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Interações Medicamentosas Apostila

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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Este material é parte integrante da disciplina “Interações Medicamentosas”
oferecido pela UNINOVE. O acesso às atividades, as leituras interativas, os
exercícios, chats, fóruns de discussão e a comunicação com o professor devem ser
feitos diretamente no ambiente de aprendizagem on­line.
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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Sumário
AULA 01 • CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS..................5
Definição: ....................................................................................................................................6
Quando dois fármacos interagem, a resposta farmacológica final poderá resultar em:............6
Vantagens na ocorrência de interações medicamentosas: ..........................................................7
Desvantagens na ocorrência de interações medicamentosas: ....................................................7
AULA 02 • O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA IDENTIFICAÇÃO DE INTERAÇÕES
MEDICAMENTOSAS ......................................................................................................................8
AULA 03 • CLASSIFICAÇÃO DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ........................................11
Interações Farmacêuticas .........................................................................................................11
Interações Farmacocinéticas.....................................................................................................12
Indução enzimática....................................................................................................................13
Inibição enzimática ....................................................................................................................14
Interações Farmacodinâmicas...................................................................................................14
Previsibilidade de Interações.....................................................................................................14
AULA 04 • AS PRINCIPAIS INTERAÇÕES NA FARMACOCINÉTICA ..........................................15
Inibidores da MAO (IMAOs + Tirosina ou Tiramina)...................................................................15
Varfarina + Fenilbutazona..........................................................................................................16
Estrogênio + Ampicilina ou Rifampicina.....................................................................................16
Dissulfiram + Metronidazol ........................................................................................................17
Tetraciclinas + Cálcio ................................................................................................................17
Probenecida + Penicilina ...........................................................................................................18
AULA 05 • POLIMORFISMO E INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS ...........................................19
Interações relacionadas com o sistema do citocromo P­ 450 (CYP450)....................................19
O que é o CYP450? ..................................................................................................................19
Isoformas do CYP .....................................................................................................................20
AULA 06 • INTERAÇÕES FÁRMACOALIMENTO .........................................................................22
Classificações ...........................................................................................................................22
Interações na absorção .............................................................................................................23
Interações na eliminação de fármacos ......................................................................................24
AULA 07 • INTERAÇÕES COM ANTI­INFLAMATÓRIOS .............................................................26
Interações com anti­inflamatórios não­esteróides......................................................................26
Interações com fármacos anti­hipertensivos..............................................................................26
AINEs + Lítio .............................................................................................................................27
Interações com antimicrobianos ................................................................................................27
Interações com anti­inflamatórios esteróides (AIEs) ..................................................................28
AIEs e coagulação.................................................................................................................29
AIEs + estrogênio ..................................................................................................................29
AULA 08 • INTERAÇÕES COM ANTIMICROBIANOS ..................................................................31
Prováveis mecanismos farmacocinéticos de interação medicamentosa ....................................31
Exemplos de associações medicamentosas utilizadas na prática clínica...................................32
Sulfametoxazol + Trimetropim ...............................................................................................32
Rifampicina + Isoniazida + Pirazinamida ...................................................................................33
Interação medicamentosa com contraceptivos orais .................................................................33
Algumas interações relatadas com antibióticos e outras classes terapêuticas...........................34
Antiácidos..............................................................................................................................34
Anticoagulantes .....................................................................................................................34
Bloqueadores de Canais de Cálcio........................................................................................34
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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Bloqueadores Beta­Adrenérgicos ..........................................................................................34
Glicosídios Digitálicos............................................................................................................35
AULA 09 • INTERAÇÕES COM ANTI­RETROVIRAIS ..................................................................36
AULA 10 • INTERAÇÕES COM FÁRMACOSQUE ATUAM NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
(SNC) ............................................................................................................................................38
Fármacos que atuam no SNC ...................................................................................................38
Interações medicamentosas......................................................................................................41
Considerações Finais ................................................................................................................43
AULA 11 • INTERAÇÕES COM ANTI­HIPERTENSIVOS..............................................................44
AULA 12 • INTERAÇÕES COM ANTICOAGULANTES.................................................................47
Considerações Gerais ...............................................................................................................47
Prováveis mecanismos de interação medicamentosa e interações documentadas ...................47
Interações de anticoagulantes com alimentos ...........................................................................48
Fitoterápicos e efeitos na coagulação........................................................................................48
Interação de vitamina K com anticoagulante oral.......................................................................49
Analisando o risco de hemorragias........................................................................................49
AULA 13 • INTERAÇÕES COM ANTIDIABÉTICOS ......................................................................50
Introdução .................................................................................................................................50
Interações medicamentosas documentadas..............................................................................52
Principais antidiabéticos na prática clínica.............................................................................52
AULA 14 • INTERAÇÕES COM CONTRACEPTIVOS...................................................................55
Hormônios esteróides................................................................................................................55
Classes principais de contraceptivos .........................................................................................55
Mecanismo de ação ..................................................................................................................56
Interações medicamentosas......................................................................................................56
Propriedades que promovem a interação com fármacos ...........................................................58
Interações documentadas e previsibilidade ...............................................................................58
AULA 15 • INTERAÇÕES COM FÁRMACOS UTILIZADOS PARA DISTÚRBIOS DA TIREÓIDE .59
Interações Medicamentosas......................................................................................................59
Interações Medicamentosas......................................................................................................61
AULA 16 • INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM IDOSOS ......................................................62
Considerações gerais................................................................................................................62
Analisando as interações medicamentosas em idosos ..............................................................64
AULA 17 • INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM CRIANÇAS..................................................65
Introdução .................................................................................................................................65
AULA 18 • INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM GESTANTES...............................................68
Introdução .................................................................................................................................68
Medicamentos mais utilizados por gestantes.............................................................................68
Fármacos teratogênicos ............................................................................................................70
AULA 19 • INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM UNIDADE DE TERAPIA INTENSIVA (UTI)..72
Introdução .................................................................................................................................72
Principais interações medicamentosas em UTI .........................................................................72
AULA 20 • CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS..................73
Perspectivas clínicas .................................................................................................................73
Perspectivas toxicológicas.........................................................................................................74
Perspectivas de mercado ..........................................................................................................75
BIBLIOGRAFIA .............................................................................................................................77
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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Nesta aula será abordada a definição de interações medicamentosas e também serão
apresentas situações que devem ser consideradas na administração de um fármaco, colaborando
na ocorrência de interação, podendo ser caracterizada como vantajosa e/ou desvantajosa. Além
disso, veremos uma relação de vantagens e desvantagens na ocorrência de tais interações
AULA 01 • CONSIDERAÇÕES GERAIS SOBRE INTERAÇÕES
MEDICAMENTOSAS
Um bom acompanhamento do paciente não se baseia apenas no diagnóstico correto, mas
também na terapêutica adequada. Todavia, isso não é suficiente, quando analisamos o corpo
humano como um sistema complexo, formado por uma infinidade de substâncias que fatalmente
sofrerão reações com os fármacos ingeridos.
Dessa maneira, é natural supor que a utilização de fármacos com propósitos terapêuticos
ou não, considerando mais de uma substância, resultará na atuação concomitante entre os
compostos.
Na prática clínica, muitas das interações medicamentosas têm importância relativa, com
pequeno potencial lesivo para os pacientes. Porém, há interações com efeitos colaterais graves
que podem levar o paciente a óbito, o que ressalta a importância do conhecimento das interações
e da identificação precoce dos pacientes em risco (Oga e Basile, 1994).
O conceito de interação medicamentosa não é recente, pois termos como antídoto,
potencialização, adição, somação e antagonismo eram empregados para justificar interações
entre fármacos, mesmo quando utilizados de maneira empírica.
Potencialização ­ É o termo reservado para casos em que, na associação de dois
ou mais fármacos, o efeito final é maior do que a soma algébrica dos efeitos desses
agentes; por exemplo: a ingestão de bebida alcoólica durante a vigência da ação
de um barbitúrico ou de um ansiolítico pode causar depressão do sistema nervoso
central maior do que a esperada (Storpirtis et al., 2008).
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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Adição ­ É o fenômeno decorrente da associação de dois fármacos que promovem
efeitos semelhantes por mecanismos de ação também semelhantes; como exemplo
a associação de analgésicos inibidores da ciclo­oxigenase (Storpirtis et al., 2008).
Somação ­ É aquela em que dois fármacos atuam promovendo mesmo efeito,
porém por mecanismos diferentes; por exemplo: codeína e ácido acetilsalicílico
(administrados simultaneamente) apresentam propriedade analgésica, todavia por
mecanismos de ação diferentes.
O antagonismo é observado entre fármacos de ações contrárias, sendo o
fenômeno oposto ao de potencialização; como exemplo: ansiolíticos são fármacos
que produzem efeitos opostos às anfetaminas no sistema nervoso central.
Definição:
May (1997) e Tatro (1996) definem interações medicamentosas como a modulação da
atividade farmacológica de um determinado medicamento pela administração prévia ou
concomitante de outro medicamento.
Devido às informações acerca das combinações proteicas que se processam no plasma,
assim como o conhecimento da enzimologia metabólica, o estudo das interações medicamentosas
passou a ter respaldo científico, cada vez com maior importância prática.
Quando dois fármacos interagem, a resposta farmacológica final poderá
resultar em:
Aumento de efeitos de um dos fármacos, aparecimento de efeitos novos (diferente dos
observados com quaisquer dos fármacos utilizados isoladamente), inibição dos efeitos de um
fármaco por outro, ou poderá não ocorrer nenhuma modificação no efeito final, apesar da cinética
e do metabolismo de um ou ambos os fármacos terem sido substancialmente alterados (Kawano
et al., 2006).
Os fatores ligados à administração medicamentosa também devem ser considerados:
seqüência de administração, via de administração, tempo de administração, duração do
tratamento, dose dos medicamentos e forma farmacêutica.
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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Vantagens na ocorrência de interações medicamentosas:
• Aumento de eficácia terapêutica.
• Redução de efeitos tóxicos.
• Obtenção de maior duração de efeito (pelo impedimento de excreção do fármaco).
• Impedimento ou retardo de surgimento de resistência bacteriana (esquema tríplice de
antituberculosos).
• Impedimento ou retardo de emergência de células malignas.
• Aumento de adesão ao tratamento por facilitação do esquema terapêutico.
Desvantagens na ocorrência de interações medicamentosas:
• Soma de efeitos indesejáveis quando os fármacos associados têm o mesmo perfil
toxicológico.
• Interferência na fase farmacêutica, farmacocinética e farmacodinâmica, reduzindo ou
aumentando a resposta farmacológica.
• Alteração da terapêutica, levando a não aderência ao tratamento.
• Aumento nas recidivas das patologias e piora do quadro clínico.
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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Esta aula trata sobre o papel do farmacêutico na identificação de interações
medicamentosas, a partir da prática da Atenção Farmacêutica; conceitualmente definida neste
tópico. Durante a identificação e a orientação das e sobre as interações medicamentosas,
veremos algumas abordagens aplicadas ao paciente.
AULA 02 • O PAPEL DO FARMACÊUTICO NA IDENTIFICAÇÃO
DE INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
O farmacêutico é o profissional mais adequado para assumir nos serviços de saúde as
questões relacionadas aos medicamentos, por inúmeras razões:
Ele tem formação especializada em fármacos, é o profissional mais acessível à
população, relaciona­se direta e continuamente com um elevado número de
pessoas, é muito procurado para dar aconselhamento, pode ser facilmente ouvido
e compreendido nas instruções que transmite, além de ser o último profissional em
contato com o paciente antes que ele decida por iniciar ou não um tratamento
(Witzel, 2002 citado por Storpirtis et al., 2008).
Para a prática e a possibilidade de identificação de interações medicamentosas, diante da
análise de prescrições medicamentosas, torna­se importante o desenvolvimento da Atenção
Farmacêutica. De acordo com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS), a Atenção
Farmacêutica é definida da seguinte forma:
Um modelo de prática farmacêutica, desenvolvida no contexto da Assistência
Farmacêutica. Compreende atitudes, valores éticos, comportamentos, habilidades,
compromissos e co­responsabilidades na prevenção de doenças, promoção e
recuperação da saúde, de forma integrada à equipe de saúde. É a interação direta
do farmacêutico com o usuário, visando uma farmacoterapia racional e a obtenção
de resultados definidos e mensuráveis, voltados para a melhoria da qualidade de
vida. Essa interação também deve envolver as concepções dos seus sujeitos,
respeitadas as suas especificidades biopsico­sociais, sob a ótica da integralidade
das ações de saúde.
8
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Neste contexto, a farmácia torna­se um serviço de saúde, no qual o farmacêutico
desempenha as seguintes atividades:
• Prepara e dispensa medicamentos.
• Estabelece o perfil medicamentoso dos pacientes.
• Mantém fichas farmacoterapêuticas.
• Controla possíveis erros de dosagem e reações adversas a medicamentos, riscos de
interações medicamentosas e contraindicações.
• Controla o cumprimento dos tratamentos.
• Distribui informação a médicos e pacientes.
• Controla e orienta na automedicação (Adaptado de recomendações da Organização
Mundial de Saúde).
Dentro dessas funções desempenhadas pelo farmacêutico, há execução da anamnese
farmacológica, em que o farmacêutico estabelece uma relação para orientação medicamentosa
junto ao paciente, com algumas perguntas sugeridas e relacionadas a seguir:
• Quais efeitos ruins o médico disse para cuidar?
• O que você deve fazer se tiver um efeito colateral?
• Que efeitos bons você pode esperar?
• Como você pode saber se o medicamento está fazendo efeito?
• O que você deve fazer se o medicamento não estiver fazendo efeito?
• Que cuidados você deve ter quando estiver tomando o medicamento?
No estabelecimento prático da relação farmacêutico­paciente, com o propósito de garantir
a adesão ao tratamento, alguns aspectos operacionais devem ser considerados no
aconselhamento ao paciente como:
• Favorecer um relacionamento agradável e tranquilo.
• Verificar o que o paciente já sabe a respeito.
• Usar linguagem acessível ao paciente.
• Evitar relacionamento impessoal.
• Estabelecer o diálogo: ouvir o que o paciente quer dizer, o que não quer dizer, ou não
consegue dizer.
9
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
• Não agir com superioridade.
• Não demonstrar sentimento de piedade, nem envolver­se emocionalmente.
• Evitar orientações demasiadamente simplistas ou demasiadamente rebuscadas ou
científicas.
• Controlar o tempo da entrevista, mas sem apressar o paciente.
• Enfatizar os pontos principais.
