Subido por Paulo Correia

Belmonte - Identidade e oralidade

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Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo
IDENTIDADE E ORALIDADE: O PROCESSO DE TRANSMISSÃO
CULTURAL PELAS JUDIAS DE BELMONTE, PORTUGAL
ALINE PRAÇA BERNAR (FFP-UERJ)
RESUMO:
A possibilidade de crença numa “Torah Oral” aponta para um
dos fatores mais polemicamente relevantes no fenômeno do criptojudaísmo: a tradição oral. De acordo com esta crença, as palavras que
teriam sido ditas por Deus a Moisés e que este não teria escrito nos
pergaminhos suscitam a idéia de que algo devera ser transmitido
apenas através da oralidade, de geração em geração.
A última comunidade criptojudaica “descoberta” em Belmone,
Portugal, após a revolução de 1974, manteve-se secreta e resistente
aos movimentos de resgate e conversão. Suas tradições e rituais dependiam apenas da transmissão oral para que pudessem sobreviver.
Ao esconderem-se por trás do culto do cristianismo e de não
contarem com livros e guias religiosos, estes judeus tornaram-se
criptojudeus e passaram a sustentar que suas crenças, rituais e tradições pudessem ser transmitidos oralmente e exclusivamente pela voz
feminina.
O presente trabalho apontará para a marca ou questão identitária das judias de Belmonte que, valendo-se da oralidade, adiaram não
só a morte física, mas principalmente, a morte de sua cultura e tradição.
A possibilidade e crença numa Torah Oral aponta para um dos
fatores mais polemicamente relevantes no fenômeno do criptojudaísmo: a tradição oral. De acordo com esta crença, as palavras que
teriam sido ditas por Deus a Moisés e que este não teria escrito nos
Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo
pergaminhos suscitam a idéia de que algo deveria ser transmitido
apenas através da oralidade, de geração em geração.
No reino de Judá e, mais tarde, na província romana da Judéia,
ser judeu não significava apenas pertencer a religião mosaica. Ser
judeu significava também etnia (pertença ao povo hebreu) e nacionalidade (Jerusalém como capital) simultaneamente. Depois da destruição da nação1, o que se tem é um povo disperso reconhecido e ligado
apenas pelo caráter religioso2.
Sabe-se que a diáspora já havia começado antes da queda de
Jerusalém e o antijudaísmo pagão foi substituído, por assim dizer,
pelo antijudaísmo cristão. Mais tarde, ao afirmar-se como religião
oficial, o cristianismo provoca um antijudaísmo teológico e, progressivamente, desencadeia um antijudaísmo de caráter popular.
No século XI iniciam-se rejeições e perseguições contra os judeus. Espanha e Portugal aparecem neste cenário como exceções,
criando uma lógica dupla e reforçando o “fechamento cristão” e o
“fechamento judaico” em pé de igualdade3.
1
Conforme explica Edgar Morin, “o país tornou-se província da SírioPalestina e colônia romana proibida para os judeus depois do esmagamento da revolta de Bar Kocheba (MORIN, 2007, p. 132-5).
2
Idibidem.
3
Ainda segundo Edgar Morin (Ibidem, p. 18-9), o chamado “fechamento
cristão” impedia toda a comunicação, todo casamento misto e, salvo exceção, toda troca intelectual entre os judeus e gentios. Da mesma forma, o
“fechamento judaico” conferia aos judeus o privilégio da eleição divina,
considerando os gentios como impuros.
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Contudo, tais fechamentos inicialmente recursivos criam o fechamento pela reclusão e diferenciação, amplificando a tensão entre
as partes, as perseguições e os massacres. Neste contexto, Espanha e
Portugal continuam a manter-se como “oásis de tolerância”, pelo
menos até a chegada dos banimentos e do período da Inquisição.
Mesmo o fim da Inquisição, como os documentos pósinquisitoriais podem comprovar, não significou liberdade religiosa
para os judeus portugueses ou residentes em Portugal. Dentre os
documentos oficiais, a Carta Constitucional de 1826, por exemplo,
reconhecia apenas o catolicismo como religião oficialmente permitida em Portugal, remetendo os outros cultos existentes no país para o
foro íntimo ou privado das casas dos estrangeiros4.
