604 que en rigor debiera). Las hojas con ese es­
tadio incompleto de los cuadernos 5 y í í , y las hojas con los
otros ochenta pliegos, ambas en la cantidad que el editor dis­
pusiera, salieron al punto para Valladolid; y, una vez en pose­
sión de la «Tasa», fechada a 20 de diciembre, R ob les encargó al
taller que allí había abierto Luis Sánchez que la compusiera e
insertara en el folio Ï 2 recto, agenciándose así, para la venta y
los compromisos protocolarios, tantos ejemplares provisionales
cuantos juegos de dichas hojas hubiese ordenado preparar. La
m ayor parte de la tirada, la que se había quedado en Madrid
con el folio Í 2 recto en blanco, hubo de ultimarla Cuesta a no
H ISTO RIA DEL TEX TO
ccxxv
tardar. Por ende, el Quijote debió de leerse en Valladolid para
la Nochebuena de 1604, mientras los madrileños posiblemente
no le hincaron el diente hasta R eyes de 160$.
N unca sabremos con exactitud en qué medida afectaron al
texto cervantino el m odo de producción del volum en y las cir­
cunstancias que lo condicionaron. Algunos percances del pro­
ceso no tuvieron mayores consecuencias, o aun las tuvieron
positivas: por ejemplo, que las siete formas de los cuadernos A
y B en que se inicia el relato tuvieran que componerse dos ve­
ces -p orque Cuesta se había quedado por debajo de la tirada
encargada por R obles— nos brinda un par de valiosas correc­
ciones aportadas por los mismos cajistas del primer estado.
Otros, en cambio, han dejado huellas tan manifiestas com o la­
mentables: las prisas por acabar el pliego f , atestiguadas por la
misma existencia de una «Tasa» vallisoletana, sin duda m otiva­
ron que la dedicatoria escrita por Cervantes no estuviera a
mano y fuera sustituida por otra apócrifa urdida con retazos de
Fernando de Herrera. Pero en muchas ocasiones no podemos
estimar el alcance de los incidentes tipográficos. Así, más de
cuarenta páginas, sobre todo en la segunda mitad, tienen un
número de líneas superior o inferior al normal, como resulta­
do de los ajustes que los componedores se vieron obligados a
hacer para que determinadas partes del original entraran en los
lugares previstos del impreso; y cuando se presentaban proble­
mas de esa índole, comunísimos, los cajistas a menudo salían
del paso mediante pequeños cortes o adiciones (pequeños, o no
tanto: hasta diez renglones se añadieron en una plana de la ter­
cera edición de Cuesta).
Sin embargo, la más grave lacra de la princeps es la formidable
cantidad de erratas. Desde la portada (que en bastantes ejem­
plares trae Burgillos por Burguillos) hasta la última palabra del
texto (plectio por plectro), no hay especie de gazapo que no ten­
ga su asiento en el Ingenioso hidalgo de 1604. Las erratas de en­
mienda tan indudable como las recién citadas se extienden a
varios cientos, mientras en las Novelas ejemplares y en el Persiles,
de similar extensión, rondan sólo el centenar. Fácil es, pues,
imaginar cuántos deslices más insidiosos, por menos patentes,
no se habrán producido en multitud de pasajes: los epígrafes de
los capítulos -ú n ica parte del original que fue leída y com -
CCXXVI
PRÓLOGO
puesta por partida doble, puesto que la «Tabla» se compiló di­
rectamente sobre aquél, y no sobre las capihas impresas— nos
revelan que ya en el primero de ellos se omitió uno de los dos
adjetivos aplicados al protagonista («famoso y valiente»), mien­
tras en otros caterva se trivializaba en turba, discreción se mudaba
en discordia, etc., etc.
A corto plazo, en las semanas inmediatas a su aparición, el
éxito del Quijote fue grande. E l 26 de febrero de 160$, Jo rge
R odríguez había obtenido «lisença do Santo Officio» para pu­
blicar la novela en Lisboa; el 27 de marzo, Pedro Crasbeeck te­
nía en marcha allí mismo otra impresión, y en octavo, para
venderla más barata. Francisco de R o b les no era menos avispa­
do que los portugueses y no tardaría en poner manos a la obra
en una segunda edición. La premura con que se acometió la ta­
rea fue tanta, que para ganar apenas quince días los cuadernos
M m -Q q se confeccionaron en la Imprenta R eal, y no, como
el resto del volum en, en casa de Ju an de la Cuesta. La tirada fue
de m il ochocientos ejemplares, y el libro pudo estar en la calle
no ya en abril, sino incluso en marzo. En la portada se asegu­
raba contar «Con privilegio» para «Aragón y Portugal», pero no
nos consta que Cervantes lo pidiera (quizá todavía en 1604)
más que para Portugal y Valencia; y, tras concedérsele, sería
m uy raro que se lo hubiera cedido a R obles, como acabó ha­
ciendo, sin una adecuada compensación.
Pese a la urgencia con que se estampó, el Quijote de veras de
1605 (la princeps pertenece en realidad al año anterior, y a ratos
nos será cóm odo identificarla con la m ención de ese año) no es
una mera reimpresión, sino, diríamos hoy, una edición corregida
y aumentada. Cuando se coteja con los de Lisboa o, en general,
se atiende al modo de proceder en la inmensa mayoría de los
otros que vieron la luz en el siglo x v i i , el madrileño se revela
diáfanamente como fruto de un deliberado trabajo de revisión,
enderezado a salvar descuidos e incoherencias que en Lisboa
pasan inadvertidos o a introducir enmiendas del todo extrañas
a las costumbres y capacidades de los cajistas de antaño.
Podem os estar seguros de que las dos variaciones más rele­
vantes respecto al texto de 1604 se deben al propio Cervantes
y fueron incorporadas por él mismo a un ejemplar de la princeps
(o a los pliegos correspondientes de un ejemplar de la princeps:
H ISTO RIA DEL TEXTO
CCXXVîl
recuérdese que en la época los libros circulaban sin encuader­
nar). En efecto, las dos largas interpolaciones (entre ambas, cer­
ca de ochenta lineas) que intentan remediar las sorprendentes
desapariciones y reapariciones del asno de Sancho Panza (véan­
se I, 23, n. 18, y 30, n. 68) se muestran sistemáticamente acor­
des, hasta en aspectos mínimos, con los usos lingüísticos y esti­
lísticos cervantinos, y llegan a coincidir con rasgos que nadie
podía identificar, porque no ocurren en ningún otro m om en­
to de la Primera parte y únicamente vuelven a encontrarse, diez
años después, en la Segunda. P o r otro lado, el anacoluto y
la frase que enlazan el inserto sobre la pérdida del rucio con la
versión de 1604 («el cual, como entró por aquellas montañas,
se le alegró el corazón...») son tan característicos de nuestro es­
critor y, por su insignificancia, habían de resultar tan imper­
ceptibles, que sólo a aquél cabe atribuirlos. Cervantes, por tan­
to, no se limitó a redactar las dos interpolaciones y encargar que
otro las zurciera donde m ejor cuadraran, sino que, con la prin­
ceps ante los ojos, marcó «por sus pulgares» el lugar preciso en
que le pareció (erróneamente) que convenían y modificó ahí el
texto primitivo para casarlo con el nuevo.
La certeza de esa intervención —culpable de que una tercera
parte del libro no pudiera reproducir la princeps a plana y ren­
glón, con el lógico aumento de costes- concede al volum en de
1605 un valor que en los últimos tiempos no ha solido reco­
nocérsele. Es inconcebible que con un libro flamante en las
manos, a largos años de La Galatea, y forzado a retocarlo en
ciertos aspectos, Cervantes no lo hojeara de punta a cabo y, sa­
biendo que tenía que entregarlo a la imprenta, no aprovechara
para subsanar algunas erratas que le llamaran la atención y ha­
cer los pequeños cambios a que siempre invita el repaso de una
obra recién publicada. Entre las variantes de 1605, hay algunas
inconfundiblemente cervantinas (véase sólo I, 26, 319, n. 12),
pero, supuesto que el autor hubo de bregar con un ejemplar del
Quijote de 1604, todas pueden legítimamente ser reputadas por
tales.
*
Desde luego, es evidente que Cervantes no releyó la novela
línea por línea, corrigiéndola metódicamente, porque de ha­
berlo hecho, por distraído que fuese (y lo era bastante), no se
hubiera equivocado com o se equivocó al situar la primera in-
CCXXVIII
PRÓLOGO
terpolación sobre el asno en un capítulo (I, 23) en que nada
arreglaba. N o hay que pensar en cosa semejante a la escrupu­
losa lectura de pruebas de un Galdós o un Cam ilo José Cela,
sino en un picoteo aquí y allá, echando un vistazo a un episo­
dio, deteniéndose un poco en tal o cual página, saltándose las
más... E n esa rápida travesía por el texto, pudo enmendar m u­
cho o poco, m ejor o peor, pero es sumamente improbable que
se contentara con intercalar los dos pasajes en torno al robo del
jum ento. Lo prudente está en suponer que no son del escritor
las variantes que se explican por los mecanismos familiares a
la crítica textual y obedecen a la fenom enología habitual de la
transcripción. N i siquiera esas, sin embargo, son acreedoras de
un estatuto particular: tomadas una por una, en pura teoría, to­
das las correcciones significativas de 1605 tienen la misma pro­
babilidad de deberse a Cervantes, sean llamativas o discretas,
buenas o malas (porque, ante una copia o una impresión, los
autores también caen en la lectio facilior y otras emboscadas).
Personalmente, opinamos que no pasan de una veintena las que
reúnen las condiciones necesarias para considerarlas cervanti­
nas. Pero el hecho es que ante pocas nos cabe aseverar que lo
son o no lo son.
La segunda edición debió de venderse bien, aunque no es­
pectacularmente (no, en especial, com o el Guzmán de Alfara­
che, la meta soñada), y a finales de 1607 no quedaban ejempla­
res en la tienda de R obles. N o es de creer que le hicieran gran
competencia las dos impresiones de Lisboa (la de Jo rge R o d rí­
guez aún no se había agotado en 16 16 ) ni la valenciana de 1605,
destinadas a otros mercados (la cuidadísima de Bruselas salió
cuando mediaba 1607). Sencillamente, el Quijote había dejado
de ser la novedad de gran moda, y hasta entrado 1608 no se sin­
tió la necesidad de una tercera edición, ahora sintomáticamen­
te más apretada de letra, para emplear menos papel y ofrecerla
a m ejor precio.
Estampada «por Juan de la Cuesta» (pero nos hallamos ya sólo
ante una marca comercial: el individuo de carne y hueso lleva­
ba meses huido de la Villa y Corte), y de nuevo al tiempo que
el mamotreto de Blosio, la edición de 1608, con fe de erratas
de ju n io , se atiene esencialmente a la segunda, pero, com o ella,
si con menos fundamento, no quiere confinarse a una simple
H IST O R IA DEL TEX TO
CCXXIX
reimpresión. En efecto, el texto muestra a veces haber sido re­
visado por un corrector que reparó algunas de las inconse­
cuencias (a cuenta del asno) que las otras imprentas españolas
del Seiscientos mantuvieron luego tranquilamente y obvió con
destreza ciertos errores de enmienda impensable por parte de
un honrado cajista. Desde antiguo se ha preguntado si el tal co­
rrector no sería el propio Cervantes.
Las respuestas al propósito van desde la afirmación tan deci­
dida cuanto mal razonada de Juan Antonio Pellicer (1797-1798)
hasta la negativa implícita de quien como R .M . Flores (1980)
pretende que el novelista ni siquiera se enteró de que existían
la segunda y tercera edición madrileñas. Ocurre, no obstante,
que varios de los añadidos que Pellicer juzga «mejoras» de C e r­
vantes son inequívocos postizos introducidos en la imprenta
para rellenar una página que estaba quedando corta. Por otra
parte, no sólo es necesario pensar que el autor tuvo noticia de
las ediciones de 1605 y 1608 (que probablemente le reportaron
incluso algunos dineros), sino que todo incita a presumir que
asistió de cerca a la elaboración de la última.
E n 1608 Cervantes vive en el barrio de Atocha, a cuatro pa­
sos del taller donde se imprime el Quijote y a otros tantos del
establecimiento de R ob les (y cuando se traslade será para arri­
mársele todavía más). Sabíamos que con el librero tiene enton­
ces tratos económicos (a finales del año anterior resulta adeu­
darle cuatrocientos cincuenta reales), y recientemente hemos
averiguado también que entre 1607 y 1 6 1 1 colabora con él en
tareas editoriales, como m ínimo escribiendo, para que R ob les
las firme, un par de hermosas dedicatorias.
C o n ese trasfondo, no es sostenible la hipótesis de que no
supo lo que se guisaba en sus mismísimas narices. Por el con­
trario, hay que dar por supuesto que estaría puntualmente in­
formado de la marcha del proyecto y visitaría la imprenta con
alguna asiduidad, viendo, con más interés aun que don Q uijo­
te en Barcelona, «tirar en una parte, corregir en otra, com po­
ner en ésta, enmendar en aquélla» (II, 62, 1248), y, como m u­
chos autores hacían, aclarando dudas ocasionales y echando una
mano cuando se terciara en la corrección de probas. Q ue la par­
ticipación de Cervantes no fue regular parece asegurarlo el des­
acierto de muchas lecturas, mientras el tino de otras y el tiem-
ccxxx
PRÓLOGO
po y lugar de la edición inclinan a sospechar que sí se produjo
de manera esporádica. Los indicios del texto no desmienten las
razonables inferencias del contexto. Pero, tampoco ahora, ni
unos ni otras tienen fuerza para im poner una solución en los
casos de duda.
Poco o mucho espoleado por la continuación del Quijote que
firmaba el apócrifo «Alonso Fernández de Avellaneda», C er­
vantes acabaría la suya en los últimos meses de 16 14 , aproxi­
madamente por los días en que caducaba (o pedía ser renova­
do) el privilegio del Ingenioso hidalgo, y no la vería toda de
molde hasta el otoño de 16 1 $ . E l frontispicio y la aprobación
del licenciado M árquez Torres la llaman Segunda parte del inge­
nioso caballero don Quijote de la Mancha, pero estamos lejos de
poder ju rar que el autor no la hubiera bautizado simplemente
Segunda parte de don Quijote de la Mancha. Y en tanto las Nove­
las ejemplares (16 13) anuncian desde la portada el privilegio para
«los reinos de la Corona de Aragón» (que al parecer se hizo es­
perar), la Segunda parte no lo trae sino para Castilla.
Si el prim er Quijote se fabricó en un plazo brevísimo, con el
segundo da la impresión de que nadie tuvo prisas, pero los re­
sultados no fueron mejores. Otorgado el privilegio a 30 de
marzo, la impresión (nominalmente, siempre «por Ju an de la
Cuesta») tardaría en comenzarse o se arrastraría perezosa entre
otros quehaceres, porque el cuerpo del libro no se terminó
hasta el 2 1 de octubre. Fuera cual fuera la tirada, que ignora­
mos pero conviene poner en la cota alta, seis meses largos para
un tomo en cuarto de quinientas sesenta y ocho páginas (se­
tenta y un pliegos, completados en noviem bre con los dos
del cuaderno preliminar) quieren decir que la publicación no
urgía.
La parsimonia de 16 15 no dio, insisto, resultados más felices
que las prisas de diez años atrás. Materialmente, la Segunda par­
te tenía que hacer ju ego no con la princeps de L604, sino con la
tercera edición del Ingenioso hidalgo, aún sin agotar en las libre­
rías, y efectivamente lo hace en varios particulares (como los
treinta y cuatro renglones por plana), si acaso afeándola con ti­
pos y papel más ruines. En otros aspectos, el paso del original
por el taller debió repetir la misma rutina de las ediciones an­
teriores (revisión por el corrector, com posición por formas,
H ISTO RIA DEL TEX TO
CCXXXI
etcétera), y no hay motivos para estimar que sobrevinieran pro­
blemas como los que dieron un carácter tan anómalo al pliego
? de 1604, con su falsa dedicatoria y la ausencia de aprobacio­
nes. Los incidentes fueron ahora los normales: hubo que reha­
cer tres pliegos (de los cuadernos A , G y Q) y no pasan de
treinta las páginas con más o menos líneas de las debidas y don­
de por ende son especialmente de temer podas o agregados de
los tipógrafos.
Tanto más de temer, cierto, cuanto los de 16 15 dan abun­
dantes muestras de torpeza. N o es fácil que la Segunda parte
contuviera la notable cantidad de innovaciones y cambios de
última hora que Cervantes parece haber realizado en 1604 (fue­
ra en el autógrafo, en una copia de amanuense o en ambos), de
modo que en la imprenta manejarían un original bastante más
limpio. (Incluso un error tan manifiesto com o la colocación de
una conseja en lugar distinto del que le correspondía (véase II,
45, 1085 y n. 24) tiene menos posibilidades de ser culpa de la
imprenta que del autor, que redactaría la adición luego e inde­
pendientemente del resto del capítulo, para intercalarla en h o ­
jas sueltas o añadirla al final del manuscrito, y no haría en el
texto primitivo todos los ajustes necesarios.) Sin embargo, la
proliferación de erratas obvias es todavía m ayor que en el Inge­
nioso hidalgo, hasta duplicarlas en número.
Según veíamos, es probable que en 1Ó08, de tertulia entre la
librería de R obles y el taller de la viuda de Madrigal, no le fal­
taran a Cervantes las oportunidades ni las ganas de echar un vis­
tazo, para bien, a las pruebas del Quijote de aquel año. En 16 15 ,
le quedaban pocös meses de vida; la imprenta, desplazada a la
calle de San Eugenio, no era ya el lugar que le resultaría fam i­
liar; y las relaciones con R ob les tampoco serían excelentes,
cuando las Ocho comedias las editó, por los mismos días de nues­
tra Segunda parte, Ju an de Villarroel. Tal vez nunca sepamos si
alguna o algunas de esas circunstancias se dejan relacionar con
el penoso desaliño del Ingenioso caballero.
CCXXXII
PRÓLOGO
D ifu s ió n temprana: 16 0 5 -16 17
A corto plazo, como observábamos, el Quijote tuvo un éxito
considerable, y las reimpresiones se sucedieron a escasa distan­
cia unas de otras. Sorprende un poco, no obstante, que las dos
primeras se hicieran en Lisboa (por Jo rg e R odríguez y Pedro
Crasbeeck, respectivamente), con licencias datadas a 26 de
febrero y a 27 de marzo, y la siguiente, ya posterior al texto re­
visado de 1605, en Valencia (a costa de Jusepe Ferrer, por Pa­
tricio M ey), con aprobación de 18 de ju lio: es decir, precisa­
mente en los lugares para los que Cervantes tenía desde el 9 de
febrero sendos privilegios que verosímilmente habría pedido
antes de que saliera la princeps.
Sea com o fuere, las ediciones lisboetas, que coinciden en la
omisión de la dedicatoria (en tanto Crasbeeck suprime además
dos de los sonetos preliminares), son marcadamente desaliñadas
y, junto a unas cuantas enmiendas certeras, arrastran de 1604 y
agregan por su cuenta multitud de erratas. En ambas, el censor,
Antonio Freyre, hizo sustituir por «clérigos» un inocente «en­
sabanados» (I, 52, 641), tachó el equívoco «falsos» que califica­
ba a los «milagros» de las malas comedias (I, 48, 606) y canceló
el diálogo en que don Q uijote y Vivaldo ponderan el rigor y
la necesidad de la caballería codo a codo con el estado de los
religiosos (I, 13 , 15 1) . Pero ni aun así se satisfizo la cicatería de
la Inquisición portuguesa, cuyo índice de 1624 expurgó toda­
vía media docena de pasajes que se le antojaron demasiado pi­
cantes o irreverentes.
La impresión de M ey se hizo, según apuntábamos, después
de la segunda edición madrileña y, naturalmente, reproduce la
versión que ella ofrece y que a su vez es el origen, con m íni­
mas excepciones, de toda la tradición subsiguiente, hasta el si­
glo X I X . Ese papel central del Quijote de 1605, frente a la este­
rilidad textual del de 1604, ha querido relacionarse con el
supuesto hecho «de haber en seguida desaparecido los pocos
ejemplares que de la edición príncipe se tiraron» (Leopoldo
Rius) y que, a creer a R odríguez M arín, se enviaron a las In­
dias casi por entero (sólo de febrero a abril, consta que se em­
barcó cerca de un centenar). N o cabe admitir la sugerencia. La
H IST O R IA D EL TEX TO
ccxxxm
tirada de la princeps hubo de ser elevada, pero, en cualquier
caso, es fenómeno bibliográfico consabido que la gran difusión
de un libro no supone la conservación de mayor número de
ejemplares, sino más bien al revés: el suntuoso Quijote de 1738
puede verse en multitud de buenas bibliotecas, que sólo por
maravilla tienen completo uno de los paperbacks de M anuel
Martín. Por otra parte, la estampa valenciana, como cuantas v i­
nieron después de las portuguesas, se gestó cuando ya circula­
ba la segunda edición de R obles, que claramente, y sobre todo
para quien en aquellas fechas pensara en publicar otro Ingenioso
hidalgo, se revelaba como corregida y aumentada. Harto más lim ­
pia que las lisboetas, la impresión de M ey se muestra sin em ­
bargo poco ducha en contar el original y no tiene reparo en com ­
pletar bastantes planas que se quedaban cortas añadiendo las
palabras o frases que convengan para lograrlo. Tales aditamen­
tos, sobre dar ejemplos arquetípicos del recurso en cuestión,
permiten identificar inmediatamente las reediciones que deri­
van de ella, desde la milanesa de 16 10 , de Locarni y Bidello.
Fuera de Madrid, la gema de los Quijotes tempranos es sin
duda el salido de las prensas de R o g e r Velpius «en Bruselas...,
en l’Aguila de O ro, cerca de Palacio, año 1607». La pulcritud
de la tipografía y del papel, largamente por encima de los usos
españoles, va unida a un esmero verdaderamente excepcional,
sin paralelo hasta 1738 , en la preparación del texto. E l correc­
tor lo leyó con cien ojos, procurando remediar las que se le
ofrecían como imperfecciones, y, así, enderezando felizmente
numerosos tuertos y no dejando pasar tampoco deslices com o
los epígrafes erróneos de los capítulos 3$ y 36 o las referencias
indebidas al asno de Sancho que sobrevivían aún en la versión
de 160$. Claro está que una edición crítica no puede seguir to­
das sus enmiendas (algunas, admirables), ni menos las sustitu­
ciones que introduce para obviar los descuidos del autor; pero
la vivísima sensibilidad lingüística y literaria del corrector obli­
ga a tomarlas siempre en consideración, cuando menos com o
señal cierta de problema. Tan diáfana es la calidad del texto de
Bruselas, en efécto, que de tiempo atrás se ha sospechado que
lo tuvo en cuenta la edición revisada de 1608. Pero la hipóte­
sis debe descartarse, porque ni tal proceder sería explicable ni
lo toleran las divergencias entre ambas, en especial las anoma­
CCX X XIV
PRÓ LO GO
lías a propósito del jum ento advertidas en Bruselas y no en M a­
drid. Cosa distinta es que cuando una y otra coinciden en una
lectura hayamos de tener por máxima la posibilidad de acierto.
Antes de que viera la luz la Segunda parte, a las tres edicio­
nes de R obles, dos de Lisboa, una de Valencia, con su secuela
de M ilán, y a la flamenca recién mentada hay que sumar úni­
camente otra de Velpius y Huberto Antonio en 1 6 1 1 : porque
con ella o con la de 1607 parece confundir Sansón Carrasco la
que dice haber oído que estaba en marcha «en Amberes», y no
hay rastro (sino negativo) de la que el bachiller adjudica a «Bar­
celona» (II, 3, 706). N u eve ediciones en diez años constituyen
un expediente honroso, y más cuando se incrementa con sen­
das traducciones al inglés y al francés, pero no extraordinario:
notablemente por debajo del Guzmán de Aífarache o de las Gue­
rras civiles de Granada, inferior al de las Novelas ejemplares y a par
con La Arcadia o el Persiles. Los datos esbozan una trayectoria
familiar al historiador: el libro de gran resonancia en un primer
mom ento, con un rápido cortejo de reimpresiones más baratas
(salvo las madrileñas y la de Jo rge Rodríguez, todas las citadas
son en octavo), pero cuyas ventas decaen a no mucho tardar,
en parte no pequeña porque se considera básicamente como
obra «de entretenimiento», que no invita a ser conservada, an­
tes bien tiende a pasar de amigo en amigo y entra con facilidad
en los boyantes mercados de segunda mano y de alquiler.
En tales circunstancias, la publicación del Ingenioso caballero en
16 15 supuso y sobre todo quiso suponer un relanzamiento del
Ingenioso hidalgo. N o es imposible que R obles estampara la edi­
ción de 1608 en cuarto (aunque más apretado), y no en octa­
vo, para que en su día formara pareja con la Segunda parte (que
quizá no esperaría con tanto retraso). C om o fuera, al mandar
imprimir ésta en Valencia (por Patricio M ey), a principios de
16 16 , el librero R o q u e Sonzonio devolvió también a las pren­
sas, parece, el Ingenioso hidalgo, siguiendo el texto asimismo va­
lenciano de 1605; pero, como la dependencia de ese original
llegó hasta el extremo de conservar íntegra la portada, perdió la
distinción de haber sido el primero en editar un ju ego del Qui­
jote completo. Tal honor lo alcanzó más bien Huberto Anto­
nio, si un poco al sesgo: publicando en Bruselas el Ingenioso
caballero en 16 16 y el Ingenioso hidalgo en 16 1 7 , con ligeras di­
H IST O RIA DEL T EX T O
ccxxxv
ferencias tipográficas, pero seriando los dos volúmenes merced
a la anteposición de un Primera parte de... al título primitivo. En
Lisboa, Jo rge Rodríguez imprimió en 16 17 el Ingenioso caballe­
ro en cuarto, a todas luces para aprovechar los ejemplares so­
brantes del Ingenioso hidalgo que había hecho doce años antes,
pero cambiándoles medio pliego del principio y, pese a m an­
tener la fecha de 1605, repitiendo en la portada el grabado de
su flamante Segunda parte. En 16 17 , en fin, tres libreros de B a r­
celona (Miguel Gracián, Ju an Sim ón y R afael Vives) se aso­
ciaron para que Bautista Sorita y Sebastián M atevad les im ­
primieran, respectivamente, la Primera y la Segunda parte, «en
emisiones distintas, una para cada editor» (Jaim e M oll), y ate­
nidas a las recientes tiradas de Valencia, salvo en un detalle sig­
nificativo: el Ingenioso hidalgo conserva ese rótulo y la cuadri­
partición de 1605, pero en los titulillos de todo el tomo se lee
sólo Primera parte de...
Los textos de 16 16 y 16 17 , siempre en octavo, con la excep­
ción portuguesa, contienen las inevitables erratas o distorsiones
y el puñado de enmiendas oportunas que igualmente cabe es­
perar de unos contemporáneos del autor. E l valenciano, cuya
Segunda parte es sin duda la más atildada, fue también expur­
gado con más celo, y la censura se llevó por delante un co ­
mentario de la duquesa sobre «las obras de caridad» (II, 36,
10 16 ); la supresión, comunicada internamente dentro del San­
to O ficio o divulgada en algún perecedero edicto suelto, llegó
al Indice del cardenal Zapata (Sevilla, 1632) y pervivió en E s­
paña (y en muchas ediciones extranjeras) hasta 1839.
Las ventas del Ingenioso caballero fueron modestas: en 16 23,
R ob les todavía almacenaba casi cuatrocientos ejemplares (ju n ­
to a unos ciento cincuenta del Ingenioso hidalgo de 1608), y es
elocuente la ausencia durante dos decenios de otras ediciones
que las mencionadas. Podem os imaginar que Cervantes com ­
petía consigo mismo, porque 16 17 , en especial, fue un annus
mirabilis en su bibliografía postuma, con siete impresiones del
Persiles y tres de las Novelas ejemplares. Pero esos otros dos libros
se defendieron luego con una fortaleza que el Quijote eviden­
temente no tenía por entonces.
CCX X XV I
PRÓLOGO
Exito popular y degradación textual
La laguna de ediciones entre 1625 y 16 35 puede achacarse en
parte a que en tal período, grosso modo, en el R e in o de Castilla
no se concedieron licencias para imprimir novelas (ni com e­
dias). E n parte, decimos, porque fuera de Castilla nadie se in­
teresó por publicar la nuestra, pero también porque publicarla
fue uno de los primeros proyectos que se acometieron al nor­
malizarse la situación: la obra, pues, venía echándose de menos.
E l privilegio otorgado al autor en 16 15 había caducado justa­
mente en marzo de 1625. E n octubre de 1634, apenas levanta­
da la suspensión de licencias, obtuvo una para editar el Quijote
un cierto «Pedro Cuello» que debió de cedérsela al librero D o ­
m ingo González y al impresor Francisco Martínez, pues fueron
ellos quienes la utilizaron para los dos en cuarto en cuyas por­
tadas, con poca congruencia, se leía Primera y segunda parte del
ingenioso hidalgo... y Segunda parte del ingenioso caballero..., con las
fechas, respectivamente, de 16 37 y 1636.
La nueva edición madrileña se basa en la revisión de 1605
(omitiendo dedicatoria y versos preliminares) y en la princeps
de 16 15 , pulidas con un buen núm ero de correcciones esti­
mables (que, si resultara no ser el librero Pedro C oello, nos
sentiríamos tentados de atribuir al «Pedro Cuello» a cuyo
nombre, debida o indebidamente, se publicó en 16 34 una dra­
m atization de E l celoso extremeño). Tipográficam ente pobre,
ocupa sin embargo un puesto central en la tradición del Qui­
jote, que con ella retorna al mercado, ya no com o novedad re­
lativamente efímera, sino com o libro de fondo, reimpreso con
frecuencia en la C orte (o con falso pie de la Corte) durante
treinta años (1647, 16 55, 1662, 1668), siempre en dos tomos
en cuarto. Pero la aludida centralidad le viene también de que
a ella se remonta además el texto bruselense de 1662, cabeza
de la fecunda rama flamenca de las impresiones ilustradas
(«Bruselas» [=Lyon], 16 7 1; Am beres, 16 7 3 -16 7 2 , 1697, 17 19 ;
Lyon, 1736), todas en dos octavos, que, amén de conservar
m uy vivo en el resto de Europa el original cervantino, llega­
ron incluso a determinar en aspectos capitales las ediciones es­
pañolas.
H ISTO RIA DEL TEX TO
CCXXXVII
En efecto, por cuanto al texto se refiere, los dos elegantes v o ­
lúmenes que Juan M onm arte publicó en Bruselas en 1662 se­
guían sustancialmente a los madrileños de 16 3 7 -16 3 6 ; pero, por
primera vez en una tirada en castellano, la presentación se en­
galanaba «con diferentes estampas m uy donosas» (ocho en cada
parte, amén de sendos frontispicios), la mayoría copiadas por el
grabador Bouttats de las insertas en la traducción holandesa
aparecida en 1657: «para que no sólo los oídos, sino también los
ojos», declaraba M onm arte, «tengan la recreación de un buen
rato y entretenido pasatiempo». Desde entonces (salvo algún
caso de rezago, datado en 1668-1662), el Quijote no volvió a ser
el mismo tampoco en su patria.
En Madrid, María Armenteros, viuda de Juan Antonio B o net, publicó en 1674 una edición a su vez «con treinta y cua­
tro láminas m uy donosas», cortadas por D iego de O bregón, y
una tercera parte de las cuales no era simple trasunto de las bruselenses. Si después de tal experiencia el Quijote no vuelve a sa­
lir en M adrid hasta 1706, quizá no fue porque la imitación pa­
reciera mal, ni por la penosa circunstancia de epidemias, crisis
monetaria y declive en muchos otros aspectos, sino porque los
libreros de Carlos II no podrían competir con la calidad y el
precio de los rifacimenti de la impresión de M onm arte que des­
de Amberes ofrecían los Verdussen; y si la tradición se reanuda
en 1706, probablemente se debe a que la Guerra de Sucesión
había bloqueado el com ercio librario (y también en Barcelona
hubo que improvisar, en 1704, un curioso Quijote en octavo).
C om o sea, de 1706 a 17 5 1 (con algún apéndice, así en 1764, ya
irremediablemente anticuado), alrededor de ocho ediciones re­
piten en la Corte, en variadas emisiones, la misma fórmula de
éxito: dos tomos en cuarto, cada vez en peor papel, con un
texto de cercanas raíces madrileñas y con grabados (primero en
metal, luego en boj) descendientes en última instancia de los de
Bouttats, pero calcados de una versión local intermedia y pro­
gresivamente más toscos y elementales.
A grandes, grandísimos rasgos, la mera evolución material de
la obra hace patente que entre 16 74 y 17 5 1 el público va en­
sanchándose por la base y el Quijote, de ser producto para afi­
cionados de alguna holgura económica, se vuelve por m o ­
mentos más popular: ahora es un libro necesariamente ilustrado,
ccxxxvm
PRÓLOGO
inconcebible sin las estampas que captan a los lectores menos
refinados y les proporcionan unas pautas de comprensión.
Esa es aún la vía más transitada en la segunda mitad del Se­
tecientos. E n 1744, P. Gosse y A. M oetjens publican en E l
H aya cuatro deliciosos tomitos, en que, si el texto procede del
gran Quijote londinense de 1738 (y, com o él, va precedido de
la Vida de Cervantes por Mayans), los pulquérrimos grabados se
inspiran en los cartones de Carlos Antonio C oypel para los ta­
pices de Com piègne. D e ahí viene el segundo gran giro que la
tipografía flamenca provoca en la trayectoria del Quijote (aun­
que no faltaban traducciones ilustradas y repartidas en cuatro
octavos), pues de ahí, obviamente, y de los «muchos sujetos
apasionados» de la novela («no hay persona de mediano gusto
que esté sin ella») le llega a Ju an Jolis la idea de divulgarla tam­
bién en otros tantos volúmenes similares (Barcelona, 1755),
«pues con esto se logra el poderse traer consigo en el paseo o
en el campo, en donde puede entretenerse el curioso». Claro
que los tipos, aunque legibles, no son ahora los limpísimos de
E l H aya (ni siquiera del remedo de Amsterdam y Lipsia), ni las
estampas son los exquisitos cobres tomados de C oypel, sino
unos rudos tacos de madera con la enésima variación, más de­
pauperada si cabe, y a través de quién sabe cuántas otras, de los
dibujos de Bouttats y O bregón. Pero la idea tuvo una esplén­
dida acogida, y, pese a las inevitables imitaciones (así la de B ar­
ber, en Tarragona), durante cuatro lustros la familia Jolis siguió
tirando miles de ejemplares del Quijote de la casa. Desde 1765,
sin embargo, y sobre todo entre 17 7 7 y 1782, el mercado «de
faltriquera» se vio ocupado en gran parte por la decena de im ­
presiones exactamente del mismo estilo (pero ya con Quijote,
no Quixote, en la portada) que difundió en Madrid el ambi­
cioso y emprendedor M anuel Martín. A lo largo de treinta
años, el triunfo del nuevo m odelo de surtido, con cuatro volú­
menes en octavo, en vez de dos en cuarto, fue rotundo; des­
pués, la receta, que un Ibarra (17 7 1) y un Sancha (1777) inten­
taron dignificar «A costa de la R e a l Com pañía de Impresores
y Libreros», abrió paso a otras. Pero entre 17 5 5 y 178 2 Jolis y
Martín, nombres diminutos en los anales de la tipografía, die­
ron al Quijote «el vuelo m ayor que nunca tuvo y lo convir­
tieron en un objeto de consumo» (E. Rodríguez-Cepeda), con­
H ISTO RIA DEL TEXTO
CCXXXIX
sagrándolo, con mucho, com o el más querido de los clásicos
españoles.
Desde el punto de vista de la tradición textual, único que
aquí nos concierne, es dificilísimo desentrañar la trama de los
Quijotes recién ojeados, no tanto porque todos van aportando
pequeñas singularidades que sólo un imposible cotejo exhaus­
tivo permitiría quizá elucidar, cuanto porque es la historia de
una contaminación continua y cada vez más amplia. En efecto,
desde mediados del mismo siglo x v n , ocurre con creciente asi­
duidad que las ediciones no se basan únicamente en otra ante­
rior, sino que combinan elementos de varias, normalmente de
fecha cercana (aunque no faltará quien recurra hasta a la o lvi­
dadísima princeps de 1604), que en casos de duda los correcto­
res comparan con un ejemplar de la primera impresión a mano.
A todos los propósitos el Quijote se hace día a día un totum más
revolutum: el texto de unas impresiones adopta la división y las
láminas de otras; editores, libreros y aficionados mezclan los
tomos de diversas tiradas; se introducen y vuelven canónicos
ingredientes n o , cervantinos, com o la dedicatoria «al mismo
don Q uijote ... por su cronista» C ide Hamete o ciertas «obras
poéticas de los académicos de Argamasilla halladas por el más
célebre adivinador de nuestros tiempos»... D os o tres especí­
menes particularmente ostensibles podrán sugerir la com pleji­
dad del proceso aludido.
C om o observábamos arriba, el texto de Bruselas, 1662, se­
guía esencialmente el de Madrid, 16 3 6 -16 3 7 , incluidos gazapos
monumentales («sogas y moramos», por ejemplo) que los cajis­
tas flamencos no siempre estaban en condiciones de evitar.
Pero, como en el prototipo español no figuraban los poemas
iniciales de 1604, M onm arte fue a pedírselos, directa o indirec­
tamente, aunque no sin retoques en el orden, a la impresión
valenciana de 1605, que le prestó además algunas lecciones para
otros lugares de la obra. Y las ediciones españolas en deuda con
la bruselense a menudo no traen otros preliminares que uno de
los prólogos de Cervantes.
E n el primer' tomo, el título madrileño de 1636 (y 1647) se
había cambiado desde 1655 por Parte primera y segunda del inge­
nioso hidalgo... Comprensiblemente descontento con las varian­
tes usadas hasta entonces para designar el conjunto y las dos en-
CCXL
PRÓ LO GO
tregas del Quijote, M onm arte eligió una solución radical y lo
rebautizó todo como Vida y hechos del ingenioso caballero don
Quijote de la Mancha. La invención no pudo correr m ejor suer­
te, en España y fuera de España, pues desde 1674 hasta 1780 to­
das las ediciones, pese a continuar reproduciendo mayormente
el texto de sus predecesoras locales o vecinas, adoptaron uná­
nimes el mismo marbete.
Por otro lado, para resolver la incoherencia de una «Primera
parte» dividida no obstante en cuatro secciones también eti­
quetadas com o «partes», M onm arte (como ya había hecho
Shelton al reimprimir su traducción al inglés) cambió esa de­
signación por la de «libros», y, simétricamente, distribuyó en
otros cuatro, de quinto a octavo (II, 1 - 1 7 , 1 8 - 3 2 , 3 3 - 5 2 , 5 3 74), el Quijote de L 6 1 5 . La innovación fue ahora seguida m e­
nos ciega y universalmente, pero aun así tuvo notable eco, e in­
cluso quienes no la aceptaron por completo buscaron modos
análogos de responder al problema, distinguiendo, por ejem­
plo, cuatro libros en el Ingenioso hidalgo y reservando al Ingenio­
so caballero la designación de «Segunda parte» o bien ofrecién­
dolo com o «Quinta», numerando sus capítulos a partir del 53,
etc., etc.
Todas esas alteraciones inmediatamente perceptibles deben
bastarnos aquí como indicios externos del dato que ponen de
manifiesto incluso unos pocos cotejos fragmentarios: en los es­
tadios que acabamos de repasar (16 37-16 6 8 , 16 7 4 -17 5 1, 17 5 5 1782), la transmisión del Quijote está presidida por una progre­
siva contaminación del texto. N o cometamos, sin embargo, el
error de despreciar esas humildes ediciones rriadrileñas y cata­
lanas. Por un lado, la etapa más adversa para la integridad tex­
tual resulta ser decisivamente próspera para la fortuna literaria
de la obra, y lo uno es el precio de lo otro. Tratándose de un
libro cuyos puntos de partida en 1605 y 16 15 ofrecen deficien­
cias tan notorias, no hay, además, subsidio para restaurarlo que
pueda desecharse impunemente. Así, de las dos impresiones
con pie de Madrid, 1662-1668, la más tardía, probablemente
contrahecha en los aledaños del 1700 (y distinguida por la pe­
culiaridad de ser la primera del Quijote en que se sustituyen por
uves las úes con valor consonántico), corrige por encima de
cualquier duda un pasaje corrupto desde la princeps hasta hoy
H ISTO RIA D EL TEX TO
CCXLI
(«Bueno fue...», frente al errado «Pues no fue...», en I, 39, 503),
contra el que se han estrellado generaciones de cervantistas. La
media docena de casos similares (aunque menos brillantes) que
han podido documentarse en otras ediciones igualmente olvi­
dadas hace pensar que la cosecha de unos cotejos más deteni­
dos podría no ser en absoluto desdeñable.
D e vuelta a las fuentes: 1738-1833
La línea que tan sucintamente acabamos de recorrer no agota
ni la bibliografía ni menos las venturas del Quijote en el perío­
do considerado, ni a sur ni a norte de los Pirineos. En particu­
lar, no son ahora tema nuestro (ni cabía tratarlo en otros capí­
tulos del presente prólogo) las abundantísimas versiones de la
obra a los principales idiomas europeos (en el siglo x v m , unas
cincuenta impresiones en francés, más de cuarenta en inglés).
Sin ellas, no obstante, la tradición española distaría de explicar­
se enteramente. Es bien sabido que las intuiciones del R o m an ­
ticismo alemán han condicionado hasta nuestros días la in­
terpretación de Cervantes. Pero, com o notábamos hace un
m omento, desde 1662 nuestra novela se convirtió en un libro
inadmisible sin ilustraciones, un poco en la órbita de la aleluya
o el tebeo, porque el público se había acostumbrado «a ver
siempre la historia de don Q uijote con láminas» (así lo señala­
ba en 178 2 la R e a l Academ ia Española); y las tales láminas, «do­
nosas» o lamentables, determinaron un peculiar enfoque del
texto, no menos influyente, si harto distinto, que las lucubracio­
nes de Schelling y Schlegel. La metamorfosis -aunque enlaza­
da con una vieja querencia, desde el mismo año de la princeps,
a transmutar visualmente el relato cervantino en mojigangas y
mascaradas—se operó a partir de la edición de M onmarte, ma­
triz de gran parte de las figuraciones posteriores. Pero a su vez,
com o también notábamos, la edición de M onm arte no pasa de
adaptar los grabados con que Jacob o Savry había adornado la
primera traducción holandesa (Dordrecht, 1657).
La más antigua imagen en que todavía hoy reconocem os al
punto a don Q uijote y a Sancho es, sin embargo, la que los si­
túa, el caballero con la bacía por yelm o y el escudero «entre­
CCXLII
PRÓLOGO
metido en espolear a su asno», sobre un paisaje nulamente
manchego a cuyo fondo giran las aspas de un m olino de vien­
to: está inserta en L ’ingénieux et redoutable chevalier Don Quichot
de la Manche (París, 16 18) de F. de R osset y fue pronto repro­
ducida en la segunda impresión, corregida, de The History of
Don Quichote (Londres, sin fecha) de Thom as Shelton. N o es
casualidad, porque las ilustraciones plásticas de la obra madru­
garon en Francia, desde las pinturas murales de Jean M osnier y
el álbum de estampas de Jean Lagniet, mientras a Inglaterra co­
rresponden sostenidos intentos tempranos de publicar el Quijo­
te provisto de alguna ilustración intelectual: las breves notas del
capitán Stevens (1700), los aleatorios ensayos de restauración
textual por J . Ozzell sobre la base de una comparación «with
the Best Edition o f the Original, printed at Madrid» (1719 ), o
la semblanza de Cervantes, disculpablemente inexacta, que se
halla al frente de The History o f the Renew ’d Don Quixote (Lon­
dres, 1700) dispuesta por Peter M otteux.
C o n varias de esas orientaciones se enlaza el suntuoso Quijo­
te en cuatro tomos, en cuarto real, impecablemente impresos
en Londres «por J. y R . Tonson», con el mecenazgo del Barón
de Carteret. E l pie reza M D C C X X X V III, pero el trabajo v e ­
nía gestándose cuando menos de cuatro años atrás. Lord Jo h n
Carteret empezó probablemente por encargar los grabados
(que al cabo fueron sesenta y ocho, casi todos de Vanderbank,
limpísimos de factura) y la preparación del original; y si bien es
fácil que desde el principio pensara asimismo en incluir una
vida del autor, sólo en 1736 dio con la persona adecuada para
escribirla: don Gregorio Mayans y Sisear. A l aceptar el com e­
tido, que saldría en el primer volum en londinense (y pronto
entraría también en bastantes ediciones madrileñas), el ilustre
erudito se apresuró a hacer saber a Carteret su inquietud por la
calidad del texto: «para que esta impresión salga correcta»,
aconsejaba, «debe representarse bien la primera», porque «las
demás todas ... se han alterado mucho».
Mayans decía poseer y ponía a disposición del barón «el pri­
mer tomo de primera impresión y el segundo de segunda». En
efecto, creemos que don Gregorio manejó a veces la auténtica
princeps de 1604, pero no hay rastros de que la enviara a Lon­
dres, y, si lo hizo en la segunda mitad de 17 36 , posiblemente
H ISTO RIA DEL TEX TO
CCXLIII
no hubo ya tiempo (o quizá ganas) de aprovecharla. Es el caso
que la preparación del original se había encomendado (como
advirtió Jo h n Bow le) a cierto Pedro Pineda que en 1739 cuidó
también unas Novelas ejemplares y en 1740, al sacar a luz la For­
tuna de amor de Lofraso, se presentaba com o «el que ha revisto,
enmendado, puesto en buen orden y corregido a Don Quijote».
T od o indica que para entregarlo a la imprenta Pineda utilizó un
ejemplar de la edición más prestigiosa en la época, la publicada
por M onm arte en 1662, o, si acaso, de alguna de sus inmedia­
tas herederas flamencas. Ese texto de base lo cotejó meticulo­
samente con una de las tres primeras impresiones bruselenses
del Ingenioso hidalgo (1607, 1 6 1 1 , 16 17 ) y con el más antiguo In­
genioso caballero de la misma procedencia (1616). N o cabe ex­
cluir que ciertos trechos del libro los mandara al taller a costa
de arrancar algunas páginas de las añejas tiradas de Bruselas, ni
que a ratos colacionara pasajes de otras (y hasta tal vez de «el se­
gundo [tomo] de segunda [impresión]» que ofrecía Mayans, si
se trata de la valenciana de 16 16 , como hay que pensar). Pero
a grandes rasgos su edición es una libérrima revisión de la de
Bruselas, 1662, a la luz de las que también allí se habían publi­
cado entre 1607 y 16 17 .
Aparte un tipo pintoresco, Pineda debía de ser un concien­
zudo profesional de la tipografía y un estimable conocedor de
la lengua clásica. E l resultado de esas circunstancias es un texto
híbrido en todos los sentidos, donde, sin embargo, incluso la
contaminación parece en ocasiones elevarse hacia la crítica: un
texto con enmiendas felices, o aun óptimas (véase únicamente
I, 4, 76, n. 83: «sobre él llovía», por el «sobre él vía» de la prin­
ceps), con buen ojo para identificar lugares problemáticos y
atento a rescatar fragmentos omitidos durante más de un siglo
(sólo en Bruselas, 16 16 podía leer Pineda la apostilla sobre «las
obras de caridad» en II, 36, 10 16 ), pero todo ello, desde luego,
revuelto al azar con incomprensiones, lecturas faciliores y puros
caprichos («nunca las cartas de amantes se firman», pongamos,
por «las cartas dé Amadís...» de I, 25, 309, o «enviudado búho» por
«envidiado búho» en I, 14 , 16 1 y n. 13). E n cualquier caso, es­
pecialmente digna de nota es la insólita adhesión al autor que
Pineda muestra más de una vez: pues si no le duele inventarse
el epígrafe de un capítulo o añadir la m ención expresa de un
CCXLIV
PRÓLOGO
interlocutor, y si, por otro lado, examina minuciosamente y
acepta o adapta con frecuencia las innovaciones de 1607, tam­
poco duda en rechazarlas cuando advierte que han sido intro­
ducidas para salvar (así en relación con el robo del asno) una in­
congruencia imputable a Cervantes. Los hábitos y los saberes
de un m ero corrector de imprenta no podían dar más de sí en
aquellos tiempos; y el dato que invita a acentuar una mínima
justicia histórica es que algunas restituciones de Pineda ocurren
(o reaparecen) por primera vez en la edición londinense y se
han quedado para siempre en el Quijote.
E n España, Mayans no era el único en lamentar los defectos
de las impresiones de surtido. E l padre Sarmiento, no menos in­
teresado por la vida y la obra de Cervantes, se quejaba en 17 6 1
de que prescindieran de los «preciosos monumentos» que son
«dedicatorias, prólogos y aprobaciones»; y tras echar un vistazo
al primer volum en de Londres refunfuñaba, escéptico: «Bien
m e parece y me gusta una magnífica impresión en todo, pero
con tal que la acompañe la exactitud del contexto. Estoy harto
de ... desatinos excelentemente pintados». N o era ésa, con
todo, la actitud más generalizada: la ascendente popularidad del
Quijote hacía sentir la conveniencia de poner en el mercado
ediciones más esmeradas, pero antes en las ilustraciones que por
la puntualidad textual.
Por ahí, la R e a l Com pañía de Impresores y Libreros proyec­
taba ya en enero de 1765 unos «Quijotes con láminas finas»,
cuya primera concreción, no obstante, debe de ser el diestra­
mente estampado por Joaquín de Ibarra en 17 7 1 : cuatro tom itos, con apreciables grabados de M onfort y Camarón, sí, y con
la Vida de Mayans, com o iba siendo usual, pero con un pési­
mo texto de surtido, que en nada mejoraba el que Juan de San
M artín había sacado en 1750, adecentando un pelo su propia
edición de 17 4 1 merced a la restitución de parte de los versos
preliminares del Ingenioso hidalgo. D el segundo intento de la
R e a l Compañía, confiado a Antonio de Sancha (1777), no es­
tamos en condiciones de precisar si apunta una cierta preocu­
pación textual o un nuevo ejemplo de contaminación: pues la
noble tipografía, escogido papel y «láminas finas» sirven a una
simple copia de la edición de Ibarra, pero con algunas leccio­
nes llegadas de Londres, verosímilmente a través de E l Haya.
H IST O R IA DEL TEX TO
CCXLV
N o otro es el panorama sobre el que en marzo de 1773 se re­
corta gallardamente la decisión de la R e a l Academia Española,
estimulada por el Elogio histórico de Miguel de Cervantes presen­
tado por Vicente de los R ío s, de «hacer una impresión correc­
ta y magnífica del Don Quijote..., respecto de que siendo m u­
chas las que se han publicado ... no hay ninguna buena ni
tolerable». En verdad, la Academ ia echó la casa por la ventana
para sacar, con fecha de 1780, cuatro espléndidos volúmenes en
folio menor, que Ibarra comenzó a imprimir en 17 7 7 , con los
hermosos tipos fundidos ad hoc que todavía llevan su nombre,
y sobre papel fabricado especialmente (¿en Borgonya del T e ­
rri?) por Josep Lloréns. E l preámbulo consistía en dos im por­
tantes trabajos de Vicente de los R ío s, la Vida del autor y el
Análisis del «Quijote», complementados por el Plan cronológico de
la novela y un mapa con el itinerario de los protagonistas. Las
ilustraciones (que también se vendían aparte), al igual que las
viñetas, «cabeceras y remates», eran extremadamente pulcras,
com o de los más acreditados artistas del m omento: Antonio
Carnicero, José del Castillo, M anuel Salvador y Carmona, Jo a ­
quín Fabregat... (Pero, ay, no Francisco de Goya, que presen­
tó a concurso una soberbia estampa, finalmente relegada por­
que se decidió no ilustrar nunca dos episodios correlativos).
«El principal cuidado de la Academia» fue «dar al público un
texto del Quijote puro y correcto», y sólo en ese punto hemos
de detenernos ahora, para subrayar, antes de nada, que la edi­
ción de 1780 (a cargo de una «diputación de tres sujetos»: M a ­
nuel de Lardizábal, Vicente de los R ío s e Ignacio de Herm osi11a) supone una mutación radical en la historia de la obra. E l
«Prólogo» (redactado por Lardizábal) afirma que para el Inge­
nioso hidalgo se habían «tenido presentes la primera edición he­
cha en M adrid por Ju an de la Cuesta el año de 1605 y la se­
gunda hecha también en M adrid y por el mismo impresor, año
de 1608», con el texto «arreglado a la primera» y dando en n o ­
tas finales «las variantes de la segunda, aun aquellas que no son
substanciales». Nada de ello acaba de ser cierto..., ni falso.
E n efecto, la que los académicos reputan «primera edición»
no es de hecho la princeps, concluida en 1604 aunque datada
con el año siguiente, sino la reimpresión corregida, en realidad
de 1605. E l error, no obstante, no afectaba exclusivamente a
CCXLVI
PRÓLOGO
Lardizábal y sus cofrades, sino que parece haber sido universal
hasta bien entrado el siglo x i x , fuera por desconocerse ejem ­
plares de 1604 (en 1777, Jo h n B o w le tenía noticia de que exis­
tían, pero confesaba: «these ... have never yet come to m y ins­
pection»), fuera por atribuir equivocadamente la prelación a los
de 1605 (si Mayans manejó la auténtica princeps, es fácil que su­
friera tal desorientación: consta que aún en 18 19 la sufrían los
doctísimos Navarrete y Clem encín). Por fortuna, para el Inge­
nioso caballero las cosas estaban suficientemente claras, y la Espa­
ñola se atenía a la edición de R o b les de 16 15 , con variantes de
«la segunda hecha en Valencia por Pedro Patricio M ey, año
de 1616».
Confusión aparte, hay que decir que la transcripción acadé­
mica de los textos de báse es notablemente fiel y atinada. En
unas cuantas ocasiones, tropezamos con lecturas y hasta erratas
del ejemplar usado para el cotejo o la imprenta; en bastantes,
con enmiendas, propias o ajenas, que no se declaran (sobre
todo si son de Londres, 1738, tenida bien en cuenta, a veces vía
E l Haya, pero normalmente mentada sólo para disentir), y las
variantes que se registran distan m ucho de ser completas. Es
verdad también que la Academ ia se siente autorizada a mudar
o escribir de suyo varios epígrafes y suprime de los titulillos la
división del Ingenioso hidalgo en cuatro partes. Pero esas altera­
ciones más o menos legítimas van explícitamente señaladas, y,
por el contrario, no se duda en mantener, razonándolo, des­
cuidos o rasgos cervantinos que Pedro Pineda retocaba sin pes­
tañear, com o a propósito de la m ujer de Sancho Panza (I, 7,
10 2, n. 60), «la sentencia pasada de la bolsa del ganadero» (II,
45, 1085, n. 24) o la omisión del nombre de algunos «interlo­
cutores del diálogo, de que se halla ejemplo en los buenos au­
tores antiguos y modernos».
A cambio de insuficiencias y deslices que hoy al filólogo se le
antojan obvios, la Academia ofrecía un Quijote incomparable­
mente m ejor que cualquiera de los que corrían entonces (prin­
cipes incluidas) y, com o fuera, indicaba las pautas correctas para
editarlo en adelante. Tácitamente quedan éstas fijadas cuando,
en polém ica con la impresión de Londres, el prólogo singula­
riza algunas muestras del proceder seguido: la eliminación del
título consagrado desde 1662, ahora a favor de E l ingenioso hi-
H IST O RIA DEL TEX TO
CCXLVII
dalgo don Quijote de la Mancha (aunque podamos discutir si era
lícito extenderlo al conjunto de la novela); la sustitución del ba­
lando de 1604 y 1605 por el baladro de 1608 (I, 14, 16 1 , línea 1);
la enmienda (ya en Valencia, 1605) del ininteligible «de B elo na preside», por «do Belona preside» (I, 52, 651); y la restaura­
ción de espalder (II, 63, 12 5 3 , n. 17) donde siempre se había
embutido espaldar. En otras palabras: el prólogo postula la vu el­
ta a las fuentes de la tradición textual, ponderadas de acuerdo
con los datos asequibles y con el conocim iento de la lengua y
la cultura de Cervantes, y el recurso crítico a la conjetura cuan­
do en el original hay signos palmarios de corrupción. Q ue la
Academia no siempre aplicara irreprochablemente esos criterios
no le quita el mérito de haberlos puesto sobre el tapete.
Los académicos de 1780 habían considerado la conveniencia
de poner «muchas notas en la obra indicando los lugares de los
libros de caballerías que ridiculiza Cervantes», pero es diáfano
que el quehacer pedía más tiempo y esfuerzo del que contaban
con dedicarle, y a la postre prefirieron salirse por peteneras:
«este material trabajo sólo serviría para satisfacerla curiosidad de
algunos...». N o es imposible que a disuadirlos de la idea con­
tribuyera la noticia, a principios de 1777, de que Jo h n B o w le
llevaba m uy adelantada una edición del Quijote «con todos los
honores de un autor clásico», y señaladamente copiosos esco­
lios para «interpretar y facilitar la intehgencia de los pasajes obs­
curos».
E l reverendo B o w le (17 2 5 -17 8 8 ), pastor de la parroquia de
Idmiston, había comenzado por com pilar un exhaustivo v o ca­
bulario e índice de la obra, y continuado (desde 1769) con la
lectura de todos los libros aludidos en ella que le fueron ase­
quibles, conjugando ambas cosas con una perseverante inm er­
sión en el Diccionario de Autoridades y en el Tesoro de C ovarm bias, que estudió línea por línea. Fruto de semejantes fatigas,
afrontadas en la lejana Inglaterra, sin apenas más auxilios que
un tesón inquebrantable y la biblioteca de Thom as Percy, son
los seis garbosos tomos, en cuarto mayor, de la Historia del f a ­
moso caballero don Quijote de la Mancha que publicó en 17 8 1, «en
Londres» (según una tirada, por referencia a las librerías don­
de se despachaban) y «en Salisbury, en la imprenta de Eduar­
do Aston».
CCXLVIII
PRÓLOGO
E l oro está en el volum en quinto: más de trescientas páginas,
en cuerpo pequeño, de Anotaciones en que B o w le pone a con­
tribución libros de caballerías, romances castellanos y romanzi
italianos, autores comunes y recónditos, de Acosta a Zurita,
con el designio de aclarar, por cuanto toca al sentido literal,
«todas las dificultades y lugares escuras» que encuentra en la
novela. N os faltan palabras para alabar la tarea de don Juan
(como gustaba llamarse, al tiempo que se dolía: «...yo, extraño,
y que jamás he visto ninguna parte de España»), la documenta­
ción, amplitud, exigencia, acierto y sobriedad de su comenta­
rio: conque nos contentaremos con decir que se halla en la raíz
de todos los posteriores y que son abundantes las glosas que
ningún cervantista parece haber querido llevar más allá de don­
de las dejó Bow le.
C om o las Anotaciones no entran en los asuntos textuales que
a nosotros nos atañen y el «prólogo del editor» se limita a enu­
merar las «ediciones originales» que conoce, desde 1605 hasta
16 17 , y a remitir a las «varias lecciones», no sobrará al respecto
un par de observaciones previas. Sucede que en 17 7 7 B o w le
había divulgado una admirable Letter to the Reverend Dr, Percy
donde exponía el principio a que se proponía sujetarse «to have
the text pure and genuine»: «the first editions must be selected
for that purpose», sin dejarse llevar por las veleidades de un Pe­
dro Pineda (pues Pineda es, ciertamente, a quien se alega una
y otra vez com o ejemplo negado, quien «perverted and obscu­
red what was easy, clear, and perspicuous», mostrando «to have
been every w ay unqualified» para la empresa). E n concreto, y
habida cuenta -explica—de que «as to the Second Part w e have
no choice», «the first [edition], printed in M adrid 1605, in
quarto, b y Ju an de la Cuesta, seems to merit the preference»
para el Quijote inaugural. D e acuerdo con tal opinión debía de
tener entonces preparado el texto y anotadas las variantes. Pero
en 17 7 7 B o w le no había visto la edición de 1608, y ni en 17 7 7
ni en 17 8 1 tuvo a su alcance la verdadera princeps del Ingenioso
hidalgo, pese a constarle que había «another edition o f the First
Part the same year and place», «otra del mismo año, lugar y for­
ma». E n 17 7 8 , sin embargo, tras prestarle Edw ard C ollin gw o od un ejemplar de 1608, d o n ju á n se convenció de que esa
tercera edición de R ob les había sido retocada «by the Author
H ISTO RIA DEL TEX TO
CCXLIX
himself» y se resolvió a usarla com o base de la suya: «I print
from it and very generally prefer the readings o f the text to
those o f other copies, unless I find some reason to use them».
En definitiva, pues, el Quijote de B o w le se funda en los tex­
tos de 1608 y de 16 15 , reuniendo en apéndice, en el tomo sex­
to, hasta tres centenares de variantes de Madrid, 1605 (segunda
edición), así como de Valencia, 1605 y 16 16 , y Londres, 1738
(que debió de emplear com o printers’ copy), más alguna de M i­
lán, 16 10 . La práctica, con todo, no concuerda enteramente
con la teoría. E l desplazamiento de la segunda edición de R o ­
bles a beneficio de la tercera se hizo a última hora y sin la su­
ficiente vigilancia, de m odo que en el Ingenioso hidalgo subsis­
tieron no pocas lecturas de aquélla, con mezcolanza que a veces
se agrava en el aparato crítico del final. B o w le no era un gran
corrector de pruebas, ni la imprenta podía moverse con soltu­
ra en castellano, y de ahí más erratas de las que se esperaría en
tan linda impresión. E n fin, puesto que entre las cualidades del
bonísimo reverendo tampoco sobresalía el olfato textual (si no
me engaño, se le debe sólo una enmienda memorable: «de T i­
rante», y no «Detriante», en I, 6, 90), en los casos de duda la
elección entre las «varias lecciones» no suele ser demasiado sa­
tisfactoria. Nada de ello disminuye en un centímetro la talla de
don Juan: incluso si no nos hubiera legado sus egregias Anota­
ciones (y sus completísimos índices), la edición de 17 8 1 -sobre
todo con las perspectivas que se avecinaban— constituiría un es­
tadio importante en la tradición del Quijote.
Desde antes de recibir el préstamo de M r. C ollingw ood,
B o w le venía diciéndose que «it m ight have been expected» que
entre 1605 y 16 15 el autor hubiera rectificado ciertos descuidos
suyos en el Ingenioso hidalgo. Para corroborarle que así había
sido, quizá no pesó sólo el descubrimiento de la edición de
1608, sino además algún cambio de ideas con un erudito espa­
ñol con quien entró en relación en el mismo 1778: Juan A n to ­
nio Pellicer, el más conspicuo defensor de la idea de que en la
tercera impresión del libro Cervantes «le corrigió de muchos
yerros y m ejoró conocidamente, suprimiendo unas cosas y aña­
diendo otras». Q ue la tesis fue abriéndose paso lo certifica el
precioso Quijote en seis tomitos (Madrid, «En la Imprenta
Real», 1797) que Andrés Ponce de Quiñones dedicó al Prínci­
CCL
PRÓLOGO
pe de la Paz: pues el texto espiga entre las variantes de la Acade­
mia para admitir algunas de 1608. Pero la edición más ajustada
a tal convicción es (relativamente) la preparada en 179 7-179 8
por el propio Pellicer, con tipografía madrileña amorosamente
tratada por Gabriel de Sancha, en cinco octavos mayores.
Advirtiendo bien que la superioridad de algunas lecturas de
1608 se deja relacionar con la vuelta de Cervantes a la Villa y
Corte, Pellicer extendió indebidamente la observación al volu­
men entero, y la apoyó sobre todo en los añadidos más largos...
pero también más a las claras ajenos al autor. A conciencia o
no, sin embargo, se mostró más firme en la exposición que en
la ejecución de sus planteamientos. Pues ocurre que para el In­
genioso hidalgo d o n ju án Antonio entregó a Sancha un ejemplar
académico, pero tan rápidamente cotejado (si cotejado) con el
de 1608, corregido con tan poca diligencia o con tantas inde­
cisiones sobre las lecciones adecuadas, que la suya probable­
mente resulta de hecho una edición menos apegada a la terce­
ra de R ob les que la del pastor de Idmiston. C om o, por otra
parte, desconocía la princeps (salvo por la referencia de Bow le),
renunció a dar variantes de 1605 y se le escaparon hartos erro­
res de la Academia (también en el Ingenioso caballero, colaciona­
do con transparente desgana), el texto de 1798 no está a la al­
tura de tan sabio «bibliotecario de Su Majestad».
Es justo hacerlo notar, porque Pellicer (al arrimo de Le Clerc
y Bentley) tenía una formación ecdótica com o rarísimos cer­
vantistas y él mismo hubo de sentirse a disgusto con ese proce­
der en exceso expeditivo. D e m odo que en la edición en m i­
niatura (nueve exquisitos dozavos, siempre de Sancha) que en
1798 encabalgó con la recién aludida (en octavo) figura un
«Catálogo de los pasajes que se leían viciados en las primeras
ediciones de la Historia de don Quijote...», con la relación de las
principales correcciones que había introducido tanto en los oc­
tavos com o en los dozavos. A hí se ve pronto que Pellicer esta­
ba m ejor dotado para la conjetura que para el cotejo, y cómo
esa disposición lo llevó a terciar provechosamente en muchos
de los lugares más espinosos de la novela, no siempre para dar
con la solución indisputable (lo es pasicorto, en vez de pisacorto,
en I, 23, 279), pero a menudo sí para encauzarla (en I, 1 1 , 135 ,
proponía «solas y señeras»). E n las notas, por otra parte, don
H ISTO RIA D E I TEX TO
CCLI
Ju an Antonio se nos aparece un poco impaciente en tratar p un­
tos de menor relieve, y m uy dispuesto a habérselas con los que
B o w le no había explanado y se prestaban a desplegar su sólida
cultura. La edición de Pellicer tal vez no fuera la más reco­
mendable para el común de los lectores de hacia 1800, pero du­
rante años marcó la pauta de las posteriores y sigue siendo ins­
tructiva para el estudioso.
Para enjugar los costos de su gran Quijote, la R e a l Academia
Española lo reimprimió en seguida, y con gran éxito, según la
moda de multiplicarlo en volúm enes cada vez más chicos: pri­
mero (1782), cuatro, todavía según el dechado de E l Haya, y
luego (1787) seis, en ambos casos con el viejo contenido, aun­
que con nuevas láminas. E n 1796 se acordó acometer otra
reimpresión, pero el proyecto fue suspendido ante el temor de
com petir con las varias anunciadas para 179 7, y sólo después
de las Cortes de Cádiz se reemprendió de manera eficaz, gra­
cias a Martín Fernández de Navarrete y D iego Clemencín. Los
dos máximos cervantistas del momento no podían contentarse
con repetir el texto de 1780: si las propuestas de Pellicer y el
ejemplo de B o w le habían cambiado profundamente las ideas
sobre la manera de publicar el Quijote, en los últimos tiempos
se había producido asimismo un descubrimiento importante en
tal sentido.
Los cuatro volúmenes en octavo que sacaron en 18 19 (el
quinto, suelto, era la valiosa Vida de Cetvantes por Navarrete)
prometían, pues, más novedades que la jo ta que la Academia
admitía ya en el nombre del protagonista o las nótulas esporá­
dicas que había insertado acá y allá: la edición del Ingenioso hi­
dalgo decía ceñirse sustancialmente a la tercera de Robles, «con­
siderándola como la postrera voluntad de su autor», y, m uy en
particular, haberse «confrontado cuidadosamente ... no sólo
con la primera, sino también con la segunda que se hizo en
M adrid el mismo año de 1605..., edición que por esta igualdad
de circunstancias no se había discernido bien de la otra hasta
ahora que se han tenido entrambas a la vista».
Las cosas no eran así, con todo. Cierto, la base del Ingenioso
hidalgo era el texto de 1608, y en sección aparte se consignaban
variantes de 1604 y 1605, prueba de que la verdadera princeps
había por fin vuelto a la luz. Pero los académicos a quienes se
CCLII
PRÓLOGO
debía la honra del hallazgo sufrieron la increíble ofuscación de
tomar por primera la segunda edición, pese a la presencia del
privilegio para Portugal y de las demás discrepancias que nadie
podía interpretar sino como aditamentos. La clave de una equi­
vocación tan descomunal está en que Navarrete y Clem encín
no colacionaron una con otra y por completo las impresiones
de 1604 y 1605, antes se limitaron a compulsar en ellas las di­
vergencias entre 1605 y 1608 registradas en el magno Quijote
académico y a hacer alguna cala en otras páginas: tan ocasional
y distraída, no obstante, que ni siquiera se percata de las dos ex­
tensas añadiduras (en I, 23 y 30) sobre la pérdida y recupera­
ción del asno de Sancho... D e la muestra se colegirá la con­
fianza que cabe prestar a la cuarta edición de la Academia: en
18 19 , cuando se habían reunido todos los mimbres, el cesto
acabó saliendo peor que en 1780.
Navarrete y Clem encín eran hombres de inmenso saber,
pero fuera porque el uno descansó en el otro, y el otro o los
dos en un tercero, fuera por lo que fuese, la cosa es que nadie
se ocupó en serio en el cotejo. Es creencia habitual que la edi­
ción de 18 19 se debe mayormente a don Martín, que desde
luego fue quien más bregó con tipógrafos y grabadores; pero es
lícito sospechar que, afanado en concluir la Vida de Cervantes,
dejó en manos de Clem encín, en esos años azacaneadísimo,
una parte de su responsabilidad primordial. (De dorí D iego es
sin duda el prólogo, frente al cual la Vida se diría más pruden­
te: «Nosotros hemos logrado examinar y cotejar ejemplares de
ambas ediciones, y no sólo son distintas, sino que la Academia
ha logrado aprovechar algunas variantes de la segunda».) «Casa
con dos puertas...» En cualquier caso, ahí terminaría el posible
trato de Clem encín con las primitivas impresiones del Quijote,
porque nada que no estuviera en las más recientes parecen ha­
ber aportado aquéllas al gran comentario del erudito murciano
(seis volúmenes, los dos últimos postumos y completados por
sus hijos, Madrid, E. Aguado, 18 33-18 39 ).
E l trabajo de Clem encín es efectivamente eso, un comenta­
rio, antes que una edición o un repertorio de anotaciones: pri­
m ero, un «examen crítico», una «anatomía», que va realzando
«los rasgos admirables y las imperfecciones, el artificio de la fá­
bula y las negligencias del autor, las bellezas y los defectos que
H IST O RIA DEL TEX TO
CCLIII
suele ofrecer mezclados» el Quijote; y sólo en segundo plano
entran «las observaciones a que den lugar sus indicaciones, sus
noticias históricas, sus alusiones a las crónicas de los caballeros
andantes». H o y continuamos aprendiendo de esas «observacio­
nes», en conjunto nunca superadas, en particular por cuanto
concierne a libros de caballerías, y nos disgusta quizá el «exa­
m en crítico», o tal vez le imputamos que no cometa los m is­
mos anacronismos que nosotros y vea a Cervantes (desde más
cerca) como un «socarrón» distraído y no com o un artista om ­
nisciente y omniconsciente; y no reparamos en que a don D ie ­
go le importaba más el «examen» que las «observaciones», y que
el reproche cariñoso que dirigía a B o w le era no haber hecho
«jamás ... ninguna observación crítica ni ... juzgar del mérito ni
demérito de la fábula», confinándose en una «erudición labo­
riosa, pero seca y descarnada».
Prim ero, comentario, y luego repertorio de anotaciones, el
trabajo de Clem encín, pues, sólo en último término es en rigor
una edición: con talante en extremo conservador —aunque del
textus receptus-, da básicamente por buena la de 18 19 y pocas
veces se separa de ella en lecciones de algún peso (el tomo sex­
to se cierra con la lista completa). Am icísim o de señalar cóm o
debiera haber escrito Cervantes tal o cual frase, es excepcional,
contra la fama, que se la corrija de hecho. Pero incluso cuando
no está por medio la proprietas gramatical Clem encín abunda
más en propuestas que en enmiendas aceptadas, acaso porque
cuando escribe, en Fuenfría, no tiene a mano las impresiones
antiguas y prefiere curarse en salud apegándose a la académica
y conformándose con las variantes de las modernas, de Londres,
1738 para acá. Y hay que decir que si varias de las conjeturas
que inserta en el texto son inatacables (por ejemplo, planta, no
punta, en I, 26, 3 17 ), también lo son muchas que deja a pie de
página (tal Macabeos, por mancebos, I, 23, 272, perfecta restitu­
ción, como en otros casos, de la princeps no vista) por excesiva
timidez o por la prudencia de quien, ante la dificultad de acce­
der a las fuentes, *se satisface con hacer «anatomía» de la edición
al alcance de todos.
