UMA VIDA EM COMPASSOS O sol madrugador e reconfortante entrava na sala. A janela entreaberta deixava entrar uma brisa tão leve como uma carícia primaveril. O soalho de madeira, velho e cansado, parecia rejuvenescido com aquela luz abençoada. A manta cobria-lhe as pernas mortas, o olhar estava vazio. O cabelo grisalho, enfraquecido e tristonho, estava preso à pressa com uma mola barata. A pele, que recebera também ela sol de outras primaveras, era rugosa e baça, e nela escorria á pressa uma lágrima carregada de tantas emoções quanto uma lágrima pode suportar. “- Dona Amélia, já está acordada? Trago aqui o seu pequeno-almoço. Que lindo dia que está hoje! Óptimo para um passeio no jardim, não acha?” – Disse Joana, a funcionária do lar de idosos. “– Vá, deixe-se lá de preguiças! Não queremos aqui meninas preguiçosas.” Amélia limpou rapidamente a lágrima que deixara escapar dos seus lindos olhos verdes. Ai…tanta coisa tinham estes olhos visto e por tanto tinham chorado. Já sem saber todas as estradas por que tinha andado, lembrava-se perfeitamente onde tinha caído e sabia que as marcas ficariam até dar o seu último fôlego. “- Está a ouvir-me? Toca a levantar! Vá, vamos lá arranjar esse cabelo. Olhe, acho que vai gostar da surpresa de hoje à tarde.” Com a voz encoberta pela rouquidão matinal disse: “- Sabe que eu não gosto muito de surpresas. Já não tenho idade para coisas de garotas.” “- Pronto, vá, digo-lhe só que sim, é uma menina que cá vem visitá-la. Chama-se Maria, tem dezassete anos e vem cá para fazer voluntariado. Acho que vai gostar muito dela. Vem ler-lhe uns textos e tocar-lhe piano que eu sei que adora.” Amélia não fez caso. Estava noutra parte da sua vida. Na parte em que fora feliz, ao lado do seu grande amor. De repente, sentiu o cheiro a incenso e especiarias e o seu corpo tinha roupas novas, frescas e brancas. Vinte e cinco anos. Mas que idade tão bonita de se ter. O fim da linha está tão distante e a vida parece que nunca acaba. As cores são mais brilhantes, os cheiros mais intensos e o Sol parece que nasce apenas para nos iluminar. Os pássaros parecem cantar para nós, as flores desabrocham à nossa passagem, e o amor é o sentimento que motiva as nossas acções. “- Amélie! Amélie! Mon amour? Vem cá ver isto! Incroyable!” – disse com um sotaque afrancesado, misturado com um charme tipicamente espanhol. Jaques era um francês de descendência espanhola e portuguesa. Era um homem moderno para a altura. Gostava de viagens, pintura, escultura, mas principalmente piano…Tocava piano como ninguém. Os seus dedos e as teclas eram um só, a melodia saí-lhe do corpo e apaixonava todos à sua volta. Era como se o seu espírito voasse pela sala e desse um sopro na nossa espinha, arrepiando todo o nosso ser. E é claro, foi assim que Amélia se apaixonou por ele. Numa sala cheia, ele era a única pessoa que ela via, ouvia e sentia. O cabelo negro a toldar-se-lhe pela face a tentar esconder os olhos cor de mel. O seu corpo ondulava ao som da música e ela voava e dançava e suspirava…Depois da festa encontraram-se no grande salão. Trocaram um breve “Boa noite.”, mas disseram mais com o olhar do que um milhão de frases poderia ter dito. No dia seguinte, Amélia viu a sua caixa de correio e encontrou a carta de mudou o rumo da sua vida. “Renasci na noite do concerto. Como é que Deus conseguiu juntar no mesmo instante duas coisas que me fizeram tão bem. A senhora e a melodia mágica de Chopin? De qualquer das formas lhe agradeço por ter feito uma alma perdida renascer. Cumprimentos, A Amélia sabe quem.” Nunca a vida de Amélie (como ele lhe