O TERRORISMO E SEU TRATAMENTO JURÍDICO PENAL

Anuncio
UNIJUI - UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
HEIDER LUIS PETRAZZINI DOS SANTOS
O TERRORISMO E SEU TRATAMENTO JURÍDICO PENAL
Três Passos (RS)
2014
HEIDER LUIS PETRAZZINI DOS SANTOS
O TERRORISMO E SEU TRATAMENTO JURÍDICO PENAL
Monografia final do Curso de Graduação em Direito
objetivando a aprovação no componente curricular
Monografia.
UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do
Estado do Rio Grande do Sul.
DEJ – Departamento de Estudos Jurídicos
Orientadora: MSc. Patrícia Marques Oliveski
Três Passos (RS)
2014
Dedico este trabalho a todos que de uma forma ou outra
me auxiliaram e ampararam-me durante estes anos da
minha caminhada acadêmica. Em especial, aos meus
pais que sempre estiveram ao meu lado me apoiando
incondicionalmente, prestando todo apoio e incentivo
necessários, impulsionando-me a conquistar meus
objetivos
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente aos meus pais, pelo amor, incentivo e apoio incondicional
dado durante esses anos nessa jornada acadêmica. Agradeço principalmente pela paciência
que tiveram comigo, pelo ensinamento da valorização dos estudos e por sempre terem
depositado sua confiança em mim.
À minha orientadora, Prof ª Patrícia Marques Oliveski, que prontamente aceitou o
encargo de me guiar na realização desta tarefa, sempre se demonstrando disposta e
empenhada. Agradeço igualmente a todos os professores pelo conhecimento transmitido, não
somente na formação acadêmica, mas principalmente na formação humanística.
À Unijuí, seu corpo docente, administração e direção, pelo apoio institucional e pelas
oportunidades oferecidas.
“Os direitos humanos não são violados somente pelo
terrorismo, repressaõ, assassinatos, mas também
pela existência de condições de extrema pobreza e de
condições econômicas injustas que geram grandes
desigualdades”.
Papa Francisco
RESUMO
O presente trabalho de pesquisa monográfica faz uma análise do tratamento jurídicopenal do terrorismo no ordenamento brasileiro. Analisa-se primeiramente a problemática da
conceituação e definição do terrorismo pela doutrina e pelos organismos internacionais,
verificando quais são os principais empecilhos na busca de uma definição internacionalmente
aceita. Prossegue a investigação com a definição dos elementos caracterizadores do terrorismo,
bem como a sua diferenciação de outras condutas criminosas. No panorama internacional, são
analisados os principais instrumentos existentes como as convenções e resoluções sobre o
terrorismo. Em sede do Direito Comparado, são analisadas as legislações de determinados
países que na sua história sofreram atentados terroristas. Por fim, são analisados os diplomas
existentes no Brasil que regulam a matéria, assim como as propostas existentes para a
tipificação do terrorismo no ordenamento pátrio.
Palavras Chaves: Terrorismo, Direito Penal, Direito Internacional, Direito Comparado,
Lei de Segurança Nacional.
ABSTRACT
This monographic research work makes an analysis of the legal and criminal treatment
of terrorism in the Brazilian legal system. First of all, is analyzed the problem of
conceptualization and definition of terrorism by the doctrine and by the international
organisms, verifying what are the main obstacles in the pursuit of an internationally accepted
definition. The research continues with the definition of the elements that characterize
terrorism, as well as its differentiation from other criminal conduct. In the international scene,
are analyzed the main existing instruments such as conventions and resolutions on terrorism.
In the matter of Comparative Law, are analyzed the laws of certain countries that in their
history have suffered terrorist attacks. Finally, are analyzed the existing diplomas in Brazil
which regulate the matter, as well as the existing proposals for the criminalization of terrorism
in the national legal system.
Keywords: Terrorism, Criminal Law, International Law.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...... ................................................................................................................. 7
1 CONCEITO DE TERRORISMO ........................................................................................ 9
1.1 Conceito de Terrorismo e seus elementos....................................................................... 11
1.2 Distinção de Terrorismo e outras condutas ................................................................... 18
1.3 Terrorismo e suas Formas ............................................................................................... 19
2 TRATAMENTO JURÍDICO-PENAL DO TERRORISMO........................................ 25
2.1 Tratamento Jurídico-Penal do Terrorismo no Direito Comparado ............................ 25
2.2 Tratamento Jurídico-Penal do Terrorismo no Brasil ................................................... 31
2.2.1 .. Breve histórico da evolução legislativa no Brasil ..................................................... 32
2.2.2 .. O atual tratamento jurídico-penal do Terrorismo no Brasil .................................. 34
2.2.3 .. Propostas legislativas de tipificação do Terrorismo no Brasil................................ 40
CONCLUSÃO......................................................................................................................... 44
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 46
ANEXO A – Resolução 49/60 da Organização das Nações Unidas e
Declaração sobre medidas para eliminar o terrorismo internacional ............................... 49
ANEXO B – Resolução nº 51/210 da Organização das Nações Unidas e
Declaração complementar da Declaração de 1994 sobre medidas para
eliminar o terrorismo internacional...................................................................................... 55
ANEXO C - Resolução nº 54/109 da Organização das Nações Unidas e
Convênio Internacional para repressão do financiamento ao terrorismo ........................ 62
7
INTRODUÇÃO
O terrorismo é um fenômeno que nos últimos anos tem se tornando
internacionalmente recorrente, ante a repercussão e o nível de destruição alcançado por tal
prática. Trata-se de um crime peculiar o qual apresenta diversas controvérsias no que tange a
sua definição bem como na existência de instrumentos para a sua repreensão ou prevenção.
A prática terrorista é histórica, entretanto, especialmente a partir dos atentados
ocorridos em 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, as providências antiterroristas
começaram a se transformar em âmbito militar, policial, político, legal e judicial, tornando-se
objeto de maior atenção. Nos últimos anos as técnicas utilizadas nos atentados terroristas
evoluiriam, ampliando os danos dos atentados, sendo considerado pela comunidade
internacional um dos maiores desafios a serem superados.
Os Estados atingidos por atentados terroristas viram-se diante da necessidade de
criação de instrumentos que propiciem o combate a essa conduta. Ocorre que tal medida
resulta ineficiente, frente à dificuldade de uma conceituação precisa em âmbito internacional.
Além disso, em âmbito internacional, o sistema de manutenção da paz internacional ocupa-se
para o conflito entre Estados, não possuindo instrumentos para o devido combate a grupos
terroristas.
Dessa forma, o presente trabalho tem por objetivo analisar o tratamento jurídicopenal adotado pelo Brasil no combate ao terrorismo. Para tanto, se faz necessário um estudo
dos instrumentos internacionais existentes que tratam do tema, bem como da análise do
direito comparado.
Nesse sentido, o trabalho está estruturado em dois capítulos.
8
No primeiro capítulo analisa-se a conduta terrorista, verificando o posicionamento da
doutrina sobre a conceituação do tema, bem como do tratamento dado em nível internacional.
Cuida-se também da diferenciação do terrorismo e outras condutas, assim como das formas
que o terrorismo pode adquirir.
O segundo capítulo, por sua vez, divide-se em dois tópicos. O primeiro trata da
análise do terrorismo no direito comparado, analisando qual é o tratamento dado por diversos
países ao terrorismo. O segundo tópico trás o ponto central do trabalho e trata especificamente
do tratamento dado pelo Brasil no combate ao terrorismo, realizando uma análise da evolução
legislativa no país, o tratamento atual empregado, e das propostas existentes para regular a
matéria.
9
1 CONCEITO DE TERRORISMO
Este capítulo destina-se a uma análise do termo terrorismo em seus diversos sentidos,
a fim de proporcionar condições para analisar tal conduta do ponto de vista jurídico.
A palavra terrorismo deriva dos termos em latim terrere, e deterrere, que significam
respectivamente tremer e amedrontar. Segundo o Dicionário, terrorismo compreende o “uso
do terror e da violência (por exemplo, a explosão de bombas) como meio de coação.”
(HOUAISS, 2004 p. 716).
Terror, do qual derivou a palavra terrorismo, é o nome do período da Revolução
Francesa marcado pela dominação através do terror e da intimidação, compreendido entre 31
de maio de 1793, com a queda dos girondinos, e 27 de junho de 1794, com a queda de
Robespierre. Posteriormente, começou a designar qualquer época de perseguições por
motivos políticos, como por exemplo, os excessos durante os primeiros anos da Restauração,
período de 1814 a 1830.
A palavra “terror”, segundo Sarah Pellet (2003, p. 10) aparece na língua francesa em
1335, compreendendo a “um medo ou uma ansiedade extrema correspondendo, com mais
frequência, a uma ameaça vagamente percebida, pouco familiar e largamente imprevisível.”
Marcello Ovidio Lopes Guimarães (2007, p. 14), afirma que com a Revolução
Francesa o termo adquire sentido distinto, correspondendo ao sistema de restaurar e impor a
autoridade do novo Estado. Com a queda de Robespierre, não pelo cometimento de terror,
mas por terrorismo, o termo adquire outro sentido. Ou seja, o “terror”, que era utilizado como
meio de legítima defesa da ordem estabelecida foi substituído por terrorismo, que
correspondia ao terror exercido abusivamente pelo Estado.
Conforme Pellet (2003, p. 11), o termo reaparece no século XIX, adquirindo outro
sentido, correspondendo então como meio de aterrorizar o Estado e incitar a sociedade contra
os órgãos estatais por meio da propaganda, também conhecido como anarquismo.
Em razão da constante evolução, no âmbito jurídico o terrorismo sempre esteve
diante de dificuldades para ser conceituado com precisão, tanto no direito interno, pelas
10
normas de direito penal nacional, tanto no cenário internacional, pelos tratados e convenções
dentro dos limites do direito internacional e penal internacional.
A dificuldade da discussão do terrorismo baseia-se na ausência de uma definição
inequívoca do termo. As principais dificuldades de conceituação decorrem das motivações
políticas bem como da diversidade de condutas que podem ser classificadas como atos
terroristas
As dificuldades de natureza política são as mais graves, visto que decorrem da carga
política do conceito e da experiência dos Estados com a ocorrência de tal fenômeno. Para
Sarah Pellet (2003, p. 9)
[...] terrorismo, termo em que se misturam direito e política, fato que causa
um grave problema de definição, tanto na esfera interna quanto na esfera
internacional. E é esta ambiguidade quanto à noção de terrorismo que faz
com que a comunidade internacional e os Estados, no quadro de sua
legislação interna, cheguem a respostas insatisfatórias para lutar contra este
flagelo que a própria doutrina jamais soube definir completamente.
Conforme a autora, as propostas de conceituação de terrorismo em âmbito nacional
são insatisfatórias, pois utilizam técnica enumerativa, adaptando-se apenas ao sistema jurídico
interno. Dessa forma, tais definições por serem excessivamente particulares a um determinado
Estado, não servem como solução para a ordem jurídica internacional.
Segundo Guimarães (2007, p. 34), a diversidade de opiniões entre os Estados é
evidente. Há casos que determinada parte da comunidade internacional considera determinado
Estado terrorista, sendo o terrorismo um sistema reprovável que atenta no geral contra a
própria constituição do Estado, enquanto outros Estados de igual ou maior força políticoeconômica, o tem como um Estado que repudia o terrorismo, mas o emprega tão somente em
legitima defesa ou até mesmo em defesa preventiva.
Quanto à multiformidade, observa-se que há diversas condutas que podem ser
classificadas como ato terrorista, tendo os meios empregados em atentados evoluído e variado
bastante nas últimas décadas.
11
Tal constatação é importante, visto que a dificuldade de definição e a evolução
constante na sua noção são abordadas em função das consequências dos atos terroristas, ou
seja, de acordo com a percepção de cada Estado do que seja terrorismo.
1.1 Conceito de Terrorismo e seus elementos
Levando em consideração as dificuldades apresentadas, observa-se que nenhum
instrumento internacional obteve êxito em conceituar o termo terrorismo de forma consensual.
Segundo Guimarães (2007, p. 18), a primeira Convenção de Genebra de 1937 da
Liga das Nações buscou fornecer definição ao terrorismo. Segundo a disposição do art. 1º,
“[...] a expressão ‘atos terroristas’ quer dizer fatos criminosos dirigidos contra um Estado, e
cujo objetivo ou natureza é o de provocar o terror em pessoas determinadas, em grupo de
pessoas ou no público”. Tal definição é incompleta, visto ser pouco clara e não delimitar o
tema.
Prossegue na sua análise Guimarães (2007, p. 18), afirmando que
Os fatos criminosos compreendidos na noção de terrorismo não são somente
dirigidos contra um Estado. Podem sê-lo contra uma comunidade religiosa,
política, econômica ou cultural, uma organização, tal qual um partido
político, um organismo não governamental interno ou transnacional, ou
mesmo um grupo de pessoas, bem determinado. Aliás, há, em última análise,
atos terroristas praticados não somente contra o Estado, mas sim por
intermédio de um Estado ou mesmo diretamente, pelo aparelho estatal, como
parte de uma política de governo.
Quanto ao objetivo do ato terrorista, este pode ser muito mais do que causar terror,
podendo ser um fim político ou religioso em razão do temor e do clamor público obtido pelo
ato de terror.
Nesse sentido, há um grupo que defende a tipificação do terrorismo específica para
cada infração terrorista, sendo o terrorismo um gênero. Contra esse grupo, há os defensores
que o terrorismo deve ser abordado de maneira indistinta, como um todo. Tais diferenças
dificultam uma definição consensual internacional.
12
Mesmo diante da falta de consenso internacional sobre o tema, não houve
empecilhos à busca de um conceito capaz de gozar aceitação internacional ampla,
principalmente por parte da Organização das Nações Unidas.
Em 1990 a Comissão de Direito Internacional apresentou o projeto do Código de
Crimes Contra a Paz e a Segurança da Humanidade, onde constava expressamente a definição
de terrorismo internacional. Segundo o Informe da Comissão de Direito Internacional A/46/10 de
1991, o artigo 24 apresenta a seguinte definição:
Artigo 24: Terrorismo Internacional. Um indivíduo que como agente ou
representante de um Estado cometa ou ordene a comissão de alguns dos
seguintes atos: empreendimento, organização, assistência, financiamento,
encorajamento ou tolerância de atos contra outro Estado, ou dirigidos contra
pessoas ou propriedades de forma a criar um estado de terror nas mentes de
figuras públicas, grupos de pessoas ou do público em geral. (tradução nossa)
Em tal proposta não houve consenso na comissão, sendo este abandonado, tanto que
no projeto de 1996 não havia a previsão do terrorismo internacional como um crime
autônomo.
Em 09 de dezembro de 1994 a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas
por meio da Resolução 49/60 (Anexo A) adotou a compreensão de terrorismo como a prática
de atos criminosos planejados ou elaborados para infundir estado de terror no público em
geral, num grupo de pessoas ou em particulares por motivos políticos.
Por sua vez, o Conselho de Segurança por meio da Resolução 1.566 de outubro de
2004 adotou a definição de terrorismo como a prática de:
atos criminosos, inclusive contra civis, cometidos com a intenção de causar a
morte ou lesões corporais graves, ou tomada de reféns com o objetivo de
provocar um estado de terror no público em geral, em um grupo de pessoas
ou de determinadas pessoas, intimidar uma população ou obrigar um
governo ou uma organização internacional a praticar ou abster-se de praticar
qualquer ato, [...], sendo injustificável por considerações de ordem política,
filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa ou de natureza similar
(tradução nossa)
13
Houve ainda por parte da Assembleia Geral em 1996 a instituição de um Comitê
Especial, que criou a Resolução nº 51/210 (Anexo B), a qual tratou da necessidade de criação
de instrumentos internacionais contra o terrorismo. Tais esforços resultaram na Resolução nº
54/109 (Anexo C), apresentada em 2001, a qual refere-se a Convenção Internacional para a
Supressão do Financiamento do Terrorismo. Segundo o artigo 2º da referida resolução:
Comete uma infracção, nos termos da presente Convenção, quem, por
quaisquer meios, direta ou indiretamente, de forma ilegal e
intencionalmente, fornecer ou reunir fundos com a intenção de que eles
sejam usados ou sabendo que serão utilizados, em todo ou em parte, a fim de
realizar:
[...]
(b) Qualquer outro ato destinado a causar a morte ou lesões corporais graves
a um civil, ou a qualquer outra pessoa que não participe ativamente das
hostilidades em situação de conflito armado, quando o objetivo do referido
ato, por sua natureza ou contexto , é intimidar uma população ou obrigar um
governo ou uma organização internacional a praticar ou abster-se de praticar
qualquer ato.
Tal resolução, contudo, foi objeto de várias propostas de ementas formuladas por
países como África do Sul, Áustria, Bolívia, Chile, Costa Rica, Equador, Índia, Líbano,
Malásia, Nigéria, Sudão e Suíça. Dentre os diversos aspectos objetos das referidas ementas, o
que deve receber uma atenção especial é a diferença entre terrorismo das formas legítimas de
luta como forma do exercício do direito à autodeterminação e à independência.
Andreu-Guzmán (2003, p.119-120) afirma o seguinte:
As discussões realizadas desde 2000 destacam as dificuldades de ordem política,
ideológica e legal para estabelecer uma definição do crime de terrorismo
internacional. Vários aspectos apresentam essas dificuldades, especialmente no que
diz respeito a diferenciar claramente o terrorismo da "luta legítima dos povos no
exercício do seu direito à autodeterminação e autodefesa contra a agressão e
ocupação." Várias delegações insistiram na necessidade de uma definição do crime
de terrorismo internacional que distinguisse este fenômeno das formas legítimas de
luta, do exercício do direito à autodeterminação e da independência. (tradução
nossa)
Embora haja várias tentativas para a criação de um conceito internacionalmente
aceito, o terrorismo continua sem uma definição jurídica amplamente aceita, limitando dessa
forma a possibilidade de criação de uma estratégia de combate ao terrorismo, principalmente
pela parte da Organização das Nações Unidas.
14
Tal falta de consenso se repete também no âmbito do direito nacional e entre os
doutrinadores. A definição interna de terrorismo encontra suas múltiplas facetas, haja vista
que as características atribuídas são de acordo com a diversidade política, cultura e religiosa
dos povos, sendo este mais um dos fatores que dificultam a definição internacional. Aliás, o
combate interno do terrorismo geralmente restringe-se a proteção exclusiva da ordem interna,
adotando figuras penais de direito comum, como os crimes de incêndio ou de explosão.
Conforme Guimarães (2007, p. 19), a lei britânica do Terrorism Act 2000 define o
terrorismo como uma ação ou omissão quando “o uso ou ameaça é feito com propósitos
políticos, religiosos ou ideológicos” incluindo “séria violência contra uma pessoa, sérios
danos a uma propriedade”, ou também, quando cria-se “um sério risco à saúde ou à segurança
do público ou a uma parte do público.”
Já a lei americana (Seção 901 da Public Law 100-204, de 1987), define atividades
terroristas como “a organização, o apoio ou a participação em um ostentoso ou indiscriminado
ato de violência com extrema indiferença ao risco de causar morte ou sérios danos corporais a
um individuo que não esteja envolvido nas hostilidades armadas.”
Por sua vez, o Código Penal francês, no seu art. 421-1, define atos terroristas como
infrações “contra uma empresa individual ou coletiva, tendo por objetivo perturbar a ordem
pública por intimidação ou por terror.”
Sarah Pellet (2003, p. 16) afirma que as tentativas de definição não são satisfatórias
pois utilizam técnicas enumerativas, adaptando-se ao cenário jurídico interno para fenômenos
terroristas particulares de cada Estado, ou seja, não trazem soluções para a ordem jurídica
transnacional.
