Oratória 2012 1 ORATÓRIA Sejam Bem Vindos ao Curso de Formação para Novos Advogados! O Curso de Formação em EAD tem seu foco no exercício da advocacia por parte dos novos advogados recém-ingresso no quadro da OAB. Neste curso o aluno conta com plena autonomia para estudar com flexibilidade de estudo, e o principal, não há barreiras geográficas que o impeçam de participar deste benefício inovador promovido pela Escola Superior de Advocacia da OAB em parceria com o grupo UnyLeya educacional para melhorar a cada dia mais a prática da advocacia na sociedade e no âmbito dos tribunais do país. Um ambiente inovador diferente dos processos tradicionais, como uma sala de aula, limitada ao horário previsto e ao local de onde se dá o curso. Entretanto, não fugiu da preocupação didático-pedagógica a importância incutir no aluno a consciência de que aprender a distância requer disciplina e que existe um cronograma a ser obedecido. O sucesso em um curso a distância acontece quando o aluno é o gestor de sua aprendizagem. Para isso ressaltamos aos alunos as seguintes premissas: • Planejamento e organização; • Assumir uma postura de compromisso, disciplina, dedicação, empenho e determinação; • Estabelecer um ritmo regular de estudos e respeitá-lo; • Seguir a ordem de estudo proposta no material didático. • Explorar o máximo, as ferramentas de comunicação, e-mail, fórum etc. Este curso é um diferencial de qualidade que é importante e necessário aos alunos que dele se beneficiarão para uma advocacia cada dia com mais qualidade. Sucesso e Bons Estudos! Biografia do Autor Geraldo Campetti Sobrinho Possui graduação em Biblioteconomia pela Universidade de Brasília (1987) e mestrado em Biblioteconomia e Documentação pela Universidade de Brasília (2000). Foi professor substituto da Universidade de Brasília em 2004. Atualmente é professor titular da Faculdade Jesus Maria José e chefe da Seção de Biblioteca do Tribunal Superior Eleitoral. Tem experiência na área de Ciência da Informação, com ênfase em Sistemas de Informação, atuando principalmente nos seguintes temas: organização e gerenciamento de acervos, editoração, normalização técnica e comunicação. 2 SUMÁRIO Unidade I Comunicação Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo 1 2 3 4 5 – – – – – 7 Conceito, Importância e Finalidades da Comunicação Elementos da Comunicação Tipos de Comunicação A Oratória Tipos de Oratória Unidade II O Orador Capítulo Capítulo Capítulo Capítulo 7 8 8 9 11 12 6 7 8 9 – – – – Conceito Perfil de um Bom Orador Dimensões da Comunicação Como Superar o Medo, a Inibição e o Nervosismo ao Falar em Público Unidade III Imunidade Profissional do Advogado Capítulo 10 – Tipos de Exposição Capítulo 11 – Técnicas de Introdução, Desenvolvimento e Finalização de uma Apresentação Capítulo 12 – A Utilização de Recursos Audiovisuais numa Exposição Bibliografia 12 13 14 20 23 23 29 38 41 3 ORATÓRIA ÍCONES UTILIZADOS NO MATERIAL DIDÁTICO Provocação: Pensamentos inseridos no material didático para provocar a reflexão sobre sua prática e seus sentimentos ao desenvolver os estudos em cada disciplina. Reflexão: Questões inseridas durante o estudo da disciplina para estimulálo a pensar a respeito do assunto proposto. Registre sua visão, sem se preocupar com o conteúdo do texto. O importante é verificar seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É fundamental que você reflita sobre as questões propostas. Elas são o ponto de partida de nosso trabalho. Atenção: Destaque assunto referente conteúdo. do ao Saiba Mais: Textos, trechos de textos referenciais, conceitos de dicionários, exemplos e sugestões para lhe apresentar novas visões sobre o tema abordado no texto básico. Referências: Bibliografia consultada na elaboração da disciplina. Sintetizando e Enriquecendo nossas Informações: Espaço para você fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua contribuição pessoal. Para (Não) Finalizar: Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigálo a prosseguir com a reflexão. Indo à Sala de Aula: Sugestão de ações e atividades a serem desenvolvidas em sala de aula, com base nos conteúdos trabalhados. Atividades: Atividades sugeridas no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de fortalecer o processo de aprendizagem. Curiosidades: Aprofundamento das discussões. 4 Ementa Prezado(a) aluno(a), seja muito bem-vindo ao curso de Oratória. Nas próximas páginas você terá contato e aprenderá conceitos da Comunicação e fundamentos da oratória contemporânea. O conteúdo do nosso curso irá abordar os seguintes temas: Dicas para falar em público sem medo; Aprimoramento dos aspectos comunicacionais e das estratégias para a organização de discursos e apresentações; Dicas para a comunicação negocial; Estratégias para falar com clareza e objetividade; Aprimoramento das estratégias (sorrir e olhar) para convencer e influenciar; Técnicas comunicacionais aplicadas aos procedimentos jurídicos; Recursos e aspectos linguísticos; Impostação vocal; Falar de improviso; Aprimoramento da técnica da boa escuta; Marketing pessoal e comunicacional; e Dicas para utilizar recursos audiovisuais para apresentações, negociações e atendimento ao cliente. Para finalizar, teremos, também, a reavaliação do grupo e avaliação do curso como um todo. 5 ORATÓRIA Apresentação As pessoas de um modo geral não se dão conta do poder e da capacidade que possuem de se comunicar. Encantam, persuadem, emocionam, vendem, brilham nos mais diversos cenários e contextos sociais e profissionais, ministrando aulas, proferindo palestras, sendo entrevistadas ou simplesmente relacionando-se com os outros. Nem todas, porém, possuem essa facilidade ou se reconhecem detentoras desses talentos. Surge, então, a necessidade de que elas desenvolvam sua competência Aprendi na vida que a maioria dos problemas em se comunicar melhor, aprimorando suas complexos tem soluções simples habilidades de expressão oral, corporal e emocional. Alcides Tápias Segundo Alves Mendes, um dos expoentes na arte da comunicação, a Oratória “é a mais típica e a mais gráfica manifestação da arte, porque é a arte da palavra – da palavra que é a vestidura do pensamento, da palavra que é a forma da ideia, da palavra que é nítida voz da natureza e do espírito [...]”. A Oratória é valioso instrumento de comunicação por meio do qual os indivíduos podem desenvolver capacidades de melhor utilização da voz, dos gestos, da expressividade emocional, utilizando sua criatividade com técnicas e recursos para superação do medo e da timidez de falar em público e de se relacionar com os outros. Autoconfiança, observação das características individuais positivas, conquista de segurança e domínio sobre o nervosismo antes, durante e após a apresentação são conquistas que você pode realizar com a descoberta e o desenvolvimento de seus potenciais de comunicação e expressão verbal. 6 UNIDADE 1 :: COMUNICAÇÃO Comunicação UNID. 1 Capítulo 1 – Conceito, Importância e Finalidades da Comunicação A palavra comunicação encerra conceitos que estão muito mais próximos de nós do que poderíamos imaginar. Ninguém consegue viver em plenitude sem se comunicar. Por serem animais sociais, homens e mulheres precisam estar se comunicando constantemente. A comunicação expressa a capacidade de um indivíduo relacionar-se com outro. Ela promove o entendimento entre pessoas e nações; mas também, quando não efetivada integralmente, pode ser motivo de dissensões, guerras e até de morte. Quando pensamos no termo comunicação, somos capazes de identificar várias palavras que a ele se associam em uma agregação de valores cujos resultados nos surpreendem, tal a sua riqueza conceitual. Façamos um brainstorming ou um exercício de explosão de ideias, aproveitando a criatividade dos poetas na elaboração de seus acrósticos. Anotemos a palavra comunicação na vertical e pensemos em termos que se iniciem ou que contemplem as letras da referida palavra. Devemos deixar um pouco de espaço à esquerda, pois poderemos começar com as letras iniciais de cada linha ou utilizá-las no meio ou final. Comum = Comunicação Interesses Mensagem Interesses Como 1= Comum Fonte: Minicucci (2001). 7 ORATÓRIA Capítulo 2 – Elementos da Comunicação O processo comunicativo constitui-se de cinco elementos para que possa ser efetivado. São eles: orador, sinal ou código, canal, ouvinte e ruídos. • Orador: é o responsável pelo início do processo comunicativo. É quem seleciona o teor da mensagem, o modo como a conduzirá para que seja entendida pelo ouvinte. • Sinal ou código: é a própria mensagem definida pelo orador. Deve estar adequada ao assunto a ser tratado, às metas estabelecidas e ao tipo de receptor. • Canal: é o meio condutor da mensagem. É o método, o caminho. São os procedimentos por meio de recursos e técnicas que o orador deverá utilizar para facilitar o acesso e o entendimento da mensagem pelo ouvinte e o alcance de seus objetivos com relação àquele conteúdo selecionado. O conteúdo deve ser de domínio do orador e estar adequado para quem vai ouvir. • Receptor: é o alvo da comunicação. É também o elemento ativo do processo comunicativo, pois a comunicação só tem sentido quando se estabelece entre o emissor e o receptor uma identificação na mensagem. Quando ambos a compreendem e possuem interesses comuns sobre o que se fala e o que se ouve. Os ruídos são elementos que interferem na emissão e/ou recepção da mensagem. Podem ser de natureza ambiental, podem estar relacionados ao modo como a pessoa se expressa (ex.: ideias imprecisas), ao emprego de palavras estranhas ao ouvinte, erros gramaticais, problemas de ordem psicológica (ex.: personalidade) ou de ordem física (ex.: doença), dentre outros. Para evitar a presença de ruídos na comunicação, é necessário que os conhecimentos e experiências sejam partilhados e que tanto o ouvinte quanto o orador estejam sintonizados para que a mensagem flua com eficácia. Capítulo 3 – Tipos de Comunicação A comunicação pode variar conforme o ambiente onde as pessoas se encontram e, desse modo, define o tipo de relacionamento entre elas. O relacionamento das pessoas pode ocorrer entre uma pessoa e outra, consigo mesmo, entre membros de um grupo, entre grupos numa organização. 