A atualidade do pensamento de Paulo Freire

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A atualidade do pensamento de Paulo Freire
Pedro Pontual*
* Educador, membro da coordenação do Instituto Pólis e presidente do CEAAL – Conselho de Educação de Adultos da América Latina.
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Proposta n - 113
Neste ano realizam-se em todos os países da América
Latina e também em outras partes do mundo seminários e
eventos em homenagem a Paulo Freire (celebra-se 10
anos de sua morte ocorrida em 2 de maio de 1997) e de
discussão da atualidade do seu pensamento. A grande
participação nestas iniciativas de educadores e
educadoras das mais diversas gerações demonstra que a
sua ausência do nosso convívio não diminui a força da
presença de suas idéias e do testemunho de coerência que
marcou sua prática como educador e ser humano.
Na vida e obra de Paulo Freire há uma profunda paixão
pela liberdade humana e, ao mesmo tempo, uma rigorosa
e sempre renovada busca de uma pedagogia
emancipatória. Assim sendo creio que para além de
recuperar seu pensamento trata-se de recriá-lo á luz dos
novos desafios históricos deste século XXI e em diálogo
com outras correntes de pensamento e com novos
paradigmas.
Acredito que a marcante presença de Paulo Freire ainda
hoje em muitas partes deste mundo está ligada a uma
característica fundamental que marcou toda sua vida e
obra que foi sua incessante busca de coerência entre
discurso e prática. Coerência que não se traduziu em
dogmatismo, mas numa busca permanente de renovar seu
pensamento e prática à luz dos novos desafios de cada
contexto histórico vivido.
Este texto busca extrair alguns eixos temáticos de sua vida
e obra que, a meu ver, dialogam com desafios do nosso
tempo histórico:
Mais que um método de alfabetização,
uma filosofia da educação
Talvez Paulo Freire seja mais conhecido por haver criado
um método de alfabetização de jovens e adultos que foi
amplamente utilizado em diversos países. No entanto, a
contribuição de Paulo Freire foi muito além, tendo criado
uma filosofia de educação com um corpo teórico
consistente com uma pedagogia voltada à prática,
voltada à ação transformadora. Dizia Freire: “a melhor
maneira de pensar é pensar a prática”.
A sua sempre foi uma pedagogia posicionada, que
rechaça qualquer idéia de neutralidade. Freire sempre
nos recordava com muita insistência de que a
neutralidade é impossível no ato educativo. “Meu ponto
de vista é o dos excluídos, o dos condenados da Terra”.
Sua afirmação constante deste princípio foi um
contraponto necessário à tentativa da ideologia
neoliberal, sobretudo nos anos 90, de despolitizar a
sociedade e o debate de idéias. Ao contrário, para Freire
existe uma politicidade inerente à prática educativa.
Uma proposta de educação para a
mudança
Sua pedagogia sempre esteve comprometida com a idéia
de mudança histórica que se expressou através de
categorias que deram título em distintos momentos
históricos às suas mais importantes obras. No final dos
anos 50 escreveu “Educação como prática da Liberdade”.
Nos anos 60, exilado no Chile, escreveu “Pedagogia do
Oprimido” e, em 1992, sua releitura daquela obra na
“Pedagogia da Esperança”. Em 1996, escreveu a
“Pedagogia da Autonomia” e após sua morte, seus
últimos escritos foram reunidos em “Pedagogia da
Indignação” (2000) e “Pedagogia dos Sonhos Possíveis”
(2001). Liberdade, visão dos oprimidos, esperança,
autonomia, indignação, sonhos possíveis, são eixos
fundamentais de sua obra, sempre posicionada a favor de
uma educação voltada à mudança histórica e à ação
transformadora. Trata-se de categorias que vão
contextualizando historicamente os desafios à uma
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Revista Trimestral de Debate da FASE
educação comprometida com a mudança e apontando na
direção de utopias possíveis e necessárias. Por isto Freire se
contrapôs firmemente ao raciocínio fatalista dos que
apregoavam o “fim da história” e reafirmou
enfaticamente a história como “tempo de possibilidades”,
seu compromisso com uma pós-modernidade progressista
e a necessidade de construção de proposições que
concretizassem o “inédito viável”.
