1 FAMÍLIA COMO SISTEMA, SISTEMA MAIS AMPLO QUE A

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FAMÍLIA COMO SISTEMA, SISTEMA MAIS AMPLO QUE A FAMÍLIA,
SISTEMA DETERMINADO PELO PROBLEMA1
Juliana Gontijo Aun
Maria José Esteves de Vasconcellos
Sônia Vieira Coelho
“A família não existe: vemos a família porque somos especialistas em vê-la”.
Pode parecer muito estranho iniciar com essa afirmação um capítulo cujo título anuncia uma
proposta em que se começaria apresentando ou definindo a família como um sistema. Como definir
como um sistema algo que não existe?
Trata-se de uma afirmação que faz sentido, tendo-se assumido a visão sistêmica novoparadigmática2, ou uma visão sistêmica de 2ª ordem. Essa é a proposta deste capítulo: refletir sobre
nossa concepção de família – e de outros sistemas – a partir dessa nova postura epistemológica.
Coerentes com essa visão, assumimos posturas que parecem muito radicais para quem ainda
não fez a ultrapassagem do paradigma tradicional. Não se trata apenas de admitir que a família pode
ser vista ou concebida de diferentes modos, com diferentes lentes ou teorias, o que seria apenas
repetir uma postura relativista. Trata-se de ir além do relativismo e admitir que a família não préexiste ao olhar de um observador e que é este que a faz emergir.
Consistente com essa postura de 2ª ordem e chamando-a de “tese construtivista”, Sluzki
afirma que
vemos e tratamos a família nuclear, e em certas ocasiões, a família extensa, porque somos especialistas
em vê-la e não porque exista assim, como uma forma claramente delineada. Estudamos a família
porque a vemos, e a vemos porque a evocamos com nossos modelos e nosso interrogatório. (...)
Vivemos imersos em redes múltiplas, complexas e em evolução, dentre as quais ‘extraímos’ a família
quando perguntamos, por exemplo, “Quem faz parte de sua família?” (Sluzki, 1997 a/1997, p. 28).
Podemos ainda ir além dessa afirmação de Sluzki e dizer que essas redes, em que ele diz que
vivemos imersos, também não existem:
Constituímos a rede, quando perguntamos: ‘quem são as pessoas significativas para você, na família
nuclear, na família extensa, no trabalho, na escola, na vizinhança, na comunidade?’ Se focalizamos a
rede, nós o fazemos às custas de focalizar menos o indivíduo ou a família. (...) A escolha da unidade em
foco será sempre do ‘observador’ e dependerá de seu ‘paradigma’ (Esteves de Vasconcellos, 1998).
Vemos as redes porque nossa visão sistêmica nos permite vê-las ou porque nos tornamos
especialistas em vê-las. Se continuarmos especialistas em ver indivíduos, continuaremos vendo e
tratando de indivíduos.
Concebemos a família como um sistema porque desenvolvemos um olhar sistêmico e então,
para nós, a família emerge como um sistema, para o qual orientamos nossas práticas e nossas
intervenções, ao propor e realizar o “atendimento sistêmico de famílias e redes sociais”.
1
Este texto é um dos capítulos da obra em 3 volumes, de Aun, Esteves de Vasconcellos e Coelho, Atendimento
Sistêmico de Famílias e Redes Sociais: Vol. I Fundamentos teóricos e epistemológicos, 2005, 3ª edição 2012; Vol.
II O processo de atendimento, 2007; Vol. III Desenvolvendo práticas com a Metodologia de Atendimento Sistêmico,
2010; Belo Horizonte, Ophicina de Arte & Prosa. Encontra-se no Volume II, p. 13-37.
2
Ver o texto “Pensamento sistêmico novo-paradigmático: novo-paradigmático, por quê?”, no Vol. I desta
obra.
2
Acreditamos que, sem esse olhar sistêmico, o profissional, mesmo pretendendo trabalhar
com a família – como acontece, por exemplo, com os profissionais do Programa de Saúde da
Família e, de resto, com muitos outros profissionais e outros programas sociais – acaba “tratando do
indivíduo na família”, sem conseguir deslocar seu olhar do indivíduo para a teia de relações entre os
elementos do grupo familiar, as quais constituem o sistema familiar.
Só com esse foco nas relações, o grupo familiar emergiria como um sistema para esses
profissionais, possibilitando então planejar e dirigir sua atuação às relações familiares, desenvolvendo
práticas sistêmicas, mesmo que ainda sistêmicas de 1ª ordem. Seria já um primeiro passo, para então
avançarem para a visão sistêmica de 2ª ordem, que temos procurado assumir e que embasa as
práticas sistêmicas que temos procurado desenvolver.
Antes mesmo de se desenvolver a concepção da “família como sistema” – o que aconteceu
por volta dos anos 50 do século passado – muitas disciplinas, tais como sociologia, antropologia,
demografia, direito, psicanálise, história, psicologia, já tinham se interessado pelo estudo da família,
propondo diferentes definições para o grupo familiar, embasadas em diferentes critérios (Coelho,
2005).3
Apesar de evidenciarem aspectos importantes do funcionamento de uma família, esses
estudos não oferecem, entretanto, fundamento teórico para se trabalhar com a família como uma
unidade, uma vez que ainda não a concebem como um sistema.
Com o surgimento da terapia familiar sistêmica, os terapeutas de família conceberam “a
família como um sistema” e, colocando o foco nas interações, puderam trabalhar com ela como uma
unidade.
Surgem então as definições sistêmicas da família, ou definições da família como um sistema,
quando se estendem para o sistema familiar os conceitos teóricos desenvolvidos para os sistemas em
geral – seja pela Teoria Geral dos Sistemas, seja pela Teoria Cibernética.4 Essas teorias – com uma
pretensão transdisciplinar – se propuseram desenvolver princípios teóricos aplicáveis a todo e
qualquer sistema, independentemente da natureza de seus componentes. Surgem então definições de
família focalizando as relações entre os elementos constituintes do sistema familiar.
Acontece que a maior parte do que já se tem escrito sobre a “família como um sistema” está
conforme uma visão sistêmica de 1ª ordem, de acordo com diversos modelos teóricos
desenvolvidos, não só para se compreender o funcionamento do sistema familiar, como também
para fundamentar as intervenções em terapia familiar sistêmica. O que as caracteriza como
concepções de 1ª ordem é exatamente o fato de não partirem do pressuposto – ou pelo menos de
não o explicitarem – de que o sistema familiar emerge das distinções de observadores e de
consensos construídos na linguagem sobre o que o constitui como tal.
Nesse caso, essas definições sistêmicas de 1ª ordem, adotadas por profissionais que, sendo
sistêmicos, já assumiram apenas o pressuposto da complexidade, tendem a ser definições reificadas 5
do sistema familiar.
