REPRESENTAÇÕES DA MULHER NO TRATADO DO AMOR CORTÊS DE ANDRÉ CAPELÃO Adriano Gonçalves LARANJEIRA [email protected] UESB O fenômeno da cultura cortesã surge na Europa, mais precisamente nas cortes do sul da França, no século XII, e está assentada sobre uma base social composta por elementos oriundos da nobreza-cavalaria. Sob a tutela de um rei ou de um grande senhor, cavaleiros e damas expressam uma visão de sociedade e regras de conduta ética e moral por meio ritos, costumes e, principalmente, por meio da chamada literatura de cavalaria. Composta por homens com diferentes níveis de fortuna pessoal, porém unificados pelo estilo de vida e pelo status de liberdade pessoal, a cavalaria tinha a violência como meio de sobrevivência. Em um período fortemente marcado pelas guerras, pelos saques e pelas disputas entre linhagens, a agressividade e a pilhagem eram companheiros cotidianos nas batalhas, nos torneios, nas caças. Sob a ótica da cultura dos clérigos, a cavalaria era um mal. Em vista dos prejuízos e mortes que causavam aos seus pares, os próprios cristãos, não poderia ser obra de Deus, mas sim de Satã. Era necessário, pois, cristianizá-la, aplacar a sua agressividade e direcionar suas energias para a Guerra Justa contra as forças do mal. Com o apoio significativo de setores da própria nobreza, a Igreja institui, entre os séculos XI e XII, os movimentos da Paz e da Trégua de Deus e convoca os cavalerios à guerra pela salvação da fé. Conclui-se, assim, o projeto da Igreja de “civilizar” a cavalaria-nobreza, de intervir no seu código de ética em conformidade com os preceitos éticos e morais formulados pela cultura eclesiástica. Esse processo civilizador, porém, avança para além das pretensões iniciais estabelecidas pela Igreja. A nobreza-cavalaria, afrontada pelos avanços do poder monárquico, pelo crescimento das fortunas urbanas e pelos movimentos sociais que, nos séculos XII e XIII, confrontam os poderes feudais, se apropriam dos elementos fornecidos pela cultura dos clérigos, mas o fazem no sentido da afirmação de uma cultura própria, que a diferencia dos demais grupos sociais. Tendo como centro de difusão as cortes nobiliárquicas do Sul da França, a chamada cultura cortês ou de cavalaria nasce como um conjunto de normas de conduta, ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 06 – Poder, cultura e diversidade na Antiguidade e no Medievo. 1 uma moral e uma ética cavaleiresca, construída por uma elite agrária para se distinguir dos demais componentes da sociedade feudal. No sul da França, na região de Provença, de onde o movimento cortês se espraia para o restante do Ocidente, desde o século XI elementos da nobreza expressam os seus valores por meio de uma literatura em língua vulgar destinada contar e vangloriar os seus feitos, passados e presentes, e afirmar a honra de suas linhagens. A nobreza medieval fez assentar a glória de suas casas sobre a herança de seus antepassados heróicos, que se distinguiram dos demais por bravura ou por coragem, pela religiosidade ou pela generosidade. Segundo Duby, “os mortos habitam as casas”. Era necessário relembrar os feitos dos ancestrais, seu passado glorioso e também os feitos dos parentes vivos, que esperavam, um dia, ser também honrados e lembrados. Às mulheres cabia o papel de velar pelos seus mortos e do seu marido. Para tanto, queimavam incensos em seus altares e faziam ofertas de comida. A mulher ocupa, assim, na cultura nobiliárquica, um papel importante na preservação da honra da família. O casamento era uma aliança entre as casas nobres e a esposa, garante da integridade do patrimônio familiar. As mulheres desempenhavam um papel importante na política de alianças e traziam consigo, com o casamento, terras e bens materiais que poderiam significar a ascensão do cavaleiro à condição de sênior. Por meio do casamento, muitos nobres sem herança conquistavam o acesso à terra. Casadas, as mulheres ocupavam exerciam funções importantes para a manutenção de suas casas. A elas cabia o cuidado com os mantimentos e das peças de vestuário. Elas deviam fiscalizar as despensas e fiscalizar