Construindo a Cidade Moderna: a Introdução dos Esportes na Vida Urbana do Rio de Janeiro Gilmar Mascarenhas de Jesus o objetivo disso tudo era tomar a vida social ,la cidade estável, predizível, produtiva e, acillla de tudo, veloz (. .) Para (...) tomarem-se velozes e adaptadas às nwdenzas fontes de energia as pessoas tinham de ser fisicamente cO/uficiO/ladas Foi para isso que os espartes modernosforam illve,zrados. Sevcenko(I993: 82) . . IlItrodllção Parece desnecessário, por sua notória ubiqüidade, reafirmar que os esportes ocupam lugar de incontestável destaque no mundo contemporâneo. Em suas atuais estruturas, a vida urbana abriga inúmeros espaços destinados à prática esportiva, seja ela de caráter profissional, apresentada como espetáculo nos Nota: Este texto (em sua origem em pesquisa efetuada para a disciplina Geografia da Cidade do Rio de Janeiro, em curso realizado no segundo semestre de 1997 no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ. Agradecemos a revisão crítica e os valiosos comentários do professor Maurício de Almeida Abreu, responsável por essa disciplina. • 17 estudos históricos • 1999 - 23 grandes estádios, autódromos, ginásios cobertos etc., seja ela uma atividade físico-educacional ou ainda de mero enrretenimento informal, amplamente disseminada pelo tecido urbano nas escolas ou em locais improvisados nas ruas e praças. Para atingir esse patamar de inserção na dinâmica espacial da cidade, os esportes cumpriram historicamente um longo e complexo itinerário, do qual analisaremos aqui uma etapa que julgamos crucial. • Trabalhamos com o pressuposto básico de que um momento decisivo do processo histórico de consrrução desse amplo cenário "coincide" e guarda im­ portantes conexões com o advento da modernidade urbana. O que Sevcenko quer afirmar no rrecho supracitado é que os esportes modernos (não as esrritas modalidades em si, com seu corpo específico de regras e equipamentos, mas os esportes como prática social de amplo significado) adquiriram tal pujança na sociedade justamente por responderem prontamente a certas demandas histori­ camente detelIllinadas. Em ourras palavras, os esportes foram "inventados", num primeiro momento, no âmbito da recreação escolar, por exemplo, para depois serem "reinventados" no bojo da modernidade urbana e, nesse segundo mo­ mento, adquiriram conotações simbólicas e uma dimensão político-econômica . ate entao Imprevistas. , - ' A modernidade, com sua reiterada aura otimista e sua fé inabalável no progresso, impulsionou nas cidades novos valores comportamentais, dos quais destacamos aqui a cultura fisica. Vale regisrrar que entendemos a arrnosfera moderna como portadora não apenas de todo um conjunto de novas expectativas e práticas sociais, mas também de rransfolInações decisivas na espacialidade urbana, que destruíram velhas urbanidades e as substituíram por novos fOlma­ 1 tos. As grandes refolInas urbanas européias do século XIX abriram amplos espaços públicos, preencheram-nos com monumentos que expressavam o rriunfo da burguesia e dotaram-nos de eventos e cerimoniais atléticos de apologia ao ideário da mens sana in corpore sano. Nesse contexto de transform ações, queremos verificar como se comportou a cidade do Rio de Janeiro. Nesse sentido, este rrabalho se esrrutura a partir de dois objetivos cenrrais. O primeiro é tentar demonsrrar, arravés de dados e situações concretas, que a cidade do Rio de Janeiro vivenciou, a partir de 1850 e mais intensamente no período que se estende pelas rrês primeiras décadas de vida republicana, uma rica atividade esportiva, caraterizada pela inrrodução e multiplicação de novas modalidades de esportes e pela proliferação de associações civis criadas para esse fim. Tal foi a intensidade desse movimento que podemos falar na ocorrência de uma verdadeirafebre esportiva, em alusão às famosas epidemias que tanto preocu­ param a cidade então. Com uma peculiaridade, porém: essa epidemia, diferente­ mente das demais, afetava majoritariamente os segmentos abastados da popu­ lação carioca, sendo portanto bem aceita e estimulada. O segundo objetivo é 18 COllstruilldo a Cidade Modema levantar e debater algumas hipóteses que expliquem tal fenômeno. Buscamo-las não apenas na escala local (no âmbito das profundas transformações no uso e na forma dos espaços públicos), mas também no contexto das metrópoles européias, onde se originou a onda mundial de glorificação do fisiculturismo e dos esportes, como divertimento e via de obtenção uma vida saudável, e ainda como espetáculo 2 para a nascente indústria do entretenimento urbano. 3 Em se tratando de um exercício de geografia histórica, uma preocupação que atravessa todo o trabalho é a de relacionar o amplo movimento supracitado com as mudanças na forma e dinâmica urbanas. Queremos vincular o surto da febre esportiva ao momento em que a espacialidade urbana finalmente se tomou apta a vivenciá-la. A análise do material obtido nos sugere que a cidade levou algumas décadas para "responder" positivamente aos apelos de desenvolvimento dos esportes, que nos chegavam pela zona portuária e pelos jovens bacharéis recém-vindos da Europa, mas que também já ocorriam no interior da vida urbana 4 carioca, por iniciativa dos ingleses que aqui viviam. Procuramos assim enfatizar o papel dos espaços públicos, que aqui aparecem como logradouros em geral, espaços baldios ou praias, e também como equipamentos de uso coletivo destinados (ou apropriados) ao lazer. Tal preocu­ pação não é gratuita: o movimento que difundiu amplamente a prática esportiva apresentou dois fortes apelos relacionados diretamente aos espaços públicos. De um lado, a busca de áreas amplas para reunir espectadores em tomo de um espetáculo esportivo - e nesse aspecto as praças antecederam os modernos estádios. De outro, a busca da atividade ao ar livre, tendo o sol e a oxigenação como ingredientes de uma prática saudável. Uma de nossas hipóteses é que a relativa demora da cidade do Rio de Janeiro em absorver o modismo europeu da 5 esportizaçã0 em parte se explica pela situação e uso de seus espaços públicos: o estado precário de conservação, o porte acanhado, a tradição cristã de uso austero e ritualizado (pela sacralização), o aparato de controle e vigilância da Igreja e da burocracia estatal e, por fim, a escravidão dotavam tais espaços de um significado . predominantemente pejorativo e mesmo repelente para as parcelas dominantes da sociedade. Este uabalho se divide em dois segmentos. No primeiro, tratamos da cidade colonial brasileira, e em particular do Rio de Janeiro (até o meado do século XIX), como um espaço urbano pouco permeável à introdução da atividade esportiva. A rigidez que caracterizou o uso de seus (poucos) espaços públicos imprimiu uma sociabilidadé restrita e muito pouco aberta a novas formas de comportamento. O objetivo é exatamente contrapor um cenário urbano colonial relativamente "fechado" a um outro, posterior, caracterizado (ao menos no plano das idealizações burguesas) pela abertura cosmopolita a novas idéias e atitudes, algo que Marshall Berman (1986: 18) definiu como euforia da modernidade: 19 estudos históricos. 