DON CALMET, O PRIMEIRO CAÇADOR DE VAMPIROS DA

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Leituras da História
2011-Número 37
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DON CALMET, O PRIMEIRO CAÇADOR DE VAMPIROS DA HISTÓRIA
MAYTÊ R. VIEIRA1
Em pleno século 18, a Europa vivia a efervescência do Iluminismo.
Filósofos como Voltaire e Diderot empenhavam-se em lutar pela
primazia da razão, abandonando as superstições, destruindo mitos, e
resgatando os antigos ideais de uma ciência explicativa para o mundo.
Sua “bíblia” era a obra máxima do saber na época: a enciclopédia, que
se propunha reunir todos os conhecimentos construídos pelo ser
humano até então. Um movimento deste gênero construíra, também,
seus próprios inimigos: a religião, a visão teológica, as crenças
infundadas, e as lendas que - supunham - atrapalhavam a visão correta
do homem sobre a realidade.
Não foi sem espanto, pois, que em 1732, boatos provenientes do leste
europeu falavam sobre o retorno de mortos que não apenas falavam e
andavam, mas que infestavam os vilarejos, atacavam homens e
animais, sugavam-lhes o sangue até torná-los doentes e matá-los.
Depois de “vistos e reconhecidos”, eles eram exumados, processados,
empalados, decapitados e, finalmente, queimados. Foi na revista Le
Glaneur Hollandais que surgiu, pela primeira vez, a grafia do termo
“vampiro” para designar estas estranhas criaturas que infestavam uma
vasta região que abrangia Hungria, Romênia, Alemanha, Tcheca e
Eslováquia, Bálcãs e chegava mesmo as fronteiras da Rússia e Polônia.
O caso relatado na revista falava de um tal Arnold Paul que, após sofrer
um acidente numa localidade da Sérvia, foi dado como morto mas teria
voltado para atacar outras pessoas, criando um verdadeira epidemia
1
Professora de História pela FAFIUV - União da Vitória, Paraná, Pesquisadora em
História dos Vampiros e História do Imaginário, Mestranda da UDESC.
de vampirismo que se arrastou durante anos. O notável nesta história é
que seu corpo foi examinado por médicos militares, que teriam
constatado que seu corpo não havia se corrompido. O procedimento
utilizado para cuidar do corpo foi transpassar-lhe uma estaca, que fez o
morto gritar e perder sangue - mesmo assim, somente a extinção de
seu corpo pelas chamas deu um fim na terrível criatura. (sobre a
questão de se matar um vampiro, veja o Box 1).
O caso deixou a Europa
iluminista intrigada: que tipo
de monstruosidade estaria
ocorrendo naquelas regiões?
Seria uma doença? Simples
superstição? Atendendo ao
apelo das mentes racionais da
época, entra em então cena
Don Calmet, que talvez tenha
sido o primeiro investigador
oficial de vampirismo na
história da humanidade.
O primeiro inquérito
vampirismo da história
de
As lendas sobre vampiros e
criaturas sugadoras de sangue
eram comuns na Europa
desde a antiguidade. Com o
tempo, contudo, elas foram
Xilogravura que espalhava as lendas de Vlad
rareando ou desaparecendo
Tepes, soberano romeno que Bram Stoker
transformou em Vampiro, no seu romance até se transformarem em
mitos ou lendas antigas. Foi
Drácula.
surpreendente
para
esta
época o reaparecimento destas criaturas malignas, e a questão
incomodava sobremaneira as mentes intelectuais do momento.
Don Calmet foi um destes investigadores racionalistas daquele
momento que resolveu topar a parada, e realizar um inquérito sério e
científico sobre o problema. Obviamente, ele tinha razões mais
profundas para esclarecer o enigma; Calmet era um clérigo,
extremamente preocupado com as questões teológicas relativas a volta
dos “mortos-vivos”, e sua investigação cumpria um duplo sentido:
destruir científica e religiosamente a possibilidade da existência de
vampiros e outras criaturas malignas, de modo a afirmar os dogmas
católicos mas utilizando, para isso, dos métodos racionalistas
iluministas.