chamava) tinha sido tão boa. Andava sempre em viagem com Jaques. Ela participava em acções humanitárias como médica de campanha, ele tocava piano nas maiores salas de concerto do mundo À noite juntavam-se e contavam como cada um tinha feito uma alma voar, é claro, de formas bastante diferentes. Agora estavam na Índia à procura de mais aventura e descoberta. Amélia ia participar numa acção humanitária com crianças indianas abandonadas, ele ia tocar para o príncipe. “- Mas que dia tão cansativo…Estava mesmo a precisar de um bom caldo verde…Aqui só sabem fazer coisas picantes! Se alguém tocasse para mim sentir-me-ia muito melhor…” – Disse ela recostada na sua almofada, com um olhar encantadoramente sedutor para Jaques. Era impossível recusar um pedido destes. “ – Mon amour…Não tenho piano aqui...Como queres que toque?” “-Finge que tocas, e cantas ao mesmo tempo. Vá, anda lá…” Ele riu-se e disse – “Aí, é assim que queres? Depois não digas que canto mal.” Sentou-se e colocou as mãos em cima de um piano imaginário e trauteou uma música de Tchaikovsky. Lago dos cisnes…o seu preferido. “Oh Dona Amélia?! Está a ouvir-me? Chegou a menina de que eu lhe falei! Estava a chama-la há imenso tempo. A Maria está muito entusiasmada por conhecê-la. Podes entrar, querida” – Disse Joana. Amélia tinha voltado à realidade. Estava de novo naquela maldita cadeira de rodas, com as pernas mortas cobertas por aquela maldita manta gasta, velha e cansada. “Mande lá entrar a menina. Mas diga-lhe que eu hoje estou muito cansada e não quero cá reboliços no meu quarto. Já bem bastam vocês com essa energia toda que me faz confusão.” “Bom dia…Posso entrar? Chamo-me Maria e venho ler para a senhora. Espero que goste. É para um trabalho da escola, mas quero que saiba que já há muito tempo que queria vir ajudar os mais velhos a sentirem-se melhor. É um prazer conhecê-la” “Aí, rapariga! Falas demais! Vá entra lá...” – Na verdade Amélia até tinha gostado de Maria. Era linda… cabelo ondulado, muito comprido e ruivo como o fogo. Tinha sardas na face e os seus olhos cor de avelã faziam lembrar os de Jaques. Ela só não tinha sido mais simpática porque tinha sido obrigada a acordar daquelas memórias tão felizes. “-Trago aqui um texto que eu fiz que acho que vai gostar. Se quiser, posso ler-lhe…” – disse ela um pouco a medo. “-Claro…vieste cá para isso…” – respondeu Amélia virada para a grande janela que tinha no seu quarto. “-Bom…começa assim: Basta um toque, um momento, um segundo. Basta um toque para te sentir aqui. Não precisas de dizer nada, agora sei que estás comigo. Agora, sempre. O toque da tua mão na minha faz com que a tua energia passe para mim. Sinto a tua alma, vejo os teus desejos, amores e desilusões, tudo e nada… Agora sei que estás aqui…Nada temas…Podes ter a certeza que eu também estou aqui, agora e sempre. Nada temas…Vamos estar sempre aqui, a tua mão com a minha, sempre unidas, em toque permanente…mesmo sem se tocarem…” – Maria levantou o olhar do papel e olhou para Amélia, quase que à espera de aprovação. “-Gostou…?”. Amélia, ainda virada para a janela perguntou: “- Sabes tocar piano, querida?” – perguntou. “-Mas é claro que sei! Adoraria tocar-lhe uma peça nova que estou a aprender. Sabe, já toco piano há muito tempo. Faz-me sentir tão bem…liberta-me.” Maria transportou a cadeira de rodas até à sala de convívio e colocou Amélia bem pertinho do piano. O movimento que fez para se preparar era como que uma cópia do de Jaques. Sentou-se, fechou os olhos por um momento, pousou levemente as mãos sobre as teclas e começou a tocar uma peça de Tchaikovsky…Amélia