Seção VIII - DA HABILITAÇÃO DE

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Seção VIII - DA HABILITAÇÃO DE PRETENDENTES À ADOÇÃO
(artigos 197A, 197B, 197C, 197D e 197E)
Luiz Antonio Miguel Ferreira1
Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no Brasil,
apresentarão petição inicial na qual conste:
I - qualificação completa;
II - dados familiares;
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou casamento, ou
declaração relativa ao período de união estável;
IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro de
Pessoas Físicas;
V - comprovante de renda e domicílio;
VI - atestados de sanidade física e mental;
VII - certidão de antecedentes criminais;
VIII - certidão negativa de distribuição cível.
Uma das inovações introduzidas pela Lei n. 12.010/09 no Estatuto da Criança e
do Adolescente refere-se a uma seção específica que trata do processo de habilitação
dos pretendentes à adoção.
A matéria era tratada no artigo 50 do Estatuto da Criança e do Adolescente que
estabelecia a necessidade da autoridade judiciária manter, em cada comarca, um
cadastro das pessoas interessadas na adoção. Colocava como requisito para o cadastro,
a necessidade de satisfazer as exigências legais previstas para a adoção, bem como de
oferecer um ambiente familiar adequado e não apresentar incompatibilidade com a
medida pleiteada. O cadastro somente se efetivaria após a prévia consulta aos órgãos
técnicos do Juizado da Infância e da Juventude, com a manifestação do Ministério
Público.
Em face desta normatividade, as especificidades relativas ao cadastro eram
detalhadas em provimentos dos Tribunais2. O Conselho Nacional de Justiça, através da
Resolução n. 54, de 29 de abril de 2008, instituiu o Cadastro Nacional de Adoção,
estabelecendo diretrizes quanto a sua implantação e funcionamento.
Agora, o legislador optou por inserir na legislação estatutária uma normatividade
que viesse unificar os procedimentos quanto ao cadastro.
Define-se o cadastro como o registro de brasileiros ou estrangeiros residentes no
País, interessados na adoção de crianças e adolescentes, a ser mantido por cada Juízo
da Infância e da Juventude.
Além deste cadastro na comarca, pela Resolução n. 54, de 29 de abril de 2008,
do Conselho Nacional de Justiça há o Cadastro Nacional de Adoção vinculado ao citado
Conselho e que abrangerá todas as comarcas das unidades da federação. O nacional
1
Promotor de Justiça do Ministério Público do Estado de São Paulo. Especialista em Direitos Difusos e
Coletivos pela ESMP e mestre em educação pela UNESP.
2
No estado de São Paulo, o Provimento n.05/2005 do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, de 03 de
março de 2005, que disciplinou de forma uniforme toda a sistemática para o judiciário paulista do cadastro
dos pretendentes à adoção.
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não substitui o estadual, que continua em vigor. Apenas unificou as informações da
federação de forma a ter um banco de dados a nível nacional. Assim, uma consulta a
pretendentes à adoção, deve iniciar-se na comarca, passando para o cadastro estadual e
se não resultar positiva é que se fará a consulta no cadastro nacional.
Existe ainda o cadastro centralizado de pretendentes estrangeiros à adoção a ser
efetivado perante a Autoridade Central Estadual, em matéria de adoção internacional
(ECA., art. 52, VII).
O objetivo de todo o cadastro é ordenar a colocação de crianças e adolescentes
em família substituta, na modalidade de adoção, obedecendo à anterioridade dos
interessados e às peculiaridades de cada caso quanto à pessoa a ser adotada. Também
tem por objetivo preparar os pretendentes à adoção para as peculiaridades do instituto e
da criança ou adolescente a ser adotado, visando o sucesso da convivência familiar.
Trata-se de um procedimento de natureza administrativa e que, por esta situação,
dispensa a assistência de advogado. Esta situação ficou clara com a redação do artigo
197-A, mas nada impede que o pedido seja feito por advogado.
Tal artigo estabeleceu os requisitos da petição que os interessados no cadastro
deverão satisfazer para o processamento do pedido:
I - qualificação completa: nome, nacionalidade, estado civil, profissão, endereço
domiciliar;
II - dados familiares: filiação, prole eventualmente existente, com a especificidade do
nome e idade, antecedente familiar, histórico de adoção na família, informações quanto à
eventual convivência familiar, entre outros dados.
III - cópia autenticada de certidão de nascimento ou casamento, ou declaração
relativa ao período de união estável: trata-se da comprovação do estado civil;
IV - cópia da cédula de identidade e da inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas;
V - comprovante de renda e domicílio: este comprovante poderá ser substituído por
declarações, principalmente nas hipóteses de pessoas que exercem trabalho informal;
VI - atestado de sanidade física e mental: documento que comprove a saúde física e
mental para o ato pretendido;
VII - certidão de antecedentes criminais e VIII - certidão negativa de distribuição
cível: que visam, juntamente com o atestado de sanidade física e mental, avaliar a
compatibilidade da medida e o ambiente familiar a ser oferecido ao adotado.
Quanto a estas certidões, o legislador não especificou o lapso de tempo em que o
interessado reside na comarca para o seu fornecimento, ao contrário do que estabelecia
do Provimento n. 05/2005 do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, que previa:
“caso o requerente resida na comarca há menos de 10 anos, deverá ser requisitada
certidão junto ao distribuidor de seu domicílio anterior”. Esta situação deve ser levada em
consideração quando da análise do pedido pelo Promotor de Justiça e Juiz da Infância e
da Juventude.