3
Ver o texto “Introdução aos estudos da família”, no Vol. I desta obra.
4
Ver o capítulo 6 – “Rastreando as origens das abordagens teóricas dos sistemas” do livro Pensamento sistêmico.
O novo paradigma da ciência (Esteves de Vasconcellos, 2002).
5
Reificado, usado como equivalente de coisificado, vem do latim res/rei, que quer dizer coisa. Esse termo
costuma ser usado para se referir à consideração, como coisa, de algo que poderia ser pensado como um
processo, ou também à consideração, como realidade objetiva, de algo que se reconhece como uma distinção
do observador.
3
Entretanto essas definições foram importantes, por colocarem o foco nos padrões de
interação do sistema familiar e por terem introduzido a concepção sistêmica da família. Além disso,
quando o profissional se tornar novo-paradigmático, poderá resgatar essas definições, considerandoas como distinções do observador. Por isso – antes de apresentarmos nossa concepção de família na
perspectiva novo-paradigmática – destacamos duas das definições de 1ª. Ordem, a título de
exemplos, para constituir a seção que se segue.
Faremos o mesmo, mais adiante, quando apresentarmos as definições de “sistema mais
amplo que a família”. Abordaremos primeiro as concepções de sistema amplo desenvolvidas ainda
na perspectiva sistêmica de 1ª ordem e depois a concepção de “sistema determinado pelo
problema”, que consideramos coerente com a visão sistêmica novo-paradigmática.
1. Família como sistema, na perspectiva sistêmica de 1ª Ordem
Tomamos algumas definições de “família como um sistema”, elaboradas no primeiro
momento do desenvolvimento da terapia familiar sistêmica – tendo como epistemologia a
cibernética de 1ª ordem – por dois dentre os primeiros terapeutas de família sistêmicos, Jackson e
Minuchin, representando respectivamente a abordagem comunicacional e a abordagem estrutural da
família. Ambos enfatizam a visão da unidade do sistema familiar (pressuposto da complexidade).
Para Jackson (1976/1968), a família é “um sistema governado por regras: (...) seus membros
se conduzem entre si de maneira organizada e repetitiva e (...) esta estruturação das condutas pode
ser considerada como um princípio que preside a vida familiar” (p. 139). Jackson focaliza o “caráter
organizado da interação familiar”, a mudança na forma de pensar a família a partir das relações entre
seus membros e não focalizando os indivíduos ou a “soma dos indivíduos” para entender a
organização do sistema. O sentido dado à forma de ver a organização é o de dedução das normas
familiares, entendidas então como regras abstratas, conceito esse desenvolvido na “teoria da
comunicação humana”. Assim, a idéia de “regra” é a de padrões de relação que se repetem,
inferidos da observação das relações e suas redundâncias, uma “metáfora” usada pelo observador
para descrever e explicar as relações que observa, não se atendo exclusivamente às condutas
individuais.
Esse autor defende seu argumento sistêmico, mostrando a diferença entre essa concepção e
uma outra concepção de família que predefine papéis diferenciados na estrutura familiar (pai, mãe,
filho). Para ele, a teoria de papéis se refere à descrição de “condutas do indivíduo”, instituídas pela
cultura, ficando as relações como secundárias e obscurecidos os processos de interação. O papel é
predefinido socialmente, de acordo com a posição do indivíduo no modelo da estrutura social,
estabelecendo o que é adequado ou não adequado no exercício das funções dos membros da família.
Além de mudar o foco para as relações, fazendo abstração do modelo cultural, sua visão
sistêmica da família, neste momento, é a de seu funcionamento como um sistema homeostático, um
sistema dotado de mecanismos autoreguladores, os quais garantem a manutenção da estabilidade do
sistema: “mecanismos homeostáticos são condutas que delimitam as flutuações de outras condutas
ao longo da gama particular correspondente à norma”, ou seja, à regra (Jackson, 1976/1968, p.146).
Jackson enfatiza os obstáculos de se pensar a família como um sistema de interação,
principalmente pela dificuldade de passar do pensamento linear para o circular e pela dificuldade de
mudar o foco do indivíduo para a relação. Preocupa-se com a mudança epistemológica do
pressuposto da simplicidade para o pressuposto da complexidade, mas não com a visão cultural da
família como parte do sistema social mais amplo. Exercitava sua mente sistêmica, ao deslocar o foco
do indivíduo para a relação e, também, ao ultrapassar a concepção sociológica de papéis familiares,
propondo uma definição abstrata de “regras de relação”.
4
Já Minuchin parte da definição sociocultural de família e a define como um “sistema aberto”,
considerando-a como um todo em que as partes estão relacionadas, constituindo uma unidade
organizada por padrões de relação recorrentes e previsíveis, indo além do indivíduo, estabelecendo
conexões com o contexto social específico – vizinhança, instituições, comunidade: “A família é um
grupo social natural, que governa as respostas de seus membros aos inputs de dentro e de fora. Sua
organização e sua estrutura peneiram e qualificam as experiências dos membros da família”
(Minuchin, 1982/1974, p.16).
A família é um grupo natural que através dos tempos tem desenvolvido padrões de interação. Estes
padrões constituem a estrutura familiar, que por sua vez governa o funcionamento dos membros da
família, delineando sua gama de comportamento e facilitando sua interação (Minuchin; Fishman,
1990/1981, p. 21).
Para ele, o conceito de estrutura se refere à dimensão funcional da instituição social, ao utilizar a idéia
de “padrões repetitivos” de interação, entre os membros do sistema familiar. Essas duas definições
de Minuchin ressaltam o aspecto sistêmico do funcionamento familiar, que é o relacional.
A forma de ver a relação da família com o contexto social mais amplo é a de considerá-la um
subsistema da sociedade, sendo ao mesmo tempo ela própria constituída de subsistemas: “As
famílias são sistemas multi-individuais de extrema complexidade, porém, são por sua vez,
subsistemas de unidades mais amplas – a família extensa, a vizinhança, a sociedade como um todo”
(Minuchin; Fishman, 1990/1981, p.25).
O autor elabora conceitos correlatos como os de subsistema, coerção e fronteiras, usados
como um esquema conceitual para compreensão do funcionamento familiar. Tendo a visão da
família e da sociedade como unidades compostas, como todos constituídos de partes interrelacionadas, o subsistema se refere às partes desse todo, ora visto como uma unidade, ora como
uma subunidade (holon)6, cada parte cumprindo o seu papel: “o todo é maior que a soma da partes.