8 UNIDADE 1 :: COMUNICAÇÃO O relacionamento entre uma pessoa e outra(s) é chamado de interpessoal. Você como pessoa pode relacionar-se consigo mesmo e realiza uma comunicação interior: é a chamada comunicação intrapessoal. O relacionamento entre pessoas de um mesmo grupo no ambiente de trabalho é a chamada comunicação organizacional. A comunicação realizada entre as pessoas em diversas situações é a multipessoal. Saber se comunicar adequadamente em todas as circunstâncias é imprescindível para a sobrevivência do ser humano. Por meio da comunicação, obtêm-se as informações, o conhecimento e o atendimento das necessidades emocionais de atenção, consideração e reconhecimento. A importância da comunicação não está necessariamente sobre a mensagem ou a informação que se transmite, mas no que fazemos desse conhecimento; o que somos capazes de realizar quando ouvimos as informações, a interpretamos e a colocamos à nossa disposição ou a disponibilizamos para terceiros, a fim de que façam uso dela: eis a razão principal da comunicação. Capítulo 4 – A Oratória Os primeiros dados históricos relativos à oratória datam da Antiguidade e têm suas origens na Grécia, nas cidades-estado. Atenas era o maior centro de estudos de oratória. O povo grego acreditava que para dignificar a natureza humana todo cidadão devia aprender não só a falar, mas a falar bem. Os pássaros são fisgados pelos pés; os homens, pela língua Provérbio português O primeiro filósofo a estudar o assunto foi Empédocles, responsável pela criação dessa ciência de falar em público. Aristóteles estudou a temática e conhecia profundamente o assunto apesar de nunca ter sido orador, mas foi ele quem denominou a arte de falar em público de retórica. Há autores que informam que o primeiro manual de oratória foi escrito pelos seguidores de Empédocles, que seriam Tísias e Corax. Este último pregava métodos e orientações sobre a eficácia da oratória e a necessidade do discurso conter uma introdução, narrativa, argumentação, afirmações e conclusão. O primeiro manual de oratória em latim, intitulado Institutio Oratoria, foi escrito por Quintiliano (35-95 d.C.) e servia apenas como guia na formação dos filhos de famílias ricas no Império Romano. 9 ORATÓRIA No Brasil, os primeiros grandes oradores foram os jesuítas portugueses Manuel da Nóbrega e José de Anchieta. O orador mais famoso da época do Brasil Colonial foi o padre Antônio Vieira. A partir de 1930, a oratória brasileira notabilizou-se por meio do orador gaúcho João Neves da Fontoura, em sua campanha política. Outros grandes oradores foram Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek, Jânio Quadros e Otávio Mangabeira. Algumas oradoras que se destacam são a médica e deputada federal Jandira Feghali, a senadora Marina Silva, a ex-governadora Roseana Sarney, dentre outras. Polito (2003) em seu livro Como falar corretamente e sem inibições cita um conceito de oratória resultante das reflexões de Alves Mendes: A oratória é a mais típica e a mais gráfica manifestação da arte, porque é a arte da palavra – da palavra que é a vestidura do pensamento, da palavra que é a forma da ideia, da palavra que é nítida voz da natureza e do espírito, da palavra que é tão leve como o ar e tão irisada como a mariposa, da palavra que é transparente como a gaze e tão sonora como o bronze, da palavra que cicia como a aura e troa como o canhão, que murmura como o arroio e ruge como a tormenta, que prende como o ímã e fulmina como o raio, que corta como a espada e contunde como a clava, que fotografa como o sol e acarinha como o fogo; da palavra que ostenta a majestade da arquitetura, o relevo da escultura, o matiz da pintura, a melodia da música, o ritmo da poesia, e que por seus rendilhados e riquezas, por suas graças e opulências, aclama a oratória, rainha das artes, e o orador – rei dos artistas! Lopes (2000), no livro Oratória e fonoaudiologia estética, informa que o termo oratória originou-se do latim oratoria e significa a arte de falar ao público ou falar em público. Quando se fala ao público, dirige-se ao ouvinte, àquele que nos ouve, e não se fala apenas entre ouvintes. Alguns termos relacionados à oratória são importantes para sua compreensão. São eles: eloquência e retórica. A eloquência deriva do latim eloquentia e refere-se à fala na sua dimensão prática. É a capacidade de falar e de se expressar com facilidade, ao talento de persuadir, convencer e comover a plateia por meio da palavra. A retórica origina-se do grego rhetoriké. Designa o conjunto de regras relativas à capacidade da eloquência. É o tratado que encerra essas regras. Entende-se, então, que a oratória é o universo que abarca a teoria e a prática da arte de falar, que são respectivamente a retórica e a eloquência. 10 UNIDADE 1 :: COMUNICAÇÃO Leonardi (2002), comentando sobre a diferença entre eloquência e retórica em seu livro Curso de oratória geral e oratória forense, afirma que eloquência: “[...] nada mais é do que a arte de tornar a palavra mais cativante, mais despertadora de emoções, mais empolgante, através de todo tipo de efeitos sonoros obtidos pela voz”. Capítulo 5 – Tipos de Oratória Nos dias atuais, a eloquência basicamente se divide em: política, forense ou judiciária, acadêmica ou literária, sacra e de circunstância. A primeira, oratória política, é o discurso em que a palavra está a serviço do bem comum, da sociedade e suas aspirações e para tratar de assuntos ligados à causa pública. Deve ser utilizada com muito cuidado, pois, quando mal empregada, pode dar ao discurso uma forte carga demagógica, ludibriando o povo. Está relacionada com a defesa dos interesses sociais em reuniões, comícios, caráter eleitoral, difundir ideias etc. A eloquência forense ou judiciária é o uso da palavra perante o juiz ou tribunal, para fazer a defesa da sociedade por promotores, advogados. Requer conhecimento da ciência jurídica e dos detalhes dessa prática profissional, pois a finalidade é a de comover e convencer o público constituído pelos tribunais de júri. Na oratória sacra, o orador empenha-se em transmitir a doutrina religiosa, usando para isso meios como as pregações, o sermão e prédicas evangélicas. A oratória acadêmica ou literária está relacionada aos assuntos culturais. A de circunstância se diferencia das demais por não obedecer a formalismos; é descontraída e solta, não tem lugar certo e nem público definido, podendo ser usada por qualquer pessoa da sociedade. É também chamada de eloquência do Homem Moderno que faz uso do gênero em qualquer situação que o cerca. 11 ORATÓRIA UNID. 2 O Orador Capítulo 6 – Conceito 12 UNIDADE 2 :: O ORADOR Capítulo 7 – Perfil de um Bom Orador O “GRANDE ORADOR” Todo o barulho que fazes; Ó estentórico orador, Lançando gestos e frases, Com trovejante furor, Com berros e roncos roucos, À mesa atirando socos, Nada aprova em teu favor: Também o bombo e o tambor Fazem barulho... e são ocos. Fonte: Bloch (2002). RECEITA PARA TORNAR-SE UM BOM ORADOR¹: INGREDIENTES • Uma boa dose de autoconfiança; • Uma colher de humildade; • Uma chícara de expressão corporal, acrescida de boa voz; • Riqueza de vocabulário a gosto; • Uma colher de fermento marca “entusiasmo”. PREPARO Bata a humildade com a expressão corporal e em seguida misture a simpatia pessoal, naturalmente. Coloque uma pitada de assunto paralelo, sem exagerar. Vá pondo a postura em todas as fases do preparo e finalmente adicione o fermento do entusiasmo. Unte a forma com bastante expressividade e em seguida derrame massa da sabedoria e deixe-a crescer. Não descuide um só instante da temperatura do auditório, conservando-a em nível bem elevado. Cubra tudo com calda de expectativa para despertar o interesse, a atenção e a curiosidade dos ouvintes. Doure tudo bem quente, no calor do auditório, e saboreie o sucesso. 1 Essa é a fórmula infalível, uma receita que requer acima de tudo conhecimento e treinamento. 