1999 - 23 exacerbação dos prazeres mundanos, atmosfera de agitação e rurbulência, arurdi­ mento psíquico e embriaguez, expansão das possibilidades de experiência e destruição de barreiras morais. Ainda que tal atmosfera se tenha implantado por aqui de forma bastante incompleta (ou mesmo artificial), ela pode ajudar a explicar a velocidade com que a cidade passou a absorver os esportes na virada do século. No segundo segmento, visando a atingir o primeiro objetivo central já aqui mencionado, tratamos de descrever a ampla ocorrência de atividades espor­ tivas, que atingiu seu ponto culminante na cidade no início do período republi­ cano. Novamente, procuramos inserir tal movimento no contexto da dinâmica sócio-espacial urbana de então, sugerindo hipóteses que articulam afebreesportiva ao movimento geral da sociedade e substancialmente à espacialidade moderna. Observando a difusão dos esportes na cidade de São Paulo nas primeiras décadas deste século, Nicolau Sevcenko (1993) localiza importantes agentes sociais promotores da "culrura fisica", como a influente Academia de Direito do Largo de São Francisco, e atores particulares, como Fernando de Azevedo, autoridade educacional de grande audiência nos meios políticos de então. Neste nosso trabalho, não chegamos a detectar agentes específicos (certamente eles existiram, como Coelho Neto, por exemplo) pois não tivemos tal preocupação. Interessou-nos tão-somente delinear o contexto espacial propício ao fenômeno da febre esportiva no Rio de Janeiro. Toda uma abordagem geográfica dos esportes está por ser construída no Brasil. Contamos com os caminhos já trilhados por geógrafos europeus (Bale, 1989, 1993; Augustin, 1995), mas é preciso compatibilizar tais contribuiçôes com as particularidades de nossa realidade histórica e sócio-espacial. Este trabalho pretende oferecer uma pequena contribuição nesse sentido. A cidade colonial: espaço de sedC/ltarismo e sociabiliflades ,.estritas Operar uma distinção absoluta entre um urbano colonial e um outro que lhe é consecutivo e "moderno" é reconhecidamente uma tarefa arriscada. No caso brasileiro, esses dois períodos da evolução urbana comparecem de forma visível em cidades como o Rio de Janeiro, mas isso não significa dizer que se pode estabelecer um momento preciso de ruprura, em que um passado colonial cedeu lugar à modernidade. A vida urbana encena facetas diversas, e cada uma delas pode apresentar um movimento relativamente diferenciado do conjunto. No plano político-administrativo, por exemplo, a cidade perdeu sua condição colo­ nial em 1822, com a proclamação formal da independência nacional. No plano econômico, entretanto, as estruturas de dominação e exploração colonial persis­ tiram, sob a égide do Império Britânico, posto que, segundo os telmos talvez 20 CO/lstrui/ldo a Cidade Moderna exagerados de Gilberto Freyre (1948: 15), PortUgal já não passava de um vinhedo dos ingleses. Se observatnlOS, por outro lado, a fOlIna urbana, poderemos con­ cordar com Maurício Abreu (1987: 67) e dizer que a herança colonial-escra­ vocrata só foi removida definitivamente da paisagem carioca com a radical reforma de Pereira Passos, já no início do século XX, quando o traçado irregular e acanhado das vielas, largos e becos da área central cedeu lugar aos amplos e retilíneos bulevares de arquitetura monumental, símbolos da modernidade capi­ talista. No plano das sociabilidades e dos usos dos espaços públicos na cidade do Rio de Janeiro, talvez seja prudente basearmo-nos num longo processo de transição das estruturas da vida cotidiana, que se iniciou discretamente em 1808 com a abertura dos portos e a chegada da família real, trazendo um novo conceito de vida urbana. O movimento adquiriu força a partir de 1850, com a adesão crescente ao "mundanismo" (Buarque, 1994), e iria consolidar-se já em plena Belle Epoqlle, quando finalmente novas possibilidades de experiência encon­ traram um cenário urbano propício. Estudando o advento dos esportes modernos no Rio de Janeiro, é essa a dimensão que nos interessa, a da passagem gradual de uma cidade vigiada e de escassa sociabilidade ao ar livre para uma outra, em que o espírito laico e hedonista da modernidade veio subverter e dessacralizar os espaços públicos. Comecemos então pelo urbano colonial. , A cidade colonial brasileira, quase privada de poder, dinamismo e vida cultural, pouco contribuiu para o desenvolvimento de uma rede de sociabilidades sobre a qual pudessem mais tarde getminar as associações esportivas. Debret nos deixou registrado que o único esporte praticado no Brasil colonial era a caça. Fernando de Azevedo, influenciado pelo nacionalismo de seu tempo, procurou negar a influência inglesa e tentou acrescentar outras modalidades (que Gilberto Freyre trataria apenas como nossos quase-esportes rurais), como a cavalhada, espécie de mimetismo da guerra, herança da cavalaria medieval. Havia ainda a eventual tourada, mas o próprio Azevedo (1930: 25) admite que até 1888 nossa prática esportiva era ínfima, pois "a vida social, tolhida de preconceitos, não estimulava os exercícios físicos". Excetuando-se o vasto mundo rural, podemos dizer que no meio urbano colonial brasileiro a disponibilidade de espaços abertos para as manifestações coletivas era muito pequena. Ademais, muitos desses espaços estavam associados diretamente à Igreja e seu consistente aparato de vigilância, sendo o adro "o único largo generoso ou capaz, ainda que modesto, de abrigar todos do lugar e das redondezas", segundo afirma Murilo Marx (1991: 54). A vigilância cotidiana também se realizava através do forte controle do poder estatal: somente a presença ameaçadora do pelourinho, instituição medieval portUguesa que dotava o espaço circundante de silêncio e terror, poderia elevar um povoado brasileiro 21 estudos históricos. 1999 - 23 à condição de vila ou cidade. Abreu (1996: 155) nos alena para o fato de que, "na verdade, o Estado ponuguês se insinuava por todas as dimensões da vida urbana, e muito especialmente nas cidades reais". Tratava-se de um mundo de pouca flexibilidade no domínio da "economia de gestos", para utilizar a expressão criativa e muito apropriada de Margareth Rago (1987). As limitações da sociabilidade não se restringiam às praças, rossios e largos da cidade colonial: as ruas, segundo Reis Filho (1968: 130-1), não apenas apresentavam o por demais conhecido aspecto medieval, com sua escassa largura e grande irregularidade, como também não tinham, na maior parte dos casos, qualquer significado como local de pe!!llallêllcia. Nas palavras de Sílvio Z31lcheti (1987: 13): Não se vivia, definitivamente, dentro dos perímetros urbanos, com exceção dos administradores da Coroa ou dos artesãos. (...) muitos viajantes estrangeiros, que cruzaram o interior do país, [foram levados] a interpretar as cidades brasileiras como simples pontos de reunião dominical dos latifundiários da área. Apesar de a citação acima se adequar mais a pequenas vilas do que a uma cidade de 30 mil habitantes e capital do vice-reino, como era o caso do Rio de Janeiro em 1800, não podemos ignorar a debilidade da vida de relações no cotidiano dos espaços públicos cariocas de então, sobretudo no âmbito do segmento social detentor de posses e títulos de