P.º RP 243/2004 DSJ-CT - Doação - Instituto dos Registos e Notariado

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P.º R. P. 243/2004 DSJ-CT - Doação – Dispensa da colação por
escritura posterior à de doação; necessidade ou desnecessidade da
declaração de aceitação da dispensa por parte do donatário.
1 – Em 23 de Julho de 2004 foram requisitados na Conservatória do
Registo Predial de …, pelas Aps. 1 e 2, respectivamente, os registos de
cancelamento da inscrição F-1 e de conversão da inscrição C~1, ambas
incidentes sobre o prédio descrito sob o n.º 1605 da freguesia de ….
A i n s c r i ç ã o F - 1 d i z r e s p e i t o a u m ó nu s d e r e d u ç ã o d a d o a ç ã o s u j e i t a a
colação e o pretendido averbamento de cancelamento foi recusado com o
fundamento
escritura
de
da
falta
dispensa
de
aceitação
de
colação,
do
donatário
título
que
instrutório
não
do
interveio
aludido
na
registo.
Invocaram-se, como suporte legal da recusa, os artigos 406.º e 457.º do
Código Civil – nos termos dos quais, respectivamente, o contrato deve ser
pontualmente cumprido, só podendo modificar-se por mútuo consentimento
dos contraentes ou nos casos admitidos na lei, e a promessa unilateral de
uma prestação só obriga nos casos previstos na lei –, e os artigos 68.º e
69.º, n.º 2, do Código do Registo Predial.
2 – No recurso hierárquico, admitindo embora que se trata de uma
situação
controversa,
o
recorrente
alinha
com
os
que
defendem
que
a
dispensa de colação pode ser feita unilateralmente pelo doador; invoca, a
propósito, a orientação sustentada por Capelo de Sousa, no seu livro de
direito das sucessões, e a declaração de voto formulada no parecer do
Conselho Técnico, emitido no P.º 4/96 Not. 3, em que se defende não ser
necessária a intervenção do donatário na escritura de dispensa de colação.
3 – O Sr. Conservador recorrido manteve o seu despacho, remetendo,
em
sede
de
sustentação,
para
os
argumentos
que
rebatem
a
tese
do
recorrente e que foram invocados no aludido parecer P.º 4/96 Not. 3, para
concluir
que
a
dispensa
da
colação
separada
da
doação
tem
natureza
bilateral e daí a necessidade de conhecimento do donatário.
4 – Ouvida sobre a questão, a Sr.ª Notária que lavrou a escritura de
dispensa da colação em apreço pronunciou-se no sentido de que a falta de
intervenção do donatário não resultou de lapso, mas antes do facto de
entender que tal intervenção não é necessária, já que se trata de um
1
negócio jurídico unilateral, apontando nesse sentido o disposto no artigo
2113.º do Código Civil, que prevê a hipótese da dispensa ser efectuado por
testamento. Invoca a favor da posição que sustenta a referida declaração de
voto e reafirma a ideia, já expressa nestes autos, de que se trata de um
assunto bastante controverso, que tem vindo a dividir eminentes juristas.
5 – É, pois, sobre o problema de saber se é ou não necessária a
aceitação do donatário na dispensa de colação concedida posteriormente à
escritura de doação a que respeita, por acto inter vivos, que o Conselho é
chamado
a
pronunciar-se,
sendo
que
o
processo
é
próprio
e
válido,
o
recurso foi interposto em tempo, e não há nulidades, excepções ou questões
prévias que obstem ao conhecimento do mérito.
6 – A posição deste órgão colegial relativamente à questão em apreço
data de Julho de 1996, altura em que, no parecer supra referenciado, se
formularam as conclusões seguintes:
“I – O contrato de doação só pode ser modificado por mútuo
consentimento dos contraente;,
II – A lei não admite, genericamente, a declaração unilateral de
vontade como fonte de dispensa da colação;
III – Por isso, na dispensa da colação concedida por acto entre
vivos,
em
separado
da
doação,
é
necessária
a
aceitação
do
donatário.”.
As razões então invocadas na respectiva fundamentação, bem como
os motivos alinhados na declaração de voto emitida a propósito em defesa
da posição contrária, consubstanciam as teses que divergentemente têm
vindo a ser sustentadas pela doutrina.
Vamos, então, proceder à explanação e ao cotejo de umas e outras.
6.1. – Começamos pelas sustentadas no parecer.
Independentemente da questão de saber se a dispensa da colação
deve ser considerada como parte integrante da doação e acto acessório
desta ou configurada antes como um negócio autónomo
1
, entende-se que a
desnecessidade ou necessidade de aceitação do donatário dependerá da
1
Conquanto, na parte final do parecer, se refira “… relativamente à dispensa (… apesar de não ser uma
nova doação, no acto da sua concessão impera o animus donandi, de tal sorte que por efeito desta o que
até então se configurava uma mera antecipação da herança se volve em verdadeira liberalidade)”.