13 ORATÓRIA Capítulo 8 – Dimensões da Comunicação Para o profissional moderno, a comunicação é uma ferramenta de especial importância. No entanto, a utilização adequada desse instrumento requer conhecimentos da atividade que executa e a atenção para outros aspectos como a flexibilidade a mudanças, além da atualização constante. Assim, a sua capacidade de se comunicar e de se relacionar com as pessoas aumenta as possibilidades de sucesso em outros níveis: • • • • • entre colegas de trabalho; com seu superior; com seu subordinado; com um pequeno grupo; com uma plateia. São as habilidades de relacionamento interpessoal aliadas à maturidade e equilíbrio para lidar com as emoções. Ao mesmo tempo que lida com as diversidades, adquire-se uma visão mais abrangente do papel social que possui como detentor e repassador de conhecimentos e informações. Atualmente, as necessidades e exigências do mercado de trabalho valorizam a característica de comunicabilidade no perfil profissional e pessoal. Esses e outros aspectos constituem, segundo Passadori (2003), cinco dimensões. São elas: • • • • • espiritual; emocional; vocal; corporal; intelectual. A dimensão espiritual é considerada pelo autor a mais importante delas, pois a comunicação nessa dimensão revela a maneira de cada um se expressar, a sua essência nos mais variados contextos da vida, a forma pelo qual somos percebidos e reconhecidos pelas outras pessoas. Enquanto as outras dimensões são aprendidas e desenvolvidas por técnicas e práticas pedagógicas, a dimensão espiritual flui revelando nosso caráter, nossos valores, nossa autenticidade e nobreza da alma. A dimensão espiritual indica que direcionamento damos a nossa vida, como realizamos nossas escolhas e desempenhamos nossos papéis. É a dimensão que fala da nossa sensibilidade para agir no mundo. Quem se comunica com sensibilidade possui capacidade para liderar, influenciar, conseguir bons resultados de negociação ou no atendimento a um cliente, porque está mais atento a descobrir as necessidades do momento. É indispensável ao orador o desenvolvimento da dimensão espiritual para que aprenda a perceber melhor as necessidades e interesses dos ouvintes e mantê-los receptivos ao que está proferindo. 14 UNIDADE 2 :: O ORADOR Em relação à dimensão emocional, observa-se: – Ritmo constante – Antipatia – – – – – – – – – – Deixar para lá Não me interessa Firmeza Integridade Rejeitar Todos nós Um, dois, três Adiar Liberdade Retidão Quanto à dimensão vocal, nossa voz é produzida pela expiração que canalizamos para as pregas vocais, criando-se daí uma massa de ar sonora. Emitimos os sons das vogais e das consoantes por meio da movimentação de músculos da face que acionam lábios, língua, maxilar, abertura e fechamento da boca. Nossa voz tem um conjunto de características que precisa ser desenvolvido para gerar uma emissão harmônica e agradável. Tais características são: dicção, pronúncia, ênfase, entonação, expressão, articulação, velocidade, ritmo, altura e intensidade. Outro artifício utilizado pelo orador é a chamada pausa oral entre o que deve ser colocado no decorrer da fala. É a chamada pausa oratória, é diferente das estabelecidas pelas regras gramaticais denominadas de pausas sintáticas. Ela não depende de regras absolutas, mas de condições ou estratégias de convencimento e persuasão que o próprio orador deseja passar aos seus ouvintes. A pontuação oral é marcada pelo ouvido, regulada pelos sentimentos que devemos fazer ressaltar e pelas ideias que temos de colocar em maior relevo. Para isso, o orador deverá conhecer bem o texto e fazer um estudo atencioso para entender o conteúdo e poder explorá-lo criativamente, dando-lhe o sentido que deseja, verificando também a respiração para que a pronúncia flua com facilidade. A dicção é a pronúncia dos sons das palavras. A deficiência na dicção é quase sempre provocada por negligência. É costume quase generalizado omitir os R e os S no final das palavras. Um exercício útil para melhorar a dicção é fazer leitura em voz alta. Uma pronúncia defeituosa advém de razões físicas e psicológicas. A voz determina a própria personalidade de quem fala. Se estamos alegres, tristes, apressados, seguros etc. A primeira identificação desse comportamento é transmitida pela voz. 15 ORATÓRIA Maria Alice Leonardi (2002), citando o professor Silveira Bueno, enfatiza que a dicção depende da intuição de quem se dedica à arte de falar, revelando seu senso artístico pelo colorido próprio que se consegue dar à interpretação, propiciando uma característica única ao discurso. Com relação à dicção está a necessidade de se atentar para a expressão correta e a articulação cuidadosa das palavras e de seus respectivos sons. A pronúncia é a articulação que dá claridade e nitidez à palavra. A boa articulação faz ressaltar todas as qualidades da voz. Elementos fundamentais: vogais + consoantes + sílabas. A ênfase é a energia da fala, a vitalidade das palavras faladas. A colocação correta da sílaba tônica é o primeiro passo na ênfase, porque a força e a vida das palavras estão na sua tônica. Assim como a palavra tem a sua sílaba tônica, em uma frase existem palavras que exigem maior ênfase ao serem enunciadas. A entonação é a música da linguagem. Cada palavra tem a sua entonação certa, sugerida pelo seu significado. A variedade melódica da entonação tem por finalidade facilitar a compreensão. PRONÚNCIA – ENTONAÇÃO – DICÇÃO – ÊNFASE – RITMO Faça a leitura silenciosa dos fragmentos de texto abaixo, observando as pausas. Em seguida, leia o texto com o recurso do lápis ou da espátula e, finalmente, faça três leituras orais de cada um. O riso revela um dos segredos da alma: a alma não gosta de marchar. Na marcha tudo é igual, previsível, feito em parada militar. A alma é bailarina que gosta mais é de dançar. (Rubem Alves – O retorno e terno) Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários... Amor não se troca... Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo...” (Drummond) Tenho muitos medos. Mas nunca havia pensado naquele, o maior de todos. Bastou, entretanto, que a repórter formulasse a pergunta para que ele aparecesse claro e terrível diante de mim. “Que é aquilo de que você mais tem medo?” (Rubem Alves – O retorno e terno) 16 UNIDADE 2 :: O ORADOR Quer ficar calmo? Respire suavemente diante da chama leve de uma vela qua faz sossegadamente seu trabalho de luz. (Bachelard) Tenho um sonho que, acho, nunca realizarei: gostaria de ter um restaurante. Mais precisamente: gostaria de ser um cozinheiro. As cozinhas são lugares que me fascinam, mágicos: ali se prepara o prazer. (Rubem Alves – O retorno e terno) Escrevo como quem cozinha. Minha cabeça é uma cozinha. O cozinheiro cozinha pensando no prazer que sua arte irá causar naquele que come. Eu escrevo pensando no prazer que o meu texto poderá produzir naquele que me lê. (Rubem Alves – O retorno e terno) A revelação acontece de repente, sem avisar. É bem verdade que diariamente nos olhamos no espelho. Mas esse olhar diário é um ver sem perceber. (Rubem Alves – O retorno e terno) Vamos, não chores! / A infância está perdida / A mocidade está perdida / Mas a vida não se perdeu. / O primeiro amor passou, / O segundo amor passou, / O terceiro amor passou. / Mas o coração continua. / Perdesse o melhor amigo, / Não tentaste qualquer viagem. / Não possuis casa, navio, terra. / Mas tens um cão... (Rubem Alves – O retorno e terno) ...e, de repente, um canto da minha memória que o esquecimento escondeu se iluminou, e eu o vi de novo, do jeito como o havia visto pela primeira vez: o quadro. (Rubem Alves – O retorno e terno) Foi-se, finalmente, o Verão, não sem antes fazer algumas grosserias e malcriações: trovejou, relampejou, choveu, inundou. Não queria ir embora. Compreendo. Queria ficar para ver e namorar o Outono, que é muito mais bonito que ele. (Rubem Alves – O retorno e terno) No mistério do Sem-Fim, / equilibra-se um planeta. / E, no planeta, um jardim, / e, no jardim, um canteiro: / no canteiro, uma violeta, / e, sobre ela, o dia inteiro / entre o planeta e o Sem-Fim, / a asa de uma borboleta. (Rubem Alves – O retorno e terno) 17 ORATÓRIA Ah! Você acha que isso é bobagem, que espelhos são inofensivos objetos de vidro, frios e imóveis, que nada fazem além de refletir imagens. Pois é justo aí que está o seu abismo: em seu poder de refletir. (Rubem Alves – O retorno e terno) Pela primeira vez na vida vi que a cebola era bonita. Se fosse pintora, pintaria uma cebola. Se fosse fotógrafa, fotografaria uma cebola... Minha cebola deixara de ser uma criatura do sacolão, à mercê de facas e maxilares mastigantes, e aparecia como criatura encantada, moradora do mundo da beleza, ao lado de jóias e de obras de arte. (Rubem Alves – O retorno e terno) É preciso muito pouco. A alegria está muito próxima. Mora no momento. Nós a perdemos porque pensamos que ela virá no futuro, depois de algum evento portentoso que mudará nossa vida. (Rubem Alves – O retorno e terno) Leio e releio o poema de Álvaro de Campos. Oscilo. Não sei se devo acreditar ou duvidar. Se acredito, duvido. Duvido porque acredito. (Rubem Alves – O retorno e terno) Entre os poucos livros que tenho ao alcance da mão, na minha estante, está a estória do amor de Tomas e Tereza, que Milan Kundera conta em A insustentável leveza do ser. (Rubem Alves – O retorno e terno) Sobre um morro de terra ruim cresceu um cerrado. As barbas-de-bode são mechas de cabelo sobre a calva do chão árido. Crescem arbustos de troncos retorcidos e rugoso, que para nada servem. (Rubem Alves – O retorno e terno) A vida animal se anuncia ruidosa na barulheira dos frangosd’água, os gritos das seriemas, os trinados sem fim dos pintassilgos, a tagarelice das maritacas, o coaxar dos sapos ao cair da tarde. (Rubem Alves – O retorno e terno) A expressão vocal é a habilidade do indivíduo com sua voz e sua fala. É a dinâmica de cada palavra, a entonação, o ritmo, a palavra-chave, a qualidade do discurso. É subjetiva, vem do interior, da relação direta do indivíduo consigo mesmo, da necessidade de ser entendido pelo outro. Depende da intenção do emissor da mensagem. 