(...) Parte e todo contêm um ao outro num processo contínuo, atual e corrente de comunicação e
interrelação” (Minuchin; Fishman, 1990/1981, p. 22-23). Embora tendo uma visão sistêmica, com
estes conceitos teóricos mantém uma concepção reificada e hierarquizada da sociedade e da família:
por exemplo, os pais considerados como um subsistema de um nível superior; os filhos como um
subsistema de nível inferior, na hierarquia familiar.7
2. Família como sistema, na perspectiva sistêmica novo-paradigmática
Na perspectiva novo-paradigmática, o sistema familiar – como de resto todos os demais
sistemas – não pré-existe a uma distinção de um observador. Quem seria então esse observador que
distingue a família e a faz emergir como tendo “existência real”? Os próprios elementos que
constituem o sistema familiar? Um estudioso/pesquisador da família? Alguém que se dispõe a ajudar
a família em suas dificuldades – um especialista em atendimento sistêmico de família ou um
terapeuta de família?
Se pedirmos aos vários membros de um grupo distinguido como uma família para responder
individualmente à pergunta “quem são os membros de sua família?”, muito provavelmente
obteremos respostas diferentes. Alguns incluirão apenas as pessoas com as quais têm vínculos de
consangüinidade; outros incluirão as pessoas que “entraram para a família”, tais como cunhados,
6
O conceito de holon é usado por Minuchin para explicar a unidade individual e social. Significa tanto um
todo como uma parte, dependendo de como essa é vista em relação ao todo maior. Usa-o para se referir à
possibilidade de se considerar o sistema familiar simultaneamente como todo (constituído de partes) e como
parte (parte da sociedade).
7
Ver o texto “Aspectos estruturais do sistema familiar”, no Vol. II, Tomo II desta obra.
5
genros, noras; alguns se limitarão à família nuclear, enquanto outros incluirão a família extensa e
outros ainda incluirão a família do cônjuge como sendo sua. E haverá ainda os que incluem alguém
que “não é da família, mas considero como se fosse, pois é como se fosse meu irmão”. E,
provavelmente, aparecerão também justificativas para as exclusões: “não o considero porque nunca
convivi com ele” ou “depois do que aconteceu, não o considero mais: já morreu para mim”.
Numa conversação sobre a questão proposta, esse grupo familiar poderá chegar, por
consenso, a uma definição sobre a constituição da sua própria família e sobre o critério a adotar para
defini-la: vínculos de consangüinidade, vínculos legais, vínculos de convivência, vínculos de
afinidade ou emocionais.
Ficará evidente que as distinções dos observadores – neste caso, dos próprios membros “da
família” – poderão fazer emergir um sistema familiar ou sistemas familiares diversos.
É isso o que podemos observar quando propomos a alguém a elaboração de seu próprio
“mapa de rede” – uma representação gráfica dos vínculos afetivo-sociais, que constituem sua rede
social.8 Num dos quadrantes do mapa de rede – delimitado por um círculo – a pessoa que o constrói
é solicitada a localizar sua família e, noutro quadrante, seus parentes, havendo ainda os quadrantes
para as relações profissionais (trabalho, escola) e para as relações na comunidade (vizinhos, amigos,
profissionais de ajuda).
Nesse caso, pedimos que a pessoa coloque cada um dos membros de sua rede mais próximo
ou mais afastado de si próprio – que ocupa o centro do círculo – dependendo da maior ou menor
intensidade do vínculo que ela distingue entre ambos: localizará mais próximo de si as relações mais
significativas, cujo vínculo ela considera mais forte.
No mapa de rede, tal como proposto por Klefbeck (1995/s.d.), a pessoa deveria colocar no
quadrante da família as pessoas que moram juntas – o que pode corresponder, ou não, ao que
geralmente se chama de família nuclear – e no quadrante dos parentes, as relações significativas
correspondentes à sua família extensa ou família de origem e ainda os membros de sua família
nuclear que não moram mais na mesma casa em que ela mora.
Nesse caso, não é apenas a própria pessoa que está definindo sua família, mas também o
profissional que, ao adotar as instruções de Klefbeck, oferece ao sujeito uma definição sua,
propondo uma distinção entre família e parentes. Porém continuam sendo do sujeito as decisões
sobre quem incluir e onde incluir no gráfico (em que subgrupo e a que distância de si próprio).
Provavelmente, em conformidade com o contexto cultural em que vivemos, o sujeito embasará suas
decisões, como vimos, nos critérios referentes aos vínculos geralmente considerados definidores da
existência de uma família. Lembrando o que disse Sluzki (1997 a/1997, p. 29), “vivemos imersos em
redes múltiplas (...) dentre as quais ‘extraímos’ a família quando perguntamos, por exemplo, ‘Quem
faz parte de sua família?’” Enfim, nesse caso, são os próprios membros da família que, com suas
distinções, fazem emergir o(s) seu(s) sistema(s) familiar(es).
Tendo assumido uma postura sistêmica de 2ª ordem, ou escolhido o “caminho da
objetividade entre parênteses”, alguns terapeutas de família também têm proposto uma
compreensão teórica do sistema familiar que possa embasar práticas coerentes com essa postura.
Num artigo em co-autoria com Maturana, dois terapeutas de família chilenos (Méndez;
Coddou; Maturana, 1998/1988), ao abordarem o emergir da patologia mental no sistema familiar,
propõem uma interessante concepção de família, coerente com nossa visão sistêmica novoparadigmática.
8
Um texto, “Rede social: conceitos teóricos fundamentais para a prática”, encontra-se no Vol. III desta obra.
6
Esses autores constroem um conceito de família como “um domínio de interação de apoio
mútuo na paixão por viver juntos em proximidade física ou emocional, gerado por duas ou mais
pessoas, seja através de um acordo explícito ou porque crescem imersos nele, no acontecer de seu
viver. (...) Como sistema, uma família existe no âmbito biológico,9 através da realização do viver de
seus componentes. Além disso, (...) (a família) se realiza no linguajar e emocionar de seus membros
como um caso particular da configuração de conversações recorrentes (organização) que a definem
como membro de tal classe” (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/1988, p. 161-162).
Para concebermos a família dessa forma, precisamos retomar os conceitos de conversar,
linguajar, emocionar e as distinções que Maturana propõe entre sistema social, sistema de trabalho e
sistema de poder (Maturana, 1997/1988), assim como os conceitos de organização e estrutura do
sistema, da teoria da autopoiese de Maturana e Varela (1987/1983).
O humano surge com o linguajar (definido como coordenação de coordenação de ações)
que, fluindo entrelaçado com o emocionar, constitui o conversar. A maneira de coexistir dos seres
humanos é a de viver juntos, em coordenações recursivas de ações, constituindo redes de
conversações, que coordenam constantemente o que fazemos nesse conviver. O humano se vive
sempre num conversar: linguajar com emocionar.
As diferentes emoções do ser humano o predispõem a diferentes formas de responder aos
eventos do meio, ou seja, a emoção especifica um espaço de ações possíveis. O emocionar-se
humano – derivado da estrutura biológica que constitui o ser vivo humano – centra-se no prazer da
convivência, na aceitação mútua sem questionamentos, o que gera uma convivência harmoniosa.