O pedido da habilitação poderá ser feito por pessoas maiores de 18 anos de
idade, independente do estado civil que atenda aos requisitos legais previstos no Estatuto
da Criança e do Adolescente para a adoção.
Nada impede que este pedido seja efetivado em formulário proposto pelos
Tribunais e fornecidos pela Vara da Infância e da Juventude, visando unificar a coleta de
informações, até mesmo para fins estatísticos.
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Quanto à competência, o interessado deve cadastrar-se junto ao Juízo de seu
domicilio, não havendo necessidade de se formular pedidos em vários juízos, até porque
ocorre a unificação dos cadastros a nível Estadual e Nacional. No entanto, se ocorrer a
mudança de cidade que implique em mudança de Estado, o interessado deve dar início a
novo cadastro junto ao Juizado da infância e da Juventude onde reside.
Em seguida, o legislador detalhou o processamento do pedido, estabelecendo o
rito a ser seguido.
Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e
oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério Público, que no prazo
de 5 (cinco) dias poderá:
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe
interprofissional encarregada de elaborar o estudo técnico a que se
refere o art. 197-C desta Lei;
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos postulantes em
juízo e testemunhas;
III - requerer a juntada de documentos complementares e a realização
de outras diligências que entender necessárias.
Após o registro e autuação do procedimento, o passo seguinte é a manifestação
preliminar do Promotor de Justiça que atua na área da Infância e da Juventude. A
primeira observação diz respeito ao prazo. O Promotor deverá manifestar-se em 05 dias.
Em seguida, poderá apresentar quesitos à equipe técnica responsável pela
elaboração do estudo. O legislador unificou este procedimento ao que determina o
Código de Processo Civil em relação à prova pericial, com o oferecimento preliminar de
quesitos (CPC. art. 421). Não era esta situação que se verificava, pois normalmente, era
após o estudo técnico que o Promotor de Justiça intervinha no feito, manifestando-se
sem a oportunidade de questionamentos preliminares.
Os quesitos ofertados tem que ter pertinência com o objetivo do procedimento, ou
seja, a inscrição dos pretendentes no cadastro de adoção. Assim, apresentam-se como
quesitos relativos ao caso, entre outros: saber se os pretendentes estão aptos à adoção;
ou se necessitam de um acompanhamento psicológico para melhor compreensão do
instituto e amadurecimento da pretensão adotiva; se sabem lidar com a questão da
revelação; a motivação da adoção; a estabilidade familiar dos pretendentes; caso tenham
prole, se a mesma está ciente da intenção adotiva dos genitores e se concordam com a
mesma; se não há alguma incompatibilidade dos pretendentes com a natureza da
medida.
Normalmente, os pretendentes ao cadastro somente tem contato com a equipe
técnica. Agora, com a nova alteração legislativa pode ocorrer a designação de data para
oitiva dos mesmos em Juízo, bem como de testemunhas. O adequado é que esta oitiva
ocorra após a apresentação do laudo técnico, para esclarecimento de algum ponto
obscuro ou que restou pendente. Não se vislumbra a utilidade da oitiva preliminar,
apenas para ratificar a intenção de adotar uma criança. Não estabeleceu o legislador o
número máximo de testemunhas que podem ser ouvidas nesta fase, mas deve-se seguir
a regra geral de no máximo 10 testemunhas, conforme previsto no artigo 407 do CPC..
Finalmente, como está assentado no referido artigo, as providências
estabelecidas são exemplificativas e não taxativas, podendo o Promotor requerer a
juntada de documentos e a realização de outras diligências complementares. Também
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não impede que, nesta oportunidade, se alegue a incompetência do Juízo, a suspeição
de eventual integrante da equipe técnica e que se complemente a documentação
apresentada em face do disposto no artigo antecedente (art. 197-A).
Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe
interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, que
deverá elaborar estudo psicossocial, que conterá subsídios que
permitam aferir a capacidade e o preparo dos postulantes para o
exercício de uma paternidade ou maternidade responsável, à luz dos
requisitos e princípios desta Lei.
Uma vez instruídos e analisados os requerimentos formulados pelo Promotor de
Justiça, o feito deve ser encaminhado ao setor técnico do Juizado da Infância e da
Juventude que elaborará estudo psicossocial com os pretendentes. A equipe
interprofissional mencionada no citado artigo deve ser composta por assistentes sociais e
psicólogos. Mas, poderá incluir, no futuro, outros profissionais como médicos psiquiatras
ou pedagogos.
O objetivo principal do trabalho da equipe interprofissional, na definição do próprio
Estatuto (ECA, art. 150) é assessorar a Justiça da Infância e da Juventude mediante o
fornecimento de subsídios por escrito através de laudos, ou verbalmente na audiência. O
atuar do assistente social e psicólogo equivale-se ao perito judicial, na medida em que
observa, investiga e conclui seu trabalho com a apresentação de um laudo,
diagnosticando as situações que envolvem os pretendentes à adoção, bem como a
criança ou o adolescente pretendido3.