E l medio siglo que corre de la primera edición de la R e a l
Academia Española al comentario de Clem encín entrañó la
conversión definitiva del Quijote, de mero objeto de lectura, en
CCLIV
PRÓLOGO
objeto asimismo de estudio y reflexión. La idea de que la obra
tenía un valor superior al que se le había venido atribuyendo
(«el sentido literal es uno y el verdadero es otro», sospechaba
Cadalso) y, con intuición paralela (y mirando a nuestro propó­
sito), de que las ediciones al uso no hacían justicia al original de
Cervantes se extendió incluso entre los poco letrados. Es entre
patético y fascinante ver cóm o la tirada madrileña de 1804 («En
la imprenta de Vega»), heredera directa de las miserables edi­
ciones de surtido, y en particular de la última (1782) de quien
fue su m áximo impulsor, M anuel M artín, intenta ponerse al día
no sólo en el formato (seis octavos) y en las estampas (tomadas
de las que en 1797 ofreció la Imprenta R eal), sino también, por
ejemplo, superponiendo el viejo título inventado por M o n marte ( Vida y hechos...), otro ecléctico en la línea de B o w le
(Historia de don Quijote...) y el que ahora empieza generalmen­
te a considerarse genuino: E l ingenioso hidalgo don Quijote...
C om o es significativo que la copia vil, «malísima en todos con­
ceptos» (L. Rius), que de esa tirada se hizo en 1840 («Madrid,
imprenta de la Venta Pública») tenga la desfachatez de presen­
tarse com o «edición completísima conforme al original primi­
tivo». Era el tributo del vicio a la virtud.
La percepción común de que existían ya ediciones debida­
mente autorizadas resolvía el problema a la mayoría de quienes
se proponían publicar la novela: en principio, se trataba de es­
coger entre los Quijotes de Pellicer y de la Academia. E n la pri­
mera mitad del Ochocientos, no faltaron impresores de excep­
ción que se esforzaron por mejorarlos: así el refinado Antonio
Bergnes de las Casas, a quien se debe (Barcelona, 1839) la re­
cuperación en España de la frase sobre «las obras de caridad»
(II, 36, 10 16 ) expurgada en 16 16 ; o así, con diligentes colacio­
nes (Barcelona, 1859, y reimpresiones revisadas, tras un malo­
grado intento de 18 32 -18 34 ), el gran Tom ás Gorchs, un tipó­
grafo tan capacitado y entendido como para localizar y tomar
por m odelo La Celestina zaragozana de 150 7, luego perdida
hasta hace cuatro días, o como para com unicar a Hartzenbusch,
funcionario y pronto director de la Biblioteca Nacional, la por­
tada del Ingenioso caballero: y cuyo Quijote, en efecto, lleva el
m ejor aparato crítico hasta entonces preparado. Pero ni siquie­
ra ellos dejaron de inclinarse por uno de los dos prototipos en
H ISTO RIA DEL TEX TO
CCLV
cuestión. N o nos interesa ahora cuántos y quiénes optaron por
cada uno, ni qué factores materiales o intelectuales determina­
ron la elección. Porque, en resumidas cuentas, quien acabó
triunfando fue d o n ju án Antonio, no tanto en el sentido de que
sus ediciones de 179 7 fueran reproducidas con m ayor frecuen­
cia, cuanto por el hecho de que la vulgata de la obra que pre­
domina en la primera mitad del O chocientos responde sobre
todo al planteamiento de aquél.
E n 1780, 1782 y 1787, la docta corporación había dado la
Primera parte de acuerdo fundamentalmente con la revisión de
1605, según su criterio propio, mientras en 18 19 , prefiriendo la
de 1608, se pasaba al terreno de Pellicer. Se equivocó la A ca­
demia, se equivocaba. E l yerro estuvo en la edición de base,
pero todavía más en la form a de preparar el texto, sin un cote­
jo íntegro y minucioso de las versiones de 1605 y 1608 (ni lu e­
go, cuando reapareció, de la princeps) y sin ir apenas más allá de
verificar las variantes consignadas en 1780. Pero, com o Pellicer
tampoco se había distinguido por el escrúpulo de sus compul­
sas, el caso es que la vulgata quijotesca del Quijote de 1605 fue
por mucho tiempo una mixtura mal discernida de la segunda y
la tercera edición de R obles.
Hacia la edición crítica: tanteos y renuncias
N adie en varios decenios pareció darse de veras por enterado
de la revelación que el benemérito don Vicente Salvá había he­
cho en su Catalogue of Spanish and Portuguese Books (1829) y con
más detención en un artículo de E l Liceo Valenciano (1840): las
ediciones madrileñas con fecha de 160$ no habían aparecido en
el orden supuesto por los académicos de la Española, sino exac­
tamente al revés. Nadie, hasta que Ju an Eugenio Hartzenbusch
tuvo la ocurrencia, más descabelladamente romántica que toda
su obra teatral, de llevarse a Argam asilla de A lba al editor
M anuel R ivadeneyra (y hasta al infante don Sebastián Gabriel)
para imprimir allí, en la «casa que fue prisión de Cervantes»
(creían ellos), un par de Quijotes en «edición corregida con
especial estudio de la primera»: uno en cuatro dozavos y, en
seguida, como volúmenes III-V I de unas Obras completas de
CCLVI
PRÓLOGO
Cervantes, otro en igual núm ero de cuartos, los dos datados
en 1863.
Hartzenbusch sí comparó despacio, y con larga cola, la prin­
ceps del Ingenioso hidalgo y las revisiones de 1605 y 1608. E n
1843, reseñando el comentario de Clem encín, lo censuraba por
devolver el adverbio de negación a una frase que en 1605 no
lo llevaba: «una estrella que, no a los portales, sino a los alcáza­
res de su redención le encaminaba» (I, 2, 52). La princeps le en­
señó que don D iego llevaba razón, y, como en ese pasaje, si a
m ayor escala, el cotejo le brindó perspectivas inesperadas, m o­
viéndolo a concluir que las ediciones de R ob les estaban plaga­
das de «erratas y dislocaciones» de los cajistas: la variante de
1605 a cuenta de la excom unión de don Q uijote (I, 19, n. 47)
le hacía «inferir que se había impreso un trozo del capítulo fue­
ra de su lugar, dando con ello ocasión a los críticos de enten­
der que era de Cervantes una grave contradicción allí cometi­
da»; la ausencia en la princeps del pasaje sobre el robo del asno
(I, 23, n. 18), «tantas veces echado en cara» al novelista, le con­
firmaba «que aquello no había sido falta de memoria del autor,
sino culpa de los impresores». Etc., etc., etc.
U n mundo nuevo se abría ante su vista. Hartzenbusch no
dudó en desplazar a otra página, zurcido con unas palabras de en­
garce, el «trozo ... fuera de su lugar», ni en correr dos capítulos
más allá el hurto del rucio. Acertadas o no, tales decisiones no
eran sin embargo insensatas. Pero, comprobada la falibilidad de
las ediciones originarias y poseído por el entusiasmo del descu­
bridor, tampoco vaciló ya en introducir en las dos partes del Qui­
jote cuantas modificaciones se le pasaron por la cabeza (señalán­
dolas siempre, eso sí, pese a no dar registro cabal de variantes), ni
en adoptar diversas soluciones en cada una de las tiradas de A rgamasilla. Entre sus centenares de propuestas, no podían faltar al­
gunas óptimas (como fontana, por fortuna, en I, 26, 318, o nuestro
renegado, y no Morrenago, en I, 4 1, 524), pero las más responden
sencillamente a la incomprensión o a las dotes creadoras de don
Juan Eugenio. Quien, por no pasar de un ejemplo del comien­
zo, no sabiendo qué diantres fueran las «cartas de desafíos» (I, 1, 40),
lee una vez «cartas de amoríos» y otra «cartas de desvarios».
Es obligado decir, no obstante, que Hartzenbusch no sé ago­
ta en esos «desvarios». Desde la división de la novela en párra­
H ISTO RIA DEL TEXTO
CCLVII
fos (piénsese lo que se piense sobre la pertinencia de tal proce­
der) hasta la (post)modernidad de varias interpretaciones suyas
(él fue el primero en hablar de la oralidad esencial del Quijote
o en enlazarlo con la tradición carnavalesca), en el haber de
Hartzenbusch hay otras contribuciones que le aseguran una p o ­
sición relevante en la historia del cervantismo, incluso desde el
punto de vista textual. La embriaguez correctora le duraba aún
en 1 865, y a punto estuvo de forzarlo a dejar de verse por la E s­
pañola, cuando allí se planeó una nueva edición de la obra (por
dicha, nunca rematada) y los académicos se negaron a abrazar
ciertos dictámenes suyos, «ni reproduciendo ediciones ajenas
[es decir, argamasillescas], ni formando un sistema nuevo de
correcciones al Quijote». Pero unos años después Hartzenbusch
volvía a la brecha con el ánimo y el saber m ejor templados.
La oportunidad se la dio el coronel don Francisco López Fa­
bra, inventor de la excelente técnica de la «foto-tipografía», que
perfeccionaba los sistemas de grabado fotográfico existentes, y
con la cual reprodujo entre 18 7 1 y 1879 las dos principes y una
abundante Iconografía del «Quijote». La empresa se llevó a cabo
en Barcelona, cuyo fervor cervantino y espléndidas colecciones
la convertían en sede ideal para el trabajo, pero el volum en ter­
cero (1874) lo constituyeron Las 1633 notas puestas por el Exmo.
e limo. Sr. D . Juan Eugenio Hartzenbusch al pionero facsímil.
Consisten éstas en el repertorio íntegro, sin excluir los gazapos,
de las diferencias entre los Q uijotes de R ob les, acrecentadas en
muchos casos con las propias de Bruselas, 1607, Madrid, 16 36
y sucesoras inmediatas, Londres, 17 3 8 , y otras ediciones nota­
bles, de la Academia a Clem encín. H ay, cierto, faltas menudas,
pero la colación es sustancialmente válida, y tanto los textos de
donde se toman las variantes como la selección que de ellas se
ofrece, cuando no era el caso de recogerlas todas, muestran un
tino sin parangón hasta la fecha. En buena parte de Las 1633 no­
tas, Hartzenbusch aduce además autoridades, referencias y ex ­
plicaciones que echan luz por entonces no usada sobre los pro­
blemas textuales de la obra.
Sorprende la ponderación que exhibe ahora el bueno de don
Ju an Eugenio. N o sólo descarta de manera tácita o expresa bas­
tantes de sus lecturas de 1863 inequívocamente descarriadas
(otras las retiró luego en varios artículos), sino que incluso
CCLVIII
PRÓLOGO
cuando persiste en alguna (como los amoríos o desvarios de ma­
rras) lo hace con una mesura, cautela y ciencia que antaño no
gastaba, alegando razones y paralelos, considerando todas las
posibilidades que conoce o se le ocurren. Hartzenbusch no era
filólogo, pero la curiosidad y la pasión le acercaron a serlo, en­
señándole multitud de cosas a menudo ignoradas por los edito­
res más recientes: desde la necesidad de compulsar directamen­
te las impresiones primitivas, estudiar la escritura dfel autor o
sacar partido de los datos tipográficos hasta el justiprecio de la
«sustitución silenciosa ingerida por un modesto regente de im ­
prenta». Es verdad que nunca perdió la fantasía (ni una irrepri­
mible tendencia a mezclar berzas con capachos), pero Las 1 633
notas nos ponen ante un conjunto de materiales, modos de tra­
bajar y observaciones textuales que el cervantismo m oderno ha
incrementado en una magnitud m enor que Hartzenbusch en
relación con quienes lo precedieron.
E l facsímil de López Fabra, uno de los más fiables que se han
publicado, y Las 1633 notas, con su acopio de datos, ponían ge­
neralmente ante los ojos los fundamentos mínimos para aco­
meter una edición crítica del Quijote: una edición, vale decir,
que tomara en cuenta, si no la totalidad, lo más primordial de
los testimonios e indicios disponibles y, tras analizarlos m etódi­
camente, procurara caso por caso argumentar y determinar la
lectura querida por Cervantes, incorporando toda la docum en­
tación precisa para que, sin más, cualquier experto pudiera
aprobar, rechazar o rectificar las soluciones adoptadas. Esa edi­
ción crítica no podía ser, obviamente, com o hoy la exigiría­
mos, pero el estado de la filología europea en 1874 permitía y
pedía pasos resueltos en la dirección adecuada.
P or desgracia, ni los españoles ni los hispanófilos estaban en
condiciones de avanzar en semejante dirección. A l contrario,
las ediciones que aparecen en el último cuarto del siglo x i x
son, cuando no dislates sin paliativos, antiguallas convictas y
confesas (en general, secuela de las académicas o de fuentes to­
davía más turbias), o bien suponen un declive con respecto al
nivel apuntado en Las 1633 notas. N o las ojearemos aquí, ni si­
quiera con la brevedad con que hemos avistado la s,de otras
épocas: una vez puestos sobre la mesa los elementos esenciales,
las ediciones del Ochocientos tardío y las posteriores sólo nos
H IST O RIA DEL T E X T O
CCLIX
interesarán cuando intenten hacerse cargo de todos o la m ayor
parte de ellos para progresar en la recuperación del texto más
auténtico del Quijote, y den cuenta detallada del fundamento o
el origen de las lecturas en que se apartan de las principes.
Fuerza es decir que en los días de la Restauración no sopla­
ban vientos favorables a la del Quijote. Cuando don R am ón
León Máinez, director de la representativa Crónica de los cervan­
tistas, emprende una nueva edición (Cádiz, 18 77-18 79 ), su cui­
dado mayor es proclamar que para el Ingenioso hidalgo no se vale
sino de la impresión princeps de Cuesta (entiéndase: de López
Fabra), pues las otras dos «tienen muchos más defectos que la
primera, faltando a ésta sólo algunos párrafos, que es lo único
que debe aceptarse en las sucesivas». La realidad de tal criterio
se advierte ya en la página contigua (Máinez empieza su Quijo­
te con la apócrifa dedicatoria), donde se imprime «contenién­
dose en los límites de su ignorancia», de acuerdo con 1604, en
vez de «no conteniéndose...», según se corrigió en 1605.
Sucede, no obstante, que en Las 1633 notas (y diez años an­
tes en un artículo) Hartzenbusch había demostrado que la de­
dicatoria entera está trenzada con lizos de los preliminares al
Garcilaso (1580) de Fernando de Herrera, y la frase citada apa­
rece allá con el no por delante. Ahora bien, M áinez ocultaba
deliberadamente ese hecho, del que tenía perfecta noticia, para
no debilitar el único principio que en teoría (la práctica fue
bastante distinta) inspiraba su texto: el m áxim o «respeto» a la
princeps. Pero ahí, com o en infinidad de casos, el balance no
podía estar más claro: de un lado, las subsiguientes ediciones de
R ob les, el respaldo de la tradición, la idoneidad semántica y la
segura dependencia de una fuente; del otro lado, sólo la fe en
la princeps, la presunción de que a cualquier razonamiento y
autoridad bastaba oponer un Ipsa dixit. A falta de los conoci­
mientos imprescindibles, esa fe, ciega y sin obras, resolvía el
problema de editar el Quijote con una decorosa apariencia de
rigor.
M áinez está ligéramente más olvidado de lo que de suyo m e­
rece (aunque Hartzenbusch le propinó en el Madrid literario un
varapalo digno de recuerdo), porque él, su retórica (nota 1:
«¡Qué modelo más acabado de dedicatoria esta bella epístola de
Cervantes! ¡Q ué nobleza de sentimientos demuestra! ¡Qué rau-
CCLX
PRÓ LO GO
dal de gratitud...!») y la mayoría de los cervantistas de la Cróni­
ca pertenecen a una etapa anterior y ajena a la constitución de
una «comunidad científica internacional» (como suele decirse)
con competencias ampliamente reconocidas para juzgar sobre
materias relativas a la literatura española del Siglo de O ro. A ese
ámbito, institucionalizado en universidades, revistas, bibliogra­
fías, y consolidado con relaciones personales, sí se vincula en
cambio Jam es Fitzm aurice-Kelly, quien, en colaboración con
Jo h n Ormsby para los veinticinco primeros capítulos, publicó
en 1898, con señorial tipografía, inigualablemente inglesa (Lon­
dres y Edim burgo, «por T . y A . Constable, impresores de cá­
mara de Su Majestad»), una edición del Quijote que se decía la
«primera ... del texto restituido».
La identidad de Fitzm aurice-Kelly como hispanista (según la
acuñación que M orel-Fatio divulgó desde 1879) y la adhesión
que mostraba a ciertas convenciones filológicas (así en la forma
de consignar las variantes en el aparato crítico o, frente al Qui­
jote gaditano, en la mesura de la modernización ortográfica) han
dado a la edición del Desastre un prestigio que probablemente
no le corresponde. Porque el hecho es que el entonces profe­
sor de Cambridge no estaba demasiado por encima de Máinez,
con quien coincide puntualmente en la declaración de princi­
pios inicial: «hemos procurado presentar el texto limpio de las
arbitrarias alteraciones introducidas por nuestros predecesores
... imprimiendo íntegramente el texto de la primera edición,
salvo patentes errores de imprenta, añadiendo en las notas las
variantes de más importancia y rechazando toda enmienda con­
jetural cuando nos parece que el texto prim itivo expresa m ejor
la intención del autor».
Tom ado a la letra, es decir bien poco, porque claro está que
ningún editor acogerá una enmienda si estima más fiel al autor
«el texto primitivo». La cuestión estriba en cóm o reconocer los
«errores de imprenta» y en si la sujeción a las principes no supo­
ne una simple coartada para esquivar la responsabilidad de un
ejercicio crítico informado y estricto. Es preciso también tener
presente el panorama con que se encuentran M áinez y Fitz­
m aurice-Kelly. E n sus respectivos preámbulos no queda ni
sombra de duda sobre cuáles son los modos de proceder a que
se oponen, el reverso de la actitud que ellos propugnan: el hi-
H IST O R IA D EL TEX TO
CCLXI
bridismo inconsecuente de la Academia y las «arbitrarias altera­
ciones» de Hartzenbusch.
Tal reacción era comprensible y en más de un aspecto legí­
tima y sana. Comprensible, porque la edición académica había
ido a peor de 1780 a 18 19 , las enmiendas de Argamasilla con
frecuencia clamaban al cielo y se vivía en los tiempos de las su­
percherías pseudocervantinas (con E l buscapié al frente), de las
exégesis esotéricas de Nicolás Díaz de Benjum ea (que hizo
suyo el Quijote de Argamasilla) y de los dilettanti incontrolados
(el médico palentino Feliciano Ortego difundiría pronto un In­
genioso hidalgo fundado «en las anotaciones, acotaciones y co­
rrecciones que en márgenes y cuerpo de la obra colocó E l gran
Cervantes en el ejemplar prueba que de su puño y letra consti­
tuye su única y verdadera capilla») : había que extremar las di­
ferencias y asumir trazas de seriedad y buena disciplina. Legíti­
ma y saña, porque después de tantas contaminaciones salvajes y
titubeos editoriales hacía falta una referencia firme, cuando m e­
nos un pulcro texto de cotejo, y para tenerlo era obligado echar
mano de las principes.
Pero la panacea de M áinez y Fitzm aurice-Kelly no surgía del
estudio minucioso de las fuentes, sino de la falta de estudio, de
la cómoda* eliminación previa de cuanto no fueran las impre­
siones de 1604 y 16 1$ . Hartzenbusch ya notó que Máinez no
había visto otras. Sobre la efectividad de las colaciones de Fitzm aurice-Kelly caben hartas dudas: no sobre la evidencia de que
pasa por alto incontables variantes de las ediciones que dice ha­
ber cotejado o de que las procedentes en última instancia de la
valenciana de 1605 y de las madrileñas de 16 37, «1647, 16 52
[5/c] y 1668» las toma de hecho de la Academia y de... Las 1633
notas. Estas, desde luego, se guarda bien de citarlas, mientras a
los «desvarios» argamasillescos les asigna una parte despropor­
cionada del aparato crítico: está claro que los antípodas le con­
dicionan más que el norte. Pero si al cotejo incompleto y al in ­
suficiente trato directo con los textos se unen las numerosas
lecturas que (por'defecto) resultan atribuidas a 1604 y 16 15 , sin
corresponderles, y se suma lo errático de las conjeturas al
cabo admitidas, no sonará injusto concluir que la edición de
Fitzm aurice-Kelly es más un farol que una buena baza: ni cum ­
ple los fines que promete, ni pasa de un gesto de rebeldía con-
CCLXII
PRÓLOGO
tra las lacras de la vieja época, que ella misma arrastra aún a no
pocos propósitos.
M ejor encaminado, más honestamente laborioso y algo me­
nos insatisfactorio es el Quijote en seis volúmenes cuidado por
el presbítero Clem ente Cortejón, catedrático del Instituto de
Barcelona (Madrid, Victoriano Suárez, 19 0 5 -19 13 ; todos los
tomos, con la colaboración de sus mejores alumnos, y el últi­
mo, postumo, dispuesto por J . Givanel Mas y J . Suñé Benages).
Cortejón sí vio y colacionó abundantes ediciones antiguas y
modernas (veintiséis para la Primera parte, veinte para la Se­
gunda) intentando «conciliar sus discrepancias», «elegir de sus
varias lecciones aquella que salva un absurdo» o «consiente m e­
nor número de objeciones» y «apuntando las restantes en la lis­
ta que va al pie de cada página». U na cierta debilidad por la re­
visión de 1605 no le impide seguir «el sistema ecléctico» y optar
en cada caso por la variante que le parece correcta, venga de
donde viniere.
Los planteamientos están, pues, bastante bien orientados,
pero la realización no puede ser más desafortunada. E n primer
lugar, C ortejón elige mal y emplea mal las impresiones que
maneja. Para el Ingenioso hidalgo, así, el registro completo de las
variantes de las dos lisboetas de 1605 o de la familia formada por
Valencia, 1605 y 16 16 (pero con la misma fecha de la anterior),
Milán, 16 10 y Barcelona, 16 1 7 (todas descriptae de la primera
valenciana) sólo se justificaría (relativamente) en una edición
variorum en que se hubiera hecho lo mismo con otras que ocu­
pan un lugar más estratégico o más relevante en la transmisión
de la obra. Pero si no se recurre, pongamos, a un texto de po­
sición tan central como el madrileño de 16 3 6 -16 3 7 , es absurdo
recoger todas las discordancias de tales ediciones (y no única­
mente las lecturas singulares con interés ecdótico o histórico),
revueltas, además, con las modernas sin valor alguno (Arrieta o
Benjum ea, por ejemplo) y anotando incluso diferencias gráficas
enteramente desdeñables (como entre ese alta y baja). Supues­
to que, por otro lado, la cantidad de errores de colación es al­
tísima y nunca se puede dar por seguro de qué impresión sale
una determinada variante, el resultado es un aparato crítico
(negativo, con la confusión consiguiente) pura y simplemente
inutilizable. ¿Habrá que decir que tal ceguera en la recensio no
H ISTO RIA DEL TEX TO
CCLXIII
se acompaña de m ejor puntería en la emendatio? Por desgracia
así ocurre, y las buenas intenciones y los materiales ocasional­
mente útiles del honrado C ortejón naufragan o se pierden por
absoluta falta de capacidades para la labor.
E l texto publicado en la Bibliotheca R o m an ica (Estras­
burgo, etc., 19 1 1 - 1 9 1 6 ) por W olfgang von Wurzbach, conju­
gando un ignorante apego a «las ediciones legítimas» con el
despojo (tácito) de C ortejón para la inserción de unas escasas
variantes, atestigua que la situación tampoco era por aquellos
tiempos demasiado próspera en la cuna de la filología «cientí­
fica». Q ue no había m ejorado en el decenio siguiente lo rati­
fica Adalbert Häm el, dando en la Rom anische Bibliothek
(M ax N iem eyer, Halle, 19 25-19 26 ) una supuesta «kritische
Ausgabe» de la Primera parte cuyo aparato es una gratuita an­
tología de unas cuantas lecturas y bastantes gazapos de 1605 y
1608, con un puñado de variantes tomadas de acá y allá (en par­
ticular de Fitzmaurice-Kelly, erratas incluidas), pasmosos dispa­
rates de copia y algunas conjeturas com o pendón, en la duda en­
tre perdición y petición. N o debe sorprendernos, por ende, que
sea un abogado de Osuna, hombre del siglo x i x de la cabeza a
los pies, quien tenga en su haber el Quijote más reputado y di­
fundido durante gran parte del siglo x x : «el Quijote, que el
poeta ha llamado / “ ese libro inmortal anotado / por Francis­
co R odríguez M arín” » (según una copla de hacia 19 27 e inse­
gura atribución).
R odríguez M arín no tuvo una form ación lingüística ni lite­
raria del tipo que don R am ó n M enéndez Pidal estaba asentan­
do entre nosotros, pero las pesquisas en archivos, las inmensas
lecturas (antes y después de llegar a la dirección de la Bibliote­
ca Nacional) y el tesón intelectual le hicieron adquirir un saber
envidiable, y cuando la revista La Lectura inició su popular co ­
lección de Clásicos Castellanos él era sin duda el cervantista que
a los ojos de todos parecía en mejores condiciones de acome­
ter una nueva edición del Quijote, que, en efecto, vio la luz en­
tre 1 9 1 1 y 1 9 1 3 , ‘en ocho volúm enes de la serie. A la edición
de Clásicos Castellanos (reimpresa tal cual hasta hace pocos
años) siguieron otras tres aparecidas en 19 1 6 - 19 1 7 (Madrid, T i­
pografía de la R evista de Archivos), 19 27 -19 28 (idem) y 19471948 (Madrid, Atlas, ya tras la muerte de don Francisco), cada
CCLXIV
PRÓLOGO
una (y en especial la última) con valiosas novedades respecto a
la anterior, pero todas cortadas básicamente por el mismo patrón.
La contribución de R odríguez M arín a la inteligencia del
Quijote está fundamentalmente en sus escolios, que contienen
un tesoro de información sobre palabras y cosas de la época.
N o hay, sin embargo, aspecto de la novela que no se beneficie
más o menos esporádicamente de su familiaridad con los libros
y los documentos coetáneos. Por lejanos que nos resulten el
pretendido casticismo de su prosa y el gracejo que aspira a dar­
le, es indiscutible que su comentario supone un paso formida­
ble en la elucidación literal de la obra: B o w le, Clem encín y
don Francisco son los tres grandes anotadores del Quijote, y los
restantes no van (no vamos) más allá de añadir respuestas a
cuestiones de detalle.
Cosa distinta son sus dotes y hábitos textuales. La edición de
los Clásicos Castellanos sólo se insinuaba com o «crítica» con­
traponiéndose discretamente a la de Cortejón, pero las poste­
riores reivindicaban el marbete sin paliativos. Am érico Castro,
reseñando la segunda en la Revista de Filología Española (19 17),
señalaba que el adjetivo no podía entenderse en su «sentido téc­
nico». Cortés y aun elogioso, pero reticente, el futuro autor de
E l pensamiento de Cervantes (ya en germen al final de la recen­
sión) marcaba inequívocamente la distancia entre el trabajo de
don Francisco y las exigencias de la más sólida filología del m o­
mento (vale decir, las pautas del Centro de Estudios Históri­
cos): «Es evidente que para justificar el dictado de “ crítica” ha­
bría hecho falta estudiar metódica y minuciosamente las
ediciones que utiliza, indicar siempre las variantes, conservar la
ortografía, etc.».
Tenía razón. Rodríguez M arín se vale de un empirismo
cuerdo e ilustrado, pero insuficiente. E l criterio que enunciaba
en 1 9 1 1 de seguir «preferentemente el [texto] de la edición
príncipe, así de la Primera parte (1605) com o de la Segunda
(1615)», y apartarse de él sólo «en contadas ocasiones» fue cum­
pliéndolo progresivamente con más firmeza (para bien o para
mal) en 19 16 , 1927 y 1947; pero la declaración de que los des­
acuerdos frente a la princeps se consignan «casi siempre ... en las
notas» nunca llegó a aplicarla en la medida necesaria, pues en
multitud de casos se separa de aquélla (insistamos: para bien o
H ISTO RIA DEL TEXTO
CCLXV
para mal) sin advertencia de ningún género. Rodríguez M arín
no había explorado por sí mismo la transmisión del Quijote y
carecía de la perceptividad que sólo se gana con la experiencia
del cotejo directo. La Academia, Hartzenbusch y Cortejón le
habían llamado la atención sobre muchas variantes (sin perjui­
cio de que luego pudiera comprobarlas personalmente), y, una
vez convencido de la bondad de una, no le interesaba dema­
siado anotar las demás, ni le inquietaba en absoluto la conve­
niencia de tomarlas todas com o señal de problemas concretos
o, en general, como síntoma del m odo de proceder de la prin­
ceps en relación con el original. La falta de intimidad con las
fuentes textuales le priva, así, de subsidios insustituibles para
una edición crítica. Pero, cuando los datos de que dispone son
lo bastante amplios, su conocim iento de Cervantes, de la len­
gua y la cultura del Siglo de O ro le permite discriminar con
notable nitidez el grano de la paja, y repetidamente sabe que­
darse con la lección acertada.
Quizá no cabe decir lo mismo de otra gran edición contem­
poránea de las suyas y en varios aspectos abiertamente superior:
la firmada por R o d o lfo Schevill y Adolfo Bonilla, aunque ela­
borada sólo por el distinguido hispanista de Berkeley, en cua­
tro tomos (Madrid, Gráficas Reunidas, 19 2 7 -19 4 1) de las que
todavía hoy son las mejores Obras completas de Cervantes con
que contamos (gracias al mecenazgo de Mrs. Phoebe Apperson
Hearst y sus herederos). Los cimientos de Schevill están en una
atenta colación de las cuatro impresiones de R obles y, para el
primer Quijote, también de la bruselense de 1607. Unos ci­
mientos, pues, limitados, pero macizos, porque Schevill es tan
cuidadoso en la transcripción como en el registro de variantes,
si no irreprochable, sí más cabal que todos los precedentes.
Su mismo celo, sin embargo, pone ante la vista deficiencias
que no se dejan apreciar en otros editores: en particular, que
tanto o más que con las principes originarias Schevill trabajaba
con facsímiles, según el uso más extendido desde la aparición
del de López Fab'ra. C om o muestra, baste notar que buena par­
te de las veces que, en su deseo de exactitud, indica la diver­
gencia entre «algunos ejemplares» de la primera edición, nos
hallamos meramente ante retoques o defectos de los facsímiles
en circulación. H ay que decir, no obstante, que los progresos
CCLXVI
PRÓLOGO
del siglo X I X mantuvieron vivo durante muchos años el inge­
nuo convencimiento de que «la fotografía aplicada a la im ­
prenta es tipógrafo que no sabe hacer sino exacta la copia» (así
lo creía Hartzenbusch en 1874), descuidando sus imperfeccio­
nes técnicas y, como consecuencia más seria (y tampoco deste­
rrada aún), ignorando la generalizada intervención de los im ­
presores en los fotolitos o negativos. Schevill no había podido
hacer suya la lección que hoy se aprende en cualquier cursillo
de rudimentos de ecdótica: la necesidad de manejar directa­
mente las fuentes sigue vigente cuando el editor se auxilia con
facsímiles (o, desde luego, con microfilmes y fotocopias).
Ese malogrado intento de fidelidad era por otro lado solida­
rio de la creencia en que una princeps del Quijote «se ha de re­
verenciar como si fuera el manuscrito» cervantino autógrafo
que Schevill suponía reflejado en ella, creencia y suposición que
lo empujaban a contemplar su propia tarea meños como de
edición que de «reproducción» de los impresos de 1604 y 16 15 .
Sólo por excepción, efectivamente, admite lecturas de otros, y
es parquísimo incluso en aducir variantes que no salgan de
Cuesta o Velpius. Podemos lamentar tal estrechez de miras,
siempre y cuando advirtamos asimismo que ScheviU, con los
medios y los conocimientos a su alcance, procede con conse­
cuencia y probidad, y que después de tantas falsas alharacas,
desde M áinez, y tantas falsas proclamaciones de acatamiento a
los primitivos textos madrileños, su reacción conservadora
prestaba un excelente servicio a los estudiosos.
Pero no debemos confundir los fines con los medios, ni las
soluciones con los problemas: producir un instrumento de tra­
bajo no es establecer un texto. Esto último pide interpretacio­
nes y decisiones que Schevill esquiva reiteradamente, hasta el
punto de que a veces es imposible saber si la suya es tal lectura
o bien tal otra (ocurre así, por ejemplo, cuando deja de acen­
tuar vocablos que toleran varias posibilidades o pone entre pa­
réntesis «las letras o palabras del original que a [su] parecer so­
bran», en lugar de eliminarlas y consignar el cambio en el
aparato, com o hace de manera regular). U na edición crítica lo
es, por un lado, en la medida en que permite al lector disponer
de los mismos elementos de ju icio que el editor y constituir
con ellos un texto sin embargo distinto; pero es crítica también,
H IST O RIA DEL TEX TO
CCLXVII
por otra parte, en tanto restituye la lección más próxima a la
deseada por el autor. D e ahí, de la irresolución y de la timidez
en la enmienda, la paradoja de que la edición de Schevill, cla­
ramente más crítica en el prim er sentido, tal vez se acerque m e­
nos a Cervantes que la de R odríguez Marín. O, dicho de otra
forma, que mientras al cervantista de los años cuarenta le era
obligado servirse de Schevill, quien no se picara de experto
probablemente hacía m ejor recurriendo a R odríguez Marín.
Las virtudes de Schevill y las carencias de Rodríguez M arín
(que no al revés) han condicionado la ortodoxia del cervantis­
mo en la segunda mitad del siglo x x , como a finales del ante­
rior la condicionaron negativa y positivamente los dos polos de
Hartzenbusch y Fitzmaurice-Kelly. La noción preponderante
tiene una cara y una cruz. La cara predica que una edición del
Quijote debe olvidar la existencia de todas las demás y atender
única y exclusivamente a las impresiones de 1604 y 16 15 , pues
corregirlas «con lecturas de cualquier otra es una arbitrariedad»
(J.B . de Avalle-Arce). La cruz implica que la garantía de acier­
to en las dudas que lleguen a suscitarse consiste en el apego es­
tricto y poco menos que incondicional a la princeps.
Es norma definitoria de la crítica textual que «every w ord
and every punctuation mark are suspect» (G .T . Tanselle) y que
el editor no puede darlos por buenos sin someterlos uno por
uno al minucioso escrutinio que los corrobore o descarte com o
válidos. La corriente m ayor del cervantismo en el último m e­
dio siglo ha afirmado exactamente lo contrario: «cada palabra y
cada signo de puntuación» de las primeras ediciones, incluso
cuando su falta de adecuación había parecido manifiesta desde
los días del propio Cervantes, se presumen correctos por prin­
cipio, atribuyendo así a la princeps en los puntos problemáticos
una patente de infalibilidad en contradicción con su super­
abundancia de errores obvios. A tal convencimiento, por otra
parte, se llega no tanto por acopio cuanto por exclusión de m a­
teriales y, en concreto, por negación de las dos solas vías posi­
bles para restaurar un texto maltrecho: el cotejo, que puede lo ­
calizar intervenciones del autor no tomadas en cuenta (en
nuestro caso, en las impresiones de 1605 y 1608, pero incluso
en la misma de 1604), y la conjetura, sea propia del editor o es­
pigada en la transmisión de la obra, particularmente en la más
CCLXVIII
PRÓLOGO
cercana al escritor, siempre que una y otra respondan a los cri­
terios fundamentales de la ecdótica. E l paradigma para la edi­
ción del Quijote fue, así, la renuncia a la edición crítica.
N o es fácil entender cómo llegó a entronizarse tal actitud, y
precisamente en los años en que el arte de editar los textos co­
noció etapas tan florecientes com o las marcadas por la escuela
italiana de Pasquali y Contini o por los desarrollos de la textual
bibliography. La respuesta quizá resida en una cierta insularidad
del cervantismo, cultivado desde antiguo com o parcela con en­
tidad propia y, por tanto, con independencia de otros estudios
pertinentes a la historia de la lengua y de la literatura. Por otra
parte, la introducción en España de los hábitos más rigurosos
de la filología fue en gran medida mérito de don R am ó n M enéndez Pidal, y los temas, los tiempos y los modos de investi­
gación preferidos por el maestro no favorecieron especialmen­
te los trabajos ecdóticos relativos a la Edad M oderna: hasta el
extremo de que hubo que esperar hasta L965, con La vida del
Buscón cuidada por Fernando Lázaro Carreter, para saludar «la
primera edición de un clásico castellano hecha por un filólogo
español con aplicación exacta del m étodo neolachnianniano»
(Oreste Macrí).
Sea por esas entre otras o sea por las razones que fuere, el
hecho es que después de Schevill y R o d rígu ez M arín la pauta
editorial prevaleciente para el Quijote ha consistido en «la pre­
tensión, cada día más extremada, de querer ajustarse al texto
de las ediciones príncipes» (José M . Casasayas), en detrimento de
cualesquiera otras fuentes y otros datos. La form ulación más
drástica de tal pretensión se halla en el prólogo a la edición semipaleográfica de R o b ert M . Flores (1988), que se dice fun­
dada «exclusivamente en el texto y en las características tipo­
gráficas» de los ejemplares de L604 y 1 6 L 5 que maneja, «sin
tomar en cuenta ninguna otra edición de la obra, ni de nin­
guna otra obra de Cervantes, ni de ningún otro elemento aje­
no a Cervantes en ningún período en la historia de la lengua
española». La clausura de horizontes se vuelve precepto para la
edición del Quijote.
Por ahí, la forma en que los nuevos editores de la novela han
aspirado a superar a sus predecesores, proscrito por principio
cualquier otro camino, ha querido ser aventajarlos en exactitud
H IST O RIA DEL T E X T O
CCLXIX
en la transcripción material de la princeps: en teoría buscando
una mayor adhesión al original cervantino, pero en la práctica
confundiendo tal objetivo con la pura y simple reproducción
de las primeras impresiones de Cuesta. La trayectoria ecdótica
del Quijote se ha convertido, así, en una competición por sal­
var más lecturas de la princeps, por encontrar algún sentido a
más momentos sospechosos de yerro, por admitir más lugares
sobre cuya inadmisibilidad nunca se había vacilado. E l máximo
exponente de semejante tendencia fue Vicente Gaos (19 19 1980), que por desgracia no llegó a ver de molde el Quijote que
lo atareó durante lustros y sólo se publicó postumamente gra­
cias al ejemplar desvelo de Agustín del Cam po (Madrid, G redos, 1987, en tres tomos, el tercero de apéndices y otros com ­
plementos): el Quijote más volum inoso aparecido después de
R odríguez Marín.
Gaos, buen poeta e intelectual estimable, pero sin una pre­
paración filológica suficiente, confesaba haber aportado a su
edición del Quijote «muy poca erudición original o de primera
mano», en tanto la reivindicaba paladinamente como muestra
de una «renovación sustancial» en la «comprensión del arte de
Cervantes» a la luz de la «personal intuición iluminadora» que,
afirmaba, es la única en revelar «la singular totalidad en que la
obra literaria consiste». E n efecto, sus contribuciones al enten­
dimiento lingüístico o histórico del texto son escasísimas,
mientras el acento se pone en el comentario «de crítica e inter­
pretación literaria, estético, filósofico» (y aun en las reflexiones
puramente subjetivas). N o en balde Gaos elogiaba a Clem encín por haber realizado «el primer esfuerzo de interpretación
estética y filosófica» del Quijote, lleno de «grandes intuiciones»,
de «sugestiones hondas y fértiles», aunque lastrado, añadía, pol­
la idea de que Cervantes redactó la novela «inconscientemen­
te, sin plan n i concierto, sin recordar lo que llevaba escrito ni
saber lo que escribiría después: “ N o pudo libro alguno hacerse
menos de pensado” . D e ahí los “ errores” que creyó descubrir
y que no existían más que en su mente».
N o nos corresponde ahora enjuiciar la orientación ni la cali­
dad de las notas de Gaos, pero las consideraciones recién co ­
piadas subyacen decisiva e innegablemente a su actuación tex­
tual. Frente al escritor «inconsciente» de Clem encín, frente al
CCLXX
PRÓLOGO
«ingenio lego» del siglo x v n y del siglo x i x , Gaos opina que
en el Quijote todo es «plan, consciencia, premeditación», y «el
novelista domina en todo m omento la totalidad de su obra»:
«pocos autores tan vueltos sobre sí mismos, tan reflexivos y
atentos a su propia labor». E n vez de los «errores», «olvidos» o
«descuidos» que Clem encín censura y enmienda o propone en­
mendar, Gaos no ve sino sutiles artificios de Cervantes para
avergonzar al lector que crea que los «descuidos» son involun­
tarios, reírse de quienes perciban los supuestos «olvidos» o,
pongamos, con los «errores» en las citas burlarse de los pedan­
tes que yerran en las citas... Ahora bien, quizá sin percatarse de
la transferencia, Gaos traslada del autor al taller de Cuesta esa
imagen sublimada de perfección y acierto indefectible y erige
en norma editorial exclusiva el más rendido acatamiento a la
princeps. Q ue «Cervantes o la edición príncipe» (con tajante
equivalencia) lleguen a equivocarse es hipótesis que descarta
sistemáticamente: «El error atribuido a Cervantes o a la edición
príncipe se basa en una mala interpretación...», «No hay ni olvi­
do ni errata, sino mala interpretación...» son asertos que, repeti­
dos en cien maneras, gobiernan todo su quehacer.
N unca antes ni después, en verdad, se ha publicado un Qui­
jote de más «escrupulosa fidelidad» a las «ediciones príncipe [s/'cj
de 1605 y 16 15»... o, reiteradamente, a las incorrecciones de los
facsímiles al uso. Nunca, por ende, se ha publicado otro, desde
R obles, con tantas violencias sintácticas, concordancias forza­
das, hápax de toda especie, erratas convertidas en rasgos de es­
tilo y triviales fenómenos de corrupción textual contemplados
com o pruebas de la «plena maestría» de un «profundo artista»
en quien «creación y crítica se acompañan paralelamente».
Cualquier cosa, antes que concebir que en la princeps se haya
colado un gazapo.
Por penoso que resulte, es también necesario llamar la aten­
ción sobre los inaceptables planteamientos textuales de Gaos.
T al com o cristalizan en su edición, arropados con notas que re­
cogen otras posibilidades, y al cabo sometidos al veredicto de
los expertos, poco daño pueden hacerle al Quijote. Pero el des­
tino de todas las ediciones de envergadura mayor, desde la aca­
démica de 1780, ha sido siempre acabar suministrando el texto
a las menores y más divulgadas, y ha empezado ya a cumplirse
H IST O RIA DEL T E X T O
CCLXXI
con la de Gaos. Es en esa segunda travesía de los Quijotes para
el público común y la enseñanza donde cabe temer que la edi­
ción de Gaos, con la abundancia de anormalidades y asperezas
que acarrea su ciega devoción a las príncipes, disuada a algunos,
ojalá no demasiados, de adentrarse en el libro más hermoso de
la tradición española. E l objeto de la edición crítica está precisa­
mente en orillar semejante peligro, liberando a la obra literaria
de las adulteraciones que por fuerza produce la transmisión.
Porque, en resumidas cuentas, todas las fatigas de la crítica tex­
tual no tienen propósito m ejor que dar unas horas de «pasa­
tiempo y gusto» (I, 9, 117 ) a los lectores de buena voluntad.
N O TA B IBLIO G R Á FIC A
N o contamos con estudios de conjunto sobre la fortuna textual del Quijo­
te, y los materiales para escribirlos son tan escasos cuanto en general insa­
tisfactorios. E l punto de partida han de ser todavía los grandes repertorios
de Leopoldo R iu s, Bibliografla crítica de las obras de Miguel de Cervantes Saa­
vedra, Librería M urillo, Madrid, 18 9 5-190 5, 3 vols, (reimpr. B u rt Francklin,
N ueva Y o rk , 1970), y J. Givanel i Mas, Catáleg de la col-lecció cervántica fo r­
mada por D. Isidro Bonsoms i Siscart i cedida per ell a la Biblioteca de Catalun­
ya, Institut d’Estudis Catalans, Barcelona, 19 16 -19 2 5 , 3 vols, (que no se
anula, sino se complementa con J . Givanel y Mas y L.M . Plaza Escudero,
Catálogo de la colección cervantina [de la Biblioteca Central, Barcelona], Diputa­
ción Provincial de Barcelona, 19 4 1-19 6 4 , 5 vols.), donde, sin embargo, los
datos a nuestro propósito son ocasionales e inseguros (véase igualmente J.
Suñé Benages y J. Suñé Fonbuena, Bibliografia crítica de ediciones del «Quijo­
te» impresas desde 1605 hasta IQ17, Perelló, Barcelona, 19 17). Varias de las
cuestiones brevemente examinadas en el presente capítulo se tratan con
m ayor detención en m i próxim o libro E l texto del «Quijote».
En espera del amplio y renovador trabajo sobre Juan de la Cuesta que ul­
tima Jaim e M oll, las indicaciones de C . Pérez Pastor, Bibliografia madrileña,
Tipografía de los Huérfanos, Madrid, 18 9 1-19 0 7 , 3 vols., y Documentos cer­
vantinos hasta ahora inéditos, Fortanet, Madrid, 1897-19 02, 2 vols., y de J.J.
M orato, «La imprenta de Juan de la Cuesta», Revista de la Biblioteca, Archivo
y Museo de Madrid, II (1925), pp. 436-441, siguen siendo preferibles a traba­
jos posteriores comó el desdichadísimo de R .W . Clement, «Juan de la
Cuesta, the Spanish B o o k Trade, and a N e w Issue o f the First Edition o f
Cervantes’ Persiles y Sigismundo», Journal o f Hispanic Philology, X V I (1991),
pp. 2 3 -4 1. Sobre Francisco de R o bles y su entorno, consúltense en especial
j.M . Laspéras, «El fondo de librería de Francisco de Robles, editor de C e r­
vantes», Cuadernos Bibliográficos, X X X V III (1979). PP· 10 7 -13 8 , y Christian
CCLXXII
PRÓLOGO
Péligry, «Un libraire madrilène du Siècle d’Or. Francisco López le Jeune
(1545-1608)», Mélanges de la Casa de Velázquez, X II (1976), pp. 219 -250, y
«Les difficultés de l’édition castillane au x v i f siècle à travers un document
de l’époque», Mélanges de la Casa de Velazquez, X III (1977), pp. 257-284; al­
gunos otros datos, en F. R ic o , «A pie de imprentas. Paginas y noticias de
Cervantes viejo», Bulletin Hispanique, C IV (2002), pp. 673-702.
Sobre el proceso de fabricación del libro antiguo, desde el original del au­
tor y la copia del amanuense hasta la composición porformas y la corrección
de pruebas, son esenciales los estudios (de J . M oll, T .J. Dadson, S. Garza,
D .W . Cruickshank, P. Andrés Escapa y otros) contenidos en el volum en
Imprenta y crítica textual en el Siglo de Oro. Estudios dirigidos por F. Rico, Cen­
tro para la Edición de los Clásicos Españoles y Universidad de Valladolid,
Valladolid, 2000.
E n cuanto a la primera edición del Ingenioso hidalgo, R o b ert M . Flores,
The Compositors of the First and Second Madrid Editions of «Don Quixote» Part
I, The M odem Humanities Research Association, Londres, 1975, ha con­
firmado que se trata de la acabada de imprimir en las últimas semanas de
1604, y ha arriesgado algunas hipótesis difícilmente aceptables sobre los ca­
jistas que la compusieron; véanse las conclusiones a que llego por mi parte
en «Componedores y grafías en el Quijote de 1604 (sobre un libro de R .M .
Flores)», en Actas del Tercer Congreso Internacional de la Asociación de Cervan­
tistas (III-Cindac), Cala Galdana, Menorca, 20-25 de octubre de 1997, ed. Anto­
nio B em at Vistarini, Universidad de las Islas Baleares, Palma de Mallorca,
1998, pp. 63-83. E n «El caso del epígrafe desaparecido: capítulo 43 de la edi­
ción príncipe de la Primera parte del Quijote», Nueva Revista de Filología His­
pánica, X X V III (1979), pp. 352-360, Flores amplía una propuesta in nuce en
The Compositors..., donde se revela también que parte de la edición revisa­
da de 1605 se llevó a cabo en la Imprenta R eal; pero véase aquí, II, 45, 1085,
n. 24a. Q ue Cervantes ni siquiera llegó a enterarse de la existencia de las im ­
presiones de 1605 y 1608 lo postula Flores en «The Loss and R e co ve ry o f
Sancho’s Ass in Don Quixote, Part I», Modem Language Review, L X X V
(1980), pp. 3 0 1- 3 10 (307, n. 1); me remito a las observaciones que he he­
cho en las páginas anteriores. Carecen de valor las consideraciones sobre el
texto de 1608 arriesgadas por C . Cortejón (vol. II, pp. v i i - x l v ) ; algunas in­
dicaciones al respecto se hallarán en F. R ic o , En tomo al error. Copistas, ti­
pógrafos, filologías, C E C E , Madrid, 2004, pp. 35-39.
Relativam ente más sólidas y maduras que las presentadas en el libro re­
cién citado son las observaciones de Flores sobre la elaboración tipográfica
del Ingenioso caballero: «The Compositors o f the First Edition o f Don Quixo­
te, Part 11», Journal o f Hispanic Philology, V I (198 1), pp. 3-44; «A Tale o f T w o
Printings: Don Quixote, Part II», Studies in Bibliography, X X X I X (1986), pp.
281-296, y «More on the Compositors o f the First Edition o f Don Quixote,
Part II», Studies in Bibliography, X L III (1990), pp. 272-285.
Las noticias que doy y las valoraciones que hago sobre las ediciones de
R o bles se hallarán documentadas en E l texto del «Quijote»; algunos anti­
cipos, en «El prim er pliego del Quijote», Hispanic Review, L X IV (1996),
H IST O R IA DEL TEX TO
CCLXXIII
PP· 313-336 , y «Don Quijote, Madrid, 1Ó04, en prensa», Bulletin Hispanique, C I
( i 9 9 9 )> ΡΡ· 4 T5 -4 3 4 (version final de Prisas y prensas para el primer «Quijote»,
s.L, 19962).
Sobre «El éxito inicial del Quijote», hay unas sustanciosas páginas de Ja i­
me M oll en su libro D e la imprenta al lector. Estudios sobre el libro español de los
siglos XVI al XVIII, Arco/Libros, Madrid, 1994, pp. 20-27; para varias cues­
tiones conexas, véase su artículo «Diez años sin licencias para imprimir co­
medias y novelas en los reinos de Castilla: 1625-1634», Boletín de la Real Aca­
demia Española, LIV (1974), pp. 9 7-10 3. E l parecer de F. R odríguez Marín,
en E l «Quijote» en América, Sucesores de Hernando, Madrid, 1 9 1 1 .
L o dicho en el apartado «Exito popular y degradación textual» procede
de nuestros cotejos parciales de las ediciones mencionadas (véase asimismo
G. Pontón, «Martín Gelabert y la princeps del Quijote: la edición barcelone­
sa de 1704», Anales Cervantinos, X X X II, 1994, pp. 185-198) y, para las más
tardías, de dos valiosos estudios de Enrique R odríguez-Cepeda: «Los Q ui­
jotes del siglo x v in i. 1) La imprenta de M anuel Martín», Cervantes, V III:
(1988), pp. 6 1-10 8 , y «Los Quijotes del siglo x v m . 2) La imprenta de Ju an
Jolis», Hispania, L X X I (1988), pp. 752-779.
E n la bibliografía existente, son pocos o nulos los aspectos relativos a la
configuración textual de las grandes ediciones del siglo x v m ; sobre la lon ­
dinense de 1738 y Lord Carteret, puede verse R o n ald Paulson, Don Quixo­
te in England. The Aesthetics o f Laughter, The Johns Hopkins University Press,
Baltimore-Londres, 1998; imprescindible, por otra parte, Antonio Mestre,
ed., Gregorio Mayans y Sisear, Vida de Miguel de Cervantes Saavedra, EspasaCalpe, Madrid, 1972; el trabajo de B ow le ha sido últimamente más afortu­
nado, y a las aportaciones de R . M erritt C o x , The Rev. John Bowle. The G e­
nesis of Cewantean Criticism, Chapel Hill, University o f N orth Carolina
Press, 1 9 7 1, y An English «Ilustrado»: The Reverend John Bowie, Peter Lang,
Berna, 1977, o de Daniel Eisenberg, Cervantine Correspondence of Thomas
Percy and John Bowie, University o f Exeter, 1987, han venido a sumarse en
especial la edición de la carta a Percy, por D . Eisenberg, en Cervantes, X X I :ι
(2001), pp. 95-146, y un número de la misma revista, X X III:2 (2003), con
artículos de R . W . Truman, D . Eisenberg y E. Urbina, y con interesantes
documentos; sobre la primera edición (1780) de la R e a l Academia Españo­
la los estudios más útiles se deben a Angel González Palencia, Las ediciones
académicas del «Quijote», Artes gráficas municipales (tirada aparte de la R evis­
ta de la Biblioteca, archivo y museo, año X V I, núm. 55), Madrid, 1947; A r­
mando Cotarelo Valledor, E l Quijote académico, Publicaciones del Instituto
de España, Madrid, 1948; y Javier Blas y José M anuel Matilla, «Imprenta e
ideología. E l Quijote de la Academia, 1773-1780», en Imágenes del «Quijote».
Modelos de representación en las ediciones de los siglos x v i i a x ix , ed. Patrick L enaghan, The Hispanic Society o f Am erica-M useo Nacional del Prado-Real
Academia de Bellas Artes de San Fem ando-Calcografía Nacional, Madrid,
2003, pp. 7 3 - 117 . (No es recomendable R achel Schmidt, Critical Images.
The Canonization of «Don Quixote» through Illustrated Editions of the Eighteenth
Century, M cG ill-Q ueen’s University Press, Montreal y Kingston, 1999.)
CCLXXIV
PRÓLOGO
Para el contexto de esas ediciones del Setecientos y para otras contem­
poráneas, baste remitir a los excelentes enfoques de Francisco Aguilar Piñal,
«Cervantes en el siglo x v in i» , Anales Cervantinos, X X I (1983), pp. 15 3 -16 3 ,
y de François López, «Los Quijotes de la Ilustración», Dieciocho, X X II:2
(1999), pp. 247-264, así como a los amplios panoramas de Anthony J . C lo ­
se, The Romantic Approach to «Don Quixote». A Critical History o f the Roman­
tic Tradition in «Quixote» Criticism, Cambridge University Press, 1978, y de
Paolo Cherchi, Capitoli di critica cervantina (1605-1789), Bulzoni, R o m a, 1977.
Para otras cuestiones nos hemos apoyado también en José Luis Pensado,
«Noticia de la verdadera patria (Alcalá) de E l Miguel de Cetvantes» de fray Martín
Sarmiento, ed. y estudio crítico, Junta de Galicia, 1987, y Antonio R o dríguez-M oñino, E l Quijote de Don Antonio Sancha (Noticias Bibliográficas),
E . Sánchez Leal, Impresor, Madrid, 1948
Sobre los Quijotes del siglo x i x , datos y materiales de diverso valor pue­
den hallarse en Ana Luisa Baquero, Una aproximación neoclásica al género no­
vela. Clemendn y el «Quijote», Universidad de M urcia, 1988; Javier Blasco,
«El Quijote de 1905 (apuntes sobre el quijotismo finisecular)», Anthropos,
X C V III-X C IX (1989), pp. 12 0 -12 4 ; J . Givanel Mas, ed., Martín Fernández
de Navarrete, Notas Cervantinas, y E l comentario de Clemendn, Publicaciones
Cervantinas Patrocinadas por J . Sedó Peris-Mencheta, Barcelona, 1943 y
1944; J. Givanel y Mas, y «Gaziel», Historia gráfica de Cervantes y del «Quijo­
te», Plus Ultra, Madrid, 1946; Agustín González de Amezúa, «Epílogo» a la
Nueva edición crítica (1947-1948) de F. Rodríguez Marín, VIII, pp. 2 7 1-3 0 1;
A ngel González Palencia, «La edición con notas de Bastús», Boletín de la
Universidad de Madrid, V (1929), pp. 542-545, y «Una edición académica del
Quijote, frustrada», Boletín de la Real Academia Española, X X V III (1948), pp.
27-54, 225-256 y 357-380; Carmen R iera, La recepció del Tercer Centenari
d ’«El [sic] Quixot» a la premsa de Barcelona, R e a l Academia de Buenas Letras,
Barcelona, 2002; Leonardo R om ero Tovar, «El Cervantes del x ix » , Anthro­
pos, X C V III-X C IX (1989), pp. 1 1 6 - 1 1 9 .
En cuanto a la última sección del presente capítulo, precisaré! que no he­
mos considerado la mencionada edición de R .M . Flores (An Old-Spelling
Control Edition Based on the First Editions of Parts I and II, University o f B ri­
tish Colum bia Press, Vancouver, 1988, 2 vols.) porque su singularidad la
aleja en exceso de las demás reseñadas ahí mismo. Es conveniente, pues, se­
ñalar ahora que se trata de una transcripción de las primeras impresiones ma­
drileñas regularizada según las presuntas preferencias ortográficas del com­
ponedor a quien Flores atribuye cada cuaderno y en la que no se declaran
la procedencia o las razones de las lecturas sustanciales con que enmienda las
de 1604 y 16 15 ; pues, pese a la afirmación que citábamos, la realidad es que
las numerosas correcciones que introduce en el texto son en muchos casos
de 1605, 1608, Bruselas, 1607, o de otras ediciones antiguas y modernas. N o
obstante, es ineludible resaltar que a Flores se debe el único intento que co­
nocemos de justificar la preeminencia absoluta de las principes con un argu­
mento distinto del hecho obvio de que, perdidos los autógrafos y -h a y que
insistir—las copias de amanuense que sin duda se usaron en la imprenta, en
H ISTO RIA DEL TEX TO
CCLXXV
aquéllas está el testimonio más próxim o a los originales cervantinos. C o n ­
cretamente, en su citada monografía de 19 75, Flores advierte que los plie­
gos de la edición de 1605 no confeccionados en el taller de Cuesta sino en
la Imprenta R e a l siguen un ejemplar de 1604, pero difieren de éste en bas­
tantes aspectos de grafía y en algunas lecciones significativas; y como no
cabe pensar que Cervantes examinara esos pliegos, «this fact», concluye,
«automatically weakens the authority o f this [1605] or o f any other edition
not solely based on the first edition». Claro está que resultaría absurdo y
anacrónico imaginar que el autor saltaba de casa de Cuesta a la Imprenta
R e a l para corregir pruebas de los pliegos que a diario se tiraban en cada una,
y que, incluso si lo hubiera hecho, no habría reparado en menudencias or­
tográficas. (No en vano el clásico «Rationale o f the Copy-Text» de W alter
W . Greg fija ya como regla general atenerse a las primeras ediciones para los
accidentais y a las últimas para las substantive emendations; véanse también mis
estudios «Componedores y grafías en el Quijote de 1604» y «Nota prelimi­
nar sobre la grafía del texto crítico», en Pulchre, bene, recte. Estudios en home­
naje al profesor Fernando González Ollé, Universidad de Navarra, Pamplona,
2002, pp. 114 7 - 115 9 .) Pero es preciso entender que las adiciones a propó­
sito del asno de Sancho y las otras posibles revisiones que Cervantes inclu­
yera iban todas en los pliegos de 1604 que por fuerza hubo de hacer llegar
a los tipógrafos (de otro modo, no se habría podido trabajar por formas): y
justamente en la parte de la Imprenta R e a l hay lecturas por encima de cual­
quier discusión (por ejemplo, «de nuevo alzó la voz, cuyo tenor le llevaron
luego Maritornes y su hija», y no «cuyo temor», en I, 45, 578), que traslucen
la mano del autor o, como sea, y sobre todo, garantizan la validez de las
conjeturas debidamente construidas. La patente futilidad de ese solitario «ar­
gumento» contra el recurso a cualquier material o conocimiento ajenos a las
principes no debilita en ninguna manera la inmensa deuda que el cervantis­
mo tiene contraída con R .M . Flores en cuanto pionero en situar ciertos
problemas del Quijote en el terreno de su elaboración tipográfica y en cote­
jar con exquisita atención diversos ejemplares de las impresiones madrileñas
de 1604 y 16 15 .
D e las opiniones que en tiempos recientes se han expresado en torno a los
modos de editar el Quijote son buena muestra Juan Bautista de Avalle-Arce,
«Hacía el Quijote del siglo x x » , Insula, C D X C IV (enero de 1988), pp. 1, 34, que incomprensiblemente esgrime contra Gaos la misma teoría y práctica
exacerbadas por Gaos; José M . Casasayas, «La edición definitiva de las obras
de Cervantes», Cervantes, VI (1986), pp. 14 1-19 0 ; Daniel Eisenberg, «On
Editing Don Quixote», Cervantes, III (1983), pp. 3-34, con planteamientos
m uy sensatos; y Florencio Sevilla Arroyo, «La edición de las obras de M iguel
de Cervantes», Cervantes, Centro de Estudios Cervantinos, Madrid, 1995, pp.
7 5 - 1 3 s, o, entre otros, «Rico contra Cervantes», Manuscrt.cao, VII (19961998), pp. 13 3 -14 4 , definitivamente al margen de cualquier crítica textual
(véase ya mi nota «Por Hepila famosa», en Babelia, C C L V , suplemento de E l
País, 14 de septiembre de 1996, con las apostillas publicadas ahí mismo, 26
de octubre). Véase también nuestro aparato crítico, I, 45, 570.6°.
C C IX X V I
PRÓLOGO
En fin, al arrimo de las herramientas informáticas y de los horizontes que
ellas mismas han forjado para repensar la noción de «texto», Eduardo U rbi­
na y sus colaboradores preparan una gran base de datos que permitirá con­
frontar palabra por palabra una serie de digitalizaciones de ediciones del
Quijote (y aun ejemplares de una misma edición) de entre 1605 y 1637, pa­
sando de una a la otra. Véanse, entre muchas, las presentaciones del pro­
yecto en «Texto, contextos e hipertexto: la crítica textual en la era digital y
la Edición electrónica variorum del Quijote», Quaderni di Letterature Iberiche e Iberoamerícane, X X V II (1999-2000), pp. 21-4 9 , y en «Hacia una edición vario­
rum textual y crítica del Quijote», Volver a Cervantes. Actas del I V Congreso
Internacional de la Asociación de Cervantistas, Universidad de las Islas Baleares,
Palma de Mallorca, 2001, I, pp. 451-468.
R E S U M E N C R O N O L Ó G IC O
D E L A V ID A D E C E R V A N T E S
Jean Canavaggio
En las páginas impares del siguiente resumen se indican,
ordenados por años, los acontecimientos conocidos de la
vida de Cervantes; en las pares, las fuentes documentales
en que se basan esos datos. Las referencias que siguen a
cada indicación sobre las fuentes documentales deben eva­
cuarse en la lista de obras de referencia que figura al final
del presente capítulo.
!547
1552
Iglesia Parroquial de Santa María la M ayor, de Alcalá de Henares.
Lib. i de bautismos, f. 19 2V . ? Astrana, I, p. 2 17 .
Archivo de la R e a l Chancillería de Valladolid. Prot, de Varela, Fe­
necidos, envoltorio 55. f R odríguez Marín, Nuevos documentos,
núm. 33.
1 55 3
Archivo de Protocolos de Córdoba. Prot. de Luis Martínez, oficio
12, núm. 22, f. 558. Î Astrana, I, pp. 286-287.
1556
Archivo M unicipal de Córdoba. Actas capitulares, f Rodríguez
Marín, Nuevos documentos, núm. 56.
15 5 7
Archivo de Protocolos de Córdoba, O ficio 27, prot. de Pedro de
Jaén, t. X X I, fF. 19 3-19 5 . Ï Torre y del Cerro, «Cinco documen­
tos cervantinos», núm .5
1564
Archivo de Protocolos de Sevilla.
5
R odríguez Marín, «Cervantes
estudió en Sevilla», p. 55.
Archivo General de Simancas, O ficio X X I , lib. 3 del año 1564,
f. 296. í Astrana, I, pp. 444-445.
1565
¿Perdido? «Lib. de Ayuntamientos, que se conservaba en el con­
vento de la Concepción de Alcalá de Henares, hasta 1936». f As­
trana, I, p. 451.
C C L X X V III
1547
9 de octubre: bautismo, en la iglesia parroquial de Santa M a­
ría la Mayor de Alcalá de Henares, de Miguel de Cervantes,
cuarto de los siete hijos de Rodrigo de Cervantes y de su es­
posa Leonor de Cortinas. De esta fecha se ha saltado a la con­
jetura de que nació el 29 de septiembre, día de San Miguel.
1552
Rodrigo de Cervantes es encarcelado en Valladolid. Se in­
fiere este dato del pleito, entre julio y diciembre, de dos ve­
cinos de Valladolid con el dicho Rodrigo, por obligación de
pago que éste contrajo, y por derecho a su excarcelación, en
razón de ser hidalgo notorio.
1553
Rodrigo, en compañía de los suyos, se reúne en Córdoba
con su padre, el licenciado Juan de Cervantes. Allí firma, el
30 de octubre, una escritura de obligación en favor del mer­
cader Alonso Rodríguez.
1556
Muere Juan de Cervantes, según se deduce del nombra­
miento, el 17 de marzo, de un nuevo letrado de la ciudad de
Córdoba.
1557
Muere Leonor de Torreblanca, abuela paterna de Miguel,
tras haber hecho testamento el 10 de marzo.
1564
Rodrigo de Cervantes, el 30 de octubre, se declara «médico
cirujano, vecino de esta ciudad de Sevilla en la colación de
San Miguel». Otorga el mismo día a su esposa un poder ge­
neral, lo cual da a entender que Leonor de Cortinas hubo de
quedarse ën Alcalá con sus hijos.
1565
Luisa de Cervantes, hermana de Miguel, ingresa, el 11 de fe­
brero, en el convento de la Concepción de Alcalá.
C C L X X IX
CCLXX X
1566
R ESU M EN CRO N O LÓ G IC O
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de D iego de Henao, años
156 5-15 6 6 , f. 478. f Pérez Pastor, Documentos, II, núm. 2.
1567
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de D iego de Henao, año
1567, f. 277. í Pérez Pastor, Documentos, II, núm. 3.
Recueil de poésies castillanes du x v f et du x v if siècle, f, 73V (A. M o rel-Fatio, Catalogue des manuscrits espagnols et des manuscrits portugais
de la Bibliothèque Nationale, Paris, 1880, núm. 602). f Schevill y B o ­
nilla, «Poesías sueltas», en Comedias y entremeses, VI, p. 5.
1568
Se infiere este dato de la Historia y relación verdadera de la enfermedad,
felicísimo tránsito y suntuosas exequias de la Serenísima Reina de España
Doña Isabel de Valois, nuestra señora... publicada al año siguiente por
Juan López de Hoyos, donde éste llama a M iguel «caro y amado dis­
cípulo».
1569
Archivo General de Simancas. R e g . general del sello 9, leg. del mes
de septiembre, año 1569. í Astrana, II, pp. 18 5-18 6 .
Historia y Relación verdadera... Compuesto y ordenado por el Maestro Juan
López de Hoyos, Catedrático del Estudio desta villa de Madrid, Madrid,
Pierres Cosin, 1569, fF. 14 5-14 6 , 14 8 -14 9 y 15 7 -16 2 . Ï Schevill y
Bonilla, «Poesías sueltas», en Comedias y entremeses, V I, pp. 6-10.
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de R odrigo de Vera, año
1569, f. 982. Î Pérez Pastor, Documentos, II, núm. 4.
1570
La Galatea, Dedicatoria al Illmo. Sr. Ascanio Colonna, abad de San­
ta Sofía, I, £ 4: «...las cosas que, corno en profecía, oí muchas veces
decir de V .S. Ilustrísima al cardenal de Acquaviva, siendo yo su ca­
marero en Roma...».
15 7 1
«Información pedida por R o drigo de Cervantes de los servicios
de su hijo Miguel.» Declaración del alférez M ateo de Santisteban.
Ed. de Pedro Torres Lanzas, Madrid, José Esteban, 19 8 1, p. 29.
«Información pedida.» Declaración de M ateo de Santisteban,
pp. 29-30.
AÑOS
15 6 6
1566-1571
CCLXXXI
Se supone el traslado de M ig u e l c o n su fam ilia a M adrid : allí
firm a su m adre, el 2 de d iciem b re, u n p o d er para su esposo.
15 6 7
C o n firm a este traslado u n p o d e r para pleitear, firm ado el 9 de
enero p o r R o d r ig o de C ervan tes.
C o m p o n e C ervan tes su p rim era obra co n o cid a: u n soneto a
la reina Isabel («Serenísim a reina, en q u ien se halla»), c o n
m o tiv o del n acim ien to de la infanta C atalin a M icaela, h ija de
la reina y del re y F elip e II.
15 6 8
A lu m n o de Ju a n L ó p e z de H o y o s, re c to r del E stu d io d e la
V illa.
15 6 9
P ro vid e n c ia de F e lip e II, del 1 5 de septiem bre, «para que u n
alguacil v a y a a p re n d e r a M ig u e l de C ervantes», acusado de
h aber h erid o en d u elo a A n to n io de Sigura.
Se publica en septiem bre la Relación de las exequias de la re i­
na Isabel, fallecida u n año antes. P u b licad a p o r L ó p e z de H o ­
yos, figu ran en ella cuatro p oem as de C ervan tes.
22 de diciem b re: In fo rm a c ió n de la lim p ieza de sangre e h i­
dalguía a fa v o r de M ig u e l de C e rvan tes, «estante en R o m a » .
15 7 0
C am arero del cardenal Ju lio A c q u a v iv a , en R o m a .
15 7 1
E n ju lio , R o d r ig o de C ervan tes, h erm an o m e n o r de M ig u e l,
llega a Italia co n la com pañ ía de D ie g o d e U rb in a , en la cual
sirve tam bién M ig u e l aquel m ism o añ o, según testim onia
M a te o de Santisteban en la In fo rm a c ió n de R o d r ig o de C e r ­
vantes de‘ 15 7 8 .
E l 7 de octubre, M ig u e l se en cu en tra e n L ep an to a las ó rd e ­
nes del m ism o capitán. A b o rd o de la galera Marquesa, p elea
valien tem en te en «el lu ga r d el esquife» y es h erid o «de dos arcabuzazos en el p e c h o y en u n a m an o izquierda».
CCLXXXII
1572
R ESU M E N C RO N O LÓ GIC O
Archivo General de Simancas. Libros de registro de D, Juan de
Austria, sala 4 ™ de Estado, núms. 1568, 1569 y 1570, «en el cua­
derno de gastos secretos y extraordinarios del señor don Juan de
Austria en la jornada de Levante, rotulado con el núm. 12 , al £. 8».
? Fernández de Navarrete, Vida, p. 295.
Archivo General de Simancas. Lib. 94, £. 95V. ? Astrana, II, p. 137.
«Información pedida.» Declaración del alférez Gabriel de Castañeda,
p. 32. Declaración del sargento Antonio Godinez de Monsalve, p. 36.
1573
Archivo General de Simancas. Lib. II, titulado Ordenes, año 1573.
Ï Fernández de Navarrete, Vida, pp. 294-295.
«Información pedida.» Declaración del alférez Gabriel de Castañe­
da, p. 32.
1574
Archivo General de Simancas. Lib. V III, Registmm diversorum, año
1574, f. 1 1 5 . Ï Fernández de Navarrete, Vida, p. 295.
Archivo General de Simancas. Contaduría general, leg. 1745. í
Pérez Pastor, Documentos, II, núm. 7.
157 5
«Información pedida.» Declaración del alférez M ateo de Santisteban, p. 30. Las fechas propuestas, así como el lugar del asalto de la
galera, se deducen de varios documentos coincidentes (relaciones,
cartas, repertorios nobiliarios, portulanos, etc.), f Avalle-Arce, «La
captura de Cervantes».
1576
«Información en Argel ante fray Juan Gil pedida por el propio
M iguel de Cervantes», pregunta IV y respuestas correspondientes,
pp. 50 y ss.
Ms. de la Biblioteca Nazionale de Turin, con dedicatoria fechada
en 3 de febrero, que pereció en el incendio de 1904. f Schevill y
Bonilla, «Poesías sueltas», en Comedias y entremeses, V I, pp. 18 -19 .
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de R o drigo de Vera, año
1576, núm. 495, f. 762. f Pérez Pastor, Documentos, I, núm. 1 1 .
C om p. «Información en Argel», pregunta IV y respuestas corres­
pondientes, pp. 50 y ss.
AÑOS
I57 2
1572-1576
CCLXXXIII
E l 23 de en ero, en M esin a, se da al tesorero general de la ar­
m ada recaudo fo rm al de una libranza de 20 ducados a fa v o r
de M ig u e l de C e rva n te s, h erid o en la batalla de L epan to.
E l 24 de abril, se ordena a los oficiales de la armada que asien­
ten en los libros de su cargo a M ig u e l de C ervantes 3 escudos
de ventaja al m es, «en el tercio de don L o p e de Figueroa».
E n agosto y septiem bre, C ervan tes participa e n la cam paña
naval de d o n Ju a n de A ustria en C o rfú y M o d ó n .