Se, para a religião oficialmente permitida em Portugal, “estrangeiro” era aquele que não professava o catolicismo, uma certa
noção de “gentio” também avançaria por esta via. Edgar Morin apresenta, em sua obra mais recente, uma noção etimológica da palavra
gentio que, em latim tardio, significa “próprio de uma família; relativo a um povo ou nação”, termo que tomou forma entre os hebreus
como significado de “estrangeiro” ou aquele que não professa a religião judaica5. Imigrantes por sobrevivência, errantes originários e
clandestinos por religiosidade, os judeus em território português
4
Esther Mucznik. (1999) “Os Judeus em Portugal – Presença e Memória”.
de Comunidade Israelita de Lisboa. Em 25 de Junho de 2006, de
http://www.cilisboa.org/hpt_esther.htm Artigo também publicado na Revista História n.º 15, de Junho de 1999.
5
Cf. Morin (Op. cit., p. 11).
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passariam então a sofrer as conseqüências de sua tão invejada “eleição”.
Um bom exemplo do incômodo ou clandestinidade delegada
aos judeus em Portugal foi a construção da Sinagoga de Lisboa, Shaaré Tikvá (Portas da Esperança), em 1904. O terreno foi comprado
por pessoas particulares e sua construção obedeceria ao seguinte
critério: obrigatoriamente, só poderia ser construída sem fachada
para a rua, porque era ainda proibido, nessa época, a visibilidade de
um templo que não fosse de religião católica6. Hoje ainda, a rua Alexandre Herculano (endereço da Sinagoga) esconde essa fachada com
a presença de um outro edifício7.
Com isso, as comunidades judaicas se fecharam e mantiveramse de forma secreta até serem reveladas. A última comunidade
criptojudaica descoberta8 em território português foi no concelho9 de
Belmonte, após a revolução de 1974. Esta parcela da população ju-
6
Idibidem, p. 2.
7
Pinto (2006, p. 32)
8
Para Durkheim, o objeto de qualquer ciência é “descobrir” e qualquer
descobrimento desconcerta mais ou menos as opiniões correntes. In:
Émile Durkheim. As Regras do Método Sociológico. Lisboa: Presença,
1984. (p. 7). Cada menção, neste texto, sobre a “descoberta” dos criptojudeus requer um inevitável dialogar com um dos textos mais elucidativos
sobre a questão ou ato de “descobrir” ou “encobrir” socialmente: “Descobrimentos e Encobrimentos”, de Boaventura de Souza Santos in: Revista
Crítica de Ciências Sociais, n.º 38, de 1993.
9
Concelho (a grafia é mesmo com “c”) refere-se a um recorte administrativo próprio ao território português, cujo correspondente no Brasil seria o
conceito de município.
4
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daico-portuguesa manteve-se secreta e resistente até mesmo aos movimentos de resgate e conversão. Ao esconderem-se por trás do culto
do cristianismo10 e de não contarem com livros e guias religiosos, os
judeus residentes em Belmonte tornaram-se criptojudeus e empenharam-se para que suas crenças, rituais e tradições pudessem ser transmitidos apenas através da oralidade, em foro íntimo ou familiar, sustentando a religiosidade mosaica como haviam aprendido.11
Os criptojudeus, algumas vezes também chamados de “marranos”12, mantiveram seus costumes e religiosidade em sigilo na co-
10
Trata-se do conhecido fenômeno da “dupla religiosidade” apontada por
diversos autores além de Joaquim Chorão Lavajo, no texto: “A expulsão
dos judeus portugueses Erro ou Equívoco?” In: Cármen Ballesteros &
Mery Ruah. (Coord.). Os Judeus Sefarditas entre Portugal, Espanha e
Marrocos. Évora: Edições Colibri. 2004. Onde podemos ler: “Os judeus
convertidos ao cristianismo tomavam o nome de cristãos-novos. Muitos
deles, batizados sem convicção, e até violentados a fazê-lo, continuaram a
praticar secretamente os ritos da antiga religião. Essa duplicidade foi a
principal causa da animosidade que caracterizava as suas relações com os
cristãos-velhos e a discriminação a que estes se sujeitavam. Não podiam,
por exemplo, exercer cargos públicos, nem casar com cristãos-velhos,
nem sair do país sem licença régia, nem exercer comércio ultramarino,
nem praticar o câmbio com os cristãos-velhos.” (p. 48). Edgar Morin (Op.