Calmet, inclusive, tinha um bom
trânsito entre os iluministas, e havia
aprendido bastante sobre técnicas
de pesquisa existentes na época. O
objetivo de seu trabalho seria
discutir,
inicialmente,
as
impossibilidades metafísicas da
existência destes seres: depois,
apresentar as provas científicas que
caracterizariam estes enganos. O
resultado de suas andanças - que
demoraram anos no leste europeu foram publicadas, finalmente, em
1751 com o título de Tratado sobre
a aparição de espíritos e sobre os
vampiros ou os revividos da Hungria,
da Morávia, etc. e causaram choque
Dom Calmet
entre os contemporâneos quando o
autor deixava, de maneira absolutamente inconclusa, o problema da
existência dos vampiros, fazendo a sociedade da época supor que eles
realmente poderiam existir...
As descobertas de Calmet
Antoine Calmet foi um erudito religioso conhecido sob o nome de Dom
Augustin Calmet. Nasceu na Lorena em 26 de fevereiro de 1672. Ainda
jovem escolheu tornar-se um padre beneditino da Congregação de
Saint-Vanne et Saint-Hydulphe. Percorreu os diversos mosteiros de sua
ordem, devorando as bibliotecas e redigindo numerosas compilações
históricas. Em 1728, Dom Calmet tornou-se abade na Abadia SaintPierre de Senones, capital do principado de Salm. Foi ali que trabalhou
e viveu até sua morte, em 25 de outubro de 1757, mantendo
correspondência com numerosos cientistas.
O fato de ser preciso exumar e mutilar os corpos de cristãos para
destruir os vampiros na Europa oriental chamou a atenção da igreja:
esta, primeiramente, convocou um padre chamado Giuseppe Davanzati
para elaborar uma resposta ao problema que, depois de estudar
durante cinco anos os casos de vampirismo, escreveu a tese
Dissertazione sopra I Vampiri publicada em 1744, em que concluía que
os vampiros eram fruto da imaginação e que os corpos não deveriam
ser profanados.
Contudo, a tese de Davanzati não convenceu muita gente, por seu teor
eminentemente religioso e não científico. Foi assim que, logo depois,
entra em cena Dom Calmet, um religioso que também possuía os
conhecimentos “científicos” da época, e que estava estudando os casos
de vampiros de modo mais aprofundado e sério. Em 1746 – após tomar
conhecimento das discussões e debates a respeito dos casos de
vampirismo na Europa Central, como o de Arnold Paul, quando decidiu
examinar a questão à luz da razão e da religião, e de realizar suas
investigações diretas, Calmet publica sua Dissertation sur les
apparitions des anges, des demons et des esprits, et sur les revenans et
vampires de Hongrie, de Bohême, de Moravie et de Silésie,(Dissertação
sobre as aparições de anjos, demônios e espíritos, e sobre os revividos
e vampiros da Hungria, da Boêmia, da Moravia e da Silésia.), uma longa
compilação dos casos de vampirismo ocorridos na Europa Central, a
repercussão de seu trabalho foi tamanha que uma nova edição revista
e ampliada foi publicada em 1751 com modificações no título: Traité
sur les apparitions des esprits et sur les vampires ou les revenans de
Hongrie, Moravie, etc. (ou Tratado sobre as aparições dos espíritos e
sobre os vampiros ou os revividos da Hungria, Moravia, etc., a versão
final com o qual trabalhamos agora).
Fragmento do Tratado de Calmet
Dom Calmet era um renomado estudioso da época, e seus trabalhos
eram voltados para a interpretação e tradução bíblicas, sendo
reconhecido pelos outros clérigos como um dos principais acadêmicos
do catolicismo daquele momento. seu interesse nos casos de
vampirismo que estavam ocorrendo na Europa Central e Oriental
lacabaram lhe rendendo repreensões, críticas e até mesmo o escárnio
de outros colegas do clero, dos cientistas e filósofos iluministas. Calmet
afirmava no início de seu livro:“Minha intenção é tratar aqui a questão
dos revividos ou vampiros da Hungria, Moravia, Silésia e Polônia,
arriscando a ser criticado de alguma maneira: os que o crêem
verdadeiros me acusarão de temeridade e presunção, por ter colocado
em dúvida, ou mesmo ter negado sua existência e realidade, outros me
repreenderão por ter empregado meu tempo a tratar desta matéria,
que passa por frívola e inútil no espírito de muitas pessoas de bom
senso. De alguma maneira penso que terei de boa vontade
aprofundado uma pergunta, que parece importante para a religião:
porque se o regresso dos vampiros é real, importa defendê-lo e proválo e, se é ilusório é do interesse da religião desenganar os que o crêem
verdadeiro e destruir um erro que pode ter muitas conseqüências”.