1573
S igu e en la com pañ ía d e d o n M a n u e l P o n c e de L e ó n , acu ar­
telada entonces en Ñ a p ó les. A llí se ordena, el 6 de m arzo, a
los oficiales de la H acien d a de la A rm ad a que se den a C e r ­
vantes los recaudos necesarios para la cobranza de 20 escudos
que se le deben.
E n octubre, M ig u e l to m a parte en la e x p e d ic ió n de d o n ju á n
d e A ustria contra T ú n e z (8 -10 de octubre).
1574
E l 10 de m arzo, en Ñ a p ó les, d o n Ju a n de A u stria ordena y
m anda que se den 30 escudos a M ig u e l de C ervan tes.
E l 1 5 de n o vie m b re , en P a lerm o , el d u q u e de Sessa h ace li­
bram ien to de 25 escudos a fa v o r de M ig u e l de C ervan tes,
«soldado aventajado».
1575
C ervan tes em barca en N á p o les el 7 de septiem bre, en la g a ­
lera Sol, para v o lv e r a España. E l 26 d el m ism o m es es h e c h o
prisio n ero p o r los corsarios berberiscos, frente a la costa de
C ataluña.
15 7 6
E n en ero, prim era tentativa de evasión, p o r tierra: «buscó un
m o ro que a él y a algu nos cristianos llevase p o r tierra a O rá n ,
y h abien d o cam in ad o co n el d ich o m o ro algunas jo rn ad as,
los d ejó; y ansí les fu e forzo so v o lve rse a A rgel...».
H acia enero, C ervan tes sum inistra dos sonetos a u n com pañ e­
ro de cautiverio, B arto lo m eo R u ffin o di C h iam bery.
A n to n io M a rc o , escribano de V alen cia, declara en M adrid , el
9 de n o v ie m b re , q u e M ig u e l d e C e rvan tes q u ed ó «en p o d e r
de M a m í A rn au te, capitán de lo s corsarios de A rg e l, en c u y o
p o d e r este m ism o estuvo cautivo».
CCLXXXIV
R ESU M EN CRO N O LÓ G IC O
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de R o drigo de Vera, año
1576, £ 1479. í Pérez Pastor, Documentos, II, núm. 10.
15 7 7
Archivo General de Simancas. Contaduría de Cruzada, leg. 326. f
Pérez Pastor, Documentos, II, núm. 13 .
«Información en Argel», preguntas V a X y respuestas correspon­
dientes, pp. 50-54. Comp. D iego de Haedo [Antonio de Sosa], To­
pografía, f. 185 (t. I ll, pp. 16 1 y ss. de la reed. de 1927): «...del cauti­
verio y hazañas de M iguel de Cervantes se pudiera hacer una
particular historia».
1578
«Información en Argel», preguntas X I y X II y respuestas corres­
pondientes, pp. 54 y ss.
Sevilla. Archivo General de Indias. f Torres Lanzas, «Información
de M iguel de Cervantes», pp. 9 -13 .
Sevilla. Archivo General de Indias. f Torres Lanzas, «Información
de M iguel de Cervantes», pp. 15 - 19 .
157 9
«Información en Argel», preguntas X III a X V II y respuestas corres­
pondientes, pp. 55-59.
Cancionero Celia compuesto por A ntonio Veneziano [Códice de
la Biblioteca Nazionale de Palermo, sig. X I-B -6 ], ? Schevill y B o ­
nilla, «Poesías sueltas», Comedias y entremeses, V I, pp. 3 1-3 6 .
AÑOS
1576-1579
CCLXXXV
Se hace ampliación, el 29 de noviembre, de la información
pedida por Rodrigo de Cervantes sobre el cautiverio de sus
hijos, Rodrigo y Miguel.
1577
El 24 de agosto, liberación del hermano de Miguel, Rodri­
go, según se deduce de una relación de los cautivos rescata­
dos en Argel por la Orden de la Merced el año 1577, esta­
blecida en Valencia el 2 de septiembre.
En septiembre, segunda tentativa de evasión de Miguel, en
compañía de otros cautivos cristianos: «dio orden como un
hermano suyo que se llama Rodrigo dé Cervantes ... pusie­
se en orden y enviase de la plaza de Valencia y de Mallorca
una fragata armada para llevar en España los dichos cristia­
nos...». Conseguida una fragata mallorquína, que llegó hasta
la costa argelina, no se efectuó la huida. Denunciado por un
traidor, Cervantes comparece ante el rey de Argel. Se de­
clara «el único autor de todo aquel negocio» y es encerrado
en el baño del rey con grillos y cadenas durante cinco meses.
1578
En marzo, tercera tentativa de evasión: «estando así encerra­
do envió un moro a Oran secretamente, con carta al señor
don Martín de Córdoba, general de Orán y de sus fuerzas»;
pero «el dicho moro fue tomado de otros moros a la entrada
de Orán», devuelto al rey Hazán y empalado.
El 17 de marzo, Rodrigo de Cervantes, padre de Miguel,
presenta un pedimento e interrogatorio de preguntas sobre
los servicios de su hijo.
Certificación del Duque de Sessa (Madrid, 25 de julio) acer­
ca de los servicios de Miguel de Cervantes.
1579
En octubre, cuarta tentativa de evasión: con ayuda de un re­
negado arrepentido y del mercader valenciano Onofre Exar­
que, arma una fragata de doce bancos. Denunciado por el
doctor Juan Blanco de Paz, se presenta ante Hazán Bajá de su
propia voluntad, «diciendo siempre al R ey, con mucha cons­
tancia, que él fuera el autor». Se le condena a cinco meses de
cárcel con cadenas y grillos.
El 6 de noviembre, Cervantes dedica unas octavas a Antonio
Veneziano.
CCLXXXVI
1580
RESU M EN CRO N O LÓ G IC O
Madrid. Archivo Histórico Nacional. Crónica de la Orden de la
Santa Trinidad, año 1580. Ï Dom ingo de la Asunción, Cavantes y
la Orden Trinitaria, pp. 13 - 14 .
Sevilla. Archivo General de Indias. Ï Torres Lanzas, «Información
de M iguel de Cervantes», pp. 45-166.
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de R o drigo de Vera, año
1580, núm. 499, f. 1399. ? Pérez Pastor, Documentos, I, núm. 19.
15 8 1
Archivo General de Simancas. Contaduría m ayor de Cuentas, se­
gunda época, leg. 2653 (Libro de las cuentas de Juan Fernández de Es­
pinosa. .. Del oficio del conde Olivares, contador mayor de cuentas de su
Majestad).
Archivo general de Simancas. Contaduría m ayor de Cuentas, se­
gunda época, leg. 177 7 (Libro de la cuenta de Lope Giner, pagador de
las armadas de su Majestad en la ciudad de Cartagena...). f Astrana, III,
pp. 14 5 -14 7 ·
Ocho comedias y ocho entremeses nuevos, Prólogo al lector, en Schevill
y Bonilla, Comedias y entremeses, I, p. 7.
158 2
Archivo General de Simancas. Guerra Antigua, leg. 12 3, núm. 1.
f
Astrana, V I, pp. 5 1 1 - 5 1 2 .
1584
Original perdido. Î La Galatea, 1, [ff. iv -2 v].
Iglesia Parroquial de Santa María de la Asunción de Esquivias. Lib. 3
de Difuntos [y de Matrimonios], f. 95V. J Astrana, III, pp. 4 5 9 - 4 6 1 .
158 5
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de Sancho de Quevedo,
años 158 0 -158 7, f. 492. Ï Rodríguez Marín, «Una escritura inédi­
ta de Cervantes».
Original perdido.
5
La Galatea, I, [f. iv].
Archivo de la Iglesia Parroquial de San M iguel y San Justo, de M a­
drid. Lib. de Difuntos de San Justo, que empieza en 9 de agosto 1576
y concluye en 23 de septiembre de 1590, sin foliar. í Astrana, III,
p. 488.
AÑOS
1 580- 1 585
CCLXXXVII
1580
Cervantes es rescatado por los padres trinitarios, según consta en
su partida de rescate, establecida en Argel el 19 de septiembre.
Información de Miguel de Cervantes de lo que ha hecho es­
tando en Argel (Argel, 10-21 de octubre).
Información del cautiverio de Miguel de Cervantes, ahora
rescatado y en libertad en la ciudad de Valencia, pedida por
su padre, Rodrigo de Cervantes (Madrid, 18 de diciembre).
1581
En mayo y junio, misión de Cervantes a Orán, vía Cartage­
na: dos cédulas reales, firmadas por el rey Felipe II en Tomar,
el 21 de mayo, mandan que se le entreguen cien ducados «en
merced de ayuda», anticipándole la mitad de la suma. Canti­
dad confirmada por una cédula de pago firmada en Cartage­
na el 26 de junio. Entre 1581 y 1587, aproximadamente,
compone varias comedias: «que se vieron en los teatros de
Madrid representar Los tratos de Argel, que yo compuse, La
destruición de Numancia y La batalla naval...».
1582
Redacta La Galatea, como se infiere de una carta dirigida
desde Madrid, el 17 de febrero, «al ilustre señor Antonio de
Eraso, del consejo de Indias, en Lisboa».
1584
Aprobación de La Galatea por Lucas Gracián Dantisco (Ma­
drid, i de febrero).
El 12 de diciembre, Miguel de Cervantes contrae matrimo­
nio, en la iglesia parroquial de Esquivias, con Catalina de Pa­
lacios Salazar Vozmediano.
1585
Contrato con Gaspar de Porres: el 5 de marzo, en Madrid,
vende Cervantes, por cuarenta ducados, dos comedias cuyo
texto no ha sido conservado, La confusa y El trato de Constantinopla y muerte de Celín.
13 de marzo: tasa de La Galatea.
El 13 de junio, muere Rodrigo de Cervantes, padre de M i­
guel, en Madrid.
CCLXXXVIII
1587
RESU M EN CRO N O LÓ G IC O
Schevill y Bonilla, «Poesías sueltas», Comedías y entremeses, V I, pá­
ginas 44-48.
Archivo de Protocolos de Toledo. Prot. de Ambrosio Mejía, fo­
lios 432-433. í Astrana, III, p. 559.
A rchivo Municipal de Ecija. Actas capitulares. Sesión del 22 de sep­
tiembre de 1587. ? Rodríguez Marín, Nuevos documentos, núm. 70.
Se deduce de un poder dejado en Sevilla por Cervantes a Fernan­
do de Silva, el 24 de febrero de 1588, a fin de que éste gestionara y
suplicase le absolviesen de dicha excomunión. Archivo de Proto­
colos de Sevilla, Prot. de Luis de Porras, año 158 7, f. 635. (Docu­
mento sustraído de aquel Archivo en fecha indeterminada y adqui­
rido luego por d o n ju án Sedó Peris-Mencheta, quien proporcionó
a Astrana copia fotográfica del susodicho.) í Astrana, IV , p. 197.
1588
«Relación de los gastos menudos que hice en la molienda que tuve
en la ciudad de Ecija por comisión del Sr. Antonio de Guevara los
años de 88 y 89», 6 de febrero de 1589. (Documento sustraído en
el siglo pasado del Archivo General de Simancas, comunicado lue­
go a J.M . Guardia por el coleccionista francés Feuillet de Conches
y reproducido en facsímil por Astrana.) f Astrana, IV, pp. 2 3 1-2 3 3 .
1589
«Relación de los gastos...»
1590
Archivo M unicipal de Carmona. Lib. de Actas capitulares, años
15 8 8 -15 9 1. f Astrana, IV , pp. 403-404.
Sevilla. Archivo General de Indias. ? Astrana, IV, pp. 455-456.
15 9 1
Archivo de Protocolos de Sevilla, prot. de R o d rigo Fernández, año
15 9 1, reg. i, f. 2 8 1. ? Pérez Pastor, Documentos, II, núm. 60.
Archivo Municipal de Jaén. Leg. 15, lib. de Acuerdos capitulares del
año 15 9 1. Acuerdo tomado en el Cabildo del 18 de noviembre de
15 9 1. í Coronas Tejeda, «Cervantes en Jaén», núm. 2, pp. 3 1-32 .
Archivo de Protocolos de Montilla. Prot. de Andrés Capote, año
15 9 1, f. 15 5 1. í Astrana, IV, pp. 505-507.
AÑOS I 5 8 7 - I 5 9 I
15 8 7
C CLXX X IX
Se p u blican a título de poesías lim inares varios sonetos de
C ervan tes en lo o r de algunos am igos suyos (L óp ez M a ld o n a ­
do, A lo n so de B arro s, P e d ro de Padilla).
P o r m an d a m ie n to d el p r o v e e d o r A n to n io
de G u e v a ra ,
C e rv a n te s em p ie z a a d ese m p e ñ a r sus co m isio n es. S u p re ­
sen cia q u ed a atestigu ada e n É c ija el 2 2 de sep tiem b re.
E n vísperas de su partida p ara Sevilla, M ig u e l de C ervan tes,
desde T o le d o , o to rga p o d er a su esposa, C atalin a de Palacios,
el 28 de abril.
E n octu bre, M ig u e l es e x co m u lg ad o p o r el v ica rio gen eral de
Sevilla, tras h aber em bargado el trigo perten ecien te a varios
canónigos preben d ad os de E c ija .
15 8 8
N u e va s com isiones en E c ija y otros lugares (en ero-sep tiem ­
bre).
15 8 9
15 9 0
N u e v a s com isiones en É c ija .
C o m isió n en C a rm o n a, en re la ció n c o n una saca de aceite,
ordenada el 9 de feb rero.
E l 2 1 de m ayo , M ig u e l de C e rvan tes presenta u n m em orial
al re y F e lip e II, en u m eran d o sus servicios y p id ien d o la m e r­
ced de u n o ficio en Indias. E l 6 de ju n io , el C o n sejo d e In ­
dias le da respuesta negativa («Busque p o r acá en que se le
haga m erced»),
15 9 1
E l 1 2 de m arzo, en Sevilla, entrega p o d e r a Ju a n de T a m a y o
para cobrar los salarios de 2 76 días «que se o c u p ó en la m o ­
lienda de E c ija los años de 15 8 8 y 1589».
C o m isio n e s en el re in o de G ranada. S e testifica la presencia
de M ig u e l en Ja é n , el 18 de n o v ie m b re , para la com pra y em ­
bargo de trigo y cebada.
E l 3 de d iciem b re, C ervan tes se encu entra en M o n tilla.
ccxc
1592
RESU M EN C RO N O LÓ GIC O
Archivo General de Simancas. Secretaría de Guen-a, M ar y Tierra, le­
gajo 363. í Apraiz y Sáenz del Burgo, Cavantes vascófño.
A rchivo General de Simancas, secretaría de Guerra Antigua, lega­
jo 363. ? Apraiz y Sáenz del Burgo, Cavantes vascófilo.
Archivo de Protocolos de Sevilla. Prot. de Luis de Porras, año
1592. Î Astrana, V , pp. 2 9 -3 1.
Archivo General de Simancas. Expedientes de Hacienda, legajo 516,
f. 96. f Moran, Vida de Cervantes, núm. 14. ? Astrana, V , pp. 3 1-3 3 .
159 3
T h e Rosenbach M useum and Library (Philadelphia), f K . B row n
y M .D . Blanco-Arnejo, «Dos documentos cervantinos inéditos»,
pp. 1 3 - 1 9 .
Archivo del Palacio Arzobispal. (A consecuencia de una reordenación
de los fondos, la signatura dada por Astrana, V , p. 65, resulta caduca
y es imposible actualmente localizar el documento.)
5
Rodríguez Ju ­
rado, Discursos leídos en la Real Academia Sevillana de Buenas Letras, pp.
81-197.
Archivo General de Simancas. Expedientes de Hacienda, leg. 5 1 6 ,
f. 96. í Morán, Vida de Cavantes, núm. 1 6 .
Archivo de la Iglesia Parroquial de San Martín de Madrid. Lib. de
Sepelios, años de 1 5 8 6 - 1 5 9 3 . Ms. encuadernado en pergamino,
£ 187.
5 Astrana, V , p.
93 .
Flor de varios y nuevos romances [...] En Valencia, por Miguel Prados,
! 5 9 3 i f· 153V. í Schevill y Bonilla, «Poesías sueltas», Comedias y en­
tremeses, V I, pp. 6 2 - 6 7 .
159 4
Archivo General de Simancas. Contadurías generales, leg. 1 7 4 5 . f
Astrana, V , pp. 1 1 2 - 1 1 5 .
Archivo General de Simancas. Consejos y Juntas de Hacienda, le­
gajo 324.. Î Astrana, V , p. 139 .
AÑOS
15 9 2
1 5 92 - 1 5 9 4
CCXCI
P ed ro de Isunza, su cesor de A n to n io de G u evara, en u na car­
ta al re y F elip e II escrita el 7 de enero en el P u e rto de Santa
M aría, asegura q ue M ig u e l de C ervan tes es h o m b re h onrad o
y de m u ch a confianza.
E l 8 de agosto, certificación de C ervan tes sobre un incidente
ocurrido en T e b a , el año anterior, c o n m o tivo d el trigo y ce­
bada sacados p o r su ayudante N icolás B en ito .
E l 5 de septiem bre, en Sevilla, C ervan tes firm a co n R o d r ig o
O so rio u n contrato p o r el cu al se o b liga a entregarle seis c o ­
m edias.
En carcelad o en C astro del R í o , el 19 d e septiem bre, p o r ha­
b e r em bargado trigo de los can ón igos, M ig u e l sale libre bajo
fianza, y e n vía testim o n io el 1 5 de diciem b re.
15 9 3
A p rin cip io s de año está en S evilla, ocu p ad o en sus c o m isio ­
nes.
E l 4 de ju n io , en Sevilla, C ervan tes, «criado q u e dice ser de
S u M a je sta d y ser v e c in o de M a d rid y natu ral de la ciu d ad
de C ó rd ob a», testifica a fa v o r de T o m á s G u tiérrez en el p ro ­
ceso entablado p o r este con tra la C o frad ía d el Santísim o Sa­
cram ento del Sagrario de la C ated ral. D ic e ser «persona estu­
diosa» y declara h ab er com pu esto autos.
C o m isio n e s en los alrededores de Sevilla, em prendidas el 7
de ju lio a p etic ió n de M ig u e l de O v ie d o .
M u e re L e o n o r de C o rtin a s, m ad re de M ig u e l, el 19 d e o c ­
tubre.
E n fech a indeterm inada, se p u b lica aq u el año el ro m an ce de
Los celos, de cuya paternid ad se en orgu lleció C ervan tes.
15 9 4
F in de las com isiones andaluzas. Se da a M ig u e l carta d e c o ­
m isión en M ad rid , el 23 de agosto, para cobrar ciertas can ti­
dades de las tercias y alcabalas en varios p u eblos del re in o de
G ranada. F ran cisco Suárez G aseo es n o m b rad o fiador.
E l 1 7 de n o v ie m b re , p o r carta autógrafa, C e rvan tes da c u e n ­
ta al re y F e lip e II d e lo co b ra d o en B aza, G u a d ix y otros
puntos.
CCXCII
1595
R E SU M EN CRO N O LÓ G IC O
Fernández de Navarrete, Vida, pp. 443-445. ? Schevill y Bonilla,
«Poesías sueltas», Comedias y entremeses, V I, pp. 67-69.
Archivo Diocesano de T oledo, leg. 3/1600/8 3. Î Sánchez R o m e ralo, «Miguel de Cervantes y su cuñado Francisco de Palacios».
159 7
Archivo General de Simancas. Contadurías generales, leg. 1745. f
Astrana, V, p. 15 5 .
Archivo General de Simancas. Contadurías generales, leg. 1745,
2 hojas. Î Fernández de Navarrete, Vida, pp. 437-438.
Archivo General de Simancas. Contadurías generales, leg. 1745,
2 hojas, f Astrana, V , p. 239.
Archivo General de Simancas. Contaduría M ayor de Castilla, leg.
1784. í M ontero R eguera, «El cervantismo del curso 1992-1993»,
pp. 205-206.
1598
Archivo General de Simancas. Expedientes de Hacienda, leg. 516,
f. 96 (según Astrana, V, pp. 287-289, ha desaparecido).
5
M orán,
Vida de Cervantes, núm. 17.
Archivo de la Iglesia Parroquial de San Martín, de Madrid. Libro
de los derechos de sacristía, años de 1598 [enero] a 3 1 de diciem­
bre de 1602.
5
Astrana, V , p. 305.
Schevill y Bonilla, «Poesías sueltas», Comedias y entremeses, VI,
pp. 73-76.
1599
Archivos de Protocolos de Sevilla. Prot. de R o drigo Fernández,
año 1599, reg. 1, £ 624. ? Pérez Pastor, Documentos, II, núm. 72.
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de Martín de Urraca, núm.
24x0, año 1599. Ï Pérez Pastor, Documentos, I, núm. 37.
AÑOS
15 9 5
1 5 9 5 - I 599
ccxcm
E l 7 de m ayo , resulta C ervan tes v e n c e d o r en una ju sta p o é ­
tica organ izad a p o r los d o m in ico s en Z a ra g o z a , co n m o tiv o
de la ca n o n iza c ió n d e S an Ja c in to . N o debe in ferirse d e este
p re m io q u e estu viera p resen te en las justas.
E l 18 de m ayo , en T o le d o , C ervantes hace declaración c o n el
fin de suplir la falta de los testim onios de bautism o y confirm a­
ció n de su cuñado, Francisco de Palacios, el cual había presen­
tado instancia para ser adm itido a exam en de prim eras órdenes.
15 9 7
E l 2 1 de en ero, en Sevilla, se registra la co m isió n dada a M i­
gu el de C ervan tes.
E l 6 de septiem bre, a con secu en cia d e la bancarrota d e l ban­
q uero sevillano S im ó n F reire de L im a , F ran cisco Suárez G as­
eo, en cuyas m anos había depositado C ervan tes las sum as re­
caudadas, ob tien e u n a p ro v isió n real m an dand o que éste vaya
a la corte a dar cuen ta de cobros y fianzas. E l licen ciad o G as­
p ar de V a lle jo recib e el en cargo de n o tificar esta o rd en a
C ervan tes. C o m e te u n abuso de p o d e r y lo h ace encarcelar
en la C á rc e l R e a l de Sevilla.
E l i de d iciem b re, se m an da p ro v isió n real al dicho V a lle jo
para que libere al p reso , b ajo c o n d ició n de dar fianzas a su sa­
tisfacción. D u ran te su estancia en la cárcel solicita ir a M á ­
laga, d on d e dice ten er los papeles para ju stifica r sus cuentas.
15 9 8
S eg ú n la respuesta q u e da el 3 1 de m arzo a la n o tifica ció n de
los contadores, C ervan tes se en cu en tra libre en Sevilla.
M u e re A n a Fran ca de R o ja s , m adre de Isabel de Saavedra,
h ija natural de C e rva n te s, el 1 2 de m a y o , en M adrid . S u re­
lació n c o n M ig u e l tu vo lu ga r a p rin cip io s de 15 8 4 , seg ú n se
d educe de la d eclaració n de Isabel, h ech a en V allad o lid en
16 0 5 , ante el ju e z V illarroel.
E n n o vie m b re , c o m p o n e C ervan tes su «Soneto al tú m u lo del
R e y que se hizo en Sevilla» a raíz de la m u erte de F e lip e II.
15 9 9
E l 10 de feb rero, C e rvan tes se halla en Sevilla, donde firm a
una carta de pago.
M agd alen a de C e rvan tes, h erm ana d el escritor, recoge a Isa­
b e l de Saavedra, c o m o se in fie re de u n asiento d e servicio , sin
ind icación de parentesco, firm ado en M adrid , el 1 1 de agosto.
CCXCIV
1600
R E SU M EN CRO N O LÓ G IC O
Archivo Municipal de Sevilla. ? Astrana, V , pp. 4 11 - 4 1 3 .
Se infiere de un poder de Andrea de Cervantes y Magdalena Pi­
mentel de Sotom ayor a Antonio de Avila para presentar en Flandes una cédula real, con la que pueda pedir los alcances de su her­
mano el alférez R o drigo de Cervantes.
Archivo de Protocolos de Valladolid. Prot. de Pedro de M unguia,
años 16 0 3 -16 14 . Î Pérez Pastor, Documentos, II, núm. 76,
16 0 1
Archivo general de Simancas. Contaduría mayor, segunda época,
leg. 253. í Pérez Pastor, Documentos, II, núm. 75.
1602
Iglesia Parroquial de Nuestra Señora de la Asunción, de Esquivias,
lib. 3 de Bautismos, f. 2v del cuad. de 1602. f Astrana, V , p. 461.
1603
Archivo General de Simancas, en un cuaderno de cuentas dadas el
mismo año por el recaudador de rentas de Baza Gaspar Osorio de
Tejeda, correspondientes a 1594 (la copia se conserva en el infolio
de Abalos, pero el original desapareció de Simancas, según Astra­
na, V , p. 220). í Fernández de Navarrete, Vida, p. 439.
1604
Lope de Vega, Epistolario, ed. Amezúa, III, p. 4. f M arín López,
«Belardo furioso: una carta de Lope mal leída...».
Quijote, I, Preliminares, 5-6.
Quijote, I, Preliminares, 3.
1605
Archivo de Protocolos de Valladolid. Prot. de Juan R uiz. Escritura
testimoniada en el doc. núm. 122 de Pérez Pastor. í Pérez Pastor,
Nuevos documentos, núm. 12 1.
A rchivo de la R e a l Academia Española. N úm . 1, procedente del
Archivo de la antigua Cárcel de Corte y encabezado: Averiguaciones
hechas por mandado del señor Alcalde Cristóbal de Villarroel, sobre herí-
AÑOS
1 600- 1 605
CCXCV
1600
En una escritura del 2 de mayo, firmada en Sevilla, Miguel
de Cervantes se declara vecino de esta ciudad.
Muere Rodrigo de Cervantes, el 2 de julio de 1600, en Flandes, en la batalla de las Dunas de Nieuport.
1601
El 14 de septiembre, los contadores de relaciones entregan a
la contaduría mayor de Valladolid un informe sobre ciertas
cantidades cobradas por Cervantes durante sus comisiones
granadinas.
1602
Miguel se encuentra en Esquivias, el 27 de enero, como tes­
timonia una partida de bautismo en la que firma como com­
padre.
1603
Complicaciones con el erario público: se conserva un infor­
me de los contadores (Valladolid, 24 de enero) acerca de lo
que adeudaba Miguel de Cervantes.
1604
Se enfrían las relaciones entre Cervantes y Lope de Vega. En
carta fechada en 4 de agosto, éste, tras referirse a los poetas que
hay «en ciernes para el año que viene», añade: «ninguno hay tan
malo como Cervantes, ni tan necio que alabe a Don Quijote».
Cervantes se encuentra en Valladolid. Allí se le da, el 26 de
septiembre, licencia y privilegio para poder imprimir E l inge­
nioso hidalgo don Quijote de la Mancha.
20 de diciembre: tasa de Don Quijote de la Mancha.
1605
El 12 de abril, en Valladolid, Cervantes otorga poder al li­
brero Francisco de Robles para imprimir y vender el Quijote
en los reinos de Portugal, Aragón, Valencia y Cataluña.
El 27 de junio, en Valladolid, es testigo del proceso de la
muerte de don Gaspar de Ezpeleta, herido a las puertas de su
casa. Sus hermanas y su hija vienen a ser blanco de malin-
RESU M EN C RO N O LÓ GIC O
CCXCVI
das que se dieron a D . Gaspar de Ezpeleta, Caballero del Hábito de San­
tiago, etc. ? Pérez Pastor, Documentos, I, pp. 461-537.,
1608
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de Francisco Testa, £ 347.
? López N avio, «Dos notas cervantinas», pp. 245-256.
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de Nicolás Martínez,
núm. 5290, años 16 30 -16 3 3, ff. 2 15 - 2 19 (el original no existe, por
haber desaparecido todos los protocolos del escribano Luis de V e lasco, ante quien se otorgó la escritura).
5
Astrana, V I, p. 275.
Archivo de la Iglesia Parroquial de San Luis, de Madrid. Lib. I de M a­
trimonios, f. 166. f Pérez Pastor, Documentos, I, núm. 4 1.
1609
Fernández de Navarrete, Vida, p. 476, dice haber sacado este dato
del proceso de desahucio que existía en la escribanía de D . Juan
Antonio Zamácola. Astrana, V I, p. 320, declara, por su parte, no
haber encontrado rastro de este proceso en los protocolos que se
conservan del escribano Zamácola.
Archivo de la Iglesia Parroquial de San Luis de Madrid. Partida de
velaciones de Isabel Saavedra con Luis de M olina. Lib. 1 de M atri­
monios, f. 163. í Pérez Pastor, Documentos, I, núm. 43.
A rchivo General de Simancas. Lib. 1 de Asientos de la Cofradía,
f. 12.
5
Astrana, V I, p. 323.
Libro de inscripciones de la Orden, del 1 de ju n io de 1608 al 27 de
diciembre de 16 17 . f Pellicer, p. 242. ? Astrana, V I, pp. 327-333.
A rchivo de la Iglesia Parroquial de San Sebastián de Madrid. Libro
de Difuntos, año 1609, f. 3 1.
5
Astrana, V I, p. 335-339.
AÑOS
1 605- 1 609
CCXCVII
tencionadas insinuaciones de una vecina. El 29 del mismo
mes, el juez Villarroel lo hace detener con los suyos, para
luego soltarlos el 1 de julio.
1608
El 16 de febrero, Cervantes se declara domiciliado en el barrio
madrileño de Atocha, detrás del hospital de Antón Martín.
El 28 agosto, Isabel de Saavedra, «hija legítima» de Miguel de
Cervantes, resulta ser viuda de Diego Sanz, fallecido en junio,
como se deduce de la escritura de las capitulaciones celebradas
para su matrimonio con Luis de Molina. En ésta aparece M i­
guel como fiador solidario del pago de 2.000 ducados, a la
par que Juan de Urbina, probable protector de Isabel.
El 8 de septiembre, en la iglesia parroquial de San Luis de
Madrid, Isabel de Saavedra se desposa en segundas nupcias
con Luis de Molina. El matrimonio se celebrará el primero
de marzo del año siguiente.
1609
A principios de este año, parece que Cervantes moraba en la ca­
lle del Duque de Alba, cerca del Colegio Imperial de San Isidro.
El primero de marzo, se celebra el matrimonio de Isabel de
Saavedra con Luis de Molina, siendo padrinos Miguel y su
mujer.
Miguel ingresa en la Congregación de los Esclavos del Santísi­
mo Sacramento, según consta en una partida del 17 de abril.
El 8 de junio, al recibir Catalina de Salazar y Andrea de Cer­
vantes el hábito de la Orden Tercera, se nos dice que, tras
haber vivido «en la calle de la Magdalena, a espaldas de la du­
quesa de Pastraña» (la cual moraba en la calle de Atocha),
acaban de trasladarse, junto con Miguel, «a las espaldas de
Elorito», o sea, a una casa situada detrás del convento de Lo­
reto, que daba a la que es hoy plaza de Matute.
Muere Andrea de Cervantes, hermana del escritor, el 9 de
octubre, «de calenturas». «Enterróla Miguel de Cervantes, su
hermano, que ambos vivían en la calle de la Madalena, fron­
tero de Francisco Daza, maestro de hacer coches.» Esta casa,
distinta de. la anterior, se encontraba detrás del monasterio de
la Merced, hoy derruido.
RESU M EN CRO N O LÓ G IC O
CCXCVIII
16 10
Docum ento hoy de paradero ignorado, según Astrana, estante olim
en el Tribunal Suprem o, f Astrana, V I, p. 362.
Se infiere esta estancia de un nuevo examen, por M . de R iq u er, de
los episodios del Quijote relacionados con esta ciudad. Véase R i ­
quer, Cervantes en Barcelona.
Lib. de Inscripciones de la Orden [Tercera de San Francisco], núm.
72, f. 6. ? Astrana, V I, pp. 401-405.
16 11
Archivo de la Iglesia Parroquial de San Sebastián. Libro de D ifun­
tos de año de 1609, folio 99, segunda partida de él. í Astrana, VI,
PP·
1 6 12
434-43 5 ·
Astrana, V I, p. 502.
Lope de Vega, Epistolario, ed. Amezúa, III, p. 95.
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de Nicolás Martínez, núm.
5290, £ 2 12 . f Astrana, V I, pp. 359-360.
Original perdido. í Novelas ejemplares, pp. 5-6.
Original perdido. ? Novelas ejemplares, pp. 9-10.
16 13
Fernández de Navarrete, Vida, p. 579, núm. 34 1: «Consta por un
apunte que existía en el archivo de la orden tercera de Madrid,
cuya noticia no se ha podido comprobar en Alcalá por haberse ex­
traviado todos los papeles de la orden anteriores al año 1670».
Archivo de Protocolos de Madrid. Prot. de Ju an Calvo, año 16 13 ,
£ 4 5 1. ? Pérez Pastor, Documentos, I, núm. 47.
AÑOS
16 10
1610-1613
CCXCIX
E l 2 7 de m arzo, M ig u e l declara ser d u eñ o de u na casa situa­
da en la red de San Lu is, p rob ab lem en te com prada co n di­
n ero de Ju a n de U rb in a . S u rge entonces una diferencia entre
U rb in a e Isabel y su m arid o sobre la p ro p ied ad de la casa,
p u n to de partida de u na su cesión de pleitos.
E n ju n io , p osible estancia de C e rva n te s en B arcelo n a, c o n
m o tiv o de la partida a N á p o les d el n u e v o virre y , el con d e de
L em o s, su p rotector, al que esperaba acom pañar.
E l 2 7 de ju n io , C atalin a de Salazar resulta v iv ir c o n su e sp o ­
so, M ig u e l de C e rva n te s, «en la calle d el L e ó n , fro n tero de
C astillo , panadero de C orte».
16 11
M u e re M agd alen a de C ervan tes, el 28 de en ero, tras h ab er
h ech o testam ento.
16 12
E n una escritura de cesión q u e hace C atalin a de Salazar a su
h erm an o Fran cisco d e Palacios, el 3 1 de enero, en M ad rid ,
se declara «m ujer q u e soy de M ig u e l d e C ervan tes, ve cin o s
del lu gar de E squ ivias ... estantes de presente en esta corte».
Se ha in ferid o de este d o cu m en to u na prolo n gad a estancia
del m atrim o n io en E squ ivias durante el año de 1 6 1 1 .
E l 2 de m arzo, C e rvan tes c o in cid e c o n L o p e de V e g a en la
A cad em ia d el C o n d e de Saldaña. Para le e r sus p ropios v e r ­
sos, el F é n ix le p id e sus an teojos, q u e p arecían «huevos es­
trellados m al hechos», según escribe al d u qu e de Sessa.
E l 22 de abril, se d ice q u e m u rió Isabel Sanz d el A gu ila, h ija
del p rim er m atrim o n io de Isabel de C ervan tes.
E l 9 de ju lio , a p ro b ació n p o r fray Ju a n B autista C apataz de
las Novelas ejemplares.
E l 22 de n o vie m b re , se co n ced e a C ervan tes lice n cia para p o ­
der im p rim ir y Vender las Novelas ejemplares.
16 13
E l 2 de ju lio , C ervan tes ap ro vech a u n a estancia en A lcalá
para tom ar el h ábito en la V e n e ra b le O rd en T e rc e ra de San
Fran cisco.
E l 9 de septiem bre, cesión en fav o r de Fran cisco de R o b le s
del p riv ile g io para la im p resió n de las Novelas ejemplares.
CCC
16 14
R ESU M EN CRO N O LÓ G IC O
Adjunta al Parnaso, Carta de «Apolo Luzido», del 22 de ju lio, diri­
gida «A M iguel de Cervantes Saavedra, en la calle de las Huertas,
frontero de las casas donde solía vivir el Príncipe de Marruecos, en
Madrid». í Viaje del Parnaso, ff. 74-77. f Astrana, VII, pp. 9 -15.
Esta edición princeps del Quijote apócrifo lleva en la portada la siguien­
te mención: «En Tarragona, en casa de Felipe Roberto, año 1614».
La licencia suscrita por el vicario general de Tarragona es del 4 de ju ­
lio de 16 14 . Î Astrana, V II, pp. 16 3-16 8 , considera que estos datos
participan de una misma falsificación.
Original perdido. Î Viaje del Parnaso, f. 1.
16 15
Aprobación del licenciado Francisco M árquez Torres a la segunda
parte del Quijote (27 de febrero de 16 15 ). Î Quijote, II, Prelimina­
res, 668-670.
Original perdido. f Quijote, II, Preliminares, 671-672.
Original perdido, f Comedias y entremeses, I, f. ((2.
16 16
Libro de profesiones de la Orden, f. 130V. f Astrana, VII, p. 448.
Persiles y Sigismunda, I, £F. ÎS 3 -Î Ï3 V .
Parroquia de San Sebastián de Madrid, Libro de Difuntos, 23 de
abril de 16 16 , f. 270. f Astrana, V II, pp. 242-255 y 462-463.
Original perdido. í Persiles y Sigismunda, I, f. í f i v .
AÑOS
1614-1616
CCCI
1614
En julio, Cervantes se encuentra en una casa situada en la ca­
lle de las Huertas, detrás del cementerio de San Sebastián,
donde parece haberse mudado en abril de i ó i i .
Se publica en septiembre el Segundo tomo del ingenioso hidalgo
don Quijote de la Mancha, atribuido a Alonso Fernández de
Avellaneda.
El 18 de octubre, se concede a Cervantes privilegio para po­
der imprimir y vender el Viaje del Parnaso.
1615
El 25 de febrero, varios caballeros del séquito del embajador de
Francia, Brúlart de Sillery, que había ido a visitar al cardenal
Bernardo de Sandoval y Rojas, arzobispo de Toledo, testimo­
nian la fama de que gozaban en su tierra las obras de Cervantes.
El 30 de marzo, se da licencia a Cervantes para poder impri­
mir y vender la Segunda parte del Quijote.
El 25 de julio, se le da licencia para imprimir las Ocho come­
dias y entremeses.
1616
El 2 de abril, Cervantes profesa en la Orden Tercera de San
Francisco.
El 19 de abril, redacta la dedicatoria al conde de Lemos de
Los trabajos de Persiles γ Sigismunda.
Muere Cervantes en Madrid el 22 de abril, en una casa de la
calle de León, esquina a la de Francos, donde se había mu­
dado probablemente un año antes, una vez concluido el edi­
ficio. Es enterrado el día siguiente en el convento vecino de
las Trinitarias Descalzas, calle de Cantarranas.
Aprobación del Persiles por el maestro Josef de Valdivielso
(9 de septiembre). Se publicará el libro a principios de enero
del año siguiente.
O B R A S DE R E F E R E N C IA
(en orden alfabético)
Julián de Apraiz y Sáenz del Burgo, Cavantes vascófilo, o sea Cavantes vindi­
cado de su supuesto antivizcainismo, Dom ingo Sar, Vitoria, 18952. f Luis As­
trana Marín, Vida ejemplar y heroica de Miguel de Cervantes Saavedra, Instituto
Editorial de Reus, Madrid, 1948-1958, 7 vols,
f Ju an Bautista de A valle-
Arce, «La captura de Cervantes», Boletín de la Real Academia Española, XLVIII
(1968), pp. 237-280; reed, en Nuevos deslindes cervantinos, Ariel, Barcelona,
1975, PP· 277-333. ? Kenneth B row n y María Dolores Blanco Arnejo, «Dos
documentos cervantinos inéditos», Cervantes, IX (1989), pp. 5-19. f M iguel
de Cervantes, Novelas ejemplares, ed. Jorge García López, Crítica, Barcelo­
na, 2001. í Luis Coronas Tejeda, «Cervantes en Jaén, según documentos
hasta ahora inéditos», Boletín del Instituto de Estudios Giennenses, XCIX
(1979). PP· 9-52· ? Em ilio Cotarelo y M orí, Efemérides cervantinas, o sea re­
sumen cronológico de la vida de Miguel de Cavantes Saavedra, Tipografía de la
R evista de Archivos, Madrid, 1905. í P. D om ingo de la Asunción, Cervan­
tes y la Orden Trinitaria, E l Santo Trisagio, Madrid, 19 17 . f Martín Fernán­
dez de Navarrete, Vida de Miguel de Cervantes Saavedra..., Imprenta R eal,
Madrid, 1819. f James Fitzmaurice-Kelly, Miguel de Cervantes Saavedra. R e ­
seña documentada de su vida..., O xford University Press, 1917. f D iego de
Haedo, Topographía e Historia General de Argel, Valladolid, 16 12 ; reed. B i­
bliófilos Españoles, Madrid, 1927, 3 vols. í Lope de Vega, Epistolario, ed.
Agustín González de Amezúa, R e a l Academia Española, Madrid, 193 519 41, 4 vols. í José López N avio, «Dos notas cervantinas. I. U n docum en­
to inédito sobre Cervantes. II. Terciar, tercio», Anales Cervantinos, IX (19611962), pp. 247-252. í Nicolás Marín López, «Belardo furioso: una carta de
Lope mal leída», reed. en Estudios literarios sobre el Siglo de Oro, Universidad
de Granada, 1988, pp. 317-358. í José M ontero R eguera, «El cervantismo
del curso 1992-1993», Edad de O ro, XIII (1994), pp. 202-209. f Jerónim o
M orán, Vida de Cervantes, Imprenta Nacional, Madrid, 1863. ? Cristóbal
Pérez Pastor, Documentos cervantinos hasta ahora inéditos, Imprenta de Fortanet, Madrid, 1897-1902, 2 vols. í Martín de R iquer, Cervantes en Barcelona,
Sirmio, Barcelona, 1989. ? Adolfo R odríguez Jurado, Discursos leídos en la
Real Academia Sevillana de Buenas Letras... en la recepción pública del limo. Sr.
Doctor don Adolfo Rodríguez Jurado, R e a l Academia de Buenas Letras, SeviCCCII
cccm
O BRAS DE R EFEREN C IA
lia, 1914. Í Francisco Rodríguez Marin, Nuevos documentos cervantinos, R e a l
Academia Española, Madrid, 1 9 14 (incluido en sus Estudios cervantinos, Atlas,
Madrid, Γ947, pp. 175-350); «Una escritura inédita de Cervantes», La Ilus­
tración española y americana, 8 de mayo de 19 13 (reed. en Burla burlando, sin
editor, Madrid, 1914, pp. 417-424). f Alberto Sánchez, «Estado actual de
los estudios biográficos», Suma cervantina, ed. Juan Bautista de Avalle-Arce
y Edward C . R ile y, Tamesis, Londres, 1973, pp. 3-24.
5 Jaim e
Sánchez R o -
meralo, «Miguel de Cervantes y su cuñado Francisco de Palacios. U na de­
claración desconocida de Cervantes», Actas del II Congreso Internacional de
Hispanistas, Nim ega, 1967, pp. 563-572. f R o do lfo Schevill y Adolfo B o ­
nilla y San Martín, Obras completas de Cetvantes (La Galatea, Persiles y Sigis­
munda, Comedias y entremeses, Viaje del Parnaso, Novelas ejemplares, Don Qui­
jote de la Mancha, Vida de Cervantes), Imprenta Bernardo Rodríguez y
Gráficas Reunidas, Madrid, 1 9 1 4 - 1 9 4 1 , 18 vols, f Krzysztof Slíwa, Docu­
mentos de Miguel de Cetvantes Saavedra, Eunsa, Pamplona, 1999; Documentos
cervantinos. Nueva recopilación, lista e Indices, Peter Lang, N ueva York, 2000.
Ï José de la Torre y del Cerro, La familia de Miguel de Cetvantes, sin editor,
Córdoba, 1923. f Pedro Torres Lanzas, «Información de M iguel de C e r­
vantes de lo que ha servido a S.M . y de lo que ha hecho estando captivo en
Argel...», Revista de Archivos, Bibliotecas y Museos, 3a serie, V (1905), pp. 345397; reed. José Esteban, Madrid, 1981.
LA P R E SE N T E ED IC IÓ N
Texto crítico
La edición del Instituto Cervantes no tiene distinto objeto del
que en rigor debiera tener cualquier otra edición del Quijote,
cualquier otra edición de cualquier otra obra: ofrecer un tex­
to tan correcto com o lo permitan los conocimientos disponi­
bles, un texto fiel a la intención del autor (a veces tornadiza),
diáfano para el lector y verificable por el estudioso. Porque la
edición de un clásico puede contener muchas cosas de valor,
prólogos brillantes, notas eruditísimas, vocabularios exhausti­
vos, pero de hecho ninguna de ellas es imprescindible ahí, nin­
guna es inherente al género «edición» -c o m o un cuadro no re­
quiere por fuerza un marco, y menos bibliografía aneja-, salvo
un buen texto, el m ejor texto posible, y los datos necesarios
para que el experto pueda aprobarlo o enmendarlo paso por
paso.
E n tal camino, a conciencia de que nunca se llegará a reco­
rrerlo hasta el final y de que sólo cabe echarse a andar, enten­
demos que nuestro trabajo aporta primordialmente dos n ove­
dades. Por un lado, partir de un estudio y una valoración hasta
la fecha no realizados de las ediciones impresas «por Juan de la
Cuesta» (pero véase II, Portada, 662, n.) y de un escrutinio m e­
tódico del resto de la tradición. P o r otro, examinar cada lec­
ción y cada variante a la luz de las normas básicas de la crítica
textual, y decidirse por la m ejor fundada de acuerdo con ellas,
y, por ahí, de conformidad con todos los elementos de ju icio
rastreables (caligrafía de Cervantes, usas scribendi, hábitos tipo­
gráficos, autoridad de la edición, etc.), en vez de atenerse a la
panacea del codex unicus, a la vetusta idea, tan tenazmente sus­
tentada sin análisis, de que en los muchos pasajes problemáticos
del Quijote la solución consiste en transcribir la princeps a ciegas
y por principio.
E n cualquier caso, no se descuide que una edición es un apa­
rato crítico a la vez que un texto. Esa evidencia debe regir en parcccv
CCCVI
LA P R E S E N T E E D I C I Ó N
ticular cuando el autor corrige estadios anteriores de la obra o
da señales patentes de que los corregiría si la redactara de nue­
vo, como con la Primera parte del Quijote ocurre en un grado
no trivial. En efecto, tras la princeps de 1604, con fecha de 1605
(A), R ob les publicó a comienzos de 1605 una segunda edición
(B) que incorpora algunas adiciones (en concreto, sobre el hur­
to del asno de Sancho) que con absoluta certeza se deben a
Cervantes, y otros cambios menores que, dada esa certeza, no
es ilícito achacarle parcialmente a él; y en 1608 sacó una terce­
ra (C) con ligeras revisiones que, por versar sobre el mismo
asunto (entre otras razones), no pueden descartarse como ex­
trañas a Cervantes, las hiciera él mismo o no pasara de permi­
tirlas. Sin embargo, si en B el escritor interpoló en lugar erró­
neo los añadidos en torno al rucio, en la Segunda parte (16 15)
prefirió ocultarlos con cortinas de humo. N o es aceptable,
pues, insertar tales añadidos donde los sitúa B, no ya porque es­
tén ahí por una equivocación de Cervantes, sino porque, por
culpa de esa equivocación, Cervantes se preocupó de cancelar­
los en la Segunda parte; ni, obviamente, podemos inventarnos
el texto que quizá el escritor habría compuesto en 16 15 para di­
simular los lunares de un decenio atrás. Sólo nos queda, por
tanto, editar en el cuerpo de la página uno de los estadios pal­
pables del primer Quijote y recoger los otros, seguros o posibles,
en el aparato crítico.
N o es dudoso que el estadio preferido ha de ser el de la prin­
ceps, por cuanto la Segunda parte no da por buenos los retoques
de B, ni, por ende, de C, a cuenta del asno robado, y porque
es en relación con aquel estadio como m ejor se aprecia el iti­
nerario del novelista hacia una «última voluntad», jamás cuaja­
da en una nueva edición, sobre la fisonomía del libro. Pero,
supuesto ello, no hay ningún inconveniente en admitir las va­
riantes de la segunda y de la tercera impresión que no implican
un cambio, sino una restitución del tenor literal de la primera: si no se
consideran de Cervantes o avaladas por él (y hay un puñado
que podría serlo), son tan legítimas com o cualquier otra conje­
tura bien construida; si cuando menos un cierto número de
ellas sí se atribuye a Cervantes, tampoco violan el criterio de no
crear un texto m ixto, contaminando dos estadios distintos de la
obra.
T EX TO C RÍTIC O
CCCVII
Las tres ediciones aparecidas a la sombra del autor disipan en
gran medida las perplejidades ecdóticas que plantea la Primera
parte: no son demasiadas las erratas y errores menudos de A que
no se salvan fácilmente con ayuda de B y C. Para las insufi­
ciencias de la Segunda parte (16 15 ), en cambio, no tenemos
más medicina que la conjetura, pero, tratándose de un libro
con tantas ediciones próximas al autor, tampoco nos falta te­
rreno donde escoger. D e ahí que antes de arriesgar una solu­
ción nuestra, y para cumplir con el criterio documental que en
seguida apuntamos, hayamos intentado compulsar en todas las
impresiones del siglo x v n y en las más importantes de las pos­
teriores la totalidad de los lugares que nos parecían dudosos.
E l nuestro es un «texto limpio» (el clear text de la tradición an­
glosajona), es decir, sin intromisión alguna de elementos (sean
paréntesis cuadrados u otros signos diacríticos) que el lector
deba reconocer como incorporados por los editores y, por tan­
to, lo alejen del cauce por donde lo lleva el autor. (En rigor, las
llamadas a las notas constituyen una excepción a tal principio,
pero excepción disculpable por la comodidad del procedi­
miento. La disposición tipográfica de las notas al pie, a dos co­
lumnas, se endereza también a separarlas más resueltamente del
original cervantino.)
E n el aparato crítico, hemos querido, por otro lado, que ni
una sola modificación, por pequeña que fuese, incorporada a
nuestro texto respecto a la princeps de 160$ o de 16 15 quedara
sin registrar ni certificar en su origen. N o hemos pretendido rea­
lizar una edición variorum, pero hem os colacionado por ente­
ro las ediciones antiguas fundamentales y las modernas que m e­
jo r se prestaban a verificar nuestro propio cotejo; y cuando la
lección aceptada por nosotros no procedía de esas ediciones an­
tiguas (ni se trataba de reparar un gazapo inconfundible), al
igual que al enfrentarnos con los aludidos lugares dudosos, he­
mos hecho un amplio examen de la tradición —previamente
sondeada para determinar los puntos en que nacen sus ramas
m ayores- con el fin de averiguar dónde y cuándo fue adopta­
da inicialmente. C o n frecuencia hemos señalado además la
fuente de las lecturas admitidas en las ediciones modernas que
nos sirven de control, y para todos los pasajes cruciales damos
el historial básico de las variantes y propuestas más discutidas o
CCCVIII
LA P R E S E N T E E D I C I Ó N
significativas, en general limitándonos a su primera aparición,
sin detenernos en consignar quiénes las repiten (de m odo que
tras una escueta referencia a Madrid, 1655, o a Bruselas, 1662,
muchas veces está la consulta de docenas de impresiones irre­
levantes a nuestro propósito). C o n todo lo cual, insistimos, de
ningún m odo queremos ofrecer una edición variorum, sino ga­
rantizar no sólo que el filólogo y el cervantista están en condi­
ciones de saber en cada m omento de dónde sale el texto que
están leyendo y qué otras posibilidades al respecto se han con­
siderado, sino, en particular, que pueden fiscalizar nuestro tra­
bajo y formarse su propia opinión.
La «Historia del texto» incluida más arriba resume otros da­
tos sobre la transmisión y la fortuna textual del Quijote que se
hallan asimismo en las raíces de la presente edición. E n la in­
troducción al aparato crítico se encontrarán las precisiones
indispensables sobre los textos cotejados, las normas con que se
han recogido las variantes, sobre grafía y puntuación, etc., etc.
Pero las razones que en cada caso nos han inclinado por tal o
cual lectura deben buscarse sólo en los comentarios que acom­
pañan a las correspondientes entradas del aparato crítico (o que,
cuando el caso lo aconsejaba, se han desplazado de ahí a las no­
tas complementarias).
Notas a pie de página, apéndices e ilustraciones
E l otro elemento fundamental de la presente edición, sólo por
debajo del texto crítico, son las notas a pie de página. C om o en
los demás volúmenes de la Biblioteca Clásica en que apareció
nuestra edición de 1998, en ellas se ha procurado explicar «de
m odo claro y sucinto la materia, palabra o alusión que en cada
caso las motiva, con el desarrollo justo para no hurtar ningún
elemento a la comprensión del texto, pero sin pormenores que
entorpezcan la fluidez de la lectura». Por cuanto atañe al senti­
do literal, la anotación quisiera ser tan completa y regular como
lo permiten la extensión y las condiciones materiales del pro­
yecto: completa, en la medida de cuando menos rozar todos los
asuntos que puedan provocar dudas o malas interpretaciones en
el lector de hoy y todos los que enriquezcan abiertamente su
N O T A S A L P IE
C C C IX
diálogo con la obra; regular, porque el propósito ha sido con­
cederles a todos un tratamiento y una atención equiparables, en
proporción a su importancia, sin primar los de un determina­
do tipo.
Nuestro destinatario ideal habla el español como lengua m a­
terna y no ha estudiado filología ni historia en la universidad,
aunque sí tiene la suficiente curiosidad y gusto por la literatura
para emprender y (no nos engañemos dándolo por supuesto)
continuar hasta el final una lectura atenta del Quijote. Pensar en
semejante destinatario nos ha animado, insistimos, a marcar el
énfasis de la anotación en el sentido literal, que por otro lado
constituye el obligado com ún denom inador de cualquier acer­
camiento a un texto literario (véase arriba, p. xiv ), en el em ­
peño de superar la multitud de obstáculos, inmediatamente re­
conocibles como tales o, peor, disimulados por una falsa
transparencia -desde el mismo título de 1605, desde la primera
frase del relato-, que la lejanía del universo y del lenguaje de la
novela opone a un entendimiento suficiente del Quijote: obstácu­
los de morfología, sintaxis y vocabulario, de conceptos y realia, de
presuposiciones literarias e intelectuales...
Hem os intentado acompañar al lector hacia el mundo perdi­
do de palabras, frases hechas, costumbres, instituciones y sabe­
res que eran normales a principios del Seiscientos y ya no lo son
en el siglo que comienza, buscando formular las notas en los
términos más llanos, inteligibles y próxim os a los conocim ien­
tos y experiencias de nuestros días. Así, por ejemplo, sólo por
rara excepción hemos seguido el uso todavía demasiado fre­
cuente de pretender declarar un vocablo copiando por las bue­
nas la definición de un lexicógrafo antiguo, no ya porque su
testimonio no siempre es fiable (el gran Covarrubias cede en
exceso a la tentación etimologista, el primer diccionario acadé­
m ico tiende a improvisar alegremente), sino porque fácilmen­
te crea al inexperto más engorros de los que le resuelve.
(¿Cuántos son los capaces de reconocer, pongamos, la hojuela
que el Tesoro describe com o «fruta de sartén hecha de masa es­
tendida m uy delgada»? A nosotros, y perdónese la deliberada
nimiedad del ejemplo, nos ha parecido más útil relacionarla
con otras variedades de la tortita o crêpe y apuntar sumariamen­
te cómo se preparaba...) H em os rehuido asimismo los tecnicis-
cccx
LA PRESENTE ED ICIÓ N
mos, y cuando alguno resultaba ineludible o cóm odo suele ir
relegado a la segunda parte de la nota, donde ya se trata menos
de solventar una dificultad que de glosarla. Los problemas tex­
tuales hemos querido sólo insinuarlos mediante cuatro o cinco
docenas de notas que ilustraran algunas de sus modalidades,
pero a menudo nos servimos del signo ° para remitir al lector
interesado a las entradas del aparato crítico. A l habérnoslas con
citas, tópicos o motivos tradicionales, muchas veces nos con­
tentamos con señalar su carácter de tales, y en su caso bosque­
ja r una rápida contextualización, presumiendo que al «ingenio
lego» le basta con advertir que no se halla ante ninguna ocu­
rrencia singular de Cervantes, en tanto el experto buscará las
referencias oportunas en la nota complementaria. Hem os sido
sumamente parcos en comentarios estilísticos o de crítica lite­
raria, acogidos mayormente para hacernos eco de opiniones
bien consolidadas y tener ocasión de aducir en su lugar la bi­
bliografía pertinente; y, desde luego, nos hemos esforzado por
evitar que una interpretación en ese orden de cosas, ya fuera
propia o ajena, encauzara rígidamente la lectura por una deter­
minada senda o anticipara datos que el autor reservaba para más
adelante.
E n principio, nuestro criterio ha sido apostillar todos los
puntos, sea cual fuere su índole, anotados a su vez en las más
valiosas ediciones del mismo tipo manual de la nuestra (en con­
creto, las debidas a Mendizábal, Onís, Millares, R iquer, C o rtázar-Lerner, Alcina Franch, M urillo, Avalle-Arce y Alien), ju z­
gando que en ellas se encuentran un buen índice de los asuntos
que por su dificultad o interés convenía aclarar al lector y, a la
par, un adecuado repertorio de las cuestiones que más nítida­
mente dibujan el legado del cervantismo. N o obstante, puesto
que a la postre hemos descartado algunos de esos escolios, que
por una o por otra razón se nos antojaban inequívocamente su­
perfluos, no podemos decir que anotamos todos los extremos
tocados en cada una de las ediciones mentadas, pero sí, cree­
mos, los que todas coinciden en anotar.
E n m odo alguno significa ello que nos limitemos a esos pun­
tos y excluyamos otros, ni mucho menos que aceptemos ni re­
pitamos las soluciones de nuestros predecesores. Por el contra­
rio, hemos tomado en cuenta todas las aportaciones relevantes
N O TAS, A PÉN D IC ES E ILU ST R A C IO N ES
CCCXI
que nos han sido accesibles, vinieran de donde vinieran (en
particular si nos las han señalado los autores de las Lecturas del
«Quijote» y de la revisión de los capítulos correspondientes), y
confiamos en haberles añadido un número no despreciable de
novedades.
C om o quiera que sea, hemos aspirado a compensar el inevi­
table (y aun así insuficiente) acopio de notas redactándolas con
la máxima concisión que sabíamos y procurando que no des­
viaran la atención del texto mismo sino en el m enor grado p o ­
sible, de manera que el lector pudiera pasar del texto a la nota
y volver inmediatamente al texto sin perder (o sin perder ape­
nas) el hilo. A idéntico criterio, y también según las normas de
Biblioteca Clásica, obedecen la posición en que se sitúan las lla­
madas a las notas y la presencia o ausencia de lema (general­
mente en cursiva y seguido por dos puntos) al comienzo de las
notas propiamente dichas, cuando se trata de dar (entre ‘com i­
llas simples’ , para que no se confunda con las indicaciones con­
tiguas) la equivalencia moderna de una palabra o frase: si convie­
ne introducir la llamada inmediatamente después, opinamos
que lo más ágil es prescindir por entero de lema, mientras éste
se hace necesario cuando, según m uy comúnmente resulta
aconsejable, la llamada se retrasa hasta el final del segmento
dentro del cual la voz o sintagma cobra plenitud de sentido.
Procuramos que el lector no tenga que volver a una glosa lé­
xica hecha anteriormente, que preferimos resumir, sea en to­
dos los casos en q u e ,el término aparece, si son pocos, sea con
una cierta regularidad, cuando es frecuente. Sin embargo, para
favorecer comparaciones y consultas, tendemos a dar la refe­
rencia a la nota en cuestión o a la página del texto con la pala­
bra glosada.
Los apéndices y las ilustraciones, por otro lado, se han con­
cebido en estrecha relación con las notas al pie. Además de ser­
vir de cómoda sinopsis de la novela, el itinerario quijotesco
ofrece una buena idea de los atolladeros a que aboca cualquier
intento de fijar Sobre el mapa o disponer en una exacta se­
cuencia cronológica las andanzas del Caballero, y, por ahí, anula
la necesidad de multiplicar en el calce de la página las observa­
ciones al respecto. La caracterización global de la lengua del
Quijote, el organigrama de la «España oficial» y el resumen so-
CCCXII
LA PRESENTE E D IC IÓ N
bre medidas y monedas aportan la perspectiva imprescindible a
la información compendiada en muchas acotaciones. E n fin, la
relevancia de los libros de caballerías en la historia de don Q ui­
jo te se capta harto m ejor en la selección de fragmentos prepa­
rada por M ari Carm en M arín Pina que dispersando en las no­
tas los extractos y las citas parciales.
D e la España de los Austrias hasta hace cuatro días, el m un­
do era tan angosto y comunal, que bastaba para llenarlo un pe­
queño número de seres y objetos que todos conocían hasta en
sus más chicos pormenores. E n los últimos decenios, la m ayor
parte de esos seres y objetos han sido desplazados o reemplaza­
dos, sin dejar apenas memoria, por otros extremadamente dis­
tintos. M artín de R iq u e r nos contaba una vez que él fue el pri­
mero en anotar al pie del Quijote la palabra bacía. H oy, cada vez
son menos quienes podrían identificar unas abarcas, una aceña o
una alcancía, y no digamos una adarga o la ación de unos arreos.
Se comprenderá, pues, que, para salvar didácticamente esa in­
mensa distancia, las ilustraciones que hemos incluido (en sec­
ción propia, con índice incorporado al de notas) tiendan prefe­
rentemente a hacer visibles algunos aspectos de la vida cotidiana
del Siglo de Oro, esbozando una mínima arqueología de la cul­
tura material de la.; época, y sólo se propongan ser claras y estar
rigurosamente documentadas. Para que los dibujantes maneja­
ran los modelos apropiados, hemos recurrido a la colaboración
sistemática o a la consulta ocasional de los mejores especialistas
(véase abajo, Colaboraciones y agradecimientos) y utilizado una
amplia bibliografía, parcialmente alegada en las notas ad hoc.
Pero en ocasiones no cabía sino dar una muestra estadística­
mente representativa de la realidad aludida por Cervantes, sin
poder establecer la variante precisa que el escritor tenía en
mente, y más de una vez no ha habido medio de averiguar ni
siquiera de qué especie en concreto estaba hablando, y hemos
renunciado a incluir ilustración alguna.
NOTAS C O M PLEM EN TA R IA S
CCCXIII
Notas complementarías
E n unos pocos casos (Bow le, Clem encín, R odríguez M arín,
Gaos, quizá Cortejón), declarados o no, las ediciones del Qui­
jote se han acompañado de una anotación de ambiciones poco
menos que exhaustivas, sin perdonar ningún aspecto que al
comentarista le pareciera digno o simplemente susceptible de
tratamiento. E n otros (Pellicer, Schevill y Bonilla), se han li­
mitado a tratar, por largo o escuetamente, los lugares que ju z ­
gaban no explicados hasta la fecha. E n los más, se han concen­
trado en zanjar con brevedad los principales escollos que la
novela presentaba o presenta a la mayoría de los lectores con­
temporáneos.
E l Quijote del Instituto Cervantes pertenece confesadamente
al último tipo, porque lo central en él, descontado el texto, son
las notas a pie de página, que, dentro de las limitaciones de e x ­
tensión y planteamiento inherentes a un volum en manual, se
proponen ser autónomas y suficientes por sí mismas. C on todo,
nuestro trabajo pretende ser también útil al estudiante y al es­
tudioso sirviéndoles de guía para el manejo de las ediciones
maiores y los títulos más significativos en la bibliografía de la
obra. E n concreto, quisiéramos que nuestras notas comple­
mentarías (como, con distinta perspectiva, las Lecturas del
«Quijote») hicieran innecesario tener siempre a mano todas las
ediciones anteriores y emboscarse interminablemente en la
«floresta, encinar o selva» (II, 10, 763) de los demás repertorios
de información cervantina, permitiendo sin embargo ponerse
en camino de saber cuál es el estado actual de los conocim ien­
tos sobre la novela, tanto en cuestiones de vasto alcance com o
en puntos de detalle, y, en particular, de qué publicaciones hay
que echar mano en cada caso para conseguir noticias comple­
tas y al día.
Así, las notas complementarias debieran permitir a quien lo
desee profundizar en gran parte de los temas de algún relieve
tratados someramente en las notas a pie de página (al final de
las cuales van anunciadas mediante el signo °), apuntándole los
fundamentos, los factores controvertibles y la bibliografía de las
explicaciones que allí se dan.
CCCXIV
LA PRESEN TE ED ICIO N
Cuando versa sobre un asunto glosado en las ediciones de
m ayor ambición o más difundidas en el último siglo, la nota
complementaria empieza normalmente por remitir, con una
clave de abreviaturas (resuelta en la bibliografía), a las anotacio­
nes más importantes que en ellas se le dedican, partiendo de la
primera en apostillar el pasaje y continuando, por orden cro­
nológico, con las que han añadido al respecto interpretaciones
o datos de interés. (Ni que decirse tiene, pues, que no las re­
gistramos todas, supuesto que son innumerables los casos en
que las más tardías se contentan con resumir, en general sin
comprobación, las afirmaciones de sus precursoras, que, por
otro lado, a veces no pasan de transcribir, como si nada hubie­
ra cambiado desde los días del admirable B o w le, el Tesoro de
Covarrubias o el Diccionario de Autoridades.)
Si sobre la materia tratada, además o en lugar de notas en las
aludidas ediciones, existen monografías o aportaciones valiosas
en escritos de otra índole, hacemos m ención de ellas en la m e­
dida de nuestro conocimiento e insistiendo en las de fecha pos­
terior a las ediciones de Luis Andrés M urillo y Vicente Gaos,
donde, amén de sacarse a colación lo más sustancial o arraiga­
do de la bibliografía cervantina, se citan aún muchos trabajos
menos perdurables que no hemos juzgado oportuno recordar.
(El estilo de nuestras referencias, por el sistema de autor
[iaño'.páginas], se describe en la advertencia previa a la bibliogra­
fía. Los signos < y > se emplean, respectivamente, para señalar
que un estudio apoya o contradice al aducido inmediatamente
antes. U na b volada denota que el ítem así marcado contiene
extensas puntualizaciones bibliográficas.)
Por otra parte, siempre que lo hemos creído preciso para ju s­
tificar una explicación propia, matizar o rebatir -am bas cosas,
tácita o expresamente— las ajenas o afinar de algún m odo la
comprensión del lugar anotado, hemos completado las meras
remisiones bibliográficas con una documentación selecta cons­
tituida por textos del propio Cervantes o de otros autores (con
preferencia para aquél), definiciones de diccionarios antiguos
(regularmente, como se ha dicho, excluidas de las notas al pie),
pormenores adicionales sobre la historia de tópicos y m otivos,
etc., etc. Lógicamente, tal documentación, ni completa ni sis­
temática, había de dilatarse un poco más cuando tocábamos te­
LE C T U R A S DEL «Q U IJO T E»
CCCXV
mas inéditos o dudosos, pero incluso entonces confiamos en no
habernos extendido desproporcionadamente.
Es también en las notas complementarias donde hemos hecho
sitio a bastantes indicaciones bibliográficas que se alejan un tan­
to del objeto primario de nuestra anotación, orientada al sentido
literal. N os ha movido el deseo de sugerir así la vivacidad de los
estudios de crítica literaria consagrados al Quijote, y hacerlo des­
de un punto de vista algo distinto al de las Lecturas, que exami­
nan en conjunto capítulos o series de capítulos, mientras las n o­
tas complementarias se apegan a contextos más breves y, por ahí,
permiten apuntar otras posibilidades en el aprovechamiento de la
bibliografía. Pero debemos subrayar que esas indicaciones menos
directamente vinculadas a la letra entran sólo a título de ejem­
plos, un poco aleatorios, de un panorama muchísimo mayor.
Cuando una nota al pie no lleva complementaria, debe en­
tenderse que ni la aclaración que nosotros damos ni las de los
demás comentaristas son otra cosa que una versión ad hoc de
conocimientos, repertorios o instrumentos de consulta que sin
duda posee o tiene fácilmente al alcance cualquier lector que
sienta la particular curiosidad implícita en el recurso al nivel su­
perior de la anotación. Por otro lado, sólo cuando es cosa de
realzar algún aspecto debatible autorizamos expresamente una
nota enviando a obras generales cuyo empleo se presume para
todas: el Diccionario de J . Corom inas y J .A . Pascual, los glosa­
rios de C . Fontecha, M . R o m era Navarro o L .E .S .O ., etc.
Lecturas del «Quijote»
La raíz de las Lecturas del «Quijote» está en el decidido propósi­
to que desde el principio tuvo el Instituto Cervantes de incor­
porar a la edición que prom ovía una destacada representación
de lo m ejor del cervantismo internacional, así como en el de­
seo de los responsables del texto y las notas de contar con co ­
laboradores de reconocida autoridad que revisaran su trabajo y
lo dilataran con perspectivas superiores a la esencialmente lite­
ral que a ellos les incumbía.
C o n ese designio, y con el docto y concienzudo asesoramiento de Edw ard C . R ile y , se procedió a dividir la novela en
CCCXVI
LA PRESENTE E D IC IÓ N
secciones y series de capítulos (normalmente, pero no por fuer­
za, contiguos), cada una de las cuales se confió a un distingui­
do hispanista, para que revisara las notas preparadas por la re­
dacción y dedicara al texto cervantino correspondiente un
breve comentario crítico. H ay que decir que éste se pensó pri­
mero com o nota preliminar al segmento de la obra así deslin­
dado en cada caso, de acuerdo con el m odelo de las excelentes
introducciones que ilustran tantos capítulos en la edición de
M artín de R iq u er. Pronto, no obstante, caímos en la cuenta
de que las aportaciones que nos iban llegando merecían otro
destino que publicarse a pie de página, al comienzo del frag­
mento de la novela sobre el que discurrían, según habíamos
previsto, y de que era preferible agruparlas todas en un aparta­
do independiente, abriendo el volum en complementario.
La razón ha sido doble. Por un lado, aunque los más de nues­
tros colaboradores no han rebasado exageradamente la exten­
sión m áxima que les señalamos como viable (con exigencia que
supieron entender, disculpar y, sobre todo, hacer virtud), en
general los comentarios resultan materialmente demasiado lar­
gos para imprimirlos y pretender que se usen como notas in­
troductorias, si no es a costa de interrumpir en exceso la lectu­
ra del texto. Por otra parte, el mismo enfoque que nosotros
habíamos pedido obligaba muchas veces a desbordar la fronte­
ra un tanto arbitraria de las secciones establecidas y a contem­
plar el conjunto del Quijote con una mirada más anchurosa: más
reveladora sin duda, pero puesta sobre un horizonte con fre­
cuencia harto mayor del que el lector primerizo ha alcanzado a
una determinada altura de la obra.
Nosotros, en efecto, habíamos invitado a los colaboradores a
conciliar en su comentario los planteamientos históricos y el
análisis literario y a marcar el acento en los factores nuevos que
el segmento asignado introducía en relación con los anteriores,
trazando, por ejemplo, las coordenadas de los motivos que de­
terminan la trama y de los asuntos que debaten los personajes,
identificando las circunstancias y costumbres aludidas en la ac­
ción, las tradiciones y géneros recreados, etc., etc. Pero tam­
bién los animábamos a mostrar cóm o esos factores nuevos se
enlazan con las grandes líneas del Quijote, y a llamar la atención
sobre sus temas fundamentales, sobre las etapas en la evolu­
LE C T U R A S DEL «Q U IJO TE»
CCCXVII
ción de los protagonistas, las convergencias y divergencias entre
unos episodios y otros, los componentes estructurales y los
cambios de rumbo del relato... Vale decir: nosotros mismos
los exhortábamos a ir más allá de la mera nota introductoria a
una porción del Quijote m ejor o peor pero siempre artificiosa­
mente delimitada.
E n todo caso, tal y como al cabo aparecen, perfeccionando
el plan primitivo, las Lecturas de nuestros colaboradores ofrecen
un inmenso caudal de noticias, ideas y sugerencias preciosas, y,
unidas a las contribuciones de carácter básicamente informati­
vo que configuran el prólogo y al hermoso ensayo proemial de
Fernando Lázaro Carreter, constituyen un testimonio no fácil­
mente igualable de la vigencia del Quijote y el vigor del cer­
vantismo contemporáneo. Lo uno va con lo otro, desde luego,
y no creemos necesario insistir en que pocos libros tolerarían
un despiece y un asedio parejos: las Lecturas con cuya presencia
se honra nuestra edición no podían perseguir la unidad y la co ­
herencia que distinguen a otras selladas por una poderosa im ­
pronta individual, pero la pluralidad de puntos de vista, m éto­
dos e interpretaciones que han logrado congregar es en sí
misma una manera de hacer justicia a la grandeza del Quijote.