2
existência ou inexistência de preceitos que admitam, ou a modificação do
contrato
por
vontade
exclusiva
do
doador
que
nele
pretenda
incluir
a
cláusula de dispensa, ou, genericamente, a declaração unilateral como fonte
de dispensa.
Ora,
“…
a
gratuidade
da
dispensa
e
o
facto
dela
só
resultarem
b e n e f í c i o s o u v a n t a g e n s p a r a o d o n a t ár i o n ã o d e m o n s t r a m , s ó p o r s i , q u e a
lei prevê ou tipifica o negócio jurídico unilateral inter vivos da dispensa da
colação, ou que admite a modificação do contrato a que esta se refira, por
vontade exclusiva do doador”.
O facto da lei permitir expressamente a dispensa da colação por via
testamentária não pode ser entendido como a admissão legal genérica dessa
dispensa por declaração unilateral do doador. Não só porque o ordenamento
admite
o
negócio
excepcional
–
jurídico
por
“…
se
unilateral
ter
por
entre
vivos
irrazoável
(fora
apenas
dos
com
casos
carácter
especiais
previstos na lei) manter alguém irrevogavelmente obrigado perante outrém,
c o m b a s e n u m a s i m p l e s d e c l a r a ç ã o u n i l a t e r a l d a v o n t a d e ; … ” –, m a s t a m b é m
porque, sendo embora o testamento um negócio jurídico unilateral, destinase a produzir efeitos por morte do seu autor, pelo que não parece adequado
estabelecer paralelismo entre este negócio sucessório e o negócio jurídico
unilateral
entre
vivos,
atentas
as
profundas
diferenças
entre
as
duas
figuras, em especial, a livre revogabilidade do testamento pelo seu autor,
em contraponto com a irrevogabilidade da declaração unilateral do doador a
autorizar a dispensa.
Acresce que o n.º 1 do art.º 2113.º do Código Civil, ao prever a
dispensa da colação pelo doador, só terá tido em vista atribuir-lhe o poder
de afastar a aplicação da norma naturalmente supletiva que determina a
colação (art.º 2104.º, C.Civil), e não proceder à indicação das fontes donde
pode nascer a dispensa, já que se outra tivesse sido a sua finalidade,
designadamente, “… tipificar o negócio jurídico unilateral inter vivos da
dispensa da colação, … a lei tê-la-ia manifestado de forma inequívoca…”. A
favor deste entendimento sobre a “ratio” do aludido preceito militariam o
facto de também na vigência do Código Civil de 1867 – não obstante a
disposição relativa à dispensa da colação aludir apenas à declaração do
doador – a opinião dominante ir no sentido da necessidade da dispensa feita
em separado da doação, por acto entre vivos, ser aceita pelo donatário, e a
circunstância de não decorrer dos trabalhos preparatórios do actual Código
Civil a intenção de adoptar soluções diversas das tidas como aceites pela
legislação anterior.
3
Além de que e por último não faria sentido exigir a aceitação do
donatário na doação feita pelo ascendente ao presuntivo herdeiro legitimário
e prescindir dela na dispensa de colação não testamentária posterior à
doação, já que, em qualquer dos casos, a consequência é a mesma, ou seja,
ao donatário é atribuído um benefício exclusivo ou definitivo, em detrimento
dos
demais
herdeiros
legitimários
do
doador.
“Procedem,
assim,
relativamente à dispensa (…) as razões pelas quais a lei exige na doação a
aceitação
do
donatário,
como
elemento
da
validade
do
negócio,
nomeadamente a necessidade de acautelar os interesses tanto do doador,
como da sua família, contra os impulsos liberais ou contra as liberalidades
precipitadas ou excessivas daquele”.
6.2 – Por seu turno, de acordo com a referenciada declaração de voto
e partindo do princípio enunciado como metodologia de trabalho no parecer
a q u e n o s r e p o r t a m o s , t r a d u z i d o n a e x p r e s s ã o s e g u i n t e :” … a r e s p o s t a à
questão
da
afirmativa,
necessidade
se
não
de
houver
aceitação
preceito
do
que
donatário
admita
a
há-de
modificação
ser
do
contrato por vontade exclusiva do doador que nele pretenda incluir a
cláusula da dispensa”, tal preceito acha-se contido no n.º 2 do art.º 2113.º
do Código Civil, que, na parte respeitante à dispensa da colação, autoriza a
modificação do contrato por vontade exclusiva do doador, consubstanciando,
desta forma, um dos casos especiais a que se refere o art.º 457.º do mesmo
Código (segundo o qual alguém se mantém obrigado perante outrem com
base
em
simples
declaração
unilateral
da
vontade),
sem
prejuízo
da
possibilidade reconhecida ao donatário de renunciar expressa ou tacitamente
a esse benefício, conferindo o valor dos bens na partilha.
Parafraseando
Capelo
de
Sousa,
sustenta-se
que
a
dispensa
de
colação, quer como cláusula integrante do contrato de doação, quer, em
separado deste, como negócio jurídico bilateral ou unilateral receptício ou
não receptício, envolve sempre uma declaração negocial subordinada aos
requisitos fixados no art.º 240.º2 e seguintes do Código Civil, e admite-se a
possibilidade da dispensa de colação ter lugar por negócio jurídico unilateral
entre
vivos.
