Uma Biografia dos Manuais de História da

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Uma Biografia dos Manuais de História da Educação Adotados no Brasil (1860-1950) 1
Maria Helena Camara Bastos
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
RESUMO
Os manuais escolares são reveladores daquilo que constitui o duplo movimento contraditório da
disseminação de conhecimentos elaborados no interior de uma disciplina. O século XIX, como
decorrência da implantação do sistema público de instrução (obrigatório, gratuito) e de um sistema de
formação de professores (escolas normais), foi abundante na produção de uma literatura pedagógica
(revistas, decretos, conferências de professores, congressos, exposições pedagógicas), visando
construir um sistema escolar sobre princípios científicos e universais. Os manuais de pedagogia –
cursos, tratados, lições – tiveram a função de iniciar os alunos da Escola Normal na “nova ciência da
educação”, isto é, (in)formar e inculcar os valores de um sistema público de educação. Dessa forma,
são manuais de profissionalização que visam fundar práticas profissionais em conformidade com um
modelo, de forma prescritiva e útil. A disciplina História da Educação consolida-se, na segunda
metade do século XIX, no conjunto de várias especializações da História e da Pedagogia científica,
estreitamente vinculada à formação docente. A partir de 1860, começam a serem publicadas obras que
versam sobre a matéria e ministrados cursos em Universidades e Escolas Normais, em diversos locais
da Europa. Em 1884, por exemplo, Wilhelm Dilthey (1833-1911) já ministrava o curso de História da
Educação na Universidade de Berlim. O estudo privilegia a análise dos manuais destinados a orientar
os estudos em história da pedagogia e\ou da educação, adotados nas escolas normais, que contribuíram
para a constituição do campo no Brasil. Consideramos que essas obras serviram de modelo para os
programas da disciplina e para os manuais de História da Educação publicadas no Brasil, na primeira
metade do século XX. A seleção dos manuais teve por base o Catálogo da Biblioteca da Escola
Normal de São Paulo, em 1884, com a bibliografia da 4ª cadeira – Pedagogia, Metodologia, Instrução
Religiosa (Bauab, 1972); e o Catálogo da Biblioteca do Museu Escolar Nacional (Franco, 1885).
Foram selecionados os seguintes manuais de história da educação: Friederich Dittes (1829-1896) –
Histoire de l’éducation et de l’instruction (1871); Jules Paroz (1824-1906) – Histoire Universelle de la
Pédagogie (1868); Paul Rousselot (1833-1914) – Histoire de l’éducation des femmes em France
(1883); Gabriel Compayré (1843-1913) - Histoire critique des doctrines de l’éducation en France
depuis le seizième siècle (1879); F. A. do Amaral Cirne Júnior – Resumo da História da Pedagogia
(1881). Essas obras, em sua maioria, resultaram de cursos dados pelos autores em escolas normais
e/ou em Universidades, com o objetivo de instrumentalizar pela ciência as práticas pedagógicas,
afirmando a pedagogia como ciência da educação e legitimando as idéias dos educadores privilegiados
como objeto de estudo. Também foi realizado um levantamento dos manuais de história da educação
ou de história da pedagogia de autores brasileiros, publicados na primeira metade do século XX, com
o objetivo de analisar a literatura consultada e a presença ou não dos primeiros manuais importados
para o ensino da disciplina. Também os temas abordados em cada manual, a partir do índice e/ou
sumário de cada capítulo, foi foco de análise, a fim de perceber a vinculação ou não com os manuais
considerados modelos. Foram analisados os seguintes manuais: René Barreto – História da pedagogia,
compilada por um professor de acordo com o programa (1914); Raul Alves. Esboço histórico e crítico
geral da educação (1929); Afrânio Peixoto. Noções de História da Educação (1933); Madre Francisca
Peeters & Madre Maria Augusta Cooman. Pequena história da educação (1936); Bento de Andrade
Filho. História da educação (1941); Theobaldo de Souza Miranda Santos. Noções de história da
Educação (1945); Raul Carlos Briquet. História da educação. Evolução do pensamento educacional
(1946); Aquiles Archero Junior. Lições de história da educação: rigorosamente de acordo com os
programas das escolas normais (194?). A idéia de biografia intenta analisar o autor e a história da
obra: da materialidade ao conteúdo, da edição à circulação. Procura também analisar os temas
1
Este estudo integra a linha de pesquisa “Educação Brasileira e Cultura Escolar: análise de discursos e práticas
educativas (séculos XIX e XX)”. O texto resulta de pesquisa realizada durante estágio como professora
convidada do Service d’histoire de l’éducation\INRP-França (abril a junho de 2005).
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privilegiados nos manuais e nos programas da disciplina nas escolas normais e nos cursos de
pedagogia, como matrizes de uma visão linear e cronológica da história da educação, especialmente de
uma história das idéias pedagógicas e dos pensadores, tendo por marco a história política da
sociedade; de uma perspectiva comparada, sendo também estudos de educação comparada; de uma
concepção positiva de sociedade, do papel redentor da educação e do professor.
TRABALHO COMPLETO
INTRODUÇÃO
Os manuais escolares são reveladores daquilo que constitui o duplo movimento contraditório
da disseminação de conhecimentos elaborados no interior de uma disciplina. Os manuais de pedagogia
– cursos, tratados, lições – tiveram a função de iniciar os alunos da Escola Normal na “nova ciência da
educação”, isto é, (in)formar e inculcar os valores de um sistema público de educação. Dessa forma,
são manuais de profissionalização que visam fundar práticas profissionais em conformidade com um
modelo, de forma prescritiva e útil (ROULLET, 2001, p.7). Para Correia e Peres (2001, p.197), os
manuais ou livros de texto participam da “gramática da escola” e definem o território dos discursos
pedagógicos e curriculares2.
O século XIX, como decorrência da implantação do sistema público de instrução (obrigatório,
gratuito) e de um sistema de formação de professores (escolas normais), foi abundante na produção de
uma literatura pedagógica (revistas, decretos, conferências de professores, congressos, exposições
pedagógicas), visando construir e constituir um sistema escolar sobre princípios científicos e
universais.
Nesse movimento, a disciplina História da Educação3 consolida-se, na segunda metade do
século XIX, estreitamente vinculada à formação docente, buscando afirmar a pedagogia como ciência
da educação e legitimar as idéias dos educadores. Dessa forma, o surgimento da disciplina
corresponde ao período de consolidação dos sistemas educativos nacionais. Para Nóvoa (1994, p. 15),
a constituição da disciplina deve ser enfocada a partir de três processos simultâneos: a estatização do
ensino e desenvolvimento da educação de massas, a institucionalização da formação de professores e a
cientificização da pedagogia, com as chamadas ciências da educação - filosofia, psicologia,
sociologia, biologia.
A partir de 1860, são publicadas as primeiras obras que versam sobre História da Educação e
ministrados cursos em Universidades e Escolas Normais, em diversos locais da Europa. Podemos
listar como primeiros manuais de história da pedagogia ou da educação a obra de T. Fritz – Esquise
d’um système complet d’instruction et d’éducation et de leur histoire (Strasbourg, 1843); e de Karl
Schmidt (1819-1864) - Geschichte der Pädagogik, dargestellt in wettgeschichtlicher. Entwicklung und
in organischem Zuzammenhang mit dem Kulturleben (1860-62), publicação em 4 volumes4.