o seu provimento para os períodos sem colheita, cuidavam do preparo dos fios de lã e da confecção das roupas. Além disso, as mulheres casadas, as damas deveriam servir de modelos para as mulheres que as rodeavam: donzelas, domésticas e toda a sorte de jovens que estavam sob sua tutela. De acordo com a posição social de cada uma dessas donzelas, a dama deveria ensinar-lhes a se portar nas mais diversas situações e orientá-las na escolha dos maridos. Na ausência temporária do marido, a dama poderia, inclusive, assumir o controle das terras e dos negócios. Mas, nesta sociedade, calcada por valores misóginos, às mulheres cabia a obediência ao homem - ao pai, ao marido ou, na falta dos dois, ao parente masculino mais próximo. Como afirma Macedo, “solteira, era identificada sempre como filia de, sóror de. Casada, passava a ser personificada como uxor de, filha, irmã, esposa: os homens deveriam ser sua referência”.[1] ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 06 – Poder, cultura e diversidade na Antiguidade e no Medievo. 2 Pouco se sabe sobre a vida das mulheres durante a Idade Média. As principais fontes escritas sobre o período são de autoria de homens. Quase tudo que nos chega sobre elas foi deixado por eles, pelos seus olhares carregados de preconceitos, filtrados pelos seus pensamentos.[2] A figura feminina mais difundida durante o medievo era a de Eva, a pecadora. Essa imagem pautou as representações clericais sobre a mulher, que a consideravam inferior ao homem, marcada pela fraqueza, pelos vícios mentira e da luxúria. Eva era o próprio princípio animal, manifestado pela sensualidade e pelo desejo de igualar-se ao homem. O modelo de virtude feminina difundido pela Igreja católica a partir do século XII, o modelo da Virgem Maria, em nada contribuiu para reabilitar as mulheres comuns, subordinadas à obrigação de casar-se, reproduzir-se e, com isso, contribuir para a preservação das linhagens e de seu patrimônio. No máximo, aplicavam-se àquelas que, integradas à hierarquia clerical, mantinham-se virgens, imaculadas, fiéis ao “esposo celeste”. Ganha, também, destaque, nos séculos XI e XII, um outro modelo de conduta feminino, aceito e difundido pela Igreja: Maria Madalena, a pecadora que se salva pelo arrependimento. A grande maioria das mulheres – inclusive as nobreza - levava consigo a herança de Eva, a pecadora. Sob a hegemonia cultural dos clérigos, que deveriam manter-se afastados das mulheres, longe de seus corpos, da luxúria que exalava de seu sexo - e que, por isso, desvalorizavam-nas, depreciavam-nas, desqualificavam-nas para aplacar seu próprio desejo - elas eram vistas como pérfidas, luxuriosas, insubordinadas, assassinas, feiticeiras. Mas a incompreensão e o medo sobre a natureza feminina não se restringem ao mundo dos clérigos. Os homens tinham medo das mulheres, de sua insubordinação, da sua habilidade na realização de trabalhos destinados a afrontar a natureza masculina, das suas ligações com o demônio que essas práticas pareciam querer demonstrar. O maior receio repousava na aludida capacidade feminina de provocar a perda da “masculinidade”, do vigor físico, da virilidade dos homens, ou, ainda, do encantamento, dos filtros de amor que perturbavam a mente masculina fazendo-os delas se enamorar e a elas se subjugarem. Temiam, também, o infanticídio (uma afronta à suas descendências), o aborto e assassinato de crianças cujos corpos dizia-se seriam usados em rituais demoníacos. Enfim, a sociedade medieval está marcada por uma cultura hegemônica de ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 06 – Poder, cultura e diversidade na Antiguidade e no Medievo. 