cit.) vai referir ao conhecido fenômeno da “dupla religiosidade” como
“dupla identidade” ou uma “dualidade interior”.
11
Segundo Cecil Roth, na obra História dos Marranos – os judeus secretos
da Península Ibérica, “O criptojudaísmo, de uma forma ou de outra, é tão
antigo como o povo judeu” (p. 19). David Augusto Canelo diz o mesmo
na obra O Resgate dos Marranos Portugueses quando afirma: “Desde que
existem judeus, existem criptojudeus e por isso podemos afirmar que o
criptojudaísmo como fenômeno real é tão antigo como o próprio judaísmo” (p. 17).
12
Sobre a palavra “marrano”, vide: Roth (2001); Lipiner (1977, p. 99-100);
Garcia (2002, p. 2) e Torrejoncillo (1730, p. 116-7).
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munidade de Belmonte13 desde os séculos XII ou XIII14. Após a descoberta desses judeus, (que viviam de forma organizada mesmo antes
de 1492 –ano da expulsão dos judeus de Espanha15) e dos movimentos de resgate, uma nova questão surgia: o dilema identitário entre
continuar criptojudeu ou tornar-se judeu “aberto” ou “oficial”16.
Os moradores de Belmonte tinham consciência da existência
dos judeus que ocultavam suas práticas religiosas, mas o que não era
esperado, nem mesmo dentre os que conviviam com os criptojudeus,
era que o fenômeno que se despertava em Belmonte viesse a suscitar
tamanho interesse além-fronteiras17. O posterior aprofundamento e
desvendamento destas questões veio em livros como Os CristãosNovos em Portugal no Século XX, de Samuel Schwarz (1925), trazendo, por exemplo, orações que ainda eram recitadas secretamente
pelos criptojudeus em Belmonte. Uma outra pesquisadora portugue-
13
Joaquim Chorão Lavajo (Op. cit., p. 48).
Cf. Domingos (2002, p. 2); Garcia (2002); Mattoso; Daveau; Belo ([s.d.],
p. 371).
14
15
Garcia (2000).
16
Garcia (2002), em sua tese de doutorado no campo das Ciências Sociais,
acompanhou também esse movimento de resgate dos criptojudeus de
Belmonte ao judaísmo oficial, bem como sua questão identitária.
17
Maria Antonieta Garcia (2002, p. 2), quando escreve: “Em Janeiro de
1926, Lucien Wolf vem a Portugal a pedido da Anglo Jewish Association,
da Alliance Israélite Universelle e da Spanish Portuguese Jew’s Congregation. Visitou Lisboa, Guarda, Belmonte, Caria, Covilhã, Coimbra e Porto. ‘Constatou directamente que tais marranos não eram um mito, pois
não só travou relações com eles, mas também assistiu as suas reuniões
culturais’” (p. 5).