Em 1882, é criado o primeiro curso universitário de Pedagogia na Faculdade de Letras de
Bordeaux\França, com o objetivo de racionalizar os métodos pedagógicos e de constituir uma ciência
da educação. Segundo Gautherin (2002), é o momento da invenção da pedagogia universitária. A idéia
não era nova, vinha sendo tentada através de diversas ações: curso de pedagogia nas escolas normais e
na educação popular, as conferências pedagógicas, os congressos pedagógicos. Em 1874, Gabriel
Compayré, professor na Faculdade de Letras de Toulouse, inaugura um curso de filosofia da educação,
cujo programa consagra-se inteiramente à história das doutrinas da educação. Em 1883, a Sorbonne
inaugura um curso de Ciências da Educação ou de Pedagogia, o primeiro de uma série que passa a
compor a Faculdades de Letras. Esse curso tinha a intenção de prolongar o ensino de psicologia dado
nas escolas Normais Superiores. O curso compreendia uma lição pública e uma conferência prática,
2
Sobre estudos e pesquisas sobre manuais ou livros escolares ver: Ossenbach e Rodríguez (2001); Guereña,
Ossenbach, Pozo (2005); Choppin (2002)
3
Sobre a história da disciplina, ver: Nóvoa (1994); Compère (1995); Lopes; Galvão (2001).
4
Em 1890, estava em sua quarta edição. Essa obra compõe a Coleção Erasmo Pilotto da Biblioteca Setorial da
UFPr, juntamente com a obra do mesmo autor - Geschichte der Erziehung von Anfang bis an umsere Zeit -, em
cinco volumes (1884-1902).
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tendo sido confiado a Henri Marion. Os professores que ministram esses cursos são os professores de
filosofia, tanto do ensino superior como do ensino secundário (Gautherin, 2002, p.18)5.
Wilhelm Dilthey (1833-1911) também ministra “lições de história da pedagogia”, na
Universidade de Berlim entre 1884 e 1894, as quais foram publicadas em 1934, na coleção organizada
por Otto F. Bolnow – Wilthelm Dilthey’s, Gesammelte Schriften -, no tomo IX com o título
“Pädagogik. Geschichte und Grundlinien des Systems”6.
Nóvoa (1994, p.28) identifica quatro tradições no ensino de História da Educação:
1. de início, organiza-se como uma reflexão essencialmente filosófica, baseada na evocação
das idéias dos grandes educadores, desde a Antiguidade ao período contemporâneo (século XIX).
Através da glorificação do passado, descreve-se a evolução educativa como uma marcha do progresso,
com o objetivo de tirar do passado o máximo de lições para o presente;
2. no final do século XIX e princípio do século XX, a disciplina assume uma visão
marcadamente institucional. Através da rememoração legislativa, nomeadamente das principais
reformas educativas, produz-se uma história legitimadora das opções presentes de política educativa,
dando um caráter prático e funcional para a disciplina;
3. em meados do século XX, reação forte contra as duas tradições anteriores, feitas por
historiadores e sociólogos, em uma perspectiva marxista e neo-marxista, trazendo uma dimensão
social para a disciplina;
4. atualmente, há uma diversificação de perspectivas na forma de ensinar a disciplina e de
justificar sua inclusão nos cursos de formação de professores. Há uma espécie de redescoberta da
especificidade das temáticas escolares, do papel dos diferentes atores educativos e da sua experiência;
uma tendência às práticas de história intelectual e cultural, a partir de novas concepções teóricas; uma
revalorização das abordagens comparadas.
Tendo como pano de fundo o cenário de constituição da disciplina História da Educação, o
presente estudo analisa os manuais destinados a orientar os estudos em história da pedagogia e\ou da
educação, da segunda metade do século XIX7 até 1950, que contribuíram para a constituição do campo
no Brasil8, identificando as suas características. Consideramos que essas obras serviram de modelo
para os programas da disciplina e para os autores brasileiros elaborarem os manuais de História da
Educação publicados na primeira metade do século XX. Foi realizado um levantamento dos manuais
de história da educação ou da pedagogia de autores brasileiros, publicados na primeira metade do
século XX, com o objetivo de analisar a literatura consultada e a presença ou não dos manuais
estrangeiros para o ensino da disciplina.
Os temas abordados em cada manual, a partir do índice e/ou sumário de cada capítulo, foi foco de
análise, a fim de perceber a vinculação ou não com os manuais modelos9. Nesse artigo, vamos nos
5
Gautherin (2002, p.51) considera os trabalhos de Henri Marion e de Gabriel Compayré como marcas
fundadoras das ciências da educação. O primeiro, pela tese sobre solidariedade moral e pelos cursos de
psicologia aplicados à educação. E o segundo, pelo curso que ministra em Toulouse sobre o ensino de filosofia e
história da educação, e, também, pela tradução da obra de Alexander Bain – La Science de l’éducation
(Education as a Science (1879), que contribui para fortalecer a denominação dessa disciplina nova. O curso de
Ciência da Educação visa a formação do homem e do cidadão, a integração moral, a solidariedade social. A
disciplina é um espaço de informações sobre as coisas da educação e um espaço de ação moral e social.
6
Esta obra está presente em bibliotecas no Brasil a partir da tradução de Lorenzo Luzuriaga, publicada na
Argentina em 1942.
7
Esse período corresponde à primeira fase do ensino de História da Educação, a nível internacional, identificado
por Nóvoa (1994, p.26) como “os inícios prometedores”, que vai até a Primeira Guerra Mundial. É a primeira
geração de historiadores da educação, com formação essencialmente filosófica, o que conduziu a um ensino
centrado nas idéias dos grandes pensadores, relacionado com uma reflexão fundamental sobre a teoria e a ciência
da educação. Para Charbonnel (1988, p.39), essa fase é identificada como “Momento Compayrè” (décadas finais
do século XIX).
8
Cabe assinalar que o presente estudo difere do realizado por Vidal & Faria Filho (2003). Os autores centraram
sua análise em como a história da educação do Brasil está presente nos primeiros manuais de autores brasileiros.
Nosso enfoque é para a história universal ou geral da educação e/ou da pedagogia.
9
Cabe assinalar que foram privilegiados tão somente os manuais cujos títulos fazem referência à história da
educação ou da pedagogia, pois em muitas escolas normais e faculdades, na segunda metade do século XIX e na
primeira metade do século XX, a disciplina era um dos conteúdos da cadeira de Pedagogia, ou ministrada de
forma compartilhada com Filosofia da Educação.
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deter exclusivamente na análise dos sumários das obras selecionadas como referência10. A idéia não é
de quantificar, mas observar o que Correia e Peres (2001, p. 198) assinalam sobre “o processo de
circulação dessas obras entre comunidades e países, de importação e normalização desde os títulos até
o léxico utilizado, tem lugar transferências de sentidos e de conotações que vão gerando
descontinuidades e discrepâncias não redutíveis a simples adaptações, mas que apelam a uma
utilização mais ampla do conceito de tradução”.
I.
MANUAIS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO OU DA PEDAGOGIA adotados no
Brasil (segunda metade século XIX até 1950).
Para o século XIX, a seleção dos manuais teve por base o Catálogo da Biblioteca da Escola
Normal de São Paulo, em 1884, com a bibliografia da 4ª cadeira – Pedagogia, Metodologia, Instrução
Religiosa (Bauab, 1972); e o Catálogo da Biblioteca do Museu Escolar Nacional (Franco, 1885).
