as cruzadas - Professor Claudiomar

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AS CRUZADAS
obrigações dos servos, o que levou muitos destes a abandonar as terras em
que viviam ou a serem expulsos delas. Tal situação começou a colocar em
crise as relações servis que sustentavam a economia feudal.
A crise atingiu não só os camponeses, mas também os nobres, que,
para não fragmentar seus domínios, passaram a fazer uso do direito de
primogenitura, pelo qual apenas o filho mais velho poderia herdar o feudo.
Com isso, os filhos mais novos eram obrigados a procurar outros meios de
sobrevivência. Jovens cavaleiros saíam então pelo mundo em busca de
oportunidades: um casamento vantajoso, o seqüestro de alguém da alta
nobreza para cobrar resgate, etc.
Tais condições, somadas ao espírito de aventura dos cavaleiros e
às disputas territoriais, propiciaram um clima de constantes lutas entre a
nobreza. Na tentativa de controlar a situação, no início d século XI o papa
proclamou a Paz de Deus, pela qual os combates foram limitados a noventa
dias por ano.
Foi meio a essa situação que o papa Urbano II lançou seu apelo à
cristandade, dando início às Cruzadas.
A todos aqueles que partirem para as Cruzadas e perecerem no
caminho, seja por terra, seja por mar, ou que perderem a vida combatendo os
pagãos, será concedida a remissão de seus pecados.
Essas palavras, pronunciadas solenemente pelo papa Urbano II no
Concílio de Clermont (na França), em 1095, deram inicio às Cruzadas,
expedições militares e religiosas organizadas na Europa ocidental com o
objetivo de libertar a Terra Santa das mãos dos muçulmanos. Situada na
Palestina, essa região estava ligada às tradições cristãs, pois fora ali que
Jesus tinha vivido e difundido sua doutrina.
Com as Cruzadas, o papa esperava conquistar não só Jerusalém e
o Santo Sepulcro, onde Jesus teria sido sepultado, mas também a liderança
da cristandade, tanto do Ocidente –, quanto do Oriente – sobre o imperador e
a Igreja bizantina. Esta última estava afastada da Igreja de Roma desde o
Cisma do Oriente de 1054.
Crescimento e crise na
Europa
Depois das invasões
vikings e magiares (húngaras) que
agitaram a Europa ocidental nos
séculos IX e X, o continente
entrou em um período de relativa
estabilidade
social
e
de
crescimento econômico. Como
resultado, a população começou a
crescer, enquanto aumentava
também
a
circulação
de
mercadorias.
O
crescimento
populacional levou à ocupação de
áreas ainda não utilizadas para
plantio, como florestas e
pântanos.
Entretanto,
a
disponibilidade de terras nessas
áreas era limitada. Além disso, a
população se expandia em ritmo
mais acelerado do que a
produção. Dessa forma, crescia o
número de pessoas que caíam na
mendicância ou banditismo.
Ao mesmo tempo, os
senhores feudais ampliaram as
Rumo à Terra Santa
Durante muito tempo, os árabes permitiram que os cristãos realizassem peregrinações ao Santo Sepulcro. No fim do século XI, porém, a Palestina caiu em
poder dos turcos seldjúcidas, povo proveniente da Ásia central. Convertidos ao islamismo, os seldjúcidas eram menos tolerantes do que os árabes em questões
religiosas e proibiram o ingresso de cristãos na Terra Santa.
A resposta da Igreja veio em 1095, quando no Concílio de Clermont o papa Urbano II convocou os cristãos a “arrancar aquela terra da raça malvada”. Por trás
desse objetivo religioso atuavam outros interesses. A nobreza feudal, por exemplo, queria conquistar novas terras. O papa procurava restabelecer sua autoridade
secular e reconstituir a unidade da Igreja, quebrada com o Cisma do Oriente, em 1054, quando o patriarca de Constantinopla rompeu com o papado e criou a Igreja
ortodoxa grega. Muitos camponeses, por sua vez, queriam escapar da situação de miséria em que viviam.