(CALMET, 1751, p.IX-X)
As críticas surgiram pelo simples fato que, ao fazer sua compilação dos
casos de vampirismo com a intenção de desacreditá-los e de acabar
com o que considerava o sacrilégio de profanar os corpos e as
sepulturas para destruir os suspeitos de serem vampiros, Dom Calmet
acabou por endossar as crenças. Suas conclusões são, em alguns casos,
ambíguas e, logo no prefácio da obra ele deixa claro que não há provas
sólidas da existência ou não dos vampiros e da possibilidade dos
mortos voltarem: “[...] Dá-se a estes revividos o nome de Oupires ou
Vampiros, ou seja, sanguessugas, e deles contam-se particularidades
tão singulares, tão detalhadas e cobertas de circunstâncias tão
prováveis e com tantas informações jurídicas que quase não se pode
recusar a crença destes países: que estes revividos parecem realmente
sair dos seus túmulos e produzir os efeitos que são publicados”.
(CALMET, 1751, p.VI)
Nestes relatos dos vários casos de vampirismo que o abade compilou,
encontra-se a descrição de como identificar um vampiro e as formas de
exterminá-lo. Um dos casos relatados é o ocorrido na “aldeia de Blow,
perto da vila de Kadam na Boêmia” (CALMET, 1751, p. 35), de um
pastor que, retornando após a morte chamava algumas pessoas que
morriam “infalivelmente” após oito dias. Para livrar-se do vampiro
atravessaram uma estaca em seu cadáver para mantê-lo preso a sua
sepultura, e como não houve resultado, ele voltou a levantar zombando
do método usado. Para acabar de vez com a perturbação, ele foi
retirado de seu túmulo sendo posto: “[...] sobre um carro para
transportá-lo para fora da aldeia e queimá-lo. O cadáver gritou furioso,
e agitou os pés e as mãos como vivo, e no momento em que o furaram,
soltou muito gritos e derramou sangue muito vermelho e em grande
quantidade. Por último, queimaram-no e esta execução pôs fim aos
aparecimentos e às infestações deste espectro”. (CALMET, 1751, p.35).
Ao longo de toda obra, Dom Calmet elenca
relatos oficiais sobre o vampirismo –
jornais, testemunhos oculares, diários de
viagem e críticas feitas por seus colegas
esclarecidos, mas não chegou a nenhuma
conclusão decisiva: “Contudo, não se
procede sem alguma forma de justiça:
citam-se e escutam-se os testemunhos,
examinam-se as razões, consideram-se os
corpos exumados, para ver se são
encontradas as marcas comuns, que fazem
pensar que estes molestam os vivos, como
Imagem de um “Vampiro” do
a mobilidade e a flexibilidade dos
século XVIII
membros, a fluidez do sangue, a
incorrupção da carne. Se estas marcas são encontradas, são entregues
ao carrasco que queima-os. Algumas vezes os espectros aparecem
ainda durante três ou quatro dias após a execução. Às vezes prorrogam
por seis ou sete semanas o enterro das pessoas suspeitas. Quando não
se corrompem e seus membros permanecem flexíveis e maleáveis,
como se estivessem vivos, então são queimados”. (CALMET, 1751,
p.36).
Sua imprecisão em atestar os casos como superstição ou realidade e a
forma como concluiu que não podia chegar a parecer algum senão ao
que criaturas como os vampiros podiam retornar do túmulo, acendeu
ainda mais a fogueira das discussões sobre o assunto que varreram a
Europa Ocidental, levando inclusive, os filósofos iluministas a discutir
o assunto. Da mesma forma que Dom Calmet, o racionalismo
iluminista, ao tentar refutar estas crenças como superstições do povo
ignorante, conseguiu exatamente o contrário; difundiu os vampiros por
toda a Europa de onde o mito ganhou o mundo.