N os queda por advertir que, buscando siempre en primer
término allanar el camino al no especialista, a nuestros colabo­
radores se les rogó que evitaran dar a las Lecturas la apariencia
de un «estado de la cuestión», prescindieran por completo de
indicaciones bibliográficas detalladas e incluso redujeran al m í­
nimo las menciones de otros estudiosos, reservando todo ello
para una nota aneja. E n tal nota han aducido, pues, y a m enu­
do con valoraciones, la bibliografía que juzgaban de más rele­
vancia para ahondar en los aspectos abordados en su comenta­
rio. A ese primer bloque bibliográfico, la redacción, tanto en
1998 como en 2005, le ha añadido un segundo, por lo común
más breve, donde tras el epígrafe Otras referencias se enumera un
cierto número de estudios que nos han parecido dignos de to­
marse en cuenta, sin que tuviéramos siempre ocasión de citar­
los en nuestras notas complementarias. E l segundo bloque se
abre sistemáticamente remitiendo, con la sigla BQ , a la m onu­
mental Bibliografía del «Quijote» por unidades narrativas y materia­
les de la novela (Centro de Estudios Cervantinos, Alcalá de H e ­
CCCXVIII
LA PRESENTE ED IC IÓ N
nares, 1995), del padre Jaim e Fernández, S.J., cuya organiza­
ción en «unidades» coincide en gran parte con la adoptada en
nuestras Lecturas. Cuando el colaborador de 1998 no ha podi­
do revisar ahora su Lectura, el texto de ésta se ha mantenido ín­
tegramente y las oportunas adiciones bibliográficas se han in­
corporado a Otras referencias.
Colaboraciones y agradecimientos
La «Presentación» general y las indicaciones que preceden a es­
tas líneas debieran dar una idea adecuada de nuestros objetivos
y modos de proceder. Los capítulos del Prólogo, las Lecturas del
«Quijote» y otras secciones de nuestra edición son obra de un
solo autor y se encabezan con su nombre o lo llevan al pie.
Pero hay aportaciones no menos valiosas que, en todo o en
parte, han pasado a diluirse en la labor de la redacción y del res­
to de los colaboradores, de m odo que no cabe puntualizar qué
se debe a cada cual, y sólo es posible advertir cuándo y cómo se
han integrado en el conjunto.
E n 1998 (entiéndase: en la gestación de nuestro Quijote de esa
fecha), las grandes líneas de la empresa fueron elaborándose en
el seno del Centro para la Edición de los Clásicos Españoles
(véase p. xiii, n. *), en especial con la intervención dé los m iem ­
bros que aparecen en distintos lugares de la nómina de crédi­
tos, y en primer término de Joaquín Forradellas, a quien tuve
com o principal asesor en casi todos los pasos del proyecto. Im ­
pagables fueron en su día el estímulo de nuestro director, el llo­
rado Fernando Lázaro Carreter, y las sugerencias de Edw ard C .
R ile y y Martín de R iquer. E n la fase propiamente operativa,
Guillerm o Serés y Gonzalo Pontón me han prestado siempre la
cooperación más directa y eficaz.
La fijación del texto crítico ha sido responsabilidad mía ex­
clusiva, pero en el cotejo de los testimonios me han auxiliado
especialmente Gonzalo Pontón (1998) y Laura Fernández
(200$), con la continua asistencia de toda la redacción. U na es­
merada compulsa de las lecturas de determinados ejemplares se
la debo, según se indica en cada caso, a Ju an Gil, J.M . M artí­
nez Torrejón, Ian M ichael y José M ontero Reguera. Pero ni la
C O LA BO R A C IO N ES Y A G R A D EC IM IEN T O S
CCCXIX
elaboración del aparato crítico ni los otros trabajos sobre el tex­
to del Quijote a que por m i parte ha dado pie la presente edi­
ción habrían sido posibles de no haber contado con la constan­
te amistad y a menudo con la preciosa orientación de Julián
M artín Abad (Biblioteca Nacional), Joana Escobedo (Bibliote­
ca de Cataluña), María Luz González López (Real Academia
Española) y María Luisa López Vidriero (R eal Biblioteca). M e
faltan palabras para decirles m i gratitud.
C om o punto de referencia para la confección de las notas, los
ayudantes de redacción prepararon una concordancia com ­
pleta de los lugares glosados en las ediciones de Mendizábal,
Onís, Millares, R iq u er, Cortázar-Lerner, Alcina Franch, M u ­
rillo, Avalle-Arce y Allen, para tener así en cada momento la
seguridad de que se anotaban los pasajes que todas ellas coinci­
dían en apuntar como más necesitados de aclaración (véase
arriba, Notas a pie de página).
Otros materiales de primera importancia para nuestras notas,
y en su caso también para las ilustraciones y apéndices, nos los
proporcionaron en 1998 Joaquín Alvarez Barrientos, com pi­
lando las definiciones y la documentación arqueológica relati­
va a la casa, aperos de labranza, arreos de montura y útiles de
viaje, y la admirable y malograda Carm en Bernis, redactando
las fichas sobre indumentaria (en esta edición, identificadas con
su nom bre en la nota complementaria) y trazando los patro­
nes de las láminas correspondientes (su magno libro sobre el
vestido en el Quijote se ha publicado al fin en 2001). A su vez,
Bernat Hernández y R icardo García Cárcel contribuyeron a la
explicación de las voces referentes a las instituciones españolas;
Antonio Contreras reunió y glosó los modelos para los dibujos
de la galera, al igual que de las armas y armaduras, usando a
propósito de estas últimas las observaciones de un estudio, en­
tonces inédito, de M artín de R iq u er, del que en nuestras notas
complementarias citamos fragmentos signados M. de Riquer
(véase ahora por entero en R iq u er 2003 c). E n fin, Jo sé M anuel
M artín M orán nos com unicó unos nutridos apuntes sobre el
secular asunto de «los descuidos de Cervantes». E n otros pun­
tos, pudimos beneficiarnos ocasionalmente de la guía de G o n ­
zalo M enéndez Pidal, Antonio López Góm ez, R o m a Escalas y
el almirante Elíseo Alvarez-Arenas.
cccxx
LA PRESENTE ED IC IO N
Teniendo todavía a la vista sólo una parte de esos elementos,
preparé la Versión preliminar de I, i, publicada por el Centro para
la Edición de los Clásicos Españoles, que en 1996 se presentó
al patronato del Instituto Cervantes y se distribuyó entre los co­
laboradores de nuestra edición. La gran m ayor parte de las no­
tas posteriores a ese capítulo se debe a Joaquín Forradellas: él,
en 1998, les dio cuerpo y andadura, tomando en cuenta no ya
la mencionada concordancia, los materiales recién aludidos, las
grandes ediciones y la abrumadora bibliografía de la obra, sino,
sobre todo, su erudición universal y (vale la pena subrayarlo)
un conocim iento y una experiencia de la vida española, anti­
gua y moderna, que son imprescindibles para entender a dere.chas el Quijote.
Patrizia Campana, en 1998, y Guillermo Serés, entonces y
ahora, han vuelto sobre la primera redacción de todas las notas,
comprobando y añadiendo datos y referencias bibliográficas.
Por su parte, los autores de las Lecturas nos han invitado más de
una vez a comentar determinados detalles de los capítulos cuya
revisión tenían encomendada, y en varios casos nos han pro­
porcionado los escolios que llevan su firma en la nota comple­
mentaria. Entre quienes han corregido deslices de 1998 o nos
han hecho sugerencias para 2005, recordaré a Blanca Muñiz,
José M . Casasayas, Hermenegildo Delgado R eyes, Daniel Eisenberg, Alberto Montaner e Iñigo R u iz Arzálluz. A l repasar yo pun­
to por punto ese cúmulo de aportaciones, me he valido con fre­
cuencia del privilegio del director de una obra colectiva (que
no, espero, de la prepotencia del cacique) para echar mi cuarto
a espadas tanto en las formulaciones com o en los contenidos, y
no sólo cuando estaba en juego la lección definitiva del texto
crítico. Es fácil que al reservarme esa última palabra, especial­
mente en 2005, haya introducido un error donde no lo había, y
es justo, pues, que se me impute cualquiera que subsista.
E n cuanto a otros quehaceres sin los cuales nuestro Quijote
no hubiera llegado a puerto, hay que decir que el primer esta­
dio de la bibliografía, luego disgregado a lo largo de la edición,
nos lo procuraron Alberto Sánchez y el padre Jaim e Fernández.
Posteriormente, nuestra gran fuente de información bibliográ­
fica, y no únicamente para las Lecturas del «Quijote» cuidadas
por él, ha sido José M ontero Reguera.
C O LA BO R A C IO N ES Y A G R A D EC IM IEN T O S
CCCXXI
Todavía menos se deja especificar el trabajo de los jóvenes
redactores y aun más jóvenes ayudantes de redacción, pacífica
pero estrictamente gobernados por Patrizia Campana en 1998
y por Laura Fernández en 2005, dentro del equipo organizado
en la Universidad Autónom a de Barcelona por el Centro para
la Edición de los Clásicos Españoles. D icho en plata, y con m u­
cho cariño, han tenido que ejercer el baqueteado papel de «chi­
cos para todo» en los más variopintos menesteres: cotejos y
comprobación de cotejos, consultas bibliográficas, referencias
cruzadas, índices, correspondencia (y antes de que se generali­
zara el correo electrónico), trasiego de originales con la im ­
prenta, corrección de pruebas, qué se yo... Quizá nadie encar­
na m ejor que ellos el espíritu de colaboración que ha presidido,
ayer como hoy, el Quijote del Instituto Cervantes.
F.R.
N O TAS DE USO
Sin peijuicio de reiterarlas en los lugares convenientes, agrupa­
mos aquí algunas advertencias que es necesario tener en cuen­
ta para un manejo adecuado de la presente edición; otras se ha­
llarán encabezando el aparato crítico, la bibliografía (donde,
por otra parte, se incluyen todas las siglas y abreviaturas utiliza­
das) y el índice de notas e ilustraciones. Las instrucciones para
el empleo del c d - r o m , que proporciona un exhaustivo voca­
bulario, concordancia y registro de usos lingüísticos del Quijo­
te, figuran en el folleto que lleva anejo.
Las referencias a los lugares del Quijote aducidos en introduc­
ciones, notas, etc., indican respectivamente parte, capítulo y pá­
gina de nuestra edición (por ejemplo, II, 32, 892). En cuanto a
los textos que no entran en la serie de capítulos, separamos las
portadas y los preliminares burocráticos (Preliminares) de las de­
dicatorias, prólogos y poemas iniciales, que designamos por su
título o encabezamiento (I, «Urganda...», 2 1, w . 5-10).
Todas las citas de las demás obras de Cervantes, con excep­
ción de Los tratos de Argel, La Numancia y las Poesías sueltas (para
las que acudimos a la edición de R . Schevill y A. Bonilla, en
Comedias y entremeses, vols, v y v i, Gráficas Reunidas, Madrid,
1920 y 1922), remiten, en su caso, al folio de las primeras edi­
ciones, fácilmente accesibles en los facsímiles publicados (no sin
retoques) por la R e a l Academia Española. La ortografía de los
textos se ha modernizado según las mismas normas seguidas en
el resto de la edición.
U n punto (·) en el margen exterior de la página señala la lí­
nea de nuestro texto en que empieza una nueva plana (o, más
precisamente, su primera palabra completa) de la edición prin­
ceps; el número en cuerpo m enor inserto en el titulillo de esa
página corresponde (salvadas las erratas del original) al folio
cuyo principio se marca con dicho punto; el folio vuelto se dis­
tingue con una uve minúscula.
E l punto de lectura lleva en los márgenes una numeración
ajustada a las líneas de nuestro texto.
C C C X X II
NOTAS DE USO
CCCXXIII
En las notas y otras secciones, el nombre de Cervantes se abre­
via generalmente como C ., y el de don Quijote, como DQ; el
título de la obra, como Q.
A lo largo de toda la edición, el signo 0 envía a la nota com­
plementaria correspondiente al lugar comentado; el signo °, a la
entrada del aparato crítico en la cual se registra o examina una
variante, y que se identifica por la página y el número de la línea.
Con la / de figura se remite a la ilustración que lleva el número
indicado.
En las notas complementarias, los signos < y > se emplean
para advertir de que un autor apoya o contradice al aducido in­
mediatamente antes. Una b volada distingue un estudio con
información bibliográfica especialmente amplia y actualizada.
EL I N G E N I O S O
HI D A L G O D O N Q V l X O T E DE L A MA N C H A , ,
Comptteßo por A lsguel de C eruant es
Saauedra.
D IR IG I D O
AL DVQVE
D E E B Γ A R;
Marques de Gibraleon, Conde de öenalcacar, y Rañares t Vizconde de la Puebla de Alcozcr, Señor de
las villas de Capilla, G u riel, y
Burguillos.
1605.
Ano,
C
O
N
P
R
I V
I L
E
G
I O
,
MM M j l O t t D t Por Inan c!c Ja Cuefta,
V e a d e f e e a c a f a d e F n m e i f c o d e R o b l e n » librero d e i j l e y n r o f e ä o r .
como escudo tipográfico desde el si­
glo X V ,°
E l privilegio ( e l r e y , véase abajo,
pp. 5-6), extendido por el Consejo
de Castilla después de someter el
manuscrito a censura, fijaba las con­
diciones en que se concedía al autor
licencia para publicar la obra duran­
te un determinado período de tiem­
po. U na vez impreso el cuerpo del
libro y comprobado que concorda­
ba con el original ( t e s t i m o n i o d e
l a s e r r a t a s , p. 4), el Consejo, en
función del núm ero de pliegos, se­
ñalaba también el precio de venta
( t a s a , p. 3).
Juan de la Cuesta no era el dueño,
sino el regente de la imprenta —pro­
piedad de su suegra, M aría R o d rí­
guez de R ivald e, viuda de Pedro
M adrigal-, y en la aparición del Qui­
jote no debe atribuírsele más respon­
sabilidad que la meramente tipográ­
fica. E l editor de la obra fue Francisco
de Robles, quien firmó el contrato
con el autor, decidió la tirada, com ­
pró el papel, pagó el trabajo de
composición e impresión, etc., etc.
Hasta 16 15 C . siguió publicando sus
libros a costa de R obles, y colabo­
rando editorialmente y teniendo tra­
tos económicos y personales con él.
A grandes rasgos, ingenioso equival­
dría hoy a ‘creativo, rico en inven­
tiva e imaginación’ , y C ., sin des­
atender los usos que el adjetivo tenía
en la lengua diaria y en la teoría li­
teraria de la época, quizá lo entendía
también a la luz de la doctrina de los
humores, como una manifestación
del temperamento colérico y me­
lancólico (véase I, i, nn. 15 , 3 1 y
32); en el Q., ingenio se empareja en
especial con sutileza y «habilidad
para disponer de las cosas» (I, 29,
372; II, 18, 843), «para el bien y para
el mal» (I, 34, 444), y es compatible
con la «locura» (II, 44, 1070),°
Dirigido: ‘dedicado’ ; véase abajo,
p. 7.
En el emblema que constituye la
marca del impresor, el cuerpo (como
solía llamarse a la parte gráfica) repre­
senta un halcón en la mano de un
cazador y con la cabeza cubierta por
un capirote (en espera de quitárselo
cuando llegue el momento de aco­
meter su presa); al fondo, un león
dormido (con los ojos abiertos, según
la tradición). E l alma (‘Tras las tinie­
blas espero la luz’) procede del libro
de Job, X V II, 12 (en el Q., citado en
II, 68, 1289). Tanto la figura como el
mote, unidos o no, venían usándose
2
T A SA
Y o , Juan Gallo de Andrada, escribano de Cámara del R e y
nuestro Señor,1 de los que residen en el su Consejo, certifico y
doy fee que, habiéndose visto por los señores dél un libro inti­
tulado E l ingenioso hidalgo de la Mancha,2 compuesto por Miguel
de Cervantes Saavedra, tasaron cada pliego del dicho libro a
tres maravedís y medio;3 el cual tiene ochenta y tres pliegos,
que al dicho precio monta el dicho libro docientos y noventa
maravedís y medio,4 en que se ha de vender en papel;5 y die­
ron licencia para que a este precio se pueda vender, y mandaron
que esta tasa se ponga al principio del dicho libro, y no se pue­
da vender sin ella. Y para que dello conste, di el presente en
Valladolid, a veinte días del mes de diciembre de mil y seis­
cientos y cuatro años.
Juan Gallo de Andrada
1 U n escribano en esas condiciones
era un funcionario por oposición,
asignado a uno de los consejos —en
este caso, el Consejo R e a l de Cas­
tilla— que constituían los órganos
principales en la administración del
Estado. Nada tenia en común con
los desdeñados escríbanos municipales
y judiciales, y Gallo de Andrada fue
un personaje rico e influyente.“
2 N o es posible saber si la forma
del título que se ofrece aquí y en el
Privilegio (I, Preliminares, 5) está
voluntariamente abreviada, se. debe
a un error de la administración, res­
ponde a un descuido de C . al hacer
los trámites necesarios para la pu ­
blicación de la obra o bien refleja la
intención del autor en aquel m o­
m ento.0
3 E l maravedí fue durante mucho
tiempo en Castilla la principal uni­
dad monetaria de cuenta: un real
eran treinta y cuatro maravedís.0
4 E n total, pues, ocho reales- y
pico. E n 1605, en Castilla la N ueva,
una docena de huevos costaba unos
63 maravedís, y una de naranjas, 54;
un pollo, 55, y una gallina, 127; un
kilo de camero, unos 28; una resma
de papel de escribir, 28. Véase aba­
jo , I, i, nn. 5 y 18 .0
5 Es decir, ‘sin encuadernar’ , ‘en
rama’ .0
3
Í2V
TESTIM O N IO DE LAS E R R A T A S
Este libro no tiene cosa digna de notar que no corresponda a
su original;1 en testimonio de lo haber correcto di esta fee.2 En
el Colegio de la Madre de Dios de los Teólogos de la Univer­
sidad de Alcalá, en primero de diciembre de 1604 años.
E l Licenciado Francisco Murcia de la Llana3
1 E l original es el texto que se usa­
ba en la imprenta para la composi­
ción: normalmente era una copia en
limpio del autógrafo, realizada por
un amanuense profesional.00
2 ‘ ...de haberlo corregido di esta
fe de erratas’ . Véase abajo, 6, n. 9.
3
Murcia de ¡a Llana, médico, co­
mentarista de Aristóteles y escritor,
fue «corrector de libros por Su M a­
jestad» desde 16 0 1 y «corrector ge­
neral» de 1609 a 16 35 .0
4
Í3
EL R E Y
Por cuanto por parte de vos, Miguel de Cervantes, nos fue fecha
relación que habíades compuesto un libro intitulado E l ingenioso
hidalgo de la Mancha, el cual os había costado mucho trabajo y era
muy útil y provechoso, y nos pedistes y suplicastes1 os mandáse­
mos dar licencia y facultad para le poder imprimir, y previlegio2
por el tiempo que fuésemos servidos, o como la nuestra merced
fuese; lo cual visto por los del nuestro Consejo, por cuanto en el
dicho libro se hicieron las diligencias que la premática última­
mente por Nos fecha sobre la impresión de los libros dispone,3 fue
acordado que debíamos mandar dar esta nuestra cédula para vos,
en la dicha razón, y Nos tuvímoslo por bien. Por la cual, por os
hacer bien y merced, os damos licencia y facultad para que vos, o
la persona que vuestro poder hubiere, y no otra alguna, podáis
imprimir el dicho libro, intitulado E l ingenioso hidalgo de la M an­
cha, que desuso se hace mención, en todos estos nuestros reinos
de Castilla,4 por tiempo y espacio de diez años, que corran y se
cuenten desde el dicho día de la data desta nuestra cédula.5 So
pena que la persona o personas que sin tener vuestro poder lo im­
primiere o vendiere, o hiciere imprimir o vender, por el mesmo
caso pierda la impresión que hiciere, con los moldes y aparejos
della, y más incurra en pena de cincuenta mil maravedís, cada vez
que lo contrario hiciere. La cual dicha pena sea la tercia parte para
la persona que lo acusare, y la otra tercia parte para nuestra CáE L r e y . Los arcaísmos, típicos del
estereotipado lenguaje administrati­
vo, abundan en el privilegio real: fe ­
cha ‘hecha’, habíades ‘habíais’, le poder
‘poderle’ , desuso ‘arriba’, etc.
1 ‘pedisteis y suplicasteis’ ; en el
Quijote no se usa todavía la forma
en -isteis.
2 Especialmente en los cultismos,
el timbre de las vocales átonas vaci­
laba entre e e i, o y h.°°
3 La pragmática o ley en cuestión
fue promulgada en Valladolid, a η
de septiembre de 1558.°
4La segunda edición contiene tam­
bién un privilegio para Portugal, ex­
tendido a 9 de febrero de 1605, y en
la portada se dice poseerlo asimismo
para la Corona de Aragón.0
s D e hecho, la Segunda parte del
Q. se publicó precisamente al ven­
cer ese plazo de diez años, en 16 15 .
5
6
PRIVILEGIO REAL
mara, y la otra tercia parte para el juez que lo sentenciare. Con
tanto que6 todas las veces que hubiéredes de hacer imprimir el di­
cho libro, durante el tiempo de los dichos diez años, le traigáis al
nuestro Consejo, juntamente con el original que en él fue visto,
que va rubricado cada plana y firmado al fin dél de Juan Gallo de
Andrada, nuestro escribano de Cámara, de los que en él residen,
para saber si la dicha impresión está conforme el original;7 o trai­
gáis fe en pública forma de como8 por corre tor9 nombrado por
nuestro mandado se vio y corrigió la dicha impresión por el ori­
ginal, y se imprimió conforme a él, y quedan impresas las erratas
por él apuntadas, para cada un libro de los que así fueren impre­
sos, para que se tase el precio que por cada volumen hubiéredes
de haber. Y mandamos al impresor que así imprimiere el dicho
libro no imprima el principio ni el primer pliego dél, ni entregue
más de un solo libro con el original al autor, o persona a cuya cos­
ta lo imprimiere, ni otro alguno, para efeto de la dicha correción
y tasa, hasta que antes y primero el dicho libro esté corregido y
tasado por los del nuestro Consejo; y estando hecho, y no de otra
manera, pueda imprimir el dicho principio y primer pliego, y su­
cesivamente ponga esta nuestra cédula y la aprobación, tasa y
erratas, so pena de caer e incurrir en las penas contenidas en las
leyes y premáticas destos nuestros reinos. Y mandamos a los del
nuestro Consejo y a otras cualesquier justicias dellos guarden y
cumplan esta nuestra cédula y lo en ella contenido. Fecha en ValladoUid, a veinte y seis días del mes de setiembre de mil y seis­
cientos y cuatro años.
Y O EL R E Y
P o r m an dado del R e y nuestro Señ o r:
Juan de Amézqueta10
6 ‘C o n tal que, acondición
de
que’ .
7 Entiéndase ‘conforme y según
está el original’ .“
8 ‘que’; véase abajo, I, Prólogo,
ió , n. 68.
9 ‘corrector’; téngase en cuenta
que «todo el período áureo es época
de lucha entre el respeto a laforma
latina de los cultismos y la propensión a adaptarlos a los hábitos de la
pronunciación romance» (R . Lapesa), reduciendo los grupos de consonantes: le(c)tiim, repugna, coiu(m)na,
esento/exento, etc.°
“ Juan de Amézqueta era entonces
miembro «del Consejo de Su Majestad y su secretario de Cámara».0
Í4
AL D U Q U E DE B É JA R
M ARQ U ÉS DE G IB R A LE Ó N , C O N D E DE B E N A L C Á Z A R
Y BA Ñ A R ES, V IZC O N D E DE LA PU EBLA DE A LCO CER,
SEÑO R DE LAS V IL L A S D E C A P IL L A , C U R IEL
Y BU R G U ILLO S
En fe del buen acogimiento y honra que hace Vuestra E xce­
lencia a toda suerte de libros, como príncipe tan inclinado a
favorecer las buenas artes,' mayormente las que por su noble­
za no se abaten al servicio y granjerias del vulgo,2 he determiA L D U Q U E D E B É JA R . D on A lon­
so López de Zúñiga y Sotomayor,
duque de Béjar (desde 16 01 hasta su
muerte en 1619), fue repetidamente
ensalzado por los poetas de la época
(hasta Góngora, quien le dedicó las
Soledades) y costeó las Flores que de
los más ilustres reunió Pedro Espinosa
y se publicaron en Valladolid (16031605), donde el duque se había tras­
ladado con la corte y donde C . pudo
tener acceso a él y solicitarle, no sa­
bemos con qué resultados, ayuda o
apoyo. La dedicatoria está zurcida, lí­
nea a línea, con retazos de la que
Femando de Herrera puso al frente
de las Obras de Garcilaso de la Vega con
anotaciones (1580), más algún frag­
mento del prólogo de Francisco de
Medina a ese mismo volumen. Por
otro lado, el primer pliego del Q.
muestra un excepcional desahogo ti­
pográfico, con blancos insólitos, que
hacen evidente que en el momento
de componerlo no se disponía de to­
dos los textos preliminares que era
usual incluir en cabeza de los libros.
U na y otra circunstancia llevan a
pensar que el mismo accidente que
provocó el extravío de esos otros tex­
tos (en particular, licencia y aproba­
ciones) hizo también que no se tu­
viera a mano la dedicatoria escrita por
C. y, en la urgencia por acabar la im ­
presión, el editor, Francisco de R o ­
bles, con un proceder m uy propio de
su oficio, recurriera a improvisar otra,
enteramente ajena a C., con fragmen­
tos de Herrera y Medina.“
1 príncipe: ‘gran señor, magnate’;
véase I, «Urganda...», p. 22, w . 15 -16 .
2 «...del buen acogimiento y honra
con que favorece Vuestra Excelencia
todas las obras del ingenio...» (F. de
Herrera); «Habiendo sido nuestros
príncipes y repúblicas tan escasas enfa­
vorecer las buenas artes, mayormente las
que por su hidalguía no se abaten al ser­
vicio y granjerias [‘ganancias’] del vulgo»
(F. de Medina). La muestra basta para
dejar claro que el autor escribía con
las Obras de Garcilaso ante los ojos,
proceder inconcebible en C . Sobre el
vulgo, compárese I, Prólogo, 1 1 , n. 26.
7
8
AL D U Q U E DE BEJAR
nado de sacar a luz3 al Ingenioso hidalgo don Quijote de la Mancha4
al abrigo del clarísimo nombre de Vuestra Excelencia, a quien,
con el acatamiento que debo a tanta grandeza, suplico le reci­
ba agradablemente en su protección,5 para que a su sombra,
aunque desnudo de aquel precioso ornamento de elegancia y
erudición de que suelen andar vestidas las obras que se compo­
nen en las casas de los hombres que saben, ose parecer segura­
mente6 en el juicio de algunos que, no continiéndose en los lí­
mites de su ignorancia, suelen condenar con más rigor y menos
justicia los trabajos ajenos; que, poniendo los ojos la prudencia
de Vuestra Excelencia en mi buen deseo, fío que no desdeña­
rá la cortedad de tan humilde servicio.
Miguel de Cetvantes Saavedra
3 determinar es uno de los muchos
verbos que en el Siglo de O ro se
construían normalmente con la pre­
posición de, un uso que hoy se sen­
tiría com o incorrecto.0
4 al «Ingenioso», y no necesaria­
mente «El ingenioso», porque los tí­
tulos formados por el nombre del
protagonista solían tratarse exacta­
mente igual que los nombres pro­
pios: «Mal año para Lazarillo...»
(I, 22, 265).0
5 E n los siglos x v i y x v n , el leís­
m o (le reciba) era ya comunísimo en
Castilla la Vieja y M adrid.0
6 ‘aparecer sobre seguro, sin m iedo’
(y no con el sentido de probabilidad
que hoy suele tener seguramente).
ϊ ί ι
PR Ó LO G O
Desocupado lector:1 sin juramento me podrás creer que quisie­
ra que este libro, como hijo del entendimiento,2 fuera el más
hermoso, el más gallardo y más discreto que pudiera imaginar­
se.3 Pero no he podido yo contravenir al orden de naturaleza,
que en ella cada cosa engendra su semejante.4 Y , así, ¿qué po­
día engendrar el estéril y mal cultivado ingenio mío, sino la his­
toria de un hijo seco, avellanado,5 antojadizo y lleno de pen­
samientos varios6 y nunca imaginados de otro alguno,7 bien
como quien se engendró en una cárcel,8 donde toda incomo­
didad tiene su asiento y donde todo triste ruido hace su habi­
tación? El sosiego, el lugar apacible, la amenidad de los cam­
pos, la serenidad de los cielos, el murmurar de las fuentes, la
quietud del espíritu son grande parte para que las musas más es­
tériles se muestren fecundas9 y ofrezcan partos al mundo que le
tiguo, todo animal engendra su se­
mejante» (Mal Lara, Filosofía vulgar).°
5 ‘falto de lozanía’ .
6 ‘discordes e inestables’, y no con
la coherencia y constancia propias
del sabio.0
7 ‘insólitos, extravagantes’ , en sen­
tido peyorativo.0
8 N o se sabe a cuál de las prisiones
que sufrió C. (Castro del R io , 1592,
y Sevilla, 1597, ¿1602?) se refiere con
esta frase, que se ha interpretado tam­
bién en términos simbólicos, como
«mera metáfora» (N.D. de Benjumea)
de la vida o el alma del autor. En el
prólogo a las Novelas ejemplares, C .
distingue entre el acto de concebir y
el de escribir.0
5 son grande parte: ‘dan ocasión
bastante, son notable ayuda’.0
1 C o n desocupado, C . probable­
mente calca el otiosus (lector) de la
tradición clásica (así en Quintiliano,
Institutiones, IV, ii, 45).°
2 La presentación metafórica del
libro como hijo del autor está pre­
sente ya en O vidio; C . modifica la
idea con la inmediata mención del
ingenio, término aquí en relación
con la inventio de la retórica clásica
(véase abajo, n. 93).0
3 discreto: ‘sensato, inteligente y
agudo’ (y no en- el sentido hoy más
corriente de ‘reservado, circunspec­
to’); discreto y discreción son palabras
clave para describir un modelo de
comportamiento m uy apreciado en
los siglos X V I y x v n . Véase II, 19,
858, n. 42.0
4 «Com o dice Aristóteles en los
Físicos, y lo trae Lucrecio, poeta an­
9
10
PRIM ERA PARTE · PR O LO G O
« I V
colmen de maravilla y de contento.10 Acontece tener un padre
un hijo feo y sin gracia alguna, y el amor que le tiene le pone
una venda en los ojos para que no vea sus faltas,11 antes las juz­
ga por discreciones y lindezas y las cuenta a sus amigos por agu­
dezas y donaires. Pero yo, que, aunque parezco padre, soy pa­
drastro de don Quijote,12 no quiero irme con la corriente del
uso, ni suplicarte casi con las lágrimas en los ojos, como otros
hacen, lector carísimo, que perdones o disimules las faltas que
en este mi hijo vieres, que ni eres su pariente ni su amigo, y
tienes tu alma en tu cuerpo y tu libre albedrío como el más
pintado,13 y estás en tu casa, donde eres señor della, como el rey
de sus alcabalas,'4 y sabes lo que comúnmente se dice, que «de­
bajo de mi manto, al rey mato»,15 todo lo cual te esenta y hace
libre de todo respecto y obligación,16 y, así, puedes decir de la
historia todo aquello que te pareciere, sin temor que te calunien por el mal17 ni te premien por el bien que dijeres della.
Sólo quisiera dártela monda y desnuda, sin el ornato de pró­
logo, ni de la inumerabilidad y catálogo de los acostumbrados
sonetos, epigramas y elogios que al principio de los libros sue­
len ponerse.18 Porque te sé decir que, aunque me costó algún
10 E l contexto reelabora un m o­
tivo horaciano («Scriptorum chorus
omnis amat nemus et fugit urbem,
/ rite cliens Bacchi somno gauden­
tis et umbra; / tu me inter stre­
pitus... vis canere?», etc.; Epístolas,
II, i i , 77 ss.), quizá recordando y
cambiando de sentido un lugar de
Q uintiliano.0
" U na ponderación análoga de los
efectos del amor paterno aparece en
la Moría de Erasmo.0
12 Pues la historia de DQ se finge
real y narrada en los «anales de la
Mancha», por Cide Hamete Benengeli o por otros autores.0
13 ‘com o el que más, el que mejor
puede servir de ejemplo’ .0
14 ‘tributos indirectos sobre com ­
praventas y permutas’ ; existía la fra­
se hecha «Salirse con algo, como el
rey con sus alcabalas» (‘porfiar para
conseguir algo’). Véase II, 32, 983.0
15
R efrán usado para expresar que
en su fuero interno cada uno es libre
de pensar y juzgar como quiera.0
l(' ‘te exime y libera de cualquier
respeto y de toda obligación’.0
17
‘te exijan responsabilidades por
el mal’; cahmiar o caloñar era término
jurídico (II, 2, 702, n. 45).0
|S inumerabilidad y catálogo: ‘catálo­
go innumerable’ . Lo acostumbrado
en la época era anteponer al cuerpo
de la obra una serie de poemas elo­
giosos. Según se desprende de una
carta de Lope de Vega, C . anduvo
por Valladolid pidiendo que se los
escribieran, sin hallar nadie «tan ne­
cio que alabe a don Quijote».0
C A V IL A C IÓ N SOBRE EL LIBRO
IX
trabajo componerla, ninguno tuve por mayor que hacer esta
prefación que vas leyendo.19 Muchas veces tomé la pluma para
escribille,20 y muchas la dejé, por no saber lo que escribiría; y
estando una suspenso, con el papel delante, la pluma en la ore­
ja, el codo en el bufete21 y la mano en la mejilla,22 pensando lo
que diría, entró a deshora un amigo mío, gracioso y bien en­
tendido,23 el cual, viéndome tan imaginativo, me preguntó la
causa, y, no encubriéndosela yo, le dije que pensaba en el pró­
logo que había de hacer a la historia de don Quijote, y que me
tenía de suerte que ni quería hacerle, ni menos sacar a luz así
las hazañas de tan noble caballero.24
-Porque ¿cómo queréis vos25 que no me tenga confuso el
qué dirá el antiguo legislador que llaman vulgo26 cuando vea que,
al cabo de tantos años como ha que duermo en el silencio del
olvido, salgo ahora, con todos mis años a cuestas,27 con una le­
yenda seca como un esparto,28 ajena de invención, menguada
de estilo, pobre de concetos29 y falta de toda erudición y doc­
trina, sin acotaciones en las márgenes y sin anotaciones en el fin
19 prefación: ‘prólogo’ .
20 Entiéndase, ‘el prólogo’. E n la
Primera parte del Q. son frecuentes
las formas en que la -r del infinitivo
se asimila al pronombre enclítico
(iescribirle > escribille), y en ciertos ca­
sos quizá sirvan para caracterizar a
los personajes; pero no es posible
determinar cuándo tal asimilación
responde al criterio del autor y
cuándo al de los tipógrafos.0
21 ‘mesa portátil o bandejilla con
patas usada como escritorio’ .
22 La figura que compone el autor
recuerda a la alegórica de la melan­
colía, especialmente divulgada en un
grabado de D urero.0
23 a deshora: ‘inesperadamente’ . La
introducción del amigo va a permi­
tir a C . exponer sus ideas con técni­
ca dramática.0
24 E l adverbio así falta en las edi­
ciones. Entiéndase: ‘sacar a la luz
de tal m odo, sin haber hecho el
p rólogo, las hazañas...’ .“
25 G. pasa aquí del estilo indirecto
al directo sin aviso.0
26 E n los prólogos de la época son
frecuentes las alusiones al «vulgo
con sus leyes» (Lope de Vega, Arte
nuevo, v. 149).°
27 C ., que tiene ahora cerca de se­
senta años, no ha publicado ningún
libro desde La Galatea, en 158 5.0
28 leyenda: ‘libro escrito para ser
leído, lectura’ (y en seguida leyentes:
‘lectores’); véase I, 3, 65, n. 48.0
29 Las proclamaciones de modestia
habituales en los prólogos se concre­
tan aquí en la alusión, según la retó­
rica clásica, a dos de las etapas esen­
ciales en la elaboración del discurso:
inventio y elocutio (a la que pertene­
cen el estilo y los concetos: ‘conceptos,
pensamientos e imágenes profundos,
agudos y elegantes’).0
12
PRIM ERA PARTE · PR Ó LO G O
f?2
del libro, como veo que están otros libros, aunque sean fabu­
losos y profanos,30 tan llenos de sentencias de Aristóteles, de
Platón y de toda la caterva de filósofos, que admiran a los le­
yentes y tienen a sus autores por hombres leídos, eruditos y
elocuentes?31 Pues ¿qué, cuando citan la Divina Escritura? N o
dirán sino que son unos santos Tomases y otros doctores de la
Iglesia, guardando en esto un decoro tan ingenioso,32 que en un
renglón han pintado un enamorado destraído33 y en otro hacen
un sermoncico cristiano, que es un contento y un regalo oílle
o leelle.34 De todo esto ha de carecer mi libro, porque ni ten­
go qué acotar en el margen,35 ni qué anotar en el fin, ni menos
sé qué autores sigo en él, para ponerlos al principio, como ha­
cen todos, por las letras del abecé, comenzando en Aristóteles
y acabando en Xenofonte y en Zoilo o Zeuxis, aunque fue
maldiciente el uno y pintor el otro.30 También ha de carecer mi
libro de sonetos al principio, a lo menos de sonetos cuyos
30 ‘mentirosos, ficticios, y no reli­
giosos’; pero profano puede interpre­
tarse también como categoría esté­
tica, ‘ignorante, vulgar’ , com o en
Horacio, Odas, III, i, i.
31 caterva: ‘multitud de personas,
sin orden’ . Desde Avellaneda, se ha
visto en estas palabras -co m o en
bastantes otros pasajes del Prólogo—
un ataque a Lope de Vega, que aca­
baba de publicar E l peregrino en su
patria (1604) con no pocos alardes de
erudición y doctrina; pero análogas ex­
hibiciones se hallan en muchos es­
critores de la época.0
3i
decoro: ‘adecuación entre el
tema que se trata en la obra artística
y el estilo o registro elegido para tra­
tarlo’ (véase I, 6, 89, n. 42); ingenio
vale aquí por ‘sutileza, capacidad de
ver o crear conceptos’ . La frase, evi­
dentemente, es irónica.0
33
‘desencaminado’ , en sentido
moral (I, 2, 53, n. 45). Para la mez­
cla de lo humano con lo divino, véa­
se abajo, 18, n. 89.
34 La lectura pública seguía siendo
uno de los modos fundamentales para
la difusión de la literatura; véanse, I,
32, 405, n. 16, y II, 66, 1275, n. i.°
35 E n los libros antiguos, a menu­
do se imprimían al margen referen­
cias al autor y obra citados, sumarios
de ciertos párrafos, en su caso co­
mentarios del traductor, etc.
3fi Zoilo (C. pronunciaba Zoilo),
que se atrevió a escribir contra H o­
mero buscando su propia fama, que­
dó com o antonomasia de crítico
cerril y detractor; Zeuxis, pintor
griego. La Arcadia (1598, 1599, 1602,
1603...) de Lope de Vega lleva una
larga Exposición de los nombres poéticos
e históricos, dispuesta en orden alfabé­
tico y extraída de difundidos reper­
torios renacentistas; cosa similar ocu­
rre en el Isidro (1599, 1602, 1603...) y
en E l peregrino en su patria.0
ÍÍ2V
C A V IL A C IÓ N SO BRE EL LIBRO
13
autores sean duques, marqueses, condes, obispos, damas o poe­
tas celebérrimos;37 aunque si yo los pidiese a dos o tres oficiales
amigos,38 yo sé que me los darían, y tales, que no les igualasen
los de aquellos que tienen más nombre en nuestra España. En
fin, señor y amigo mío —proseguí—, yo determino que el señor
don Quijote se quede sepultado en sus archivos en la Mancha,39
hasta que el cielo depare quien le adorne de tantas cosas como
le faltan, porque yo me hallo incapaz de remediarlas, por mi in­
suficiencia y pocas letras,40 y porque naturalmente41 soy poltrón
y perezoso de andarme buscando autores que digan lo que yo
me sé decir sin ellos. De aquí nace la suspensión y elevamien­
to,42 amigo, en que me halbstes, bastante causa para ponerme
en ella la que de mí habéis oído.43
Oyendo lo cual mi amigo, dándose una palmada en la fren­
te y disparando en una carga de risa,44 me dijo:
-P o r Dios, hermano, que agora me acabo de desengañar de
un engaño en que he estado todo el mucho tiempo que ha que
os conozco, en el cual siempre os he tenido por discreto y pru­
dente en todas vuestras aciones. Pero agora veo que estáis tan
lejos de serlo como lo está el cielo de la tierra. ¿Cómo que es
posible que cosas de tan poco momento45 y tan fáciles de re­
mediar puedan tener fuerzas de suspender y absortar un inge37 Las poesías laudatorias que se
anteponían a los libros eran a m enu­
do de personajes ilustres. C . parece
aludir en particular a Lope de Vega,
quien abusó de tal práctica en La A r­
cadia (1598), el Isidro (1599), La her­
mosura de Angélica (1602) y E l peregri­
no en su patria (1604).0
38 oficial (junto a su sentido más
amplio: ‘del oficio’) es nombre de
categoría artesana, entre las de apren­
diz y maestro; al referirse a oficio
mecánico, se opone por una parte a
las categorías nobiliarias antes nom ­
bradas, por otra a los poetas celebérri­
mos, es decir, maestros, citados en
la frase anterior. E l comentario de
Cervantes ha dado pie a conjeturar
que en los preliminares del Quijote
colaboraron otros escritores amigos.0
39 Quizá ju ega con un motivo de
origen ciceroniano: ‘sepultado en el
olvido’ .0
40 Eran tradicionales las protestas
de modestia por este estilo.0
41 ‘por naturaleza’ .
42 ‘duda y embebecimiento’.
43 ‘para ponerme en tal suspensión
la causa que...’ .
44 ‘estallando en una risotada’ (car­
ga: ‘disparo de muchas armas de fue­
go a un tiem po’; la palmada en la
frente es gesto que se hace al darse
cuenta de pronto de alguna cosa).0
45 ‘de tan poca importancia’ .0
H
PRIM ERA PARTE ■PR Ó LO G O
nio tan maduro como el vuestro,40 y tan hecho a romper y
atropellar por otras dificultades mayores? A la fe, esto no nace
de falta de habilidad, sino de sobra de pereza y penuria de dis­
curso. ¿Queréis ver si es verdad lo que digo? Pues estadme
atento y veréis cómo en un abrir y cerrar de ojos confundo to­
das vuestras dificultades47 y remedio todas las faltas que decís
que os suspenden y acobardan para dejar de sacar a la luz del
mundo la historia de vuestro famoso don Quijote,48 luz y espe­
jo de toda la caballería andante.
-D ecid -le repliqué yo, oyendo lo que me decía-, ¿de qué
modo pensáis llenar el vacío de mi temor49 y reducir a claridad
el caos de mi confusión?
A lo cual él dijo:
-L o primero en que reparáis de los sonetos, epigramas o elo­
gios que os faltan para el principio, y que sean de personajes
graves y de título, se puede remediar en que vos mesmo toméis
algún trabajo en hacerlos, y después los podéis bautizar y poner
el nombre que quisiéredes,50 ahijándolos al Preste Juan de las
Indias o al Emperador de Trapisonda,51 de quien yo sé que hay
noticia que fueron famosos poetas;52 y cuando no lo hayan sido
y hubiere algunos pedantes y bachilleres que por detrás os
muerdan y murmuren desta verdad,53 no se os dé dos marave­
dís,54 porque, ya que os averigüen la mentira,55 no os han de
cortar la mano con que lo escribistes.56En lo de citar en las már­
46absortar un ingenio·, ‘retener el cur­
so del pensamiento’ (absortar está for­
mado sobre el participio de absorber
47 confundo: ‘destruyo, desbarato’ .
48famoso porque se finge que está
tratándose de un personaje real, cuyo
renombre antecede al libro que aquí se
prologa y en el que, en teoría, se com­
pilan materiales de varia procedencia.0
49 Evoca jocosamente el horror va­
cui de la filosofía aristotélica.0
s° Seguramente fueron muchos
los autores, y Lope sin duda se con­
tó entre ellos (véase arriba, 13, n. 37),
que escribieron ellos mismos algu­
).0
nos de los versos de; encomio im ­
presos en sus obras.0
51 Personajes legendarios, con pre­
sencia frecuente en la literatura ca­
balleresca.0
52 quien: ‘ quienes’ , según uso co­
rriente en lo antiguo y aún vivo po­
pularmente; famosos: ‘excelentes’ .
53 bachilleres, en su sentido propio,
y como sinónimo de pedantes.
54 ‘no os importe nada’; véase I,
Preliminares, 3, n. 3.0
ss ya que: ‘aunque’ .
56 ‘escribisteis’. Quizá C . dirige
una ironía (luego aprovechada en el
C A V IL A C IÓ N SOBRE EL LIBRO
15
genes los libros y autores de donde sacáredes las sentencias y di­
chos que pusiéredes en vuestra historia, no hay más sino hacer
de manera que venga a pelo57 algunas sentencias o latines que
vos sepáis de memoria, o a lo menos que os cuesten poco tra­
bajo el buscalle, como será poner, tratando de libertad y cauti­
verio:
N o n b en e pro to to libertas ve n d itu r auro.
Y luego, en el margen, citar a Horacio, o a quien lo dijo.58 Si
tratáredes del poder de la muerte, acudir luego con
Pallida m ors aeq u o pulsat p ed e p au p e ru m tabernas
R e g u m q u e tu rres.59
Si de la amistad y amor que Dios manda que se tenga al ene­
migo, entraros luego al punto por la Escritura Divina, que lo
podéis hacer con tantico de curiosidad y decir las palabras, por
lo menos, del mismo Dios:60 «Ego autem dico vobis: diligite
inimicos vestros». Si tratáredes de malos pensamientos, acudid
con el Evangelio: «De corde exeunt cogitationes malae».61 Si
de la instabilidad de los amigos, ahí está Catón, que os dará su
dístico:
D o n e c eris felix, m ultos n um erabis am icos.
T e m p o ra si fu erin t nubila, solus eris.62
Q. apócrifo) contra sí mismo: per­
der la mano derecha le suponía que­
dar sin el uso de ninguna de las dos.0
57 ‘convenga’ .0
ß ‘N o hay oro para pagar sufi­
cientemente la venta de la libertad’;
los versos no son de Horacio, sino
de las Esópicas o del Romulus (III, 14:
«De cane et lupo»), en la version de
Gaitero el Inglés.0 ,
ss> Horacio, Odas, I, iv , 13 - 14 .
Fray Luis de León traduce: «Que la
muerte amarilla va igualmente / a la
choza del pobre desvalido / y al al­
cázar real del rey potente»; véase la
versión de C . (aparte muchas alusio­
nes) en II, 20, 873, y 58, 12 0 1.0
60 con tantico de curiosidad ‘con un
poquito de cuidado’; quizá tomaba
en cuenta que la Biblia en romance
estaba prohibida; por lo menos: ‘nada
menos que...’ .
61 Ego autem...: ‘Por el contrario
yo os digo: amad a vuestros enem i­
gos’; De corde...: ‘D e dentro del co­
razón salen los malos pensamientos’
(Mateo, V, 4 4 , y X V , 19).0
02 Son versos de Ovidio (Tristia, I,
ιό
P RIM ERA PARTE ■PR Ó LO G O
Y con estos latinicos y otros tales os tendrán siquiera por gra­
mático,63 que el serlo no es de poca honra y provecho el día de
hoy. En lo que toca al poner anotaciones al fin del libro, segu­
ramente lo podéis hacer desta manera:04 si nombráis algún gi­
gante en vuestro libro, hacelde que sea el gigante Golías,65 y
con sólo esto, que os costará casi nada, tenéis una grande ano­
tación, pues podéis poner: «El gigante Golías, o Goliat, fue un
filisteo a quien el pastor David mató de una gran pedrada, en
el valle de Terebinto, según se cuenta en el libro de los R e ­
yes...», en el capítulo que vos halláredes que se escribe.06 Tras
esto, para mostraros hombre erudito en letras humanas y cos­
mógrafo,67 haced de modo como en vuestra historia se nombre
el río Tajo,68 y vereisos luego con otra famosa anotación,69 po­
niendo: «El río Tajo fue así dicho por un rey de las Españas;
tiene su nacimiento en tal lugar y muere en el mar Océano, be­
sando los muros de la famosa ciudad de Lisboa, y es opinión
que tiene las arenas de oro», etc.70 Si tratáredes de ladrones, yo
5-6), convertidos en lugar co­
los planetas y estrellas) se estudiaba
mún: ‘Mientras seas dichoso, conta­
en la Facultad de Artes, ju nto a los
rás con muchos amigos, pero si los
studia humanitatis o letras humanas.
tiempos se nublan, estarás solo’ . La Véanse abajo, 18, n. 87; I, 47, 602, y
atribución a Catón puede ser inten­
II, 29, 950, n. 13 .0
cionadamente falsa, pues a él se pro­
68 haced de modo como...: ‘haced de
hijaron multitud de sentencias de
m odo que...’, con como en función
tipo moral.0
de conjunción anunciativa (‘que’), y
63
‘quien ha estudiado la gramáti­ no en tanto adverbio de modo; es
ca latina’ , frente al romancista, que no
uso continuo en C . (y resultaba ya
la conoce.0
ligeramente arcaico hacia 1600). Véa­
M seguramente: ‘de manera segura,
se I, Preliminares, 6, n. 8 °
tranquilamente, sin problemas’ (y no
60 famosa: ‘meritoria, valiosa’ (com­
en elsentido de ‘probablemente’, más párese la anterior n. 48).
común hoy). Véase arriba, p. 8, n. 6.
70 Se ha señalado el parecido de
6S hacelde: ‘hacedle’, metátesis to­ esta descripción con la que hace
davía común en tiempos de C .0
Lope de Vega en La Arcadia, I:
661 R eyes, X V II, 12 -54 , en la di­ «Tajo, río de Lusitania, nace en las
visión antigua de la Vulgata, que en
sierras de Cuenca, y tuvo entre los
la moderna corresponden al mismo
antiguos fama de llevar, como Paccapítulo y versículos de I Samuel.
tolo, arenas de oro... Entra en el mar
67 La cosmografía (‘descripción del por la insigne Lisboa...». La creencia
universo’, tanto de la tierra como de
en las arenas auríferas remonta a PliIX,
C A V IL A C IÓ N SO BRE EL LIBRO
17
os diré la historia de Caco, que la sé de coro;71 si de mujeres
rameras, ahí está el obispo de Mondoñedo, que os prestará a
Lamia, Laida y Flora, cuya anotación os dará gran crédito;72 si
de crueles, Ovidio os entregará a Medea;73 si de encantadores y
hechiceras, Homero tiene a Calipso y Virgilio a Circe;74 si de
capitanes valerosos, el mesmo Julio César os prestará a sí mis­
mo en sus Comentarios, y Plutarco os dará mil Alejandros.75 Si
tratáredes de amores, con dos onzas que sepáis de la lengua toscana,76 toparéis con León Hebreo77 que os hincha las medidas.78
Y si no queréis andaros por tierras estrañas, en vuestra casa te­
néis a Fonseca, D el amor de Dios, donde se cifra todo lo que vos
y el más ingenioso acertare a desear en tal materia.79 En resolu­
ción, no hay más sino que vos procuréis nombrar estos nom­
bres, o tocar estas historias en la vuestra, que aquí he dicho,80 y
dejadme a mí el cargo de poner las anotaciones y acotaciones;
que yo os voto a tal81 de llenaros las márgenes y de gastar cua­
tro pliegos en el fin del libro. Vengamos ahora a la citación de
los autores que los otros libros tienen, que en el vuestro os fal­
tan. El remedio que esto tiene es muy fácil, porque no habéis de
nio el Viejö (Historia natural, IV , 22)
y se convierte en lugar común lite­
rario.0
71 ‘de memoria’ . Caco, hijo de
Vulcano, robó los bueyes a H ércu­
les aprovechando que éste dormía;
la historia se cuenta en la Eneida,
V III, 185 ss.°
72 D e las tres se trata en las Epísto­
las familiares, L X III (1539) de fray
Antonio de Guevara, obispo de Mon­
doñedo, que tuvo merecida fama de
inventor de falsas historias que daba
por verdaderas .'0
73 Cuya historia se cuenta en las
Metamorfosis, de O vidio, VII, 1-4 5 2 .0
Odisea, X ; Eneida, V II.0
75 Se refiere a las Vidas paralelas,
que cuentan vidas y hechos de m u­
chos generales.0
76 ‘italiana’ . La onza es una unidad
74
de peso que equivale a poco m e­
nos de treinta gramos.
77 Judá Abravanel, más conocido
com o León Hebreo, es el autor de los
Dialoghi d ’amore, que fue uno de
los más importantes tratados de la
erótica renacentista. Es curioso que
C . remita al texto italiano, cuando
corrían entonces varias traducciones
al castellano, y dos de ellas, la del
Inca Garcilaso y la de Carlos M on tesa, en una prosa m uy elegante.0
78 ‘que colme vuestro deseo, que
os satisfaga plenamente’ .
79 Alude al Tratado del amor de Dios
(1592), del agustino fray Cristóbal
de Fonseca.0
80 Es decir, ‘tocar en la vuestra es­
tas historias que aquí he dicho’ .0
81 ‘yo os ju ro por D ios’; era fór­
mula eufemística muy usada.0
l8
PRIMERA PARTE · PR Ó LO G O
ff4
hacer otra cosa que buscar un libro que los acote todos, desde
la A hasta la Z , como vos decís.82 Pues ese mismo abecedario
pondréis vos en vuestro libro; que puesto que a la clara se vea
la mentira,83 por la poca necesidad que vos teníades de aprove­
charos dellos, no importa nada, y quizá alguno habrá tan sim­
ple que crea que de todos os habéis aprovechado en la simple
y sencilla historia vuestra; y cuando no sirva de otra cosa, por
lo menos servirá aquel largo catálogo de autores a dar de im­
proviso autoridad al libro. Y más, que no habrá quien se pon­
ga a averiguar si los seguistes o no los seguistes, no yéndole
nada en ello. Cuanto más que, si bien caigo en la cuenta, este
vuestro libro no tiene necesidad de ninguna cosa de aquellas
que vos decís que le falta,84 porque todo él es una invectiva
contra los libros de caballerías,85 de quien nunca se acordó Aris­
tóteles, ni dijo nada San Basilio, ni alcanzó Cicerón,86 ni caen
debajo de la cuenta de sus fabulosos disparates las puntualidades
de la verdad, ni las observaciones de la astrologia,87 ni le son de
importancia las medidas geométricas, ni la confutación de los
argumentos de quien se sirve la retórica,88 ni tiene para qué pre­
dicar a ninguno, mezclando lo humano con lo divino, que es
un género de mezcla de quien no se ha de vestir ningún cris­
tiano entendimiento.89 Sólo tiene que aprovecharse de la imi82 Eran abundantes los libros que
llevaban una lista de autores aduci­
dos o temas tratados, pero suele
pensarse que C . alude concretamen­
te a La Arcadia, cuya Exposición de los
nombres poéticos es en gran parte un
extracto del Dictionarium de Charles
Estienne (Stephanus
83 puesto que: ‘aunque’ , como casi
todas las otras veces que se usa en el Q.°
84falta (y no faltan) responde al
uso normal de C ., que suele poner
en singular el verbo cuando el suje­
to es del tipo uno de los que...a
85 Por boca del amigo se hace aquí
la primera declaración rotunda de la
intención primaria -real o aparentede Cervantes.0
).0
86 Los tres son citados (y nótese
que por orden alfabético) en tanto
tratadistas de retórica o teóricos de
la literatura. La homilía de San Basi­
lio de Cesarea A d adolescentes tuvo
un papel m uy importante durante el
Renacim iento en las polémicas so­
bre «la lectura de los clásicos de la
gentilidad» (E. Asensio).0
87 ‘astronomía’ ; véase arriba, 16,
n. 67.
88 C . contempla la retórica según
los planteamientos aristotélico-ciceronianos, frente a las innovacio­
nes que la separaban de la dialéc­
tica.0
89 mezcla: ‘tela en que se tejen di­
ferentes clases o colores de hilos’,
C A V IL A C IÓ N SOBRE EL LIBRO
19
tación en lo que fuere escribiendo, que, cuanto ella fuere más
perfecta, tanto mejor será lo que se escribiere.90 Y pues esta
vuestra escritura no mira a más que a deshacer la autoridad y
cabida que en el mundo y en el vulgo tienen los libros de ca­
ballerías, no hay para qué andéis mendigando sentencias de fi­
lósofos, consejos de la Divina Escritura, fábulas de poetas, ora­
ciones de retóricos, milagros de santos, sino procurar que a la
llana, con palabras significantes, honestas y bien colocadas, sal­
ga vuestra oración y período sonoro y festivo, pintando en
todo lo que alcanzáredes y fuere posible vuestra intención, dan­
do a entender vuestros conceptos sin intricarlos y escurecerlos.91 Procurad también que, leyendo vuestra historia, el m e­
lancólico se mueva a risa, el risueño la acreciente,92 el simple no
se enfade, el discreto se admire de la invención,93 el grave no la
desprecie, ni el prudente deje de alabarla. En efecto,94 llevad
la mira puesta a derribar la máquina mal fundada destos caba­
llerescos libros,95 aborrecidos de tantos y alabados de muchos
más; que, si esto alcanzásedes, no habríades alcanzado poco.
C on silencio grande estuve escuchando lo que mi amigo me
decía, y de tal manera se imprimieron en mí sus razones, que,
sin ponerlas en disputa, las aprobé por buenas y de ellas mismas
quise hacer este prólogo, en el cual verás, lector suave, la dis­
creción de mi amigo, la buena ventura mía en hallar en tiem­
po tan necesitado tal consejero, y el alivio tuyo en hallar tan
sincera y tan sin revueltas la historia del famoso don Quijote de
‘mezclilla’ (II, 4 1, 1047). En la mezcla
de lo humano con lo divino ha querido
suponerse comúnmente una alusión
al Peregrino de Lope o al Gitzmán de
Alfarache de Mateo Alemán.0
90 En el planteamiento de C ., la
imitación perfecta, frente a la exacta
-sujeta al sermo-, se logra al capaci­
tar a la lengua hablada para expresar
lo sublime.0
91 ‘intrincarlos ni oscurecerlos’.
Cervantes expone su teoría del estilo:
la «llaneza esencial que no excluye el
atildamiento» (R . Menéndez Pidal).0
92 La lectura del Q. como libro de
provocan la risa , expresa­
por C ., fu e la q u e p r e d o m i ­
b u r la s q u e
da aquí
n ó e n lo s s ig lo s x v i i y x v i i i .0
93 La inventio ‘hallar o tener qué
decir’ es la primera de las cinco fases
de construcción del discurso en la
retórica. La admiratio se contaba en­
tre los fines esenciales de la poética
renacentista.0
94 La locución se usaba también
con el valor de ‘en suma’, ‘al fin y al
cabo’, ‘ciertamente’.
95 máquina·, ‘trama, organización
de la obra literaria’ , pero también
vale ‘tramoya’ .
20
PRIM ERA PARTE ■P RÓ LO G O
la Mancha, de quien hay opinión, por todos los habitadores del
distrito del campo de Montiel,96que fue el más casto enamora­
do y el más valiente caballero que de muchos años a esta parte
se vio en aquellos contornos. Y o no quiero encarecerte el ser­
vicio que te hago en darte a conocer tan noble y tan honrado
caballero; pero quiero que me agradezcas el conocimiento que
tendrás del famoso Sancho Panza, su escudero, en quien, a mi
parecer, te doy cifradas todas las gracias escuderiles que en la
caterva de los libros vanos de caballerías están esparcidas.97
Y con esto Dios te dé salud y a mí no olvide. Vale .98
96 Véase I, 1, 37, n. 2.
97 Se vuelve a lo burlesco el moti­
vo renacentista de la dama (aquí,
Sancho Panza) en quien están cifra­
das todas las bellezas posibles (en
nuestro caso, las gracias escuderiles),
en la literatura española reiterado
por lo menos desde La Celestina, V I:
«Las gracias que en todas repartió [la
Naturaleza] las ju ntó en ella». Véase
I, 24, 292, n. 38.0
98
Fórmula latina de despedida,
propia de las epístolas familiares:
‘que estés bien, sano’ .
ÎÎ5
AL LIB R O DE
DON Q U IJO T E DE LA M A N C H A ,
U R G A N D A LA D E SC O N O C ID A
5
Si de llegarte a los bue—,
libro, fueres con letu-,
no te dirá el boquirru—
que no pones bien los d e -.1
Mas si el pan no se te cue—
por ir a manos de idio—,
verás de manos a b o -
A L l i b r o . . . E l primero de los poe­
mas burlescos que ocupan el lugar
de los elogios habituales al frente de
los libros de la época (véase arriba, I,
Prólogo, ίο , n. 18) está compuesto
en décimas «de cabo roto» o «pies
cortados» (es decir, con los versos
truncados a partir de la última sílaba
acentuada, de forma que todos re­
sulten agudos), según un recurso j o ­
coso popularizado en los primeros
años del siglo x v i i , y se atribuye a la
maga protectora de Amadís, Urgan­
da la desconocida, apodada así porque
«muchas veces se trasformaba y des­
conocía» (Amadís de Gaula, I, i i ) . E l
desgarro propio de los versos de
cabo roto (no en balde había empe­
zado a cultivarlos el poeta y hampón
Alonso Alvarez de Soria, ajusticiado
en 1603) y las alusiones de actuali­
dad (véase en especial la nota a los
w . 31-32 ) se unen a múltiples ecos
de frases hechas, modismos y refra­
nes, de forma que el texto resulta de
difícil interpretación. A grandes ras­
gos, Urganda aconseja a la obra que
se ju nte con los buenos, y no con
los esnobistas pretenciosos (w . 1 10), y la felicita por contar con tan
excelente favorecedor com o el du­
que de Béjar ( w . 11-2 0 ). Enunciado
el tema del libro (w . 21-30), U r ­
ganda le recomienda no pecar p or
«indiscretos hieroglíficos» que luego
le hagan quedar en ridículo (w . 3 1 40); no afectar una erudición que no
tiene y que sería criticada (vv. 4 1 50); no fisgar en las «vidas ajenas»,
no sea que acaben dándole de cos­
corrones (w . 51-60), porque a nadie
le faltan debilidades, y los dardos
pueden volverse contra uno mismo:
el escritor debe andarse con tiento y
dejarse de frivolidades (vv. 6 1-7 0 ),°
‘ ‘Libro, si fueres con cuidado
(con letura) de arrimarte a los buenos
(«Allégate a los buenos y serás uno
de ellos», aconseja el refrán), el p ipiolo (boquirrubio: ‘mozalbete presu­
mido e ignorante’) no podrá decirte
que no sabes lo que haces (no pones
bien los dedos, propiamente, en la
guitarra u otro instrumento)’. Para
21
PRIM ERA PARTE · PRELIM INARES
22
io
15
20
25
30
aun no dar una en el cía-,
si bien se comen las ma—
por mostrar que son curio-.2
Y
pues la espiriencia ense­
que el que a buen árbol se arri—
buena sombra le cobi-,
en Béjar tu buena estre—
un árbol real te ofreque da príncipes por fru—,3
en el cual floreció un du­
que es nuevo Alejandro M a-:+
llega a su sombra, que a osa—
favorece la fortu—,5
De un noble hidalgo manche—
contarás las aventu-,
a quien ociosas letutrastornaron la cabe—;
damas, armas, caballe-,6
le provocaron de mo­
que, cual Orlando furio-,
templado a lo enamora—,
alcanzó a fuerza de braa Dulcinea del Tobo—.7
le(c)tura, com o corretor, etc., véase I,
Preliminares, 6, n. 9 °
2 ‘Pero si estás impaciente (el pan
no se te cuece) por ir a manos de indoctos (idiotas), verás de sopetón (de
manos a boca se pierde la sopa) que no
dan siquiera una en el clavo, por
más que rabian de ganas (se comen las
manos) por mostrar que son conocedores y eruditos (curiosos)’ .0
3 árbol real y con príncipes por frutos,
porque los duques de Béjar, de apellido Zúñiga, tenían en su árbol genealógico a los reyes de Navarra.0
4 Alejandro Magno, en particular
como dechado de «liberalidad» (I, 47,
602), de generosidad.0
5 a osados favorece la fortuna: «Audentes Fortuna iuvat» es proverbio
latino, popularizado por Virgilio,
Eneida, X , 284.0
6 «Le donne, i cavallier, l ’arme, gli
amori, / le cortesie, l’audaci ím prese io canto» (Ariosto, Orlando furioso,
I, 1).
7 ‘pues, como Orlando furioso (según aparece en el poema de A riosto, con furia o locura que D Q im itará en I, 25, 30 1), pero templado, y
templado (como se templa la voz o
un instrumento) precisamente al
tono propio de un enam orado...’ ,
D e hecho, ni afuerza de brazos (‘con
esfuerzos y trabajos’) ni de otro
U R G A N D A LA D E S C O N O C ID A
35
40
23
N o indiscretos hierogliestampes en el escu-,8
que, cuando es todo figu-,
con ruines puntos se envi-.9
Si en la dirección te humi-,
no dirá mofante algu—:10
«¡Qué don Alvaro de Lu—,
qué Aníbal el de Carta-,
qué rey Francisco en Espa—
se queja de la fortu—!»."
Pues al cielo no le plu—12
teniendo otros suponía hacerlo con
m odo alcanzó D Q a Dulcinea (aquí,
ruines puntos, con malas cartas, en un
trisílabo), com o tampoco Orlando
farol destinado a fracasar. Al mismo
a Angélica.“
8
La opinión más com ún es que tiempo, «Todo es figura(s) sonaba
com o todo es portada» (M. Bataillon),
el escudo debe de ser el de Bernardo
‘todo es apariencia’, según un dicho
del Carpió (con diecinueve «to­
proverbial.0
rres» pronto adjetivadas «de vien ­
10 ‘Sí en la dedicatoria (dirección) te
to») que Lope de Vega imprimió en
muestras humilde, no dirá burlón
varios libros suyos para fingirse una
ilustre ascendencia. Por otra parte,
(mofante) alguno...’ .0
11 Dando a entender que las que­
se ha pensado que los indiscretos
hieroglíficos podrían aludir a La pica­ jas en cuestión estarían bien en
boca de un gran personaje (como
ra Justina (1604), de Francisco L ó ­
don Alvaro de Luna al ser degolla­
pez de Ubeda, obra pródiga en
do, Aníbal cuando se suicidó o
acertijos y referencias enigmáticas y
Francisco I de Francia durante su
en cuya portada figura un arbitrario
prisión en Madrid), pero no con­
escudo del destinatario de la novela,
don R o d rigo Calderón, marqués de m ueven en boca de quien las p ro ­
Siete Iglesias —mano derecha del fiere. Se citan aquí ciertos versos es­
critos en son de m ofa contra el
valido duque de Lerma—, quien por
entonces se esforzaba por probar poemilla («Aquí la envidia y m enti­
ra...») que fray Luis compuso al sa­
una nobleza que a todas luces no
tenía; pero Cervantes de ningún lir de la cárcel: «¡Qué don A lvaro
de Luna, / qué Aníbal cartaginés, /
m odo pudo conocer la portada de
qué Francisco, rey francés, / se
la Pícara, acabada de im prim ir des­
queja de la fortuna / porque le ha
pués que el Quijote
echado a sus pies». (Antiguamente,
E n el ju ego de; la primera o quí­
lo más com ún era acentuar Aníbal,
nolas, las figuras (sota, caballo y rey)
eran los naipes de menos valor, de com o palabra aguda.)0
12 plugo, pretérito indefinido del
m odo que envidar (‘hacer envite, lle­
verbo placer.
var la partida adelante, apostar’) no
.0
PRIMERA PARTE ■PRELIM INARES
24
45
50
55
60
que salieses tan ladi-13
como el negro Juan Latí—,14
hablar latines rehú—.I5
N o me despuntes de agu—,16
ni me alegues con filó -,17
porque, torciendo la b o -,18
dirá el que entiende la le -,19
no un palmo de las ore-:20
«¿Para qué conmigo fio—?».21
N o te metas en dibu-,22
ni en saber vidas aje—,
que en lo que no va ni v ie -23
pasar de largo es cordu—,
que suelen en capera—
darles a los que grace—;24
mas tú quémate las ce—25
sólo en cobrar buena fa—,
que el que imprime necedadalas a censo perpe-.26
Advierte que es desati—,
siendo de vidrio el teja—,
tomar piedras en las ma—
para tirar al veci—,27
13 ladino valía originariamente ‘ins­
truido en latín, en lenguas’, de don­
de ‘sagaz, astuto’ .
14Juan Latino fue un esclavo negro
que llegó a catedrático y alcanzó
fama como poeta en latín.0
15 Es decir, rehúsa.
'6 ‘N o te me pases de listo’ .
17 Es decir, filósofos.
18 torciendo la boca, como quien
cuenta un chisme, y con desdén.
19 leva: ‘treta, truco’ .0
20 ‘sin alejarse más de un palm o’ .
«Me dicen, no dos dedos del oído,
el nombre de las fiestas» (Coloquio de
los perros
).0
21
flores: ‘artimañas, trampas (en el
ju ego )’ .0
22 ‘N o te compliques las cosas’ .
23 ‘lo que no im porta’ .0
24 ‘a quienes se hacen los graciosos
con chocarrerías (gracejan) suele de­
járseles cortados (darles en caperuza:
‘darles un capirotazo’)’ .0
25 quémate las cejas ‘aplícate’ , como
quien estudia a la luz de la vela.0
26 Porque, quedando impresas,
siempre se le echarán en cara; el cen­
so perpetuo era una especie de hipo­
teca m uy difícil de amortizar.0
27 «Y el vulgo dice bien que es de­
satino / el que tiene de vidrio su te-
U R G A N D A LA D E S C O N O C ID A
65
70
2S
Deja que el hombre de ju ien las obras que compo­
se vaya con pies de pío-,
que el que saca a luz papepara entretener doñee-28
escribe a tontas y a lo -.2'·'
jado / estar apedreando el del vecino» (Bartolomé Leonardo de A rgensola),°
28 Es decir, ‘sin más objetivo que
la frivolidad de hacer pasar el rato a
las muchachas’, aunque no se ve
bien el alcance de la alusión.0
19 En el sentido figurado de la expresión (‘sin orden ni concierto’) a la vez
que en el literal (a doncellas tontas...).0
A M A D ÍS D E G A U L A
A D O N Q U IJ O T E D E LA M A N C H A
Soneto
5
io
Tú, que imitaste la llorosa vida
que tuve, ausente y desdeñado,1 sobre
el gran ribazo de la Peña Pobre,
de alegre a penitencia reducida;2
tú, a quien los ojos dieron la bebida
de abundante licor,3 aunque salobre,
y alzándote la plata, estaño y cobre,4
te dio la tierra en tierra la comida,5
vive seguro de que eternamente,
en tanto, al menos, que en la cuarta esfera
sus caballos aguije el rubio Apolo,6
tendrás claro renombre de valiente;
tu patria será en todas la primera;
tu sabio autor, al mundo único y solo.7
a m a d í s ... Amadís de Gaula, pro­
a ‘de alegre vida a vida reducida a
tagonista del libro de caballerías por penitencia’ .
excelencia (compuesto probablemen­
3 ‘ (cualquier) líquido’ .
te en el siglo x iv , pero cuya inmensa
4 ‘y habiéndote quedado sin vaji­
fortuna se debe a la refundición de lla ni cubiertos de plata...’ .0
Garcí Rodríguez de Montalvo, pu­
5 en tierra, es decir, ‘en escudillas
de barro’ .0
blicada por primera vez hacia 1495),
es evocado aquí especialmente en el
d ‘cuando menos, mientras el sol
episodio en que se retira a la isla de la
salga cada mañana, mientras luzca
Peña Pobre «consumiendo sus días
cada día’ (en la mitología, el alba era
en lágrimas y en continuos dolores»
el momento en que Apolo empeza­
(I, 48), en penitencia luego imitada
ba su camino por la cuarta de las es­
por DQ (I, 25).
feras concéntricas que constituían el
1
‘ausente de su dama’ , Oriana universo); véase I, 2, 50, n. 19 .0
(véase abajo, I, «La señora...», p. 28).
7 al mundo: ‘en el m undo’; único y
«Náufrago y desdeñado, sobre ausen­
solo es fórmula de tradición clásica
te» (Góngora, Soledades, I, 9).
y petrarquesca.0
26
fíóv
D ON B E L IA N ÍS DE G R EC IA
A D O N Q U IJO T E DE LA M A N C H A
Soneto
Rom pí, corté, abollé y dije y hice1
más que en el orbe caballero andante;
fui diestro, fui valiente, fui arrogante;2
mil agravios vengué, cien mil deshice.
5
Hazañas di a la Fama que eternice;
fui comedido y regalado amante;3
fue enano para mí todo gigante,
y al duelo en cualquier punto satisfice.4
Tuve a mis pies postrada la Fortuna,
io y trajo del copete mi cordura
a la calva Ocasión al estricote.'
Mas, aunque sobre el cuerno de la luna6
siempre se vio encumbrada mi ventura,
tus proezas envidio, ¡oh gran Quijote!
D O N B E L IA N ÍS ... Protagonista de
un libro de caballerías, en cuatro
partes (1547-1579 ), firmado por Je ­
rónimo Fernández. Véanse I, 1, 4 1,
n. 23, y ó, 89, n. 44.