nobreza ? Delgado de Carvalho (1994: 105), por exemplo, comenta a falta de dinamismo social nas ruas ao apontar para o fato de inexistir nas elites e classes médias do Rio de Janeiro, até o meado do século XIX, o hábito de sair de casa, a não ser pela freqüência socialmente obrigatória à missa dominical. A intenção das classes dominantes era bastante clara nesse aspecto: deixar evidente sua profunda diferença em relação àqueles que, desprovidos de qualquer nobreza, necessitavam trabalhar com base no esforço muscular. Tal atitude deixaria profundas marcas nos espaços públicos de nossas cidades: durante a maior parte do tempo estes seriam povoados quase que exclusivamente pelas massas de negros escravos em sua pesada labuta cotidiana: o varejo ambulante, a coleta de água, o transporte de pessoas e mercadorias etc. Benchimol (1990: 28-32), em seu exaustivo levantamento sobre as con­ dições materiais da cidade às "vésperas" da refolma Passos, comenta que os escravos dominavam a paisagem das ruas, em trajes indecentes para os padrões "familiares". Outros aspectos, como o mau cheiro, o tráfego intenso, barulhento e perigoso dos carroceiros, além do péssimo estado do calçamento das ruas, tornavam os espaços públicos muito pouco convidativos, sobretudo para as senhoras brancas, que praticamente viviam encIausuradas em seus lares. 22 COlIstnlilldo a Cidade Moderna o cotidiano do Rio de Janeiro sofreria um incremento dinamizador em 1808, com a impactante chegada da corte portuguesa, habituada a uma vida social urbana bem mais intensa desde a refolllla pombalina da cidade de Lisboa (Lousada, 1995). Ainda assim, o Rio de Janeiro manteria basicamente as estrU­ turas cotidianas fundamentais da sociedade de ordem: religiosos e militares ali­ mentavam as procissões e cerimoniais públicos que preenchiam o dia-a-dia da cidade com rigorosos rituais espetacularizados ao longo do rico calendário anual de feriados.8 Silva (1978: 67) alerta para o depoimento de viajantes europeus que viam o Rio de Janeiro da época como uma cidade monótona e sem diversões ou reuruoes . - . . SOCiaIS. Richard Grabam externa as impressões de um viajante que, em 1865, notou a inexistência de esportes praticados ao ar livre, algo tão difundido na Inglaterra vitoriana. Preocupado em detectar e dimensionar a forte influência inglesa no Brasil, diz ele: ''Antes de 1880 ou 1890, um jovem de boa família não dava nenhuma atenção aos esportes e exercícios físicos, tendendo muito mais para a poesia e a política ou aventuras amorosas com atrizes de companhias visitantes" (Graham, 1973: 127). Para se engajar no modismo europeu das práticas esportivas (como veremos no próximo segmento), a sociedade brasileira precisou superar seu forte preconceito em relação às atividades que exigem esforço muscular. Durante nês séculos e meio, qualquer atividade física mais exigente era encarada como moralmente degradante, incluindo-se aí até mesmo o mero ato de transportar nas mãos um pequeno pacote, confOlme atestam inúmeros relatos de viajantes europeus no Brasil. Quando Rui Barbosa, na condição de chefe da comissão estadual de ensino, propôs em 1882 a introdução do exercício físico no currículo escolar, baseado na crença de que a debilidade física comprometia o desempenho intelectual, não foi levado a sério (Azevedo, 1930: clássico Sobrados e mocambos (1951: 171-2), 15-6). Gilberto Freyre, em seu faz referência a essa aversão da sociedade patriarcal brasileira aos exercícios fisicos, recorrendo às palavras condenadoras do médico Lima Santos: ( ...) metidos em casa, e sentados a mor parte do tempo, entregues a uma vida inteiramente sedentária, não tardam que não caiam em um estado de preguiça mortal (...) sair à rua o menos possível, ser visto o menos possível, e se confundir o menos possível com essa parte da população que chamam de povo e que tanto abominam. Não podemos, entretanto, imputar apenas ao modelo de sociedade escravista, ao desenho urbano e à suposta insuficiência da vida social nas cidades do Brasil colonial a responsabilidade pela preponderância de uma conduta individual fisicamente passiva ou acomodada ao conforto e à privacidade do lar. 23 estudos históricos. 1999 - 23 Até mesmo porque tal comportamento não era uma especificidade brasileira: ao contrário, havia-se consolidado na Europa desde o início da era medieval, arráves da difusão do ideário cristão. Richard Sennen (1997) assinala a profunda transição no uso do corpo ocorrida entre o Império Romano e a Idade Média, da orgia pública pagã às renúncias corporais do espaço cristão. Foi justamente o imperador romano Teodósio, no ano de 349, portanto já em plena vigência da hegemonia cristã, que proibiu a continuidade dos Jogos Olímpicos, que existiam havia mais de mil anos. O corpo deveria resignar-se aos imperativos da alma, que se queria purificar através do controle severo dos impulsos carnais. Nesse sentido, encontram-se facilmente registros policiais de perseguição implacável às práticas esportivas populares nas cidades medievais, tais como ofutebol ancestral oufolk football (Elias e Dunning, 1985): a movimentaçao descontrolada de centenas de homens em lUla por uma "pelota" provocava nas estreitas ruas medievais confusão, delitos, gestos considerados imorais e danos à propriedade privada. Com o advento da era renascentista, os estudos sobre o corpo, a biomecânica, e toda uma filosofia de apoio à "educação física" começaram a se expandir, ocupando mentes privilegiadas como as de Leonardo da Vinci, Mon­ taigne e Francis Bacon, que estabeleceram os exercícios físicos como o ideal de uma educação cortesã (Oliveira, 1994: 36-7). Foram assim retomados alguns ideais greco-romanos relacionados ao uso do corpo, instaurando-se uma nova fase de desenvolvimento da cultura física. Todavia, mesmo no Renascimento, os esportes que exigiam grande aplicação de força e/ou atritos corporais se man­ tiveram desprestigiados, dada a grande importância atribuída pelos humanistas à erudição em detrimento da atividade muscular. Também o zelo moralista e o severo intelectualismo da Reforma e da Contra-Reforma, segundo o estudioso Huizinga (1996), investiram contra a prática esportiva. Somente no último quartel do século XVIII, já no contexto do Iluminismo, foi que efetivamente se expandiram as idéias de resgate e revalorização dos exercícios físicos, tendo em vista agora o desenvolvimento individual. Tal movimento será melhor abordado no proxlmo segmento. • • Por enquanto, o que nos importa é frisar a transição vivida pela cidade do Rio de Janeiro no tocante à experiência corporal pública e socializada. A partir de um determinado momento, a tradicional rigidez de nossos espaços públicos, vigente durante a maior parte do ano, tornou-se coisa do passado. Segundo Roberto Moura (1995: 76): A complexidade crescente da cidade do Rio de Janeiro e a diversificação social de sua população gerariam nos últimos anos do século um público novo, a quem não mais satisfariam, em sua ânsia de 24 • " CO/lstmi/ldo a Cidade Modema divertimentos, os dias de entrudo e as festas religiosas ao longo do ano cristão oferecidas pelas paróquias, Na última década do século XIX, o movimento de adesão aos espones e