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sa, Garcia também faz referência ao surgimento do criptojudaismo
em Belmonte, dizendo que
(...) em Belmonte, sede do concelho da Beira Interior, em convivência com católicos, manteve-se uma comunidade criptojudaica
que, sem livros sagrados, nem chefes religiosos, criou uma prática sincrética, com marcas específicas que os tornava heréticos
aos olhos do Judaísmo e do Catolicismo. Preservaram uma matriz
cultural que foi pilar de resistência. Uma cadeia de transmissão
oral veiculou o saber e o fazer da Lei Mosaica de geração em geração. A solidariedade histórica e social era favorecida pela endogamia e pelo anti-semitismo. Longe dos padrões da ortodoxia,
secretamente re-criaram e reconstruíram ensinamentos. Habituaram-se a ocultar a tradição e a ser, como dizem, ‘católicos de fachada e judeus de coração’. Porém, a comunidade envolvente conhecia-os. Basta ser observador (a Inquisição não se cansou de o
ensinar!) para detectar indícios de Judaísmo. Limpar meticulosamente a casa às sextas-feiras, guardar os Sábados não trabalhando e usando vestuário de festa – ‘a camisa lavada’ –, não podem esconder-se ao Outro, durante muito tempo. (GARCIA,
2002, p. 2)
Uma investigação mais aprofundada sobre o trabalho que Samuel Schwarz realizou em Belmonte – com a publicação da obra Os
Cristãos-Novos em Portugal no Século XX (Cf. SCHWARZ, 1925),
entre os anos de 1917 e 1925 – leva o até então estudante da Universidade de Coimbra David Augusto Canelo a pensar que, apesar dele
ter sido judeu, só este fato não facilitou seu trabalho de recolha dos
costumes e indícios litúrgicos dos membros da comunidade. Canelo
veio a descobrir que a maior parte dos relatos e orações publicadas
por Schwarz foram elementos fornecidos por Francisco Henriques
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Gabinete, um criptojudeu belmontense que nutria por ele grande
simpatia.
Então, em 1981, Canelo percebe que é preciso fazer uma atualização do estado da comunidade criptojudaica de Belmonte, pois
havia passado mais de meio século após o trabalho realizado por
aquele autor. Canelo foi à procura de elementos litúrgicos que ainda
continuava a observar, outros que tinham se perdido e ainda aqueles
que tinham realmente existido, mas que aquele que o precedeu não
tinha conseguido pesquisar. Canelo tornou-se o segundo pesquisador
a publicar em Portugal cerca de 60 orações inéditas – transmitidas
por gerações, sob o segredo e cumplicidade permitida pela oralidade.
Para os trabalhos desenvolvidos por Canelo foram facultadas
pelos criptojudeus informações sobre orações, costumes e correligionários — quase todos fornecidos por escrito. Mas, mesmo diante de
tamanha cumplicidade, Canelo pôde observar que uma das orações
publicada por ele (como inédita) – a “Oração de Santificação pelo
vinho e pelo pão”, realizada no fim da refeição de sexta-feira à noite
– nada mais era que uma tradução do Kiddouch feita por Inácio Steinhardt em 1983. Fato que representa a dificuldade do trabalho de
pesquisa e levantamento de dados junto à comunidade local.
Paralelamente ao desenvolvimento do judaísmo lisboeta, que
converge com o das comunidades de Faro e dos Açores, ocorre o
fenômeno de tentativa de resgate do judaísmo por parte de alguns
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criptojudeus do Norte e Nordeste do país18. O impulso do Capitão
Barros Bastos, marrano, convertido ao judaísmo oficial e que hoje
empresta seu nome a uma escola em Belmonte, foi de suma importância para a criação de comunidades e sinagogas em alguns dos
principais centros de criptojudaísmo português, como os do Porto, de
Bragança, da Covilhã e de Belmonte19.
Observa-se, contudo, que tanto tempo de clandestinidade fez
com que os criptojudeus esquecessem, alterassem ou inventassem
rituais e orações, dado que não contavam com sinagogas nem tradições escritas que pudessem guiá-los ou orientá-los (GARCIA, 2000,
p. 2). Desta forma, o conflito identitário com que os criptojudeus de
Belmonte então se debatiam refletia-se basicamente em continuar
com a religião criptojudaica que herdaram (mantida exclusivamente
pela tradição oral) ou em seguir o caminho do judaísmo oficial, chamado por eles de “judaísmo da sinagoga”, um judaísmo que contaria
com o apoio de livros e de guias religiosos.