Desse modo, pelo contato no decorrer de um acompanhamento farmacoterapêutico, por
meio da Atenção Farmacêutica, baseada na relação farmacêutico­paciente, com a realização da
anamnese farmacológica, o profissional pode obter informações que possibilitem suspeitar de
interações medicamentosas e assim garantir a adesão ao tratamento.
10
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Nesta aula serão apresentadas as classificações das interações medicamentosas, a saber:
farmacêuticas, farmacocinéticas e farmacodinâmicas. Nosso foco será em farmacocinética,
destacando todas as etapas desse processo, especialmente os conceitos de indução e inibição
enzimática. Além disso, esta aula tratará sobre a classificação de previsibilidade das interações
medicamentosas.
AULA
03
•
CLASSIFICAÇÃO
MEDICAMENTOSAS
DE
INTERAÇÕES
As interações medicamentosas são classificadas em: farmacêuticas (ou físico­químicas),
farmacocinéticas e farmacodinâmicas. No quadro a seguir, segue cada definição, e adiante
veremos com mais detalhes sobre cada uma.
• Farmacêuticas: Quando um fármaco é físico ou quimicamente incompatível com outro.
•
Farmacocinéticas:
Quando
um
fármaco
interfere
na
absorção,
distribuição,
biotransformação ou na excreção de outro fármaco.
• Farmacodinâmicas: Quando um fármaco modifica a atividade de um segundo fármaco,
atuando em diferente ou igual local de ação.
Interações Farmacêuticas
As interações farmacêuticas são interações físico­químicas de um fármaco com uma
solução de infusão intravenosa ou de dois fármacos na mesma solução, resultando em perda da
atividade do fármaco envolvido.
As interações consideradas farmacêuticas podem ser evitadas se alguns princípios forem
seguidos, como:
• Administrar fármacos intravenosos na forma de injeção de bolo, ou por meio de bureta de
infusão.
11
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
• Não acrescentar fármacos a soluções de infusão, a não ser glicose ou solução salina.
Mesmo nessas soluções, alguns fármacos são instáveis, enquanto outros são
fotossensíveis e devem ser protegidos da luz para evitar a rápida perda de sua atividade.
• Evitar misturar fármacos na mesma solução de infusão, a não ser que a mistura seja
comprovadamente segura.
• Ler as instruções do fabricante e as advertências específicas, verificando se o fármaco é
apropriado para administração intravenosa.
• Misturar o fármaco por completo na solução de infusão e verificar, posteriormente,
durante a infusão se ocorreu alteração visível (turvação, precipitação ou mudança de
cor). Todavia, a ausência dessas alterações não garante a ausência de uma interação.
• Preparar soluções apenas quando elas forem necessárias.
• Escrever claramente, no rótulo de todas as garrafas de infusão, o nome e a dose do
fármaco adicionado e as horas de início e término de infusão.
• Utilizar dois locais separados para infusão, se houver necessidade de infusão simultânea
de dois fármacos; a não ser que tenha a definição e a certeza de que não haverá
interação (Grahame­Smith e Aronson, 2002).
Diante dessa relação de princípios na infusão intravenosa, percebemos a importância do
profissional farmacêutico, que deve ser consultado se houver qualquer dúvida.
Interações Farmacocinéticas
Fatores que contribuem com interações medicamentosas na farmacocinética:
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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Absorção
Distribuição
Metabolismo
Excreção
• Interações físico­químicas no trato digestório.
• Motilidade gastrointestinal
• Flora bacteriana.
• Função da mucosa.
• Fluxo sanguíneo.
• Ligação tecidual.
• Ligação às proteínas plasmáticas.
• Indução enzimática.
• Inibição enzimática.
• Filtração glomerular.
• Reabsorção tubular.
• Secreção tubular.
(Adaptado de: Greghi, 2002.)
Um exemplo clássico de interação físico­química na absorção é a quelação do cálcio,
magnésio e sais de ferro ocasionada pelas tetraciclinas.
Na absorção, a redução da motilidade gastrointestinal diminui a taxa de absorção de
fármacos, porém não afeta a extensão de sua absorção.
Na distribuição, o deslocamento de um fármaco por outro, de seus sítios de ligação às
proteínas plasmáticas, provoca um aumento na concentração circulante do fármaco não­ligado,
com consequente potencial de efeito aumentado do fármaco deslocado (Grahame­Smith e
Aronson, 2002).
Na
atualidade,
considerando
os
conceitos
de
interações
medicamentosas
na
farmacocinética, há um foco na biotransformação (conforme será abordado na aula 5),
especialmente nas definições de: indução e inibição enzimática (resumidamente colocadas a
seguir).
Indução enzimática
• Aumenta a velocidade de biotransformação hepática do fármaco.
• Aumenta a velocidade de produção dos metabólitos.
• Aumenta a depuração hepática.
• Diminui a meia­vida sérica do fármaco.
• Diminui as concentrações séricas do fármaco.
• Diminui os efeitos farmacológicos se os metabólitos forem inativos.
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INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Inibição enzimática
• Diminui a velocidade de biotransformação hepática do fármaco.
• Diminui a velocidade de produção de metabólitos.
• Diminui a depuração total.
• Aumenta a meia­vida do fármaco.
• Aumenta as concentrações séricas do fármaco.
Por fim, na excreção, destaca­se a competição pela secreção tubular renal, constituindo
um importante mecanismo nas interações que alteram a excreção, como exemplo: o fármaco
probenecida inibe a secreção tubular da penicilina, aumentando a sua concentração sanguínea e
prolongando seus efeitos terapêuticos (considerada uma interação benéfica).
Interações Farmacodinâmicas
As interações farmacodinâmicas são as que ocorrem entre dois ou mais fármacos, por
meio de seus próprios mecanismos de ação, ou competindo junto aos receptores específicos ou
independentemente de receptores (Oga, 2003 citado por Storpirtis et al., 2008).
Previsibilidade de Interações
Como forma de divulgar as interações existentes e conhecidas, pode­se adotar uma sigla
para designar a previsibilidade, conforme segue no quadro a seguir:
Interações medicamentosas com a classificação de previsibilidade
AP: Altamente previsível. Ocorre interação em quase todos os pacientes aos
quais se administra a combinação de fármacos que interagem.
P: Previsível. Ocorre interação na maioria dos pacientes que recebe a
combinação.
NP: Não previsível. A interação só é observada em alguns pacientes aos quais se
administra a combinação.
NE: Não estabelecida. Dispõe­se de dados insuficientes para avaliar a
previsibilidade.
14
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Nesta aula serão destacadas as interações medicamentosas ditas clássicas que ocorrem
na farmacocinética, por serem tratadas como importantes e pouco conhecidas pelo profissional
farmacêutico. Entre elas há algumas vantajosas e outras desvantajosas. Aquelas que também são
chamadas de associações medicamentosas, e essas merecem um alerta na prática da orientação
medicamentosa.
AULA
04
•
AS
FARMACOCINÉTICA
PRINCIPAIS
INTERAÇÕES
NA
A seguir veremos algumas das principais interações ou associações medicamentosas.
Consideram­se associações medicamentosas, quando há um propósito benéfico, sob o ponto de
vista farmacoterapêutico. Daí a associação entre fármacos. Aqui serão abordados alguns
exemplos de interações vantajosas e desvantajosas.
Associações ou interações medicamentosas clássicas:
• IMAO + Tirosina / Tiramina.
• Varfarina + Fenilbutazona.
• Estrogênio + Ampicilina / Rifampicina.
• Dissulfiram + Metronidazol.
• Tetraciclinas + Cálcio.
• Probenecida + Penicilina.
Inibidores da MAO (IMAOs + Tirosina ou Tiramina)
Os
fármacos
inibidores
da
enzima
monoaminoxidase
(IMAOs)
são
fármacos
antidepressivos classificados em: irreversíveis e não­seletivos na inibição da MAO, e seletivos e
reversíveis, na inibição da MAO­A; uma vez que há duas enzimas, MAO­A e MAO­B, e a segunda
mencionada está relacionada com processos neurodegenerativos (e não há relação com quadros
depressivos).
15
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Na interação de IMAOs (especialmente os inibidores irreversíveis) com alimentos que
contêm tiramina, como queijos, vinho, arenque e patê de fígado, ocorre um aumento da pressão
arterial, devido ao aumento de noradrenalina, pois, esse aminoácido (tiramina) apresenta estrutura
análoga ao aminoácido tirosina (precursor de noradrenalina e dopamina).
Por essa razão, será sintetizada mais noradrenalina; somando a isso, tem­se o efeito dos
IMAOs que impedem a degradação dessa monoamina (noradrenalina), ocasionando aumento
desse neurotransmissor na fenda sináptica e, consequentemente, aumento de seus efeitos, como
a vasoconstrição e aumento da frequência e força de contração da musculatura cardíaca.
Desse modo, esse tipo de interação é considerada desvantajosa, valendo a participação
do farmacêutico na orientação medicamentosa.
Varfarina + Fenilbutazona
Essa interação medicamentosa acontece na distribuição, na qual o fármaco fenilbutazona
(anti­inflamatório não­esteróide) irá competir com o fármaco varfarina (anticoagulante) no mesmo
sítio de ligação à proteína plasmática. Nessa competição, fenilbutazona apresenta maior afinidade
com proteínas plasmáticas e deslocará uma porcentagem de moléculas do fármaco varfarina.
Com o aumento de fração livre do fármaco varfarina, haverá o risco de hemorragia, devido
ao aumento de seu efeito terapêutico. Por ser um anticoagulante, esse efeito aumentado expõe o
paciente ao risco de hemorragias.
Estrogênio + Ampicilina ou Rifampicina
Essa interação pode resultar em risco de gravidez por dois mecanismos distintos:
• Metabolismo passível de ser induzido.
• Circulação êntero­hepática de estrogênio pode ser interrompida por alteração da flora
intestinal.
Com relação ao primeiro mecanismo de interação já citado, tem­se a participação do
antibiótico rifampicina, atuando como indutor enzimático e diminuindo assim a eficácia terapêutica
do estrogênio.
16
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Já o segundo mecanismo de interação ocorre pela participação do antibiótico ampicilina e
também de outros fármacos do grupo das penicilinas (como a amoxicilina), que impedem o
processo de hidrólise realizado por bactérias no intestino.
Esse processo é importante porque proporciona reabsorção intestinal do estrogênio. Com
a inibição desse processo, o estrogênio sofrerá uma diminuição na circulação êntero­hepática e
mais rápida excreção.
Dissulfiram + Metronidazol
O fármaco dissulfiram inibe a enzima acetaldeído desidrogenase, responsável pela catálise
de acetaldeído (metabólito intermediário do etanol) em acetato. Dessa maneira, promove um
acúmulo de acetaldeído e consequentes reações indesejáveis aos pacientes dependentes de
etanol (álcool) como: irritabilidade, calor, rubor facial, sudorese, entre outros.
Esse tratamento é utilizado para que o paciente associe a ingestão de bebidas alcoólicas
com os efeitos provocados pelo medicamento.
Somado a esse efeito, tem­se o fármaco metronidazol que é um fármaco antimicrobiano
com propriedade inibidora enzimática. Diante dessa propriedade, o efeito do fármaco dissulfiram
será aumentado, podendo ocasionar as denominadas reações acetaldeídicas, que causam
delírios e alucinações, além dos efeitos citados anteriormente.
Portanto, essa não é uma interação vantajosa, especialmente se os fármacos forem
administrados simultaneamente com bebidas alcoólicas.
Tetraciclinas + Cálcio
Trata­se de uma interação bem conhecida, que ocorre também com sais de magnésio.
Nessa interação será formado um complexo químico precipitável, também chamado de quelato, o
qual não será absorvido. Assim, haverá uma diminuição da eficácia terapêutica antimicrobiana
(pois, as tetraciclinas são antibióticos).
Esse é um exemplo que ilustra orientações inadequadas que ocorrem no cotidiano sobre
como administrar antibióticos. Já que muitos profissionais advertem um paciente falando que
todos os antibióticos devem ser administrados com leite; e a interação do leite (pois, o leite
17
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
contém cálcio) com as tetraciclinas está aqui relatada para confirmar que este fato não é
verdadeiro.
Probenecida + Penicilina
É uma interação medicamentosa vantajosa, pois o fármaco probenecida impede a
excreção renal do antibiótico penicilina, devido à inibição da secreção tubular desse fármaco,
resultando em aumento do tempo de meia­vida do antibiótico.
18
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Na atualidade, os fatores genéticos são vistos como forma de justificar diferenças na
metabolização de fármacos, especialmente no sistema do citocromo P­450. Nesta aula serão
apresentadas as isoenzimas mais relacionadas com a biotransformação de fármacos, bem como
as possibilidades de interações medicamentosas.
AULA
05
•
MEDICAMENTOSAS
POLIMORFISMO
E
INTERAÇÕES
Interações relacionadas com o sistema do citocromo P­ 450 (CYP450)
A constatação de que a variabilidade na biotransformação de fármacos é, em partes,
geneticamente determinada permite um melhor entendimento sobre as isoenzimas do citocromo
P450.
Pode­se considerar a existência de diferentes grupos de indivíduos quanto ao perfil
metabólico para uma determinada enzima do sistema CYP450:
Os metabolizadores lentos, que possuem características autossômicas recessivas;
os metabolizadores rápidos, que têm atividade enzimática normal ou aumentada,
possuindo
características autossômicas
dominantes
(Coutts,1994;
Hara
e
Rocha,1998 citados por Audi e Pussi, 2000), e ainda, um subgrupo de
metabolizadores ultrarrápidos para CYP2D6.
Vamos relembrar, sob o ponto de vista bioquímico, o que é o CYP450.
O que é o CYP450?
O CYP é o principal responsável pela biotransformação de fármacos no organismo
humano. Ele está presente principalmente no retículo plasmático liso (fração microssômica) dos
hepatócitos, mas também é encontrado em outros órgãos, como pulmões e rins.
O CYP é uma proteína com um grupo prostético heme (ou grupo ferro­porfirina) e pertence
ao grupo das mono­oxigenases, que são enzimas que catalisam reações na qual um átomo de
19
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
oxigênio da molécula de O2 é incorporado na molécula do substrato orgânico, o outro átomo é
reduzido a H2O.
As mono­oxigenases requerem dois substratos que funcionam como redutores dos dois
átomos de oxigênio do O2. O substrato principal (no caso o fármaco) recebe um dos dois átomos
de oxigênio e o co­substrato (no caso do CYP é a nicotinamida adenina dinucleotídeo fosfato ­
NADPH) fornece átomos de hidrogênio para reduzir o segundo átomo de oxigênio a água
(Lehninger, 1986).