Porém diferentes emoções propiciam diferentes formas de relação ou diferentes domínios de
conversações, e nossa cultura ocidental tem cada vez mais propiciado o desenvolvimento de redes
de conversações contraditórias com a nossa biologia, contraditórias com a biologia do amor
(Maturana, 1997/1985). 10
Tanto o bem-estar quanto o sofrimento humano dependem do conversar, ou seja, dos
diferentes modos de fluir o entrelaçamento de linguajar e emocionar, dos diferentes tipos de
conversação, os quais constituem diferentes sistemas de convivência.
Assim, Maturana (1997/1988, p. 177) propõe uma distinção entre sistemas sociais e outros
sistemas, como sistemas de trabalho ou sistemas de poder, com base na emoção que especifica o
espaço básico de ações nessas diferentes formas de conviver, ou seja, com base na emoção que
especifica o espaço em que se dão as relações com o outro e consigo mesmo. Assim:
Sistemas sociais – são sistemas de convivência constituídos sob a emoção do amor, que é a emoção que
constitui o espaço de ações de aceitação do outro na convivência. A partir daí, sistemas de convivência
fundados numa emoção que não seja o amor não são sistemas sociais.
Sistemas de trabalho – são sistemas de convivência constituídos sob a emoção do compromisso, que é a
emoção que constitui o espaço de ações de aceitação condicionada à realização de uma tarefa. Assim
sendo, os sistemas de relações de trabalho não são sistemas sociais.
Sistemas hierárquicos ou de poder - são sistemas de convivência constituídos sob a emoção que configura
as ações de autonegação e negação do outro na aceitação da submissão própria ou da do outro, numa
dinâmica de ordem e obediência. Assim sendo, os sistemas hierárquicos não são sistemas sociais.
9
Essa afirmação de que a família existe no âmbito biológico refere-se à existência dos membros da família
como seres vivos individuais, o que não deve ser confundido com relações de consangüinidade.
10
Ver os textos “O profissional novo-paradigmático, sua prática, sua ética” e “Valores: questões para a
reflexão do profissional novo-paradigmático”, neste Tomo I do Vol. II desta obra.
7
É importante ressaltar que, mesmo que possamos distinguir outros sistemas de convivência,
fundados em outras emoções, “cada um deles constitui uma rede particular de conversações que
configura um modo particular de emocionar, a partir de uma emoção definidora básica” (p. 177).
Um observador pode distinguir diferentes tipos de conversações, com distintas configurações de
coordenações de condutas ocorrendo sob diferentes estados emocionais.
Conversações que geram harmonia social, bem-estar, prazer de conviver, configuram-se no
âmbito da “aceitação mútua, sem questionamentos, que é a condição biológica constitutiva da
coexistência, na qual as contradições emocionais são eventos transitórios, não um modo de vida”
(Méndez; Coddou; Maturana, 1998/1988, p. 156). Esse modo de conviver, na aceitação
incondicional do outro, requer abandonar a visão objetivista do mundo e se constitui como uma
implicação da “objetividade entre parênteses”: todas as formas de se comportar são igualmente
legítimas, embora nem todas sejam igualmente desejáveis. Aceitar genuinamente o outro nas
diferenças pode fazer com que os membros da família preservem a paixão por viver juntos,
rejeitando críticas a qualquer dos seus, vindas de quem não faz parte dessa rede de conversações.
Entretanto há também outros tipos de conversações, tais como, aquelas que antecipam
comportamentos futuros, trazendo à tona outros domínios emocionais. Dentre essas, destacam-se as
conversações de caracterização e as conversações de acusação e recriminação injustificadas (Méndez;
Coddou; Maturana, 1998/1988).
As conversações de caracterização decorrem de expectativas sobre as condutas dos
participantes do sistema, correspondendo às definições consensuais (implícitas ou explícitas) sobre
“como o outro é” e, portanto, sobre “o que se pode esperar dele”.
Já as “conversações de acusação e recriminação injustificadas representam protestos por não
se cumprirem condutas esperadas em circunstâncias em que não existiu acordo prévio sobre elas”
(p.160), correspondendo a cobranças sobre “o que o outro deveria ter feito” ou sobre “o que o
outro não deveria ter feito”.
Tanto as conversações de caracterização quanto as conversações de acusação e recriminação
mútuas contêm afirmações de qualidades ou defeitos permanentes do outro, embasadas no
pressuposto de uma realidade independente do observador (objetividade sem parênteses). Esses
padrões de conversação, contendo uma contradição emocional – de acusar em vez de aceitar o outro
– podem se tornar recorrentes, causar infelicidade e sofrimento, sendo a desarmonia social atribuída
ao comportamento inadequado de um de seus membros.
Então, voltando à concepção de família como um domínio em que as interações se dão na
paixão de viver juntos, uma família existe e se realiza no linguajar e emocionar de seus membros,
como um caso particular dessa configuração de conversações recorrentes, que a definem como
membro dessa classe de sistemas, ou seja, como um sistema social, cujos participantes vivem a
aceitação incondicional do outro, legitimando-o na convivência. As condutas de seus membros, ou
seja, as interações entre eles – que constituem suas conversações recorrentes – realizam essa
organização de sistema familiar, distinguida pelo observador.
No domínio humano, a configuração de relações e interações entre os componentes de um
grupo, que o realizam como sistema de uma dada classe, constitui a organização11 desse sistema. A
11
Em Maturana, as noções de organização e estrutura têm definições bem específicas e bem diferentes de outros
sentidos em que esses termos costumam ser usados. A organização é a configuração de relações entre os
componentes do sistema, a qual, ao ser distinguida pelo observador, define a identidade do sistema, ou seja,
define-o como sistema de determinada classe. A estrutura é a configuração de relações concretas que
caracteriza aquele sistema como um caso particular daquela classe, com aquela identidade ou organização. A
estrutura do sistema pode alterar-se sem que se perca a organização distinguida pelo observador.
8
organização do sistema familiar, ou seja, a configuração de interações que o realizam, seria uma rede
de conversações em que as coordenações de ações aconteceriam sem contradições emocionais,
vivendo seus membros na objetividade entre parênteses, sem conversações de caracterização,
acusação e recriminação.
Com essa concepção de sistema familiar, um observador pode distinguir uma família quando
distingue uma rede de conversações que se desenvolvem sob uma paixão de viver juntos, em
harmonia, de forma prazerosa.
Quando mudanças nos membros dessa família e em suas interações – mudanças na estrutura
do sistema – são tais que já não permitem participar na geração dessas conversações, elas se
interrompem ou deixam de ser recorrentes e, perdendo-se a paixão de viver juntos, desaparecendo
essa configuração de conversações, a família se desintegra como família dessa classe, ou seja, deixa
de realizar a organização distinguida pelo observador.