Antoine Sottile (apud PELLET, 2003, p. 17) define terrorismo como o “ato criminal
perpetrado mediante terror, violência ou grande intimidação, tendo em vista a alcançar um
objetivo determinado.”
Antonio Cassese (apud PELLET, 2003, p. 18) mescla definições de direito interno
com a da Assembleia Geral das Nações Unidades, apregoando que
15
qualquer ato violento contra pessoas inocentes com a intenção de forçar um
Estado, ou qualquer outro sujeito internacional, para seguir uma linha de
conduta que, de outro modo, não seguiria, é um ato de terrorismo.
Gilbert Guillaume (apud PELLET, 2003, p. 18) considera que:
[...] uma atividade criminal não pode ser vista como terrorismo a não ser que
três elementos estejam reunidos: a realização de certos atos de violência com
o intuito (de causar) morte ou danos corporais graves; uma empresa
individual ou coletiva tendendo à realização destes atos; o objetivo
perseguido de criar o terror em pessoas determinadas, em grupos de pessoas
ou, de maneira geral, no público.
Na mesma busca por definição de terrorismo, Antônio Lopes Monteiro (apud
GUIMARÃES, 2007, p. 21) enumera alguns elementos para esse objetivo, tais como a criação
do terror, a violência, o fim politico do agir, e requinte na organização e na preparação das
atividades, incluindo-se a preocupação com o nível de conscientização politica e cultural dos
membros que dela participam.
Caleb Carr (apud GUIMARÃES, 2007, p. 22) o define como o ato visando atacar
civis com objetivo de obter uma mudança no apoio desses civis a seus líderes. Ressaltando a
dificuldade da definição de terrorismo, em tal definição se enquadraria grandes figuras
históricas que se encaixam nessa ideia não se limitando ao caráter militar e paramilitar, como
o imperador romano Augusto, o rei francês Luís XIV, o alemão Otto von Bismarck e o grupo
americano de Nixon e Kissinger.
Por sua vez, Valdir Sznick (1991, p. 163) apregoa que os elementos mais ou menos
recorrentes são os que mais dificultam a definição de terrorismo. Para ele a violência pode
inexistir, assim como o uso de meios, sendo hábil qualquer meio capaz. No mesmo sentido,
muitas vezes inexiste a conotação política em atos terroristas.
Sznick (1991, p. 164) ainda defende que há três maiores problemas na definição de
terrorismo: A “tautologia”, ou seja, o conceito contido que aparece com mesmas palavras na
definição, a “multiformidade de crimes”, já que há várias formas e múltiplas atividades que se
enquadram em terrorismo, e a “motivação política”, que nem sempre é encontrada, sendo a
que mais dificulta a definição de terrorismo.
16
Para Héctor Luis Saint-Pierre (2000, p. 213), o terrorismo se dá em âmbito
psicológico. O objetivo visado não é a vítima direta, morta no atendado, mas aqueles que
embora ausentes do atentado, identificam-se com a vítima, ou seja, são vítimas indiretas, as
quais se sentirão mais expostas e vulneráveis ao próximo atentado.
Manuel Avilés Goméz (apud GUIMARÃES, 2007, p. 24) informa já haver
contabilizado mais de cem definições de terrorismo, visto que cada autor a faz de acordo com
seu ponto de vista e de sua ciência, dificultando uma conclusão mais convergente. Prefere a
definição de Bruce Hoffman, que busca elementos do Código dos Estados Unidos do FBI,
dizendo que o terrorismo:
é a violência premeditada e politicamente motivada contra objetivos
não combatentes, praticada por grupos infranacionais ou por atores
clandestinos, habitualmente pensados para influir no público. É o uso
ilegítimo da força ou da violência contra pessoas ou propriedades para
coagir ou intimidar a um governo, a uma população civil ou a
qualquer segmento desta, para conseguir objetivos políticos, sociais,
religiosos ou ideológicos.
Aviléz Goméz (apud GUIMARÃES, 2007, p. 24) também admite que tentar uma
definição completa nunca será possível diante de todas as matizes possíveis do fenômeno
terrorista.
Para o criminólogo espanhol,
O terrorismo é um método de combate, um modo de comportamento político
ilícito consistente no uso sistemático da violência ou na efetiva ameaça dela.
É praticado por um ator fundamentalmente racional, a organização terrorista,
formada por pequenos grupos conspirativos – incluindo, às vezes, grupos
procedentes do próprio Estado e propiciados por seus aparatos- que têm o
propósito de manipular atitudes políticas, mediante a criação de um estado
psicológico de terror generalizado e da propaganda que suscita. Seu fim é
desestabilizar, mais do que derrotar o inimigo. Seu fim último e definitivo é
o acesso ao poder. (AVILÉZ GOMÉZ, apud GUIMARÃES, 2007 p. 24).
Para Marcello Ovidio Lopes Guimarães (2007, p. 25), o terrorismo pode ser
entendido como o
17
ato de indiscriminada violência física, mas também moral ou psicológica,
realizado por uma empresa individual ou coletiva, com o intuito de causar
morte, danos corporais ou materiais generalizados ou criar firme expectativa
disso, objetivando incrustar terror, pavor, medo contínuo no público em
geral ou em certo grupo de pessoas (parte do público), geralmente com um
fim, no mais das vezes ideológico (político, nacionalista, econômico,
sociocultural, religioso)
Nota-se que a pretensão de conceituar poderia ser simplesmente abandonada,
entretanto, em razão da busca da mínima segurança jurídica e de proteção à sociedade em face
dos atentados terroristas, faz-se necessária tal definição.
Embora não haja um conceito amplamente aceito do que seja o terrorismo,
analisando as tentativas de conceituação podem ser observadas algumas características
pontuais.
O primeiro elemento mais recorrente nas definições é o estado de terror,
caracterizado pelo estado de insegurança, intimidação, alarma e medo na população de serem
vítimas de ações que isoladas não teriam relevância. Em tal elemento compreende também a
imprevisibilidade e arbitrariedade do terrorismo.
Outro elemento presente é a violência, correspondente a destruição causada pela
prática terrorista. Contudo, a violência não é um elemento essencial no terrorismo, visto que
pode haver um atentado terrorista sem a utilização de violência, como nos ataques biológicos
de antraz.
Como último elemento, a finalidade política, visto que o atentado terrorista
direciona-se contra a ordem política. Importante ressaltar que o termo político utilizado em
“ordem política”, compreende as diversas atividades humanas, ou seja, deve ser interpretado
em um sentido amplo, o qual abrangeria um cunho político, ideológico, social e religioso.
Faz-se necessária a explicação de que a finalidade política por si só não basta para
dar ao terrorismo o caráter político, ou seja, ser compreendido como um crime político. A
intimidação e o temor são elementos essenciais do conceito, sendo inconcebível que o alcance
à vítimas inocentes bem como a extensão dos danos sejam desconsiderados para o ato
terrorista ser entendido como crime político, tendo efeitos no processo de extradição.
18
1.2 Distinção de Terrorismo e outras condutas
Faz-se necessária a distinção entre o terrorismo e outros tipos delitivos a fim de
evitar confusões corriqueiras entre as condutas, o que poderia gerar ainda mais discussão
quanto á dificuldade de conceituação.
Primeiramente, observa-se que o terrorismo não se confunde com o crime político.
Para alguns autores, como Carlos Augusto Canêdo Gonçalves da Silva (apud PAMPLONA,
2011, p.51), o terrorismo é uma espécie de crime político.
O autor reconhece que a tendência atual nos casos de terrorismo é de não consideralo como político para efeitos de extradição. Tal desconsideração ocorre não por fundamentos
teóricos, mas por razões pragmáticas e de cooperação penal internacional. Caso o STF
reconhecesse o terrorismo como um crime político, estaria obstando a extradição, a qual é um
instrumento de cooperação internacional.
Segundo Pamplona (2011, p. 51), tal crítica é observada no voto do Ministro Celso
de Mello, na extradição nº 855, onde o terrorismo é retirado da categoria de crime político,
não sendo exposta a justificativa para tal ruptura. Segundo o ministro, “atos delitivos
revestidos de índole terrorista, a estes não reconhecendo a dignidade de que muitas vezes se
acha impregnada a prática da criminalidade política.”
Segundo Canêdo (apud PAMPLONA, 2011, p. 52), o crime político é o delito sem
violência, razão pela qual não é permitida a extradição do agente. Entretanto, em sede penal,
observa-se que a maioria dos delitos utilizados com fins políticos como roubo e sequestro,
possuem violência física ou grave ameaça, sendo difícil visualizar quais seriam esses delitos
propostos pelo doutrinador.
De qualquer forma, o terrorismo não se confunde com crime político. Como exposto
anteriormente, a finalidade política não é elemento essencial para a caracterização do delito,
podendo este ser motivado por questões sociais, ideológicas ou religiosas.
19
Ainda em sede de diferenciação entre crime político e terrorismo, observa-se que o
crime político atenta contra a organização política de um Estado. Por sua vez, o terrorismo
tem por objetivo a desestruturação ou destruição do mesmo, atingindo indistintamente o
Estado em si, bem como civis, gerando o estado de terror.
Outro delito constantemente confundido com o terrorismo é o crime organizado, ou
organização criminosa. Tem-se como aspecto diferenciador a finalidade das duas condutas. A
organização criminosa visa exclusivamente à obtenção de lucro, enquanto o terrorismo pode
ter diversas finalidades, inclusive, o lucro. Dessa forma, pode-se afirmar que o crime
organizado pode utilizar traços terroristas para alcançar os seus objetivos, a saber, o lucro.
Ou seja, uma organização criminosa pode ser terrorista, mas nem todo ato terrorista
provém de uma organização criminosa. É oportuno adiantar que a organização criminosa
corresponde a uma forma do terrorismo, quando a mesma for revestida dos elementos
caracterizadores do delito.
1.3 Terrorismo e suas formas delitivas
Assim como a definição e conceituação, não há uma classificação pacificada na
doutrina quanto À divisão e subdivisão das formas do terrorismo, resultando em uma
dificultosa elaboração de regra geral para a definição e aceitação dessas divisões.
Segundo Guimarães (2007, p. 27), já houve propostas de distinções entre terrorismo
de direita e terrorismo de esquerda. O terrorismo de direita é aquele fundamentado em
racismo, sexismo ou nacionalismo podendo ser geográfico ou econômico. Por sua vez, o
terrorismo de esquerda refere-se aos atentados com cunho político-revolucionário
Ao lado de tais distinções, há o terrorismo baseado no fanatismo religioso e o
terrorismo de Estado, sendo este último uma represália aos atentados de grupos contra o poder
estabelecido ou como base política com a finalidade de fomentar grupos terroristas nos seus
limites fronteiriços ou em território estrangeiro, a fim de conservar o regime político.
20
Dessa forma, segundo Guimarães (2007), o terrorismo pode ser classificado em
quatro grupos: o terrorismo fundado em organização terrorista, o terrorismo de Estado, o
terrorismo político-revolucionário e o terrorismo ideológico-religioso.
Em relação à organização terrorista, deve-se observar inicialmente que o crime
organizado tem como característica atingir a sociedade duramente em um bem ou o sistema
financeiro, tendo proporções catastróficas. Em grande parte, o comando do grupo é realizado
por personagens públicos.
Conforme Manuel Avilés Goméz (apud GUIMARÃES, 2007, p. 28), uma forma
primitiva desse protesto é o bandoleirismo social, como exemplo Diego Corrientes na
Andaluzia, ou Robin Hood, na Inglaterra. A Máfia dos primeiros tempos com origem rural
também representava a defesa social contra o estilo tradicional de vida, sendo um
enfrentamento ao Estado e ao seu ordenamento.
Os movimentos milenaristas, por sua vez, buscavam em sua essência a transformação
completa e radical do mundo. Em sua origem possuíam cunho religioso e messiânico,
transformando-se em movimentos revolucionários como o comunismo campesino italiano e o
anarquismo espanhol.
No que tange ao uso dos atentados terroristas por organizações criminosas, Ensina
Guimarães (2007, p. 29), tem-se que tais grupos possuem braços internacionais, podendo
realizar serviços para outras organizações criminosas e até mesmo governos, estando ligados a
prática de graves ilícitos como a lavagem de dinheiro, corrupção em grande escala, tráfico de
drogas e contrabando de armas. Como exemplos podem ser citados o Cartel de Medellín, na
Colômbia, e algumas organizações de origem italiana, como a Máfia siciliana, conhecida
como “Cosa Nostra”.
Segundo Guimarães (2007, p. 30), o atentado contra o juiz Giovanni Falcone, perto
de Palermo, demonstra o uso de táticas e técnicas terroristas por estas organizações. A
detonação de uma tonelada de explosivo que resultou na morte do magistrado, símbolo da luta
antimafia, bem como de sua esposa também juíza e de seus seguranças demostra que os
atentados começam a atrair mais a atenção como se espetáculos fossem, atingindo o auge com
a fase dos explosivos, com os carros-bombas e então os aviões-bombas.
21
No Brasil, não havendo problemas de ordem religiosa e política que propiciem a
realização de atentados terroristas, há por sua vez o fortalecimento do crime organizado, que
por sua vez incrusta o poder público atingindo altas autoridades e a cúpula de setores da
administração. Apesar de não se utilizar do terrorismo, a forma “à brasileira” da organização
criminosa corresponde a motins penitenciários, comando de tráfico de drogas a partir de
unidades prisionais, fugas e resgates de presos.
Podem ser citados grupos como o Comando Vermelho no Rio de Janeiro e o
Primeiro Comando da Capital, em São Paulo, com atentados à bomba nos prédios da
Segurança Pública e do Poder Judiciário.
Quanto ao terrorismo de estado, na sua primeira definição, este se caracterizava por
regimes ou governos ditatoriais, totalitários ou autoritários, os quais violariam
conscientemente os direitos individuais e de direitos de determinados grupos.
Uma das características dos estados totalitários é a imprensa não livre, a qual dirige a
opinião pública da maneira mais conveniente para o regime imperante. Além disso, tais
regimes são apoiados ou tolerados, por diversos fatores, como econômicos, militares,
culturais, religiosos ou de proximidade étnica, por países que sem tais interesses jamais
tolerariam.
Héctor Luis Saint-Pierre (apud GUIMARÃES, 2007, p.32) exemplifica como casos
desse tipo de terrorismo fundados em organizações complexas, como o Estado nazista, o
stalinismo na URSS, macartismo nos Estados Unidos, e o apoio logístico ao golpe de
Pinochet no Chile.
Segundo Saint-Pierre (2000), há um tipo particular de terrorismo de Estado, sendo o
mesmo utilizado por exércitos regulares durante a guerra contra populações locais, a exemplo
da guerra civil na Bósnia-Herzegovina. Em tal situação, o próprio exército pratica atrocidades
como estupros e assassinatos em massa de mulheres e crianças, provocando pânico na
população local, forçando a retirada da região que está sendo ocupada.
22
Explica Guimarães (2007, p. 33) que tal tipo de ação é histórica, podendo ser citado a
crueldade com que o exército de Átila, o rei dos hunos, tratava os povos conquistados. Tais
notícias de crueldade antecipavam o avanço de suas tropas, evitando ou reduzindo eventual
resistência.
A ausência de consenso do tema também é presente conforme as diferenças entre as
opiniões dos Estados quanto ao perfil terrorista de um país. Segundo Guimarães (2007, p. 34),
há casos em que uma parcela da comunidade internacional considerara determinado Estado
terrorista, enquanto outra parcela considera-o como um Estado que repudia o terrorismo, o
qual age apenas empregando a legítima defesa. Dessa forma, há uma linha tênue no que diz
respeito ao instituto de legítima defesa de um Estado e a justificativa de ações para manter de
qualquer forma o regime atual, ou seja, o que vem a ser considerado um ato terrorista ou um
ato defesa estatal.
A diferença entre o terrorismo individual e o terrorismo de Estado, é que aquele é
praticado por indivíduos que atacam diretamente o Estado ou seus órgãos, enquanto este é um
ato criminoso praticado pelo próprio Estado no exercício de sua própria soberania, atingindo
direitos e garantias de cada indivíduo e da coletividade, a fim de manter o regime atual apesar
de amplamente contestado.
Em virtude da maior tecnologia bélica e do aumento da informação, o terrorismo
político-revolucionário é a espécie de terrorismo mais verificada na atualidade.
Como já abordado, a definição de terrorismo bem como a de suas subdivisões não
são absolutas, uma vez que um grupo terrorista pode ser e geralmente é, ao mesmo tempo,
uma organização criminosa, política, nacionalista, revolucionária com aspectos religiosos e
culturais. O que leva tal diferenciação é a sua marca mais visível.
A dificuldade de caracterização também é encontrada aqui, uma vez que todo grupo
terrorista se auto define revolucionário. O terrorista revolucionário busca a alteração da ordem
social, política ou econômica de acordo com suas convicções, independente do interesse do
grupo que pertence. Tais atentados podem ocorrer contra a ordem política de um estado
democrático ou em um estado autoritário.
23
Na primeira situação, tem-se evidente que a prática é inaceitável e inexplicável, visto
que as alterações que são visadas podem ocorrer de maneira legal, estando presente o apoio da
maioria. No segundo caso, também é inaceitável, visto que não deve haver confusão entre a
ideia de revolução com o terrorismo revolucionário.
A revolução por si se aproxima do direito de resistência popular, podendo esta
chegar a prática da guerra civil, sendo inconfundível com a forma de terrorismo. Segundo
Marcello Ovidio Lopes Guimarães (2007, p. 41),
o terrorismo revolucionário, ao contrário da revolução, utiliza o terror como
ponto central de sua ação, além de não se importar com os demais grupos ou
com o fato de ser efetiva minoria. Deseja espalhar o medo indistintamente e
a todos, mesmo a inocentes que nenhuma ligação, oficial ou mesmo de mero
apoio, têm com o estado repressor.
Saint-Pierre (2000, p. 217) afirma que “muitas vezes a ação revolucionária é
chamada pejorativamente de ‘terrorismo’ com o intuito depreciá-la ou mesmo por ignorância
definicional.”
Ainda como diferenciação, lembra-se que o terrorismo revolucionário, assim como o
terrorismo geral, possuem uma ação aleatória, não havendo a definição prévia da vítima.
Já o terrorismo fundado na ideologia religiosa é o que mais vem adquirindo presença
no cenário mundial. É primordial entender que não existe um terrorismo exclusivamente
religioso, pois este também é político, havendo sempre a intenção do uso de uma conjuntura
política.
Tal fator está presente nos ataques ao World Trade Center ou nas críticas das ações
de guerra no Afeganistão. É notório que há uma crítica pelos grupos muçulmanos e por alguns
governos islâmicos em relação aos Estados Unidos, sendo até responsabilizado pelo fracasso
na implantação de um Estado árabe soberano. Ainda há a propaganda realizada por Bin Laden
e talibãs afegãos de que o Estados Unidos encarnam o “Grande Satã”.
Para tal compreensão, se faz necessária o entendimento do fundamentalismo e do
integralismo, sendo estas as maiores formas de intolerância.
24
Ensina Guimarães (2007, p. 46) que o fundamentalismo está ligado à interpretação
de um livro sagrado, no qual somente os eleitos de determinada religião são capazes de
compreender o Livro de forma verdadeira, não necessariamente obrigando outras pessoas a
partilhar de sua crença ou para construir uma sociedade que tenha tal crença como obrigatória.
Dessa forma, existe naturalmente o fundamentalismo católico, muçulmano ou judaico,
podendo em determinados casos atingir um grau de intolerância.