Em seus últimos escritos, Freire expressou com muita
radicalidade, que ele sempre pedia que não se
confundisse com sectarismo, sua indignação com o que
denominava de cinismo de uma ideologia fatalista que
propugna que a realidade é assim mesmo, que os
excluídos têm que continuar existindo e que a história está
em seu fim. Freire opunha-se à hegemonia de tal discurso
enfatizando a necessidade de uma pedagogia da
esperança e da construção de utopias transformadoras e
possíveis de se realizarem. Talvez a proposta do Fórum
Social Mundial e o seu lema de que um “Outro Mundo é
Possível” seja uma das expressões mais importantes do
legado de Paulo Freire neste início do século XXI.
Alargando o âmbito do educativo
Uma das contribuições mais importantes de Paulo Freire e
da corrente da educação popular, que nele teve suas
inspirações fundamentais, foi a de desenvolver uma visão
do fenômeno educativo num espaço mais abrangente que
o da escola sem nunca recusar sua importância como
instituição educativa. As reflexões de Freire sobre as
práticas educativas no interior dos movimentos sociais,
das diversas formas de sociabilidade e convivência dos
grupos populares, na ação dos partidos políticos, nas
práticas dos governos, nas distintas manifestações da
cultura popular têm dado inegável consistência à
necessidade de pensar o educativo num âmbito mais
abrangente que o da escola.
Vale observar, no entanto, que Paulo Freire não atribuía
nenhum juízo de valor ou peso hierárquico de maior
relevância àquelas práticas educativas que ocorrem para
além da escola. Ao contrário, há uma forte preocupação
em seus escritos em não cindir a prática educativa na
reflexão sobre a educação popular e, assim, não cair nas
armadilhas daquelas definições que identificaram
educação popular com o “não formal”, ou como prática
“para-escolar” ou como propositora de uma “sociedade
sem escolas”. O discurso de Freire sempre dirigido aos
educadores e educadoras que atuam tanto na escola como
em outros âmbitos da prática social, colocam-nos frente à
necessidade de compreender a educação popular como
um conjunto de práticas e formulações que permeiam
diferentes âmbitos das relações sociais, sem deixar de
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reconhecer a especificidade das diversas práticas e dos
distintos espaços onde elas se desenvolvem. O
movimento das Cidades Educadoras ao reivindicar que
todos os espaços e equipamentos urbanos tornem-se
espaços educativos é, hoje, uma das expressões desta
compreensão alargada da prática educativa.
Alfabetização para a construção da
cidadania ativa
Paulo Freire propugnou desde o momento em que
construiu seu método de alfabetização, que o domínio da
palavra, o saber escrever, o saber ler, somente adquirem
sentido se traduzem uma melhor capacidade de leitura
do mundo, uma melhor leitura do contexto do ser
humano. Dizia que em certo sentido, a leitura do mundo
precede a leitura da palavra.
Neste momento em que diversos governos na América
Latina voltam a colocar o tema da alfabetização entre
suas prioridades, é importante recuperar as proposições
de Freire sobre o tema no sentido de analisarmos
criticamente os modos de concretização de tais esforços.
Para Freire, as iniciativas na área de alfabetização
deveriam fazer parte de um conjunto de ações voltadas à
construção de um novo modelo de desenvolvimento
integral, inclusivo e sustentável. Do ponto de vista das
políticas educativas, as ações de alfabetização requerem
continuidade no sentido de assegurar o direito à
escolarização básica e, numa perspectiva mais global, o
direito à educação ao longo de toda a vida. Isto significa
situar alfabetização no terreno das políticas públicas ao
invés de limitá-la ao âmbito de campanhas que, de forma
muitas vezes aligeiradas, propõem-se a “erradicar o
analfabetismo” ou, na sua versão mais recente, poder
declarar “territórios livres do analfabetismo”. Foi por esta
razão que no período em que Freire esteve à frente da
Secretaria Municipal de Educação de São Paulo (19891992) as ações na área de alfabetização eram parte da
política de educação de jovens e adultos e o programa
que envolveu parceria com movimentos e organizações
populares (MOVA-SP) denominou-se movimento e não
campanha e estava articulado imediatamente com outros
programas que assegurassem a continuidade da
escolarização de jovens e adultos. A denominação de
movimento vinha também para expressar a compreensão
de uma ação alfabetizadora que deveria contribuir para
que educandos, educadores e todos os demais atores
envolvidos pudessem exercitar sua cidadania ativa na luta
pelo direito à educação completa e ao longo de toda a
vida.