nem queria acreditar. Começou imediatamente a chorar, as lágrimas correndo ao ritmo da melodia. Maria parou imediatamente. “-Está bem?! Desculpe! Não gosta, é isso? Lamento imenso! Eu não queria que ficasse triste!” Amélia viajou outra vez no tempo, mas desta vez para o sítio onde metade do seu coração tinha morrido. Estava em França. O zumbido das bombas e tiros faziam um horrível bailado, onde a Morte convidava sem qualquer vergonha os Homens para dançar. Esta guerra, para além de ser a segunda, tinha sido das mais horríveis onde Amélia já tinha estado. Para além de estar grávida de seis meses, estava sempre à espera de ver entrar o seu amor pela porta sem uma perna, um braço, ou até mesmo…sem vida. Não tinha mãos a medir nem tempo para pensar. Fazia tudo de forma instintiva e rotineira. Ora declarava o óbito, ora tinha de mandar amputar uma perna. Tudo o que ela queria era ajudar. Mas será que o ser o humano tem um espírito assim tão grande? Tão grande que caiba lá dentro todo o sofrimento do mundo mais umas lágrimas? Amélia descobriu que sim no dia em que teve de ver os seus olhos cor de mel partirem…O coração batia muito baixinho, a boca ia ficando branca, o espírito ia lentamente fugindo. “Mon amour…”, e partiu…A música infernal das bombas parecia que tinha sido desliga por aquela dor tão grande que Amélia sentia no seu peito, e apenas voltou a bater quando o hospital de campanha foi atacado pelos alemães. Ainda sem conseguir acordar daquele sonho horrível, mergulhou num pesadelo ainda mais sombrio – lutar pela própria vida e pela pequena chama que transportava na sua barriga. Mas alguém lá em cima (ou de lá em baixo) decidira que este tinha de ser o pior dia da pobre Amélia, e soprou mais uma vez, para apagar mais uma chama…O pequeno Martin partira com o pai… Sem marido, sem filho e sem pernas, foi se arrastando pela vida…Nunca desistiu foi de ajudar quem mais precisava… “-Dona Amélia…? Peço-lhe mais uma vez muitas desculpas…Eu não sei o que fiz…Mas se fiz alguma coisa de que não gostou, eu prometo que não volto a fazer…” – disse Maria pela quinquagésima vez. “ – Pronto, não te preocupes tanto, querida, ela está só muito cansada” – Tentou animar Joana. – “Volta amanhã” – devolveu com um sorriso. E ela voltou, mas desta vez trouxe o seu cão Txicu que tinha encontrado numa caminhada de limpeza das matas ao pé de sua casa. Estava sozinho e cheio de feridas, provavelmente tinha sido atropelado, e teve uma ligação instantânea com Maria (também não era difícil). Explorador e aventureiro, o pequeno rafeiro foi logo cumprimentar todos os idosos que estavam na sala de convívio, mas ao pressentir que Amélia não estava muito bem, deu-lhe uma pequena lambidela na mão.Ela sorriu timidamente e deu uma pequena festa a Txico. “Estava a pensar que hoje poderíamos ir passear…O que acha?” – disse Maria numa nova investida para agradar a Amélia. “Acho uma óptima ideia, querida”. Com o coração a bombear de alegria, Maria pegou na cadeira de rodas de Amélia e empurrou-a entusiasmada. “Vou-lhe mostrar as flores que desabrocharam no jardim! São lindas! Gosta de flores D. Amélia?” “Se gosto? Adoro! Sabes, quando tinha a tua idade costumava ter em casa uma roseira gigante, que dava rosas brancas como a neve. Mas morreu, quando parti…Se calhar sentiu a minha falta…”. “Porque partiu? Fugiu de casa?” “Fugi de casa porque achava que o mundo precisava de mais amor. Então fui à procura desse amor, sem saber bem se o iria encontrar. Por sorte encontrei, mas para lá chegar tive de passar por terríveis provas…Tu gostas de fazer voluntariado, já percebi que sim…” “Adoro! É das coisas que mais me motiva a ser quem sou! Quando me sinto em baixo, penso logo como hei de evitar que outros também se sinta infelizes, logo ajudo como posso. E sem dar quase por isso, fico com as baterias renovadas e a alma lavada de maus momentos. Sem dúvida que não há nada melhor que dar o nosso amor e o nosso tempo a quem mais precisa…Quem me dera ter feito tantas coisas como a senhora fez…”. “Como sabes que eu fiz assim tantas coisas?”