Isoformas do CYP
O CYP apresenta várias isoformas, que são formas múltiplas de uma mesma enzima,
catalisando o mesmo tipo de reação (neste caso de oxidação) apresentando afinidade por
substratos diferentes, biotransformando, portanto, fármacos distintos.
Além disso, as isoformas diferem na sua distribuição pelo organismo e na regulação de
sua atividade, apresentando diferentes inibidores, indutores e fármacos marcadores. Esses
últimos são utilizados para a determinação da atividade de cada isoforma e, por isso, são também
substratos das mesmas.
Há mais de trinta isoformas do CYP, as quais são classificadas de acordo com as
convenções da biologia molecular e identificadas por um número arábico indicando
a família (membros de uma mesma família são os que apresentam mais de 40% de
aminoácidos idênticos); seguido de uma letra em caixa alta que indica a subfamília
(55% de aminoácidos idênticos) e um outro número representando o gene na
subfamília, por exemplo: CYP1A2.
As enzimas envolvidas na biotransformação de fármacos em humanos pertencem às
famílias 1, 2, 3 e 4 (Nelson et al., 1996 citado por Greghi, 2002).
Aproximadamente 70% do CYP hepático são constituídos pelas isoformas CYP1A2,
CYP2A6, CYP2B6, CYP2C, CYP2D6, CYP2E1 e CYP3A. Entre esses o CYP3A (CYP3A4 e
CYP3A5) e o CYP2C (principalmente o CYP2C9 e 2C19) são as subfamílias mais abundantes,
responsáveis por 30% e 20% respectivamente do CYP total. As outras isoformas apresentam a
seguinte contribuição para o CYP total: CYP1A2 em 13%, CYP2E1 em 7%, CYP2A6 em 4% e
CYP2D6 em 2% (Lin & Lu, 1998 citados por Greghi, 2002).
20
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Uma avaliação do mecanismo de clearance metabólico de 315 fármacos diferentes (Bertz
& Granneman, 1999 citados por Greghi, 2002) revelou que 56% são eliminadas primariamente por
meio da ação das várias isoformas do CYP.
A CYP3A4 foi a mais importante (50%), seguida pela CYP2D6 (20%), CYP2C9 e
CYP2C19 (15%) e o restante era biotransformado pelas CYP2E1, CYP1A2,
CYP2A6 entre outras, de modo que podemos estimar que 90% das reações de
oxidação dos fármacos em humanos podem ser atribuídas a essas sete enzimas
principais.
O conceito que a maioria das oxidações de fármacos é catalisada por um pequeno número
de enzimas é importante na prevenção e identificação das possíveis interações medicamentosas
envolvendo a biotransformação dos fármacos (Greghi, 2002).
21
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Inúmeros alimentos interferem na ação farmacológica dos fármacos, todavia, fármacos
também podem interferir no efeito dos alimentos. Nesta aula, serão apresentadas as
classificações das interações fármacoalimento, bem como os alimentos que interferem na
absorção e na eliminação de fármacos, com a menção de alguns exemplos e manifestações
clínicas decorrentes.
AULA 06 • INTERAÇÕES FÁRMACOALIMENTO
Classificações
As interações entre nutrientes e fármacos podem alterar a disponibilidade, a ação ou a
toxicidade de uma dessas substâncias ou de ambas. Elas podem ser físico­químicas, fisiológicas
e patofisiológicas (Roe, 1985; Roe, 1993 citados por Moura, 2002).
Interações
físico­químicas
são
caracterizadas
por
complexações
entre
componentes alimentares e os fármacos.
As fisiológicas incluem as modificações induzidas por medicamentos no apetite,
digestão, esvaziamento gástrico, biotransformação e clearance renal.
As patofisiológicas ocorrem quando os fármacos prejudicam a absorção e/ou
inibição do processo metabólico de nutrientes.
(Toothaker & Welling, 1980; Thomas, 1995 citados por Moura, 2002.)
A natureza das diferentes interações pode apresentar as seguintes situações (Truswell,
1975 citado por Moura, 2002):
• Alguns nutrientes podem influenciar no processo de absorção de fármacos.
• Alguns nutrientes podem alterar o processo de biotransformação de algumas
substâncias.
• Alterações na excreção de fármacos podem ocorrer por influência de nutrientes.
• O estado nutricional pode interferir sobre o metabolismo de certos fármacos, diminuindo
ou anulando seu potencial terapêutico ou aumentando seu efeito tóxico.
22
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
• Fármacos podem afetar o estado nutricional.
Assim, é possível notar que, geralmente, os nutrientes interferem na ação dos fármacos,
porém, eles também podem interferir na ação dos nutrientes, mais especificamente na absorção,
da seguinte forma:
• Adsorção de nutrientes por resinas.
• Alterações na motilidade gástrica.
• Má digestão induzida por fármacos.
Interações na absorção
A administração de medicamentos com as refeições é feita por três razões fundamentais:
Pela possibilidade de aumento da sua absorção; pela redução do efeito irritante de alguns
fármacos sobre a mucosa gastrintestinal; e pelo uso auxiliar no cumprimento da terapia,
associando sua ingestão com uma atividade relativamente fixa, como as principais refeições (Gai,
1992; Kirk, 1995 citados por Moura, 2002).
Esses motivos, entretanto, são insuficientes para justificar esse procedimento de forma
generalizada, pois a ingestão de alimentos poderá afetar a biodisponibilidade do fármaco por meio
de interações físico­químicas ou químicas (Gai, 1992; Roe, 1994; Thomas, 1995 citados por
Moura, 2002).
Sendo afetada a biodisponibilidade, por modificação dos processos farmacocinéticos,
ocorrerá alteração da farmacodinâmica e da terapêutica (Thomas, 1995 citado por Moura, 2002).
Assim, é de fundamental importância conhecer as substâncias ativas cuja velocidade de
absorção e/ou quantidade são alteradas, bem como aquelas que não são afetadas pela presença
de nutrientes (Toothaker & Welling, 1980 citados por Moura, 2002).
Estudos aprofundados com humanos sobre esses mecanismos têm sido realizados com a
finalidade de demonstrar mais precisamente os efeitos dos nutrientes sobre a biodisponibilidade
dos fármacos (Radulovic et al., 1995; Lavelle et al., 1996 citados por Moura, 2002).
De acordo com a maioria das pesquisas realizadas, os nutrientes diminuem a velocidade
de absorção dos fármacos, provavelmente por retardarem o esvaziamento gástrico (Souich et al.,
1992 citado por Moura, 2002).
23
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
O retardo na absorção de certos fármacos, quando ingeridos com alimentos, nem sempre
indica redução da quantidade absorvida. Mas, provavelmente, poderá ser necessário um período
maior para alcançar sua concentração sanguínea máxima, interferindo na latência do efeito.
Entretanto, substâncias que se complexam com nutrientes estão frequentemente indisponíveis
para absorção (Gai, 1992 citado por Moura, 2002).
Interações na eliminação de fármacos
A tabela a seguir demonstra algumas das principais interações que ocorrem no processo
de biotransformação. Na sequência, o primeiro quadro e o segundo (de modo vertical) sinalizam a
soma de fármaco e nutriente, respectivamente. No último quadro, seguindo a ordem vertical, está
o relato da consequência (da interação fármacoalimento).
Há inúmeras interações fármacoalimento, porém, seguem alguns exemplos clássicos.
Além da biotransformação, o sistema renal que constitui um dos principais sistemas de
excreção de fármacos é considerado importante no processo de interação. O pH urinário sofre
variações conforme a natureza ácida ou alcalina dos alimentos ou de seus metabólitos. Assim,
dietas ricas em vegetais, leite e derivados elevam o pH urinário, acarretando um aumento na
reabsorção de fármacos básicos, como, por exemplo, as anfetaminas. No entanto, com fármacos
de caráter ácido, como barbitúricos, verifica­se elevação da excreção. Por outro lado, ovos, carnes
24
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
e pães acidificam a urina, tendo como consequência o aumento da excreção renal de anfetaminas
e outros fármacos básicos (Trovato et al., 1991; Basile, 1994 citados por Moura, 2002).
Outros exemplos de manifestações clínicas decorrentes das interações:
• colestiramina + folato, vitamina B12 = anemia.
• colchicina,etanol + lipídios = esteatorreia.
• fenobarbital,difenilidantoína + vitamina D = osteomalacia.
• isoniazida + vitamina B6 = neuropatia periférica.
• diuréticos (tiazídicos) + potássio, sódio = fraqueza muscular,confusão mental, hipotensão.
• hidróxido de alumínio + fosfato = hipofosfatemia.
• oxalatos, fitatos + cálcio = tetania.
• tetraciclinas + cálcio = pigmentação castanha nos dentes.
25
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Os fármacos anti­inflamatórios são amplamente utilizados e o agravante refere­se à
automedicação, contribuindo com a exacerbação de efeitos colaterais e interações
medicamentosas desvantajosas. Nesta aula serão abordadas algumas interações
medicamentosas descritas na literatura com fármacos anti­inflamatórios não­esteróides e
esteróides.
AULA 07 • INTERAÇÕES COM ANTI­INFLAMATÓRIOS
Interações com anti­inflamatórios não­esteróides
Os anti­inflamatórios não­esteróides (AINEs) inibem a síntese de prostaglandinas e
tromboxanos e, dessa forma, possíveis interações podem ocorrer com medicamentos que
dependem de níveis séricos desses mediadores químicos.
Outro fator relevante é o alto grau de ligação protéica desse grupo de fármacos, a qual
pode predispô­los a interações com outras drogas que também apresentam essa mesma
característica (Haas, 1999 citado por Bergamaschi, 2007).
Os AINES estão associados à nefrotoxicidade, particularmente quando o uso é crônico ou
quando é utilizado em combinação com outro AINE.
Interações com fármacos anti­hipertensivos
As classes mais comuns de anti­hipertensivos são os IECA (inibidores da enzima
conversora de angiotensina), tais como captopril, enalapril, fosinopril e lisinopril; os diuréticos, tais
como furosemida, ácido etacrínico e hidroclorotiazida; e os beta­bloqueadores, tais como
propranolol, nadolol, metoprolol e atenolol. Esses medicamentos necessitam das prostaglandinas
(PGs) renais para exercerem o seu mecanismo de ação (Houston, 1991 citado por Bergamaschi,
2007).
As PGs renais modulam a vasodilatação, a filtração glomerular, a secreção tubular de
sódio/água e o sistema renina­angiotensina­aldosterona, os quais são fatores essenciais no
26
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
controle da pressão arterial. As PGs são ainda mais importantes em pacientes hipertensos, os
quais possuem baixa produção de renina (Dowd et al., 2001 citado por Bergamaschi, 2007).
Assim, os AINEs são considerados uma classe terapêutica importante, uma vez que são
muito prescritos, e, além disso, são utilizados como automedicação; o que destaca o papel do
farmacêutico, especialmente na identificação de interações medicamentosas.
Nas interações com anti­hipertensivos, AINEs podem diminuir a ação desses fármacos,
pois inibem a síntese de prostaglandinas renais.
Os beta­bloquedores reduzem a pressão por diversos mecanismos, incluindo o aumento
de prostaglandinas circulantes. Seu efeito pode também ser inibido pelos AINEs, devido à inibição
da síntese dessas prostaglandinas circulantes. Os AINEs podem também interferir com a ação
dos diuréticos, pois reduzem a eficácia na secreção de sódio, podendo provocar um aumento na
pressão arterial e afetar a atividade da renina plasmática, a qual controla o sistema renina­
angiotensina­aldosterona (Haas, 1999 citado por Bergamaschi, 2007).
AINEs + Lítio
Foi sugerido que os AINEs poderiam aumentar a concentração plasmática do lítio através
da redução da taxa de filtração glomerular, devido à inibição da síntese de prostaglandinas
(Wilting et al., 2005 citado por Bergamaschi, 2007). Com esse relato de interação medicamentosa,
constatamos a necessidade de monitoramento, pois o lítio exibe toxicidade, comprometendo o
funcionamento hepático e renal.
Em indivíduos com a função renal comprometida e/ou volume intravascular diminuído, a
administração concomitante de rofecoxibe e lítio pode ocasionar uma intoxicação.
Interações com antimicrobianos
Conforme será destacado na próxima aula, os principais mecanismos de interação que
ocorrem com esse grupo de fármacos estão relacionados com a competitividade desses fármacos
pela ligação às proteínas plasmáticas (sendo os fármacos que apresentam alto grau de ligação os
mais afetados) e a capacidade de alguns fármacos de inibir as enzimas do citocromo P450.
Ambos os mecanismos apresentam como consequência o aumento dos níveis plasmáticos
desses fármacos (Moore et al., 1999 citado por Bergamaschi, 2007).
27
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Todavia, um estudo realizado com voluntários sadios verificou que a administração de
100mg de diclofenaco sódico por via oral reduziu a biodisponibilidade oral de 2g de amoxicilina,
devido à redução na absorção e aumentou em 18% a excreção renal da amoxicilina (Bergamaschi
et al., 2007). Outro estudo demonstrou que a administração de piroxicam 20mg por dia, associada
à azitromicina 500mg por dia, durante sete dias, ocasionou redução na distribuição de piroxicam
na gengiva e no osso alveolar (Malizia et al., 2001 citado por Bergamaschi et al., 2007).
A documentação de interações medicamentosas de AINEs com antimicrobianos se faz
necessária, podendo ocorrer por meio da farmacovigilância e atenção farmacêutica, até porque
são duas classes terapêuticas amplamente utilizadas e o agravante relaciona­se com a resistência
bacteriana e/ou ineficácia terapêutica.
A tabela a seguir, resume as interações medicamentosas com anti­inflamatórios não­
esteróides (AINEs) destacadas nesta aula.
Anti­hipertensivos: IECAs, beta­bloqueadores
AINEs diminuem a ação dos anti­hipertensivos, pois inibem a síntese de prostaglandinas renais.
Diuréticos
AINEs reduzem a eficácia na secreção de sódio, podendo provocar um aumento na pressão arterial
e afetar a atividade da renina plasmática.
Lítio
AINEs poderiam aumentar a concentração plasmática do lítio por meio da redução da taxa de
filtração glomerular.
Antimicrobianos
Ocorre competição por ligação às proteínas plasmáticas e/ou inibição enzimática, aumentando os
níveis plasmáticos dos antimicrobianos.
Redução da absorção e aumento de excreção (com as penicilinas).