Vale lembrar também, no raciocínio dialético que
sempre caracterizou as proposições em Freire, sua
afirmação de que se por um lado a cidadania ativa não
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depende somente da educação, por outro, sem ela a
cidadania ativa não se constrói. Sem superestimar o papel
da educação, mas também sem deixar de destacar sua
enorme relevância, Paulo Freire (1995a) assim sintetiza
sua visão sobre a relação dialética entre educação e
cidadania:
Não dá para dizer que a educação crie a cidadania
de quem quer que seja. Mas, sem a educação, é
difícil construir a cidadania. A cidadania se cria com
uma presença ativa, crítica, decidida, de todos nós
com relação à coisa pública. Isso é dificílimo, mas é
possível. A educação não é a chave para a
transformação, mas é indispensável. A educação
sozinha não faz, mas sem ela também não é feita a
cidadania. (p.74)
Com esta afirmação, ele colocava com clareza o alcance e
os limites das políticas educativas para enfatizar a
necessidade de serem articuladas a ações econômicas,
sociais, políticas, culturais e ambientais na perspectiva de
um novo modelo de desenvolvimento fundado na justiça
social, na equidade e na sustentabilidade.
O diálogo e o conflito na construção
democrática
A necessidade de uma pedagogia democrática para
transformar as relações e as formas de exercício do poder
funda-se no reconhecimento de que o elitismo e o
autoritarismo historicamente operados pelas classes
dominantes enraizaram-se profundamente nas
sociedades latino-americanas. Portanto, ao afirmar-se a
necessidade de construir-se uma democracia integral e
uma cidadania ativa para superarmos as múltiplas formas
de opressão, está-se referindo a novas formas de exercício
do poder, ancoradas a uma cultura política radicalmente
democrática. Para Freire, tanto o diálogo como o conflito
são fatores constitutivos de um processo de construção
democrática. Este processo só se consolida em uma prática
substantivamente democrática a partir de um intenso e
criativo trabalho pedagógico. Como afirma: “Um dos
papéis das lideranças democráticas é precisamente superar os
esquemas autoritários e propiciar tomadas de decisão de
natureza dialógica” (FREIRE, 1995b, p.45).
Em sua passagem como secretário municipal de educação
da cidade de São Paulo na gestão da prefeita Luiza
Erundina (1989-1992), tendo enfrentado situações
cotidianas de conflito na implementação da sua proposta
de gestão democrática da política educativa, sempre
advertiu que o conflito era inerente àquele processo e que
a tarefa fundamental estava em “pedagogicizar o
conflito”, ou seja, construir espaços de reconhecimento
recíproco de interesses distintos, mas também de
negociação dos mesmos a partir de regras democráticas
pactuadas entre os diversos atores. Como atitude
fundamental, destaca-se a capacidade de escuta e de
conversa entre os atores no estabelecimento de diálogo
que seja capaz de enfrentar e propor soluções aos
problemas em questão.
Em tempos de grande confusão política sobre a natureza
dos espaços participativos em relação às políticas
públicas vale recordar a ênfase presente nas formulações
de Freire sobre a prática de decisão como um elemento
básico da autonomia de tais espaços. Diante de
argumentos de matriz conservadora sobre as dificuldades
para deliberação em tais espaços, costumava lembrar
Freire de que é decidindo que se aprende a decidir.
Em Paulo Freire, podemos encontrar, como uma das
exigências éticas para a construção de uma nova cultura
política, a necessária coerência entre o discurso e a
prática. Nesta perspectiva, vale lembrar na obra de Freire
(1992) a importância que ele atribui à ação pedagógica
de um governo radicalmente democrático:
Tudo deve ser visível. Tudo deve ser explicado. O
caráter pedagógico do ato de governar, sua missão
formadora, exemplar, que demanda por isso
mesmo dos governantes, seriedade irrecusável.
Não há governo que persista verdadeiro,
legitimado, digno de fé, se seu discurso não é
confirmado por sua prática, se apadrinha e
favorece amigos, se bem duro apenas com os
oposicionistas e, suave e ameno com os
correligionários. (p.174).