As incertezas do pesquisador
Na mescla de relatos recolhidos por Calmet, não consta evidência da
realidade ou não dos vampiros, e o próprio Calmet não deixa claras
suas conclusões. Por todo o Tratado suas opiniões são contraditórias.
Um exemplo de suas contradições está em um dos capítulos finais da
obra: “Pode-se tirar vantagem destes exemplos e destes argumentos
em prol do vampirismo, dizendo que os revividos da Hungria, Moravia
e Polônia, não morreram realmente, que vivem nos seus túmulos,
embora sem movimento e sem respiração: seu sangue estando fluído e
vermelho, a flexibilidade dos seus membros, os gritos que soltam
quando seu coração é perfurado ou sua cabeça cortada prova que vive
ainda. A principal dificuldade que tento entender é como saem dos
seus túmulos: para lá retornam sem remexer a terra, que se mantém
em seu primeiro estado: como aparecem vestidos em suas roupas,
como vão e vêm, como comem? Se for assim porque voltar a seus
túmulos? Porque não residir entre os vivos? Porque sugar o sangue
seus parentes? Porque infestar e fatigar estas pessoas, que devem serlhes caras, que não o ofenderam? Se qualquer parte disto é somente
imaginação por parte dos que são molestados, como explicar que estes
vampiros são encontrados em seus túmulos sem corrupção, cheios de
sangue, flexíveis e manejáveis; que se encontram seus pés com lama no
dia seguinte ao que correram assustando as pessoas da vizinhança, que
não se observa nada similar nos outros cadáveres enterrados pelo
mesmo tempo no mesmo cemitério? Como não retornam mais, não
incomodam mais, depois que são queimados ou empalados? Será ainda
a imaginação dos vivos e as suas crenças que se tranqüilizam após
estas execuções feitas? Como que estas cenas renovam-se assim
freqüentemente nestes países, que não são prejudicadas, que a
experiência diária em vez destruir faz apenas aumentar e fortificar?”
(CALMET, 1751, p.211-212).
Como pode ser observado no trecho transcrito acima, o próprio Dom
Calmet não sabia no que acreditar. Ele buscava refutar as crenças, mas
por outro lado, deixava perceber que ele mesmo não decidira se
acreditava ou não nos relatos que compilara. Este foi o estopim para
toda a discussão que se seguiu a publicação do Traité sur les
apparitions des esprits et sur les vampires ou les revenans de Hongrie,
Moravie, etc.
Os efeitos da dissertação de Dom Calmet
Ao publicar o Traité sur les apparitions des esprits et sur les vampires ou
les revenans de Hongrie, Moravie, etc., Calmet trouxe a discussão para o
centro do fenômeno iluminista, e se transformou num grande bestseller com a ajuda involuntária dos próprios filósofos iluministas. A
obra teve inúmeras publicações, e ficou conhecida em toda a Europa.
Os efeitos da obra foram tão impactantes que a imperatriz da Áustria,
Maria Tereza, decretou uma lei proibindo a abertura de sepulturas e o
estacamento de mortos, tentando coibir o surto de pânico que se
espalhara nos domínios do império Austro-húngaro. Os filósofos do
Iluminismo passaram a discutir o assunto e finalizaram a questão
determinado, arbitrariamente, que era tudo irreal, fantasia da
imaginação daquele povo. A lei também conseguiu atingir seu objetivo,
ao diminuir as violações de corpos e, lentamente, acabar com a histeria
vampírica. Depois de o assunto ser rechaçado e ridicularizado por
homens como Voltaire (que dedica um verbete de seu dicionário
filosófico especialmente à questão), Diderot e Rousseau, as autoridades
seculares e eclesiásticas não viram mais necessidade de desmistificar
os vampiros, e a obra de Calmet foi posta de lado como um “trabalho
científico” - mas o autor não viu isso ocorrer, falecendo em 1757. A
razão, pois, negava seus próprios métodos, em função da afirmação de
um discurso contra as crenças e superstições. Foi exatamente aí, no
entanto, que a literatura popular pôde tirar proveito daquela série de
histórias interessantes relatadas por Calmet, e sobre as quais haviam
tomado conhecimento com toda a discussão que se desenrolara.