Por outro lado, o observador pode distinguir, num grupo que se apresenta a si próprio como
uma família, uma rede de conversações de caracterizações, acusações e recriminações, sendo essa a
organização dessa família. Como “essa organização tanto realiza como gera uma contradição
existencial”, essa é uma condição de sofrimento e infelicidade que pode levar o sistema a solicitar a
ajuda de um profissional (Méndez; Coddou; Maturana, 1998/1988, p 163).
Sendo solicitada a ajuda de um profissional novo-paradigmático, ele distinguirá a possibilidade
de resgatar uma convivência harmoniosa, já que ainda existe a paixão de viver juntos, que é
exatamente o que está implícito no pedido de ajuda.
Esse profissional acredita genuinamente que o viver humano se dá em conversações:
conversando fazermos emergir problemas; conversando, podemos dissolver problemas. Portanto,
participando nessa rede de conversações, o profissional, utilizando habilmente a linguagem, poderá
ajudar a gerar outras conversações que provoquem mudanças estruturais tais que desintegrem esse
sistema caracterizado pela condição de sofrimento, de infelicidade. O fato de os membros da família
passarem de uma postura objetivista para uma postura de “objetividade entre parênteses” criará as
condições para se restabelecer uma convivência harmoniosa, antes que eles percam a paixão por
viver juntos.
3. Sistema mais amplo do que a família, na perspectiva sistêmica de 1ª ordem
Assim como a família, o sistema amplo ou mais amplo que a família, foi definido, segundo a
visão sistêmica prevalente em cada momento. Desde o início do movimento da Terapia de Família,
terapeutas de família, como Bowen (1989/1978), Boszormenyi Nagy; Sparks (1983/1973) se
interessaram em pensar a sociedade como um sistema e em descrever os fenômenos sociais –
referentes a âmbitos além das famílias – segundo uma visão sistêmica. No entanto, poucos se
aventuraram a abordar na prática esses sistemas sociais, que depois vieram a ser chamados de
“sistemas amplos” ou de “sistemas mais amplos que a família” (SMAF).
Um dos primeiros grupos que desenvolveu esse tipo de trabalho foi umas das equipes
coordenadas por Selvini-Palazzoli, composta por seus alunos formados num curso sobre “teoria
geral dos sistemas e práticas da comunicação humana”, ministrado no ano acadêmico de 1971-1972,
na Escola de Especialização em Psicologia da Universidade Católica de Milão (Selvini-Palazzoli et al,
1985/1976). Tinham o objetivo de verificar se “os instrumentos oferecidos pelos modelos
conceituais (…) para induzir mudanças no microssistema da família" também podiam ser de
utilidade para a intervenção em sistemas mais amplos. Escolheram a escola para realizar “um
primeiro experimento” (p.13).
Esses autores não utilizaram ainda o termo sistemas amplos, mas propuseram definir “a
comunidade escolar como um sistema”. Para isso, basearam-se na definição clássica de sistema, de
9
Hall e Fagen (apud Watzlawick et al (1993/1967, p. 109): “um sistema é um conjunto de objetos e de
relações entre os objetos e entre seus atributos, (...) no qual os objetos são os componentes ou partes
do sistema; os atributos são as propriedades dos objetos; e as relações mantêm unido o sistema”.
Selvini-Palazzoli et al (1985/1976) acrescentaram a essa concepção a noção de que só se
constituem como sistemas “grupos com história”, isto é, grupos cujos membros evoluíram juntos e
compartilharam certos objetivos comuns, durante um período de tempo suficientemente prolongado
para se constituírem “como unidades funcionais regidas por normas próprias" – regras especiais,
válidas só para seus membros.
Com base nessa concepção de sistema, esses autores propõem a seguinte definição da escola
como um sistema: “em sua acepção de complexo escolar submetido a uma administração unitária, (a
escola) constitui um amplo sistema dentro do qual podem-se identificar muitos subsistemas que se
entrecruzam e comunicam entre si e, em relação com os quais a escola constitui o ambiente”
(1985/1976, p. 63).
Essa é uma definição reificada de sistema amplo, pois o define como uma entidade concreta,
objetiva – “uma escola”. A família também foi, inicialmente, definida como um sistema reificado, o
que não impediu que fosse atendida em conjunto, mantendo sua unidade. Porém o mesmo não
aconteceu, quando se pretendeu desenvolver uma intervenção nos sistemas amplos. Devido à sua
amplitude, torna-se impossível atender o sistema amplo em conjunto, mantendo sua unidade –
todos seus elementos juntos, ao mesmo tempo, como se pôde fazer com a família. Isso traz para o
profissional o problema de dividir o sistema amplo em subunidades, sem perder sua complexidade.
A estratégia utilizada pela equipe coordenada por Selvini-Palazzoli para realizar uma
intervenção sistêmica na escola foi dividi-la em subsistemas para que cada um deles pudesse ser
atendido como uma unidade. Os autores se propuseram a identificar os subsistemas que melhor
representassem a escola como um todo12 e identificaram como mais representativo o subsistema
“classe", seguido imediatamente pelo "corpo docente (reitor + educadores)” (p. 63).
Se cada um desses subsistemas foi atendido separadamente, entendemos que os profissionais
viram a escola como um sistema amplo, mas no momento da ação prática perderam a complexidade
do sistema, um problema que permaneceu sem solução por muito tempo. Como se verá a seguir,
mesmo autores que questionam a reificação do sistema amplo e tentam uma abordagem a partir de
uma perspectiva construtivista, compreendem o sistema amplo em sua complexidade, mas, ao atuar,
fracionam o sistema. Evitar esse problema requer a definição do sistema amplo como um "sistema
determinado pelo problema", conceito que será desenvolvido mais adiante.
Em um levantamento bibliográfico sobre intervenções em “sistemas mais amplos que a família”
(SMAF), realizadas nos anos seguintes à pesquisa descrita acima, Imber-Black (1995/1991) classifica
em duas categorias os artigos encontrados. Com base nessa classificação, identificamos duas
concepções de SMAF:
(1) sistema específico, predefinido como tal – qualquer “organização social” ou instituição, que não
a família. Por exemplo, a escola, tal como foi considerada por Selvini-Palazzoli, na
pesquisa/intervenção acima citada;
(2) sistema constituído de uma família e um ou mais serviços profissionais com os quais ela se
relaciona. Por exemplo: uma família multiproblemática e os serviços profissionais; uma família e
o sistema de atenção médica; uma família e o médico que a encaminha; uma família e o hospital
psiquiátrico; uma família e a escola.
12
Segundo suas palavras, os subsistemas que apresentassem “características de maior estabilidade temporal e
de redundância” em relação à escola como um todo (p.63).