Também o desafio educativo da coerência deve nos
auxiliar nas análises sobre as práticas dos movimentos
sociais. Doses de ingenuidade e idealização presentes em
algumas análises sobre os mesmos serviram, muitas
vezes, para esconder a distância entre valores e propostas
anunciadas no discurso e a prática cotidiana de algumas
de suas organizações e lideranças. Vale aqui destacar, por
exemplo, a distância muitas vezes presente entre o
anúncio da necessidade da democracia e a presença de
práticas ainda fortemente carregadas de autoritarismo no
interior dos próprios movimentos. Aqui vale a
advertência sempre presente no discurso de Freire de que
não se trata de idealizar organizações como se fossem
constituídas por “anjos”, mas de buscar incessantemente
o maior grau de coerência possível entre o discurso
professado e a prática efetivamente desenvolvida.
Ainda como elementos da coerência que devem
caracterizar as atitudes nos espaços de conflito e diálogo
estão os valores da humildade e tolerância nas relações
com o outro e no reconhecimento à diferença como
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Revista Trimestral de Debate da FASE
aspecto central de uma cultura democrática. Freire
(1995b) assim explicita esta questão:
Tolerância e humildade são virtudes fundamentais.
Na humildade eu trabalho com a hipótese de que
existem outras verdades, mesmo aquelas contra as
quais eu luto. Não tem nada a ver com humilhação.
E sim com a tolerância não no sentido da conivência,
mas no sentido de aceitar a diferença e reconhecer
que só podemos crescer na diferença. (p.73).
A falta de uma compreensão processual e histórica desta
construção democrática tem levado, em alguns casos, a
que lideranças políticas se desencantem diante das
dificuldades e contradições, necessariamente presentes
nas práticas que estimulam a participação cidadã, e
retornem ao pragmatismo conservador das soluções
tecnocráticas em nome dos votos obtidos nas eleições e da
presunção de que isto lhes dá conhecimento pleno do que
o povo precisa. Daí a importância da advertência de Freire
de que uma pedagogia da construção democrática requer
uma atitude básica de perseverança por parte daqueles
que estão à frente de iniciativas de estímulo à participação
cidadã. Aqui, a historicidade sempre presente nas
formulações de Freire nos ajuda a compreender tal
desafio:
O aprendizado de outra virtude se impõe: a
perseverança, tenacidade com que devemos lutar
por nosso sonho. Não podemos desistir nos
primeiros embates, mas a partir deles aprender
como errar menos. Na existência de uma pessoa,
cinco, dez, vinte anos representam alguma coisa, às
vezes muito. Mas não na história de uma nação.
(idem, p.47)
E mais à frente, na obra citada, conclui Freire:
A questão está em como transformar as dificuldades
em possibilidades. Por isso na luta para mudar, não
podemos ser nem só pacientes, nem só impacientes,
mas pacientemente impacientes. A paciência
ilimitada, que jamais se inquieta, termina por
imobilizar a prática transformadora. O mesmo
ocorre com a impaciência voluntarista, que exige o
resultado imediato da ação, enquanto ainda a
planeja. (id., p.48)
Como se pode observar há uma profunda convicção na
vida e obra de Freire sobre a importância da participação
cidadã na construção das políticas públicas. No momento
em que, no Brasil, o governo federal lança um amplo
conjunto de medidas sob o nome de Programa de
Desenvolvimento da Educação, espera-se que ocorra um
processo mais amplo e sistemático de participação dos
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atores sociais envolvidos na sua discussão e que se
desenvolvam mecanismos efetivos de gestão
democrática na sua implementação. O desafio de
melhorar a qualidade da educação requer uma diretriz
clara e investimentos permanentes no sentido de
assegurar uma gestão democrática em todos os níveis do
sistema educacional.
Paulo Freire e a construção de novos
paradigmas da educação popular
O CEAAL (Conselho de Educação de Adultos da América
Latina), rede de cerca de 200 ONGs situadas em 21 países
da América Latina, criada em 1982 e que teve Paulo
Freire como seu primeiro e hoje presidente honorário,
vem desde 2000 impulsionando um debate latinoamericano sobre novos paradigmas da educação popular
face aos novos desafios do século XXI.