ao lazer ao ar livre adquiriu força e velocidade inéditas, inserindo-se na perspec­ tiva de retomada dos espaços públicos e de liberalização dos costnmes: assistiu-se à ascensão da figura do sportsman, que aposentou o pince-IJez e o ar de austeridade do vestuário escuro e pesado para expor alegre e publicamente seus músculos, Segundo Luís Edmundo (1938: 319), surgiu, no início do século XX, uma nova geração bem distinta daquela que proclamou a República, formada de homens lâllguidos e raquíticos, sempre enrolados em grossos cache-nez de lã. V árias modalidades esportivas conquistaram então ampla aceitação em nossos principais centros urbanos. A nascente indústria de entretenimento popular, particularmente na cidade do Rio de Janeiro, apresentou nesse período um fOlmidável ritmo de expansão, Novos hábitos foram sendo rapidamente incorporados ao cotidiano das cidades brasileiras, expandindo as formas de lazer e refimcionalizando os espaços públicos, num processo que alguns autores definem como de laicização ou dessacralização da vida cotidiana. Buarque (1994: 16-7) nos lembra que a própria noção de mundano se alterou radicalmente entre o século XVIII e o final do século XIX: de algo ilícito, que segue a máxima e o ditame contrários à lei de Crisw, tornou-se algo muito mais aceito (e até louvável, dentro do espírito capitalista), que se ocupa demasiado da coisas do mundo. Corpos são máqllinas: o frmes; controlado da cidade modern a A modernidade urbana, segundo MarshaII Berman, se configurou nas principais cidades européias do final do século XIX como atmosfera de excitação e entusiasmo pelas novas fOImas aceitáveis de conduta em público, Os espones eram um componente desse movimento, e não escaparam às observações atentas e.peculiares de MareeI Proust (1985: 13): "sobretudo depois da voga da cultura física, a ociosidade assumiu um caráter esportivo a traduzir-se, ainda fora das horas de exercício, por uma vivacidade febril que imagina não deixar ao tédio nem tempo nem lugar para desenvolver-se," A adesão coletiva aos esportes começou a se esboçar léntamente 11m século antes da torrente hedonista da Bel/e Epoque, por razões associadas à perspectiva difundida de uma suposta via de desenvolvimento saudável do corpo e do espírito, Na segunda metade do século XVIII, tornou-se habituaI nos colégios ingleses a prática de jogos viris (que freqüentemente exigiam mais empenho muscular que propriamente habilidades mais nobres, como destreza e equilíbrio), extraídos e reelaborados pelos jovens a partir de jogos da tradição popular, como o folk fooebaU, A elite agora iniciava-se em práticas esportivas • 25 estudos históricos. 1999 - 23 diferentes daquelas consideradas próprias da nobreza, tais como a esgrima, a equitação, a caça, o arco, o salto etc. (Dunning e Sheard, 1979: 1-3). Tal mudança comportamental se inseria no movimento crescente de resgate de valores clássi­ 9 cos que encontrava sua melhor tradução no princípio da mens sana in corpore salUJ. Em 1830, a educação fisica estava plenamente inserida nas public schools inglesas e, com ela, o incentivo oficial à prática de jogos populares. A crescente regulamentação a que estes foram submetidos resultaria na "invenção" de diver­ sas modalidades es80rtivas de ampla aceitação mundial posterior, como o futebol, ! o rugby e o cricket. Entre 1820 e 1870, as escolas públicas inglesas funcionaram como laboratórios de invenção dos esportes modernos (Augustin, 1995: 20). Tais esportes logo ultrapassaram os muros escolares para conquistar os amplos espaços abertos criados pelo urbanismo vitoriano a partir de 1845 e largamente dissemi­ nados a partir de 1880, conhecidos como recreaMn grounds (Lavery, 1971: 112). Cumpre não esquecer que no século XIX os ingleses chegaram a dominar 1/4 do planeta, e que das ilhas britãnicas partiu mais de 1/3 da volumosa onda migratória européia entre 1850 e 1890 (Said, 1995), período que coincidiu exatamente com a consolidação dos esportes ingleses. Tais fatores contribuem para explicar o sucesso dos sporn em sua difusão pelo mundo. E assim que já em 1844 um alemão escrevia sobre os sporn: "não temos palavra para isso, e somos quase forçados a introduzir o termo em nossa língua". Mais tarde, a expressão spon seria consagrada não apenas na Alemanha, mas em todo o planeta: "a terminologia inglesa se difundiu tal como os termos técnicos italianos no campo da música" (Elias e Dunning, 1985: 188). , Entre 1808 e 1924, excetuando-se os anos da Primeira Guella Mundial, os ingleses efetivamente dominaram o comércio exterior brasileiro: ao longo do século XIX, o porto do Rio de Janeiro avistou mais bandeiras inglesas que de todas as demais nacionalidades somadas, inclusive portuguesas e norte-america­ nas (Manchester, 1973: 261). E pelo litoral do Brasil penetraram não apenas os numerosos produtos da poderosa indústria inglesa, mas também os valores e ll comportamentos considerados civilizadores, entre os quais a prática esportiva. Nesse movimento destacou-se o Rio de Janeiro, por sua condição de mais movimentado porto do país, somente superado em volume de comércio em todo o continente americano por Nova Iorque e Buenos Aires (Sevcenko, 1983: 27). Por volta de 1850 ou 1860, através das zonas portuárias e dos empreendi­ mentos britânicos, começaram a chegar ao Brasil com maior freqüência infor­ mações sobre os novos sporn e seu pretenso papel de fortalecer o corpo e simultaneamente o espírito. Os próprios ingleses procuravam entre si praticar esportes ao ar livre, gerando reações de estranhamento e despertando ampla curiosidade popular. Em 1865, por exemplo, o Cricket Club solicitou à Câmara Municipal do Rio de Janeiro permissão para praticar no Campo da Aclamação 26 COlIstn.illdo a Cidade Moden,a um divernmenUJ ;,'g!ês, "não necessitando para tal fim mais do que alisar o terreno que lhe for demarcado". 12 É interessante notar que as expressões utilizadas pela associação inglesa Cricket Club denotam a necessidade de explicações (sobre as condições do terreno, por exemplo) ao poder público, até então completamente alheio àquela novidade. No tramitar do processo, aliás, um vereador solicitou esclarecimentos sobre o que seria, afinal, esse tal "divertimento inglês". O remo passou a ser praticado sistematicamente na cidade desde pelo menos 185 I, quando se fundou o grupo "os mareantes". Nas últimas duas décadas do século XIX, multiplicaram-se os clubes de regatas e realizaram-se com­ petições muito disputadas (Melo, 1997: 232). Tais eventos demandaram, como qualquer outra modalidade esportiva, alterações inéditas na materialidade ur­ bana, até então desprovida de locais e equipamentos adequados. O Pavilhão de Regatas da praia de Botafogo foi uma das realizações de Pereira Passos que muito contribuiu para a popularidade do remo na cidade. As regatas tornaram-se de imediato um importante e concorrido evento na vida social carioca. Em 1906, a municipalidade estabeleceu exigentes condições para a exploração privada de um "bar à européia" no interior do pavilhão, "proporcionando diversões elegantes", mas sem t.lrejudicar a Federação de Remo e os clubes de regatas que desfrutavam do local. Foi nesse mesmo período que a