Interações com anti­inflamatórios esteróides (AIEs)
De acordo com o potencial de significância clínica, foram selecionadas, com base na
literatura, as seguintes interações medicamentosas com fármacos anti­inflamatórios esteróides
(AIEs): antiácidos, agentes antidiabéticos (oral ou insulina), glicosídeos digitálicos e diuréticos.
Nessas interações relatadas, não há um destaque quanto à explicação dos prováveis
efeitos e mecanismos envolvidos, porque na literatura não há relatos detalhados.
Há também, interações com fármacos que induzem as enzimas microssomais hepáticas
(também destacado no quadro que segue), tais como: barbitúricos, fenitoína e rifampicina que são
considerados clássicos indutores enzimáticos. Além desses, há também interações relatadas
28
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
(com esse mesmo mecanismo, na metabolização) como: suplementos de potássio, ritodrina,
fármacos ou alimentos contendo sódio, somatropina, vacinas de vírus vivos ou outras
imunizações.
A tabela a seguir, destaca interações com AIEs que ocorrem na metabolização, com a
aplicação de dois conceitos já apresentados na aula 3.
Indução enzimática
Os fármacos que induzem as enzimas hepáticas,
tais como: fenobarbital, fenitoína e rifampicina,
podem aumentar o clearance dos corticosteróides
e podem requerer aumento da dose de
corticosteróide para atingir a resposta desejada.
Inibição enzimática
Fármacos como: troleandomicina e cetoconazol
podem inibir o metabolismo dos corticosteróides e
consequentemente diminuir o seu clearance
Portanto, a dose de corticosteróide deve ser
adequada para evitar toxicidade esteróide.
Convulsões foram relatadas durante o uso
concomitante de metilprednisolona e ciclosporina.
Visto que o uso concomitante desses agentes
resulta em inibição mútua do metabolismo. É
possível que os efeitos adversos associados ao
uso isolado de cada medicamento sejam mais
propensos a ocorrerem.
AIEs e coagulação
Pode ocorrer aumento do risco de toxicidade com salicilatos na interrupção da
corticoterapia. Pacientes portadores de hipoprotrombinemia devem ter cautela quando utilizarem
concomitante: aspirina e corticosteróides.
Já com os corticosteróides e os anticoagulantes orais, o efeito é variável. Foram
observados tanto aumento, como diminuição dos efeitos dos anticoagulantes, quando
administrados concomitantemente com os corticosteróides. Portanto, os índices de coagulação
devem ser monitorados para manter o efeito anticoagulante desejado.
AIEs + estrogênio
O uso concomitante de estrogênios pode diminuir o metabolismo dos corticosteróides,
incluindo a hidrocortisona. A necessidade de corticosteróide pode ser reduzida em pacientes que
utilizam estrogênios (por exemplo: medicamentos contraceptivos) (Bulário Eletrônico da ANVISA).
29
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
De modo complementar, os cuidados na utilização dos contraceptivos deve sempre existir,
pois o comprometimento da eficácia destes fármacos pode levar à gravidez não planejada.
30
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Esta aula tem o propósito de destacar as interações medicamentosas com
antimicrobianos, mais especificamente com os antibióticos, considerando as mais relatadas pela
literatura disponível sobre o assunto. Além disso, serão apresentados prováveis mecanismos
farmacocinéticos, bem como exemplos de associações medicamentosas entre antimicrobianos,
utilizadas na prática clínica.
AULA 08 • INTERAÇÕES COM ANTIMICROBIANOS
Prováveis mecanismos farmacocinéticos de interação medicamentosa
Os principais mecanismos de interação que ocorrem com esse grupo de fármacos
estão relacionados com a competitividade desses pela ligação às proteínas plasmáticas
(sendo os fármacos que apresentam alto grau de ligação os mais afetados) e a
capacidade de alguns fármacos de inibir as enzimas do citocromo P450.
Ambos os mecanismos apresentam como consequência o aumento dos níveis plasmáticos
desses fármacos. Para essas interações, especial atenção deve ser dada aos fármacos que
apresentam baixo índice terapêutico, uma vez que pequenos aumentos na sua concentração
plasmática podem causar sérios prejuízos ao indivíduo (Moore et al., 1999 citado por
Bergamaschi, 2007).
Temos como exemplo: lítio, digoxina, digitoxina, varfarina e dicumarol, podem apresentar
toxicidade relevante, quando associados aos inúmeros antimicrobianos, devido à elevação das
suas concentrações plasmáticas.
Quando falamos de interações medicamentosas na farmacocinética, mais especificamente
na distribuição e biotransformação, devemos relembrar os fatores que interferem nessas etapas
(assunto abordado nas aulas iniciais), pois além das interações documentadas e considerações
sobre fármacos que exibem toxicidade, há suscetibilidades ditas individuais, como exemplo:
polimorfismo, idade e comorbidades.
Somando a esses fatos, o profissional deve conhecer bem os mecanismos de ação dos
antimicrobianos, bem como os princípios da antibioticoterapia, para direcionar a análise das
interações medicamentosas e garantir adesão ao tratamento.
31
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Exemplos de associações medicamentosas utilizadas na prática clínica
Sulfametoxazol + Trimetropim
Essa é considerada uma associação medicamentosa bastante utilizada na prática clínica,
com relação à antibioticoterapia, pois o fármaco sulfametoxazol (SMT) é um antibiótico do grupo
das sulfonamidas (conhecido como sulfas), que atua no metabolismo da bactéria inibindo a
enzima diidropteroato sintase, responsável pela catálise do ácido paraminobenzóico (PABA) em
ácido diidrofólico, a fim de garantir um efeito bacteriostático.
Tal efeito, todavia, terá a adição do fármaco trimetropim (TMP) devido à inibição da enzima
diidrofolato redutase, responsável pela catálise de ácido diidrofólico em ácido tetraidrofólico.
Ambos os fármacos, isoladamente garantem um efeito bacteriostático; porém, associados
ocasionam um efeito bactericida (efeito capaz de matar a bactéria). Essas terminologias:
bacteriostático e bactericida serão tratadas mais adiante.
O esquema a seguir, ilustra os mecanismos de ação associados, explicados no texto
acima.
32
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Rifampicina + Isoniazida + Pirazinamida
Esses três são fármacos tuberculostáticos, ou seja, antibióticos empregados com
farmacoterapia de primeira escolha para combater o agente etiológico da tuberculose.
A associação dos três fármacos é considerada vantajosa uma vez que há maior
probabilidade do desenvolvimento de resistência bacteriana quando o paciente é tratado com
apenas um antibiótico.
E essa probabilidade diminui quando há associação entre tuberculostáticos, claro, sempre
avaliando se o paciente já utilizou ou não os referidos fármacos e se apresenta quadro de
tuberculose como recidiva (piora da doença) por ineficácia terapêutica, podendo ser atribuída ao
mecanismo de resistência bacteriana.
Interação medicamentosa com contraceptivos orais
Estudos clínicos demonstraram que a rifampicina diminui os níveis sanguíneos de
etinilestradiol e progesterona. A rifampicina é um potente indutor das enzimas do citocromo P450
presentes no fígado, o que ocasiona em aumento do metabolismo de alguns fármacos, como os
anticoncepcionais (Shenfield, 1993 citado por Bergamaschi, 2007).
Dados da literatura demonstraram que os níveis plasmáticos de contraceptivos orais
esteróides não são modificados com a administração concomitante dos antibióticos, como:
ampicilina, ciprofloxacina, claritromicina, doxiciclina, metronidazol, ofloxacina, roxitromicina e
tetraciclina (Archer e Archer, 2002 citados por Bergamaschi, 2007).
Alguns autores, no entanto, alertam que tetraciclina, metronidazol, ampicilina e eritromicina
podem reduzir a eficácia do contraceptivo oral, aumentando o risco de gravidez (Meechan, 2002;
Hersh, 1999 citados por Bergamaschi, 2007).
Conforme já destacado em aulas anteriores, esse é um assunto de relevância clínica, pois
a ineficácia contraceptiva leva à concepção não planejada.
33
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Algumas interações relatadas com antibióticos e outras classes
terapêuticas
Antiácidos
Quinolonas: (AP) Diminuição absorção gastrointestinal de ciprofloxacina, norfloxacina,
ofloxacina, enoxacina.
Tetraciclinas: (AP) Diminuição absorção gastrointestinal.
Anticoagulantes
Aumento do efeito anticoagulante:
• Ciprofloxacina (NE).
• Cloranfenicol (NE).
• Eritromicina (NE).
• Metronidazol (P).
• Miconazol (NE).
• Sulfonamidas (NE).
• Trimetropim­Sulfametoxazol (P).
Diminuição do efeito anticoagulante:
Rifampicina (P): indução enzimática.
Bloqueadores de Canais de Cálcio
Rifampicina (P): Aumento do metabolismo dos bloqueadores de canais de cálcio.
Bloqueadores Beta­Adrenérgicos
Diminuição do efeito beta­bloqueador:
• Indutor enzimático (P): Rifampicina
Aumenta metabolismo dos beta­bloqueadores.
34
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Glicosídios Digitálicos
Aumentam o efeito digitálico:
• Eritromicina (NP).
• Penicilina (NE).
• Rifampicina (NE).
Conforme apresentado na aula 3, as siglas NP, P e NE significam, respectivamente: não
previsível, previsível e não estabelecida.
35
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Nesta aula serão apresentadas interações medicamentosas com os fármacos anti­
retrovirais, destacando o provável mecanismo, efeito e conduta clínica necessária para minimizar
as consequências das interações.
AULA 09 • INTERAÇÕES COM ANTI­RETROVIRAIS
A adesão ao tratamento é tão ou mais importante na síndrome da imunodeficiência
adquirida (Aids). O uso incorreto dos anti­retrovirais está relacionado diretamente à falência
terapêutica e a reações adversas, facilitando a emergência de cepas do vírus da imunodeficiência
humana (HIV) resistentes aos medicamentos existentes.
Como o número e as combinações disponíveis são limitados, o uso inadequado e
irregular desses anti­retrovirais pode criar situações nas quais serão necessárias
combinações com mais de quatro fármacos, o que acaba por comprometer ainda mais
a adesão, e garantir crescentes interações medicamentosas (Lignani et al., 2001 citado
por Sisca et al., 2008).
A combinação de fármacos aumenta as possibilidades de interação medicamentosa,
comum entre os próprios fármacos anti­retrovirais.
Essas interações podem aumentar o número de reações adversas e com isso dificultar
a adesão à terapia anti­retroviral ou até mesmo o abandono desta, sendo também
fatais ao paciente, uma vez que os próprios anti­retrovirais exibem citotoxicidade
(Sisca, 2008).
Entre os fármacos anti­retrovirais, os inibidores de protease (IPs) são os que mais
apresentam interações, quer com outros anti­retrovirais, quer com fármacos antidepressivos,
antimicrobianos, anticonvulsivantes e anti­ulcerosos (McCabe, 2007 citado por Sisca, 2008).
Veja tabelas que apresentam algumas interações medicamentosas disponível no ambiente
de estudo.
36
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
A partir do exposto, podemos constatar que há inúmeras interações com fármacos anti­
retrovirais. Com um monitoramento e acompanhamento contínuo do paciente, analisando cada
caso clínico e confrontando com exames laboratoriais, é possível verificar a eficácia terapêutica
e/ou quadros de toxicidade.
37
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Os fármacos que atuam no sistema nervoso central (SNC) encontram uma ampla
utilização na clínica. Tendo isso em mente, esta aula apresentará uma visão geral dos principais
grupos de fármacos, destacando seus mecanismos de ação e, principalmente, possíveis
interações medicamentosas envolvendo esses fármacos.
AULA 10 • INTERAÇÕES COM FÁRMACOSQUE ATUAM NO
SISTEMA NERVOSO CENTRAL (SNC)
Fármacos que atuam no SNC
Antiparkinsonianos: O parkinsonismo (doença ou mal de Parkinson) é um distúrbio
neurológico progressivo do movimento muscular caracterizado por tremores, rigidez muscular,
bradicinesia (lentidão em iniciar e continuar os movimentos voluntários) e anomalias de postura e
marcha, resultante de um desequilíbrio entre as neurotransmissões dopaminérgica (pela
dopamina) e colinérgica (pela acetilcolina).
A tabela a seguir mostra os principais antiparkinsonianos, seus mecanismos de ação e
prováveis interações medicamentosas.
Fármaco
Mecanismo de ação
Antimuscarínicos
Bloqueio da neurotransmissão colinérgica.
Provável aumento na síntese, liberação ou
recaptação de dopamina.
Agonista de receptores dopaminérgicos.
Amantadina
Bromocriptina
Carbidopa
Deprenil (selegilina)
Levodopa
Diminuição no metabolismo da levodopa no
trato gastrintestinal e tecidos periféricos e
aumento de sua disponibilidade no SNC.
Diminuição no metabolismo da dopamina e
aumento de seus níveis no cérebro.
Precursor da dopamina no SNC, aumentando
seus níveis.
Interações medicamentosas: A vitamina B6 (piridoxina) aumenta o metabolismo periférico
da levodopa e diminui sua eficácia. A administração concomitante de levodopa e de inibidores da
38
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
monoaminoxidase (fenelzina, por exemplo) pode provocar crise hipertensiva devido ao aumento
de catecolaminas. São contra­indicados os fármacos antipsicóticos para pacientes com mal de
Parkinson porque inibem receptores dopaminérgicos e exarcebam os sintomas da doença.
Ansiolíticos e hipnóticos: A ansiedade é um desagradável estado de tensão, apreensão
ou inquietude que parece originar­se de uma fonte desconhecida. Embora episódios de ansiedade
moderada sejam comuns ao cotidiano e não careçam de tratamento, os sintomas de ansiedade
debilitante crônica grave podem ser tratados com fármacos ansiolíticos (tranquilizantes menores).
Como todos esses fármacos provocam certa sedação, os mesmos são clinicamente úteis
como agentes duplos, ansiolíticos e hipnóticos (indutores do sono). Os principais representantes
são:
Benzodiazepínicos – Podem ser ansiolíticos (alprazolam, clordiazepóxido, clonazepam,
clorazepato, diazepam, bromazepam e lorazepam) ou hipnóticos (quazepam, midazolam,
estazolam, flurazepam, temazepam e triazolam); atuam se ligando a sítios específicos nos
receptores gabaérgicos e aumentando a afinidade dos mesmos pelo GABA (ácido gama­
aminobutírico). O efeito é um aumento na neutransmissão gabaérgica e depressão do SNC.