“É
que,
sendo
possível
tal
dispensa
por
negócio
jurídico
u n i l a t e r a l m o r t i s c a u s a ( c f r . a r t . º 2 1 1 3 .º , n . º 2 ) , p a r e c e h a v e r i g u a l m e n t e
razões materiais para o ser também inter vivos, dada a sua gratuitidade.
Tanto mais que a expressão pelo doador e a sua ratio legis inculcam a
2
Cremos que houve lapso na referência ao número do artigo, já que o correcto, em função da matéria
versada, será o art.º 217.º.
4
ideia do seu enquadramento no numerus clausus dos negócios unilaterais
previsto no artigo 457.º.”.3
Relativamente à diferença entre a dispensa testamentária da colação
e a concedida por declaração unilateral fora do testamento, traduzida na
livre revogabilidade da primeira e na irrevogabilidade da segunda, entendese4 que não pode servir de argumento a favor da tese sufragada no parecer,
porque “… isso resulta de características próprias do acto de que se queira
lançar mão. Também a disposição de bens, a título gratuito se pode fazer
por doação ou por testamento, mas só no primeiro caso ela é definitiva na
data da declaração negocial, importando,… ao disponente, conhecidas as
consequências, escolher a via a utilizar.”.
Em apoio da sua tese, a declaração de voto em apreço transcreve (a
propósito de uma recomendação dos Serviços de Inspecção da D. G. R. N.,
datada de 1968, nos termos da qual o doador que tenha imposto ao herdeiro
legitimário a obrigação de colação e que mais tarde resolva dispensá-lo
dessa obrigação, pode, mesmo unilateralmente, fazê-lo, conforme o permite
o art.º 2113.º do Código Civil) a seguinte opinião de Albino de Matos
sobre
o
assunto:
“Não
se
estranhe
a
possibilidade
de
o
5
doador,
unilateralmente, dispensar o donatário da colação, independentemente da
aceitação dessa dispensa pelo donatário, assim se alterando unilateralmente
um
contrato,
uma
convenção
bilateral.
Pois
é,
afinal,
a
própria
lei
a
autorizar a dispensa em acto unilateral, em testamento (artigo 2113-2).
Evidentemente, segundo os princípios gerais, no caso inverso – doação com
dispensa da colação, que posteriormente pretende impor-se – a alteração só
é possível em acto bilateral, com mútuo consenso das partes, doador e
donatário.”.
7 – Expostas que foram as orientações em confronto e referidos os
f u n d a m e n t o s e m q u e s e a p o i a m o s d ef e n s o r e s d e c a d a u m a d e l a s , n ã o
sobram
dúvidas
de
que,
para
responder
ao
problema
em
foco,
há que
3
Autor citado, in “Lições de Direito das Sucessões”, vol. II, 3.ª edição, pág. 179, nota 458.
Mais uma vez invocando a seu favor o referido Autor, ob. e pág. cits., nota 459: “Poderá, inversamente,
o de cuius submeter à colação bens doados que no momento da doação tenha dispensado? Parece-nos
que não, dado o carácter contratual (art.º 940.º, n.º 1) e definitivo (arts. 406.º e 969.º e segs.) das
doações e o facto de a doação se perfeccionar na data da troca das declarações negociais (art.º 954.º),
que contiveram e pressupuseram a dispensa da colação. Tudo isto, a não ser que o doador tenha
reservado no contrato de doação dispensada de colação a faculdade de revogar esta dispensa, o que nos
parece possível. E a mesma linha de orientação se aplicará nos casos de dispensa inter vivos de colação,
posterior à doação, por negócio bilateral ou unilateral (…), mas já não… na dispensa testamentária da
colação.”.
5
No “Dicionário do Notariado”, ficha n.º 241.
4
5
decidir, face às disposições legais em vigor, se é ou não indispensável a
intervenção
do
donatário
na declaração
não
testamentária
do
doador
a
dispensar a colação na doação que antes lhe havia efectuado. O que passa,
naturalmente, pela revisão e análise dos preceitos relativos à doação e à
colação, e a tudo o que, em ordem ao objectivo visado, lhes ande associado.
7.1 – Doação.
A doação é concebida pela nossa lei civil como um contrato pelo qual
uma pessoa por espírito de liberalidade e à custa do seu património, dispõe
gratuitamente de uma coisa ou de um direito, ou assume uma obrigação, em
benefício de outro contraente (art.º 940.º, C.Civil).
Como decorre da noção legal, são três os requisitos exigidos para que
exista uma doação:
–
espírito
de
liberalidade:
a
generosidade
ou
espontaneidade
do
doador em beneficiar o donatário, o seu “animus donandi”; o intuito de
“ f a z e r b e m ” 6, e n r i q u e c e n d o o p a t r i m ó n i o d o d o n a t á r i o ;
– diminuição ou empobrecimento do património do doador;
– disposição gratuita de certos bens ou direitos, ou assunção de uma
dívida, em benefício do donatário, ou seja, a atribuição patrimonial sem
correspectivo.