Entretanto, a chamada “Obra do Resgate”, como explica Canelo, não abalou minimamente a estrutura criptojudaica existente e não
18
Garcia, Maria Antonieta. Comunidades Marranos nas Beiras de Universidade da Beira Interior. Em 09 de Outubro de 2006, de www.bocc.ubi.pt
“no Porto crescia o movimento liderado por Barros Basto. Era o renascer
do Judaísmo nas Beiras e Trás-os-Montes. O jornal Ha-Lapid vai noticiando a renovação de um saber e de um fazer cultivado durante gerações.
O conhecimento da perseverança dos marranos portugueses através de A
Obra do Resgate de Barros Basto, do livro de Samuel Schwarz, despertou
o interesse do mundo judaico” (p. 5).
19
Esther Mucznik. 1999, p. 2.
9
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parece ter provocado grandes entusiasmos para o regresso ao judaísmo oficial20. Desta forma, a recente tentativa de retorno ao judaísmo
dito “oficial” em Belmonte é um trabalho que continua em grande
medida adiado porque, na opinião de Canelo, para uma grande maioria, prevalece ainda o que é feito às escondidas. Em muitas famílias o
segredo permanece inflexível, perpetuando as tradições culturais
herdadas dos antepassados em muitos costumes, ritos e orações. Certo é que, hoje, os judeus de Belmonte não mais se batizam nem se
casam pela Igreja Católica – como faziam dentro da tradição da duplicidade religiosa – mas existem ritos e tradições que se mantêm
essenciais na linha de transmissão familiar do marranismo português21.
20
Garcia, Maria Antonieta. “Comunidades Marranas nas Beiras”, de Universidade da Beira Interior. Em 09 de Outubro de 2006, de
www.bocc.ubi.pt “O jornal Ha-Lapid divulgou a história, cultura e preceitos judaicos, noticia os acontecimentos relevantes da vida das comunidades (vida comunal) e de A Obra do Resgate. É perceptível o interesse em
motivar os descendentes de judeus para assumirem a identidade religiosa
e exorcizar o medo”, (p. 5).
21
Algumas questões poderiam ser elucidativas se colocadas neste momento
para aferir a importância da linguagem no processo de resistência e secretismo dos judeus ou criptojudeus em Belmonte; p.ex. a prática e o prestígio das H’azzanot ou “rezadeiras” que, depois do Estado Novo, foram as
iniciadoras e mestras do judaísmo; a tradição que seguiam, fundamentada
na memória, conhecimentos e práticas; tal como a opção endogâmica, que
favorecia a continuidade do culto e do segredo face ao Outro. Um outro
fator que podemos apontar é o dos «abafadores» que faziam parte dos rituais funerários realizado pelas mulheres judias antes de chamarem os sacerdotes católicos para a última confissão, impedindo a revelação/denúncia dos segredos da comunidade, reiterando mais uma afirmação da identidade judaica, ao abafar os moribundos. Também aqui poderí-
10
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As figuras do nós (criptojudeus) e do eles (judeus «oficiais»)
ocuparam, por um determinado tempo, o mesmo lugar no cenário
judaico de Belmonte. Juntas, tais figuras rizomáticas remeteriam a
um dilema identitário que surgia. Por “rizoma”, Deleuze & Guattari
entendem a inexistência de um centro onde nada é pré-definido, em
que ligações através de linhas podem, por sua vez, interligar um ponto qualquer a outro, sem respeitar hierarquias. Um processo que está
sempre em construção e apontando para várias direções ao mesmo
tempo22. Como a «máquina» rizomática, o dilema identitário presente em Belmonte também não apontava para um centro em comum,
mas apresentava-se ou representava-se por interligações, por linhas
que poderiam divergir, apontar em diversas direções ou, simplesmente, extinguir-se.
Contudo, Garcia23 observa que, na década de 80, os preceitos
criptojudaicos transmitidos oralmente ainda se mantinham, embora
amos apontar a questão de ancoragem do sujeito para encontrar sua «identidade» (sempre incompleta) ou ainda para encontra-se num processo identitário (sempre em construção). As chamadas «ancoragens temporárias», a «fragmentação» e a «incompletude identitária» podemos encontrar também em Stuart Hall & Paul, Du Gay. ed. Questions of Cultural
Identity. London: Sage, 2005.