Por sua vez, o integralismo compreende uma visão religiosa e política, na qual o
modelo de vida política e a fonte das leis do Estado devem ser baseadas nos princípios
religiosos.
A interpretação realizada com base em interesses externos a noção de religião põe
em risco o perigo da intolerância. Tanto o Corão, a Torah e o Evangelho diante de
determinadas interpretações criam a intolerância, na qual os opositores seriam surdos, cegos
ou não possuiriam inteligência.
Como exemplos de fanatismo religioso ligado ao terrorismo, podem ser citados os
grupos islâmicos Hamas e Jihad Islâmica, os quais tem por objetivo a destruição do Estado de
Israel. O libanês Hizbollah (Partido de Deus), o egípcio Al Jihad, e a internacional Al-Qaeda
(a Base), que dirigem atentados terroristas a cristãos e judeus, bem como de alguns setores
muçulmanos tidos como colaboradores do ocidente
25
2 TRATAMENTO JURÍDICO-PENAL DO TERRORISMO
Apesar das dificuldades encontradas para a realização de uma análise de um sistema
jurídico de outro país, sejam elas de cunho social, cultural, política ou econômica, se faz
necessário o estudo do tratamento penal no Brasil comparando-o com outros sistemas
jurídicos. Tal análise tem por objetivo evidenciar a enorme diferença legislativa existente
entre tais sistemas jurídicos e o sistema jurídico brasileiro.
Dessa forma, serão apresentadas legislações de alguns países, analisando as
penalidades impostas e institutos de apoio ao combate do delito, como a incomunicabilidade
dos suspeitos e legislações antiterror.
2.1 Tratamento Jurídico-Penal do Terrorismo no Direito Comparado
Inicia-se a análise pela legislação espanhola. Considerando que a legislação antiterror
baseia-se nas experiências do país com atentados terroristas, o estudo da legislação espanhola
é pertinente frente aos atentados ocorridos em 11 de março de 2004 em Madrid.
Pode-se afirmar que a Espanha possui lei antiterrorista desde 10 de julho 1894, a qual
tratava de atentados que utilizassem meios explosivos.
Conforme Guimarães (2007, p. 169), atualmente a regulamentação do delito está
prevista no Código Penal Espanhol, Lei Orgânica 10/1995, no Título XXII, o qual regula
crimes contra a Ordem Pública, especialmente no Capitulo VII, o qual regula nos artigos 571
a 580 crimes de organizações criminosas e grupos terroristas, e atentados terrorista. Tal
regulação sofreu sua última alteração em 23 de dezembro de 2010.
A primeira seção compreende o artigo 571, o qual é dividido em três partes. A
primeira trata da pena imposta a chefes ou diretores de organização terrorista, a qual é de oito
a quatorze anos de prisão, com inabilitação para emprego ou cargo público de oito a quinze
anos. A segunda parte trata da pena imposta a participantes ou integrantes de tais
organizações, a qual é de seis a doze anos de prisão, e inabilitação para cargo público de seis a
quatorze anos. Por fim, a terceira parte trata do que seria uma organização terrorista, a qual
26
seria uma organização criminosa (art. 570 bis e 570 ter) com o propósito de subverter a ordem
constitucional ou perturbar a paz pública de acordo com os crimes da seção seguinte.
As condutas terroristas, portanto, estão previstas efetivamente na segunda seção, a
partir do artigo 572. Os artigos 572 e 573 preconizam penas mais severas a crimes comuns,
como dano, incêndio, depósito de armas, munição, explosivos, sequestro, no qual o agente
seja integrante de uma organização terrorista.
O artigo 574 prevê a possibilidade de crimes não previstos nos artigos anteriores,
mas que sejam cometidos por integrantes de organizações terroristas. Em tal possibilidade, a
pena aplicada será a correspondente ao delito, acrescentada de sua metade. Já o financiamento
ao terrorismo tem a sua tipificação no artigo 575.
Por sua vez, o artigo 576 trata da pena imposta a agentes que colaborarem com a
prática de atentados terroristas. Tais condutas estão previstas no item dois deste artigo,
correspondente por exemplo a vigilância de bens ou pessoas, alojamento e depósito.
Os artigos 577 e 578 tratam do terrorismo individual ou terrorismo urbano, o qual
corresponde a conduta praticada pelo agente que não é integrante de uma organização
terrorista. No artigo 577 a pena imposta ao “terrorista individual” será a correspondente ao
delito praticado, acrescida de metade. Em tal artigo as hipóteses de condutas terroristas são
ampliadas, desde que estas tenham o fim de subverter a ordem constitucional ou alterar
gravemente a paz pública.
Por sua vez, o artigo 578 tipifica a conduta de enaltecimento ou justificação dos
delitos de terrorismo. Trata-se de um crime autônomo, cuja pena não se estabelece com
referencia a outro tipo penal.
O artigo 579 complementa o artigo 578, regulando a conduta que incentiva a prática
de atos terroristas, tendo como pena o grau mínimo previsto no tipo correspondente. Por fim,
o artigo 580 trata da equiparação de sentenças estrangeiras reverentes a atividades terroristas.
Outros aspectos importantes da legislação espanhola é o período de detenção de um
agente suspeito de crime de terrorismo e a sua incomunicabilidade. O período máximo de
27
detenção de um suspeito para esclarecimento de fatos é de 72 horas, podendo ser estendido a
cinco dias caso o suspeito seja levado a juízo. Já a incomunicabilidade pode durar até 13 dias,
não podendo o suspeito falar com advogado ou médico, receber ou enviar correspondências,
nem informar a sua família da situação, sendo esta, alvo de criticas da comunidade
internacional no que tange a garantia dos direitos humanos.
Já a Itália é um país que contém em sua historia diversos episódios terroristas. Pode
ser citado como principal atentado o Massacre de Bolonha, em 02 de agosto de 1980,
resultando na morte de 85 pessoas e mais de 200 feridos. Além disso, pode-se mencionar o
emblemático caso de Cesare Battisti.
A legislação italiana tem por base do tratamento do terrorismo o decreto-lei nº
625/1979, convertido na lei nº 15 de 06 de fevereiro de 1980, e a lei nº 304 de 29 de maio de
1982. No Código Penal Italiano, o terrorismo é regulado nos artigos 270 bis (associação com
fins terroristas), 280 (atentado terrorista), e 289 bis (sequestro com finalidade terrorista).
Assim como a legislação espanhola, a tipificação da associação terrorista no Direito
Italiano prevê duas situações distintas. A primeira para quem funda, promove, organiza ou
dirige associação terrorista, tendo como pena prisão de sete a quinze anos. A segunda para
quem participa de tais associações, com pena de 4 a 8 anos.
Quanto à realização do atentado terrorista em si, o artigo 280 do Código Penal
Italiano prevê diversas situações, dentre elas quando o atentado for dirigido contra a
democracia ou a segurança de uma pessoa. No caso de ser contra uma pessoa, há penas
distintas se resultar lesão grave ou lesão muito grave. Guimarães (2007, p. 175) aponta o teor
dos parágrafos, os quais quantificam sanções às lesões graves ou gravíssimas advindas de
atentados terroristas ou agravam as penas se as condutas criminosas são dirigidas a pessoas
que exercem funções judiciárias, penitenciárias ou de segurança pública.
Se do atentado terrorista resultar na morte da pessoa alvo, no caso de tentativa de
assassinato, a pena será de prisão perpétua e, em caso de ataque à segurança, 30 anos de
prisão.
28
O sequestro com finalidade terrorista é regulado no artigo 289 bis, tendo como pena
para tal infração prisão de vinte e cinco a trinta anos. Se a vítima morrer, e este não for o
resultado pretendido pelo agente, será de trinta anos a pena. Se o agressor fizer com que a
vítima morra, a pena será de prisão perpétua.
É importante ressaltar a existência na legislação italiana dos institutos da dissociação,
arrependimento e da colaboração, uma vez que o reconhecimento de tais institutos enseja a
redução da pena ou extinção da punibilidade.
Ocorre a figura do arrependimento quando antes da sentença penal, o agente colabora
com a dissolução da organização criminosa, evitando assim a realização de novos crimes. O
dissociado corresponde ao agente que consegue diminuir as consequências e danos dos
atentados ocorridos. Para tais agentes é concedido o benefício de redução da pena em até um
terço, desde que não seja inferior a quinze anos, bem como a conversão da prisão perpétua em
reclusão de quinze a vinte e cinco anos.
Por sua vez, os colaboradores correspondem aos indivíduos que auxiliem as
autoridades na busca e colheita de provas crime, na descoberta de novos autores e ajudar na
reconstituição do crime. Para os colaboradores há o benefício da redução da pena até a
metade, sendo que nos casos de extrema importância tal redução pode chegar até um terço da
pena, não sendo inferior a dez anos. Além disso, a prisão perpétua pode ser convertida em
reclusão de 10 a 12 anos.
Segundo Guimarães (2007, p. 175), o Código Penal Francês regula a matéria do
terrorismo detalhadamente no Livro IV, o qual trata dos crimes e delitos contra a Nação,
Estado e a Paz Pública. Especificamente, a matérias está regulada no Título II, do Terrorismo,
o qual é dividido em dois capítulos, em qual o primeiro estabelece quais são os atos de
terrorismo, e o segundo disposições especiais.
Segundo o artigo 421-1, os atos terroristas correspondem a atividades individuais ou
coletivas que tenham por objetivo alterar gravemente a ordem pública através da intimidação
ou do terror. O mesmo artigo elenca diversas condutas dentre elas, crimes contra a vida ou
integridade de pessoas, rapto ou sequestro de aeronaves, navios ou outros meios de transporte,
crimes de roubo, extorsão, destruição, dano, crimes de informática, infrações de grupos
29
armados, e fabricação, depósito ou receptação de artefatos perigosos ou explosivos na forma
da lei que trata da fabricação de armas de guerra.
Nesse sentido, quando tais condutas tiverem por objetivo alterar gravemente a ordem
pública através da intimidação ou do terror, tratará de atentado terrorista.
O artigo 421-3 trata da majoração da pena das condutas elencadas no artigo 421-1
quando configuradas como atos de terrorismo, variando da pena dobrada quando a pena do
crime comum for de até três anos, até a prisão perpétua quando o crime comum tiver por pena
prevista trinta anos de reclusão.
O artigo 421-2 prevê o chamado terrorismo ecológico, que consiste na conduta onde
um indivíduo, empresa ou grupo, visando alterar gravemente a ordem pública através da
intimidação ou do terror, introduz na atmosfera, solo, subsolo ou águas, incluindo o mar
territorial, substancia capaz de colocar em risco a saúde humana ou animal ou o meio
ambiente.
A pena de tal conduta está prevista no artigo 421-4, sendo ela de vinte anos de prisão
e multa de 350.000 euros, e de prisão perpétua e multa de 750.000 euros quando resultar na
morte de uma ou várias pessoas.
Importante lembrar a existência no ordenamento francês do chamado período de
segurança, o qual corresponde a um período em que o condenado não poderá receber alguns
benefícios, como a suspensão ou fracionamento da pena, trabalho externo, a liberdade
condicional ou a progressão de regime.
A regra geral é que o período de segurança corresponde à metade do tempo da pena
imposta, ou dezoito anos quando se tratar de prisão perpétua. Entretanto, tal período poderá
ser reduzido ou aumentado de acordo com decisão de Juiz ou Tribunal, em até dois terços da
pena ou vinte e dois anos quando se tratar de prisão perpétua.
As disposições especiais do segundo capítulo tratam das hipóteses de penas
acessórias ou redução de pena.
30
O artigo 422-1 trata da situação onde o indivíduo que já tentou cometer um ato de
terrorismo, informa a autoridade judicial ou administrativa ajudando a impedir a realização de
novo crime e identificar outros criminosos. Em tal situação o indivíduo estará isento de
punição.
Nos termos do artigo 422-2, haverá redução até a metade da pena ou em vinte anos
no caso de prisão perpétua, quando o indivíduo repassa informações as autoridades judiciais
ou administrativas podendo então evitar novos atentados ou cessar atividades terroristas. Em
tais casos sempre será necessário a identificação de outros culpados.
Por sua vez, o artigo 422-3 prevê situações em que é possível a imposição de pena
acessória, como a cassação de direitos civis, civis e familiares, a inabilitação para ocupar
cargos públicos ou exercer atividade social ou profissional, e a pena de banimento. No caso de
estrangeiros, poderá haver a proibição de residir em território francês por um período de até
10 anos, nos termos do artigo 422-4.
Já o artigo 422-5, trata da responsabilidade penal de pessoas jurídicas, tendo como
penas a imposição de multa e das penas do artigo 131-39, dentre as quais é possível a
dissolução da pessoa jurídica. Por fim, o artigo 422-7 dispõe que o produto das sanções
financeiras impostas será utilizado para garantir recursos as vítimas de atos terroristas.
Quanto aos Estados Unidos, desde os atentados terroristas de 11 de setembro de 2001
o terrorismo é um dos assuntos que mais está em pauta na política do país. As posições
adotadas pelos Estados Unidos em relação à matéria terrorista tiveram repercussões na
Europa, endurecendo significativamente as suas leis.
Conforme Guimarães (2007, p.177) o capítulo 113B, da Parte I, que faz parte do
Título 18 do United States Code – Code of Criminal Law & Criminal Procedure trás varias
seções (artigos) que tratam do assunto.
A seção 2331 aborda as primeiras definições do tipo. Também trata de trazer uma
definição de terrorismo internacional, o qual deve ser compreendido como os atos terroristas
“que ocorram primariamente fora da jurisdição territorial dos Estados Unidos, ou que
transcendam as fronteiras nacionais.” (GUIMARÃES, 2007, p. 177).
31
A seção 2332.a, indica a pena imposta para aqueles que praticarem atos de terrorismo
que transcendam fronteiras nacionais, atingindo qualquer pessoa sob o alcance da jurisdição
dos Estados Unidos. No caso de resultar morte, a penalidade imposta será a prisão perpétua ou
pena de morte; caso decorra sequestro, a punição será de prisão perpétua; caso decorra
mutilação, pena não inferior a 35 anos de prisão.
Após os atentados de 11 de setembro de 2001, foi aprovado o chamado “USA
PATRIOT ACT”, em 26 de outubro de 2001. Segundo verbete na Wikipédia (2014), “USA
PATRIOT ACT” é um acrônimo de "Uniting and Strengthening America by Providing
Appropriate Tools Required to Intercept and Obstruct Terrorism Act of 2001", uma tradução
para tal acrônimo é de “Ato de Unir e Fortalecer a América Providenciando Ferramentas
Apropriadas e Necessárias para Interceptar e Obstruir o Terrorismo”.
Segundo Vervaele (2007, p. 4), trata-se de uma lei que confere poderes aos sistemas
de inteligência e estruturas operativas de controle, permitindo a vigilância de suspeitos de
envolvimento com grupos terroristas, investigar documentos privados de instituições e
pessoas, interceptações telefônicas e de e-mails de pessoas supostamente envolvidas com o
terrorismo. Todas as situações sem a necessidade de autorização da Justiça.
Segundo o mesmo autor, a Patriot Act, possui mais de 350 páginas e dez títulos que
alteram 15 leis federais, sendo um documento de enorme complexidade. A principal crítica
realizada pelos juristas ao documento, é que este representa uma violação aos valores
fundamentais em torno dos direitos individuais, como a privacidade, a inviolabilidade de
correspondências e a quebra do sigilo bancário.
Observa-se que a legislação analisada tem em comum o fato de ser decorrente das
consequências de atentados terroristas, ou seja, os episódios terroristas ocorridos em tais
países que definem a experiência destes com o terrorismo têm como papel nortear a legislação
que será utilizada para o combate da conduta. Dessa forma, tem-se que tais instrumentos
possuem aplicabilidade tão somente nos respectivos territórios, não servindo na sua
integralidade a problemática internacional.
2.2 Tratamento Jurídico-Penal do Terrorismo no Brasil
32
Para se analisar o tratamento jurídico-penal do terrorismo no Brasil, deve-se levar em
consideração que é um país que não tem sofrido atentados terroristas com frequência, e os
parcos atentados ocorridos não se caracterizam como de grande monta. Para Guimarães
(2010, p. 26) o terrorismo baseado em organizações criminosas é o que mais se afigura no
país.
Assim, em decorrência dessa falsa tranquilidade, a legislação brasileira que regula o
tratamento ao terrorismo está desatualizada, tanto que sequer há penalidades previstas para
quem cometer um crime desta natureza.
2.2.1 Breve histórico da evolução legislativa no Brasil
O tratamento adotado pelo Brasil em relação ao delito de terrorismo, antes da
promulgação da atual Constituição, se enquadra nos crimes contra a Segurança Nacional.
Pode-se afirmar que as primeiras legislações que regulam crimes contra a ordem foram
criadas a partir de 1920, em especial o decreto 4.269 de 1921 e a lei 38 de 1935, os quais
regulavam a repressão ao anarquismo e crimes contra a ordem política e social.
Com a instalação do regime militar no Brasil em 1964 foram criados diversos
decretos-leis que visavam punir os crimes contra a ordem social e política e a segurança
nacional.
No Decreto-Lei nº 314/67, alterado pelo Decreto-Lei nº 510/69, houve a primeira
menção a expressão terrorismo, mesmo sem a definição do que o seja. Conforme o artigo 25,
Art. 25. Praticar devastação, saque, assalto, roubo, seqüestro, incêndio ou
depredação; ato de sabotagem ou terrorismo, inclusive contra estabelecimento de
crédito ou financiamento, massacre, atentado pessoal; impedir ou dificultar o
funcionamento de serviços essenciais, administrados pelo Estado, ou mediante
concessão ou autorização.
Pena: Reclusão, de 2 a 6 anos.
Ainda em 1969, sob a vigência do Ato Institucional nº 5, contrariando a constituinte
de 1967 que proibia a pena de morte e a prisão perpétua, foi editado o Decreto-Lei 898/69. O
artigo 28 do referido decreto penalizava as seguintes condutas: “devastar, saquear, assaltar,
roubar, sequestrar, incendiar, depredar ou praticar atentado pessoal, ato de massacre,
33
sabotagem ou terrorismo”. Para tais condutas, a pena imposta era de reclusão de doze a trinta
anos. Segundo o parágrafo único do mesmo artigo, caso a prática do ato resultasse em morte,
a pena prevista era de prisão perpétua em grau mínimo e pena de morte em grau máximo.
Importante observar que o decreto nº 898/69 somente foi revogado com a Lei de
Segurança Nacional, Lei nº 6.620/78, a qual está revogada pela atual Lei de Segurança
Nacional, Lei nº 7.170/83.
A Lei nº 6.620/78 em seu artigo 26 disciplinava o conteúdo nos moldes do artigo 28
do Decreto-Lei 898/69, apenas reduzindo a pena para reclusão de 2 a 12 anos, e se resultasse
morte ou lesão grave para reclusão de 8 a 30 anos.
Além do referido artigo, a antiga Lei de Segurança Nacional em seu artigo 43
regulava a possibilidade de importar, fabricar, ter em depósito, comprar, vender, doar ou
ceder, transportar armas de fogo ou qualquer instrumento de destruição ou terror sem
permissão de autoridade competente. Para tais condutas a pena imposta era de reclusão de 1 a
6 anos.
A atual Lei de Segurança Nacional, Lei nº 7.170/83 é o diploma em vigor que trata
do delito de terrorismo, a qual será objeto de análise em um ponto específico, no entanto, o
artigo 20 da referida lei dispõe o seguinte:
Art. 20 - Devastar, saquear, extorquir, roubar, seqüestrar, manter em cárcere
privado, incendiar, depredar, provocar explosão, praticar atentado pessoal ou atos
de terrorismo, por inconformismo político ou para obtenção de fundos destinados à
manutenção de organizações políticas clandestinas ou subversivas.