Sendo um contrato, a doação é sempre um negócio jurídico bilateral,
que nasce do enlace de duas vontades, a do proponente-doador e a do
aceitante-donatário,
doador
7
conquanto
seja
fonte
de
obrigação
apenas
para
o
que, através do vínculo jurídico assim criado, fica adstrito para com
o donatário à realização de uma prestação. Trata-se, pois, de um contrato
unilateral.
O
concurso
daquelas
duas
vontades,
necessário
à
caracterização
8
jurídica do contrato , parece todavia não se verificar nas doações puras
6
Por isso os autores antigos lhe chamavam “contrato de beneficência”.
Sem prejuízo dos encargos que, por imposição do doador, possam resultar para o donatário, nas
chamadas doações modais ou onerosas, sendo que tais encargos hão-de ter valor inferior ao dos bens
doados (art.º 963.º, C. Civil).
8
“Se não houver proposta, não há doação; se não houver aceitação, a proposta caduca (art.º 945.º).”. –
Baptista Lopes, in “Das Doações”, pág. 10. Vide tb., a propósito, Pires de Lima e Antunes Varela, in
“Código Civil Anotado”, Vol. II, 3.ª edição, pág. 257: “Foi a tese tradicional da doação real –
transferência de bens – que pôs mesmo em crise, em alguns países a natureza contratual do negócio – a
sua bilateralidade. Por se verificar que dela não resultavam obrigações (…), foi qualificada a doação,
em algumas legislações, como acto e não como contrato(…). Não se levantou este problema entre nós
…, quer por virtude do conceito amplo de contrato que foi adoptado (cfr. art.º 405.º) – atenda-se a que o
ciclo negocial só se completa com a adesão do donatário, mediante um acto de aceitação, não existindo
7
6
(sem encargos) feitas a incapazes, já que estas, consoante decorre do
previsto no n.º 2 do art.º 951.º, produzem efeitos independentemente de
aceitação em tudo o que aproveite aos donatários. Esta, digamos, excepção
ao regime geral da doação tem recebido da doutrina explicações diversas,
d e s d e o s q u e e n t e n d e m q u e t a i s d o a çõ e s a p r e s e n t a m e s t r u t u r a u n i l a t e r a l 9,
a o s q u e a c h a m q u e a l e i p r e s u m e , n e s s e s c a s o s , a a c e i t a ç ã o d o d o n a t á r i o 10.
Ressalvado
o
caso
das
doações
puras
feitas
a
incapazes
a
que
acabámos de nos referir, a aceitação do donatário é necessária à conclusão
do processo constitutivo do contrato de doação, uma vez que, antes dela
acontecer, não existe o acordo de vontades, elemento essencial da formação
de
qualquer
contrato,
mas
apenas
uma
proposta
de
doação
(I n v i t o
b e n e f i c i u m n o n d a t u r : i . é . , “ A n i n g u é m p o d e s e r i m p o s t o u m b e n e f í c i o ”) .
Proposta que, se não for aceita em vida do doador, caduca; mas
como não está sujeita aos prazos de caducidade fixados no n.1.º do art.º
228.º,
para
as
propostas
contratuais
gerais,
a
aceitação
pode
ocorrer
enquanto o doador for vivo, desde que seja observada a forma da escritura
pública (quando respeite a imóveis) e declarada ao doador; declaração que
pode ser feita por qualquer dos meios admitidos para a declaração negocial
(arts. 217.º e segs.). É o que decorre das disposições conjugadas dos
artigos 945.º, n.º s 1 e 3, 947.º, n.º 1 e 969.º, n.º2, C.C.. “Os direitos e
obrigações
em
gérmen
na
proposta
só
nascem
no
momento
em
que
o
contrato se aperfeiçoa – resultando o contrato da fusão de vontades do
p r o p o n e n t e e d o a c e i t a n t e , e n ã o a p e n a s d a d e c l a r a ç ã o d o p r i m e i r o . ” . 11
7.2 – Colação.
A colação, cuja definição legal resulta do artigo 2104.º do Código
Civil, consiste na restituição à massa da herança, pelos descendentes que
pretendam entrar na sucessão do ascendente, para efeito de igualação na
até esse momento senão uma simples proposta contratual (cfr. art.º 945.º) – quer por causa da própria
expansão que se deu à figura da doação.”.
9
Galvão Teles, in “Dos contratos em geral”, 1947, conforme referência feita por Baptista Lopes, in ob.
e pág. cits. Também Mário Júlio de Almeida Costa propende para a ideia de que a doação pura feita a
incapaz constitui um negócio jurídico unilateral, posição que assume relevo prático quanto à relevância
ou irrelevância da oposição do representante legal do incapaz, impondo, como corolário lógico, a segunda
– “Direito das Obrigações”, 9.ª edição, pag. 424, nota 1.