1 dije y hice indica un proceder ex­
peditivo, como dicho y hecho o, anti­
guamente, decir y hacer. E l uso de e
copulativa ante (//)/- sólo se daba
cuando se escribía «con algún pri­
mor» (Covarrubias).0
2 fu i arrogante: durante el escruti­
nio de la biblioteca de don Quijote,
el cura dice que la historia de este
«afamado», fiero e impetuoso pala­
dín, «con la segunda, tercera y cuar­
ta parte, tienen necesidad de un
poco de ruibarbo para purgar la
demasiada cólera suya» (I, 6, 89).0
3 comedido y regalado: ‘prudente y
agradable’.
4 Quiere decir, seguramente, ‘cum ­
plí en todo caso con la ley del due­
lo ’ (I, 15, 179 , n. 44), o bien ‘siem­
pre consolé el dolor, le di solución’ .0
5 ‘y mi cordura trajo a la Ocasión
a mal traer, al retortero (al estricote),
asida por un m echón de pelo (del co­
pete)’, pues, según dichos proverbia­
les, «la Ocasión la pintan calva», con
unos pocos pelos en la frente, y hay
que «asilla por el copete» antes de que
pase.0
6 sobre el cuerno de la luna: ‘en lo
más alto, por las nubes’; véanse II,
33, 995, Y
27
4 1, 1055·
ÍÍ7
LA SEÑ O RA O R IA N A
A D U L C IN E A D EL TO BO SO
Soneto
5
io
¡Oh, quién tuviera, hermosa Dulcinea,
por más comodidad y más reposo,
a Miraflores puesto en el Toboso,1
y trocara sus Londres con tu aldea!2
¡Oh, quién de tus deseos y librea
alma y cuerpo adornara,3 y del famoso
caballero que hiciste venturoso
mirara alguna desigual pelea!
¡Oh, quién tan castamente se escapara
del señor Amadís4 como tú hiciste
del comedido hidalgo don Quijote!
Que así envidiada fuera y no envidiara,
y fuera alegre el tiempo que fue triste,
y gozara los gustos sin escote.5
LA S E Ñ O R A ... Oriatia, hija del rey
y el cuerpo con tu librea’ , con el
Lisuarte de Bretaña, es la dama a uniforme que distinguía a los criados
quien sirve y desposa Amadís de
de un determinado señor.
Gaula.
4 Pues Oriana se entrega a Amadís
1
«Este castillo de Miraflores estaba y contrae con él un matrimonio de
a dos leguas de Londres y era pe­
los llamados «secretos», canónicamen­
queño, mas la más sabrosa morada
te válido (I, 24, 290, n. 26).
que en toda aquella tierra había...»
s sin escote: ‘sin pagar la parte pro­
(.Amadís de Gaula, II, 53).
porcional’ . E n Miraflores, «Oriana
3 E l soneto se construye sobre una preñada fue» y tuvo que apartarse
serie de absurdas inversiones burles­
«lo más que ser pudiere de la com­
cas, según la imagen de un mundo al paña de todas» (II, 64); de ese emba­
revés.0
razo nació Esplandián. Véase I, 6,
84, n. 14.
3 ‘adornara el alma con tus deseos
28
G A N D A L ÍN , ESC U D E R O DE A M A D ÍS
DE G A U LA , A SA NCH O P A N Z A , ESCU D ERO
DE D O N Q U IJO T E
Soneto
5
io
Salve, varón famoso, a quien Fortuna,
cuando en el trato escuderil te puso,1
tan blanda y cuerdamente lo dispuso,
que lo pasaste sin desgracia alguna.2
Y a la azada o la hoz poco repugna
al andante ejercicio;3 ya está en uso
la llaneza escudera, con que acuso
al soberbio que intenta hollar la luna.
Envidio a tu jumento y a tu nombre,
y a tus alforjas igualmente envidio,
que mostraron tu cuerda providencia.4
Salve otra vez, ¡oh Sancho!, tan buen hombre,5
que a solo tú nuestro español Ovidio6
con buzcorona te hace reverencia.7
1 trato: ‘ocupación, oficio’ . C er­
vantes siente predilección por los
poco frecuentes adjetivos en -il, que
a menudo emplea jocosamente: es­
cuderil, venteril, condesil, bosquetil, etc.0
2 pasaste: ‘soportaste, toleraste’ .
3 Es decir, ‘Un labrador puede ya
hacerse escudero’ , mientras antaño
(y en las novelas) los escuderos
eran jóvenes nobles o hidalgos que
se ejercitaban hasta armarse caba­
lleros.
4 E l tema de las «bien proveídas al­
forjas» (I, 50, 630) aparece a menudo
29
en el relato: I, 3, 61; 7, 100; 8 ,106 , etc.
5 buen hombre se usaba también
con sentido peyorativo de ‘pobre
hom bre’ o ‘pobre diablo’ .0
6 a solo tú: pese a que lo regular es
a ti, el castellano no admite * a solo ti.
N o está claro por qué Gandalín tra­
ta al autor de la obra de nuestro espa­
ñol Ovidio: quizá por narrar la meta­
morfosis de Sancho, de labrador en
escudero.0
7 E l buzcorona era una burla con­
sistente en dar a besar la mano y
propinar un golpe.0
Í Í 7V
DEL D O N O SO , PO ETA E N T R E V E R A D O ,
A SANCHO PA N ZA Y R O C IN A N T E
5
io
Soy Sancho Panza, escude—
del manchego don Q uijo-;
puse pies en polvoro-,1
por vivir a lo discre—,2
que el tácito Villadie—
toda su razón de esta—
cifró en una retira—,
según siente Celesti—,3
libro, en mi opinión, divi—,
si encubriera más lo hum a-.4
d e l d o n o s o ... En el poeta entre­
verado (de entreverar, ‘mezclar varias
cosas, insertar una en otra’) se ha
querido ver un disfraz de Gabriel
Lobo Lasso de la Vega, cuyo Manojiielo de romances (1601) dice «Mezclar
veras y burlas / juntando gordo con
magro» (como el tocino entreverado).0
' ‘huí’ (polvorosa es ‘la calle’, en
gemianía).0
2 a lo discreto: ‘a mi discreción, a
mis anchas, a rienda suelta’ .0
3 tácito designa aquí, en broma, a
un secuaz del tacitismo, doctrina (y prác­
tica) política m uy controvertida y
de gran actualidad alrededor de 1600,
que, tras las huellas de Maquiavelo y
Tácito, perfiló la idea de una razón de
Estado que se sitúa incluso por encima
30
de las leyes. D el tacitismo convencio­
nal formaba parte la recomendación
de presentar la huida como retirada es­
tratégica, según aconseja también un
personaje de La Celestina, XII: «Aper­
cíbete, a la primera voz que oyeres,
tomar calzas de Villadiego», es decir,
‘escapar deprisa y corriendo, sin espe­
rar ni a ponerse las calzas’.0
4
«Los griegos a todas las cosas que
les parecían hermosas llamaban divi­
nas» (Fernando de Herrera), y el ad­
jetivo se usó frecuentemente en ita­
liano y español para ensalzar como
‘sublime’ a una obra o a un autor.
C . matiza que La Celestina merece­
ría tal titulo si no «representara el vi­
cio demasiado al vivo» (M .R . Lida
de Malkiel),°
DEL D O N O S O , P O E TA EN TR E V E R A D O
31
A Rocinante
15
20
Soy Rocinante, el famo-,
bisnieto del gran Babie-:5
por pecados de flaque-,
fui a poder de un don Q uijo-;
parejas corrí a lo fio -,6
mas por uña de caba—
no se me escapó ceba-,7
que esto saqué a Lazari-,
cuando, para hurtar el vi—
al ciego, le di la pa—.8
5 Babieca, el caballo del Cid.
6 correr parejas era ‘hacer carreras
por parejas’ , a veces con los dos ca­
balleros asidos el uno al otro (II, 32,
980, n. 45); a ¡o flojo (‘sin fuerzas,
con desgana’) quizá indique una ca­
rrera que gana quien llega el úl­
tim o.0
7 Parece jugarse con la expresión
por (o d) uña de caballo (‘a trota caba­
llo, deprisa y corriendo’) y con uña
com o expresión de medida («Aun­
que no sea mayor que una uña», II,
42, 1056): ‘no perdí la cebada por
falta de diligencia, ni me quedé a
una uña de distancia de ella’ .
8 E l sentido, sumamente dudoso,
podría ser: ‘esto saqué de ventaja a
Lazarillo, y tan por delante de él an­
duve en mañas para comer, que fui
yo quien se quedó con el grano, con
la cebada, mientras a él le di la paja
con que se bebía el pino que el ciego
tenía entre las manos’ .“
ÍÍ8
O R L A N D O FURIO SO
A D O N Q U IJO T E DE LA M A N C H A
Soneto
5
io
Si
no eres par, tampoco le has tenido:'
que par pudieras ser entre mil pares,
ni puede haberle donde tú te hallares,
invito vencedor, jamás vencido.
Orlando soy, Quijote, que, perdido
por Angélica,3 vi remotos mares,
ofreciendo a la Fama en sus altares
aquel valor que respetó el olvido.
N o puedo ser tu igual, que este decoro3
se debe a tus proezas y a tu fama,
puesto que, como yo, perdiste el seso;4
mas serlo has mío, si al soberbio moro
y cita fiero domas,5 que hoy nos llama
iguales en amor con mal suceso.6
1 Orlando, inspirador de tantos
poemas épicos, era uno de los D oce
Pares de Francia, los caballeros que
formaban el séquito de Carlomagno, «a quien llamaron pares por ser
todos iguales» (I, 50, 621).°
2 Orlando enloqueció por A ngé­
lica, princesa del Catay, que prefirió
«adamar [‘amar’] antes la blandura
de M edoro que la aspereza de R o l­
dán» (II, i, 695, η. 104).0
3 decoro·, ‘respeto, trato apropiado
que se debe a una persona’.
4 puesto que: ‘aunque’.
5 ‘mas tú sí serás mi igual, si ven­
ces al moro y al escita (cita, de Escitia, com o se llamaba en la Antigüe­
dad el norte de Asia), como hice y o ’
(II, 68, 1293, n. 3o).0
6 con mal suceso: ‘con mal desenla­
ce, éxito, fortuna’ (I, 8, 10 3, n. 1;
14, 16 3, y II, 17 , 839, η. 49).0
32
EL CAB A LL ER O D E L FEBO
A D O N Q U IJ O T E D E LA M A N C H A
Soneto
5
io
A vuestra espada no igualó la mía,
Febo español, curioso cortesano,1
ni a la alta gloria de valor mi mano,
que rayo fue do nace y muere el día.2
Imperios desprecié; la monarquía
que me ofreció el Oriente rojo3 en vano
dejé, por ver el rostro soberano
de Claridiana, aurora hermosa mía.4
Amela por milagro único y raro,5
y, ausente en su desgracia,6 el propio infierno
temió mi brazo, que domó su rabia.
Mas vos, godo Quijote,7 ilustre y claro,
por Dulcinea sois al mundo eterno,8
y ella, por vos, famosa, honesta y sabia.9
5 único y raro es estereotipo del
E L C A B A L LE R O D E L F E B O ... Per­
sonaje principal del Espejo de prín­ lenguaje poético. Véase arriba, I,
«Amadís...», p. 26, η. 7.0
cipes y caballeros (Zaragoza, 1555),
6 Parece aludir al episodio en que
de Diego Ortúñez de Calahom , y de
el Caballero del Febo, ausente (véase
varias continuaciones.0
' Febo: como Apolo vale por ‘sol’; I, «Amadís...», p. 26, v. 4), está a
punto de casarse con Lindabrides,
curioso: ‘esmerado, intachable’ .
con lo que incurre en las iras de
2 do(ude) nace..., es decir, ‘en orien­
Claridiana y cae en su desgracia.
te y en occidente’ .
7 godo: ‘noble’, pues la más alta
3 rojo por el arrebol del amanecer;
nobleza alardeaba de «venir de los
«Por las ventanas del rosado orien­
godos».0
te...» (Lope de Vega, La gatomaquia,
8 ‘ eterno en el mundo’ (I, «Ama­
III, 3 5 9 ).
* Por amor de Claridiana, el Caba­ dís...», p. 26, v. 14).
9 «Dulce, pura, hermosa, sabia,
llero del Febo renunció a la mano de
honesta» (Garcilaso, égloga II).0
Líndabrides y al imperio de Tartaria.
33
«8 ν
DE SO LISD Á N
A D O N Q U IJO T E DE LA M A N C H A
Soneto
5
io
Maguer, señor Quijote, que sandeces1
vos tengan el cerbelo derrumbado,
nunca seréis de alguno reprochado
por home de obras viles y soeces.
Serán vuesas fazañas los joeces,
pues tuertos desfaciendo habéis andado,2
siendo vegadas mil apaleado
por follones cautivos y raheces.3
Y
si la vuesa linda Dulcinea
desaguisado contra vos comete,
ni a vuesas cuitas muestra buen talante,
en tal desmán vueso conorte sea
que Sancho Panza fue mal alcagüete,
necio él, dura ella y vos no amante.
D E S O L ISD Á N ... Se ignora si nos
se II, 5, 723, n. j ; 33, 989, n. 16); vos
las habernos con un héroe caballe­
‘os’, cerbelo ‘seso’ , vegadas ‘veces’,
resco no identificado, un nombre
desaguisado ‘inconveniencia’ , cuitas
inventado, un anagrama o seudóni­
‘penas’, conorte ‘consuelo’, home, vue­
mo o bien una mera errata (quizá so (en especial con el artículo ante­
por Solimán, personaje del Amadís).0 puesto), joeces, y otros anotados a
' ‘Aunque locuras...’ . E l soneto
continuación.0
está escrito en fabln, jerga arcaizante
2
Literalmente, tuerto vale ‘torci­
que tuvo otros usos en la literatura
do’ (por eso DQ lo usa sobre todo
de la época, que DQ emplea (con
con enderezat), en contraposición a
m ejor tino que Solisdán) cuando se
derecho (I, 19, 222: «pues a mí de de­
acerca más a sus modelos caballeres­
recho me habéis vuelto tuerto»), y,
cos y cuyo rasgo principal es la con­
de ahí, ‘injusto’ e ‘injusticia’; véase
servación de la f en voces como
I, 2, 48, n. 3. Modernamente se ha
fazañas y desfaciendo; arcaísmos autén­
creado y difundido la expresión des­
ticos o que al autor le sonaban a ta­ facer entuertos, jamás utilizada por C.°
les son también maguer (que no debe
1
follones: ‘felones, traidores’ (I, 3,
pronunciarse magüe)) ‘aunque’, for­
63, n. 37); cautivos y raheces: ‘viles y
ma que alternaba con maguera (véan­
ruines’ (I, 2, 5 1, n. 30).
34
D IÁ LO G O EN TR E B A B IE C A
Y R O C IN A N T E
Soneto
B.
R.
B.
R.
5B .
R.
B.
r.
io
B.
R.
B.
R.
¿Cómo estáis, Rocinante, tan delgado?
Porque nunca se come, y se trabaja.
Pues ¿qué es de la cebada y de la paja?
N o me deja mi amo ni un bocado.
Anda, señor,1 que estáis muy mal criado,
pues vuestra lengua de asno al amo ultraja.
Asno se es de la cuna a la mortaja.
¿Quereislo ver? Miraldo enamorado.2
¿Es necedad amar?
N o es gran prudencia,
Metafisico estáis.
Es que no como.3
Quejaos del escudero.
N o es bastante.
3 Metaflsico estáis repite con un chis­
te el estáis... delgado del primer verso
(y, en parte, el estáis... mal criado del
quinto; ‘mal alimentado’, además de
‘mal educado’), pues metaflsico era si­
nónimo de sutil, y sutil valía tanto ‘te­
nue’ como ‘agudo’; y era proverbial
que «La hambre despierta el ingenio».
Por otro lado, en tiempos de C ., y
ocasionalmente todavía hoy, (h)ético
(en griego, héktikás) significaba ‘tísico,
demacrado y consumido (como un
tuberculoso)’ : «Estaba Rocinante ma­
ravillosamente' pintado, tan largo y
tendido, tan atenuado y flaco, con
tanto espinazo, tan hético confirma­
do...» (I, 9, 120, y n. 40); como la voz
se prestaba a ser entendida como ético
(en griego, éthikós), la broma de B a-
d i á l o g o ... La plática entre dos
animales (como en el Coloquio de los
perros), e incluso entre dos caballos
que critican a sus amos, no carecía
de tradición en la poesía satírica de
la época: así sobre todo en el ro­
mance de Góngora «Murmuraban
los rocines / a la puerta de Pala­
cio...», y en el de Q uevedo «Tres
muías de tres doctores».0
1 anda: ‘andad’ . La supresión de la
-d en los imperativos, en la segunda
persona del plural, era frecuente en
la lengua coloquial del Siglo de
O ro; pervive hoy antes del enclítico
(«andaos») y, en América, en las zo­
nas de voseo.0
2 Es decir, ‘miradlo (I, Prólogo,
15, n. 65), al am o...’ .
35
36
PRIMERA PARTE ■PRELIM INARES
¿Cóm o me he de quejar en mi dolencia,
si el amo y escudero o mayordom o
son tan rocines como Rocinante?4
bieca consiste también en apuntar:
+ Se llamaba rocín tanto al potro
‘Estáis tan delgado, que más que ético como al mal caballo, y, por ende, la
se puede decir que estáis metafísica,voz se usaba a m enudo com o inque sois pura abstracción’ .0
sulto.°
P R IM E R A PA R T E
DEL INGENIOSO HIDALGO
DON Q UIJOTE DE
LA M ANCHA"
C A P ÍT U L O P R I M E R O
Que trata de la condición y ejercicio del famoso y valiente
hidalgo don Quijote de la Mancha1
En un lugar de la Mancha,2 de cuyo nombre no quiero acor­
darme,3 no ha mucho tiempo que vivía un hidalgo de los de
lanza en astillero, adarga antigua, rocín flaco y galgo corredor.4
*
E l Q, de 1605, es decir, el vo ­ ción’, en nuestro caso situada con­
cretamente en el Cam po de M ontiel
lumen titulado E l ingenioso hidalgo...,
se publicó dividido en cuatro partes
(I, 2, 50, y 7, 10 1), a caballo de las
(I, 1-8 , 9 -14 , 15-27 , 28-52); al sacar actuales provincias de Ciudad R e a l
a luz la continuación de 16 15 , C . la y Albacete. Seguramente por azar, la
frase coincide con el verso de un
presentó como Segunda parte... y
romance nuevo.0/ 1, 2, 3
prescindió de cualquier segmenta­
3 ‘no voy, no llego a acordarme
ción análoga a la de 1605, de suerte
que el conjunto de E l ingenioso hi­ ahora’ (e incluso ‘no entro ahora en
si me acuerdo o no’); quiero puede
dalgo... se convirtió retrospectiva­
mente en Primera parte, quedando de tener aquí valor de auxiliar, análogo
hecho revocadas la sección que en al de voy o llego en las perífrasis equi­
1605 llevaba ese rótulo y la cuatri- valentes; en el desenlace, sin embar­
go, C . recupera el sentido propio
partición originaria. Las ediciones
tardías buscaron modos de subsanar del verbo: «cuyo lugar no quiso po­
ner Cide Hamete puntualmente...»
la incongruencia. Véase I, 9 ,1 1 5 , n. 1 °
‘ condición se refiere tanto a las cir­
(II, 74, 1335). La indeterminación
de ese comienzo, que tiene num e­
cunstancias sociales com o a la índo­
le personal, y ejercicio al m odo en rosos análogos en narraciones de
corte popular, contrasta con los pro­
que ejercita o pone en práctica unas
y otra el protagonista (adjetivado J a ­ lijos detalles con que se abren algu­
móse de acuerdo con la misma fic­ nos libros de caballerías.0
4 astillero: ‘percha o estante para
ción que en I, Prólogo, 14).0
2
lugar: no con el valor de ‘sitio osostener las astas o lanzas’; adarga:
‘escudo ligero, de ante o cuero’ ; el
paraje’, sino como ‘localidad’ y en
hidalgo que no poseyera cuando m e­
especial ‘pequeña entidad de pobla­
37
38
PRIM ERA PARTE · C A P ÍT U L O I
IV
Una olla de algo más vaca que carnero, salpicón las más no­
ches,5 duelos y quebrantos los sábados,6 lantejas los viernes,7 al­
gún palomino de añadidura los domingos,8 consumían las tres
partes de su hacienda.9 El resto della concluían sayo de velar­
te,10 calzas de velludo para las fiestas, con sus pantuflos de lo
mesmo," y los días de entresemana se honraba con su vellorí de
lo más fino.12 Tenía en su casa una ama que pasaba de los cua­
renta y una sobrina que no llegaba a los veinte, y un mozo de
campo y plaza13 que así ensillaba el rocín como tomaba la ponos un caballo -aunque fuera un ro­
8 D el palomino de añadidura (es de­
cín de mala raza y mala traza-, en teo­
cir, ‘más allá de lo regular’) se infie­
ría para servir al R e y cuando se le re que D Q poseía un palomar, pri­
requiriera, decaía de hecho de su vilegio tradicionalmente reservado a
condición; el galgo se menciona espe­
hidalgos y órdenes religiosas.0
cialmente en cuanto perro de caza.
9 ‘las tres cuartas partes de su renta’ .0
Nótese que la adarga, com o sin duda
10 sayo: ‘traje de hombre con fal­
la lanza, es antigua: son vestigios de
da, para vestir a cuerpo’, ya anticua­
una edad pasada, en el cuadro con­
do hacia 1600; el velarte era un ‘paño
temporáneo (no ha mucho tiempo) de
de abrigo’, negro o azul, de buena
la acción.0/ 24, 36
calidad.0/ 22, 26
5
La olla o ‘cocido’ , de carne, to­ " calzas: ‘prenda que cubría los
cino, verduras y legumbres, era el muslos, compuesta por unas tiras
plato principal de la alimentación
verticales, un forro y un relleno’; ve­
diaria (a menudo, para comer y para
lludo: ‘felpa o terciopelo’ ; los pan­
cenar). E n una buena olla, había
tuflos eran un tipo de calzado que
menos vaca que carnero (la vaca era un
se ponía sobre otros zapatos. A d­
tercio más barata que el carnero). El
viértase que mesmo (forma etimoló­
salpicón se preparaba como fiambre
gica) alterna con mismo (por analogía
con los restos de la carne de vaca,
con mí) a lo largo de toda la novela.0
picada con cebolla y aderezada con / 2 2
vinagre, pimienta y sal.0
12 vellorí: «paño entrefino de co­
0 Los duelos y quebrantos eran un
lor pardo ceniciento» (Autoridades).
plato que no rompía la abstinencia Dentro de la obligada modestia, D Q
de carnes selectas que en el reino de
viste con una pulcritud y un atilda­
Castilla se observaba los sábados; p o­
miento muy estudiados, porque la
dría tratarse de ‘huevos con tocino’ .0 conservación de su rango depende
1 C om o los viernes eran días de
en buena parte de su apariencia.0
ayuno y abstinencia de carne, hay
13 ‘un mozo para todo’ (si, como
que suponer que las lantejas (la for­
parece, debe entenderse ‘de plaza
ma concurría con la moderna lente­ pública’ , es decir, para preparar y
jas) serían en potaje, sólo con ajo,
acompañar al caballero cuando sale
cebolla y alguna hierba...0
de casa).0
LAS LE CTUR AS DEL H ID A L G O
39
dadera. Frisaba la edad de nuestro hidalgo con los cincuenta
años.14 Era de complexión recia, seco de carnes, enjuto de ros­
tro,15 gran madrugador y amigo de la caza. Quieren decir que
tenía el sobrenombre de «Quijada», o «Quesada», que en esto
hay alguna diferencia en los autores que deste caso escriben,
aunque por conjeturas verisímiles se deja entender que se lla­
maba «Quijana».“5 Pero esto importa poco a nuestro cuento:
basta que en la narración dél no se salga un punto de la verdad.
Es, pues, de saber que este sobredicho hidalgo, los ratos que
estaba ocioso -que eran los más del año-, se daba a leer libros
de caballerías, con tanta afición y gusto, que olvidó casi de todo
punto el ejercicio de la caza y aun la administración de su ha­
cienda; y llegó a tanto su curiosidad'7 y desatino en esto, que
14 E n los siglos x v i y xvn, la es­
peranza de vida al nacer se situaba
entre los veinte y los treinta años; en­
tre quienes superaban esa media,
sólo unos pocos, en torno al diez
por ciento, morían después de los
sesenta. E n términos estadísticos,
pues, DQ está en sus últimos años, y
como «viejo», «enfermo» y «por la
edad agobiado» lo ve su sobrina (II,
6,
735 )·°
15 Era opinión común que la com­
plexión o ‘constitución física’ estaba
determinada por el equilibrio relati­
vo de las cuatro cualidades elemen­
tales (seco, húmedo, frío y caliente),
que, por otro lado, a la par que los
cuatro humores constitutivos del
cuerpo (sangre, flema, bilis amarilla
o cólera, y bilis negra o melancolía),
condicionaban el temperamento o
manera de ser. La caracterización
tradicional del individuo colérico coin­
cidía fundamentalmente con los da­
tos físicos de D Q , quien, sobre ser
enjuto y seco, tiene «piernas ... m uy
largas y flacas» (I, 35, 455), es «ama­
rillo» (I, 37, 477), «estirado y avella­
nado de miembros» (II, 14, 802), y
alardea de «la anchura ... de sus ve­
nas» (I, 43, 556). A su vez, la versión
de la teoría de los humores propues­
ta en el Examen de ingenios (1575), de
Juan Huarte de San Juan, atribuía al
colérico y melancólico unos rasgos
de inventiva y singularidad con para­
lelos en nuestro ingenioso hidalgo.0
16 ‘Unos autores opinan y se re­
suelven a afirmar (quieren decir) que
el apellido (sobrenombre, que abarca­
ba también los valores de ‘apodo’
y ‘apelativo para complementar el
nombre de pila’) era Quijada, otros
que Quesada...’ . C. finge que en el
caso pretendidamente real de D Q se
da una divergencia de fuentes, com o
ocurría con las varias lecturas de un
término que la filología de los hu­
manistas enseñaba a zanjar, según se
hace aquí, mediante el cotejo de
textos y las hipótesis bien razonadas
(conjeturas verisímiles) ,ao
17 «vana e impertinente curiosidad»
(I, 33, 425), con el sentido peyorati­
vo que la palabra tenía a menudo en
los moralistas.0
40
PRIM ERA PARTE · C A P IT U L O I
2
vendió muchas hanegas de tierra de sembradura para comprar
libros de caballerías en que leer,18 y, así, llevó a su casa todos
cuantos pudo haber dellos; y, de todos, ningunos le parecían
tan bien como los que compuso el famoso Feliciano de Silva,19
porque la claridad de su prosa y aquellas entricadas razones su­
yas le parecían de perlas, y más cuando llegaba a leer aquellos
requiebros y cartas de desafíos,20 donde en muchas partes halla­
ba escrito: «La razón de la sinrazón que a mi razón se hace, de
tal manera mi razón enflaquece, que con razón me quejo de la
vuestra fermosura».21 Y también cuando leía: «Los altos cielos
que de vuestra divinidad divinamente con las estrellas os forti­
fican y os hacen merecedora del merecimiento que merece la
vuestra grandeza...».22
Con estas razones perdía el pobre caballero el juicio, y des­
velábase por entenderlas y desentrañarles el sentido, que no se
lo sacara ni las entendiera el mesmo Aristóteles, si resucitara
18 La hanega o fanega variaba entre
media y una hectárea y media, se­
gún la calidad de la tierra; en la re­
gión de D Q , la extensión común
de los campos de sembradura estaba
en torno a las cinco fanegas. Los li­
bros de caballerías eran regularmente
gruesos infolios de alto costo (aun­
que se depreciaban mucho en el ac­
tivo mercado de segunda mano): en
1556 , en el inventario de un editor
toledano, el Palmerín, el Ciïstaliân, el
Cirongilio y el Florambel, sin encua­
dernar, sé valoraban, respectivamen­
te, a 80, 136 , 102 y 68 maravedís
cada uno (naturalmente, un com ­
prador particular habría tenido que
pagar el ejemplar a mayor precio);
en ese mismo año, medio kilo de
carne de vaca costaba en la región
algo más de 8 maravedís, y otro tan­
to de carnero, unos 14. Véase arriba,
Tasa, 3, η. 4.0
19 Autor de una Segunda Celestina
(1534) y de varias populares conti­
nuaciones del Amadís (Lisuarte de
Grecia, 15 14 ; Amadís de Grecia, 1530 ;
Florisel de Niquea, 1532), a menudo
recordadas en el Quijote.0
20 Las cartas de desafios, en que los
caballeros que se proponían trabar
combate exponían los motivos y «las
condiciones del desafío» (II, 65,
1266), constituían un género tan co­
mún en la realidad com o en la lite­
ratura.0
21 La cita no es literal, pero sí tan
representativa de la escasa claridad y
las intrincadas (entricadas) cláusulas
de Silva, que coincide incluso con
una parodia que se les había dedica­
do ya en el siglo x v i : «la razón de la
razón que tan sin razón por razón de
ser vuestro tengo para alabar vuestro
libro...».0
22 Tam poco es cita a la letra. E l
tratamiento de vuestra grandeza se
usaba en la realidad y reaparece va­
rias veces más adelante (véase abajo,
47, n. 7 4 )·°
LAS LE CTUR AS DEL H ID A L G O
41
para sólo ello. N o estaba muy bien con las heridas que don B elianís daba y recebía, porque se imaginaba que, por grandes
maestros que le hubiesen curado, no dejaría de tener el rostro
y todo el cuerpo lleno de cicatrices y señales.23 Pero, con todo,
alababa en su autor aquel acabar su libro con la promesa de
aquella inacabable aventura, y muchas veces le vino deseo de to­
mar la pluma y dalle fin al pie de la letra como allí se prome­
te;24 y sin duda alguna lo hiciera, y aun saliera con ello,25 si otros
mayores y continuos pensamientos no se lo estorbaran. Tuvo
muchas veces competencia con el cura de su lugar -que era
hombre docto, graduado en Cigüenza-26 sobre cuál había sido
mejor caballero: Palmerín de Ingalaterra o Amadís de Gaula;27
mas maese Nicolás, barbero del mesmo pueblo,28 decía que
ninguno llegaba al Caballero del Febo, y que si alguno se le po­
día comparar era don Galaor, hermano de Amadís de Gaula,
porque tenía muy acomodada condición para todo, que no era
caballero melindroso, ni tan llorón como su hermano, y que en
lo de la valentía no le iba en zaga.29
En resolución, él se enfrascó tanto en su letura, que se le pa-
23 maestros', ‘cirujanos’ (equivale al
más vulgar maese luego usado para el
barbero; véase 4 1, n. 28), Sólo en los
dos primeros libros de la Historia de
Belianís de Grecia, de Jerónim o Fer­
nández, «se cuentan ciento y una
heridas graves» (Clemencín). DQ no
acaba de sentirse satisfecho {no estaba
muy bien) con las explicaciones que
en la obra se dan.0
24 ‘cumpliendo al pie de ¡a letra lo
que allí se promete’ (aunque en el
Belianís no está explícita la promesa
aludida),°
25 ‘hubiera porfiado hasta lograr su
propósito’, de acuerdo con el gusto
literario y las dotes para la escritura
que D Q seguirá testimoniando.
26 A un graduado en la pequeña
Universidad de Cigüenza (‘Sigüenza’), a la que la cercana Alcalá deja­
ba con poquísimos estudiantes, no
se le llamaba normalmente hombre
docto sin un cierto retintín.0
27 La competencia o ‘debate’ sobre
cuál de dos héroes era superior al
otro (Alejandro o Aníbal, César o
Escipión, etc.) constituía un clásico
ejercicio y m otivo retórico, que
aquí opone al celebérrimo Amadís y
al protagonista de una novela no
editada en castellano sino una sola
vez (véase I, 6, 88, η. 38).0
28 maese era tratamiento propio
(pero no exclusivo) de los barberos
que practicaban también pequeñas
curas médicas.
29 La propia Oriana (véase I, P re­
liminares, 28) llegaba a estar «sañuda
porque viera a Amadís llorar» (I, 17).
Sobre el Caballero del Febo, véase I,
Preliminares, 33.0
42
PRIMERA PARTE ■ C A P ÍT U L O I
2V
saban las noches leyendo de claro en claro,30 y los días de tur­
bio en turbio; y así, del poco dormir y del mucho leer, se le
secó el celebro de manera que vino a perder el juicio.31 Llenósele la fantasía de todo aquello que leía en los libros, así de
encantamentos como de pendencias, batallas, desafíos, heridas,
requiebros, amores, tormentas y disparates imposibles; y asentósele de tal modo en la imaginación que era verdad toda aque­
lla máquina de aquellas soñadas invenciones que leía,32 que para
él no había otra historia más cierta en el mundo.33 Decía él que
el Cid R u y Díaz había sido muy buen caballero, pero que no
tenía que ver con el Caballero de la Ardiente Espada, que de
solo un revés había partido por medio dos fieros y descomuna­
les gigantes.34 Mejor estaba con Bernardo del Carpió, porque
en Roncesvalles había muerto a Roldán, el encantado,35 va­
liéndose de la industria de Hércules, cuando ahogó a Anteo, el
30 de claro en claro: ‘de una vez’ ,
fórmula lexicalizada, y ‘de la última
a la primera luz’, literalmente.0
31 La medicina de raíz galénica
consideraba el poco dormir una de las
causas de que disminuyera la hume­
dad del celebro (el cultismo cerebro, ya
usado en tiempos de C ., se genera­
lizó sólo más tarde) y, por ahí, se
potenciara la imaginación y fuera
fácil caer «en manía, que es una des­
templanza caliente y seca del cele­
bro» (Huarte de San Juan). Por eso
DQ bebía «un gran jarro de agua
fría, y quedaba sano y sosegado» (I,
5, 8 i).°
32 La fantasía, que ilumina las imá­
genes procedentes del exterior, se
distinguía con frecuencia de la ima­
ginación, encargada de reelaborarlas y
crear otras sin correspondencia en la
realidad, e incluso de engendrar una
máquina o ‘multitud caótica’ de qui­
meras y soñadas invenciones, como los
mismos sueños.™
33 Es ése el dato esencial en la lo­
cura de don Q uijote: dar por histo­
ria ... cierta el contenido de los li­
bros de caballerías y, por ahí, ver la
realidad «al m odo de lo que había
leído» (I, 2, 52).°
34 Téngase en cuenta que la ima­
gen del C id difundida en la época
de C . tenía menos elementos histó­
ricos que legendarios, y aun muchos
tan fantásticos como las hazañas de
Amadís de Grecia, el Caballero de la
Ardiente Espada (porque la llevaba
estampada en el pecho); y nótese,
por otra parte, que las historias del
uno y del otro se narraban en libros
con el título de crónica. E l revés es un
‘tajo de izquierda a derecha’ .0
35 Según se contaba en múltiples
textos (véase I, 6, 88, n. 36), deri­
vados de una fabulosa gesta m edie­
val, inventada en España como
contrapartida de la Canción de R o l­
dán francesa, «Roldán... era encan­
tado», porque «no le podía matar
nadie» sino con un extraño recurso
(I, 26, 3 17 ).0
LAS L E C TU R A S DEL H ID A L G O
43
hijo de la Tierra, entre los brazos.36 Decía mucho bien del gi­
gante Morgante, porque, con ser de aquella generación gigan­
tea, que todos son soberbios y descomedidos, él solo era afable
y bien criado.37 Pero, sobre todos, estaba bien con Reinaldos
de Montalbán, y más cuando le veía salir de su castillo y robar
cuantos topaba, y cuando en allende robó aquel ídolo de M a­
homa que era todo de oro, según dice su historia.38 Diera él,
por dar una mano de coces al traidor de Galalón,39 al ama que
tenía, y aun a su sobrina de añadidura.
En efeto, rematado ya su juicio,40 vino a dar en el más estraño pensamiento que jamás dio loco en el mundo,41 y fue que
le pareció convenible y necesario, así para el aumento de su
honra como para el servicio de su república,42 hacerse caballe­
ro andante y irse por todo el mundo con sus armas y caballo a
buscar las aventuras y a ejercitarse en todo aquello que él había
leído que los caballeros andantes se ejercitaban, deshaciendo
36 La industria o ‘artimaña’ de Hér­
cules, apretando y suspendiendo en
el aire al gigante Anteo, para que no
cobrara nuevas fuerzas al ser derriba­
do y tocar a su madre la Tierra. Véa­
se II, 32, 982.”
37 Personaje central de un célebre
poema (h. 1465) de Luigi Pulci,
Morgante es uno de los tres gigantes
a quienes se enfrenta Roldán, que
mata a los otros dos, «soberbios y fo­
llones» (Amadís de Gaula, iv , 128)
como desde el Antiguo Testamento
solía pintarse a los de su generación,
«simiente» (I, 8, 103) o ‘estirpe’, m ien­
tras a M organte, cortés y bien edu­
cado (criado), lo bautiza y lo con­
vierte en compañero suyo.0
38 Reinaldos de Montalbán: uno de
los D oce Pares, que de las gestas
francesas pasó al romancero español
y a los poemas italianos de Boiardo y
otros, adaptados en el Espejo de caba­
llerías (I, 6, 86, n. 25), donde apare­
ce dedicado a «robar a los paganos
de España» y se narran sus aventuras
en ultramar (en allende) °
39 mano (‘serie, tanda’) de coces
conlleva un ju ego de palabras; en
romances y otros textos castellanos,
se llama Galalón a Ganelón, el trai­
dor de la Canción de Roldán, culpa­
ble de la derrota de los francos en
Roncesvalles.
40 rematado: ‘consumido’. DQ está,
pues, loco de remate.
41 N o obstante, hay noticia de más
de un personaje, real y literario, v íc ­
tima de una locura similar a la de
D Q , y son relativamente comunes
las anécdotas sobre aficionados al
género (como el ventero Palomeque: I, 32, 409) que tomaban por
históricos los libros de caballerías.0
42 convenible y necesario: probable­
mente evoca el «dignum et iustum
est» del prefacio de la Misa; repúbli­
ca: en su sentido clásico de ‘cuerpo
político de los ciudadanos, la na­
ción’ .
44
PRIMERA PARTE · C A P IT U L O I
3
todo género de agravio y poniéndose en ocasiones y peligros
donde, acabándolos,43 cobrase eterno nombre y fama. Imaginá­
base el pobre ya coronado por el valor de su brazo, por lo me­
nos del imperio de Trapisonda;44 y así, con estos tan agradables
pensamientos, llevado del estraño gusto que en ellos sentía,45 se
dio priesa a poner en efeto lo que deseaba. Y lo primero que
hizo fue limpiar unas armas que habían sido de sus bisabuelos,
que, tomadas de orín y llenas de moho, luengos siglos había que
estaban puestas y olvidadas en un rincón. Limpiólas y aderezó­
las lo mejor que pudo; pero vio que tenían una gran falta, y era
que no tenían celada de encaje, sino morrión simple;40 mas a
esto suplió su industria,47 porque de cartones hizo un modo de
media celada que, encajada con el morrión, hacían una apa­
riencia de celada entera.48 Es verdad que, para probar si era
fuerte y podía estar al riesgo de una cuchillada,49 sacó su espa­
da30 y le dio dos golpes,51 y con el primero y en un punto des­
hizo lo que había hecho en una semana; y no dejó de parecerle mal la facilidad con que la había hecho pedazos, y, por
asegurarse deste peligro,52 la tornó a hacer de nuevo, ponién­
dole unas barras de hierro por de dentro, de tal manera, que él
quedó satisfecho de su fortaleza y, sin querer hacer nueva ex­
periencia della, la diputó y tuvo por celada finísima de encaje.
41
ocasiones: ‘ trances, lances’ ; aca­
41 ‘habilidad, maña, sagacidad’ .0
bándolos: ‘llevándolos a cabo’ .
48 encajada con el morrión, por arri­
44 C o m o lo fue Reinaldos de
ba, y, por abajo, con la gola metálica
M ontalbán.0
que defiende el cuello; complemen­
45 estraño: puede valer aquí ‘singu­
tada con una «visera» de papeles prie­
lar, notable’ .0
tos y encolados, y unido todo por
46 celada: ‘casco semiesférico que
unas «cintas verdes» (I, 2, 53 y 55-56).0
cubría toda la cabeza, la nuca y, en
49 ‘golpe de tajo’, no de punta.
caso de llevar visera, también la cara’,
s° «La espada hubo de ser la que
propio de caballeros; era de encaje,
usaba de diario con su traje civil, se­
cuando, mediante una pieza ancha
gún la costumbre de todos los hidal­
o falda, encajaba directamente sobre gos» (E. de Leguina); es la única
la coraza, sin necesidad de gola;
nota contemporánea en el arcaico
morrión: ‘casco acampanado’ , propio
armamento de D Q .0
de arcabuceros, y en nuestro caso
SI Los caballeros acostumbraban a
simple, o sea, liso y con un mero re­
probar con la espada las armas de­
borde, sin los adornos habituales.0 fensivas que debían llevar.0
sz asegurarse: ‘resguardarse’ .
/ 31 . 32
EL CABALLERO A N D A N T E
45
Fue luego a ver su rocín, y aunque tenía más cuartos que un
real53 y más tachas que el caballo de Gonela, que «tantum pe­
llis et ossa fuit»,54 le pareció que ni el Bucéfalo de Alejandro
ni Babieca el del Cid con él se igualaban. Cuatro días se le pa­
saron en imaginar qué nombre le pondría;55 porque -según se
decía él a sí mesm o- no era razón que caballo de caballero tan
famoso, y tan bueno él por sí, estuviese sin nombre conoci­
do;56 y ansí procuraba acomodársele, de manera que declarase
quién había sido antes que fuese de caballero andante y lo que
era entonces; pues estaba muy puesto en razón que, mudan­
do su señor estado, mudase él también el nombre, y le cobra­
se famoso y de estruendo, como convenía a la nueva orden y
al nuevo ejercicio que ya profesaba;57 y así, después de mu­
chos nombres que formó, borró y quitó, añadió, deshizo y
tornó a hacer en su memoria e imaginación,58 al fin le vino a
llamar «Rocinante», nombre, a su parecer, alto, sonoro y sig­
nificativo de lo que había sido cuando fue rocín, antes de lo
que ahora era, que era antes y primero de todos los rocines del
mundo.59
Puesto nombre, y tan a su gusto, a su caballo, quiso ponér­
sele a sí mismo, y en este pensamiento duró otros ocho días, y
53 cuartos: ‘enfermedad de las caba­
cativos («Amadís», «Palmerín», etc.),
llerías’ y también ‘monedas de ínfi­ pero sólo por excepción se los con­
cede a los caballos, según ocurre, en
mo valor’ .0
cambio, en la italiana.0
54 ‘era sólo piel y huesos’ , según
un epigrama de Teófilo Folengo,
57 Lá cabaEería era la orden militar
inspirado en una sugerencia de p or excelencia y exigía profesar o ha­
Plauto (Aulularia, III, v i, 564); Go­ cer profesión en ella mediante unos
nela fue un bufón de la corte de los
ciertos votos.0
58 La imaginación (véase 42, n. 32)
duques de Ferrara.0
ss D Q no redacta la continuación se consideraba a menudo antesala de
la memoria y suministradora de las
de Don Belianís, pero elabora su vida
imaginaria igual que si compusiera imágenes al entendimiento.
59 primero se usaba con la misma
un libro de caballerías (I, 2, 49-50);
función adverbial que antes («tornó a
así, «como un escritor enterado,
piensa mucho antes de elegir los pasearse con el mismo reposo que
primero», I, 3, 63), y a su vez ante o
nombres» (E.C. R iley).°
56
La literatura caballeresca espa­ antes también podía emplearse sus­
tantivado con el valor de ‘aperitivo’
ñola, en la tradición medieval, suele
o ‘primer plato’ .0
dar a los personajes nombres signifi­
46
PRIM ERA PARTE · C A P ÍT U L O I
al cabo se vino a llamar «don Quijote»;60 de donde, como que­
da dicho, tomaron ocasión los autores desta tan verdadera his­
toria que sin duda se debía de llamar «Quijada», y no «Que­
sada», como otros quisieron decir.61 Pero acordándose que el
valeroso Amadís no sólo se había contentado con llamarse
«Amadís» a secas,62 sino que añadió el nombre de su reino y pa­
tria, por hacerla famosa, y se llamó «Amadís de Gaula»,63 así
quiso, como buen caballero, añadir al suyo el nombre de la
suya y llamarse «don Quijote de la Mancha», con que a su pa­
recer declaraba muy al vivo su linaje y patria, y la honraba con
tomar el sobrenombre della.
Limpias, pues, sus armas, hecho del morrión celada, puesto
nombre a su rocín y confirmádose a sí mismo,64 se dio a en­
tender65 que no le faltaba otra cosa sino buscar una dama de
quien enamorarse, porque el caballero andante sin amores era
árbol sin hojas y sin fruto y cuerpo sin alma.66 Decíase él:
- S i yo, por malos de mis pecados,67 o por mi buena suerte,
me encuentro por ahí con algún gigante, como de ordinario les
60 Los hidalgos no tenían derecho
al tratamiento de don, cuya utiliza­
ción es bastante frecuente en los li­
bros de caballerías (aunque no en los
títulos) y propia de la clase social de
los caballeros en la época de DQ (II,
i, 70 1, y 6, 735). E n la armadura, el
quijote era la pieza (no usada por
nuestro hidalgo) que protegía el
muslo; por otro lado, el nombre evo­
ca a uno de los máximos héroes de la
tradición artúrica, «Lanzarote» (I, 2,
56), mientras el sufijo -ote, que suele
aparecer en términos grotescos o jo ­
cosos (I, 26, 320; 30, 382), se había
aplicado ya, en el Prímaleón y en fies­
tas caballerescas reales, a un persona­
je ridículo, «Camilote».0/ 31
61 Entiéndase, ‘tomaron ocasión
para inferir que sin duda...’ .
61
Es decir, ‘no se había contenta­
do con sólo llamarse...’ .
63 Gaula era un reino imaginario
situado «en la pequeña Bretaña»
(Amadís, I, «Comienza la obra»),
64 A l recibir el sacramento de la
confirmación —que antaño se enten­
día en términos afines a ser armado
caballero y «damos Dios àrmas e ins­
truimos en el uso délias para pelear
y defendemos» (Bartolomé Carran­
za)—, se puede cambiar de nombre.“
65 darse a entender ‘convencerse,
parecerle a uno, creer’ convive en la
lengua de la época con dar a entender
‘explicar’ e ‘insinuar’.0
66 Formula en términos bíblicos
un lugar común caballeresco: «Per­
ché ogni cavalier ch’è sanza amore /
se in vista è vivo, è vivo sanza core»
(Boiardo, Innamoramento de Orlando,
I, X V I I I , 46).0
61
‘por mis graves culpas, por m i
desgracia’.
4
EL CABALLERO A N D A N T E
47
acontece a los caballeros andantes, y le derribo de un encuen­
tro,68 o le parto por mitad del cuerpo, o, finalmente,69 le venzo
y le rindo, ¿no será bien tener a quien enviarle presentado,70 y
que entre y se hinque de rodillas ante mi dulce señora,71 y diga
con voz humilde y rendida: «Yo, señora, soy el gigante Caraculiambro, señor de la ínsula Malindrania,72 a quien venció en
singular batalla73 el jamás como se debe alabado caballero don
Quijote de la Mancha, el cual me mandó que me presentase
ante la vuestra merced, para que la vuestra grandeza disponga
de mí a su talante»?74
¡Oh, cómo se holgó nuestro buen caballero cuando hubo he­
cho este discurso, y más cuando halló a quien dar nombre de
su dama! Y fue, a lo que se cree, que en un lugar cerca del suyo
había una moza labradora de muy buen parecer, de quien él un
tiempo anduvo enamorado, aunque, según se entiende, ella ja ­
más lo supo ni le dio cata dello.75 Llamábase Aldonza Lorenzo,
y a ésta le pareció ser bien darle título de señora de sus pensa­
mientos; y, buscándole nombre que no desdijese mucho del
suyo y que tirase y se encaminase al de princesa y gran señora,
vino a llamarla «Dulcinea del Toboso» porque era natural del
Toboso: nombre, a su parecer, músico y peregrino y significa­
tivo, como todos los demás que a él y a sus cosas había puesto.76
68 ‘acometida, golpe’ .
69 ‘en definitiva, a fin de cuentas’.
Es voz favorita de C .
70 ‘para que se presente a ella’, en
el sentido del presentase de unas líneas
más abajo o de I, 9, 12 2, y 22, 269.
Pero presentado también puede entenderse ‘como presente, como obsequío’ .0
71 señora, porque la relación entre
el caballero y su dama se concebía
como el vínculo feudal entre el vasallo y su señor.
72 Nom bres sugeridos, alparecer,
por malandrín ‘malvado’ y caraculo
‘cariancho’ ; ínsula, y 110 isla, según el
arcaísmo propio de los libros de caballerías.0
11 singular: ‘de un solo caballero
contra otro’ (no de varios contra varios), en el sentido técnico con que
el adjetivo se usaba en los combates
caballerescos.
74Juega con merced y grandeza en su
valor propio y como términos de tratamiento (véase más arriba, 40, n. 22).
75 ‘ni ella se lo dio a catar, le dio
cata o prueba de su buen parecer, di­
cho en tono de picardía, o bien ‘ni
él le dio muestra de ello’; pero el
sentido de la frase no es seguro.“
16 Frente al real Aldonza, que entonces sonaba a rústico («A falta de
moza, buena es Aldonza», decía un
refrán), DQ llama Dulcinea a la hija
de Lorenzo Corchuelo (I, 25, 309),
48
PRIM ERA PARTE
C A P ÍT U L O II
Que trata de la primera salida que de su tierra hizo
el ingenioso don Quijote
Hechas, pues, estas prevenciones, no quiso aguardar más tiem­
po a poner en efeto su pensamiento,1 apretándole a ello la fal­
ta que él pensaba que hacía en el mundo su tardanza,3 según
eran los agravios que pensaba deshacer, tuertos que enderezar,3
sinrazones que emendar y abusos que mejorar4 y deudas que sa­
tisfacer. Y así, sin dar parte a persona alguna de su intención5 y
sin que nadie le viese, una mañana, antes del día, que era uno
de los calurosos del mes de julio,6 se armó de todas sus armas,7
subió sobre Rocinante, puesta su mal compuesta celada, em­
brazó su adarga,8 tomó su lanza y por la puerta falsa de un corral
porque desde antiguo Aldonza se
había asociado con otro nombre de
mujer, Dulce, y porque la termina­
ción -ea, presente en los de heroínas
literarias tan prestigiosas como M e­
libea y Cariclea, tenía un regusto pe­
regrino o ‘inusitado, exquisito’ (I, 2,
5 1, n. 2 8 ) .° / !
1 ‘ejecutar lo que había pensado’ .
2 ‘el daño que pensaba que infligía
al mundo con su tardanza’ .0
3 tuertos: ‘torcidos’ e ‘injusticias’ ;
véase I, «De Solisdán...», p. 34,
v. 6.°
4 ‘corregir, enmendar para mejor’.0
5 ‘sin comunicársela a nadie’ . La
salida furtiva del caballero novel es
habitual en los libros de caballerías.0
6 Primera referencia cronológica
de las muchas que se encontrarán en
el Q. (un poco más abajo se dice que
es viernes). A partir de estos datos, se
ha intentado establecer una cronolo­
gía de la novela; sin embargo, las fe­
chas son irreconciliables. La Primera
parte del Q. empieza un viernes de
ju lio, y termina un domingo de sep­
tiembre. La acción de la Segunda
parte comienza un mes después del
final de la primera, según se afirma
en II, i (y allí 681, n. 2): sin embar­
go, se mencionan como inminentes
las justas de San Jorge en Zaragoza
(abril); además, la carta de Sancho a
su mujer tiene como fecha el 20 de
ju lio de 16 14 (II, 36), pero D Q llega
a Barcelona (II, 62), al parecer, el día
de San Juan (24 de junio). Según las
creencias de la época, el calor vera­
niego exacerbaba el humor colérico,
y por consiguiente la locura de DQ
(I, i, 42, η. 3 1)·0
7 Las armas se enumeran más aba­
jo en I, 2, 54.0
8 ‘metió el brazo por el asa de su
escudo’; la adarga, como los demás
escudos, se sujetaba al brazo izquier­
do mediante una correa en forma de
aro, llamada embrazadura.0
LA PRIM ERA SA L ID A
49
salió al campo,9 con grandísimo contento y alborozo de ver con
cuánta facilidad había dado principio a su buen deseo. Mas ape­
nas se vio en el campo, cuando le asaltó un pensamiento terri­
ble, y tal, que por poco le hiciera dejar la comenzada empresa;
y fue que le vino a la memoria que no era armado caballero y
que, conforme a ley de caballería, ni podía ni debía tomar ar­
mas con ningún caballero,10 y puesto que lo fuera, había de lle­
var armas blancas,11 como novel caballero, sin empresa en el es­
cudo,12 hasta que por su esfuerzo la ganase. Estos pensamientos
le hicieron titubear en su propósito; mas, pudiendo más su lo­
cura que otra razón alguna, propuso de hacerse armar caballe­
ro del primero que topase, a imitación de otros muchos que así
lo hicieron, según él había leído en los libros que tal le tenían.13
En lo de las armas blancas,14 pensaba limpiarlas de manera, en
teniendo lugar, que lo fuesen más que un arminio;15 y con esto
se quietó’6 y prosiguió su camino, sin llevar otro que aquel que
su caballo quería, creyendo que en aquello consistía la fuerza de
las aventuras.17
Yendo, pues, caminando nuestro flamante aventurero, iba
hablando consigo mesmo y diciendo:
—¿Quién duda sino que en los venideros tiempos, cuando
salga a luz la verdadera historia de mis famosos hechos, que el
Galaor fue armado caballero por su
9puerta falsa: ‘la que da a un calle­
hermano Amadís en un encuentro
jó n o al campo’ ; corral: ‘espacio cer­
cado detrás de la casa, con distintas
casual.0
14 Se juega con el doble sentido
dependencias, incluida una huerta’,
propio entonces de viviendas aco­
‘armas de caballero novel’ y ‘no
manchadas’ , dejándolas todavía más
modadas.0
limpias de lo que habían quedado en
10 tomar armas: ‘combatir’ .0
11 ‘lisas, sin empresa pintada’ , que
I, i, 4 4 ·
15 Com o símbolo de blancura y
sólo se ponía cuando el caballero se
había hecho merecedor de ella por pureza. E l armiño estaba también
asociado a la nobleza.“3
alguna proeza. La empresa pintada
16 ‘se tranquilizó’ .0
servía para que el caballero fuera co­
17 Es frecuente que el caballero se
nocido e incluso para darle nombre:
entregue al azar del caballo para lo ­
DQ será primero «el de la Triste Fi­
gura», después «el de los Leones».0 grar la aventura (I, 4, 73, n. 53). Caso
,a ‘sin dibujo simbólico ni lem a’ .0 similar y extremo es el episodio del
13
Sólo los que habían sido arma­ barco encantado (II, 29), basado tam­
bién en un motivo caballeresco.0
dos caballeros podían armar a otros;
50
PRIM ERA PARTE ■C A P ÍT U L O II
5
sabio que los escribiere no ponga, cuando llegue a contar esta
mi primera salida tan de mañana, desta manera?:18 «Apenas ha­
bía el rubicundo Apolo tendido por la faz de la ancha y espa­
ciosa tierra las doradas hebras de sus hermosos cabellos,19 y ape­
nas los pequeños y pintados pajarillos con sus harpadas lenguas20
habían saludado con dulce y meliflua armonía la venida de la
rosada aurora, que, dejando la blanda cama del celoso marido,
por las puertas y balcones del manchego horizonte a los mor­
tales se mostraba,21 cuando el famoso caballero don Quijote de
la Mancha, dejando las ociosas plumas,22 subió sobre su famoso
caballo Rocinante y comenzó a caminar por el antiguo y co­
nocido campo de Monticl».2'
Y era la verdad que por él caminaba. Y añadió diciendo:
-Dichosa edad y siglo dichoso aquel adonde saldrán a luz las
famosas hazañas mías,24 dignas de entallarse en bronces,25 escul­
pirse en mármoles y pintarse en tablas, para memoria en lo fu18 Los libros de caballerías se atri­
buyen con frecuencia a un sabio
(‘m ago’) que acompaña al protago­
nista; un poco más adelante será lla­
mado sabio encantador. D Q , que se ve
a sí mismo como héroe de libro, le
dicta al sabio su historia empleando
el estilo elevado.0
19 Apolo, dios de las artes y maes­
tro de las Musas, personifica al sol.
C . recurre al tópico del amanecer
mitológico (véase I, «Amadís...»,
p. 26, w . 1 0 - 11) , que en los cuen­
tos épicos anunciaba el relato de los
grandes y felices acontecimientos,
con intención paródica. Se establece
también un paralelo entre la salida
del sol para iluminar el mundo y la
de DQ . Véanse asimismo I, 43, 554,
n. 37, y II, 20, 862, n. i.°
20 ‘armoniosas’ ; originariamente
significaba ‘cortadas’, ‘sin punta’,
como la lengua del ruiseñor, según
Aristóteles (Historia de ¡os animales,
IX , X V , 616b). E l epíteto, unido a
lengua y pájaro, abunda en la literatu­
ra española del Siglo de O ro.°
21 celoso marido:. perífrasis por T i­
rón, marido de la Aurora; las puertas
y los balcones aparecen a menudo en
las descripciones del amanecer m i­
tológico (I, 13 , 147, n. i).°
22 ‘colchón’ , generalmente relleno
de plumas; la perífrasis procede de
Petrarca: «La gola e’l sonno e l ’oz'iose piume» (soneto VII),°
23 Comarca de la Mancha, entre
Ciudad R eal y Albacete; véase I, r,
n. 2; antiguo y conocido, en especial, pol­
la referencia de un romance que loca­
liza allí la muerte de Pedro I el Cruel.0
24E l arranque del discurso tiene pa­
ralelo en las peroratas de D Q en I, 1 1 ,
133 , y 20, 227 y 239. La formulación
obedece a un modelo clásico y rena­
centista: «Pelices proavorum atavos,
felicia dicas / saecula quae quondam...»
(Juvenal, Sátiras, III, 312 -313 ).
25 ‘grabarse en láminas de bronce
con cincel o buril’ (II, 1, 691, n. 7 1).0
LA P RIM ERA SA L ID A
turo. ¡Oh tú, sabio encantador, quienquiera que seas,26 a quien
ha de tocar el ser coronista27 desta peregrina historia!2S Ruégote que no te olvides de mi buen Rocinante, compañero eter­
no mío en todos mis caminos y carreras.29
Luego volvía diciendo, como si verdaderamente fuera ena­
morado:
—¡Oh princesa Dulcinea, señora deste cautivo corazón! M u ­
cho agravio me habedes fecho en despedirme y reprocharme
con el riguroso afincamiento de mandarme no parecer ante la
vuestra fermosura. Plégaos, señora, de membraros deste vues­
tro sujeto corazón, que tantas cuitas por vuestro amor padece.30
C on éstos iba ensartando otros disparates, todos al modo de
los que sus libros le habían enseñado, imitando en cuanto po­
día su lenguaje. Con esto, caminaba tan despacio, y el sol en­
traba tan apriesa y con tanto ardor, que fuera bastante a derre­
tirle los sesos, si algunos tuviera.31
Casi todo aquel día caminó sin acontecerle cosa que de con­
tar fuese,32 de lo cual se desesperaba, porque quisiera topar lue­
go luego33 con quien hacer experiencia del valor de su fuerte
brazo. Autores hay que dicen que la primera aventura que le
avino fue la del Puerto Lápice; otros dicen que la de los moli­
nos de viento;34 pero lo que yo he podido averiguar en este
tinación’ ; fermosura: ‘hermosura’ ; pié26 Esta forma de invocación épica,
frecuente en DQ (I, 3, 62; 19, 220; gaos: ‘complázcaos’; membraros: ‘acorda­
ros’ ; sujeto: ‘vasallo, sometido’ . T o d o
25, 305; etc.), algunas veces con in­
tención paródica, procede del Labe­ el pasaje está escrito en el arcaizante
lenguaje caballeresco que C. preten­
rinto de Fortuna, 270b.0
de parodiar.0
27 ‘cronista’; muchos de los libros
31 E l calor del sol es un elemento
de caballerías se intitulan crónicas, y
coadyuvante en la locura de D Q , a
se presentan com o historias.0
quien la sequedad del cerebro ha
28 peregrina: ‘inusitada’ (I, 1, 48,
n. 76);. el adjetivo remite también al provocado la pérdida de juicio (I, i,
42, η. 3 1).0
viaje iniciático, que más abajo se pro­
32 ‘cosa digna de m ención’.0
longa en caminos y carreras y en la estre­
33 ‘encontrarse inmediatamente’ .0
lla que le ha de servir de guía a D Q .
34 avino: ‘sucedió’ ; Puerto Lápice:
2ÿ ‘caminos carreteros o reales’ ,
frente al que se recorre solamente a puerto de montaña y villa de la
M ancha al noroeste de la actual p ro­
pie o caballo.0
30 cautivo: también en el sentido de vincia de Ciudad R e al. Las dos
aventuras, la del vizcaíno y la de los
‘desdichado’; afincamiento: ‘porfía, obs­
52
PRIM ERA PARTE · C A P IT U L O II
caso, y lo que he hallado escrito en los anales de la Mancha35 es
que él anduvo todo aquel día, y, al anochecer, su rocín y él se
hallaron cansados y muertos de hambre, y que, mirando a to­
das partes por ver si descubriría algún castillo o alguna majada
de pastores donde recogerse36 y adonde pudiese remediar su
mucha hambre y necesidad, vio, no lejos del camino por don­
de iba, una venta,37 que fue como si viera una estrella que, no
a los portales, sino a los alcázares de su redención le encamina­
ba.38 Diose priesa a caminar y llegó a ella a tiempo que ano­
checía.
Estaban acaso39 a la puerta dos mujeres mozas, destas que lla­
man del partido,40 las cuales iban a Sevilla con unos arrieros que
en la venta aquella noche acertaron a hacer jornada;41 y como
a nuestro aventurero todo cuanto pensaba, veía o imaginaba le
parecía ser hecho y pasar al modo de lo que había leído, luego
que vio la venta se le representó que era un castillo con sus cua­
tro torres y chapiteles de luciente plata,42 sin faltarle su puente
levadiza y honda cava,43 con todos aquellos adherentes que se­
mejantes castillos se pintan. Fuese llegando a la venta que a él
le parecía castillo, y a poco trecho della detuvo las riendas a
Rocinante, esperando que algún enano se pusiese entre las al­
menas a dar señal con alguna trompeta de que llegaba caballe­
ro al castillo.44 Pero como vio que se tardaban y que Rocinan-
molinos, pertenecen a la segunda sa­
lida (I, 8).°
35 Los anales o memorias de la
M ancha volverán a aducirse en I,
52, 646°
36 majada·, ‘lugar protegido donde
se recoge de noche el ganado’ ; suele
contar con una cabaña que sirva de
refugio a los pastores.0
37 ‘posada en el campo, cerca del
camino’ .0/ 18, 19, 20, 21
38 R eferencia a la estrella de los
R eyes M agos.0
® ‘por casualidad’ .
40 ‘prostitutas’ ; los textos de la
época y aun anteriores las distinguen
de las rameras (I, 2, 58), pero no es
claro el matiz que las diferencia.0
41 ‘descansar entre dos días de
viaje’ .0
42 chapiteles: ‘tejadillos en forma de
cono o pirámide que rematan las to­
rres’ .0
43 ‘foso’ ; en tiempos de Cervantes
puente era de género femenino.
44 almenas: ‘cubos de piedra que
coronan el muro de una fortifica­
ción’ . E n los libros de caballerías es
un enano el que suele avisar de la
llegada de los caballeros con un ins­
trumento de viento. La idea se co­
pió en momos y fiestas cortesanas.0
6
D O N Q U IJO T E EN LA V E N T A
53
te se daba priesa por llegar a la caballeriza, se llegó a la puerta
de la venta y vio a las dos destraídas mozas que allí estaban,45
que a él le parecieron dos hermosas doncellas o dos graciosas
damas que delante de la puerta del castillo se estaban solazan­
do.40 En esto sucedió acaso que un porquero que andaba reco­
giendo de unos rastrojos una manada de puercos (que sin per­
dón así se llaman)47 tocó un cuerno, a cuya señal ellos se
recogen, y al instante se le representó a don Quijote lo que de­
seaba, que era que algún enano hacía señal de su venida; y, así,
con estraño contento48 llegó a la venta y a las damas, las cuales,
como vieron venir un hombre de aquella suerte armado, y con
lanza y adarga, llenas de miedo se iban a entrar en la venta; pero
don Quijote, coligiendo por su huida su miedo,49 alzándose la
visera de papelón50 y descubriendo su seco y polvoroso rostro,
con gentil talante y voz reposada les dijo:
-N o n fuyan las vuestras mercedes, ni teman desaguisado al­
guno, ca a la orden de caballería que profeso non toca ni atañe
facerle a ninguno, cuanto más a tan altas doncellas como vues­
tras presencias demuestran.51
Mirábanle las mozas y andaban con los ojos buscándole el
rostro, que la mala visera le encubría; mas como se oyeron lla­
mar doncellas, cosa tan fuera de su profesión, no pudieron te­
ner la risa y fue de manera que don Quijote vino a correrse52 y
a decirles:
45 destraldas, además de su sentido
recto, califica a la gente de mala
vida, y en especial a las prostitutas (I,
Prólogo, 12, η. 33).0
46 E l sentido es equívoco: doncellas
y damas se usaban a veces como eufemismos de ‘prostitutas’ y solazarse de
‘fornicar’ .0
47 Popularmente, es costumbre y
cortesía pedir perdón al oyente al
pronunciar alguna palabra tabú; C .
deforma irónicamente esta costumbre (sin perdón) y se burla del recato
popular al escoger el malsonante
puercos frente a otras opciones para
nombrar los mismos animales.0
48 ‘con extraordinario contento’ .0
49 coligiendo: ‘deduciendo’ .
50 visera: ‘pieza móvil del casco que
protege la cara’; tenía unos agujeros o
ranuras para ver y respirar. El papelón
era una especie de cartón hecho con
hojas de papel pegadas con engrudo.0
51 fuyan las vuestras: ‘huyan vuestras’ ; desaguisado: ‘injusticia, agravio ’ ; ca: ‘pues’ ; altas doncellas: ‘nobles
doncellas’ ; presencias: ‘aspecto, figura’ . DQ imita la fabla caballeresca,
utilizando vocabulario y estilo arcaieos, como en el parlamento siguiente (véase arriba, 51, n. 3o).0
52 ‘acabó por picarse, amostazarse’ .0
54
PRIMERA PARTE ■C A P ÍT U L O II
6v
—Bien parece la mesura en las fermosas, y es mucha sandez
además la risa que de leve causa procede; pero non vos lo digo
porque os acuitedes ni mostredes mal talante, que el mío non
es de ál que de serviros.53
E l lenguaje, no entendido de las señoras,54 y el mal talle de
nuestro caballero55 acrecentaba en ellas la risa, y en él el enojo,
y pasara muy adelante si a aquel punto no saliera el ventero,
hombre que, por ser muy gordo, era muy pacífico,56 el cual,
viendo aquella figura contrahecha,57 armada de armas tan des­
iguales como eran la brida, lanza, adarga y coselete,58 no estu­
vo en nada en acompañar a las doncellas en las muestras de su
contento.59 Mas, en efeto, temiendo la máquina de tantos per­
trechos,60 determinó de hablarle comedidamente y, así, le dijo:
- S i vuestra merced, señor caballero, busca posada, amén del
lecho, porque en esta venta no hay ninguno,61 todo lo demás
se hallará en ella en mucha abundancia.
Viendo don Quijote la humildad del alcaide de la fortaleza,63
que tal le pareció a él el ventero y la venta, respondió:
53 bien parece: ‘conviene’ ; mesura:
‘contención’ ; sandez: ‘tontería’; ade­
más: ‘por demás’ , ‘en demasía’; 05
acuitedes: ‘os apenéis’; que el mío non
es de ál: ‘que mi voluntad no es otra’.
Véanse arriba, 5 1, n. 30, y 50, n. 53.0
54 La diversidad de lenguaje de los
personajes es una de las fuentes de
malentendidos del Q., que hoy suele
considerarse como la primera novela
‘polifónica’ moderna (M. Bajtín).0
i5 mal talle: ‘fea traza, aspecto ri­
dículo’ .
56 E n la fisiognomía y la teoría de
los humores de la época, se asociaba
la obesidad a la flema y al carácter
pacífico, en oposición al carácter co­
lérico del enjuto D Q .°
57 ‘dibujo desfigurado’ , ‘m onigo­
te’ o ‘caricatura’ .0
sS desiguales: ‘desparejas’ , porque
correspondían a dos modos diferen-
tes de armarse, para cabalgar o com­
batir (I, i , 44, n. 50); brida', ‘estribos
largos’; coselete·, ‘coraza ligera que
protege pecho y espalda’ .0/ 32
59 no estuvo en nada: ‘le faltó m uy
poco’.0
60 ‘la combinación - y posible ac­
tuación- de aquel cúmulo de ar­
mas’ .0
01
amén del lecho: ‘excepto el le­
cho’; «tengo... todos mis dientes y
muelas en la boca, amén de unos
pocos que me han usurpado unos ca­
tarros» (II, 48, i i 09). Los viajeros
llevaban a las ventas la comida, y los
más ricos, de todo (camas, pertre­
chos, etc.).0
61 ‘gobernador militar de una for­
taleza’ ; si tiene a su cargo un castillo,
se le llama castellano; esto permite el
ju ego de palabras que surge un poco
más abajo.0
7
DON QUIJOTE EN LA VENTA
55
—Para mí, señor castellano, cualquiera cosa basta, porque «mis
arreos son las armas, mi descanso el pelear»,63 etc.
Pensó el huésped64 que el haberle llamado castellano había
sido por haberle parecido de los sanos de Castilla, aunque él era
andaluz,65 y de los de la playa de Sanlúcar,66 no menos ladrón
que Caco, ni menos maleante que estudiantado paje67 y, así, le
respondió:
—Según eso, las camas de vuestra merced serán duras peñas, y
su dormir, siempre velar; y siendo así bien se puede apear, con
seguridad de hallar en esta choza ocasión y ocasiones para no
dormir en todo un año, cuanto más en una noche.
Y
diciendo esto fue a tener el estribo a don Q uijote, el cual
se apeó con mucha dificultad y trabajo, com o aquel que en
todo aquel día no se había desayunado.
D ijo luego al huésped que le tuviese m ucho cuidado de su
caballo, porque era la m ejor pieza que com ía pan en el m un­
do.68 M iróle el ventero, y no le pareció tan bueno como don
Q uijote decía, ni aun la mitad; y, acomodándole en la caba­
lleriza, volvió a ver lo que su huésped mandaba, al cual esta­
ban desarmando las doncellas, que ya se habían reconciliado
con él; las cuales, aunque le habían quitado el peto y el espal­
dar, jamás supieron ni pudieron desencajarle la gola,69 ni quitalle la contrahecha celada, que traía atada con unas cintas ver63 Primeros dos versos de un ro­
mance viejo, entonces muy conocido
y glosado; la respuesta del ventero
parafrasea los dos versos siguientes:
«mi cama las duras peñas, / mi dor­
mir siempre velar».0
64 Significa tanto ‘hospedado’
como ‘hospedador’; aquí se emplea
en la segunda de estas dos acepcio­
nes, mientras unas líneas más abajo
C. lo utiliza en el sentido de ‘hospe­
dado’ (I, 2, $5).
65 C. juega con la expresión sano de
Castilla, que significaba tanto ‘hom ­
bre honrado, sin malicia’ (por oposi­
ción a los andaluces, que tenían la
fama contraria) como ‘ladrón disi­
mulado’ en el lenguaje de gemianía.0
66 E n tiempos de Cervantes, pun­
to de reunión de picaros, indesea­
bles y fugitivos de la justicia: véase I,
3, 59, y n. io.°
61
maleante: ‘burlador’ ; estudianta­
do: ‘experimentado e impuesto en
las malicias de los de su oficio, como
si hubiera cursado estudios al propó­
sito’ .0
68 ‘que existía en el mundo’ ; pan:
‘comida en general’ .0
69 peto, espaldar y gola eran las pie­
zas de la armadura que protegían el
pecho y la espalda; juntas com po­
nían el coselete, citado más arriba, 54,
n. 58.° / 31
56
PR IM ERA PA RTE
■ C A P Í T U L O II
des,70 y era menester cortarlas, por no poderse quitar los ñudos;
mas él no lo quiso consentir en ninguna manera y, así, se que­
dó toda aquella noche con la celada puesta, que era la más gra­
ciosa y estraña figura que se pudiera pensar; y al desarmarle,
com o él se imaginaba que aquellas traídas y llevadas que le des­
armaban7' eran algunas principales señoras y damas de aquel
castillo, les dijo con m ucho donaire:
-«N un ca fuera caballero
de damas tan bien servido
com o fuera don Q uijote
cuando de su aldea vino:
doncellas curaban dél;
princesas, del su rocino»,72
o Rocinante, que éste es el nombre, señoras mías, de m i caba­
llo, y don Q uijote de la M ancha el mío; que, puesto que no
quisiera descubrirme73 fasta que las fazañas fechas en vuestro
servicio y pro74 me descubrieran, la fuerza de acomodar al pro­
pósito presente este romance viejo de Lanzarote75 ha sido cau­
sa que sepáis mi nombre antes de toda sazón; pero tiempo ven­
drá en que las vuestras señorías me manden y yo obedezca, y el
valor de m i brazo descubra el deseo que tengo de serviros.