18 UNIDADE 2 :: O ORADOR A impostação possui técnica e é mais objetiva. É a utilização de todo potencial da voz e de seu trabalho por meio de exercícios de relaxamento, respiratórios, ressonância, altura, intensidade, articulação, em que cada pessoa procura empregar a sua voz o mais adequadamente possível, evitando-lhe qualquer prejuízo. A qualidade vocal é um conjunto de características que identificam a voz humana e podem variar conforme o contexto da fala, condições físicas e psicológicas do indivíduo. Relaciona-se às informações de natureza biológica, anatômica e fisiológica do indivíduo e das características de sua personalidade e estado emocional no momento da emissão da mensagem. Portanto, é bom atentar para a expressividade dedicada às palavras dentro da frase. Cada palavra possui uma ou mais sílabas importantes, assim como cada frase possui uma ou mais palavras mais importantes. Com a pronúncia mais ou menos acentuada dessas sílabas ou palavras, a mensagem poderá ser outra. Assim, podemos dizer: sábia, sabia e sabiá. Qual a velocidade correta a ser empregada na fala? Rápida, muito rápida, lenta, muito lenta? Cada orador e cada assunto terão sua velocidade própria, dependerão da capacidade de respiração, da emoção, da clareza da pronúncia e da mensagem transmitida. Ao pronunciar a oração: “passou rápido como a luz”, é natural que aceleremos o ritmo da fala. Em relação à altura e intensidade, é preciso exercitar e variar a intensidade da voz.: forte ou fraca. A voz precisa encontrar a altura adequada – aguda ou grave – para não irritar os ouvintes. A voz é o veículo fundamental no transporte da mensagem e que, portanto, requer cuidado para não prejudicar a comunicação. VENTO E A ROSA Vento cicia, Vento ronrona, Vento bronqueia. Rosa ingênua, Rosa corada, Rosa expectante. Vento cobre a rosa, Sopra leve entre as pétalas, Força leve o pistilo. Vento viril, Rosa virgem, Bailam a volúpia do envolvimento. O vento na rosa, 19 ORATÓRIA A rosa no vento, Se embalam em pertencimento. O vento é da rosa, A rosa é do vento. Na rosa o vento deixa a seiva, No vento a rosa deixa o aroma. E da seiva E do aroma, Nasce outra flor. Fonte: Poyares (1983). Quanto à dimensão intelectual, entende-se que a apresentação oral é desenvolvida pelo esforço diário, persistente, de não desistência ante os obstáculos e as dificuldades e os obstáculos enfrentados. Todo indivíduo imbuído de boa vontade e disposição pode tornar-se um orador. Para isso, é necessário que se prepare adequadamente para sua exposição, considerando o planejamento de cada etapa do trabalho: tipos de apresentação; análise do público-alvo e do ambiente onde ocorrerá o evento; objetivos a serem alcançados; tempo destinado à apresentação; pesquisas; utilização de recursos audiovisuais. No tópico sobre a exposição oral, detalharemos os assuntos referentes ao planejamento e preparação da apresentação pública. Capítulo 9 – Como Superar o Medo, a Inibição e o Nervosismo ao Falar em Público² Quem alguma vez não experimentou o medo de falar em público? Sentiu vontade de dizer não quando disse sim em situações que lhe fossem desagradáveis? Essas e outras tantas situações sociais em que um indivíduo se vê exposto a pessoas conhecidas ou desconhecidas e sente-se observado ou avaliado sem saber o que fazer são sintomas de ansiedade, mais especificamente de fobia social. A fobia social caracteriza-se, entre outros sintomas, por um temor ao exame minucioso por parte das pessoas. Geralmente, ocorre quando pensa que o modo como se comporta poderá ser avaliado negativamente. 2 Texto elaborado pela psicóloga Mônica Zarat Pedrosa. 20 UNIDADE 2 :: O ORADOR A pessoa teme que aconteçam situações embaraçosas e humilhantes para si e tenta evitar as circunstâncias em que ela acredita que possa oferecer riscos. A fobia social pode-se manifestar de forma diferenciada para cada pessoa portadora desse problema, variando em intensidade. Os sintomas físicos mais frequentes quando a pessoa responde com medo são: palpitações, tremores, sudorese, tensão muscular, sensação de vazio no estômago, boca seca, frio/calor, ruborização facial, tensão e dor de cabeça. Não há idade certa para que a fobia apareça na vida da pessoa, mas pode estar relacionada a fatos desagradáveis vivenciados pelo indivíduo: situações em que sentiu desamparo ou avaliação negativa com grande frequência. O tratamento da fobia social é realizado com grande sucesso por meio de intervenções cognitivo-comportamentais. Do mesmo modo como em outros tipos de transtorno de ansiedade, utilizam-se desde estratégias de relaxamento, treinamentos de habilidades sociais e reestruturação cognitiva. Cada procedimento empregado não garante isoladamente a eficácia do tratamento senão pela participação efetiva do cliente em cada etapa do processo. Outra dificuldade que as pessoas possuem quando desejam se comunicar é a ansiedade para falar em público. Geralmente, elas ficam ansiosas, agitadas, nervosas, tensas e até podem entrar em pânico, gaguejam, tremem, ficam ruborizadas, quando imaginam que vão ser observadas e avaliadas pelos outros. É importante conhecer um pouco sobre esse tema para facilitar o entendimento do que ocorre nessas circunstâncias e, dessa forma, dar início ao processo de autocontrole. A ansiedade é um sistema de alarme do organismo quando este se sente ameaçado e cuja função é proteger ou ajudar o indivíduo a escapar de situações difíceis. As pessoas que vivenciam a ansiedade acreditam e interpretam as situações como ameaçadoras, ou seja, o ansioso avalia incorretamente a situação, percebe os riscos de forma excessiva e minimiza os recursos de enfrentamento. 21 ORATÓRIA As crenças centrais do ansioso são principalmente relacionadas à vulnerabilidade, como, por exemplo, um ponto fraco pelo qual as pessoas podem ferir ou atacar. A maioria dessas crenças gira em torno de questões de aceitação, competência, responsabilidade e controle. A ansiedade pode influenciar o modo de vida da pessoa, distorcendo a forma com que pensamos e sentimos. Assim, as pessoas ou as coisas adquirem um sentido de ameaça para quem o sente, mesmo que a realidade mostre o contrário. A pessoa passa a dar importância exagerada a certas situações, mobilizando-se excessivamente e sobrecarregando-se. Esquece as experiências positivas do passado, antecipando apenas os problemas lamentáveis e o sofrimento do futuro. Desenvolve um tipo de preocupação ansiosa, o que representa uma tentativa de solução mental de problemas sobre um tema cujo resultado é incerto ou que sugira alguma possibilidade de consequências negativas. A pessoa que se preocupa demasiadamente pode elevar muito sua ansiedade e sentir-se com dificuldades de solucionar seus problemas. Falta-lhe o conhecimento ou tem dificuldades em aplicá-lo devido a reações contraproducentes diante das situações-problemas. Quando o indivíduo tenta diminuir a incerteza empregando um estilo vigilante de enfrentamento, aumenta sua excitação emocional. A falta de habilidades para solucionar o problema, ou uma inadequada orientação para o enfrentamento, não reduz a excitação emocional, levando algumas vezes o indivíduo a querer evitar pensar sobre o que o aflige. É um comportamento inútil. No processo pré-avaliativo do tratamento psicoterápico, a pessoa pode identificar espontaneamente os melhores comportamentos que pode adotar para começar as mudanças e se tornar capaz de resolver seus problemas. Aprende a tornar-se mais ativa e menos intolerante com as incertezas. Em terapia, o cliente deve aprender a aceitar as incertezas e desenvolver estratégias de enfrentamento quando se deparar com situações dessa natureza. 22 UNIDADE 3 :: A COMUNICAÇÃO ORAL UNID. 3 A Comunicação Oral Capítulo 10 – Tipos de Exposição Afora a exposição sob a forma de aula ou palestra, como professor, que demanda preparo prévio, planejamento e toda uma pedagogia para ser bem-sucedida, e cujo ensino foge aos objetivos mais imediatos do presente curso, há vários tipos de discurso para os quais o advogado tem de estar pronto em seu cotidiano profissional. 