10
Vide, por todos, Pires de Lima e Antunes Varela, in ob. cit., pág. 275: “Esta solução é juridicamente
anómala, na medida em que permite a celebração de um contrato unilateralmente; mas é perfeitamente
compreensível, desde que as doações puras não podem trazer prejuízos para os donatários. Tudo se
passa, por conseguinte, como presumindo a lei a aceitação por parte dos representantes legais dos
incapazes, visto não haver razões económicas que justifiquem a recusa, nem ser provável a existência de
razões de ordem moral que se oponham à aceitação.”.
11
Antunes Varela, in “Das Obrigações em Geral”, vol. I, 10.ª edição, pág. 439.
7
partilha, dos bens ou valores que lhes foram doados por este; mas, de
acordo com o disposto no art.º 2105.º, só os descendentes que eram, à data
da doação, presuntivos herdeiros legitimários do doador.
Tem,
assim,
a
colação
por
objectivo
estabelecer
a
igualação
na
p a r t i l h a d o d e s c e n d e n t e d o n a t á r i o c om o s d e m a i s d e s c e n d e n t e s ( q u a n d o o s
haja,
obviamente)
presunção
de
distinguir
aquele
do
que,
ao
autor
da
h e r an ç a ,
fazer
tal
doação,
filho,
beneficiando-o
baseando-se,
o
pai
doador
relativamente
para
não
aos
isso,
na
pretendeu
outros,
mas
apenas, tocado pelas suas necessidades pessoais e familiares, fazer-lhe um
adiantamento por conta da quota hereditária, que pensa deixar igualmente a
todos os filhos.
Mas não é por essa razão que as doações feitas àqueles descendentes
deixam
de
ser
verdadeiros
negócios
jurídicos
bilaterais
que
reúnem
os
requisitos e produzem os efeitos próprios do tipo de contrato em que, nos
termos legais, se analisa a doação, designadamente, como contratos reais
“quoad effectum”, que são, a transferência, na data da sua celebração, dos
direitos reais sobre os imóveis delas objecto. Trata-se, pois, de doações
sujeitas à respectiva disciplina jurídica, em relação às quais, todavia, a lei
e s t a b e l e c e u a p r e s u n ç ã o 12 d e q u e s ã o f e i t a s c o m o a n t e c i p a ç ã o d a q u o t a
hereditária do donatário; presunção que tendo como fonte a vontade do
doador, pode ser ilidida pela manifestação, em sentido contrário, dessa
mesma vontade. Nisto se traduz a chamada dispensa da colação, de que se
ocupa o art.º 2113.º.
Com a dispensa, o doador já não tem em vista antecipar bens por
conta
da
legítima
do
filho,
igualá-lo
aos
demais,
mas
pô-lo
antes
em
vantagem frente a eles, patenteando, assim, o mesmo interesse jurídico e
e c o n ó m i c o q u e e s t á p r e s e n t e n a s d o a ç õ es f e i t a s a e s t r a n h o s , s u j e i t a n d o a
respectiva
liberalidade
à
redução
por
inoficiosidade,
desde
que
isso
se
mostre necessário para preencher a legítima dos herdeiros da sucessão.
12
Presunção que, aliás, não funciona, independentemente da manifestação em sentido contrário da
vontade do doador, quando o donatário herdeiro legitimário repudie a herança, não sendo assim obrigado
a trazer os bens à colação. É, como refere Pereira Coelho, no “Direito das Sucessões” o chamado
repúdio para escusa de colação. Já Cunha Gonçalves, in “Tratado de Direito Civil”, vol. X, pág. 715,
referia, a propósito: “Poderá estranhar-se que, deste modo, o donatário pode opor-se à vontade do
doador, quando este não tenha querido excluir a colação. Mas o doador não pode impedir que o
donatário prefira a doação à legítima. Se o doador quer obrigar o donatário à colação, será preferível
não fazer a doação.”. E Pires de Lima e Antunes Varela, na obra cit., vol VI, pág. 190, em comentário
ao art.º 2114.º:”O herdeiro legitimário repudia, porque a lei não quer tolher a liberdade de o fazer, e
nem por isso revoga a doação, porque ela foi livremente realizada pelo doador e livremente aceite pelo
donatário. Mas imputa-a nesse caso na quota indisponível do doador, para não prejudicar os donatários
que, de outro modo, poderiam ser prejudicados com a inoficiosidade da liberalidade que receberam.”
8
Em caso de dispensa, o donatário cumula os dois benefícios, a doação
e a herança. “ O herdeiro-donatário alcança uma benefício ainda em vida do
doador, pois torna-se proprietário dos bens desde a doação; e pode usá-los
e fruí-los (salvo se a doação foi feita com reserva do usufruto) não tendo de
conferir à herança os rendimentos produzidos até à morte do doador (art.º
2 1 1 1 . º ) . ” 13
A inserção sistemática do instituto da colação no capítulo respeitante
à
partilha
da
herança
é
reveladora
do
domínio
fundamentalmente se vão produzir os seus efeitos.