Antagonistas
benzodiazepínicos
(flumazenil)
–
São
antagonistas
de
receptores
gabaérgicos utilizados para reverter os efeitos dos benzodiazepínicos de longa duração de ação.
O principal representante é o flumazenil e está disponível apenas para administração intravenosa.
Barbituratos (aminobarbital, fenobarbital, pentobarbital, secobarbital e tiopental) – Acredita­
se que tais substâncias interferem no transporte de sódio e potássio através dos neurônios,
inibindo a atividade do SNC; também potencializam a ação do GABA.
Sedativos não­barbitúricos – Hidrato de cloral, anti­histamínicos (defenidramina e
doxilamina, por exemplo) e etanol.
Outros – Zolpidem (atua em receptores para benzodiazepínicos), buspirona (atua tanto em
receptores para serotonina quanto para dopamina) e hidroxizina (anti­histamínico).
Interações medicamentosas: Os benzodiazepínicos potencializam os efeitos do álcool e
de outros depressores do SNC. Entretanto, são consideravelmente menos perigosos do que
outros fármacos ansiolíticos e hipnóticos (uma sobredose raramente chega a ser fatal a menos
que outros depressores sejam usados concomitantemente).
Os barbituratos induzem as enzimas microssômicas do sistema do citocromo P­450 no
fígado e, dessa forma, aumentam o metabolismo hepático de muitos medicamentos, diminuindo
seus efeitos.
39
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Estimulantes do SNC: Nesse grupo, há dois tipos de fármacos que atuam primariamente
estimulando o SNC – os estimulantes psicomotores e os psicotomiméticos ou alucinógenos
(tabela abaixo). Enquanto os primeiros provocam excitação e euforia, diminuem a sensação de
fadiga e aumentam a atividade motora, os últimos promovem profundas alterações nos padrões
de pensamento e comportamento. Embora os estimulantes do SNC apresentem poucos usos
clínicos, são discutidos aqui por causa de sua importância em toxicologia.
Estimulantes psicomotores
Anfetaminas, xantinas (cafeína,
teobromina e teofilina), cocaína,
metilfenidato e nicotina).
Estimulantes psicotomiméticos
Dietilamida do ácido lisérgico (LSD),
fenciclidina (PCP) e tetra­hidrocanabinol
(THC).
As anfetaminas inibem a monoaminoxidase e aumentam a liberação de catecolaminas,
resultando em elevação dos níveis desses neurotransmissores na fenda sináptica.
As xantinas atuam por meio de aumentos nos níveis intracelulares de adenosina
monofosfato cíclico (AMPc) e guanosina monofosfato cíclico (GMPc) devido à inibição de
fosfodiesterases. Também inibem receptores de adenosina do SNC.
A cocaína bloqueia a recaptação de noradrenalina, serotonina e dopamina nas
terminações pré­sinápticas. Esse bloqueio potencializa os efeitos periféricos e no SNC desses
neurotransmissores.
O metilfenidato é um derivado anfetamínico e atua basicamente da mesma forma que as
anfetaminas. É utilizado no tratamento da síndrome de déficit de atenção.
A nicotina promove estímulo ganglionar em doses baixas e bloqueio, em doses altas.
Também atua em receptores específicos no SNC.
O LSD é um agonista de receptores de serotonina.
O PCP, assim como a cocaína, inibe a recaptação de dopamina, serotonina e
noradrenalina e é um anticolinérgico.
O THC é o principal alcalóide encontrado na maconha. Embora existam receptores para o
THC no SNC, seu mecanismo de ação é desconhecido.
40
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Interações medicamentosas: Em razão de seus efeitos cardiovasculares (palpitações,
arritmias, hipertensão, dor anginosa e colapso circulatório), as anfetaminas não devem ser
utilizadas em pacientes com problemas cardíacos ou que fazem uso de inibidores da
monoaminoxidase (exarcebação dos sintomas).
O haloperidol e outros neurolépticos podem bloquear a ação alucinatória do LSD.
Antidepressivos: são fármacos utilizados no tratamento das diferentes formas de
depressão. São classificados, especialmente, em quatro grupos: antidepressivos tricíclicos (ADTs)
(inibem a recaptação de noradrenalina e serotonina), inibidores seletivos da recaptação de
serotonina (ISRSs), inibidores da monoaminooxidase (iMAO) e fármacos utilizados no tratamento
da mania.
ADTs
Amitriptilina
Amoxapina
Desipramina Doxepina
Imipramina
Maprotilina Nortriptilina
Protriptilina
Antidepressivos
ISRSs
iMAO
Fluoxetina
Isocarboxazida
Fluvoxamina
Fenelzina
Nefazodona
Tranilcipromina
Paroxetina
Sertralina
Trazodona
Venlafaxina
Tratamento da mania
Sais de lítio
Trimipramina
Interações medicamentosas
ADTs: Aspirina e fenilbutazona aumentam os efeitos dos ADTs porque diminuem sua
ligação à albumina plasmática, aumentando sua disponibilidade no SNC; neuroléticos e alguns
esteróides diminuem o metabolismo hepático dos ADTs e aumentam seus efeitos; os ADTs
potencializam os efeitos do álcool, podendo provocar sedação tóxica e depressão respiratória
fatal; o uso concomitante de ADTs e iMAO pode provocar potencialização mútua, caracterizada
por hipertensão, hiperpirexia, convulsões e coma.
ISRSs: Não devem ser utilizados com os iMAO devido ao risco letal de “síndrome da
serotonina”, caracterizada por tremores, hipertensão e colapso cardiovascular. Requerem­se
períodos de seis semanas para que o outro fármaco possa ser administrado.
iMAO: Seu uso concomitante com tiramina (presente em queijos maturados, fígado de
galinha, cerveja e vinho tinto) provoca liberação de grande quantidade de catecolaminas,
41
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
causando cefaleia, taquicardia, náuseas, hipertensão, arritmia cardíaca e acidente vascular
cerebral.
Neurolépticos
(antipsicóticos
ou
tranquilizantes
maiores):
São
empregados
primariamente no tratamento da esquizofrenia, mas também são eficazes em outros estados
psicóticos, como os de mania e delírio. São divididos em:
• Fenotiazínicos: clorpromazina, flufenazina, prometazina, tioridazina.
• Benzisoxazóis: risperidona.
• Dibenzodiazepínicos: clozapina.
• Butirofenonas: haloperidol.
• Tioxantenos: tiotixeno.
Interações medicamentosas: A clorpromazina, flufenazina e o haloperidol, quando
associados com drogas agonistas adrenérgicas (adrenalina, noradrenalina, dobutamina, por
exemplo), podem apresentar severa hipotensão e taquicardia.
A clorpromazina, quando associada à cisaprida, pode ocasionar arritmias graves e colocar
em risco a vida do paciente.
O haloperidol interage com sais de lítio, podendo provocar, encefalopatias, leucocitose e
alterações de consciência.
A clorpromazina e a flufenazina, quando associadas a drogas anti­hipertensivas, causam
hipotensão aditiva. Esse efeito é maior quando haloperidol e metildopa são administrados juntos
(maior toxicidade).
A clorpromazina, quando associada à dipirona, pode provocar hipotermia grave.
Anticonvulsivantes: São fármacos empregados principalmente no tratamento da
epilepsia. Os principais exemplos são fenitoína, carbamazepina, primidona, ácido valpróico,
fenobarbital, etosuximida, alprazolam, clonazepam e diazepam.
Interações medicamentosas: Os anticonvulsivantes, quando associados a antipsicóticos,
podem ter seu efeito diminuído, com risco de aparecimento de crises epilética. Um outro risco
associado a essa interação é a depressão aditiva do SNC.
A associação entre fenitoína e sulfas, cloranfenicol, dicumarol ou isoniazida pode
apresentar um aumento do efeito da primeira com risco de toxicidade, tornando­se necessário
ajustar a dose de fenitoína.
42
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Isso ocorre também com a cimetidina, mas não com a ranitidina. A carbamazepina, por sua
vez, aumenta o metabolismo hepático da fenitoína, diminuindo suas concentrações plasmáticas.
A fenitoína induz o sistema do citocromo P­450 e aumenta o metabolismo de outros
agentes
anticonvulsivantes,
anticoagulantes,
contraceptivos
orais,
quinidina,
doxiciclina,
ciclosporina, metadona e levodopa.
O metabolismo da carbamazepina é inibido por muitos fármacos (cimetidina, diltiazem,
eritromicina, isoniazida, propoxifeno) e, se a dose não for ajustada, podem surgir efeitos tóxicos.
O ácido valpróico inibe o metabolismo do fenobarbital, aumentando assim os níveis
circulantes do barbiturato.
Considerações Finais
Quando falamos do sistema nervoso central (SNC), já pensamos com cautela na utilização
de fármacos, até porque fármacos podem causar dependência, tolerância e outras alterações
comportamentais.
Por isso, na atenção farmacêutica e farmacovigilância, devemos orientar sobre a não
utilização com álcool e outras substâncias e/ou fármacos que atuam no SNC (capazes de
ocasionar reações adversas graves, até mesmo fatais).
Somado a esse fato, há utilização recreacional de substâncias, de modo abusivo e ilícito.
Isso representa um problema social grave, levando a complicações no neurodesenvolvimento e
reflexo na vida adulta, como: maior probabilidade em causar dependência, devido ao consumo
precoce.
Além disso, há alterações neurológicas e psiquiátricas que merecem atenção, pois nos
idosos a metabolização, a distribuição e a excreção de fármacos são distintas, com aumento de
potenciais interações medicamentosas indesejáveis, bem como acentuação de reações adversas
graves.
43
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
A hipertensão caracteriza­se por uma condição em que há aumento da pressão sanguínea
associada a riscos de outras patologias cardiovasculares (insuficiência cardíaca, infarto do
miocárdio, lesões renais, acidente vascular cerebral). Uma vez que a hipertensão e as doenças
associadas constituem umas das principais causas de morte no Brasil, esta aula discutirá as
principais classes de agentes anti­hipertensivos e suas interações medicamentosas.
AULA 11 • INTERAÇÕES COM ANTI­HIPERTENSIVOS
Fármacos anti­hipertensivos são aqueles utilizados no tratamento dos diferentes graus de
hipertensão. Eles são divididos nas seguintes classes:
•
Diuréticos:
Diuréticos
tiazídicos
e
congêneres
(hidroclorotiazida,
indapamida,
clortalidona), diuréticos de alça (furosemida, ácido etacrínico, bumetamida) e diuréticos
poupadores de potássio (amilorida, espironolactona, triamtereno).
• β­bloqueadores: Atenolol, labetalol, metoprolol, nadolol, propanolol, timolol.
• Inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA): Benazepril, captopril,
enalapril, fosinopril, lisinopril, moexipril, quinapril, ramipril.
• Antagonistas da angiotensina II: Irbesartan, losartan, valsartan, telmisartan.
• Bloqueadores de canais de cálcio: Amlodipina, diltiazem, felodipina, isradipina,
nicardipina, nifedipina, nisoldipina, verapamil.
• α­bloqueadores: Doxazosin, prazosin, terazosin.
• Outros: Clonidina, diazóxido, hidralazina, α­metildopa, minoxidil, nitroprussiato de sódio.
O tratamento é iniciado com qualquer um dos quatro fármacos: um diurético, um inibidor da
ECA, um β­bloqueador ou um bloqueador de canais de cálcio. Se a pressão sanguínea não for
adequadamente controlada, acrescenta­se um segundo fármaco.
Cabe ressaltar que certos seguimentos da população respondem melhor a uma classe de
fármacos que outra. Por exemplo, os negros respondem melhor aos diuréticos e bloqueadores de
canais de cálcio, sendo os inibidores da ECA e β­bloqueadores efetivos para tratar a hipertensão
no homem branco e em pacientes mais jovens.
44
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Já os diuréticos e inibidores da ECA são mais favoráveis em idosos que os β­bloqueadores
e os antagonistas de angiotensina II.
A hipertensão também pode coexistir com outras doenças que podem ser agravadas pelos
fármacos anti­hipertensivos. Nesses casos, é importante escolher os fármacos anti­hipertensivos
para cada paciente em particular. A tabela abaixo mostra a terapêutica preferencial em pacientes
hipertensos com várias moléstias concomitantes.
Moléstia associada
Angina pectoris
Diabetes (tipo I)
Hiperlipidemia
Insuficiência cardíaca
Fármaco comumente usado
β­bloqueadores e bloqueadores
dos canais de cálcio.
Inibidores da ECA e
bloqueadores dos canais de
Inibidores da ECA e
bloqueadores dos canais de
Fármaco alternativo
Diuréticos e inibidores da ECA.
Diuréticos e inibidores da ECA.
β­bloqueadores e inibidores da
ECA.
Diuréticos e bloqueadores dos
Doença renal crônica
canais de cálcio.
Diuréticos e bloqueadores dos
Asma e doença pulmonar crônica
canais de cálcio.
Infarto do miocárdio
Diuréticos e bloqueadores dos
canais de cálcio.
β­bloqueadores e inibidores da
ECA.
Inibidores da ECA.
Interações medicamentosas: A administração concomitante de diuréticos tiazídicos ou de
alça e digoxina (fármaco empregado no tratamento de insuficiência cardíaca) predispõe o paciente
à intoxicação pelo último, por causa da hipocalemia (diminuição na concentração sanguínea de
potássio) provocada pelos referidos diuréticos. Isso pode ser evitado pelo uso de diuréticos
poupadores de potássio ou por suplementação com cloreto de potássio.
O verapamil desloca a digoxina dos seus locais de ligação às proteínas plasmáticas e pode
aumentar os níveis de digoxina em 50 a 75%, predispondo o paciente à intoxicação e isso pode
requerer a redução na dose de digoxina.
O uso concomitante de cimetidina e propanolol aumenta os níveis plasmáticos do anti­
hipertensivo, levando a maior incidência de efeitos colaterais e toxicidade.
Os anti­inflamatórios não­esteroidais (AINEs) diminuem o efeito anti­hipertensivo do
propanolol. Os AINEs também podem bloquear os efeitos anti­hipertensivos dos diuréticos, α e β­
bloqueadores, e antagonistas da angiotensina II.
45
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
De um modo geral, os anti­hipertensivos têm seus efeitos diminuídos quando
administrados concomitantemente com antidepressivos.
A administração de clonidina e propanolol pode aumentar a pressão arterial e ocasionar
um risco de vida para o paciente.