10.1 O improviso Uma maneira de discursar é o chamado improviso. Ao contrário do que muitos pensam, o discurso de improviso é proferido com base numa preparação acumulada, mas que é passada ao público dando a sensação, a aparência de que não foi preparado. Saber improvisar é uma das qualificações necessárias ao orador. Quem sabe realizar uma exposição breve de um momento para outro pode ser considerado um artista na arte da eloquência. A pessoa que improvisa fala sobre um assunto que conhece bem, dominando o que vai tratar e retirando de sua memória passagens de apresentações anteriores para enriquecer a que irá proferir. Segundo Leonardi (2002), na oratória “não há lugar para os improvisos repentinos e inspirações súbitas”. O orador, ao preparar um improviso, deve atentar para os seguintes aspectos: • ter uma boa preparação verbal e ideológica; • pensar no tema do discurso com antecedência; • considerar o assunto sob diversos ângulos; • preparar-se para objeções que possam surgir no discurso; • selecionar os elementos fundamentais da sua exposição; • mostrar-se confiante; • ser maleável no discurso; • não se importar com as interrupções do público; 23 ORATÓRIA • tirar vantagens dos acontecimentos inesperados; • explorar a ideia central e associá-las a assuntos paralelos próximos ou remotos. Para isso, é importante considerar: o interesse e o conhecimento prévio do orador, conhecimento do auditório, o tamanho do assunto (deve ser curto) e não usar o recurso com muita frequência. Ex.: música – canto, desemprego – crime, saudade – viagem O improvisador deve também estar atento para evitar: • fadigar o público; • omissões; • o verbalismo desconexo; • a falta de unidade e ordenação das ideias; • afirmações inconvenientes; • esquecimentos. 10.2 Sustentação oral No discurso forense, não basta apenas o convencimento; é necessária a convicção. As pessoas entendem, de modo geral, e cobram dos advogados que eles falem bem (ALVES, 2004). Além da boa escrita, a oratória deve ser fluente, pois falar faz parte da área de negócio do advogado. A oratória forense é uma arte para ser ouvida e vista, e não para ser lida (LEONARDI, 2002). A não ser que seja muito bem lida. É preferível em todos os casos, uma boa leitura, com atenção ao público e, sobretudo, aos juízes, a um discurso mal elaborado e pronunciado sem fluência. Sustentação oral trata-se de um segmento da oratória forense, em que o advogado está diante de juízes togados, desembargadores ou ministros. Essas são pessoas sérias, de reputação ilibada, maduras, de difícil convencimento. Cabe, portanto, não se portar de maneira veemente. Isso pode ridicularizar o orador e desvalorizar seus argumentos. O tempo é curto. São quinze minutos, no máximo, que o orador terá à disposição. Por isso, o advogado deve aproveitar com excelência a sua participação. Jamais deverá ultrapassar o tempo disponível, pois cairá no descrédito não obtendo mais a atenção dos interlocutores e, até mesmo, correrá o risco de ser repreendido em público, o que poderia desmoralizar sua autoridade perante a defesa sustentada em seu trabalho. Podese até falar menos tempo que o previsto, mas desenvolvendo-se com maestria e humildade para conquistar a atenção e o respeito das autoridades. 24 UNIDADE 3 :: A COMUNICAÇÃO ORAL Na sustentação oral, deve-se primar pela clareza para que haja completo entendimento dos fatos expostos, considerando que estes são, por vezes, complexos. Se não forem bem apresentados, enfraquecerão toda a argumentação e a falta de clareza pode levar o advogado a perder a causa. Se forem bem expostos, é possível que se eliminem, ou pelo menos minimizem, dúvidas e discussões em torno da questão em análise. Outro requisito fundamental é a veracidade; os fatos precisam ser reais. A tentativa de engodo pode levar a resultados desastrosos. A boa narrativa, ao contrário, será forte elemento para a convicção dos julgadores sobre o exposto. Finalmente, e não menos importante, são a empolgação e a entrega do orador à tese defendida. Ele precisa conhecer em profundidade o assunto, dedicar-se a ele no estudo de seus detalhes e meandros, não permanecendo na superfície da questão. Para sustentar satisfatoriamente as evidências, que são as provas, o orador deve pautar toda a sua fala com vida e entusiasmo, a fim de conquistar, convencer e persuadir os que lhe ouvem. 10.3 O debate O debate é caracterizado por uma conversa em torno de um tema específico e com objetivo definido, em que os participantes expõem suas opiniões com a finalidade de se atingir a uma conclusão satisfatória para todos. Portanto, o debate é considerado uma competição entre pontos de vista opostos, em que os participantes estão comprometidos com sua preferência pessoal ou circunstâncias em que se encontra. É a melhor forma de obter informações sobre o pensamento alheio, além de possibilitar resolver problemas por meio de uma combinação de informações e opiniões diferentes. O número ideal de participantes não deve ultrapassar a oito, pois poderá tornar-se improdutivo devido à falta de variedade de opiniões apresentadas ou pelo distanciamento do foco do debate. As formas mais comuns de debates são: mesa redonda, comitê, painel, colóquio, simpósio, conferência e fórum. • Mesa redonda: é a reunião em círculo de um grupo de pessoas para que cada participante ouça e faça suas colocações. • Comitê: é semelhante à mesa redonda, porém não se realiza diante de um auditório. • Painel: ocorre diante de um auditório e possui certas formalidades e regras. • Colóquio: semelhante ao painel, mas sem formalidade e pode contar com a presença de um perito. • Simpósio: grupo de três ou quatro oradores que apresentam individualmente seu discurso sobre o mesmo tema. 25 ORATÓRIA • Fórum: é uma espécie de debate em que se concede um período de tempo aos ouvintes para perguntas ou comentários da plateia. O auditório é ativo. • Conferência: se diferencia do fórum apenas pela mínima participação do auditório. O debate requer estudo e conhecimento do assunto a ser tratado. Poderá exigir dos participantes sua interpretação ou saber como agir diante de certos casos. Os participantes devem estar cientes das habilidades e de seus deveres para participarem. São eles: • conhecimento; • admitir erros; • estimular os demais; • sentir-se à vontade; • ser bom ouvinte; • interromper somente quando houver uma pausa na fala do outro; • não se alterar. Entre as habilidades citadas existem outras que podem favorecer o orador durante a discussão. Falar bem é fato primordial para que o orador possa persuadir as pessoas a acreditarem em seu ponto de vista. Acrescentando-se à habilidade de se falar bem, a fala entusiasmada, sincera, além do uso da voz, da dicção e dos gestos despertam no público a atenção e o respeito, pois prova que o orador dá importância ao assunto. O orador deve, ao falar, dirigir frases ou observações interessantes e até engraçadas para os membros do grupo, passando aos participantes a sensação de que eles são importantes. Deve olhar para os participantes com interesse e não como se os tivesse desafiando. A voz deverá ser firme e serena, com ritmo. As palavras devem ser bem articuladas. A Guerra Verbal, como o próprio nome insinua, é uma espécie de debate sem as regras de comportamento do debate formal. Os participantes se alteram e brigam por seus motivos, perdem os limites quando contrariados pelas opiniões diferentes das suas e tentam destruir o pensamento do outro, impondo o seu. É conflituoso e exaustivo, não conduz a resultado algum. Seu objetivo é deter o avanço do inimigo. O bloqueio é feito pela contradição a fim de convencer a parte contrária. Requer argumentos bem ordenados e sustentados por meio de evidências e destreza de raciocínio. 26 UNIDADE 3 :: A COMUNICAÇÃO ORAL 10.4 Os comícios Atualmente os comícios assumiram características semelhantes a espetáculos artísticos a fim de se tornarem mais atrativos para o público. Devido a essa forma de apresentação, a performance da fala do orador é mais exigente para que prenda a atenção da plateia. Assim, o seu discurso necessita de entusiasmo e uma voz boa e potente. O público do comício se difere do auditório. Enquanto a plateia de auditório está preparada tanto fisicamente quanto psicologicamente para assistir ao evento, a outra platéia, a dos comícios, não possui qualquer compromisso em estar presente no local. É indeterminada, inconstante, móvel, renovável, varia tanto em número quanto nas características, bem como no objetivo de sua passagem pelo ambiente em que foi montado o comício. Num auditório, o orador conta com os recursos e o apoio oferecidos pelo evento, já num comício, por mais organizado que seja, está sujeito à improvisações, seja por causa das circunstâncias físicas de instalações, tempo, local, ou pelo próprio público ouvinte, requerendo de si fazer adaptações naquele momento. O público de um comício inicialmente não é cativo, poderá tornar-se dependendo da atuação e das habilidades do orador. As pessoas não se constrangem em sair do local no momento que desejarem. Isso significa que o orador deverá se manter motivado para continuar realizando sua apresentação. O orador deverá, em seu discurso, usar frases curtas, incisivas, impactantes. A linguagem deve ser clara, articulada, de fácil entendimento, mas contagiante, com gestos altos e abundantes. Outro cuidado que o orador deverá ter é com o microfone, para não causar ruídos incômodos. Deverá posicionar sua boca, aproximadamente, a um palmo. Para fazer um comício, o orador deverá: 27 ORATÓRIA • apresentar suas qualificações pessoais e as credenciadas para o cargo desejado. Ex.: naturalidade, idade, escolaridade, o que já fez, suas experiências na administração pública ou no Legislativo e quais ações beneméritas ou em defesa da comunidade o credenciam; • levantar os assuntos de interesse da