14
jurídico
em
que
Daí que, referindo-se
embora a um acto entre vivos (a doação feita pelo doador a um dos seus
descendentes), a colação não deixa de inspirar-se na vontade presumível do
de cuius. E como esta pode sempre modificar-se livremente, enquanto o
testador for vivo, o que o citado art.º 2113.º estatui não é mais do que o
imediato corolário dessa ideia, ao prescrever, no seu n.º 1, que “ A colação
pode ser dispensada pelo doador no acto da doação ou posteriormente.”
(sublinhámos).
dispensa
15
deve
E é o n.º 2 que elucida sobre a forma por que essa
ser
efectuada,
ao
dispor:”Se
a
doação
tiver
sido
a c o m p a n h a d a d e a l g u m a f o r m a l i d a d e e x t e r n a , s ó p e l a m e s m a f o r m a, o u p o r
t e s t a m e n t o , p o d e s e r d i s p e n s a d a . ” ( s u b l i n h a d o t a m b é m n o s s o ) . 16
A
dispensa
da
colação,
como
manifestação
que
é
da
vontade
do
doador, pode, assim, ser feita no próprio acto da doação ou posteriormente,
por
declaração
expressa
ou
tácita,
mas
que
seja
inequívoca,
como
é
17
jurisprudência corrente , envolvendo sempre uma declaração negocial com
o s r e q u i s i t o s p r e v i s t o s n o s a r t i g o s 2 1 7 . º e s e g u i n t e s 18, q u e r f u n c i o n e c o m o
13
Galvão Teles, in “Direito das Sucessões”, Lisboa-1971, pág. 182.
Vide Capelo de Sousa in ob. cit., pág. 181, nota 465: “A colação, apesar de ter por objecto
liberalidades em vida, só é passível de realização após a abertura da sucessão, aquando da partilha
hereditária e uma vez definidos quais os herdeiros descendentes capazes e aceitantes. O que se
compreende, para além do mais, pela mutabilidade do património do de cuius e do seu círculo de
herdeiros; sendo certo que a vocação, a aceitação e a partilha hereditárias se fazem ou retroagem ao
momento da abertura da sucessão.”.
15
Cfr. Pires de Lima e Antunes Varela, in “Código Civil Anotado”, vol. VI, pág. 189.
16
Sem prejuízo dos casos em que essa dispensa decorre directamente da lei, como acontece no caso de::
despesas com o casamento, alimentos, estabelecimento e colocação dos descendentes, na medida em que
se harmonizem com os usos e a condição social e económica do falecido (art.º 2110.º, n.º 2); frutos da
coisa doada percebidos antes da abertura da sucessão (consequência lógica da especificidade própria da
doação feita a descendente, considerada, em princípio, como antecipação da quota hereditária); e repúdio
da herança pelo herdeiro-donatário que não tenha descendentes que o representem.
17
Baptista Lopes, ob. cit., pág.206.
18
Tenha-se presente o que, a respeito, dispõe este artigo 217.º do Código Civil, sob a epígrafe
Declaração expressa e declaração tácita: “ 1 – A declaração negocial pode ser expressa ou tácita: é
expressa, quando feita por palavras, escrito ou qualquer outro meio directo de manifestação da vontade,
e tácita, quando se deduz de factos que, com toda a probabilidade, a revelam. 2 – O carácter formal da
14
9
cláusula integrante do contrato de doação, quer tenha lugar posteriormente,
c o m o n e g ó c i o j u r í d i c o b i l a t e r a l o u u n i l a t e r a l n ã o r e c e p t í c i o . 19
Dúvidas não existem quanto à configuração da dispensa efectuada
pelo doador no próprio acto da doação, já que a mesma forma um todo com
o contrato do qual é cláusula integrante.
Quando só em data posterior à da celebração do contrato de doação,
o doador resolve dispensá-la da colação, um dos instrumentos que tem à
sua disposição é, como vimos, o testamento.
O testamento é, como se sabe, um “… acto unilateral e revogável pelo
qual uma pessoa dispõe, para depois da morte, de todos os seus bens ou
parte deles” (art.º 2179.º, n.º 1, C. Civil). Reveste, assim, a natureza de
um
negócio
jurídico
unilateral
não
receptício,
que
se
caracteriza
pela
existência de uma única parte, cuja manifestação de vontade vale ou é
idónea a produzir os efeitos jurídicos pretendidos, independentemente da
sua comunicação a outrem.
E é mediante tal acto unilateral que o doador pode expressar a sua
vontade no sentido de que a liberalidade concedida ao herdeiro legitimário
continue, como tal, após o seu decesso, ficando fora das operações de
partilha – como se de uma doação a estranhos se tratasse –, e não como
mera
antecipação
intacta
a
da
respectiva
possibilidade
de
q u o ta
alterar
hereditária,
aquela
mantendo,
vontade,
atenta
todavia,
a
livre
revogabilidade, enquanto vivo for, da disposição testamentária.