10
Em ambas as concepções, o SMAF é considerado como uma realidade objetiva, sugerindo uma
visão reificada do sistema. Apesar disso, Imber-Black destaca a importância de se considerar e
abordar o contexto social mais amplo do que a família, ressaltando que, desconsiderar os SMAFs – a
relação família e serviços que a atendem – "faz com que, às vezes, esses sistemas mais amplos
perpetuem os próprios problemas que deveriam resolver” (p. 36).
Assim como Imber-Black, Fruggeri e Matteini (1991/1988) também identificaram dois tipos
de sistemas tradicionalmente definidos como sistemas amplos:
(1) “aqueles sistemas interativos que podem ser denominados de organizações sociais diferentes da
família (por exemplo: o serviço de saúde, uma instituição acadêmica etc.)”;
(2) e, mais freqüentemente, “sistemas interativos que crescem em torno de uma família entrelaçada
por relações com diversas instituições externas com o propósito de ‘receber ajuda’ na solução
de seus problemas” (p. 33).
Note-se que esses dois tipos de sistemas amplos correspondem aos descritos por Imber-Black.
Porém Fruggeri e Matteini se interessam em definir também as bases epistemológicas em que se
baseiam as definições e a forma de abordagem dos sistemas amplos. Ressaltam que os sistemas
amplos podem ser definidos ou segundo uma “perspectiva reificante” ou segundo uma “matriz
construtivista” e que há uma diferença significativa entre as definições, segundo uma ou outra
perspectiva.
Então, consideram explicitamente a primeira modalidade de descrição dos sistemas amplos –
"sistemas interativos que podem ser denominados de organizações sociais diferentes da família" – ,
como típica de uma “perspectiva reificante”, uma vez que o sistema é considerado um objeto, isto é,
é visto como “uma coleção de elementos interativos dentro de fronteiras que o separam do
ambiente e que são concretas, tal como o próprio sistema” (p. 34). Entretanto, segundo nossa
concepção, qualquer das duas formas – identificadas por esses autores – de descrever os sistemas
amplos, independentemente de seu tamanho e de sua composição, pode se dar dentro de uma
“perspectiva reificante”, correspondente à Cibernética de 1a Ordem.
Considerando que o mundo não se apresenta dividido em sistemas amplos, sistemas,
subsistemas, ambiente etc, mas que um sistema específico existe apenas a partir da operação de
distinção pelo observador, Fruggeri e Matteini propõem a “perspectiva construtivista” para
fundamentar a descrição dos sistemas amplos: “o sistema não é um dado, mas sim uma forma de
organizar os dados que o observador decide tomar como elementos do sistema”, o que implica que a
relação do observador com o sistema observado é parte constitutiva do sistema amplo.
Consideramos que essa definição corresponde a uma perspectiva da Cibernética de 2a Ordem.
Além disto, questionam o uso do termo “sistema amplo”, por corresponder a “qualquer
coisa além da família” e, então, manter a mesma característica de reificação que acompanha o uso do
termo subsistema para se referir a “qualquer coisa menor que o sistema familiar” – indivíduo, casal
etc. Com base nessa argumentação, os autores propõem que, assumindo-se uma perspectiva
epistemológica construtivista, se substitua o termo “sistema amplo” pelo termo “sistema complexo”.
Concordamos com a preocupação dos autores quanto à tentativa de encontrar uma definição não
reificante para os sistemas amplos, mas não consideramos que a mudança de rótulo seja suficiente
para evitar a reificação.
Quanto à abordagem prática dos "sistemas complexos" segundo uma “perspectiva
construtivista”, os autores descrevem uma consultoria dada a uma psicóloga e a uma assistente
social, membros de um "sistema complexo", constituído conforme a definição dos próprios autores,
como “sistemas interativos que crescem em torno de uma família entrelaçada por relações com
diversas instituições externas com o propósito de ‘receber ajuda’ na solução de seus problemas”.
Apesar da interessante forma de conduzir a consultoria com o emprego de perguntas reflexivas,
evitando-se interações instrutivas, de se considerar as relações entre a família e as instituições
11
externas, e dos resultados alcançados, a atuação descrita ainda continua sendo fracionada. Cada parte
do sistema é atendida por sua vez: o consultor atende às técnicas demandantes; estas atendem ora ao
casal, ora à família toda, ora introduzindo uma freira do orfanato onde a mãe viveu até os 18 anos;
as técnicas atendem também o juizado em sua relação com a família.
Embora cada um desses atendimentos seja feito segundo uma posição construtivista, que
inclui uma atitude auto-reflexiva e considera o significado e os efeitos recursivos do atendimento,
segue-se propondo pensar o “sistema complexo”, mas sua atuação em partes fracionadas do sistema
mantém a concepção de que ele existe objetivamente. Assim, apesar da substituição dos termos, a
prática se dá a partir de uma visão fracionada do sistema. Concluímos, portanto, que a definição do
sistema amplo segundo essa "perspectiva construtivista" não é suficiente para resolver o problema
proposto anteriormente, o de atender o sistema – amplo ou "complexo" – mantendo sua
complexidade. A nosso ver, a solução para esse problema requer um salto qualitativo na concepção
de sistema: requer concebê-lo como um "sistema determinado por um problema". Porém, antes de
abordar essa nova concepção, vamos tratar das redes sociais como sistemas.
Paralelamente ao desenvolvimento da noção de sistemas amplos ou de sistemas mais amplos
que a família, mas talvez com menos visibilidade, foi desenvolvida a noção de rede social, outra
tentativa de superar a reificação. Consideramos a rede social como um sistema amplo. Como a
metáfora de rede não inclui limites definidos, a definição da rede social como um sistema poderia
torná-la menos propícia à reificação.
Uma brilhante exceção à concepção reificante de sistema amplo foi desenvolvida nas décadas
de 60 e 70, no Leste dos Estados Unidos, por Auerswald (1976/1968). Nessa época, o autor propôs
que se abordasse o serviço (a política) de assistência médica como um ecossistema, segundo uma
abordagem "ecológica". Ilustra, por meio da descrição de um caso, a diferença que ele faz entre a
atuação tradicional de uma equipe “interdisciplinar”, em que cada profissional é especialista em sua
área, e a atuação de uma equipe interdisciplinar segundo a “abordagem ecológica", em que todos os
profissionais têm uma visão sistêmica.
Trata-se de um caso em que o profissional responsável, um psiquiatra com visão sistêmica,
colheu informações sobre uma paciente em diferentes ambientes sociais, ampliando sua visão para
além do indivíduo e de sua família.13 Naquele momento, não foi realizado o atendimento da rede
social da paciente em conjunto, mas o autor ressalta a importância, para o atendimento no serviço de
saúde mental, de se considerarem todos os ambientes sociais em que a paciente está envolvida –
igreja, família nuclear, família extensa, polícia, até mesmo o próprio serviço de saúde. Entendemos
que Auerswald concebia, desde aquela época, a política de assistência médica como um sistema
amplo, organizado em rede, e que assim lançava as bases para o atendimento da rede em conjunto.