população. Se for candidato da situação deve ter sensibilidade para auscultar os anseios da comunidade para reivindicar e fazer defesa do que está certo na administração. Se for candidato da oposição, deve levantar os assuntos passíveis de críticas da população, por culpa da administração atual; • apresentar a plataforma política, que deve ser baseada nas necessidades prioritárias da população: o que está errado, o que se deve fazer, como conseguir (recursos financeiros); • pedir apoio ao povo por meio do voto. 10.5 Na televisão ou no rádio Na televisão, ao contrário da apresentação nos comícios, o orador deve ser moderado tanto nos gestos como nas palavras, procurando olhar para as câmeras como se enxergasse nela os seus telespectadores. A televisão amplia e deforma os gestos, conforme o ângulo em que são tomados, daí a importância do cuidado na gesticulação. Para evitar os gestos inapropriados, é bom que as atitudes trágicas sejam evitadas. Os discursos lidos não devem ser apresentados pela televisão. São usadas breves notas, para não perder o contato com os telespectadores. Ao falar, o orador deve observar em qual das câmeras está sendo enquadrado. Se for necessário, peça ajuda ao assistente de câmera ou preste a atenção à uma pequena luz vermelha que se acende quando a câmera será utilizada. A luz vermelha indica que àquela câmera estará passando a sua imagem e, portanto, é para ela que deverá olhar. É importante que o orador haja normalmente, sem se preocupar demasiadamente com as câmeras. 28 UNIDADE 3 :: A COMUNICAÇÃO ORAL Quanto à apresentação em uma estação de rádio, o orador poderá falar: • sozinho, numa cabine; • com um entrevistador; • na presença de um auditório e com transmissão ao vivo. Na cabine, é prudente que o orador leve o seu discurso escrito. O discurso deverá ser escrito como se fala, dando um ar de naturalidade quando proferido. O tom de voz deve ser normal, passando credibilidade aos ouvintes. A leitura deve ter ritmo, demonstrando certo entusiasmo, mas nada excessivo. Deve-se tomar cuidado para não esbarrar as mãos no microfone, evitando ruídos. Em uma entrevista, o orador deverá falar normalmente com o entrevistador, num clima de conversa, evitando-se a fala em tom de discurso. O orador deverá responder somente às perguntas que lhe são feitas, de forma breve, clara e sucinta. Deve sempre esperar o entrevistador perguntar, sem se antecipar. Na situação de falar para um auditório ao mesmo tempo em que há uma transmissão ao vivo através do rádio, o orador deverá se posicionar à frente do microfone e seu discurso deverá ser realizado como se não houvesse a transmissão. A atenção do orador deverá estar voltada para a plateia. Capítulo 11 – Técnicas de Introdução, Desenvolvimento e Finalização de uma Apresentação 11.1 Planejamento Em geral, uma boa apresentação de palestra é precedida de bom planejamento, eficiente preparação, ajustes, ensaios, para, enfim, ser realizada. O planejamento formará a base sobre a qual todo o trabalho se apoiará. O planejamento possui etapas e cada tópico desenvolvido considera os anteriores, mantendo-se a coerência e a eficácia da apresentação. Uma apresentação conforme esclarecem alguns autores, deverá ter começo, também chamado de introdução ou exórdio, meio, no qual se desenvolverão as ideias, e fim, denominado conclusão ou peroração. 29 ORATÓRIA Toda apresentação, palestra, discurso, sustentação oral têm um tempo determinado para iniciar e para finalizar. Deve haver um cronograma com tempo adequado para cada fase. Geralmente, uma boa introdução ocupará 15% da apresentação, como nos mostra o gráfico a seguir. O desenvolvimento é a maior parte, consumirá 75%, e a conclusão, 10%. Veja o que acontece em uma apresentação com o tempo de 45 minutos: A introdução trata da abertura, saudação, explicações sobre a natureza do tema; serve para captar a atenção, romper a resistência e apresentar o resumo do que vai ser dito. O desenvolvimento da exposição aborda os pontos principais do tema. Deve ter ordenação lógica e sustentação argumentativa. A conclusão é o encerramento, no qual a ideia central é realçada para ser fixada pelo público. A finalização deve ser simples, objetiva, dinâmica, útil. Ao planejarmos a apresentação, além de seguirmos a orientação das etapas (introdução, desenvolvimento e conclusão), é fundamental que façamos um planejamento cuidadoso que dê um direcionamento de como nos conduzirmos em cada uma delas e que garanta a segurança da exibição. Um bom planejamento já garante 50% do sucesso de todo o trabalho. Na execução do planejamento, é preciso, inicialmente, ter em mente a definição do tema ou do assunto que se deseja tratar. Deve-se considerar também quem assistirá a apresentação, o local onde será realizada, as circunstâncias em que ocorrerá, o tempo que terá à sua disposição, que metas deseja alcançar, as técnicas e os recursos de que lançará mão durante as fases da apresentação e a pesquisa das informações necessárias. Ao escolher o assunto, é importante verificar: • atualidade do tema; 30 UNIDADE 3 :: A COMUNICAÇÃO ORAL • • • • • • autoridade sobre o tema; interesse pelo assunto (gostar, apreciar); enfoque novo sobre tema antigo; enfoque desconhecido do público ouvinte; pertinência do assunto à circunstância; tempo para pesquisa e estudo do assunto. Quanto ao ouvinte, é fundamental que saiba: • • • • • sexo; idade (público infantil, jovem, adulto, nível cognitivo do público); nível sociocultural; raça; religião. O que motiva os ouvintes a ouvirem uma palestra? • receber informação ou aprimorar-se pessoalmente ou profissionalmente; • necessidade social; • representar ou substituir; • curiosidade; • acompanhar pessoas; • conhece o orador; • entreter-se. Um orador conquistará a atenção de sua plateia se souber tocar no que lhe interessa. 31 ORATÓRIA Por que o ouvinte escuta o orador? Qual o espírito de participação dos ouvintes e como lidar com cada um? • • • • • Motivado ou receptivo; amistoso; hostil; apático ou indiferente; desatento. O local e as circunstâncias da apresentação: • o tamanho do auditório; • o local; • os recursos disponíveis; • o apoio da apresentação; • os ambientes abertos; • providências a serem tomadas: nomes, fatos, quem falará antes e depois, outros assuntos, como irá falar, uso da tribuna. Defina os objetivos. O objetivo é o que o desejamos que as pessoas obtenham com a apresentação. O objetivo dá o direcionamento da palestra. Nem sempre sabemos reconhecer que caminho percorrer durante o planejamento. Inicialmente, podemos deixar as ideias fluírem naturalmente e anotá-las para, em seguida, verificarmos as possibilidades de formulação dos objetivos. Eles devem ser específicos e concretizáveis, sem perder de vista o públicoalvo. Os objetivos de uma apresentação podem ser de: informar, persuadir e motivar, entreter e promover. Esses objetivos podem aparecer separadamente, ao mesmo tempo ou, ainda, de forma alternada numa mesma apresentação. • Informar, orientar, instruir ou treinar: a preocupação do orador deverá limitar-se à clareza didática da mensagem, transmitindo informações da forma mais objetiva, simples e compreensível que puder. • Persuadir, convencer, envolver, motivar, inspirar, estimular: o orador deverá levar o ouvinte a aceitar ou rever uma opinião, a produzir algo que esteja ou não em seus planos; deverá estudar possibilidades de fazer abordagens que sensibilizem e emocionem as pessoas, motivando-as a aceitarem as propostas e sugestões apresentadas. • Entreter: geralmente é o mais difícil de se atingir; o orador deverá utilizar de sua presença de espírito, humor, ironia e informações. 32 UNIDADE 3 :: A COMUNICAÇÃO ORAL • Promover-se: o orador deverá empenhar-se em transmitir informações que sutilmente ressaltem seus princípios morais, de honestidade e interesse pelo próximo, ou demonstrar conhecimento e habilidade no trato de matérias que provoquem a admiração dos ouvintes. Faça a pesquisa e a escolha das informações: • comece a pesquisa e a montagem da apresentação pelo assunto central; • não censure; • recorra aos próprios conhecimentos; • converse com outros especialistas; • consulte a internet, a intranet, bibliotecas, livrarias e arquivos de jornais; • visite o local; • monte um arquivo; • concentre-se no assunto; • separe e relacione as informações. 