Foram identificados os seguintes manuais de história da educação: Friederich Dittes (1829-1896) –
Histoire de l’éducation et de l’instruction (1871)11; Jules Paroz (1824-1906) – Histoire Universelle de
la Pédagogie (1868) (anexo1); Paul Rousselot (1833-1914) – Histoire de l’éducation des femmes em
France (1883) (anexo 2 e 3); Gabriel Compayré (1843-1913) - Histoire critique des doctrines de
l’éducation en France depuis le seizième siècle (1879) (anexo 4 e 5); F. A. do Amaral Cirne Júnior –
Resumo da História da Pedagogia (1881) (anexo 6).12
Essas obras, em sua maioria, resultaram de cursos dados pelos autores em escolas normais
e/ou em Universidades, com o objetivo de instrumentalizar pela ciência as práticas pedagógicas,
afirmando a pedagogia como ciência da educação e legitimando as idéias dos educadores privilegiados
como objeto de estudo. Para Compayré (1911), a história é a introdução necessária, a preparação para
a própria ciência (apud Nóvoa, 1994, p.11).
Para a primeira metade do século XX, a partir da bibliografia de referência nos manuais de
história da educação de autores brasileiros e acervos de bibliotecas nacionais, identificamos vários
títulos, de autores de diferentes origens - americanos, franceses, ingleses, alemães, espanhóis,
portugueses, italianos -, e de várias traduções em língua espanhola, o que reflete a enorme produção
no campo e o papel da disciplina nos cursos de formação de professores.
MANUAIS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO
1860 a 196013
1862 – Henry Barnard - English Pedagogy
1863 – Henry Barnard - German Teachers and Educators
*1867 – Jules Paroz - Histoire Universelle de la Pédagogie (França)
*1874 – W.N. Hailman - Twelve Lectures on the History of pedagogy
*1879 – Gabriel Compayré - Histoire Critique des Doctrines de l’Éducation em France
(França)
*1881 - Francisco Antonio do Amaral Cirne Jr - Resumo da História da Pedagogia (Portugal)
10
A idéia de biografia, presente no título do resumo, é abordada no âmbito global dessa pesquisa e intenta
analisar a inserção do autor e da obra no campo educacional, a história da obra - da materialidade ao conteúdo,
da edição à circulação -, e a contribuição para a disciplina História da Educação. Nos limites do presente texto,
trazemos unicamente a listagem dos manuais.
11
Friederich Dittes (1829-1896): de origem alemã, editor da revista pedagógica Paedagogium (1888-1895),
autor das obras Histoire de l’éducation et de l’instruction (1871); Théorie pédagogiques ou Instructions
fondamentales sur l’éducation et l’enseignement (Belgrado, 1872); Geschichte der Erziehung und des
Unterrichtes, für deutsche Volksschllerher (1871, 1877 – 6ª edição, 1878 - 7ªedição); Methodik der Volksschule.
Auf geschichtlicher Grundlage (1878 - 4ª edição). Não foi possível localizar essa obra no Brasil. Na França,
somente em alemão e não a tradução francesa. Portanto não será objeto de estudo.
12
Esses manuais foram analisados, assim como foi realizada a biografia do autor. Devido ao limite do texto, não
foram incluídos.
13
A partir do levantamento realizado por Nóvoa (1994, p. 30 e 33), que somente identifica os manuais em língua
francesa e inglesa.
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1882 – Oscar Browning - Introduction to Education Theories
*1883 – Gabriel Compayré - Histoire de la Pédagogie (França)
1883 – José Maria da Graça Afreixo – Apontamentos para a História da pedagogia (Portugal)
*1886 – F.V.N.Painter - A History of Education (EUA)
*1886 – C. Issaurat – La Pédagogie: son evolution et son histoire (França)
1890 – R.H.Quick - Essays on Educational Reformers
*1891 – Paul Rousselot - Pédagogie Historique (França)
*1892 – Joseph Payne - Lectures on the History of Education
1892 – Samuel G. Williams - The History of Modern Education
1895 – James P. Munroe - The Educational Ideal
*1898 – Charles Letourneau - L’Évolution de l’éducation (França).
1899 – Levi Seeley - History of Education
*1900 – Thomas Davidson - A History of Education (EUA)
*1902 – Ellwood Cubberley - Syllabus of Lectures on the History of Education (EUA)
1902 – E.L.Kemp - History of Education
1902 – Paul Monroe - Source Book of the History of Education (EUA)
*1902 - K. A. Schmidt - Geschichte der Erzehung (Alemanha)
*1903 – C. O. Bunge - Evolucion de la educación (Espanha)
1903 – S.S.Laurie - History of Educational Opinion from the Renaissance
*1904 - T. Ziegler – Geschichte der Pädagogik (Alemanha)
*1905 – Paul Monroe - A Text-Book of the History of Education
*1905 - O. Browning – A History of Education Theory (EUA)
*1906 – François Guex - Histoire de l’Instruction et de l’Éducation (França)
1907 – Paul Monroe - A Brief Course in the History of Education (EUA)
*1909 - P. Barth - Geschichte der Pädagogik der Erziehlung (Alemanha)
*1910 – T. Davidson – Historia de la educación (Espanha – Tradução)
*1911-13 – Paul Monroe - Cyclopedie of education (EUA)
*1912 - C. S. Parker – History of Modern Elementary Education (EUA).
*1912 - Sante Giuffrida – Storia della Pedagogia (Itália)
*1912 – Adalberto Morgana – Storia della Pedagogia (Itália)
*1912 – François Guex – (tradução espanhola)
1913 - P. Graves – History of Education before Midle Age.