Pouco tempo depois, trabalhando na Califórnia, Speck e Attneave (1974/1973), reconhecendo a
influência de Auerswald, relatam suas primeiras experiências de atendimento da rede social de
pacientes psiquiátricos e suas famílias. A partir do trabalho em hospitais psiquiátricos, deslocam o
atendimento para a residência do cliente, aproximando-se de sua rede social e valorizando-a, o que
torna possível atender em torno de 40 a 50 pessoas ao mesmo tempo e no mesmo local. Esses
autores salientam que, nesse caso, a rede social é o cliente, o que deixa claro que a concebem como
uma unidade. Para atendê-la, desenvolvem um interessante procedimento de intervenção,
13
Ver no texto “Implicações do pensamento sistêmico em diversos contextos de práticas profissionais”, no
Vol. I desta obra, uma descrição desse caso.
12
constituído de seis etapas.14 Em seu trabalho, adotam a definição de rede social do antropólogo
britânico Barnes, a qual pode ser vista como uma definição não reificada:
Cada pessoa está, por assim dizer, em contato com certo número de pessoas, algumas das quais estão em
contato direto entre si e outras não (...) Creio ser conveniente denominar de rede a um campo social
deste tipo. A imagem que tenho é a de uma rede de pontos, dos quais alguns estão unidos por
segmentos de retas. As pessoas, ou às vezes os grupos, seriam os pontos desta imagem e os segmentos
de reta indicariam que interatuam entre si (BARNES, 1954, apud SPECK; ATTNEAVE, 1973, p.19).
Ao adotarem essa definição, que não inclui fronteiras para a rede social, esses autores trouxeram
a possibilidade de se trabalhar com sistemas amplos não reificados. E, de fato, eles o fizeram ao
atender a rede de seus pacientes e suas famílias. Entretanto, ao tentarem utilizar o mesmo
procedimento para atender associações profissionais e outras instituições, tendem novamente a
reificar o sistema. Descrevem o atendimento de uma associação, utilizando o mesmo procedimento
desenvolvido com as redes sociais das famílias, porém sem incluir no atendimento a rede social da
associação (por exemplo, a sua matriz) nem a rede social dos associados.
É curioso notar que, ao ampliar sua concepção teórica da rede social de um indivíduo ou de
uma família para um “sistema amplo”, no caso uma associação, os autores deixaram de considerar o
aspecto não reificado da rede. Ficaram presos a uma pré-definição da associação e perderam a
possibilidade de trabalhar com um sistema não reificado.
4. Sistema determinado pelo problema – perspectiva sistêmica novo-paradigmática
No final da década de 1980 e durante a de 1990, vários autores retomam o trabalho com as
redes sociais, desenvolvendo-o em seus respectivos países, principalmente no atendimento a famílias
multi-problemáticas: na Argentina, Dabas (1993; 1995), Dabas e Najmanovich (1995); na Bélgica e
na França, Elkaim (ELKAIM et al 1987/1989); na Suécia, Klefbeck (s.d./1995/1996); nos Estados
Unidos, Sluzki (1990) e Minuchin (Minuchin et al (1999/1998).
Dentre eles, de grande importância para nosso trabalho foi tomar conhecimento de duas
experiências realizadas na Suécia, relatadas por Klefbeck (1995; 1996). Em uma delas, Klefbeck, um
psiquiatra, retoma o processo de atendimento da rede social de pacientes com sofrimento mental, tal
como descrito por Speck e Attneave, para atender os pacientes que o procuram em uma unidade de
crise de um hospital geral. Como primeiro passo, ainda na unidade de crise do hospital, com a ajuda
da pessoa demandante da consulta, ele monta um mapa da rede social. Daí em diante, desenvolve o
atendimento da rede identificada na casa da família do demandante ou em local próximo a essa.
Numa outra experiência relatada, ele amplia ainda mais a rede a ser atendida: num programa de
mobilização da rede social de famílias previamente definidas como incapacitadas para cuidar de seus
filhos – desenvolvido por uma equipe de saúde, da qual Klefbeck é membro, na comunidade de
Botkyrka, na periferia de Estocolmo – com o atendimento da rede busca-se evitar a retirada das
crianças de suas famílias e o rompimento de seus vínculos afetivos.
O contato com essas experiências de Klefbeck se deu em 1995, num workshop do qual nós
três - autoras deste livro - participamos. Exatamente naquele ano, uma de nós estava finalizando
uma pesquisa-ação e redigindo seu relato, parte de sua dissertação de mestrado sobre a política de
assistência à pessoa com deficiência, em Belo Horizonte (Aun, 1996)15, e considerou que o conceito
14
Esse procedimento encontra-se descrito de forma detalhada no Vol. III desta obra, no texto
“Coordenando os Encontros Conversacionais do ‘Sistema Determinado pelo Problema’, a partir da
concepção teórica do ‘processo da rede’”.
15
A pesquisa-ação relatada na dissertação de Aun (1996) está resumidamente apresentada no texto “O processo de
atendimento sistêmico: passos para sua realização”, no Vol. II, Tomo I desta obra.
13
de rede social seria útil para descrever os sistemas com os quais tinha trabalhado e que tinham sido
constituídos a partir da noção de "sistema determinado pelo problema" de Goolishian e Winderman
(1989/1988). Percebeu também que a forma de Klefbeck coordenar a assembléia de rede – no
atendimento da rede de uma família simulada – poderia ser utilizada na coordenação de grandes
assembléias em políticas sociais que pretendiam ser participativas. Desde então, associando esses
dois conjuntos de noções – redes sociais e sistema determinado pelo problema – temos trabalhado
com grandes sistemas, mantendo sua complexidade.
A contribuição teórica de Goolishian e Winderman trouxe uma diferença significativa para
nossas práticas sistêmicas. Goolishian e Winderman (1989/1988) propõem um conjunto de noções
coerentes com os três pressupostos do pensamento sistêmico novo-paradigmático – complexidade,
instabilidade e intersubjetividade – conforme o quadro de referência organizado por Esteves de
Vasconcellos (1992; 1995; 2002). As noções propostas por esses autores propiciam uma alternativa
de solução ao problema que vem sendo colocado: como dividir o sistema amplo para atendê-lo, sem
perder sua complexidade.
Referindo-se ao processo de terapia, Goolishian e Winderman (1988/1989) definem o
sistema terapêutico – assim como qualquer sistema social – como um sistema lingüístico, o que lhes
permite prescindir de definições diferentes para sistema familiar, sistema amplo, sistema mais amplo
que a família. Segundo esses autores, é a
estrutura da ecologia de significados que determina quem faz o que a quem, nos sistemas humanos.