Há um consenso amplamente estabelecido entre os
participantes deste debate de que vários fundamentos da
educação popular, dentre os quais as propostas de Freire
seguem com lugar de destaque, continuam vigentes. No
entanto, várias outras proposições teóricas que
orientaram vários discursos e práticas da Educação
Popular em décadas passadas tornaram-se insuficientes
e, em alguns casos até inadequados, diante dos novos
desafios trazidos pelas profundas transformações
ocorridas neste início de século. Colocado em outros
termos, vivemos em um momento em que a realidade
vem arrebentando alguns dos nossos referenciais teóricos
de interpretação. Temos a grande tarefa de reconstruí-los
a partir do exercício de novas leituras do real que
procurem dar conta da sua complexidade e diversidade.
Dentre diversas iniciativas nesta direção, destacamos a
realização, em março de 2001, em Guadalajara, no
México, de evento que buscou avaliar as aproximações
entre as proposições de Paulo Freire e Edgar Morin. Por
iniciativa do educador Carlos Nunez Hurtado, reuniramse analistas das obras de ambos os autores em evento
intitulado “Diálogos Freire-Morin”. Em suas palavras de
inauguração do evento assim se pronunciou Carlos Nunez
sobre o significado mais geral deste esforço:
A contribuição das idéias, o fortalecimento de
compromissos e a geração de propostas constituem
ingredientes insubstituíveis na busca de um novo
modelo civilizatório e de um renovado paradigma
educativo que ajude a humanidade a adequar o
conhecimento e a ética aos anseios de uma
sociedade que é sim irremediavelmente planetária,
globalizada, mas a partir de outro signo. Não mais
centrada no mercado e sua ética individualista,
competitiva e excludente, mas sim, nos melhores
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valores de uma ética da vida que contribua com o
sino da humanização que foi perdendo-se no
transcurso do tempo. (CREFAL, 2007, p.16)
Em sua reafirmada oposição à ética do mercado que anula
o indivíduo e propõe a homogeneização de tudo, Freire
propõe uma necessária revalorização de uma ética
universal do ser humano. Neste sentido, dá muito
destaque aos valores da solidariedade, da autonomia, do
respeito à diversidade, da humildade, da tolerância, da
amorosidade e da perseverança.
Ainda nas palavras de inauguração do evento acima
referido, assim sintetiza Carlos Nunez esta busca em Freire
e Morin:
Referências Bibliográficas
FREIRE, Paulo. Pedagogia da Esperança. São Paulo: Paz
e Terra, 1992.
(1995a) ______. A construção de uma nova cultura
política. In: FÓRUM DE PARTICIPAÇÃO POPULAR NAS
ADMINISTRAÇÕES MUNICIPAIS.
Poder local,
participação popular e construção da cidadania. s/l,
1995.
(1995b)______. À sombra desta mangueira. São Paulo:
Olho D'água, 1995.
______. Pedagogia da autonomia: saberes
necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra.
1997.
NUNEZ HURTADO, Carlos (coord). Diálogos FreireMorin. México: CREFAL, 2007.
Superar a miopia e a soberba intelectual implica um
rompimento intelectual e um reposicionamento
ético; Morin e Freire assinalam, cada um a partir de
sua perspectiva, a urgência e a pertinência deste
reposicionamento. Daí a importância de assumir a
virtude da humildade, que tanto predicava Paulo,
para poder reconhecer os limites próprios; de
reconhecer o processo de ensino-aprendizagem
como uma unidade dialética em que ninguém sabe
tudo nem ninguém ignora tudo. A urgência de
promover o diálogo de saberes, de assumir a
incerteza como motor da busca, para superar as
sempre frágeis, temporais, e, portanto, inexistentes
certezas; de buscar uma pedagogia da pergunta, de
reconhecer o papel do educador democrático que
não renuncia a seu papel, mas o assume de maneira
diferente, participativa, dialógica democrática. Estes
aspectos expressam somente algumas das
intersecções das propostas destes extraordinários
pensadores. (CREFAL, 2007, p.17)
A atualidade das contribuições de Freire tem que ver com
aquilo que ele denominou de capacidade de leitura do
mundo que confere significado às palavras, com seu
compromisso efetivo com proposições de uma pedagogia
crítica e transformadora, com sua busca permanente de
coerência entre discurso e prática. Portanto, a melhor
forma de recuperar seu pensamento é recriá-lo à luz dos
desafios históricos do presente e em diálogo com outras
correntes de pensamento.