Las mozas, que no estaban hechas a oír semejantes retóricas,76
no respondían palabra; sólo le preguntaron si quería com er al­
guna cosa.
70 La celada se sujetaba por medio
de unas cintas que salían de una al­
mohadilla sujeta en la parte anterior;
véase I, i, 44, n. 48.0
71 traídas: ‘usadas’; en germanía,
‘prostitutas’. Se desarrolla, con mayor
intensidad, el apelativo destraídas que
se les había dado aniba, 53, n. 45,°
72 Versos iniciales del romance de
Lanzarote, recitados con algunas va­
riantes para adecuarlos a la ocasión:
don Quijote = Lanzarote; su aldea =
Bretaña; princesas = dueñas.0
73 ‘aunque no habría querido dar
mi nom bre’ .
74 ‘provecho, favor’, forma anti­
cuada ya en la época. Se repite en I,
3 , 58.0
75 ‘romance antiguo’ , en oposi­
ción a los «romances nuevos» o
«modernos y no vistos» que la gene^
ración encabezada por C . estaba es­
cribiendo y publicando.0
16
Puede también entenderse ‘N o
estando las mozas hechas...’ , con
una construcción absoluta (oración
D O N Q U I J O T E EN L A V E N T A
57
-C ualquiera yantaría y o 77 —respondió don Q uijote—, porque,
a lo que entiendo, me haría m ucho al caso.78
A dicha,79 acertó a ser viernes aquel día,80 y no había en toda
la venta sino unas raciones de un pescado que en Castilla lla­
man abadejo, y en Andalucía bacallao, y en otras partes curadillo,
y en otras truchuela.8l Preguntáronle si por ventura comería su
merced truchuela, que no había otro pescado que dalle a comer.
-C o m o haya muchas truchuelas —respondió don Q uijote-,
podrán servir de una trucha, porque eso se m e da82 que me den
ocho reales en sencillos que en una pieza de a ocho.83 Cuanto
más, que podría ser que fuesen estas truchuelas como la terne­
ra, que es m ejor que la vaca, y el cabrito que el cabrón.84 Pero,
sea lo que fuere, venga luego, que el trabajo y peso de las ar­
mas no se puede llevar sin el gobierno de las tripas.85
Pusiéronle la mesa a la puerta de la venta, por el fresco, y trújo le el huésped86 una porción del mal remojado y peor cocido
bacallao y un pan tan negro y mugriento com o sus armas; pero
era materia de grande risa verle comer, porque, como tenía
puesta la celada y alzada la visera,87 no podía poner nada en la
de relativo, en vez de gerundio o
participio), todavía frecuente en es­
pañol coloquial («El que no venía,
ella se fue») y m uy común en C e r­
vantes (II, 63, 1252, η. 3).0
77 ‘comería’ , término ya arcaico
en tiempos de Cervantes.
78 ‘me vendría muy bien’; recuér­
dese que D Q no había desayunado.
79 ‘ Casualmente, por ventura’ .0
80 Algunos críticos han creído que
esta referencia cronológica -a l día
de abstinencia de carne—corresponde
a una exacta fecha histórica (véase
arriba, I, 2, 458, n. 6).
81 Todos los nombres significan
‘pescado curado en sal’, ‘bacalao’ : su
variedad resalta la naturaleza inde­
finible del plato; truchuela es inter­
pretado equivocadamente por DQ
como diminutivo de trucha; abadejo
y trucha son también designaciones
de prostitutas: vieja y barata la pri­
mera, de calidad y jo ven la segunda.0
82 ‘me da igual, me es indiferente’ .0
83 en sencillos: ‘en monedas de un
real de valor’ , frente a los reales de a
dos, de a cuatro o de a ocho.0
84 E l término tenía ya un sentido
injurioso.0
8í el gobierno: ‘ el mantenimiento’ .0
86 ‘le trajo el ventero’ ; trujo es for­
ma etimológica de trajo.
87 ‘mantenía puesta la celada y sos­
tenía la visera con las manos’; D Q
sostenía levantada la visera, pues no
podía quitarse la celada, montada so­
bre un morrión con cartones que, al
tirar de las cintas, podía romperse;
por tanto tenía las dos manos ocupa­
das y le era imposible llevarse la co ­
mida a la boca con ellas.00
58
PR IM ERA PARTE
■ C A P I T U L O III
8
boca con sus manos si otro no se lo daba y ponía, y, ansí, una
de aquellas señoras servía deste menester. Mas al darle de be­
ber, no fue posible, ni lo fuera si el ventero no horadara una
caña, y, puesto el un cabo en la boca, por el otro le iba echan­
do el vino; y todo esto lo recebía en paciencia, a trueco de no
romper las cintas de la celada. Estando en esto, llegó acaso a la
venta un castrador de puercos, y así com o llegó, sonó su silba­
to de cañas88 cuatro o cinco veces, con lo cual acabó de con­
firmar don Q uijote que estaba en algún famoso castillo y que
le servían con música y que el abadejo eran truchas, el pan can­
deal89 y las rameras damas y el ventero castellano del castillo, y
con esto daba por bien empleada su determinación y salida.
Mas lo que más le fatigaba90 era el no verse armado caballero,
por parecerle que no se podría poner legítimamente en aven­
tura alguna sin recebir la orden de caballería.
C A P Í T U L O III
Donde se cuenta la graciosa manera que tuvo
don Quijote en armarse caballero1
Y , así, fatigado deste pensamiento, abrevió su venteril y limita­
da cena; la cual acabada, llamó al ventero y, encerrándose con
él en la caballeriza, se hincó de rodillas ante él, diciéndole:
- N o me levantaré jamás de donde estoy, valeroso caballero,
fasta que la vuestra cortesía me otorgue un don que pedirle
quiero,2 el cual redundará en alabanza vuestra y en pro del gé­
nero hum ano.3
88 ‘silbato compuesto de varias
cañas de diferente tamaño’ , también
llamado capapttercas.°
89 ‘pan blanco hecho con harina
del trigo de la mejor calidad’ .0
90 ‘angustiaba’.
importancia en la época medieval y
está m uy presente en los libros de
caballerías.0
2 E l favor o don solicitado por DQ
es un típico ejemplo del viejo moti­
vo caballeresco del don contraignant o
«don en blanco».0
1
‘ser armado caballero’ . Todo el 3 Probablemente calca las palabras
capítulo presenta una parodia del
del Orate de la Misa, donde se dice:
rito de investidura, que tuvo gran
«Ad laudem et gloriam nominis sui,
8v
D O N Q U I J O T E ES A R M A D O C A B A L L E R O
59
E l ventero, que vio a su huésped a sus pies y oyó semejantes
razones, estaba confuso mirándole, sin saber qué hacerse ni de­
cirle, y porfiaba con él que se levantase, y jamás quiso,4 hasta
que le hubo de decir que él le otorgaba el don que le pedía.
—N o esperaba yo menos de la gran magnificencia vuestra, se­
ñor mío -respondió don Q u ijo te-, y así os digo que el don que
os he pedido y de vuestra liberalidad me ha sido otorgado es
que mañana en aquel día m e habéis de armar caballero,5 y esta
noche en la capilla deste vuestro castillo velaré las armas/ y m a­
ñana, como tengo dicho, se cumplirá lo que tanto deseo, para
poder como se debe ir por todas las cuatro partes del m undo7
buscando las aventuras, en pro de los menesterosos, como está
a cargo de la caballería y de los caballeros andantes, como yo
soy, cuyo deseo a semejantes fazañas es inclinado.
E l ventero, que, como está dicho, era un poco socarrón y ya
tenía algunos barruntos de la falta de juicio de su huésped,8 aca­
bó de creerlo cuando acabó de oírle semejantes razones y, por
tener que reír aquella noche, determinó de seguirle el humor;
y, así, le dijo que andaba m uy acertado en lo que deseaba y pe­
día y que tal prosupuesto9 era propio y natural de los caballeros
tan principales como él parecía y como su gallarda presencia
mostraba; y que él ansimesmo, en los años de su mocedad, se
había dado a aquel honroso ejercicio, andando por diversas par­
tes del mundo, buscando sus aventuras, sin que hubiese dejado
los Percheles de Málaga, Islas de Riarán, Compás de Sevilla,
Azoguejo de Segovia, la O livera de Valencia, R ond illa de G ra­
nada, Playa de Sanlúcar, Potro de Córdoba y las Ventillas de
Toledo y otras diversas partes,10 donde había ejercitado la ligead utilitatem quoque nostram totiusque Ecclesiae».
4 ‘no quiso’ ; jamás denota aquí
duración limitada (I, 4, 75, n. 77).0
s mañana en aquel día: ‘mañana sin
falta, mañana mismo’ .0
6 E l aspirante a caballero, la noche
antes de ser armado, debía permanecer orando junto a sus armas colocadas sobre el altar.0
7 Las cuatro direcciones o puntos
cardinales, es decir, el mundo en su
totalidad.0
8 barruntos: ‘sospechas’,
9 ‘designio, intención, propósito’;
la forma prosupuesto alterna con peesupuesto (I, 7, 100, n. 47).0
10 Banios de la mala vida de finales
del siglo x v i; algunos vuelven a aparecer en otras obras de C . Islas: ‘man­
zanas de casas’; las de Riarán estaban
en la Aduana de Málaga.0
6ο
PR IM ERA PA R T E
· C A P Í T U L O I II
9
reza de sus pies, sutileza de sus manos, haciendo muchos tuer­
tos, recuestando muchas viudas,11 deshaciendo algunas donce­
llas y engañando a algunos pupilos12 y, finalmente, dándose a
conocer por cuantas audiencias y tribunales hay casi en toda E s­
paña;13 y que, a lo último, se había venido a recoger a aquel su
castillo, donde vivía con su hacienda y con las ajenas, reco­
giendo en él a todos los caballeros andantes, de cualquiera ca­
lidad y condición que fuesen, sólo por la mucha afición que les
tenía y porque partiesen con él de sus haberes,14 en pago de su
buen deseo.
D íjole también que en aquel su castillo no había capilla algu­
na donde poder velar las armas, porque estaba derribada para
hacerla de nuevo, pero que en caso de necesidad él sabía que
se podían velar dondequiera y que aquella noche las podría ve­
lar en un patio del castillo, que a la mañana, siendo D ios servi­
do, se harían las debidas ceremonias de manera que él quedase
armado caballero, y tan caballero, que no pudiese ser más en el
mundo.
Preguntóle si traía dineros; respondió don Q uijote que no
traía blanca,15 porque él nunca había leído en las historias de los
caballeros andantes que ninguno los hubiese traído. A esto dijo
el ventero que se engañaba, que, puesto caso que en las histo­
rias no se escribía,16 por haberles parecido a los autores dellas
que no era menester escrebir una cosa tan clara y tan necesaria
de traerse com o eran dineros y camisas limpias, no por eso se
había de creer que no los trajeron, y, así, tuviese por cierto y
averiguado que todos los caballeros andantes, de que tantos li­
bros están llenos y atestados, llevaban bien herradas las bolsas,17
por lo que pudiese sucederles, y que asimismo llevaban cami11 ‘requiriendo de amores’, en los
libros de caballerías; pero asimismo
‘solicitando’ , tanto el dinero como
otros favores (I, 13 , 149, η. 9).0
12 ‘menores sujetos a custodia’. Véa­
se II, 16, 821: «favoreciendo casadas,
huérfanos y pupilos, propio y natural
oficio de caballeros andantes».
13 audiencia: ‘sala de un tribunal
donde se instruye un proceso’; pero
también ‘etapa de un proceso’ o ‘tri­
bunal superior’ .0
H ‘compartiesen con él su dinero’;
los venteros tenían fama de ladrones.0
15 ‘moneda de cobre de poco va­
lor’, ‘medio maravedí’ .
16 puesto caso que: ‘aunque’ ; sin
embargo, algún caballero literario
anduvo bien provisto de dinero.0
17 ‘iban bien proveídos de dineros’.0
9v
D O N Q U I J O T E ES A R M A D O C A B A L L E R O
61
sas y una arqueta pequeña llena de ungüentos para curar las he­
ridas que recebían, porque no todas veces en los campos y de­
siertos donde se combatían y salían heridos había quien los cura­
se, si ya no era que tenían algún sabio encantador por amigo, que
luego los socorría, trayendo por el aire en alguna nube alguna
doncella o enano con alguna redoma de agua de tal virtud,18 que
en gustando alguna gota della luego al punto quedaban sanos de
sus llagas y heridas, como si mal alguno hubiesen tenido; mas
que, en tanto que esto no hubiese, tuvieron los pasados caballe­
ros por cosa acertada que sus escuderos fuesen proveídos de di­
neros y de otras cosas necesarias, como eran hilas y ungüentos
para curarse;19 y cuando sucedía que los tales caballeros no tenían
escuderos -q u e eran pocas y raras veces-, ellos mesmos lo lleva­
ban todo en unas alforjas m uy sutiles, que casi no se parecían,20 a
las ancas del caballo, como que era otra cosa de más importan­
cia, porque, no siendo por ocasión semejante, esto de llevar al­
forjas no fue m uy admitido entre los caballeros andantes; y por
esto le daba por consejo, pues aún se lo podía mandar como a su
ahijado,21 que tan presto lo había de ser, que no caminase de allí
adelante sin dineros y sin las prevenciones referidas, y que vería
cuán bien se hallaba con ellas, cuando menos se pensase.
Prom etióle don Quijote de hacer lo que se le aconsejaba, con
toda puntualidad; y, así, se dio luego orden como velase las ar­
mas en un corral grande que a un lado de la venta estaba, y re­
cogiéndolas don Q uijote todas, las puso sobre una pila que ju n ­
to a un pozo estaba22 y, embrazando su adarga,23 asió de su lanza
y con gentil continente24 se com enzó a pasear delante de la
pila; y, cuando comenzó el paseo comenzaba a cerrar la noche.
18 redoma: ‘botella ventruda de
boca angosta’ ; agua de virtud: co­
múnmente se llamaba así una infu­
sión de plantas medicinales con su­
puesta eficacia curativa o mágica.
19 hilas: ‘trozo de .tela hervido y
deshilacliado para cubrir las heridas’,
a m odo de gasas.
20 alforja: ‘talega con dos bolsas
que se puede colocar sobre las ancas
de la cabalgadura o llevar sobre los
hom bros’; casi no se parecían: ‘eran
casi invisibles’ .0/ 37
21 E l caballero novel con respecto
al que lo armaba; ambos contraían
obligaciones recíprocas.0
32 pila: ‘cuba del abrevadero’; pero
puede encerrar el sentido de ‘pila
bautismal’ ,°
23 ‘metiendo el brazo por el asa de
su escudo’; véase I, 2, 48, n. 8.
24 ‘elegante apostura’ (II, 6, 734).
62
PR IM ERA PA R T E
· C A PIT U LO III
10
C ontó el ventero a todos cuantos estaban en la venta la lo­
cura de su huésped, la vela de las armas y la armazón de caba­
llería que esperaba.25 Admiráronse de tan estraño género de
locura y fuéronselo a mirar desde lejos, y vieron que con sose­
gado ademán unas veces se paseaba; otras, arrimado a su lanza,
ponía los ojos en las armas, sin quitarlos por un buen espacio
dellas. Acabó de cerrar la noche, pero con tanta claridad de la
luna, que podía competir con el que se la prestaba ,26 de mane­
ra que cuanto el novel caballero hacía era bien visto de todos.
Antojósele en esto a uno de los arrieros que estaban en la ven ­
ta ir a dar agua a su recua ,27 y fue menester quitar las armas de
don Q uijote, que estaban sobre la pila; el cual, viéndole llegar,
en voz alta le dijo:
- ¡O h tú, quienquiera que seas, atrevido cabañero, que llegas
a tocar las armas del más valeroso andante que jamás se ciñó es­
pada !28 M ira lo que haces, y no las toques, si no quieres dejar la
vida en pago de tu atrevimiento.
N o se curó el arriero destas razones (y fuera m ejor que se cu­
rara, porque fuera curarse en salud) ,29 antes, trabando de las co­
rreas,30 las arrojó gran trecho de sí. Lo cual visto por don Q ui­
jote, alzó los ojos al cielo y, puesto el pensamiento - a lo que
pareció— en su señora Dulcinea, dijo:
-A corredm e, señora mía, en esta primera afrenta que a este
vuestro avasallado pecho se le ofrece; no me desfallezca en
este primero trance vuestro favor y amparo .31
Y
diciendo estas y otras semejantes razones, soltando la adar­
ga, alzó la lanza a dos manos y dio con ella tan gran golpe al
arriero en la cabeza, que le derribó en el suelo tan maltrecho,
25 armazón: ‘el acto de armar y ser fermedad antes de que sobrevenga’
armado caballero’ .0
y ‘ponerse a salvo’ .
30 ‘cogiendo las armas por las co­
16 Se refiere al sol.
rreas que sirven para unir unas a
27 ‘grupo de bestias de carga’.
otras las piezas del arnés’ .
28 Es fórmula de la tradición épi­
ca, pero puede aludir también a la
31 acorredme: ‘amparadme’; afrenta:
‘combate tras una ofensa’ ; desfallezca:
prohibición de llevar espada antes
‘falte’ ; trance: ‘momento peligroso’
de ser armado caballero.0
25 no se curó: ‘no se preocupó’ ; cu­ (véase I, 2, 5 1, n. 30). El párrafo, lle­
no de arcaísmos, evoca el léxico y
rarse en salud es utilizado con el do­
ble sentido de ‘preservarse de la en­
los conceptos del amor caballeresco.0
i ον
D O N Q U I J O T E ES A R M A D O C A B A L L E R O
63
que, si segundara con otro, no tuviera necesidad de maestro que
le curara .32 Hecho esto, recogió sus armas y tornó a pasearse
con el mismo reposo que primero. Desde allí a poco, sin sa­
berse lo que había pasado -p orque aún estaba aturdido el arrie­
r o -, llegó otro con la mesma intención de dar agua a sus m u­
los y, Ëegando a quitar las armas para desembarazar la pila, sin
hablar don Q uijote palabra y sin pedir favor a nadie soltó otra
vez la adarga y alzó otra vez la lanza y, sin hacerla pedazos ,33
hizo más de tres la cabeza del segundo arriero, porque se la
abrió por cuatro. A l ruido acudió toda la gente de la venta, y
entre ellos el ventero. V iendo esto don Q uijote, embrazó su
adarga y, puesta mano a su espada, dijo:
—¡O h señora de la fermosura, esfuerzo y vigor del debilitado
corazón mío! Ahora es tiempo que vuelvas los ojos de tu gran­
deza a este tu cautivo caballero, que tamaña aventura está aten­
diendo .34
C o n esto cobró, a su parecer, tanto ánimo, que si le acome­
tieran todos los arrieros del mundo, no volviera el pie atrás. Los
compañeros de los heridos, que tales los vieron, comenzaron
desde lejos a llover piedras sobre don Q uijote, el cual lo m ejor
que podía se reparaba con su adarga35 y no se osaba apartar de
la pila, por no desamparar las armas. E l ventero daba voces que
le dejasen, porque ya les había dicho como era loco, y que por
loco se libraría, aunque los matase a todos. Tam bién don Q u i­
jo te las daba, mayores, llamándolos de alevosos y traidores,30 y
que el señor del castillo era un follón y mal nacido caballero ,37
3J maestro: ‘cirujano’ (véase I, 1, 4 1,
η. 23).0
33 C. quizá destaca irónicamente
el carácter de pelea y no de comba­
te caballeresco del episodio, porque
la lucha entre caballeros se decía a
veces «romper o quebrar lanzas». E l
ju ego lingüístico prosigue en la fra­
se siguiente con la elipsis de pedazos.0
34 grandeza: ‘magnanimidad’ y
también título de nobleza, excesivo
para la dama de DQ (véanse I, 1, 40,
n. 22, y 47, n. 74); cautivo: ‘desdi­
chado’ ; tamaña: ‘tan grande’; aten­
diendo: ‘esperando’ . La forma reli­
giosa de la invocación se subraya
con el calco de la Salve: «Eia ergo,
advocata nostra, illos tuos misericor­
des oculos ad nos converte».
35 se reparaba: ‘se protegía, buscaba
el reparo, el abrigo’.
3ή también... mayores: ‘aun m ayo­
res’ ; llamándolos de: ‘tachándolos de’ .°
37 follón: ‘felón, cobarde, bueno
para nada’; véase I, «De Solisdán...»,
p. 34, v. 8.
64
PR IM ERA PARTE
· C A P I T U L O II I
pues de tal manera consentía que se tratasen los andantes caba­
lleros; y que si él hubiera recebido la orden de caballería, que
él le diera a entender su alevosía:
—Pero de vosotros, soez y baja canalla,38 no hago caso alguno:
tirad, llegad, venid y ofendedme en cuanto pudiéredes, que vos­
otros veréis el pago que lleváis de vuestra sandez y demasía .39
D ecía esto con tanto brío y denuedo, que infundió un terri­
ble temor en los que le acometían; y así por esto com o por las
persuasiones del ventero, le dejaron de tirar, y él dejó retirar a
los heridos y tornó a la vela de sus armas con la misma quietud
y sosiego que primero.
N o le parecieron bien al ventero las burlas de su huésped, y
determinó abreviar y darle la negra orden de caballería luego ,40
antes que otra desgracia sucediese. Y , así, llegándose a él, se
desculpó de la insolencia que aquella gente baja con él había
usado, sin que él supiese cosa alguna, pero que bien castigados
quedaban de su atrevimiento. D íjole como ya le había dicho
que en aquel castillo no había capilla, y para lo que restaba de
hacer tampoco era necesaria, que todo el toque de quedar ar­
mado caballero 41 consistía en la pescozada y en el espaldarazo ,42
según él tenía noticia del ceremonial de la orden, y que aque­
llo en mitad de un campo se podía hacer, y que ya había cum­
plido con lo que tocaba al velar de las armas, que con solas dos
horas de vela se cumplía, cuanto más que él había estado más
de cuatro. T odo se lo creyó don Q uijote, que él estaba allí
pronto para obedecerle y que concluyese con la m ayor breve­
dad que pudiese, porque, si fuese otra vez acometido y se vie­
se armado caballero, no pensaba dejar persona viva en el casti38 canalla conserva el sentido origi­
nario de jauría de perros’ y, por
consiguiente, ‘conjunto de gente
despreciable, chusma’ ; en el Q. se
usa siempre con este significado.
39 ‘agravio y descortesía’ .
40 negra: ‘maldita, malhadada’ (el
adjetivo supone un juicio de valor
por parte del ventero); luego: ‘en se­
guida, inmediatamente’ .0
41 toque: ‘el punto clave en que estri­
ba una determinada cosa o cuestión’ .0
42
pescozada era el golpe que se
daba con la mano abierta o con la
espada de plano sobre la nuca del
que iba a ser armado caballero; el es­
paldarazo se daba con la espada sobre
cada uno de los hombros del novi­
cio. E l hecho de que sólo con eso
bastara para ser armado caballero en
caso de urgencia está documentado
históricamente.0
D O N Q U I J O T E ES A R M A D O C A B A L L E R O
65
lio, eceto aquellas que él le mandase, a quien por su respeto de­
jaría .43
Advertido y medroso desto el castellano ,44 trujo luego un li­
bro donde asentaba la paja y cebada que daba a los arrieros,45 y
con un cabo de vela que le traía un muchacho, y con las dos
ya dichas doncellas, se vino adonde don Q uijote estaba, al cual
mandó hincar de rodillas ;40 y, leyendo en su manual,47 com o
que decía alguna devota oración, en mitad de la leyenda 48 alzó
la mano y diole sobre el cuello un buen golpe, y tras él, con su
mesma espada, un gentil espaldarazo ,49 siempre murmurando
entre dientes, como que rezaba. H echo esto, mandó a una de
aquellas damas que le ciñese la espada,50 la cual lo hizo con m u­
cha desenvoltura y discreción, porque no fue menester poca
para no reventar de risa a cada punto de las ceremonias; pero
las proezas que ya habían visto del novel caballero les tenía la
risa a raya. A l ceñirle la espada dijo la buena señora:
—Dios haga a vuestra m erced m uy venturoso caballero y le dé
ventura en lides .51
D on Quijote le preguntó cómo se llamaba, porque él supiese
de allí adelante a quién quedaba obligado por la merced recebida, porque pensaba darle alguna parte de la honra que alcan­
zase por el valor de su brazo .53 Ella respondió con mucha h u ­
mildad que se llamaba la Tolosa, y que era hija de un
remendón natural de T oledo ,53 que vivía a las tendillas de San43 eceto: ‘excepto’.
44 E l narrador adopta el vocabula­
rio y el modo de ver las cosas de don
Quijote; con el mismo ju ego de re­
gistros llamará damas y doncellas a las
rameras.0
45 asentaba: ‘anotaba (el gasto de
paja y cebada)’ . ,
46 Sigue la parodia de la cerem o­
nia de investidura de DQ com o ca­
ballero andante.0
47 ‘libro de oraciones, devociona­
rio’ , parodia del libro de cuentas
mencionado arriba.0
48 ‘lectura’ (I, Prólogo, 1 1 , n. 28).
49 gentil: ‘gallardo, brioso’, aquí
empleado en un sentido irónico.0
50 La espada y las espuelas eran los
símbolos del caballero. Con fre­
cuencia, en la literatura caballeresca,
una de las damas que había sido tes­
tigo de la ceremonia de armar le co ­
locaba al novicio la espada en la cin­
tura.0
51 Fórmula típica de las cerem o­
nias de investidura del caballero. La
ramera demuestra ser buena cono­
cedora de los libros de caballerías.0
52 darle alguna parte: ‘informarle,
hacerle saber’ .
53 remendón: ‘operario que arregla
o pone piezas a vestidos viejos’ .0
66
P R IM ERA PA R T E
· C A P Í T U L O III
IIV
cho Bienaya ,54 y que dondequiera que ella estuviese le serviría y
le tendría por señor. D on Quijote le replicó que, por su amor, le
hiciese merced que de allí adelante se pusiese don y se llamase
«doña Tolosa ».55 Ella se lo prometió, y la otra le calzó la espue­
la, con la cual le pasó casi el mismo coloquio que con la de la
espada.56 Preguntóle su nombre, y dijo que se llamaba la M o li­
nera y que era hija de un honrado molinero de Antequera ;57 a.
la cual también rogó don Quijote que se pusiese don y se llamase
«doña Molinera», ofreciéndole nuevos servicios y mercedes.
Hechas, pues, de galope y aprisa las hasta allí nunca vistas ce­
remonias ,58 no vio la hora don Q uijote de verse a caballo 59 y sa­
lir buscando las aventuras, y, ensillando luego a Rocinante, su­
bió en él y, abrazando a su huésped, le dijo cosas tan estrañas,
agradeciéndole la merced de haberle armado caballero, que no
es posible acertar a referirlas. E l ventero, por verle ya fuera de
la venta, con no menos retóricas, aunque con más breves pala­
bras, respondió a las suyas y, sin pedirle la costa de la posada, le
dejó ir a la buen hora .60
54 En las tiendas cercanas a esa pla­
za de Toledo (I, 35, 461, n. 32).0
ss DQ hace extensivo su don a otras
personas (I, 1, 46, n. 60). Quizá haya
aquí una crítica a la facilidad con que
las mujeres, más que los hombres, se
atribuían este tratamiento, incluidas
las rameras.0
sí C om o sucedía con la espada,
también con frecuencia una dama tes­
tigo calzaba las espuelas al caballero.0
57
honrado molinero era, en la tradi­
ción, una contradicción: los moline­
ros tenían fama de ladrones, y las
molineras de ser ligeras de cascos.0
í8 minea vistas es encarecimiento
irónico.0
59 no vio la hora es expresión de
impaciencia y deseo.
60 ‘en hora buena’ , italianismo.0
12
A V E N T U R A DE AN D R ÉS
67
C A P Í T U L O IIII
De lo que le sucedió a nuestro caballero
cuando salió de la venta
La del alba sería 1 cuando don Q uijote salió de la venta tan con­
tento, tan gallardo, tan alborozado por verse ya armado caba­
llero, que el gozo le reventaba por las cinchas del caballo .2 M as
viniéndole a la memoria los consejos de su huésped cerca de las
prevenciones tan necesarias que había de llevar consigo ,3 espe­
cial la de los dineros y camisas,4 determinó volver a su casa y
acomodarse de todo ,5 y de un escudero, haciendo cuenta de re­
cebir a un labrador vecino suyo 6 que era pobre y con hijos,
pero m uy a propósito para el oficio escuderil de la caballería .7
C o n este pensamiento guió a Rocinante hacia su aldea, el cual,
casi conociendo la querencia ,8 con tanta gana comenzó a ca­
minar, que parecía que no ponía los pies en el suelo.
N o había andado m ucho cuando le pareció que a su diestra
mano, de la espesura de un bosque que allí estaba,9 salían unas
voces delicadas, como de persona que se quejaba; y apenas las
hubo oído, cuando dijo:
-G racias doy al cielo por la m erced que me hace, pues tan
presto me pone ocasiones delante donde yo pueda cumplir con
lo que debo a mi profesión y donde pueda coger el fruto de mis
1 ‘La hora del alba’ ; el anteceden­
te es la palabra hora con que acaba el
capítulo anterior; véanse I, 6, 83, n. 1,
y II, 73, 132 2 , n. i.°
2 E l gozo de DQ es tal que, hi­
perbólicamente, se transmite al ca­
ballo, haciéndole estallar las cinchas,
‘correas con que se sujeta la silla’ .0
3 cerca de: ‘acerca de, sobre’ (I, 3 1,
396, n. 27).
4 especial: ‘especialmente’.0
5 acomodarse: ‘hacer provisión’ .
0 recebir: ‘contratar’; es la primera
alusión a la figura de Sancho Panza.
7 D e hecho, Sancho no cumple
ninguna de las condiciones para ser
escudero de un caballero andante:
no es hidalgo, es pobre y excesi­
vam ente viejo para recibir ense­
ñanzas.0
8 ‘lugar en que alguien, animal u
hombre, se encuentra a gusto, y al
que se dirige o acoge después de un
esfuerzo’; en el caso del caballo, la
querencia natural es la cuadra.
9 E l bosque es uno de los escena­
rios típicos de las aventuras nove­
lescas.0
68
P R IM ERA PARTE
■ C APÍTU LO IIII
buenos deseos. Estas voces, sin duda, son de algún menestero­
so o menesterosa que ha menester m i favor y ayuda.
Y , volviendo las riendas, encaminó a R ocinante hacia donde
le pareció que las voces salían, 10 y, a pocos pasos que entró por
el bosque, vio atada una yegua a una encina, y atado en otra a
un muchacho, desnudo de medio cuerpo arriba, hasta de edad
de quince años ,11 que era el que las voces daba, y no sin causa,
porque le estaba dando con una pretina 12 muchos azotes un la­
brador de buen talle ,13 y cada azote le acompañaba con una re­
prehensión y consejo. Porque decía:
-L a lengua queda y los ojos listos . 14
Y el muchacho respondía:
- N o lo haré otra vez, señor m ío; por la pasión de D ios, que
no lo haré otra vez, y yo prometo de tener de aquí adelante
más cuidado con el hato . 15
Y viendo don Q uijote lo que pasaba, con voz airada dijo:
—Descortés caballero, mal parece tomaros con quien defen­
der no se puede ;16 subid sobre vuestro caballo y tomad vuestra
lanza 17 -q u e también tenía una lanza arrimada a la encina adon­
de estaba arrendada la yegua —, 18 que yo os haré conocer ser de
cobardes lo que estáis haciendo.
E l labrador, que vio sobre sí aquella figura llena de armas
blandiendo la lanza sobre su rostro ,19 túvose por muerto, y con
buenas palabras respondió:
—Señor caballero, este muchacho que estoy castigando es un
mi criado, que me sirve de guardar una manada de ovejas que
10 Otro tanto ocurre en varios li­
bros de caballerías.0
11 ‘de alrededor de quince años’ .
12 ‘cinturón de cuero’ . Esta situa­
ción novelesca podría ser reminis­
cencia de los libros de caballerías.0
/ 2 2 , 28
13 ‘de buen aspecto, bien parecido’ .
14 ‘Hablar menos y vigilar m ejor’;
es el consejo y la reprehensión del
labrador.
15 ‘rebaño’. E n las Novelas ejempla­
res Cervantes cuenta que los zagales
se comían los corderos y echaban la
culpa al lobo, o decían que se habían
perdido o desgraciado.0
16 tomaros: ‘pelearos’ (I, 32, 407).0
17 Se solía salir armado al campo o
al camino, sobre todo con lanza;
D Q , al ver la lanza y la yegua —que
llama caballo-, impaciente por cele­
brar su primer combate, toma a Juan
Haldudo por un caballero andante.0
18 ‘atada con las riendas’ .™
19 ‘agitando la punta de la lanza
delante de su rostro’.
I 2V
A V E N T U R A DE AN D R ES
69
tengo en estos contornos, el cual es tan descuidado, que cada
día me falta una; y porque castigo su descuido, o bellaquería,
dice que lo hago de miserable ,20 por no pagalle la soldada que
le debo, y en Dios y en m i ánima que m iente .21
—¿«Miente» delante de mí, ruin villano ?22 -d ijo don Q uijo­
te—. Por el sol que nos alumbra, que estoy por pasaros de par­
te a parte con esta lanza. Pagadle luego sin más réplica; si no,
por el Dios que nos rige, que os concluya y aniquile en este
punto. Desatadlo luego.
E l labrador bajó la cabeza23 y, sin responder palabra, desató a su
criado, al cual preguntó don Quijote que cuánto le debía su amo.
E l dijo que nueve meses, a siete reales cada mes. Hizo la cuenta
don Quijote y halló que montaban setenta y tres reales,24 y díjole al labrador que al momento los desembolsase, si no quería m o­
rir por ello. Respondió el medroso villano que para el paso en
que estaba y juramento que había hecho 25 - y aún no había ju ra­
do nada-, que no eran tantos, porque se le habían de descontar
y recebir en cuenta26 tres pares de zapatos que le había dado, y
un real de dos sangrías que le habían hecho estando enfermo .27
—Bien está todo eso -replicó don Q uijote—, pero quédense
los zapatos y las sangrías por los azotes que sin culpa le habéis
dado, que, si él rompió el cuero de los zapatos que vos pagastes, vos le habéis rompido el de su cuerpo ,28 y si le sacó el bar­
20 ‘por tacaño’ .
«Y por el paso en que me ves, te
21 Forma de juramento usada sojuro...» (égloga II, v. 653).°
bre todo por las mujeres, frente a
16 ‘asentar en la partida de gastos’ ;
«en Dios y en mi conciencia», que normalmente los gastos médicos y la
utilizaban los hombres.0
vestimenta de trabajo eran obliga22 E l mentís (‘desmentir a uno’) era
ción del amo.
una grave afrenta para el que lo re- 37 La sangría era un procedimiento
cibía, y una descortesía para el testicurativo que consistía en hacer una
go, sobre todo si éste había tomado
incisión en la vena para sacar el ex el partido del ofendido.0
ceso de sangre (es decir, el Immor)
23 ‘cedió, obedeció humillándose’ , considerado com o la causa de la en24 Probablemente, no es errata, fermedad; junto con la purga, era
sino lapsus de C . por sesenta y tres.° uno de los métodos más utilizados
25 para·, ‘por’ , eji fórmulas de ju ra- en la medicina oficial de la época.0
mentó; paso es el trance de muerte
28 pagastes no era entonces vulgaen que cree hallarse. Es posible que rismo, sino form a posible de la sehaya aquí un recuerdo de Garcilaso: gunda persona, tanto para el trata-
70
PR IM ERA PA R T E
· C A PIT U LO IIII
13
bero sangre estando enfermo, vos en sanidad se la habéis saca­
do ;29 ansí que por esta parte no os debe nada.
—E l daño está,30 señor caballero, en que no tengo aquí dine­
ros: véngase Andrés conm igo a mi casa, que yo se los pagaré un
real sobre otro.
-¿Irm e yo con él? -d ijo el m uchacho-. Mas ¡mal año !31 N o ,
señor, ni por pienso, porque en viéndose solo me desuelle
com o a un San Bartolom é .32
- N o hará tal -replicó don Quijote—: basta que yo se lo mande
para que me tenga respeto ;33 y con que él me lo jure por la ley de
caballería que ha recebido ,34 le dejaré ir libre y aseguraré la paga.
-M ire vuestra merced, señor, lo que dice —dijo el mucha­
ch o -, que este m i amo no es caballero, ni ha recebido orden
de caballería alguna, que es Juan Haldudo el rico ,35 el vecino
del Quintanar .30
—Importa poco eso —respondió don Q uijote—, que Haldudos
puede haber caballeros; cuanto más, que cada uno es hijo de sus
obras .37
-A s í es verdad —dijo A ndrés-, pero este m i amo ¿de qué
obras es hijo, pues me niega m i soldada y m i sudor y trabajo?
—N o niego, hermano Andrés 38 —respondió el labrador-, y ha­
cedme placer de veniros conmigo, que yo ju ro por todas las or­
iniento tú como para vos; rompido
‘roto’ era la forma regular del partícipio, que alternaba con la irregular.0
29 sanidad: ‘salud’ .
30 ‘lo malo es’ .0
31 ‘de ninguna manera’; frase imprecatoria truncada que equivale a «mal
año para mí» o «mal año me dé Dios».™
” E l apóstol San Bartolom é m urió desollado y se le representaba
con la musculatura al aire y la piel
al brazo; su fiesta, el 24 de agosto, al
fin de la cosecha, hizo de él un santo m uy popular.
33 ‘respete lo que le mando, acate
m i orden’ .
34 Juramento muy comente entre
caballeros (véanse 1 , 24, 286, y 44, 569).0
3S La figura del labrador rico es
frecuente en la literatura del x v i i ,
en contraste con el hidalgo em pobrecido, como marca de un cambio
de clases pudientes; en el Q. mismo,
está la figura del padre de Leandra
(I, 5 1, 630) y la de Cam acho, tam­
bién «el rico» (II, 19, 854); haldudo,
como adjetivo referido a personas,
vale
por ‘taimado, hipócrita’ .0
36 Quintanar de la Orden, pueblo
cercano al Toboso (II, 74, 1329).
31 Adagio que señala que el hom bre crea su linaje por su comportamiento; se repite en I, 47, 598.0
38 hermano es tratamiento cristia110, hoy conservado más o menos
vulgarmente en algunas zonas.0
A V E N T U R A DE AN D RES
71
denes que de caballerías hay en el mundo de pagaros, com o
tengo dicho, un real sobre otro, y aun sahumados.39
—D el sahumerio os hago gracia 40 -d ijo don Q uijote-: dádse­
los en reales,41 que con eso me contento; y mirad que lo cum ­
pláis como lo habéis jurado: si no, por el mismo juramento os
ju ro de volver a buscaros y a castigaros, y que os tengo de ha­
llar, aunque os escondáis más que una lagartija. Y si queréis sa­
ber quién os manda esto, para quedar con más veras obligado a
cumplirlo, sabed que yo soy el valeroso don Q uijote de la
Mancha, el desfacedor de agravios y sinrazones, y a Dios que­
dad, y no se os parta de las mientes lo prometido y jurado ,42 so
pena de la pena pronunciada.
Y , en diciendo esto, picó a su Rocinante y en breve espacio 43
se apartó dellos. Siguióle el labrador con los ojos y, cuando vio
que había traspuesto del bosque y que ya no parecía ,44 vo lvió ­
se a su criado Andrés y díjole:
—V enid acá, hijo mío, que os quiero pagar lo que os debo,
com o aquel desfacedor de agravios me dejó mandado.
—Eso juro yo -d ijo Andrés—, y ¡cómo que andará vuestra m er­
ced acertado en cumplir el mandamiento de aquel buen caballe­
ro, que mil años viva, que, según es de valeroso y de buen juez, vive
R o q u e 45 que si no me paga, que vuelva y ejecute lo que dijo!
-T am bién lo juro yo -d ijo el labrador-, pero, por lo mucho
que os quiero, quiero acrecentar la deuda, por acrecentar la paga.
Y , asiéndole del brazo, le tornó a atar a la encina, donde le
dio tantos azotes, que le dejó por muerto.
-Llam ad, señor Andrés, ahora -d ecía el labrador— al desface­
dor de agravios: veréis cóm o no desface aquéste; aunque creo
39 ‘perfumados’, metafóricamente
‘mejorados’ .0
40 ‘os perdono el perfume, la m e­
jo ría ’; la frase era popular.0
41 ‘en moneda de plata’ , que vale
por su peso, frente a la de cobre o
vellón, de rápida depreciación y su­
jeta a resello.
42 no se os parta de las mientes: ‘no se
os vaya de la cabeza’. La amenaza de
D Q tiene paralelo en otra del Don
Olivante de Laura, III, 3: «Y 110 dejes de
cumplir todo esto que te mando, por­
que cuando supiere que no lo haces
en ninguna parte del mundo estarás
tan escondido que yo no pueda ha­
llarte para acabar de quitarte la vida».0
43 ‘en m uy poco tiem po’ .
44 ‘no se le yeía’.
45 Forma eufemística de juram en­
to, usada también por Sancho en II,
10, 772.0
72
PR IM ERA PA RTE
· C A PÍT U LO IIII
14
que no está acabado de hacer, porque me viene gana de deso­
llaros vivo, como vos temíades.
Pero al fin le desató y le dio licencia que fuese a buscar su
juez, para que ejecutase la pronunciada sentencia. Andrés se
partió algo mohíno, jurando de ir a buscar al valeroso don Q ui­
jo te de la M ancha y contalle punto por punto lo que había pa­
sado, y que se lo había de pagar con las setenas.46 Pero, con
todo esto, él se partió llorando y su amo se quedó riendo.
Y
desta manera deshizo el agravio el valeroso don Q uijote ;47
el cual, contentísimo de lo sucedido, pareciéndole que había
dado felicísimo y alto principio a sus caballerías, con gran satisfación de sí mismo iba caminando hacia su aldea, diciendo a
media voz:
—B ien te puedes llamar dichosa sobre cuantas hoy viven en
la tierra, ¡oh sobre las bellas bella 48 D ulcinea del Toboso!, pues
te cupo en suerte tener sujeto y rendido a toda tu voluntad e
talante a un tan valiente y tan nombrado caballero com o lo es
y será don Q uijote de la M ancha; el cual, com o todo el m un­
do sabe, ayer rescibió la orden de caballería y hoy ha desfecho
el m ayor tuerto y agravio que form ó la sinrazón y cometió la
crueldad :49 hoy quitó el látigo de la mano a aquel despiadado
enemigo que tan sin ocasión vapulaba 50 a aquel delicado in­
fante .51
En esto, llegó a un camino que en cuatro se dividía ,52 y lue­
go se le vino a la imaginación las encrucijadas donde los caba­
lleros andantes se ponían a pensar cuál camino de aquéllos to­
marían; y, por imitarlos, estuvo un rato quedo, y al cabo de
haberlo m uy bien pensado soltó la rienda a R ocinante, dejan46 ‘pagar con creces’, ‘castigo supe­
rior al que se cree merecer’ (II, 16,
820); antiguamente las setenas eran
una multa que obligaba a pagar siete
veces el valor del daño causado.0
47 Andrés vuelve a aparecer en I,
3 1, 399, donde se cuentan las conse­
cuencias de esta aventura.0
48 ‘la más bella de todas’ ; es una
forma del superlativo hebraico.
49 ayer y hoy no indican tiempos
sucesivos, sino que subrayan cam­
bios que se ven m uy próxim os.0
50 ‘azotaba sin causa, injustamen­
te’ ; el látigo era la correa con que se
azotaba a los siervos.0
51 ‘niño débil’ ; es un arcaísmo.0
Situación frecuente en los libros
de caballerías; la encrucijada, en el
folclore universal, es el punto en
que el héroe se enfrenta con su des­
tino.0
A V E N T U R A D E LO S M E R C A D E R E S
73
do a la voluntad del rocín la suya ,53 el cual siguió su primer in­
tento, que fue el irse camino de su caballeriza. Y , habiendo an­
dado como dos millas ,54 descubrió don Q uijote un grande tro­
pel de gente, que, como después se supo, eran unos mercaderes
toledanos que iban a comprar seda a M urcia .55 Eran seis, y v e ­
nían con sus quitasoles,56 con otros cuatro criados a caballo y
tres mozos de muías a pie. Apenas los divisó don Q uijote,
cuando se imaginó ser cosa de nueva aventura; y, por imitar en
todo cuanto a él le parecía posible los pasos que había leído en sus
libros ,57 le pareció venir allí de m olde 58 uno que pensaba hacer.
Y , así, con gentil continente y denuedo, se afirmó bien en los
estribos, apretó la lanza, llegó la adarga al pecho y, puesto en la
mitad del camino, estuvo esperando que aqueËos caballeros an­
dantes llegasen, que ya él por tales los tenía y juzgaba; y, cuan­
do llegaron a trecho que se pudieron ver y oír ,59 levantó don
Q uijote la voz y con ademán arrogante dijo:
-T o d o el mundo se tenga ,60 si todo el mundo no confiesa
que no hay en el mundo todo doncella más hermosa que la
Emperatriz de la Mancha, la sin par D ulcinea del T oboso .61
Paráronse los mercaderes al son destas razones, y a ver la estraña figura del que las decía; y por la figura y por las razones lue­
go echaron de ver la locura de su dueño, mas quisieron ver des­
pacio en qué paraba aquella confesión que se les pedía, y uno
dellos, que era un poco burlón y m uy mucho discreto ,62 le dijo:
53 La situación, análoga a la de I,
2, 49 (y n. 17), presenta un eco del
romance del Marqués de Mantua,
que informa estos primeros capítu­
los y abre I, 5: «El marqués muy
enojado / la rienda le fue a soltare, /
por do el caballo quería / lo dejaba
caminare».0
54 Son un poco menos de cuatro
kilómetros.
55 M urcia era la productora prin­
cipal de telas de seda, cuyo uso en
España se consideraba excesivo.0
56 ‘sombrillas que se sujetaban a la
silla de montar’ .
57 paso: ‘j u ego caballeresco en el
que se defendía el paso por un lugar
determinado’ .0
58 ‘m uy oportunamente’ .
59 ‘a distancia suficiente’.
60 ‘todos se detengan’ .0
no confiesa·, es la condición para
dejar pasar o entablar la batalla; sin
par: ‘única’, aplicado a Oriana en el
Amadís de Gaula. Según la tradición
del amor cortés, la amada era m ode­
lo de perfecciones y de virtudes.0
62
‘j uicioso, sagaz e ingenioso’;
discreto y discreción son indicadores de
un estilo de comportamiento m uy
estimado en los siglos x v i y x v n
(véase I, Prólogo, 9, n. 3),
74
PR IM ERA PA RTE
· C A PÍT U LO IIII
—Señor caballero, nosotros no conocemos quién sea esa bue­
na señora que decís; mostrádnosla, que, si ella fuere de tanta
hermosura como significáis, de buena gana y sin apremio algu­
no confesaremos la verdad que por parte vuestra nos es pedida.
—Si os la mostrara -replicó don Q u ijo te-, ¿qué hiciérades
vosotros en confesar una verdad tan notoria ?63 La importancia
está en que sin verla lo habéis de creer, confesar, afirmar, jurar
y defender ;64 donde n o ,65 conm igo sois en batalla, gente desco­
munal y soberbia .66 Q ue ahora vengáis uno a uno, com o pide
la orden de caballería, ora todos juntos, com o es costumbre y
mala usanza de los de vuestra ralea, aquí os aguardo y espero,
confiado en la razón que de m i parte tengo.
-S e ñ o r caballero -rep licó el m ercader—, suplico a vuestra
m erced en nombre de todos estos príncipes que aquí estamos
que, porque no encarguemos nuestras conciencias 67 confesando
una cosa por nosotros jamás vista ni oída ,68 y más siendo tan en
perjuicio de las emperatrices y reinas del Alcarria y Estremadu­
ra, que vuestra merced sea servido de mostrarnos algún retrato
de esa señora, aunque sea tamaño com o un grano de trigo ;69
que por el hilo se sacará el ovillo 70 y quedaremos con esto sa­
tisfechos y seguros, y vuestra merced quedará contento y paga­
do ;71 y aun creo que estamos ya tan de su parte, que, aunque su
retrato nos muestre que es tuerta de un ojo y que del otro le
mana bermellón y piedra azufre ,72 con todo eso, por complacer
a vuestra merced, diremos en su favor todo lo que quisiere.
6> ‘tan evidente’.0
f’4 Son las obligaciones que im po­
ne la fe a todo cristiano.0
6S ‘en caso contrario’.0
“ Estos apelativos se aplican a la
raza de los gigantes y, por metáfora,
a los desalmados y descreídos; véase
I, i, 4 3 , n. 37.
67 ‘no tengamos cargo de con­
ciencia’ (II, 7, 744); la expresión
pertenece a la terminología jurídica.0
68 Las objeciones del mercader re­
cuerdan las de E l cabañero de la Cruz,
I, 1 1 5 : «No lo puedo yo decir eso,
porque no la conozco; y puesto que
la hobiese visto, yo no he visto to­
das las otras del mundo para juzgar
que ella sea la más hermosa».0
69 sea tamaño como: ‘tenga el tama­
ño de’ ; la comparación con un gra­
no, para encarecer la pequeñez, es
tradicional.0
70 ‘por la muestra se deducirá el
original’; es refrán (I, 23, 276, n. 3 1).
71 ‘quedará satisfecho’; es fórmula de
escribano en los contratos y recibos.0
72 ‘supura minio y azufre’ ; los dos
componentes son venenosos.0
15
A V E N T U R A D E LO S M E R C A D E R E S
75
- N o le mana, canalla infame —respondió don Q uijote en­
cendido en cólera-, no le mana, digo, eso que decís, sino ám­
bar y algalia entre algodones ;73 y no es tuerta ni corcovada ,74
sino más derecha que un huso de Guadarrama .75 Pero vosotros
pagaréis la grande blasfemia que habéis dicho contra tamaña
beldad como es la de mi señora.
Y , en diciendo esto, arremetió con la lanza baja contra el que
lo había dicho, con tanta furia y enojo, que si la buena suerte
no hiciera que en la mitad del camino tropezara y cayera R o ­
cinante, lo pasara mal el atrevido mercader. C ayó R ocinante, y
fue rodando su amo una buena pieza por el campo ;76 y, que­
riéndose levantar, jamás pudo :77 tal embarazo le causaban la lan­
za, adarga, espuelas y celada, con el peso de las antiguas armas.
Y , entre tanto que pugnaba por levantarse y no podía, estaba
diciendo:
- N o n fuyáis, gente cobarde; gente cautiva, atended 78 que no
por culpa mía, sino de mi caballo, estoy aquí tendido .79
U n mozo de muías de los que allí venían, que no debía de
ser m uy bienintencionado, oyendo decir al pobre caído tantas
arrogancias, no lo pudo sufrir sin darle la respuesta en las costi­
llas. Y , Hegándose a él, tomó la lanza y, después de haberla he­
cho pedazos ,80 con uno dellos comenzó a dar a nuestro don
73 Son sustancias aromáticas, de
mucho precio, que se empleaban
para la fabricación de ungüentos y
pomadas; los pomos, de cristal fino,
se guardaban entre algodones para
que no se quebrasen.0
74 tuerta: aquí, ‘torcida’; antes era
‘falta de un o jo ’ .
75 huso: ‘aparato donde se tuerce la
hebra cuando se hila’; el huso era tér­
mino de comparación proverbial para
lo derecho, y, por otra parte, es posi­
ble que se aluda a la ’buena calidad de
las maderas de Guadarrama.0f 15
76 una buena pieza: ‘un buen tre­
ch o’ . A quí pieza se refiere al espa­
cio, y otras veces al tiempo (I, 7, 97,
n. 18).0
77 ‘nó pudo de ninguna manera, le
fue imposible’; es el mismo uso de
jamás encontrado en I, 3, 59, η. 4.0
78 fuyáis: ‘huyáis’ (se esperaría fu yades); gente: ‘grupo de personas que
tiene algo en com ún’; cautiva: ‘m ez­
quina, miserable’ (I, 8, n i , n. 58);
atended: ‘esperad’ ; DQ vuelve a uti­
lizar el lenguaje arcaico, o fabla.
19 La disculpa proviene del Orlan­
do furioso, I, 67, aunque se encuen­
tran casos similares en otros textos.0
80 Se parodia cruelmente el romper
lanzas de los pasos caballerescos;
aquí es un acemilero -o ficio que su­
pone una bajísima condición social,
propia de moriscos— el que se la
rompe a D Q .°
76
PR IM ERA PA R T E
· C A PÍT U LO V
Q uijote tantos palos, que, a despecho y pesar de sus armas, le
molió como cibera .81 Dábanle voces sus amos que no le diese
tanto y que le dejase; pero estaba ya el mozo picado y no quiso
dejar el ju ego hasta envidar todo el resto de su cólera ;82 y, acu­
diendo por los demás trozos de la lanza, los acabó de deshacer
sobre el miserable caído, que, con toda aquella tempestad de pa­
los que sobre él llovía ,83 no cerraba la boca, amenazando al cie­
lo y a la tierra, y a los malandrines,84 que tal le parecían.
Cansóse el m ozo, y los mercaderes siguieron su camino, lle­
vando que contar en todo él del pobre apaleado. E l cual, des­
pués que se vio solo, tornó a probar si podía levantarse; pero si
no lo pudo hacer cuando sano y bueno, ¿cómo lo haría m oli­
do y casi deshecho? Y aun se tenía por dichoso, pareciéndole
que aquélla era propia desgracia de caballeros andantes, y toda
la atribuía a la falta de su caballo; y no era posible levantarse,
según tenía brumado todo el cuerpo .85
C A P ÍT U L O V
Donde se prosigue ¡a narración de la desgracia
de nuestro caballero
Viendo, pues, que, en efeto, no podía menearse, acordó de
acogerse a su ordinario remedio, que era pensar en algún paso
de sus libros ,1 y trújole su locura a la memoria aquél de Valdovinos y del marqués de Mantua, cuando Carloto le dejó heri81 ‘le dejó hecho harina’ (I, 44,
565; II, 28, 943); cibera: ‘grano que
se echa entre las muelas del molino
para cebarlo’ .
82 E n los juegos de naipes, picado
equivale a ‘enganchado en la parti­
da’; envidar el resto: ‘apostar todo lo
que le queda a uno’ , aquí metafóri­
camente, ‘vaciar toda su cólera’ (II,
66, 12 8 1, n. 29).
83 La primera edición, por errata,
trae via ‘veía’ .D
84
‘salteadores, maleantes, bella­
cos’ ; es probable italianismo.“
8s brumado: ‘magullado’ (II, 55,
1 1 8 1 ) .0
‘ ‘algún episodio de sus libros’ (la
misma frase, con sentido diferente,
se encuentra en I, 4, 73); pero como
en los libros de cabállerías no hay
ninguna derrota tan infamante, le
viene a la memoria el romance del
Marqués de Mantua, com o sucede
LA V U ELT A AL HOGAR
77
do en la m ontiña ,2 historia sabida de los niños ,3 no ignorada de
los mozos, celebrada y aun creída de los viejos, y, con todo
esto, no más verdadera que los milagros de M ahom a .4 Ésta,
pues, le pareció a él que le venía de molde para el paso en que
se hallaba, y así, con muestras de grande sentimiento, se co ­
menzó a volcar por la tierra 5 y a decir con debilitado aliento lo
mesmo que dicen decía el herido caballero del bosque:
—¿Dónde estás, señora mía,
que no te duele mi mal?
O no lo sabes, señora,
o eres falsa y desleal.6
Y desta manera fue prosiguiendo el romance, hasta aquellos
versos que dicen:
- ¡O h noble marqués de Mantua,
m i tío y señor carnal!7
Y quiso la suerte que, cuando llegó a este verso, acertó a pasar por
allí un labrador de su mesmo lugar y vecino suyo, que venía de
llevar una carga de trigo al molino ;8 el cual, viendo aquel hom ­
bre allí tendido, se llegó a él y le preguntó que quién era y qué
mal sentía, que tan tristemente se quejaba. D on Quijote creyó sin
en el anónimo Entremés de los roman­
ces, en el que Bartolo, el protagonis­
ta, apaleado con su propia lanza, re­
cuerda ese mismo romance.0
3 ‘espesura con árboles, bosque’;
Carloto es el hijo de Carlomagno, y
el herido es Valdovinos. Los roman­
ces de Valdovinos y del Marqués de
Mantua derivan de la leyenda fran­
cesa de O gier li Danois; tanto el ro­
mance como el término vuelven a
recordarse en II, 23, 903,°
3 E l larguísimo romance se emplea­
ba en las escuelas para aprender a leer.0
4 Se le atribuían como milagros
hechos triviales o perogrulladas; el Is­
lam, que C . debía conocer, rechaza
el poder taumatúrgico de Mahoma.0
s ‘comenzó a rodar, a revolcarse’ .0
6 Los versos no proceden directa­
mente del romance antiguo, sino de
una adaptación que aparece en la
Flor de varios romances nuevos de P e­
dro de M oncayo (159 1); los versos
tercero y cuarto no aparecen en el
romance viejo original.0
7 E l romance antiguo dice «mi se­
ñor tío carnal»; la versión quijotesca
no sólo es disparatada, sino suena
h oy divertidamente obscena.0
8 una carga: ‘dos talegadas, de dos
arrobas cada una, si es de trigo’ .0
78
PR IM ERA PA RTE
· C A PÍTU LO V
16v
duda que aquél era el marqués de Mantua, su tío, y, así, no le res­
pondió otra cosa sino fue proseguir en su romance, donde le daba
cuenta de su desgracia y de los amores del hijo del Emperante con
su esposa,9 todo de la mesma manera que el romance lo canta.
E l labrador estaba admirado oyendo aquellos disparates; y
quitándole la visera, que ya estaba hecha pedazos, de los palos,
le lim pió el rostro, que le tenía cubierto de polvo; y apenas le
hubo limpiado, cuando le conoció 10 y le dijo:
—Señor Q uijana" -q u e así se debía de llamar cuando él tenía
ju icio y no había pasado de hidalgo sosegado a caballero an­
dante-, ¿quién ha puesto a vuestra merced desta suerte?
Pero él seguía con su romance a cuanto le preguntaba. V ien ­
do esto el buen hombre, lo m ejor que pudo le quitó el peto y
espaldar, para ver si tenía alguna herida, pero no vio sangre ni
señal alguna. Procuró levantarle del suelo, y no con poco tra­
bajo le subió sobre su jum ento, por parecerle caballería más so­
segada. R eco g ió las armas, hasta las astillas de la lanza, y liólas
sobre Rocinante, al cual tomó de la rienda, y del cabestro al
asno, y se encaminó hacia su pueblo, bien pensativo de oír los
disparates que don Q uijote decía; y no menos iba don Q uijo­
te, que, de puro m olido y quebrantado, no se podía tener so­
bre el borrico y de cuando en cuando daba unos suspiros, que
los ponía en el cielo ,12 de m odo que de nuevo obligó a que el
labrador le preguntase le dijese qué mal sentía ;13 y no parece
sino que el diablo le traía a la memoria los cuentos acomoda­
dos a sus sucesos, porque en aquel punto, olvidándose de V aldovinos, se acordó del moro Abindarráez , 14 cuando el alcaide
9 Emperante: ‘Emperador’; se re­
fiere a Carlom agno.0
10 La acción del labrador coincide
con lo que el romance dice de D a­
niel U rgel al encontrar a Valdovinos
malherido.0
11 E l labrador Pedro Alonso es el
único personaje de la Primera parte
que llama al protagonista por su
propio nom bre.“
12 ‘que eran m uy fuertes’ .
13 preguntase: ‘suplicase, rogase’ ; la
frase completa significa: ‘le hiciese
preguntas para que le dijese qué do­
lor sentía’ .0
14
Se trata de la historia de E l
Abencerraje y la hermosa Jarifa, in­
cluida en el Inventario de A ntonio
de Villegas, y recogida en el libro
IV de La Diana de Jo rge de M o n tem ayor a partir de la edición de
Valladolid de 15 6 1, a la que C . se
refiere. Tam bién se difundió en ro­
mances.0
LA V U E L T A A L H OGAR
79
de Antequera, R o d rig o de Narváez, le prendió y llevó cautivo
a su alcaidía . '5 D e suerte que, cuando el labrador le volvió a
preguntar que cómo estaba y qué sentía, le respondió las mesmas palabras y razones que el cautivo Abencerraje respondía a
R o d rig o de Narváez, del mesmo modo que él había leído la
historia en La Diana de Jo rge de M ontem ayor, donde se escri­
be; aprovechándose della tan a propósito, que el labrador se iba
dando al diablo 16 de oír tanta máquina de necedades; por don­
de conoció que su vecino estaba loco, y dábale priesa a llegar
al pueblo por escusar el enfado 17 que don Q uijote le causaba
con su larga arenga . '8 A l cabo de lo cual dijo:
—Sepa vuestra merced, señor don R odrigo de Narváez, que
esta hermosa Jarifa que he dicho es ahora la linda Dulcinea del
Toboso, por quien yo he hecho, hago y haré los más famosos he­
chos de caballerías que se han visto, vean ni verán en el mundo.
A esto respondió el labrador:
—M ire vuestra merced, señor, pecador de mí, que yo no soy
don R o d rig o de Narváez, ni el marqués de Mantua, sino Pe­
dro Alonso, su vecino; ni vuestra merced es Valdovinos, ni
Abindarráez, sino el honrado hidalgo del señor Quijana.
—Y o sé quién soy ' 9 -respondió don Q uijote-, y sé que pue­
do ser, no sólo los que he dicho, sino todos los D oce Pares de
Francia ,20 y aun todos los nueve de la Fama,2' pues a todas las
hazañas que ellos todos juntos y cada uno por sí hicieron se
aventajarán las mías .22
15 ‘plaza fuerte gobernada por un
alcaide’ (véase I, 2, 54, n. 62); R o ­
drigo de Narváez fue el primero de
Antequera, después de su conquista.
16 ‘iba maldiciéndose’ .
17 ‘librarse del hastio’.
18 ‘perorata, retahila de palabras’
«que se pudiera m uy bien escusar»
(I, II, 135)·
19 A menudo se ha entendido que
DQ afirma en esta frase su fe en sí
mismo y en su misión.0
20 Los doce paladines que forma­
ban el séquito de Carlomagno, per­
sonajes de num erosos rom ances.0
21 N ueve hombres que podían ser­
vir de ejemplo para los caballeros;
eran tres judíos —
Josué, David yju das
Macabeo—, tres paganos -Alejandro,
Héctor y Julio César— y tres cristia­
nos —Arturo, Carlomagno y G odofredo de Bullón. Se cuentan sus vidas
en la Crónica llamada del triunfo de los
nueve más preciados varones de la Fama,
traducida por Antonio Rodríguez
Portugal (Lisboa, Galharde, 1530) y
varias veces reimpresa en el siglo x v i.°
22 ‘sobrepasarán las mías’ .
8ο
PR IM ERA PA RTE
· C APÍTU LO V
17
En estas pláticas y en otras semejantes llegaron al lugar, a la
hora que anochecía, pero el labrador aguardó a que fuese algo
más noche, porque no viesen al molido hidalgo tan mal caba­
llero .23 Llegada, pues, la hora que le pareció, entró en el pue­
blo, y en la casa de don Q uijote, la cual halló toda alborotada,
y estaban en ella el cura y el barbero del lugar, que eran gran­
des amigos de don Q uijote, que estaba diciéndoles su ama a
voces:
-¿Q u é le parece a vuestra merced, señor licenciado Pero Pé­
rez -q u e así se llamaba el cura-, de la desgracia de m i señor?
Tres días ha que no parecen él, ni el rocín, ni la adarga, ni la
lanza, ni las armas.24 ¡Desventurada de mí!, que me doy a en­
tender, y así es ello la verdad como nací para morir, que estos
malditos libros de caballerías que él tiene y suele leer tan de or­
dinario le han vuelto el ju icio; que ahora me acuerdo haberle
oído decir muchas veces, hablando entre sí, que quería hacer­
se caballero andante e irse a buscar las aventuras por esos m un­
dos. Encomendados sean a Satanás y a Barrabás tales libros, que
así han echado a perder el más delicado entendimiento que ha­
bía en toda la M ancha .25
La sobrina decía lo mesmo, y aún decía más:
-Sepa, señor maese Nicolás (que éste era el nombre del bar­
bero), que muchas veces le aconteció a mi señor tío estarse le­
yendo en estos desalmados libros de desventuras 26 dos días con
sus noches, al cabo de los cuales arrojaba el libro de las manos,
y ponía mano a la espada, y andaba a cuchilladas con las pare­
des; y cuando estaba m uy cansado decía que había muerto a
cuatro gigantes como cuatro torres ,27 y el sudor que sudaba del
23 La expresión tiene el significa­
do ambivalente de ‘montado en ani­
mal que no le corresponde’ y ‘caba­
llero armado de mala manera’ .“
24 Según se cuente, hace dos o tres
días que DQ falta de casa.°°
25 delicado: ‘fino, sutil’, pero tam­
bién con el valor de ‘débil, enfer­
m izo’.
26 Se llamaban aventuras los pasos
de los libros de caballerías, pero aven­
tura equivalía también a ‘ventura, for­
tuna’; de ahí el ju ego de palabras.“
27 La misma comparación se halla
en Espejo de caballerías: «La linda
Bradam onte y Aquilante y Grifón y
M algesí encontraron los cuatro fie­
ros gigantes, que como cuatro torres los
estaban esperando». Véase I, 6, 86,
n. 25.°
LA V U E L T A AL H OGAR
8l
cansancio decía que era sangre de las feridas que había recebido en la batalla, y bebíase luego un gran jarro de agua fría ,28 y
quedaba sano y sosegado, diciendo que aquella agua era una
preciosísima bebida que le había traído el sabio Esquife ,29 un
grande encantador y amigo suyo. Mas yo me tengo la culpa de
todo, que no avisé a vuestras mercedes de los disparates de mi
señor tío, para que los remediaran antes de llegar a lo que ha
llegado, y quemaran todos estos descomulgados libros, que tie­
ne muchos que bien merecen ser abrasados, como si fuesen de
herejes.
—Esto digo yo también —dijo el cura-, y a fee que no se pase
el día de mañana sin que dellos no se haga acto público ,30 y sean
condenados al fuego, porque no den ocasión a quien los leye­
re de hacer lo que mi buen amigo debe de haber hecho.
T od o esto estaban oyendo el labrador y don Quijote, con
que acabó de entender el labrador la enfermedad de su vecino
y, así, comenzó a decir a voces:
—Abran vuestras mercedes al señor Valdovinos y al señor
marqués de Mantua, que viene m alferido ,31 y al señor m oro
Abindarráez, que trae cautivo el valeroso R o d rig o de Narváez,
alcaide de Antequera.
A estas voces salieron todos, y como conocieron los unos a
su amigo, las otras a su amo y tío, que aún no se había apeado
del jum ento, porque no podía, corrieron a abrazarle. El dijo:
-T énganse todos, que vengo malferido, por la culpa de mi
caballo. Llévenm e a mi lecho, y llámese, si fuere posible, a la
sabia Urganda, que cure y cate de mis feridas .32
—¡Mirá, en hora maza33 —dijo a este punto el ama—, si me dePara calmar la cólera, porque
«se le secó el celebro» (I, i, 42).°
29 Deform ación de Alquife el en­
cantador, esposo de Urganda la des­
conocida, que aparece en el ciclo de
los Amadises y es .también el autor
supuesto del Amadís de Grecia; esqui­
fe en gemianía equivale a ‘rufián’ ,
pero el nombre se podría remontar
al italiano schifo (‘asco’).0
30 ‘lectura y ejecución pública de
la sentencia de un tribunal, y espe­
cialmente las de la Inquisición en
auto de fe’; en I, 26, 322, se le llama
acto general de los libros,°
31 Pedro Alonso confunde los per­
sonajes, porque el herido no fue el
Marqués de Mantua, sino Valdovinos.0
32 ‘cuide y tenga cuenta de mis
heridas’, con expresión arcaica.“
33 ‘Mirad, en hora mala’, expre­
sión eufemística, para no atraerla.0
82
PR IM ERA PARTE
■ C A PÍTU LO V
cía a m í bien mi corazón del pie que cojeaba mi señor !34 Suba
vuestra merced en buen hora, que, sin que venga esa hurgada ,35
le sabremos aquí curar. ¡Malditos, digo, sean otra vez y otras
ciento estos libros de caballerías, que tal han parado a vuestra
m erced !36
Lleváronle luego a la cama, y, catándole las feridas, no le ha­
llaron ninguna; y él dijo que todo era molimiento, por haber
dado una gran caída con Rocinante, su caballo, combatiéndo­
se con diez jayanes ,37 los más desaforados y atrevidos que se pu­
dieran fallar en gran parte de la tierra .38
-¡T a , ta! -d ijo el cura-. ¿Jayanes hay en la danza? Para mi san­
tiguada 39 que yo los queme mañana antes que llegue la noche.
H iriéronle a don Q uijote m il preguntas, y a ninguna quiso
responder otra cosa sino que le diesen de com er y le dejasen
dorm ir ,40 que era lo que más le importaba. Hízose así, y el cura
se informó m uy a la larga del labrador del m odo que había ha­
llado a don Quijote. E l se lo contó todo, con los disparates que
al hallarle y al traerle había dicho, que fue poner más deseo en
el licenciado de hacer lo que otro día hizo ,41 que fue llamar a
su amigo el barbero maese Nicolás, con el cual se vino a casa
de don Quijote.
34 ‘cuál era el punto débil de mi
señor’ °
35 ‘Urganda’, con una deformación
de claro sentido obsceno.00
36 han parado: ‘han puesto’ .
37 ‘gigantes’.0
38fallar: ‘hallar’, arcaísmo.
35
‘Por mi cara santiguada’, forma
de juramento por la que uno se
compromete consigo mismo a hacer
algo (II, 20, 863).0
40 Según las creencias de la época, el
insomnio provocaba un resecamiento
del cerebro y llevaba a la locura (véase
I, i, 42 n. 31); el profundo sueño en el
que cae DQ al final de cada salida res­
tablece en él cierto grado de equilibrio.0
41 otro día: ‘al día siguiente’.0
1 8V
EL E S C R U T I N I O D E L A B I B L I O T E C A
83
C A P ÍT U L O V I
Del donoso y grande escrutinio que el cura y el barbero
hicieron en ¡a librería de nuestro ingenioso hidalgo
E l cual aún todavía dorm ía .1 Pidió las llaves a la sobrina del
aposento donde estaban los libros autores del daño, y ella se las
dio de m uy buena gana. Entraron dentro todos, y la ama con
ellos, y hallaron más de cien cuerpos de libros grandes, m uy
bien encuadernados ,2 y otros pequeños; y, así como el ama los
v io ,3 volviose a salir del aposento con gran priesa, y tomó lu e­
go con una escudilla de agua bendita y un hisopo ,4 y dijo:
—T om e vuestra merced, señor licenciado; rocíe este aposen­
to, no esté aquí algún encantador de los muchos que tienen es­
tos libros, y nos encanten, en pena de las que les queremos dar
echándolos del m undo .5
Causó risa al licenciado la simplicidad del ama6 y mandó al
barbero que le fuese dando de aquellos libros uno a uno, para
ver de qué trataban, pues podía ser hallar algunos que no m e­
reciesen castigo de fuego .7
- N o -d ijo la sobrina—, no hay para qué perdonar a ninguno,
porque todos han sido los dañadores: m ejor será arrojallos por
' La frase depende de la última del prenderse ciertas preferencias lite­
capítulo anterior; el sujeto de la ora­
rarias de Cervantes.0
3 así como: ‘en cuanto, tan pronto
ción siguiente es el cura: ‘DQ dor­
com o’ .
mía... E l cura pidió a la sobrina las
4 ‘un cuenco de agua bendita y
llaves...’. Véase I, 4, 67, n. i.°
2
‘tomos en folio encuadernados una ramita de hisopo’ ; no era extra­
ño tener en las casas un poco de
en pasta’ ; para la época, una b iblio­
agua bendita con que llenar las pilas
teca de cien infolios y otros m u­
que había en algunas habitaciones o
chos de tamaño m enor era conside­
a la entrada del edificio.0
rable. E l aprecio del hidalgo por
5 ‘en castigo de las penas del in­
ellos y el dinero gastado se m ues­
tra en el decir que están muy bien fierno al que han de volver tras el
exorcism o’ .0
encuadernados, no protegidos sim ­
6 simplicidad: ‘ingenuidad’.
plemente, pues, con las habituales
7 Se continúa la alegoría del acto
cubiertas de pergamino. D e l escru­
tinio de la biblioteca del hidalgo público, y ahora sí de Inquisición,
que se había iniciado en I, 5, 8 i.°
que aquí comienza pueden des­
84
PR IM ERA PA RTE
· C A PÍT U LO VI
19
las ventanas al patio y hacer un rimero dellos 8 y pegarles fuego;
y, si no, llevarlos al corral, y allí se hará la hoguera, y no ofen­
derá el hum o .9
Lo mismo dijo el ama: tal era la gana que las dos tenían de la
muerte de aquellos inocentes; mas el cura no vino en e!lo'ü sin
primero leer siquiera los títulos. Y el primero que maese N i­
colás le dio en las manos fue Los cuatro de Amadís de Gaula,11 y
dijo el cura:
-P arece cosa de misterio ésta,12 porque, según he oído decir,
este libro fue el primero de caballerías que se imprim ió en Es­
paña, y todos los demás han tomado principio y origen déste;
y, así, me parece que, com o a dogmatizador de una secta tan
mala, le debemos sin escusa alguna condenar al fuego.