Durante quase um século, diversos autores empregaram o vasto
material recolhido por Calmet para criarem contos e histórias
fantásticas sobre vampiros, dando-lhes diversas formas diferentes. O
romance Drácula (1897), de Bram Stoker, seria tão somente a
conclusão deste processo, dando uma forma acabada ao mito do
vampiro que conhecemos hoje. Quanto a Don Calmet, este passou a
história - não como o pesquisador que realmente se propunha a ser, e
sim, como a fonte principal de um dos maiores mitos do imaginário e
da literatura popular mundial.
Bibliografia
CALMET, Dom Augustin. Tratado sobre os aparecimentos dos
espíritos, sobre vampiros ou os fantasmas da Hungria, Moravia,
Silésia e Polônia. Tomo II. Paris: 1751.
ARGEL, M. e MOURA NETO, H. (org.). O vampiro antes de Drácula.
São Paulo: Aleph, 2008.
BARTLET, W. e IDRICEANU, F. Lendas de sangue: o vampiro na
história e no mito. São Paulo: Madras, 2007.
COSTA, F. M. (Org.) 13 melhores contos de vampiros. Rio de Janeiro:
Ediouro, 2002.
LECOUTEUX, C. História dos vampiros – Autópsia de um mito. São
Paulo: Unesp, 2005.
MELTON, G. J. O livro dos vampiros – A enciclopédia dos mortos
vivos. São Paulo: M. Books do Brasil, 2003.
FLORESCU, R. e MCNALLY, R. T. Em busca de Drácula e outros
vampiros. São Paulo: Mercuryo, 1995.
VIEIRA, Mayte. Sombras e sangue: Don Calmet e as investigações
sobre casos de vampirismo na Europa Iluminista. União da Vitória:
FAFIUV, Paraná, 2009. (Monografia de História)
Box 1 - Como matar um vampiro
Um dos mitos mais difundidos sobre como se mata um vampiro é o de
aplicar uma estaca em seu peito, bem no meio do coração. Este “erro”
foi difundido por Bram Stoker, que também fez uma grande confusão
(ou seria uma associação proposital) entre um sanguinário rei romeno
da época medieval, Vlad Tepes (o Drácula) e a figura do vampiro. A
leitura de Calmet, neste ponto, nos é bastante esclarecedora: para
começar, não se pode matar o que já está morto. O problema, portanto,
é como destruir o corpo da criatura maligna, impedindo-a de continuar
a agir no mundo dos vivos. Para isso, o estacamento serve somente
para fixar o corpo da criatura no chão ou no caixão. Após este
procedimento, são variados os métodos para a aniquilação do corpo do
vampiro. Em geral, procede-se a separação das partes do corpo - em
alguns casos, é fundamental quebrar a coluna do vampiro - e depois,
queima-se o corpo. Em alguns lugares, é necessário ainda ingerir as
cinzas, com líquido ou puras, para proteger-se do contágio. Em 2003
uma família foi presa e condenada, na Romênia, por executar um ritual
deste gênero com o corpo de um parente morto. Eles acreditavam,
piamente, que estavam sendo vítimas de um ataque vampírico.
Box 2 - A imagem do vampiro
O vampiro de Calmet era uma criatura repugnante, pestilenta, pútrida
e fétida. Ele com certeza não seria convidado para entrar numa casa,
como rezam muitas lendas acerca dos hábitos dos vampiros, e seria
mais parecido com a imagem que temos, hoje, de um zumbi, do que
propriamente com o charmoso Drácula dos filmes mais recentes. Esta
imagem do vampiro sedutor, com dentes grandes e poderes incríveis,
foi criada ao longo do século 18 e 19, através da literatura vampírica
que virou moda na Europa. Como o vampiro tornou-se o personagem
principal destas histórias, fazia se necessário torná-lo mais atraente ao
leitor. Foi John Polidori, em 1819, que escreveu o primeiro livro
completo sobre a história de um vampiro, tornando-o um ser malévolo
e conquistador. A mudança das características centrais do personagem
- nobreza, astúcia, sedução - tornaram-se quase um regra geral entre
os escritores posteriores, e Bram Stoker apenas deu continuidade a
esta tendência, incorporando outros detalhes ao mito.
Pôster apresentado no 3º Encontro de Ciência e Tecnologia do Paraná, 2009
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