utilização das praias para fins de banho adquiriu uma conotação mais ampla, ultrapassando o conceito estrito de banho somente por prescrição médica, para sanar problemas dellll3tológicos. Até aproximadamente 1850, 14 quando se iniciou a expansão do uso terapêutico dos banhos de mar, as praias eram utilizadas basicamente como depósito de dejetos urbanos e para a coleta de mariscos ou a pesca pelos setores socialmente matgi­ nalizados. Mesmo a prescrição médica encontrava alguma resistência, por ser o mar um domínio particularmente denso de crenças mágicas. Afinal, com a difusão do banho de mar para fins terapêuticos, iniciou-se um processo de apropriação da praia como local de lazer. Em 1896, uma crônica na imprensa alertava para a excitação e alegria dos banhistas que começavam a freqüentar diariamente a praia por prazer (Araújo, 1995: 322). Tratava-se de uma mudança comportamental que afetaria fortemente a atuação do capital imobiliário (e seria também por ele impulsionada), imprimindo à cidade um novo padrão de dis­ tribuição interna das classes sociais, radicalmente distinto daquele vigente até aproximadamente 1890 graças à difusão da ideologia do morar à beira-mar como estilo de vida moderno. \ � Esse movimento de refuncionalização completa das praias cariocas se inseria, ao nosso ver, no processo mais amplo de adesão a novas práticas corporais de entretenimento que glorificavam a atividade muscular ao ar livre. O uso medicinal do banho de mar vinculava-se a descobertas cienúficas do meado do 27 estudos históricos. 1999 - 23 século XVIII que apontavam para seus benefícios físicos, mas sua intensificação com fins de lazer foi um dado cultural do século XIX, quando se desenvolveu toda uma "arquitetura do mar" (Corbin, 1989: 274-80). Esse fenômeno parece ter tido também origem inglesa: a conexão ferroviária entre a grande metrópole londrina e o balneário de Brighton, em 1841, propiciou paulatinamente a formação de um fluxo maciço de banhistas de veraneio, que buscavam nova forma de entretenimento (Morris, 1984: 323). Essa informação nos chegou, tal como haviam chegado as atividades esportivas, como mais uma grande novidade civilizadora. Nesse movimento, também o turfe merece destaque. Em 1850 já existia no Rio de Janeiro uma pista situada entre Benfica e a Quinta da Boa Vista onde se realizavam espetáculos turfistas com movimento de apostas, promovidos por ricos comerciantes, eles mesmos proprietários dos cavalos. A atividade evoluiu rapidamente, e no ano de 1868 se edificou por iniciativa privada um verdadeiro hipódromo (pista dotada de arquibancadas), o Prado Fluminense, próximo da estação ferroviária de São Francisco Xavier (Ribeiro, 1944). Já no ano seguinte eram ali realizadas corridas que atraíam até quatro mil pessoas, incluindo toda a elite imperial. Segundo Renault (J 982: 200), em 1886 já existiam na cidade quatro hipódromos, com 63 páreos e grande movimento de apostas, além de uma revista especializada, O Jóquei. Simultaneamente, a prática da equitação também se difundiu na cidade: em 1877, por exemplo, um particular solicitou autorização !6 para estabelecer uma escola de equitação na rua do Riachuelo. O ciclismo, que já se difundira na Europa a ponto de ser considerado o primeiro esporte de massa de escala continental (Hobsbawn e Ranger, 1984: 188-9), gozou também de enorme popularidade no Brasil no final do século passado. Os fabricantes de bicicleta na Europa conseguiram alçá-Ia à condição de um dos símbolos máximos da liberdade individual, baseados em sua grande !7 mobilidade. Também investiram na promoção de corridas, para fins de pub­ licidade, edificando no Rio de Janeiro do final do século XIX o Velódromo Nacional, enquanto no Passeio Público e no Parque de Vila Isabel se realizavam animadas competições (Araújo, 1993: 330-1). Também o futebol se inseriu nessa onda de adesão a uma vida su­ postamente adética e sã. Esse esporte aportou no Brasil no final do século XIX (assim como o basquetebol, o tênis e a natação) e já encontrou nas grandes cidades uma cultura esportiva bastante disseminada. Nesse sentido, é importante notar que muitos clubes de futebol no Rio de Janeiro se originaram de clubes preexis­ tentes - de regatas (C. R. Flamengo, C. R. Vasco da Gama), de cricket (Paissandu), de ciclismo e corridas a pé (América F. C.) -, ou mesmo de extintos clubes excursionistas (Botafogo F. C.) (Mattos, 1997: 46). Curiosamente, esse ambiente favorável que o futebol encontrou para sua aceitação é freqüentemente ignorado 28 COllstruilldo « Cidade Modem« pela historiografia futebolística no Brasil, que tende a concentrar suas análises na alta capacidade sedutora do futebol e em sua fácil assimilação. Vale talvez registrar que o futebol carioca somente ultrapassaria o remo em popularidade no transcorrer da década de 1910, quando enfim proliferaram os clubes suburbanos (Pereira, 1996). E curioso observar essa resistência do remo em se deixar suplantar por um esporte que já alcançara, na Bahia, no Rio Grande do Sul e em São Paulo, suprema aceitação popular Gesus, 1998). Podemos levantar aqui a hipótese de que a reforma Passos, ao privilegiar o embelezamento da orla e sua acessibilidade, favoreceu a prática e o espetáculo das regatas, que, já antes prestigiadas, passaram a reunir multidóes. Os esportes, como qualquer outra atividade econômica, dependem fundamentalmente da materialidade ur­ bana e da organização interna da cidade. Sugerimos, para um estudo mais aprofundado, que o remo, relativamente beneficiado pela refolllla urbana do início do século XX, tenha retardado no Rio de Janeiro a ascensão praticamente 18 inevitável do futebol à condição de principal esporte na preferência popular. • Foi sem dúvida muito grande a receptividade da população carioca aos esportes na virada do século. Tal atitude se vinculava diretamente não apenas ao fato de estes representarem uma via para a vida saudável, mas sobretudo ao fato constituírem um elemento civilizador do ideário burguês importado da Europa, . . 19Q uanto as numa conJuntura em que ser moderno era d eseJar ' ser estrangeiro. camadas populares, parecem ter-se mantido inicialmente reticentes ao surto esportivo, até porque a adesão a esse modismo implicava custos materiais ele­ vados (todo o equipamento era importado) e mesmo a assimilação de estranhos 20 códigos de conduta. . A adesão maciça aos esportes respondeu a um conjunto geral de profun­ das transformaçôes na vida urbana, relacionadas ao advento da modernidade. Nicolau Sevcenko (1993: 87), ao tratar o caso paulistano de forma brilhante, expõe o "pano de fundo" desse fenômeno, uma cidade em acelerado crescimento e caracterizada pela diversidade émico-cultural: Pressionada pela pobreza extrema, essa população de destituídos havia perdido seus laços familiares comunitários e territo­ riais. Dentro do novo ambiente, esses homens eram estranhos uns aos outros, mal falavam uma linguagem comum, assim como eram estranhos à vida urbana moderna, precisando portanto desesperadamente de uma nova identidade e de novas bases de solidariedade. As autoridades aprenderam como explorar essa vulnerabilidade cultural e essa necessi­ dade espiritual, fornecendo-lhes uma nova