22
Gilles Deleuze & Félix Guattari. A Thousand Plateau. London: Continuum., 2004. (p. 7)
23
Barros Basto e Samuel Schwarz verificaram que as mulheres memorizavam, transmitiram rituais e textos ou os escreviam. A referência a manuscritos de orações que Barros Bastos transcreve em Ha-Lapid, pertence a
Perpétua da Costa. Cf: Garcia, Maria Antonieta. «Comunidades Marranas
nas Beiras» de Universidade da Beira Interior. Recuperado em 09 de Outubro de 2006, de www.bocc.ubi.pt (p. 7)
11
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contassem com o livro de Schwarz (Op. cit.) apenas como um recurso para possíveis falhas de memória. Desta forma, desde 1925, os
judeus de Belmonte passaram a ter e contar, caso desejassem, com
um quase manual do perfeito criptojudeu24.
É de especial relevância a figura da mulher no contexto da
transmissão oral nas comunidades criptojudaicas. Em seio familiar,
transmitem oralmente o patrimônio cultural e religioso ; em seio
comunitário, atuam como guardiãs e protetoras da ordem social ; e,
em seio extra-comunitário, junto à comunidade envolvente, aceitaram a clausura e o encobrimento social. Ao contrário do papel que
desempenhariam no judaísmo «oficial», as criptojudias de Belmonte
detinham um papel fundamental – o papel sacerdotal (Cf. GARCIA,
2000, p. 287).
Antes da vinda de um Rabino de Israel para a vila, as criptojudias de Belmonte detinham certo prestigio dentro e fora do lar. Sua
presença era requerida em qualquer cerimônia e imprescindível em
algumas; eram respeitadas pelo saber que detinham e que tinham
capacidade de transmitir oralmente; e, alem disso, tinham satisfação
em ver que contribuíam de forma ímpar para a propagação de sua
tradição cultural e religiosa.
Apoiadas na fidelidade à Lei de Moisés, na cadeia de transmissão com laços de pertença e na prática da endogamia, elas garantiram a continuidade da memória judaica, gozando do privilégio de
24
GARCIA. “Comunidades Marranas nas Beiras” de Universidade da Beira
Interior. Em 09 de outubro de 2006, de www.bocc.ubi.pt (p. 8).
12
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saberem-se sacerdotisas, trabalhadoras (assim como os homens) e
ainda representantes do saber. Mesmo assim tiveram que sofrer não
só com a febre anti-semita que contaminava os gentios, mas também
com o antifeminismo em época de presença rabínica.
Se pensarmos na presença rabínica em Belmonte veremos que
esta provocou e promoveu um discurso de esquecimento do passado
e desvalorização da tradição. O “saber antigo” ensinado pelas criptojudias representava, naquele momento, um período de ignorância,
quase maldito e que deveria ser deixado para trás. O papel que poderiam desempenhar sob os preceitos rabínicos exigia subalternidade e
amnésia, o que veio a provocar alguma forma de rebeldia e desobediência.
A oralidade, que propiciou a continuidade da memória judaica,
adquiria então um valor duplo, como assinala Garcia, mas ainda assim contraditório. A mesma oralidade que foi motivo de orgulho e
fez sobreviver o povo judeu e sua fé, aparece também como rejeição,
aliado ao sincretismo e, principalmente, à heresia.
É importante considerar que fenômeno do criptojudaísmo em
Belmonte propõe um repensar até mesmo do que Walter Benjamin
escreveu no texto “O Narrador”, de 1936, quando esboça observações sobre a obra de Nikolai Leskow25. Ao escrever sobre um supos-
25
Nikolai Leskow nasceu em 1831 na Província de Orjol e morreu em Petersburgo no ano de 1895. A importância de Leskow reside nas narrativas
que pertencem a uma fase posterior de sua produção. Desde o fim da
guerra foram empreendidas várias tentativas para tornar essas histórias
conhecida no âmbito da língua alemã. Cf: nota de rodapé do texto “O
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to fim arte de narrar, Benjamin, entre outras afirmações, diz que “(...)
a arte de narrar está em extinção”; e ainda que (...) Para nós ele (o
narrador) já é algo distante e que continua a se distanciar”(BENJAMIN, 1992a, p. 28).