Pena: reclusão, de 3 a 10 anos.
Parágrafo único - Se do fato resulta lesão corporal grave, a pena aumenta-se até o
dobro; se resulta morte, aumenta-se até o triplo. (grifos nossos)
Embora em plena vigência tal previsão legislativa, denota-se que nem mesmo a Lei
de Segurança Nacional dá conta de esclarecer o que sejam atos de terrorismo enquanto delito
no Brasil, fazendo apenas vaga menção a atos de terrorismo.
Evidentemente, além dos diplomas mencionados, há outros instrumentos normativos
que fazem referência ao terrorismo, inclusive na Constituição Federal de 1988, a Lei nº
8.072/90, Lei dos Crimes Hediondos, e a Lei nº 10.744/03, como se verá a seguir.
34
2.2.2 O atual tratamento jurídico-penal do Terrorismo no Brasil
A Constituição Federal expressa a vontade do Poder Constituinte, a qual em um
Estado Democrático de Direito corresponde à vontade popular. A previsão de direitos
fundamentais e de garantias na Constituição traduzem os bens jurídicos de maior importância
em um ordenamento, os quais merecem uma maior atenção e proteção.
Dessa forma, a previsão de uma prática delituosa no texto constitucional evidencia o
repúdio a tal conduta, bem como a prática do referido crime corresponde a uma das maiores
ofensas aos direitos e garantias fundamentais dentro do ordenamento.
Apesar de não ter um sentido preciso no texto constitucional, o terrorismo é
mencionado de forma expressa duas vezes na Constituição, restando por evidente que tal
conduta fere os bens jurídicos de maior importância no ordenamento jurídico brasileiro.
A primeira menção ao terrorismo na Constituição Federal está no artigo 4º, o qual
trata dos princípios que devem ser observados pelo Brasil nas relações internacionais:
Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais
pelos seguintes princípios: [...]
VIII - repúdio ao terrorismo e ao racismo (grifo nosso)
A segunda referência ao terrorismo está no inciso XLIII do artigo 5º, o qual define
que o terrorismo deve ser equiparado a crimes hediondos, ou seja, sendo inafiançável e
insuscetível de graça ou anistia.
XLIII - a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a
prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os
definidos como crimes hediondos, por eles respondendo os mandantes, os
executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem; (grifo nosso)
As duas menções do terrorismo na Constituição Federal, embora rápidas,
estabelecem os parâmetros com os quais a legislação infraconstitucional deverá tratar a
prática do terrorismo elevando esta conduta ao uma posição de destaque no tratamento que o
combate ao terrorismo deve ter no ordenamento jurídico.
35
Apesar da atenção dada pelo legislador constitucional ao terrorismo, tal conduta não
constitui um tipo específico na legislação penal brasileira. Entende parte da doutrina que no
Brasil ninguém pode ser processado ou condenado pela prática de terrorismo, visto que não há
nenhuma lei que defina o tipo penal.
Em observância, portanto, ao princípio penal da legalidade, face à ausência da
tipificação desta conduta, a qual descreva de forma clara as elementares do tipo a caracterizar
o delito do terrorismo, não se poderia cogitar, em tese, de uma ação penal visando punir tal
prática.
No entanto, a Lei nº 8.072/90 trata dos crimes de maior repúdio no sistema jurídico,
ou seja, aqueles que violam os bens jurídicos compreendidos como os mais valiosos dentro do
ordenamento. Dessa forma, a Lei dos Crimes Hediondos tem por objetivo elevar penas,
impedir benefícios e determinar um tratamento mais severo a determinadas condutas.
Dadas as devidas considerações sobre a lei, observa-se que o terrorismo não é
previsto como um crime hediondo, visto que não consta no rol do artigo 1º. Assim dispões tal
artigo:
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no
Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou
tentados:
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de
extermínio, ainda que cometido por um só agente, e homicídio qualificado (art. 121,
§ 2o, I, II, III, IV e V);
II - latrocínio (art. 157, § 3o, in fine);
III - extorsão qualificada pela morte (art. 158, § 2o);
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o
e 3o);
V - estupro (art. 213, caput e §§ 1o e 2o);
VI - estupro de vulnerável (art. 217-A, caput e §§ 1o, 2o, 3o e 4o);
VII - epidemia com resultado morte (art. 267, § 1o).
VII-A – (VETADO)
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins
terapêuticos ou medicinais (art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação
dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).
VIII - favorecimento da prostituição ou de outra forma de exploração sexual de
criança ou adolescente ou de vulnerável (art. 218-B, caput, e §§ 1º e 2º).
Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos
arts. 1o, 2o e 3o da Lei no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado.
Ocorre que o terrorismo é equiparado a um crime hediondo. O artigo 2º da lei dispõe
acerca do tratamento necessário aos crimes hediondos no que tange as normas de execução
penal e processual, as quais passam a receber um maior rigor penal e processual. Ao lado dos
36
crimes hediondos, está a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo. Segundo Nucci (2010, p. 679) pode-se dizer que essas três condutas são em
essência tão ou mais hediondas que os crimes previstos no artigo1º. Tal é a redação do artigo
2º:
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e
drogas afins e o terrorismo são insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto;
II - fiança.
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime
fechado.
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste
artigo, dar-se-á após o cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for
primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu
poderá apelar em liberdade.
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de
1989, nos crimes previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável
por igual período em caso de extrema e comprovada necessidade.
Note-se também que o artigo 5º trata do livramento condicional, que no caso de
crimes hediondos e equiparados, há como requisito o cumprimento de dois terços da pena,
não sendo o apenado reincidente.
Por fim, no que tange ao terrorismo, a Lei dos Crimes Hediondos trata no seu artigo
8º o aumento da pena prevista ao crime de Milícia Privada (artigo 288 do Código Penal),
quando criada para a prática de crimes hediondos e equiparados. Observa-se no parágrafo
único do referido artigo a possibilidade de redução de pena em um a dois terços do
participante ou associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando o
seu desmantelamento.
Portanto, embora sem uma tipificação específica, resta evidente o repúdio do
terrorismo no ordenamento jurídico brasileiro e o grau de reprovabilidade desta conduta.
Quanto a Lei nº 10.744/03, a mesma dispõe sobre a assunção, pela União, de
responsabilidades civis perante terceiros no caso de atentados terroristas, atos de guerra ou
eventos correlatos, além de atos contra aeronaves de matrícula brasileira operadas por
empresas brasileiras de transporte aéreo público, excluídas as empresas de táxi aéreo.
37
Tal lei prevê em seu artigo 1º, §4º que “Entende-se por ato terrorista qualquer ato de
uma ou mais pessoas, sendo ou não agentes de um poder soberano, com fins políticos ou
terroristas, seja a perda ou dano dele resultante acidental ou intencional”. Observa-se que a lei
não trás nenhuma novidade, visto que ao definir “ato terrorista”, não define o que é
terrorismo.
No que se refere à Lei de Segurança Nacional, esta elenca em seu artigo 1º os bens
jurídicos que são protegidos por ela. São eles: I- a integridade territorial e a soberania
nacional; II- o regime representativo e democrático, a Federação e o Estado de Direito; e III- a
pessoa dos chefes dos Poderes da União.
Segundo Heleno Cláudio Fragoso (1983), a Lei de Segurança Nacional foi criada em
um contexto de crise institucional, inspirada por militares em consequência de um suposto
direito penal revolucionário, incorporando a tal lei um espírito antidemocrático e totalitário.
Nesse sentido, há uma necessidade de reformulação da Lei de Segurança Nacional,
visto que a mesma contraria o ambiente democrático que se inseriu no país a partir de 1988.
Entretanto, a lei ainda está em vigor, o que se faz necessária uma aplicação inteligente e
democrática da mesma. Dessa forma, é a lei nº 7.170/83 que regula os crimes cometidos
contra a segurança nacional e a ordem política e social no Brasil.
Como já se mencionou, em seu artigo 20, a lei traz em seu tipo a expressão “atos de
terrorismo”, sendo a única referência no ordenamento que regula de maneira direta a matéria,
mas que não possui clareza objetiva.
Vitor Eduardo Rios Gonçalves (apud GUIMARÃES, 2007, p. 98) opta pela
constitucionalidade do artigo. Segundo o autor, o artigo contempla um tipo misto alternativo,
em que várias condutas típicas se equivalem pela mesma finalidade, a saber, o inconformismo
político ou a obtenção de fundos destinados à manutenção de organizações políticas
clandestinas ou subversivas. Para Gonçalves, não se faz necessário que a lei defina de maneira
expressa a palavra terrorismo, bastando que as condutas do referido artigo sejam realizadas
com emprego de violência.
38
De outro lado, segundo Alberto Silva Franco (apud GUIMARÃES, 2007, p. 99), tal
dispositivo é inconstitucional, visto que a referência de forma genérica a “atos terroristas”,
sem a sua definição ou significação fere o princípio constitucional da legalidade, pois não há
delimitação de sua incidência no caso. Segundo Franco é irrelevante debater sobre os
diplomas anteriormente analisados, como a Constituição Federal e o artigo 2º da lei nº
8.072/90, visto que inexiste o tipo de terrorismo no ordenamento, seja como crime comum ou
como crime contra a segurança nacional. Franco prossegue na sua análise e:
Explica, outrossim, que a despeito do verbo “praticar” e do objeto direto “atos de
terrorismo” estarem no mesmo pé de igualdade dos demais comportamentos
alternativamente referidos na norma, tal verbo não apresenta qualquer carga de
ilicitude, ao contrário dos demais verbos constantes do tipo. Por tal razão, sua área
de incidência e seu campo de significado restam na dependência direta e imediata do
objeto direto, que nada mais é que uma “cláusula geral” de elasticidade extrema,
permitindo ao julgador enquadrar indevidamente no tipo qualquer modalidade de
conduta humana, justamente pela ausência de uma adequada descrição do conteúdo
fático desses atos. (FRANCO, apud GUIMARÃES, 2007, p 100)
Sznick (1991, p. 206) ressalta da mesma forma que devem ser evitadas definições
vagas que criam tipos penais abertos, em que quase tudo pode ser abarcado, ferindo dessa
maneira o princípio da reserva legal. Para o autor não devem ser utilizadas expressões como
“atos de terrorismo” e outras de conceituação e de abrangência ampla.
Guimarães (2007, p. 100), por sua vez, entende ser essa a posição correta, pois:
O tipo penal deve ser claro e delimitar plenamente a conduta, definindo-a e
demonstrando todo o seu significado, possibilitando, assim, ampla compreensão do
que deve se entender como terrorismo, de modo a impedir, de qualquer forma, ao
autor da conduta, qualquer dúvida quanto à sua tipificação, para que não haja mácula
ao princípio da ampla defesa.
Discussão semelhante a que agora se trava em relação ao terrorismo, se estabeleceu
quanto à definição típica do delito de tortura no Brasil. A título de exemplo, pode-se
mencionar o artigo 233 do Estatuto da Criança e do Adolescente que inicialmente tinha como
previsão “submeter criança ou adolescente, sob sua autoridade, guarda ou vigilância à
tortura”. Tal redação foi também foi amplamente criticada, visto ser um tipo penal aberto, sem
explicar o que poder-se-ia compreender por tortura bem como seu significado e limites.
Como solução à questão do crime de tortura, editou-se a lei nº 9.455/97, definindo o
crime de tortura como “constranger alguém com emprego de violência ou grave ameaça,
39
causando-lhe sofrimento físico ou mental: com o fim de obter informação, declaração ou
confissão da vítima ou de terceira pessoa, para provocar ação ou omissão de natureza
criminosa, ou em razão de discriminação racial ou religiosa”.
Dessa forma, entende-se ser conveniente que solução análoga deve ser adotada em
relação ao crime de terrorismo, visto que a expressão “atos terroristas” não se submete aos
princípios da legalidade e da tipicidade. Assim sendo, diversas condutas realizadas podem ser
no máximo correlatas, paralelas ou ainda similares ao que pode ser compreendido como
terrorismo de acordo com o artigo 20 da Lei de Segurança Nacional, mas não
obrigatoriamente estariam contidas nessa expressão.
Assim sendo, o tipo penal não pode simplesmente trazer uma ideia do que seja o
terrorismo, eis que o tipo penal deve definir e delimitar com clareza a conduta infratora. Caso
contrário, outros tipos do mesmo diploma podem ser compreendidos como condutas
terroristas. Por exemplo, tem-se o artigo 19 que tem como pena de 2 a 10 anos de reclusão, a
seguinte conduta:
Art. 19 - Apoderar-se ou exercer o controle de aeronave, embarcação ou veículo de
transporte coletivo, com emprego de violência ou grave ameaça à tripulação ou a
passageiros.
Pode-se dizer que tal conduta lembra um ato terrorista, como a sabotagem realizada
em aeronaves que ocorre não de maneira rara em regiões do planeta mais conturbadas e o
próprio atentado terrorista ao World Trade Center em 2001. De qualquer forma, o que há na
legislação brasileira como tipo do terrorismo é o artigo 20 da mencionada Lei de Segurança
Nacional.
Tal como regulamentado atualmente, a persecução penal do crime de terrorismo deve
observar o que se encontra regulamentado no art. 31 da Lei de Segurança Nacional, que
menciona que o inquérito policial deverá ser instaurado pela Polícia Federal de ofício,
mediante requisição do Ministério Público, mediante requisição de autoridade militar
responsável pela segurança interna ou mediante requisição do Ministro da Justiça. O
parágrafo único prevê, ainda, a possibilidade da Polícia Civil dos Estados, mediante convênio
com a União, possuir esta atribuição.
40
Cabe ressaltar que o inquérito policial será militar nas hipóteses do artigo 32, a saber
quando lesar patrimônio sob administração militar ou for praticado em lugar diretamente
sujeito à administração militar ou contra militar ou assemelhado em serviço. Também será
militar quando for praticado nas regiões alcançadas pela decretação do estado de emergência
ou do estado de sítio.
A ação penal, por sua vez, deverá ser promovida pelo Ministério Público, sendo
pública e incondicionada de acordo com o parágrafo único do artigo 30. O caput do mesmo
artigo estabelece que a competência será da Justiça Militar, ressalvada a competência
originária do Supremo Tribunal Federal, por certo que tal disposição não foi recepcionada
pela Constituição Federal de 1988, visto que a mesma estabelece em seu artigo 109, inciso IV
que a competência para o julgamento de tais infrações será da Justiça Federal.
Em 1983 algumas normas regulavam a matéria da prisão administrativa, que em
geral era decretada pelo Ministro da Justiça, assim como abarcava a permissão de prisão
decretada por autoridade policial. Nesse sentido, o artigo 33 dispõe que a autoridade que
preside o inquérito pode decretar a prisão do indiciado pelo prazo de quinze dias, podendo
este prazo ser prorrogado por mais quinze dias pela autoridade judiciária em caso de
necessidade. Tal dispositivo também não foi recepcionado pela Constituição Federal de 1988,
visto que esta estabelece em seu artigo 5º, inciso LXI, que somente se admite prisão em
flagrante ou por ordem judicial, ressalvados os casos de transgressão militar ou crime
propriamente militar, definidos em lei.
Não obstante seja esta a realidade brasileira em relação ao tratamento jurídico-penal
do terrorismo, há vários projetos de lei que regulamentam esta conduta, no entanto, vai se
analisar a seguir dois deles por serem específicos ao delito de terrorismo.
2.2.3 Propostas de tipificação do Terrorismo no Brasil
No Congresso brasileiro há mais de 130 projetos de leis que estão relacionados ao
termo terrorismo. O número elevado deve-se ao fato de que o termo está inserido na Lei de
Crimes Hediondos, ou seja, qualquer proposta de alteração em tal lei, mesmo que não aborde
diretamente o tratamento ao terrorismo, aumentará o número de projetos relacionados ao
41
terrorismo. Convém lembrar que a maior parte dos projetos de lei que tratam dessa temática
propõe um cumprimento de pena mais rígido e dificulta a concessão de benefícios.
Na temática do terrorismo há diversas espécies de propostas, algumas um tanto
curiosas, como a PEC 525/06, que propõe a alteração no texto constitucional a qual possibilite
a aplicação de prisão perpétua, o cumprimento de pena em regime integralmente fechado e a
vedação ao progresso de regime. Dentre os projetos sérios serão analisados o PL 499/2013 e o
PL 44/2014. Ambas as propostas apresentam a mesma justificação para a criação dos projetos.
A justificação inicia-se tratando da problemática da conceituação e tratamento
existentes a nível internacional, afirmando que o conceito terrorismo é manejado mais como
um conceito político do que jurídico. Prossegue afirmando a importância da temática, usando
como fundamento a Constituição Federal e os tratados internacionais celebrados pelo Brasil.
Relembra o legislador que o único tipo penal existente no ordenamento brasileiro
remonta o final do regime militar. Afirma que muitos países com problemas internos, usaram
desse tipo penal para combater insurgentes ou pessoas contra à ordem vigente.
Passa então o legislador a utilizar a Convenção para a Prevenção e Punição
do Terrorismo, de 1937, para justificar algumas disposições da proposta legislativa. O
primeiro ponto é que o terrorismo não é praticado somente contra o Estado, podendo ser
contra autoridades, agentes ou até mesmo coisas.
A contextualização dada pelo projeto é de que esta pode ser por motivação
ideológica, religiosa, política ou de preconceito racial ou étnico. Dessa forma foi separada a
motivação íntima do objetivo concreto. Tal distinção é importante e exemplificada na situação
dos movimentos sociais, os quais não têm por objetivo causar terror ou pânico.
Outro ponto da proposição, é que ela não atribui a responsabilidade penal a grupos,
mas sim aos seus membros, estando de acordo com o princípio da individualização da pena.
Nesse mesmo sentido, a proposição admite também o terrorismo individual.
No que tange aos artigos da proposta, o terrorismo está previsto no artigo 2º, com a
seguinte redação:
42
Terrorismo
Art. 2º Provocar ou infundir terror ou pânico generalizado mediante ofensa ou
tentativa de ofensa à vida, à integridade física ou à saúde ou à privação da liberdade
de pessoa.
Pena – reclusão, de 15 (quinze) a 30 (trinta) anos.
§ 1º Se resulta morte:
Pena – reclusão, de 24 (vinte e quatro) a 30 (trinta) anos.
§ 2º As penas previstas no caput e no § 1º deste artigo aumentam-se de um terço, se
o crime for praticado:
I – com emprego de explosivo, fogo, arma química, biológica ou radioativa, por
meio informático ou outro meio capaz de causar danos ou promover destruição em
massa;
II – em meio de transporte coletivo ou sob proteção internacional;
III – por agente público, civil ou militar, ou pessoa que aja em nome do Estado;
IV – em locais com grande aglomeração de pessoas.
V – contra o Presidente e o Vice-Presidente da República, o Presidente da Câmara
dos Deputados, o Presidente do Senado Federal ou o Presidente do Supremo
Tribunal Federal e o Procurador-Geral da República;
VI – contra Chefe de Estado ou Chefe de Governo estrangeiro, agente diplomático
ou consular de Estado estrangeiro ou representante de organização internacional da
qual o Brasil faça parte.
§ 3º Se o agente for funcionário público, a condenação acarretará a perda do cargo,
função ou emprego público e a interdição para seu exercício pelo dobro do prazo da
pena aplicada.