mitologia (. .). . Tjtação esportiva chegou ao ponto de se implantar na cidade a corrida Aa de pombos. E cabe aqui frisar que, ao que indica o material consultado, essa 29 estudos históricos • 1999 - 23 "febre" esteve bem mais relacionada à indústria do espetáculo como entreteni­ mento urbano nascente do que propriamente ao advento de uma consciência fisiculturista. Nesse sentido, nos códices relacionados a diversões públicas e esportes do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, abundam solicitações para a construção de hipódromos, velódromos, frontões, para uso de vias públicas para corridas etc., equipamentos e atividades que de fato congregavam adetas mas acabavam por reunir um número muito maior de espectadores. A rirualização do espetáculo esportivo, ingrediente da modernidade urbana, não foi apenas destinada às elites. A partir de 1880, o futebol inglês e o baseball cumpriram nos EUA o papel de oferecer diversão de massa aos trabal­ hadores em gigantescos estádios. Em 1888, uma multidão compareceu ao duelo de baseball entre as equipes de Nova York e Pittsburgh, e muitos tiveram de ficar do lado de fora, outros tantos amontoados na beira do campo, contornando-o como uma cerca humana. Segundo Barth (1980: 148), aquela multidão vibrante "experiellced in/he ball park lhe quintesse1lCe ofurban leisure: UJalChing olhers do Ihings". Para o autor, um esrudioso da culrura urbana que emergiu nas grandes cidades do século XIX, a formação de grandes platéias é um dado que transcende o universo específico dos esportes. Vale registrar que a "espetacularização" dos esportes como forma de entretenimento já se verifica no século XVIII amplamente em países como 1987) e França (Gaillard, 1984) e razoavelmente nos Estados Unidos (Christensen e Levinson, 1996), sendo parte integrante de um Inglaterra (Brailsford, processo mais amplo de mercantilização do lazer na transição do antigo regime para a ordem burguesa (Sennett 1995: 32). Mas esse "rirual" apresentou um sentido completamente distinto a partir do final do século XIX, quando passou a envolver sentimentos nacionalistas e todo um discurso moral que elevava o esporte à condição de fator de regeneração socioculrural. No Brasil, para captar elementos dessa nova significação do esporte, podemos recorrer ao discurso proferido por Monteiro Lobato em 1905 (apud Rosenfeld, 1993: 79-80), após assistir a um acinado duelo futebolístico entre ingleses e jovens da elite paulis­ tana: , E desta espécie de homens que precisamos. Menos doutores, menos bajuladores, menos parasitas e mais struggle-for-life. Mais homens, mais nervos, mais corpúsculos vermelhos, para que um Camilo Castelo Branco não possa repetir que ele tem sangue corrompido nas veias e farinha de mandioca nos ossos. A forma urbana, conforme já registramos aqui, não estava preparada para abrigar o amplo leque de novos eventos sociais introduzidos pela súbita epidemia 30 Construindo a Cidade Modema de febre esportiva e seu forte apelo ao espetáculo. Novamente nos reportamos a Sevcenko(I993: 83): Como mdo aquilo era uma absoluta novidade na cidade, não havia locais ou pistas especiais construídas especificamente para a prática e o divertimento com o esporte. Assim, mdo era feito nas ruas e em outras áreas públicas, sobremdo no centro da cidade (...). (... ) a Avenida Paulista, com toda a sua centralidade, imponência, visibilidade e conotações heróicas, era obrigatória quando o assunto eram corridas, qualquer que fosse o tipo. Mais do que imaginar as inúmeras intervenções e adaptações sofridas pelo espaço urbano para adequar-se às novas demandas sociais, pretendemos atentar para o fato de que as próprias transfOlDlações na espacialidade, com o advento da modernidade, propiciaram a concretização de tais demandas. Em OUtras palavras, a abermra de amplos espaços públicos e sobremdo sua mudança simbólica e de uso, via dessacralização, configuraram um novo contexto no qual se inseriu aqui a adesão geral à prática esportiva. De uma cidade colonial, alheia aos esportes e marcada por fortes restrições de uso dos já escassos espaços públicos, passamos a uma outra cidade, onde fervilhava a prática esportiva, e os espaços públicos, novos ou ampliados, eram socialmente preenchidos de fOlma bem mais intensa. O que não significou, entretanto, uma vida urbana menos controlada ou predizível. Retomando a primeira citação de Nicolau Sevcenko, que abre este artigo, podemos sugerir que os esportes modernos não foram exatamente criados para atender a demandas da ordem burguesa de aceleração de corpos e espíritos. Mas foi sem dúvida essa ordem burguesa que instaurou 11m cenário urbano propício à difusão dos esportes. E, ao fazê-lo, a cidade moderna não apenas serviu de solo fértil às atividades esportivas, mas sobremdo dotou-as de significados novos e ampliados, recriando pois o esporte, reiventando-o, ao ritmo e ao sabor da modernidade urbana. O esporte foi a tal ponto transformado que Sevcenko preferiu afirmar que a nova ordem o inventou. Conclusão Pretendemos agora meramente arrolar alguns dos fatores que, julgamos, contribuirarn para a confOlmação dessa epidemia defebre esponiva. Em primeiro lugar, destacaremos os fatores extra-locais, examinando que parcela do mundo se projetou sobre o lugar Rio de Janeiro, tomando de Milton Santos (1996) os conceitos de lugar e mundo.22 A seguir, levantaremos algumas condições locais 31 estudos históricos • 1999 - 23 que provavelmente colaboraram na importaçao de novos comportamentos, man­ tendo porém a singularidade inerente ao lugar. São alguns fatores extra-locais: a) a progressiva retomada, desde o Renascimento, de valores greco-ro­ manos, entre eles a estética muscular, dentro de um modelo ideal de fisicultu­ rismo acoplado ao desenvolvimento do espírito; b) a introdução sistemática da educação fisica nas escolas européias do início de século XIX, e sua crescente vinculação aos interesses dos Estados nascentes (discurso nacionalista); c) a adaptação, no mesmo período, no interior das escolas inglesas, de jogos populares remanescentes do período medieval, tomando-os menos violen­ tos e dotando-os de regras que posteriormente se mundializaram; d) a brutal expansão dos capitais europeus, sobretudo de origem britânica, no final do século XIX, exportando também novos valores e hábitos culturais, entre os quais a prática esportiva. A cidade do Rio de Janeiro, que desde 1808 abrira seu movimento portuário às influências (não apenas materiais) do mundo dito civilizado, passou a receber contínuas infOlmações sobre as novidades européias e aderiu a muitas delas. Entretanto, no tocante ao desenvolvimento dos sports, que começaram a se insinuar mais efetivamente pela cidade por volta de 1850 (através de ingleses que trabalhavam em fitmas britânicas aqui atuantes), a receptividade carioca foi mais lenta. Esse período de relativa rejeição ao modismo europeu de apologia do fisiculturismo (e a decorrente refuncionalização dos espaços públicos) parece ter-se estendido na cidade até aproximadamente 1890. Sugerimos os seguintes fatores como explicação dessa relativa inércia local: a) a força da tradição: em todo o período colonial o Brasil não desen­ volveu