*1913 - Heinrich Baumgartner – Geschichte der Pädagogik (Alemanha)
1915 – Patrick McCormick - History of Education
1915 – Frank P. Graves - A Student’s History of Education
1916 – Stephen Duggan - A Student’s Textbook in the History of Education
1916 – Charles Boyer - History of Education
*1919 - J. W. Adamson – A Short History of Education (Inglaterra)
1919 - Ellwood P. Cubberley - Public Education in the United States (EUA)
*1920 – Ellwood P. Cubberley - The History of Education (EUA)
1920 – F. Collard - Histoire de la Pédagogie
1921 – Philip R. V. Cuore “History of Education
1921 – Willian Boyd -The History of Education
*1922 - J. Ziehen - Geschichte der Pädagogik (Alemanha)
*1927 - Edward H. Reisner – Historical Foundations of Modern Education (EUA)
*1927 - August Messer - Historia de la pedagogia (Alemanha, tradução espanhola)
*1927 - L. Riboulet – Histoire de la Pedagogie (França)
*1930 - Behn – Historia General de la Pedagogia (Espanha)
*1930 - L. I. Kandel – History of Secondary education (EUA)
*1930 – P. Ramón Ruiz Amado – Historia de la Educacion y la Pedagogia
(Espanha/Argentina)
*1931 - Antonio Bonfi – Summario di Storia della Pedagogia (Itália)
*1932 - W. B. Boyd – The History of Western Education (Inglaterra)
*1932 - Alberto Pimentel Filho – Lições de Pedagogia Geral e de História da Educação
(Portugal)
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1934 - Wilheim Dilthey – Pädagogik. Geschichte und Grundlinien des Systems (Alemanha)
*1934 - E. Frederick; C. F. Arronwood – The development of Modern education (EUA)
*1935 – W. Kane - An Essay Toward a History of Education (EUA)
*1936 - P. S. Duggan – Student Textbook in the History of Education (EUA)
*1937 – Frank Graves – A History of Education Before the Middle Ages (EUA)
*1938 - E. Durkheim – L’évolution Pédagoique em France (França)
*1939 – Paul Monroe – História da Educação (primeira tradução brasileira)
*1940 – Edgar W. Knight - Twenty Centuries of Education (EUA)
*1942 - W. Dilthey – Historia de la Pedagogia (Argentina – tradução de L. Luzuriaga)
*1944 - Francisco Larroyo – Historia general de la Pedagogia (México) (Trad. Bras. 1974)
1945 – Robert Ulich - History of Educational Thought
1946 – James Mulhern “A History of Education
*1946 - J. C. Zuretti – Nociones de Historia de la Pedagogia (Argentina)
1947 – H. G. Good - A History of Western Education
1947 – John S. Brubacher - A History of the Problems of Education
*1947 – Fausto Bongioanni – Lezione di Pedagogia (Itália)
*194? – Padre E. Codignola – Breve corso di storia dell’educazione (Itália)
*1947 – José D. Forgione – Antologia Pedagogica Universal (Argentina)
*1947 – Richard Wickert – Historia de la educación (Argentina - tradução)
*1949 – René Hubert – Histoire de la Pedagogie (França)
*1948 – Antonio Aliotta – Esquema historico de la Pedagogia (Argentina)
*1948 - Roger Gal - Histoire de l’éducation (França)
*1949 – Ethel Manganiello; Violeta Bregazzi – Historia de la educación (Argentina)
1950 – Luella Cole - A History of Education
1951 – Arnold Clausse - Introduction à l’histoire de l’éducation
*1951 – Lorenzo Luzuriaga – Historia de la educación y de la pedagogia (Espanha)
*1951 – Fritz Blättner – Geschichte der Pädagogik (Alemanha)
*1952 – Frederick Eby – The development of Modern Education (EUA) (Tradução no Brasil 1962)
1953 – S. J. Curtis & M. E. A. Boultwood - A Short History of Educational Ideas
1955 - Lorenzo Luzuriaga – Historia da educação eda pedagogia (Tradução brasileira)
*1957 – Rafael Bardales – Nociones de Historia de la Educación (Honduras – 3ª edição)
*1957 – N. Abbagnano; A. Visalberghi - História da pedagogia (Espanha)
1958 – J. Palméro - Histoire des Institutions et des Doctrines Pédagogiques
*1960 – Frederick Mayer - A History of Educational Thought (EUA)
*1960 – Mario A. Galino – Historia de la Educación (Espanha)
Francisque Vial - Trois siècles d´histoire de l´enseignement Secondaire (França)
* F. Houvre – Grandes maestros de la Pedagogia Contemporanea
E. Damseaux – Histoire de la Pédagogie ().14
Nóvoa (1994, p. 33) assinala que muitos desses manuais estiveram com predominância na
Europa entre a Segunda Guerra Mundial e os anos de 1960. Muitos deles ainda integram a bibliografia
da disciplina História da Educação nos cursos de formação de professores15. Analisando provas de
14
O asterisco (*) assinala as obras já localizadas em bibliotecas no Brasil.
O XI Encontro Sul-rio-grandense de Pesquisadores em História da Educação (São Leopoldo, dias 29 a 31 de
agosto de 2005) teve por temática: História da Educação na formação do educador, com uma conferência de
abertura, proferida pela professora Drª. Clarice Nunes; e um painel que abordou o “Ensino da disciplina História
da Educação nas Universidades e IES do Rio Grande do Sul: ontem e hoje”, com a participação dos professores:
Elomar Tambara e Eduardo Arriada (UFPel), Miguel Orth (UNILaSalle), Maria Helena Camara Bastos
(PUCRS), Maria Stephanou (UFRGS), Berenice Corsetti e Flávia Obino Werle (UNISINOS), Claudemir de
Quadros (UNIFRA), Jorge Luiz Cunha (UFSM), Anna Rosa Santiago (UNIJUÍ). Os trabalhos desse evento
compõem um número especial da revista História da Educação - ASPHE/UFPel, 2006.
15
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exame da disciplina16, da década de 1970 e 1980, identifica-se as leituras realizadas e utilizadas pelo
professor para formular as questões, pois apresentam excertos das obras de Roger Gal (1955;1968),
Frederick Mayer (1960;1967), René Hubert (1948;1952), Robert Ulrich (1945;1970), a maioria em
edições em espanhol.
Em uma síntese global, Nóvoa (1994, p.31), identifica cinco grandes características na
organização desses manuais:
1. uma atenção privilegiada às idéias dos grandes educadores do passado, as quais são
apresentadas quase sempre a partir de um mesmo olhar e, muitas vezes com palavras
idênticas;
2. uma evocação cronológica, que se inicia, regra geral, nos tempos mais remotos das
civilizações “primitivas” e termina com os educadores do século XIX;
3. uma ideologia progressista (conservadora), no sentido de que a educação é contada como uma
epopéia e como um movimento de aperfeiçoamento da humanidade;
4. uma concepção comparada, que se manifesta na inclusão, após a referências às idéias dos
educadores do século XIX, de uma série de capítulos que descrevem a situação dos sistemas
educativos de vários países.
5. uma concepção positiva, de crença nas potencialidades do novo movimento científico (ciência
da educação, psicologia, sociologia), bem ilustrada pelo capítulo final destes manuais.
II. MANUAIS BRASILEIROS DE HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO OU DA PEDAGOGIA
(primeira metade do século XX)
No Brasil, a história da disciplina História da Educação não se dissocia da Escola Normal. O
Dr. Carlos Maximiano Pimenta de Laet, em parecer sobre as Escolas Normais no Congresso de
Instrução do Rio de Janeiro (1883-84)17, recomenda como disciplina do currículo de formação Pedagogia e metodologia geral: história da Pedagogia. As reformas educacionais, introduzidas a
partir de 1930, incluíram a cadeira nos planos das Escolas Normais. Em 1946, a Lei Orgânica do
Ensino Normal (Decreto-lei nº 8.530, de 2 de janeiro de 1946) estabelece que no currículo das Escolas
Normais deveria ser ministrada a disciplina História e Filosofia da Educação, na terceira série.
Com a criação dos cursos de Pedagogia, nas Faculdades de Filosofia, Ciência e Letras,
ampliaram-se os estudos pedagógicos e, como parte deles, o de História da Educação (Decreto-lei
nº1190, de 4 de abril de 1939). A Faculdade Nacional de Filosofia é instituída com o fim de “preparar
trabalhadores intelectuais para o exercício das altas atividades culturais de ordem desinteressada ou
técnica; preparar candidatos ao magistério do ensino secundário e normal; realizar pesquisas nos
vários domínios da cultura, que constituam objeto de estudo”. Para a operacionalização destes
objetivos, cria cinco seções: Filosofia, Ciências, Letras, Pedagogia, Didática.
O Regimento Interno, aprovado pelo Conselho Universitário de 30 de agosto de 1940 e pelo
Conselho Nacional de Educação em 15 de maio de 1942, determina que o curso de Pedagogia deveria
ser realizado em três anos, com a seguinte seriação: primeira série – complementos de matemática,
história da filosofia, sociologia, fundamentos biológicos da educação; segunda série – estatística
educacional, história da educação, fundamentos sociológicos da educação, psicologia educacional,
administração escolar; terceira série – história da educação, psicologia educacional, administração
escolar, educação comparada, filosofia da educação. Na listagem das cadeiras (art.126), consta um
professor catedrático para História e Filosofia da Educação, cátedra ocupada por Raul Jobim
Bittencourt18, o que marca a união das duas disciplinas em suas trajetórias nos cursos de formação de
professores (LOPES; GALVÃO, 2001, p27).