Este trabalho é de suma relevância para a área da Infância e da Juventude, uma
vez que a intervenção técnica adentra em questões que fogem à esfera do direito, mas
que se mostram extremamente relevantes para o destino final deste processo de
cadastramento. Exerce, ademais, um papel preventivo importante, pois muitas vezes o
sucesso da adoção é analisado e verificado nesta oportunidade. Em outras palavras, a
intervenção prévia da equipe interprofissional junto aos interessados no cadastro à
adoção, não garante o sucesso da adoção, no entanto, revela-se de extrema importância,
posto que se pode minimizar a ocorrência de adoção mal sucedida.
O papel fundamental da equipe técnica não se refere à análise dos requisitos de
natureza legal da adoção, previstos no próprio estatuto e que serão objetos de análise
pela Promotoria de Justiça e pelo Juizado da Infância e da Juventude. O objetivo,
conforme estabelece a própria lei (ECA, artigos 29 e 50, § 2º) é analisar a
compatibilidade dos pretendentes com a natureza da medida, oferecendo ambiente
familiar adequado à criança ou adolescente. Em termos menos legalistas, é verificar
junto aos pretendentes a “capacidade de estabelecer relações afetivas” como “pais
psicológicos”.
Como esclarece MOTTA4:
3
FERREIRA, Luiz A.M. Aspectos jurídicos da intervenção social e psicológica no processo de adoção.
Disponível no site: www.pjpp.sp.gov.br
MOTTA, Maria Antonieta Pisano. Adoção – Algumas contribuições psicanalísticas. In: Direito
de Família e Ciências Humanas. São Paulo: Jurídica Brasileira, 2000, pág. 136 (Cadernos de
Estudos: n.º 01).
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Há alguns aspectos a serem considerados na consideração dos
candidatos a adotantes, tais como a forma como falam de outras pessoas,
principalmente seus parentes; a maneira como se tratam mutuamente; a
forma como tratam a pessoa que está realizando as entrevistas; a
capacidade de enfrentar dificuldades com coragem e de refletir com
sensatez sobre a melhor maneira de lidar com elas. Característica
indispensável para os pais adotivos, pois é essencial que tenham
capacidade de assumir alguns riscos, assim como o é para os pais
naturais.
Questão de real relevância refere-se à conclusão negativa do setor técnico quanto
à admissão dos interessados no cadastro à adoção.
O Estatuto da Criança e do Adolescente, nos artigos 50. § 2º e 29, estabelece
que:
Art. 50, § 2º - Não será deferida a inscrição se o interessado não
satisfizer os requisitos legais, ou verificada qualquer das hipóteses
previstas no artigo 29.
Art. 29 – Não se deferirá a colocação em família substituta a
pessoa que revele por qualquer modo, incompatibilidade com a natureza
da medida ou não ofereça ambiente familiar adequado.
Verificando o setor técnico qualquer situação que se enquadre no dispositivo
legal, com incompatibilidade da medida ou ambiente familiar inadequado, deve
apresentar avaliação contrária à pretensão dos interessados. No entanto, esta avaliação
somente deve ser lançada, após a concessão de oportunidade aos interessados para
reverter à situação colocada como impedimento à pretensão, com eventual tratamento ou
participação em grupos de apoio.
Apresenta-se de suma relevância para a análise da pretensão dos interessados a
motivação para a adoção (necessidade compensatória em razão de falecimento de filho,
esterilidade, infertilidade, sentimento de piedade, motivos religiosos, etc.).
No que se refere à idade dos interessados, pode a equipe técnica apresentá-la
como fato impeditivo do cadastro, somente na hipótese de se inscreverem pessoas
menores de 18 anos de idade. Nas demais situações, ou seja, de pessoas idosas
interessadas em adotar, diante da ausência de previsão legal, as considerações a
respeito devem ser feitas, mas a idade, por si só não é motivo suficiente para impedir o
cadastro5. No entanto, tendo em vista que na adoção há certa similitude com a família
biológica, tanto que a lei estabeleceu a necessidade de ocorrer uma diferença de idade
entre adotantes e adotados (16 anos – ECA., art. 42, § 3º) e levando-se em consideração
que uma mulher, dependendo da idade, não mais pode gerar filhos biológicos, deve-se
evitar a adoção de crianças, com pouca idade, por pretendentes idosos. Estes não estão
impedidos de adotar, mas devem buscar crianças com mais idade, para evitar problemas
futuros.
Adoção – Decisão que indeferiu o pedido de inscrição do casal no cadastro de pretendentes à adoção, com
base em parecer psicológico que considerou a idade avançada dos pretendentes – Inadmissibilidade. Instituto
que se sujeita à análise de condições genéricas, com as condições morais e materiais, não constituindo a
idade empecilho à concessão da adoção. Deferida, assim, a mencionada inscrição” – TJSP – RT 723/306.
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Conclui-se em face do cadastro dos interessados à adoção e da intervenção da
equipe interprofissional que ao contrário do que muitos imaginam, adotar não é um direito
dado a todos. Como cabe ao Estado-Juiz promover a colocação em lar substituto (do
qual a adoção é uma das formas), os interessados têm que submeter às suas regras,
entre estas, a submissão às avaliações técnicas6.