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Revista Trimestral de Debate da FASE
CEAAL – Conselho de Educação de Adultos da América Latina*
Uma associação de 195 organizações civis, criada em 1982,
e que está presente em 21 países da América Latina e Caribe.
Suas origens datam de 1978, a partir do marco de
expansão dos movimentos sociais e das propostas sobre
educação a nível internacional, particularmente da
educação popular na América Latina. Em 1980, na
dinâmica da Conferência Mundial Educação para Todos,
realizada em Jomtien, na Tailândia, se considera a
necessidade de contar com uma rede latino-americana
que fortalecesse a ação educativa a partir da sociedade
civil.
Em 1982, se formaliza a criação do CEAAL, que foi
fundado por um grupo de educadores e educadoras de
diversos países. Entre eles se destacam Paulo Freire,
Orlando Fals Borda, Francisco Vio Grossi, Arlés Caruso,
Francisco Gutiérrez, Carlos Rodrigues Brandão, Moema
Viezer, entre outros. A criação do Conselho respondeu
assim à necessidade de fortalecer a articulação da
educação popular na América Latina, à intenção de
produzir conhecimentos pertinentes para os movimentos
sociais e à necessidade de incidir no debate sobre políticas
educativas a nível internacional.
Seus associados desenvolvem ações educativas em
diversos campos do desenvolvimento social e com
múltiplos sujeitos sociais. Formam parte do que se pode
identificar como a corrente de Educação Popular na
América Latina e um dos pólos dinâmicos da sociedade
civil latino-americana. Reúne uma série de experiências,
capacidades e potencialidades que expressam uma
riqueza ativa em cada país, que pode ser fortalecida numa
dinâmica de colaboração.
* Texto traduzido do site do CEAAL (http://www.ceaal.org) e
complementado com informações retiradas de um documento em
Power Point, produzido pelo Conselho em março de 2007.
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Identidade Institucional
O CEAAL, como associação latino-americana de ONGs,
pretende fortalecer e projetar o rol de suas ONGs
associadas, de outras que, mesmo não fazendo parte do
CEAAL formalmente, compartilham suas buscas, e
também dos movimentos sociais e políticos da região
com sentido emancipador. Por isso, a formação dos
membros dessas organizações e movimentos se constitui
em uma das linhas centrais de construção da contribuição
do CEAAL. Neste sentido, o Conselho tem procurado
gerar e difundir reflexões, sistematizações, ensaios, livros,
que apontam temas e oferecem orientações na linha de
um pensamento crítico, funcional aos processos
alternativos no Continente. Por isso o CEAAL, inserido na
dinâmica das chamadas sociedades de conhecimento,
quer ser um gestor de conhecimentos a favor dos
processos da sociedade civil organizada.
A atuação do CEAAL permite que ele seja identificado de
três formas: como CONSELHO, desenvolve uma dinâmica
viva de intercomunicação e participação dos associados,
de tal forma que seja uma instância útil para os mesmos.
Como FÓRUM, busca ser um espaço (exigente e atrativo)
de debate e de construção de pensamento. E como
PLATAFORMA, gera iniciativas e políticas que incidam
qualitativamente na realidade.
A missão do CEAAL aponta sua contribuição mais
específica: FORTALECER AS CAPACIDADES E A
FORMAÇÃO INTEGRAL DOS EDUC ADORES E
EDUCADORAS POPULARES.
O CEAAL é uma referência para ONGs, governos e
partidos, na maioria dos países, como Rede de
Organizações Civis identificadas com um projeto de troca
e geração de alternativas em função de valores como a
justiça, a democracia, a dignidade... a partir de uma
identificação ideológica e política com as organizações
que vêm sendo criadas pelos setores empobrecidos na
sociedade, aspirando a que estas sejam sujeitos
protagonistas nos processos sociais e políticos nos nossos
países.
Proposta n - 113
SEGUNDA CARTA ABIERTA A
LOS GOBIERNOS Y PUEBLOS LATINOAMERICANOS
SOBRE LA ALFABETIZACIÓN
EL DESAFÍO DE EDUCAR PARA TODA LA VIDA
En muchos países se batalla intensamente contra el analfabetismo pero todavía queda mucho por hacer. La existencia en
pleno siglo XXI de cuarenta millones de personas que no saben leer y escribir, el 11% del total de la población adulta
latinoamericana y caribeña, y 110 millones de jóvenes que no han concluido la educación primaria, por lo que son
semianalfabetos o analfabetos funcionales, constituyen motivos más que de sobra para decir basta ya de desigualdad
en la región y demandar a los gobiernos y a la sociedad que respondan con eficacia frente a esta dramática expresión de
inequidad y exclusión.