16
Foram localizadas várias provas da disciplina História da Educação I e II, da década de setenta e oitenta. Esse
rico material necessita ainda ser analisado com cuidado, pois permite verificar as ênfases formativas buscadas
pela disciplina. Sobre, ver BASTOS (2006)
17
Sobre, ver: BASTOS, M.H.C. Luzes do futuro: o Congresso de Instrução Pública - Rio de Janeiro (18831884). (2005)
18
Biografia de Raul Jobim Bittencourt, ver FÁVERO, M. de L.; BRITTO, J.de M. Dicionário de Educadores no
Brasil (2002, pp. 925-930).
341
O programa de História da Educação, para a segunda e terceira série do curso de Pedagogia,
compreendia os seguintes tópicos: conceito de educação; a pedagogia e a história da educação no
quadro geral dos conhecimentos; método de estudo da história da educação; a educação nas sociedades
primitivas; a educação nas culturas orientais: do Egito, da Mesopotâmia, da Pérsia, da Índia, da China,
de Israel; a educação na cultura clássica: educação helênica, educação romana; a educação na cultura
ocidental: educação cristã na Alta Idade Média, educação cristã na Baixa Idade Média, a
Universidade; a educação na Renascença, Humanismo, Reforma; educação moderna, século XVII e a
primeira metade do século XVIII, de Comenius a Rousseau. Na terceira série o programa
compreendia: a revolução intelectual do século XVIII e a educação, Enciclopédia, de Rousseau à
revolução francesa; Pestalozzi e a educação contemporânea; diretrizes educacionais do século XIX: os
continuadores de Pestalozzi – Froebel, Girard, desenvolvimento científico e sua influência na
educação – Herbart, Spencer, Bain, a educação nos Estados Unidos – de Horace Mann a William
James, a educação na América Latina – Sarmiento, Varela; exame das últimas idéias e práticas
pedagógicas: escola nova – Sanderson, Montessori, Claparède, Decroly, Dewey; diretrizes
educacionais dos Estados fascistas, comunistas, democráticos; a educação no Brasil: de Anchieta à
República; leis, educadores e escolas do período republicano; síntese histórica, perspectivas futuras da
educação (Programa do Curso de Pedagogia, 1942, p.30-31).
Esse programa incide sobre a evolução no tempo dos processos educativos e escolares, com
ênfase nos principais representantes de cada período e uma descrição de fatos, idéias e práticas,
levando à compreensão do “passado pelo passado”. Os programas de História da Educação e de
Filosofia da Educação não apresentam bibliografia básica, como os demais. No programa da
disciplina de Educação Comparada, ministrada na terceira série, tendo como catedrático o professor
Antonio Carneiro Leão, encontram-se listadas as obras de história da educação sugeridas como leitura
suplementar e de consulta - Guex, Monroe, Vial, Cubberley.
Visando constituir um repertório dos manuais destinados ao ensino de História da Educação
e/ou pedagogia, escritos por autores brasileiros, identificamos alguns títulos19.
René BARRETO (Um professor). História da pedagogia, compilada por um professor de acordo com
o programa (Francisco Alves, 1914).
O complemento do título da obra é ilustrativo – “compilada por um professor de acordo com o
programa” -, e, ao mesmo tempo, qualifica a autoria. A epígrafe na capa do livro é de François Guex,
que destaca a importância da história da escola na preparação de professores – “la préparation
professionelle des maîtres primaires et secondaires ne serait pás complete s’ils ignoraient l’histoire de
l’école, s’ils étaient incapables de saisir le rapport étroit qui, de tout temps, a existe entre l’état social
et la sciences de l’éducation”. O sumário da obra tem dezenove capítulos, que seguem a cronologia da
história da civilização, e um apêndice (anexo 9). Cabe assinalar que os dois últimos capítulos tratam
de temas ligados à educação comparada: a pedagogia em alguns países europeus e a pedagogia
americana.
Raul ALVES - Esboço histórico e crítico geral da educação (Pongetti, 1929).
Júlio Afrânio PEIXOTO20. Noções de História da Educação (Cia. Editora Nacional, 1933; (1936, 2ª
edição; 1942, 3ª edição).
Médico e professor da Universidade e do Instituto de Educação do Rio de Janeiro, autor de
inúmeras obras. O livro é organizado em vinte capítulos, dos quais três dedicados à Educação no
Brasil (anexo 10). Cabe assinalar uma particularidade, em relação aos demais manuais de história da
19
O levantamento, ainda em processo, foi realizado nas bibliotecas da PUCRS, UFRGS, UNISINOS, USP,
UFPr, Biblioteca Nacional e na Bibliografia Brasileira de Educação (Briquet, 1941, p. 184-202).
20
Biografia de Júlio Afrânio Peixoto, ver Motta, Lopes e Coser (1994) e Lopes (In: FÁVERO; BRITTO, 2002,
pp. 659-673).
342
educação: ter capítulos específicos sobre a educação nos Estados Unidos da América do Norte e na
América Latina.
No prefácio, sinaliza que são “apenas noções” e o “primeiro dos nossos, precursor”; fato que
destaca, ainda, no prefácio da segunda edição (1936) – “primeiro e único”. Esse pioneirismo precisa
ser melhor analisado, tendo em vista a obra de Barreto (1914). Poderíamos considerar o pioneirismo
pelo número significativo de páginas (357 p.) ou pela estrutura adotada. O autor refere-se que
privilegiou uma “perspectiva panorâmica, (...) da evolução de algumas idéias” a “campos
microscópicos meramente documentais”. No entanto, a obra evidencia uma preocupação em ser um
“curso formal” de história da educação, com grande ênfase na cronologia de fatos, datas e nomes.
Todos os capítulos apresentam: sincronismo (cronologia), tema, educadores (biografia e idéias),
ilustrações. Não há indicação de bibliografia na obra, mas é possível identificar ao longo do texto, a
indicação de alguns manuais em circulação, especialmente as obras de Monroe, Riboulet, Dittes. Cabe
assinalar que no sincronismo sobre a Escola Nova, o autor assinala as datas de publicação das obras de
Paul Monroe – History of Education (1908) e Cyclopedie of education (1914).
No prefácio à segunda edição (1936), o autor refere-se às críticas recebidas – “acusaram-me de
andar, pari-passu, com a história da civilização”. Defende-se, afirmando que a “história da civilização
é a história dos resultados da educação”, conforme já assinalava na introdução “a história da educação
é a história analítica e íntima da civilização humana; (...) a educação é mesmo a civilização,
civilização em marcha”. Essa crítica reflete uma marca do ensino de história da educação, em que a
ênfase é no primeiro termo e não na “educação” (SAVIANI, 1982; GHIRALDELLI, 1993), reflexo de
uma visão positiva e linear da história.
Madre Francisca PEETERS e Madre Maria Augusta COOMAN - Educação. História da Pedagogia.