. “Vê-se pela forma distinta que tem de olhar. Quando olho para si, parece que vejo todo o mundo. Vejo sabedoria, amizade, amor, mas também muito sofrimento…Porque é que está tão infeliz, D. Amélia? Eu sei que vai dizer que eu sou muito nova para perceber destas coisas, mas eu percebo! A sério que percebo!” Amélia olhava atentamente para Txico. Não parava de brincar com as formigas e com as flores - “Estás a ver o teu cão? Achas que ele pensa no que lhe aconteceu? Disseste-me que ele tinha sido atropelado. Achas mesmo que ele pensa no que passou…? Ele não pensa no passado, querida…Ele pensa no presente…Pensa em como é feliz a teu lado e de como te quer como amiga. E esse é o motivo porque os seres humanos sofrem tanto. Nós pensamos e repensamos no passado e medimos todos os centímetros do presente para nos sentirmos bem no futuro. Não somos espontâneos nem despreocupados com o mundo à nossa volta. Sabemos quando perdemos uma parte de nós e também sabemos que nunca mais a vamos ter de volta…É por isso que somos tão infelizes e miseráveis. Quando somos crianças, nem pensamos bem na nossa história apesar de o nosso livro estar mesmo a começar. Conforme vamos avançando ele vai ficando mais e mais gasto e puído. E se por alguma razão uma página é amachucada, por mais que tentes alisá-la e endireitá-la, ela vai sempre mostrar os vincos de um capítulo menos bom da tua existência.”. “ A minha mãe diz muitas vezes uma coisa quando eu estou muito triste : Lembra-te sempre que a vida é como um piano. Nas teclas brancas conseguimos alegria, nas pretas decadências. Mas ao longo da nossa vida, as teclas pretas também fazem música” . Com isto dito, Maria e Amélia, tão distantes em idades, mas tão próximas em sentimentos, deixaram-se absorver pelos últimos raios do sol de Março. Amélia sentia o cheiro daquelas flores. Aquela doçura amarga da espera constante de partir para junto da única pessoa a que tinha pertencido…Pegou numa caneta e escreveu uma pequena nota para Maria…sabia que estava na hora. Adormeceu e inconscientemente despediu-se do mundo a que tinha dado tanto, mas que tanto lhe tinha tirado. Sentiu o peso dos lençóis e das pernas mortas. Tomou o comprimido para dormir e adormeceu…Adormeceu para sempre…Amélia morrera. “Lamento, Maria…” – disse Joana abraçando-a com força – “Eu sei que vocês se davam bem, mas há uma altura em que nem é o corpo que já não suporta mais este mundo. É a mente. E se essa morre, somos apenas sombras de pessoas, e a D. Amélia já só era sombra do passado. Ela deixou uma coisa para ti.” Maria levantou os seus olhos tristes e chorosos e aceitou o que Joana tinha para lhe dar. Uma carta. “ Para a minha querida e doce amiga, Maria”. Ainda com voz de choro disse : “Como é que ela adivinhou que iria partir? Isto tem a data de ontem?!” “Quando vamos para velhos, sabemos coisas que nem tu nem eu podemos explicar. Apenas sentimos e pronto…Vá, vai para casa, descansa e quando estiveres pronta lê a carta.” A viagem para casa foi das viagens mais estranhas que Maria alguma vez tinha feito. Por um lado sabia que a morte é das incertezas mais certas