3 caráter marcadamente misógino e que encontra correspondência nos medos e receios do homem comum. Mas, as formas de expressão literária da cultura cortês e cavaleiresca, a partir do século XII, fez transparecer uma nova forma de ver e de tratar as mulheres. No jogo do amor cortês, por meio do qual os pretendentes vislumbravam conquistar uma dama, as mulheres assumem o controle e têm o poder de decisão sobre as ações e os homens que deveriam ser recompensados. Escritores patrocinados pela nobreza escrevem poemas, romances e tratados que afirmam a proeminência da dama – objeto de desejo – e, ao mesmo tempo, fazem fixar os valores éticos e morais que deveriam ser adotados pelos pretendentes ao amor. Entre esses escritores destaca-se André Capelão, um clérigo que, em finais do século XII escreve um Tratado do Amor Cortês, um código de conduta para os amantes da cortesia. André Capelão vive na corte. O título e as fontes de sua obra indicam uma formação clerical, mas a sua familiaridade com os hábitos da nobreza indicam uma vida em ambiente cortês. Escrito entre os anos de 1186 e 1190, o seu Tratado do Amor Cortês foi, provavelmente, gestado sob o patrocínio de Maria de Champagne, filha de Leonor de Aquitânia, famosa pelo gosto refinado pela música, literatura e artes em geral. Dividido entre os elementos de sua formação clerical e as exigências do convívio social na corte, André Capelão atribui à obra uma função pedagógica, de moralizar o comportamento da corte em matéria de amor. O autor não renega os hábitos da corte; antes, ele tenta normalizá-los, codificá-los como se redigisse um código de leis. Busca, ainda, estabelecer objetivos morais para o jogo do amor. O Tratado é dividido em três livros: os dois primeiros, destinados a orientar os amantes se completam, enquanto o último - “Da condenação do Amor” - aparece para renegar e mesmo propor uma conduta contrária ao exposto nos livros I e II. O Tratado se conclui, pois, instigando os homens a se desvencilhar da “vaidade”, que é o amor, e se colocar em um plano além do “natural”, colocando o amor em seu lugar relativo na sociedade. No Livro I o autor expõe suas concepções sobre o amor, opina sobre os que estariam apto a desfrutar desse sentimento, sobre como conquistar o amor desejado, como mantê-lo e sobre as conseqüências físicas e morais para os amantes. Neste livro, são apresentados oito diálogos entre homens e mulheres, classificados de acordo com sua condição social, por meio dos quais o autor propõe modelos de conduta a serem seguidos pelos amantes quando da abordagem de suas eleitas e sobre como deveriam ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 06 – Poder, cultura e diversidade na Antiguidade e no Medievo. 4 conduzir a conversa até serem aceitos na corte do amor. O autor pode ter pretendido franquear o amor aos membros das grupos sociais inferiores, mas é na alta nobreza, segundo ele, que o fin’amour alcança sua mais perfeita expressão. Entre um grande senhor e uma dama da alta nobreza, a conversa é mais elaborada, o debate mais acirrado, o poder de convencimento é maior, maior também é o diálogo. O Livro II contém uma série de ensinamentos de como conservar o amor, como mantê-lo ardendo dentro dos amantes. Ensina também a reconhecer os sinais de infidelidade, a identificar quando o amor acaba ou diminui de intensidade. Esta parte da obra termina com a divulgação das regras do amor, enunciadas por uma jovem dama da floresta a um cavaleiro bretão, e com o anúncio de que ele teria o dever de divulgá-las. Do jogo do amor cortês participavam um jovem, um senhor e sua dama, socialmente superiores ao primeiro. Dele participam tão somente os membros da nobreza agrária. Cavaleiros, senhores e as damas reconhecem-se como pares sociais e fazem afirmar, por meio do código de cortesia, as suas diferentes em relação ao restante da sociedade. O senhor permanece em segundo plano e a relação entre o jovem e a dama marca os principais movimentos do jogo. Ele, tomado de amor, tenta conquistá-la, convencê-la a se entregar, e utilizará todas as armas para seduzi-la. Cabe-lhe cumprir todos os preceitos e regras esperando, como recompensa, os agrados da eleita e a dama deve, segundo o as regras do amor cortês, escolher o melhor, aquele que dispõe de maiores qualidades, como a bravura, a coragem, a fidelidade a inteligência, enfim, o amor. É vetado ao homem se aproximar da dama com intenções amorosas, a menos que possua “um bom número de eminentes virtudes”, que o fizesse se sobressair aos nobres e grandes senhores. Para o