Observação: Vale ressaltar que os anti­hipertensivos são fármacos cuja dosagem deve
ser extremamente controlada e a administração de combinações desses agentes para tratamento
da hipertensão deve ser cautelosa, devido ao risco de descontrole da pressão arterial.
46
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Nesta aula serão apresentados os prováveis mecanismos de interação medicamentosa com os
fármacos anticoagulantes, bem como as interações documentadas e efeitos. Além disso, há uma
breve abordagem sobre interações com alimentos e fitoterápicos. O risco de hemorragias também
será apresentado, diante da interação de anticoagulantes com a vitamina K.
AULA 12 • INTERAÇÕES COM ANTICOAGULANTES
Considerações Gerais
Os fármacos antivitamina K (AVK), cumarínicos ou anticoagulantes orais, como por
exemplo a mais comumente usada varfarina (composto 4­hidroxicumarina), são administrados,
por mais de sessenta anos, como profiláticas e para tratamento de fenômenos tromboembólicos,
inibindo a enzima hepática vitamina K epóxi­redutase, os fatores II, VII, IX e X e proteínas C e S
(Klack e Carvalho, 2006).
Entre os fármacos anticoagulantes, a varfarina vem demonstrando várias interações
medicamentosas. A varfarina tem eficácia comprovada para o uso profilático em embolias
pulmonares e sistêmicas em portadores de válvulas cardíacas artificiais, tromboses venosas,
enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e fibrilação atrial.
É um fármaco que possui grande variabilidade de dose – resposta, devido às inúmeras
interações alimentares (alimentos ricos em vitamina K), medicamentosas (antibióticos, hormônios,
anti­inflamatórios não­esteroidais), produtos naturais (chás, como erva de São João) e interações
sem mecanismos identificados.
Prováveis mecanismos de interação medicamentosa e interações
documentadas
Os fármacos que interagem com a ação da varfarina podem tanto potencializar, como inibir
a atividade coagulante.
A tabela a seguir, relaciona interações medicamentosas documentadas com os fármacos
anticoagulantes, ou seja, fármacos que diminuem e aumentam a eficácia anticoagulante.
47
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Redução do efeito anticoagulante
Aumento do efeito anticoagulante
Hormônios tireoidianos, AAS antifúngicos,
cimetidina, isoniazida, sulfametoxazol,
Hidróxido de alumínio, azatioprina,
trimetropim, alopurinol, cloibrato,
corticosteróides, rifampicina, barbitúricos,
metronidazol, ticlopidina, amiodarona
dicloxacilina, fenitoína, sucrafalto,
clorpropamida, omeprazol, tamoxifeno,
ciclofosfamida mercaptopurina, vitamina K, andrógenos, etanol (agudo), paracetamol,
fármacos antitireoideanos, colestiramina,
vitamina E, metilprednisolona,
etanol (uso crônico), quinidina.
antidepressivos tricíclicos, eritromicina,
fluconazol quinolonas, inibidores seletivos
da recaptura de serotonina (ISRS).
Adaptado de: Klack & Carvalho, 2006.
Interações de anticoagulantes com alimentos
A tabela a seguir mostra interações de fármacos anticoagulantes com alguns alimentos,
ocasionando diminuição do efeito anticoagulante.
Fármacos
Dicumarol
Fenadiona
Warfarina
Alimentos
Principais
mecanismos
Efeitos
Brócolis, couve,
Antagonismo
Diminuição da
ervilha verde, bioquímico na síntese
eficácia
nabo, rabanete,
dos fatores da
anticoagulante
repolho
coagulação
Fitoterápicos e efeitos na coagulação
Fitoterápicos com efeito anticoagulante em potencial: Alfafa, angélica, semente de
anis, arnica, aipo, boldo, camomila, castanha­da­Índia, dente­de­leão, gengibre, gingko biloba,
salsa, tamarindo, salgueiro, rábano, urtiga, álamo e sálvia.
Fitoterápicos com propriedades coagulantes ou fibrinolíticas: Agrimônia, visco,
milefólio e ginseng (Bulário eletrônico da ANVISA, 2004).
48
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Interação de vitamina K com anticoagulante oral
Analisando o risco de hemorragias
Os fatores responsáveis pela redução da resposta da Razão Normalizada Internacional
(IRN) ao cumarínico são: edema, resistência hereditária à cumarina, hiperlipemia, hipotireoidismo
e síndrome nefrótica (Erkan et al., 2005 citado por Klack e Carvalho, 2006).
A dosagem do anticoagulante deve ser individualizada de acordo com a sensibilidade do
indivíduo ao fármaco conforme indicado pelo IRN (Bulário eletrônico da ANVISA, 2004).
O objetivo dessa intervenção medicamentosa é estabelecer a faixa terapêutica do IRN que
compreende entre 2 e 3, na grande maioria dos estudos clínicos, minimizando o risco de
hemorragias, sem elevar os riscos trombóticos (Triplett, 2006; Lourenço et al., 1998; Blann et al.,
2002; Erkan et al., 2005 citados por Klack e Carvalho, 2006).
Portadores de disfunção hepática são mais susceptíveis aos cumarínicos por terem
produção deficiente de fatores de coagulação, assim como estados hipermetabólicos que ampliam
a ação da varfarina, doenças consuptivas, insuficiência renal e aumento da ingestão de álcool
(Dutra de Oliveira e Marchini, 1998; Triplett, 1998; Tondato, 2004; Levine et al., 2004 citados por
Klack e Carvalho, 2006).
Em idosos há um aumento da disponibilidade do fármaco pela redução da concentração de
albumina sérica e redução do metabolismo hepático (Tondato, 2004; Levine et al., 2004 citados
por Klack e Carvalho, 2006), facilitando sua ação. A idade acima de 75 anos apresenta riscos
aumentados de hemorragia intracraniana (Levine et al., 2004 citado por Klack e Carvalho, 2006).
Na gestação, a exposição à varfarina deve ser evitada no primeiro trimestre (entre a 6ª e
12ª semanas) por atravessar a placenta e poder causar a embriopatia varfarínica (caracterizada
pela hipoplasia nasal e/ou a não consolidação das epífises) (Silveira, 2002 citado por Klack e
Carvalho, 2006), além de anomalias do sistema nervoso central (SNC).
Uma avaliação individualizada, portanto, é necessária para garantir que o índice
terapêutico seja cumprido, ou seja, garantir eficácia terapêutica sem expor o paciente a
hemorragias ou comprometimentos na coagulação.
49
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
A insulina e o glucagon são dois hormônios peptídicos produzidos e secretados pelo
pâncreas e desempenham um importante papel na regulação do metabolismo do organismo e
contribuem para a manutenção da homeostase da glicose. Uma falta absoluta ou relativa de
insulina (diabetes) pode acarretar grave hiperglicemia. O uso de agentes hipoglicemiantes pode
controlar a morbidez e reduzir a mortalidade associadas com o diabetes. Além disso, há
interações medicamentosas importantes com esses fármacos, que serão destacadas nesta aula.
AULA 13 • INTERAÇÕES COM ANTIDIABÉTICOS
Introdução
O diabetes não é uma doença única. Ao invés disso, é um grupo heterogêneo de
síndromes, todas caracterizadas por elevação da glicose sanguínea causada por deficiência
absoluta ou relativa de insulina.
Os diabéticos podem ser divididos em dois grupos, com base em sua necessidade de
insulina: aqueles que apresentam diabetes insulino­dependente (ou tipo I) e os portadores do
diabetes não­insulino­dependente (ou tipo II). Daremos ênfase ao daibetes tipo II, seu tratamento
e interações medicamentosas envolvendo os fármacos empregados.
No diabetes tipo II, o pâncreas retém sua capacidade de produzir insulina, porém em
quantidades insuficientes para manter a homeostase da glicose. O diabetes tipo II,
frequentemente, é acompanhado de resistência à insulina nos órgãos­alvo, o que limita a
responsividade tanto à insulina endógena quanto à exógena.
Assim sendo, o objetivo do tratamento de pacientes que sofrem de diabetes tipo II é
manter concentrações de glicose sanguínea dentro de limites normais e prevenir o aparecimento
das complicações tardias da doença, o que é feito por meio do emprego de fármacos
hipoglicemiantes orais.
Pode ser necessário recorrer à terapia com insulina para conseguir níveis satisfatórios de
glicose sérica.
Os agentes hipoglicemiantes orais não devem ser administrados em pacientes com
diabetes tipo I e estão resumidos na tabela a seguir. Esses fármacos apresentam melhores
50
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
resultados em indivíduos nos quais a doença apareceu após os 40 anos e com histórico de
diabetes inferior a 5 anos.
Pacientes com doença manifestada por período longo podem requerer uma combinação
de fármaco hipoglicemiante e insulina para controlar a hiperglicemia.
Grupo de fármacos
Mecanismo de ação
Exemplos
Sulfoniluréias
Estímulo da liberação de insulina;
redução dos níveis sanguíneos de
glucagon e aumento da ligação de
insulina a tecidos­alvo e receptores.
Tolbutamida
Gliburida
Glipizida
Clorpropamida
Biguanidas
Inibidor da α­
glicosidase
Diferem das sulfoniluréias pelo fato de
não estimularem a secreção de Metformina (principal
representante do
insulina; diminuição da liberação
grupo)
hepática de glicose pela inibição da
gliconeogênese.
Inibição da α­glicosidase na borda da
escova intestinal, diminuindo, assim, a
absorção de amido e dissacarídeos.
Acarbose
Consequentemente,
atenuação
no
aumento pós­prandial da glicose
sanguínea.
As sulfoniluréias são contra­indicadas para pacientes portadores de insuficiência hepática
ou renal, que provoca acúmulo dos medicamentos no organismo com possível hipoglicemia. Isso
porque esses fármacos são metabolizados no fígado e eliminados por via urinária ou biliar.
Devido aos seus mecanismos de ação diferentes, o risco de hipoglicemia com metformina
é menor do que com os agentes derivados da sulfoniluréia. A metformina possui ainda a
importante propriedade de reduzir a hiperlipidemia, um fator de risco associado com o diabetes
tipo II.
Assim como a metformina, a acarbose não provoca hipoglicemia, porque não estimula a
liberação de insulina, nem reforça a ação do hormônio nos tecidos periféricos.
Interações medicamentosas: A figura a seguir resume algumas das interações dos
fármacos hipoglicemiantes orais com outros medicamentos.
51
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
A clorpropamida, se utilizada concomitantemente com ingestão de álcool, pode provocar
maior hipoglicemia e hipotensão. Não deve ser utilizada em idosos, porque seus efeitos são
extremamente prolongados e possui a mais alta incidência de efeitos colaterais desse grupo de
fármacos, causando hiponatremia (diminuição nos níveis séricos de sódio) e hipoglicemia.
A metformina, quando utilizada cronicamente, pode interferir na absorção da vitamina B12.
Os corticosteróides (por exemplo, os anti­inflamatórios esteróides), por induzirem a
gliconeogênese, diminuem o efeito dos hipoglicemiantes orais.
Interações medicamentosas documentadas
Principais antidiabéticos na prática clínica
Glibenclamida
• Diminuição do efeito hipoglicemiante: adrenalina, aminoglutetimida, clorpromazina e
demais fenotiazinas, colestiramina, alcalinizantes urinários, estrógenos, rifampicinas,
ácido nicotínico, fenitoína, isoniazida, furosemida, acetazolamida.
• Corticóides, contraceptivos orais e diuréticos tiazídicos aumentam a resistência à
insulina. Barbitúricos induzem seu metabolismo.
52
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
• Aumento do efeito hipoglicemiante: IECA, androgênios, antagonistas H2, fenfluramina,
sais de magnésio, acidificantes da urina, metildopa, antifúngicos azólicos (fluconazol,
cetoconazol e miconazol), cloranfenicol, cimetidina, clofibrato, benzafibrato, gemfibrozil e
fármacos
antilipêmicos
similares,
fluoroquinolonas,
heparina,
IMAO,
isoniazida,
tetraciclinas, antidepressivos tricíclicos e hormônios tireoidianos.
• Por competição pelas proteínas plasmáticas, deslocam glibenclamida e aumentam seus
efeitos: fenilbutazona e derivados, anticoagulantes orais, difenilidantoínas, salicilatos,
anti­inflamatórios
não­esteroidais,
beta­bloqueadores,
sulfonamidas
(incluindo
sulfametoxazol­trimetoprima).
• Beta­bloqueadores e levodopa interferem com o mecanismo regulador da glicose. Beta­
bloqueadores mascaram sinais de hipoglicemia.
• Probenecida, alopurinol e pirazóis inibem o metabolismo enzimático da glibenclamida.
Glibenclamida pode aumentar ou diminuir efeitos de cumarínico.
Clorpropamida
• Glicocorticóides, anfetaminas, diuréticos, hormônios tiroideanos e fenitoína aumentam a
concentração de glicose no sangue; devendo ser necessário ajustar a dosagem quando
utilizar com hipoglicemiantes orais.
• Alopurinol pode inibir a secreção tubular renal de clorpropamida.
• Esteróides anabólicos ou andrógenos podem diminuir a concentração de glicose no
sangue.
• O uso simultâneo com anticoagulantes derivados da cumarina pode - concentração
plasmática de ambos os medicamentos.
• AINES, cloranfenicol, IMAO podem potencializar o efeito hipoglicemiante de
clorpropamida.
• Cetoconazol e miconazol em uso simultâneo com clorpropamida levam à hipoglicemia
severa.
Metformina
• Cimetidina aumenta a concentração plasmática de metformina. Certos agentes
hiperglicemiantes
(corticosteróides,
diuréticos
tiazídicos,
contraceptivos
orais,
53
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
simpaticomiméticos, hormônio da tireóide, fenitoína, isoniazida, antagonistas do cálcio)
diminuem o efeito de metformina, exigindo aumento de dose ou combinação com
sulfoniluréias ou terapia com insulina.
• Potencializa a ação hipoglicemiante de insulina ou sulfoniluréias.
• Furosemida aumenta os níveis plasmáticos de metformina por alterar sua depuração
renal.
54
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Identificaram­se fármacos que diminuem a fertilidade por uma série de mecanismos
diferentes e que podem ser utilizados como contraceptivos, isto é, para evitar a gravidez. O
propósito desta aula é ressaltar as interações medicamentosas que podem comprometer a
eficácia terapêutica dos anticoncepcionais administrados por via oral.
AULA 14 • INTERAÇÕES COM CONTRACEPTIVOS
Hormônios esteróides
Compreendem os hormônios sexuais (androgênios, progestágenos e estrogênios) e
aqueles produzidos pelo córtex das glândulas supra­renais. Daremos atenção especial aos
estrogênios e progestágenos por serem aqueles empregados na contracepção. O esquema a
seguir lista os principais representantes dessas duas classes de hormônios.