Verificou-se com esta mudança do Estatuto
uma maior visibilidade e
destaque na atuação da equipe técnica do Juizado da Infância e da Juventude. Contudo,
este avanço não guardou a mesma proporção quanto à técnica legislativa adotada para
tratar do assunto. Com efeito, o Estatuto da Criança e do Adolescente não especificou
como se desenvolve a elaboração dos trabalhos técnicos, principalmente no que diz
respeito a prazo7, quesitos dos próprios interessados no cadastro, presença de assistente
técnico indicado pelo Ministério Público ou pela parte interessada, suspeição e
impedimento do profissional que integra a equipe interprofissional. Nesta hipótese, devese socorrer das regras do Código de Processo Civil que se aplicam subsidiariamente.
Por fim, um dos problemas a serem enfrentados pela Justiça da Infância e da
Juventude diz respeito às comarcas que não dispõem de corpo técnico. Nesta hipótese,
diante da relevância da demanda, pode o Juiz nomear perito assistente social e psicólogo
que não pertençam ao quadro do Judiciário, para atender à determinação estatutária? A
regra é de que tal preparação seja realizada pela equipe interprofissional a serviço da
Justiça da Infância e da Juventude, mas tendo em conta o interesse do menor e o
princípio da proteção integral, todas as alternativas para a regular instrução do processo
devem ser realizadas, sendo a hipótese da nomeação de terceiro, uma exceção.
§ 1o É obrigatória a participação dos postulantes em programa
oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude preferencialmente
com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política
municipal de garantia do direito à convivência familiar, que inclua
preparação psicológica, orientação e estímulo à adoção inter-racial,
de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades
específicas de saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos.
O artigo em análise trata do programa de capacitação e preparação dos
pretendentes à adoção e deve ser analisado em conjunto com o disposto no artigo 50, §
3º do Estatuto da Criança e do Adolescente. Pelas disposições legais, verifica-se que a
competência para a organização e realização deste programa é do Juizado da Infância e
da Juventude, através da equipe interprofissional. Pode e deve ter o apoio dos técnicos
responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência
familiar.
Em seguida, aponta, em caráter exemplificativo, o conteúdo destes programas,
como a preparação psicológica dos pretendentes, orientação e estímulo à adoção interracial, de crianças maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde
6
PACHI, Carlos Eduardo. A atuação do Setor Técnico junto às Varas da Infância e Juventude. In: Infância e
Cidadania. Munir Cury (Organizador). Vol. 02. São Paulo: InorAdopt, 1998, pág. 25.
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Assim, no que se refere ao prazo para a entrega do laudo pericial, estabelece o artigo 421 do Código de
Processo Civil, que compete a Autoridade Judiciária fixá-lo, sendo que por motivo justificado, pode ser
prorrogado, “segundo seu prudente arbítrio” (CPC, art. 432). O Provimento da Corregedoria Geral de Justiça
do Estado de São Paulo (Prov. CG n. 05/05) ao disciplinar a elaboração de estudo técnico para a efetivação
do cadastro de pretendentes à adoção fixou o prazo de 45 dias para a elaboração de parecer conclusivo a
respeito do assunto, podendo ser o mesmo prorrogado por solicitação da técnica. Este prazo apresenta-se
como um referencial a ser seguido.
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ou com deficiências e de grupos de irmãos. Deve, ainda, atender ao que estabelece os
parágrafos 3º e 4º do artigo 50 do ECA, quanto à preparação jurídica e ao contato dos
pretendentes com crianças e adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em
condições de serem adotados.
Verifica-se pela leitura de tais disposições que o legislador avançou quanto à
necessidade de preparação dos pretendentes à adoção, contudo, não especificou
detalhes quanto a esta preparação. Com base em experiência consolidada8 a respeito do
tema, podem-se fazer as seguintes observações:
Objetivo da preparação: O trabalho desenvolvido busca conduzir os
participantes à reflexão sobre a motivação pessoal para a adoção, correlacionando-a com
as necessidades do adotado, através de reuniões temáticas dirigidas pelos diferentes
profissionais (assistente social ou psicóloga). Este trabalho proporciona uma reflexão e
amadurecimento do instituto da adoção, em todas as suas vertentes e a melhor forma de
conduzir o debate. Trata-se de um espaço de discussão e orientação referentes aos
questionamentos e temores envolvidos na adoção e tem por finalidade estimular os
pretendentes à adoção a refletirem sobre os aspectos psicossociais e legais relacionados
à questão.
Desenvolvimento dos trabalhos: O programa desenvolvido pela equipe
interprofissional deve integrar um cronograma previamente estabelecido e discutido,
envolvendo todos aqueles postulantes à adoção, que estão em processo de
cadastramento, formando pequenos grupos para a discussão dos temas, ou seja, devese dar preferência a uma preparação coletiva do que individual, em face da riqueza das
trocas de informações e experiências. O trabalho de forma coletiva facilita as atividades
das técnicas do Poder Judiciário, não as sobrecarregando com mais esta atividade. A
coordenação dos trabalhos preferencialmente deve recair sobre estas técnicas (cada
grupo pode ser coordenado por uma assistente social e uma psicóloga).
Temas a serem abordados: Numa sequência para a preparação dos
pretendentes, podem-se estabelecer os seguintes temas a serem desenvolvidos nos
encontros:
a) Apresentação dos participantes e do conteúdo dos trabalhos a ser
desenvolvido: Trata-se da apresentação formal dos participantes do grupo, da
programação a ser cumprida e o estabelecimento dos dias e horários dos encontros.