amante declarar seu amor, deve ter uma reputação, possuir virtudes conhecidas e publicizadas em seu meio social e nas demais camadas da sociedade. A profusão dessas virtudes pode, inclusive, “compensar a mediocridade do nascimento” Para André Capelão, o amor só existe em amantes virtuosos. Cabe ao homem, portanto, provar sua virtude por meio de atos, que serão julgados por sua dama: Se é verdade que todo homem, ao agir virtuosamente, deve angariar a aprovação de uma dama, espera-se de um homem digno de estimas que dedique todas as suas boas obras à glória de uma dama em particular; e toda mulher de bom senso, embora deva assentir com os atos virtuosos de todos os homens pode certamente dar sua aprovação aos que forem realizados por um deles em particular, considerando-os especialmente ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 06 – Poder, cultura e diversidade na Antiguidade e no Medievo. 5 destinados à sua própria glória. [3] Aos poucos, e de acordo com o julgamento da mulher, o jovem vê suas boas ações recompensadas. Um leve toque de mãos, troca de olhares, um período a sós, são algumas das recompensas iniciais que podem ir aumentando até ao “último presente”, o mais importante e esperado de todos: Todos os esforços de um amante só têm um objetivo, e para ele se voltam todos os seus pensamentos: estreitar o corpo daquela que ama, pois ele espera poder realizar com a bemamada todos os mandamentos do amor.[4] No jogo do amor, a dama não é apenas um peão, controlado pelos homens controlado, subordinado às regras definidas pela cultura dominante. Ela é parte atuante e fundamental. A mulher comando o jogo. É para ela, para agradá-la, que o cavaleiro protagoniza seus atos de bravura e coragem. Objetivando atingir seu coração, o homem, o cavaleiro, empreende suas ações: Um amante deve, portanto, mostrar-se sempre prudente diante daquela que ama e reservado em sua conduta; não deve cometer nenhuma ação desagradável que possa indispô-la. [...] E mesmo percebendo que às vezes suas vontades são menos aceitáveis, deve estar pronto a obedecer-lhe depois de lhe fazer admoestações.[5] Segundo André Capelão, o amor nasce da visão e da reflexão sobre a beleza do outro e se difunde até que todo o pensamento deste esteja tomado pela outra pessoa. Mas, se o amor nasce com a visão da beleza, quem o alimenta é a virtude e a glória. A dignidade da dama, demonstrada por meio de ações virtuosas que a qualificam para ser amada, deve ser conhecida e comentada por todos. É, pois, também pela reflexão sobre os atos virtuosos da dama que o sentimento toma conta dos pensamentos do cavaleiro. Quanto mais valorosas e virtuosas forem as ações, mais favoráveis serão as reflexões da(o) amante. Para André Capelão, o amor “não nasce de ação alguma, mas apenas da reflexão do espírito sobre aquilo que vê. Isso porque quando vê que uma mulher é digna de ser amada e convém a seu gosto, o homem logo começa a desejá-la em seu coração”.[6] Para Macedo, este amor não visa uma dama real , mas uma imagem da dama, um ideal de virtude feminina, “um fantasma nas brumas do delírio dos poetas”: A mulher colocada num pedestal, apenas serve de referência. Seu papel é inspirar, todo o resto cabe ao homem [...]. Isso o engrandece, amadurece, educa, porque ela está distante. A ausência da dama é fundamental, essencial. Sua importância deve-se ao distanciamento, ao fato de ser inacessível. [7] ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 06 – Poder, cultura e diversidade na Antiguidade e no Medievo. 