Mas, e como vimos, de acordo com o citado preceito legal, o doador
também pode conseguir aquele objectivo, através da mesma forma utilizada
para a doação, se esta tiver sido acompanhada de alguma formalidade
externa.
A explicação deste regime da forma a que a lei sujeita a dita dispensa
r e s i d i r á n o f a c t o d e e l a f u n c i o n a r , q u a nd o p o s t e r i o r a o a c t o d a d o a ç ã o , c o m o
uma segunda doação (atento o novo benefício que gera para o donatário),
uma vez que, a partir da dispensa, a doação anterior que estava condenada
a ser restituída à massa da herança, para imputação do valor na quota
declaração não impede que ela seja emitida tacitamente, desde que a forma tenha sido observada quanto
aos factos de que a declaração se deduz.”; e, quanto à forma, o previsto no art.º 220.º, relativo à
inobservância da forma legal: “A declaração negocial que careça da forma legalmente prescrita é nula
quando outra não seja a sanção especialmente prevista na lei.”.
19
Ou também, no entendimento de Capelo de Sousa, in ob. cit., pág. 179, nota 458, “ … quer tenha
lugar posteriormente, como negócio jurídico… unilateral receptício.”.
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hereditária,
passa
a
considerar-se
como
efectuada
por
conta
da
quota
disponível do doador, alterando-se, assim, a sua fisionomia, por forma
r a d i c a l . 20 N e s t a l i n h a d e p e n s a m e n t o , p o d e r í a m o s s e r l e v a d o s a c o n c l u i r q u e
seria, então, indispensável, não só o recurso à escritura pública, como a
intervenção na mesma do respectivo donatário, já que a sua aceitação é,
como vimos, elemento caracterizador do respectivo contrato.
A circunstância de a lei submeter a dispensa de colação à mesma
forma (escritura pública, “in casu”) a que legalmente está sujeito o contrato
de doação não significa, por si só, que essa remissão implique a celebração
do mesmo tipo de contrato: uma coisa é a forma; outra é o tipo de contrato
cuja eficácia a exige. Certo é que preside à dispensa o mesmo “animus
donandi” característico da própria doação, pelo que, incorporada no próprio
acto
desta,
obedece
ao
princípio
do
contrato
–
aceite
pelo
legislador
português –, nos termos do qual só esta figura jurídica pode, em regra,
criar obrigações.
Admitir
a
possibilidade
da
dispensa
ser
concedida
por
escritura
posterior à doação com a intervenção única do doador – ou seja, mediante a
celebração de um negócio jurídico decorrente de uma vontade isolada, no
qual a unilateralidade se verifica, não apenas nos efeitos (como sucede no
contrato de doação), mas também na respectiva formação –, é postergar
aquele
princípio.
Pelo
que
este
tipo
de
negócio
–
em
resultado
da
consagração legal de tal princípio – só poderia produzir os seus efeitos nos
casos previstos na lei (art.º 457.º, C.Civil).
Por conseguinte, a questão pertinente que se coloca é sobre se o
citado n.º 2 do art.º 2113.º autoriza a dispensa de colação por negócio
jurídico unilateral entre vivos, já que, como referimos, a admissibilidade é
expressa quanto ao negócio jurídico unilateral “mortis causa”.
P o d e , p o r é m , p e r f e i t a m e n t e s u s t e n t ar - s e , s e m s u b v e r t e r o s c o n c e i t o s
nem forçar a lei, que a escritura pela qual o doador apenas dispensa de
colação a doação efectuada por anterior escritura, integra também ela, não
uma declaração acessória, mas uma outra e nova doação. De facto, também
a esta preside uma intenção de liberalidade, de “bene facere”e nela existe
uma atribuição de cariz patrimonial que implica um empobrecimento para o
doador
e
um
benefício
para
o
donatário.
Pois,
como
se
referiu
anteriormente, o herdeiro-donatário obtém um novo benefício que consiste
20
Pires de Lima e Antunes Varela, in “Código Civil Anotado”, vol. VI, pág. 189, nota 3 ao art.º 2113.º:
“Note-se, aliás, que o requisito da forma para dispensa da colação não é apenas o da solenidade exigida
por lei para a doação, mas a da formalidade que tenha acompanhado, de facto, a realização da
doação.”.
11
em usar e fruir os bens (salva reserva do usufruto), não tendo de conferir à
herança os rendimentos produzidos até à morte do doador. Sendo, pois, uma
doação e como igualmente ficou esplanado, este negócio jurídico, enquanto
doação que é, está sujeito à forma desta e à aceitação pelo donatário, o que
constitui uma achega, que se nos afigura decisiva, à essencialidade da
intervenção
do
donatário
na
escritura
primitiva
ou
noutra
que
posteriormente tenha de se lavrar.