O sistema interacional relevante para qualquer problema em estudo está determinado na linguagem,
não na estrutura social ou no papel. A dinâmica organizacional destes sistemas de significados, que
existe na linguagem, determina os diversos comportamentos e problemas pelos quais a consulta
terapêutica é demandada. E isto é assim, desde o momento em que trabalhamos com indivíduos que
tem problemas consigo mesmos, ou também com vários indivíduos que consultam em função de um
problema (p.22).
É importante ressaltar que Goolishian e Winderman estão concebendo os sistemas sociais
humanos como "sistemas lingüísticos". A nosso ver, isso corresponde à concepção da família e de
outros sistemas sociais como sistemas cuja organização é distinguida como uma "rede de
conversações", conforme proposto por Méndez, Coddou e Maturana (1998/1988).
Com o objetivo de uma abordagem terapêutica, Goolishian e Winderman pretendem
ultrapassar os “sistemas predeterminados a partir de definições sociais tradicionais consensuais” e,
assim, abandonar os modelos de tratamento tradicionalmente "definidos por conceitos tais como
individual, conjugal, familiar e outros sistemas sociais mais amplos” (p. 23). Propõem, então, a noção
de Sistema Determinado pelo Problema – SDP, para o sistema a tratar, com o que, ultrapassando as
relações de “consangüinidade e os limites organizacionais e legais”, evitam a perspectiva reificante e
mantém a complexidade do sistema abordado.
O SDP é definido “a partir daqueles que estão ativamente comprometidos em uma interação
lingüística (…), enfrentando um problema, ou estando em posição antagônica” (p.23). Assim,
podemos afirmar que o SDP se constitui de todos aqueles que estão envolvidos na definição da
situação como um problema, inclusive o profissional ou a equipe de atendimento. Isso significa que
o SDP constitui-se de uma variedade de pessoas em posições diferentes com relação à sitiuaçãoproblema, que, quando participam de uma conversação em conjunto, enriquecem-na e contribuem
com diferentes pontos de vista. Como se vê, a definição do sistema a partir da situação-problema
considera a complexidade do sistema.
Como se trata de um sistema lingüístico composto pela interseção dos campos de
experiências subjetivas de seus diversos participantes, ele está em constante evolução; podem
ocorrer mudanças no número e tipo de atores que o compõem, segundo evolui também a definição
da situação-problema em torno da qual se constitui o sistema, ao longo do processo de Atendimento
14
Sistêmico. Como se vê, essa definição permite que o profissional acompanhe a instabilidade do
sistema.
Por sua vez, a situação-problema é definida como uma “experiência em comum de
desacordo sobre um fenômeno condutual percebido” pelos diversos participantes que compõem o
SDP. Note-se a coerência com a dimensão da intersubjetividade: a situação-problema é coconstruída
ao longo de todo o processo. Enquanto percebida como tal, a situação-problema mantém os atores
unidos na conversação e quando considerada como não mais existindo como situação-problema,
dissolve-se o SDP, acompanhando o ritmo de evolução do sistema.16
Goolishian e Winderman se preocupam em definir o SDP “independentemente de qualquer
convenção social a priori, limite ou agrupamento de indivíduos (por exemplo: família nuclear, família
extensa, comunidade, associação etc.)” (p. 23). Ao contrário, sua definição depende do observador,
ou melhor, dos observadores – profissionais ou equipe de atendimento, clientes e todos os outros
atores sociais que compartilham o problema. Como se pode ver, esse conceito evita a reificação do
sistema e é coerente com a "perspectiva construtivista" proposta por Fruggeri e Matteini para se
definirem os sistemas amplos, a qual corresponde à dimensão da intersubjetividade, que, junto com as
dimensões da complexidade e da instabilidade, constitui o quadro de referência de Esteves de
Vasconcellos.
Enfim, devemos responder à pergunta proposta: como atender os sistemas amplos
mantendo sua complexidade?
Usaremos um exemplo fictício de uma "intervenção" em uma escola. A direção, os
professores e vários pais de alunos de uma escola do segundo grau queixavam-se de indisciplina dos
jovens. Os profissionais responsáveis pelo Atendimento Sistêmico, juntamente com a escola e
alguns pais, definiram de forma positiva17 a situação-problema como "elaboração de regras de
conduta para a escola e para a família". A partir desta situação-problema, definiram o SDP como
constituído pelos pais, os alunos, a direção da escola, os professores, os funcionários
administrativos, o que cria um sistema muito amplo. Em vez de atender a cada "subsistema",
perdendo a complexidade do sistema amplo, os profissionais, juntamente com alguns membros da
escola, dividiram o sistema em vários SDPs pequenos, a partir das classes de alunos. Assim, foram
constituídos vários SDPs como o seguinte: os alunos de uma classe, seus pais, seus professores, um
ou dois membros da diretoria da escola, os funcionários administrativos diretamente envolvidos
com aquela classe. Cada um destes pequenos SDPs foi atendido em um certo número de Encontros
Conversacionais. Em cada um dos pequenos SDPs, foi mantida a complexidade correspondente à
do SDP completo. No texto "O processo de atendimento sistêmico: passos para sua realização",
neste Vol.I, Tomo I, encontra-se uma descrição detalhada desse procedimento de divisão do sistema
amplo em sistemas menores do que o original, mantendo sua complexidade.
Na EquipSIS, temos integrado a noção de Sistema Determinado pelo Problema à noção de rede
social, constituindo o sistema a abordar ou rede em torno de uma situação-problema.
Trabalhando no contexto de Atendimento Sistêmico, temos adotado essa concepção de Sistema
Determinado pelo Problema – SDP. Ao longo do tempo, sistematizamos nossas práticas, integrando
16
Ver o texto “Uma nova identidade para o profissional que lida com as relações humanas”, no Vol. I, Tomo
I.
17
Os termos "definir de forma positiva o problema" ou "definir positivamente o problema" não devem ser
confundidos com as noções de "redefinição do sintoma" ou "positivação do sintoma", apresentadas no texto
"Paradoxo e intervenções para a mudança", no Vol. II, Tomo II. O texto "O processo de atendimento:
passos para sua realização", neste Vol. II, Tomo I, explica o que significa "definir de forma positiva o
problema".
15
a noção de SDP à de “atendimento sistêmico”, tal qual o temos definido.18 Assim, criamos A
Metodologia de Atendimento Sistêmico, que distinguimos como coerente com os três pressupostos
do novo paradigma da ciência – complexidade, instabilidade, intersubjetividade –, o que viabiliza
práticas sistêmicas novo-paradigmáticas.
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18
Ver definição de “Atendimento Sistêmico”, no texto “Psicoterapia / Terapia de Família / Atendimento
Sistêmico à Família: Propondo uma Diferenciação”, no Vol. I. desta obra.
16
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