6 Entretanto, esse modelo de dama virtuosa, inspira, educa, homens e mulheres reais, que fazem pautar o seu comportamento pelos modelos enunciados pela literatura cortês. Nos diálogos e julgamentos de amor, o cavaleiro tenta convencer a dama de que é digno de seu alistar-se nas fileiras do Amor, enquanto ela busca afirmar as virtudes que a habilitam para delas participar. O confronto de opiniões , os jogos de palavras, as interpretações sobre o amor são inerentes ao modelo de cultura cortês apresentada por André Capelão. Ser cavaleiro implica, pois, também, em saber conversar, exprimir idéias, ser um bom orador. Prevalecem os argumentos masculinos mas é a dama quem decide se o cavaleiro é digno de ter esperanças de um dia conseguir o seu amor. Em situação de impasse, a uma ilustre dama, “como juiz competente”, é chamada a decidir a discussão e “pôr-lhe termo em uma decisão eqüitativa”: Uma antiga tradição nos mostra claramente, e a tanto somos incitados também pelos preceitos dos antigos, que é preciso buscar a realização da justiça onde saibamos perfeitamente ter a sabedoria fixado domicílio, e que melhor é buscar a verdade na fonte, onde ela é abundante, do que mendigar suas respostas onde ela escoa por minguado arroios.[8] Pois à dama é dada a “plenitude da sabedoria”. Às vezes ela toma o veredicto assessorada por uma corte de damas, como no julgamento solicitado por um cavaleiro à Condessa de Champangne: o cavaleiro, indignado com a traição que sofrera, denunciou todos os acontecimentos à condessa de Champagne e pediu que a falta cometida fosse levada a seu julgamento e ao de outras damas; o próprio traidor aceitou a arbitragem da condessa. Esta, assistida por sessenta damas, encerrou a questão...(Capelão 244).[9] O julgamento de uma grande dama tem “disposição de validade permanente”. A sua decisão não deve ser ignorada e, muitas vezes é corroborada em julgamento posterior. È o que se apreende da fala da rainha Alienor em referência a uma determinação de Marie de Champangne: “Não ousamo-nos opor-nos à sentença da condessa de Champagne, segundo a qual ‘o amor não estende seus poderes aos esposos’”.[10] Os julgamentos não são realizados segundo a predileção das damas, mas seguem as regras do deus do Amor. Da soma dos julgamentos cria-se um aparato jurídico que poderá servir como base para um futuro julgamento, como salienta Alienor a propósito de um litígio que lhe foi submetido: “Aqui está outro julgamento de bom senso que ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 06 – Poder, cultura e diversidade na Antiguidade e no Medievo. 7 deve ser somado aos precedentes”.[11] Um conjunto de sentenças somadas forma, pois, um “código do amor”. Durante os julgamentos, resguardam-se as identidades dos amantes requerentes. Os requerimentos não são assinadas e a própria rainha Alienor orienta. Assim também, se os amantes se corresponderem por cartas, deverão abster-se de assina-las com o próprio nome; e se, por alguma razão, recorrerem ao julgamento das damas, sua identidade não deverá ser revelada aos juízes. Na apresentação do pedido deverão manter o anonimato.[12] Os homens cuidavam da reputação da mulher amada, da mesma forma que ela também o fazia, afinal ela, na maior parte das vezes, casada. Não poderiam demonstrar seu amor por ela em público. Havia diversas formas de se homenagear a mulher amada sem levantar suspeitas. A beleza e as qualidades dela eram exaltadas, por meio de pseudônimos, mensageiros ou confidentes. Os jovens cavaleiros procuravam, pois, conseguir o agrado da dama amada, na mais absoluta discrição. Em sua homenagem venciam torneios, compunham versos, eram caridosos com os necessitados. No jogo cortês elas são “o senhor” e eles, os vassalos, aqueles que prestam juras de fidelidade. A mulher cumpria, assim, no convívio social da corte, o papel de educadora dos jovens cavaleiros. O Tratado do Amor Cortês, quando se propõe normatizar as práticas do amor cortês, coloca as mulheres em lugar de destaque, no papel da condutora das ações masculinas. NOTAS: [1] MACEDO, J. R. A mulher na Idade Média. São Paulo: Contexto, 2002. p. 20 [2] MACEDO, Op. Cit. p. 10 [3] ANDRÉ CAPELÃO Tratado do Amor Cortês. São Paulo: Martins Fontes, 2000. .p. 119. [4] ANDRÉ CAPELÃO. Op. Cit. p. 09 [5] ANDRÉ CAPELÃO. Op. Cit. p. 211 [6] ANDRÉ CAPELÃO. Op. Cit. p. 8 [7] MACEDO, Op. Cit. p. 75-76 [8] ANDRÉ CAPELÃO. Op. Cit. p. 135 [9] ANDRÉ CAPELÃO. Op. Cit. p. 244 [10] ANDRÉ CAPELÃO. Op. Cit. p. 245 [11] ANDRÉ CAPELÃO. Op. Cit. p. 245 [12] ANDRÉ CAPELÃO. Op. Cit. p. 248 ANAIS do III Encontro Estadual de História: Poder, Cultura e Diversidade – ST 06 – Poder, cultura e diversidade na Antiguidade e no Medievo. 8