Problemas Actuais (1936/37, 193 p.)21
As autoras são religiosas da Congregação de Santo André e professoras da Escola Normal de
Santo André. Na segunda edição da obra, o título passa a ser - Pequena história da educação (anexo
12), que se mantêm nas demais edições. As autoras têm outras publicações didáticas, cabendo destacar
a obra “Noções de Sociologia”22, a qual foi o modelo seguido para a elaboração do manual de história
da educação –“noções resumidas e claras sobre a evolução dos processos e doutrinas educacionais no
tempo e no espaço” (1936, p. 11). Como religiosas, na apresentação intitulada “Duas Palavras”, fazem
uma exortação aos valores católicos “o grande pecado dos católicos hodiernos é não saberem
conquistar o seu lugar ao sol e deixar as calúnias e a conspiração do silêncio atribuir ao campo adverso
todas as iniciativas fecundas e as benemerências educacionais”. O prefácio da obra é do Dr. Lucio José
dos Santos, datado de 17 de março de 1937, presente em todas as edições, mas que já anuncia as
mudanças índice: na primeira edição, há uma segunda parte intitulada “Um punhado de problemas
educacionais”; na segunda edição, em diante, essa parte é suprimida e passa a constar um Apêndice –
Histórico da educação da mulher nos tempos modernos”, muito afinado com a obra de Rousselot
(anexo 2), e “Esboço de psicograma julgado útil para os conhecimentos dos educandos”. Sobre as
mudanças, as autoras, no prefácio à segunda edição (1937), justificam a retirada da parte “Problemas
Educacionais”, pois não se enquadrava no assunto geral.
O sumário está dividido em 19 capítulos, sendo que o último traz um “Esboço da História da
Educação no Brasil” (anexo 11). As referências citadas são das obras de Monroe, Hovre, Leonel
Franca, L.J. dos Santos (Filosofia, pedagogia, Religião). Cabe destacar o apêndice do capítulo V –
Idade Média (p.51-52), em que as autoras, “com grande escândalo e virtuosa indignação”, opõem-se
aos escritos de Compayré, Damseaux, Guex e Soquet sobre a Igreja na Idade Média e os castigos
corporais adotados nas escolas nessa época. Com exemplos, contra-argumentam os autores, para
concluir que escreveram suas obras no auge das leis de laicização do ensino nas França, após 1880 “Era preciso justificar as medidas draconianas tomadas contra as congregações religiosas. Ninguém
mais dá crédito a essas caricaturas, menos alguns primários que querem incutir idéias laicas aos
futuros professores”.
21
PEETERS, Madre Francisca; COOMAN, Madre Maria Augusta. Pequena história da educação. São Paulo:
Melhoramentos, 1937 (2ª edição?). (1952, 4 ª edição; 1965 - 6ª edição 1967, 7ª edição; 1968, 8ª edição; 1969, 9ª
edição; 1971,10ªedição).
22
Sobre ver: SARANDY, 2004.
343
Bento de ANDRADE Fº - História da educação (Livraria Saraiva, 1941, 272 p.)
O autor foi professor de Educação na Escola Normal de Itapetininga e da Escola Normal Livre
de Lins\São Paulo; diretor das escolas normais de Taquaritinga e São Manuel. A obra integra a
Coleção do Ensino Normal sob a direção do professor Adolfo Packer. É ilustrada com retratos dos
principais filósofos e pedagogos, feitos por Hugo de Andrade. Foi escrita para as escolas normais,
acompanhando o programa da disciplina, em uma síntese do amplo panorama histórico. Para elaborar
o livro, o autor consultou fundamentalmente as obras de Paul Monroe, Gabriel Compayré, Ferdinand
Buisson23, R. Wickert, François Guex e Afrânio Peixoto, cujas referências aparecem em nota de
rodapé. A obra está dividida em nove tópicos, com um apêndice sobre “A Educação na América e no
Brasil”, que destina um número exíguo de páginas para o tema (anexo 13). Para cada tema, o autor
inicia com um “sumário”, uma síntese dos tópicos e idéias tratadas; a seguir, desenvolve o tema
propriamente dito.
Theobaldo de Souza Miranda SANTOS - Noções de história da Educação (Cia. Editora Nacional,
1945. vol. 43, da coleção “Atualidades Pedagógicas”)
Essa obra teve inúmeras edições e foi amplamente adotada24. Na capa há a indicação de que a
obra está de acordo com os programas das Faculdades de Filosofia, dos Institutos de Educação e das
Escolas Normais. Algumas edições são ilustradas. Em vários exemplares consultados, consta um
comentário e/ou observação manuscrita de que a obra é uma “tradução adaptada” ou uma “compilação
e cópia” da obra de L. Riboulet – “Histoire de la Pédagogie (Paris, 1927)”25. Em uma análise
preliminar, constata-se uma significativa similitude entre as obras: a estrutura dos capítulos (p. ex.,
indicação de bibliografia no final); as ilustrações do livro, que são as mesmas.
A estrutura dos capítulos segue a seguinte ordem: um pequeno sumário, com resumo das
idéias principais tratadas no capítulo; o capítulo em si, dividido por tópicos, conforme o sumário;
notas, com excertos de definições de autores; leituras, com um pequeno texto de um autor selecionado,
para complementar o tema; bibliografia utilizada pelo autor. A indicação da bibliografia adotada
revela uma prática inovadora em relação aos demais manuais assinalados de autores brasileiros (anexo
14).
O autor faz uso de uma ampla bibliografia, de autores americanos, franceses, alemães,
argentinos, espanhóis, italianos – Willmann, Dubois, Ruiz Amado, Larroyo, Monroe, Wilds, Riboulet,
Leonel Franca, Compayré, Paroz, Grave, Knight, Leourneau, Davidson, Painter, Duggan, Sante
Giuffrida, Gueux, Messer, Dilthey, Behn, Rousselot, Durkhein; Afrânio peixoto, Buisson, Cubberley,
Kandel, Kane, Reisner, Boyd, Banfi, Baumgartner, Browning, Frederick e Arrowood, Adanson,
Schmidt, Parker, Ziegler, Ziehen, Barth, Aguayo, Luzuriaga -, muitas dos quais também citados na
obra de Riboulet. Portanto, é ainda prematuro afirmar que essas obras tiveram circulação e apropriação
no Brasil.
Ruy de Ayres BELLO. Esboço de História da Educação (Editora Nacional, 1945, 253 p.)
O autor foi professor catedrático de Filosofia e História da Educação da Universidade do
Recife, da Universidade Católica de Pernambuco e do Instituto de Educação de Pernambuco, e tem
inúmeras obras publicadas de história da educação e de pedagogia26.
Esboço de História da Educação está dividida em cinco partes, compreendendo trinta e três
capítulos (anexo 15). A última parte é dedicada à história da educação no Brasil, com quatro capítulos.
A bibliografia utilizada é vasta, compreendendo vários dicionários (Buisson, Campagne), livros de
filosofia (Franca, Balmes, Siqueira). Dos livros de referência de história da educação geral são citados:
Messer, Compayré, Monroe, Humbly, Davidson, Weiner, Painter, Hailmain, Collard, Paroz, Cohn,
23
O Dictionnaire de pédagogie et d’instruction primaire, dirigido por Ferdinand Buisson é amplamente citado.
Sobre o Dicionário e Buisson, ver: DUBOIS (2001); BASTOS (2000)
24
1951, 3ª ed.; 1952, 4ª ed.; 1955; 1957, 7ª ed.; 1960, 9ªed.; 1967, 12ª ed.
25
T. Miranda Santos cita a obra de 1935, edição nova e ampliada (678p), que acrescenta uma unidade sobre o
Século XX, com quatro capítulos.
26
Introdução à Pedagogia (1941); Finalidade da Educação (1939); Filosofia Pedagógica (1946); Princípios e
Normas de Administração Escolar (1956); Introdução à Psicologia Educacional.