8 – Tudo quanto dissemos sobre a fisionomia legal da colação e da
sua dispensa leva-nos necessariamente à conclusão de que esta última
depende
efeitos
em
exclusivo
após
o
seu
da
vontade
falecimento,
do
doador
caso
o
cuja
herdeiro
manifestação
(donatário,
surtirá
credor
do
benefício), se conforme com ela. Não será, de resto, a sua intervenção na
escritura, a “aceitar”, que irá modificar os efeitos dessa dispensa, pois ele
manterá,
em
qualquer
caso,
o
direito
à
renúncia,
“…
por
exemplo,
conferindo no inventário o valor dos bens ou descrevendo-os para efeito da
sua avaliação…”.
Além de que, na circunstância, nem sequer se verificaria um dos
inconvenientes motivadores da adopção legal do princípio do contrato; a
saber, a criação na esfera jurídica do destinatário da declaração unilateral
da vontade de um direito de crédito sem prévia aceitação dele, uma vez que
lhe é reconhecida a possibilidade de rejeitar o benefício.
A ser assim, não existiria qualquer motivo para a lei distinguir entre a
dispensa da colação efectuada através de escritura pública e a realizada por
testamento; bastaria então que se tivesse previsto, genericamente, a feitura
da mesma por negócio jurídico unilateral.
Mas se, relativamente ao negócio jurídico unilateral “mortis causa”,
não
se
suscita
unilateral
princípio
“inter
do
qualquer
objecção,
no
vivos”
procederia
a
contrato
irrevogavelmente
declaração
que
obrigado
unilateral
de
assenta
perante
vontade
21
,
que
respeita
única
no
ou
explicação
facto
outrem,
seja,
ao
de
com
não
negócio
jurídico
convincente
do
manter
alguém
numa
simples
base
correr-se-ia
o risco
de
o
devedor se obrigar com certa ligeireza, sem se aperceber de todo o
alcance
do
seu
acto,
pois
não
existe,
como
nos
contratos,
uma
fase
22
negociatória .
21
Antunes Varela, in “Das Obrigações em Geral”, vol. I, 10.ª edição, pág. 440.
Almeida Costa, ob. cit., pág. 422.
22
12
De facto, concedida a dispensa, fica reduzida, ou mesmo absorvida, a
quota disponível do doador, deixando de ser possível a reposição dos bens
ou valores doados, e prejudicada, em consequência, a sua capacidade para
efectuar
liberalidades,
donatário
um
herdeiros
legitimários.
enquanto
exclusivo
e
que,
definitivo
Isto,
do
mesmo
benefício,
naturalmente,
passo,
em
é
prejuízo
porque,
atribuído
dos
tratando-se
ao
demais
de
um
negócio jurídico entre vivos, o mesmo é irrevogável.
Parece-nos,
pois,
que,
ao
autorizar
a
realização
da
dispensa
da
c o l a ç ã o s ó p e l a m e s m a f o r m a d a d o a ç ã o, o l e g i s l a d o r t e v e , d e f a c t o , e m
vista,
não
pública,
apenas
quanto
a
a
observância
imóveis
–,
da
mas
mesma
também
forma
o
externa
–
cumprimento
requisitos, designadamente, a aceitação do donatário.
23
escritura
dos
seus
Até porque se esta
aceitação não se verificar na própria escritura através da qual se formalizou
a dispensa, o doador pode livremente revogar a sua declaração, enquanto
aquela proposta não for aceite pela mesma forma (art.ºs 228.º, n.º 2, e
art.º 230.º, C.C.). O que naturalmente inibe a escritura com intervenção
singular
do
doador
de
produzir,
de
forma
irrevogável,
em
vida
sua,
o
pretendido efeito da igualação daquela liberalidade às doações feitas a
estranhos (libertando-a, deste modo, da obrigação da sua imputação na
quota
hereditária
do
donatário-herdeiro)
e,
em
consequência,
de
se
constituir em causa e título para o cancelamento do registo do ónus de
colação a que tal doação se mostrava sujeita por força da lei (arts. 2118.º,
C. C. e art.º 13.º, C.R.Predial).
9 – Face ao exposto, concluímos que o recurso interposto não
merece provimento, e formulamos a seguinte
CONCLUSÃO
A dispensa da colação pode ser efectuada no próprio acto da
doação ou em data posterior; neste caso, o doador tem a faculdade de
o fazer por acto unilateral, revogável e “mortis causa” – o testamento
– , ou mediante contrato sujeito à mesma forma externa da doação –
23
Vale, a este respeito, tudo o que atrás se disse (ponto 7.1, final) quanto à aceitação da proposta de
doação. Pelo que, bem vistas as coisas, nada obsta a que esta aceitação se concretize, não na própria
escritura da dispensa de colação (em que interveio apenas o doador), mas em escritura subsequente a esta
(em que as razões legais de forma estão preenchidas), ou com observância da forma contemplada no art.º
947.º C.C. (Cfr. tb., os art,ºs 217.º, n.º2 e 220.º do mesmo Código).
13
escritura pública, quando respeite a imóveis, – e com a aceitação do
donatário.
Este parecer foi homologado por despacho do Director-Geral de
02.08.2005
14
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