Salientamos, entretanto que, no tocante aos criptojudeus de
Belmonte, a arte de narrar manteve-se presente desde o século XII,
com o único e fundamental pressuposto de transmissão e troca de
experiências. Nomeadamente através da voz26 feminina, as narrativas
de caráter oral, as músicas27 e as orações significaram um importante
instrumento de resistência, salvaguardando valores milenares.
Esta continuidade da chamada arte de narrar pelas criptojudias de Belmonte pode ser também revista através de uma outra passagem de Benjamin, quando ele indaga se “não se notou, no fim da
guerra, que as pessoas chegavam mudas do campo de batalha – não
mais ricas, mas mais pobres em experiência comunicável?”. O argumento inerente ao questionamento benjaminiano aponta para o silêncio e mudez das pessoas que retornavam dos campos de batalha,
fator que remeteria para o “sincretismo” sempre tão associados aos
judeus em geral. Assim como poderia também realçar a «resistência»
implícita a este processo, que está, para esta parcela da população
Narrador” (Edição Brasileira – coleção Os Pensadores – Textos Escolhidos. São Paulo: Abril, 1983. (pp. 57-74).
26
Para um maior conhecimento e debate existente a respeito da questão da
voz, vide as obras de Paul Zumthor.
27
Judith Cohen, uma pesquisadora e cantora judia, residente no Canadá,
trabalha com as músicas secretas das criptojudias de Portugal.
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Anais do V Congresso de Letras da UERJ-São Gonçalo
portuguesa, exclusivamente apoiada na experiência da transmissão
oral. Contudo, até mesmo o silêncio, ícone maior do segredo para
Jacques Derrida, implica sempre o seu contrário (Cf. DERRIDA;
FERRARIS, 2006).
Como diria John Cage, “o silêncio é um tempo perfurados de
ruídos”28. Neste caso, não podemos apontar o não-dito – pontuado
por Benjamin em “O Narrador” – como o contrário do ato de narrar
ou como algo oposto à troca de experiências por via oral, pois o silêncio, como bem pontua Smedt (Ibidem), também fala e elucida.
É evidente, até mesmo para Benjamin em 1936, que a amplitude e liberdade associadas às narrativas de caráter oral não impõem
ao leitor ou ouvinte uma “coerência psicológica da acção”, o que
efetivamente não acontece com os veículos de informação, em que as
respostas e interpretações chegam de forma pronta e planejada ao
receptor. Desta forma, evidente também se mostra a riqueza da oralidade, que incube-se de transmitir para as gerações vindouras os preceitos culturais e religiosos, permitindo, como pontua Michel Foucault, no texto “O que é um autor” (2002, p. 36), o adiamento da
morte, das tradições, dos rituais e das próprias narrativas.
Em minha pesquisa doutoral, inserida nos grandes campos da
Linguagem e da Sociologia, venho promovendo um constante dialogar entre a tradição oral da língua e um repensar do seu papel em
sociedade, num contexto judaico-feminino que usou e ousou reconhecer unicamente a oralidade como meio privilegiado e resistente,
28
Marc de Smedt (2006., p. 9).
15
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dando continuidade às tradições e ao segredo inerente à sua identidade e religiosidade.
De qualquer modo, uma recente publicação exemplifica o interesse sempre presente de autores consagrados, como Morin (2007),
na questão judaica. Abordando o caso Belmonte apenas como estatística, Morin não só reconhece a importância da descoberta dos criptojudeus belmontenses, mas também e, principalmente, aponta para as
muitas questões que essa temática pode trazer, seja re-pensando a
oralidade, a identidade, o feminino, o descobrimento ou, até mesmo,
o grave, mas sempre atual encobrimento - de nações, povos, culturas,
tradições e religiosidades- disseminado pelo mundo globalizado e
considerado por alguns como pós-moderno.
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