uma vida social urbana tão intensa quanto a verificada na fase seguinte (a da modernização urbana), seja pelo porte e natureza de nossas vilas e cidades, seja pelo aparato de vigilância montado pela metrópole lusitana e pela Igreja; b) a persistência, até 1888, do regime escravista, fator de desvalorização do esforço muscular. Ainda que a abolição já encontrasse urna situação prati­ camente definida quanto ao término desse regime, havia toda urna poderosa ideologia em vigor, montada em três séculos de escravidão. E, no Rio de Janeiro, o contingente negro era muito significativo; c) a presença vigorosa do imaginário cristão, a atribuir ao corpo urna atitude de autocontrole severo dos instintos e a desvalorizá-lo em relação ao papel preponderante da "alma". Quanto aos fatores locais que permitiram, no final do século passado, uma adesão maciça aos esportes no Rio de Janeiro, temos: 32 COIIstnlÍlldo a Cidade Modm.a a) a atmosfera particularmente favorável à adoção de modismos europeus, como form a de ruptura republicana com o passado, na qual o índio, o negro, o mestiço e mesmo o lusitano eram vistos como elementos retrógrados, que empenavam o progresso; b) a necessidade de novas formas de lazer para o segmento populacional proveniente da Zona Rural, geralmente emigrantes das decadentes zonas cafeicultoras fluminenses, incluindo negros libertos. A vida no campo oferecia oportunidades de entretenimento baratas ou mesmo gratuitas (pesca, caça, banho em rios e cachoeiras etc.) que o ambiente urbano negava ou dificultava, susci­ tando um vazio a ser preenchido; c) a dessacralização dos espaços públicos e da vida social urbana em geral, impulsionada pelo ambiente hedonista da Belle Epoque e pelos ventos positivistas , republicanos, de ruptura com o domínio paroquial da Igreja; d) a reforma Passos, que, mesmo sem destinar aos esportes qualquer papel substantivo (diferentemente do Plano Agache, em 1930), facilitou o acesso à orla marítima e, mais que isso, tornou-a lugar centraI no novo estilo de vida que se impunha, estimulando o uso recreativo das praias e os esportes náuticos. Certamente, a reforma Passos já foi estudada sob os mais diversos ângulos, mas sua contribuição ao desenvolvimento da atividade esportiva da cidade é ainda uma razoável lacuna.23 Não podemos deixar de frisar o caráter elitista que todo esse movimento assumiu inicialmente: a imposição de uma nova atitude corporal, através da assimilação de esportes importados, se inseriu plenamente no projeto civilizador da classe dominante, refletindo a intolerância de nossa Belle Epoque para com a cultura popular, e não apenas para com o passado colonial. Assistiu-se, na época, à europeiwção do carnaval carioca e ao cerceamento a festas populares (da Penha, da Glória), e "mesmo a fOlma de jogo popular mais difundida, o jogo do bicho, [foi] proibida e perseguida, muito embora a sociabilidade das elites elegantes se fizesse em torno dos cassinos e do Jockey Club" (Sevcenko, 1983: 33). Índios, ciganos, imigrantes nordestinos e negros foram elementos que o projeto de "cidade moderna", a princípio, foi incapaz de abso�er. A febre esportiva vivenciada pela cidade, que aqui apenas delineamos em certos aspectos relacionados ao advento de uma atmosfera e de uma espaciali­ dademodernas, merece ser estudada mais detidamente. Os esportes, aliás, somente nos últimos anos vêm encontrando lugar na agenda brasileira de estudos históri­ cos, sociológicos, geográficos ou antropológicos. Considerado como uma faceta "menor" da totalidade social, o esporte foi sistematicamente relegado ao segundo plano durante décadas de investigação acadêmica, seja pela corrente da "história oficial" de matriz positivista, seja pela via de um marxismo pretensamente ortodoxo, fundado no economicismo.24 33 estudos históricos. 1999 - 23 Um dos caminhos de valorização da atividade esportiva enquanto temário de pesquisa foi aberto pela história social inglesa (sobretudo a partir de Eric Hobsbawm) em sua busca de facetas menosprezadas das estruturas do cotidiano (em particular o cotidiano das classes trabalhadoras). Tal enfoque favoreceu uma perspectiva mais rica das condições de vida de amplos segmentos urbanos e, ao ser aplicado ao estudo da história do esporte, propiciou a contex­ tualização de um leque de atividades até então praticamente isolado, pela histo­ riografia, do conjunto da sociedade. Acreditamos que, ao iluminar detenninados momentos e lugares do processo de esportivização da sociedade carioca no início do século, estamos contribuindo para uma compreensão mais ampla do que significou, no plano das estruturas da vida cotidiana, nossa inserção na Belle Epoque. , No tas 1. Pautamo-nos na idéia de "produção social do espaço urbano" e no conceito de urbanidade de Henri Lefebvre (1991). 2 Para atingir nossos objetivos mergulhamos na bibliografia específica da história do laur e dos esportes no Rio de Janeiro, cujas graves limitações nos levaram a consultar a ampla literatura sobre a vida urbana carioca no período em pauta. Desta colhemos notas dispersas para atenuar as carências da bibliografia específica. Também recorremos a algllns periódicos de época e aos códices relacionados a diversões públicas e esportes no Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro. Servimo-nos ainda das leituras e debates sobre espones propiciados por nossa breve estadia no Sir Nonnao Chester Centre for Football Research, da Leicester University, u.K., em maio de 1997. 3. A geografia histórica, infelizmente muito pouco desenvolvida no Brasil, mas rambém carente no mundo inteiro de maior rigor e aprofundamento 34 te6rico-conceirual e mesmo de maior clareza sobre seus propósitos, propõe-se abordar geograficamente um lugar pretérito, uma região ou lima formação sócio-espacial do passado, numa tentativa de '(congelar" o fluir do tempo histórico para deter-se no estudo de uma paisagem e poder identificar o funcionamento de um lugar e suas aniculações com o mundo circundante em determinado período. Nas palavras de Chris Philo (1996), trata-se de lima coleção eclética de investigações que pode adicionar urna enriquecedonl "sensibilidade geográfica" aos fenômenos históricos. 4. Desejamos salientar o papel de urna nova espacialidade urbana nesse processo, ainda que reconheçamos que a modernidade constitui um conjunto de transformações que se operou mais efetivamente no campo das representações simbólicas do que propriamente no domínio da base territorial (Pesaoento, 1995). CO/lstrui/ldo a Cidade Modema 5. Conceito utilizado em Elias & Dunning (1985) para abarcar o amplo processo de transição dos jogos (de tradição local, sem regras escritas) para os esportes modernos (fenômeno explicitamente regulado e aceito mundialmente), no bojo do que Norbert Elias define como "processo civilizador". 6. O conceito de sociabilidade encontra na literatura acadêmica usos diversos. Temos a definição sumária do especialista Maurice Agulhon (1994: 55): "capacidade de viver em grupos e consolidar os grupos mediante a constituição de associações voluntárias". Lousada (1995), por sua vez, faz um interessante levantamento das diferentes apropriações desse conceito e conclui que sobre ele prevalece g..nde indefinição. Entretanto, não deixa de tomar a sua própria: "fonnas de convívio e de interação exteriores aos quadros elementares e de alguma fonna compulsórios da vida social e coletiva". Em ambos os autores, está implícito, pela voluntariedade ou desobrigação, a noção de uso coletivo do tempo livre. E entendemos que aqui entram as associações esportivas amadoras. 