Ora, diversos imperadores bizantinos haviam prometido acatar a autoridade do papado, caso este os auxiliasse na luta contra os seldjúcidas, que avançavam
sobre seu território, colocando em risco o Império Romano do Oriente. Com as Cruzadas, o papa prestava auxílio, esperando que a promessa bizantina fosse cumprida.
Havia, ainda, os interesses dos comerciantes de cidades da península Itálica como Veneza e Gênova, que viam nas Cruzadas uma oportunidade de ampliar
suas atividades mercantis.
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A cristandade se mobiliza
Entre os séculos XI e XIII partiram da Europa nada menos do que oito Cruzadas, envolvendo milhares de pessoas. A mais bem sucedida foi a Primeira
Cruzada (1096-1099), composta de tropas de cavaleiros da nobreza, sem a participação de nenhum rei. Um pouco antes, uma Cruzada dos Mendigos tinha sido
destroçada pelos muçulmanos antes de chegar à Terra Santa.
Mais bem preparados, os combatentes da Primeira Cruzada atravessaram a Ásia Menor, conquistando Edessa, Antioquia e outras cidades. Em julho de 1099,
depois de um cerco de cinco semanas, ocuparam Jerusalém. Senhores da margem oriental do Mediterrâneo, fundaram ali vários reinos cristãos. Eram eles: o Reino
Latino de Jerusalém, o Principado de Antioquia e os condados de Edessa e Trípoli.
Os Templários
A Ordem dos Templários, organização de caráter militar-religioso criado em Jerusalém no período das Cruzadas, tornou-se objeto de curiosidade mundial
com a publicação do livro O Código da Vinci, do escritor norte-americano Dan Brown e sua adaptação para o cinema pelo diretor, igualmente estadunidense, Ron
Howard (2005). Os templários são mencionados diversas vezes tanto no livro quanto no filme. Veja a seguir um pouco de sua história.
Com o estado de espírito criado pelas Cruzadas, surgiram no Oriente, no decorrer do século XII, diversas organizações monástico-religiosas. Uma delas foi a
Ordem dos Templários, formada por monges cavaleiros franceses para proteger Jerusalém, conquistada em 1099 pela Primeira Cruzada, e assegurar aos cristãos o
direito de peregrinação à Terra Santa.
Em Jerusalém, o grupo ocupava uma ala do palácio real, que, diziam, havia feito parte do Templo de Salomão. Daí veio o nome Templários para a ordem,
também conhecida como Cavaleiros Pobres de Cristo e do Templo de Salomão. Sua principal identificação era a túnica branca com uma cruz. E logo tornaram-se
fundamentais para a defesa dos reinos cristãos implantados à força no Oriente Médio – por isso, chegaram a reunir cerca de 20 mil cavaleiros. Também acumularam
uma fortuna incalculável, recebendo doações de terras, castelos e outros bens.
Graças à sua força militar, assumiram ainda o papel de banqueiros, coletando e transportando riquezas entre a Europa e a Terra Santa. Com o tempo, porém,
nobres e reis importantes se sentiram incomodados com o crescente poder econômico e político dos templários.
Felipe IV, o Belo, rei da França (1285-1314), que – como vários outros soberanos – devia dinheiro à ordem, resolveu enfrentá-la, ordenando o confisco dos
bens e a prisão dos templários que viviam em seu reino. Vários líderes da ordem foram mortos na fogueira depois de torturados. [...] Por pressão do rei francês, o papa
Clemente V determinou que a ordem fosse dissolvida em 1312.
Adaptado de: Revista Superinteressante, set. 2002.