Classes principais de contraceptivos
Terapia combinada: Consiste em uma combinação de um estrógeno (normammente,
etinil­estradiol ou mestranol) com um progestágeno. Contém uma dose baixa constante de
estrógeno administrada durante 21 dias, com dose concomitante baixa, porém crescente, de
progestágeno em três períodos de sete dias sucessivos (“regime trifásico”). Os comprimidos são
55
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
tomados durante 21 dias e, em seguida, há período de abstinência de sete dias, para indução da
menstruação.
Comprimidos
de
progestágenos:
Contêm
apenas
progestágeno,
geralmente
noretindrona ou norgestrel (“minipílulas”) e são tomados diariamente de modo ininterrupto. São
menos eficazes que a terapia combinada e provocam menstruações irregulares mais
frequentemente.
Implantes com progestágenos: Baseiam­se no uso de cápsulas subepidérmicas de
levonorgestrel, colocadas na parte superior do braço. O progestágeno é liberado lentamente e
confere proteção contraceptiva por cerca de cinco anos. Após o implante, o método de
contracepção já não depende mais da paciente, o que talvez explique o baixo índice de falha
desse método. Pode provocar sangramentos irregulares e enxaqueca.
Contracepção pós­coito: Emprega estrógenos em altas doses (por exemplo, etinil­
estradiol ou dietilestilbestrol) administrados dentro de 72 horas após o coito e mantido durante
cinco dias adicionais, duas vezes por dia (“pílula do dia seguinte”). Outra possibilidade são duas
doses de etinil­estradiol + norgestrel dadas dentro de 72 horas após o coito, seguidas por outras
duas doses, doze horas mais tarde. Tem sido usada uma dose única de mifepristona.
Mecanismo de ação
O estrógeno ativa o mecanismo de retroalimentação negativa sobre a liberação hipofisária
de LH (hormônio luteinizante) e FSH (hormônio folículo­estimulante), diminuindo suas
concentrações e evitando, dessa forma, a ovulação (liberação do ovócito para fecundação). O
progestágeno estimula o sangramento normal ao término do ciclo menstrual.
Interações medicamentosas
Quando os contraceptivos são ingeridos, o estrógeno e o progestógeno são absorvidos do
trato gastrintestinal para a corrente circulatória, sendo conduzidos até o fígado, em que são
metabolizados em conjugados sulfatados e glucuronídios, os quais não têm atividade
contraceptiva.
56
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Esses metabólitos são excretados na bile, que se esvazia no trato gastrintestinal. Uma
parte desses metabólitos é hidrolisada pelas enzimas das bactérias intestinais, liberando o
estrógeno ativo, sendo o remanescente excretado nas fezes.
O estrógeno liberado pode então ser reabsorvido, estabelecendo­se o ciclo êntero­
hepático, que aumenta o nível plasmático de estrógeno circulante (figura a seguir).
O uso de antimicrobianos destrói as bactérias da flora intestinal responsáveis pela hidrólise
dos conjugados estrogênicos. Desse modo, o ciclo êntero­hepático do estrógeno é diminuído, com
uma consequente redução dos níveis plasmáticos de estrógeno ativo. Outro mecanismo pelo qual
os antimicrobianos parecem reduzir os níveis plasmáticos hormonais é a indução das enzimas
microssomais do citocromo P­450 no fígado, acelerando o metabolismo dos contraceptivos.
Desse modo, a reciclagem diminuída de estrógeno, juntamente com o metabolismo
hepático aumentado, favorece a queda das concentrações hormonais, o que pode comprometer o
efeito contraceptivo e resultar em gravidez.
Os contraceptivos orais também podem ter seus efeitos reduzidos quando utilizados
concomitantemente com barbitúricos e difenil­hidantoína, os quais também induzem a atividade do
sistema do citocromo P­450 e aceleram o metabolismo dos anticoncepcionais.
57
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Propriedades que promovem a interação com fármacos
• Metabolismo passível de ser induzido.
• Circulação êntero­hepática de estrogênio pode ser interrompida por alteração da flora
intestinal.
Interações documentadas e previsibilidade
• Ampicilina (AP): interrupção da circulação êntero­hepática de estrogênio; redução na
eficácia contraceptiva.
• Corticosteróides (P): ¯ metabolismo dos corticosteróides, resultando no - do seu efeito.
• Diazepam (NE): ¯ metabolismo do diazepam.
• Fenitoína (NE): - metabolismo do estrogênio.
• Griseofulvina (NE): possível inibição da eficácia dos contraceptivos, mecanismo
desconhecido.
• Rifampicina (AP): - metabolismo do estrogênio.
• Barbitúricos: - metabolismo do estrogênio.
58
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
A glândula tireóide é a fonte de dois hormônios fundamentalmente diferentes: a tiroxina ou
tetraiodotironina (T4) e a triiodotironina (T3), a forma mais ativa. Esses dois hormônios são vitais
para o desenvolvimento e crescimento normal do nosso organismo e desempenham um
importante papel no metabolismo energético. Esta aula abordará os fármacos empregados no
tratamento dos distúrbios da glândula tireóide e suas interações mais relevantes.
AULA 15 • INTERAÇÕES COM FÁRMACOS UTILIZADOS PARA
DISTÚRBIOS DA TIREÓIDE
Hipotireoidismo: Corresponde a uma deficiência da glândula tireóide que resulta na
secreção inadequada de seus hormônios. É caracterizada por bradicardia, pequena resistência ao
frio e retardo físico ou mental.
O hipotireoidismo é tratado com levotiroxina (T4). O fármaco é administrado uma vez ao dia
em função de sua meia­vida longa.
Interações Medicamentosas
A levotiroxina é metabolizada pelo sistema do citocromo P­450. Fármacos tais como a
fenitoína, rifampina, fenobarbital etc., que induzem as enzimas P­450, acelerando a
biotransformação do hormônio (figura a seguir).
59
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
A colestiramina se complexa com a levotiroxina e impede a sua absorção a partir do trato
gastrintestinal, reduzindo sua biodisponibilidade. Os antiácidos também diminuem a absorção da
levotiroxina.
A levotiroxina pode aumentar os níveis sanguíneos da digoxina, predispondo o paciente a
uma intoxicação digitálica.
A levotiroxina pode reduzir os efeitos dos hipoglicemiantes orais e da insulina.
A levotiroxina potencializa os efeitos dos anticoagulantes orais; o mecanismo parece ser
um aumento do catabolismo dos fatores de coagulação dependentes da vitamina K.
Pacientes em uso de terapia anticoagulante necessitam de monitorização cuidadosa no
início da administração de levotiroxina.
Os estrogênios tendem a aumentar os níveis da globulina fixadora de levotiroxina (TBG),
com consequente diminuição da levotiroxina livre. Assim, em pacientes em uso de levotiroxina,
pode haver necessidade de aumento da dose de hormônio tireoidiano se for iniciada a
administração medicamentos contendo estrogênios (contraceptivos).
A levotiroxina pode causar hiperglicemia e levar à perda do controle glicêmico em
pacientes em uso de hipoglicemiantes.
Salicilatos, fenclofenaco e fenitoína podem reduzir a ligação da levotiroxina às proteínas
plasmáticas, aumentando sua concentração livre e exarcebando seus efeitos.
Amiodarona e propanolol podem inibir a desiodação da levotiroxina a triiodotironina, a
forma mais ativa. Essa interação pode limitar os efeitos da levotiroxina.
A interação entre levotiroxina e cetamina pode aumentar o risco de hipertensão e
taquicardia supraventricular.
Hipertireoidismo: Corresponde a uma hiperfunção da glândula tireóide e consequente
excesso na secreção de seus hormônios. É caracterizado por taquicardia, arritmias cardíacas,
perda de peso, nervosismo, tremor e excesso de produção calórica.
O objetivo da terapia é diminuir a síntese e/ou a liberação de hormônios. Isso pode ser
conseguido removendo parte ou toda a glândula tireóide, inibindo a síntese hormonal ou
bloqueando a liberação dos hormônios a partir da glândula.
60
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Entre os fármacos empregados no tratamento de pacientes com hipertireoidismo estão as
tioamidas propil­tiouracil, metimazol e carbimazol, e o iodeto. As tioamidas inibem a síntese dos
hormônios tireoidianos enquanto o iodeto bloqueia a liberação dos mesmos a partir da glândula.
Interações Medicamentosas
As tioamidas diminuem os efeitos dos anticoagulantes.
As tioamidas diminuem o metabolismo da teofilina, sendo necessário um ajuste na
dosagem, para evitar intoxicação do paciente.
O carbimazol é metabolizado a metimazol (sua forma ativa), no fígado. O metimazol inibe
enzimas do citocromo P­450, inclusive a isoforma responsável pelo metabolismo da eritromicina.
Isso pode resultar em níveis sanguíneos de eritromocina maiores do que o normal e na maior
incidência de efeitos colaterais.
O carbimazol é bastante hepatotóxico e deve ser evitado seu uso concomitante com outros
fármacos hepatotóxicos. Por exemplo, a associação bupropiona e carbimazol é extremamente
tóxica para o fígado.
O carbimazol e seu metabólito metimazol aumentam o metabolismo hepático da
prednisolona e outros corticosteróides, o que requer que doses maiores desses fármacos sejam
utilizadas nas associações com as tioamidas.
O carbimazol reduz as concentrações séricas de digoxina.
O metimazol, quando administrado concomitantemente com clozapina, pode provocar
diminuição na contagem de leucócitos (leucopenia).
61
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Nesta aula serão apresentadas as considerações gerais e alterações na farmacocinética
de idosos, que colaboram com as interações medicamentosas, especialmente por diferenças no
tempo de meia­vida dos fármacos.
AULA 16 • INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM IDOSOS
Considerações gerais
Diferentes estudos de avaliação do uso de medicamentos constataram que, além da
utilização de um grande número de especialidades farmacêuticas entre os idosos, há prevalência
do uso de determinados grupos de medicamentos, como: analgésicos, anti­inflamatórios e
psicotrópicos.
Os idosos chegam a constituir 50% dos multiusuários. É comum encontrar em suas
prescrições dosagens e indicações inadequadas, interações medicamentosas,
associações e redundância quanto ao uso de fármacos pertencentes a uma mesma
classe terapêutica e medicamentos sem valor terapêutico. Tais fatores podem gerar
reações adversas aos medicamentos (RAM), algumas delas graves e fatais (MOSEGUI
et al., 1999).
O envelhecimento humano provoca modificações no corpo como consequência de
mudanças durante o processo evolutivo: alterações cardiovasculares, metabólicas, respiratórias,
na pele, no sistema digestório, ósseo, neurológico, genito­urinário e muscular.
Ressalta­se a importância de uma avaliação adequada no momento da prescrição, pois
tais associações só tendem a aumentar a incidência de efeitos adversos. A prescrição é um dos
fatores capazes de interferir na qualidade e na quantidade do consumo de medicamentos.
O profissional responsável pela prescrição deve possuir e usar uma série de informações
(dose, custos, via de administração, efeitos adversos e eficácia) no momento de prescrever.
62
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Consideráveis alterações no organismo do idoso
De todos os parâmetros farmacológicos, talvez a distribuição e a metabolização sejam os
mais afetados pelo envelhecimento do organismo.
“A biodisponibilidade de fármacos hidrossolúveis administradas por via oral, por
exemplo, pode estar aumentada, haja vista que o idoso possui menor teor de água no
organismo, o que acarreta redução em seu volume de distribuição” (BEYTH; SHORR,
2002 apud NÓBREGA; KARNIKOWSKI, 2005).
“Além disso, o fluxo sanguíneo hepático costuma estar diminuído, por vezes reduzido
quase à metade,com conseqüente redução do metabolismo de primeira passagem dos
fármacos” (FONSECA; CARMOS, 2000; BEYTH; SHORR, 2002; THORN BURG, 1997
apud NÓBREGA; KARNIKOWSKI, 2005).
“Fármacos lipossolúveis, como o diazepam, por exemplo, apresentam maior volume de
distribuição no idoso, pois a proporção de tecido adiposo nesses indivíduos é maior”
(BEERS et al., 1991).
Duas outras condições que frequentemente se apresentam no idoso podem contribuir para
uma distribuição irregular dos medicamentos:
a) a concentração plasmática de albumina tende a ser menor, o que faz com que a
ligação dos fármacos a essas proteínas também esteja reduzida, resultando maior
fração livre do fármaco no plasma e maior volume de distribuição.
b) a eliminação renal pode estar prejudicada, prolongando a meia­vida plasmática dos
fármacos e aumentando a probabilidade de causar efeitos tóxicos (BEYTH; SHORR,
2002; THORN BURG, 1997; BEERS et al.,1991 apud NÓBREGA; KARNIKOWSKI,
2005).
Nesse contexto, algumas categorias de medicamentos passaram a ser consideradas
impróprias para o idoso, seja por falta de eficácia terapêutica ou por um risco aumentado de
efeitos adversos que supera seus benefícios quando comparadas com outras categorias de
medicamentos, devendo ter seu uso evitado.
63
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Analisando as interações medicamentosas em idosos
Diante das exposições colocadas anteriormente, nota­se a importância de evitar interações
medicamentosas em idosos, de modo paradoxal com o avanço de comorbidades e doenças
crônicas em idosos, uma vez que esses indivíduos comumente utilizam inúmeros fármacos
diariamente.
64
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Diante da necessidade de ajustes de dosagens, assim como a carência de estudos
farmacológicos na população infantil, esta aula tem como objetivo apresentar criticamente
situações relacionadas a interações medicamentosas em crianças.
AULA 17 • INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM CRIANÇAS
Introdução
As crianças apresentam características farmacocinéticas e farmacodinâmicas que se
modificam ao longo do seu desenvolvimento, tornando­as especialmente vulneráveis quanto à
utilização de medicamentos.
Por motivos legais, éticos e econômicos, elas não são incluídas em ensaios clínicos para
desenvolvimento de novos medicamentos, sendo chamadas de “órfãos terapêuticos”. Assim, os
medicamentos passam a ser usados em crianças de forma empírica e, muitas vezes,
questionável.
Na maioria dos países, os antibióticos (A), analgésicos/antitérmicos (B) e medicamentos
com ação no aparelho respiratório (C) constituem os três grupos de fármacos mais utilizados em
crianças.