7. Certamente, entre negros escravos, índios e brancos pobres produziram·se outras fonnas de sociabilidade, de que . nao convem entretanto tratar aqUl, posto que estamos lidando com um movimento particular de adoção de modismos europeus que penetravam na cidade pelas camadas altas. - . 8. Apontamentos colhidos no curso Geografia da Cidade do Rio de Janeiro, nrinistrado pelo professor Maurício Abreu no PPGG da UFRJ. 9. Não podemos aqui nos estender sobre a evolução da ginástica e da educação fisica, que partiram dos países nórdicos no início do século XIX para conquistar rapidamente a Europa (Oliveira, 1994: 41). O movimento encontrou impulso adicional no discurso nacionalista em expansão, como por exemplo no pan·germanismo, que fomeotava o sentimento patriótico através do exercício físico generalizado para toda a população, reunindo multidões ao ar livre (Eckardt & Gilman, 1996: 129). Também a sociedade civil tomou a iniciativa de formar agremiações (ou C/uh', expressão inglesa que se difundiu mundialmente) para praticar ginástica e espanes. lO. O processo de regulamentação crescente dos jogos tradicionais, que os transformou em espones modernos, correspondeu, na ótica do "processo civilizador" de Norbert Elias, a uma crescente redução da violência inerente ao confronto fisico, coibindo diversas possibilidades de choques inoportunos e de situações de risco - elementos próprios das práticas populares de então -, de tal fonna que, em 1860, os antigos jogadores de rngby na Inglaterra chamavam os novos de dandies (Elias & Duruúng, 1985: 396). lI. Gilberto Freyre (1948: 56-7) lista uma infinidade de contribuições inglesas em nossa vida cotidiana, abrangendo desde produtos de vestuário, alimentação e bebida até práticas sociais como o footing, os clubes, vários espones, o escotismo e o piquenique, para não falar do romance policial e da fala em baixo tom. 12 Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, códice (1730) 45·244. 13. Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, códice 47·1.{;1. Nota·se a preocupação elitista de uso do pavilhão, mantidos porém os espones náuticos como sua prioridade. 14. No ano de 1850 a Câmara Municipal lançou um edital com uma série de conselhos para a população evitar doenças epidêmicas, incluindo entre eles o uso repetido dos banhos de mar. Em 35 estudos históricos • 1999 - 23 1876, foi traduzido do francês o livro Banlws de mar (Melo, 1997: 231-2). 15. U. Abreu (1987: 47). Nesse processo, o bairro de São Cristóvão começou a perder seu velho ar aristocrático, ao mesmo tempo em que a orla oceânica definia-se como foroteira privilegiada de expansão residencial da elite. 16. Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro, c6dice 42-4-M. 17. Birley (I995: 163) nos ajuda a visualizar O grande impacto da difusão da bicicleta no cotidiano das g13ndes cidades européias no final do século passado, sobretudo para as mulheres: a publicidade anunciava tal inovação como "quase equivalente a voar" e capaz de nos livrar da preguiça e da depressão. 18. EI deporte-rey, Ie sport du mele, IM peopk's game, the world� game, são algumas das defmiçôe5 que o futebol adquiriu por sua ubiqüidade planetária, conquistada no transcorrer do século XX. Por seu baixo custo de execução, pela simplicidade de suas regIas e por uma série de outros attativos discutíveis porém fartamente alegados na literatura, o futebol adquiriu plena hegemonia no 1J00verso espomvo europeu e sul-americano a partir 1920 (aproximadamente). • • 19. U. Sevcenko (1983: 36) e o "cosmopolistismo desvairado" de então. Ou Miran Latif (1965), que, ao comparar a Exposição de 1908 com a de 1922 (ambas no Rio de Janiero), defme a primeira como a "do igual " (onde se esconde a mestiçagem e o provincianismo) e a segunda como a "do diferente" (onde se busca definir e com orgulho lima cena brasilidade). 20. A capoeira permaneceu como singularidade nesse cenário: resistiu aos violentos e sistemáticos ataques policiais, mantendo·se, na avaliação de Rufino dos Santos (1981: 26), como o espone mais popular da cidade até 1904, ano em que a 36 repressão assumiu níveis inéditos, pela vinculação, no discurso oficial, das maltas de capoeira à Revolta da Vacina. Em 1887, a imprensa noticiava que a capoeira é a "grama de nossas mas; a enxada da polícia arranca-3 de um lado, mas ela aparece de outro" (Reuault, 1982: 99). Entretanto, é preciso admitir que, se hoje a capoeira é oficialmente reconhecida e praúcada como esporte, não o era naquela época. 21. JOI7Ull do Brasil, 26/6/1910. 22 Em texmos sucintos, Milton Santos vem adotando largamente o conceito de "mundo" para designar aIgu muito próximo do tradiconal conceito de totalidade: o termo indica o conjunto das possibilidades de lima época, a realidade em latência (Santos, 1996: 94-7). O "lugar" aparece como lima parcela concreta do mundo, seja ela um bairro, uma cidade, uma região, 11m país, 11m continente. Não impona a escala espacial, mas a condição de esta portar uma realidade concreta passível de transfonnação perante a realização das forças do "mundo". 23. Outra pista para avaliar o investimento esportivo da reforma Passos é o Campo de São Cristóvão (então praça Deodoro da Fonseca), que foi completamente ajardinado por Pereira Passos (em 1906), "sendo então reservad[o] para exercícios militares de equitação e desportivos na grande área elíptica, dominando a qual há bancadas cobertas para espectadores" (Rosa, 1 924 : 71). 24. Em decorrência, entre outros fatores, do fortalecimento de políticas nacionais de incentivo ao espone (seja pela via do nazi-fascismo, seja através do stalinismo, ou ainda, do Estado de bem-estar social), os CSJX)rtes vêm melcccndo estudos Chsnntes, no sentido de se avaliar criticamente sua natureza e seu papel na sociedade. Aparentemente, a obra de N�,ben Etias e, mais lecentemenre, a de Pierre Boudieu (diretor da revistaACtI!$ de la Recher<he en COJlstruindo a Cidade Moderna Sciences SociaJes) vêm definindo as linhas metodológicas mais influentes, seguidas de longe por contribuiçó<s decorrentes da abordagem foucaulriana. A prop6si(Q, ver Bourdieu (1994), Qément (1995) e Harvey & Rai\ (1995). Referências bibliográficas ABREU, Maurício de Almeida. 1987. Evolução urbana do Rio deJaneiro. Rio de Janeiro, Jorge Zabar. . I 996. "Pensando a cidade no Brasil do passado". In: CASTRO, Iná E., -- GOMES, Paulo c., e CORREA, Robeno L. (orgs.). Brasil: quesliies atuais de rtOlganie:DfÔO tW terTÍl6rilJ. Rio de Janeiro, Berrrand Brasil. AGULHON, Maurice. I994.HistoriJ, mgaJnmda. México DF, Instituto Mora. • ARAUJO, Rosa M. B. 1993. A vocação do prazer: a cidade e afamUia no Rio de JaneirrJlepub/icano. Rio de Janeiro, Rocco. AUGUSTIN, Jean-Pierre. 1995. Sporr, géographie et aménagemenl. Bordeaux, Nathan. 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