- N o , señor -d ijo el barbero-, que también he oído decir que
es el m ejor de todos los libros que de este género se han com ­
puesto; y así, como a único en su arte, se debe perdonar.
-A s í es verdad -d ijo el cura-, y por esa razón se le otorga la
vida por ahora. Veamos esotro que está junto a él.
-E s -d ijo el barbero- Las sergas de Esplandián,13 hijo legítimo
de Amadís de Gaula . '4
8 ‘un m ontón con ellos’ .
9 ‘no molestará el hum o’ .
10 ‘no consintió en ello’ .0
“ Los cuatro libros del virtuoso caba­
llero Amadís de Gaula; según lo que
C . sabía, es, como dice el cura, el
primer libro de caballerías impreso
en España, puesto que no conocía la
primera edición catalana del Tirant
lo Blanc -só lo había visto la traduc­
ción castellana—ni la rarísima del Z ifar; de todas formas, si no el primero
impreso, sí fue aquél del que tomaron
principio y origen todos los demás. La
versión que se imprime a lo largo
del X V I es la refundición hecha por
Garcí R odríguez de M ontalvo de
una versión más antigua.0
12 ‘parece algo providencial’ .0
13 Continuación natural del Am a­
dís, cuyo título completo es E l ramo
que de los cuatro libros de Amadís de
Gaula sale, llamado de las sergas del
muy esforzado caballero Esplandián,
hijo del excelente rey Amadís de Gau­
la; fue escrita por el mismo M o n ­
talvo que refundió el Amadís, quien
aprovechó las alusiones a Esplan­
dián que aparecían en el manuscri­
to del Amadís prim itivo, m odificó
su final y convirtió a aquél en el
protagonista de un nuevo libro. Se­
gún M ontalvo, sergas significa ‘proe­
zas’ ; véase II, 7 1 , 13 14 , n. 30, para
sargas.0
14 Esplandián, hijo natural de Ama­
dís y Oriana, se convierte en legítimo
con la boda final de sus padres (IV,
125). Véase I, «La señora...», p. 28,
v. 14.
EL E S C R U T I N I O D E L A B I B L I O T E C A
85
—Pues en verdad -d ijo el cura— que no le ha de valer al hijo
la bondad del padre. Tom ad, señora ama, abrid esa ventana y
echadle al corral, y dé principio al montón de la hoguera que
se ha de hacer.
Hízolo así el ama con m ucho contento, y el bueno de Esplandián fue volando al corral, esperando con toda paciencia el
fuego que le amenazaba.
-Adelante -d ijo el cura.
-E ste que viene -d ijo el barbero—es Amadís de Grecia,15 y aun
todos los deste lado, a lo que creo, son del mesmo linaje de
Amadís.
—Pues vayan todos al corral -d ijo el cura—, que a trueco de
quemar a la reina Pintiquiniestra ,16 y al pastor Darinel, y a sus
églogas, y a las endiabladas y revueltas razones de su autor, que­
maré con ellos al padre que me engendró, si anduviera en fi­
gura de caballero andante.
-D e ese parecer soy yo -d ijo el barbero.
—Y aun yo —añadió la sobrina.
-P u es así es -d ijo el ama—, vengan, y al corral con ellos.
Diéronselos, que eran muchos, y ella ahorró la escalera y dio
con ellos por la ventana abajo.
—¿Quién es ese tonel ?17 —dijo el cura.
—Este es -respondió el barbero- Don Olivante de Laura.1*
—E l autor de ese libro -d ijo el cura—fue el mesmo que com ­
puso a Jardín deflores,19 y en verdad que no sepa determinar cuál
de los dos libros es más verdadero o, por decir mejor, menos
mentiroso; sólo sé decir que éste irá al corral, por disparatado y
arrogante.
15 E l Amadís de Grecia, de Feliciano
de Silva (citado en I, 1, 40, y n. 19), es
el noveno de la serie de los Amadises.
El cura manifiesta cierta admiración
no sólo por algunos personajes, sino
también por las églogas y por el estilo
del libro, a pesar de las endiabladas y re­
vueltas razones con que se manifiesta.0
16 a trueco: ‘a cambio, con tal de’
(véase I, 13 , 148, n. 7).
17 Por alusión al tamaño del volu­
men (en realidad, no tan grueso).0
18 Se trata de la Historia del invenci­
ble caballero don Olivante de Laura,
príncipe de Macedonia, que por sus ad­
mirables hazañas vino a ser emperador
de Constantinopla (1564), de Antonio
de Torquem ada.0
19 E l Jardín de flores curiosas, de A n ­
tonio de Torquemada, es un centón
de noticias extrañas que sirvieron de
fuente a algunos pasajes del Persiles,°
86
PR IM ERA PARTE
· C A PITU LO VI
-E ste que se sigue es Florismarte de Hircanicf0 -d ijo el barbero.
—¿Ahí está el señor Florismarte? —replicó el cura-. Pues a fe
que ha de parar presto en el corral, a pesar de su estraño naci­
miento y soñadas aventuras, que no da lugar a otra cosa la du­
reza y sequedad de su estilo. A l corral con él, y con esotro, se­
ñora ama.
-Q u e me place, señor m ío -respondía ella; y con mucha ale­
gría ejecutaba lo que le era mandado.
—Este es E l caballero Platir21 -d ijo el barbero.
-A n tigu o libro es ése —dijo el cura—, y no hallo en él cosa que
merezca venia.22 Acom pañe a los demás sin réplica.
Y
así fue hecho. Abrióse otro libro y vieron que tenía por tí­
tulo E l caballero de la Cruz.23
- P o r nombre tan santo como este libro tiene, se podía per­
donar su ignorancia; mas también se suele decir «tras la cruz
está el diablo».24 Vaya al fuego.
Tom ando el barbero otro libro, dijo:
-E ste es Espejo de caballerías,2S
20 Se trata de la Primera parte de la
grande historia del muy animoso y esfor­
zado príncipe Felixmarte de Hircania y
de sit estraño nascimiento (1556), de
M elchor Ortega; lo estraño de su na­
cimiento fue el parto de su madre en
despoblado, en circunstancias que re­
cuerdan levemente las de la Comedia
Rubetia de G il Vicente. E n el cuer­
po de la obra, el protagonista cam­
bia su nombre de Florismarte por el
de Felixmarte, con el que se citará
en el Q. otras veces. Hircania era una
región del Asia M enor cuyos habi­
tantes y animales se caracterizaban
por su crueldad.™
21 La crónica del muy valiente y esfor­
zado caballero Platir, hijo del invencible
emperador Primaleón (1533), anóni­
ma, es el tercer libro de la serie de
los Palmerines; sus hazañas o su esti­
lo no debían de parecer gran cosa a
D Q , cuando puede decir que «no
había de ser tan desdichado tan buen
caballero, que le faltase a él lo que
sobró a Platir y a otros semejantes»
(I, 9, 116).0
22 ‘merezca perdón’ .
23 Se com pone de dos libros: el
primero es La crónica de Lepolemo,
llamado el caballero de la Cruz (15 2 1),
de Alonso de Salazar; el segundo,
Leandro el Bel (1563), donde se aña­
den las hazañas del hijo de Lepole­
mo, traducido del italiano por Pedro
de Luxán, autor también de unos
Coloquios matrimoniales m uy popula­
res. N o sabemos a cuál de los dos li­
bros puede referirse el cura.0
24 ‘detrás de lo que aparenta ser lo
m ejor o más santo, puede ocultarse
lo m alo’ o ‘bajo visos de santidad se
encuentra la hipocresía’;'e s refrán.0
25 Es, en parte, adaptación, en
prosa, del Orlando innamorato de
Boiardo, hecha en sus dos primeros
EL E S C R U T I N I O D E L A B I B L I O T E C A
87
- Y a conozco a su merced -d ijo el cura—. Ahí anda el señor
Reinaldos de Montalbán con sus amigos y compañeros, más la­
drones que C aco ,26 y los D oce Pares, con el verdadero histo­
riador T urpín ,27 y en verdad que estoy por condenarlos no más
que a destierro perpetuo, siquiera porque tienen parte de la in­
vención del famoso M ateo B o yardo ,28 de donde también tejió
su tela29 el cristiano poeta Ludovico Ariosto ;30 al cual, si aquí le
hallo, y que habla en otra lengua que la suya,3' no le guardaré
respeto alguno, pero, si habla en su idioma, le pondré sobre mi
cabeza .32
—Pues yo le tengo en italiano -d ijo el barbero-, mas no le entiendo.
30 Autor del Orlando furioso, uno
libros por Pedro López de Santama­
ría y en el tercero por Pedro de
de los posibles impulsos originadoReinosa. Las tres partes unidas se res del Q., a pesar de la diversa in­
publicaron en M edina por Francisco
tención. E l inesperado epíteto cris­
del Canto en 1586: a este conjunto
tiano quizá se deba a que C. lo leyó
en la edición de Valvassore, que lo
parece referirse el licenciado Pero
Pérez. Es el único libro del ciclo ca- ponderaba como tal; la Inquisición
rolingio que se cita en la biblioteca
mandó expurgar algunos trozos del
poema.0
del hidalgo.0
26 Véase I, Prólogo, 17, n. 7 1.
31 Hasta 1605 el Orlando furioso ha­
27 A l histórico consejero de Car­
bía tenido tres traducciones al espa­
ñol: la de Jerónim o Jiménez de Urrea
lomagno, arzobispo de Reim s, y
muerto con Roldán en Roncesva­
(Amberes, 1549, con muchas reedi­
ciones), la de Hernando Alcocer
lles, según la leyenda, se le atribuyó
(Toledo, 1550) y la de Diego Váz­
una Historia Caroli Magni et Rotholandi, en la que se contaba la institución
quez de Contreras (Madrid, 1585);
de los D oce Pares y las hazañas de al­
por el tratamiento de capitán que más
adelante el cura da al traductor, pare­
gunos de aquéllos. También Ariosto,
en el Orlando furioso, bromea sobre la ce que se alude a la primera de las ci­
veracidad del pseudo-Turpín; verda­ tadas. E n diversas ocasiones C . se
dero historiador se llamará también a muestra contrario a las traducciones
Cide Hamete Benengeli en repetidas
que se hacen de una lengua vulgar a
otra (II, 62, 1249).0
ocasiones.0
32 En señal de respeto, como cosa
28 Poeta italiano (14 4 1-14 9 4 ), au­
tor del Orlando ifuiamorato (o Itrna- m uy superior (I, 3 1, 392; II, 47,
110 0 ). La expresión, metafórica,
moramento de Orlando), antecesor del
procede del acto de colocar sobre la
poema de Ludovico Ariosto.
20 La metáfora en que se iguala ta­ cabeza, com o prueba de acatamien­
to y vasallaje, las órdenes reales y las
p iz o tela con la obra literaria es fre­
cuente en C .; véase I, 47, 602, n. 63,° bulas del papa.0
88
PR IM ERA PA RTE
■ C APITU LO VI
20
- N i aun fuera bien que vos le entendiérades 33 -respondió el
cura—; y aquí le perdonáramos al señor capitán que no le hu­
biera traído a España y hecho castellano, que le quitó mucho
de su natural valor, y lo mesmo harán todos aquellos que los li­
bros de verso quisieren volver en otra lengua, que, por mucho
cuidado que pongan y habilidad que muestren, jamás llegarán
al punto que ellos tienen en su primer nacimiento. D igo, en
efeto, que este libro y todos los que se hallaren que tratan des­
tas cosas de Francia 34 se echen y depositen en un pozo seco ,35
hasta que con más acuerdo se vea lo que se ha de hacer dellos,
ecetuando a un Bernardo del Carpió que anda por ahí,36 y a otro
llamado Roncesvalles;37 que éstos, en llegando a mis manos, han
de estar en las del ama, y dellas en las del fuego, sin remisión
alguna.
T od o lo confirmó el barbero y lo tuvo por bien y por cosa
m uy acertada, por entender que era el cura tan buen cristiano
y tan amigo de la verdad, que no diría otra cosa por todas las
del mundo. Y abriendo otro libro vio que era Palmerín de Oli­
va,38 y junto a él estaba otro que se llamaba Palmerín de Ingalaterra;39 lo cual visto por el licenciado, dijo:
33 Quizá se alude a los pasajes
por N icolás de Espinosa, La segun­
considerados obscenos, mitigados o
da parte del Orlando, con el verdade­
suprimidos en la traducción españo­
ro suceso de la famosa batalla de Ron­
la de Jerónim o Jim énez de Urrea.°
cesvalles (Zaragoza, 15 5 5 ; Alcalá,
H Libros del ciclo carolingio.0
1579)·0
33
‘troj, depósito subterráneo para
38 Es el primer libro (Salamanca,
guardar el grano sin que germine’ .
1 5 1 1 ) de la familia de los Palmeri36 Parece ser el poema de Agustín
nes.°
Alonso Historia de las hazañas y he­
39 Fue uno de los más admirados
chos del invencible caballero Bernardo del libros de caballerías; escrito en por­
Carpió, publicado en Toledo en 1585
tugués, fue traducido al castellano,
(véase I, 1, 42)
sin excesivo esmero, por Luis de
37 La brevedad del título no per­
Hurtado y editado en Toledo en
mite precisar si se refiere al poema
1547. Desde muy temprano corrió la
del traductor de Boiardo, Francisco
fama de ser su autor el rey don Juan
Garrido Villena, E l verdadero suceso III o II de Portugal: en el Diálogo de
de la famosa batalla de Roncesvalles
la lengua, Valdés, que condena los li­
(Valencia, 15 5 5 ; Toledo, 1583), o,
bros de caballerías, hace una excep­
menos probablemente, a la conti­
ción con éste «por cierto respeto»; es
nuación del Orlando furioso hecha
la opinión que repite el cura.0
20V
EL E S C R U T I N I O D E L A B I B L I O T E C A
89
—Esa oliva se haga luego rajas y se quem e ,40 que aun no que­
den della las cenizas, y esa palma de Ingalaterra se guarde y se
conserve como a cosa única, y se haga para ello otra caja como
la que halló Alejandro en los despojos de D ario ,41 que la dipu­
tó para guardar en ella las obras del poeta Hom ero. Este libro,
señor compadre, tiene autoridad por dos cosas: la una, porque
él por sí es m uy bueno; y la otra, porque es fama que le com ­
puso un discreto rey de Portugal. Todas las aventuras del casti­
llo de Miraguarda son bonísimas y de grande artificio ;42 las ra­
zones, cortesanas y claras, que guardan y miran el decoro del
que habla, con mucha propriedad y entendimiento. D igo,
pues, salvo vuestro buen parecer, señor maese Nicolás, que éste
y Amadís de Gaula queden libres del fuego, y todos los demás,
sin hacer más cala y cata,43 perezcan.
- N o , señor compadre —replicó el barbero-, que este que
aquí tengo es el afamado L ) om - Beltanís.u
-P u es ése -replicó el cura-, con la segunda, tercera y cuarta
parte, tienen necesidad de un poco de ruibarbo para purgar la de­
masiada cólera suya,4S y es menester quitarles todo aquello del
castillo de la Fama y otras impertinencias de más importancia ,40
40 rajas: ‘astillas’ (oliva vale también
‘olivo’).
41 Era la pronunciación normal en
tiempo de C . Se cuenta que Alejan­
dro M agno tenía una copia de la
Ilíada corregida de mano de Aristó­
teles, a la que llamaba «la litada de la
caja», que ponía bajo su cabecera
ju nto con la espada.0
42 Miraguarda es el nombre de una
infanta, personaje del Pahnerín de In­
glaterra; C. lo aprovecha poco des­
pués para justificarlo con el ju ego de
palabras: guardan y miran el decoro, o
sea ‘viven y actúan conforme con­
viene a su estado y condición’ (I,
Prólogo, 12, η. 32).0
43 ‘investigación de la cantidad de
provisiones que había en una pobla­
ción’ ; metafóricamente, la expre­
sión vale por ‘hacer averiguaciones’ .
44 Don Belianís de Grecia fue escri­
to por Jerónim o Fernández, que
atribuye el texto al sabio griego Fristón, al que se achacará que los libros
desaparezcan (I, 7, 98, y 8, 105).
D o n Belianís es autor de uno de los
sonetos preliminares del Q. (I, «Don
Belianís...», p. 27). Este es el libro in­
acabado que quiso continuar el ca­
ballero (I, i, 4 1).0
45 La infusión de raíz de ruibarbo
se empleaba en medicina para pur­
gar los humores colérico y fle­
m ático.0
46 La descripción que se hace en
el Belianís del castillo de la Fama
corresponde a una maquinaria m á­
gica para recorrer grandes distan­
cias.0
90
PR IM ERA PA R T E
· C A PÍTU LO VI
21
para lo cual se les da término ultramarino ,47 y com o se enmen­
daren, así se usará con ellos de misericordia o de justicia; y en
tanto, tenedlos vos, compadre, en vuestra casa, mas no los de­
jéis leer a ninguno.4S
-Q u e me place —respondió el barbero.
Y , sin querer cansarse más en leer libros de caballerías, man­
dó al ama que tomase todos los grandes 49 y diese con ellos en
el corral. N o se dijo a tonta ni a sorda, sino a quien tenía más
gana de quemallos que de echar una tela ,50 por grande y delga­
da que fuera; y asiendo casi ocho de una vez, los arrojó por la
ventana. Por tomar muchos juntos, se le cayó uno a los pies del
barbero, que le tomó gana de ver de quién era, y vio que de­
cía Historia del famoso caballero Tirante el Blanco.51
-¡V álam e D ios 52 -d ijo el cura, dando una gran v o z -, que aquí
está Tirante el Blanco! Dádmele acá, compadre, que hago
cuenta que he hallado en él un tesoro de contento y una mina
de pasatiempos. A quí está don Q uirieleisón de Montalbán, va­
leroso cabaËero, y su hermano Tom ás de Montalbán, y el ca­
ballero Fonseca, con la batalla que el valiente de Tirante hizo
con el alano, y las agudezas de la doncella Placerdemivida, con
los amores y embustes de la viuda Reposada, y la señora E m ­
peratriz, enamorada de H ipólito, su escudero .53 D ígoos verdad,
47 ‘plazo m uy largo, casi inaca­
bable’.0
48 La Iglesia podía dar permiso a de­
terminadas personas para tener libros
incluidos en los Indices de libros prohibi­
dos, pero siempre con la condición de
que no se prestasen ni se dejasen leer
a nadie si no constaba el consenti­
miento expreso de la autoridad ecle­
siástica correspondiente. El sentido
burlesco de estas palabras es claro.0
49 Se refiere a los tomos en folio
que se habían citado al principio del
capítulo; los libros de caballerías se
imprimían en gran formato, fiente a
los de versos o los pastoriles, que se
editaban normalmente en octavo o
aun en tamaños «de faltriquera». Q ui­
zá haya un juego malintencionado en
el uso de grandes, que puede significar
‘muy nobles caballeros’ , como lo son
los héroes de estas historias.0
s° ‘tejerla’ (por más que tela, en
germanía, es también ‘coito’).0
51 Obra de Joanot Martorell, se
publicó en catalán por primera vez
en 1490. Cervantes hubo de cono­
cer la traducción castellana anónima
(Valladolid, 1 5 1 1 ) y sin nombre de
autor; el libro debía de ser m uy raro:
de ahí la reacción del cura.0
52 ‘¡Válgame D io s!’, exclamación
de sorpresa; vala por ‘valga’ era fre­
cuente en la época.0
53 Todos son personajes y episo­
dios del Tirante.0
EL E S C R U T I N I O D E L A B I B L I O T E C A
91
señor compadre, que por su estilo es éste el m ejor libro del
mundo: aquí comen los caballeros, y duermen y mueren en sus
camas, y hacen testamento antes de su muerte, con estas cosas
de que todos los demás libros deste género carecen .54 C on todo
eso, os digo que merecía el que le compuso, pues no hizo tan­
tas necedades de industria, que le echaran a galeras por todos
los días de su vida .55 Llevadle a casa y leedle, y veréis que es ver­
dad cuanto dél os he dicho. ,
—Así será -respondió el barbero—, pero ¿qué haremos destos
pequeños libros que quedan?
-Estos -d ijo el cura— no deben de ser de caballerías, sino de
poesía.
Y
abriendo uno vio que era La. Diana de Jo rge de M ontem ayor,' y dijo, creyendo que todos los demás eran del mesmo
género:
—Estos no merecen ser quemados, como los demás, porque
no hacen ni harán el daño que los de caballerías han hecho, que
son libros de entretenimiento sin peguicio de tercero .57
-¡A y , señor! -d ijo la sobrina-, bien los puede vuestra merced
mandar quemar como a los demás, porque no sería mucho que,
habiendo sanado m i señor tío de la enfermedad caballeresca, le­
yendo éstos se le antojase de hacerse pastor 58 y andarse por los
bosques y prados cantando y tañendo, y, lo que sería peor, ha­
cerse poeta, que según dicen es enfermedad incurable y pega­
diza .59
impresor; de industria: ‘a propósito’;
5+ Cervantes elogia la novela se­
gún el concepto de verosimilitud
echar a galeras: ‘condenar a remar en
vigente en la época e ilustrado por el las galeras’ o ‘imprimir un lib ro’ .
C o n estas ambivalencias, el pasaje ha
canónigo en su ju icio sobre los li­
bros de caballerías (I, 47-48).°
padecido una tormentosa serie de
55
El párrafo juega con la ambi­ interpretaciones contradictorias.0
5<í Se trata de Los siete libros de la
güedad en tal grado, que ha mere­
cido ser definido por Clemencín
Diana, la más antigua novela pastoril
escrita en castellano y modelo de to­
com o el pasaje más oscuro del Q.
das las del género.0
Así, el que le compuso puede ser tanto
el autor como el impresor; las nece­
57 La frase era, también, término
dades, interpretadas como ‘ficcio­ jurídico.™
58 Véase II, 72, 132 6 -132 7 .
nes’, ‘tonterías’, ‘desatinos’ u ‘obsce­
s9 Era un lugar común de la lite­
nidades’, pueden referirse tanto a
Tirante como al autor o incluso al ratura satírica considerar a los poetas
92
PRIM ERA PA R T E
■ C APÍTU LO VI
2IV
—Verdad dice esta doncella -d ijo el cura-, y será bien quitar­
le a nuestro amigo este tropiezo y ocasión delante. Y pues co­
menzamos por La Diana de M ontem ayor, soy de parecer que
no se queme, sino que se le quite todo aquello que trata de la
sabia Felicia y de la agua encantada ,60 y casi todos los versos ma­
yores,6^ quédesele enhorabuena la prosa, y la honra de ser pri­
m ero en semejantes libros.
-E ste que se sigue -d ijo el barbero- es La Diana llamada se­
gunda del Salmantino ;62 y éste, otro que tiene el mesmo nom ­
bre, cuyo autor es G il P o lo .63
-P ues la del Salmantino —respondió el cura- acompañe y
acreciente el número de los condenados al corral, y la de G il
Polo se guarde como si fuera del mesmo Apolo; y pase adelan­
te, señor compadre, y démonos prisa, que se va haciendo tarde.
—Este libro es -d ijo el barbero abriendo otro— Los diez libros
de Fortuna de amor, compuestos por Antonio de Lofraso, poeta
sardo .64
- P o r las órdenes que recebí -d ijo el cura- que desde que
A polo fue A polo, y las musas musas, y los poetas poetas, tan
gracioso ni tan disparatado libro com o ése no se ha compues­
to, y que, por su camino, es el m ejor y el más único de cuan­
tos deste género han salido a la luz del m undo ,65 y el que no le
com o locos o inútiles; D iego de M i­
randa se quejará de que su hijo se
haya dedicado a la poesía (II, 16,
824-825).0
60 En La Diana, los problemas de
los enamorados, irresolubles desde la
ideología neoplatónica del libro, se
solucionan acudiendo los pastores al
palacio de la sabia Felicia (sabia ‘en­
cantadora’ , com o en los libros de
caballerías), que les hace beber un
elixir y forma nuevas parejas; C . re­
chaza esta solución.“
61 ‘los versos de métrica italiana’ .
(n Se trata de la Segunda parte de la
Diana, de Alonso Pérez, m édico de
Salamanca; fue impresa dos veces
como suelta en 1563, y otras muchas
acompañando a la de M ontem ayor
para formar un volum en más co­
mercial.0
83 Se refiere a La Diana enamorada
(Valencia, 1564); la calidad de prosa
y verso, así como el modo de afron­
tar éticamente los problemas eróti­
cos, hacen que sea una de las más in­
teresantes novelas del siglo x v i.°
64 Poeta alguerés, cuyo idioma
materno era el catalán; publicó su li­
bro en Barcelona en 1573
6> por su camino, es el mejor y el más
único: ‘en su estilo, es el m ejor y el
más singular’; C . se burla de sus ver­
sos en el Viaje del Parnaso, III, w .
247-273, y en el romance final de E l
vizcaíno fingido.
22
EL E S C R U T I N I O D E L A B I B L I O T E C A
93
ha leído puede hacer cuenta que no ha leído jamás cosa de gus­
to. Dádmele acá, compadre, que precio más haberle hallado
que si me dieran una sotana de raja de Florencia .66
Púsole aparte con grandísimo gusto, y el barbero prosiguió
diciendo:
-E stos que se siguen son E l Pastor de Iberia, Ninfas de Henares
y Desengaños de celos.67
—Pues no hay más que hacer -d ijo el cura—, sino entreoírlos
al brazo seglar del ama ,68 y no se m e pregunte el porqué, que
sería nunca acabar.
-E ste que viene es El-Pastor de Fílida.69
—N o es ése pastor -d ijo el cura—, sino m uy discreto cortesa­
no: guárdese como jo ya preciosa.
-E ste grande que aquí viene se intitula -d ijo el barbero- Te­
soro-de varias poesías.70
-C o m o ellas no fueran tantas -d ijo el cura—, fueran más esti­
madas: menester es que este libro se escarde y limpie de algunas
bajezas que entre sus grandezas tiene; guárdese, porque su autor
es amigo m ío, y por respeto de otras más heroicas y levantadas
obras que ha escrito.
—Este es -siguió el barbero- el Cancionero de López M aídonado .71
“ ‘sarga de lana fina, impermeable’
que se empezó a elaborar en esa ciu­
dad; se puso de moda a fines del x v i.°
r’7 Títulos de otras tres novelas
pastoriles: la primera (Sevilla, 15 9 1),
de Bernardo de la Vega; la segunda
(.Ninfas y pastores del Henares, Alcalá,
1587), de Bernardo González de
Bobadilla; la última (Desengaño de ce­
los -n o Desengaños- , Madrid, 1586),
de Bartolom é López de Enciso. D e
las que se citan en el escrutinio, E l
Pastor de Iberia es la obra más cerca­
na a la edición del Q., indicación
que algunos críticos han considera­
do com o válida para establecer la fe­
cha de redacción de la novela: véan­
se I, 2, 48, n. 6, y 9, 116 , n. 14.°
“ E l tribunal de la Inquisición en­
tregaba sus condenados a la justicia
criminal - e l brazo seglar de la socie­
dad, frente al eclesiástico- para que
se ejecutase la sentencia.
69 Obra de Luis Gálvez de M ontal­
vo, amigo de C. y autor de uno de
los sonetos preliminares a La Galatea.°
70 D e Pedro de Padilla. Se editó
en M adrid en 1580 y se reeditó en
1587; C ., que lo elogia en el «Can­
to de Calíope» de La Galatea, escri­
bió un soneto para su Jardín espiritual
y otro para su Romancero.0
71 Se imprimió en Madrid,, 1586,
con dos composiciones poéticas de
C .; a su vez, Maldonado contribuyó
a las poesías laudatorias de La Galatea.0
94
PR IM ERA PA RTE
■ C APÍTU LO VI
-T am b ién el autor de ese libro —replicó el cura- es grande
amigo m ío, y sus versos en su boca admiran a quien los oye, y
tal es la suavidad de la voz con que los canta, que encanta.
A lgo largo es en las églogas, pero nunca lo bueno fue m ucho;
guárdese con los escogidos. Pero ¿qué libro es ese que está
ju n to a él?
—La Galatea de M iguel de Cervantes 72 -d ijo el barbero.
—M uchos años ha que es grande amigo mío ese Cervantes, y
sé que es más versado en desdichas que en versos. Su libro tie­
ne algo de buena invención: propone algo, y no concluye
nada; es menester esperar la segunda parte que promete: quizá
con la emienda alcanzará del todo la misericordia que ahora se
le niega ;73 y entre tanto que esto se ve, tenedle recluso en vues­
tra posada, señor compadre.
-Q u e me place —respondió el barbero-. Y aquí vienen tres
todos juntos: La Araucana de don Alonso de Ercilla ,74 La Austríada de Ju an R u fo , jurado de C órdoba,7S y 1:1 Monsanto de
Cristóbal de Virués, poeta valenciano .70
-T o d o s esos tres libros —dijo el cura- son los mejores que en
verso heroico en lengua castellana están escritos ,77 y pueden
com petir con los más famosos de Italia; guárdense como las más
ricas prendas de poesía que tiene España.
Cansóse el cura de ver más libros, y así, a carga cerrada ,78 qui73 Fue la primera (1585) y única
publicación extensa de Cervantes
antes del Q.; la promesa de conti­
nuación todavía se reiterará en la
dedicatoria del Persiles.°
7> Referencia al sacramento de la
confesión, en que se obliga a la pe­
nitencia: tras el arrepentimiento pol­
los pecados cometidos, es preciso el
propósito de enmienda para alcanzar
el perdón.
74 E l m ejor y más famoso de los
poemas épicos en castellano: se edi­
tó en tres partes entre 1569 y 1589,
completo en 1590; en él se relatan
episodios de la conquista de Chile.
E l autor debió de ser amigo de C.
75 Poema épico editado en 1584, tra­
ta de las hazañas de donjuán de Aus­
tria, entre ellas la victoria de Lepanto,
en la que participó C.; hoy R u fo es
más conocido por sus Apotegmas.0
76 Publicado en M adrid en 1587,
en él se cuentan los orígenes del
monasterio catalán, partiendo de la
aparición de la Virgen a Garín; en­
tre las visiones proféticas del monje
se anuncia también la victoria sobre
el turco en Lepanto.0
77 verso heroico: ‘octava rima en en­
decasílabos’; era la forma habitual
del poema épico culto.0
78 ‘a bulto, sin examinar’ (II, 58,
1208).
22V
EL E S C R U T I N I O D E L A B I B L I O T E C A
95
so que todos los demás se quemasen; pero ya tenía abierto uno
el barbero, que se llamaba Las lágrimas de Angélica.19
-Lloráralas yo -d ijo el cura en oyendo el nombre— si tal li­
bro hubiera mandado quemar, porque su autor fue uno de los
famosos poetas del mundo, no sólo de España, y fue felicísimo
en la tradución de algunas fábulas de O vid io.80
C A P ÍT U L O V II
D e la segunda salida de nuestro buen caballero
don Quijote de la Mancha1
Estando en esto, comenzó a dar voces don Quijote, diciendo:
-¡A q u í, aquí, valerosos caballeros, aquí es menester mostrar
la fuerza de vuestros valerosos brazos, que los cortesanos llevan
lo m ejor del torneo!2
Por acudir a este ruido y estruendo, no se pasó adelante con
el escrutinio de los demás libros que quedaban, y así se cree que
fueron al fuego, sin ser vistos ni oídos,3 La Carolecû y León de
79 D e Luis Barahona de Soto, se
imprimió en Granada, en 1586, con
el título de Primera parte de la Angéli­
ca. E l nombre que le da C. —y con el
que hoy se le conoce— sólo aparece
en el colofón. E l poema continúa el
episodio de Angélica y M edoro que
se cuenta en el Orlando furioso.0
80 Sólo se conocen dos de estas fá­
bulas: la de Vertumno y Pomona y
la de Acteón; sin embargo, en la
propia Angélica son abundantes los
trozos en que se traducen o parafra­
sean las Metamorfosis.0
pítulo empieza la narración de la se­
gunda salida, que se prolongará has­
ta el final de la Primera parte del
Quijote (1605).0
2 ‘combate de caballeros en gru­
pos’; en él, los cortesanos eran los or­
ganizadores o ‘mantenedores’; los que
combatían contra ellos eran los aventu­
reros (I, 16, 184; 20, 242, y 35, 457).0
3 ‘inmediatamente’ , pero es tam­
bién término jurídico que indica la
indefensión o la condena en rebel­
día.
4 Poema épico de Jerónimo Sem pere (Valencia, 1560), en el que se
1
Se ha supuesto que la narración inscribe un episodio sobre la batalla
de Lepanto; sin embargo, existe otro
de la primera salida de DQ , en los
seis primeros capítulos, constituyera libro en prosa del mismo título, de
una versión primitiva del Quijote en Juan Ochoa de la Salde (Lisboa,
1585): C. parece referirse al primero.0
forma de novela corta. C o n este ca­
96
PR IM ERA PA RTE
■ C A P ÍT U LO V II
23
España,5 con los hechos del Em perador, compuestos por don
Luis de A vila,6 que sin duda debían de estar entre los que que­
daban, y quizá si el cura los viera no pasaran por tan rigurosa
sentencia.
Cuando llegaron a don Q uijote, ya él estaba levantado de la
cama y proseguía en sus voces y en sus desatinos, dando cuchi­
lladas y reveses a todas partes, estando tan despierto com o si
nunca hubiera dormido. Abrazáronse con él y por fuerza le
volvieron al lecho; y después que hubo sosegado un poco, vo l­
viéndose a hablar con el cura le dijo:
—Por cierto, señor arzobispo Turpín, que es gran mengua de
los que nos llamamos D oce Pares7 dejar tan sin más ni más llevar
la vitoria deste torneo a los caballeros cortesanos, habiendo nos­
otros los aventureros ganado el prez en los tres días antecedentes.8
-C a lle vuestra merced, señor compadre -d ijo el cura-, que
D ios será servido que la suerte se mude y que lo que hoy se
pierde se gane mañana; y atienda vuestra m erced a su salud por
agora, que me parece que debe de estar demasiadamente can­
sado, si ya no es que está malferido.
—Ferido, no —dijo don Q u ijo te-, pero m olido y quebranta­
do, no hay duda en ello, porque aquel bastardo de don R o ld án
me ha m olido a palos con el tronco de una encina,9 y todo de
envidia, porque ve que yo solo soy el opuesto de sus valentías;
mas no me llamaría yo Reinaldos de M ontalbán,10 si en levan5 D e Pedro de la Vecilla Castella­
nos (Salamanca, 1586); relata la his­
toria de la Ciudad de León.0
6 N o se conoce ningún libro con
ese título: Luis de Avila escribió, en
prosa, unos Comentarios... de la gue­
rra de Atemaña, hecha de Carlos V,
impresos en Venecia (1548) y reedi­
tados en Amberes y Salamanca; se
piensa también en un lapsus de C er­
vantes, que habría sustituido Zapata
por Avila: en este caso se trataría del
poema Cario famoso (1566) de Luis
Zapata.0
7 Los compañeros de Carlomagno
(véase I, 5, 79, n. 20); el arzobispo
Turpín era uno de ellos, y a él se
atribuye el relato de sus hechos.
8 E l prez ‘estima’ se simbolizaba
en el premio que' los jueces de cam­
po concedían a los vencedores.0
9 Orlando era representado fre­
cuentemente blandiendo un tronco
arrancado y con sus ropas hechas j i ­
rones, presa ya de la locura.
10 Se alude al combate entre O r­
lando y Rinaldo en el Orlando innamorato de B oiardo; la enemistad
entre los dos Pares, que aparece tam­
bién en algún romance del grupo
carolingio, se debe a la rivalidad por
los amores de Angélica.0
23V
Ι Α D E SA P A R IC IÓ N DE L A B IB L IO T E C A
97
tándome deste lecho no me lo pagare, a pesar de todos sus en­
cantamentos; y por agora tráiganme de yantar," que sé que es
lo que más me hará al caso, y quédese lo del vengarme a m i
cargo.
H iriéronlo ansí: diéronle de comer, y quedóse otra vez dor­
mido, y ellos, admirados de su locura.
Aquella noche quemó y abrasó el ama cuantos libros había en
el corral y en toda la casa, y tales debieron de arder que m ere­
cían guardarse en perpetuos archivos; mas no lo permitió su
suerte y la pereza del escrutiñador,12 y así se cumplió el refrán
en ellos de que pagan a las veces justos por pecadores.'3
U n o de los remedios que el cura y el barbero dieron por en­
tonces para el mal de su amigo fue que le murasen y tapiasen
el aposento de los libros, porque cuando se levantase no los ha­
llase14-quizá quitando la causa cesaría el e feto -,15 y que dijesen
que un encantador se los había llevado, y el aposento y todo;16
y así fue hecho con mucha presteza. D e allí a dos días, se le­
vantó don Q uijote, y lo primero que hizo fue ir a ver sus li­
bros; y como no hallaba el aposento donde le había dejado, an­
daba de una en otra parte buscándole. Llegaba adonde solía
tener la puerta, y tentábala con las manos,17 y volvía y revolvía
los ojos por todo, sin decir palabra; pero al cabo de una buena
pieza18 preguntó a su ama que hacia qué parte estaba el apo­
sento de sus libros. E l ama, que ya estaba bien advertida de lo
que había de responder, le dijo:
-¿Q u é aposento o qué nada busca vuestra merced? Y a no
hay aposento ni libros en esta casa, porque todo se lo llevó el
mesmo diablo.
11 ‘com er’, arcaísmo.
12 ‘el encargado del escrutinio’.
13 E n la versión del refrán que re­
coge el Vocabulario de Correas, falta
el relativizador a las veces.
14 Tal vez en el sentido de ‘no los
echase de menos’. Solamente unas lí­
neas más arriba la solución para la lo­
cura de DQ había sido la quema in­
discriminada de su biblioteca, pero
el cura y el barbero, no conformes
con ello, van más lejos y disponen
la desaparición del aposento por
arte de magia de un encantador b i­
bliófilo.0
15
«Sublata causa, tollitur effectus»,
aforismo jurídico, atenuado por C.
Ifí ‘incluso, también’ .0
17 ‘la buscaba a tentones’.
18 ‘un largo rato’; aquí pieza se re­
fiere al tiempo: otras veces, al espa­
cio (I, 4, 75, n. 76).
98
PRIMERA PARTE · CAPÍTULO VII
24
- N o era diablo -replicó la sobrina—, sino un encantador que
vino sobre una nube una noche, después del día que vuestra
m erced de aquí se partió, y, apeándose de una sierpe en que
venía caballero,19 entró en el aposento, y no sé lo que se hizo
dentro, que a cabo de poca pieza salió volando por el tejado y
dejó la casa llena de hum o;20 y cuando acordamos a mirar lo
que dejaba hecho,21 no vimos libro ni aposento alguno: sólo se
nos acuerda m uy bien a mí y al ama que al tiempo del partirse
aquel mal viejo dijo en altas voces que por enemistad secreta
que tenía al dueño de aquellos libros y aposento dejaba hecho
el daño en aquella casa que después se vería. D ijo también que
se llamaba «el sabio Muñatón».22
-«Frestón» diría -d ijo don Q uijote.
—N o sé -respondió el ama— si se llamaba «Frestón» o «Fritón»,23 sólo sé que acabó en tón su nombre.
-A sí es —dijo don Quijote—, que ése es un sabio encantador,
grande enemigo mío, que me tiene ojeriza, porque sabe por sus
artes y letras que tengo de venir, andando los tiempos, a pelear
en singular batalla con un caballero a quien él favorece y le ten­
go de vencer sin que él lo pueda estorbar, y por esto procura ha­
cerme todos los sinsabores que puede; y mándole yo que mal po­
drá él contradecir ni evitar lo que por el cielo está ordenado.24
—¿Q uién duda de eso? -d ijo la sobrina—, Pero ¿quién le mete
a vuestra merced, señor tío, en esas pendencias? ¿N o sçrà me­
jo r estarse pacífico en su casa, y no irse por el mundo a buscar
pan de trastrigo,25 sin considerar que muchos van por lana y
vuelven tresquilados?26
19 ‘m ontado’ .
20 C om o la serpiente, el humo es
señal de aparición o desaparición
demoníaca; coincide con situaciones
del Amadís de Gaula (IV, 123 y 126)
y del Belianís (X X V II y X X IX ),°
21 acordamos: ‘nos despertamos’.
22 N om bre que designaba a los
profesionales de la hechicería conti­
gua con la alcahuetería.“
23 ‘Fristón’, el sabio encantador y
supuesto autor de Don Belianís (I, 1,
4 1, y 6, 89); el ama deforma el nom­
bre con su punto de vista de cocine­
ra de la casa.
24 mándole yo: ‘le prometo, le ase­
guro, preveo para él’; el verbo mandar
se relaciona aquí con manda: ‘dona­
ción que se promete en un testamen­
to o escritura dotal’.0
25 ‘meterse en líos que le han de
perjudicar’ .0
26 ‘pensar en un logro y conse­
guir un fracaso’ , es refrán (véase II,
24V
LA D ESA PA RIC IÓ N DE LA B IBLIO T EC A
99
- ¡O h sobrina mía -respondió don Q uijote-, y cuán mal que
estás en la cuenta!27 Primero que a m í me tresquilen tendré pe­
ladas y quitadas las barbas a cuantos imaginaren tocarme en la
punta de un solo cabello.28
N o quisieron las dos replicarle más, porque vieron que se le
encendía la cólera.
Es, pues, el caso que él estuvo quince días en casa m uy sose­
gado, sin dar muestras de querer segundar sus primeros deva­
neos;29 en los cuales días pasó graciosísimos cuentos con sus dos
compadres el cura y el barbero,30 sobre que él decía que la cosa
de que más necesidad tenía el mundo era de caballeros andan­
tes y de que en él se resucitase la cabañería andantesca. E l cura
algunas veces le contradecía y otras concedía, porque si no
guardaba este artificio no había poder averiguarse con él.31
E n este tiempo solicitó don Q uijote a un labrador vecino
suyo, hombre de bien -s i es que este título se puede dar al que
es pobre—,32 pero de m uy poca sal en la mollera.33 E n resolu­
ción, tanto le dijo, tanto le persuadió y prometió, que el pobre
villano se determinó de salirse con él y servirle de escudero.34
Decíale entre otras cosas don Q uijote que se dispusiese a ir con
él de buena gana, porque tal vez35 le podía suceder aventura
que ganase, en quítame allá esas pajas,36 alguna ínsula,37 y le de14 , 806); tresquilado: ‘trasquilado’,
‘esquilado’ .0
27 ‘cóm o te equivocas’ .0
28 tendré peladas y quitadas las bar­
bas: ‘habré vencido y hecho siervos
m íos’ ; la barba simbolizaba la virili­
dad, y era grave ofensa mesarla o
cortarla (I, 8, 110 , η. 5 1).0
29 ‘delirios’ , ‘desatinos’ .
30 pasó graciosísimos cuentos; ‘tuvo
conversaciones muy graciosas’ .
31 ‘ponerle en razón’.0
32 Variación de la frase hecha «po­
bre y hombre de bien, no puede ser».0
33 ‘de m uy poco ju ic io ’; mollera:
‘la parte superior de la cabeza’ (I, 37,
479). Irónicamente, C . presenta al
escudero de DQ com o muy dife­
rente de los escuderos de las ficcio­
nes caballerescas.0
34 villano: ‘labrador, habitante del
lugar’ .
35 ‘en alguna ocasión’; en el Q.
siempre tiene este significado.0
36 ‘en un instante’, frase hecha que
alterna con daca[me] esas [las] pajas (I,
29, 372; II, 18, 851; 4 1, 1046, y 62,
1250).
37 La forma culta de ‘isla’ , que
aparece en los libros de caballerías
(I, i, 47, n. 72); para el labrador, que
no comprende su significado, tiene
el valor de ‘territorio del que, casi
milagrosamente, puede ser goberna­
dor como premio a sus méritos’ (véa­
se I, 52, 643, n. 31).
10 0
P R IM ERA PA RTE
· C A PIT U LO VII
jase a él por gobernador della.3S C o n estas promesas y otras ta­
les, Sancho Panza,39que así se llamaba el labrador, dejó su m u­
je r y hijos40 y asentó por escudero de su vecino.41
D io luego don Q uijote orden en buscar dineros,42 y, ven­
diendo una cosa y empeñando otra y malbaratándolas todas,
llegó una razonable cantidad.43 Acom odose asimesmo de una
rodela44 que pidió prestada a un su amigo y, pertrechando su
rota celada lo m ejor que pudo,45 avisó a su escudero Sancho del
día y la hora que pensaba ponerse en camino, para que él se
acomodase de lo que viese que más le era menester. Sobre
todo, le encargó que llevase alforjas. E l dijo que sí llevaría y que
ansimesmo pensaba llevar un asno que tenía m uy bueno, por­
que él no estaba duecho a andar mucho a pie.46 E n lo del asno
reparó un poco don Q uijote, imaginando si se le acordaba si al­
gún caballero andante había traído escudero caballero asnal­
mente, pero nunca le vino alguno a la memoria; mas, con todo
esto, determinó que le llevase, con presupuesto de acomodar­
le47 de más honrada caballería en habiendo ocasión para ello,
quitándole el caballo al primer descortés caballero que topase.48
38 Propiamente, el gobernador era
el delegado del R e y con funciones
gubernativas y militares.0
39 Sancho es nombre que figura en
el refranero desde época medieval,
junto a un burro («Hallado ha San­
cho su rocín», «Allá va Sancho con
su rocino»), o por su m odo de ha­
blar o callar («Al buen callar llaman
Sancho», «Llamarse Sancho»: ‘ser sa­
bio y prudente’); Panza lo llaman
porque era barrigón, con piernas lar­
gas (I, 9, 120, y n. 42).° / 26
40 Recuerdo del Evangelio de
M ateo, X I X , 29: «reliquit domum
vel fratres aut sorores aut patrem
aut matrem aut uxorem aut filios aut
agros...».0
41 asentó por: ‘se comprometió a
servir com o’.
42 dio... orden: ‘ atendió, se ocupó’ .
43 llegó: ‘allegó, reunió’; razonable:
‘considerable’, utilizado con doble
sentido. DQ sigue los consejos del
ventero (I, 3, 60-61).0
44 ‘escudo pequeño, redondo, de
madera, que se sujetaba'al brazo iz­
quierdo’; en la época de DQ se em­
pleaba, junto con la espada, para
combatir a pie, «a la romana». N o se
sabe qué se ha hecho de la adarga
que DQ llevaba en su primera sali­
da.0/ 3 3
45 pertrechando: ‘reparando’ ; re­
cuérdese que la celada era de «car­
tón» armado sobre alambres (véase I,
i, 44, n. 48).
46 duecho: ‘ducho, acostumbrado’;
es forma rústica.0
47 ‘con el propósito de proveerle’;
la forma presupuesto alterna con pro­
supuesto (I, 3, 59, n. 9).
48 descortés: ‘apartado de las leyes
caballerescas de la cortesía’ o ‘deseo-
25
SEG U N D A SA LID A
ΙΟ Ι
Proveyóse de camisas y de las demás cosas que él pudo, con­
form e al consejo que el ventero le había dado; todo lo cual h e­
cho y cumplido, sin despedirse Panza de sus hijos y mujer, ni
don Q uijote de su ama y sobrina, una noche se salieron del lu ­
gar sin que persona los viese;49 en la cual caminaron tanto, que
al amanecer se tuvieron por seguros de que no los hallarían
aunque los buscasen.
Iba Sancho Panza sobre su jum ento como un patriarca,50 con
sus alforjas y su bota, y con mucho deseo de verse ya goberna­
dor de la ínsula que su amo le había prometido. Acertó don
Q uijote a tomar la misma derrota51 y camino que el que él ha­
bía tomado en su primer viaje, que fue por el campo de M o n tiel, por el cual caminaba con menos pesadumbre que la vez
pasada, porque por ser la hora de la mañana y herirles a sosla­
yo los rayos del sol no les fatigaban.52 D ijo en esto Sancho Pan­
za a su amo:
—M ire vuestra merced, señor caballero andante, que no se le
olvide lo que de la ínsula me tiene prom etido,53 que yo la sa­
bré gobernar, por grande que sea.
A lo cual le respondió don Quijote:
-H as de saber, amigo Sancho Panza, que fue costumbre m uy
usada de los caballeros andantes antiguos hacer gobernadores a
sus escuderos de las ínsulas o reinos que ganaban,54 y yo tengo
determinado de que por mí no falte tan agradecida usanza, an­
tes pienso aventajarme en ella:·5 porque ellos algunas veces, y
m edido’ ; D Q en ningún caso cum ­
ple este propósito: ni cuando el asno
del barbero es, para él, un caballo
rucio rodado (I, 2 1, 244), ni cuando
vence al Caballero de los Espejos
(II, 12 -15 ).
49persona: ‘nadie’ ; también esta sa­
lida se hace de noche y en secreto
com o la primera.
50 ‘a sus anchas, m uy a gusto’ , es
frase popular.“
51 ‘rumbo, derrotero’ (I, 19, 223,
n. 40, y II, 18, 851, η. 53).0
52 herirles a soslayo: ‘alumbrarles
oblicuamente, de lado’ , por hallarse
el sol m uy bajo.“
5í La fabulosa recompensa de la
Insula enlaza con las utopías renacen­
tistas, con temas folclóricos y con fi­
guras populares del teatro del x v r . “
54
H ay ejemplos en los libros de
caballerías, com o en el Amadís de
Gaula, II, 45, cuando el caballero da
el señorío de la ínsula Firme a su es­
cudero Gandalín, en pago de sus ser­
vicios.“
ss ‘superar a todos los demás en
esta usanza’ .
10 2
PR IM ERA PARTE
■ C A P Í T U L O V II
2¡V
quizá las más, esperaban a que sus escuderos fuesen viejos, y, ya
después de hartos de servir y de llevar malos días y peores n o ­
ches, les daban algún título de conde, o por lo m ucho’6 de mar­
qués, de algún valle57 o provincia de poco más a m enos;58 pero
si tú vives y yo vivo bien podría ser que antes de seis días ga­
nase yo tal reino, que tuviese otros a él adherentes que vinie­
sen de molde para coronarte por rey de uno dellos. Y no lo
tengas a m ucho, que cosas y casos acontecen a los tales caballe­
ros por modos tan nunca vistos ni pensados, que con facilidad
te podría dar aún más de lo que te prometo.
—D e esa manera —respondió Sancho Panza—, si yo fuese rey
por algún milagro de los que vuestra m erced dice, por lo m e­
nos59Juana Gutiérrez,60 m i oíslo,6' vendría a ser reina, y mis hi­
jos infantes.
—Pues ¿quién lo duda? —respondió don Q uijote.
- Y o lo dudo -replicó Sancho Panza-, porque tengo para mí
que, aunque lloviese Dios reinos sobre la tierra, ninguno asen­
taría bien sobre la cabeza de M ari Gutiérrez. Sepa, señor, que
no vale dos maravedís para reina; condesa le caerá mejor, y aun
Dios y ayuda.62
-Encom iéndalo tú a D ios, Sancho —respondió don Q uijote—,
que E l dará lo que más le convenga; pero no apoques tu áni­
mo tanto, que te vengas a contentar con menos que con ser
adelantado.63
5f‘ ‘cuando m ucho’ .“
za, Cascajo o Sancha (II, 5, 723, n. i).°
57
E l marquesado del Valle (de ‘" ‘persona con la que se tiene tra­
Oaxaca), por antonomasia, perte­
to de confianza’; se empleaba sobre
neció a H ernán Cortés y sus des­
todo para dirigirse a la esposa (II, 3,
cendientes; quizá C . haya querido
714 ; 70, 1309).0
hacer alguna referencia al trato ofi­
“ Frase hecha que de manera
cial que se dio al conquistador y su
elíptica encarece la dificultad para
progenie.0
hacer algo.0
iS
‘de poca importancia’; más a 61 ‘gobernador con plenos poderes
menos: ‘más o menos’.0
en un territorio fronterizo o recién
® ‘nada menos que’ .°
conquistado’ ; en el siglo x v i era
60
La m ujer de Sancho recibe dis­ normalmente un título honorífico,
tintos nombres a lo largo de la no­
sin atribuciones reales, pero D Q da
al término su valor antiguo, que se
vela: un poco más abajo se la llama
Mari, y en otros lugares Teresa Pan­
conservaba en los romances.0
26
SE G U N D A SA LID A
103
- N o haré, señor m ío -respondió Sancho-, y más teniendo
tan principal amo en vuestra merced, que me sabrá dar todo
aquello que me esté bien y yo pueda llevar.
C A P ÍT U L O V III
Del buen suceso1 que el valeroso don Quijote tuvo en la espantable
y jamás imaginada aventura de los molinos de viento,
con otros sucesos dignos de felice recordación2
E n esto, descubrieron treinta o cuarenta molinos de viento que
hay en aquel campo, y así como don Q uijote los vio, dijo a su
escudero:
- L a ventura va guiando nuestras cosas m ejor de lo que acer­
táramos a desear; porque ves allí, amigo Sancho Panza, donde
se descubren treinta o pocos más desaforados gigantes, con
quien pienso hacer batalla y quitarles a todos las vidas, con cu­
yos despojos comenzaremos a enriquecer, que ésta es buena
guerra,3 y es gran servicio de Dios quitar tan mala simiente de
sobre la faz de la tierra.4
-¿Q u é gigantes? -d ijo Sancho Panza.
—Aquellos que allí ves —respondió su am o-, de los brazos lar­
gos, que los suelen tener algunos de casi dos leguas.
-M ire vuestra merced —respondió San cho- que aquellos que
allí se parecen no son gigantes,5 sino molinos de viento, y lo
que en ellos parecen brazos son las aspas, que, volteadas del
viento, hacen andar la piedra del molino.
-B ie n parece -respondió don Q uijote— que no estás cursado
en esto de las aventuras:6 ellos son gigantes; y si tienes miedo
' ‘ éxito’ (I, «Orlando furioso...»,
p. 32, v. 14).
2 Los molinos de viento se conocían
desde antiguo en España, pero los
que vio DQ eran acaso una relativa
novedad, introducida hacia 1575 des­
de los Países Bajos; felice recordación:
‘feliz memoria’ .0/ 44
3 ‘guerra justa’, en la que era líci­
to quedarse con el botín.0
4 simiente: ‘estirpe’; adecuación de
«Dii, talem terris avertite pestem»
(‘Dioses, apartad de la tierra tan gran
peste’), de Virgilio (Eneida, III, 62o).0
5 se parecen: ‘se ven’ .
6 cursado: ‘práctico, experimentado’ .
104
PR IM ERA PA RTE
· C A PÍT U LO VIII
2ÓV
quítate de ahí, y ponte en oración en el espacio que yo v o y a
entrar con ellos en fiera y desigual batalla.7
Y , diciendo esto, dio de espuelas a su caballo R ocin an te,8 sin
atender a las voces que su escudero Sancho le daba, advirtién­
dole que sin duda alguna eran molinos de viento, y no gigan­
tes, aquellos que iba a acometer. Pero él iba tan puesto en que
eran gigantes,9 que ni oía las voces de su escudero Sancho, ni
echaba de ver, aunque estaba ya bien cerca, lo que eran, antes
iba diciendo en voces altas:
- N o n fuyades,10 cobardes y viles criaturas, que un solo caba­
llero es el que os acomete.
Levantóse en esto un poco de viento, y las grandes aspas co­
menzaron a moverse, lo cual visto por don Q uijote, dijo:
-P u es aunque mováis más brazos que los del gigante B ria­
reo ,11 me lo habéis de pagar.
Y
en diciendo esto, y encomendándose de todo corazón a su
señora Dulcinea, pidiéndole que en tal trance le socorriese,
bien cubierto de su rodela, con la lanza en el ristre,12 arremetió
a todo el galope de Rocinante y embistió con el primero m o­
lino que estaba delante; y dándole una lanzada en el aspa, la
volvió el viento con tanta furia, que hizo la lanza pedazos, lle­
vándose tras sí al caballo y al caballero,13 que fue rodando m uy
maltrecho por el campo. Acudió Sancho Panza a socorrerle, a
todo el correr de su asno, y cuando llegó halló que no se p o ­
día menear: tal fue el golpe que dio con él Rocinante.
—¡Válame Dios! -d ijo Sancho—, ¿N o le dije yo a vuestra m er­
ced que mirase bien lo que hacía, que no eran sino molinos de
viento, y no lo podía ignorar sino quien llevase otros tales en
la cabeza?
7 desigual: ‘ardua, m uy peligrosa’ .0
8 dio de espuelas: ‘espoleó’ .
9 tan puesto en que: ‘tan empeñado,
tan convencido de que’.°
10 ‘no huyáis’ ; al volver a la aventura caballeresca, D Q retoma e ile n guaje arcaico.0
11 Hermano de los Titanes, hijo
de Urano y la Tierra, que se opuso
a Júpiter; según la mitología poseía
cien brazos y cincuenta cabezas con
bocas que arrojaban llamas.0
12 ‘soporte en el peto de la coraza
para encajar y afianzar la empuñadura de la lanza’ ; así, al atacar, se podía
impulsar con todo el cuerpo y no
sólo con el brazo.0/ 3 1
13 Posible recuerdo de una frase
bíblica (Exodo, X V , 21) que acentuaría la ironía del pasaje.0
27
A V E N T U R A D E LO S M O L I N O S
105
-C alla, amigo Sancho —respondió don Q uijote-, que las co ­
sas de la guerra más que otras están sujetas a continua mudan­
za;14 cuanto más, que yo pienso, y es así verdad,15 que aquel sa­
bio Frestón que me robó el aposento y los libros ha vuelto estos
gigantes en molinos, por quitarme la gloria de su vencimiento:
tal es la enemistad que me tiene; mas al cabo al cabo16 han de
poder poco sus malas artes contra la bondad de mi espada.
—D ios lo haga como puede -respondió Sancho Panza.
Y , ayudándole a levantar, tomó a subir sobre Rocinante, que
medio despaldado estaba.17 Y , hablando en la pasada aventura,18
siguieron el camino del Puerto Lapice,19 porque allí decía don
Quijote que no era posible dejar de hallarse muchas y diversas
aventuras, por ser lugar muy pasajero;20 sino que iba muy pesaroso,
por haberle faltado la lanza; y diciéndoselo a su escudero, le dijo:
- Y o me acuerdo haber leído que un caballero español llama­
do D iego Pérez de Vargas, habiéndosele en una batalla roto la
espada, desgajó de una encina un pesado ramo o tronco, y con
él hizo tales cosas aquel día y machacó tantos moros, que le que­
dó por sobrenombre «Machuca»,21 y así él com o sus decendientes se llamaron desde aquel día en adelante «Vargas y Machuca».
Hete dicho esto porque de la primera encina o roble que se me
depare pienso desgajar otro tronco, tal y tan bueno como aquel
que me imagino; y pienso hacer con él tales hazañas, que tú te
tengas por bien afortunado de haber merecido venir a vellas y a
ser testigo de cosas que apenas podrán ser creídas.
- A la mano de D ios22 -d ijo Sancho-, Y o lo creo todo así
14
Parece un adagio que quizá 18
hablando en: ‘conversando acer­
provenga de Cicerón.0
ca de’ .°
‘5 La frase es una variación de una
“J Paso entre dos colinas en el ca­
fórmula habitual en la lengua desde m ino real de la Mancha a Andalucía,
también llamado Ventas de Puerto
la Edad Media, y utilizada por C.
Lápic e . ° / 1
con bastante insistencia (I, 1 1 , 139;
20 ‘transitado’ .0
12 , 145; 26, 3 2 1; etc.).0
21 Lo relatado sucedió en el cerco
16 ‘al fin de todo’; la duplicación,
como en otras ocasiones, tiene aquí
de Jerez (1223), en tiempo de Fer­
una intención potenciadora (I, 2,
nando III; machucar, ‘machacar’ .0
22 ‘Que sea lo que Dios quiera’ ,
5 1 , n· 33)·
17 ‘tenía medio descoyuntada la
‘Hágase su voluntad’ (II, 35, 10 14 );
se trunca me encomiendo.0
paletilla’.
ιο 6
PR IM ERA PA RTE
· C APÍTU LO V III
27 V
como vuestra merced lo dice; pero enderécese un poco, que
parece que va de medio lado, y debe de ser del molimiento de
la caída.
-A sí es la verdad -respondió don Q uijote-, y si no me que­
jo del dolor, es porque no es dado a los caballeros andantes
quejarse de herida alguna,23 aunque se le salgan las tripas por ella.
- S i eso es así, no tengo yo que replicar -respondió Sancho-;
pero sabe D ios si yo me holgara que vuestra merced se queja­
ra cuando alguna cosa le doliera. D e m í sé decir que me he de
quejar del más pequeño dolor que tenga, si ya no se entiende
también con los escuderos de los caballeros andantes eso del no
quejarse.
N o se dejó de reír don Q uijote de la simplicidad de su escu­
dero; y, así, le declaró que podía m uy bien quejarse com o y
cuando quisiese, sin gana o con ella, que hasta entonces no ha­
bía leído cosa en contrario en la orden de caballería. D íjole
Sancho que mirase que era hora de comer. Respondióle su
amo que por entonces no le hacía menester,24 que comiese él
cuando se le antojase. C o n esta licencia, se acomodó Sancho lo
m ejor que pudo sobre su jum ento, y, sacando de las alforjas
lo que en ellas había puesto, iba caminando y comiendo detrás
de su amo m uy de su espacio,25 y de cuando en cuando empi­
naba la bota, con tanto gusto, que le pudiera envidiar el más re­
galado bodegonero de Málaga.26 Y en tanto que él iba de aque­
lla manera menudeando tragos, no se le acordaba de ninguna
promesa que su amo le hubiese hecho, ni tenía por ningún tra­
bajo, sino por mucho descanso, andar buscando las aventuras,
por peligrosas que fuesen.
En resolución,27 aquella noche la pasaron entre unos árboles,
y del uno dellos desgajó don Q uijote un ramo seco que casi le
podía servir de lanza, y puso en él el hierro que quitó de la que
se le había quebrado.28 Toda aquella noche no durmió don
23 no es dado: ‘no está permitido’ .“
3+ ‘no le hacía falta’ .
25 ‘a sus anchas, con toda com odidad’.0
26 Los vinos de Málaga se contaban entre los célebres de España.0
27 ‘en conclusión’ .
2S La lanza de DQ fue hecha pedazos por los mozos de los mercaderes toledanos en I, 4, 75; por lo tanto hay que suponer que el hidalgo
en su segunda salida llevaba otra lanza. E l asta de esta arma era de madera y se rompía con facilidad; por esa
28
A V E N T U R A D E LO S M O L I N O S
IO7
Q uijote, pensando en su señora Dulcinea, por acomodarse a lo
que había leído en sus libros, cuando los caballeros pasaban sin
dormir muchas noches en las florestas y despoblados,29 entrete­
nidos con las memorias de sus señoras.30 N o la pasó ansí San­
cho Panza, que, como tenía el estómago lleno, y no de agua de
chicoria,31 de un sueño se la llevó toda, y no fueran parte para
despertarle,32 si su amo no lo llamara, los rayos del sol, que le
daban en el rostro, ni el canto de las aves, que muchas y m uy
regocijadamente la venida del nuevo día saludaban. A l levan­
tarse, dio un tiento a la bota,33 y hallóla algo más flaca que la
noche antes, y afligiósele el corazón, por parecerle que no lle­
vaban camino de remediar tan presto su falta. N o quiso desayu­
narse don Q uijote, porque, como está dicho, dio en sustentar­
se de sabrosas memorias. Tornaron a su comenzado camino del
Puerto Lápice, y a obra de las tres del día le descubrieron.34
-A q u í -d ijo en viéndole don Q uijote- podemos, hermano
Sancho Panza, meter las manos hasta los codos en esto que llaman
aventuras. Mas advierte que, aunque me veas en los mayores pe­
ligros del mundo, no has de poner mano a tu espada para defen­
derme,35 si ya no vieres que los que me ofenden es canalla y gen­
te baja, que en tal caso bien puedes ayudarme; pero, si fueren
caballeros, en ninguna manera te es lícito ni concedido por las le­
yes de caballería que me ayudes, hasta que seas armado caballero.
—Por cierto, señor -respondió Sancho-, que vuestra merced
será m uy bien obedecido en esto, y más, que yo de m ío36 me
razón se hace necesario sustituirla en
diversas ocasiones.0
29 florestas: ‘bosques, arboledas’ .0
30 ‘la evocación de sus señoras’ ; la
situación del héroe que pasa la n o­
che en vela pensado en su amada es
frecuente en los libros de caballerías.0
31 ‘cocimiento de bulbo de achi­
coria tostado y m olido’ ; se creía que
hacía dormir.0
32 ‘no hubieran sido suficientes
para despertarle’ .
33 ‘bebió un trago de la bota’; el des­
ayuno acompañado de vino o aguar­
diente era normal para los hombres.0
34 a obra de ¡as tres del día: ‘a eso de
las tres de la tarde’ .0
35 poner mano a: ‘sacar’ . En princi­
pio, Sancho, como villano, no lleva
espada: D Q habla influido por los
libros de caballerías; sin embargo,
ciertos pasajes del Q. parecen seña­
lar que el escudero algunas veces sí
que la llevaba (I, 15, 176, y 46, 588),
mientras que otros, en cambio, lo
desmienten (II, 14, 805).0
30 ‘por mi condición natural, por
mi carácter’ .0
Ιθ8
PR IM ERA PA RTE
· C APÍTU LO V III
28v
soy pacífico y enemigo de meterme en ruidos ni pendencias.
B ien es verdad que en lo que tocare a defender mi persona no
tendré mucha cuenta con esas leyes, pues las divinas y huma­
nas permiten que cada uno se defienda de quien quisiere agra­
viarle.
- N o digo yo menos -respondió don Q uijote—, pero en esto
de ayudarme contra caballeros has de tener a raya tus naturales
ímpetus.
-D ig o que así lo haré —respondió Sancho— y que guardaré
ese preceto tan bien como el día del domingo.
Estando en estas razones, asomaron por el camino dos frailes
de la orden de San Benito, cabañeros sobre dos dromedarios,
que no eran más pequeñas dos muías en que venían.37 Traían
sus antojos de camino y sus quitasoles.38 Detrás dellos venía un
coche,39 con cuatro o cinco de a caballo que le acompañaban y
dos mozos de muías a pie. V enía en el coche, como después se
supo, una señora vizcaína que iba a Sevilla,40 donde estaba su
marido, que pasaba a las Indias con un m uy honroso cargo.41
N o venían los frailes con ella, aunque iban el mesmo camino;42
mas apenas los divisó don Q uijote, cuando dijo a su escudero:
- O yo me engaño, o ésta ha de ser la más famosa aventura
que se haya visto, porque aquellos bultos negros que allí pare­
cen deben de ser y son sin duda algunos encantadores que lle­
van hurtada alguna princesa en aquel coche, y es menester des­
hacer este tuerto a todo mi poderío.43
—Peor será esto que los molinos de viento -d ijo San choM ire, señor, que aquéllos son frailes de San Benito, y el coche
debe de ser de alguna gente pasajera. M ire que digo que mire
bien lo que hace, no sea el diablo que le engañe.
37 E l uso de la metáfora hiperbólica
de dromedario para indicar una cabal­
gadura muy grande podría ser un re­
cuerdo de algún libro de caballerías.0
38 antojos de camino: ‘anteojos de
cristal de roca acoplados a un tafetán
que tapaba el rostro para protegerlo
durante los viajes’.
39 Era indicio de persona de cali­
dad, fiente a la litera de viaje.0
40 vizcaína: ‘vasca’, de cualquiera
de las tres provincias (I, 8, n i , 11. $6).
41 pasaba a las Indias: ‘iba a A m é­
rica’; Sevilla era el centro de todos
los asuntos relacionados con las In­
dias; de allí, dos veces al año, salía
la flota.
42 ‘seguían el mismo camino’ .0
43 ‘con toda m i autoridad’ (I, 29,
369, n. 2 1) .0
29
AVENTURA DEL VIZCAÍNO
109
—Y a te he dicho, Sancho -respondió don Q uijote-, que sa­
bes poco de achaque de aventuras:44 lo que yo digo es verdad,
y ahora lo verás.
Y diciendo esto se adelantó y se puso en la mitad del cami­
no por donde los frailes venían, y, en llegando tan cerca que a
él le pareció que le podrían oír lo que dijese, en alta voz dijo:
-G e n te endiablada y descomunal,45 dejad luego al punto las
altas princesas que en ese coche lleváis forzadas;46 si no, apare­
jaos a recebir presta muerte, por justo castigo de vuestras malas
obras.
D etuvieron los frailes las riendas, y quedaron admirados así
de la figura de don Q uijote como de sus razones, a las cuales
respondieron:
—Señor caballero, nosotros no somos endiablados ni desco­
munales, sino dos religiosos de San Benito que vamos nuestro
camino, y no sabemos si en este coche vienen o no ningunas
forzadas princesas.
—Para conmigo no hay palabras blandas, que ya yo os conoz­
co, fementida canalla47 -d ijo don Quijote.
Y sin esperar más respuesta picó a R ocinante y, la lanza baja,
arremetió contra el primero fraile, con tanta furia y denuedo,
que si el fraile no se dejara caer de la muía él le hiciera venir al
suelo mal de su grado, y aun malferido, si no cayera muerto.48
E l segundo religioso, que vio del m odo que trataban a su com ­
pañero, puso piernas al castillo de su buena muía,49 y comenzó
a correr por aquella campaña, más ligero que el mesmo viento.
44 ‘ocasión de aventuras’ .
45 ‘fuera de lo com ún’ , ‘mons­
truosa’; adjetivos que en los libros
de caballerías se aplican a los gigan­
tes (I, i, 42; 4, 74; 9, 1 1 7 ; etc.).°
46 ‘por la fuerza, contra su vo lu n ­
tad’ . E l episodio se corresponde
con otro de E l caballero de la Cruz
(II, 30), en que cuatro gigantes lle­
van presos en una carreta al empe­
rador, la emperatriz y la princesa, y
son desafiados por el infante Floram or. E l libro está entre los entrega­
dos al fuego durante el escrutinio
de la biblioteca.“
47 ‘gente despreciable y peijura’ .
48 ‘a su pesar, e incluso malherido
(con arcaísmo de D Q , que el narra­
dor hace suyo), y es posible que has­
ta cayese m uerto’ .0
49 ‘golpeó con talones y rodillas a
la muía para que corriese’, porque no
era caballero y no llevaba espuelas;
castillo apunta tanto al tamaño de la
cabalgadura (arriba tildada de drome­
dario) como a la hazaña caballeresca.0
no
PRIMERA PARTE · CAPÍTULO VIII
29V
Sancho Panza, que vio en el suelo al fraile, apeándose ligera­
mente de su asno an*emetió a él y le comenzó a quitar los hábi­
tos. Llegaron en esto dos mozos de los frailes y preguntáronle
que por qué le desnudaba. Respondióles Sancho que aquello le
tocaba a él ligítimamente, como despojos de la batalla que su se­
ñor don Quijote había ganado. Los mozos, que no sabían de
burlas,50 ni entendían aquello de despojos ni batallas, viendo que
ya don Quijote estaba desviado de allí hablando con las que en
el coche venían, arremetieron con Sancho y dieron con él en el
suelo, y, sin dejarle pelo en las barbas, le molieron a coces51 y le
dejaron tendido en el suelo, sin aliento ni sentido. Y , sin dete­
nerse un punto, tornó a subir el fraile, todo temeroso y acobar­
dado y sin color en el rostro; y cuando se vio a caballo, picó tras
Su compañero,52 que un buen espacio de allí le estaba aguardando,
y esperando en qué paraba aquel sobresalto, y, sin querer aguar­
dar el fin de todo aquel comenzado suceso, siguieron su camino,
haciéndose más cruces que si llevaran al diablo a las espaldas.53
D on Q uijote estaba, como se ha dicho, hablando con la se­
ñora del coche, diciéndole:
—La vuestra fermosura, señora mía, puede facer de su perso­
na lo que más le viniere en talante,54 porque ya la soberbia de
vuestros robadores yace por el suelo, derribada por este mi
fuerte brazo; y por que no penéis por saber el nombre de vues­
tro libertador, sabed que yo me llamo don Q uijote de la M an­
cha, caballero andante y aventurero, y cautivo de la sin par y
hermosa doña Dulcinea del Toboso; y, en pago del beneficio
que de m í habéis recebido, no quiero otra cosa sino que vol­
váis al T oboso55y que de m i parte os presentéis ante esta señora
y le digáis lo que por vuestra libertad he fecho.