Es bueno recordar que el analfabetismo es la máxima expresión de vulnerabilidad educativa. La desigualdad que
existe en el acceso al saber está unida a la desigualdad en el acceso al bienestar. También está asociado a la ausencia de
oportunidades de acceso a la escuela, y su problemática tiene relación con la baja calidad de la enseñanza escolar y con
los fenómenos de repitencia y deserción.
La alfabetización significa el disfrute del derecho a la educación, como condición importante de la ciudadanía activa de
una gran diversidad de personas aportando sustantivamente tanto a la construcción del desarrollo con equidad, como a
la democratización de la democracia. Como afirma Paulo Freire: “Una visión de la alfabetización que va más allá del ba,
be, bi, bo, bu. Porque implica una comprensión crítica de la realidad social, política y económica en la que está el
alfabetizado… la alfabetización es más, mucho más que leer y escribir. Es la habilidad de leer el mundo, es la
habilidad de continuar aprendiendo y es la llave de la puerta del conocimiento”.
Eliminar el analfabetismo es una meta pues el objetivo principal es universalizar la cultura escrita, construir
sociedades que leen y escriben para aprender y para mejorar la calidad de su vida. Por ello, construir una sociedad
letrada significa la extensión de la educación básica de calidad para todos los niños y niñas, la alfabetización universal
para la población joven y adulta que se encuentra al margen del sistema escolar, promover un ambiente y cultura
letrada a nivel local y nacional, y una estrategia consistente de erradicación de la pobreza que azota nuestras
sociedades.
Los Gobiernos de nuestros países se han comprometido a destinar recursos importantes en aras de una reducción
significativa del analfabetismo, ya sea en el cumplimiento de las metas de Dakar de Educación para Todos; de los
objetivos de Desarrollo del Milenio; del Proyecto Regional de Educación para América Latina y el Caribe o en el marco
del Decenio de las Naciones Unidas para la Alfabetización, sin embargo, se constata una lentitud preocupante en los
avances que se realizan en materia de alfabetización.
En la pasada XV Cumbre Iberoamericana en Salamanca, España (14-15 octubre 2005) los Presidentes se
comprometieron a romper este impasse, e impulsar un Plan Iberoamericano de Alfabetización con el objeto de declarar
a la región latinoamericana territorio libre del analfabetismo entre los años 2008-2015, encomendando esta tarea a la
SEGIB (Secretaría General Iberoamericana) y coordinada por la OEI (Organización de Estados Iberoamericanos). El
CEAAL (Consejo de Educación de Adultos de América Latina), al igual que otras redes, ha participado en los Encuentros
Cívicos Iberoamericanos que se realizaron articulados a las Cumbres, y se ha comprometido a incidir en la medida de
sus posibilidades en el desarrollo coherente y pertinente de la propuesta del Plan de Alfabetización, al igual que en todos
los esfuerzos ciudadanos emancipadores de alfabetización y educación de adultos que se realicen en América Latina.
Denunciamos el hecho que Haití, el más pobre de los países del continente y con más mitad de la población
analfabeta, está excluido del plan iberoamericano por no ser considerado un país iberoamericano. Por ello,
mantenemos una campaña permanente por la inclusión del hermano pueblo caribeño en ésta y otras iniciativas de
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Revista Trimestral de Debate da FASE
desarrollo integral.
Para el CEAAL este Plan de Alfabetización debe ser entendido como el primer paso en la dirección de asegurar el
derecho a la educación básica de jóvenes y adultos. Por esto, el compromiso de los gobiernos debe ir mas allá de la
tarea de alfabetizar pues debe asegurar políticas que garanticen su continuidad. El tema de los derechos humanos
debe ser el eje articulador de la iniciativa en el sentido de enfatizar que la alfabetización es entendida como una nueva
lectura del mundo y de la palabra, que crea mejores condiciones para el ejercicio de una ciudadanía activa. La iniciativa
del Plan debe incluir, donde sea posible y pertinente, una fuerte coalición de los gobiernos nacionales con fuerzas de la
sociedad civil que se comprometan con tales metas.