O artigo 3º, existente somente no PL 44/2014, insere a excludente do crime de
terrorismo, a qual foi objeto de intensa crítica na proposição anterior, visto que a mesma abria
margem para considerar os movimentos sociais como atos terroristas. Segundo tal artigo:
Art. 3º Não constitui crime de terrorismo a conduta individual ou coletiva de
pessoas, movimentos sociais ou sindicatos, movidos por propósitos sociais ou
reivindicatórios, visando contestar, criticar, protestar, apoiar com o objetivo de
defender ou buscar direitos, garantias e liberdades constitucionais.
Os artigos seguintes tratam do Financiamento do Terrorismo, o qual tem a mesma
pena do caput do artigo 1º, e do terrorismo contra coisa, com pena de reclusão de 8 a 20 anos.
O artigo 6º da proposta 44/2014, trata da incitação ao terrorismo, com pena de 3 a 8
anos de reclusão. O destaque se dá ao parágrafo único, onde a pena aumentará em um terço
caso seja praticado por meio da internet.
Por sua vez, o artigo 7º trata do favorecimento pessoal do terrorismo, que
corresponde ao abrigo ou guarida de pessoa que tenha praticado o crime de terrorismo. A
pena prevista para tal conduta é de reclusão de 3 a 8 anos, não sendo aplicada quando for
43
ascendente ou descendente de primeiro grau, cônjuge ou companheiro estável ou irmão da
pessoa abrigada ou recebida.
O grupo terrorista é tratado no artigo 8º. Tal tipo é similar ao previsto no artigo 288
do Código Penal, entretanto no caso do artigo 8º a finalidade é a prática do terrorismo. A
inserção de tal tipo traz consigo a alteração do artigo 8º da Lei dos Crimes Hediondo, Lei nº
8.072/1990, retirando o aumento do pena na conduta terrorista a fim de evitar conflito entre os
diplomas.
O arrependimento e a proteção legal tem previsão no artigo 9º, ocorrendo a extinção
da punibilidade quando o agente voluntariamente desiste na execução e impede a produção
de resultados, sendo ainda necessário que o mesmo não seja reincidente em crime previsto na
presente lei e não haja nenhuma consequência em razão do ato.
Quanto ao cumprimento da pena, só haverá a progressão de regime quando cumprido
4/5 do total da pena em regime fechado.
Por fim, a proposta repete a previsão constitucional que os crimes previstos são
inafiançáveis e insuscetíveis de graça, anistia ou indulto, estabelece que a competência é da
Justiça Federal segundo artigo 109, IV, da Constituição Federal, altera o artigo 8º da Lei de
Crimes Hediondos, e revoga o artigo 20 da Lei de Segurança Nacional.
Cumpre registrar que atualmente o projeto de lei está pronto para a pauta na
comissão há mais de seis meses.
44
CONCLUSÃO
Analisando o exposto, observa-se que a divergência na conceituação e definição do
terrorismo é evidente. Entretanto, para fins de combate a conduta, não se tem como algo
impossível de ser conceituado e definido. Ocorre que o sentido atual dado ao conceito possui
muito mais carga política do que jurídica.
Dessa forma, longe da pretensão de apresentar uma definição livre de divergências e
que coloque fim a uma enorme discussão internacional, a definição de terrorismo deve
observar os elementos que caracterizam a conduta. Ou seja, em síntese, o terrorismo
corresponde a prática de determinados atos que utilizam de meios desproporcionais para a
obtenção de determinados fins, sejam eles políticos ou ideológicos, ameaçando ou atingindo
bens inalienáveis ou materiais, instaurando dessa forma um estado de terror generalizado.
Em âmbito internacional, observam-se os diversos esforços da Organização das
Nações Unidas no combate do terrorismo. Tem-se que assim como a problemática ambiental
e o tráfico de drogas, o controle e combate ao terrorismo deve ser resolvido de forma
internacional. Entretanto, as divergências existentes entre os países, sejam elas de cunho
político, ideológico, filosóficas, étnicas ou de natureza semelhante, são a maior barreira nesse
combate, resultando dessa forma em um controle setorizado e de aplicação limitada. Não
obstante as dificuldades apresentadas, o combate ao terrorismo necessariamente deve se dar
em âmbito internacional, devendo haver a conceituação precisa da conduta a fim de que as
legislações contra o terrorismo que possuam previsão de institutos como a legitima defesa
prévia, não propiciem abusos de um Estado em relação a outro, a fim de preservar
determinado interesse.
45
Em sede do direito comparado, verifica-se que as legislações analisadas são
confeccionadas de acordo com a experiência de cada país. Dessa forma, tais legislações não
podem servir na sua integralidade de modelo ao direito internacional, visto que são adequadas
ao contexto em que se inserem. Entretanto, alguns dispositivos são pertinentes, como o
terrorismo ecológico existente na legislação francesa e os institutos da dissociação,
arrependimento e colaboração na legislação italiana.
Quanto ao tratamento do terrorismo no Brasil, verifica-se que atualmente não há a
tipificação do terrorismo no ordenamento pátrio, limitando-se a menções pontuais na
Constituição e na legislação infraconstitucional. Parte da doutrina afirma que o artigo 20 da
Lei de Segurança Nacional tipifica o terrorismo, entretanto, salvo melhor juízo, a expressão
“atos terroristas” nos parece vaga e genérica demais, ferindo os princípios da legalidade,
tipicidade e da reserva legal. Portanto, a tipificação do terrorismo no ordenamento brasileiro
se faz necessária, com a consequente revogação do artigo 20 da Lei de Segurança Nacional.
Quanto às propostas de tipificação de terrorismo no Brasil, observa-se que as
mesmas merecem mais atenção por parte dos legisladores bem como da sociedade brasileira.
As críticas dirigidas à PL 499/2013 resultaram na inserção da excludente prevista no artigo 3º
da PL 44/2014, a saber, que as manifestações sociais bem como os protestos não constituiriam
atos terroristas. Tal inserção representa uma grande conquista, visto que a tipificação não deve
servir como um meio de coibir a manifestação de movimentos sociais.
Dessa forma, conclui-se que o tratamento do terrorismo no ordenamento brasileiro
está inadequado, sendo necessário, portanto, a criação do tipo que o defina e o conceitue a luz
dos instrumentos internacionais já existentes.
46
REFERÊNCIAS
ANDREU–GUZMÁN, Federico. Terrorismo y Derechos Humanos. Occasional papers N°
2.
2003,
Geneva,
Suiça
Disponível
em:
<https://doc.es.amnesty.org/cgi%20bin/ai/BRSCGI/Informe?CMD=VEROBJ&MLKOB=29924465454 >. Acesso em: 13 jul.
2014.
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.
_______. Lei nº 7.170, de 14 de dezembro de 1983. Define os crimes contra a segurança
nacional, a ordem política e social, estabelece seu processo e julgamento e dá outras
providencias.
_______. Lei nº 8.072, de 25 de julho de 1990. Dispõe sobre os crimes hediondos, nos
termos do art. 5.º, XLIII, da Constituição Federal, e determina outras providências.
_______. Lei nº 10.744, de 9 de outubro de 2003. Dispõe sobre a assunção, pela União, de
responsabilidades civis perante terceiros no caso de atentados terroristas, atos de guerra ou
eventos correlatos, contra aeronaves de matrícula brasileira operadas por empresas brasileiras
de transporte aéreo público, excluídas as empresas de táxi aéreo.
_______. Supremo Tribunal Federal, Extradição nº 855 CL - CHILE, Requerente: Governo
do Chile. Extraditando: Mauricio Hernandez Norambuena. Relator: Des. Celso de Mello, 26
de agosto de 2004. Disponível em:
<http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=325004 >. Acesso
em: 4 out. 2014
_______. Projeto de lei do senado n.º 499, de 28 de setembro de 2013. Define crimes de
terrorismo e dá outras providências. In: Diário do Senado Federal, Brasília, n° 199, em 29 de
setembro de 2013.
_______. Projeto de lei do senado n.º 44, de 18 de fevereiro de 2014. Define crimes de
terrorismo e dá outras providências. In: Diário do Senado Federal, Brasília, n° 12, em 19 de
fevereiro de 2014.
CARR, Caleb. A assustadora história do terrorismo. Tradução de Mauro Silva. São Paulo:
Prestígio Editorial Ediouro, 2002.
47
ESPANHA. Código Penal y legislación complementaria. Boletín Oficial del Estado, em 25
de
julho
de
2014.
Disponível
em
<https://www.boe.es/legislacion/codigos/codigo.php?id=038_Codigo_Penal_y_legislacion_co
mplementaria > Acesso em 13 set. 2014
FRAGOSO, Heleno Cláudio. Para uma interpretação democrática da Lei de Segurança
Nacional. Jornal O Estado de São Paulo, 21 de abril de 1983, p. 34. Disponível em:
<http://www.fragoso.com.br/eng/arq_pdf/heleno_artigos/arquivo39.pdf> Acesso em 11 out.
2014
FRANÇA,
Code
penal.
2014.
Disponível
em:
<http://www.legifrance.gouv.fr/affichCode.do?cidTexte=LEGITEXT000006070719> Acesso
em 13 set. 2014
GUIMARÃES, Marcello Ovidio Lopes. Tratamento penal do terrorismo. São Paulo:
Quartier Latin, 2007.
HOUAISS, Antônio; VILLAR, Mauro de Salles. Minidicionário Houaiss da língua
portuguesa. 3.ed. Rio de Janeiro: Objetiva, 2004.
ITALIA.
Codice
Penale.
2014.
Disponível
<http://www.altalex.com/index.php?idnot=36653> Acesso em13 set. 2014
em:
LIGA DAS NAÇÕES. Convenção para a Prevenção e Punição do Terrorismo. 1937.
Disponível em <http://www.wdl.org/pt/item/11579/view/1/1/> Acesso em 9 ago. 2014
NETO, José Creatella. Em busca da definição que o mundo hesita em elaborar: terrorismo
internacional. In: BEDIN, Gilmar Antonio (Coord). Estado de Direito, Jurisdição
Universal e Terrorismo. Ijuí, Unijuí, 2009, p. 123-221.
NUCCI, Guilherme de Souza. Leis penais e processuais penais comentadas. 5. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2010.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS. International Law Commission. Report of the
International Law Commission on the work of its forty-third session. 10 de setembro de
1991. Disponível em: <http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/46/10>.
Acesso em: 9 ago. 2014
______________________________________. Security Council. Resolution 1566. 8 de
outubro
de
2004.
Disponível
em:
<http://daccess-ddsny.un.org/doc/UNDOC/GEN/N04/542/82/PDF/N0454282.pdf >. Acesso em: 9 ago. 2014
______________________________________. General Assembly. Resolution 49/60.
Measures to eliminate international terrorismo. 19 de fevereiro de 1995. Disponível em:
<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/49/60>. Acesso em: 9 ago.
2014
______________________________________. General Assembly. Resolution 51/210.
Measures to eliminate international terrorismo. 16 de janeiro de 1996. Disponível em:
48
<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=A/RES/51/21060>. Acesso em: 9
ago. 2014
______________________________________. General Assembly. Resolution 54/109.
International Convention for the Suppression of the Financing of Terrorism. 25 de
fevereiro
de
2000.
Disponível
em:
<http://www.un.org/en/ga/search/view_doc.asp?symbol=a/res/54/109>. Acesso em: 9 ago.
2014
PAMPLONA, Gustavo. Crimes políticos, terrorismo e extradição: nos passos de Hannah
Arendt. Porto Alegre: Simplíssimo, 2011.
PELLET, Sarah. A Ambiguidade da Noção de terrorismo. In: BRANT, Leonardo Nemer
Caldeira (Coord). Terrorismo e Direito: Os impactos do terrorismo na comunidade
internacional e no Brasil. Rio de Janeiro, Forense, 2003, p. 9-20.
PEREIRA, Lisiane de Almeida. Enfoque Jurídico-penal do crime de Terrorismo no
Direito Brasileiro. Presidente Prudente: Faculdades Integradas Antônio Eufrásio de Toledo,
2003. Disponível em:
<http://intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/Juridica/article/view/165/166>. Acesso em 2
ago. 2014.
SAINT-PIERRE, Héctor Luis. A política armada: Fundamentos da guerra revolucionária.
São Paulo: UNESP, 2000.
SOUKI, Hassan Magid de Castro. Terrorismo e Direito Internacional: Reflexões acerca do
papel do conselho de segurança das nações unidas, da corte internacional de justiça e do
tribunal penal internacional na repressão do fenômeno terrorista no século XXI. Belo
Horizonte: PUC-MG, 2007. Disponível em:
<http://www.biblioteca.pucminas.br/teses/Direito_SoukiHM_1.pdf>. Acesso em: 2 ago. 2014
SZNICK, Valdir. Comentários à lei de crimes hediondos: terrorismo, genocídio, tortura,
prisão temporária. São Paulo: LEUD, 1991.
USA PATRIOT ACT. In: WIKIPÉDIA, a enciclopédia livre. Flórida: Wikimedia Foundation,
2014. Disponível em:
<http://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=USA_PATRIOT_Act&oldid=38666942>. Acesso
em: 13 set. 2014.
49
ANEXO A – Resolução 49/60 da Organização das Nações Unidas e Declaração sobre
medidas para eliminar o terrorismo internacional
NACIONES UNIDAS
Asamblea General
Distr.
GENERAL
A/RES/49/60
17 de febrero de 1995
Cuadragésimo noveno período de sesiones
Tema 142 del programa
RESOLUCION APROBADA POR LA ASAMBLEA GENERAL
[sobre la base del informe de la Sexta Comisión (A/49/743)]
49/60. Medidas para eliminar el terrorismo internacional
La Asamblea General,
Recordando su resolución 46/51, de 9 de diciembre de 1991, y su decisión
48/411, de 9 de diciembre de 1993,
Tomando nota del informe del Secretario General,
Habiendo examinado a fondo la cuestión de las medidas para eliminar el terrorismo
internacional,
Convencida de que la aprobación de la declaración sobre medidas para eliminar el terrorismo
internacional contribuiría al fortalecimiento de la lucha contra el terrorismo internacional,
1. Aprueba la Declaración sobre medidas para eliminar el terrorismo internacional, cuyo texto
figura como anexo de la presente resolución;
2. Invita al Secretario General a que informe de la aprobación de esta Declaración a todos los
Estados, al Consejo de Seguridad, a la Corte Internacional de Justicia, así como a los
rganismos especializados, organizaciones y órganos pertinentes;
3. Insta a que se haga todo lo posible por lograr que la Declaración se difunda ampliamente y
que se observe y aplique plenamente;
4. Exhorta a los Estados a que, de conformidad con las disposiciones de esta Declaración,
adopten todas las medidas adecuadas en los planos nacional e internacional para eliminar el
terrorismo;
5. Invita al Secretario General a que siga atentamente la aplicación de la presente resolución y
de la Declaración y que, a este respecto, le presente, en su quincuagésimo período de sesiones,
un informe que trate, em particular, de las modalidades de aplicación del párrafo 10 de la
Declaración;
6. Decide incluir en el programa provisional de su quincuagésimo período de sesiones el tema
titulado "Medidas para eliminar el terrorismo internacional" a fin de examinar el informe del
50
Secretario General que se pide en el párrafo 5 supra, sin perjuicio del examen anual o bienal
del tema.