50 ‘que no estaban para bromas’ .0
51 ‘arrancándole todo el pelo de
la barba y le dieron de patadas’; la
ofensa es tanto m oral com o física
(I, 7. 99, n. 28).
52 picó: ‘apresuró el paso’.
53 haciéndose cruces: ‘santiguándose
para conjurar el mal’ ,°
54 ‘lo que fuere de su gusto, lo que
quisiere’ (I, 30, 385).0
55 ‘ os desviéis del camino para ir al
T o b o so ’ . E n lo de im poner a la
señora del coche presentarse ante
Dulcinea, D Q sigue el ejemplo de
héroes caballerescos como Amadís,
quien encargó a los caballeros y
doncellas que él había salvado del
poder del gigante Madarque que
fuesen a presentarse ante la reina
Brisena (Amadís de Gaula, III, 65).0
AVENTURA DEL VIZCAINO
III
Tod o esto que don Q uijote decía escuchaba un escudero de
los que el coche acompañaban, que era vizcaíno,56el cual, vien ­
do que no quería dejar pasar el coche adelante, sino que decía
que luego había de dar la vuelta al Toboso, se fue para don
Q uijote y, asiéndole de la lanza, le dijo, en mala lengua caste­
llana y peor vizcaína, desta manera:
—Anda, caballero que mal andes; por el Dios que crióme,
que, si no dejas coche, así te matas como estás ahí vizcaíno.57
Entendióle m uy bien don Q uijote, y con m ucho sosiego le
respondió:
—Si fueras caballero, com o no lo eres, ya yo hubiera castiga­
do tu sandez y atrevimiento, cautiva criatura.58
A lo cual replicó el vizcaíno:
—¿Y o no caballero? Ju ro a Dios tan mientes com o cristiano.
Si lanza arrojas y espada sacas, ¡el agua cuán presto verás que al
gato llevas! Vizcaíno por tierra, hidalgo por mar, hidalgo por el
diablo, y mientes que mira si otra dices cosa.59
—Ahora lo veredes, dijo Agrajes60 —respondió don Quijote.
56
‘vasco’; más adelante se dice
58 ‘criatura mezquina, endemo­
niada’ (I, 4, 75, n. 77).0
que este personaje era guipuzcoano,
de A zpeitia (I, 9, 119 , n. 37).
59 ‘¿Que no soy caballero? Ju ro a
” ‘Vete, caballero, en hora mala,
Dios, como cristiano, que mientes
que, por el Dios que me crió, si no
m ucho. Si arrojas la lanza y sacas la
espada ¡verás cuán presto me llevo
dejas el coche es tan cierto que este
el gato al agua! El vizcaíno es hidal­
vizcaíno te matará como que tú es­
go por tierra, por mar y por el dia­
tás aquí’; el parlamento del vizcaíno
blo; y mira que mientes si dices otra
esconde dos chistes a cuenta de D Q :
cosa’ ; llevarse el gato al agua: ‘salirse
decir caballero que mal andes a quien
con la suya’ . Era proverbial el afe­
pretende ser caballero andante, y
rramiento de los vascos a su hidal­
vizcaíno, que equivalía a ‘tonto’ , que
por concordancia se puede aplicar a guía (véase arriba, n. 57); ponerla en
duda constituía para ellos la m ayor
DQ . A los vizcaínos se les atribuía
de las ofensas: por eso el vasco des­
un lenguaje convencional, que Q uevedo caricaturiza en el Libro de todas miente (y ofende gravemente) dos
las cosas; eran además objeto de sáti­ veces a DQ .°
Fórm ula proverbial de amena­
ra en la literatura de la época, sobre
todo en el teatro, por sus ínfulas de za (I, 43, 55ó); con todo, Agrajes,
personaje del Amadís, nunca en el
nobleza, su inocencia o simpleza y
su valor, junto con su facilidad para texto conservado utiliza tal expre­
sión.0
ofenderse y encolerizarse.0
112
PRIMERA PARTE · CAPÍTULO VIII
30 - 3 0 V
Y , arrojando la lanza en el suelo, sacó su espada y embrazó
su rodela, y arremetió al vizcaíno, con determinación de qui­
tarle la vida. E l vizcaíno, que así le vio venir, aunque quisiera
apearse de la muía, que, por ser de las malas de alquiler,61 no ha­
bía que fiar en ella, no pudo hacer otra cosa sino sacar su espa­
da; pero avínole bien que se halló junto al coche,62 de donde
pudo tomar una almohada, que le sirvió de escudo, y luego se
fueron el uno para el otro, como si fueran dos mortales ene­
migos. La demás gente quisiera ponerlos en paz, mas no pudo,
porque decía el vizcaíno en sus mal trabadas razones que si no
le dejaban acabar su batalla, que él mismo había de matar a su
ama y a toda la gente que se lo estorbase. La señora del coche,
admirada y temerosa de lo que veía, hizo al cochero que se des­
viase de allí algún poco, y desde lejos se puso a mirar la rigu­
rosa contienda, en el discurso de la cual dio el vizcaíno una
gran cuchillada a don Q uijote encima de un hom bro,63 por en­
cima de la rodela, que, a dársela sin defensa, le abriera hasta la
cintura.04 D o n Q uijote, que sintió la pesadumbre de aquel des­
aforado golpe,65 dio una gran voz, diciendo:
-¡O h , señora de m i alma, Dulcinea, flor de la fermosura, so­
corred a este vuestro caballero, que por satisfacer a la vuestra
mucha bondad en este riguroso trance se halla!
E l decir esto, y el apretar la espada, y el cubrirse bien de su ro­
dela, y el arremeter al vizcaíno, todo fue en un tiempo, llevan­
do determinación de aventurarlo todo a la de un golpe solo.66
E l vizcaíno, que así le vio venir contra él, bien entendió por
su denuedo su coraje, y determinó de hacer lo mesmo que
don Q uijote; y, así, le aguardó bien cubierto de su almohada,
sin poder rodear la muía a una ni a otra parte,67 que ya, de puro
cansada y no hecha a semejantes niñerías, no podía dar un
paso.
61 Las muías de alquiler tenían fama
de malas (I, 29, 374; II, 40, 1038).
Nótese la paronomasia mula/mala.0
62 avínole bien: ‘tuvo la fortuna’ .0
63 cuchillada: ‘golpe dado con el
filo de la espada’ (II, 19, 860, n. 50).
04 H ipérbole propia de los libros
de caballerías.0
6s pesadumbre: ‘peso, fuerza’; y
también ‘ofensa, injuria, dolor’ , por
haber recibido el primer golpe en el
combate.
“ ‘a un único golpe’ .™
67 ‘sin conseguir que la muía girase sobre sí misma’, para poder dar
frente a DQ .
AVENTURA DEL VIZCAÍNO
113
Venía, pues, como se ha dicho, don Q uijote contra el cauto
vizcaíno con la espada en alto,68 con determinación de abrirle
por medio, y el vizcaíno le aguardaba ansimesmo levantada la
espada y aforrado con su almohada,69 y todos los circunstantes
estaban temerosos y colgados de lo que había de suceder de
aquellos tamaños golpes con que se amenazaban;70 y la señora
del coche y las demás criadas suyas estaban haciendo mil votos
y ofrecimientos a todas las imágenes y casas de devoción de E s­
paña,71 porque Dios librase a su escudero y a ellas de aquel tan
grande peligro en que se hallaban.
Pero está el daño de todo esto que en este punto y término
deja pendiente el autor desta historia esta batalla,72 disculpán­
dose que no halló más escrito destas hazañas de don Quijote, de
las que deja referidas. Bien es verdad que el segundo autor desta
obra73 no quiso creer que tan curiosa historia estuviese entrega­
da a las leyes del olvido, ni que hubiesen sido tan poco curio­
sos los ingenios de la Mancha, que no tuviesen en sus archivos
o en sus escritorios algunos papeles que deste famoso caballero
tratasen; y así, con esta imaginación, no se desesperó de hallar
el fin desta apacible historia, el cual, siéndole el cielo favorable,
le halló del m odo que se contará en la segunda parte.
68 cauto: ‘resguardado’ ; conserva el
valor etim ológico.0
69 aforrado: ‘abrigado, protegido’ .
70 colgados: ‘suspensos y pendientes’ .0
71 casas de devoción: ‘santuarios, er­
mitas’ .0
72 ‘combate, batalla singular’ ; la
interrupción del relato para suscitar
el interés del lector, recurso fre­
cuente en los libros de caballerías y
en poemas épicos, es utilizada por
C . con intención jocosa.0
73 Hasta este momento la historia
de D Q ha sido contada en primera
persona («no quiero acordarme»)
por un narrador innominado y neu­
tro, que ha recogido, ocasionalmen­
te, las indicaciones que el propio
DQ hacía al futuro historiador que
escribiría sus aventuras (I, 2); pero
en I, i, 39, se dice que «hay alguna
diferencia en los autores que deste
caso escriben»: se crea así una ambi­
güedad sobre la identidad de los na­
rradores, traductores y revisores de
esta «verdadera historia» que ha sido
m otivo de amplia discusión entre los
comentariastas del Quijote °
3I-3IV
SEGUNDA PARTE
DEL INGENIOSO HIDALGO
DON QUIJOTE DE
LA MANCHA
C A P ÍT U L O IX
Donde se concluye y da fin, a la estupenda batalla1 que el
gallardo vizcaíno y el valiente manchego tuvieron
Dejamos en la primera parte desta historia2 al valeroso vizcaíno y
al famoso don Quijote con las espadas altas y desnudas, en guisa
de descargar dos furibundos fendientes,3 tales, que, si en lleno se
acertaban, por lo menos se dividirían y fenderían de arriba abajo
y abrirían como una granada; y que en aquel punto tan dudoso
paró y quedó destroncada tan sabrosa historia,4 sin que nos diese
noticia su autor dónde se podría hallar lo que della faltaba.
Causóme esto mucha pesadumbre,5 porque el gusto de haber
leído tan poco se volvía en disgusto de pensar el mal camino6
que se ofrecía para hallar lo mucho que a m i parecer faltaba de
tan sabroso cuento. Parecióm e cosa imposible y fuera de toda
buena costumbre7 que a tan buen caballero le hubiese faltado
1 estupenda: ‘asombrosa, pasmosa’,
todavía con valor etimológico. V éa­
se II, 36, 10 2 1, n. 34.°
2 E l Quijote de 1605, aunque con
numeración seguida de capítulos,
aparece dividido en cuatro partes de
m uy desigual extensión (véase I, 1,
37, n.*). Las razones de esta distri­
bución han sido m uy discutidas,
atribuyéndose unas veces a propósi­
tos literarios y otras a una reelabora­
ción del original primitivo.0
3 en guisa: ‘en actitud de’; fendien­
tes: ‘golpes dados con el filo de la es­
pada, de arriba abajo’ .0
115
4 y que...: el período concluye
como si dependiera de un y dijimos. ..,
olvidando el inicial dejamos...; des­
troncada: ‘cortada’ .0
5 E l narrador vuelve a tomar la
palabra en primera persona, com o
en el «no quiero acordarme...» con
que comenzaba el relato.0
6 ‘la poca ocasión y mucha difi­
cultad’ (compárese con el m odis­
m o: «Tener un pedazo de mal ca­
mino»),
7 ‘fuera de todo buen proceder’
(véase el aforismo jurídico: «La bue­
na costumbre hace ley»).
Il6
PRIMERA PARTE ■ CAPITULO IX
algún sabio8 que tomara a cargo el escrebir sus nunca vistas ha­
zañas,9 cosa que no faltó a ninguno de los caballeros andantes,
de los que dicen las gentes
que van a sus aventuras,10
porque cada uno dellos tenía uno o dos sabios” como de m ol­
de, que no solamente escribían sus hechos, sino que pintaban
sus más mínimos pensamientos y niñerías, por más escondidas
que fuesen; y no había de ser tan desdichado tan buen caballe­
ro, que le faltase a él lo que sobró a Platir y a otros semejan­
tes.12 Y , así, no podía inclinarme a creer que tan gallarda histo­
ria hubiese quedado manca y estropeada, y echaba la culpa a la
malignidad del tiempo, devorador y consumidor de todas las
cosas,13 el cual, o la tenía oculta, o consumida.
Por otra parte, m e parecía que, pues entre sus libros se ha­
bían haUado tan modernos como Desengaño de celos y Ninfas y
pastores de Henares, que también su historia debía de ser m oderna'4
y que, ya que no estuviese escrita, estaría en la memoria de la
gente de su aldea y de las a ella circunvecinas. Esta imaginación
me traía confuso15 y deseoso de saber real y verdaderamente
toda la vida y milagros de nuestro famoso español don Q uijo­
te de la Mancha, luz y espejo de la caballería manchega, y el
primero que en nuestra edad y en estos tan calamitosos tiem8 Las historias de los libros de ca­
ballerías solían atribuirse a sabios (véa­
se I, 2, 50, n. 18).0
9 nunca vistas: ‘insólitas, extraordi­
narias’ , pero también ‘ que nunca
fueron vistas’, porque no existieron.0
10 Los versos están emparentados
con los que añade Alvar Gómez de
Ciudad R e a l en su traducción del
Triunfo de Amor de Petrarca; se repi­
ten en I, 49, 619, y II, 16, 8 21: en
ellos se combina el caballero aven­
turero con el enamorado.0
11 Los autores fingidos de los li­
bros de caballerías.0
12 Se refiere al protagonista de la
Crónica del caballero Platir. Véase I, 6,
86, n. 2 1.
13 Traducción y amplificación del
«Tempus edax rerum» de O vidio,
Metamorfosis, X V , 234.0
14 Las dos obras, citadas en I, 6,
93, son de 1586 y 1587 respectiva­
mente, pero el libro más moderno
que se cita en la Primera parte es E l
Pastor de Iberia, de 15 9 1. Este dato,
entre otros, ha sido utilizado para
establecer las fechas de la primera
elaboración del Q. (I, 2, 48, n. ó).°
15 imaginación: ‘pensamiento’; en
cuanto potencia del alma, se opone
a fantasía (I, 1, 42, n. 32).0
32
HALLAZGO DEL MANUSCRITO
117
pos se puso al trabajo y ejercicio de las andantes armas,'6 y al de
desfacer agravios, socorrer viudas, amparar doncellas, de aque­
llas que andaban con sus azotes y palafrenes17 y con toda su v ir­
ginidad a cuestas, de monte en monte y de valle en valle: que si
no era que algún follón o algún villano de hacha y capellina18 o
algún descomunal gigante las forzaba, doncella hubo en los pa­
sados tiempos que, al cabo de ochenta años, que en todos ellos
no durmió un día debajo de tejado, y se fue tan entera a la se­
pultura como la madre que la había parido,19 D igo, pues, que
por estos y otros muchos respetos es digno nuestro gallardo
Q uijote de continuas y memorables alabanzas, y aun a mí no se
me deben negar, por el trabajo y diligencia que puse en buscar
el fin desta agradable historia; aunque bien sé que si el cielo, el
caso y la fortuna no me ayudan,20 el mundo quedara falto y sin
el pasatiempo y gusto que bien casi dos horas podrá tener el que
con atención la leyere.21 Pasó, pues, el hallarla en esta manera:
16 Se enuncia el lugar común de la otro lado, se invierte, con malicia, el
esperable: «como la había parido la
calamidad del presente debida a la de­
cadencia moral del hombre; es la madre». La alusión a la madre que lo
Edad de Hierro frente a la Edad de parió a uno es tradicional en España
O ro pasada, que se plantea varias para dar fuerza a una afirmación; in­
cluso, descargada de sentido, queda
veces en el libro (I, 1 1 , 13 3 -13 5 ) .°
com o expresión de sorpresa o admi­
17 azotes·, ‘fustas, correas cortas y
ración.00
anchas que se emplean como láti­
20 el cielo, el caso y lafortuna: ‘la pro­
gos’; palafrenes: ‘caballos pequeños y
videncia, el azar y la fortuna’, ele­
mansos, propios para viaje, pero no
mentos que se conjugan con frecuen­
para las armas’; Covarrubias, Tesoro,
añade: «En éstos, según los libros de cia en el Humanismo, quizá con
origen en Boecio (Consolación, V, 1);
caballerías, caminaban las doncellas
ayudan: puede entenderse ‘no llegan a
por las selvas».0
JS ‘capacete, casquete’ ; hacha y ca­ ayudarme, no me hubieran ayudado’ .0
21 ‘sin las casi dos horas de entre­
pellina eran las armas que tenían a su
tenimiento que se podrán encontrar
disposición el labrador y los de baja
en el libro, si se lee con cuidado’ .
condición. También se armaba así,
C o m o es imposible leer la Primera
con lo que tenía a mano, el villano
que, por alguna razón, se echaba al parte del Q. en dos horas, gran par­
te de la crítica ha considerado que el
monte (II, 4, 72o).0
19
y se fu e...: entiéndase ‘se fue’ , pasaje se atiene al tópico de la cap­
tación de benevolencia, arropado
com o si no apareciera la y; era cons­
por el de la modestia del autor y el
trucción frecuente en el estilo colo­
de la petición de atención del lector.0
quial (véase I, 10, 767, n. 31). Por
118
PRIMERA PARTE · CAPÍTULO IX
32V
Estando yo un día en el Alcaná de Toledo, llegó un mucha­
cho a vender unos cartapacios y papeles viejos a un sedero;22 y
com o yo soy aficionado a leer aunque sean los papeles rotos de
las calles, llevado desta m i natural inclinación tomé un cartapa­
cio de los que el muchacho vendía y vile con caracteres23 que
conocí ser arábigos. Y puesto que aunque los conocía no los sa­
bía leer, anduve mirando si parecía por allí algún morisco alja­
miado que los leyese,24 y no fue m uy dificultoso hallar intér­
prete semejante, pues aunque le buscara de otra m ejor y más
antigua lengua le hallara.25 E n fin, la suerte me deparó uno,
que, diciéndole m i deseo y poniéndole el libro en las manos, le
abrió por medio, y, leyendo un poco en él, se comenzó a reír.
Pregúntele yo que de qué se reía, y respondióme que de una
cosa que tenía aquel libro escrita en el margen por anotación.
D íjele que me la dijese, y él, sin dejar la risa, dijo:
—Está, com o he dicho, aquí en el margen escrito esto: «Esta
Dulcinea del Toboso, tantas veces en esta historia referida, di­
cen que tuvo la m ejor mano para salar puercos que otra m ujer
de toda la Mancha».20
Cuando yo oí decir «Dulcinea del Toboso», quedé atónito y
suspenso, porque luego se me representó que aquellos cartapa­
cios contenían la historia de don Q uijote. C o n esta imagina­
ción, le di priesa que leyese el principio, y haciéndolo ansí, vol­
viendo de improviso el arábigo en castellano, dijo que decía:
Historia de don Quijote de la Mancha, escrita por Cide Hamete Benengeli, historiador arábigo.27 M ucha discreción fue menester para
22 La Alcaná era calle mercantil;
cartapacios: ‘papeles en que se apuntan cosas diversas’ o ‘pliegos contenidos en una carpeta’; las mercancías
se envolvían frecuentemente en papeles usados.“
23 Cervantes acentuaba la palabra
como esdrújula (II, 35, 1007).
24 morisco aljamiado: ‘el que habla
castellano y árabe’ .0
25 E l autor se refiere al hebreo,
considerada la lengua mejor y la más
antigua por ser la del Antiguo Testa-
mentó. Quizá haya una alusión a los
criptojudíos que seguían en Toledo,
pese a la expulsión de 1492.0
26 la mejor mano: ‘la mayor habili—
dad’.°
27 La figura, nombre y función del
autor ficticio, Cide Hamete Benengeli, y del traductor morisco han
planteado múltiples problemas a la
crítica. E l presentarse como simple
traductor de una obra escrita por
otro es recurso frecuente en los libros de caballerías.0
33
HALLAZGO DEL MANUSCRITO
lip
disimular el contento que recebí cuando llegó a mis oídos el tí­
tulo del libro, y, salteándosele al sedero,28 compré al muchacho
todos los papeles y cartapacios por medio real; que si él tuvie­
ra discreción y supiera lo que yo los deseaba, bien se pudiera
prometer y llevar más de seis reales de la compra. Apárteme
luego con el morisco por el claustro de la iglesia m ayor,29 y roguele me volviese aquellos cartapacios,30 todos los que trataban
de don Quijote, en lengua castellana, sin quitarles ni añadirles
nada, ofreciéndole la paga que él quisiese. Contentóse con dos
arrobas de pasas y dos fanegas de trigo,31 y prometió de tradu­
cirlos bien y fielmente32 y con mucha brevedad. Pero yo, por
facilitar más el negocio y por no dejar de la mano tan buen ha­
llazgo, le truje a m i casa,33 donde en poco más de mes y medio
la tradujo toda, del mesmo modo que aquí se refiere.
Estaba en el primero cartapacio pintada m uy al natural la ba­
talla de don Q uijote con el vizcaíno, puestos en la mesma pos­
tura que la historia cuenta,34 levantadas las espadas, el uno cu­
bierto de su rodela, el otro de la almohada, y la muía del
vizcaíno tan al vivo, que estaba mostrando ser de alquiler a tiro
de ballesta.35 Tenía a los pies escrito el vizcaíno un título que
decía36 «Don Sancho de Azpetia»,37 que, sin duda, debía de ser
su nombre, y a los pies de Rocinante estaba otro que decía
28 ‘adelantándome en el negocio
al sedero’ .
25 ‘catedral’ .
30 volviese: ‘tradujese’.
31 arrobas: ‘medida de peso, equivalente a unos doce kilos’ (como
medida para líquidos, véase I, 37,
476, n. 7); fanegas: ‘medida de capacidad para grano, que equivale a
unos cincuenta litros’ . C on las pasas
y la sémola del trigo se preparaba el
alcuzcuz, plato m uy apreciado por
los moros.0
32 ‘con toda exactitud’ (I, 25, 310 ,
y 40, 512); fórmula de escribanos
para dar cuenta de la copia de un
documento.0
33 ‘lo alojé en m i casa’ ; truje es
form a etim ológica de traje (I, 2, 57,
n. 86).°
34 historia: ‘relato, crónica’ ; pero
aquí puede significar también ‘dib ujo’ .°
35 ‘desde bastante lejos’; se opone a
tiro de piedra. La ballesta es el arma manual, salvando las de fuego, que lanza
el proyectil con más fuerza.0/ 33
36 título: ‘rótulo’; aunque el procedimiento identificado!- es frecuente
en los libros historiados o en los
pliegos sueltos, no deja de evocar al
del pintor Orbaneja (II, 3, 7 1 1 , y 7 1,
13 15 ).
37 Azpetia, actual Azpeitia (Guipúzcoa); el nombre de Sancho era
proverbial de vizcaínos.0
120
P R IM ERA PA R T E
■ C APÍTU LO IX
33V
«Don Quijote».38 Estaba Rocinante maravillosamente pintado,
tan largo y tendido,39 tan atenuado y flaco, con tanto espina­
zo, tan hético confirmado,40 que mostraba bien al descubierto
con cuánta advertencia y propriedad se le había puesto el nom ­
bre de «Rocinante». Junto a él estaba Sancho Panza, que tenía
del cabestro a su asno, a los pies del cual estaba otro rétulo41 que
decía «Sancho Zancas»,42 y debía de ser que tenía, a lo que mos­
traba la pintura, la barriga grande, el talle corto y las zancas lar­
gas, y por esto se le debió de poner nombre de «Panza» y de
«Zancas», que con estos dos sobrenombres le llama algunas ve­
ces la historia. Otras algunas menudencias había que advertir,
pero todas son de poca importancia y que no hacen al caso a la
verdadera relación de la historia, que ninguna es mala com o
sea verdadera.
Si a ésta se le puede poner alguna objeción cerca de su ver­
dad, no podrá ser otra sino haber sido su autor arábigo, siendo
m uy propio de los de aquella nación ser mentirosos;43 aunque,
por ser tan nuestros enemigos, antes se puede entender haber
quedado falto en ella que demasiado. Y ansí me parece a mí,
pues cuando pudiera y debiera estender la pluma en las alaban­
zas de tan buen caballero, parece que de industria las pasa en si­
lencio:44 cosa mal hecha y peor pensada, habiendo y debiendo
ser los historiadores puntuales, verdaderos y nonada apasiona­
dos,45 y que ni el interés ni el miedo, el rancor ni la afición,46
no les hagan torcer del camino de la verdad, cuya madre es la
historia, émula del tiempo, depósito de las acciones, testigo de
38 E l rótulo hace, cómicamente,
que se confunda el caballo con el
caballero.
35 Se juega con el doble sentido de
largo, de longitud, y largo y tendido,
‘ con todo detalle’ .0
40 atenuado: ‘fino, casi transparen­
te’; espinazo: ‘espina dorsal’; hético
confirmado: ‘tísico o tuberculoso con­
sumido’.0
41 ‘rótulo’; en Cervantes es la for­
ma normal.
42 Es la única ocasión en que se le
llama así en el Q. (I, 7, 100, n. 39).0
43 aquella nación: ‘los musulmanes’ ;
C . mantiene la ambigüedad sobre la
veracidad de lo que se relata, ya que
poco antes (y después: I, 16, 186)
trata a Cide Hamete de «historiador
m uy curioso y m uy puntual en to­
das las cosas». La falsía y engaño de
moros, turcos y musulmanes eran
proverbiales.0
44 de industria: ‘adrede’ .
45 ‘nada apasionados’.
46 ‘ el odio ni la amistad’ .
34
AVENTURA DEL VIZCAÍNO
12 1
lo pasado, ejemplo y aviso de lo presente, advertencia de lo por
venir.47 E n ésta sé que se hallará todo lo que se acertare a de­
sear en la más apacible; y si algo bueno en ella faltare, para mí
tengo que fue por culpa del galgo de su autor,4S antes que por
falta del sujeto.49 E n fin, su segunda parte, siguiendo la tradución, comenzaba desta manera:
Puestas y levantadas en alto las cortadoras espadas de los dos
valerosos y enojados combatientes,50 no parecía sino que esta­
ban amenazando al cielo, a la tierra y al abismo:5' tal era el de­
nuedo y continente que tenían. Y el primero que fue a descar­
gar el golpe fue el colérico vizcaíno; el cual fue dado con tanta
fuerza y tanta furia, que, a no volvérsele la espada en el cami­
n o,52 aquel solo golpe fuera bastante para dar fin a su rigurosa
contienda y a todas las aventuras de nuestro caballero; mas la
buena suerte, que para mayores cosas le tenía guardado, torció
la espada de su contrario, de modo que, aunque le acertó en el
hombro izquierdo, no le hizo otro daño que desarmarle todo
aquel lado, llevándole de camino gran parte de la celada, con la
mitad de la oreja, que todo ello con espantosa ruina vino al
suelo,53 dejándole m uy maltrecho.
¡Válame Dios, y quién será aquel que buenamente pueda
contar ahora la rabia que entró en el corazón de nuestro m anchego, viéndose parar de aquella manera!54 N o se diga más sino
que fue de manera que se alzó de nuevo en los estribos55 y,
apretando más la espada en las dos manos, con tal furia descar­
gó sobre el vizcaíno, acertándole de lleno sobre la almohada y
sobre la cabeza, que, sin ser parte tan buena defensa, como si
cayera sobre él una montaña, comenzó a echar sangre por las
47 La definición de historia está ba­
sada en un esquema de Cicerón con­
vertido en tópico: «Historia vero testis
temporum, lux veritatis, vita memo­
riae, magistra vitae, nuntia vetustatis»
(De oratore, II, i x , 36); nótese, sin em­
bargo, el desvío que imprime C.°
48galgo y perro eran insultos que se
aplicaban recíprocamente cristianos
y musulmanes.0
49 ‘asunto, materia’ .
>0 cortadoras es adjetivo épico (II,
46, 10 9 1, n. 5).0
51 ‘al mar’ ; es decir, al universo
entero.0
52 volvérsele: ‘desviársele’; véase I,
8, n o , n. 55.
53 mina: ‘derrumbe, desmorona­
m iento’ .
54 parar: ‘poner, maltratar’.0
55 de nuevo: ‘ahora y no antes, por
primera vez’ °
122
PRIMERA PARTE · CAPÍTULO IX
34V
narices y por la boca y por los oídos, y a dar muestras de caer
de la muía abajo, de donde cayera, sin duda, si no se abrazara
con el cuello; pero, con todo eso, sacó los pies de los estribos
y luego soltó los brazos, y la muía, espantada del terrible golpe,
dio a correr por el campo, y a pocos corcovos dio con su due­
ño en tierra.56
Estábaselo con m ucho sosiego mirando don Q uijote, y como
lo vio caer,57 saltó de su caballo y con mucha ligereza se llegó
a él, y poniéndole la punta de la espada en los ojos, le dijo que
se rindiese; si no, que le cortaría la cabeza.58 Estaba el vizcaíno
tan turbado, que no podía responder palabra; y él lo pasara mal,
según estaba ciego don Q uijote, si las señoras del coche, que
hasta entonces con gran desmayo habían mirado la pendencia,
no fueran a donde estaba y le pidieran con mucho encareci­
miento les hiciese tan gran merced y favor de perdonar la vida
a aquel su escudero. A lo cual don Q uijote respondió, con m u­
cho entono y gravedad:
—Por cierto, fermosas señoras, yo soy m uy contento de hacer
lo que me pedís, mas ha de ser con una condición y concier­
to:59 y es que este caballero me ha de prometer de ir al lugar del
Toboso y presentarse de m i parte ante la sin par doña D ulci­
nea, para que ella haga dél lo que más fuere de su voluntad.
La temerosa y desconsolada señora, sin entrar en cuenta de lo
que don Q uijote pedía, y sin preguntar quién Dulcinea fuese,
le prometieron que el escudero haría todo aquello que de su
parte le fuese mandado.60
-P ues en fe de esa palabra yo no le haré más daño, puesto
que me lo tenía bien m erecido.61
50 corcovos: ‘saltos, botes’.
57 ‘así que lo vio caer’ .0
58 En los libros de caballerías es la
fórmula usual para reclamar la ren­
dición.0
59 ‘pacto, convenio’ .
60 le prometieron: se cruzan aquí los
dos sujetos que C . ha utilizado en el
episodio: «la señora del coche» (La
temerosa...) y «las señoras del coche»
(prometieron) ,a
61 ‘aunque lo tenía bien merecido,
en m i concepto’ ; el me es un dativo
de interés.
35
DON QUIJOTE Y SANCHO
123
C A P ÍT U L O X
D e lo que más le avino a don Quijote con el vizcaíno y del
peligro en que se vio con una caterva de yangüeses1
Y a en este tiempo se había levantado Sancho Panza, algo m al­
tratado2 de los mozos de los frailes, y había estado atento a la
batalla de su señor don Q uijote, y rogaba a D ios en su corazón
fuese servido de darle vitoria y que en ella ganase alguna ínsu­
la de donde le hiciese gobernador, como se lo había prometi­
do. Viendo, pues, ya acabada la pendencia y que su amo v o l­
vía a subir sobre Rocinante, llegó a tenerle el estribo y, antes
que subiese, se hincó de rodillas delante dél y, asiéndole de la
mano, se la besó3 y le dijo:
—Sea vuestra merced servido, señor don Q uijote m ío, de dar­
me el gobierno de la ínsula que en esta rigurosa pendencia se
ha ganado, que, por grande que sea, yo me siento con fuerzas
de saberla gobernar tal y tan bien com o otro que haya gober­
nado ínsulas en el mundo.
A lo cual respondió don Quijote:
-A d vertid ,4 hermano Sancho, que esta aventura y las a ésta
semejantes no son aventuras de ínsulas, sino de encrucijadas,
en las cuales no se gana otra cosa que sacar rota la cabeza, o
una oreja menos. T ened paciencia, que aventuras se ofrecerán
donde no solamente os pueda hacer gobernador, sino más ade­
lante.5
1 E l título del capítulo no corres­
ponde a lo que se va a narrar: el epi­
sodio del vizcaíno ya ha terminado y
a DQ no le sucede nada más con él.
C o n los yangüeses (o ‘gallegos’) no se
encontrará hasta I, 15. Este posible
descuido de C . ha provocado, desde
antiguo, muchas especulaciones.“
2 Atenuación irónica; véase I, 8,
n i : «sin dejarle pelo en las barbas,
le molieron a coces».
3 En señal de respeto y vasallaje.
La mano se besaba a un superior, so­
bre todo cuando se agradecía o pedía
alguna merced, como sucede ahora.0
4 Es la primera vez que DQ se di­
rige a Sancho con el vos. Tanto este
tratamiento com o el de hermano se
daban a gente de baja extracción so­
cial o para mostrar enojo; eran fór­
mulas exclusivamente rurales (véan­
se I, 29, 365, y 5 1, 633, n. 2o).0
5 ‘sino aun más que eso, algo de
m ayor categoría’.
124
PRIMERA PARTE · CAPÍTULO X
Agradecióselo mucho Sancho y, besándole otra vez la mano
y la falda de la loriga,6 le ayudó a subir sobre Rocinante, y él
subió sobre su asno y comenzó a seguir a su señor, que a paso
tirado,7 sin despedirse ni hablar más con las del coche, se entró
por un bosque que allí junto estaba. Seguíale Sancho a todo el
trote de su jum ento, pero caminaba tanto R ocinante, que,
viéndose quedar atrás, le fue forzoso dar voces a su amo que se
aguardase. Hízolo así don Q uijote, teniendo las riendas a R o ­
cinante hasta que llegase su cansado escudero, el cual, en lle­
gando, le dijo:
-Parécem e, señor, que sería acertado irnos a retraer a alguna
iglesia,8 que, según quedó maltrecho aquel con quien os com batistes, no será mucho que den noticia del caso a la Santa H er­
mandad9 y nos prendan; y a fe que si lo hacen, que primero que
salgamos de la cárcel, que nos ha de sudar el hopo.10
-C a lla -d ijo don Q u ijo te-, ¿y dónde has visto tú o leído ja ­
más que caballero andante haya sido puesto ante la justicia,
por más homicidios que hubiese cometido?
—Y o no sé nada de omecillos -respondió Sancho—, ni en mi
vida le caté a ninguno;11 sólo sé que la Santa Hermandad tiene
que ver con los que pelean en el campo, y en esotro no me en­
tremeto.
6 ‘cota ligéra, de cuero, de tejido natoria, sin apelación a tribunal, soguateadö, de laminillas de acero o bre los hechos delictivos cometidos
de malla, sobre la que se colocaba la en descampado, sobre todo frente al
coraza —peto y espaldar—propiamen- bandidismo; sus miembros —los cua­
te, dicha’ . La loriga dejaba colgando drilleros—no tenían demasiada buena
un faldón, que es lo que, en señal fama, tanto por la arbitrariedad de su
de extrema sumisión, besa Sancho, comportamiento y, a veces, venalicomo también se lo besan en oca- dad, como por su tendencia a dessiones a los héroes de los libros de entenderse de los asuntos difíciles y
caballerías.0/ 3 1
no ser capaces de proporcionar se7 ‘a paso rápido, sin llegar al trote’ guridad a los viajeros.0
(II, 10, 768).
10 ‘hemos de pasar muchos traba8 ‘acogernos asagrado’,donde la jo s’;hopo es ‘m echón de pelo,
copeley prohíbe alpoder civil que se
te o barba’ .
prenda a nadie.
" Sancho interpreta la vo z culta
9 Cuerpo armado, regularizado homicidio com o omecillos ‘malas vo por los R eyes Católicos (1476), que luntades, rencores’; le caté: ‘le guartenía jurisdicción policial y conde- dé’ .°
35V
DON Q U IJO TE Y SANCHO
125
-P u es no tengas pena,12 amigo -respondió don Q uijote—,
que yo te sacaré de las manos de los caldeos,13 cuanto más de
las de la Hermandad. Pero dime por tu vida: ¿has visto más va­
leroso caballero que yo en todo lo descubierto de la tierra? ¿Has
leído en historias otro que tenga ni haya tenido más brío en
acometer, más aliento en el perseverar, más destreza en el h e­
rir, ni más maña en el derribar?
—La verdad sea -respondió San ch o - que yo no he leído nin­
guna historia jamás, porque ni sé leer ni escrebir; mas lo que
osaré apostar es que más atrevido1 amo que vuestra merced yo
no le he servido en todos los días de m i vida, y quiera Dios que
estos atrevimientos no se paguen donde tengo dicho. Lo que le
ruego a vuestra merced es que se cure, que le va mucha sangre
de esa oreja, que aquí traigo hilas y un poco de ungüento blan­
co en las alfoqas.14
—T od o eso fuera bien escusado —respondió don Q u ijo te- si a
m í se me acordara de hacer una redoma del bálsamo de Fiera­
brás,15 que con sola una gota se ahorraran tiempo y medicinas.
—¿Qué redoma y qué bálsamo es ése? -d ijo Sancho Panza.
—Es un bálsamo —respondió don Q uijote— de quien tengo la
receta en la memoria, con el cual no hay que tener temor a
la muerte, ni hay pensar morir de ferida alguna. Y ansí, cuando
yo le haga y te le dé, no tienes más que hacer sino que, cuan­
do vieres que en alguna batalla me han partido por medio del
cuerpo, como muchas veces suele acontecer,16 bonitamente la
12 ‘no te preocupes’ (I, 29, 367).°
13 ‘yo te sacaré de apuros’ . Se tra­
ta de una alusión bíblica, que puede
remitir a varios pasajes de Jeremías
(X X X II, 28; X L III, 3; L, 8, etc.); cal­
deos es, algunas veces, sinónimo de
‘magos, encantadores’ .0
14 ungüento blanco: ‘pomada pro­
tectora y cicatrizante’.0
15 Bálsamo que habría senado para
ungir a Jesús antes de enterrarlo. En
un poema épico francés, el bálsamo
formaba parte del botín que consi­
guieron el rey m oro Balán y su hijo
el gigante Fierabrás («el de feroces
brazos») cuando saquearon R o m a.
Allí, Oliveros se cura de sus morta­
les heridas bebiendo un sorbo del
ungüento. La leyenda está ligada al
ciclo de libros de caballerías sobre
Carlomagno y los D oce Pares. T am ­
bién se emplea el bálsamo de Fiera­
brás en Don Belianís de Grecia. DQ lo
preparará y beberá, con efectos m uy
curiosos, en I, 17 , 19 6 -19 8 °
‘r’ La hipérbole es usual, y ya no
sólo en libros de caballerías, sino en
historias y poemas épicos. Sirve para
encarecer la fortaleza o la cólera de
quien propina el golpe.0
I2Ó
PR IM ERA PA R T E
· C A PÍT U LO X
36
parte del cuerpo que hubiere caído en el suelo, y con mucha
sotileza, antes que la sangre se yele,17 la pondrás sobre la otra
mitad que quedare en la silla, advirtiendo de encajallo igual­
mente y al ju sto.18 Luego me darás a beber solos dos tragos del
bálsamo que he dicho, y verasme quedar más sano que una
manzana.
- S i eso hay19 —dijo Panza—, yo renuncio desde aquí el go­
bierno de la prometida ínsula, y no quiero otra cosa en pago de
mis muchos y buenos servicios20 sino que vuestra m erced me
dé la receta de ese estremado licor, que para mí tengo que val­
drá la onza21 adondequiera más de a dos reales, y no he menes­
ter yo más para pasar esta vida honrada y descansadamente.
Pero es de saber agora si tiene mucha costa el hacelle.22
- C o n menos de tres reales se pueden hacer tres azumbres23
—respondió don Quijote.
-¡P ecad or de mí! -replicó Sancho—, pues ¿a qué aguarda
vuestra m erced a hacelle y a enseñármele?
-C alla, amigo -respondió don Q uijote-, que mayores secre­
tos pienso enseñarte, y mayores mercedes hacerte; y, por agora,
curémonos, que la oreja me duele más de lo que yo quisiera.
Sacó Sancho de las alforjas hilas y ungüento. Mas, cuando
don Q uijote llegó a ver rota su celada, pensó perder el ju icio 24
y, puesta la mano en la espada25 y alzando los ojos al cielo, dijo:
—Y o hago juramento al Criador de todas las cosas y a los san­
tos cuatro Evangelios, donde más largamente están escritos,26 de
capacidad para líquidos, equivalente
17 ‘se coagule’ (II, 2 1, 88o).°
18 ‘encajarlo en su sitio y de mane­
a unos dos litros.
ra que una parte se ajuste con la otra’.0
24 pensó: ‘estuvo a punto de...’ .
15
‘si tal cosa existe’ , ‘si eso es 25 ‘en actitud de jurar’, com o va a
hacer a continuación; la espada tie­
cierto’.
ne forma de cruz y sobre ella apoya
20 Fórmula fija que cierra los me­
su mano D Q .°
moriales al rey en los que se le soli­
26 D Q utiliza la fórmula legal de
cita algún premio o puesto.
21 ‘medida de peso, correspon­ juramento com ún —«por Dios y por
la señal de la cruz»-, puesto que
diente a poco menos de treinta gra­
mos’ ; estremado: ‘singular’ , ‘excelen­
cualquier otra forma estaba prohibi­
da por la ley l x v i i de Toro, y añade
te’ (I, 5 1, 6 31, n. 3; II, 23, 892).
una coletilla legal que utilizaban los
22 ‘si es m uy costoso hacerlo’ .
escribanos cuando algún documento
23 E l azumbre es una medida de
DON Q U IJO TE Y SANCHO
127
hacer la vida que hizo el grande marqués de Mantua cuando
ju ró de vengar la muerte de su sobrino Valdovinos, que fue de
no comer pan a manteles, ni con su mujer folgar,27 y otras cosas
que, aunque dellas no me acuerdo, las doy aquí por expresadas,
hasta tomar entera venganza del que tal desaguisado me fizo.
O yendo esto Sancho, le dijo:
—Advierta vuestra merced, señor don Q uijote, que si el ca­
ballero cumplió lo que se le dejó ordenado de irse a presentar
ante mi señora Dulcinea del Toboso, ya habrá cumplido con lo
que debía, y no merece otra pena si no comete nuevo delito.
-H as hablado y apuntado m uy bien -respondió don Q uijo­
te -, y, así, anulo el juramento en cuanto lo que toca a tomar dél
nueva venganza; pero hágole y confirmóle de nuevo de hacer la
vida que he dicho hasta tanto que quite por fuerza otra celada
tal y tan buena como ésta a algún caballero. Y no pienses, San­
cho, que así a humo de pajas hago esto,28 que bien tengo a quien
imitar en ello: que esto mesmo pasó, al pie de la letra, sobre el
yelm o de M am brino,29 que tan caro le costó a Sacripante.30
—Q ue dé al diablo vuestra m erced tales juram entos,31 señor
mío -replicó Sancho-, que son m uy en daño de la salud y m uy
de testimonio era resumen de otro de
m ayor longitud y más exacto; pue­
den encontrarse ejemplos en las Su­
mas de la tasa de los libros impresos
en la época.0
27 N ueva referencia al romance
del Marqués de Mantua, recurrente
desde I, 5; allí está el verso de no co­
mer a manteles, ‘no comer bien servi­
do, con ceremonia, según corres­
ponde al estado’, como penitencia.
E l verso ni con su mujer folgar no se
encuentra sino en algunos romances
del Cid. C . lo puede traer aquí por
confundir ambos romances o como
broma dicha por el casto D Q , que
aun jura hacer «otras cosas de que no
me acuerdo».“
28 a humo de pajas: ‘vanamente, sin
fundamento, sólo por cumplir’.
29 R e y moro cuyo yelmo consiguió
Reinaldos de Montalbán (Orlando innamorato, I, iv , 82); Dardinel muere
en el intento de recuperarlo (Orlando
furioso, X V III, 15 1- 15 3 ) . La idea del
yelmo maravilloso desarrollará un pa­
pel importantísmo a partir de I, 2 1 °
30 D Q sustituye a Dardinel por
Sacripante, que peleó con Reinaldos
por su caballo y por amores de A n ­
gélica en el Orlando furioso, II, 3 -10 ;
la confusión se pudo producir por
una equiparación entre Angélica y
Dulcinea; o también porque Sacri­
pante es un nombre más digno de un
enemigo vencido que el suave y ca­
balleresco de Dardinel de Alm onte.0
31 que dé al diablo: ‘desprecie, man­
de al infierno’ ; el que es un potendador.0
128
PR IM ERA PA R T E
· C A PÍTU LO X
37
en perjuicio de la conciencia. Si no, dígame ahora: si acaso en
muchos días no topamos hombre armado con celada, ¿qué he­
mos de hacer? ¿Hase de cumplir el juram ento, a despecho de
tantos inconvenientes e incomodidades, com o será el dormir
vestido y el no dormir en poblado,32 y otras m il penitencias que
contenía el juramento de aquel loco viejo del marqués de M an­
tua, que vuestra merced quiere revalidar ahora? M ire vuestra
merced bien que por todos estos caminos no andan hombres
armados, sino arrieros y carreteros, que no sólo no traen cela­
das, pero quizá no las han oído nombrar en todos los días de su
vida.
—Engáñaste en eso —dijo don Q uijote—, porque no habremos
estado dos horas por estas encrucijadas, cuando veamos más ar­
mados que los que vinieron sobre Albraca, a la conquista de
Angélica la Bella.33
-A lto , pues; sea ansí —dijo Sancho—, y a D ios prazga34 que nos
suceda bien y que se llegue ya el tiempo de ganar esta ínsula
que tan cara me cuesta, y muérame yo luego.33
- Y a te he dicho, Sancho, que no te dé eso cuidado alguno,
que, cuando faltare ínsula, ahí está el reino de Dinamarca, o el
de Sobradisa,36 que te vendrán com o anillo al dedo, y más que,
por ser en tierra firme, te debes más alegrar. Pero dejemos esto
para su tiempo, y mira si traes algo en esas alforjas que coma32 Sancho recuerda la continua­
ción de romance y juramento: «De
no vestir otras ropas / ni renovar mi
calzare, / de no entrar en poblado /
ni las armas me quitare».
33 Se refiere al episodio contado
en el Orlando innamorato, I, 10, cuan­
do multitud de ejércitos cristianos y
moros, atraídos por la belleza de
Angélica, pusieron cerco al castillo
que se levantaba sobre la peña A l­
braca, donde la tenía encerrada
su padre Galfrón, rey de Catay.
Sólo el ejército que mandaba A gricane estaba formado por dos m illo­
nes doscientos mil caballeros arma­
dos. La forma Angélica la Bella es cliché
en la poesía de tema ariostesco.0
34 ‘ojalá’, ‘Dios lo quiera’; prazga es
forma sayaguesa por plazga o plegue.
35 Es el verso segundo y más p o­
pular de un villancico copiosamente
glosado, a lo humano y a lo divino,
en la segunda mitad del siglo x v i:
«Véante mis ojos, / y muérame yo
luego, / dulce amor mío / y lo que
yo más quiero».0'
30 N om bre de un reino imaginario
del que es rey Galaor, hermano de
Amadís. La primera edición escribe
Soliadisa, errata que por azar forma
el nombre de una princesa m encio­
nada en el Clamades y Clarmonda
(1562).
37V
DON Q U IJO TE Y SANCHO
129
mos, porque vamos luego en busca de algún castillo donde alo­
jem os esta noche37 y hagamos el bálsamo que te he dicho, por­
que yo te voto a D ios38 que me va doliendo mucho la oreja.
—A q uí trayo una cebolla y un poco de queso,39 y no sé cuán­
tos mendrugos de pan -d ijo Sancho-, pero no son manjares
que pertenecen a tan valiente caballero com o vuestra merced.
-¡Q u é mal lo entiendes! -respondió don Q uijote-, Hágote
saber, Sancho, que es honra de los caballeros andantes no co­
mer en un mes, y, ya que coman, sea de aquello que hallaren
más a mano; y esto se te hiciera cierto si hubieras leído tantas
historias como yo, que, aunque han sido muchas, en todas ellas
no he hallado hecha relación de que los caballeros andantes co ­
miesen, si no era acaso y en algunos suntuosos banquetes que
les hacían, y los demás días se los pasaban en flores.40 Y aunque
se deja entender que no podían pasar sin com er y sin hacer to­
dos los otros menesteres naturales, porque en efeto eran hom ­
bres com o nosotros, hase de entender también que andando lo
más del tiempo de su vida por las florestas y despoblados, y sin
cocinero, que su más ordinaria comida sería de viandas rústicas,
tales como las que tú ahora me ofreces.41 Así que, Sancho am i­
go, no te congoje lo que a m í me da gusto: ni quieras tú hacer
mundo nuevo,42 ni sacar la caballería andante de sus quicios.
-Perdónem e vuestra m erced -d ijo Sancho-, que como yo
no sé leer ni escrebir, com o otra vez he dicho, no sé ni he caí­
do en las reglas de la profesión caballeresca;43 y de aquí adelan­
te yo proveeré las alforjas de todo género de fruta seca para
37 porque vamos luego: ‘para que va­
yamos en seguida’; vamos es forma eti­
mológica, aún usada dialectalmente.0
38 ‘te ju ro por D ios’ ; la expresión
era malsonante, propia de «la gente
inconsiderada y fanfarrona» (Covarrubias).0
39 trayo: ‘traigo’, forma popular; la
cebolla con pan es comida propia de
villanos, no de caballeros (II, 43,
1063, n. 8).°
40 Se juega con el significado lite­
ral ‘cosas hermosas, espirituales’, fren­
te a la materialidad de la comida;
pero pasárselo en flores es también
‘gastar el tiempo en cosas inútiles’ .0
41 E l no hacer asco DQ a estos
manjares y la forma de aceptación
recuerda el episodio de Lázaro y el
escudero (Lazarillo, III).
42 ‘ni quieras cambiar lo estableci­
do por la costumbre’ .0
43 ni he caído en: ‘ni he podido co­
nocer’; en el Doctrinal de caballeros se
prohíbe a los caballeros «comer man­
jares sucios».0
130
PR IM ERA PA R T E
· C APITU LO X I
38
vuestra m erced,44 que es caballero, y para mí las proveeré, pues
no lo soy, de otras cosas volátiles y de más sustancia.45
- N o digo yo, Sancho —replicó don Q uijote—, que sea forzo­
so a los caballeros andantes no com er otra cosa sino esas frutas
que dices, sino que su más ordinario sustento debía de ser dé­
lias y de algunas yerbas que hallaban por los campos, que ellos
conocían y yo también conozco.
—Virtud es —respondió San cho- conocer esas yerbas, que, se­
gún yo m e v o y imaginando, algún día será menester usar de ese
conocimiento.
Y
sacando en esto lo que dijo que traía, com ieron los dos en
buena paz y compaña.46 Pero, deseosos de buscar donde alojar
aquella noche, acabaron con mucha brevedad su pobre y seca
comida. Subieron luego a caballo y diéronse priesa por llegar a
poblado antes que anocheciese, pero faltóles el sol, y la espe­
ranza de alcanzar lo que deseaban, ju nto a unas chozas de unos
cabreros, y, así, determinaron de pasarla allí; que cuanto fue de
pesadumbre para Sancho no Ëegar a poblado fue de contento
para su amo dormirla al cielo descubierto, por parecerle que
cada vez que esto le sucedía era hacer un acto posesivo que fa­
cilitaba la prueba de su caballería.47
C A P ÍT U L O X I
D e lo que le sucedió a don Quijote con unos cabreros
Fue recogido de los cabreros con buen ánim o,1 y, habiendo
Sancho lo m ejor que pudo acomodado a Rocinante y a su ju ­
mento, se fue tras el olor que despedían de si ciertos tasajos de
4-1 fruta seca: no sólo ‘frutos secos’,
46 ‘amigablemente’.0
47 acto posesivo: ‘acto con el que se
sino también las ‘frutas que se secan
para conservarlas’ (pasas, higos, etc.).
demuestra la posesión de un dere­
45 Burla evidente de Sancho; volá­ cho de cuya propiedad cabe dudar’,
tiles son ‘cosas impalpables’ , como
en este caso el derecho de ser caba­
llero.0
el aroma de las flores, y también
‘aves’, que se conservaban en fiam­
1fu e recogido... con buen ánimo: ‘fue
bre, en escabeche, en adobo o em­
panadas, y se llevaban en los viajes.0 bien acogido’ .0
C E N A C O N LO S C A B R E R O S
131
cabra que hirviendo al fuego en un caldero estaban;2 y aunque
él quisiera en aquel mesmo punto ver si estaban en sazón de
trasladarlos del caldero al estómago, lo dejó de hacer, porque
los cabreros los quitaron del fuego y, tendiendo por el suelo
unas pieles de ovejas, aderezaron con mucha priesa su rústica
mesa y convidaron a los dos, con muestras de m uy buena v o ­
luntad, con lo que tenían. Sentáronse a la redonda de las pieles
seis dellos, que eran los que en la majada había, habiendo pri­
m ero con groseras ceremonias3 rogado a don Q uijote que se
sentase sobre un dornajo4 que vuelto del revés le pusieron. Sen­
tóse don Quijote, y quedábase Sancho en pie para servirle la copa,
que era hecha de cuerno. Viéndole en pie su amo, le dijo:
—Porque veas, Sancho, el bien que en sí encierra la andante ca­
ballería y cuán a pique5 están los que en cualquiera ministerio de­
lla se ejercitan de venir brevemente a ser honrados y estimados
del mundo, quiero que aquí a m i lado y en compañía desta bue­
na gente te sientes, y que seas una mesma cosa conmigo, que soy
tu amo y natural señor; que comas en mi plato y bebas por don­
de yo bebiere,6 porque de la caballería andante se puede decir lo
mesmo que del amor se dice: que todas las cosas iguala.7
-¡G ra n m erced!8 -d ijo Sancho-; pero sé decir a vuestra m er­
ced que como yo tuviese bien de comer, tan bien y mejor m e
lo comería en pie y a mis solas9 com o sentado a par de un em ­
perador. Y aun, si va a decir verdad, m ucho m ejor m e sabe lo
que como en mi rincón sin melindres ni respetos, aunque sea pan
y cebolla, que los gallipavos de otras mesas10 donde m e sea for-
2 tasajos: ‘dados o tiras de carne, a
veces curados con sal, al aire o al
hum o’; el tasajo es aún la base de los
sancochos y pucheros americanos.
3 ‘con cumplimientos rústicos’ .
4 ‘artesa pequeña, sin pies, que sir­
ve para dar de comer al ganado’ .0
5 ‘a punto, cerca’ .?
6 ‘en la misma copa en que yo
bebo’; el parlamento recuerda la pri­
mera epístola de San Pablo a los C o ­
rintios.0
7 D e la virtud de la caritas habla San
Pablo en la misma epístola (I Corin­
tios, X III); pero el amor igualador es
un concepto habitual tanto en la lite­
ratura culta como en la popular.0
8 ‘gran favor’ , quizá dicho con
ironía; pero lo era, porque las leyes
de la caballería prohibían al caballe­
ro sentarse con quien no lo fuera, a
no ser con hom bre que lo merecie­
se por su honra o por su bondad.0
9 ‘completamente solo’ .0
10 gallipavos: ‘pavo común, ameri­
cano’, frente al pavón o pavo reak°
132
PR IM ERA PARTE
· C APÍTU LO X I
zoso mascar despacio, beber poco, limpiarme a menudo, no es­
tornudar ni toser si me viene gana, ni hacer otras cosas que la
soledad y la libertad traen consigo. Ansí que, señor m ío, estas
honras que vuestra merced quiere darme por ser ministro y ad­
hérente de la caballería andante," com o lo soy siendo escude­
ro de vuestra merced, conviértalas en otras cosas que me sean
de más cóm odo y provecho;13 que éstas, aunque las doy por
bien recebidas, las renuncio para desde aquí al fin del m undo.13
—C on todo eso, te has de sentar, porque a quien se humilla,
D ios le ensalza.14
Y asiéndole por el brazo, le forzó a que ju n to dél se sentase.
N o entendían los cabreros aquella jerigonza de escuderos y
de caballeros andantes,15 y no hacían otra cosa que com er y ca­
llar'6 y mirar a sus huéspedes, que con m ucho donaire y gana
embaulaban tasajo com o el puño.17 Acabado el servicio de car­
ne, tendieron sobre las zaleas gran cantidad de bellotas avella­
nadas,18 y juntam ente pusieron un m edio queso, más duro que
si fuera hecho de argamasa. N o estaba, en esto, ocioso el cuer­
n o ,19 porque andaba a la redonda tan a menudo, ya lleno, ya
vacío, com o arcaduz de noria,20 que con facilidad vació un za­
que21 de dos que estaban de manifiesto. Después que don Q ui11 ministro y adherente: ‘servidor y
adjunto’ , términos usados sobre todo
para los cargos de la justicia (II, 69,
1295).
12 cómodo: ‘conveniencia, utilidad’
(I, 3 1, 3 97 )·°
13 Fórmula que aparece en algunas
cartas de renuncia de derechos o de
donación.
14 Frase del Evangelio de Lucas
(XIV, 1 1) que se refiere precisamen­
te a los invitados a un banquete.0
,s jerigonza: ‘lengua o jerga propia
de una profesión’; normalmente se
toma a mala parte, acercándola a la
germanía.0
16 comer y callar es consejo u orden
que se da a los niños.
17 ‘comían con rapidez trozos de
tasajo grandes como el puño’ ; em­
baulaban: de baúl, ‘barriga’, familiar­
mente.0
18
zaleas: ‘pieles de oveja curtidas
sin quitarles la lana’; bellotas avellana­
das: ‘bellotas dulces, con sabor se­
mejante a la avellana’, frente a las
amargas.0
15
‘cuerno de un animal utilizado
com o vaso’ .
20 ‘cangilón o recipiente que se
puede sujetar a la noria para subir el
agua’; existe el refrán; «Arcaduz de
noria, el que Eeno viene, vacío toma».0
21 ‘vasija de cuero que servía para
transportar líquidos o sacarlos de un
recipiente m ayor’; en él se guardaba
el agua o vino que se iba a consumir
pronto.0
39
D ISC U R SO DE LA ED A D D O R A D A
133
jo te hubo bien satisfecho su estómago, tomó un puño de b e­
llotas en la mano2’ y, mirándolas atentamente, soltó la voz a se­
mejantes razones:
-D ich osa edad y siglos dichosos23 aquellos a quien los anti­
guos pusieron nombre de dorados,24 y no porque en ellos el
oro, que en esta nuestra edad de hierro tanto se estima, se al­
canzase en aquella venturosa sin fatiga alguna, sino porque en­
tonces los que en ella vivían ignoraban estas dos palabras de
tuyo y m(o.2S Eran en aquella santa edad todas las cosas com u­
nes: a nadie le era necesario para alcanzar su ordinario sustento
tomar otro trabajo que alzar la mano y alcanzarle de las robus­
tas encinas, que liberalmente les estaban convidando con su
dulce y sazonado fruto. Las claras fuentes y corrientes ríos,26 en
magnífica abundancia, sabrosas y transparentes aguas les ofrecían.
E n las quiebras de las peñas y en lo hueco de los árboles fo r­
maban su república las solícitas y discretas abejas,27 ofreciendo a
cualquiera mano, sin interés alguno,28 la fértil cosecha de su
dulcísimo trabajo. Los valientes alcornoques29 despedían de sí,
sin otro artificio que el de su cortesía, sus anchas y livianas cor­
tezas, con que se comenzaron a cubrir las casas, sobre rústicas
estacas sustentadas, no más que para defensa de las inclemencias
del cielo. T od o era paz entonces, todo amistad, todo concor­
dia: aún no se había atrevido la pesada reja del corvo arado a
22 puño: ‘puñado’ .0
23 La misma expresión había em pleado DQ (I, 2, 50) para referirse al
momento en que se dieran a conocer sus hazañas escritas en un libro,
24 E l elogio de la Edad de Oro,
época mírica en la que, según los
poetas, la tierra brindaba espontáneamente sus frutos y los hombres vivían
felices, era un tópico de la literatura
clásica heredado por el Renacim iento sobre e l modelo de Ovidio (Metamorfosis, I, 89 ss.) y Virgilio (Geórgicas,
I, 125 ss.). La idealización de la Edad
de Oro, vinculada a la literatura pastoril, se desarrolló en España entre los
siglos x v y X V I I , momento en que se
intensificó la vida urbana. DQ proyecta sobre el mito de la época dorada sus utopías caballerescas.0
23 La negación de la propiedad en
la Edad de O ro es m otivo clásico
que reaparece en I¡ vendimmiatore de
Luigi Tansillo.0
16 Endecasílabo de reminiscencias
garcilasescas, no sabemos si de procedencia ajena o empleado por C .
para subrayar el carácter lírico de la
prosa empleada.0
27 solicitas: ‘diligentes, cuidadosas’ ;
el epíteto es tópico.0
28 ‘sin pedir nada a cambio’ ,
29 valientes: ‘robustos, recios, firmes’; latinismo frecuente.0
134
PR IM ERA PA RTE
· C APÍTU LO X I
39V
abrir ni visitar las entrañas piadosas de nuestra primera madre;30
que ella sin ser forzada ofrecía, por todas las partes de su fértil
y espacioso seno, lo que pudiese hartar, sustentar y deleitar a los
hijos que entonces la poseían. Entonces sí que andaban las sim­
ples y hermosas zagalejas" de valle en valle y de otero en ote­
ro ,32 en trenza y en cabello,33 sin más vestidos de aquellos que
eran menester para cubrir honestamente lo que la honestidad
quiere y ha querido siempre que se cubra, y no eran sus ador­
nos de los que ahora se usan, a quien la púrpura de T iro 34 y la
por tantos modos martirizada seda encarecen,35 sino de algunas
hojas verdes de lampazos36 y yedra entretejidas, con lo que qui­
zá iban tan pomposas y compuestas com o van agora nuestras
cortesanas con las raras y peregrinas invenciones que la curio­
sidad ociosa les ha mostrado.37 Entonces se declaraban los concetos amorosos del alma simple y sencillamente, del mesmo
m odo y manera que ella los concebía, sin buscar artificioso ro­
deo de palabras para encarecerlos.38 N o había la fraude,39 el en­
gaño ni la malicia mezcládose con la verdad y llaneza. La justi­
cia se estaba en sus proprios términos, sin que la osasen turbar
30 ‘la tierra’, piadosa porque auxilia
a sus hijos; la pesada reja del corvo ara­
do traduce la frase hecha recogida en
repertorios humanistas «Curvi pon­
dus aratri».0
31 Entonces sí refuerza la frase, que
así se opone tanto a lo que se dice en
I, 9, 117 : «Andaban... con toda su
virginidad a cuestas, de monte en
monte y de valle en valle», como al
tácito ahora.0
33 ‘cerro aislado’.
33 ‘con el cabello trenzado o suel­
to’; equivale a ‘doncellas, mujeres
jóvenes’, que llevaban la cabeza des­
cubierta, frente a las casadas y las
dueñas, que llevaban tocas.0
34 ‘tejido teñido con la grana pro­
cedente de esa ciudad fenicia’, famo­
sa por ella desde la Biblia; la púrpura
era propia de los vestidos de los reyes.
35 C . se hace eco de la polémica
sobre el lujo que arreció en España
desde finales del x v i hasta finales
del X V I I . La represión de adornos,
vestidos y tocados considerados
excesivam ente costosos e inmorales
fue objeto de numerosas pragm á­
ticas y leyes suntuarias, especial­
mente durante el reinado de Felipe
IV, aunque de escasa o nula efecti­
vidad.0
36 ‘bardana, am or de hortelano’,
planta de hojas grandes y vellosas
con flores en forma de bola rodeadas
de pinchos.
37 invenciones: ‘disfraces’ (I, 5 1, 632).
38 Es un ideal estilístico que C.
reitera desde el Prólogo (19, n. 9 1).0
39fraude es femenino, com o en la­
tín; el cliché «la fraude y el engaño»
se repite en el autor.0
40
D ISC U R SO DE LA ED A D D O R A D A
135
ni ofender los del favor y los del interese, que tanto ahora la
menoscaban, turban y persiguen. La ley del encaje40 aún no se
había sentado en el entendimiento del ju ez, porque entonces
no había qué juzgar ni quién fuese juzgado.41 Las doncellas y la
honestidad andaban, com o tengo dicho, por dondequiera, sola
y señera, sin temor que la ajena desenvoltura y lascivo intento
le menoscabasen,42 y su perdición nacía de su gusto y propria
voluntad. Y agora, en estos nuestros detestables siglos, no está
segura ninguna, aunque la oculte y cierre otro nuevo laberinto
com o el de Creta;43 porque allí, por los resquicios o por el aire,
con el celo de la maldita solicitud, se les entra la amorosa pes­
tilencia y les hace dar con todo su recogimiento al traste.44 Para
cuya seguridad, andando más los tiempos y creciendo más la
malicia, se instituyó la orden de los caballeros andantes, para
defender las doncellas, amparar las viudas y socorrer a los huér­
fanos y a los menesterosos. Desta orden soy yo, hermanos ca­
breros, a quien agradezco el gasaje45 y buen acogimiento que
hacéis a m í y a m i escudero. Que aunque por ley natural46 es­
tán todos los que viven obligados a favorecer a los caballeros
andantes, todavía,47 por saber que sin saber vosotros esta obli­
gación me acogistes y regalastes, es razón que, con la voluntad
a mí posible, os agradezca la vuestra.
T oda esta larga arenga (que se pudiera m uy bien escusar) dijo
nuestro caballero, porque las bellotas que le dieron le trajeron
a la memoria la edad dorada, y antojósele hacer aquel inútil ra­
zonamiento a los cabreros, que, sin respondelle palabra, em bo­
bados y suspensos, le estuvieron escuchando. Sancho asimesmo
callaba y comía bellotas, y visitaba m uy a menudo el segundo
40 E n un principio ‘sentencia que
se aplica por analogía’, pronto se de­
gradó para significar ‘resolución ar­
bitraria y caprichosa’ ,°
41 Se recuerda la frase evangélica
de San M ateo y San Lucas.0
42 sola y señera son sinónimos, sol­
dados en una frase hecha, que C . usa
a menudo, y siempre en singular.“
43 E l laberinto construido por
Dédalo en esta isla para encerrar al
Minotauro. Véase I, 25, 316 , y n. 119 .
44 La amorosa pestilencia nos pone
frente al tema renacentista de la lo ­
cura amorosa, de la que son víctimas
algunos personajes del Quijote.0
45 ‘agasajo’ .0
46 La impresa en el hombre por
Dios; DQ tiene en mente la organiza­
ción bajomedieval, en la que los ca­
balleros son los «nobles defensores».0
47 ‘sin embargo’ .
136
PR IM ERA PA R T E
· C A PÍTU LO X I
40 V
zaque, que, porque se enfriase el vino,48 le tenían colgado de un
alcornoque.
Más tardó en hablar don Q uijote que en acabarse la cena, al
fin de la cual uno de los cabreros dijo:
—Para que con más veras pueda vuestra merced decir, señor
caballero andante, que le agasajamos con prompta y buena v o ­
luntad, queremos darle solaz y contento con hacer que cante
un compañero nuestro que no tardará m ucho en estar aquí; el
cual es un zagal m uy entendido y m uy enamorado, y que, so­
bre todo,49 sabe leer y escrebir y es músico de un rabel,50 que
no hay más que desear.
Apenas había el cabrero acabado de decir esto, cuando llegó
a sus oídos el son del rabel, y de allí a poco llegó el que le ta­
ñía, que era un mozo de hasta veinte y dos años,5' de m uy bue­
na gracia.52 Preguntáronle sus compañeros si había cenado, y,
respondiendo que sí, el que había hecho los ofrecimientos le
dijo:
- D e esa manera, Antonio, bien podrás hacernos placer de
cantar un poco, porque vea este señor huésped que tenemos
que también por los montes y selvas hay quien sepa de música.
Hémosle dicho tus buenas habilidades y deseamos que las mues­
tres y nos saques verdaderos;53 y, así, te ruego por tu vida que te
sientes y cantes el romance de tus amores, que te compuso el
beneficiado tu tío,54 que en el pueblo ha parecido m uy bien.
-Q u e me place —respondió el mozo.
Y
sin hacerse más de rogar se sentó en el tronco de una des­
mochada encina, y, templando su rabel, de allí a poco, con
m uy buena gracia, comenzó a cantar, diciendo desta manera:
48 E l zaque conservaba el pelo del quejas los pastores del romancero
nuevo ° f 43
animal con cuyo cuero se elaboraba;
así se mojaba y la evaporación en­
51 ‘de unos veintidós años’.
,2 ‘m uy agradable’ .
friaba el vino.°
53
‘nos confirmes lo que hemos
w ‘además’ .
50 ‘instrumento de cuerda y arco’ , dicho’ .
de una sola pieza, con caja redonda
34
beneficiado: ‘clérigo de órdenes
o cuadrada y dos o tres cuerdas; para mayores o menores que disfruta de
tocarlo se apoya en la rodilla. Es el una renta por ejercer alguna función
en la iglesia o en alguna capilla par­
instrumento rústico por excelencia,
ticular’ .0
con el que suelen acompañar sus
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C A N C IÓ N DE A N TO N IO
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A N TO N IO
- Y o sé, Olalla,55 que m e adoras,
puesto que no me lo has dicho
ni aun con los ojos siquiera,
mudas lenguas de amoríos.
Porque sé que eres sabida,56
en que me quieres me afirmo,
que nunca fue desdichado
amor que fue conocido.
Bien es verdad que tal vez,
Olalla, me has dado indicio
que tienes de bronce el alma
y el blanco pecho de risco.57
Mas allá entre tus reproches
y honestísimos desvíos,
tal vez la esperanza muestra
la orilla de su vestido.58
Abalánzase al señuelo59
mi fe, que nunca ha podido
ni menguar por no llamado
ni crecer por escogido.60
,
Si el am or es cortesía,
de la que tienes colijo
que el fin de mis esperanzas
ha de ser cual imagino.
Y
si son servicios parte
de hacer un pecho benigno,61
55
‘Eulalia’; es forma alternativa y dente de la canción IV de Garcilaso,
popular del nombre.0
w . 90-91: «muéstrame l ’esperanza /
ír' ‘avisada, prudente’; pero se ju e ­
de lejos su vestido y su meneo»,0
ga con el posible sentido de ‘entera­
59 ‘cualquier cosa que sirve para
da’ respecto al amor que fue conocido,
atraer a las aves’; se recuerda el topos de
que ocurre tres versos más adelante.
que la caza de amor es de altanería,0
57 ‘duro para acceder a las deman­
60 Vuelta a lo profano de Mateo,
das’; es frase hecha, en rima con «la X X , 16, y X X II, 14.(1, 46, 582, η. 14).0
bolsa de San Francisco».
61 Ύ si los servicios amorosos sirven
s8 orilla: ‘borde’ ; es recuerdo evi­
para volver benigno algún pecho’ .
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PRIM ERA PA RTE
· C APITU LO X I
algunos de los que he hecho
fortalecen mi partido.
Porque si has mirado en ello,
más de una vez habrás visto
que me he vestido en los lunes
lo que me honraba el dom ingo.62
C om o el amor y la gala
andan un mesmo camino,
en todo tiempo a tus ojos
quise mostrarme polido.63
D ejo el bailar por tu causa,
ni las músicas te pinto
que has escuchado a deshoras
y al canto del gallo prim o.64
N o cuento las alabanzas
que de tu belleza he dicho,
que, aunque verdaderas, hacen
ser yo de algunas malquisto.
Teresa del Berrocal,
yo alabándote, me dijo:
«Tal piensa que adora a un ángel
y viene a adorar a un jim io ,65
merced a los muchos dijes66
y a los cabellos postizos,
y a hipócritas hermosuras,
que engañan al A m or mismo».
Desmentila y enojose;
volvió por ella su prim o,67
desafióme, y ya sabes
lo que yo hice y él hizo.
N o te quiero yo a m ontón,68
ni te pretendo y te sirvo
por lo de barraganía,69
que más bueno es mi designio.
61 ‘me he vestido de fiesta y alegría hasta los días aciagos, como
pueden ser los lunes’.0
63 ‘pulido, gentil, galán’ .0
í4 ‘a la media noche’ .0
6>‘simio, m ono’ .0
“ ‘adorno de poco valor, bisutería’.
67 ‘salió su prim o en su defensa’ .
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C A N C IÓ N DE A N TO N IO
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Coyundas tiene la Iglesia
que son lazadas de sirgo;70
pon tú el cuello en la gamella:71
verás como pongo el m ío.
D onde no, desde aquí ju ro
por el santo más bendito
de no salir destas sierras
sino para capuchino.
C o n esto dio el cabrero fin a su canto; y aunque don Q uijote
le rogó que algo más cantase, no lo consintió Sancho Panza,
porque estaba más para dormir que para oír canciones, y, ansí,
dijo a su amo:
-B ie n pued
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