Só para termos uma ideia, em um estudo em cinco enfermarias pediátricas na cidade de
Brasília, dos doze medicamentos mais prescritos, dez pertenciam aos grupos mencionados acima.
Eram eles:
65
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Medicamento
Dipirona
Fenoterol
Penicilina G potássica
Brometo de ipratrópio
Ceftriaxona
Cloreto de sódio nasal
Hidrocortisona
Furosemida
Gentamicia
Oxacilina
Prednisona
Fenitoína
Grupo
B
C
A
C
A
C
C
Diurético
A
A
C
Anticonvulsivante
Prevalência de prescrição (%)
88,3
30,7
25
24,4
12,7
10,8
10,5
9,9
6,3
6,3
6,3
6
Se considerarmos apenas os medicamentos dessa lista ou grupos a que pertencem,
possíveis interações entre eles são:
Dupla de medicamentos
Corticosteróides
Agonistas beta­
(prednisona,
adrenérgicos (fenoterol,
hidrocortisona) e
salbutamol, terbutalina)
diuréticos (furosemida)
Agonistas beta­
Brometo de ipratrópio
adrenérgicos
Cefalosporinas (exceção:
Furosemida
Hidrocortisona
Furosemida
Efeitos clínicos
Hipocalemia e risco de sérias
arritmias cardíacas em
asmáticos
Risco de glaucoma
Risco de nefrotoxicidade
Hipocalemia
Risco de nefrotoxicidade
pela gentamicina
Risco de nefrotoxicidade e
ototoxicidade
Gentamicina
Ceftriaxona
Gentamicina
Furosemida
Fenitoína
Oxacilina
Risco de crises epilépticas
Fenitoína
Furosemida
Redução no efeito diurético
Fenitoína
Corticosteróides
Redução nas concentrações
plasmáticas dos
corticosteróides
Além da dipirona, o paracetamol (acetoaminofeno) é um dos analgésicos/antitérmicos mais
prescritos para crianças e pode apresentar interações medicamentosas de relevância clínica
nesse grupo. Algumas dessas interações são representadas na tabela a seguir.
66
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Fármaco
Metoclopramida e
domperidona
(antieméticos)
Medicamento
Efeito clínico
Aumento na taxa de
absorção do paracetamol e
analgesia mais rápida
Antiepilépticos
Aumento no metabolismo do
(carbamazepina, fenitoína,
paracetamol e risco de
fenobarbital e primidona)
hepatotoxicidade.
Difenidramina
Eritromicina
Retardo na absorção do
paracetamol
Aumento na absorção do
paracetamol
67
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Ao analisar a relação risco/benefício, medicamentos são utilizados durante a gestação. No
entanto, interações medicamentosas podem comprometer a eficácia e/ou exibir efeitos colaterais
também ao bebê. Assim, nesta aula, serão apresentados subsídios à prática profissional, diante
de interações medicamentosas existentes no cotidiano.
AULA 18 • INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM GESTANTES
Introdução
Mais de 90% das mulheres grávidas fazem uso de algum medicamento durante a gravidez.
Os medicamentos, a menos que sejam absolutamente necessários, não devem ser administrados
durante esse período, porque podem apresentar riscos tanto para a gestante como para o bebê.
Para a maior parte dos fármacos, existem poucos estudos sobre o uso de medicamentos
durante a gravidez e, assim como as crianças, as mulheres podem apresentar características
farmacocinéticas e farmacodinâmicas que tornam tanto ela quanto a criança em desenvolvimento
especialmente vulneráveis aos medicamentos.
Medicamentos mais utilizados por gestantes
Em um estudo realizado em seis cidades brasileiras, verificou­se que:
Tabela 1 Medicamentos mais utilizados por grupo
Grupo
Percentagem (%)
Vitaminas + antianêmicos
Fármacos que atuam no
aparelho digestório
33,5
Analgésicos/anti­inflamatórios
22,2
Antianêmicos
Antimicrobianos
19,8
11,1
31,3
68
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Em outro estudo, os fármacos que mais apareceram em prescrições para gestantes,
foram:
Tabela 2 Fármacos mais utilizados por gestante
Grupo
Analgésicos
Anti­inflamatórios
Antimicrobianos
Vitaminas
Antianêmicos
Medicamentos que atuam no
aparelho digestório
Fármaco
Dipirona
Paracetamol
Indometacina
Diclofenaco sódico
Triancinolona
Hidrocortisona
Amoxicilina
Ampicilina
Benzilpenicilina benzatina
Cefalexina
Tetraciclina
Nitrofurantoína
Nistatina
Cetoconazol
Tinidazol
Isoconazol
Terconazol
Metronidazol
Espiramicina
Vitamina A
Vitamina C
Vitamina B6
Ácido fólico
Sulfato ferroso
Cimetidina
Hidróxido de alumínio
Metoclopramida
Dimenidrato
Bromoprida
Hioscina
Bisacodil
Uma vez que, em muitos casos, mais de um medicamento é utilizado ao mesmo tempo
pela gestante, e isso a predispõe a interações medicamentosas. Por sua vez, uma interação pode,
69
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
por exemplo, resultar em concentrações sanguíneas maiores de um fármaco e expor tanto a
gestante quanto o bebê a doses tóxicas (no caso de fármacos que atravessam a barreira
placentária).
Embora muitas interações sejam possíveis entre os fármacos listados acima, nem todas
são de relevância clínica. Aquelas de maior significado clínico são dadas na tabela abaixo (para
outras interações, consultar aulas anteriores).
Diclofenaco
Triancinolona
Risco de ulceração e
sangramento
gastrintestinal
Fluconazol
Toxicidade pulmonar
e hepática
Metoclopramida
Menor absorção da
nitrofurantoína
Aspirina
Aumento na taxa de
absorção da aspirina
Nitrofurontoína
Metoclopramida
Fármacos teratogênicos
Determinados fármacos podem atravessar a placenta e provocar defeitos congênitos no
ser humano. Entre os mais importantes temos:
a) Antineoplásicos.
b) Fármacos para o tratamento da pele: isotretinoína e etretinato. Como são bastante
lipossolúveis, ficam armazenados no tecido adiposo. Assim, ao suspender o uso, a
mulher deve esperar um determinado tempo para engravidar.
c) Hormônios androgênicos.
d) Meclizina (efeito observado até agora em animais).
e) Anticonvulsivantes.
f) Drogas para tireóide (iodo, propiltiouracil e metimazol).
g) Ansiolíticos (nos três primeiros meses de gestação) e lítio.
h) Estreptomicina/canamicina (ototoxicidade) e ciprofloxacino.
i) Varfarina.
70
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
j) Inibidores da ECA e diuréticos tiazídicos.
71
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Pacientes hospitalizados, especialmente em unidades de terapia intensiva (UTI),
apresentam condições fisiológicas alteradas e, ao mesmo tempo, são submetidos à terapia
farmacológica para diversas doenças. Nesta aula, serão apresentadas algumas situações típicas
de interações medicamentosas em UTI, possibilitando uma análise crítica das mencionadas
situações.
AULA 19 • INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS EM UNIDADE DE
TERAPIA INTENSIVA (UTI)
Introdução
Nos pacientes em UTI, a infusão contínua de medicamentos vasoativos e a administração
intermitente de outros (antibióticos, analgésicos, ansiolíticos, antieméticos) são comuns e
necessárias.
Em contrapartida, são situações potenciais para a ocorrência de interações adversas,
especialmente quando cuidados em relação à compatibilidade entre os medicamentos e os
intervalos de administração entre eles não são considerados.
Principais interações medicamentosas em UTI
Veja tabela com as interações medicamentosas mais frequentes, disponível no
ambiente de estudo.
72
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
Nesta aula, será abordada a perspectiva dos estudos de interações medicamentosas,
correlacionando com a importância do farmacêutico nessa prática profissional.
AULA 20 • CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE INTERAÇÕES
MEDICAMENTOSAS
Perspectivas clínicas
Nos últimos vinte anos surgiram os inibidores seletivos da recaptação de serotonina
(ISRSs), agentes antifúngicos azólicos e antirretrovirais (tratamento da AIDS), muitos dos quais
inibem ou induzem o sistema do citocromo P­450 e interferem no metabolismo da maior parte dos
fármacos empregados clinicamente.
Com isso, a interação farmacocinética se tornou uma questão clínica de crescente
interesse. E, hoje, um dos principais objetivos no desenvolvimento de novos fármacos é gerar
informação científica sobre tais interações.
A seguir temos uma tabela com os principais fármacos representativos que possuem
efeitos significantes sobre a atividade das diversas isoformas do citocromo P­450 e de interesse
clínico.
Uma interação farmacocinética é clinicamente importante quando:
a) Um fármaco provoca uma grande alteração na cinética ou nos níveis plasmáticos do
outro, ou seja, quando ele é um poderoso inibidor ou indutor do citocromo P­450.
b) O índice terapêutico do fármaco, que sofre tais alterações, é baixo (fenitoína, varfarina,
digoxina etc.).
As propriedades cinéticas de um fármaco também influenciam o potencial das
consequências clínicas de uma interação. Por exemplo, a inibição do citocromo P­450 (por
cetoconazol) pode aumentar consideravelmente a biodisponibilidade de um fármaco que sofre
metabolismo de primeira passagem (triazolam).
Estudos envolvendo farmacocinética e farmacodinâmica são feitos a fim de prever as
consequências clínicas das interações medicamentosas. O nível de complexidade de tais estudos
73
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
depende da natureza farmacodinâmica da droga sob estudo bem como do tipo de medida
necessário. São realizados estudos tanto in vitro quanto in vivo (duplo­cego, randomizados).
As questões científicas clínicas das interações farmacocinéticas estão se tornando cada
vez mais complexas ao passo que a polifarmácia se torna cada vez mais comum e, assim, mais
drogas que interferem na atividade enzimática do citocromo P­450 são introduzidas na clínica.
Uma abordagem multidisciplinar, com a participação de indivíduos de diversas áreas como
a Farmacologia, Bioquímica e Terapêutica, é necessária. Aqui vale ressaltar a participação que o
profissional farmacêutico pode ter.
Estudo in vitro: por exemplo, na fase pré­clínica de desenvolvimento de um novo fármaco
para verificar a contribuição do citocromo P­450 e de outras enzimas na eliminação metabólica da
droga e que vias metabólicas específicas poderiam ser inibidas pelo composto em investigação.
Tais estudos são importantes na previsão de interações medicamentosas e para saber se
polimorfismos genéticos poderão afetar o metabolismo do fármaco.
Veja tabela disponível no ambiente de estudo.
Estudos in vivo servem para confirmar e elucidar resultados obtidos in vitro, e para avaliar
a extensão de potenciais interações verificadas em estudos anteriores. Para a realização desses
estudos são necessárias várias etapas, desde o desenho do estudo até a forma como os dados
obtidos serão analisados estatisticamente, passando pela seleção da população, das drogas que
serão estudadas, via de administração e doses.
Fármacos retirados do mercado por causa de interações medicamentosas (alguns
exemplos apenas): terfenadina, mibefradil, astemizol e cisaprida.
Perspectivas toxicológicas
Um dos principais problemas que a indústria farmacêutica enfrenta é a perda de
compostos candidatos a fármacos devido a efeitos adversos e tóxicos. A maior parte desses
efeitos ocorre em uma pequena percentagem de pacientes (efeitos idiossincráticos) e muitos
deles são provocados por metabólitos reativos formados a partir do fármaco.
74
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
As reações entre esses metabólitos e macromoléculas teciduais podem levar a efeitos
tóxicos diretos ou intrínsecos e/ou causar toxicidade pela formação de haptenos que
desencadeiam efeitos imunotóxicos.
Em alguns casos, um novo fármaco pode ser o precipitador ou perpetrador de toxicidade
de outro fármaco, alterando seu metabolismo, ou o novo fármaco pode ser objeto de alterações
metabólicas provocadas por um fármaco já no mercado. Em muitos exemplos, o fármaco alvo
dessas alterações possui um baixo índice terapêutico.
Nessa parte, vamos destacar interações medicamentosas metabólicas que têm levado ou
podem levar a sérias consequências toxicológicas nos humanos.
Veja tabela onde são considerados os efeitos do fármaco 2 sobre o fármaco 1
disponível no ambiente de estudo.
Perspectivas de mercado
As interações medicamentosas podem ter um impacto significante sobre o mercado de
medicamentos, o qual é influenciado por uma série de fatores. Entre os mais importantes desses
fatores estão a eficácia e a segurança de um dado fármaco.
Esses dois fatores são da mais importante consideração no processo pelo qual um
fármaco recebe aprovação de agências reguladoras para permitir sua entrada no mercado.
A eficácia e segurança também são importantes para fármacos mesmo depois que eles
entram no mercado, junto aos fatores adicionais, como conveniência de dosagem, via de
administração e custo, quando mais de um medicamento está disponível para tratar a mesma
doença.
Desde 1964, cerca de sessenta fármacos foram retirados do mercado nos Estados Unidos,
porque eram ineficazes ou inseguros. A maior parte dos compostos retirados por questões de
segurança tinha toxicidade atribuível a eles mesmos. Apenas dois desses fármacos (terfenadina e
mibefradil) foram retirados devido à alta incidência de efeitos associados a interações
medicamentosas.
Ao passo que a expectativa de vida nos países industrializados aumenta, em parte por
causa dos avanços na medicina, a necessidade de tratar múltiplas doenças simultaneamente
75
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
aumenta a probabilidade de que muitas pessoas venham a fazer uso concomitante de vários
medicamentos.
Consequentemente, existe um risco aumentado de interações medicamentosas. Uma vez
que, em muitos casos, tais interações são inevitáveis, elas devem ser avaliadas à luz da classe
terapêutica (para a escolha apropriada de agentes que interfiram menos um com o outro) e da
relação risco/benefício.
Ao mesmo tempo, isso impõe a necessidade de buscar substâncias cada vez mais
específicas no seu mecanismo de ação e com melhor perfil toxicológico. Aliás, essa é uma
imposição do próprio mercado farmacêutico, que segue a mesma dinâmica que os demais
mercados: a substituição de “mercadorias" por outras que melhor atendam às necessidades do
consumidor.
Foi assim, por exemplo, que se deu a substituição da terfenadina pela fexofenadina.
Nesse sentido, o profissional farmacêutico é essencial pelo senso crítico e conhecimento
técnico, colaborando na identificação de reações adversas, decorrentes ou não de interações
medicamentosas, visando à utilização racional e segura dos medicamentos.
76
INTERAÇÕES MEDICAMENTOSAS
BIBLIOGRAFIA
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