11.2 Técnicas para introduzir, desenvolver e finalizar uma apresentação Como introduzir: • preparar-se bem quanto ao assunto e verificar o tipo de público que participará do evento, fazer um reconhecimento do local antecipadamente, prever e adaptar-se a qualquer acontecimento fora do previsto ou do normal, usando o bom-senso e a experiência; • evitar linguagem com teor de intimidade ou gíria; • mostrar-se seguro e bem à vontade em relação ao assunto e ao público; • utilidade, vantagens e benefícios do assunto; • o orador deve saudar o público; • pode usar frases ou informações de impacto; • fato bem-humorado; • história ou narrativa interessante; • levantamento de uma reflexão. Como não introduzir: • • • • • • • contar piadas; perguntar quando não desejar resposta; pedir desculpas ao auditório; tomar partido sobre assuntos polêmicos; palavras inconsistentes; chavões ou frases feitas; previsibilidade; 33 ORATÓRIA • fatos que incomodem o público; • explicar que o tempo é insuficiente; • criar expectativas e não cumpri-las. No desenvolvimento: • falar com expressividade (volume de voz, palavras firmes e agradáveis, animadas; gestos adequados; postura elegante, alegre); • o orador deve dar uma informação que causa impacto no auditório; • definir um termo, uma ideia, uma filosofia ou uma situação; • reconhecer as qualidades do adversário; • demonstrar a utilidade e relevância do assunto; • levantar reflexões; • aproveitar um fato bem-humorado; • demonstrar neutralidade sobre assuntos polêmicos; • prender a atenção e influenciar os participantes com a convicção ao falar, o poder da opinião, o bom humor, o poder do acreditar; • entusiasmo e impressão de estar fazendo o melhor; • aproveitar as circunstâncias: de lugar, tempo e pessoa. a) Lugar: são as informações identificadas concretamente pelo conhecimento da plateia, com relação aos elementos físicos: o prédio onde está reunida, a cidade onde mora, a produção agrícola da localidade, o clima da região etc. b) Tempo: são as informações referentes a datas, períodos, ciclos. O aniversário de uma cidade, de um clube, de uma empresa, a comemoração de uma data cívica (como a Independência, a Proclamação da República), a morte de um líder, a lembrança de uma época são elementos de extraordinária utilidade para compor a introdução do discurso. c) Pessoa: aproveitar a observação de um ouvinte, fazer referência à presença de pessoa conhecida ou comentários sobre as informações fornecidas pelo orador precedente. Principalmente se o orador anterior conseguiu conquistar a simpatia do auditório, fazer referência às passagens mais significativas da sua fala, desde que tenham relação com o restante do discurso, demonstrará que o orador e os ouvintes possuem os mesmos gostos e a mesma forma de pensar. Há uma identificação na comunicação. • Aludir a uma ocasião: é uma das formas mais comuns e mais apropriadas para iniciar um discurso. Com rápidas palavras o orador faz referências ao acontecimento que reúne as pessoas no recinto envolvendo dessa maneira todo o auditório na sua mensagem; • fazer uma citação: a citação no início do discurso credita autoridade ao orador, pois suas ideias passam a ser apoiadas por verdades ou autores respeitados pelo público. Demonstra o preparo do comunicador, que está municiado de informações extraídas das suas leituras ou pesquisas. Podem-se fazer citações de: trechos de livros conhecidos, sendo os clássicos aqueles mais indicados, pensamento, máxima ou provérbio, passagem histórica, real ou imaginada, afirmação de autoridade no assunto, frase escrita ou pronunciada por personalidade respeitada pelo auditório; • repetição: enfatiza um determinado ponto, seja uma afirmação, uma negação, uma decisão ou os dotes de uma pessoa. O uso repetido de sinônimos também reforça a ideia daquilo que se quer transmitir; 34 UNIDADE 3 :: A COMUNICAÇÃO ORAL • jogo de palavras: chama a atenção do ouvinte e permite que o texto se torne memorável e mais facilmente assimilado; • fazer referências retratando com riqueza de detalhes; • gradação: conduz e direciona a emoção dos ouvintes. O orador se serve de palavras, frases ou ideias que apresentam uma gradação, seja no sentido ascendente ou descendente. Ex.: “...Abanava, ao menos, a cabeça ao poder? Não! Escutava. Emudecia. Quedava. Obedecia. Chacelava. Servia” (Olavo Bilac); • recurso dos sonhos e das profecias: oferece ao ouvinte uma visão subjetiva dos fatos conferindo uma visão projetiva do espaço e do tempo. Ex.: “Eu vejo[...]”, “Eu tenho um sonho[...]” e apresenta-o como concretizado. Esse recurso permite ao orador a apresentação dos fatos segundo um ponto de vista pessoal, não tem compromisso com a objetividade além de apresentar uma expectativa, é um instrumento mágico de premonição, atendendo ao anseio do público que deseja enxergar além da limitada capacidade de seus próprios olhos; • ironia: se destina a enfraquecer ou desfazer da figura pessoal ou de seu discurso com preposições rápidas e inteligentes, requer muita habilidade do orador; • repetição de ideias e conceitos: a repetição visa retirar qualquer dúvida sobre o assunto ou reforçar a ideia apresentada, garante a apreensão da ideia central pelo ouvinte. Ex.: “Nós pagaremos qualquer preço, suportaremos qualquer fardo, aceitaremos qualquer provação[...]” (John Kennedy); • jogo de palavras: visa despertar a atenção do ouvinte, são frases que identificam ideias construídas com objetivo de marcar as proposições apresentadas. Ex.: “Não é, nem mesmo o começo do fim. Mas, talvez, seja o fim do começo...” (Winston Churchill); • parábolas: se presta a conduzir o ouvinte a uma conclusão desejada. O orador apresenta um exemplo e o associa com o fato ou pessoa a que está se referindo. Ex.: “Aquele que ouve minhas palavras e as põe em prática é semelhante a um homem prudente que edificou sua casa sobre a rocha” (Jesus); • pinturas verbais: é uma espécie de pintura com palavras e permite que o público visualize o que se passa e ao mesmo tempo se emocione como se presenciasse o fato. Como concluir?: • reflexão; • citação ou frase poética; • pedir ação; • elogiar o auditório; • fato bem-humorado; • arrebatamento; • avisar que vai terminar usando os seguintes termos: “concluindo, finalizando, encerrando”; • fazer citações, agradecimentos, despedida, síntese do pronunciamento, entusiasmo e alegria, convicção de que tudo esteve bem no pronunciamento, despedida. 35 ORATÓRIA O que evitar na conclusão?: • • • • • palavras hesitantes ou frases inconsistentes; ficar parado diante do público aguardando aplausos; não saber para onde ir; sentimentos negativos (desempenho); repetir expressões: “assim sendo”, “dessa forma” e “então”. 11.3 Como preparar uma boa apresentação O preparo de uma boa apresentação compreende duas fases distintas: 1. Levantar todos os dados que cercam o evento. 2. Iniciar a elaboração do discurso. O roteiro de um bom planejamento inicial incluirá informações apropriadas para as circunstâncias, de acordo com: • o assunto; • os objetivos; • o público que irá participar. Ao selecionar o assunto, o orador poderá: • • • • • escolher escolher escolher escolher escolher um tema novo ou dar uma nova roupagem a um antigo; um assunto pelo qual tenha interesse e autoridade; um assunto pertinente à circunstância; um tema com tempo para pesquisar e fazer a apresentação; ângulos do assunto que o auditório ainda não tenha ouvido. Ao ter em mente o que de fato deseja obter numa apresentação, o orador deve analisar e definir seus objetivos, que podem aparecer em separado, ao mesmo tempo ou, ainda, de forma alternada. Alguns deles são: • • • • informar; persuadir e motivar; entreter; promover-se. Considerando que numa apresentação tudo deverá estar de acordo com o auditório, o orador terá que levar em conta: • a forma como as pessoas ouvem; • os motivos que as levaram à apresentação; • quanto já sabem sobre o assunto; • quanto elas gostariam de saber e quanto o orador deseja informar; • suas motivações de vida; 36 UNIDADE 3 :: A COMUNICAÇÃO ORAL • seu espírito de participação; • suas características próprias (sexo, idade, nível sociocultural, raça). Ao concluir sua pesquisa, os cuidados com o local e as circunstâncias são bastante importantes. Por isso, o orador deverá levar em consideração e se informar sobre: • • • • • • o tamanho do auditório; o local onde será realizada a apresentação; os recursos disponíveis; o apoio da apresentação; o que ocorreu antes da sua apresentação; providências a serem tomadas. Tema: Local: Circunstâncias Tempo de exposição: Horário: Público_alvo: min 1º Brainstorming (explosão de ideias) 2º Definição dos objetivos • • • • • Informar Persuadir Motivar Entreter Promover-se Procedimentos quanto à elaboração da apresentação Introdução (15%): Desenvolvimento (75%): • abertura; • pontos principais do tema • saudação; com ordenação lógica e • explicações sobre o tema; sustentação; • resumo do que vai dizer; • deve-se aproveitar as • iniciar de modo impactante circunstâncias: lugar, tempo, (frase, informação, história, pessoa e ocasião; citações, reflexão); • fazer citações; • falar da utilidade, vantagens • prender a atenção e e benefícios do assunto. influenciar os participantes com o modo de falar (convicção, entonação, ênfase, bom humor, entusiasmo, colocações bem fundamentadas. Conclusão (10%): • a finalização deve ser: simples, objetiva, dinâmica, útil e impactante; • deve fixar a ideia central; • finalizar utilizando: reflexão, citação, frase poética, fato bem humorado; • deve-se usar de arrebatamento, elogiar o auditório, pedir ação, avisar que vai terminar usando os termos: concluindo, finalizando, encerrando”; • fazer agradecimentos, despedindo-se com entusiasmo e alegria. 