Deve-se oferecer aos participantes a possibilidade de manifestarem-se quanto as suas
expectativas com relação aos temas a serem tratados.
b) Motivação:
Nesta reunião o tema a ser tratado refere-se aos motivos pelos quais se deseja
adotar, trabalhando o conceito de adoção e a motivação pertinente. Sabe-se que a
adoção não pode ocorrer, como tentativa para solução de problemas pessoais dos
8
Uma das experiências refere-se ao trabalho desenvolvido pela equipe técnica do Fórum de Presidente
Prudente/SP, com a participação do Promotor de Justiça no desenvolvimento de uma metodologia para a
preparação das pessoas interessadas no cadastro. Este trabalho foi um dos vencedores do I Prêmio Serviço
Social e Psicologia – Perspectiva Interdisciplinar, promovido pela Associação dos Assistentes Sociais e
Psicólogos do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. A metodologia que será apresentada foi construída
coletivamente pelos integrantes do grupo e encontra-se detalhada na seguinte obra: FERREIRA, Luiz A.M. et
al. Grupo de orientação à adoção: Uma experiência Interdisciplinar. IN: Diálogos Interdisciplinares: a
psicologia e o serviço social nas práticas judiciárias. Abigail Aparecida de Paiva Franco, Magda Jorge
Ribeiro Melão (org.). São Paulo: Casa do Psicólogo, 2007, pág. 39-61.
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adotantes ou mesmo para a solução de problemas específicos da criança a ser adotada.
A adoção é um ato complexo cuja motivação deve estar bem definida, afastando-se
hipóteses como a frustração da tentativa de ter filhos, ou adoção baseada em outros
interesses que não a criança em si, como a esterilidade masculina, infertilidade feminina,
morte de um filho, resolução de conflitos conjugais, caridade, falta de ocupação, falta de
companhia e outros.
c) Revelação:
Para o desenvolvimento harmônico da relação que se firma entre a criança e/ou
adolescente adotado e os adotantes, a verdade sobre o vínculo a ser construído é
condição essencial. O tema não deve ser relatado de forma solene, mas como parte do
diálogo natural e do cotidiano da família. Como já se afirmou, “não se deve servir papinha
para uma criança de 06 anos e nem um bife para uma de 6 meses”, cada alimento deve
acompanhar o desenvolvimento da criança. Assim, também, é em relação à revelação da
adoção que deve ocorrer de acordo com o desenvolvimento e amadurecimento da
criança. O silêncio, a mentira ou a fantasia podem acarretar insegurança, ansiedade,
angústia, depressão e medo, prejudicando os laços firmados entre as partes envolvidas.
d) Desenvolvimento da criança e do adolescente:
O estabelecimento de relações familiares ocorre na medida em que se consolida a
função materna e paterna no convívio diário. Para tanto, os pais adotivos precisam
conhecer quem é e como é a criança que eles estão recebendo no seio de sua família.
Nesta reunião devem-se passar noções de desenvolvimento infantil e da adolescência,
para que os pais adotivos se sintam mais seguros no desempenho da função materna e
paterna.
e) A adoção e o contexto social:
Neste encontro, o processo de adoção é analisado de uma maneira mais ampla, e
de preferência, por uma assistente social que deve conduzir a reunião visando abordar o
instituto em relação aos mitos e preconceitos para que os interessados e a sociedade em
geral aceitem integralmente a adoção, como possibilidade de vinculação legal e afetiva,
que não depende de gestação ou da consanguinidade, mas da convivência, aspecto
comum com os filhos biológicos. Neste particular, deve ser analisada a questão
educacional, ou seja, como enfrentar o cotidiano escolar com uma criança adotada e
também a questão relativa à alteração do nome do adotando, que apresenta reflexos no
contexto social. Também se mostra pertinente a esta reunião a discussão dos temas
propostos pelo artigo em análise, como o estímulo à adoção inter-racial, de crianças
maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de saúde ou com
deficiências e de grupos de irmãos.
f) Aspectos legais referentes à adoção.
Finalizando o encontro e dando cumprimento da norma legal, a adoção será
analisada no aspecto jurídico. Isto, porque o instituto da adoção apresenta como
característica ímpar o fato de envolver ações de diversas áreas, como a social,
psicológica e também jurídica. Assim, as orientações lançadas às pessoas interessadas
em adoção, não poderiam se limitar aos dois primeiros aspectos, necessitando também
de esclarecimentos e informações na área jurídica, ou seja, o que diz a legislação a
respeito do assunto. Neste tópico, devem ser analisados temas como: a) Cadastro de
adotantes e adotados: porque se cadastrar; quais as vantagens; a importância da reunião
para o sucesso da adoção, inclusive em termos processuais; b) Tipos de adoção:
consensual e litigiosa; c) Procedimentos: estudos técnicos, oitiva de testemunhas,
audiências, recursos, etc. d) Poder familiar: causas para a sua perda e extinção; e)
Efeitos da adoção: mandado de averbação, alteração de nome do adotado,
irrevogabilidade, entre outros.
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Alguns tópicos que podem gerar controvérsia em relação ao aspecto jurídico, diz
respeito: a) ao prazo para a conclusão da adoção, ou seja, a demora processual para o
desfecho do processo e que agora foi fixado em 120 dias para a destituição do poder
familiar (ECA., art. 163); b) o medo de perder o adotado, em face de eventual
contestação dos genitores biológicos.