84ª sesión plenaria
9 de diciembre de 1994
ANEXO
Declaración sobre medidas para eliminar el terrorismo internacional
La Asamblea General,
Guiada por los propósitos y principios de la Carta de las Naciones Unidas,
Recordando la Declaración sobre los principios de derecho internacional referentes a las
relaciones de amistad y a la cooperación entre los Estados de conformidad con la Carta de las
Naciones Unidas , la Declaración sobre el fortalecimiento de la seguridad internacional, la
Definición de la agresión, la Declaración sobre el mejoramiento de la eficacia del principio de
la abstención de la amenaza o de la utilización de la fuerza en las relaciones internacionales,
la Declaración y el Programa de Acción de Viena, aprobado por la Conferencia Mundial de
Derechos Humanos, el Pacto Internacional de Derechos Económicos, Sociales y Culturales y
el Pacto Internacional de Derechos Civiles y Políticos,
Profundamente preocupada por la persistencia en el mundo entero de actos de terrorismo
internacional en todas sus formas y manifestaciones, incluídos aquellos en que hay Estados
directa o indirectamente involucrados, que ponen en peligro o cobran vidas humanas
inocentes, redundan en detrimento de las relaciones internacionales y pueden comprometer la
seguridad de los Estados,
Profundamente alarmada por el aumento en muchas regiones del mundo de actos de
terrorismo basados en la intolerancia o el extremismo,
Alarmada por los crecientes y peligrosos vínculos entre los grupos terroristas, los traficantes
de drogas y sus bandas paramilitares, que han recurrido a todo tipo de actos de violencia,
poniendo así en peligro el orden constitucional de los Estados y violando los derechos
humanos fundamentales,
Convencida de la conveniencia de asegurar una mayor coordinación y cooperación entre los
Estados en la lucha contra los delitos diretamente relacionados con el terrorismo, entre ellos el
tráfico de drogas, el comercio ilícito de armas, el blanqueo de capitales y el contrabando de
material nuclear u otro material potencialmente letal, y teniendo presente la función que
pueden desempeñar en este contexto las Naciones Unidas y las organizaciones regionales,
Firmemente decidida a eliminar el terrorismo internacional en todas sus formas y
manifestaciones,
Convencida también de que la supresión de los actos de terrorismo internacional, incluidos
aquellos en que hay Estados directa o indirectamente involucrados, es fundamental para el
mantenimiento de la paz y la seguridade internacionales,
51
Convencida además de que los responsables de los actos de terrorismo internacional deben ser
sometidos a la acción de la justicia,
Haciendo hincapié en la necesidad imperiosa de afianzar aún más la cooperación
internacional entre los Estados, con miras a adoptar medidas prácticas y eficaces para
prevenir, combatir y eliminar todas las formas de terrorismo que afectan a la comunidad
internacional,
Consciente de la importante función que pueden desempeñar las Naciones Unidas, los
organismos especializados competentes y los Estados en la promoción de una cooperación
amplia encaminada a prevenir y combatir el terrorismo internacional, entre otras cosas,
sensibilizando más a la opinión pública acerca del problema,
Recordando los tratados internacionales vigentes relativos a los diversos aspectos del
problema del terrorismo internacional, entre otros, el Convenio sobre las infracciones y
ciertos otros actos cometidos a bordo de las aeronaves, firmado en Tokio el 14 de septiembre
de 1963, el Convenio para la represión del apoderamiento ilícito de aeronaves, firmado en La
Haya el 16 de diciembre de 1970, el Convenio para la represión de actos ilícitos
contra la seguridad de la aviación civil, hecho en Montreal el 23 de septiembre de 1971, la
Convención sobre la prevención y el castigo de delitos contra personas internacionalmente
protegidas, inclusive los agentes diplomáticos, aprobada en Nueva York el 14 de diciembre de
1973, la Convención internacional contra la toma de rehenes, aprobada en Nueva York el 17
de diciembre de 1979, la Convención sobre la protección física de los materiales nucleares,
aprobada en Viena el 3 de marzo de 1980, el Protocolo para la represión de actos ilícitos de
violencia en los aeropuertos que presten servicios a la aviación civil internacional,
complementario del Convenio para la represión de actos ilícitos contra la seguridad de la
aviación civil internacional, firmado en Montreal el 24 de febrero de 1988, el Convenio para
la represión de actos ilícitos contra la seguridad de la navegación marítima, hecho en Roma el
10 de marzo de 1988, el Protocolo para la represión de actos ilícitos contra la seguridad de las
plataformas fijas emplazadas en la plataforma continental, hecho en Roma el 10 de marzo de
1988, y el Convenio sobre la marcación de explosivos plásticos para los fines de detección,
hecho en Montreal el 1º de marzo de 1991,
Observando con satisfacción la concertación de acuerdos regionales y la aprobación de
declaraciones mutuamente convenidas con el fin de combatir y eliminar el terrorismo en todas
sus formas y manifestaciones,
Convencida de la conveniencia de mantener en estudio el alcance de las disposiciones
jurídicas internacionales vigentes para combatir el terrorismo en todas sus formas y
manifestaciones, con miras a asegurar el establecimiento de un marco jurídico global para la
prevención y la eliminación del terrorismo,
Declara solemnemente lo siguiente:
I
1. Los Estados Miembros de las Naciones Unidas reafirman solemnemente que condenan en
términos inequívocos todos los actos, métodos y prácticas terroristas por considerarlos
criminales e injustificables, dondequiera y quienquiera los cometa, incluidos los que ponen en
52
peligro las relaciones de amistad entre los Estados y los pueblos y amenazan la integridad
territorial y la seguridad de los Estados;
2. Los actos, métodos y prácticas terroristas constituyen una grave violación de los propósitos
y principios de las Naciones Unidas, y pueden representar una amenaza para la paz y la
seguridad internacionales, poner em peligro las relaciones de amistad entre los Estados,
obstaculizar la cooperación internacional y llevar a la destrucción de los derechos humanos,
las libertades fundamentales y las bases democráticas de la sociedad;
3. Los actos criminales con fines políticos concebidos o planeados para provocar un estado de
terror en la población en general, en un grupo de personas o en personas determinadas son
injustificables en todas las circunstancias, cualesquiera sean las consideraciones políticas,
filosóficas, ideológicas, raciales, étnicas, religiosas o de cualquier otra índole que se
hagan valer para justificarlos;
II
4. Los Estados, guiados por los propósitos y principios de la Carta de las Naciones Unidas y
otras normas pertinentes del derecho internacional, deben abstenerse de organizar o instigar
actos de terrorismo en el território de otros Estados, de colaborar o participar en su comisión,
o de tolerar o alentar que se lleven a cabo en su territorio actividades que apunten a la
comisión de esos actos;
5. Los Estados deben asimismo cumplir sus obligaciones en virtud de la Carta de las Naciones
Unidas y otras disposiciones de derecho internacional en lo que respecta a la lucha contra el
terrorismo internacional y adoptar medidas eficaces y decididas, de conformidad con las
disposiciones pertinentes del derecho internacional y las normas internacionales de derechos
humanos, con el fin de lograr la eliminación pronta y definitiva del terrorismo internacional y
deben en particular:
a) Abstenerse de organizar, instigar, facilitar, financiar, alentar o tolerar actividades terroristas
y adoptar medidas prácticas adecuadas para velar por que no se utilicen sus respectivos
territorios para instalaciones terroristas o campamentos de adiestramiento o para la
preparación u organización de actos terroristas que hayan de perpetrarse contra otros Estados
o sus ciudadanos;
b) Asegurar la aprehensión, el enjuiciamiento o la extradición de los autores de actos de
terrorismo, de conformidad con las disposiciones aplicables de su legislación nacional;
c) Tratar de concertar con ese fin acuerdos especiales bilaterales, regionales y multilaterales y
preparar, para esos efectos, modelos de acuerdos de cooperación;
d) Cooperar entre sí en el intercambio de información pertinente acerca de la prevención y la
lucha contra el terrorismo;
e) Tomar cuanto antes todas las medidas necesarias para aplicar los convenios internacionales
vigentes en la materia en que sean partes, incluída la armonización de su legislación interna
con esos convenios;
53
f) Adoptar las medidas que procedan para cerciorarse, antes de conceder asilo, de que quien lo
solicita no haya participado en atividades terroristas y, una vez concedido el asilo, de que no
se utilice el estatuto de refugiado de manera incompatible con lo dispuesto en el apartado a)
supra;
6. Con miras a combatir eficazmente el aumento del terrorismo y la internacionalización
creciente de su carácter y sus efectos, los Estados deben intensificar su cooperación en esta
esfera, en particular mediante el intercambio sistemático de información relativa a la
prevención del terrorismo y la lucha en su contra, y mediante la aplicación efectiva de los
convênios internacionales vigentes en la materia y la concertación de acuerdos bilaterales,
regionales y multilaterales de asistencia judicial recíproca y de extradición;
7. En este contexto, se alienta a los Estados a que examinen com urgencia el alcance de las
disposiciones jurídicas internacionales vigentes sobre prevención, represión y eliminación del
terrorismo en todas sus formas y manifestaciones, a fin de asegurar la existencia de un marco
jurídico global que abarque todos los aspectos de la cuestión;
8. Se insta además a los Estados que aún no lo hayan hecho a que consideren con carácter
prioritario la posibilidad de hacerse partes en las convenciones y los protocolos
internacionales relativos a los diversos aspectos del terrorismo internacional a que se hace
referencia en el preámbulo de la presente Declaración;
III
9. Las Naciones Unidas, los organismos especializados y las organizaciones
intergubernamentales competentes, así como otros órganos pertinentes, deben hacer todo lo
que esté a su alcance para promover la adopción de medidas encaminadas a combatir y
eliminar los actos de terrorismo y a fortalecer sus actividades en este ámbito;
10. El Secretario General debería prestar asistencia en la aplicación de la presente Declaración
y adoptar con ese fin, dentro de los límites de los recursos existentes, las siguientes medidas
prácticas a fin de aumentar la cooperación internacional:
a) Disponer la recopilación de datos acerca del estado y la aplicación de los acuerdos
multilaterales, regionales y bilaterales vigentes que se refieren al terrorismo internacional, que
incluya información relativa a incidentes causados por el terrorismo internacional y a
procesos y condenas penales, sobre la base de la información recibida de los depositarios de
esos acuerdos y de los Estados Miembros;
b) Preparar un compendio de las leyes y normas nacionales relativas a la prevención y la
represión del terrorismo internacional en todas sus formas y manifestaciones, sobre la base de
la información recibida de los Estados Miembros;
c) Elaborar una reseña analítica de los instrumentos jurídicos internacionales vigentes que se
refieren al terrorismo internacional, a fin de ayudar a los Estados a determinar qué aspectos de
la cuestión no están comprendidos en esos instrumentos y se deberían tener en cuenta a fin de
elaborar un marco jurídico global de convenciones relativas al terrorismo internacional;
54
d) Estudiar las posibilidades que existen en el sistema de las Naciones Unidas de ayudar a los
Estados a organizar seminarios y cursos de capacitación a fin de combatir los delitos
relacionados con el terrorismo internacional;
IV
11. Se insta a todos los Estados a que promuevan y cumplan de buena fe y eficazmente las
disposiciones de la presente Declaración en todos sus aspectos;
12. Se hace hincapié en la necesidad de proseguir los esfuerzos encaminados a lograr la
eliminación definitiva de todos los actos de terrorismo mediante el fortalecimiento de la
cooperación internacional y el desarrollo progresivo del derecho internacional y su
codificación, así como mediante el aumento de la coordinación y de la eficiencia de las
Naciones Unidas y de los organismos especializados, las organizaciones y los órganos
competentes.
55
ANEXO B – Resolução nº 51/210 da Organização das Nações Unidas e Declaração
complementar da Declaração de 1994 sobre medidas para eliminar o terrorismo
internacional
NACIONES UNIDAS
Asamblea General
Distr.
GENERAL
A/RES/51/210
16 de enero de 1997
Quincuagésimo primer período de sesiones
Tema 151 del programa
RESOLUCIÓN APROBADA POR LA ASAMBLEA GENERAL
[sobre la base del informe de la Sexta Comisión (A/51/631)]
51/210. Medidas para eliminar el terrorismo internacional
La Asamblea General,
Recordando su resolución 49/60, de 9 de diciembre de 1994, por la que adoptó la Declaración
sobre medidas para eliminar el terrorismo internacional, y su resolución 50/53, de 11 de
diciembre de 1995,
Recordando también la Declaración con motivo del cincuentenario de las Naciones Unidas,
Guiada por los propósitos y principios de la Carta de las Naciones Unidas,
Profundamente preocupada por la persistencia de los actos de terrorismo en el mundo entero,
Destacando la necesidad de fortalecer aún más la cooperación internacional entre los Estados
y entre las organizaciones y los organismos internacionales, las organizaciones y los acuerdos
regionales y las Naciones Unidas a fin de prevenir, combatir y eliminar el terrorismo en todas
sus formas y manifestaciones, dondequiera y por quienquiera sea cometido,
Teniendo presente la necesidad de realzar el papel de las Naciones Unidas y los organismos
especializados competentes en la lucha contra el terrorismo internacional,
Observando en este contexto todos los esfuerzos regionales e internacionales por luchar
contra el terrorismo internacional, incluidos los de la Organización de la Unidad Africana, la
Organización de los Estados Americanos, la Organización de la Conferencia Islámica, la
Asociación del Asia Meridional para la Cooperación Regional, la Unión Europea, el Consejo
de Europa, el Movimiento de los Países no Alineados y los países del grupo de los siete
principales países industrializados y la Federación de Rusia,
Tomando nota del informe del Director General de la Organización de las Naciones Unidas
para la Educación, la Ciencia y la Cultura sobre atividades educacionales en relación con el
proyecto titulado "Hacia una cultura de paz",
Recordando que en la Declaración sobre medidas para eliminar el terrorismo internacional la
Asamblea General alentó a los Estados a que examinasen con urgencia el alcance de las
disposiciones jurídicas internacionales vigentes sobre la prevención, represión y eliminación
56
del terrorismo en todas sus formas y manifestaciones, a fin de asegurar la existencia de un
marco jurídico global que abarque todos los aspectos de la cuestión,
Teniendo presente la posibilidad de considerar en el futuro la elaboración de una convención
general sobre el terrorismo internacional,
Observando que los atentados terroristas con bombas, explosivos u otros mecanismos
incendiarios o mortíferos se han difundido cada vez más, y destacando la necesidad de
complementar los instrumentos jurídicos vigentes a fin de enfrentar concretamente el
problema de los atentados terroristas realizados por esos medios,
Reconociendo la necesidad de mejorar la cooperación internacional para impedir el uso de
materiales nucleares con fines terroristas y de preparar um instrumento jurídico apropiado,
Reconociendo también la necesidad de reforzar la cooperación internacional para impedir el
uso de materiales químicos y biológicos com fines terroristas,
Convencida de la necesidad de aplicar efectivamente y complementar las disposiciones de la
Declaración sobre medidas para eliminar el terrorismo internacional,
Habiendo examinado el informe del Secretario General,
I
1. Condena enérgicamente todos los actos, métodos y prácticas terroristas por considerarlos
criminales e injustificables, dondequiera y por quienquiera sean cometidos;
2. Reitera que los actos criminales con fines políticos concebidos o planeados para provocar
un estado de terror en la población en general, en um grupo de personas o en personas
determinadas son injustificables en todas las circunstancias, cualesquiera sean las
consideraciones políticas, filosóficas, ideológicas, raciales, étnicas, religiosas o de cualquier
otra índole que se hagan valer para justificarlos;
3. Exhorta a todos los Estados a que adopten nuevas medidas, de conformidad con las
disposiciones pertinentes del derecho internacional, incluidas las normas internacionales de
derechos humanos, para prevenir el terrorismo y fortalecer la cooperación internacional en la
lucha contra el terrorismo y, con tal objeto, a que consideren la posibilidad de adoptar
medidas como las que figuran en el documento oficial aprobado por el grupo de los siete
principales países industrializados y la Federación de Rusia en la Conferencia Ministerial
sobre el Terrorismo, celebrada en París el 30 de julio de 1996, y en el plan de acción aprobado
por la Conferencia Especializada Interamericana sobre Terrorismo, celebrada en Lima del 23
al 26 de abril de 1996 bajo los auspicios de la Organización de los Estados Americanos, y em
particular exhorta a todos los Estados a que:
a) Recomienden que los oficiales de seguridad competentes realicen consultas encaminadas a
aumentar la capacidad de los gobiernos para prevenir e investigar los ataques terroristas
contra instalaciones públicas, em particular los medios de transporte público, y responder a
ellos, y cooperen con otros gobiernos a esos efectos;
57
b) Aceleren la investigación y el desarrollo relativos a métodos de detección de explosivos y
otras sustancias nocivas que puedan provocar muertes o lesiones, celebren consultas acerca de
la preparación de normas para la marcación de los explosivos con el objeto de identificar su
origen en la investigación de explosiones y promuevan la cooperación, la transferencia de
tecnología, equipo y materiales conexos, cuando proceda;
c) Tomen nota del riesgo de que los terroristas usen sistemas y redes de comunicaciones
electrónicos o alámbricos para realizar actos criminales y de la necesidad de hallar medios,
compatibles con el derecho interno, para prevenir ese tipo de delincuencia y fomentar la
cooperación según convenga;
d) Investiguen, cuando haya justificación suficiente con arreglo al derecho interno, y actuando
dentro de su jurisdicción y por los conductos apropiados de cooperación internacional, el uso
indebido de organizaciones, grupos o asociaciones, incluidos los que persiguen fines
caritativos, sociales o culturales, por terroristas que recurren a ellos para encubrir sus propias
actividades;
e) Desarrollen, si es necesario, especialmente mediante la concertación de acuerdos y arreglos
bilaterales y multilaterales, procedimientos de asistencia jurídica recíproca encaminados a
facilitar y acelerar las investigaciones y la recolección de pruebas, así como la cooperación
entre organismos encargados del cumplimiento de la ley, a fin de detectar y prevenir actos de
terrorismo;
f) Adopten medidas para prevenir y contrarrestar, mediante medidas internas apropiadas, la
financiación de terroristas y de organizaciones terroristas, ya sea que se haga en forma directa
o indirecta, por conducto de organizaciones que tengan además o que proclamen tener
objetivos caritativos, sociales o culturales, o que realicen también actividades ilícitas, como el
tráfico ilegal de armas, la venta de estupefacientes y las asociaciones ilícitas, incluida la
explotación de personas a fin de financiar atividades terroristas, y en particular a que
consideren, en su caso, la adopción de medidas regulatorias para prevenir y ontrarrestar los
movimientos de fondos que se sospeche se hagan con fines terroristas, sin impedir en modo
alguno la libertad de los movimientos legítimos de capitales, y que intensifiquen el
intercambio de información acerca de los movimientos internacionales de esse tipo de fondos;
4. Exhorta también a todos los Estados a que, con el fin de mejorar la aplicación eficiente de
los instrumentos jurídicos pertinentes, intensifiquen, cuando proceda y en la medida que
corresponda, el intercambio de información sobre hechos relacionados con el terrorismo y a
que, al hacerlo, eviten la difusión de información inexacta o que no se haya verificado;
5. Reitera su exhortación a todos los Estados a que se abstengan de financiar y estimular las
actividades terroristas, de facilitar la capacitación para el terrorismo o de apoyar al terrorismo
por otros medios;
6. Insta a todos los Estados que aún no lo hayan hecho a que consideren, como cuestión
prioritaria, la posibilidad de hacerse partes en el Convenio sobre las infracciones y ciertos
otros actos cometidos a bordo de las aeronaves, firmado en Tokio el 14 de septiembre de
1963, el Convenio para la represión del apoderamiento ilícito de aeronaves, firmado en La
Haya el 16 de diciembre de 1970, el Convenio para la represión de actos ilícitos contra la
seguridad de la aviación civil, hecho en Montreal el 23 de septiembre de 1971, la Convención
sobre la prevención y el castigo de delitos contra personas internacionalmente protegidas,
58
inclusive los agentes diplomáticos, aprobada en Nueva York el 14 de diciembre de 1973, la
Convención internacional contra la toma de rehenes, aprobada en Nueva York el 17 de
diciembre de 197910, la Convención sobre la protección física de los materiales nucleares,
aprobada en Viena el 3 de marzo de 1980, el Protocolo para la represión de actos ilícitos de
violencia en los aeropuertos que presten servicios a la aviación civil internacional,
complementario del Convenio para la represión de actos ilícitos contra la seguridad de la
aviación civil internacional, firmado en Montreal el 24 de febrero de 1988, el Convenio para
la represión de actos ilícitos contra la seguridad de la navegación marítima, hecho en Roma el
10 de marzo de 1988, el Protocolo para la represión de actos ilícitos contra la seguridad de las
plataformas fijas emplazadas en la plataforma continental, hecho en Roma el 10 de marzo de
1988, y el Convenio sobre la marcación de explosivos plásticos para los fines de detección,
hecho en Montreal el 1º de marzo de 1991, y exhorta además a los Estados a que adopten la
legislación interna necesaria para aplicar las disposiciones de esos convenios y protocolos, y a
que se aseguren de que la jurisdicción de sus tribunales les permita enjuiciar a los autores
de actos terroristas y a que presten apoyo y asistencia a otros gobiernos a esos efectos;
II
7. Reafirma la Declaración sobre medidas para eliminar el terrorismo internacional, que figura
en el anexo de la resolución 49/60;
8. Aprueba la Declaración complementaria de la Declaración de 1994 sobre medidas para
eliminar el terrorismo internacional, cuyo texto figura em el anexo de la presente resolución;
III
9. Decide establecer un Comité Especial, abierto a todos los Estados Miembros de las
Naciones Unidas o miembros de los organismos especializados o del Organismo Internacional
de Energía Atómica, con el objeto de que elabore un convenio internacional para la represión
de los atentados terroristas cometidos con bombas y posteriormente un convenio internacional
para la represión de los actos de terrorismo nuclear, a fin de complementar los instrumentos
internacionales vigentes conexos, y de que estudie más adelante medios de desarrollar más un
marco jurídico amplio de convenciones relativas al terrorismo internacional;
10. Decide también que el Comité Especial se reúna del 24 de febrero al 7 de marzo de 1997
con el fin de preparar el texto de un proyecto de convenio internacional para la represión de
los atentados terroristas cometidos con bombas, y recomienda que su labor prosiga durante el
quincuagésimo segundo período de sesiones de la Asamblea General, del 22 de septiembre al
3 de octubre de 1997, en el marco de un grupo de trabajo de la Sexta Comisión;
11. Pide al Secretario General que facilite al Comité Especial los medios necesarios para que
realice su labor;
12. Pide al Comité Especial que informe a la Asamblea General en el quincuagésimo segundo
período de sesiones acerca de los progresos hechos en la elaboración del proyecto de
convenio;
13. Recomienda que el Comité Especial se reúna en 1998 para que continúe la labor
mencionada en el párrafo 9 supra;
IV
59
14. Decide incluir en el programa de su quincuagésimo segundo período de sesiones el tema
titulado "Medidas para eliminar el terrorismo internacional".