344
Natorp, Prüfer, Vial, muitos dos quais em tradução espanhola. Para a escrita sobre educação no Brasil,
cita: Peixoto, Andrade Fº, Peeters & Cooman, Rocha Pombo, Primitivo Moacyr, o que sinaliza para
uma perpetuação de uma escrita da história fundada somente em pesquisa bibliográfica.
Bello também escreve “Pequena História da Educação”, que compõe a “Coleção Didática do
Brasil” – Série Normal, da Editora Brasil (1957?, 236 p.). Nessa obra consta que “Esboço de História
da Educação” está com a edição esgotada, o que tenha levado o autor a fazer reformulações. Na capa
consta que se destina às cadeiras do curso pedagógico dos Institutos de Educação do Brasil. Apresenta
16 unidades ou capítulos (anexo 15), sendo o último dedicado à Educação no Brasil, e um
“complemento bibliográfico dos diferentes assuntos”, de acordo com cada unidade apresentada, bem
mais elaborado do que a bibliografia indicada na obra anterior.
Raul Carlos BRIQUET27. História da educação. Evolução do pensamento educacional (Renascença,
1946. 206p.).
O autor é médico e a obra resulta das lições ministradas na cadeira de “Educação Nacional”,
no terceiro e último ano da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. Compreende a primeira
parte do programa da disciplina, em que “são apreciados vultos pioneiros da teoria educacional” (p.7),
desde a Grécia até a escola nova. Finaliza com “A Educação no Brasil”, em que “expõe, de modo
sumário, aquilo que se fez de maior monta entre nós até fins do século passado em matéria de
educação” (p.8).
O livro é ilustrado e organizado em 15 capítulos (anexo 16). Em cada final de capítulo, há
indicação de leitura complementar, especialmente dos autores E. P. Cubberley, Paul Monroe, F. Guex;
A. Messer, G. Compayré28, o que permite depreender que foram as obras de referência para sua
elaboração. A obra também traz uma “Bibliografia Brasileira de Educação”, uma significativa
contribuição para o leitor29.
Aquiles ARCHERO Junior - Lições de história da educação: rigorosamente de acordo com os
programas das escolas normais. (Edições e Publicações Brasil Editora, s\d. (1948, 1951, 2ª ed;) 154p.
Na capa da obra, o autor é apresentado como ex-assistente geral do Departamento de
Educação; diretor da Escola Universitária de São Paulo, com inúmeras obras publicadas30. “Lições de
História da Educação” configura-se como um manual didático, destinado às normalistas do último ano
do curso. O autor afirma que o livro é o único, até aquele momento, de acordo com o último programa
em vigor, isto é, com a Lei Orgânica do Ensino Normal de 1946. A última lição é dedicada às
reformas de Capanema e ao problema das diretrizes e bases da educação nacional. O autor utiliza e\ou
indica as obras de Peeters e Cooman (1936), Afrânio Peixoto (1933), Paul Monroe (História da
Educação), A. Arias (Filosofia de la educación), J. C. Zuretti (História de la educación), F. Houvre
(Grandes Maestros de la Pedagogia Contemporânea) e as suas próprias obras.
A estrutura da obra segue o seguinte esquema em todas as lições: lição, conclusões (resumo de
idéias chaves do texto), súmula do capítulo, questões a discutir, indicação de bibliografia para ampliar
os estudos. As oito lições foram resumidas, a fim de dar ao aluno uma noção panorâmica da educação
através do tempo e do espaço (anexo 17). A última lição é dedicada à história da educação brasileira.
Archero organiza suas lições em uma narração cronológica dos fatos educativos, seguindo a mesma
27
Biografia de Raul Carlos Briquet, ver FÁVERO, M. de L.; BRITTO, J.de M. Dicionário de Educadores no
Brasil (2002, pp. 921-924).
28
A obra de G. Compayré citada é “Herbart et l’éducation par l’instruction” (s/d).
29
Levantamento da bibliografia em circulação por tópicos: administração escolar; biologia educacional e higiene
escolar; cinema e rádio educativos; conferências e congressos de educação; cultura educacional; educação
comparada; educação emendativa; educação estética; educação feminina; educação física; educação em geral;
educação moral; educação dos pais; educação primária; educação e orientações profissionais; educação religiosa;
educação rural; educação secundária; educação sexual; educação superior e universitária; estatística educacional;
história da educação; metodologia do ensino; periódicos sobre educação; psicologia educacional; sociologia e
antropologia educacionais.
30
Aquiles Archero Filho (1907-). Na capa da obra é apresentado como ex-assistente geral do Departamento de
Educação; diretor da Escola Universitária de São Paulo. Autor de inúmeras obras: Lições de Pedagogia (1949 5ªedição), Lições de Sociologia (1940), Lições de Sociologia Educacional (1936), Dicionário de Sociologia
(1949), O Ensino de História no ensino secundário (1940).
345
divisão da história da civilização. Considera a história da educação como história da cultura – “os
valores culturais e, portanto, os bens espirituais que exercem ação pedagógica intensa e profunda,
serão os pilares da educação” (s\d, p.9).
A obra Grandes Educadores (Editora Globo, 1949. 333p.) pode ser considerada como
exemplo de publicação complementar ao ensino de História da Educação, pois se centra em biografias,
priorizando a história das idéias pedagógicas. A publicação integra a coleção “Biblioteca Vida e
Educação”, dirigida pelo professor Álvaro Magalhães. Grandes educadores é composta de
monografias sobre Platão (Cruz Costa), Rousseau (Ruy de Ayres Bello), Dom Bosco (Antônio
D’Ávila), Claparède (J. B. Damasceno Penna). É o primeiro volume de uma série31, que foi “planejada
para constituir uma ampla e documentada História da Educação”, sem seguir os moldes tradicionais da
narrativa cronológica dos fatos, mas apresentar “uma história humana, na qual as personagens estão
vivas, em plena inter-ação com os seus contemporâneos, refletindo as características do ambiente e
imprimindo à época em que viveram a marca indelével de sua extraordinária personalidade”
(MAGALHÃES, 1949). A obra destina-se aos alunos das Faculdades de Filosofia e das escolas de
formação dos professores primários.
Nessa breve apresentação dos manuais de autores brasileiros, é possível constatar a presença
significativa de autores estrangeiros de manuais de história da educação, especialmente franceses e
americanos - E. P. Cubberley, Paul Monroe, François Guex, Gabriel Compayré, L. Riboulet, J. Paroz.
Dessas obras, somente a de Paul Monroe teve tradução no Brasil - A Text-Book of the History of
Education (1905), que teve uma primeira tradução de Nelson da Cunha Azevedo, em 1939, editado
pela Cia Editora Nacional. Teve outras edições pela mesma editora, mas com tradução de Idel Becker,
a partir de 1952, sendo utilizado o original – A Brief Course in the History of Education (1907),
edição de 194932. Até o momento, foi possível rastrear 18 edições dessa tradução, até 1988.