En el marco de una coyuntura latinoamericana astillada de contradicciones, el CEAAL constituye hoy en día, en base a un
acumulado de casi 30 años de existencia, la más amplia red continental de ONG y organizaciones sociales relacionada al
tema educativo en sus diversas variantes en una perspectiva transformadora. Diversos centros afiliados, colectivos,
redes, programas, y amigos del CEAAL han tenido y tienen experiencias significativas de Educación Popular con
diversos actores sociales y de incidencia en políticas educativas que pueden aportar a incidir en que este Plan de
Alfabetización se realice desde una perspectiva metodológica, participativa, crítica, dialógica e intercultural
involucrando como sujetos a las 40 millones de personas que no saben leer ni escribir.
Así, CEAAL y CREFAL (Centro de Cooperación Regional para la Educación de Adultos en América Latina y el Caribe)
realizaron un importante estudio sobre el Estado del Arte de la Educación de Jóvenes y Adultos (educación popular)
en 21 países latinoamericanos, que servirá de base para inventariar las capacidades instaladas y potenciales en las
diversas sociedades nacionales, y que está pronto a ser difundido ampliamente. También CEAAL - UNESCO - CREFAL
convocaron exitosamente el año pasado el Concurso Latinoamericano de Experiencias de Alfabetización. La Campaña
Latinoamericana por el Derecho a la Educación, de la que formamos parte, propone debatir en los países de nuestra
región los "Puntos de Referencia Internacionales sobre la Alfabetización de Adultos", impulsados por La Campaña
Mundial por la Educación y Action Aid Internacional.
No existe justificación alguna para no poner punto final al analfabetismo, e incluso los países de bajo analfabetismo
deben considerar suyo el problema tal como lo hace Cuba en Latinoamérica y España en Iberoamérica-, pues mientras
existan iletrados/as en Nuestra América la responsabilidad es de todos, por elemental sentido de fraternidad histórica, y
porque la solidaridad mueve montañas. Hoy existen buenas condiciones y oportunidades para impulsar la
formulación, desarrollo y seguimiento de un plan para superar el analfabetismo de jóvenes y adultos a nivel continental,
que contribuya efectivamente -en contenidos y metodología- incorporando a la lectoescritura y a una mayor conciencia
de sus derechos humanos, a los hombres y mujeres latinoamericanos que no saben leer y escribir por la condición de
exclusión de la que han sido víctima.
Hace un año lanzamos la primera Carta Abierta, la que recibió el apoyo entusiasta de muchas personas y entidades que
la suscribieron y propagaron. Hoy con esta Segunda Carta Abierta, tanto el CEAAL, en conjunto con ALOP, PIDHDD, y
La Liga Iberoamericana, y la Federación Internacional Fe y Alegría, volvemos a instar y exigir a los gobiernos
latinoamericanos el cumplimiento del compromiso adquirido en La Cumbre de Salamanca, a ratificarlo a través de
acciones concretas y con la inclusión de Haití. A la SEGIB y OEI a desarrollar de forma efectiva e incluyente la tarea a
ellos encomendada. Llamamos a las diversas instancias de la sociedad civil, movimientos sociales, ciudadanía activa en
cada país latinoamericano y del continente a articularnos y coaligarnos para incidir, proponer, participar
coherentemente y críticamente en las acciones necesarias para que América Latina y el Caribe, sean ¡Al fin! Territorio
Libre de Analfabetismo, y para que la población sea sujeto de su destino con acceso a una plena y efectiva Educación
para toda la Vida.
América Latina, 8 de septiembre de 2007,
Día Internacional de la Alfabetización
CEAAL - Consejo de
Educacion de Adultos
de América Latina
www.ceaal.org [email protected]
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ALOP - Asociación
Latinoamericano
de Organismos
de Promoción
www.alop.or.cr
PIDHDD - Plataforma
Interamericana de
Derechos Humanos,
Democracia y Desarrollo
www.pidhdd.org
La Liga Iberoamericana de
Organizaciones de la Sociedad
Civil para la Superación de la
Pobreza y la Exclusión Social
www.ligaiberoamericana.org
Federación Internacional
Fe y Alegría. Movimiento de
Educación Popular Integral
y de Promoción Social
www.feyalegria.org
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