88a. sesión plenaria
17 de diciembre de 1996
ANEXO
Declaración complementaria de la Declaración de 1994 sobre medidas para eliminar el
terrorismo internacional
La Asamblea General,
Guiada por los propósitos y principios de la Carta de las Naciones Unidas,
Recordando la Declaración sobre medidas para eliminar el terrorismo internacional, aprobada
por la Asamblea General en su resolución 49/60, de 9 de diciembre de 1994,
Recordando también la Declaración con motivo del cincuentenario de las Naciones Unidas,
Profundamente preocupada por la persistencia en el mundo entero de actos de terrorismo
internacional en todas sus formas y manifestaciones, incluídos aquellos en que hay Estados
directa o indirectamente involucrados, que ponen en peligro o cobran vidas humanas
inocentes, redundan en detrimento de las relaciones internacionales y pueden comprometer la
seguridad de los Estados,
Destacando la importancia de que los Estados preparen acuerdos o arreglos de extradición,
según sea necesario, a fin de asegurar el enjuiciamiento de los responsables de actos
terroristas,
Señalando que la Convención sobre el Estatuto de los Refugiados16, hecha en Ginebra el 28
de julio de 1951, no contiene una base para la protección de los autores de actos terroristas,
señalando también al respecto los artículos 1, 2, 32 y 33 de la Convención, y destacando a
este respecto la necesidad de que los Estados partes velen por la aplicación apropiada de la
Convención,
Destacando la importancia del pleno cumplimiento por los Estados de las obligaciones que les
incumben con arreglo a las disposiciones de la Convención de 1951 y el Protocolo de 1967
respecto del estatuto de los refugiados, incluido el principio de no devolución de los
refugiados a lugares en que su vida o su libertad estén amenazados en razón de su raza,
religión, nacionalidad, pertenencia a un grupo social determinado u opinión política, y
afirmando que la presente Declaración no menoscaba la protección brindada em virtud de la
Convención y el Protocolo ni de otras disposiciones del derecho internacional,
Recordando el artículo 4 de la Declaración sobre el Asilo Territorial, aprobada por la
Asamblea General en su resolución 2312 (XXII), de 14 de diciembre de 1967,
60
Haciendo hincapié en la necesidad de afianzar aún más la cooperación internacional entre los
Estados a fin de prevenir, combatir y eliminar el terrorismo en todas sus formas y
manifestaciones,
Declara solemnemente lo que sigue:
1. Los Estados Miembros de las Naciones Unidas reafirman solemnemente su condenación
inequívoca de todos los actos, métodos y prácticas terroristas por considerarlos criminales e
injustificables, dondequiera y por quienquiera sean cometidos, incluidos los que pongan en
peligro las relaciones de amistad entre los Estados y los pueblos y amenacen la integridad
territorial y la seguridad de los Estados;
2. Los Estados Miembros de las Naciones Unidas reafirman que los actos, los métodos y las
prácticas terroristas son contrarios a los propósitos y principios de las Naciones Unidas;
declaran que la financiación, planificación e instigación de actos terroristas a sabiendas son
también contrarios a los propósitos y principios de las Naciones Unidas;
3. Los Estados Miembros de las Naciones Unidas reafirman que los Estados, antes de otorgar
la condición de refugiado, deben adoptar medidas apropiadas de conformidad con las
disposiciones pertinentes del derecho interno e internacional, incluidas las normas
internacionales de derechos humanos, a fin de cerciorarse de que quienes busquen asilo no
hayan participado en actos terroristas, considerando a este respecto información pertinente en
cuanto a si la persona que busca asilo es objeto de investigación o ha sido acusada o
condenada en relación con delitos que tienen que ver con el terrorismo y, después de otorgar
la condición de refugiado, a fin de asegurar que no se use esa condición con el objeto de
preparar u organizar actos terroristas contra otros Estados o sus ciudadanos;
4. Los Estados Miembros de las Naciones Unidas destacan que las personas que buscan asilo
cuyas solicitudes estén a la espera de tramitación no pueden evitar por ese motivo el
enjuiciamiento por actos terroristas;
5. Los Estados Miembros de las Naciones Unidas reafirman la importancia de velar por la
cooperación efectiva entre los Estados Miembros a fin de que quienes hayan participado en
actos terroristas, incluidas su financiación o planificación o instigación, sean llevados ante la
justicia; destacan su empeño de colaborar, de conformidad con las disposiciones pertinentes
del derecho internacional, incluidas las normas internacionales de derechos humanos, para
prevenir, combatir y eliminar el terrorismo y para adoptar todas las medidas apropiadas con
arreglo a su derecho interno ya sea para conseguir la extradición de terroristas o para someter
los casos a sus autoridades competentes a los fines del enjuiciamiento;
6. En este contexto, y reconociendo el derecho soberano de los Estados en materia de
extradición, se estimula a los Estados a que, al concertar o aplicar acuerdos de extradición, no
consideren como delitos políticos excluidos del ámbito de esos acuerdos los delitos
relacionados com el terrorismo que pongan en peligro la seguridad de las personas o
constituyan una amenaza física contra ellas, cualesquiera que sean los motivos que se
invoquen para justificarlos;
7. Se estimula también a los Estados a que, incluso a falta de tratado, consideren la posibilidad
de facilitar la extradición de las personas sospechosas de haber cometido actos terroristas, en
la medida en que lo permita su derecho interno;
61
8. Los Estados Miembros de las Naciones Unidas destacan la importancia de adoptar medidas
para compartir conocimientos especializados e información acerca de los terroristas, sus
movimientos, su apoyo y sus armas y compartir información respecto de la investigación y el
enjuiciamiento de los actos terroristas.
62
ANEXO C - Resolução nº 54/109 da Organização das Nações Unidas e Convênio
Internacional para repressão do financiamento ao terrorismo
NACIONES UNIDAS
Asamblea General
Distr.
GENERAL
A/RES/54/109
25 de febrero de 2000
Quincuagésimo cuarto período de sesiones
Tema 160 del programa
RESOLUCIÓN APROBADA POR LA ASAMBLEA GENERAL
[sobre la base del informe de la Sexta Comisión (A/54/615)]
54/109. Convenio Internacional para la represión de la financiación del terrorismo
La Asamblea General,
Recordando todas sus resoluciones pertinentes, incluida la resolución 46/51, de 9 de
diciembre de 1991, la resolución 49/60, de 9 de diciembre de 1994, por la cual aprobó la
Declaración sobre medidas para eliminar el terrorismo internacional, y las resoluciones
51/210, de 17 de diciembre de 1996, y 53/108, de 8 de diciembre de 1998,
Habiendo examinado el texto del proyecto de convenio internacional para la represión de la
financiación del terrorismo preparado por el Comité Especial establecido en virtud de la
resolución 51/210 de la Asamblea General, de 17 de diciembre de 1996, y el Grupo de
Trabajo de la Sexta Comisión1,
1. Aprueba el Convenio Internacional para la represión de la financiación del terrorismo que
figura en el anexo de la presente resolución, y pide al Secretario General que lo abra a la firma
en la Sede de las Naciones Unidas, en Nueva York, desde el 10 de enero de 2000 hasta el 31
de diciembre de 2001;
2. Insta a todos los Estados a que firmen y ratifiquen, acepten o aprueben el Convenio o se
adhieran a él.
76a. sesión plenaria
9 de diciembre de 1999
ANEXO
Convenio Internacional para la represión de la financiación del terrorismo
Preámbulo
Los Estados Partes en el presente Convenio,
Teniendo presentes los propósitos y principios de la Carta de las Naciones Unidas relativos al
mantenimiento de la paz y la seguridad internacionales y al fomento de las relaciones de
amistad y buena vecindad y la cooperación entre los Estados,
63
Profundamente preocupados por el hecho de que se intensifican en todo el mundo los
atentados terroristas en todas sus formas y manifestaciones,
Recordando la Declaración con motivo del cincuentenario de las Naciones Unidas contenida
en la resolución 50/6 de la Asamblea General, de 24 de octubre de 1995,
Recordando también todas las resoluciones pertinentes de la Asamblea General sobre la
cuestión, incluida la resolución 49/60, de 9 de diciembre de 1994, y su anexo sobre la
Declaración sobre medidas para eliminar el terrorismo internacional, en la que los Estados
Miembros de las Naciones Unidas reafirmaron solemnemente que condenaban en términos
inequívocos todos los actos, métodos y prácticas terroristas por considerarlos criminales e
injustificables, dondequiera y quienquiera los cometiera, incluidos los que pusieran en peligro
las relaciones de amistad entre los Estados y los pueblos y amenazaran la integridade
territorial y la seguridad de los Estados,
Observando que en la Declaración sobre medidas para eliminar el terrorismo internacional se
alentaba además a los Estados a que examinaran con urgencia el alcance de las disposiciones
jurídicas internacionales vigentes sobre prevención, represión y eliminación del terrorismo en
todas sus formas y manifestaciones, a fin de asegurar la existencia de un marco jurídico global
que abarcara todos los aspectos de la cuestión,
Recordando la resolución 51/210 de la Asamblea General, de 17 de diciembre de 1996, en
cuyo párrafo 3, inciso f), la Asamblea exhortó a todos los Estados a que adoptaran medidas
para prevenir y contrarrestar, mediante medidas internas apropiadas, la financiación de
terroristas y de organizaciones terroristas, ya sea que se hiciera en forma directa o indirecta,
por conducto de organizaciones que tuvieran además o que proclamaran tener objetivos
caritativos, sociales o culturales, o que realizaran también actividades ilícitas, como el tráfico
ilegal de armas, la venta de estupefacientes y las asociaciones ilícitas, incluida la explotación
de personas a fin de financiar actividades terroristas, y en particular a que consideraran, en su
caso, la adopción de medidas reguladoras para prevenir y contrarrestar los movimentos de
fondos que se sospechara se hicieran con fines terroristas, sin impedir en modo alguno la
libertad de los movimientos legítimos de capitales, y que intensificaran el intercambio de
información acerca de los movimientos internacionales de ese tipo de fondos,
Recordando también la resolución 52/165 de la Asamblea General, de 15 de diciembre de
1997, en la que la Asamblea invitó a los Estados a que consideraran, en particular, la
posibilidad de aplicar las medidas que figuraban en los incisos a) a f) del párrafo 3 de su
resolución 51/210,
Recordando además la resolución 53/108 de la Asamblea General, de 8 de diciembre de 1998,
en la que la Asamblea decidió que el Comité Especial establecido en virtud de su resolución
51/210, de 17 de diciembre de 1996, elaborara un proyecto de convenio internacional para la
represión de la financiación del terrorismo que complementara los instrumentos
internacionales conexos existentes,
Considerando que la financiación del terrorismo es motivo de profunda preocupación para
toda la comunidad internacional,
64
Observando que el número y la gravedad de los actos de terrorismo internacional dependen de
la financiación que pueden obtener los terroristas,
Observando también que los instrumentos jurídicos multilaterales vigentes no se refieren
explicitamente a la financiación del terrorismo,
Convencidos de la necesidad urgente de que se intensifique la cooperación internacional entre
los Estados con miras a elaborar y adoptar medidas eficaces y prácticas para prevenir la
financiación del terrorismo, así como para reprimirlo mediante el enjuiciamiento y el castigo
de sus autores,
Han acordado lo siguiente:
Artículo 1
A los efectos del presente Convenio:
1. Por “fondos” se entenderá los bienes de cualquier tipo, tangibles o intangibles, muebles o
inmuebles, con independencia de cómo se hubieran obtenido, y los documentos o
instrumentos legales, sea cual fuere su forma, incluida la forma electrónica o digital, que
acrediten la propiedad u otros derechos sobre dichos bienes, incluidos, sin que la enumeración
sea exhaustiva, créditos bancarios, cheques de viajero, cheques bancarios, giros, acciones,
títulos, obligaciones, letras de cambio y cartas de crédito.
2. Por “instalación gubernamental o pública” se entenderá toda instalación o vehículo de
carácter permanente o temporario utilizado u ocupado por representantes de un Estado,
funcionarios del poder ejecutivo, el poder legislativo o la administración de justicia,
empleados o funcionarios de un Estado u outra autoridad o entidad pública o funcionarios o
empleados de una organización intergubernamental, en el
desempeño de sus funciones oficiales.
3. Por “producto” se entenderá cualesquiera fondos procedentes u obtenidos, directa o
indirectamente, de la comisión de un delito enunciado en el artículo 2.
Artículo 2
1. Comete delito en el sentido del presente Convenio quien por el medio que fuere, directa o
indirectamente, ilícita y deliberadamente, provea o recolecte fondos con la intención de que se
utilicen, o a sabiendas de que serán utilizados, en todo o en parte, para cometer:
a) Un acto que constituya un delito comprendido en el ámbito de uno de los tratados
enumerados em el anexo y tal como esté definido en ese tratado; o
b) Cualquier otro acto destinado a causar la muerte o lesiones corporales graves a un civil o a
cualquier otra persona que no participe directamente en las hostilidades en una situación de
conflicto armado, cuando, el propósito de dicho acto, por su naturaleza o contexto, sea
intimidar a una población u obligar a un gobierno o a una organización internacional a realizar
un acto o a abstenerse de hacerlo.
65
2. a) Al depositar su instrumento de ratificación, aceptación, aprobación o adhesión al
presente Convenio, un Estado que no sea parte en alguno de los tratados enumerados en el
anexo podrá declarar que, en la aplicación del presente Convenio a ese Estado Parte, el tratado
no se considerará incluido en el anexo mencionado en el apartado a) del párrafo 1. La
declaración quedará sin efecto tan pronto como el tratado entre en vigor para el Estado Parte,
que notificará este hecho al depositario;
b) Cuando un Estado Parte deje de serlo en alguno de los tratados enumerados en el anexo,
podrá efectuar una declaración respecto de ese tratado con arreglo a lo previsto en el presente
artículo.
3. Para que un acto constituya un delito enunciado en el párrafo 1, no será necesario que los
fondos se hayan usado efectivamente para cometer un delito mencionado en los apartados a) o
b) del párrafo 1.
4. Comete igualmente un delito quien trate de cometer un delito enunciado en el párrafo 1 del
presente artículo.
5. Comete igualmente un delito quien:
a) Participe como cómplice en la comisión de un delito enunciado en los párrafos 1 ó 4 del
presente artículo;
b) Organice la comisión de un delito enunciado en los párrafos 1 ó 4 del presente artículo o dé
órdenes a otros de cometerlo;
c) Contribuya a la comisión de uno o más de los delitos enunciados en los párrafos 1 ó 4 del
presente artículo por un grupo de personas que actúe con un propósito común. La
contribución deberá ser intencionada y hacerse:
i) Ya sea con el propósito de facilitar la actividad delictiva o los fines delictivos del grupo,
cuando esa actividad o esos fines impliquen la comisión de un delito enunciado en el párrafo
1 del presente artículo; o
ii) Ya sea con conocimiento de la intención del grupo de cometer un delito enunciado en el
párrafo 1 del presente artículo.
Artículo 3
El presente Convenio no será aplicable cuando el delito se haya cometido en un solo Estado,
el presunto delincuente sea nacional de ese Estado y se encuentre en el territorio de ese Estado
y ningún otro Estado este facultado para ejercer la jurisdicción con arreglo a lo dispuesto en el
párrafo 1 ó 2 del artículo 7, con laexcepción de que serán aplicables a esos casos, cuando
corresponda, las disposiciones de los artículos 12 a 18.
Artículo 4
Cada Estado Parte adoptará las medidas que sean necesarias para:
66
a) Tipificar como infracción penal, con arreglo a su legislación interna, los delitos enunciados
en el artículo 2;
b) Sancionar esos delitos con penas adecuadas en las que se tenga en cuenta su carácter grave.
Artículo 5
1. Cada Estado Parte, de conformidad con sus principios jurídicos internos, adoptará las
medidas necesarias para que pueda establecerse la responsabilidad de una entidad jurídica
ubicada en su territorio o constituida con arreglo a su legislación, cuando una persona
responsable de su dirección o control cometa, en esa calidad, un delito enunciado en el
artículo 2. Esa responsabilidad podrá ser penal, civil o administrativa.
2. Se incurrirá en esa responsabilidad sin perjuicio de la responsabilidad penal de las personas
físicas que hayan cometido los delitos.
3. Cada Estado Parte velará en particular por que las entidades jurídicas responsables de
conformidad com lo dispuesto en el párrafo 1 supra estén sujetas a sanciones penales, civiles
o administrativas eficaces, proporcionadas y disuasorias. Tales sanciones podrán incluir
sanciones de carácter monetario.
Artículo 6
Cada Estado Parte adoptará las medidas que resulten necesarias, incluida, cuando proceda, la
adopción de legislación interna, para asegurar que los actos criminales comprendidos en el
ámbito del presente Convenio no puedan justificarse en circunstancia alguna por
consideraciones de índole política, filosófica, ideológica, racial, étnica, religiosa u otra
similar.
Artículo 7
1. Cada Estado Parte adoptará las medidas que sean necesarias para establecer su jurisdicción
respecto de los delitos enunciados en el artículo 2 cuando éstos sean cometidos:
a) En el territorio de ese Estado;
b) A bordo de un buque que enarbole el pabellón de ese Estado o de una aeronave matriculada
de conformidad con la legislación de ese Estado en el momento de la comisión del delito;
c) Por un nacional de ese Estado.
2. Cada Estado Parte podrá también establecer su jurisdicción respecto de cualquiera de tales
delitos cuando sean cometidos:
a) Con el propósito de perpetrar un delito de los mencionados en los apartados a) o b) del
párrafo 1 del artículo 2 en el territorio de ese Estado o contra uno de sus nacionales o haya
tenido ese resultado;
67
b) Con el propósito de perpetrar un delito de los mencionados en los apartados a) o b) del
párrafo 1 del artículo 2 contra una instalación gubernamental o pública de ese Estado en el
extranjero, incluso un local diplomático o consular de ese Estado, o haya tenido ese resultado;
c) Con el propósito o el resultado de cometer un delito de los indicados en los apartados a) o
b) del párrafo 1 del artículo 2, en un intento de obligar a ese Estado a realizar o abstenerse de
realizar um determinado acto;
d) Por un apátrida que tenga residencia habitual en el territorio de ese Estado;
e) A bordo de una aeronave que sea explotada por el gobierno de ese Estado.
3. Cada Estado Parte, al ratificar, aceptar o aprobar el presente Convenio o adherirse a él,
notificará al Secretario General de las Naciones Unidas que ha establecido su jurisdicción de
conformidad con su legislación nacional con arreglo al párrafo 2. El Estado Parte de que se
trate notificará inmediatamente al Secretario General los cambios que se produzcan.
4. Cada Estado Parte tomará asimismo las medidas que resulten necesarias para establecer su
jurisdicción respecto de los delitos enunciados en el artículo 2 en los casos en que el presunto
autor del delito se halle en su territorio y dicho Estado no conceda la extradición a ninguno de
los Estados Partes que hayan establecido su jurisdicción de conformidad con los párrafos 1 ó
2.
5. Cuando más de un Estado Parte reclame jurisdicción respecto de uno de los delitos
mencionados en el artículo 2, los Estados Partes interesados procurarán coordinar sus
acciones de manera apropiada, em particular respecto de las condiciones para enjuiciar y de
las modalidades de la asistencia judicial recíproca.
6. Sin perjuicio de las normas generales de derecho internacional, el presente Convenio no
excluye el ejercicio de ninguna jurisdicción penal establecida por un Estado Parte de
conformidad con su legislación nacional.
Artículo 8
1. Cada Estado Parte adoptará las medidas que resulten necesarias, de conformidad con sus
princípios jurídicos internos, para la identificación, la detección y el aseguramiento o la
incautación de todos los fondos utilizados o asignados para cometer los delitos indicados en el
artículo 2, así como el producto obtenido de esos delitos, a los efectos de su posible decomiso.
2. Cada Estado Parte adoptará, de conformidad con sus principios jurídicos internos, las
medidas que resulten necesarias para el decomiso de los fondos utilizados o asignados para
cometer los delitos indicados en el artículo 2 y del producto obtenido de esos delitos.
3. Cada Estado Parte interesado podrá considerar la posibilidad de concertar acuerdos para
compartir com otros Estados Partes, por norma general o en cada caso, los fondos procedentes
de los decomisos previstos en el presente artículo.