da vida, o ponto final do nosso Romance, aquilo para que todos caminhamos. Por outro, não sabia porque é que Amélia tivera de partir já. Sentia que tinha tanto para aprender com ela. Chegou a casa e imediatamente Txico sentiu que alguma coisa não estava bem com a sua amiga, não saindo de ao pé dela até ela adormecer. Quando acordou, estava uma neblina estranha para a altura do ano. Os raios de luz que conseguiam chegar ao solo iluminavam o relvado da casa e as rosas ainda fechadas, mostravam gotas de orvalhos nas folhas. Maria acordou, tomou um cacau quente e foi sentar-se na poltrona do pai. Com as pernas debaixo de uma manta velha começou a ler a carta de Amélia. “Porque chora, querida Maria? Não chores! Eu estou bem, acredita! Nunca estive melhor…Estou com o meu amor, a minha outra parte…Eu sei que custa perdermos alguém de quem gostamos, eu que o diga, mas com amizade e amor tudo é possível de ultrapassar. Apesar de não termos passado tanto tempo quanto tu quererias, sinto que te disse tudo o que precisas para construíres uma vida com amor. Como tu disseste, num piano todos nós tocamos nas teclas pretas, e eu, se calhar, foquei-me demasiado nelas, tornando a melodia demasiado pesada…Mas para o final, com a tua energia positiva a meu lado, senti que ganhei o que era preciso para partir em paz. Sem sementes espalhadas pelo mundo, tu és o único ser que está ligado à minha alma envelhecida. Por isso, deixo-te toda a fortuna que tenho amealhado ao longo dos anos. Basta ires ao banco e é tua. É claro que tens de falar muito bem com os teus pais e tens também de lhes prometer que vais usar o dinheiro para coisas boas. A mim não me precisas de prometer e jurar nada, pois eu sei que vais apenas utilizá-lo para algo que tu realmente achas que é correcto. Que tal investires no voluntariado? Deixo isso contigo. Até daqui a muitos, muitos anos, a tua companheira Amélia. Respirou fundo…Nem queria acreditar! Como é que a D. Amélia tinha deixado, assim, toda a sua fortuna para uma rapariga tão nova e que conhecia há tão pouco tempo!? Como é que ela confiava assim tanto nela? Maria decidiu não contar nada aos pais, pelo menos para já… Mas o “para já” prolongou-se em quatro anos…cinco anos…oito anos…Maria tinha vinte e cinco anos. Estava prestes a mudar de casa e de vida. Nunca esquecera aquela carta, mas nunca tinha achado o momento oportuno para pensar nos muitos algarismos da conta de Amélia. Era realmente muito dinheiro. Não sabia o que havia de fazer com ele…Quer dizer…saber, sabia, só não sabia como é que iria começar a fazer o que queria. “Está na hora! É agora ou nunca!”. Foi ao Banco e decidiu doar parte do dinheiro a uma lista de Associações portuguesas que lutavam por diferentes causas: abandono, cancro e outras doenças, pobreza, fome…E com a outra parte decidiu abrir um centro de apoio a idosos onde ninguém era negligenciado. Quer fossem ricos ou pobres, mais ou menos velhos, tinham todo o apoio que precisavam para terem um final de vida saudável e feliz. De presença obrigatória, o piano reinava na sala. Maria, tal como Jaques, tinha um poder especial de soprar a alma até dos menos sensíveis, fazendo-os voar. O piano e ela eram um só. Ela, o piano e Amélia claro, ao lado de Jaques e do seu pequeno Martin. Partira finalmente em paz…O coração estava de novo inteiro, batia como nunca o tinha feito. As pernas, essas, estavam mais vivas e prontas para percorrer o mundo, tal como antes. Agora me pergunto…Como é que se atrevem a falar de guerra e de tudo o que ela destrói…Porque não falam mais de amor e tudo o que ele ressuscita?