37 ORATÓRIA Capítulo 12 – A Utilização de Recursos Audiovisuais numa Exposição Utilizar os recursos audiovisuais corretamente e com proveito deve ser uma meta do expositor, propiciando, assim, maiores benefícios ao público ouvinte. Os recursos estimulam a visão e/ou audição e colaboram para aproximar a aprendizagem de situações reais da vida. Devemos ter em mente que o homem toma conhecimento do mundo exterior por meio dos cinco sentidos, portanto, a percepção através de um sentido isolado é menos eficaz do que a percepção de dois ou mais sentidos, usando simultaneamente os recursos orais e visuais. O recurso serve como um reforço da mensagem, ressaltando as informações mais importantes, esclarecendo e complementando as partes significativas da apresentação. Dentre os mais utilizados atualmente, destacam-se: • • • • quadro branco ou magnético; flipchart; projetor multimídia;. cd e dvd. Outro recurso fundamental é o microfone. Deve-se usar o microfone de forma discreta, sem que se chame atenção para ele. Aliás, o microfone só deve aparecer quando der defeito, e, mesmo assim, deve-se comportar discretamente em tais casos. Vejamos como usar adequadamente os microfones com pedestal, com ou sem fio, de lapela e auricular. • Microfone de mesa (sentado) Tenha uma postura correta: coluna ereta, coloque apenas as mãos com os punhos sobre a mesa, sem apoiar os braços ou cotovelos. Distancie o microfone um palmo de sua boca, quando se virar para os lados não retire a boca da direção do microfone. • Microfone de pedestal (em pé) Ao ficar em pé, mantenha a coluna ereta, os pés firmes (20 cm um do outro); distancie o microfone (entre 10 cm e 15 cm da boca). Cuidado ao virar para os lados, mantendo a boca sempre na direção do microfone. Atenção para evitar a microfonia. • Microfone de lapela e auricular (em pé ou sentado) A posição correta segue a mesma citada anterior. Cuidado para não bater ou esbarrar no microfone de lapela ou auricular, causando barulho, exaltando-se ou emocionando-se ao falar. Evitar a respiração ofegante, tossir ou qualquer outro som diferente. 38 UNIDADE 3 :: A COMUNICAÇÃO ORAL TUDO O QUE FICA PRONTO NA VIDA FOI CONSTRUÍDO ANTES, NA ALMA Dizem que conselho só se dá a quem pede. E se vocês me convidaram para paraninfo, sou tentado a acreditar que tenho sua licença para dá-los. Portanto, apesar da minha pouca autoridade para dar conselhos a quem quer que seja, aqui vão alguns que julgo valiosos. Não paute sua vida nem sua carreira pelo dinheiro. Ame seu ofício com todo coração. Persiga fazer o melhor. Seja fascinado pelo realizar, que o dinheiro virá como consequência. Quem pensa só em dinheiro não consegue sequer ser um grande bandido ou um grande canalha. Napoleão não invadiu a Europa por dinheiro. Hitler não matou seis milhões de judeus por dinheiro. Michelângelo não passou 16 anos pintando a Capela Sistina por dinheiro. E, geralmente, os que só pensam nele não o ganham. Porque são incapazes de sonhar. E tudo o que fica pronto na vida foi construído antes, na alma. A propósito disso, lembro-me de uma passagem extraordinária, que descreve o diálogo entre uma freira americana cuidando de leprosos no Pacífico e um milionário texano. O milionário, vendo-a tratar daqueles leprosos, disse: “Freira, eu não faria isso por dinheiro nenhum no mundo”. E ela respondeu: “Eu também não, meu filho”. Não estou fazendo com isso nenhuma apologia à pobreza, muito pelo contrário. Digo apenas que pensar em realizar tem trazido mais fortuna do que pensar em fortuna. Meu segundo conselho: pense no seu país. Porque, principalmente hoje, pensar em todos é a melhor maneira de pensar em si. Afinal, é difícil viver numa nação onde a maioria morre de fome e a minoria morre de medo. O caos político gera uma queda de padrão de vida generalizada. Os pobres vivem como bichos, e uma elite brega, sem cultura e sem refinamento, não chega a viver como homens. [...] Meu terceiro conselho vem diretamente da Bíblia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É exatamente isso que está escrito na carta de Laudicéia: seja quente ou seja frio, não seja morno que eu te vomito. É preferível o erro à omissão. O fracasso, ao tédio. O escândalo, ao vazio. Porque já vi grandes livros e filmes sobre a tristeza, a tragédia, o fracasso. Mas ninguém narra o ócio, a acomodação, o não fazer, o remanso. Colabore com seu biógrafo. Faça, erre, tente, falhe, lute. Mas, por favor, não jogue fora, se acomodando, a extraordinária oportunidade de ter vivido, tendo consciência de que cada homem foi feito para fazer história. Que todo homem é um milagre e traz em si uma revolução. Que é mais do que sexo ou dinheiro. Você foi criado para construir pirâmides e versos, descobrir continentes e mundos, e caminhar sempre, com um saco de interrogações na mão e uma caixa de possibilidades na outra. Não use rider, não dê férias a seus pés. Não se sente e passe a ser analista da vida alheia, espectador do mundo, comentarista do cotidiano, dessas pessoas que vivem a dizer: “eu não disse!”, “eu sabia!” 39 ORATÓRIA Toda família tem um tio batalhador e bem de vida. E, durante o almoço de domingo, tem de aguentar aquele outro tio muito inteligente e fracassado contar tudo o que ele faria, se fizesse alguma coisa. Chega dos poetas não publicados. Empresários de mesa de bar. Pessoas que fazem coisas fantásticas toda sexta à noite, todo sábado e domingo, mas que na segunda não sabem concretizar o que falam. Porque não sabem ansiar, não sabem perder a pose, porque não sabem recomeçar. Porque não sabem trabalhar. Eu digo: trabalhem, trabalhem, trabalhem. De 8 às 12, de 12 às 18 e mais se for preciso. Trabalho não mata. Ocupa o tempo. Evita o ócio, que é a morada do demônio. E constrói prodígios. O Brasil, esse país de malandros e espertos, da vantagem em tudo, tem muito a aprender com aqueles trouxas dos japoneses. Porque aqueles trouxas japoneses que trabalham de sol a sol construíram, em menos de 50 anos, a segunda maior megapotência do planeta. Enquanto nós, os espertos, construímos uma das maiores impotências do trabalho. Trabalhe! Muitos de seus colegas dirão que você está perdendo sua vida, porque você vai trabalhar enquanto eles veraneiam. Porque você vai trabalhar, enquanto eles vão ao mesmo bar da semana anterior, conversar as mesmas conversas, mas o tempo, que é mesmo o senhor da razão, vai bendizer o fruto do seu esforço. E só o trabalho lhe leva a conhecer pessoas e mundos que os acomodados não conhecerão. E a isso se chama sucesso. [...] Fonte: Texto de Nizan Guanaes. In: VINAS, Rey. Atos administrativos. Brasília: Projecto Ed., 2003. Prezado(a) aluno(a), Agora você já tem um excelente material para se preparar quanto às competências de expressividade verbal. O caminho não é fácil, mas também não é impossível de ser trilhado. O principal agente de mudança é você mesmo! Esforce-se dedicadamente. Isso fará toda a diferença! Em oratória, seja na retórica ou na eloquência, sempre haverá alguma coisa a aprender. Assim, o estudo e a prática devem ser constantes para a garantia de boas apresentações públicas. 40 BIBLIOGRAFIA Bibliografia ALVES, Léo da Silva. A arte da oratória: os segredos do orador de sucesso. Brasília: Brasília Jurídica, 2004. ALVES, Rubem. O retorno e terno. 23. ed. Campinas, SP: Papiros, 2003. ARALDI, Nereu Jorge. Fazer o bem vale a pena. 3. ed. Caxias do Sul, RS: Theus, 2002. BLOCH, Pedro. Sua voz e sua fala. Rio de Janeiro: Bloch Educação, 1979. ______.Você quer falar melhor?. Rio de Janeiro: Revinter, 2002. CURSO de oratória. Brasília: Trainer Consultoria e Treinamento, 2003? Apostila. FALAR é fácil?!: curso de exposição oral: teoria e prática. Brasília: Auta de Souza, 2003. FERREIRA, Leslie Piccolloto (Org.). Trabalhando a voz: vários enfoques em fonoaudiologia. São Paulo: Summus, 1988. FRANCO, Simon. Criando o próprio futuro: o mercado de trabalho na era da competitividade total. 2. ed. São Paulo: Ática, 1997. GOTTMAN, John M.; DECLAIRE, Joan. Relacionamentos: cinco passos para uma vida emocional mais feliz na família, no trabalho e no amor. Rio de Janeiro: Objetiva, 2003. GUANAES, Nizan. Tudo o que fica pronto na vida foi construído antes, na alma. In: VINAS, Rey. Atos administrativos. Brasília: Projecto Ed., 2003. LEONARDI, Maria Alice de Andrade. Oratória geral e oratória forense. São Paulo: RG, 2002. LOPES, Vânia. Oratória e fonoaudiologia estética. Carapicuíba, SP: Pro-fono, 2000. MEDO de falar em público: sete passos julgados necessários que você precisa saber para que essa dificuldade não atrapalhe seu sucesso. Você S.A., mar. 1999. MINICUCCI, Agostinho. Relações humanas: psicologia das relações interpessoais. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2001. PASSADORI, Reinaldo. Comunicação essencial: estratégias eficazes para encantar seus ouvintes. São Paulo: Gente, 2003. POLITO, Reinaldo. Assim é que se fala: como organizar a fala e transmitir ideias. 24. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. ______. Como falar corretamente e sem inibições. 103. ed. São Paulo: Saraiva, 2003. 41 ORATÓRIA POYARES, Walter Ramos. Falo, logo sou: o fenômeno da comunicação. Rio de Janeiro: Agir; Brasília: UnB, 1983. ROGERS, Carl R. Tornar-se pessoa. 5. ed. São Paulo: Martins fontes, 1999. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Departamento de Comunicação Social. – Prof. Jairo Salermo. VIANA, Lisley. Fisiologia da voz, parte 3. Disponível em: <http://www.musicaeadoracao.com. br>. Acesso em: 02.12.2003. WEIL, Pierre. A arte de viver a vida. Brasília: Letraviva, 2001. ______; TOMPAKOW, Roland. O corpo fala. 60. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995. 42