4. Cada Estado Parte considerará el establecimiento de mecanismos mediante los cuales los
fondos procedentes de los decomisos previstos en el presente artículo se utilicen para
68
indemnizar a las víctimas de los delitos mencionados en los apartados a) o b) del párrafo 1 del
artículo 2, o de sus familiares.
5. La aplicación de las disposiciones del presente artículo se efectuará sin perjuicio de los
derechos de los terceros de buena fe.
Artículo 9
1. El Estado Parte que reciba información que indique que en su territorio puede encontrarse
el culpable o presunto culpable de un delito enunciado en el artículo 2 tomará inmediatamente
las medidas que sean necesarias de conformidad con su legislación nacional para investigar
los hechos comprendidos en esa información.
2. El Estado Parte en cuyo territorio se encuentre el delincuente o presunto delincuente, si
estima que las circunstancias lo justifican, tomará las medidas que correspondan conforme a
su legislación nacional a fin de asegurar la presencia de esa persona a efectos de su
enjuiciamiento o extradición.
3. Toda persona respecto de la cual se adopten las medidas mencionadas en el párrafo 2 tendrá
derecho a:
a) Ponerse sin demora en comunicación con el representante más próximo que corresponda
del Estado del que sea nacional o al que competa por otras razones proteger los derechos de
esa persona o, si se trata de un apátrida, del Estado en cuyo territorio resida habitualmente;
b) Ser visitada por un representante de dicho Estado;
c) Ser informada de los derechos previstos en los apartados a) y b) del presente párrafo.
4. Los derechos a que se hace referencia en el párrafo 3 se ejercitarán de conformidad con las
leyes y los reglamentos del Estado en cuyo territorio se halle el delincuente o presunto
delincuente, a condición de que esas leyes y esos reglamentos permitan que se cumpla
plenamente el propósito de los derechos indicados em el párrafo 3 del presente artículo.
5. Lo dispuesto en los párrafos 3 y 4 se entenderá sin perjuicio del derecho de todo Estado
Parte que, com arreglo al apartado b) del párrafo 1 o al apartado b) del párrafo 2 del artículo 7,
pueda hacer valer su jurisdicción a invitar al Comité Internacional de la Cruz Roja a ponerse
en comunicación con el presunto delincuente y visitarlo.
6. El Estado Parte que, en virtud del presente artículo, detenga a una persona notificará
imediatamente la detención y las circunstancias que la justifiquen, a los Estados Partes que
hayan establecido su jurisdicciónde conformidad con los párrafos 1 ó 2 del artículo 7 y, si lo
considera oportuno, a los demás Estados Partes interesados, directamente o por intermedio del
Secretario General de las Naciones Unidas. El Estado que proceda a la investigación prevista
en el párrafo 1 del presente artículo informará sin dilación de los resultados de ésta a los
Estados Partes mencionados e indicará si se propone ejercer su jurisdicción.
Artículo 10
69
1. En los casos en que sea aplicable el artículo 7, el Estado Parte en cuyo territorio se
encuentre el presunto delincuente, si no procede a su extradición, estará obligado a someter
sin demora indebida el caso a sus autoridades competentes a efectos de enjuiciamiento, según
el procedimiento previsto en la legislación de ese Estado, sin excepción alguna y con
independencia de que el delito haya sido o no cometido en su territorio. Dichas autoridades
tomarán su decisión en las mismas condiciones que las aplicables a cualquier otro delito de
naturaleza grave de acuerdo con el derecho de tal Estado.
2. Cuando la legislación de un Estado Parte le permita proceder a la extradición de uno de sus
nacionales o entregarlo de otro modo sólo a condición de que sea devuelto a ese Estado para
cumplir la condena que le sea impuesta de resultas del juicio o procedimiento para el cual se
pidió su extradición o su entrega, y esse Estado y el que solicita la extradición están de
acuerdo con esa opción y las demás condiciones que consideren apropiadas, dicha extradición
o entrega condicional será suficiente para cumplir la obligación enunciada en el párrafo 1.
Artículo 11
1. Los delitos enunciados en el artículo 2 se considerarán incluidos entre los que dan lugar a
extradición en todo tratado de extradición concertado entre Estados Partes con anterioridad a
la entrada en vigor del presente Convenio. Los Estados Partes se comprometen a incluir tales
delitos como casos de extradición em todo tratado sobre la materia que concierten
posteriormente entre sí.
2. Cuando un Estado Parte que subordine la extradición a la existencia de un tratado reciba de
otro Estado Parte, con el que no tenga concertado un tratado, una solicitud de extradición,
podrá, a su elección, considerar el presente Convenio como la base jurídica necesaria para la
extradición con respecto a los delitos previstos en el artículo 2. La extradición estará sujeta a
las demás condiciones exigidas por la legislación del Estado requerido.
3. Los Estados Partes que no subordinen la extradición a la existencia de un tratado
reconocerán los delitos enunciados en el artículo 2 como casos de extradición entre ellos, con
sujeción a las condiciones exigidas por la legislación del Estado al que se haga la solicitud.
4. De ser necesario, a los fines de la extradición entre Estados Partes se considerará que los
delitos enunciados en el artículo 2 se han cometido no sólo en el lugar en que se perpetraron
sino también en el territorio de los Estados que hayan establecido su jurisdicción de
conformidad con los párrafos 1 y 2 del artículo 7.
5. Las disposiciones de todos los tratados de extradición vigentes entre Estados Partes con
respecto a los delitos enumerados en el artículo 2 se considerarán modificadas entre esos
Estados Partes en la medida em que sean incompatibles con el presente Convenio.
Artículo 12
1. Los Estados Partes se prestarán la mayor asistencia posible en relación con cualquier
investigación, proceso penal o procedimiento de extradición que se inicie con respecto a los
delitos enunciados en el artículo 2, incluso respecto de la obtención de todas las pruebas
necesarias para el proceso que obren en su poder.
70
2. Los Estados Partes no podrán rechazar una petición de asistencia judicial recíproca al
amparo del secreto bancario.
3. El Estado Parte requirente no utilizará ni comunicará la información o prueba que reciba
del Estado Parte requerido para investigaciones, enjuiciamientos o causas distintos de los
consignados en la petición, sin la previa autorización del Estado Parte requerido.
4. Cada Estado Parte podrá estudiar la posibilidad de establecer mecanismos para compartir
con otros Estados Partes la información o las pruebas necesarias a fin de establecer la
responsabilidad penal, civil o administrativa en aplicación del artículo 5.
5. Los Estados Partes cumplirán las obligaciones que les incumban en virtud de los párrafos 1
y 2 de conformidad con los tratados u otros acuerdos de asistencia judicial recíproca que
existan entre ellos. Em ausencia de esos tratados o acuerdos, los Estados Partes se prestarán
dicha asistencia de conformidad com su legislación nacional.
Artículo 13
Ninguno de los delitos enunciados en el artículo 2 se podrá considerar, a los fines de la
extradición o de la asistencia judicial recíproca, como delito fiscal. En consecuencia, los
Estados Partes no podrán invocar como único motivo el carácter fiscal del delito para rechazar
una solicitud de asistencia judicial recíproca o de extradición.
Artículo 14
A los fines de la extradición o de la asistencia judicial recíproca, ninguno de los delitos
enunciados em el artículo 2 se considerará delito político, delito conexo a un delito político ni
delito inspirado en motivos políticos. En consecuencia, no podrá rechazarse una solicitud de
extradición o de asistencia judicial recíproca formulada en relación con un delito de ese
carácter por la única razón de que se refiere a un delito político, un delito conexo a un delito
político o un delito inspirado en motivos políticos.
Artículo 15
Nada de lo dispuesto en el presente Convenio se interpretará en el sentido de que imponga
uma obligación de extraditar o de prestar asistencia judicial recíproca si el Estado Parte al que
se presenta la solicitud tiene motivos fundados para creer que la solicitud de extradición por
los delitos enunciados en el artículo 2 o de asistencia judicial recíproca en relación con esos
delitos se ha formulado con el fin de enjuiciar o castigar a una persona por motivos de raza,
religión, nacionalidad, origen étnico u opinión política, o que el cumplimiento de lo solicitado
podría perjudicar la situación de esa persona por cualquiera
de esos motivos.
Artículo 16
1. La persona que se encuentre detenida o cumpliendo una condena en el territorio de un
Estado Parte y cuya presencia se solicite en otro Estado Parte para fines de prestar testimonio
o de identificación para que ayude a obtener pruebas necesarias para la investigación o el
enjuiciamiento de delitos enunciados en el artículo 2 podrá ser trasladada si se cumplen las
condiciones siguientes:
71
a) Da, una vez informada, su consentimiento de manera libre;
b) Las autoridades competentes de ambos Estados están de acuerdo, con sujeción a las
condiciones que consideren apropiadas.
2. A los efectos del presente artículo:
a) El Estado al que sea trasladada la persona estará autorizado y obligado a mantenerla
detenida, salvo que el Estado desde el que fue trasladada solicite o autorice otra cosa;
b) El Estado al que sea trasladada la persona cumplirá sin dilación su obligación de devolverla
a la custodia del Estado desde el que fue trasladada según convengan de antemano o de otro
modo las autoridades competentes de ambos Estados;
c) El Estado al que sea trasladada la persona no podrá exigir al Estado desde el que fue
trasladada que inicie procedimientos de extradición para su devolución;
d) Se tendrá en cuenta el tiempo que haya permanecido detenida la persona en el Estado al
que ha sido trasladada a los efectos de descontarlo de la pena que ha de cumplir en el Estado
desde el que haya sido trasladada.
3. A menos que el Estado Parte desde el cual se ha de trasladar una persona de conformidad
con el presente artículo esté de acuerdo, dicha persona, cualquiera sea su nacionalidad, no
podrá ser procesada, detenida ni sometida a ninguna otra restricción de su libertad personal en
el territorio del Estado al que sea trasladada en relación con actos o condenas anteriores a su
salida del territorio del Estado desde el que fue trasladada.
Artículo 17
Toda persona que se encuentre detenida o respecto de la cual se adopte cualquier medida o
sea encausada con arreglo al presente Convenio gozará de un trato equitativo, incluido el goce
de todos los derechos y garantías de conformidad con la legislación del Estado en cuyo
territorio se encuentre y con las disposiciones pertinentes del derecho internacional, incluido
el derecho internacional en materia de derechos
humanos.
Artículo 18
1. Los Estados Partes cooperarán en la prevención de los delitos enunciados en el artículo 2,
tomando todas las medidas practicables, entre otras, adaptando, de ser necesario, su
legislación nacional para impedir que se prepare en sus respectivos territorios la comisión de
esos delitos tanto dentro como fuera de ellos,
incluidas:
a) Medidas para prohibir en sus territorios las actividades ilegales de personas y
organizaciones que promuevan, instiguen, organicen o cometan a sabiendas los delitos
enunciados en el artículo 2;
72
b) Medidas que exijan que las instituciones financieras y otras profesiones que intervengan en
las transacciones financieras utilicen las medidas más eficientes de que dispongan para la
identificación de sus clientes habituales u ocasionales, así como de los clientes en cuyo interés
se abran cuentas, y presten atención especial a transacciones inusuales o sospechosas y
reporten transacciones que se sospeche provengan de uma actividad delictiva. A tales efectos,
los Estados Partes considerarán:
i) Adoptar reglamentaciones que prohíban la apertura de cuentas cuyos titulares o
beneficiarios no estén ni puedan ser identificados, así como medidas para velar por que esas
instituciones verifiquen la identidad de los titulares reales de esas transacciones;
ii) Con respecto a la identificación de personas jurídicas, exigir a las instituciones financieras
que, cuando sea necesario, adopten medidas para verificar la existencia jurídica y la estructura
del cliente mediante la obtención, de un registro público, del cliente o de ambos, de prueba de
la constitución de la sociedad, incluida información sobre el nombre del cliente, su forma
jurídica, su domicilio, sus directores y las disposiciones relativas a la facultad de la persona
jurídica para contraer obligaciones;
iii) Adoptar reglamentaciones que impongan a las instituciones financieras la obligación de
reportar con prontitud a las autoridades competentes toda transacción compleja, de magnitud
inusual y todas las pautas inusuales de transacciones que no tengan, al parecer, una finalidad
económica u obviamente lícita, sin temor de asumir responsabilidad penal o civil por
quebrantar alguna restricción en materia de divulgación de información, si reportan sus
sospechas de buena fe;
iv) Exigir a las instituciones financieras que conserven, por lo menos durante cinco años,
todos los documentos necesarios sobre las transacciones efectuadas, tanto nacionales como
internacionales.
2. Los Estados Partes cooperarán además en la prevención de los delitos enunciados en el
artículo 2 considerando:
a) Adoptar medidas de supervisión para todas las agencias de transferencia de dinero, que
incluyan, por ejemplo, el establecimiento de un sistema de licencias;
b) Aplicar medidas viables a fin de descubrir o vigilar el transporte transfronterizo físico de
dinero en efectivo e instrumentos negociables al portador, sujetas a salvaguardias estrictas que
garanticen uma utilización adecuada de la información y sin que ello obstaculice en modo
alguno la libre circulación de capitales.
3. Los Estados Partes reforzarán su cooperación en la prevención de los delitos enunciados en
el artículo 2 mediante el intercambio de información precisa y corroborada, de conformidad
con las disposiciones de su legislación nacional, y la coordinación de medidas administrativas
y de otra índole adoptadas, según proceda, para impedir que se cometan los delitos
enunciados en el artículo 2, especialmente mediante:
a) El establecimiento y mantenimiento de vías de comunicación entre sus organismos y
servicios competentes a fin de facilitar el intercambio seguro y rápido de información sobre
todos los aspectos de los delitos enunciados en el artículo 2;
73
b) La cooperación en la investigación de los delitos enunciados en el artículo 2 en lo que
respecta a:
i) La identidad, el paradero y las actividades de las personas con respecto a las cuales existen
sospechas razonables de que participan en dichos delitos;
ii) El movimiento de fondos relacionados con la comisión de tales delitos.
4. Los Estados Partes podrán intercambiar información por intermedio de la Organización
Internacional de Policía Criminal (Interpol).
Artículo 19
El Estado Parte en el que se entable una acción penal contra el presunto delincuente
comunicará, de conformidad con su legislación nacional o sus procedimientos aplicables, el
resultado final de esa acción al Secretario General de las Naciones Unidas, quien transmitirá
la información a otros Estados Partes.
Artículo 20
Los Estados Partes cumplirán las obligaciones que les incumben en virtud del presente
Convenio de manera compatible con los principios de la igualdad soberana, la integridad
territorial de los Estados y la no injerencia en los asuntos internos de otros Estados.
Artículo 21
Nada de lo dispuesto en el presente Convenio menoscabará los derechos, las obligaciones y
las responsabilidades de los Estados y de las personas con arreglo al derecho internacional, en
particular los propósitos de la Carta de las Naciones Unidas, el derecho internacional
humanitario y otros convênios pertinentes.
Artículo 22
Nada de lo dispuesto en el presente Convenio facultará a un Estado Parte para ejercer su
jurisdicción en el territorio de otro Estado Parte ni para realizar en él funciones que estén
exclusivamente reservadas a las autoridades de ese otro Estado Parte por su derecho interno.
Artículo 23
1. El anexo podrá enmendarse con la adición de tratados pertinentes que:
a) Estén abiertos a la participación de todos los Estados;
b) Hayan entrado en vigor;
c) Hayan sido objeto de ratificación, aceptación, aprobación o adhesión de por lo menos 22
Estados Partes en el presente Convenio.
2. Una vez que el presente Convenio haya entrado en vigor, un Estado Parte podrá proponer
tal enmienda. Toda propuesta de enmienda se comunicará al depositario por escrito. El
depositario notificará a todos los Estados Partes las propuestas que reúnan las condiciones
74
indicadas en el párrafo 1 y solicitará sus opiniones respecto de si la enmienda propuesta debe
aprobarse.
3. La enmienda propuesta se considerará aprobada a menos que un tercio de los Estados
Partes objeten a ella mediante notificación escrita a más tardar 180 días después de su
distribución.
4. La enmienda al anexo, una vez aprobada, entrará en vigor 30 días después de que se haya
depositado el vigésimo segundo instrumento de ratificación, aceptación o aprobación de esa
enmienda para todos los Estados Partes que hayan depositado ese instrumento. Para cada
Estado Parte que ratifique, acepte o apruebe la enmienda después de que se haya depositado el
vigésimo segundo instrumento, la enmienda entrará em vigor a los 30 días después de que ese
Estado Parte haya depositado su instrumento de ratificación, aceptación o aprobación.
Artículo 24
1. Las controversias que surjan entre dos o más Estados Partes con respecto a la interpretación
o aplicación del presente Convenio y que no puedan resolverse mediante negociaciones
dentro de un plazo razonable serán sometidas a arbitraje a petición de uno de ellos. Si en el
plazo de seis meses contados a partir de la fecha de presentación de la solicitud de arbitraje las
partes no consiguen ponerse de acuerdo sobre la forma de organizarlo, cualquiera de ellas
podrá someter la controversia a la Corte Internacional de Justicia, mediante solicitud
presentada de conformidad con el Estatuto de la Corte.
2. Cada Estado, al momento de firmar, ratificar, aceptar o aprobar el presente Convenio o
adherirse a él, podrá declarar que no se considera obligado por el párrafo 1 del presente
artículo. Los demás Estados Partes no estarán obligados por lo dispuesto en el párrafo 1
respecto de ningún Estado Parte que haya formulado esa reserva.
3. El Estado que haya formulado la reserva conforme a las disposiciones del párrafo 2 podrá
retirarla em cualquier momento mediante notificación al Secretario General de las Naciones
Unidas.
Artículo 25
1. El presente Convenio estará abierto a la firma de todos los Estados desde el 10 de enero de
2000 hasta el 31 de diciembre de 2001 en la Sede de las Naciones Unidas en Nueva York.
2. El presente Convenio está sujeto a ratificación, aceptación o aprobación. Los instrumentos
de ratificación, aceptación o aprobación serán depositados en poder del Secretario General de
las Naciones Unidas.
3. El presente Convenio estará abierto a la adhesión de cualquier Estado. Los instrumentos de
adhesión serán depositados en poder del Secretario General de las Naciones Unidas.
Artículo 26
1. El presente Convenio entrará en vigor el trigésimo día a partir de la fecha en que se
deposite en poder del Secretario General de las Naciones Unidas el vigésimo segundo
instrumento de ratificación, aceptación, aprobación o adhesión.
75
2. Respecto de cada uno de los Estados que ratifiquen, acepten o aprueben el Convenio o se
adhieran a él después de que sea depositado el vigésimo segundo instrumento de ratificación,
aceptación, aprobación o adhesión, el Convenio entrará en vigor el trigésimo día a partir de la
fecha en que dicho Estado haya depositado su instrumento de ratificación, aceptación,
aprobación o adhesión.
Artículo 27
1. Todo Estado Parte podrá denunciar el presente Convenio mediante notificación por escrito
dirigida al Secretario General de las Naciones Unidas.
2. La denuncia surtirá efecto un año después de la fecha en que el Secretario General de las
Naciones Unidas reciba la notificación.
Artículo 28
El original del presente Convenio, cuyos textos en árabe, chino, español, francés, inglés y ruso
son igualmente auténticos, será depositado en poder del Secretario General de las Naciones
Unidas, que enviará copias certificadas de él a todos los Estados.
EN TESTIMONIO DE LO CUAL, los infrascritos, debidamente autorizados por sus
respectivos gobiernos, han firmado el presente Convenio, abierto a la firma en la Sede de las
Naciones Unidas en Nueva York el 10 de enero de 2000.
Descargar