Também é representativa a presença de obras em língua espanhola, tanto de autores espanhóis,
mexicanos, argentinos, como de traduções de autores americanos, franceses e alemães, por exemplo,
W. Dilthey, A. Messer.
Os manuais analisados mantêm uma seqüência de conteúdos similar. Iniciam com uma
introdução, em que são apresentados os conceitos de educação, pedagogia, história, e a importância da
história da educação para a formação docente. A seguir, adotam uma visão linear e cronológica da
educação, iniciando com a educação nos povos primitivos até a contemporaneidade. Há uma ênfase
grande nos principais “educadores”, de cada período, e suas idéias33. A maioria dedica um último
capítulo ou um Apêndice para tratar da História da Educação do Brasil. Alguns também trazem temas
de educação comparada, por exemplo, a educação nos Estados Unidos da América, na América Latina,
temas da atualidade educacional. Os manuais diferem quanto o número de páginas, uso de ilustrações
e quadros, indicação de bibliografia e/ou leituras complementares, resumo dos capítulos.
A aproximação da disciplina com a Filosofia da Educação, muitas vezes ministrada como
História e Filosofia da Educação, faz com que a bibliografia referida, muitas vezes, seja do campo da
filosofia. Essa característica também incide sobre a ênfase na biografia e nas idéias de pensadores e/ou
educadores, o que marca uma seleção de nomes que se perpetuam em todos os manuais, firmando uma
tradição e uma “exemplaridade”.
ALGUNS APORTES FINAIS
Esse é um texto em construção. A análise dos manuais de história da educação e/ou da
pedagogia, de autores nacionais ou estrangeiros, permite identificar as permanências e marcas que
ainda hoje definem a disciplina nos cursos de formação de professores. Os livros-texto, pelo conteúdo
e estrutura, sinalizam para uma tradição disciplinar adotada ao longo do século XX e ainda hoje
presente nos cursos de formação de professores.
Em uma primeira aproximação é possível afirmar que a estrutura dos compêndios (sumário),
os programas da disciplina, os exames de concurso e provas, todos estão afinados entre si, como
31
Parece que não houve continuidade da coleção.
No entanto, no prefácio, há a referência de ser um resumo de “A Text-Book of the History of Education”.
33
Ghiraldelli (1991, p. 15) sinaliza que Dilthey já privilegiava as biografias, principalmente daqueles que
puderam expressar um tipo formalizado de concepção de mundo.
32
346
dispositivos formativos e complementares. Para Pintassilgo (2006, p.26), os manuais “são um
componente essencial dos projetos de construção de um modelo e de uma cultura escolares,
contribuindo para a sua legitimação”, e poderíamos acrescentar para sua consolidação e preservação.
Os manuais e programas estão organizados segundo uma perspectiva cronológica; uma lógica
descritiva e/ou interpretativa das idéias, fatos educativos, projetos; incidem no período da antiguidade
clássica, medieval, renascença e tempos modernos, com menor ênfase na época contemporânea;
privilegiam uma visão da educação em uma perspectiva universal, abarcando toda a história da
humanidade, com ênfase na história ocidental (Nóvoa, 1996, p.421); dedicam um capítulo ou unidade
para a história do Brasil.
Constata-se a permanência de uma visão linear e cronológica, com parâmetros consagrados
pela historiografia da história política internacional e do Brasil, com forte tendência a uma perspectiva
progressista e romântica da história da educação. Isto é, não são as questões provenientes da educação
que remetem para a organização do conteúdo a ser trabalhado, a educação estaria secundarizada frente
à história.
O conteúdo privilegiado reside na organização escolar e nas idéias pedagógicas, com ênfase
em eventos, autores e marcos temporais consagrados pela historiografia, como já assinalado em outros
estudos (Nunes, 1996, 2003; Kreutz, 1996; Faria Fº, Rodrigues, 2003), o que limita uma perspectiva
historicizante do processo sócio-educacional e pedagógico. Dilthey (1942, p.18) já assinalava, no
século XIX, a importância de uma história da pedagogia em que se privilegiassem temas como: “la
historia de la situación de la enseñanza em el sistema administrativo; la historia de la organización de
las escuelas; la historia del contenido y métodos de la instrucción bajo las influencias directivas de lãs
ideas y teorias pedagógicas”.
Os manuais centram-se na história da educação ocidental, em uma visão eurocêntrica. A
educação oriental está presente nas unidades sobre “educação dos povos primitivos ou clássicos”, nos
primórdios da civilização tão somente. Outra ausência é da história da educação dos países da América
Latina, África e Ásia, nos demais períodos históricos.
O estudo sinaliza para a necessidade de aprofundamento analítico de cada um dos manuais que
circularam no Brasil, nacionais e estrangeiros, tendo em vista a complexidade do objeto em estudo. Ao
mesmo tempo, é importante analisar as produções de manuais para a disciplina, da década de 1960 até
hoje, especialmente as mais recentes produções34. Outra abordagem seria ouvir os docentes da
disciplina para analisar a prática adotada por cada um, as dificuldades, as sugestões, o que permitiria
avançar questões relativas à produção de pesquisa e sua apropriação no ensino.
Enquanto a década de noventa, do século XX, foi dedicada à ampliação da pesquisa e da
discussão historiográfica da educação no Brasil, com novos temas e com novas e múltiplas abordagens
(Ghiraldelli, 1993, p.50); a primeira década do século XXI necessita centrar esforços no sentido de
aproximar da sala de aula, dos cursos de formação de professores, essa rica produção, revendo os
conteúdos, procedimentos didáticos e bibliografia dos programas das disciplinas de História da
Educação e da História da Educação do Brasil. Nessa perspectiva, também é importante instigar os
professores da disciplina a terem novos olhares e abordagens vinculadas à história da cultura escolar.
Outro desafio seria estender a disciplina para os demais cursos de formação de professores35, pois os
futuros docentes devem ter oportunidade de refletir sobre a natureza, as finalidades, as origens e as
transformações do seu ofício, o que “contribui tanto para o desenvolvimento da reflexão pedagógica
como para o debate democrático sobre a educação nas sociedades” (Meirieu, 1998, p.XIV).
34
Por exemplo: História da Educação do Brasil: Hilsdorf (2003); Ghiraldelli (1990; 2003); Xavier, Ribeiro,
Noronha (1994); Stephanou & Bastos (2004/2005), etc.; História da Educação e/ou Pedagogia: Gadotti (1993);
Cambi (1999); Pilleti,(1993) Aranha (1989), Ferreira (1996/2001); Sebarroja (2003).
35
Atualmente, a UNILASALLE (Canoas/RS) ministra a disciplina História da Educação em 90% dos cursos de
licenciatura, com a carga horária de 60 a 72 horas-aula. A inclusão da disciplina, como obrigatória nos demais
cursos, foi efetivada a partir de 1999, no curso de Filosofia, e de 2000 e 2002 nos demais cursos.
347
Referências
ALVES, Raul. Esboço histórico e crítico geral da educação. Rio de Janeiro: Pongetti, 1929.
ANDRADE Fº, Bento de. História da educação. São Paulo: Livraria Saraiva, 1941.
ARCHERO Junior, Aquiles. Lições de história da educação: rigorosamente de acordo com os
programas das escolas normais. São Paulo: Edições e Publicações do Brasil, s\d. (1951, 2ª ed)
BAUAB, Maria Aparecida Rocha. O Ensino Normal na província de São Paulo (1846-1889).
Subsídios para o estudo do Ensino Normal no Brasil Império. São José do Rio Preto: Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras de São José do Rio Preto, 1972 (Doutorado em Filosofia).
BARRETO, René. História da pedagogia, compilada por um professor de acordo com o programa.
Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1914.
BASTOS, M.H.C. Ferdinand Buisson no Brasil. Pistas, vestígios e sinais de suas idéias pedagógicas
(1870-1900). História da Educação. ASPHE/UFPel, v.4, n.8, set. 2000. pp.79-110.
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