Deve ser ressaltada, neste aspecto, a
preocupação que se deve ter com a criança que está sendo adotada e a segurança que
deve existir em tais decisões em face da natureza da ação.
g) Encerramento:
Na última reunião, deve-se dar cumprimento ao que estabelece o Art. 50, § 4º do
ECA, quanto ao contato dos participantes com crianças e adolescentes em acolhimento
familiar ou institucional em condições de serem adotados. Pode-se também convidar uma
pessoa que já adotou, juntamente com o adotante, preferencialmente, que se encontre na
fase da adolescência, para testemunharem a forma como vivenciaram a adoção, estando
disponíveis para responderem aos questionamentos feitos pelos participantes.
Considera-se de grande valia o depoimento dessas pessoas, as quais têm a
oportunidade de desmistificar algumas situações existentes na adoção. Os depoimentos,
verdadeiros e sinceros, mostram as dificuldades vivenciadas e as formas utilizadas para
superar as adversidades surgidas.
Vale ressaltar que esta metodologia é apenas exemplificativa e que este preparo
psicossocial e jurídico deve atender às peculiaridades de cada local e dos temas mais
próximos dos interessados, ou seja, deve haver flexibilidade para a inclusão ou
supressão de temas. É importante destacar que o sucesso de adoções, muitas vezes,
está vinculado a uma boa preparação, pois como se sabe, a adoção não é para qualquer
um.
§ 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa obrigatória
da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá o contato com
crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar ou
institucional em condições de serem adotados, a ser realizado sob a
orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da
Infância e da Juventude, com o apoio dos técnicos responsáveis pelo
programa de acolhimento familiar ou institucional e pela execução da
política municipal de garantia do direito à convivência familiar.
Este parágrafo complementa a preparação que deve ocorrer pela equipe técnica
da Justiça da Infância e da Juventude. O objetivo é sair do plano teórico para o contato
prático com a adoção. Uma situação é tratar dos temas que envolvem a adoção em
reuniões preparatórias, a outra, é encontrar a criança que está disponível para a adoção.
É sair da criança idealizada para a criança real, com suas características pessoais e seu
histórico de vida. É deparar com a situação concreta e saber como enfrentá-la.
O contato deve integrar o programa preparatório e, sempre que possível, ocorrer
na última reunião, quando os participantes estarão mais amadurecidos para o tema,
cientes de todas as peculiaridades que envolvem o processo adotivo.
Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da participação
no programa referido no art. 197-C desta Lei, a autoridade judiciária,
no prazo de 48 (quarenta e oito) horas, decidirá acerca das diligências
requeridas pelo Ministério Público e determinará a juntada do estudo
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psicossocial, designando, conforme o caso, audiência de instrução e
julgamento.
Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou
sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a juntada
do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos autos ao Ministério
Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
O procedimento para habilitação do pretendente à adoção prossegue, após a
intervenção preliminar do Ministério Público e da equipe técnica do Juizado da Infância e
da Juventude, com a análise das diligências requeridas, por parte da Autoridade
Judiciária.
A partir daí, o procedimento pode ter o seguinte direcionamento: a) realização de
audiência de instrução e julgamento, onde, após a oitiva dos interessados e eventuais
testemunhas, com a análise da prova e manifestação do Ministério Público e eventual
procurador dos interessados, segue imediatamente para julgamento; b) ou sendo
dispensável a audiência, manifestará o Ministério Público em 5 dias com julgamento
posterior, em igual prazo.
Vale destacar, nesta oportunidade, a intervenção do Promotor de Justiça. Sua
manifestação pode contemplar um parecer conclusivo relativo ao deferimento ou não do
pedido de habilitação, como também implicar em requerimento de diligências
complementares necessárias em face do que foi apurado no estudo elaborado pela
equipe técnica. Também se vislumbra a possibilidade de requerer a suspensão do
processo de habilitação, quando se verificar a necessidade de uma diligência específica,
como, por exemplo, a necessidade dos interessados de se submeterem a tratamento
psicológico, para posterior avaliação final da equipe técnica. Esta manifestação é
diferente da inicial no processo de habilitação, pois visa analisar o caso com
conhecimento mais profundo dos pretendentes, em razão do estudo técnico efetivado.
Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será inscrito
nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a sua convocação
para a adoção feita de acordo com ordem cronológica de habilitação
e conforme a disponibilidade de crianças ou adolescentes adotáveis.
§ 1o A ordem cronológica das habilitações somente poderá
deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas hipóteses
previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando comprovado ser essa a
melhor solução no interesse do adotando.
§ 2o A recusa sistemática na adoção das crianças ou
adolescentes indicados importará na reavaliação da habilitação
concedida.
Este artigo trata de três situações: a) o deferimento da habilitação; b) da ordem
cronológica das habilitações e c) da recusa sistemática dos pretendentes à adoção.