A Segunda Cruzada (1147-1149), organizada depois que os
muçulmanos reconquistaram a cidade de Edessa, fracassou em seus
objetivos. Já a Terceira Cruzada (1189-1192) foi uma resposta à retomada de
Jerusalém pelos muçulmanos em 1187. Dela participaram Augusto, da França,
além do imperador Frederico Barbarruiva, do Sacro Império. Conhecida como
Cruzada dos Reis, seu principal saldo foi o estabelecimento de um acordo com
os muçulmanos, que passaram a autorizar a peregrinação dos cristãos a
Jerusalém.
aos cavaleiros e aos camponeses do século XI uma saída para o excedente
populacional, na prática seus resultados foram quase nulos.
Na verdade, o Mediterrâneo nunca chegou a ser um “mar deserto”,
fechado pelos muçulmanos, como se acreditou por um tempo. As cidades da
península Itálica, por exemplo, mantiveram-se ativas durante a Idade Média e
seu comércio com o Oriente sempre foi relativamente intenso. Da mesma
forma, ocorriam intercâmbios culturais e econômicos entre cristãos e
muçulmanos na península Ibérica.
Desse modo, as Cruzadas contribuíram mais para aumentar e
dinamizar o comércio do que propriamente para “abrir” o Mediterrâneo. “Sem
dúvida – observa Le Goff em seu livro Civilização do Ocidente medieval –, os
benefícios extraídos, não do comércio mas sim do aluguel de barcos e de
empréstimos concedidos aos cruzados, enriqueceram rapidamente certas
cidades da península Itálica – sobretudo Gênova e Veneza”.
Seja como for, ao fundar reinos cristãos no Mediterrâneo oriental,
os cruzados promoveram a expansão das sociedades européias e fizeram
entrar em circulação na Europa produtos orientais, sobretudo especiarias,
importadas por mercadores da península Itálica.
Os saques realizados pelos cruzados nas cidades muçulmanas
transferiram para a Europa grande quantidade de moedas, aumentando sua
circulação no continente. Isso colaborou para que surgissem companhias
mercantis, formadas pela associação de comerciantes, que investiam capital
na compra de barcos e de mercadorias.
Com a reativação do comércio e das cidades a partir do século XI,
expandiram-se a economia monetária e o mercado, fortalecendo a burguesia
mercantil. Estimulados pela formação de um mercado consumidor, os
senhores procuraram aumentar a produção de seus feudos. As relações servis
entraram em crise. Muitos servos se tornaram livres e passaram a arrendar
terras dos senhores com base em contratos.. Outros migraram para as
cidades, desligando-se das relações servis de produção. Com o
desenvolvimento comercial, todo o sistema feudal entrava em crise.
A Cruzada dos comerciantes
A Quarta Cruzada (1202-1204) foi desvirtuada de seus objetivos
iniciais (combater os muçulmanos no Egito). Financiados por homens de
negócio de Veneza, interessados em ampliar seu comércio com o Oriente, os
cruzados assaltaram e ocuparam a cidade cristã de Constantinopla. Ali,
cruzados e comerciantes venezianos fundaram o Império Latino de
Constantinopla, cujo principal objetivo era controlar as rotas comerciais entre
essa cidade e o Oriente. O domínio veneziano sobre Constantinopla só
terminaria em 1261.
Após a Quarta Cruzada, difundiu-se na Europa a idéia de que
somente as crianças, supostamente inocentes e sem pecados, seriam
capazes de vencer os muçulmanos e retomar a Terra Santa. Surgiu assim a
Cruzada das Crianças, organizada em 1212. Como seria de esperar, a
expedição infantil nunca chegou a Jerusalém.
As últimas quatro cruzadas (1217-1270) praticamente não tiveram
relevância, nem para o Ocidente, nem para o Oriente, pois fracassaram em
seus objetivos.
Depois das Cruzadas
Segundo o historiador Jacques Le Goff, um dos mais destacados
estudiosos da Idade Média, o saldo das Cruzadas para o Ocidente não foi tão
animador quanto esperavam seus participantes. Ainda que tenham oferecido
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