Verifica-se que deixou o legislador de tratar de temas específicos como as causas
de indeferimento da habilitação, prazo de validade do cadastro, atualização do cadastro,
a continuidade de validade do mesmo, na hipótese de se pretender adotar mais de uma
criança e/ou adolescente. Analisando os itens consignados no artigo e estas outras
hipóteses questionadas, constata-se o seguinte:
11
a) Deferimento da habilitação: Após o julgamento proferido no processo de
habilitação dos pretendentes à adoção ou de decisão do Tribunal superior favorável à
pretensão, o nome dos pretendentes passa a integrar o Cadastro da comarca onde se
processou a habilitação e, concomitantemente, o Cadastro Estadual e o Nacional. Pela
inscrição do pretendente é que será obedecida a ordem cronológica para chamada à
adoção. Esta convocação é de responsabilidade da equipe técnica do Juízo da Infância e
da Juventude. Porém, sofre a fiscalização natural do Juiz respectivo e do Ministério
Público, por força do artigo 50, § 12 do ECA9.
b) Ordem cronológica das habilitações: Como regra geral, o cadastro dos
pretendentes deve obedecer à ordem de inscrição. Excepcionalmente, a nova legislação
estabelece que a ordem pode ser desatendida nas hipóteses previstas no artigo 50, §
13º, ou seja, quando se tratar de pedido de adoção unilateral; se for formulada por
parente com o qual a criança ou adolescente mantenha vínculos de afinidade e
afetividade ou oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda legal de criança maior
de 3 (três) anos ou adolescente, desde que o lapso de tempo de convivência comprove a
fixação de laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a ocorrência de má-fé
ou qualquer das situações previstas nos arts. 237 ou 238 desta Lei.
Não obstante as exceções de natureza legal, também se vislumbra a possibilidade
de se desatender a ordem do cadastro, quando a criança desejada pelo interessado não
corresponder à que se encontra disponível (ex. cadastra-se pretendendo uma criança
recém nascida, do sexo feminino, mas está disponível à adoção uma outra com 1 ano, do
sexo masculino) ou quando a medida ocorrer para não afastar irmãos (uma criança é
adotada e nasce o seu irmão, que também está disponível para adoção). Deve-se
desatender a ordem para possibilitar ao pretendente, a adoção do irmão, mesmo que já
tenha adotado e saído da ordem de chamada.
c) Recusa sistemática dos pretendentes à adoção: O legislador estabeleceu
que a recusa sistemática dos pretendentes importará na reavaliação da habilitação.
Deve-se compreender que se a adoção procura imitar uma gestação biológica, não
podem os pretendentes ficar escolhendo a criança a ser adotada. No entanto, deve-se
buscar, dentro do possível, atender as suas pretensões para que se garanta o sucesso
do processo adotivo. Assim, existe a possibilidade dos pretendentes recusarem
determinada criança que está disponível para adoção, como por exemplo, em razão da
idade (pretendem uma até 01 ano de idade e está disponível uma com 06 ou 07 anos).
Esta recusa é compreensível. O problema ocorre quando, mesmo atendendo às
expectativas dos pretendentes, a adoção não se concretiza em face da recusa
peremptória. Nessa situação, faz-se mister a reavaliação da habilitação, com atualização
dos estudos técnicos e eventual oitiva dos mesmos, em Juízo, para esclarecimento da
situação que poderá implicar na exclusão dos pretendentes do cadastro.
d) Causas de indeferimento da habilitação: Várias são as hipóteses que
justificam o indeferimento da habilitação dos pretendentes à adoção. De forma
exemplificativa, podem ser arroladas as seguintes:
9
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo
Ministério Público.
12
Psicológica e Social: A não aprovação dos pretendentes motivada por causas
psicológicas e sociais resulta de uma somatória de fatores negativos, sua intensidade e
gravidade, os quais são analisados em relação aos prejuízos que podem acarretar à
criança adotada. Podem ser anotadas as seguintes hipóteses:
 Crise conjugal;
 Motivação inadequada:
 Não elaboração da perda de um filho;
 Desejo não compartilhado pelo casal: um quer, outro não;
 Adoção para salvar o casamento;
 Adoção para solucionar problemas de solidão;
 Aproximação da meia idade;
 Vazio deixado por um filho ausente;
 “Ajudar” uma criança abandonada, fazer caridade;
 Decisão impulsiva e sem reflexões;
 Adoção para tentar engravidar.
 Casal não amadurecido para exercer o papel parental;
 Não elaboração da infertilidade;
Econômica: A questão econômica, por si só, não é motivo para justificar o
indeferimento do cadastro. No entanto, a pobreza extrema somada a outros fatores,
como prole numerosa, pode levar a não aceitação do cadastro10.
Médicas: A saúde precária e doenças físicas e emocionais graves do interessado
também podem justificar o indeferimento do pedido. A questão emocional é algo que
deve ser analisada com muita atenção em face dos prejuízos que proporcionam à criança
ou adolescente a ser adotado.
Idade dos pretendentes: A idade dos pretendentes, por si só, também não se
apresenta como impedimento para o cadastro. O certo é que interessados com idade
mais avançada devem ser orientados a buscar a adoção de crianças com mais idade ou
adolescentes. Como a adoção pretende a constituição de uma família, nos moldes de um
modelo concebido socialmente, apresenta-se inviável que pretendentes idosos venham a
adotar crianças recém nascidas, que naturalmente não seriam concebidas desta relação.
Na verdade, a diferença de idade não autoriza o indeferimento do cadastro, mas somada
a outros fatores negativos pode justificar tal decisão11.
Homossexualidade: o cadastro de pessoas homossexuais é permitido, não
encontrando nenhuma vedação. Deve-se verificar, entre outros requisitos de ordem social
e psicológica, se o pretendente oferece ambiente familiar adequado ou se revela
qualquer incompatibilidade com a medida (Art. 29 do ECA).
10
ADOÇÃO - Inscrição em cadastro de adotantes - Indeferimento - Avaliação psicossocial superficial Questões meramente econômico-financeiras que não podem, por si só, impedir eventual futura adoção Registro que, isoladamente, não autoriza a adoção - Recurso provido para deferir a inscrição dos recorrentes
no cadastro de adotantes da comarca. (Apelação Cível n. 79.258-0 - Araraquara - Câmara Especial - Relator:
Fábio Quadros - 04.06.01 - V.U.).
11
ADOÇÃO – Decisão que indeferiu o pedido de inscrição do casal no cadastro de pretendentes à adoção,
com base em parecer psicológico que considerou a idade avançada dos pretendentes – Inadmissibilidade
– Instituto que se sujeita à análise de condições genéricas, como as condições morais e materiais; não
constituindo a idade empecilho à concessão de adoção – Deferida, assim, a mencionada inscrição. A
aptidão à adoção sujeita-se apenas à análise das condições genéricas, tais como condições morais e
materiais. O Estatuto da Criança e do Adolescente ao estabelecer os requisitos do adotante, o fez de um
modo abrangente e amplo, a fim de facilitar a vinda ao aconchego de uma família, filhos privados de arrimo,
de forma que a idade máxima ficou ao prudente critério do juiz, não constituindo esta empecilho objetivo à
concessão de adoção.Provido o recurso para deferir a inscrição dos apelantes no cadastro de pretendentes à
adoção. Apelação Cível 27510-0/5 – E. Especial – J. 5.10.95 – Rel. Des. Yussef Cahali.
13
d) Recurso: Da decisão do Juiz, que defere ou indefere a habilitação dos
pretendentes à adoção, é possível interpor recurso de apelação, nos termos do artigo 198
do ECA. Neste caso é necessária a intervenção de advogado para o seguimento do feito.
e) Atualização do cadastro: O legislador não especificou a necessidade ou não
de atualização dos dados constantes no cadastro. Em alguns Estados esta sistemática
era regra, determinando que a cada dois anos a pessoa cadastrada devesse atualizar o
seu cadastro12. Esta atualização refere-se aos dados pessoais e da criança a ser
adotada. Não obstante a ausência legislativa, esta atualização deve ocorrer.
f) Validade do cadastro: Uma vez realizado o cadastro no domicilio do
pretendente, o mesmo valerá para todas as Varas da Infância e da Juventude do Estado
e da União, sendo o seu registro efetivado no Cadastro Nacional de Adoção. Esse
cadastro ficará vinculado ao Conselho Nacional de Justiça com o objetivo de consolidar
os dados de todas as comarcas das unidades da federação. O sistema consistirá num
Banco de Dados nacional que será alimentado pelas Corregedorias dos Tribunais de
Justiça de cada estado. As Corregedorias dos Tribunais dos Estados também
funcionarão como administradoras do sistema, ficando responsáveis de liberar o acesso
ao Juiz de cada comarca.
g) Vantagens do cadastro: A vantagem do cadastro para os pretendentes à
adoção é a democratização do acesso de qualquer pessoa à adoção. A outra vantagem
refere-se ao preparo dos interessados, que se submeteram à avaliação e foram
considerados aptos ao processo adotivo, contando com o aval do Poder Judiciário e do
Ministério Público na adoção da criança e/ou adolescente13.
h) Recadastramento de interessado que já adotou:
Uma vez consumada a adoção e o pretendente pretender adotar outra criança,
deve ocorrer o mesmo procedimento, com novo pedido de habilitação? Esta situação não
foi estabelecida pelo legislador, contudo verifica-se que o pedido de recadastramento
deve ser apreciado no mesmo procedimento onde já foram realizados os estudos
técnicos, facilitando a análise da situação concreta. A única observação que merece
registro é que os pretendentes integrarão o cadastro na ordem geral estabelecida, não
mantendo o número de seu registro inicial, ou seja, voltam para o final da relação.14
12
Art. 1º, § 11 do Provimento n. 05/05 da Corregedoria Geral de Justiça do Tribunal de Justiça do Estado de
São Paulo.
13
Jurisprudência quanto a vantagem do cadastro: ...Não se trata de negar a importância que o cadastro de
pretendentes a adoção da Comarca possui no processo judicial de adoção, seja para adequado estudo daqueles
pretendentes quanto à maturidade para o ato, seja para demonstrar a lisura e transparência do processo,
evitando que as crianças possam acabar se tornando mercadorias comerciáveis por pais que já não as atendem
em quaisquer dos campos material ou moral. Agravo de Instrumento nº 54.298-0/9-00, da Comarca de
Registro. ALVARO LAZZARINI. Presidente e Relator.
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Esta situação era prevista no Provimento 05/05 da Corregedoria Geral de Justiça do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo. Art. 5º - § 2º - Caso a adoção se consume e o pretendente manifeste intenção de adotar
outra criança ou adolescente, o pedido será apreciado pelo julgador após manifestações do Setor Técnico e
do Ministério Público. Caso deferida a pretensão, o pretendente deverá receber novo número de inscrição
junto ao cadastro da vara, ao final da relação, comunicando-se à CEJAI.
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